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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS NÚCLEO INTERINSTITUCIONAL DE ESTUDOS DA VIOLÊNCIA E CIDADANIA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM POLÍTICAS DE SEGURANÇA E DIREITOS HUMANOS INTELIGÊNCIA E NARCOTRÁFICO GERSON VINICIUS PEREIRA Cuiabá-MT Dezembro/2014

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Page 1: ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA...Utilizamos um método teórico discursivo baseado na Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública, onde descrevemos a teoria já existente

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

NÚCLEO INTERINSTITUCIONAL DE ESTUDOS DA VIOLÊNCIA E CIDADANIA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM POLÍTICAS DE SEGURANÇA E DIREITOS

HUMANOS

INTELIGÊNCIA E NARCOTRÁFICO

GERSON VINICIUS PEREIRA

Cuiabá-MT

Dezembro/2014

Page 2: ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA...Utilizamos um método teórico discursivo baseado na Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública, onde descrevemos a teoria já existente

GERSON VINICIUS PEREIRA

INTELIGÊNCIA E NARCOTRÁFICO

Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Especialização em Gestão de Segurança Pública como requisito obrigatório para a conclusão do curso e obtenção de Grau de Especialista em Gestão de Segurança Pública.

Orientador: Mestre Elcio Bueno de Magalhães

Cuiabá-MT

Dezembro/2014

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GERSON VINICIUS PEREIRA

INTELIGÊNCIA E NARCOTRÁFICO

Monografia apresentada à Coordenação do Curso de Especialização em Gestão de

Segurança Pública como requisito obrigatório para a conclusão do curso e obtenção

de Grau de Especialista em Gestão de Segurança Pública, orientador Elcio Bueno

Magalhães.

Banca Examinadora:

Avaliação final: _______

Cuiabá-MT, _____ de _________2014

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DEDICATÓRIA

A Deus, pela minha existência. Aos

meus pais, Raquel e Jair pelo incentivo A

minha esposa Elizabeth e aos meus filhos

Letícia e Murilo pelo amor dispensado.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador pela paciência,

compreensão e dedicação durante todo o

transcorrer desta pesquisa.

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Aqueles que não fazem nada estão sempre dispostos a criticar

os que fazem algo.

Oscar Wilde

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RESUMO PEREIRA, Gerson Vinicius Pereiras. Inteligência e Narcotráfico. Orientador: Mestre Elcio Bueno de Magalhães.

O crime organizado e, em especial, o narcotráfico constituem problemas

que hoje afligem a maioria dos países, atingindo níveis nunca antes imaginados. Além de afetarem a segurança pública e dos cidadãos em geral, nos últimos anos tais atividades criminosas vem se contrapondo à existência do próprio Estado, enfrentando-o de maneira audaciosa e violenta. Os métodos tradicionais de enfrentamento e de investigação não foram capazes de se confrontar ao poder das organizações criminosas e dos narcotraficantes, cujos lucros auferidos assemelham-se aos das maiores empresas do planeta. Nesse contexto, a atividade de inteligência surgiu como mais um instrumento a ser empregado no combate ao crime organizado e ao narcotráfico. A experiência tem demonstrado a eficácia de sua utilização, tanto na prevenção quanto na repressão. No Brasil, a gravidade da situação chegou ao extremo. Freqüentemente surgem notícias dando conta de ações perpetradas por traficantes contra agentes públicos e contra a sociedade. Em alguns locais, chegam até mesmo a ditar suas “leis” e impor suas vontades em detrimento da população e do Estado. A evolução da atividade de inteligência até os dias atuais, no Brasil e no mundo, conduz à compreensão de sua importância. A relevância da inteligência policial também merece destaque, constituindo atualmente vetor principal no combate eficiente ao narcotráfico. A evolução histórica das drogas e como o homem se relaciona com a mesma desde séculos é fundamental para que se entenda a conjuntura atual. A elaboração de políticas e estratégias passa necessariamente por esse entendimento, evitando-se assim a repetição de erros e o desperdício de recursos públicos.

Palavras-chaves: combate – narcotráfico – crime organizado – inteligência – polícia

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ABSTRACT

PEREIRA Gerson Vinicius. Intelligence and Drug Trafficking combat. Orientend by Elcio Bueno de Magalhães.

The organized crime, especially the drug trafficking, constitute problems that nowadays afflict the majority of the countries, reaching levels never imagined before. Beyond affecting public security and citizens in general, in the last years, these criminal activities have been opposing to the existence of the own State, facing it in an audacious and violent way. Traditional methods of confrontation and investigations weren’t able to face the criminal organizations and narcotics traffickers’ power, whose profits are similar to those derived from the biggest companies of the world. In this context, intelligence activity has appeared as one more instrument to be used in organized crime and drug trafficking combating. Experiences have demonstrated its efficacy in prevention as well as in repressing crimes. In Brazil, the seriousness of the situation has come to the utmost. Frequently, news about actions perpetrated by traffickers against public agents and also against society emerge. Some places even dictate their own law and impose their wills in detriment of the population and the State. The evolution of Intelligence activity so far, in Brazil and in the world, leads to the understanding of its importance. The relevance of police intelligence also deserves to be showed up, constituting currently the principal vector of an efficient combat on drug trafficking. Drugs historical evolution and how man deals with it from centuries are essential to the understanding of the actual juncture. Politics and strategies elaboration necessarily goes through this agreement, preventing mistakes to be repeated and public resources to be wasted.

Keywords: combat – drug trafficking – organized crime – intelligence – police

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LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Distribuição dos Registros de Ocorrências de Crimes de Drogas em

Cuiabá-MT, por Anos de Ocorrência, nos Anos de 2012 e 2013 .............................. 45

Gráfico 2: Distribuição dos Registros de Ocorrências de Crimes de Drogas em

Cuiabá-MT, por Mês do Ano, nos Anos de 2012 e 2013 ........................................... 45

Gráfico 3: Distribuição dos Registros de Ocorrências de Crimes de Drogas em

Cuiabá-MT, por Dia da Semana, nos Anos de 2012 e 2013 ..................................... 46

Gráfico 4: Distribuição dos Registros de Ocorrências de Crimes de Drogas em

Cuiabá-MT, por Faixa Horária, nos Anos de 2012 e 2013 ........................................ 47

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Distribuição Anual dos Registros de Ocorrências de Crimes de Drogas

em Cuiabá-MT, nos Anos de 2012 e 2013, segundo o Tipo de Local de

Ocorrência ................................................................................................................. 48

Quadro 2: Distribuição Anual dos Registros de Ocorrências de Crimes de Drogas

em Cuiabá-MT, nos Anos de 2012 e 2013, segundo o Local de Ocorrência ............ 49

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LISTA DE ABREVIATURAS

ABIN Agência Brasileira de Inteligência

CEAC Coordenadoria de Estatística e Análise Criminal

CEPAL Comissão Econômica para a América Latina

COAF Conselho de Controle de Atividade Financeira.

CPI Comissão Parlamentar de Inquérito

DNISP Doutrina Nacional de Inteligência

FATF Financial Action Task Force

ONU Organização das Nações Unidas

SENASP Secretaria Nacional de Segurança Pública

SESP Secretaria de Segurança Pública

SISBIN Sistema Brasileiro de Inteligência

SISNAD Sistema Nacional de Política Pública Sobre Drogas

SISP Sistema de Inteligência de Segurança Pública

SNI Serviço Nacional de Informações

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 13

1. A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA .................................................................. 16

1.1 A INTELIGÊNCIA E SUAS ORIGENS............................................................ 16

1.2. A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA NO BRASIL ............................................ 18

1.3 A INTELIGÊNCIA POLICIAL .......................................................................... 21

2 O NARCOTRÁFICO.......................................................................................... 23

2.1 AS ORIGENS HISTÓRICAS DO NARCOTRÁFICO ...................................... 24

2.2 O NARCOTRÁFICO NO BRASIL ................................................................... 27

2.3 O NARCOTRÁFICO E CRIME ORGANIZADO .............................................. 31

2.4 O NARCOTRÁFICO E LAVAGEM DE DINHEIRO ......................................... 34

2.5 A LEGISLAÇÃO E O NARCOTRÁFICO ......................................................... 36

2.6 A INTELIGÊNCIA E O NARCOTRÁFICO, A SITUAÇÃO ATUAL .................. 38

2.7 A EFICÁCIA DA INTELIGÊNCIA NO COMBATE AO NARCOTRÁFICO ....... 41

3 DOS REGISTROS DOS CRIMES DE DROGAS, EM CUIABÁ ........................ 44

3.1 AS PECULIARIDADES DOS REGISTROS DE CRIMES DE DROGAS EM

CUIABÁ ................................................................................................................ 44

3.2 O EMPREGO DA INTELIGÊNCIA NO COMBATE AO NARCOTRÁFICO ..... 49

3.2.1 Primeiro caso (Operação Mordaça) ......................................................... 49

3.2.1.1 Dos alvos da operação .......................................................................... 50

3.2.1.1.1 Grupo 01 ............................................................................................... 50

3.2.1.1.2 Grupo 02 ............................................................................................... 52

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3.2.1.1.3 Grupo 03 ............................................................................................... 54

3.2.2 Da Análise da Operação Mordaça ............................................................ 56

3.2.3 Segundo Caso ........................................................................................... 58

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 62

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INTRODUÇÃO

O narcotráfico é uma das atividades mais lucrativas do mundo. Nenhum

comércio legal aufere tantos recursos como o tráfico de drogas. O poder dos

traficantes se contrapõe ao poder do próprio Estado, e por vezes o enfrenta

abertamente em confrontos armados. (QUAGLIA, 2014, p.73 )

Segundo a Professora Maria Luiza Marcilio, professora de direitos Humanos

da Universidade de São Paulo, o tráfico de drogas cria fatores de desestabilização

política, econômica e social e inibe o crescimento de países desenvolvidos e em

desenvolvimento. Não se trata, portanto, de um problema eminentemente policial.

A este respeito Fernandes (1998, p.60) destaca que o Brasil vive hoje uma

situação complexa e preocupante, pois deixou de ser já há algum tempo um país

cujo território era utilizado somente como passagem para as drogas para galgar o

título também de país produtor e grande consumidor de drogas.

E em se tratando do controle desta atividade, Magalhães (2000, p. 45),

observa-se que a utilização de métodos tradicionais de investigação, diante da

complexidade e poderio do crime organizado, por vezes é insuficiente. Para o autor

é necessário o incremento da atividade de inteligência como instrumento de combate

e controle destas atividades criminosas, pois apenas as investigações com

vigilâncias, conhecidas como “campanas” não surtem mais efeito. Os

narcotraficantes têm informantes e “olhos” por todos os lugares. Este incremento da

inteligência vem alicerçado com o avanço do maquinário tecnológico. Neste sentido

tem-se que a atividade de inteligência, tanto na ação preventiva como na repressiva,

mostra-se como uma opção viável e eficaz no enfrentamento direto aos

narcotraficantes, exercendo papel de fundamental importância na conjuntura atual.

Desta forma no transcorrer do trabalho, fez-se algumas considerações

acerca da atividade de inteligência, em níveis mundial e nacional. Um breve

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conhecimento acerca de tal tema revela a importância da atividade e da sua

utilidade diante dos problemas enfrentados diuturnamente pelos Estados,

ressaltando-se que não somente em face de conflitos bélicos, mas em um leque

muito mais abrangente de atuações.

Entende-se que compreender as relações entre o narcotráfico, o crime de

lavagem de dinheiro e o crime organizado é de fundamental importância para situar

o tema, assim como a evolução da legislação correlata.

O conhecimento é de fundamental importância para a tomada de decisão

nos mais diversos níveis da administração pública, assim em tempo de guerra, como

em tempo de paz e a disponibilidade das informações ao tomador de decisões deve

estar de acordo com a complexidade do tema investigado e, isto se aplica também a

questão do crime organizado e do narcotráfico, cuja compreensão não é tarefa fácil.

Diante da gravidade da situação envolvendo o narcotráfico e pelo problema

que este evento representa na atualidade, Filho (2007, p. 34), destaca que é

imperativo que se utilize equipamentos tecnológicos para se incrementar a

inteligência, onde se busca a coleta de informações com a finalidade de localizar

traficantes e drogas. Pois para o autor, o narcotráfico está intimamente ligado à

lavagem de dinheiro e esta ligação consiste no aumento da capacidade financeira

dos traficantes sem ter uma base legal. E em razão disto, em muito casos de

investigação destes eventos, o analista de inteligência começa um procedimento de

análise proativamente buscando altos empresários pela via transversa, isto é,

pessoas com alto poderio financeiro, os quais não tem como comprovar a origem de

tal dinheiro, onde muitas vezes é oriundo do tráfico de drogas. Aí a necessidade da

inteligência ser imprescindível para agir perante estes ilícitos (tráfico de drogas e

lavagem de dinheiro), usando suas técnicas e com a tecnologia agindo junto como

ferramenta imprescindível.

Esse estudo tem como objetivo geral analisar como a utiilização das técnicas

de inteligência comtribuíram para a repressão dos crimes de narcotráfico, sendo que

o objetivo específico é levantar os casos em que houve a atuação da inteligência

para o combate ao narcotráfico e analisar as técnicas de inteligência utilizadas. Com

a denúncia vinda do Centro Integrado de Operações de Segurança Pública (CIOSP)

fazemos um comparativo com as estatísticas da Coordenadoria de Estatística e

Análise Criminal, como horário, dias da semana e local com maior incidência e após,

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começamos a utilizar o serviço operacional para que no final tenhamos um relatório

circunstanciado para efetuarmos uma operação no combate ao narcotráfico.

No desenvolver do trabalho, abordaremos a atividade de inteligência e sua

breve origem histórica e a inteligência policial; o narcotráfico e suas relações com a

lavagem de dinheiro e o crime organizado; a situação atual, a eficácia da inteligência

para combater o narcotráfico; dos registros de tipos de crime e os casos em que

houve a ação da inteligência para combater o narcotráfico.

Utilizamos um método teórico discursivo baseado na Doutrina Nacional de

Inteligência de Segurança Pública, onde descrevemos a teoria já existente e os

casos que nortearam a ação desenvolvida com êxito para combater o narcotráfico.

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1. A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA

1.1 A INTELIGÊNCIA E SUAS ORIGENS

A atividade de inteligência entendida em sentido amplo como a obtenção de

qualquer informação relevante para auxiliar o tomador de decisões é antiga e

remonta aos primórdios da civilização. Desde quando o ser humano passou a viver

em sociedade, a necessidade de garantir a proteção, a segurança e o

desenvolvimento desta, exigiu dos seus membros a implementação de sistemas

eficientes para obtenção de informações. (FIALHO, 2006, p. 57 ).

Para o autor em questão, a atividade de inteligência sempre esteve

presente nos campos diplomático e militar. A este respeito, a história registra

inúmeros casos de sua utilização em conflitos bélicos, desde as épocas mais

remotas. (p. 67).

A este respeito encontramos no Antigo Testamento das Sagradas Escrituras,

Livro de Deuteronômio, Capítulo 1, versículo 23, o seguinte relato que trata da

jornada do Povo de Deus rumo a Terra Prometida. Em determinado momento, e com

o propósito de seguir em direção a Terra dos Cananeus, Moisés reúne o povo sob

sua liderança e diz:

Então, todos vós chegastes a mim, e dissestes:Mandemos homens adiante de nós, para que nos espiem a terra e, de volta, nos ensinem o caminho pelo qual devemos subir, e as cidades a que devemos ir (BÍBLIA, 1993, p. 184).

Analisando a citação acima, é possível considerar primeiramente que a

atividade de inteligência, é prática inerente a pessoa humana, e segundo que via de

regra é utilizada como ferramenta ou instrumento de apoio ou suporte a outras

atividades, ou seja, a atividade de inteligência pode facilitar o labor de um indivíduo

ou grupo social, naquilo que se pretende alcançar ou adquirir.

Também, Sun Tzu, filósofo e general chinês, em seu famoso livro “A Arte da

Guerra”, escrito há cerca de dois mil e quinhentos anos, ensinava que, antes de

atacar qualquer cidade, deve-se levantar todas as informações possíveis sobre seus

moradores, líderes e exército. Para ele, o indivíduo responsável por tal tarefa deve

receber os mais altos salários da arma, sob pena de ficar tentado a mudar de lado,

ou seja, trabalhar para o inimigo.

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Situação semelhante é observada durante as guerras travadas pelo Império

Romano e, mais tarde, nas guerras napoleônicas. Nestas, a competência dos

generais era avaliada levando-se em consideração a capacidade dos mesmos em

ter prévio conhecimento do campo de batalha, das forças e estratégias do inimigo.

(ARAÚJO, 2011, p 45 ).

Porém, no que concerne a outorga da atividade de inteligência como uma

prática oficial, reconhecida, têm-se conhecimento que as primeiras organizações

permanentes e profissionalizadas surgiram a partir do século XVI, na Europa,

quando Francis Walsingham, Secretário de Estado da Rainha Elizabeth I, da

Inglaterra, criou, em 1573, dentro da estrutura administrativa de sua secretaria, uma

função a qual denominou “the intelligence”, e tinha como objetivo a provisão de

informações extraordinárias sobre potências estrangeiras. O mesmo ocorreu na

França do início do século XVII, onde o Cardeal Richelieu fundou o “Gabinet Noir”,

que tinha por objetivo monitorar as atividades da nobreza daquele país. As

informações obtidas eram, entretanto, utilizadas politicamente .(ARAÚJO, 2011, p.

56).

Ainda segundo o autor em questão, a Revolução Industrial no final do século

XIX refletiu nas técnicas de guerra e, consequentemente influenciou a atividade de

inteligência. As novas tecnologias surgidas então tais como o telégrafo, exigiram dos

profissionais da área e dos governantes uma rápida adaptação. Em razão deste

avanço tecnológico, na Guerra de Secessão nos Estados Unidos foram utilizadas

novas técnicas, tais como fotografia, reconhecimento de área realizado por balões e

utilização de cifras e códigos (p. 61 ).

Considerando a I Guerra Mundial, o autor observa que somente depois

deste evento é que surgiram os primeiros órgãos de inteligência institucionais. E

ressalta que naquela época, a Rússia Czarista possuía um serviço de inteligência

estruturado, chamado de “Okhrana”, e a Inglaterra havia criado, no ano de 1909, o

até hoje conhecido “MI6”, o qual tinha como principal objetivo a realização de

operações de inteligência militar no estrangeiro. Com Stalin no poder, o serviço

secreto da União Soviética passou por várias siglas, até que, em 1954, adotou a

sigla “KGB-Komitet Gosudarstvennoi Bezopasnosti,” que significa Comitê de

Segurança do Estado, e assim foi denominado até a dissolução do país, em 1991.

(p. 74 ).

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Mas no decorrer da II Guerra Mundial os serviços de inteligência

desempenharam papel de fundamental importância. Nesta época, a Alemanha

possuía dois serviços de informação, o “Abwehr” e o “SD”, o primeiro ligado aos

militares, o segundo ligado ao Partido Nazista. Já os japoneses possuíam uma rede

de espionagem chamada “Kempei”, responsável por infiltrar agentes que

contribuíram para o ataque a Pearl Harbor. (ARAÚJO, 2011, p. 74 ).

Para o estudioso acima, após a II Segunda Guerra Mundial, o presidente dos

Estados Unidos na época, Harry Truman, criou a CIA – “Central Intelligence

Agency”, em substituição ao OSS – “Office of Strategic Services” (p. 77 ).

E com o advento da chamada Guerra Fria houve um grande incremento da

atividade de inteligência, motivado principalmente pela corrida armamentista entre a

União Soviética e os Estados Unidos. Nessa época, o avanço tecnológico foi patente

e decorreu basicamente da constante busca por parte dos dois países de mais

eficientes e letais mecanismos de destruição e monitoramento recíproco ( p. 79)

Atualmente, segundo (SILVA 2003, p. 56), com o fim da Guerra Fria e o

advento de novas ameaças, tais como o terrorismo e o crime organizado

transnacional, houve uma diversificação na atividade de inteligência, com a

consequente necessidade de sua adaptação e atualização. Também no campo da

espionagem econômica e industrial, observa-se grande incidência da atividade,

exigindo das grandes potências a necessidade de ter em seus quadros especialistas

na área.

Assim, de acordo com o autor acima, tanto na antiguidade quanto nos dias

atuais, nos aspectos político, econômico, tecnológico e industrial, não há como

negar que conhecimento é poder e, consequentemente, aquele que possui o

conhecimento detém o poder. É, pois, incontestável a importância da atividade de

inteligência como vetor principal na obtenção do conhecimento, motivo pelo qual tem

sido considerada tão importante (p. 58 ),

1.2. A ATIVIDADE DE INTELIGÊNCIA NO BRASIL

A atividade de inteligência no Brasil teve início oficialmente no ano de 1927,

quando o então Presidente Washington Luís criou o Conselho de Defesa Nacional,

através do Decreto nº 17.999, a ele diretamente subordinado. Este conselho tinha

como atribuição coordenar a produção de conhecimentos sobre questões de ordem

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financeira, econômica, bélica e moral referentes à defesa da pátria. Porém, foi

reestruturado em 15 de fevereiro de 1934, onde o artigo 163 da Constituição Federal

de 1937 deu-lhe nova denominação, passando a chamar Conselho de Segurança

Nacional, mas assim, atuava somente no âmbito dos ministérios militares (ESG,

2010, p. 33).

Assim, em setembro de 1946, o Decreto-Lei nº 9.775-A, autorizou o

Conselho de Segurança Nacional a criar um Serviço Federal de Informações e

Contra-Informações-SFICI, o que ocorreu somente no ano de 1958 com o Decreto nº

44.489-A. O SFICI era um órgão subordinado à Secretaria-Geral do Conselho de

Segurança Nacional e tinha como atribuição superintender e coordenar as atividades

de informações de interesse da Segurança Nacional (ESG, 2010, p. 37).

E em 1964, através da Lei nº 4.341, criou-se o Serviço Nacional de

Informações -SNI, o qual possuía como atribuição legal superintender e coordenar

as atividades de informações e contra-informações, em particular as que

interessassem à Segurança Nacional. Nota-se grande semelhança com as

atribuições do então extinto SFICI. O SNI, durante o regime militar, teve sua atuação

muito criticada, notadamente pelos civis, face o seu envolvimento com questões

eminentemente políticas e seu distanciamento de assuntos relacionados aos

interesses nacionais (SENASP, 2011, p. 39)

Mas com o processo de redemocratização do país, iniciado em 1989, houve

uma reorientação no direcionamento dos serviços de informação, os quais, segundo

a nova perspectiva, deveriam ter uma atuação mais contundente em prol da nação e

reduzindo sua atuação no campo político. Assim, em 1990, o Presidente da

República eleito, Fernando Collor de Mello, face ao desgaste do SNI diante da

opinião pública, resolveu extinguir o órgão, criando em seu lugar a Secretaria de

Assuntos Estratégicos-SAE, que, dentre outras atribuições, abarcou também a

atividade de inteligência. E então a partir de 1995, a atividade de inteligência passa

a ser supervisionada pela Secretaria Geral da Presidência da República e, logo em

seguida, à Casa Militar (SENASP, 2011, p. 43 ).

Mas no ano de 1999, no governo do então Presidente da República

Fernando Henrique Cardoso, foi promulgada a Lei nº 9.883, que instituiu o Sistema

Brasileiro de Inteligência-SISBIN, e criou-se a Agência Brasileira de Inteligência -

ABIN. Para esta lei, o SISBIN tem como atribuições integrar as ações de

planejamento e execução das atividades de inteligência do Brasil e fornecer

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subsídios ao Presidente da República nos assuntos de interesse nacional. E a ABIN

considerada como órgão central do SISBIN, tem como atribuições planejar, executar,

coordenar, supervisionar e controlar as atividades de inteligência do Brasil, além de

planejar e executar ações relacionadas à obtenção e análise de dados para a

produção de conhecimento, proteção de conhecimentos sensíveis, avaliar ameaças

à ordem constitucional e promover o desenvolvimento de recursos humanos e da

doutrina de inteligência (SENASP, 2011, p. 48).

Além de instituir o SISBIN e criar a ABIN, a Lei nº 9.883 definiu inteligência

como:

“A atividade que objetiva a obtenção, análise e disseminação de conhecimentos dentro e fora do território nacional sobre fatos e situações de imediata ou potencial influência sobre o processo decisório e a ação governamental e sobre a salvaguarda e a segurança da sociedade e do Estado. E contra-inteligência como: “a atividade que objetiva neutralizar a inteligência adversa (SENASP,2011, p, 34).

Esta obtenção de dados precisa ser trabalhada pelo profissional de

inteligência, seja na inteligência estratégica ou policial, onde busca assessorar o

tomador de decisões. Enquanto que a neutralização que é mencionada na Lei visa

obstruir a espionagem feita por organismos antagônicos, seja no campo estratégico

ou policial.

Assim, é fato que hoje, ao contrário de alguns anos atrás, pode-se afirmar

que a atividade de inteligência no Brasil desenvolvida pela ABIN tem como objetivo

primordial a produção de conhecimentos estratégicos de interesse do País. O

acompanhamento permanente de questões nacionais e internacionais que possam

criar obstáculos à consecução dos objetivos nacionais, à ordem democrática e à

segurança do País, passou a ser o objetivo principal da atividade (FIALHO, 2006, p.

35).

Exemplos de fatos desta natureza é o acompanhamento de movimentos

separatistas, de temas relacionados às questões indígena, meio ambiente e

biodiversidade, tecnologia, Amazônia, crime organizado e segurança pública em

especial o narcotráfico e a lavagem de dinheiro (SILVA, 2003, p. 48).

E assim sendo, vê-se que a ampla as áreas de atuação dos órgãos de

inteligência, para bem desenvolver suas atribuições, devem ter como balizas

princípios éticos e democráticos. Além disso, os responsáveis pela atividade não

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podem esquecer que o trabalho é feito em prol do Estado, e não em benefício deste

ou daquele governo (SENASP, 2011, p. 52).

E considerando a evolução histórica dos serviços de inteligência no País,

vale destacar que em julho de 2009, houve um grande avanço na atividade de

inteligência com a criação da Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança

Pública-DNISP, onde especifica o conceito, finalidade, características, métodos para

reunião de dados e outras definições. Esta evolução está na regulamentação da

atividade de inteligência, pois este feito indica, mostra o caminho a ser seguido pelo

analista de inteligência e as consequentes operações policiais que são realizadas

pela Polícia Federal e pelas polícias estaduais do país (SENASP, 2011, p. 55).

1.3 A INTELIGÊNCIA POLICIAL

Com a globalização e o crescimento vertiginoso do narcotráfico e do crime

organizado transnacional nas últimas décadas, aumentou-se a preocupação dos

países em criar instrumentos eficientes de repressão a tais modalidades criminosas

(FERNANDES, 1998, p.66).

Para se contrapor ao poderio das organizações criminosas em especial dos

narcotraficantes e diante da comprovada eficiência da atividade de inteligência em

nível de Estado, alguns países passaram a utilizar tal procedimento também neste

sentido, surgindo daí a chamada inteligência policial (FIALHO, 2006, p.45).

De acordo com o Manual de Inteligência do Departamento da Polícia

Federal, 2007, inteligência policial consiste em:

“A atividade de inteligência policial é a atividade interativa exercida pelo órgão policial, fundamentada em preceitos legais e padrões éticos, que consiste na produção e proteção de conhecimento, por uso de metodologia própria e de técnicas acessórias, que permitam afastar a prática de ações meramente intuitivas e a adoção de procedimentos sem uma orientação racional” (p14).

Essa abordagem deixa bem claro que o profissional de inteligência faz uma

processo analítico do dado, em que o mesmo recebe, para que este dado seja

trabalhado e se transforme em um informação para ajudar o tomador de decisão.

Nesse contexto, e diante do reconhecido sucesso da utilização da atividade

de inteligência como instrumento eficiente na proteção do Estado, a inteligência

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policial surgiu como uma alternativa viável para o combate ao crime organizado e

crimes correlatos. Ao contrário da inteligência de Estado, a inteligência policial não

possui como função primordial a defesa estrita dos interesses nacionais, apesar de

fazê-lo quando atua no combate às organizações criminosas (FIALHO, 2006, p. 48).

De acordo com a Doutrina Nacional de Segurança Pulica (DNISP), estas

atividades diferem basicamente em razão do foco mais restrito da atividade de

inteligência policial, bem como pelo fato desta sofrer um maior controle de diversos

outros órgãos. A inteligência policial, como ramo especializado da inteligência

estratégica, tem como objetivo prevenir, identificar e neutralizar as ações criminosas.

No que tange ao aspecto jurídico, deve constatar os fatos, para posteriormente se

iniciar uma investigação com o fim de obter a verdade dos fatos.. Essa identificação

e neutralização, de acordo com o que foi editado pela DNISP, objetiva-se na

produção e salvaguarda de conhecimentos utilizados em uma tomada de decisões.

No que refere ao conhecimento, a DNISP destaca que é produzido pela

inteligência nas seguintes situações:

a) de acordo com um plano de inteligência;

b) em atendimento à solicitação de uma agência congênere;

c) por iniciativa do próprio analista.

Com a evolução das atividades criminosas, os métodos de investigação

tradicional, utilizados pelas polícias judiciárias, por vezes são inócuos diante da

complexidade e da estrutura das organizações criminosas. Notadamente com

relação ao narcotráfico, tais organizações dispõem de amplos recursos financeiros e,

obviamente, os utilizam para a obtenção de recursos tecnológicos e corrupção de

agentes públicos, o que dificulta a ação repressiva do Estado (CASTRO, 2011, p.

24).

Para (FIALHO 2006, p. 47), nos últimos anos os governos, conscientes da

necessidade de criação de serviços eficientes de inteligência para se contraporem

ao crime, têm investido na área. Os resultados disso podem ser observados quase

que diariamente na mídia, que noticia o sucesso de operações policiais baseadas

principalmente nas ações de inteligência, em especial com relação à Polícia Federal.

Em se tratando do acesso a informações, de acordo com o que preconiza a

Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública, cerca de noventa e cinco

por cento dos conhecimentos podem ser encontrados em fontes abertas, como

arquivos e banco de dados e apenas cinco por cento estariam protegidos. O acesso

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a este conhecimento protegido, o dado não disponível se dá através do acionamento

do elemento de operações, que é a fração do órgão de inteligência que deve buscar

tal informação negada. Para isto empregam, as chamadas operações de inteligência

que utilizam técnicas, como: OMD (observação, memorização e descrição); estória-

cobertura; reconhecimento; fotografia; meios técnicos; disfarce; vigilância;

recrutamento; entrevista; comunicações sigilosas e infiltração.

Ainda tratando do emprego de técnicas de inteligências, os órgãos policiais

por ter poder de polícia, utilizam com frequência da interceptação telefônica,

conforme está previsto na lei nº 9.296/96. Este instrumento de constatação em muito

tem auxiliado as policiais judiciárias no desmantelamento de quadrilhas, em especial

as envolvidas com o crime organizado e o narcotráfico (CASTRO, 2011, p. 56).

Para Castro (2011, p. 63), a utilização de tais técnicas de inteligências,

obviamente adaptadas à atividade de inteligência policial, propiciou o

desmantelamento de diversas quadrilhas que vinham atuando no Brasil, em especial

as ligadas à corrupção nos mais diversos níveis do poder público.

Ainda com relação ao emprego das atividades de inteligência, Silva (2014, p

62), destaca que não somente como atividade repressiva em si, mas que a

inteligência policial pode ser utilizada como importante ferramenta de prevenção de

crimes. Para o autor, através da coleta e análise de dados e informações, é possível

identificar tendências através da elaboração de cenários e estabelecer estratégias

de atuação policial. O planejamento estratégico das ações de segurança pública

com base em coleta e processamento de informações é de fundamental importância,

bem como a análise prospectiva com vistas a auxiliar o usuário na tomada de

decisões relacionadas ao problema envolvendo o crime organizado.

Desse modo, de acordo com Ferro Júnior (2011, p. 72) diante do grave

quadro advindo do aumento considerável dos índices de criminalidade, o uso da

inteligência por parte dos órgãos policiais é de extrema importância, devendo o

Estado fornecer às instituições encarregadas de garantir a segurança pública

recursos humanos, materiais e tecnológicos para o bom desempenho da atividade, a

qual vem, rotineiramente, provando sua eficiência.

2 O NARCOTRÁFICO

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2.1 AS ORIGENS HISTÓRICAS DO NARCOTRÁFICO

A origem da palavra droga é controvertida. Alguns afirmam que deriva do

francês “drogue”, outros do holandês antigo “droog” , - folha seca -, do persa “droa”,

que significa odor aromático e, ainda, do hebraico “rakab”, que significa perfume

(CASTRO, p . 82).

Para Castro (2011, p. 83), em sentido amplo, pode-se definir droga como

qualquer substância ou ingrediente utilizado em farmácia, tinturaria e laboratórios

químicos. Em sentido restrito, o termo remete a qualquer produto alucinógeno,

substância ou produto tóxico que leve à dependência química. Cientificamente, as

drogas costumam ser classificadas em três categorias: depressoras do sistema

nervoso central como álcool, ópio; tranquilizantes, benzodiazepínicos e inalantes;

estimulantes como a cocaína, crack, ecstasy, anfetaminas e alucinógenas como o

ácido lisérgico, maconha e heroína.

Mas, em se tratando de drogas, o estudioso observa que independente do

conceito ou classificação dada aos diversos tipos de drogas, o ser humano

relaciona-se com elas há muitos séculos. Arqueólogos descobriram há 6.000 (seis

mil) anos antes de Cristo, no norte do Irã, um jarro de cerâmica com resíduos de

álcool, sendo este o registro mais antigo de consumo da bebida pelo homem.

Também descobriram que a coca, árvore no idioma indígena, já era cultivada há

milhares de anos, cerca de 4.000 a 6.000 anos atrás, Em países andinos como o

Peru, Bolívia, Equador e Colômbia, indígenas possuem como hábito mastigar a

folha, que tem a propriedade de atenuar os efeitos de doenças relacionadas à

altitude. Ainda sobre o uso de drogas nos tempos passados, há registros que

mostram que mães ministravam drogas aos filhos a fim de amenizar a fome e a sede

(p. 84).

Quanto ao uso da maconha, segundo este afirma que historiadores afirmam

que tal droga teria sido utilizada pelos chineses 5.000 anos antes de Cristo, e pelos

hindus, gregos e indianos, 3000 anos antes de Cristo, principalmente como fonte de

prazer. Segundo o Escritório contra Drogas e Crime das Nações Unidas – UNODC,

a maconha é hoje a droga mais comercializada do mundo, possuindo cerca de 140

milhões de consumidores em todo o planeta (p. 26).

Para o mesmo autor, o ópio, substância extraída da papoula, teria sido

descoberto por populações da Mesopotâmia há cerca de 3.500 a.C. E em razão do

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comércio e consumo desta droga ocorreram duas guerras no século XIX. No ano de

1839, o governo imperial da China tentou deter a importação ilegal de ópio e

queimou vinte mil caixas apreendidas dos ingleses. O Reino Unido em represália a

esta ação do governo chinês mandou uma frota e ocupou a cidade de Xangai,

obrigando os chineses a assinarem o tratado de Nanquim, segundo o qual a China

teria que pagar pesadas indenizações, abrir cinco portos e entregar a cidade de

Hong Kong aos ingleses. Tal incidente ficou conhecido como a I Guerra do Ópio, e

durou até o ano de 1842. Em 1856 ocorreu um novo conflito militar entre chineses e

britânicos, os quais tiveram o apoio dos franceses. Conhecido como II Guerra do

Ópio, que resultou em nova derrota para os primeiros, que foram obrigados a fazer

novas concessões. Assim, no ano de 1906, estimava-se que 13.5 milhões de

chineses cerca de 27% da população masculina adulta fumavam ópio, com graves

consequências sociais para o país (CASTRO 2011, p. 34 ).

Quantos a adoção de medidas de controle, o autor diz que somente no ano

de 1909, o governo chinês daquele país instituiu os primeiros meios de controle da

droga, a cargo da Comissão do Ópio de Shangai realizou-se ali uma conferência

internacional com a participação de treze países, resultando, três anos depois, na

Convenção Internacional do Ópio, assinada em Haia e que visava o controle das

drogas (p. 36).

Segundo explicações de (Castro 2011, p. 38) em virtude dos avanços

tecnológicos no campo da física e da química, no final do século XIX, surgiram

substâncias mais fortes, como a cocaína, originada da folha de coca, e a heroína,

originada da morfina, extraída do ópio. A cocaína droga estimulante produzida

através da mistura entre folhas de coca e outras substâncias químicas foi criada por

médicos europeus no ano de 1860 e era utilizada com finalidades terapêuticas.

Produzida a partir de alcaloides extraídos da folha de coca, não é possível ser

sintetizada.

Quanto as anfetaminas e o MDMA (metilonodioximetanfetamina), princípio

ativo do ecstasy, droga sintética produzida em laboratório, o autor em questão afirma

que estas foram descobertas em 1912 pela indústria farmacêutica alemã Merck. A

finalidade inicial do ecstasy foi a de supressor do apetite. O uso recreativo da droga

surgiu em 1970, nos EUA. Em 1977 foi proibido no Reino Unido e em 1985 nos EUA

(p. 40.).

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Em relação ao uso de drogas Castro (2011, p. 42) ressalta também que em

países como Peru e Bolívia, a produção da folha de coca é legalizada, sendo o

primeiro e o maior produtor mundial. Nesses países, é uma tradição da população

nativa mascar as folhas

A respeito do uso de drogas, o autor também faz referência ao austriáco

Sigmund Freud , criador da psicanálise dizendo que estimulou o consumo de drogas

para fins terapêuticos. Para o autor este cientista incentivou o uso da substância na

época, chegando a ministrá-la para alguns de seus pacientes. Com a invenção da

seringa, os efeitos do uso de algumas substâncias como a cocaína foram

potencializados, aumentando o nível de dependência dos usuários. Atualmente,

estima-se que tal substância é consumida por aproximadamente 13,4 milhão de

pessoas no mundo (p. 44).

Porém, no que tange ao combate ao tráfico e o consumo, durante o século

XX, este autor destaca que os países decidiram lidar com o problema de forma

conjunta e em razão desta decisão, três convenções das Nações Unidas acerca do

assunto pretenderam restringir o consumo e a venda das substâncias, liberando-as

tão somente para fins medicinais. Tais convenções foram agrupadas no ano de 1961

na Convenção de Drogas e Narcóticos (p. 46 ).

Concernente ao combate ao comércio de drogas que se alastrava sobre o

território americano, Castro (2011, p. 49), destaca que na década de 70 do século

passado, o comércio e consumo de drogas alcançaram níveis inimagináveis,

atingindo seu auge nos anos 80 e em razão disto, em abril de 1986, o então

presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, assinou uma Diretiva de Segurança

Nacional, considerando o narcotráfico como uma ameaça para a segurança daquele

país e autorizou as forças armadas a participarem da chamada guerra contra as

drogas.

E dando sequencia as medidas adotadas por Ronald Reagan, em 1989, o

presidente norte-americano George Bush autorizou as forças especiais daquele país

a acompanhar as forças locais de países produtores de drogas no patrulhamento

contra os narcóticos. Por causa desta autorização presidencial, observou-se nos

últimos anos forte presença americana na Colômbia, país considerado produtor de

cocaína. Estima-se em 1,3 bilhão de dólares a ajuda financeira dos EUA aos

colombianos para compra de equipamentos, armas e assessoramento (CASTRO

2011, p. 53)

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Também nos anos de 1987 e 1988, conferências realizadas em Viena

resultaram na denominada Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de

Estupefacientes e Substâncias Psicotrópicas, abarcando variados aspectos do

combate às drogas. (CASTRO 2011)

Para Castro (2011, p. 55), hoje, o narcotráfico é uma das atividades mais

lucrativas do mundo, possui uma rentabilidade estimada em 3.000% (três mil por

cento) e custos de produção de 0,5% e custos de distribuição de 3% em relação ao

valor final do produto. Um quilo de cocaína está avaliado em U$ 2.000,00 (dois mil

dólares) na Colômbia, U$ 25.000,00 (vinte e cinco mil dólares nos EUA) e U$

40.000,00 (quarenta mil dólares) na Europa. No Brasil, varia de U$ 4.000,00 a U$

6.000,00.

Considerando o poder econômico dos traficantes, o estudioso do assunto

informa que segundo dados da CEPAL- Comissão Econômica para a América Latina

e o Caribe, os lucros com o narcotráfico na Bolívia chegam a US$ 1,5 bilhão,

enquanto os lucros advindos das exportações regulares daquele país são de US$

2,5 bilhões. Na Colômbia o narcotráfico rende de US$ 2 a 4 bilhões, e as

exportações normais geram US$ 5,25 bilhões (p. 62).

Por fim Castro (2011, p. 66) destaca que a história do consumo e comércio

de drogas se confunde com a própria história da humanidade. Há tempos o ser

humano faz uso de substâncias que alteram seu estado psíquico e físico para os

mais variados objetivos, tais como religiosos e, principalmente, relacionados à

obtenção de prazer. Não obstante, o trágico quadro atual - advindo do incremento da

atividade ilícita com as suas conseqüências nefastas, atingiu um nível sem

precedentes.

2.2 O NARCOTRÁFICO NO BRASIL

No dia 09 de fevereiro de 1737, um edital da Câmara de São Paulo proibiu

aos que não fossem médicos, boticários ou cirurgiões, vender em seus

estabelecimentos substâncias venosas como o ópio. Porém, alguns comerciantes

então, alegando que já vendiam a substância há algum tempo, e que a proibição

contrariava o bem comum do comércio, conseguiram fazer com que o Rei Dom João

V revogasse a medida (MAGALHÃES, 2000, p 34).

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E assim, segundo este autor após permissão do comércio de tais

substâncias, no ano de 1910, foi publicado um anúncio na Gazeta Médica de São

Paulo exaltando as virtudes da pastilha de cocaína da marca Midy no combate a

doenças como laringite e tosses nervosas. Do mesmo modo, no ano de 1914, o

jornal “O Estado de São Paulo” publicou uma reportagem sobre filhos de famílias

abastadas daquele estado que estavam exagerando no uso da cocaína, realçando

as consequências negativas desse fato.Ressalte-se que naquela época o uso não

medicinal da cocaína estava restrito aos meios artísticos, intelectuais e

aristocráticos, com pouca penetração nos outros segmentos da sociedade. (p. 36).

E desta forma, o estudioso acima afirma que durante boa parte do século

XX, o uso e comércio de substâncias entorpecentes no Brasil não foi considerado

um problema grave e que merecesse atenção especial das autoridades. De certa

forma, estava limitado a certos setores da sociedade, sem grande abrangência com

relação à grande maioria da população (p. 38).

Mas, segundo Santos (2014, p. 41) nos anos 60 e 70 do século passado,

com a mudança cultural pela qual passou o mundo ocidental, houve o aumento

vertiginoso do consumo de drogas e, no Brasil, não foi diferente. Nos anos 70,

presos políticos condenados por violação à Lei de Segurança Nacional foram

colocados em penitenciárias junto com presos comuns. E nestes ambientes

passaram então a ensinar conceitos relacionados à organização e ao planejamento,

a princípio, como forma de reivindicação de melhorias no sistema penitenciário e

deste relacionamento nasceu dentro dos presídios uma organização criminosa

conhecida por “Falange Vermelha” que, posteriormente, passou a se chamar

“Comando Vermelho”, que hoje, no estado do Rio de Janeiro, domina o comércio

ilícito de drogas e dele retira seus maiores lucros.

Assim, segundo o autor, este tipo de organização criminosa se alastrou pelo

país e suas instituições. Por causa disto, no ano de 1991, o Congresso Nacional

instaurou uma Comissão Parlamentar de Inquérito que ficou conhecida como CPI do

Narcotráfico e teve como objetivo investigar suspeita de envolvimento de políticos

com tal crime. Ao ser encerrada, apesar de não ter resultado na prisão de grandes

traficantes, gerou a cassação de um Deputado Federal do Acre, Jabes Rabelo (p.

43).

O mesmo ocorreu em 1999, onde de acordo (SANTOS, 2014, p. 45) nova

Comissão Parlamentar de Inquérito é instaurada pela Câmara dos Deputados com o

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objetivo de investigar o avanço e a impunidade do narcotráfico. No decorrer das

investigações, foram revelados esquemas empresariais relacionados ao tráfico de

drogas, conexões entre traficantes brasileiros e estrangeiros, bem como o

envolvimento de servidores públicos dos mais diversos escalões.

No que refere a drogas, para Santos (2014, p. 47), o Brasil há algum tempo

era considerado tão somente como país de trânsito de drogas, com um nível

moderado de consumo, mas atualmente, o cenário é bastante diferente. Devido a

localização geográfica, o Brasil faz fronteira com a Colombia (1.644 km); Peru ( .995

km) e Bolívia (3.423 km), países que segundo a ONU (Organização das Nações

Unidas) são grandes produtores de cocaína e responsáveis pela quase totalidade

das 800 toneladas da drogas produzidas todo ano no mundo. Devido à esta posição

estratégica, o Brasil acaba se tornando rota natural do escoamento de parte da

produção daqueles países.

Segundo (Castro, 2011, p. 49), estudiosos classificam o Brasil atualmente

como um país produtor e consumidor de drogas ilícitas. Especialistas já chegaram a

afirmar que o país seria uma emergente superpotência das drogas e que de 70 a

80% das substâncias químicas utilizadas no processo de refino da cocaína seriam

aqui fabricados ou embarcados.

Ainda, no que tange a drogas no Brasil, o autor em questão destaca que

com relação à maconha, há registros de produção da droga em estados do nordeste

brasileiro, principalmente Pernambuco e Bahia. Entretanto, grande parte desse tipo

de droga aqui consumida é oriunda do Paraguai, de onde é encaminhada para o

Brasil principalmente por via terrestre. Mas alerta, que em sintonia com a nova

tendência mundial, o tráfico de ecstasy ganhou grande impulso no país. Droga

difundida principalmente entre jovens usuários das classes média e alta, tal

substância que tem origem principalmente na Holanda é de difícil detecção. Ao

contrário de outras substâncias como a maconha, que exala odor e é volumosa,

enquanto que o ecstasy é do tamanho de um comprimido, sendo, portanto, de fácil

dissimulação. É consumida em festas conhecidas por “raves”, que chegam a durar

alguns dias, Esta droga está se tornando a droga preferida de jovens usuários das

classes média e alta, o que acabou resultando na mudança do perfil do traficante. Ao

contrário dos traficantes de outras drogas, como cocaína e maconha, o traficante de

ecstasy geralmente é do mesmo nível social e cultural do usuário e também

frequentador das mesmas festas (p. 51).

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Segundo Castro (2011, p. 53), em razão dos altos lucros auferidos com o

comércio dos diversos tipos de drogas, nos grandes centros urbanos, o fenômeno do

narcotráfico produziu e continua a produzir efeitos nefastos na sociedade brasileira,

adquirindo poder que o leva a condição de se opor ao Estado, criando uma forma de

governo. em áreas por eles dominadas, como é o caso de algumas favelas do Rio

de Janeiro Para o autor em questão, algumas localidades na cidade principalmente

os morros se transformaram em verdadeiras fortalezas do crime, onde comerciantes

têm de pagar aos marginais para poderem trabalhar e a população, formada em sua

maioria por gente pobre e honesta, tem de se submeter às ordens dos criminosos,

que impõem sua vontade pela força das armas.

Entretanto, este estudioso seria ingenuidade creditar aos traficantes de

morros cariocas o monopólio do tráfico de drogas, bem como considerá-los como os

grandes responsáveis e principais beneficiários dessa atividade ilícita, pois

considerando que o tráfico movimenta um volume de dinheiro equivalente ao lucro

de empresas petrolíferas, os responsáveis por tal negócio são muito mais

organizados e preparados que os marginais semi-analfabetos e violentos que

dominam os morros. Não é por acaso que o crime organizado retira do tráfico de

drogas seus maiores lucros. Mais do que qualquer outro atividade criminosa é o

tráfico que dá às organizações criminosas o capital necessário ao incremento das

suas ações (p. 55).

Em uma matéria publicada no jornal “O Globo”, no dia 13/06/2003, o

jornalista Amauri Mello revelou que policiais italianos da “Guarda Finanziaria”

afirmaram que o Brasil, em pouco tempo, se tornaria o maior fornecedor de cocaína

do mundo pelos seguintes motivos: possuir vasta extensão de fronteiras

desprotegidas; possuir população pobre em áreas da Amazônia e do Centro-Oeste;

reunir uma crescente população da classe média de milhões de pessoas,

consumidores da droga em potencial; possuir legislação migratória não rigorosa; ter

um vasto litoral, de mais de oito mil quilômetros, com muitas ilhas e ilhotas com

grandes fluxos de turismo; possuir uma população miscigenada e a cultura do

consumismo e da obtenção de prazer (MELLO, 2003, p. 58).

Ainda segundo a reportagem, mafiosos italianos estariam objetivando

implementar suas atividades criminosas no Brasil, uma vez que a crescente

repressão a que estavam sendo submetidos na Itália e nos Estados Unidos estaria

prejudicando os negócios. Para tanto, planejaram, em um prazo de dez anos,

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incrementar as seguintes ações: estimular associação com negócios em áreas de

massa populacional carente, como o transporte coletivo o que, além de facilitar e

justificar a movimentação do dinheiro ilícito, estabeleceria relação com os moradores

e a venda de materiais de construção; participar da atividade política através do

Poder Legislativo, a princípio elegendo vereadores e Deputados Federais e, por fim,

estimular o jogo (MELLO, 2003, p. 61).

Sobre esta previsão dos policiais italianos para o Brasil, (MELLO 2003, p.

62) observa que de fato, uma breve análise do que vem ocorrendo no país nos

últimos anos parece indicar que os policiais italianos não estavam exagerando nas

suas previsões. É notório o envolvimento do tráfico e do crime organizado com o

transporte clandestino, o jogo ilegal e os bingos. Recentemente, a mídia divulgou

que uma organização criminosa de São Paulo teria financiado a campanha de um

candidato a deputado federal. Para este autor, segundo dados da Polícia

Internacional-INTERPOL e da Polícia Federal-PF, estima-se que atuam no Brasil

quatro facções da máfia italiana, a “Camorra Napolitana”, a “N’draghatte Calabresa”,

a “Cosa Nostra” e a “Sacra Corona Unita”, estas duas últimas sicilianas.

No tocante a este assunto, segundo a Secretaria Nacional de Segurança

Pública - SENASP, com base em dados oriundos dos registros das Polícias Civis, os

delitos envolvendo drogas cresceram nos últimos anos. Em 2008, foram 80.764

registros para 100.000 habitantes. Em 2009 foram 83.851 registros e em 2010 foram

90.859 registros (SENASP, 2009).

Com base nestas informações, pode-se afirmar que o tráfico de drogas

prosperou muito no Brasil nos últimos anos. A Polícia Federal estima que cerca de

150.000 pessoas estão envolvidas direta ou indiretamente com o tráfico interno de

drogas. Do mesmo modo, a Polícia do Rio de Janeiro, por sua vez, estima em

100.000 o número de pessoas envolvidas com o tráfico de drogas no estado

(QUAGLIA 2014, p. 45).

Hoje, o problema relacionado ao narcotráfico no mundo, e em especial no

Brasil, ganhou contornos de problema de Estado e há tempos o uso de drogas

ilícitas deixou de ser um simples caso de polícia e de saúde pública, atingindo novos

patamares, onde o narcotráfico passou a ser uma ameaça à existência do próprio

Estado (QUAGLIA, 2014, p. 47).

2.3 O NARCOTRÁFICO E CRIME ORGANIZADO

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Ainda não tinha sido definido na legislação pátria o que vinha a ser crime

organizado, bem como organização criminosa. A Lei nº 9.034/95, não obstante

relacionava os meios operacionais para a prevenção e repressão às ações

praticadas por organizações criminosas ficou conhecida como Lei de Combate ao

Crime Organizado, não conceituava o que seria e nem o que caracterizaria tal tipo

de organização. Atualmente foi definido o que é organização criminosa com o

advento da a Lei 12850 de 12 agosto de 2013 e dispõe sobre a investigação

criminal, os meios de obtenção de prova, infrações penais correlatas e o

procedimento criminal.

No parágrafo primeiro do artigo primeiro da Lei acima descrita, temos a

definição de organização criminosa como:

“a associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com o objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional (SENASP, 2011, p. 23).

O novo conceito de crime organizado abrange:

a) a quadrilha ou bando (art. 288), que claramente (com a Lei 10.217/01)

recebeu o rótulo de crime organizado, embora seja fenômeno completamente

distinto do verdadeiro crime organizado;

b) as associações criminosas já tipificadas no nosso ordenamento jurídico (art.

35 da Lei de Tóxicos de numeral 11343.06) assim como todas as que

porventura vierem a sê-lo e;

c) todos os ilícitos delas decorrentes ("delas" significa: da quadrilha ou bando

assim como das associações criminosas definidas em lei);

d) a "organização criminosa", que faltava definição legal;

e) o concurso de pessoas (os requisitos da estabilidade e permanência levam à

conclusão de que associação criminosa ou quadrilha ou bando jamais podem

ser confundidos com o mero concurso de pessoas (que é sempre eventual e

momentâneo)."

Quanto ao surgimento das primeiras organizações criminosas, segundo

Gomes (2009, p. 25 ), historiadores apontam que surgiram no ano de 1644, na

China, e ficaram conhecidas como as “Tríades Chinesas”. Inicialmente foram

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concebidas nos movimentos populares que visavam à expulsão de invasores, mas

acabou se envolvendo posteriormente com o comércio ilícito da heroína e possuíam

como símbolo um triângulo cujos vértices significavam as principais forças do

universo: céu, terra e homem. Também dizem que no Japão feudal do século XVII

surgiu a organização criminosa denominada “Yakusa”, que tinha como objetivo

explorar atividades lícitas como casas noturnas, teatros e cinemas e ilícitas como

cassinos, tráfico de drogas e turismo sexual.

Porém, segundo o mesmo autor, o termo máfia surgiu na Itália na época

medieval e seus membros eram lavradores arrendatários de terras dos senhores

feudais. A máfia mais famosa daquele país é a “Cosa Nostra”, de origem siciliana.

Da Itália, esta expandiu-se para outros países, como os Estados Unidos, onde

desenvolveram atividades ilícitas relacionadas ao contrabando, extorsão e

corrupção.

Com relação ao Brasil, pode-se dizer que o crime organizado surgiu no início

do século XX, com o chamado “jogo do bicho” entre os anos de 1950 e 1980,

principalmente na cidade do Rio de Janeiro, onde a atividade foi bastante difundida.

Nesta cidade, os contraventores gozavam de certa liberdade de atuação e acabaram

por popularizar o jogo, que não era visto como prejudicial à sociedade. E assim, a

atividade desenvolveu-se e os chefes da contravenção, organizados, acabaram se

envolvendo com outras atividades criminosas, como o narcotráfico e a corrupção

(MARTINS, 2006, p. 27).

Assim, segundo Silva (2014, p. 27) nos últimos anos, o poder paralelo dos

bicheiros cresceu sobremaneira, aumentando o seu nível de influência nos

organismos estatais, bem como sua capacidade de intimidação. Além do “jogo do

bicho”, passaram a explorar também máquinas caça-níqueis e bingos.

Esta prática estava tão enraizada na sociedade, que “Operação Hurricane”

deflagrada pela Polícia Federal, mostrou que uma quadrilha mantinha estreitas

relações com membros do Judiciário e do Ministério Público, em uma simbiose de

causar espanto (SILVA, 2014, p. 31).

Este autor ainda destaca apesar de opiniões contrárias, que as principais

organizações criminosas do Brasil são o “Comando Vermelho-CV” e o “Primeiro

Comando da Capital-PCC” Para o autor acima citado, o Comando Vermelho surgiu

no sistema penitenciário do Rio de Janeiro entre os anos de 1969 e 1975,

inicialmente chamada de Falange Vermelha, a organização tinha como objetivo

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34

inicial reivindicar melhores condições para os presos. Para estas organizações

surgiram da união,ajuntamentos de presos comuns com presos políticos, nos

presídios da Ilha Grande e da Ilha do Diabo, no Rio de Janeiro, quando os presos

comuns foram instruídos pelos políticos com lições relacionadas à organização,

disciplina e companheirismo, bem como modo de atuação das guerrilhas

revolucionárias.

2.4 O NARCOTRÁFICO E LAVAGEM DE DINHEIRO

A atividade ilícita relacionada à ocultação de valores e bens, segundo alguns

historiadores, teria surgido na China, há cerca de 3.000 anos. Naquela época,

comerciantes se utilizavam de técnicas visando ocultar lucros e, com isso, proteger o

patrimônio face à atuação dos governantes da época (VIVIANI, 2014, p. 44 ).

Para a autora, o termo “lavagem de dinheiro” teria surgido na década de

1920, nos Estados Unidos, época na qual começou a atuar naquele país

organizações criminosas mafiosas que exploravam atividades ilícitas, como o

contrabando de bebidas e jogos ilegais. Neste país era grande o número de

imigrantes de origem asiática, os quais abriram inúmeras lavanderias e tinturarias,

estas empresas, pelo fato de movimentarem rapidamente muito dinheiro, foram

utilizadas pelos mafiosos para dissimular a origem dos recursos obtidos na atividade

criminosa, os quais eram misturados com o capital legalmente ganho nas

lavanderias e tinturarias. Assim, na década de 1960, com o avanço do narcotráfico e

o consequente aumento dos lucros obtidos pelas organizações criminosas, as

técnicas relacionadas à lavagem de dinheiro foram aprimoradas, inicialmente no

continente americano e, em seguida, nos demais continentes, onde segundo a

autora movimenta quantidade vultosa de dinheiro em espécie. E em razão da

quantia de valores movimentados pelas organizações, o sistema bancário foi então

largamente utilizado nos Estados Unidos para inserção dos valores obtidos com a

atividade criminosa, o que levou o país a criar a Lei do Sigilo Bancário em 1970.

Para Viviani (2014, p 47), em razão da Lei de Sigilo Bancário, todos os

bancos e instituições bancárias dos Estados Unidos passaram a serem obrigados a

informar ao governo federal qualquer movimentação em dinheiro acima de U$

10.000,00 (dez mil dólares), mas, somente em 1986, a lavagem de dinheiro passou

a ser tipificada como crime naquele país.

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35

Mas em 1988, segundo autora, a Convenção de Viena, intitulada Convenção

das Nações Unidas Contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias

Psicotrópicas lançou as bases da política internacional de combate à lavagem de

dinheiro. Esta convenção enfatizou o caráter lucrativo do narcotráfico, ressaltando

que os grandes traficantes auferiam lucros imensos, bem como possuíam fortunas

consideráveis, haja vista que, quando houve uma expansão da atividade ilícita, os

estados não estavam aparelhados legalmente para enfrentar a ocultação dos valores

auferidos com o tráfico (p. 51).

E após o atentado terrorista contra os Estados Unidos, em setembro de

2001 isto segundo a mesma autora, o FATF -Financial Action Task Force, criado

pelo G7 no ano de 1989 para examinar medidas e desenvolver políticas para o

combate à lavagem de dinheiro, editou oito recomendações especiais sobre o

combate ao terrorismo, ressaltando aspectos relacionados à lavagem de dinheiro (p.

55).

Já em se tratando deste problema no Brasil, a autora observa-se que este

país aderiu à Convenção de Viena em 1991, mas somente no ano de 1998, que

aprovou a Lei nº 9.613/98, que posteriormente foi alterada pela Lei nº 10.467, de

2002 e depois pela Lei n 12.683 de 2012, leis estas que definiram a conduta típica

relacionada ao crime de lavagem de dinheiro como a atitude de “ocultar ou

dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou

propriedade de bens ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração

penal”. Não obstante, a Lei estabeleceu que o crime de lavagem é independente e

autônomo, ou seja, não está vinculado ao processo e julgamento dos crimes

praticados anteriormente (VIVIANI, 2014, p. 58).

De acordo com esta autora, o processo envolvendo a lavagem de dinheiro é

composto de três etapas: colocação, circulação ou estratificação e integração. Tais

etapas podem ocorrer simultaneamente e o processo será bem sucedido se não

deixar vestígio entre as etapas. A primeira etapa consiste na remoção dos recursos

oriundos de atividades ilícitas, como, por exemplo, envio dos mesmos para o

exterior. Nesta etapa o objetivo é dificultar o alcance dos órgãos encarregados da

fiscalização. Na segunda etapa, a fim de desvinculá-los de sua real origem, os

recursos ilícitos são movimentados por instituições financeiras através de

transferências bancárias complexas como, por exemplo, exportações fictícias. Na

última etapa, tais recursos são utilizados em atividades financeiras ligadas

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diretamente aos criminosos e que, apesar de terem aparência de legais são, na

verdade, criadas tão somente para tal finalidade (p. 61).

Segundo a autora acima mencionada, a Lei nº 9.613/98 também criou o

COAF- Conselho de Controle de Atividades Financeiras, ligado ao Ministério da

Fazenda e com sede em Brasília, tem por finalidade disciplinar, aplicar penas

administrativas, receber, examinar e identificar ocorrências suspeitas de atividades

ilícitas relacionadas à lavagem de dinheiro. Porém é fato que o crime de lavagem de

dinheiro está diretamente relacionado ao narcotráfico e ao crime organizado. O

grande volume de dinheiro obtido pelos traficantes com a venda de drogas, quase

sempre em espécie, precisa ser legalizado pelos criminosos. Nos últimos anos, o

narcotráfico desenvolveu-se muito e o lucro dos criminosos, em consequência,

aumentou de forma considerável (p. 64).

E para esta estudiosa, o combate eficaz à lavagem de dinheiro é de

fundamental importância para a repressão ao narcotráfico, assim como a

recuperação dos bens adquiridos com o dinheiro advindo dessa atividade criminosa

e neste contexto, o uso da atividade de inteligência, torna-se imprescindível e

extremamente necessário face às peculiaridades e complexidade da atividade

criminosa relacionado ao tráfico e à lavagem de dinheiro (p. 65).

2.5 A LEGISLAÇÃO E O NARCOTRÁFICO

A História relata que a primeira legislação criminal relacionada às drogas no

Brasil surgiu no século XVII. No Livro V das Ordenações Filipinas, existia a proibição

do comércio de substâncias tóxicas como o ópio. Aquele que guardasse em casa

tais substâncias poderia perder a fazenda ou ser enviado para a África (CASTRO,

2011, p. 37).

E segundo o estudioso acima, em se tratando de legislação brasileira que

tratava da temática drogas, o Código Penal do Império de 1830 não fez referência às

drogas e somente com a Proclamação da República e a aprovação o advento do

Código Penal de 1890, que a conduta de expor a venda ou ministrar substâncias

venenosas sem legítima autorização e sem as formalidades previstas nos

regulamentos sanitários. foi tipificada. Este delito era o chamado como o Delito do

Boticário (p. 39).

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No entanto, de acordo com o autor acima, no dia 25 de novembro de 1938,

entrou em vigor em todo o Brasil o Decreto-Lei nº 891/38, aprovado pelo então

Presidente da República Getúlio Vargas, conhecido como Lei de Fiscalização de

Entorpecentes, teve como objetivo dotar o país de uma legislação capaz de regular

eficientemente a fiscalização de entorpecentes, bem como adequá-la às recentes

convenções sobre o tema. De acordo com o decreto, foram proibidos o uso e

comércio no território nacional de várias substâncias, tais como cocaína, maconha,

heroína e ópio (p. 43).

Esta lei foi posteriormente incorporada ao Código Penal Brasileiro através do

Decreto-Lei nº 2.848, de 07 de dezembro de 1940, que instituiu o Código Penal. No

capítulo III do diploma legal estavam relacionados os crimes contra a saúde pública,

bem como descrevia os delitos envolvendo o comércio e uso de entorpecentes como

encontramos estabelecido no caput de artigo 281 do Código Penal:

“Importar ou exportar, vender ou expor à venda, fornecer, ainda que a título gratuito, transportar, trazer consigo, ter em depósito, guardar, ministrar ou, de qualquer maneira, entregar a consumo substância entorpecente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar. A pena prevista era de um a cinco anos de reclusão e multa (CASTRO, 2011, p. 46).

Esta abordagem estava ainda muito incompleta e de acordo com o

comentário do autor Castro, a pena de plantar para comercializar, ´não estava

tipificada

No entendimento de Castro (2011, p. 49), este artigo acima mencionado

possuía uma pena muito branda, com os benefícios de progressão de pena. Os

autuados em flagrante por este delito, logo saíam em liberdade provisória e se

condenados já conseguiam algum benefício, e aqueles que plantavam a droga não

eram penalizados, No entanto, em 1964 a Lei nº 4.451 do então governo Castello

Branco, alterou a redação do artigo 281 do Código Penal, acrescentando mais um

verbo núcleo ao tipo penal, tornando também típica a conduta de plantar substância

proibida, o que ainda não era previsto como crime. E em 1968, nova alteração foi

imprimida ao artigo referido artigo 281, esta através do Decreto-Lei nº 385 que

sistematizou-o de maneira mais organizada as diversas condutas típicas

relacionadas ao consumo e comércio de drogas e cultivo de plantas destinadas à

preparação de entorpecentes. E também em 1971, a Lei nº 5.726 trouxe alteração

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na pena para o tráfico, que passou de um ano a cinco anos de reclusão para um a

seis anos.

E ainda em se tratando da tipificação dos crimes relacionados a drogas, o

autor destaca que em 1976 entrou em vigor a Lei nº 6.368, que dispôs sobre

medidas de prevenção e repressão ao tráfico ilícito e uso indevido de substâncias

entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica, e revogou por

completo o artigo 281 e todas as suas alterações. Este diploma legal, composto de

quarenta e sete artigos, demonstrou a preocupação do Estado com o problema

relacionado ao tráfico e consumo de entorpecentes. Houve um aumento sensível na

pena prevista para o tráfico, que de um ano e seis meses de reclusão passou a ser

de três a quinze anos. Esta lei permaneceu em vigor até o ano de 2006 quando,

após intensos debates no Congresso Nacional, foi promulgada a Lei nº 11.343,

contendo setenta e cinco artigos (p. 54).

Considerando esta lei Castro (2011, p. 56) observa-se uma preocupação

com relação à reinserção do usuário de drogas no contexto social e a criação do

Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas-SISNAD, cuja finalidade,

segundo o Decreto nº 5.912 de 2006 é articular, integrar, organizar e coordenar as

atividades relacionadas a prevenção ao uso e a repressão ao tráfico de drogas. Essa

preocupação com o usuário revelou-se também na redução de sua punição, o qual

não mais está sujeito a pena de prisão. E com esta preocupação, o artigo 28 desta

lei estabelece que o usuário será submetido tão somente à pena de advertência,

prestação de serviços à comunidade ou medida educativa de comparecimento a

programa ou curso educativo. Mesmo que descumpra, na fase de execução da

pena, qualquer uma das medidas impostas, o usuário não poderá ser preso. Mas por

outro lado, a pena mínima para o crime de tráfico de drogas foi aumentada de três

para cinco anos de reclusão, enquanto que a Lei 6.368/76 previa pena de um a dois

anos de detenção e multa para o usuário de drogas.

2.6 A INTELIGÊNCIA E O NARCOTRÁFICO, A SITUAÇÃO ATUAL

O Brasil já foi considerado um país de trânsito de drogas. Hoje, a realidade é

outra. Além do território brasileiro ser usado como rota do tráfico internacional, há

também produção de maconha e o mercado consumidor é cada vez maior

(MARTINS, 2006, p. 32).

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De acordo com o autor acima, a fim de combater o narcotráfico e o crime

organizado, o Estado brasileiro, nos mais diversos níveis da organização

administrativa, possui órgãos que, isolados ou em conjunto, direta ou indiretamente,

atuam na repressão e prevenção de tais delitos (p. 36).

A este respeito, o estudioso destaca que a Constituição Brasileira de 1988,

em seu artigo 144, atribuiu às Polícias Civis a função de investigar as infrações

penais, exceto as militares e, à Polícia Federal a função de, entre outras, prevenir e

reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins (p. 39)..

No âmbito da Polícia Federal, é notória a utilização da inteligência policial no

combate ao narcotráfico. As várias operações da instituição nessa área

demonstraram efetivamente o sucesso das medidas adotadas (MARTINS, 2006, p.

41).

Já a Agência Brasileira de Inteligência-ABIN produz conhecimento acerca do

narcotráfico no Brasil, bem como sobre a atuação do crime organizado, como em

relação a problemas que envolvem a segurança do Estado (BRASIL, 2013, p.19).

Em se tratando da Secretaria Nacional de Segurança Pública-SENASP,

como órgão central do Sistema de Inteligência de Segurança Pública – SISP, esta

criou no ano de 2007 uma doutrina única de inteligência policial, o que contribuiu

para o aperfeiçoamento do uso da atividade por parte das polícias no combate ao

crime organizado e em especial ao narcotráfico. Atualmente essa Doutrina esta

sendo remodelada para melhor servir de parâmetro aos órgãos de inteligência

(SENASP, 2011, p. 17).

Com relação às Forças Armadas, também há preocupação dos respectivos

centros de inteligência com relação ao crime organizado e ao narcotráfico, e

consequentemente, tais órgãos também produzem conhecimento sobre o assunto

(ESG, 2010, p. 63 ).

Desse modo, (CEPIK, 2009, p. 44) observa-se que os vários órgãos de

inteligência das mais diversas instituições no país atuam no problema relacionado ao

narcotráfico de uma forma ou outra. Não obstante, a troca de informações entre eles

está se aperfeiçoando, para que haja uma maior eficiência no combate ao delito

acima mencionado.

Para este estudioso (CEPIK, 2009, p. 48), a experiência tem demonstrado

que o papel exercido pela inteligência no âmbito policial é de importância ímpar. O

sucesso demonstrado nas operações realizadas comprova esse fato. O que deve

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40

ser discutido são as maneiras através das quais pode-se ampliar essa utilização e

com qual frequência.

Para Magalhães (2000, p. 51) investir em inteligência é dispendioso. Os

criminosos, face aos grandes recursos que possuem, têm acesso rápido a

armamentos e tecnologia de ponta. O Estado não pode ficar atrás neste aspecto,

devendo, do mesmo modo, investir para dotar os órgãos encarregados de enfrentar

os traficantes com equipamentos modernos e eficientes.

A este respeito (GOMES, 2009, p. 54) observa que capacitar um profissional

de inteligência demanda tempo e investimento. A difícil tarefa de exercer tal

atividade não pode ser entregue a amadores e profissionais despreparados.

Programas que implementem capacitação e treinamentos de agentes de inteligência

devem ser constantes e abrangentes.Para o autor acima, estão sendo criadas

estruturas administrativas especializadas de inteligência e de repressão ao

narcotráfico dentro dos organismos policiais em todo o país, a exemplo do que

ocorre no Departamento de Polícia Federal, propiciará uma maior efetividade na

repressão a tal crime. Mas destaca que sem o enfrentamento em outras frentes, a

inteligência, sozinha, não resolverá o complexo problema que envolve o narcotráfico.

Outras medidas, em outras áreas, devem ser adotadas.

Ainda considerando o problema das drogas e do narcotráfico, Gomes (2009,

p. 57 ), observa que no campo da educação, há necessidade de uma política voltada

para a conscientização dos jovens acerca das consequências advindas do uso de

drogas. E neste sentido ressalta a importância do papel da mídia que, apesar de não

possuir tal obrigação, mas por questão de responsabilidade face o grave quadro

atual, deveria utilizar seu poder de convencimento no sentido de promover

campanhas contra as drogas, bem como evitar a glamourização do tema.

No que refere a questão de combater ao problema drogas, Castro (2011, p.

42) destaca que com relação ao narcotráfico, a Lei Complementar nº 117, de

setembro de 2004, deu poderes às forças armadas de atuarem na repressão e

prevenção ao crime na faixa de fronteira, podendo efetuar patrulhamento e revistas

de pessoas, carros e embarcações. E com a Lei do Tiro de Destruição nº 9.614/98 -,

houve uma diminuição no número de voos clandestinos, porém forma de repressão

redirecionou a prática destes crimes pelas vias terrestres.

Para Gomes (2009, p. 59) outro problema enfrentado é a questão da

liberalidade das adotada em alguns países da Europa que não resolveu o problema

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e, em alguns casos, está sendo revista. A Holanda, país conhecido por sua

tolerância em relação ao tema, há pouco tempo reduziu a quantidade de droga

passível de se consumida nos cafés de cinco para três gramas. Nova medida

restritiva foi adotada com a proibição da venda de drogas em cafés que se localizam

próximos as escolas.

Em relação a esta postura, o mesmo estudioso também cita como exemplo o

caso da Suíça, onde a experiência de se permitir que alguns parques fossem

livremente utilizados para consumo de drogas teve que ser revista, pois ao invés de

resolver o problema dos viciados, acabou criando vários outros, como o aumento

sensível no número de crimes ocorridos nas adjacências daqueles lugares (p. 62).

No Brasil, segundo Castro (2011, p. 64), de acordo com o que está previsto

na Lei nº 11.343/06, percebe-se que o País também está adotando uma política

liberalizante, apesar de ter aumentado um pouco a pena mínima para o tráfico,

deixou de apenar o usuário com pena de prisão. Na verdade, desde a aprovação da

Lei nº 9.099/95, que instituiu os Juizados Especiais Criminais, a manutenção de um

usuário de drogas na condição de prisão tornou-se algo difícil e com a aprovação

desta nova lei de drogas, esta possibilidade tornou-se quase que impossível.

A este respeito, este estudioso destaca que ainda não se sabe se a medida

liberalizante adotada no Brasil com relação ao usuário trará algum benefício à

sociedade. E complementa que enquanto houver demanda, haverá tráfico e que os

traficantes forem presos ou mortos estes são facilmente substituídos por outros e o

comércio ilícito, face à grande concorrência entre os criminosos, aos grandes lucros

auferidos e à necessidade de abastecer os consumidores, não param. Com isto,

têm-se que o narcotráfico e o crime organizado há muito deixaram de ser um

problema eminentemente policial para se tornarem um problema de Estado e, como

tal, deve ser entendido e enfrentado (p. 67).

2.7 A EFICÁCIA DA INTELIGÊNCIA NO COMBATE AO NARCOTRÁFICO

Com a aprovação da Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança

Pública-DNISP, no ano de 2007, vários policiais foram especializados para utilizarem

das técnicas operacionais de inteligência no combate ao narcotráfico. As ações de

inteligência, como de coleta e de busca, são feitas para identificar alvos, os quais no

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caso do narcotráfico são suspeitos de comercializarem ou possuírem substâncias

entorpecentes (DNISP,2007, p. 22 ).

As ações de coleta são realizadas em dados disponíveis em fontes abertas,

sejam elas originadas ou disponibilizadas por indivíduos e órgãos públicos ou

privados. Por originadas ou disponibilizadas entende-se o fato de o conhecimento ou

dado serem de livre acesso a quem procura obtê-los (PF MANUAL, 2009).

Já as ações de busca são todos os procedimentos realizados pelo setor de

operações de uma agência de inteligência com a finalidade de reunir dados

protegidos ou negados. No caso do narcotráfico, o “dado negado” seria a autoria do

delito, o local e a materialidade do delito, ou seja, a droga (DNISP,2007, p. 23).

Em se tratando de ações de busca, de acordo.com o Manual PF, p. 26, após

receber as denúncias do Centro Integrado de Operações de Segurança Pública, é

feito com isso um trabalho de coleta de dados. Após este procedimento, este dado é

“trabalhado pelo profissional de inteligência”. É a fase intelectual em que o analista

percorre quatro etapas, não necessariamente de forma cronológica, a saber:

avaliação, análise, integração e interpretação.

Para (DNISP, 2007, p. 27) neste processo de análise, várias técnicas de

operações de inteligência são postas em prática, sendo elas: a OMD (observação-

memorização-descrição), fotografia, vigilância, reconhecimento, infiltração e

entrevista, são amplamente utilizadas.

Concomitante a utilização de técnicas de operações de inteligência, a

ferramenta da interceptação telefônica (autorizadas judicialmente) às vezes é

utilizada, como busca do dado negado. Assim, a medida que forem surgindo os

informes das operações, o analista determina às ações que precisam realizar, como

vigilância de pessoas e coisas, reconhecimento de local, fotografia, e até em alguns

casos a própria prisão, pois não há um ordem cronológica a qual foi dita acima (PF

MANUAL 2009, p. 44).

De acordo com a (DNISP, 2007, p. 46), o uso da atividade de inteligência

nas investigações criminais no âmbito da Polícia Judiciária Civil do Mato Grosso

tornou-se imperiosa e teve êxito nas operações baseadas na Doutrina Nacional de

Inteligência de Segurança Pública utilizadas pela Secretaria Adjunta de Inteligência.

A prática tem demonstrado que as mudanças trouxeram grandes benefícios à

sociedade do Mato Grosso, tanto na prevenção quanto na repressão aos crimes, a

inteligência tem desempenhado um papel de destaque.

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43

Concomitante a estes procedimentos acima, verificamos este informe com a

Coordenadoria de Estatística e Análise Criminal-CEAC, da Secretaria Adjunta de

Inteligência-SAI, para que verifiquemos as estatísticas do Bairro Pedregal, cujo

espaço urbano é a área de estudo desta pesquisa (local é o nosso principal alvo.)

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3 DOS REGISTROS DOS CRIMES DE DROGAS, EM CUIABÁ

Tendo como objetivo geral a análise comparativa juntamente com as

denúncias que chegam, procurou assim, em um primeiro momento apresentar o que

é o Município de Cuiabá-MT em termos de registros de Crimes de Drogas,

mostrando através de gráficos e quadros o número de registros no período

analisado, o tempo de ocorrência (mês, dia da semana, período do dia) e o espaço

da ocorrência (tipo de local e local de ocorrência). Tem-se que com estas variáveis é

possível saber quais meses do ano, dia da semana e período do dia que mais se

pratica o tipo de crime e assim, com as variáveis tipo de local e local de ocorrência,

os locais onde se concentra as ocorrência do crime estudado.

Em um segundo momento, apresenta-se os casos de atuação dos serviços

de Inteligência desta Capital no combate as atividades ilícitas de narcotraficantes no

Bairro Pedregal, nesta Capital (Operação Mordaça), como também o caso de

atuação da Secretaria Adjunta, da SESP-MT, contra a prática de comércio de drogas

no Presídio Central da Capital.

3.1 AS PECULIARIDADES DOS REGISTROS DE CRIMES DE DROGAS EM

CUIABÁ

Esta seção traz informações sobre os registros de Crimes de Drogas em

Cuiabá-MT no período de janeiro à dezembro de 2012 e 2013. Com o propósito de

demonstrar a gravidade do problema deste evento neste Município, comparamos os

registros de ambos os períodos, com destaque para as variáveis relacionadas ao

número de registros de crimes de drogas, mês do ano, dia da semana da ocorrência,

período do dia da ocorrência, tipo de local de ocorrência e local de ocorrência

(bairros), com maiores incidência de registros.

Assim, o Gráfico 01 abaixo disposto, apresenta os registros de ocorrências

envolvendo Crimes de Drogas em Cuiabá-MT, no ano 2013, comparados com os

registros anos de 2012.

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Fonte: Sistema de Registros de Ocorrências Policiais-SROP/SESP-MT, 2014.

Gráfico 1: Distribuição dos Registros de Ocorrências de Crimes de Drogas em Cuiabá-MT, por Anos de Ocorrência, nos Anos de 2012 e 2013

Considerando o Gráfico 01 acima, observa-se em números absolutos a

considerável preponderância do ano 2012 em relação 2013, isto em termos de

registros de Crimes de Drogas. Observa-se neste gráfico observa-se redução de

38,3% nos registros em relação ao mesmo período de 2012, com 1634 registros a

menos.

Já o Gráfico 02, abaixo, apresenta uma distribuição mensal dos registros dos

Crimes de Drogas em Cuiabá-MT, nos anos de 2013 e 2013.

Fonte: Sistema de Registros de Ocorrências Policiais-SROP/SESP-MT, 2014.

Gráfico 2: Distribuição dos Registros de Ocorrências de Crimes de Drogas em Cuiabá-MT, por Mês do Ano, nos Anos de 2012 e 2013

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Considerando o gráfico acima, constata-se um considerável destaque do

ano 2012 em relação ao ano 2013, em termos de registros de ocorrência do tipo de

crime estudado.

Nos meses de julho e maio de 2012 há uma maior incidência de drogas em

Cuiabá, sendo que no ano de 2013os meses de maior incidência foram os meses de

janeiro e março.

O Gráfico 03, abaixo, apresenta uma distribuição dos registros de Crimes de

Drogas, por Dia da Semana em Cuiabá-MT, nos anos de 2013 e 2013.

Fonte: Sistema de Registros de Ocorrências Policiais-SROP/SESP-MT, 2014.

Gráfico 3: Distribuição dos Registros de Ocorrências de Crimes de Drogas em

Cuiabá-MT, por Dia da Semana, nos Anos de 2012 e 2013

Os dias da semana com maior incidência no ano de 2012 foram os dias

quinta-feira e sexta feira, enquanto que para o ano 2013, os registros do tipo de

crime concentrou-se nos dias de sextas-feiras e sábados. Assim, é fato considerar

que em ambos os anos desta pesquisa os registros deste tipo de ocorrências

ocorreram especialmente nos finais de semana. É necessário que verifiquem se este

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aumento dos registros nos finais de semana é resultante da concentração de

operações policiais, ou é resultado de um hábito, onde as pessoas tendem a

consumir, portar e traficar mais nos finais de semana e consequentemente, mais

drogas são apreendidas neste período em questão.

O Gráfico 04, abaixo, apresenta a distribuição dos registros de Crimes de

Drogas, por Faixa Horário em Cuiabá-MT, nos anos de 2013 e 2013.

Fonte: Sistema de Registros de Ocorrências Policiais-SROP/SESP-MT, 2014.

Gráfico 4: Distribuição dos Registros de Ocorrências de Crimes de Drogas em

Cuiabá-MT, por Faixa Horária, nos Anos de 2012 e 2013

Considerando o gráfico acima, observa-se que no ano de 2012, a faixa

horário que mais houve registros dos tipos de delitos foram as faixas compreendidas

das 18h as 00 h e da 12h as 18h; sendo que no ano de 2013 ocorreram das 12h as

18h e das 00h as 06 h. No geral, constata-se que os registros deste delitos

concentrou especialmente a partir do período vespertino, com considerável aumento

no início do período noturno.

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Abaixo o Quadro 01 apresenta os tipos de locais de ocorrências com

maiores incidências de registros de ocorrências de Crimes de Drogas em Cuiabá-

MT, nos anos de 2012 e 2013.

Tipo de local de Ocorrência

Registros de Ocorrências de Drogas por Ano Média

2012 2013

Via Pública 2782 1770 2276,0

Residência Particular 947 480 713,5

Estabelecimento Comercial 223 125 174,0

Praça Pública 80 82 81,0

Penitenciária/Reformatório 83 78 80,5

Praça Esportiva 12 16 14,0

Escola/Universidade Pública 17 8 12,5

Edifício Público 15 5 10,0

Rio 6 5 5,5

Comércio Livre 5 4 4,5

Habitação Coletiva 10 4 7,0

Outros tipos de locais 88 57 72,5

Total 4268 2634 3451,0 Fonte: Sistema de Registros de Ocorrências Policiais-SROP/SESP-MT, 2014. Quadro 1: Distribuição Anual dos Registros de Ocorrências de Crimes de Drogas em Cuiabá-MT, nos Anos de 2012 e 2013, segundo o Tipo de Local de Ocorrência

Analisando o quadro acima, observa-se que os registros de crimes de

drogas em Cuiabá-MT, obedeceram um mesmo padrão, tanto para o ano de 2012,

como para o ano 2013, variando apenas no número de ocorrência por ambiente.

Assim, com base no quadro acima, tem-se que o tipo de crime estudado,

tem como ambiente propício a manifestação, as vias públicas, residências

particulares, estabelecimentos comerciais e assim por diante, conforme mostra o

quadro em referência.

Abaixo o Quadro 02 apresenta os bairros com maiores incidências de

registros de ocorrências de Crimes de Drogas em Cuiabá-MT, nos anos de 2012 e

2013.

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Local de Ocorrência (Bairros) Registros de Ocorrências de Drogas por Ano

Média 2012 2013

Pedregal 276 128 202,0

Morada da Serra 255 221 238,0

Pedra Noventa 198 128 163,0

Jardim Leblon 136 75 105,5

Centro Norte 110 97 103,5

Tijucal 109 52 80,5

Planalto 107 62 84,5

Altos da Serra 101 45 73,0

Três Barras 101 0 50,5

Jardim Industriário 93 46 69,5

Demais bairros 2782 1780 2281,0

Total 4268 2634 3451,0

Fonte: Sistema de Registros de Ocorrências Policiais-SROP/SESP-MT, 2014. Quadro 2: Distribuição Anual dos Registros de Ocorrências de Crimes de Drogas

em Cuiabá-MT, nos Anos de 2012 e 2013, segundo o Local de Ocorrência

Considerando o quadro acima, constata-se o tipo de crime apresentou tanto

para o ano 2012, como o ano 2013, uma concentração espacial bem característica,

pois dos dez bairros com maior número de registros do tipo de crime nos bairros,

apenas o bairro Três Barras não apresentou registro no ano 2013. Fato interessante

neste caso é o bairro Pedregal, área de estudo, destacou-se em termos de registros

do tipo de crime, ocupando o primeiro e segundo lugar no ranking dos bairros com

registros deste tipo de crime, demonstrando que este bairro pode figurar como uma

potencial área para a prática de crimes de drogas.

3.2 O EMPREGO DA INTELIGÊNCIA NO COMBATE AO NARCOTRÁFICO

3.2.1 Primeiro caso (Operação Mordaça)

Este primeiro caso relata descreve os “modus operandis” de quadrilha de

narcotraficantes, os quais pretendiam estender suas práticas criminosas para outras

Unidades da Federação. A operação Iniciou-se com uma denúncia que no Bairro

Pedregal, onde o indivíduo Jumar dos Santos Morais estaria vendendo drogas.

Assim, preliminarmente, os serviços de inteligência utilizou a ferramenta da

interceptação, onde concomitante a este procedimento, o analista determinou

operações de inteligência para detectar e identificar os parceiros do traficante

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denunciado e com isto, deu-se início Operação Mordaça, que redundou na prisão de

quinze traficantes.

Em se tratando da Operação em si, seu desenrolar, sua execução, é fato

que a mesma teve por finalidade desarticular um grupo de pessoas que adquiriam,

negociavam, guardavam, preparavam, difundiam e desejavam estabelecer

abastecimentos de drogas em nosso Estado com difusão para outras Regiões da

Federação. Estes envolvidos desenvolveram uma estrutura de autocolaboração,

como se evidencia na descrição das atividades executadas no decorrer da operação,

onde tais laços colaborativos se sustentavam através de três líderes, sendo eles:

ERISVALDO GUIMARÃES OLIVEIRA vulgo “BOQUINHA”; JUMAR SANTOS

MORAIS e WALDEIL SANTOS DA SILVA vulgo DEDÉ, como podemos constatar

nos relatos abaixo transcritos.

3.2.1.1 Dos alvos da operação

3.2.1.1.1 Grupo 01

ERISVALDO vulgo “BOQUINHA” estava recolhido ao Centro de Ressocialização

Carumbé-CRC, encaminhado ao albergue RG: xxxx e CPF: xxxxxx, Nascido em:

XXXXXX Filiação: XXXXXXX;

Atividade;

Líder que se articula com DEDÉ e JUMAR nesse sistema de colaboração

para o tráfico de drogas, no início da Operação, estava recolhido ao

Centro de Ressocialização Carumbé-CRC importando frisar, que o

mesmo estava intensificando contato com VALDELÍCIO ACÁCIO

RODRIGUES o qual cumpria também sua pena naquele estabelecimento

penal, efetivamente, VALDELÍCIO é traficante de grande relevância para

o grupo de BOQUINHA o qual deseja conhecer a trama de abastecimento

do tráfico no Rio de Janeiro, por meio da aproximação prometida por

VALDELÍCIO aos morros cariocas.

TELMA esposa de BOQUINHA, RG: xxxxxx, nascida em xxxxxx, residente à RUA

114 QUADRA 22 CASA 08 TIJUCAL SETOR 01 CEP 78088-000, Filiação:

XXXXXXXXX;

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Atividade;

Praticamente é a pessoa responsável pela anotação de haveres e clientes

do grupo liderado pelo seu marido ERISVALDO. Realiza a parte contábil,

armazenando as drogas, realiza a captação dos haveres do grupo

encimado por ERISVALDO, faz pagamentos àqueles disseminadores

eventuais (correrias) que vão receber dinheiro, preferencialmente em sua

residência no Bairro Tijucal. Conhece do processo de desenvolvimento e

preparo de entorpecentes. Para essa atividade ilícita tanto TELMA como

ERISVALDO usam até menores para algumas entregas, solicitando, que

esses entreguem drogas encomendadas àqueles clientes os quais

chegam a sua residência para adquirir tal produto.

ALCIRLEI XXXXX, residente à RUA SANTANA Nº 195 PARQUE OHARA (endereço

dos pais) RG: XXXXX, nascido em: XXXXXX Filiação: XXXXXXXX

Atividade:

Realiza o transporte de valores, favores e contatos para os negócios

ilícitos de seu cunhado BOQUINHA, além de providenciar todo o

necessário (papeis, cheques, documentos etc.) para os interesses

pessoais “daquilo” requerido por ERISVALDO. Tem ciência das

transações deste grupo e conhece o Grupo de DEDÉ, dá apoio para

TELMA como motorista além de buscar apoio doutras pessoas para

viabilizar a articulação e a atividade criminosa.

ROZENIR XXXXXXXXX vulgo NIL, RG: XXXXXX, nascida em XXXXXX, residente à

RUA TANGARÁ nº XX QUADRA nº 156, ALTOS DA SERRA, Filiação:

XXXXXXXXXXXXXXXX.

Atividade:

Peça de campo e apoio para ERISVALDO dentro e fora do presídio (CRC-

Carumbé) quando recolhido. Captava droga até doutros apoiadores de

ERISVALDO nessa rede para o tráfico, fazia entregas, buscas, realizava

viagens, efetuava contatos, articulava com outros criminosos (ELVIS

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SOUZA DE MIRANDA), por vezes era solicitada para transportes (como

chips e arma) para dentro do presídio. Podemos constatar que NIL

trabalha ativamente no trafico e atividades de auxílio aos recolhidos no

CRC, a mando de ERISVALDO se torna a pessoa responsável pelas

entregas.

CLAUDIO XXXXXXXXXXXXXX, nascido em XXXXXX, residente a RUA MARAJÓ

XX, BAIRRO: PEDREGAL EM CUIABÁ, Filiação: MARCOS FRANÇA DOS SANTOS

e LAUDELINA FERNANDES GOMES possui registro criminal nº: XXXXX;

Atividade:

Ocupação imprecisa, fazendo-se constar que atualmente reside a RUA

MARAJÓ, 53 – Bairro Pedregal, quando antes residia à Rua Marabá nº

114 neste mesmo bairro. O mesmo é citado em varias ligações entre

ERISVALDO e seus comparsas quando orienta seus colaboradores de

crime a pegar a droga dele com CLAUDIO (Todinho).

3.2.1.1.2 Grupo 02

WALDEIL XXXXXXXXXX: atualmente albergado na casa do albergado (Bairro

Centro América) declara residir à Rua JOÃO TERTULIANO XX VÁRZEA GRANDE,

nascido em XXXXX RG: XXXXXX CPF: XXXXXX. Filiação: XXXXXXXXXXX

Atividade:

Atualmente albergado na casa do albergado (Bairro Centro América),

traficante que recebe as drogas com fortes indícios de ser proveniente da

Cidade de Cáceres/MT, em virtude de sua irmã DILZA o fornecer. Até

compra droga em conjunto com ERISVALDO e associam esforços para

conseguirem melhor preço, abastecerem presídios e bairros da periferia

com parceria colaborativa para o tráfico. Atualmente faz contatos para

difusão de drogas no bairro Cristo Rey/VG.

DIONÍSIO JOSÉ DE JESUS FARIA: RG: XXXXXX CPF: XXXXXXX, nascido em

XXXXXX, Filiação: XXXXXXXXX, moto-taxista que usa como suporte o seu ponto

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em frente à Moda Verão do Bairro Tijucal, assim como, em seus cadastros consigna

residência na Rua B, nº xx Quadra COHAB São Gonçalo – CUIABÁ/MT;

Atividade:

Moto-taxista que usa como suporte o seu ponto em frente à Moda Verão

do Bairro Tijucal, assim como, em seus cadastros consigna residência na

Rua B, nº 03 Quadra 27 COHAB São Gonçalo – CUIABÁ/MT. Dá apoio ao

grupo encabeçado por DEDÉ, realizando a condução do pessoal para

pegar e entregar drogas tendo total ciência da atividade ilícita.

Consideramos ser o mesmo peça importante dessa trama, quer seja pela

confiança depositada pelo grupo (família) de DEDÉ, quer seja por ter

conhecimento e saber precisar os endereços dos membros, como a

articulação dos locais de entrega e captação de entorpecente do grupo.

VALDETE XXXXX vulgo XXXXXXX, RG: XXXXX CPF: XXXXXXX, nascido em

XXXXXX, Filiação: XXXXXXXXXXXX, residente no Assentamento SANTO

ANTONIO DA FARTURA, NAS MARGENS DA BR 070 (CUIABÁ/ CAMPO NOVO).

Atividade:

Pai de DEDÉ que o auxilia nesta rede criminosa em nossa região,

realizando o transporte da mercadoria, aliás, usando de viagens

intermunicipais para escoar a droga nas cidades circunvizinhas. Em

verdade, essa família, demonstra longo trato com a mercancia de

entorpecentes, podendo-se determinar que o mencionado casal (FOGOIÓ

E MARIA GORETE) usam a nova propriedade (assentamento) para servir

de abrigo para atividade.

DAIANE XXXXXX, RG: XXXXXX, nascida em XXXXX, Filiação: VALDETE VIEIRA

DA SILVA e MARIA GORETH CUNHA SANTOS, residente Rua 21 casa 13 lote 19

Jd Nossa Senhora Aparecida nesta capital;

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Atividade:

Irmã de DEDÉ que o auxiliam nesta rede criminosa em nossa capital,

realizando o transporte da mercadoria e contato com clientes. Cremos

que se relaciona com a sua mãe, por vezes, ficando em períodos na

residência de MARIA GORETE.

MARIA , RG: XXXXX CPF: XXXXXX, nascida em XXXXX, Filiação:

XXXXXXXXXXXX, residente em RUA C, QUADRA 02 CASA 26, JARDIM

MOSSORÓ – CUIABÁ/MT.

Atividade:

Tem experiência com o armazenamento e difusão de drogas por estar

nesta atividade há tempo, colabora com os demais do Grupo de DEDÉ

(Filho) interagindo com os demais da família (DAIANE, FOGOIÓ, DILZA).

3.2.1.1.3 Grupo 03

JUMAR RG: XXXXXX, CPF: XXXXXXXX, nascido em XXXXXXX, Filiação:

XXXXXXXXXXX empresário que usa como suporte a sua borracharia localizada na

entrada do Bairro Pedregal, ai sito, PNEUS TIJUCAL: Avenida Doutor Meirelles 14,

Qd 18 Lt 14 78088-100 como também sua residência nova na Rua 111 Quadra 18

casa 29, Bairro Tijucal.

Atividade:

Empresário que usa como suporte a sua borracharia localizada na

entrada do Bairro Pedregal PNEUS PEDREGAL. Líder articulado que

recebe droga de DEDÈ e BOQUINHA, além de repassar drogas e tarefas

a GERCI (ANU) nesta atividade ilícitas. Usam como suporte a sua

borracharia e de GERCI para montar a “encomenda” para MARIA

SALETE, por meio de DEOCLIDES (DIÓ).

GERCI XXXXXXXXX vulgo XX, RG: XXXXXX CPF: XXXXXXXXX, nascido em

XXXXXX, Filiação: XXXXXXXX, empresário que usa como suporte a sua borracharia

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PNEUS CAPIXABA: Avenida dos Trabalhadores, s/nº (próximo ao Terminal CPA) –

Novo Horizonte.

Atividade:

Empresário e traficante com registros de envolvimento com drogas, que

dá em específico a JUMAR, recebendo drogas e por vezes armazenando-

as em sua empresa usando como suporte a sua borracharia PNEUS

CAPIXABA: Avenida dos Trabalhadores, s/nº (próximo ao Terminal CPA)

– Novo Horizonte em Cuiabá-MT.

DEOCLIDES XXXXXXXXXX: RG: XXXXX, nascido em XXXXX, Filiação:

MELQUIADES DOS SANTOS e NICOLINA RODRIGUES DOS SANTOS,

empresário do ramo de linha de viagens com sua “van” de ALTO PARAGUAI a

CUIABÁ, residente na casa a qual era a antiga SUCAM de ALTO PARAGUAI

mesmo assim consta em seus dados, Rua 07 de setembro, 377, Centro daquele

município;

Atividade:

Empresário do ramo de linha de van, dá apoio a JUMAR levando

entorpecentes preparados para despistar ações policiais e escondidos em

sua van, tendo destino a MARIA SALETE (difusão Alto Paraguai e

Diamantino)

MARIA XXXXXXXXX: RG CRIMINAL: XXXXXXX CPF: XXXXXX9 nascida em

XXXXX, Filiação: XXXXXXXXXXX usam como ponto disseminador a sua residência,

aí sito, Rua Joaquim Murtinho s/nº, Bela Vista, Alto Paraguai/MT Conta com

colaboração da FAMÍLIA;

Atividade:

Traficante de drogas que vive as expensas desta atividade lucrativa no

atacado e varejo, usando como ponto disseminador a sua residência (Rua

Joaquim Murtinho s/nº, Bela Vista, Alto Paraguai/MT). Contando com

colaboração da FAMÍLIA e do seu lider JUMAR, registramos

recentemente a atividade de ADEMAR BRAATZ (irmão de MARIA

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SALETE) vulgo “alemão mecânico” em conjunto com sua esposa

JUCELMA auxiliam MARIA SALETE na distribuição de drogas no

município de ALTO PARAGUAI e DIAMANTINO, sendo residentes na AV.

Palmeiras s/n NOVO DIAMANTINO 78400-000, DIAMANTINO/MT.

ADEMAR XXXXXXX (irmão de MARIA SALETE) vulgo “ALEMÃO MECÂNICO” RG:

XXXXXXX CPF: XXXXXXX, Filiação: GASPAR BALDUINO NEIS e LONI BRAATZ

em conjunto com sua esposa JUCELMA auxiliam MARIA SALETE na distribuição de

drogas no município de ALTO PARAGUAI e DIAMANTINO, sendo residentes na AV.

Palmeiras s/n NOVO DIAMANTINO 78400-000, DIAMANTINO/MT.

Atividade:

Cooperador de MARIA SALETE que em conjunto com sua esposa

desenvolve a atividade de venda de entorpecente

3.2.2 Da Análise da Operação Mordaça

A Secretaria Adjunta de Inteligência-SAI, através de diligências efetuadas

pelo setor de operações, empregou várias técnicas de inteligência prevista na

Doutrina Nacional de Inteligência de Segurança Pública-DNISP, as quais identificou

uma rede colaborativa para o tráfico. As informações coligidas prosseguiram no

intuito comum de apurar o crime de tráfico de drogas e afins, precisando quais

pessoas colaborava para os mencionados delitos, determinando um relacionamento

de três grupos justapostos para o mesmo ideal, auferir lucro por meio do tráfico e

venda de drogas. O resultado dessas investigações culminou na Operação Mordaça.

Consta no relatório, confeccionado pelo Setor de Inteligência que inúmeras

pessoas estavam envolvidas em uma modalidade delituosa a qual até recentemente

era pouco percebida pelas forças policiais, ressalvando a intermediação entre

fornecedores localizados no Bairro Pedregal na cidade de Cuiabá.

A nova modalidade trabalhada apresentava-se de forma mais robusta, com

várias pessoas interagindo, com organização hierárquica e funções bem definidas

existindo líderes os quais se auxiliavam com o claro objetivo de melhor se

estabelecerem no ramo perpetrado.

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No ano de 2013 foram detectados esses líderes de grupos criminosos

organizados para o tráfico de drogas, apesar de alguns estarem presos, mesmos

assim comandavam ainda seus grupos que viabilizavam um “canal” de drogas nos

presídios, para com isso propiciarem entrada das substâncias e continuidade de

suas ações ilícitas dentro e fora das celas.

Assim, a pessoa do DEDÉ viabilizava sua droga por meio de seus contatos

familiares, principalmente na cidade de Cáceres/MT. O acompanhamento feito

mostrou toda articulação do grupo, buscando drogas na Bolívia, tendo ponto de

escoamento as cidades de Cáceres e a Grande Cuiabá, possuindo ainda

articulações para envio de drogas a outros estados da federação.

Em Cuiabá DEDÉ fornecia drogas a pequenos traficantes, os quais não

foram alvos de investigações mais aprofundadas sendo identificados apenas pelas

alcunhas de PAULO, BRUNO e MILTON.

Para a entrega de drogas em outros Estados o grupo de DEDÉ utilizava-se

de sua mãe MARIA GORETE, conhecida por DONA MARIA, a qual leva a droga em

sua bagagem em ônibus interestaduais, contando com a participação efetiva de seu

pai VALDETE conhecido pela alcunha de FOGOIÓ e de sua irmã DAIANE. O grupo,

em nossa capital e adjacências, sempre faziam uso dos serviços do moto-taxista

DIONISIO para entregas de drogas e contatos diretos entre si.

DEDÉ logo no início das investigações estava cumprindo pena no regime

semi aberto, onde ia durmir no albergue. Na data da operação, o mesmo estava

entregando droga logo que saiu do albergue pela manhã e foi preso em flagrante. O

BOQUINHA estava preso no Carumbé, onde traficava com grande intensidade, para

tanto possui um grupo que lhe dá todo suporte externo, o qual se apresenta mais

organizado que o de DEDÉ. A esposa de BOQUINHA, TELMA RODRIGUES DE

JESUS e seu cunhado ALCIRLEI RODRIGUES DE JESUS cuidavam da distribuição

e principalmente da contabilidade do grupo, sendo o responsável por sanar as

duvidas quantos as dívidas de reeducandos, BOQUINHA, solicita uma confirmação

junto a TELMA que mantém as contas anotadas mesmo estando fora da prisão,

ainda, a mesma, é responsável por verificar valores de créditos de telefonia celular,

que é dado como moeda de troca dentro da cadeia.

Outro grande articulador de BOQUINHA era a pessoa de ROZENIR, vulgo

“NIL”, responsável por disseminar drogas, insumos e outros objetos dentro e fora do

CRC, mostrando ser peça fundamental no esquema criminoso de BOQUINHA.Nesta

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trama, NIL conta com suporte de MÁRCIA (mulher do INDIO, outro criminoso, à

época preso no CRC, que se associara também ao BOQUINHA. “NIL” trata

BOQUINHA por “patrão” e quando não o faz chama de “senhor”, quer seja

mostrando subordinação hierárquica, quer seja cumprindo ordens de entrega para

clientes de BOQUINHA. (ELVIS SOUZA DE MIRANDA).

Também foi possível identificar a pessoa de CLAUDIO DOMINGOS DOS

SANTOS vulgo “TODINHO” como um dos armazenadores de drogas para os

comparsas de BOQUINHA. Constatou-se também que o BOQUINHA também

interagia com o grupo de DEDÉ, às vezes contatando outros membros como a irmã

de DEDÉ, a DAIANE SANTOS DA SILVA, com o objetivo de obter outras

modalidades de drogas.

Temos ainda vinculado ao grupo de DEDÉ e BOQUINHA um outro grupo

liderado por JUMAR o qual utiliza uma borracharia como fachada para venda de

drogas. JUMAR possui um aliado no crime de nome GERCI vulgo “ANU”, sendo que

os mesmos além de traficar drogas em Cuiabá, mantém um fornecimento constante

na cidade de Alto Paraguai através da pessoa de MARIA. A droga é enviada a

MARIA pela pessoa de “DIO”, o qual possui um veículo tipo Van e faz transportes na

rota Cuiabá –Alto Paraguai. Por sua vez MARIA ainda recebe a ajuda de seu tio e de

seu irmão ADEMAR BRAATZ.

O relatório de inteligência concluiu pela existência de um grupo constituído

para a prática do tráfico de drogas de envergadura considerável, bem como ressalta

a quantidade de pessoas envolvidas que participavam na condição de traficantes,

onde desenvolviam uma estratégia que dificultava a ação da Polícia, pois não

atuavam, diretamente, nem na origem nem no destino final da droga.

O relatório também deixa claro que o grupo tem planos para o tráfico

interestadual, sendo que o BOQUINHA vem se relacionando com o reeducando

VALDELICIO ACACIO RODRIGUES, o qual está preso por ter sido flagrado com

quarenta quilos de drogas no Estado do Rio de Janeiro, então transferido do Sistema

Prisional do Rio de Janeiro para nosso Estado. Por esta razão, BOQUINHA

pretendia estabelecer um vínculo colaborativo com as favelas cariocas, para isso

conta com a experiência e os contatos de VALDELICIO no Rio, e revela ao seu

cunhado ALCIRLEI como é a “manobra“ arquitetando com a ROZENIR, vulgo NIL.

3.2.3 Segundo Caso

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A Secretaria Adjunta de Inteligência-SAI recebeu a denúncia do Centro

Integrado de Operações de Segurança Pública-CIOSP informando que a Policial

Militar CARMEN DA CRUZ, lotada na Guarda da Penitenciária Central da Capital,

estaria comercializando drogas ilícitas dentro do presídio e também levando

aparelhos celulares aos detentos.

Diante disto, consultou-se o banco de dados, conseguindo todos os dados

referentes a denunciada, e confirmando que esta se tratava de fato de uma policial

militar. Após isto, emitimos uma ordem de missão ao setor operacional para que

realizasse todas as técnicas operacionais como vigilância, fotografia e também a

interceptação, com a finalidade de surpreender a referida praticando o comércio

ilícito de drogas.

Os agentes monitoraram a suspeita por três dias. No dia de seu plantão, a

suspeita saiu de sua residência localizada no Bairro Pedregal e foi com sua

motocicleta Honda/Biz em direção à Penitenciária. Durante todo o percurso, a

mesma foi acompanhada por uma equipe da inteligência, a qual mantinha contato

com uma equipe de investigadores da Polícia Judiciária Civil que estava nas

imediações da Penitenciária.

Ao chegar à Penitenciária para assumir o plantão, a suspeita Carmem

portava uma mochila e estava trajada com a farda da Polícia Militar. Ao ser

abordada, os investigadores apreenderam seis aparelhos celulares, três porções de

maconha, uma porção de cocaína e dois mil e cem Reais em espécie. Neste

momento fora dada voz de prisão a mesma pelos artigos 33 da Lei 11.343/2006

(tráfico ilícito de drogas), 349-A e 317 do Código Penal (favorecimento real e

corrupção passiva) e encaminhada a Delegacia de Repressão a Entorpecentes para

a lavratura do auto de prisão em flagrante.

Com base nesta operação acima delineada, demonstramos que a tecnologia

aliada às técnicas operacionais de inteligência, é um método eficaz para o combate

ao narcotráfico.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não se pode negar o avanço do narcotráfico e do crime organizado em nível

nacional e internacional. Países de todo o mundo têm demonstrado preocupação em

estabelecer políticas e estratégias visando enfrentar e reprimir de maneira eficaz tais

atividades ilegais.

A complexidade envolvendo o tema narcotráfico revela que o assunto não

está adstrito tão somente ao âmbito policial e judicial. As consequências graves

decorrentes da atividade atingem a sociedade em vários níveis, em especial nas

áreas econômica e de saúde pública.

A experiência de alguns países na tentativa de solucionar ou minimizar os

problemas decorrentes do comércio e uso de drogas não resultou em sucesso.

Tanto a política de tolerância às drogas adotada por alguns países europeus quanto

à de repressão militar na chamada guerra às drogas não demonstraram ser

eficientes. A prática tem demonstrado que os extremos não estão dando resultado

positivo.

Não somente no aspecto repressivo, mas também e fundamentalmente no

que concerne à prevenção, o uso da inteligência propiciará resultados mais eficazes

na luta contra o crime organizado e, em especial, o narcotráfico.

Os órgãos encarregados de atuar nessas áreas devem estar dotados de

equipamentos e recursos humanos aptos à árdua tarefa de enfrentar as

organizações criminosas. Para tanto, é necessário investimento.

Com efeito, os graves prejuízos causados pelo narcotráfico exigem dos

governantes ações eficazes e urgentes. Sempre pautada pela legalidade e

observância dos direitos e garantias individuais, a ação dos órgãos de inteligência

não podem prescindir de uma integração efetiva. As informações devem ser

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compartilhadas em tempo hábil, sob pena de se tornarem inúteis caso não sejam

usadas nem difundidas.

Os investimentos na área devem ser proporcionais à importância da

atividade de inteligência. Sem dúvida, o benefício proporcionado compensará o

investimento realizado, não se tratando, pois, de gasto público desnecessário.

Enfrentar o crime organizado e, em especial, o narcotráfico, exige grande

esforço não somente dos governos, mas também de toda a sociedade. Experiências

que estão dando certo não podem ser desprezadas. É o caso da atividade de

inteligência que tem demonstrado sua eficiência não somente no campo da defesa

do Estado e dos interesses nacionais, mas também e principalmente na prevenção e

repressão a tais delitos.

Conhecimento é poder. Urge pois que os órgãos de inteligência sejam

dotados de recursos humanos e materiais que os coloquem em condições de

enfrentar o poderio inerente às organizações criminosas.

Assim, fatalmente, com a implementação das políticas e estratégias

propostas, o Estado, com a utilização da inteligência poderá, de uma maneira mais

eficiente, dar combate efetivo ao narcotráfico, propósito maior do presente trabalho.

Conclui-se, pois, que a atividade de inteligência, na difícil tarefa de reprimir e

combater o narcotráfico está desempenhando um papel de relevância

inquestionável. Os benefícios para a sociedade e para o Estado são visíveis, motivo

pelo qual seu incremento deve ser incentivado e, na medida do possível, sua

utilização ampliada.

Do exposto, a maneira que nos propusemos a combater o narcotráfico

utilizando as técnicas da Doutrina Nacional de Segurança Pública é eficaz

juntamente com uma política educacional nas escolas e universidades.

Essa política educacional versaria num estudo futuro de usarmos alguns

tipos de drogas como medida medicinal e uma grande conscientização que o uso

recreativo não ajudará em nada à humanidade e sim tem o condão de destruir o ser

humano.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMORIM, Carlos. CV-PCC: A Irmandade do Crime. Rio de Janeiro. Editora Record, 2012.

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