escuridão, eu quero uma para viver
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2013
ESCURIDÃO, EU QUERO UMA PARA VIVER
MARCO BUENO
ESCURIDÃO, EU QUERO UMA PARA VIVER
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A bíblia contém uma passagem alegórica que nos ajuda a refletir sobre a luta entre o bem e
o mal. Conforme o livro sagrado, temos dois personagens com uma história em comum. Por um
lado, Abel, um homem bom e trabalhador, cuja atitude é agraciada por Deus. De outro lado temos
Caim, que ao contrário de seu irmão, é um homem invejoso, e por conta disto acaba tirando a vida
de seu consanguíneo.
Caim e Abel são duas figuras que revelam o lado polar de cada um de nós. A imagem dos
dois irmãos está enraizado no interior de cada indivíduo, sob a representação do bem e do mal.
Anterior ao fato bíblico acima, temos Adão e Eva vivendo de boa no paraíso. Ambos,
gozando da vida em um mundo inocente e puro. Em certo momento eles foram orientados por Deus
a não comerem do fruto da árvore do conhecimento, pois, se o fizessem, morreriam. Caso
resolvessem se abster da tentação, poderiam viver para sempre.
Essa drama abre precedente para um verdadeiro bang-bang, mas não é minha intenção
discutir a veracidade desta novela.
O único ponto que me interessa é que se o Creador do universo é um princípio inteligente,
onipotente, onipresente e onisciente conforme alguns tacham - supostamente ele sabia o que estava
fazendo. E se ele sabia o que estava fazendo, essa brincadeira de fazer do homem uma marionete
contraria toda a razão de seres inteligentes e oriundas do mesmo princípio.
Pulando toda esta parte do blá-blá-blá religioso que pode surgir entre o parágrafo acima e
este, vou chegando ao ponto. Chego no ponto de desabafar a você que não tenho saudade e muito
menos paixão religiosa, seja ela qual for. O que passou, passou e o que eu fiz eu fiz. O que me
interessa é o agora, e o amanhã não faço a mínima idéia do que vai ser. E isto é o que me basta.
A bíblia cita lá em Genesis 1, logo no comecinho, que no princípio criou Deus o céu e a
terra. E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se
movia sobre a face das águas. E disse Deus: Haja luz; e houve luz. E viu Deus que era boa a luz; e
fez Deus separação entre a luz e as trevas. E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E
foi a tarde e a manhã, o dia primeiro.
Sem lero-lero, o trecho acima me serve como acalento para minha vida que mais parece
um ponto de interrogação. Sei que a literatura, seja qual for, tem o dom de mexer com a nossa
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imaginação. E achismos a parte, o livro sagrado em determinados momentos consegue me propiciar
algumas reflexões.
O bem e mal. Cara e coroa. Certo e errado. Preto e branco. Positivo e negativo. Amor e
desamor. Guerra e paz. Homem e mulher. Homem-mulher. Sabor e dissabor. Verdade e mentira.
Honesto e desonesto. Céu e inferno. Palavras e despalavras.
Esse mundo polar causou e causa uma guerra dos infernos; interior e exterior, cujo raio de
destruição vai além dos muitos megaton de uma ogiva nuclear. Esse dualismo humano faz com que
cada um de nós vivamos uma vida de agonia, arcando com todas as consequências.
Vivemos sobre constante pressão, e uma sangria se faz necessário antes que tenhamos um
acidente vascular cerebral espiritual. Se isso acontecer, o atrofiamento mental é inevitável. As
causas podem ser devido a vida regada de pudor religioso, dogmas, disciplina, regras,
regulamentos e outras formas de controle individual e em grupo.
Enquanto não nos conscientizarmos da importância de investirmos em uma qualidade de
vida espiritual, continuaremos assim, dogmáticos e sintomáticos. O dogma é como hipocondria.
Você não tem doença nenhuma, mas continua achando que precisa de médico e remédio.
As pessoas não querem aceitar que estão bem e não precisam de cura. Elas não conseguem
ver porque há tempos depositam sua fé no lugar errado. Preste muito atenção, pois aqui entra o xis
da questão. O mal, não é o inimigo do homem, não no sentido literal da palavra. O bem é.
Apedreje-me, cuspa no meu rosto, xingue, fale mal de mim mas reflita antes ou depois do
pití. Mas reflita, mesmo que você não compreenda o que vou dizer a seguir. Eu vim, vivo e trabalho
na escuridão, e sei que o que há por trás da luz. Na escuridão não existe somente maldade como se
costuma pregar por aí. Da mesma forma que na luz não há só anjinho branco de olhos azuis e com
veste cristalina.
Essa história de luta do bem contra o mal virou um verdadeiro ato político, e nós estamos
sujeitos a realidade que criamos.
Estamos num loop imaginário, e as pessoas quando partem deste plano terreno, na sua
grande maioria acabam vendo de forma clara o mundo que criou. Normalmente, o impacto é forte, e
totalmente contrário aos ideais que sempre sustentou.
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A moralidade fictícia através do ego humano diz que devemos nos apegar ao bem e nos
afastar do mal, praticando sempre boas ações. Essa informação está correta desde que o indivíduo
se permita ver a diferença entre uma situação e outra. A fantasia do homem, apregoada desde a sua
infância e através dos inúmeros instrumentos que ele mesmo criou, fez dele um fantoche entre seus
próprios brinquedos.
Quando a pessoa morre, e consegue acordar para a vida, acaba percebendo que o mundo
imaginário do ego se voltou contra ele. O que era maquiagem pode virar um borrado. O que era
tatuagem pode virar um ferimento local. O que era dinheiro e luxo pode virar lama. O que era
prazer e entretenimento pode virar um parque de noites do terror.
Quer um testemunho real e individual? Veja o céu e o inferno que você cria todos os dias,
prestando atenção nas suas atribulações espirituais e sonhos. Esse é preview do que você vai
vivenciar futuramente. Você é o que cria. Não é necessário crer para ver ou ver para crer, porque no
fundo você sabe do que estou falando. Questione-se.
O que estou tentando dizer nisso tudo é que existe uma tendência inata ao mal dentro, fora
e em volta de nós, e que precisa ser enfrentada com discernimento. Discernimento, pois, o bem é
dupla face, e o mal nem sempre é o causador do problema.
Vou entender se você não conseguir compreender este pensamento, porque sei que nele
existe uma trama, e nem toda armadilha é fácil de decompor. Quantas vezes nos deparamos com
situações (realidades) que nos deixam um tanto perplexos devido a sua complexidade. Existem
vários exemplos, mas o de querer a desgraça do outro, dizendo o contrario, é o mais comum.
Fala-se muito em amor, caridade, conscientização, fraternidade e outras palavras altamente
morais, mas na prática elas não acontecem. Fala-se muito em ajudar os países pobres, as pessoas
mais necessitadas com água e alimento, mas ninguém move uma palha para que elas não voltem a
pedir.
Na verdade, quem ou o que é o mal nessa história? Não acredito que o mal esteja
atrapalhando uma boa ação. De novo. Se o mal não está atrapalhando, quem é então? Não sei você.
Mas pela experiência que carrego, o mal é a coisa mais autêntica que existe. Ele é autêntico porque
é real. Com ele, o bagulho é ou não é. Tá ligado no que estou falando irmão?
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O bem que os homens vomitam é ilusório. Nada mais. Saber o que é o bem, é, antes,
conhecer o mal. Você conhece o mal? Você acha que a violência é o mal que a executa, pura e
simplesmente?
Querer fazer o bem é lindo. Mas Apóstolo Paulo já havia alertado sobre o assunto:"Quando
penso em fazer o bem o mal já está feito." Você acha mesmo que sabe o que é o bem?
O que dignifica uma pessoa não é o seu grau de conhecimento e sim o seu valor. Não
importa se ela se encontra na luz ou na escuridão. A escuridão que você tanto abomina, fazendo
dela um ato discriminatório, é a mesma que poderá salvar a sua vida um dia. Incluindo os próprios
monstros que você ajudou a criar.
Escuridão. Ah, escuridão. Eu te quero para aprender viver.
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