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Equipa de Análise Estratégica para o Acompanhamento Externo de Modelos de Gestão Hospitalar RELATÓRIO FINAL Análise e parecer sobre o processo de criação e desenvolvimento das parcerias para a construção de hospitais em regime de financiamento privado e avaliação comparada do desempenho do Centro de Reabilitação do Sul, em São Brás de Alportel Julho de 2009

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Equipa de Análise Estratégica para o Acompanhamento Externo de Modelos de Gestão Hospitalar

RELATÓRIO FINAL

Análise e parecer sobre o processo de criação e desenvolvimento das

parcerias para a construção de hospitais em regime de financiamento privado

e avaliação comparada do desempenho do Centro de Reabilitação do Sul,

em São Brás de Alportel

Julho de 2009

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RELATÓRIO FINAL

Equipa de Análise

 Jorge Simões (coordenador)

Pedro Pita Barros

Sofia Nogueira da Silva

Sara Valente

Redacção Jorge Simões

Pedro Pita Barros

Sofia Nogueira da Silva

com a colaboração de: Marta Temido

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Sumário Executivo

O presente Relatório responde à solicitação da Senhora Ministra da Saúde

para se realizar uma reflexão sobre o processo de criação e desenvolvimento

das parcerias para a construção de hospitais em regime de financiamento

privado, em Portugal, e de avaliar o desempenho do Centro de Reabilitação

do Sul, em São Brás de Alportel, identificando os factores que determinam ou

condicionam os resultados dos mesmos, procedendo à sua análise a fim de

serem tomadas as decisões correctivas necessárias.

A equipa de análise estratégica para o acompanhamento externo de modelos

de gestão hospitalar, nomeada pela Senhora Ministra da Saúde, estudou

globalmente o processo das parcerias público-privadas para a construção de

novos hospitais e concluiu que o processo de lançamento das parcerias

evidenciou grande morosidade e ajustamentos diversos ao longo do

percurso.

Constatou-se, ainda, que a capacidade técnica por parte do Estado não se

encontra plenamente assegurada, apesar da criação da figura do gestor do

contrato para realizar o acompanhamento da parceria.

Reconheceu-se que é virtualmente impossível incluir no contrato todas as

eventuais contingências que podem ocorrer no futuro. Tal significa que

contratos de longo prazo, como os das parcerias em saúde, terão

inevitavelmente incentivos para renegociação futura, quando alguma

contingência não prevista expressamente no contrato ocorrer. O contrato

deverá, por isso, prever quais as condições e os mecanismos de regulação

que se encontram disponíveis, para evitar situações de renegociação

contratual ad-hoc.

Reconheceu-se, também, que, em termos de partilha de risco, os contratos

de parcerias asseguram, de uma forma geral, uma distribuição de risco pelas

partes que segue o recomendado pela literatura referente a parcerias público-

privadas e pela análise das melhores práticas seguidas internacionalmente.

A escolha entre inclusão, ou não, da gestão clínica no âmbito privado da

parceria foi avaliada do ponto de vista das suas propriedades em termos do

bom funcionamento económico da parceria. Em parcerias onde os benefícios

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sociais resultantes sejam muito sensíveis a investimentos, em sentido lato,

que não são susceptíveis de serem especificados contratualmente e o custo

público de realização desses investimentos não tenha grandes diferenças

entre o sector público e o sector privado, então a gestão clínica deverá ser

retida pela parte pública da parceria. Sempre que os custos de realização

desse investimento não contratável seja substancialmente menor no sector

privado e os benefícios sociais não sejam muito sensíveis a esse

investimento não contratável, então a parceria deverá incluir a gestão clínica

no âmbito privado.

Reconhece-se que, dada a importância dos aspectos de investimento não

contratável e de renegociação futura que estão inevitavelmente presentes em

parcerias público-privadas, é essencial a construção de um clima institucional

de confiança mútua entre as partes envolvidas. Na ausência dessa confiança

mútua, os custos de litigância e de conflito entre as partes serão elevados.

As principais conclusões ao longo do texto são recolhidas em apreciações e

recomendações, para facilidade de leitura.

Na avaliação comparada do Centro de Reabilitação do Sul (CMR Sul), em

São Brás de Alportel, a análise de indicadores realizada mostra que não há

um Centro de Reabilitação que domine sistematicamente os restantes. Existe

sempre uma dimensão em que cada Centro de Reabilitação é dominado pelo

menos por um dos outros Centros de Reabilitação.

É igualmente interessante assinalar que a parceria público-privada do CMR

Sul introduz (potenciais) ganhos de duas formas: consequência directa de

exigências contratuais e vantagens associadas com uma gestão privada.

Em termos do critério de custos, o CMR Sul apresentou em 2008 um fraco

desempenho. É aqui relevante para a compreensão desse fraco desempenho

a baixa utilização da capacidade. Face a uma componente elevada de custos

fixos, a ausência de um volume de actividade elevada leva a que o custo de

infra-estrutura tenha que ser dividido por um número menor de doentes e

gerando um valor especialmente elevado para o custo médio por doente.

Na componente de eficácia, o CMR Sul apresenta indicadores próximos dos

objectivos de primeiras consultas e resolutividade. Contudo, tem um excesso

de capacidade muito notório, no ano de 2008. Na componente de eficiência,

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o CMR Sul não apresenta em geral os melhores indicadores, embora a falta

de utilização de capacidade seja novamente o principal factor penalizador.

Nas dimensões de equidade e qualidade, o CMR Sul é o Centro que

melhores resultados apresenta nos indicadores seleccionados, de um modo

geral. A vantagem do CMR Sul em termos de equidade decorre sobretudo do

indicador associado com as listas de espera. A inexistência de listas de

espera é resultado directa das disposições contratuais.

Em termos de resultados de qualidade, a vantagem detectada encontra-se

associada com a presença de uma clara política organizacional de qualidade

no CMR Sul. Essa política de qualidade é necessária para responder às

exigências contratuais de indicadores de qualidade avaliados periodicamente

(sendo as falhas de desempenho penalizadas financeiramente).

Apesar de não se ter uma conclusão tão clara como se pretenderia, vale a

pena realçar que o principal factor responsável pelo melhor posicionamento

do CMR Sul em diversos indicadores é estrutural: o contrato “obriga” a um

bom desempenho. Por outro lado, o principal factor penalizador do CMR Sul

é a baixa utilização da capacidade instalada, o que sendo um aspecto

conjuntural abre a perspectiva de melhoria significativa do CMR Sul num

futuro próximo.

É antecipável que as vantagens da parceria público-privada venham a ser

realçadas se for resolvido o problema da procura do CMR Sul, e que é

exterior em grande medida à gestão do Centro de Reabilitação. De momento,

as vantagens da parceria aparentam decorrer da necessidade de cumprir o

contrato, e não de uma maior capacidade de gestão privada, dadas as

condições de procura em que esta última teve de operar no ano de 2008.

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Índice

Sumário Executivo Apresentação Introdução Parte I – Análise e parecer sobre o processo de criação e desenvolvimento

das parcerias para a construção de hospitais em regime de financiamento

privado ................................................................................................................ 19

1. Modelos de parcerias público - privadas ......................................................... 19

2. Vantagens e desvantagens das parcerias público - privadas ......................... 22

3. Partilha e transferência de risco ...................................................................... 26

3.1. Papel da partilha de risco............................................................................. 26

3.2. Princípios de partilha de risco ...................................................................... 29

3.3. Riscos envolvidos numa parceria público-privada ....................................... 32

4. Parcerias com, ou sem, gestão clínica? ......................................................... 34

5. Renegociação contratual: princípios e implicações ........................................ 41

6. Modelo de lançamento das parcerias ............................................................. 46

6.1. Governação das Parcerias ........................................................................... 46

6.2. O processo da parceria ................................................................................ 54

6.3. Estudos de suporte ...................................................................................... 55

7. Aspectos institucionais .................................................................................... 57

7.1. Articulação entre a Entidade Pública Contratante e as Entidades

Gestoras ............................................................................................................. 57

7.2. Articulação entre Entidades Gestoras .......................................................... 58

7.3. Dever de comunicação ................................................................................ 59

7.4. Confiança como factor crucial ...................................................................... 59

8. Avaliação de um contrato de parceria público – privado: o hospital de

Cascais ............................................................................................................... 60

8.1 Revisão sistemática segundo bateria de questões ....................................... 61

8.2. Análise sumária de um contrato: aspectos a salientar ................................. 79

8.2.1. Actualização tecnológica ........................................................................... 79

8.2.2. Duração do contrato ................................................................................. 82

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8.2.3. Actividades de prevenção ......................................................................... 82

8.2.4. Transferência de doentes ......................................................................... 84

8.2.5. Integração com os cuidados de saúde primários ...................................... 84

8.2.6. Integração com a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados .. 86

8.2.7. Comparações ............................................................................................ 87

8.2.8. Mecanismo de pagamentos ...................................................................... 88

8.2.9. Receitas de outras actividades ................................................................. 90

8.2.10. Gestão de Tesouraria ............................................................................. 90

8.2.11. Prestação de Serviços ............................................................................ 90

8.2.12. Risco de financiamento ........................................................................... 92

8.2.13. Resolução de conflitos ............................................................................ 92

8.2.14. Outros aspectos ...................................................................................... 93

9. Recomendações ............................................................................................. 94

Parte II – Avaliação do desempenho do Centro de Medicina de Reabilitação

do Sul, em São Brás de Alportel, comparando-o com o Centro de Medicina de

Reabilitação de Alcoitão e com o Centro de Medicina de Reabilitação da

Região Centro ..................................................................................................... 99

10. O Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro .......................... 102

10.1. Estrutura .................................................................................................. 102

10.1.1. Contexto de intervenção ....................................................................... 102

10.1.2. Caracterização geral ............................................................................. 103

10.1.2.1. História, missão e objectivos estratégicos ......................................... 103

10.1.2.2. Carteira de serviços ........................................................................... 105

10.1.2.3. Lotação .............................................................................................. 106

10.1.2.4. Actividade assistencial ....................................................................... 106

10.1.2.5. Principais patologias tratadas ............................................................ 106

10.1.2.6. Capacidade instalada ......................................................................... 107

10.1.2.6.1. Instalações ...................................................................................... 107

10.1.2.6.2. Equipamentos ................................................................................. 108

10.1.3. Quadro legal ......................................................................................... 108

10.2. Processos ................................................................................................ 108

10.2.1. Modelo de organização interna e de governação ................................. 108

10.2.2. Instrumentos de gestão ......................................................................... 109

10.2.3. Recursos humanos ............................................................................... 110

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10.2.4. Recursos financeiros............................................................................. 112

10.2.5. Outros recursos materiais ..................................................................... 114

10.2.5.1. Compras ............................................................................................ 114

10.2.5.2. Instalações e equipamentos .............................................................. 115

10.2.5.3. Fornecimentos e serviços externos ................................................... 115

10.2.6. Tecnologias da informação e comunicação .......................................... 115

10.2.7. Potencial de inovação da oferta ............................................................ 116

10.3. Resultados ............................................................................................... 116

10.3.1. Custos ................................................................................................... 116

10.3.1.1. Estrutura de custos ............................................................................ 116

10.3.1.2. Estrutura de custos com compras ...................................................... 117

10.3.1.3. Estrutura de custos com pessoal ....................................................... 117

10.3.1.4. Prescrição de ajudas técnicas ........................................................... 117

10.3.1.5. Resultados do exercício ..................................................................... 118

10.3.2. Eficácia ................................................................................................. 118

10.3.2.1. Primeiras consultas ............................................................................ 118

10.3.2.2. Resolutividade ................................................................................... 119

10.3.2.3. Transferências para outras unidades ................................................. 119

10.3.2.4. Produção realizada e contratada ....................................................... 119

10.3.2.5. Taxa de úlceras de decúbito .............................................................. 120

10.3.3. Eficiência ............................................................................................... 120

10.3.3.1. Demora média ................................................................................... 120

10.3.3.2. Taxa de ocupação ............................................................................. 121

10.3.3.3. Doentes saídos por cama .................................................................. 121

10.3.3.4. Doentes saídos por médico ETC ....................................................... 122

10.3.3.5. Doentes saídos por enfermeiro ETC .................................................. 122

10.3.3.6.Consultas externas por médico ETC .................................................. 123

10.3.3.7.Tratamentos por terapeuta ETC ......................................................... 123

10.3.3.8. Custos unitários ................................................................................. 124

10.3.3.9. Trabalho extraordinário ...................................................................... 125

10.3.3.10. Gestão de tempos de internamento e de altas ................................ 126

10.3.4. Equidade ............................................................................................... 126

10.3.5. Qualidade .............................................................................................. 127

11. O Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão ..................................... 129

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11.1. Estrutura .................................................................................................. 129

11.1.1. Contexto de intervenção ....................................................................... 129

11.1.2. Caracterização geral ............................................................................. 130

11.1.2.1. História, missão e objectivos estratégicos ......................................... 130

11.1.2.2. Carteira de serviços ........................................................................... 131

11.1.2.3. Lotação .............................................................................................. 132

11.1.2.4. Actividade assistencial ....................................................................... 132

11.1.2.5. Principais patologias tratadas ............................................................ 132

11.1.2.6. Capacidade instalada ......................................................................... 133

11.1.2.6.1. Instalações ...................................................................................... 133

11.1.2.6.2. Equipamentos ................................................................................. 134

11.1.3. Quadro legal ......................................................................................... 134

11.2. Processos ................................................................................................ 135

11.2.1. Modelo de organização interna de governação .................................... 135

11.2.2. Instrumentos de gestão ......................................................................... 136

11.2.3. Recursos humanos ............................................................................... 136

11.2.4. Recursos financeiros............................................................................. 139

11.2.5. Outros recursos materiais ..................................................................... 139

11.2.5.1. Compras ............................................................................................ 139

11.2.5.2. Instalações e Equipamentos .............................................................. 140

11.2.5.3. Fornecimentos e serviços externos ................................................... 141

11.2.6. Tecnologias da informação e comunicação .......................................... 141

11.2.7. Potencial de inovação da oferta ............................................................ 142

11.3. Resultados ............................................................................................... 143

11.3.1. Custos ................................................................................................... 143

11.3.1.1. Estrutura de custos ............................................................................ 143

11.3.1.2. Estrutura de custos com compras ...................................................... 143

11.3.1.3. Estrutura de custos com pessoal ....................................................... 143

11.3.1.4. Prescrição de ajudas técnicas e de transportes em ambulâncias ...... 144

11.3.1.5. Resultados do exercício ..................................................................... 144

11.3.2. Eficácia ................................................................................................. 145

11.3.2.1. Primeiras consultas ............................................................................ 145

11.3.2.2. Resolutividade ................................................................................... 145

11.3.2.3. Transferências para outras unidades ................................................. 145

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11.3.2.4. Produção realizada e contratada ....................................................... 145

11.3.3. Eficiência ............................................................................................... 146

11.3.3.1. Demora média Produção realizada e contratada ............................... 146

11.3.3.2. Taxa de ocupação ............................................................................. 147

11.3.3.3. Doentes saídos por cama .................................................................. 147

11.3.3.4. Doentes saídos por médico ETC ....................................................... 148

11.3.3.5. Doentes saídos por enfermeiro ETC .................................................. 149

11.3.3.6.Consultas externas por médico ETC .................................................. 149

11.3.3.7. Tratamentos por terapeuta ETC ........................................................ 150

11.3.3.8. Custos unitários ................................................................................. 150

11.3.3.9. Trabalho extraordinário ...................................................................... 151

11.3.3.10. Gestão de tempos de internamento e de altas ................................ 151

11.3.4. Equidade ............................................................................................... 152

11.3.5. Qualidade .............................................................................................. 153

12. O Centro de Medicina Física e de Reabilitação do Sul ............................... 154

12.1.Estrutura ................................................................................................... 154

12.1.1. Contexto de intervenção ....................................................................... 154

12.1.2. Caracterização geral ............................................................................. 155

12.1.2.1. História, missão e objectivos estratégicos ......................................... 155

12.1.2.2. Carteira de serviços ........................................................................... 158

12.1.2.3. Lotação .............................................................................................. 159

12.1.2.4. Actividade assistencial ....................................................................... 160

12.1.2.5. Principais patologias tratadas ............................................................ 161

12.1.2.6. Capacidade instalada ......................................................................... 163

12.1.2.6.1. Instalações ...................................................................................... 163

12.1.2.6.2. Equipamentos ................................................................................. 164

12.1.3. Quadro legal ......................................................................................... 164

12.2. Processos ................................................................................................ 165

12.2.1. Modelo de organização interna e de governação ................................. 165

12.2.2. Instrumentos de gestão ......................................................................... 167

12.2.3. Recursos humanos ............................................................................... 169

12.2.4. Recursos financeiros............................................................................. 172

12.2.5. Outros recursos materiais ..................................................................... 175

12.2.5.1. Compras ............................................................................................ 175

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12.2.5.2. Instalações e equipamentos .............................................................. 175

12.2.5.3. Fornecimentos e serviços externos ................................................... 176

12.2.6. Tecnologias da informação e comunicação .......................................... 177

12.2.7. Potencial de inovação da oferta ............................................................ 179

12.3. Resultados ............................................................................................... 179

12.3.1. Custos ................................................................................................... 179

12.3.1.1. Estrutura de custos ............................................................................ 179

12.3.1.2. Estrutura de custos com compras ...................................................... 179

12.3.1.3. Estrutura de custos com pessoal ....................................................... 179

12.3.1.4. Prescrição de ajudas técnicas – 2007 e 2008 .................................... 180

12.3.1.5. Resultados do exercício ..................................................................... 180

12.3.2. Eficácia ................................................................................................. 181

12.3.2.1. Primeiras consultas ............................................................................ 181

12.3.2.2. Resolutividade ................................................................................... 181

12.3.2.3. Transferências para outras unidades ................................................. 181

12.3.2.4. Produção contratada e realizada ....................................................... 182

12.3.2.5. Úlceras de decúbito ........................................................................... 182

12.3.3. Eficiência ............................................................................................... 183

12.3.3.1. Demora média ................................................................................... 183

12.3.3.2. Taxa de ocupação ............................................................................. 183

12.3.3.3. Doentes saídos por cama .................................................................. 184

12.3.3.4. Doentes saídos por médico ETC ....................................................... 184

12.3.3.5. Doentes saídos por enfermeiro ETC .................................................. 185

12.3.3.6. Consultas externas por médico ETC.................................................. 185

12.3.3.7. Tratamentos por fisioterapeuta ETC .................................................. 186

12.3.3.8. Custos unitários ................................................................................. 187

12.3.3.9. Trabalho extraordinário ...................................................................... 188

12.3.3.10. Gestão de tempos de internamento e de altas ................................ 188

12.3.4. Equidade ............................................................................................... 190

12.3.5. Qualidade .............................................................................................. 190

14. Análise comparada do desempenho dos Centros de Reabilitação ............. 193

Parte III – Conclusões ....................................................................................... 204

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Relação de Quadros

Quadro 1 CMRRC: Distribuição de efectivos por grupos profissionais (2005-2008) ..................................................................................................................... 110

Quadro 2 CMRRC: Profissionais prestadores de cuidados em ETC (2005-2008) ..................................................................................................................... 111

Quadro 3 CMRRC: Remuneração da actividade (2006-2008) ............................ 114 Quadro 4 CMRRC: Resultados do exercício (2005-2008) .................................. 118 Quadro 5 CMRRC: Desvio da produção realizada e contratada (2005-2008) .... 120 Quadro 6 CMRRC: Demora média (2005-2008) ................................................. 121 Quadro 7 CMRRC: Taxa de ocupação (2005-2008) ........................................... 121 Quadro 8 CMRRC: Doentes saídos por cama (2005-2008) ................................ 122 Quadro 9 CMRRC: Doentes saídos por médico ETC (2005-2008) ..................... 122 Quadro 10 CMRRC: Doentes saídos por enfermeiro ETC (2005-2008) ............. 123 Quadro 11 CMRRC: Consultas externas por médico ETC (2005-2008) ............. 123 Quadro 12 CMRRC: Tratamentos por terapeuta ETC (2005-2008) .................... 124 Quadro 13 CMRRC: Custos unitários de acordo com a contabilidade analítica

(2005-2008) ................................................................................................. 125 Quadro 14 CMRRC: Peso do trabalho extraordinário no total das remunerações

(2005-2008) ................................................................................................. 125 Quadro 15 CMRRC: Indicadores de gestão de tempos de internamentos e de

altas (31.12.08) ............................................................................................ 126 Quadro 16 CMRRC: Indicadores de acesso (31.12.08) ...................................... 127 Quadro 17 CMRRC: Indicadores de qualidade (2008) ........................................ 128 Quadro 18 CMRA: Classificação dos internamentos de 2006 em Grandes

Categorias Funcionais ................................................................................. 133 Quadro 19 CMRA: Distribuição de efectivos por grupos profissionais (2005-2008)

..................................................................................................................... 136 Quadro 20 CMRA: Profissionais prestadores de cuidados em ETC (2005-2008)

..................................................................................................................... 137 Quadro 21 CMRA: Resultados do exercício (2005-2008) ................................... 144 Quadro 22 CMRA: Evolução do volume de produção (2005-2008) .................... 146 Quadro 23 CMRA: Demora média (2005-2008) .................................................. 147 Quadro 24 CMRA: Taxa de ocupação (2005-2008) ............................................ 147 Quadro 25 CMRA: Doentes saídos por cama (2005-2008) ................................ 148 Quadro 26 CMRA: Doentes saídos por médico ETC (2005-2008) ..................... 148 Quadro 27 CMRA: Doentes saídos por enfermeiro ETC (2005-2008) ................ 149 Quadro 28 CMRA: Consultas externas por médico ETC (2005-2008) ................ 149 Quadro 29 CMRA: Tratamentos por terapeuta ETC (2005-2008) ....................... 150 Quadro 30 CMRA: Custos unitários de acordo com a contabilidade analítica

(2005-2008) ................................................................................................. 150 Quadro 31 CMRA: Peso do trabalho extraordinário no total das remunerações

(2005-2008) ................................................................................................. 151 Quadro 32 CMRA: Utilização de instrumentos de gestão de tempos de

internamentos e de altas .............................................................................. 152 Quadro 33 CMRA: Indicadores de acesso (31.12.08)......................................... 152 Quadro 34 CMRA: Indicadores de qualidade (2008) .......................................... 153 Quadro 35 CMR Sul: Classificação dos internamentos de 2008 em Grupos de

Diagnóstico Funcional .................................................................................. 162

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13

Quadro 36 CMR Sul: Distribuição de efectivos por grupos profissionais (2007-2008) ............................................................................................................ 170

Quadro 37 CMR Sul: Profissionais prestadores de cuidados em ETC (2007-2008) ..................................................................................................................... 170

Quadro 38 CMR Sul: Remuneração da actividade (2007-2008) ......................... 173 Quadro 39 CMR Sul: Resultados do exercício (2007-2008) ............................... 181 Quadro 40 CMR Sul: Desvio da produção contratada e realizada (2007-2008) . 182 Quadro 41 CMR Sul: Demora média (2007-2008) .............................................. 183 Quadro 42 CMR Sul: Taxa de ocupação (2005-2008) ........................................ 184 Quadro 43 CMR Sul: Doentes saídos por cama (2007-2008) ............................. 184 Quadro 44 CMR Sul: Doentes saídos por médico ETC (2007-2008) .................. 185 Quadro 45 CMR Sul: Doentes saídos por enfermeiro ETC (2007-2008) ............ 185 Quadro 46 CMR Sul: Consultas externas por médico ETC (2007-2008) ............ 186 Quadro 47 CMR Sul: Tratamentos por terapeuta ETC (2007-2008) ................... 187 Quadro 48 CMR Sul: Custos unitários de acordo com a contabilidade analítica

(2007-2008) ................................................................................................. 188 Quadro 49 CMR Sul: Peso do trabalho extraordinário no total das remunerações

(2007-2008) ................................................................................................. 188 Quadro 50 CMR Sul: Indicadores de gestão de tempos de internamentos e de

altas ............................................................................................................. 189 Quadro 51 CMR Sul: Indicadores de acesso (31.12.08) ..................................... 190 Quadro 52 CMR Sul: Indicadores de qualidade (2008) ....................................... 192 Quadro 53 Desempenho relativo dos Centros de Reabilitação: indicadores de

custos (2008) ............................................................................................... 194 Quadro 54 Posicionamento dos Centros de Reabilitação face a alguns indicadores

de custos (2008) .......................................................................................... 195 Quadro 55 Desempenho relativo dos Centros de Reabilitação: indicadores de

eficácia (2008) ............................................................................................. 196 Quadro 56 Posicionamento dos Centros de Reabilitação face a alguns indicadores

de eficácia (2008) ........................................................................................ 198 Quadro 57 Desempenho relativo dos Centros de Reabilitação: indicadores de

eficiência (2008) ........................................................................................... 198 Quadro 58 Posicionamento dos Centros de Reabilitação face a alguns indicadores

de eficiência (2008) ...................................................................................... 200 Quadro 59 Desempenho relativo dos Centros de Reabilitação: indicadores de

equidade (2008) ........................................................................................... 200 Quadro 60 Desempenho relativo dos Centros de Reabilitação: indicadores de

qualidade (2008) .......................................................................................... 201

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Lista de Abreviaturas ACSS – Administração Central do Sistema de Saúde ARS – Administração Regional de Saúde ARS CENTRO – Administração Regional de Saúde do Centro ARSLVT – Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo ARS Algarve – Administração Regional de Saúde do Algarve CCI – Comissão de Controlo da Infecção CIT – Contrato Individual de Trabalho CMRA – Centro de Medicina de Reabilitação do Alcoitão CMRRC – Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro – Rovisco Pais CMR Sul – Centro de Medicina de Reabilitação do Sul, São Brás de Alportel CTC – Contrato de Trabalho a Termo Certo ETC – Equivalente a Tempo Completo EPE – Entidade Pública Empresarial FSE – Fornecimentos e Serviços Externos HRP – Hospital Rovisco Pais IACS – Infecção Associada a Cuidados de Saúde MCDT – Meios Complementares de Diagnóstico e de Terapêutica MFR – Medicina Física e de Reabilitação MS – Ministério da Saúde PPP – Parceria Público-Privada RRH – Rede de Referenciação Hospitalar SBV – Suporte Básico de Vida SCML – Santa Casa da Misericórdia de Lisboa SNS – Serviço Nacional de Saúde SPA – Sector Público Administrativo

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Apresentação

1. A equipa de análise estratégica para o acompanhamento externo de

modelos de gestão hospitalar, adiante designada por equipa de

análise, foi criada pelo Despacho n.º 28684/2008, de 7 de Novembro,

da Ministra da Saúde, com um mandato de nove meses.

2. Os objectivos da equipa de análise, de acordo com o Despacho da sua

criação consistem “em analisar e dar parecer sobre o processo de

criação e desenvolvimento das parcerias para a construção de

hospitais em regime de financiamento privado e de avaliar o

desempenho do Centro de Reabilitação, em São Brás de Alportel,

comparando-o com outros hospitais de reabilitação”.

3. A equipa de análise é constituída pelos seguintes elementos:

Jorge Simões (coordenador)

Pedro Pita Barros

Sofia Nogueira da Silva

Sara Valente.

4. A redacção do Relatório é da responsabilidade de Jorge Simões,

Pedro Pita Barros e Sofia Nogueira da Silva, com a colaboração de

Marta Temido.

5. No decorrer do trabalho, os membros da equipa de análise tiveram a

oportunidade de visitar o Centro de Medicina de Reabilitação da

Região Centro – Rovisco Pais, o Centro de Medicina de Reabilitação

do Alcoitão e o Centro de Medicina de Reabilitação de São Brás de

Alportel, e de reunir com as suas direcções, bem como com os

conselhos directivos da Administração Regional do Norte,

Administração Regional do Centro, Administração Regional de Lisboa

e Vale do Tejo e Administração Regional do Algarve e com o vice-

presidente do conselho directivo da Administração Central do Sistema

de Saúde, Engenheiro João Wemans.

6. Um projecto de texto relativo aos Centros de Reabilitação foi enviado

à direcção de cada um dos Centros para recolha dos seus

comentários.

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7. Os autores agradecem às diversas entidades consultadas os seus

contributos, valiosos e oportunos. Naturalmente, os autores assumem,

em exclusivo, a responsabilidade do texto e das recomendações

produzidas.

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Introdução

A evolução do Serviço Nacional de Saúde contemplou, em 2002, a

regulamentação das parcerias em saúde com gestão e financiamento

privado,1 no seguimento da abertura, nos anos noventa do século passado, a

uma gestão de tipo empresarial das unidades públicas de saúde e à

possibilidade de ser autorizada a entrega a outras entidades, através de

contratos de gestão, de hospitais e centros de saúde do Serviço Nacional de

Saúde.2

Na sequência do diploma de 2002, foram lançadas várias parcerias para a

construção e gestão de novos hospitais. Anteriormente, havia sido criada

uma estrutura própria para o efeito, a Estrutura de Missão Parcerias.Saúde.3

As parcerias público-privadas em saúde, em particular para a construção de

hospitais, surgiram internacionalmente como uma abordagem baseada na

noção de que, atraindo financiamento privado para o sector, se conseguiria

uma renovação mais rápida e menos onerosa do parque hospitalar.

Também em Portugal se seguiu essa tendência internacional, até porque as

limitações orçamentais do sector público no momento de realização do

investimento são de alguma forma aliviadas quando os projectos de

renovação do parque hospitalar são realizados em parceria (tendo como

contrapartida um fluxo de pagamentos futuro).4

Para além das restrições financeiras sentidas pelo sector público, as novas

teorias de gestão pública, que advogam um maior uso de mecanismos de

incentivos e de mecanismos de mercado na organização do sector público

para a produção de bens e serviços, deram um impulso à utilização das

parcerias público – privadas (PPP).

A própria gestão pública tem-se alterado, vindo a dar cada vez maior

importância aos aspectos de desempenho e valor produzido.

                                                        1 Decreto-Lei nº 185/2002, de 20 de Agosto. 2 Lei de Bases nº 48/90, de 24 de Agosto (Lei de Bases da Saúde). 3 Resolução do Conselho de Ministros nº 162/2001, de 16 de Novembro. 4 De um ponto de vista das finanças públicas, a flexibilidade orçamental ganha hoje é paga com compromisso de despesa, e logo menor flexibilidade, no futuro. O impacto macroeconómico e no défice orçamental das parcerias em saúde estão fora do âmbito do presente relatório. 

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Os custos crescentes com o funcionamento do sector público tradicional

levaram à procura de instrumentos que permitam alcançar uma melhor

utilização dos recursos disponíveis, incluindo o recurso ao sector privado.

As parcerias em saúde têm sido objecto de ampla discussão em Portugal. O

seu próprio percurso tem registado alterações na forma e atrasos na

concretização. Num contexto em que se iniciam os contratos das primeiras

parcerias em saúde para a construção de novos hospitais, e em que se

registou um atraso significativo no programa de parcerias em saúde, foi

criada pela Ministra da Saúde, pelo Despacho nº 28864/2008, de 7 de

Novembro, uma “equipa de análise estratégica para o acompanhamento

externo de modelos de gestão hospitalar”.

O presente relatório reporta o trabalho desenvolvido pela equipa de análise,

dividido em duas grandes partes, correspondendo a cada um dos objectivos

enunciados.

A primeira parte do relatório procede à discussão e análise das parcerias em

saúde para a construção de novos hospitais. Para além de aspectos

associados com o mero processo das PPP, tratados de forma sumária dado

o recente e exaustivo relatório do Tribunal de Contas sobre a primeira vaga

de hospitais em PPP, há duas questões fundamentais que são discutidas:

a) A escolha entre parcerias para construção de novos hospitais com ou sem

inclusão da exploração da actividade clínica no âmbito privado da parceria;

b) Como tratar o problema da renegociação, dada a inevitável complexidade

contratual.

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Parte I – Análise e parecer sobre o processo de criação e desenvolvimento das parcerias para a construção de hospitais em regime de financiamento privado 1. Modelos de parcerias público-privadas

A discussão realizada na presente secção tem carácter geral, sendo

assinaladas, quando adequado, as especificidades referentes à situação

portuguesa. A provisão de um determinado bem ou serviço implica que sejam

desempenhadas diversas funções. No caso dos hospitais, pretende-se que

sejam prestados à população os cuidados de saúde necessários.

Entre as tarefas, ou funções, identificam-se como as principais: a) elaboração

do projecto; b) financiamento do projecto; c) construção da infra-estrutura; e

d) gestão das actividades correntes.

Uma parceria público-privada procede a uma divisão destas funções entre o

sector público e o sector privado.

As parcerias público-privadas têm a sua génese nas “private finance

initiatives”, iniciadas no Reino Unido nos primeiros anos da década de

noventa do século passado. Desde então têm sido adoptadas, com diversas

variantes, em vários países (por exemplo, Canadá, Estados Unidos da

América, Austrália, Itália, Alemanha, Espanha e França). Uma das principais

características que economicamente define uma PPP, tornando-a

consideravelmente distinta dos processos tradicionais de contratação pública,

é o longo prazo envolvido.

Como princípio geral, na provisão de bens ou serviços considerados de

interesse especial, e onde a intervenção pública seja dominante, é natural

pensar-se que só quando o sector privado tem uma vantagem comparativa

deve ser utilizado, em lugar do sector público.

A atribuição de funções ao sector privado só constitui um problema na

medida em que também ocorra um problema de agência nessa delegação.

Se fosse imediato criar um contrato estabelecendo exactamente o que o

operador tem que fazer, então a elaboração de parcerias público–privadas

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20

seria eficiente sempre que o sector privado tivesse custos menores, numa

função, que o sector público.

A definição do que é, do ponto de vista económico, uma PPP, tem de ser

apresentada com cuidado.

Uma PPP envolve duas (ou mais) partes, uma das quais (pelo menos) é uma

entidade pública e outra (pelo menos) é uma entidade privada. As partes

envolvem-se voluntariamente numa relação de longo prazo, através da qual

se estabelecem responsabilidades em termos das actividades a desenvolver.

Uma PPP é um processo contínuo de interacção e negociação, uma vez que

assenta num contrato que não terá capacidade de antever todas as

contingências futuras e determinar o que será feito em caso de ocorrência de

cada uma dessas contingências. O contrato de uma PPP é o que se designa

em termos económicos por um contrato incompleto. O facto de o contrato ser

incompleto obriga a que haja uma negociação sempre que ocorra uma

circunstância não prevista contratualmente (em rigor, uma circunstância em

que não esteja prevista contratualmente a acção que é necessário tomar).

Há diversas propostas de classificação do grau de parceria público-privada,

tendo num caso extremo o ser um departamento/serviço governamental

(apenas público) e no outro limite o ser uma empresa privada.

Existem dois formatos base para estabelecer uma PPP: o contrato de

concessão e a criação de entidades conjuntas (“joint ventures”).

Os contratos de concessão podem ter várias formas mas partilham a

característica comum de caber à entidade pública a definição do âmbito e

objecto da parceria. Há a aquisição de um bem ou serviço, que importa

especificar de forma completa.

A entidade privada é normalmente um consórcio formado especialmente para

se candidatar ao projecto da PPP.

O concurso público é a forma habitual de selecção da parte privada nas PPP

com formato de concessão.

As “joint ventures” constituem uma abordagem distinta às PPP, já que as

partes pública e privada partilham recursos, bem como os riscos da

actividade a ser desenvolvida. Cria-se uma nova entidade legal participada

por entidades públicas e privadas. Esta entidade assume todas as

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responsabilidades de condução do projecto. Têm surgido sobretudo nas

áreas de desenvolvimento urbano.5

As PPP em regime de concessão podem assumir diversas configurações:

DBFO – projecto, construção, financiamento e operação;

DBFM – projecto, construção, financiamento e manutenção;

BOT – construção, operação e transferência final para o sector público.

Em qualquer das modalidades, a entidade privada tem a responsabilidade do

activo durante a totalidade da sua vida útil.

Existem diferentes variantes do modelo de parceria público-privada para o

sector hospitalar que têm sido usadas, de uma forma ou de outra, em

diversos países:

a) Gestão privada em instalações públicas – em que a entidade pública

(Ministério da Saúde, ou um seu organismo) contrata com uma

empresa privada a gestão de um hospital que tenha sido construído e

equipado pelo sector público. Foi o modelo seguido, em Portugal, com

o Hospital Amadora-Sintra, entretanto finalizado em 31 de Dezembro

de 2008.

b) Projecto, construção, financiamento e funcionamento – de acordo com

as especificações emitidas pelo sector público, o sector privado

projecta, financia, constrói e (eventualmente) opera o novo hospital.

c) Aquisição de serviços por parte do sector público ao sector privado,

durante um período de tempo (em regra, 30 anos), findo o qual o

hospital pode, ou não, passar para a esfera pública conforme o que

tenha sido definido.

d) Sistema de renda – o hospital é construído pela entidade privada, mas

gerido pela entidade pública mediante o pagamento de uma renda.

e) Construção e operação sob sistema de capitação – a parte privada

projecta, financia, constrói e gere o hospital, sendo remunerado por

um contrato pelo qual presta cuidados de saúde a uma população de

uma zona de referência definida, recebendo um valor per capita de

acordo com a população abrangida.

                                                        5 Bulf-Spiering, M. e G. Dewulf, 2006, Strategic issues in Public-Private Partnerships – An international perspective, Blackwell Publishing.

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O regime de PPP que se adoptou em Portugal para a construção de novos

hospitais enquadra-se na opção b). Dentro desta opção existem diversas

variantes, consoante o grau de abrangência da participação privada nas

diversas componentes da parceria. A possibilidade de opção por diferentes

tipos de parceria é dada pela redacção do artigo 2º, nº 2 do Decreto-Lei nº

185/2002, de 20 de Agosto, quando se estabelece que “as parcerias em

saúde envolvem uma ou mais actividades de concepção, construção,

financiamento, conservação e exploração” (sublinhado nosso).

Note-se que, em termos legais, os instrumentos contratuais previstos no

artigo 5º do Decreto-Lei nº 185/2002, de 20 de Agosto, incluem o contrato de

gestão, o contrato de prestação de serviços e o contrato de colaboração.

2. Vantagens e desvantagens das parcerias público-privadas

Um dos benefícios usualmente associados com a utilização de parcerias

público-privadas para a construção (e operação) de infra-estruturas de

serviços públicos em geral é o menor esforço imediato que é exigido às

finanças públicas.

No contexto de uma PPP, apesar de ser uma relação governada por um

contrato, o sector público tem de manter uma atitude de supervisão e

regulação geral.

Por outro lado, o sector público não pode ignorar que a participação privada

numa PPP tem como objectivo obter retorno para o investimento realizado.

Para que uma PPP tenha sucesso é necessário que se reúnam condições

relativas ao contrato estabelecido e a capacidade das partes em cumprirem

os compromissos assumidos.

Mas é também essencial que estejam preenchidas condições de natureza

mais geral, nomeadamente em termos de ambiente político e económico.

Num contexto de crise económica global, não só o parceiro público poderá

encontrar-se com menor capacidade negocial, dada a maior despesa pública,

como o parceiro privado poderá encontrar dificuldades no seu financiamento,

o que aumentará o seu pedido de retorno no investimento que realizar.

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Uma PPP é mais do que uma simples contratação externa de serviços (o

conhecido “outsourcing”). As vantagens de utilização desta última resultam

da especialização da actividade por parte das empresas privadas que pode

ser aproveitada pelo sector público (em lugar de desenvolver as suas

próprias competências), e do facto da concorrência entre empresas privadas

contribuir para manter os custos dos serviços reduzidos. É, no entanto,

necessário considerar que a utilização de contratação externa de serviços

implica também custos de transacção, nomeadamente de supervisão e

monitorização dos contratos que se estabeleçam. Uma característica da

contratação externa de serviços é o prazo relativamente curto de cada

contrato (1 a 3 anos normalmente), contrastante com o longo prazo envolvido

nas PPP.6

Uma das características mais comuns das PPP em todo o mundo

(independentemente do sector) tem sido a renegociação contratual. Tal tem

ocorrido mesmo quando se está na presença de parcerias mais simples do

que as de construção de um hospital com a exploração clínica incluída.7

A análise de Martimort e Pouyet (2008) mostra que a natureza pública ou

privada não é o elemento crucial da parceria. A principal motivação para uma

junção numa parceria público-privada da construção e da exploração da

actividade clínica é a existência de economias de gama nas duas funções.

O principal factor que se pode mencionar como gerando essas economias é

um melhor desenho do projecto de infra-estrutura permitir alcançar custos de

exploração correntes significativamente mais baixos.

Contudo, também pode suceder que a gestão simultânea de aspectos muito

diferentes leve a um ausência de enfoque e a uma dispersão de atenção

resultando em custos acrescidos face à separação de funções.

Quando existem vantagens de custos, colocar as duas funções sob uma

mesma entidade internaliza as vantagens que um bom projecto de infra-

estrutura possa ter sobre o financiamento e os custos operacionais. Este

argumento é completamente independente da problemática da propriedade, e

de se tratar de uma entidade pública ou privada.                                                         6 Pessoa, Argentino, 2006, Public – private sector partnerships in developing countries: are infra-structures responding to the new ODA strategy?, FEP Working Papers nº 266. 7 Veja-se, por exemplo, Guasch, J.L., 2004, Granting and renegotiating infra-structure concessions: doing it right, World Bank Institute, Washington, D.C. 

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O aspecto da propriedade só ganha relevância quando se introduzem, ou

reconhecem, dificuldades associadas com o estabelecimento de contratos,

seja de capacidade em especificar de modo completo todas as

características e atributos que um projecto de construção da infra-estrutura

deve ter, seja da capacidade do sector público em elaborar e fazer cumprir

contratos de desempenho entre entidades públicas.

Dentro deste contexto geral há implicações claras no caso de parcerias

envolvendo a construção de hospitais. Se a verificação da qualidade da infra-

estrutura, interpretada em sentido amplo e incluindo a adequação a uma

eficiente exploração clínica, for difícil de realizar, uma decisão de conceder

em PPP, quer o desenho e construção do hospital, quer a respectiva

exploração clínica, torna a entidade privada interessada em que o desenho

do projecto potencie a eficiência dessa gestão clínica.

Por outro lado, e em sentido oposto, quando não existe o efeito de

economias de gama entre as duas funções e, adicionalmente, a incerteza

quanto à qualidade/eficiência futura do hospital a construir é muito elevada,

será preferível que o sector privado não suporte o risco associado com a

exploração clínica, uma vez que terá de ser remunerada a assunção desse

risco.

Para além dos argumentos de índole económica, outros argumentos têm sido

apresentados contra as PPP, que não possuem uma natureza económica.

Um dos argumentos contrários tem sido o de que as PPP aumentam o

potencial de captura do decisor por interesses do sector privado (sendo por

vezes mencionadas a opacidade e corrupção como características que

podem surgir facilmente no contexto das PPP). Para que este argumento

tenha validade, é necessário que o conhecimento técnico sobre a importância

do desenho do projecto do hospital para a eficiência da exploração clínica

seja apenas detido (ou detido com muito maior precisão e detalhe) pelo

decisor privado, de modo a que tenha margem para decisões que sejam

contrárias ao interesse público. Adicionalmente, o próprio operador privado

tem de possuir alguma vantagem adicional que lhe torne mais vantajosa a

exploração conjunta das duas funções.

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A forma mais habitual para se avaliar as vantagens de realização de uma

PPP tem tido por base os conceitos de “value for money” e “custo público

comparável”.

O conceito fundamental de “value for money” tem um problema de base, uma

vez que não existe um critério consensual para se definir o valor a partir do

qual se tem uma ”boa” parceria público–privada.

A ideia de “value for money” tem de receber uma definição precisa pois,

embora seja expressão corrente, raramente é detalhado o que se entende

por esta expressão. Uma definição possível é a de que se tem “value for

money” quando o serviço prestado é obtido com o menor custo possível para

o volume e qualidade do serviço especificado.

O custo público comparável tem sido definido como o “custo que o projecto

teria para o Estado, caso fosse desenvolvido pela via tradicional, ou seja,

directamente pelo sector público” (Estudo Estratégico e Económico-

Financeiro – Hospital de Cascais, p. 17). Se o pagamento feito no contexto

da parceria for inferior a este valor, considera-se que há vantagem para o

sector público de realização da parceria, face à alternativa de o sector público

realizar toda a actividade.

Mckee, Edwards and Atun realizam uma análise das PPP segundo quatro

dimensões: custos, qualidade, flexibilidade e complexidade.8 Avaliam apenas

um tipo de PPP: a construção de unidades de prestação de cuidados de

saúde e a provisão de serviços não clínicos. Estes autores documentam as

diferenças nos custos de financiamento das entidades pública e privada

envolvidas em projectos de parceria na saúde. Identificam menores valores

de rating atribuídos às entidades privadas (relativamente aos instrumentos de

dívida pública), o que se traduz em maior custo de financiamento.

As vantagens identificadas para a PPP em saúde encontram-se no maior

controlo financeiro do projecto e no menor prazo de realização. Segundo

Mckee, Edwards e Atun, os projectos de parceria foram em 76% dos casos

realizados no prazo previsto e em 79% dos casos dentro do orçamento

aprovado. Estes valores contrastam, quando realizados pelo sector público,

                                                        8 McKee, Martin, Nigel Edwards, Rifat Atun, 2006, Public – private partnerships for hospitals, Bulletin of the World Health Organization, 84(11): 890 – 895.

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com 30% de projectos cumpridos dentro do prazo e 27% dentro do

orçamento.

A preocupação usualmente esgrimida contra as parcerias em saúde

envolvendo entidades privadas é a da qualidade das prestações de saúde.

Mckee, Edwards e Atun identificam vários hospitais do Reino Unido onde

foram encontrados problemas de qualidade. Contudo, como os autores não

indicam se houve problemas similares de qualidade em hospitais que não se

encontram em regime de parceria, não é possível, de uma forma

metodologicamente honesta, concluir que as dificuldades encontradas se

devem ao facto de os projectos serem realizados em regime de parceria.

O estudo de Mckee, Edwards e Atun conclui que os novos hospitais foram,

regra geral, mais caros do que se tivessem sido construídos da forma

tradicional. A contrapor aos ganhos de tempo e de menores derrapagens

financeiras, os autores argumentam com perdas de qualidade, mas sem citar

dados comparativos (ao contrário do que fazem com as vantagens), o que

fragiliza a credibilidade da sua conclusão. Afirmam ainda ser impossível

concluir se o modelo de parcerias é errado na sua concepção ou se tem sido

apenas um problema de aplicação errada.

3. Partilha e transferência de risco

 

3.1. Papel da partilha de risco

Um dos aspectos mais marcantes da discussão sobre as PPP é a confusão

gerada em torno dos aspectos de transferência de risco.

Uma PPP envolve, geralmente, uma transferência de riscos da entidade

pública contratante para a entidade privada contratada. Esta transferência de

riscos não é, contudo, um objectivo económico da parceria. Constitui, isso

sim, um instrumento usado por ela.

Como objectivo em si mesmo, a transferência de risco do sector público para

o sector privado não tem sentido económico uma vez que, ao fazê-lo, a

entidade privada deverá ser remunerada por suportar esse risco. Se o preço

pago à entidade privada para suportar o risco for inferior ao custo que o

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sector público teria para o fazer, então a transferência de risco tem valor

económico. Caso suceda o oposto, a transferência de risco é desinteressante

para o sector público.

Considerando apenas os aspectos de diversificação de risco, é geralmente

aceite que o Estado tem maior capacidade de diversificação do risco do que

qualquer entidade privada. A razão pela qual a sociedade, representada pelo

Estado, tem uma maior capacidade de absorver risco é simples. Sendo a

sociedade a tomar o risco, este é distribuído por um número muito maior de

agentes económicos do que no caso de ser uma empresa privada a tomar o

risco. O argumento pelo qual o Estado tem maior capacidade de

diversificação de risco é conhecido como Teorema de Arrow-Lind.9

A maior capacidade de diversificação do risco por parte do sector público

traduz-se num menor custo para o Estado de suportar determinado risco do

que para o parceiro privado. Daqui decorre que não é possível encontrar um

preço para o risco de forma a que ambas as partes beneficiem da

transferência de risco, quando apenas está em causa a diversificação desse

risco. Ou seja, a transferência de risco da entidade pública para a entidade

privada, só por si, não pode constituir um objectivo de uma PPP.

É forçoso que existam outros factores criadores de valor na parceria e para

os quais a transferência de risco é um instrumento necessário para a recolha

dos respectivos benefícios.

O principal argumento para que uma PPP envolva a construção e

manutenção da infra-estrutura de um hospital, por um lado, e a gestão da

actividade clínica desse hospital, por outro, está na (presumível) maior

eficiência do sector privado no desenvolvimento dessas actividades. A

transferência de risco terá ainda que ser essencial para a garantia de que

essa maior eficiência se revela. Neste sentido, a transferência de risco surge

como um instrumento para alcançar um objectivo: levar a que a entidade

privada participante na parceria seja eficiente na condução da sua actividade

e que esse ganho de eficiência, sendo partilhado com o sector público,

compense o custo da transferência de risco do sector público para o sector

privado.

                                                        9 Veja-se D. Pearce, Cost – benefit analysis, 1983, MacMillan Press, pp. 81 – 82.

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Resumindo, não havendo vantagens de diversificação de risco de uma

entidade privada face ao Estado, as transferências de risco envolvidas nas

PPP têm que ser forçosamente vistas como um instrumento e não como uma

finalidade do projecto de parceria.

Em termos de desenho da PPP, esta conclusão tem uma forte implicação.

Para cada transferência de risco que seja realizada do sector público para a

parte privada, deve questionar-se qual o objectivo dessa transferência de

risco, não se devendo tomar como garantido que toda e qualquer

transferência de risco da entidade pública para a entidade privada é

desejável.

O Decreto-Lei nº 185/2002, de 20 de Agosto, que define o regime jurídico das

parcerias em saúde com gestão e financiamento privado, é pouco claro a

este respeito, incluindo a “transferência e partilha de riscos” dentro do artigo

2º (Objecto), associado com a definição de parcerias em saúde. Este artigo

deve ser lido como estabelecendo que a transferência e partilha de riscos é

um elemento indissociável das parcerias em saúde, e não como um objectivo

por si só.

A visão errada do papel do risco como objectivo e não como instrumento no

contexto das parcerias encontra-se perfeitamente ilustrada numa das

posições atribuída a uma entidade privada e citada no relatório do Tribunal de

Contas: “De facto, o Concorrente nem sempre possui uma autonomia para a

formulação de soluções a apresentar de forma a garantir uma verdadeira

transferência de risco para o sector privado”, em que parece intuir-se a

transferência de risco como sendo um objectivo e não um instrumento. Por

seu lado, o Decreto-Lei nº 86/2003, de 26 de Abril, indica que o

“estabelecimento da parceria deverá implicar uma significativa e efectiva

transferência de risco para o sector privado” (artigo 7º, b), falhando também

aqui em reconhecer que a transferência de risco tem um papel de

instrumento e não de objectivo.

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Recomendação nº1: Os estudos prévios ao lançamento de uma parceria em

saúde deverão conter uma identificação clara dos riscos que se pretende

transferir para o sector privado, qual a sua justificação (isto é, porque é

apropriada essa transferência de risco) e qual o preço a pagar por essa

transferência de risco (isto é, em quanto se esperaria que o preço pago ao

sector privado fosse menor, caso o sector público retivesse esse risco).

Comparando com o modelo tradicional de contratação pública de trabalhos

para a construção de um novo hospital, uma PPP envolve uma maior

transferência de risco para a entidade privada da parceria. O princípio

fundamental é o de que a parte contratante (o sector público) especifica de

uma forma precisa o serviço que pretende obter e define os critérios que

terão de ser respeitados. Por sua vez, a parte contratada (a entidade privada

da parceria) assume a responsabilidade de organizar o serviço e garantir a

satisfação dos critérios especificados contratualmente.

3.2. Princípios de partilha de risco As PPP têm sempre sido objecto de aceso debate conceptual (e também

ideológico). O facto de terem surgido quer bons resultados, quer problemas,

com as PPP como forma de garantir a prestação de serviços públicos, tem

originado diversas reflexões sobre as condições que favorecem o sucesso de

uma PPP, embora não seja ainda claro que conjunto de condições é

necessário ou suficiente para esse sucesso do modelo. Távora (2009)10

agrupa essas condições em seis aspectos:11

1. Existência de um enquadramento legal adequado.

2. Identificação clara das características específicas do sector.

3. Definição das etapas de planeamento, lançamento e implementação.

4. Dimensão do programa.

5. Capacidade de gestão do contrato por parte do sector público e por

parte do sector privado.

                                                        10 Távora, Leonor, 2009, Will PPP for hospitals improve the health of the Portuguese?, Master in Economics, Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, Janeiro de 2009. 11 Baseada em IMF – International Monetary Fund, 2004, Public Private Partnerships, www.imf.org/external/np/fod/2004/pifp/eng/031204.pdf 

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6. Existência de um bom contrato.

No que se refere à partilha de risco, Oudot (2005) propõe que o risco seja

atribuído à parte que melhor capacidade tem para o gerir, tudo o resto

constante; e que o risco deve ser atribuído à parte que tem o menor custo de

o suportar, tudo o resto constante. Este princípio genérico encontra-se

presente no enunciado no Decreto – Lei nº 185/2002, de 20 de Agosto, que

no seu artigo 3º, c) determina que “a distribuição de riscos deve ser feita

atribuindo-os às partes mais competentes para a sua gestão”.

Contudo, quando nenhuma das partes satisfaz os dois critérios

simultaneamente (melhor capacidade de gestão do risco e menor custo de o

suportar), fica-se com um problema de escolha na partilha de risco entre

ambas.

Sendo amplamente reconhecido que o Estado tem maior capacidade de

diversificação para absorver riscos, é então condição essencial que a parte

privada da parceria tenha maior capacidade de gestão do risco para que se

possa ter uma parceria mutuamente vantajosa.

Um dos problemas mais comuns, e documentados, nas actividades do sector

público, é a derrapagem com os custos das obras públicas. Só muito

raramente os orçamentos iniciais das obras públicas são cumpridos. Esta é

uma regularidade que atravessa sectores de intervenção pública e países. O

principal motivo para estas derrapagens nos custos dos projectos públicos

está na incapacidade do sector público, enquanto gestor e contratante de

uma obra, se comprometer a não renegociar custos acrescidos, ou mesmo a

dar por terminada a relação de construção e não finalizar a obra pública.12

O compromisso de terminar a obra faz com que, ao longo do processo de

construção, surjam renegociações sucessivas que acrescem

consideravelmente ao custo inicialmente programado. O efeito vem reforçado

no caso da construção de unidades hospitalares, dado o simbolismo e a

importância a elas atribuída pela população.

Para além deste efeito estratégico na relação entre as entidades contratante

e contratada para a realização da obra pública, existe um outro aspecto a                                                         12 A este respeito, veja-se a recente análise sobre o custo de cinco grandes obras públicas administradas directamente pelo Estado em Tribunal de Contas, Auditoria a empreendimentos de obras públicas por gestão directa – Conclusões e Recomendações do Tribunal de Contas – Relatório Global, Relatório 17/2009 AUDIT, Maio de 2009.

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destacar. Os incentivos para uma forte fiscalização e monitorização da obra

são também reduzidos, na medida em que um maior ou menor custo na

construção deixa inalterada a remuneração dos trabalhadores do sector

público envolvidos nessas actividades de fiscalização e monitorização.

À incapacidade do sector público em controlar os custos das obras públicas

contrapõe-se uma maior capacidade de uma gestão privada em o fazer.

Para além disso, o enquadramento económico da actividade fornece os

incentivos adequados para que a entidade privada de uma parceria

desenvolva todos os esforços para assegurar que são alcançados os

menores custos possíveis.

Concentrando, por agora, a atenção na componente de construção (e

posterior manutenção) do edifício hospitalar, a entidade privada da parceria,

ao assinar um contrato de preço fixo para a construção, passa a inserir-se

num ambiente económico em que toda a poupança de custos que conseguir

realizar se traduz num maior excedente para si. Tem, por isso, um forte

incentivo em procurar que as obras sejam realizadas com o menor custo

possível.

O preço fixo acordado na parceria é o elemento fulcral do seu sucesso, ou

seja, para garantir que ambas as partes têm benefício positivo da realização

da parceria.

Note-se que o pagamento de um preço fixo da entidade pública contratante à

entidade privada contratada origina uma transferência de risco completa do

sector público para o sector privado. Será a entidade privada que recolherá

os benefícios adicionais no caso de os custos de construção serem baixos e

suportará os custos adicionais caso os mesmos sejam elevados. A incerteza

inerente ao nível de custos é controlável, em certa medida, pelo esforço da

entidade privada em garantir que não há desperdício ou gastos

desnecessários na construção. A forma de mitigar o risco inerente é, do

ponto de vista da entidade privada contratada, procurar controlar

adequadamente os custos envolvidos.

Se o preço estabelecido na parceria não for fixo e for estabelecido com base

num princípio de reembolso integral dos custos suportados pela entidade

privada no desenvolvimento das suas actividades no âmbito da parceria,

então a parte privada não terá qualquer risco de construção (a custos mais

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elevados corresponderia apenas um pagamento mais elevado da parte

pública). Consequentemente, a motivação e interesse do parceiro privado em

controlar os custos são inexistentes. O parceiro público pagará custos de

construção tão elevados como os que teria se realizasse directamente a

construção do novo hospital, acrescidos da margem que tenha sido acordada

com o parceiro privado. Não haverá, então, qualquer vantagem no

estabelecimento de uma PPP.

Ou seja, uma PPP tem interesse especial para o sector público na medida

em que constitui uma forma de se comprometer com mecanismos de

incentivos e de eficiência na actividade que de outra forma não seria possível

alcançar.

No caso dos hospitais públicos portugueses construídos pelo sector público,

houve frequentemente derrapagens financeiras.

Esta é, aliás, uma característica geral das obras públicas em Portugal. A

recente auditoria do Tribunal de Contas a cinco obras públicas encontrou

desvios muito significativos face aos valores inicialmente previstos e

orçamentados.13 Sendo verdade que em alguns casos os eventos não

antecipados levaram a um acréscimo de custos, é também focado como

elemento justificativo da derrapagem de custos com obras públicas o aspecto

de “alterações sistemáticas introduzidas pelo dono da obra na fase de

execução, ao mau planeamento de execução e às deficiências na

fiscalização”. É, assim, visível a margem de ganho de eficiência para o

Estado e para a sociedade que potencialmente existe para uma melhor

gestão a este nível.

3.3. Riscos envolvidos numa parceria público-privada

Em termos de riscos envolvidos, é possível classificá-los de diferentes

modos, optando-se aqui por dividi-los de acordo com riscos de procura,

riscos de tecnologia, riscos de construção (custos e prazos), riscos

associados com o financiamento (incluindo risco de taxa de juro), riscos de

qualidade e riscos de força maior.                                                         13 Tribunal de Contas, Auditoria a empreendimentos de obras públicas por gestão directa – Conclusões e Recomendações do Tribunal de Contas – Relatório Global, Relatório 17/2009 AUDIT, Maio de 2009.

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Os riscos de construção e de qualidade de serviço são mais bem controláveis

pelas Entidades Gestoras, e naturalmente encontram-se do lado privado. Os

riscos associados com a taxa de juro e de força maior não são controláveis,

nem pela parte privada, nem pela parte pública. Contudo existem

mecanismos de seguro que podem ser utilizados pela parte privada. Para

mitigar efeitos de risco moral na utilização desses mecanismos de seguro, há

uma partilha destes riscos entre o sector público e o sector privado, não

ocorrendo uma situação em que a parte privada se encontra completamente

isolada de risco (de outro modo, poderia tomar decisões que afectassem a

probabilidade de materialização de desses riscos).

Os riscos de procura têm que ser analisados com algum cuidado, já que esta

não é integralmente definida pelas decisões da parte privada, tanto mais que

a mesma encontra dividida em duas entidades - uma encarregue da gestão

do edifício, e outra da actividade clínica. Há alguma margem de manobra

para a parte privada atrair ou repelir procura, nomeadamente através da

transferência de doentes. Assim, há componentes de risco suportados pela

parte privada (por exemplo, quando a procura de internamento ou de cirurgia

de ambulatório excede os 110% da actividade prevista, ou nas transferências

realizadas, em que deixa de haver lugar a pagamento). Por outro lado, ao

garantir um pagamento anual fixo à Entidade Gestora do edifício, a parte

pública assume o risco de procura referente à utilização de capacidade (o

que se considera natural, uma vez que a própria definição de capacidade a

ser disponibilizada provém da parte pública da parceria).

Os riscos associados com as políticas de saúde (incluindo a adopção

excepcional de novas tecnologias) são essencialmente determinados por

decisões do Governo (via Ministério da Saúde), sendo por isso normal que

seja a parte pública a assumir esses riscos.

Apreciação: Globalmente, a partilha de riscos contemplada nos contratos de

parcerias em Portugal respeita os princípios gerais que têm vindo a ser

enunciados nas várias análises para a definição de parcerias público-

privadas. Uma análise mais detalhada de um contrato de gestão em vigor

encontra-se no capítulo 8.

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4. Parcerias com, ou sem, gestão clínica?

 

O problema da definição do formato óptimo de uma PPP para construção de

hospitais, nomeadamente saber se é desejável, ou não, que a exploração da

actividade clínica esteja incluída na parceria, pode ser enquadrado no

contexto de vantagens e desvantagens de integração vertical de actividades

quando existem investimentos específicos a realizar.14

O contexto de análise assume que existem decisões de investimento

específicas ao projecto de parceria, no sentido de não terem retorno algum

fora da parceria, e de não serem passíveis de inclusão num contrato. Ou

seja, há decisões de investimento que aumentam o valor social gerado pela

parceria, mas que não é possível especificar de forma completa em qualquer

contrato.

Aspectos como a criatividade no desenho da arquitectura hospitalar, no caso

do edifício, e o maior empenho na formação e gestão das equipas de

profissionais de saúde, no caso da gestão da actividade clínica, são dois

exemplos de investimento específico (só têm valor no contexto da parceria) e

não contratável (nenhum contrato consegue especificar o grau de criatividade

em arquitectura ou a habilidade de gestão de equipas). Este tipo de

investimentos será designado por investimentos não contratáveis.

Os investimentos não contratáveis têm dois impactos (potenciais, pelo

menos): aumento dos benefícios das parcerias e menores custos de infra-

estrutura e de funcionamento. Como benefícios das parcerias está-se a

considerar, por exemplo, os ganhos de saúde para os doentes. Um menor

investimento nesses aspectos não contratáveis leva a maior benefícios e/ou

menores custos, pelo que assegurar que esse investimento é feito de forma

eficiente é também um problema a resolver pela parceria. É um problema em

que a própria forma de parceria, com ou sem inclusão da gestão da

                                                        14 Grossman, S. e O. Hart, 1986, The costs and benefits of ownership: a theory of vertical and lateral integration, Journal of Political Economy, 94: 691 – 719, Bennett, J. e E. Iossa, 2002, Building and managing facilities for public services, mimeo, Hart, O., 2003, Incomplete contracts and public ownership: remarks and an application to public-private partnerships, Economic Journal, 113: 69 – 76.

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actividade clínica por parte da entidade privada, pode ter um impacto

diferente.

Assim, há um problema económico associado com a definição dos incentivos

à realização de investimentos não contratáveis. Note-se que, pela sua

natureza, a influência sobre a realização destes investimentos é feita de

forma indirecta, através da criação de um enquadramento adequado.

Quando a parceria abrange unicamente a construção do edifício, a parte

privada não tem em conta os benefícios sociais (já que contempla apenas as

suas receitas), e a parte pública fica sujeita a um aumento dos custos de

investimento na gestão da actividade clínica (no pressuposto de uma maior

eficiência privada no desenvolvimento desse investimento). Em contrapartida,

quando a exploração clínica é incluída na parceria, globalmente tem-se a

vantagem de menores custos de investimento, mas perde-se a internalização

dos benefícios associados com a gestão clínica, uma vez que os resultados

para os doentes têm uma menor valorização privada do que social. Nesta

versão do modelo de Hart15 - em que na parceria da construção são mantidos

os incentivos através de um preço a partir do qual a empresa privada suporta

os respectivos custos - a inclusão, ou não, da componente clínica leva a um

maior ou menor investimento nessa área, dependendo de como os custos

acrescidos com a construção no sector público comparam com a

internalização do efeito de benefício. O investimento na componente de

construção, dada a hipótese de separabilidade assumida entre os dois tipos

de custos, é idêntico nas duas alternativas.

Assim, se os aspectos não verificáveis da actividade clínica forem

importantes, mas o acréscimo de custos por o investimento ser realizado pelo

sector público for reduzido, a opção de excluir a exploração clínica da PPP

ganha força. Se por seu lado, a componente da actividade clínica puder ser

indirectamente controlada com recurso a indicadores de desempenho, esta

distorção do investimento terá menor relevância e poderá ser preferível uma

parceria que englobe a gestão clínica, como forma de aproveitar custos mais

baixos de investimento.

                                                        15 Hart, O., 2003, Incomplete contracts and public ownership: remarks and an application to public-private partnerships, Economic Journal, 113: 69 – 76.

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No modelo original de Hart (2003), as alternativas são entre uma parceria

contendo construção e gestão clínica e uma parceria em que o construtor

recebe um preço fixo, não suporta qualquer risco e faz ambos os

investimentos relevantes. Nessas condições, o modelo tem uma conclusão

clara no que toca à inclusão conjunta de uma parceria para hospitais da

construção e da exploração clínica. A separação, com a operação directa do

Serviço Nacional de Saúde da exploração clínica, é melhor sempre que for

relativamente fácil especificar a qualidade a que a construção tem que

obedecer mas em que a especificação da qualidade da exploração clínica

não é facilmente estabelecida contratualmente.

Por outro lado, a inclusão conjunta das duas actividades (construção e

exploração clínica) na parceria é superior, do ponto de vista da eficiência

económica, se a qualidade de serviço puder ser adequadamente controlada

através do contrato. Significa isso que existem medidas de desempenho que

podem ser usadas para recompensar ou penalizar a parte privada.

Adicionalmente, a qualidade da construção não deve ser de fácil

especificação e verificação (nomeadamente, se se pretender que haja

inovação a esse respeito).

Assim, dependendo de quais as decisões relevantes e do grau de verificação

de desempenho que é possível, varia o interesse na inclusão ou exclusão da

exploração clínica na PPP.

É agora importante reconhecer uma limitação da análise de Hart que é

particularmente relevante no contexto dos contratos de PPP para a

construção e operação de hospitais em Portugal. Essa característica é a

renegociação que terá lugar caso seja disponibilizada uma nova tecnologia,

que não tenha sido antecipada em termos contratuais. O poder negocial de

cada uma das partes pode ser especificado contratualmente de forma

explícita, por um lado e, por outro lado, a forma de organização da parceria,

com ou sem inclusão da gestão da actividade clínica no âmbito de actuação

da parte privada, afecta o resultado dessa negociação, que por sua vez

influencia os incentivos à realização desses investimentos não contratáveis.

Suponhamos então que surge uma nova tecnologia, com custos e benefícios

superiores à actual. Tendo custos superiores, o novo preço acordado entre a

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parte pública e a parte privada terá que ser, naturalmente, superior ao preço

fixado no contrato para a tecnologia actual.

Se a parte pública tiver todo o poder de negociação e a parte privada não

possuir poder de negociação, então a revisão de preço será unicamente no

valor do aumento de custos que estiver associado com a nova tecnologia. Na

outra situação limite, a parte privada tem todo o poder de negociação, e a

revisão do preço que ocorre com a mudança de tecnologia permite à parte

privada apropriar-se de todo o excedente gerado através de um maior preço

resultante dessa negociação futura.

Caso não estivesse em causa fornecer indirectamente incentivos à realização

de investimentos não contratáveis, a regulação do futuro processo de

negociação deveria conter unicamente a condição de o preço associado com

a utilização de uma nova tecnologia ser o pagamento da tecnologia que é

substituída acrescido do diferencial de custos implicado pela nova tecnologia

(sendo que esse diferencial pode ser positivo, fazendo subir o pagamento, ou

negativo, fazendo descer o pagamento), situação em que também seria

indiferente que a PPP envolvesse, ou não, a gestão da actividade clínica pela

parte privada.

A realização de investimentos específicos não contratáveis tem aqui, face à

situação anterior, o efeito de influenciar o processo de negociação. Importa

aqui detalhar como se processa essa influência em negociações futuras e

quais as suas implicações.

Tomemos aqui um conjunto de investimentos específicos que aumentam o

valor, para a parte pública, da utilização da tecnologia actual, resultando

numa melhoria dos resultados para os doentes. Se, num momento futuro,

surgir uma nova tecnologia, irá colocar-se a questão das condições em que

será vantajoso proceder à sua adopção. Ora, uma tecnologia corrente que

apresente bons resultados estabelece naturalmente um limiar mais elevado

para os ganhos que a nova tecnologia tem de originar para ser adoptada.

Quanto melhor for a tecnologia corrente, menor será a disponibilidade a

pagar do sector público, no futuro, por uma nova tecnologia que pretenda

substituir a actual. Uma forma indirecta de a parte privada procurar induzir

uma maior adopção futura e um maior pagamento revisto consiste em investir

relativamente menos em investimentos específicos não contratáveis, com

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vista a valorizar mais em termos relativos a nova tecnologia. Isto é, quando a

parte privada antecipa que possa vir a obter melhores condições de

pagamento em novas tecnologias, tem, desde logo, um menor interesse em

desenvolver e aperfeiçoar a tecnologia actual. Assim, não investirá tanto

como seria desejável, pois esse sub-investimento torna mais provável que a

entidade pública contratante concorde com alterações ao contrato para

introdução dessas novas tecnologias (em condições mais interessantes para

a parte privada).

A parte pública da parceria tem como instrumento para contrabalançar este

efeito a determinação de um maior poder negocial para a parte privada em

negociações futuras. A concessão contratual de um maior poder negocial à

parte privada tem que equilibrar dois efeitos de sinal contrário. Por um lado,

um maior poder negocial da parte privada gera um maior preço a ser pago

pela introdução de uma nova tecnologia numa renegociação futura, o que é

negativo do ponto de vista da parte pública. Por outro lado, gera um maior

nível de investimento não contratável, que implica melhores resultados para

os doentes caso não surja a nova tecnologia, e esse tipo de investimento

também melhora a posição negocial da parte pública caso ocorra o

desenvolvimento da nova tecnologia.

Estes efeitos são reforçados quando a PPP inclui a exploração da gestão

clínica no âmbito da actividade privada da parceria. Nesse caso, há que

procurar controlar indirectamente os dois tipos de investimento - o que

influencia a actividade clínica e o que afecta a construção, manutenção e

funcionalidade do edifício. Uma parceria que envolva apenas a concessão da

construção e gestão da infra-estrutura à parte privada permite que o

investimento específico não contratável associado com a actividade clínica

seja realizado tendo em atenção também o seu impacto sobre o valor da

introdução de novas tecnologias que venham substituir as actuais.

Em particular, uma PPP em que é apenas concedida ao parceiro privado a

construção e gestão dos elementos infra-estruturais leva a um maior

investimento específico não contratável em actividades clínicas, desde que o

custo de realização desse investimento não seja substancialmente superior

quando realizado pelo sector público face a ser realizada pela parte privada.

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Assim, a possibilidade de existência de renegociação contratual para a

introdução de novas tecnologias, no âmbito de um contrato de PPP para a

construção e eventual operação de hospitais, favorece mais um modelo em

que a gestão da actividade clínica não é incluída no âmbito da gestão

privada.

Esta conclusão é válida desde que os custos de realização de investimentos

específicos não contratáveis (isto é, daqueles investimentos e acções que

não são passíveis de serem escritos num contrato) não sejam

substancialmente mais elevados quando realizados pelo sector público.

De um ponto de vista operacional, esta análise sugere que, em hospitais

envolvendo especialidades e competências que se situem mais perto da

fronteira tecnológica, e que incluam especialidades em evolução tecnológica

mais rápida e menos previsível quanto às características e custos da nova

tecnologia, deverão existir preferencialmente parcerias que excluam a

actividade clínica do âmbito de actuação da parte privada.

Tal deve-se à preocupação com a minimização dos custos de renegociação

futura para a adopção de novas tecnologias que venham a ser descobertas, e

da influência que essa potencial renegociação terá sobre os investimentos

que, tendo valor para a parceria, não são susceptíveis de serem escritos num

contrato.

Este aspecto ganha tanto mais importância face a uma maior eficiência da

parte privada na realização do investimento quanto maior for a incerteza

tecnológica e quanto mais sensíveis forem os resultados para os doentes e

os custos de operações a esses investimentos específicos.

Não há, pois, motivo para um modelo único de PPP, do ponto de vista das

propriedades económicas da relação.

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Recomendação 2: A escolha da inclusão de actividade clínica no âmbito

privado de uma parceria para construção de novos hospitais deverá, do

ponto de vista das características económicas do contexto, seguir o

seguinte princípio:

a) Hospitais de maior complexidade tecnológica e nos quais os aspectos

de inovação tecnológica sejam mais acentuados deverão tender a

assumir a forma de PPP sem inclusão da gestão da actividade clínica

no âmbito da parte privada.

b) Em hospitais para os quais os aspectos de fronteira tecnológica sejam

menos decisivos, a PPP deverá incluir a gestão clínica desde que os

custos de investimento público não contratável sejam relativamente

elevados, e os benefícios sociais desse investimento não tenham

grande sensibilidade ao investimento realizado.

Como se referiu, e se reforça, o elemento central desta recomendação não

se encontra na maior ou menor capacidade de gestão do sector privado face

ao sector público. O motivo está na necessidade do sector público controlar

da melhor forma os processos negociais futuros de introdução de novas

tecnologias que ele próprio quererá adoptar e dos investimentos específicos

não contratáveis que influenciam o valor e o resultado dessas negociações

contratuais futuras.

Note-se que se está apenas a ter em conta o resultado final da renegociação

contratual, admitindo-se que esta se realiza sem custos significativos. A

inclusão explícita de custos de realizar a própria alteração contratual só

reforçará a recomendação.

Em termos concretos, as considerações apresentadas justificam, do ponto de

vista do interesse económico das relações envolvidas, que hospitais como o

novo Hospital de Todos os Santos (hospital central e envolvendo ensino e

investigação a nível universitário) e hospitais com uma forte componente de

oncologia sejam realizados em regime de PPP sem inclusão da gestão da

actividade clínica no âmbito de actuação da parte privada. Por outro lado,

hospitais como o Hospital de Póvoa do Varzim/Vila do Conde poderão ser

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realizados num regime de PPP envolvendo no âmbito de actuação do

parceiro privado a gestão clínica.

Para cada hospital que se pretenda construir, a decisão do tipo de PPP

deverá incluir, face ao programa funcional que seja definido, uma avaliação

da componente de inovação tecnológica que é esperada e que levará

provavelmente a uma renegociação contratual cujos termos não são

passíveis de ser completamente especificados de forma prévia no contrato de

parceria.

Os argumentos desenvolvidos não implicam que não ocorra adopção de

novas tecnologias em todos os hospitais. Significa apenas que naqueles

onde se admite que a inovação surgirá mais tardiamente, é possível

especificar contratualmente no âmbito da parceria as condições em que a

inovação tecnológica é introduzida, com referência à decisão e aos custos

que os primeiros hospitais a introduzir a inovação tecnológica tiveram.

5. Renegociação contratual: princípios e implicações

Um primeiro elemento fundamental para a compreensão do funcionamento

de uma PPP é o entendimento das implicações da delegação, por parte do

sector público, da prestação de um determinado serviço, no sector privado, e

da transferência de risco que normalmente está associada com essa

delegação.

De um modo geral, a atribuição de contratos de concessão (parceria) a

entidades privadas, por parte do Estado, para atrair investimento privado para

o desenvolvimento e construção de infra-estruturas de interesse público tem

revelado, ao longo do tempo, uma tendência para uma elevada taxa de

renegociação dos compromissos inicialmente assumidos (Guasch, 2004).

Embora usando apenas informação sobre PPP nos sectores da água e dos

transportes, Guasch et al. (2008a,b) encontram regularidades associadas

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com a existência de processos de renegociação que são importantes também

para o contexto das parcerias público-privadas hospitalares em Portugal.16

Em Portugal, na área das infra-estruturas de transporte, onde as PPP são em

maior número e existem há mais tempo, a renegociação contratual tem sido

frequente. Segundo o Tribunal de Contas17, “não se pode deixar de se

sublinhar que, se os montantes dos encargos com a contratação em PPP não

têm sido objecto de estimativas fiáveis, também muitos dos contratos têm

sido alvo de renegociação e de processos de reequilíbrio financeiro, logo nos

primeiros anos de vigência, muitas vezes de forma repetida” (p.18).

Relativamente a essas renegociações, conclui o Tribunal de Contas que

resultam em encargos adicionais para o Estado, já que são realizadas num

ambiente em que não há concorrência pela contratação.

Quando se fala em renegociação de uma PPP é necessário, desde logo,

distinguir se a renegociação é iniciada pela parte privada ou pela parte

pública.

O segundo aspecto essencial consiste na distinção entre renegociações

despoletadas por eventos não antecipados (correspondendo usualmente a

situações em que é socialmente óptimo abrir a renegociação) e

renegociações decorrentes de um mero comportamento oportunista por uma

das partes (e, naturalmente, “disfarçado” sob uma retórica de necessidade).

A experiência observada nas PPP do sector dos transportes em Portugal -

menos complexas do que as parcerias para construção de hospitais -, de

renegociação frequente dos contratos, sugere que esta também será uma

preocupação a ter seriamente em atenção.

Embora a visão habitual de que a existência de renegociação é prejudicial ao

bom desempenho da PPP tenha alicerces teóricos e empíricos, há também

que reconhecer-lhe um papel útil.

A renegociação pode aumentar a eficiência da parceria, desde que permita

fazer uso de informação adicional que entretanto venha a tornar-se

                                                        16Guasch, J.L., J.-J. Laffont, S. Straub, 2008a, Renegotiation of concession contracts in Latin-America – evidence from the water and transport sectors, International Journal of Industrial Organization, 26(2): 421 – 442. Guasch, J.L., J.-J. Laffont, S. Straub, 2008b, Concessions of infra-structure in Latin-America: Government-led renegotiation, Journal of Applied Econometrics, forthcoming. 17 Tribunal de Contas, Auditoria à Gestão das Parcerias Público – Privadas – Concessões Rodoviárias, Relatório nº10/2008, 2ª Secção, Março de 2008. 

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conhecida. O facto de o contrato ser incompleto (de um ponto de vista

económico) - já que não se conseguem especificar todas as acções a serem

tomadas por todas as partes envolvidas em todas as contingências

relevantes - permite que se possam rever ou definir decisões no futuro de

forma mutuamente vantajosa.

Na componente de imprevisibilidade sobre condições futuras, há que ter em

atenção que existem surpresas completas (nomeadamente, novos

tratamentos ou novas doenças que não foram de todo antecipadas), e

situações em que, embora se preveja que haverá inovação (ou novas

doenças), não se tem o conhecimento necessário para realizar uma

especificação completa das acções a realizar (por exemplo, quanto a design,

qualidade ou preços das prestações futuras de cuidados de saúde).

Ainda assim, é possível antecipar que alguma forma de renegociação do

contrato terá lugar e estabelecer as regras pelas quais essa renegociação

será gerida.

A resposta à necessidade de renegociação derivada de entretanto se obter

informação adicional relevante para o valor social gerado pela parceria não é

a tentativa de especificar mais cláusulas contratuais que definam

antecipadamente as decisões a tomar. Em termos formais, é importante

reconhecer que as PPP envolvem risco - isto é, situações em que eventos

alternativos se podem materializar mas cujas probabilidades de ocorrência de

cada evento são conhecidas (ou susceptíveis de serem estimadas) -, mas

também enfrentam situações de incerteza, em que nem sequer é possível

fornecer uma descrição adequada dos eventos possíveis e/ou das suas

probabilidades de ocorrência. Ou seja, no caso de incerteza, por definição,

não há possibilidade de escrever em contrato uma cláusula que preveja

exactamente o que se deve fazer. É impossível prever de modo completo e

absoluto todas as contingências futuras, sobretudo em horizontes longos

como os envolvidos nas PPP para a construção de hospitais.

O esforço de elaboração do contrato deve centrar-se então na especificação

das regras pelas quais essa renegociação pode ter lugar e como se

processa.

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Recomendação nº 3: O Contrato deverá especificar de forma clara quais os

tipos de eventos que dão lugar a renegociação, e se ambas as partes têm ou

não capacidade de pedir renegociação do Contrato. Deverá ser adoptado um

período inicial durante o qual a parte privada não pode solicitar renegociação.

Deverá ser determinado um número máximo de renegociações que cada

parte pode solicitar durante cada período sucessivo de 5 anos. A alteração de

custos associada com a renegociação deverá envolver, na validação do seu

valor, uma opinião externa de uma entidade independente e, se possível,

deverá envolver igualmente um exercício de comparação (nacional ou

internacional).

Embora seja difícil especificar os aspectos concretos a ser introduzidos no

futuro, não é muito complicado especificar as regras a que essa revisão deve

obedecer.

Ambas as partes devem poder ter a iniciativa de propor a introdução de

inovações tecnológicas. A proposta deve identificar de forma clara os custos

envolvidos e o modo como os mesmos deverão ser pagos. Uma vez que a

gestão do hospital tenderá a sobre-estimar esses custos de novas

tecnologias, e a Entidade Pública Contratante tenderá a sub-estimá-los tais

valores, há uma divergência de interesses cuja resolução futura importa

acautelar desde o início. É, por isso, aconselhável que haja uma comparação

de custos com a utilização dessa tecnologia noutras unidades hospitalares,

se tal for possível, e uma opinião externa sobre a razoabilidade dos valores

previstos. No caso de, no grupo de comparação definido pelo contrato, não

ser utilizada essa tecnologia, o termo de referência para os custos poderá

utilizar hospitais fora desse grupo de comparação. Nesta circunstância, ou

caso o hospital em parceria seja pioneiro na utilização da nova tecnologia,

deverá contemplar-se um processo de ajustamento ex-post aos verdadeiros

custos no prazo de dois anos, no máximo.

A experiência, portuguesa e internacional, com PPP (em diversas áreas)

sugere que, muitas vezes, pouco tempo depois da assinatura dos contratos

ocorre um processo de renegociação. Como importa desincentivar este

comportamento, que vem compensar (depois da assinatura do contrato) uma

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maior agressividade de preços estratégica durante o processo de selecção

de parceiro privado, é de encarar a existência de um período inicial do

contrato durante o qual não seja possível renegociar os termos do contrato

de gestão por iniciativa do parceiro privado. Um período de três anos surge

como um horizonte razoável.

É também importante que a parceria não envolva uma renegociação

constante dos termos do contrato. Deve procurar garantir-se que a abertura

de processos de renegociação contratual ocorre apenas em situações

suficientemente importantes. Uma forma de assegurar que o instrumento de

renegociação não é utilizado com frequência abusiva é aceitar que, por cada

período de cinco anos, cada parte inicia no máximo dois processos de

renegociação do contrato por motivo de actualização ou alteração

tecnológica. Naturalmente, não se incluem aqui modificações ao contrato que

já se encontrem previstas expressamente.

A importância aqui antecipada e discutida para os processos de

renegociação encontra já hoje tradução real em declarações públicas de

responsáveis da parte privada da parceria constituída para o novo Hospital

de Cascais. Em Maio de 2009 já houve um primeiro diferendo a ser resolvido

com recurso a Tribunal Arbitral (tendo como objecto o pagamento de custos

de medicamentos com doentes oncológicos).

Ainda a respeito deste diferendo, o presidente da Entidade Pública

Contratante no contrato do Hospital de Cascais, a Administração Regional de

Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, afirmou que “houve um diferendo porque o

contrato não é claro (...) é provável que haja mais divergências noutros

aspectos de interpretação do contrato de gestão” e um responsável da parte

privada referiu que “os cadernos de encargos não conseguem prever tudo,

por isso a litigância é inevitável”. Daqui se vê desde logo que os aspectos de

renegociação contratual em questão são já apercebidos como relevantes por

ambas as partes.

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6. Modelo de lançamento das parcerias  

6.1. Governação das parcerias

Um aspecto crucial para a análise das PPP em Saúde em Portugal é o

processo de governação e a sua evolução.18 O processo de lançamento das

PPP para a construção de hospitais foi recentemente objecto de análise por

parte do Tribunal de Contas.19

A evidência produzida na auditoria realizada pelo Tribunal de Contas coincide

largamente com a evidência que foi possível recolher durante os trabalhos da

equipa de análise.

Por se focarem fundamentalmente no processo de lançamento das PPP, as

conclusões apresentadas pelo Tribunal de Contas constituem apenas uma

avaliação desse processo, e não podem ser tomadas como medida do

sucesso das PPP como um todo.

Essas conclusões sugerem acima de tudo uma importante falta de

preparação do Estado para actuar como parceiro público credível num

projecto de PPP. Ainda assim, ocorreu, desde 2002, uma clara aprendizagem

por parte do Estado dos mecanismos essenciais para a elaboração de um

projecto de PPP.

Actualmente, o processo de lançamento de uma nova PPP segue o seguinte

sistema:

1. Identificação da unidade a construir.

2. Lançamento pela Estrutura de Missão Parcerias.Saúde

3. Definição do perfil do novo hospital

4. Definição do programa funcional

5. Decisão de avançar em parceria

6. Proposta ao Ministro da Saúde

7. Lançamento do concurso

8. Avaliação de propostas

9. Adjudicação e assinatura do Contrato.                                                         18 A presente secção baseia-se extensivamente nos resultados de uma reunião com o Engenheiro João Wemans (Encarregado de Missão, Estrutura de Missão Parcerias.Saúde). Todos os erros e omissões são da exclusiva responsabilidade do grupo de trabalho. 19 Tribunal de Contas, Auditoria ao Programa de Parcerias Público–Privadas na Saúde – primeira vaga de hospitais, Relatório nº 15/2009 AUDIT, 2009. 

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Desenvolve-se agora o conteúdo de cada uma das fases do processo:

1. Identificação da unidade a construir

A identificação da necessidade de construção de uma nova unidade

hospitalar surge de uma decisão política.

Na última vaga, foi sustentada por estudos (equipa do Prof. Daniel Bessa20).

Do que se encontra actualmente planeado, os novos hospitais de raiz são os

hospitais de Loures e do Seixal, e os restantes hospitais são de substituição.

A definição das unidades a construir resulta do reconhecimento das más

condições que alguns hospitais possuem actualmente. Há uma definição de

prioridades de lançamento do processo para a construção de novos

hospitais, sendo incluída nessa definição a capacidade de operacionalizar

rapidamente.

2. Lançamento pela Estrutura de Missão Parceiras.Saúde

Nesta fase do processo procede-se à revisão das prioridades face à

informação disponível.

3. Definição do perfil do novo hospital

É uma fase que envolve os vários actores: a Unidade de Missão

Parcerias.Saúde, a Administração Central do Sistema de Saúde, e a

Administração Regional de Saúde. Quando se tem um hospital de

substituição, também a actual gestão do hospital pode estar envolvida.

Poderá existir nesta fase uma primeira intervenção de consultores externos

especializados. Depois de definido o perfil para o novo hospital, o mesmo é

submetido ao Ministro da Saúde para aprovação.

4. Definição do programa funcional

De seguida, procede-se à definição do programa funcional do hospital, para o

modelo puro de parceria para a infra-estrutura, em que são envolvidos os

mesmos actores da fase anterior.

Quando concluído, é remetido ao Ministro da Saúde para aprovação.

                                                        20 Escola de Gestão do Porto, 2006, Relatório Final – Estudo de Avaliação de Prioridades de Investimento com o Objectivo de Apoiar o Processo de Decisão, ao Nível Político, Quanto à Sequência Estratégica de Implementação dos Hospitais Inseridos na 2ª Vaga do Programa de Parcerias para o Sector Hospitalar, Fevereiro.   

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Nesta fase, há a assistência técnica de consultores na definição do programa

funcional. Há também uma estimativa genérica do preço para a parceria.

5. Decisão de avançar em parceria

São produzidos, nesta fase, três conjuntos de documentos:

a) Estudo estratégico, da responsabilidade do consultor, com

participação da estrutura de missão Parcerias. Saúde, e acompanhado

pelo grupo que trata do programa funcional.

b) Cálculo do custo público comparável

c) Elaboração dos documentos do concurso: programa de procedimentos

e caderno de encargos.

É nesta fase definido que o prestador privado se concentra na construção e

na prestação de serviços de apoio (nomeadamente, serviços de lavandaria,

alimentação, e parqueamento). É igualmente definida a lista do equipamento

médico, sendo que a sua actualização fica na componente pública (prestador

de cuidados). Existe uma revisão da racionalidade do projecto pela equipa de

planeamento.

6. Proposta ao Ministro da Saúde

Fase caracterizada pela nomeação de comissão de acompanhamento, com

representantes da ARS, do hospital, da ACSS (dois vogais e um suplente) e

dois representantes do Ministério das Finanças (com mais um suplente). A

comissão é de nomeação conjunta do Ministro da Saúde e do Ministro das

Finanças. Com o pedido de nomeação são enviados os documentos referidos

nas fases anteriores.

A comissão de acompanhamento faz revisões e alterações, propondo no final

o lançamento da parceria (a legislação dá 60 dias à comissão para este

papel).

No caso da ACSS e do Ministério das Finanças, as pessoas nomeadas têm

sido representantes das áreas de infra-estruturas, instalações e

equipamentos.

7. Lançamento do concurso

O lançamento do concurso é realizado por despacho conjunto do Ministro da

Saúde e do Ministro das Finanças.

No caso de a parceria incluir a exploração clínica, não existe programa

funcional e sim uma lista de requisitos mínimos a serem satisfeitos. Esta lista

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de requisitos mínimos serve também para garantir alguma comparabilidade

entre propostas.

Após o lançamento do concurso, é nomeada a comissão de avaliação de

propostas, que é composta da mesma forma que a comissão de

acompanhamento, acrescida do presidente, que tem sido tipicamente um

elemento convidado pelo Ministério da Saúde. As pessoas nomeadas para a

comissão de avaliação de propostas tendem a ser as mesmas da comissão

de acompanhamento, o que assegura a transmissão de efeitos de

aprendizagem de umas fases para as outras.

8. Avaliação de propostas

No caso da 1ª vaga, que inclui a exploração da actividade clínica no âmbito

da parceria, as propostas são avaliadas, classificadas e feita uma proposta

de selecção dos dois candidatos para negociação competitiva. Esta selecção

de dois candidatos é remetida para aprovação do Ministro da Saúde e do

Ministro das Finanças, excepto no concurso mais recente de Loures, em que

a comissão o pode fazer por delegação de competências.

Depois é concretizada a fase BAFO – best and final offer – pelos dois

concorrentes restantes.

Elabora-se uma proposta de selecção do vencedor.

Sendo aprovada a proposta anterior, passa-se à negociação final da minuta

do contrato.

Por fim, há a proposta de adjudicação. Quando todos os documentos estão

prontos, cessa funções a comissão de avaliação.

No caso da 2ª vaga, caracterizada por excluir a exploração da actividade

clínica do âmbito da parceria, há, antes de mais, a aceitação de candidaturas,

com base na experiência e nas equipas de arquitectos apresentadas, bem

como na solução técnica para o edifício, em resposta ao programa funcional.

Não há, neste momento, qualquer referência ainda ao preço.

São escolhidas as três melhores candidaturas, que passam a concorrentes. A

redução do número de candidaturas para apenas três concorrentes foi ditada

pela experiência anterior, em que se revelou morosa (e penosa) a avaliação

das candidaturas. O objectivo foi conseguir-se um procedimento mais célere

e com redução dos custos de transacção.

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São escolhidas três candidaturas para que haja concorrência mínima entre os

concorrentes, uma vez que apenas 2 passarão à fase final. Ocorre neste

ponto a aprovação das três candidaturas escolhidas por parte dos Ministro da

Saúde e Ministro das Finanças.

Os concorrentes apresentam as suas propostas, com especificação do preço,

e com detalhe técnico.

Segue-se a exclusão de um dos concorrentes, e a passagem a negociação

competitiva com os restantes dois (BAFO).

Da negociação competitiva com os dois concorrentes restantes, resulta a

selecção de um concorrente vencedor, passando-se depois à elaboração da

minuta do contrato.

Entrega-se a proposta de adjudicação, momento em que a comissão de

avaliação respectiva cessa funções.

9. Adjudicação e assinatura do contrato.

O contrato é assinado pela Entidade Pública Contratante, que foi definida

como sendo a Administração Regional de Saúde. A ARS fica com a gestão

do contrato como forma de procurar minimizar a tensão que quase

necessariamente existe entre o hospital/prestador de cuidados de saúde e o

parceiro privado da infra-estrutura.

Como órgãos de gestão do contrato existe o Gestor do Contrato, que

representa o Estado e tem equipa de apoio, tipicamente de pessoas da ARS

e próximas ao processo de contratualização no caso em que está envolvida a

exploração clínica.

O Tribunal de Contas surge apenas quando o contrato se encontra assinado.

Quando a exploração clínica está incluída na parceria, o arranque da

construção pode dar-se mesmo sem o visto prévio do Tribunal de Contas.

Importa agora proceder a uma apreciação do processo de lançamento e

concretização de projectos de parcerias em saúde, tendo em conta o

percurso realizado e os ajustamentos que foram sendo introduzidos no

processo.

O processo actual resulta de uma aprendizagem que teve elevados custos.

Conforme é patente da avaliação realizada pela Auditoria do Tribunal de

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Contas, esses custos são de naturezas diversas.21 Desde logo, o custo de

elaboração das propostas suportado pelos concorrentes privados - uma vez

que há a selecção de um único vencedor, os concorrentes vencidos suportam

um custo que não terá qualquer retorno. É um preço pago, em termos de

sociedade, para que se possa escolher o melhor concorrente para a parceria.

Dito isto, importa que esse custo não seja mais elevado do que o

estritamente necessário. O ajustamento que foi ocorrendo ao longo do tempo

no processo de lançamento das PPP apresentou alguma sensibilidade a este

aspecto. É de todo o interesse que se continuem a identificar áreas de

simplificação e minimização dos custos de apresentação das propostas, sem

contudo colocar em causa os elementos básicos necessários para avaliação

e comparação das propostas.

Numa segunda categoria de custos tem-se o custo da UMPS, incluindo os

custos com os consultores contratados. De 2001 a 2008, a UMPS teve custos

da ordem dos 25 milhões de euros, sendo destes 4 milhões custos de

funcionamento, e os restantes 21 milhões custos de consultoria técnica (de

diversas especialidades).

Em terceiro lugar, existem os custos para a população decorrentes do atraso

da construção dos novos hospitais. Embora de difícil valorização, não se

deve menosprezar que o atraso verificado no lançamento e

operacionalização das PPP acarreta custos para a população que está,

durante o processo, a ser servida por hospitais considerados pouco

adequados às suas necessidades actuais.

Globalmente, o processo de lançamento envolve ainda muitas etapas de

aprovação por parte do poder político de topo na área da saúde. Deverá

avaliar-se se todos os pontos de avaliação ministerial são estritamente

necessários. Em alternativa ao sistema actual, poderá considerar-se uma

intervenção mais directa, e com maior poder de decisão, do Gabinete do

Ministro da Saúde, de forma a reduzir os prazos de decisão e aprovação

oficial dos diversos passos.

A utilização intensiva de consultores especializados é inevitável dada a falta

de capacidade interna no sector público. Para evitar eventuais situações de                                                         21 Tribunal de Contas, 2009, Auditoria ao Programa de Parcerias Público – Privadas na Saúde – primeira vaga de hospitais, Relatório nº 15/2009 AUDIT.

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dependência dos consultores, deve procurar-se diversificar a identidade dos

consultores a que a UMPS recorre, aspecto que se encontra em fase de

operacionalização tanto quanto foi possível apurar.

Considera-se que seria interessante o eventual recurso a consultores

internos da própria Administração Pública, em áreas onde se tenha

desenvolvido conhecimento técnico sobre PPP que seja relevante no

contexto de construção de novos hospitais.

Recomendação nº 4: Criação de um memorando de entendimento sobre a

razão e interpretação das cláusulas contratuais no momento da negociação,

tendo como objectivo minorar conflitos futuros de interpretação das cláusulas.

Recomendação nº 5: Criar, no Ministério da Saúde, uma célula de análise e

acompanhamento das parcerias em saúde formada por quadros da

Administração Pública com elevada diferenciação técnica, que garanta a

fixação destes, como forma de assegurar continuidade e segurança na

tomada de decisão pública.

A criação de uma unidade de conhecimento especializada é normalmente

indicada como um factor de sucesso. No caso das parcerias público–privado

na saúde em Portugal, esse conhecimento encontra-se duplicado e disperso

por diversas entidades. Desde logo, tem-se a Unidade de Missão

Parcerias.Saúde (Ministério da Saúde) e a Parpública (Ministério das

Finanças). Numa segunda linha, encontra-se o Tribunal de Contas, que tem a

missão de visar o contrato estabelecido e que tem reflectido sobre o próprio

processo. Finalmente, não é de excluir que a Entidade Reguladora da Saúde

venha a querer desenvolver algum papel nesta área.

A organização do sector público para corresponder às exigências de

lançamento, e posteriormente monitorização, das PPP para a construção de

hospitais tem-se modificado, em grande parte em resposta aos problemas

encontrados.

Numa primeira fase do processo, ocorreu uma centralização quase exclusiva

na Unidade de Missão Parcerias.Saúde, que recorreu largamente a

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consultores externos para a definição e lançamento das parcerias público-

privadas da primeira vaga.

Mais tarde, as Administrações Regionais de Saúde (ARS) foram envolvidas

de forma mais permanente e mais profunda no processo, uma vez que cabe

a estas o papel de signatárias do Contrato de parceria como parte pública, e

com ele todas as tarefas de acompanhamento e monitorização dos contratos

de parceria. Não foi difícil alcançar a conclusão de que as ARS não

dispunham, nesse momento, das competências técnicas adequadas para dar

resposta à complexidade do contrato de parceria. O contrato de parceria é

bastante exigente pois requer um sistema de informação de suporte claro e

fiável para a validação dos indicadores utilizados para construir parâmetros

de desempenho que têm impacto na remuneração dos parceiros privados.

A figura do gestor do contrato assume-se como peça essencial na ligação

das Entidades Gestoras com a Entidade Pública Contratante.

De acordo com as informações prestadas por uma ARS, o gestor do

contrato tem de definir a filosofia e instrumentos do acompanhamento, com

possibilidade de externalização no que toca aos aspectos de sistemas de

informação; tem que criar um desenho do modelo de acompanhamento,

procurando-se apostar na detecção antecipada de problemas; e deve ter uma

previsão de áreas de risco de não cumprimento do contrato, e manter os

meios adequados para o acompanhamento e monitorização do contrato.

Esta é uma abordagem que se considera realista e adequada às

necessidades de gestão dos contratos de parceria, sendo desejável que haja

igualmente uma partilha de experiências, problemas e filosofia de actuação

entre os vários gestores de contratos.

Recomendação nº 6: Criação de uma rede informal de gestores de contratos

de parceria público-privada para a construção (e operação) de hospitais.

Os objectivos da rede informal de gestores de contratos de parceria incluem

a partilha de conhecimentos e experiências, bem como uma abordagem

única à gestão desses contratos de parceria.

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Nesta rede informal, haverá vantagem em contar com a colaboração de

elementos da Unidade de Missão Parcerias.Saúde (UMPS) e com a

possibilidade de recorrer pontualmente aos consultores contratados pela

UMPS para esclarecimentos.

Um exemplo simples e natural da vantagem desta rede será a prestação de

informação pública e comparável do acompanhamento das várias parcerias

existentes.

6.2. O processo da parceria

A vaga inicial das PPP para a construção de hospitais defrontou desde logo

uma primeira contradição – foi dado um grande enfoque à especificação dos

critérios a cumprir no que toca à organização interna (incluindo aqui muitos

aspectos de detalhe das infra-estruturas físicas), e não tanto a uma clara e

precisa definição dos resultados pretendidos e de como os monitorizar (que

critérios, que valores para esses critérios e que consequências no caso de

incumprimento, ou não, desses critérios).

A abordagem mais recente ao lançamento de PPP para a construção de

hospitais mostra que foi realizado um processo de aprendizagem, já que se

observa uma maior preocupação com a definição e mensurabilidade dos

resultados da actividade da parceria do que com uma definição de

especificações quase exclusivamente centrada na organização interna do

hospital e na sua forma de funcionamento.

O processo de lançamento, implementação e acompanhamento das PPP

para a construção de novos hospitais apresentou várias fragilidades,

analisadas em detalhe no Relatório de Auditoria do Tribunal de Contas. O

Relatório apresenta uma descrição detalhada do que foram os primeiros 6

anos do processo de elaboração de parcerias público-privadas para a

construção de hospitais.

Assume-se a descrição realizada pelo Tribunal de Contas como sendo

factualmente correcta, uma vez que as entidades visadas tiveram

oportunidade de responder em contraditório.

A principal conclusão da auditoria do Tribunal de Contas refere que “nenhum

dos objectivos de contratação inicialmente definido foi, até agora, atingido, o

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que conduz, neste domínio das PPP Saúde, a que se possa considerar

ineficácia por parte do Estado” (p. 8).

Esta conclusão refere-se exclusivamente aos objectivos em termos do

número de contratos PPP assinados à data da auditoria, e não às vantagens

e desvantagens que o modelo possa ter.

Não havendo, à data da elaboração do relatório do Tribunal de Contas,

qualquer processo de PPP na saúde com tempo decorrido suficiente para

uma avaliação, ainda que preliminar, do funcionamento das PPP Saúde (e

não apenas do seu processo de lançamento), não há qualquer conclusão

sobre o assunto por parte do Tribunal de Contas.

As falhas apresentadas quanto ao processo de lançamento das PPP na

saúde não são surpreendentes, atendendo à análise que o Tribunal de

Contas realizou às PPP em curso noutros sectores de intervenção pública, e

que se podem considerar comuns a muitos dos grandes investimentos em

infra-estruturas públicas de grande dimensão. Os processos de concurso são

frequentemente mal preparados, e existem demasiadas situações de

renegociação contratual pouco tempo depois das assinaturas dos contratos.

Não há aqui um problema específico do sector da saúde, e sim uma

deficiente preparação da Administração Pública para lidar com a

complexidade dos contratos de longo prazo implicados pelas parcerias

público – privadas.

6.3. Estudos de suporte

O processo de lançamento de uma parceria público-privada obriga, numa

fase inicial à elaboração de estudos de natureza estratégica e económico-

financeira. Tomando como referência o estudo realizado como suporte à PPP

para o novo hospital de Cascais, é útil a apresentação de comentários

referentes a esta fase do processo.

Nos elementos justificativos para as PPP apresentam-se como vantagens

para as PPP: “(i) o potencial de inovação mediante a introdução de novas

formas de gestão hospitalar; (ii) o potencial para a transferência de riscos do

sector público para o sector privado; (iii) o controlo de custos de investimento

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e exploração; (iv) a qualidade do serviço prestado; e (v) a possibilidade de

benchmarking da performance hospitalar.”

O ponto (i) refere-se apenas a inovação de processo; o ponto (ii) constitui o

lapso habitual de se pensar a transferência de riscos como um objectivo,

aspecto que foi suficientemente discutido na parte inicial do presente

relatório; o ponto (iv) é desmentido pela preocupação dos indicadores de

desempenho de qualidade que são impostos, e que se fossem respeitados

de forma óbvia e visível não seria necessário o seu controlo; e no ponto (v)

não se percebe porque só com PPP é que é possível a comparação de

desempenho. Logo, resta como aspecto central o ponto (iii).

Entre as vantagens de recurso às PPP está enunciado o “associar as

capacidades e know how do sector público enquanto comprador e

fiscalizador de serviços, e do sector privado, enquanto gestor e prestador de

serviços” (ênfase no original, p.120)

É duvidoso que o sector público tenha essa capacidade actualmente, com

referência às PPP para a construção de novos hospitais, dadas as exigências

de contratos PPP serem bastante diferentes dos contratos habituais de

compra de bens e serviços por parte do sector público.

O estudo incorre na prática comum de usar a taxa de inflação com base no

IPC para contemplar efeitos de preços ao longo do tempo quando o que

interessa é a inflação nos custos de produção, que no caso da saúde têm

uma componente de trabalho muito maior que na média dos restantes

sectores de actividade.

As poupanças nos custos operacionais argumentadas nos cálculos de

suporte apresentadas no estudo estão sobretudo centradas nos

medicamentos, o que é duvidoso face ao passado recente e à inovação

tecnológica crescente em termos de novos e mais caros medicamentos; de

resto, poupa-se nos serviços complementares.

Há aqui que ter em conta o que se pode passar a poupar em termos de

custos de pessoal com base numa melhor organização do trabalho, e

procurar fazer o mesmo utilizando menos recursos, até porque é duvidoso

que as necessidades da população estejam a aumentar a ritmos muito

grandes. Mesmo a evolução demográfica tem sido mais lenta do que a

evolução do aumento da despesa, estando amplamente documentado na

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literatura que o argumento da evolução demográfica tem um peso real muito

menor do que é habitualmente percepcionado.

7. Aspectos institucionais  

7.1. Articulação entre a Entidade Pública Contratante e as Entidades Gestoras

A Entidade Pública Contratante retém poderes importantes no seu

relacionamento ordinário com as Entidades Gestoras, nomeadamente a

capacidade, entre outras definidas no contrato, de realizar inspecções e

auditorias, de recolher informação sobre a actividade assistencial, e de

acompanhar a execução dos indicadores de desempenho definidos.

Tem que existir a nomeação de um Gestor do Contrato, o que sucedeu, quer

para o Hospital de Cascais, quer para o Hospital de Braga.

Existem mecanismos de autorização tácita a pedidos das entidades gestoras,

que procuram garantir uma monitorização e um acompanhamento por parte

do sector público, evitando porém que uma demora excessiva de resposta

por parte do sector público paralisasse em alguma medida a gestão do

hospital.

Um pormenor relevante é que a “Entidade Pública Contratante pode, a todo o

tempo, solicitar esclarecimentos sobre os pedidos de autorização e de

aprovação previstos na presente cláusula”. Não é claro se estes

esclarecimentos interrompem o prazo de 60 dias para dar resposta aos

pedidos das Entidades Gestoras podendo ser usados como manobra de

dilação do prazo de resposta.

Recomendação nº 7: No processo de relacionamento entre o sector público e

as entidades gestoras deverá existir um sistema de auditoria da actividade

com base em amostragem aleatória. Esse sistema de auditoria tem utilidade,

quer para o sector público ter um maior conhecimento da actividade

desenvolvida, quer para a gestão do hospital, dado que ajudará a identificar

as áreas críticas de funcionamento.

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Embora o actual sistema de acompanhamento do contrato de cada parceria

não exclua a possibilidade destas auditorias, é relevante que as mesmas

sejam de facto realizadas como rotina no relacionamento entre as partes

envolvidas.

7.2. Articulação entre Entidades Gestoras

Encontra-se uma divisão das actividades entre as Entidades Gestoras: “as

actividades objecto do presente contrato, ainda que prestadas por terceiros

subcontratados, serão repartidas entre as Entidades Gestoras em

conformidade com os seguintes princípios:

a) A Entidade Gestora do Estabelecimento fica responsável pela

prestação dos Serviços Clínicos, dos Serviços de Apoio e dos Serviços

Adicionais;

b) A Entidade Gestora do Edifício fica responsável pelas actividades de

projecto, construção, conservação e manutenção do Novo Edifício

Hospitalar, incluindo os respectivos terrenos e jardins, bem como pela

gestão e exploração do parque de estacionamento.”

É ainda estipulado que “a utilização do Novo Edifício Hospitalar pela Entidade

Gestora do Estabelecimento é, para esta, gratuita, sendo a remuneração da

Entidade Gestora do Edifício calculada e paga pela Entidade Pública

Contratante” “A Entidade Gestora do Edifício obriga-se a promover a

realização de alterações ao Novo Edifício Hospitalar, incluindo a realização

de instalações adicionais, que venham a ser solicitadas pela Entidade

Gestora do Estabelecimento. (...) Os custos relativos à realização,

manutenção e ciclo de vida de quaisquer alterações ao Novo Edifício

Hospitalar serão suportados pela Entidade Gestora do Estabelecimento, que

procederá ao seu pagamento à Entidade Gestora do Edifício, mediante

facturação desta.”

Esta disposição contratual dá à Entidade Gestora do Estabelecimento o

poder negocial suficiente para levar a ajustamentos do espaço físico de

desenvolvimento da actividade clínica do hospital. Garante assim uma melhor

articulação entre a actividade desenvolvida e a infra-estrutura física, sendo os

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custos dessas alterações devidamente internalizados entre as duas

entidades gestoras.

7.3. Dever de comunicação Não há qualquer obrigação contratualmente explicitada quanto à

comunicação com os utentes e divulgação de informação sobre o

funcionamento e actividade do hospital através da página de internet, seja do

hospital seja do Gestor do Contrato.

Seria desejável que a Entidade Pública Contratante tivesse uma obrigação de

análise da Gestão do Contrato, divulgada publicamente.

Recomendação nº 8: A Entidade Pública Contratante deve produzir

anualmente uma avaliação baseada na evidência disponível sobre a

evolução da parceria, incluindo elementos qualitativos e quantitativos.

 

7.4. Confiança como factor crucial

De um ponto de vista global, permanece um ambiente de desconfiança face à

participação privada no sector da saúde, nomeadamente nas PPP.

Essa desconfiança traduz-se num permanente desvalorizar das capacidades

e intenções do parceiro privado. As reacções aos valores apresentados nos

concursos para selecção do parceiro privado no concurso para o novo

hospital de Braga são disso exemplo.

Caso as ofertas de preço a ser pago sejam próximas do custo do comparador

público, a reacção é a de que a gestão privada não consegue fazer melhor do

que a gestão pública. Caso a oferta de preço seja substancialmente inferior

ao valor do comparador público, a reacção é a de necessidade de fiscalizar a

acção da gestão privada já que não será possível que consiga gerir

adequadamente para o valor proposto (e ou terá falhas de desempenho ou

pedirá renegociações).

Ou seja, em lugar de uma visão de parceria para a obtenção de resultados

que correspondam a ganhos mútuos para o sector público e para o parceiro

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privado, predomina uma visão em que o importante será evitar que o sector

público seja “enganado” pelo parceiro privado.

Num processo de PPP é absolutamente crucial um adequado

acompanhamento do contrato elaborado, de o respeitar e fazer respeitar.

Porém, dado que o contrato conterá sempre aspectos de incompletude, há

uma componente de confiança e bom relacionamento fundamental para que

os processos de diferendo que irão surgir (de forma inevitável) sejam

resolvidos de forma a que todas as partes beneficiem do projecto de PPP.

Não é claro que exista, actualmente, esse clima de confiança mútua. Importa,

por isso, promovê-lo.

Recomendação nº 9: Importa desenvolver um ambiente de respeito mútuo

pelo contrato estabelecido e um ambiente de confiança para resolução de

diferendos que contratos de muito longo prazo inevitavelmente acarretam.

 

8. Avaliação de um contrato de parceria público – privado: o hospital de Cascais

O processo de avaliação do programa de PPP tem que ser feito com recurso

a várias dimensões, incluindo uma análise sistemática do contrato de

parceria e das suas propriedades em termos económicos. A discussão

dessas propriedades permite antecipar em que áreas será expectável um

bom desempenho das parcerias e em que áreas será mais provável o

aparecimento de dificuldades.

A análise do contrato é realizada em duas secções, sendo a primeira

dedicada à apresentação e discussão de uma bateria de questões, proposta

por Iossa, Spagnolo e Vellez (2007), em relatório para o Banco Mundial, que

procura contextualizar a parceria nas melhores práticas identificadas pela

literatura. A segunda procede à análise de aspectos contratuais

especialmente relevantes.

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8.1 Revisão sistemática, segundo bateria de questões

A avaliação da qualidade de uma PPP para a construção (e operação de

novos hospitais) quando só recentemente foram assinados dois contratos

tem que se basear unicamente nas propriedades esperadas dos contratos

elaborados, e não no desempenho efectivo da parceria (uma vez que não há

evidência gerada que possa ser utilizada para o efeito). A avaliação com

base em evidência de funcionamento que é possível ser feita actualmente diz

respeito ao Centro de Medicina Física e Reabilitação do Sul, analisada na

segunda parte do presente relatório.

Nessa linha de abordagem, procede-se nesta secção ao confronto das

características do contrato de gestão do hospital de Cascais (como exemplo

dos contratos de PPP) com a lista de verificação para análise das melhores

práticas em desenho de contratos de parceria público - privada proposta por

Iossa, Spagnolo e Vellez (2007) em relatório para o Banco Mundial. Essa lista

de verificação procura assegurar tanto quanto possível que há um bom

desenho contratual da PPP.22 Essa lista de verificação cobre diversas áreas:

transparência, afectação de riscos, mecanismo de pagamento, alterações e

revisões de preços, flexibilidade e renegociação contratuais, duração

contratual, e subcontratação.

São focadas uma por uma as questões de verificação, tendo o cuidado de

proceder à respectiva adaptação para o contexto de PPP para construção de

hospitais, já que a proposta inicial de Iossa, Spagnolo e Vellez (2007) não é

específica de um sector. Para facilitar a leitura e discussão, as questões são

apresentadas em itálico. Todas as referências a contrato devem ser lidas no

contexto do Contrato para o Hospital de Cascais.

Por Contrato designa-se o conjunto das cláusulas que abrangem a relação de

parceria público-privada entre o Ministério da Saúde (representado pela

Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo) e as Entidades

Gestoras do Edifício e do Estabelecimento.

                                                        22 Iossa, Elisabetta, Giancarlo Spagnolo e Mercedes Vellez, 2007, Best practices on contract design in PPPs: checklist, relatório preparado para o Banco Mundial.

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I. Transparência

1. O contrato final e toda a restante documentação estão disponíveis

publicamente, de forma voluntária e pró-activa?

2. Se parte da documentação contratual não se encontra publicamente

disponível, passou algum teste que avaliasse o grau de informação que fosse

verdadeiramente “comercialmente sensível”, ou um teste de que é do

interesse público manter essa informação confidencial, contra uma presunção

inicial de que não existe problema em divulgar a informação?

3. As especificações de produção, objectivos de desempenho e mecanismo

de pagamento (incluindo deduções e multas por falhas de desempenho) são

conhecidas publicamente?

4.O contrato exige que seja proactivamente divulgada informação sobre o

desempenho da parte privada contratada durante o desenvolvimento do

projecto?

5. O contrato exige que seja proactivamente divulgada informação sobre

motivações e avaliações de custos associadas com quaisquer alterações na

produção da parceria ou nos termos do contracto, antes de essas alterações

serem aprovadas?

6.O contrato exige que seja proactivamente divulgada a metodologia e os

resultados de todos os exercícios de “benchmarking” estipulados pelo

contrato?

7. A informação referida nas questões anteriores é disponibilizada de forma

electrónica na página de internet do projecto?

8.A informação referida nas questões anteriores é disponibilizada num

espaço de tempo curto e pré-determinado face à sua elaboração?

9.As exigências de divulgação são obrigatórias?

10.O contrato especifica as regras de divulgação de informação ao público?

A resposta a todas as questões do bloco de transparência pode ser dada em

conjunto, e resume-se a uma negativa. Existem cláusulas que estabelecem o

dever de ceder informação periódica, mas à Entidade Pública Contratante

(Cláusula 129 do contrato referente ao Hospital de Cascais). Não há qualquer

dever de informação à Sociedade em geral. Os sistemas de informação e de

monitorização encontram-se integralmente orientados para a relação

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contratual estabelecida, e não para uma transparência do projecto de

parceria público – privada.

Esta opção, legítima, terá o custo de deixar à especulação de natureza

política e/ou ideológica a discussão da forma como a parceria público-privada

evolui. Em particular, não havendo uma obrigação de divulgação de

informação à sociedade em geral, e de uma forma que fosse auditável,

qualquer informação favorável que venha a ser voluntariamente

disponibilizada enfrentará muito provavelmente cepticismo e acusações de

manipulação da informação.

Recomendação nº 10: Instituir um sistema de fornecimento de informação à

sociedade sobre os resultados que vão sendo obtidos no contexto das

parcerias público-privadas.

Haverá ao longo do tempo uma provável procura de informação sobre o

andamento e os resultados das parcerias público – privadas. É preferível

antecipar essa necessidade de informação, estabelecendo desde já quando,

que informação e em que condições será fornecida.

Recomendação nº 11: Sugerir que os inquéritos de satisfação de utentes

sejam realizados por uma entidade independente, ou sendo realizados

directamente pelo parceiro privado sejam auditados por uma entidade

independente.

Não se coloca aqui em questão a honestidade ou a competência técnica do

parceiro privado na condução dos inquéritos de satisfação dos utentes.

Inclusivamente, estes inquéritos poderão ser um valioso instrumento de

conhecimento e de base para a acção para o parceiro privado.

Contudo, o escrutínio público e político a que as PPP estão, e vão estar,

inevitavelmente submetidas sugere uma abordagem de fornecimento de

informação credível e regular.

O segundo bloco de questões refere-se aos aspectos de partilha de risco.

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II. Partilha de risco

11. Os principais riscos do projecto estão identificados?

12. O contrato transfere para a parte privada os riscos que esta pode

controlar?

13. O sector público retém os riscos que a parte privada não consegue

controlar?

14. Os riscos estão distribuídos de forma a dar os incentivos apropriados ao

sector privado?

Face ao Contrato assinado, as respostas a estas questões são positivas.

III. Mecanismo de pagamento

15.Os padrões de serviço exigidos estão baseados em especificações de

produção?

A resposta é afirmativa, desde que se dê seguimento adequado à Cláusula

61ª 10b) do contrato.

16.São todos os padrões de serviço especificados facilmente monitorizáveis

e verificáveis?

A resposta é afirmativa, desde que se dê de facto seguimento ao que se

encontra especificado contratualmente. O aspecto de “facilidade de cálculo”

não será evidente em todos os casos de indicadores a usar, mas o Anexo VI

procura ser bastante exaustivo neste campo, detalhando o entendimento que

deve ser dado a cada indicador e à sua forma de cálculo.

17.Se a resposta à questão anterior for negativa, existem outras medidas

objectivas de desempenho que sejam especificadas?

Apesar de a resposta ter sido afirmativa à questão 16, há também

especificação de medidas de desempenho adicionais, contidas na Cláusula

13ª.

18.São usados inquéritos de satisfação dos utentes do hospital para

monitorizar o desempenho da entidade privada?

A resposta é afirmativa, e encontra-se detalhado o processo no Anexo VII do

contrato.

19.Se a resposta à pergunta 18 é positiva, os inquéritos de satisfação dos

utentes são realizados por uma entidade independente?

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A este respeito, não há nada no contrato a que isso obrigue. É unicamente

especificado que terá de ser usada a mesma metodologia do Ministério da

Saúde (consistindo actualmente num sistema cientificamente validado). A

prática de utilização de entidades independentes para a realização dos

inquéritos de satisfação aos utentes criará uma maior credibilidade pública

face aos resultados apurados, como instrumento de aferição do

funcionamento da parceria público – privada.

20.O Contrato tem uma ligação consistente entre especificações de

produção, partilha de risco e incentivos, por um lado, e sistema de

pagamento, por outro lado?

21.É o sistema de pagamento consistente com a partilha de riscos entre as

partes pública e privada, e logo com os incentivos dados ao parceiro privado?

A resposta é afirmativa a ambas as questões, havendo a preocupação de

estabelecer um mecanismo de pagamento que incentiva à obtenção da

produção contratada. O mecanismo de pagamento faz com que um baixo

nível de actividade se traduza em perdas substanciais de receitas para o

hospital e um nível de actividade muito elevado seja acompanhado de

maiores custos sem receitas adicionais a partir de um patamar de 110% da

produção contratada (nos casos de internamento e cirurgia de ambulatório).

22.É o pagamento devido à parte privada condicional à prestação de serviço?

23.O contrato especifica uma data de início de prestação de serviço, a partir

do qual o primeiro pagamento é feito?

A resposta é positiva a ambas as questões, sendo estes aspectos regulados

pela Secção IV do Contrato. A data de início de funcionamento do novo

hospital encontra-se claramente identificada, bem como as suas implicações

em termos de preços a serem praticados para pagamento aos hospitais.

24.O sector público impõe protecções contratuais suficientes contra atrasos

no início da prestação de serviço, tais como deduções e compensações?

A resposta é afirmativa. Existem diversas cláusulas contratuais que

penalizam o atraso de entrada em operação do novo hospital. Encontram-se

devidamente estabelecidas as condições de penalização de atrasos.

25.Se o mecanismo de pagamento for baseado em pagamentos pelos

utentes, os níveis de preços adoptados asseguram a capacidade de

financiamento do projecto?

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Esta não é uma questão aplicável aos contratos de parceria público-privada

para a construção e operação de hospitais em Portugal. Não há diferença

para o cidadão utente do Serviço Nacional de Saúde entre um hospital em

regime de parceria público-privada e os restantes hospitais do Serviço

Nacional de Saúde. Os pagamentos directos são os mesmos, e destinam-se

a disciplinar a utilização dos serviços hospitalares e não a assegurar o seu

financiamento. O mecanismo de financiamento assenta em pagamentos

directos do Serviço Nacional de Saúde ao hospital, como fonte fundamental

de receita deste último. Receitas adicionais decorrentes de pagamentos por

parte dos subsistemas de saúde ou de planos de seguro vendidos

comercialmente também terão alguma expressão, mas não implicam

pagamentos significativos dos utentes no momento de consumo de cuidados

de saúde.

26.O nível de taxas praticado desencoraja a procura, particularmente se

existe um serviço alternativo sem custos?

Tal como a questão anterior, esta não é uma questão aplicável às PPP para

a construção de novos hospitais, já que as taxas a serem pagas pelos

utentes não têm como objectivo primordial assegurar a saúde financeira do

projecto de parceria. Pretende-se mesmo que o seu papel seja unicamente

de controlo de procura desnecessária, na medida em que na ausência de

qualquer custo no momento de consumo se poderia assistir a uma utilização

excessiva dos cuidados de saúde por parte da população.

27.Existem cláusulas que combinam taxas pagas pelos utentes com qualquer

forma de subvenção do sector público?

Como foi referido a propósito das duas perguntas imediatamente anteriores,

o financiamento é assegurado pelo Contrato estabelecido, que determina os

valores e modos de pagamento ao hospital, de acordo com a actividade

efectivamente desenvolvida.

28.As subvenções pagas pelo sector público dependem do desempenho do

sector privado, sendo, por exemplo, baseadas no número de utilizadores?

A resposta é afirmativa, na medida em que há uma produção contratada, e o

pagamento é diferente consoante a produção efectiva que venha a ser

alcançada face ao valor contratado, como será diferente de ano para ano

consoante o valor de produção contratada que venha a ser definido.

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29.Pode o parceiro privado ter fontes secundárias de rendimento?

A resposta é afirmativa, sendo a autorização e a partilha de resultados

referente a essas fontes secundárias de rendimento reguladas pelas

Cláusulas 17ª e 49ª. Segundo esta última cláusula, as receitas de serviços

adicionais são repartidas mediante acordo a estabelecer entre as partes

pública e privada da parceria.

Não existe qualquer disposição que tenha uma solução de recurso caso haja

desacordo entre as partes para a partilha das receitas referentes a fontes

secundárias de rendimento (decorrentes de actividades não clínicas e

provavelmente subcontratadas a terceiros). Sendo admitido que não será a

parte pública a desenvolver essas actividades, o mecanismo contratual em

que o parceiro privado propõe uma repartição dos ganhos dessas actividades

e o parceiro público aceita ou rejeita (dá, ou não dá, autorização) tenderá a

estabelecer um acordo de modo relativamente rápido e de partilha

tendencialmente equitativa, se as partes encararem o processo como

envolvendo propostas e contrapropostas.

Não estando estabelecido à partida o modelo pelo qual se tentará chegar a

uma forma de repartição destas receitas de fontes secundárias de

rendimento, caberá à prática que for seguida estabelecer os respectivos

limites.

30.Se as receitas obtidas pelo sector privado excederem o valor esperado,

existem mecanismos que limitem os lucros do sector privado, como a partilha

de receitas acima de um determinado patamar?

A resposta é negativa. Uma vez que a principal fonte de financiamento do

parceiro privado é o volume de transferências que o sector público realiza, a

questão não se coloca. Veja-se a pergunta 29 sobre a partilha de receitas de

fontes secundárias de rendimento. Não há, pois, limite superior. Há apenas a

preocupação com uma eventual menor capacidade de cobrar a Terceiros

Pagadores se o hospital prestar serviços fora do âmbito do Serviço Público

de Saúde, desde que os indicadores de desempenho não sejam afectados.

Não há qualquer intervenção prevista contratualmente.

De um ponto de vista comunicacional, qualquer resultado de uma parceria

público-privada será inevitavelmente questionada pelos seus opositores.

Sempre que o resultado financeiro do parceiro privado for nulo, será

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facilmente argumentado que a gestão privada não é capaz de obter bom

desempenho e não traz vantagem face à gestão pública. O facto do

argumento poder ser tecnicamente errado, e conduzir potencialmente a

interpretações igualmente erradas, não impede que venha a ser utilizado.

O ponto de comparação correcto, no confronto com a alternativa de uma

gestão pública, não é o hospital ter um resultado financeiro positivo ou

negativo, e sim ser mais ou menos favorável para o Serviço Nacional de

Saúde do que uma gestão pública. Daqui se retira a importância das

cláusulas existentes sobre uma avaliação comparada de desempenho.

Por outro lado, se o resultado financeiro para o parceiro privado for positivo,

os opositores do regime de PPP argumentarão estar-se a pagar demasiado e

fazer-se da saúde um negocio. Uma vez mais essa perspectiva é errada, já

que não se pode, à partida, excluir que uma melhor organização e uma

melhor gestão levem a melhores prestações de cuidados de saúde, menores

gastos para o Serviço Nacional de Saúde, menores custos de operação e

melhor resultado financeiro para o hospital.

Note-se que se houver um mecanismo pelo qual os ganhos de eficiência,

para um determinado padrão de desempenho devidamente monitorizado pelo

sector público, são absorvidos na sua (quase) totalidade pelo parceiro

público, o parceiro privado não atribuirá qualquer vantagem a conseguir obter

esses ganhos de eficiência.

31.Se o mecanismo de pagamento é baseado na utilização, é a definição de

utilização do serviço mensurável e observável?

A resposta é afirmativa, uma vez que o mecanismo de pagamento se baseia

em doentes tratados e na sua complexidade. No entanto, não é o utilizador (o

doente) que paga no momento em que recorre ao hospital. As transferências,

embora baseadas na produção realizada, são feitas pelo parceiro público.

32.É o pagamento por utilização limitado superiormente para elevados níveis

de utilização?

A resposta é afirmativa. Em determinados pagamentos, mas não todos, a

sensibilidade à produção passa a ser zero a partir de determinado limiar

(110% da produção contratada), sendo já o pagamento por caso menor do

que inicialmente no domínio entre 90% e 110% da produção contratada. Este

aspecto é válido para as produções de internamento e de cirurgia de

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ambulatório. A passagem para o novo edifício origina uma redução dos

preços de transferência unitários, levando desde logo a uma transferência

dos ganhos (esperados) de uma maior eficiência na utilização do novo

edifício. Veja-se a secção V do Contrato.

33.O mecanismo de pagamento inclui bónus e deduções de acordo com a

disponibilidade do serviço e/ou objectivos de desempenho?

A resposta é afirmativa. Veja-se Cláusula 53 e Anexo V.

34.As deduções variam de acordo com a gravidade da falha de desempenho

ou de disponibilidade?

A resposta é afirmativa. Veja-se Cláusula 53 e Anexo V.

35.O Contrato inclui períodos de rectificação de falhas dando datas limite

claras ao sector privado para solucionar falhas e evitar penalizações

adicionais?

A resposta é afirmativa. Vejam-se as disposições contidas no Anexo VII.

36.Os pagamentos de penalizações têm mecanismos de reforço em que as

penalizações aumentam com a duração e frequência das falhas?

A resposta é negativa. Se houver mais falhas nos indicadores de

desempenho há mais penalizações aplicadas, mas o valor de penalização

não depende positivamente do historial de falhas.

IV. Variações de preços

37. O Contrato inclui disposições que levem as tarifas ou pagamentos de

utilização a variar de acordo com a evolução dos custos que são

independentes do desempenho da parte privada?

Uma vez que o financiamento não é assegurado pelos pagamentos dos

utentes, o aspecto relevante é saber se as transferências realizadas pela

parte pública têm mecanismos de actualização de valores que são

independentes do desempenho. A resposta é afirmativa, conforme descrito

nas respostas às questões seguintes. Os valores pagos pelos utentes, taxas

moderadoras, são actualizados de acordo com normais gerais e comuns

aplicáveis a todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde. Não há uma

actualização explícita para taxas moderadoras de hospitais em regime de

parceria público-privada.

38. O Contrato inclui cláusulas de indexação?

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A resposta é afirmativa, encontrando-se a indexação descrita na Cláusula 44ª

e no Anexo V.

39. O Contrato especifica o índice de preços a ser aplicado? 

O Anexo V, no seu ponto 4.2, determina que a revisão de preços tem em

conta o Índice de Preços ao Consumidor, sem habitação. É prevista uma

correcção de preços adicional, que no Contrato do Hospital de Cascais é

colocada a zero para todas as áreas de actividade e anos.

A utilização do Índice de Preços ao Consumidor deve ser aqui tomada com

cautela, uma vez que esse índice não reflecte a evolução subjacente dos

custos de produção, por um lado, e a estrutura (composição) dos custos de

produção de um hospital não corresponde a uma tipificação média do padrão

de consumo nacional. Em particular, o peso das despesas com pessoal tende

a ser mais elevada nos hospitais do que na generalidade das empresas. A

actividade exercida pelo hospital assenta numa intensa utilização de capital

humano. Embora improváveis, não se podem excluir evoluções de preços

que sendo completamente exógenas coloquem em dificuldades a gestão do

estabelecimento. Pode tomar-se como exemplo disso o que seria o impacto

da tenaz associada com um aumento de vencimentos na ordem dos 2,9%

(que teria de ser seguida de forma próxima no hospital em parceria público-

privada sob pena de perder recursos humanos) com uma inflação negativa

(decréscimo no nível geral de preços ao consumidor), que acarretaria, caso

se verificasse em média anual, uma revisão em baixa dos preços.

Teria sido preferível a utilização de um índice de referência que incluísse de

uma forma explícita a evolução dos custos salariais. Ainda assim, não se

cometeu o erro de utilizar o Índice de Preços ao Consumidor referente ao

sector da saúde (já que este é determinado em grande medida pelas

decisões do Serviço Nacional de Saúde quanto aos pagamentos realizados

pelos cidadãos).

40.A indexação aplica-se à parte das tarifas ou dos pagamentos por

utilização que correspondem à proporção dos custos variáveis nos custos

totais da parte privada?

A indexação aplica-se aos valores da transferência a realizar pela parte

pública, não havendo a distinção de aplicação apenas à componente de

custos variáveis da actividade desenvolvida.

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71

41.O Contrato especifica a frequência da indexação de tarifas ou pagamentos

por utilização?

A resposta é afirmativa, encontrando-se os mecanismos que regem a

indexação descritos no Anexo V.

42.O Contrato exige e detalha os procedimentos de comparação com outros

produtores de serviços similares?

A resposta é afirmativa. Há a definição de grupo de hospitais com os quais o

hospital em parceria público-privada deverá ser comparado. É descrito em

detalhe a forma de construção do grupo de comparação, por forma a evitar

que haja selecção ex-post nesse grupo. A Cláusula 43ª apresenta essa

definição.

43.É o mercado suficientemente concorrencial para se aplicarem

procedimentos de teste de mercado?

O mercado em causa, prestação de cuidados hospitalares, não é

concorrencial. Para alguns hospitais e especialidades é razoável admitir-se

que não existe alternativa, pelo que não existe mercado. Adicionalmente,

mesmo que quando conceptualmente existem alternativas, a existência de

áreas de influência, determinadas por uma rede de referenciação

estabelecida pelo Serviço Nacional de Saúde, limita a liberdade de escolha

de hospital por parte do utente, pelo que por este motivo também se conclui

pela ausência de um mercado que pudesse ser usado como base para

avaliações de desempenho. Pode-se, por isso, concluir que a resposta é

negativa. Ou seja, o mercado de serviços de saúde prestados por hospitais

não é suficientemente concorrencial para que o conceito de teste de mercado

possa ser aplicado de forma generalizada.

44.O Contrato especifica a frequência dos testes de mercado ou dos

procedimentos de comparação?

A resposta é afirmativa, sendo a frequência dos procedimentos de

comparação anual. São especificados no Contrato os indicadores de

desempenho a serem incluídos na comparação. Não há testes de mercado,

pelas razões apresentadas na questão 43.

V. Flexibilidade e Renegociação

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45.São todas as alterações antecipáveis na prestação do serviço pré-

especificadas no contrato, de modo a que possam ser valorizadas nas

propostas para prestação do serviço?

A resposta é negativa.

46.O Contrato inclui Cláusulas que permitam ao sector público requerer

outras pequenas alterações prováveis que não podem ser especificadas ex-

ante de forma exacta, e como tal não podem ser adequadamente

consideradas no estabelecimento do preço no momento da atribuição

competitiva da parceria público-privada?

A resposta é afirmativa. A Cláusula 125ª prevê que se as pequenas

alterações cumulativamente afectarem de forma significativa (e que se

encontra devidamente quantificada) o equilíbrio financeiro da parte privada,

há revisão das condições contratuais de pagamento.

47.Se sim, o Contrato especifica exactamente como o sector privado é

compensado pelos custos adicionais que resultam dessas pequenas

alterações, bem como a forma de realização desses cálculos

compensatórios?

A resposta é afirmativa.

48.Em particular, a existência de uma compensação sob a forma de

reembolso de custos é baseada em exercício de comparação (ou de testes

de mercado) antes de as alterações serem aprovadas e aplicadas?

A resposta é afirmativa.

49.Existe uma terceira parte (por exemplo, painel de peritos) envolvida na

aprovação de reembolso de custos antes de as alterações serem aplicadas?

A resposta é negativa.

50.No caso de existirem alterações significativas e completamente não

antecipadas, o Contrato especifica de forma precisa um protocolo

transparente, através do qual as alterações propostas são pedidas,

avaliadas, aprovadas e aplicadas?

A resposta é negativa.

51.As terceiras partes independentes são envolvidas nesse protocolo de

alteração e em particular na fase de aprovação?

A resposta é negativa.

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73

52.O protocolo de mudança exige e detalha exercícios de comparação (ou de

testes de mercado) antes dessas grandes alterações não antecipadas serem

aprovadas e aplicadas?

A resposta é negativa.

53.O Contrato especifica um período de carência no início do contrato

durante o qual não podem ocorrer mudanças exigidas por qualquer das

partes?

A resposta é negativa.

54.É este período de carência proporcional ao período da fase de construção

do projecto.

A resposta é negativa.

55.É este período de carência de maior duração para alterações de contrato

pedidas pelo sector privado do que para alterações de contrato pedidas pelo

sector público?

A resposta é negativa.

56.O Contrato especifica taxas que tenham de acompanhar o pedido do

sector privado para alterações contratuais e que sejam retidas pelo sector

público caso a alteração pedida seja rejeitada?

A resposta é negativa.

Os aspectos associados com a renegociação contratual aparentam ter sido

descurados na elaboração do Contrato, embora toda a experiência

internacional e nacional aponte para a inevitabilidade de virem a ocorrer

situações de diferendo e de necessidade de renegociação. A importância dos

aspectos de renegociação no contexto das parcerias público-privadas foi

discutida no capítulo 5.

VI. Duração do contrato

57.O Contrato especifica a sua duração?

A resposta é afirmativa. O Contrato especifica, na Cláusula 8ª, 10 anos de

duração para a gestão clínica, contados a partir da data de transição

(passagem para o novo edifício) e 30 anos para a gestão do edifício,

contados a partir da data de início do Contrato.

58.A duração do Contrato e o perfil de pagamento asseguram a capacidade

de financiamento privado do projecto?

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A resposta é afirmativa. O financiamento encontra-se garantido pela Cláusula

7ª.

59.A duração do Contrato encoraja a realização de investimento não

contratável?

Os 30 anos de duração contratual para a componente do edifício

correspondem à prática habitual neste tipo de projectos de parceria público-

privada, e nesse sentido o Contrato fornece incentivos aos investimentos não

contratáveis por parte da Entidade Gestora do Edifício.

Relativamente à duração do contrato com a Entidade Gestora do

Estabelecimento, importa avaliar a natureza e magnitude dos investimentos

não contratáveis.

É razoável pressupor que estes terão um significado ainda maior na

actividade clínica, por um lado. Por outro lado, a duração ou rigidez desses

investimentos não contratáveis é certamente menor do que no caso dos

equipamentos e do edifício. Adicionalmente, apesar de o Contrato ter apenas

uma duração de 10 anos, as disposições contratuais apontam para que a

evolução natural seja a renovação contratual e não o lançamento obrigatório

de um concurso para a exploração clínica do hospital cada dez anos. Daqui

resulta uma apreciação de que o horizonte temporal do contrato se encontra

adequado à necessidade de dar tempo suficiente para que a Entidade

Gestora do Estabelecimento realize e obtenha o retorno adequado aos

investimentos não contratáveis que realizar.

60.A duração do Contrato inclui períodos de revisão (possibilidades

recorrentes de terminar ou renovar o contrato com o operador inicial) para

serem usados como recompensa em espécie para o bom desempenho da

parte privada?

A resposta é negativa, excepto se se interpretar a quase renovação

automática do Contrato relativo à Entidade Gestora do Estabelecimento como

estando associada a uma ideia implícita de avaliação de cada década de

contrato. Note-se, contudo, que não há a especificação de critérios que

tenham de ser cumpridos e que originassem automaticamente uma decisão

de renovação ou de não renovação.

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75

A abertura deixada para uma decisão sobre a oportunidade de renovação, ou

não, corresponde a um valor de opção que no caso da exploração clínica do

hospital se justifica manter.

Há, naturalmente, um ganho de informação importante durante o período de

duração do Contrato que importa usar. Não sendo completamente

antecipável hoje quais são as dimensões relevantes que dessa informação

que se irá ganhando, tornam-se claras as dificuldades que existiriam na

definição de eventuais critérios que levassem a uma renovação automática

do Contrato caso viessem a estar preenchidas. Além disso, não é óbvia qual

a vantagem de preço do Contrato que resultaria da inclusão de critérios de

renovação automática.

61.É a renovação do Contrato condicional em se alcançarem alcançar

determinados tipos de desempenho pré-especificados?

A resposta é negativa, uma vez que não há um processo automático de

renovação para a componente de exploração da actividade clínica, a de

menor duração. Também não existe a possibilidade de renovação automática

para a componente infra-estrutural da parceria.

62.A duração do Contrato permite que o parceiro privado consiga aproveitar

economias de escala?

A resposta é positiva. A duração do contrato é de 30 anos para gestão da

infra-estrutura (edifício) e de 10 anos para a gestão clínica. Estas durações

permitem um planeamento da actividade a desenvolver que aproveite as

economias de escala que existam.

63.Se o projecto envolve a provisão de serviços infra-estruturais e de

serviços de apoio (“soft services”) por parte do sector privado, têm esses

serviços duração diferente (curta a referente aos últimos serviços, longa no

casos dos primeiros factores)?

A resposta é positiva. Os serviços de apoio (“soft services”) estão junto da

exploração clínica. Ainda assim, poderá questionar-se se 10 anos não será

um período demasiado longo para os contratos de serviços de apoio. No

contexto de uma parceria que abrange dois contratos, a contratação directa

dos serviços de apoio por parte do sector público criaria uma complexidade

contratual adicional e uma necessidade de articulação entre entidades que

muito provavelmente geraria mais custos do que os efeitos positivos que lhe

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pudessem estar associados. Acresce que a Entidade Gestora do

Estabelecimento poderá usar contratos mais curtos em subcontratação para

prestação desses serviços de apoio, caso as vantagens de incentivos desses

prazos mais curtos sejam importantes.

VII. Outras questões contratuais

64.O Contrato inclui um mecanismo de resolução de conflitos?

A resposta é afirmativa, encontrando-se o mecanismo de resolução de

conflitos a utilizar especificado na Cláusula 134ª e detalhado nas Cláusulas

subsequentes.

65.Se sim, os procedimentos envolvem diferentes fases na resolução de

conflitos?

A resolução dos conflitos que venham a existir será em primeiro lugar tentada

por mediação (Cláusula 134ª do Contrato) e em segundo lugar por arbitragem

(Cláusulas 135ª e 136ª do Contrato).

66. O mecanismo de resolução de conflitos inclui a nomeação de peritos em

parcerias público-privadas como árbitros?

Não é forçoso que tal venha a suceder, não se excluindo contudo essa

possibilidade. Será desejável que a resolução de conflitos envolva pelo

menos um especialista em parcerias público privadas.

67. Existem limites temporais claros para que os árbitros em processo de

parceria público-privada tomem decisões e apresentem uma proposta de

resolução de conflitos?

A resposta é afirmativa. Existe um limite temporal máximo de 12 meses (6

meses para a decisão, prorrogáveis por outros 6 meses). Contudo, não se

encontra especificado o que sucede caso os árbitros não cheguem a uma

decisão dentro do limite temporal previsto.

68. São aplicadas obrigatoriamente as decisões tomadas por peritos ou

árbitros?

A resposta é afirmativa.

69. O Contrato tem cláusulas que permitem ao sector público resgatar o

contrato?

A resposta é afirmativa, estando essa possibilidade especificada na Cláusula

116ª.

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70. O Contrato especifica em que circunstâncias o sector público pode

realizar o resgate da concessão?

A resposta é afirmativa, sendo novamente a Cláusula 116ª.

71. O Contrato especifica que parte deve suportar os custos resultantes das

acções de resgate determinadas pelo sector público?

A resposta é afirmativa, veja-se novamente relevante a Cláusula 116ª.

72. O contrato inclui cláusulas que permitem que os credores possam aderir

ao projecto de recuperação?

A resposta é negativa.

73. O Contrato especifica as circunstâncias em que os credores podem

intervir?

A resposta é negativa

74. O Contrato inclui cláusulas quer permitem terminar mais cedo a relação

económica entre as partes?

A resposta é afirmativa, sendo que as Cláusulas 118ª e 119ª estabelecem a

possibilidade de terminar três anos mais cedo o contrato com a Entidade

Gestora do Estabelecimento e dez anos mais cedo o contrato com a Entidade

Gestora do Edifício, sendo invocado o interesse público na resolução

antecipada do contrato.

75. O Contrato especifica as circunstâncias nas quais o sector privado tem o

poder de terminar o contrato antes que este expire devido a dificuldades do

sector público?

A resposta é afirmativa (Cláusula 121ª).

76. O Contrato especifica as circunstâncias nas quais o sector privado tem o

poder de terminar o contrato antes que este expire devido a dificuldades do

sector privado?

A resposta é afirmativa (Cláusula 120ª).

77. O Contrato especifica as circunstâncias nas quais a parte pública de uma

parceria tem o direito de voluntariamente terminar o Contrato?

A resposta é afirmativa (Cláusula 119ª).

78. O Contrato especifica a compensação a ser atribuída ao sector privado

em caso de resgate do contrato de parceria público – privada?

A resposta é afirmativa.

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78

79. O Contrato inclui a possibilidade de fim antecipado devido a eventos de

força maior?

A resposta é afirmativa (Cláusula 124ª).

80. O Contrato especifica o que são eventos de força maior?

A resposta é afirmativa (Cláusula 124ª).

81. O Contrato considera a existência de fraude e corrupção como motivos

para fim antecipado?

A resposta é negativa.

VIII. Subcontratação

82. O Contrato impõe alguma restrição sobre subcontratados pela parte

privada por forma a evitar conflitos de interesse?

A resposta é afirmativa (Cláusula 16ª).

83. O Contrato dá à entidade pública o direito de aprovar a substituição de

subcontratados?

A resposta é afirmativa quanto à subcontratação para a prestação de

serviços clínicos.

84. O Contrato impõe compensações a serem pagas por subcontratados com

fraco desempenho?

A resposta é negativa. A responsabilidade do desempenho de entidades

subcontratadas fica com as Entidades Gestoras do Estabelecimento e do

Edifício.

85. O Contrato especifica que o emprego de subcontratados termina sempre

que a relação contratual entre a parte pública e a parte privada terminar?

A resposta é afirmativa. A Cláusula 16ª prevê o que sucede nesses casos.

Para além das questões propostas por Iossa, Spagnolo e Vellez (2007),

importa no caso de parcerias público-privadas para a construção de hospitais

considerar três outras questões, da nossa autoria, num bloco dedicado à

inserção do hospital em parceria público-privada no SNS.

IX. Articulação com o sistema de saúde

86. O Contrato apresenta cláusulas que regem a articulação do hospital em

parceria público-privada com os cuidados de saúde primários?

A resposta é afirmativa.

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87. O Contrato apresenta cláusulas que regem a articulação do hospital em

parceria público-privada com a rede de cuidados continuados?

A resposta é afirmativa.

88. O Contrato apresenta cláusulas que regem a articulação do hospital em

parceria público-privada com outros hospitais do Serviço Nacional de Saúde?

A resposta é afirmativa.

De uma forma global, há uma avaliação positiva quanto às características

genéricas da partilha de riscos, do mecanismo de pagamento, da duração do

contrato e da orientação para os resultados obtidos (e não para um controle

exaustivo dos recursos usados e da forma de organização interna da

participação privada da parceria).

Contudo, a característica de especificar e antecipar na medida do possível as

situações de renegociação não se encontra adequadamente tratada. Este

aspecto foi analisado em maior detalhe na secção 5 da presente parte do

relatório.

8.2. Análise sumária de um contrato: aspectos a salientar

Na presente secção, procede-se a uma análise de características do contrato

referente ao Hospital de Cascais. Focam-se aspectos que não foram

cobertos pela bateria de questões tratada na secção anterior. Nalguns casos,

constituem um aprofundar de preocupações levantadas por essas questões.

Os aspectos que foram tomados como positivos, e que são em número

apreciável, na anterior secção não serão retomados na discussão da

presente secção.

8.2.1. Actualização tecnológica Os aspectos de “actualização tecnológica” são remetidos para uma noção de

“condições de operacionalidade adequada”, não sendo contudo esclarecidos

quais os critérios a que devem satisfazer essas condições.

Determina-se na Cláusula 10.ª que os equipamentos devem estar em

condições de “actualização tecnológica” tendo em atenção a sua vida útil.

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A actualização tecnológica é um dos aspectos de maior importância para um

bom desenvolvimento de uma parceria público – privada, dado o potencial de

diferendo que se lhe encontra associada.

No contexto da actualização tecnológica importa distinguir dois tipos de

inovações que podem ser adoptadas: as que contribuem para melhor ou igual

desempenho a menores custos e as que introduzem maiores custos para se

obter melhor desempenho.

No caso do primeiro tipo de actualização tecnológica, a gestão do hospital

defronta os incentivos correctos para a sua introdução: sendo o pagamento

feito de acordo com a produção realizada, e não de acordo com a tecnologia

ou os recursos utilizados, toda a poupança de custos que seja passível de

ser introduzida através da actualização tecnológica será em benefício da

gestão do hospital (da mesma forma que os custos acrescidos de eventuais

más decisões são suportados pela gestão do hospital e não são reflectidos

nos pagamentos feitos pelo sector público).

Mais problemática é a actualização tecnológica que implique um acréscimo

de custos, já que tal criará um diferendo sobre o (eventual) pagamento

adicional associado com a inclusão dessa tecnologia no hospital.

Em particular, o termo “condições de operacionalidade adequada” permite um

amplo leque de interpretações possíveis.

Por parte do sector público, poderá vir a ser interpretado como melhor prática

possível, independentemente do seu custo, se for entendido que manter essa

“operacionalidade adequada” não obriga a rever o sistema de pagamento.

Em contraste, por parte do sector privado, a provável interpretação será de

melhor prática possível dentro da restrição de não implicar um aumento dos

custos de operação.

Um equilíbrio terá de ser gerado entre estas duas visões, na medida em que

de um ponto de vista de bem-estar social ambas encerram um desvio. No

primeiro caso, consideram-se unicamente os benefícios, no segundo caso

tem-se apenas em conta os custos associados. O ponto de vista de bem-

estar social obriga a que se tenham em atenção quer os benefícios quer os

custos.

Os “Casos e Actos Específicos” referem actos de ocorrência rara, não dando

conteúdo preciso ao que significa, e de custo “de tal modo variável que

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implique a inexistência de uma base empírica consistente para a

determinação do respectivo preço justo”, deixando em aberto o conceito de

“variabilidade” do custo que no contexto se parece referir à incerteza na sua

estimativa. Para além disso, não há critério para definir o que é uma base

empírica consistente, ou o que é um “preço justo”.

A necessidade de investimentos futuros em equipamentos (genericamente

designados por Equipamentos e Sistemas Médicos no contrato de gestão)

encontra-se acautelada pela Cláusula 72.ª, que procura garantir a existência

de meios financeiros para a renovação de equipamentos, por parte da

Entidade Gestora do Estabelecimento. O fundo garante que em cada ano

existirão disponibilidades financeiras para as despesas do ano seguinte, e

esse fundo é construído de forma faseada ao longo de quatro anos,

obrigando a um planeamento de longo prazo de aquisição e renovação de

equipamentos.

A aquisição de nova tecnologia poderá ter uma comparticipação da Entidade

Pública Contratante desde que não sejam “equipamentos de substituição

pura” (restando definir o que se entende por estes) desde que haja vantagem

em termos de ganhos de saúde (pressupõe-se que seja os ganhos de saúde

excederem os custos de aquisição da nova tecnologia).

Há algum cuidado em evitar situações de comportamento oportunista mútuo,

de que é exemplo a Cláusula 92.ª 7) em que não se podem introduzir

alterações ao edifício pedidas pela Entidade Pública Contratante sem

determinar previamente os custos envolvidos e o modo de pagamento

desses custos. Há aqui uma preocupação mútua de não permitir que a

Entidade privada fique refém de pedidos de alteração pela Entidade Pública

Contratante, nem esta última ficar refém dos custos apresentados pela

entidade privada.

Apreciação: As cláusulas contratuais encontram-se orientadas

primordialmente para evitar que uma das partes fique vulnerável a

comportamento oportunista da outra parte em decisões futuras. Não houve a

preocupação de especificar de uma forma precisa os processos pelos quais o

contrato tem a flexibilidade suficiente para que haja a introdução, em

momento adequado, de novas tecnologias.

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8.2.2. Duração do contrato

Uma das características do contrato é a existência de um período de contrato

para a Entidade Gestora do Estabelecimento (gestão das actividades

clínicas) que é de 10 anos, contrastando com os 30 anos do contrato com a

Entidade Gestora do Edifício (construção e gestão da infra-estrutura).

Poderá haver um efeito de incentivo perto da data de finalização do contrato.

No caso da Entidade Gestora do Estabelecimento, o factor de expectativa de

renovação contratual é incentivador de esforços para um melhor

desempenho. Havendo, por seu lado, a certeza de não renovação contratual

no final do contrato para a gestão da infra-estrutura, o incentivo é para algum

desinvestimento. Os indicadores de desempenho terão de ser monitorizados

com maior cuidado no espaço de tempo perto do final do contrato (nos

últimos dois a três anos).

Apreciação: A duração contratual estabelecida está de acordo com a prática

internacional.

8.2.3. Actividades de prevenção

A Cláusula 27.ª inclui a possibilidade de serem realizadas actividades de

promoção ou prevenção da saúde, sendo definidas anualmente em termos

de âmbito e pagamento.

As actividades de promoção ou prevenção da saúde merecem, no contrato,

um tratamento especial. A opção de pagamento à parte destas actividades

tem também suporte nos incentivos presentes no regime escolhido de PPP

com pagamento de acordo com o desempenho.

À primeira vista, poderia parecer um pouco incoerente que sendo o princípio

geral o pagamento de acordo com o desempenho se adopte para as

actividades de prevenção e/ou promoção da saúde o pagamento de acordo

com os recursos usados. No entanto, do ponto de vista de incentivos é

necessário que assim seja, dado que o pagamento por actividade se baseia

no número de doentes tratados no hospital. Ou seja, o hospital tem um

objectivo de produção a alcançar, em termos de doentes que trata. As

actividades de prevenção e promoção da saúde se bem sucedidas em

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83

termos de mitigar problemas de falta de saúde na população reduzem a

actividade do hospital.

O custo de oportunidade económico para a gestão do hospital associado com

as actividades de prevenção e/ou promoção da saúde não é apenas o custo

dos recursos necessários para a sua concretização. Inclui também a receita

líquida perdida por se tratar menos um doente. Apenas quando o hospital tem

a certeza de ultrapassar os 110% da produção contratada (em termos de

internamento e cirurgia de ambulatório) será esse custo de oportunidade

favorável às actividades de prevenção e/ou promoção da saúde (dado que o

hospital a partir desse limiar deixa de ter receitas com o tratamento de mais

doentes e suporta os respectivos custos).

Assim, de um ponto de vista de bem-estar social, a gestão do hospital tem

um interesse em realizar poucas actividades de prevenção e/ou promoção da

saúde. Como o resultado dessas actividades é dificilmente mensurável, pois

não é fácil distinguir se houver menor recurso ao sistema de saúde devido às

actividades de prevenção ou devido a outros factores, é preciso identificar as

causas de eventos que não aconteceram porque foram evitados.

O financiamento directo dessas actividades surge, então, como uma forma de

contrabalançar esse incentivo implícito da gestão do hospital face uma

subprovisão de actividades de prevenção e/ou promoção da saúde.

Essa opção não é a única possível. Por exemplo, se o sistema de pagamento

for definido não em termos do número de doentes tratados (ou episódios

ocorridos) e sim com base num valor indicativo per capita de uma população

coberta, então a gestão do hospital já veria como resultado de evitar o

recurso ao hospital a poupança de custo do tratamento. No sistema de

pagamento por base capitacional, tratar mais ou menos doentes não se

traduz em maior ou menor pagamento por parte do sector público. Contudo,

esta solução corresponde a um regime de PPP distinto do adoptado para os

contratos até agora assinados.

Apreciação: É aceitável o tratamento dado às actividades de prevenção, no

contexto do sistema de pagamento globalmente definido para esta parceria.

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8.2.4. Transferência de doentes

Quando o hospital excede os limites da produção prevista, pode-se realizar

justificadamente a transferência para outras unidades do Serviço Nacional de

Saúde. A outra circunstância em que a transferência de doentes entre

unidades do SNS se encontra prevista é quando a patologia a tratar não

encontra resposta naquele tipo de hospital, exigindo um hospital mais

diferenciado.

Embora se perceba a preocupação implícita nesta disposição contratual, ela

não é clara quanto à forma como se devem gerir picos pontuais de procura.

Num determinado momento, o hospital pode ter necessidade de transferir

doentes para outra unidade do Serviço Nacional de Saúde porque

pontualmente a procura pelos seus serviços excedeu a oferta disponível.

Ora, isto pode suceder sem que no final do ano o valor acumulado de

produção exceda a produção contratada. A ocorrência de picos pontuais de

procura é um aspecto distinto de uma ultrapassagem sistemática de um valor

contratado anualmente.

A Cláusula 35.ª explicita a obrigação de aceitar utentes referenciados de

outras unidades do Serviço Nacional de Saúde em determinadas condições,

mas não esclarece o que deve suceder se a referenciação for mal feita.

Apreciação: O tratamento da decisão de referenciação de e para o hospital

objecto de parceria não é completo, deixando em aberto a possibilidade de

partilha de recursos face a uma procura de serviços de saúde prestados pelo

hospital que pontualmente exceda a capacidade de resposta do mesmo (e

em que condições pode ser feita). Por outro lado, não é claro o que deve ser

o resultado de referenciação inapropriada para o hospital por parte de outras

unidades do Serviço Nacional de Saúde.

8.2.5. Integração com os cuidados de saúde primários

A Cláusula 33.ª trata da integração com a rede de cuidados primários, mas só

contem generalidades, usualmente invocadas nestas circunstâncias. Como

não são geralmente cumpridas, significa que não se dá resolução ao

problema essencial que lhe está subjacente.

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85

Na relação entre o hospital e os cuidados de saúde primários existe uma

relação económica de referenciação, dado que a decisão do centro de saúde

de referenciar, ou tratar o doente, afecta a actividade do hospital.

Sendo os cuidados de saúde primários pagos por orçamento global ou por

capitação da lista de doentes (eventualmente ajustada para a composição

dessa mesma lista, de forma a ter em consideração os casos de tratamento

mais oneroso), têm estes um forte incentivo a referenciar para tratamento no

hospital casos em que poderiam realizar o tratamento ao nível dos cuidados

de saúde primários (com menor custo global para o sistema de saúde). O

hospital, por seu lado, tem interesse em que essa sobre-referenciação exista

sempre que for pago de acordo com o número de doentes tratados, a um

custo médio de acordo com a gravidade do conjunto dos doentes tratados.

Os doentes referenciados aumentam o volume de actividade e serão, em

média, os menos graves dos casos tratados pelo hospital. Relembre-se que

este aspecto da sobre-referenciação só pode existir sempre que haja uma

escolha entre tratar o doente nos cuidados de saúde primários ou tratá-lo no

hospital. Quando só o hospital tem a capacidade de tratar de forma eficaz o

doente, não se coloca o problema de haver ou não sobre-referenciação.

O problema de sobre-referenciação só é passível de ser resolvido de duas

formas: a) integração funcional entre a gestão dos cuidados de saúde

primários e a gestão do hospital; b) criação de um fluxo financeiro associado

à referenciação (que replica no essencial os efeitos de integração funcional

no que respeita aos incentivos para a referenciação).

A questão económica central é que ao tomar a decisão de referenciar, ou

não, o doente para tratamento hospitalar, o decisor ao nível dos cuidados de

saúde primários não tem em consideração que cria um custo ao sistema de

saúde dado pelo acréscimo de custo que está associado com o tratamento

desse doente no hospital. Como se está a considerar que o doente fica

igualmente bem tratado quer o seja nos cuidados de saúde primários ou no

hospital, os benefícios em termos de ganhos de saúde são os mesmos

qualquer que seja a decisão de referenciação.

A integração funcional faz com que a gestão dos cuidados de saúde

primários internalize o custo para o hospital da decisão de referenciação,

alinhando dessa forma a decisão individual com a decisão apropriada do

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ponto de vista do sistema de saúde. Na ausência dessa integração funcional,

a existência de uma verba paga por cada caso referenciado que pudesse ser

tratado ao nível dos cuidados de saúde primários é uma forma alternativa de

fazer reflectir nas decisões tomadas os custos económicos associados.

Recomendação nº 12: É importante, pois, que seja mais bem esclarecida a

forma de relacionamento entre o hospital e os prestadores de cuidados de

saúde primários (unidades de saúde familiar e centros de saúde tradicionais)

que para ele referenciam doentes. Importa, em particular, que os custos

económicos das diferentes opções sejam incorporados no processo de

decisão.

 

8.2.6. Integração com a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados

A Cláusula 34.ª trata da relação a jusante com a Rede Nacional de Cuidados

Continuados Integrados (RNCCI), sendo que atrasos associados com a

RNCCI da responsabilidade desta não penalizam o hospital, sendo

remunerado pelos dias extra de falta de resposta.

Alguns dos aspectos de coordenação entre cuidados de saúde primários e

hospital surgem também aqui, nomeadamente no que se refere à

referenciação.

O hospital, dependendo do valor de pagamento que recebe, poderá ter

incentivo em altas antecipadas ou em altas tardias/descoordenação com a

rede de cuidados continuados integrados.

Não se colocando aqui em questão uma integração funcional entre a gestão

privada do hospital e as unidades de cuidados continuados relevantes, resta

calibrar adequadamente o valor recebido pelo hospital quando há falta de

resposta da rede de cuidados continuados integrados. Deverá ser um valor

que cubra o custo na margem de manter esse doente, podendo ser usado

para o efeito o custo diário de uma cama na rede de cuidados continuados.

Esse pagamento idealmente deveria ser realizado pela unidade do Serviço

Nacional de Saúde (ou por quem por esta for contratado) que se encontra em

falta de resposta. A contagem do momento a partir do qual se considera

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87

haver falta de resposta da rede de cuidados continuados integrados também

deverá ser bem definida, para que não se gerem altas antecipadas com o

objectivo de induzir um pagamento por falta de resposta da rede de cuidados

continuados.

Recomendação nº 13: O momento, valor e entidade responsável no que

concerne o pagamento devido ao hospital por falta de resposta da Rede

Nacional de Cuidados Continuados Integrados deverão ser definidos de

forma precisa e de modo a evitar que surjam comportamentos de

aproveitamento do sistema.

 

8.2.7. Comparações

Estabelece-se, por via da Cláusula 43ª, um grupo de referência, que se

pretende usar para aferir o grau de desempenho da gestão do hospital.

A definição antecipada das regras de criação de um grupo de referência é

especialmente importante uma vez que garante a necessária isenção para a

comparação ter significado.

A criação do grupo de comparação garante também que a avaliação de

desempenho é feita de forma correcta – em relação a um grupo que

corresponde à evolução alternativa do hospital.

Para avaliar se uma gestão privada no regime de PPP teve um bom

desempenho, o ponto de comparação ideal seria a gestão pública alternativa.

Contudo, não se pode ter simultaneamente no mesmo hospital os dois tipos

de gestão, pública e privada. Assim, torna-se necessário encontrar um ponto

de comparação tão próximo quanto possível do que seria essa gestão pública

alternativa.

Para construção dessa alternativa, a melhor opção será utilizar a gestão

pública de unidades hospitalares que sejam comparáveis, em lugar de usar a

evolução da gestão privada em regime de parceria ao longo do tempo.

A utilização do grupo de comparação tem igualmente a característica de o

ponto de referência para avaliação de desempenho ser exterior e não

influenciável pela gestão cujo desempenho está a ser avaliado.

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Apreciação: A definição antecipada do grupo de comparação do hospital é

uma necessidade para a credibilização do processo de avaliação de

desempenho da parceria.

Recomendação nº 14: Importa garantir que a definição adoptada não venha a

definir um conjunto vazio, isto é, que nenhum hospital venha a cumprir os

critérios para ser incluído no grupo de comparação da parceria em saúde. Se

tal suceder, impossibilita, ou pelo menos dificulta, a avaliação pretendida uma

vez que se terá de renegociar que hospitais são utilizados como ponto de

comparação, podendo vir a existir divergências entre as partes sobre a

constituição à posteriori do grupo de comparação.

8.2.8. Mecanismo de pagamentos

O mecanismo de pagamentos definido no contrato tem várias propriedades

interessantes. A primeira, já discutida na secção anterior, é a de o pagamento

por episódio (de internamento e de cirurgia de ambulatório) ser decrescente

(em escalões) com o volume de produção realizado, tendo valor nulo

(ausência de qualquer pagamento) quando excede um determinado limite.

Este é claramente um mecanismo de pagamento pensado em termos dos

incentivos que produz. Um mecanismo de pagamento que procurasse seguir

a estrutura de custos teria preço unitário crescente na produção realizada

sempre que a actividade do hospital se encontrasse na zona de

deseconomias de escala (em que a um determinado aumento percentual da

actividade realizada corresponde um aumento mais do que proporcional dos

custos), além de que dificilmente seria justificado um preço marginal (para o

último escalão) nulo. A utilização de um mecanismo de pagamento que

procura criar o enquadramento adequado de incentivos para a gestão do

hospital está aqui a ser seguido. Corresponde ao que usualmente é

considerado ser uma boa prática.

Não é só no pagamento dos episódios de internamento e cirurgia de

ambulatório que o mecanismo de pagamento procura dar incentivos à gestão

do hospital. Também na especificação dos preços de primeira consultas e de

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consultas subsequentes se assiste a uma maior valorização das primeiras

consultas, com o objectivo de fomentar a realização de primeiras consultas,

um indicador normalmente usado para avaliar o acesso a cuidados de saúde

por parte da população. A utilização de preços diferentes para primeiras

consultas e para consultas subsequentes necessita de ser visto com algum

cuidado adicional.

Com pagamentos muito diferentes entre primeira consulta (83 €) e consulta

subsequente (60€) haverá tentação para realizar uma classificação maior em

primeiras consultas, mesmo que estas não o sejam de facto.

Apreciação: O objectivo de promover primeiras consultas (um habitual

indicador de acesso da população a cuidados de saúde) encontra-se

reflectido nos incentivos do sistema de pagamento ao hospital. Contudo, o

actual sistema aparenta ser vulnerável à utilização de critérios de

classificação de consultas.

Recomendação nº 15: Realização de auditorias aleatórias às primeiras

consultas declaradas pelo hospital.

Este não será um problema exclusivo do contrato de parceria em análise e

até para se poderem retirar ilações sobre o desempenho relativo da gestão

pública e da gestão privada da actividade clínica é desejável que a mesma

informação seja recolhida nos hospitais do grupo de comparação.

Há a imposição de claros ganhos de eficiência para o início de actividade do

novo edifício hospitalar. Este sistema de preços poderia criar um incentivo

para atrasar a entrada em actividade do novo edifício hospitalar, mas tal

encontra-se também previsto no contrato, sendo que o risco de atraso de

obras fica suportado pela parte privada, exceptuando-se naturalmente a

situação de o atraso se ficar a dever a intervenção da Entidade Pública

Contratante.

O sistema de pagamento envolve uma componente fixa, determinada desde

já em termos de preços correntes de cada ano, significando que a entidade

privada suporta o risco de inflação inerente, e uma componente variável de

ano para ano (mas ainda assim fixa durante o ano, ou seja, não varia com o

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nível de actividade efectivo desse ano (ver anexo VI). O sistema de

pagamento mantém 10% de parte para pagamento de deduções associadas

com o desempenho, caso venham a existir.

8.2.9. Receitas de outras actividades

A realização de actividades comerciais acessórias por terceiros que gerem

receitas devem ser partilhadas com a Entidade Pública Contratante, mas não

se encontra determinado o modo como essa repartição será feita.

Apreciação: É natural que as receitas de outras actividades sejam partilhadas

sendo que a regra de repartição seja determinada caso a caso, com base nas

características dessas actividades comerciais acessórias.

8.2.10. Gestão de Tesouraria

Os contratos com as entidades gestoras do edifício e do estabelecimento

estabelecem igualmente as condições de pagamento por parte da Entidade

Pública Contratante, procurando-se minimizar o risco de tesouraria, havendo

preocupação em evitar algum eventual “abuso” da Entidade Pública

Contratante quanto ao momento e volume de fundos a ser transferido.

Apreciação: Aceita-se que seja tratada em contrato a preocupação da parte

privada com o risco de tesouraria que poderia ser criado pelo ritmo de

pagamentos do Estado.

Recomendação nº 16: A Entidade Pública Contratante deverá respeitar

escrupulosamente as regras de pagamento, como forma de garantir a

reputação de parceiro fiável, aspecto fundamental para a criação e

sustentação de um ambiente de confiança na relação de parceria.

8.2.11. Prestação de Serviços

Um dos aspectos mais importantes a ter em consideração é a possibilidade

de contratação de actividades por outras entidades. Em concreto está

disposto (Cláusula 51.ª) que “os preços a praticar pela Entidade Gestora do

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Estabelecimento na prestação de quaisquer Serviços Clínicos, ou outros, a

favor de Entidades Relacionadas com a Entidade Gestora do

Estabelecimento, devem corresponder ao valor comercial corrente desses

mesmos serviços, não podendo ser inferiores aos custos médios suportados

pela sua prestação”.

Procura-se estabelecer aqui uma regra pela qual se evita que haja uma

transferência de excedentes entre entidades do mesmo grupo económico,

nomeadamente de subsídio com base na actividade desenvolvida no hospital

em regime de parceria. A noção de custos relevantes neste contexto deverá

ser o custo médio associado com a produção adicional que é preciso realizar

para satisfazer a procura externa, o que parece excluir que essa produção

adicional comparticipe no financiamento do custo fixo de produção.

O qualificativo “parece” é importante porque não se encontra um

esclarecimento cabal do que as partes entendem ser as implicações desta

cláusula. Um pequeno exemplo numérico ilustra a ambiguidade. Suponha-se

um hospital com uma estrutura de custos muito simples: tem um custo fixo de

1000 e um custo variável por unidade produzida de 1, qualquer que seja o

seu nível de actividade. A sua actividade contratada com o sector público

num regime de parceria público-privada que paga de acordo com a actividade

é de 1000, recebendo um pagamento de 2 por cada doente tratado. É fácil

constatar que para uma produção realizada de 1000, o pagamento acordado

cobre exactamente os custos do hospital. Suponhamos agora que se

considera a possibilidade deste hospital prestar serviços a uma outra

entidade, relacionada ou não, com a Entidade Gestora do Estabelecimento.

Se for cobrado o mesmo valor de 2, como o custo variável por unidade é 1, o

hospital realizará lucros (no valor de (2-1)x100=100). Se tal for antecipável

pelo sector público, poderá estabelecer um pagamento ligeiramente inferior a

2, por exemplo, igual ao custo total médio de produção para o volume total

produzido, que é dado por 2100/1100=1,91. Este valor fará com que a

actividade contratada externamente e para além da acordada no contrato de

parceria contribua igualmente para o financiamento dos custos de estrutura.

Contudo, os custos médios suportados pela produção adicional são

simplesmente o acréscimo de custos dividido pelo acréscimo de produção, ou

seja 100/100=1. Não é claro, do contrato, qual dos valores de custo médio

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deve ser usado para estabelecer o preço de venda da prestação de serviço,

sendo que as diferenças entre eles podem ser substanciais.

Há, neste aspecto, margem para divergência de interesses entre a Entidade

Pública Contratante e a Entidade Gestora do Estabelecimento. A primeira

terá interesse em que a prestação de actividade a terceiros seja feita por um

valor de custo médio que englobe um pagamento que contribua para o

financiamento da infra-estrutura (ou seja, com base nos custos médios

globais da actividade). A Entidade Gestora do Estabelecimento terá interesse

em que sejam unicamente incluídos os custos médios da produção adicional

(sem contribuição para a cobertura dos custos fixos da infra-estrutura), o que

lhe permite estabelecer preços mais baixos.

Recomendação nº 17: Clarificar desde já qual a noção de custos médios

aplicável, por forma a evitar litigância futura.

8.2.12. Risco de financiamento

Se houver refinanciamento em condições mais vantajosas, metade desses

ganhos são transferidos para a Entidade Pública Contratante, mas não se

forem agravadas. A este respeito, a iniciativa de alterar as condições de

financiamento também pode pertencer à Entidade Pública Contratante, que

tem a possibilidade de apresentar uma proposta desde que ambas as partes

ganhem com base numa repartição igualitária dos benefícios desse

refinanciamento.

Apreciação: Estas disposições garantem que os benefícios financeiros de

renegociação de financiamento serão repartidos entre as partes.

8.2.13. Resolução de conflitos

Na resolução de conflitos, chama obviamente a atenção o facto de a

mediação e/ou arbitragem não terem necessariamente de envolver

especialistas em parcerias público – privadas, e o tempo de decisão poder

chegar com alguma facilidade a ser um ano (admitindo que o tribunal arbitral

cumpre os prazos de tempo estabelecidos).

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A participação de uma entidade independente, com conhecimento específico

dos princípios e processos de parcerias público – privadas, daria um maior

grau de confiança e uma maior celeridade ao processo de resolução de

conflitos entre as partes.

A única entidade que se antevê possa vir a ter este conhecimento específico

e a independência necessária face às partes envolvidas é a Entidade

Reguladora da Saúde. No entanto, não se encontra prevista a sua

intervenção formal no processo das parcerias público-privadas para a

construção (e operação) de hospitais.

Uma outra entidade independente onde se tem vindo a ganhar conhecimento

sobre as parcerias é o Tribunal de Contas. Porém, dada a sua intervenção

formal em termos de vistos dos contratos, e de análise das condições de

despesas do Estado de uma forma geral, não será natural a sua participação

como árbitro em processos de conflito entre as partes pública e privada das

parcerias.

Recomendação nº 18: Envolvimento e participação de uma entidade

independente, com conhecimento específico dos princípios e processos de

parcerias público – privadas, na resolução de diferendos entre as partes,

como forma de obter uma maior celeridade e confiança técnica nesse

processo. Preferencialmente, a concretização desta recomendação deverá

ser feita por acordo mútuo das partes quanto à entidade/instituição.

8.2.14. Outros aspectos

Existe um limite às multas que podem ser aplicadas pela Entidade Pública

Contratante, igual a 2,5% da remuneração base anual da Entidade Gestora.

Esta disposição salvaguarda a parte privada de tentativas do sector público

pagar menos através da imposição de multas.

Apreciação: O facto de haver um limite ao valor global de multas dá

segurança ao parceiro privado para que invista no projecto. Tem, no entanto,

o inconveniente de quando se atinge o valor máximo de multa, a penalização

por falhas adicionais ser inexistente. Dados os valores envolvidos e os outros

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mecanismos existentes (nomeadamente, resgate) este último aspecto não

será crucial.

A Entidade Pública Contratante tem a capacidade de introduzir “modificações

objectivas” ao contrato de forma unilateral, mas apenas após se terem

tentado primeiro negociações com a Entidade Gestora. Apesar de tudo, esta

disposição dá um maior poder de negociação à Entidade Pública Contratante.

Em alguma medida, permite responder às considerações de renegociação

apresentadas previamente, embora subsistam aspectos que não se

encontram especificados (como uma limitação quantitativa na utilização deste

mecanismo ou um período de carência para a sua primeira utilização).

Apreciação: Esta capacidade de introduzir “modificações objectivas” permite

à Entidade Pública Contratante garantir que o hospital em parceria

permanece perfeitamente integrado dentro das políticas definidas para o

Serviço Nacional de Saúde.

A contratação de pessoal é feita dentro do Serviço Nacional de Saúde em

95% do total no arranque do novo edifício, o que limita a liberdade de gestão

do parceiro privado, por um lado, mas procura garantir, por outro lado, uma

transição menos onerosa em termos laborais e sociais de um hospital que já

existe e cujo edifício vai ser substituído num regime de parceria público –

privada.

Apreciação: Esta solução minimiza os conflitos laborais de transição para o

regime de parceria. É uma solução apenas relevante para as parcerias que

envolvam a gestão da actividade clínica. A margem de 5% permite ainda

assim alguma capacidade de selecção de pessoal à equipa de gestão.

9. Recomendações

Recolhem-se, para efeitos de sistematização, nesta secção as diferentes

recomendações apresentadas ao longo desta parte do Relatório.

Recomendação nº 1: Os estudos prévios ao lançamento de uma parceria em

saúde deverão conter uma identificação clara dos riscos que se pretende

transferir para o sector privado, qual a sua justificação (isto é, porque é

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apropriada essa transferência de risco) e qual o preço a pagar por essa

transferência de risco (isto é, em quanto se esperaria que o preço pago ao

sector privado fosse menor caso o sector público retivesse esse risco).

Recomendação nº 2: A escolha da inclusão de actividade clínica no âmbito

privado de uma parceria em saúde para construção de novos hospitais

deverá, do ponto de vista das características económicas do contexto, seguir

o seguinte princípio:

a) Hospitais de maior complexidade tecnológica e nos quais os aspectos de

inovação tecnológica são mais acentuados deverão tender a assumir a forma

de parceria público-privada sem inclusão da gestão da actividade clínica no

âmbito da parte privada.

b) Hospitais para os quais os aspectos de fronteira tecnológica sejam menos

decisivos, a parceria público-privada deverá incluir a gestão clínica desde que

os custos de investimento público não contratável sejam relativamente

elevados, e os benefícios sociais desse investimento não tenham grande

sensibilidade ao investimento realizado.

Recomendação nº 3: O Contrato deverá especificar de forma clara quais os

tipos de eventos que dão lugar a renegociação e se ambas as partes têm ou

não capacidade de pedir renegociação do Contrato. Deverá ser adoptado um

período inicial durante o qual a parte privada não pode solicitar renegociação.

Deverá ser determinado um número máximo de renegociações que cada

parte pode solicitar durante cada período sucessivo de 5 anos. A alteração de

custos associada com a renegociação deverá envolver, na validação do seu

valor, uma opinião externa de uma entidade independente e, se possível,

deverá envolver igualmente um exercício de comparação (nacional ou

internacional).

Recomendação nº4: Criação de um memorando de entendimento sobre a

razão e interpretação das cláusulas contratuais no momento da negociação,

tendo como objectivo minorar conflitos futuros de interpretação das cláusulas.

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Recomendação nº 5: Criar no Ministério da Saúde uma célula de análise e

acompanhamento das parcerias em saúde formada por quadros da

Administração Pública com elevada diferenciação técnica, que garanta a

fixação destes, como forma de assegurar continuidade e segurança na

tomada de decisão pública.

Recomendação nº 6: Criação de uma rede informal de gestores de contratos

de parceria público-privada para a construção (e operação) de hospitais.

Recomendação nº 7: No processo de relacionamento entre o sector público

e as entidades gestoras deverá existir um sistema de auditoria da actividade

com base em amostragem aleatória. Esse sistema de auditoria tem utilidade

quer para o sector público ter um maior conhecimento da actividade

desenvolvida quer para a gestão do hospital, dado que ajudará a identificar

as áreas criticas de funcionamento.

Recomendação nº 8: A Entidade Pública Contratante deve produzir

anualmente uma avaliação baseada na evidência disponível sobre a

evolução da parceria, incluindo elementos qualitativos e quantitativos.

Recomendação nº 9: Importa desenvolver um ambiente de respeito mútuo

pelo contrato estabelecido e um ambiente de confiança para resolução de

diferendos que contratos de muito longo prazo inevitavelmente acarretam.

Recomendação nº 10: Instituir um sistema de fornecimento de informação à

sociedade sobre os resultados que vão sendo obtidos no contexto das

parcerias público – privadas.

Recomendação nº 11: Sugerir que os inquéritos de satisfação de utentes

sejam realizados por uma entidade independente, ou sendo realizados

directamente pelo parceiro privado sejam auditados por uma entidade

independente.

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Recomendação nº 12: É importante, pois, que seja mais bem esclarecida a

forma de relacionamento entre o hospital e os prestadores de cuidados de

saúde primários (unidades de saúde familiar e centros de saúde tradicionais)

que para ele referenciam doentes. Importa, em particular, que os custos

económicos das diferentes opções sejam incorporados no processo de

decisão.

Recomendação nº 13: O momento, valor e entidade responsável no que

concerne o pagamento devido ao hospital por falta de resposta da Rede

Nacional de Cuidados Continuados Integrados deverão ser definidos de

forma precisa e de modo a evitar que surjam comportamentos de

aproveitamento do sistema.

Recomendação nº 14: Importa garantir que a definição adoptada não venha

a definir um conjunto vazio, isto é, que nenhum hospital venha a cumprir os

critérios para ser incluído no grupo de comparação da parceria em saúde. Se

tal suceder, impossibilita, ou pelo menos dificulta, a avaliação pretendida uma

vez que se terá de renegociar que hospitais são utilizados como ponto de

comparação, podendo vir a existir divergências entre as partes sobre a

constituição à posteriori do grupo de comparação.

Recomendação nº 15: Realização de auditorias aleatórias às primeiras

consultas declaradas pelo hospital.

Recomendação nº 16: A Entidade Pública Contratante deverá respeitar

escrupulosamente as regras de pagamento, como forma de garantir a

reputação de parceiro fiável, aspecto fundamental para a criação e

sustentação de um ambiente de confiança na relação de parceria.

Recomendação nº 17: Clarificar, desde já, qual a noção de custos médios

aplicável, por forma a evitar litigância futura.

Recomendação nº 18: Envolvimento e participação de uma entidade

independente, com conhecimento específico dos princípios e processos de

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parcerias público – privadas, na resolução de diferendos entre as partes,

como forma de obter uma maior celeridade e confiança técnica nesse

processo. Preferencialmente, a concretização desta recomendação deverá

ser feita por acordo mútuo das partes quanto à entidade/instituição.

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Parte II – Avaliação do desempenho do Centro de Medicina de Reabilitação do Sul, em São Brás de Alportel, comparando-o com o Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão e com o Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro

De acordo com o Despacho que nomeou a equipa de análise estratégica

para o acompanhamento externo de modelos de gestão hospitalar, “os

objectivos da equipa de análise consistem em analisar e dar parecer sobre o

processo de criação e desenvolvimento das parcerias para a construção de

hospitais em regime de financiamento privado e avaliar o desempenho do

Centro de Reabilitação, em São Brás de Alportel, comparando-o com outros

hospitais de reabilitação”.

Nesta segunda parte pretende-se avaliar o desempenho do Centro de

Medicina de Reabilitação do Sul, em São Brás de Alportel, comparando-o

com o Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão e com o Centro de

Medicina de Reabilitação da Região Centro, nos termos do Despacho acima

citado.

Estas três unidades do Serviço Nacional de Saúde, integradas na Rede de

Referenciação de Medicina Física e de Reabilitação - que estabelece 3 níveis

de cuidados (Plataforma B, Plataforma A e Centros de Reabilitação), numa

lógica de diferenciação e complementaridade da actividade assistencial -

apresentam diferentes modelos jurídicos: enquanto a gestão do Centro de

Medicina de Reabilitação do Sul (CMR Sul) decorre de uma parceria público-

privada, o Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro (CMRRC)

integra-se no sector público administrativo do Estado, e o Centro de Medicina

de Reabilitação de Alcoitão (CMRA) é um estabelecimento da Santa Casa da

Misericórdia de Lisboa.

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Com esta avaliação pretende-se responder às seguintes questões:

Como se caracteriza a estrutura de cada um dos Centros de Medicina de

Reabilitação, em termos de contexto de intervenção, caracterização geral e

estrutura interna?

Como se caracterizam os processos de cada um dos Centros de Medicina

de Reabilitação, em relação ao modelo de organização interna e de

governação, aos instrumentos de gestão, aos recursos humanos, financeiros

e materiais, às tecnologias da informação e comunicação, ao potencial de

mudança e à inovação da oferta?

Que diferenças existem entre os resultados dos Centros de Medicina de

Reabilitação no respeitante a custos, eficácia, eficiência, equidade e

qualidade?

O trabalho inicia-se com a descrição de cada um dos Centros de

Reabilitação, utilizando, como referência, a informação relativa aos anos de

2005 a 2008, nos casos do CMRRC e do CMRA, e a informação referente

aos anos de 2007 e de 2008, no caso do CMR Sul, visto serem os dois

únicos anos económicos de laboração disponíveis.

A caracterização dos Centros de Reabilitação é realizada com base nas três

dimensões de análise referidas – estrutura, processos e resultados – dado

ser consensual na literatura a validade da sua aplicação à avaliação do

desempenho de hospitais.

O enfoque é, contudo, o da avaliação do desempenho pelos resultados,

optando-se por considerar nesta dimensão indicadores que, igualmente,

poderiam ser integrados na dimensão dos processos.

Finalmente, com base em alguns dos indicadores de resultado, realiza-se

uma comparação do desempenho dos três Centros de Reabilitação.

Recorrendo à análise documental, à observação directa e à aplicação de

questionários e de entrevistas semi-estruturadas (anexo 39), o estudo

procura captar a perspectiva dos órgãos de gestão, dos profissionais e dos

utentes.

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101

Durante o presente estudo, a equipa de análise efectuou reuniões com os

membros dos órgãos de gestão de cada um dos três Centros de Reabilitação

e visitas às suas instalações e reuniu, também, com os titulares dos

conselhos directivos das administrações regionais onde se situam os Centros

de Reabilitação - Centro, Lisboa e Vale do Tejo e Algarve.

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10. O Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro  

10.1. Estrutura  

10.1.1. Contexto de intervenção

O Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro (CMRRC) tem como

área de influência os distritos de Aveiro, Castelo Branco, Coimbra, Guarda,

Leiria e Viseu, articulando-se de forma complementar com todos os hospitais

e unidades de saúde da Região Centro no quadro da Rede de Referenciação

Hospitalar (RRH) de Medicina Física e de Reabilitação (MFR) (Artigo 2.º n.º 1

do Regulamento Interno do CMRRC) e servindo, preferencialmente, uma

população que, em 2007, rondava os 2.300.000 habitantes.

Pese embora o facto de, no estrito cumprimento da hierarquia dos níveis de

cuidados definidos pela RRH de MFR, os Centros de Reabilitação apenas

deverem receber doentes referenciados por hospitais classificados como

Plataforma A – no caso concreto do CMRRC, doentes referenciados pelos

Hospitais da Universidade de Coimbra e pelo Hospital de Viseu – ao Centro

acorrem doentes provenientes de serviços de medicina e de reabilitação de

outros hospitais, centrais e distritais, designadamente, os centros

hospitalares de Coimbra, da Cova da Beira e das Caldas da Rainha e os

hospitais de Águeda, Aveiro, Castelo Branco, Estarreja, Figueira da Foz,

Leiria, Oliveira de Azeméis, São João da Madeira, Peniche, Pombal, para

além de doentes referenciados pelo Hospital de Viseu e pelos Hospitais da

Universidade de Coimbra.

Dos hospitais a montante da intervenção do CMRRC, apenas o Centro

Hospitalar das Caldas da Rainha e o Hospital de Leiria dispõem de camas de

MFR, respectivamente, em número de doze e de uma.

Das respostas ao questionário resultou que a maioria dos pedidos de

referenciação para consulta externa recebidos pelo CMRRC, quer em 2007,

quer em 2008, tiveram origem nos cuidados de saúde primários que, através

da ARS Centro, foram responsáveis pelo envio de mais de metade dos

doentes atendidos nesses anos (anexo 1).

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103

Relativamente à caracterização da oferta de cuidados a jusante da

intervenção do CMRRC, foi apurado que os doentes são unicamente

referenciados para centros de saúde. Apesar do que se encontra definido no

âmbito da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, não existem

articulações específicas com unidades de cuidados continuados, ou com

estruturas similares e todos os doentes saídos do CMRRC nos anos de 2005,

2006, 2007 e 2008 tiveram como destino de alta o domicílio (Respostas ao

Questionário, Dezembro de 2008).

10.1.2. Caracterização geral 10.1.2.1. História, missão e objectivos estratégicos

O CMRRC foi criado pelo Decreto-Lei n.º 203/96, de 23 de Outubro, diploma

que procedeu à extinção do Hospital de Rovisco Pais (HRP).

Com efeito, o objectivo que conduzira, em 1937, à criação da Leprosaria

Rovisco Pais, posteriormente nomeada Hospital Colónia Rovisco Pais – a

prestação de cuidados de saúde à população atingida pela doença de

Hansen, mediante a instalação de uma estrutura assistencial de tipo

pavilhonar, numa área de cerca de 144 hectares que abrangia a designada

Quinta da Fonte Quente, na freguesia da Tocha, concelho de Cantanhede –

encontrava-se, desde há anos, cumprido.

Gorada que fora a concretização de vários projectos de adaptação da infra-

estrutura, discutidos desde o início dos anos de 1970, a localização

geográfica e as condições naturais e logísticas de que dispunha o HRP

levaram a que o Ministério da Saúde considerasse “este estabelecimento

hospitalar particularmente vocacionado para a prestação de cuidados

diferenciados de reabilitação, readaptação e reintegração sócio-profissional

dos deficientes e para o desenvolvimento de actividades de ensino e de

investigação” (Preâmbulo do Decreto-Lei n.º 203/96, de 23 de Outubro)23.

                                                        23 O que não prejudicou que se estipulasse que aos doentes internados no HRP seria assegurada a continuidade de cuidados nas instalações do CMRRC, enquanto deles carecessem (Artigo 6.º do Decreto-Lei n.º 203/96, de 23 de Outubro).

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De sublinhar que, já em 18 de Abril de 1995, o Grupo de Trabalho para a

Reconversão do Hospital Rovisco Pais24, referia no seu relatório final:

“actualmente o tratamento dos doentes de Hansen efectua-se

prioritariamente em regime de ambulatório, a cargo dos centros de saúde,

devendo o internamento ser assegurado, quando imprescindível, pelos

hospitais gerais de agudos” (Relatório do Grupo de Trabalho para a

Reconversão do Hospital Rovisco Pais, 1995)25.

De acordo com as disposições constantes do Regulamento Interno, aprovado

pelo Conselho de Administração em 19 de Fevereiro de 2004, o CMRRC –

enquanto estabelecimento hospitalar de nível central que exerce actividade

de interesse público nas áreas de cuidados de saúde, ensino e investigação

na saúde, maxime, no âmbito dos cuidados diferenciados de reabilitação –

tem como missão, em privilegiada articulação com os restantes serviços de

saúde da Região Centro, a promoção da readaptação e reintegração sócio-

profissional das pessoas com deficiência (Artigo 1.º do Regulamento Interno

do CMRRC).

Constituem objectivos estratégicos do CMRRC promover e participar, sempre

que de tal facto resultem ganhos na prestação de cuidados aos utentes, em

acordos e parcerias quer com instituições particulares de solidariedade

social, quer com outras organizações não governamentais nacionais ou

estrangeiras, bem como com redes europeias especialmente vocacionadas

para a abordagem de patologias específicas e dinamizar e manter uma

relação privilegiada com o Secretariado Nacional para a Reabilitação e

Integração das Pessoas com Deficiência (Artigo 1.º do Regulamento Interno

do CMRRC).

                                                        24 Nomeado pelo Presidente do Conselho de Administração da ARS do Centro, com os objectivos de (i) proceder à análise da actual situação do HRP (ii) estudar a sua possível futura utilização para instalação de um centro de reabilitação e (iii) determinar as alterações a introduzir no Hospital e as questões a salvaguardar em caso de reorientação da sua actividade, e constituído pelos Drs. Artur Vaz, José Bernardes Tralhão, Rui Moutinho dos Santos, Luís André Rodrigues e Fernando Martins. 25 O referido Relatório foi aprovado, por despacho de 17 de Maio de 1995, do Ministro da Saúde, Dr. Paulo Mendo. 

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10.1.2.2. Carteira de serviços

Actualmente, a carteira de serviços do CMRRC abrange serviços

especializados de reabilitação para doentes com lesões neurológicas

cerebrais, medulares e músculo-esqueléticas, doentes amputados, grandes

poli-traumatizados, reumáticos, queimados e doentes com lesões

cardiovasculares, com oferta de cuidados em regime de internamento e em

regime de ambulatório.

O CMMRC dispõe também de oficina de próteses e de bio-engenharia, bem

como de oficinas para concepção e adaptação de ajudas técnicas a

equipamento específico.

O CMMRC acomoda ainda um Centro Habitacional, um Centro de Formação,

um Centro de Readaptação Profissional e uma estrutura autónoma com

dezasseis moradias adaptadas a cuidados informais e auto-cuidados.

No quadro da parceria que mantém com a Universidade de Aveiro, o CMRRC

implementou, recentemente, um projecto designado “Casa Inteligente”,

unidade residencial integralmente equipada com tecnologias destinadas a

apoiar a readaptação do cidadão portador de deficiência física a uma vida

diária autónoma.

A médio prazo, o CMRRC pretende rentabilizar as infra-estruturas de que

dispõe, através da realização das obras de adaptação necessárias a albergar

uma Unidade de Cuidados Continuados Integrados para doentes pós

acidente vascular cerebral e pós cirurgia do aparelho locomotor, dispondo já

do projecto que pretende candidatar ao Quadro de Referência Estratégico

Nacional.

No futuro, o CMRRC pretende, igualmente, desenvolver uma área desportiva

para deficientes que incluirá o aproveitamento da lagoa para actividades de

canoagem e vela, de tal forma que a actividade desportiva se constitua como

um dos instrumentos da reabilitação e da integração do cidadão deficiente na

vida comunitária.

 

 

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10.1.2.3. Lotação

A lotação oficial do CMRRC é de 80 camas de MFR26 mas, até ao final do

ano de 2007, foi praticada uma lotação de 36 camas, no ano de 2008 foi

praticada uma lotação de 50 camas e o Conselho de Administração propôs à

Administração Regional de Saúde funcionar, em 2009, com 60 camas de

MFR.

10.1.2.4. Actividade assistencial

A actividade assistencial do CMRRC desenvolve-se nas vertentes de

internamento e de ambulatório (consultas externas e tratamentos).

Sem prejuízo da venda de serviços aos subsistemas de saúde e a outros

terceiros pagadores, o CMRRC contratualiza anualmente com o Ministério da

Saúde a prestação de cuidados que, visando responder às necessidades

assistenciais dos utentes do SNS, correspondem a duas linhas de produção:

internamento (medida em número de dias de internamento) e consulta

externa (medida em número de primeiras consultas médicas e de número de

consultas subsequentes médicas)27.

Estas duas linhas de produção “implicam a prestação integrada, directa ou

indirectamente, de todos os outros serviços de que deva beneficiar o utente

relacionados com o respectivo estado de saúde ou com a sua estada no

estabelecimento de saúde, designadamente a prestação de serviços de

apoio”28.

10.1.2.5. Principais patologias tratadas As principais patologias tratadas são as decorrentes de Acidente Vascular

Cerebral, Lesão Medular e a Reabilitação Geral.

                                                        26 E de 32 camas de doentes de Hansen, inactivos sob vigilância. 27 Contratos Programa do CMRRC, 2006, 2007 e 2008. 28 Cláusula 3.ª n.º 3 do Anexo ao Despacho n.º 721/2006, do Secretário de Estado da Saúde. 

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10.1.2.6. Capacidade instalada  

10.1.2.6.1. Instalações

Com excepção de uma edificação, conhecida por “Conventinho” que terá sido

residência dos frades Crúzios de Coimbra, primitivos proprietários da Quinta

da Fonte Quente, a maioria das infra-estruturas que, em 1996, passou a

integrar o CMMRC, remonta à década de 1950.

Em 10 de Julho de 1997, por despacho do Secretário de Estado da Saúde,

foi criada a Comissão Regional de Reabilitação da Região Centro29 e, em 9

de Outubro do mesmo ano, também por despacho do Secretário de Estado

da Saúde, foi aprovado o Programa Funcional do CMRRC, que propunha a

fixação de uma lotação de 142 camas (30 camas para tratamento de

traumatismos crâneo-encefálicos e acidentes vasculares cerebrais; 30 camas

para tratamento de lesões vértebro-medulares; 4 camas para tratamento de

queimados; 4 camas para apoio ao bloco operatório; 44 camas para

tratamento de amputados, grandes poli traumatizados e outros; 30 camas

para reabilitação pediátrica) e previa a recuperação e adaptação faseada das

infra-estruturas descritas (Programa Funcional do CMRRC, 1997).

Ainda em 1997, foi nomeada a primeira Comissão Instaladora do CMRRC e,

posteriormente, na sequência da assinatura, pela Ministra da Saúde, em 3 de

Novembro de 1998, do auto de consignação de obras de infra-estruturas,

iniciou-se o processo de reconversão.

Com recurso a financiamento externo, predominantemente fundos

comunitários, as instalações afectas ao CMRRC têm sofrido, desde então,

obras de adaptação de acordo com o Programa Funcional. Na verdade,

encontram-se já totalmente concretizadas as remodelações das residências

individuais, do pavilhão de ambulatório e dos edifícios de internamento de

lesionados vértebro-medulares.

                                                        29 A Comissão – constituída pelos Drs. Luís André Rodrigues, Paulo Margalho e Rui Moutinho dos Santos – tinha como missão acompanhar o desenvolvimento do projecto, obras e entrada em funcionamento do Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro e fazer o levantamento das necessidades regionais de reabilitação, bem como dos vários estabelecimentos (públicos e privados) que trabalham na matéria e definir normas de futura articulação, no quadro da preocupação de uma assistência de qualidade, acessibilidade correcta e optimização de recursos (Despacho n.º 10814/97, publicado no Diário da República, 2.ª Série, n.º 260, de 10 de Novembro).

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A propriedade das instalações é do Ministério da Saúde, e o estado de

conservação é reputado como bom (Respostas ao Questionário, Dezembro

de 2008).

10.1.2.6.2. Equipamentos Actualmente, o CMRRC dispõe dos normais equipamentos de uma unidade

desta natureza (anexo 2).

10.1.3. Quadro legal

O CMRRC tem como quadro legal a disciplina constante do Decreto-Lei n.º

203/96, de 23 de Outubro e da Rede de Referenciação de Medicina Física e

de Reabilitação, regendo-se a sua actuação pelo disposto na Lei nº 27/2002,

de 8 de Novembro (Regime Jurídico da Gestão Hospitalar), no Decreto-Lei nº

188/2003, de 20 de Agosto (Regime Jurídico dos Hospitais integrados no

Sector Público Administrativo) e no Regulamento Interno (Artigo 3.º do

Regulamento Interno).

O Conselho de Administração do Centro classificou a sua margem de

autonomia como a própria de um hospital SPA, que se rege pelo

cumprimento legal imposto pelo Ministério da Saúde, e referiu a intervenção

do Ministério da Saúde como de fiscalização dos objectivos contratualizados

e de controle orçamental (Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008).

10.2. Processos  

10.2.1. Modelo de organização interna e de governação

O CMRRC possui Regulamento Interno, aprovado pelo Conselho de

Administração em 19 de Fevereiro de 2004 e homologado ministerialmente.

De acordo com as disposições do Regulamento Interno, e tal como na

generalidade dos hospitais integrados no SPA, o elenco de órgãos do

CMRRC prevê um órgão de administração (Conselho de Administração),

órgãos de direcção técnica (Director Clínico e Enfermeiro Director), órgãos de

apoio técnico (Comissão de Ética, Comissão de Humanização e Qualidade

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de Serviços, Comissão de Controlo da Infecção Hospitalar, Comissão de

Farmácia e de Terapêutica e Comissão de Catástrofe) e um órgão de

consulta (Conselho Consultivo). Especial destaque, pela sua atipicidade,

merece a disposição que refere a existência de um Provedor, constituindo,

ele próprio, um órgão (Artigo 4.º do Regulamento Interno).

No que se refere ao modelo de organização da actividade assistencial, o

Regulamento Interno dispõe que os serviços de acção médica se estruturam

em serviços e unidades funcionais30.

Em suma, o modelo de governação do Centro, segue, no essencial, as regras

gerais constantes na Lei n.º 27/2002, de 8 de Novembro, e sobretudo, do

Decreto-Lei n.º 188/2003, de 20 de Agosto.

10.2.2. Instrumentos de gestão

De acordo com o Conselho de Administração, o Contrato-Programa constitui

o principal instrumento de gestão do CMRRC, dele decorrendo metas de

produção e objectivos de eficiência e qualidade impostos pelo Ministério da

Saúde.

Com efeito, pelo Despacho n.º 721/200631, o Secretário de Estado da Saúde

procedeu à aprovação das cláusulas contratuais gerais dos contratos-

                                                        30 Os serviços estruturam-se nos seguintes moldes: Serviço 1 – Unidade de vértebro-medulares, Unidade de crâneo-encefálicos e Unidade cirúrgica e de esterilização; Serviço 2 – Reabilitação geral de adultos; Serviço 3 – Reabilitação pediátrica; Serviço 4 – Unidade especializada de investigação e apoio à reabilitação de lesionados vértebro-medulares; Serviço 5 – Unidade de consultas externas, hospital de dia e área específica de diagnóstico e terapêutica (artigo 23.º do Regulamento Interno). No que se refere à organização dos serviços não assistenciais, o Regulamento Interno contempla o elenco clássico de serviços de apoio (Serviço Social/Gabinete do Utente, Serviços de Assistência Religiosa), de serviços de apoio à gestão (Serviço de Gestão de Recursos Humanos, Serviços Financeiros, Serviço de Gestão de Doentes, Serviço de Gestão de Materiais, Serviço de Relações Públicas, Serviço de Informática, Gabinete Jurídico e Contencioso, Arquivo Geral) e de serviços de apoio geral (Serviços Hoteleiros e Serviço de Instalações e Equipamentos) (Artigos 29.º, 34.º e 35.º do Regulamento Interno). Afiguram-se especialmente relevantes, pelo seu carácter inovador em termos de oferta de cuidados de MFR, a Oficina de Próteses e Bio-engenharia e o Centro Habitacional para Deficientes e Acompanhantes, classificados como serviços assistenciais de apoio, tal como o Parque Desportivo e o Centro Residencial para funcionários/estagiários/convidados, classificados como serviços de apoio geral (Artigos 29.º e 34.º do Regulamento Interno). 31 De 23 de Dezembro de 2005, publicado no Diário da República 2.ª Série, n.º 8, de 11 de Janeiro de 2006. 

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programa, aplicáveis, com as devidas adaptações, aos hospitais integrados

no SPA32 e, consequentemente, ao CMRRC, no âmbito da contratualização

anual.

Os objectivos de produção inscritos nos Contratos-Programa de 2006, 2007 e

2008, referem-se ao volume de produção nas linhas de internamento33 e

consulta externa.

Além disso, os contratos-programa incluem, entre outros, deveres gerais em

matéria de políticas de melhoria e de qualidade dos serviços, em matéria de

gestão de recursos humanos e de equipamentos, e em matéria de articulação

com a rede de cuidados primários e com a rede de cuidados continuados

(anexo 3).

10.2.3. Recursos humanos No que respeita ao número de recursos humanos, apurou-se que, em

31.12.08, desempenhavam funções no Centro 144 trabalhadores, o que

representou um acréscimo global de efectivos de cerca de 7% face a

31.12.07 (nestes números está considerado todo o pessoal em exercício de

funções, independentemente do vínculo jurídico), como se pode verificar pela

análise do quadro 1.

Quadro 1

CMRRC: Distribuição de efectivos por grupos profissionais (2005-2008) Grupo profissional

N.º de efectivos

(31.12.05)

N.º de efectivos

(31.12.06)

N.º de efectivos

(31.12.07)

N.º de efectivos

(31.12.08)

Médicos 4 5 5 9 80% Enfermeiros 33 33 35 39 11% Técnicos Superiores 3 4 4 2 -50% Técnicos Sup. de Saúde 1 1 1 1 0% Técnicos Diag. e Terapêutica 17 20 20 22 10% Técnico-prof./ Administrativos 14 14 14 18 29% Auxiliares e Operários 40 40 44 39 -11% Outros 10 10 12 14 17% Total 122 131 135 144 7%

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

                                                        32 Despacho n.º 722/2006, de 23 de Dezembro de 2005, publicado no Diário da República 2.ª Série, n.º 8, de 11 de Janeiro de 2006. 33 O clausulado contratual distingue o volume de produção contratado na linha de internamento entre “internamento de crónicos em Medicina Física e de Reabilitação” e “internamento de doentes de Hansen inactivos em vigilância.” 

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Atenta a necessidade de, em momento ulterior, efectuar análises

comparativas, considerando a informação colhida relativamente às cargas

horárias semanais individualmente contratadas, procedeu-se à transformação

do número bruto de efectivos discriminado no quadro 1, em equivalentes em

tempo completo. O resultado encontra-se expresso no quadro 2.

Quadro 2

CMRRC: Profissionais prestadores de cuidados em ETC (2005-2008) Grupo profissional

Prof. ETC (31.12.05)

Prof. ETC (31.12.06)

Prof. ETC (31.12.07)

Prof. ETC (31.12.08)

Médicos n.d. n.d. 5,2 9,2

Enfermeiros n.d. n.d. 35 39

Fisioterapeutas n.d. n.d. 20 18

Terapeutas da Fala n.d. n.d. 2 3

Terapeutas Ocupacionais n.d. n.d. 2 2 Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

Considerando a informação relativa a 31 de Dezembro de 2008, é possível

proceder a uma caracterização genérica dos recursos humanos do CMRRC,

realizando um balanço social, no qual se destaca a predominância dos

trabalhadores com vínculo à função pública (80%), de sexo feminino (60%),

do grupo etário entre os 31 e os 50 anos (50%), com o grau de licenciatura

(60%) e de nacionalidade portuguesa (91%).

Ainda em matéria de caracterização genérica dos recursos humanos afectos

ao CMRRC, foi apurada uma taxa de absentismo global de 1,38% no ano de

2008 (a distribuição por grupo profissional é apresentada no anexo 4).

De acordo com o seu Conselho de Administração, o CMRRC debate-se com

carência de profissionais nas áreas específicas da fisioterapia, enfermagem e

auxiliar de acção médica.

A política salarial da instituição segue o modelo definido para as carreiras da

função pública e, pese embora o disposto na Lei n.º 12-A/2008, de 27 de

Fevereiro, ainda não se encontra estabelecida qualquer política de incentivos.

Em matéria de formação de pessoal, o CMRRC possui uma estratégia de

formação, definida com base em diagnóstico de necessidades formativas,

cuja execução está atribuída a uma estrutura específica (centro de

formação). Todavia, no ano de 2008 não houve trabalhadores inscritos em

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112

formação interna, tendo sido reportada a existência de 4 trabalhadores

inscritos em formação externa no mesmo período.

O CMRRC não possui um centro de investigação formalmente constituído e

com trabalhos realizados e/ou publicados.

No CMRRC realiza-se avaliação do desempenho individual dos trabalhadores

com base no SIADAP – Sistema Integrado da Avaliação do Desempenho na

Administração Publica (Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008).

10.2.4. Recursos financeiros

Como qualquer estabelecimento integrado no SNS, o CMRRC é financiado

pela sua produção.

Com efeito, relativamente ao comprador SNS, o CMRRC contrata volumes de

produção, em linhas pré-definidas (internamento de crónicos em MFR,

internamento de doentes de Hansen inactivos em vigilância e consulta

externa), remuneradas de acordo com os preços inscritos nos contratos-

programa, conforme expresso no anexo 3; relativamente aos outros

compradores, o CMRRC vende serviços, pagos de acordo com os preços

fixados nas tabelas de facturação do SNS.

De acordo com o clausulado dos contratos-programa do CMRRC, o valor

correspondente à produção anualmente contratada é transferido do

Orçamento de Estado em duodécimos mensais, devendo a instituição enviar

os correspondentes recibos, bem como a descrição dos actos, serviços e

cuidados prestados, identificados por utente.

Refira-se ainda que, no ano de 2008, o contrato-programa do CMRRC

passou a incluir uma cláusula que, sob a epígrafe “custos fixos e produção

marginal”, refere que “não há lugar a qualquer pagamento caso as unidades

realizadas sejam inferiores a 50% do volume contratado, por linha de

produção. Se o volume da produção realizada pelo Hospital for superior ao

volume contratado, o SNS assume o pagamento de cada unidade produzida

acima deste volume, até ao limite máximo de 10%, ao preço marginal que

corresponde a: 44% do preço contratado para o (…) internamento de doentes

crónicos (…); a 58% do preço contratado para a consulta” (Cláusula 3.ª do

Acordo Modificativo ao Contrato-Programa do CMRRC, 2008).

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De acordo com o que se encontra actualmente definido pela ACSS, o

financiamento do internamento em MFR é efectuado por diária de

internamento, com valores distintos consoante se trate de internamento em

centros especializados ou em unidades de internamento de hospitais de

agudos do SNS.34

O preço da diária de internamento de doentes crónicos de MFR, constante

dos contratos-programa do CMRRC, foi de 398,92€ no ano de 2006, e de

247,05€, nos anos de 2007 e de 2008. Quanto ao preço das consultas

médicas, também constante dos contratos-programa do CMRRC, foi de

279,25€ no ano de 2006, e, respectivamente, de 134,27€/ 137,08€ e de

122,06€/124,62€, consoante se tratasse de primeiras consultas ou de

consultas subsequentes, nos anos de 2007 e de 2008 (contratos-programa

do CMRRC, 2006, 2007 e 2008).

De acordo com os contratos-programa, a remuneração da actividade do

CMRRC observa os preços, quantidades e subsídios identificados no quadro

3.                                                         34 De facto, considerando que a informação relativa aos episódios de internamento em MFR se encontra, praticamente, reduzida ao registo dos dias de internamento, sem qualquer tipo de classificação dos doentes, a ACSS “tem vindo a desenvolver um projecto-piloto para a criação de um sistema de classificação de doentes em MFR e respectivo financiamento, em colaboração com o Centro de Medicina de Reabilitação do Alcoitão, tendo também sido desenvolvida pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto uma aplicação informática para classificação e agrupamento de episódios de internamento em MFR, num total de 100 grupos, estando o acesso a esta aplicação já disponibilizado ao CMRRC. As várias fases do projecto são as seguintes: classificação retrospectiva dos episódios de internamento ocorridos num período de internamento a determinar (idealmente, 2 anos transactos), mediante preenchimento de folha específica de codificação por médicos com conhecimentos de codificação utilizando a escala MIF (Medida de Independência Funcional) e a CID 9 (Classificação Internacional de Doenças, 9.ª Revisão); inserção dos episódios codificados na aplicação informática e consequente agrupamento; análise da actividade agrupada e respectivos custos. Paralelamente, o actual sistema de financiamento de ambulatório em MFR por acto ou procedimento realizado e não por doente, torna o sistema complexo, pouco equitativo e pouco adaptado à actual visão da reabilitação. Este sistema não reflecte a complexidade da doença do doente e do seu contexto, valores sobre os quais deve ser atribuído um preço a pagar que represente um valor compreensivo pelos cuidados prestados. Considerando o trabalho já realizado para o internamento, e dado que se trata do mesmo tipo de doentes e de patologias, embora em fases diferentes, a ACSS tem igualmente vindo a desenvolver um projecto-piloto para a classificação destes doentes, partindo da classificação que está a ser utilizada para o doente internado para uma outra mais adequada à população que se propõe, tendo como base a CIF (Classificação Internacional das Funcionalidades), cuja utilização é recomendada pela Organização Mundial de Saúde, e a CID 10 (Classificação Internacional de Doenças, 10.ª Revisão). Esta classificação pretende dar origem a grupos sobre os quais virá a ser atribuído um financiamento baseado na diferenciação de cuidados afectos para cada grau de complexidade” (Ofício n.º 21806, dirigido pela ACSS ao CMRRC, em 09.12.08 – Projecto Piloto: Classificação de doentes internados e de doentes externos em MFR e criação de modelo de financiamento). 

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Quadro 3 CMRRC: Remuneração da actividade (2006-2008)

Fonte: Contratos-Programa do CMRRC

No exercício económico de 2005, o resultado operacional do exercício cifrou-

se em +899.929,84€; no exercício económico de 2006, cifrou-se em

+278.897,51€; no exercício económico de 2007, cifrou-se em – 195.738,45€;

e, no exercício económico de 2008, cifrou-se em – 305.505,10€ (anexo 5).

O valor das dívidas a fornecedores com mais de 90 dias, em 30.09.08, era de

1.352.796,00€, sendo o prazo médio de pagamento a fornecedores de três

meses, e o valor dos créditos sobre terceiros de 2.337.034,00€ (Respostas

ao Questionário, Dezembro de 2008).

10.2.5. Outros recursos materiais  

10.2.5.1. Compras

Em matéria de aquisição de bens e serviços e de realização de empreitadas,

o CMRRC rege-se pelo Decreto-Lei n.º 18/2008, de 29 de Janeiro, que

procedeu à aprovação do Código dos Contratos Públicos. Até 30 de Julho de

2008, o CMRRC obedecia, na realização de despesa pública derivada da

locação e aquisição de bens móveis e serviços, ao Decreto-Lei n.º 197/99, de

8 de Junho, e, na realização de despesa pública derivada de empreitadas, ao

Decreto-Lei n.º 59/99, de 2 de Março.

O Centro não realiza quaisquer compras de grupo ou negociação de

descontos comerciais e financeiros, e o peso relativo das compras urgentes

no total de compras foi valorizado em 2% (Respostas ao Questionário,

Dezembro de 2008).

2006 2007 2008 Preço Quant Valor Preço Quant Valor Preço Quant Valor Cons. externa Primeiras Subsequentes

279,25€

-

1.403

391.788,00€

134,27€ 122,06

502

1.202

67.403,54€

146.716,32€

138,08€ 124,62€

690 696

94.585,20€ 86.735,52€

Internamento Diária MFR Hansen

398,92€ 83,30€

5.708 9.855

2.277.035,00€ 820.922,00€

247,05€ 85,22€

6.584 8.730

1.626.577,20€ 743.970,60€

247,05€ 85,22€

10.128 8.030

2.502.122,40€ 684.316,60€

Valor de convergência

- - 88.065,00€ - - 618.531,32€ - - -

Outros - - - - - - - - 66.055,53€ Valor global do contrato

- - 3.577.810,00€ - - 3.203.198,78€ - - 3.433.815,25€

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115

10.2.5.2. Instalações e equipamentos

O CMRRC dispõe de inventário de instalações e equipamentos afectos à

actividade de exploração.

Existem contratos de manutenção dos equipamentos, bem como um plano de

reparação/conservação/beneficiação das instalações priorizado, valorizado,

calendarizado, aprovado e monitorizado e orçamento anual de investimentos.

As fontes de financiamento para os investimentos do CMRRC são as receitas

próprias e o financiamento externo, existindo um plano de investimentos

(Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008).

10.2.5.3. Fornecimentos e serviços externos

O CMRRC tem necessidade de recorrer à aquisição de serviços externos nos

sectores de fisioterapia, enfermagem, secretariado clínico e auxiliar de acção

médica.

São, igualmente, objecto de aquisição externa todos os serviços de que o

Centro necessita em matéria de manutenção de instalações e equipamentos.

De acordo com o Conselho de Administração, a razão que conduz à

subcontratação reside no número reduzido de pessoal, dado o aumento de

número de camas disponibilizadas, de 36 para 50, em 2008 e para 60 em

2009 e da abertura de novos edifícios de reabilitação com internamento.

(Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008).

10.2.6. Tecnologias da informação e comunicação

O CMRRC – que, no ano de 2008, afectou 2% do seu orçamento de

exploração a esta área – conta com a colaboração de um responsável pelos

sistemas de informação e de um técnico de informática.

Ao nível da gestão clínica, a aplicação informática instalada no CMRRC é o

ALERT e, ao nível da gestão administrativa, o ALERT ERP, estando

assegurados os interfaces entre as aplicações.

A implementação do processo clínico electrónico encontra-se programada

para o início de 2009.

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116

Embora tenha sido respondido que todos os computadores da instituição se

encontram ligados em rede e todos os profissionais têm acesso a correio

electrónico e a internet, foi também dito que os meios que são mais utilizados

na comunicação interna e externa são o papel e o telefone.

O CMRRC tem um sítio na internet, cujos conteúdos são meramente

informativos, por ainda estar em desenvolvimento (Respostas ao

Questionário, Dezembro de 2008).

10.2.7. Potencial de inovação da oferta

No que se refere a projectos que contemplem abordagens terapêuticas

inovadoras ou esquemas alternativos de prestação de cuidados, no CMRRC

foram identificados os referidos no anexo 6.

Às questões relativas à intenção de se instalar algum tipo de call center e à

possibilidade de se realizar o agendamento electrónico de consultas, o

Conselho de Administração respondeu negativamente (Respostas ao

Questionário, Dezembro de 2008).

10.3. Resultados  

10.3.1. Custos  

10.3.1.1. Estrutura de custos

Da análise da estrutura global dos custos do CMRRC, nos anos de 2005 a

2008, resulta que a conta com maior peso relativo foi sempre a de pessoal

que, todavia, sofreu um decréscimo de peso relativo nos anos de 2007 e de

2008, compensado pelo aumento registado da conta de fornecimentos e

serviços externos (FSE) (anexo 7).

A tal evolução não será, por certo, alheia a circunstância de os

constrangimentos legais na admissão de efectivos ao CMRRC terem

conduzido à subcontratação de empresas prestadoras de serviços,

transferindo os respectivos encargos da conta de pessoal para a de FSE.

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117

De resto, apenas esta leitura é compatível com o aumento do número global

de efectivos em exercício de funções no Centro ao longo do quadriénio,

conforme evidenciado no quadro 1, sem que dele resulte acréscimo dos

custos com Pessoal (anexo 7).

10.3.1.2. Estrutura de custos com compras

Da análise da estrutura de custos com compras do CMRRC, nos anos de

2005 a 2008, resulta que a conta com maior peso relativo foi sempre a de

“outro material de consumo”, em que se integram, contabilisticamente, os

custos com material de consumo administrativo, hoteleiro, e de manutenção e

conservação (anexo 8).

Esta circunstância é susceptível de justificar-se pela especificidade de um

centro de reabilitação, substancialmente diferente da dos hospitais gerais,

sempre dominada pelo peso dos custos com medicamentos e com material

de consumo clínico.

10.3.1.3. Estrutura de custos com pessoal

Da análise da estrutura de custos com pessoal do CMRRC, nos anos de

2005 a 2008, resulta que a conta com maior peso relativo foi sempre a da

remuneração-base, apesar de se constatar uma tendência para a

estabilização do seu significado relativo (anexo 9).

Com efeito, sem que se tenha verificado uma diminuição do número total de

efectivos – conforme expresso no quadro 1 – apurou-se que, no ano de 2006,

houve uma redução dos custos absolutos com a remuneração-base e que, no

ano de 2007, houve um acréscimo inferior a um ponto percentual, pese

embora, no ano de 2008, ter havido, novamente, um aumento dos custos

absolutos (anexo 9).

10.3.1.4. Prescrição de ajudas técnicas

É reconhecida a importância das ajudas técnicas nos Centros de

Reabilitação, estando-lhes reservada pela RRH de MFR, a par com alguns

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118

hospitais classificados como Plataforma A, a competência para a prescrição

de todos os níveis dessas ajudas, pelo que a sua aquisição tem um impacto

importante na estrutura de custos.

O peso relativo dos encargos com prescrição de ajudas técnicas na estrutura

global de custos do CMRRC, nos anos de 2005 a 2008, foi de cerca de 3%

do total de encargos (anexo 10).

10.3.1.5. Resultados do exercício

Da análise dos resultados dos exercícios do CMRRC, nos anos de 2005 a

2008, sintetizada no quadro 4, resulta uma degradação dos resultados

financeiros, em termos de resultados operacionais como em termos de

resultados líquidos do exercício.

Quadro 4

CMRRC: Resultados do exercício (2005-2008)

2005 2006 2007 2008 Resultado operacional 899.929,84 € 278.897,51 € -195.738,45 € -305.505,10 €Resultado líquido 1.093.650,85 € 418.269,08 € -209.809,83 € -233.024,58 €

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

10.3.2. Eficácia  

10.3.2.1. Primeiras consultas

Da análise do peso das primeiras consultas no total de consultas externas

realizadas pelo CMRRC, nos anos de 2005 a 2008, decorre a ausência de

uma tendência constante da evolução deste indicador de eficácia.

Na verdade, no ano de 2005, o peso das primeiras consultas no total foi de

33%, tendo descido para 29% em 2006, subido para 36% em 2007, e descido

novamente para 26% em 2008 (anexo 11). Nos termos dos contratos-

programa negociados entre a ARSC e o CMRRC para os anos de 2007 e de

2008, o peso das primeiras consultas médicas no total deveria atingir 30%,

constituindo este rácio um dos objectivos de qualidade e de eficiência tal

como, aliás, decorre do próprio Plano Nacional de Saúde.

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119

10.3.2.2. Resolutividade

Pese embora a cautela que tal informação suscita, segundo os elementos

fornecidos pelo CMRRC, todos os doentes saídos nos anos de 2005 a 2008

tiveram como destino de alta o domicílio (Respostas ao Questionário,

Dezembro de 2008).

10.3.2.3. Transferências para outras unidades

Suscita idênticas reservas, a informação igualmente disponibilizada pelo

CMRRC, de que nenhum dos doentes saídos nos anos de 2005 a 2008 foi

transferido para o internamento de outra unidade de saúde (Respostas ao

Questionário, Dezembro de 2008.

10.3.2.4. Produção realizada e contratada

Da análise do desvio da produção realizada face à contratada pelo CMRRC,

nos anos de 2006 a 2008 (no ano de 2005 não tinha sido celebrado contrato-

programa), resulta que, no ano de 2006, o número de doentes saídos ficou

abaixo do contratualizado, o mesmo sucedendo, no ano de 2007,

relativamente ao número de consultas externas e, no ano de 2008, quer

relativamente ao número de doentes saídos, quer relativamente ao número

de tratamentos, conforme expresso no quadro 4.

Não obstante a mesma análise revelar que, na maioria das linhas de

produção contratualizadas, os objectivos foram, não só atingidos, como

superados, suscita alguma perplexidade o facto de o volume de doentes

saídos contratualizado para o ano de 2008 ser inferior ao número de doentes

saídos realizado em 2005, ou o facto de o volume de consultas externas

contratualizado para o ano de 2008 ser inferior ao número de consultas

externas realizado no ano de 2005, conforme expresso no quadro 5.

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120

Quadro 5 CMRRC: Desvio da produção realizada e contratada (2005-2008)

Real. Cont. Real. Cont. Real. Cont. Real. Cont.Dias internamento

9.887 - - 7.328 5.708 28% 10.308 6.584 57% 14.530 10.128 43%

Doentes saídos

201 - - 106 136 174

Consultas externas

1.888 - - 1.783 1.403 27% 1.696 1.704 -0,50% 1.809 1.386 31%

Sessões hospital dia

- - - - - - - - - - - -

Tratamentos 300.845 - - 375.557 553.410 625.908

2005 2006 2007 2008

 

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008  

10.3.2.5. Taxa de úlceras de decúbito

Muito embora a informação fornecida pelo CMRRC refira que a taxa de

úlceras de decúbito, em 2005, 2006, 2007 e 2008, foi de 0% (Respostas ao

Questionário, Dezembro de 2008), suscitou-se a dúvida de saber se este

valor derivou da aplicação de um instrumento de medida ou da ausência de

qualquer medição, dúvida para a qual não se encontrou resposta.

10.3.3. Eficiência  

10.3.3.1. Demora média

A demora média – como outros indicadores de eficiência – é pouco

conclusiva sem que seja cruzada com o tipo de patologia tratado, a

severidade da doença ou o grau de dependência do doente.

Contudo, não sendo possível esse cruzamento, resta referir que a análise,

nos anos de 2005 a 2008, evidencia um aumento do número médio de dias

de internamento dos doentes saídos, conforme expresso no quadro 6.

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121

Quadro 6 CMRRC: Demora média (2005-2008)

DEMORA MÉDIA (2005-2008)

49 dias

69 dias76 dias

84 dias

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

10.3.3.2. Taxa de ocupação

A análise da taxa de ocupação do CMRRC, nos anos de 2005 a 2008, revela

uma tendência para um melhor aproveitamento da capacidade instalada,

conforme expresso no quadro 7, afigurando-se pertinente recordar que, até

ao final do ano de 2007, o CMRRC praticou uma lotação de 36 camas e, no

ano de 2008, uma lotação de 50 camas.

Quadro 7

CMRRC: Taxa de ocupação (2005-2008)

TAXA DE OCUPAÇÃO(2005-2008)

75%

56%

78% 80%

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

10.3.3.3. Doentes saídos por cama

Salvaguardados os aspectos já referidos a propósito da leitura do indicador

demora média, a análise do indicador doentes saídos por cama no CMRRC,

nos anos de 2005 a 2008, revela uma diminuição, conforme resulta expresso

no quadro 8.

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122

Quadro 8

CMRRC: Doentes saídos por cama (2005-2008)

DOENTES SAÍDOS POR CAMA (2005-2008)

5,6

2,93,8 3,5

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

10.3.3.4. Doentes saídos por médico ETC

Com idêntica ressalva, a análise do indicador doentes saídos por médico

ETC no CMRRC, nos anos de 2007 e 2008, revela uma diminuição, conforme

resulta expresso no quadro 9.

Quadro 9 CMRRC: Doentes saídos por médico ETC (2005-2008)

DOENTES SAÍDOS POR MÉDICO ETC (2005-2008)

26,2

18,9

n.d.n.d.

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

10.3.3.5. Doentes saídos por enfermeiro ETC

A análise do indicador doentes saídos por enfermeiro ETC no CMRRC, nos

anos 2007 e 2008, revela uma melhoria, conforme resulta expresso no

quadro 10, mantendo-se as cautelas anteriormente expostas.

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123

Quadro 10

CMRRC: Doentes saídos por enfermeiro ETC (2005-2008)

DOENTES SAÍDOS POR ENFERMEIRO ETC (2005-2008)

3,84,5

n.d. n.d.

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

10.3.3.6.Consultas externas por médico ETC

A análise do indicador consultas externas por médico ETC no CMRRC, nos

anos de 2007 e 2008, revela uma diminuição, conforme resulta expresso no

quadro 11.

Quadro 11

CMRRC: Consultas externas por médico ETC (2005-2008)

CONSULTAS EXTERNAS POR MÉDICO ETC (2005-2008)

326,2

196,6

n.d. n.d.

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

10.3.3.7.Tratamentos por terapeuta ETC

A análise do indicador tratamentos por terapeuta ETC no CMRRC, nos anos

de 2007 e 2008, revela uma melhoria, conforme expresso no quadro 12. De

sublinhar, todavia, que o rácio apurado relativamente ao CMRRC permite

intuir que o Centro utiliza o conceito de tratamento na acepção de acto

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124

terapêutico, contabilizando como tratamento cada acto de um tratamento. Na

verdade, esta é a única interpretação compatível com o valor anual de

tratamentos que o CMRRC refere realizar e com o número de terapeutas

ETC que nele desempenham funções.

Quadro 12

CMRRC: Tratamentos por terapeuta ETC (2005-2008)

TRATAMENTOS POR TERAPEUTA ETC (2005-2008)

27.213,40

n.d. n.d.

23.058,80

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

10.3.3.8. Custos unitários

Da análise da informação fornecida em relação aos custos unitários do dia de

internamento, da consulta externa e do tratamento no CMRRC, nos anos de

2005 a 2008, resulta que os valores referentes ao ano de 2005 são

exactamente coincidentes com os do ano 2006, o mesmo se verificando

relativamente aos anos de 2007 e de 2008 – conforme expresso no quadro

13 – de onde se indicia a pouca consistência dos dados da contabilidade

analítica, ilação reforçada face ao patente decalque dos referidos valores

relativamente aos preços constantes dos contratos-programa.

 

 

 

 

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125

Quadro 13 CMRRC: Custos unitários de acordo com a contabilidade analítica (2005-2008)

2005 2006 2007 2008

Dia de internamento 398,92€ 398,92€ 247,05€ 247,00€

Consulta Externa (1.ª) 279,25€ 279,25€ 134,27€ 134,27€

Consulta Externa (Su) 279,25€ 279,25€ 122,06€ 122,06€

Tratamento 1,98€ 1,95€ 1,80€ 1,23€

Sessão de Hospital Dia n.a. n.a. n.a. n.a.

Refeição 5,20€ 5,13€ 4,79€ 4,98€

Kg roupa tratada 0,50€ 0,52€ 0,53€ 0,53€

Material esterilizado

n.a. n.a. n.a. n.a.

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

10.3.3.9. Trabalho extraordinário

Da análise do peso do trabalho extraordinário no total das remunerações no

CMRRC, nos anos de 2005 a 2008, resulta uma contribuição relativa

tendencialmente constante, conforme está expresso no quadro 14.

Quadro 14

CMRRC: Peso do trabalho extraordinário no total das remunerações (2005-2008)

PESO DO TRABALHO EXTRAORDINÁRIO (2005-2008)

14% 12% 9% 12%

86% 88% 92% 88%

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

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126

10.3.3.10. Gestão de tempos de internamento e de altas

Face à importância da gestão dos tempos de internamento e do planeamento

de altas no contexto da avaliação da eficiência, procurou medir-se o

desempenho do CMRRC por referência aos parâmetros “existência de

equipas de gestão de altas”, “adaptação do destino de alta do doente”,

“entrega ao doente/família de plano de cuidados”, “caracterização do grau de

dependência do doente no momento da alta”, “disponibilização do contacto

de um profissional, no momento da alta” e “contacto com o doente para

follow-up”, em 31.12.08, conforme expresso no quadro 15.

Quadro 15

CMRRC: Indicadores de gestão de tempos de internamentos e de altas (31.12.08) Existência de equipas de gestão de altas Não

Adaptação do destino de alta do doente (v.g.,

disponibilização de ajudas técnicas, formação de familiares

cuidadores)

Sim

Entrega ao doente/família de plano de cuidados (v.g.,

exercícios e actividades diárias, medicação, exames,

consultas centro de saúde, consulta de seguimento no

hospital de reabilitação)

Sim

Caracterização do grau de dependência do doente no

momento da alta

Sim

Disponibilização do contacto de um profissional no momento

da alta

Sim

Contacto com o doente para follow-up Não

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

10.3.4. Equidade

Dos indicadores de medida da equidade no acesso ao CMRRC que foram

utilizados, por referência a 31.12.08, resultaram os valores constantes do

quadro 16.

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127

Quadro 16 CMRRC: Indicadores de acesso (31.12.08)

N.º de doentes saídos/1.000 habitantes 0,1 N.º de consultas externas/1.000 habitantes 1,8 N.º de doentes em espera para internamento 18 N.º de doentes em espera para consulta externa 23 N.º total de dias de espera para internamento 90 N.º total de dias de espera para consulta externa 45

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008 O CMRR possui critérios de admissão – transcritos no anexo 12 - que se

encontram objectivamente definidos e são conhecidos por quem referencia

os doentes, tendo todas as recusas de admissão (que, em 2008 se

traduziram em 61 doentes) sido fundamentadas no incumprimento dos

referidos critérios (Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008).

10.3.5. Qualidade

Da análise da realidade descrita pelo CMRRC relativamente a aspectos que

se consideraram constitutivos do atributo qualidade, decorre uma incipiente

cultura de qualidade organizacional. Com efeito – tal como vem expresso no

quadro 17 – o CMRRC respondeu, por um lado, que a “percentagem de

consultas externas desmarcadas”, a “espera média para consulta externa”, a

“taxa de mortalidade no internamento”, a “taxa de infecção associada a

cuidados de saúde”, a “percentagem de profissionais com formação em

controlo da IACS”, a “percentagem de profissionais com formação em SBV”,

o “tempo médio de resposta a reclamações dos utentes”, a “percentagem de

retenção global de trabalhadores”, o “número de dias de absentismo por

doença decorrente de acidente de trabalho”, constituem elementos não

disponíveis, tendo-se constatado que não se realizam os registos da

informação subjacente à sua medição. Por outro lado, o CMRRC respondeu

negativamente às questões sobre “projectos de certificação e de acreditação

implementados e/ou em curso”, “aplicação de inquéritos de satisfação de

utentes” e “aplicação de inquéritos de satisfação dos profissionais.”

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128

Quadro 17 CMRRC: Indicadores de qualidade (2008)

Qualidade na prestação de cuidados % Consultas externas desmarcadas n.d. Espera média para consulta externa n.d. Taxa de mortalidade no internamento n.d. Projectos de certificação e de acreditação implementados e/ou em curso

Não

Controlo da Infecção Associada a Cuidados de Saúde Existe CCIH Sim CCI tem instalações próprias Não CCI tem pessoal afecto a tempo inteiro Não Existe medição da taxa de infecção associada a cuidados de saúde

Não

Taxa de infecção associada a cuidados de saúde n.d. % Profissionais com formação em Controlo da IACS n.d. Segurança de doentes e de profissionais Gestor do Risco Não % Profissionais com formação em SBV n.d. Satisfação de utentes Gabinete do Utente Sim Tempo médio de resposta a reclamações dos utentes n.d. Utente pode ocupar quarto individual Sim Utente pode escolher a composição da refeição Não Utente encontra Manual de Acolhimento na Internet Não Utente dispõe de sinalética clara para se orientar na instituição Sim Utente beneficia de horário alargado de visitas Não Aplicação de inquéritos de satisfação de utentes Não Satisfação de profissionais % Retenção global de trabalhadores n.d. N.º de dias de absentismo por doença decorrente de acidente de trabalho

n.d.

Aplicação de inquéritos de satisfação dos profissionais Não Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

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129

11. O Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão  

11.1. Estrutura  

11.1.1. Contexto de intervenção

De acordo com a RRH de MFR, a área de influência do Centro de Medicina

de Reabilitação de Alcoitão (CMRA) abrange os distritos de Lisboa,

Santarém, Setúbal, Portalegre e Évora, o que se traduz em cerca de

3.600.000 habitantes.

Contudo, segundo o Conselho Directivo do CMRA, ao Centro afluem também

– para tratamento em regime de internamento e de ambulatório – utentes

provenientes de todo o território nacional, inclusivamente das regiões

autónomas, bem como cidadãos dos Países Africanos de Língua Oficial

Portuguesa.

Dos hospitais a montante da intervenção do CMRA, apenas o Hospital Curry

Cabral dispõe de camas de MFR, em número de 20.

Pela análise da proveniência geográfica, dos doentes saídos do internamento

do CMRA, no período 2005-2007, conclui-se que 50% residiam nos

concelhos de Lisboa, Cascais, Sintra, Oeiras, Amadora e Loures; dos

doentes atendidos em consulta externa do CMRA, 77% residiam também

naqueles concelhos; dos doentes tratados em ambulatório, 82% residiam nos

concelhos de Cascais e de Sintra (anexo 13).

Relativamente à caracterização da oferta de cuidados a jusante da

intervenção do CMRA, foi apurado que, pese embora a maioria dos doentes

serem referenciados para o domicílio (anexo 13), o Centro articula-se com

unidades da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados,

encontrando-se prevista a celebração de acordo com a ARSLVT nesta

matéria (Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008).

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130

11.1.2. Caracterização geral  

11.1.2.1. História, missão e objectivos estratégicos

A história do CMRA começa em 1956, ano em que a Santa Casa da

Misericórdia de Lisboa decidiu dar início à construção de uma unidade que

permitisse conjugar objectivos de reabilitação de diminuídos físicos com

incapacidade motora e de formação de pessoal especializado.

O local escolhido para a instalação foi a localidade de Alcoitão, entre o Estoril

e Sintra, no concelho de Cascais.

Em simultâneo, com o início das obras de construção do Centro e da Escola

de Reabilitação, a SCML atribuiu, em 1959, bolsas de estudo que

permitissem a especialização do pessoal necessário, iniciativa que teve

substancial cooperação de entidades internacionais, particularmente do

World Rehabilitation Fund (www.scml.pt).

Todas as despesas inerentes à instalação do CMRA foram apoiadas por

receitas provenientes dos lucros dos jogos de totobola.

O Centro foi inaugurado no dia 2 de Julho de 1966. A Escola de Reabilitação, criada pela Portaria n.º 22.034, de 4 de Junho de 1966, do Ministério da

Saúde e Assistência Social, foi, à época, integrada no Centro, funcionando,

actualmente, de forma autónoma mas articulada com o CMRA.

Em 1977, o CMRA foi integrado na Direcção-Geral dos Hospitais mas, em

Setembro de 1991, passou, novamente, a depender da SCML.

O CMRA está vocacionado para a reabilitação de pessoas portadoras de

deficiência de predomínio físico ou multideficiência congénita e adquirida, de

qualquer idade, provenientes de todo o país, com o objectivo de promover a

máxima funcionalidade, valorizando e potenciando as capacidades de

recuperação.

Numa óptica do desenvolvimento de novas tecnologias ao serviço das

pessoas, o CMRA tem vindo a desenvolver novas áreas para o apoio ao

diagnóstico em reabilitação.

Neste sentido, a missão do CMRA é servir os utentes e a comunidade com

serviços de reabilitação através de grandes eixos orientadores: qualidade e

ética nos cuidados e atendimento; inovação tecnológica aplicada em

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131

diagnóstico e terapêutica; qualidade da formação e especialização dos

profissionais; investigação em várias áreas da reabilitação (Respostas ao

Questionário, Dezembro de 2008).

O CMRA afirma pretender ser um centro de excelência na prestação de

cuidados de reabilitação para o seu público-alvo e ser reconhecido a nível

nacional e internacional como um centro de referência em MFR.

11.1.2.2. Carteira de serviços

A carteira de serviços do CMRA é integrada por cuidados de MFR prestados

em regime de internamento e de ambulatório.

O Centro está estruturado para oferecer reabilitação e programas de bem-

estar ao longo da vida e, nesse sentido, apresenta-se organizado em três

serviços de internamento, de acordo com a patologia e/ou grupo etário – o

Serviço de Lesões Vertebro-Medulares, para adultos com patologia medular,

o Serviço de Reabilitação Pediátrica e Desenvolvimento, para crianças e

jovens até aos 18 anos de idade e o Serviço de Reabilitação Geral de

Adultos, para adultos com patologia de causa não medular.

O Centro disponibiliza um vasto leque de consultas especializadas de MFR –

patologia neurológica, lesão medular, reabilitação pediátrica,

desenvolvimento, amputados dos membros, patologia osteo-articular,

patologia do pé, patologia respiratória, toxina botulínica, incontinência

urinária, disfunção sexual neurogénica – de consultas de outras

especialidades – cirurgia plástica, medicina interna, neurologia, neuro-

oftalmologia, neuro-pediatria, ortopedia, ortopedia infantil, psiquiatria, urologia

– e de consultas nas áreas não médicas – psicologia clínica e dietética.

O Centro proporciona também vários tratamentos de reabilitação –

fisioterapia, hidroterapia, terapia da fala, terapia ocupacional, actividades da

vida diária, enfermagem de reabilitação, tratamento da disfunção eréctil

neurológica, tratamento da incontinência urinária, tratamentos com toxina

botulínica, ortoprotesia, mesoterapia, podologia.

Relativamente aos meios complementares de diagnóstico e terapêutica

disponíveis no CMRA, destacam-se a fisiopatologia respiratória, a

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baropodografia computorizada, a neurofisiologia, a urodinâmica, a

imagiologia e a ecografia.

Da carteira do CMRA consta ainda a oferta dos serviços proporcionados pelo

Laboratório de Marcha, pelo Centro de Mobilidade (avaliação da capacidade

de condução) e pelo Laboratório de Posição de Sentado (Respostas ao

Questionário, Dezembro de 2008).

11.1.2.3. Lotação

O CMRA tem uma lotação de 144 camas para internamento, sendo 20

destinadas exclusivamente a crianças e jovens (Respostas ao Questionário,

Dezembro de 2008).

11.1.2.4. Actividade assistencial

O conceito de produção contratada, no sentido em que se utiliza nas

instituições do SNS, não é aplicável ao CMRA, uma vez que este não

contratualiza volumes de produção com entidades externas (Respostas ao

Questionário, Dezembro de 2008). 11.1.2.5. Principais patologias tratadas

Conforme foi anteriormente referido no quadro da caracterização do CMRRC,

em Portugal não existe um sistema de classificação de doentes de MFR.

O CMRA encontra-se, actualmente, envolvido num projecto de

implementação de um sistema de classificação específico para doentes de

MFR (MIF – Índice de Dependência Funcional), adaptado dos Estados

Unidos da América para Portugal por uma equipa da ACSS e da Faculdade

de Medicina da Universidade do Porto (Respostas ao Questionário,

Dezembro de 2008).

A aplicação do referido sistema de classificação, já efectuada relativamente

aos episódios de internamento do ano de 2006, tornou possível encontrar as

Grandes Categorias Funcionais enunciadas no quadro 18.

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Quadro 18 CMRA: Classificação dos internamentos de 2006 em Grandes Categorias Funcionais

Categoria Funcional n.º % %

acum. Acidente Vascular Cerebral (AVC) 136 33,4% 33,4% Lesão Traumática da Coluna Vertebral 75 18,4% 51,8% Diversos 44 10,8% 62,7% Lesão Traumática do Cérebro 38 9,3% 72,0% Lesão Não Traumática da Coluna Vertebral 33 8,1% 80,1%

Patologias Neurológicas 28 6,9% 87,0% Traumatismos Múltiplos Major, com Lesão Cerebral ou da Coluna Vertebral 16 3,9% 90,9%

Lesão Não Traumática do Cérebro 12 2,9% 93,9% Amputação, Extremidade Inferior 6 1,5% 95,3% Patologias Ortopédicas NCOP 5 1,2% 96,6% Substituição da Articulação Membro Inferior 4 1% 97,5%

Síndrome Guillian Barre 4 1% 98,5% Fracturas do Membro Inferior 3 0,7% 99,3% Artrite Reumatóide 2 0,5% 99,8% Amputação NCOP 1 0,2% 100% Osteoartrite 0 0% 100% Patologias Cardíacas 0 0% 100% Patologias Pulmonares 0 0% 100% Sindroma Doloroso 0 0% 100% Traumatismos Múltiplos Major, sem Lesão Cerebral ou da Coluna Vertebral 0 0% 100%

Queimaduras 0 0% 100%

Total 407 100% 100% Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

Face ao exposto, conclui-se que as principais patologias tratadas no CMRA

são o acidente vascular cerebral, a lesão traumática da coluna vertebral e o

traumatismo crânio encefálico.

11.1.2.6. Capacidade instalada  

11.1.2.6.1. Instalações

O CMRA possui, actualmente, uma superfície de implantação de 12.300 m2 e

uma área coberta de 27.600 m2 e o estado de conservação das suas

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134

instalações é considerado satisfatório (Respostas ao Questionário, Dezembro

de 2008).

11.1.2.6.2. Equipamentos

O CMRA dispõe dos normais equipamentos de uma unidade desta natureza,

de entre os quais se destaca, todavia, o simulador para a avaliação da

capacidade de condução (anexo 14). Possui, ainda, alguns equipamentos

para exames complementares de diagnóstico e terapêutica (por exemplo,

mesa telecomandada com intensificador de imagem, equipamento destinado

a exames de radiologia geral e exames extra-longos) e equipamento para

armazenamento e dispensa de medicamentos em dose individual (tipo

kardex) (Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008).

11.1.3. Quadro legal

O CMRA é um estabelecimento de saúde com a categoria de centro

hospitalar central de âmbito regional, dedicado à prestação de cuidados de

saúde especializados de reabilitação médica na deficiência motora grave ou

multideficiência de predomínio motor, nos termos do Decreto-Lei n.º 274/91,

de 7 de Agosto.

Enquanto unidade de saúde pertencente e dependente da SCML, o CMRA é

uma pessoa colectiva de direito privado e utilidade pública administrativa, que

prossegue fins de acção social, de acordo com normas estatutárias

legalmente definidas que conformam o seu quadro legal – Decreto-Lei n.º

235/2008, de 3 de Dezembro.

Referindo-se à margem de autonomia que possui e ao tipo de intervenção do

Ministério da Saúde, o Conselho Directivo considerou que o CMRA, e mais

especificamente o seu Conselho Directivo e os seus membros, têm

subdelegação de competências da Mesa da SCML e que, neste momento, a

SCML/CMRA apenas tem tutela do Ministério do Trabalho e da Solidariedade

Social (Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008).

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11.2. Processos  

11.2.1. Modelo de organização interna de governação

O CMRA dispõe de Regulamento Interno, documento ao qual não nos foi,

todavia, facultado o acesso (Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008).

O Provedor da SCML é, por inerência, o Presidente do Conselho Directivo do

CMRA e do Hospital Ortopédico de Sant’ana, podendo delegar essa

competência num elemento da Mesa e, actualmente, o Presidente do

Conselho Directivo do CMRA é o Vice Provedor da SCML. Os restantes

elementos do Conselho Directivo foram designados pela Mesa da SCML. Integram o Conselho Directivo dois órgãos: a Direcção Técnica, órgão

colegial no qual têm assento a Directora Clínica, a Enfermeira Directora e a

Terapeuta Directora e o Administrador Delegado, como órgão individual. Do Administrador Delegado depende a Administração, Gestão e Logística do

Centro, organizada nos seguintes moldes: Unidade de Aprovisionamento,

Unidade Financeira, Unidade de Instalações, Equipamentos e Transportes,

Unidade de Recursos Humanos, Unidade de Gestão de Doentes e Núcleo de

Informática e Telecomunicações.

Na dependência da Direcção Técnica encontra-se a produção de cuidados de

saúde, nomeadamente o internamento, os serviços de acção médica, a

consulta externa, as unidades complementares de diagnóstico e as unidades

terapêuticas.

As funções dirigentes e de chefia são as definidas na orgânica da SCML. A

forma de recrutamento para o exercício de funções dirigentes e de chefia é

definida por deliberação da Mesa da SCML.

Em matéria de órgão auditor e de fiscalização, o CMRA é anualmente alvo de

auditorias externas, sendo também, por diversas vezes, auditado por

entidades internas da SCML. Com efeito, a SCML, na sua orgânica, possui

um Gabinete de Auditoria Interna que é um serviço de apoio técnico e de

consultoria dos órgãos de administração da SCML. O CMRA pode ainda ser

auditado pelo Tribunal de Contas (Respostas ao Questionário, Dezembro de

2008).

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136

11.2.2. Instrumentos de gestão

Em matéria de instrumentos de gestão, o Conselho Directivo do CMRA

referiu que são elaborados, anualmente, um plano de actividades, um plano

de recursos humanos e um plano de investimento.

Referiu, ainda, que, mensalmente, são elaborados tableaux de bord, com o

intuito de proceder a uma análise comparativa da realidade com as

previsões, permitindo o apuramento de desvios, a elaboração de diagnósticos

e a tomada de decisões a curto prazo, e que, trimestralmente, são realizados

relatórios de acompanhamento da actividade assistencial do CMRA

(Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008).

11.2.3. Recursos humanos

No que respeita aos recursos humanos, apurou-se que, em 31.12.08,

desempenhavam funções no Centro 511 trabalhadores, o que representou

um acréscimo global de efectivos de cerca de 1% face a 31.12.07 (nestes

números está considerado todo o pessoal em exercício de funções,

independentemente do vínculo jurídico), como se pode verificar pela análise

do quadro 19.

Quadro 19

CMRA: Distribuição de efectivos por grupos profissionais (2005-2008) Grupo profissional N.º de

efectivos (31.12.05)

N.º de efectivos

(31.12.06)

N.º de efectivos

(31.12.07)

N.º de efectivos

(31.12.08) Médicos 26 24 24 24 0,0% Enfermeiros 104 108 113 114 1% Técnicos Superiores 15 15 17 19 12% Técnicos Sup. de Saúde 1 2 2 3 50% Técnicos de Diag e Terapêutica 108 114 118 119 1% Técnico-Prof./Administrativos 30 33 35 37 6% Auxiliares e Operários 179 174 175 172 -2% Outros 17 24 23 23 0,0% Total 480 494 507 511 1%

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

Considerando a informação colhida relativamente às cargas horárias

semanais individualmente contratadas, procedeu-se à transformação do

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número bruto de efectivos discriminado no quadro 19 em equivalentes em

tempo completo. O resultado encontra-se expresso no quadro 20.

Quadro 20

CMRA: Profissionais prestadores de cuidados em ETC (2005-2008) Grupo profissional

Prof. ETC (31.08.05)

Prof. ETC (31.12.06)

Prof. ETC (31.12.07)

Prof. ETC (31.12.08)

Médicos 21,9 19,5 19,4 26,6

Enfermeiros 111,6 113,6 119,3 116,6

Fisioterapeutas 42,5 47,6 48,8 52,1

Terapeutas da Fala 13 13,6 14,6 14

Terapeutas Ocupacionais 31,5 34,5 34,5 35 Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

Considerando a informação relativa a 31 de Dezembro de 2008, é possível

proceder a uma caracterização genérica dos recursos humanos do CMRA,

realizando um balanço social em que se destacam: a predominância dos

trabalhadores com contrato de trabalho sem termo (51%), do sexo feminino

(69%), do grupo etário entre os 31 e os 50 anos (39%), com o grau de

licenciatura (35%) e de nacionalidade portuguesa (99%) (anexo 15).

Ainda em matéria de caracterização genérica dos recursos humanos afectos

ao CMRA, foi apurada uma taxa de absentismo global de 6,4% no ano de

2008 (anexo 15).

De acordo como Conselho Directivo, o CMRA debate-se com carência de

profissionais na área da ortoprotesia.

Dado que, dos trabalhadores que desempenham funções no CMRA, alguns

têm a sua relação jurídico-laboral titulada pelo direito público e outros pelo

direito privado, a política salarial da instituição segue, quer o modelo definido

para as carreiras da função pública, quer a negociação individual.

Em 2008, a SCML deu inicio à distribuição de incentivos de natureza

financeira, por via da atribuição de prémios de desempenho. A atribuição de

prémios de desempenho opera-se nas carreiras em que os sistemas de

avaliação de desempenho permitem a ordenação dos trabalhadores por

ordem decrescente de classificação quantitativa e em relação aos quais não

existem outros mecanismos remuneratórios para compensação do

desempenho. Os prémios de desempenho são de valor correspondente a

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uma remuneração base mensal e, na sua atribuição, são utilizados os

seguintes critérios: considerada a ultima avaliação de desempenho, são

identificados os trabalhadores que tenham obtido a menção máxima

(Excelente) ou a imediatamente inferior a ela (Muito Bom); seguidamente,

procede-se à ordenação de tais avaliações em cada um dos universos

definidos, até se atingir o limite de 5% dos colaboradores com contrato de

trabalho com o CMRA. Os trabalhadores que mudem de posição

remuneratória - ou seja, que tenham, no mesmo ano, beneficiado de

promoção ou progressão - não concorrem para a atribuição de prémios de

desempenho.

Em matéria de formação de pessoal, o CMRA procede, no início de cada ano

civil, a um levantamento das necessidades formativas dos seus

colaboradores e, com base nestes resultados, define planos gerais de

formação de todo o CMRA, ou específicos para cada grupo profissional. Em 2008, dos 513 colaboradores, 305 frequentaram acções de formação

(187 frequentaram acções de formação realizadas internamente pelo CMRA;

106 frequentaram formação externa; e 12 frequentaram formação externa

realizada no estrangeiro).

No CMRA não existe um Centro de Investigação com trabalhos realizados

e/ou publicados. Contudo, anualmente, e de forma a preparar o Plano de

Actividades para o ano seguinte, é elaborado um plano de formação

extensível a todos os colaboradores do CMRA. Este plano decorre do

levantamento das necessidades formativas que é realizado no início de cada

ano. As coordenações técnicas (TDT e de Enfermagem) organizam também

acções de formação para os elementos das diversas equipas

multidisciplinares que trabalham no CMRA.

No CMRA realiza-se avaliação do desempenho individual dos trabalhadores.

Todos os trabalhadores da SCML, independentemente do vínculo jurídico

que titula a sua relação de trabalho, e desde que não estejam abrangidos por

um sistema específico de avaliação, são avaliados no âmbito do Processo de

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Gestão do Desempenho (PROGED) implementado em 200535 (Respostas ao

Questionário, Dezembro de 2008).

11.2.4. Recursos financeiros Em 2008, o valor orçamentado para a despesa corrente foi de,

aproximadamente, 19.000.000,00€, e o valor estimado para a receita corrente

de cerca de 21.000.000,00€, tendo o total das despesas de capital sido

orçamentado em 4.500.000,00€.

No CMRA o valor das dívidas a fornecedores com mais de 90 dias em

30.09.08 era de 977.122,19€, sendo o prazo médio de pagamento a

fornecedores de 95,24 dias e o valor dos créditos sobre terceiros de

45.376.801,17€ (Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008).

11.2.5. Outros recursos materiais  

11.2.5.1. Compras

Em matéria de aquisição de bens e serviços e de realização de empreitadas,

o CMRA rege-se, actualmente, pelo Decreto-Lei n.º 18/2008, de 29 de

Janeiro, que procedeu à aprovação do Código dos Contratos Públicos. Até 30                                                         35 O PROGED integra-se no ciclo anual de gestão e consiste num processo continuado de planeamento e gestão de objectivos e actividades, de modo a auxiliar a instituição, as estruturas orgânicas e os trabalhadores a atingirem resultados de forma sustentada. O processo de gestão do desempenho desenvolve-se pelo planeamento de objectivos, pelo desenvolvimento de competências e atitudes, pelo acompanhamento da sua execução e pela avaliação. Os objectivos essenciais do PROGED são: desenvolver uma cultura de gestão orientada para resultados com base em objectivos previamente estabelecidos; mobilizar os trabalhadores em torno da missão essencial do serviço orientando a sua a actividade em função dos objectivos claros e os critérios de avaliação transparente; reconhecer o mérito e excelência individuais, assegurando a diferenciação e valorização dos diversos níveis de desempenho; promover a comunicação eficaz entre as chefias e trabalhadores bem como o trabalho em equipa e a cooperação interdepartamental; identificar necessidades de formação e fomentar, de forma objectiva, o desenvolvimento profissional dos trabalhadores. O PROGED comporta seis fases: auto-avaliação; avaliação prévia do desempenho; harmonização das avaliações de desempenho; reunião de comunicação da avaliação final; homologação; reclamação. Não estão sujeitos ao PROGED os Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica e Enfermeiros, pertencentes à função pública. Assim, os Técnicos de Diagnóstico e Terapêutica funcionários públicos são avaliados de acordo com o estatuto legal da carreira Técnica de Diagnóstico e Terapêutica, aprovado pelo Decreto-Lei n.º 564/99, de 21 de Dezembro, que consagra o sistema de avaliação do desempenho; já os Enfermeiros funcionários públicos são avaliados de acordo com o consagrado no Decreto-Lei n.º 437/91, de 8 de Novembro (Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008). 

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de Julho de 2008, o CMRA obedecia: na realização de despesa até 200.000€

derivada da locação e aquisição de bens móveis e de serviços, ao

Regulamento de Aquisição de Bens e Serviços da SCML; na realização de

despesa superior a 200.000€ derivada da locação e aquisição de bens

móveis e de serviços, ao Decreto-Lei n.º 197/99, de 8 de Junho; e, na

realização de despesa derivada de empreitadas, ao Decreto-Lei n.º 59/99, de

2 de Março.

Relativamente a compras de grupo, apurou-se que, nos anos de 2005, 2006

e 2007, o CMRA efectuou, com todos os equipamentos da SCML, aquisição

conjunta de serviços da área hoteleira (alimentação, limpeza, tratamento da

roupa e segurança); apurou-se também que, desde Janeiro de 2008, o

Centro passou a recorrer à central de compras da ACSS para aquisição de

medicamentos.

Relativamente à negociação de descontos comerciais e financeiros, o CMRA

referiu a sua prática, nos anos de 2006 e de 2007, sem carácter sistemático,

e que o peso relativo das compras urgentes no total de compras não se

encontra disponível (Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008).

11.2.5.2. Instalações e Equipamentos

O CMRA dispõe de inventário de instalações e equipamentos, organizado por

sectores ou áreas de actividade, constituindo os designados “Cadernos

Técnicos de Equipamento”. Cada Caderno Técnico inclui as fichas técnicas

dos equipamentos que lhe estão associados. Está em curso a actualização

do levantamento de instalações e equipamentos, através do programa

informático AutoCad. (Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008).

Existem contratos de manutenção dos equipamentos que, pela sua natureza,

exigem mão-de-obra especializada ou ferramentas/equipamentos

específicos; a manutenção dos restantes equipamentos é efectuada pelo

pessoal pertencente à Unidade de Instalações, Equipamentos e Transportes

(UIET) do CMRA36.

                                                        36 O Plano de Assistências prevê as assistências programadas durante o ano, de acordo com a periodicidade constante nos contratos celebrados com as diferentes empresas prestadoras de serviços. O controlo das assistências é realizado mediante: acompanhamento dos técnicos das empresas prestadoras por pessoal da UIET, sempre que se entenda por

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Na preparação do orçamento anual de investimentos do CMRA é tido em

conta o Plano de Obras e Equipamentos, elaborado para o ano em causa. O

plano de investimentos é elaborado pelo Administrador-Delegado e

posteriormente aprovado pelo Conselho Directivo e pela Mesa da SCML. As

fontes de financiamento são, em exclusivo, as receitas próprias do CMRA, da

SCML e dos Jogos Sociais (Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008).

11.2.5.3. Fornecimentos e serviços externos

O CMRA recorre, actualmente, à subcontratação da maioria das prestações

hoteleiras, ou seja, serviços de alimentação, limpeza, segurança, recolha e

tratamento de resíduos urbanos e hospitalares, desinfestações e tratamento

de roupa hospitalar.

De acordo com o Conselho Directivo, presidiram à decisão de subcontratação

razões estratégicas, baseadas numa análise custo/beneficio e só se encontra

equacionado manter as actuais subcontratações (Respostas ao Questionário,

Dezembro de 2008).

11.2.6. Tecnologias da informação e comunicação

O Núcleo de Informática e Telecomunicações (NIT) é a estrutura responsável

pelos sistemas de informação do CMRA, contando com uma dotação de

cinco elementos: quatro colaboradores a tempo completo e um colaborador a

tempo parcial (quatro horas diárias). Todos os elementos têm formação

específica, sendo que o responsável do NIT possui licenciatura em Gestão de

Sistemas de Computação.

O valor orçamentado pelo CMRA para sistemas da informação corresponde,

em 2009, a cerca de 11% do valor do investimento global e cerca de 2% do

total de despesas.                                                                                                                                                                conveniente; verificação/análise do relatório de intervenção indicado na Folha de Assistência/Folha de Obra entregue pelas empresas na UIET; confirmação de que a calendarização das assistências está a ser cumprida, comparando as datas das intervenções com as programadas; verificação de que as condições contratuais estão a ser cumpridas sempre que seja suscitada qualquer dúvida. No ano de 2008 foi implementada a gestão de garantias dos equipamentos. Existe, igualmente, um plano de reparação/conservação/beneficiação das instalações priorizado, valorizado, calendarizado, aprovado e monitorizado, designado por Plano de Obras, elaborado pela UIET e aprovado pelo Conselho Directivo do Centro (Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008). 

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Todos os computadores do CMRA estão ligados em rede. Relativamente aos

acessos, o Centro conta com 387 utilizadores, existindo 182 caixas de correio

electrónico nominais, perfazendo um rácio de 47,03%. Muitos dos

utilizadores, sem caixa nominal, utilizam uma das vinte caixas de correio

electrónico associadas ao Serviço ou Unidade.

O CMRA não dispõe de aplicações de gestão clínica, mas tem aplicações

informáticas de apoio nas áreas de diagnóstico e terapêutica37 e de

aplicações de apoio à gestão administrativa.38 Estão assegurados os

interfaces que representam uma maior carga da transição de dados entre

aplicações.

O processo clínico é, ainda, apresentado em papel, bem como os resultados

laboratoriais. Os exames imagiológicos, contudo, apresentam-se já em

suporte digital.

Os meios que são mais utilizados na comunicação interna e externa são, por

ordem decrescente de importância, o telefone, o correio electrónico e o papel.

O CMRA tem um sub-site englobado no portal da SCML, existindo um grupo

adstrito à função de efectuar a manutenção dos conteúdos (Respostas ao

Questionário, Dezembro de 2008).

11.2.7. Potencial de inovação da oferta

No que se refere a projectos que contemplem abordagens terapêuticas

inovadoras ou esquemas alternativos de prestação de cuidados, no CMRA

foram identificados e descritos os enunciados no anexo 16.

O CMRA está a desenvolver, actualmente, um projecto de cuidados

domiciliários, prevendo a sua efectivação em breve.

Às questões relativas à eventual instalação de algum tipo de call center e à

possibilidade de agendamento electrónico de consultas, o Conselho Directivo                                                         37 É o caso de IPACS (Dicom), Duet (Estudos Urodinâmicos), Lab Manager (Provas funcionais respiratórias), Vicon e FootScan (Laboratório de Marcha), FSA (Laboratório de Posição Sentado), Simulador de condução, Locomat e Keypoint (neurofisiografia) (Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008). 38 O CMRA possui uma aplicação baseada em Oracle «Sistemas de Informação de Gestão de Apoio Hospitalar» e a plataforma SAP com os módulos: MM (Aprovisionamento e Logística), FI (Financeiros), RH (Recursos Humanos). Em breve será também instalado o módulo MRP, para planeamento de necessidades materiais (Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008).  

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143

informou que o CMRA possui um posto de atendimento centralizado,

assegurado por dois elementos, que tem por objectivo a recepção de

chamadas telefónicas e a posterior distribuição das mesmas pelos receptores

pretendidos e que, actualmente, o call center dispõe de um sistema

automático de atendimento, não existindo, contudo, qualquer sistema para o

agendamento electrónico de consultas (Respostas ao Questionário,

Dezembro de 2008).

11.3. Resultados  

11.3.1. Custos  

11.3.1.1. Estrutura de custos

Da análise da estrutura global de custos do CMRA, nos anos de 2005 a 2008,

resulta que a conta com maior peso relativo foi sempre a das despesas com

pessoal que, todavia, evidenciou um decréscimo de peso relativo (anexo 17).

Esta evolução está em consonância com o aumento do número de efectivos

registado ao longo do período.

11.3.1.2. Estrutura de custos com compras

Da análise da estrutura de custos com compras do CMRA, nos anos de 2005

a 2008, resulta que a conta com maior peso relativo foi sempre a de

medicamentos, que representa cerca de metade do orçamento de compras

(anexo 18).

Ao reduzido peso relativo da conta de material de consumo clínico não será,

certamente, alheia a circunstância de os critérios contabilísticos utilizados

pelo CMRA imputarem noutra conta os custos com ajudas técnicas. 11.3.1.3. Estrutura de custos com pessoal

Da análise da estrutura de custos com pessoal do CMRA, nos anos de 2005

a 2008, resulta que a conta com maior peso relativo foi sempre a de

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144

remuneração-base, apesar de se constatar uma redução significativa do seu

peso relativo em 2007, novamente contrariada em 2008 (anexo 19).

De sublinhar o baixo peso relativo da conta de suplementos, no qual se

incluem as despesas decorrentes da realização de trabalho extraordinário

(anexo 19).

11.3.1.4. Prescrição de ajudas técnicas e de transportes em ambulâncias

O peso relativo dos encargos com prescrição de ajudas técnicas na estrutura

global de custos do CMRA, nos anos de 2005 a 2008, situou-se entre 1% e

2% (anexo 20).

11.3.1.5. Resultados do exercício

Da análise dos resultados do exercício do CMRA nos anos de 2005 a 2008,

sintetizada no quadro 21, resulta que, após dois anos com resultados

operacionais e líquidos positivos, se sucederam resultados negativos em

2008.

Todavia, a circunstância de não ter sido facultado o acesso às

demonstrações de resultados do CMRA, impossibilita a compreensão dos

factores justificativos da referida degradação dos resultados financeiros no

exercício económico de 2008.

De referir, todavia, que de acordo com o CMRA, os resultados negativos de

2008, devem-se exclusivamente, à necessidade de, por indicação dos

Auditores Externos, proceder à constituição de “Provisões para clientes de

cobrança duvidosa.”

Quadro 21

CMRA: Resultados do exercício (2005-2008) 2005 2006 2007 2008

Resultado operacional 810.320,99€ 1.541.065,25€ 2.424. 331,20€ - 8.206.257,90€

Resultado líquido -15.097.418,09€ 2.391.408,94€ 2.767.408,57€ - 8.105.348,87€

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

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145

11.3.2. Eficácia  

11.3.2.1. Primeiras consultas

Da análise do peso das primeiras consultas no total de consultas externas

realizadas pelo CMRA nos anos de 2005 a 2008, decorre a estabilização do

perfil do Centro no que se refere a este indicador, que apresenta uma

variação de não mais de 2% ao longo do quadriénio (anexo 21).

11.3.2.2. Resolutividade

Utilizando o rácio número de doentes saídos para o domicílio/número total de

doentes saídos, o CMRA apresentou, nos anos de 2005 a 2008, um indicie

de resolutividade que tem decrescido (anexo 22). Com efeito, segundo os elementos fornecidos pelo CMRA, a percentagem de

doentes saídos para outros destinos, que não o domicílio, cresceu ao longo

dos anos estudados – de 13%, em 2006, para 25%, em 2008 (anexo 22).

11.3.2.3. Transferências para outras unidades

Da análise do peso dos doentes saídos do CMRA por transferência, nos anos

de 2005 a 2008, resulta o seu reduzido significado em termos de destino dos

doentes saídos (anexo 23), para além de pequenas oscilações ao longo dos

anos: 3%, em 2006, 8%, em 2007 e 4%, em 2008 (anexo 23).

11.3.2.4. Produção realizada e contratada

Conforme foi anteriormente referido, o conceito de produção contratada não é

aplicável ao CMRA, uma vez que este não contratualiza com entidades

externas volumes de produção. O volume de produção realizada tem sofrido

pequenas oscilações (ver quadro 22), com excepção do número de

tratamentos, que cresceu de forma significativa em 2008 (Respostas ao

Questionário, Dezembro de 2008).

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Quadro 22 CMRA: Evolução do volume de produção (2005-2008)

45.424503

507.540

10.184 43.493497

520.738

10.970 42.671456

488.343

11.640 42.988429

640.167

11.320

EVOLUÇÃO DO VOLUME DE ACTIVIDADE (2005-2008)

Dias internamento Doentes saídos Tratamentos Consultas externas

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

 

11.3.3. Eficiência  

11.3.3.1. Demora média  

Conforme foi anteriormente referido, a análise da demora média,

desenquadrada de informação sobre, designadamente, o tipo de patologia ou

a severidade da doença, é pouco robusta.

Ainda assim, pode referir-se que a análise, nos anos de 2005 a 2008,

evidencia um pequeno aumento do número médio de dias de internamento

dos doentes saídos, muito embora se destaque a tendência para a

estabilização numa demora média de três meses conforme está expresso no

quadro 23.

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Quadro 23 CMRA: Demora média (2005-2008)

DEMORA MÉDIA (2005-2008)

96 dias

94 dias95 dias

90 dias

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

11.3.3.2. Taxa de ocupação

A análise da taxa de ocupação do CMRA, nos anos de 2005 a 2008, revela

uma tendência de estabilidade, com um bom aproveitamento da capacidade

instalada em termos de camas, conforme está expresso no quadro 24.

Quadro 24 CMRA: Taxa de ocupação (2005-2008)

TAXA DE O CUPAÇÃO (2005-2008)

86%

88%

87% 87%

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

11.3.3.3. Doentes saídos por cama

Salvaguardados os aspectos referidos a propósito da interpretação do

indicador demora média, a análise do indicador doentes saídos por cama no

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CMRA, nos anos de 2005 a 2008, revela uma pequena diminuição, conforme

resulta expresso no quadro 25.

Quadro 25 CMRA: Doentes saídos por cama (2005-2008)

DOENTES SAÍDOS POR CAMA (2005-2008)

3,5

3,4 3,4

3,2

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

11.3.3.4. Doentes saídos por médico ETC

Com idêntica ressalva, a análise do indicador doentes saídos por médico

ETC no CMRA, nos anos de 2005 a 2008, demonstra que, depois de três

anos de estabilidade do indicador, de 2007 para 2008 se registou uma

significativa diminuição, conforme resulta do quadro 26.

 

Quadro 26 CMRA: Doentes saídos por médico ETC (2005-2008)

DO ENTES SAÍDO S PO R MÉDICO ETC (2005-2008)

22,97 23,44 23,46

16,12

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

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149

11.3.3.5. Doentes saídos por enfermeiro ETC

A análise do indicador doentes saídos por enfermeiro ETC no CMRA, nos

anos de 2005 a 2008, ainda que não enquadrada por informação sobre o

grau de dependência dos doentes, revela uma pequena diminuição anual,

conforme resulta expresso no quadro 27.

Quadro 27

CMRA: Doentes saídos por enfermeiro ETC (2005-2008) DO ENTES SAÍDO S PO R ENFERMEIRO ETC

(2005-2008)

4,54,0 3,8 3,7

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

11.3.3.6.Consultas externas por médico ETC

A análise do indicador consultas externas por médico ETC no CMRA, nos

anos de 2005 a 2008, revela um acentuado crescimento até 2007, a partir do

qual se seguiu uma diminuição significativa, conforme resulta do quadro 28.

Quadro 28 CMRA: Consultas externas por médico ETC (2005-2008)

CO NSULTAS EXTERNAS PO R MÉDICO ETC(2005-2008)

465,2

562,8599,0

425,5

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

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11.3.3.7. Tratamentos por terapeuta ETC

A análise do indicador tratamentos por terapeuta ETC no CMRA, nos anos de

2005 a 2008, revela uma significativa melhoria no ano de 2008, conforme

resulta expresso no quadro 29. Desempenho positivo, aliás, reforçado pelo

facto de os valores apresentados pelo CMRA permitirem concluir pela

adopção de um conceito de tratamento diferente do utilizado no CMRRC,

instituição onde a cada acto terapêutico se faz corresponder um tratamento.

Quadro 29 CMRA: Tratamentos por terapeuta ETC (2005-2008)

TRATAMENTOS POR TERAPEUTA ETC (2005-2008)

5.833,705.441,30

4.988,10

6.332,00

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

11.3.3.8. Custos unitários

Da análise da informação fornecida em termos do custo unitário do dia de

internamento, da consulta externa e do tratamento no CMRA, nos anos de

2006 e de 2007, resultam os valores inscritos no quadro 30. Os dados

relativos aos anos de 2005 e de 2008 não foram disponibilizados.

Quadro 30 CMRA: Custos unitários de acordo com a contabilidade analítica (2005-2008)

Contabilidade Analítica

2005 2006 2007 2008

Dia de internamento n.d. 421,97€ 468,96€ n.d. Consulta Externa n.d. 173,47€ 329,29€ n.d.

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Tratamento n.d. 15,31€ 16,31€ n.d. Sessão de H. Dia n.d. n.d. n.a. n.d. Refeição n.d. n.d. n.d. n.d. Kg roupa tratada n.d. n.d. n.d. n.d. L. mat. esterilizado n.d. n.d. n.d. n.d.

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

11.3.3.9. Trabalho extraordinário

Da análise do peso do trabalho extraordinário no total das remunerações no

CMRA, nos anos de 2005 a 2008, resulta uma contribuição relativa

tendencialmente constante, conforme expresso no quadro 31.

Quadro 31

CMRA: Peso do trabalho extraordinário no total das remunerações (2005-2008)

PESO DO TRABALHO EXTRAORDINÁRIO (2005-2008)

3,7% 4,0% 4,0% 4,3%

96,3% 96,0% 96,0% 95,7%

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

11.3.3.10. Gestão de tempos de internamento e de altas

Os resultados do desempenho do CMRA por referência aos parâmetros

“existência de equipas de gestão de altas”, “adaptação do destino de alta do

doente”, “entrega ao doente/família de plano de cuidados”, “caracterização do

grau de dependência do doente no momento da alta”, “disponibilização do

contacto de um profissional no momento da alta” e “contacto com o doente

para follow-up”, encontram-se referidos no quadro 32.

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Quadro 32 CMRA: Utilização de instrumentos de gestão de tempos de internamentos e de altas

Existência de equipas de gestão de altas

Não. Em organização.

Adaptação do destino de alta do doente (v.g., disponibilização de ajudas técnicas, formação de familiares cuidadores)

Sim

Entrega ao doente/família de plano de cuidados (v.g., exercícios e actividades diárias, medicação, exames, consultas centro de saúde, consulta de seguimento no hospital de reabilitação)

Sim

Caracterização do grau de dependência do doente no momento da alta

Sim

Disponibilização do contacto de um profissional do Centro no momento da alta

Sim (Serviço Social)

Contacto com o doente para follow-up

Não

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

11.3.4. Equidade

Dos indicadores de medida da equidade no acesso ao CMRA que foram

utilizados, por referência a 31.12.08, resultaram os valores reflectidos no

quadro 33.

Quadro 33

CMRA: Indicadores de acesso (31.12.08) N.º de doentes saídos/1.000 habitantes 0,4

N.º de consultas externas/1.000 habitantes 11,3

N.º de doentes em espera para internamento 24

N.º de doentes em espera para consulta externa n.d.

N.º total de dias de espera para internamento 17,40

N.º total de dias de espera para consulta externa 33,70

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

O CMRA definiu critérios de inclusão para admissão de doentes em regime

de internamento e, de igual modo, definiu critérios de exclusão (anexo 24).

Relativamente à questão de saber se houve recusas de doentes, quantas e

por que razões, o CMRA referiu que tal informação não se encontra

disponível (Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008).

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153

11.3.5. Qualidade

Nos parâmetros seleccionados relativamente à avaliação do indicador

qualidade, o CMRA apresentou as respostas constantes do quadro 34.

Quadro 34

CMRA: Indicadores de qualidade (2008) Qualidade na prestação de cuidados % Consultas externas desmarcadas n.a. Espera média para consulta externa n.d. Taxa de mortalidade no internamento 1,7% Projectos de certificação e de acreditação implementados e/ou em curso

Sim. Serviço de Reabilitação Pediátrico e Desenvolvimento (SRPD) iniciou processo de certificação.

Controlo da Infecção Associada a Cuidados de Saúde Existe CCI Sim CCI tem instalações próprias Não CCI tem pessoal afecto a tempo inteiro Não Existe medição da taxa de infecção associada a cuidados de saúde

n.d.

Taxa de infecção associada a cuidados de saúde

n.d.

% Profissionais com formação em Controlo da IACS

n.d.

Segurança de doentes e de profissionais Gestor do Risco Não % Profissionais com formação em SBV n.d. Satisfação de utentes Gabinete do Utente Sim Tempo médio de resposta a reclamações dos utentes

n.d.

Utente pode ocupar quarto individual Por norma, não. Utente pode escolher a composição da refeição

Sim. Opção por três tipos de pratos, dentro de ementa definida.

Utente encontra Manual de Acolhimento na Internet

Sim

Utente dispõe de sinalética clara para se orientar na instituição

Sim. Placas identificativas dos locais, com cores conforme o tipo de zona/serviço.

Utente beneficia de horário alargado de visitas

Sim. 24 h/dia.

Aplicação de inquéritos de satisfação de utentes

Sim. Em 2006 aplicou-se um questionário de «Avaliação Sistemática da Satisfação dos Utentes» e em 2007 realizou-se um inquérito de satisfação referente à alimentação e limpeza.

Satisfação de profissionais % Retenção global de trabalhadores 90% N.º de dias de absentismo por doença decorrente de acidente de trabalho

204

Aplicação de inquéritos de satisfação dos profissionais

Sim. Em 2007 realizou-se um inquérito de satisfação relativo a alimentação, limpeza, lavandaria.

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

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154

12. O Centro de Medicina Física e de Reabilitação do Sul  

12.1.Estrutura  

12.1.1. Contexto de intervenção

Apesar de o Centro de Medicina Física e de Reabilitação do Sul (CMR Sul)

receber doentes provenientes de todo o país e de outros países, enquanto

unidade integrada na RRH de MFR serve, preferencialmente, uma população

de cerca de 500.000 habitantes, e a sua área de influência abrange as

regiões do Baixo Alentejo e do Algarve.39

O acesso ao Centro faz-se por referenciação dos hospitais do SNS nos quais

os doentes foram tratados na fase aguda (Cláusula 7.ª do Contrato de

Gestão), sendo a admissão determinada por critérios e prioridades de saúde

estabelecidos em norma interna, aprovada pela Entidade Pública Contratante

(Artigo 73.º n.º 3 do Regulamento Interno).

Não obstante os circuitos formalmente definidos para a referenciação de

doentes, do questionário e entrevistas realizados e da consulta documental

resultou a constatação que o Centro recebe também doentes referenciados

por Unidades de Cuidados Continuados e pela própria ARS do Algarve

porque a capacidade nele instalada se encontra longe da saturação -

circunstância que resulta paradoxal, conhecidas que são as fragilidades do

país em matéria de cobertura de camas de internamento em Centros de

Reabilitação.

Efectivamente, nos anos de 2007 e de 2008, o CMR Sul recebeu pedidos de

consulta, com a proveniência constante do anexo 25.

Como se pode verificar, a entidade que referenciou mais doentes para o

Centro, tanto no ano de 2007 como no de 2008, foi o Hospital Distrital de

Faro, logo seguida pela ARS do Algarve.

Do total de pedidos de referenciação recebidos pelo Centro em 2007, a

maioria diz respeito a patologia de acidente vascular cerebral (58%) e a                                                         39 A área de influência directa do Centro corresponde aos distritos de Beja e Faro. O Centro pode ainda receber utentes do Serviço Nacional de Saúde pertencentes a outras zonas geográficas do país, desde que no Centro exista capacidade e não ocorram listas de espera quanto aos utentes residentes na área de influência directa (Cláusula 7.ª n.os 2 e 5 do Contrato de Gestão).

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doentes residentes no distrito de Faro (88%), distribuição que se manteve

praticamente inalterada em 2008 (respectivamente, 60% e 86%) (Contrato de

Gestão do Centro de Medicina Física e de Reabilitação do Sul – Relatório

Anual, 2007 e Relatório Anual, 2008).

No que se refere à oferta de cuidados a jusante da intervenção do CMR Sul,

a referenciação de doentes, após alta clínica do internamento, efectua-se

quer para unidades de média duração e reabilitação, quer para unidades de

longa duração e manutenção, por intermédio das equipas de coordenação

local da rede de cuidados continuados integrados da zona de residência do

doente. Para além disso, o Centro articula-se com dois tipos de estruturas de

apoio domiciliário: equipas de cuidados continuados no domicílio, sediadas

nos centros de saúde de todo o país, e instituições particulares de

solidariedade social ou Santas Casas da Misericórdia, com valência de

serviço de apoio domiciliário também de todo o país (Respostas ao

Questionário, Dezembro de 2008).

Como se pode constatar pela análise dos quadros constantes do anexo 25, o

principal destino dos doentes saídos do Centro é o domicílio, sem prejuízo da

referenciação, de carácter residual, para lares (4% em 2007 e 3% em 2008),

unidades de agudos (10% em 2007 e 4% em 2008) e unidades de crónicos

(4% em 2007 e 1% em 2008).

12.1.2. Caracterização geral  

12.1.2.1. História, missão e objectivos estratégicos

A história do actual CMR Sul, localizado no sopé da Serra do Caldeirão, no

sítio dos Almargens, do concelho de São Brás de Alportel, recua ao Sanatório

Carlos Vasconcelos Porto, instituição inaugurada em Setembro de 1918 com

o objectivo de receber os funcionários da Companhia dos Caminhos-de-Ferro

Portugueses que sofriam de tuberculose.

Mais tarde integrado no Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos, o

referido Sanatório foi juridicamente extinto em Setembro de 1991, passando

para a alçada do Hospital Distrital de Faro e sofrendo obras de recuperação

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156

que lhe permitissem instalar o Serviço de Pneumologia desta unidade

hospitalar.

Atentos os indicadores sócio-sanitários e a insuficiente oferta de cuidados de

reabilitação na região do Algarve e do Baixo Alentejo, em finais da década de

1990, a comissão designada pelo Ministério da Saúde para a elaboração do

Plano Director do Hospital Distrital de Faro, propôs a transformação do antigo

Sanatório num Centro de Medicina Física e de Reabilitação e, com esse

intuito, apresentou um programa funcional, aprovado em Abril de 1998.

Para a construção, adaptação e apetrechamento do Centro foi lançado, em

Setembro de 2001, pela Direcção Regional de Instalações e Equipamentos

de Saúde do Alentejo e do Algarve, um concurso público que veio a ser

adjudicado, em Julho de 2002.

No decurso do projecto – com um prazo de execução inicial previsto de 24

meses e um co-financiamento do FEDER de 75% – foram realizados estudos

pela, entretanto criada, Estrutura de Missão Parcerias. Saúde que, face ao

custo público comparável40 apurado, consideraram existir mais valias para o

Estado na opção pela instalação e gestão do CMR Sul em regime de parceria

público-privada.

Desde Junho de 2006 que o CMR Sul vem sendo gerido ao abrigo de um

Contrato de Gestão41, celebrado entre a ARS Algarve, por competência

delegada do Ministro da Saúde, em representação do Estado, e uma

entidade do sector privado - a Sociedade Gestora do CMFRS, S.A., cujo

objecto é a realização de prestações de saúde de medicina física e de

                                                        40 “O Custo Público Comparável (CPC) representa o custo que o projecto teria para o Estado, caso fosse desenvolvido pela via tradicional, ou seja, directamente pelo sector público. O CPC é utilizado como instrumento fundamental para aferir a existência, ou não, de Value for Money para o erário público (Valor Acrescentado) na contratação de uma parceria, funcionando como benchmark no processo de avaliação objectiva das propostas dos privados. Havendo Valor Acrescentado, ou seja, sendo o custo do projecto em parceria inferior ao CPC, justifica-se a contratação da parceria; caso contrário o projecto deverá ser promovido directamente pela entidade pública” (Centro de Medicina Física e de Reabilitação do Sul - Estudo estratégico e económico-financeiro. Parcerias. Saúde, Janeiro de 2005). 41 O Concurso Público Internacional n.º 01/2005, para a celebração do Contrato de Instalação e Gestão do Centro de Medicina Física e de Reabilitação do Sul, em regime de Parceria Público-Privada, foi lançado por anúncio publicado no Diário da República, III Série, n.º 29, de 10 de Fevereiro de 2005, e no Jornal Oficial da União Europeia, Suplemento n.º 22, de 1 de Fevereiro de 2005, concurso que foi regulado pelo Decreto-Lei n.º 185/2002, de 20 de Agosto, e pelo Programa do Procedimento e Caderno de Encargos aprovados pelo Despacho do Ministro da Saúde n.º 3567/2005, de 17 de Janeiro de 2005, publicados no Diário da República, II Série, n.º 34, de 17 de Fevereiro de 2005. 

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reabilitação, a instalação e exploração do Centro, a manutenção e

conservação do edifício e a manutenção e conservação dos equipamentos

integrantes (Contrato de Gestão, Cláusula 5.ª).

Em 6 de Abril de 2007, o CMR Sul iniciou o período contratualmente

designado como período inicial de exploração.42

Nos termos do respectivo Regulamento Interno, a missão do CMR Sul é

“prestar, na sua área de influência, cuidados diferenciados de reabilitação a

pessoas portadoras de grande limitação funcional, nos regimes de

internamento, hospital de dia e ambulatório, com carácter intensivo e

cumprindo padrões de excelência com vista à maximização do potencial de

reabilitação de cada doente e ao pleno exercício da cidadania, tendo o

Centro funções apropriadas de ensino e de investigação” (Artigo 6.º do

Regulamento Interno).

O CMR Sul orienta-se pelo cumprimento de objectivos estratégicos

enunciados no seu Regulamento Interno.43

                                                        42 Da leitura conjugada das Cláusula 1.ª do Contrato de Gestão (que define o Período Inicial de Exploração – PIE - como período que decorre entre a data de Entrada em Funcionamento do Centro e 31 de Dezembro de 2007), Cláusula 19.ª (que dispõe que a Entrada em Funcionamento do Centro ocorre no prazo de cinco meses após a entrada em vigor do Contrato) e Cláusula 90.ª (que estabelece que o contrato produz efeitos a partir do conhecimento por parte da Entidade Gestora do Visto do Tribunal de Contas), resulta que se previa que a entrada em funcionamento do Centro ocorresse no último trimestre de 2006. No entanto, o Centro iniciou a sua actividade no dia 6 de Abril de 2007, reduzindo assim aquele período para 270 dias, pelo que a Entidade Gestora do Centro solicitou uma prorrogação do final do PIE para Junho de 2008. Nesse sentido, a ARS Algarve, embora não tenha aceite a prorrogação do prazo previsto contratualmente para o final do PIE, aceitou derrogar o prazo de cumprimento das obrigações a que se referem o n.º 1 da Cláusula 37.ª e do n.º 2 da Cláusula 27.ª do Contrato de Gestão até 30 de Junho de 2008 (Departamento de Contratualização da ARS Algarve, I.P., 2008). 43 1. Resposta plena à procura pública de cuidados de reabilitação definidos nos termos da parceria com o Ministério da Saúde e maximização da parte complementar privada, com preservação do património público afecto. 2. Inovação e melhoria contínua dos processos de cuidados e da tecnologia utilizada, de acordo com as ciências médicas e de gestão. 3. Elevada satisfação das pessoas servidas e obtenção de resultados clínicos excelentes e serviço de nível superior, maximizando o potencial de reabilitação de cada doente. 4. Desenvolvimento, motivação, envolvimento, reconhecimento do mérito e satisfação profissional de elevado nível. 5. Gestão eficiente e eficaz dos recursos, balanceando a sua organização e uso para a obtenção dos melhores resultados. 6. Serviço e satisfação da comunidade e respeito e preservação do meio ambiente. 7. Minimização dos erros e do desperdício, aumentando o valor produtivo e optimizando os resultados financeiros” (Artigo 10.º do Regulamento Interno).   

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12.1.2.2. Carteira de serviços

De acordo com as recomendações efectuadas pela Direcção Geral da

Saúde, ainda em fase de programação, a actividade assistencial do CMR Sul

deveria: excluir a área da reabilitação pediátrica44; assegurar a prestação de

cuidados de reabilitação, de forma prioritária, a doentes residentes nos

distritos de Beja e Faro, independentemente da unidade hospitalar da

Plataforma A que os referenciasse45, admitindo-se que o Centro pudesse

receber doentes de outras áreas de residência, desde que não existissem

listas de espera; e garantir o atendimento, em regime de ambulatório, de

doentes referenciados directamente de hospitais46 (Centro de Medicina Física

e de Reabilitação do Sul - Estudo estratégico e económico-financeiro.

Parcerias. Saúde, Janeiro de 2005).

Neste sentido, o perfil assistencial do Centro, definido e descrito em anexo ao

Caderno de Encargos e ao Contrato de Gestão, refere que a unidade deverá

prestar os cuidados médicos necessários às patologias decorrentes de

                                                        44 A inclusão da área de reabilitação pediátrica no futuro Centro de MFR do Sul apresentaria uma série de condicionantes e limitações a seguir discriminadas: tendência internacional de optar pelo tratamento de crianças em regime de ambulatório; a inclusão da área pediátrica obrigaria o Centro a deter um espaço próprio adequado à respectiva faixa etária e um quadro especializado de pessoal clínico. Ora, além de existir uma grave carência de técnicos especializados nesta área, a lotação relativamente limitada do Centro impossibilitaria a criação de uma enfermaria destinada apenas à reabilitação pediátrica. Uma vez que não estão reunidas, actualmente, todas as condições necessárias à inclusão, no perfil assistencial do Centro de MFR do Sul, de uma unidade de Reabilitação Pediátrica, os trabalhos de planeamento desenvolvidos pela Direcção Geral da Saúde e pelas Administrações Regionais de Saúde do Algarve e do Alentejo conduziram à exclusão desta especialidade (Centro de Medicina Física e de Reabilitação do Sul - Estudo estratégico e económico-financeiro. Parcerias. Saúde, Janeiro de 2005). 45 A entidade do Ministério da Saúde responsável pela definição do perfil assistencial deste Centro, a DGS, definiu que seriam atendidos nesta instituição, de forma prioritária, doentes residentes nos distritos de Beja e Faro, independentemente do hospital de Plataforma A que os referencie. A razão inerente a esta decisão prende-se essencialmente com o factor proximidade do local de residência e do seio familiar relativamente aos doentes que, por qualquer motivo tenham sido internados em cuidados de agudos noutros hospitais que não os da sua área de residência, já que (i) estes doentes têm dificuldade de locomoção e precisam de apoio nas deslocações para o Centro e (ii) por vezes, a reintegração do doente na vida social requer igualmente a participação dos familiares no processo terapêutico (Centro de Medicina Física e de Reabilitação do Sul - Estudo estratégico e económico-financeiro. Parcerias. Saúde, Janeiro de 2005). 46 Existem dois fortes argumentos no sentido de prever o atendimento de doentes referenciados directamente de unidades hospitalares para o ambulatório do Centro: a inexistência de suficientes estruturas com capacidade de resposta aos inúmeros casos de doentes necessitados de cuidados de Reabilitação; a necessidade de rentabilização das instalações da área terapêutica e do pessoal do Centro com doentes vindos do exterior (Centro de Medicina Física e de Reabilitação do Sul - Estudo estratégico e económico-financeiro. Parcerias. Saúde, Janeiro de 2005).

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lesões medulares, traumatismos crânio-encefálicos, acidentes vasculares

cerebrais, lesões cranianas não traumáticas, lesões medulares não

traumáticas, doenças neurológicas, politrauma major, Guillian Barré e outras

(espinha bífida, infecção, neoplasias, complicações médicas e cirúrgicas e

outras complicações medicamente complexas), sublinhando que as seis

primeiras patologias são prioritárias no processo de internamento, pelo que a

prestação de cuidados nas restantes patologias apenas deverá ocorrer caso

não existam listas de espera.

O referido anexo explicita ainda que, ao nível do internamento, o Centro

oferecerá 54 camas de Medicina Física e de Reabilitação, cuja assistência

será garantida pela presença física permanente das especialidades de

Medicina Física e de Reabilitação e de Medicina Interna, e pelo apoio mínimo

bissemanal de consultadoria em Neurologia, Psiquiatria, Psicologia Clínica e

Urologia; ao nível do ambulatório, o Centro oferecerá consultas externas de

Medicina Física e de Reabilitação, de Medicina Interna, de Neurologia, de

Urologia, de Psiquiatria e de Psicologia Clínica, tal como tratamentos nas

áreas da Cinesiterapia Respiratória, Fisioterapia, Hidroterapia, Terapia

Ocupacional e Terapia da Fala. De igual modo se prevê que o Centro seja

apoiado por um sector de diagnóstico por imagem, de um sector de exames

especiais, de um sector de análises e de um sector de ajudas técnicas.

Com efeito, a carteira de serviços disponível é constituída por cuidados de

reabilitação, em regime de internamento e ambulatório, e, estudos

urodinâmicos, por falta de oferta deste tipo de serviço na região (Respostas

ao Questionário, Dezembro de 2008).

12.1.2.3. Lotação

De acordo com o Anexo III ao Contrato de Gestão, o Centro tem uma

capacidade instalada mínima de 54 camas de internamento de MFR, das

quais 15 especificamente dedicadas ao internamento de lesões medulares e

de traumatismos crânio-encefálicos, que apenas poderão ser ocupadas com

doentes de outras patologias caso não existam listas de espera.

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O CMR Sul iniciou a sua actividade em 6 de Abril de 2007, tendo praticado

uma lotação de 20 camas até ao final do 2.º trimestre do ano, momento a

partir do qual passou a praticar uma lotação que manteve em 2008.

12.1.2.4. Actividade assistencial

O Contrato de Gestão do Centro de Medicina Física e de Reabilitação do Sul

assenta na distinção dos conceitos de produção efectiva (prestação de

serviços clínicos efectivamente realizados pelo Centro em cada ano de

execução do Contrato de Gestão)47 e de produção prevista (prestação de

serviços clínicos a realizar pelo Centro em cada ano de execução do

Contrato de Gestão) e refere que, para o período inicial de exploração, a

produção prevista é a que como tal se encontra discriminada no Anexo XI

(Cláusula 23.ª) e que, para os anos seguintes, a produção prevista é a que

vier a ser determinada de acordo com as regras constantes do procedimento

para a determinação da produção prevista (Cláusula 24.ª do Contrato de

Gestão).

O Contrato estabelece, também, que a actividade assistencial do Centro

compreende o internamento e o ambulatório. A produção de internamento

exprime-se em número de dias de internamento, determinados com base no

número de episódios de internamento por patologia e na respectiva demora

média de referência48, e engloba o conjunto de cuidados de saúde e outros

serviços acessórios prestados a todos os utentes admitidos no Centro que

ocupam camas para diagnóstico ou tratamento e permanecem, no mínimo,

vinte e quatro horas49. A produção de ambulatório exprime-se em número de

                                                        47 De destacar que nos termos da Cláusula 25.ª n.º 1 do Contrato de Gestão, as prestações de serviços clínicos subcontratadas a terceiros podem ser consideradas como produção efectiva do CMR Sul (v.g., imagiologia, imunohemoterapia, patologia clínica, serviços médicos para urgências internas). 48 Para o cálculo da produção prevista para o Período Inicial de Exploração foram consideradas as seguintes demoras médias de referência: lesões medulares=90 dias; traumatismos crânio-encefálicos=90 dias; acidentes vasculares cerebrais=33 dias; outras patologias=30 dias (Contrato de Gestão, Anexo XI). 49 Nos termos da Cláusula 22.ª n.os 3 e 4, do Contrato de Gestão o limite de vinte e quatro horas não se aplica às situações de utentes admitidos no Centro para internamento e falecidos, transferidos para outro estabelecimento de saúde ou saídos contra parecer médico, não dando também origem a um dia de internamento individualizado, entre outros, a ocupação de cama para indução pré-anestésica, reanimação, actos de diagnóstico, hospital de dia e utilização de meios complementares de diagnóstico e terapêutica especiais.

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consultas externas50 e de sessões de hospital de dia51, por patologia, tendo

em consideração os indicadores de referência relativamente ao número de

sessões de hospital de dia por consulta externa e por patologia.

12.1.2.5. Principais patologias tratadas

Conforme já foi referido, o perfil assistencial definido para o CMR Sul atribui-

lhe especiais responsabilidades no tratamento de lesões medulares,

traumatismos crânio-encefálicos, acidentes vasculares cerebrais, lesões

cranianas não traumáticas, lesões medulares não traumáticas, doenças

neurológicas, politrauma major e Guillian Barre (Caderno de Encargos e

Contrato de Gestão, Anexos III), ressalvando o tratamento de outras

patologias para situações de capacidade instalada excedentária.

A classificação dos internamentos de 2008 em Grupos de Diagnóstico

Funcional confirma esse perfil assistencial (ver quadro 35).

 

 

                                                        50 Entende-se por consulta externa o acto de assistência em ambulatório prestado no Centro onde os Utentes, com prévia marcação, são atendidos para observação clínica, diagnóstico, administração ou prescrição terapêutica, prescrição de sessões de Hospital de Dia e aconselhamento ou verificação da evolução do seu estado de saúde (Cláusula 1.ª n.º 1 do Contrato de Gestão). 51 Entende-se por sessão de hospital de dia o conjunto de procedimentos realizados em hospital de dia (estrutura organizacional com espaço físico próprio, onde se concentram meios técnicos e humanos qualificados, que fornecem cuidados de saúde de modo programado a doentes em ambulatório, em alternativa à hospitalização clássica, por um período não superior a 12 horas) e que constam de recomendações emanadas da Direcção Geral da Saúde (Cláusula 1.ª n.º 1 do Contrato de Gestão).

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Quadro 35 CMR Sul: Classificação dos internamentos de 2008 em Grupos de Diagnóstico

Funcional Grupo de Diagnóstico Funcional N.º % % ACUM. AVC- Envolvimento Hemicorpo Esquerdo (Encefálico Direito) 96 30,1% 30% AVC-Envolvimento Bilateral 4 1,3% 31% AVC-Envolvimento Hemicorpo Direito (Encefálico Esquerdo) 79 24,8% 56% AVC-Outros 12 3,8% 60% Complicações Médicas / Cirúrgicas 2 0,6% 61% Condições Medicamente Complexas 1 0,3% 61% DN-Doenças Neuromusculares 1 0,3% 61% DN-Esclerose Múltipla 4 1,3% 62% DN-Guillain Barre 3 0,9% 63% DN-Outras Doenças Neurológicas 9 2,8% 66% DN-Parkinsonismo 2 0,6% 67% DN-Polyneuropatia 2 0,6% 67% Lesão Encefálica 1 0,3% 68% LMNT-Paraplegia, Completa 6 1,9% 70% LMNT-Paraplegia, Incompleta 11 3,4% 73% LMNT-Tetraplegia, Incompleta C5-8 5 1,6% 75% LMNT-Tetraplegia, não especificada 1 0,3% 75% LMT-Paraplegia, Completa 8 2,5% 77% LMT-Paraplegia, Incompleta 8 2,5% 80% LMT-Paraplegia, não especificada 1 0,3% 80% LMT-Tetraplegia, Completa C1-4 1 0,3% 81% LMT-Tetraplegia, Completa C5-8 2 0,6% 81% LMT-Tetraplegia, Incompleta C1-4 3 0,9% 82% LMT-Tetraplegia, Incompleta C5-8 9 2,8% 85% LMT-Tetraplegia, não especificada 1 0,3% 85% Neoplasias 1 0,3% 86% Outras 7 2,2% 88% Outras Lesões Encefálicas 1 0,3% 88% Outros 8 2,5% 91% Spina Bífida 1 0,3% 91% Traumatismo Cranio-Encefálico + Lesão Medular 1 0,3% 91% Traumatismo Cranio-Encefálico Fechado 25 7,8% 99% Unilateral - Membro Inferior Abaixo do Joelho (BK) 3 0,9% 100% Total 319 100% 100%

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

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12.1.2.6. Capacidade instalada  

12.1.2.6.1. Instalações

As instalações onde funciona o CMR Sul encontravam-se, em finais da

década de 1990, em distintos estados de conservação. A parte moderna do

edifício principal, datada da década de 1960, encontrava-se em condições

razoáveis, visto que, desde a sua transição para o Hospital Distrital de Faro,

albergara, numa primeira fase, o Serviço de Pneumologia e, mais tarde, uma

Unidade de Cuidados Continuados dependente do Serviço de Medicina

Interna. A parte antiga do edifício principal, do primeiro quartel do século XX,

e os pequenos edifícios de apoio, encontravam-se degradados.

Quando a comissão de elaboração do Plano Director do Hospital de Faro

propôs a transformação do antigo Sanatório Carlos Vasconcelos Porto em

Centro de Medicina Física e de Reabilitação, apresentou um Programa

Funcional que, uma vez aprovado, fundamentou um conjunto de obras de

adaptação e de ampliação das instalações, cuja conclusão ocorreu em 2005.

Ainda assim, de acordo com o Contrato de Gestão, o parceiro privado

encontrava-se vinculado, não só à realização de prestações de saúde de

MFR, mas também à instalação e exploração do Centro, “obrigação na qual

se encontravam compreendidas as obras de adaptação e de remodelação do

Edifício (…) disponibilizado pela Entidade Pública Contratante, as actividades

de instalação do equipamento (…), a manutenção e conservação do Edifício

e (…) dos equipamentos integrantes do Centro” (Cláusula 5ª do Contrato de

Gestão).

A propriedade das instalações do Centro é da ARS Algarve, estando a

respectiva conservação a cargo da Sociedade Gestora (Respostas ao

Questionário, Dezembro de 2008).

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12.1.2.6.2. Equipamentos

Depois dos trabalhos de remodelação, desenvolvidos entre 2002 e 2004, com

a coordenação da Direcção Regional de Instalações e Equipamentos de

Saúde do Alentejo e do Algarve, o Centro ficou dotado com equipamentos

gerais, designadamente equipamentos de cozinha e de cafetaria,

equipamentos de lavandaria e de tratamento de roupas e equipamentos

sanitários.

Porém, coube ao parceiro privado o apetrechamento do Centro com o

equipamento reputado como necessário para a prestação de cuidados,

nomeadamente, o equipamento de hidroterapia e de imagiologia, o

equipamento médico geral e hoteleiro.

Actualmente, o CMR Sul dispõe dos normais equipamentos de uma unidade

desta natureza (anexo 26).

O Centro possui ainda alguns equipamentos para exames complementares

de diagnóstico e terapêutica como RX portátil, ecógrafo, estação de

urodinâmica com vídeo, espirómetro e equipamento de neurofisiologia

(Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008).

12.1.3. Quadro legal

O CMR Sul é uma unidade especializada da RRH de MFR do SNS, gerida

em regime de parceria público-privada, nos termos do Contrato de Gestão

assinado pelo Estado Português e pela GPSaúde-Sociedade Gestora do

Centro de Medicina Física e Reabilitação do Sul, S.A. Consequentemente, a

actividade desenvolvida no Centro tem como quadro legal o Contrato de

Gestão e a disciplina constante do Decreto-Lei n.º 185/2002, de 20 de

Agosto, do Decreto-Lei nº 86/2003, de 26 de Abril e do Decreto-Lei nº

141/2006, de 27 de Julho.

A Direcção Clínica e Executiva do Centro classificaram a sua margem de

autonomia como moderada, de acordo com os requisitos do Contrato de

Gestão, e, referindo-se ao tipo de intervenção do Ministério da Saúde,

mencionaram que, através da ARS Algarve, o Ministério da Saúde assegura

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a monitorização do contrato de Gestão que abrange todas as áreas de

actividade do Centro (Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008).

12.2. Processos  

12.2.1. Modelo de organização interna e de governação

O CMR Sul possui um Regulamento Interno, cuja última revisão data de

Julho de 2008, que se encontra disponível, em suporte electrónico, na

intranet do Centro e, em suporte papel, nos designados dossiers PICS

(Práticas Internas de Conduta e Segurança) de cada departamento.

A Parte IV do referido Regulamento Interno, dos artigos 16.º a 70.º,

comportando 6 secções52, versa sobre a organização do Centro e inicia-se

com a apresentação do respectivo organograma (anexo 27).

A organização do Centro é descrita por referência a três órgãos – Conselho

de Administração, Direcção Executiva e Direcção Clínica (Artigo 16.º n.º 2 do

Regulamento Interno).

O nível estratégico é exercido pelo Conselho de Administração (Artigo 16.º

n.º 4 do Regulamento Interno)53.

Na dependência da Direcção Clínica funcionam quatro unidades

especializadas por linhas de produção54 (Unidade de Traumatismos Crânio-

Encefálicos, Unidade de Lesões Medulares, Unidade de Acidentes

Vasculares Cerebrais e Unidade de Outras Patologias), unidades funcionais

(Internamento55, Consultas Externas, Unidade Terapêutica56 e Meios

                                                        52 As referidas Secções abrangem as seguintes matérias: Secção I – Organização Geral, Secção II – Conselho de Administração, Secção III – Director Executivo, Secção IV – Coordenação e Apoio Técnico, Secção V – Organização para a prestação de cuidados, Secção VI – Organização de apoio administrativo, geral e logístico. 53 A este órgão compete nomear e exonerar o director executivo, o director clínico e proceder às respectivas delegações de poder, aprovar o plano de negócios do Centro, aprovar o plano de actividades anual e o respectivo orçamento, acompanhar e avaliar o desempenho do Centro, aprovar os relatórios de actividades e as contas do Centro e assegurar os recursos apropriados ao cumprimento do Contrato (Artigo 17.º n.º 2 do Regulamento Interno). Muito embora o Regulamento Interno não explicite o número e o perfil dos elementos que integram o Conselho de Administração, de acordo com Centro o referido órgão é composto por um Presidente e por dois Vogais. 54 Nos termos do Artigo 16.º n.º 6 do Regulamento Interno, estas unidades constituem Centros de Responsabilidade. 55 As unidades de internamento têm enfermeiros coordenadores que reportam ao Director Clínico (Artigo 45.º n.º 2 do Regulamento Interno). 

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Complementares de Diagnóstico), para além das tradicionais unidades de

apoio clínico (Farmácia, Serviço Social, Psicologia Clínica e Nutrição) (Artigo

16.º n.º 6 do Regulamento Interno)57.

Na dependência da Direcção Executiva encontram-se a Gestão de Recursos

Humanos, a Gestão Operacional e de Apoio ao Doente, a Gestão da

Qualidade e a Gestão Administrativa e Financeira (Artigo 16.º n.º 7 do

Regulamento Interno)58.

À semelhança do que sucede na generalidade dos hospitais, o Centro conta

com várias comissões técnicas de carácter permanente. Com efeito,

encontram-se expressamente previstas a Comissão de Coordenação

                                                                                                                                                               56 A unidade terapêutica terá um coordenador técnico que reporta ao Director Clínico (Artigo 45.º n.º 3 do Regulamento Interno). 57 De acordo com o Regulamento Interno ao Director Clínico compete “a organização do sistema de produção de cuidados e a adequação entre a missão do Centro, os recursos, os processos de cuidados e os resultados e em particular: a. Assegurar o cumprimento dos objectivos estratégicos e operacionais no domínio da produção e da qualidade de cuidados. b. Liderar o sector da prestação de cuidados, com base nos programas especializados de cuidados e nos serviços das unidades de prestação de cuidados e de apoio clínico, desenvolvendo as melhores condições para o bom aproveitamento dos recursos disponíveis. c. Assegurar na sua área de actuação as actividades de planeamento, execução, controlo, correcção dos desvios de forma integrada no contexto do Centro. d. Presidir ao conselho clínico e à comissão de farmácia e terapêutica. e. Definir as linhas de orientação clínica e os protocolos, avaliar os indicadores clínicos e promover a sua análise aprofundada pelos responsáveis clínicos do Centro. f. Controlar a qualidade dos serviços clínicos adquiridos ao exterior. g. Garantir a referenciação e a continuidade de cuidados integrados. h. Coordenar a gestão do risco clínico do Centro. i. Participar e promover a participação dos profissionais de saúde nas actividades de melhoria contínua. j. Participar no processo de avaliação do desempenho profissional dos profissionais de saúde. k. Assegurar a actualização dos conhecimentos e da capacidade técnica dos profissionais de saúde e procurar as actividades de investigação. l. Promover a inserção do Centro na rede de referenciação hospitalar de medicina física e de reabilitação, na rede de cuidados de saúde da área de influência do Centro e nas redes de apoio à continuidade de cuidados e o sucesso do processo de reabilitação. m. Assegurar o cumprimento das regras de deontologia profissional” (Artigo 43.º do Regulamento Interno). 58 De acordo com o Regulamento Interno ao Director Executivo compete: “1. Assegurar o cumprimento da missão e das obrigações do Contrato e dos objectivos estratégicos e operacionais do Centro. 2. Promover a integração dos sistemas e processos administrativos, de apoio e clínicos, integrando a comissão de coordenação do Centro. 3. Desenvolver um bom e eficaz relacionamento com a Entidade Pública Contratante. 4. Estabelecer relações de cooperação com as autoridades de saúde da área de influência e demais relações externas. 5. Apoiar o cumprimento das funções do Gestor do Contrato, da Comissão Conjunta e Comissão de Acompanhamento Permanente. 6. Assegurar o cumprimento das obrigações decorrentes do Capítulo IV, deveres especiais do Contrato, para além do que cabe ao Conselho de Administração da Sociedade Gestora e com o apoio deste órgão societário. 7. Organizar, orientar e avaliar as funções financeira e de recursos humanos. 8. Assegurar a operacionalidade do serviço de acolhimento de doentes. 9. Planear e executar a política comercial, designadamente, definir a política de preços. 10. Orientar a pesquisa de mercado para a maximização da quota de doentes não beneficiários do SNS. 11. Gerir a imagem do Centro. 12. Coordenar a gestão da qualidade do Centro” (Artigo 19.º do Regulamento Interno).

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(Humanização, Segurança e Qualidade), o Conselho Clínico59, a Comissão

de Ética, a Comissão de Farmácia e Terapêutica e a Comissão de Controlo

da Infecção (Artigo 20.º n.º 2 do Regulamento Interno)60.

Não obstante a ausência de referência no Regulamento Interno a um órgão

de fiscalização, o Centro esclareceu existir um Fiscal Único (Respostas ao

Questionário, Dezembro de 2008).

Como resulta do exposto, a análise do modelo de organização interna e do

modelo de governação do CMR Sul permite identificar duas situações

relativamente atípicas no quadro nacional comparado. Com efeito, constata-

se que, sob o ponto vista do modelo de organização da prestação de

cuidados, foi instituída a estruturação da actividade por programas de

cuidados especializados, cabendo a cada programa uma equipa

interdisciplinar de trabalho, cuja composição depende das necessidades de

cada doente e que é sempre coordenada por um fisiatra. Constata-se, ainda,

que no modelo de governação, o Conselho Clínico assume um papel

relevante – este órgão, presidido pelo director clínico e integrado pelos

directores de cada uma das unidades especializadas, inclui, também, o

enfermeiro coordenador, o farmacêutico, o assistente social, o psicólogo

clínico e o coordenador da unidade terapêutica, com funções expressas de

assessoria do director clínico – e que a hierarquia técnica da prestação de

cuidados é expressamente atribuída ao director clínico, a quem incumbe a

coordenação dos recursos e dos processos de trabalho, assessorado pelo

Conselho Clínico.

12.2.2. Instrumentos de gestão

Os principais instrumentos de gestão do CMR Sul são o Contrato de Gestão61

– considerado como bastante amplo, definindo grande parte dos recursos                                                         59 O Conselho Clínico é presidido pelo Director Clínico e é integrado pelos directores de cada uma das unidades especializadas de cuidados integrados e ainda pelos seguintes profissionais: médico internista, enfermeiro coordenador dos cuidados de enfermagem, farmacêutico, assistente social, psicólogo clínico e pelo coordenador da unidade terapêutica. Compete ao Conselho assessorar o Director Clínico no cumprimento das suas competências (Artigo 34.º do Regulamento Interno) 60 Nos termos da Cláusula 38.ª n.º 2 do Contrato de Gestão os órgãos de apoio técnico “devem elaborar, trimestralmente, relatórios das actividades desenvolvidas, nos quais se incluirão a descrição de medidas e acções tomadas e a avaliação dos respectivos resultados, que deverão ser enviados para conhecimento à Entidade Pública Contratante”.  

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afectos ao CMR Sul e estabelecendo mais de 200 indicadores de

monitorização mensal, semestral e anual (Respostas ao Questionário,

Dezembro de 2008).

O Contrato de Gestão – com a duração de sete anos, contados desde o

conhecimento do visto do Tribunal de Contas (Cláusulas 15.ª e 90.ª do

Contrato de Gestão) – é composto por 91 cláusulas e por 21 anexos que

regulam os vários aspectos da relação entre a Entidade Pública Contratante

e a Entidade Gestora, desde a fase de instalação do Centro à fase de

extinção do contrato, envolvendo todo o decurso da exploração.

Com efeito, encontram-se de antemão previstas todas as obrigações da

Entidade Gestora no que se refere, não apenas a obras de adaptação do

edifício e de instalação de equipamentos, dotação mínima de meios técnicos

e humanos a afectar à actividade de exploração, sistemas de informação e

de garantia de qualidade a implementar, actividade assistencial a

desenvolver, mas também aos indicadores a produzir para a monitorização

do desempenho do Centro, incluindo eventuais entidades subcontratadas

(Cláusula 50.ª e Anexo XVI do Contrato de Gestão).

Sublinha-se, no que respeita aos instrumentos de gestão do Centro, o

exaustivo detalhe com que o Anexo XVI do Contrato de Gestão, sob o título

“Sistema de Monitorização e Avaliação do Desempenho”, aborda esta

matéria, em termos de definição de indicadores para monitorização da

qualidade da área assistencial e das áreas instrumentais, de parâmetros de

desempenho de resultado e parâmetros de desempenho de serviço.

Começando por referir que “o sistema de monitorização compreende a

implementação de uma solução Business Intelligence robusta e flexível,

garantindo a capacidade de análise pormenorizada da informação relativa à

actividade do Centro”, o referido Anexo especifica que o sistema de

monitorização e avaliação da qualidade dos resultados de natureza

assistencial a adoptar será o International Quality Indicator Project (IQIP), e

                                                                                                                                                               61 De acordo com o disposto no artigo 8.º do Decreto-Lei n.º 185/2002, de 20 de Agosto, o contrato de gestão tem por objecto principal assegurar as prestações de saúde promotoras, preventivas ou terapêuticas, correspondentes ao serviço público de saúde através de um estabelecimento de saúde, ou parte funcionalmente autónoma, integrado ou a integrar no Serviço Nacional de Saúde. O contrato de gestão pode ainda ter por objecto a concepção, construção, financiamento, conservação e exploração do estabelecimento, ou parte funcionalmente autónoma.

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fixa, desde logo, 23 indicadores objecto de monitorização (v.g., resultados do

processo reabilitador, consumo de recursos, infecções nosocomiais,

complementação das histórias clínicas, resultados em internamento,

resultados em consulta externa, resultados em hospital de dia).

Depois, fixa, também, um grupo de 45 indicadores para a monitorização do

desempenho das actividades subcontratadas, sejam elas serviços clínicos ou

serviços não clínicos (v.g., Meios Complementares de Diagnóstico e

Terapêutica e Imagiologia, Serviço de Segurança, Higiene e Saúde no

Trabalho, Serviço de Gestão Informática, Serviço de Limpeza, Serviço de

Tratamento de Roupa) e um grupo de 9 indicadores objecto de monitorização

da qualidade ambiental.

Finalmente, o Anexo XVI identifica 81 parâmetros de desempenho de

resultado e parâmetros de desempenho de serviço e 17 outros indicadores

com objectos diversificados.

12.2.3. Recursos humanos

O Contrato de Gestão estabelece, na sua Secção III, as obrigações da

Entidade Gestora no que se refere aos recursos humanos em funções no

Centro, de entre as quais se destaca “dispor de pessoal em número

suficiente e dotado de formação adequada para exercer as actividades

objecto do contrato” (Cláusula 26.ª do Contrato de Gestão).

O Anexo XII ao Contrato de Gestão indica o número de recursos humanos de

que o CMR Sul deveria dispor, por referência ao Período Inicial de

Exploração e à entrada em funcionamento do Centro, referindo o clausulado

contratual que “as alterações ao número de efectivos em relação ao previsto

nos quadros de referência (…) que impliquem uma variação superior a 25%

na distribuição dos grupos profissionais (…) estão sujeitas a autorização da

Entidade Pública Contratante” (Cláusula 27.ª, n.º 3 do Contrato de Gestão).

No que respeita ao pessoal, apurou-se que, em 31.12.08, desempenhavam

funções no Centro 144 trabalhadores, o que representou um acréscimo

global de efectivos de cerca de 30% face a 31.12.07 (nestes números está

considerado todo o pessoal em exercício de funções, independentemente do

vínculo jurídico), como se pode verificar pela análise do quadro 36.

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Quadro 36 CMR Sul: Distribuição de efectivos por grupos profissionais (2007-2008)

Grupo profissional N.º de efectivos (31.12.07)

N.º de efectivos

(31.12.08) Médicos 12* 19* 58% Enfermeiros 26** 29** 17% Técnicos Superiores 5 5 0,0% Técnicos Superiores de Saúde 5 5 0,0% Técnicos de Diagn. e Terapêutica 26 38 46% Administrativos 7 13 86% Auxiliares de Acção Médica 30 35 17% Total 111 144 30%

*Inclui Director Clínico. ** Inclui Enfermeiro Coordenador. Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

Tendo em conta a informação colhida relativamente às cargas horárias

semanais individualmente contratadas, procedeu-se à transformação do

número bruto de efectivos discriminado no quadro 36, em Equivalentes em

Tempo Completo. O resultado encontra-se expresso no quadro 37.

Quadro 37 CMR Sul: Profissionais prestadores de cuidados em ETC (2007-2008)

Grupo profissional

Prof. ETC (31.12.07)

Prof. ETC (31.12.08)

Médicos 6,1 9,1

Enfermeiros 29,1 33,1

Fisioterapeutas 20,5 24,2

Terapeutas da Fala 3 4,5

Terapeutas Ocupacionais 3 6,2 Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

Considerando a informação relativa a 31 de Dezembro de 2008, é possível

proceder a uma caracterização genérica dos recursos humanos do CMR Sul,

realizando um balanço social em que se destacam: relativamente à

distribuição de efectivos por tipos de vínculos jurídico-laborais, o peso dos

contratados a termo (47%); relativamente à distribuição de efectivos por sexo,

o significado dos trabalhadores do sexo feminino (66%); relativamente à

distribuição de efectivos por grupo etário, o peso dos trabalhadores com

menos de 50 anos (96%); relativamente à distribuição de efectivos por grau

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académico, o predomínio de trabalhadores detentores de licenciatura (70%);

relativamente à distribuição de efectivos por nacionalidade, a expressão dos

trabalhadores originários de outros países (9%) (anexo 28).

Ainda em matéria de caracterização genérica dos recursos humanos afectos

ao CMR Sul, foi apurada uma taxa de absentismo global de 4,8% no ano de

2008 (anexo 28).

O CMR Sul debate-se com carência de profissionais com competências

específicas nos domínios da fisiatria, da terapia ocupacional e da

enfermagem especializada.

A política salarial da instituição baseia-se na negociação individual da

remuneração.

Muito embora a definição de uma política de incentivos constitua uma

aspiração de muitos profissionais de saúde e o Contrato de Gestão do CMR

Sul refira, expressamente, que “os procedimentos (…) de atribuição de

incentivos devem ser apresentados anualmente pela Entidade Gestora à

Entidade Pública Contratante, até 31 de Dezembro do ano anterior a que

respeitam” (Cláusula 26.ª do Contrato de Gestão), apurou-se que, no Centro,

os únicos incentivos existentes se traduzem na dispensa de serviço para

formação.

As obrigações da Entidade Gestora, no que se refere à formação de pessoal,

são detalhadas no Contrato de Gestão, por referência ao período inicial de

exploração62. Com efeito, a estratégia de formação do CMR Sul é definida

com base em diagnóstico de necessidades formativas, cuja execução está

atribuída à gestão de recursos humanos. No ano de 2008, o número de

trabalhadores inscritos em formação interna foi de 121 e 4 inscreveram-se

em formação externa (pós-graduações, mestrados, doutoramentos).

O CMR Sul não possui um centro de investigação formalmente constituído.

Contudo, têm sido desenvolvidos alguns trabalhos de investigação, por

                                                        62 “A Entidade Gestora obriga-se a cumprir o plano de formação inicial, previsto no plano de instalação constante do Anexo X (…) e a elaborar e implementar, até à data da Entrada em Funcionamento do Centro, um plano de formação contínua que assegure a actualização e o aperfeiçoamento de métodos e técnicas de trabalho e os conhecimentos e competências técnico-profissionais e científicas. (…) Nos anos subsequentes ao Período Inicial de Exploração, a Entidade Gestora obriga-se a actualizar os referidos planos, em função do diagnóstico de necessidades de formação decorrentes do processo de monitorização e avaliação de desempenho” (Cláusula 29.ª do Contrato de Gestão).

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médicos e enfermeiros. Foi também estabelecido um protocolo de

colaboração com a Universidade do Algarve que abrange os domínios da

investigação científica, do ensino, da formação e prestação de serviços.

No CMR Sul realiza-se avaliação do desempenho individual dos

trabalhadores com base no SAGD – Sistema de Avaliação e de Gestão do

Desempenho, criado pelo Grupo Português de Saúde63 (Respostas ao

Questionário, Dezembro de 2008).

12.2.4. Recursos financeiros

De acordo com o Contrato de Gestão, como “contrapartida pela prestação

efectiva dos serviços objecto do contrato, a Entidade Gestora receberá uma

remuneração anual, composta por duas componentes: a) uma componente

correspondente à remuneração base anual da Entidade Gestora, relativa aos

serviços clínicos efectivamente prestados; b) uma componente

correspondente às deduções a efectuar em função dos parâmetros de

desempenho da Entidade Gestora” (Cláusula 45.ª do Contrato de Gestão).

Isto é, os recursos financeiros do Centro decorrem da parcela resultante do

produto da produção realizada no Centro (definida por referência a cada uma

das áreas de actividade: a) Internamento – dias de internamento64; b)

                                                        63 Este sistema, desenvolvido com base em valores e estratégia, decorre da política de recursos humanos definida para o Centro. O objectivo principal da avaliação do desempenho é fornecer e recolher informação fidedigna que permita conhecer e gerir o desempenho dos colaboradores, bem como, apoiar o seu desenvolvimento pessoal e profissional. Pretende-se também que a implementação deste sistema fomente a comunicação, nomeadamente entre as chefias e os seus colaboradores/equipas, ajudando cada um a conhecer claramente o que se espera de si e o modo como vão ser avaliados os seus resultados e competências. A avaliação do desempenho aplica-se a todos os colaboradores que tenham desenvolvido actividades por um período de seis meses estando portanto na fase de renovação do contrato (no caso dos colaboradores com contrato a termo certo) ou de passagem a efectivos (no caso dos colaboradores com contrato sem termo). Para o ano de 2007, os impactos da avaliação do desempenho foram: decisão sobre renovação do contrato; identificação do potencial de colaboradores e das necessidades de formação e desenvolvimento; decisões sobre aumentos salariais; apoiar as decisões sobre a carreira e promoções (Centro de Medicina de Reabilitação do Sul – Relatório de Actividades, 2007). 64 De acordo com o disposto no Anexo XV ao Contrato de Gestão, os episódios de internamento devem ser pagos por referência ao menor de três indicadores: (i) o número total de dias de internamento num determinado ano, (ii) o número de dias correspondente à demora média de referencia para cada tipo de internamento e (iii) o número de dias correspondente à produção prevista para esse ano. 

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173

Ambulatório – número de consultas externas65), conforme se indica no

quadro 38.

As fórmulas de cálculo da remuneração pela produção e da dedução por

falhas de desempenho constam do Anexo XV ao Contrato de Gestão, sendo

que nele se refere também o método de actualização anual dos preços de

referência fixados na tabela inserta na Cláusula 45.ª do Contrato:

Quadro 38

CMR Sul: Remuneração da actividade (2007-2008) Escalão de Produção 1 Escalão de Produção 2 Preço

referência (Janeiro 2006)

Limite escalão

produção 1

Diferencial de

correcção de preços

Preço referência (Janeiro 2006)

Limite escalão

produção 2

Diferencial de

correcção de preços

Internamento 365,99€ 100% 0% 91,78€ n.a. 0% Ambulatório 256,19€ 100% 0% 52,63€ 110% 0%

Para além da remuneração anual, “constituem ainda receitas da Entidade

Gestora: uma parte da diferença positiva entre (i) a receita devida por

terceiros pagadores e (ii) a parcela a cargo de terceiros pagadores” (Cláusula

45.ª do Contrato de Gestão).

Sem prejuízo da cobrança directa pela Entidade Gestora da receita que lhe

seja devida por serviços prestados a terceiros pagadores e por aplicação de

taxas moderadoras a utentes, o pagamento da parcela a cargo do Serviço

Nacional de Saúde realiza-se nos moldes descritos no Contrato de Gestão,

que dispõe que a Entidade Pública Contratante efectua “pagamentos

mensais por conta, por um valor correspondente a um duodécimo de 90% do

valor previsível da parcela a cargo do Serviço Nacional de Saúde, cuja

correcção se opera por via de um pagamento de reconciliação a realizar até

ao final do primeiro semestre do ano seguinte”66 (Cláusula 48.ª do Contrato

de Gestão).

                                                        65 De acordo com o disposto no Anexo XV ao Contrato de Gestão, as consultas externas devem ser pagas por referência ao menor de três indicadores: (i) o número total de consultas externas, (ii) o rácio do número de sessões de hospital de dia por  consulta externa por patologia e (iii) um rácio do número de referência de sessões de hospital de dia por consulta externa por patologia. 66 A determinação do valor previsível da parcela a cargo do Serviço Nacional de Saúde é efectuada até 15 de Dezembro do ano anterior a que respeitam os pagamentos mensais por conta, nos termos do Procedimento de Determinação da Produção Prevista. Caso as partes não cheguem a acordo quanto ao valor previsível da parcela a cargo do Serviço Nacional de Saúde no prazo estabelecido, a Entidade Pública Contratante terá a faculdade de determinar

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De sublinhar que, no decurso da execução contratual, em 10 de Fevereiro de

2009, ao abrigo da Cláusula 69.ª do Contrato de Gestão, que refere que “as

partes podem introduzir por acordo escrito, modificações objectivas ao

contrato”, o Centro dirigiu ao Conselho Directivo da ARS Algarve um pedido

de alteração das disposições contratuais67.

Não é ainda conhecido o resultado das diligências encetadas, que poderão

implicar uma alteração substancial dos valores da remuneração paga pela

Entidade Pública Contratante, num valor estimado em cerca de 900.000,00€.

No exercício económico de 2007, o CMR Sul registou proveitos operacionais

de 2.703.033,70€ e custos operacionais de 3.912.006,47€, o que se saldou

num resultado operacional negativo, de -1.208.972,77€. Os proveitos

operacionais resultaram, no essencial, da prestação de serviços a utentes do

                                                                                                                                                               unilateralmente aquele valor. Para efeitos de realização dos pagamentos mensais por conta, a Entidade Gestora obriga-se a apresentar à Entidade Pública Contratante, até 20 dias antes do fim do mês a que cada pagamento mensal por conta respeita, uma factura correspondente ao duodécimo mensal contratualmente determinado, designada factura-adiantamento. A factura-adiantamento deve descrever o valor correspondente a um duodécimo de 90% do Valor Previsível da Parcela a Cargo do Serviço Nacional de Saúde, o mês a que se reporta e que o pagamento é por adiantamento por conta do pagamento a efectuar em razão da Produção Efectiva. A Entidade Pública Contratante obriga-se a pagar a factura-adiantamento até ao último dia útil do mês a que respeita, período após o qual, sem necessidade de qualquer interpelação, incorrerá em juros de mora. Por referência a cada mês e até ao final do mês seguinte, a Entidade Gestora obriga-se, para efeitos do Pagamento de Reconciliação, a apresentar à Entidade Pública Contratante uma factura, designada factura-acerto, pelo valor mensal da parcela a Cargo do SNS, atentos os serviços Clínicos efectivamente prestados no mês a que respeita. A factura-acerto deve indicar a crédito o valor correspondente ao adiantamento por conta e o prazo de pagamento do valor em dívida até 30 de Junho do ano seguinte a que a factura acerto respeita. A Entidade Pública Contratante obriga-se, até ao final do mês seguinte à sua recepção, a conferir a factura-acerto e a comunicar à Entidade Gestora a sua aceitação ou, em caso de detecção de erros ou omissões, a remetê-la à Entidade Gestora, que deve proceder à sua correcção e nova apresentação até ao final do mês seguinte. O valor do pagamento de reconciliação a realizar até 30 de Junho do ano seguinte a que dizem respeito os serviços prestados, a favor da Entidade Pública Contratante ou da Entidade Gestora, consoante o caso, corresponde à soma do valor das facturas-acerto aceites pela Entidade Pública Contratante até essa data, referente ao ano transacto (Cláusula 48.ª do Contrato de Gestão). 67 Requere-se, em matéria de cálculo da remuneração da Entidade Gestora, (i) a alteração do n.º 8 da cláusula 48.ª do Contrato de Gestão, no sentido de prever a emissão da factura-acerto com referência a um período de um ano e (ii) a correcção das contas referentes ao ano de 2008, por forma a calcular as diferenças entre o número de dias de internamento efectivo e o número de dias de demora média de referência relativamente à globalidade do ano e não a cada mês isolado, e, em matéria de ajuste do número de sessões do hospital de dia no âmbito da produção prevista (i) relativamente ao ano 2008, o número previsto para as sessões de hospital de dia seja entendido como o número de actos/tratamentos realizados em hospital de dia (incluindo uma sessão de hospital de dia vários destes actos) e, consequentemente, os cálculos em que este factor é contabilizado sejam revistos em conformidade e que (ii) para os anos subsequentes, a produção prevista relativa ao número de sessões de hospital de dia seja revista em moldes adequados, atentas as condições existentes. 

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SNS, ao passo que os custos operacionais decorreram, especialmente, de

custos com pessoal e de fornecimentos e serviços externos. O resultado

líquido do exercício cifrou-se em -1.298.081,63 €. (anexo 29).

No exercício económico de 2008, o CMR Sul registou proveitos operacionais

de 5.376.759,00€ e custos operacionais de 6.230.751,00€, o que se saldou

num resultado operacional negativo de -853.992,00€. À semelhança do

sucedido no ano de 2007, os proveitos operacionais resultaram, no essencial,

da prestação de serviços a utentes do SNS e os custos operacionais

decorreram, especialmente, de custos com pessoal e de fornecimentos e

serviços externos. O resultado líquido do exercício cifrou-se em -

741.871,06€ (anexo 29).

O valor das dívidas a fornecedores com mais de 90 dias era, em 30.09.08, de

201.633,15€, sendo o prazo médio de pagamento a fornecedores de 4,8

meses, e o valor dos créditos sobre terceiros era de 464.968,89€ (Respostas

ao Questionário, Dezembro de 2008).

12.2.5. Outros recursos materiais  

12.2.5.1. Compras

Em matéria de aquisição de bens e serviços e de realização de empreitadas,

o CMR Sul rege-se pelo direito privado.

O Centro realiza compras de grupo e negociação de descontos comerciais e

financeiros.

O peso relativo das compras urgentes no total de compras foi considerado

como menor que 1% (Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008).

12.2.5.2. Instalações e equipamentos

O CMR Sul dispõe de inventário de instalações e equipamentos afectos à

actividade de exploração, que a Entidade Gestora se obriga a manter

permanentemente actualizado e ao dispor da Entidade Pública Contratante

(Cláusula 13.ª n.º 3 do Contrato de Gestão), mediante ficha de identificação

com layout antecipadamente definido (Anexo VI ao Contrato de Gestão).

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Existem contratos de manutenção dos equipamentos, bem como um plano de

reparação/conservação/beneficiação das instalações priorizado, valorizado,

calendarizado, aprovado e monitorizado68 e orçamento anual de

investimentos.

As fontes de financiamento para os investimentos do CMR Sul são o

orçamento de exploração e os financiamentos externos, existindo plano de

investimentos em cuja elaboração intervêm todas as áreas do CMR Sul e o

Grupo Português de Saúde (Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008).

12.2.5.3. Fornecimentos e serviços externos

De acordo com o clausulado do Contrato de Gestão, a Entidade Gestora

encontra-se autorizada a realizar subcontratação a terceiros de actividades

clínicas – v.g., serviços médicos de imagiologia, patologia clínica e

imunohemoterapia – como de actividades não clínicas – v.g., segurança,

alimentação, gestão de resíduos, limpeza, lavagem de roupa – dentro de um

elenco tipificado de áreas, que apenas pode ser aditado mediante anuência

da Entidade Pública Contratante (Cláusula 8.ª e Anexo IV do Contrato de

Gestão).

Ao abrigo da referida faculdade, foram subcontratadas: análises laboratoriais,

imagiologia, manutenção, alimentação, limpeza, transporte de doentes,

tratamento de resíduos, sistemas de informação, gestão de parque

informático, lavandaria e segurança. Não foi referida a intenção de alargar o

leque de actividades subcontratadas.

As razões identificadas para a decisão de subcontratação foram as

decorrentes de análise custo-benefício, tendo em conta o objectivo de

diminuir a dispersão na gestão do CMR Sul e garantir flexibilidade e                                                         68 O Anexo VI ao Contrato de Gestão tem como título “planos de manutenção do edifício e de manutenção e renovação dos equipamentos.” Nele se refere que a manutenção das instalações e equipamentos do Centro é dividida em dois níveis: nível 1, que representa a manutenção preventiva sistemática, sendo as intervenções calendarizadas num período anual ou efectuadas por análise de condição periódica; nível 2, que representa a grande revisão/substituição de uma determinada instalação/equipamento. Dele decorre ainda que as condições de funcionamento e conservação dos equipamentos, no momento da extinção do Contrato de Gestão, serão equivalentes às iniciais, tendo em conta o normal desgaste dos materiais ao longo da sua vida útil, exceptuando os que venham a ser substituídos de acordo com o ciclo de vida. A Entidade Gestora prevê a substituição dos equipamentos constantes do plano de renovação cuja data de substituição ocorra durante o período de vigência do Contrato de Gestão (Anexo VI ao Contrato de Gestão).

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previsibilidade na evolução dos custos de manutenção (Respostas ao

Questionário, Dezembro de 2008).

12.2.6. Tecnologias da informação e comunicação

Os sistemas de informação do CMR Sul encontram-se regulados

contratualmente na Secção VI – Sistemas de Informação, do Capítulo II, do

Contrato de Gestão, bem como no respectivo Anexo XIV.

Da leitura conjunta das obrigações contratuais a observar pela Entidade

Gestora do Centro realçam-se as seguintes: os sistemas de informação

devem satisfazer os princípios, orientações, estratégias, requisitos funcionais

e características tecnológicas previstas no Anexo XIV; a Entidade Gestora

realizará as suas obrigações em matéria de sistemas de informação com

recurso à prestação de serviços por terceiras entidades, na área das infra-

estruturas de comunicação e tecnologias de informação, através de contratos

em três grandes áreas - licenciamento de software aplicacional (SAP

Business One, Trakcare e Caché), aplicações e comunicações (PT Prime),

suporte local (HP).

As principais componentes aplicacionais integrantes da arquitectura funcional

do Centro, definidas no Anexo XIV do contrato de gestão, que deveriam estar

implementadas à data da entrada em funcionamento do Centro eram as

seguintes:

- Trackcare, para suporte à gestão de cuidados de saúde69;

- SAP Business One, para suporte a serviços gerais e de apoio geral70;                                                         69 O sistema TrackCare constitui o sistema central de toda a componente clínica e administrativa e inclui vários módulos. O módulo Ficheiro Mestre de Utentes (FMU), permite identificar de modo unívoco o utente e colher dados para facturação; o módulo História Clínica Electrónica (HCE), desempenha as funções de processo clínico, consistindo num sistema informatizado de armazenamento de dados que possibilita o registo pormenorizado do tratamento do utente num arquivo electrónico, acessível a partir de qualquer computador ligado ao sistema; o módulo Admissões, Transferências e Altas (ATA), gere o fluxo de doentes na aplicação e assegura o registo de todos os movimentos do utente durante o episódio de internamento; o módulo Consultas Externas, possibilita a calendarização de consultas e a impressão de cartas, convocatórias e relatórios; o módulo Medicina Física e de Reabilitação, disponibiliza o plano de tratamentos para o utente, com identificação de técnicos responsáveis, controlo de prescrições e consumíveis utilizados; o módulo Serviços de Enfermagem oferece funcionalidades como a definição de listas de tarefas e o controlo da execução de tarefas; o módulo Hospital de Dia; o módulo Serviços Farmacêuticos, gere a farmácia e armazéns e regista a prescrição e a administração; o módulo Serviços de Imagiologia, suporta a actividade de todos os departamentos executores de meios complementares de diagnóstico e terapêutica (Anexo XIV ao Contrato de Gestão).

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- Business Intelligence, para suporte às actividades de gestão do Centro71;

- Portal (intranet, extranet e internet), para garantia de um ponto único de

acesso a informação para utentes e utilizadores internos do Centro;

- Microsoft BizTalk Server, para garantia de comunicação efectiva e fiável

entre as ferramentas;

- Programas específicos, para a gestão da manutenção e gestão técnica dos

equipamentos.

A área dos sistemas de informação – que, no ano de 2008, representou

5,27% do total de custos de exploração do CMR Sul – encontra-se sob

gestão directa da Direcção Executiva.

Os computadores da instituição encontram-se ligados em rede e todos os

profissionais têm acesso a correio electrónico e a intranet. Os meios que são

mais utilizados na comunicação interna e externa são a aplicação TrackCare,

o correio electrónico, o telefone, o fax e o papel.

O CMR Sul tem um sítio na internet com informação institucional e

informação útil para os doentes, que é alimentado, semanalmente, pela

Assistente da Direcção (Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008).

 

 

 

                                                                                                                                                               70 A solução para suporte à gestão administrativa e financeira é o SAP Business One que disponibiliza uma vasta gama de funções comuns, incluindo contabilidade, logística, gestão de recursos humanos e processamento de salários e que cria poderosos relatórios para quase todos os aspectos da unidade, incluindo, designadamente, vendas, fluxos de caixa, resumo de contactos de clientes, diário do razão, stocks em armazém, documentos financeiros, determinação de preços, actividades de clientes, mapas legais financeiros (Anexo XIV ao Contrato de Gestão). 71 O sistema de informação do Centro compreende a implementação de uma solução Business Intelligence robusta e flexível, garantindo a capacidade de análise pormenorizada da informação relativa à actividade do Centro e permitindo aos utilizadores construírem de forma simples e intuitiva relatórios relativos a essa informação. Adicionalmente, as capacidades de exportação de dados da solução permitem automatizar os processos de disponibilização de informação no âmbito das actividades de gestão do Centro. Esta solução suporta as obrigações da Entidade Gestora ao nível dos deveres de informação e acesso previstos nas Cláusulas 54.ª e 55.ª do Contrato, bem como as que decorrem da Cláusula 50.ª e do Anexo XVI – Sistema de Monitorização e Avaliação do Desempenho. Assim, a solução deve permitir a recolha automatizada da informação da actividade do Centro e que os relatórios de actividade estejam disponíveis electronicamente, remetendo um aviso de alerta ao Gestor do Contrato. (…) As principais fontes de informação para o Data Warehouse são a solução TrackCare e SAP Business One que suportam a recolha automática dos dados nos serviços operacionais do Centro (Anexo XIV ao Contrato de Gestão). 

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179

12.2.7. Potencial de inovação da oferta

No que se refere a projectos que contemplem abordagens terapêuticas

inovadoras ou esquemas alternativos de prestação de cuidados, no CMR Sul

foram identificados e descritos os constantes do anexo 30.

Às questões relativas à eventual instalação de algum tipo de call center e à

possibilidade de agendamento electrónico de consultas, as Direcções Clínica

e Executiva do CMR Sul esclareceram não existir um call center, havendo a

possibilidade de agendamento electrónico de consultas, embora ainda não

disponibilizado (Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008).

12.3. Resultados  

12.3.1. Custos  

12.3.1.1. Estrutura de custos

Da análise da estrutura global dos custos do CMR Sul, nos anos de 2007 e

2008, resulta que a conta com maior peso relativo foi sempre a de pessoal

que, todavia, sofreu um decréscimo de peso relativo no ano de 2008,

compensado pelo aumento registado nas contas de CMVMC, de FSE e de

outros custos (anexo 31).

12.3.1.2. Estrutura de custos com compras

Da análise da estrutura de custos com compras do CMR Sul, nos anos de

2007 e 2008, resulta que a conta com maior peso relativo foi sempre a de

material de consumo clínico (anexo 32).

12.3.1.3. Estrutura de custos com pessoal

Da análise da estrutura de custos com pessoal do CMR Sul, nos anos de

2007 e 2008, resulta que a conta com maior peso relativo foi a de

remuneração-base, que evidenciou um substancial incremento. A esta

circunstância não terá, por certo, sido estranho o facto de se ter verificado

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uma variação positiva do número de efectivos no ano de 2008, por

comparação com o ano de 2007.

O peso relativo da conta de suplementos, em que se incluem os encargos

com trabalho extraordinário, sofreu uma ligeira redução (anexo 33).

12.3.1.4. Prescrição de ajudas técnicas – 2007 e 2008

Dando-se aqui como reproduzidas as considerações tecidas nos Capítulos II

e III a propósito da importância da prescrição de ajudas técnicas, constata-se

que o seu peso relativo na estrutura global de custos do CMR Sul, nos anos

de 2007 e 2008, sofreu um aumento de um ponto percentual (anexo 34).

12.3.1.5. Resultados do exercício

Da análise dos resultados dos exercícios do CMR Sul, nos anos de 2007 e

2008, sintetizada no quadro 39, resulta uma recuperação dos resultados

financeiros, em termos de resultados operacionais, como em termos de

resultados líquidos do exercício (anexo 29).

Os resultados de 2007 foram fortemente influenciados pelo fraco nível de

referenciação para o CMR Sul, num ano que foi o primeiro da actividade,

facto que resulta “tanto mais claro se verificarmos que, não havendo

ocorrência de listas de espera e tendo sido endereçados todos os pedidos de

consultas, os valores de todos os indicadores de actividade estiveram longe

do estimado no Caso Base anexo ao Contrato de Gestão” (Centro de

Medicina de Reabilitação do Sul – Relatório de Actividades, 2007).

Os resultados de 2008, muito embora incorporem a receita derivada de níveis

de produção reputados adequados, não reflectem as renegociações em

curso com a ARS do Algarve. Com efeito, “a produção do CMR Sul calculada

anualmente de acordo com o Anexo XV do Contrato de Gestão alteraria o

volume de vendas para 5.687.777 € e (…) praticamente anularia o resultado

negativo desta Sociedade Gestora” (Respostas ao Questionário, Dezembro

de 2008).

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181

Quadro 39 CMR Sul: Resultados do exercício (2007-2008)

2007 2008

Resultado operacional -1.208.972,77 € -853.992,00 €

Resultado líquido -1.298.081,63 € -741.871,06 € Fonte: CMR Sul – Relatórios de Actividades, 2007 e 2008

12.3.2. Eficácia  

12.3.2.1. Primeiras consultas

Da análise do peso das primeiras consultas no total de consultas externas

realizadas pelo CMR Sul, nos anos de 2007 e 2008, decorre a redução do

seu peso relativo de 55% para 28% (anexo 35).

Uma leitura linear deste decréscimo poderia indiciar uma redução da eficácia,

mas a circunstância de um dos períodos de análise - precisamente aquele

que registou maior peso relativo de primeiras consultas externas - coincidir

com o ano de início de actividade do Centro, poderá justificar a interpretação

de que estes valores traduzem o normal impacto da abertura de uma nova

estrutura, interpretação que resulta reforçada face à inexistência de listas de

espera para consultas.

12.3.2.2. Resolutividade

Da aplicação do rácio número de doentes saídos para o domicílio/número

total de doentes saídos para o cálculo da resolutividade do CMR Sul, nos

anos de 2007 e de 2008, apurou-se que tiveram como destino de alta o

domicílio, respectivamente, 79% e 93% dos doentes saídos, o que representa

uma melhoria deste indicador de eficácia (anexo 36).

12.3.2.3. Transferências para outras unidades

Da análise do peso das transferências do CMR Sul para outras unidades

hospitalares de agudos, no total de doentes saídos nos anos de 2007 e de

2008, constatou-se que, respectivamente, 11% e 3% dos doentes foram

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182

transferidos, o que reflecte uma melhoria da eficácia (anexo 37), muito

embora se desconheça a natureza das transferências efectuadas.

12.3.2.4. Produção contratada e realizada

Da análise do grau de desvio entre a produção contratada – “produção

prevista”, nos estritos termos do Contrato de Gestão – e a produção

realizada, resulta que, no ano de 2007, o CMR Sul se situou muito longe dos

objectivos fixados, mas que, no ano de 2008, as metas de produção foram

não apenas atingidas como superadas em termos de doentes saídos e

consultas externas, conforme expresso no quadro 40.

As metas contratadas para 2008, em termos de consultas externas e de

sessões de hospital de dia, situam-se, porém, em menos de metade das

contratadas para 2007, facto susceptível de ser justificado pela inexistência

de listas de espera no Centro.

Quadro 40

CMR Sul: Desvio da produção contratada e realizada (2007-2008) 2007 2008 Realizado Contratado Realizado Contratado Dias de internamento

6.456 11.208 - 43% 14.794 15.250 - 3%

Doentes saídos 116 250 - 54% 308 305 1%

Consultas externas

459 2.158 - 79% 2.152 1.200 79%

Sessões hospital de dia

1.254 29.431 - 96% 7.550 12.000 - 37%

Tratamentos 14.648 - - 521.861 - -

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

12.3.2.5. Úlceras de decúbito

Da análise da taxa de úlceras de decúbito registada no CMR Sul, nos anos

de 2007 e 2008, resulta uma melhoria deste indicador de eficácia, de 2,3%

para 1,6%.

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183

12.3.3. Eficiência  

12.3.3.1. Demora média

Da análise da demora média do CMR Sul, nos anos de 2007 e 2008, resulta

uma diminuição do número médio de dias de internamento dos doentes

saídos, conforme está expresso no quadro 41, o que constitui um indício de

um melhor desempenho que, contudo, careceria de ser confirmado pela

análise das patologias dos doentes saídos, tal como já sublinhado

anteriormente aquando da análise dos indicadores de eficiência do CMRRC e

do CMRA.

Quadro 41

CMR Sul: Demora média (2007-2008)

DEMORA MÉDIA (2007-2008)

56 dias

48 dias

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

12.3.3.2. Taxa de ocupação

A análise da taxa de ocupação do CMR Sul, nos anos de 2007 e 2008, revela

uma tendência para um melhor aproveitamento da capacidade instalada,

conforme está expresso no quadro 42.

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Quadro 42 CMR Sul: Taxa de ocupação (2005-2008)

TAXA DE OCUPAÇÃO (2007-2008)

75%

56%

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

12.3.3.3. Doentes saídos por cama

Salvaguardados os aspectos já referidos a propósito do indicador demora

média, a análise do indicador doentes saídos por cama, nos anos de 2007 e

2008, revela uma significativa melhoria, conforme resulta expresso no quadro

43.

Quadro 43 CMR Sul: Doentes saídos por cama (2007-2008)

DOENTES SAÍDOS POR CAMA (2007-2008)

2,1

5,7

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

12.3.3.4. Doentes saídos por médico ETC

Com idêntica ressalva, a análise do indicador doentes saídos por médico

ETC no CMR Sul, nos anos de 2007 e 2008, revela uma melhoria, conforme

resulta expresso no quadro 44.

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Quadro 44

CMR Sul: Doentes saídos por médico ETC (2007-2008)

DOENTES SAÍDOS POR MÉDICO ETC (2007-2008)

19,0

33,8

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

12.3.3.5. Doentes saídos por enfermeiro ETC

De igual modo, a análise do indicador doentes saídos por enfermeiro ETC

revela uma melhoria, conforme resulta expresso no quadro 45.

Quadro 45

CMR Sul: Doentes saídos por enfermeiro ETC (2007-2008)

DOENTES SAÍDOS POR ENFERMEIRO ETC (2007-2008)

4,0

9,3

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

12.3.3.6. Consultas externas por médico ETC

A análise do indicador consultas externas por médico ETC, nos anos de 2007

e 2008, revela uma melhoria, conforme resulta expresso no quadro 46.

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Quadro 46 CMR Sul: Consultas externas por médico ETC (2007-2008)

CO NSULTAS EXTERNAS PO R MÉDICO ETC (2007-2008)

75,2

236,5

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

12.3.3.7. Tratamentos por fisioterapeuta ETC

A análise do indicador tratamentos por terapeuta ETC, nos anos de 2007 e

2008, revela uma melhoria, conforme resulta expresso no quadro 47. A

análise do indicador tratamentos por terapeuta ETC no CMR Sul, nos anos

2007 e 2008, revela uma variação susceptível de ser explicada pela utilização

de distintos conceitos de tratamento nos dois períodos.

Com efeito, nos dados fornecidos relativamente ao número de tratamentos

realizados no ano de 2008, o CMR Sul informou ter considerado cada acto

terapêutico como um tratamento (Respostas ao Questionário, Dezembro

2008).

Dado que o Contrato de Gestão não contempla o pagamento dos tratamentos

e que não há contratualização da respectiva linha de produção, esta diferente

interpretação de conceitos é inconsequente no ponto de vista do

financiamento da actividade do Centro.

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Quadro 47 CMR Sul: Tratamentos por terapeuta ETC (2007-2008)

TRATAMENTOS POR TERAPEUTA ETC (2007-2008)

14.910

552,8

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

12.3.3.8. Custos unitários

Os custos unitários apurados pelo CMR Sul, em termos de contabilidade

analítica dos anos de 2007 e 2008, revelam uma redução do custo do dia de

internamento, da consulta externa, do tratamento e da sessão de hospital de

dia, o que, dado o aumento dos custos operacionais, poderá justificar-se, em

termos genéricos, pelo aumento do volume de produção.

Também ao nível das actividades subcontratadas pelo Centro, foi possível

identificar uma redução dos custos unitários, conforme está expresso no

quadro 48.

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188

Quadro 48 CMR Sul: Custos unitários de acordo com a contabilidade analítica (2007-2008)

2007 2008 Dia de internamento 578,00€ 383,00€ Consulta Externa 42,00€ 25,00€ Tratamento 37,38€ 12,34€ Sessão Hospital Dia 55,00€ 47,00€ Refeição 6,96€ 5,71€ Kg roupa tratada 2,33€ 1,58€ L. mat. Esterilizado n.d. 0,56€

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

12.3.3.9. Trabalho extraordinário

Da análise do peso do trabalho extraordinário no total das remunerações, nos

anos de 2007 e 2008, resulta uma contribuição relativa tendencialmente

constante – 13% e 12% –, conforme expresso no quadro 49.

Quadro 49

CMR Sul: Peso do trabalho extraordinário no total das remunerações (2007-2008)

PESO DO TRABALHO EXTRAO RDINÁRIO (2007-2008)

13% 12%

87% 88%

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

12.3.3.10. Gestão de tempos de internamento e de altas

A medição do desempenho do CMR Sul por referência aos parâmetros

“existência de equipas de gestão de altas”, “adaptação do destino de alta do

doente”, “entrega ao doente/família de plano de cuidados”, “caracterização do

grau de dependência do doente, no momento da alta”, “disponibilização do

contacto de um profissional, no momento da alta” e “contacto com o doente

para follow-up”, em 31.12.08, resulta expressa no quadro 50.

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Quadro 50

CMR Sul: Indicadores de gestão de tempos de internamentos e de altas Existência de Equipas de Gestão de Altas Sim*

Adaptação do destino de alta do doente (v.g.,

disponibilização de ajudas técnicas, formação de

familiares cuidadores)

Sim

Entrega ao doente/família de plano de cuidados (v.g.,

exercícios e actividades diárias, medicação, exames,

consultas centro de saúde, consulta de seguimento

no hospital de reabilitação)

Sim. Patient Profile

Caracterização do grau de dependência do doente no

momento da alta

Sim. Functional Independance

Measure e Functional Assessment

Measure

Disponibilização do contacto de um profissional no

momento da alta

Sim

Contacto com o doente para follow-up Sim. Chamada telefónica 8 dias

após a alta e marcação de consulta

de follow-up

*Critérios de alta utilizados no CMR Sul: 1. alcançou objectivos; 2. alcançou estado em que já não necessita de programa intensivo; 3. estabilização do quadro sem previsão de melhoria; 4. existem complicações médicas que não permitem manter programa; 5. período “experimental” sem melhoria funcional em tempo razoável; 6. recusa de participação.

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

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190

12.3.4. Equidade

Dos indicadores de medida da equidade no acesso ao CMR Sul que foram

utilizados, por referência a 31.12.08, resultaram os valores reflectidos no

quadro 51.

Quadro 51 CMR Sul: Indicadores de acesso (31.12.08)

N.º de doentes saídos/1.000 habitantes

0,3

N.º de consultas externas/1.000 habitantes

0,2

N.º de doentes em espera para internamento

Não existem listas de espera

N.º de doentes em espera para consulta externa

Não existem listas de espera

N.º total de dias de espera para internamento

Não existem listas de espera

N.º total de dias de espera para consulta externa

Não existem listas de espera

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

O CMR Sul possui critérios de admissão que se encontram objectivamente

definidos e são conhecidos por quem referencia os doentes. No período de 1

de Janeiro a 30 de Novembro de 2008, foram recebidas no CMR Sul 716

pedidos de consulta. Dos pedidos referidos, 27 não foram marcados, em

especial porque não cumpriam critérios de admissão (20 casos). Dos pedidos

marcados foram rejeitados, após consulta, 174 admissões por incumprimento

de critérios de admissão. Conclui-se, assim, que do total de 716 doentes

referenciados, 201 (28%) não foram admitidos (Respostas ao Questionário,

Dezembro de 2008).

12.3.5. Qualidade

Da análise dos indicadores de qualidade, recolhidos no CMR Sul e

reportados ao ano de 2008, resulta evidente ser esta uma dimensão a que a

organização se encontra particularmente atenta, ao que, certamente, não

deixará de ser estranha a circunstância de o Contrato de Gestão impor, nesta

matéria, critérios apertados de monitorização do desempenho da Entidade

Gestora, de cujo incumprimento decorrem penalizações financeiras.

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Com efeito, constatou-se que o CMR Sul dispõe de instrumentos de medição

que lhe permitiram prestar informação relativamente a todos os indicadores

seleccionados, conforme expresso no quadro 52.

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Quadro 52 CMR Sul: Indicadores de qualidade (2008)

Qualidade na prestação de cuidados% Consultas externas desmarcadas

0,2%

Espera média para consulta externa

00:23

Taxa de mortalidade no internamento 0,3% Projectos de certificação e de acreditação implementados e/ou em curso

O Sistema Integrado de Gestão e Qualidade e Ambiente do CMR Sul inclui os seguintes projectos: Acreditação do programa de reabilitação pela CARF – concedidos 3 anos de acreditação em Outubro 2008 (período máximo de acreditação); Certificação ISO 9001 e 14001 – Auditoria preliminar com sucesso em Novembro e marcada auditoria final para Março de 2009.

Controlo da Infecção Associada a Cuidados de Saúde Existe CCI Sim CCI tem instalações próprias Não CCI tem pessoal afecto a tempo inteiro

Não

Existe medição da taxa de infecção associada a cuidados de saúde

Sim. Inquéritos de incidência.

Taxa de infecção associada a cuidados de saúde

12%

% Profissionais com formação em Controlo da IACS

73%

Segurança de doentes e de profissionais Gestor do Risco Sim % Profissionais com formação em SBV

36%

Satisfação de utentes Gabinete do Utente Sim Tempo médio de resposta a reclamações dos utentes

66 dias

Utente pode ocupar quarto individual Não. Apenas dois quartos individuais utilizados por necessidade clínica específica.

Utente pode escolher a composição da refeição

Sim. Limitado à oferta da ementa.

Utente encontra Manual de Acolhimento na internet

Sim

Utente dispõe de sinalética clara para se orientar na instituição

Sim

Utente beneficia de horário alargado de visitas

Sim

Aplicação de inquéritos de satisfação de utentes

Sim Todos os doentes de internamento preenchem inquérito USPEQ anónimo que é tratado por uma empresa externa. (anexo 38).

Satisfação de profissionais % Retenção global de trabalhadores 82% N.º de dias de absentismo por doença decorrente de acidente de trabalho

163

Aplicação de inquéritos de satisfação dos profissionais

Sim (anexo 38).

Fonte: Respostas ao Questionário, Dezembro de 2008

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193

14. Análise comparada do desempenho dos Centros de Reabilitação

Com o propósito de enquadrar a avaliação de desempenho dos três Centros

de Reabilitação existentes no país – o CMRRC, estabelecimento do SNS

integrado no sector público administrativo, o CMRA, estabelecimento da

Santa da Misericórdia de Lisboa com regime de gestão privada, e o CMR Sul,

estabelecimento do SNS em modelo de PPP – procedeu-se, anteriormente, a

um estudo descritivo, caracterizando-se cada um deles, por referência às

dimensões estrutura, processos e resultados.

Importa, agora, efectuar a análise comparada do desempenho relativo dos

Centros de Reabilitação, recorrendo-se a um número limitado de factores,

seleccionados de entre os utilizados aquando da descrição da dimensão

resultados, num total de 36 indicadores, expressos nos quadros 53 e

seguintes.

A leitura dos referidos quadros deverá, todavia, ser feita com a necessária

prudência e considerando as seguintes cautelas metodológicas:

• A circunstância de a especificidade das patologias tratadas nos

Centros de Reabilitação não ter permitido, ainda, a criação de um

sistema de classificação de doentes em grupos de diagnóstico

homogéneos, inviabilizou a utilização de instrumentos de medida

normalmente utilizados neste tipo de avaliações (v.g. índice case-mix)

e a comparação com standards nacionais previamente definidos (v.g.

valores de referência dos hospitais do grupo).

• O facto de o CMR Sul ter iniciado a sua actividade em Abril de 2007

reduz a comparabilidade dos três Centros de Reabilitação, com rigor,

apenas ao ano de 2008, razão pela qual - e considerando ser o CMR

Sul o objecto central da análise - apenas se considerou esse período.

• A ausência de informação, relativamente a alguns dos indicadores

seleccionados, impediu a comparação da totalidade dos parâmetros

previamente definidos nos três Centros em observação; por sua vez, a

frágil fiabilidade da informação, relativamente a alguns outros

indicadores seleccionados, comprometeu a obtenção de conclusões

robustas.

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• O limite temporal para a realização da análise não permitiu a validação

por observação directa ou por cruzamento de informação de várias

das respostas fornecidas.

• A escolha dos indicadores referenciados foi realizada em ordem a

permitir uma percepção rápida dos desempenhos relativos, tendo-se,

consequentemente, excluído outros atributos identificados e descritos

ao longo do estudo.

• A circunstância de os indicadores identificados se reportarem a

diversas unidades de medida e a indisponibilidade de um sistema

sincrético de leitura constituiu causa impeditiva de um resultado

unívoco.

Ainda assim, afigura-se possível retirar algumas conclusões, que se

apresentam de seguida.

Considerados os indicadores de custos seleccionados, apurou-se que:

Quadro 53

Desempenho relativo dos Centros de Reabilitação: indicadores de custos (2008) 2008 CMRRC CMRA CMR Sul Indicadores de Custos Despesas c/ pessoal no total das despesas

44% 71% 48%

Despesas c/ FSE no total das despesas

31% 23% 36%

Despesas c/ trabalho extraordinário no total das despesas

12% 4% 12%

Resultado operacional -305.505,10€ -8.206.257,90€ -853.992,00€ Resultado líquido -233.024,58€ -8.105.348,87€ -741.871,06€

• O CMRRC foi o Centro que registou o menor peso relativo das despesas

com pessoal no total das despesas e o CMRA aquele que registou o

maior peso;

• O CMRA foi o Centro que registou o menor peso relativo das despesas

com FSE no total das despesas e o CMR Sul aquele que registou o maior

peso;

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195

• O CMRA foi o Centro que registou o menor peso relativo do trabalho

extraordinário no total das despesas com pessoal, tendo o CMRRC e o

CMR Sul registado, exactamente, o mesmo peso;

• O CMRRC foi o Centro que registou os melhores resultados operacionais

e líquidos e o CMRA aquele que registou os piores resultados.

O quadro 54 mostra o valor de cada indicador de custos face ao valor

máximo no conjunto dos três Centros de Reabilitação, por forma a ter em

conta as diferentes escalas em que os indicadores se encontram calculados.

Quadro 54

Posicionamento dos Centros de Reabilitação face a alguns indicadores de custos (2008)

Considerados os indicadores de eficácia seleccionados, apurou-se que:

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196

Quadro 55

Desempenho relativo dos Centros de Reabilitação: indicadores de eficácia (2008) 2008 CMRRC CMRA CMR Sul Indicadores de Eficácia % Primeiras consultas 26% 12% 28% Resolutividade 100% 75% 93% Transferência para outras unidades 0,0% 4% 3% Desvio produção realizada/contratada doentes saídos

-7% n.a. 1%

Desvio produção realizada/contratada consulta

31% n.a. 79%

Taxa de úlceras de decúbito 0,0% n.d. 1,6%

• O CMR Sul foi o Centro que registou a mais elevada rácio de primeiras

consultas externas médicas no total das consultas externas médicas e o

CMRA aquele que registou a mais baixa rácio;

• O CMRRC foi o Centro que registou o melhor índice de resolutividade,

tendo o pior índice sido registado pelo CMRA;

• O CMRRC foi o Centro que registou o menor peso de transferências de

doentes para outras unidades, tendo o sido o CMRA aquele que registou

o maior peso de transferências;

• O CMRRC registou um desvio negativo entre a produção realizada e

produção contratada em termos de doentes saídos e o CMR Sul um

desvio positivo; o CMRA não efectua nenhum género de contratualização

de volumes de produção com entidades externas, pelo que não se lhe

aplica este indicador;

• Quer o CMRRC quer o CMR Sul registaram desvios positivos entre a

produção realizada e contratada em termos de consulta externa, mas o

CMR Sul registou o melhor valor; conforme referido, este indicador não se

aplica ao CMRA;

• O CMRRC foi o Centro que registou a mais baixa taxa de úlceras de

decúbito e o CMR Sul aquele que registou a mais elevada taxa; o CMRA

não forneceu informação para o cálculo deste indicador.

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197

O quadro 56 mostra o valor de cada indicador de eficácia face ao valor

máximo no conjunto dos três Centros de Reabilitação, por forma a ter em

conta as diferentes escalas em que os indicadores se encontram calculados.

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198

Quadro 56 Posicionamento dos Centros de Reabilitação face a alguns indicadores de eficácia

(2008)

Considerados os indicadores de eficiência seleccionados, apurou-se que:

Quadro 57 Desempenho relativo dos Centros de Reabilitação: indicadores de eficiência (2008)

2008 CMRRC CMRA CMR Sul Indicadores de Eficiência Demora média 84 dias 96 dias 48 dias Taxa de ocupação 80% 87% 75% Doentes saídos/cama 3,5 3,2 5,7 Doentes saídos/médico ETC 18,9 16,1 33,8 Doentes saídos/enfermeiro/ETC 4,5 3,7 9,3 Consultas externas/médico ETC 196,6 425,5 236,5 Custo unitário dia internamento 247,00€ n.d. 383,00€ Custo unitário consulta externa 128,16€ n.d. 25,00€ Custo unitário tratamento 1,23€ n.d. 12,34€

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199

• O CMR Sul foi o Centro que registou a mais baixa demora média e o

CMRA aquele que registou a mais alta demora média;

• O CMRA foi o Centro que registou a taxa de ocupação mais elevada e o

CMR Sul aquele que registou a taxa de ocupação mais baixa;

• O CMR Sul foi o Centro que registou o melhor índice de doentes saídos

por cama, e o CMRA o pior;

• O CMR Sul foi o Centro que registou o melhor índice de doentes saídos

por médico ETC e o CMRA o pior;

• O CMR Sul foi o Centro que registou o melhor índice de doentes saídos

por enfermeiro ETC e o CMRA aquele que registou o pior índice;

• O CMRA foi o Centro que registou o melhor índice de consultas externas

por médico ETC, tendo o CMRRC registado o pior índice;

• O CMRRC foi o Centro que registou o custo unitário por dia de

internamento mais baixo, tendo o CMR Sul registado o mais alto; o CMRA

não forneceu informação para o cálculo deste indicador relativamente ao

ano de 2008;

• O CMR Sul foi o Centro que registou o melhor custo unitário por consulta

externa, tendo o CMRRC registado o mais elevado, com a ressalva

anteriormente feita no que concerne à inexistência de informação

disponível para o cálculo deste indicador no CMRA;

• O CMRRC foi o Centro que registou o custo unitário por tratamento mais

baixo, tendo o CMR Sul registado o mais alto, com a ressalva anterior.

 

O quadro 58 mostra o valor de cada indicador de eficiência face ao valor

máximo no conjunto dos três Centros de Reabilitação, por forma a ter em

conta as diferentes escalas em que os indicadores se encontram calculados.

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200

Quadro 58 Posicionamento dos Centros de Reabilitação face a alguns indicadores de eficiência

(2008)

Considerados os indicadores de equidade seleccionados, apurou-se que:

Quadro 59

Desempenho relativo dos Centros de Reabilitação: indicadores de equidade (2008) 2008 CMRRC CMRA CMR Sul Indicadores de Equidade N.º doentes saídos/1.000 habitantes 0,1 0,4 0,3 N.º consultas externas/1.000 habitantes

1,8 11,3 2,2

N.º doentes em espera para internamento

18 24 0

N.º doentes em espera para consulta externa

23 n.d. 0

Dias de espera internamento 90 196 0 Dias de espera consulta externa 45 n.d. 0

• O CMRA foi o Centro que registou o melhor rácio doentes saídos por

1.000 habitantes e o CMRRC o pior;

• O CMRA foi o Centro que registou o melhor rácio consultas externas por

1.000 habitantes e o CMRRC o pior;

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201

• O CMR Sul foi o único Centro que não registou doentes em espera para

internamento e para consulta externa.

Finalmente, considerados os indicadores de qualidade seleccionados,

apurou-se que:

Quadro 60

Desempenho relativo dos Centros de Reabilitação: indicadores de qualidade (2008) 2008 CMRRC CMRA CMR Sul Indicadores de Qualidade % Consultas externas desmarcadas n.d. n.a. 0,1% Taxa de mortalidade internamento 0,0% 1,7% 0,3% N.º doentes com IACS n.d. n.d. 11 % Retenção global de trabalhadores 77% 90% 82% Média de dias de absentismo por ac. trabalho/trabalhador

0 dias 0,4 dias 1,1 dias

% Profissionais c/ formação em SBV n.d. 13% 36% % Profissionais c/ formação em controlo da IACS

n.d. 23% 73%

Tempo médio de resposta a reclamações

n.d. 3 dias 66 dias

Aplicação de inquéritos satisfação dos utentes

Não Sim Sim

Aplicação de inquéritos satisfação dos profissionais

Não Sim Sim

• O CMR Sul foi o único Centro que registou o indicador % consultas

externas desmarcadas;

• O CMRA foi o Centro que registou a mais alta taxa de mortalidade no

internamento e o CMRRC a mais baixa;

• O CMR Sul foi o único Centro que registou o indicador número de doentes

com IACS;

• O CMRA foi o Centro que registou a % de retenção global de

trabalhadores mais elevada;

• O CMRRC foi o único Centro que não registou quaisquer dias de

absentismo por acidente de trabalho;

• O CMR Sul foi o Centro que registou a mais elevada % de profissionais

com formação em SBV;

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202

• O CMR Sul foi o Centro que registou a mais elevada % de trabalhadores

com formação em IACS;

• O CMRA foi o Centro que registou o melhor tempo médio de resposta a

reclamações;

• O CMRA e o CMR Sul registaram aplicação de inquéritos de satisfação a

utentes e profissionais, não tendo o CMRRC registado a aplicação de

qualquer inquérito.

Assim, a avaliação do desempenho dos Centros, no ano de 2008, evidencia

que, nas dimensões de resultados de custos, de eficácia e de eficiência, os

posicionamentos dos Centros são muito variáveis; nas dimensões de

equidade e de qualidade, o CMR Sul é o Centro que mais frequentemente

apresenta melhores resultados nos indicadores seleccionados.

Mas importa, igualmente, ressalvar que, no que respeita à equidade e à

qualidade, o melhor posicionamento evidenciado pelo CMR Sul se afigura

sobretudo resultado de duas ordens de razões. Em termos de resultados de

equidade, a inexistência de listas de espera no CMR Sul decorre do modelo

de referenciação instituído no Contrato de Gestão72, visto que nele se dispõe

que o acesso ao Centro se faz apenas por referenciação dos hospitais do

SNS nos quais os doentes foram tratados na fase aguda, tendo-se

constatado, contudo, que a capacidade instalada no Centro se encontra

longe da saturação. Em termos de resultados de qualidade, a existência de

uma clara política organizacional de qualidade no CMR Sul decorre do

modelo de monitorização do desempenho definido no Contrato de Gestão,

porquanto nele se impõem critérios de acompanhamento regular de

                                                        72 Com efeito, de acordo com a Cláusula 7.ª n.º 4 do Contrato de Gestão, a referenciação dos doentes para o CMR Sul é sempre feita por Hospitais do Serviço Nacional de Saúde. Esta articulação entre níveis de cuidados - que, de resto, corresponde às regras da RRH de MFR, aprovada por Despacho da Secretária de Estado Adjunta do Ministro da Saúde, datado de 26 de Março de 2002, que referem que “os doentes a internar nos Centros de Reabilitação devem ser obrigatoriamente referenciados pelos Hospitais que compõem a Rede de Referenciação de Medicina Física e de Reabilitação” – não se afigura, contudo, consentânea com a prática registada, não apenas no próprio CMR Sul, como no CMRRC, tal como evidenciado nos Anexos A.1. e C.1., em que se constata a referenciação de doentes do nível de cuidados de saúde primários, por intermédio das respectivas Administrações Regionais de Saúde. Apesar de se ter apurado que esta referenciação directa tem o propósito de rentabilizar a capacidade instalada nos Centros, não pode deixar de sublinhar-se o significado paradoxal desta realidade no contexto da falta de resposta assistencial do SNS para as patologias mais graves do foro da MFR.

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203

indicadores de qualidade, de cujo incumprimento decorrem penalizações

financeiras.

Na verdade, o que sobretudo ressalta da observação efectuada é que há

dimensões em que um dos Centros demonstra um melhor desempenho,

para, numa outra dimensão, revelar um pior posicionamento, não tendo

resultado evidência clara de que, na maioria das áreas, os melhores ou

piores indicadores de desempenho se correlacionem com o respectivo

modelo de gestão. Com efeito, alguns dos resultados apenas parecem

justificáveis pela capacidade de execução dos órgãos de gestão dos próprios

Centros. Outros, parecem ser o corolário dos objectivos inscritos no

instrumento contratual73 que regula a relação entre o financiador e o

prestador e que, no caso particular do CMR Sul, são especialmente exigentes

e detalhados, não cuidando, todavia, de referir-se aqui as dificuldades,

porventura sentidas pelas partes, na sua monitorização74.

                                                        73 Conforme detalhadamente explicitado nos Capítulos I, II e III, o instrumento contratual que regula as relações entre o CMRRC e o Ministério da Saúde é o Contrato-Programa e entre o CMR Sul e o Ministério da Saúde o Contrato de Gestão, figuras que, entre si, têm geometrias muito distintas e que não encontram qualquer paralelo no CMRA. 74 Sabendo-se que às Administrações Regionais de Saúde incumbe já, por intermédio dos respectivos Departamentos de Contratualização, efectuar o acompanhamento dos Contratos-Programa de todos Hospitais integrados no SPA e EPE da respectiva região, reconhece-se o embaraço de acrescentar a estas atribuições a monitorização dos Contratos de Gestão relativos a PPP, sem o apoio de uma estrutura específica que, no caso particular, do CMR Sul se encontra contratualmente prevista nas figuras do “Gestor do Contrato” e da “Comissão de Acompanhamento Permanente” (cfr, Cláusulas 61.º e 62.º do Contrato de Gestão), todavia, ainda não nomeados.

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204

Parte III – Conclusões  

Numa apreciação global das parcerias público-privadas para a construção de

novos hospitais, conclui-se o seguinte.

O processo de lançamento das parcerias evidenciou grande morosidade e

ajustamentos diversos ao longo do percurso (aspecto que se encontra

documentado extensivamente no recente relatório do Tribunal de Contas). É

possível reduzir o tempo entre a decisão de lançamento da parceria e a

assinatura do contrato de gestão, o que deverá merecer atenção e traduzir-se

numa redefinição do processo seguido dentro do Ministério da Saúde.

A existência de capacidade técnica por parte do Estado, nomeadamente nas

Entidades Públicas Contratantes (as Administrações Regionais de Saúde)

não se encontra plenamente assegurada, apesar da criação da figura do

gestor do contrato para realizar o acompanhamento da parceria. É desejável

o reforço dessa capacidade através de uma rede de conhecimento incluindo

os gestores de contrato e outros elementos da Administração Pública onde

esse conhecimento esteja presente.

Apesar do esforço de elaboração de um contrato tão completo quanto

possível, é importante reconhecer que é virtualmente impossível incluir no

contrato todas as eventuais contingências que podem ocorrer no futuro. Tal

significa que contratos de longo prazo, como os das parcerias em saúde,

terão inevitavelmente incentivos para renegociação futura, quando alguma

contingência não prevista expressamente no contrato ocorrer (sendo o

principal exemplo o aparecimento de uma nova tecnologia ou a necessidade

de um novo tratamento). A renegociação nessas condições aumenta a

eficiência da relação existente. O contrato deverá, por isso, prever quais as

condições e os mecanismos de regulação que se encontram disponíveis,

para evitar situações de renegociação contratual ad-hoc.

Em termos de partilha de risco, os contratos de parcerias asseguram, de uma

forma geral, uma distribuição de risco pelas partes que segue o recomendado

pela literatura referente a parcerias público-privadas e pela análise das

melhores práticas seguidas internacionalmente.

A escolha entre inclusão, ou não, da gestão clínica no âmbito privado da

parceria foi avaliada do ponto de vista das suas propriedades em termos do

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205

bom funcionamento económico da parceria. Em parcerias onde os benefícios

sociais resultantes sejam muito sensíveis a investimentos, em sentido lato,

que não são susceptíveis de serem especificados contratualmente e o custo

público de realização desses investimentos não tenha grandes diferenças

entre o sector público e o sector privado, então a gestão clínica deverá ser

retida pela parte pública da parceria. Sempre que os custos de realização

desse investimento não contratável sejam substancialmente menores no

sector privado e os benefícios sociais (incluindo nestes os resultados em

saúde) não sejam muito sensíveis a esse investimento não contratável, então

a parceria deverá incluir a gestão clínica no âmbito privado. Exemplificando,

um hospital com ensino universitário e de grande grau de diferenciação

envolve mais facilmente elementos que são cruciais para o seu bom

funcionamento e para os benefícios sociais que daí resultam embora não

sejam passíveis de especificação contratual. Um exemplo é a necessidade

de uma boa articulação entre a componente universitária e a gestão

executiva do hospital. Não há uma medida directa que possa avaliar o

empenho em fazer bem essa ligação, uma medida que possa ser incluída no

contrato para avaliação do desempenho contratual. Note-se a diferença para

um investimento constituído pela aquisição do equipamento de última

tecnologia disponível, em que se consegue mesmo determinar o modelo

relevante. Um contrato pode especificar a sua aquisição e deixar à entidade

privada a gestão de como e em que condições adquirir o equipamento e

como formar adequadamente os profissionais de saúde para o operarem.

Não há uma resposta única, do ponto de vista da análise económica, à

questão de incluir, ou não, a actividade clínica no âmbito privado de uma

parceria em saúde. É necessário avaliar em cada caso os elementos

envolvidos associados com investimentos que pela sua natureza intangível

não podem ser incluídos no contrato de gestão.

Dada a importância dos aspectos de investimento não contratável e de

renegociação futura que estão inevitavelmente presentes em parcerias

público-privadas, é essencial a construção de um clima institucional de

confiança mútua entre as partes envolvidas. Na ausência dessa confiança

mútua, os custos de litigância e de conflito entre as partes serão elevados.

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No que respeita à avaliação comparada do desempenho do Centro de

Reabilitação do Sul, em São Brás de Alportel, a análise de indicadores

realizada mostra que não há um Centro de Reabilitação que domina

sistematicamente os restantes. Existe sempre uma dimensão em que cada

Centro de Reabilitação é dominado pelo menos por um dos outros Centros

de Reabilitação.

Naturalmente, a atribuição de ponderação a cada um dos indicadores

permitirá obter uma ordenação única. Só que essa ordenação será o que o

analista quiser, através da escolha apropriada dos ponderadores. Uma vez

que não há uma forma inequívoca e incontestável de estabelecer a

ponderação de cada indicador, opta-se por apresentar as conclusões em

termos das cinco áreas de resultados definidas para a análise (custos,

eficácia, eficiência, equidade e qualidade).

Em termos do critério de custos, o CMR Sul apresentou em 2008 um fraco

desempenho. É aqui relevante para a compreensão desse fraco desempenho

a baixa utilização da capacidade. Face a uma componente elevada de custos

fixos, a ausência de um volume de actividade elevada leva a que o custo de

infra-estrutura tenha que ser dividido por um número menor de doentes e

gerando um valor especialmente elevado para o custo médio por doente.

Na componente de eficácia, o CMR Sul apresenta indicadores próximos dos

objectivos de primeiras consultas e resolutividade. Contudo, tem um excesso

de capacidade muito notório, no ano de 2008. Na componente de eficiência,

o CMR Sul não apresenta em geral os melhores indicadores, embora a falta

de utilização de capacidade seja novamente o principal factor penalizador.

Nas dimensões de equidade e qualidade, o CMR Sul é o Centro que

melhores resultados apresenta nos indicadores seleccionados, de um modo

geral. A vantagem do CMR Sul em termos de equidade decorre sobretudo do

indicador associado com as listas de espera. A inexistência de listas de

espera é resultado directo das disposições contratuais. Em termos de

resultados de qualidade, a vantagem encontrada encontra-se associada com

a presença de uma clara política organizacional de qualidade no CMR Sul.

Essa política de qualidade é necessária para responder às exigências

contratuais de indicadores de qualidade avaliados periodicamente (sendo as

falhas de desempenho penalizadas financeiramente).

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Apesar de não se ter uma conclusão tão clara como se pretenderia, vale a

pena realçar que o principal factor responsável pelo melhor posicionamento

do CMR Sul em diversos indicadores é estrutural: o contrato “obriga” a um

bom desempenho. Por outro lado, o principal factor penalizador do CMR Sul

é a baixa utilização da capacidade instalada, o que sendo um aspecto

conjuntural abre a perspectiva de melhoria significativa do CMR Sul num

futuro próximo.

É antecipável que as vantagens da parceria público-privada venham a ser

realçadas se for resolvido o problema da procura do CMR Sul, e que é

exterior em grande medida à gestão do Centro de Reabilitação. De momento,

as vantagens da parceria aparentam decorrer da necessidade de cumprir o

contrato, e não de uma maior capacidade de gestão privada, dadas as

condições de procura em que esta última teve de operar no ano de 2008.