espaÇos de controle social e o parecer do assistente...

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1 ESPAÇOS DE CONTROLE SOCIAL E O PARECER DO ASSISTENTE SOCIAL Juscelia Antunes Noronha 1 RESUMO O artigo exposto visa propor uma discussão sobre a práxis dos Assistentes sociais Social nos espaços de controle social, mais especificamente, os espaços dos conselhos de direitos e de políticas públicas. A investigação parte de levantamento teórico, acessível e disposto por escritores da literatura brasileira. Deduz-se que este profissional tem muito a contribuir com a democratização da coisa pública, pois possuem competência advinda de sua formação profissional. A investigação realizada possibilita estabelecer que estes profissionais tenham muito a contribuir com o enfrentamento das demandas sociais, bem como, podem contribuir para o adensamento da pesquisa e da laboração hipotética no cenário das políticas sociais, articulada à interpretação dos movimentos macros societários que possibilite iluminar os rumos a ser perseguidos pelos espaços de controle social. Palavras-chave: Conselhos, Controle Social, Serviço Social. 1 Graduada em Serviço Social pela Universidade Norte do Paraná UNOPAR/ Betim, MG, no ano de 2013.Especialista em Gestão de Projetos pela Unidade de Ensino e Aprendizado de Viçosa UNESAV, Unidade Belo Horizonte. No ano de 2015.Pós Graduanda em Criminologia, Direitos Humanos e Segurança Pública. Pela Unidade de Ensino e Aprendizado de Viçosa UNESAV, Unidade Belo Horizonte. No ano de 2016.

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ESPAÇOS DE CONTROLE SOCIAL E O PARECER DO ASSISTENTE SOCIAL

Juscelia Antunes Noronha1

RESUMO

O artigo exposto visa propor uma discussão sobre a práxis dos Assistentes sociais Social nos

espaços de controle social, mais especificamente, os espaços dos conselhos de direitos e de

políticas públicas. A investigação parte de levantamento teórico, acessível e disposto por

escritores da literatura brasileira. Deduz-se que este profissional tem muito a contribuir com a

democratização da coisa pública, pois possuem competência advinda de sua formação

profissional. A investigação realizada possibilita estabelecer que estes profissionais tenham

muito a contribuir com o enfrentamento das demandas sociais, bem como, podem contribuir

para o adensamento da pesquisa e da laboração hipotética no cenário das políticas sociais,

articulada à interpretação dos movimentos macros societários que possibilite iluminar os

rumos a ser perseguidos pelos espaços de controle social.

Palavras-chave: Conselhos, Controle Social, Serviço Social.

1 Graduada em Serviço Social pela Universidade Norte do Paraná – UNOPAR/ Betim, MG, no ano de

2013.Especialista em Gestão de Projetos pela Unidade de Ensino e Aprendizado de Viçosa – UNESAV, Unidade

Belo Horizonte. No ano de 2015.Pós Graduanda em Criminologia, Direitos Humanos e Segurança Pública. Pela

Unidade de Ensino e Aprendizado de Viçosa – UNESAV, Unidade Belo Horizonte. No ano de 2016.

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Introdução

O presente artigo propõe tecer uma discussão sobre a inserção do assistente social

nos espaços de controle social, focando os espaços dos conselhos direitos ou de políticas

públicas, a partir da discussão disponível na literatura sobre tal temática. A referida

investigação é resultado das inquietações em conhecer e refletir sobre a atuação e contribuição

dos profissionais nestes espaços públicos que discutem e deliberam sobre políticas públicas.

Entende-se que os assistentes sociais têm um grande potencial para contribuir com a

democratização destes espaços públicos, na busca da garantia da concretização de direitos

sociais conquistados recentemente, por articulação e pressão de diversos movimentos sociais

e diversas categorias profissionais.

Primeiro, é necessário problematizar o papel do Estado no combate das inúmeras

expressões da questão social materializada através da política social. Também é necessário

pensar como ocorreu historicamente a constituição dos espaços de democratização das

políticas públicas no Brasil, materializados nos Conselhos e Conferências.

Aparato Crítico

A resposta do Estado Capitalista para o combate das expressões da questão social por

meio de políticas públicas foi uma estratégia para amenizar os conflitos sociais. Conflitos

estes advindos da relação entre capital x trabalho, explicitados na ordem do dia através das

reivindicações feitas pela classe trabalhadora. Estas respostas foram materializadas através

das políticas públicas social, esta entendida como: “Concessões/conquista mais ou menos

elásticas, a depender da correlação de forças na luta política entre os interesses das classes

sociais e seus segmentos envolvidos”. (BEHRING, 2009, p. 315-316).

Vale ressaltar que a política social2 cumpre um papel importante num país como o

Brasil, país este permeado de contradição, ao ofertar ações que garantem os direitos sociais à

classe que vive do trabalho, estes direitos são conquistados através de lutas coletivas.

De acordo com Behring (2009, p. 304) ao estudar sobre as políticas sociais é

necessário analisá-la entendendo que é resultado de relações complexas e contraditórias na

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relação entre o Estado e a sociedade civil no âmbito dos conflitos e lutas de classes que

envolvem o processo de produção e reprodução do capitalismo, nos seus grandes ciclos de

expansão e estagnação, ou seja, problematiza-se o surgimento e o desenvolvimento das

políticas sociais no contexto da acumulação capitalista e das lutas de classes, com perspectiva

de demonstrar seus limites e possibilidades.

Em relação à constituição dos espaços de democratização das políticas públicas no

Brasil a literatura sobre a referida temática evidencia que estes espaços foram fomentados na

década de 1980, período este rico de mobilização da sociedade civil em busca da

democratização da sociedade brasileira, anteriormente o país tinha passado por um período

ditatorial, que dificultava a liberdade de expressão e mobilização.

As mobilizações da década de 1980 estavam em torno do processo da Constituinte

em que a sociedade civil lutou para que fossem garantidas igualdades sociais, tendo como

culminância a promulgação da Constituição Federal de 1988, considerada como “Constituição

Cidadã”. Esta instituiu espaços de controle social no país, sendo estes regulamentados

posteriormente através da aprovação das diversas legislações que versam sobre as políticas

setoriais.

Dentre estes espaços de controle social encontram-se os Conselhos de Direitos e de

Políticas Setoriais e as Conferências, segundo Raichelis (2007, p. 77) os conselhos de

políticas públicas constituem uma das principais inovações democráticas no campo da

participação popular nas decisões políticas. Em relação a esta discussão Bravo (2009, p.395)

descreve que:

Esses mecanismos foram propostos num contexto de mobilização da

sociedade civil, do processo Constituinte e promulgação da Constituição de

1988, que introduziu avanços que buscaram corrigir as históricas injustiças

sociais acumuladas secularmente, mas incapazes de universalizar direitos

tendo em vista a longa tradição de privatizar a coisa pública pelas classes

dominantes. Bravo (2009, p.395)

É importante frisar que a garantia deste aparato legal esta sustentado na luta cotidiana

travada pela sociedade civil, com a presença de movimentos sociais e de movimentos de

categorias profissionais, estando inseridos neste espaço os assistentes sociais.

De acordo com Raichelis (2007, p. 81) quando conceitua controle social como sendo

este um elemento constitutivo da esfera pública, esta esfera implica o acesso aos processos

que informam decisões da sociedade política, Viabilizando a participação da sociedade civil

organizada na formulação e na revisão das regras que conduzem as negociações e arbitragens

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sobre os interesses em jogo, além da fiscalização daquelas decisões, segundo critérios

pactuados. Raichelis (2007, p. 81)

Ainda segundo a autora, os Conselhos enquanto espaço de controle social “são

canais importantes de participação coletiva e de criação de novas relações políticas entre

governos e cidadãos e, principalmente, de construção de um processo continuado de

interlocução pública” (RAICHELIS, 2007, p. 83).

Revalida-se com o debate que argumenta que os conselhos constituem-se de um

espaço rico, por possibilitar o debate e o protagonismo da sociedade civil, ao acompanhar as

ações tanto no âmbito do planejamento quanto da implementação da política, tanto para

fiscalizar as ações, como para propor ações que de fato respondam as demandas apresentadas

pela população. Assim: Raichelis (2007, p. 77-78) aponta que.

Pela sua composição paritária entre representantes da sociedade civil e do

governo, pela natureza deliberativa de suas funções e como mecanismos de

controle social sobre as ações estatais, pode-se considerar que os Conselhos

aparecem como um constructo institucional que se opõe à histórica tendência

clientelista, patrimonialista e autoritária do Estado brasileiro. Raichelis

(2007, p. 77-78)

No entanto ao analisar os conselhos, enquanto espaço de controle social, é necessário

considerar que este espaço é um espaço contraditório que pode tanto ampliar os espaços

democráticos como também legitimar o poder dominante e cooptar os movimentos sociais,

para preservar o status quo.

Os conselhos são espaços contraditórios, podem se constituir em espaços de

participação e controle social a perspectiva de ampliação da democracia,

como também em mecanismos de legitimação do poder dominante e

cooptação dos movimentos sociais. Vão legitimar ou reverter o que está

posto (CORREIA, 2012, p. 305).

Raichelis (2007) contribui para o debate, ao argumentar que é necessária a busca de

novos espaços de controle social em que nestes espaços sejam garantidos espaços de

cooperação da sociedade civil.

Os espaços de controle social garantido de acordo com a Constituição Federal de

1988 são construtos novos que ainda precisam ser revigorado para que de fato signifique uma

nova institucionalidade nas ações públicas que possam envolver distintos sujeitos no âmbito

estatal e social, espaço este rico para a atuação dos profissionais de Serviço Social

(RAICHELIS, 2007).

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Explorando a organização e a abrangência das atuais políticas sociais brasileiras,

pode-se ter uma noção e fornecer uma perspectiva das políticas e programas que compõem

hoje o conjunto da ação social do Estado brasileiro em nível federal, isolando suas principais

formas de atuação, suas propensões e inquietações, tal qual o perfil de sua cobertura.

Na fátua intenção de realização de um resgate, será minudado um esforço no sentido

de emergir também, as três vertentes históricas a partir das quais se organizou o Sistema

Brasileiro de Proteção Social (SBPS).

A primeira delas, visando enfrentar a questão social tal como se conformava na

República Velha, configurou-se por meio da política social de cunho corporativo, organizada

durante a década de 1930 e assentada nos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs) e na

Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).

A segunda estabelecida na antiga tradição caritativa e filantrópica e voltada ao

atendimento de certas situações de pobreza passa a ser objeto, após a década de 1930, da

atuação do Estado.

Por último, as políticas sociais assentadas na afirmação de direitos sociais da

cidadania que, apesar dos esforços anteriores, somente em 1988 se consolidará no país.

A estes três diferentes paradigmas juntou-se, na década de 1960, um conjunto de

intervenções sociais do governo federal ancoradas em sistemas de remuneração de fundos

públicos.

Destarte a questão social é considerada pela sociedade como responsabilidade tão e

somente do governo.

Por outro lado os problemas sociais passaram a ser encarados como decorrentes da

carência de recursos materiais e intelectuais, assim com da pobreza. Esta, por sua vez, vista

como causa individual e de responsabilidade de cada um.

ARGUMENTAÇÃO E ANÁLISE

A política social brasileira cresceu de forma mais expressiva, exatamente nos

momentos mais avessos a instituição da cidadania, durante os regimes autoritários e diante do

governo de coalizão conservadora.

Se tratando ao aparecimento das políticas sociais brasileiras, de acordo com Yazbek:

“Podemos encontrar em 1923 com a Lei Elói Chaves, uma legislação precursora de um

sistema público de proteção social com as Caixas de Aposentadorias e Pensões (CAPs)”.

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Mas, é na primeira metade dos anos de 1930, que a questão social se inscreve no

pensamento dominante como legítima, expressando o processo de “formação e

desenvolvimento da classe operária e de seu ingresso no cenário político da sociedade,

exigindo seu reconhecimento como classe por parte do empresariado e do Estado. (Iamamoto,

1995; 77 – 10 ed.)”.

Neste período, são criados os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs) na

lógica do seguro social e nesta década situamos a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT),

o Salário Mínimo, a valorização da saúde do trabalhador e outras medidas de cunho social,

embora com caráter controlador e paternalista.

Progressivamente, o Estado amplia sua abordagem pública da questão, criando novos

mecanismos de intervenção nas relações sociais como legislações laborais, e outros esquemas

de proteção social como atividades educacionais e serviços sanitários, entre outros.

“YAZBEK, (2005, p.82).”

Para atender as famílias dos pracinhas combatentes da 2ª Guerra Mundial foi criado

em 1974 a LBA – Legião Brasileira de Assistência, a princípio era um atendimento materno-

infantil, depois com o crescimento da demanda e do desenvolvimento econômico e social, que

se mostrava que a sociedade estava em vulnerabilidade social à gestão pública da LBA foi se

espalhando em todos os Estados e no Distrito Federal e trabalhava com a seguinte linha

programática:

Assistência social, Assistência judiciária, Atendimento médico-social e materno-

infantil, Distribuição de alimentos para gestantes, crianças e nutrizes, Assistências integrais a

crianças, adolescentes e jovens (creches e abrigos), Qualificação e iniciação profissional,

Liberação de instrumentos de trabalho, Orientação advocatícia para a regularização e registro

de entidades, Programas educacionais para o trabalho, Geração de renda, Projetos de

desenvolvimento social local (serviços de microempresas – creches, cooperativas e outros)

Assistência ao idoso (asilos e centros de convivência), Assistência à pessoa portadora de

deficiência, Assistência ao desenvolvimento social e comunitário, Programa nacional de

voluntariado; Dessa forma a instituição se adequava a sua linha programática aos ciclos de

vida das populações mais vulneráveis, na ótica de promover o desenvolvimento social e

comunitário.

É dever e responsabilidade do Estado à garantia de amparo mínimo aos cidadãos

avaliados necessitados ou desamparados economicamente e socialmente. Assim, pela

primeira vez, em um documento legal brasileiro, os chamados “excluídos” são mencionados

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como cidadãos, destinatários da norma, titulados de diretos e sujeitos do processo jurídico-

político.

Dessa forma percebe - se que a Constituição de 1988 estabeleceu politicamente a

assistência social e a LOAS organizou-se como política social pública, em um campo novo, o

dos direitos, da universalização dos acessos e da responsabilidade estatal, colocados na esfera

da ordem social, tendo como base o primeiro trabalho e como objetivo o bem-estar e a justiça

social.

Em 1990 devido às crises das políticas sociais, a população e afins, se manifestaram,

com isso ouve a criação do projeto de Reconstrução Nacional, que tomou totalmente a ideia

neoliberal, causando a diminuição drástica do gasto social e até mesmo realizando mudanças

de conteúdo nitidamente regressivo na Carta Constitucional recém-anunciada.

Nesse Governo, o espaço social foi dividido, tanto no ponto de vista da sua

coordenação quanto da sua capacidade, acontecendo um resgate do assistencialismo, do

clientelismo e do populismo.

Somente com o impeachment de Fernando Collor, já no Governo de Itamar Franco

no ano de 1993 que a LOAS, vetada no governo anterior é sancionada, depois de passar por

intensas mobilizações sociais. No entanto, mediante o crescimento alcançado com a

publicação da Constituição, fazia-se imprescindível a aprovação de leis orgânicas que viessem

a regulamentar e institucionalizar tais conquistas.

Desta forma, a lei 8742/1993, Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS é

sancionada em sete de dezembro de 1993, com o intuito de regulamentar os artigos 203 e 204

promulgados na Constituição Federal de 1988 e ainda introduzir um novo significado a

Assistência Social enquanto Política Pública de Seguridade, direito do cidadão e dever do

Estado, previno-lhe um sistema de gestão descentralizado e participativo, cujo eixo é posto na

criação do Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS.

Com as mudanças verificadas na sociedade, na questão trabalhista, o problema da

pobreza tomou outro rumo, separando-se dos problemas do cidadão, que era aquele que

contribuía financeiramente com os cofres públicos.

A seguridade social brasileira é uma política formulada no contexto da

redemocratização do Estado na década de 1980 e apresentada institucionalmente na

Assembleia Nacional Constituinte de 1988, e que veio para responder as demandas de

reestruturação da política social no Brasil.

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Nessa perspectiva, a seguridade social desenhou um novo modelo de condução das

políticas sociais, com a formulação de um ministério e orçamento único para o conjunto dos

setores integrantes do sistema de seguridade social, a saúde, a previdência e assistência social.

Em resumo: o SBPS pode ser compreendido como um conjunto de políticas sociais

que, se originam se desenvolve e se agrupam em quatro diferentes eixos estruturantes das

políticas sociais, conforme resumido adiante.

• O emprego assalariado contributivo e, mais recentemente, o trabalho socialmente

útil, mas não necessariamente assalariado, em suas mais variadas e heterogêneas formas:

política previdenciária contributiva (assalariados do setor privado, funcionários públicos

estatutários e militares), política previdenciária parcial e indiretamente contributiva

(segurados especiais em regime de economia familiar rural), políticas de proteção ao trabalha

- Políticas Sociais no Brasil: Organização, Abrangência e Tensões da Ação Estatal 255 do

assalariado formal (abono salarial e seguro-desemprego), políticas de proteção ao trabalhador

em geral (intermediação de mão-de-obra, qualificação profissional e concessão de

microcrédito produtivo popular), e políticas agrária e fundiária.

• A assistência social, a segurança alimentar e o combate direto à pobreza: política

nacional de assistência social (BPC para idosos e pessoas portadoras de necessidades

especiais, abaixo de certa linha monetária de pobreza, programas e ações especiais para

crianças e jovens em situação de risco social), ações de segurança alimentar (merenda escolar,

ações emergenciais como a distribuição de cestas básicas etc.), e ações de combate direto à

pobreza (Programa Fome Zero, cujo carro-chefe é o Programa Bolsa Família, de transferência

direta de renda sujeita a condicionalidades).

• A cidadania social incondicional: política nacional de saúde pública, que se

organiza a partir do SUS e o conjunto de programas que lhe diz respeito, e política nacional

para o ensino fundamental.

• A infraestrutura social: políticas nacionais de habitação, inclusive ações;

De urbanismo, e saneamento básico, inclusive ações de meio ambiente.

Para além de um mero recurso de análise, acredita-se que a utilização dos Eixos

Estruturantes das Políticas Sociais ajuda a clarificar os termos do debate corrente sobre a

temática no Brasil. Ao evidenciar as tensões e contradições fundamentais em torno de cada

eixo de políticas, e entre os diferentes eixos, tem-se facilitada a compreensão acerca das

dinâmicas que regem as políticas sociais, assim como dos diversos discursos e projetos em

disputa. Considera-se que esforços nesse sentido são cada vez mais necessários, visando

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contribuir para o debate acerca das reformas do SBPS, componente fundamental na

construção de um Estado mais democrático e uma sociedade menos desigual.

Ao estudar sobre a inserção dos assistentes sociais nos espaços de controle social

percebe-se que a participação destes profissionais pode contribuir para ampliar os espaços

democráticos, segundo Raichelis (2007) os assistentes sociais tem destaque por participarem-

nos diversos conselhos, no entanto esta participação demanda uma qualificação teórica -

metodológico e ético - político e um comprometimento com o projeto ético-político

profissional. A participação dos assistentes sociais que, como é sabido, tem sido uma das

categorias com maior presença nos Conselhos em suas diferentes áreas. A contribuição dos

assistentes sociais para fazer avançar a esfera pública no campo das políticas sociais é

irrecusável. Mas, impõe-se à profissão e aos profissionais a colaboração cada vez mais

qualificada, tanto do ponto de vista teórico-metodológico como sobretudo ético-político, para

atuar nos Conselhos e Fóruns, em seus vários níveis, notadamente no plano municipal, onde

as forças das elites locais se faz presente ( RAICHELIS, 2007, p. 85).

De acordo com Bravo (2007):

Ao pensar a atuação dos profissionais de Serviço Social nas instâncias de

controle social supõe a necessidade de analisar-se este espaço localizado no

contexto atual do desenvolvimento da sociedade capitalista, bem como quais

as respostas profissionais que esta categoria vem produzindo para dar

resposta às manifestações da questão social neste espaço. (BRAVO, 2007, p.

394).

Segundo a autora supracitada pensar o trabalho profissional dos assistentes sociais

nessas instâncias supõe uma dupla dimensão:

Analisar o controle democrático no contexto macros societário, que vem

alterando as políticas sociais com retração dos direitos sociais, e às respostas

técnico-profissionais e ético-políticas dos agentes profissionais (BRAVO,

2007, p. 394).

A atuação do assistente social deve estar pautada no Projeto Ético-Político

Profissional, a luz dos princípios éticos que norteiam a profissão dentre eles:

Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela

inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais; Defesa

intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo; Ampliação e

consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à

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garantia dos direitos civis sociais e políticos das classes trabalhadoras; Defesa do

aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza

socialmente produzida; Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure

universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem

como sua gestão democrática. (BRASIL, 2011).

Concorda-se com Iamamoto (2006, p. 20) quando afirma que a atuação do assistente

social na contemporaneidade tem vários desafios, um deles “é desenvolver sua capacidade de

decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e capazes de preservar e

efetivar direitos, a partir de demandas emergentes no cotidiano. Enfim ser um profissional

propositivo e não só executivo”.

Para o assistente social trilhar este caminho de concretizar o que está posto no

Projeto Ético-Político Profissional é necessário que o mesmo seja “culto e atento às

possibilidades descortinadas pelo mundo contemporâneo, capaz de formular, avaliar e recriar

propostas ao nível das políticas sociais e da organização das forças sociais da sociedade civil.

Um profissional informado, crítico e propositivo, que aposte no protagonismo da sociedade

civil” (IAMAMOTO, 2006, p. 144).

Entende-se que a categoria dos assistentes sociais tem muito a contribuir com os

espaços de democratização da política social em nosso país. Os mesmos podem inserir-se

nestes espaços duplamente, sejam como conselheiros ou como assessores, sendo as duas

inserções permeadas por demandas ricas a serem potencializadas. Para a autora, os assistentes

sociais podem ter uma dupla inserção nesses espaços: uma essencialmente política, quando

participam enquanto conselheiros, e outra que caracteriza o novo espaço sócio ocupacional,

quando desenvolvem ações de assessoria aos conselhos ou alguns de seus segmentos

(usuários, trabalhadores e poder público) (BRAVO, 2009, p. 394).

O assistente social em seu cotidiano profissional pode promover ações que viabilize

o acesso e defesa a direitos civis, sociais e políticos, pode favorecer a participação de cidadãos

e cidadãs em processos decisórios que lhes dizem respeito, pode ampliar o acervo de

informações necessárias aos usuários para que os mesmos obtenham serviços e direitos

sociais, estimular a vivência e a aprendizagem, bem como estimular processos democráticos

nas situações e relações quotidianas (IAMAMOTO, 2006, p. 111).

A autora Iamamoto (2009), baseada na pesquisa sobre o perfil dos assistentes sociais

realizada pelo CFESS em 2005, retrata que os assistentes sociais têm uma expressiva presença

nos espaços dos Conselhos de Direitos ou de Políticas Sociais, 30,44%, como profissionais e

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militantes de base que se envolvem no exercício democrático do acompanhamento da gestão e

avaliação da política, dos planos que as orientam e dos recursos destinados a sua

implementação. Corrobora-se com Raichelis (2007) quando a mesma afirma que a atuação do

assistente social nos espaços de controle social é fundamental em dupla direção:

Impulsionar e ampliar o movimento que se organiza em torno da defesa de

direitos e das políticas sociais, propondo novas estratégias para o

enfretamento das demandas sociais, no interior do aparato institucional onde

os assistentes sociais são cada vez mais requisitados a transcender funções

executivas para desempenhar papéis de formulação e gestão de políticas e

programas sociais; Ao mesmo tempo, colaborar para o adensamento da

pesquisa e da produção teórica no âmbito das políticas sociais, articulada à

analise das tendências macrossocietárias que iluminem estrategicamente os

rumos a ser perseguidos (RAICHELIS, 2007, p. 85).

A participação popular e cidadã, com caráter democrático e descentralizado, se dão

em cada esfera do governo, abrangendo o processo de gestão político-administrativo-

financeira e técnico-operativa. O controle do Estado deve ser exercido pela sociedade na

busca de dar garantia dos direitos fundamentais e dos princípios democráticos.

Os Conselhos Setoriais de políticas públicas e suas respectivas Conferências são

espaços privilegiados para esta participação, além de outros também importantes, como a

mídia e os conselhos profissionais. As Conferências avaliam a situação das políticas públicas

e da garantia de direitos, definem diretrizes e avaliam os seus avanços. Os Conselhos têm,

dentre outras, a responsabilidade de formular, deliberar e fiscalizar a política de atendimento e

normatizar, disciplinar, acompanhar e avaliar os serviços prestados pelos órgãos e entidades

encarregados de sua execução. Avanços na organização e fortalecimento da participação da

população são necessários, buscando a integração das políticas sociais nos níveis federal,

estadual e municipal.

A consolidação de novas representações e práticas das famílias e da sociedade acerca

dos direitos e deveres deve estar baseada numa mudança cultural, fundamentada em processos

participativos, no exercício do controle social das políticas públicas e na ética da defesa e

promoção de direitos.

Evidente é que esse processo de fortalecimento da cidadania e da democracia é longo

e demorado, cabendo aos Conselhos Setoriais num primeiro momento, se apresentarem à

sociedade e incentivarem a participação desta nos debates relativos às políticas públicas a

serem implementadas em prol da população, inclusive no que diz respeito à inclusão, nas

propostas de leis orçamentárias, dos recursos que para tanto se fizerem necessários. Vale

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lembrar que a “mobilização da opinião pública, no sentido da indispensável participação dos

diversos segmentos da sociedade” no processo de discussão e solução dos problemas que

afligem a população constitui-se em algumas das diretrizes da política de atendimento traçada

pelos Estatutos e que a participação popular no processo de elaboração das propostas de leis

orçamentárias pelo Executivo, assim como de discussão e aprovação pelo Legislativo, é

expressamente prevista na Lei Complementar nº. 101/00 (Lei de Responsabilidade Fiscal) e

Lei nº. 10.257/00 (Estatuto das Cidades), bastando apenas que os espaços democráticos já

assegurados pelo ordenamento jurídico Pátrio sejam efetivamente ocupados pela sociedade

organizada.

Os assistentes sociais têm de fato muito a contribuir para fortalecer os espaços de

controle social das políticas públicas, pois, pode fomentar ações que possibilitem uma rica

inserção da população usuária nestes espaços, buscando democratizar estes espaços.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Justifica que é necessária a inserção dos assistentes sociais nos conselhos, pois,

entendemos que estes profissionais podem impulsionar e ampliar o movimento que se

organiza em torno da defesa de direitos e das políticas sociais, propondo novas estratégias

para o enfrentamento das demandas sociais, bem como, podem contribuir para o adensamento

da pesquisa e da produção teórica no âmbito das políticas sociais, articulada à análise das

tendências macrossocietárias que possibilite iluminar os rumos a ser perseguidos

(RAICHELIS, 2007).

A presente discussão pretendeu contribuir para o debate sobre os espaços sócio

ocupacionais do Serviço Social, refletindo sobre a atuação do assistente social nos espaços de

controle social, compreendendo que o debate não se esgota neste trabalho e não é concluso,

sendo necessário continuar sobre a investigação da atuação do assistente social neste espaço

sócio ocupacional, para subsidiar esta categoria que tem muito a contribuir para a

democratização das políticas públicas e a garantia dos direitos sociais da população a qual

presta seu serviço.

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YAZBEK, Maria Carmelita (Org) Projeto de revisão curricular da Faculdade de Serviçosocial

da PUC/SP. In: Serviço Social e Sociedade n. 14. São Paulo, Cortez, 1984. i

¹Constata-se que a política social – que atende às necessidades do capital e, também, do trabalho, já que para muitos se trata de uma questão de sobrevivência – configura-se, no contexto da estagnação, como um terreno importante da luta de classes: da defesa de condições dignas de

existência, face ao recrudescimento da ofensiva capitalista em termos do corte de recursos públicos para a reprodução da força de trabalho (BEHRING, 2009, p. 316, grifos da autora).