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ESPECIAL CORONAVÍRUS E O AGRONEGÓCIO ABRIL DE 2020 Efeitos da covid-19 na cadeia produtiva da mandioca VOLUME 5

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ESPECIAL CORONAVÍRUS E O AGRONEGÓCIO

ABRIL DE 2020

Efeitos da covid-19 na cadeiaprodutiva da mandioca

VOLUME 5

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Lucilio Rogerio Aparecido AlvesFábio Isaias FelipeJéssica Caroline PereiraBeatriz Cassiano Grellet

Autores Cepea:

Jornalista responsável:

Alessandra da Paz (Mtb: 49.148)

Fotos:

EXPEDIENTE

Data de publicação: 30 de abril de 2020

Sobre o estudo:

ESPECIAL CORONAVÍRUS E O AGRONEGÓCIO – Volume 5 –

Efeitos da covid-19 na cadeia produtiva da mandioca

Este material foi escrito por pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avança-

dos em Economia Aplicada), da Esalq/USP, e da Embrapa Mandioca e Fruticultu-

ra e mostra as reações da cadeia de mandioca diante da pandemia global de coronavírus.

Alessandra da Paz (Mtb: 49.148)

Bruna Sampaio (Mtb: 79.466)

Flávia Gutierrez (Mtb: 53.681)

Nádia Zanirato (Mtb: 81.086)

Revisão:

Bruna Sampaio (Mtb: 79.466)Diagramação:

Pixabay.com

Arquitetanto estilos

CNA

Fábio Lima

Carlos Estevão Leite CardosoClóvis Oliveira de AlmeidaJosé da Silva Souza

Autores Embrapa Mandioca e Fruticultura:

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Os impactos do isolamento social observa-do no Brasil, decorrentes das ações que visam reduzir a rapidez e intensidade de

transmissão do novo coronavírus, tendem a ser diferentes sobre as distintas cadeias produtivas do agronegócio brasileiro. Também se questiona o quanto esses impactos incidirão sobre merca-dos em que prevalecem as transações domésti-cas e se haverá distinção com aqueles com rela-ções mais intensas com o mercado internacional. Para a cadeia da mandioca, acredita--se que os impactos também serão diferentes, a depender do segmento de produção de seus derivados, como farinha e fécula. Na estrutu-ra da cadeia agroindustrial da mandioca, há os segmentos de mandioca de “mesa” e para indústria. Enquanto a mandioca de “mesa” é comercializada in natura, pré-cozida e congela-da e na forma de snack, a mandioca para in-dústria tem uma variedade de usos, sendo as farinhas (e as farofas) e a fécula os produtos mais importantes. Além destes, vários outros produtos são obtidos no processo industrial de modificação do amido (fécula nativa), en-tre eles, os amidos catiônicos, oxidados, este-rificados, fosfatados e produtos gelatinizados. As farinhas e as féculas, portanto, são os principais derivados da mandioca. No caso

da farinha, utilizada na alimentação humana, há diferentes tipos e com características asso-ciadas a atributos regionais, muitas vezes pro-duzidos em casas de farinha. Entretanto, há unidades industriais comerciais que visam ao atendimento de populações de diferentes ní-veis de renda ou mesmo hábitos de consumo. Em termos médios, para os consumidores bra-sileiros, a farinha de mandioca é considerada um bem inferior do ponto de vista econômico, pois a demanda pelo produto tende a decres-cer conforme aumenta a renda da população. Porém, há estudos que apontam que a farinha é um bem de necessidade entre três e seis sa-lários mínimos, a depender da região brasileira, se tornando um bem inferior após esse limite. Segundo dados da Pesquisa de Or-çamentos Familiares (POF) 2007-2008, do IBGE, no Brasil, foram adquiridos 5,33 kg per capita de farinha de mandioca. Entretanto, a aquisição chegava a 23,5 kg per capita na região Norte e a apenas 0,8 kg per capita no Sul do País. Já na POF 2017-2018, a aquisi-ção média caiu para 2,33 kg per capita, e, em termos regionais, ficou em 10,8 kg per capi-ta no Norte e em 0,41 kg per capita no Sul. Já a fécula, produzida no segmento industrial, tem sua concorrência especialmente com o ami-

CONSIDERAÇÕESINICIAIS

Autores Embrapa Mandioca e Fruticultura:

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Apesar de a mandioca ser produzida em todas as regiões do Brasil (Figu-ra 1), a produção para indústria tem

presença mais expressiva no Centro-Sul, com destaques para os estados do Paraná, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Santa Ca-tarina. Nos estados do Norte e Nordeste, o destino principal é a produção de farinha. A implantação da cultura da mandio-ca exige um preparo do solo que visa ao bom

desenvolvimento do sistema radicular, onde a raiz irá se desenvolver. Quanto ao plantio, nor-malmente é feito no início da estação chuvosa, quando a umidade e a temperatura tornam-se elementos essenciais para a brotação e enraiza-mento. Nos cultivos industriais de mandioca, é necessário combinar as épocas de plantio com os ciclos das cultivares e com as épocas de colheita, visando garantir um fornecimento contínuo de matéria-prima para o processamento industrial.

A UNIDADE AGRÍCOLA E IMPACTOS DA COVID-19

do de milho. Espera-se que, com o crescimento econômico, seja elevada a importância deste produto nos segmentos alimentícios, têxteis, setores químicos, farmacêuticos, entre outros. Vale considerar que este é um produto de elas-ticidade-renda positiva e, portanto, incremen-tos de renda tendem a aumentar o consumo. A aquisição alimentar domiciliar de fécula de mandioca apontado pela POF 2007-2008 foi de 0,774 kg per capita em termos de Brasil, mas ficando entre 1,56 kg na região Nor-te e 0,3 kg per capita no Sul. Já na POF 2017-2018, a aquisição domiciliar, considerando o Brasil, passou para 0,8 kg per capita. Enquanto houve queda na aquisição média dos consu-midores da região Norte, passando para 1,35

kg per capita, em todas as demais regiões, a aquisição se elevou, sendo que, na região Sul chegou a 0,414 kg per capita, superando, in-clusive, a aquisição per capita do Sudeste, que teve a menor média, de 0,396 kg per capita. Desta forma, neste momento de pan-demia que exige isolamento social e, posterior-mente, resulta em perda de renda, os impactos sobre os diversos segmentos poderão ser distin-tos. Em relação à renda, as estimativas apontam redução brusca do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e mundial em 2020. O Boletim Focus do Banco Central do Brasil, que se baseia nas expec-tativas do mercado, aponta retração de 3,34% no PIB brasileiro para 2020 e queda de 2,35% na produção industrial para o mesmo período.

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Figura 1 – Mapa da produção de mandioca em 2018, em toneladas, por microrregiões brasileirasFonte: IBGE.

No Centro-Sul, o plantio geralmente ocorre entre o segundo e terceiro trimestres de cada ano, concentrando-se no início do terceiro trimestre. No Norte e Nordeste, as chuvas ocor-rem em maior intensidade no primeiro semestre. A mandioca é uma lavoura com ciclo de cultivo que pode variar de nove a 24 me-ses ou mais. Quando colhida até 12 meses – casos em que não ocorre nenhuma poda – é considerada lavoura de um ciclo. Entretanto, é possível fazer a poda e optar pela colheita em momento posterior, sendo, neste caso, uma lavoura de dois ciclos. Portanto, neste último caso, o produtor somente irá obter a receita em até dois anos após o plantio. Isto reduz a competitividade da mandiocultura quando com-parada a outras atividades concorrentes por área, especialmente nas regiões com índices pluviométricos considerados mais satisfatórios. O fato é que, quando se analisa o

custo de produção, os principais itens de de-sembolso do produtor estão relacionados à colheita, ao transporte e à mão de obra. No Centro-Sul, a colheita da mandioca para fins industriais é quase sempre uma opera-ção semi-mecanizada, feita com auxílio de afofadores ou arrancadores, mas, ainda as-sim demanda o uso intenso de mão de obra. Como, em regra, os trabalhos de plan-tio e de colheita exigem uma grande quan-tidade de mão de obra, certamente são essas atividades que mais sofrem no período de isolamento social, juntamente com o trans-porte em algumas localidades. No geral, por-tanto, a pandemia do coronavírus tem afeta-do o ritmo de moagem industrial, devido às restrições quanto ao transporte de trabalha-dores rurais e à redução do quadro de fun-cionários de parte das fecularias e farinheiras. Este início do segundo trimestre de

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2020 é marcado pela intensificação da co-lheita no Centro-Sul. O que se observou em boa parte de abril foi que tanto produtores que ainda dispõem de áreas de mandioca com idade entre um ciclo e meio e dois ci-clos, quanto aqueles que têm interesse em liberar áreas arrendadas seguiram intensifi-cando a colheita. Mas também houve aqueles que optaram pela comercialização, até mes-mo de lavouras mais nova, com até 12 meses. Entretanto, os produtores não estão encontrando interesse por parte do segmen-to de processamento das indústrias como em períodos anteriores. Como as vendas de deri-vados estão em queda, parte da indústria tem restringido a moagem, diminuindo os turnos de trabalho, ou estão com as atividades suspensas. Produtores também já ponderam em relação às perspectivas para os próximos perí-odos. Desde 2019, a margem de lucro dos pro-dutores já estava em queda. Ao mesmo tempo, os preços de outras culturas se mostram mais atrativa, como no caso de grãos, boi gordo e até mesmo a laranja, que são concorrentes diretos em área, dependendo da região. Agora, de acor-do com mandiocultores, considerando-se os im-pactos do coronavírus, deve haver forte diminui-ção no plantio de mandioca para a temporada 2020/2021 – no Paraná, por exemplo, há regis-tros de quebras de contratos de arrendamentos. É importante destacar que esses movi-mentos ocorrem ainda pontualmente e, na pos-sibilidade de uma normalização dos trabalhos das fecularias, a demanda poderia novamente impulsionar os preços. Mas, colaboradores do Cepea acreditam que ainda é incerta qual-quer retomada, pelo menos no curto prazo. O processamento de mandioca pe-las fecularias em 2020 esteve maior que em 2019 nas seis primeiras semanas do ano (Fi-gura 2). Em seguida, entre a sétima e a 10ª semana, o volume processado foi menor

em 2020, mas mantendo a mesma tendên-cia do ano anterior. Entretanto, na segunda quinzena de março e na primeira quinzena de abril, os volumes tiveram quedas bruscas, se recuperando nas duas últimas semanas. As cotações de mandioca cederam quase 32% entre final de 2019 e 24 de abril de 2020. As quedas foram reflexo da maior oferta de matéria-prima, o que geralmente ocorre no início do ano, mas houve um acirramento da pressão por redução dos preços desde meado de março, que coincide com o período do início de isolamento social no Brasil (Figura 3). A retra-ção da demanda também foi motivo de pressão. Entre final de 2018 e 26 de abril de 2019, as cotações da raiz de mandioca ce-deram 17,1%, em termos reais – portanto, em intensidade menor que a registrada em 2020. Mesmo assim, as cotações da parcial de abril/20 estão quase 11% maiores que as de abril/19 – também já deflacionadas.

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Figura 2 – Evolução do processamento semanal de mandioca pelas fecularias, entre janeiro e abril de 2019 e 2020.Fonte: Cepea-Esalq/USP.

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Figura 3 – Evolução semanal dos preços de raiz de mandioca no Centro-Sul, até 24/abr/20, deflacionado pelo IGP-DI – base mar/20.Fonte: Cepea-Esalq/USP.

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Entre os derivados da mandioca utilizados na alimentação humana, podem ser citados as farinhas, fécula ou goma, polvilho aze-

do, mandioca cozida e mandioca frita, carimã ou massa puba e beijus. A mandioca também pode ser direcionada para o consumo animal. Dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, sigla em inglês) apontam que, entre 2011 e 2013 – últimos dados disponíveis –, 50% da produção de mandioca no Brasil foi destinada para ração animal e outros quase 34%, para o consumo humano. Este é um fato interessante,

pois não é possível identificar se nos dados da organização é considerado o processamento das raízes tuberosas nas casas de farinha como sendo destinado ao consumo humano ou se está agregado em outros usos, juntamente com a produção industrial de fécula, por exemplo. Segundo dados da FAO, os outros usos no Brasil, em que está inserido o con-sumo industrial como para fécula, farinha, pellets etc., representaram 6% do consu-mo total entre 2011 e 2013. As perdas tam-bém são consideradas como sendo de 10% do total, e as exportações são irrisórias.

A INDUSTRIALIZAÇÃO E O CONSUMO DE MANDIOCA

A fécula é o produto de maior valor agrega-do derivado do processamento de man-dioca. A produção de fécula ou goma

pode ser realizada em escala artesanal, varian-do apenas o tipo de equipamento utilizado. A partir da fécula podem ser fabricados diversos outros produtos, como o polvilho azedo, ta-pioca, sagu, cremes, pudins, alimentos infantis, molhos, sopas, caldos etc. No Brasil, a produção de fécula também é realizada em escala indus-trial. Para a indústria, o teor de amido da raiz influencia diretamente no rendimento industrial e, consequentemente, no custo de produção. Entre os estados brasileiros, o mais re-presentativo na produção nacional, orientada para a produção de fécula industrial, é o Paraná, seguido de Mato Grosso do Sul, São Paulo e San-ta Catarina. Da fécula nativa, podem ser produ-zidos féculas/amidos modificados, aplicados em diferentes segmentos. Segundo dados do Ce-

pea-Esalq/USP, entre os compradores de fécula e suas modificações diretamente das unidades produtoras se destacam os segmentos alimentí-cios de massa, biscoito e panificação, e o de ta-pioca, assim como frigoríficos, papel e papelão. Mas também há transações nos mercados ataca-distas e varejistas e até mesmo entre fecularias. Infelizmente, não há informações que indiquem o peso desses derivados como ingredientes em outros produtos, para melhor entendimento de sua importância como custo em cada estrutura. As restrições impostas pelas regras de enfrentamento da covid-19 têm afetado forte-mente a maioria dos mercados que consome fécula de mandioca e outros ingredientes como insumo. Agentes da indústria de fécula apon-tam que houve queda nas vendas em todos os segmentos, mas com diferentes intensidades. Aqueles que comercializam para o seg-mento de papel e embalagens, que indireta-

A PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE FÉCULA E IMPACTOS DA COVID-19

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mente é um balizador da atividade econômica, apontam que houve baixas consideráveis nas vendas e encomendas. Além disso, pagamentos já vencidos têm solicitação para serem posterga-dos pelo menos até o final de maio. Em relação às vendas para os frigoríficos, que sazonalmen-te têm melhora neste período, estão pelo me-nos 30% abaixo do que se registrou em 2019. Os negócios efetivos têm se con-centrado em segmentos do atacado e do varejo. Ainda de acordo com vendedores, enquanto as comercializações de misturas para pão de queijo caíram para hotéis, ba-

res e restaurantes, subiram para o setor su-permercadista, reflexo do isolamento social. As vendas cederam em intensidade maior que a produção industrial, resultando em aumento de estoques nas fecularias (Figura 4). Desde o período de intensificação do isola-mento social em vários estados até a semana entre 20 e 24 de abril, houve aumento de 42% nos estoques de fecularias e de modificado-ras de amido, os quais já superam, inclusive, os de igual período de 2019. Os estoques de empresas que atendem ao mercado de amidos modificados ficaram relativamente estáveis.

Figura 4 – Evolução semanal dos estoques de fécula nas fecularia e modificadoras entre janeiro e abril de 2020.Fonte: Cepea-Esalq/USP.

Diante do menor dinamismo da eco-nomia brasileira, os preços de fécula também passaram a sofrer pressões mais expressivas nas últimas semanas (Figura 5). Mesmo assim, as variações foram ligeiramente menores que as registradas no mercado de raiz de mandioca.

Na parcial do ano, os preços de fécula, em ter-mos reais, cederam 28,3%, sendo que 12,9% ocorreram desde meado do mês de março. Entre final de 2018 e 26 de abril de 2019, as cotações da fécula de mandioca cederam 10,4% em termos reais, também em intensidade

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menor que a registrada em 2020. Mesmo assim, as cotações parciais de abr/20 estão 4,5% maio-

res que as de abr/19 – também já deflacionada.

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Figura 5 – Evolução semanal dos preços de raiz de mandioca no Centro-Sul, até 24/abr/20, deflacionado pelo IGP-DI – base mar/20Fonte: Cepea-Esalq/USP.

As informações acima representam as condições observadas no mercado de fécu-la para indústrias especializadas. Entretanto, também é relevante destacar que a produção de goma ou tapioca se mostra importante na agroindústria rural, ou seja, em termos de pro-dução nos estabelecimentos agropecuários. Segundo informações do IBGE, divul-gada pelo Censo Agropecuário de 2017, havia no Brasil 71.306 estabelecimentos que produ-ziam goma ou tapioca naquele ano, gerando um montante equivalente a R$ 135,7 milhões. Como cerca de 70% dessa produção é comer-cializada, certamente houve impactos negativos diante das medidas observadas para o enfrenta-mento do coronavírus. Conforme se observa na Figura 6, as produções se concentram especial-

mente no Norte e Nordeste, apesar de o maior volume ter sido registrado em Minas Gerais. Outro aspecto importante a ser desta-cado é que, também segundo as informações da Pesquisa de Orçamentos Familiares 2017-2018, do IBGE, das despesas com alimentação média da população brasileira, 2,4% se refe-riram a farinhas, féculas e massas e 1,1%, a tubérculos e raízes, ambos na alimentação em domicílio. Este percentual é maior em famílias de rendas mais baixas, comparativamente a fa-mílias com rendas maiores. Mas, o maior isola-mento social, fazendo com que famílias fiquem mais tempo em suas residências, deve con-tribuir para um maior consumo no domicílio.

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Figura 6 – Quantidade produzida de goma ou tapioca na agroindústria rural nos estabelecimentos agropecuários, em 2017Fonte: Censo Agropecuário 2017. IBGE.

A produção de farinha de mandioca é um pouco dispersa em termos de Brasil. En-quanto no Centro-Sul há indústrias com

forte inserção no mercado e mais estruturadas, nas regiões Norte e Nordeste, há unidades me-nos não tão tecnificadas. Neste caso, há casas de farinha tradicional, artesanal, em que todas as fases do processamento são feitas manual-mente, utilizando utensílios rústicos, assim como casas de farinha de mandioca mecanizada, geralmente localizadas próximas das cidades. As estimativas do IBGE sobre a pesqui-sa de produção industrial anual, por produtos,

apontam que, na média de 2016 e 2017, fo-ram produzidas 242,3 mil toneladas de farinha de mandioca. Os valores nominais destas pro-duções foram, em média, de R$ 617 milhões. Entretanto, quando se consideram a produção na agroindústria rural, ou seja, nos estabelecimentos agropecuários, os dados do Censo Agropecuário indicam produção, em 2017, de quase 707 mil toneladas. Segundo o IBGE, o valor nominal desta produção foi de R$ 1,9 bilhão. Os destaques são para os es-tados do Pará, Amazonas, Bahia e Maranhão.

A PRODUÇÃO DE FARINHA DE MANDIOCA E IMPACTOS DA COVID-19

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Figura 7 – Quantidade produzida de farinha de mandioca na agroindústria rural nos estabelecimentos agropecuári-os, em 2017Fonte: Censo Agropecuário 2017. IBGE.

A farinha de mandioca é um dos ali-mentos mais consumidos no Brasil. Entretan-to, o dispêndio para sua aquisição e consumo domiciliar representou apenas 0,4% do total, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares em 2017-2018, do IBGE. Ainda assim, como em um contexto agregado é considerado um bem inferior do ponto de vista econômico, tendo em vista que a demanda pelo produto tende a decrescer conforme aumenta a renda da po-pulação e, considerando-se que há expectativa de redução da renda da população nos meses seguintes, pode ser um dos produtos que ve-nham a ganhar mercado. Vale lembrar que o comportamento dos consumidores se altera na medida em que se observam mudanças no padrão de renda. Pode haver, inclusive, reflexos diferenciados a depender da região do País.

Na primeira quinzena de abril, em es-pecial, farinheiras paranaenses e paulistas re-gistraram melhora nas vendas, principalmente para o Nordeste, mas com preços em quedas. Essas empresas possuíam estoques e foram favorecidas pelas restrições quanto à aglome-ração de trabalhadores nas casas de farinha do Nordeste. Naquela região, como boa parte do trabalho é manual, esse cenário teve re-flexos na produção de parte dos estados, que já carregava estoque mais baixo. Além disso, as chuvas em algumas regiões, além de difi-cultarem o avanço da colheita, também in-fluenciam no rendimento do amido das raízes. Vale ressaltar que passou a ter com-pras públicas de farinha, operacionalizadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Neste mês de abril, foi realizado um leilão para a

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aquisição de 495 toneladas de farinha de man-dioca seca/média tipo 1, para ser entregue prin-cipalmente em estados do Norte e do Nordeste. Como resultado, atacadistas dos principais centros consumidores voltaram a adquirir derivados de mandioca provenien-tes do Centro-Sul. Consequentemente, fari-nheiras dos estados de São Paulo e do Pa-raná intensificaram a moagem de raízes. Sabe-se que o mercado de mandioca está em um ciclo de preços baixos e no perío-do em que sazonalmente os preços se reduzem. Mas, assim como observado nos mercados de raiz e de fécula, as cotações da farinha também foram pressionadas em 2020. Os decréscimos acumulados até 24 de abril foi de 19,3% para

a farinha fina e de 13,5% para a farinha gros-sa. Desde meados de março, as reduções foram de 7,9% e de 4,8%, respectivamente. Observa--se, portanto, que as quedas foram bem menos intensas que nos demais mercado analisados. Entre final de 2018 e 26 de abril de 2019, as cotações de farinha de mandioca fina e grossa, secas, cederam 19,7% e 16,4%, respectivamente, em termos reais. Portanto, as variações registradas na parcial de 2020 foi próxima da observada em 2019. Mesmo assim, as cotações parciais de abril de 2020 para as farinhas fina e grossa estão 11,3% e 10%, respectivamente, maiores que as de abril de 2019 – também já deflacionada.

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Figura 8 – Evolução semanal dos preços de farinha de mandioca no Centro-Sul, até 24/abr/20, deflacionado pelo IGP-DI – base mar/20Fonte: Cepea-Esalq/USP.