epilepsia

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 INTRODUÇÃO  No Presente trabalho, irá ser abordado o tema Epilepsia, na sua componente psicologica e  psicologica. A epilepsia é uma doença cerebral crônica causada por diversas etiologias e caracterizada pela recorrência de crises epilépticas não provocadas. Esta condição tem consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais e prejudica diretamente a qualidade de vida do indivíduo afetado. De forma prática, as epilepsias podem ser classificadas segundo dois grandes eixos: topográfico e etiológico. No eixo topográfico, as epilepsias são separadas em generalizadas e focais. As generalizadas manifestam-se por crises epilépticas cujo início envolve ambos os hemisférios simultaneamente. Em geral, são geneticamente determinadas e acompanhadas de alteração da consciência; quando presentes, as manifestações motoras são sempre bilaterais. Crises de ausência, crises mioclônicas e crises tônico-clônicas generalizadas (TCG) são seus principais exemplos Objectivos  Definir a epilepsia  Citar os factores que podem desencadear uma crise epiléptic a  Enumerar os tipos de crises epilépticos e descrever cada tipo e subtipos  Descrever as coisas que devem-se ou não fazer durante um ataque epiléptico.

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Definição de Epilepsia Factores que podem desencadear uma crise epilépticaOs tipos de crises epilépticos e descrever cada tipo e subtiposManejo de Crises Epilepticas

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  • INTRODUO

    No Presente trabalho, ir ser abordado o tema Epilepsia, na sua componente psicologica e

    psicologica. A epilepsia uma doena cerebral crnica causada por diversas etiologias e

    caracterizada pela recorrncia de crises epilpticas no provocadas. Esta condio tem

    consequncias neurobiolgicas, cognitivas, psicolgicas e sociais e prejudica diretamente a

    qualidade de vida do indivduo afetado. De forma prtica, as epilepsias podem ser classificadas

    segundo dois grandes eixos: topogrfico e etiolgico. No eixo topogrfico, as epilepsias so

    separadas em generalizadas e focais. As generalizadas manifestam-se por crises epilpticas cujo

    incio envolve ambos os hemisfrios simultaneamente. Em geral, so geneticamente

    determinadas e acompanhadas de alterao da conscincia; quando presentes, as manifestaes

    motoras so sempre bilaterais. Crises de ausncia, crises mioclnicas e crises tnico-clnicas

    generalizadas (TCG) so seus principais exemplos

    Objectivos

    Definir a epilepsia

    Citar os factores que podem desencadear uma crise epilptica

    Enumerar os tipos de crises epilpticos e descrever cada tipo e subtipos

    Descrever as coisas que devem-se ou no fazer durante um ataque epilptico.

  • 1. EPILEPSIA

    1.1. Origem da Epilepsia Um pouco de Histria

    A epilepsia uma das patologias do sistema nervoso conhecidas h mais tempo. A epilepsia foi

    vista em animais filogeneticamente mais antigos que o homem, sugerindo que j existiam

    animais epilpticos antes que o homem surgisse. As mais remotas descries da epilepsia porm,

    so dos egpcios e dos sumrios e datam de cerca de 3.000 anos A.C. A epilepsia era j

    representada em papiros e atribuda a uma entidade malfica ( Lino, 2006).

    O homnculo, no fim do hierglifo significa que uma pessoa morta ou um demnio entram no

    corpo da vtima provocando-lhe epilepsia. Isto reflecte as concepes primitivas sobre a origem

    das doenas: os espritos malignos seriam os responsveis pela epilepsia, era necessrio

    apazigu-los mediante oraes ou oferendas ( Lino, 2006).

    Os gregos, criadores do termo epilepsia ( epilhyia= surpresa, ser apanhado de repente),

    acreditavam que s um deus seria capaz de possuir um homem, privando-o dos seus sentidos,

    provocando-lhe uma queda e convulses e, depois deix-lo como se nada tivesse acontecido;

    apelidavam a epilepsia de "Doena Sagrada" ( Lino, 2006).

    Por volta de 400 a .C., Hipcrates, o pai da medicina, afirmou que a causa da epilepsia no

    estava em espritos malignos, e sim no crebro, tentando desfazer mitos sobrenaturais. Os

    escritos da poca foram os primeiros a atribuir causas fsicas para as doenas e afeces

    neurolgicas, e identificaram o crebro como o local chave para o entendimento do

    comportamento humano ( Lino, 2006).

    Os romanos designavam-na de "Mal Comicial", devido ao facto de se suspenderem os comcios

    cada vez que um dos participantes sofria de um ataque, ficando-se a aguardar um sinal de bom

    augrio para se recomear o mesmo ( Lino, 2006).

    Os hebreus acreditavam que cuspir sobre um corpo em convulses obrigava o demnio a sair

    dele e, tal como a cultura greco-romana, pensavam que as fases da lua provocariam as crises

    epilpticas ( Lino, 2006).

  • Para os rabes, as crianas concebidas ou nascidas durante a lua cheia correriam o risco de ser

    epilpticas. As crenas baseadas na influncia lunar tambm apelidavam os epilpticos de

    "lunticos", enquanto as que acreditavam na possesso por demnios os designavam por

    "manacos". A responsabilidade da lua ainda hoje est presente em algumas regies de Portugal

    onde no se deixam as fraldas a secar, ao luar para os bebs no contrarem a doena ( Lino,

    2006).

    Contudo, embora Hipcrates tivesse colocado estas concepes fantasiosas em causa, durante a

    Idade Mdia continuaram as interpretaes sobrenaturais ou a ligao a uma doena mental e

    contagiosa - tabus que persistem at hoje, devido falta de divulgao de informaes correctas.

    Naquela poca, frequentemente tentava-se curar o mal por meios religiosos: exorcizavam-se os

    epilpticos ou praticavam-se benzeduras ( Lino, 2006).

    O livro de anatomia "De Humanis Corpora Fabrica", de Andra de Vesalius uma das obras

    mais importantes da histria da Medicina e em particular na Epilepsia. Ren Descartes abriu as

    portas para a pesquisa neurofisiolgica experimental, fazendo vrios estudos fisiolgicos e

    anatmicos com animais, investigando exaustivamente o sistema nervoso. Ele afirmava que a

    epilepsia originava-se no crebro ( Lino, 2006).

    S.Valentim, patrono dos epilpticos, representado benzendo os corpos de dois doentes; ao

    canto est um porco, smbolo do demnio. Durante largos sculos, estas interpretaes

    permaneceram, acreditando-se ainda que a epilepsia pudesse ser uma doena contagiosa ou

    mental, e ainda hoje no raro as pessoas menos esclarecidas discriminarem os epilpticos ou

    socorrerem-se de medicinas alternativas para combaterem os espritos. Apenas em 1873, o

    neurologista ingls John Hughlings Jackson estabeleceu que a epilepsia se devia a descargas da

    substncia cinzenta cerebral ( Lino, 2006).

    A Bblia tambm cita a epilepsia: em Mateus 17:14-18, Marcos 9:17-27 e Lucas 9:38-42, relata-

    se o caso de um jovem epilptico levado a Jesus em busca de cura. Sculos se passaram,

    conceitos, conhecimentos e tratamentos mudaram, evoluram, mas preconceitos e desinformao

    ainda existem, como existiam no passado ( Lino, 2006).

  • 1.2. Definio

    A Epilepsia uma doena caracterizada por uma perturbao do funcionamento do crebro,

    devido a uma descarga anormal cortical de um determinado nmero de neurnios cerebrais. Esta

    descarga tem incio sbito e imprevisvel e , em geral, de curta durao, podendo ir de segundos

    a minutos, raramente ultrapassando os quinze minutos. As crises tm tendncia a repetir-se ao

    longo do tempo sendo, contudo a frequncia varivel de doente para doente.

    Segundo ADAMS (1996 como citado em Lino, 2006) a epilepsia pode ser definida como uma

    perturbao intermitente do sistema nervoso, devido a uma descarga sbita, excessiva e

    desordenada dos neurnios corticais. A descarga d origem a uma crise convulsiva que se

    manifesta de forma sbita e paroxstica. A palavra epilepsia deriva de palavras gregas que

    significam agarrar ou dominar. Em tempos remotos era designada como doena da queda

    ou mal da queda.

    A primeira crise inaugural ou o primeiro breve surto de crises pode ocorrer durante a evoluo de

    muitas doenas. Ela indica sempre que o sistema nervoso foi afectado por uma doena, quer

    primria quer secundria. As crises convulsivas podem pr em perigo a vida do indivduo

    quando repetidas em intervalos, como no caso do estado de mal epilptico. igualmente

    importante que uma crise convulsiva ou uma srie delas possam ser a manifestao de uma

    doena neurolgica corrente, que por si , exige o pleno uso de medidas diagnosticas e

    teraputicas especiais, como no caso de um tumor cerebral ( ADAMS, 1996).

    Uma circunstncia mais comum e de menor gravidade quando a crise convulsiva apenas uma

    de longa srie, ocorrendo por perodo prolongado, sendo a maioria dos ataques de tipo mais ou

    menos semelhantes. Nesse caso, eles podem ser consequentes de uma leso esgotada que se

    originou no passado e permanece como uma cicatriz, designado de foco epilptico. A doena

    original pode ter passado despercebida ou ter ocorrido talvez intra-uterinamente, ao nascimento

    ou no perodo peri-natal, em partes do encfalo demasiado imaturas para manifestarem sinais (

    ADAMS, 1996).

  • Alguns factores que podem desencadear crise epilepticos

    Mudanas sbitas da intensidade luminosas ou luzes a piscar ( alguns doentes tem

    ataques quando vem a televiso, jogam no computador ou frequentam discotecas).

    Privacao de sono

    Ingestao alcolica

    Febre

    Ansiedade

    Cansao

    Alguns medicamentos.

    Os ataques ou crises epilpticos arrastam consigo uma carga psicolgica e social muito intensa o

    que provoca nos doentes e nos seus familiares um medo e ansiedade muito grave. Sabe-se que o

    crebro e um orgao complexo que regula e controla toda as nossas accoes ex: os movimentos, as

    sensacoes, pensamentos, as emoceoes e a sede da memoria e regula a actividade de outros orgaos

    do corpo humano (BELMATRE, 2010).

    As clulas cerebrais os neurnios, tambm em conjunto comunicam com os sinais elctricos.

    Ocasionalmente da-se um curto-circuito no crebro, e parte ou todas essas clulas se

    descarregam anormalmente, dai resultando um ataque epilptico (BELMATRE, 2010).

    De acordo com alguns autores possvel dizer que as epilepsias so classificadas em trs tipos:

    1. Idiopticas ou Primrias;

    2. Secundrias;

    3. Criptognicas.

    No primeiro caso, impossvel determinar com certeza a natureza da doena original e as crises

    convulsivas podero ser o nico sinal de anormalidade cerebral. No segundo caso, existe uma

    causa orgnica, como por exemplo no caso do vrus da imunodeficincia humana (VIH),

  • alcoolismo ou traumatismos. No terceiro caso no existe qualquer alterao cerebral nem existe

    qualquer causa associada ( ADAMS, 1996).

    1.3. Classificao das crises convulsivas

    As crises tm sido classificadas de muitas maneiras: segundo a sua etiologia e local de origem,

    com base em sua forma clnica (generalizada ou focal), frequncia (isolada, cclica, prolongada

    ou repetitiva) ou correlatos electrofisiolgicos (BELMATRE, 2010).

    Na Tabela 1 ser apresentada uma classificao das crises, segundo a Classificao Internacional

    das Crises Epilpticas. Os pontos fortes desta classificao a sua fcil aplicabilidade em

    doentes com epilepsia, visto que classificando o tipo de crise uma mais valia para a terapia a

    aplicar (BELMATRE, 2010).

    As crises dividem-se em dois tipos :

    Parciais, em que se pode discernir um incio focal ou localizado.

    Generalizadas, em que as crises aparecem iniciam- se bilateralmente.

    As crises que comeam localmente evoluem muitas vezes para crises generalizadas quer sejam

    do tipo tnico-clnico quer sejam do tipo parcial complexo, sendo designadas de crises

    secundariamente generalizadas (BELMATRE, 2010).

    As crises parciais so classificadas como simples quando a conscincia preservada e como

    complexas quando a conscincia alterada. As crises parciais simples so ainda classificadas de

    acordo com as suas manifestaes clnicas principais motoras, sensoriais, autonmicas ou

    psquicas. Quando uma dessas manifestaes precede a evoluo at perda de conscincia,

    denominada aura. Uma aura uma vivncia de crise focal ou parcial, ela pode constituir todo o

    ataque epilptico (BELMATRE, 2010).

    As crises generalizadas so de dois tipos convulsivas e no-convulsivas. O tipo convulsivo

    comum a crise tnico-clnica (grande mal). mais rara uma crise generalizada puramente

    tnica ou clnica ou clnico-tnico-clnica. A crise no-convulsiva generalizada clssica a

  • suspenso breve da conscincia ou da ausncia (pequeno mal); tambm so includos nesta

    designao eventos motores como breves crises mioclnicas, atnicas ou tnicas e ataques de

    ausncia atpios (BELMATRE, 2010).

    Classificao Internacional das Crises Epilpticas

    I. Crises generalizadas (bilateralmente

    simtricas e sem incio local)

    II. Crises parciais ou focais (crises de incio

    focal)

    A. Tnicas, clnicas ou tnico-clnicas

    (grande mal)

    A. Simples (

    sem

    perda de

    conscincia)

    1. Motoras (tnicas, cln

    icas, tnico-clnicas,

    jacksonianas, epilepsia

    infantil benigna, epilepsia

    parcial contnua)

    2. Somatossensoriais ou

    sensoriais especiais (visuais,

    auditivas, olfactivas,

    gustativas, vertiginosas)

    3. Autonmicas

    4. Psquicas

    B. De

    ausncia

    (pequeno

    mal)

    1. Simples apenas perda de

    conscincia

    B. Complexas (

    com

    alteraes de

    conscincia)

    1. Comeando com crises

    parciais simples e evoluindo

    para a alterao de

    conscincia

    2. Complexas com breves movimentos tnicos,

    clnicos ou automticos

    2. Com alterao de

    conscincia desde o incio

    C. Sndroma de Lennox-Gastaut

    D. Epilepsia mioclnica juvenil

  • E. Espasmos infantis (Sndroma de West)

    F. Crises atnicas (astticas, acinticas)

    (por vezes com abalos mioclnicos)

    1.3.1. Crises Generalizadas(Grande Mal)

    O termo convulso mais aplicvel a esta forma de epilepsia. Durante algumas horas, o doente

    pode sentir-se aptico, deprimido, irritado ou eufrico. Uma ou mais reaces mioclnicas do

    tronco ou dos membros ao despertar podem pronunciar uma crise mais tarde nesse mesmo dia.

    Dores ou clicas abdominais, palidez ou rubor da face, uma cefaleia latejante, constipao ou

    diarria tambm so prdromos.

    Na maioria dos casos, h algum tipo de movimento por alguns segundos antes da perda de

    conscincia (virar a cabea ou os olhos ou todo o corpo), noutros h palpitaes, uma sensao

    de alguma coisa subindo ou descendo, apertando o epigstrico ou alguma sensao no natural

    nalguma parte do corpo. A todo este conjunto de factores chama-se aura e considerada pelo

    doente como um sinal de uma crise iminente mas sendo na verdade uma crise parcial simples

    localizadora.

    Durante apenas alguns segundos, a aura pode constituir toda a crise ou evoluir para a perda da

    conscincia e uma crise generalizada do tipo parcial complexa ou tnico-clnica. A aura

    importante por proporcionar uma indicao quanto ao local do foco epilptico. Por vezes a crise

    pode ocorrer sem aviso iniciando-se por perda sbita da conscincia e queda no solo,

    acompanhada de um grito, seguindo-se a fase tnica com um aumento global do tnus muscular,

    levando por vezes cianose. Toda esta fase tnica da crise dura entre 10 a 20 segundos.

    Posteriormente fase tnica vem a fase clnica iniciada com um breve tremor generalizado, que

    se considera como um relaxamento repetido da contraco tnica, dando lugar rapidamente a

    breves e violentos espasmos flexores. A face torna-se lvida e contorce-se numa sequncia de

    caretas e com muita frequncia a lngua mordida. Os sinais vitais esto aumentados, o pulso

  • torna-se mais rpido, a presso arterial e vesical eleva-se, as pupilas dilatam e a salivao e a

    sudorese so abundantes. Existe tambm um descontrole dos esfncteres.

    Seguidamente o doente permanece em apnia at ao final da fase clnica, marcada por uma

    inspirao profunda.

    Na fase terminal da crise, tambm chamado perodo ps-crtico, todos os movimentos cessam e o

    doente fica imvel e flcido, em coma profundo. As pupilas contraem com a luz e a respirao

    torna-se tranquila. Este estado persiste durante 5 minutos, aps o que o doente abre os olhos,

    comea a olhar em volta e mostra-se claramente surpreso e confuso. A pessoa pode falar e depois

    no se lembrar de nada o que disse. Muitas das vezes, ela cai em sono exausto que pode durar

    vrias horas e desperta com uma cefaleia pulstil.

    Ao recuperar, o doente no se recorda de nenhuma parte da crise, excepto da aura, mas sabe que

    aconteceu algo devido ao ambiente estranho que se instalou sua volta, evidente preocupao

    das pessoas, lngua mordida e/ou ensanguentada, alm dos msculos doridos pelas contraces,

    estas por sua vez tambm podem ser causa de quedas provocando leses graves, como fracturas,

    hemorragias periorbitais, hematomas subdurais ou queimaduras.

    Mediante estudo electrofisiolgicos, provou-se que estas convulses deste tipo podem ocorrer

    com o doente desperto e activo ou durante o sono. Doentes que tm por algum tempo uma longa

    srie destas crises sem recuperar totalmente a conscincia entre uma e outra, chamam-se doentes

    em status epilepticus (estado de mal epilptico). Algumas vezes o primeiro surto de crises

    convulsivas tem a forma de status epilepticus. Por outro lado, pode haver aura sem perda de

    conscincia ou apenas um espasmo tnico seguido de alguns momentos de confuso mental, ou

    seja, uma crise tnica. As crises podem ser abreviadas por medicaes anticonvulsivas e a

    actividade motora parcial pode indicar o local da leso donde as descargas so emitidas.

    1.3.2. Ausncias (Pequeno Mal)

    Em contraste com as crises generalizadas maiores, as crises de ausncia (pequeno mal ou

    picnolepsia) notabilizam-se por sua brevidade e escassa actividade motora, de facto elas podem

    ser to breves que nem o prprio doente se apercebe e para um observador elas correspondem a

    um momento de distraco ou de desateno.

  • Estas crise ocorrem sem aviso e consiste numa sbita interrupo da conscincia, uma absence

    (no presente, no em contacto). O doente olha fixamente e pra de falar por um curto

    perodo ou deixa de responder. S uma pequena percentagem de doentes ficam imveis aquando

    ocorre a crise, nos restantes casos, observa-se um breve surto de movimentos clnicos finos das

    plpebras, msculos faciais ou dedos das mos ou movimentos sincrnicos de ambos os braos.

    So comuns durante o ataque, os automatismos, sob a forma de estalar dos lbios, mastigao e

    movimentos de agitao dos dedos da mo. O estalar dos lbios muito proeminente nos ataques

    de ausncia induzidos por hiperventilao. Neste tipo, os doentes no caem e podem at

    continuar a executar actos to complexos como caminhar ou andar de bicicleta. Aps os 2 a 10

    segundos de crise, o doente restabelece o contacto integral com o ambiente e retorna a sua

    actividade pr-crtica. Por seu lado, o prprio doente s d conta da ausncia quando perde o

    rumo da conversa ou o lugar a pgina onde estava ao ler um livro.

    A ausncia tpica a mais caracterstica epilepsia da infncia, raramente as crises iniciam- se

    antes dos quatro anos de idade ou aps a puberdade. Uma outra caracterstica a sua frequncia,

    que podem ocorrer centenas delas num s dia, por vezes em surtos em certos perodos do dia,

    mais comumente elas esto relacionadas com perodos de desateno e de no participao, no

    caso das crianas na sala de aula.

    Quando as ausncias so frequentes, elas podem perturbar a ateno e o pensamento, a ponto da

    criana ter um mau desempenho escolar, podendo durar vrias horas, sem intervalos de

    actividade mental normal entre eles, o chamado estado de mal epilptico do tipo pequeno mal ou

    ausncia. A ausncia pode ser o nico tipo de crise durante a infncia. Os ataques tendem a

    diminuir em frequncia nos adolescentes, mas raramente desaparecem.

    1.3.3. Crises Parciais ou Focais

    So todas as formas de crises, cuja a causa no evidente, so consideradas como originando-se

    num foco que se descarrega nalguma parte do crtex cerebral, ou seja, crise focal o produto de

    uma leso demonstrvel numa parte do crtex. As crises parciais variam com a localizao da

  • leso e so dividas em dois grupos, simples e complexas, dependendo de haver ou no perda de

    conscincia. As crises simples originam-se amiudamente de focos no crtex sensoriomotor. As

    crises parciais complexas tm mais comummente o seu foco no lobo temporal de ambos os

    hemisfrios. No quadro seguinte (Tabela 2) possvel verificar a correlao entre a localizao

    da leso e os tipos de crises.

    1.3.4. Crises Parciais Simples

    Existem vrios tipos de crises parciais simples (conscincia preservada). Assim temos as crises

    motoras focais ou parciais que podem ser atribudas a uma leso epilptico no lobo frontal

    contralateral. A manifestao mais comum um movimento de virar a cabea e os olhos, para o

    lado oposto ao do foco epilptico, frequentemente associado a uma contraco tnica do tronco e

    dos membros desse lado.

    As crises somatossensoriais, visuais e sensoriais, onde o distrbio sensorial geralmente descrito

    como dormncia, formigueiro ou sensao de agulhadas e s vezes uma sensao de insectos

    sobre a pele, electricidade ou movimento de uma parte do corpo, bem como dor e sensaes

    trmicas. Na maioria dos casos, o incio da crise sensorial nos lbios, dedos das mos ou dos

    ps e a disseminao a partes adjacentes do corpo segue um padro determinado de arranjos

    sensoriais na circunvoluo ps-central do lobo parietal. Casos os sintomas sensoriais se

    localizem na cabea, o foco na parte inferior da circunvoluo ou adjacente a esta, prximo da

    fissura sylviana, quando os sintomas so na perna ou no p, a parte afectada a parte superior da

    circunvoluo, prximo ao seio sagital superior ou sobre a superfcie medial do hemisfrio.

    As crises visuais tambm significado de localizao, as leses no crtex estriado do lobo

    occipital ou nas proximidades deste produzem sensaes visuais elementares de escurido ou

    fascas e pontos luminosos, que podem ser estacionrios ou mveis e incolores ou coloridos.

  • As alucinaes auditivas so raras como manifestaes iniciais de uma crise, contudo um doente

    com um foco numa circunvoluo temporal superior relata zumbido ou rugidos nos ouvidos.

    As sensaes vertiginosas de um tipo sugestivo de estimulao vestibular podem ser o primeiro

    sintoma de uma crise convulsiva. A leso localiza-se na regio temporal superior-posterior ou na

    juno dos lobos parietal e temporal. Ocasionalmente, num foco temporal a vertigem seguida

    de uma sensao auditiva. Tonturas e atordoamentos so preldios frequentes de uma crise

    embora seja necessrio fazer o diagnstico diferencial.

    As alucinaes olfactivas esto associadas amide ao acometimento das partes inferior e medial

    do lobo temporal especialmente na regio da circunvoluo hipocampal ou do uncus (crises

    uncinadas), o odor percebido extremo e descrito como desagradvel ou ftido.

    As alucinaes gustativas tambm foram registadas em casos comprovados de patologias do lobo

    temporal, podendo a elas associarem-se a salivao ou uma sensao de sede. a estimulao

    elctrica nas profundezas da fissura sylviana que ao estenderem-se at regio insular produzem

    As sensaes viscerais vagais e indefinidas, so de origem do trax, apigstrico e abdomn e so

    as que mais figuram entre as auras mais frequentes. Nuns casos a descarga comicial localizada

    na margem superior da fissura sylviana, noutros o foco localiza-se no giro frontal superior ou

    mdio ou na rea frontal mdia prxima ao giro de cngulo. Tambm esto relacionadas com um

    foco no lobo tempor al, palpitaes e acelerao do pulso.

    1.3.5. Crises Parciais Complexas

    Esta diferem das crises generalizadas do tipo grande mal e das crises de ausncia, porque,

    primeiro a aura pode constituir uma crise focal do tipo simples ou uma alucinao ou iluso

    perceptiva, indicando uma origem temporal, segundo em vez da perda total do controle do

    pensamento e aco, h um perodo de alterao do comportamento e da conscincia, para a qual

    posteriormente o doente apresenta amnsia

  • As experincias psquicas que podem ocorrer durante as crises parciais complexas podem ser

    classificadas numa hierarquia algo arbitrria de iluses, alucinaes, estado discognitivos, isto ,

    sentimentos de maior realidade ou familiaridade (dja vu), de estranheza ou desconhecimento

    (jamais vu) e despersonalizao e vivncias afectivas. As mais comuns so iluses sensoriais ou

    distoro de percepes correntes, objectos ou pessoas no ambiente podem encolher, perder-se

    na distncia ou at mesmo aumentar de tamanho. As alucinaes so mais comumente visuais e

    auditivas, consistindo em imagens visuais com ou sem forma definida, sons e vozes; mais

    raramente podero ocorrer alucinaes olfactivas, gustativas ou vertiginosas.

    As vivncias de ordem emocional podem ser dramticas tristeza, solido, raiva, felicidade e

    excitao sexual, no descorando o medo e a ansiedade, pois estas so as mais vulgares. Os

    sentimentos de ira ou raiva intensa tambm so vividos numa crise parcial complexa.

    Os componentes motores da crise ocorrem durante a ltima fase e tm forma de automatismos,

    onde se inclui os j referidos, estalar de lbios, movimentos de mastigao ou deglutio,

    agitao de mos e ps. Estes movimentos podem levar o doente a ter um comportamento

    inadequado como por exemplo tirar a roupa em pblico ou cropollia. A violncia e

    agressividade so consideradas caractersticas de uma pessoa com crises no lobo temporal e

    geralmente surgem como forma de resistncia aos automatismos.

    Lennox, num estudo que efectuou em doentes com crises parciais complexas, encontrou trs

    tipos de manifestaes psicomotoras, que designou como sendo a trade psicomotora, sendo

    composta por alteraes motoras, comportamento automtico e alteraes das funes

    cognitivas.

    Assim, tendo em conta estes sinais psicomotores, designou as crises parciais complexas como

    sendo um padro clnico que varia com a localizao exacta da leso e a durao e extenso da

    disseminao da descarga elctrica.

  • 1.4. Causas da Epilepsia e sua relao com as vrias faixas etrias

    Tendo concludo que a disfuno neurolgica que se est a considerar de crise convulsiva ou

    crises recorrentes, necessrio discernir o seu tipo e o seu padro, assim isso s se torna possvel

    com o relato dos sintomas vivenciados pelo doente e do relato de um observador. Como existem

    muitos tipos de crises convulsivas, em especial na infncia e na adolescncia, tendendo cada um

    deles a predominar numa certa faixa etria, h vantagens clnicas na considerao dos problemas

    comiciais exactamente por esta perspectiva, isto , o problema da epilepsia conforme ela se

    apresenta em cada perodo da vida, junto com os achados neurolgicos e EEG, resposta terapia

    farmacolgica, etiologia e prognstico. No quadro a seguir descrito (Tabela 3) possvel

    examinar a relao entre as vrias faixas etrias e as causas provveis das crises convulsivas.

    Causas das Crises Convulsivas em diferentes faixas etrias

    Idade de Incio Causa Provvel

    Neonatal

    Distrbio do desenvolvimento congnito, leso de parto, anoxia, distrbios

    metablicos (hipocalcemia, hipoglicmia, deficincia de vitamina B6,

    fenilcetonria e outros

    Lactentes (1 a 6

    meses) Alm dos acima descritos, encontram-se tambm espasmos infantis

    Infncia Inicial (6

    meses aos 3 anos)

    Espasmos infantis, convulses febris, leses de parto e anoxia, infeces,

    traumas, distrbios metablicos

    Infncia (3 aos 10

    anos)

    Anoxia perinatal, leses de parto ou posteriores, infeces, trombose de artrias

    ou veias cerebrais, distrbios metablicos ou de causa indeterminada (epilepsia

    idioptica)

    Adolescncia (10 aos

    1 8 anos)

    Epilepsia idioptica, incluindo tipos geneticamente transmissveis,

    traumatismos, drogas

    Incio da Idade Adulta

    (18 aos 35 anos)

    Epilepsia idioptica, traumatismos, neoplasias, abstinncia a lcool ou

    outros sedativo-hipnticos

  • Meia-Idade (35 aos 60

    anos)

    Traumatismos, neoplasias, doenas vasculares, abstinncia a lcool ou outras

    drogas

    Idade Avanada (mais

    de 60 anos)

    Doenas vasculares, tumores, doenas degenerativas, traumatismos

    Referncias Bibliogrficas

    LINO, Tiago Alexandre Lopes R. ( 2006). Defice da Ateno na Epilepsia: Trabalho de

    Licenciatura. Recuperado em 26 de Maio, 2012 em

    http://www.psicologia.pt/artigos/textos/TL0056.pdf

    BELMATRE, Alberto (2010). Protocolo clinico e directrizes terapeuticas : Epilepsia.

    Recuperado em 25 de Maio, 2012 em

    http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/pcdt_epilepsia_.pdf