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34 n abril DE 2011 n  PESQUISA FAPESP 182 Escre va bem ou pereça C e eviç j d peqide edigi b tbl ciec P ressionados a produzir conhecimento e a publicá-lo em revistas especializadas, os pesquisadores brasileiros são con- tinuamente desafados a demonstrar uma habilidade que vai além do talento científco: a capacidade de escrever de orma lógica e correta – e em inglês, que é a língua da ciência. A novidade é que está crescendo a oerta de serviços e iniciativas talhados para ajudar os pesquisador es nessa tarea – na orma de workshops promovidos por especialistas, serviços de tradução e revi- são e programas de computador capazes de dar orma a artigos científcos. O exemplo que melhor representa essa ten- dência talvez seja o da empresa Publicase, que, além de oerecer serviços de tradução e revisão de artigos, também criou ofcinas e cursos de treinamento para orientar pesquisadores inte- ressados em colocar seus achados no papel. A empresa tem como sócias as biólogas Marcia T riunol El blink e Andrea Kaumann-Zeh, que trabalharam como pesquisadoras no exterior e depois enveredaram para a comunicação cientí- ca. No início da década passada, atuaram como editoras, respectivamente, das revistas Science  e Nature . A Publicase oi criada em 2007 e já Fabrício Marques ilustrações Nelson Provazi prestou serviço a muitas instituições. Agora, com apoio da FAPESP , está promovendo uma sé rie de workshops nas universidades de São Paulo (USP) e Estadual de Campinas (Unicamp). Em seus cursos, um pequeno grupo de pes- quisadores passa uma semana debruçado sobre a tarea de escrever um artigo. “Trabalhamos com dois ou três alunos dedicados a cada paper . Começamos na segunda-eira e na sexta o artigo está escrito. Em geral são manuscritos que es- tavam na gaveta”, diz Andrea. O trabalho se dá em dois planos: na organização estratégica do texto e na correção do ing lês. “Percebemos que a questão principal nã o tem a ver com o inglês, mas com a argumentação do artigo. Discutimos, então, como torná-lo interessante para buscar a publicação de mais alto impacto nos limites do seu conteúdo”, afrma. Um gargal o comum, segundo Andrea, remet e a uma discussão exis- tencial: qual, anal, é a pergunta daquele paper ? “Muita gente não consegue denir com clareza qual é a sua pergunta”, diz. “Nosso trabalho é resgatar e ressaltar a relevância das perguntas e dos resultados. Chamamos isso de marketing  científco”, defne. Nos workshops , de duração mais curta, a Publicase oerece uma coleção de dicas sobre, por exemplo, o ormato adequado [ rECursos humanos ]

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34  n abril DE 2011 n  PESQUISA FAPESP 182

Escreva bem ou pereça

C e eviç jdpeqide edigi

b tbl cietíc

Pressionados a produzir conhecimento ea publicá-lo em revistas especializadas,os pesquisadores brasileiros são con-tinuamente desafados a demonstraruma habilidade que vai além do talentocientífco: a capacidade de escrever deorma lógica e correta – e em inglês,

que é a língua da ciência. A novidade é queestá crescendo a oerta de serviços e iniciativastalhados para ajudar os pesquisadores nessatarea – na orma de workshops promovidospor especialistas, serviços de tradução e revi-são e programas de computador capazes de darorma a artigos científcos.

O exemplo que melhor representa essa ten-dência talvez seja o da empresa Publicase, que,além de oerecer serviços de tradução e revisãode artigos, também criou ofcinas e cursos detreinamento para orientar pesquisadores inte-ressados em colocar seus achados no papel. Aempresa tem como sócias as biólogas MarciaTriunol Elblink e Andrea Kaumann-Zeh, quetrabalharam como pesquisadoras no exterior edepois enveredaram para a comunicação cientí-ca. No início da década passada, atuaram comoeditoras, respectivamente, das revistas Science  e Nature . A Publicase oi criada em 2007 e já

Fabrício Marquesilustrações Nelson Provazi

prestou serviço a muitas instituições. Agora, comapoio da FAPESP, está promovendo uma série deworkshops nas universidades de São Paulo (USP)e Estadual de Campinas (Unicamp).

Em seus cursos, um pequeno grupo de pes-quisadores passa uma semana debruçado sobrea tarea de escrever um artigo. “Trabalhamoscom dois ou três alunos dedicados a cada paper .Começamos na segunda-eira e na sexta o artigoestá escrito. Em geral são manuscritos que es-tavam na gaveta”, diz Andrea. O trabalho se dáem dois planos: na organização estratégica dotexto e na correção do inglês. “Percebemos quea questão principal não tem a ver com o inglês,

mas com a argumentação do artigo. Discutimos,então, como torná-lo interessante para buscara publicação de mais alto impacto nos limitesdo seu conteúdo”, afrma. Um gargalo comum,segundo Andrea, remete a uma discussão exis-tencial: qual, anal, é a pergunta daquele paper ?“Muita gente não consegue denir com clarezaqual é a sua pergunta”, diz. “Nosso trabalho éresgatar e ressaltar a relevância das perguntase dos resultados. Chamamos isso de marketing  científco”, defne. Nos workshops , de duraçãomais curta, a Publicase oerece uma coleção dedicas sobre, por exemplo, o ormato adequado

[ rECursos humanos ]

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USP, contratou a Publicase para verter ao inglêsum artigo sobre os eeitos de dois antibióticosno sistema hematológico de ratos. As sugestõesde mudança reduziram o tamanho do texto.“Recomendaram que eu retirasse reerênciassem relação direta com o meu achado. Não z aconta, mas tive a sensação de que o artigo fcou30% mais curto”, arma Flávia, que já submeteuo artigo a uma revista.

Outra dica está relacionada à carta ao editor,uma espécie de bilhete de apresentação anexadoao artigo. É comum, segundo Marcia TriunolElblink, que os autores tratem o bilhete de mo-do lacônico e burocrático. “É um erro, pois a

carta pode ajudar a salvar um artigo da gave-ta”, diz. “O autor pode ressaltar o resultado desua pesquisa de orma mais coloquial e ousadado que ez no artigo”, afrma. A carta tambémpode evitar que o artigo caia nas mãos de umrevisor preconceituoso. “O pesquisador pode pe-dir que o paper não seja enviado para avaliaçãode competidores ou desaetos, citando-os”, dizMarcia. Fabio Klamt, proessor de bioquímicada Universidade Federal do Rio Grande do Sul,fcou impressionado com a carta de apresen-tação que Marcia o ajudou a reescrever, numartigo que seu grupo publicou na revista Cancer .

de cada tipo de artigo ou o modo de escolhera publicação com maior prestígio possível. Se-gundo Andrea, um paper com uma grande no-vidade permite sonhar com revistas de grandeimpacto. Mas se o passo dado pelo pesquisador,embora interessante, é pequeno, pode valer apena escolher um ormato enxuto. “A saída po-de ser produzir o chamado short communication e colocar todo o oco no achado. Assim, fcamais ácil cativar o editor”, diz.

Amáxima atribuída a Ernest Hemingway, se-gundo a qual um escritor deve “cortar todoo resto e fcar no essencial”, ajuda a preve-

nir acidentes na redação científca. Um pecadocomum apontado pelas sócias da Publicase é ouso do que elas chamam de “rases suicidas” nosartigos. “É quando o autor resolve contar queoutros artigos já chegaram à mesma conclusão.Se o editor concluir que não há novidade, vaise desinteressar”, diz Andrea. “É mais produtivodizer qual é o orte daquele artigo. Por exemplo,que ele ez experiência com doentes e não comvoluntários saudáveis como em artigos anterio-res.” A armacêutica-bioquímica Flávia Paina,que acaba de concluir o doutorado na Faculdadede Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da

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“O texto ez uma deesa poderosa domeu achado e o artigo oi aceito parapublicação”, afrma. “Eu havia escrito:esse é o trabalho com seguinte título,muito obrigado. Ela sugeriu uma ormamais arrojada: seus leitores vão gostardo artigo porque ele diz o seguinte...” Oartigo tratava do desenvolvimento de

um marcador molecular para câncerde pulmão. O paper mais importan-te da carreira de Klamt, segundo suaavaliação, não é o da Cancer , mas umanterior publicado na Nature Cell Bio-logy , resultado de um pós-doutoradoque ele ez nos Estados Unidos. Daquelavez teve ajuda de sua supervisora norte--americana. Agora solicitou assessoriada Publicase.

O

mercado de serviços para autores deartigos cientícos cresce no mun-

do inteiro. Desde 2008, a NaturePublishing Group (NPG), editora quepublica a revista Nature , disponibilizaum serviço de edição de papers . O NPGLanguage Editing é dividido em duascategorias. No serviço ouro, o texto éretrabalhado por dois editores especia-listas no assunto e revisto por outrosdois prossionais. No serviço prata, háum editor a menos no processo. A NPGnão az traduções – e deixa claro queo serviço não implica compromisso deaceitação do artigo pelas revistas da edi-tora. Outro exemplo é a empresa norte--americana American Journal Experts(AJE), que reúne uma rede de doutoresem vários campos do conhecimento. AAJE começou a operar em 2004 comênase na edição, tradução e revisão deartigos escritos por pesquisadores quenão têm o inglês como língua nativa.Hoje presta serviços mais amplos, comoa recomendação de periódicos talhadospara cada tipo de artigo, e até uma si-mulação de peer review , na qual o paper  

é submetido a um especialista que tentaantecipar as críticas que o revisor poderáazer. “Nossas recomendações permitemque o autor aça mudanças no manus-crito e aumente as chances de aceitação”,arma Lisa Pautler, diretora da AJE. Aempresa traduz manuscritos em seisidiomas, mas as traduções do portuguêspara o inglês são as mais requisitadas,segundo Lisa. “Os textos são traduzidospor um editor especialista na área e de-pois revistos por outro pesquisador quetem o inglês como língua nativa.” A Else-

vier, uma das maiores editoras de livrose revistas cientícas, com sede na Ho-landa, criou um programa internacionalde workshops para editores de revistascientícas e também para autores de ar-tigos, levado a vários países. “Os eventosazem parte da parceria da Elsevier comas instituições de pesquisa clientes”, diz

Ana Heredia, editora de publicaçõescientícas da Elsevier no Brasil. Só noano passado, promoveu esses workshops  na Costa Rica, Panamá, Colômbia, Peru,Chile, Uruguai e Brasil.

Nas universidades norte-america-nas é comum que os grupos de pesqui-sa sejam assessorados por especialistasem redação científca, que os ajudama ormatar artigos, refnar traduções,preparar fguras e organizar reerên-cias. Emilio Moran, diretor do Cen-tro Antropológico para Treinamento

e Pesquisa em Mudanças AmbientaisGlobais da Universidade de Indiana,conta que tem sido importante paraa produtividade de seu grupo a ajudade uma profssional incumbida inclu-sive de redigir a versão fnal de artigoscientícos. “Ela ajuda em várias rentes,como a parte gramatical e a revisão doinglês, mas é comum que pegue o ras-cunho eito pelo pesquisador com suas

Roteiro para escrever um bom artigo

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PESQUISA FAPESP 182  n abril DE 2011 n 37 

FOnte: GilsOn VOlPatO, UnesP

Nas universidades

norte-americanas

os writing centers  

ajudam a elaborar

não apenas artigos

mas também

projetos de pesquisa

ideias gerais e transorme num artigocientífco”, diz Moran, que já chegou acompartilhar os serviços dessa redatoraaté com a Nobel de Economia de 2009Elinor Ostrom, docente da Universida-de de Indiana. “Quem produz muitoacaba não tendo tempo para cuidar dosdetalhes da preparação de um artigo.”

Os serviços de apoio não eximem ospesquisadores de aprender a escrever. Opróprio Moran leciona uma disciplinaque exige dos alunos de pós-graduação,como trabalho fnal, a redação de umprojeto de verdade a ser apresentado aagências de omento.

Universidades norte-americanasvêm investindo em writing centers eescritórios de editoração, iniciativasque ajudam desde alunos de gradua-ção interessados em desenvolver otalento da escrita até pesquisadores

que buscam aumentar suas chancesde publicação. “Entre as motivações,existe a preocupação de ormar pro-fssionais com maior autonomia paraargumentar ideias num texto científ-co em inglês, que é inclusive o idiomanativo de muitos dos que recorrem aosserviços desses centros”, afrma SoniaVasconcelos, pesquisadora do Progra-ma de Educação, Gestão e Diusão em

Biociências do Instituto de Bioquími-ca Médica da Universidade Federal doRio de Janeiro e autora de uma tese dedoutorado sobre a barreira do idiomana comunicação científca.

N

o Brasil esse tipo de iniciativacomeça a vicejar, mas por ora se

restringe ao problema mais pre-mente, que são a tradução e a revisãodo inglês. É o caso do Espaço da Escritada Unicamp, escritório criado em 2006para ajudar pesquisadores das áreas dehumanidades e de engenharias a publi-car trabalhos em outros idiomas. Umtotal de 1.007 trabalhos já oram tradu-zidos e revisados com a intermediaçãodo escritório. “Havia o diagnóstico deque pesquisadores das áreas de ísica,química e medicina publicavam bas-tante no exterior e não precisavam de

ajuda. Nosso oco eram as áreas commenor inserção internacional”, diz AlcirPecora, proessor de teoria literária daUnicamp e coordenador do Espaço daEscrita. O saldo do trabalho oi bastantepositivo nas engenharias. A Faculdadede Engenharia de Alimentos respondepor 23% dos artigos traduzidos, se-guida pela Faculdade de EngenhariaAgrícola, com 14%. Já no campo das

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humanidades e ciências sociais o resul-tado oi mais tímido. Usuária do Espaçoda Escrita, a proessora Antonia Banko-, da Faculdade de Educação Física daUnicamp, elogia a agilidade nas tradu-ções. “Consegui publicar mais e colocaruma quantidade maior de estudos emcongressos internacionais”, arma.

Os dois uncionários do escritóriotreinados para ajudar os pesquisadoresa selecionar boas revistas só azem essatarea por demanda. “Queríamos azermais, mas a avaliação da qualidade dastraduções monopoliza o nosso tempo”,afrma Pecora. A Unicamp prepara re-orços na estratégia de apereiçoar ashabilidades de redação científca depesquisadores. Nesse ano, vai oerecernovos workshops com a Publicase e umseminário com Carl Schwarz, diretor daeditora Elsevier, para atingir estudantes

de pós-graduação. “A intenção é ampliaras iniciativas para um público cada vezmaior dentro da universidade”, diz Ed-gar de Decca, vice-reitor da Unicamp.

AUSP prepara um programa abran-gente para ajudar os pesquisadoresa publicarem mais e melhor. Se-

gundo Sueli Mara Soares Pinto Ferreira,diretora técnica do Sistema Integradode Bibliotecas (SIBi), a iniciativa terá,a princípio, duas rentes. Uma é a pro-moção, em parceria com a Pró-Reitoriade Pesquisa, de sete workhops neste anoorganizados pela Publicase. A segundaé a oerta de erramentas computacio-nais capazes, por exemplo, de ajudar ospesquisadores a organizar a bibliograade seu artigo e ormatá-lo. No uturo,a USP vai adquirir softwares que auxi-liem os editores de revistas cientícas dauniversidade a detectar plágios, além deautomatizar o fuxo editorial e gerar es-tatísticas de acesso e download . Tambémdeverá oerecer serviços de tradução e

revisão gramatical, além de criar umwriting center . “E, quando tudo estiverimplementado, vamos investir tambémem erramentas que nos ajudem a mediro impacto da produção cientíca geradapor essas iniciativas”, diz Sueli.

A Universidade Estadual Paulista(Unesp) criou, dentro do seu progra-ma de internacionalização, um editalque oerece continuamente auxílio f-nanceiro para a revisão e a traduçãode artigos e o eventual pagamento detaxas de publicação em revistas cientí-

cas internacionais e em congressos. Ainiciativa teve início em 2001 e, desdeentão, cerca de 200 docentes utilizamo auxílio a cada ano. Dos 2 mil artigostraduzidos ou revisados, 75% oramaceitos para publicação. De acordocom o proessor Erivaldo da Silva, quecoordena o programa na Pró-Reitoriade Pesquisa da Unesp, 90% das tradu-ções ou revisões são para o inglês. Nouniverso de pedidos, 65% são para tra-duções completas e 35% para revisões.“Os pedidos de tradução completa vêmprincipalmente das engenharias e dashumanidades, enquanto em áreas comoísica e química são mais comuns os

pedidos para revisões”, afrma. CarlosAlberto Sampaio Barbosa, proessor doDepartamento de História da Faculda-de de Ciências e Letras de Assis, utilizouo edital para verter para o espanhol umcapítulo de livro sobre a repercussão daRevolução Mexicana no Brasil. “O im-pacto de uma publicação em inglês ouespanhol é muito maior. E, na minhaárea, poucos colegas do exterior leemem português”, afrma.

A utilização de serviços de traduçãoe de revisão do idioma é comum entre

os pesquisadores brasileiros, uma vezque incorreções no texto costumamservir de argumento para a rejeiçãode artigos, independentemente de seumérito. Carlos Eduardo Ambrosio,proessor da Faculdade de Zootecniae Engenharia de Alimentos da USP, emPirassununga, já usou os serviços daPublicase e da American Journal Ex-perts para azer revisões do inglês deseus artigos científcos. O expedientetem um duplo objetivo: evitar questio-namentos sobre a correção da línguae ajudá-lo em seu trabalho de editorda revista científca nacional Pesquisa Veterinária Brasileira . “É bom que um

nativo no idioma inglês aponte os er-ros. Muitas vezes os editores não azemisso e você ca sem saber se há mesmoum erro ou se é preconceito”, afrma.Ambrosio ez parte de seu mestradonos Estados Unidos e continua a estu-dar inglês. “Mas ainda cometo erros”,arma. “Tem gente que não gosta de a-lar isso, mas eu não tive uma educaçãobilíngue. Essa é uma realidade brasilei-ra. Quem se expressa bem em inglês,em geral, teve a chance de passar umaboa temporada ora. Por isso preten-

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O rct co d págoctíco m gr ocmà má codut à prão pr

pubcr ququr cuto, m hápo mo um fc do probmqu vcu à ft d hbdddo pqudor d crvr. em2007 um co d págo vovdoum rtgo pubcdo rvtNature pô qutão m vdêc.O cudo, um grupo d cttturco, dfdrm- próprNature rgumtdo qu coprm,m, trcho do txto d outrotrbho m gê, m ãocodrvm hvr comtdo págo.

argumtrm qu o trchocopdo form udo troduçãodo rtgo, ão cocuõ. “Prqu como ó, qu ão têm ogê como ígu mtr, urfr bot pubcd m outrotudo trodução do ootxto ão é comum”, d ihYmz, um do utor do tudo.

s há pouco pço prdcuão qudo o págo vcuà cóp d ddo, tr- umtrro dfuo qudo trt dum mprétmo txtu um rtgoctíco. D modo gr,codr- qu um rfrêco txto d outr po dv trmrcd tr p. Ou tãou- práfr, qu cot mxpcr d do outro com própr pvr. “Ocorr qu podr muto dfíc dvovr dcom própr pvr um domqu ão é o u. io tg btto ch, cuj trutur guítc

é muto dfrt d go-xôc”,rm so Vcoco, tudodo págo ctíco, qu bordou

o probm, m dzmbro pdo, o1º ecotro Brro obr itgrdd Pqu Ctíc Étc mPubcçõ, rzdo o Ro d Jro m são Puo. “n dcudd dcrvr, com mdo d dturpr d org, muto pqudor torm crvo d pvr do outro.aém d xpoção djáv qu umpoív cução d págo pod trzr utor, muto d cbm tordo crtor cdêmcodpdt d xprão copdor

do pdrão d rgumtção d outro.”so rt qu tbcr rgr utzr softwares pr dtctr cópd trcho, como fz mor drvt ctíc, ão é uctpr prvr o probm. “Prcmoformr pqudor qu thmutoom pr rgumtr m udom m gê, j o cotxtod pubcçõ ou ão. no Br,fortcr o dvovmto dhbdd m oo uo é tmbémum qutão d obr”, rm.num rtgo pubcdo m jro,o pct m étc ezbthHtm, d Uvrdd Vdrbt, srgo ltwk, d Uvrddd Mm, ugrm qu cttort-mrco mudm trtégd prvção d págo m trbhod uo trgro qu ãodomm bm o gê. a ugtãoé qu vtm o trmto dhbdd d rdção do tudt,m vz d p dvugr orm.

do azer pós-doutorado no exterior”,afrma o pesquisador, que aos 34 anosé livre-docente da USP e teve bolsa doprograma Jovens Pesquisadores emCentros Emergentes, da FAPESP.

T

raduções esmeradas e argumen-tações afadas não são sufcien-

tes, como se pode imaginar, paratransormar um manuscrito redun-dante ou equivocado em algo publi-cável. Gilson Volpato, proessor doInstituto de Biociências da Unesp emBotucatu, autor de vários livros so-bre redação científca e ministrantede cursos e ofcinas nessa área desde1986, chama a atenção para vícios dacomunidade científca brasileira quecomprometem a qualidade da produ-ção em vários campos. “O problemacomeça nos projetos de pesquisa. Se

um projeto não or inovador e não ti-ver base teórica sólida, é impossível ge-rar artigos de alto impacto mais tarde”,afrma o proessor, que ministrou umcurso on-line de redação científca noportal da Unesp (disponível em http://propgdb.unesp.br/redacao_cientica/index.php). Qualidade cientíca neces-sita ideia inovadora, robustez metodo-lógica, resultados evidentes e apresen-tação impecável, prega Volpato.

Ele observa que algumas revistasnacionais, mesmo publicadas em in-glês, divulgam artigos de baixa quali-dade – e isso atrapalha o aprendizadodos jovens autores. “As revistas brasi-leiras precisam dar um salto de quali-dade. Em certas áreas, as revistas sãorazoáveis. Mas em outras publicam-seartigos com amostras pequenas, con-clusões equivocadas e recortes regionaisque não seriam aceitos em outros luga-res.” O mais preocupante, diz Volpato,é a chamada cultura de repetição. “Já viorientador sugerir para o aluno não es-

tudar um determinado assunto porquenão existia nada publicado a respeito.Falta uma cultura empreendedora naciência brasileira, no sentido de bus-car o novo e o desconhecido”, afrmao proessor. Para ele, os pesquisadoressó têm a ganhar se tentarem publicarem revistas internacionais. “E têm deescrever em inglês, pois, em português,pouca gente vai ler e o pesquisador nãoreceberá críticas de cientistas renoma-dos, que é o que az o seu trabalho serapereiçoado”, conclui. n

Faço minhas as suas palavrasQd plági te vícl c dicldde e eceve

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