equações diferenciais aplicadas à dinâmica populacional

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Equações Diferenciais Aplicadas à Dinâmica Populacional Maycon Luiz A. Magalhães, Neila M. Gualberto Leite IFNMG Campus Januária Licenciatura em Matemática 39480-000 Januária/MG E-mail: [email protected], [email protected]. Palavras-chave: Biomatemática, dinâmica populacional, modelo de Gompertz, modelo de Montroll. Resumo: Este trabalho apresenta a aplicação de equações diferenciais à dinâmica populacional. Apresentamos uma revisão de alguns dos principais modelos da literatura. Iniciamos destacando o modelo de Malthus que foi quem tentou, pela primeira vez, estimar o crescimento da população mundial em 1798. Passamos pelo modelo de Verhurst (1837) que, baseado em Malthus, propõe alteração na taxa de crescimento de modo que a população tendesse à estabilidade. Citamos também o modelo de Gompertz (1825) que possui taxa de crescimento variável. O último modelo apresentado e o mais recentemente é o de Montroll (1971) que apresenta diferentes formas possíveis de crescimento das taxas de variação populacional. Apresentamos um breve comparativo entre esses modelos evidenciando a evolução que sofreram ao longo da história. 1. Introdução As equações diferenciais constituem um ramo da matemática aplicada e está entre os elementos matemáticos mais utilizados na modelagem. Mais especificamente, destacam-se os modelos de crescimento de populações que utilizam equações diferenciais. A modelagem matemática da dinâmica de determinada população permite fazer inferências sobre a mesma e planejar ações. Esses modelos vêm sendo aprimorados com o passar do tempo e descrevem cada vez melhor a dinâmica populacional, principalmente quando aplicados recursos computacionais. O objetivo deste trabalho é fazer uma revisão de alguns dos principais modelos de dinâmica populacional baseados em equações diferenciais, destacando a evolução dos mesmos. Iniciamos com o modelo de Malthus, do século XVII e vamos até modelos mais atuais, como o de Montroll, de 1971. Este trabalho está baseado nos textos de Bassanezi [1],[2] e Zill [4]. 2. Modelo Exponencial ou Modelo de Malthus Thomas Robert Malthus, em 1798, foi quem tentou, pela primeira vez, estimar o crescimento da população mundial. Seu modelo assume que o crescimento de uma população é proporcional à população em cada instante, ou seja, não considera fatores limitantes de crescimento e considera que todos os indivíduos são idênticos, com o mesmo comportamento. Para Malthus, o crescimento populacional se daria por uma progressão geométrica enquanto os meios de sobrevivência cresceriam em progressão aritmética [2]. Considerando como uma determinada população, a equação do Modelo de Malthus é pelo problema de valor inicial: { onde é a taxa de crescimento intrínseco da população. A solução analítica desta equação é: portanto, o modelo de Malthus prevê que a população crescerá exponencialmente. Apesar de um pouco equivocado e muito criticado em alguns conceitos, este modelo possui relevância devido à sua contribuição para a evolução dos modelos, haja vista que serviu de base para muitos outros. 3. Modelo Logístico ou Modelo de Verhurst 351 ISSN 2317-3297

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Page 1: Equações Diferenciais Aplicadas à Dinâmica Populacional

Equações Diferenciais Aplicadas à Dinâmica Populacional

Maycon Luiz A. Magalhães, Neila M. Gualberto Leite IFNMG – Campus Januária – Licenciatura em Matemática

39480-000 – Januária/MG

E-mail: [email protected], [email protected].

Palavras-chave: Biomatemática, dinâmica populacional, modelo de Gompertz, modelo de Montroll.

Resumo: Este trabalho apresenta a aplicação de equações diferenciais à dinâmica populacional.

Apresentamos uma revisão de alguns dos principais modelos da literatura. Iniciamos destacando o modelo de Malthus que foi quem tentou, pela primeira vez, estimar o crescimento da população

mundial em 1798. Passamos pelo modelo de Verhurst (1837) que, baseado em Malthus, propõe

alteração na taxa de crescimento de modo que a população tendesse à estabilidade. Citamos também o modelo de Gompertz (1825) que possui taxa de crescimento variável. O último modelo

apresentado e o mais recentemente é o de Montroll (1971) que apresenta diferentes formas possíveis

de crescimento das taxas de variação populacional. Apresentamos um breve comparativo entre esses

modelos evidenciando a evolução que sofreram ao longo da história.

1. Introdução

As equações diferenciais constituem um ramo da matemática aplicada e está entre os

elementos matemáticos mais utilizados na modelagem. Mais especificamente, destacam-se os

modelos de crescimento de populações que utilizam equações diferenciais. A modelagem matemática da dinâmica de determinada população permite fazer inferências sobre a mesma e

planejar ações. Esses modelos vêm sendo aprimorados com o passar do tempo e descrevem cada vez

melhor a dinâmica populacional, principalmente quando aplicados recursos computacionais.

O objetivo deste trabalho é fazer uma revisão de alguns dos principais modelos de dinâmica populacional baseados em equações diferenciais, destacando a evolução dos mesmos. Iniciamos com

o modelo de Malthus, do século XVII e vamos até modelos mais atuais, como o de Montroll, de

1971. Este trabalho está baseado nos textos de Bassanezi [1],[2] e Zill [4].

2. Modelo Exponencial ou Modelo de Malthus

Thomas Robert Malthus, em 1798, foi quem tentou, pela primeira vez, estimar o crescimento da população mundial. Seu modelo assume que o crescimento de uma população é proporcional à

população em cada instante, ou seja, não considera fatores limitantes de crescimento e considera que

todos os indivíduos são idênticos, com o mesmo comportamento. Para Malthus, o crescimento populacional se daria por uma progressão geométrica enquanto os meios de sobrevivência

cresceriam em progressão aritmética [2].

Considerando como uma determinada população, a equação do Modelo de Malthus é pelo problema de valor inicial:

{

onde é a taxa de crescimento intrínseco da população. A solução analítica desta equação é:

portanto, o modelo de Malthus prevê que a população crescerá exponencialmente.

Apesar de um pouco equivocado e muito criticado em alguns conceitos, este modelo possui relevância devido à sua contribuição para a evolução dos modelos, haja vista que serviu de base para

muitos outros.

3. Modelo Logístico ou Modelo de Verhurst

351

ISSN 2317-3297

Page 2: Equações Diferenciais Aplicadas à Dinâmica Populacional

O primeiro modelo que atende à variação da taxa de crescimento foi formulado por Verhurst

em 1837. Este modelo supõe que uma população deverá crescer até um limite máximo sustentável

devido a inibições naturais em seu crescimento, isto é, ela tende a se estabilizar. O modelo de Verhurst é dado por:

= (

)

na qual é o nível de saturação da população, é a taxa intrínseca de crescimento. Esta equação

apresenta duas soluções de equilíbrio: (sem interesse) e

Sendo = (população inicial), obtemos =

, portanto:

O modelo de Verhurst é uma evolução do modelo de Malthus já que prevê variáveis que

Malthus não considerava. Enquanto Malthus considerava a taxa de crescimento intrínseco ( constante, Verhurst considerou esta taxa variável, descrescente de forma linear simples [4].

4. Modelo de Gompertz

Um modelo frequentemente utilizado na área das ciências biológicas é o modelo de

Gompertz (1825), que utiliza uma taxa de inibição da variável de estado proporcional ao logaritmo

desta variável. Isto significa que a taxa de crescimento é grande no início do processo, mudando rapidamente para um crescimento mais lento [2]. O modelo de Gompertz é dado pelo seguinte

problema de equação diferencial:

(

)

na qual é a taxa de crescimento relativo quando é pequeno, e é o valor limite finito de uma

população.

Fazendo-se a análise dos pontos de equilíbrio do modelo de Gompertz, obtém-se os mesmos do modelo de Verhulst, e também possuem o mesmo comportamento assintótico.

O ponto de inflexão pode ser obtido através da seguinte equação:

(

)

que resulta em:

.

Gompertz, no final do século XIX, comparou as tabelas de vida de vários países europeus,

podendo assim concluir que o aumento aritmético da idade é acompanhado pelo aumento exponencial da mortalidade. Enquanto Malthus se baseou na fertilidade, Gompertz por sua vez

tentou descrever um padrão universal para a mortalidade humana [4].

5. Modelo de Montroll

Montroll, em 1971, propôs um modelo geral para traduzir o crescimento assintótico de uma

variável, levando em conta que o posicionamento da variação máxima pode ser qualquer valor entre

(valor inicial de uma população) e (valor limite finito de uma população) [1].

Seja o valor limite de uma população e λ a taxa de crescimento quando é

“pequeno”. O modelo de Montroll é dado pela equação diferencial não linear:

* (

) + (*)

O valor do parâmetro é o indicador da posição do ponto de inflexão da curva. Se = 1, a

equação (*) é o modelo de Verhurst.

Para determinar o ponto de inflexão ( ), onde o crescimento é máximo, basta considerar

= 0 = λ

* (

)

(

)

+,

sabendo que

0 pois está entre 0 e Assim,

= (

)

Assim, dado , o valor de depende somente do parâmetro .

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ISSN 2317-3297

Page 3: Equações Diferenciais Aplicadas à Dinâmica Populacional

Este modelo tem o como principal objetivo apresentar diferentes formas possíveis de

decrescimento das taxas de variação populacional.

O modelo de Montroll pode ser considerado como uma generalização do modelo de Verhurst, porém se difere no fato de que o índice de crescimento relativo da população não é linear.

Assim, o modelo de Montroll apresenta uma vantagem em relação ao de Verhurst, pois é possível

adaptá-lo a problemas de naturezas diversas através do cálculo do ponto de inflexão, modificando,

quando necessário, o valor de .

6. Conclusão

Este trabalho apresenta uma breve revisão de quatro modelos da literatura relacionados à

dinâmica populacional: Malthus, Verhurst, Gompertz e Montroll.

O modelo clássico de Malthus foi fortemente criticado devido às suas limitações e por prever que a população teria crescimento limitado. No entanto, foi essencial, pois foi precursor de vários

outros. Essencialmente, os demais modelos apresentam uma alteração na taxa de crescimento da

população. Verhurst sugere que a taxa de crescimento populacional deixe de ser constante,

incorporando na equação a queda do crescimento populacional que deve estar sujeita a um fator de inibição. O modelo de Gompertz apresenta a taxa de inibição da variável de estado proporcional ao

logarítmico desta variável, o que significa que a taxa de crescimento é grande no início do processo,

mudando rapidamente para um crescimento mais lento. Já o modelo de Montrol apresenta diferentes formas possíveis de crescimento das taxas de variação populacional.

Em todos os modelos, observamos a relevância das equações diferenciais para modelagem

matemática de dinâmica populacional. Através do estudo de modelos clássicos e relevantes da literatura, podemos propor alterações, inclusão de variáveis e, assim, adaptar ou até criar modelos

que façam previsões sobre o crescimento de determinada população.

Referências

[1] R.C. Bassanezi, JR.W.C. Ferreira, “Equações Diferenciais com Aplicações”, Harbra, São Paulo,

1988.

[2] R.C. Bassanezi, “Ensino-aprendizagem com modelagem matemática”, Contexto, São Paulo,

2009.

[3] F. Diacu, “Introdução a Equações Diferenciais: Teoria e Aplicações”, LTC, Rio de Janeiro, 2000.

[4] D. G. Zill, “Equações diferenciais, volume 1”, Pearson Makron Books, São Paulo, 2001.

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ISSN 2317-3297