escola hoje quem te define

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Livro traz um apanhado geral sobre a atividade docente

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  • E S C O L A H O J E :QUEM TE DEFINE?

  • Avenida Independncia, 2293Fones: (51) 3717-7461 e 3717-7462 - Fax: (051) 3717-7402

    96815-900 - Santa Cruz do Sul - RSE-mail: [email protected] - www.unisc.br/edunisc

    ReitoraCarmen Lcia de Lima Helfer

    Vice-ReitorEltor Breunig

    Pr-Reitor de GraduaoElenor Jos Schneider

    Pr-Reitora de Pesquisae Ps-Graduao

    Andria Rosane de Moura ValimPr-Reitor de Administrao

    Jaime LauferPr-Reitor de Planejamento

    e Desenvolvimento InstitucionalMarcelino Hoppe

    Pr-Reitor de Extensoe Relaes Comunitrias

    Angelo Hoff

    EDITORA DA UNISCEditora

    Helga Haas

    COMISSO EDITORIALHelga Haas - Presidente

    Andria Rosane de Moura ValimAngela Cristina Trevisan Felippi

    Felipe GustsackLeandro T. BurgosOlgrio Paulo Vogt

    Vanderlei Becker RibeiroWolmar Alpio Severo Filho

  • IEDA DE CAMARGO

    Organizadora

    E S C O L A H O J E :

    QUEM TE DEFINE?

    Santa Cruz do Sul

    EDUNISC

    2014

  • Copyright: dos autores1 edio 2014

    Direitos reservados desta edio: Universidade de Santa Cruz do Sul

    Capa: Exalt Design e Comunicao LtdaEditorao: Clarice Agnes, Julio Cezar S. de Mello

    Bibliotecria : Edi Focking - CRB 10/1197

    E74 Escola hoje [recurso eletrnico] : quem te define? / Ieda de Camargo (Organizadora). - Santa Cruz do Sul : EDUNISC, 2014.

    Dados eletrnicosTexto eletnicoModo de acesso: World Wide Web : ISBN 978-85-7578-405-1

    1. Educao - Formao de professores. 2. Avaliao educacional. I. Camargo, Ieda de.

    CDD: 370.71

  • SUMRIO

    APRESENTAOIeda de Camargo...........................................................................................................6

    PROGRAMAO DO EVENTO: XII Frum Nacional de Educao eXV Seminrio Regional de Educao Bsica - Escola hoje: quem te define?.......8

    Medicalizao da educao: o excesso de medicalizao na InfnciaJerto Cardoso da Silva..................................................................................................10

    Perfil socioeconmico dos estados da Bahia e do Rio Grande do Sul: um foco na defasagem escolar Cesar Ajara, Julia Celia Mercedes Strauch, Kaiz Iwakami Beltro, Moema De Poli Teixeira e Sono Sugahara Pinheiro ..................................................21

    A msica em tempos de mudana reflexo acerca de seu papel na educaoMarisa Trench de Oliveira Fonterrada..........................................................................52

    Corpos no som: ensaios de escutaDulcimarta Lemos Lino................................................................................................63

    A Sala de Aula e as diversas interferncias: um estudo do instituto Ayrton SennaVera Maria Vidal Peroni................................................................................................76

    Sala de aula e algumas interferncias psicolgicasTania Beatriz Iwaszko Marques.....................................................................................90

    Histria e redes sociais na internet: o caso da rede social Caf HistriaBruno Leal Pastor de Carvalho.....................................................................................97

    udio na escola exerccios de (re)conhecimento de identidades pela mediao docenteRafael Sbeghen Hoff................................................................................................. 112

  • APRESENTAO

    A edio resulta das produes dos palestrantes convidados do XII Frum Nacional de Educao e XV Seminrio Regional de Educao Bsica que tratou da temtica: Escola hoje: quem te define? desenvolvida de 2 a 5 de abril de 2014, na Universidade de Santa Cruz do Sul.

    O evento conta com a promoo da Secretaria Municipal de Educao e Cultura de Santa Cruz do Sul, da 6 Coordenadoria de Educao/RS, do 18 Ncleo do CPERS-Sindicato, do Sindicato dos Professores Particulares-SINPRO/RS, do Sindicato dos Professores do municpio de Santa Cruz do Sul-SINPROM e do Ncleo de Educao Bsica-NEB/UNISC.

    Tem sido objetivo principal desse evento oportunizar aos profissionais de educao um espao para teorizao, discusso, reflexo, debate e troca de experincias que permitam a construo de alternativas qualificadas para a educao. da natureza da concepo do evento, alm do desenvolvimento de temtica especfica, contemplar atividades artstico-culturais com apresentao de peas teatrais, filmes, documentrios, dana, msica, bem como mostra de trabalhos escolares e, nos ltimos anos, tambm de lanamento de edies da Revista Reflexo e Ao do Departamento de Educao e Mestrado em Educao/UNISC, sempre com temtica especfica relacionada ao evento.

    Cabe destacar que nesse XII Frum Nacional de Educao ocorreu o lanamentos de edio n. 1, v. 22 da Revista Reflexo e Ao, intitulada Msica e Educao: poticas da escuta, organizada pela prof. Dulcimarta Lemos Lino e alm do livro Histria & Cotidiano: 101 textos para pensar o mundo atual, de autoria do prof. Mozart Linhares da Silva, ambos docentes da UNISC.

    Nesse Frum, com o objetivo de refletir sobre as interferncias da sociedade de consumo, das novas mdias e de organizaes nos projetos educacionais das escolas foram tratados temas como: educao: adestramento ou esclarecimento, medicalizao da infncia; educao indgena e afrodescendente; questo agrria e educao; msica na escola e polticas pblicas; interferncias polticas, psicolgicas e tecnolgicas no espao da sala de aula; histria e memria; mdia e consumismo.

    Destacamos, ainda, a atividade de Mostra de Trabalhos que oportunizou aos participantes conhecer experincias pedaggicas, especialmente voltadas aos anos iniciais do ensino fundamental.

  • 7apresentaoEscola hoje: quem te define?

    Assim, convidamos para apreciao dos artigos apresentados pela maioria dos palestrantes que honraram nosso evento com sua produo e, consequentemente, possibilitam reflexo frente s temticas enfrentadas no mbito da educao bsica.

    Boa leitura a todos!

    Prof. Ieda de CamargoOrganizadora

  • PROGRAMAO DO EVENTOXII Frum Nacional de Educao e XV Seminrio Regional de Educao Bsica

    Escola hoje: quem te define? Promoo: 18 Ncleo do CPERS, 6 CRE, SMEC Santa Cruz do Sul, SINPRO/RS,

    SINPROM e Ncleo de Educao Bsica NEB/UNISC02 a 05 de Abril de 2014

    2 de abril - quarta-feira18h CREDENCIAMENTO19h ABERTURA Integrantes da Orquestra da UNISC19h30min: Conferncia: Educao: adestramento ou esclarecimento?Prof. Dr. Flvio Ren Kothe UnB

    3 de abril quinta-feira8h Palestra: Medicalizao da infnciaProf. Dr. Jerto Cardoso da Silva - UNISC.10h30min - Documentrio: Pro dia nascer feliz! de Joo Jardim13h Curtas: Indgenas e Quilombolas13h30 Momento cultural EMEF Dr. Guilherme Hildebrand/SCS.14h Painel: Educao indgena e afrodescendente Prof. Dr. Ilka Boaventura Leite UFSCProf. Dr. Julia Celia Mercedes Strauch e Pesq. Dr., Moema de Poli Teixeira IBGE Guarani Jernimo Morinico Franco Lomba do Pinheiro/POAProf. Dr. Mozart Linhares da Silva UNISC16h30min - Lan. do livro: Histria & cotidiano: 101 textos para pensar o mundo atual. Editora Gazeta do Sul, 2014.18h30 Curtas: Diversidade19h Momento cultural: Dana Capoeira 19h30 Palestra: Questo agrria e educao: conexes polticasAlceu Lus Castilho jornalista e escritor/SP

    4 de abril sexta-feira8h Painel: Msica e educao: polticas pblicas e aes na contemporaneidadeProf. Dr.: Dulcimarta Lemos Lino - UNISCProf. Dr. Eduardo Guedes Pacheco - UERGSProf. Dr.: Marisa Trench de Oliveira Fonterrada - UNESP9h45min: Lan. Ed. especial. Rev. Reflexo e Ao- Msica e Educ: poticas da escuta

  • 10h 4 Oficinas: (2 horas):1) Rdio: Prof. Ms. Rafael Hoff - UNISC2) Jornal: Prof. Ms.: Mirela Hoeltz - UNISC3) Educ. afrodescendente: Cintia Luz - Conselho de Igualdade Racial de SCS4) Msica: Prof. Dr. Dulcimarta Lemos Lino UNISC13h Curtas: Indgenas e Quilombolas13:30 Momento Cultural - E.E.E.B. Poncho Verde/Mato Leito14h Painel: A sala de aula e as diversas interfernciasProf. Dr. Tania Marques UFRGSProf. Dr. Vera Maria Vidal Peroni UFRGS17h: Mostra de Trabalhos Escolares Centro de Convivncia UNISC19h Palestra: Mdia e consumismo Noem Friske Momberger Advogada e escritora, esp. em publicidade infantil/Novo Hamburgo.21h Apresentao Teatral: Reviravoltas do corao A Turma do Dionsio/ Santo ngelo

    5 de abril sbado8h Palestra: Faa aqui o seu login: a experincia de mediao na rede social online Caf Histria.Doutorando Bruno Leal Pastor de Carvalho - Fundador e editor da Rede Social Caf Histria/RJ.11h - EncerramentoEntrega dos Certificados do Evento.

  • MEDICALIZAO DA EDUCAO: O EXCESSO DE MEDICALIZAO NA INFNCIA

    Jerto Cardoso da Silva1

    Medicalizar os problemas comportamentais e pedaggicos na infncia, em especial no perodo escolar, passou, na ltima dcada, a ser um procedimento corriqueiro no Brasil. No entanto, o excesso dessa prtica vem preocupando especialistas e a comunidade em geral.

    Dados colhidos pela Folha de So Paulo, de 27.02.14, denunciam que o consumo de tranquilizantes/calmantes sobe 42% no Brasil nos ltimos 5 anos, por outro lado, na ltima dcada, descresce 30% na Europa. Enfatizam, ainda, que de 2009 a 2013, as caixinhas de psicotrpicos saltam de 12 milhes para 17 milhes nesse perodo. Muitos especialistas afirmam e as prprias bulas advertem que esses remdios causam dependncia e efeitos colaterais srios, como falta de memria. Alguns pases, como a Inglaterra, criaram programas para livrar os pacientes do vcio. Uso, que na viso da Associao Brasileira de Psiquiatria, deveria ser temporrio (2 3 meses). No dia 17.12.13, para citar mais uma de uma srie de reportagens que relatam a falta de controle nas prescries dessas medicaes para crianas em idade escolar, ressalto o caso dos diagnsticos do TDAH. Some-se a isso um incremento das automedicaes, o que nos alerta para o evidente consumo por parte da populao. Essas informaes preocupam ainda mais devido ao que muitos especialistas afirmam, ou seja, de que no h evidncias de benefcios do uso continuado, ou em longo prazo, dessas medicaes pelas crianas. O nmero de escolares medicados com drogas como Ritalina, Adderall e Concerta passou de 600 mil, em 1990, para 3,5 milhes em 2012. Aponta-se, ento, a prescrio indiscriminada, a automedicao e as campanhas de marketing que fomentam a incluso de comportamentos relativamente normais, como desateno, descuido e impacincia na infncia como transtornos mentais que devem ser medicados. Nisso tudo, exalta-se os benefcios que so exagerados, em detrimento de riscos, em especial na infncia, subestimados. Em alguns pases, comeam os processos judiciais frente s publicidades enganosas.

    A preocupao com a medicalizao da vida e da educao no recente, talvez recente seja a precocidade desse procedimento. A psicofarmacologia dos problemas mentais e, consequentemente, a prescrio de substncias psicoativas tem seus avanos a partir de 1940/50 (GORENSTEIN; SCAVONE, 1999) e est associada aos movimentos sociais em busca de humanizao no tratamento da loucura. Essa ao

    1 Doutorado em Estudos da Linguagem - Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil(2004). Professor Adjunto da Universidade de Santa Cruz do Sul, Brasil.

  • 11MEDICALIZAO DA EDUCAOEscola hoje: quem te define?

    conjunta promove mudanas no tratamento dos transtornos mentais, tais como, a reduo da internao e do tempo de permanncia de pacientes psiquitricos nos hospitais e asilos, que tinham mais a funo de recluso do que de tratamento. Desde ento, e impulsionados por vrias iniciativas e movimentos sociais, esses problemas passam a ser tratados em unidades prximas do local de moradia dos sujeitos, no os confinando mais a instituies. Esses medicamentos que tinham uso quase que exclusivo a determinados transtornos, passam a ser usados de forma generalizada. Hoje, no raro ouvir pessoas que fazem uso delas para tratar problemas da vida cotidiana. Podemos falar, atualmente, numa tentativa de controle social e de si, por meio de um uso abusivo e exagerado de tais substncias. As ofertas desses dispositivos transcendem o campo da doena restrito ao controle do transtorno biolgico e ampliam-se para o que chamamos de controle da vida e de si, sendo os remdios psicoativos apenas um dos meios utilizados com o potencial de medicalizao da sociedade. No entanto, dentro da medicina contempornea, o tratamento psicofarmacolgico, constitui-se numa forma de tratamento prioritrio (RODRIGUEZ et al., 2001). A prescrio medicamentosa passa a ser, em grande parte, a forma central de cuidado frente s problemticas psquicas e est sendo utilizada em larga escala como um dos recursos de resoluo de problemas pedaggicos. Dessa forma, a prtica da psiquiatria e de outros profissionais dos servios de sade, cada vez mais, fica circunscrita prtica da prescrio medicamentosa, muitas vezes, numa relao sem espaos de discusso e dilogo.

    Qualquer tratamento em sade requer uma relao dialgica, ou seja, uma relao de negociao e mtua informao. Principalmente pelas pessoas referirem, em relao aos medicamentos psicotrpicos, tanto uma melhora por um lado e, por outro, uma dificuldade de entrar em contato com elas mesmas (RODRIGUEZ, 2001).

    Para podermos entender como os medicamentos passaram a ser o foco dos tratamentos em sade mental, recorremos a Foucault (1976, citado por ZORZANELLI; ORTEGA; BEZERRRA Jr., 2014), quando estuda o contexto europeu do fim do sculo XVII e incio do XIX, sobretudo no que se refere s medidas macias de sade como formas de constituio do Estado-nao. Nele, a medicina amplia seu campo de ao de uma clnica individual para um espectro maior, abrangendo a populao, deslocando o seu campo de ao para alm da doena biolgica, comea a se firmar, ento, como uma poltica pblica atrelada s medidas de Estado e constitui com ele uma biopoltica. A partir da, exerce, por meio dessa, uma pedagogizao e um controle sobre a vida dos sujeitos, ancorando-se em cincias supostamente neutras (biologia, qumica, fsica...). Temos, portanto, a iatrogenizao do campo social, ou seja, o encampamento de processos como o crime, a loucura, o pecado e a pobreza como categorias de doena. Esse lugar supostamente neutro e objetivo da cincia cooptado pela ordem poltica como forma de controle sobre os sujeitos. E, nesse controle, sobre as pessoas e seus corpos vemos uma crescente lista de

  • 12MEDICALIZAO DA EDUCAOEscola hoje: quem te define?

    comportamentos normais e anormais, saudveis, no saudveis. Comportamentos esses que transcendem a esfera do orgnico. E disciplinam a vida dos sujeitos, suas famlias e seus filhos.

    Gaudenzi e Ortega (2012) fazem uma retomada sobre o termo medicalizao, conceituando-o a partir de Illich e Foucault. O termo medicalizao surge no final da dcada de 1960, referindo-se apropriao dos meios de vida do homem pela medicina e da sua interveno poltica que se infiltra no meio social e extrapola o seu campo tradicional de ao direta: as molstias. Portanto, a medicalizao transforma modos de existncia em patologias. Sendo assim, o termo medicalizao no est apenas ligado utilizao de medicamentos, pois est presente em vrios espaos da vida dos sujeitos. So produes e ensino de cuidados sobre sade que incidem sobre os modos de viver social, ensinamentos que retiram dos sujeitos parte da sua autonomia, da sua capacidade de pensar e de compor seus prprios cuidados de sade. Ou seja, a medicalizao um processo amplo e exercido por diferentes dispositivos e experincias sobre o corpo e o comportamento dos sujeitos, sendo que um dos efeitos a perda de autonomia sobre a forma como lidar com o sofrimento.

    Na atualidade, medicalizar a vida transcende o domnio da medicina e se inscreve em outros domnios, entre eles o espao da educao. nesse espao que crianas com problemas, sofrimentos e doenas se manifestam na escola. A escola um espao pblico de maior visibilidade, ao qual socialmente foi delegado o cuidado e a educao das crianas. Portanto, lugar de controle, mas, tambm, de construo e elaborao das dificuldades dos sujeitos diante do mundo. Muitas dessas dificuldades so tomadas como problemas de aprendizagem. Existem infinitos modos de aprender, modos de ser, de agir, de reagir, de se afetar, de se mover frente ao que nos causa sofrimento e dificuldades que necessariamente no so patologias do aprender. O campo da patologizao enquadra e normatiza o comportamento, fazendo dissipar a diversidade do ser humano. Assim, formatando pensamentos e comportamentos, deixa-se de apostar na diversidade de modos de cuidar e de ensinar. Ao biologizar a educao, a multiplicidade de causas que nos fazem sofrer balizada, muitas vezes, reduzida lgica da unicidade, na qual a complexidade fica obliterada. Complexidade que nos faz pensar que o corpo biolgico constitudo por linguagem, por saberes, por culturas, pelos modos de existncia a que so reduzidos corpos sem histria e sem sentido.

    Rose (2011), nessa perspectiva, salienta que a competncia mdica, ao deslocar-se do campo que envolve as doenas, direciona-se para a medicalizao dos problemas sociais, morais e polticos. Nessa dimenso, o sujeito, ao apoderar-se das pretensas benesses dos cuidados mdicos, comea a relacionar a prpria ideia de sade e de cidadania, como se fossem pacientes consumidores. Vemos alicerar-se a inculcao da cultura da culpa, ou seja, a medicao a forma principal de cuidado, ela passa a ser uma obrigao dos sujeitos e familiares. Ao longo do tempo,

  • 13MEDICALIZAO DA EDUCAOEscola hoje: quem te define?

    a medicina deixou de ter monoplio do olhar diagnstico e das decises teraputicas, mas a sua lgica passa a ser incorporada em outras esferas da sociedade. Dessa forma, a lgica biomdica ainda se firma como hegemnica. Tornou-se intensamente capitalizada, e o mercado e a indstria farmacutica passam a definir os rumos de pesquisas, de linhas e programas de cuidado. Ou seja, a sade e a doena emergem como um novo campo frtil para a rentabilidade das corporaes.

    Essa capitalizao da medicina d uma configurao particular s formas de cuidados e instaura a constituio de uma subjetividade biolgica, hoje, costumizada s ordens do fregus devido aos avanos tecnolgicos. A indstria da biotecnologia movimenta o biocapital que sobredetermina a tica somtica contempornea. As tecnologias mdicas contemporneas no buscam meramente curar doenas, mas controlar e gerenciar processos vitais do corpo e da mente. Elas no so mais apenas tecnologias da sade, mas tecnologias da vida (ROSE, 2011, p. 16). Tecnologia que chega de forma cada vez mais precoce nas vidas das pessoas, especialmente desenvolvidas para vulos, embries, crianas e adolescentes. Estamos suscetveis a riscos potenciais, de uma indstria que se apressa a propor intervenes teraputicas e tecnolgicas de benefcios sade muito mais atrelados cultura de consumo e de mercado do que propriamente vinculados ao tratamento de doenas, simulando uma suposta qualidade de vida.

    Apresentado esse contexto, cabe ento a questo: existiriam doenas que afetariam apenas a aprendizagem? Medicalizao da educao no seria uma ao que tenderia a legislar e a reger a vida das pessoas a partir de uma lgica biolgica muito estreita, restrita que apagaria o prprio ato pedaggico?

    Rose (2011) aponta que a instruo e a educao sobre os corpos, desde o incio da medicina moderna, se entrelaam, marcando a obrigao de proteger o prprio corpo e dos de sua responsabilidade. As demandas por uma educao biolgica so exigidas pelos rgos pblicos, passando a haver uma cultura do indivduo somtico. Portanto, o que somos est encarnado em nossos corpos, sendo essa a nossa etiologia bsica, principal, forja-se uma subjetividade somtica, como se no fssemos outra coisa, como se outros elementos constitutivos ficassem em segundo plano. Em ltima instncia, a nossa verdade reduzida a uma dimenso corporal, como se fssemos apenas cidados biolgicos.

    O que esperar, quando isso acontece muito cedo na vida dos sujeitos? Alguns autores assinalam que nos tornaremos sujeitos binicos. O que temos notado na sociedade, nas escolas um incremento na busca de recursos para solucionar os problemas das crianas, tais como suas agitaes, seus dilemas, suas dificuldades na biotecnologia que promete avanos rpidos e solues instantneas. O que acontece quando tentamos silenciar os sintomas da/na infncia de forma to abrupta? Que maneiras de expressar seu sofrimento essas crianas vo encontrar?

  • 14MEDICALIZAO DA EDUCAOEscola hoje: quem te define?

    Nesse mercado biotecnolgico, de inovaes e invenes de patologias, em especial no campo das doenas ditas mentais, leia-se aqui, de etiologia biolgica, estamos num espao de muita controvrsia, disputas, de uma rapidez dos diagnsticos e das prescries de medicamentos. Os manuais diagnsticos no esto restritos ao campo biolgico, mas constantemente se reportam a ele. As novas edies desses manuais apresentam categorias que parecem englobar no somente uma pequena minoria da populao, mas quase todas as crianas. As produes de diagnsticos e de teraputicas se multiplicam, muitas vezes, simplificam a complexidade dos sofrimentos ocorridos na infncia ao os transporem para os enquadres biomdicos, fazendo com que existam cada vez mais crianas medicadas (e cada vez mais cedo). As doenas (biolgicas), tais como as infecciosas, possuem um marcador biolgico, exames que podem ser feitos para confirmar ou refutar o seu diagnstico, diferentemente de uma doena psiquitrica. Nesse caso, os marcadores esto relacionados aos mecanismos de ao dos medicamentos, e at hoje ainda so inconclusivas as pesquisas que apresentam marcadores biolgicos (BRZOZOWSKI; CAPONI, 2010).

    Num campo de poucos consensos, as controvrsias recaem sobre as psicopatologias na infncia, muitas delas no tm dados de comprovao conclusivos, no possuem exames vlidos e as pesquisas apresentam problemas, em especial de conflito de interesse, pois so financiadas pela indstria farmacutica com um foco mercadolgico. Alm disso, o uso de medicamentos, na aprendizagem de escolares, proporciona pouca melhora do desempenho acadmico e das habilidades sociais desses educandos. Provocam danos (grau de toxicidade) elevados em muitas crianas, um deles provocar o efeito zumbi. Alm disso, o diagnstico realizado em um estudante pode produzir como efeito, para a prpria criana classificada, o de ser considerada e tratada no mais como um aluno, mas como um doente e, ela por sua vez, responde a isso se comportando como tal ou se rebelando, o que faz reforar o diagnstico ao invs de provocar dvida em quem classifica (VIEGAS et al., 2013).

    Muitas dessas classificaes iniciam na escola, pois grande parte dos problemas ocorridos, nessa poca da vida, so observados nesse espao e descobertos a partir do momento em que a criana desenvolve alguma dificuldade de aprendizagem. As pessoas na escola, por sua vez, medicalizam, diagnosticam e encaminham para um profissional da sade, muitas vezes, sem antes pensar em alternativas pedaggicas para esses problemas. Pois a medicalizao, cada vez mais, passa a ser um recurso pedaggico utilizado na educao.

    Contemporaneamente, a educao na infncia passa a ser tutelada pela escola. As teorias mdicas foram entrando gradativamente na vida familiar e escolar, assumindo o papel de agente de normalizao dos desvios educacionais. A instituio escolar transforma-se em um agente de controle dos comportamentos das crianas.

  • 15MEDICALIZAO DA EDUCAOEscola hoje: quem te define?

    a partir da metade do sculo XIX e do incio do sculo XX, juntamente difuso da educao escolar, que a preocupao com a sade e com a higiene se tornou uma das incumbncias da escola. E parece que as escolas tm enfatizado, nas ltimas dcadas, esse papel, passando a ser atuantes na medicalizao da educao e consequentemente da vida (BRZOZOWSKI; CAPONI, 2010).

    O iderio biologicista dos problemas na educao tem provocado nas escolas uma forma de cuidado que no difere muito do que se produziu nas instituies de sade. Primeiramente, a forma de lidar com quem apresentava algum problema mais acentuado de aprendizagem era deixar essas crianas a deriva, sem escola. Depois foram enclausurando em asilos, em lugares para crianas com alguma excepcionalidade, aps foram separando-as, com ajuda de um grupo de especialistas, em escolas especiais, mas com retorno para casa e, atualmente, novo recurso: conteno qumica, ou seja, se valida a crena de que os problemas de aprendizagem e os desvios de comportamento e seus sintomas podem ser apenas tratados com medicamentos. Como dizem Conrad e Schneider (1992) os problemas de aprendizagem passam a ser definidos em termos mdicos. A viso biomdica passa a ser, cada vez mais, hegemnica nas cincias da sade e na educao, e os medicamentos so considerados bens de consumo, e podem estar relacionados qualidade de vida, ao bem-estar e felicidade das crianas. Essa perspectiva faz uma aposta na minimizao dos efeitos colaterais das medicaes psicofarmacolgicas nas crianas. Tal aposta pode estar ancorada nas descobertas farmacuticas das ltimas dcadas, aliadas a uma indstria altamente rentvel e poderosa, uma potncia dos efeitos dos psicotrpicos na conteno de sintomas e a aparente resoluo dos problemas na conteno das crianas. Aliados a isso, esse tratamento sugere ser menos caro do que outras formas de tratamento. Como efeito, temos crianas que aparentam ser mais calmas e concentradas; consequentemente, a responsabilidade por aquela criana passa a no pertencer somente escola, pois muitos pais delegam escola a exclusividade da educao. Quando uma criana encaminhada a um profissional de sade e retorna escola com um diagnstico, ocorre uma mudana na forma de lidar com essa criana, desresponsabilizando a escola, pais e a criana do problema, agora ela um problema mdico.

    Na verdade, encontramos uma busca excessiva da medicalizao como recurso pedaggico ao invs de se apostar em outras alternativas de apoio a essas crianas com problemas na aprendizagem e de comportamento, tais como as salas de recursos, bibliotecas, atividades de educao fsica, projetos pedaggicos nas disciplinas, equipes de apoio, entre outros. Talvez esse fosse um caminho lgico se as escolas e os professores encontrassem infraestrutura e base salarial apropriada. O jornal O Globo (2014) anuncia, em um levantamento feito pelo movimento Todos Pela Educao, que apenas 4% das escolas brasileiras tm a infraestrutura adequada. Em toda a rede pblica do pas, apenas 4,15% das escolas tm todos os itens de

  • 16MEDICALIZAO DA EDUCAOEscola hoje: quem te define?

    infraestrutura apropriados que so descritos pelo Plano Nacional de Educao.

    Essa lamentvel e precria realidade fragiliza o potencial da escola e da educao, tensiona o trabalho do professor e se apresenta como fator de adoecimento institucional. Num lugar sem qualidade estrutural e salarial, criam-se poucos espaos para a produo de sade, embora sempre seja possvel a abertura de pontos de fuga, o que encontramos so lugares desempoderados e adoecidos. Nesse contexto, solues que se pretendem rpidas para solucionar os problemas, passam a ser tomadas com fora messinica. Medicalizar a vida tem se apresentado como resoluo de problemas educacionais, existenciais em larga escala nas escolas. A grande questo que essa soluo medicamentosa prope pouca mediao com os outros fatores constituintes do problema, pois muitas vezes negam a existncia de outros sentidos possveis. Quando propomos que o problema tem uma causa principal, no caso de etiologia biolgica, as demais so silenciadas.

    A medicalizao um recurso extremamente potente e necessrio, mas no resolve tudo e no o nico para os problemas da vida, em especial da infncia. Outras possibilidades de lidar com o que acontece na vida escolar devem ser ainda alcanadas. Caso contrrio, vamos apenas transformar alunos considerados malvados, irresponsveis, preguiosos, mal-educados, dentre outros atributos, em alunos doentes, no mais culpados por seu comportamento. Nessa linha de raciocnio, a correo desse comportamento deveria ser prioritariamente uma teraputica mdica (CONRAD; SCHNEIDER, 1992), j que o problema estaria no seu corpo biolgico, no seu crebro.

    O modelo medicamentoso parece ser indiscutvel e encontra eco na presso de pais, professores, de profissionais de sade, na autoridade mdica, nas descobertas farmacuticas, aliadas a uma indstria altamente rentvel e poderosa. As medicaes se mostram potentes em seus efeitos sobre os sintomas e se anunciam, muitas vezes, atravs de uma mdia consumista que alardeia seus aspectos positivos e camufla seu enorme impacto negativo. Diante desse quadro, aceitar apenas a perspectiva biomdica, sem question-la, acreditar que detm a verdade se submeter a uma relao de subordinao, de impotncia e de desempoderamento.

    A medicalizao crescente das crianas nas ltimas dcadas, tem se tornado a forma majoritria de interveno teraputica nessa faixa etria, essa prtica visa tratar sintomas, sem considerar o contexto em que essas crianas vivem e suas subjetividades, o sintoma, pensado dessa maneira, deixa de ter uma histria. O discurso social moderno cria uma criana cuja consistncia est no fato de ela ser submetida a uma educao que implica vigilncia, disciplina, segregao o que implica o surgimento de escola que no agrega sentidos vida.

    H uma conjugao entre medicina e pedagogia, dando lugar constituio de um saber medicalizado na educao de crianas. Na atualidade, a diferena entre

  • 17MEDICALIZAO DA EDUCAOEscola hoje: quem te define?

    adultos e crianas parece estar eclipsada na perspectiva biolgica. No campo do orgnico, as diferenas entre adultos e crianas praticamente desaparecem, pois a dimenso histrica parece estar ausente (GUARIDO, 2007). McDougall (1983, p. 14 ) anuncia que antes de serem normalizadas, as crianas, que questionam tudo e so capazes de imaginar qualquer coisa, so verdadeiros sbios e autnticos criadores comparadas maioria dos adultos. Ao normatizarmos e olharmos apenas para um corpo sem histria, perdemos a infncia. O grande problema que uma interveno realizada somente no campo da medicao no escuta os sentidos do sofrimento do outro, o que implica necessariamente um reducionismo da teraputica (GUARIDO, 2010).

    Ser que estamos mudando a concepo de infncia? De seres em construo, cunhado no sculo XX, para uma infncia binica, na qual caracterstica cognitivas e afetivas e peas orgnicas possam ser moldadas?

    Temos, durante sculos, uma relao com o infante que se modifica, at chegarmos modernidade, na qual a educao das crianas, em colgios, tem como meta a vigilncia e o disciplinamento do corpo e da mente, nela a criana deixaria seus afetos infantis para aprender (CECCIM; PALOMBINI 2009, p. 303). Qualquer modo de existir que no objetiva o ideal do adulto, tais como o raciocnio e o comportamento lgico deve ser banido. H um frequente abandono de crianas, ao longo da histria, por parte dos adultos. Na infncia h sempre algo a ser treinado, abandonado, domesticado, um projeto que se vincula a um futuro. Estamos distantes ainda de apostar que aprender na infncia se constituir atravs da experienciao do mundo e de si mesmo. Diferentemente, investimos em ganhar peas prontas, roteiros pr-estabelecidos, memrias e concentrao instantnea que, em contrapartida, brecam o seu agir de forma qumica. A criana tem uma vivacidade que no se ancora apenas no seu corpo biolgico, o transcende e o transmuta, quando encontra espaos e limites que produzem sentido.

    Os sentidos que damos aos nossos sofrimentos conduzem maneira de como lidamos com eles. Na atualidade, os sentidos esto sendo postos pela biomedicina, com seus suportes biotecnolgicos que movem um mercado lucrativo e em expanso. Com isso, produz-se, ento, um jeito de pensar e educar. Esperamos que essa forma de produo de sujeitos biolgicos no faa um apagamento de sua histria, do seu contexto e de sua humanidade.

    Precisamos estar atentos medicalizao do existir, ou seja, no se trata de desprezar os avanos na rea da psicofarmacolgica, mas produzir, com ela, um cuidado, no do excesso, mas de sensatez que permita vida, criatividade e ao devir da criana. Neste caminho, algumas iniciativas marcam presena como a proposta do Guia de Gesto Autnoma da Medicao.

  • 18MEDICALIZAO DA EDUCAOEscola hoje: quem te define?

    Onocko et al ( 2012), no Guia da Gesto Autnoma da Medicao (GAM), apontam a prevalncia de medicao em indivduos de maior vulnerabilidade social, como o caso das crianas e adolescentes. Salientam, ainda, que h pouca apropriao de informaes por parte da populao e essas ficam centralizadas nos especialistas. A proposta do Guia da Gesto Autnoma da Medicao no recai sobre a suspenso das medicaes e sim sobre a partilha de informaes, decises e da significao de sua utilizao entre profissionais, usurios e familiares. O tratamento em sade mental transcende a prescrio e o uso de medicamentos, pois as pessoas so mais do que uma doena ou um protocolo sintomatolgico, portanto devem ser cuidadas na sua complexidade.

    Tambm encontramos no guia: Recomendaes de Prticas no Medicalizantes para Profissionais e Servios de Educao e Sade (2012), algumas possibilidades de como lidar com essa problemtica. fundamental entendermos que o processo de aprendizagem, por ser multideterminado, constitudo por vrios fatores que esto relacionados s condies sociais, histricas e de existncia das pessoas. Quando algo no vai bem na aprendizagem de um determinado aluno, muitos aspectos devem ser observados e relacionados pelos professores e profissionais de sade. Portanto. devemos ter respeito s diversidades dos alunos, dos seus modos existir e s particularidades das escolas, dos professores, apostar nelas como espao de potncia e aprendizado, para isso, a escola tem que contar com infraestrutura, apoio da gesto e estar ativa na busca de polticas pblicas. Batalhar pelo reconhecimento e valorizao do trabalho do professor e a clareza de que a responsabilidade pelo aluno no deve ser s dele, mas de uma equipe, do governo e da comunidade, em especial da famlia, e da rede de sade. Construir constantemente o vnculo com o aluno, olhar para alm do transtorno e do diagnstico e apostar nos dilogos e trocas de experincias permanentes entre os sujeitos

    Referncias

    CECCIM , R. B.; PALOMBINI, A. L. Imagens da infncia, devir-criana e uma formulao educao do cuidado. Psicologia & Sociedade; 21 (3): 301-312, 2009.

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  • 19MEDICALIZAO DA EDUCAOEscola hoje: quem te define?

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    RECOMENDAES de prticas no medicalizantes para profissionais e servios de educao e sade (2012). Disponvel em: Acesso em: 07 maio 14.

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  • 20MEDICALIZAO DA EDUCAOEscola hoje: quem te define?

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  • PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SUL: UM FOCO NA DEFASAGEM ESCOLAR

    Moema De Poli Teixeira1,Kaiz Iwakami Beltro2,

    Cesar Ajara3,Julia Celia Mercedes Strauch4,

    Sono Sugahara Pinheiro5

    1 INTRODUO

    No ltimo sculo, houve um reconhecimento por parte da sociedade em relao ao direito educao como um instrumento de desenvolvimento humano importante para a produo e estabilidade de uma nao. Isto foi iniciado sobretudo aps a Segunda Grande Guerra Mundial, quando inmeros tratados, convenes internacionais, cartas constitucionais foram editados prevendo aes e obrigatoriedade de prestao do direito educao por partes de seus Estados-Membros.

    No Brasil, a preocupao com a educao remonta Constituio de 1824, que vigorou durante o regime imperial e que, em um dos seus artigos, prescrevia a instruo primria gratuita para todos os cidados (XAVIER, 1980). Desta poca aos dias atuais houve Constituies antidemocratizantes e democratizantes em relao ao direito educao. Como exemplo da primeira, temos as Constituies de 1937 e de 1946 que desobrigava o Estado, em nvel federal, estadual e municipal, da manuteno e expanso do ensino pblico e institucionalizava o ensino pblico pago a quem tivesse condies e desta forma previa o pagamento de uma taxa desde o ensino primrio que, em princpio, na lei, era gratuito. No segundo caso, constituio de tendncia democratizante, a Constituio de 1934 afirmava a obrigao do Estado, em nvel federal, estadual e municipal, na manuteno e na expanso do ensino pblico, bem como a gratuidade do ensino primrio e uma tendncia gratuidade dos demais graus de ensino (SOUZA et al., 2011).

    Nos dias atuais, o direito nacional educao resultado de mudanas no processo de reforma do Estado e de alteraes introduzidas em 1988, por meio da

    1 Doutorado em Antropologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil(1998). Pesquisador Titular da Fundao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica , Brasil.

    2 Doutorado em Estatstica pela Princeton University, Estados Unidos(1982). Professor Titular da Fundao Ge- Doutorado em Estatstica pela Princeton University, Estados Unidos(1982). Professor Titular da Fundao Ge-tlio Vargas, Brasil.

    3 Doutorado em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil(2001). Trabalha no Revista Para- Doutorado em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil(2001). Trabalha no Revista Para-naense de Desenvolvimento.

    4 Doutorado em Engenharia de Sistemas e Computao pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Bra- Doutorado em Engenharia de Sistemas e Computao pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Bra-sil(1998). Pesquisador Titular da Escola Nacional de Cincias Estatsticas, Brasil.

    5 Doutorado em Economia da Indstria e da Tecnologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Bra- Doutorado em Economia da Indstria e da Tecnologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Bra-sil(1996). Pesquisador da Fundao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica, Brasil.

  • 22PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    promulgao da Constituio da Repblica Federativa do Brasil, que reiterou que a educao direito de todos. Segundo o Frum Nacional de Educao, realizado em 2013 (FNE,2013), trata-se de um direito social, capaz de criar condies materiais na conquista de uma efetiva igualdade e de liberdade do cidado ao proporcionar a este o pleno preparo para o exerccio da cidadania e qualificao para o trabalho.6

    Esse direito tem sido assegurado atravs do Estatuto da Criana e do Adolescente, datado de 1990; da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (lei 9.394/96), aprovada em 1996, e do Plano Nacional de Educao (PNE), aprovado em 2001, que objetivam estabelecer as normas para a organizao e gesto dos diferentes nveis e modalidades da educao nacional, bem como, as aes e polticas a serem executadas de forma a garantir o acesso, a permanncia e a gesto democrtica, bem como a qualidade da educao (DOURADO, 2005; SOUZA et al., 2011; FNE, 2013). Neste ltimo cabe destacar ainda o Plano de Desenvolvimento da Educao e do Fundo de Desenvolvimento e de Valorizao dos Profissionais da Educao aprovados em 2007. Segundo Dourado (2005), este estatuto, as leis e os planos so resultantes do compromisso assumido de garantir educao para todos, em 2000, no Frum Mundial sobre Educao, realizado em Dakar.

    Desse modo, a coordenao de aes e polticas, que garantam a educao para todos como um direito social do cidado, funo da Unio, por meio do Ministrio da Educao (MEC), em articulao com os poderes pblicos Estaduais e Municipais. Assim, o pas possui uma estrutura organizada com finalidade de arrecadar, distribuir recursos para fomento do direito educao e fiscalizar o uso desses recursos. Aliado a isto, a sociedade brasileira tambm vem se organizando para que cada cidado, independente do sexo, raa, cor, credo religioso, idade, classe social e localizao geogrfica tenha acesso educao pblica, gratuita e de qualidade em todos os nveis, etapas e modalidades de ensino (CARVALHO, 2003; SILVERIO, 2008).

    extensa a bibliografia que associa os nveis de desenvolvimento econmico de um pas ao seu capital social, entre os quais se pode inserir o acesso de sua populao educao de qualidade. (AMARTYA SEN 2000; PUTNAM 2007; MCMAHON 1998; BECKER 1964; PASTORE 1978; FRAGA e BACHA 2013; DIAS et al. 2013). Segundo Souza (2012), pases como Finlndia, Coreia e Espanha do prioridade absoluta educao. O Brasil, com dimenses continentais e enormes diferenas regionais, ainda est distante das metas estabelecidas pelo o Plano de Metas Compromisso Todos pela Educao7 do Ministrio da Educao (2014).

    Conhecer as realidades locais torna-se importante para o delineamento de polticas pblicas capazes de reduzir disparidades regionais e setoriais nas vrias

    6 http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/diretrizes_compromisso.pdf

  • 23PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    reas que afetam as condies de vida da populao. Neste trabalho, que tem por objetivo estudar a escolaridade de indgenas e afrodescendentes, sero consideradas as categorias de cor/raa branca, indgena, parda e preta dos Censos Demogrficos. A distribuio geogrfica de cor/raa no Brasil bastante desigual, conforme ilustrada nas Figuras 1.a, 1.b, 1.c e 1.d.

    Figura 1 Cor/raa no Brasil

    a) Branca b) Indgena c) Parda d) Preta

    A cor/raa branca representa 47,7% da populao e se concentra nos estados da Regio Sul e Sudeste. A indgena representa 0,4% e se concentra nos estados da regio Norte e Centro-Oeste. A parda representa 43,1% da populao e se concentra nos estados da Regio Norte, Nordeste e Centro Oeste. A cor/raa preta representa 7,6% da populao e se concentra mais nos estados da Bahia e do Rio de Janeiro.

    Foram selecionados para anlise neste estudo, os estados da Bahia e do Rio Grande do Sul. O primeiro estado apresenta o maior percentual de afrodescendentes autodeclarados (cor/raa parda e preta), inclusive acima do percentual nacional (Tabela 1). O segundo estado foi selecionado em funo do interesse do pblico do evento e pelo fato de ser o segundo estado com maior percentual de pessoas autodeclaradas de cor/raa branca. Desta forma este trabalho busca verificar a existncia ou no de hiatos entre estas unidades federadas quanto a condies sociais, econmicas e educacionais enfatizando os grupos de cor/raa.

    Tabela 1 Distribuio de cor/raa

    Unidade territorial Pop. Branca (%) Pop. Indgena

    (%)Pop. Parda

    (%) Pop. Preta

    (%)

    Brasil 47,7 0,4 43,1 7,6

    Bahia 22,1 0,4 59,1 17,1

    Rio Grande do Sul 83,2 0,3 10,5 5,6

    Fonte: (IBGE, 2010).

  • 24PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    Assim, este trabalho visa proporcionar uma contribuio s questes de cor/raa no Brasil apresentando um panorama descritivo da educao, organizado em seis sees, a saber: a seo 2 apresenta a diviso municipal dos estados como unidade de anlise; a seo 3 descreve alguns indicadores de contextualizao das condies socioeconmicas no Brasil e nos estados da Bahia e do Rio Grande do Sul; a seo 4 apresenta as caractersticas da distribuio de raa/cor nessas unidades territoriais, a seo 5 apresenta indicadores de educao na Bahia e no Rio Grande do Sul; e, finalmente, a seo 6 apresenta as consideraes finais deste trabalho.

    2 UNIDADES DE ANLISE: municpio, microrregio e mesorregio

    A unidade de anlise deste trabalho o municpio uma vez que a educao do nvel fundamental assegurada pelo poder municipal. Dessa forma so consideradas as agregaes dos municpios em mesorregies e microrregies estabelecidas pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatstica (IBGE, 1990) para fins estatsticos. A utilizao destas unidades para a granularidade de informao permite analisar variaes geogrficas nos estados da Bahia e do Rio Grande do Sul na cobertura de servios, identificando situaes de desigualdade e tendncias que demandem aes e estudos especficos.

    As mesorregies so divises no mbito das unidades federativas do pas, que congregam diversos municpios de uma rea geogrfica com similaridades econmicas e sociais, e que por sua vez, so subdivididas em microrregies. Essa diviso parte de determinaes a nvel conjuntural com base nas seguintes dimenses: i) o processo social como determinante; ii) o quadro natural e, iii) a rede de comunicao e de lugares como elemento da articulao espacial (IBGE, 2008). Esta diviso tem aplicaes na elaborao de polticas pblicas e no subsdio ao sistema de decises quanto localizao de atividades econmicas, sociais e tributrias, contribuindo assim para as atividades de planejamento, estudos e identificao das estruturas espaciais de regies metropolitanas e outras formas de aglomeraes urbanas e rurais.

    Desta forma, o Estado da Bahia apresenta o seu territrio dividido em sete mesorregies, conforme descrito no Quadro 1; com 32 microrregies e 417 municpios, conforme ilustrado nas Figuras 2 e 3, apresentado uma rea de 564.733,177 km2 e densidade demogrfica de 24,82 hab/km2.

  • 25PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    Figura 2 Mesorregies da Bahia Figura 3 Microrregies da Bahia

    Dentre as mesorregies deste estado destacam-se no Quadro 1 a microrregio Metropolitana de Salvador com o maior PIB e densidade populacional e no outro polo o Extremo Oeste Baiano com os menores PIB e densidade demogrfica registrados no Censo de 2010.

    Quadro 1 - Principais caractersticas das Mesorregies Baianas

    Fonte: (IBGE,2010)

    MesorregioNum. De Microrregies

    Quantidade de Municpios

    PopulaoDensidadehab./km

    PIB per capita R$ (IBGE,2010)

    Extremo Oeste Baiano 3

    1 24 555.536 4,5 229.722,80

    Vale So Franciscano da Bahia 4

    2 27 988.542 8,2 168.504,90

    Centro-Sul Baiano 83 118 2.478.542 20,2 597.423,50

    Sul Baiano 34 70 2.012.004 37,3 546.697,60

    Centro-Norte Baiano 55 80 2.229.776 26,1 395.416,50

    Nordeste Baiano 66 60 1.545.711 26,9 300.249,10

    Metropolitana de Salvador 3

    7 38 4.211.321 437,5 713.530,30

    __________________________1 Barreiras, Cotegipe, Santa Maria da Vitria2 Barra, Bom Jesus da Lapa, Juazeiro, Paulo Afonso3 Boquira, Brumado, Guanambi, Itapetinga, Jequi, Livramento do Brumado, Seabra, Vitria da Conquista4 Ilhus-Itabuna, Porto Seguro, Valena 5 Feira de Santana, Irec, Itaberaba, Jacobina, Senhor do Bonfim6 Alagoinhas, Entre Rios, Euclides da Cunha, Jeremoabo, Ribeira do Pombal, 7 Catu, Santo Antnio de Jesus, Salvador

  • 26PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    O Estado do Rio Grande do Sul, em 2010, registrou 10.727.937 habitantes estando o seu territrio dividido em sete mesorregies, conforme descrito no Quadro 2; com 35 microrregies e 496 municpios, conforme ilustrado nas Figuras 4 e 5, apresentando uma rea de 281.730,223 km2 e densidade demogrfica de 37,96 hab/km2. A mesorregio Metropolitana de Porto Alegre tem cerca de 20% dos municpios e apresentou o maior PIB e densidade demogrfica em 2010, em oposio mesorregio Centro-Ocidental Rio-Grandense que apresenta os menores valores para estes indicadores, conforme apresentado no Quadro 2.

    Figura 4 Mesorregies do Rio Grande do Sul

    Figura 5 Microrregies do Rio Grande do Sul

    Quadro 2 - Principais caractersticas das Mesorregies do Rio Grande do Sul

    Fonte: (IBGE,2010)

    8 Restinga Seca, Santa Maria e Santiago9 Cachoeira do Sul, Lajeado-Estrela, Santa Cruz do Sul,10 Camaqu, Gramado-Canela, Montenegro, Osrio, Porto Alegre, So Jernimo11 Caxias do Sul, Guapor, Vacaria 12 Carazinho, Cerro Largo, Cruz Alta, Erechim, Frederico Westphalen, Iju, No me toque, Passo Fundo, Sanan-duva, Santa Rosa, Santo ngelo, Soledade, Trs Passo, 13 Jaguaro, Litoral Lagunar, Pelotas, Serras de Sudeste14 Campanha Central, Campanha Meridional, Campanha Ocidental

    MesorregioNum. de

    MicrorregiesQuantidade de

    MunicpiosPopulao

    Densidadehab./km

    PIB per capita R$

    (IBGE,2010)Centro Ocidental Rio-Grandense 3

    8 31 536.988 21,1 534.574,66

    Centro Oriental Rio-Grandense 3

    9 54 778.892 44,8 1.015.247,64

    Metropolitana de Porto Alegre 6

    10 98 4.743.584 160,3 1.970.649,12

    Nordeste Rio-Grandense 3

    11 53 1.054.232 39,2 1.366.033,74

    Noroeste Rio-Grandense 13

    12 216 1.946.790 30,4 4.021.408,03

    Sudeste Rio-Grandense 413 25 911.751 21,9 395.025,04

    Sudoeste Rio-Grandense 3

    14 19 723.295 11,56 440.907,65

  • 27PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    O IBGE efetua, ainda, uma hierarquia dos centros urbanos e delimita as regies de influncia a eles associadas a partir de aspectos de gesto federal e empresarial e da dotao de equipamentos e servios, de modo a identificar os pontos do territrio a partir dos quais so emitidas decises e exercido o comando em uma rede de cidades (IBGE, 2008). Isto permite conhecer os relacionamentos entre as cidades brasileiras com base na anlise dos fluxos de bens e servios que movimentam a economia estadual.

    Assim os centros urbanos podem ser classificados na seguinte hierarquia: metrpoles, capital regional, centro sub-regional, centro de zona e centro local. As metrpoles so centros urbanos do Pas, que caracterizam-se por seu grande porte e por fortes relacionamentos entre si, alm de, em geral, possurem extensa rea de influncia direta. Capital regional so centros que, como as metrpoles, tambm se relacionam com o estrato superior da rede urbana e apresentam capacidade de gesto no nvel imediatamente inferior ao das metrpoles, tm rea de influncia de mbito regional, sendo referidas como destino, para um conjunto de atividades, por grande nmero de municpios. Centro de zona so cidades de menor porte e com atuao restrita sua rea imediata e exercem funes de gesto elementares. Centro local so cidades cuja centralidade e atuao no extrapolam os limites do seu municpio, servindo apenas aos seus habitantes e apresentam populao dominantemente inferior a 10 mil habitantes.

    Nesta classificao, a Bahia possui Salvador como metrpole e Barreiras, Feira de Santana e Vitoria da Conquista como capitais regionais com ligaes empresariais aos centros de mais alto nvel, conforme ilustrado nas Figuras 6.a, 6.b, 6.c e 6.d.

    Figura 6 - Regies de influncia do Estado da Bahia

    a) Metrpolede Salvador

    b) Capital regional de Vitria da Conquista

    c) Capital regional de Feira de Santana

    d) Capital regional de Barreiras

  • 28PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    O Rio Grande do Sul possui Porto Alegre como metrpole e Caxias do Sul, Passo Fundo, Iju, Novo Hamburgo e Santa Maria como capitais regionais com ligaes empresariais aos centros de mais alto nvel, conforme ilustrado nas Figuras 7.a, 7.b, 7.c, 7.d, 7.e e 7.f.

    a) Metrpole de Porto Alegre b) Capital regional de Passo Fundo

    c) Capital regional de Caxias do Sul

    d) Capital regional de Iju e) Capital regional de Novo Hamburgo

    f) Capital regional de Santa Maria

    2 CARACTERIZAO DAS CONDIES SOCIOECONMICAS MUNICIPAIS

    As condies socioeconmicas s quais as crianas so ambientadas esto associadas ao desempenho escolar. Assim, de modo a possibilitar nas sees frente, a anlise dos indicadores de educao, nesta seo so analisados cinco indicadores para proporcionar uma caracterizao da situao socioeconmica da populao baiana e gacha, identificando situaes de desigualdade bem como

    Figura 7 - Regies de influncia do Estado do Rio Grande do Sul

  • 29PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    tendncias nos estados da Bahia e do Rio Grande do Sul, que auxiliaro na definio de polticas pblicas para educao municipal.

    O primeiro indicador a taxa de urbanizao que mensura a proporo de populao urbana em relao populao total. A mdia nacional 85,7%, enquanto a Bahia apresenta uma mdia de 74,1%, sendo 72,1% dos domiclios urbanos e 27,9% dos domiclios rurais, concentrando os maiores valores deste indicador na regio metropolitana de Salvador e nos municpios da microrregio de Ilhus/Itabuna e Porto Seguro e, no interior da Bahia, no municpio de Barreiras. O Estado do Rio Grande do Sul apresenta uma taxa de urbanizao de 85,7% sendo 85,7% dos domiclios urbanos e 14,3% dos domiclios rurais, apresentando as maiores taxas na mesorregio Metropolitana de Porto Alegre e Sudoeste Rio-Grandense. As menores taxas esto concentradas na mesorregio Centro Oriental Rio-Grandense, conforme ilustrado nos mapas das Figuras 8.a e 8.b.

    Figura 8 Taxa de urbanizao

    a) Bahia b) Rio Grande do Sul

    O segundo indicador utilizado a mediana da renda domiciliar per capita1, apresentada no Quadro 3, os valores para a Bahia e Rio Grande do Sul, incluindo os valores para as reas urbana e rural. A mediana da renda domiciliar per capita no Rio Grande do Sul 47,9% maior que na Bahia, refletindo nas reas urbanas e rurais uma diferena de 53,5% e 33,3%, respectivamente.

    1 A renda domiciliar per capita calculada dividindo-se a do total de renda de cada domicilio pelo nmero de moradores de uma residncia. A mediana da renda domiciliar per capita corresponde ao valor tal que metade da populao ganha abaixo deste valor e a outra acima.

  • 30PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    Quadro 3 Mediana de a renda domiciliar per capita

    De modo a detectar padres espaciais nesses estados em relao mediana da renda nominal de todas as fontes per capita foi empregado o ndice de Moran local. Trata-se de um indicador estatstico exploratrio espacial que oferece um valor especfico de correlao para cada municpio permitindo classific-lo em um diagrama de espalhamento de acordo com o comportamento da variabilidade espacial da mediana da renda nominal per capita normalizada em relao mdia da mediana da renda nominal per capita dos seus municpios vizinhos e assim espacializ-los de modo a identificar agrupamento de municpios, podendo os municpios serem classificados em:

    ALTO-ALTO: valores normalizados positivos e mdias dos municpios vizinhos positivas

    BAIXO-BAIXO: valores normalizados negativos e mdias dos municpios vizinhos negativas

    BAIXO-ALTO: valores normalizados positivos e mdias dos municpios vizinhos negativas

    ALTO-BAIXO: valores normalizados negativos e mdias positivas dos municpios vizinhos

    Nas Figuras 9.a e 9.b so representados os agrupamentos de municpios nos estados da Bahia e Rio Grande do Sul. Na Figura 9.a, observa-se que a mediana da renda nominal per capita alta em relao mdia dos vizinhos em alguns municpios da Regio Metropolitana de Salvador, Porto Seguro e Ilhus/Itabuna e no municpio de Barreiras. Por outro lado os municpios da microrregio de Juazeiro, Cotegipe, Barra, Irec, Seabra e Itaberaba apresentam a mediana da renda per capita abaixo da mdia dos seus vizinhos. Na Figura 9.b, verifica-se um agrupamento em relao mediana da renda per capita nas microrregies Metropolitana de Porto Alegre, Gramado-Canela, Caxias do Sul e Montenegro. Em oposio a este agrupamento tem-se os municpios da microrregio de Frederico Westphalen, Santo ngelo e Serras do Sudeste.

    Total(R$) Urbana (R$) Rural(R$)

    Bahia 295,00 350,00 170,00

    Rio Grande do Sul 615,00 653,33 510,00

  • 31PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    Figura 9 Agrupamento pelo ndice de Moran local da renda mediana domiciliar per capita

    a) Bahia b) Rio Grande do Sul

    O terceiro indicador empregado o esgotamento sanitrio que proporciona uma sinalizao das condies de sade da populao, evitando a contaminao e proliferao de doenas e ao mesmo tempo, garantindo a preservao do meio ambiente. Neste trabalho foi considerado o percentual de domiclios com rede geral de esgoto ou pluvial: canalizao das guas servidas e dos dejetos, provenientes do banheiro ou sanitrio, ligado a um sistema de coleta que conduz para um desaguadouro geral da rea, regio ou municpio, mesmo que o sistema no disponha de estao de tratamento da matria esgotada. Neste indicador, o Brasil apresenta 54,7% de seus domiclios com servios de rede geral de esgoto ou pluvial com destaque para os estados de Minas Gerais, So Paulo, Paran e Rio Grande do Norte na apresentao dos melhores servios de esgotamento sanitrio, como pode ser visualizado na Figura 10.a.

    Figura 10 - Esgotamento sanitrio

    a) Brasil b) Bahia c) Rio Grande do Sul

  • 32PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    O Estado da Bahia, com 45,0%, apresenta municpios com baixa taxa deste servio. Em especial, nos municpios da microrregio de Juazeiro, Barra, Cotegipe, Santa Maria da Vitoria, Bom Jesus da Lapa, Boquira, Guanambi e Brumado e, por outro lado, agrupamentos melhores na microrregio Ilhus/Itabuna e a Regio Metropolitana de Salvador, e, e em parte de Barreiras, Irec, Jacobina, conforme apresentado nas Figuras 10.b. O Rio Grande do Sul apresenta 47,4% de domiclios com rede geral de esgoto ou pluvial, apresentando a melhor situao nos municpios da mesorregio do Sudoeste Rio Grandense e a pior situao nos municpios do Noroeste do Rio Grandense (Figura 10.c).

    O quarto indicador a taxa de analfabetismo considerando a populao de 15 ou mais anos no alfabetizada. O Brasil possui (Figura 11.a) uma taxa de 9,37% apresentando as piores situaes nos estados do Maranho, Piau, Rio Grande do Norte e Sergipe. A Bahia, com uma taxa de 16,2%, concentra a melhor situao na microrregio Metropolitana de Salvador e a pior situao na microrregio de Itapetinga, conforme apresentado na Figura 11.b. O Estado do Rio Grande Sul apresenta para a taxa de analfabetismo 4,39%, estando as menores taxas nos municpios de Caxias do Sul, Montenegro, Gramado-Canela e Porto Alegre e as piores taxas em alguns municpios que se encontram nas microrregies de Pelotas, Serras Sudeste, Santiago e Cruz Alta (Figura 11.c).

    Figura 11 Taxa de analfabetismo

    a) Brasil b) Bahia c) Rio Grande do Sul

    O quinto e ltimo indicador o Produto Interno Bruto per capita. A Bahia, em 2010, teve seu PIB per capita no valor de R$ 11.011,02 apresentado os dez melhores e piores municpios conforme descrito Tabela 2. O Rio Grande do Sul em 2010 teve como PIB per capita o valor de RS 23.609,90. Os dez melhores e piores desempenhos deste indicador so apresentados na Tabela 3.

  • 33PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    Tabela 2 Municpios com os melhores e piores PIB per capita em 2010 Bahia

    Municpio Dez Piores Municpio Dez Melhores

    Novo Triunfo 2.782,87 So Francisco do Conde 296.786,28

    Caetanos 2.856,69 Camaari 55.066,69

    Anguera 2.918,94 Candeias 50.564,19

    Lamaro 3.095,21 Cairu 44.894,07

    Buritirama 3.259,64 Lus Eduardo Magalhes 34.963,32

    Bom Jesus da Serra 3.321,93 Dias dvila 32.699,92

    Mirante 3.325,88 Simes Filho 31.259,27

    Umburanas 3.351,93 So Desidrio 30.878,03

    Pirip 3.356,52 Pojuca 30.543,31

    Pilo Arcado 3.395,28 Mucuri 27.615,73

    Tabela 3 Municpios com os melhores e piores PIB per capita em 2010 Rio Grande do Sul

    Municpio Dez Piores Municpio Dez Melhores

    Cara 7.020,39 Triunfo 224.004,44

    Alvorada 7.529,93 Pinhal da Serra 76.834,61

    Itati 8.101,37 Muitos Capes 72.087,36

    Redentora 8.236,63 Garruchos 68.651,02

    Barra do Guarita 8.570,92 Aratiba 59.602,40

    Arroio dos Ratos 8.960,36 Canoas 51.101,25

    Capela de Santana 9.174,51 Nova Ara 44.745,03

    Amaral Ferrador 9.219,78 Nova Bassano 43.602,39

    Ametista do Sul 9.243,94 Entre Rios do Sul 42.752,42

    Viamo 9.292,77 Capo Bonito do Sul 41.449,06

    3 CARATERIZAO DE COR/RAA

    A literatura brasileira e internacional na rea da sociologia da educao tem apontado para a relevncia do pertencimento tnico-racial sobre as desigualdades educacionais com reflexos sobre o desempenho escolar (OXOBY, 2009).

  • 34PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    Classificaes com base no perfil tnico ou racial de uma populao podem ser entendidas como um conjunto de categorias nas quais os sujeitos da classificao podem ser enquadrados (OSORIO, 2003) seguindo denominaes referidas a distines socialmente construdas de pertencimento a grupos assim caracterizados. Na medida em que refletem constructos sociais e representaes coletivas, estas classificaes variam de pas para pas, tanto conceitualmente (o que cor, raa ou etnia) como nas formas de capt-lo (pergunta aberta ou fechada; viso essencialista do fenmeno do tipo voc ou numa perspectiva de identidades assumidas do tipo voc se considera; uma nica opo de resposta ou vrias na linha multiculturalista), o que se reflete no tipo e quantidade de categorias oferecidas para identificao (MORNING, 2008). Em qualquer dos casos, tem sido a regra geral recomendada a todos os pases pelas Naes Unidas desde 1959, que a metodologia seja a da autodeclarao pelo entrevistado.

    A definio de cor/raa empregada nos estudos com fins estatsticos a utilizada pelo IBGE conforme declarao da pessoa recenseada, de acordo com categorias pr-definidas no plano de investigao do Censo. Assim, no Brasil, so empregadas cinco categorias de cor/raa, a saber: amarela, branca, indgena, parda e preta desde o Censo de 1991. Este sistema define igual nmero de grupos raciais e a identificao racial realizada por meio do uso simultneo de autoatribuio e de hteroatribuio que o indivduo pertena.

    Esta classificao empregada nas pesquisas do IBGE, dentre outros fatores, reflete a histria das relaes raciais brasileiras nos ltimos dois sculos e os mecanismos pelos quais se efetivam as discriminaes de sua populao com base nessas caractersticas e atributos. Isto torna os grupos raciais abrangentes e de fronteiras fluidas criando, segundo Osorio (2003), uma impreciso do fenmeno da identificao racial, uma vez que a definio de qual grupo racial o indivduo pertence pode variar tanto circunstancialmente como regionalmente. Desta forma, no se pode, a partir dos resultados de seu emprego, saber exatamente qual o fentipo nacional do pardo, ou do preto, ou do branco. Entretanto possvel identificar as pessoas que se enquadram nessas categorias em seus contextos relacionais locais.

    Estudando possveis diferenas entre categorias de resposta aberta utilizadas para se autoclassificar e classificar outros membros do domiclio na PME de julho de 1998, Teixeira e Beltro (2008) identificam pelo menos cinco nveis capazes de orientar as classificaes raciais: i) a viso do indivduo sobre si mesmo; ii) a viso do indivduo sobre algum prximo (um familiar, por exemplo); iii) a viso do indivduo sobre um desconhecido, baseado to somente na aparncia deste ltimo; iv) a viso de um indivduo de como percebido pela sociedade em geral e v) a descrio de como um indivduo quer ser percebido num dado contexto.

    Desta forma, neste trabalho feita uma anlise exploratria espacial tentando encontrar as regies onde h maior concentrao por grupos de cor/raa nos estados da Bahia e do Rio Grande do Sul.

  • 35PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    A distribuio de cor/raa na Bahia muito diferenciada da percentagem em nvel de Brasil. A cor/raa branca representa 22,1% da populao e se concentra nos municpios da mesorregio do Centro sul Baiano (Figura 12.a). A cor/raa indgena representa 0,4% e se concentra nos municpios da microrregio de Ilhus/Itabuna e, em especial, em Santa Cruz de Cabrlia (Figura 12.b), ao passo que a cor/raa parda representa 59,1% da populao e se concentra em maior proporo nos municpios ao norte da mesorregio do Vale do So Francisco (Figura 12.c), enquanto que a cor/raa preta representa 17,1% e se concentra na microrregio de Ilhus/Itabuna e na Regio Metropolitana de Salvador (Figura 12.d).

    Figura 12 Distribuio de cor/raa no estado da Bahia

    a) Branca b) Indgena c) Parda d) Preta

    No Estado do Rio Grande do Sul cor/raa branca representa 83,2% da populao e se concentra nos municpios da microrregio de Pelotas, Caxias do Sul, Montenegro, Lajeado-Estrela, Erechim (Figura 13.a). A cor/raa indgena representa 0,3% se concentra nos municpios da mesorregio do Noroeste Rio Grandense (Figura 13.b), ao passo que a cor/raa parda representa 10,6% da populao e se concentra em maior proporo nos municpios da microrregio da campanha Ocidental e do Nordeste Rio Grandense (Figura 13.c), enquanto que a cor/raa preta representa 5,6% e se concentra na mesorregio de Sudoeste Rio Grandense e Sudeste Rio Grandense (Figura 13.d).

  • 36PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    Figura 13 Distribuio de cor/raa no estado do Rio grande do Sul

    a) Branca b) Indgena

    c) Parda d) Preta

    Um outro indicador observado neste trabalho rendimento mdio mensal de todos os trabalhos das pessoas ocupadas de 10 anos ou mais de idade por cor/raa na semana de referncia do Censo 2010, conforme apresentado na Tabela 4. Observa-se que as populaes branca, parda e preta apresentam maiores rendimentos no Rio Grande do Sul, exceto a populao indgena que, na Bahia, apresenta maior rendimento que esta mesma populao no estado do Rio Grande do Sul. Na Bahia a populao branca tem rendimentos aproximadamente 1,9 e 1,7 maior do que a populao parda e preta, respectivamente, e no Rio Grande do Sul esta relao se mantm apresentando aproximadamente a mesma, assumindo os valores de 1,8, e 1,7 vezes maiores, respectivamente.

    Tabela 4 - Rendimento mdio mensal de todos de todos os trabalhos das pessoas ocupadas de 10 anos ou mais de idade por cor/raa

    Cor/Raa Brasil Bahia Rio Grande do Sul

    Rendimentos Pessoas Rendimentos Pessoas Rendimentos Pessoas

    Branca 773,16 90.621.281 537,51 3.080.929 722,52 8.899.357

    Indgena 213,85 821.501 268,55 56.742 245,46 33.153

    Parda 367,11 82.820.452 281,63 8.335.917 395,29 1.137.823

    Preta 425,65 14.351.162 307,18 2.376.441 423,59 587.888

  • 37PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    4 INDICADORES DE EDUCAO

    A oferta de educao infantil e do ensino fundamental de responsabilidade prioritria dos municpios ao passo que a oferta prioritria do ensino mdio e a garantia do Ensino Fundamental competem aos estados, exceo do Distrito Federal, que dada a sua singularidade, apresenta as mesmas competncias de estados e municpios. Nesse sentido, o papel da Unio consiste em gerir redistribuindo e completando a assistncia tcnica e financeira aos estados, ao Distrito Federal e aos municpios de forma a promover o desenvolvimento de seus sistemas de ensino e o atendimento prioritrio escolaridade obrigatria.

    Assim, no Brasil, o direito educao responsabilidade das trs esferas de governo: municipal, estadual e federal, de modo que seu planejamento deve envolv-las atravs de polticas educacionais, programas e, sobretudo, por meio da aprovao de planos de educao nacional, estadual e municipal. Atualmente as etapas da educao brasileira esto organizadas nos nveis conforme apresentado no Quadro 4.

    Quadro 4 - Organizao dos nveis e etapas da educao brasileira

    Nveis Etapas Durao Faixa Etria

    Educao Infantil Creche 3 a 4 anos De 0 a 3 anos

    Pr-escola 2 ou 3 anos De 4 a 5/6 anos*

    Educao BsicaEnsino Fundamental:

    1 Seguimento 2 Seguimento 8 ou 9 anos

    De 6/7 a 10 anos* De 10 a 14 anos*

    Ensino Mdio 3 anos De 15 a 18 anos

    Educao Superior

    Cursos e programas de graduao, ps-graduao por rea

    Varivel De 19 a 24 anos

    Fonte: Ministrio da Educao (portal.mec.gov.br/seb).

    No ltimo Censo (IBGE, 2010), o nmero de crianas e jovens, de 0 a 14 anos soma um total de 49.435.328 pessoas, que corresponde a 25,9% da populao brasileira. O primeiro indicador descreve por nvel/etapa educacional o nmero de crianas e jovens por faixa etria e nmero de crianas sem defasagem escolar no Brasil, Bahia e Rio Grande do Sul, conforme apresentado nas Tabela 5, 6 e 7 a seguir.

    * A variao deve-se ao perodo de adaptao da Lei n. 11.274 de 6 de fevereiro de 2006 que aponta a obrigatoriedade da ampliao do ensino fundamental para nove anos e o prazo at 2010 para que os sistemas de ensino se adaptem.

  • 38PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    Tabela 5 - Crianas e jovens por faixa etria e nmero de matriculas Brasil

    Fonte: (IBGE, 2010, MEC;2010)

    Tabela 6 - Crianas e jovens por faixa etria e nmero de matriculas Bahia

    Fonte: (IBGE, 2010, MEC;2010)

    Observa-se nestas trs tabelas que o percentual de crianas de 0 a 3 anos pequeno, em torno de 18,9% no Brasil, 11,3 na Bahia e 21,1% no Rio Grande do Sul. Na pr-escola o percentual menor no Rio Grande do Sul assumindo 60,7% enquanto na Bahia 80,9%, ficando prximo do nvel nacional.

    Faixas etriasNvel/etapa educacional

    N de crianas e/ou

    jovens

    N de criana matriculadas

    N de crianas e/ou jovens sem defasagem

    % matriculadas

    % sem defasagem

    0 a 3 anosEducao

    Infantil: Creche10.925.892 2.064.653 2.575.954 18,9 23,6

    4 e 5/6 anosEducao

    Infantil: Pr-escola

    5.802.254 4.692.045 3.803.719 80,9 65,6

    6/7 a 10 anosEnsino

    Fundamental: 1 Seguimento

    15.540.421 16.755.708 8.751.626 107,8 56,3

    11 a 14 anosEnsino

    Fundamental: 2 Seguimento

    17.166.761 14.249.633 10.781.269 83,0 62,8

    TOTAL 49.435.328 37.762.039 25.912.568 76,4 52,4

    Faixas etriasNvel/etapa educacional

    N de crianas e/ou jovens

    N de pessoas matriculadas

    N de crianas e/ou jovens

    sem defasagem

    % matriculadas

    % sem defasagem

    0 a 3 anosEducao

    Infantil: Creche841.629 95.104 166.641 11,3 19,8

    4 e 5/6 anosEducao

    Infantil: Pr-escola

    446.690 360.869 323.249 80,8 72,4

    6/7 a 10 anosEnsino

    Fundamental: 1 Seguimento

    1.241.063 1.342.650 833.682 108,2 67,2

    11 a 14 anosEnsino

    Fundamental: 2 Seguimento

    1.062.096 1.077.145 653.839 101,4 61,6

    TOTAL 3.591.478 2.875.768 1.977.411 80,1 55,1

  • 39PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    Tabela 7 - Crianas e jovens por faixa etria e nmero de matriculas Rio

    Grande do Sul

    Fonte: (IBGE, 2010, MEC;2010)

    Os percentuais de crianas matriculadas na Educao Infantil e no Ensino Fundamental (1 e 2 seguimento) na Bahia e Rio Grande do Sul so 80,1% (Tabela 6) e 79,7% (Tabela 7), respectivamente e esto acima da mdia nacional de 76,4% (Tabela 5). Os percentuais acima de 100% no Ensino Fundamental representam a defasagem nas sries deste ciclo, sendo maior na Bahia no 1 seguimento l, ao passo que no Rio Grande do Sul este indicador maior no 2 seguimento do Ensino Fundamental.

    De forma a subsidiar uma anlise espacial comparativa por cor/raa sobre a taxa de escolarizao so elaborados mapas com classes de 0; 0,1% a 25%; 25,1% a 50%; 50,1% a 75% e 75,1% a 100%, apresentados as Figuras 15 e 16 para a Bahia e as Figuras 17 e 18 para o Rio Grande do Sul. A taxa de escolarizao mensura a percentagem dos estudantes de um grupo etrio em relao ao total de pessoas do mesmo grupo etrio e esta anlise espacial possibilita compreender a gesto municipal e subsidiar a avaliao de polticas voltadas para educao.

    Observa-se, na Bahia, que, para a populao branca, 73,6% e 76,5% dos municpios apresentam taxa de escolarizao na classe de 50% a 75% no 1 seguimento (Tabela 8 e Figura 15.a) e no 2 seguimento (Tabela 9 e Figura 16.a), respectivamente. Nos dois seguimentos para a populao branca a taxa de escolarizao no estado varia de 2% a 100%. Para a populao indgena verifica-se que a taxa de escolarizao em 78,9% dos municpios para o 1 seguimento fica em 0% (Tabela 8 e Figura 15.b), enquanto no 2 seguimento (Tabela 8 e Figura 15.b) a taxa de escolarizao em 80,3% dos municpios manifesta-se nas classes de 0,1% a 25%.

    Faixas etriasNvel/etapa educacional

    N de crianas e/ou jovens

    N de pessoas

    matriculadas

    N de crianas e/ou jovens sem

    defasagem

    % matriculadas

    % sem defasagem

    0 a 3 anosEducao

    Infantil: Creche506.957 107.170 114.501 21,1 22,6

    4 e 5/6 anosEducao

    Infantil: Pr-escola

    275.955 167.574 122.073 60,7 44,2

    6/7 a 10 anosEnsino

    Fundamental: 1 Seguimento

    760.832 773.084 436.199 101,6 57,3

    11 a 14 anosEnsino

    Fundamental: 2 Seguimento

    685.729 729.288 571.227 106,4 83,3

    TOTAL 2.229.473 1.777.116 1.244.000 79,7 55,8

  • 40PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    As taxas de escolarizao da populao parda em 79,1% e 85,4% dos municpios nos 1 e 2 seguimentos ficam na classes de 50% a 75% (Tabelas 8 e 9, Figura 14.c e 15.c). Para a populao preta, 55,9% (Tabela 8) e 51,1% (Tabela 9) dos municpios baianos tem taxa de escolarizao na classe de 50,1% a 75% nos 1 (Figura 14.d) e 2 (Figura 15.d) seguimentos.

    Tabela 8 Distribuio das classes da taxa de escolarizao

    do 1 seguimento na Bahia

    Classes Branca % Indgena % Parda % Preta %

    0% 0 0,0 329 78,9 0 0,0 3 0,7

    0.1%-25.0% 0 0,0 1 0,2 0 0,0 4 1,0

    25.1%-50.0% 25 6,0 9 2,2 17 4,1 54 12,9

    50.1%-75.0% 307 73,6 20 4,8 330 79,1 233 55,9

    75.1%-100.0% 85 20,4 58 13,9 70 16,8 123 29,5

    Total de municpios

    417 100,0 417 100,0 417 100,0 417 100,0

    Tabela 9 Distribuio das classes da taxa de escolarizao do 2 seguimento na

    Bahia

    Classes Branca % Indgena % Parda % Preta %

    0% 0 0 0 0,0 0 0,0 5 0,0

    0.1%-25.0% 0 0,0 335 80,3 0 0,0 10 2,4

    25.1%-50.0% 47 11,3 20 4,8 52 12,5 151 36,2

    50.1%-75.0% 319 76,5 9 2,2 356 85,4 213 51,1

    75.1%-100.0% 51 12,2 53 12,7 9 2,2 38 9,1

    Total de municpios 417 100,0 417 100,0 417 100,0 417 100,0

  • 41PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    Figura 14 - Taxa de escolaridade por cor/raa no estado da Bahia 1 Seguimento

    a) Branca b) Indgena c) Parda d) Preta

    Figura 15 - Taxa de escolaridade por cor/raa no estado da Bahia 2 Seguimento

    a) Branca b) Indgena c) Parda d) Preta

    No Rio Grande do Sul observa-se que a taxa de escolarizao da populao branca para a 58,3% e 74,0% dos municpios esto na classe de 50% a 75% tanto para o 1 (Tabela 10 e Figura 16.a) como para o 2 seguimento (Tabela 11 e Figura 17.a), respectivamente. Para a populao indgena observa-se que a taxa de escolarizao no 1 e 2 seguimento para 8,7% e 6,7% dos municpios fica na classe de 75,1% a 100% (Figura 16.b e 17.b).

  • 42PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    Tabela 10 Distribuio das classes da taxa de escolarizao do 1 seguimento no Rio Grande do Sul

    Classes Branca % Indgena % Parda % Preta %

    0% 0 0,0 428 86,3 21 4,2 127 25,6

    0.1%-25.0% 0 0,0 0 0,0 3 0,6 7 1,4

    25.1%-50.0% 8 1,6 8 1,6 35 7,1 36 7,3

    50.1%-75.0% 199 40,1 17 3,4 141 28,4 102 20,6

    75.1%-100.0% 289 58,3 43 8,7 296 59,7 224 45,2

    Total de municpios 496 100,0 496 100,0 496 100,0 496 100,0

    Tabela 11 Distribuio das classes da taxa de escolarizao do 2 seguimento no Rio Grande do Sul

    Classes Branca % Indgena % Parda % Preta %

    0% 0 0,0 431 86,9 15 3,0 126 25,4

    0.1%-25.0% 0 0,0 0 0,0 3 0,6 3 0,6

    25.1%-50.0% 0 0,0 16 3,2 25 5,0 43 8,7

    50.1%-75.0% 129 26,0 16 3,2 235 47,4 130 26,2

    75.1%-100.0% 367 74,0 33 6,7 218 44,0 194 39,1

    Total de municpios

    496 100,0 496 100,0 496 100,0 496 100,0

    A taxa de escolarizao da populao parda para 59,7% dos municpios gachos no 1 seguimento se concentra na classe de 75% a 100%, enquanto no 2 seguimento 47,4% dos municpios esto na classe de 50 a 75%. Para a populao preta, 45,2% e 39,6% dos municpios apresentam a taxa de escolarizao no 1 e 2 seguimentos (Tabelas 10 e 11, Figuras 16.d e 17.d) h mais municpios na classe de 75% a 100%.

    Figura 16 Taxa de escolaridade no estado do Rio Grande do Sul 1 Seguimento

    a) Branca b) Indgena

  • 43PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    c) Parda d) Preta

    Figura 17 Taxa de escolaridade no estado do Rio Grande do Sul 2 Seguimento

    a) Branca b) Indgena

    c) Parda d) Preta

    O terceiro indicador a defasagem escolar que representa o descompasso entre o nmero da populao brasileira em idade escolar e o nmero efetivo de matrculas por nvel/etapas educacionais na faixa etria correspondente. Na literatura brasileira so encontrados vrios trabalhos (CARVALHO, 2003; DOURADOS et al., 2005; SILVERIO, 2008; SOUZA et al., 2011) que tratam esta questo e registram dentre outros fatores: a existncia de crianas e jovens fora da escola, ingresso tardio no sistema educacional, baixo aproveitamento/desempenho escolar, matrculas em nvel/etapa educacional distinta da prevista para a idade prpria, incluindo

  • 44PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    a superdotao. Tendo em vista estas questes, a partir da dcada de 90, foram implementadas diversas polticas pblicas para a melhoria do fluxo escolar de modo a combater a evaso escolar e acelerar o estudo, atravs da organizao do ensino em ciclos e aprovao automtica de alunos. Entretanto, atualmente esta questo ainda est presente conforme ilustrado nos Grficos 1, 2 e 3.

    No Estado da Bahia (Grfico 1) e no Rio Grande do Sul (Grfico 2) observa-se que a defasagem mdia (idade real - idade recomendada) dos alunos segundo srie que frequenta cai e isto deve-se entrada de muitas crianas na segunda srie aos 7 anos, uma vez que a Lei n. 11.274 em 2010 ainda estava em fase de adaptao. Logo, a defasagem mdia surge se manifestando em ambos os grficos. A defasagem mdia da populao de cor/raa branca a mais baixa, seguida da populao de cor/raa parda e por ltimo cor/raa preta em ambos os estados (Grfico 1 e Grfico 2). O comportamento da defasagem mdia da populao de cor/raa indgena se mostrou atpico, em funo dos dados da amostra ser pequeno, no possibilitando concluses.

    Observa-se, ainda, que no Grfico 1, a defasagem mxima 1,5 anos para todas classes de cor/raa branca, parda e preta alcanada na 5 serie/6 ano, ao passo que no Grfico 2, para o Rio Grande do Sul esta defasagem mxima alcanada na 6 serie/7 ano.

    Grfico 1 - Defasagem mdia (diferena entre a idade real e idade recomendada) dos alunos segundo srie que frequenta e cor/raa no Estado da Bahia

  • 45PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    Grfico 2 - Defasagem mdia (diferena entre a idade real e idade recomendada) dos alunos segundo serie que frequenta e cor/raa no Estado do Rio Grande do Sul

    Cabe ressaltar, ainda, que a defasagem mdia da populao de cor/raa parda na Bahia (Grfico 1) est prxima da mdia do estado enquanto no Rio Grande do Sul (Grafico2) a populao de cor raa branca, em funo da concentrao destas populaes ser maior em seus estados, respectivamente.

    Analisando conjuntamente a defasagem mdia nos dois estados, no Grfico 3, observa-se que h mais defasagem para todos os grupos de cor/raa no Estado da Bahia do que no do Rio Grande do Sul e, em ambos estados, as classes de cor/raa preta alcanam as maiores defasagens.

    Grfico 3 - Comparao da defasagem mdia dos alunos segundo srie que frequenta e cor/raa - Bahia e do Rio Grande do Sul

    De modo a localizar em quais municpios esta defasagem mxima ocorre por classe de cor/raa foi criado um indicador especfico de defasagem (IED)para cada estado:

  • 46PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    Esta anlise permite observar que a defasagem idade-srie se acentua conforme se segmenta o pblico por cor/raa e ela mais acentuada no Estado da Bahia (Tabela 8)

    Tabela 8 Defasagem escolar

    Estado Pop. Branca Pop. Indgena Pop. Parda Pop. Preta

    Bahia 2,5 4,3 3,5 4,1

    Rio grande do sul 1,2 3,3 2,4 2,7

    Na Figura 18.a verifica-se que a defasagem da cor/raa branca manifesta-se nos municpios das mesorregies do vale So Franciscano da Bahia, do Centro Norte Baiano e Centro Sul Baiano. A defasagem da cor/raa indgena (Figura 18.b) se manifesta mais nos municpios da microrregio de Porto Seguro, Ilhus e Itabuna. A defasagem da cor/raa parda (Figura 18.c) ocorre em todo o Estado da Bahia exceto em dois municpios: Souto Soares e Uau. A defasagem da cor raa preta (Figura 18.d) ocorre em municpios onde h os menores percentuais de habitantes nesta classe na Bahia.

    Figura 18 Localizao das crianas por cor/raa com defasagem de 2 anos Estado da Bahia

    a) Branca b) Indgena c) Parda d) Preta

  • 47PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    Na Figura 16.a verifica-se que a defasagem da cor/raa branca no se manifesta em 24,8% (124 municpios do estado) e obtendo o maior percentual de 4,5% em Pouso Alto e Turuu. A defasagem da cor/raa indgena se manifesta em 100% nos municpios de Eldorado do Sul, Bom Jesus e Vista Alegre. A defasagem da cor/raa parda no se manifesta em 53,0% (264 municpios) representados na

    Figura 19.c pela cor branca. E por final, a defasagem da cor/raa preta se manifesta mais nos municpios onde h o maior percentual desta populao, isto , nas

    mesorregies do Sudeste e Sudoeste Rio-grandense (Figura 19.d)

    Figura 19 Localizao das crianas por cor/raa com defasagem de 1 ano no Estado do Rio Grande do Sul

    a) Branca b) Indgena

    c) Parda d) Preta

    CONSIDERAES FINAIS

    Este trabalho efetuou uma anlise exploratria oferecendo um panorama descritivo de alguns indicadores socioeconmicos e do Ensino Fundamental nos estados da Bahia e do Rio Grande do Sul, posicionando-os em relao ao pas, apresentando sob a perspectiva da cor/raa, com nfase na questo da defasagem idade-srie no ensino.

  • 48PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    O estudo, em grandes traos, mostra a convergncia das condies socioeconmicas, a defasagem escolar e a distribuio da populao por cor/raa, ou seja, os municpios com maior concentrao de populao preta e parda apresentam piores indicadores, o inverso ocorre nos municpios com maior percentual de populao branca. Cabe destacar ainda que o Estado da Bahia tem indicadores socioeconmicos e de educao piores em relao ao Rio Grande do Sul.

    Por fim, observa-se que a maior defasagem no Rio Grande do Sul ocorre em idade mais avanada do que na Bahia, entretanto, nos dois estados, a maior defasagem do grupo de cor/raa preta seguida dos pardos, estando estes acima da mdia dos estados.

    Este trabalho tambm corrobora que h hiatos entre as unidades federadas analisadas, conforme comprovado pelos indicadores socioeconmicos e educacionais, apresentando particularidades que devem ser melhor investigadas em trabalhos futuros.

    No Brasil, apesar dos avanos das vrias polticas voltadas para a melhoria educacional, h ainda um quantitativo significativo de crianas e jovens que apresentam distoro na relao idade/srie/nvel/etapa educacional correspondente. Neste trabalho foi possvel verificar que a defasagem idade-srie se acentua conforme se segmenta o pblico por cor/raa e que ela mais acentuada no Estado da Bahia.

  • 49PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    Referncias

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    IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica). Caractersticas tnico-raciais da populao: classificaes e identidades. PETRUCCELLI, Jose Lus; SABOIA, Ana Lucia (Org.). Estudos e anlises informaes demogrficas e socioeconmicas, n. 2. Diretoria de Pesquisas. Rio de Janeiro: IBGE, 2013. ISSN 2236-5265.

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    IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica). Diviso Regional do Brasil em

  • 50PERFIL SOCIOECONMICO DOS ESTADOS DA BAHIA E DO RIO GRANDE DO SULEscola hoje: quem te define?

    Mesorregies e Microrregie