erros de alunos do 6º ano e dificuldades de licenciandos na
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Programa institucional de Bolsas de Iniciação á Docência. Trata-se de um programa da CAPES/MEC
para os licenciandos de várias cursos.
ERROS DE ALUNOS DO SEXTO ANO E DIFICULDADES
DE LICENCIANDOS NA EXPLICAÇÃO DO ZERO NO
QUOCIENTE
Hellen Castro Almeida Leite
Professora da Universidade Federal do Espírito Santo
Bruna Zution Dalle Prane
Professora da Rede Particular e Bolsista LAMATI
Jéssica Schultz Küster
Professora da Rede Particular e Bolsista PIBID
RESUMO
Neste artigo, analisamos e relatamos parcialmente, informações de uma
pesquisa exploratória realizada em quatro escolas da grande Vitória, sendo
duas públicas participantes do PIBID Pedagogia e duas privadas. Foram
investigados erros cometidos por 89 educandos do sexto ano em quatro
questões envolvendo zero no quociente. Utilizamos como referencial a
Análise de Erros (CURY, 2007 e PINTO, 2009) e emergiram 12 categorias,
sendo a mais frequente a ausência ou posicionamento equivocado do(s)
zero(s) no quociente. Investigamos também como 18 licenciandos em
Matemática e 17 em Pedagogia analisam os erros das crianças ao
comentarem questões dos alunos participantes, e possíveis sugestões para
evitá-los. A proposta encontrada com maior frequência para que as crianças
não errassem mais, foi o uso do algoritmo tradicional da divisão de forma
mecânica. A sugestão de intervenção mais citada pelos licenciandos para a
professora dos alunos que erraram as questões, foi o uso do material
dourado ou ábaco para explicar a divisão, seguido de rever o algoritmo/fazer
exercícios em sala de aula. Recomendamos que os cursos de licenciatura
prevejam tempo/espaço em seus currículos para discussões mais
aprofundadas acerca do processo de ensino/aprendizagem dos conteúdos das
séries inicias e do uso da análise de erros como metodologia de ensino,
V SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA 2 28 a 31 de outubro de 2012, Petrópolis, Rio de janeiro, Brasil
pesquisa e como forma de aprimorar sua prática docente.
Palavras-chave: Análise de erros; Formação de professores; PIBID,
Zero no quociente; Pesquisa cooperativa.
ABSTRACT
In this article, we analyze and report, in part, about information from a
research carried out in four schools in the Greater Vitória area, being two
public schools participating in the PIBID Pedagogy and two private
schools. Errors made by 89 sixth grade students in four issues involving
zero in the quotient have been investigated. The “error analysis
methodology” was used and from that twelve categories emerged, the most
frequent being the absence of zero in the quotient, or being written by
mistake. We also examined how 18 undergraduate students in mathematics
and 17 in pedagogy analyze the mistakes of children as they correct their
previously scanned exercises, and we also gave them possible suggestions
for avoiding the same mistakes. The proposal that was found most
frequently so that the children did not err more, was using the traditional
algorithm of division in a mechanical way. The suggestion for action most
cited by undergraduate students for the teacher of the children who
answered their questions wrongly was the use of the gold material or the
abacus to explain division, followed by reviewing the algorithm / doing
exercises in the classroom. We recommend that the degree courses provide
time / space for further discussion about the teaching / learning of the
contents of the initial series and the use of error analysis as a methodology
of teaching, research and as a way to enhance their teaching practice .
Keywords: error analysis, teacher training, PIBID, zero in the quotient,
cooperative research.
1 Introdução
Nós, como professoras da educação básica e superior, percebemos que em vários
conteúdos onde é necessário o uso do algoritmo da divisão, os estudantes dos diversos
níveis de ensino apresentam dificuldade em operacionalizá-lo ou em explicar para
outrem alguns passos do mesmo, ou seja, a fundamentação matemática do algoritmo.
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Observamos que as dúvidas ficavam mais acentuadas quando havia zero e/ou vírgula no
quociente.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997, p. 94) apresentam como
um dos critérios de avaliação de matemática para o segundo ciclo:
Realizar cálculos, mentalmente e por escrito, envolvendo números naturais e
racionais (apenas na representação decimal) e comprovar os resultados, por
meio de estratégias de verificação. Espera-se que o aluno saiba calcular com
agilidade, utilizando-se de estratégias pessoais e convencionais, distinguindo
as situações que requerem resultados exatos ou aproximados. É importante
também avaliar a utilização de estratégias de verificação de resultados,
inclusive as que fazem uso de calculadoras.
Entretanto, observamos que os alunos não tem chegado ao 3º ciclo com essas
habilidades. Trabalhos como os de Saiz (1996), Cunha (1997), Castela (2005),
Agranionih et al (2009) e Cassiano (2011) desvendam algumas dificuldades de cálculo
e/ou interpretação dos alunos.
Diante dessa constatação, baseada em nossa prática docente e na troca de
experiências, resolvemos investigar as dificuldades relacionadas ao algoritmo da
divisão, quando há zero no quociente, trabalhando com a seguinte questão: Qual a
análise dos licenciandos sobre os erros dos alunos do ensino fundamental em questões
envolvendo o zero no quociente e suas propostas de intervenções pedagógicas? Nossos
principais objetivos foram: 1) Identificar, analisar e classificar os erros cometidos por
estudantes do 6º ano do EF em questões de divisão com zero no quociente; 2)
Compreender como licenciandos em Matemática e Pedagogia analisam os erros de
questões dos alunos participantes, suas hipóteses para os erros e possíveis sugestões
para evitar os mesmos; e 3) Suscitar questões sobre a formação de professores que
ensinam Matemática.
2 Percurso Inicial
Começamos aplicando um teste piloto com 80 graduandos em Pedagogia de duas
instituições de ensino superior (IES), sendo uma pública e outra privada. Observamos
que, mesmo os alunos que já haviam cursado a disciplina onde se trabalha a operação de
divisão, quando a questão envolvia decimais no dividendo e/ou divisor e/ou quociente,
surgiam muitas dúvidas. Mesmo os que respondiam corretamente, quando solicitados a
explicar algo referente ao algoritmo, como se fosse para uma criança de quinto ano, a
maioria hesitava. Alguns usaram o recurso de escrever no dividendo o algarismo que
representava a unidade, a dezena, a centena, etc, para depois ir escrevendo também no
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quociente a abreviação de cada ordem e seu algarismo correspondente. Isso se deve ao
fato das professoras que ministram as disciplinas de metodologia da Matemática nas
duas instituições terem enfatizado este modo de explicar.
Resolvemos então aplicar o teste piloto para 30 licenciandos em Matemática de
uma instituição pública diferente da que aplicamos o teste analisado. Observamos um
índice grande de acertos nas respostas. Todavia, poucos respondiam à pergunta que
sucedia aos cálculos: “como você explicaria os passos dessa questão para um aluno
seu?”
Optamos, então, por iniciar nossa investigação com alunos do sexto ano do ensino
fundamental objetivando primeiro identificar os erros dos alunos do EF para depois
apresenta-los aos licenciandos.
Após um teste-piloto feito com uma turma de sexto ano, aplicamos como
instrumento diagnóstico as quatro questões a seguir, para quatro turmas do sexto ano,
totalizando 89 alunos. O Quadro 1 mostra as questões com seus respectivos objetivos e
índice geral de acertos:
Questão Tipo, resolução e
índice geral de acertos
Objetivo(s)
1) Joaquim comprou uma
televisão de 42 polegadas que
custava R$ 3.540,00, parcelados
em cinco vezes iguais e sem
juros. Qual será o valor de cada
prestação que Joaquim deverá
pagar? Explicite seus cálculos
Divisão de naturais,
quociente inteiro. Resto
zero. Um zero no
quociente.
3.540/5 = 708
Acertos: 27%
Perceber se o aluno atenta
para o valor numérico
enquanto resposta ao
problema.
Verificar se ele escreve o
zero no quociente ou se o
omite.
2) Tia Josefina morreu e deixou
uma herança no valor de R$
14.210,00 para os seus sete
sobrinhos. Sabendo que cada
sobrinho receberá o mesmo
valor, quanto cada um ganhará?
Explicite seus cálculos.
Divisão de naturais,
quociente inteiro. Resto
zero. Dois zeros no
quociente.
14.210/7= 2030
Acertos: 17%
Investigar se o aluno
escreve ambos os zeros no
quociente.
Observar se, e como, o zero
do dividendo é “transferido”
para o quociente.
Verificar se os zeros dos
centavos influenciam no
cálculo.
3) Seis amigos foram viajar
juntos e o valor total de todas as
despesas ficou em R$ 654,42.
Quanto cada um terá que pagar,
sabendo que todos devem
contribuir com o mesmo valor?
Explicite seus cálculos.
Divisão de um nº
decimal por um nº
inteiro de um dígito.
Quociente do tipo
a0c,0d.
654,42 / 6 = 109,07
Acertos: 28%
Identificar como os alunos
resolvem uma divisão de um
nº decimal por um nº inteiro de
um dígito, cujo quociente é um
número decimal, com zero na
ordem das dezenas e outro
zero na ordem dos decimais.
Observar se o aluno usa a
regra “igualar as casas
decimais e cortar a vírgula”.
Observar se o aluno “corta
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4) Uma escola com 400 alunos
fará uma excursão. O custo total
será R$ 18.020,00. Supondo que
somente os alunos serão
pagantes, quanto cada aluno
deverá pagar? Explicite seus
cálculos.
Divisão de um inteiro
por outro inteiro de três
dígitos, sendo os dois
últimos zeros.
18.020/400 = 45,05
Acertos: 8%
os zeros” antes de efetuar a
divisão.
Investigar se o aluno ‘para’
a conta quando encontra o
resto 20 e não tem mais
algarismos no dividendo para
“abaixar”.
Verificar se os zeros dos
centavos influenciam no
cálculo.
QUADRO 1 – Questões aplicadas para os alunos do sexto ano com seus objetivos Fonte: as autoras.
Posteriormente, escaneamos as questões respondidas pelos alunos na pesquisa e
mostramos para 18 licenciandos em Matemática e 17 licenciandos em Pedagogia, para
que eles pudessem corrigi-las, com o seguinte enunciado: “Onde está escrito
comentário do avaliador, você deve: se estiver correto, parabenizar o educando; Se
estiver errado, tentar compreender o motivo do erro e explicar para o aluno (por
escrito) qual foi o seu erro e como evitar cometê-lo novamente”. O enunciado
completo, bem como as questões escaneadas estão no APÊNDICE.
3 Sujeitos da Pesquisa
As escolas Alfa e Beta são particulares e situam-se em dois diferentes municípios
da região metropolitana de Vitória, ES. Gama e Delta são escolas municipais de ensino
fundamental (EMEFs) que passaram a ter convênio com o PIBID do curso de
Pedagogia. E uma delas com o PIBID Matemática também.
A Escola Alfa integra uma rede com seis escolas no estado do Espírito Santo. Dos
22 matriculados, participaram da pesquisa 18 alunos, com faixa etária de 10 a 13 anos.
Na Escola Beta, a turma tem trinta alunos, com faixa etária de 10 a 13 anos, sendo que
28 participaram. Escola Gama: EMEF, com vinte e cinco alunos matriculados oriundos
de classes sociais diversificadas e faixa etária entre 10 e 12 anos. Todos os vinte e cinco
alunos participaram da pesquisa. Escola Delta: EMEF com trinta alunos matriculados,
vinte e cinco alunos frequentando, mas, somente dezoito participaram da atividade. Os
alunos, em sua maioria, são oriundos de classes sociais menos favorecidas e faixa etária
de 10 a 15 anos.
Os 18 licenciandos em Matemática cursam o último ano do curso, numa
instituição pública. Os 17 licenciandos em Pedagogia cursam do quarto ao nono período
na mesma instituição. Um ainda não cursou a disciplina Matemática II: conteúdo e
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metodologia e dois não cursaram nem a Matemática I. Todos da Pedagogia e alguns da
Matemática fazem parte do PIBID desta instituição. Os licenciandos receberam
codinomes de matemáticos famosos. Todos os nomes são fictícios e serão escritos como
sendo do gênero masculino.
4 Metodologia
O presente trabalho é de cunho qualitativo, classificado como estudo exploratório,
pois, de acordo com Gil (1996, p.45) estas pesquisas proporcionam “maior
familiaridade com o problema”.
Visando identificar os principais erros dos alunos dos sextos anos, utilizamos
quatro questões de divisão com zero no quociente, conforme já relatado. Em todas as
quatro turmas, a aplicação esteve a cargo do professor regente e com duração de 50
minutos.
Para as questões aplicadas para os educandos do sexto ano, usamos a metodologia
de análise de erros que, segundo CURY (2007, p. 63):
Na análise das respostas dos alunos, o importante não é o acerto ou o erro em
si – que são pontuados em uma prova de avaliação da aprendizagem -, mas as
formas de se apropriar de um determinado conhecimento, que emerge na
produção escrita e que podem evidenciar dificuldades de aprendizagem.
Assim, utilizamos o material coletado para categorizar os erros dos 89 educandos
dos quatro sextos anos avaliados. Não com o simples objetivo de quantificar o
percentual de erros e acertos, mas como uma “oportunidade didática para o professor”
no sentido de oferecer “indícios importantes para a identificação dos processos
subjacentes à construção conceitual” e “novos elementos para o professor refletir sobre
a sua prática” (PINTO, 2009, p. 139).
Para os licenciandos, utilizamos um questionário com perguntas abertas que
“permitem ao informante responder livremente, usando linguagem própria, e emitir
opiniões (MARCONI e LAKATOS, 2002, p. 101)”. As perguntas continham resoluções
escaneadas do teste com as crianças referentes às quatro questões por elas respondidas.
Todavia, aqui neste artigo, nossa análise restringe-se às respostas dos licenciandos no
que concerne a duas resoluções da questão 3 de dois alunos, aqui denominados Maysa e
Matheus. Havia também uma última questão, mais geral e abrangente, solicitando
sugestão de intervenção para a professora dos alunos que estavam errando as divisões.
Em relação a este instrumento de coletas de dados, usamos a análise de conteúdo,
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com recortes por temas. Para a definição das categorias analíticas, seguimos o modelo
aberto, onde, de acordo com Laville e Dionne (1999, p. 219) “as categorias não são
fixas no início, mas tomam forma no curso da própria análise”.
5 Análise dos dados coletados com os alunos do sexto ano
As categorias que emergiram em nossa análise das questões respondidas pelos
alunos dos sextos anos foram as que se seguem, sendo que a letra que está maiúscula e
em itálico, será usada como sigla da categoria:
RCA: Resposta e Cálculos corretos;
A: Ausência de cálculo e resposta;
Desistência: D1: só arma a conta e nada mais; D2: arma a conta, começa a resolução
e não termina.;
I: Interpretação equivocada do enunciado;
Q: Resposta eQuivocada, sem cálculo explicitado;
RCV: Resposta numérica Correta, com Vírgula no lugar errado;
CD: Considerou os Centavos como inteiros no Dividendo;
T: Tabuada: erros relativos à multiplicação que faz parte do algoritmo da divisão;
S: Subtração: erros relativos à subtração que faz parte do algoritmo da divisão;
Z: Zero no quociente: ausência do(s) zero(s), ou escrito de forma equivocada;
E: Estrutura do algoritmo: Outros erros decorrentes da estrutura do algoritmo,
diferentes dos três anteriores (multiplicação, adição e zero no quociente). Somente na
questão 4, utilizamos duas subcategorias: ED00: o aluno cortou um ou dois zeros do
400 (no caso o divisor) e/ou um zero do 18.020 (no caso, o dividendo); e R20:
considerou 20 como resto e não continuou a divisão;
O: Outros erros.
Devido às limitações quanto ao tamanho deste artigo, concentraremos nossas
considerações sobre os erros dos alunos nas questões três e quatro e o faremos por
escola pesquisada. Pelo mesmo motivo, analisaremos as respostas dos licenciados à
questão 3, tal qual mostrado no APÊNDICE.
A seguir, apresentamos uma tabela comparativa das escolas Alfa(α), Beta(β),
Gama(γ) e Delta(δ) por questão e pelas categorias de análise(Cat.). À exceção da
Categoria A, os outros percentuais foram calculados desconsiderando-se os alunos que
não responderam.
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Tabela 1: Categorização das respostas da questão 3, por escola.
N° Alunos
Cat Total %
18 28 25 18 89 100
RCA 3 12 8 2 25 30,10
A 1 - 2 3 6 6,75
D2 - 1 - 1 2 2,40
I 2 1 2 2 7 8,40
Q - 1 - - 1 1,20
RCV 1 - 1 - 2 2,40
CD 2 1 1 - 4 4,80
T 2 - 3 9 14 16,80
S - 5 - - 5 6,00
Z 10 12 10 5 37 44,50
E 1 - 3 9 13 15,60
5.1 Análise da questão 3 por escola.
Escola Alfa: A aluna Gabrielle respondeu todas as quatro questões usando a
multiplicação. A aluna Raissa fez a conta: . Dois alunos usaram a parte
decimal (42 centavos) como se fosse a parte inteira, e encontraram como resultado o
valor 1097, como mostra a resolução do aluno Matheus na Figura 1. Sete alunos fizeram
a conta dividindo por 6, mas em algum momento erraram a multiplicação,
comprometendo assim o resultado da questão. Cinco alunos fizeram a conta certa, mas
não colocaram o zero no quociente obtendo como resultado o valor 197, tal qual a
resolução da aluna Maysa na Figura 2. Se tivessem analisado melhor o resultado,
provavelmente constatariam que algo estava errado. Esses mesmos cinco alunos
também não colocaram o zero no quociente na questão 2.
Figura 1: Resolução do aluno Matheus Figura 2: Resolução da aluna Maysa.
Fonte: as autoras
Escola Beta: Nove alunos acertaram a questão, sendo que desses, dois fizeram a
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divisão sem usar a vírgula e na resposta final a colocaram. Nove alunos chegaram à
resposta 197. A maioria deles, da mesma forma que a aluna Maysa, tal qual mostrado na
Figura 2. Um aluno chegou ao resultado 109,08 e classificamos esse erro como de
tabuada, pois considerou que 8x6= 42.
Escola Gama: Sete alunos dividiram o valor das despesas por 6. Mas, erraram em
algum momento a estrutura do algoritmo e a tabuada, prejudicando assim o restante da
questão. Sete alunos consideraram o dividendo como sendo 65.442, como se a vírgula
não existisse, e não colocaram o zero no quociente, obtendo como resultado 197 reais.
Esse resultado foi muito comum nas outras escolas também. Um aluno dividiu 654 por
6 e encontrou 19, colocou a vírgula e dividiu os 42 centavos por 6, tendo como
resultado 7. Sua resposta foi então 19,7.
Escola Delta: A aluna Thais fez a conta toda corretamente, mas, não colocou a
vírgula no quociente, tal como mostra a Figura 3. Considerou assim, todo o resultado
como um número inteiro. Perguntamo-nos se a aluna pensou na plausibilidade do
resultado, uma vez que o resultado obtido foi maior que o valor total das despesas.
Figura 3: Resolução da aluna Thais Figura 4: Resolução do aluno Gabriel
Fonte: as autoras
Cinco alunos armaram a conta sem utilizar os 42 centavos, dividindo apenas o
valor de 654 por 6. Acertaram a conta que fizeram obtendo 109 reais, mas não
dividiram a parte decimal, mesmo se tratando de valor monetário. Uma resolução que
merece destaque é a do aluno Gabriel, como mostra a Figura 4. Provavelmente o que ele
pensou foi: se e então . Assim,
com resto = 6. Se ele tivesse observado que 42/6=7, o resto seria igual
a zero. Questionamo-nos: Por que ele faz a conta dessa maneira? Isso funcionou para
outros exercícios feitos em sala e ele achou que funcionaria para todos os casos?
Observamos que ele usou esse mesmo método para resolver também as questões 2 e 4.
Porventura se trata de uma estratégia equivocada que ele acredita ser correta?
Concordamos com Pinto (2009, p. 117) quando afirma que em situações
conflitivas, os alunos, “‘inventam’ regras para completar as tarefas, regras estas que
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acabam incorporando a seus esquemas. De simples erros ‘construtivos’, essas regras
transformam-se em ‘erros sistemáticos’, em razão das formas indevidas de apropriação
de alguns conceitos básicos”.
5.2 Comentários a respeito das questões resolvidas pelos alunos do sexto ano
Em todas as questões das quatro escolas pesquisadas, concordamos com SAIZ
(1996, p. 170), que também pesquisou dificuldades relacionadas à divisão, que “as
crianças carecem de recursos para reconhecer se sua solução é errada ou não. Na
realidade, não chegam a analisar se o número obtido é o resultado do problema”.
Pela análise das respostas, observamos que os alunos apresentaram dois erros
muito comuns na terceira questão. O primeiro deles consiste em considerar os 42
décimos como 42 inteiros, efetuando a divisão de 65442 por 6. Perguntamo-nos se os
alunos entendem a função da vírgula, que é de separar a parte inteira da decimal. Outro
erro muito comum e decorrente desse primeiro foi que, ao efetuarem a divisão de 65442
por 6, os alunos obtiveram como resposta o número 197, não colocando nenhum dos
dois zeros no quociente. Será que realmente acreditam que o número 197 é uma
resposta coerente para a conta 65442 por 6? Provavelmente, se fosse estimulado um
cálculo aproximado antes da resolução e/ou uma avaliação da plausibilidade do
resultado, muitos desses alunos teriam percebido a impossibilidade da resposta
encontrada.
Observamos (e comentaremos adiante) que a maioria dos licenciandos ao
analisarem os erros cometidos pelos alunos, não explicou a função do zero no
quociente, apenas sabiam 'pela regra' que ele deveria estar no quociente.
Importante ressaltar que, em relação ao baixo índice de acertos na questão 4 (8%),
acreditamos que, por ser uma divisão entre dois naturais resultando em um quociente
decimal, exige do aluno um conhecimento das propriedades válidas somente para os
naturais e das que são válidas também para os racionais. Sobre a construção do conceito
de números racionais e suas dificuldades, Moreira e David (2010, p. 67) afirmam:
Os significados das operações com os racionais se constroem a partir da
discussão e da análise de uma diversidade de situações concretas nas quais se
torna necessário reconhecer, comparar com o caso dos naturais e
reestabelecer relações entre os números, abandonar outras, inferindo-se, a
partir desse processo, a validade das propriedades.
V SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA 11 28 a 31 de outubro de 2012, Petrópolis, Rio de janeiro, Brasil
6 As respostas dos licenciandos em Matemática e Pedagogia
6.1 Resposta dos licenciandos referentes às questões de Matheus e Maysa
As categorias, com recortes por temas que emergiram das respostas à pergunta
sobre uma sugestão para que as crianças não errassem mais estão a seguir, divididas por
curso e por questão de análise das respostas do aluno Matheus e da aluna Maysa.
Após a análise das questões detectamos características marcantes na escrita dos
licenciandos. A primeira foi que os licenciandos veem a divisão como um conjunto de
regras a serem seguidas e que o algoritmo tradicional é a única forma de resolver. Logo,
se o aluno não seguir essas regras ele realizará a divisão errada. Nesse contexto,
concordamos com Zunino (1995, p. 189) quando diz que
“[…] não é ensinando a repetir definições e aplicar mecanismos não
compreendidos que as ajudaremos a entender o funcionamento do sistema.
Centrar o aprendizado da matemática na aquisição de mecanismos conduz
não somente a obstaculizar a utilização dos esquemas conceituais que as
crianças constroem, como também a desvirtuar o conhecimento matemático
em si.
A segunda é referente à explicação do algoritmo da divisão que na maioria das
vezes é feita de modo muito mecânico, especialmente no que se refere à vírgula e à
presença do zero no quociente. Para que o leitor possa visualizar melhor as frases mais
significativas a esse respeito, nós as sublinhamos. As respostas dos licenciandos
indicam que, em sua maioria, eles possuem um conhecimento parcial a respeito do
algoritmo da divisão. Sabem aplicar a regra e obter o resultado correto, mas não
conseguem explicar a lógica do algoritmo. Entretanto, a maioria não consegue
apresentar respostas plausíveis quanto às possíveis dificuldades que os alunos possam
ter em sua utilização.
Por último, mas não menos importante, observamos equívocos no que concerne
aos termos números inteiros, não-inteiros, fracionários e o conceito de números
racionais. De forma análoga, as frases que evidenciam tais observações estão em
negrito.
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Tabela 2: Sugestão dos licenciandos para que Maysa e Matheus não errem a divisão
Categoria, com recortes por temas Matemática Pedagogia Total
geral Maysa Matheus Maysa Matheus
Usou os termos unidade, dezena e
centena e valor posicional.
4 3 3 1 11
Explicou a função do zero como
representação da ausência de
quantidade.
10 2 1 - 11
Sugeriu usar a prova real ou operação
inversa como estratégia de verificação
da resposta.
1 1 3 1 6
Propôs o uso da regra “iguala as casas
decimais e corta a vírgula”.
4 6 - 1 11
Sugeriu usar o algoritmo de forma
mecânica, sempre restrito às regras.
17 11 6 3 37
Neste artigo, apresentaremos apenas exemplos de respostas dos licenciandos que
categorizamos como “sugeriu usar o algoritmo de forma mecânica, sempre restrito às
regras”. Os exemplos foram transcritos de forma literal, com grifo das autoras.
Algumas respostas dos licenciandos em Matemática, para a resolução de Maysa:
Bernoulli: “Os cálculos estão errados. Em primeiro lugar por não efetuar a
divisão de 5 por 6, que por sua vez é zero. Em segundo efetuar a divisão sem
respeitar a vírgula. O método correto é multiplicar o dividendo e o divisor por
100, pois depois da vírgula tem dois números. E dessa forma o dividendo se
tornará um número inteiro, e agora sim efetuar a divisão”.
Fermat: “Ao abaixar o 4, você deveria ter colocado um zero depois do 1 do
quociente. Daí, você abaixou o 4 (que não deu para dividir por 6) e abaixou o
2. Neste momento, você deveria ter colocado outro zero no quociente (depois
do 9) e finalizar (dividindo 42 por 6) com o 7 no quociente. Não esqueça de
colocar a vírgula no quociente.
Napier: “Maysa não observou que era preciso transformar o dividendo em
um número inteiro, acrescentando ao divisor mais duas casas (representada
pelo 0).
Laplace:“Errado. Maysa fique atenta à vírgula que você desprezou. Não se
pode dividir não-inteiros com inteiros”.
Galois: “A resposta e o algoritmo estão errados. Ao dividir 5 por 6, como não
era possível você deveria atribuir um zero ao quociente entre o 1 e o 9 e ainda
faltou a vírgula entre o 9 e o 7, pois você está trabalhando com dois tipos
de números, inteiros e fracionários”
Exemplo de respostas dos licenciandos em Matemática para a resolução de Matheus:
Apolônio: “Realizou quase tudo correto, no entanto na hora de fazer a divisão
da parte decimal não notou de ter que ‘andar’ com a vírgula no quociente. E
não realizou a conta conforme a regra que se há “número com vírgula” no
dividendo a vírgula terá que ‘sumir’”. Napier: “Errou ao dividir 4 por 6 e ao dividir um decimal por um inteiro.
Seus erros poderiam ser evitados se você tivesse transformado o dividendo
em um número inteiro e se tivesse colocado o (zero) no quociente ao dividir 4
por 6. (...) ele não observou que para dividir decimais por inteiros,
primeiro se transforma o número decimal em um inteiro aumentando as
casas decimais após a vírgula (neste caso o divisor), de acordo com a
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quantidade de casas decimais após a vírgula (no caso do dividendo)...” Laplace: “ Matheus errou pois não transformou os decimais em inteiros’.
Bernoulli: “errou por ter efetuado a divisão da mesma forma com
números inteiros...”
Newton:“Matheus, quando começamos a operar com algum algarismo que
está depois da vírgula devemos acrescentá-los ao quociente e podemos
prosseguir a conta sem “descer” a vírgula. Não erre mais isso, ok? A resposta
certa seria: R$ 109,07 ”
Respostas dadas pelos licenciandos em Pedagogia para a resolução de ambos os
alunos:
Pitágoras: “Lembre-se da regra quando você vai baixar um número que não
pode ser dividido porque é menor, você pode por o zero no quociente”
Da Vinci: “Matheus não chegou ao resultado correto pois provavelmente
esqueceu da regra”.
Tales: “Matheus não acertou porque provavelmente é um numero decimal,
pois antes da vírgula efetuou a operação corretamente”.
6.2 Sugestões dos licenciandos para intervenções pedagógicas.
A última questão tinha como enunciado: “Em linhas gerais, qual a sugestão de
intervenção pedagógica que você oferece para a professora Anita trabalhar a divisão
com zero no quociente com os alunos desta turma que você acabou de corrigir estas
questões?”
Participaram desta pesquisa 18 licenciandos em Matemática sendo que 17
responderam à última questão. Da pedagogia foram 17 licenciandos sendo que 16
responderam à última questão. Dois escreveram que estão cursando a disciplina
Matemática I e, portanto, ainda não tem suporte teórico para sugerirem atividades. Há
também uma que está cursando Matemática 2, mas não argumentou isso ao responder às
questões. Na categorização, há alguns licenciandos que se enquadraram em mais de uma
categoria.
Tabela 4: Sugestões dos licenciandos de Matemática (M) e de Pedagogia (P) para a
professora dos alunos em relação aos erros nas divisões com zero no quociente.
Categoria M P
Uso do material dourado, ábaco ou do QVL para explicar a divisão 9 7
Explicar a função do zero no quociente 6 2
Trabalhar noções de quantidade e só depois trabalhar com o algoritmo da divisão 5 1
Usar a Prova real para verificar a resposta 1 2
Rever o algoritmo/fazer exercícios em sala 4 5
Sentar/ouvir o aluno para analisar o seu erro e fazer as devidas intervenções. 3 -
Relembrar o que são números decimais e como realizar a divisão dos mesmos. 3 1
Exemplos de intervenções que a professora Anita (conforme enunciado da questão
no APÊNDICE) poderia utilizar de acordo com as opiniões dos licenciandos em
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Matemática.
Apolônio: “passar uma bateria de exercícios sobre isso; corrigir os exercícios
em sala de aula, sempre tirando as dúvidas; aplicar um teste selecionando
alguns exercícios da própria lista; corrigir o mesmo em sala de aula e
comentando os erros (forma geral); fazer atendimento individual, nos casos
excepcionais; para assim, aplicar uma avaliação”.
Napier: “A professor deveria voltar aos princípios da divisão, analisando-se
as classes (milhar, centena, dezena e unidade). Ela deve compreender que
algumas centenas não dão para dividir numa certa quantidade de partes então
ela deve transformar essa centena em dezenas. O resultado ela deve somar às
dezenas fornecidas pelo exercício e assim sucessivamente. Então se no
quociente não vai ter casas das centenas, então é preciso representá-las por 0
(zero). Isso ocorre nas demais classes. A professora também deve
compreender um pouco mais sobre a divisão de números decimais por
inteiros. Deve saber que a quantidade de casa decimais que se tem no
dividendo ou divisor ela deve acrescentar no dividendo ou divisor. Se a
quantidade de casas decimais no dividendo e divisor forem iguais então ela já
tem imediatamente números inteiros.”
Riemann: “sugiro que ela trabalhe a divisão com material dourado. E após os
alunos realizarem algumas atividades, ela passe para o algoritmo e mostre
que o raciocínio é o mesmo usando material dourado. Além disso, seria
interessante trabalhar com as crianças divisões com decimais usando notas e
moedas ‘ de mentirinha’, para eles perceberem a divisão.
Descartes: “mostrar aos alunos que a maioria dos erros ocorreu quando
acontecia o zero no quociente. Explicitar melhor as causas disso com eles, ou
seja, explicar melhor a divisão com o dividendo menor que o divisor e com
números decimais, utilizando o material dourado e jogos como auxílio no
aprendizado para fixar o conceito de unidade, dezena e centena e ábaco para
efetuar operações”. 1
Pascal: “A professora Anita, podia usar o material dourado para ensinar a
divisão. Passar vários exemplos de divisão com zero e pedir para cada aluno
fazer um, e ela pegar onde teve erros mais comuns e fazer em sala de aula,
explicando o passo a passo do algoritmo.”
Segue alguns exemplos de intervenções que a professora Anita poderia utilizar, de
acordo com as opiniões dos licenciandos em Pedagogia.
Kepler: “reforçar mais com os alunos o sistema de numeração decimal com
apoio do material dourado”.
Arquimedes: “o conceito de divisão já está estabelecido nas crianças. No
entanto falta atenção na hora de resolver a questão e uma opção bastante
interessante é a de verificação do resultado com a prova real”.
Leibniz: “Anita pode começar a divisão no papel e depois trabalhar com
material concreto, problematizando as questões de números menores
divididos por números maiores como por exemplo 4 dividido por 5”.
Euler: “A sugestão de intervenção seria a inserção de outros recursos
didáticos como, material dourado, ábaco e o QVL., para ensiná-los as ordens,
classes e valores posicionais. Pois acredito que apenas depois de entendido o
que significa unidade, dezena, centena e etc., será possível explicar que
termos como "abaixar", "vai um" e "pega emprestado" são na verdade
exercícios de agrupamento e desagrupamento e que na divisão o zero no
quociente significa que naquela determinada ordem a quantidade referida é
zero. Ainda como sugestão deve-se pedir que os estudantes façam a prova
real. Para que verifiquem se o resultado obtido está de fato correto”.
1 As sugestões do aluno Descartes são contraditórias quando comparadas com suas análises das
questões dos alunos, pois apresentou procedimentos mecânicos e enfatizou as regras.
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6.3 Comentários gerais a respeito das questões respondidas pelos licenciandos
Em relação à questão 3, observamos que tanto os futuros especialistas quanto os
generalistas, parecem acreditar que basta o aluno saber as regras que regem o algoritmo
tradicional da divisão para não errarem a conta. A hipótese mais comum para os erros
dos alunos levantada pelos licenciandos foi que o aluno errou porque não soube usar a
regra, ou aplicou a regra de forma errada. Concordamos com Zunino (1995, p. 11)
quando afirma que a maioria dos professores parecem “revelar que eles compartilham
uma conhecida concepção de ensino e aprendizagem: ensinar consiste em explicar,
aprender consiste em repetir (ou exercitar) o ensinado até reproduzi-lo fielmente”. Por
aparentemente ter também essa crença, os licenciandos não percebem o erro como um
processo de construção do conhecimento. Para os licenciandos é somente ensinando as
regras que os alunos irão entender o que e como se faz.
Acreditamos que a maioria dos licenciandos em Matemática possui essa postura,
pois ao passarem pelo ensino básico tiveram uma formação parecida com a que
reproduzem hoje e no ensino superior as disciplinas relacionadas ao ensino de
matemática na graduação, muitas vezes não são suficientes para modificar essa postura.
A função da vírgula em nosso sistema de numeração não foi destacada por
nenhum dos licenciandos. Ninguém chamou a atenção do aluno para a plausibilidade do
resultado. Na questão resolvida pelo aluno Matheus o resultado da divisão 654,42 por 6
foi 1097. Ou seja, se o cálculo mental fosse estimulado, se o aluno fosse incentivado a
realizar uma estimativa do resultado antes de partir para o algoritmo, esse tipo de erro
poderia ter sido evitado. A única estratégia de verificação sugerida foi a prova real ou a
operação inversa e isto por apenas 6 licenciandos, num total de 35.
Em relação à última questão, 9 sujeitos da Matemática e 7 da Pedagogia
sugeriram o uso do material dourado, ábaco ou do QVL para explicar a divisão.
Entretanto, aqui notamos algumas diferenças na forma de sugerir. Os da Matemática
eram diretos, como se fosse uma ordem: “use material concreto”, sem, contudo
explicitar como fazê-lo. Os licenciandos da Pedagogia, além de sugerir o material,
diziam para usá-lo com o objetivo de explicar e/ou revisar as características do nosso
sistema de numeração. Outra diferença foi na quantidade de licenciandos que explicou a
função do zero no quociente: 6 da Matemática e 2 da Pedagogia.
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Em relação aos licenciandos em Matemática, concordamos plenamente com
Moreira e David (2010, p. 74) ao afirmarem que:
A abordagem dos sistemas numéricos nas licenciaturas mostra-se, de modo
geral, inadequada. [...] Não costuma discutir as dificuldades dos alunos da
escola básica com os decimais, algumas delas já extensivamente estudadas e
referidas na literatura.
O Estudo de Curi (2005), por sua vez, aponta um dado preocupante: as disciplinas
da área de Matemática dos Cursos de Pedagogia possuem uma carga horária bastante
reduzida, com um máximo de quatro disciplinas. Em alguns cursos, porém, só existe
uma dessas disciplinas, Metodologia do Ensino de Matemática, correspondendo a
menos de 4% de um curso de 2.200 horas. Não há, assim, como romper o círculo
vicioso: inadequação na formação do professor que implica em inadequação na
formação do aluno que torna a implicar na formação inadequada do professor. Na
instituição pesquisada consta no currículo do curso de Pedagogia 120 horas de
Matemática de um total de 3.410 horas.
7 Perspectivas e Considerações Finais
Campos et al apud Cunha (1997, p. 16) investigaram o desempenho dos
professores do Ensino Fundamental I e II e verificaram que, “embora esses professores
tenham conhecimento de algoritmos, eles muitas vezes não possuem a compreensão dos
mesmos”.
Em nosso trabalho não usamos questões onde o dividendo é menor que o divisor,
tal como Castela (2005) discute. Não comparamos questões que envolvem os mesmos
cálculos contextualizados e de simples conta assim como Cunha (1997) faz. Não
procuramos identificar se os alunos estabelecem relações entre dividendo e divisor,
quociente e resto tal qual Cunha (1997) aborda. Tampouco, havia subtrações onde
algum algarismo do minuendo era menor que o do subtraendo. Como podemos ver há
um campo fértil a ser explorado com a divisão e questões relativas ao zero no quociente.
Procuramos analisar os erros com olhar questionador, que, de acordo com
Bortoloti et al. (2011, p. 2) é:
Dar voz ao que os alunos estão pensando e escrevendo sobre uma
determinada situação-problema. Em paralelo e/ou posteriormente procurar;
Encontrar o ponto “exato” ou mais próximo em que um conceito ou
procedimento foi construído de forma incorreta, apresentando falhas ou;
Descobrir que habilidades não foram desenvolvidas para resolver uma
situação proposta;
Rever e repensar sobre os procedimentos de ensino utilizados para explorar
determinado conceito visando com todas estas tentativas formas de planejar
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ações pedagógicas futuras que desestabilizem os erros cometidos e auxiliem a
construção e desenvolvimento de definições, conceitos e procedimentos
adequados e com significados.
Neste artigo apresentamos resultados do item (b), pois ao analisar as questões dos
alunos queríamos saber onde é o ponto exato que a maioria dos alunos erra, para depois
traçar intervenções que venham a dirimir as suas dúvidas. Em relação ao item (a) nosso
levantamento foi parcial, pois não tivemos a oportunidade de indagar os alunos para
saber como pensaram ao resolver a questão. Tal procedimento deverá ser objeto de
pesquisas futuras com outras características e com maior demanda de tempo.
Acreditamos que a análise de erros e o levantamento de dificuldades podem
ajudar o professor em exercício e o licenciando a pensar sobre algumas possíveis
dificuldades e obstáculos cognitivos a fim de que os alunos os minimizem ou não os
construam. E também, motivando discussões curriculares nas licenciaturas de
Matemática e Pedagogia. Nas primeiras, para repensarem a estrutura curricular, de
modo a levarem em conta a discussão de processos de ensino-aprendizagem de
conteúdos aceitos como sendo das séries iniciais, mas que, via de regra, exigirão do
futuro professor das séries finais do EF competência e estratégias para que seus alunos
construam tais conhecimentos. Ademais, pode ser uma forma de convencer o
licenciando de que, mesmo que ele saiba operar bem com os algoritmos, isso pode não
ser suficiente para o trabalho com alunos do ensino fundamental.
Uma das autoras, com sua experiência como docente no curso de Licenciatura em
Matemática, sempre questiona os alunos sobre as habilidades e conteúdos matemáticos
considerados das séries iniciais, em geral na disciplina de estágio supervisionado,
referente às séries finais do ensino fundamental. Infelizmente, ainda não há disciplinas
direcionadas a esse tipo de discussão no currículo do curso em questão. Concordamos
com Moreira e David (2010) quando levantam a necessidade das licenciaturas em
Matemática discutirem os algoritmos para as operações elementares com base na
realidade do processo de ensino e do aprendizado escolar.
Concordamos com Perón (2009, p. 15) que “até que um professor, cuja formação
foi deficiente, encontre melhores maneiras para ministrar suas aulas, ele terá cometido
uma série de equívocos em classe, dos quais os principais prejudicados serão os
alunos”.
Além disso, recomendamos que os licenciandos de ambos os cursos tenham um
contato estreito com a análise de erros como metodologia de ensino e pesquisa, como
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forma de pensar no erro como estratégia didática prevendo e, porque não, evitando
algumas dificuldades de cálculo de seus futuros alunos. Concordamos com Cury (2009,
p. 93) ao afirmar que
As pesquisas sobre erros na aprendizagem de Matemática devem fazer parte
do processo de formação dos futuros professores, pois, ao investigar erros, ao
observar como os alunos resolvem um determinado problema, ao discutir as
soluções com os estudantes, os licenciandos em Matemática estarão
refletindo sobre o processo de aprendizagem nessa disciplina e sobre
possíveis metodologias de ensino que vão implementar no início de suas
práticas.
Consideramos também que a pesquisa, quando realizada por sujeitos atuantes em
diferentes níveis de ensino, como foi a nossa, com professoras dos ensinos fundamental,
médio e superior, com uma docente pós-graduada, uma licenciada e uma professora
universitária, pode trazer um aprendizado muito rico para todas as envolvidas. Nesse
sentido, concebemos nossa pesquisa como cooperativa ou colaborativa, ou seja, que
conta com a participação de “todos os envolvidos numa prática investigativa, em que
todos cooperam ou colaboram na realização conjunta do processo de investigação que
vai desde sua concepção, planejamento e realização até à fase de análise e escrita do
relato final” (FIORENTINI, 2010, p. 53). Por isso, sugerimos que os currículos das
licenciaturas prevejam condições de espaço-tempo para o estudo e desenvolvimento de
pesquisas na formação inicial de docentes.
Estudos diagnósticos como estes propiciam a identificação de alguns
procedimentos que as crianças usam na resolução de problemas de divisão, permitindo
ao professor antecipar possíveis respostas equivocadas e propor intervenções diante
dessas respostas com contra-argumentos plausíveis para a faixa etária.
Ao final desta etapa da pesquisa, acreditamos que o problema maior não seja o
algoritmo da divisão, mas a não compreensão da função do zero e da vírgula em nosso
sistema de numeração. Portanto, sugerimos aos professores dos quintos e sextos anos
que trabalhem com seus alunos as características do nosso sistema de numeração
decimal e a função do zero na composição de qualquer número. E também, o papel da
vírgula em nosso sistema de numeração, que é a de separar a parte inteira da parte
decimal. Como foi mostrado aqui, na questão 3 proposta para os alunos do sexto ano,
muitos consideraram 654,42 = 65.442. Após revisar e sedimentar esses conceitos,
sugerimos que o professor faça divisões com material concreto, como por exemplo, o
material dourado e notas de dinheiro, valorizando mais o conceito do que o formalismo.
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A próxima etapa seria fazer simultaneamente a divisão com o material concreto e com o
algoritmo.
Importante ressaltar que nenhum dos graduandos sugeriu outros algoritmos para a
divisão diferente do tradicional.
Acreditamos que os dados aqui apresentados podem suscitar questões sobre a
formação de professores que ensinam Matemática no que concerne a metodologias de
ensino de conteúdos comuns aos quintos e sextos anos do ensino fundamental.
Recomendamos que os cursos de licenciatura prevejam tempo/espaço em seus
currículos para discussões mais aprofundadas acerca do processo de
ensino/aprendizagem dos conteúdos das séries inicias e do uso da análise de erros como
metodologia de ensino, pesquisa e como forma de aprimorar sua prática docente.
Ao final da pesquisa, as respostas dos graduandos foram devolvidas e discutidas
com a maioria dos participantes da pesquisa, com o objetivo de tornar o erro observável
e de contribuir para a sua formação docente. Mas isso é assunto para outra conversa...
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V SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA 21 28 a 31 de outubro de 2012, Petrópolis, Rio de janeiro, Brasil
8 APÊNDICE
Parte da atividade aplicada para os licenciandos
A professora Anita aplicou uma avaliação, com 4 questões, com o objetivo de verificar o
desempenho dos alunos do 6º ano no que se refere à operação de divisão com zero no
quociente. Os enunciados foram: (os mesmos aplicados para os alunos dos sextos anos)
A seguir, apresentamos algumas resoluções extraídas da avaliação aplicada, para você
corrigi-las, com o respectivo nome do aluno. Onde está escrito comentário do
avaliador, você deve: se estiver correto, parabenizar o educando. Se estiver errado,
tentar compreender o motivo do seu erro e explicar para o aluno (por escrito) qual foi o
seu erro e como evitar cometê-lo novamente. Escreva a caneta e não se identifique nas
páginas a seguir.
Para cada questão o enunciado era o seguinte:
Questão Y: Resolução do aluno X: (escaneada)
Comentário do avaliador:
Se o Aluno X não acertou, por que você acredita que ela errou? Qual a sua hipótese para o erro de
Aluno X?
F) Questão 3: Resolução do Matheus:
H) Questão 3: Resolução da Maysa: