escola comunitária luta para sobreviver - jornal a tarde - 30/12/2013

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SALVADOR SEGUNDA-FEIRA 30/12/2013 A6 SALVADOR REGIÃO METROPOLITANA Escola Viva Educação IAPI Frequentada gratuitamente por 105 alunos, a Dom Edilberto enfrenta dificuldades para angariar doações e pagar salários FLÁVIA FARIA “Vamos abrir a escola na cara e na coragem, com a confian- ça de que nada vai nos faltar”, disse Maria Lúcia Santana, 48, diretora da Escola Dom Edil- berto, no IAPI. A instituição, que oferece ensino integral gratuito a 105 crianças do 2º ao 5º ano do ensino fundamental, terá que fazer malabarismos para so- breviver por mais um ano. A escola foi fundada em 1995 com o objetivo de educar e tirar das ruas as crianças das comunidades de Nova Divi- néia e Rocinha do IAPI. Se- gundo Maria Lúcia, naquela época os moradores lutavam diariamente contra a pobreza extrema. “Os meninos chegavam aqui sujas, feridas, com fome. Eram crianças que antes iam aos condomínios pedir esmo- las”, disse. Hoje, o problema é outro. O tráfico de drogas domina a região e os donos das bocas de fumo recrutam garotos cada vez mais novas. Nesse contexto, o papel de- sempenhado pela Dom Edil- berto é determinante para o futuro das crianças . “Essa es- cola oferece muitas oportuni- dades para o meu filho crescer como pessoa. Ela é muito im- portante para a comunidade”, disseocabeleireiroCláudioOli- veira, 42, pai de Caio, de 10. Além das aulas regulares, as crianças fazem quatro re- feições na instituição e, no turno da tarde, têm lições de música, informática, reforço escolar e ética. Essa última disciplina trabalha valores Fotos Edilson Lima / Ag. A TARDE Pais se reúnem com a diretora para acertar detalhes do ano letivo “Seria um prejuízo muito grande para nós se a escola fechasse” VIVIANE SILVA, dona de casa Escola comunitária luta para sobreviver como amor, solidariedade, respeito e família. Segundo a professora Adriana de Jesus, 39, a pro- posta da escola é educar a criança como um todo, visan- do sempre a formação inte- gral como cidadãos. “O destaque do nosso tra- balho é a questão afetiva, o amor e o cuidado com as crianças. Temos a preocupa- ção de trazer a realidade deles para o contexto da escola. A gente não desiste de nin- guém”, disse. Crise O próximo ano letivo está ga- rantido, mas a escola corre o risco de não sobreviver até 2015. A instituição não se in- tegra na rede pública de en- sino, mas é credenciada para funcionar na Secretaria Esta- dual de Educação. Tem também reconheci- mento municipal, estadual e federal de instituição de uti- lidade pública. A escola é basicamente mantida por doações, arreca- dadas pela Associação Dom Edilberto Dinkelborg. Uma parte dos custos é su- prida com os recursos pro- vindos do Sua Nota é um Show e toda a merenda é ofe- recida pelo Programa Nacio- nal de Alimentação Escolar, do Ministério da Educação. O grande problema, segun- do a diretora Maria Lúcia, tem sido angariar fundos para o pagamento dos 11 funcioná- rios, seis deles professores. “Vamos ter que fazer uma grande contenção de despe- sas para não ter que dispensar os alunos”, disse. Formação de professor é valorizada Edilson Lima/ Ag. A TARDE Alunos participam de atividade na Escola Maria Carvalho ESTADOS COM MENOR PERCENTUAL DE PROFESSORES COM FORMAÇÃO ESPECÍFICA BAHIA 8,5% MATO GROSSO 15,4% AMAZONAS 16,9% ESPÍRITO SANTO 23,5% ACRE 29,4% “Essa escola oferece muitas oportunidades para o meu filho crescer” CLÁUDIO OLIVEIRA, cabeleireiro CURTAS Cultura e arte nas universidades As universidades federais e demais instituições da Rede Federal de Educação Profis- sional, Científica e Tecnoló- gica, poderão participar em 2014 do programa Mais Cul- tura nas Universidades. O objetivo do projeto é forta- lecer a formação nos campos de arte e cultura. Para isso, as instituições devem apresen- tar um plano de cultura, que passará por avaliação de um comitê técnico. O documen- to deve estabelecer metas, etapas de desenvolvimento, estimativa de recursos para execução e prazo de duração, que pode variar de 12 a 24 meses. Os recursos serão aplicados em atividades ar- ticuladas com ensino, pes- quisa e extensão nas insti- tuições. Os recursos serão aplicados em atividades articuladas com ensino nas instituições Adesão a programa alfabetizador As secretarias estaduais de educação têm 60 dias para aderir ou renovar a partici- pação na edição 2013-2014 do Programa Brasil Alfabetiza- do. O programa, que é vol- tado para pessoas com mais de 15 anos, tem a proposta de universalizar a alfabetiza- ção. Além disso, visa tam- bém abrir oportunidades de acesso à educação nos de- mais níveis – ensino funda- mental, médio, profissional e superior. O projeto tem co- mo um de seus pilares a for- mação de professores alfa- betizadores, com cursos de duração de seis a oito meses. Para participarem, os pro- fessores recebem bolsa au- xílio que varia de R$ 400 a R$ 800. Segundo o Ministé- rio da Educação, 712.106 es- tudantes integraram o pro- jeto. Também participaram 93.317 alfabetizadores, 795 alfabetizadores intérpretes de Libras e 17.069 coordena- dores de turmas. A Bahia é o estado com menor número de professores do en- sino médio da rede pública graduados na área em que atuam. Apenas 8,5% dos do- centes possuem formação es- pecífica. Os dados são de um levan- tamento feito pelo Instituto de Pesquisas (Inep) do Minis- tério da Educação (MEC) a pe- dido do jornal Folha de São Paulo. São consideradas 11 matérias, com exceção de lín- gua estrangeira. No Brasil, a proporção é de 55% (aproximadamente 280 mil professores) nas escolas públicas. Na rede particular, por sua vez, o percentual cai para 47%. Dados de 2005 da Coorde- nação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Ca- pes), também do MEC, reve- lavam que, juntando os do- centes do ensino médio e dos anos finais do ensino funda- mental, eram 53,5% os que não tinham formação espe- cífica. Entre as disciplinas avalia- das, a que menos tem pro- fessores especialistas é artes (10,9%), seguida por sociolo- gia (11,4%), física (17,7%), filo- sofia (21,9%) e química (33,3%). Ações Em novembro, o MEC insti- tuiu o Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino Médio. O programa tem o ob- jetivo de contornar a situação atual dos docentes, uma vez que visa valorizar a formação continuada de professores e coordenadores pedagógicos que atuam na rede pública. ESTADOS COM MAIOR PERCENTUAL DE PROFESSORES COM FORMAÇÃO ESPECÍFICA DISTRITO FEDERAL 71% AMAPÁ 65,6% PARANÁ 63,2% MINAS GERAIS 61,7% PARÁ 58,6%

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Page 1: Escola comunitária luta para sobreviver - Jornal A Tarde - 30/12/2013

SALVADOR SEGUNDA-FEIRA 30/12/2013A6 SALVADOR REGIÃO METROPOLITANA

Escola Viva Educação

IAPI Frequentada gratuitamente por 105 alunos, a Dom Edilberto enfrenta dificuldades para angariar doações e pagar salários

FLÁVIA FARIA

“Vamos abrir a escola na carae na coragem, com a confian-ça de que nada vai nos faltar”,disse Maria Lúcia Santana, 48,diretora da Escola Dom Edil-berto, no IAPI.

A instituição, que ofereceensino integral gratuito a 105crianças do 2º ao 5º ano doensino fundamental, terá quefazer malabarismos para so-breviver por mais um ano.

A escola foi fundada em1995 com o objetivo de educare tirar das ruas as crianças dascomunidades de Nova Divi-néia e Rocinha do IAPI. Se-gundo Maria Lúcia, naquelaépoca os moradores lutavamdiariamente contra a pobrezaextrema.

“Os meninos chegavamaqui sujas, feridas, com fome.Eram crianças que antes iamaos condomínios pedir esmo-las”, disse.

Hoje, o problema é outro. Otráfico de drogas domina aregião e os donos das bocas defumo recrutam garotos cadavez mais novas.

Nesse contexto, o papel de-sempenhado pela Dom Edil-berto é determinante para ofuturo das crianças . “Essa es-cola oferece muitas oportuni-dades para o meu filho crescercomo pessoa. Ela é muito im-portante para a comunidade”,disseocabeleireiroCláudioOli-veira, 42, pai de Caio, de 10.

Além das aulas regulares,as crianças fazem quatro re-feições na instituição e, noturno da tarde, têm lições demúsica, informática, reforçoescolar e ética. Essa últimadisciplina trabalha valores

Fotos Edilson Lima / Ag. A TARDE

Pais se reúnemcom a diretorapara acertardetalhes doano letivo

“Seria umprejuízo muitogrande para nósse a escolafechasse”VIVIANE SILVA, dona de casa

Escola comunitária luta para sobrevivercomo amor, solidariedade,respeito e família.

Segundo a professoraAdriana de Jesus, 39, a pro-posta da escola é educar acriança como um todo, visan-do sempre a formação inte-gral como cidadãos.

“O destaque do nosso tra-balho é a questão afetiva, oamor e o cuidado com ascrianças. Temos a preocupa-ção de trazer a realidade delespara o contexto da escola. Agente não desiste de nin-guém”, disse.

CriseO próximo ano letivo está ga-rantido, mas a escola corre orisco de não sobreviver até2015. A instituição não se in-tegra na rede pública de en-sino, mas é credenciada parafuncionar na Secretaria Esta-dual de Educação.

Tem também reconheci-mento municipal, estadual efederal de instituição de uti-lidade pública.

A escola é basicamentemantida por doações, arreca-dadas pela Associação DomEdilberto Dinkelborg.

Uma parte dos custos é su-prida com os recursos pro-vindos do Sua Nota é umShow e toda a merenda é ofe-recida pelo Programa Nacio-nal de Alimentação Escolar,do Ministério da Educação.

O grande problema, segun-do a diretora Maria Lúcia, temsido angariar fundos para opagamento dos 11 funcioná-rios, seis deles professores.

“Vamos ter que fazer umagrande contenção de despe-sas para não ter que dispensaros alunos”, disse.

Formação de professor é valorizadaEdilson Lima/ Ag. A TARDE

Alunos participam de atividade na Escola Maria Carvalho

ESTADOS COM MENORPERCENTUAL DEPROFESSORES COMFORMAÇÃO ESPECÍFICA

BAHIA 8,5%

MATO GROSSO 15,4%

AMAZONAS 16,9%

ESPÍRITO SANTO 23,5%

ACRE 29,4%

“Essa escolaoferece muitasoportunidadespara o meufilho crescer”CLÁUDIO OLIVEIRA, cabeleireiro

CURTAS

Cultura e arte nas universidades

As universidades federais edemais instituições da RedeFederal de Educação Profis-sional, Científica e Tecnoló-gica, poderão participar em2014 do programa Mais Cul-tura nas Universidades. Oobjetivo do projeto é forta-lecer a formação nos camposde arte e cultura. Para isso, asinstituições devem apresen-tar um plano de cultura, quepassará por avaliação de umcomitê técnico. O documen-to deve estabelecer metas,etapas de desenvolvimento,estimativa de recursos paraexecução e prazo de duração,que pode variar de 12 a 24

meses. Os recursos serãoaplicados em atividades ar-ticuladas com ensino, pes-quisa e extensão nas insti-tuições.

Os recursosserão aplicadosem atividadesarticuladas comensino nasinstituições

Adesão a programa alfabetizador

As secretarias estaduais deeducação têm 60 dias paraaderir ou renovar a partici-pação na edição 2013-2014 doPrograma Brasil Alfabetiza-do. O programa, que é vol-tado para pessoas com maisde 15 anos, tem a proposta deuniversalizar a alfabetiza-ção. Além disso, visa tam-bém abrir oportunidades deacesso à educação nos de-mais níveis – ensino funda-mental, médio, profissionale superior. O projeto tem co-

mo um de seus pilares a for-mação de professores alfa-betizadores, com cursos deduração de seis a oito meses.Para participarem, os pro-fessores recebem bolsa au-xílio que varia de R$ 400 aR$ 800. Segundo o Ministé-rio da Educação, 712.106 es-tudantes integraram o pro-jeto. Também participaram93.317 alfabetizadores, 795alfabetizadores intérpretesde Libras e 17.069 coordena-dores de turmas.

A Bahia é o estado com menornúmero de professores do en-sino médio da rede públicagraduados na área em queatuam. Apenas 8,5% dos do-centes possuem formação es-pecífica.

Os dados são de um levan-tamento feito pelo Institutode Pesquisas (Inep) do Minis-tério da Educação (MEC) a pe-dido do jornal Folha de SãoPaulo. São consideradas 11matérias, com exceção de lín-gua estrangeira.

No Brasil, a proporção é de55% (aproximadamente 280mil professores) nas escolaspúblicas. Na rede particular,por sua vez, o percentual caipara 47%.

Dados de 2005 da Coorde-nação de Aperfeiçoamento dePessoal de Nível Superior (Ca-pes), também do MEC, reve-lavam que, juntando os do-centes do ensino médio e dosanos finais do ensino funda-mental, eram 53,5% os quenão tinham formação espe-cífica.

Entre as disciplinas avalia-das, a que menos tem pro-fessores especialistas é artes(10,9%), seguida por sociolo-gia (11,4%), física (17,7%), filo-sofia (21,9%) e química(33,3%).

AçõesEm novembro, o MEC insti-tuiu o Pacto Nacional peloFortalecimento do Ensino

Médio. O programa tem o ob-jetivo de contornar a situaçãoatual dos docentes, uma vezque visa valorizar a formaçãocontinuada de professores ecoordenadores pedagógicosque atuam na rede pública.

ESTADOS COM MAIORPERCENTUAL DEPROFESSORES COMFORMAÇÃO ESPECÍFICA

DISTRITO FEDERAL 71%

AMAPÁ 65,6%

PARANÁ 63,2%

MINAS GERAIS 61,7%

PARÁ 58,6%