Época - edição 925 - 07 de março de 2016

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    6 I  ÉPOCA I  7 de março de 2016

    EDIÇÃO   925   I   7   DE MA R ÇO DE  2016

    PRIMEIROPLANODA REDAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   14

    PERSONAGEM DA SEMANA  . . . . . . . . . .   17

    DelcídiodoAmaral,umdelatornoninhopetista

    A SEMANAEM NOTAS . . . . . . . . . . . . . . . .   20

    A SEMANAEM FRASES. . . . . . . . . . . . . . .   22

    EXPRESSO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   24

    Empresa de Lulinha muda-se para prédiochique erguido pela Odebrecht em São Paulo

    EUGÊNIO BUCCI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   26

    Mudar o mundo

    SUA OPINIÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   28

    NOSSA OPINIÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   32

    TEMPO

    TEATRO DA POLÍTICAA investigação sobreLula, o julgamento

    deEduardoCunhaeadenúnciade Delcídio do Amaral . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   34

    LulaéinvestigadopelaOperaçãoLavaJato. .   36

    A repercussão da denúncia deDelcídio no governo Dilma . . . . . . . . . . . . . . .   44

    Eduardo Cunha irá a julgamento   . . . . . . . . .   48

    CRÔNICAS AMERICANAS. . . . . . . . . . . . .   52

    A vitória do pré-candidatoDonald Trump na “Super Terça”expõe a crise dos republicanos

    ENTREVISTA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   56

    Geoff rey Kabaservice, historiadore consultor do Partido Republicano

    IDEIAS

    DEBATES E PROVOCAÇÕESDevemos usar agrotóxicosbanidos no exterior?   . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   60

    Luis Carlos Heinze diz que o usodo agrotóxico é indispensável . . . . . . . . . . . .   62

    Antônio Carlos Valadares acreditaque é preciso eliminar venenos   . . . . . . . . . .   64

    OBSERVADOR DA EDUCAÇÃO  . . . . . . . .   66

    Os livros de história usados nas escolasbrasileiras carregam ideologias.É ético fazer a cabeça de nossos alunos?

    HELIO GUROVITZ. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .  68

    O antídoto cosmopoli ta para Donald Trump

    VIDA

    ÉPOCA EM AÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   70

    O primeiro ranking ÉPOCA-GPTWdas melhores empresas brasileiraspara as mulheres

    ENTREVISTA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   76

    Gary Barker, fundador da ONG Promundo

    BRUNOASTUTO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   80

    MarinaNery, protagonistadanovelaVelhoChico 

    WALCYR CARRASCO . . . . . . . . . . . . . . . . .   83

    A vitória transexual

    MENTE ABERTA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   84

    A curiosa história dos azulejos dePortinari e um ministro com cara de peixe

    MARCIO ATALLA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   87

    Treino novo para enganar o corpo

    12 HORAS  . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   88

    RUTH DE AQUINO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .   90

    Ou lava ou racha34

    DIRETOR GERAL Frederic Zoghaib KacharDIRETOR DE MERCADO LEITOR Luciano Touguinha de Castro

    Diretor de Redação: João Gabriel de Lima [email protected]: Diego Escosteguy

    Diretor de Arte Multiplataforma: Alexandre LucasEditores Executivos: Alexandre Mansur, Guilherme Evelin,Leandro Loyola, Marcos CoronatoEditores-Colunistas: Bruno Astuto, Murilo RamosEditores:  Aline Ribeiro, Bruno Ferrari, Danilo Venticinque, Flávia Tavares,Flávia Yuri Oshima, Marcela Buscato, Marcelo Moura, Rodrigo TurrerRepórteres Especiais: Cristiane Segatto, José FucsColunistas: Eugênio Bucci, Guilherme Fiuza, Gustavo Cerbasi, Helio Gurovitz,Ivan Martins, Jairo Bouer, Marcio Atalla, Ruth de Aquino, Walcyr CarrascoRepórteres:  Daniel Haidar, Graziele Oliveira, Nathalia Bianco, Nina Finco, Ruan deSousa Gabriel, Teresa Perosa, Thais Lazzeri, Vinicius GorczeskiEstagiários: Amanda Geroldo, Ana Helena Rodrigues, Ariane Teresa de Freitas,Beatriz Morrone, Julia Gonçalves, Mayra Brito Martins, Zé Enrico Teixeira

    SUCURSAIS  l  RIO DE JANEIRO: [email protected]ça Floriano, 19 – 8o andar – Centro – CEP 20031-050Diretora: Cristina Grillo; Editor: Sérgio Garcia;Repórteres:  Acyr Méra Júnior, Guilherme Scarpa, Marcelo Bortoloti, Nonato Viegas;Repórteres Especiais: Hudson Corrêa, Samantha Lima;l  BRASÍLIA: [email protected] 701 – Centro Empresarial Assis Chateaubriand – Bloco 2 –Salas 701/716 – Asa SulDiretor: Luiz Alberto Weber; Repórteres: Alana Rizzo, Ana Clara Costa, Filipe

    Coutinho, Ricardo Coletta, Talita Fernandes, Thiago BronzattoFOTOGRAFIA  l  Editor: André Sarmento; Assistente: Sidinei LopesDESIGN E INFOGRAFIA l  Editor: Daniel Pastori; Editora Assistente:Aline ChicaDesigners:  Alyne Tanin, Daniel Graf, Renato Tanigawa;Editor de Infograa: Marco Vergotti; Infograsta: Luiz C.D. SalomãoSECRETARIA EDITORIAL  l  Coordenador: Marco Antonio RangelREVISÃO l  Coordenadora: Araci dos Reis Galvãode França; Revisores: Alice RejailiAugusto,Elizabeth Tasiro, Silvana Marli de Souza Fernandes,Verginia Helena Costa RodriguesÉPOCA ONLINE   l   [email protected]:  Liuca Yonaha; Editora Assistente: Isabela Kiesel;Repórteres:  Bruno Calixto, Paula Soprana, Rafael Ciscati, Rodrigo Capelo;

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    MERCADO ANUNCIANTE: Diretor de negócios multiplataforma:  Emiliano Morad Hansenn;Executivos de negócios multiplataforma: Cristiane Paggi, Selma Pina, Ana Silvia Costa, MiltonLuiz Abrantes; Gerente de negócios multiplataforma:  Ciro Hashimoto;  Diretora de NegóciosDigitais: RenataSimõesde Oliveira; Executivos de negóciosdigitais: AndressaBonm, Giovan-na Sellan Perez, Lilian Ramos Jardim, Taly Wakrat; Consultora de marcas EGCN: Olivia CipollaBolonha;  Gerente multiplataforma:  Sandra Regina de Melo Pepe; Executiva multiplataforma:Guilherme Iegawa Sugio, Lilian de Marche Noffs;  Gerente de negócios multiplataforma RJ:Rogério Pereira Ponce de Leon; Executivos de negócios multiplataforma RJ:  Andrea Muniz,DanielaLopes,MariaCristinaMachado,JulianeRibeiroSilva, Pedro Paulo Rios; Gerentede negó-ciosmultiplataforma BSB: BárbaraCostaFreitas Silva;Executiva de negóciosmultiplataformaBSB: CamilaAmaralda Silva;DiretorEstúdio Globo:RafaelKenski;Gerente: EduardoWatanabe;Gerente de eventos: Daniela Valente; Coordenador de Opec off-line: José Soares; Analistas deOpec: Carlos Roberto Alves de Sá,DouglasVieirada Costa

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    ÉPOCA é uma publicação semanal da EDITORA GLOBO S.A. – Avenida 9 de Julho, 5229, SãoPaulo (SP), Jardim Paulista – CEP 01407-907.   Distribuidor exclusivo para todo o Brasil: Dinap– Distribuidora Nacional de Publicações  GRÁFICAS: Log & Print Gráfica e Logística S.A. – RuaJoana Foresto Storani, 676 – Distrito Industrial – Vinhedo, São Paulo, SP – CEP 13280-000.

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    O Bureau Veritas Certication, com base nos processos e procedimentos descritos no seu Relatório de Vericação,

    adotando um nível de conança razoável, declara que o Inventário de Gases de Efeito Estufa - Ano 2012, da Editora

    Globo S.A., é preciso, conável e livre de erro ou distorção e é uma representação equitativa dos dados e informa-

    ções de GEE sobre o período de referência, para o escopo denido; foi elaborado em conformidade com a NBR ISO

    14064-1:2007 e Especicações do Programa Brasileiro GHG Protocol.

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    14  I  ÉPOCA I  7 de março de 2016

    uatro figuras importantes da política brasileira foramprotagonistas do noticiário ao longo da semana. O

    presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha,

    tornou-se réu na Lava Jato. Num documento preliminarde delação premiada, Delcídio do Amaral, um dos princi-pais articuladores petistas – foi líder do partido no Senado–, fez denúncias graves contra a pre-sidente Dilma Rousseff e o ex-presi-dente Luiz Inácio Lula da Silva. ELula é agora oficialmente investigadopela Operação Lava Jato, que dispa-rou, na sexta-feira, dia 4, a OperaçãoAletheia. O foco são as relações doex-presidente com empreiteiras.

    Cunha, Delcídio, Dilma e Lula

    vivem momentos difíceis – e suasatribulações repercutem, com maiorou menor intensidade, na políticabrasileira. Dos quatro, Lula é o únicoque não exerce mandato atualmente.Mesmo assim, seu depoimento to-mado pela Polícia Federal após con-dução coercitiva foi o fato que pro-vocou maior comoção no país. Noaeroporto paulistano de Congonhas,onde Lula foi interrogado, militantesantipetistas, de amarelo, celebraram

    a investigação na Lava Jato. Em fren-te à casa do ex-presidente, no município paulista de SãoBernardo do Campo, militantes petistas protestaram con-tra o que consideraram um exagero da Polícia Federal.

    Lula foi presidente da República por dois mandatos.Des-de a redemocratização, nos anos 1980 – onde formava umafrente de esquerda com políticos como Fernando HenriqueCardoso, Francisco Weffort e Ulysses Guimarães –,é um líderimportante na política do país.Entende-se quea investigaçãosobre ele galvanize emoções. As duas posturas extremas – acomemoração de um lado, a condenação das investigaçõesdo outro – são, no entanto, inapropriadas. Não há o que

    comemorar quando um líder político importante se tornasuspeito de participar de um grande esquema de corrupção.Por outro lado, Lula é um cidadão brasileiro como qualqueroutro.E as alegações da força-tarefa da Lava Jato para iniciar

    Q

    SÍMBOLOAMERICANOGregoryPeck comoAtticusFinch. Ninguémpodeestar acima da lei

    JoãoGabriel deLimaDiretor deRedação

    Umademocracia acaminhodamaturidade

    a Operação Aletheia são pertinentes. Com os dados que osprocuradores têm em mãos, um ex-presidente seria prova-velmente investigado em qualquer lugar do mundo.

    Um bom exercício de distanciamento é ver como a im-prensa internacional noticiou a condução coercitiva deLula. Ela foi manchete nos sites dos principais veículos

    internacionais. O  New York Timesescreveu que Lula estava sendo in-vestigado por“sua proximidade comempresas gigantes da construçãocivil, que lucraram com contratosassinados com o governo. Lula estásendo questionado por suspeitas deque tais companhias tenham custea-do reformas numa casa de campo e

    num apartamento de praia usadopor sua família”. Simples e cristalino.As democracias evoluem da ado-

    lescência à maturidade quando setorna claro que nenhum cidadão estáacima da lei. Nos Estados Unidos, osímbolo dessa transição é um perso-nagem ficcional,o advogado AtticusFinch, protagonista do romance Osol é para todos, de Harper Lee. Finch,vivido no cinema por Gregory Peck,era de um tempo em que quase todas

    as condenações em seu Estado – oAlabama – eram de cidadãos negros. Vieram os direitoscivis, e hoje os Estados Unidos nada têm em comum como Alabama dos anos 1900. No Brasil, o fato de deputadosirem a julgamento por seus malfeitos, empreiteiros corrup-tos irem para a cadeia e ex-presidentes serem investigadosmostra que a democracia brasileira pode estar a caminhoda maturidade. Isso, sim, merece ser comemorado.

    Foto:divulgação

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    PRIMEIRO

    PLANOD E L C Í D I O D O A M A R A L

    7 de março de 2016  I  ÉPOCA I 17

      proximidade do

    senador com Dilma

    e Lula as duas maiores

    autoridades do PT

    rendeu a ele bom

    trânsito – e aos petistas

    um enorme desgosto

    UM

     EL TOR

    NO NINHO

    PETIST

    Foto:Ueslei Marcelino/REUTERS

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    18  I  ÉPOCA I  7 de março de 2016

    o ano passado, caminhando pelos corredoresdo Senado, o senador Delcídio do Amaral,petista de Mato Grosso do Sul, gabava-se: “Eusou um dos caras daqui que mais falam como Lula. Falo com ele toda semana”. Sempre

    que ia a Brasília, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silvamarcava um encontro com Delcídio – costumava, inclusive,hospedar-se no mesmo hotel onde o senador mora. Talvezpor isso, em abril do ano passado, quando seu segundomandato já estava ameaçado, a presidente Dilma Rous-seff escolheu Delcídio para o espinhoso cargo de líder dogoverno no Senado. Delcídio, que Dilma conhece há mais

    de duas décadas, tornara-se um dos principais – e únicos– contatos da presidente no PT e no Congresso. Em umpalácio onde a política é intrusa, Delcídio era dos poucosfrequentadoresa tratar do tema comDilma cotidianamen-te. No ano passado, o senador alertou Dilma dos perigosde manter um relacionamento gelado com Lula. Foi eletambém quem chamou a atenção da presidente para osmaus-tratos dispensados por ela ao vice-presidente, MichelTemer. Nas reuniões semanais com seus ministros maispróximos,Dilmarepetiaumgestoquedizmuitodesuade-ferência ao talento político de seu ex-líder: ao final, quandotodos saíam, ela pedia para apenas Delcídio permanecer.

    Na semana passada, Delcídio machucou o PT como pou-cos, justamente por sua posição privilegiada de interlocutordasduas maiores autoridadesdopartido. Sóelepoderiacontarcertascoisas.E,deacordocomarevistaIstoÉ ,Delcídiocontoupara os maiores inimigos do PT no momento – os procura-dores queatuamna Operação Lava Jato, aquela quecomeçoucomouma investigação dedesvios na Petrobrase se transfor-mou na maior iniciativa de combate à corrupção endêmicaque une governo, Congresso e empresas. De acordo com arevista, Delcídio falou após um acordo de delação premiadafechado com os procuradores, mas ainda não homologadopelo ministro Teori Zavascki, responsável no Supremo Tri-

    bunal Federal pelos processos da operação. O apavoramentofoi manifesto. Diferentemente do que temiam os senadores,Delcídio mirou no Palácio do Planalto. Acusou, segundo arevista, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente LuizInácio LuladaSilvade,entre outras coisas,tentar interferir noandamentodas investigaçõesda Lava Jato (leiamaisnapágina44) para proteger empreiteiros acusados de crimes e amigosna mesma situação, como o pecuarista José Carlos Bumlai.

    Exatos13dias(sim,13)antescomeçouaflanarporBrasíliao espectrodoDelcídio delator. Erauma ameaça que aterrori-zava políticos de todas as cores. Em 19 de fevereiro,Delcídiofoilibertado. Desde novembro,ele estavapreso emumquartel

    em Brasília, depois que uma gravação mostrou sua propostade dar fuga e pagar uma mesada de R$ 50 mil ao ex-diretorda Petrobras NestorCerveró, casoele fosse libertado. Cerverócontinua preso. Delcídio foi preso, acusado de tentar atra-

    palhar as investigações. Passou ao regime domiciliar. Dozequilos mais magro, mal havia tomado o banho redentor dosex-detentos, já começavam a vazar notícias de que, nos bas-tidores, Delcídio ameaçava colegas. Eram coisas sutis, como“seme cassarem,levo metade do Senado comigo”. Nadúvida,o presidente do Senado,RenanCalheiros,craque políticoqueé, chamou truco: “É hora de o Senado ouvi-lo e saber o queele tem a dizer”. Delcídio refugou, evanesceu-se. Pediu umalicença médica de 15 dias e, na semana passada, esteve em

    SãoPaulosobopretextoderealizarexamesmédicos.Mas,naquinta-feira, o fantasma do delator se materializou.As reações figadais dos petistas dão uma medida do in-

    cômodo causado por Delcídio. A presidente Dilma Rous-seff condenou “o uso abusivo de vazamentos como armapolítica”. Mandou que seu ex-ministro da Justiça e agoraadvogado-geral da União, José Eduardo Cardozo, rebatesseo que foi chamado de “suposta” delação.“É vingança”, foi omelhor argumento que Cardozo pôde usar. No raciocíniodele, Delcídio quis a desforra por não ter sido ajudado porDilma e pelo PT enquanto esteve preso. O temor pela apa-rição de Delcídio sempre foi o potencial de destruição que

    um dossenadoresmais bemrelacionados de Brasília poderiacausar. Nos dois anos de Lava Jato, alguns delatores são em-blemáticos. Paulo Roberto Costa é um marco por ter sido oprimeiro a colaborar; Ricardo Pessôa envolveu a campanha

    NLeandro Loyola

    P E R S O N A G E M D A S E M A N A

    DEFERÊNCIADelcídiodoAmaralcomapresidente DilmaRousseff . Elasempre pediaparaele ficarumpoucomais nasreuniões

    Foto:divulgação

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    7 de março de 2016  I ÉPOCA I 19

    de Dilma; Fernando Baiano envolveu o presidente daCâmara, Eduardo Cunha, e Bumlai, o amigo de Lula;Pedro Barusco entregou 11 operadores de pagamentode propina, que levaramao marqueteiro João Santanae a encrencas internacionais para a Petrobras.Delcídiomostrou ser capaz de jogar Dilma da periferia para omeio da Lava Jato; mostrou que tem conhecimentosuficiente para tirar Lula da posição de suspeito deser beneficiário das empreiteiras, com um sítio e umapartamento, para a de alguém que tentou interferirno processo para proteger um amigo.

    A raiva petista destilada contra Delcídio, o“Fagundes

    do Pantanal”, referênciairônica a sua semelhança comogalã de telenovela, vem de longe.Apesar do crédito comLula e Dilma, Delcídio sempre foi visto com descon-fiança no PT. Ele serviu ao PSDB, como diretor de Gáse Energia na Petrobrasna gestão de Fernando HenriqueCardoso.Aderiuao PT para se eleger senador em 2002.A atuação como presidente da CPI dos Correios, a quedesvendou o escândalo do mensalão, não ajudou emsua popularidade entre os correligionários. Em 2014,quando tentoueleger-se governador de Mato GrossodoSul, Delcídio escondeu a estrela vermelha como pôde.Mesmo assim, conquistou Dilma e foi decisivo para

    a aprovação das medidas do ajuste fiscal. Em março,aproximou o então ministroda Fazenda, JoaquimLevy,dos aliados no Senado. Um de seus movimentos maisimportantes foi reaproximar o PMDB do governo. Foiele quem organizou um almoçona residência oficialdeRenan Calheiros, em maio, com o presidente Lula e acúpulado PMDB.A relação se apaziguou porum tem-po. Foi assim que o governo conseguiu que o Senadomantivesse os vetos da presidenteDilma às medidas dachamada “pauta-bomba”, que aumentariam os gastosdo governo em R$ 64 bilhões.

    Com o desgaste do governo e o seu próprio, Delcí-

    dio ensaiou sair do PT, mas desistiu. A vida de petistacom bom trânsito na oposição lhe rendia posiçãoímpar no Senado, a de único capaz de conversar,contar piadas e negociar com todos. Até a semanapassada, mesmo opositores ficavam incomodados emtratar de uma possível cassação do mandato de Delcí-dio. Entre as acusações da Lava Jato que desalinhamseus lisos cabelos grisalhos estão a de receber US$1,5 milhão de propina pela compra da Refinaria dePasadena, feita pelo delator Fernando Baiano; e a dereceber US$ 10 milhões de propina da Alstom, aindano governo FHC, feita pelo delator Nestor Cerveró.

    O homem é um pragmático, não um ideológico. Omesmo pragmatismo que o levou a fazer uma dela-ção preliminar sobre o PT pode levá-lo a falar sobreoutros que sorriram com ele nestes anos todos.   ◆

    Delcídio doAmaral

    A raiva petistadestilada contra

    o “Fagundesdo Pantanal” vemde sua atuação nogoverno FernandoHenriqueenaCPI

    dos Correios

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    OPIBvaiaofundoO PIB do Brasil caiu 3,8% no ano passado, segundo o IBGE divulgouna quinta-feira, dia 3. O resultado é o pior da série histórica iniciadaem 1996. Considerada a série desde 1962, que usava uma metodologiadiferente, a economia só esteve pior do que agora em 1981 e 1990.A queda de 4% no consumo das famílias foi a maior desde 1996e a primeira desde 2003. E em 2016 tem mais: segundo o último

     boletim Focus, do Banco Central, o PIB deve recuar mais 3,45%.

    Longe do RioO secretário de Governo daprefeitura do Rio de Janeiro, PedroPaulo Carvalho, pediu ao SupremoTribunal Federal que sua ex-mulhere a antiga babá da filha do casalsejam ouvidas pela Polícia Federalem Brasília, longe do Rio, onde

    ele é pré-candidato à prefeiturapelo PMDB. Pedro Paulo respondepor ação no STF por suspeita deagressão contra a ex-mulher em2010, quando ainda eram casados.

    Crise dos bilhõesNa lista mais recente dos donos dasmaiores fortunas do mundo, compiladapela Forbes, apenas cinco latino-americanos aparecem entre os 100primeiros. O mais bem colocado é omexicano Carlos Slim, que foi “o maiorperdedor do ano”: caiu da 2a paraa4a

    posição. Entre os brasileiros, Jorge PauloLemann aparece em 19o lugar; JosephSafra, em 45o; e Marcel Herrmann

    Telles e Carlos Alberto Sicupira em67o e 87o, respectivamente.O homemmais rico do mundo continua sendoBill Gates, com US$ 75 bilhões.

    FEVEREIROMARÇO I 2016

    Seg Ter Qua Qui Sex Sáb Dom29 1 2 3 4 5 6

    Os mísseisdo ditadorA Coreia do Norte disparou naquinta-feira seis mísseis de curtoalcance em direção ao mar do Japão,segundo o governo da Coreia doSul. O ato foi interpretado comouma resposta à nova resolução daONU, que impôs sanções maisduras contra o regime de Kim

    Jong-un após os testes nuclearesfeitos em janeiro. Todos os mísseiscaíram no mar após percorrerde 100 a 150 quilômetros.

    ATÉPARECEAERACOLLOR

    Em%

    1981 1983 1988 1990 1992 2009 2015

    4,25

    2,93

    0,06

    4,35

    0,47

    0,1

    3,8

    Q U E R E S U M E M A S E M A N A

    CarlosSliminvestidormexicano   bilhões

    US$

    50

    JorgePauloLemanncervejeirobrasileiro   bilhões

    US$

    28

    JosephSafrabanqueirobrasileiro   bilhões

    US$

    17

    MarcelHerrmann Tellesinvestidorbrasileiro   bilhões

    US$

    13

    CarlosAlbertoSicupirainvestidorbrasileiro   bilhões

    US$

    11,3

    LATINOAMERICANOS NA FORBES 

    Fonte: IBGE

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    I I

    Foi Maluf que fez, ouiA França condenou, na quarta-feira, o deputadofederal Paulo Maluf , do PP de São Paulo, atrês anos de prisão por lavagem de dinheiroem território francês de 1996 a 2005. A somalavada seria de US$ 7 milhões. A sentença foidada pela 11a Câmara do Tribunal Criminalde Paris, que também condenou a mulher e ofilho de Maluf. Os três tiveram € 1,8 milhãoconfiscados pela Justiça francesa e ainda terão

    de pagar€ 500 mil em multas. A família járecorreu da sentença. Informada da condenação,a Procuradoria-Geral da República pede agoraque a ação seja transferida para o Brasil.

    MENOS FUMAÇA NA CHINA   Homens puxamumtriciclopertodechaminés de fábricasemShanxi, naChina.

    Dadosmostram que o país está reduzindo o consumo decarvão,

    suaprincipal fontede energia,masaltamentepoluidora.

    para bancarasnecessidadeshumanitáriasadvindasdacrise gerada

    pela chegadademaisde1 milhãode refugiadosao continente

    A UNIÃOEUROPEIA

    destinará, nos

    próximos três

    anos,

    DE EUROS

    Fotos:Kevin Frayer/Getty Images, reprodução,AlexandreCassiano/Ag. OGloboe APPhoto/Ahn Young-joon

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    22  I ÉPOCA I  7 de março de 2016

    “Em SãoPaulo,parece queo públicoassiste pelo

    telefone”MickJagger,cantordosRolling Stones, sobre

    o hábitodopúblico deira shows

    para filmar, emvezdeassistir

    Fotos:Joel Ryan/Invision/AP, DennyCesare/Ag. O Globoe BrunoPoletti/Folhapress

    Q U E R E S U M E M A S E M A N A

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    “Nãosoucapaz deopinar”GloriaPires,atriz,em suaestreia

    comocomentarista do Oscar

    “Ponha uma cadeirade praia e vá assistirao remo de graça”EduardoPaes(PMDB),prefeitodoRiode Janeiro.

    Em janeiro,o Comitê Organizador dasOlimpíadas

    desistiude fazer umaarquibancada para o remo

    “Agora, nossos

    carrosvão entendermelhorque ônibussãomenos propensosa dar passagem”Google, empresa de tecnologia, ao assumir pela

    primeiravez a culpaporum acidentede seucarro

    autônomo. O carroacertoua lateral de umônibus

    “Esse filme nãoé anticatólico” L’Osservatore Romano, jornal oficial doVaticano, aoelogiar o filmeSpotlight , quenarra

    a descoberta de umescândalode pedofilia

    na Igreja Católica,nos EstadosUnidos

    “Estamos acostumados

    a ‘partido cartório’,

    de livro deata, que

    decideo candidato em

    mesa de restaurante,comvinho importado”GeraldoAlckmin (PSDB-SP),

    governadorde SãoPaulo e apoiadorde João

    DoriaJr., vencedordoprimeiroturnoda prévia

    para candidatodo PSDB à prefeituradacapital

    “Ogovernadorque joga

    pesado para favorecer

    essecandidato é omesmo

    queestá escondendo

    dadosdogoverno”ArnaldoMadeira(PSDB-SP),

    secretário-chefe da CasaCivil do governo

    Alckmin, de 2003 e 2006.Eleapoiaa candidatura

    do vereadorAndrea Matarazzo,que também

    disputaráo segundo turnodaspréviasdo PSDB

    D E D O N A C A R A  

    “Nossa produçãoteve de ir ao extremosul doplaneta apenaspara encontrar neve”LeonardoDiCaprio,ator que(enfim)

    ganhouo Oscarpelo filme O regresso. No

    discursode agradecimento, elepediuatenção

    ao problemado aquecimento global

    “É hora de enfrentara esquerdopatiaeleitoral oportunistaque escondeo corporativismodo PT”DelfimNetto, economistae consultorinformal

    do entãopresidente Lula, agoracríticodoPT

    “Delaçãopremiadanos olhos dos outrosé pimenta, nos olhosdeles é refresco”EduardoCunha(PMDB-RJ), presidenteda Câmarae agoraréu naOperaçãoLavaJato,

    ironizando ospetistas ao falar sobrea delação

    do senadorDelcídiodo Amaral (PT-MS)

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    P O R M U R I L O R A M O S   [email protected]

    24 I ÉPOCA I  7 de março de 2016

    3,2,1...A dona da agência Pepper Interativa,Danielle Fonteles, está em conversasavançadas com investigadorespara fechar um acordo de delaçãopremiada. A Pepper participou dascampanhas petistas em 2010 e 2014e pode ajudar tanto nos trabalhosda Operação Acrônimo como naLava Jato. Para a Acrônimo, Danielle

    promete entregar informações sobreo governador mineiro, FernandoPimentel, sua mulher, Carolina deOliveira, e o empresário Beneditode Oliveira. Na Lava Jato, elapoderia explicar o uso de recursosde caixa dois em campanhas doPT provenientes das empreiteirasAndrade Gutierrez, OAS e QueirozGalvão. Isso porque a Pepper foipassagem de dinheiro usado nasduas últimas eleições nacionais.

    2, 1...Danielle ficou muito próximade um dos principais assessorese coordenadores das campanhasda presidente Dilma Rousseff,Giles Azevedo. Os investigadoresquerem saber até que ponto asinformações da publicitária podemcomplicar a vida do Planalto.

    SerenoApesar da gritaria sobre aOperação Aletheia, o juizfederal Sergio Moro estátranquilo, tranquilo.

    QuentinhaSaiu do forno a homologação dadelação premiada do ex-vereadordo PT Alexandre Romano,conhecido como Chambinho.Ele complica a vida da senadoraGleisi Hoffmann (PT-PR) e doex-ministro Paulo Bernardo.

    Nasalturas

    OnovoCEPdeLulinhao dia 26 de fevereiro, FábioLuisLuladaSilva, o Lulinha, reuniu a

    diretoria da Gamecorp para promover a mudança de endereço daempresa, antes confinada a um prédio sem charme na capital paulista.A empresa, que acumula prejuízo milionário, está se mudando paraum portentoso prédio no bairro da Vila Olímpia. Ocupará quatrosalas do 7o andar do edifício construído pela... Odebrecht. “O alugueldo metro quadrado da região é o mais caro da cidade”, diz umavendedora. A construtora pagou parte da reforma usada por Lula efamília, incluindo Lulinha, no sítio Santa Bárbara, em Atibaia.

    N

    Verão do“Brahma”Lula recebeu R$ 900 milda Cervejaria Itaipavapor palestras em 2013.Uma delas foi dada emAtibaia, seu reduto dedescanso, em outubrodaquele ano. O ex-presidente tambémdeu outra palestra

    na cidade paulista:ganhou R$ 200 mil daAssociação Brasileirade Supermercados.

    MUDANÇAEmpresadeLulinhatroca deendereço.Vaipara umprédioerguidopelaOdebrecht

    Fotos:Rogério Cassimiro/Época(2), GregSalibian/Folhapress,CelsoPupo / Fotoarena, BrunoPavão/

    Ed.Globo e RicardoFernandes/DP/D.APress

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    ComNonatoViegas e   RicardoDellaColetta e reportagem deDaniel Haidar, ThiagoBronzattoeViniciusGorczeski

    CrisehídricaOs deputados federais que moramem apartamentos funcionaisreformados receberam umaviso surpreendente: terãode ressarcir a Câmara dosDeputados por despesas com

    água. Antes era tudo liberado.

    TimTonesEm tempos de proibição dadoação de empresas a campanhaseleitorais, os candidatos tememos adversários ligados às igrejas.Acham que não faltará dinheiroa eles proveniente dos fiéis.

    Sob nova direçãoO governo espera um STF maishostil a partir de setembro, quandoCármen Lúcia assume a presidênciada Corte. A avaliação é que aministra vai adotar postura linhadura para imprimir estilo próprio.

    NogogóDepois de sair do governo, Luís InácioAdams planeja passar seis mesesdando palestras para o escritórioamericano Mayer Brown. Só depoisvai advogar para uma banca brasileira.

    Quimono da leiIndicado por Dilma para o STJ, odesembargador do Rio de JaneiroAntônio Saldanha é faixa pretade jiu-jítsu e terá de procuraruma academia em Brasília paracontinuar suando o quimono, se seunome for aprovado nas próximassemanas pelo Congresso. Outrofanático pelo esporte é o ministro

    do STF Luiz Fux, com quemSaldanha já dividiu o tatame.

    Tchau,presidente?Um grupo de consultores do Senadoelaborou um estudo detalhando ossistemas de governo de cinco paísesparlamentaristas. As informaçõessobre Alemanha, Austrália,Áustria, Bélgica e Canadá serãousadas para embasar as discussões

    da comissão de senadores queelaborará uma proposta para adotaro parlamentarismo no Brasil.

    SoluçãocaseiraA principal demanda por aluguel decarros durante os Jogos Olímpicosserá de brasileiros. A expectativa é deque a locação pelos estrangeiros atinjasomente 10% do total de automóveis.A associação do setor acha que a

    procura será principalmente depaulistas, mineiros e paranaenses. NoRio, a previsão é que o aumento delocação de automóveis chegue a 20%.

    Carga pesadaO governo não está preocupadoapenas em atrair empresas paraas novas concessões de rodovias,mas também com as empreiteirasenroladas na Lava Jato quetentam a todo custo se desfazerde lotes já arrematados.

    CachimbodapazO poderoso diretório do PMDB doRio de Janeiro negocia com o vice-presidente, Michel Temer, emplacaro ex-governador Sérgio Cabral comosegundo vice-presidente do partido.

    Leia a colunaExpresso em epoca.com.br

    Era do avôdoMatheusSabe o sítio Santa Bárbara, visitadopelo ex-presidente Lula maisde 100 vezes em Atibaia? Poisé. Aquelas terras pertenceram aAndré Nachtergaele, avô do atorMatheusNachtergaele. Ele dizter ótimas lembranças do local.“Colhia-se mexerica e pescava-se traíra”, diz com ternura. Eleafirma não ter percebido que era

    o mesmo lugar frequentado porLula em razão do nome. Chamava-se, segundo ele, Rancho Ituí.

    Últimasunidades?

    Feirão doRioPara fazer caixa, o prefeito doRio de Janeiro, EduardoPaes,

    pretende vender 15 imóveis domunicípio. Eles estão localizadosnas zonas Sul, Oeste, centroe portuária.Entre eles algunspróximos aos Arcos da Lapa.Paes disse que no ano que vemoutros imóveis serão postosà venda. Mas não por ele.

    7 de março de 2016 I  ÉPOCA I 25

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    Eugênio Buccié jornalista e professor da ECA-USP

    E U G Ê N I O B U C C I

    26 I  ÉPOCA I  7 de março de 2016

    Mudar o mundom 1990, visitei a Universidade Humboldt, em BerlimOriental. O muro tinha caído menos de um ano antes,

    e a parte da cidade governada pela ditadura soviética estavapraticamente intacta. Logo nos primeiros passos dentro doprédio principal, eu vi. No saguão de entrada, inscrita emletras douradas, sobre o pórtico de mármore em forma de

    arco que dá acesso a um lance de escadas, lá estava umafrase de Karl Marx (1818-1883):“Os filósofos se limitarama interpretar o mundo de diversas maneiras; mas o queimporta é transformá-lo”. (“Die Philosophen haben dieWelt nur verschieden interpretiert; es kömmt drauf an,sie zu verändern.”) Aquela visão me marcaria para sempre.

    Afraseéclássica.Trata-seda11 a das“Teses sobre Feuerbach,escritas pelo filósofo e militante alemão nos anos 1840 doséculo XIX, mas só publicadas mais tarde, postumamente,em 1888, graças ao trabalho sistemático deFriedrich Engels. Em 1848, Marx e Engelspublicaram juntos O manifesto comunista.

    Eram jovens inquietos. O primeiro tinha30 anos de idade; o segundo, 28. Estu-diosos de filosofia, tinham sede de açãopolítica. Queriam transformar o mundo,como pregava a 11a tese, e, na visão deles,transformar o mundo significava fazer arevolução comunista quanto antes.

    Foi a dupla Marx e Engels que começoucom essa história de “mudar o mundo”.Depois deles, o bordão se popularizoucomo um apelo romântico e, no século XX, contagiou

     jovens de várias gerações. No final dos anos 1960, outra

    dupla famosa, Lennon e McCartney, dos Beatles, zomboudiscretamente do chavão, na música“Revolution 1”, gravadano álbum Branco: Você diz que quer uma revolução/tudobem, sabe como é/todos nós aqui queremos mudar o mundo.(You say you want a revolution/Well, you know/We all want to change the world .) Na letra, hoje antológica, Lennon eMcCartney rejeitam o método destrutivo das revoluções,mas reforçam o sonho de “mudar o mundo”. Você quermudar o mundo? Tudo bem. O problema é como.

    Eu pensava nisso enquanto tentava decifrar as palavrasem alemão grafadas logo acima da escadaria. A decepçãotraumática legada pela mística das revoluções sanguinárias

    estava no fundo do desapontamento que senti. A frase foiposta lá em 1953, em plena Guerra Fria. Tinha o aspectode uma pichação solene, carimbada a mando da burocraciasoviética, para assinalar seu domínio tirânico sobre o pen-

    samento da Alemanha Oriental e de todo o Leste Europeu.É como se Stalin ordenasse aos estudantes, professores evisitantes: “Aqui a gente não quer saber de conversa fiada.O nosso negócio é combater o inimigo de classe”. Eu bemsabia que, já naquele tempo,“mudar o mundo”, no entenderdosstalinistas, era pôr fogo no mundo dosoutros (dos ame-

    ricanos) para preservar e perpetuar o próprio (o soviético).A frase na Universidade Humboldt era exatamente aoriginal de Marx. O seu sentido, porém, era o contrário.Exatamente o contrário. É simples explicar por quê.

    Quando Marx escreveu as Teses sobre Feuerbach, emmeados do século XIX, estava sonhando com um futurode luze liberdade.Umséculodepois, quando os burocratasdo materialismo mandaram pichar a frase na universidade,as ideias de Marx tinham sido capturadas por um passado

    sombrio e opressivo, por um poder resse-quido e pesado. Eis porque o significadoda velhatese tinha se invertido por inteiro.

    Antes, ela significava rebeldia. Agora,significava censura: queria dizer que nadaque não se alinhasse com o marxismooficial do Partido Comunista da UniãoSoviética seriabem recebido naquela uni-versidade. Mais ainda, queria dizer que alinão se prestigiava o pensamento livre dosque elaboram hipóteses inéditas e ques-tionamentos desafiadores. Em lugar disso,só seriam admitidos os trabalhos escola-

    res que se enquadrassem no programa teórico oficial, deacordo com a doutrina estatal que tinha força de lei sobre

    a imaginação humana.Essa foi a minha impressão naquele lugar. BerlimOriental estava parada no tempo. Era o retrato não darevolução que os jovens Marx e Engels imaginavam, masda contrarrevolução feita de obediência silenciosa.

    Eu pensava comigo.Uma universidade filiada a um par-tido político, seja ele oficial ou não, muda alguma coisa? Afilosofia que gosta tanto de política seria mais transforma-dora se se distanciasse dos slogans e refletisse criticamentesobre eles. Para mudar o mundo, é preciso entendê-lo –e, se os filósofos se dedicassem a entendê-lo, não teriamde perder tempo em querer transformá-lo. Ou a filosofia

    transforma o pensamento ou o mundo a subjuga.   ◆

    E

    MUDAR O MUNDO,PARA OS STALINISTAS,

    ERA PÔR FOGO NO

    MUNDO DOS OUTROS

    PARA PERPETUAR 

    O PRÓPRIO

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    28  I ÉPOCA I  7 de março de 2016

    sileira. É preciso esperar que seja feita justiça nas ruas.

    LuigiDantas,

    viaFacebook

    EXPECTATIVAXREALIDADE“Futebol, a fábricade ilusões” (924/2016)retratou a difícil vidados jogadorescom saláriosabaixo deR$ 1.000

    A reportagem mostra a verdadeiraface do futebol brasileiro, desmitifi-cando a lenda de que ser jogador de fute-bol é viver como milionário. Uma durarealidade que precisa ser repassada aos jovens que querem seguir essa carreira.

    RafaelMoia Filho,

    Bauru, SP

    A vida glamorosa, que alguns poucos jogadores têm,cria ilusões para quem

    tem pouca perspectiva na vida real.

    Aylton S.Vieira,via Twitter

    OMUNDOESTÁCHATO?Em “A culpa da brancaFernandaTorres”(924/2016), a colunista Ruth deAquinofalou sobre como um textopró-homemdespertou uma iradesproporcional

    Cresci em uma casa com mulheresaltivas, que jamais aceitaram passiva-

    mente o papel de vítimas e sempre exigi-ram o básico, mas raro, tratamento igua-litário. Esse tratamento igualitário, maisque um discurso, para mim é um valor.

    Raphael Cândidoda Silva,

    Riode Janeiro, RJ

    Vocês nãoconseguem imaginar o queé realmente chato. Muito fácil uma

    mulher moderna cuspir em cima dos di-reitos que possui graças ao movimentofeminista. Reclamam do feminismo por-

    que não têm consciência de quanto já fo-ram e são reprimidas.

    FelipeWalz,

    viaFacebook

    COMENTÁRIO DA SEMANA

    Escreva para:[email protected]

    INVESTIGAÇÃOEm “O trioacarajé” (924/2016), ÉPOCAretratouos avanços na investigaçãoqueconectaOdebrecht, Lula e João Santana

    A cada nova fase da Operação LavaJato fica mais clara a real natureza

    desse monstruoso esquema de corrupção.Para conseguir financiar a manutençãodo poder, Lula, junto com a cúpula do PT

    e sua base aliada, nomeou diretores cor-ruptos na Petrobras, superfaturando lici-tações de obras. Precisamos apoiar oavanço das investigações realizadas naoperação conduzida pelo juiz federal Ser-gio Moro, responsável pelos processos emprimeira instância.

    NiltonJunior,

    via Facebook

    Otriodacamaradagemnãovaides-cansar tão cedo. Enquanto o fio da

    meada ainda estiver sendo puxado, trarámuitas e muitas sujeiras que estão paraser descobertas.

    RodrigoH.Souza,

    Olinda, PE

    Retrato impecável de mais uma for-mação de quadrilha na política bra-

    É um banho de água gelada saberque existem jogadores profissionaisde futebol que recebem uma quantiamínima em comparação ao quevemos. Mas, no Brasil, esporte é isso” Carlos Figueira,São Paulo, SP

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    7 de março de 2016  I  ÉPOCA I 29

    M A I S C O M E N TA D A S M A I S L I D A S M A I S C O M PA R T I L H A D A S

    I N S T AG R A M D O L E I T O R  

    @deborahmorato85venceu o tema“Mulher”.ConfiramaisfotoseotemadapróximaediçãonoInstagram de ÉPOCA:@revistaepoca

    Com certeza. Basta uma boa regula-ção. A internet é uma dádiva e nin-

    guém deve ficar de fora.Luiz Henrique Amorim,

    viaFacebook

    A internet tem de ser grátis e não im-porta se eles vão ganhar dinheiro. O

    que não pode é o consumidor pagar caropor um serviço que poderia ser de graça.

    Luiz Rangel,

    viaFacebook

    Ela deve ser gratuita e de livre acesso.Do contrário, o que podemos tradu-

    zir sobre isso é: não dê acesso à informaçãopara as pessoas mais pobres, senão nãopoderemos manipulá-las para votar emnós em um futuro próximo.

    Junior Fernandes,

    viaFacebook

    As pessoas fazem algo pensando emsi e geram valor para a sociedade. OFacebook, ao pensar em ampliar o núme-ro de usuários de seus serviços, leva inter-net gratuita, ou pelo menos mais barata,às pessoas que nem ao menos têm acessoà rede. O que há de mal nisso?

    Thiago Santtos,

    viaFacebook

    Internet de graça significa uma mor-daça na rede. Na realidade, eles que-

    rem cobrar por acesso à rede de dados.Lembrem-se de queinternetnãoé Facebook.

    Jeff erson Alves,

    viaFacebook

    Sou totalmente contra. Não existealmoço grátis, que dirá internet.

    Luciano Gonzaga,

    viaFacebook

    A palavra “grátis” é uma das maiorespeças de marketing da história da

    humanidade usada pelas empresas.Reginaldo

    Ferreira Campos,

    viaFacebook

    Não é grátis: eles vão ganhar de algu-ma outra forma e provavelmente será

    com publicidade. O mesmo ocorre com a

    ferramenta de busca do Google, que naverdade é um mercado.Mauricio Amorim Gurgel,

    viaFacebook

    Se tiver, o governo vai cobrar impos-to sobre a “internet grátis”.

    Marco Souza,

    viaFacebook

    EXCLUSIVO: Odebrechtpagou R$ 4 milhões paraJoão Santana no Brasil em...

    Em depoimento, MarceloOdebrecht diz que quer falarsobre Operação Acarajé

    Odebrecht pagou arquitetoque assina reformado Instituto Lula

    Celso de Mello acolhepedido para investigar...Expresso

    Marcelo Odebrecht estáirritadíssimo com a...Expresso

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    Não foi Vanessa da Mata:saiba quem realmente...Bruno Astuto

    “Vim trazer a luz de voltapara a vida desse homem”...Bruno Astuto

    Em depoimento, MarceloOdebrecht diz que quer falarsobre Operação Acarajé

    Contracheque defuncionário da Câmara...Expresso

    Os melhores (e piores)looks do Oscar 2016Bruno Astuto

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    Petistas que foram a SPpara ato em defesa de Lula...Expresso

    EXCLUSIVO: Odebrechtpagou R$ 4 milhões paraJoão Santana no Brasil em...

    Celso de Mello acolhepedido para investigar...Expresso

    João Santana:o fim do feitiço

    Marcelo Odebrecht estáirritadíssimo com a...Expresso

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    DevemosaceitarainternetgrátisdoFacebook?EmDebates e Provocações (924/2016), Demi Getschkoe NeideOliveira ficaramem lados opostos da questão

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    32  I  ÉPOCA I  7 de março de 2016

    a véspera da condução coercitiva doex-presidente Luiz Inácio Lula da Sil-va, o ministro Celso de Mello, o de-

    cano do Supremo Tribunal Federal, lembrou,em entrevista, um princípio da República.“Todos são iguais perante a lei e a Constitui-ção”, disse Mello. No despacho em que auto-rizou a deflagração da 24a fase da OperaçãoLava Jato, o juiz federal Sergio Moro também

    registrou que o ex-presidente Lula merece sertratado com todo o respeito, “em virtude dadignidade do cargo que ocupou (sem prejuízodo respeito devido a qualquer pessoa)”, mas nãoestá imune a investigações. O princípio de quenão deve haver nenhum cidadão acima dequalquer suspeita é antigo nas democraciasmais maduras do mundo. Mas ele só agoracomeça a deitar raízes mais fortes no Brasil.

    Já levamos quase 30 anos de amadurecimen-to institucional, desde a promulgação da Cons-tituição de 1988. Na transição para uma socie-

    dade mais aberta, no conceito do economistaamericano Douglass C. North, premiado como Nobel de Economia de 1993, por seus estudossobre as instituições como chave para o desen-

    volvimento das nações, ainda nos deparamos,porém, com os resquícios de uma velha ordemem que certas elites se julgavam acima do“im-pério da lei”. Basta lembrar que, em 2009, opróprio Lula,ao sair em defesa do ex-presiden-te José Sarney, investigado por atos secretosno Senado, disse que seu aliado no Congressonão poderia ser tratado como uma“pessoa co-mum”. Parece que essa noção de que algumas

    pessoas detêm certas imunidades continua anortear a linha de defesa do ex-presidente nasinvestigações da Lava Jato. Ao mesmo tempoque se esquiva de dar respostas convincentespara as evidências que surgem contra ele, Lulase declara “ultrajado”, “ofendido”, “indignado”por ser alvo de investigações.

    É nesse contexto de transiçãopara o“impérioda lei”, em que as instituições tomam crescen-temente decisões sem se guiar pela identidadedos atores, que ganha importância fundamentala troca de comando no Ministério da Justiça,

    ocorrida na semana passada. O antigo minis-tro, José Eduardo Cardozo, transferido para aAdvocacia-Geral da União, parece ter caído pe-las razões erradas. Sua substituição pelo ex-pro-

    N

     A troca de comando no Ministério daJustiça não pode se transformar numaconcessão a um passado no qual alguns

    se achavam imunes a investigações

    QueoBrasilantigonãovolte

  • 8/17/2019 Época - Edição 925 - 07 de Março de 2016

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    7 de março de 2016  I  ÉPOCA I 33

    curador da Justiça da Bahia Wellington Silva foiprecedida de uma série de recriminações à atua-ção de Cardozo por parte de seguidores do ex-presidente Lula e de militantes do PT (na sexta-feira, uma juíza federal de Brasília,Solange Sal-gado, a pedido do DEM, concedeu liminar quesuspendeu a nomeação de Silva). Eles acusavamCardozo de deixar correr solto as investigaçõesda Polícia Federal na Lava Jato.

    Como escreveu, na semana passada, o soció-logo Claudio Beato, especialista em segurançapública da Universidade Federal de Minas Ge-rais (UFMG), a ideia de que o ministro da Jus-tiça possa controlar investigações criminais estábaseada numa série de equívocos, alguns denatureza ideológica infantil, outros de desco-nhecimento de como devem funcionar as ins-tituições. “Acredita-se que quem está no poderpode tudo, principalmente impedir que as ins-tituições funcionem contra os interesses daque-les que controlam os cargos”, escreveu Beato.

    “Essa lógica retroage a um Brasil que ainda per-siste, mas que se referencia em décadas passa-das.” Indo mais longe, poderia se dizer que éuma lógica que tem raízes na própria formação

    da sociedade brasileira, marcada pela escravidãoe por uma forte tradição autoritária, em que aselites políticas tinham horror à regra da lei e aocontrole democrático do Estado. Segundo essavisão retrógrada, tanto Lula quanto Sarney ca-bem no rótulo de “elites políticas”.

    Na batalha contra esse Brasil profundo, vememergindo uma nova geração de policiais, pro-curadores e juízes, formada no espírito repu-

    blicano da Constituição de 1988, que lhes con-cedeu autonomia para atuar em defesa dosinteresses coletivos da sociedade. Como frutotambém da modernização da Justiça, do Mi-nistério Público e da Polícia Federal, essa novageração é profissionalmente bem equipada epreparada para se desincumbir de sua missão.Atuando de forma coordenada, sem que umainstituição se sobreponha a outra, eles trans-formaram a Lava Jato num marco que, expan-dido para todo o sistema judicial, pode revo-lucionar a Justiça e a cultura política brasileira.

    Espera-se queo novo ministro da Justiça com-preenda esse processo e não ceda às tentações deum Brasil antigo que ainda teima em reagir aoespírito republicano da Constituição de 1988.◆

    TROCADEGUARDA

    JoséEduardoCardozo (à esq.)passa oMinistériodaJustiça paraWellingtonSilva.OBrasil viveumamadurecimentoinstitucional. Quecontinueassim

    Foto:AdrianoMachado/Reuters

  • 8/17/2019 Época - Edição 925 - 07 de Março de 2016

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    24a fase da Lava Jato foi desencadeada na sexta-feira,dia 4. A Operação Aletheia, como batizaram os po-liciais federais, tem por objetivo investigar a relaçãodo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com em-preiteiras envolvidas no petrolão. A ação da PF foi omomento mais dramático de uma semana tensa. Navéspera, os ministros do Supremo Tribunal Federal

    haviam aceitado, por unanimidade, a denúncia da Procura-

    doria-Geral da República contra o presidente da Câmara,Eduardo Cunha (leia mais à página 48). Cunha agora será

     julgado por corrupção e lavagem de dinheiro. No mesmodia, foi divulgada uma proposta de delação premiada do

    senador Delcídio do Amaral. No documento preliminar,ele faz acusações graves à presidente Dilma Rousseff e aoex-presidente Lula (leia mais a partir da página 44).

    A delação de Delcídio atirou a Lava Jato no colo doPlanalto, e o julgamento de Eduardo Cunha terá óbviasrepercussões sobre a pauta do Congresso, dominada porseu presidente. Nada se comparou, no entanto, à como-ção em torno do depoimento de Lula – que, depois de

    responder à Polícia Federal, fez críticas à investigação.Preferiu desqualificar os procedimentos da Justiça a daras respostas que o país espera.

    Para a democracia, num momento como este, é impor-

    Em época de vastas emoções e pensamentos imperfeitos, a busca da verdade é

    TEMPO

    T E A T R OD A P O L Í T I C A

    João Gabriel de Lima

  • 8/17/2019 Época - Edição 925 - 07 de Março de 2016

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    tante que a busca da verdade – os fatos – prevaleça sobre aspaixões partidárias.Valepara Cunha.Valepara Dilma.E valepara Lula.Os pontos levantados pelos procuradoresda LavaJato dariam motivo para investigação em qualquer lugar doplaneta. As cinco maiores empreiteiras do petrolão, esque-ma de corrupção que sangrou a Petrobras, são também ascinco maiores doadoras do Instituto Lula e as cinco maioresclientes das palestras do ex-presidente. Duas delas patroci-

    naram reformas num sítio frequentado pelo ex-presidentee num apartamento de praia.Os dois imóveis, suspeita a PF,seriampropriedade ocultado ex-presidente.As investigaçõesdirão se Lula é inocente ou, como suspeitam os procurado-

    res, tem relações mais profundas com as raízes do petrolão.Ainda há muita coisa a ser investigada. Lula é citado, por

    exemplo, na proposta de delação premiada do ex-deputadoPedroCorrêa,queÉPOCA revelacomexclusividade(leiamaisapartirdapágina52).Aspesquisasmostram apoiomajoritárioda populaçãoà LavaJatoe à busca daverdade. Enquanto isso,a popularidade de Lula cai à medida que se aprofundam asinvestigaçõessobre ele. Sinal dostempos.Há umadécada,era

    impensável que políticos e empreiteiros poderosos pagassemporcrimesdecorrupção.Issohojeocorre–eamaiorpartedosbrasileiros aprova. Vale, como nunca, o bordão que o PT deLula,no passado,elegeu comoslogan:“Nuncaantesnestepaís”.

    mais importante. Vale para Cunha. Vale para Dilma. E vale para Lula

    Fotos:FernandoDonasci/Ag.O Globo, Ueslei Marcelino/Reuters, AndressaAnholete/FramePhoto/Ag. OGlobo

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    I I

    as últimas três décadas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula daSilva se acostumou à compa-nhia de agentes da Polícia Fe-deral a seu lado, como seguran-ças em campanhas ou em seus

    oito anos na Presidência. Nasexta-feira, dia 4, às 6 horas da

    manhã, um Lula de agasalho abriu aporta de seu apartamento em São Ber-nardo do Campo para policiais federais.Um ex-presidente – servidor públiconúmero um – recebeu servidorespúblicos que cumpriam um mandadode busca e apreensão expedido pelo

     juiz Sergio Moro. A ex-primeira-dama Marisa Letícia atendeu o interfo-ne da cobertura do casal, no Edifício

    Green Hill, e autorizou a subida de dezagentes, que chegaram em quatro car-ros descaracterizados, para não gerarsuspeitas. Os investigadores tiveram

    uma surpresa: o apartamento vizinho,o 121, estava interligado ao lar dos Lu-las da Silva. Lula anexou o imóvel paraacomodar parte de sua equipe. A buscafoi estendida a toda a propriedade. Ospoliciais cumpriram com tranquilidade

    a etapa mais explosiva da OperaçãoLava Jato até aqui, a 24a fase, batizadade Aletheia – “verdade” em grego. Saí-ram de lá com documentos e com Lula,que embarcou em um Mitsubishi Paje-ro preto, blindado, sem identificaçãoostensiva da Polícia Federal, para umdepoimento no aeroporto de Congo-nhas por volta das 8 horas.

    A trilha que a Polícia Federal percor-reu até a porta de Lula foi construídaao longo das 23 fases anteriores da Lava

    Jato. O Ministério Público e a PolíciaFederal desenharam com minúcia ocaminho que levou ao ex-presidente,para que ninguém questionasse o uso

     A investigação sobre o ex-presidente Lula não é uma

    questão política. A força-tarefa acumulou suspeitaslegítimas, e os fatos precisam ser apurados com rigor

    T E A T R O D A P O L Í T I C A

    Daniel Haidar, Filipe Coutinho e Thiago Bronzatto

    de atalhos políticos ou ideológicos.Emdois anos de Lava Jato, foram-se acu-mulando evidências de que o desvio dedinheiro da Petrobras beneficiava em-preiteiras, funcionários e políticos. Acúspide política está na cúpula dos par-

    tidos da base do governo, sobretudoPT, PMDB e PP.“O ex-presidente Lula,além de líder partidário, era o respon-sável final pela decisão de quem seriamos diretores da Petrobras e foi um dosprincipais beneficiários dos delitos”,afirmam os procuradores do MinistérioPúblico Federal no pedido que fizeramà Justiça. “Considerando os dados co-lhidos no âmbito da Operação LavaJato, há elementos de prova de que Lulatinha ciência do esquema criminoso

    engendrado em desfavor da Petrobras,e também de que recebeu, direta e in-diretamente, vantagens indevidas de-correntes dessa estrutura delituosa.”   s

    Foto:FernandoDonasci/Ag. OGlobo

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    00 de janeiro de 2015  I  ÉPOCA I 37

    SURPRESO

    Oex-presidenteLuiz InácioLuladaSilva. “Eumesenti comoum

    prisioneiro”,disseapós serlevado pela

    Polícia Federal

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    Lula é investigado na Lava Jato emduas frentes principais. Uma é a queapura se o Instituto Lula e a LILS, em-presa montada por ele para receber porpalestras ministradas em vários paísese para diversas corporações, foramabastecidos com dinheiro desviado daPetrobras por seis empreiteiras. Entre2011 e 2014, Camargo Corrêa, OAS,Odebrecht, Andrade Gutierrez,QueirozGalvão e UTC, enroladas no petrolão,entregaram R$ 20,7 milhões dos R$ 35milhões que entraram no caixa do Ins-tituto Lula. Na LILS, foram R$ 10 mi-lhões dos R$ 21 milhões. Esse curso dedinheiro enfraquece a argumentação de

    Lula sobre a legitimidade de sua atua-ção como palestrante, especialmentequando se observa o fluxo de saída dosrecursos. A investigação mostra que oInstituto Lula e a LILS pagaram “pes-soas vinculadas ao PT”.

    O Ministério Público Federal apre-sentou uma coleção de elementos. Fezuma devassa nas contas do InstitutoLula e da empresa de palestras, além dequebrar os sigilos fiscais bancários. Oresultado dessa investigação mostra um

    canal de dinheiro vindo das empreitei-ras do petrolão. Segundo o MPF, não écrime Lula proferir palestras. “O pro-blema surge quando há indicativos ouprovas de que as doações, os contratose os serviços foram usados para escon-der a natureza real de pagamentos depropina”, diz o documento.“A suspeita,fundada, agora, é que as supostas pa-lestras e doações possam ter sido usa-das como justificativas formais parapagamentos de vantagens indevidas”,

    escreveu a força-tarefa.Outros R$ 9,3 milhões vieram das

    palestras acertadas pela LILS. A LavaJato, contudo, descobriu indícios defraude nas contratações dos serviços deLula.Em1o de novembro de 2013,a em-presa de Lula e a OAS assinaram con-tratos deUS$ 200mil para uma palestranoChile, nofim daquele mês. Não haviadetalhamentos do que seria a tal pales-tra. A Lava Jato interceptou o arquivoda minuta do contrato criada um mês

    depois da tal palestra. “Note-se que em-bora sejam as palestras realizadas noexterior, era de esperar que os citadoseventos fossem noticiados dentro do

    T E A T R O D A P O L Í T I C A

    Há indícios, se undo o Ministério Público, de que o ex-presidenterecebeu R$ 34,5 milhões em dinheiro ou vantagens, deempresas envolvidas no esquema de corrupção na Petrobras

    O InstitutoLula e a LILS Palestrasreceberam R$ 30 milhões em dinheiro dasconstrutoras investigadas na Lava Jato, em doaçõese pagamento por palestras:Camargo Corrêa, OAS, Odebrecht, Queiroz Galvão, UTC e Andrade Gutierrez

    INSTITUTOLULADe quase R$ 35 milhões recebidos em

    doações,mais de R$ 20 milhões forampagospelas construtoras envolvidasnopetrolão. O Institutoainda pagou maisde R$1 milhão à G4 Entretenimento eTecnologia Digital. Um dos sócios da G4 éLulinha, filhode Lula. Outro é Fernando Bittar,oficialmente um dos donos do sítio de Atibaia

    LILS PALESTRASAs cinco empreiteiras

    envolvidasna Lava Jatopagaram R$ 10 milhõesporpalestras de Lula.ÉquasemetadedosR$ 21 milhões quea LILSfaturou com palestras paracerca de 40 empresas

    Há evidênciasde que Lula recebeupelo menos R$ 4,5milhões em vantagensdasconstrutoras investigadas na Lava Jato, pormeiode obras e mobíliade umapartamento tríplexem Guarujá e de um sítioem Atibaia

    SÍTIO EM ATIBAIA SPAs apurações indicam que oex-presidente Lula adquiriu, comlaranjas,dois sítios em Atibaia, porR$ 1,5milhão. As duaspropriedadesdo sítio Santa Bárbara, vizinhas, foramcompradas no mesmo dia.Oficialmente,elaspertencem aosempresáriosJonasSuassuna e Fernando Bittar. Jonas eFernando sãosóciosde Lulinha, filhode Lula,na G4. O pecuarista José CarlosBumlai e as construtorasOdebrecht e OAS,beneficiados pelacorrupção na Petrobras,gastaramno terren  R$770mi  –sem

     justificativa econômicalícitaparaa despesa

    TRÍPLEX EM GUARUJÁSPHá evidências de que oex-presidente recebeuindiretamente ao menosR$1 milhão da OAS,em 2014,

    em reformas e móveis de luxono apartamento 164-AdoCondomínio Solaris. O presidenteda construtora, Léo Pinheiro(foto acima), esteve diretamenteenvolvido nas melhoriasno tríplex.O MPF suspeitaque as obras“constituam propinas decorrentesdo favorecimento ilícitoda OASno esquema da Petrobras”

    TRANSPORTEE GUARDA DE OBJETOS PESSOAISO MPFsuspeita que a OAS gastou R$ 1,3milhão de 2011 a 2016, com transportee depósito de itens retirados do Palácio do Planalto, ao fim do mandato do ex-

    presidente. “Nesse contrato, seu real objeto foiescondido, falsificando-se o documentopara dele constar quese tratava de ‘armazenagem de materiais de escritório emobiliário corporativo de propriedade da construtora OAS Ltda.’”, afirma a nota

    38  I ÉPOCA I  7 de março de 2016   Fotos:Claytonde Souza/EstadãoConteúdo e reprodução(2)

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    Grupo OAS, especialmente a seus altosexecutivos, o que evidentemente nãoocorreu. A partir de tais depoimentos,reforça-se a hipótese deque a LILS pos-sa ter sido usada para dissimular o re-cebimento de vantagens indevidas.”Estranhamente, quem negociava emnome de Lula era um funcionário doInstituto, e não da LILS. Situação simi-lar aconteceu com a Odebrecht. O Ins-tituto Lula pediu aprovação da emprei-teira para aprovar uma nota fiscal de

    serviços que já tinham sido prestados,o que “denota seu provável caráter desubterfúgio para o repasse de valoresindevidos”. “Tal tese resta ainda maisevidente ao se considerar que o destina-tário da mensagem,AlexandrinoAlen-car, não era responsável pelo setor fi-nanceiro da empresa.” Alexandrino erao homem da Odebrecht destacado parafazer, juntocom Lula, lobby noexterioremfavordaconstrutora,deacordocomas suspeitas do Ministério Público.

    As palestras são um problema. “Te-mos palestras   (de Lula)  no exterior(financiadas por empresas envolvidas emdesvios da Petrobras), indícios de obras

    no exterior no qual poderia haver trá-fico de influência, tudo sob investiga-

    ção”, disse o procurador Carlos Fernan-do dos Santos Lima. Em abril do anopassado, ÉPOCA revelou que o Minis-tério Público Federal em Brasília inves-tigava uma suspeita de que as palestrasde Lula eram, na verdade, etapa de umtrabalho de tráfico de influência emfavor da Odebrecht. De acordo com ainvestigação, Lula é suspeito de atuarem favor da Odebrecht em países daAmérica Latina e da África para ajudara obter obras e, depois, empréstimos

    do BNDES (Banco Nacional de Desen-volvimento Econômico e Social) paraesses projetos. Recentemente, os pro-curadores passaram a suspeitar que,

    quando Lula atuava, os empréstimosdo banco para a Odebrecht saíammais rápido. Depois, Lula recebia, daOdebrecht, por palestras realizadasnesses locais. Segundo o MinistérioPúblico, Lula recebeu R$ 7 milhões.Agora, a Lava Jato também vai investi-gar essa atuação do ex-presidente.

    A operação suspeita ainda que asdoações, que deveriam bancar as ativi-dades do Instituto, podem ter servidopara enriquecer os familiares do ex-

    presidente. Segundo o MPF,“de longe”o principal destino do dinheiro do Ins-tituto Lula foi a empresa G4. Os donossão Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha,e Fernando Bittar, que aparece no papelcomodonodotalsítiodeAtibaia.AG4,quecuida de tecnologia da informação,recebeu R$ 1.349.446,54 do InstitutoLula entre 2012 e 2014. Isso é mais queo somatório dos principais assessoresdo ex-presidente. Por que uma entida-de sem fins lucrativos precisa de tantos

    serviços de informática do filho do pre-sidente dessa entidade?

    A outra frente de investigação olhaparaosimóveisdeLulareformadospelas

    CERCO

    Carros da

    Polícia Federalem frente aoprédio de Lula.

    Há indíciosde quehouve

    vazamento daoperação

    7 de março de 2016  I ÉPOCA I 39

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    I I

    OAS e pela Odebrecht. De acordo comos procuradores, as evidências indicamqueLula recebeu,em 2014,“pelo menosR$ 1 milhão, sem aparente justificativaeconômica lícita, da OAS, por meio de

    reformas e móveis de luxo implantadosno apartamento tipo tríplex, número164-A,do Condomínio Solaris, em Gua-rujá”. Lula sustenta que o apartamentonãoéseuoudesuafamília.Mashápro-vasdequeissopodenãoserverdade.Háporteiros, engenheiros e dirigentes daOASdizendoquetudooquefoifeitonoapartamento foi em nome do ex-presi-dente e de sua mulher, Marisa, tambémalvo da Aletheia. Há fotos, reveladas naquinta-feira pelo   Jornal Nacional , de

    Lula dentro do tríplexconversando comLéo Pinheiro, presidente da empreiteira.Há testemunhos de que dona Marisasupervisionou a obra. E há provasde que

    a OAS pagou R$ 750 mil pela reformadoimóveleoutrosR$320milparamo-biliar a cozinha e os dormitórios. Lulaafirmaqueoapartamentonãoéseu.Osprocuradores da República expõem de

    maneiracristalinaqualéorealproblemaem Lula ter um tríplex reformado pelaOAS e não admitir isso:“A suspeita é deque a reforma e os móveis constituempropinas decorrentes do favorecimentoilícito da OAS no esquema da Petrobras,empresa essa cujos executivos já foramcondenados por corrupção e lavagem(de dinheiro) na Lava Jato”.

    Segundo o Ministério Público, asapurações mostram que Lula comprou,em 2010, dois sítios em Atibaia, “me-

    diante interpostas pessoas” – ou seja,laranjas. Eles são Jonas Suassuna e Fer-nando Bittar, sóciosoficiais nasproprie-dades,que foramunificadas,e sócios na

    T E AT R O D A P O L Í T I C A

    Gamecorpde Fábio Luís Lula da Silva,oLulinha, também alvo da Aletheia. Ovalor de compra foi de R$ 1,5 milhão. Ainvestigação descobriu um e-mail doadvogado e amigo de Lula Roberto Tei-

    xeira informando como distribuiria apropriedade do imóvel.“O presente casoabarca elementos que indicam ocultaçãopatrimonial por parte de Lula e sua fa-mília.” Além disso, há provas de queLularecebeu, também na forma de reformase móveis para o sítio Santa Bárbara, aomenosR$770mildaOdebrecht,daOASe de José Carlos Bumlai, o pecuaristapreso na 21a fase da Lava Jato. O Minis-térioPúblico apontaaindaa alta frequên-cia da ida dos seguranças presidenciais

    para Atibaia, como ÉPOCA revelou.“Ora, se tais servidores apenas realiza-vam nesse período a segurança pessoale transporte de Lula e de sua família, é

    ABATIDO

    Lula saidodepoimentono aeroportodeCongonhas.Os

    investigadoresqueremsaber sobresuas

    palestrasno exterior

    40  I ÉPOCA I 7 de março de 2016   Foto:Marcos Bizzotto/Raw Image/Ag.O Globo

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    I I

    possível inferir que eles frequentaram osítio de Atibaia, como verdadeiros pro-prietários, e não como meros visitantesde ‘amigos’.” Surgiram, ainda, provas deque a OAS pagou R$ 1,3 milhãopor cin-

    co anos de armazenagem de itens retira-dos do Palácio do Planalto. Quem ne-gociou a benesse foi Paulo Okamotto,presidente do Instituto Lula desde o fimde 2011 e sócio de Lula na LILS.

    Os agentes da Polícia Federal queatuaram na Operação Aletheia levaramLula para depor no aeroporto de Con-gonhas, em SãoPaulo. Em sua ordem decondução coercitiva – quando a pessoaé levada para depor à força –,o juiz Ser-gio Moro proibiu o uso de algemas ou a

    filmagem do transporte de Lula. Masdeixou claro: “Embora o ex-presidentemereça todo o respeito, em virtude dadignidade do cargo que ocupou  (sem

     prejuízo do respeito devido a qualquer  pessoa), isso não significa que está imu-ne à investigação, já que presentes justi-ficativas para tanto”, escreveu Moro.Lula, portanto, não estará imune à Lava

    Jato.Ao sair, depois de quase quatro ho-ras, Lula fez o que sabe fazer bem. Foidireto para o diretório nacional do PTe, em meio a apoiadores, fez um discur-so indignado, no qual dividiu o Brasilem dois, falou de preconceito e concla-mou o partido a se unir. “Eu me sentium prisioneiro”, disse Lula, cercado deapoiadores, ostentando a estrela do PTdo lado esquerdo do peito e a indignaçãona vermelhidão do rosto. “Moro nãoprecisaria ter mandado uma coerção a

    minha casa, à casa dos meus filhos... Erasó ter convidado.” Lula só não explicounada que pudesse esclarecer as dúvidassobre as palestras, sua relação com as

    empreiteiras,o tríplex e o sítio.“Eu achoque eu merecia um pouco mais de res-peito. (...) Eu fui melhor que todos osoutros presidentes deste país.”

    Lula recorre ao conforto de seu pas-

    sado, onde repousa uma trajetória devida admirável, de migrante pobre queascendeucomo metalúrgico,fundou umpartido político e insistiu por quatroeleições até chegar ao poder, em 2002.Enquanto esteve no poder, e em partegraças a reformas realizadas no governoanterior, Lula conduziu um processo deinclusão social inédito no Brasil.Em suagestão, o Brasil conseguiu reduzir deforma significativa a miséria, elevou mi-lhões de pessoas da pobreza à classe

    médiae ampliou mais o acesso à educa-ção, área que marcara a gestão do pro-fessor Fernando Henrique Cardoso. Omensalão, embrião do petrolãode hoje,s

    7 de março de 2016  I ÉPOCA I 41

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    I I

    foi a primeira mancha em sua biografia.Mesmo assim, com a ajuda do marque-teiro João Santana e do bom desempe-nho da economia, Lula conquistou seusegundo mandato, durante o qual atin-giu níveis inéditos de popularidade econseguiu até mesmo eleger a desconhe-cida Dilma Rousseff. Deixou o Paláciodo Planalto com uma aprovação popu-lar recorde de 87%. Como disse nasexta-feira, Lula acreditou que, depoisdisso, estaria imune a cobranças. Mas arealidade mudou. O fato de a PolíciaFederal ter levado Lula, uma ex-autori-dade emblemática, sob ordem da Justi-ça, devido a uma investigação do Mi-

    nistério Público, mostra que o Brasilcomeça a ser um país onde todos, semexceção, estão sujeitos à mesma lei.

    As reações ao choque diante da ima-gem de um ex-presidente do tamanhode Lula sendo levado por agentes daPolícia Federal foram imediatas e pas-sionais. Dirigentes petistas considera-rama24a fase da Operação Lava Jato umespetáculo político. Pelas redes sociais,o Instituto Lula publicou uma nota derepúdio ao que chamou de “violência

    contra Lula” – no texto da entidade, aexpressão “nada justifica” apareceu cin-co vezes. Nas palavras do presidentenacional do PT, Rui Falcão,“não se tra-ta de combater a corrupção, mas sim-plesmente de atingir o PT, o presidenteLula e o governo da presidente Dilma”.No final do dia, a presidente Dilma fezum pronunciamento. Dedicou apenasum minuto e 50 segundos, dos 11 mi-nutos de discurso, ao apoio ao ex-presi-dente. “Quero manifestar meu mais

    absoluto inconformismo com o fato deo ex-presidente Lula, que por várias ve-zes compareceu de forma voluntáriapara prestar esclarecimentos perante asautoridades competentes, esteja agorasubmetido a uma desnecessária con-dução coercitiva para prestar mais umdepoimento”, afirmou. “No ambienterepublicano e democrático, o protago-nismo da Constituição sob a orientaçãodo STF constitui importante salvaguar-da. Segundo entendimento de nossa

    Suprema Corte, o respeito aos direitosindividuais passa nas investigações pelaadoção de medidas proporcionais, que

     jamais impliquem em providências mais

    T E AT R O D A P O L Í T I C A

    AS SUSPEITASSOBRE LULA

    Todos os casosque envolvem opresidente estãosob investigação

    Naoperação nasexta-feira, dia4,osprocuradoresdaLava Jato tambémbuscamprovasparaa investigaçãosobre tráficode influência.OsprocuradoresdoNúcleodeCombate àCorrupçãoemBrasília investigamse Lula atuouemfavordaOdebrechtempaíses daAméricaLatinaedaÁfrica, conformerevelouÉPOCA, para obterobrase empréstimosno BNDES.OsprocuradoresdetectaramqueaOdebrecht bancava palestrasdeLulaem paísesondetinha interessee,depois,conseguiaempréstimosno banco oficialparaessesprojetos,emvelocidademaisrápidaque o normal.Hásuspeita dequeLula recebeuR$ 7milhões

    A força-tarefadaOperação LavaJatoinvestigaseosvalores

    queLula recebeuporsuaempresadepalestras, a LILS, epelo InstitutoLula,das empreiteirasOdebrecht,OAS,AndradeGutierrez,QueirozGalvãoe UTCsão, na verdade, propinavindadopetrolão

    42  I ÉPOCA I 7 de março de 2016

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    fortes, ou seja, mais gravosas, do queaquelasnecessáriasparao esclarecimen-to dos fatos.” No tempo restante, Dilmaapenas rebateu as acusações feitas pelosenador Delcídio do Amaral sobre seuenvolvimentono escândalo de Pasadena(leia a reportagem na página 44).

    A Operação Aletheia buscou nãoapenas Lula, mas os que o cercam. Osagentes seguiram em carros oficiais ain-da de madrugada para cumprir 44 man-dados – 33 debusca e apreensão e 11decondução coercitiva – em três Estados:São Paulo, Bahia e Rio de Janeiro. Dos55 alvos (entre pessoas físicas e jurídi-cas), há cinco familiares de Lula: a mu-

    lher dele, Marisa Letícia, os filhos Mar-cos Cláudio, Fábio Luís e Sandro Luís ea nora MarleneAraújo. Como não haviaum mandado para ela, dona Marisa nãoseguiu com Lula. Foi uma operaçãoatípica,cercada de maior segurança. Fo-ram 30 auditores fiscais e 200 policiaisfederais, inclusive integrantes da forçatática da PF, acionados devido à possi-bilidade de precisar contornar aglome-rações de pessoas, como aconteceu emfrente ao prédio de Lula.

    Na casa de Lula, os policiais já perce-beramquehavia algo incomum. Lula nãofoiacordado pelos agentes:seus seguran-ças chegaram basicamente ao mesmotempo que os homens da PF. Há umasemana, a equipe do ex-presidente pas-soua teruma movimentaçãode horáriosdiferente, entrando mais cedo queo nor-mal. A tranquilidade reforça a suspeitade vazamento de informações sobre aoperação. O vazamento ficou mais clarona visita dos policiais à sede do Instituto

    Lula, no bairro do Ipiranga. Policiais fo-ram ao local para buscar documentos ecomputadoresque indicassemprovas dorelacionamento de Lula com empreitei-ras e os imóveisinvestigados.Mas foramsurpreendidos. “O Instituto foi ‘limpo’antes das buscas. Alguém se precaveu,escondendo o que podia”, diz uma fontecom acesso às investigações. Não foramencontradoscomputadorese documentosimpressos no cumprimentodo mandadode busca e apreensão no local.   ◆

    Com Alana Rizzo, Aline Ribeiro,

     Ana Clara Costa, Thais Lazzeri,

    Vinicius Gorczeski e Zé Enrico Teixeira

    OsprocuradoresafirmamqueLulapodetersidobeneficiadopor, pelomenos,R$4,5milhõesdopetrolãopelas reformas e comprademóveispara o apartamentotríplexno Guarujá e osítio emAtibaia, alémdaarmazenagemdebensdeLula porumatransportadora

    OMinistérioPúblicoafirmaqueocorreupagamentodepropina“paraparentedoex-presidente”porumcontrato entre o grupoSchahine a Petrobras.OSchahinganhou ocontrato emtrocade umempréstimoparao PT

    Umdos filhos deLula, LuísCláudioLula daSilva,é investigado emoutra operaçãodaPolícia Federal,a Zelotes, porenvolvimentoemumesquema devenda demedidasprovisórias.Há suspeitade fraudenoConselhoAdministrativode RecursosFiscais,comprejuízo decerca deatéR$19bilhões,para reverter ouanularmultastributárias aplicadaspelogoverno

    Emsuadelaçãopremiada,segundoa revista IstoÉ , o senador

    DelcídiodoAmaral(PT-MS)acusaLulade termandadocompraro silêncio doex-diretordaPetrobrasNestorCerveró, quefoipresoporenvolvimentonopetrolão.A intenção é evitarqueeledenunciasseo pecuaristaJoséCarlosBumlai,amigodeLula

    7 de março de 2016  I ÉPOCA I 43

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    I I

    m novo tipo de agonia começouna quinta-feira passada para ogoverno Dilma Rousseff – umagestão emparedada entre a para-lisia política, a crise econômica

    e as acusações de corrupção. O novomotivo de agonia é o senador Delcídiodo Amaral, do PT de Mato Grosso doSul, ex-líder do governo no Senado, teraceitado colaborar com as investigaçõesdo Ministério Público e da Polícia Fe-

    deral. Na semana passada, começarama surgir versões do conteúdo da delaçãopremiada do senador petista.

    Delcídio foi preso em flagrante emnovembro. Uma gravação mostrava osenador petista arquitetando a fuga doex-diretor da Petrobras e amigo Nes-tor Cerveró (o ex-executivo está presodesde janeiro de 2015, por participardo esquema que lesava a estatal e be-neficiava o PT). Delcídio se considerouabandonado pelo PT nos últimos me-

    ses e fez jogo duplo. Para os eleitores eseu partido, jurou inocência e disse quenão tinha nenhuma contribuição a darà investigação. Ao mesmo tempo, con-

    versava com a Procuradoria-Geral daRepública sobre uma delaçãopremiada.Na quinta-feira, tornaram-se públicosna revista IstoÉ  trechos de texto da ver-são preliminar da delação premiada deDelcídio (leia o quadro na página 46).

    Segundo o relato, as acusações deDelcídio contra Dilma incluem tenta-tivas de influenciar a Justiça para sol-tar empresários presos,principalmenteMarcelo Odebrecht, e anuência com a

    compra lesiva à Petrobras da refinariaamericana de Pasadena,em 2006.Outraacusação é que a campanha de Dilmaem 2010 recebeu dinheiro ilegalmente,por meio de contratos falsos de pres-tação de serviços. O relato atribui aDelcídio também acusações contra oex-presidente Luiz Inácio Lula da Silvae o ministro do Superior Tribunal deJustiça (STJ) Marcelo Navarro. Delcí-dio afirmou não reconhecer os textosdivulgados.“Jamais falei com o senador

    a esse respeito”, disse Dilma, na sexta-feira, dia 4, à tarde. “Nessa hipotéticadelação, o senador Delcídio do Amaralteria afirmado que meu governo teria

    feito gestões junto ao Poder Judiciáriopara mudar os rumos da Operação LavaJato. (...) Em nota, o presidente da Su-prema Corte desmentiu essa absurdaquestão”, afirmou a presidente.

    O ministro da Casa Civil, JaquesWagner, foi alertado na manhã da

    quinta-feira sobre as acusações. Ligoupara os ministros Edinho Silva (Co-municação Social) e Ricardo Berzoini(Secretaria de Governo). Os três mi-nistros se reuniram com Dilma e seuassessor especial Giles Azevedo. “Ummentiroso”, dizia Jaques, em referênciaao ex-líder do governo. Houve quemdefendesse na reunião que não fosseelevado o tom contra Delcídio, umpetista graduado, frequentador do Pa-lácio do Planalto. Outros ponderaram

    que a resposta tinha de ser dura, paraafastar qualquer acusação que possa in-criminar a presidente. Minutos depois,Dilma deu posse ao novo ministro daJustiça, Wellington Lima e Silva.Ao tér-mino da cerimônia,Wagner e assessoresda Secretaria de Comunicação levarama reportagem a Dilma.Andando de umlado para o outro, a presidente soltoualguns xingamentos e palavrões.

    Ao ler o texto com as acusações atri-buídas a Delcídio, a presidente passou

    a apontar trechos, pedindo que fos-sem desmentidos na resposta que seriadada pelo Palácio do Planalto. “É ummentiroso”, dizia. “Isso aqui? Nuncaestive com ele nos jardins do Alvora-da”, questionava. Apontava para umtrecho em que Delcídio afirmava terouvido um pedido da presidente, paraque ele falasse com o novo ministrodo STJ a fim de pedir que ele soltasseos empreiteiros Marcelo Odebrecht eOtávio Marques de Azevedo, da An-

    drade Gutierrez. Segundo o delator, aconversa teria se dado nos jardins doPalácio da Alvorada. A José EduardoCardozo, que acabava de deixar o   s

     A proposta dedelação premiadade Delcídio do Amaralé um ataque ao PTvindo das entranhasdo próprio PT

    T E A T R O D A P O L Í T I C A

    Filipe Coutinho eTalita Fernandes

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    AGONIADilma Rousseff   no

    Palácio do Planalto.Um governo já em

    frangalhos agorasofre também comacusações de um

    petista graúdo

    Foto:FernandoDonasci/Ag. OGlobo

  • 8/17/2019 Época - Edição 925 - 07 de Março de 2016

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    T E AT R O D A P O L Í T I C A

    Ministério da Justiça, Dilma ordenouum pronunciamento à imprensa. “Válá e mostre que isso não se sustenta empé”, disse a petista. Não é bem assim.

    Há elementos da investigação quecolocam sob suspeita a campanha dapresidente, ao associá-la às empreitei-

    ras suspeitas de fraude contra a Petro-bras. Um celular de Marcelo Odebrechtapreendido pela Lava Jato continha aseguinte anotação: “Dizer do risco

    cta suíça chegar campanha dela?”. AOdebrecht mantinha mesmo contassecretas na Suíça.

    De acordo com o relato tornadopúblico na semana passada, Delcídiodestacou o papel de Navarro, do STJ,e o acusou de aceitar a missão dada

    por Dilma, de libertar os empresáriosOdebrecht e Azevedo. Navarro foinomeado para o STJ em setembro erealmente votou a favor de Odebrecht,

    em novembro. Foi voto vencido, e oempresário continua preso.

    No STJ, Navarro tomou uma medidacuriosa assim que entrou. Abandonouo nome que usava como desembarga-dor e pediu para ser identificado comoRibeiro Dantas – os dois sobrenomes

    que não usava. Assim, Ribeiro Dantas,no STJ, votou a favor de Odebrecht eusou como argumento que a gravidadedos crimes sob investigação – desvio

    46  I ÉPOCA I  7 de março de 2016

    O QUE DIZ DELCÍDIO   E OQUE RConfira o que é versão e o que é fato, até o momento, na

    MENSALÃO LAVA JATO    PETR

    DELCÍDIODO AMARALSenador

    (PT-MS),

    presodesde

    MARCELONAVARROMinistro do

    Superior

    Tribunalde

    Justiça (STJ)

    LUIZ INÁCIOLULA DASILVAEx-presidente

    daRepública

    ACUSAÇÃO Nogoverno Lula, em2005, o entãoministrodaFazenda,Antonio

    Palocci, comprou o silêncio do publicitário

    MarcosValérionaCPIdos Correios

    FATO ConversoucomNavarroantesde eleser nomeadoministrodoSTJ

    ACUSAÇÕES Dilmatentouinterferir na Lava Jato, aonomearcomo

    ministro do STJMarceloNavarro

    Dilma já tentara interferir na

    Lava Jato duas vezesantes

    FATO Nomeou para o STJ,

    emsetembro, MarceloNavarro.

    Emdezembro, elevotoupela

    solturadeOdebrecht

    DEFESA Negaconhecimento

    deque o processodecompra

    da refinaria dePasadena

    DEFESA Negaparticipação em

    qualquer ilegalidade. “Oex-presidenteLula jamaisparticipou, diretaou

    indiretamente,de qualquer ilegalidade,

    antes,durante oudepoisde seugoverno”,

    afirmanota divulgadapelo InstitutoLula

    FATO Nasemanapassada,a PF

    tomoudepoimentodo ex-presidenteporque hásuspeitasdequeelese

    beneficioudecontatoscomfornecedoras

    daPetrobras.Mas nãohásinal, atéagora,

    dequeDelcídiotenha faladosobre isso

    FATO ConversoucomDelcídioantes de sernomeadoministrodo

    STJ. Foi nomeado porDilma.Ao

    entrarno STJ, adotouo nome Ribeiro

    Dantas. Emdezembro, no STJ,

    votoupela soltura deOdebrecht

    novembro

    DILMAROUSSEFFPresidente

    daRepública

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    de bilhões de reais de uma empresaestatal e conluio com políticos – nãoera motivo para mantê-lo preso.O mi-nistro usou ainda como justificativa ofato de a Odebrecht não precisar deseu presidente para cometer crimes,uma lógica que se aplica a qualquer

    chefe de quadrilha. Quando desem-bargador, Navarro foi mais rigoroso aointerpretar periculosidade. Em 2006,votou pela prisão de um suspeito de

    fraude em códigos de barra de boletos,a despeito de o acusado ser réu primá-rio, ter emprego e residência fixa.

    Navarro admite ter se encontra-do com Delcídio antes de receber anomeação, mas refuta ter conversadocom ele sobre os réus do petrolão. Seus

    colegas de STJ cobram, por enquantoinformalmente, que ele seja investiga-do pelo Conselho Nacional de Justiça.O presidente do STJ, Francisco Falcão,

    nega que tenha havido qualquer pres-são do governo sobre o STJ.

    A delação de Delcídio passará aindapelo crivo do Supremo Tribunal Fe-deral, a fim de ser homologada, e dosinvestigadores, para que se verifiqueapoio em provas. Dependendo dos

    desdobramentos, o governo Dilma,que já não tem poucos inimigos, teráde enfrentar mais um – e este surgidonas entranhas do próprio governo.◆

    7 de março de 2016  I  ÉPOCA I 47

    SPONDEM OS ENVOLVIDOSlaboração do senador petista com os investigadores

    RAS    PETROLÃO PRIMEIRA CAMPANHA DE DILMA ZELOTES    CARFACUSAÇÃO A campanhade Dilma de2010 recebeu dinheirodooperadorAdir

    Assad,pormeio de contratosfalsos de

    prestação de serviços comvárias empresas

    ACUSAÇÃO Lula pediu a Delcídio queevitasse a convocaçãodo lobistaMauro

    Marcondespara depor naCPI doConselho

    AdministrativodeRecursosFiscais, que

    investigava a venda de decisões tributárias

    favoráveisa grandes contribuintesno

    Carf,órgãodo Ministério daFazenda

    DEFESA A campanhade

    2010 trabalhousó comdoações

    declaradas e legais, afirmama

    presidentee o PT

    DEFESA Negaparticipação em

    qualquer ilegalidade. “Oex-presidenteLula jamaisparticipou, diretaou

    indiretamente,dequalquer ilegalidade,

    antes,durante oudepoisde seugoverno”,

    afirmanota divulgadapelo InstitutoLula

    DEFESA • Nega terconversadocomDelcídio sobreos réus dopetrolão

    seria danosoà Petrobras

    Nega ter interferido naOperação

    LavaJato e ter intercedido

    poralvos da investigação

    Nega ter se reunido comDelcídio

    nos jardins doPalácio daAlvorada

    Nega ter tratado comDelcídio

    sobrea nomeaçãodeNavarro

    Lula ordenou o pagamento de

    mesada aoex-diretor da Petrobras

    NestorCerveró, para evitarque ele

    aceitasse fazer umadelaçãopremiada

    Navarroaceitou o compromisso

    como governode,no STJ, votarpela

    soltura dos empresáriosMarcelo

    Odebrecht e Otáviode Azevedo

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    m umintervalode menos de 24ho-ras, Eduardo Cunhasofreunaúltimasemana suas duas maiores derrotasdesde que assumiu a presidência daCâmara dos Deputados,em feverei-

    ro de 2015. Na madrugada da quarta-feira, dia 2, o Conselho de Ética final-mente deu prosseguimento ao processode cassação de Cunha. No mesmo dia,o Supremo Tribunal Federal (STF) for-moumaioria, com votodeseis ministros,afavordaaceitaçãodadenúnciacontraoparlamentar na LavaJato.Naquinta-feira,a decisãode transformar