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ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING
PROGRAMA DE MESTRADO EM GESTÃO
INTERNACIONAL
MARIA LAURA FERRANTY MAC LENNAN
UPGRADING NO CLUSTER DE ROCHAS ORNAMENTAIS DO
ESPÍRITO SANTO, BRASIL
São Paulo 2012
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MARIA LAURA FERRANTY MAC LENNAN
UPGRADING NO CLUSTER DE ROCHAS ORNAMENTAIS DO
ESPÍRITO SANTO, BRASIL
Dissertação de mestrado apresentada
como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração, com ênfase em Gestão Internacional, pela Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM.
Orientador: Prof. Dr. Ilan Avrichir
São Paulo 2012
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Maria Laura Ferranty Mac Lennan
UPGRADING NO CLUSTER DE ROCHAS ORNAMENTAIS DO ESPÍRITO
SANTO, BRASIL
Dissertação de mestrado apresentada como requisito para obtenção do título de Mestre em Administração, com ênfase em Gestão Internacional, pela Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM.
Aprovado em 20 de dezembro de 2012.
BANCA EXAMINADORA Presidente: Prof. Ilan Avrichir, Doutor – Orientador, ESPM Membro: Prof. Marcos Amatucci, Pós doutor, ESPM Membro: Prof. Afonso Carlos Corrêa Fleury, Livre docente, USP
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AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente à Olivia Tirello, superintendente do Centro Rochas, e sua equipe
pelo apoio na realização da presente pesquisa. Seu auxilio foi fundamental no acesso às
empresas participantes do estudo. Também aos entrevistados que gentilmente nos receberam
em suas empresas e nos cederam seu tempo e informações que possibilitaram a elaboração
deste trabalho.
À minha família que sempre acreditou em mim.
Aos meus colegas de mestrado. Sua companhia foi um prazer. Em especial à amiga
Viviane Yamasaki pela parceria em diversos trabalhos e apoio sempre.
Aos queridos amigos, em especial Helio Vogel, Lívia Moura, Daniel Silva, José Tiago
Cardoso, Gabriel Chueke e Alcione Messa.
À Elisabeth Dau, Jeffer Lee Ariosa e Luis Alfredo P. Pessoa que me apoiaram muito em
minhas atividades profissionais. Seria impossível concluir este trabalho sem a generosidade e
o suporte de vocês.
À biblioteca da escola sempre solicita e pronta a ajudar. Débora Aquarone e time, muito
obrigada.
E finalmente aos professores da ESPM. Ao prof. Ilan Avrichir pelo convite a me juntar à
sua pesquisa. Ao professor Cleber Figueiredo por toda a orientação na análise dos dados
estatísticos, e em especial aos professores do PMGI que sempre me desafiaram a ir além.
Recebam meu carinho e admiração.
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RESUMO
A presente dissertação verifica os efeitos da governança das cadeias de valor no upgrading
das empresas do cluster de rochas ornamentais do Espírito Santo, Brasil. A metodologia
quantitativa foi utilizada para atingir os objetivos propostos e responder ao problema de
pesquisa. Mais especificamente foi conduzida uma survey com 32 empresas filiadas ao Centro
Rochas, localizadas nas regiões de Cachoeiro do Itapemirim e Serras, Espírito Santo. Os
dados foram analisados com o uso de técnicas estatísticas paramétricas e não paramétricas,
dado o tipo de distribuição amostral. Os resultados indicam que as empresas do cluster estão
inseridas em cadeias de valor de governança do tipo mercado, o desempenho exportador não
apresenta relação direta com os percentuais exportados e finalmente que o upgrading das
empresas e seus investimentos em marketing impactam na competitividade de suas vendas
para o mercado externo.
Palavras-Chave: Cadeia Global de Valor, Upgrading, Cluster, Competitividade da
Indústria, Indústria de Rochas Ornamentais, exportação.
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ABSTRACT
This research explores the effects of value chains governance for upgrading in the cluster
of ornamental rocks in Espírito Santo, Brazil. The quantitative methodology was used to
achieve the proposed objectives and respond to the research problem. More specifically, a
survey of 32 companies affiliated to the Centro Rochas was conducted. Those are located in
the regions of Cachoeiro do Itapemirim and Serras, at the State of Espírito Santo. Data were
analyzed using parametric and nonparametric statistical techniques, given the type of
sampling distribution. The results show that firms in the cluster are embedded in market type
value chains governance, export performance has no direct relationship with the percentage
exported and, finally, the firm’s upgrading and their marketing investments impact on their
competivity in export sales.
Key words: Global Value Chain, Upgrading, Cluster, Industrial competition, Ornamental
Rock Industry, exports.
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LISTA DE FIGURAS:
Figura 1: Distribuição dos clusters de rochas ornamentais e minerais do Brasil ..................................38
Figura 2: Etapas de industrialização das rochas ornamentais. .............................................................41
Figura 3: Acabamentos. ....................................................................................................................42
Figura 4: Fontes de Interação do cluster de rochas ornamentais. ........................................................47
LISTA DE TABELAS:
Tabela 1: Perfil da produção brasileira por tipo de rocha – 2011 ........................................................37
Tabela 2: Distribuição regional da produção bruta de rochas no Brasil – 2011 ...................................38
Tabela 3: Cargo dos entrevistados .....................................................................................................57
Tabela 4: Teste T (médias) - Mercado Externo ..................................................................................63
Tabela 5: Teste T (médias) - Mercado Interno ...................................................................................64
Tabela 6: Resumo dos resultados da regressão linear simples ............................................................66
Tabela 7: Mediana do percentual de vendas no mercado externo, percentual de faturamento investido
em promoção e marketing, tamanho da empresa e upgrading ............................................................70
Tabela 8: Cálculo do teste Mann-Whitney dos indicadores de upgrading das empresas da amostra ....71
LISTA DE QUADROS:
Quadro 1: Clusters x GVC ................................................................................................................24
Quadro 2: Indicadores de upgrading .................................................................................................27
Quadro 3: Indicadores de governança da cadeia de valor ...................................................................30
Quadro 4: Índice de referência dos testes estatísticos .........................................................................52
Quadro 5: variáveis de controle .........................................................................................................55
Quadro 6: variável GOV e sua composição .......................................................................................58
Quadro 7: variável upgrading de processos e sua composição ...........................................................59
Quadro 8: variável upgrading de produtos e sua composição .............................................................60
Quadro 9: variável upgrading funcional e sua composição ................................................................61
Quadro 10: variável desempenho exportador e sua composição .........................................................61
Quadro 11: Análise de consistência dos indicadores da pesquisa .......................................................62
Quadro 12: Empresas filiadas ao Centro Rochas ................................................................................77
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LISTA DE SIGLAS:
ABICALÇADOS: Associação Brasileira das Indústrias de Calçados
ABIMÓVEIS: Associação Brasileira das Indústrias de Móveis
ABIROCHAS: Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais
APL: arranjo produtivo local
BNDES: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
Centro Rochas: Centro das Indústrias Exportadoras de Rochas Ornamentais
CETEM: Centro de Tecnologia Mineral
CV: concentração de vendas
ES: Espírito Santo
EUA: Estados Unidos da América
IC: inteligência competitiva
IDS: Institute of Development Studies
GCC: global commodity chain ou cadeia de commodity global
GOV: indicador governança da cadeia de valor
GVC: global value chain ou cadeia global de valor
MCT: Ministério de Ciência e Tecnologia
ME: mercado externo
MI: mercado interno
ONG: organização não governamental
PIB: produto interno bruto
PMEs: pequenas e médias empresas
P&D: pesquisa e desenvolvimento
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RE: desempenho exportador
SEBRAE: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequena Empresas
SKU: stock keeping unit
UD: upgrading de produtos
UF: upgrading funcional
UNCTAD: United Nations Conference on Trade and Development
UP: upgrading de processos
LISTA DE GRÁFICOS:
Gráfico 1: Evolução das exportações brasileiras de rochas ornamentais .............................................39
Gráfico 2: Perfil da amostra por porte da empresa .............................................................................56
Gráfico 3: histograma upgrading de processo ....................................................................................68
Gráfico 4: histograma upgrading de produto .....................................................................................69
Gráfico 5: histograma de upgrading funcional ...................................................................................70
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Sumário
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................................12
1.1 O tema e sua justificativa ...................................................................................................12
1.2 Relevância da pesquisa ......................................................................................................13
1.3 Problema de pesquisa e objetivos específicos .....................................................................14
1.4 Vinculação à linha de pesquisa ..........................................................................................15
1.1 Contribuições previstas do estudo ......................................................................................15
1.2 Estrutura da dissertação .....................................................................................................16
2 REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................................................17
2.1 Estudos de cadeia global de valor.......................................................................................17
2.2 Clusters .............................................................................................................................18
2.3 Influência dos clusters e suas vantagens .............................................................................21
2.4 Clusters e GVC .................................................................................................................23
2.5 Cadeia de valor - de global commodity chain à global value chain .....................................25
2.6 Upgrading .........................................................................................................................26
2.7 Governança .......................................................................................................................28
2.8 Upgrading e governança ....................................................................................................31
3 O CLUSTER DE ROCHAS ORNAMENTAIS DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. ......34
3.1 Contexto internacional de produção e comércio de rochas ornamentais ..............................35
3.2 Contexto brasileiro em que o cluster esta inserido ..............................................................36
3.3 Exportações e importações brasileiras e considerações sobre o mercado interno .................39
3.4 Industrialização de rochas ornamentais do Espírito Santo ...................................................40
3.5 Logística da cadeia de rochas ornamentais .........................................................................42
3.6 Principais aplicações do granito .........................................................................................43
3.7 O cluster de rochas ornamentais do Estado do Espírito Santo, sua história na extração e
beneficiamento de rochas. .............................................................................................................44
3.8 Entidades ligadas ao setor ..................................................................................................46
3.9 Feiras ................................................................................................................................48
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4 METODOLOGIA ...................................................................................................................49
4.1 Método de pesquisa e coleta de dados. ...............................................................................49
4.2 Integridade dos resultados ..................................................................................................51
4.3 Construção das variáveis de pesquisa .................................................................................52
5 RESULTADOS .......................................................................................................................56
5.1 Caracterização da amostra pesquisada ................................................................................56
5.2 Consistência dos dados e análise da sua distribuição amostral ............................................58
5.3 Análise das hipóteses de pesquisa ......................................................................................62
5.3.1 Hipóteses H1 e H2 .........................................................................................................62
5.3.2 Hipótese H3 ...................................................................................................................65
5.3.3 Hipótese H4 ...................................................................................................................67
6 CONCLUSÕES .......................................................................................................................74
6.1 Limitações da pesquisa ......................................................................................................75
APÊNDICE 1: Empresas filiadas ao Centro Rochas ..........................................................................77
ANEXO 1: Instrumento de pesquisa de campo. .................................................................................79
REFERÊNCIAS: ..............................................................................................................................83
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1 INTRODUÇÃO
A pesquisa apresentada nesta dissertação resume um estudo do cluster de rochas
ornamentais do Espírito Santo, Brasil, a partir da perspectiva teórica da Cadeia Global de
Valor (GVC). Este estudo aplica a análise da GVC para examinar a relação entre o
desempenho das vendas das empresas no mercado externo (ME) e o upgrading alcançado
pelas mesmas. As teorias sobre clusters também são utilizadas para auxiliar a compreensão do
ambiente de negócios em que esta indústria opera.
As indústrias exportadoras de países em desenvolvimento vivem um dilema. Estas podem
se especializar em atividades produtivas e delegar as atividades ligadas à comercialização,
promoção e marketing para os parceiros internacionais ou podem se envolver nessas
atividades e ir além da manufatura (HANH, 2008). Diversos autores tem estudado a relação
entre a internacionalização da empresa e como esta favorece o seu crescimento (KUMAR &
SING, 2008, LEONIDOU et. al, 2007), porém várias questões permanecem em aberto. Por
isso é relevante pesquisar quais tipos de capacidades podem ser desenvolvidos, em especial os
tipos de upgrading, para que as empresas aumentem seus resultados econômicos e
competitividade nos mercados internacionais.
1.1 O tema e sua justificativa
A indústria de rochas ornamentais do ES apresenta características que propiciam o estudo
da inserção das empresas em cadeias globais de valor (GVC) e seus impactos no upgrading
das mesmas. Trata-se de uma indústria organizada em cluster, exportadora e fundamentada
em recursos naturais, por ser do setor extrativista (AVRICHIR & CHUEKE, 2012,
CASSIOLATO & SZAPIRO, 2002).
A literatura sobre o comércio internacional é ampla e variada. Nela, pesquisas que apontam
relação positiva entre aprendizado e exportação são recorrentes (SILVENTE, 2005,
BIGSTEN et al., 2004, FAFCHAMPS et al., 2007, BERNARD & JENSEN, 1999,
CLERIDES et al., 1998). Este processo de aprendizagem é conhecido como “learning by
exporting” (CLERIDES et al., 1998). Bernard e Jensen (1999), por exemplo, argumentam
que as empresas exportadoras são mais eficientes do que as empresas que não exportam, pois
são mais produtivas, pagam salários mais elevados, possuem tamanho maior e apresentam uso
mais intensivo de tecnologia.
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Outro exemplo de pesquisa que enfatiza a importância da exportação para o
desenvolvimento é a de Dhungana (2003). Esta aponta que, para economias emergentes, o
processo de crescimento da indústria é fundamental na promoção do crescimento econômico e
da estabilidade politica do país. E o mercado externo (ME) representa ampla possibilidade de
vendas e desenvolvimento para a indústria nacional. Todavia, nem tudo é favorável quando se
trata de exportação e desenvolvimento. Lall et al. (2004) demonstram que as indústrias da
América Latina (AL) enfrentam competição severa ao ingressar nos mercados globais, com
resultados nem sempre positivos.
Nesse mercado (AL), cabe pesquisar o cluster de rochas ornamentais do ES, pois este
representa o principal centro de extração e exportação de rochas ornamentais brasileiras
(AVRICHIR & CHUEKE, 2012, CHIODI, 1995). As rochas ornamentais, por ser recurso
natural, poderiam ser tratadas como commodity, mas devido a grande variedade geológica e a
diferenciação entre os produtos são altamente influenciadas pelas estratégias de marketing
(AVRICHIR & CHUEKE, 2012).
Central para a pesquisa é a questão do upgrading. Aqui foi definido como o
desenvolvimento de habilidades, capacidade de inovar e aumentar o valor agregado de
produtos e processos que permitam que a empresa obtenha margem de lucro superior e
incorporar diferenciação em sua cadeia produtiva (NAVAS-ALEMÁN, 2011, GIULIANI et
al., 2005).
1.2 Relevância da pesquisa
A escolha da indústria do cluster de rochas ornamentais é relevante para a literatura de
GVC porque, comumente nesta, as pesquisas foram conduzidas em indústrias situadas à
jusante da cadeia produtiva. As pesquisas nas indústrias de eletrônicos, vestimentas, frutas e
vegetais, suco de frutas, serviços offshore, turismo, produtos de limpeza, móveis, calçados e
roupas são exemplos desse viés de pesquisa (NAVAS-ALEMÁN, 2011, GEREFFI et al.
2005, GEREFFI et al., 2011, AVDASHEVA, 2007, POLLICE & FLEURY, 2007,
SCHMITZ, 2006, SOUZA & AMATO NETO, 2005). Estudos como o de Pinnamantag-Tutu
e Armah (2011) sobre a indústria de cacau de Gana e a indústria de móveis da África do Sul
de Kaplinsky et. al (2001), são das poucas exceções a esta regra encontrada na revisão da
literatura feita para esta pesquisa. A pesquisa de Pinnamantag-Tutu e Armah (2011) verificou
se o upgrading gera retornos superiores aos produtores, ao avaliar se a exportação de cacau
industrializado gera maiores lucros em relação à venda de matéria prima bruta. Já Kaplinsky
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et al. (2001) avalia as vulnerabilidades competitivas da indústria de móveis africana, que, no
momento da pesquisa, era dependente de aspectos macroeconômicos situacionais (como a
taxa de câmbio depreciada). Ambos os estudos sugerem o upgrading como meio para que
estas indústrias, advindas de países em desenvolvimento, adquiram capacidades competitivas
para atuar nos mercados globais.
Não se pode assumir que o comportamento exportador das empresas à jusante da cadeia
produtiva seja semelhante ao que ocorre à montante. Bloodgood et al. (1996) sustentam que
empresas situadas à jusante tem maior propensão à internacionalização. Portanto, é necessário
entender e validar as conclusões em indústria situada à montante da cadeia produtiva a fim de
verificar sua possibilidade de expansão e generalização dos resultados obtidos para empresas
à jusante (PHILLIPS e PUIG, 1985).
O entendimento do termo cadeia produtiva seguirá a interpretação de Dantas et al. (2002,
p. 37): “Cadeia produtiva é um conjunto de etapas consecutivas pelas quais passam e vão
sendo transformados e transferidos os diversos insumos”, o que possibilita entender que “cada
etapa [da cadeia produtiva empresarial] representa uma empresa (ou um conjunto de poucas
empresas, que participam de um acordo de produção)”. O início da cadeia produtiva, chamado
de montante, é formado por setores dos quais se demandam insumos (DUTRA &
MONTOYA, 2005). Os mesmos autores se referem à jusante como setores aos quais se
ofertam produtos, ou seja, o final da mesma.
O estudo de upgrading em países em desenvolvimento compara as experiências de
aprendizado das indústrias locais ao analisar se a empresa realiza aprimoramento em seu
processo produtivo, elabora melhorias nos seus produtos ou ingressa em atividades antes não
desempenhadas (HUMPHREY & SCHMITZ, 2002). As relações de governança da cadeia de
valor e seus efeitos no upgrading das empresas é tema central na literatura de GVC.
1.3 Problema de pesquisa e objetivos específicos
Uma vez que se delimitou o tema do trabalho e o campo a ser estudado, propõe-se o
problema de pesquisa e os objetivos específicos. O problema de pesquisa da dissertação é
verificar se a participação das exportações no mix de vendas das empresas é influenciada
pelos diferentes tipos de upgrading; e se a relação entre upgrading e exportação é mediada
pelo tipo de governança da cadeia de valor em que a empresa está inserida.
Nesse contexto, apresentam-se os objetivos específicos: (i) verificar, nas empresas do
cluster de rochas ornamentais do ES, situado à montante da GVC, se estas estão inseridas em
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cadeia de valor com relação de governança do tipo quase hierárquica ou mercado, e (ii) o
impactos dos diferentes tipos de upgrading na participação percentual das vendas das
empresas no mercado externo.
1.4 Vinculação à linha de pesquisa
Frente às discussões sobre internacionalização de empresas brasileiras e as transformações
no contexto local e regional, a dissertação: Upgrading no cluster de rochas ornamentais do
Espírito Santo, Brasil vincula-se ao eixo de pesquisa Competitividade de Indústrias, linha de
Estratégia. A pesquisa é parte do Programa de Mestrado em Gestão Internacional da
Associação Escola Superior de Propaganda e Marketing – ESPM, São Paulo.
1.1 Contribuições previstas do estudo
Além da contribuição ao conhecimento sobre upgrading e exportação, a pesquisa contribui
para o entendimento do funcionamento de um importante aglomerado brasileiro. Muito já foi
escrito sobre o cluster de rochas ornamentais do ES (AVRICHIR & CHUEKE, 2012;
MACLENNAN, 2012; CHIODI, 2012, 2012a, 2012b e 1995; VIDAL et al., 2009;
ZANQUETTO FILHO et al., 2007; FERNANDES, 2006; CHIODI et al., 2004; CARDOSO
et al., 2004; CASSIOLATO & SZAPIRO, 2002; BASTOS, 2001; VILLASCHI &
SABADINI, 2000), sob diferentes perspectivas.
A pesquisa de Avrichir e Chueke, (2012), por meio da abordagem comportamental
identifica os fatores que influenciaram as estratégias de marketing e exportação de empresas
do cluster analisadas em três casos. Chiodi (2012 e 2012b) elabora balanço das exportações e
importações brasileiras do setor. Chiodi (2012b) mostra o panorama do setor internacional.
MacLennan, (2012), Zanquetto Filho et al., (2007) e Fernandes (2006) tratam sobre as
inovações tecnológicas no cluster e a sua disseminação. Vidal et al., 2009 investigaram as
ações do Centro de Tecnologia Mineral (CETEM), unidade de pesquisa do Ministério de
Ciência e Tecnologia (MCT). Já Chiodi et al., (2004) e Chiodi (1995) estudam o assunto sob
a perspectiva técnico-econômica. Cardoso et al., 2004 analisam as demandas de
financiamento das indústrias do Estado. Cassiolato e Szapiro (2002) apresentam uma
caracterização do aglomerado nas condições específicas do ambiente brasileiro, ao estudar as
redes de relacionamento do cluster de rochas ornamentais entre vários outros exemplos.
Bastos (2001) analisa a gestão da logística em duas empresas de rochas ornamentais. Villaschi
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e Sabadini (2000) estudam a dinâmica de aprendizagem na promoção de inovações de produto
e de processo no aglomerado.
Como se percebe, o cluster foi objeto de diversos estudos. Porém, ainda não se investigou,
sob a perspectiva da GVC, os impactos do upgrading na inserção em cadeias globais de valor
no cluster da indústria de rochas ornamentais do ES. As pesquisas sobre clusters abordam as
fontes locais de competitividade que geram eficiência coletiva. Como o cluster da indústria de
rochas ornamentais do ES participa dos mercados local e global, o estudo deste permite
analisa-lo sob as perspectivas teóricas de cluster e GVC.
1.2 Estrutura da dissertação
A dissertação esta estruturada da seguinte maneira. Após esta introdução, segue-se o
desenvolvimento do referencial teórico, baseado na literatura de clusters (CASSIOLATO &
LASTRES, 1999, SCHMITZ & NADVI, 1999, KRUGMAN, 1991, PORTER, 1990,
BECATTINI, 1990) e GVC (BAIR, 2009, STURGEON, 2009, GEREFFI et al., 2005,
GIULIANI et al., 2005, HUMPHREY & SCHMITZ, 2002). O conceito de GVC é
apresentado e a partir do mesmo se definem os conceitos de upgrading e governança da
cadeia de valor. Os indicadores de cada um desses são classificados de modo a
operacionalizar sua medida em etapa posterior da pesquisa. Na medida em que o referencial
teórico é revisado, as hipóteses de pesquisa são desenvolvidas.
No capítulo 3 é abordado o referencial teórico sobre o contexto da indústria nacional e da
indústria brasileira de rochas ornamentais (AVRICHIR & CHUEKE, 2012, CHIODI, 2012,
VIDAL et al., 2009, CHIODI et al., 2004, VARGAS et al., 2001, VILLASCHI F. &
SABADINI, 2000, CHIODI, 1995). No capítulo 4 é apresentada a metodologia que balizará a
pesquisa. A dissertação acaba com a apresentação dos resultados e conclusões.
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2 REFERENCIAL TEÓRICO
O capítulo apresenta as teorias de GVC (Cadeia Global de Valor) e clusters conforme
usadas na pesquisa. As fontes de competitividade local e global serão conceituadas e
articuladas. Logo se desenvolve o referencial teórico de clusters e seus impactos na geografia
das organizações a partir da classificação de cinco principais vertentes teóricas. A seguir se
demonstra a evolução da literatura a partir de clusters a GVC, por meio de análise
comparativa das duas abordagens. Esse tópico versa sobre a relevância da visão conjunta das
duas perspectivas na relação do ambiente local vs. global, upgrading e governança. Dado que
afinidades entre upgrading e governança são essenciais para a competitividade das empresas.
Por fim são construídas as relações entre upgrading, mercados e desempenho exportador.
A segunda seção finalmente situa a indústria de rochas ornamentais do ES e explica suas
características. Para isto se aborda o contexto da indústria de rochas nacional em que o cluster
do Espírito Santo esta inserido, além do mercado internacional. Segue com a apresentação de
suas características, histórico, as etapas do processo de industrialização, entidades ligadas ao
cluster no ES e as feiras promovidas pelo setor.
2.1 Estudos de cadeia global de valor
Os estudos de GVC possuem uma história relativamente curta e recente. Estudos teóricos e
práticos a este respeito começaram em Sussex, no início da década de 90, primeiramente no
Institute of Development Studies, no Reino Unido, com grupos e conferências focados neste
tópico (AVDASHEVA, 2007).
No outono de 2000, um grupo de pesquisadores, com extensa experiência de campo, na
observação da indústria internacional em vários setores, inicia encontros em uma série de
workshops para desenvolver a teoria da governança, que hoje é chamada de Global Value
Chain ou Cadeia Global de Valor. A iniciativa foi patrocinada pela Fundação Rockefeller e
pela Fundação Alfred P. Sloan (STURGEON, 2009). Os participantes deste grupo tinham
formações variadas: Economia, Geografia, Sociologia, Planejamento Regional, Ciências
Políticas, Administração, entre outras. O primeiro resultado deste trabalho foi o relatório do
Institute of Development Studies chamado “O valor das cadeias de valor: espalhando os
ganhos da globalização”, o qual consolidou as terminologias “governança” da cadeia e
“upgrade” da indústria.
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A Cadeia Global de Valor engloba todas as atividades necessárias para a produção de um
bem ou serviço, incluindo desde a concepção, etapas produtivas, materiais, componentes,
produção, montagem do produto acabado, até a entrega ao consumidor final, além do descarte
após a utilização (CATTANEO et al., 2010). A análise da cadeia de valor é importante para se
compreender quais atividades devem ser internalizadas pela empresa, por agregarem valor, e
quais atividades devem ser delegadas a terceiros (KAPLINSKY & MORRIS, 2000). O foco
da análise deixa de ser a manufatura e passa a abranger outras atividades envolvidas no
processo de produção, como distribuição e marketing. A habilidade de identificar as
atividades que proporcionam retornos superiores na cadeia de valor é um ponto chave no
entendimento da apropriação global de valor (GIULIANI et al., 2005).
O conceito de GVC reconhece que o design, a produção e o marketing de vários produtos
envolvem uma cadeia de atividades situadas em locais diferentes. Segundo McCormick
(1998) a cadeia de valor descreve as atividades necessárias para trazer um produto da sua
concepção até o consumidor final.
As três principais análises sobre uma indústria na abordagem de GVC são: (a) a geografia
e as características das relações entre os estágios de agregação de valor e as tarefas
distribuídas na cadeia; (b) a forma como o poder está compartilhado entre as empresas e os
outros participantes da cadeia de valor; e (c) o papel das instituições na estruturação de
relacionamentos comerciais nas localidades industriais (STURGEON, 2009). A ideia de GVC
faz sentido a partir da premissa de globalização da cadeia de suprimentos (SANTOS et al.,
2004).
A próxima seção trata da importância da localização das empresas, primeiramente citado
por Marshall, ao analisar as economias externas no final do século XIX (MARSHALL, 1982).
2.2 Clusters
As pesquisas sobre clusters foram inicialmente abordadas por Marshall (1982), na abertura
do capítulo dedicado às vantagens da aglomeração produtiva. O autor, neste capítulo, discute
quais são as vantagens que as empresas obtêm ao estar próximas de seus concorrentes, já que,
racionalmente, o afastamento faria mais sentido. A conclusão de Marshall é a de que locais
especializados atraem fornecedores e clientes. Estes locais são os primeiros a incorporar
inovações em maquinários, processos e matérias primas e geram um ambiente propenso a
economias externas. Em 1916, Marshall identificou três razões favoráveis aos clusters: (i)
existência de mercado para trabalhadores especializados, (ii) provisão de serviços e
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fornecedores especializados e (iii) rápido fluxo da informação entre as empresas
(MARSHALL, 1982). O autor destacou a necessidade das iniciativas de cooperação entre
empresas para melhorarem seus desempenhos.
O interesse pelo estudo de clusters ganhou impulso a partir do fenômeno denominado de
Terceira Itália (VASCONCELOS et al., 2005), citado na maior parte dos exemplos da
literatura. Pequenas e médias empresas (PMEs) aglomeradas em pequenos espaços, no final
dos anos 70, provenientes de setores maduros da economia italiana, como sapatos, móveis,
têxteis e cerâmicos, se destacaram por seu desempenho e sua maior inserção internacional, em
relação às grandes empresas do Triângulo Industrial Italiano (Milão – Turim – Gênova).
Becattini (1990), a partir da ideia de distrito industrial que se desenvolveu na Itália e em
outras partes do mundo, define um aglomerado industrial. Para o autor, distrito industrial é
uma entidade sócia territorial caracterizada pela presença ativa da comunidade e de conjunto
de empresas em área ligada pela natureza e pela história.
Além dos fatores sociais e históricos, chama a atenção o impulso no desenvolvimento de
tecnologias advindos das aglomerações de empresas. Segundo Amato-Neto (2009), PMEs
organizadas em clusters começam a incorporar tecnologias de ponta nos processos
produtivos, formar redes com o entorno socioeconômico e alterar estruturas organizacionais
internas, de modo a competir em alguns setores com grandes empresas. O fenômeno se
observa em aglomerados na Itália, na França, Alemanha, Reino Unido, no Vale do Silício nos
Estados Unidos (EUA) e em redes de empresas no Japão, Coréia e Taiwan, a partir dos anos
70. O foco das análises, a partir desta década, deixa de ser a empresa individual e passa a ser a
maneira como as empresas e as demais instituições se relacionam em um espaço
geograficamente delimitado (CASSIOLATO & LASTRES, 2003).
Em artigo recente, Lubeck et al. (2012) ponderam sobre a interdisciplinaridade das
abordagens sobre clusters, ao classificarem os estudos do tema em cinco vertentes:
a) A primeira abordagem consiste em estudos da nova teoria do crescimento e
comércio internacional, com destaque para as pesquisas de Krugman (1991). Nesta
visão, as aglomerações produtivas são oriundas das economias locais, fruto das
relações econômicas de mercado e há pouco espaço para políticas públicas.
b) A segunda vertente é representada principalmente pela obra “Vantagem
Competitiva das Nações”, de Porter (1990). Nela o autor propõe o modelo do
diamante como modo a identificar as razões que justificam a habilidade de um país
em criar e manter um ambiente favorável para determinadas indústrias. Ele
relaciona os clusters à competitividade da indústria. Enfatiza os vínculos
20
provenientes das relações entre os agentes locais: condição de fatores, condição de
demanda, indústrias correlatas e estratégia, estrutura e rivalidade das empresas.
c) A terceira é a da economia da inovação. Ela consolida teorias que abordam a
formação de sistemas de inovação e o desenvolvimento tecnológico por meio da
articulação das organizações e empresas do cluster. Chamam a atenção os estudos
de Cassiolato e Lastres (1999) e Cassiolato e Szapiro (2002) sobre os sistemas de
inovação regionais e locais, nesta vertente. Cassiolato e Lastres, em sua definição,
destacam claramente esta visão: Sistemas produtivos e inovativos locais são aqueles arranjos produtivos em que interdependência, articulação e vínculos consistentes resultam em interação, cooperação e aprendizagem, com potencial de gerar o incremento da capacidade inovativa endógena, da competitividade e do desenvolvimento local. Assim, consideramos que a dimensão institucional e regional constitui elemento crucial do processo de capacitação produtiva e inovativa (CASSIOLATO & LASTRES, 2003, p. 5).
d) A quarta abordagem compreende os estudos em economia regional e
desenvolvimento de distritos industriais. Esses estudos se desenvolveram a partir
de investigações realizadas na Itália, principalmente a respeito de pequenas e
médias empresas. Nessa linha de pesquisa Becattini (1990), Brusco (1990),
Becchetti e Rossi (2000), entre outros autores, buscam ressaltar como os locais
com grande intensidade de transações tendem a formar clusters, ao estimularem os
vínculos entre os agentes. Brusco (1990) caracteriza o cluster como pequena
região com até 300 empresas. Segundo o autor, um produto central unifica a
região. Outra característica importante é a intensidade de relacionamento entre as
empresas. Essa interdependência entre as firmas resulta em necessidade de
coordenação e adoção de políticas públicas, de modo a conquistar vantagens
competitivas.
e) Finalmente, na quinta vertente se encontram os trabalhos de Schmitz e Nadvi
(1999), Humphrey e Schmitz (2002), que abordam a eficiência coletiva na relação
dos clusters e seus mercados. Os estudos sobre clusters focam as fontes de
competitividade local, ou seja, os relacionamentos verticais e horizontais dentro do
cluster que geram eficiência coletiva. Os autores enfatizam a cooperação entre
empresas, associações e entidades ligadas ao governo, em que a combinação de
ações espontâneas com ações coordenadas encadeiam o aumento de eficiência e
eficácia das empresas integrantes do cluster.
21
Os autores Belussi e Samarra, (2010) apontam que, enquanto na literatura anglo-saxônica
os termos distrito industrial e cluster têm sido usados como sinônimos, no contexto italiano o
conceito marshallino de distrito industrial é predominante, implicando em concentrações de
firmas similares que operam no mesmo setor em áreas delimitadas e com interações sociais de
cooperação decorrentes da proximidade. Porter (1998) define clusters como concentrações
geográficas de empresas e instituições em setor específico. Portanto neste sentido, cluster é
algo mais indistinto, cuja identificação depende das hipóteses de pesquisa e não
necessariamente implica em forte aglomeração. A importância das externalidades positivas
para os produtores, o acesso ao conhecimento, sinergias, redução de custos e melhoria
produtiva permeiam o trabalho dos autores das diversas perspectivas teóricas citadas.
Alguns autores consideram que “arranjo produtivo local” (APL), “cluster”, “distrito
industrial” ou mesmo “concentração geográfica” são sinônimos (LIMA & CARVALHO,
2011, CARDOSO & GUIMARÃES, 2011, VASCONCELOS et al., 2005, PAIVA, 2005,
CASSIOLATO & LASTRES, 2003). Outros como Lubeck et al. (2012) estabelecem uma
diferenciação entre as expressões clusters, arranjo produtivo local (APL), distrito industrial e
sistemas locais de produção e inovação (SLPIs). Portanto, não há consenso sobre o tema.
Nesta dissertação, para fins de clareza, os termos cluster e aglomeração de empresas serão
tratados como sinônimos. Não se adota outro nome, de modo a facilitar o entendimento do
assunto. Utiliza-se, no presente estudo, a quinta vertente apresentada. Esta enfatiza a
eficiência coletiva na relação entre as empresas participantes do cluster e os mercados (locais
e globais) de atuação das mesmas.
2.3 Influência dos clusters e suas vantagens
De forma geral a pesquisa aponta que a associação de empresas em clusters gera uma série
de efeitos positivos. A teoria marshallina, por exemplo, aponta que quando ocorre a
concentração de atividades econômicas em um espaço geográfico tendem a ocorrer
“externalidades positivas próximas” (MARSHALL, 1982).
Os autores Amato Neto, (2009) e Vasconcelos et al. (2005) citam algumas vantagens da
localização em clusters empresariais. O ambiente institucional favorável, a organização dos
aglomerados, suas instituições formais e informais possuem papel crítico na redução de
incertezas nas relações entre as empresas. As redes de relacionamento reduzem custos de
transação dos negócios no cluster.
22
De uma maneira geral, as aglomerações locais são importantes para o seu crescimento e
sua capacidade de inovação (CASSIOLATO & LASTRES, 2003). Os estudos a este respeito
relacionam os clusters a partir da perspectiva das interações, tanto competitivas como
cooperativas, com ênfase para as instituições de apoio, aprendizado coletivo e difusão do
conhecimento.
Outra característica importante é a rápida difusão do conhecimento ao longo do cluster.
Essa se dá normalmente por meio de contato pessoal de colaboradores de empresas ou de
empresários. (AMATO NETO, 2009; GIULIANI et al., 2005; THOMPSON, 2005;
VASCONCELOS et al., 2005; BECATTINI, 1990).
As PMEs, quando inseridas em clusters, são capazes de superar desafios comuns, como
dificuldade de contratação de mão de obra especializada, dificuldades de acesso à tecnologia,
aos mercados, às informações, ao crédito e aos serviços externos (WENG & MCELROY,
2010, AMATO NETO, 2009; GIULIANI et al., 2005), em países desenvolvidos e em países
em desenvolvimento (SCHMITZ & NADVI, 1999). A combinação entre as economias
externas e o efeito da cooperação ativa entre as empresas localizadas no cluster delimita o
potencial de alavancagem que o arranjo produtivo exerce nas pequenas e médias empresas
(GIULIANI et al. 2005). Em comparação com as transações entre compradores e vendedores
dispersos e aleatórios, as transações e as repetidas trocas realizadas por empresas e
instituições que se encontram em um mesmo local promovem uma maior coordenação e
confiança. Assim, clusters mitigam problemas inerentes a relações puramente comerciais, sem
impor as inflexibilidades da integração vertical e dos desafios de gestão presentes na criação e
manutenção de vínculos formais, tais como redes, alianças e parcerias.
De acordo com Schmitz (1998), pesquisas sobre clusters exportadores em países em
desenvolvimento são recentes (dado que tradicionalmente essas abrangem os países
desenvolvidos). Mesmo com múltiplos resultados a literatura identifica dois pontos em
comum: (i) clusters são relevantes em países em desenvolvimento. Esses podem ser
identificados em diversos países e setores; e (ii) aglomerações de empresas auxiliam PMEs a
superar desafios ao crescimento e atingir novos mercados no exterior.
Thompson (2005) também aponta que os clusters podem ser considerados um fator
facilitador para o desempenho das PMEs. A presença de associações locais e a promoção de
feiras podem ocorrer especialmente em clusters mais maduros. O papel das associações é
assistir as empresas participantes do aglomerado, no sentido de promover e facilitar a busca
dos interesses do grupo. A intensidade da cooperação de PMEs influencia a intensidade da
exportação das mesmas. Adicionalmente, a autora destaca que empresas organizadas em
23
clusters atraem maior atenção de compradores, quando comparadas a empresas que estão fora
dessa forma de organização empresarial, o que pode alavancar as vendas de cada uma das
empresas integrantes.
Boehe (2011) verificou, por meio de survey no Brasil, que a participação de empresas em
associações favorece diretamente a sua propensão para exportar. Bair e Gereffi (2001), em
linha com este argumento, citam que o desempenho das empresas, a trajetória de crescimento
e o resultado do desenvolvimento local são, em alguma extensão, dependentes das relações
que conectam os clusters às empresas e mercados estrangeiros. Por essas razões,
desenvolveremos, a seguir, uma discussão sobre a relação entre clusters e a GVC.
2.4 Clusters e GVC
Como vimos acima, os estudos sobre clusters estão focados nas fontes locais de
competitividade, que vêm dos relacionamentos intracluster (horizontais) e geram eficiência
coletiva. A partir da década de 1980, principalmente em função da intensificação do processo
de globalização, vários autores começam a chamar a atenção para a importância de se
entender como as empresas isoladamente ou em clusters estão posicionadas nas cadeias
globais de valor. Esses trabalhos apontam que os estudos sobre cluster negligenciam os
relacionamentos externos (GIULIANI et al., 2005). A conexão entre os produtores locais e os
compradores globais vem a ser a questão central na abordagem da GVC.
O estudo da GVC analisa o papel dos sistemas globais de produção e distribuição e
enfatiza as fronteiras globais entre empresas nos sistemas, ao invés de privilegiar os
aglomerados locais. As duas perspectivas (clusters e GVC) podem ser analisadas
conjuntamente ao se verificar como a inserção em cadeias globais afeta as estratégias de
upgrading local (HUMPHREY & SCHMITZ, 2002). A habilidade de identificar as atividades
que geram maiores retornos é ponto chave para o entendimento do processo de apropriação de
valor ao longo da cadeia (GIULIANI et al., 2005).
Bair e Gereffi (2001) observam que (a) nos países em desenvolvimento há heterogeneidade
no tamanho das empresas que compõe o cluster, e, no mix entre pequenas e grandes empresas,
o peso dado às grandes empresas é desproporcional; (b) no contexto da liberalização
comercial, a integração vertical tende a crescer nos clusters, (c) apesar da ênfase dada à
cooperação competitiva na literatura de clusters, a cooperação é baixa e tende a diminuir e (d)
o desempenho das empresas, a trajetória de crescimento e o resultado do desenvolvimento
local são, em alguma extensão, dependentes das relações que conectam os clusters às
24
empresas e mercados estrangeiros (BAIR & GEREFFI, 2001). No quadro 1, abaixo,
apresentamos uma comparação das visões de cluster e de GVC.
Quadro 1: Clusters x GVC
Fonte: Humphrey e Schmitz,(2002) (tradução nossa).
Humphrey e Schmitz (2002) destacam que as interações são centrais tanto nos estudos dos
clusters como nos estudos de GVC. Os estudos sobre clusters focam nas interações entre as
empresas e instituições locais e as pesquisas de GVC dão maior relevância às interações com
os compradores globais. A abordagem de GVC chama a atenção para o envolvimento das
empresas em relacionamentos comerciais em que o poder do comprador e do vendedor não é
simétrico. Essas assimetrias nas relações de poder impactam o upgrading das empresas e
serão explicados adiante na seção sobre governança na cadeia de valor. Vários autores abordam a ligação entre as literaturas a respeito de upgrading e de clusters
(GIULIANI et al, 2005, HUMPHREY & SCHMITZ, 2002). Giuliani et al. (2005) sumariza a
questão ao argumentar que há evidências, na América Latina, de que ambas as dimensões,
local e global, são relevantes e que as empresas comumente participam de clusters e de GVCs
simultaneamente.
25
2.5 Cadeia de valor - de global commodity chain à global value chain
A cadeia produtiva é também chamada de cadeia de valor. Ela consiste no arranjo das fases
necessárias à produção de bens ou serviços. Kaplinsky e Morris (2000) apontam três razões
para a crescente importância da análise da cadeia de valor: (i) a relevância da compreensão da
competitividade sistêmica, dada a maior divisão do trabalho e dispersão global das atividades
produtivas; (ii) o fato de a eficiência produtiva consistir em apenas uma condição necessária
para o ingresso nos mercados globais; e (iii) o fato de o crescimento dos rendimentos
provenientes da entrada no mercado global depender do entendimento dos fatores de toda a
cadeia de valor.
Os trabalhos relativos à GVC evoluíram dos estudos realizados sobre a cadeia de
commodity global (GCC), desenvolvidos por Gereffi (1999) e Gereffi e Korzeniewicz (1994).
Gereffi e Korzeniewicz (1994) definem GCC como uma rede interorganizacional agrupada
em função da produção de uma commodity. Estes trabalhos delimitam quatro estruturas base
que moldam os GCCs: entradas, saídas, governança geográfica e institucional. A estrutura de
governança é a dimensão que recebeu mais atenção dos pesquisadores que utilizaram este
modo de análise (STURGEON, 2009). Essa rede une empresas, sociedade e a economia local
com os mercados globais.
Kaplinsky e Morris (2000) definem cadeia de valor como todas as atividades envolvidas
necessárias para viabilizar um produto, desde a sua concepção, passando pelas diversas etapas
produtivas (transformação física e input de serviços) e pela entrega ao consumidor final, até o
descarte, após o uso. A partir dessa definição, GVC pode ser entendida como a sequência de
atividades necessárias ao processo de criação de valor, com o envolvimento de um ou mais
países.
O conceito de cadeia de valor já foi previamente abordado por Porter (1990), que o define
como a reunião das atividades da empresa que são executadas para projetar, produzir, entregar
e sustentar o seu produto. O modo como a organização executa as suas atividades reflete a sua
história e a sua estratégia. Interessa ressaltar que Porter (1990), como destaca Kaplinsky
(1998), chama a atenção não apenas para os diferentes elos da cadeia, mas também para a
interconexão entre os mesmos. Essa ideia expande o conceito dos envolvidos diretamente na
produção à todos os participantes do processo, que pode ser chamado de sistema produtivo.
Em seus trabalhos, Gereffi (1990) afirma que a abertura comercial não aumenta por si só a
capacidade das indústrias. A liberalização permite o aumento do comercio internacional, mas
sem o estímulo das empresas dos países desenvolvidos, voltados à exploração das capacidades
26
e mercados de países em desenvolvimento, o fluxo comercial internacional seria mais
modesto, em termos de volume e de conteúdo tecnológico. Como estas empresas contribuíram
para criar competências em países em desenvolvimento, elas continuam a controlar e a guiar
recursos na economia global, mesmo sem a sua propriedade (STURGEON, 2009). Nas
pesquisas mais recentes foi observada a tendência de migração da produção para redes
externas. Como consequência, ativos (como fábricas) e fatores de risco migraram para os
fornecedores (GUTHMAN, 2009).
A GCC também tem sido usada para se descrever a globalização, já que as commodities e
seus componentes podem ser analisados não apenas no que tange à maneira como são
transportados geograficamente, mas também no que diz respeito à forma como o consumo, a
produção e a regulação são influenciados pela localização da produção e seus espaços
(GUTHMAN, 2009).
O termo commodity da expressão “cadeia de commodity global” (GCC) foi substituído por
valor, o que resultou na criação do conceito de cadeia global de valor (GVC). A definição de
commodity como produto sem diferenciação, especialmente advindos de produtos primários
da agricultura, é substituída pela ideia de valor agregado, que foca na fonte principal de valor
econômico: a aplicação do esforço humano, aliado às maquinas, para gerar retorno ao capital
investido (STURGEON, 2009).
2.6 Upgrading
Toda cadeia de valor tem atividades melhor remuneradas do que outras, e é do interesse
das empresas de países em desenvolvimento adquirirem as competências que possibilitam o
upgrade da sua posição atual para outra, de retornos maiores e mais sustentáveis (NAVAS-
ALEMÁN, 2011). Para tanto, faz-se necessário identificar os fatores determinantes da
competitividade, por meio da compreensão de todas as atividades e relações presentes na
GVC, e não somente dos fatores produtivos.
Vale ressaltar que o produto que chega ao consumidor final é resultado da adição de valor
de cada um dos participantes da cadeia produtiva. Contudo as diversas atividades da cadeia de
valor não agregam valor ao produto de modo equilibrado. Diversos estudos sustentam a ideia
de que as margens de lucro do processo manufatureiro são muito inferiores às margens
obtidas pelas empresas líderes em design, marketing e propaganda (GIULIANI et al., 2005;
KAPLINSKY, 1998; SCHMITZ & KNORRINGA 2000). A transição de atividades de
27
margens inferiores para processos com maior complexidade e retornos mais elevados é
nomeada como upgrading.
No presente estudo, utilizaremos a tipologia definida por Humpfrey e Schmitz (2002):
Upgrade de processo: é definido por melhorias no processo de produção. Este upgrade
envolve a aquisição de novas máquinas, implantação de programas de controle de qualidade,
redução de perdas, diminuição do prazo de entrega e, de forma geral, a melhoria da eficiência
do processo de produção.
Upgrade de produto: definido pela introdução de novo produto, alterações no design,
aumento da qualidade e produção de produto mais sofisticado.
Upgrade funcional: consiste no avanço na cadeia de valor, de modo a migrar para
atividades de maior valor agregado, como design, marketing e marcas.
Navas-Alemán (2011) sugere uma forma de operacionalizar a avaliação e medida dos tipos
de upgrading que está resumida no quadro 2:
Quadro 2: Indicadores de upgrading
Fonte: Navas-Alemán (2011) (tradução nossa).
Gereffi (1999) sugere a existência de uma hierarquia de upgrading, baseado nos retornos
crescentes de cada atividade. Esta hierarquia se inicia no upgrading de processo, avança para
o upgrading de produto, até finalmente alcançar o upgrading funcional. O upgrading
funcional é o mais importante, pois é aquele em que a organização adquire capacidades que
possibilitam a geração de retornos mais elevados para a empresa. Esse tipo de upgrade
permite migrar para atividades com maior valor agregado em relação ao estágio em que a
empresa se encontrava anteriormente.
Tipo de upgrading Explicação Indicadores
Processo Desempenha melhor a atividade
investimentos em máquinas, treinamento de mão de obra, mudanças no lay-out, novas técnicas de gestão, programa de qualidade total, práticas sociais e ambientais
Produto Produto de melhor qualidade, mais sofisticado ou de menor preço.
Novos modelos, novas linhas, maiores preços, novos materiais.
Funcional Adquirir capacidades em atividade da cadeia que a empresa não possuia antes.
Um produtor que começa a desenhar seus produtos ou lança marca própria, coordena sua rede de fornecedores, ingressa em novos mercados, etc.
28
Em linha com essa preposição, Hanh (2008) verifica que o upgrading funcional e o
desenvolvimento de habilidades ligadas a design e marketing (upgrading de produto)
impactam positivamente no sucesso das empresas exportadoras. Esse resultado corrobora com
as pesquisas de GVC, que relacionam o upgrading funcional com retornos econômicos mais
elevados para as empresas.
2.7 Governança
A literatura sobre GVC dá grande destaque ao conceito de governança. Várias definições
surgiram para descrever o processo de governança da cadeia de valor e o modo como essas
formas de coordenação podem estar entre o total anonimato das transações de mercado e o
modelo da integração vertical (GEREFFI et al., 2005). Na abordagem de GVC, governança é
definida como “coordenação da cadeia de valor” (BAIR, 2009). As cadeias de valor
comumente tem um coordenador, que é uma empresa que lidera e determina os parâmetros
produtivos e as relações de poder com as outras empresas ao longo da cadeia. A literatura de
GVC sugere que a governança da cadeia estrutura as possibilidades de upgrading das
empresas locais e dos clusters (SCHMITZ, 2006; BAZAN & NAVAS-ALEMÁN, 2003).
O conceito de governança na cadeia de valor tem como foco o entendimento das relações
de poder da cadeia produtiva, no ambiente global. Gereffi et al. (2005) propõe tipologia de
governança composta por cinco modelos de coordenação na cadeia de valor, quais sejam: (i)
Relação de mercado, governada pelo preço; (ii) Relação modular, em que as informações
complexas das transações são codificadas e digitalizadas antes de serem transmitidas aos
fornecedores; (iii) Conexão relacional, em que a informação tácita é trocada entre
compradores e fornecedores especializados; (iv) Relação cativa, em que fornecedores menos
qualificados recebem instruções detalhadas; (v) Relação hierárquica na mesma empresa.
Gereffi et al. (2005) sustenta que a governança é dinâmica e pode evoluir ao longo do
tempo. Os quatro determinantes centrais da abordagem são: a complexidade das transações, as
capacidades na base de fornecedores, o grau de coordenação explícita e as assimetrias de
poder entre os participantes. A perspectiva dinâmica abre a possibilidade de que, por meio da
aquisição de capacidades, a empresa possa evoluir para uma posição mais favorável na cadeia
de valor.
Humphrey e Schmitz (2002) apresentam quatro tipos de relacionamentos que podem
ocorrer na cadeia de valor, aos quais chamaremos de modelo de governança:
29
(a) Mercado (relacionamento Arm’s lengh): o produto é padronizado ou facilmente
adaptado, uma série de empresas pode atender os requisitos do fornecedor. Não há
necessidade de processo produtivo exclusivo ou certificação independente.
(b) Network: empresas cooperam com relacionamento intenso, há dependência recíproca.
O comprador pode especificar alguns atributos do produto ou do processo, e deve confiar
na capacidade do fabricante em atendê-los. As diferenças de poder entre as empresas não
são acentuadas e as empresas compartilham competências na cadeia.
(c) Quase hierárquica: uma empresa exerce alto grau de controle sobre as outras empresas
da cadeia, frequentemente especificando as características dos produtos a ser fabricados e
algumas vezes o processo de fabricação que será submetido, além dos mecanismos de
controle. O comprador exerce controle desde a especificação do produto, até a perspectiva
do comprador aos riscos do fabricante não atender as encomendas. O comprador exerce
controle não apenas do fabricante, mas pode seguir a outros estágios da cadeia de valor.
(d) Hierárquica: a empresa líder absorve as operações e processos do restante da cadeia.
Neste trabalho será utilizada a tipologia proposta por Humphrey e Schmitz (2002), de
acordo com o quadro 3. Esse quadro resume também como indicadores de governança da
cadeia de valor foram operacionalizados no estudo:
30
Quadro 3: Indicadores de governança da cadeia de valor
Tipo de governança
da cadeia:
Explicação: Indicadores:
Mercado Relacionamento comercial entre
as empresas. Não se observa
governança.
Baixa concentração de compradores e vendedores.
Não se observa relação de dependência. O comprador
não participa do desenvolvimento do produto. Repetir
transações comerciais é possível, mas o fluxo da
informação é limitado. Não há assistência técnica.
Network Coordenação das atividades entre
as empresas com
interdependência. As empresas
desempenham atividades
complementares.
Não há dependência dos fabricantes ou de
compradores (fabricantes devem ter vários
compradores, mas se os fabricantes tiverem poucos
compradores, os compradores terão poucos
fornecedores).
Quase-hierárquica O fabricante esta subordinado à
um ou poucos compradores. Há
forte assimetria de poder nas
negociações e relacionamentos de
longo prazo.
Uma empresa tem alto grau de
controle sobre outras empresas,
mesmo que sejam formalmente
independentes.
Alta dependência do comprador (representa mais de
30% das vendas da fabricante).
Alta concentração dos compradores.
O comprador desenvolve o produto a ser produzido
pelo fabricante.
Poucas vendas diretas entre fabricantes e clientes. Os
intermediários mantêm os fabricantes afastados do
mercado consumidor.
O desempenho do fabricante é auditado / monitorado
pelo comprador.
O fabricante possui menos opções de saída do negócio
se comparado ao comprador.
O comprador fornece a assistência técnica ao cliente.
Assimetria de informação (o comprador detém mais
informação sobre os custos e tecnologias de fabricação
que o fabricante possui sobre o comprador).
O comprador possui competências essenciais na cadeia
que não são absorvidas pelo fabricante.
Hierárquica Há integração vertical da
empresa. Observa-se a
propriedade de uma empresa (ou
participação) por outra.
Não abordada nesta pesquisa, que visa entender o
relacionamento entre empresas independentes.
Fonte: Navas-Alemán (2011) (tradução nossa).
31
2.8 Upgrading e governança
A literatura sobre GVC relaciona fortemente a governança da cadeia com o upgrading da
empresa. De acordo com Bair (2009) e Kaplinsky (1998), a governança das cadeias é um dos
fatores mais relevantes na sua possibilidade de upgrading. Cadeias quase hierárquicas estão
associadas às melhorias nos produtos e processos (GIULIANI et al., 2005), devido,
principalmente, à influência de compradores locais, ao assegurarem que os fornecedores
atendam as especificações propostas, dado o ambiente competitivo global. Por sua vez,
empresas em cadeias com governança do tipo mercado são comuns no mercado interno, e este
tipo de governança esta associado ao upgrade funcional (NAVAS-ALEMÁN, 2011).
Ao estudar o cluster exportador de calçados do Vale dos Sinos, caracterizado nas vendas
ao mercado externo por governança quase hierárquica, verificou-se que as empresas
avançaram consideravelmente no upgrade de processos, frente às demandas do mercado
exportador, embora isso não tenha garantido o aumento dos volumes (SCHMITZ & NADVI,
1999). A autora Navas-Alemán (2011), ao expandir os estudos no mesmo cluster, encontrou,
em empresas que operam em múltiplos canais e expostas a mais de um tipo de governança,
evidências de incidência de upgrading funcional, além do upgrading de produtos e processos.
Segundo Humphrey e Schmitz (2002), cadeias caracterizadas por networks uniformes
oferecem condições ideais de upgrading. Entretanto essas cadeias tendem a ser raras em
países em desenvolvimento, dado que as empresas desses países são solicitadas a desenvolver
alto nível de competências complementares para que ocorra este nível de cooperação. Já em
cadeias caracterizadas por relacionamentos do tipo mercado, o upgrading de produtos e
processos tende a ser mais lento. Contudo, esta relação proporciona a possibilidade de ocorrer
o upgrading funcional.
De modo a avançar no entendimento das relações de governança nos diferentes mercados
de atuação das empresas, especificamente no cluster de rochas ornamentais, são propostas as
seguintes hipóteses:
H1: empresas que vendem predominantemente no mercado externo tendem a estar
inseridas em cadeias de valor do tipo quase hierárquicas.
H2: empresas que atuam predominantemente no mercado interno tendem a estar inseridas
em cadeias de valor do tipo mercado.
32
Ao ingressar no mercado externo, as empresas de países em desenvolvimento enfrentam
desafios para atender os novos mercados. Isso porque as economias globais estão cada vez
mais integradas, interdependentes e especializadas (CATTANEO et al., 2010). Faz-se
necessário notar que o acesso aos mercados internacionais não garante, por si só, o
crescimento sustentável dos retornos financeiros para as empresas (KAPLINSKY et. al.,
2001).
Zou e Stan, (1998) em revisão da literatura sobre exportação, destacam que as medidas
mais usadas para se avaliar o desempenho exportador são índices formados pelo percentual de
vendas para o mercado externo e a lucratividade do mercado externo. Mas os autores lembram
que a literatura recente recomenda que sejam aplicadas métricas ligadas à percepção do
exportador, como, por exemplo, verificar se objetivos de vendas da empresa para o mercado
externo foram atingidos. Especificamente, ao se analisar a trajetória das empresas do cluster
no período de 2008 a 2011, observa-se como o posicionamento frente aos diferentes mercados
resultou em variações no mix de vendas das empresas. Com o objetivo de se comparar a
percepção do exportador com os dados coletados, formulou-se a hipótese:
H3: empresas que, de 2008 para 2011, aumentaram suas vendas percentuais no mercado
externo alcançaram desempenho exportador superiores em relação às outras empresas.
As empresas, ao se organizarem em clusters, obtêm incrementos de competitividade,
acessam conhecimentos e habilidades técnicas particulares ao setor, obtêm redução de custos
e consequentes melhorias produtivas (AMATO NETO, 2009; THOMPSON, 2005;
VASCONCELOS et al., 2005; SCHMITZ & NADVI, 1999; PORTER, 1998). Os estudos
sobre clusters focam as fontes de competitividade local, ou seja, os relacionamentos verticais
e horizontais dentro do cluster que geram eficiência coletiva e, consequentemente, aumento
nos lucros das empresas.
Giuliani (2005) argumenta que a recente inserção nos mercados globais, devido às
mudanças nos canais de distribuição, acesso aos recursos tecnológicos e aos mercados
consumidores levam os clusters a se integrarem nas redes chamadas de GVC, que operam em
diferentes países e mercados. A globalização trouxe a descentralização dos centros produtivos
manufatureiros e a migração destes para países em desenvolvimento (KAPLINSKY &
MORRIS, 2000). Todavia, a descentralização produtiva não levou à distribuição equitativa
das riquezas, pois há incoerência entre os altos níveis de integração econômica dos mercados
e a distribuição de riqueza advinda da globalização. A partir desta observação, podemos
33
questionar como os fatores e processos que auxiliam o upgrading de atividades produtivas
dispersas podem prover a distribuição de valor mais equitativa.
Observa-se que a análise da cadeia de valor dá enfoque à dinâmica dos relacionamentos do
setor produtivo, especialmente ao modo como empresas e países se integram mundialmente,
além de enfocar análises econômicas e sociais tradicionais (KAPLINSKY & MORRIS,
2000). Além dos setores produtivos, a análise da cadeia de valor incorpora atividades
corporativas e de suporte, como pós-vendas e atendimento ao cliente. A sua análise tornou-se
importante ferramenta teórica para se compreender o upgrading de nações e produtores locais,
setores e indústrias (BAIR, 2009), tema relevante principalmente no caso das pequenas e
médias empresas da América Latina.
De modo a atender às necessidades demandadas pelos novos mercados e garantir retornos
econômicos satisfatórios para as empresas, essas devem almejar upgrading em suas
atividades. De acordo com Humphrey e Schmitz, (2002), o processo de absorção de funções
que geram retornos superiores e a consequente delegação de funções de menor valor
agregado, torna-se crítico na estratégia de upgrading das empresas. Bartlett e Ghoshal (2000)
descrevem a smilling curve da criação de valor, em que as atividades no inicio e no final são
as de maior valor agregado. Entre estas estão as atividades de pesquisa e desenvolvimento
(P&D) e marketing. As atividades de menor valor agregado são as ligadas à manufatura. A
mecanização e automação criaram processos de fácil imitação, enquanto a inovação,
marketing e design geram diferenciação e consequentemente maior valor agregado.
A partir dessas questões formulou-se a hipótese:
H4: as vendas percentuais das empresas no mercado externo e seus investimentos em
marketing são influenciados positivamente pelo upgrading alcançados pelas mesmas
(upgrading de produtos, processos e funcional).
34
3 O CLUSTER DE ROCHAS ORNAMENTAIS DO ESTADO DO ESPÍRITO
SANTO.
Para verificar a validade das hipóteses escolheu-se pesquisar a indústria de rochas
ornamentais do ES. Esta permite tal verificação, pois existem no mesmo cluster empresas
para as quais o percentual exportado vai de zero ou quase zero até as que exportam a
totalidade da sua produção. Além disso, o aglomerado é baseado em recursos naturais. Para
tanto será necessário abordar o contexto da indústria de rochas ornamentais brasileira.
Segundo Bresser-Pereira et al. (2010), observa-se, desde o começo dos anos 90, uma
redução da participação percentual de produtos manufaturados em relação às commodities na
balança comercial brasileira. Isso para o autor é um problema porque o incremento da
exportação de produtos manufaturados contribui para o desenvolvimento brasileiro por (a)
exercer impacto positivo ao estimular a produção do setor e (b) gerar externalidades que
podem ser aproveitadas, pois favorecem aprimoramentos no processo de produção os quais
podem ser incorporados aos demais setores econômicos.
Segundo o mesmo autor, setores como o de extração de produtos minerais, decorrentes da
existência de recursos naturais abundantes, podem levar a economia do país a não se
industrializar e, por consequência, inibir o seu desenvolvimento econômico (BRESSER-
PEREIRA et al., 2010). Essa ameaça é agravada pelo fato da indústria nacional se encontrar
em condições macroeconômicas desfavoráveis devido aos fatores: (a) moeda brasileira
apreciada em termos reais; (b) aumento expressivo de preços das commodities exportadas; e
(c) modelo fiscal com alta carga tributária e incidência em cascata, cumulatividade que
penaliza cadeias longas, como ocorre com os bens industrializados, entre outros (BRESSER-
PEREIRA et al., 2010; NASSIF, 2008).
O cluster de rochas ornamentais do ES passou, ao longo de duas décadas, por um processo
em que foi da simples extração de recursos naturais ao seu processamento e beneficiamento.
Desenvolveu-se na região uma indústria nesse período que agrega valor ao produto exportado
e gera maior renda para o ES. Especificamente no setor de rochas ornamentais, as empresas
enfrentam ainda dificuldades extras com a regulação ambiental (VARGAS et al., 2001).
Alguns autores argumentam que a estratégia de desenvolvimento brasileiro deveria ser
baseada na ampliação das exportações de produtos industrializados. Esta estratégia, segundo
Bresser-Pereira (2010), é apropriada à medida que se almeje ampliar a renda per capita e
35
tanto melhor caso esses produtos incorporem elevados níveis de inovações tecnológicas
(BRESSER-PEREIRA et al., 2010).
3.1 Contexto internacional de produção e comércio de rochas ornamentais
Essa seção descreve a situação atual e evolução da indústria global de rochas, na qual o
cluster esta inserido. No setor de rochas ornamentais, a Itália está entre os maiores produtores,
maiores importadores de materiais brutos. O país possui também o maior consumo per capita,
além de ser o maior exportador de tecnologia do setor (CHIODI, 2001). Por sua vez, os EUA
e o Japão são os maiores importadores de produtos acabados. Já a China é importante
importadora de máquinas e equipamentos, além de blocos, que podem ser considerados
insumos brutos com baixo nível de industrialização. Em 2011 a China foi o principal
exportador de rochas ornamentais do mercado mundial, com 27% do volume vendido no setor
(CHIODI, 2012b).
Os principais importadores de rochas ornamentais no mercado global são China, EUA,
Coréia do Sul, Alemanha, Taiwan, Itália, França, Bélgica, Reino Unido e Japão (CHIODI,
2012b). Ainda, de acordo com Chiodi, os mercados da Coréia do Sul e Japão são atendidos
principalmente pela China. Essa importa principalmente matéria prima não processada
(blocos de rochas carbonática e silicática), e grande parte da sua exportação de rochas provém
dessa matéria prima. A França é a maior importadora de ardósia e a Alemanha de chapas de
processamento simples. Grande parte do consumo do mercado europeu é fornecido pela China
e Índia.
O principal destino das exportações nacionais é o mercado norte-americano
(ZANQUETTO FILHO et al., 2007). As exportações se dividem em dois principais grupos:
chapas polidas de granito para os Estados Unidos (produtos de processamento especial) e
blocos de granito para a China. Esses últimos representaram, em 2011, 55% do volume
vendido e 25% do valor faturado (USD) nas vendas para o mercado externo. Em 2011, o
Brasil ultrapassa a China como maior fornecedor de rochas ornamentais para os EUA
(CHIODI, 2012b). No período as vendas brasileiras para o mercado americano alcançaram
606 mil ton (98% em chapas de granito), e as vendas chinesas 598 mil ton.
A China também representa mercado destino das exportações brasileiras de rochas. Mas,
ao contrario dos Estados Unidos e Canadá, a China é compradora predominantemente de
blocos, que são matérias primas em estágio anterior de industrialização se comparadas às
chapas. Pode-se situar o setor de rochas dentro de uma discussão mais ampla sobre o
posicionamento brasileiro como provedor de matérias primas brutas para a China. A
36
exportação de chapas processadas, assim como a de outros produtos industrializados, é
desestimulada pelo governo chinês através da alta carga tributária que incide sobre a
importação de produtos industrializados (NASSIF, 2008; MEDEIROS, 2006). Há casos em
que empresas brasileiras e chinesas concorrem na exportação de chapas produzidas a partir de
matérias primas extraídas do ES. O país oriental consegue industrializar os blocos e
transporta-los a custos tão baixos que estes chegam ao mercado americano com condições de
competir com os produtos brasileiros.
No mercado de rochas ornamentais, observa-se a tendência de concentração das atividades
de lavra e beneficiamento nos países emergentes, como China, Turquia, Índia, Egito e Brasil.
Essa concentração se deve principalmente a fatores ambientais, culturais e econômicos
(CHIODI, 1995).
Um fator que favorece fortemente a indústria brasileira é a presença de diversidade de
materiais na natureza. As rochas ornamentais brasileiras apresentam ampla variedade de
cores, o que possibilita intensa diferenciação entre os produtos. Essas características abrem
várias possibilidades mercadológicas para as pedras nacionais no mercado externo. Os
granitos coloridos brasileiros, sejam comuns ou exóticos, possuem grande potencial para
serem importantes materiais de exportação (AVRICHIR & CHUEKE, 2012; VARGAS et al.,
2001).
3.2 Contexto brasileiro em que o cluster esta inserido
O Brasil está entre os cinco maiores produtores mundiais de rochas ornamentais, e a cadeia
produtiva de rochas gera mais de 100 mil empregos diretos no país (SETEC – MEC 2007;
CHIODI et al., 2004). O uso destas rochas é da maior importância para a construção civil e,
além da aplicação direta, elas servem de matéria prima para a indústria de móveis, esculturas
e túmulos (VARGAS et al., 2001).
As rochas ornamentais e semiornamentais são classificadas nas seguintes categorias:
granito, mármore, ardósia, basalto (VARGAS et al., 2001). As rochas ornamentais e de
revestimentos, também chamadas de pedras naturais, abrangem os tipos de rocha que podem
ser extraídos em blocos ou placas, cortados em diferentes formas e beneficiados através de
esquadrejamento, polimento, lustro etc. Segundo definição strictu sensu, rochas ornamentais
são aquelas submetidas ao polimento e utilizadas com fins decorativos na superfície de
37
objetos, nos quais o alto brilho da superfície polida é muito importante. As rochas não-polidas
são chamadas de semiornamentais (VARGAS et al., 2001).
O Brasil é um dos principais países exportadores de mármores e granitos no mundo, ao
lado de, China, Turquia, Índia, Itália, Espanha, Egito, e Portugal, que juntos representam
75,4% da exportação mundial em 2011 (CHIODI, 2012b). Por conta da grande diversidade
geológica, o Brasil se destaca como grande fornecedor de rochas mundial (CHIODI et al.,
2004). O volume de exportação brasileiro em 2011 atingiu 2,9 milhões de toneladas, com
crescimento de 4,3% em relação ao ano de 2010 (CHIODI, 2012).
Os mármores representam 45% da produção mundial rochas ornamentais, já os granitos
representam 40%, os quartzitos e similares respondem por 5% e as ardósias também por 5%.
A utilização de granito tem crescido nos últimos 50 anos, sem, no entanto, impactar o
consumo de mármore. O perfil da produção brasileira por tipo de rocha segue detalhado na
tabela 1 a seguir:
Tabela 1: Perfil da produção brasileira por tipo de rocha – 2011
Fonte: Chiodi (2012)
As rochas silicáticas, como os granitos e materiais similares, representam 50% da produção
brasileira, seguidos por mármores e travertinos (18%), além de ardósias e outros. A região
Sudeste é responsável por 65% da produção nacional, com destaque para os estados do
Espírito Santo e de Minas Gerais. A região Nordeste responde por 25% da produção
brasileira, sendo a segunda região mais importante no contexto nacional (CHIODI, 2012). A
distribuição da produção detalhada por região esta apresentada a seguir na tabela 2:
38
Tabela 2: Distribuição regional da produção bruta de rochas no Brasil – 2011
Fonte: Chiodi, (2012)
O Brasil possui cerca de 200 aglomerados nos segmentos de rochas ornamentais e minerais
industriais. Esses aglomerados compartilham algumas características, como número
significativo de empreendimentos, relações de cooperação e algum mecanismo de
governança, razões pelas quais são considerados clusters (VIDAL et al., 2009). Os 14 clusters
de rochas ornamentais e minerais do Brasil que são foco de investimento do MCT, estão
apresentadas na figura 1:
Figura 1: Distribuição dos clusters de rochas ornamentais e minerais do Brasil
Autores: Vidal et al., (2009)
39
Apesar da existência de grande número de aglomerados no setor de rochas, o aglomerado
de rochas ornamentais do ES é o mais representativo. O maior produtor e exportador de
rochas ornamentais no Brasil é o ES, responsável por 48% da produção (VIDAL et al., 2009)
e 60% das exportações brasileiras (AVRICHIR & CHUEKE, 2012). Contudo, conforme
demonstra a figura 1, a atuação do MCT se dá nas 14 aglomerações apresentadas.
3.3 Exportações e importações brasileiras e considerações sobre o mercado interno
As exportações de rochas ornamentais brasileiras tiveram incremento considerável no
período de 2002 a 2007, e alcançaram faturamento de 1,1 bilhão de dólares no ano. Este
crescimento parece estar relacionado à bolha imobiliária do mercado americano, dado que o
granito brasileiro é muito utilizado para tampos, pias e fachadas naquele país. De acordo com
CHIODI (2012), em 2011 o Brasil exportou um volume físico de 2,2 milhões de toneladas em
rochas ornamentais e de revestimento, o que representou faturamento de 1 bilhão de dólares
no ano (crescimento de 4,22% em relação ao faturamento de 2010 e recuo de 2,26% no
volume físico). As exportações de rochas passam a corresponder a quase 0,5% da pauta de
exportações brasileiras.
Gráfico 1: Evolução das exportações brasileiras de rochas ornamentais
Fonte: Chiodi (2012)
Em 2008 e 2009 as exportações de rochas brasileiras experimentaram importante retração.
Novamente, este movimento está associado à crise do setor imobiliário americano e à
40
desvalorização do Real no período (CHIODI, 2011). Nos anos de 2010 e 2011 o setor voltou a
crescer e projeta retornar ao patamar pré-crise em 2012.
A continuidade do crescimento futuro do mercado interno é tópico de discussão
controverso. Contudo, a participação do setor de construção civil no produto interno bruto
(PIB) nacional evoluiu de 5,8% no segundo trimestre de 2008 para 6,7% no mesmo período
de 2012 (CHIODI, 2012c). Entre as regiões brasileiras, o estado de São Paulo é responsável
por 45% do consumo brasileiro de rochas, mas tem sido registrado aumento do consumo nas
regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. O consumo per capita evoluiu de 15 Kg por
habitante em 2007 para quase 20 Kg em 2011 (CHIODI, 2012).
3.4 Industrialização de rochas ornamentais do Espírito Santo
O processo de produção da rocha ornamental compõe-se de quatro etapas: extração,
beneficiamento, serragem e acabamento. O processo de acabamento pode ser dividido em
sub-etapas chamadas de levigamento, polimento, lustração, corte e acabamento final.
A primeira etapa do processo de industrialização das rochas ornamentais é a extração. As
rochas ocorrem na natureza tanto em matacões (grandes blocos de rocha) quanto em
afloramentos (ponto onde uma rocha aparece à flor da terra). A extração de matacões
apresenta menor custo, necessitando menor capital inicial para a produção. A maioria dos
granitos ornamentais brasileiros está sendo extraída a partir do corte de matacões. A extração
dos afloramentos necessita de maior capital inicial, equipamentos e tecnologia, motivo pelo
qual se dá por meio de grandes pedreiras, de escala empresarial (VARGAS et al., 2001).
O método primitivo de extração do granito também representava grande problema na
década passada. A maioria dos extratores era formada por microempresas, que realizavam a
lavra por meio do corte de matacões, com o uso de pólvora negra e ponteira. Depois da
retirada total dos materiais superficiais, os exploradores não continuam a retirada e
abandonam o afloramento (VARGAS et al., 2001). Com o crescimento da indústria no
Estado, a extração passou a ser feita por empresas com maior poder econômico. Essas, de
posse de recursos tecnológicos, exploram camadas adicionais dos afloramentos, além de
investirem na preservação ambiental.
A segunda etapa da produção é o beneficiamento da rocha ornamental. Essa etapa se refere
ao desdobramento de materiais extraídos das pedreiras em forma de blocos. As dimensões dos
blocos variam de 5 m3 a 10 m3. Estes blocos são beneficiados através da serragem (processo
de corte) em chapas, por teares e talha blocos, até adquirirem sua dimensão final.
41
A serragem nos teares se dá com o uso de lâminas de aço paralelas, através de movimentos
retilíneos, pendulares ou curvo-retilíneos sobre a rocha. O processo, chamado de
beneficiamento primário, é auxiliado por polpa d’água, cal e granada despejada
continuamente sobre a rocha, que aperfeiçoa o corte e resfria as lâminas.
O uso de cabo de aço diamantado para cortar a rocha tem crescido no setor, tanto na
extração quanto no beneficiamento dos materiais. No ano de 2011, 59% das importações de
tecnologia do setor para o Brasil foram provenientes da Itália e correspondem em sua maioria
a teares multifio diamantado (CHIODI, 2012b).
Figura 2: Etapas de industrialização das rochas ornamentais.
Fonte: Autora Após a serragem, as chapas passam pelo processo final de acabamento, chamado de
beneficiamento secundário (SETEC – MEC 2007). Esse processo envolve o
desengrossamento (levigamento) da chapa e a retificação de sua superfície, de forma que se
obtenha uma placa de espessura homogênea e com uma superfície menos rugosa e áspera.
Para isto, utilizam-se ferramentas manuais ou automáticas, com passagens sucessivas sobre a
chapa.
O polimento produz uma superfície fina e opaca e provoca o fechamento dos poros entre
os grãos minerais. Este processo cria uma superfície mais impermeável que a de uma face
natural da mesma rocha. O polimento é realizado com o mesmo equipamento do
beneficiamento e o mesmo tipo de abrasivo.
Para se obter uma superfície lisa e brilhante, a lustração é feita de um modo que realce as
cores e texturas da rocha. São usadas no granito ferramentas com coroas de polimento, com
abrasivos para a obtenção do lustre.
O corte das placas para a sua utilização é a ultima etapa. As placas são cortadas de acordo
com as dimensões especificadas pelo cliente, com a utilização de máquinas de corte a disco
diamantado manuais ou semiautomáticas. O afeiçoamento consiste no acabamento manual das
partes cortadas, feito com lixadeiras.
42
Figura 3: Acabamentos.
Fonte: Sebrae ES/ Vitória 1999 O beneficiamento tem como objetivo o tratamento final da rocha, de modo a transformar a
placa em produto final.
Os insumos do setor de rochas ornamentais são na sua maioria produzidos em outros
estados, principalmente em São Paulo e em Santa Catarina. Os principais insumos são
abrasivos, discos de corte, explosivos, ferramentas de perfuração, fio diamantado, granalha1 e
lâminas diversas (CHIODI, 2012).
3.5 Logística da cadeia de rochas ornamentais
As considerações sobre a questão logística envolvem a gestão de estoques, previsão de
vendas, processamento de pedidos e transporte. Também são consideradas questões relativas
aos relacionamentos com trading companies, despachantes aduaneiros e outros intermediários
ligados à logística da cadeia do setor de rochas ornamentais.
As empresas possuem como um dos seus objetivos gerenciar o estoque de modo a garantir
que os clientes sejam atendidos e os produtos disponibilizados com o menor nível possível.
Com relação à administração dos estoques, o maior desafio está ligado à gestão de SKU’s2.
1 Granalha consiste em abrasivo de aço ou outro material utilizado no corte de pedras duras. 2 SKU’s em inglês significa stock keeping units, e pode ser traduzido como itens de produto em estoque.
43
Uma vez que as rochas ornamentais brasileiras apresentam grande variedade de cores, a
proliferação de SKU’s provoca a pulverização da demanda, o que dificulta a previsão de
vendas (BASTOS, 2001). A área comercial é normalmente responsável pela previsão de
vendas e processamento dos pedidos dos clientes.
O transporte é fundamental no desempenho das funções logísticas, qual seja atender o
cliente no menor tempo e custo possível. As chapas para exportação são afixadas em cavaletes
especiais, de madeira certificada, de acordo com as normas de transporte internacional que
regulamentam o setor. O transporte marítimo, principal modal de exportação, é de grande
importância e costuma ser terceirizado (BASTOS, 2001). O porto de Vitória é o canal
logístico mais importante para as exportações do cluster. Todavia, a estrutura do mesmp
representa um limitador, pois seu baixo calado3 não permite a entrada de navios acima de 20
mil toneladas (MONTEIRO & NOSSA, 2012). Para contornar este problema, algumas
empresas de Cachoeiro do Itapemirim despacham suas cargas pelo porto do Rio de Janeiro,
apesar da maior distância. Os granitos e outras rochas, tanto em blocos pré-industrializados,
como os materiais prontos para a entrega, são transportados, neste caso, por terra, via
rodoviária. O setor pleiteia a construção do ramal ferroviário Litorânea-Sul para que o
transporte seja feito via férrea (FERNANDES, 2006).
Após a chegada ao porto, o exportador prossegue com o despacho aduaneiro na
exportação. Depois de desembaraçada, a carga é transferida e o despachante segue para o
trânsito aduaneiro. Este consiste em procedimento de transferência da mercadoria para recinto
alfandegário com controle aduaneiro e suspensão total dos impostos incidentes (BASTOS,
2001). Além dos despachantes e empresas de transporte marítimo, outro intermediário
possível no setor é a presença de trading companies. Não foi identificada na revisão da
literatura menção sobre as tradings e seu papel na indústria de rochas ornamentais.
3.6 Principais aplicações do granito
O granito pode apresentar ampla variedade estrutural e estética que influenciam na sua
utilização. O padrão cromático é a principal característica para qualificar uma rocha. Em
função do padrão cromático, os materiais são classificados como clássicos, comuns ou
excepcionais. Os materiais clássicos não sofrem influência de modismo, como mármores
vermelhos, brancos, amarelos e negros. Os materiais comuns são de largo emprego em obras
3 Calado é a designação dada à profundidade a que se encontra o ponto mais baixo da quilha de uma embarcação.
44
de revestimento. Os materiais excepcionais são usados em pequenos revestimentos e outras
peças. Eles incluem granitos azuis, amarelos e coloridos, além de mármores azuis, violetas e
verdes (CHIODI, 1995).
Dada a combinação de qualidades estruturais e estéticas, o granito possui diversas
aplicações. Estas foram classificadas em quatro grupos:
- Arquitetura e construção: grupo de maior aplicação, que condensa os maiores volumes
e valores. Neste grupo estão inseridas as edificações públicas e privadas, industriais, religiosas
e de serviços. Este grupo utiliza 80% do volume de granito produzido.
- Arte funerária: este grupo compreende a elaboração de túmulos e mausoléus. Esta
finalidade consome 13% do volume produzido.
- Construção e revestimento de elementos urbanos: este grupo envolve a pavimentação
de vias para a circulação de pedestres e veículos.
- Arte e decoração: corresponde à utilização do granito para produção de obras de arte,
esculturas, acessórios arquitetônicos e de decoração, móveis e balcões.
O mercado de rochas ornamentais é fortemente dependente do comportamento geral do
mercado de construção civil. O consumidor final normalmente é atendido por marmorarias,
que são abastecidas por serrarias. Os consumidores podem ser orientados por arquitetos e
decoradores na indicação dos materiais a serem utilizados. Os concorrentes à utilização do
granito são os produtos de cerâmica, alumínio e os materiais sintéticos. No caso de
marmorarias menores, há grande participação de tampos para mesas, bancadas para cozinhas
e banheiros, feitos sob encomenda (VARGAS et al., 2001).
O desenvolvimento de produtos nessa indústria é financiado principalmente por capital
próprio (CARDOSO et al., 2004).
3.7 O cluster de rochas ornamentais do Estado do Espírito Santo, sua história na extração e
beneficiamento de rochas.
Nessa seção busca-se resgatar a história do aglomerado. Além disso, será discutida sua
representatividade na extração e fornecimento de rochas ornamentais para os mercados
internos e externos.
A produção de mármores e granitos no Estado do ES teve início na década de 1930.
Tradicionalmente concentrada na região de Cachoeiro de Itapemirim, atualmente a produção
de rochas esta distribuída por todo o Estado, em especial na região norte, com concentração
45
extrativa, e na região sul, com concentração de empresas de beneficiamento (AVRICHIR &
CHUEKE, 2012).
Sobre seu histórico de exportações, o cluster passou por 3 ciclos. No primeiro se
exportavam blocos e chapas brutas. No segundo se evoluiu para a exportação de chapas
polidas. O terceiro ciclo envolve a exportação de produtos acabados, desafio atual ainda não
alcançado (FERNANDES, 2006).
O setor também se refere aos ciclos como ondas. A 1ª onda corresponde à exportação de
blocos, e a 3ª onda corresponde à exportação de rochas acabadas, prontas para venda ao
consumidor final (FERNANDES, 2006; CHIODI et al., 2004). A 3ª onda é considerada a
próxima fronteira da exportação brasileira de rochas ornamentais e já é esboçada pela
exportação de bancadas, pisos e tampas de granito, ladrilhos padronizados, entre outros itens.
O valor por tonelada da chapa polida aumenta em até 4,5 vezes em relação ao valor por
tonelada do bloco, e, nos produtos finais, o preço de venda ao consumidor aumenta até 10
vezes (CHIODI et al., 2004).
A exportação de blocos não beneficiados representa 55% do volume de exportação de
rochas nacional, a um preço médio por tonelada 75% menor que o das chapas processadas
(CHIODI, 2012). Segundo Chiodi et al. (2004), o Brasil vive a 2ª onda exportadora, com a
migração para a exportação de chapas processadas semiacabadas, principalmente de granito.
Estima-se que o Espírito Santo possua 2.500 empresas no setor de rochas, responsáveis por
25 mil empregos (CARDOSO et al., 2004). A maioria destas são micro e pequenas empresas
que operam de acordo com as bases técnicas correntes (VIDAL et al., 2009, VILLASCHI F.
& SABADINI, 2000). A produção de rochas ornamentais coloca várias dificuldades ao
produtor. No que diz respeito às condições naturais, a maior dificuldade está na exploração
das rochas ornamentais que aproveitam a cor proveniente do intemperismo4. Os granitos
amarelos têm esta coloração somente na superfície dos matacões. Portanto, a quantidade da
reserva é limitada e de qualidade heterogênea. Os granitos decorativos, como os azuis, são
heterogêneos até mesmo em afloramentos não alterados. A rocha fortemente azul é de alto
valor econômico, porém a rocha cinzenta é de baixo valor econômico. Por isso, há pedreiras
que extraem somente 20% das rochas lavradas e abandonam o restante (VARGAS et al.,
2001).
O Espírito Santo abriga todas as etapas da cadeia produtiva principal das rochas
ornamentais, jazidas e pedreiras dos mais diferentes tipos de mármores e granitos, empresas
4 Intemperismo é um processo que altera física e quimicamente as rochas e seus minerais, tendo como principais fatores o clima e o relevo.
46
de beneficiamento primário (serragem) e secundário (polimento e obtenção de produtos
acabados), além das atividades de apoio, como os prestadores de serviços técnicos, fabricantes
de máquinas nacionais e fornecedores de outros insumos industriais. Com base nesta
estrutura, o Estado se tornou o maior produtor de mármores e granitos do país e o maior
exportador brasileiro do setor (ZANQUETTO FILHO et al.; 2007, FERNANDES, 2006).
Em pesquisa, Cassiolato e Szapiro (2002) encontraram que o cluster era coordenado por
meio de redes (alto nível de relações externas entre grande número de agentes e onde
nenhuma relação é dominante), de produção voltada ao mercado internacional e média
territorialização, dada a localização dos recursos naturais. Os autores utilizam o conceito de
territorialização originário da taxonomia de Storper (1997). Segundo o autor, um aglomerado
possui territoriedade alta se a relação entre a viabilidade econômica da atividade com a
presença de ativos for elevada.
3.8 Entidades ligadas ao setor
Um dos critérios para a identificação de um cluster é a existência de associações, como
instituições de pesquisa e financeiras, centros de treinamento e capacitação profissional e
fóruns de articulação (AMATO NETO, 2009; PAULA, 2008; THOMPSON, 2005;
VASCONCELOS et al., 2005; CASSIOLATO & LASTRES, 2003). A literatura de GVC
também dá ênfase á cooperação entre as empresas e entidades de apoio presentes no setor
(HUMPHREY & SCHMITZ, 2002). No aglomerado de rochas ornamentais do Espírito Santo,
as entidades buscam representar e defender os interesses coletivos em diversas áreas
(FERNANDES, 2006). As interações das instituições de apoio no cluster de rochas
ornamentais do Estado estão representadas na figura 3, abaixo.
Os autores Fernandes (2006) e Villaschi e Sabadini (2000) destacam a importância da
colaboração de entidades do setor para o cluster de rochas do ES. O CETEMAG (Centro
Tecnológico do Mármore e Granito) possui como missão desenvolver e implantar soluções
tecnológicas no processo produtivo das serrarias. A Rede Rochas é uma associação que
comporta empresas produtoras de rochas, fornecedores e demais agentes do setor. A
ABIROCHAS, associação de abrangência nacional, prove informações sistemáticas para o
mercado de rochas. O CENTRO ROCHAS (Centro Brasileiro dos Exportadores de Rochas
Ornamentais) atua como entidade representativa dos exportadores junto aos órgãos
governamentais e, em parceria com outras associações, com a finalidade de fomentar as
exportações, desburocratizar o setor e trabalhar as questões coletivas. O já citado CETEMAG
47
é uma associação civil sem fins lucrativos que apoia ações de treinamento e capacitação e
promove seminários voltados às empresas locais associadas (FERNANDES, 2006).
A rede de fornecedores e outros integrantes do cluster também se encontram
representados. O SINDIROCHAS é o primeiro sindicato patronal do setor. Ele congrega cerca
de 460 associados atualmente. A Credirochas é uma cooperativa de crédito voltada para o
setor de rochas. O MaqRochas (Associação dos Fabricantes de Máquinas e Equipamentos
para o Setor de Rochas Ornamentais) representa os fabricantes nacionais. O SEBRAE – ES
também atua em projetos no cluster ligados ao desenvolvimento de atividades do grupo.
Figura 4: Fontes de Interação do cluster de rochas ornamentais.
Fonte: adaptado de Fernandes (2006)
Alguns exemplos identificados de cooperação no cluster são: o SEBRAE – ES em parceria
com o CETEMAG implantaram o projeto de Desenvolvimento de Sistema de Inteligência
Competitiva (IC) para o setor de rochas ornamentais no período de 2009 a 2010. O projeto
visa fornecer informações de mercado e de IC para os empresários do setor, para que eles
possam acompanhar as transformações do ambiente de negócios e reagir às transformações do
mercado. As associações pleitearam, junto ao governo federal, a redução do IPI, de 10% para
48
5%, para o setor de rochas em 2001. A Rede Rochas assiste as empresas em questões relativas
à inadimplência internacional (ZANQUETTO FILHO et al.; 2007; FERNANDES, 2006).
3.9 Feiras
Uma das principais iniciativas das entidades acima descritas é a promoção de duas feiras:
as feiras de Cachoeiro do Itapemirim e de Vitória. Estas são muito importantes para o setor
por promoverem contato direto entre produtores e empresários de outros países e de outros
estados da federação (AVRICHIR & CHUEKE, 2012; VILLASCHI & SABADINI, 2000). A
sua importância se deve à difusão do conhecimento tecnológico, à abertura a novos negócios,
marketing e acesso aos fornecedores de insumos e fabricantes de equipamentos.
A Cachoeiro Stone Fair, que acontece há duas décadas em Cachoeiro do Itapemirim (ES),
recebeu em 2012 mais de 25 mil visitantes. Além disso, a feira contou com 220 expositores,
10% desses de origem internacional de seis países distintos (MILANEZE, 2012).
A Vitória Stone Fair é realizada desde 2003 em Vitória (ES). Esta feira recebeu, em 2012,
aproximadamente 23 mil visitantes de mais de 65 países. O evento contou com 420
expositores, sendo 110 internacionais de 18 países (MILANEZE, 2012). A feira atrai muitos
compradores globais e é muito importante para o setor.
Internacionalmente, as feiras mais relevantes para o setor são as feiras de Covering, nos
EUA, e a feira de Verona, na Itália.
49
4 METODOLOGIA
No presente capítulo descreve-se e justifica-se o tipo de pesquisa empregado no estudo.
Caracteriza-se a população, a amostra e o método de coleta dos dados. Em seguida é
explicado o pré-teste do questionário aplicado e as ferramentas utilizadas para garantir a
integridade dos dados. E por fim, apresenta-se a construção das variáveis de pesquisa.
4.1 Método de pesquisa e coleta de dados.
A pesquisa quantitativa é a metodologia proposta para investigar as questões do presente
trabalho. A pesquisa foi realizada por meio da aplicação de questionário para o levantamento
de dados, técnica que visa procurar explicar as razões e fontes dos eventos, suas
características e correlações, com o uso de ferramentas estatísticas (HAIR et al., 2003).
A coleta de dados foi feita através de survey (COLLIS & HUSSEY, 1997). De acordo com
Cooper e Schindler (2008), survey é um processo de mensuração apropriado para o
levantamento de informações em uma entrevista altamente estruturada, com ou sem o
envolvimento do entrevistador. Os dados foram coletados uma única vez.
A coleta de dados foi realizada nas empresas situadas nos clusters de rochas ornamentais
dos municípios de Cachoeiro do Itapemirim, que compreende 14 municípios, e Serras, ES, na
vizinhança de Vitória. Essa se deu por meio de entrevistas presenciais face-a-face, com
duração média aproximada de 40 minutos. Foram entrevistados dirigentes de 32 empresas
participantes do cluster. Os pesquisadores foram responsáveis pelo preenchimento do
questionário, além de realizar anotações.
Para acesso ao campo os pesquisadores contaram com o auxílio de uma entidade de apoio
do setor. Olivia Tirello, superintendente do Centro Rochas, enviou e-mail para as empresas
associadas com pedido que essas recebessem os pesquisadores e participarem do
levantamento de dados da pesquisa (anexo 4). Adicionalmente ela forneceu a base de
empresas associadas, endereços, telefones e pessoa de contato (apêndice 1). Sua cooperação
foi de grande importância no acesso às empresas no campo e consequente disponibilização
dos dados. Os dados foram coletados pela autora e orientador durante os meses de julho e
agosto de 2012.
No ato da pesquisa houve os seguintes compromissos com os entrevistados: 1) não haveria
divulgação de dados de modo isolado, apenas agregado; 2) as empresas não seriam
50
identificadas; 3) os resultados da pesquisa seriam disponibilizados para o Centro Rochas e
para as firmas participantes.
A população da pesquisa é formada por 62 empresas de extração, desdobramento e
beneficiamento final de rochas ornamentais pertencentes ao cluster de rochas ornamentais do
ES e associadas ao Centro Rochas. Esta escolha exclui empresas revendedoras, fornecedores
de máquinas e equipamentos que atendem o setor, trading companies e fornecedores de
matérias primas como resinas, cabo de aço diamantado e maquinários. No caso de duas
empresas que participem do mesmo grupo econômico, essas serão consideradas uma única
para fins da presente pesquisa. A relação das empresas que compõe o universo de pesquisa
constam no apêndice 2.
Para a definição da amostra, buscaram-se contatar todas as 62 empresas, mas apenas
obtivemos acesso a 34 firmas. Empresas foram descartadas por conta da dificuldade de acesso
(localizadas a mais de 300km de Vitória) o que ocorreu em dois casos e principalmente por
não aceitar responder a pesquisa, o que resulta em uma amostra não probabilística.
Mesmo com a impossibilidade de generalização de resultados, uma amostra não
probabilística pode ser preferível à uma amostra probabilística. O fundamental é que as suas
limitações estejam claras para que a análise de resultados ocorra sem erros (VELUDO-DE-
OLIVEIRA, 2001a). Se a pesquisa for realizada com o intuito de se obter certa ideia da
variedade de elementos existentes nesta população, a amostra não probabilística é apropriada
para a investigação. Veludo-de-Oliveira (2001a) justifica a escolha da amostra não
probabilística por inúmeras razões práticas, sem desconsiderar suas limitações por ser inferior
em termos de precisão de resultados.
O pré-teste do instrumento ocorreu em janeiro de 2012. O instrumento de pesquisa foi
desenvolvido a partir do que foi usado pela pesquisadora Navas-Alemán em sua tese. Esse foi
disponibilizado por ela e adaptado para a indústria de rochas ornamentais pela autora e seu
orientador. Com base neste, ocorreu a pesquisa preliminar de verificação de aderência do
questionário. Essa aconteceu no município de Serras – ES, por meio de 3 entrevistas com
dirigentes de 3 empresas do setor. As entrevistas do pré-teste foram gravadas e analisadas de
modo a aumentar a clareza das questões, adequar a sua formulação ao linguajar utilizado no
setor e excluir itens que não demonstravam aderência ao campo. O pré-teste permitiu
correções no questionário, principalmente quanto às adequações necessárias na transposição
do campo de móveis (que consta no questionário original fornecido pela autora) para o campo
de rochas ornamentais. Existiam questões que não se aplicavam e aspectos importantes que
não haviam sido abordadas, principalmente com relação ao upgrade funcional.
51
4.2 Integridade dos resultados
Em varias análises foi utilizado o coeficiente de confiabilidade alfa de Cronbach (HAIR et
al., 2003). De acordo com os autores, coeficientes alfa inferiores a 0,6 são considerados de
intensidade de associação baixa (HAIR et al., 2003, p. 200). Valores entre 0,6 e 0,7 são
considerados moderados, entre 0,7 e 0,8 bons, entre 0,8 e 0,9 muito bons e superiores a 0,9
excelentes. Ainda, o número mínimo de itens na escala para mensurar o indicador deve ser
pelo menos três e os itens na escala devem apresentar correlações positivas.
A confiabilidade da escala upgrading funcional foi verificada por meio do teste Kunder –
Richardson (KR-20), que é uma variante do alfa de Cronbach (NUNNALLY & BERSTEIN,
1994). Esse teste é adequado para validar variáveis dicotômicas. Os critérios usados para
analisar o teste são: de 0 a 0,4 os dados são considerados com intensidade de associação fraca,
de 0,41 a 0,74 a associação é considerada média / boa e acima de 0,75 esta é considerada
excelente (LANDIS & KOCH, 1977).
Outro teste presente no estudo foi o teste de médias t. O teste t avalia se as diferenças
observadas entre as médias de duas amostras ocorreram por acaso ou se realmente existe
diferença (HAIR et al., 2003, p. 297). Embora a distribuição normal seja suposta para o teste,
é possível a discordância da normalidade de acordo com os autores. O teste t é adequado para
situações em que a amostra é igual ou menor que 30, mas pode ser utilizado em amostras
maiores.
A distribuição normal é premissa para muitos procedimentos estatísticos. Essa descreve a
distribuição esperada das médias de uma amostra. A curva normal é simétrica, com forma de
sino e 99% dos seus valores estão compreendidos dentro de mais ou menos três desvios
padrões (HAIR et al., 2003, p. 268). Para testar a normalidade dos dados da amostra utilizou-
se o teste Shapiro-Wilks (W) (CORRAR & DIAS FILHO, 2007).
A presente dissertação faz uso de estatística não paramétrica, por isso é relevante
apresentar seu significado. O método estatístico é considerado não paramétrico se satisfaz um
dos seguintes critérios: (i) o método será utilizado em dados com escala nominal, (ii) o
método será utilizado em dados com escala ordinal e (iii) o método será aplicado em dados
com distribuição não especificada, ou que foi especificada com número infinito de parâmetros
desconhecidos (CONOVER, 1999, p. 118).
O ranqueamento de Spearmans é o primeiro teste desse tipo apresentado e este mede a
correlação entre duas amostras. Esse varia entre -1 e 1 e quanto maior o coeficiente de
correlação, mais forte o nível de associação entre as variáveis. A aplicação desse teste se dá
52
com a mesma finalidade da correlação de Pearson, apenas é indicada, entre outros motivos,
nos casos em que os dados não apresentam distribuição normal. Para a aplicação desse teste
não há pré requisito de escala dos dados, mas é recomendável que esta seja ao menos
intervalar (CONOVER, 1999, p. 311).
O teste Mann-Whitney, chamando de M, foi aplicado com a finalidade de se verificar se os
indicadores de duas amostras possuem variâncias diferentes. O teste Mann-Whitney é também
um teste não paramétrico e seus pressupostos são: (i) as duas amostras devem ser aleatórias,
(ii) as amostras devem ser independentes entre si e (iii) é necessário que a escala do indicador
avaliado seja pelo menos ordinal (CONOVER, 1999, p. 272).
Quadro 4: Índice de referência dos testes estatísticos
Fonte: autora a partir de Corrar e Dias Filho, (2007), Hair et al., (2003), Conover, (1999), Nunnally e
Berstein, (1994), Landis e Koch, (1977).
4.3 Construção das variáveis de pesquisa
O instrumento de coleta buscou medir de forma sistêmica os indicadores: (i) governança da
cadeia de valor, (ii) upgrading, (iii) desempenho exportador.
A governança da cadeia de valor, retorno econômico e dois tipos de upgrading (produtos e
processos) foram medidos por meio da utilização da escala de Likert, de 1 a 7 pontos: 1)
Estatística Valores de Referência Descrição
Alfa de Cronbach
α<0,6 consistência baixa; 0,61< α <0,7 consistência moderada; 0,71 < α <0,8 bons; 0,71< α < 0,80 muito bons; α > 0,81 excelente
O alfa de de Cronbach avalia a consistência de toda a escala. O número mínimo de itens na escala para cada
constructo deve ser pelo menos três.
Shapiro-Wilk (W) p (calculado) > α O teste verifica se os dados apresentam distribuição normal.
Ranqueamento de Speraman (ρ)
Entre -1 e 1. Valores próximos a zero indicam fraca correlação. Valores negativos
sugerem que quando um cresce o outro decresce.
Teste não paramétrico que mede a dependência estatística entre duas variáveis (equivalente a correlação de Pearson, para dados que não apresentam distribuição
normal).
Mann-Whitney (M)M < que o nível de significância; as
variâncias são diferentes.
O teste verifica se se existem diferenças entre variâncias das amostras extraídas de dois grupos da população. A escala deve ser pelo menos ordinal, as duas amostras devem ser independentes e não há pré-requisito de
distribuição normal dos dados da amostra.
Teste t (médias)Se t (calculado) está no intervalo critico ->
aceito H0; rejeito H0.
O teste t avalia se as diferenças observadas entre as médias de duas amostras realmente existem ou
ocorreram por acaso. Indicada para casos de n ≤ 30.Kunder-Richardson
(KR-20)De 0 a 0,4: associação fraca; 0,41 a 0,74:
média / boa; acima de 0,75: excelente.O KR-20 avalia a consistência de toda a escala e é
adequado para dados dicotômicos.
53
nunca, 2) raramente, 3) pouco, 4) mediano, 5) frequentemente, 6) normalmente, 7) sempre.
De modo a avaliar governança utilizou-se adicionalmente a quantidade de clientes no
mercado interno e mercado externo, além da concentração de vendas para o principal cliente e
os três principais clientes (HUMPHREY e SCHMITZ, 2002). Especificamente no caso do
upgrading funcional utilizou-se como medida escala nominal de natureza dicotômica. O
mercado interno foi chamado de MI e o mercado externo de ME.
O indicador governança da cadeia de valor (GOV), construído a partir do questionário de
Navas-Alemán (2011), é formado por seis questões: (q19) O comprador do MI exige
exclusividade em linha de produto específica? (q20) Os clientes do MI são os mesmos de três
anos atrás? (q21) Há contratos de vendas de longo prazo com clientes do MI (+ de 1 lote)?
(q26) O comprador do ME exige exclusividade em linha de produto específica? (q27) Os
clientes do ME são os mesmos de três anos atrás? (q28) Há contratos de vendas de longo
prazo com clientes do ME (+ de 1 lote)?
O desempenho exportador foi medido através do indicador RE. Para esta finalidade, foram
utilizadas medidas subjetivas de satisfação do empresário, consistentes com recomendações
de Leonidou et al. (2007) e Carneiro et al. (2007). As questões foram construídas a partir da
pesquisa de Hanh (2008, p. 101), ligadas ao desempenho exportador das empresas. Também
foi utilizada escala de Likert, de 1 a 7 pontos. O instrumento de coleta, em escala ordinal, é
composto pelos itens: (q64) De 2008 a 2011 a sua expectativa de vendas no ME foi atendida?
(q65) Em que medida a expectativa de lucratividade foi atendida no ME? (q66) A
lucratividade do ME é maior que a das vendas no MI?
O upgrading de processos consiste basicamente em verificar se a empresa alcançou
melhorias nos sistemas produtivos (HUMPHREY & SCHMITZ, 2002). Mediu-se o
upgrading de processos (UP) a partir das questões: (q52) Sua empresa investe em treinamento
/ qualificação de mão de obra de produção? (q54) Sua empresa investe em redução das taxas
de retrabalho / reprocessamento? (q55) Sua empresa investe na contratação de mão de obra
técnica (engenheiros, arquitetos, químicos)? (q56) Há investimento em sistemas de automação
industrial (lay-out)? (q57) Há investimento em novas máquinas (foco na produção)? (q59) Há
investimento em sustentabilidade (tratamento de resíduos, preservação ambiental)? (q61) Há
investimento em novos materiais (resinas / materiais de polimento / tratamento químico)?
(q71) De 2008 a 2011 a empresa investiu em estoques? As questões foram formuladas a partir
do questionário de Navas-Alemán (2011) e adaptadas à indústria de rochas a com base nos
resultados do pré-teste.
54
A introdução de novos produtos, melhorias na qualidade e maior sofisticação no produto
final são características do upgrading de produto (HUMPHREY & SCHMITZ, 2002). Essas
foram, do mesmo modo, construídas a partir do instrumento de Navas-Alemán (2011) e
adaptadas à indústria de rochas. São: (q48) Sua empresa investe na participação em feiras?
(q49) Sua empresa investe em novas tecnologias de vendas (internet / site)? (q50) Sua
empresa investe no lançamento de novos produtos (mais baratos)? (q51) Sua empresa investe
no lançamento de novos produtos (mais caros)? (q53) Há investimento em treinamento /
qualificação de mão de obra de vendas? (q58) Há investimento em novos equipamentos
(fotografias, scanners, raio X, com foco em vendas)? (q60) Sua empresa investe em anúncios
em revistas? (q62) Sua empresa investe em viagens para a equipe de vendas? (q70) De 2008 a
2011 a empresa aumentou a quantidade de linhas de produtos?
O upgrading funcional envolve avançar em estágios ou funções além da produção e está
relacionado a atividades de margens mais elevadas e difíceis de replicar (HUMPHREY &
SCHMITZ, 2002). O índice upgrading funcional (UF) foi medido por escala nominal (sim ou
não). O UF, do mesmo modo, foi construído a partir do questionário de Navas-Alemán (2011)
e adaptado à indústria de rochas ornamentais. As questões relativas a este tipo de upgrading
partem da premissa que as empresas desempenharam pela primeira vez, no período de 2008 a
2011, atividades ligadas à aquisição de novas capacidades. Esse é composto por: (q75) Sua
empresa de 2008 a 2011 migrou de agente de vendas terceirizado para força de vendas
própria? (q76) Sua empresa de 2008 a 2011 evoluiu de venda de blocos para processamento
de chapas? (q77) Sua empresa de 2008 a 2011 abriu escritório de vendas no exterior? (q78)
Sua empresa de 2008 a 2011 patrocinou divulgação de produtos em parceria com
distribuidor? (anuncio cooperado) (q79) Sua empresa de 2008 a 2011 desenvolveu novo
mercado externo (iniciou vendas em novo país)? (q80) Sua empresa de 2008 a 2011 iniciou
atividades de acabamento que não desempenhava anteriormente? (q81) Sua empresa de 2008
a 2011 iniciou atividades de distribuição / logística no MI? (q82) Sua empresa de 2008 a 2011
iniciou atividades de distribuição / logística no ME? (q83) Sua empresa de 2008 a 2011
patenteou alguma inovação? (q84) Sua empresa de 2008 a 2011 desenvolveu internamente
tecnologia (novos tratamentos)? (q85) Sua empresa de 2008 a 2011 ingressou no MI? (q86)
Sua empresa de 2008 a 2011 ingressou no ME?
O mercado de atuação da empresa foi medido por meio de escala razão em que apenas a
unidade de medida é definida de modo arbitrário (VELUDO-DE-OLIVEIRA, 2001b). A
unidade mensurada foi a distribuição percentual do valor de vendas no mercado interno e
55
mercado externo, em 2008 e 2011. Com relação ao mercado externo, este foi dividido em
cinco grupos: (i) EUA e Canadá, (ii) China, (iii) América Latina, (iv) Europa, (v) Outros.
As variáveis de controle seguem no quadro 5 abaixo:
Quadro 5: variáveis de controle
Fonte: autora
Variável DefiniçãoEndereço Rua, número, cidade e estado da matriz da empresaCargo do entrevistado Função exercida na empresaAno de fundação Ano de início das atividades da empresa% de capital estrangeiro Participação % de capital estrangeiro no capital socialNúmero de funcionários Quantidade total de funcionáriosNúmero de fábricas Quantidade total de unidades fabrisLocalização das fábricas Cidade onde se localizam as fábricas
56
5 RESULTADOS
Nessa seção será caracterizado o perfil da amostra das empresas pesquisadas. A seguir
resumem-se os testes feitos para analisar as hipóteses e discutem-se os resultados.
5.1 Caracterização da amostra pesquisada
Para caracterizar o perfil das empresas pesquisadas, foram coletadas informações a respeito
do ano de fundação da empresa, volume de vendas por produto, % de capital estrangeiro,
número de funcionários e de fábricas, além de sua localização. Esses dados serão
apresentados de modo descritivo.
Para a análise das informações sobre o porte das empresas adotou-se a definição do IBGE,
que é a mesma da OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(SCHMIEMANN, 2008). Segundo este critério, empresas com 1 a 9 pessoas ocupadas e
assalariadas são consideradas microempresas, com 10 a 49 pessoas são pequenas, com 50 a
249 pessoas são médias, e, por fim, com 250 ou mais pessoas são consideradas grandes
empresas.
Gráfico 2: Perfil da amostra por porte da empresa
Fonte: autora As empresas da amostra possuem, em média, 19 anos de funcionamento. A mais antiga
existe desde 1964 e a empresa mais jovem foi fundada em 2007. O número médio de fábricas
por empresa da amostra é 1,5 e somente uma empresa utiliza produção terceirizada e,
57
portanto, não conta com unidade fabril própria. Adicionalmente, 84% das empresas possuem
composição acionária composta por 100% capital nacional.
A respeito do cargo dos respondentes foram entrevistados predominantemente os sócios
das empresas, seguidos por diretores e gerentes, principalmente os Gerentes de Exportação. A
tabela 3 apresenta a distribuição da amostra:
Tabela 3: Cargo dos entrevistados
Fonte: autora
Na survey observou-se que 94% das empresas da base adquirem blocos de terceiros, apesar
de existir a possibilidade de utilizarem blocos provenientes de jazidas próprias. As empresas
atuam predominantemente nos mercado interno e mercado externo simultaneamente (88%
comportaram-se dessa maneira) em 2011. Apenas três empresas venderam exclusivamente
para o mercado externo (9%) e uma empresa no mercado interno (3%). Em 2008, na mesma
amostra, sete empresas venderam exclusivamente para o mercado externo (22%), vinte e
quatro empresas atuaram no mercado interno e mercado externo simultaneamente (75%) e
uma empresa apenas no mercado interno (3%).
Observa-se a partir dos dados que parece haver uma tendência das empresas que atuavam
apenas no mercado externo passarem a atuar também no mercado interno. Isso pode ser
explicado pela retração do mercado americano de construção civil nos últimos quatro anos,
por conta dos efeitos da crise do mercado imobiliário naquele país. Adicionalmente, no
mercado brasileiro, observa-se crescimento no setor de construção civil, o que justificaria a
recente expansão no mercado interno.
Ao se analisar a composição do mix de produtos, observa-se a predominância de vendas de
chapas. Essas representam 83% do volume de vendas das empresas da amostra, seguidas por
blocos, com 9% e produtos acabados com 7%. Na pesquisa, a China se apresenta como o
principal destino do mercado externo dos blocos exportados, seguido da Europa. Com relação
às chapas de granito, os EUA e Canadá representam os principais mercados exportadores das
empresas selecionadas.
Sócio 11 34%Diretor 9 28%Gerente 9 28%Outros 3 9%Total 32 100%
58
De 2008 a 2011, 22% das empresas pesquisadas aparentam ter ampliado percentualmente a
participação de exportação para os EUA e Canadá. Todavia, 41% das firmas parecem reduzir
a participação das exportações para esses mercados e 38% aparentam permanecer estáveis.
Mas a redução da participação das vendas para os EUA e Canadá indica ser acompanhada por
diversificação da sua atuação global. 44% das empresas declararam crescimento nas vendas
para a América Latina (principalmente o México), 22% para outros mercados (principalmente
Oriente Médio), 22% para a Europa e 13% para a China.
5.2 Consistência dos dados e análise da sua distribuição amostral
Nessa seção testam-se a consistência dos dados e a distribuição amostral dos indicadores
usados na pesquisa. Apenas para enumerá-los: governança da cadeia de valor; upgrading de
processos; upgrading de produtos; upgrading funcional e desempenho exportador. Esses
indicadores foram obtidos por meio do calculo das médias aritméticas das respostas das
questões referentes a cada conjunto de itens que formava a sua escala. A seguir, serão
apresentados detalhes sobre o processo de construção dessas escalas.
O coeficiente alfa de Cronbach de governança da cadeia de valor (GOV) foi de 0,63.
Foram excluídas as questões q19 e q21 para melhorar a consistência da escala, de acordo com
as indicações do software SPSS. Após as exclusões, esta escala foi composta finalmente por
quatro itens (q20, q26, q27 e q28). HAIR et al. (2003, p.200) recomendam a remoção dos
itens problemáticos da escala, a fim de melhorar a confiabilidade dela. Os entrevistados
indicaram que exclusividade e contratos de longo prazo não constituem prática habitual no
mercado interno (µ=1,4, σ=1,1), o que se reflete nos baixos scores das respostas e justifica as
eliminações das questões. A composição do indicador está resumida no quadro 6: Quadro 6: variável GOV e sua composição
Fonte: autora
Iniciou-se a análise dos dados com a verificação da normalidade da distribuição de GOV.
O teste utilizado foi o teste Shapiro-Wilks, em que, na literatura, utiliza-se o símbolo W como
notação da estatística (CORRAR & DIAS FILHO, 2007). O nível de significância utilizado
foi de 5%, (W = 0,88 e p = 0,0019). Segundo este teste de normalidade, dado α = 5%, os
Variável Latente Questões IndicadoresGOV q20 Os clientes são os mesmos de 3 anos atrás (MI)?
q26 O comprador exige exclusividade em linha de produto específica (ME)?q27 Os clientes são os mesmos de 3 anos atrás (ME)?q28 Há contratos de vendas de longo prazo com clientes (+ de 1 lote) no ME?
59
dados apresentarão distribuição normal, caso o valor - p seja superior a 5%. Portanto GOV
não apresenta distribuição normal. Utilizou-se o software Analyse It, junto ao Excel para
efetuar as análises.
A seguir verificou-se a confiabilidade das escalas de upgrading. Para esta aferição utilizou-
se novamente o alfa de Cronbach, que no caso da escala de upgrading de processos (UP) foi
de 0,77, após a eliminação da questão q71, a fim de se melhorar a consistência dela. A
questão excluída se refere à investimentos em estoques. Isto não está diretamente relacionado
à upgrade de processos. Pelo contrário, altos estoques indicam ineficiência na gestão do
planejamento da produção, o que explica a eliminação da questão. Segue, no quadro 7, a
composição dos indicadores de upgrading de processos.
Quadro 7: variável upgrading de processos e sua composição
Fonte: autora
O upgrading de produtos é finalmente composto por sete itens (q52, q54, q55, q56, q57,
q59, q61). Já para a escala upgrading de produtos (UD), o alfa de Cronbach foi de 0,82. Foi
excluída a questão q50 com o objetivo de se melhorar a sua consistência. Esta questão verifica
o investimento em produtos mais baratos, o que contradiz a ideia de upgrading de produtos.
No final upgrading de produtos ficou composto por oito itens (q48, q49, q51, q53, q58, q60,
q62, q70), após a exclusão indicada. Segue, no quadro 8, a composição dos indicadores de
upgrading de produtos.
Variável Latente Questões Indicadores
UP q52Qual a relevância para a sua empresa investir em treinamento/ qualificação de m.d.o. de produção?
q54Qual a relevância para a sua empresa em reduzir txs de retrabalho / reprocessamento?
q55Qual a relevância para a sua empresa na contratação de m.d.o. técnica (engenheiros, arquitetos, químicos)?
q56Qual a relevância para a sua empresa nos investimentos em sistemas de autormação industrial (lay-out)?
q57Qual a relevância para a sua empresa nos investimentos em novas máquinas?
q59Qual a relevância para a sua empresa nos investimentos em sustentabilidade?
q61Qual a relevância para a sua empresa nos investimentos em novos materiais (resinas, materiais de polimento, tratamento químico)?
60
Quadro 8: variável upgrading de produtos e sua composição
Fonte: autora
Por fim, para a escala de upgrading funcional, não foi possível dar o mesmo tratamento, já
que se trata de uma variável dicotômica. Por este motivo, a confiabilidade da escala foi
verificada por meio do teste Kunder – Richardson (KR-20), variante do alfa de Cronbach
(NUNNALLY & BERSTEIN, 1994). O KR-20 de upgrading funcional (UF) foi de 0,66, após
a exclusão das questões q75, q76 e q82. O indicador UF ficou composto por nove itens (q77
até q81, q83 até q86) após as exclusões indicadas.
É importante explicar qualitativamente qual o racional da remoção das questões, conforme
foi indicado acima. A questão q75 avalia se a empresa migrou de vendas via agente para força
de vendas próprias. As empresas entrevistadas revelaram dificuldades na utilização de agentes
intermediários nas vendas externas (como trading companies), principalmente por questões
ligadas ao risco de inadimplência no mercado internacional. As exportações de rochas
ornamentais ocorrem sem garantias para o vendedor (carta de crédito ou outros instrumentos
financeiros). Esta é, de acordo com os entrevistados, uma característica das vendas do setor
para o mercado externo. Por isso o contato direto entre o exportador e o cliente (distribuidor,
construtor ou marmorista) no exterior é percebido como fator de redução de risco de crédito.
A questão q76 verifica se a empresa migrou de venda de blocos para venda de chapas. Esta
mudança exige reposicionamento estratégico da empresa, uma vez que uma série de
investimentos em máquinas de corte e polimento é necessária para que ocorra a migração e
consequentemente o upgrading funcional. Além disto, os mercados de destino de blocos e
chapas no exterior são distintos, o que demandaria que as organizações desenvolvam novos
canais de vendas em outros mercados consumidores de chapas industrializadas. Finalmente o
Variável Latente Questões IndicadoresUD q48 Qual a relevância para a sua empresa a participação em feiras?
q49Qual a relevância para a sua empresa nos investimentos em novas tecnologias de vendas (internet, site)?
q51Qual a relevância para a sua empresa nos investimentos em novos produtos (mais caros)?
q53Qual a relevância para a sua empresa investir em treinamento/ qualificação de m.d.o de vendas?
q58Qual a relevância para a sua empresa nos investimentos em novos equipamentos (fotografias, scanners, raio X, com foco em vendas)?
q60Qual a relevância para a sua empresa nos investimentos em anúncios em revistas?
q62Qual a relevância para a sua empresa nos investimentos em viagens para a equipe de vendas?
61
item q82 avalia se as empresas iniciaram atividade logística no mercado externo. As
exportações de chapas e blocos para o exterior envolvem transporte rodoviário e
principalmente marítimo. O ingresso no mercado de transporte intercontinental está fora do
escopo estratégico deste mercado, o que explica a exclusão da questão. O resumo do
indicador de upgrading funcional (UF) pode ser consultado no quadro 9: Quadro 9: variável upgrading funcional e sua composição
Fonte: autora
As distribuições das normalidades de upgrading de processos, upgrading de produtos e
upgrading funcional foram verificadas com a aplicação do teste W, utilizando outra vez o
nível de significância de 5%, W(UP) foi de 0,89 e p = 0,0026, W(UD) foi de 0,89 e p =
0,0030 e W(UF) foi de 0,92 e p = 0,0223. As escalas de upgrading de processos, upgrading
de produtos e upgrading funcional não apresentaram distribuição normal.
Segue então com a análise do desempenho exportador, que será abreviado por RE. O
coeficiente alfa de RE foi de 0,77. A escala é composta por três itens (q64, q65 e q66). De
acordo com o teste W, o desempenho exportador apresentou distribuição normal, uma vez que
W(RE) foi de 0,96 e p = 0,2673 com nível de significância de 5%. A composição da variável
desempenho exportador pode ser consultada no quadro 10:
Quadro 10: variável desempenho exportador e sua composição
Variável Latente Questões IndicadoresUF q77 Sua empresa, de 2008 à 2011, abriu escritório de vendas no ME?
q78Sua empresa, de 2008 à 2011, patrocinou divulgação de produtos em parceria com distribuidor (anuncio cooperado)?
q79Sua empresa, de 2008 à 2011, desenvolveu novo mercado externo (iniciou vendas em novo país)?
q80 Sua empresa, de 2008 à 2011, iniciou atividade de acabamento?
q81Sua empresa, de 2008 à 2011, iniciou atividade de distribuição / logistica no MI?
q83 Sua empresa, de 2008 à 2011, patenteou alguma inovação?
q84Sua empresa, de 2008 à 2011, desenvolveu internamente nova tecnologia (novos tratamentos)?
q85 Sua empresa, de 2008 à 2011, ingressou no MI?q86 Sua empresa, de 2008 à 2011, ingressou no ME?
Variável Latente Questões IndicadoresRE q64 Em sua empresa, de 2008 à 2011, a expectativa de vendas foi atendida?
q65Em sua empresa, em que medida a expectativa de lucratividade foi atendida na exportação?
q66 A lucratividade da exportação é maior que a do MI?
62
Fonte: autora
Para resumir os resultados das análises dos indicadores foi elaborado o quadro 11:
Quadro 11: Análise de consistência dos indicadores da pesquisa
Fonte: autora
Na seção de metodologia os parâmetros de aceitação de consistência dos dados já foram
apresentados (quadro 5). De acordo com aqueles critérios, os indicadores da presente pesquisa
foram validados e podem ser utilizados na análise das hipóteses a seguir.
5.3 Análise das hipóteses de pesquisa
Na presente seção busca-se verificar se as hipóteses levantadas no referencial teórico são
ou não válidas, com base nos indicadores propostos.
5.3.1 Hipóteses H1 e H2
Os primeiros testes utilizados serviram para testar a validade das hipóteses H1 e H2 que
serão descritas novamente:
H1: empresas que vendem predominantemente no mercado externo tendem a estar
inseridas em cadeias de valor do tipo quase hierárquicas;
H2: empresas que atuam predominantemente no mercado interno tendem a estar inseridas
em cadeias de valor do tipo mercado.
A atuação de uma empresa foi considerada predominante em um mercado, quando suas
vendas percentuais ultrapassaram 50% neste mercado. De acordo com os indicadores de
governança da tabela 3, a alta dependência de um comprador (vendas para o mesmo cliente
superiores a 30%), ou seja, a elevada concentração de compradores representa um dos
indicadores de governança quase-hierárquica. Dessa forma, foi utilizado o índice GOV maior
Indicador DefiniçãoDistribuição
Normal *Consistência dos
DadosTeste de Consistência Utilizado
GOV Governança Não 0,63 Alfa de Cronbach UP Upgrading de Processo Não 0,77 Alfa de Cronbach UD Upgrading de Produto Não 0,82 Alfa de Cronbach UF Upgrading Funcional Não 0,67 Kunder – Richardson (KR-20)RE Desempenho Exportador Sim 0,66 Alfa de Cronbach *teste Shapiro-Wilks
63
ou igual a quatro para sugerir esta governança. Para índices de GOV menor que quatro a
governança foi considerada como mercado (arm’s lengh).
Uma vez aferida a confiabilidade da escala (quadro 6), as empresas pesquisadas foram
estratificadas de acordo com a concentração de vendas para os principais clientes, que será
chamado de CV, sendo a concentração de vendas primeiramente baseada no mercado externo,
a saber ME. A divisão esta baseada em critério da literatura (tabela 3). Esse processo resultou
em 9 empresas que apresentam seu faturamento no mercado externo concentrado em pelo
menos 30% em um cliente. Verificou-se na amostra que 28% das empresas se enquadraram
nesta classificação, cujo tamanho amostral será referido por n1 (n1 = 9). O restante das
empresas (72%) foi qualificado como n2 (n2 = 23).
Posteriormente realizou-se teste de hipóteses para avaliar se GOV das empresas que
apresentam elevada concentração de clientes é distinta do grupo que não apresenta esta
concentração. Para tanto se realizou o teste t, com coeficiente de significância de 95%.
As hipóteses foram definidas a seguir:
H0: A média de GOV das empresas com concentração de vendas em um cliente (n1) é
igual à média de GOV das empresas com vendas pulverizadas (n2);
Ha: A média de GOV das empresas com concentração de vendas em um cliente (n1) é
diferente da média de GOV das empresas com vendas pulverizadas (n2);
Tabela 4: Teste T (médias) - Mercado Externo
Fonte: autora
De acordo com os resultados do teste demonstrados na tabela 5, rejeitamos Ha (-2,04 <
0,31 < 2,04), portanto apesar da elevada concentração de compradores no mercado externo
Variável 1 Variável 2Média 2,222 2,652 Variância 0,632 1,300 Observações 9,000 23,000 Variância agrupada 1,122 Hipótese da diferença de média - gl 30,000 Stat t 1,033- P(T<=t) uni-caudal 0,155 t crítico uni-caudal 1,697 P(T<=t) bi-caudal 0,310 t crítico bi-caudal 2,042
64
em 28% das empresas, não há evidências de diferenças nas médias de GOV no mercado
externo entre os dois grupos de empresas analisadas.
A mesma análise foi elaborada para o mercado interno, em que o percentual de empresas
com concentração de vendas em um cliente e a alta dependência de comprador (acima de
30%) cai para 6% das empresas (n3 = 2). As organizações restantes foram chamadas de n4
(n4 = 30).
Realizou-se o teste de hipóteses T, com coeficiente de significância de 95% com o objetivo
de verificar se há diferenças entre as médias dos dois grupos de empresas. As hipóteses foram
definidas a seguir:
H0: A média de GOV das empresas com concentração de vendas em um cliente (n3) é
igual à média de GOV das empresas com vendas pulverizadas (n4);
Hb: A média de GOV das empresas com concentração de vendas em um cliente (n3) é
diferente da média de GOV das empresas com vendas pulverizadas (n4); Tabela 5: Teste T (médias) - Mercado Interno
Fonte: autora
Os resultados da tabela 6 nos levaram a rejeitar Hb (-2,04 < 0,49 < 2,04), pois não há
evidências de diferenças nas médias de GOV no mercado interno entre os dois grupos de
empresas analisados.
A análise dos dados de governança não permitiu estabelecer diferenças com relação ao
padrão de governança entre as empresas. Ao se analisar o mercado interno e mercado externo
os testes não identificaram evidências de padrões de governança do tipo quase-hierárquica,
pois os scores obtidos pelas empresas foram muito baixos (ME; µ = 2,53 e σ = 1,06) e (MI; µ
Variável 1 Variável 2Média 3,000 2,483 Variância 8,000 0,758 Observações 2,000 30,000 Variância agrupada 1,000 Hipótese da diferença de média - gl 30,000 Stat t 0,708 P(T<=t) uni-caudal 0,242 t crítico uni-caudal 1,697 P(T<=t) bi-caudal 0,485 t crítico bi-caudal 2,042
65
= 2,52 e σ = 0,99). Os resultados indicaram que a amostra apresenta governança mercado no
mercado interno e mercado externo, de acordo com as tipologias apresentadas na revisão da
literatura.
A hipótese H1 relaciona a governança da cadeia de valor com as suas vendas para o ME.
Já a hipótese H2 aborda a inserção em cadeias de valor do tipo mercado e as vendas para o
mercado interno. Estas foram formuladas à partir da revisão da literatura de GVC (NAVAS-
ALEMÁN, 2011, HUMPHREY & SCHMITZ, 2002) que estabeleceram fortes relações entre
a governança da cadeia e o destino das vendas (MI ou ME). Apesar de o presente trabalho
utilizar como base instrumento de pesquisa cedido por Navas-Alemán, adaptado ao campo de
rochas ornamentais, a amostra investigada revelou não existir evidências de diferenças nos
padrões de governança entre as empresas no cluster. Como todas as empresas estão inseridas
em cadeias de valor de governança do tipo mercado, as hipóteses H1 e H2 não puderam ser
testadas. Esse resultado confirma a pesquisa prévia realizada por Cassiolato e Szapiro (2002,
cap. 2, p. 7) que afirmam que a coordenação do aglomerado se dá de acordo com o tipo
mercado.
5.3.2 Hipótese H3
A hipótese H3 verifica o relacionamento entre o aumento, de 2008 a 2011, no percentual
de vendas para o mercado externo e o desempenho exportador (RE) das empresas. Segundo o
survey, das 32 empresas pesquisadas, 21 cresceram percentualmente em valor de vendas no
mercado interno e 11 empresas permaneceram no mesmo patamar exportado ou cresceram a
participação percentual no mercado externo.
Retomando a hipótese:
H3) empresas que, de 2008 para 2011, aumentaram suas vendas percentuais no mercado
externo alcançaram desempenho exportador superiores em relação às outras empresas.
Para efetuar essa análise utilizou-se regressão linear simples, uma vez que as variáveis
apresentam distribuição normal. Nessa, a variável prevista ou dependente é o desempenho
exportador (RE) (ANDERSON et al., 2007). A variável usada para prever o valor do
desempenho exportador, chamada variável independente, são as vendas percentuais no
mercado externo. Como as vendas percentuais no mercado externo é uma variável continua e
o desempenho exportador é uma variável ordinal, medida através da escala de Likert, utilizou-
se escala de sete pontos de modo a reduzir esta disparidade e permitir a análise dos dados com
o uso da regressão linear simples. As hipóteses foram formuladas a seguir:
66
H0: Não há relação entre o aumento das vendas percentuais no mercado externo e o
indicador de desempenho exportador RE;
Hc: Há relação entre o aumento das vendas percentuais no mercado externo e o indicador
de desempenho exportador RE. Tabela 6: Resumo dos resultados da regressão linear simples
Fonte: autora
O resumo dos resultados da análise é apresentado na tabela 6. Uma vez que o valor p é
igual a 11% > α = 0,05, pode-se aceitar H0 e concluir que não há evidência de relação
significativa entre o aumento das vendas percentuais no mercado externo e o indicador de
desempenho exportador (RE) das empresas. Adicionalmente o coeficiente de determinação
encontrado R² =8,3% não permite identificar relação causal entre as variáveis. Portanto
rejeita-se a hipótese H3.
Para tentar compreender essa contradição, será analisado o cenário do setor de construção
civil dos mercados externos e a possível perspectiva das empresas no período de 2008 a 2011.
As empresas analisadas na amostra apresentam scores de desempenho exportador superiores a
4 (µ=4,32 e σ= 1,16). Isso indica que em média as empresas consideram o seu desempenho
exportador positivo no período de 2008 a 2001. Esse período foi caracterizado pela crise do
setor de construção civil do mercado americano. Os outros mercados de exportação também
foram impactados pela crise no período, em especial a Europa. Consequentemente pode-se
inferir que a expectativa de vendas das empresas para esses mercado caiu no período. Apesar
RESUMO DOS RESULTADOS
Estatística de regressãoR múltiplo 0,29 R-Quadrado 8,26%R-quadrado ajustado 5,21%Erro padrão 1,13 Observações 32,00
ANOVAgl SQ MQ F F de significação
Regressão 1 3,46 3,46 2,70 0,11 Resíduo 30 38,42 1,28 Total 31 41,89
Coeficientes Erro padrão Stat t valor-P 95% inferiores 95% superioresInterseção 4,51 0,23 19,64 0% 4,04 4,98 Variável X 1 0,01- 0,01 1,64- 11% 0,03- 0,00
67
da perspectiva negativa para o cenário externo, 11 empresas da amostra (34%) aumentaram a
sua participação percentual nos volumes exportados no período.
Outro fator que pode ter contribuído para o resultado, é o fato da coleta de dados ter
ocorrido em 2012. Como o auge da crise foi em 2009, esta diferença de tempo pode haver
prejudicado a percepção passada de expectativa e impactado nas respostas coletadas.
5.3.3 Hipótese H4
Essa subseção apresenta os resultados que permitem discutir se o percentual exportado está
correlacionado com os tipos de upgrading feitos pelas empresas. Com base no referencial
teórico já apresentado, serão analisados os dados coletados em campo para caracterizar os
tipos de upgrading (UP, UD e UF) alcançados pelas empresas. A tabela 2 definiu os
indicadores de upgrading aplicados no presente estudo. O tamanho da empresa foi utilizado
como variável de controle.
A hipótese desenvolvida no referencial teórico foi: H4) as vendas percentuais das empresas
no mercado externo e seus investimentos em marketing são influenciados positivamente pelo
upgrading alcançados pelas mesmas (upgrading de produtos, processos e funcional).
Inicialmente avaliou-se o tamanho das empresas e sua correlação com o percentual de suas
vendas no mercado externo (VE). De modo a escolher o teste adequado para efetuar esta
verificação, checou-se a normalidade da distribuição das vendas percentuais das empresas no
mercado externo.
Essa foi verificada com a aplicação do teste W, utilizando outra vez o nível de
significância de 5%, W(VE) foi de 0,93 e p = 0,0299. As vendas no mercado externo não
apresentam distribuição normal, de acordo com teste realizado no software Analyse It, junto
com o Excel. Feitas essas considerações, optou-se pela realização do teste não paramétrico
chamado correlação de Spearman (ρ), uma vez que as vendas percentuais das empresas no
mercado externo não possuem distribuição normal e que o tamanho da empresa é uma
variável categórica (COLLIS & HUSSEY, 1997). Esse teste foi feito para controlar se o
tamanho da empresa e o percentual exportado estão relacionados. As hipóteses do teste são
definidas como:
H0: as vendas percentuais das empresas no mercado externo e o tamanho da empresa não
estão correlacionados;
68
Hd: as vendas percentuais das empresas no mercado externo e tamanho da empresa estão
correlacionados entre si.
O resultado de ρ, dado α = 5% e n = 32, é ρ = 0,14. Novamente utilizou-se o software
Analyse It, junto com o Excel para tal verificação. De acordo com o resultado aceita-se Ho. A
solução do teste indica que as vendas percentuais das empresas no mercado externo e o
tamanho da empresa são medidas independentes.
Para a análise da hipótese, as empresas foram agrupadas de acordo com a participação de
suas vendas no mercado externo. As empresas do grupo C1 atuam predominantemente no
mercado interno, e suas vendas no mercado externo não ultrapassaram 5% do faturamento da
empresa em 2011 (nC1=3). O grupo C1 será chamado de “orientado ao mercado interno”.
O grupo C2, pode ser considerado intermediário. Suas vendas para o mercado interno são
as mais relevantes, todavia a participação do mercado externo é mais expressiva que as do
grupo orientado ao mercado interno e podem ir de 5% até 30% do faturamento da empresa
(nC2=6). O segundo grupo será chamado de “novos horizontes”.
Já no caso do grupo C3, este contêm empresas em que o faturamento do mercado externo
ultrapassaram 30% das vendas e pode chegar a 100% (nC3=23) em 2011. O grupo C3 será
chamado de “orientado ao mercado externo”.
Inicialmente se analisou separadamente a distribuição das respostas dos diversos tipos de
upgrading para cada um dos grupos de empresas citados. No caso do upgrading de processo
(UP), a distribuição aparenta ser mais homogênea, de acordo com o gráfico 3. No gráfico, os
valores do grupo C1 serão representados em cinza, C2 em preto e C3 em azul.
Gráfico 3: histograma upgrading de processo
69
Fonte: autora Na amostra coletada, a empresa FB20 (nome fictício) apresenta os menores
indicadores de upgrading de processo (UP = 1,57). Isso pode ser explicado pelo fato da sua
produção ser terceirizada. A empresa vendeu suas instalações produtivas e atualmente está
focada nas atividades comerciais. Sua atuação no mercado externo é bastante representativa,
pois 75% do seu faturamento provêm desse mercado.
A distribuição do upgrading de produto é apresentada a seguir. Observa-se aparente
tendência de crescimento neste tipo de upgrading ao se comparar C1, C2 e C3.
Gráfico 4: histograma upgrading de produto
Fonte: autora No caso do indicador upgrading de produto, a empresa ET22 (nome fictício) pontua os
menores indicadores da base (UD = 1,88). Trata-se de uma pequena empresa, com 22
funcionários que exporta 100% da sua produção para os EUA. Essa empresa compete no
mercado americano diretamente com os produtos chineses, no segmento de preço baixo e
baixo valor agregado. A empresa não atua no mercado de granitos especiais ou exóticos.
Finalmente segue a distribuição do upgrading funcional. Esse foi medido de forma
dicotômica, portanto a escala do gráfico vai de zero a 1. Na amostra pesquisada 7 empresas
não identificaram este tipo de upgrading em suas operações. Um terço das empresas de C1,
metade das empresas de C2 e três empresas de C3 não pontuaram neste tipo de upgrading.
70
Gráfico 5: histograma de upgrading funcional
Fonte: autora Após a divisão nos grupos, os resultados consolidados de percentual de vendas para o
mercado externo, % do faturamento investido em promoção e marketing, tamanho da empresa
e upgrading são expostos na tabela 7. Para a construção da tabela, uma vez que os dados de
upgrading não apresentam distribuição normal (quadro 3), utilizou-se a mediana como
medida de localização central (CONOVER, 1999). Tabela 7: Mediana do percentual de vendas no mercado externo, percentual de faturamento investido em promoção e marketing, tamanho da empresa e upgrading
Fonte: autora
Para aferir se existe diferença entre os indicadores de upgrading dos grupos nomeados será
necessário usar teste não paramétrico. O teste Mann-Whitney, chamado de M, verifica se se
existem diferenças entre as amostras extraídas de dois grupos da população (CONOVER,
1999). Utilizou-se o software Analyse It, junto com o Excel para efetuar as análises. A tabela
8 apresenta os resultados consolidados.
Grupo % de vendas no ME (2011)
% de faturamento investido em promoção e marketing
Tamanho da empresa UP UD UF
Orientado ao mercado interno (C1) 5% 0,3% Pequena 5,14 3,88 4,95 Novos Horizontes (C2) 23% 0,0% Pequena 5,14 4,38 5,21 Orientado ao mercado externo (C3) 75% 1,2% Média 5,86 5,63 5,50
71
Tabela 8: Cálculo do teste Mann-Whitney dos indicadores de upgrading das empresas da amostra
Fonte: autora
De acordo com os resultados obtidos, há evidências de diferenças no indicador de
upgrading de processo entre a amostra de empresas do grupo Orientado ao Mercado Interno
(C1) e o grupo Orientado ao Mercado Externo (C3) (M = 0,0585, p < 10%). Os resultados
não indicam diferenças entre o upgrading dos grupos Orientado ao Mercado Interno (C1) e
Novos Horizontes (C2) e Orientado ao Mercado Externo (C3) e Novos Horizontes (C2) (M =
0,4524 e M= 0,2332 respectivamente). Ou seja, há evidências de que empresas orientadas ao
mercado externo fazem mais upgrading de processo que empresas voltadas ao mercado
interno.
No caso do upgrading de produtos, os resultados demonstram evidências de diferenças
entre os três grupos de empresas. No caso da comparação entre o grupo Orientado ao
Mercado Interno (C1) e o grupo Novos Horizontes (C2) M é igual a 8,3% (p < 10%). O grupo
Orientado ao Mercado Interno (C1) e o grupo Orientado ao Mercado Externo (C3)
apresentam diferenças relevantes. O resultado de M é igual a 1,0% (p <5%). Já as diferenças
entre os grupos Novos Horizontes (C2) e Orientado ao Mercado Externo (C3) são mais fortes,
uma vez que M é igual a 0,7% (p <5%). Além de upgrading de produtos, o grupo Orientado
ao Mercado Externo (C3) também investe mais em promoção e marketing se comparado aos
outros grupos (1,2% do faturamento em 2011). Ou seja, há evidências de relação positiva
entre a orientação ao mercado externo e o aumento no upgrading de produto.
Os resultados indicam que as empresas do cluster ao incorporarem melhorias nos seus
produtos, investirem em produtos exclusivos e de maior qualidade (resistentes às condições
climáticas, novos tratamentos e acabamentos) conseguem se posicionar de modo competitivo
Upgrading de Processo Upgrading de Produto Upgrading Funcional
Orientação de Mercado: Orienta
do ao
Merc
ado In
terno
(C1)
Novos
Horizo
ntes (C
2)
Orienta
do ao
Merc
ado E
xterno
(C3)
Orienta
do ao
Merc
ado In
terno
(C1)
Novos
Horizo
ntes (C
2)
Orienta
do ao
Merc
ado Exte
rno (C
3)
Orienta
do ao
Merc
ado In
terno
(C1)
Novos
Horizo
ntes (
C2)
Orienta
do ao
Merc
ado Exte
rno (C
3)
Orientado ao Mercado Interno (C1) x x x x x x x x x
Novos Horizontes (C2) 0,4524 x x 0,0833* x x 0,7262 x x
Orientado ao Mercado Externo (C3) 0,0585* 0,2332 x 0,0071** 0,0102** x 0,2702 0,0530* x* p< 0,10** p<0,05
72
no mercado externo (NAVAS-ALEMÁN, 2011, GIULIANI et al, 2005, KAPLINSKI, 1998)
e assim alavancar seu percentual de vendas neste mercado. Especificamente no caso dessa
indústria, o mercado americano demanda produtos diferentes dos produtos mais utilizados no
Brasil. Nos EUA (principal destino das exportações do cluster) são apreciados materiais
coloridos, considerados exóticos. Essas são rochas que exigem que a indústria acompanhe as
tendências desse mercado e também que promova internacionalmente os granitos descobertos
nos novos afloramentos. Nas visitas ao campo, os entrevistados indicaram que os materiais
exportados são vendidos com margens de lucro em média 15 pontos percentuais superiores às
vendas no mercado interno. A questão q66 verifica se as margens no mercado externo são
superiores às do mercado interno especificamente. O resultado encontrado aparenta ser
positivo (µ=5,13 e σ = 1,41). O upgrading de produto se mostra importante na apropriação de
valor para as empresas do cluster, ao ser uma forma de diferenciação entre os concorrentes
locais e globais.
Finalmente, os resultados evidenciam que as empresas do grupo Orientado ao Mercado
Externo (C3) alcançaram nível de upgrading funcional mais elevado que as empresas do
grupo Novos Horizontes (C2), pois M é igual a 5,3% (p < 10%). Nas comparações entre os
grupos Orientado ao Mercado Interno (C1) e Novos Horizontes (C2) e também entre os
grupos Orientado ao Mercado Interno (C1) e Orientado ao Mercado Externo (C3) não se
evidenciaram diferenças nos indicadores de upgrading funcional das empresas (M = 0,73 e M
= 0,27 respectivamente).
Para essa discussão vale retomar a hierarquia de upgrading proposta por Gereffi (1999) e
descrita na revisão da literatura. O autor afirma que o upgrading funcional é o que
proporciona maiores retornos para as empresas, seguido pelo upgrading de produtos e
finalmente pelo upgrading de processos. Todavia este é o mais difícil de ser alcançado. Já foi
pesquisada a geração e disseminação de inovações no cluster de rochas do ES
(MACLENNAN, 2012, ZANQUETTO FILHO et al., 2007; FERNANDES, 2006). É possível
observar alguns casos de desenvolvimento de patentes, além de diversos casos de inovação
incremental. As empresas do cluster também foram muito afetadas pela crise no mercado
americano, principalmente em 2008. Isso estimulou algumas empresas a buscar o
desenvolvimento e entrada em novos mercados de exportação (conforme foi detalhado na
subseção 4.1). Os entrevistados afirmaram que a crise os ajudou a se dar conta do risco país a
que estavam expostos ao concentrar as vendas externas em poucos mercados.
Já foi evidenciado na subseção 4.3.1 que o cluster de rochas ornamentais do ES está
inserido em cadeia de valor do tipo mercado. E esta cadeia oferece maior oportunidade de
73
upgrading ao ser comparada ao tipo quase hierárquico (NAVAS-ALEMÁN, 2011). Como as
vendas percentuais das empresas no mercado externo e seus investimentos em marketing são
influenciados positivamente por todos os tipos de upgrading, a hipótese H4 pode ser
comprovada.
Em resumo, a pesquisa encontrou evidências de relação crescente entre percentual de
vendas exportadas e upgrading. Interessante notar que a relação entre orientação para
mercado e upgrading não é mediada por diferentes tipos de governança da cadeia de valor,
como ocorreu na pesquisa de Navas-Alemán, (2011). Humpfrey (2002) ao examinar a
questão, explica que clusters de países desenvolvidos tendem a operar neste tipo de
governança da GVC. Mas a pesquisa de Gomes (1999) demonstrou caso semelhante na
indústria de frutas do Nordeste.
74
6 CONCLUSÕES
Esse estudo preocupou-se com a inserção em clusters e em cadeias globais de valor por
empresas do aglomerado de rochas ornamentais do ES. De modo específico, analisou-se o
upgrading no cluster e seus impactos no desempenho das exportações das empresas.
O estudo respondeu ao problema de pesquisa: “verificar se a participação das exportações
no mix de vendas das empresas é influenciada pelos diferentes tipos de upgrading, e se a
relação entre upgrading e exportação é mediada pelo tipo de governança da cadeia de valor
em que a empresa está inserida”. Os resultados apontam que, no caso desse cluster, as
empresas estão inseridas em cadeias de valor do tipo mercado, e que, à medida que aumentam
a penetração no mercado externo, alcançassem maiores patamares de upgrading.
Nos anos de 2008 e 2009, as exportações da indústria de rochas ornamentais foram
fortemente impactadas pela crise no setor de construção civil americano (CHIODI, 2012).
Contudo, o estudo indica que, dado o tipo de governança da cadeia de valor que a indústria
esta inserida, esta foi capaz de diversificar os seus mercados de atuação no ambiente global
(44% das empresas pesquisadas). O ingresso em novos mercados é um dos indicadores de
upgrading funcional (NAVAS – ALEMÁN, 2011). Este tipo de upgrading, desenvolvido
principalmente pelas empresas do grupo Orientado ao mercado externo (C3), é muito
importante para garantir a competitividade internacional desta indústria e minimizar os riscos
de crise em mercados externos.
A presente dissertação deu continuidade às pesquisas de Humphrey e Schmitz (2002),
Bazan e Navas-alemán, (2003) e Navas-Alemán, (2011). Uma contribuição dessa dissertação
é que os resultados são diferentes dos achados de Navas-Alemán, (2011), e Bazan e Navas-
Alemán, (2003), nos clusters pesquisados pelas autoras no Vale dos Sinos, Rio Grande do Sul
(RS). Nessas pesquisas, as empresas exportadoras estão inseridas em cadeias de valor quase
hierárquicas. A literatura afirma que, comumente nos casos em que os fornecedores se
localizam em países em desenvolvimento e os compradores são provenientes de economias
desenvolvidas, a governança da cadeia de valor tende a ser do tipo quase hierárquica
(IVAIRSSON & ALVSTAM, 2009; HUMPHREY & SCHMITZ, 2002). Já no caso do cluster
de rochas ornamentais do ES, as empresas estão inseridas em cadeias de valor com
governança do tipo mercado. Esse achado responde ao primeiro objetivo de pesquisa, ao
prover evidências de PMEs inseridas em cluster baseado em recursos minerais e exportador
operar no mercado global sem estar sob a forte interferência dos compradores globais.
75
Possíveis explicações disso são diferenças entre os clusters estudados nas pesquisas de
Bazan e Navas-alemán, (2003) e Navas-Alemán, (2011). Os clusters do RS são fabricantes de
calçados e móveis, produtos situados à jusante da cadeia de valor. Já no caso do cluster de
rochas do ES, a produção está situada à montante da cadeia, pois é baseada na indústria
mineradora. A indústria de rochas ornamentais possui vantagem competitiva advindas do
local, dada à disponibilidade dos recursos naturais (DUNNING, 1993).
Outra importante diferença é que o cluster de rochas do ES consegue margens de lucro
superiores das vendas para o mercado externo, em relação ao mercado interno. Interessante
notar que, em 2011, o Brasil foi o maior fornecedor de rochas ornamentais para o mercado
norte americano (CHIODI, 2012b). O Brasil superou as vendas chinesas neste mercado, o que
demonstra a competitividade do setor no mercado externo, uma vez que a China é o maior
provedor do setor no mercado mundial, em volumes exportados.
A partir das discussões e resultados da presente pesquisa, esta também colabora para o
campo de estratégia empresarial. Isso se justifica dada a carência de estudos quantitativos em
relação à análise da cadeia de valor (NAVAS-ALEMÁN, 2011) e no campo de rochas
ornamentais do ES (MACLENNAN, 2012).
Por último, o estudo contribui para o campo gerencial. A pesquisa verificou a existência de
relação entre os tipos de upgrade e percentual de vendas exportado. É razoável supor que, à
medida que as empresas fizerem mais upgrading, essas aumentarão a sua presença nos
mercados externos. Esse achado responde ao segundo objetivo de pesquisa.
6.1 Limitações da pesquisa Como todas as pesquisas, esta também possui suas limitações. A principal delas se refere à
amostra pesquisada no survey. Por conta do tamanho reduzido da amostra (n=32) foi
necessária a utilização de testes não paramétricos na análise dos dados. Em um futuro estudo,
o tamanho da amostra coletada poderia ser expandido, de modo a permitir relações cruzadas
entre grupos, que na base atual possuem tamanho pouco significativo para ser analisado de
modo individual. A amostra não probabilística não permite a generalização dos resultados, o
que confere outra limitação ao estudo.
As entrevistas para coleta dos dados foram realizadas com único respondente por firma,
sendo que sua percepção foi considerada como dado válido para o comportamento da
organização. Entretanto a escolha dos entrevistados (principalmente sócios, diretores e
gerentes) confere confiabilidade às respostas coletadas.
76
Foi estudado único tipo de cluster, fortemente exportador. Como oportunidade de estudos
futuros, pode-se fazer estudo comparativo com outro cluster de rochas ornamentais, que
abasteça principalmente o mercado interno. Essa nova pesquisa daria elementos ricos para se
expandir a compreensão do nível de upgrading das empresas do setor, sem a forte influência
da GVC.
77
APÊNDICE 1: Empresas filiadas ao Centro Rochas Quadro 12: Empresas filiadas ao Centro Rochas
78
Fonte: Centro Rochas
46 PEDREIRAS DO BRASIL S/A SANDRO VERZOLA47 PEMAGRAN PEDRAS MÁRMORES E GRANITOS LTDA. CLAUDIO E ADRIANO SANDRINI48 PLANETA PEDRA LTDA HELIO RENATO49 SAM GRANITOS EXPORT LTDA CINTIA E EDUARDA SCARAMUSSA50 SERMAGRAL SERRARIA DE MÁRMORES E GRANITOS LTDA HELIO MARCOS51 SERRARIA DE MÁRM. E GRANITO SANTO ANTONIO LTDA RODRIGO SCARAMUSSA52 SOCIEDADE MARMÍFERA BRASILEIRA LTDA DANTE NAPOLI E GIORGIO VENEZIANI53 SUPER CLÁSSICO COM. IMPORT. E EXPORTAÇÃO LTDA CINTIA SCARAMUSSA54 TEC TEAR GRANITOS LTDA JOSE CARLOS MARQUES55 THOR GRANITOS E MARMORES LTDA ZENILDO PETRELI E ANTONIO TERROSO56 THORGRAN GRANITOS LTDA ZENILDO PETRELI E ANTONIO TERROSO57 TOP WIRE IND. E COM. MAQ. MIN. LTDA WARLEY ROBSON58 TRACOMAL MINERAÇÃO LTDA GERALDO MACHADO59 V&M INDUSTRIAL EXPORTADORA LTDA ROBERTO CARLOS E MAURO MURAD60 VITÓRIA STONE INDÚSTRIA E COMÉRCIO S/A SANDRO VERZOLA61 IKK DO BRASIL FRANCISCO EDUARDO BUFFOLO62 TRANS-SEND- COMÉRCIO EXTERIOR E TRANSPORTE LTDA CRISTIANO BEZERRA DE LIMA
79
ANEXO 1: Instrumento de pesquisa de campo.
Empresa: Data entrevista:Questionário #:Rua:Número:Cidade:Estado:Telefone:E-mail:Entrevistado:Cargo/Departamento:
1 Ano de Fundação:2 % Capital Estrangeiro:3 Número de funcionários:4 Número de fábricas:5 Localização das fábricas:6 Venda % de Blocos de granito:7 Venda % de chapas de granito:8 Venda % de produtos acabados:
9 Volume de vendas - 2011 - blocos (ton) mês10 Volume de vendas - 2011 - chapas (m2) mês11 Volume de vendas - 2011 - prod.acabado mês
sim não12 Compra blocos de terceiros? ( %) (sim = 1, não = 0)13 % vendas Mercado Externo (valor)
Vendas no Mercado Interno (R$)14 % de vendas no mercado interno 200815 % de vendas no mercado interno 201216 Através de quantos clientes a produção da empresa é comercializada?17 Que percentual de vendas vão para o principal cliente?18 Que % de vendas vai para os três principais clientes?
Evolução dos indicadores de 2008 à 2011:escala de 1 à 71 menor nível até 7 maior nível pouco igual / médio muito
1 2 3 4 5 6 719 O comprador exige exclusividade em linha de produto específica?20 Os clientes são os mesmos de 3 anos atras?21 Há contratos de vendas de longo prazo com clientes (+ de 1 lote)?
Vendas no Mercado Externo (USD)22 Através de quantos clientes a produção da empresa é comercializada? 2008
23 Através de quantos clientes a produção da empresa é comercializada? 2011
24 Que percentual de vendas vão para o principal cliente?25 Que % de vendas vai para os três principais clientes?
pouco igual / médio muito1 2 3 4 5 6 7
26 O comprador exige exclusividade em linha de produto específica?27 Os clientes são os mesmos de 3 anos atras?28 Há contratos de vendas de longo prazo com clientes (+ de 1 lote)?
Distribuição Destino das Exportações (total 100%) 2008 Chapa
29 EUA / Canadá30 China31 América Latina32 Europa33 Outros
80
2011 Chapa33 EUA / Canadá34 China35 América Latina36 Europa37 Outros
Distribuição Destino das Exportações (total 100%) 2008 Bloco
38 EUA / Canadá39 China40 América Latina41 Europa42 Outros
2011 Bloco43 EUA / Canadá44 China45 América Latina46 Europa47 Outros
Assinale qual a relevância para a sua empresa: pouco igual / médio muito1 2 3 4 5 6 7
48 Participação em feiras49 Novas tecnologias de vendas (internet / site)50 Novos produtos (mais baratos)51 Novos produtos (mais caros)52 Treinamento / qualificação de mão de obra de produção53 Treinamento / qualificação de mão de obra de vendas54 Redução das taxas de retrabalho / reprocessamento55 Contratação de mão de obra técnica (engenheiros, arquitetos, químicos)56 Investimento em sistemas de automação industrial (lay-out)57 Novas máquinas (foco na produção)58 Novos equipamentos (fotografias, scaners, raio x, com foco em vendas)59 Sustentabilidade (tratamento de resíduos, preservação ambiental)60 Anúncios em revistas61 Novos materiais (resinas / materiais de polimento / tratamento químico)62 Viagens para a equipe de vendas
63 Investimento em maquinas (% das vendas medias de 3 anos)
pouco igual / médio muitoSua empresa: 1 2 3 4 5 6 7
64 De 2008 a 2011 a expectativa de vendas foi atendida no ME65 Em que medida a expectativa de lucratividade foi atendida na exportação?66 A lucratividade da exportação é maior que no MI?
67 % de faturamento investido em promoção e marketing (divulgação em revistas, amostras e feiras) media 2011
68 Despesa com viagens % vendas em 2011pouco igual / médio muito
Sua empresa: 1 2 3 4 5 6 7
69 Coopera com competidores (solicitações conjuntas junto a orgãos públicos, emprestimos de insumos, etc.)
70 De 2008 a 2011 aumentou a quantidade de linhas de produtos?71 De 2008 a 2011 investiu em estoques?72 De 2008 a 2011 aumentou a venda de produtos com maior valor agregado73 As vendas no MI cresceram de 2008 a 2011?74 As vendas no ME cresceram de 2008 a 2011?
81
Novas atividades:Sua empresa de 2008 à 2011: ( S/N) (sim = 1, não = 0) Sim Não
75 Migrou de agente de vendas terceirizado (agente) para força de vendas própria
76 Evoluiu de venda de blocos para processamento de chapas77 Abriu escritório de vendas?
78 Patrocinou divulgação de produtos em parceria com distribuidor? (anuncio cooperado)
79 Desenvolveu novo mercado externo (iniciou vendas em novo país)80 Iniciou atividades de acabamento?81 Iniciou atividades de distribuição / logística no mercado Interno82 Iniciou atividades de distribuição / logística no mercado externo83 Patenteou alguma inovação84 Desenvolvimento interno de tecnologia (novos tratamentos)85 Ingressou no MI86 Ingressou no ME
82
Anexo 4: Email de apresentação do Centro Rochas
De: Diretoria | Centrorochas [mailto:[email protected]]
Enviada em: quarta-feira, 8 de agosto de 2012 18:00
Cc: Maria Laura Ferranty Mac Lennan; Ilan Avrichir; Ilan Avrichir
Assunto: ESTUDO SOCIO ECONOMICO DAS EXPORTAÇÕES DE ROCHAS
Senhores Empresários,
O CENTROROCHAS em parceria com a ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing de São Paulo está trabalhando em um levantamento de dados para traçar o perfil sócio econômico das exportações de rochas ornamentais.
Coordenando o estudo temos o Profº Ilan Avrichir da ESPM, e na coleta de informações que servirão de base para o estudo, a Mestranda Maria Laura Ferranty Mac Lennan.
Gostaríamos de contar com o seu apoio para receber a Mestranda Maria Laura no período de 13 a 17 deste para coleta de alguns dados referentes as exportações dessa empresa. A senhora Maria Laura fará contato telefônico para agendar a visita.
Esse estudo servirá para discutirmos junto ao Ministério de Desenvolvimento e ao Governo do Estado ações de nosso interesse.
Olivia Tirello
Superintendente
CENTROROCHAS - Centro Brasileiro dos Exportadores de Rochas Ornamentais
tel: (27) 3235 9111 - fax:(27) 3317 0064 - cel:(27) 9983 5125
Av. N. S. da Penha, 1495 sala 1107 e 1109 - Torre B - Ed. Corporate Center , Bairro Santa
Lucia - Vitória - ES 29056-905
www.centrorochas.org.br
83
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