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INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DE LISBOA
Departamento de Engenharia Mecânica
ISEL
Equipamento de produção de água gelada para
melhorar a eficácia do combate a incêndios florestais
RICARDO FILIPE COUTO FREITAS
(Licenciado em Engenharia Mecânica)
Trabalho Final de Mestrado para obtenção do grau de Mestre
em Engenharia Mecânica
Orientador:
Professor Especialista Francisco Manuel Gonçalves dos Santos
Júri:
Presidente: Professor Doutor Rui Pedro Chedas de Sampaio
Vogais:
Professora Doutora Engenheira Cláudia Casaca
Professor Especialista Francisco Manuel Gonçalves dos Santos
Novembro de 2014
INSTITUTO SUPERIOR DE ENGENHARIA DE LISBOA
Departamento de Engenharia Mecânica
ISEL
Equipamento de produção de água gelada para
melhorar a eficácia do combate a incêndios florestais
RICARDO FILIPE COUTO FREITAS
(Licenciado em Engenharia Mecânica)
Trabalho Final de Mestrado para obtenção do grau de Mestre
em Engenharia Mecânica
Orientador:
Professor Especialista Francisco Manuel Gonçalves dos Santos
Júri:
Presidente: Professor Doutor Rui Pedro Chedas de Sampaio
Vogais:
Professora Doutora Engenheira Cláudia Casaca
Professor Especialista Francisco Manuel Gonçalves dos Santos
Novembro de 2014
I
Agradecimentos
Ao desenvolver um trabalho inserido numa temática que desperta a curiosidade de
bastantes pessoas, é normal receber constantes feedbacks que, por muito desajustados que
pudessem parecer, muitos deles contribuíram, de certa forma, para enriquecer o conteúdo
deste projecto. Posto isto, aproveito para agradecer a todas a pessoas que indirectamente,
e provavelmente sem saberem, ajudaram à elaboração deste trabalho.
Agradeço a ajuda prestada pelo Senhor Eng. Gonçalves dos Santos no papel de orientador,
pela sua disponibilidade, compreensão e orientação nos momentos mais difíceis. A sua
competência e partilha de conhecimentos foi, sem dúvida, um factor chave para o sucesso
deste projecto.
Deixo um agradecimento especial aos Bombeiros Voluntários de Almeirim, em especial
ao Comandante Jorge Costa e ao Bombeiro de 1ª Tiago Catrola, pela disponibilidade e
ajuda prestada no esclarecimento das mais diversas duvidas que surgiram ao longo do
desenvolvimento deste trabalho.
Agradeço a todos os meus amigos que, de alguma forma, me acompanharam nesta
jornada, desde o seu início até ao seu desfecho. Aproveito para deixar um agradecimento
especial aos colegas e amigos, Filipe Rodrigues, Pedro Pardal e Sónia Antunes, pelo
constante apoio e carinho que, mesmo estando longe, fizeram questão que nunca
carecesse.
Por fim, agradeço à minha família, cujo apoio e dedicação incansáveis me trouxeram até
aqui e fizeram de mim a pessoa que sou hoje.
III
Resumo
Os incêndios florestais e o seu respectivo combate constituem um tema de análise e debate
que, dentro da normalidade, deverá sempre estar apoiado pelo melhor que a tecnologia
tem para oferecer. Pessoas e entidades que seguem esta ideologia acabam por contribuir
de forma positiva para que o nível de eficiência do combate a incêndios continue a
aumentar.
Sendo a engenharia uma ciência que visa aplicar conhecimentos para a
criação/aperfeiçoamento do mais diverso tipo de serviços, será no âmbito da produção de
frio que este trabalho pretende dar um contributo para aquilo que poderá vir a ser o futuro
do combate a incêndios florestais.
Ao longo deste trabalho, serão explorados os actuais conceitos e metodologias referentes
ao combate a incêndios florestais, assim como a regulamentação que hoje em dia visa
auxiliar e promover as várias vertentes de segurança, combate e prevenção. Uma vez
conhecidas e estudadas as principais noções teóricas, será proposta uma solução com base
na utilização de água gelada com o propósito de melhorar os níveis de eficácia do combate
a incêndios.
Associados à solução encontrada, estão os princípios termodinâmicos cuja compreensão
é imprescindível para entender o funcionamento de uma máquina frigórica e o porquê
desta solução puder ser considerada um passo em frente na temática do combate a
incêndios florestais. Uma vez conhecidas as noções essenciais, estas serão postas em
prática para, numa primeira análise, estudar a gama de potências frigoríficas associadas a
uma futura execução deste projecto.
Tendo como base um conceito inovador, este será um trabalho que irá constantemente ao
encontro de condicionantes que irão por à prova a sua viabilidade. Desta forma, realizou-
se um levantamento de pontos críticos, cujas soluções deverão ser posteriormente
analisadas e discutidas.
Palavras-chave: incêndio florestal; veículo de combate a incêndios; água gelada; ciclo
frigorífico; potência frigorífica; bomba de aspiração.
V
Abstract
Wildfires and their respective fighting has become a topic of analysis and debate that,
within the normal range, should always be supported by the best that technology has to
offer. Persons and entities who follow this ideology ultimately contribute positively so
that the level of efficiency of firefighting continues to increase.
Being engineering a science that aims to apply knowledge to the creation/improvement
of the most diverse types of services, it will be through cooling that this work aims to
make a significant contribution to what may become the future of wildfires fighting.
Throughout this work, will be explored the current concepts and methodologies relating
to wildfire fighting, as well as regulations that nowadays aims to assist and promote the
various aspects of security, combating and prevention. Once known and studied the main
theoretical notions, will be proposed a solution based on the use of cool water in order to
improve the levels of the efficiency of firefighting.
Associated with the solution found, are the thermodynamic principles whose
understanding is essential to recognize the workings of a cooling machine and why this
solution can be considered a step forward in the theme of fighting wildfires. Once known
the essential notions, they will be put in place to, in a first analysis, study the range of
refrigerating powers associated with a future implementation of this project.
Based on an innovative concept, this is a work that will constantly encounter problems
that will test its viability. Thus, it will be created a list of critical points, whose solutions
should be further analyzed and discussed.
Keywords: wildfire; firefighting vehicle; cooled water; refrigeration cycle; refrigerating
powers; aspirating pump.
VII
Índice Geral
Agradecimentos ................................................................................................................. I
Resumo ........................................................................................................................... III
Abstract ............................................................................................................................. V
Índice Geral ................................................................................................................... VII
Índice de Figuras ............................................................................................................ IX
Índice de Tabelas ............................................................................................................ XI
Índices de Gráficos ....................................................................................................... XIII
1 Introdução ................................................................................................................. 1
2 Conceitos associados aos Incêndios Florestais ......................................................... 3
2.1 Configuração de um Incêndio Florestal ............................................................. 3
2.2 Comportamento do Fogo ................................................................................... 4
2.3 Propagação de um Incêndio Florestal ................................................................ 5
2.3.1 Vento e Correntes de Convecção ............................................................... 5
2.3.2 Combustíveis Florestais .............................................................................. 7
2.3.3 Transmissão de Energia .............................................................................. 7
2.4 Combate a Incêndios .......................................................................................... 8
2.4.1 Meios de combate ....................................................................................... 9
2.4.2 Métodos de ataque por terra ..................................................................... 12
2.4.3 Métodos de ataque por meios aéreos ........................................................ 13
2.4.4 Metodologias pós-incêndio ...................................................................... 15
2.5 Os incêndios florestais em Portugal ................................................................. 17
2.5.1 Legislação aplicável ................................................................................. 17
2.5.2 Dados Estatísticos ..................................................................................... 23
3 Os incêndios Florestais no âmbito da Produção de Frio ......................................... 29
3.1 Actuação com Água ......................................................................................... 29
3.2 Princípios de refrigeração ................................................................................ 31
3.2.1 Fluido frigorigéneo ................................................................................... 31
3.2.2 Constituintes de um ciclo frigorífico ........................................................ 32
3.2.3 Ciclo de Carnot ........................................................................................ 37
3.2.4 Ciclo de Carnot Vs Ciclo Teórico Vs Ciclo Real ..................................... 38
VIII
3.3 Solução com base na utilização de Água Gelada ............................................ 40
3.4 Equipamento geral de um veículo de combate a incêndios ............................. 42
3.4.1 Ligações Storz .......................................................................................... 42
3.4.2 Bomba de aspiração .................................................................................. 43
3.4.3 Mangueiras ............................................................................................... 44
3.4.4 Agulhetas .................................................................................................. 45
3.4.5 Disjuntores ................................................................................................ 46
3.4.6 Conjuntores ............................................................................................... 47
4 Estudo e concepção do equipamento de produção de água gelada ......................... 49
4.1 Estudo das estruturas de suporte ...................................................................... 49
4.1.1 Atrelado .................................................................................................... 49
4.1.2 Veículo pesado de mercadorias ................................................................ 50
4.2 Estudo das potências de arrefecimento ............................................................ 53
4.2.1 Análise de ciclo teórico ............................................................................ 59
4.3 Factores de concepção ..................................................................................... 61
4.4 Pontos críticos .................................................................................................. 63
5 Conclusão ................................................................................................................ 67
Bibliografia ..................................................................................................................... 69
ANEXOS ........................................................................................................................ 73
Anexo A – Características e equipamentos de presença obrigatória impostos pelo
Despacho nº 21638/2009 num Veiculo Florestal de Combate a Incêndios ................ 75
Anexo B – Diagrama p-h do fluido R134a – Ciclo frigorífico teórico (regime +40°/-
7°) ................................................................................................................................ 95
IX
Índice de Figuras
Figura 2-1 - Configuração de um incendio florestal [1] ................................................... 4
Figura 2-2 - Propagação de um incêndio florestal em função do vento [1] ..................... 6
Figura 2-3 - Ilustração de um incêndio propagado por acção de correntes de convecção
[1] ..................................................................................................................................... 7
Figura 2-4 - Modos de transmissão de energia durante um incêndio florestal [1] ........... 8
Figura 2-5 - Exemplos de veículos terrestres de combate a incêndios [1] [3] [4] .......... 10
Figura 2-6 - Exemplos de meios aéreos para extinção de incêndios [6] ........................ 11
Figura 2-7 - Exemplos de equipamentos de protecção individual [6] ............................ 12
Figura 2-8 - Ilustração do método indirecto de combate a incêndios [1] ....................... 13
Figura 2-9 - Descarga de agente extintor por um meio aéreo durante um incêndio
florestal [1] ..................................................................................................................... 14
Figura 2-10 - Ilustração da metodologia pós-incêndio – Rescaldo [1]........................... 15
Figura 2-11 - Ilustração da metedologia pós-incêndio – Preservação de vestigios [1] .. 16
Figura 2-12 - Exemplo de mapa ilustrativo do Risco temporal de incêndios em Portugal
continental [7] ................................................................................................................. 19
Figura 2-13 - Exemplo de mapa ilustrativo do Risco espacial de incêndios em Portugal
continental [8] ................................................................................................................. 20
Figura 2-14 - Mapa ilustrativo da área ardida no ano de 2012 [10] ............................... 26
Figura 3-1 - Ilustração do triângulo de fogo e tetraedro do fogo ................................... 29
Figura 3-2 - Modos de actuação com água [1] ............................................................... 30
Figura 3-3 - Representação teórica do efeito do compressor num diagrama p-h
[Adaptação de 14] ........................................................................................................... 33
Figura 3-4 - Representação teórica do efeito do condensador num diagrama p-h
[Adaptação de 14] ........................................................................................................... 34
Figura 3-5 - Representação teórica do efeito do dispositivo de expansão num diagrama
p-h [Adaptação de 14] .................................................................................................... 36
Figura 3-6 - Representação teórica do efeito do evaporador num diagrama p-h
[Adaptação de 14] ........................................................................................................... 37
Figura 3-7 - Representação do ciclo de Carnot num diagrama t-s [14] .......................... 38
Figura 3-8 - Representação simples dos componentes principais de um circuito
frigorífico e comparação dos ciclos teórico e real num diagrama p-h [Adaptado de 14]39
X
Figura 3-9 - Exemplo de elementos de ligação do tipo Storz [16] ................................. 43
Figura 3-10 - Exemplo de bomba de serviço de incêndios instalada num veículo de
combate a incêndios [18] ................................................................................................ 44
Figura 3-11 - Exemplo de carretel incorporado num veículo de combate a incêndios [18]
........................................................................................................................................ 44
Figura 3-12 - Lanços de mangueira flexíveis arrumados nos cofres do veículo [18] .... 45
Figura 3-13 - Exemplo de agulheta [19] ......................................................................... 45
Figura 3-14 - Ilustração das reacções na agulheta de acordo com o modo de
funcionamento [19]......................................................................................................... 46
Figura 3-15 - Disjuntor e exemplo de aplicação [19] ..................................................... 46
Figura 3-16 - Conjuntor e exemplo de aplicação [19] .................................................... 47
Figura 4-1 - Exemplo de esfera de engate com suporte de tracção [20] ........................ 50
Figura 4-2 - Exemplo de chasis de um veículo pesado de mercadorias [21] ................. 51
Figura 4-3 - Tipos de cabina em veículos pesados de mercadorias [21] ........................ 52
Figura 4-4 - Exemplo de superestrutura do tipo plataforma [21] ................................... 52
XI
Índice de Tabelas
Tabela 2-1 - Número de ocorrências e consequente área ardida (2002-2012) [10] ....... 24
Tabela 2-2 - Número e especificação das ocorrências, número de reacendimentos e área
ardida no ano de 2012 [10] ............................................................................................. 27
Tabela 3-1 - Propriedade do fluido frigorigéneo R134a [12] ......................................... 32
Tabela 4-1 - Caudais volúmicos máximos [16] .............................................................. 55
Tabela 4-2 - Calor específico da água a +4℃ e a +25℃ [22] ........................................ 55
Tabela 4-3 - Massa volúmica da água a +4℃ e a +25℃ [23] ........................................ 55
Tabela 4-4 - Caudais mássicos máximos ........................................................................ 56
Tabela 4-5 - Potências de arrefecimento necessárias para arrefecer os caudais de água
das possíveis saídas ........................................................................................................ 56
Tabela 4-6 - Caudais mássicos mínimos ........................................................................ 57
Tabela 4-7 - Caudais volúmicos mínimos ...................................................................... 58
Tabela 4-8 - Tabela-síntese elucidativa das potências de arrefecimento e caudais
máximos e mínimos para as possíveis saídas ................................................................. 58
Tabela 4-9 - Propriedades termodinâmicas dos quatro pontos de interesse no ciclo
frigorífico teórico ............................................................................................................ 60
XIII
Índices de Gráficos
Gráfico 2-1 - Número de ocorrências em função do tempo (2002-2012) ...................... 25
Gráfico 2-2 - Área ardida em função do tempo (2002-2012) ......................................... 25
Gráfico 2-3 - Disposição dos distritos em função do número de ocorrências e de área
ardida no ano de 2012 ..................................................................................................... 28
1
1 Introdução
A noção de que os incêndios florestais são uma constante ameaça, tanto a ecossistemas,
como a populações, é um conceito que desde cedo ficou presente na consciência das
pessoas. Dada a situação actual e os momentos difíceis que todos os anos os bombeiros
por todo o mundo enfrentam para fazer com que os incêndios florestais permaneçam uma
realidade apenas para alguns, é necessário compreender a gravidade das consequências
inerentes a este tipo de sinistro, nomeadamente, a destruição de recursos naturais, bens e,
por vezes, vidas humanas.
Este projecto tem como principal objectivo incentivar o avanço tecnológico dos meios de
combate a incêndios florestais. Desta forma, será estudado e um meio de produção de
água gelada com o intuito de arrefecer a água destinada a combater um determinado
incêndio florestal – nunca dispensando eventuais testes e ensaios que permitam verificar
os níveis de eficiência desta ideia. A viabilidade desta solução é sustentada pela teoria do
triângulo do fogo, onde as acções tomadas terão em vista a remoção eficaz da componente
“calor”.
Existem variadíssimos meios e métodos de combate a incêndios florestais que, no âmbito
deste projecto, deverão ser compreendidos antes de se proceder ao estudo e
implementação de qualquer alteração que vise modificar o actual processo de combate a
incêndios. Para este efeito, existem regulamentações e manuais que clarificam e, de certa
forma, ajudam a identificar e perceber os mais diversos equipamentos e metodologias
utilizadas durante um combate a um incêndio florestal.
Pretende-se ainda com este trabalho “abrir caminho” para um nível mais avançado de
estudo e análise do tema, nomeadamente, selecção de equipamentos, avaliação e debate
de pontos críticos e, se possível, estudar processos de optimização que integrem eventuais
avanços tecnológicos.
3
2 Conceitos associados aos Incêndios Florestais
Um incêndio florestal é caracterizado pela ocorrência de fogo sem controlo sobre
qualquer forma de vegetação, podendo este ser provocado, tanto por causas naturais,
como por acção humana, intencional ou negligente. Contudo, os impactes provocados por
estes eventos são de certa forma suscetíveis a acções de mitigação por parte do ser
humano. Para além das medidas de prevenção a nível estrutural e de ordenamento do
território, existe ainda a acção de combate, processo que visa travar a progressão do
incêndio.
É importante referir que, na ausência de acção humana, a iniciação de um incêndio
florestal tenderá a ocorrer em estações de seca e calor – épocas em que a vegetação se
encontra com um teor de humidade bastante reduzido. Assim que a energia radiante
emitida pelo Sol incide sobre a vegetação seca de área reduzida, é possível a ocorrência
de combustão espontânea e posterior alastramento das chamas para a vegetação
circundante.
2.1 Configuração de um Incêndio Florestal
Antes de analisar a forma como o fogo se comporta enquanto consome um determinado
terreno florestal, é necessário conhecer alguns conceitos vocabulários utilizados nas
práticas de combate a incêndios florestais.
Um incêndio florestal começa por um ponto que se desenvolve num pequeno círculo à
medida que o foco de incêndio se vai alastrando a novos combustíveis. Contudo, à medida
que se vai desenvolvendo, a configuração do incêndio adaptar-se-á aos factores que o
envolvem.
Às diferentes partes de compõem um incêndio florestal (Figura 2-1) são dados os
seguintes nomes [1]:
Frente principal ou cabeça – Zona onde o incêndio se propaga com maior
intensidade;
Retaguarda ou cauda – Zona oposta à frente, onde o incêndio assume menor
intensidade, ainda que possa também progredir nessa direcção;
4
Flanco – Partes laterais situadas entre a frente e a retaguarda;
Dedo – Saliência num flanco, correspondente ao local onde o incêndio se propaga
com maior velocidade;
Bolsa – Zona compreendida entro o flanco e o dedo
Ilha – Área situada no interior do perímetro do incêndio que não foi afectada pelo
mesmo;
Foco secundário – Ponto exterior, separado do perímetro do incêndio principal, onde
se verifica a ignição de um novo foco de incêndio.
2.2 Comportamento do Fogo
O comportamento do fogo é um conceito bastante importante para compreender a forma
como o incêndio terá tendência a alastrar. A sua boa avaliação é também fundamental
para planear os métodos de combate adequados e definir um perímetro de segurança
apropriado [1].
De uma forma simplificada, a previsão e evolução do incêndio é feita com base na análise
dos seguintes factores: as condições meteorológicas, a topografia e os combustíveis. Este
último, no caso dos incêndios florestais, será qualquer tipo de vegetação que se encontre
em contacto com o fogo, nunca esquecendo que as diferentes espécies e configurações
Figura 2-1 - Configuração de um incendio florestal [1]
5
florestais terão um papel preponderante no modo de propagação do incêndio.
Generalizando, os três factores previamente enunciados podem ser vistos da seguinte
forma [1]:
Características dos combustíveis – Distribuição vertical e horizontal, dimensão,
quantidade ou carga, humidade do combustível, combustibilidade e percentagem de
vegetação seca de área reduzida;
Características do relevo (topografia) – Forma, declive e exposição das vertentes;
Condições meteorológicas – Temperatura e humidade relativa do ar, direcção e
velocidade do vento.
De forma a caracterizar um determinado incêndio florestal, podem ser considerados dois
parâmetros essenciais: a velocidade de propagação e a intensidade. Como o próprio nome
indica, a velocidade de propagação refere-se ao espaço percorrido pelo incêndio por
unidade de tempo (geralmente expressa em m/min ou km/h). Já a intensidade da frente de
fogo, pode ser considerado o indicador mais importante relacionado com o
comportamento do fogo, sendo definido como a libertação de energia por unidade de
tempo. Este parâmetro advém da velocidade de propagação, da carga combustível
disponível para arder e do calor libertado por unidade de peso de combustível.
2.3 Propagação de um Incêndio Florestal
2.3.1 Vento e Correntes de Convecção
O vento e as correntes de convecção são conhecidos como sendo os principais factores
condicionantes da propagação e desenvolvimento de incêndios. Desta forma, é possível
considerar a existência de dois tipos de incêndios florestais: os propagados pela acção do
vento e os pela acção das correntes de convecção.
Nos incêndios propagados pela acção do vento (Figura 2-2) é possível observar a
inclinação das colunas de fumo de acordo com a direcção do vento e, assim, determinar
com alguma facilidade a cabeça, retaguarda e flancos do incêndio. Contudo, neste tipo de
incêndios, existem outras características importantes [1]:
Apresentam-se em forma de ovo ou sob forma elíptica;
6
A intensidade e sentido de propagação estão directamente relacionados com a
direcção e velocidade do vento;
Ocorrem, frequentemente, focos secundários na zona a jusante da frente de incêndio;
A retaguarda e os flancos podem ser dominados, com relativa facilidade;
É possível prever para onde o incêndio se irá propagar.
Quanto aos incêndios propagados pela acção de correntes de convecção (Figura 2-3) é
possível constatar a presença de colunas de fumo direitas, onde é necessário também ter
especial atenção quanto à sua configuração, sendo esta um parâmetro de difícil avaliação.
Neste tipo de incêndios é necessário ter em conta os seguintes factores [1]:
A velocidade e direcção de propagação são irregulares, sendo praticamente
impossível prever para onde o incendio se propagará;
Poderá haver incursões a descer encostas sem a ajuda do vento;
Não existe, em circunstâncias normais, a projecção de materiais e partículas
incandescentes a grande distância;
Partículas incandescentes originadas pelo incêndio podem cair, de forma aleatória,
nas imediações da coluna de fumo;
O incêndio propagar-se-á de forma pulsante;
A dificuldade em dominar o incêndio é bastante elevada.
Figura 2-2 - Propagação de um incêndio florestal em função do vento [1]
7
2.3.2 Combustíveis Florestais
Quanto à propagação dos incêndios através dos combustíveis florestais, a categorização
mais comum é a seguinte [1]:
Incêndio de superfície – As chamas propagam-se junto ao solo, queimando os
combustíveis apenas ao nível da superfície;
Incêndio de copas – As chamas atingem as camadas mais altas do combustível,
nomeadamente as copas das árvores;
Incêndio subterrâneo – Propaga-se através das raízes ou na manta morta inferior,
normalmente, com uma combustão sem chama (a quantidade de gases inflamáveis
libertados não é suficiente para manter a chama);
Incêndio de projecção – A propagação é efectuada, essencialmente, pela projecção
ou deslocamento de materiais incandescentes.
2.3.3 Transmissão de Energia
Na propagação de um incêndio florestal é essencial referir os modos de transmissão de
energia, sendo eles, convecção e radiação (o fenómeno de condução pode, neste âmbito,
ser desprezado devido à dominante abrangência dos restantes fenómenos). Ambos os
fenómenos são responsáveis por aquecer e provocar a evaporação da água presente na
Figura 2-3 - Ilustração de um incêndio propagado por acção de correntes de convecção [1]
8
vegetação circundante, preparando-a desta forma para que se inicie a combustão – Figura
2.4.
Também associado à propagação de um incêndio florestal está a projecção e
deslocamento de matéria inflamada. Este meio de propagação é muitas vezes responsável
pelo surgimento de focos secundários em locais relativamente afastados do incêndio
principal e também por afectar seriamente a segurança e integridade dos bombeiros.
A projecção de matéria pode ocorrer, essencialmente, por dois motivos [1]:
Materiais leves a arder que se elevem no ar impulsionados pelas correntes de
convecção e acabam por cair fora do perímetro do incêndio principal;
Materiais pesados, nomeadamente pinhas e troncos, que desçam a encosta ainda a
arder.
2.4 Combate a Incêndios
As tácticas de combate a um incêndio florestal dependem em grande parte das
circunstâncias em que ele se desenvolve. A acção de combate só deverá ter lugar uma vez
definidas estas circunstâncias e ponderados os meios e recursos disponíveis para o efeito.
De notar que a eficácia da táctica adoptada depende, não só da correcta decisão sobre a
sua aplicação, como também da actuação eficaz dos executantes das manobras
necessárias à sua concretização.
Figura 2-4 - Modos de transmissão de energia durante um incêndio florestal [1]
9
Os principais problemas inerentes à adopção das tácticas mais apropriadas são os
seguintes [2]:
Carência de formação e treino dos intervenientes, aos mais diversos níveis
(comando, chefias intermédias e executantes das manobras);
Concentração dos esforços de extinção por meios terrestres apenas recorrendo a
água, posicionando veículos e suas guarnições em estradas e caminhos, quase nunca
recorrendo a técnicas de combate indirecto envolvendo pessoal com ferramentas
manuais, tractores ou contra-fogo;
Para além dos grupos helitransportados, não existem equipas especializadas de
pessoal apeado com material de sapador dedicadas à supressão;
Utilização de água pelos meios terrestres nem sempre efectuada correctamente,
desperdiçando-a e não a combinado com o recurso a material de sapador
(ferramentas manuais);
Ausência de registo do recurso a tractores e máquinas de rasto, suspeitando-se que o
envolvimento desses meios terá uma frequência reduzida;
Coordenação entre meios aéreos e terrestres muitas vezes deficientes, sendo vulgar
a realização de descargas em locais para onde não foram posicionados meios
terrestres como garantia da rentabilização dessas descargas;
Elevado número de reacendimentos, por inexistência de equipas dedicadas ao
rescaldo (processo para evitar que um incêndio recomece após ter sido dominado).
2.4.1 Meios de combate
Os meios utilizados no combate a incêndios são, de maneira geral, os seguintes [2]:
Veículos com características todo-o-terreno ou, no mínimo, tracção total (Figura 2-
5):
a. Veículo de combate a incêndios;
b. Veículos de apoio logístico, como veículos tanque destinados às operações de
reabastecimento de água;
c. Veículos de comando táctico utilizados para apoio ao comando das operações;
d. Tractores com charruas ou grades de disco e tractores de rasto com lâmina para
abertura de faixas de contenção ou de segurança.
10
Meios aéreos para extinção de incêndios em fase inicial e apoio a grandes incêndios
(Figura 2-6).
a. Helicópteros
i. Meios aéreos para missões de combate a incêndios;
ii. Meios aéreos para missões de reconhecimento, avaliação, comando e controlo;
iii. Meios aéreos para missões de primeira intervenção em emergências, evacuação
aero-médica, busca e salvamento e apoio a operações terrestres.
b. Aviões, maioritariamente aerotanques para realizar missões de combate a
incêndios, reconhecimento e guiamento de meios aéreos.
Figura 2-5 - Exemplos de veículos terrestres de combate a incêndios [1] [3] [4]
11
Equipamentos que guarnecem os veículos de combate a incêndios.
c. Ferramentas manuais (material de sapador), nomeadamente, pá, enxada,
machado, batedor, entre outros;
d. Equipamentos hidráulicos (mangueiras, agulhetas, extintores, entre outros);
e. Ferramentas mecânicas, nomeadamente, motosserras e roçadoras motorizadas;
f. Equipamento especializado em técnicas de contra fogo;
g. Equipamento de comunicação.
Produtos para extinção/contenção, aplicados por meios aéreos ou terrestres.
a. Agentes extintores (água e espumas);
b. Agentes retardantes (espumas e caldas químicas).
Vestuário e equipamento de protecção individual que deverá ser utilizado por todo o
pessoal envolvido nas operações de combate em terra (Figura 2-7).
a. Vestuário, nomeadamente, cogula, camisa e calça de protecção, luvas, cinturão e
botas;
b. Equipamento de protecção (capacete e óculos);
c. Equipamento de sobrevivência individual – cantil, lanterna e fire shelter (abrigo
portátil de incêndio florestal).
Figura 2-6 - Exemplos de meios aéreos para extinção de incêndios [6]
12
2.4.2 Métodos de ataque por terra
É possível destacar três métodos de ataque a incêndios florestais por terra [2]:
Método directo – Consiste no ataque directo às chamas, sempre que possível,
recorrendo a tácticas ofensivas na cabeça do incêndio de maneira a impedir de
imediato o seu desenvolvimento. Sempre que não estiverem reunidas as condições
de segurança, o ataque efectua-se a partir da retaguarda e pelos flancos, em direcção
à frente de incêndio. É ainda possível destacar duas situações típicas de combate
directo a um incêndio florestal:
a. Recorrendo a água, com base em veículos de combate especializados;
b. Recorrendo a material de sapador, geralmente, quando e onde não é possível
chegar com os veículos de combate. Pode ainda ser combinada, a esta situação, a
descarga de agentes extintores por parte de meios aéreos, sendo que nestas
ocorrências será necessário tomar precauções acrescidas. Inerente ao risco de se
ser atingido por um lançamento de um meio aéreo estão as seguintes metodologias
de segurança individual [1]:
i. Sair da área de descarga, se ainda for possível;
ii. Sair de uma área com árvores de grandes dimensões e com aspecto deteriorado;
iii. Permanecer deitado de barriga para baixo, de frente para a aeronave com
capacete e óculos bem apertados, pés afastados para proporcionar maior
estabilidade ao corpo e agarrar firmemente o equipamento transportado de
maneira a que este não seja projectado.
Método indirecto – Método utilizado para travar a propagação das chamas, quando
o ataque directo não é possível (Figura 2-8). Consiste essencialmente em tentar
limitar o incêndio a uma determinada área, sendo esta delimitada por faixas de
Figura 2-7 - Exemplos de equipamentos de protecção individual [6]
13
contenção (zonas previamente tratadas para retardar a propagação das chamas ou
para extinguir o incêndio). Estas faixas podem existir das seguintes formas:
a. Previamente existentes – Estradas, caminhos florestais, aceiros e arrifes;
b. Construídas na altura do incêndio através do desbaste de combustível florestal.
Método combinado – Consiste na aplicação em simultâneo dos dois métodos
previamente enunciados.
Contra-fogo – Esta técnica consiste na queima de vegetação num local para onde o
incêndio se esteja a dirigir, desta forma, a intensidade do incêndio tenderá a diminuir
quando este chegar ao local, tornando-se mais fácil de dominar e extinguir.
De notar que esta técnica é uma operação arriscada que deverá apenas ser utilizada
como ultimo recurso. A decisão sobre a sua realização pertence, não ao bombeiro,
mas sim ao comandante das operações.
2.4.3 Métodos de ataque por meios aéreos
“Os incêndios vencem-se no terreno, pois só os meios terrestres conseguem extinguir
totalmente o incêndio e prevenir o seu reacendimento, com um bom e eficiente rescaldo.”
[1].
É importante referir que os meios aéreos, apesar de serem bons auxiliares no combate a
incêndios florestais, devem ser sempre complementados com métodos de ataque por terra.
Contudo, a utilização destes meios (Figura 2-9) está sujeita a uma análise preliminar que
visa verificar a eficácia da intervenção face às condições em que se desenvolve o incêndio
e aos objectivos tácticos estabelecidos pelo comandante das operações.
Figura 2-8 - Ilustração do método indirecto de combate a incêndios [1]
14
As características dos meios aéreos a explorar no combate a incêndios são as seguintes
[2]:
Velocidade e consequente mobilidade;
Capacidade unitária de descarga de produtos;
Capacidade de transporte e colocação de equipas de intervenção no terreno;
Ampla visibilidade do terreno.
Quanto ao nível de intervenção, os meios aéreos classificam-se se seguinte forma [1]:
Meios de primeira intervenção – Aplicados prioritariamente no combate a incêndios
nascentes ou de pequenas proporções, sendo accionados imediatamente após o alerta
de incêndio;
Meios de segunda intervenção – Aplicados para além das situações de incêndios
nascentes, sendo accionados a pedido do comandante das operações;
Meios de reforço – Utilizados em situações especiais e a pedido do comandante das
operações. Estes são accionados sob a responsabilidade e coordenação estratégica do
Centro Nacional de Operações de Socorro.
Como principais limitações da utilização dos meios aéreos, é possível destacar as
seguintes:
Condições atmosféricas adversas como ventos fortes e nevoeiro, podem dificultar as
operações;
Algumas condições adversas do terreno, nomeadamente, declives acentuados, fumos
altamente densos e linhas de transporte de energia, podem dificultar ou até mesmo
tornar impossível a utilização dos meios aéreos;
Figura 2-9 - Descarga de agente extintor por um meio aéreo durante um incêndio florestal [1]
15
Ponto de reabastecimento de combustível e de agente extintor potencialmente
afastado do local do incêndio;
Elevados custos de operação.
2.4.4 Metodologias pós-incêndio
2.4.4.1 Rescaldo
Como já fora mencionado anteriormente no ponto 2.4, o rescaldo consiste num conjunto
de medidas que visam garantir que o incêndio, uma vez dominado, não se torne
novamente activo, desta forma, esta operação constitui uma parte integrante dos meios de
combate a incêndios – Figura 2-10.
Generalizando, o rescaldo destina-se a assegurar que todos os processos de combustão na
área ardida se encontram extintos, ou então, garantir que as combustões ainda existentes
se encontram devidamente isoladas e que não apresentam qualquer tipo de perigo de
reacendimento.
Para que a operação de rescaldo seja bem-sucedida é necessário ter em conta os seguintes
pontos [1]:
Um incêndio extinto nas horas frias da noite e madrugada pode reacender-se com o
calor do dia;
O vento pode, também, facilitar o reacendimento;
O rescaldo é uma operação delicada e de grande responsabilidade;
Figura 2-10 - Ilustração da metodologia pós-incêndio – Rescaldo [1]
16
Um bom rescaldo, que ofereça garantias de segurança tem forçosamente que eliminar
qualquer possibilidade de reacendimento do incêndio;
Um reacendimento é sempre mais perigoso do que o incêndio inicial, isto porque os
combustíveis nas proximidades já se encontram secos, sem humidade e predispostos
a arder com facilidade.
2.4.4.2 Vigilância
Uma vez realizada a operação de rescaldo, é necessário estabelecer operações de
vigilância sobre toda a área ardida, de modo a que, qualquer tendência para reacendimento
seja identificada e imediatamente anulada pelo pessoal presente no local.
Esta intervenção é um processo permanente podendo, por vezes, no caso de incêndios de
grandes dimensões, prolongar-se por vários dias até deixar de haver indícios de actividade
que possam comprometer todo o trabalho realizado.
2.4.4.3 Preservação de vestígios
A preservação de vestígios é uma operação de apelo a todos os membros que participaram
no combate às chamas, mais propriamente, para que sejam desenvolvidos todos os
esforços para apoiar a investigação relacionada com a origem do incêndio,
nomeadamente, preservando e sinalizando todos os vestígios e prestando todas as
informações que forem solicitadas pelas autoridades – Figura 2-11.
Figura 2-11 - Ilustração da metedologia pós-incêndio – Preservação de vestigios [1]
17
2.5 Os incêndios florestais em Portugal
“A floresta é um património essencial ao desenvolvimento sustentável de um país. No
entanto, em Portugal, onde os espaços florestais constituem dois terços do território
continental, tem-se assistido, nas últimas décadas, a uma perda de rentabilidade e
competitividade da floresta portuguesa.” [5].
Neste capítulo pretende-se dar a conhecer a legislação actualmente em vigor
relativamente ao combate de incêndios florestais, assim como alguns dados estatísticos
que visam dar a conhecer a evolução deste tipo de sinistros no nosso país.
2.5.1 Legislação aplicável
“A política de defesa da floresta contra incêndios, pela sua vital importância para o País,
não pode ser implementada de forma isolada, mas antes inserindo-se num contexto mais
alargado de ambiente e ordenamento do território, de desenvolvimento rural e de
protecção civil, envolvendo responsabilidades de todos, Governo, autarquias e cidadãos,
no desenvolvimento de uma maior transversalidade e convergência de esforços de todas
as partes envolvidas, de forma drecta ou indirecta.” [5].
O Decreto-Lei nº 124/2006 de 28 de Junho foi criado com o objectivo de estabelecer
medidas e acções a desenvolver no âmbito do Sistema Nacional de Defesa da Floresta
contra Incêndios, sendo que neste subcapítulo, de maneira a não estender excessivamente
este projecto, apenas serão enumerados alguns dos pontos mais importantes abordados
por esta legislação.
De notar que, associado a este decreto, surgiu uma nova regulamentação (Decreto-Lei nº
17/2009 de 14 de janeiro) que veio propor alguns ajustamentos por forma a colmatar
alguns constrangimentos verificados durante a aplicação do Decreto-Lei nº 124/2006 de
28 de Junho. Algumas das medidas a frisar são as seguintes [6]:
Definição e implementação de níveis de planeamento e coordenação regional no
que toca à protecção da floresta;
Enquadramento institucional e definição de atribuições a estruturas de
planeamento estratégico e de articulação entre entidades;
18
Planos de edificação em zonas classificadas de “elevado” ou “muito elevado”
risco de incêndios;
Clarificação das regras de utilização de fogo técnico;
Definição de prazos de elaboração e revisão dos planos de defesa da floresta
contra incêndios.
Posto isto, é possível enunciar os seguintes pontos fundamentais presentes na legislação
em vigor [5] [6]:
Nas Regiões Autónomas, o Decreto-Lei nº 124/2006 de 28 de Junho apenas é
aplicável após respectiva adaptação, sendo esta da responsabilidade das assembleias
legislativas regionais.
O novo sistema de defesa contra incêndios identifica objectivos e recursos e traduz-
-se num modelo dinâmico e activo que, tendo em contas os factores em seguida
apresentados, tem em vista resultados a médio e longo prazo:
a. Promover a gestão activa da floresta;
b. Implementar a gestão de combustíveis em áreas estratégicas e construção e
manutenção de faixas de contenção;
c. Reforçar as estruturas de combate e de defesa da floresta contra incêndios;
d. Dinamizar um esforço de educação e sensibilização para a defesa da floresta
contra incêndios e para o uso correcto do fogo;
e. Adoptar estratégias de reabilitação de áreas ardidas;
f. Reforçar a vigilância e fiscalização.
19
O índice de risco temporal de incêndio (Figura 2-12) estabelece, diariamente, o risco
de ocorrência de incêndio florestal em todos os conselhos de Portugal continental,
sendo os níveis classificativos os seguintes:
a. Reduzido (classe 1);
b. Moderado (classe 2);
c. Elevado (classe 3);
d. Muito Elevado (classe 4);
e. Máximo (classe 5).
De notar que este índice é determinado com base no estado dos combustíveis
florestais e na meteorologia associada a cada zona.
Figura 2-12 - Exemplo de mapa ilustrativo do Risco temporal de incêndios em Portugal continental [7]
20
O critério de risco espacial de incêndios (Figura 2-13) assenta na determinação da
probabilidade de ocorrência de incêndios florestais tendo em conta a informação
histórica sobre a ocorrência de incêndios, ocupação do solo, clima, orografia1 e
demografia2. As classes existentes para este indicador são as seguintes:
a. Classe I – Baixo;
b. Classe II – Baixo – Moderado;
c. Classe III – Moderado;
d. Classe IV – Elevado;
e. Classe V – Muito elevado;
f. Urbano
g. Hidrografia
1 Ciência geográfica dedicada ao estudo dos relevos de uma determinada região.
2 Ciência geográfica que estuda a dinâmica populacional humana.
Figura 2-13 - Exemplo de mapa ilustrativo do Risco espacial de incêndios em Portugal continental [8]
21
De notar que, as duas últimas classes enumeradas, “Urbano” e “Hidrografia”, referem-se,
como os próprios nomes indicam, a zonas de elevada densidade de populacional e a bacias
hidrográficas, servindo esta informação para referenciar possíveis pontos de
reabastecimento de combustível e agente extintor.
As zonas críticas, onde será reconhecida a prioridade de aplicação de medidas mais
rigorosas de defesa da floresta contra incêndios, serão selecionadas em função do
seu valor económico, social e ecológico.
Com o propósito de estimular acções no âmbito da defesa da floresta, esta
regulamentação estabelece a implementação das seguintes medidas:
a. Acções de silvicultura3;
b. Implementação de instrumentos de gestão florestal com o intuito de gerir a infra-
estruturação de espaços rurais e a presença de descontinuidades horizontais e
verticais nos combustíveis florestais;
c. Acções de arborização, rearborização e reconversão florestal.
O planeamento, instalação e manutenção das redes primárias de faixas de gestão de
combustível4 deve ter em consideração os seguintes pressupostos:
a. A sua eficiência no combate a incêndios de grande dimensão;
b. A segurança das forças responsáveis pelo combate;
c. O valor sócio-económico, paisagístico e ecológico dos espaços rurais;
d. As características fisiográficas e as particularidades da paisagem local;
e. O histórico dos grandes incêndios na região e o seu comportamento previsível em
situações de elevado risco meteorológico;
f. As actividades que nelas se possam desenvolver e contribuir para a sua
sustentabilidade técnica e financeira.
3 Ciência dedicada ao estudo de métodos naturais e artificiais com o propósito de regenerar e melhorar os
povoamentos florestais, tendo em conta factores como: necessidades de mercado, manutenção e
aproveitamento do espaço florestal. 4 Conjunto de parcelas lineares de território, estrategicamente localizadas, onde se garante a remoção total
ou parcial de biomassa florestal através de determinadas actividades ou técnicas silvícolas com o objectivo
principal de reduzir o perigo de incêndio.
22
São de destacar as operações de vigilância e detecção, sendo a primeira um
movimento que visa reduzir o número de ocorrência de incêndios florestais,
identificando potenciais agentes causadores e dissuadindo comportamentos de risco.
Quanto á detecção, esta é vista como a identificação imediata do acontecimento,
aliada a rápida participação da localização da ocorrência às entidades responsáveis.
Estas duas operações podem ser asseguradas das seguintes formas:
a. Por qualquer pessoa que detecte um incêndio florestal, sendo obrigatória a sua
participação imediata às entidades competentes;
b. Mediante a detecção fixa de ocorrências de incêndio, a qual é assegurada pela
Rede Nacional de Postos de Vigia (RNPV);
c. Através da rede de vigilância móvel que, pode exercer funções de detecção, vigia,
dissuasão e intervenção em fogos nascentes;
d. Através de meios aéreos.
É proibido o depósito de madeiras e outros materiais suscetíveis de rápida inflamação
nas redes de faixas e mosaicos de parcelas de gestão de combustível5, com excepção
dos aprovados pela comissão municipal de defesa da floresta contra incêndios.
Durante os meses de Julho, Agosto e Setembro, só é permitido empilhamento em
carregadouro6 de produtos resultantes de corte ou extracção florestal.
O fogo controlado é executado sob orientação e responsabilidade de um técnico
credenciado para o efeito ou, na sua ausência, por bombeiros com qualificação. A
sua realização é apenas permitida fora do período crítico7 e desde que o índice de
risco temporal de incêndio seja inferior ao nível elevado.
5 Conjunto de parcelas de território no interior dos compartimentos definidos pelas redes primárias e
secundárias estrategicamente localizadas, onde através de acções de silvicultura se estabelece um meio
auxiliar na defesa da floresta contra incêndios. 6 Local destinado à concentração temporária de material lenhoso resultante da exploração vegetal. 7 Período durante o qual vigoram medidas e acções especiais de prevenção contra incêndios florestais, por
força de circunstâncias meteorológicas excepcionais.
23
2.5.2 Dados Estatísticos
Neste subcapítulo será exposto e analisado o estado actual de Portugal continental no que
toca à ocorrência de incêndios florestais. De realçar que, apesar de não ter sido
anteriormente mencionado, o Decreto-Lei nº124-2006 impõe que seja mantido, à escala
nacional, um banco de dados relativamente à ocorrência de incêndios florestais, através
da adopção de um Sistema de Gestão de Informação de Incêndios Florestais (SGIF),
assim como o registo cartográfico das áreas ardidas.
Posto isto, é da responsabilidade do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas
(ICNF) a elaboração de relatórios anuais que visam descrever e analisar todas as
ocorrências de incêndios florestais em Portugal continental, assim como, expor os
diversos dados estatísticos sobre o tema.
O ICNF define-se como sendo um instituto público integrado na administração indirecta
do Estado, dotado de autonomia administrativa e financeira. Tem como missão propor,
acompanhar e assegurar a execução das políticas de conservação da natureza e das
florestas. Dentre as diversas atribuições entregues a esta entidade, é possível destacar a
seguinte:
“Agir de acordo com as competências consignadas no Sistema Nacional de Defesa da
Floresta contra Incêndios (SNDFCI) e de acordo com o Plano Nacional de Defesa da
Floresta contra Incêndios (PNDFCI), nomeadamente coordenando as acções de
prevenção estrutural, nas vertentes de sensibilização, planeamento, organização do
território florestal, silvicultura e infraestruturação, e ainda assegurar a coordenação e
gestão do programa de sapadores florestais.” [9]
De notar que o relatório anual de 2013 ainda não se encontra disponível, sendo a data da
sua publicação ainda desconhecida, como tal, os dados estatísticos de seguida
apresentados, terão como base o ano de 2012.
A Tabela 2-1 dá a conhecer a número de ocorrências e consequente área ardida desde o
ano 2002 até ao ano de 2012, assim como os valores médios resultantes do intervalo entre
o ano de 2002 e 2011 para uma melhor comparação.
24
Analisando a Tabela 2-1, é possível constatar que, para o ano de 2012, o total de
ocorrências sofreu uma redução de cerca de 12% relativamente à média do último decénio
e de 16% comparativamente ao ano precedente. Quanto à área ardida, é possível verificar
um decréscimo de, aproximadamente, 23% relativamente ao último decénio e um
aumento de 33% relativamente ao ano de 2011.
Em termos absolutos, relativamente à média do último decénio, verificou-se um
decréscimo de 2810 ocorrências e de 33789 hectares de área ardida.
De referir que, tal como se tem verificado ao longo dos anos, no ano de 2012 o número
de fogachos é bastante superior ao número de incêndios florestais, sendo que, em termos
de percentagem e relativamente à média do decénio anterior, tanto o número de fogachos
como de incêndios florestais foram reduzidos, muito aproximadamente, na mesma
proporção.
Tabela 2-1 - Número de ocorrências e consequente área ardida (2002-2012) [10]
25
Ainda relativamente à Tabela 2-1 foi possível, em função do tempo (2002 – 2012),
construir dois gráficos, onde o primeiro ilustra o número de ocorrências e o segundo a
área ardida.
Analisado o Gráfico 2-1, é de salientar o ano de 2005 com um total de 35823 ocorrências,
onde 8192 foram incêndios florestais. É de mencionar também, tendo como base os anos
apresentados, o declive negativo da linha de tendência obtida por regressão linear, o que
indicia uma diminuição do número de ocorrências para anos futuros.
Ao contrário do que se possa pensar, o número de ocorrências não está directamente
relacionado com a área ardida. Estes dois indicadores devem ser analisados
separadamente, sendo que, por vezes, um único incêndio pode ocasionar uma área ardida
igual ou superior a uma outra resultante de várias ocorrências.
Gráfico 2-2 - Área ardida em função do tempo (2002-2012)
Gráfico 2-1 - Número de ocorrências em função do tempo (2002-2012)
26
Relativamente à porção de área ardida (Gráfico 2-2), destaque para o ano de 2003, onde
foi registada uma área ardida de 425839 hectares. Quanto ao ano de 2012, a área ardida
contabilizada foi de 110232 hectares, mais 36403 hectares que no ano anterior, apesar de
neste mesmo ano ter sido registado um maior número de ocorrências. De notar ainda a
tendência deste parâmetro para valores cada vez mais constantes nos últimos anos,
nomeadamente, desde 2006.
A Figura 2-14 foi retirada do Relatório Anual de Áreas Ardidas e Incêndios Florestais
em Portugal Continental de 2012. Esta dá a conhecer as áreas ardidas registadas durante
todo o ano de 2012 em Portugal continental.
Figura 2-14 - Mapa ilustrativo da área ardida no ano de 2012 [10]
27
A Tabela 2-2 refere-se somente ao ano de 2012, onde se encontram, para cada distrito de
Portugal continental, identificadas as ocorrências, reacendimentos e a área ardida.
É possível constatar que cerca de 80% das ocorrências em 2012 foram fogachos e, apesar
de não ser o distrito com maior número de ocorrências, o distrito de Aveiro regista o
maior número de reacendimentos. Destaque para o distrito de Faro, onde, tendo em conta
o número de ocorrências, a área ardida tomou valores anormalmente grandes
comparativamente com os restantes distritos.
O maior incêndio florestal registado no ano de 2012 foi no distrito de Faro, concelho de
Tavira, entre os dias 18 e 22 de Julho.
Para finalizar, o Gráfico 2-3 foi realizado tendo como base a Tabela 2-2. Neste é possível
averiguar a posição de cada distrito de Portugal continental relativamente ao total de
ocorrências e à área ardida no ano de 2012.
Tabela 2-2 - Número e especificação das ocorrências, número de reacendimentos e área ardida no ano de 2012
[10]
28
Destaque para os distritos de Porto e Faro, onde a relação Área ardida/Total de
ocorrências toma valores incomuns comparativamente aos restantes distritos.
No caso do distrito do Porto, o número de ocorrências toma valores de 5012, sendo 462
incêndios florestais e 4550 fogachos. Mesmo com este número avolumado de casos, a
quantidade de área ardida não ultrapassou os 5000 hectares. Por outro lado, no distrito de
Faro, com um total de apenas 532 ocorrências, foram contabilizados cerca de 220.000
hectares de área ardida, o que acaba por ultrapassar em cerca de 6.700 hectares a área
ardida no distrito de Viseu (que no mesmo ano foi o segundo distrito com maior
quantidade de área ardida).
Gráfico 2-3 - Disposição dos distritos em função do número de ocorrências e de área ardida no ano de
2012
29
3 Os incêndios Florestais no âmbito da Produção de
Frio
O fogo pode ser visto como um processo químico de transformação capaz de produzir luz
e calor. A teoria do triângulo do fogo defende que, para que este tenha origem são
necessários, essencialmente, três componentes: comburente, combustível e calor. No
entanto, a estes três elementos foi ainda adicionada a componente de reacção em cadeia,
que pode ser vista como uma variável temporal e de interligação, o que possibilita a
sustentabilidade da chama – Figura 3-1.
3.1 Actuação com Água
Antes de avançar para a enumeração dos equipamentos de carácter geral de um veículo
de combate a incêndios, vale a pena referir as metodologias próprias da utilização de água
para combater um incêndio florestal. De notar que, quando bem aproveitada, a sua
utilização no combate directo apresenta, normalmente, bons resultados [11].
A água sob pressão, com mangueiras e agulhetas adequadas, é capaz de alcançar grandes
distâncias e suprimir extensões razoáveis de chama. Por norma, a utilização de jacto
directo baixa o nível das chamas e permite, não só uma melhor aproximação, como
também a extinção de frentes consideráveis.
Figura 3-1 - Ilustração do triângulo de fogo e tetraedro do fogo
30
Aquando da utilização de água no combate a incêndios, é sempre necessário ter presente
a noção de que esta é um bem escasso que não deve ser desperdiçado. As boas práticas e
o correcto uso dos equipamentos permitem economizar grandes quantidades de água,
como tal, é possível enumerar as seguintes formas de poupança deste recurso [1]:
No caso de erva, a água deve incidir na base das chamas, junto ao solo, cobrindo o
combustível a arder apenas durante o tempo necessário para a extinção das chamas;
Se for uma árvore ou um tronco a arder, a água deve ser apontada inicialmente para
a base e ir subindo ao longo do tronco;
Os movimentos de um foco para outro devem ser feitos com a agulheta fechada;
Preferencialmente, a água deve ser pulverizada, de forma tão fina quanto necessária
para garantir a extinção;
A água sob a forma de jacto só deve ser usada se for estritamente necessário para
vencer distâncias, extinguir focos em partes elevadas das árvores ou atacar um foco
intenso e permitir a aproximação de outros meios.
É importante referir que não existem dois incêndios iguais, no entanto, existem algumas
regras e praticas que podem ser aplicadas ou adaptadas à situação [1]:
Caso não seja possível a aproximação à frente de chama devido à sua intensidade,
dever-se-á utilizar o jacto de água, apontando-o para a base das chamas;
Assim que seja possível, a acção de aproximação ao combustível a arder deve ser
realizada o mais rapidamente possível. Nesta fase, dever-se-á mudar a posição da
agulheta de jacto para pulverização, uma vez que esta solução, para além de ter uma
maior eficácia no processo de extinção devido à elevada área sobre a qual consegue
actuar, garante, também, alguma protecção ao bombeiro – Figura 3-2.
Figura 3-2 - Modos de actuação com água [1]
31
A frente de chama deve ser definitivamente extinta antes de se efectuar movimentos
de aproximação. No entanto, como já foi referido, é necessário ter em consideração
a utilização cuidada do recurso.
Consoante o terreno, combustível e efeito do vento, o ângulo de ataque deve ser
constantemente revisto para garantir que as chamas sejam combatidas com a máxima
eficiência possível.
3.2 Princípios de refrigeração
Tendo em vista a concepção de um equipamento de produção de água gelada, será
necessário definir e entender algumas metodologias utilizadas no âmbito da refrigeração
Como tal, neste capítulo serão expostos os conceitos inerentes ao processo de
arrefecimento de água, nomeadamente, o ciclo frigorífico e os seus constituintes.
3.2.1 Fluido frigorigéneo
O fluido frigorigéneo é um fluído de trabalho que tem como finalidade percorrer os
diversos estágios do ciclo frigorífico e efectuar as trocas de calor no evaporador e
condensador.
O processo de selecção do fluido refrigerante deve ter em conta alguns factores, sendo
eles: as propriedades termodinâmicas do fluido, a sua estabilidade química e o
cumprimento de todas as condições de segurança.
Actualmente, um dos fluidos frigorigéneos mais utilizado continua a ser o R12. Contudo,
devido às exigências anunciadas pelo Protocolo de Montreal, está previsto que, até ao ano
de 2021, este fluido seja completamente posto de parte. Posto isto, a necessidade de
encontrar um fluido capaz de substituir o R12 acabou por conduziu a vários estudos que
vieram dar credibilidade e aceitação à utilização do fluido R134a [20].
32
O R134a é um haloetano8 também conhecido por 1,1,1,2 – Tetrafluoretano ou HFC-134a.
Entre as suas várias propriedades é possível destacar as seguintes (Tabela 3-1):
Tabela 3-1 - Propriedade do fluido frigorigéneo R134a [12]
Massa molecular 102,03 u
Massa volúmica 4,25 kg m3⁄
Atmospheric lifetime 14 anos
Ozone deplition potencial (ODP)9 0
Global-warming potencial (𝐆𝐖𝐏𝟏𝟎𝟎)10 1430
Temperatura de evaporação a 101,325 kPa -26,074℃
Temperatura de congelação -103,3℃
Para além das propriedades referidas na tabela 6.1, é importante referir que o R134a é
também um fluido não inflamável/explosivo e de elevada estabilidade química [13]. No
âmbito deste projecto, estas características acabam por ser de elevada importância,
garantindo que, em caso de acidente, as consequências não contribuam para que o
incêndio desencadeie outras formas de combustão ao contactar com um eventual derrame.
3.2.2 Constituintes de um ciclo frigorífico
Neste subcapítulo serão enunciados e descritos os principais constituintes de um ciclo
frigorífico de compressão de vapor, contudo, é importante referir que, para além dos
componentes posteriormente referidos, existe uma série de outros equipamentos que são
imprescindíveis para o correcto funcionamento do ciclo.
De maneira a garantir o correto desempenho do sistema, todos os equipamentos devem
ser estudados de forma individual, avaliando e assegurando que as suas condições de
funcionamento são as requeridas para o projecto em questão.
8 Derivado halogenado obtido a partir da halogenação do etano (composto alcano).
9 Valor compreendido entre 0 e 1, relativamente ao fluido de trabalho R-11 (valor 1), indicador da
capacidade de destruição de ozono estratosférico. 10 Valor indicativo, num período de tempo de 100 anos, da contribuição de um determinado gás com efeito
de estufa para o aquecimento global, comparativamente ao potencial do dióxido de carbono para o mesmo
efeito (valor 1).
33
3.2.2.1 Compressor
O compressor é o componente do ciclo frigorífico responsável por aumentar a pressão do
fluido frigorigéneo e promover a sua circulação ao longo do sistema. Este equipamento é
escolhido tendo em conta, essencialmente, a capacidade da instalação e o fluido
frigorigéneo utilizado.´
No ciclo teórico o processo de compressão é considerado isentrópico, o qual pode ser
visto como um processo adiabático sem a presença de atrito (Figura 3-3). Neste processo
é realizado trabalho por parte do elemento de compressão e a energia do fluido é
aumentada de acordo com a quantidade do trabalho mecânico executado sobre o mesmo.
O tipo de compressor mais utilizado é a máquina de deslocamento positivo. Este tipo de
dispositivo utiliza forças mecânicas aplicadas para aumenta a pressão do fluido
frigorigéneo (no estado de vapor) através da redução do volume interno de uma câmara
de compressão. Compressores do tipo alternativo, parafuso, palhetas ou Scroll utilizam
esta tecnologia para desempenhar a sua função.
A partir das leis da conservação da massa e conservação da energia, é possível enunciar
a seguinte expressão para determinar a potência consumida pelo compressor:
�̇�12 = �̇�𝑓 . (ℎ2 − ℎ1)
Onde:
�̇�12 – Potência consumida pelo compressor [𝑘𝑊]
�̇�𝑓 – Caudal mássico de fluido frigorigéneo [𝑘𝑔 𝑠⁄ ]
ℎ1 – Entalpia à entrada do compressor/saída do evaporador [𝑘𝐽 𝑘𝑔⁄ ]
ℎ2 – Entalpia à saída do compressor/entrada do condensador [𝑘𝐽 𝑘𝑔⁄ ]
( 1 )
( 1 )
Figura 3-3 - Representação teórica do efeito do compressor num diagrama p-h [Adaptação de 14]
34
Conhecendo os rendimentos, eléctrico, mecânico e isentrópico associados ao
equipamento, é possível ainda determinar a potência consumida pelo motor eléctrico
através da seguinte expressão:
𝑃𝑒𝑙𝑒𝑐𝑡 =�̇�12
𝜂𝑒 . 𝜂𝑚 . 𝜂𝑖
Onde:
𝑃𝑒𝑙𝑒𝑐𝑡 – Potência consumida pelo motor eléctrico [𝑘𝑊]
�̇�12 – Potência consumida pelo compressor [𝑘𝑊]
𝜂𝑒 – Rendimento eléctrico
𝜂𝑚 – Rendimento mecânico
𝜂𝑖 – Rendimento isentrópico
3.2.2.2 Condensador
No condensador é realizada a dissipação do calor presente no ciclo frigorífico. O fluido
frigorigéneo entra neste equipamento no estado de vapor sobreaquecido com o propósito
de transferir calor para um meio definido para o efeito. Uma vez realizada a troca de calor
e concluída a condensação do fluido, este irá sair no estado líquido saturado (ou líquido
subarrefecido num ciclo real) – Figura 3-4.
De notar que, o calor rejeitado é equivalente à soma do calor absorvido no evaporador
com o trabalho de compressão associado ao compressor.
( 2 )
( 2 )
Figura 3-4 - Representação teórica do efeito do condensador num diagrama p-h [Adaptação de 14]
35
Tendo em conta novamente as leis da conservação da massa e conservação da energia, a
potência frigorífica rejeitada no condensador pode ser determinada através da seguinte
expressão:
�̇�𝑐 = �̇�𝑓 . (ℎ3 − ℎ2)
Onde:
�̇�𝑐 – Potência frigorífica rejeitada no condensador (energia a sair do sistema) [𝑘𝑊]
�̇�𝑓 – Caudal mássico de fluido frigorigéneo [𝑘𝑔 𝑠⁄ ]
ℎ2 – Entalpia à saída do compressor/entrada do condensador [𝑘𝐽 𝑘𝑔⁄ ]
ℎ3 – Entalpia à saída do condensador/entrada do dispositivo de expansão [𝑘𝐽 𝑘𝑔⁄ ]
3.2.2.3 Dispositivo de Expansão
Num ciclo frigorífico, o dispositivo de expansão tem como finalidade reduzir a pressão
do fluido frigorigéneo desde a pressão de condensação até à pressão de evaporação. Este
equipamento é ainda responsável por controlar o caudal de fluido frigorigéneo que, de
acordo com as necessidades, irá chegar ao evaporador.
Um dos dispositivos de expansão mais utilizados é a válvula de expansão termostática.
Para realizar a sua função, este dispositivo utiliza um mecanismo diafragma que será
actuado de acordo com as propriedades do fluido frigorigéneo à saída do evaporador.
Para efeitos de cálculo, o processo de expansão será visto como um processo adiabático
irreversível (Figura 3-5), ou seja, considera-se que o dispositivo de expansão não é
responsável por qualquer variação da energia cinética e potencial do fluido frigorigéneo
[15].
( 3 )
( 3 )
36
É ainda importante referir que o estrangulamento que ocorre no dispositivo de expansão
ocasiona, para além da queda de pressão, a passagem de parte do fluido frigorigéneo do
estado líquido para o estado de vapor. Este processo irá dar origem a uma transferência
de energia dentro do próprio fluido, o que justifica a discrepância entre os valores de
entropia registados antes e depois do dispositivo de expansão [15].
3.2.2.4 Evaporador
O evaporador é o elemento responsável por realizar a remoção de calor do meio
refrigerado. Este processo á tanto isotérmico como isobárico e, no final desta evolução, o
fluido encontrar-se-á pressão e temperatura de evaporação no estado de vapor saturado –
Figura 3-6.
De notar que, num ciclo real, o processo de absorção de calor por parte do fluido
frigorigéneo pode ser separado em duas fases, sendo elas o período de evaporação e o
período de sobreaquecimento. A primeira fase ocorre a temperatura constante durante o
período de tempo necessário para que se dê a evaporação do fluido frigorigéneo. Já a
segunda corresponde ao processo de sobreaquecimento do fluido, onde haverá um
aumento de temperatura e consequente passagem do fluido no estado de vapor saturado
para o estado de vapor sobreaquecido.
Figura 3-5 - Representação teórica do efeito do dispositivo de expansão num diagrama p-h [Adaptação de
14]
37
A potência frigorífica absorvida no evaporador pode ser determinada através da
seguinte expressão:
�̇�𝐸 = �̇�𝑓 . (ℎ1 − ℎ4)
Onde:
�̇�𝐸 – Potência frigorífica absorvida no evaporador (energia a entrar no sistema) [𝑘𝑊]
�̇�𝑓– Caudal mássico de fluido frigorigéneo [𝑘𝑔 𝑠⁄ ]
ℎ4 – Entalpia à entrada do evaporador/saída do dispositivo de expansão [𝑘𝐽 𝑘𝑔⁄ ]
ℎ1 – Entalpia à entrada do compressor/saída do evaporador [𝑘𝐽 𝑘𝑔⁄ ]
3.2.3 Ciclo de Carnot
O ciclo de compressão de vapor mais eficiente é intitulado de ciclo de Carnot. A sua
simplicidade deriva dos seus processos completamente reversíveis e impossíveis por
natureza – Figura 3-7. Este ciclo opera entre duas temperaturas constantes, desta forma,
é importante referir que, para a mesma gama de temperaturas, nenhum outro ciclo
frigorífico poderá igualar os níveis de coeficiente de performance – relação entre potência
frigorífica e a potência de compressão necessária para o funcionamento de um
determinado ciclo frigorífico – do ciclo de Carnot.
( 4 )
( 4 )
Figura 3-6 - Representação teórica do efeito do evaporador num diagrama p-h [Adaptação de 14]
38
Analisando a Figura 3-7 é possível identificar as seguintes evoluções:
𝟏 ⟶ 𝟐 – Compressão isentrópica – Neste processo, recorrendo a um compressor,
a temperatura e pressão do fluido são aumentados. Uma vez que se trata do ciclo de
Carnot, considera-se que o compressor se encontra termicamente isolado, ou seja, as
perdas são inexistentes;
𝟐 ⟶ 𝟑 – Condensação reversível e isotérmica – A temperatura constante, o fluido
perde calor para um meio externo, obrigando-o desta forma a condensar;
𝟑 ⟶ 𝟒 – Expansão isentrópica – Através de um dispositivo de expansão, a
temperatura e pressão do fluido diminuem. Tal como no processo de compressão, na
expansão isentrópica não são consideradas quaisquer perdas;
𝟒 ⟶ 𝟏 – Evaporação reversível e isotérmica – Para finalizar o ciclo, durante o
processo de evaporação isotérmica, dá-se uma nova mudança de estado do fluido
enquanto este remove calor do meio a arrefecer.
3.2.4 Ciclo de Carnot Vs Ciclo Teórico Vs Ciclo Real
O ciclo frigorífico teórico pode ser considerado como uma aproximação ao ciclo real,
onde, ao contrário deste último, as perdas de pressão ao longo das tubagens e nos próprios
equipamentos não são contabilizadas. É de salientar que, ao contrário do ciclo de Carnot,
o ciclo teórico realiza uma compressão isentrópica somente com o fluido no estado de
vapor saturado, dando consequentemente origem a vapor sobreaquecido, o qual perderá
energia em forma de calor até atingir a temperatura de condensação. Também o processo
Figura 3-7 - Representação do ciclo de Carnot num diagrama t-s [14]
39
de expansão do fluido irá ocorrer de maneira diferente, sendo a expansão isentrópica
associada ao ciclo de Carnot, substituída por um processo isentálpico no ciclo real.
Em suma, um ciclo teórico pode ser caracterizado pelas seguintes evoluções:
𝟏 ⟶ 𝟐 – Compressão isentrópica com aumento de pressão e temperatura;
𝟐 ⟶ 𝟑 – Condensação a pressão constante desde a temperatura 𝑇2 (saída do
compressor) até à temperatura de condensação;
𝟑 ⟶ 𝟒 – Expansão isentálpica irreversível desde a pressão de condensação até à
pressão de evaporação;
𝟒 ⟶ 𝟏 – Evaporação a pressão e temperatura constantes até o fluido atingir o estado
de vapor saturado.
Analisando a Figura 3-8 que compara o ciclo real e teórico é possível enunciar algumas
diferenças que acabam por caracterizar e definir o ciclo real:
No ciclo real, o processo de compressão deixa de ser isentrópico, contabilizando
desta forma a realidade associada ao funcionamento de um compressor;
Figura 3-8 - Representação simples dos componentes principais de um circuito frigorífico e comparação
dos ciclos teórico e real num diagrama p-h [Adaptado de 14]
40
Também no ciclo real, o fluido deixa de entrar no compressor no estado de vapor
saturado e passar a entrar sob a forma de vapor sobreaquecido, desta forma, será
garantida a não existência de fluido no estado líquido no interior do compressor;
São contabilizadas, no ciclo real, as perdas de pressão no condensador, evaporador
e meios de ligação (principalmente originadas por atrito e perdas de calor para o
exterior);
Assim como há entrada do compressor é garantida apenas a presença de fluido no
estado de vapor, à entrada do dispositivo de expansão, recorrendo a um
subarrefecimento causado pelo sobredimensionamento do sistema, é assegurada a
presença apenas de fluido no estado líquido.
3.3 Solução com base na utilização de Água Gelada
Com base nos conhecimentos associados à remoção de cargas térmicas, é possível afirmar
que a remoção de calor de um determinado meio é tanto mais eficaz quanto mais frio
estiver o fluido responsável por efectuar a troca de calor. Desta forma, é possível afirmar
que a eficácia do combate a um incêndio florestal está, de certa forma, relacionada com
a temperatura do agente extintor.
A utilização de água gelada no combate a um incêndio florestal é, do ponto de vista
termodinâmico, uma solução teoricamente viável, no entanto, a quantificação dos níveis
de eficiência associados apenas podem ser determinados recorrendo a ensaios
laboratoriais minuciosos e tecnicamente correctos.
Posto isto, foram estudadas e discutidas diversas soluções com o propósito de arrefecer a
água destinada a combater um incêndio florestal. Inicialmente estava previsto adaptar um
equipamento de arrefecimento de água a um veículo florestal de combate a incêndios,
contudo, seria expectável que a complexidade deste procedimento pudesse por em causa
a viabilidade do meio de combate, nomeadamente, a nível estrutural. De notar que esta
solução passaria, muito provavelmente, pela necessidade de adaptar o meio de combate a
incêndios ao meio de arrefecimento de água, sendo o oposto desta ideia a base da proposta
inicial.
Posta de parte a opção de equipar um veículo, terrestre ou aéreo, pensou-se então numa
solução mais independente do ponto de vista da adaptabilidade aos meios de combate a
41
incêndios. Desta forma, prevê-se que o meio de produção de água gelada actue como um
elemento externo que possa ser adaptado a duas situações/opções distintas: a primeira, a
um atrelado de maneira a que este seja rebocável até às proximidades do incêndio por um
veículo de comando táctico, e uma segunda, onde se prevê a utilização de um veículo
pesado de mercadorias equipado com uma superestrutura do tipo plataforma para
posterior fixação do equipamento de produção de água gelada. De notar que, numa fase
mais avançada deste trabalho, serão analisadas as duas opções previamente enunciadas.
Está previsto que a solução escolhida sirva como um meio de ligação entre o veículo
florestal de combate a incêndios e as manobras de ataque por terra, nomeadamente, o
ataque directo às frentes de chama. Desta forma, parte da água que se encontra
armazenada nos veículos de combate será encaminhada para o equipamento de produção
de água gelada para posteriormente, através de lanços de mangueira flexível, efectuar o
ataque ao incêndio.
É ainda importante referir que existem diversos tipos de veículos de combate a incêndios,
onde as características e particularidades de cada tipologia permitem actuar com a
máxima eficiência sobre um caso específico. No âmbito deste projecto, as principais
diferenças entre tipologias a ter em conta serão: o volume dos tanques de armazenamento
de água, os equipamentos responsáveis por impor movimento à água para que esta se
desloque através das mangueiras, os diâmetros das entradas/saídas dos
equipamentos/acessórios e o equipamento de presença obrigatória em cada tipologia.
Posto isto, para que o equipamento de produção de água gelada possa cumprir
correctamente a sua função sem problemas inerentes ao seu dimensionamento, será
necessário estudar as tipologias existentes e encontrar a solução mais viável do ponto de
vista da adaptação e simplicidade de execução.
Por fim, dada a componente inovadora que engloba este projecto, será necessário ter em
conta os diversos problemas que poderão surgir durante a sua concepção/utilização. Esta
noção leva a que seja realizado um levantamento dos pontos críticos cujas soluções devem
ser futuramente discutidas.
42
3.4 Equipamento geral de um veículo de combate a incêndios
Actualmente, a metodologia de ataque por terra a um incêndio florestal pode englobar
variadíssimas manobras que, dependendo do equipamento disponível e do grau de
conhecimento dos seus utilizadores, poderão ser utilizadas conforme indicação do
responsável das operações. Posto isto, existem determinados equipamentos cuja presença
num veículo de combate a incêndios é obrigatória por lei. Do ponto de vista da adaptação
do equipamento de produção de água gelada ao meio de combate a incêndios, esta
imposição facilita a implementação da solução escolhida, sendo possível ter
conhecimento prévio dos equipamentos e acessórios, nomeadamente elementos de
ligação, disponíveis num determinado veículo de combate a incêndios.
Para além da enumeração dos componentes de presença obrigatória nos mais diversos
veículos de combate a incêndios, o Despacho nº 21638/2009 providencia informações
detalhadas de vários equipamentos de interesse para a realização deste projecto,
particularmente, as características da bomba de aspiração e os diâmetros nominais dos
equipamentos e mangueiras.
3.4.1 Ligações Storz
Em Portugal, a maior parte das ligações entre os lanços de mangueira e os mais variados
equipamentos de combate a incêndios é realizada recorrendo a conexões do tipo Storz
(Figura 3-9). Ao contrário das ligações roscadas, este tipo de união não aplica o conceito
de “macho e fêmea”, sendo a conexão realizada através do acoplamento de duas partes
idênticas.
O procedimento para realizar a conexão destes dispositivos passa por prensar
devidamente ambas as partes, uma contra a outra, até os ganchos destes componentes
entrarem nas respectivas ranhuras da flange oposta
43
É importante referir que as dimensões destes elementos de ligação encontram-se
devidamente normalizadas através de diversas normas DIN. Contudo, no âmbito deste
projecto, é possível destacar apenas os seguintes pontos de interesse:
Ligação Storz B – Diâmetro nominal de 70mm;
Ligação Storz C – Diâmetro nominal de 45mm;
Ligação Storz D – Diâmetro nominal de 25mm.
3.4.2 Bomba de aspiração
No âmbito deste projecto, será a bomba de aspiração (também denominada de bomba de
serviço de incêndios – Figura 3-10) que providenciará a circulação da água desde o tanque
de armazenamento até ao equipamento de produção de água gelada. De notar que este
acessório é um dispositivo especialmente concebido para ser incorporado em veículos de
combate a incêndios.
O modo de accionamento deste equipamento é enunciado no Despacho nº 21638/2009:
“Ser accionada através de veio de transmissão vindo da tomada de força devidamente
certificada, estando todas as transmissões equilibradas estática e dinamicamente,
devendo a potência absorvida nos diversos regimes de trabalho ser inferior à potência
disponibilizada pelo motor em cada regime de rotação de trabalho…” [16]
Figura 3-9 - Exemplo de elementos de ligação do tipo Storz [16]
44
De notar que, segundo a regulamentação e de acordo com a tipologia do veiculo de
combate a incêndios, as bombas de serviço de incêndios possuem características que as
distinguem umas das outras.
3.4.3 Mangueiras
As mangueiras são tubos flexíveis ou semi-rígidos, de borracha ou de fibras sintéticas,
destinadas ao transporte de água. Estas podem ser repartidas em dois grupos: mangueiras
semí-rígidas de média e de alta pressão e mangueiras flexíveis de baixa pressão.
As mangueiras semi-rígidas mais usuais possuem 25 e 32 mm de diâmetro e 60 metros
de comprimento, estando enroladas em carreteis e ligadas permanentemente à instalação
hidráulica do veículo, prontas a utilizar – Figura 3-11.
Figura 3-10 - Exemplo de bomba de serviço de incêndios instalada num veículo de combate a incêndios
[18]
Figura 3-11 - Exemplo de carretel incorporado num veículo de combate a incêndios [18]
45
As mangueiras flexíveis apresentam frequentemente diâmetros de 25, 45 e 70mm, sendo
normalmente arrumadas, lanço a lanço, em compartimentos existentes nos cofres dos
veículos – Figura 3-12.
3.4.4 Agulhetas
As agulhetas são dispositivos adaptados nas extremidades das mangueiras que têm como
objectivo expelir e dirigir a água (Figura 3-13). Este equipamento deverá ser leve, seguro,
fácil de manejar e ainda possuir a particularidade de puder debitar água em forma de jacto
ou pulverizada.
A utilização correcta e segura de uma agulheta pressupõe ter noção da força que esta pode
exercer sobre o seu utilizador. É importante não esquecer que a água que sai pela agulheta
desloca-se com uma determinada energia, o que resulta num efeito de reacção que tende
a impulsionar o equipamento no sentido oposto à saída da água – efeito esse que será mais
acentuado quanto maior for o caudal debitado. Ainda dependente deste efeito, está o modo
de utilização da agulheta, sendo a força de reacção mais elevada registada no modo de
jacto. Esta circunstância é justificada pelo facto de, neste modo de funcionamento, o
movimento de saída da água se realizar todo no mesmo sentido – Figura 3-14.
Figura 3-12 - Lanços de mangueira flexíveis arrumados nos cofres do veículo [18]
Figura 3-13 - Exemplo de agulheta [19]
46
3.4.5 Disjuntores
O disjuntor é um equipamento que tem como objectico realizar o desdobramento de uma
linha da mangueira em duas (ou mais) linhas de menor diâmetro (Figura 3-15). Estes
equipamentos possuem uma válvula em cada ramificação que permite cortar o
abastecimento de água do respectivo troço, sendo desta forma um dispositivo bastante
útil quando se pretender realizar alterações num determinado troço sem se perder a
utilidade do troço adjacente.
Os desdobramentos mais usuais são os seguintes:
Uma linha de mangueira de 70mm em duas linhas de 45mm;
Uma linha de mangueira de 45mm em duas linhas de 25mm.
Figura 3-14 - Ilustração das reacções na agulheta de acordo com o modo de funcionamento [19]
Figura 3-15 - Disjuntor e exemplo de aplicação [19]
47
3.4.6 Conjuntores
Os conjuntores, como o próprio nome indica, possuem a finalidade oposta dos disjuntores
– associar duas ou mais linhas de menor diâmetro numa de diâmetro superior – Figura 3-
16.
As associações de linhas de mangueira mais usuais são as seguintes [19]:
Duas linhas de mangueira de 70mm para uma linha de 100mm;
Quatro linhas de mangueira de 45mm para uma linha de 100mm;
Duas linhas de mangueira de 45mm para uma linha de 70mm.
De notar que os conjuntores dispõem de válvulas anti-retorno que permitem a sua
utilização quando o número de mangueiras de alimentação for inferior ao número total de
entradas.
Figura 3-16 - Conjuntor e exemplo de aplicação [19]
49
4 Estudo e concepção do equipamento de produção de
água gelada
4.1 Estudo das estruturas de suporte
Neste capítulo serão analisadas as duas soluções previstas para suportar o equipamento
de produção de água gelada, sendo elas, um atrelado e um veículo especialmente
concebido para o efeito. De notar que, ambas as soluções possuirão as suas vantagens e
desvantagens. Desta forma, o objectivo da análise realizada neste capítulo, não será
inviabilizar um ou outra solução, mas sim, dar a conhecer duas possibilidades praticáveis
e distintas.
4.1.1 Atrelado
A utilização de um atrelado pressupõe desde logo a necessidade de existência de um
veículo rebocador que se adeque às características do reboque escolhido.
É importante referir que existem vários tipos de reboque, assim como, diversos
dispositivos de acoplamento e engate. Quanto ao tipo de reboque, é possível destacar as
seguintes categorias [20]:
Categoria O1 – Reboque com peso bruto até 750 kg;
Categoria O2 – Reboque com peso bruto entre 750 kg e 3500 kg;
Categoria O3 – Reboque com peso bruto entre 3500 kg e 10000 kg;
Categoria O4 – Reboque com peso bruto superior a 10000 kg.
Actualmente, os dispositivos de acoplamento e engate instalados num Veículo de
Comando Táctico (VCOT) são da classe A – Esfera de engate com suporte de tracção.
Esta classe baseia-se na utilização de mecanismos que se complementam, sendo a esfera
de engate, assim como o suporte de tracção, dispositivos mecânicos colocados no veículo
tractor e ligados ao reboque através de uma cabeça de engate (Figura 4-1). Estes
dispositivos são utilizados em reboques do tipo O1 ou O2.
50
É importante salientar que este tipo de acoplamento possui um limite de peso (3500 kg –
categoria O2), desta forma, caso o dimensionamento do equipamento de produção de água
gelada dite um peso superior a 3500 kg, dever-se-á, dentro das possibilidades, adaptar um
novo sistema de acoplamento e engate ao VCOT.
4.1.2 Veículo pesado de mercadorias
Esta solução passa por utilizar um veículo pesado de mercadorias com uma superestrutura
do tipo plataforma que suporte o equipamento de produção de água gelada.
Os elementos estruturais de um veículo pesado de mercadorias podem ser divididos em
três módulos distintos: chassis, elementos estruturais secundários e motor, transmissão e
outros sistemas.
4.1.2.1 Chassis
Composto por longarinas e travessas (Figura 4-2) e assente nos eixos do veículo através
de suspensões, o chassis é o elemento estrutural principal concebido para suportar
praticamente todo o peso do veículo.
Figura 4-1 - Exemplo de esfera de engate com suporte de tracção [20]
51
O perfil e espessura das longarinas são escolhidos consoante a ordem de grandeza das
cargas pontoais que a estrutura necessite suportar. Quanto às travessas, estas estruturas
são montadas em locais estratégicos de maneira a não debilitar a resistência das
longarinas. De notar que, o perfil escolhido para as travessas influencia directamente a
resistência à torção de todo o chassis, sendo o perfil em forma de U recomendável para
os casos mais rigorosos e os perfis tubulares para condições menos exigentes [21].
4.1.2.2 Elementos estruturais secundários
Os elementos estruturais secundários podem ser vistos como as estruturas destinadas a
transportar carga e acomodar passageiros. Na maior parte dos veículos esses elementos
podem ser divididos em dois tipos: cabina e superestrutura.
Cabina
A cabina pode ser essencialmente de dois tipos: cabina normal (localizada atrás do motor
com capot frontal para acesso ao motor) e cabina avançada (situada por cima do motor)
sendo esta a tipologia mais comum (Figura 4-3) [21].
Os veículos de cabina avançada são normalmente utilizados em percursos de longo e
médio curso. Desta forma, é comum encontrar cabinas avançadas de versão longa
concebidas para proporcionar ao condutor um local de trabalho confortável e com a
possibilidade de descanso.
Figura 4-2 - Exemplo de chasis de um veículo pesado de mercadorias [21]
52
No âmbito deste projecto, a cabina avançada de versão longa poderá desde logo ser posta
de parte. Para além de ser comummente aplicável a veículos que se destinam a percorrer
longas distâncias, esta característica acaba por, numa primeira avaliação, não trazer
qualquer vantagem para o que será a aplicabilidade do veículo.
Superestrutura
A superestrutura é montada na parte traseira do veículo, sendo fixada ao chassis através
de uma estrutura designada por chassis auxiliar.
Como base na superestrutura utilizada, é possível considerar diversos tipos de carroçarias
de veículos pesados para transporte de mercadorias. Entre eles, é possível destacar a
plataforma – Figura 4-4.
Figura 4-3 - Tipos de cabina em veículos pesados de mercadorias [21]
Figura 4-4 - Exemplo de superestrutura do tipo plataforma [21]
53
Este tipo de carroçaria confere ao veículo o espaço necessário para que seja possível
estudar uma forma de fixar/adaptar os componentes do ciclo frigorifico responsáveis pelo
processo de arrefecimento de água.
4.1.2.3 Motor, transmissão e outros sistemas
Este último grupo dos elementos estruturais de um veículo pesado de mercadorias diz
respeito aos componentes responsáveis por conceder movimento ao veículo, assim como,
outros sistemas indispensáveis ao seu funcionamento, tais como: o sistema de travagem,
suspensão e direcção.
4.2 Estudo das potências de arrefecimento
Neste capítulo pretende-se determinar e dar a conhecer as potências frigoríficas
necessárias para arrefecer uma determinada quantidade de água até temperaturas onde se
possa empregar o termo de “água gelada”. As principais condições que determinaram o
grau de grandeza das potências frigoríficas serão: o caudal debitado pela bomba de
aspiração e, principalmente, o caudal debitado pelas agulhetas adaptadas aos lanços de
mangueira a serem utilizados.
Para dar a conhecer o grau de precisão imposto pela regulamentação em vigor, o Anexo
A mostra as características de um Veículo Florestal de Combate a Incêndios (VFCI),
assim como os acessórios de presença obrigatória nesta tipologia.
Posto isto, a análise que se segue pretende, a partir de estudos independentes, retirar
conclusões que permitam adaptar o equipamento de produção de água gelada à melhor
solução possível.
Por forma a determinar as potências frigoríficas, será necessário conhecer e admitir
algumas particularidades, sendo elas:
Regime de funcionamento da bomba;
Caudal de água direcionado para o equipamento;
Gama de temperaturas da água (entrada e saída do equipamento de produção de água
gelada);
54
Quanto ao regime da bomba, está previsto adaptar o equipamento de produção de água
gelada ao modo de funcionamento em baixa pressão, sendo a pressão requerida para a
globalidade das tipologias cerca de 10 bar. De notar que, o caudal debitado pela bomba
de aspiração será “controlado” pelos débitos das agulhetas utilizadas durante o combate
ao incêndio, sendo que, para a bomba de aspiração, apesar de serem impostos pela
regulamentação débitos na ordem dos 2000 litros/minuto, este equipamento está
preparado para operar com débitos bastante menores.
É importante referir que, na ocorrência de um incêndio florestal, a urgência e necessidade
de controlar as frentes de chama exige que as forças de intervenção actuem o mais
rapidamente possível e com todos os meios que tiverem ao seu dispor. Contudo, será
necessário ter em conta que, a dificuldade de acesso a fontes de água para combater o
incêndio, possa dificultar o próprio acto de combate e forçar os intervenientes a
racionalizar a água ao ponto de esta apenas ser utilizada para retardar o avanço das
chamas. Esta circunstância leva muitas vezes a que os bombeiros apenas utilizem 1/3 dos
caudais máximos disponibilizados pelas agulhetas.
Dado o ambiente alternativo que se verifica durante um incêndio florestal, admite-se que
a água armazenada no tanque do veículo de combate a incêndios se encontra a 25℃. Já à
saída do equipamento, está previsto obter-se uma temperatura máxima da água de cerca
de 4℃, podendo ainda variar entre os 0 e os 5℃ (intervalo de temperatura para o qual a
água se pode denominar como “água gelada”).
Sabendo que, os caudais que percorrem as mangueiras são controlados pelas agulhetas e
respectivos utilizadores, será possível, para uma determinada potência frigorífica, criar
um intervalo de caudais admissíveis onde se verificará a presença de água gelada. Desta
forma, proceder-se-á ao cálculo da potência frigorífica necessária para arrefecer o caudal
máximo de água até à temperatura máxima admissível (4℃). Posteriormente, com a
mesma potência frigorífica e considerando uma temperatura mínima (0℃), será
determinado um novo caudal por forma a criar um intervalo.
55
A Tabela 4-1 mostra os caudais máximos de água disponibilizados por cada agulheta
Tabela 4-1 - Caudais volúmicos máximos [16]
Caudal volúmico máximo previsto pela regulamentação
(litros/minuto)
DN 70 750
DN 45 400
DN 25 130
Tendo como base a primeira lei da termodinâmica, é possível enunciar a seguinte
expressão para determinar a potência frigorífica necessária para arrefecer uma
determinada quantidade de água:
�̇� = �̇�. 𝑐𝑝. (∆𝑇)
Onde:
�̇� – Potência frigorífica necessária para realizar o arrefecimento [𝑘𝑊]
�̇� – Caudal mássico de água [𝑘𝑔 𝑠⁄ ]
𝑐𝑝 – Calor específico da água [𝑘𝐽 𝑘𝑔. 𝐾⁄ ]
∆𝑇 – Diferença de temperaturas entre a saída e entrada do equipamento [℃]
O calor específico e a massa volúmica da água serão definidos por forma a obter a maior
carga frigorífica utilizando a equação 5. Por ser a temperatura mínima e apresentar os
valores mais elevados, ter-se-á em conta os dados referentes à temperatura de 4℃
(Tabelas 4-2 e 4-3).
Tabela 4-2 - Calor específico da água a +4℃ e a +25℃ [22]
𝟒℃ 25℃
Calor específico [𝒌𝑱 𝒌𝒈. 𝑲⁄ ] 4,214 4,178
Tabela 4-3 - Massa volúmica da água a +4℃ e a +25℃ [23]
𝟒℃ 25℃
Massa volúmica [𝒌𝒈 𝒎𝟑⁄ ] 999,8 994,1
( 5 )
56
Recorrendo à equação 6, é possivel expressar em massa por unidade de tempo os caudais
volumicos apresentados na Tabela 4-1:
�̇� = �̇�. 𝜌
Onde:
�̇� – Caudal mássico [𝑘𝑔 𝑠⁄ ]
�̇� – Caudal volúmico [𝑚3 𝑠⁄ ]
𝜌 – Massa volúmica [𝑘𝑔 𝑚3⁄ ]
Nota: Os caudais volúmicos, anteriormente expressos em litros/minuto, podem ser
facilmente convertidos para m3 s⁄ , tendo em conta que 1litro = 0,001m3 e 1minuto =
60segundos.
Tabela 4-4 - Caudais mássicos máximos
Caudal mássico máximo previsto pela regulamentação
(𝒌𝒈 𝒔⁄ )
DN 70 12,50
DN 45 6,67
DN 25 2,17
Recorrendo à equação 5, é possível determinar a carga térmica necessária para arrefecer
os caudais de água anteriormente enunciados:
Tabela 4-5 - Potências de arrefecimento necessárias para arrefecer os caudais de água das possíveis saídas
Calor específico
[𝒌𝑱 𝒌𝒈. 𝑲⁄ ]
Caudal mássico [𝒌𝒈 𝒔⁄ ] |∆𝑻| [℃]
Potência frigorífica [𝒌𝑾]
DN 70 DN 45 DN 25 DN 70 DN 45 DN 25
4,214 12,50 6,67 2,17 |4 − 25| 1106,18 590,25 192,03
Exemplo – DN 25:
�̇� = �̇� × 𝑐𝑝 × |∆𝑇| ⟺ �̇� = 2,17 × 4,214 × 21 ⟺ �̇� = 𝟏𝟗𝟐, 𝟎𝟑 𝒌𝑾
Analisando a Tabela 4-5, é possível observar as potências frigoríficas necessárias para
arrefecer, até 4℃, os caudais máximos de água debitados pelos três diferentes tipos de
agulhetas utilizadas no combate a incêndios. Posto isto, e uma vez que se pretende obter
( 6 )
57
uma temperatura da água à saída do equipamento não inferior a 5℃, as potências
frigoríficas determinadas na Tabela 4-5 serão efectivamente as potências a considerar
aquando do dimensionamento do equipamento. De notar que, para valores de potência
inferiores aos estipulados e com as agulhetas a trabalhar em pleno, não será garantido o
arrefecimento até às temperaturas de interesse.
Seguidamente, recorrendo novamente à equação 5 e tendo como referência as potências
frigorificas anteriormente calculadas, será alterada a temperatura da água à saída do
equipamento para a temperatura mínima admissível – 0℃. É importante referir que, para
além da elevada energia cinética associada ao escoamento, a presença de partículas de
poeira, sais minerais, gases dissolvidos e ainda bactérias, acaba por contribuir para que
processo de congelação da água não aconteça à temperatura de 0℃, mas sim, a uma
temperatura mais baixa.
De notar que, para efeitos de cálculo, a gama de temperaturas entre 4 a 5℃ nunca será
atingida, contudo, espera-se que os fenómenos de transferência de calor ocorrentes ao
longo dos lanços de mangueira a jusante do equipamento de produção de água gelada
contrariem este pressuposto.
Considerando novamente a equação 5:
Tabela 4-6 - Caudais mássicos mínimos
Calor específico
[𝒌𝑱 𝒌𝒈. 𝑲⁄ ]
Potência frigorífica [𝒌𝑾] |∆𝑻| [℃]
Caudal mássico [𝒌𝒈 𝒔⁄ ]
DN 70 DN 45 DN 25 DN 70 DN 45 DN 25
4,214 1106,18 590,25 192,03 |0 − 25| 10,50 5,60 1,82
Exemplo – DN 25:
�̇� = �̇� × 𝑐𝑝 × |∆𝑇| ⟺ 192,03 = �̇� × 4,214 × 25 ⟺ �̇� =192,03
4,214 × 25= 𝟏, 𝟖𝟐 𝒌𝒈 𝒔⁄
Débito mínimo da agulheta (litros/minuto)
Segundo o Laboratório de Química do Estado Sólido, a massa volúmica da água a 0℃ é
de 999,9 𝑘𝑔 𝑚3⁄ , pelo que para efeitos de cálculo considerar-se-á como 1000 𝑘𝑔 𝑚3⁄ .
Desta forma, recorrendo à equação 6, é possível obter os seguintes caudais volúmicos
expressos em litros/minuto:
58
Tabela 4-7 - Caudais volúmicos mínimos
Caudal volúmico mínimo
(litros/minuto)
DN 70 630,0
DN 45 336,0
DN 25 109,2
Exemplo – DN 25:
�̇� = 1,82 𝑘𝑔 𝑠⁄ ⟹ �̇� = 1,82 𝑙𝑖𝑡𝑟𝑜𝑠 𝑠⁄
∴ 1,82 𝑙𝑖𝑡𝑟𝑜𝑠 𝑠⁄ × 60 𝑠𝑒𝑔𝑢𝑛𝑑𝑜𝑠 ⟹ 𝑄̇ = 109,2 𝑙𝑖𝑡𝑟𝑜𝑠 𝑚𝑖𝑛𝑢𝑡𝑜⁄
Com isto, é possível apresentar uma tabela conclusiva (Tabela 4-8) do estudo das
potências frigoríficas requeridas para se obter água gelada a partir de qualquer diâmetro
de saída da bomba de aspiração:
Tabela 4-8 - Tabela-síntese elucidativa das potências de arrefecimento e caudais máximos e mínimos para
as possíveis saídas
Potência frigorífica
[𝒌𝑾] Débito mínimo da agulheta
(litros/minuto) Débito máximo da agulheta
(litros/minuto)
DN 70 1106,18 630,0 750
DN 45 590,25 336,0 400
DN 25 192,03 109,2 130
Nesta primeira fase de concepção do equipamento de produção de água gelada, não está
prevista a utilização de mais do que uma entrada e saída do equipamento, pelo que, por
esta razão, existirá apenas um diâmetro de entrada/saída e, como é óbvio, apenas uma
potência de arrefecimento. A decisão sobre o diâmetro e respectiva potência frigorifica a
serem utilizados deverá ser tomada tendo em conta as mais diversas condicionantes reais,
nomeadamente, a robustez do equipamento e o nível de conformidade com todos os
pontos críticos enunciados no subcapítulo 4.4.
59
4.2.1 Análise de ciclo teórico
Supondo que o fluido de trabalho utilizado no ciclo frigorífico do equipamento de
produção de água gelada será, o anteriormente descrito, R134a e, definindo um regime
de funcionamento aceitável, será possível criar um ciclo teórico que possa ser
posteriormente analisado e que, futuramente, possa ser comparado com um ciclo real
baseado na realização de ensaios de comportamento técnico-científico de um modelo ou
de um protótipo em situação de condições reais.
O Anexo B ilustra o diagrama p-h do fluido R134a com o ciclo frigorífico teórico
representativo do equipamento de produção de água gelada (desenhado para o regime de
funcionamento +40℃/-7℃). De notar que, o regime escolhido apresenta temperaturas de
evaporação e condensação médias e de caracter teórico. Posto isto, o regime real de
funcionamento deve ser escolhido tendo em conta as seguintes condicionantes:
Dado o ambiente extremamente quente que se desenvolve durante um incêndio
florestal, a temperatura de evaporação deverá ser escolhida de maneira a que as
trocas de calor no evaporador se realizem correctamente. Desta forma, deverão ser
realizados ensaios laboratoriais representativos de situações reais que permitam tirar
conclusões acerca da selecção do regime de funcionamento do equipamento.
Sabendo a potência de arrefecimento e uma vez definido o ciclo e calculado o caudal
de fluido frigorigéneo, é possível, admitindo uma certa velocidade de escoamento,
determinar o diâmetro das tubagens a utilizar no circuito frigorífico. Este cálculo,
apesar de meramente intuitivo, dá a conhecer a ordem de grandeza do diâmetro da
tubagem a ser utilizada.
Analisando o diagrama em anexo, é possível destacar os seguintes quatro pontos de
interesse:
Ponto 1 – Saída do evaporador/entrada do compressor;
Ponto 2 – Saída do compressor/entrada do condensador;
Ponto 3 – Saída do condensador/entrada do dispositivo de expansão;
Ponto 4 – Saída do dispositivo de expansão/entrada do evaporador.
60
Tabela 4-9 - Propriedades termodinâmicas dos quatro pontos de interesse no ciclo frigorífico teórico
Entalpia (𝒌𝑱 𝒌𝒈⁄ )
Pressão (bar)
Temperatura (℃)
1 395 ≃ 10,0 -7
2 425 ≃ 10,0 -7
3 258 ≃ 2,2 40
4 258 ≃ 2,2 40
Sabendo a potência necessária para arrefecer a quantidade de água que será direcionada
para o equipamento, é possível determinar o caudal de fluido frigorigéneo no circuito
frigorífico.
Segue-se um exemplo de cálculo aplicado à utilização da saída da bomba de aspiração
com um diâmetro nominal de 25mm para realizar a ligação entre o tanque de
armazenamento do veículo e o equipamento de produção de água gelada.
Recorrendo à equação 4 para realizar o balanço de energia no evaporador e às seguintes
informações:
�̇�𝐸 – 192,03 𝑘𝑊
𝜌𝑅134𝑎 – 4,25 𝑘𝑔 𝑚3⁄
h1 – 395 𝑘𝐽 𝑘𝑔⁄
h4 – 258 𝑘𝐽 𝑘𝑔⁄
�̇�𝐸 = �̇�𝑓(ℎ1 − ℎ4) ⇔ 192,03 = �̇�𝑓(395 − 258) ⇔ �̇�𝑓 = 1,41 𝑘𝑔 𝑠⁄
Recorrendo à equação 6 adaptada para o fluido frigorigéneo:
�̇�𝑓 = �̇�𝐸 × 𝜌𝑅134𝑎 ⇔ 1,41 = �̇�𝐸 × 4,25 ⇔ �̇�𝐸 ≃ 6 𝑙𝑖𝑡𝑟𝑜𝑠 𝑠⁄
Sabendo o caudal de fluido frigorigéneo, é possível ainda determinar a potência
consumida pelo compressor e a potência rejeitado no condensador.
61
Recorrendo à equação 1, equação 3 e aos seguintes dados:
�̇�𝑓 – 1,41 𝑘𝑔 𝑠⁄
h1 – 395 𝑘𝐽 𝑘𝑔⁄
h2 – 425 𝑘𝐽 𝑘𝑔⁄
h2 – 258 𝑘𝐽 𝑘𝑔⁄
�̇�12 = �̇�𝑓(ℎ2 − ℎ1) ⟺ �̇�12 = 1,41 × (425 − 395) ⟺ �̇�12 = 42,3 𝑘𝑊
�̇�𝑐 = �̇�𝑓|ℎ3 − ℎ2| ⟺ �̇�𝑐 = 1,41 × |258 − 425| ⟺ �̇�𝑐 = 235,47 𝑘𝑊
Em suma:
Potência frigorifica absorvida no evaporador, �̇�𝐸 = 192,03 𝑘𝑊
Potência frigorifica rejeitada no condensador, �̇�𝑐 = 235,47 𝑘𝑊
Potência consumida pelo compressor, �̇�12 = 42,3 𝑘𝑊
Tendo em conta as informações reunidas neste ponto, e considerando que o exemplo de
cálculo remete para a mais reduzida das potências de arrefecimento determinadas, será
importante referir que, para qualquer um dos outros casos alvos de estudo (saídas DN 45
e 70) e considerando o mesmo ciclo frigorifico, serão de esperar, a todos os níveis,
potências de nível superior.
4.3 Factores de concepção
Antes de enunciar os pontos críticos relativos a este projecto, vale a pena salientar os
aspectos mais importantes discutidos e estudados ao longo deste trabalho. Desta forma,
este capítulo terá como objectivo, para além da enumeração dos pontos de maior interesse,
agregar os conceitos e ideias que foram continuamente reunidos durante a elaboração
deste trabalho.
Em primeiro lugar, é importante não esquecer que este trabalho possui como base
fundamentos teóricos que ainda não foram confirmados experimentalmente,
nomeadamente, a quantificação dos níveis de eficiência da utilização de água gelada para
combater um incêndio florestal. Posto isto, é possível enumerar os seguintes aspectos
fundamentais:
62
Não existem dois incêndios iguais. A forma como o fogo se comporta obedece
essencialmente a três condições: o tipo de combustível florestal, as características do
terreno e os factores meteorológicos;
Em Portugal, encontra-se em vigor regulamentação com o objectivo de estabelecer
medidas e acções no âmbito do Sistema Nacional de Defesa da Floresta contra
Incêndios. Entre as várias especificações estabelecidas, é possível destacar o modelo
dinâmico que visa planear, manter e reforçar as mais diversas metodologias e
estratégias de prevenção e combate a incêndios florestais;
De acordo com as leis da termodinâmica e com a teoria do triângulo do fogo, durante
o combate de um incêndio florestal, quanto mais frio estiver o agente extintor, maior
será a quantidade de energia em forma de calor suscetível de ser retirada do meio a
arder;
A solução encontrada e considerada mais apropriada leva a que o equipamento de
produção de água gelada actue como um elemento independente, servindo de meio
de ligação entre o tanque de armazenamento de água de um determinado veículo de
combate a incêndios e as manobras de ataque por terra;
Entre os mais diversos equipamentos de presença obrigatória por lei nas viaturas de
combate a incêndios, é possível destacar os dispositivos responsáveis por impor
movimento à água para que esta se desloque desde o tanque de armazenamento até
aos lanços de mangueira a serem utilizados. No âmbito deste projecto, está prevista
a utilização da denominada “bomba de serviço de incêndios” (equipamento
especialmente concebido para ser instalado em veículos de combate a incêndios)
para fazer chegar a água até ao equipamento de produção de água gelada e,
posteriormente, realizar o ataque às chamas.
Relativamente ao estudo e concepção do equipamento de produção de água gelada, é
possível destacar as seguintes conclusões:
Para que o equipamento possa ser transportável até às imediações de um determinado
incêndio florestal, está prevista a sua adaptação a duas situações distintas – a um
atrelado ou a um veículo pesado de mercadorias com uma superestrutura do tipo
plataforma. Com o intuito de saber qual das soluções será a mais adequada, justifica-
se a necessidade de as estudar individualmente. Custos, viabilidade e mobilização,
tanto de pessoal, como de outras viaturas, são alguns dos factores que devem ser
analisados;
63
O cálculo das potências frigoríficas permite, no âmbito da refrigeração, tirar
conclusões acerca da capacidade de arrefecimento requerida e do eventual nível de
robustez do equipamento;
Utilizando as potências de arrefecimento como uma variável de entrada, é possível
determinar uma gama de caudais admissíveis que, tendo em conta a saída da bomba
de aspiração a ser utilizada, assegurará que a água se encontra à temperatura
desejada;
Recorrendo a metodologias de cálculo é possível determinar as diversas potências de
interesse no circuito frigorifico. Quanto à escolha do regime de funcionamento do
equipamento, este será um processo que requererá especial atenção, sendo um
procedimento fundamental que deverá ter em conta o ambiente alternativo onde o
equipamento estará inserido.
4.4 Pontos críticos
Dado o caracter inovador da proposta sugerida, é necessário ter em conta, numa fase
anterior ao projecto, todos os problemas susceptíveis de ocorrer aquando da sua
implementação.
Tendo sempre presente as variáveis realistas, são vários os factores que devem ser tidos
em conta para que este projecto se aproxime o máximo possível do conceito de praticável.
Como tal, de seguida, serão enumeradas as principais condicionantes intrínsecas ao
projecto, cujas soluções deveram ser discutidas e estudadas.
Vibrações
Sendo o dispositivo de produção de água gelada um equipamento relativamente sensível
e de custos elevados, é imprescindível tomar medidas que garantam a sua protecção e
salvaguarda.
Tendo em conta que este equipamento necessitará percorrer vários quilómetros de estrada
que, por vezes, poderão não estar nas melhores condições, a instalação de isoladores que
permitam proteger o equipamento contra vibrações indesejáveis e inesperadas é uma
opção altamente viável e de elevada importância.
64
Ainda relacionado com a temática das vibrações está o funcionamento do compressor que
poderá, ou não, influenciar negativamente toda a estrutura a que estiver acoplado.
Protecção mecânica
Durante o desenvolvimento de um incêndio florestal é fundamental antecipar que a
evolvente ambiental sofra algumas alterações radicais. Assim como os bombeiros
encarregues de combater o incêndio possuem os seus equipamentos de protecção
individual, também os equipamentos mais sensíveis devem receber especial atenção por
parte dos seus utilizadores.
As principais adversidades que poderão colocar em causa, tanto a estrutura, como o
funcionamento do equipamento são: contacto com objectos incandescentes, elevada
temperatura do ar atmosférico com baixo teor em oxigénio e presença de cinzas, poeiras
ou fumos.
Alimentação do compressor
Para além de ser um elemento imprescindível no ciclo frigorífico, o compressor é também
o componente que necessita de energia para realizar a sua função.
Sendo este projecto um sistema móvel que certamente não irá receber energia da Rede de
Distribuição de Energia Eléctrica, será necessário estudar soluções alternativas. Por
exemplo, a instalação um grupo gerador capaz de fornecer energia ao compressor ou, no
caso da utilização do veículo pesado de mercadorias, projectar uma tomada de força que,
a partir do motor alternativo do próprio veiculo, permita alimentar o compressor do
equipamento de arrefecimento.
Código da estrada
Uma vez que se espera que o equipamento de produção de água gelada circule nas
estradas nacionais, será obviamente necessário garantir que as soluções encontradas
cumpram todos os requisitos do código da estrada.
Regime constante
Está previsto que o equipamento de produção de água gelada realize o seu ciclo frigorífico
e seja capaz de arrefecer uma determinada quantidade de água de acordo com a sua
potência frigorífica. Contudo, durante o combate a um incêndio florestal, o caudal de água
65
que percorre um determinado troço irá variar de acordo com o débito escolhido na
agulheta.
Posto isto, por forma a garantir que o caudal de água que chega ao equipamento de
produção de água gelada permaneça dentro do intervalo aceitável e aconteça o processo
de arrefecimento desejado, será necessário instruir os intervenientes no combate ao
incêndio e elucida-los para este problema.
Isolamento Térmico
Mesmo garantindo a presença de água entre 0 a 5℃ à saída do equipamento de produção
de água gelada, não será de esperar, com os meios actuais, que esta gama de temperaturas
se verifique também à saída da mangueira acoplada ao equipamento. Desta forma, deverá
ser estudada e projectada a utilização de lanços de mangueira flexível isolados
termicamente que, dentro das contingências estruturais e tecnológicas, sejam capazes de
manter a água a temperaturas aceitáveis no percurso a jusante do equipamento de
produção de água gelada.
Esta medida acaba por ser um esforço que visa contrariar os fenómenos de troca de calor
entre a água gelada e o ambiente extremamente quente que se desenvolve durante um
incêndio florestal.
Manuseamento
O equipamento deverá ser o mais simples e intuitivo possível no que toca ao seu
manuseamento. Desta forma, deverá ser estudada a instalação de uma mesa de controlo
com botoneiras e sinais sonoros/luminosos que permitam monitorizar o processo de
arrefecimento de água e supervisionar o caudal debitado pelo equipamento.
67
5 Conclusão
Entre os vários aspectos a destacar, vale a pena começar por mencionar a qualidade dos
meios de instrução que os bombeiros portugueses têm à sua disposição – prova de que
este é um trabalho respeitável e reconhecido. Aliado a este facto, subsiste ainda a
facilidade de acesso a estes mesmos meios, o que acaba por facilitar o processo de
consulta por parte de pessoas/entidades interessadas.
É de salientar a elevada componente teórica inerente a este trabalho, componente essa
que acaba por ser justificada pelo caracter inovador da proposta. Sendo este um projecto
que certamente será “continuado” num futuro próximo, considera-se imprescindível
enunciar e discutir, nesta primeira fase, o máximo de problemas/alternativas que, de
alguma forma, irão influenciar a viabilidade de execução.
Actualmente, os incêndios florestais constituem um problema que, no nosso país, muito
dificilmente pode ser evitado na sua totalidade. Factores como o clima, a elevada
quantidade de espaços verdes e eventuais problemas de caracter social, acabam por
contribuir para que um incêndio florestal possa, por vezes, ser um acontecimento
inevitável e imprevisível. É importante referir que, ao longo dos últimos anos verificou-
se uma diminuição pouco significativa no número de incêndios florestais. Contudo, a área
ardida registada sofreu um decréscimo importante que, mesmo influenciada pelos
factores anteriormente enunciados, pode também ser justificado por um marcante factor
tecnológico.
Relativamente às potências de arrefecimento, passaram a ser conhecidos os valores
requeridos perante a utilização de qualquer diâmetro de saída da bomba de serviço de
incêndios, assim como os caudais debitados pelas agulhetas, considerando o modo de
funcionamento em plena carga. Estes valores serão de extrema importância para,
futuramente, ser realizado o estudo do ciclo frigorífico real e analisar o modo de
instalação dos diversos componentes. Entre os vários factores a ter em consideração
aquando da análise do modo de instalação, será de evidenciar: a robustez do equipamento,
o diâmetro das tubagens de fluido frigorigéneo e o nível de conformidade relativamente
aos pontos críticos.
69
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http://lqes.iqm.unicamp.br/images/vivencia_lqes_meprotec_densidade_arquimede
s.pdf
Data de consulta: 07/03/2014
75
Anexo A – Características e equipamentos de presença
obrigatória impostos pelo Despacho nº 21638/2009 num
Veiculo Florestal de Combate a Incêndios
Veículo florestal de combate a incêndios
Veículo todo-o-terreno (4x4), de categoria M3, dotado de bomba de serviço de
incêndios, destinado prioritariamente a intervenção nos incêndios florestais rurais,
de acordo com a Norma Europeia 1846 – 1,2,3.
1. Características de desempenho do veículo
1.1. Carga útil/peso bruto – O peso bruto do veículo deve respeitar a homologação
do IMTT. Entende-se por peso bruto, o somatório de:
Peso do chassis;
Peso da superestrutura;
Peso do equipamento;
Peso da guarnição de seis bombeiros (média 90kg/bombeiro);
Peso dos agentes extintores.
1.2. Autonomia – A capacidade do depósito de combustível deve permitir realizar,
com a carga normal, um percurso mínimo de 300 km em estrada de perfil
medianamente acidentado ou o funcionamento da bomba de serviço de
incêndios durante quatro horas consecutivas.
O orifício com rede de protecção de enchimento do depósito de combustível
deve ser de fácil acesso nas operações de enchimento, tendo nas proximidades
a indicação do tipo de combustível (diesel) e o tampão de cor amarela, com
chave.
1.3. Desempenho – O desempenho dinâmico do veículo deve obedecer aos
requisitos definidos na Tabela 3 e 7, da EN 1846-2.
Os valores a declarar devem considerar a viatura com o peso bruto e só com o
peso do chassis.
Devem ser respeitadas as tabelas 2 e 6 da norma EN 1846-2 e as seguintes
características:
Diâmetros exterior de viragem: o diâmetro exterior de viragem à esquerda
e à direita deve ser inferior ou igual a 17 metros, entre muros;
76
Velocidade: a velocidade de cruzeiro do veículo em patamar deve situar-se
entre os 80 km/hora e a velocidade máxima admitida pela legislação em
vigor, estando o veículo equipado com limitador de velocidade;
Ângulos: os ângulos de ataque e saída devem ser iguais ou superiores a 35°,
respeitando o veículo uma altura ao solo igual ou superior a 400mm e um
ângulo de rampa igual ou superior a 30°.
2. Características mecânicas do veículo
2.1. Motor – O motor deve funcionar a diesel e respeitar a legislação vigente
referente à poluição, normalmente designada por “EURO”. O sistema de
arrefecimento do motor deve ser convencionalmente dimensionado, de modo a
permitir a seu funcionamento normal a 75% do regime máximo, para um
período de tempo igual ou superior a 4 horas e uma temperatura ambiente entre
-15° e +35°.
O motor deve permitir um arranque e funcionamento normais às temperaturas
de utilização. O escape do motor deve estar colocado de modo a não prejudicar,
quer a guarnição, quer o operador da bomba de serviço de incêndios.
2.2. Caixa de velocidades – A caixa de velocidades deve ser manual, manual
directa ou manual directa com velocidade intermédia, possuir o menor número
de velocidades possível e possibilitar, preferencialmente o acionamento da
bomba de serviço de incêndios com o veículo em andamento.
A embraiagem e o disco devem ter o maior diâmetro ou área de fricção possível.
A tomada de força deve ser accionada directamente pela caixa de velocidades,
estar preparada para serviço contínuo prolongado e, preferencialmente ser de
marca igual à caixa de velocidades.
2.3. Eixo e diferencial – O veículo deve possuir um dispositivo de bloqueio do
diferencial com sinalizador colorido, visível de dia, bem como um avisador
sonoro, quando em funcionamento. A relação do diferencial deve ser aquela
que melhor facilite a progressão em declives elevados. Os dois eixos
diferenciais devem possuir redução aos cubos ou equivalente.
77
2.4. Suspensão – A suspensão deve ser adequada ao serviço de incêndios atendendo
às velocidades, à carga transportada e ao volume de água armazenada, estar
preparada para suportar, constantemente a carga máxima pronta a operar e ser,
preferencialmente do tipo molas de lâminas ou helicoidais e com
amortecedores apropriados à carga.
2.5. Travões – O veículo deve estar equipado com sistema de travagem ABS, que
cumpre a Directiva 71/320/CEE, com as alterações introduzidas pelas
Directivas 98/12/CE e 2002/78/CE. Para os veículos com travões pneumáticos,
devem dispor de uma válvula reguladora de pressão do controlo de enchimento
dos depósitos de ar, equipada com tomada rápida para enchimento dos
depósitos através de fonte externa e possuir uma saída para ligar um tubo racord
para enchimento dos pneus. Deve possuir um sistema auxiliar de travagem
(escape, alimentação, etc.) e equipamento de desumidificação do ar dos travões.
Os acumuladores dos travões das rodas devem ser devidamente protegidos.
Deverá ter um sistema auxiliar de carregamento externo dos depósitos de ar dos
travões. O sistema deverá estar associado à ficha/tomada eléctrica para
carregamento das baterias.
2.6. Pneus – O rodado deve ser simples à frente e à retaguarda. A pressão dos pneus
deve estar indicada no veículo, por cima dos guarda-lamas, de modo indelével
e com a indicação da unidade de pressão (Bar). Os pneus devem ser do tipo
todo o terreno à frente e à retaguarda, com boa aderência ao piso, devendo
possuir roda de reserva igual e completa, de fácil acesso e manuseamento.
2.7. Direcção – A direcção do veículo deve ser assistida e com o volante do lado
esquerdo.
2.8. Pedais de comando – O intervalo entre os bordos dos pedais do travão e do
acelerador deve permitir a condução com botas.
2.9. Lubrificação – A superestrutura não deve impedir o acesso aos diferentes
copos lubrificadores, que devem estar devidamente referenciados pela cor
amarela. Deve existir um esquema de lubrificação colocado sobre uma placa
indicadora, situada, de preferência, na face interna da porta do condutor.
78
3. Equipamento eléctrico
3.1. Generalidades – O veículo deve estar equipado com o conjunto de luzes
previsto no Código da Estrada (Directiva 91/663/CEE) e as utilizadas em
viatura de emergência, como faróis do tipo STROB. A tensão instalada deve
ser de 24 V c.c., devendo os circuitos ser protegidos por fusíveis calibrados,
referenciados num quadro e facilmente acessíveis, existindo uma colecção para
substituição.
Através de conveniente isolamento e filtragem, será garantida a não
interferência com o equipamento rádio, conforme Directiva 72/245/CEE. O
chassis e a superestrutura não devem ser utilizados para distribuição e retorno
de corrente eléctrica, (massa), pretende-se linha dedicada.
Deve estar disponível tensão de 12 V c.c. para ligação de equipamento auxiliar.
Não devem existir ligações autónomas a uma das baterias. Deve ser respeitada
a Directiva 89/336/CEE relativa a compatibilidade electromagnética com as
alterações introduzidas pela Directiva 93/68/CE.
3.2. Baterias – As baterias devem ter instalados dois bornes devidamente
identificados, para efeitos de extra encosto. As baterias devem ser
sobredimensionadas na sua capacidade, respeitando as normas europeias para
veículos prioritários. O compartimento de baterias deve facilitar o acesso para
inspecção e manutenção e ser resistente aos ácidos. O veículo deve estar
equipado com um sistema de carregamento de baterias alimentado com 220 V
c.a., que deverá desligar-se automaticamente sempre que aquele é accionado.
O sistema de carregamento de baterias deverá comportar a passagem de ar para
os depósitos de ar dos travões.
3.3. Alternador – O veículo deve estar equipado com um alternador, de capacidade
sobredimensionada para o fim a que se destina, que respeitará as normas
europeias para veículos prioritários.
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3.4. Avisadores e projectores especiais – O veículo deve estar equipado com:
Uma sirene electrónica, com uma potência máxima até 100 W, colocada
sob tensão por um interruptor, com sinalizadores luminosos azuis na parte
superior, visíveis num ângulo de 360º e altifalante exterior, a activar pelo
condutor e/ou pelo chefe da equipa;
Dois sinalizadores luminosos, da marcha de urgência, azuis, intermitentes
(tipo STROB) colocados na parte da frente do veículo, preferencialmente
junto aos faróis, de modo a serem visíveis pelo condutor do veículo da
frente a, pelo menos, 100 metros, sendo eficientemente protegidos contra
choques e instalados sem perfuração da cabina;
Um projector orientável e amovível de, pelo menos, 100 W, montado à
frente do lado direito da cabina;
Um projector orientável e amovível de, pelo menos, 100 W, montado à
retaguarda, do lado esquerdo;
Uma lanterna com lâmpadas de Led para leitura de mapas do lado direito
no interior da cabina;
Dois faróis de nevoeiro protegidos com grelha metálica, colocados na parte
frontal do veículo.
4. Características da cabina
4.1. Interior da cabina – A cabina deve ser obrigatoriamente dupla, com seis
lugares. O piso deve ser anti-derrapante e com possibilidade de escoar líquidos.
A cabina deve possuir quatro portas com fechaduras iguais e janelas com vidros
móveis, que no caso de terem elevadores devem ser iguais entre si, conforme
Directiva 70/380/CEE.
Deve ser assegurada a comunicação directa entre todos os elementos da
guarnição e existir pegas para, em terreno acidentado, possibilitar apoio aos
membros da equipa.
A iluminação do habitáculo será garantida, pelo menos, com dois pontos de luz,
sendo um à frente e outro na parte de trás da cabina. A cabina deve ter bom
isolamento sonoro e satisfazer, na generalidade, os seguintes requisitos:
Espaço suficiente para a instalação de dois emissores - receptores;
Lugar do condutor regulável, permitindo uma condução segura e cómoda;
80
Todos os lugares devem estar equipados com encostos de cabeça, cintos de
segurança certificados conforme directivas 76/115/ CEE e 77/541/CEE pela
entidade ou país de construção e equipados com pré-tensores;
Sob os bancos traseiros, que poderão ser de concepção diferente, deve
existir um cofre para material;
Os assentos situados sobre o cofre devem ser articulados na parte posterior
e rebatíveis a 90°, deixando uma abertura de, pelo menos, 300 mm entre a
face da frente do cofre e a vertical do banco levantado e possuir dispositivo
simples que os permita manter na posição de aberto;
Entre a face anterior do espaldar dos bancos traseiros e a face posterior das
costas dos bancos da frente deve existir um espaço de 750 mm (± 50mm -
EN1846).
4.2. Acessos à cabina – Os acessos à cabina devem ser facilitados com degraus com
inclinação suficiente, de molde a permitir a visibilidade do degrau
imediatamente inferior. Os degraus não devem prejudicar os ângulos de ataque
do veículo, podendo ser retrácteis ou em material flexível.
4.3. Segurança passiva da cabina – A segurança da cabina deve ser total e
obedecer às seguintes condições:
Os materiais utilizados no revestimento devem ser preferencialmente
ignífugos;
Os vidros devem respeitar a Directiva 92/22/CEE;
Não devem existir esquinas vivas e outros factores que possam provocar
ferimentos;
Deve possuir espaço para duas garrafas de 6,8 litros de ar respirável, a 300
Bar, instaladas em local de fácil manuseamento, com dispositivo de
accionamento no interior de modo a manter, em caso de necessidade, a
pressão no interior da cabina superior à pressão atmosférica, bem como
melhorar a alimentação de ar do motor do veículo através de ligação ao
colector de admissão; Dentro da cabine deverá ser montado dispositivo de
distribuição de ar respirável com seis saídas para ligação rápida de seis
mascaras individuais, (incluídas), que deverão permanecer dentro da
mesma em local acessível e identificado;
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A estrutura externa da cabina deve ser reforçada com arco de segurança
exterior ou no interior da estrutura, que será construído em tubo de aço sem
costura (rollbar), resistente às deformações produzidas por capotamento;
A parte frontal deve ser guarnecida com uma grelha de protecção aos
embates em árvores, a mesma grelha também deverá proteger lateralmente
os guarda-lamas frontais e o tubo da grelha deverá ter no mínimo diâmetro
de 2 polegadas;
Deve dispor de uma estrutura tubular externa em aço inox AISI 304, com
cortina de protecção contra campos térmicos que envolverá todo o veículo
incluindo as cavas das rodas/pneus, funcionando como rede de água para
protecção do mesmo, a partir de um reservatório de emergência;
As cablagens eléctricas e de ar comprimido devem ser revestidas e isoladas
com manga ignífuga contra campos térmicos;
Deverão existir dois espelhos de bermas, colocados no lado direito da
mesma.
4.4. Basculamento da cabina – O basculamento da cabina deve poder ser
efectuado por, apenas, um bombeiro da guarnição, sem recurso a dispositivos
exteriores. O sistema de basculamento original e as articulações devem ser
reforçados em função do aumento do peso da cabina, tomando como base a
cabina original. A existência da cabina basculante não deve excluir que algumas
operações de controlo e reposição de níveis (motor, caixa de velocidades,
baterias, radiador, etc.) sejam executadas sem recurso à manobra de
basculamento.
4.5. Painel de comando e controlo – A cabina deve possuir um painel de comando
equipado com, pelo menos, os seguintes instrumentos de manobra e controlo,
devidamente identificados:
Um voltímetro e um amperímetro com a função de indicador de carga de
baterias;
Um corta-corrente geral a todas as fontes de alimentação provenientes das
baterias, excepto as funções que necessitam de alimentação permanente;
Um sinalizador luminoso verde, que indica a colocação sob tensão da
instalação eléctrica;
82
Três sinalizadores luminosos devidamente identificados, assinalando a
colocação sob tensão através dos interruptores, sendo:
o Verde para os sinalizadores luminosos;
o Laranja para o projector orientável à frente;
o Vermelho para o projector orientável e amovível à retaguarda;
Um comando com sinalizador luminoso colorido, devidamente
identificado, para a colocação em funcionamento da tomada de força;
Um tacógrafo devidamente homologado;
Um avisador acústico e um sinalizador luminoso do fecho da cabina
basculante;
Dois avisadores sonoros e dois sinalizadores luminosos indicadores de:
o Cofre aberto;
o Bomba de serviço de incêndios accionada.
Uma tomada de corrente identificada para gambiarra de 12 V c.c;
Outros sinalizadores ou avisadores considerados indispensáveis ao bom e
eficiente funcionamento do veiculo e acessórios, desde que respeitem a
Directiva 78/316/ CEE com as alterações introduzidas pelas Directivas
91/93/CE e 94/53/CE.
4.6. Placa de identificação – Na cabina deve existir uma placa de identificação do
veículo referindo pelo menos:
Nome do construtor (carroçador);
Modelo e número do chassis (quadro);
Massa total em carga;
Plano de lubrificação;
Ano de fabrico do chassis e da super-estrutura.
83
5. Características da superestrutura
5.1. Dimensões – As dimensões devem ser reduzidas ao mínimo tecnicamente
possível, estando o comprimento, a largura e altura máximos, além da
localização do centro de gravidade, identificados em desenhos ou esquemas,
em planta e vista lateral.
A largura da superestrutura não deve ser superior à largura do rodado traseiro
e o tanque de água deve estar à vista. A transformação deve respeitar o manual
de montagem de superestruturas do fabricante e representante do chassis,
devendo a superestrutura com o equipamento ser suportado pelo falso chassis
ou chassis auxiliar.
5.2. Tanque - O tanque de água, que deve ser fixado e apoiado à superestrutura
(falso chassis) através de sinoblocos, satisfará as seguintes condições:
Possuir uma capacidade mínima de:
o Tanque A: 3.000 litros (± 5%);
o Tanque B: 3.500 litros (± 5%).
Ser construído, preferencialmente em chapa de aço inox AISI 316, ter como
espessuras mínimas 4,0 mm no fundo, 3,0 mm nos lados e topos e 3,0 mm
no tecto e possuir anteparas verticais fixas e paralelas aos eixos do veículo,
no mesmo material, com 2,5 mm de espessura;
Possuir duas anteparas verticais e perpendiculares aos eixos do veículo;
Ser inferior ou igual a 500 litros o volume de água criado pelas anteparas
paralelas e perpendiculares;
Quando fabricado com outros materiais, como o alumínio, conforme EN
573, ou materiais não metálicos, no que respeita às espessuras, composição
química, deve ser acompanhado de certificado de conformidade de
resistência ao fogo e aos impactos;
Apresentar resistência a águas cloradas e salinas;
Possuir entrada de visita por cada compartimento criado pela existência de
anteparas;
As “bolachas” retiradas das anteparas devem tapar as entradas de visita
através de um sistema de parafusos e porcas inox AISI 316, os primeiros
com orelhas para fácil desmontagem e as segundas soldadas à estrutura;
A colocação das «bolachas» não deve impedir a saída rápida de água para
a bomba do serviço de incêndios, mantendo, no entanto, a função de
limitação das oscilações em movimento;
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Possuir, ainda:
o Orifício de enchimento igual ou superior a DN150, com tampão de
abertura rápida, articulado ou preso por uma corrente, que será
dispensável se a entrada de visita for provida de tampa de abertura
rápida;
o Duas canalizações laterais (uma de cada lado) fixadas à super-estrutura
para o enchimento do tanque a partir de mangueiras flexíveis DN70
Storz B, montadas à retaguarda do eixo traseiro, com válvulas macho
esférico e semi-uniões Storz B com tampões presos por correntes;
o Dispositivo de evacuação de água “tubo ladrão”, que descarrega sob o
chassis atrás do eixo da retaguarda, de modo a limitar as perdas em
andamento, dimensionado tendo como objectivo evitar que a pressão
interior não ultrapasse 0,20 Kg/cm2, com todas as tampas fechadas
durante o enchimento através da rede pública ou com idêntica pressão;
o Canalização do tanque para a entrada da bomba de serviço de incêndios,
munida de um filtro visitável e amovível e de válvula flangeada com
comando manual e outro, com a dimensão adequada para redução de
perdas de carga da bomba;
o Sistema anti-vórtice no depósito e na saída para a bomba de serviço de
incêndios;
o União flexível na canalização de saída para a bomba de serviço de
incêndios, capaz de absorver vibrações e torções;
o Dispositivo luminoso que permita verificar o nível de água no tanque,
de dia e de noite;
o Orifício para o esvaziamento total do tanque, facilmente acessível da
periferia da superestrutura;
o Argolas ou aros na parte superior para permitir a sua elevação e retirada;
o Caixa rectangular em alumínio na parte superior para arrumação do
material sapador;
o Reservatório de emergência, cuja água não deve ser utilizada para o
serviço de incêndios, será construído no interior do tanque, no mesmo
material, com a capacidade de 300 litros (± 5%), enchimento autónomo
e simultâneo com o tanque principal e possuir um sistema de bombagem
adequado.
5.3. Bomba de serviço de incêndios – O veículo deve estar equipado com uma
bomba de serviço de incêndios, que irá receber o movimento necessário da
tomada de força e ter as seguintes características:
Possuir comando de engrenagem e paragem na cabina de condução e botão
de paragem de emergência do motor no painel da bomba;
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Ser accionada através de veio de transmissão vindo da tomada de força
devidamente certificada, com todas as transmissões equilibradas estática e
dinamicamente, devendo a potência absorvida nos diversos regimes de
trabalho ser inferior à potência disponibilizada pelo motor em cada regime
de rotação de trabalho, considerando em conjunto o máximo de caudal e
pressão em alta, baixa e admissão;
Estar certificada pela EN 1028-1 e 2-2002 e obedecer às seguintes
condições:
o Ser do tipo centrífuga, de alta e baixa pressão, fixa ao falso chassis e de
fácil acesso;
o Atingir os débitos mínimos de 2.000 litros/ minuto, a 10 Bar, a 3,0
metros de altura de aspiração e 250 litros/minuto, a 40 Bar, a 1,5 metro
de altura de aspiração;
o Ter sistema auto-ferrante e dispor de tempo de ferra inferior a 60
segundos para uma altura de aspiração de 3,0 metros;
o Ter acoplado um regulador automático de pressão;
o Possuir um filtro na admissão externa da bomba com malha inox
adequada e facilmente acessível e amovível;
o Possuir saídas em baixa pressão com uma inclinação descendente,
segundo um ângulo de 10° a 30° e dispor de válvulas abertura/fecho
facilmente manobráveis, mesmo sob o efeito de pressão, destacando- se
as seguintes:
DN70, Storz B, duas saídas, com tampa cega presa por corrente;
DN25, Storz D, livre para eventual ligação manual em baixa pressão,
com tampa cega presa por corrente;
DN25, Storz D, para enchimento/circulação do tanque pela bomba e
ligação manual em baixa pressão, com tampa cega presa por
corrente;
o Possuir saída de alta pressão DN 25, com sistema de roscas macho-
fêmea de 1 polegada com cone de vedação BSP inox;
o O carroçador deve apresentar certificado da total compatibilidade da
bomba no veículo proposto de modo que aquela consiga alcançar
plenamente as performances indicadas pelo fabricante da mesma.
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O painel de controlo ou quadro de manobra da bomba de serviço de incêndios
deve possuir, devidamente identificados por meio de dísticos adequados e
marcação indelével, colocados junto aos mesmos, pelo menos:
Conta-rotações do motor;
Acelerador;
Comando de paragem de emergência do motor;
Manómetro indicador da temperatura do motor;
Manómetro indicador de pressão de óleo do motor,
Contador de horas total e parcial de funcionamento da bomba;
Manómetro de baixa pressão ligado a bomba;
Manómetro de alta pressão ligado a bomba;
Vacuómetro ligado à admissão da bomba;
Comando do sistema de ferra da bomba;
Dispositivo complementar de arrefecimento do motor,
Iluminação do painel de controlo, com interruptor.
5.4. Carretéis – O veículo deve estar equipado com dois carretéis, que obedecerão
às seguintes características:
Carretel com mangueira semi-rígida de alta pressão DN25, ligação no
sistema de rosca macho-fêmea de 1 polegada com cone de vedação de BSP
inox, três lanços de 20/25 metros cada, pressão de trabalho máxima de 40
Bar e pressão de rotura da mangueira no mínimo de 80 Bar; agulheta para
alta pressão com punho e válvula de abertura e fecho para utilização em
jacto/nevoeiro com regulação de caudal que permita atingir 200
litros/minuto, posição de auto limpeza, equipada com destorcedor, união
compatível com a ligação acima referida e sistema homem morto,
devidamente certificada; O carretel de alta pressão deve dispor de:
o Sistema motorizado de enrolamento e desenrolamento da mangueira,
bem como sistema manual alternativo através de manivela;
o Sistema de travagem e dispositivo de imobilização eficaz de modo a
que, com a deslocação veículo, o carretel não se desenrole;
o Quatro rolos de guiamento da mangueira do carretel de mangueira semi-
rígida, na parte inferior, superior e nas laterais;
o Saída da mangueira entre rolos pela parte superior do carretel.
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Carretel vazio com capacidade para enrolar até 10 lanços de mangueira
flexível de baixa pressão DN25, de 20 metros cada e uniões Storz D.
5.5. Tubagem hidráulica – As uniões a utilizar nas tubagens devem ser do tipo
Storz, estampado e maquinado de alumínio, devidamente certificadas, excepto
as ligações do carretel de mangueira semi-rígida de alta pressão, que utilizará o
sistema de rosca macho-fêmea de 1 polegada com cone de vedação BSP inox.
6. Cofres – Os cofres devem ser instalados lateralmente e independentes, sendo que a
sua numeração deverá ser com a indicação dos números impares do lado do condutor
e os pares do lado do passageiro.
Devem ter uma estrutura preferencialmente em alumínio tubular soldado ou, em
alternativa, em aço tubular galvanizado a quente. Serão preferencialmente divididos
a meio de forma a serem independentes de cada um dos lados do veículo.
À retaguarda deve existir um patamar para protecção e colocação da bomba de
serviço de incêndios, aberto na traseira com protecção lateral, de modo a que o
carretel de mangueira semi-rígida e a bomba de serviço de incêndios fiquem à vista.
Deve existir uma escada que permita o acesso à parte superior do tanque. Será
montada a 180 mm de distância, possuirá punhos, barras de apoio ou corrimão e
estribos anti derrapantes, bem como uma chapa de alumínio destinada a proteger a
carroçaria.
Os cofres devem ter as seguintes características:
Serem construídos em alumínio, com o piso em alumínio estriado e resistente,
com 3,0 a 4,0 mm de espessura;
Serem forrados e estanques às intempéries e terem acesso exterior fácil de ambos
os lados do veículo, permitindo a instalação funcional do material e equipamento;
Possuírem iluminação que acenda automaticamente com a abertura da persiana;
As persianas devem obedecer aos seguintes critérios:
o Ser em alumínio anodizado com uma camada de, pelo menos, 15 microns;
o Ter uma largura inferior ou igual a 1200 mm;
o Possuir pegas de fecho com trinco e fechadura com chave;
Permitirem a arrumação vertical dos lanços de mangueira, separados entre si por
divisórias, bem como a arrumação do material hidráulico do lado direito e do
material eléctrico do lado esquerdo.
7. Pintura, símbolos e inscrições
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7.1. Generalidades – O chassis deve ser protegido com uma pintura anti-corrosão,
certificada com uma garantia de seis anos e aplicada antes da montagem da
superestrutura, de acordo com as indicações dos fornecedores da marca do
chassis.
7.2. Cores – O veículo deve ser pintado a vermelho acrílico, referência RAL 3000,
certificada com uma garantia de três anos, de base fosca e verniz para
acabamento, devendo os pára-choques ser pintados a branco acrílico, referência
RAL 9010.
7.3. Inscrições
Na parte frontal, tejadilho ou capota do motor, os caracteres que compõem
o número operacional devem ter as seguintes dimensões:
o Altura total — 200 mm;
o Largura total — 120 mm;
o Espessura de cada algarismo ou letra – 0,40 mm;
O polígono onde se inscrevem os caracteres na parte frontal, tejadilho ou
capota do motor deve ter as seguintes dimensões médias:
o Altura —720 mm;
o Largura —640 mm;
Nas ilhargas e na retaguarda, os caracteres que compõem o número
operacional devem ter as seguintes dimensões:
o Altura total —100 mm;
o Largura total — 0,60 mm;
o Espessura de cada algarismo ou letra 0,20 mm;
O polígono onde se inscrevem os caracteres nas ilhargas e na retaguarda
deve ter tem as seguintes dimensões médias:
o Altura — 360 mm;
o Largura — 320 mm;
Nas partes traseira e laterais, em letras de 100 mm, a cor branca reflectora,
deve ser inscrita a palavra BOMBEIROS;
0 0 0 0
V F C I
0 1
89
O nome do corpo de bombeiros deve ser inscrito lateralmente sob a palavra
BOMBEIROS.
8. Material de comunicações
8.1. Emissores/receptores móveis – O veículo deve possuir equipamentos móveis,
homologados, montados na cabina, de fácil manejo por parte do chefe de
equipa, com extensão do altifalante junto do painel de comando da bomba de
serviço de incêndios e dois planos-terra em painel metálico, no tejadilho,
destinados às antenas de rádio:
Emissor/receptor móvel de banda alta VHF (faixa dos 152-173 MHz), com
255 canais;
Possuir pré instalação para rádio TETRA (não deve incluir antena).
8.2. Outros equipamentos – No veículo devem existir, ainda, os seguintes
equipamentos:
Dois emissores/receptores portáteis de banda alta VHF (faixa dos 152-173
MHz), com 16 canais e carregador veicular;
Um GPS com antena exterior, 12 canais paralelos no mínimo, cartografia
nacional detalhada e actualizada, armazenamento mínimo de 10 (dez) rotas,
marcação de 100 (cem) pontos de interesse, função zoom in/out. Deve
permitir operação portátil e operação em instalação solidária veicular.
8.3. Alimentação dos equipamentos – Todos os equipamentos devem ser
alimentados pelas baterias do veículo.
9. Equipamento mínimo
9.1. Equipamento de extinção – A carga mínima obrigatória de equipamento de
extinção deve ser a seguinte:
Agulhetas para baixa pressão, com punho e válvula de abertura e fecho,
para utilização com regulador de caudal em jacto/nevoeiro, com posição de
auto limpeza, equipada com destorcedor e devidamente certificadas:
o Três agulhetas com ligação Storz D e caudal até 130 litros/minuto;
o Duas agulhetas com ligação Storz C e caudal até 400 litros/minuto.
Um disjuntor com válvulas e uniões Storz tipo BxCxC;
Um disjuntor com válvulas e uniões Storz tipo CxDxD;
90
Lanços de mangueira flexível, com uniões Storz em liga leve, quatro capas,
protecção exterior, suportando uma pressão máxima de trabalho superior a
16 Bar e uma pressão de rotura mínima de 50 Bar, devidamente certificadas:
o 15 lanços DN25, com 20/25 metros cada e uniões Storz D;
o 15 lanços DN38, com 20/25 metros cada e uniões Storz C;
o 4 lanços DN45, com 20/25 metros cada e uniões Storz C;
o 2 lanços DN70, com 20/25 metros e uniões Storz B;
Dois corpos chupadores de 3 metros cada ou três corpos chupadores de 2
metros cada, destinados à bomba principal de serviço de incêndios, com
uniões Storz, ralo com válvula e cesto de aspiração, devidamente
certificados.
Quatro reduções Storz BxC;
Duas reduções Storz BxD;
Quatro reduções Storz CxD;
Dois adaptadores rosca fêmea DN 45 SI/ Storz C.
9.2. Material de sapador – A carga mínima obrigatória de material de sapador deve
ser a seguinte:
Duas enxadas com cabo;
Três pás com cabo;
Uma enxada-ancinho tipo Macleod;
Um machado de lâmina dupla;
Um foição;
Uma roçadora manual
Um ancinho;
Um enxadão tipo Pulaski;
Três abafadores;
Um machado Albião;
Uma alavanca média;
Uma motosserra de corrente com 500 mm com motor térmico igual ou
superior a 4 kW e respectivo equipamento de protecção (óculos, auriculares,
avental e perneiras).
9.3. Material de salvamento – A carga mínima obrigatória de material de
salvamento deve ser a seguinte:
91
Uma escada extensível de alumínio, com três lanços de 3 metros cada,
certificada de acordo com a EN 1147;
Duas espias dinâmicas de 6,0 mm, com um mínimo de 25 metros cada, com
mosquetões conforme EN 892;
Duas espias dinâmicas de 11 mm, com um mínimo de 25 metros cada, com
mosquetões conforme EN 892.
9.4. Material de socorro sanitário – A carga mínima obrigatória de material de
socorro sanitário deve ser a seguinte:
Uma caixa de primeiros socorros rígida, ou semi rígida, lavável, com
bandoleira, que contenha:
o Material de Contenção e Penso:
Dez (10) embalagens com 3 compressas esterilizadas,
tamanho10×10;
Cinco (5) pensos esterilizados de grande dimensão, 20×20;
Cinco (5) ligaduras de gaze 10×10;
Cinco (5) ligaduras elásticas 5×8;
Cinco (5) compressas oculares esterilizadas, (emb. Individual);
Um rolo de adesivo comum 5×5.
o Material de Imobilização:
Duas (2) talas moldáveis, (tipo SAM);
Dois (2) colares cervicais universais descartáveis.
o Material de Limpeza e Desinfecção:
Iodopovidona, sol. Dérmica, 500 ml.
Soro fisiológico de limpeza, 30 ml ×6
Soro fisiológico, 500 ml×1
o Material Diverso e de Conforto:
1 Tesoura forte para roupa;
5 Pinças descartáveis.
2 Sacos de frio “ químico”, (Mono uso);
1 Caixa de luvas de látex, (100 unidades), não esterilizadas,
ambidextras;
2 Mantas isotérmicas dupla face;
1 Lençol para queimados;
92
2 Máscaras para reanimação, (tipo pocket mask) c/ válvula
unidireccional, c/ bolsa
Uma maca de lona, ou material similar, desdobrável, lavável, com 8 pegas.
9.5. Material de iluminação, sinalização e eléctrico – A carga mínima obrigatória
de material de iluminação, sinalização e eléctrico deve ser a seguinte:
Três lanternas portáteis, recarregáveis no veículo em suporte próprio, anti-
deflagrantes, anti-estáticas, protecção IP 66 com carga de 12 volts c.c ou 24
volts c.c, duas intensidades luminosas com um mínimo de quatro horas de
utilização na intensidade máxima ou oito horas na mínima, conforme
directiva 94/9/CEE e alternativa de carregamento externo com 220 V c.a.;
Uma gambiarra de 12 V c.c., com 20 metros, lâmpada fluorescente e
protecção IP 66.
9.6. Material diverso – A carga mínima obrigatória de material diverso deve ser a
seguinte:
Duas chaves de boca-de-incêndio;
Quatro chaves para Storz Ax BxC;
Quatro chaves para Storz Cx D;
Duas chaves de marco de água;
Dois recipientes metálicos de 10 litros para combustível;
Dois recipientes para lubrificantes;
Uma moto-bomba portátil, com motor de explosão de potência igual ou
superior a 4 KW, auto-ferrante e sistema de corte por falta de óleo, com um
débito mínimo de 500 litros/minuto, dois corpos chupadores de 3 metros
cada ou três de 2 metros cada, um deles com ralo integrado;
Um conjunto em caixa de peças e material de manutenção dos motores dos
equipamentos.
9.7. Material e ferramentas próprias do veículo e do equipamento – A carga
mínima obrigatória de material e ferramenta próprio do veículo e do
equipamento deve ser a seguinte:
Conjunto de chaves acondicionadas em caixa de ferramenta:
o Sendo 12 de duas bocas fixas, em aço crómio‐vanadium;
o Um jogo de fendas, estrela, torx, pozidriv e sextavado interior, em aço
crómio‐vanadium;
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o De grifos;
Um macaco hidráulico adaptado ao peso bruto do veículo;
Dois calços de rodas;
Uma cinta de reboque com 6 metros, suficientemente robusta para resistir à
tracção do veículo completamente carregado;
Um guincho, frontal com capacidade de tracção do veículo carregado
quando aplicada a roldana;
Uma roldana desmultiplicadora com capacidade para deslocação do
veículo;
Equipamentos de socorro e sinalização regulamentares.