escrita para violao

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  • 8/6/2019 Escrita Para Violao

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    ESCRITA PARA VIOLO1

    Luciana Requio2000

    Parte 1 Notas na pauta

    O violo um instrumento que no permite uma leitura primeira vista to fcilquanto uma flauta ou um piano, por exemplo. Existem inmeras particularidades.

    Para comear, temos notas idnticas repetidas ao longo do brao do instrumento. Porexemplo, um d 3, encontrado na 1 casa da segunda corda, pode ser tocado tambmna 5 casa da terceira corda, na 10 casa da quarta corda, na 15 casa da quinta corda, ena 20 casa, se houver, da sexta corda. Isso significa que temos cinco opes para estamesma nota. Reparem que no estou falando de uma mesma nota em outras oitavas e

    sim de notas numa mesma altura.

    Desta forma, onde se l:

    Pode-se tocar:

    Outro detalhe importante de se notar que o violo um instrumento transpositor.Isso significa que sua escrita no corresponde ao resultado sonoro obtido. No caso do

    violo (saxofones, clarinetas, trompas, entre outros, tambm so instrumentostranspositores) a diferena de uma oitava abaixo. Portanto onde se l d 4 naverdade soa um d 3 (para quem no sabe d 3 refere-se ao d central do piano).

    1 Escrita para Violo uma srie de cinco pequenos artigos publicados na coluna Rio MsicaWorkshop da Revista Backstage, nos anos de 2000 e 2001.

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    Som escrito: Som real:

    Por isso, as partituras de violo deveriam vir com aquele 8 abaixo da clave de sol(como na figura acima) justamente para evidenciar este fato.

    Para o violonista de uma forma geral, isso no causa nenhum tipo de problema.Muitos nem se do conta de que o violo um instrumento transpositor. Mas no casode se fazer um arranjo onde o violo deva tocar em unssono com uma flauta, porexemplo, deve-se estar atento a este fato.

    Para se obter este resultado, da flauta em unssono com o violo:

    A escrita deve ser esta:

    Parte 2 - Harmonia

    Existem inmeras maneiras de se escrever a harmonia. Vamos partir da menosespecfica para a mais especfica.

    Quando utilizamos as cifras, estamos utilizando um recurso que deixa o instrumentistacom bastante liberdade de execuo. Estamos deixando que ele decida em qual regio(grave, mdia ou aguda) o acorde deve soar, que notas ele deve privilegiar na ponta doacorde (as notas mais agudas ficaro mais definidas e portanto mais audveis), almdo ritmo ou levada.

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    Desta forma, uma cifra como esta:

    Poder ser montada no brao do violo assim:

    Ou assim:

    Quando queremos algo um pouco mais especfico, podemos escrever junto com ascifras a nota que deve soar na ponta do acorde (nota mais aguda), formando umvoicing:

    Podemos ser mais especficos um pouco quando colocamos a disposio das notas nopentagrama, porm ainda sem se preocupar com a parte rtmica:

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    E agora com a parte rtmica:

    No existe a melhor ou a pior maneira de se escrever uma harmonia. O que existe aforma mais adequada, e isso vai depender do compositor ou arranjador da msica. Emalguns casos o ideal dar liberdade ao violonista para que ele faa o seu prprioarranjo a partir de determinada cifra. Em outros casos (por exemplo nas canes deEdu Lobo) faz a maior diferena se voc tocar diferente do jeito inicialmenteidealizado pelo compositor.

    Parte 3 - Digitao

    Podemos dizer que a digitao a alma do negcio, quando falamos em violo. Apartir de determinada digitao podemos complicar ou facilitar a execuo de umtrecho, e tambm interferir na sonoridade da msica.

    Alguns autores preocupam-se em sugerir uma digitao ao editar a partitura de suamsica, ou at mesmo em seus manuscritos. Quando isto no acontece, geralmente amsica revisada e digitada por algum violonista experiente antes de ser editada.Edies diferentes de uma mesma msica podem conter indicaes de digitaodiferenciadas.

    Sons de Carrilhes, de Joo Pernambuco, foi editada pela Ricordi e revisada edigitada pelo violonista Turbio Santos A indicao da digitao foi feita da seguinteforma:

    Nmeros 1, 2, 3 e 4 para os dedos da mo esquerda (indicador, mdio, anular emnimo).

    0 significando a corda solta. Nmeros envolvidos em um crculo para indicar em qual corda determinadotrecho ou nota deve ser tocado (contam-se as cordas de baixo para cima).

    Algarismos romanos para indicar a casa onde deve-se eventualmente fazer apestana (I = primeira casa, II = segunda casa, e assim sucessivamente). No casodesta partitura encontramos apenas a indicao da meia pestana (pestana nas trsou quatro primeiras cordas) que indicada desta forma: _ II (meia pestana nasegunda casa).

    Tambm comum encontrarmos a pestana e meia pestana grafadas da seguinteforma: CII (pestana na casa dois) e CIV (meia pestana na casa quatro).

    A digitao da mo direita, embora no tenha sido utilizada nesta pea, tambmpode ser indicada utilizando-se as letras p, i, m e a (polegar, mdio, indicador eanular).

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    corda). A qualidade do instrumento e o estado de conservao da corda podem influirna sonoridade do harmnicos produzidos.

    No violo, estes so os harmnicos chamados de naturais, ou seja, aqueles produzidosa partir da corda solta. Podemos produzir tambm os chamados artificiais. Para isso

    pressionamos determinada casa do violo, e com a mo direita, alm de encostarmosum dos dedos no local exato do harmnico tambm devemos ferir a corda com o outrodedo da mesma mo. Isso parece um tanto complicado quando explicado em umtexto, mas a execuo mais fcil do que pode parecer.

    A escrita dos harmnicos pode ser feita de diversas maneiras. Geralmente realizadaatravs de um losango desenhado na altura de determinada nota, ou tambm com

    pequenas circunferncias acima da nota . Pode-se ainda escreverharm.-------- sobretodo o trecho que deve ser tocado na forma de harmnicos. Podemos escrever osharmnicos tendo como referncia o som real, ou apenas indicando o local de ondedeve-se tirar o harmnico, ou seja, atravs da digitao. Vejamos o exemplo onde o

    som real a nota l:

    Nota desejada: Possibilidades de escrita:

    A primeira possibilidade indica a nota e a corda que devem ser procuradas para aobteno do harmnico. A nota escrita encontra-se na stima casa da quarta corda,

    portanto no stimo traste da quarta corda que o harmnico deve ser produzido.

    A segunda forma a nota real escrita com um pequeno crculo acima. Neste caso oinstrumentista deve procurar o local onde o harmnico deve ser produzido para obtereste som.

    A terceira possibilidade indica a corda e o traste onde deve-se tocar para produzir oharmnico. No caso a quarta corda (r) no stimo traste.

    Muitos autores utilizam-se deste recurso para enriquecer suas composies. Noexemplo abaixo temos um trecho do Preldio IV de Villa-Lobos todo em harmnicos,onde apresentamos duas possibilidades de escrita:

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    claro que os harmnicos no so privilgio do violo. Os instrumentos de corda esopro, de uma forma geral, utilizam-se deste recurso freqentemente.

    Parte 5 - Pizzicato

    Este efeito muito comum nos instrumentos de corda, como o violino ou ovioloncelo. Neste caso, o efeito obtido quando, ao invs de usar o arco, oinstrumentista puxa a corda com o dedo.

    No caso do violo, como no usamos arco, o pizzicato um efeito que produzimosquando tocamos as cordas do instrumento abafadas pela mo direita (com a partelateral da palma da mo). O som sai mais abafado, produzindo um efeito muito usado

    por compositores.

    O violonista e compositor Nicanor Teixeira, por exemplo, utiliza muito este recursonas baixarias de sua msicas. A escrita pode ser simplesmente pizz oupizzicato, escrito sobre o trecho que deve ser tocado desta forma. Vejamos umexemplo extrado do Cateret das Farinhas, de Nicanor Teixeira:

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    O compositor cubano Leo Brouwer, utilizou este efeito em toda a introduo de suaCancion de Cuna:

    No violo, denominamos como pizzicato a la Bartk(referncia ao compositorhngaro Bla Bartk) um efeito que se produz puxando a corda, fazendo-a percutir noinstrumento. Quando ela solta obtemos um efeito de percusso como um estalo.Muitos compositores aproveitam-se tambm deste recurso. Na escrita basta indicar

    pizzicato a la Bartk.

    Luciana Requio Mestre em Msica Brasileira pela UNI-RIO onde tambmgraduou-se no curso de Licenciatura com Habilitao em Msica. violonista econtrabaixista (baixo eltrico e baixolo) e vem desenvolvendo intensa atividadecomo camerista. www.geocities.com/lucianarequiao