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As Olimpíadas de Londres 2012 chegam ao fim,com um show a parte de organização, uma de-monstração ainda maior dos atletas, com exem-plos de que o ouro pode estar nos esportesmenos difundidos e menos apoiados dentro dopaís do futebol. Vide o ouro inédito para o ginas-ta paulista que faturou na modalidade Argolas, eo Judô, de uma menina lá do Piauí. Com a esca-lada não seria diferente, obviamente um pódioolímpico é um longo caminho a ser percorrido,que deve passar por boas colocações dentrodos pan-americanos e mundiais, mas assim comoexiste o sonho olímpico que paira por todos osesportes como o ápice absoluto para cada atle-ta, nosso sonho continua no rumo correto.No mês onde o esporte é o assunto em desta-que, é no mínimo hilário, como tudo que pensa-mos em relação aos esportes no Brasil, se re-sumem em inúmeras e simples charges, sejanos jornais ou no facebook, retratando uma cenatípica da realidade esportiva nacional, em meio atantas falcatruas, denúncias e julgamentos depolíticos, que todos sabemos que não vai darem nada, fica a triste constatação de que partedos recursos que o país arrecada (que não épouco), grande, ou a maior parcela vai para ofutebol e carnaval, outra para bolsos corruptose uma pequena fatia para “esportes olímpicos”.E o que sobra, e que ainda sim seria muito, se

perde em meio a “projetos sociais e esporti-vos”, que por sua vez também são investiga-dos. O fato é que quando qualquer entidadeou Federação apresenta algum tipo de projetoou pedido de recursos para desenvolvimentoem pró do esporte, é sempre a mesma ladai-nha com voz séria e quase dá uma certa dó“veja bem, estamos sem verba”, ainda assim,os atletas bancam do bolso, treinam, se clas-sificam, bancam mais uma vez para estarempresentes nas Olímpiadas, e quando conquis-tam o ouro, para o povo brasileiro é um motivode orgulho inexplicável, já para os órgãos go-vernamentais que não fizeram absolutamentenada, é o momento de se vangloriarem e arre-cadarem mais votos, e encher a boca paradizer que a medalha é do Brasil (deles, é cla-ro), chega a ser uma comédia, mas é a tristerealidade, e como se isso não bastasse, acobertura da mídia, que por muitas vezes pre-fere dar preferência em divulgar qual a cor dacueca que o Neymar usa, ao invés de cobrirum Campeonato Brasileiro de Boulder,ou ou-tra modalidade ou esporte que não seja fute-bol, esta mesma mídia, vem pra desmoralizaratletas que deram tudo na luta pelo ouro, masque infelizmente não veio, e a chamada é feitaem destaque “Decepção Brasileira nas Olim-píadas”. Os caras não têm a menor noção dequanto uma frase dessas impacta quem estána luta há anos.Agora, onde a escalada entra nesta históriatoda? Simples, a luta do IFSC para tentar colo-car a escalada em 2020 é gigantesca e semprecedentes na história, e assim como ela lutapara tal, aqui a luta não tem nem adversário,uma vez que já é fato consumado que verbapara ajudar a CBME ou qualquer outro órgãoligado à escalada não vai surgir tão cedo, diga-se verba destinada à escalada de competiçãofocando em 2020, algo bem diferente em to-

dos os outros esportes e em outros países,como China e EUA, onde o foco em preparartoda uma nova geração de atletas já é destina-do para daqui a 2 edições olímpicas à frente, eque, com certeza, mesmo sem a confirmaçãoda escalada inserida nos jogos olímpicos, ospaíses onde a escalada já é tradição já traça-ram seus planos e objetivos destinados a esca-lada de competição. A luta do IFSC pela inser-ção da escalada é tão grande, que dois Campe-onatos Mundiais, que geralmente se realizamde dois em dois anos, dessa vez acontecerãoseguidamente, um foi no ano passado em Arco,Itália, e outro agora em setembro em Paris. Jápor aqui, tudo funciona ao clássico estilo do“jeitinho brasileiro” de deixar tudo para a últimahora, e se por um acaso vier a acontecer aintrodução da escalada, como será a organiza-ção nacional para tentar levar uma equipe bra-sileira para os jogos? Mas não vamos nos pre-ocupar, não é? O Brasil tem verba suficiente,falta muito tempo ainda, a escalada nacional estáem um nível competitivo para subir ao pódio,todos os atletas já são profissionais e se dedi-cam 24 horas por dia para trazer o ouro para oBrasil, todos estão bem patrocinados com salá-rios quase equivalentes aos do futebol, estátudo certo então, só nos resta esperar que ve-nha o RIO em 2016, que logo 2020 estará ai,temos tempo de sobra, fiquemos tranquilos, seriabom que fosse realidade, mas não é,e assim vaicontinuar a ser retratado o esporte no Brasil emforma de charges e comédias sem valor sólidopara que algo mude neste país.Assim que apareceu a notícia da possibilidadeda escalada estar nas olímpiadas, um escaladoreuropeu que vive a escalada há muitos anos,descreveu da seguinte forma: “Sinceramente,não sei se isso pode ser uma alavancada daescalada ou trará problemas que até então nãoexistiam dentro do meio, perdendo muito da es-

sência das raízes da montanha”, após Londres,podemos perceber que isso realmente podeacontecer, a falta de apoio dos pequenos setorna um desafio enorme para estarem lá, asbrigas entre atletas x Federações se intensifi-ca, atletas só recebem o merecido reconheci-mento e patrocínios se forem ouro, claro, queempresa não que estar exposta na camiseta deum medalhista olímpico, assim que ele retorneao Brasil com o ouro e dando entrevista na AnaMaria Braga? Assim fica mais fácil e mais bara-to, e o antes? O caminho, e todas as dificulda-des que todos enfrentaram? Isso só tem valorpra mídia no pós-medalha de ouro, já quem nãochegou ao pódio, ou vai voltar ao anonimato, oupior, corre o risco de ser criticado e ter que darsatisfações humilhantes perante a mídia. Seráque é este tipo de situação que a escalada estáprestes a ter que enfrentar? Pelo visto sim, ecom uma carga de responsabilidade cada diamaior, uma vez que os meios de comunicaçãosão cada vez mais velozes, críticos e sem mui-ta noção da realidade de um atleta,e alcançamuita gente, e a cobrança vem com juros emoratória, e quando todo o “frenesi” dos jogosacabar, no dia seguinte, a mídia vai voltar seufoco para qual a cor da cueca que o Neymarusou no dia da derrota no futebol olímpico, issosim é esporte no Brasil.O que vale realmente para um atleta é sua de-terminação, independentemente de apoio ounão, sempre vamos “se virar nos 30” para ten-tar estar presente onde nossos sonhos e trei-nos nos levarem, dificuldades, conquistas, ouderrotas a parte, o sonho olímpico é algo quefascinae move todo atleta, quem já vivenciouisso, garante que é um evento absoluto e ines-quecível, quem ainda não, alimenta esta espe-rança.

Escalada nas Olimpíadas: Um sonho?

ANDRÉ BEREZOSKI | SP

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Everest. Gelo. Quem de nós escaladores nuncaleu um livro sobre Chomolumgma? Eu contabilizomuitas e muitas leituras desde meus 13 anossobre essa incrível escalada. Desde cedo ouvi-mos sobre George Mallory, Andrew Irvine,Tenzing Norgay, Scott Fischer, Reinhold Messner,Anatoli Boukreev, e centenas de heróis que ha-bitaram nossas histórias sobre este encantadore mítico topo do mundo. Mas é bem verdade queo universo da escalada esportiva é bem dife-rente, e em nosso dia a dia talvez seja maisprovável estarmos envolvidos com as grandesconquistas da rocha, as competições, as novasvias, os eventos, talvez mais acessíveis a nósseres tropicais.O curioso é quando uma escaladora a quemestamos acostumados a acompanhar em locaiscomo Ceuse, Boulder, China e Oliana na Espanha,resolve se aventurar em uma equipe nas monta-nhas geladas do Himalaia. Foi o que fez a apa-rentemente frágil e delicada Emily Harrington.Emily figura entre os nomes femininos de maior

expressão na escalada em rocha. Nascida emBoulder, Colorado, começou a escalar já comoparte do time júnior americano em 1998 passan-do para o Adulto em 2004. Em 2007 Emily tornou-se a segunda mulher americana a escalar 5.14e o terminou o Campeonato Mundial de Escaladaem segundo lugar em 2005.Como se não bastasse suas conquistas indoor,Emily obteve destaque na rocha obtendo as pri-meiras ascensões femininas de RoadsideProphet (5.14a) e Living the Dream (5.14a) emRifle, CO, também Full Equip (5.14a) em Oliana,Spain. Mas de gelo somente a experiência emum festival, 16th Ouray Ice Festival , onde con-seguiu o terceiro lugar escalando uma difícil viae deixando pra trás competidoras experientes.Simpática e comunicativa, de cabelos curtos eloiros e delicados olhos azuis, Emily também éexcelente no quesito divulgação do esporte, porseu carisma e inteligência: além de atleta é gra-duada em Relações Internacionais e ainda re-presentou o Acess Fund como embaixadora jo-vem até 2006, sendo parte hoje da InternationalFederation for Sport Climbing (IFSC) onde alémde atuar em todos os processos competitivos,sejam eles nível júnior ou adulto, participa dapreservação e manutenção das áreas de esca-lada, além de inspirar fortemente crianças, jo-vens e adultos ao mundo outdoor.Emily compartilhou suas experiências e liçõesdessa recente expedição ao Everest atravésde seus patrocinadores, blogues pessoais e ain-da escrevendo para os principais sites de notí-cias americanos e clubes. Um desses veículosreproduziu uma entrevista interessante de suas

principais lições na montanha, reflexões acercade companheirismo, humildade e medo.Abaixo, as palavras de Emily Harrington.

O Everest não é supostamente uma montanhadifícil de escalar. “Escalada” não é geralmenteo termo utilizado para subir o cume do picomais alto do mundo. “É só andar. Não é difícil”.É o que eu ouvia ao longo de todos esses anosde escalada esportiva. Crescer em uma comu-nidade de escaladores e tornar-me umaescaladora me deu uma perspectiva única paraum lugar que eu nunca tinha visitado ou meinteressado em aprender sobre. Quando aspessoas me perguntavam se eu sonhava emescalar o Everest, eu maliciosamente respon-dia “Hum, não. Isso não é o tipo de escaladaque eu faço”.Bem, agora estou engolindo minha própria ar-rogância ao ter dito isso, pois acabo de partici-par de uma viagem ao Everest esse ano. Rece-bi o convite inesperado de um dos meus patro-cinadores, que me pediu para fazer parte daequipe. Na hora pensei que poderia ser umaoportunidade única em toda minha vida e nãohesitei em responder que sim. Eu tinha poucoconhecimento do mundo de escalada alpina ezero de experiência em montanhismo de altitu-de. E ainda, uma visão muito distorcida da sin-gularidade do Everest, da comunidade, das par-ticularidades e de tudo ao qual passei a fazerparte.Everest é um lugar polêmico por si só, tantopelo perigo real quanto ao demasiado ego epreocupação com críticas e todo a auto críticaque envolve uma escalada como essa. É a lutamais pessoal que já tive de sofrer durante umdeterminado período de tempo. Eu nunca esti-ve tão doente como eu estava quando chegueiao acampamento base com uma infecção res-piratória. Eu nunca lutei tanto fisicamente paracontinuar a empurrar meu corpo montanha aci-ma, passo por passo, e tudo isso, suportando ocansaço, calor e frio. Eu andei por corpos, al-mas humanas que passaram por ali apenasquatro dias antes, e deixaram este mundo embusca do mesmo objetivo que eu estava ten-tando alcançar. Eu estava com medo pratica-mente todo o tempo. Nunca antes eu enfrenteiuma realidade tão verdadeira e dura, que mi-nha vida poderia ser tirada de mim por circuns-tâncias fora do meu controle, e o conhecimentoinquietante que era a minha escolha por estarlá, mas para quê? Eu lutei intensamente com aminha própria mente, diariamente, para justifi-car essa missão para mim mesma, apesar doperigo, do medo da morte, e até mesmo enfren-tar as duras críticas que estava recebendo, etudo isso sem nenhuma experiência anteriorem alta montanha.Há alguns impactos negativos evidentes, soci-ais e ambientais de se escalar o Everest e oquanto comercial é tudo isso. Esses fatos jáforam discutidos em demasiado na mídia, nainternet, em discussões e matérias sobre o as-sunto. Pessoas que nunca sequer pousaramos olhos no Vale do Khumbu para saber estascoisas discutem amplamente os motivos quelevam os outros a estarem lá. Muitos aspectossão esquecidos ou ignorados, geralmente ofus-cados pelos aspectos negativos. Minha pró-pria jornada no Everest foi repleta denegatividade e de luta, mas também teve o tri-unfo e sucesso, e pude chegar em casa uma

pessoa totalmente diferente de quando eu saí.Eu vi um outro lado do lugar que tantos criti-cam e condenam, e o que mais me lembro é abeleza e a paixão que existe lá em tantasformas.Lembro-me de ouvir avalanches durante todoo dia e noite da minha barraca no acampa-mento base, vendo seu poder incontrolável eforça violenta e ao mesmo tempo sentir medoe fascínio pela beleza e energia do ruído es-trondoso e forte. Minha primeira viagem pelacascata de gelo às 3 da manhã, e o medoagudo que fez o meu estômago despencar etrouxe lágrimas aos meus olhos, me faz lem-brar o perigo real de tudo isso.Lembro-me de ouvir o vento vindo do cume doEverest quando estava no acampamento 2,como um trem de carga sem freios. Ele che-garia na minha barraca momentos depois,para de repente eu estar no meio desse fura-cão, o nylon rasgando e tentando erguer meucorpo indefeso no chão. Eu me lembro da pri-meira noite quando dormimos no acampamen-to 3 e a noite estava espantosamente calma,nos acolhendo depois de tantos ventos tortu-osos, e do pôr de sol glorioso que assisti na-quela noite que me fez sentir como a pessoamais sortuda do mundo. Lembro da escaladana manhã que atingimos o cume logo no iní-cio do dia 25, quando o vento forte e a tempe-ratura de 50 graus negativos faziam eu terdificuldade de permanecer consciente e apre-ciativa sobre o que eu estava fazendo. Lem-bro daquelas pequenas frações de segundo ede quando exatamente percebi que o cumehaveria de ter uma menor importância diantede todo real significado que toda a jornadatinha sido para mim, como tinha me sentido, oque tinha visto e o quanto tinha me modificadocomo pessoa.Lembro-me da alucinante força e bondade dopovo Sherpa, e como eles sempre consegui-am estar de bom humor, apesar do enormeesforço que seus trabalhos exigiam. Lembro-me do respeito implacável e amor que eu sen-tia pela equipe Sherpa e por meus colegas deequipe ocidentais. Todos eles se tornaram aminha família, e, individualmente nunca vouesquecê-los e eles sempre estarão comigode alguma maneira.Lembro-me também da comunidade no acam-pamento base, como uma pequena cidade comtodo o drama, fofocas, mas também cheio depessoas reais, com empregos e famílias epropósitos. Pessoas apaixonadas com inten-ções positivas que estavam lá simplesmentepara realizar um sonho e sentir agrandiosidade das montanhas. Como eles, eutambém senti o fascínio de se estar em umlugar muito mais vasto e poderoso do quepodemos compreender. É esmagadoramentehumilhante e coloca-nos em nossos respec-tivos lugares como seres humanos. Talvezseja essa a razão que leva as pessoas paralá em milhares, além da meta tangível de al-cançar o topo do mundo, eles estão buscan-do experimentar um lugar que é muito maiordo que eles, para lutar e sofrer, lutar e desco-brir quem eles são, muito como eu fiz.Lembro-me de todas essas coisas, fico imen-samente grato por eles, e nunca vou esquecê-los. AAC Membro Emily Harrington

ALESSANDRA ARRIADA | RS

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Saber como atuar em situações de emergênciaé essencial para todos os praticantes de ativi-dades ao ar livre. Saber identificar, avaliar e tra-tar de lesões, ferimentos e doenças utilizandotécnicas especificas podem fazer a diferençaentre a vida e a morte, principalmente quandoestamos a kilometros de um hospital.O Homem sempre gostou de se aventurar nanatureza seja por trabalho ou lazer, nas monta-nhas, florestas, rios e desertos, locais longe dacivilização onde não há estradas, hospitais enenhum tipo de recurso que possa ser usadoem casos de emergência.Percebendo a necessidade de técnicas e cui-dados específicos no atendimento a vítimas deacidentes nas montanhas do Colorado, alpinis-tas e patrulheiros na década de 60 começam adesenvolver nos Estados Unidos os primeirosprogramas de atendimento de primeiros socor-ros a vítimas em áreas remotas.O objetivo dos cursos é reconhecer e avaliar asemergências, prestar atendimento básico e re-mover a vítima para tratamento definitivo no hos-pital, muitas vezes em locais de difícil acesso ecom poucos recursos disponíveis.No ano de 1976 é criado o primeiro cursoWilderness EMT (Técnico em Emergências Mé-dicas para Ambientes Silvestres) preparando as-

sim Paramédicos para entendimentos em locaisremotos como parques nacionais e locais longedos centros urbanos.Em 1977 entidades como a NOLS e a SOLOdesenvolvem os primeiros programas de pri-meiros socorros em áreas remotas para seusinstrutores e assim esses cursos começam aser ministrados para montanhistas, explorado-res, guarda parques e etc

Tipos de cursosVendo a necessidade de aprimorar os progra-mas de treinamentos são lançados então oscursos:WFA – Wilderness First Aid – Primeiros Socor-ros em Áreas Remotos com duração média de16hs de treinamento.WAFA – Wilderness Advanced First Aid - Primei-ros Socorros Avançados em Áreas Remotascom duração média de 40hs de treinamento.WFR - Wilderness First Responder – PrimeiraResposta para Emergências em Áreas Remo-tas com duração média de 80hs de treinamento.Na década de 80 são criadas varias associa-ções médicas voltadas aos atendimentos médi-cos em locais remotos como a WMA- WildernessMedical Associates e a WMS –Wilderness Medical Society entidades que tem

Muitos filmes outdoor , em especial de bicicletascomo “personagem” de fundo, possuem um rit-mo mais lento e intimista. Não é incomum serconhecido como chato de ser assistido. Comoregra geral há muita repetição de imagens fa-zendo jus á fama de algo “maçante”.O ciclista Lucas Brunelle dono de uma espíritoinquieto e faminto de velocidade ao pedalar pro-curou realizar uma abordagem audaciosa e,porque não, ambiciosa. Utilizando a técnica dePOV (Point of View – Ponto de vista em portugu-ês) de elaboração de toda a sua produção teveum resultado marcante para o público ciclista ounão.O filme “Line of Sight” possui cenas de tirar ofôlego que prendem todo e qualquer pessoa queassiste ao filme. Os vinte primeiros minutos do

filme são alucinantes, e por si só eleva o filme aum grande clássico.Para se entender o objetivo do filme é necessá-rio que se entenda o que são as corridas“Alleycat races”.Estas corridas é realizada por ciclistas que tra-balham de courrier (entregadores de encomen-das) e são organizadas e executadas em suamaioria clandestinamente.Durante este tipo de competição os participan-tes devem cumprir tarefas em partes da cidadeem determinado tempo possível. O mais carac-terístico( e daí que mora toda a parte de ação dofilme) é que durante a execução destas tare-fas, os ciclistas participantes pedalam alucinadospelas ruas das cidades onde são realizadas.Não bastasse este senso de urgência tambémnão são respeitados nenhum tipo de regra ur-

bana. A lista de situa-ções em que são sim-plesmente ignoradassão : semáforos, fai-xa de pedestres, cal-çadas, cercas,ciclovias , parques,sentido da mão dasruas e por aí vai.O filme de LucasBrunelle quase queexclusivamente retra-ta estas corridas demaneira nunca inédita:acompanhando osparticipantes de muitoperto e executando asmesmas manobrasque eles.

O resultado deste tipo de integração resultouem imagens de ritmo intenso capaz de fazeracelerar o coração de quem assiste.O filme inicia sem nenhuma introdução, jogandoo espectador direto em cima de uma bicicleta“ziguezagueando” por entre carros, pessoas,calçadas e o que mais encontrar pela frente.Acompanhado de uma música de ritmo frenéti-co o primeiro terço são memoráveis, e valempor todo o filme. A qualidade das cenas capta-das é impressionanteA qualidade de edição, assim como suas ima-gens captadas (apesar de não estar em HD)não fica devendo em nada para todo e qual-quer filme de ação realizado em Hollywood.Tamanho o impacto destas cenas, que será lan-çado em breve um filme hollywoodiano que étotalmente inspirado no estilo de filmagem deLucas Brunelle (“Premium Rush” tem data paraestrear no Brasil em novembro)Como tudo o que foi filmado aconteceu de ver-dade, não havendo nenhum efeito especial. ofilme se destaca de qualquer outro realizadosobre bicicletas : imagens de ação de tirar ofôlego.Entretanto o desenrolar do filme é o “mais domesmo”, e a repetição de temas e imagens aca-ba por deixar o filme maçante devido à repeti-ção de muitas cenas que se assemelham umasàs outras.A escolha de deixar em segundo plano a apre-sentação do protagonista, e até mesmo dascorridas “Alleycat races” faz com que a produ-ção seja muito direcionada para um público es-pecífico.Apenas no final do filme é que existe uma ten-tativa de apresentar os personagens e autor e

é aí que está um dos grandes pontos fracos :a sua falta de coesão de roteiro.O afastamento de personagem e corridas geraa sensação de que são vários filmes transfor-mados em um. Há passagens em mountainbikes, perseguições simuladas em becos naAmérica Latina e trekking na muralha da Chi-na.Porém são apenas imagens editadas e postasem sequência, mas sem roteiro oou até mes-mo acrescentar á história.Algumas passagens filmadas por Brunelle tam-bém poderiam ter um detalhamento melhor,mostrando mais de sua personalidade e histó-ria.Houve até mesmo uma publicação brasileirarecente que realizou uma entrevista com o ci-clista. Entretanto, porém, devido à baixa quali-dade de perguntas feitas, aliado à uma certamá vontade em responder pouco acrescentapara referência à sua biografia.Por isso o filme seria uma ótima fonte de infor-mação biográfica, o que não acontece de ma-neira profunda. Talvez em um próximo projetoa ser realizado este erro seja reparado.Mesmo apresentando falhas de roteiro, “Lineof Sight” é sem dúvida um filme interessantede se assistir. Algun dos trechos podem serconsiderado um verdadeiro clássico e a qua-lidade de captação de imagens é inegável.Assim como existe em filmes comerciais ogênero ação, esta produção de Lucas Brunellemostrou que é possível existir ação e imagensde ângulos não convencionais.Line of Sight é um filme obrigatório para todo equalquer pessoa que tem como transporte emcidades grandes a bicicleta.

Line of SightLUCIANO FERNANDES | SP

Emergência em locais remotosMARCOS PADILHA | SP

como objetivo pesquisar e desenvolver estu-dos sobre assistência médica em locais remo-tos.Nos países desenvolvidos onde a prática deatividades ao ar livre tem um grande número deadeptos como na América do Norte e Europa aprocura desses cursos por parte dos pratican-tes é muito grande, na América do Sul, a procu-

ra por esse tipo de treinamento acontece mui-to na Argentina e Chile.No Brasil os cursos WFA ainda são pouco di-fundidos e conhecidos pelos praticantes deatividades ao ar livre, são muito poucas asentidades ou centros de treinamento que es-tão habilitados e certificados a ministrar es-ses cursos no Brasil.

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Alexandre Silva, SPAcho que independente do estilo da via e local,um montanhista ético e de bom senso, fará umbom trabalho com ou sem furadeira. Portanto agrampeação excessiva independe do métodoutilizado.Você matar alguém é igualmente errado com umaarma de fogo ou uma faca. Ou seja, batedor oufuradeira, o importante neste caso é a educa-ção e respeito à ética local, e a boa prática domontanhismo.

André Ilha, RJEmbora furadeiras elétricas de fato agilizem muitoa colocação de grampos ou chapeletas, o quefacilmente pode levar a excessos, creio quecada caso é diferente do outro, e um banimentogeral me parece uma medida extrema e desne-cessária. Nos parques estaduais do RJ adota-mos com entusiasmo, e com sucesso, a discus-são com os interessados das regras para es-caladas e, subsidiariamente, também para cami-nhadas, através dos “seminários de mínimo im-pacto”, já concluídos para os três parques ondea escalada é uma atividade significativa - TrêsPicos, Serra da Tiririca e Pedra Branca -, e cujosresultados foram incorporados aos respectivosplanos de manejo. Como resultado, há casos emque o uso da furadeira foi, sim, banido, mas namaioria dos outros, não.

Antonio Paulo Faria, RJColegas, vejo da seguinte forma a discussão“furadeiras elétricas X marretas/brocas” na fi-xação de grampos durante a abertura de viasde escalada nas unidades de conservação: Sefurarmos na base da marretada, usando bro-cas, a pobre fauna terá que ouvir o barulho in-fernal, entre meia e uma hora, de PA, PA, PA, PA,PA, PA, PA, PA, PA, PA, PA, PA, PA, PA, PA, PA,PA, PA, PA, PA, PA, PA, PA, PA, PA, PA, PA, PA,PA, PA, PA, PA... 40min. depois, PEING, PEING,PEING, PEING, PEING, PEING, PEING, PEING, PEING,PEING, PEING, PEING... e finalmente... PING. Ago-ra ouçam o barulho de uma furadeira elétrica,que faz o mesmo furo em aproximadamente en-tre 40seg... Vruuuuuuuummmmm... PEING,PEING... e finalmente PING.Qual desses instrumentos é mais ecologicamentecorreto, além de proporcionar menos dor decabeça ao escalador? Aos pseudoescaladorespuristas, pode-se abrir vias de escaladas exce-lentes e em alto estilo, usando furadeiras elétri-cas, isto é apenas um instrumento. Se essescontinuarem com tal discussão sem propósito,deveriam também evitar de usar proteções ati-vas (friend, camalot) e cordas dinâmicas, por-que esses foram frutos da evolução tecnológica,vocês não concordam? Em 31 anos de escala-da, vivenciei muitas situações semelhantes emrelação à aceitação de novos equipamentos deescalada, inclusive o uso de magnésio, mas comtempo, todos os críticos se calaram ou pararamde escalar.Sendo assim, a discussão deve ser baseadanas áreas dos parques onde podem ser aber-tas vias de escalada, como também o numerode vias, mas não a forma de como as vias são

abertas. Para quem não entende do assunto,pode ser mais difícil parar numa agarra, sacaruma furadeira elétrica para fazer o furo, do quefazer o mesmo com uma marreta, isso vai de-pender muita da dificuldade da escalada.

Dagoberto Ivan, PEO uso de furadeira, não tem nada haver com ouso excessivo de grampos, a quantidadede proteções em uma via, depende exclusiva-mente da audácia do conquistador. Quando uti-lizo furadeira, evito a fixação de muitos gram-pos, inclusive porque a bateria também termina,e a máquina é pesada para sair batendo grampoà toa. Faria lógica ”inibir o uso de furadeira” pelobarulho que assusta os animais, mas umamarreta batendo por muito mais tempo deve serpior, precisaríamos da ajuda de biólogos paratomar tal decisão. Por enquanto, não sou a fa-vor desta proibição.

Edson “Du Bois” Struminski, PRO que determina a quantidade de proteções emuma via são os fundamentos éticos envolvidosna escalada, sendo que o uso da furadeira,martelo, ou de material móvel é uma meraconsequência desta escolha.Conhecer a ética local é importante tanto para oescalador que prentende abrir vias como para ogestor da unidade de conservação onde a es-calada acontece.

Eliseu Frechou, SPA restrição ao método de abertura e ao uso dafuradeira, não só interfere no estilo de escala-da, como pune uma ferramenta ao invés de quem,abusivamente ou erroneamente fere a superfí-cie rochosa.O limite entre ética e estilo sempre foi muito tê-nue no nosso esporte, mas onde se faz um furo- e não como se faz - é o que interessa no finalpara uma avaliação sobre as características dasvias. No mesmo PNI, há vias eticamente corre-tas e num estilo bastante arrojado no paredãoGEAN, abertas por ingleses no melhor estilo hardgrit, que permitem o trabalho em top rope e de-pois a MEPA.Falando tecnicamente, um furo feito comfuradeira ficará muito mais perfeito que um feitocom talhadeira, permitindo uma grampeaçãomelhor, com menos esforço. Se eu tiver que fa-zer um furo manual, a escolha recairá sobre osistema de chumbador auto perfurante de 8mm.Mas se puder usar a furadeira, usarei um paraboltde 10mm que é muito mais resistente e durável.Quem ganhará com um sistema mais robusto? Arocha que receberá menos manutenção e osescaladores que ganharão em segurança.A existência de mais vias e setores favorece ocrescimento e a motivação dos esportistas e apreservação dos setores mais tradicionais, queficam menos congestionados, distribuindo ospraticantes em diversos lugares e ainda aumenta o patrimônio histórico dos parques.

Emerson (Memi), RSAcredito que está proibição vai muito da região,mas não acho válida, pois o montanhista por si

próprio protege a área de escalada, e não é afuradeira que irá acabar com problemas de aces-so aos picos de escalada e sim quem frequenta as mesmas.

Felipe Guimarães, MGA furadeira é um grande acessório que facilitao trabalho dos conquistadores de vias ajudan-do a acelerar o desenvolvimento da escalada.No mundo inteiro ela é usada e vista como umaferramenta da evolução tecnológica como osequipamentos móveis, que também tomaram olugar das cunhas de madeira do passado!Moro em Itamonte, MG. Eu e muitos outrosescaladores da região não sabíamos dessanova regra criada no PNI pela CTME há mais deum ano, e fico pensando, agora que mais inte-ressados surgiram, se a regra será revista?Em alguns locais no PNI já estava proibido aconquista de novas vias dizendo que os gram-pos poluem a montanha. A escalada é um dospoucos momentos em que o ser humano pas-sa a fazer parte da paisagem. Não vi a proibição como um bem para o PNI, esim uma imposição de um estilo da pratica daescalada nessas montanhas!Antigamente existia o alpinista e o rapeleiro, quecom o decorrer do tempo se dividiu em variasmodalidades como montanhismo clássico, viasesportivas, boulder e turismo de montanha! Ospraticantes de rapel são hoje meus melhoresclientes, me fazendo entender sua posição nes-se meio da diversão outdoor.Eu cresci escalando o que tinha, sem frescurade estilo, como faço até hoje, e procuro fazerisso da forma mais segura possível.A escalada evoluiu muito, não só em nível dedificuldade nesses últimos anos, masem vários aspectos. O que falta evoluir sãocertos conceitos dos montanhistas com rela-ção a respeitar a opinião de cada um que fre-quenta a montanha!

Felipe Edney, RJNão sou a favor da proibição, usar ou não afuradeira não é o principal agente causadordeste problema. Conquistar com mais ou me-nos proteções está relacionado ao estilo e níveldo conquistador, acho que a melhor medida paraeste problema em questão seria a organizarseminários de mínimo impacto e palestras so-bre ética local.

Felipe Dallorto, RJNo ano de 2010, fizemos o 1º Seminário deMínimo Impacto do PEPB (Parque Estadual daPedra Branca) no Rio de Janeiro, onde mostra-mos para os diretores e biólogos do Parque queo uso de furadeira é essencial para realizar-mos um trabalho bem feito nas manutenções devias antigas como para novas conquistas sem-pre tendo o bom senso de que a ferramenta(furadeira) é uma evolução dos equipamentosque usamos e não faz o caráter do montanhista,muito menos a questão de uso excessivo degrampos, onde existem diversos exemplos devias com grampos batidos excessivamente deforma antiga, “punho e talhadeira”. Podemos

dizer que o diferencial não está na ferramentae sim na experiência, caráter e vontade decada pessoa, tendo como exemplo; montar emum cavalo ou dirigir um carro, quem faz e mos-tra o caminho de ambos é o condutor.

Flávia dos Anjos, RJSou contra a proibição. A furadeira é uma fer-ramenta, uma tecnologia, não uma definiçãode caráter ou estilo.As leis, de modo geral, não devem ser tão es-pecíficas a ponto de enquadrar um determina-do equipamento/aparelho/tecnologia, essascoisas evoluem e a lei fica obsoleta.Citando um escalador que falou sobre o as-sunto no 2º Seminário de Mínimo Impacto daUrca: “Amanhã inventam uma caneta laser quefaz furo e aí temos uma brecha na regra. Ou,ainda, até que ponto a talhadeira e a broca nãosão também “tecnologia”? Que façamos en-tão, os furos com o dedo, oras...”E atacando o ponto de vista dos que são afavor da proibição, a furadeira é uma ilusão develocidade e de excesso de grampos. Ela épesada e as baterias são pesadas, isso atra-sa a conquista. E a quantidade de furos é limi-tada. Se o conquistador quiser evitar retornosexcessivos ele ira espaçar os grampos e eco-nomizar bateria. E por fim, temos exemplos su-ficientes de vias E1, ou quase “E0” abertascom talhadeira

Gustavo T. Netto, RSNão compete à responsabilidade dasconsequências, à ferramenta que o escaladorutiliza. A furadeira é uma excelente ferramen-ta, pois facilita e acaba por conferir um traba-lho com melhor qualidade (um furo bem feito,simétrico). Mas a responsabilidade é doutilizador, que planeja e executa.Não me parece solucionar o problema, seleci-onando a ferramenta. Deveria ser analisado ométodo por inteiro, como: usar cordas de cimapara equipar; apenas conquistas de baixo;aberturas de setores esportivos (por acumu-larem mais vias e mais frequentadores); áreascom maior suscetibilidade à impactos; novossetores onde terá novas trilhas de acesso,entre outros.Com ou sem talhadeira. Seja por proteções emexcesso, seja por proteções em locais inade-quados, o resultado de uma via mal feita nasceda inexperiência.

Janine Cardoso, SPAcredito que simplesmente proibir não é umcaminho virtuoso. Tratando se de parques na-cionais, poderia haver espaço para que o con-quistador expusesse seu projeto, mas o pro-blema é que existem interesses divergentesdemais, e, em alguns casos, problemas de egoque complicam a evolução. De qualquer forma,seja qual for a razão desta decisão, é inegávelque simplesmente proibir parece uma decisãomais fácil e confortável. Torcendo para quechegue se ao bom senso, abraçando uma vi-são mais ampla e menos preconceituosa emrelação ao uso dessa ferramenta.

José Luis Kavamura, PRSinal de retrocesso em minha opinião. Acho que oque deveria determinar a atitude/ética na montanhasão o bom senso e o respeito pelo meio ambiente epela comunidade. Determinar o que é esse sensocomum sem amplo debate torna a proibição no míni-mo antidemocrática. Em termos práticos, já vi vári-os casos de grampeação excessiva sem o uso defuradeira, o que também torna questionável a efi-cácia da medida. Se alguém decide optar por umestilo mais desafiador, sem o uso de determinadoequipamento, o que pode ser admirável, deveriafazê-lo por escolha própria e não por proibições deoutros, que muitas vezes nem fazem idéia do signi-ficado desta decisão.

Juliano Magalhães, RJProibir o uso da furadeira para abrir uma via é umpensamento retrógrado e obsoleto. Querer imporum estilo particular de abrir vias em toda a socieda-de é puro autoritarismo. As pessoas e a tecnologiaevoluem com o passar do tempo, porém alguns in-sistem em viver no tempo das cavernas. Comoexemplo, se uma pessoa quer por fogo em algumacoisa, não importa se vai usar um isqueiro, fósforoou outra ferramenta. O resultado “fogo” vai ser omesmo. O que importa é a consciência de cada umem fazer a coisa certa. A furadeira nada mais é queuma ferramenta que pode ser usada tanto para obem quanto para o mal, assim como o batedor ma-nual faz furo ao lado de fenda, mal feito e em ex-cesso.

Silvério Nery, SPAcho que a proibição ao uso da furadeira é um instru-mento válido de gestão de parques e outras unidadesde conservação. Esse dispositivo é adotado por di-versos Parques no Brasil e no exterior, como porexemplo, Itatiaia, Serra dos Órgãos, Três Picos,Yosemite, Zion, etc.Esta me parece ser uma forma eticamente adequadapara inibir a abertura desordenada de vias de escala-da, coisa que a furadeira elétrica sem dúvida facilitabastante. Me parece bem melhor utilizar esse tipo deinstrumento do que simplesmente proibir, o que seriamuito mais fácil do ponto de vista do chefe do parque.Instrumentos de gestão semelhantes são frequente-mente utilizados em Parques no exterior para inibir(sem proibir), por exemplo: a quantidade de pessoas pode ser reduzida numatravessia mais longa se os locais de acampamentoforem selvagens ao invés de refúgios maisestruturados. Pode-se também exigir que um grupode trekking apresente comida, combustível e fogarei-ro antes de iniciar uma travessia, para evitar as pos-síveis fogueiras e, de quebra, reduzir a quantidadede pessoas na travessia, e por aí vai. No caso da conquista por meios manuais, além dessefator inibidor, muitos montanhistas consideram o ba-tedor manual um meio mais justo na conquista de umavia de escalada do que uma furadeira. Na mesmalinha de raciocínio da proteção móvel ser um meiomais justo do que a proteção fixa.

Parques Nacionais e alguns estaduais do estado do Rio de Janeiro criaram recentementerestrições ao uso de ferramentas elétricas para fins de instalação de grampos, o que napratica quer dizer que furadeiras não serão mais permitidas nas conquistas, somente emalgumas reformas.A justificativa para a proibição é inibir o uso excessivo de grampos, já que estes causamdanos à rocha, todavia, a maior parte destas unidades de conservação já exigem a permis-são para conquistas (com antecedência de até 30 dias), com projetos assinados pelos con-quistadores especificando o local da nova via, e o tipo de proteção que será utilizada. O Parque Nacional oItatiaia, inclusive proíbe o equipamento de rotas, permitindo apenas a conquista (de baixo para cima).Este é o início de uma interferência do estado na liberdade de cada montanhista escolher seu estilo de esca-lada. Leia o que alguns montanhistas que conquistam rotas pelo Brasil pensam a respeito do tema:

Furadeiras e Parques

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O Pico da Bandeira, com 2820m de al-titude, é o ponto culminante da Serrado Caparaó e terceira mais alta monta-nha do país, perdendo apenas para oPico da Neblina e o Trinta e Um deMarço, localizados na distante Amazô-nia.O maciço montanhoso o qual se encon-tra o Bandeira é divido pelos estadosde Minas Gerais e Espírito Santo. Tan-to por um estado, quanto por outro, apaisagem na estrada é dominada peloscafezais que impulsionam a economialocal, e foram responsaveis pelos gran-des desmatamentos que aconteceramna região.Hoje vemos também as plantações deeucalipto que estão avançando tantoquanto o café, em um passado nãomuito distante, que ainda manterá estaregião um tanto quanto exótica com re-lação a vegetação nativa, que ainda so-brevive graças a unidade de conserva-ção, como o Parque Nacional do AltoCaparaó.

Os acessos ao topoA maior parte dos visitantes prefere aentrada do Parque na cidade mineiraAlto Caparaó. Este acesso, por ser omais visitado e onde se encontra a sededo Parque, é que possui melhor infra-estrutura turística, como hotéis e res-taurantes. A caminhada pode ser dividi-da em duas partes indo do ponto co-nhecido como Tronqueira, até oTerreirão, acampando neste lugar edepois com mais dois quilômetros emeio, atingir o cume do Bandeira.O percurso total beira os oito quilôme-tros, mas por ter um desnível menosacentuado continua sendo o preferidopor quem quer ver o nascer do sol doalto da montanha.Já havíamos há tempos planejado subiro Bandeira e durante o VI EncontroCapixaba de Escalada, que aconteceuna cidade de Pancas, fomos convenci-

Trechos da trilha para o Pico da Bandeira,bem marcada e sinalizada.

dos pelo Zé Márcio e a Duda, que oacesso pelo Espírito Santo era inte-ressante. Assim, fomos a cidade dePedra Menina, onde há outra portariapara ingressar no Parque Nacional.Chegamos no meio da manhã e apósum bate papo com os guardas, que

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nos explicaram que não seria possível dor-mir bivacado nem acampando no alto doBandeira, escolhemos acampar na CasaQueimada, último ponto onde se podechegar de carro. Armamos a barraca, poisa previsão era de chuva e não queríamoster que montar acampamento debaixod’água na volta. A essa hora manhã o friojá era bastante intenso, o que nos fez du-vidar de uma mudança brusca de tempo,mas nos obrigou a iniciar a trilha bastan-te agasalhados.A trilha é bem sinalizada e em nenhummomento dos quatro quilômetros de ex-tensão tivemos dúvidas quanto ao traje-to. A marcação é feita por estacas com aparte de cima pintada com tinta refletiva,e mesmo a noite são perfeitamente visí-veis. Se não fosse esta sinalização, bas-taria seguir a trilha de papel higiênico, oque nos fez imagina que se estávamosno trecho menos freqüentado, como se-ria o lado mineiro? A sujeira na trilha foi oúnico ponto negativo de todo o caminho.Por este motivo, não há água confiávelno único riacho do caminho, portanto, leveágua potável que pode ser encontrada naCasa Queimada.Quem já esteve nas altas montanhas do

sudeste, como Pico dos Marins,Itaguaré, Planalto do Itatiaia, reconhe-cerá facilmente os campos de altitudeque predominam a partir da cota 2000m.Nos altos do Caparaó, o cenário é idên-tico, com a diferença de que a cristafinal é bastante aberta, o pode-se teruma visão realmente privilegiada maishora antes de atingir o topo.O dia em que caminhamos até o Picoda Bandeira estava muito ventoso e fe-chado, com uma sensação térmica abai-xo de 0°C com certeza, pois mesmocaminhando e com 2 agasalhos eanoraque passamos perto de sentir frio.A visão do alto compensa o esforço, eentre uma rajada e outra mais forte, umajanela se abria nos nuvens e podemosvislumbrar, boquiabertos, a beleza quese estendia aos nossos pés, até se per-der de vista, num mar de montanhas enuvens.Retornamos à noite, bastante queima-dos do frio e cansados por termos feitoa caminhada em tão pouco tempo. Arecomendação é que quem planejar fa-zer este passeio, o faça começandocedo, para poder curtir mais este lugartão bonito.

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Passando pela estrada que liga Itajubá a Mariada Fé, no Sul de Minas, é fácil perceber a pe-dra que se ergue no fim do vale, do bairro AnoBom. Na região, pedras de coloração amarela-da ou avermelhadas quase sempre sugeremsetores protegidos da chuva por tetos ou ne-gativos. Na pedra do Frade, com uma amplaparede negativa, que grada lateralmente parasetores positivos, existe uma grande varieda-de de tipos de agarras e inclinações de pare-de.Abaulados, batentes e regletes fazem o con-junto principal. Em algumas vias parece uma“calda” recobriu os fragmentos que estavamsoltos, mas agora estão cimentados e firmes.Certos trechos da pedra são mais frágeis etem grande quantidade de agarras saindo, oque deixa a coisa mais “divertida”. Capacete éalgo altamente recomendável na base das vias.As vias mais novas são mais quebradiças, masé só prestar atenção nas agarras que já estãomarcadas. Naquelas mais escaladas, como aVerruga do Frade, Vozes do além, Sem no-ção, que estão no platô de cima, ou setor Bar-celona, segundo os locais, as agarras estãobem sólidas.No momento, a pedra tem três setores comvias esportivas chapeletadas bem protegidas,e algumas com passagens com móveis. Nocanto esquerdo da pedra temos o setor Jibóia,com as vias Engano 7c, Incrível Hulk 8b,Regueiros 8c, Guerreiros 7b, Slot 4sup, Fiada sunha 5sup. A vantagem nesse setor é asombra na base da pedra o dia todo. Depois,na porção central da parede, temos um setorcom as vias El Salvador 8a, Desvios 6sup,Red label 8a, que são vias também na som-bra.O próximo setor, no platô de cima, é que possuimais vias. Vozes do Além 8b (upgrade), Sem

Um pouco diferente das paredes negativas próximas, a rocha da Pedra doFrade difere pela quantidade de agarras.

noção 7c, Verruga do Frade 8c (upgrade), Ce-noura e bronze 7b, Filet Mignon VI sup, Intri-gante VI e Carpen dien VI. Todas possuindoaproximadamente 20m, e a Vozes do Além 8b,que agora com uma segunda enfiada possui 60

metros de escalada e 23 costuras. Neste setor,uma via recomendada é a Verruga do Frade,principalmente pela sensação de se pendurarnuma verruga de pedra.As vias estão sendo abertas pela galera da re-gião. Na primeira leva, Jairo Maxisuel, Rafael “Je-sus” Wasem, Orlando Mohallem, Reinis Osis eeu, e mais recentemente, Paulada, HenriqueSiqueira.

Como chegar:De Itajubá, seguir sentido Maria da Fé, após oquebra molas do bairro Ano Bom, entre a direitana estrada de terra e basta seguir em frente quelogo irá visualizar a pedra. Após aproximada-mente 2,4km, estacione o carro junto dastouceiras de bambu e comece a caminhada pelopasto, passando pela cerca à direita. Siga reto aesquerda dos eucaliptos, chegando à mata, subaaté a parte em que o pasto chega mais perto dapedra, e suba pela trilha na mata. A caminhada éde cerca de 40 minutos.

Horários de sombraSetor Barcelona: depois de meio dia.Demais setores: o dia todo

Chuva:Setor Barcelona: não molhaDemais setores: algumas vias molham

Equipamento:20 costurasCorda de 60mMoveis médios e pequenos (vias Fia da sunha eSlot)

Proprietária da área: Miriam Azevedo

Recomendações:- a área é pouco frequentada, mas evite fazeroutras trilhas.- novamente, capacete na base das vias.- se for abrir ou conquistar uma via, seja bemvido, mas: converse com a comunidade local,não retire vegetação da pedra e evite posicionaras vias muito próximas umas das outras.

�Henrique Siqueira na Verruga do frade, 8c�Lucas na Filet Mignon Vlsup

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A Falésia Paraíso está localizada na cidade dePindamonhangaba - SP, no bairro do Pinga. Asconquistas de vias na falésia se iniciaram emfevereiro de 2009. Inicialmente os proprietáriose a vizinhança local não queriam nem ouvir falarde pessoas estranhas frequentando aquelas ro-chas, que se encontram dentro de duas proprie-dades particulares. Após muita negociação che-gou-se a um acordo: para acessar o local osfrequentadores deveriam cumprir um conjuntode regras de comportamento para minimizar aperturbação que causariam na comunidade lo-cal. Este conjunto de regras visam a condutade respeito e mínimo impacto ao local e aos seushabitantes: não levar animais, não fazer foguei-ras, estacionar em local adequado, respeitar oslimites de velocidade de 30 km/h, não deixar lixo,não fazer barulho, não mexer com a fauna eflora local, se fizer necessidades fisiológicas en-terrar os dejetos, pagar uma taxa de visita de R$5,00 por pessoa por dia, dentre outras regras.Assim, primeiro conquistamos a Falésia, e de-pois começamos as vias. Foi criado um blog quemantemos com o objetivo de divulgar gratuita-mente as informações, regras, croquis e mapasde acesso, etc:falesiaparaiso.blogspot.com.br

Mesmo com a intensa campanha que semprefizemos visando o cumprimento de todas as re-gras pelos frequentadores, em março de 2011,um escalador desrespeitou o limite de velocida-de e colidiu com o carro de um dos moradoresmais ilustres e influentes da comunidade local,isto causou o fechamento imediato da falésia,justamente em plena temporada de escalada.Foi um duro golpe para os escaladores, masmuito mais duro para nós conquistadores. Sen-timos uma imensa frustração de ver todo o tra-balho de um ano de conquistas (85 vias) ir porágua abaixo. Felizmente, após várias rodadasde negociação e endurecimento das regras con-seguimos a reabertura em caráter temporário.Intensificamos a concientização do cumprimen-to das regras e conclamamos os demais usuá-rios a nos ajudar na “fiscalização”, isso deu umbom resultado e, embora tenham ocorridos al-guns deslizes, não tivemos maiores problemas.

Uma característica da Paraíso é que possui umgrande número de vias fáceis e para iniciantes,com cerca de 26 vias de IV a Vsup, outro gran-

de atrativo é o grande número de vias de sétimograu, cerca de 37 vias, o que estimula bastanteo pessoal que esta começando a entrar em viasum pouco mais difíceis.Diferente de outros locais, a falésia é uma ótimaopção para a época das chuvas, pois suas pa-redes secam rapidamente, e no calor existemvários setores que ficam à sombra, proporcio-nando uma escalada bem agradável nos diasmais quentes.Atualmente a falésia se encontra com 127 viasdivididas em 13 setores, com vias que variam deIV a IX grau, que vão de 6 a 55 metros, sendo emsua grande maioria em torno de 25 metros. Exis-tem 11 vias móveis, compensando trazer umpesinho extra na mochila, e, até o momento, 28vias sem cadenas confirmadas esperando pe-los mais arrojados.

Os trabalhos de conquista na falésia são execu-tados por nós: Claudio Medeiros, Inácio Bianchi,Paulo Menezes, Carlos Camilo e Ricardo Reis,que compramos uma furadeira e materiais parafazer os Ps. Nós mesmos confeccionamos osPs e para isso temos recebido doações em di-nheiro e em material de várias pessoas cujosnomes não vamos citar para não cometer gafes,mas a todos somos muito gratos. Quem quisercontribuir entre em contato pelos endereços dis-poníveis no blog.

Conquistar uma via é relativamente fácil, é umatarefa dura que tem início e fim, já a conquista deum pico não é fácil, é tarefa árdua, tem início,mas não tem fim, dura a vida toda e o trabalhopode ser perdido a qualquer momento, basta umvacilo de alguém e já era. Por isso pedimos, porfavor, ajudem-nos a manter a falésia aberta paratodos, cumpram as regras e ajudem aconscientizar aos demais desta necessidade.Precisamos da colaboração de todos para queeste local esteja sempre aberto e disponível paratoda comunidade.

�Inacio Bianch�Cláudio Medeiros

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Inicio dizendo que não conheço bem a região,não tendo encontrado nela um bom clima nasduas vezes em que lá estive - fora duas outrasem que o tempo estava tão péssimo que sequerpus o pé na trilha. Mas, como o local é aindapouco visitado pelos paulistas, resolvi divulgá-lo neste artigo, na esperança de que os leitoresvenham a conhecê-lo ainda neste inverno. Con-tei para tal com a ajuda de Rossana Reis (ela medeixou comentar que é uma louraça), aprovei-tando seus momentos de ócio causados por umpé quebrado – na região do Pico Paraná, é claro!

A ConquistaA conquista do Pico Paraná é uma emocionantehistória do montanhismo paranaense. Quandoo geógrafo alemão Reinhard Maack subiu no PicoOlimpo, ponto culminante do maciço Marumbi,percebeu que este não poderia medir 1.800m,como então se acreditava, na época em que eraconsiderado o ponto culminante do Estado (vermeu relato no MV #111, de 2010).Mais ainda, Maack notou que existiam ao nortemontanhas que pareciam ser mais elevadas, emespecial uma bela formação com duas corco-vas, que ficava atrás de uma muralha de picos.Foi ele quem primeiro lançou o desafio de con-quistar aquela montanha. Junto com os experi-entes marumbinistas Rudolfo Stamm e AlfredMysing, organizou uma expedição para chegarlá.Era o começo da década de 1940 e não existia aRégis Bittencourt, a região era completamenteinacessível, além de muito acidentada - mesmohoje, não existe nenhuma cidade de expressãonos mais de 200 km entre Registro e Curitiba.Após alguns erros, os três conseguiram con-quistar o Pico Caratuva, de onde tiveram umavisão mais próxima da montanha.Em julho de 1941, Stamm e Mysing finalmente

atingiram o cume mais alto, depois de 15 dias deaventura. Maack acompanhou sua ascençãodo Abrigo 2. Batizaram-no então de Pico Paraná.Sabe-se hoje que o Paraná mede 1.877m, con-tra apenas 1.539m do Marumbi, e que é o pontoculminante do Sul do país.Reinhard Maack foi um brilhante geólogo e in-cansável pesquisador. Ele nasceu na Alema-nha, trabalhou na África e viveu depois no Bra-sil. Morreu já idoso no fim da década de 60.Rudolfo Stamm é considerado o maiormontanhista paranaense de sua geração – di-ferentemente de Maack, sua vida pouco regradaterminou cedo, antes dos 50 anos. Alfred Mysingfoi o mais constante companheiro de Stamm,contribuindo para muitas das vias no Marumbi.Com a morte de seu amigo, foi para a Venezuelae nunca mais voltou.

A Serra do MarComo diz Pedro Hauck, na maior parte de suaextensão a Serra do Mar se assemelha a umaescarpa, com uma íngreme parede voltada parao mar e um suave relevo em direção ao interior.Mas isto não acontece no Paraná. Lá ela é com-posta por uma sucessão de blocos, com difí-ceis passagens entre eles. Exemplos destespassos são o histórico Caminho do Itupava ou a

atual Estrada da Graciosa, que descem do pla-nalto curitibano até a planície litorânea.Neste contexto, é impressionante a localizaçãodo Pico Paraná, afastado talvez 80 km do litoral,apesar de integrar a Serra do Mar. Além disto,para quem avança na sua direção, existe umaimpressionante muralha formada por grandesmontanhas da Serra de Ibitiraquire - à esquerda(Ferraria e Taipabuçu), à frente (Caratuva) e àdireita (Itapiroca) e, mais adiante, do Tucum aoCiririca, com uma altitude média acima de 1.750m.Quem já esteve na Serra do Mar sabe que, alémde sua topografia abrupta, a vegetação é umobstáculo muito presente. Ela é sempre espes-sa, bastante interferente e às vezesdesorientadora, quando impede a visão do ob-jetivo. Mas lá existe também a persistente nebli-na, que mesmo nos dias aparentemente limposcostuma frequentar as encostas da região.Estas formações da Serra do Mar, como oAnhangava nas proximidades de Curitiba, oMarumbi em Morretes e o Pico Paraná em Cam-pina Grande (todos próximos entre si), são par-ticularmente importantes para o montanhismoparanaense, não só pelas importantes conquis-tas envolvidas. No interior do Estado a rochaencontrada é o arenito, como em Ponta Grossae São Luiz do Purunã, porém com altitudes bem

menores, pois o planalto paranaense tem de-clive para o oeste. Tornaram-se pontos de es-calada esportiva, deixando entretanto omontanhismo de longas aproximações restritoà Serra do Mar.

O AcessoChegar à base do Pico Paraná é hoje bastantesimples, pois ela está próxima da Rodovia RegisBittencourt. Se você vier de Curitiba, deve saircerca de 2 km após o Posto Shell Tio Doca(que fica do lado oposto), na ponte do RioTucum. Você então seguirá à direita por 6 kmnuma estrada de terra – tome a esquerda naúnica encruzilhada. Vindo de São Paulo, en-contrará o Tio Doca quase 6 km após passarpela ponte de uma grande represa, devendotomar o primeiro retorno e seguir as instru-ções acima. A base fica a 55 km de Curitiba e380 km de São Paulo.Nas proximidades, só há dois locais onde pou-sar: no Tio Doca ou na Fazenda Pico do Paraná.O posto é um tanto precário, mas seu sononão deve ser pior do que o dos camioneiros –o telefone é (41) 3685.1101. Já na fazenda,existe um bom camping, além de limitadas aco-modações na casa do Dilson – o telefone é(41) 9906.5574, mas convém checar as con-dições de chegada.A Fazenda Pico do Paraná pertence à famíliade Dilson Seriguelli e tem 250 ha. Ela possuiplantação de caqui e criação de ovelhas, maso turismo é a principal fonte de receita. Sãocobradas taxas para ingresso e acampamen-to, o que costuma gerar muita polêmica. Elafica limítrofe ao Parque Estadual, numa altitudede 970m. Devido à inexistência de estruturapública, ela funciona como uma sede informaldo Parque Estadual.Fico muito decepcionado com a falta de inves-

timento nesta região tão especial que, mais quenenhuma das outras que conheci no Paraná,permite esplêndidas travessias - longas, difí-ceis e cênicas. Acho que vocês montanhistasparanaenses deveriam se mobilizar, exigindo aampliação e a organização deste Parque. Seuabandono é difícil de entender para quem visi-tou por meses o Parque Estadual da Serrra doMar em São Paulo (ver os últimos MV), dotadode novas equipes e instalações.

O ParqueO Pico Paraná está inserido num pequeno Par-que Estadual com apenas 4 mil ha, que contéma Serra de Ibitiraquire. É como se você apenasestendesse um lençol sobre as formações exis-tentes: Paraná a norte, Caratuva a sul, Ferrariaa oeste e Agudo da Cotia a leste – sem nenhu-ma saia que protegesse o entorno destas mon-tanhas. O Parque foi fundado com muita dificul-dade em 2002 e não dispõe de qualquer estru-tura. Estende-se pelos municípios de CampinaGrande e Antonina.Cinco anos depois, o Parque que abriga oMarumbi foi ampliado de 2 mil para 9 mil ha.Diferentemente do Parque do Pico Paraná, eleestá integrado a três outras unidades estadu-ais, que somam 67 mil ha. Isto constitui uma dasmaiores extenções contínuas de mata atlânticado Brasil. A prática atual procura conectar osmosaicos de preservação, para permitir a flui-dez das espécies naturais. Espero que, um dia,isto alcance o Parque do Pico Paraná.Apesar das caminhadas longas, ele é muito pro-curado – da última vez em que lá estive, um fimde semana de tempo incerto, contei quase 40pessoas na trilha. Na alta estação, não seriaincomum haver um alto número de pessoasacampando no Parque. Vale lembrar que a ca-pacidade de acampamento na trilha do PicoParaná é um tanto restrita. Hoje o cume do Picoestá desnudado pelo intenso uso de clareiraspara as barracas.Têm sido também necessários mutirões paralimpeza das trilhas e dos abrigos, coordenadospelo Clube Paranaense de Montanhismo. E, pior,houve diversos incêndios nos últimos cincoanos, alguns pequenos, mas outros atingindoáreas moderadas de 10 ou 70 ha. Conta-se queo Caratuva ardeu por uma semana em 2007,até que vieram as chuvas.A melhor época para ingressar no Parque é dejulho a setembro, com tempo limpo e seco. Masprepare-se para temperaturas negativas nosaltos – e para dias ventosos, no verão ou no

inverno. Os paranaenses parecem ter o hábitode caminhar seminus, é curioso encontrá-los decalção e camiseta no meio da neblina fria e úmida– parece que isto ajuda a fortalecer a sua deter-minação. No verão, o tempo é desagradavelmen-te quente, com maior presença de insetos – e,naturalmente, de neblina. E, apesar da água dis-ponível em alguns pontos da trilha, é bom levarcantis para quatro litros.

A TrilhaA trilha para o Pico Paraná é longa e árdua, em-bora bem definida e não técnica. Sobe as encos-tas num rumo leste, atravessando uma mata pou-co interessante, até tornar-se menos íngreme, àmedida que ganha altura. Num certo ponto, vocêpoderá avistar a impressionante muralha dos pi-cos precursores, do Ferraria até o Itapiroca.Você chegará finalmente numa grande área decampo, encimada pela elevação do Getúlio (a1.500m), um local de parada para um lanche e dereflexão sobre a trilha. A grande elevação à suafrente é o Caratuva, do qual falaremos a seguir.Continue pelo caminho sempre bem definido, atéa bifurcação que indica o Caratuva à sua es-querda. Siga naturalmente em frente e passe poruma bica d´água, um dos muitos pontos de abas-tecimento. O tempo normal é de 1½ hs até estelocal.Agora você penetrará numa das mais incríveisflorestas que já conheci, a meu ver só compará-vel à da Bacia de Gelo do Pico da Neblina. Duran-te algo como 1 a 1½ hs, você mal pisará no chão,pois andará suspenso entre raizes, troncos egalhos para atravessar os cerca de 1 km do cha-mado Vale das Fadas (quem teria inventado essenome infantil?). Trata-se de uma mata nebular degrandes árvores escuras e retorcidas, num im-pressionante ambiente denso e escuro.Mas, no fim da mata, você terá a primeira vista doseu objetivo, emoldurado pelos seus últimos ga-lhos. Neste ponto, existe placa indicando a trilhaà direita para o Itapiroca e, novamente, uma fontede água. Daqui para frente, você atravessarácampos recobertos por gramíneas e arbustosbaixos, sempre com a visão desafiadora do pico.Logo à frente, estará a primeira área para acam-pamento (o Abrigo 1), com espaço para cincobarracas. Em princípio, você deve prosseguir, amenos que já esteja tarde ou o clima esteja ruim.Se não for este o caso, prossiga agora num rumonorte por cerca de 1 h, sem maior dificuldade quenão seja a passagem por um pequeno vale, atéatingir a Casa de Pedra, também local para acam-pamento (o Abrigo 2). Aqui você encontrará umpouco mais de espaço - e no verão água um

pouco abaixo. Normalmente, este é o local pre-ferido para pousar, por já se encontrar próxi-mo ao Pico. A Casa de Pedra é uma construçãoinacabada, com material trazido lá de baixo, eque em si mesma não serve de local de acam-pamento. Atenção: é bom observar que a ex-pressão abrigo é enganosa, melhor seriachamá-la de acampamento, por não contar comnenhuma construção.Após uma curta aproximação, você terá agorade subir perto de 400m até o cume. Será umaescalaminhada diagonal pela parede do pico,inicialmente através de uma matinha baixa edepois pelas rochas de granito, com algum au-xílio de escadas. Em mais 1 h, você terá che-gado ao ponto culminante do Paraná, depoisde 7 a 8 km de um caminho difícil, vencido emnão menos de 6 horas. Você pode acamparum pouco antes do cume rochoso, com espa-ço para não mais de três barracas, mas deveevitá-lo, para não erodir sua natureza já tãoexposta.

A VistaO Pico Paraná aloja-se num maciço isolado daSerra de Ibitiraquire, sendo na realidade umdentre quatro formações conjuntas. Atravésda corcova baixa do União, você pode conhe-cer o Ibirati, montanha gêmea do Paraná que éapenas um metro mais baixa – mas esta é umtrecho pesado e perigoso, com locais expos-tos que lhe irão tomar 1 ½ hs. Vale lembrar queo Pico Paraná é provavelmente a única monta-nha da região que é exclusivamente destino enão passagem – as demais podem fazer partede travessias.Existem travessias passando por montanhascomo Ciririca, Cerro Verde e Luar, chegandoao Itapiroca, ou indo desde o Caratuva até oFerraria, ou ainda entre o Tucum, o Camapuame o Camacuam. Essas travessias são às ve-zes comparadas à da Serra Fina naMantiqueira, mas a conformação desta é dife-rente, com um longo espigão longitudinal, quenão existe em Ibitiraquire.Bem, agora você está finalmente no cume, ondeexiste livro, assim como nas outras duas mon-tanhas de que falarei a seguir. O PP, como é láchamado, é tido como o ponto culminante daSerra do Mar. Mas isto não é bem verdade,pois o Morro do Tira Chapéu na Bocaina é cer-ca de 200m mais alto. A Bocaina é uma corco-va por cima da Serra do Mar, entre Rio e SãoPaulo.A vista das alturas do PP é compensadora,alcançando em dias limpos até a Baía de

Altitudes das Principais Montanhas da Serra de Ibitiraquire

Paraná 1.877m Ibirati 1.876m Caratuva 1.850mItapiroca 1.805m Ciririca 1.760m Ferraria 1.745mTucum 1.736m Taipabuçu 1.734m Camapuam 1.713mCerro Verde 1.653m Luar 1.603m Camacuam 1.550m

Nota: Consultadas várias fontes, nem sempre coincidentes, com variações de até 50m por pico.

Antonina (dizem alguns, até Paranaguá) no sen-tido sudeste e a exuberante mata atlântica a no-roeste, com os morros de Rio Branco do Sul e oconjunto dos picos Capivari. A oeste e leste, vocêvoltará a encontrar os picos precursores, desdeo Ferraria até o Ciririca e Agudo da Cotia. Poucoslocais de montanha podem dispor de tantas for-mações interessantes assim tão próximas. Porfim, a vista alcança a cidade de Curitiba, cujasluzes a tornam especialmente visível à noite.A volta é naturalmente mais rápida, sem necessi-dade de acampar, podendo ser feita confortavel-mente em 5 h, se não houver paradas. A menosque você decida aproveitar o embalo e visitar asoutras duas montanhas no caminho, o que pare-ce compensador, dada a distância que você jáestá da base, a presença de água próxima e abeleza da região.

Belas Pedras (XLVIII): O CaratuvaVou falar primeiro do Caratuva, pois é a maisimportante das duas formações, com 1.850m.Como você já sabe, seu acesso é à esquerda docaminho ao Pico Paraná, logo antes da bicad´água. Você descerá pela mata, até cruzar umpequeno rio e começar então a subir.Não será inicialmente uma subida fácil, pois omato é fechado e interferente - e a trilha, diferen-temente da seguida até agora, nem sempre serábem definida. Mas você entrará já perto do cumenuma área arbustiva, que facilitará o seu avan-ço. Estes arbustos são na realidade bambusanões, chamados de caratuva e dão nome àmontanha. Estimo que, desde a bifurcação, vocêsubira 300m e andará por mais 1 a 1½ hs(totalizando até 3 hs), para um total de 5 km des-de a base lá em baixo.No cume existem antenas de rádio amador, quetornam o Caratuva identificável de longe. Vocêpode acampar no cume ou logo abaixo. O maisinteressante detalhe da sua visão de cima sãoas escarpas do Pico Paraná. A seu lado está oTaipabuçu, montanha mais baixa que pode serpercorrida em travessia, caso você deseje che-gar até o mais distante Ferraria, importante mon-tanha a oeste. Mas também do Caratuva o litoralpode ser avistado, bem como o Marumbi e o res-tante da Serra de Ibitiraquire.

Belas Pedras (XLIX): O ItapirocaA outra formação é o Itapiroca (1.805m), para oqual você terá de atravessar a mata nebular doVale das Fadas. Se esta travessia é trabalhosa,por outro lado o acesso à montanha é bem sim-ples. Basta sair à direita na bifurcação - ou àesquerda, se estiver retornando do Pico Paraná.Siga então por menos de ½ h por terreno decampo até subir cerca de 250m e chegar ao cume.Desde a base, calculo algo menos do que 6 km,para 3 ½ hs de percurso.Após atingir um primeiro topo, você terá de pros-seguir brevemente, até alcançar o segundo everdadeiro cume. Se quiser acampar, fique maisembaixo, num local protegido. De novo, sua maisinteresante vista será do maciço do Pico Paraná,com suas majestosas paredes estriadas. Na di-reção oposta, sua vista alcançará o litoral e atémesmo Curitiba. Nos dois lados, a muralha deIbitiraquire.O Itapiroca integra uma longa travessia, que pas-sa pelo Tucum e chega ao Ciririca no extremoleste - importante montanha com um desenhosugestivo e uma poderosa vista das muitas for-mações da serra. Através do Cerro Verde, avan-ça no sentido do Itapiroca, até chegar à base láembaixo, talvez 4 ou 5 dias depois. Este é ape-nas um dos exemplos dos percursos que podemser feitos no Parque.Se a volta do Caratuva é um tanto dificultada pelamata na sua base, a do Itapiroca exigirá que vocêvolte a atravessar o Vale das Fadas. Depois,você encontrará a longa descida até a fazendalá em baixo, com eventuais vistas da superfícieespelhada da represa do Capivari

Prometi a mim mesmo deixar por um tempo a Serra do Mar, mas acabei me aventurando pelos altosdo Parque do Pico do Paraná. São travessias árduas, das quais esbocei apenas as três mais ób-vias, todas elas de uma beleza especial.

Vista do Pico paraná

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127Capa: Marina Marcondes rumo ao Picoda Bandeira - ESFoto: Eliseu Frechou