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Departamento de História ESPAÇOS DE TROCAS COMERCIAIS NO ÍNDICO: CIRCULAÇÃO DE PESSOAS E DE PRODUTOS. Aluna: Lidiane Joyce Barbosa Moura Orientadora: Profa. Regiane Augusto de Mattos Introdução A presente pesquisa pretende analisar as relações comerciais entre os povos do interior e os do litoral do norte Moçambique e agentes sociais de outras origens presentes na região, como os europeus, no século XIX. Interessa saber também como se configurava o processo de exportação dos principais produtos (escravos, ouro, marfim, etc.), buscando uma compreensão desse período histórico em que a circulação de pessoas e de produtos foi decisiva para a dinâmica dos circuitos econômicos e culturais nessa região. Objetivos O objetivo do estudo é mostrar como se deu a organização do comércio no norte de Moçambique que, no século XIX, abasteceu diversos portos com seus produtos e a relação com os intercâmbios de saberes e práticos ocasionados pela circulação de pessoas envolvidas nesses circuitos comerciais. Metodologia O trabalho se desenvolveu a partir do levantamento de fontes e bibliografias, da leitura atenta e da análise dos documentos nos arquivos e bibliotecas localizados no Rio de Janeiro, como o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro e o Real Gabinete Português. As fontes utilizadas nessa pesquisa são, em grande medida, relatos de viagem, relatórios e memórias escritas no século XIX e início do XX. Esses relatos históricos sobre o comércio em Moçambique foram escritos, sobretudo, por viajantes, em sua maioria europeus. A historiografia que foi produzida a partir desses relatos de viagens como as fontes documentais e orais trazem lacunas, pois os viajantes que escreviam sobre a sociedade africana não pertenciam a essa cultura, não entendiam suas línguas e seus costumes, coloca- se em dúvida diversos pontos sobre essa historiografia, pois muito antes da chegada dos estrangeiros, os negros já tinham construído suas culturas e sua forma de subsistência. Em seu livro Angola nos Séculos XVI e XVII. Estudos Sobre Fontes, Métodos e História”, a etnóloga BeatrixHeintze [5] se dedica a assuntos ligados a análise e à crítica as

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Departamento de História

ESPAÇOS DE TROCAS COMERCIAIS NO ÍNDICO: CIRCULAÇÃO

DE PESSOAS E DE PRODUTOS.

Aluna: Lidiane Joyce Barbosa Moura

Orientadora: Profa. Regiane Augusto de Mattos

Introdução

A presente pesquisa pretende analisar as relações comerciais entre os povos do interior

e os do litoral do norte Moçambique e agentes sociais de outras origens presentes na região,

como os europeus, no século XIX. Interessa saber também como se configurava o processo

de exportação dos principais produtos (escravos, ouro, marfim, etc.), buscando uma

compreensão desse período histórico em que a circulação de pessoas e de produtos foi

decisiva para a dinâmica dos circuitos econômicos e culturais nessa região.

Objetivos

O objetivo do estudo é mostrar como se deu a organização do comércio no norte de

Moçambique que, no século XIX, abasteceu diversos portos com seus produtos e a relação

com os intercâmbios de saberes e práticos ocasionados pela circulação de pessoas envolvidas

nesses circuitos comerciais.

Metodologia

O trabalho se desenvolveu a partir do levantamento de fontes e bibliografias, da

leitura atenta e da análise dos documentos nos arquivos e bibliotecas localizados no Rio de

Janeiro, como o Instituto Histórico Geográfico Brasileiro e o Real Gabinete Português.

As fontes utilizadas nessa pesquisa são, em grande medida, relatos de viagem,

relatórios e memórias escritas no século XIX e início do XX. Esses relatos históricos sobre o

comércio em Moçambique foram escritos, sobretudo, por viajantes, em sua maioria

europeus. A historiografia que foi produzida a partir desses relatos de viagens como as fontes

documentais e orais trazem lacunas, pois os viajantes que escreviam sobre a sociedade

africana não pertenciam a essa cultura, não entendiam suas línguas e seus costumes, coloca-

se em dúvida diversos pontos sobre essa historiografia, pois muito antes da chegada dos

estrangeiros, os negros já tinham construído suas culturas e sua forma de subsistência.

Em seu livro “Angola nos Séculos XVI e XVII. Estudos Sobre Fontes, Métodos e

História”, a etnóloga BeatrixHeintze [5] se dedica a assuntos ligados a análise e à crítica as

Departamento de História

fontes históricas sobre Angola. Nos capítulos as fontes escritas e a História da África; uma

defesa das fontes primárias. A Colectânea Documental de Fernão de Souza sobre Angola; e

os Problemas de interpretação das fontes escritas. Os regimentos portugueses para a

política de Angola no século XVII, a autora problematiza a subjetividade e a falta de

veracidade na história escrita pelos europeus. Apesar de escrever sobre Angola, suas críticas

podem ser aplicadas às fontes documentais sobre o Índico e Moçambique, pois a maneira no

qual elas foram construídas (fontes, documentos, testemunhos orais) e quem a escreveu

(viajantes europeus) faz com que a história desses lugares ganhe a mesma dimensão.

Heintze [5] questiona a maneira como foi construída a história de Angola, assim

também diferencia a história africana, da história do colonialismo português. A história que

foi construída através dos relatos dos conquistadores, traficantes de escravos e missionários,

gerou um problema para os historiadores modernos, pois “o facto de todos terem estado de

uma forma mais ou menos directa envolvidos nos acontecimentos políticos e econômicos por

eles documentados. (p. 26)”, esses homens construíram uma representação sob o ponto de

vista europeu em relação às sociedades africanas.

Essa história acaba limitando o historiador, porque os europeus que descreveram as

sociedades africanas podiam não ter vivido entre os africanos, muitas vezes não

compreendiam as línguas locais, suas vivências e muito menos a sua realidade, ou seja, essa

história não resulta de uma experiência própria. Dessa forma, é preciso levar em

consideração essas características das fontes documentais utilizadas, fazendo uma leitura

atenta e uma análise crítica.

1.) Detalhamento dos resultados parciais obtidos no período

1.1. Pesquisa e sistematização da bibliografia

CURTIN, Philip. et. al. African History. Boston: Litlle Brown, 1978.

HEINTZE, Beatrix. Angola nos Séculos XVI e XVII: Estudos Sobre Fontes, Métodos e

História/ Beatrix Heintze. Lunda, Kilombelombe, 2007.

STANLEY, Henry M. Através do Continente Negro/ Henry Stanley, vol.2, Lisboa,

Publicações Europa América, 2007-2008 [n.p.]

ZONTA, Diego. Moçambique e o Comércio Internacional das Oleaginosas (1855-1890)/

Diego Zonta. Lisboa: Universidade de Lisboa (Tese de Doutorado), 2011.

Disponível em;

<http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/6957/1/ulfl118294_tm.pdf[01]> Acessado em 13 de

Jun 2015.

Departamento de História

ZONTA, Diego. “Moçambique” no Século XIX: do Comércio de Escravo ao Comércio

Legítimo/ Diego Zonta. Lisboa: Universidade de Lisboa, (Tese de pós graduação), 2012.

Disponível em;

<http://www.periodicos.ufes.br/dimensoes/article/viewFile/4320/3380[01]> Acessado em

13 de Jun 2015.

1.2.) Pesquisa e sistematização das fontes

Real Gabinete Português de Leitura:

ALBUQUERQUE, J. Mouzinho de. Moçambique 1896-1898/ J. Albuquerque, Lisboa,

Manoel Gomes Editor, 1899, [n.p.]

Andrade, Freire De. Relatórios sobre Moçambique / Freire De Andrade. - ED. IL.. -

Lourenço Marques, Imprensa nacional, 1910.

BORDALO, Francisco Maria. Ensaios sobre a estatística das possessões portuguezas na

África Occidental e Oriental, na Ásia Occidental, na China e na Oceania, vol. 4, Lisboa,

Imprensa Nacional, p. 318, 1859.

BOTELHO, Sebastião Xavier. Memória estatística sobre os domínios portuguezes na África

Oriental, Lisboa, Typ. de José Baptista Morando, p. 86, 1835.

FERRAZ, Guilherme Ivens. Descrição da Costa de Moçambique de Lourenço Marques ao

Bazaruto / Guilherme Ivens Ferraz, Lisboa, Tipografia Universal, 1902.

FERREIRA, José Joaquim; CASTILHO, Augusto de. Recordações da expedição da

Zambézia em1869, Elvas, Typ. Progresso, 1891.

MARQUES, Lourenço. Moçambique: Documento Trimestral/ Lourenço Marques, Imprensa

Nacional, 1935 [n.p.]

‗Moçambique‘, in Relatorios dos Governadores Geraes das Provincias de Cabo Verde,

Moçambique e Estado da India: referidos ao anno de 1875 e apresentados às cortes pelo

ministro e secretario d'estado dos negocios da marinha e ultramar na sessão legislativa de

1878, Lisboa, Imprensa Nacional, 1878, pp. 1-496.

Instituto Histórico Geográfico Brasileiro:

Annaes do Conselho Ultramarino. Parte não official, Série I, III, IV, V e VI, 1858-1867,

Lisboa, Imprensa Nacional, 1867-1869.

Boletim Oficial da Colônia de Moçambique / S/a .- [S.l] : [s.n.], 1935

Departamento de História

Conclusões

Este relatório tem como objetivo apresentar algumas considerações preliminares da

pesquisa realizada até o presente momento, ressaltando-se que ainda é um trabalho em

andamento.

Ao analisar o início da história comercial no Índico é possível compreender que no

final do século XII começaram a ocorrer mudanças no sistema de agricultura, comercial e

político [6]. O comércio de produtos agrícolas e a diversidade de produtos alimentícios

começaram a ser introduzido e intensificado no Norte através de diferentes grupos étnicos.

Os que mais se destacavam eram os macua-lomué e suaílis, ambos eram bantos, e

começaram a chegar à região de Moçambique no início deste século. Desses grupos nasceu

uma população mestiça, que já fazia trocas (permuta) com os indianos e foram os

responsáveis pelo cultivo e domínio na agricultura. Também já sabiam manipular o ferro e,

mais tarde, nessa região se concentram um grande número de ourives.

Os suaílis da costa eram importantes na região, e os portugueses sabendo das suas

fortes influências, tentaram expulsá-los, mas por serem muito numerosos não conseguiram.

Os suaílis eram responsáveis pela negociação de mercadorias com os africanos do interior e

por conhecerem seus produtores e compreenderem o fluxo comercial esses povos mantinham

relações intrínsecas com os comerciantes da Índia, Arábia, Golfo Pérsico. Mesmo com os

portugueses e ingleses controlando os portos e tomando o comércio na região do Índico, os

suaílis continuaram com o comércio e até o início do século XX. [9]

Igualmente muitos árabes e persas estavam presentes na região norte de

Moçambique. [7] As fontes históricas descrevem os povos árabes, que chegaram muito antes

dos portugueses, como povos avançados, civilizados e organizados, e tinham grande domínio

sob a agricultura. Eles cultivaram diversas plantas úteis para o consumo (algodoeiro,

gergelim, cânhamo, laranjeira, limoeiro, cana sacarina, e possivelmente arroz, café, entre

muitos outros), e as sementes eram adquiridas das relações comerciais com outros povos,

especificamente com a Índia e regiões do Mediterrâneo.

O saber, a agricultura e a religião se interligavam. A religião, principalmente o Islã,

ocupou um ponto central, pois a partir das práticas religiosas, novos saberes foram inseridos

nas sociedades africanas [1].

O Islã foi ganhando muitos adeptos em Moçambique. Em Inhambane, por exemplo,

foi muito bem estruturada, tinha uma multidão de adeptos e tão fortemente entronizada que

educou muitas gerações, como relata Freire de Andrade [1]:

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“Procede de outro modo o mahometanismo. Religião sem dogmas, sem mysterios,

sem philosophia, sem abstracção, sem mysticismo, sem austeridade, religião para

intelligencias acanhadas e para povos de costumes naturais e ainda mais se

simplifica e se facilita para se fazer acceitar pelos africanos, - e por isso elles a

aceitam. Pouco ensina e pouco preceitua”. (ANDRADE, Freire, p. 292, 1910)

Além disso, o islamismo teve um peso muito forte na política local devido às alianças

entre os chefes e os grandes comerciantes.

Devido a essa forte miscigenação Moçambique se tornou uma região muito rica

culturalmente, onde várias tradições e religiões foram inseridas, várias línguas foram

introduzidas, mas as línguas de origem bantu [6]. Estas, consideradas as mais importantes da

África Subsaariana, se dividiam em diversas outras como; Cicopi, Cinyanja, Cinyungwe,

Cisena, Cisenga, Cishona, Ciyao, Echuwabo, Ekoti, Elomwe, Gitonga, Maconde (ou

Shimakonde), Kimwani, Macua (ou Emakhuwa), Memane, Suaíli (ou Kiswahili), Suazi (ou

Siwazi), Xichangana, Xironga, Sitswa e Zulu (ou Sizulu) que eram usadas pela maioria da

população. Mais tarde, com a colonização dos portugueses, a língua oficial de Moçambique

se tornou o português. Apesar de terem línguas bem diversificadas, os povos de Moçambique

compreendiam muitas delas, alguns falavam o português e outras línguas locais.

Cada etnia tinha sua particularidade, sua língua, sua religião e práticas de saberes,

seja um saber para direcionar os povos de determinada tribo, ou um domínio maior sobre um

determinado material, também se organizavam em sociedades matrilineares, patriarcais ou

outros [6].

Algumas sociedades, por terem uma grande quantidade de determinada matéria–

prima na sua região, acabaram se especializando em certas funções. [7] No documentário

trimestral de Moçambique, apresenta o caso da Zambézia, onde havia grande quantidade de

madeira, marfim e ouro, muitas pessoas tornavam-se ourives, torneiros, escultores de

belíssimos jarros e esculturas em marfim. Foram encontradas diversas esculturas de homens

e mulheres desta sociedade, esculpidas com detalhes da fisionomia e também os ofícios das

pessoas. As esculturas de madeira eram ainda mais detalhadas. As joias eram muito

cobiçadas pelos seus mínimos detalhes e o acréscimo das pedras preciosas tornavam as peças

muito valiosas. Os chamados quelimanes tinham um domínio maior sobre o marfim e, em

diferentes lugares do mundo, ainda hoje é possível encontrar diversas jarras, candelabro e

caixas em marfim feitas por esse grupo. Os macondes tinham um domínio maior sobre a

madeira, produzindo cadeiras muito trabalhadas e esculturas do próprio povo maconde. A

figura da mulher na arte é muito importante para a construção desses saberes, existindo

inúmeras representações delas. A madeira utilizada era muito leve e frágil. Eram produzidas

Departamento de História

máscaras conhecidas como lipíko, usadas nas danças mapiko. Essas estatuetas para uso

cerimonial eram bem feitas, mas sua durabilidade não era tão boa.

Com a colonização, várias encomendas eram feitas aos escultores macondes, que

começaram a esculpir em madeiras mais resistentes (pau preto e pau rosa) e marfim, fazendo

representações de Cristo e da Virgem Maria, como também de animais e mulheres macondes

em madeira e marfim. Essa arte foi muito bem acolhida e, com o passar dos anos, os

macondes começaram a produzir cada vez mais. Alguns criticam que com a colonização eles

perderam a liberdade, a criatividade e deram lugar para o aperfeiçoamento e a técnica

perdendo assim a sua forma original. [7]

Assim como na religião e na língua, a colonização afetou fortemente os costumes. Na

verdade, os colonizadores inseriram os seus costumes, a sua língua, e religião. Na arte não

foi diferente, a liberdade de criar, foi perdendo espaço para as repetições das peças, pois a

exportação de peças produzidas por algumas sociedades eram objetos de luxo das casas na

Europa. A encomenda era grande e o tempo era pouco, tornando a produção mecanizada.

Moçambique pode ser considerada um verdadeiro mosaico de etnias [6]. No norte de

Moçambique existiam os povos Macuas muitos eram mestiços devido à união de mulheres

Macuas com imigrantes de Mombaça e também de Zanzibar, onde havia uma grande

concentração de árabes e indianos. Existiam também os Suaílis, que eram mulçumanos e se,

estabeleceram em feitorias e propagaram a sua língua e religião. Os Indonésios migraram

para a costa oriental africana e levaram vários produtos, como arroz, gergelim, mangueira,

plantas de bananeira e cana-de-açúcar que foram incorporados na sua agricultura.

Outros povos foram integrados nessa grande teia cultural, os indo-europeus vinham

da Europa e da Ásia e tinha uma língua comum. Os Codjás eram comerciantes e adotaram o

islamismo como a sua religião. Os Hindus também eram comerciantes e grandes

agricultores. Os Memanes tinham características bem parecidas com os Hindus, mas a sua

religião era bem diferente, pois eles eram mulçumanos ortodoxos. Os portugueses também

levaram o cristianismo para Moçambique e fundaram algumas igrejas na região. [8].

O século XIX foi um divisor de águas, com muitas guerras e disputas pelo controle

comercial principalmente entre os portugueses e suaílis, pois as trocas comerciais nessas

cidades se intensificaram não só pela quantidade de produtos exportados, mas pela

praticidade do contato contatar com outros comerciantes por estarem no litoral, facilitando o

comércio. Isso fez com que o Norte de Moçambique, Madagascar, Comores e Zanzibar se

tornassem verdadeiros polos comerciais no final do século XIX e início do século XX.

Departamento de História

A mão de obra escrava foi um dos principais produtos exportados no século XVIII,

XIX e no início do XX. Eles eram trocados, principalmente por armas e pólvora. [10]

Sobre o tráfico de escravos na região do Índico, Zonta [10] cita informações do livro

“Africa History, em que o autor Philip Curtin [2] faz uma análise quantitativa do número de

escravos exportados;

“Ao contrário da costa ocidental, o tráfico no Índico, apesar de mais antigo, ganhou

a mesma dimensão bem depois do estabelecimento de um comércio regular e de

grandes proporções para a América. No princípio do século XIX, quando as

restrições ao tráfico praticamente não existiam, uma média de 10 a 15 mil escravos

saíam anualmente da costa oriental. Por volta de 1860, quando os britânicos já

patrulhavam parte da costa, essa cifra chegou a 20 mil. Números que continuaram

elevados nas duas décadas seguintes”. (CURTIN, P, 1978, p. 401-402.... Apud....

ZONTA, D, 2012).

Diego Zonta [9] afirma que os funcionários da coroa portuguesa e os franceses em

1730 já buscavam em Moçambique, Inhambane, Quelimane e nas ilhas de Cabo Delgado

mão de obra escrava. Mesmo mais tarde, no século XIX, com a proibição do tráfico em

portos portugueses os generais e governantes faziam manobras muito arriscadas para dar

continuidade a esse comércio, inclusive utilizando os portos menos fiscalizados que ficava

ao longo da costa mais ao norte.

As comunidades islamizadas ficaram com a comercialização no norte e os afro-

portugueses responsáveis pelo comércio mais ao sul. [9] Os afro-portugueses eram os que

mais se arriscavam, eles apostavam todo o seu capital e dando certo eles dobravam o seu

investimento, mas caso o contrário eles perdiam seu investimento, mas por ser um negócio

muito lucrativo poderiam está sempre tentando e as chances de dar certo eram muito

maiores.

A explicação para o aumento do tráfico negreiro no litoral do Índico se deve às

pressões que os militares britânicos fizeram para acabar com esse comércio. Por de trás dos

movimentos humanísticos tinha também um interesse econômico, pois os britânicos

começaram a perder espaço no mercado financeiro que prejudicou a sua economia. Por parte

dos grandes fazendeiros havia um temor em ficar sem a mão de obra escrava que garantia a

eles o superfaturamento sob seus produtos. E com a fiscalização nos portos ao sul de Angola,

a solução foi voltar para a costa do Índico onde não tinha tanta fiscalização. Com os indícios

do fim do tráfico negreiro o comércio se intensifica ainda mais, durante 350 anos de

escravidão estima-se que 12,5 milhões de africanos foram vendidos pelo mundo, sendo 95%

vindo para o Caribe e América do Sul. O Brasil foi o que mais importou mão de obra

escrava, devido a sua agricultura, o país construiu um verdadeiro império com a produção de

Departamento de História

cana de açúcar e café. Na costa ocidental de Moçambique houve uma pressão muito forte

para o fim do comércio negreiro, a escravidão em Zanzibar e Madagascar só acabou por

volta de 1909. [9]

O comércio nessa região era intenso e os portugueses foram responsáveis pela

exportação de mais de 160.000 escravos só na última metade do século XIX, sendo que

muito antes da chegado dos portugueses, os árabes já estavam envolvidos na exportação de

mão de obra escrava. Mais tarde os franceses também participaram do tráfico negreiro na

costa oriental, e já no final do século XIX até as primeiras décadas do século XX os

mulçumanos intensificaram suas feitorias em Zanzibar e Madagascar e esses foram os

últimos a deixar essa prática comercial. [9].

Com o fim do comércio em dezembro de 1836, e sob a dominação dos portugueses

no fim do século XIX, Moçambique começou a produzir e exportar mais produtos agrícolas

e de extração para as indústrias europeias, conseguindo se manter positivamente no mercado

financeiro com o novo sistema comercial. Esse sistema garantia que os produtos não ficariam

retidos nos portos, a maioria dos produtos estava diretamente ligada à agricultura como as

sementes oleaginosas e também algodão, este o produto responsável por inserir Moçambique

na economia mundial.

A exportação de marfim continuou sendo depois do tráfico negreiro e o ouro, um dos

produtos mais procurados. Anos mais tarde a exportação de algodão, borracha e sementes

oleaginosas dominaram o cenário econômico de Moçambique e, com isso, muitos povos se

direcionavam para a costa oriental. [9]

Freire de Andrade [1] fala em seu livro sobre as alianças realizadas com os chefes do

interior e o sultão de Angoche, da sua importância para o comércio, principalmente o

comércio de escravos, marfim, e ouro. No início da imigração os negros islamizados da

Costa Suahili foram para os mares do sul em busca de riquezas e para estabelecer o controle

comercial. [3] Ao esquadrinharem pelas margens eles se deparavam com diversos povos e

muitos já influenciados pelas culturas árabes e portuguesas. O sultão de Angoche tinha como

intuito fazer clientes, e o seu principal produto eram os tecidos, muito coloridos e agradavam

os povos da costa.

As mulheres do litoral, principalmente aquelas com maior poder aquisitivo, eram as

que mais apreciavam os tecidos coloridos, acrescentando lenços de cores bem vivas e a

adornos delicados. [6] Os tecidos eram conhecidos pela garradice e o colorido de capulanas,

com ele se fazia saias bem justas e também usavam para cobrir o tronco e a cabeça.

Departamento de História

O comércio com os povos das áreas rurais não era muito diferente dos povos da

costa. Em primeiro lugar porque a maioria desses estabelecimentos era de comerciantes

asiáticos e mulçumanos e, em segundo, porque o comércio de permuta também era praticado

pelos nativos.

B. G. Martins [8] apresenta como os aspectos geográficos no Oceano Índico facilitou

essa transação com a Costa da Arábia e como isso foi importante para a relação do Islã com

os comerciantes mulçumanos. [4] Durante esse período, as influências dos muçulmanos

foram incorporadas nos sultanatos de Angoche e de Zanzibar que incorporaram a produção

de tecidos, que eram usados como moedas de troca e geraram grandes riquezas e poder

político.

Assim como retrata também A. J. Mello Machado [6]

“Colhendo das caravanas negros que desciam ao litoral, as ricas pedrarias, marfim, o oiro,

as peles, a cera, madeiras preciosas, ou fragantes essências, que permutavam por tecidos

berrantes e adornos garridos, joalheria e armas com que atiçavam a cobiça do nativo”,

(MACHADO, A. J. De Mello. p.113. 1970)

As mudanças demográficas, a afirmação do capitalismo no século XIX e a Revolução

Industrial estimularam a produção das mercadorias africanas por parte dos países

industrializados crescendo, nesse período, o número de produtos para a exportação. [9] Os

produtos mais requisitados nos países industrializados eram açúcar, algodão em rama,

bagaços de oleaginosos, bananas, carvão mineral, cera, cereais em grão, marfim, algodão,

sisal, entre muitos outros.

Cada produto tinha sua importância e seu valor no mercado financeiro, a extração do

óleo da palma ganhou mercados do mundo inteiro, pois com essa matéria prima se produzia

lubrificantes usados nas indústrias, velas e também era usado na preparação de alimentos.

Outro produto muito comercializado nesse período era o amendoim. Seu cultivo trouxe

mudanças para o cenário comercial e também em sua natureza [9]:

“Muitos africanos responderam prontamente à demanda não somente com

o aumento do excedente, mas com transformações na própria natureza da

produção, como foi o caso do reino de Daomé, que passou a utilizar a mão de

obra escrava não mais para ser vendida ao Brasil, primordialmente, mas no

cultivo à exportação”. (Moçambique e o comércio Internacional das

Oleaginosas (ZONTA, Diego.p.22, 2011).

Departamento de História

As mudanças continuaram, além da agricultura, esse novo comércio trouxe também

alterações na política, principalmente nas relações sociais e econômicas como o autor

aponta;

“O novo comércio também modificou as relações internas de poder nas

regiões produtoras. A produção foi garantida por pequenos produtores,

geralmente no seio de núcleos familiares, que podiam por si só negociar o

excedente diretamente com os intermediários das casas comerciais. Essa

prática significou um duro golpe aos chefes africanos que centralizavam o

poder e controlavam, até então, o comércio e suas as benesses”. (ZONTA,

Diego, p.44, 2011)

Zonta [9] analisa as transformações comerciais no Índico que se iniciaram por volta

de 1850 e se estenderam até meados do século XX, quando a economia estava parcialmente

voltada para esse comércio, pois ainda nesse período os franceses estavam exportando mão

de obra escrava. Boa parte dos mercadores de escravos aderiu ao comércio de produtos

agrícolas e de extração, pois viram vantagens nesse setor. Começaram a plantar mais e

inclusive contratar ex-escravos para trabalhar em suas fazendas. Nesse período, em

Moçambique se instalara as primeiras casas comerciais francesas. Essas casas foram muito

importantes para a exportação de diversas mercadorias produzidas por agricultores africanos.

Além do comércio de escravos, os franceses estavam cada vez mais envolvidos no comércio

das oleaginosas.

As sementes oleaginosas foi um dos produtos importados pela Inglaterra e França no

século XIX e com a descoberta do que poderia ser feito com elas, o consumo só fez crescer.

Pois naquele momento os produtos que mais eram consumidos era o algodão, açúcar, café, e

tabaco. Os diferentes tipos de madeiras também foram muito importados, mas os que

cresceram com o passar dos anos e que inicialmente não eram tão importados eram os

produtos oleaginosos, resinosos e diferentes produtos alimentícios. O amendoim

especificamente foi inserido na produção de sabão, óleo e azeito, assim como o gergelim

também era a principal matéria prima para a produção de óleo.

Com o grande fluxo na exportação Moçambique passa ganhar confiança no novo

comércio e abriu uma concorrência com produtos que dominaram o comércio por séculos

como o marfim, o ouro, a cera de abelha e escravos. Nesse período, além das oleaginosas, o

algodão e a borracha começaram a ser exportados em quantidades cada vez maiores.

Também se começou a importar armas, pólvora, enxadas, trigo, vinho, entre outros produtos.

O comércio se afirmava e a quantidade de produtos exportados e importados crescia a cada

ano. [9]

Departamento de História

Referências:

1- ANDRADE, Freire De. Relatórios sobre Moçambique / Freire De Andrade. - ED. IL. . -

Lourenço Marques: Imprensa nacional, 1910.

2- CURTIN, Philip. et. al. African History. Boston: Litlle Brown, 1978.

3- FERRAZ, Guilherme Ivens. Descrição da Costa de Moçambique de Lourenço Marques

ao Bazaruto / Guilherme Ivens Ferraz . - Lisboa : Tipografia Universal, 1902.

4- FERREIRA, Rita Antonio. Povos de Moçambique: História e Cultura/ Rita Antonio

Ferreira. Porto, Afrontamento, p. 378, 1975.

5- HEINTZE, Beatrix. Angola nos séculos XVI e XVII: Estudos Sobre Fontes, Métodos e

História. Lunda, Kilombelombe, 2007.

6- MACHADO, A. J. De Mello. Entre os Macuas de Angoche: historiando Moçambique / A.

J. De Mello Machado. - ED. IL. . - Lisboa: Prelo editora, 1970.

7- MARQUES, Lourenço. Moçambique: Documento Trimestral/ Lourenço Marques,

Imprensa Nacional, 1935 n.p.

Internet:

8- MARTINS, B. G., “On some members of the Learned Class of Zanzibar and East African

in the Nineteenth Century”. Boston, Boston University, 1971.

Disponível em;

<http://www.jstor.org/discover/10.2307/216528?sid=21106336645783&uid=70&uid=2134

&uid=3737664&uid=2129&uid=4&uid=2 [1]> Acessado em 08 de Mai 2015.

Internet:

9- ZONTA, Diego. Moçambique e o Comércio Internacional das Oleaginosas (1855-1890)/

Diego Zonta. Lisboa: Universidade de Lisboa (Tese de Doutorado), 2011.

Disponível em;

<http://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/6957/1/ulfl118294_tm.pdf[01]> Acessado em 13 de

Jun 2015.

10- ____________ “Moçambique” no Século XIX: do Comércio de Escravo ao Comércio

Legítimo/ Diego Zonta. Lisboa: Universidade de Lisboa, (Tese de pós graduação), 2012.

Disponível em;

<http://www.periodicos.ufes.br/dimensoes/article/viewFile/4320/3380[01]> Acessado em

13 de Jun 2015.

Departamento de História

ANEXO 1

Exemplos de Fichamento da bibliografia

Machado , A. J. De Mello. Entre os Macuas de Angoche: historiando Moçambique / A. J. De

Mello Machado. - ED. IL. . - Lisboa : Prelo editora, 1970.

O TERRITÓRIO DE ANGOCHE

“Séculos atrás, negros islamizados da Costa Suahili, rumaram seus batéis

demarcadores para os mares do Sul, na busca de riquezas e mercados. Navegando junto à

costa, esquadrinharam enseadas e canais, procurando clientela entre o gentio, a quem atiçava

a cobiça, deslumbrando-o com panos coloridos”. (Pg. 8)

“Estabeleceram- se os mulçumanos, onde o negócio se tornou rendoso e a segurança

natural o consentiu. E os mercados tornavam-se feitorias nos locais bem defendidos e ao

abrigo das pilhagens do gentio”. (Pg. 9)

“Atrás dos mercadores, retardados no regresso pela sorte dos negócios, novas levas

de imigrados se lhes vieram juntar. Assim nasceram as feitorias mulçumanas da Costa

moçambicana”. (Pg. 9)

“Na sua Aventura mercantil, os mulçumanos visitaram a ilha de Angoche. As visitas

repetiram-se”. (Pg.9)

“Frotas de mercadores convergiam para Angoche. Intenso era o intercâmbio com as

restantes feitorias dispersas pela costa”. (Pg. 9)

“Cedo Angoche se tornou o maior potentado mulçumano a sul de Moçambique. O

seu governante adotou o título de sultão e conseguiu impor a sua orientação política às

restantes feitorias nascidas da mesma aventura”. (Pg. 9)

“O Comércio de permuta foi o prólogo do negócio mais ambicioso pelos islamitas – o

tráfico de escravatura. E todos os estabelecimentos mulçumanos depressa se tornaram

mercados negreiros, para o que usaram de hábil política, incitando os nativos a rapina,

fornecendo-lhes armas, forjando intrigas, alimentando-lhes a cobiça, instigando-os às lutas

tribais e acabando por convidá-los a venda dos prisioneiros conseguidos. E o tráfico negreiro

tornou-se o negócio quase exclusivo dos mercadores.” (Pg. 9-10)

(Pg. 22) Curso das águas

“A terra moçambicana desce em suava declive, do interior para o oceano, que lhe

acolhe os cursos de água como concha imensa. Os sistemas hidrográficos têm uma

orientação geral que os dirige para o Oriente, escoando as águas no Índico e

compartimentando o território em faixas transversais”. (Pg.22)

Departamento de História

(Pg. 112-117) Os Mouros Suaílis

“Os árbes Sabeus se acompanhavam já de escravos negros, o que nos leva a aceitar a

possibilidade de contactos comerciais, nessas épocas recuadas, entre os portos arábicos e a

Costa africana vizinha”. (Pg. 112)

“Onde se fixavam, instalavam burgos espaçosos e confortáveis, protegidos por

muralhas ou organizações defensivas, à maneira da sua terra. Consolidada a ocupação,

passavam a explorar o Comércio do Sertão, colhendo das caravanas negros que desciam ao

litoral, as rica pedrarias, marfim, o oiro, as peles, a cera, madeiras preciosas, ou fragantes

essências, que permutavam por tecidos berrantes e adornos garridos, joalheria e armas com

que atiçavam a cobiça do nativo”, (Pg. 113)

“Cedo as feitorias monopolizaram o comércio do Índico. No século X todo o

comércio entre as costa orientais africanas e os portos dos arábicos e indianos estavam nas

mãos dos árabes de Oman e dos Sirazianos da Pérsia”. (Pg. 113)

“Das feitorias partiram frotas em busca de novos mercados. Os negros das enseadas,

angras e rias que bordejam o sertão, viviam deslumbrados a chegada dos pangaios

mouriscos, que lhes ofereciam tecidos berrantes, cabaias vistosas, pulseiras e colares, em

troca de produtos do mato”. (Pg113)

“O estabelecimento mercantil foi assim, de início um processo pacífico, e dele nasceu

uma população mestiçada que deu origem aos primeiros núcleos Suaílis que habitam o

litoral”. (Pg113)

“Alianças de família originaram a hegemonia de alguns sobre outras. Quiloá estava

no seu apogeu à chegada dos Portugueses. Em Sofala colheu o oiro que a enriqueceu e cujo

exclusivo do comércio chamou a si”. (Pg. 114)

“O negócio de armas que introduziram, fez surgir outro muito mais lucrativo, o da

escravatura” (Pg. 114)

POVOS DE MOÇAMBIQUE

“Ao Norte de Moçambique, sobretudo no litoral, a influência maometana é

considerável”. (Pg. 140)

“Ela é agora representada por uma costa de indianos islamitas – os monhis – que tem

na mão quase todo o pequeno comércio da costa oriental. Esta influência é altamente nova

para o nosso prestígio, pois, moralmente, os indígenas sofrem muito mais influências dos

monhés que os portugueses” (Pg. 141).

Departamento de História

“Todas as línguas nativas falada na província de Moçambique pertencem a grande

família lingüística Bantu, a mais importante de toda a África Negra, quer pelo número de

gente que a falam, quer pela sua extensão geográfica” (Pg. 147)

(Pg. 118) Actividades habituais

“O vestuário é rudimentar entre as populações pagãs mais primitivas. Mas no litoral,

sobretudo nas áreas de António Enes e Moma, as mulheres vestem com imenso gosto e

colorido, enfeitando-se com lenços berrantes e adornos delicados e de bom gosto.

Surpreende o visitante a beleza dos trajes, a garradice e o colorido das <<capulanas>> o

aspecto airoso e agradável da apresentação feminina”. (Pg. 220)

(Pg. 587-611) Aspectos Econômicos

“Têxteis – copra, sisal – algodão e sumaúma, oleaginosas – caju, amendoim, coco (e

com diminuta produção de gergelim, mafurra e rícino) Farinosas- arroz”. (Pg. 602)

“O comércio praticado pelos nativos caracteriza-se fundamentalmente pela permuta

de generos alimentares”. (Pg.606)

“Todo o comércio efectuado no mato e éreas rurais é feito através de lojas e cantinas,

que se dedicam ao comércio geral, transaccionando produtos necessários à manutenção dos

nativos, sendo os mais procurados os panos, lanternas, chapéus, gêneros alimentícios

preparados (farinha, conservas, bebidas), tabaco bicicletas, contas colares, artigos de higiene

(sabonetes, pastas, loções). Grande número dessas lojas são exploradas por comerciantes

asiáticos”. (Pg. 606)

Departamento de História

ANEXO 2

Exemplo de fichamento de fontes

FERRAZ, Guilherme Ivens. Descrição da Costa de Moçambique de Lourenço Marques ao

Bazaruto / Guilherme Ivens Ferraz . - Lisboa : Tipografia Universal, 1902.

Pg 3

DESCRIÇÃO DA COSTA DE MOÇAMBIQUE

A costa de Moçambique

De Lourenço Marques ao Bazaruto.

1° “Esboço Histórico – No anno de 1502, uma das naus da Armada de Vasco da Gama,

do commando de Antonio do Campo, surprehendia por uma tormetosa procella no travez do

Cabo da Corrente, foi de corrida para o poente até encontrar abrigo n’ uma espaçosa Bahia”.

4° “Vinte e dois annos mais tarde Lourenço Marques, Antonio Caldeira, Sahiados de

Moçambique a bordo d’um pangaio em viagem de reconhecimento da Costa para o S.,

exploraram o Reio Reus (Limpopo), o Maputo e o Espírito Santo e, subindo o Rio de Lagôa,

verificaram ser errada a supposição de Antonio do Campo a respeito da origem d’este rio”.

Pg 4

“Mais tarde, não se sabe quando, nem porquem, a designação Bahia da Lagôa ou da

Alagôa foi transferida para outra muito mais ao S. (Alagoa Bay), mas ainda hoje é

universalmente conhecida por Bahia da Lagôa (Delagoa Bay), a Bahia que só os portugueses

chamavam de Lourenço Marques”.

“Além de mandar um navio todos os annos ao resgate de marfim, nada mais fizeram

os portugueses para manifestar a sua soberania nas terras de Lourenço Marques, e por isso,

os hollandêses em 1721, se estabeleceram sem opposição na margem esquerda do rio do

Espírito Santo, onde permaneceram, até que, dizimados pela febre, tiveram de retirar-se,

abandonando uma pequena fortificação”.

As principaes vias de communicação com o sertão eram os rios que desagúam na

Bahia, percorridos pelas embarcações dos negociantes asiáticos, que iam a grande distancia

comprar, a troco de artigos da Europa e a da Índia, mendobi, urzella, cera, couros e marfim,

que depois vendiam as feitorias a presidio, os quaes exportavam esses productos em navio de

vela, pangaios e nos vapores da Union Line”. (pg 4-5)

(Pg 39)

“Produções - O Districto de Gaza têm uma flora riquíssima, encontrando-se nas

florestas boa borracha , excellentes madeiras, como o ébano preto e vermelho, e por toda a

parte belas postagens; abunda a caça e o gado bovino e caprino, apesar das razias das últimas

guerras.”

Departamento de História

“O commércio é exercido por europeus e mais ainda por asiáticos, que, recebendo as

suas mercadorias pelo rio Limpopo no Chai-Chai, as espalham por todo districto e parte do

de Inhambene, quer em embarcações que sobem o rio e seus affluentes, quer, pelas estradas,

as costas dos pretos ou em Carretas”.

“A exportação do Limpopo é, em pequena escala, milho, borracha e gado”.

(Pg 51)

“Inhamebe – Exporta café, borracha, algum marfim, cera e sementes oleaginosas”.

(Pg 57)

ARCHIPELAGO DO BAZARUTO

Communicação e Commercio

“As ilhas de Bazaruto, especialmente ade Santa Carolina, tiveram por meio de

lanchas a vela, communicações freqüentes com o continente fronteiro”.

“Desde que este archipelago pertence a companhia, são poucos os negociantes ahi

estabelecidos. Antigamente, principalmente na epoca da pesca das perolas, havia em

Bazaruto muitos negociantes aziaticos, sendo o principal commercio a permuta de pólvora,

armas e enxadas por perolas e aljofares.”

“Também com os negociantes comprar no continente fromendoir, urzella, cera,

marfim, etc.”