epistemologia de um caminho

3
Epistemologia de um Caminho Á primeira vista, a Baía da Babitonga nos surpreende com suas águas calmas que banham e encantam esse lugar. De barco, circundando suas majestosas ilhas, desviamos nosso olhar para o interior, onde repousa imponente a Serra do Mar. O clima histórico e envolvente da Babitonga nos remete a época da chegada dos primeiros navegadores europeus, que encontraram na geografia da Baía um lugar perfeito para se aproximarem do continente com suas grandes embarcações. A busca pelas riquezas intocáveis que se ouvira falar, remetiam sempre para além das montanhas, o que motivou os conquistadores a percorrerem os antigos caminhos indígenas que cortavam as escarpas da serra rumo ao desconhecido. Esses caminhos que outrora deram passagem aos conquistadores, tem sido objeto de estudo de vários pesquisadores que buscam preservar essa memorável história. O Prof. Olavo Raul Quandt, que escreveu “Peabiru: O caminho Velho”, alude que foi através da Babitonga que os europeus alcançaram o tão afamado Caminho de Peabiru, a mais extensa malha viária pré-colombiana, o caminho que levava aos Andes. Nessa perspectiva histórica, é que o Grupo de Estudos Manoa vem desenvolvendo estudos sobre esses antigos caminhos indígenas e coloniais, que partem dos canais da Babitonga rumo a Serra do Mar, no litoral norte catarinense. Embora muitos dos vestígios históricos encontrados nesses caminhos estejam desgastados pela ação do tempo e do homem, encontramos nessa serra não apenas um simples caminho rumo ao interior, mas uma extensa rede de caminhos históricos que se interligaram através do tempo. O antigo caminho do Monte Crista, vem sendo investigado com mais atenção e servindo como base para nosso trabalho. O pesquisador austríaco Heinz Budiwig alerta para a importância histórica desta via, onde acredita ter encontrado os vestígios mais preservados no

Upload: manoa-expedicoes-manoa

Post on 11-Aug-2015

432 views

Category:

Travel


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: Epistemologia de um Caminho

Epistemologia de um Caminho

Á primeira vista, a Baía da Babitonga nos surpreende com suas águas calmas que

banham e encantam esse lugar. De barco, circundando suas majestosas ilhas, desviamos nosso

olhar para o interior, onde repousa imponente a Serra do Mar.

O clima histórico e envolvente da Babitonga nos remete a época da chegada dos

primeiros navegadores europeus, que encontraram na geografia da Baía um lugar perfeito para

se aproximarem do continente com suas grandes embarcações. A busca pelas riquezas

intocáveis que se ouvira falar, remetiam sempre para além das montanhas, o que motivou os

conquistadores a percorrerem os antigos caminhos indígenas que cortavam as escarpas da

serra rumo ao desconhecido.

Esses caminhos que outrora deram passagem aos conquistadores, tem sido objeto de

estudo de vários pesquisadores que buscam preservar essa memorável história. O Prof. Olavo

Raul Quandt, que escreveu “Peabiru: O caminho Velho”, alude que foi através da Babitonga

que os europeus alcançaram o tão afamado Caminho de Peabiru, a mais extensa malha viária

pré-colombiana, o caminho que levava aos Andes.

Nessa perspectiva histórica, é que o Grupo de Estudos Manoa vem desenvolvendo

estudos sobre esses antigos caminhos indígenas e coloniais, que partem dos canais da

Babitonga rumo a Serra do Mar, no litoral norte catarinense. Embora muitos dos vestígios

históricos encontrados nesses caminhos estejam desgastados pela ação do tempo e do homem,

encontramos nessa serra não apenas um simples caminho rumo ao interior, mas uma extensa

rede de caminhos históricos que se interligaram através do tempo.

O antigo caminho do Monte Crista, vem sendo investigado com mais atenção e

servindo como base para nosso trabalho. O pesquisador austríaco Heinz Budiwig alerta para a

importância histórica desta via, onde acredita ter encontrado os vestígios mais preservados no

Page 2: Epistemologia de um Caminho

Brasil do antigo caminho do Peabiru.

Também chamado de “Caminho Velho”, “Caminho Três Barras”, “Caminho dos

Jesuítas”, “Caminho do Ambrósios”, “Caminho dos Tropeiros”, entre outras, das muitas

denominações conhecidas, essa via alimentou o intenso trânsito colonial em direção ao

planalto e a “Vila de Curitiba”. Nessa época, o caminho teria recebido melhorias por ordem da

coroa portuguesa, e a principal benfeitoria seria o calçamento de parte do caminho. Desta

forma, o investimento garantiria um melhor acesso para o transporte de mercadorias do litoral

ao planalto.

As partes preservadas desse caminho calçado tem sido objeto de pesquisa e discussão

por parte dos historiadores. Enquanto alguns estudiosos defendem que a enigmática escadaria

de pedra que conduz ao topo do monte crista tenha sido feita durante a abertura da estrada

Três Barras na época da colônia, outros atentam que a obra teria suas raízes no período pré-

cabralino, quando os incas tentaram ampliar seu domínio territorial, destacando assim, a

inexplicável engenhosidade da construção.

Não desconsideramos nenhuma das hipóteses levantadas, preferimos coletar

informações, investigar todas as evidências entendendo que seja qual for a verdadeira origem

do caminho, é necessário acima de tudo preserva-lo, pois é imensurável sua riqueza histórica

e beleza natural.

A exposição fotográfica “Epistemologia de um caminho”, do Grupo de Estudos Manoa

pretende demonstrar através de uma série de imagens coletadas pela equipe, durante cinco

anos de pesquisa investigativa, o enorme potencial histórico e natural do norte catarinense. O

espaço gentilmente cedido pelo Museu Nacional do Mar para abrigar nosso trabalho, foi um

ambiente perfeito, pois entendemos que São Francisco do Sul é parte fundamental dessa

história.

Wlademir Vieira e Romão Kath

Pesquisadores do Grupo de Estudos Manoa

Referências:

GALDINO, lUIZ. Peabiru: Os Incas no Brasil, Belo Horizonte: Ed.Estrada Real, 2002.

EHLKE, Cyro. A Conquista do Planalto Catarinense. Florianópolis: Ed.Laudes, 1973.

FIORI, Julio César; FAGNANI, José Paulo; WAGECK, José Carlos Penna.

Page 3: Epistemologia de um Caminho

Caminhos Colônias da Serra do Mar. Curitiba: Ed. Natugraf Ltda, 2006.

QUANDT, Olavo Raul. título Peabiru o Caminho Velho. Joinville: ed.Letra D’agua, 2003.

NUNES, Alvar. Naufrágios & Comentários.Trad. Jurandir Soares dosSantos. Porto Alegre: Ed. L&PM, 1999.