escathos - forças especiais

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Gabriel Freitas é um jovem comum, terminando o último ano da faculdade de Ciências Biológicas. Sua vida muda completamente quando ele descobre que seu melhor amigo, Diego Silvino está se comportando de maneira estranha e então começa a investigá-lo onde descobre grandes segredos que o amigo escondia, incluindo o envolvimento com o perigoso general Crouth. Recheado com todos os gêneros, Escathos - Forças Especiais é o primeiro volume da saga da grande aventura de Gabriel, Diego, Marcela e Larissa iniciando o "Fim dos Tempos"

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Gabriel Freitas

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APRESENTAÇÃO

Parei, hesitei por um se-gundo quando vi a placa do fim do mundo, mas decidi, e para lá mesmo que vou... Desse que vi-

vo, já estou saindo para esse desconhecido, vou partindo, aqui nesse mundo, nada mais res-

tou...

Sigo em frente, en-frento a negrura esta-rei procurando pela

aventura, num lugar que alguém

nunca conheceu... Idéia louca, que a mente não ofusca com coragem partirei

para a busca, procurando por lá, o que ninguém per-

deu...

Se encontrar ao acaso, al-gum pioneiro então torna-rei me um guerrilheiro, lu-

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tarei, tentarei meu espaço conquistar... Jamais terei medo de alguma intriga, participarei de qualquer sangrenta briga, por que aqui, não quero mais vol-

tar...

Gil de Olive

“Eles podem tirar nossas vidas, mas nunca vão tirar... nossa li-berdade!" Mel

Gibson – Coração Valente

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indland não se era a melhor cidade para se viver, mas também não era lá uma das piores, havia por exem-

plo a cidade vizinha, Orlando, um lugar com-pletamente sem regras onde a violência era a única coisa que eles podiam apresentar como “cartão postal” . Kindland é um paraíso compa-rado a Orlando, porém o que fez os moradores criticarem muito a qualidade de vida de Kind – como era popularmente chamada - foi por consequência do repentino crescimento da me-trópole, tanto em aspecto populacional, como em aspecto geográfico, em dez anos a cidade cresceu no que estava previsto para acontecer em trinta, quarenta anos, número que certa-mente impressionou a todos que não espera-vam ver esse resultado acontecer tão cedo.

A metrópole sofreu grandes transforma-ções em seu espaço geográfico, como a chegada

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das grandes indústrias que importam e expor-tam mercadorias pelo mundo todo, a constru-ção de grandes arranhas céus que tirou a bela visão do céu azul dos moradores de bairros mais tranquilos e humildes, sem falar em um campo de pastagem que ficava em uma parte bem remota da cidade, próximo a sua saída e se estendia até o fim da cidade que por conse-quência do crescimento metropolitano acabou se tornando uma imensa usina hidrelétrica chamada “Usina Leste”, popularmente conhe-cida por “Represa Mongoli”, esse nome foi adotado pois em sua construção trabalharam operários vindo da Mongólia – o que ninguém entendia – pois pra que contratarem pessoas de fora do país se os brasileiros também tem a mesma habilidade e capa- cidade de lidar com uma obra desse nível, sem falar que os cons-truto- res eram muitos estranhos, aparentavam trabalhar com raiva, forçados a estarem lá, po-rém após a conclusão da obra, não foi comen-tado nenhum boato sobre os “mongoloides” como dizia Gabriel Freitas, filho de Charlie e Julia Freitas.

Gabriel é estudante do 4º ano de Ciências Biológicas na Universidade Metropolitana de Kin-dland (UMK) – eleita quatro vezes consecutivas como a melhor universidade do estado – nun-

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ca teve dificuldades em relação às notas, pois desde o primeiro ano sempre se empenhou nos estudos já que o curso que ele fizera era o sonho de sua vida e sempre contou com o apoio de seus melhores amigos: Diego Silvino, Marcela Roberta – sua namorada – e Larissa Matsuda, namorada de Diego, pois se não fos-sem o incentivo dos amigos do primeiro ano até o fim deste, Gabriel mesmo gostando do curso teria desistido pela grande exigência que a Universidade exercia sobre os alunos – não era a toa que várias vezes fora reconhecida como a melhor universidade do estado de São Paulo.

Os motivos que levaram Gabriel a escolher o curso de Ciências

Biológicas foi o fato de ele ser fascinado por animais desde criança e

gostar muito de estudar algumas espécies, e também pelo motivo da escassez de biólogos pelo mundo, principalmente biólogos que se dediquem na preservação de animais ameaça-dos de extinção – o que es- tava sendo difícil naquele ano de 2.015.

Era uma quarta-feira de manhã ensolarada, Gabriel levantou de sua cama bem cedo como de costume, as sete da manha para assistir

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Kind News, o jornal local que era transmiti-do apenas em Kindland. Ele tomava seu café tranquilamente sentado no sofá da sala quan-do o jornalista Douglas Nascimento anunciou que a formatura da UMK para os alunos do curso de Ciências Biológicas aconteceria no dia treze de novembro, Gabriel pegou seu celular e viu no calendário que a data marcada para a formatura coincidira com uma sexta-feira 13, o que fez com que ele abrisse um sorriso supers-ticioso que combinando com sua cara de sono não ficou nada legal. Mesmo assim nem a sex-ta-feira 13, nem a cara feia de sono o deixava para baixo, pois estava muito ansioso que esse sonhado dia 13 chegasse, já que estavam no dia 26 de outubro, restando-lhe apenas 18 dias para o tão esperado dia de sua graduação.

Embora Gabriel estivesse contagiado pela ansiedade e felicidade,

havia um assunto que o preocupava um pouco – o que ele faria após o término da fa-culdade? Será que ele terá que deixar Kin-dland, seus amigos, sua família, e tudo que o faz sentir bem para conseguir um emprego que compense os anos de estudo dele? – essas per-guntas eram incontestáveis na mente de Gabri-el, não havia um dia sequer que esse assunto não o incomodasse e o fizesse refletir, pois o

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que ele mais desejava fazer após a conclusão do curso era conseguir um bom emprego em reservas de urso panda.

Era um sábado tranquilo com o tempo bas-

tante quente e abafado como todos os outros dias na residência dos Freitas, Gabriel descan-sava em seu quarto quando o celular começou a vibrar no criado mudo, preguiçosamente ele virou-se para o lado direito, esticou seu magro e comprido braço e nas pontas dos finos dedos apanhou o aparelho o trazendo para si – Mar-cela chamando – observou ele no visor antes de atender.

– Oi amor – atendeu evitando fazer voz de sono.

– Nós iremos sair hoje? – perguntou ela an-siosa.

– Provavelmente sim, a Larissa vai? – Ela não estava muito animada não, desde

que o Diego parou de sair com a gente ela disse que não é a mesma coisa e que fica mais difícil dela se divertir pensando nisso.

Larissa tinha razão em não estar animada para o fim de semana, afinal o comportamento de Diego nas últimas semanas preocupava a todos eles, principalmente sua namorada, pois

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sem nenhuma justificativa ele se afastou de to-dos.

– Ah amor, tenta conversar com ela e con-vença-a a ir – suplicou

Gabriel a Marcela como incentivo – se ela ficar em casa pensando nele não vai ajudar em nada, pelo contrario, só fará ela se sentir pior.

– Tudo bem, falarei novamente com ela e veremos o que ela dirá – respondeu – te ligo mais tarde, amo você.

Gabriel desligou o telefone e o colocou no-vamente em seu criado mudo, virou-se para o lado oposto dele e tentou dormir embora o ca-lor não colaborasse muito.

Diego sempre foi um garoto orgulhoso, às

vezes tinha atitudes que magoavam os outros, porém nunca teve problemas com seus ami-gos, na presença deles, ele sempre tentava dei-xar seu orgulho de lado e procurar ser uma pessoa gentil e agradável, mas há aproxima-damente duas semanas até certo momento, ele se afastou de todos, inclusive de sua namorada por motivos que ninguém sabe – fazendo com que todos fiquem ainda mais preocupados por não saberem o que se passa.

Gabriel e Diego eram amigos desde crian-ça e se consideravam como “irmãos”, o que

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fez com que Marcela e Larissa desconfiassem que Gabriel sabia de alguma coisa sobre o es-tranho comportamento do amigo e escondia a verdade delas – o que seria difícil de acontecer já que Gabriel nunca escondeu nada de sua namorada – com o tempo elas perceberam que realmente ele não sabia de nada a respeito, mas pediram que se soubesse, não escondesse delas.

Naturalmente ele concordou! Marcela era branca, alta, com os cabelos

castanhos, lisos e compridos, porém ondulados no final. Ela conseguiu convencer Larissa a sair com ela e Gabriel até a pizzaria naquela noite - embora os dois – Gabriel e Marcela – concor-daram em não tocar no assunto “Diego” para evitar deixá-la pior do que estava se sentindo.

Mesmo assim, Larissa não pode ficar em si-lêncio e insistiu em falar sobre “ele”.

– Pessoal, eu não aguento mais ficar sem ter notícias do Dí, ele não retorna minhas liga-ções, não deixa recados no Facebook, sincera- mente não sei o que está havendo entre nós dois.

– Larissa, eu sei que está sendo difícil, pen-sa, eu conheço o Diego desde os meus quatro anos de idade, e só de saber que ele se afastou da gente sem motivos nenhum é muito, muito

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triste, mas eu prometo uma coisa a você, vou descobrir a todo custo o que está havendo – respon- deu Gabriel convicto a tentar fazer com que Larissa se sentisse melhor.

Os olhos mestiços de Larissa, tapados pela franja de seu enorme

cabelo liso e negro se encheram de lágrimas e sem saber o que fazer ela abraçou Gabriel pe-dindo que ele ajudasse o amigo.

Após deixarem a pizzaria e Larissa em sua casa, Gabriel e Marcela

aproveitaram para conversar sobre o inci-dente na pizzaria.

– Amor, eu estou muito preocupada com a Larissa – mencionou

Marcela aflita passando a mão em seus lon-gos cabelos.

– Não se preocupe meu amor, nós vamos ajudá-la. É questão de descobrirmos o que está havendo com Diego que tudo voltará ao nor-mal se Deus quiser – os dois se abraçaram for-temente, em seguida Gabriel girou a chave do carro para que pudesse deixar Marcela em sua casa.

O domingo foi exaustivo pra Gabriel, pois

ele passou a maior par- te do dia estudando pa-ra as provas finais, o que fez com que Marcela e

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ele não se vissem o dia todo. Ele estava tão pre-ocupado com suas avaliações finais que foi pre-ciso que sua mãe levasse almoço para ele no quarto, do contrário ele não teria saído de lá, nem mesmo para ir ao banheiro.

A segunda-feira veio que Gabriel nem per-cebeu, a primeira coisa que ele viu ao acordar foi um livro de células e seu caderno em sua

cama – o fazendo chegar à conclusão que acabou dormindo enquanto estudava. Rapida-mente ele se levantou da cama e foi para a co-zinha, ansioso para assistir seu seriado animado preferido: Mega Choque – o que não era normal para um jovem de vinte e dois anos – porém a sua justificativa, é que ele assiste o seriado des-de os treze anos – esse personagem, Mega Cho-que, foi criado por Wagner Felipe – o famoso produtor de desenhos animados do Brasil – e a trama do desenho se passa na própria metró-pole de Kindland. O personagem é um super-herói que protege a cidade das forças do mal. Atualmente o programa está na sua reta final onde o Mestre Harussamê se uniu ao perverso lagarto humano conhecido como, Príncipe do Crime para que juntos finalmente conseguissem dominar toda Kindland e em seguida o mundo.

Faltavam apenas três para o término dessa série e Gabriel se via obrigado a saber como

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terminaria, pois há dez anos quando o desenho foi ao ar pela primeira vez, ele a vem acompa-nhando e dificilmente perde um episódio.

Após terminar de assistir seu programa fa-

vorito, Gabriel subiu até seu quarto para que pudesse se arrumar para o trabalho – aliás, Ga-briel trabalhava nas Empresas Oxford, como vendedor de produtos – quando estava de saí-da, parou diante da televisão a qual sua mãe as-sistia concentrada e se viu tentado a assistir a reportagem que o Kind News estava transmi-tindo sobre o aquecimento global, onde mais três ursos polares foram encontrados mortos boiando em águas tropicais e uma forte chuva de granizo que atingiu Salvador – BA, coisa que era praticamente impossível de acontecer na-quela região há pelo menos cinco anos atrás. Realmente o homem brincou com os limites da natureza e todos, inclusive os que não têm nada a ver com esses atos prejudiciais, estão sofrendo as consequências também.

Chegando de seu serviço para a hora do almoço, Gabriel retornou uma ligação perdida de Marcela em seu celular, pois não podia atender no serviço – determinação de seus su-pervisores.

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– Marcela, você me ligou? - perguntou Gabriel com uma voz ansiosa porém cansativa – Desculpe não poder atender você aquela ho-ra, mas é que hoje o seu Domingues estava lá e sabe como aquele velho é nojento né? – justifi-cou Gabriel referindo ao seu chefe, o qual ele não tinha muita simpatia.

- Não se preocupe querido, não era nada importante não, só que-

ria saber se depois do trabalho, caso não estiver muito cansado é claro, se não queria dar uma volta comigo já que não nos vimos ontem.

– Bom depois do trabalho é praticamente impossível porque eu tenho prova da faculda-de, mas nada impede que saiamos após a pro-va, prometo fazê-la o mais rápido possível para sairmos tudo bem?

– Tá legal, porém concentre-se – recomen-dou Marcela – estarei esperando por você.

Gabriel almoçou e em seguida foi descan-sar um pouco em sua cama, quando estava prestes a dormir, o seu celular anunciou:

“Hora de Trabalhar!”

Ele se levantou olhando feio para o celular e ironicamente pensou alto – Você é um pé no saco hein celular – Levantou-se às pressas, cal-

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çando seus sapatos e colocando a gravata que o senhor Domingues insistia que ele usasse. Des-ceu as escadas, pegou rapidamente a chave do carro, despediu-se somente de sua mãe com um beijo no rosto, pois seu pai estava traba-lhando e foi até a garagem pegar o veículo, on-de segui- ria direto para seu trabalho.

Indo para o serviço, Gabriel infelizmente teve que enfrentar o grande trânsito pós-almoço que a Avenida Presidente Vargas cos-tumava ter diariamente por volta daquele ho-rário e vendo que não iria sair dali tão cedo, ligou a rádio onde estava transmitindo um jornal, que instantes depois de anunciar a notí-cia que Kindland faria uma estátua com a imagem do prefeito homenageando-o pelo seu trabalho nos últimos anos, anunciou a notícia que dois pesquisadores do Centro de Pesquisas de Kindland (CPK) foram brutalmente assassi-nados por armas ainda desconhecidas e que uma das vítimas tinha graves queimaduras, uma delas perfurou o coração do cientista, como uma espécie de raio laser, já o outro teve o pescoço deslocado – barbarizado com a notí-cia que o jornal informava, Gabriel desligou o rádio, esticou seu braço para fora da janela do veículo tentando relaxar e olhou para o lado, quando de repente ele concentrou seu olhar

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para uma mulher que estava do outro lado da cidade, tinha os cabelos ruivos, olhos azuis como cristal, e parecia ser jovem, porém usava roupas estranhas, como uma capa cinzenta que condenava sua juventude.

Mesmo com vestes nada agraváveis, Ga-briel havia ficado encantado com a tamanha beleza daquela mulher, olhou fixamente para ela por quase cinco segundos, quando uma bu-zina vinda de um veículo logo atrás dele o fez concentrar-se no trânsito e quando voltou a olhar novamente para o lado, a mulher não es-tava mais lá dando a impressão que ela era apenas uma ilusão.

Aquele dia foi tão agitado no serviço, ven-das e mais vendas que a tarde passou tão rápi-do que quando Gabriel menos se deu conta seu horário tinha terminado e ele estava a caminho da faculdade para realizar a sua prova. Termi-nando-a, foi finalmente se encontrar com Mar-cela na praça da catedral da cidade.

Quando eles se encontraram, se cumpri-mentaram e começaram a conversar, até que ela tocou em um assunto que ele não gostava muito que fosse mencionado:

– Gabriel, você tem certeza que não sabe mesmo o que está acontecendo com Diego?

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– Claro que tenho meu amor, não me diga que está desconfia de mim?

– Desculpe, não estou desconfiada, mas é que vocês se conhecem a muito tempo e eu achei que você poderia pelo menos ter alguma pista ou suspeita que nos levasse a qualquer in-formação que nos faça descobrir o que se passa com ele.

Embora Gabriel não tivesse gostado que Marcela suspeitasse dele, ele no fundo sabia que todos ali estavam preocupados com tudo e toda opinião era válida, desde que ela pudesse ser aproveitada.

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cada dia que se passava, a preo-cupação com Diego aumentava.

Suas notas na faculdade caí-ram pelo número excessivo de faltas que ele te-ve durante esse semestre, o chefe de seu serviço ligou preocupado para Larissa informando a ela que Diego havia pedido demissão sem justi-ficativa nenhuma.

Sempre que Gabriel liga em sua casa, ele é atendido pela secretária eletrônica da linha, o que começou a irritá-lo e o fez tomar a decisão de investigar o amigo por conta própria para tentar descobrir o que estava havendo e anali-sar quais as chances de ajudá-lo caso estivesse passando por algum tipo de problema. A nossa história começa a partir daí, quando a Batalha do Fim dos Tempos – o período em que a hu-manidade correria o risco de ser extinta para sempre – estava começando.

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Era uma quinta feira, dia 29 de outubro, Gabriel acordou no horário de costume para as-sistir seu imperdível Mega Choque – mesmo es-tando morrendo de sono por ficar junto com Marcela até altas horas pelas ruas frias e deser-tas da cidade, próximos da Praça da Catedral, porém se esforçou ao máximo para ficar acor-dado já que esperava pelo final da série desde a sua infância.

Terminando de assistir Mega Choque, a senhora Julia, com seus cacheados e curtos ca-belos grisalhos, pele morena, porém meio clara, se aproxima do sofá ao qual Gabriel estava dei-tado quase cochilando de tanto sono e pede:

– Filho querido, teria como você fazer um favor para mim?

– Claro mãe, o que a senhora quer? – Preciso que vá ao supermercado comprar

algumas coisas pra mim, eu ia pedir pro seu pai, mas ele está resolvendo algumas coisas com o advogado dele e como é sua folga, pensei que não se importaria de fazer isso por mim.

Gabriel não fez questão de ajudar a mãe, tomou um rápido café com leite e bolacha para despertar e em seguida recebeu de sua mãe uma lista com tudo que ela precisava que fosse comprado. O filho se despediu da mãe com um beijo no rosto e foi até a garagem da casa pegar

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seu carro, em seguida se dirigiu para o super-mercado – mas antes, decidiu fazer uma rápida parada na casa de Diego, com a expectativa de conseguir descobrir alguma coisa que justificas-sem as últimas e estranhas semanas que se pas-saram, dando iniciativa na sua investigação.

Chegando a frente da casa de Diego, Ga-briel estacionou o veículo logo de frente para a residência e ficou observando, viu que o carro de seu amigo não estava lá indicando que ele havia saído, porém o portão não estava tranca-do, mas sim encostado, pois o agitado vento que corria junto à brisa daquela manhã, fazia com que as barras metálicas do portão fizessem um rosnado de movimento NHREK indicando que ele estava aberto.

Gabriel não ficou satisfeito só de ficar ali observando, queria fazer algo a mais. Vendo que realmente parecia não haver ninguém na casa decidiu entrar e ver se conseguia alguma informação.

Descendo do carro discretamente para que os vizinhos não o confundissem com algum la-drão ou bandido, ele olhou para os lados com toda cautela possível para ter certeza que não estava sendo vigiado, abriu lentamente o por-tão para impedir que as grades enferrujadas e velhas fizessem algum barulho que entregasse

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seu plano e em seguida começou a caminhar lentamente na direção da porta frontal.

Estando de frente com a entrada principal da casa, por impulso,

Gabriel esticou seus dedos direitos na ma-çaneta da porta firmando sua mão ali e apoian-do a palma dela, ele girou a maçaneta e a porta s e abriu sem dificuldade alguma - pura coinci-dência? – perguntava Gabriel para si próprio já que tudo estava dando perfeitamente certo. Sua esperança era conseguir todas as informações necessárias para obter conclusões.

Gabriel cuidadosamente empurrou a enorme porta branca de madeira, olhou para os arredores da sala e concluiu que realmente a ca-sa estava vazia. Entrou rapidamente antes que alguém chegasse e foi até o aparelho do telefo-ne, pois sabia que o modelo que havia na casa registrava as últimas cinco chamadas, essa era a vantagem de ser amigo de confiança de Diego, sabia de tudo que havia na casa, e determinado – É o que devo fazer, vou verificar as últimas cha-madas e conferir se Diego conversou com alguém nessas últimas horas, às vezes isso pode me levar as peças que preciso pra ir montando meu quebra-cabeças – raciocinou Gabriel.

Já frontal ao aparelho, Gabriel apertou o botão vermelho superior à base onde o telefone

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ficava armazenado, no centro do botão estava escrito “Caixa Postal”, instantes depois de ter apertado, Gabriel começou a ouvir uma voz que ele desconhecia, ela era rouca e falhada, aparentando ser de um homem com mais de cinquenta anos de idade. Essa voz dizia:

– Diego, aqui quem fala é o general Crouth, venha para minha base amanhã as oito e não se esqueça de vir até aqui hoje de manhã para que possamos iniciar a construção das bombas C4. Estarei aguardando sua chegada... Chamada recebia no dia vinte e nove de outubro de dois mil e quinze às sete horas e trinta e quatro mi-nutos, Horário de Brasília – anunciou

a secretária eletrônica antes de o telefone desligar automaticamente.

Um grande progresso Gabriel acabava de conseguir com as informações que acabava de ouvir – descobriu aonde Diego foi e sabe que está metido em problemas – agora cabe a ele descobrir onde fica essa tal base, quem é esse general Crouth e o que fez Diego se envolver com tudo isso.

Gabriel achou melhor não comentar nada do que descobriu com ninguém nem mesmo com Marcela, pelo menos até poder ter certeza de tudo e apresentar conclusões das quais pos-sa explicar.

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Vendo que não iria descobrir mais nada, Gabriel decidiu voltar para o carro e ir até o su-permercado para cumprir realmente o que o fez sair de casa naquela manhã.

Quando se aproximava da porta, um vulto passou por ele o assombrando,

Gabriel olhou para o lado rapidamente mas não via nada de anormal, começou a rode-ar si próprio mas mesmo assim nada via – “devo estar ficando louco” – pensou ele assustado, de repente a porta se fechou fortemente sozinha estremecendo toda a sala. Gabriel começando a ficar preocupado começou a gritar:

– Quem está aí? Diego pare de graça! Quando Gabriel menos se deu conta uma

forte luz branca saltou em cima de seu rosto ce-gando-o momentaneamente. Sem poder enxer-gar nada, ele caiu no chão com as mãos nos olhos – O que está havendo?

Quem está ai? – perguntava ele gritando desesperado achando que estava prestes a mor-rer.

Ainda não enxergando nada, uma voz fe-minina e suave começou a sussurrar em seu ouvido:

– Acalme-se Gabriel, não se assuste querido, não lhe farei mal algum.

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– Quem é você? E o que quer de mim? Como sabe meu nome?

– Isso não importa nesse momento queri-do, o que importa é que você está liberto!

Bem aos poucos a luz foi enfraquecendo e Gabriel ia recuperando a visão lentamente. Quando tudo estava tudo nítido, ele se deparou com uma mulher aparentando ter mais ou me-nos uns trinta anos, olhos azuis claro como cris-tal, cabelos ruivos, longos e cacheados, pele branca como a neve, lábios pequenos, porém encantadores e vestia um longo manto cinzento que cobria seu corpo até os pés – naquele mes-mo instante Gabriel se lembrou da mulher que avistou no dia anterior quando estava indo tra-balhar.

A mulher segurava na mão direita um ce-tro dourado que se apoiado ao chão, terminava mais ou menos à altura de seu ombro e na sua base superior havia uma pérola azul escuro, lembrando o coração do oceano, essa pérola bri-lhava constantemente tendo em seu interior ondas brilhosas que se moviam aleatoriamente. Ela se aproximou de mim calmamente e sorrin-do, e com uma voz mais calma e suave ainda ela disse:

– Levanta-te Gabriel e acalme-se, não irei lhe fazer mal algum.

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O medo que Gabriel sentia foi desapare-cendo conforme ele percebeu que a mulher que estava diante dele, não iria lhe fazer mal algum – pelo menos não aparentava – então se levan-tou quando ela estendeu sua mão esquerda pa-ra ele se apoiar.

Ao se levantar Gabriel olhou desconfiado e friamente nos olho dela e perguntou:

– Me responda uma coisa, se não quer me machucar, o que faz aqui? Quem é você e como sabe meu nome?

– Disse que era para mim responder ape-nas uma coisa – sorriu a Oráculo ao caçoar das perguntas de Gabriel – Meu nome é Oráculo, sou a deusa do destino e também escolhida pa-ra ser sua guardiã – respondeu ela ainda com aquela tranquilidade que irritava Gabriel.

De repente sem dizer mais nada, ela esten-deu o cetro na direção da Gabriel e este produ-ziu um tipo de energia que saiu de dentro da pérola, lançando-o na direção do peito de Ga-briel fazendo com que ele fechasse suavemente os olhos e quando tornou a abri-los a mulher havia desaparecido dando a impressão que nunca estivera ali antes.

Gabriel ficou se perguntando se tudo aqui-lo era real ou ele estava tendo alucinações, pois era muito surreal para estar acontecendo de

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verdade. De repente ele olha para seu tênis e vê um pedaço de papel dobrado próximo a ele – curioso para ver o que continha aquele papel, se abaixou e o apanhou, em seguida desdo-brou-o, nele estava escrito:

“Sei que pode parecer estranho, mas acredi-te

Não foi um sonho! Eu realmente existo e estou aqui com a mis-

são te tentar mudar o destino da humanidade, mas para isso você precisa se juntar ao lado cer-to, pois sozinho nunca conseguirá nada. Sei que fiz uma boa escolha, porém,

Pense bem nas suas escolhas, elas podem salvar ou destruir a todos.

Oráculo P.S.: Faça bom uso.”

Ao ler o suposto pedaço de papel, Gabriel ficou imóvel, com a boca aberta, deixando o papel cair, pois ele não estava compreendendo nada que acontecia naqueles últimos minutos. A única coisa que ele conseguia pensar era: “Onde estou? O que essa mulher fez comigo? O que quis dizer quando mencionou ter-me liberto? O que significa “Faça bom uso”?

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– tudo isso fazia com que Gabriel duvidas-se ainda mais daquela realidade, o que ele não imaginava é tudo aquilo realmente estava acon-tecendo.

Após ter se acalmado, Gabriel olhou em volta da casa de Diego e viu que tudo estava em seu devido lugar e não despertaria suspei-tas, então rapidamente se dirigiu para a saída da casa, pois não conseguia mais ficar lá dentro depois do acontecido e também estava com medo de que seu amigo voltasse e visse que ele havia entrado em sua casa durante sua ausên-cia, o que geraria uma conversa não muito agradável principalmente pelo clima que vem sendo a amizade entre os dois.

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o sair da casa de Diego, Gabriel sentiu uma sensação de alívio, pois do lado de fora podia se sentir

mais seguro. Entrou rapidamente em seu carro sem

olhar para trás e foi até o supermercado com-prar as coisas que sua mãe havia lhe pedido.

O supermercado Walmart, o maior da ci-dade de Kindland e nacionalmente conhecido pela variedade de produtos e pela excelente es-trutura que a sua rede oferece, era o mais fre-quentado pelos moradores da metrópole, ele era tão grande que seu estacionamento foi cons-truído do outro lado da avenida, onde quem es-tivesse motorizado teria que atravessar a rua de qualquer modo para ter acesso a um dos dois locais. Gabriel deixou o carro no estacionamen-to e se dirigiu até a entrada principal do Wal-mart, passando pela porta de vidro automática, caminhou na direção dos carrinhos de compra e

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apanhou um deles que ficavam logo na entrada – um dos menores já que a lista que sua mãe havia lhe dado não era tão grande.

Começou então a caminhar pelos enormes corredores do supermercado.

A lista de itens que a senhora Julia havia pedido para o filho comprar era:

- 1 pacote de Farinha de Trigo - 1 caixinha de creme de leite - 1 caixa de cereal de milho - 2 bandejas (pequenas) de ovos - 2 detergentes (guaraná) - 2 potes de margarina (sem sal)

Para facilitar seu trabalho, Gabriel decidiu

seguir a lista exatamente na ordem que ela se encontrava para não correr risco de esquecer alguma coisa. Pois conhecia sua mãe e com cer-teza reclamaria pela desatenção do filho.

Começando na sessão onde ficavam as fa-rinhas, amidos, entre outros relacionados. Ele pegou o pacote de farinha mais próximo que encontrou colocando de imediato em seu carri-nho.

E assim foi indo, item por item, até conclu-ir com os dois potes de margarina. Mesmo as-

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sim conferiu para ter certeza que não havia es-quecido nada.

Embora fosse uma quinta-feira de manhã, o supermercado estava bem movimentado, nele Gabriel pode ver pessoas conhecidas, como o prefeito de Kindland, o senhor Gilberto San-ches, o juiz Bill, entre outras pessoas que conhe-cia de vista que estavam em uma fila no caixa ao lado do seu, também aguardando para po-der passar os itens que haviam comprado.

Comprado tudo que a senhora Julia havia pedido, Gabriel apanhou as sacolas do caixa e se dirigiu para a saída do supermercado onde caminharia até o estacionamento para poder pegar seu carro.

Quando atravessava a rua para ter acesso ao estacionamento, Gabriel sentiu uma forte pancada na cabeça o fazendo soltar as sacolas que segurava e apoiar suas mãos a cabeça para tentar amenizar a dor, mas de nada adiantou, a dor que estava sentindo era tão grande que ele começou a gritar agonizado.

De repente uma caminhonete surge no ho-rizonte vindo à direção de Gabriel em alta velo-cidade, porém o motorista estava desatento ao trânsito pois conversava em sue telefone celu-lar. Gabriel ainda com muita dor, olhou para frente e viu o veículo se aproximando cada vez

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mais rápido de si, mas não havia tempo dele correr, a dor que sentia era tanta que mal con-seguia mover as pernas para andar.

O destino era certo, morte na certa, mesmo assim por impulso de defesa, Gabriel esticou seus braços na direção da caminhonete como forma de proteger seu corpo – embora todos soubessem que mesmo assim isso não iria mu-dar o seu destino – a caminhonete estava a uns cinco metros de Gabriel, quando o motorista se deu conta que havia uma pessoa a sua frente , imediatamente ele acionou os freios do veículo, mas a caminhonete estava tão rápida que não havia distância o suficiente para livrar Gabriel da morte. Quando o veículo estava prestes a se chocar com o corpo de Gabriel – que ainda es-tava com as mãos contra a caminhonete, um enorme campo de força transparente, com faís-cas azuis a envolveu, fazendo com que ela pa-rasse de se mover e a levitando alguns centíme-tros acima do chão.

A dor de cabeça de Gabriel havia desapa-recido na hora, porém desta vez ele corria risco de ter um ataque cardíaco, pois seu coração começou a bater aceleradamente por estar mui-to surpreso e nervoso com o que estivera acon-tecendo pois não conseguia imaginar como aquele campo de força saiu de suas mãos.

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Ele estava tão nervoso que sem saber o que fazer, jogou suas mãos para o lado esquerdo e a caminhonete se auto arremessou com o moto-rista dentro na entrada principal do supermer-cado estourando a enorme porta de vidro.

Todos que passavam pela rua pararam pa-ra ver a caminhonete presa na entrada do Wal-mart, inclusive o prefeito que estava na multi-dão e viu Gabriel saindo nervoso do local. Para sua sorte ninguém – exceto o motorista – vira exatamente o que aconteceu, bastava torcer pa-ra que ninguém acreditasse nele e caso alguém perguntasse o que exatamente havia acontecido – Gabriel responderia que o motorista perdeu o controle do veículo quando tentou desviar dele e se chocou contra o supermercado.

Para a sorte de todos, ninguém ficou feri-do, o motorista que conduzia a caminhonete es-tava usando o sinto de segurança e levou ape-nas um susto, porém Gabriel estava muito ner-voso e trêmulo, entrou rapidamente seu carro antes que alguém o parasse para fazer qualquer tipo de pergunta.

Dirigindo para sua casa, Gabriel foi se acalmando aos poucos até que conseguia pen-sar mais tranquilamente e chegou a uma única explicação

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– Tudo indicava que a misteriosa mulher que se dizia ser a Oráculo deu a ele superpode-res, mas a pergunta é: Por que ela faria isso?

Gabriel chegou em casa tentando aparen-

tar que estava tudo bem, para sua sorte, sua mãe não desconfiou de nada, ele então subiu rapidamente para seu quarto e não saiu de lá o resto do dia, ficou preso no computador pes-quisando informações sobre a Oráculo, mas tu-do que ele achava era apenas mitos e lendas e nenhuma delas com o perfil da mulher que apareceu para ele na casa de Diego naquela manhã. Afinal segundo a mitologia a Oráculo é uma divindade consultada onde o homem pode obter respostas das quais imaginaria, já a mu-lher que apareceu para Gabriel nessa manhã se dizia ser a deusa do destino, teoria que distorce completamente a mitologia e o deixava ainda mais confuso sobre tudo que aconteceu.

Anoiteceu, a família Freitas jantava silen-ciosamente na sala de jantar quando o senhor Charlie, pai de Gabriel, quebrou o silêncio per-guntando:

– E aí filho? Decidiu já o que vai fazer após a faculdade? Não pode ficar naquela empresa o resto da sua vida.

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– Ainda não sei pai – respondeu Gabriel convicto – Estou mais preocupado em terminar o curso, ainda tenho muito tempo para fazer meus planos após a faculdade.

Mais uma vez o silêncio tomou conta da sala de jantar e eles continuaram

a refeição. Após ajudar sua mãe a lavar a louça, Ga-

briel subiu para seu quarto novamente, escovou os dentes e foi se deitar, quando enfim pegou no sono, um pesadelo invadiu sua mente – Marcela estava sendo segura por alguém que Gabriel não conseguia identificar, ela pedia so-corro para o namorado que apenas observava a cena, em seguida essa pessoa dispara com uma arma de fogo na cabeça de Marcela a fazendo cair falecida no chão – imediatamente ele acor-da assustado, transpirando e gritando pelo no-me de Marcela. Quando olhou em seu redor, viu os objetos e móveis do quarto flutuando, segundos depois, todos eles se firmaram no chão novamente, alguns deles fazendo um ba-rulho, porém não tão forte o suficiente a ponto de acordar os pais de Gabriel que para sua sorte tinham sono pesado. Vendo que ficar acordado só iria piorar as coisas deixando-o ansioso e muito cansado no outro dia, ele decidiu tentar dormir novamente.

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O sono veio após uns vinte minutos da nova tentativa e dessa vez pesadelo nenhum o incomodou.

Chegou a esperada sexta-feira! Gabriel acordou ansioso, porém, dessa vez

não teve problemas emocionais que atrapalha-ram seu sono. Descendo as escadas para ir até a cozinha tomar café, Gabriel viu um bilhete de sua mãe pregado na geladeira dizendo:

“Querido, Estou na casa da tia Maria, Tem torradas dentro do micro-ondas, suco de laranja

na geladeira e café na cafeteira. Seu patrão disse que não precisa ir trabalhar hoje novamente, parece que a empresa vai entrar de novo em greve. Qualquer coisa liga na casa da tia.

Volto logo, Beijos, sua mãe.”

Embora a notícia que a empresa entraria

em greve animasse Gabriel, ao mesmo tempo o preocupava pois se ela fosse chegasse ir a falên-cia ele perderia o emprego, mas isso ficou como assunto secundário para ele naquela manhã – sua preocupação era a respeito de Diego, e co-mo não iria trabalhar naquele dia, decidiu se-gui-lo para tentar descobrir mais alguma in-

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formação que complementasse o que ele tinha ouvido no telefone.

Gabriel ainda se perguntava o que havia acontecido com ele na manhã passada e culpa-va a Oráculo por quase ter matado o motorista da caminhonete ao arremessá-lo junto do veícu-lo contra o supermercado. Isso fez com que Ga-briel sentisse medo dele próprio, pois não sabia quando esses poderes poderiam voltar.

Após tomar seu café da manhã, com uma combinação de torradas com manteiga e suco de laranja, Gabriel foi até a garagem pegar seu carro para poder ir até a casa de Diego – naque-la manhã Gabriel não pode assistir Mega Cho-que, pois se assistisse perderia a hora e não conseguiria executar sua missão, porém ele po-derá assistir o episódio perdido pela internet no site oficial da série.

Antes de entrar no carro ele ficou olhando seriamente para o veículo e pensava consigo mesmo: “E se eu entrar em meu carro e ele sair vo-ando comigo dentro? E se eu machucar mais al-guém?”. Mesmo com muito medo de acontecer mais alguma coisa misteriosa, Gabriel entrou no veículo corajosamente, deu partida e dirigiu até a casa de Diego para que pudesse segui-lo – se ele ainda estiver em sua residência. Gabriel estacionou o carro um pouco distante da casa

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do amigo, porém conseguia visualizar perfei-tamente o que se passava por aquela região, en-tão permaneceu em silencio aguardando a saída de Diego.

O tempo ia passando e nenhum sinal de Diego em parte alguma, Gabriel estava come-çando a ficar cansado de esperar. Faltava pouco para ele dar partida no veículo e retornar para sua casa. De repente, quando ele menos espera-va, o inconfundível som do portão eletrônico da garagem se abrindo o fez voltar sua atenção novamente para a casa de Diego, instantes de-pois um veículo saiu da garagem e nele Gabriel conseguiu visualizar perfeitamente Diego, com seus cabelos castanhos e espetados aparentando haver nele uma tonelada de gel, olhos casta-nhos escuros e um pequeno cavanhaque, ele observava o redor da rua para ter certeza que não estava sendo vigiado – nesse momento Ga-briel já havia abaixado a cabeça pois sabia que o amigo desconfiava fácil das coisas. Quando viu que Diego já não desconfiava de nada e nem mesmo percebera sua presença, ligou o veículo e saiu discretamente logo em seguida para não perdê-lo de vista.

Após segui-lo por mais ou menos 15 minu-tos, Gabriel se deu conta que eles estavam na saída da cidade, pois passava pela ponte que

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cruzava a represa Mongoli. Diego estava em al-ta velocidade, e passados alguns minutos Ga-briel e ele estavam fora do perímetro urbano, mesmo assim Gabriel não desistiu e insistiu em segui-lo.

Quando Gabriel menos esperava, o carro de Diego saiu da pista pegando uma estrada de terra, que ligava a uma pequena mata. Sem op-ção Gabriel teve que fazer o mesmo, o que ele não imaginava é que teria que desviar das árvo-res em alta velocidade para não perder seu amigo de vista.

Rodado bastante floresta adentro, Gabriel avistou uma imensa espécie de cúpula metálica, parecendo uma esfera que tinha metade de seu corpo enterrado abaixo da terra, tinha prova-velmente uns 8 metros de altura e brilhava mui-to conforme o sol refletia em sua superfície – não era a toa que ela estava em uma parte bem remota da cidade, quase impossível de se ver a longa distância por causa das árvores e o local que estava ninguém a encontraria.

O carro de Diego chegava cada vez mais perto da cúpula, porém em momento nenhum reduziu a velocidade. Quando estava prestes a se chocar com a cúpula, uma misteriosa passa-gem se abriu e por ela Diego passou.

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Gabriel vendo tudo aquilo ficou surpreso, pois segundos antes não havia nenhuma passa-gem ali, parecia que uma parte da cúpula se derretera criando uma passagem, então sem perder tempo, acelerou seu carro o mais rápido que pode para tentar entrar dentro daquela cú-pula antes que a passagem se fechasse. De re-pente a passagem se fechou em questão de mi-lésimos, Gabriel vendo que não tinha o que fa-zer, pisou com toda a força no freio do veículo o parando a alguns centímetros da cúpula.

– Essa foi por pouco – suspirou Gabriel respirando ofegante e aliviado por não bater o carro.

Vendo que não iria conseguir mais nada fi-cando ali, decidiu ir até a casa de Marcela e con-tar a ela tudo que aconteceu desde a manhã do dia anterior até o incidente da cúpula.

Chegando à casa de Marcela, Gabriel des-

ceu do veículo e tocou a campainha por três ve-zes seguidas até que a senhora Laura, mãe de Marcela e também sogra de Gabriel apareceu. Ao abrir o portão para que ele pudesse entrar, ela percebeu que o genro estava um pouco ner-voso, e preocupada com seu estar perguntou:

– Gabriel, você está bem filho?

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– Estou sim senhora Laura – respondeu ele tentando disfarçar o seu verdadeiro estado emocional – por acaso a Marcela está?

– Está sim querido, pode entrar, ela está em seu quarto com a Larissa

– respondeu ela. Gabriel agradeceu sua sogra enquanto ela

fechava o portão, ele se dirigiu até dentro da casa, onde caminhava rumo ao quarto de sua namorada.

Chegando a frente da porta que separava o quarto do corredor, Gabriel deu dois toques na porta, instantes depois, ouvia-se a voz suave e irreconhecível de Marcela dizendo:

– Entre! Gabriel girou a maçaneta, empurrou leve-

mente a porta e entrou no quarto. Cumprimen-tou Marcela com um beijo rápido nos lábios e Larissa com um beijo na bochecha seguido de um leve abraço. Embora Gabriel quisesse apa-rentar que estava tudo bem, elas notaram sem dificuldade alguma que ele não estava bem.

– Gabriel, o que houve? – perguntou Mar-cela diretamente mostrando que conhecia per-feitamente o seu namorado.

– Tá legal, acho que vocês duas merecem saber! Tenho novidades!

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– O que houve meu amor? – perguntou Marcela.

– Já sei, é sobre Diego – complementou La-rissa já sabendo que

Gabriel concordaria com ela. Realmente foi o que ele fez! Gabriel começou a contar exatamente o

que havia descoberto nesses últimos dias que se passaram, desde a secretária eletrônica na casa de Diego, até o incidente com a cúpula na flo-resta há alguns minutos antes dele se dirigir pa-ra a casa de Marcela.

No princípio elas ficaram bravas com Ga-briel pensando que ele estivesse zombando de-las, principalmente no momento que ele disse que havia ganhado poderes especiais.

– Gabriel, você está tirando onda da nossa cara não está? – perguntou

Marcela com um o rosto fechado e uma expressão séria.

– Vocês acham mesmo que eu viria até aqui para zombar de vocês com um assunto desses? – perguntou Gabriel respondendo sem dificuldades a pergunta anterior.

Vendo que aquela conversa não levaria a nada e que as garotas não acreditariam facil-mente no que ele estava dizendo, Gabriel deci-diu convidar Marcela e Larissa para irem tomar

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sorvete no centro da cidade, e naturalmente, elas aceitaram.

Os três foram para a Sorveteria Paraíso Tropical, a sorveteria que vendia os melhores sorvetes da cidade.

Sentados em uma mesa colocada na calça-da em frente da sorveteria, os três conversavam sobre Diego e também sobre o misterioso gene-ral Crouth que Gabriel havia mencionado – e que ainda não convencia as garotas que ele es-tava falando a verdade – de repente eles come-çaram

a ouvir sons de disparos vindos de arma de fogo próximos ao local que estavam, segun-dos depois conseguiram identificar que os tiros disparados vinham da arma de um bandido que fugia de uma perseguição policial e estava vindo nas suas direções, o que deixou os três preocupados e assustados.

O carro que o bandido conduzia se apro-ximava cada vez mais da sorveteria, seguido de duas viaturas policiais. Gabriel, Marcela e La-rissa vendo que o bandido estava cada vez mais próximo deles, se levantaram e ficaram obser-vando ansiosos a perseguição.

De repente um dos policiais que estava em uma das viaturas, apontou sua arma na direção do veículo em fuga e disparou convicto, acer-

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tando o tiro no pneu esquerdo traseiro. O ban-dido que conduzia o veículo em alta velocidade perdeu completamente o controle no instante que o tiro que a arma do policial havia dispara-do perfurou a câmara de ar o estourando. Sem saber o que fazer, o bandido girou o volante na direção que Gabriel, Marcela e Larissa estavam.

Em pânico Gabriel estendeu sua mão na direção do carro – repetindo o ato do super-mercado – fechou seus olhos e gritou desespe-rado pensando que aquele momento seria o úl-timo de sua vida. Quando abriu os olhos no-vamente viu que ele e as garotas estavam en-volvidos em um campo de energia semelhante ao que ele envolveu a caminhonete no dia ante-rior, porém quem estava dentro do campo des-sa vez eram eles.

O carro estava logo a sua frente, com a par-te frontal toda amassada e liberando uma fu-maça cinzenta por ter se chocado com o campo de energia, o bandido estava no bando do mo-torista, completamente zonzo, olhou ao seu re-dor por alguns segundos e em seguida desmai-ou inclinando sua cabeça na direção do volante.

Imediatamente ainda sem saber como fez, Gabriel desfez o campo de força antes que mais alguém visse o incidente, instantes depois as duas viaturas que perseguiam o bandido esta-

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cionaram logo a frente dos três, dois deles fo-ram na direção do bandido para imobilizá-lo, outros dois permaneceram nas viaturas e um deles foi até Gabriel, Marcela e Larissa e dire-tamente perguntou:

– O que houve com o carro? – Não sabemos direito senhor policial –

justificou Gabriel tentando fugir da verdade. – Ele perdeu o controle – complementou

Marcela, passando a acreditar em tudo aquilo que Gabriel havia dito a ela e a Larissa

O dono da sorveteria saiu logo em seguida preocupado com todo aquele tumulto, Gabriel, Marcela e Larissa pagaram a conta e deixaram o local antes que mais algum policial inventasse de fazer perguntas sobre o incidente, enquanto o dono da sorveteria tentava convencer os

policiais a deixarem logo aquele local, pois todo aquele tumulto poderia prejudicar sua venda espantando os fregueses.

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o entrarem dentro do carro, Gabri-el deu partida e iniciou o trajeto para levar Marcela e Larissa embo-

ra. – E então, não vai nos dizer nada? – per-

guntou Marcela ansiosa não conseguindo per-manecer em silêncio conforme Gabriel desejava.

– Quer que eu diga o quê meu amor? Eu disse que tudo aquilo que aconteceu era verda-de – respondeu ele sério e concentrado no trân-sito.

– Como você faz isso? – perguntou Larissa se interessando pelo assunto.

- Nem eu sei explicar direito Lari, só sei que minhas mãos são capazes de produzir esses tipos de campos de energia. Mas e então, acre-ditam em mim agora?

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– ACREDITAMOS! – responderam as duas juntas compassadas olhando uma para outra com os olhos arregalados de tanta surpresa.

Voltando para a casa de Marcela, a senho-ra Laura notando que todos estavam agitados preparou três copos de água com açúcar, um para cada. Quando todos estavam mais calmos, decidiram omitir o incidente acontecido e caso a senhora Laura perguntasse o que houve, res-ponderiam que aconteceu um acidente próximo a sorveteria e eles se assustaram por testemu-nhar tudo.

A senhora Laura vendo que os Gabriel, Marcela e Larissa queriam conversar em parti-cular, deixou-os a sós e Marcela aproveitando a oportunidade, tentou:

– Amor, se não estiver preparado para res-ponder, não tem problema nenhum, mas eu preciso saber de uma coisa, como você usa es-ses poderes? Eu quero tentar ajudá-lo mas para que isso aconteça, vai depender de você.

– Foi como eu disse antes de irmos para a sorveteria, depois que encontrei essa mulher misteriosa que dizia ser a Oráculo, coisas estra-nhas como esse poder começaram a acontecer comigo, mas não sei como produzir esses cam-pos de energia quando quero, é repentino, a única coisa que sei é que nas duas vezes que

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eles se produziram, foram nas únicas vezes que eu estava em perigo.

– Não acham isso muito estranho? – per-guntou Larissa complementando de maneira curiosa a resposta de Gabriel – Primeiro o Die-go começa a agir de um modo que nós desco-nhecemos, depois o Gabriel vem com essa de poderes especiais, o que eu nunca vi em toda minha vida a não ser nos filmes de ficção do Steven Spielberg e do J.J. Abrams.

– A Larissa tem razão – prosseguiu Marce-la olhando profundamente nos olhos de Gabriel – isso pode ser um sinal, indicando que alguma coisa ruim está para acontecer.

– Bom meu amor, quanto a isso não posso afirmar nada, pois ainda mal consigo acreditar que tudo isso está realmente acontecendo co-migo. Marcela foi na direção de Gabriel e o abraçou fortemente e sussurrou em seu ouvido – Não importa o que aconteça, eu vou estar sempre contigo, pois eu te amo e quero o seu bem – em se-guida ela se afastou e sorriu para ele.

– Obrigado por tudo meu amor, mas agora eu preciso ir embora, não dormi bem essa noite e o sono está pesando em meu corpo...

– Não quer que eu te leve no seu carro e depois volto de táxi? – sugeriu Marcela.

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– Não se preocupe comigo, eu ficarei bem, já consegui me acalmar, só preciso descansar um pouco que devagar as coisas vão melhoran-do. Marcela se conformou que Gabriel iria em-bora sozinho, despedisse dele e em seguida o observou saindo pela janela de seu quarto, o vendo entrar em seu carro e instantes depois desaparecer ao virar a rua.

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aquele mesmo dia, os policiais que capturaram o bando em frente a sorveteria voltaram imediatamen-

te para a delegacia – que por sinal estava num alvoroço tremendo por consequência de crimes excessivos.

Sem perder tempo dois deles foram até uma sala que ficava no fim do corredor do pri-meiro andar, rodeado por várias portas, cami-nharam até entrar em uma que na sua frente havia uma plaquinha azul-escura com letreiro branco pregada informando ”Dr. Valdir Santana delegado de polícia”. Bateram na porta e em se-guida entraram.

Ao entrarem na sala, viram um homem com a cabeça baixa, bigodes grisalhos, cabelos brancos porém com uma falha careca no centro superficial da cabeça e parecia estar lendo al-guma coisa.

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– Dr. Santana? – interrompeu um dos poli-ciais ansiosos para ver a reação do delegado.

– Pois não Marcos? – respondeu ele incli-nando tranquilamente a cabeça e olhando para os dois policiais.

Os dois caminhavam em passo combinado na direção da mesa de Valdir Santana, puxaram cada um, uma cadeira e se assentaram.

– O senhor se lembra do incidente com a caminhonete ontem no Walmart? – perguntou o outro policial olhando fixamente nos olhos de “Santana” – como preferia ser chamado.

– Claro que eu me lembro James, várias pessoas me enchendo a paciência por causa dis-so dizendo que viram um homem arremessá-la.

Besteira isso. – Chegaram a descrever o homem que po-

deria ter ocasionado isso? – Bom, me disseram que ele era alto, ma-

gro, cabelos escuros e saiu em um carro preto. – Bom doutor e se esse mesmo cara tivesse

ocasionado a parada do bandido na sorveteria? Pois quando chegamos até ele, o bandido esta-va inconsciente com a frente do carro roubado toda amassada.

– Pelo menos conseguiram o nome desse suspeito?

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– Gabriel Freitas – responderam os polici-ais simultaneamente.

Valdir Santana solicitou que os policiais entrassem em contato com Gabriel para que pudesse ouvir o que ele tinha a dizer, pois dois casos envolvendo carros danificados e ele esta-va presente nos dois locais, gerou grandes sus-peitas por parte do delegado.

Os policiais foram então até a recepção da delegacia onde iriam procurar em um dos com-putadores, pelo nome Gabriel Freitas onde pe-gariam seus dados e o localizariam.

Depois de encontrados três pessoas cujo nome continha Gabriel Freitas, só conseguiram identificá-lo pois o reconheceram pela foto.

“Gabriel Augusto Freitas Identidade: XX.XXX.XXX-X

Rua Roosevelt No. 226, Jardim

Santa Monica

Kindland”

Os policiais não perderam tempo e se diri-giram para o endereço que o computador indi-cava. Ao chegarem lá, tocaram a campainha da casa e aguardaram alguns segundos até Gabriel sair para fora – tudo isso por volta das sete da noite.

– Pois não? – perguntou Gabriel ansioso.

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– Senhor Gabriel Freitas? – perguntou um dos policiais.

– Sou eu mesmo! Desejam alguma coisa? – Eu sou o policial James – se apresentou

um dos policiais – e esse é o policial Marcos, gostaríamos que o senhor nos acompanhasse até a delegacia.

– Eu fiz alguma coisa errada? – perguntou Gabriel preocupado.

– Não senhor, é que o delegado Santana deseja vê-lo.

Gabriel viu que não tinha escolha e teria que acompanhar os policiais até a delegacia, en-tão pegou seu carro e acompanhou a viatura es-cura, com as sirenes ligadas e escrito nos dois lados da porta Polícia Federal de Kindland.

Chegando à delegacia, os policiais condu-ziram Gabriel para a sala do delegado Valdir Santana que já o aguardava. Quando os três pa-raram em frente a sala do delegado, os policiais bateram na porta e em seguida entraram – Ga-briel seguiu logo atrás.

Já dentro da sala, ao ver Gabriel, o delega-do Santana sorriu e olhando friamente nos olhos dele disse:

– James, Marcos, deixe-nos a sós – parou um instante até que os policiais saíssem – Se-nhor Freitas, sente-se, por favor.

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Bastante nervoso Gabriel foi se aproxi-mando com passos curtos, até que puxou uma das cadeiras próximas da mesa repleta de pa-péis do delegado e se sentou, em seguida aper-tou a mão do delegado o cumprimentando.

– Aqueles dois policiais disseram que o se-nhor desejava falar comigo.

– De fato sim, senhor Freitas, na verdade gostaria de lhe fazer algumas perguntas relaci-onadas ao incidente no Supermercado Walmart e na Sorveteria Paraíso Tropical.

– O que o senhor gostaria de saber? – Bom segundo algumas pessoas que esta-

vam próximas ao supermercado, o senhor usou poderes especiais contra a caminhonete, em minha opinião, besteira, mas sei que o senhor pode me explicar exatamente o que houve.

Gabriel não sabia o que dizer, pois tinha medo de contar a verdade e acabar sendo cha-mado de louco, então disse a desculpa mais ób-via que veio em sua mente:

– Na manhã de ontem senhor, eu estava atravessando a rua, porém não vi que a cami-nhonete estava vindo em alta velocidade na minha direção, o homem que a dirigia, para evitar uma tragédia, girou o volante na direção do supermercado e se chocou com a porta, eu fiquei nervoso e com medo de me envolver e

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deixei o local antes que tudo aquilo virasse um tumulto e as pessoas começassem a me acusar.

O delegado começou a então a acariciar seus bigodes grisalhos, duvidoso, após anotar as informações que Gabriel transmitia para ele.

Em seguida perguntou sobre o incidente na sorveteria, Gabriel vendo que não tinha es-colha, mentiu novamente dizendo que o bandi-do havia batido em um poste – já que o delega-do não estava presente na hora do acontecido.

Valdir Santana olhou profundamente nos olhos de Gabriel para ter certeza que ele não es-tava mentindo, porém este estava tão sério que ele não conseguia identificar nenhuma reação suspeita. Então o agradeceu pela sua atenção e o dispensou logo em seguida.

Enquanto Gabriel saia da sala, o delegado ficou encarando-o até o último segundo. Quan-do finalmente saiu da delegacia, Gabriel sentiu uma sensação de alívio, pois ninguém havia suspeitado de nada, voltou para dentro de seu carro e seguiu caminho rumo a sua casa.

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abriel assistia ao último capítulo de Mega Choque que para ele foi o melhor de toda a série – Sombra

se uniu a Mega Choque para que juntos destru-íssem o perverso Príncipe do Crime que acabou sendo morto pelo mestre Harussamê que ao ver que iria ser preso cometeu suicídio. Gabriel viu na internet naquela mesma manhã que uma nova série começaria no próximo ano, onde Mega Choque liderará uma liga de super-heróis chamada de Liga Extraordinária dando sequên-cia a série que foi um sucesso.

Terminando de assistir, Gabriel tomou rápido seu café da manhã e aproveitando que era sábado, decidiu ir até a casa de Diego no-vamente com o objetivo de encontrá-lo lá dessa vez.

Se aproximando da casa de Diego com o veículo, Gabriel notou que ele estava de saída,

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pois estava na frente de sua casa, prestes a en-trar em seu carro. Sem perder tempo, Gabriel buzinou para o amigo.

Diego olhou assustado, pois não esperava aquela visita.

Gabriel desceu do carro e caminhou na direção de Diego e sem cumprimentá-lo, foi di-reto ao assunto:

– Precisamos conversar Diego! – Estou ouvindo – respondeu ele ríspido

aparentando estar com muita pressa. – O que está acontecendo com você? Por

que não sai mais com a gente? Por que não conversa mais com Larissa, que por sinal ainda é sua namorada, ou já se esqueceu disso?

– Sinto muito Gabriel, mas não posso lhe dizer nada, você nunca entenderia – respondeu Diego diretamente, evitando estender aquela conversa desagradável.

– O quê eu não entenderia Diego? Sobre o general Crouth eu não entenderia?

– Como sabe do general? – perguntou surpreso, não esperando que Gabriel o mencio-nasse.

– Eu simplesmente comecei a investigar você nos últimos dias para descobrir o motivo que fazia você agir estranhamente de algumas

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semanas pra cá, pois eu ainda acredito que pos-so trazer o meu melhor amigo de volta.

– Quem lhe deu o direito de se meter em minha vida? – perguntou ele nervoso, mostran-do uma reação que Gabriel nunca tivera visto.

– Três amigos de verdade, que estão mui-to, mas muito preocupados, pois as suas atitu-des recentes não são atitudes do Diego que eu conheço.

– Cala a boca e me escuta seu desgraçado! – gritou Diego silenciando

Gabriel – Você contou a mais alguém so-bre o general Crouth? – perguntou preocupado.

– Contei sim, para Larissa e Marcela. – Seu idiota! Você acaba de condená-las e

condenar você mesmo. – Diego, do que é que você está falando? –

perguntou Gabriel com um mau pressentimen-to, encurtando o tom da voz.

– Que você dizendo a elas sobre a existên-cia de Ernesto Crouth você fará com que ele ve-nha atrás delas e de você também.

– Mas afinal, quem é esse general Crouth? – Ernesto Crouth é um antigo general que

comandou o exército dos Estados Unidos há al-guns anos atrás antes de ser banido por crimes contra a bandeira americana, foi procurado em mais de vinte países, é de origem austríaca, mas

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domina o nosso português perfeitamente – res-pondeu Diego – Porém, se quer continuar vivo é bom ficar longe da minha vida e de meus problemas.

Gabriel ficou surpreso com tudo aquilo que Diego acabara de revelar – seu amigo esta-va trabalhando para um criminoso procurado pelo mundo todo – então vendo que seria perda de tempo conversar com Diego, e muito mais perda ainda tentar dar lição de moral para ele, Gabriel o deixou ali sem dizer nada e voltou para seu carro. Quando deu partida, encarou o amigo com um olhar de decepção, pois aquela era uma atitude que ele nunca esperaria partir de seu amigo de infância.

Sem dizer mais nada Gabriel voltou para sua casa, chegando lá, não deu nem tempo dele descer do veículo quando a senhora Julia o gri-tou – Querido! A Marcela ligou e disse que precisa falar muito com você! – Gabriel agradeceu sua mãe pelo recado e voltou para o veículo, aonde iria até a casa de Marcela conversar.

Se aproximando da casa de Marcela, Ga-

briel avistou uma pessoa sentada na frente da casa – uma mulher para ser mais exato – estava sentada na calçada com a cabeça baixa, porém não se podia identificar de longe pois os lisos

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cabelos estavam encobrindo o rosto. Gabriel pa-rou o carro próximo a mulher e ao descer do veículo notou que era Marcela que ali estava. Rapidamente ele correu em sua direção e viu que ela estava chorando.

– O que houve meu amor? – perguntou preocupado com o estado de sua namorada.

Marcela levantou a cabeça lentamente e olhou para Gabriel, instantes depois ela se le-vantou, ficou um pouco mais calma e o abra-çou.

– Amor, você se lembra daquele general Crouth que você mencionou ontem no meu quarto enquanto nos contava sobre as coisas que tinha descoberto?

– Claro que me lembro querida, o que houve? – perguntou ansioso pela resposta.

– Andei pesquisando sobre ele no Google e descobri que ele é procurado em mais de vinte países e as autoridades do estado desconfiam que ele esteja liderando uma base de armamen-to ilegal em Kindland.

– Merda! Isso explica a cúpula impenetrá-vel! Mas amor me diga, por que está chorando?

– Porque eu estou preocupada com Diego, depois que você me disse que ele parece estar envolvido com esse cara, me passou pela cabeça

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que Diego se tornou um membro dessa base, ou seja, um criminoso.

Observando o estado de Marcela e vendo que ela estava muito agitada, Gabriel decidiu omitir o encontro que ele tivera com o amigo minutos antes, e procurou acalmá-la para poder levá-la para dentro de sua casa. De repente, uma voz misteriosa – feminina – e próxima de-les disse:

– Gabriel! Vire-se! Gabriel já tivera ouvido aquela voz antes,

mesmo assim estava tentado a se virar e desco-brir quem era então Marcela e ele se viraram e se depararam com a mulher que se dizia ser a Oráculo. Os dois ficaram impressionados com a sua aparição, ainda mais Marcela que nunca a tinha visto – ainda bem que os pais de Marcela não estavam em sua residência, pois se vissem a mulher envolvida por uma luz branca e bri-lhosa ainda mais com aquelas vestes estranhas, com certeza teriam desmaiado de susto.

Marcela ficou pálida, imóvel como se esti-vesse vendo alguma coisa muito assustadora, porém ela não gritava nem dizia uma palavra sequer. A Oráculo sorriu para ela e disse:

– Fique calma minha jovem! Não estou aqui para machucá-la!

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Minha missão é de paz! Sou a deusa Orá-culo.

Mas de nada funcionou, a Oráculo mal terminou de dizer aquelas palavras e Marcela desmaiou, caindo nos braços de Gabriel.

– Ela vai ficar bem – respondeu a Oráculo sorrindo para ele.

Gabriel segurou Marcela em seus braços e pediu explicações a Oráculo, que com a tran-quilidade de sempre, explicou a ele que os po-deres foram dados, pois ele foi o escolhido para impedir o plano de Ernesto Crouth, que tinha por objetivo explodir a metrópole de Kindland com super bombas nucleares construídas por Diego e pelo próprio Crouth, tudo isso para impedir que uma profecia que o general temia há anos acontecesse.

–... E não se esqueça Gabriel, esses pode-res só irão funcionar quando você realmente precisar usá-los e, por favor, use-os para o bem da humanidade, pois todos dependem de você.

Ao dizer essas palavras, um clarão de luz pairou sobre a Oráculo fazendo com que ela de-saparecesse em questão de segundos. Em se-guida, Gabriel levou Marcela para dentro de sua casa a deitando em sua cama e deixando em seu criado mudo um bilhete dizendo:

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“Meu amor, Mil desculpas por não poder esperar que acordasse,

mas tive que resolver umas coisas. Me ligue mais tarde quando

acordar para que eu te explique exatamente o que aconteceu.

Espero que me compreenda.

Amo Muito você, G. Freitas”

Chegando em sua casa, Gabriel decidiu

contar a seus pais que ele havia ganhado super poderes, a primeira impressão que eles tiveram quando o filho lhe revelou a verdade, foi que ele estivesse ficando louco ou drogado, porém quando Gabriel começou a explicar claramente as coisas, eles perceberam que ele falava a ver-dade e ficaram impressionados com tudo que estavam ouvindo. Quando Gabriel terminou de contar a história, seu pai lhe fez prometer dian-te dele e sua mãe que em hipótese alguma ele iria tentar provar nada a ninguém enfrentando Crouth e Diego.

– Pai, me desculpe, mas infelizmente eu não posso prometer isso ao senhor, o Diego é meu melhor amigo e eu não vou deixá-lo estra-gar a vida por causa de ganância e dinheiro, se realmente foi isso que o fez se juntar ao general

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Crouth, e outra, não vou permitir que Kindland corra perigo só porque um velho desgraçado e louco quer explodir toda cidade.

Os pais de Gabriel compreenderam que o filho só queria o bem de todos, então mesmo não concordando psicologicamente com tudo aquilo, apoiaram e motivaram o filho dizendo que tudo ia terminar bem, deixando Gabriel mais otimista.

Naquela mesma noite, Gabriel pesquisou na internet tudo sobre o general Crouth e se-gundo os outros países, pelo qual ele passou, o general possui um exército com mais de cem homens de diversas regiões do mundo, todos eles treinados para matar. Pesquisando, Gabriel também descobriu que Ernesto Crouth não é da Áustria, mas sim da Grã-Bretanha e sua missão era de preparar soldados para uma guerra que ele crê que se aproxima - porém essa guerra não foi detalhada no artigo só dizia que após ter um exército forte, houve boatos ele se instalou no

Brasil, em Kindland para poder executar seu plano.

O que de fato era verdade! Gabriel ao ler tudo aquilo chegou a uma

conclusão: “Diego só sai da base de Crouth sem vi-da” – o que o preocupou ainda mais.

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abriel acordou em cima da escriva-ninha de seu computador, pelo vis-to o cansaço era tanto que ele mal

conseguiu chegar à cama, então decidiu ador-mecer por ali mesmo frente ao computador.

Trocou de roupa rapidamente, desceu as escadas e foi até a cozinha tomar café, quando cruzou a porta viu Larissa, séria, sentada a me-sa esperando por ele.

– Bom dia Gabriel! – respondeu ela se le-vantando – Me desculpe por ter entrado sem avisar, mas eu vi que a porta estava aberta e de-cidi esperar por você aqui dentro.

– Imagina Lari, você sabe que é de casa! Mas o que faz aqui tão cedo?

– Precisamos conversar! Eu não aguento mais sofrer desse jeito Gabriel!

G

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– Como assim Larissa? Aonde você quer chegar? – perguntou Gabriel ainda em dúvida da resposta que Larissa daria a ele.

– Eu andei pensando bastante nesses últi-mos dias e achei melhor terminar meu relacio-namento com Diego, para o bem de nós dois – respondeu ela começando a chorar – do jeito que as coisas estão indo não dá mais.

– Mas o que está dizendo Larissa? Pelo amor de Deus, preste bem atenção no que eu vou lhe dizer, por tudo que é mais sagrado, não faça isso, você o ama e sei que o Diego também te ama, ele só está passando por um momento confuso na vida. Por favor, não me decepcione, pense bem antes de tomar qualquer decisão.

As palavras de Gabriel deixaram a cabeça de Larissa mais confusa do que estava, pois ela já pensava em não terminar – pelo menos até que as coisas se acalmassem – e pensando por alguns segundos ela chegou em uma decisão:

– Gabriel, eu concordo em tentar ajudá-lo, porém, isso não significa que o meu namoro com Diego continuará, vamos nos acertar e ver até onde podemos chegar.

Gabriel agradeceu Larissa e em seguida a abraçou.

Larissa ficou para tomar café junto com Gabriel, em seguida ela se despediu, pois tinha

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que ir até o laboratório de seu pai ajudá-lo em uma pesquisa que ele estava realizando.

Gabriel ainda inquieto pelas coisas que des-cobriu, decidiu agir, porém não disse nada a Larissa. Terminou de tomar seu café e foi ime-diatamente para a delegacia de Kindland onde contaria ao delegado Santana toda a verdade com o objetivo de conseguir sua ajuda.

Chegando à delegacia, ele se deparou com os policiais James e Marcos, imediatamente pe-diu que eles o levassem até o delegado. Ao en-trar em sua sala, Gabriel viu Santana sentado em sua cadeira assinando alguns documentos, pediu licença e se aproximou da autoridade.

– Senhor Freitas, o que traz sua honrosa vi-sita em pleno domingo?

– Precisamos conversar sobre alguns inci-dentes que aconteceram.

– Sou todo a ouvidos – respondeu o dele-gado voltando sua atenção toda para Gabriel.

Gabriel começou a explicar detalhadamente o que realmente aconteceu exceto a questão de seus superpoderes, pois mencionando isso, o delegado certamente iria achar que ele estava louco e o internaria na mesma hora em um sa-natório. Após dizer tudo que sabia sobre a base de armamento de Crouth, o delegado sorriu ironicamente.

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– Tá legal Gabriel, vamos chamar os G.I. Joe para nos ajudar nessa missão e desfazer de uma vez essa base – respondeu ele zombando do que Gabriel acabava de dizer.

– Senhor Santana eu não estou brincando, se nós não agirmos rápido,

Kindland será reduzida a pó, o general Crouth está determinado a explodir essa cidade e se isso acontecer não teremos chance alguma.

– Espere, espere o que você disse? – per-guntou mostrando um interesse ainda maior no que Gabriel dizia a ele.

– Que se não agirmos logo nossa cidade... – Gabriel respondeu, porém foi interrompido pe-lo delegado.

– Não é isso, me refiro ao nome que você mencionou?

– Ah! O general Crouth? – Gabriel, por acaso está se referindo a Er-

nesto Crouth? – Ele mesmo senhor! – respondeu Gabriel

querendo saber como Valdir Santana ouvira falar dele – Conhece-

o? O delegado apresentou em seu rosto uma

expressão de quem estava furioso e deu um for-te soco em sua mesa fazendo com que os do-

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cumentos que estavam sobre ela dessem um pequeno salto para cima, em seguida disse:

– Aquele desgraçado! Então ele realmente voltou com essa ideia maluca? Gabriel, nós va-mos invadir essa tal base e você será o encarre-gado de guiar eu e meus homens até ela.

– Tudo bem delegado, concordo com o se-nhor, porém de princípio acho melhor irmos apenas o senhor e eu para que possamos anali-sar o espaço dessa base. Segundo uma pessoa esse general é muito perigoso.

– Como quiser Gabriel – respondeu o dele-gado ainda nervoso – mas depois disso convo-carei minha equipe de invasão especial para que possamos atacar o local e deter Ernesto Crouth.

Gabriel deixou seu carro no estacionamento da delegacia, onde ele e o delegado foram com uma das viaturas policiais da delegacia.

Gabriel lembrava perfeitamente o trajeto, saiu do perímetro urbano e cruzou a ponte da represa Mongoli. Quando estavam na pista já fora da cidade o delegado sorriu e comentou:

– Por isso que nunca vimos nada de suspei-to, o maldito construiu sua base em uma parte bem remota da cidade. Gabriel cortou o cami-nho pelo qual Diego havia cortado naquela manhã, e no meio da floresta procurava pela

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cúpula prateada, porém não encontrava o local. De repente avistou em uma parte da floresta um lugar que não havia árvores, como se tives-sem sido arrancadas e levadas para outro lugar, porém uma gigantesca cratera se encontrava naquele local, rapidamente parou o carro onde ele e o delegado desceram e correram na dire-ção da cratera.

– Era aqui! – respondeu Gabriel preocupa-do.

Valdir Santana furioso. – Mas como moveram uma base daquele

tamanho? – Crouth é um homem esperto – respondeu

Santana – ele sempre encontra alguma maneira de conseguir as coisas.

De repente uma forte luz esverdeada saiu do centro da cratera formando uma projeção digital na frente de Gabriel e Santana, que ins-tantes depois, fez surgir a seguinte frase:

Saudações Gabriel, enfim descobriu onde é a minha base, mas

sou mais esperto do que você! E agora? Como fará para me encontrar

se não sabe para onde levei a base? Recomendo que faça isso antes

dos meus soldados ENCONTRAREM A VOCÊ E AO DELEGADO.

Lembre-se, o ESCATHOS está próximo.

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Segundos depois de Gabriel e Santana le-rem a mensagem, o projetor que a exibia desa-pareceu diante de seus olhos deixando apenas a cratera e a visão do céu com algumas árvores que dificultavam sua visão.

– Maldição! – resmungava o delegado in-conformado – Ele sabia de tudo! Bem que eu desconfiei que estava fácil demais.

– E o que vamos fazer agora delegado? – Bom, nossa última esperança é encontra-

lo e lutar já que nosso plano foi por água abai-xo! Perdi a chance de prender o homem que ca-cei por toda a minha carreira profissional na polícia.

– Mas senhor, por que essa obsessão em prender Ernesto Crouth?

Afinal, seus crimes não foram cometidos em Kindland, com exceção desse que está pres-te a ser executado.

– Sinto muito Gabriel, mas são assuntos pessoais que envolvem meu passado e prefiro não tocar nesse assunto, pelo menos não agora.

Gabriel desconfiou que o delegado escon-dia algum segredo e não queria compartilhar, mesmo ele servindo de ajuda na procura do ge-neral.

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Sem saber o que fazer Gabriel então suge-riu:

– Já sei o que podemos fazer senhor! Como não temos chances nenhuma com as forças de Crouth, o que acha de recrutarmos membros e formarmos um grupo de Forças Especiais de agentes treinados e determinados a se dedica-rem na perseguição e captura de Ernesto Crouth?

– Sabe Gabriel, você tem umas ideias malu-cas, porém eu gostei do plano. Posso convocar meus agentes, mas esse nosso grupo precisaria de um nome, como o chamaremos? Crouth For-ce? – perguntou o delegado em um tom sarcás-tico, porém mostrando interesse na ideia que Gabriel acabava de apresentar.

– Eu gostei de Escathos. – Escathos? Por que Escathos? – Porque foi esse nome que Crouth menci-

onou no final da projeção – “... Lembre-se, o Escathos está próximo.”

– Daí eu pensei em: Escathos: Forças Especiais. – Sua ideia é ótima Gabriel, mesmo eu não

sabendo o significado dessa palavra, porém es-quecemos de um detalhe: Não sabemos para onde Crouth migrou-se, ele deve estar escondi-do em uma parte bem remota de Kindland, nunca vamos encontra-lo, não em uma cidade

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desse tamanho, é como procurar uma agulha no palheiro – resmungou o delegado já conforma-do que poderiam não obter sucesso na missão que planejaram.

– Quanto a isso não se preocupe delegado – respondeu Gabriel com tranquilidade e confi-ança – deixe essa parte sob minha responsabili-dade enquanto o senhor fica encarregado de reunir os membros da equipe. Sei de uma pes-soa que pode me dar as informações que preci-so – referiu-se ele a Diego, porém em momento nenhum mencionou o nome do amigo.

Santana aceitou a ideia de Gabriel, porém pediu que ele agisse discretamente, pois o dele-gado poderia perder o cargo por estar execu-tando uma missão que ultrapassa o limite de sua autoridade.

Gabriel acompanhou o delegado de volta até a delegacia para que pudesse pegar seu car-ro e voltar para sua casa.

A primeira coisa que fez quando retornou a sua residência foi ir para a frente do computa-dor, onde no Google, digitou “Escathos”, pois embora seu nome fosse chamativo, Gabriel des-conhecia o seu significado e estava curioso para saber mais sobre essa palavra.

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Instantes depois, após procurar em dicioná-rios on-line, descobriu que significava “Fim dos Tempos, Apocalipse”.

Bendita seja a Wikipédia – comemorava Ga-briel por conseguir mais uma informação que precisava.

Ao descobrir o significado, Gabriel aplicou a tradução para o português na frase projetada no final da mensagem de Crouth na cratera dentro da floresta: “Lembre-se: O Escathos está próximo”, formando: “Lembre-se: O Apocalipse es-tá próximo”.

Gabriel arregalou os olhos frente ao compu-tador surpreso com o que acabara de descobrir, provavelmente Crouth queria dizer que o mundo está prestes a acabar – pelo menos foi o que Gabriel concluiu.

Sem perda de tempo ele foi a casa de Mar-cela.

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abriel explicou claramente para Marcela a real situação, ela pare-cendo não acreditar que Diego re-

almente estava envolvido com um criminoso, começou a sorrir de maneira irônica dizendo:

– Ele é um idiota! Teve tudo que sempre precisou: amigos, família, carinho, uma namo-rada que o ama muito e mesmo assim preferiu se juntar a esse criminoso, sinceramente eu não entendo o que se passa na cabeça de uma pes-soa assim, às vezes penso que essas atitudes são consequências de um passado sofrido, porém, que eu saiba, Diego sempre teve tudo que quis.

Gabriel ficou pálido naquele instante, co-mo se alguma coisa o assombrasse.

– Não pode ser o que estou pensando – pensou alto.

G

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Marcela olhou nos olhos congelados de Gabriel e preocupada começou a chacoalhá-lo, porém ele parecia não dar atenção, ela gritava e mesmo assim parecia que ele estava em outro mundo, Marcela então olhou diretamente nos olhos ele e disse:

– Gabriel, preciso que me diga, o que você sabe?

Gabriel finalmente voltou ao seu estado normal, porém parecia estar bastante aflito. En-tão olhou para Marcela e disse:

– Diego, desde criança, foi muito obsessivo e orgulhoso, certa vez, quando tínhamos se não me engano doze anos, eu e eles brincávamos no jardim da casa que eu morava, lá havia um formigueiro e Diego começou a matá-las ati-rando fogo contra elas e ele disse uma coisa que marcou muito naquele dia “Meu sonho é ter po-der, um poder que nem mesmo os humanos possam me superar, assim como as formigas não me superam nesse momento, vê? Elas temem a mim”. Eu olhei pra ele e disse que às vezes, o poder pode trazer sérias consequências, como voltar para si mes-mo, pois muitas pessoas que abusaram de seu poder acabaram se matando por não conseguir mais controlá-lo, uma delas foi Adolf Hitler.

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– Qual foi a reação dele? – perguntou Mar-cela tentada a saber do passado de Diego e Ga-briel e surpresa por ouvir aquilo.

– Ele me empurrou dizendo que eu era um idiota, eu caí contra o formigueiro e as formigas me machucaram, seus pais vieram em casa e pediram pra ele pedir desculpas a mim, ele dis-se que apenas um fraco pediria desculpas a al-guém, porém éramos crianças e logo depois fi-zemos as pazes, porém só agora eu percebo que tudo que Diego no passado refletem no que ele se tornou hoje, ele não estando satisfeito com a vida que tem, se juntou a esse general Crouth tentando obter o tão cobiçado poder que ele queria.

– Meu Deus – lamentou Marcela – Nunca esperaria uma atitude dessas vindo de Diego.

– E eu que o conheço desde criança? – per-guntou Gabriel em tom de lamentação – Nunca imaginei que essas coisas que Diego falava, permaneceram em sua cabeça todos esses tem-pos, pois até eu tinha sonhos no passado, po-rém conforme nós amadurecemos a maioria de-les desaparecem. Marcela se segurou, porém não conteve as lágrimas que escorriam

de seus olhos, Gabriel a abraçou fortemen-te e sussurrou em seu ouvido direito:

– Eu ainda não desisti de salvá-lo.

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Ela olhou em seus olhos e o beijou, instan-tes depois o celular de Gabriel começa a tocar, ele pega o aparelho nas mãos e vê quem o nú-mero de quem estava ligando, era o delegado Valdir Santana, rapidamente pediu uma licença rápida para Marcela e atendeu.

O delegado queria que Gabriel desse uma breve passada na delegacia para que os dois discutissem um pouco mais sobre a operação.

Gabriel compreendeu perfeitamente e dis-se que em uma hora no máximo ele estaria lá.

Quando desligou o telefone, Marcela colo-cou suas mãos suaves e macias no rosto de Ga-briel e disse:

– Tô preocupada contigo. Gabriel sorriu para ela, deu um leve beijo

em sua testa e respondeu: – Fique tranquila meu amor, vai tudo aca-

bar bem se Deus quiser. – Me promete uma coisa? – O quê? – perguntou Gabriel ansioso. – Que nunca vai me abandonar? Gabriel sorriu para ela e com a superfície

do dedo polegar, acariciou sua rosada bochecha e respondeu:

– Eu nunca vou deixá-la, vou estar sempre contigo, como dizem os contos de fadas, para todo o sempre.

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Marcela o abraçou e sussurrou no ouvido de Gabriel – Eu te amo – Ele sorriu e respondeu – Também te amo.

Gabriel se despediu da namorada e foi até a Delegacia de Polícia de Kindland. Chegando ao distrito policial, ele entrou, perguntou ao po-licial Marcos que conversava com outro policial chamado Estevão onde Valdir estava e com o indicador esquerdo, Marcos apontou para o corredor mais próximo dizendo – Em sua sala – Gabriel agradeceu e seguiu rumo ao corredor que o levaria até o delegado Santana.

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ntrando na sala do delegado, Gabri-el pediu licença e caminhou até a enorme mesa da autoridade, viu em

sua mesa uma lista com vários nomes, todos eles de homens. Gabriel tentando adivinhar do que se tratava se sentou olhando para a folha e perguntou se os nomes que ali estavam escritos eram dos homens já recrutados para a missão de Escathos.

– Exatamente – concordou o delegado – po-rém precisamos de mais homens ou não tere-mos chance alguma contra Crouth, acho que em dois dias consigo concluir nosso grupo – con-cluiu Santana olhando para Gabriel que procu-rava na lista algum nome de conhecido, porém nunca tivera visto nenhum daqueles nomes ali escritos em toda sua vida.

– Mas senhor, por que o senhor me cha-mou até aqui? – perguntou Gabriel inquieto

E

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sem saber sobre que assunto o delegado Santa-na gostaria de conversar.

– Sabe Gabriel, uma coisa me deixou in-quieto desde nossa última conversa, você disse que conseguiria informações com uma pessoa que nos levariam até a base de Ernesto Crouth, e eu não pude deixar de me perguntar, quem é essa pessoa que você mencionou no último en-contro?

Aquele momento fora um dos piores de Gabriel em toda sua vida, pois ele não sabia se entregava o amigo perdendo todas as chances de ajudá-lo a voltar para o lado certo, ou trairia a confiança do delegado que se dispôs a ajudá-lo em uma missão que outra pessoa provavel-mente não ajudaria, contando uma mentira e salvando o amigo de ir preso. Gabriel pensou bem antes de dar uma justificativa ao delegado e então, respirou profundamente e disse:

– Senhor, o que eu vou lhe dizer fica entre nós.

– Estou ouvindo! – Meu amigo Diego por um motivo que até

mesmo eu desconheço, se juntou a esse general para ajudá-lo a construir essas bombas, porém eu gostaria de pedir que o senhor me ajudasse a trazê-lo de volta para o nosso time.

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O delegado sacudiu a cabeça negativamen-te e com um olhar de quem estava muito de-cepcionado, olhou para Gabriel e disse:

– Podia ter me contado isso antes, se tivés-semos prendido e interrogado seu amigo, Crouth provavelmente já estaria atrás das gra-des – disse o delegado Santana decepcionado por Gabriel ter escondido a verdade dele - Não garanto que seu amigo estará livre da prisão ca-so concluirmos a missão, porém Gabriel, po-rém, eu prometo que farei o possível para aju-dá-lo, desde que isso fique entre a gente, pois mesmo você me decepcionando, é a única pes-soa que pode me ajudar a solucionar esse caso e dar sossego em minha vida.

Gabriel agradeceu ao delegado, pois agora sabia que podia contar realmente com uma au-toridade de confiança para tentar ajudar a re-cuperar seu amigo. Ao sair da delegacia, ele não perdeu tempo e foi até a casa de Diego.

Vendo que o carro estava na garagem, concluiu que o amigo também estivesse lá. Ga-briel empurrou o portão com toda a força e foi em direção da porta que tinha uma pequena brecha aberta, indicando que não estava tran-cada.

Gabriel parou diante da porta e pela bre-cha avistou o amigo. Diego aparentava estar

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conversando ao telefone, provavelmente falan-do com o capitão Crouth, pois se dava a im-pressão que ele sussurrava com a intenção de ninguém ouvir. Gabriel apresentou naquele ins-tante uma reação de fúria, pois sua cara fechou-se naquele instante e por um simples impulso de raiva, ele empurrou a porta e foi na direção de Diego puxando o telefone de suas mãos e ar-remessando-o contra a parede o quebrando.

– Acabou Diego! Acabou! – gritou Gabriel olhando para o amigo que olhava para ele com os olhos arregalados e em seguida vendo os pedaços de telefone espalhados pelo chão da casa.

Furioso, e ao mesmo tempo com um sorri-so irônico, Diego voltou seu olhar para Gabriel, assustado pela reação que jamais imaginava do amigo e respondeu:

– Você enlouqueceu né Gabriel? Além de entrar em minha casa sem autorização, tem a ousadia que puxar o telefone de minhas mãos e arremessá-lo na parede? Quer saber, pra mim já chega, isso é um absurdo, vou chamar a polícia.

Gabriel vendo que embora Diego estivesse aparentando dizer a verdade, ao mesmo tempo ele temia que alguma coisa ruim pudesse acon-tecer e aproveitando da situação, respondeu:

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– Isso mesmo Diego, faça isso, comunique as autoridades e poupe- me o trabalho de levar você até eles, mas de qualquer maneira o dele-gado Santana dará um jeito de encontrar você.

– Do que está falando? Não me diga que teve a capacidade de envolver a polícia nisso? – perguntou Diego começando a ficar mais preo-cupado com sua situação.

– Envolvi! Pra mim dane-se o que o capi-tão Crouth irá fazer por causa disso, quero mais que ele vá para o inferno! Só sei que o círculo se fechou para seu lado Diego, se continuar agin-do dessa forma, vai criar problemas para si próprio, porém ainda há tempo de voltar atrás e decidir de que lado realmente você está.

– Desgraçado! - respondeu Diego com o rosto avermelhado de raiva – O que quer de mim?

– Tirando tentar ajudar você? Eu quero a verdade Diego! Quero saber para onde é que Ernesto Crouth levou sua base, para que pos-samos pegá-lo e salvar a sua vida e a de mi-lhões de pessoas inocentes que moram nessa cidade.

Diego abaixou sua cabeça e deu as costas para Gabriel, e com uma voz melancólica, como se nada mais importasse para ele, respondeu:

– Saia da minha casa, agora!

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– Não posso Diego, você está ficando louco e precisa de tratamento, deixe-me levá-lo no Sanatório de Kindland para que possam ajudá-lo.

– Sanatório? Eu acho que não! – respondeu Diego sorrindo, instantes depois Diego retirou de seu bolso um canivete e com uma incrível rapidez cravou na coxa de Gabriel que caiu no chão se contorcendo de dor.

– Sabe Gabriel, acho que quem precisa de ajuda agora é você, mas não de um sanatório, mas sim de um hospital – respondeu Diego sor-rindo para Gabriel que se contorcia de dor na perna.

– O que você está fazendo consigo mesmo Diego? – respondeu Gabriel fraquejando e apoiando as mãos na perna afetada.

– Desculpe fazer isso com você Gabriel, mas não me deixou escolha, eu tentei de todas as formas possíveis fazer com que você não se envolvesse em meus problemas, me afastei de todos para não machucá-los, mas mesmo assim você insistiu. Adeus, velho amigo.

Diego deixou Gabriel esticado no chão com a perna ensanguentada enquanto cami-nhava para a saída.

Com muita dificuldade, Gabriel fez um es-forço para retirar o celular que estava no bolso

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de sua calça cuidadosamente sem que seus compridos dedos tocassem no canivete cravado que estava bem próximo do bolso evitando agravar a dor que sentia naquele momento.

Quando finalmente estava com o telefone em mãos, telefonou para o delegado Santana para explicar o que havia acontecido e pedir sua ajuda, porém para seu azar o delegado não atendia ao telefone naquele momento, prova-velmente estava resolvendo algum problema.

Gabriel se levantou gemendo de dor e reti-rou aos berros o canivete de sua coxa, o atiran-do no chão, em seguida foi até o banheiro da casa de Diego e apanhou a toalha de rosto que estava pendurada próxima ao lavatório a amar-rando bem forte em sua perna para conter o sangramento.

Sem perder tempo, Gabriel saiu da casa de Diego mancando e com muita dor, porém se es-forçou ao máximo para chegar até seu carro e em seguida se dirigiu para a delegacia.

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e aproximando cada vez mais da de-legacia, Gabriel viu um alvoroço em sua frente e parou o carro por ali

mesmo. Preocupado ele avista o policial James e pergunta a ele:

– James? O que houve? – Roubaram um helicóptero de nossas ins-

talações! O Dr. Santana está furioso – respon-deu ele preocupado.

– E onde está Santana? – perguntou Gabriel. – Está no telhado, mas é melhor não ir até lá

– alertou James – ele expulsou todo mundo que tentou falar com ele.

Gabriel não deu ouvidos aos conselhos de James e sem perder tempo foi até o telhado da delegacia onde avistou Valdir Santana sentado na beira do telhado onde o que dividia o prédio e a rua era a altura.

S

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Gabriel se aproximou do delegado e per-guntou:

– Não está pensando em se matar está? O delegado sorriu e respondeu: – Quem me dera acabar com todos os meus

problemas, mas tenho uma família e não posso abandoná-los, só estou aqui pensando se eu re-almente sou uma autoridade competente o sufi-ciente a ponto de permitir que roubem um heli-cóptero do meu setor administrativo.

– Não diga isso senhor, todos nos sabemos que o senhor é um homem de grandes conquis-tas, o senhor tirou Kindland de uma situação onde todos pensaram ser o fim, portanto não julgue seu trabalho em apenas um ato – sorriu – Até mesmo os grandes homens erram.

– Você tem toda a razão Gabriel! – respon-deu ele se afastando do abismo – Sabe, você tem sido não só um cara que tem me ajudado com meu trabalho, mas também vem sendo um ótimo amigo.

– Obrigado senhor, venha, vou levá-lo para sua sala.

Gabriel levou o delegado para sua sala on-de deu a ele um copo d’água e ansioso por sa-ber o que havia exatamente acontecido, pergun-tou:

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– Senhor, agora que está mais calmo, pode me dizer quem invadiu o distrito e roubou o helicóptero?

O delegado respirou fundo e colocou o co-po de água que tomava sobre a mesa.

– Gabriel, quem roubou o helicóptero foi aquele seu amigo Diego, ele soltou bombas de gás no departamento de transporte e se apode-rou do helicóptero enquanto meus homens es-tavam inconscientes.

– Por acaso vocês possuem mais um heli-cóptero?

– Sim, temos mais quatro se não me enga-no, por quê? – perguntou o delegado sem saber aonde Gabriel queria chegar.

Gabriel então sugeriu que eles utilizassem um dos helicópteros disponíveis para encontrar Diego, pois a única maneira de capturá-lo seria pelo ar.

O delegado rapidamente concordou e os dois foram para o departamento de transporte do prédio onde pegaram um dos helicópteros disponíveis.

Enquanto Santana ligava o helicóptero para poderem voar, Gabriel, assustado perguntou:

– Já pilotou um bicho desses antes delega-do? – perguntou Gabriel com medo de altura.

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– Não se preocupe, ganhei pontuação má-xima no simulador de Vídeo Game.

– Vídeo Game? Meu Deus – respondeu Ga-briel assustado e arregalando os olhos de ner-vosismo.

Enfim o helicóptero saiu do ar! O helicóptero sobrevoava o centro da cida-

de tranquilamente em busca de Diego e talvez, se dessem sorte, o misterioso e procurado Er-nesto Crouth. De repente o rádio transmissor de comunicação do helicóptero começou a api-tar, Santana imediatamente o colocou no viva

voz pois imaginava que deveria ser alguém do distrito querendo lhe informar alguma coisa. Quando ele apertou o botão vermelho para que o rádio transmissor emitisse som uma voz meio rouca e masculina aparentando ser de uma pes-soa já velha começou a dizer:

– Valdir Santana e Gabriel Freitas, final-mente poderei falar diretamente com vocês! Aqui quem fala é o General Ernesto Crouth, es-tamos bem próximos de vocês, rendam-se ago-ra ou terão uma morte mais lenta e dolorosa.

– Esqueça Ernesto! – gritou o delegado apa-rentando não ter medo do general – Nós luta-remos até a morte!

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– Bom, não se esqueçam! Foram avisados – alertou o general desligando o rádio imediata-mente.

De repente o som de outro helicóptero co-meçou a incomodar os ouvidos de Gabriel e Santana que olhavam ao redor do céu, mas na-da viam. Quando eles menos esperavam algo atingiu a cauda do helicóptero que eles esta-vam.

– É hoje que vamos morrer – gritou Gabriel assustadíssimo.

Quando ao helicóptero parou de vibrar por conseqüência do impacto, Gabriel inclinou sua cabeça para fora e viu um helicóptero idêntico ao que eles estavam – o helicóptero roubado da delegacia – e dentro dele estava Diego acompa-nhado por um homem bem mais velho que ele, usava roupas de cores camufladas do exército, tinha um grande bigode branco da mesma cor que seus cabelos. O delegado estava atendo aos movimentos do inimigo e sem saber o que fa-zer, ordenou:

– Gabriel, pegue aquela bazuca atrás do banco e atire no helicóptero deles!

– Ficou maluco? – perguntou Gabriel assus-tado com a ordem que recebera – Meu amigo está naquele helicóptero!

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– Idiota! Se você quer sair dessa batalha vi-vo, cale a boca e faça o que eu digo, acerte a droga desse helicóptero com a porcaria da ba-zuca que está atrás do seu banco! Agora!

Vendo que não tinha escolha, Gabriel apa-nhou a bazuca conforme as ordens que recebeu do delegado, inclinou-se na porta do helicópte-ro que estava aberta – morrendo de medo de cair da altura que estava – e mirou no helicóp-tero que estava logo atrás deles.

Quando estava prestes a atirar, o rádio co-municador indicou sinais de transmissão no-vamente e a voz do General Crouth voltou a se pronunciar:

– Recomendo que não faça isso Gabriel ou a sua namoradinha, Marcela morrerá!

– Covarde! Largue ela Ernesto, deixe a ga-rota fora disso! – gritou o delegado aparentan-do estar ficando furioso – É a nós dois que você quer! Solte-a!

– O que foi Valdir? Não consegue me cap-turar? Eu sabia, você é e sempre será esse fracote – zombou o general soltando uma risada malé-fica e com tom de deboche.

De repente o rádio comunicador ficou mu-do e Gabriel desesperado por saber que sua namorada estava junto com Diego e Crouth começou a gritar por seu nome com a esperança

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de que a transmissão voltasse. Instantes depois o rádio apresentou sinais de transmissão no-vamente e a voz de Marcela começou a supli-car:

– Gabriel, por favor, me ajude. – Amor! Eu vou tirá-la daí! – Ela vai morrer Gabriel – respondeu Diego

zombando do amigo – Eu avisei para você ficar longe dos meus

problemas. Como diz o ditado: “Quem avisa amigo é.”, não pode negar que não fui seu ami-go.

Agora olhe só o que você fez, causou a mor-te da própria namorada – Diego e Crouth co-meçaram a rir debochando da situação que Ga-briel se encontrava.

– Diego, por favor, em nome da nossa ami-zade, solte-a, por favor

– suplicava Gabriel, mas de nada adiantava, Diego dizia que Marcela era a garantia do su-cesso do plano deles.

Gabriel começou a ficar vermelho de raiva e nesse instante largou a bazuca que caiu despen-cando céu abaixo e sem pensar nas consequên-cias dos seus atos, saltou do helicóptero, outra coisa impressionante aconteceu, Gabriel come-çou a flutuar pelo céu como se estivesse sendo movido por algum meio de telepatia. Demorou

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alguns segundos até Gabriel se equilibrar no ar e aprender e a se controlar. Vendo que não cai-ria dali tão cedo, inclinou seu corpo, pouco ho-rizontal, movendo-se na direção do helicóptero de Diego e Crouth. Quando estava próximo da porta dos inimigos, fez uma força e se jogou dentro do transporte conseguindo entrar. Crouth que estava pilotando olhou furioso para Gabriel e gritou:

– Desgraçado! Conseguiu chegar até mim, mas daqui você não passa! Diego mate-o ime-diatamente! Depois disso a Marcela é toda sua.

– Com todo prazer – respondeu Diego sor-rindo para Gabriel.

Os olhos de Diego começaram a escurecer, ficando em seguida vermelhos como brasa, de repente ele disparou na direção de Gabriel uma espécie de raio vermelho produzido pelo inte-rior de seus olhos.

Com um reflexo incrível Gabriel criou em sua frente um campo de força impedindo que o raio o atingisse fazendo com que ele mudasse de curso – na direção do painel de controle do helicóptero, próximo ao general.

O painel começou a pipocar, liberando uma fumaça escurecida. Crouth desesperado levan-tou-se de seu assento e alertou:

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– O helicóptero vai explodir! Diego vamos sair daqui, deixe-os aí e vamos dar o fora!

Gabriel sem perder tempo, segurou Marce-la nos braços e a jogou para fora do helicóptero a derrubando na água – pois para sua sorte so-brevoavam naquele instante a Represa Mongoli – Diego desesperado não quis nem saber e sal-tou em seguida. Chegando na vez de Gabriel, quando ele estava prestes a saltar, o general Crouth o segurou pelo braço e gritou:

– Não vou permitir que você vá, estragará meus planos! Morreremos aqui e Diego termi-nará aquilo que comecei!

O helicóptero já havia passado pela represa Mongoli, estavam sobrevoando novamente na cidade, o helicóptero estava descontrolado e o painel de controle estava soltando uma grande quantidade de fumaça escura, Gabriel estava desesperado, pois logo a frente havia um edifí-cio e provavelmente o helicóptero de chocaria contra ele em um tempo de cinco a sete segun-dos.

– Acho bom você me soltar bigodudo da onça! – nesse instante Gabriel utilizou o braço que estava livre e soltou um soco na face do ge-neral Crouth que soltou seu braço na mesma hora e caiu contra o painel que estava em cha-mas, nessa hora o painel explodiu seguido de

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todo o helicóptero que acabava de se chocar com o edifício que estava a sua frente, porém Gabriel ainda estava lá, e vivo.

Ele olhava ao seu redor e via apenas cha-mas e destroços do helicóptero caindo, porém não sentia dor alguma. Quando se deu conta, estava envolvido em um campo de energia se-melhante ao que fez na sorveteria Paraíso Tro-pical – o que justificava o motivo de não estar morto. Aproveitando que estava a salvo, Gabri-el se afastou da explosão onde viu o corpo do general totalmente carbonizado se chocar con-tra o chão, em seguida seguiu em direção a Re-presa Mongoli para resgatar Marcela.

Vendo que não conseguia encontrar nada observando por cima, Gabriel aterrissa próximo às margens do lago, pisando firmemente nos ásperos cascalhos que ali havia e procura por começou a procurar por todos os lados, porém nenhum sinal de vida, nem de Marcela, muito menos de Diego.

De repente algo acerta seu braço, um raio avermelhado disparado em uma velocidade in-crível fazendo com que Gabriel caísse brutal-mente contra os cascalhos que cercavam as margens da cristalina água da represa. Gabriel olha para trás e vê Diego segurando Marcela pelo pescoço

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e gritando a todo o momento que iria matá-la.

– Espere um minuto! Você matou aqueles cientistas que a rádio anunciou? – perguntou Gabriel aterrorizado ao lembrar da notícia - ...

Dois pesquisadores do Centro de Pesquisas de Kindland (CPK) foram brutalmente assassinados por armas ainda desconhecidas e que uma das víti-mas tinha graves queimaduras, uma delas perfurou o coração do cientista, como uma espécie de raio laser, já o outro teve o pescoço deslocado.

– Muito bom Gabriel, precisávamos de urâ-nio e apenas no Centro de Pesquisas de Kindland que conseguiríamos a quantidade necessária, a não ser que invadíssemos Chernobyl – respon-deu Diego olhando bizarramente para Gabriel.

Diego estava completamente fora de si e a qualquer momento poderia cometer uma bes-teira, toda calma era necessária naquele mo-mento e o suspense tomava conta do ambiente, pois ninguém sabia o que estava prestes a acon-tecer.

Tudo que lhes restava era rezar! Com uma leve dor no braço, Gabriel se le-

vantou com dificuldades, pois sua perna ainda doía por causa do canivete, e encarando Diego nos olhos viu que ele estava nervoso e que apa-

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rentava não querer ferir Marcela, sinal que ele ainda sentia alguma coisa pelos amigos.

– Todos nós sabemos que não é isso que vo-cê quer Diego, ela não lhe fez mal algum! Diga, qual o seu objetivo?

– Cale essa boca! – respondeu ele com frieza – Você não sabe quais os meus propósitos e eu a matarei com todo prazer do mundo.

– O que fizeram com você? Para onde eles levaram meu amigo?

– C-Cala-do! – gaguejava ele – O-ou e-ela vai mor-rer!

– Eu estou avisando, se você fizer qualquer coisa com ela eu juro que quem vai morrer aqui será você seu desgraçado!

Diego sorriu para ele e soltou uma garga-lhada maléfica, porém não pronunciou mais nenhuma palavra.

Aquele momento lembrava um sonho que Gabriel teve há alguns dias onde Marcela era morta por uma arma.

Quanto maior era a chance de Marcela ser morta pelos raios de Diego, mais a fé de Gabriel aumentava. De repente os olhos de Diego co-meçaram a faiscar prestes a liberar seus raios mortais e ainda sorrindo ele disse:

– Diga adeus a ela, meu amigo!

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Quando Diego ia liberar seus raios contra Marcela, seus olhos pararam de brilhar na hora, então ele começou a cambalear soltando

Marcela e em seguida caiu inconsciente nas margens da represa, tudo isso graças ao dele-gado Santana que disparou um dardo tranqui-lizante pelas suas costas acertando a nuca de Diego.

Marcela olhou para Diego caído e viu que não havia mais perigo nenhum e sem perder tempo, correu na direção de Gabriel o abraçan-do.

Não se contendo, Gabriel e Marcela chora-ram de alívio e felicidade, pois todo aquele tormento havia passado. Instantes depois ela olhou nos olhos de Gabriel e com um brilho no olhar e um sorriso de quem estava grata disse:

– Por um momento pensei que tivesse per-dido você.

– Isso nunca vai acontecer, lembra quando eu disse que estaria do seu lado pra sempre?

– Lembro – afirmou ela sorrindo – Para to-do sempre.

– Pois é eu não menti sobre aquilo. – É uma pena que perdemos o nosso amigo

– lamentou Marcela ao olhar novamente para Diego desmaiado nos cascalhos molhados.

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Gabriel embora estivesse conformado que seu amigo o decepcionara, ainda havia uma pe-quena esperança a seu respeito.

–Não sei se perdemos – respondeu Gabriel olhando com pena para o amigo – acredito que ele ainda possa voltar ao normal.

– Pobre Larissa – lamentou novamente Marcela, porém desta vez se referindo à amiga – ela vai ficar muito mal quando contarmos to-da a verdade a ela, que Diego é um doente cri-minoso.

De repente o delegado Santana se aproxi-mou dos dois com um sorriso de quem estava saindo vitorioso de uma batalha, apoiou uma mão em Gabriel e a outra em Marcela e disse:

– Conseguimos amigos! Salvamos Kindland da destruição!

Gabriel mostrou um sorriso forçado ao de-legado, pois embora estivesse feliz por ter der-rotado o general Crouth e salvado a cidade, es-tava triste por Diego que ele via como um ir-mão. Santana vendo que ele estava incomoda-do, com uma enorme angústia teve que avisar a Gabriel e Marcela:

– Gabriel, eu sei que está sendo difícil acei-tar isso, porém Diego querendo ou não é um criminoso e precisa ser levado para a delegacia de Kindland.

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– Não podem fazer isso – respondeu Gabri-el de imediato.

O delegado mesmo compreendendo a situ-ação, não teve escolha, e respondeu:

– Gabriel, esse homem é um criminoso, ele quase matou milhões de pessoas, roubou um helicóptero do distrito policial e ainda seques-trou sua namorada. Não podemos deixá-lo li-vre, seria um absurdo.

– Eu compreendo perfeitamente o senhor delegado, mas penso que no caso dele, ele era uma pessoa normal há algumas semanas atrás e essa mudança repentina de comportamento não é normal. Não estou dizendo que ele tenha que ficar livre. O que estou querendo dizer é que ele precisa de cuidados especiais e nada melhor do que levá-lo para o

Sanatório de Kindland. O delegado concordou com a ideia de Ga-

briel, porém alguma coisa ainda o incomodava. – Gabriel e como faremos para não correr-

mos o risco de Diego atingir mais ninguém com aqueles olhos avermelhados que mais parecem os olhos do capeta?

– Deixe essa parte comigo – respondeu Ga-briel sorrindo com o palavreado do delegado – Quanto tempo dura o efeito do dardo tranquili-zante?

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– Em um ser humano, mais ou menos duas horas.

– Então vamos logo, não temos um segun-do a perder.

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ara a segurança de todos, Gabriel cri-ou nos olhos de Diego, uma espécie de campo de força telepática que evi-

tariam que ele utilizasse seus raios paralisantes contra qualquer coisa.

Porém o delegado ainda estava inquieto e perguntou:

– Gabriel, acha mesmo que isso é seguro? E se esse campo que você diz ter criado desapare-cer uma hora ou não funcionar?

– Não se preocupe delegado, agora que aperfeiçoei esses meus poderes, tenho certeza que Diego não conseguirá produzir uma faísca avermelhada sequer, ao menos que ele... Bom deixa pra lá.

– Ao menos que ele... O quê Gabriel? Não me deixe preocupado dessa maneira criatura!

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– Ao menos que ele queira fazer com que seus raios saiam pela sua cabeça fritando seus miolos.

– Você é louco Gabriel, mas é um gênio, te-nho que admitir.

Gabriel, Marcela e Valdir Santana estavam em um corredor frio e úmido, com um cheiro nada agradável, uma combinação de urina e mofo – ratos e baratas transitavam tranquila-mente pelo espaço e mostravam não se inco-modar com presenças humanas ali perto – era o corredor onde se localizava o quarto de Diego no sanatório.

Os três esperavam o efeito do tranquilizan-te passar para que pudessem falar com Diego sobre alguns assuntos que ainda não tinham si-do esclarecidos.

De repente, um dos médicos do sanatório sai de um dos quartos, se aproxima dos três e avisa:

– Podem entrar, mas falem pouco, ele ainda está meio zonzo e com dores na cabeça por cau-sa dos medicamentos. E vou logo avisando, ele não está em seu juízo perfeito.

– Como sabe doutor? – perguntou Santana. – Oras, ele disse que tem poderes sobrena-

turais e que pode queimar qualquer um com os olhos – respondeu o delegado – Ai eu disse a

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ele que sou o professor Xavier e que um dia aceitarei ele na minha escola de mutantes.

O delegado agradeceu ao médico, porém não mencionou nada sobre os poderes que Die-go realmente tinha para preservar tudo o que aconteceu e evitar qualquer tipo de escândalo envolvendo a delegacia de Kindland. Em se-guida, ele, Gabriel e Marcela entraram no quar-to que o médico acabara de sair, era um quarto em forma quadrático, bem escuro e umedecido, as paredes eram revestidas de espumas velhas e mofadas e a única luz que refletia dentro do es-paço era a que passava pela grade da pequena janela, há uns três metros acima do chão.

Gabriel olhou no canto esquerdo do quarto e avistou Diego sentado, com os pés acorrenta-dos e envolvido em uma camisa de força.

Sua cabeça estava baixa, mas quando ele notou a presença dos três a inclinou na direção deles com um olhar de fera enfurecida e com uma voz enfraquecida e forçada ele disse:

– Traidores, saiam todos daqui ou lançarei meus raios em vocês!

– Faça isso se quiser perder os miolos – de-bochou Marcela.

– Você bloqueou meus poderes Gabriel, seu maldito! – respondeu

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Diego ao tentar lançar seus raios contra eles e sentir uma forte dor de cabeça, como se ela fosse explodir – O que querem de mim?

– Queremos que nos diga para onde Crouth levou sua base e não adianta mentir! – resmun-gou Valdir.

– Que cinismo! Me trouxeram para esse lu-gar como se eu fosse um animal e ainda querem que eu lhes diga a localização da base?

– Por favor – suplicou Marcela – Eu não lhe fiz mal algum Diego, sabe que ainda gosto mui-to de você embora tudo isso tenha acontecido.

– Sabe Marcela, eu não tenho mais nada a perder! Direi a verdade, pois foi você que me pediu, a base foi transportada para o fundo da Represa Mongoli, lugar que ninguém imagina-ria que ela estivesse, está há uns vinte metros abaixo da superfície, mas vou logo avisando, à uma hora dessas os soldados de Ernesto já de-vem estar bem longe da base.

– Não importa – retrucou o delegado – Mesmo assim nós iremos averiguar o local na tentativa de encontrar alguma pista que revele exatamente as intenções de Crouth.

Ao responder Diego, Valdir virou-se, se-guido de Gabriel e Marcela.

Quando estavam cruzando a porta para saí-rem do quarto, Diego gritou:

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– Gabriel! – Gabriel virou-se lentamente e olhou para o “amigo” que com um sorriso que não agradava ninguém – Isso não termina aqui!

– Para mim termina Diego! – respondeu Gabriel fechando a porta do quarto.

Ao deixarem o Sanatório, Valdir Santana pediu que Gabriel e Marcela os acompanhas-sem até a delegacia para discutirem sobre a operação de invasão a base de Ernesto Crouth.

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o escritório de Valdir Santana, ele, Gabriel e Marcela planejavam uma maneira de invadir a base sem co-

locar nenhum membro da operação em risco. Porém todos sabiam dos perigos que enfrenta-riam dentro da base de Ernesto Crouth, afinal ele era um homem esperto e sabia que tentari-am invadi-la mais cedo ou mais tarde e deve ter preparado alguma surpresa para aqueles que se atreverem a entrar dentro dela.

Quando enfim montaram um plano tático para invadir a base, Valdir Santana entrou em contato com o líder das Forças Especiais que ele havia recrutado e todos combinaram de se en-contrar as margens da represa, próxima a está-tua do prefeito que estava em construção na en-trada da cidade que ficava a alguns metros da represa.

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No instante que Gabriel, Marcela e Valdir Santana chegaram ao ponto de encontro, os homens das Forças Especiais já estavam lá, se organizando para a invasão, todos vestidos com roupa de mergulho e determinados a entrarem na represa.

Um dos homens, o mais alto e forte, prova-velmente o líder da equipe, deu a casa um dos três uma roupa de mergulho, Gabriel assustado quando viu que Marcela também recebeu uma delas, olhou para ela e disse:

– Não está pensando em entrar junto com o resto da operação está?

– E por que não? – respondeu Marcela rís-pida e direta.

– De maneira alguma vou permitir que vo-cê entre dentro dessa base Marcela, quase perdi você uma vez, não vou correr esse risco nova-mente. E outra, não sabemos o que nos aguarda ali dentro.

Marcela vendo que não tinha escolha con-cordou com Gabriel, embora não concordasse com a decisão do namorado. Ela ficaria junto de mais dois policiais vigiando para que nenhum movimento acima da superfície da represa es-tragasse a missão deles.

Um dos soldados de Valdir Santana guiou os homens que mergulhariam na represa até o

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centro das plácidas e cristalinas águas da repre-sa em vários botes. Quando chegaram ao ponto em que os botes pararam, um a um dos homens foram mergulhando – dentro de cada bote ha-viam aproximadamente vinte homens, pois eram cinco botes – quando todos desceram, so-braram apenas Valdir Santana e Gabriel.

– Bom lá vamos nós – brincou o delegado antes de pular, Gabriel foi logo em seguida an-tes de se despedir da namorada que observava seu corpo afundando nas profundezas da re-presa.

Quanto tocou nas águas na represa, Gabriel sentiu a sensação de que seu coração fosse con-gelar, pois nunca imaginava que aquelas águas fossem tão frias, porém ela era tão cristalina e pura que se conseguia ver perfeitamente seu in-terior sem o uso de óculos especiais para mer-gulho. Olhando para baixo Gabriel viu uma imensidão azul que parecia não ter fim, era co-mo se estivesse no oceano.

Nunca imaginava que a represa fosse tão profunda.

Todos transitavam pelas profundezas a procura da tal cúpula prateada de Crouth, po-rém ninguém a encontrava. De repente Gabriel olhou um pouco mais abaixo de si e viu alguma coisa brilhosa, cutucou o delegado Santana e

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com o indicador esquerdo, apontou para o que tinha visto, porém não sabiam exatamente o que era. Sem perda de tempo o delegado apa-nhou uma espécie de farolete com a luz verme-lha de um cinturão de utilidades que estava preso junto à roupa de mergulho em sua cintu-ra e ao apertar, despertou a atenção dos demais soldados que em questão de segundos estavam todos próximos dos dois.

– Atenção homens – disse o delegado com um transmissor especial de comunicação aquá-tica – parece que a base de Crouth está abaixo de nós! Vamos invadi-la, porém não quero que os homens de Crouth saiam feridos se é que eles ainda estão aí. Confio no profissionalismo de vocês. Vamos lá!

Nesse instante Valdir Santana e Gabriel começaram a mergulhar com destino ao brilho prateado que haviam visto, os soldados o se-guiram logo atrás.

Chegou a certo ponto em que a cúpula era inconfundível, era realmente ela que estava abaixo deles. Gabriel, Santana e os soldados começaram a olhar ao redor com a expectativa de encontrar alguma passagem que pudesse le-vá-los a seu interior.

Quando todos estavam no fundo da repre-sa, onde abaixo deles provavelmente haveria

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apenas terra molhada, um dos soldados tocou na superfície redonda e metálica da base e co-meçou a acariciá-la tentando encontrar alguma passagem escondida, quando todos olharam para ele já era tarde demais, deu-se tempo ape-nas de ver o soldado explodir diante dos olhos de todos ali presentes pois um lança mísseis es-tava programado para disparar caso alguém encostasse na superfície metálica da cúpula.

– Não toquem em nada! – alertou o delega-do olhando assustado para os pedaços ensan-guentados que restaram do soldado, flutuando em meio à águas cristalinas da represa.

Após procurarem por todo o arredor da cúpula, nenhuma passagem foi encontrada, de repente, Gabriel olhou abaixo dos seus pés e viu uma espécie de túnel que provavelmente levaria a algum lugar.

Sem perder tempo, pois os cilindros de oxi-gênio estavam se esgotando, Gabriel puxou Santana pelo braço e apontou para o túnel que havia descoberto, Santana de imediato, gritou:

– Homens, por aqui! Um a um eles foram seguindo pelo túnel. Era um lugar escuro, então todos foram

obrigados a acenderem seus faroletes, após poucos minutos de mergulho, eles avistaram enfim uma luz acima deles e rapidamente co-

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meçaram a emergir chegando em uma gruta onde seu teto respingava, provavelmente ainda estavam abaixo da Represa Mongoli. Saindo da água, Gabriel foi retirando seus equipamentos e observando todo aquele lugar perguntou ao de-legado:

– Senhor Santana, já parou pra pensar o porquê de contratar homens da Mongólia para construírem essa represa?

– Sabe Gabriel, há alguns minutos atrás eu não fazia ideia, mas vejo que Crouth deveria es-tar envolvido nisso, pois é praticamente impos-sível uma represa ter todo esse nível de pro-fundidade e uma gruta no seu subterrâneo, afi-nal, há dez anos aqui era um campo de pasta-gem, esse lugar foi completamente alterado pe-los homens da Mongólia e todos nós não sabí-amos.

– Isso aqui tá parecendo mais um oceano do que a represa – complementou o líder das for-ças especiais chegando próximo de Gabriel e Santana.

Todos começaram a caminhar pela gruta até que um dos soldados avistou uma escada metálica e um pouco enferrujada há alguns me-tros deles, que os levariam mais acima, prova-velmente na base de Crouth ou algum local mais próximo dela.

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Sem perder tempo, um a um foi escalando a escada até que chegaram em outra gruta, porém essa estava toda iluminada por fortes holofotes de luz espalhados pela gruta. Entrando na gru-ta todos procuraram manter a máxima cautela pois não sabiam o que havia lá dentro já que um túnel os guiaria até o próximo destino.

Chegando no fim do túnel, Gabriel, Santana e os soldados chegaram a uma enorme sala re-donda, com uma mesa no seu centro e nos ar-redores diversos tipos de armamento, entre eles bazuca, armas de fogo, lasers, mísseis, entre ou-tros.

– ENCONTRAMOS! – gritou o delegado, com um enorme sorriso estampado em seu ros-to – Essa é a base de Ernesto Crouth.

Olhando para o delegado, dava-se a im-pressão de que a missão estava cumprida, po-rém havia muito a se fazer naquele local. Os soldados começaram a vasculhar o local, com a intenção de achar algum dos homens de Crouth, que provavelmente deixaram a base no momento que a notícia que o mandatário deles havia sido morto. Enquanto isso, Gabriel e San-tana reviravam a mesa do general com o objeti-vo de encontrar pistas que levassem aos planos de Crouth.

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Após revirar toda a mesa, os dois só encon-traram projetos e protótipos de bombas nuclea-res que provavelmente seriam usados para a criação das bombas que explodiriam Kindland.

– Onde está? – perguntava para si mesmo o delegado em voz alta.

– O que o senhor tanto procura delegado? – Um pen drive. – Pen drive? – perguntou Gabriel confuso. – Não faça perguntas e me ajude a localizar

esse pen drive. Gabriel sem dizer uma palavra, começou a

revirar a mesa com o objetivo de encontrar esse pen drive que tanto interessava ao delegado. Havia tanta coisa sobre a mesa que era como procurar uma agulha no palheiro.

Vendo que o pen drive não estava na ali, Valdir Santana deu um forte suspiro e lançou um forte soco contra a mesa, Gabriel olhou as-sustado para o delegado que instantes depois viu que uma parte da madeira da mesa havia se soltado, cautelosamente ele retirou o pedaço da madeira e viu que ali havia um fundo falso, quando olhou no interior do fundo viu um ob-jeto de prata e sem perder tempo o pegou nas mãos.

– Encontrei! – exclamou ele parecendo que havia encontrado um tesouro pirata perdido –

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Finalmente eu encontrei o objeto que procurei durante toda minha vida profissional!

– Senhor, desculpe ser tão curioso, mas o que esse pen drive tem de tão importante?

O delegado olhou com desconfiança para Gabriel, olhou para o pen drive e em seguida voltou a olhar para Gabriel novamente e com um suspiro e voltando a ficar sério respondeu:

– Bom nada mais justo do que lhe contar a verdade.

– Sou todo a ouvidos. – Esse pen drive contém informações que

apenas o general Ernesto Crouth tinha acesso, informações que se algum dia forem comparti-lhadas ao mundo, causaria um conflito imenso, uma calamidade que não quero nem imaginar.

“Gabriel esse pen drive irá nos mostrar to-dos os segredos do apocalipse que Ernesto tan-to temia que se realizasse, aqui dentro há in-formações sobre as pragas que o mundo vai so-frer, sobre os quatro escolhidos para represen-tar os cavaleiros do apocalipse, enfim tudo que precisamos para terminar de montar nosso quebra-cabeça.”

– Quer dizer que haverá uma guerra? – Sim e não! Ernesto sempre foi um homem

que desejou o poder supremo, ele acreditava que se vencendo as forças do mal que o apoca-

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lipse traria ao nosso planeta, ele seria idolatra-do e se tornaria o mais poderoso do mundo. A Oráculo me confiou a missão de detê-lo antes que fosse tarde e graças ao nosso trabalho em equipe obtivemos sucesso.

– Espera ai, você disse Oráculo? Conhece a Oráculo?

– Se eu conheço a Oráculo? – respondeu Santana sorrindo – A deusa do destino irá nos guiar por toda essa missão e nos ajudara nessa batalha que está prestes a começar.

– Então você sabia de tudo desde o início? – É claro, ou acha que eu ia confiar facil-

mente em você? Gabriel sorriu para o delegado e em segui-

da, olhando para os projetos na mesa do gene-ral, respondeu:

– Eu juro que usarei todas as minhas forças para livrar a humanidade de todo esse mal!

– Está disposto a enfrentar todo tipo de pe-rigo pela frente?

– Claro que sim, não se esqueça que nós somos parte das Forças Especiais!

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