equipos de infusÃo endovenosa – critÉrios de seleÇÃo

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS ESCOLA DE ENFERMAGEM EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO UTILIZADOS POR ENFERMEIROS EM UM HOSPITAL DE ENSINO DE BELO HORIZONTE LETÍCIA HELENA JANUÁRIO BELO HORIZONTE 2001

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Page 1: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

ESCOLA DE ENFERMAGEM

EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

UTILIZADOS POR ENFERMEIROS EM UM HOSPITAL DE ENSINO

DE BELO HORIZONTE

LETÍCIA HELENA JANUÁRIO

BELO HORIZONTE

2001

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LETÍCIA HELENA JANUÁRIO

EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

UTILIZADOS POR ENFERMEIROS EM UM HOSPITAL DE ENSINO DE BELO

HORIZONTE

Dissertação apresentada ao curso de Mestrado em

Enfermagem da Escola de Enfermagem da

Universidade Federal de Minas Gerais, como

requisito a obtenção do título de Mestre em

Enfermagem.

Orientadora: Professora Doutora Marília Alves

Escola de Enfermagem UFMG

Belo Horizonte

Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais

2001

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Januário, Letícia Helena J33i Equipos de infusão endovenosa – critérios de seleção utilizados por enfermeiros em um hospital de ensino de Belo Horizonte/Letícia Helena Januário. Belo Horizonte, 2001. ---p. ilust. Dissertação.(Mestrado).Enfermagem. Escola de Enfermagem da UFMG.

1. Equipamentos e provisões hospitalares 2. Bombas de infusão/utilização 3.Equipamentos descartáveis I.Título NLM: WX 147 CDU: 6l5.478

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LETÍCIA HELENA JANUÁRIO

EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO UTILIZADOS POR ENFERMEIROS EM UM

HOSPITAL DE ENSINO DE BELO HORIZONTE

Dissertação defendida e aprovada, em 21 de dezembro de 2001, pela banca examinadora constituída pelas professoras:

Profa. Dra. Marília Alves – Orientadora

Profa. Dra. Matilde Meire Miranda Cadete

Profa. Dra. Daclé Vilma Carvalho

Belo Horizonte 2001

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4

DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a minha filha Clarinha, com quem

descubro a cada dia uma surpresa da vida. Quem me

ensina, todo dia, ser feliz.

Page 6: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

AGRADECIMENTS ESPECIAIS

A Deus, pela natureza.

A minha família, Céli, Dona Eva, Senhor Jayr, Buza, Marcelinha

e Márcelo, pela paciência e pela colaboração que tornou

possível, a realização deste trabalho.

A minha avó e meus tios, pelas orações.

Ao Irmão Lopes (in memeorian).

A Maria José Cardoso Rodrigues (in mememorian).

Page 7: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

AGRADECIMENTOS

A Marília Alves, pela sabedoria e responsabilidade compartilhadas nessa trajetória.

Aos enfermeiros da Unidade de Terapia Intensiva do Hospital das Clínicas da

Universidade Federal de Minas Gerais, por terem facilitado esse trabalho colaborando,

em todos os momentos, para que o mesmo pudesse ser realizado.

A Maria Girlene e aos amigos professores, funcionários e alunos da Universidade

Estadual de Minas Gerais, UEMG/INESP câmpus Divinópolis, pelo apoio e incentivo

nos momentos mais difíceis.

Aos amigos professores, funcionários e alunos, da Escola de Enfermagem do Hospital

São João de Deus, pelo carinho tão disponível colocado a minha disposição durante toda

essa jornada.

Aos amigos do Hospital Público Regional de Betim, em especial, Amelinha, Maria

Julieta, Nair, Edna, Joana, Lacir, Aurelina, Regina, Luiz, Dênio e Cesar, que motivaram

a construção desse trabalho.

Aos amigos da ASASPE e CIEFAS, pela confiança e pela valorização do nosso trabalho.

Aos colegas do mestrado pela troca de experiências e apoio.

À Marli, pela amizade incentivadora.

A enfermeira Maria da Graça da Silva Costa, pelo carinho e pela disponibilidade em

contribuir com o nosso crescimento.

Page 8: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

A enfermeira Maria Cristina Couto Gonçalves, pelo carinho e pelo empenho em ajudar

na construção desse trabalho.

A Maria Carmem por ajudar-me a cuidar do caminho.

A Maria Salete Neme que me ensinou tanto!

À NATA pela amizade antiga alegre e criadora.

Ao Sérgio Magno por compartilhar comigo do melhor fruto que a vida pode dar.

A Edna Gonçalves pela amizade gentil e companheira de sempre.

A Sueli pela palavra certa e generosa do dia-a-dia.

Page 9: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

“De tanto olhar para longe, não

vejo o que se passa perto.”

Cecília Meireles

Page 10: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

SUMÁRIO

RESUMO

LISTA DE FIGURAS

1. INTRODUÇÃO............................................................................................................13

2. REVISÃO DA LITERATURA.....................................................................................21

2.1 Gestão de material médico-hospitalar......................................................................21

2.2 Características dos equipos de infusão endovenosa .................................................34

3. METODOLOGIA.........................................................................................................40

4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ..........................................48

4.1. Categoria I: Critérios de indicação de uso de equipos de infusão por enfermeiros...48

4.2 Categoria II : Avaliação e importância do equipo de infusão para os enfermeiros....59

4.2.1. Avaliação de equipos de infusão endovenosa ..................................................59

4.2.2 Importância do equipo de infusão endovenosa para os enfermeiros ..................68

4.3. Categoria III: Fatores que interferem com uso de equipos de infusão ...................72

4.3.1 Formação profissional do enfermeiro ...............................................................72

4.3.2. Custo e disponibilidade dos equipos de infusão endovenosa ............................75

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................82

6. ABSTRACT.................................................................................................................86

7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA...............................................................................88

8. ANEXOS .....................................................................................................................94

Page 11: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

LISTA DE FIGURAS

1. Equipo de infusão com acessórios................................................................................43

2. Equipo de infusão com bureta e acessórios ..................................................................44

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RESUMO

O equipo de infusão endovenosa é um material médico-hospitalar, considerado crítico do ponto

de vista da assistência, pelo seu potencial de risco para os pacientes e que é encontrado, no

mercado, em grande diversidade no que se refere à qualidade, preço e indicação de uso. Se mal

utilizados pelos profissionais o paciente pode sofrer danos irreversíveis decorrentes de

hipervolemia, alterações na concentração plasmática dos fármacos administrados e combinação

destes com a matéria prima utilizada na fabricação. O enfermeiro, como grande usuário de

equipos, deve estar atento quanto a sua indicação de uso em infusões endovenosas. Além disso, a

produção científica sobre o tema e a normalização, por parte dos órgãos governamentais, são

escassas. O objetivo deste estudo foi conhecer os critérios utilizados pelos enfermeiros para a

indicação de uso dos equipos de infusão. Realizamos um estudo de caso de natureza qualitativa,

no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais, cujos sujeitos foram

enfermeiros de uma Centro de Terapia Intensiva (CTI). Os dados foram coletados por meio de

entrevista semiestruturada e observação livre com registro em diário de campo e submetidos à

análise de discurso. Os resultados mostram uma realidade preocupante no que se refere à gestão

de materiais médico-hospitalares no contexto estudado, diante do baixo investimento na

capacitação dos profissionais e pouco conhecimento e fiscalização da legislação específica

existente sobre materiais, que colocam o hospital em situação de dependência dos fabricantes de

equipos. O enfermeiro, como profissional responsável pela indicação de uso de equipos no CTI,

reconhece a importância dos mesmos na assistência e conhece parcialmente os critérios de

indicação de uso de equipo. No entanto, não relaciona corretamente os componentes e acessórios

dos equipos que lhe permitem utilizar esse material de acordo com os critérios estabelecidos,

através dos conhecimentos práticos adquiridos na vivência profissional, uma vez que não há na

Page 13: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

12

sua formação relevância quanto a gestão de material. Os resultados apontam, também, para a

necessidade de investimento dos enfermeiros, das escolas de enfermagem e do hospital no

conhecimento sobre materiais e na produção de trabalhos científicos e do governo na elaboração

de legislação específica quanto a produção, comercialização e utilização de equipos de infusão e

de outros materiais médico-hospitalres.

Page 14: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

13

1. INTRODUÇÃO

O material médico-hospitalar de consumo, representado principalmente pelos produtos

descartáveis, é um grupo de material muito diversificado em qualidade, preço, apresentação e

recomendação de uso. O fornecedor oferece e de certa forma impõe o uso deste ou daquele

material, algumas vezes pela argumentação lógica dos seus propagandistas - nos casos de material

de maior custo – e, na maioria das vezes, pelo menor preço praticado. Diante dessa diversificação

o mercado se organiza, os grandes fornecedores se estruturam e investem em marketing e na

formação de profissionais que detenham conhecimento do produto de sua empresa e das empresas

concorrentes e que sejam capazes de criar necessidades no seu principal consumidor, que é o

hospital. Este consumidor, no entanto, na maioria das vezes, mostra-se incompetente nesta

relação, por não investir na formação de profissionais que detenham conhecimento da sua

realidade e que sejam capazes de escolher entre o material disponível no mercado, o de melhor

adequação às necessidades do hospital, com qualidade e menor custo. Estabelece-se dessa forma

uma relação viciosa entre fornecedor e consumidor: de um lado o conhecimento sobre material

direcionado pelo “marketing” e para o lucro, além da ampla diversidade de oferta, e do outro lado,

o pouco investimento em conhecimento e o objetivo de redução de custos, sem dominar a

tecnologia para fazê-lo.

Assim, o fornecedor estabelece o domínio da situação através de uma estrutura de

conhecimento sobre produtos e mercado. Em um primeiro momento, usa esse conhecimento para

definir uma estratégia de geração de consumo, através do “marketing”. Em seguida,

propagandistas são treinados a discursarem sobre características que dão relevância à imagem

positiva do consumidor, que utiliza determinado produto. Por exemplo, um fornecedor cria a

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imagem do seu produto como sendo aquele que vai salvar a instituição das infecções hospitalares.

Dessa forma, propagandistas apresentam, em termos técnicos, estatísticas de custos com

infecções hospitalares e o quanto se deixaria de gastar, com a aquisição do seu produto. Esse

investimento no marketing, por vezes, é tão superior ao conhecimento técnico apresentado pela

instituição, que adquirir o produto anunciado parece ser uma obrigação do hospital, ou que talvez,

ele seja o único que não detém conhecimento sobre a importância desse produto.

A nossa experiência profissional, como enfermeira responsável pelo controle de

qualidade de material médico-hospitalar – material médico-hospitalar, nesse trabalho, significa o

material de consumo, usado especificamente em função da assistência à saúde, excluindo-se

medicamentos e outros produtos químicos - em Hospitais da Região Metropolitana de Belo

Horizonte (RMBH), tem evidenciado que a grande maioria dos profissionais da área de saúde não

detém conhecimentos técnicos sobre o material que usa no seu dia-a-dia de trabalho. Podemos

perceber, por exemplo, profissionais de enfermagem usando equipo com filtro de partículas

(acessório de alguns equipos, que retém partículas de até 0,3micras, inclusive bactérias),

reclamando desta “marca” porque não “corre dieta enteral”, quando se sabe que a dieta enteral é

composta de macropartículas. Situações como estas inquietaram-me, principalmente pela

contradição que as envolve. Os enfermeiros na equipe de enfermagem são os profissionais da

equipe de saúde que executam procedimentos nos quais usam-se equipos de infusão, mas muitas

vezes parece que não estão preparados, não estão disponíveis, ou não são chamados para uma

discussão técnica sobre o material a ser adquirido e que estará a disposição para o uso em todas

as unidades de atendimento a clientela, uma vez que as compras, geralmente, são feitas em

grande quantidade.

Page 16: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

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Contribuindo e coexistindo com esta lacuna de conhecimento técnico, entre os

profissionais de saúde, no mercado de trabalho, encontramos a escassez de normalização técnica

quanto a produção, comercialização, aquisição e uso adequado do material, assim como também

é escassa a bibliografia referente ao assunto.

Outro fato que nos chama a atenção é a deficiência na formação acadêmica dos

profissionais da área de saúde, em especial do enfermeiro, no que diz respeito à gestão de

recursos materiais. O profissional enfermeiro, no hospital, convive com a exigência institucional

de assumir a gerência de material na sua unidade de trabalho, incluindo a emissão de parecer

técnico, além das suas atividades assistenciais, sem o devido preparo para a função. Percebe-se

que a formação do enfermeiro tem privilegiado o aspecto técnico do conhecimento de patologias,

metodologias da assistência, além da gerência dos serviços e as relações do profissional com a

equipe e com o usuário do serviço. Não há qualquer dúvida quanto à importância desses aspectos

na formação acadêmica, o que nos preocupa é o fato de não se dar a relevância devida ao

conhecimento do enfermeiro no que diz respeito às especificações técnicas, à otimização de uso e

à gerência do material que ele utiliza no dia-a-dia.

O enfermeiro é o profissional que, pela natureza do seu trabalho, tem a necessidade de

desenvolver a capacidade técnica de intervir administrativamente no modo de seleção e de uso de

material médico-hospitalar, especialmente o material de consumo, por ser o profissional que tem

contato com este grupo de material em toda a jornada de trabalho, praticamente em todos os

procedimentos específicos de enfermagem e também em procedimentos atribuídos a outros

profissionais. Este contato se dá em várias etapas do fluxo do material na instituição. Por

exemplo numa unidade de internação, frequentemente, é a equipe de enfermagem que faz a

previsão, a requisição, o recebimento, o armazenamento, a seleção de uso, o uso direto junto ao

Page 17: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

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cliente e o descarte ou reprocessamento. No entanto o enfermeiro, na equipe de enfermagem têm

ocupado apenas a posição passiva de solicitar, receber, armazenar e utilizar o material, além de

trabalhar com improvisações e/ou com padronizações que não são, rotineiramente, discutidas

tecnicamente nas instituições.

A capacidade de improvisação e a criatividade do enfermeiro são de grande importância

nessa relação técnica com o material. Mas parece que as discussões que dão relevância a estas

qualidades, seja em instituições de saúde, seja nas escolas, de alguma forma não valorizam a

necessidade do profissional de manifestar-se tecnicamente, inclusive desenvolvendo trabalhos

científicos sobre gerenciamento e uso de material.

Na execução dos procedimentos específicos de enfermagem encontramos uma enorme

diversidade de materiais em termos de qualidade, indicação de uso e preço, principalmente

quando se trata da administração de soluções endovenosas. Este procedimento chama a atenção

pela variedade de opções possíveis na montagem do sistema, desde a escolha do diluente,

passando pelos equipos intermediários, até o cateter de infusão. Sobre os diluentes encontramos

referências técnicas na área de farmacologia; sobre os cateteres, encontramos referência,

principalmente, relativas a indicação técnica devido a matéria prima do cateter1 e ao controle de

infecção nos serviços de saúde2. Mas sobre os equipos, a pouca referência encontrada diz respeito

ao tempo máximo de uso, do ponto de vista de controle de infecção. Não encontramos trabalhos

relativos à indicação técnica de uso.

1 CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Department of health and uman services: intravascular device-related infections prevention. Guideline availability notice. Atlanta, CDC, v. 60, n. 187. sep. 1995. 27 p.

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A finalidade de uso de um equipo é intermediar infusões, principalmente endovenosas,

que podem ser “gravitacionais” - cujo desempenho está relacionado com a ação da gravidade; e

“para bomba de infusão”- cujo desempenho depende, principalmente, do mecanismo de ação

deste equipamento. Na execução de uma infusão endovenosa, por exemplo, numa velocidade

entre 15 e 30ml/hora, o enfermeiro decide primeiramente, sobre a administração, se gravitacional

ou por bomba de infusão. O número de opções de equipos que podem ser usados chega a

ultrapassar 20 tipos, com recursos diferentes, e ainda podemos considerar que cada tipo tenha, em

média, 10 fabricantes diferentes.

O preço dos equipos para infusão gravitacional varia de R$0,60 (sessenta centavos) a

R$4,50 (quatro reais e cinquenta centavos). O preço dos equipos para bomba de infusão varia de

R$0,60 (sessenta centavos) a R$60,00 (sessenta reais), conforme consulta a um “Processo de

Compras” de um hospital público da RMBH, em novembro/99. Não tendo o enfermeiro uma

padronização técnica, fica difícil decidir por um equipo mais “caro” sem considerar que pode

estar desperdiçando recursos. Mas como decidir por um equipo mais “barato” sem duvidar da

qualidade? O equipo de infusão é o intermediário, do qual depende a precisão da infusão. Defeitos

bastante comuns na pinça de controle do gotejamento e/ou gotejadores diferentes do padrão

internacional, de 1ml = 20gts de água destilada a 25ºC, conforme a Associação Brasileira de

Normas Técnicas, ABNT (1998), podem colocar o usuário em risco de vida, por hipervolemia,

além de outros riscos, decorrentes da diferença de concentração plasmática da solução

administrada. Ainda temos que considerar a sua importância do ponto de vista do controle de

2 RICHTMANN, R. Prevenção e controle de infecções da corrente sangüínea relacionadas a dispositivos intravasculares. In: RODRIGUES, E. C. et al. Infecções hospitalares. São Paulo: Sarvier, 1997. Cap. 4, p. 191 – 202.

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infecção hospitalar, por tratar-se de uma conexão direta com uma punção venosa, devendo ser

analisado como um artigo crítico.

Segundo Castelar (1995), o gasto com material nos hospitais situa-se entre 20 e 30% do

total de recursos financeiros; para Castilho & Leite (1991), os recursos materiais, representam

entre 30 a 45% dos investimentos em insumos hospitalares. Mas a nossa experiência tem

mostrado uma tendência de aumento deste percentual, devido à velocidade do avanço tecnológico

e a mudança do perfil das internações hospitalares. Hoje, dada a maior ênfase ao atendimento no

nível primário, há seleção de doentes mais graves para o hospital, demandando recursos mais

complexos e mais onerosos.

Por outro lado, Serra 3, considera que, apesar da melhoria na execução do orçamento da

saúde, observada nos últimos anos, uma das formas de gastar mal o dinheiro público continua

sendo o desperdício dos recursos disponíveis (Serra, 1998). Parece-nos que uma parte desse

desperdício pode estar relacionada com a falta de conhecimento sobre material, por parte dos

profissionais de saúde. Não conhecer material descartável, por exemplo equipos de infusão com

injetor lateral, pode levar o profissional a utilizar um dispositivo como trhee way (conexão entre

equipo e cateter que permite mais de uma infusão simultaneamente), aumentando a manipulação

do sistema e, portanto, o risco de infecção, além do preço do procedimento, devido ao uso de um

material que poderia ser melhor aproveitado.

Nessa discussão de aspectos econômicos, os equipos de infusão estão inseridos com a

relevância dos itens que ocupam posição “A”, nas curvas ABC de valor e de consumo, no grupo

de materiais médico hospitalares. A curva ABC é um método de análise relativa de materiais, a

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partir de um fator, considerado importante para o administrador. Freqüentemente, utiliza-se esta

curva para estimativa do valor de consumo, por determinado período de tempo. Assim,

estabelecemos a importância relativa dos materiais definindo, primeiramente, um grupo de

materiais e o período de tempo a ser analisado; em seguida, a freqüência de uso de cada material

do grupo escolhido; depois, o valor unitário de cada material em análise e o gasto total com cada

material neste período. Finalmente, calcula-se o produto da freqüência de uso pelo valor unitário

de cada material, e os valores encontrados são colocados em ordem decrescente, para a

classificação em itens “A”, “B” e “C”, conforme a representação percentual do item, em relação

ao total de investimento financeiro da instituição neste grupo de materiais, no período

considerado. Como o fator de importância, aqui escolhido, é o valor de consumo, a atenção é

voltada para os itens colocados nos primeiros lugares, chamados itens “A”, uma vez que essa

colocação representa um gasto importante com esse item, em relação ao total de investimento

financeiro da instituição. Segundo Vecina Neto & Reinhardt Filho (1998), a curva ABC partiu da

verificação de que um pequeno número de itens representa uma grande quantidade do total de

recursos econômicos utilizados na administração de materiais; e um grande número de itens

representa uma pequena quantidade destes recursos. A classificação em itens A, B e C é feita pela

importância do resultado percentual, sendo assim definida:

Itens A: 5% dos itens em estoque, que representam 80% do

valor total de investimento financeiro em material

Itens B: 15% dos itens em estoque, que representam 15% do

valor total de investimento financeiro em material

3 SERRA, J. Discurso de posse no Ministério da Saúde. [S. l.], [s. n.]. Mar. 1998: Disponível em: <http://www.datasus.gov.br/cns/temas/tribuna/disSERRA.htm> Acesso em: 20 jan. 2001. Para José

Page 21: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

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Itens C: 80% dos itens em estoque, que representam 5% do

valor total de investimento financeiro em material

Os equipos de infusão quase sempre estão entre os 5% do total de itens que representam

80% do gasto institucional com material médico-hospitalar de consumo, por ser um item de alta

freqüência de uso e cujo preço unitário pode estar entre os mais elevados do grupo “A”. O equipo

de infusão é utilizado em todas as hidratações endovenosas, também chamadas de “soroterapia”;

em muitas administrações de medicamentos, nas diversas clínicas de atendimento a clientes

adultos; e na maioria das administrações de medicamentos endovenosos, em recém-nascidos e

crianças. Como a freqüência de troca não deve exceder a um período de 72horas, conforme o

CDC de Atlanta (1995), os equipos de infusão constituem um item de alto consumo nas

instituições hospitalares.

Diante do exposto, várias questões se colocam na tentativa de buscar compreender a

escolha e o uso de equipos de infusão no dia-a-dia do enfermeiro: que critérios o enfermeiro

adota para indicar o uso dos equipos de infusão? Como o enfermeiro se relaciona com a falta de

padronização técnica? Como ele avalia o custo/benefício na sua escolha por determinado

material?

A nosso ver, a pesquisa justifica-se pela escassez de produção científica referente ao

assunto, pela possibilidade de contribuir na formação acadêmica do profissional enfermeiro e

pela possibilidade de subsidiar o enfermeiro na indicação de uso técnico de equipos de infusão.

Assim, o presente estudo tem como objetivo conhecer os critérios adotados pelos

enfermeiros para indicar o uso de equipos de infusão endovenosa.

Serra, são duas as formas de gastar mal o dinheiro público: a corrupção e o desperdício.

Page 22: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

21

2. REVISÃO DA LITERATURA

2.1 Gestão de material médico-hospitalar

O cuidado com o material médico hospitalar, tradicionalmente, tem sido delegado a

pessoas sem formação específica e até mesmo sem aptidão para essa atividade. A escolha de

funcionários para o almoxarifado, freqüentemente, não é realizada através de um processo de

seleção centrado no conhecimento, habilidades e expectativas dos candidatos. Nesse sentido,

Vecina Neto & Reinhardt Filho (1998) incluem a falta de profissionalismo e a improvisação de

diretores no gerenciamento de materiais, como possíveis causas da falta de material no setor da

saúde. Os autores discutem a questão da falta de material, enfatizando a importância de um

diagnóstico adequado sobre as causas, para que se alcance eficácia na correção dos problemas

encontrados. Para eles, falta de capacitação e atualização do pessoal responsável por esses

recursos e a desmotivação de funcionários que objetivam apenas a manutenção do vínculo

empregatício contribuem significativamente para a falta de êxito da administração de materiais.

Na nossa experiência, identificamos que, muitas vezes, as vagas em unidades relacionadas a

material - Central de Material Esterilizado, Setor de Compras, além dos Almoxarifados - são

ocupadas por funcionários do próprio hospital, que por algum motivo, não deram certo em outros

setores da instituição, principalmente na assistência direta aos clientes. Também é comum a

lotação de funcionários nessas unidades, visando as necessidades de reintegração de funcionários

que adquiriram problemas de saúde que, de alguma forma, limitam o seu desempenho

profissional. Ou ainda, a lotação nesses setores pode ter uma conotação punitiva, para

funcionários que tenham, de alguma forma, desrespeitado normas ou a disciplina da instituição.

Ou seja, o setor de materiais é usado, freqüentemente, com uma possibilidade de solução de

Page 23: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

22

problemas de recursos humanos da instituição, embora não seja necessário que isso signifique a

origem de um outro problema, desde que a instituição invista na formação profissional desses

trabalhadores, para as novas atribuições.

Por outro lado, os funcionários do almoxarifado e setor de compras podem, também, ser

escolhidos como pessoas de confiança da direção. Nesse caso, freqüentemente, são vistos pelos

colegas de trabalho como bajuladores ou como indivíduos que são melhor remunerados para

exercerem a função de “redução de gastos”, quando dispensam apenas parcialmente as

solicitações de material. Não obstante, às vezes, são contratados ou promovidos, realmente com

esse fim e não passam pelo preparo técnico adequado, o que agrava ainda mais a questão da

gestão de materiais no hospital.

Nesse contexto, desenvolve-se a administração de material-médico hospitalar. Com

funcionários, geralmente, sem conhecimentos específicos e que se vêem detentores do poder e da

obrigação de decidir sobre a compra de materiais hospitalares, às vezes complexos, como as

órteses e próteses, às vezes caros como materiais de hemodinâmica e videoscopia, e quase

sempre diversificados como os materiais de consumo, de uso comum. Material de consumo, aqui,

deve ser compreendido como material cuja duração é menor que 2(dois) anos, conforme Castilho

& Leite (1991). Materiais de uso comum devem ser compreendidos como materiais que são

utilizados na rotina da maioria das unidades do hospital.

A falta de conhecimento técnico específico sobre material-hospitalar pode restringir a

própria função da administração de material, pois, muitas vezes, essa função fica limitada à

redução de custos e à provisão de material, sem uma análise pormenorizada da qualidade dos

mesmos. Para Endler (1979), a administração de materiais deveria centralizar a gestão de todas as

atividades desempenhadas em torno de materiais e atingiria seus objetivos, desde que pudesse

Page 24: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

23

garantir a apropriação conveniente de materiais e a otimização do atendimento, minimizando os

custos. A nosso ver cabe, também, à administração de material, a promoção da otimização do uso

dos materiais adquiridos, uma vez que na área de saúde, como já discutimos anteriormente, os

materiais são disponibilizados no mercado com grande diversidade. Para Vecina Neto &

Reinhardt Filho (1998), o objetivo básico da administração de materiais é colocar os recursos

necessários ao processo produtivo com qualidade, em quantidade adequada, no tempo correto e

com o menor custo. Esses autores proporcionam uma interessante reflexão, ao discutirem

também a função da administração de materiais diante de vários e conflitantes interesses, como o

ponto de vista do usuário, o ponto de vista da área econômico–financeira do comprador e o ponto

de vista dos fornecedores. Assim, o usuário:

“Deseja o material correto, em condições apropriadas de utilização,

entregue no lugar certo e a tempo de evitar a sua falta... que o tempo

despendido na entrega, fosse o menor possível e que se gastasse o

mínimo de tempo no preenchimento de formulários e seu arquivamento.”

(Vecina Neto & Reinhardt Filho, 1998:05)

Se considerarmos esse usuário como funcionários da instituição compradora, que lidam

com recebimento, armazenamento e distribuição de material, poderíamos acrescentar, como de

seu interesse, que a provisão aconteça sempre através dos mesmos fornecedores e com as mesmas

marcas, para diminuir o risco de erro na identificação do material. Se considerarmos esse usuário

como funcionários da instituição compradora, que usam o material nos procedimentos específicos

da assistência à saúde, poderíamos acrescentar, como de seu interesse, que o material lhe

proporcione o maior conforto, sem prejuízo da qualidade; e que na definição de qualidade desse

material esteja incluído o menor risco de erros e de iatrogenias ao cliente. E ainda, se

Page 25: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

24

considerarmos esse usuário como o cliente, a quem é prestado o serviço que envolve o consumo

de material, poderíamos acrescentar, como de seu interesse, que o material esteja em

conformidade com a normalização da sua seguradora de saúde; que lhe proporcione o maior

conforto, sem prejuízo da qualidade e que o custo seja o mais baixo possível. De qualquer forma,

para conceber-se o “material correto”, é necessário conhecimento específico sobre material, o que

na realidade não percebemos entre nenhum desses usuários.

Quanto aos interesses dos compradores, a área econômico-financeira Deseja adquirir o

material ao menor custo e maiores prazos de pagamento; busca uma redução do valor do

estoque e não quer que ocorrências relacionadas a materiais (como compras erradas, falta de

itens críticos, etc) sejam freqüentes. (Vecina Neto & Reinhardt Filho, 1998: 05). Concordamos

com os autores, em relação aos interesses dos compradores e enfatizamos que, se investissem na

formação de profissionais capazes de definir, com critério e conhecimento técnico, o que deve ser

comprado, diminuiriam a ocorrência de compras erradas e a falta de material crítico. Material

crítico, aqui, é considerado como material de alto consumo, cuja falta inviabiliza ou dificulta a

realização de procedimentos essenciais.

Quanto aos interesses dos fornecedores, esses desejam fornecer a maior quantidade de

material possível, vendê-lo ao maior preço, receber a curto prazo e não ter qualquer

responsabilidade futura a respeito da utilização dos itens. (Vecina Neto & Reinhardt Filho,

1998: 05). Também concordamos com os autores, quanto ao que tem sido interessante aos

fornecedores, e acrescentamos, ainda, que a falta de conhecimento do comprador contribui para o

alcance dos objetivos dos fornecedores.

Nesse jogo de interesses estabelecido, o conhecimento técnico específico aparece como

peça fundamental que tem colocado em “xeque” a competência dos hospitais no gerenciamento

Page 26: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

25

de material. Dada a diversidade de material disponível no mercado, entendemos que a etapa mais

complexa na aquisição talvez seja a seleção ou a definição dos itens a serem comprados, com

uma conseqüente indicação e orientação de uso. Como os hospitais, de um modo geral, investem

pouco na capacitação de pessoal para o gerenciamento da área de material, correm o risco de

comprar itens mais sofisticados e portanto mais caros que o necessário para atender à demanda da

sua realidade, aceitando a imposição dos fornecedores. Esse risco fundamenta-se numa estrutura

interna que não lhes permite discernir entre o necessário e o supérfluo ou incompatível com a

demanda.

Mas esse jogo tem ainda uma característica própria, que é a omissão do Estado como

regulador do mercado de comércio de material hospitalar. Diante dessa ausência notável, as

relações nesse mercado são estabelecidas de forma triangular, entre o fornecedor, a instituição de

saúde e o paciente - cliente, onde de certa forma a hierarquia de poder é determinada pelo

conhecimento específico sobre material hospitalar. O fornecedor, enquanto detentor do

conhecimento, impõe as regras que o favorecem e mantêm-no no mercado com produtos

diversificados e caros. A instituição de saúde, acomodada ao mercado, pouco conhece sobre o

material que compra, e o revende ao cliente. O paciente - cliente, por sua vez, quase sempre, não

tem nenhum conhecimento sobre material, nem mesmo sobre o mercado, mas é a quem cabe

pagar a conta final, seja através de desembolso do pagamento de planos de saúde, ou dos recursos

repassados pelo Sistema Único de Saúde, SUS (tributos pagos ao Estado e repassados às

instituições de Saúde como pagamento pelos serviço.).

Page 27: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

26

Tríade do mercado de material hospitalar

FORNECEDOR

CLIENTE (PACIENTE) INSTITUIÇÃO DE SAÚDE

A omissão do Estado enquanto entidade reguladora contribui para a manutenção da

situação favorável ao fornecedor e desfavorável ao cliente. Essa omissão é notada,

principalmente, pela falta de normalização técnica, pela escassa legislação referente à produção,

definição de qualidade e comercialização de material médico-hospitalar. Além disso, essa

omissão permite, diante da quase inexistência de fiscalização da qualidade dos materiais

disponíveis no mercado, a ação criminosa de pessoas, em várias instâncias, como tem sido

veiculado pelos meios de comunicação. Foram divulgadas, recentemente, situações nas quais

pessoas inescrupulosas recolheram material hospitalar do lixo, reprocessaram e venderam-no a

instituições de saúde, que o recolocaram em uso, e cobraram de clientes, como se o material fosse

novo.

A falta de normalização técnica sobre material médico hospitalar, de certa forma,

permite que apenas os fornecedores de material e os hospitais, ou instituições de prestação de

serviços à saúde, decidam sobre qual material deverá ser negociado para o atendimento aos

clientes. Dessa forma, as discussões tendem a girar em torno de preços e prazos, omitindo-se

importantes aspectos como a segurança para os profissionais de saúde, para os clientes e para o

meio ambiente. Maeda & Campedelli (1991) discutem que a ausência de normas técnicas pode

ser a provável causa da presença de materiais defeituosos no mercado. Certamente, a criação de

Page 28: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

27

legislação específica que regulasse a produção e levasse à sanção empresas que a descumprissem

e uma fiscalização rigorosa da qualidade dos produtos comercializados contribuiriam

significativamente para a regulação do mercado.

A falta de normalização técnica e/ou o descumprimento das poucas normas existentes é,

também, um fator que contribui, de forma significativa, para a grande diversidade de material

existente no mercado. Novos materiais são lançados no mercado, numa velocidade tão alta que

torna-se quase impossível o acompanhamento e a avaliação dos mesmos. No entanto esse

aumento na produção de novos produtos e marcas, na ausência de normalização específica que

discipline a qualidade de materiais a serem comercializados, não significa ampliação do espectro

de escolha para os profissionais de saúde. Ao contrário, como afirmam Silva; Fernandes &

Gonçalves (1994), o vasto contingente de materiais que é lançado no mercado dificulta a análise

de desempenho e a validação da sua qualidade.

Se por um lado, a diversidade da qualidade dos materiais sugere a possibilidade de

escolha entre modelos e fabricantes diferentes, por outro, não estabelece uma relação

proporcional ao custo, ou seja, o material de maior preço não significa, exatamente, o de melhor

qualidade. Da mesma forma, o material de menor preço também não significa o de pior

qualidade. Muitas vezes, essa diversidade culmina por induzir profissionais ao uso, até

desnecessário, de materiais de tecnologia mais avançada ou mais caros, quando poderia atender à

demanda com eficiência, usando materiais menos onerosos. Nesse sentido, Bayne (1997) coloca

que o preço de uma infusão endovenosa varia, com frequência, sem muitas vezes estar

relacionado com as necessidades clínicas do cliente, referindo-se ao uso de bombas de infusão,

em vez de sistemas mais simples, para infusão de antibióticos. Para o autor, a instabilidade do

quadro clínico do paciente deve ser o principal critério de indicação de uso de bomba de infusão.

Page 29: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

28

Para pacientes estáveis, atendidos nos ambulatórios, o autor recomenda uma análise do preço da

tecnologia empregada, pois a indicação de equipamentos mais avançados tecnologicamente pode

estar constituindo-se em desperdício de recursos, ou servindo como um fator de aumento do

lucro industrial.

A convivência com esta situação torna-se pacífica por parte dos profissionais de saúde,

uma vez que esses, de um modo geral, têm poucas informações sobre o custo real de materiais.

Nesse sentido, Silva; Fernandes & Gonçalves (1994) descrevem que os profissionais

responsáveis pela assistência direta envolvem-se pouco com o gerenciamento de custos

hospitalares e também que essa falta de envolvimento e o desconhecimento das questões relativas

aos custos não estão restritos aos profissionais que prestam assistência direta aos clientes, mas

estende-se a todo o corpo administrativo e gerencial dos hospitais. Na nossa percepção, os

profissionais de saúde, freqüentemente, envolvem-se mais com as questões assistenciais, do

ponto de vista clínico, que com as administrativas. Envolvem-se menos ainda com as questões

relativas a material. Entre os possíveis fatores que influenciam essa postura profissional, parece-

nos destacar a falta de conhecimento específico e a falta de interesse, uma vez que o enfermeiro

não se vê valorizado profissionalmente atuando na área administrativa. O enfermeiro recebe na

sua formação acadêmica e durante a sua trajetória profissional maior reconhecimento e

valorização profissional, quando se especializa ou aprofunda seus conhecimentos e habilidades

técnicas no cuidado ao paciente. Uma forma de ilustrar essa valorização é a oferta de cursos de

diversas modalidades, enfocando conhecimentos e habilidades técnicas, como atualização,

especialização em UTI, Nefrologia, Pediatria, Saúde Pública, entre outros. Ao contrário, a

oportunidade de ampliar conhecimentos na área de administração, apesar de percebermos uma

tendência de aumento, é escassa e, quase sempre, a oferta é de um conteúdo genérico ou de

Page 30: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

29

administração de recursos humanos. Em relação a materiais hospitalares, de consumo, os cursos

são, em sua maioria, relacionados ao controle de reprocessamento, ou seja, enfocando uma

habilidade técnica e não o gerenciamento mais amplo ou conhecimento específico sobre

indicação e otimização de uso. A apresentação de trabalhos científicos nos congressos de

enfermagem, freqüentemente, aborda conhecimentos e habilidades técnicas do enfermeiro, com

um percentual quase inexpressivo de trabalhos sobre administração de material. Por exemplo, o

7º ENFTEC, que teve como tema central o gerenciamento de custos maximizando a assistência

de enfermagem, possui em seus anais eletrônico, o total de 157 trabalhos científicos publicados,

sendo que apenas 30, são relacionados a administração em enfermagem e destes, somente 06

(3,82% do total de trabalhos) relacionados à administração de materiais, sendo que apenas 04

(2,54% do total de trabalhos) referem-se a material médico hospitalar de consumo, e apenas 02

(1,27% do total de trabalhos) desses, abordam aspectos técnicos dos materiais (ENFTEC, 2000).

A formação de profissionais na área de saúde vem, de certa forma, contrariando o

diagnóstico da saúde coletiva, - que aponta para a demanda de serviços de nível básico – ao

formar profissionais dependentes do avanço tecnológico para a assistência individual. Uma

evidência dessa dependência do emprego da tecnologia de ponta no atendimento à saúde pode ser

considerada pelo número de aparelhos de ressonância magnética existente na cidade de São

Paulo que, segundo Cerri (1997), é maior que o número desse equipamento existente em todo o

Canadá. Em relação ao material médico-hospitalar, a formação profissional ostenta uma outra

contradição: se, por um lado, atende a imposição do mercado, no que diz respeito à absorção de

tecnologias, por outro, os profissionais têm dificuldade de desenvolver conhecimentos técnicos

para definir a relação custo/benefício dos insumos que a tecnologia demanda e que o mercado

disponibiliza em grande diversidade. Assim, a formação profissional na área de saúde mostra-se

Page 31: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

30

inadequada à realidade social, em face do diagnóstico da saúde coletiva, mas também não se

mostra competente ao colocar no mercado de trabalho profissionais que só conseguem realizar

seu trabalho em instituições de saúde com sofisticados equipamentos, nem sempre necessários.

Percebe-se que, diante de todo o avanço tecnológico, o profissional encontra dificuldades na

administração desses recursos e na forma de viabilizá-los economicamente, uma vez que isso não

foi aprendido na escola. Esse processo torna a assistência à saúde cada vez mais cara e refém dos

que dominam a tecnologia, os fornecedores. Nesse sentido, Cerri (1997) coloca que não conhece

hospitais que estabeleçam taxas de cobrança de serviços prestados, com embasamento técnico,

uma vez que os custos dos serviços são desconhecidos. O autor afirma, também, que na maior

parte do país as remunerações hospitalares são baixas, sendo por isso compensadas com a

comercialização de materiais. Essa colocação, por um lado é coerente, pois, se não há

investimento na capacitação de funcionários para avaliação das necessidades reais da instituição,

dificilmente se terá um diagnóstico ou embasamento técnico, para valorizar os serviços

prestados, ou até mesmo, para saber o quanto eles realmente custam. Por outro lado, ganha um

tom de denúncia de um mecanismo de aumento do preço da assistência a saúde, por meio da

comercialização de materiais pelos hospitais, pois os materiais utilizados na assistência, que já

são naturalmente caros, passam por mais um intermediário, aumentando o custo para o cliente

final.

Nos hospitais, entre as equipes técnicas, a enfermagem é a equipe que lida com o maior

número de materiais. Segundo Silva; Fernandes & Gonçalves (1994), nenhum outro profissional,

na área hospitalar, está tão diretamente ligado a materiais, como o enfermeiro. Para Ortiz. &

Gaidzinski (1999), a enfermagem desempenha um importante papel em relação aos materiais de

consumo, sendo notória a necessidade de conhecimento sobre o custo dos materiais que utiliza.

Page 32: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

31

Apesar disso, na formação profissional do enfermeiro não há ênfase na administração de material,

o que nos parece uma contradição diante das funções que serão desempenhadas pelo enfermeiro.

Madureira (1993) identificou que a aprendizagem do manuseio de equipamentos clínicos, por

enfermeiros de CTI, acontece informalmente, através de colegas durante os plantões,

considerando que os enfermeiros não são devidamente preparados e treinados profissionalmente

para o manuseio destes equipamentos. Essa realidade coloca o enfermeiro exposto a possibilidade

de erros que podem desencadear danos ao equipamento, prejuízos com manutenção e ainda

proporcionar risco de iatrogenias ao cliente. O enfermeiro é, ainda, o profissional responsável

pela qualidade do reprocessamento de todo o material hospitalar reprocessável, além de estar

envolvido, em quase todos os procedimentos específicos, com materiais e equipamentos. Portanto

o seu conhecimento sobre material pode mudar o rumo da administração hospitalar, envolvendo

custos e qualidade da assistência, núcleos extremamente valorizados pela administração

contemporânea, pois o envolvimento indireto da equipe de saúde na administração desses

recursos é uma faceta pouco explorada e sobretudo, pouco conhecida da própria equipe e diz

respeito, principalmente, à utilização dos materiais no dia a dia. (Silva; Fernandes & Gonçalves,

1994: 163).

Entre os procedimentos específicos de enfermagem, encontra-se a infusão de soluções, a

qual está entre os procedimentos que apresentam a maior diversidade de opções de material. Essa

realidade tem levado, também, à maior diversidade de condutas. A montagem de um sistema de

infusão é oferecida no mercado com os mais diversos níveis de qualidade, principalmente, no que

se refere a cateteres para punção periférica, como os escalpes e os com cânula curta de

poliuretano ou teflon, e os equipos. Quanto aos cateteres, apesar da diversidade, a avaliação da

qualidade pode ser embasada em critérios mais concretos, como a facilidade de perfuração da

Page 33: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

32

agulha, presença de infecções de ponta de cateter, além das conexões. Em relação aos equipos, a

avaliação da qualidade tem sido feita, basicamente, em função das conexões com os frascos de

soluções e com os cateteres, omitindo-se, freqüentemente, a avaliação de aspectos importantes

como a precisão do gotejamento. Segundo Lonnqvist & Lofqvist (1997), em experimento sobre a

adequação das condutas referentes às bombas de infusão de seringas de uso neonatal, a elevação

do equipamento provoca alterações no sistema que podem expor os pacientes a grave risco de

vida, por provocar alterações na velocidade de infusão das soluções. Os autores sugerem, com a

finalidade de evitar a exposição a esse risco, quando da infusão de drogas potentes, que esses

equipamentos não sejam mudados de posição, evitando-se principalmente o deslocamento

vertical da bomba infusora de seringa. Sugerem também que antes de se adquirir bombas de

infusão de seringa, que estas sejam avaliadas e testadas por uma banca de testes, quanto às suas

características.

Nacimento (2000), em trabalho com objetivo de argumentar em favor do sistema

fechado para infusão endovenosa, ressalta a importância dos cuidados com equipo de infusão,

inclusive relativos à freqüência de troca, como medida profilática contra flebites. Sistema

fechado, conforme a autora, é o sistema de infusão em que, devido à necessidade de manutenção

da esterilidade do circuito, o equipo não é desconectado, senão para a troca em casos de

danificação ou contaminação do mesmo. Além disso, o equipo deve ser equipado com

dispositivo de borracha autocicatrizante, para injeção de soluções concomitantemente, sem a

necessidade de desconexão do mesmo. A autora refere que a troca de equipo, sem remoção do

cateter de infusão, torna-se impossível sem um potencial mínimo de contaminação uma vez que

envolve refluxo de sangue. Concordamos com a autora e acrescentamos que, no nosso entender,

Page 34: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

33

o sistema torna-se aberto a cada injeção de medicamento, mesmo com técnica asséptica, e a cada

troca do frasco de solução de hidratação venosa, mesmo com técnica asséptica.

Maeda & Campedelli (1991) desenvolveram interessante estudo sobre a opinião de 75

enfermeiros quanto aos requisitos de qualidade para escalpes e equipos de soro, em 6 hospitais da

grande São Paulo. As autoras concluíram que os enfermeiros demonstraram conhecimento quanto

às características de qualidade dos materiais em estudo. Também apresentaram a figura de um

equipo, criada a partir dos itens relevantes apontados pelos entrevistados (os que foram citados

por pelo menos 40% do grupo de enfermeiros ou de chefes/diretores). Ao contrário, Vieira &

Soler (2000), identificaram em estudo realizado com a equipe de enfermagem de pediatria que a

maioria dos entrevistados sabe avaliar as características de qualidade da “agulha com asa”, mas o

mesmo não acontece com “cateter sobre agulha” e equipos.

Para Dias & Candido (2000), existe uma provável desvalorização, por parte da equipe de

enfermagem, do equipo enquanto instrumento de controle da infusão, o que foi identificado pela

falta de registros da enfermagem, nos prontuários, sobre os equipos utilizados nos sistemas de

infusão. No mesmo estudo, as autoras referem ter encontrado 59,09% dos pacientes com soro

recebendo um fluxo diferente do prescrito, sem qualquer registro de enfermagem referente a esta

ocorrência.

Da Poian & Aquino (1983) realizaram estudo quanto à precisão dos equipos das 5

marcas encontradas no mercado na época do experimento. Todas as marcas testadas apresentaram

um percentual de erro, o que levou os autores a concluírem que os fabricantes não observavam o

padrão de 20 gotas = 1ml. Por esse motivo, os autores estabeleceram um “fator de gotejamento”

para cada equipo, o que permitiria corrigir-se a diferença entre o padrão usado para indicação da

infusão e o fluxo real observado no teste dos equipos.

Page 35: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

34

2.2 Características dos equipos de infusão endovenosa

Equipo de infusão é definido pela ABNT, como dispositivo para infusões endovenosas

de uso único, estéril e apirogênico (ABNT, 1998: 01). Classificado, conforme o Decreto n.

79.094 de 05 de janeiro de 1977, como correlato, ou seja,

Substância, produto, aparelho ou acessório não enquadrado nos

conceitos anteriores, cujo uso ou aplicação esteja ligado à defesa e

proteção da saúde individual ou coletiva, à higiene pessoal ou de

ambientes, ou a fins diagnósticos e analíticos, os cosméticos e perfumes,

e, ainda, os produtos dietéticos, óticos, de acústica médica, odontológica

e veterinárias. (BRASIL, 1977)

O equipo de infusão também pode ser enquadrado na classe 3 (alto risco) conforme a

Portaria n. 2.043 de 12 de dezembro de 1994, que institui o Sistema de Garantia da Qualidade de

produtos correlatos submetidos ao regime da Lei nº 6.360, de 27 de setembro de 1976 e o Decreto

nº 79.094, de 05 de janeiro de 1977 (Ministério da Saúde, 1994). Essa Portaria enquadra

correlatos, para fins de registro ou isenção, no Ministério da Saúde, segundo o potencial de risco

que representam à saúde do usuário, seja paciente ou operador, nas classes 1(baixo risco), 2

(médio risco) ou 3 (alto risco), em conformidade com regras estabelecidas na mesma portaria.

Conforme definições da portaria, são enquadrados na classe 3 (alto risco), os produtos que por

necessitarem do emprego de procedimentos e técnicas especiais de produção, bem como de

cuidados ou precauções em seu uso ou aplicação, representam alto risco intrínseco à saúde de

seus usuários, seja paciente ou operador (Ministério da Saúde, 1994). A Regra 17 enquadra na

classe 3 todos produtos médicos invasivos destinados ao contato direto com o coração, sistema

circulatório central, ou sistema nervoso cerebral (Ministério da Saúde, 1994). A Portaria

também apresenta outras 3 (três) definições para implementação das regras,

Page 36: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

35

Os produtos médicos e seus acessórios enquadrados em classes distintas,

quando integrados ou conectados terão seu conjunto enquadrado na

classe mais crítica alto risco; o produto médico destinado a diferentes

usos ou aplicações no organismo humano, deverá ser classificado

segundo seu uso ou aplicação na classe mais crítica e caso duas regras

sejam aplicadas a um mesmo produto médico, com base nas

especificações fornecidas pelo fornecedor, este produto deverá adotar a

regra que o enquadra na classe mais crítica. (Ministério da Saúde, 1994)

Assim, o equipo de infusão pode ser enquadrado como um correlato de alto risco, uma

vez que é uma conexão que entra em contato com cateteres, em procedimentos invasivos, que

entram em contato direto com o sistema circulatório central e/ou com o coração.

O equipo de infusão (FIG. 1 e 2), é constituído de várias partes, algumas essenciais,

como a ponta perfurante(1), a câmara de gotejamento(5), o tubo de gotejamento ou gotejador(4),

o tubo ou extensão(9), o regulador de fluxo(10), conector macho(13) e os protetores, da ponta

perfurante(2) e do conector macho(14); e outras opcionais, que podem ser essenciais, conforme o

procedimento de infusão, como o dispositivo de entrada de ar lateral, com filtro(3), filtro de

retenção de partículas ou filtro de fluido(8), injetor lateral de medicamento(11) e bureta

graduada(7, FIG. 2). Freqüentemente o equipo possui também um outro acessório, o flash

ball(12), para o qual não percebemos uma utilidade significativa.

As variações do sistema significam, na maioria das vezes, uma alternativa diferente de

equipo de infusão, como equipo para frascos rígidos ou frascos que colabam, cuja variante é a

presença do dispositivo para entrada lateral de ar com filtro. Conforme ABNT(1998), deve-se

usar equipo com esse dispositivo nas administrações de soluções envasadas em frascos rígidos,

sendo que em caso de envase em frascos que colabam, dispensa-se esse dispositivo. Equipo com

Page 37: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

36

ou sem bureta graduada, conforme Phillips (2001), de micro ou macrogotas. Equipo de

polietileno, ou de PVC, com ou sem filtro de retenção de partículas, com ou sem injetor lateral,

com câmara de gotejamento flexível ou rígida, com conector luer (ou luer lock) macho, com ou

sem proteção contra luz, conforme Januário & Alves (2001).

A escolha adequada deve considerar os seguintes aspectos: a velocidade da infusão

prescrita pelo médico, o volume total da solução a ser infundida, o tempo de infusão, o acesso

venoso e as características específicas do fármaco e/ou solução.

A finalidade de uso de um equipo é intermediar infusões, principalmente, endovenosas.

As infusões endovenosas podem ser “gravitacionais” cujo desempenho está relacionado com a

ação da gravidade e “para bomba de infusão”, cujo desempenho depende, principalmente, do

mecanismo de ação deste equipamento. Podem ser de macrogotas ou de microgotas, conforme a

relação volume/tempo (gotas/minuto) prescrita, o que implicará na seleção de um equipo com

gotejdor adequado. O volume da gota dispensada pelo gotejador normalizado pela ABNT, deve

assegurar que 20 gotas de água destilada, a 20ºC e com um fluxo de (50 ± 5) gotas/min, seja

equivalente a (1 ± 0,1)ml ou (1 ± 0,1)g. O volume da microgota, conforme ABNT, é igual a 1/3

da gota assim, o gotejador deve assegurar que “60 microgotas de água destilada, a 20ºC e com

um fluxo de (50 ± 5) microgotas/min, seja equivalente a (1 ± 0,1)ml ou (1 ± 0,1)g. (ABNT,

1998: 03)

As características que determinam a qualidade de um equipo de infusão são apresentadas

pela NBR 14041 da ABNT(1998), como requisitos para confecção, componentes, esterilidade,

características físicas, químicas e biológicas. Para cada um dos requisitos citados, a normalização

apresenta um método de ensaio para avaliação da eficiência do item em questão. Os ensaios

apresentados, de um modo geral, exigem laboratórios com equipamentos específicos e preparo de

Page 38: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

37

profissional para realização e avaliação dos resultados obtidos, condições essas que não fazem

parte da realidade das nossas instituições. Não obstante, conforme Januário & Alves (2001), a

prática profissional, a experiência em administração de soluções endovenosas possibilitam a

identificação de características de qualidade de um equipo que podem ser avaliadas com o

mínimo de recursos e de forma mais imediata. Assim, a ponta perfurante deve possuir adaptação

universal a frascos, frascos-ampola e bolsas e a câmara de gotejamento, além de ser transparente,

deve ser flexível, de forma a permitir o estabelecimento de um depósito da solução a ser

infundida, para diminuir o risco de infusão de ar retido no frasco de solução. O gotejador deve

dispensar gotas com volume normalizado pela ABNT(1998), conforme já discutido. O tubo, ou

extensão de PVC (ou polietileno, em caso de drogas específicas), segundo a ABNT(1998), deve

ser transparente, de forma a permitir a visualização de possíveis bolhas de ar e deve ter um

diâmetro interno não inferior a 2,7mm e o comprimento distal até a câmara de gotejamento não

deve ser menor que 1200mm. Acrescentamos que a transparência do tubo deve facilitar

visualização de corpos estranhos e/ou alterações da solução. E ainda que o “priming”, ou volume

residual no tubo, deve ser o menor possível, de forma a possibilitar a manipulação de um volume

de solução mais próximo da dose indicada diminuindo, dessa forma, o desperdício de

medicamentos. O regulador de fluxo, ou pinça, deve favorecer a regularidade da velocidade e

precisão no gotejamento, devendo ser avaliado pela capacidade da pinça de fixar e manter o

número de gotas estabelecido. E ainda, segundo a ABNT(1998), o regulador de fluxo deve ser

capaz de suportar uso contínuo, sem danificar o tubo. O injetor de medicamentos deve ser

autocicatrizante, e ter um formato que facilite a injeção asséptica de medicamentos intermitentes.

A conexão luer (ou luer lock) macho deve ser de adaptação universal a cateteres.

Page 39: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

38

A embalagem, segundo a ABNT(1998), deve ser avaliada pela identificação do produto

(impressão – texto), a qual deve ser considerada defeituosa quando a impressão prejudicar a

legibilidade, a ponto de provocar erro ou dúvida no uso do produto ou na sua rastreabilidade.

Acrescentamos, também, a necessidade da embalagem facilitar a identificação imediata e

manipulação asséptica do produto.

Nos equipos de infusão com bureta, além dessas características, salientamos que o

injetor de medicamentos deve ser autocicatrizante, com um diâmetro que facilite a manipulação,

diminuindo o risco de contaminação. A bureta deve conter, também, um filtro de ar, com um

formato que facilite a distinção entre o filtro e o injetor de medicamentos. A extensão da conexão

da bureta com o bico perfurante deve ser transparente e conter um dispositivo tipo pinça “corta

fluxo”, para evitar eventual fluxo ou refluxo acidental da solução contida no envase, para a

bureta. E ainda, a bureta deve ter uma graduação de fácil visualização, além de ser precisa,

representando um instrumento de precisão em volume.

Quanto à indicação de uso dos equipos com bureta, conforme Januário & Alves (2001)

considera-se o volume total a ser infundido em 24 horas (tempo máximo que a maioria das

soluções podem permanecer preparadas para infusão, conforme recomendação do fabricante) e a

menor manipulação possível do sistema de infusão. Esses critérios visam reduzir os riscos de

infecção hospitalar, diminuir o tempo de trabalho da enfermagem, garantir uma condição de

trabalho que dê segurança ao profissional, inclusive visando diminuir o risco de acidentes e

diminuir o custo do procedimento. Para Phillips (2001), o equipo com bureta é freqüentemente

utilizado em infusão de soluções com volumes que variam entre 25 e 150ml e nas infusões que

duram, geralmente, entre 15 minutos e 1hora. Para Januário & Alves (2001), os equipos com

bureta são indicados para dois grupos de infusão: infusões de fármacos diluídos em volume maior

Page 40: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

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que 20ml e/ou infusões lentas (com tempo de infusão maior que 10minutos), por demandar muito

tempo de trabalho da enfermagem, e por ser um procedimento muito comum em CTI,

neonatologia, pediatria, e na administração de alguns antibióticos, nas diversas clínicas, e para as

hidratações venosas (soroterapia), com volume total menor que, ou igual a 100ml – 150ml, por

ser difícil precisar o volume nos frascos habituais, cuja menor apresentação é de 250ml.

Quanto aos equipos para bomba de infusão, de um modo geral, são avaliados também

por estas características. Além disso são avaliados pelo tempo de uso indicado pelo fabricante,

uma vez que conforme o mecanismo de ação do equipamento, pode haver desgaste do equipo,

diminuindo a precisão da infusão, conforme evolução do desgaste. Devem ser compatíveis com

os equipamentos junto aos quais serão utilizados, sendo que estes detêm as principais

determinantes relacionadas à precisão da infusão.

A falta de qualidade, ou o baixo desempenho nestas características, conforme Januário

& Alves (2001), podem expor usuários, profissionais e a instituição a diversos riscos e danos

como o aumento do débito cardíaco, por variação do volume dispensado pelo gotejador ou por

irregularidade do regulador de fluxo; infecção hospitalar por inadaptação dos conectores,

colocando a solução em contato com o meio externo, ou inadequação da embalagem, dificultando

a técnica asséptica; formação de êmbolos pela infusão de corpos estranhos ou ar não visualizados

através do tubo ou extensão; desperdício de fármacos e soluções, por grande volume de

“priming”; e estresse da equipe de enfermagem, uma vez que os profissionais detêm

conhecimento dos riscos a que a administração de soluções endovenosas expõe o cliente, e de que

algumas falhas neste procedimento não podem ser imediatamente percebidas e/ou não têm

retorno.

A seguir figuras de equipos de infusão endovenosa, componentes e acessórios.

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2 2 1 3 4 5 6 5 7 8

9 11 10 12 14 13

FIGURA 1: Equipo de infusão com acessórios

Legenda

1. Ponta perfurante 2. Protetor da ponta perfurante 3. Dispositivo de entrada de ar lateral 4. Gotejador 5. Câmara de gotejamento 6. Parede lateral 7. Indicador para nível de solução 8. Filtro de fluído 9. Tubo 10. Regulador de fluxo 11. Injetor lateral 12. Flash ball 13. Conector macho 14. Protetor do conector macho

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1 2 3 4 5 6 13 10 8 7 15 15 14 8 9 10 11 12 16 17

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FIGURA.2: Equipo de infusão com bureta e acessórios 3. METODOLOGIA

Legenda 1. Ponta perfurante 13 Regulador de fluxo 2. Protetor da ponta perfurante 14. Tubo 3. Corta fluxo 15. Injetor do conector macho 4. Extensão de conexão 16. Protetor do conector macho 5. Dispositivo de entrada de ar lateral 17. Conector macho 6. Dispositivo de adição de soluçãol 7. Bureta graduada 8. Gotejador 9. Parede lateral 10. Câmara de gotejamento 11. Indicador para nível de solução 12. Filtro de fluiído

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A opção metodológica para abordar os critérios utilizados pelos enfermeiros, na

indicação de equipos para infusão endovenosa, partiu da necessidade de realização de um estudo

inicial que favorecesse a apreensão de alguns detalhes do fenômeno dentro da complexidade da

gestão de materiais no contexto hospitalar e das particularidades do cenário em que ocorre o

fenômeno. Nesse sentido, a escolha de um estudo de natureza qualitativa pareceu-nos mais

adequada, pois permite um aprofundamento maior da realidade, tendo em vista o envolvimento

de significados, crenças e valores dos entrevistados. Esses são itens importantes a serem

compreendidos, para uma primeira aproximação com o tema no contexto estudado. Segundo

Demo (1990), realidades sociais se manifestam de formas mais qualitativas do que quantitativas,

dificultando procedimentos de manipulação exata. Para Ludke & André (1986), o estudo

qualitativo é planejado de forma aberta e flexível, focalizando a realidade de forma complexa e

contextualizada. Richardson (1985), considera que um estudo qualitativo, pode descrever a

complexidade de determinado problema e analisar a interação de variáveis, facilitando o

entendimento das particularidades do comportamento dos indivíduos. Para Oliveira (2001), as

características básicas de um estudo qualitativo fazem com que o fenômeno possa ser melhor

compreendido no contexto em que ele ocorra e do qual faça parte, devendo ser analisado de

forma integrada.

Para a análise dos critérios de indicação de equipos de infusão, pelo enfermeiro, no

contexto hospitalar, optamos pelo estudo de caso, por tratar-se de uma abordagem com

características essenciais de flexibilidade e de aprofundamento da análise do objeto em estudo.

Para Ludke & André (1986), Trivinos (1987) e Oliveira (2001), o estudo de caso é uma categoria

de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa profundamente e tem o objetivo de um

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exame aprofundado e pormenorizado de determinados fenômenos, objetos ou situações

particulares.

Assim, as características do estudo de caso de flexibilidade, aprofundamento na análise,

contextualização e historicidade do fenômeno em estudo, constituíram a justificativa da escolha

dessa abordagem, para conhecermos os valores, as dificuldades, as influências e os fatores que

interagem na indicação de equipos, por enfermeiros.

Cenário de estudo:

O cenário do estudo foi um Centro de Tratamento Intensivo (CTI), de um hospital

universitário, geral, público, de grande porte, de Belo horizonte.

Esse hospital dispõe de uma área construída de 50.063m2, com 11 andares onde se

localizam as 16 unidades de internação, além de Centro Cirúrgico, Centro Obstétrico, Centro

Dialítico, Unidade de Pronto Atendimento e CTI. E conta, ainda, com o atendimento

ambulatorial em sete prédios anexos. São 432 leitos de internação e 20 leitos de terapia intensiva,

e também vários serviços de apoio como diagnóstico por imagem, medicina nuclear, laboratório

de análises clínicas e outros. Quanto ao nível de complexidade, esse hospital situa-se entre os

níveis terciário e quaternário, e realiza, inclusive, transplantes de medula e de fígado. Os clientes

são provenientes do Sistema Único de Saúde (SUS), outros convênios e particulares.

Os Centros de Terapia Intensiva são classificados, pelo Ministério da Saúde, conforme a

complexidade, em três níveis, sendo que o CTI em estudo, situa-se no nível II, devido aos

equipamentos disponíveis na Unidade. A área física é constituída de 6 enfermarias e salas para

setores de apoio como coordenadoria administrativa, secretaria, almoxarifado e equipamentos,

expurgo, quartos de descanso para funcionários, posto de enfermagem, sala de reuniões e copa

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para funcionários. O CTI dispõe de 20 leitos, sendo 6, para adultos, 3 pediátricos e 11 neonatais.

O quadro de pessoal na área de enfermagem é composto por 12 enfermeiros, 82 técnicos de

enfermagem e 7 auxiliares de enfermagem, que cumprem jornadas de trabalho de 30 horas

semanais. Quanto aos recursos materiais, o CTI conta com modernos equipamentos como

respiradores, monitores, cardioversores, incubadoras e outros, além de materiais de consumo

diversos.

A escolha desta instituição hospitalar se deu pela facilidade de acesso da pesquisadora,

inclusive por tratar-se de um hospital universitário, sendo campo natural de estágio da Escola de

Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A opção pelo Centro de Terapia

Intensiva se deu pela ocorrência natural da utilização de materiais diversos, inclusive equipos de

infusão, em decorrência da complexidade dos quadros clínicos dos clientes atendidos e por ser

uma das unidades desse hospital que, no momento da elaboração do projeto, contava com o maior

número de enfermeiros.

Sujeitos da pesquisa:

Os sujeitos da pesquisa foram 8 (oito) enfermeiros do Centro de Terapia Intensiva que

mostraram-se aquiescentes com a proposta de trabalho e que são responsáveis pela indicação de

uso de equipos. A indicação de uso aqui referida é considerada como a determinação do tipo de

equipo a ser utilizado de acordo com a infusão a ser administrada. Essa adequação deve

considerar os seguintes aspectos: a velocidade da infusão prescrita pelo médico, o volume total da

solução, o tempo de infusão, o acesso venoso e as características específicas do fármaco e/ou

solução.

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Os enfermeiros participantes assinaram um termo de consentimento, concordando em

participar do estudo (ANEXO A)

Coleta de dados:

Os dados foram coletados nos meses de janeiro e fevereiro/2001, após as aprovações,

pelo Comitê de Ética da UFMG, pela Diretoria de Ensino, Pesquisa e Extensão do Hospital, que

analisa a viabilidade da realização do projeto no hospital (ANEXO B), e pelo Centro de Terapia

Intensiva (ANEXO C). A coleta de dados consta de observação livre com notas em diário de

campo, e entrevista semiestruturada com os enfermeiros que fazem a indicação de uso de

equipos.

A opção pela técnica de observação livre, com registros em diário de campo deve-se a

sua característica de possibilitar a descoberta de novos dados de interesse para o estudo, além de

facilitar a aproximação do pesquisador com os sujeitos participantes da pesquisa. A observação

livre, segundo Trivinos (1995), é uma técnica de coleta de dados que permite ao pesquisador uma

determinação do evento que se pretende conhecer.

As entrevistas realizadas com os enfermeiros do Centro de Terapia Intensiva que fazem

a indicação de uso de equipos foram gravadas após o consentimento dos mesmos e transcritas,

integralmente, para análise. As entrevistas foram agendadas e realizadas de acordo com a

disponibilidade dos enfermeiros, no próprio CTI, no horário de trabalho. O critério de inclusão

dos sujeitos foi ser enfermeiro responsável pela indicação de equipos no CTI.

O roteiro utilizado para a entrevista com os enfermeiros foi testado anteriormente e

devidamente ajustado (ANEXO D). As questões elaboradas constituíram um instrumento

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norteador e não um roteiro rígido, caracterizando, assim, uma entrevista semiestruturada, que

permite o aprofundamento das questões levantadas no decorrer da coleta de dados.

Também não foi estabelecido, a priori, um quantitativo de enfermeiros a ser

entrevistado. As entrevistas foram realizadas até identificarmos repetição significativa dos dados,

o que ocorreu entre a 6ª e 8ª entrevista. Na pesquisa qualitativa, conforme Minayo (1996), a

coleta dos dados é suspensa quando ocorre saturação pela repetição, ou seja, nenhum dado novo é

acrescentado. Para a autora, a definição ideal de amostra, na pesquisa qualitativa, não passa pelo

critério numérico, mas pela capacidade da amostra de refletir a totalidade nas suas múltiplas

dimensões.

Análise e tratamento dos dados:

Os dados coletados foram organizados e submetidos à análise de discurso, seguindo os

passos operacionais propostos por Minayo (1996). Ou seja, primeiramente foi feita uma

ordenação dos dados através da transcrição das fitas cassetes, releitura do material, organização

dos relatos em determinada ordem e organização dos dados de observação, também em

determinada ordem. Após essa ordenação realizamos a classificação dos dados através da leitura

exaustiva e repetida dos textos prolongando a relação interrogativa com eles, e constituição de

“corpus” de comunicações. As entrevistas foram recortadas de acordo com as unidades temáticas

expressas pelos entrevistados que, posteriormente, foram agrupadas em 3(três) categorias

empíricas e 4 (quatro) subcategorias.

Para Ludke e André (1986), o primeiro passo a ser seguido na análise dos dados

coletados é a construção de um conjunto de categorias descritivas. A formulação dessas categorias

deve acontecer a partir do referencial teórico e de leituras sucessivas e exaustivas do material.

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Para Ludke e André (1986) e Minayo (1996), leituras sucessivas e exaustivas do material são

necessárias para chegar-se à “impregnação do seu conteúdo” e, conseqüentemente, à compreensão

dos seus significados.

Na análise os nomes após os trechos de discurso são fictícios para garantia do anonimato

dos sujeitos entrevistados.

Apresentação e discussão dos resultados:

Após leituras repetidas e exaustivas do material coletado, foram extraídos temas que foram

agrupados nas seguintes categorias empíricas: Critérios de indicação de uso de equipos de infusão

por enfermeiros, Avaliação e importância dos equipos de infusão e Fatores que interferem no uso

de equipos de infusão.

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4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Os resultados das entrevistas com os enfermeiros do CTI foram organizados e

apresentados nas 3 categorias e 4 subcategorias a seguir:

CATEGORIA SUBCATEGORIA

I Critérios de indicação de uso de equipos

de infusão por enfermeiros

II Avaliação e importância dos equipos de

infusão

* Avaliação de equipos de infusão endovenosa.

* Importância do equipo de infusão endovenosa

para os enfermeiros.

III Fatores que interferem no uso de equipos

de infusão

* Formação profissional do enfermeiro.

* Custo e disponibilidade de equipos de infusão

endovenosa.

4.1. Categoria I: Critérios de indicação de uso de equipos de infusão por enfermeiros

O equipo de infusão é um artigo intermediário na administração de soluções

endovenosas, ou seja, é um meio usado no transporte de uma solução, do envase original ao

cateter instalado para acesso venoso. A articulação do envase da solução, equipo e cateter,

formam um sistema de infusão. O sistema de infusão sofre variações as mais diversas, em função

do fármaco a ser administrado, do tipo de envase desse fármaco, da taxa ou velocidade de

infusão, do tempo de infusão, do acesso venoso e do volume total a ser infundido. Essas

variações possíveis no sistema de infusão são, geralmente, acompanhadas de opções diferentes de

equipos disponíveis no mercado. A variedade de equipos, por sua vez, exige do enfermeiro e da

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equipe de enfermagem o conhecimento dos detalhes dos equipos e seus acessórios, para garantir a

maior segurança possível, na administração de uma infusão endovenosa. Garantir segurança no

sistema de infusão passa pela indicação criteriosa do equipo a ser usado. Assim os critérios

utilizados por Esmeralda, para indicar o equipo que deve ser usado, são:

“Se é adulto ou pediátrico, se eu vou precisar de macro ou microgota. Se eu

vou precisar... usar a bomba, ou se vai ser gota a gota.” Esmeralda

Um critério importante a ser considerado, talvez o primeiro a ser estabelecido, é a

definição da montagem do sistema, se gravitacional (infusão por gravidade) ou por bomba de

infusão. Essa definição depende das características do fármaco, como necessidade de estabilidade

da infusão, para garantia da concentração plasmática de algumas drogas, como dobutamina,

dopamina, nitroprussiato de sódio e outras. Depende também da velocidade de infusão prescrita

pelo médico e, ainda, do acesso venoso, como no caso de um cateter de diâmetro interno

reduzido, onde a bomba de infusão mantém um fluxo contínuo, impedindo a coagulação

sanguínea e a conseqüente perda do acesso venoso. Se a definição é por um sistema de infusão

gravitacional, há uma outra decisão a ser tomada, sobre a vazão, se macro ou microgotas.

Esmeralda parece associar essa definição à faixa etária do cliente, quando diz “se é adulto ou

pediátrico”, quando tecnicamente essa definição depende da velocidade de infusão a ser

administrada. Safira também refere à vazão do equipo com os termos “adulto e para criança”.

“E para bomba de infusão de adulto precisa ser um equipo só normal, sem

aquele microgotas; e para criança com microgotas.” Safira

O termo microgotas, conforme observamos no trabalho de campo e, como a entrevistada

explicou, na verdade refere-se à bureta graduada que alguns equipos possuem como reservatório

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de solução. Esse reservatório é utilizado para manipulação de soluções em menores volumes

(aqui considerados, volumes menores que 100 – 150ml), sendo, por isso, reconhecido pela

característica do gotejador que o integra que, geralmente, é de microgotas. A microgota,

conforme ABNT (1998), possui o volume correspondente a 1/3 da gota (de água destilada a uma

temperatura de 25ºC). No entanto, a equipe de enfermagem assim como Safira, relaciona o uso de

equipo para infusão de pequenos volumes em bomba de infusão com o volume de gotejamento,

ou seja, com o tamanho da gota. Essa relação é imprópria uma vez que a bomba de infusão é o

equipamento cuja característica principal é de dosar e infundir determinado volume com precisão,

e, dependendo do mecanismo de funcionamento não há relação com tamanho da gota dispensada

pelo equipo. Como é o caso das bombas de infusão usadas neste CTI, cujo mecanismo de ação é

peristáltico rotatório. Esse mecanismo de ação conforme Pedreira (1999), utiliza a compressão de

um rotor sobre a extensão flexível do equipo e um sensor de gotas para o controle da infusão

independentemente do tamanhos da gota dispensada pelo gotejador do equipo.

Nos discursos de Safira, Brilhante, Esmeralda e Topázio, chama atenção, também, os

termos indefinidos usados para identificação de equipos: “equipo normal”, “equipo comum” e

“equipo simples”

“ É... tem o equipo comum... que a gente usa muito é para colocar água em

respirador... e para fazer medicação, assim em adulto... gotas por minuto, não

é? Isso é lógico, com tempo estipulado: 60 minutos, 90 minutos... 30 minutos...

não é?” Esmeralda

“Tem o equipo simples, tem o equipo com bureta. É, então a indicação que a

gente vê é de acordo com o tipo de bomba que você vai utilizar.” Brilhante

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“Mas cada equipo tem a sua função, não é? Não é a gente, desse equipo...

simples, tentar fazer... infundir tudo nele não.” Topázio

Os termos, comum, simples e normal, embora semelhantes na indefinição, possuem

significados diferentes para as entrevistadas. Safira, com “equipo normal” e Brilhante, com

equipo simples, referem-se ao equipo sem bureta. Esmeralda, com “equipo comum”, refere-se ao

equipo com câmara rígida e para Topázio “equipo simples” refere-se ao equipo para infusão

gravitacional. O equipo que apresenta essas características, ou seja, sem acessórios opcionais, é

denominado, pela ABNT (1998), como equipo de infusão básico. Pela normalização brasileira, os

requisitos para um equipo de infusão são definidos conforme o envase da solução a ser

administrada, se frasco que colaba ou frasco rígido. Assim, para os frascos que colabam, deve-se

utilizar o equipo básico, e para os frascos rígidos, requisita-se o dispositivo de entrada de ar

lateral, com filtro. A normalização refere à câmara de gotejamento, definindo como característica

de qualidade a transparência, pois deve permitir a perfeita visualização da solução e do processo

de gotejamento e o comprimento interno, que não deve ser menor que 40mm (ABNT, 1998: 02).

No caso de existência de filtro de solução, a distância mínima deve ser de 20mm do tubo de

gotejamento, e a distância do tubo de gotejamento em relação a parede lateral da câmara, de 5mm

ABNT (1998). A normalização não faz referência quanto à flexibilidade do material usado na

confecção. Quanto ao gotejamento em microgotas, a ABNT (1998) refere a equivalência do

volume a 1/60ml (um ml dividido por sessenta), mas não faz referência à bureta graduada.

As enfermeiras entrevistadas, todas elas, referiram-se em algum momento à

administração de nutrição parenteral (NP). Brilhante faz referência ao equipo com suspiro,

dispositivo de entrada de ar lateral com filtro, segundo ABNT (1998) em função do uso de frasco

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rígido. A nutrição parenteral assim como a medicação são citadas para exemplificar o critério de

indicação de uso de equipo:

“Então a parenteral, a gente usa com suspiro porque, tem o vácuo do vidro,

tem que descer para câmara de gotejamento. Então a indicação dele é essa.”

Brilhante

“Vamos pegar um equipo específico de nutrição parenteral. Você fala porque

que eu uso aquele equipo? Tenho opções de equipo...aí vai depender da

solução a ser administrada, da medicação. Se esta medicação vai ser

administrada continuamente, ou uma hora assim, determinada. Ou vai ser na

bomba de infusão. Vai ser dieta ou medicação endovenosa, então eu

selecionaria isso, a forma de medicação em si.” Rubi

A nutrição parenteral (NP) é uma solução bastante familiar à enfermagem, em especial

às equipes de neonatologia e Unidades de Terapia Intensiva. Faz parte da história da enfermagem

a manipulação das NP e o cenário em que esse procedimento era realizado: sala especial, mãos

escovadas, capotes e luvas esterilizados, gorro, máscara, material de assepsia e o cheiro de álcool

no ambiente. Além disso, a equipe dispensava mais respeito ao profissional que estava capacitado

para realizar essa atividade. Atualmente, a NP é manipulada por farmacêuticos, sendo, também,

alvo de estudos de equipes multidisciplinares, inclusive por representar um grande risco de

infecção hospitalar para o cliente. Esse risco está relacionado, principalmente, ao fato da NP ser

uma solução muito manipulada e cuja composição é, basicamente, de nutrientes, podendo

propiciar um crescimento rápido de microorganismos. Assim, frequentemente, os serviços de

controle de infecção hospitalar avaliam as recomendações do Center Disease Control (CDC) de

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Atlanta (1995), e estabelecem normalizações quanto ao tempo de uso dos equipos para NP, para

no máximo 24 horas.

Contudo o que parece-nos chamar a atenção das enfermeiras entrevistadas, na

administração de NP, é a normalização do uso de equipos com filtro de retenção de partículas e

com entrada de ar. O equipo com essas características é recomendado para esse procedimento por

tratar-se de uma solução significativamente manipulada o que aumenta a possibilidade de

partículas indesejáveis ao sistema e porque o envase é, geralmente, feito em frascos rígidos.

Ahnefeld & Klaus (1977) analisaram a quantidade de partículas encontradas em soluções,

equipos e medicamentos, e relataram a presença de partículas de tamanho e quantidade

importantes em equipos, principalmente quando do uso da “pieza de látex”. Atualmente não

usamos mais o “flash ball” (parte do equipo, constituída de látex, situada na extremidade distal,

sem função específica), para administração de medicação, como já ocorreu no passado. Para

adição de soluções ao sistema de infusão, contamos hoje, conforme ABNT (1998), com injetores

de medicamentos (injetor lateral) que são constituídos de borracha autocicatrizante. Esse material

diminui a possibilidade de infecção hospitalar por fechar o sistema, imediatamente após a adição

da solução e por reduz a possibilidade do acréscimo de partículas ao sistema.

Esmeralda, Topázio e Brilhante também destacam o filtro no equipo para nutrição

parenteral:

“Esse com filtro, você usa em nutrição parenteral, não é? É... você usa... tem o

próprio para nutrição enteral, que não tem filtro... não tem... o copinho dele

não é maleável... tem os de medicação...” Esmeralda

“Se ele tem filtro não é? Tem... é somente isso mesmo”. Topázio

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“Tem, os equipos que têm filtro, tem aqueles que, usa só para nutrição

parenteral. Tem aqueles que, como é que chama? Tem o...(marca), tem o

(marca). Brilhante

O uso de equipo com filtro de retenção de partículas, no entanto, pode ser restrito ao

procedimento de manipulação da NP. Ou seja, se o filtro de retenção de partículas é usado

durante a manipulação, pelo farmacêutico, tecnicamente pode-se dispensar o uso na

administração, o que significa a opção de usar um equipo sem filtro, portanto, de menor preço.

Mas o que percebemos na observação de campo é que essa informação não tem relevância, sendo

preconizado o uso indiscriminado de equipo com filtro, para nutrição parenteral.

Ainda sobre a relevância do equipo em relação ao controle de infecção hospitalar,

Diamante, relata a sua percepção:

“Por exemplo... se é um paciente que eu vejo que está estável, eu acredito que

tenha acessos mais fáceis, que tenha mais de um acesso; eu vejo que posso usar

um equipo mais simples, vai me facilitar por exemplo uso de three way, me

possibilita não usar o injetor lateral. Agora, se é um paciente que está com um

uso excessivo de three way, ou seja uma porta de entrada maior, um paciente

que está mais grave, de difícil acesso venoso, aí eu já tenho que usar um equipo

com injetor lateral, que me possibilita, na hora de uma urgência, em relação a

este paciente.” Diamante

O trecho da fala de Diamante enfatiza a característica dos equipos, como artigos

críticos. Artigos críticos, conforme a Portaria 15 de 23 de agosto de 1988 são todos aqueles

que penetram nos tecidos subepiteliais, no sistema vascular e em outros órgãos isentos de

flora microbiana própria, bem como todos os que estejam diretamente conectados a eles.

(Ministério da Saúde, 1988)

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A abordagem do equipo como um artigo crítico, como uma porta de entrada para

infecções hospitalares, é uma preocupação constante que observamos no trabalho de campo.

Podemos perceber que diante da menor suspeita de contaminação do equipo, o profissional

descarta-o substituindo por outro. Essa preocupação parece-nos ter sido a mais comum também

entre os enfermeiros entrevistados, em relação aos equipos. A importância da relação do equipo

com a infecção hospitalar, atribuída pelos entrevistados pode estar associada às características de

qualidade do equipo, talvez mais evidentes, como a eficiência das conexões com frascos e

cateteres. Mas em relação à escolha do equipo a ser utilizado para administração de soluções, não

nos parece um critério adequado, pois se consideramos que o uso de um equipo sem injetor

lateral vai aumentar o risco de infecção hospitalar, isto deve ser evitado em qualquer nível de

estabilidade do cliente, ou em qualquer grau de dificuldade de acesso venoso.

Brilhante, acrescenta outro critério de indicação de uso de equipo, para discussão:

“Uma coisa também... que eu acho que é preocupante, é a questão, dessas

drogas que não podem ser... administradas no PVC, a ciclosporina ... essa

indicação.” Brilhante

A reação da droga com o PVC é um critério de fundamental importância na escolha do

equipo a ser utilizado, uma vez que mediante uma interação dessa natureza colocamo-nos diante

de dois problemas: o de não estarmos administrando a quantidade de droga prevista, já que uma

parte dela está sendo utilizada na reação com o PVC e o outro, a insegurança quanto ao produto

dessa interação, que está sendo administrado junto com o fármaco. O equipo de infusão deve ser

confeccionado, segundo ABNT (1998), com materiais que não provoquem efeitos indesejáveis

com a solução que passa através do equipo, sobre condições normais de uso. Para evitar os

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problemas de reação das soluções com o PVC, devemos usar equipos confeccionados em

polietileno.

Igualmente importante ao selecionarmos o equipo a ser usado é a avaliação quanto a

possibilidade da droga sofrer alterações na sua estrutura ao entrar em contato com a luz, como

chama a atenção a fala de Topázio:

“A adequação dele para o que eu vou usar, não é? Se eu quero, um equipo

fotossensível... que o medicamento precisa dele não é? então eu vou procurar

um... não é? eu tenho que usar aquele tipo e não um outro, não .” Topázio

A fotossensibilidade é uma característica de algumas drogas que sofrem alterações

quando em contato direto com a luz, como o “nitroprussiato de sódio” (Katzung, 1980). Drogas

com essa característica demandam uma discussão institucional sobre a necessidade de proteger a

droga, através de uma cobertura sobre o equipo de infusão ou de usar um equipo de cor âmbar,

para essa proteção. Algumas instituições optam pelo uso de equipos de cor âmbar, considerando a

diminuição da perda de eficácia da droga, através da proteção contra a incidência direta da luz.

Outras, optam por não usar nenhuma proteção para a droga, mas diminuem o tempo de infusão da

mesma, considerando que a proteção contra a luz não aumenta, de forma satisfatória, a eficácia

da droga.

O custo do material também foi um critério de indicação de equipo, comentado pelas

entrevistadas:

“É bobagem você gastar um equipo de bomba, para fazer uma medicação de 6

em 6 horas, porque ele é muito mais caro. Então, esse você usa mais é para

solução contínua.” Esmeralda

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“Agora, muitos equipos são usados no CTI, com outras finalidades tipo

recipiente, como a sonda vesical de demora. Como conexão para fazer

circuitos, que não são compatíveis, ou então usar algumas conexões de

circuito, de equipo simples, para fazer circuitos, este tipo de coisa.” Safira

O que nos chama atenção nestas falas é a relação da indicação técnica com a

“preocupação econômica”. Tecnicamente, o fato de usar-se o equipo somente a cada 6 (seis)

horas não determina, por si só, o tipo de equipo que deverá ser usado. O critério técnico de

indicação do equipo, conforme a nossa experiência e os dados disponíveis na literatura, continua

sendo o volume total da solução a ser administrado, a velocidade de infusão, o tempo de infusão,

o acesso venoso e características do fármaco a ser administrado. No entanto esta é uma

preocupação importante, principalmente, se consideramos a inserção do enfermeiro na instituição

e a situação financeira da mesma.

O uso de equipos para bomba de infusão, para algumas entrevistadas, é de acordo com a

prescrição médica ou com o tipo de material fornecido pela instituição.

“Normalmente o médico prescreve. Agora, quando é assim, antibiótico, essas

coisas, aí vai mais é no gotejamento. Aí você escolhe a bureta graduada para

preparar o medicamento”. Esmeralda

“Não tem critério, é o que a instituição mesmo fornece. Não existe

padronização, não é? é questão do preço mesmo, que eles não visam

qualidade...” Pérola

Na nossa compreensão, o profissional enfermeiro é quem deveria deter o maior

conhecimento sobre a administração de medicamentos, uma vez que são os enfermeiros e a sua

equipe que, na maioria das vezes, viabilizam o acesso venoso, definem o sistema de infusão a ser

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montado e preparam o medicamento a ser administrado, cabendo-lhes a decisão sobre o material

mais adequado, visando a segurança da infusão, conforme prevê a Lei do exercício profissional

(Brasil, 1986).

O enfermeiro não obstante, como observamos no trabalho de campo, tem se colocado

muitas vezes em uma posição de cumpridor de ordens, seja do médico ou da instituição, no

sentido de aceitar o equipo que vier, sem esboçar uma tentativa de mudar a situação. A nosso ver,

o aumento do conhecimento a respeito de material de uso cotidiano, em cursos formais ou através

de discussões técnicas na própria organização, poderia dar mais segurança ao enfermeiro em seus

posicionamentos quanto às especificações dos materiais que utiliza em grande quantidade.

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4.2 Categoria II : Avaliação e importância do equipo de infusão

Esta categoria é constituída por duas subcategorias: Avaliação de equipos de infusão

endovenosa e importância do equipo para os enfermeiros, descritas a seguir:

4.2.1. Avaliação de equipos de infusão endovenosa

Os enfermeiros de setores especializados como CTI e neonatologia são, frequentemente,

solicitados a avaliarem diversos materiais, entre eles, os equipos de infusão. Essa demanda no

CTI acontece, provavelmente, por tratar-se de uma unidade onde as infusões endovenosas

ocorrem em grande número e com grande diversificação, o que leva a pressupor que os

profissionais tenham adquirido maior conhecimento sobre estes materiais. Essa característica do

setor exige do enfermeiro maiores habilidades na avaliação de material, pois ele se vê,

frequentemente, diante de técnicas e materiais de infusão diferenciados.

Rubi parece ter essa percepção, quando nos fala da importância da avaliação e da

discussão entre os enfermeiros sobre todos os materiais avaliados:

“...muitas vezes aqui a gente coloca material em circulação pra teste, tudo e

não tem o aval de todos, entendeu? Eu acho importante isso, o aval de todos, a

discussão, não só de equipo, mas de tudo... não é? todos os materiais. Essa

discussão com todos. Não você chegar e dar um aval. Você trabalha com

aquilo um tempo determinado e discussão, o que foi bom... os prós e os contras

daquele material.” Rubi

A entrevistada reafirma a importância da discussão e de normas balisadoras para o

enfermeiro, quanto à avaliação de material, provavelmente, por não haver um processo

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60

sistematizado de avaliação de material, o que gera insegurança no enfermeiro ao realizar essa

atividade.

A avaliação, como observamos no trabalho de campo, é uma atividade presente na

prática do dia-a-dia do enfermeiro, pois ele avalia a composição da equipe e as características dos

seus membros para o desempenho das atividades de enfermagem e avalia as necessidades do

cliente e os recursos da instituição para atendê-las, adequando o ambiente ou adaptando-o à

situação mais próxima do ideal de atendimento, dentre outros aspectos da organização e da

assistência. Estas avaliações feitas pelos enfermeiros parecem naturais, como parte do trabalho

cotidiano, mas quando o enfermeiro é solicitado a avaliar sistematicamente o material que utiliza

para desempenhar as suas atividades, parece sentir-se inseguro. Durante o trabalho de campo

alguns enfermeiros comentaram que os materiais que são encaminhados ao CTI para avaliação,

permanecem ali muito tempo sem ser avaliados ou até que ocorra uma cobrança por parte da

Comissão de Controle de Qualidade de Material - CCQM.

A avaliação está presente nas diversas atividades humanas, sendo por isso, conceituada

de formas diversificadas. Ferreira (1986) conceitua avaliação como ato ou efeito de avaliar:

determinar a valia ou o valor, o preço, o merecimento de; fazer idéia de; reconhecer a grandeza

de; ajuizar; apreciação; análise; valor determinado pelos avaliadores. Para a Secretaria da

Educação de Minas Gerais, a Avaliação deve ser compreendida como uma estratégia para

realizar diagnóstico, identificar problemas e redirecionar os rumos do processo educativo.

(Lições de Minas, 2001: 16)

Zanei et al (1996) discutem a avaliação como um instrumento de trabalho de

enfermagem, compreendendo que a Avaliação é uma atividade metodológica e processual de

interpretação e julgamento de dados qualitativos e quantitativos para atribuição de valor,

Page 62: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

61

fundamentada em padrões e critérios predeterminados. (Zanei et al, 1996: 112) As autoras

caracterizam a avaliação sob três aspectos: avaliação como um processo social, como julgamento

moral e em seu aspecto técnico.

Na avaliação de material, muitos aspectos são semelhantes. É preciso conhecer o objeto

a ser avaliado, estabelecer um planejamento, definir objetivos claros, critérios específicos e uma

relação com a filosofia da instituição. Além disso, é necessário capacitar os profissionais, para

que se sintam seguros no desempenho dessa atividade.

Conversando com os enfermeiros, percebemos as dificuldades vivenciadas por eles ao

avaliar a qualidade de equipos e de material, de um modo geral, utilizando critérios técnicos,

como mostra a fala seguinte:

“... só na hora que ele precisa de, por exemplo, avaliar material, que a gente vê

a dificuldade que o enfermeiro tem de descrever material, o uso dele, se ele é

adequado ou não, se ele adequa à realidade, se o custo dele e o benefício

dele...são compatíveis” Brilhante

A expressão “só na hora em que ele precisa... avaliar”... sugere que existe uma hora

determinada para o enfermeiro avaliar o material que usa, como se avaliar não fosse um processo

contínuo, uma necessidade inerente à atividade diária de quem lida o tempo todo com esse

material. Equipo de infusão deveria ser, para o enfermeiro, como o tecido, para o costureiro, ou

como a palavra, para o advogado ou para o professor. É preocupante a dificuldade do enfermeiro

em descrever equipos, pois se ele não consegue descrever esse material, dificilmente será capaz

de avaliá-lo e de estabelecer critérios de indicação de uso. A habilidade de avaliar e indicar

equipos de infusão, por parte dos enfermeiros, deveria ser natural como a avaliação e seleção de

objetos de uso pessoal, no sentido em que conhecemos o produto, a marca e porque é adequada a

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62

nossa realidade excluindo-se, naturalmente, na avaliação de material médico-hospitalar, os

critérios subjetivos como preferências ou rejeições pessoais por cor e forma, entre outros.

Geralmente, conhecemos a diversificação desses produtos no mercado, nos posicionamos sobre

as opções, identificamos o que é mais adequado ao nosso objetivo e à qualidade que esperamos

do produto e estabelecemos uma relação entre o custo e o benefício oferecido como um item

importante da avaliação. O mesmo deve ocorrer com o material de uso rotineiro em situações de

trabalho. Ou seja, ao decidirmos pela compra e uso de materiais hospitalares, deveríamos

conhecer o produto, a marca e porque é adequada a realidade do hospital. Deveríamos conhecer a

diversificação desses produtos no mercado, estabelecer um posicionamento sobre as opções,

identificar o que é mais adequado ao nosso objetivo e à qualidade que esperamos do produto

estabelecendo da mesma forma, a relação entre o custo e o benefício oferecido.

Outro aspecto interessante sobre a avaliação, abordado por Kurcgant (1991), diz respeito

à importância que deve ser atribuída a todos os participantes do processo, apesar de

freqüentemente atribuir-se a responsabilidade do resultado somente a quem concretizou o registro

em um impresso. Nesse sentido, o enfermeiro, diante da dificuldade encontrada para avaliação de

material, em especial de equipos, parece transferir, ou delegar essa função, a outros profissionais,

como é ilustrado nas falas seguintes:

“Aqui no Hospital tem uma comissão, não é? de materiais. Eu acredito que ela

que avalia, não é? porque sempre mandam para a gente, um formulário para a

gente preencher e ter que fazer o teste, dar o retorno e... Ela avalia se é o

preço, se é a qualidade, não é? Topázio

No Hospital das Clínicas da UFMG, existe a Comissão de Controle de Qualidade de

Material, CCQM, que é responsável pelo “gerenciamento da qualidade” dos recursos

Page 64: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

63

materiais no hospital. Durante o trabalho de campo tivemos a oportunidade de observar o

fluxo do processo de avaliação de material: o material é apresentado a instituição pelo

fornecedor que dirige-se a CCQM; a comissão por sua vez, após uma primeira análise quanto

ao interesse do hospital em fazer um teste do material apresentado, encaminha-o a um ou

mais setores para avaliação técnica com retorno sistematizado. O resultado final da avaliação

definirá se o material será ou não padronizado para uso no hospital.

A entrevistada relata que a avaliação dos materiais é feita pela comissão, mas ao

mesmo tempo fala da sua participação, enquanto enfermeira, na avaliação realizando testes de

materiais, com retorno sistematizado através do preenchimento de formulários. Mas as

enfermeiras, em geral, atribuem à CCQM a avaliação da qualidade dos equipos, como

podemos perceber em suas falas:

“Não... acho que é mais através dessa comissão mesmo de... eles vêem a

qualidade, o preço e tudo e mandam, não é? então não tem que ser sempre

aquele não, tem um tipo de equipo e depois, pode ser que vai ser mudado, se

achar outro no mercado, melhor ou...” Topázio

“Parece que aqui, só usa (marca), não é? É... tem poucas opções. Acho que

quando acaba a (marca), é que eles compram uma outra... surgem umas

outras marcas aí... Mas... não piora muito, não piora, não... a qualidade não

cai. É mais ou menos no mesmo nível.” Esmeralda

“Os equipos aqui do hospital, eles são, eles passam pelo crivo lá da CCQM,

não é? e também eles são adaptados à bomba de infusão que a gente usa aqui.

Então, se a gente tem bomba da (marca), os equipos são os equipos da

(marca).“ Brilhante

Page 65: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

64

Nos trechos de discursos das entrevistadas, o emprego do pronome “eles”, e a expressão

“passam pelo crivo lá da CCQM”, sugerem um certo distanciamento da tomada de decisão,

talvez, até mesmo da responsabilidade de conhecer a qualidade do material com o qual sabe que

vai trabalhar, quando cabe ao enfermeiro a definição da qualidade do material a ser usado na

assistência de enfermagem. As interrogações nas falas podem estar demonstrando certa

insegurança e busca da aquiescência do entrevistador. Como os enfermeiros junto a suas equipes

são os profissionais que mais utilizam equipos, no hospital, para realização de diversos

procedimentos específicos, naturalmente são esses profissionais que devem, também, ser

responsáveis pela avaliação dos mesmos.

A dificuldade do enfermeiro na avaliação de material pode estar relacionada, também,

com a dificuldade em definir o que deve ser avaliado em determinado material, e como pode ser

avaliado. Algumas características dos equipos realmente seriam melhor avaliadas em laboratório,

como a precisão do gotejamento e a reação química do material com determinados fármacos. No

entanto, percebemos que os enfermeiros abrem mão de avaliar características que dizem respeito

ao seu dia-a-dia, como embalagens que, freqüentemente, dificultam a técnica asséptica, a

qualidade dos injetores laterais que não suportam perfurações conforme a demanda de infusões

simultâneas e, até mesmo, a diversidade do gotejador, que por vezes dispensa gotas de tamanhos

visivelmente diferentes na mesma infusão.

Essa dificuldade pode estar relacionada com a formação profissional do enfermeiro,

pois, segundo Kurcgant (1991), a avaliação é um assunto raramente incluído na formação

profissional, cabendo, pois, às instituições esse preparo do enfermeiro. Na ausência do

conhecimento formal, o enfermeiro avalia material com critérios aprendidos na prática, como

ilustram as falas seguintes:

Page 66: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

65

“... a gente nem sabe avaliar... a gente não tem acesso a essas... avaliações

que... são muito mais de laboratórios, não é? Brilhante

“... Quer dizer, deve, a diferença deve ser porque ele tem filtro, ou por que...

Ele tem filtro de bactéria lá dentro, ou ele tem, um suspiro. Todos tem filtro,

não é? alguns têm suspiro alguns não têm.” Brilhante

“Facilidade de manuseio com relação a pinça de rolamento, a questão da

adaptação do bico é... dependendo do medicamento se tem suspiro ou não... se

o copinho é maleável, e o material mesmo do equipo, se não é muito fino, se

tem injetor lateral. Diamante

A avaliação feita pelo enfermeiro é baseada em critérios práticos, visuais, que

incomodam no cotidiano de trabalho. Percebe-se a falta de conhecimentos técnicos sobre o

material e sobre técnicas usuais de testes de material, ficando a enfermagem e a instituição

dependentes de fabricantes e vendedores. Muitos fabricantes e vendedores, enquanto

conseguirem vender seus produtos, não vão se preocupar com a qualidade deles.

Outro fator que interfere na avaliação de equipos, pelos enfermeiros, é a diversidade de

modelos e marcas encontradas no mercado. Como já foi mencionado, encontramos em torno de

20 tipos diferentes de equipos e, para cada tipo, temos em média 12 marcas específicas (Januário

& Alves, 2001).

“Agora, se os equipos tivessem um mesmo padrão, se todo equipo fosse

universal para toda bomba de infusão, e para todo tipo de infusão, exceto

aqueles especiais,_ talvez a nutrição parenteral entrasse nessa aí, infusão

especial. Seria mais fácil da gente, fazer compras, limitar o que a gente

precisa, sabe? quanto mais abre o espectro de opções, mais difícil é, para

gente escolher, para gente indicar... Eu acho que essa variedade de equipo que

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66

a gente tem, interfere. Eu acho que isso confunde a gente, certamente que eu

estou falando alguma coisa, que não é, verdadeira na hora que eu falei sobre

os equipos. Porque eu acho que confunde muito a cabeça da gente, a gente tem

muita variedade de material. ... Eu acho que todos os equipos tinham que ser,

todos iguais” Brilhante

A fala acima manifesta a dificuldade em lidar com as diversas opções de equipos e, ao

mesmo tempo, assume um tom de denúncia diante do excesso de opções desse material no

mercado, sem uma regulamentação adequada. Esse excesso de oferta, no entanto, não significa

um maior número de opções de material, uma vez que grande parte dos produtos disponíveis não

atende nem aos requisitos de qualidade conforme os critérios de avaliação prática, visual,

discutidos anteriormente. Isto ocorre, apesar de os equipos de infusão serem enquadrados como

correlatos de alto risco, Ministério da Saúde (1994), provavelmente, por ser escassa a legislação

técnica referente ao material médico-hospitalar e ainda mais escassa a fiscalização do

cumprimento da mesma. Na presença de legislação rigorosa quanto a fabricação, comercialização,

e uso desse material, provavelmente, teríamos uma redução do excesso de opções de equipos.

Assim, de certa forma, os equipos seriam pelo menos semelhantes, em termos de qualidade.

Diante dessa diversidade de opções, por vezes, na prática, a avaliação de equipos pode

ser resumida ao reconhecimento de uma determinada marca, como nesta fala:

“A gente conhece a marca, ou até a fama da marca” Brilhante

A entrevistada fala da força da marca, que é reconhecida como boa. Na verdade, as

grandes marcas no mercado brasileiro são representações de grandes empresas multinacionais,

que, freqüentemente, produzem materiais com preços mais altos. As marcas mais conhecidas e

Page 68: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

67

aceitas, no entanto, muitas vezes produzem um determinado material com um padrão de alta

qualidade e este passa a ser o “carro chefe” dos demais produtos que, nem sempre, são de boa

qualidade. Mas, muitas vezes, os profissionais técnicos ou administrativos vêem-se

condicionados à primeira impressão da marca, e não havendo investimento na capacitação de

profissionais para avaliação do material, as instituições mantêm-se reféns dos fabricantes.

Page 69: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

68

4.2.2 Importância do equipo de infusão endovenosa para os enfermeiros

A importância ou o valor que o profissional atribui a um determinado material interfere

diretamente no uso desse material, uma vez que ele representa um meio ou instrumento para o

alcance das metas de trabalho. Para Horta (1979), os instrumentos básicos, indispensáveis para a

enfermagem na prestação da assistência, são as habilidades, conhecimentos e atitudes para a

execução de uma atividade. A autora preconiza como instrumentos básicos para a enfermagem

observação, comunicação, aplicação do método científico, aplicação de princípios científicos,

destreza manual, planejamento, avaliação, criatividade, trabalho em equipe, utilização dos

recursos da comunidade. (Horta, 1979: 37) Cianciarullo (1996) comenta a relevância da

contextualização dos instrumentos básicos, preconizados por Horta, nas disciplinas de

enfermagem fundamental, por constituir-se um enfoque atual e central sobre as atividades de

enfermagem. Para definir instrumento, a autora usa o conceito de Ferreira (1986), no qual

Instrumentos são recursos empregados para se alcançar um objetivo ou conseguir um

resultado. (Ferreira, 1986: 953) Assim, os equipos de infusão constituem instrumentos de

trabalho para o enfermeiro na prestação da assistência. Nesse sentido, os enfermeiros

entrevistados se referiram ao equipo de infusão como um instrumento de trabalho necessário ao

desempenho das suas atividades cotidianas, como nas falas seguintes:

“Interfere “no processo”, porque como qualquer outro material, é muito

importante não é? é nele que está administrando medicamento.” Topázio

“Sem ele eu não faço nada... não é? assim, as medicações de volume maior,

que não é possível administrar através de injeções, não é? É lógico que ...

Page 70: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

69

dentro de um CTI, eu não faço nada sem um equipo. Então ele é uma das peças

principais” Diamante

Nas falas a importância do equipo é relacionada à administração de soluções

endovenosas de grande volume. Mas no mesmo momento que valorizam esse material, a sua

atribuição de valor é transferida para o medicamento, caracterizando o equipo como um

instrumento de trabalho de valor intermediário, transitório, embora a entrevistada reconheça que

sem ele, não faça nada. Parece que Diamante empresta algum valor ao equipo, pelo fato desse

material transportar o que, realmente, é importante para ela, o medicamento.

Por outro lado, a fala a seguir refere-se ao olhar atento do cliente sobre o equipo, como

forma de controlar a medicação endovenosa recebida:

“Eu vejo que o equipo interfere muitas vezes, em relação ao paciente: o

paciente controla se ele está recebendo uma medicação rápida ou não, através

do equipo. Qual medicação está correndo nele, se foi igual do outro ou não.

Ele sabe que através dele tudo está ocorrendo. Ele sabe que se você colocar um

pouquinho mais veloz, o paciente consciente, quer saber o que aconteceu”.

Diamante

Este trecho de discurso mostra a importância do equipo para o enfermeiro e para o

cliente, pois constitui uma possibilidade de controle do cliente sobre a infusão. De um modo

geral, o equipo está a frente do cliente, quase sempre dentro do seu campo visual, e como na

maioria das vezes é constituído de material transparente, favorece-lhe a visualização do que está

sendo infundido e como está sendo infundido. Dessa maneira, o equipo proporciona ao cliente

um poder de acompanhamento e fiscalização da assistência prestada, pois sabe-se que a infusão

endovenosa pode gerar no cliente sentimentos de insegurança. Essa insegurança pode ser

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70

fundamentada no medo que ele tem, em função do senso comum difundir que bolhas de ar na

veia, levam à morte, ou mesmo no medo de perder a punção venosa, o que significaria novo

procedimento doloroso. Por outro lado, o enfermeiro, diante do controle do ciente,

experimenta a sensação de desconforto, ou até mesmo de insegurança, uma vez que ele não está

acostumado a isto e tem dificuldade em dialogar e prestar esclarecimentos ao cliente,

principalmente, ao cliente que já tem uma opinião formada e pouca confiança nos serviços de

saúde. É como se o enfermeiro se sentisse exposto, diante da transparência do equipo.

Outro aspecto relevante na discussão sobre a importância dos equipos de infusão, refere-

se à possibilidade do equipo inadequado expor o cliente ao risco de danos irreversíveis e até

mesmo à morte.

“Se for um equipo que a pinça não funciona eu vou dar um volume maior do

que eu preciso. A pinça pode quebrar numa hora inconveniente, pode soltar a

coisa tudo, e dependendo se for uma medicação perigosa, se tiver tomando um

nipride e o equipo não funcionar... se mata não é? Porque a pressão dele vai lá

em baixo. E tem outra coisa, tem medicação que tem que ser exatamente,

exemplo uma dopamina , uma dobutamina tem que ser exatamente certo.”

Safira

A fala de Safira, na verdade, é um alerta e chama a atenção para a possibilidade do

enfermeiro deparar-se com situações em que o equipo, até então tratado apenas como uma

inofensiva conexão de transporte para medicamentos, assuma a importância de um material que

pode colocar em risco a vida do cliente e a credibilidade da equipe de enfermagem, reforçando a

importância da atenção para os instrumentos e condições de trabalho.

Page 72: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

71

Quando a entrevistada fala da possibilidade de uma pinça (regulador de fluxo) quebrar

em “hora inconveniente”, parece denunciar a falta de confiança do profissional no material com

que trabalha, o que para nós é pertinente, uma vez que o equipo deveria estar cercado de

legislação rigorosa e de mecanismos de segurança contra acidentes, quando na realidade ainda

não há regulamentação que dê segurança a clientes e profissionais da enfermagem. Ao contrário,

o mercado dispõe de muitos equipos com qualidade incompatível aos fins a que se destina e a

equipe de enfermagem vê-se obrigada a conviver com as deficiências dos equipos e os riscos de

acidentes decorrentes, por exemplo, de uma pinça quebrada.

A baixa qualidade de uma pinça pode levar à administração de soluções em velocidade

maior, ou menor que a desejada. Safira relaciona esse risco à infusão de drogas com

características de maior necessidade de estabilidade, às quais chama de “medicação perigosa”,

como “nipride” (nitroprussiato de sódio), dopamina e dobutamina - drogas cujo aumento da

concentração plasmática pode causar iatrogenias graves. Chamamos a atenção, porém, que essas

drogas freqüentemente são infundidas através de bomba de infusão, equipamento cuja finalidade

é o fracionamento preciso do volume em função do tempo de administração das soluções. Mas a

infusão de um volume maior que o estabelecido, independentemente da solução infundida, pode

ser fatal e decorrente de um equipo inadequado. Essa observação merece destaque,

principalmente, em pediatria e unidades de cuidados básicos da neonatologia, onde o uso de

bombas de infusão não é tão freqüente como nas unidades de cuidados intensivos. Apesar de

menos freqüente e menos ostensiva, a administração de soluções em volume ou velocidade de

infusão menor que o desejado também expõe o cliente a risco de vida. Nessa situação, o risco é

instalado pela falta de manutenção da concentração plasmática do medicamento indicado, que

não trará o efeito terapêutico esperado.

Page 73: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

72

4.3. Categoria III: Fatores que interferem no uso de equipos de infusão

A categoria 3 é constituída pelas subcategorias formação profissional do enfermeiro e

custo e disponibilidade de equipos, descritas a seguir.

4.3.1 Formação profissional do enfermeiro

Na subcategoria formação profissional do enfermeiro, a formação aparece como um

fator que interfere no uso de equipos, pois de um modo geral, o equipo é apresentado ao futuro

enfermeiro, no campo de estágio, sem o devido destaque da sua importância como instrumento de

trabalho, com o qual ele vai lidar no dia-a-dia e que pode oferecer riscos ao cliente e ao

enfermeiro enquanto profissional. Por um lado parte das dificuldades que a Escola enfrenta na

formação de enfermeiros no que diz respeito a equipos de infusão pode estar relacionada à pouca

produção científica sobre o tema, uma vez que não há muito o que ler e estudar. Por outro lado

cabe também à Escola, o estabelecimento de uma relação de compromisso com a redução dessa

lacuna do conhecimento específico da enfermagem, incentivando a utilização do conhecimento

disponível, mesmo que seja prático, e motivando produções científicas sobre materiais.

Ao aluno é ensinado o que encontramos na literatura, ou seja, as extremidades do

sistema de infusão. Assim, o acadêmico aprende a diluição de soluções, manuseando seringas,

agulhas, frascos de medicamentos e outros materiais pertinentes, o que constitui a extremidade

superior do sistema. Aprende também punção venosa e instalação de cateteres, manuseando os

próprios dispositivos de punção e fixação, o que constitui a extremidade inferior do sistema. Mas

pouco ou nada lhe é ensinado sobre equipos, como material que possibilita o controle sobre a

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73

infusão dos fármacos a serem administrados. Assim parece-nos que a Escola aborda apenas

parcialmente o tema, contribuindo para a manutenção das dificuldades do enfermeiro em relação

aos equipos.

Brilhante enfatiza a problemática da formação do enfermeiro, no que diz respeito a

recursos materiais:

“Mas gerenciar material, é um negócio complicado. Eu acho que isso é uma

falha da formação do enfermeiro. Isso não é, eu nunca vi isso em nenhuma

escola, seria uma coisa interessante uma escola começar, lembrar, fazer isso...

E os enfermeiros mais antigos, que nem eu, que já tem esse tempo de formado,

ou ele, ignora isso, acha que essa é parte administrativa do cuidar, então não

dá muita bola..” Brilhante

A entrevistada ressalta a pouca importância dada ao ensino sobre material na formação

do enfermeiro e a dificuldade dos profissionais formados há mais tempo em buscar esse

conhecimento, embora pareça-nos que a situação não mudou e que continua havendo uma lacuna

sobre gestão de materiais na formação do enfermeiro. A fala sugere que a falha na formação do

enfermeiro, de certa forma, determina um comportamento de indiferença do profissional na busca

de novos conhecimentos sobre o material de consumo de uso diário nas unidades de trabalho. Isto

nos leva a inferir que, talvez, maior ênfase esteja sendo dada aos equipamentos caros, de última

geração, que vêm acompanhados de manuais e de orientação dos fabricantes e que têm alguma

regulamentação legal de fabricação e uso.

Por outro lado, Topázio sugere que o conhecimento sobre equipos de infusão é óbvio

para enfermeiros. Para a entrevistada, a expectativa é que a equipe conheça os equipos e as suas

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74

funções. Da mesma forma, a expectativa da equipe é que cada profissional que chegue também já

tenha esse conhecimento.

“Quando a gente... a gente chega não é? Já conhece... os funcionários

também.. o equipo de acordo com cada função... É difícil de falar porque a

gente está tão acostumado a trabalhar com, você sabe, que esse equipo é

simples, esse é microgotas...o outro é para nutrição parenteral não é? um é

fotossensível, o outro, não é? então você já vai se...” Topázio

Topázio traz a idéia de que o enfermeiro “chega” ao local de trabalho já conhecendo o

equipo conforme as suas funções, pelo hábito do trabalho, o que dessa maneira sugere não haver

outra forma de conhecimento, ou seja, o uso é determinado pelo conhecimento prático da equipe.

Assim, a formação do enfermeiro no que se refere a materiais, mais especificamente, a

equipos de infusão, não recebe ênfase nem na escola, nem no serviço. A fala a seguir apresenta a

necessidade de investimento nessa formação:

“Eu acho assim, que a gente está precisando sim... é aqui, eu acho que a gente

precisa muito desses cursos.” Rubi

O reconhecimento da necessidade de conhecimento, ao nosso ver, é um primeiro passo,

que precisa ser seguido da busca de informações em fontes adequadas. A utilização do

conhecimento sobre gestão de materiais, produzido em outras áreas, pode ser um importante

passo para sanar as dificuldades da área de sáude.

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75

4.3.2. Custo e disponibilidade dos equipos de infusão endovenosa

Na subcategoria custo e disponibilidade de material, o conhecimento que se tem sobre o

custo de determinado material aparece como um fator que, geralmente, influencia diretamente o

uso dele. Na nossa experiência profissional, foi possível perceber que a falta de conhecimento

sobre o custo de materiais é comum entre os profissionais da área de saúde, principalmente na

enfermagem . Muitas vezes, o enfermeiro desenvolve uma expectativa de preço de determinado

material pela aparência, pela embalagem, ou pela marca do produto. Isso pode ser evidenciado no

procedimento de administração de medicamentos, onde percebemos um grande cuidado do

profissional com os fármacos, em detrimento do cuidado com outros materiais necessários a

administração dos mesmos. Certa vez presenciei, em um hospital, um profissional usando uma

grande quantidade de esparadrapo para fixar um frasco de soro a um suporte, porque esse frasco

não tinha um dispositivo para encaixe ao suporte. Nesta tentativa, acidentalmente, o profissional

contaminou o equipo de infusão e o trocou, fazendo o seguinte comentário: “consegui salvar o

soro.” Essa conduta do profissional mostra a impressão equivocada sobre o custo de material,

pois na verdade o frasco de soro, geralmente, custa menos que o equipo de infusão.

A fala seguinte apresenta uma impressão sobre o valor do equipo de infusão:

“Deve ser mais caro um equipo de nutrição parenteral do que um equipo

simples. Claro que é mais caro! não é?” Brilhante

A importância do equipo para o enfermeiro parece estar vinculada à medicação a ser

administrada. Na fala de Brilhante foi possível constatar a referência ao equipo para nutrição

parenteral (NP) como exemplo de um equipo mais caro que o “simples”. A nutrição parenteral é

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76

uma solução indicada, segundo Phillips (2001), nos casos em que há necessidade de reversão da

fome profunda, e/ou de realização da síntese, reparação e crescimento de tecidos. Trata-se de uma

solução de múltiplos componentes, como glicose e lípides, entre outros, que propiciam o

crescimento de microrganismos patogênicos, além de caracterizar-se como uma solução de

excessiva manipulação. Essas características da nutrição parenteral impõem um maior rigor na

administração, o que é inclusive regulamentado pelo Ministério da Saúde (1998)4. Assim, parece-

nos que a entrevistada, associa também o preço do equipo à solução que será infundida. É como

se essa solução, por sua composição mais complexa, tivesse que ser transportada por um equipo

de maior importância e, portanto, mais caro. Na verdade, a nutrição parenteral deve ser infundida

em bomba, por tratar-se de uma solução cujo aumento na concentração plasmática, pode resultar

em iatrogenias ao cliente. Assim, deve-se utilizar um equipo para bomba de infusão. As demais

características do equipo para NP, no entanto, estão relacionadas ao tipo de envase e à

possibilidade de contaminação, ou seja, o equipo deve ter um filtro de retenção de partículas, em

função da excessiva manipulação. Precisa ter uma entrada de ar (suspiro) com filtro, porque o

envase usado é, frequentemente, rígido (vidro), não colaba. E deve ser trocado, no máximo, a

cada 24 horas, com o objetivo de reduzir-se o risco de contaminação, o que pode ser normalizado

para qualquer equipo usado em NP. Assim, o equipo para nutrição parenteral, em determinada

situação, poderia ser um equipo básico, desde que compatível com bomba de infusão.

A fala seguinte mostra uma preocupação quanto à ausência do enfermeiro na

administração de materiais.

4 MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria n. 272, de 08 de abril de 1998. Fixa os requisitos mínimos exigidos para a Terapia de Nutrição Parenteral. Diário Oficial da União de 23 abr. 1998. Disponível em <http://www.anvisa.gov.br/legis/portarias/272_98.htm>. Acessado em 18 fev. 2001.

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77

“É, a gente fica muito longe desse negócio de custos.... Você pensa bem, quem

lida com, por exemplo, vamos supor, com um equipo de soro: é a gente que

pede; quem sabe o custo, quem sabe quanto custa, é o administrador, pelo

menos aqui no hospital... Ainda mais em hospital público não é? Isto é ... é uma

coisa importante, porque tem que conter custo, mas você não pode piorar a

qualidade .” Brilhante

Diante da ausência do enfermeiro na administração de materiais, estabelece-se uma

contradição, pois, apesar de não envolver-se com o custo dos materiais, cabe ao enfermeiro o

importante papel de contenção de gastos, sem redução da qualidade da assistência. Nesse sentido,

Ortiz & Gaidzinski (1999) identificaram que os profissionais de enfermagem desconhecem o

preço real de materiais de uso do dia-a-dia, como equipos, agulhas, escalpes, luvas, gazes,

seringas, entre outros. A nossa experiência profissional nos leva a concordar com as autoras, pois

parece-nos que os enfermeiros não conhecem o preço de material. Podemos citar, como exemplo,

uma situação ocorrida em um hospital da Região Metropolitana de Belo Horizonte, onde na falta

de equipos com injetor lateral foram distribuídos equipos de cor âmbar (para solução

fotossensível). Alguns enfermeiros declararam-se muito preocupados com o desperdício de

recursos, uma vez que o equipo substituto seria bem mais caro que o equipo em falta, quando na

verdade, o equipo âmbar era 10% mais barato.

Nesse sentido, a disponibilidade de material pode tornar-se um sério problema no

atendimento ao cliente. A falta de material, no dia-a-dia do enfermeiro, é uma situação

relativamente comum e com a qual o enfermeiro está habituado a lidar, mas parece que, nessa

circunstância, a questão de custos não está sendo devidamente avaliada. O enfermeiro é um

profissional do qual se espera grande habilidade frente à necessidade de improvisação por falta de

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78

material, diante de condições inadequadas de trabalho, o que pode ser ilustrado pela colocação a

seguir:

“Tem alguns equipos, por exemplo, que tem uma conexão, que é importante

para gente fazer essas gambiarras não é? então esse equipo simples, que não

tem essa conexão, interfere muito: abre, despreza, porque a gente não tem

esses materiais adequados, e às vezes nem existe não é? por exemplo, sonda

vesical de demora para RN: não existe um coletor específico, não é conhecido.

Então a gente precisa fazer essas conexões, se não tem, é muito difícil.” Jade

A fala acima explicita a postura de aceitação da situação pelo enfermeiro frente à falta

de material e à improvisação. Para a entrevistada, parece que alguns equipos são importantes

porque permitem ao enfermeiro fazer gambiarras. Dá ênfase ao equipo usado nas improvisações,

mas não faz qualquer referência à falta do material que suscitou a necessidade de lançar mão da

improvisação. Parece-nos que, para a entrevistada, o que não pode faltar é o equipo adequado às

“gambiarras”. Essa situação evidencia a criatividade e capacidade de improvisação do

enfermeiro diante de situações adversas. Sá & Fugita (1996) discutem a criatividade, como um

instrumento básico do cuidar em enfermagem e colocam que a criatividade é uma tendência

natural que impele o indivíduo a auto-realização... impulsiona a humanidade rumo a novas

descobertas... (Sá & Fugita, 1996: 49) As autoras afirmam também que a criatividade é uma

capacidade intelectual encontrada em todas as atividades humanas, no continuum do ciclo vital,

em maior ou menor grau, indistintamente entre os sexos, idade e raça, presente nas atividades

técnicas, econômicas ou científicas. Assim, a criatividade é uma ferramenta essencial para o

enfermeiro desenvolver suas atividades assistenciais, de ensino e de pesquisa em enfermagem.

Page 80: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

79

Por outro lado, as situações ilustradas também sugerem que, para a instituição, se o

enfermeiro resolve o problema da demanda de um determinado material, substituindo-o com a

improvisação de outro, talvez não seja prioritário manter o material disponível. A falta de um

determinado material leva ao uso de um outro, muitas vezes mais caro ou cuja reposição no

estoque é mais demorada, o que leva a novas improvisações no futuro, num ciclo interminável,

que impossibilita o controle de estoque, a definição do custo dos procedimentos e a apuração do

custo de material no hospital.

Um outro fator que merece ser destacado é a relação dos enfermeiros com fornecedores

de material médico-hospitalar, que vai influenciar no custo e na percepção da qualidade, além de

trazer uma certa insegurança para o enfermeiro. A relação de alguns fornecedores de material

médico-hospitalar com as instituições de saúde tem sido a de imposição de materiais às

instituições. Nesse sentido é importante ressaltar que, segundo Medici, em palestra proferida no

7˚ ENFTEC (ENFTEC, 2000), a indústria de material hospitalar é a que mais cresce no mundo e

determina a demanda de produtos e serviços deste setor. O autor discute a expansão dos gastos no

Setor Saúde e relaciona características da demanda desse setor com a demanda de outros,

considerando que a demanda em outros setores é baseada no desejo do indivíduo em consumir,

enquanto na saúde é baseada na necessidade. Em outros setores, a informação é simétrica entre o

consumidor e o fornecedor e na saúde só o prestador de serviço é que detém o conhecimento. Em

outros setores, a demanda depende de recursos orçamentários do consumidor, ao contrário, no

setor saúde, não há uma relação entre demanda e recurso orçamentário, ou seja, o indivíduo pode

necessitar, por exemplo, de um determinado medicamento, cujo valor pode ser mais alto que seu

salário. E ainda, em outros setores, a demanda condiciona a oferta, enquanto na saúde, a oferta é

que determina a demanda. Para o autor, a maior oferta leva ao aumento da demanda que leva ao

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80

aumento dos preços, gerando maior lucro que, por sua vez, leva ao aumento de investimentos e

conseqüentemente ao aumento de custo, que por sua vez, aumenta a pressão sobre a oferta,

fechando o ciclo, conforme diagrama a seguir:

Ciclo oferta/demanda no setor saúde

OFERTA

CUSTOS DEMANDA

INVESTIMENTOS PREÇOS

LUCROS

Fonte: Adaptação de ANDRÉ CEZAR MÉDICI: A Expansão e a Contenção de Gastos na Saúde. Palestra proferida no 7º ENFTEC (Gerenciando Custos Maximizando a Assistência de Enfermagem). São Paulo, 2000

O relacionamento dos fabricantes de material com a enfermagem tem-se intensificado

nos últimos anos. Os fornecedores de material têm definido o enfermeiro como seu público alvo

no “marketing” de materiais hospitalares, principalmente os de preços mais altos, a exemplo do

que observamos na relação de fornecedores de medicamentos com o profissional médico. Até

então, os fornecedores dirigiam-se diretamente aos responsáveis pela compra, impondo, de certa

forma, uma seleção de material a ser adquirido. Como em muitas instituições o critério de

aquisição é pelo menor preço, reduzia-se o mercado para os produtos de melhor qualidade e que

também tinham o maior preço. A alternativa encontrada pelos fabricantes de produtos de maior

Page 82: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

81

preço, para a mudança do critério de seleção, passou a ser o investimento no profissional que usa

o material, o que levou os fabricantes a investirem no convencimento do enfermeiro sobre a

superioridade da qualidade do seu produto, como mostra a fala a seguir:

“Então, também, eu não posso confiar cegamente que ele está me oferecendo

coisas assim, de alta tecnologia, um trem bacana demais, ou é só uma alegoria,

sabe? Ele pegou um sapato, de couro e pôs uma florzinha, de ouro. Sabe, ele

pegou um equipo, que é igual a todo equipo e pôs um negocinho lá e falou “Ah!

Esse aqui é especial porque esse aqui... qualquer doente que ficar com ele, não

morre”; e a gente, acaba que acredita, não é? Brilhante

A entrevistada, ao se referir à relação com os fornecedores, mostra a exposição e a

vulnerabilidade do enfermeiro ao “marketing” do fabricante, que culmina com a dificuldade na

emissão de um julgamento preciso sobre o produto. Julgamento, para Sampaio & Pellizzetti

(1996), é geralmente realizado com base nas evidências ou crenças. Seu exercício consiste na

formação de opinião ou estabelecimento de valor para um objeto ou evento, a partir de um

conjunto de conceitos.( Sampaio & Pellizzetti, 1996: 27) Assim, o julgamento resulta em uma

tomada de decisão permeando todas as etapas do método científico. Nesse sentido, a entrevistada

demonstra um receio real, uma vez que falta ao enfermeiro o conhecimento fundamentado no

conjunto de conceitos que deveria subsidiá-lo no julgamento da qualidade do material.

Page 83: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

82

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A busca do conhecimento sobre os critérios que os enfermeiros utilizam para a indicação

de equipos de infusão colocou-nos diante de uma realidade preocupante. Apesar de percebermos

esforços no sentido de intervenção para melhoria dos insumos na área de saúde, como tem

acontecido em relação aos medicamentos, com a quebra de patentes de laboratórios e criação de

genéricos, parece-nos que a legislação brasileira relativa a materiais médico-hospitalares é, ainda

falha. A normalização existente sobre material de consumo é pouco conhecida e, menos ainda,

fiscalizada, o que se torna um fator determinante das formas de fabricação, comercialização e

utilização de materiais que, por vezes, acontece sem controle de qualidade e mecanismos de

proteção para o consumidor.

Contribuindo com essa realidade, a formação/capacitação dos profissionais de saúde, do

enfermeiro especificamente, nos aspectos acadêmicos e institucionais constitui outro fator

importante para a manutenção da situação encontrada, pois os profissionais não são orientados

quanto a sua responsabilidade sobre os materiais que vão usar. O hospital não tem investido na

capacitação dos profissionais e também a escola, parece-nos, não tem conseguido cumprir o seu

papel de proporcionar aos enfermeiros a oportunidade de construir conhecimentos técnicos sobre

o material médico-hospitalar que constitui um instrumento de trabalho para o cuidado em

enfermagem.

A falta de produção científica sobre materiais de consumo e equipos em particular, por

sua vez diminui a oportunidade dos profissionais aumentarem seus conhecimentos específicos.

Há poucos trabalhos técnicos referentes a indicação de uso, manipulação e relação custo

benefício de materiais médico-hospitalares. A maior parte da produção científica diz respeito a

Page 84: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

83

processos de esterilização e reprocessamento de materiais e cuidados relativos ao controle de

infecção hospitalar, onde encontramos o maior número de recomendações técnicas nacionais e

internacionais.

Os enfermeiros entrevistados não tiveram uma preparação formal para lidarem com o

material médico-hospitalar em suas diversas características e referem que o conhecimento sobre

equipos de infusão, por parte dos enfermeiros, seja uma questão óbvia. Assim, o conhecimento

específico sobre equipos foi construído a partir da prática profissional. Apesar disso os

enfermeiros entrevistados conhecem, parcialmente, os critérios de indicação de uso dos equipos

de infusão. No entanto, não relacionam corretamente os componentes e acessórios dos equipos

que lhes permitem utilizar esse material de acordo com os critérios estabelecidos.

O equipo de infusão é um material de grande importância no trabalho do dia-a-dia do

enfermeiro. Como intermediário nas infusões endovenosas com a função de controlar o fluxo das

soluções a serem administradas e por ser um artigo crítico, pode expor o cliente aos riscos de

infecções hospitalares e iatrogeneias graves. Também pode expor o profissional ao risco de

cometer erros irreversíveis. Mas apesar disso a prática profissional tem se desenvolvido sem

discussões técnicas no âmbito institucional, e a indicação de equipos é diferente mesmo entre os

enfermeiros do CTI.

A gestão de materiais no hospital acontece num contexto particular, em que a instituição,

enquanto consumidor, submete-se às imposições de alguns fabricantes e fornecedores,

penalizando profissionais e clientes que sofrem as conseqüências da falta de normalização e

regras institucionais claras. A realidade encontrada mostra uma lacuna no conhecimento técnico

sobre materiais, principalmente sobre equipos de infusão, nas instituições, e por parte do

profissional enfermeiro. Inserido nesse contexto, o enfermeiro é o profissional que tem

Page 85: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

84

conhecimentos técnicos e científicos sobre o cuidar em enfermagem e desenvolve uma prática

profissional que o deveria conduzir, naturalmente, à administração de materiais nas instituições

de saúde. No entanto, o enfermeiro não tem mostrado habilidades que lhe permitam um

posicionamento adequado nos aspectos técnicos, o que o leva a abrir mão de definir as

características específicas do material de uso cotidiano, cabendo-lhe, ao final, usar os materiais

disponibilizados pelo hospital, uma vez que a participação do enfermeiro no processo decisório

sobre materiais ainda é pequena, se considerarmos que é ele o grande usuário. Também não tem

se preparado no aspecto administrativo, quando não se dispõe a discutir o custo e o benefício em

escolher determinado material. Existe um conhecimento prático sobre equipos, mas esse

conhecimento não tem proporcionado ao enfermeiro segurança para posicionar-se, para definir e

tomar decisões acerca de equipos de infusão e outros materiais.

O enfermeiro é o profissional que, apesar das dificuldades encontradas, está em

melhores condições para gerenciar materiais de consumo nas instituições de saúde, equipos de

infusão em particular, por ser o profissional que lida com a maior parte desses materiais e de

forma diversificada, como uso direto, reprocessamento e descarte. Para melhor gerenciamento,

incluindo aspectos econômico-financeiros e de qualidade, no entanto, é necessário investimento

por parte do profissional, da instituição, da escola e governamental, relacionados à normalização

e aprofundamento do conhecimento. O profissional, investindo no aumento do conhecimento

técnico sobre o assunto e na busca pela sistematização e divulgação do conhecimento adquirido.

As instituições de saúde e escolas, em conjunto, promovendo discussões, seminários e cursos

sobre o assunto como forma de resgatar e unir teoria e prática. As escolas no momento em que se

oportuniza a flexibilidade do currículo do curso de graduação, investindo na oferta ou

aprofundamento de conteúdos, ou criação de disciplinas sobre materiais. E ao governo, cabe

Page 86: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

85

investimento em legislações que regulamentem a produção e o uso e maior rigor nas fiscalizações

para disciplinar tecnicamente o mercado.

Em síntese, pode se dizer que os enfermeiros entrevistados possuem um conhecimento

prático que os habilita a fazer indicações de uso técnico de equipos de infusão, de forma

adequada, embora não haja padronização nem mesmo no CTI estudado. Por outro lado, percebe-

se que a participação no processo decisório sobre compra de equipos ainda é menor que o

desejado, por tratar-se de um instrumento de trabalho utilizado em larga escala pela categoria. A

política de compras do hospital e a aceitação de definições técnicas por outros setores ou

profissionais parece gerar uma certa acomodação à situação vigente, por parte dos enfermeiros.

Page 87: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

86

6. ABSTRACT

The infusion set of intravenous infusion is a ‘doctored-hospitalized’ material, considering the

assistance point of view because of the high risk to the patients in which is found in the

commerce in a great deal of diversity in quality, price and usage indications. If not well

manipulated by the professionals, the patient can suffer from irreversible injuries caused by

hipervolemy, plasmatic concentration disturbance of the pharmacs administrated and

combination of those with the prime material used to fabricate the product. The nurse, user of the

infusion set, must pay attention to the indications on intravenous infusion usage. The scientific

production about the theme and the normalization, in governmental cases, are very scanty. The

objective of this resource is to know the criterions used by the nurses for the indication of the

infusion set usage. We realized a study with a exploratory case of qualitative nature, in the

Hospital of the Clinics of the Federal University of Minas Gerais (UFMG), which analyzed

person were nurses from the Intensive Therapy Unit (ITU). The source was collected by

interview semi-structured and submitted to speech analysis. The results show a preoccupant

reality referring to “doctored-hospitalized” material due the low investment in professional

capacity and not enough knowledge about the specified fiscalization and legislation existed about

the material, in which the hospital in a dependent situation of the infusion set productors. The

nurse, responsable for the indication of infusion set usage in ITU’s recognize the importance of

assistance and to know the criterions of usage indication in infusion set. They don’t relacionate

correctly the components and accessories of the infusion set in which allow them to use the

material correctly with few established criterions using the practical knowledge learned in

professional experience, knowing that there’s no relevance in your formation about the material.

Page 88: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

87

The results also show the necessity of nursery investments as nursery schools, investments from

the hospitals about the knowledge given to its professionals about the material and about the

production of scientific work. The government needs to elaborate a specified legislation talking

about production, commerce and how to use infusion set and other kinds of “doctored-

hospitalized” materials.

Page 89: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

88

7. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

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8. ANEXOS

Anexo A

TERMO DE CONSENTIMENTO PÓS INFORMADO

Você está sendo convidado a participar, voluntariamente de uma (1) pesquisa intitulada

“Estudo sobre a indicação de uso técnico de equipos de infusão endovenosa, realizada por

enfermeiros”, desenvolvida no Curso de Mestrado em Enfermagem da EEUFMG, que visa

Page 96: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

95

conhecer os critérios da indicação de uso técnico de equipos de infusão realizada pelos

enfermeiros desta instituição.

O referido estudo tem como autora a mestranda Letícia Helena Januário e como

orientadora a Professora Doutora Marília Alves.

Sua participação é voluntária e consiste em responder à algumas perguntas que fazem

parte da ficha de identificação e do roteiro de entrevista, que serão realizadas em seu local de

trabalho, em hora e local previamente acordados. A entrevista será gravada e transcrita na íntegra.

Serão garantidos o seu anonimato e o sigilo das informações, além da utilização dos resultados

exclusivamente para fins científicos.

Durante o desenvolvimento da pesquisa, você poderá fazer todas as perguntas que julgar

necessárias para o esclarecimento de dúvidas, podendo deixar de participar do estudo a qualquer

momento, se assim o desejar.

Como pessoa a ser entrevistada, afirmo que fui devidamente orientada sobre os objetivos

e finalidade da pesquisa, bem como sobre a utilização das informações que forneci somente para

fins científicos, sendo que meu nome será mantido em sigilo. Minhas dúvidas foram

suficientemente esclarecidas, assim sendo, autorizo a realização da entrevista e sua utilização na

pesquisa.

Entrevistado

Pesquisadora: Letícia Helena Januário

Page 97: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

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Anexo B

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS - UFMG

ESCOLA DE ENFERMAGEM DA UFMG

PÓS GRADUAÇÃO – MESTRADO

De Aluna do curso de mestrado da EEUFMG - Letícia Helena Januário

À Diretoria de Ensino, Pesquisa e Extensão – Professora Urquiza Helena Meira Paulino

Solicito apreciação e autorização para o desenvolvimento do projeto anexo, o que será

apresentado como dissertação de mestrado junto a EEUFMG. Informo que o projeto será

desenvolvido conforme Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, após ter sido

aprovado pelo Comite de Ética da UFMG.

Informo ainda que no campo, Hospital das Clínicas da UFMG, faremos entrevistas com

Enfermeiros de uma Unidade, observação simples com registro em diário de campo e análise da

normalização institucional sobre equipos de infusão.

À vossa consideração

BELO HORIZONTE, 23 de agosto de 2000

Letícia Helena Januário

PS.: O cenário de estudo descrito na metodologia, será alterado conforme autorização, sendo devidamente

adequado ao Hospital das Clínicas da UFMG.

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Anexo C

Belo Horizonte agosto de 2000.

Sra. Enfermeira Maria Dirce Mendonça

Gerente de Enfermagem do Centro de Tratamento Intensivo

Prezada colega,

Tendo concluído os créditos exigidos pelo Curso de Mestrado pela Escola de

Enfermagem da UFMG, encontramo-nos preparadas para a fase de coleta de dados, os quais

desejamos realizar com os enfermeiros desta unidade de Centro de Tratamento Intensivo, no

período de setembro a outubro de 2001.

Solicitamos, autorização para desenvolver as observações de campo e as entrevistas com

os enfermeiros que se dispuserem a contribuir com a sua experiência sobre o tema indicação de

uso de equipos de infusão. O roteiro para entrevista foi testado e encontra-se pronto para sua

aplicabilidade.

Esperamos contar com o apoio de V.S. desde já agradecemos.

Atenciosamente,

Letícia Helena Januário

Mestranda em Enfermagem

Page 99: EQUIPOS DE INFUSÃO ENDOVENOSA – CRITÉRIOS DE SELEÇÃO

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Anexo D

ROTEIRO DE ENTREVISTA

Tempo de exercício da profissão:

Você já fez cursos ou treinamentos sobre gerenciamento de material?

Que critérios você utiliza para indicar o uso de determinado equipo?

Que fatores você leva em conta ao indicar o uso de determinado equipo?

Que partes do equipo, você considera, que interferem com a qualidade da administração de

soluções?

Como um equipo de infusão interfere no seu processo de trabalho?

Você gostaria de fazer algum comentário sobre o uso de equipos pela equipe de enfermagem?

Você já participou de comissão de controle de qualidade de material na área hospitalar?