epidemiologia e serviços de saúde - volume 21 - nº 4

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Epidemiologia e Serviços de Saúde R E V I S TA D O S I S T E M A Ú N I C O D E S A Ú D E D O B R A S I L | Volume 21 - Nº 4 - outubro / dezembro de 2012 | ISSN 1679-4974 4 ISSN online 2237-9622

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Epidemiologiae Serviços de SaúdeR E V I S T A D O S I S T E M A Ú N I C O D E S A Ú D E D O B R A S I L

| Volume 21 - Nº 4 - outubro / dezembro de 2012 |

ISSN 1679-4974

artigos neste número

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ISSN online 2237-9622

Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúdewww.saude.gov.br/bvs

» EDITORIAL: Transição demográfica e epidemiológica: a Epidemiologia e Serviços de Saúde revisita e atualiza o tema

» Polarização epidemiológica no Brasil José Duarte de Araújo (in memorian)

» Transição demográfica: a experiência brasileira Ana Maria Nogales Vasconcelos e Marília Miranda Forte Gomes

» Mortalidade por câncer de colo do útero no Estado de Minas Gerais, Brasil, 2004-2006: análise da magnitude e diferenciais regionais de óbitos corrigidos

Renato Azeredo Teixeira, Joaquim Gonçalves Valente e Elisabeth Barboza França

» Tendência temporal de partos cesáreos no Brasil e suas Regiões: 1994 a 2009

Doroteia Aparecida Höfelmann

» Estudo prospectivo da implantação da vigilância ativa de infecções de feridas cirúrgicas pós-cesáreas em hospital universitário no Estado de Minas Gerais, Brasil, 2010 a 2011

Roberta Maia de Castro Romanelli, Regina Lopes Pessoa de Aguiar, Henrique VitorLeite, Daniela Guimarães Silva, Rafael Viana Pessoa Nunes, Joseline Iodith Brito,

Hosana Ramos Fernandes, Klaus Zanuncio Protil, Ive Souza e Sousa, Lenize Adriana de Jesus, Guilherme Augusto Armond e Wanessa Trindade Clemente

» Indicadores de efetividade do Programa de Tratamento do Tabagismo no Sistema Único de Saúde em Minas Gerais,

Brasil, 2008 Juliana Dias Pereira dos Santos, Bruce Bartholow Duncan, Sérgio Antônio Sirena, Álvaro Vigo e Mery Natali Silva Abreu

» Caracterização das vítimas de acidentes de trânsito atendidas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) no Município de João Pessoa, Estado da Paraíba, Brasil, em 2010

Rackynelly Alves Sarmento Soares, Ana Paula de Jesus Tomé Pereira, Ronei Marcos de Moraes e Rodrigo Pinheiro de Toledo Vianna

» Linha de base da leucemia linfocítica aguda para a vigilância da saúde ambiental no território de abrangência da refinaria de petróleo do Estado de Pernambuco, Brasil, 2004 a 2008

Silvia Natália Serafim Cabral, Solange Laurentino dos Santos, Alexandre Barbosa Beltrão e Lia Giraldo da Silva Augusto

» Prevalência de marcadores sorológicos do vírus da hepatite B em profissionais de saúde de um laboratório de pesquisa na Amazônia oriental, Estado do Pará, Brasil, 2007 a 2009

Candida Maria Abrahão de Oliveira, Márcio Roberto Teixeira Nunes, Heloisa Marceliano Nunes e Manoel do Carmo Pereira Soares

»Detecção de infecção pelo vírus da hepatite B nos municípios brasileiros segundo cobertura dos serviços de hemoterapia, no período de 2001 a 2008

Letícia Gomes Costa, Regiane Cardoso de Paula e Eliane Ignotti

» Investigação de surto de hepatite A no Município de Ibiracatu, Estado de Minas Gerais, Brasil, 2008

Ana Flávia Costa da Silveira Oliveira, André Silva de Oliveira, Andréia Patrícia Gomes, Rodrigo Siqueira-Batista, Eduardo Rezende Honda, Cynthia Canêdo da Silva, Leandro Licursi de Oliveira, Eduardo de Almeida Marques da Silva e Sérgio Oliveira de Paula

» Indicação da prova tuberculínica e infecção latente da tuberculose em HIV-positivos, Município de Blumenau, Estado de Santa Catarina, Brasil, 2004-2009

Keila Zaniboni Siqueira, Sergio Adam Mendonça e Camila Corrêa Penedo

» Distribuição espacial de casos de tuberculose em Santa Cruz do Sul, município prioritário do Estado do Rio Grande do Sul,

Brasil, 2000 a 2010 Alexandre Daronco, Tássia Silvana Borges, Eduardo Chaida Sonda, Bruna Lutz, Alexandre

Rauber, Fabiana Battisti, Marcos Moura Baptista dos Santos, Andréia Rosane de Moura Valim, Marcelo Carneiro e Lia Gonçalves Possuelo

» Perfil socioeconômico e insegurança alimentar e nutricional de famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família no município de Viçosa, Estado de Minas Gerais, Brasil, em 2011:

um estudo epidemiológico transversal Natália Nunes de Souza, Mariana de Moura e Dias, Naiara Sperandio, Sylvia do Carmo

Castro Franceschini e Silvia Eloiza Priore

» Perfil de atendimento de um Núcleo de Apoio à Saúde da Família na área de reabilitação, Município de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, Brasil, 2009

Dener Carlos dos Reis, Tácia Maria Pereira Flisch, Mariana Henriques Fraga Vieira e Wanderlin Soares dos Santos-Junior

» A introdução de um artigo científico Mauricio Gomes Pereira

Capa Livro Epidemiologia N 4_2012.indd 1 4/4/2013 11:24:04

Epidemiologia e Serviços de Saúde

| Vol u me 21 - No 4 - outubro/dezembro de 2012 |

ISSN 1679-4974ISSN online 2237-9622

R E V I S T A D O S I S T E M A Ú N I C O D E S A Ú D E D O B R A S I L

A revista Epidemiologia e Serviços de Saúde está disponível gratuitamente

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Livro Epidemiologia N 4_2012.indd 525 4/4/2013 11:30:281

© 2003 Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.Os artigos publicados são de responsabilidade dos autores e não expressam, necessariamente, a posição do Ministério da Saúde. É permitida a reprodução parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte e que não seja para venda ou qualquer fim comercial. Para republicação de qualquer material, solicitar autorização dos editores.

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Editor GeralJarbas Barbosa da Silva Jr. - SVS/MS

Editora ExecutivaElisete Duarte - SVS/MS

Editora CientíficaLeila Posenato Garcia - IPEA/PR

Comitê EditorialAna Lúcia Escobar - UFRO/ROBrendan Flannery - CDC/GA/EUACarlo Henrique Goretti Zanetti - UnB/DFCarlos Castillo Salgado - JHU/MD/EUACarlos Machado de Freitas - Fiocruz/RJClaudia Medina Coeli - UFRJ/RJCor Jesus Fernandes Fontes - UFMT/MTDenise Aerts - ULBRA/RSEliseu Alves Waldman - USP/SPGuilherme Loureiro Werneck - UERJ/RJIná dos Santos - UFPEL/RSJoão Bosco Siqueira Júnior - UFG/GOJosé Cássio de Moraes - FCMSC/SPJosé Ueleres Braga - UERJ/RJLuiz Augusto Facchini - UFPEL/RSMarcia Furquim de Almeida - USP/SPMaria Cecília de Souza Minayo - Fiocruz/RJMaria da Glória Lima Cruz Teixeira - UFBA/BAMaria de Fátima Marinho de Souza - OPAS/WA/EUAMaria Fernanda Lima Costa - Fiocruz/MGMaria Regina Fernandes de Oliveira - UnB/DFMarilisa Berti de Azevedo Barros - UNICAMP/SPMauricio Gomes Pereira - UnB/DFOtaliba Libânio de Morais Neto - UFG/GOPedro Luiz Tauil - UnB/DFRoseli La Corte dos Santos - UFSE/SEVera Lúcia Guimarães Blank - UFSC/SC

A Epidemiologia e Serviços de Saúde − revista

do Sistema Único de Saúde do Brasil −

é uma publicação trimestral de caráter

técnico-científico e acesso livre, editada pela

Coordenação-Geral de Desenvolvimento da

Epidemiologia em Serviço, da Secretaria de

Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde

do Brasil.

Editoras AssistentesAndréia de Fátima Nascimento - FCMSC/SPLuane Margarete Zanchetta - SVS/MSLuciana Monteiro Vasconcelos Sardinha - SVS/MS

Projeto GráficoFabiano Camilo Silva - SVS/MS

Revisão de Texto em PortuguêsErmenegyldo Munhoz Junior - SVS/MS

Revisão de Texto em InglêsErmenegyldo Munhoz Junior - SVS/MSGilmara Nascimento - SVS/MS

Normalização BibliográficaHedileuza Honorata Viana - IEC/SVS/MS/PANilton Cesar Mendes Pereira - IEC/SVS/MS/PA

Editoração EletrônicaMarco Antonio Ribeiro de Oliveira - IEC/SVS/MS/PA

Tiragem30.000 exemplares

Epidemiologia e Serviços de Saúde / Secretaria de Vigilância em Saúde. − v. 12, n. 1 (jan./mar. 2003)- . − Brasília : Ministério da Saúde, 2003-

Trimestral ISSN 1679-4974, ISSN online 2237-9622

Continuação de: Informe Epidemiológico do SUS ISSN 0104-1673

1. Epidemiologia. 2. Serviços de Saúde. I. Secretaria de Vigilância em Saúde.

Catalogação na fonte – Coordenação-Geral de Documentação e Informação – Editora MS – OS 2013/0142

Ficha Catalográfica

CDU 616-036.22

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EDITORIAL

Transição demográfica e epidemiológica: a Epidemiologia e Serviços de Saúde revisita e atualiza o tema

REPUBLICAÇÃO

Polarização epidemiológica no Brasil

Epidemiological Polarization in Brazil

José Duarte de Araújo (in memorian)

ARTIGO ORIGINAL

Transição demográfica: a experiência brasileiraDemographic transition: the Brazilian experience

Ana Maria Nogales Vasconcelos e Marília Miranda Forte Gomes

Mortalidade por câncer de colo do útero no Estado de Minas Gerais, Brasil, 2004-2006: análise da magnitude e diferenciais regionais de óbitos corrigidosMortality from cervical cancer in the State of Minas Gerais, Brazil, 2004-2006: analysis of magnitude and regional differences of corrected cause-specific deaths

Renato Azeredo Teixeira, Joaquim Gonçalves Valente e Elisabeth Barboza França

Tendência temporal de partos cesáreos no Brasil e suas Regiões: 1994 a 2009Temporal trend of caesarean delivery in Brazil and its Regions: 1994 to 2009

Doroteia Aparecida Höfelmann

Estudo prospectivo da implantação da vigilância ativa de infecções de feridas cirúrgicas pós-cesáreas em hospital universitário no Estado de Minas Gerais, Brasil, 2010 a 2011Prospective study of implementation of active surveillance post-cesarean surgical-wound infection in an University Hospital in the State of Minas Gerais, Brazil, 2010 to 2011

Roberta Maia de Castro Romanelli, Regina Lopes Pessoa de Aguiar, Henrique VitorLeite, Daniela Guimarães Silva, Rafael Viana Pessoa Nunes, Joseline Iodith Brito, Hosana Ramos Fernandes, Klaus Zanuncio Protil, Ive Souza e Sousa, Lenize Adriana de Jesus, Guilherme Augusto Armond e Wanessa Trindade Clemente

Indicadores de efetividade do Programa de Tratamento do Tabagismo no Sistema Único de Saúde em Minas Gerais, Brasil, 2008Indicators of effectiveness of the Unified Health System smoking cessation program in Minas Gerais, Brazil, 2008

Juliana Dias Pereira dos Santos, Bruce Bartholow Duncan, Sérgio Antônio Sirena, Álvaro Vigo e Mery Natali Silva Abreu

Caracterização das vítimas de acidentes de trânsito atendidas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) no Município de João Pessoa, Estado da Paraíba, Brasil, em 2010Characterization of victims of traffic accidents attended by the Mobile Emergency Service in João Pessoa-PB in 2010

Rackynelly Alves Sarmento Soares, Ana Paula de Jesus Tomé Pereira, Ronei Marcos de Moraes e Rodrigo Pinheiro de Toledo Vianna

Linha de base da leucemia linfocítica aguda para a vigilância da saúde ambiental no território de abrangência da refinaria de petróleo do Estado de Pernambuco, Brasil, 2004 a 2008Baseline of acute lymphocytic leukemia for surveillance of environmental health on the oil refinery area of the State of Pernambuco, Brazil, 2004 to 2008

Silvia Natália Serafim Cabral, Solange Laurentino dos Santos, Alexandre Barbosa Beltrão e Lia Giraldo da Silva Augusto

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Prevalência de marcadores sorológicos do vírus da hepatite B em profissionais de saúde de um laboratório de pesquisa na Amazônia oriental, Estado do Pará, Brasil, 2007 a 2009 Prevalence of serological markers of hepatitis B virus in health professionals from a research laboratory in the eastern Amazon, State of Pará, Brazil, 2007 to 2009

Candida Maria Abrahão de Oliveira, Márcio Roberto Teixeira Nunes, Heloisa Marceliano Nunes e Manoel do Carmo Pereira Soares

Detecção de infecção pelo vírus da hepatite B nos municípios brasileiros segundo cobertura dos serviços de hemoterapia, no período de 2001 a 2008Detection of infection by hepatitis B virus in the brazilian municipalities according to the coverage of hemotherapy services, in the period from 2001 to 2008

Letícia Gomes Costa, Regiane Cardoso de Paula e Eliane Ignotti

Investigação de surto de hepatite A no Município de Ibiracatu, Estado de Minas Gerais, Brasil, 2008Investigation of hepatitis A outbreak in the Municipality of Ibiracatu, State of Minas Gerais, Brazil, 2008

Ana Flávia Costa da Silveira Oliveira, André Silva de Oliveira, Andréia Patrícia Gomes, Rodrigo Siqueira-Batista, Eduardo Rezende Honda, Cynthia Canêdo da Silva, Leandro Licursi de Oliveira, Eduardo de Almeida Marques da Silva e Sérgio Oliveira de Paula

Indicação da prova tuberculínica e infecção latente da tuberculose em HIV-positivos, Município de Blumenau, Estado de Santa Catarina, Brasil, 2004-2009Tuberculin skin test prescription and tuberculosis latent infection treatment in HIV-positive, Municipality of Blumenau, State of Santa Catarina, Brazil, 2004-2009

Keila Zaniboni Siqueira, Sergio Adam Mendonça e Camila Corrêa Penedo

Distribuição espacial de casos de tuberculose em Santa Cruz do Sul, município prioritário do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, 2000 a 2010Spatial distribution of cases of tuberculosis in Santa Cruz do Sul a priority municipality of Rio Grande do Sul State, Brazil 2000 to 2010

Alexandre Daronco, Tássia Silvana Borges, Eduardo Chaida Sonda, Bruna Lutz, Alexandre Rauber, Fabiana Battisti, Marcos Moura Baptista dos Santos, Andréia Rosane de Moura Valim, Marcelo Carneiro e Lia Gonçalves Possuelo

Perfil socioeconômico e insegurança alimentar e nutricional de famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família no município de Viçosa, Estado de Minas Gerais, Brasil, em 2011: um estudo epidemiológico transversalSocioeconomic profile and insecurity food of families beneficiaries of the Bolsa Familia Program in the city of Viçosa, Minas Gerais, 2011: a cross-sectional study

Natália Nunes de Souza, Mariana de Moura e Dias, Naiara Sperandio, Sylvia do Carmo Castro Franceschini e Silvia Eloiza Priore

Perfil de atendimento de um Núcleo de Apoio à Saúde da Família na área de reabilitação, Município de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, Brasil, 2009Care profile of a Family Health Support Centers in rehabilitation, Belo Horizonte Municipality, Minas Gerais State, Brazil, 2009

Dener Carlos dos Reis, Tácia Maria Pereira Flisch, Mariana Henriques Fraga Vieira e Wanderlin Soares dos Santos-Junior

COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA

A introdução de um artigo científicoThe introduction of a paper

Maurício Gomes Pereira

INSTRUÇÕES AOS AUTORES677

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Transição demográfica e epidemiológica: a Epidemiologia e Serviços de Saúde revisita e atualiza o tema

Editorial

doi: 10.5123/S1679-49742012000400001

Em 1992, foi publicado na revista Epidemiologia e Serviços de Saúde (RESS) o artigo intitulado ‘Polariza-ção Epidemiológica no Brasil’, de autoria de Duarte de Araújo.1 Hoje, em 2012, quando comemoramos os 20 anos de existência da RESS, o pioneiro artigo é republicado e nos brinda com um debate rico e atual.

Conceitualmente, Omran, em 1971, focou a teoria da transição epidemiológica nas complexas mudanças dos padrões saúde-doença e nas interações entre esses padrões, seus determinantes demográficos, econômicos e sociais, e suas consequências.2 Entre as proposições centrais incluídas em sua teoria, destacam-se: (i) existe um processo longo de mudanças nos padrões de mortalidade e adoecimento, em que as pandemias por doenças infecciosas são gradativamente substituídas pelas doenças degenerativas e agravos produzidos pelo homem*; (ii) durante essa transição, as mais profundas mudanças nos padrões de saúde-doença ocorrem nas crianças e nas mulheres jovens; (iii) as mudanças que caracterizam a transição epidemiológica são fortemente associadas às transições demográfica e socioeconômica que constituem o complexo da modernização; e (iv) as variações peculiares no padrão, no ritmo, nos determinantes e nas consequências das mudanças na população diferenciam três modelos básicos de transição epidemiológica, o modelo clássico ou ocidental, o modelo acelerado e o modelo contemporâneo ou prolongado.2

Vinte anos mais tarde, Frenk e colaboradores defendem a existência de um modelo ‘polarizado prolongado’ de transição epidemiológica na América Latina, caracterizado por:3 (i) superposição de etapas – incidência alta e concomitante das doenças de ambas as etapas, pré e pós-transição –; (ii) contra-transição – ressurgimento de algumas doenças infecciosas que já haviam sido controladas –; (iii) transição prolongada – processos de transição inconclusos, com certo estancamento dos países em estado de morbidade mista –; e (iv) polarização epidemio-lógica – níveis diferenciados de transição entre e intrapaíses, inclusive entre grupos sociais de um mesmo país.

Duarte Araújo ressalta em seu artigo1 que o Brasil é um exemplo da polarização epidemiológica descrita por Frenk e colaboradores, combinando elevadas taxas de morbidade e mortalidade por doenças crônico-degenerativas com altas incidências de doenças infecciosas e parasitárias, e a prolongada persistência de níveis diferenciados de transição entre grupos sociais distintos.1,3

A transição demográfica no BrasilTambém nesse número da RESS, Vasconcelos & Gomes revisitam e atualizam o fenômeno da transição demográfica

no Brasil, entre 1950 e 2010, e destacam os diferenciais frente a um modelo teórico de transição, de uma sociedade rural e tradicional para uma sociedade urbana e moderna, com quedas das taxas de natalidade e mortalidade.4

Vivemos na região mais urbanizada do planeta: em 2010, 82,0% da população da América do Norte e 79,0% da América Latina e Caribe residiam no meio urbano.5 Naquele mesmo ano, a taxa de urbanização no Brasil alcançou 84,0%.6 A completa inversão desse indicador no país foi descrita em 1970, quando a população urbana superou a rural e logo, gradativamente, foi se distanciando dela.

O processo de urbanização acompanhou-se de importantes mudanças sociais, como nas formas de inserção da mulher na sociedade, rearranjos familiares, incrementos tecnológicos, entre outras. O padrão demográfico alterou-se. A forte queda na fecundidade e o aumento da longevidade impulsionaram um envelhecimento acele-rado da população brasileira, conforme foi discutido por Vasconcelos & Gomes.4 Em anos recentes, observam-se tendências de crescimento baixo ou mesmo negativo da população jovem, desaceleração do crescimento da população em idade ativa e grande crescimento do contingente de idosos.7

Entre 1940 e 1960, a taxa média de fecundidade no Brasil manteve-se em torno de 6 filhos por mulher.4,8 Desde então, esse indicador vem decrescendo em todas as Regiões do país e entre todos os grupos sociais, ainda que

* Agravos produzidos pelo homem ("man-made diseases") se referem aos agravos ligados aos efeitos adversos da modernização, tais como: alcoolismo, tabagismo, suicídios, acidentes de transporte, violências, entre outros (Caselli G, Meslé F & Vallin J. Epidemiologic transition theory exceptions. Acessado em dezembro de 2012 em http://demogr.mpg.de/Papers/workshops/020619_paper40.pdf ).

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em ritmos diferentes. Em 2010, o país apresentou taxa de fecundidade de 1,9 filhos por mulher, inferior à média observada para a região das Américas (2,1 filhos por mulher), variando de 2,1 a 3,0 nas unidades federadas (UF) da região Norte, e de 1,6 a 1,7 nas UF das regiões Sul e Sudeste.4-6 Observa-se, também, um padrão de gradativo incremento da idade gestacional no Brasil.7

Como aponta Vasconcelos & Gomes, a rapidez do processo e os distintos ritmos observados entre as regiões caracterizam a transição demográfica no Brasil, assim como em outros países da America Latina.4,5 A França levou 115 anos para duplicar a proporção da população de idosos (de 7,0 para 14,0%), enquanto no Brasil, a mesma mudança proporcional levou apenas 40 anos para ocorrer (de 5,1 para 10,8%).5,8

Além dessa robusta discussão apresentada por Vasconcelos & Gomes, o artigo republicado de Duarte Araújo discute a polarização epidemiológica brasileira vis-à-vis esse processo de transição demográfica e as mudanças socioeconômicas experimentadas no país.1,4

Redução da mortalidade precoceO Brasil tem experimentado notável êxito na redução da mortalidade precoce. A proporção de mortes ocorri-

das antes dos 20 anos de idade passou de 12,2% em 2000 para 7,4% em 2010.9 Nesta mesma década, o risco de morrer no primeiro ano de vida caiu de 26,6 para 16,2 por 1000 nascidos vivos (NV).9

Não obstante, poderíamos – e deveríamos – fazer melhor. Cerca de 70,0% das mortes infantis no Brasil são consideradas evitáveis por ações efetivas do Sistema Único de Saúde.10 Nossa taxa de mortalidade infantil é superior às médias para a América do Norte (6,3 por 1000 NV) e mesmo para a América Latina e Caribe (15,6 por 1000 NV).11 Estamos também com valor maior para esse indicador quando nos colocamos junto a países com níveis de desenvolvimento econômico semelhantes ao nosso, como é o caso do México (14,1 por 1000 NV), Argentina (11,9/1000 NV), Costa Rica (9,1/1000 NV) e Chile (7,4/1000 NV).11

Doenças imunopreveníveis e outras doenças infecciosas e parasitáriasA mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias (DIP) vem declinando desde a década de 1940, inicial-

mente com queda aguda, recentemente mais lenta, embora persistente.9,12 Entre 2000 e 2010, a mortalidade proporcional por DIP caiu de 4,7 para 4,3%.

Parte relevante da tendência histórica de queda nesse grupo de causas de morte deve-se ao expressivo êxito alcançado pela área da saúde em relação às doenças passíveis de prevenção por imunização. Em conjunto, a notificação de casos e óbitos por sarampo, poliomielite, rubéola, síndrome da rubéola congênita (SRC), meningite (H. influenzae), tétano, coqueluche e difteria em crianças menores de 5 anos de idade reduziu-se de mais de 153 mil casos e 5,5 mil óbitos em 1980, para cerca de 2 mil casos e 50 óbitos em 2009.9 Nesse contexto, merece destaque, também, a redução da mortalidade e hospitalização por algumas DIP potencialmente letais, como as doenças diarréicas agudas em crianças e a malária.

Permanecem, no horizonte da Saúde Pública, desafios históricos como a persistência de doenças associadas à miséria e exclusão social, a exemplo da tuberculose e a hanseníase; a alta incidência da malária na região da Amazônia Legal, oscilando em torno de 300 mil casos novos/ano; e as recorrentes epidemias da dengue. A emergência de novas DIP, bem como as novas formas de transmissão de antigas DIP, aportam complexidade a esse cenário. Como foi discutido por Duarte Araújo, esses são aspectos que nos afastam do modelo clássico de transição epidemiológica e exigem contínuas inovações dos modelos de vigilância em um contexto social diverso e complexo, como é a vida urbana atual.1,9,12

Fatores de risco e as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT)O envelhecimento, a urbanização, as mudanças sociais e econômicas e a globalização impactaram o modo de

viver, trabalhar e se alimentar dos brasileiros. Como consequência, tem crescido a prevalência de fatores como a obesidade e o sedentarismo, concorrentes diretos para o desenvolvimento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT). Em 2011, quase a metade dos adultos (≥18 anos de idade) em capitais brasileiras relataram excesso de peso (48,5%), 17,0% referiram consumo abusivo de álcool, 20,0% consumiam frutas e hortaliças em quantidade

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insuficiente e 14,0% eram inativos fisicamente.9 Não é de se surpreender que, em 2010, as DCNT responderam por 73,9% dos óbitos no Brasil, dos quais 80,1% foram devido a doença cardiovascular, câncer, doença respiratória crônica ou diabetes.9 Esses dados reafirmam a relevância das DCNT neste momento de transição epidemiológica do Brasil.

Esta realidade das últimas décadas também trouxe exemplos de sucesso para o controle dos principais fatores de risco para as DCNT. É o caso da política de controle do tabagismo, que fez cair a prevalência de fumantes de 35,6% em 1986 para 15,0% em 2010. Estimativas recentes calculam que essa queda preveniu cerca de 420 mil (260 mil a 715 mil) mortes.13

Causa externas de morteO crescimento da violência representa um dos maiores e mais difíceis desafios do novo perfil epidemiológico

do Brasil. Em 2010, ocorreram 143 mil (12,5%) óbitos devido as causas externas.9 O aumento da mortalidade por causas externas, observado a partir da década de 1980, deve-se principalmente aos homicídios (com 52 mil óbitos em 2010) e aos acidentes de transporte terrestre (com 42,5 mil óbitos em 2010), com destaque em grandes centros urbanos.9 Os homens jovens são os mais afetados pelo crescimento dos homicídios – como agressores e vítimas – e pelos acidentes de trânsito. Transições demográficas rápidas em contextos históricos complexos e de grandes desigualdades sociais alimentam a violência e dificultam as soluções para esse problema.7

Novos e velhos desafios nesse persistente contexto de mudançasPor si só, o aumento da população idosa e as demandas, crescentes, de um envelhecimento saudável representam

desafios importantes para o Sistema Único de Saúde do Brasil. Esses desafios são potencializados pela sobreposição de agendas, expressão de uma transição epidemiológica prolongada, com a persistência das doenças transmissíveis, o crescimento dos fatores de risco para as DCNT e a enorme pressão das causas externas. Adicionalmente, omo antecipado por Duarte Araújo, o país apresenta fases distintas dessa transição, com polarização entre diferentes áreas geográficas e grupos sociais, ampliando as contradições no território.1 Os atributos desse complexo contexto costuram e pressionam as agendas da Saúde Pública e dos Sistemas Previdenciário e Educacional no Brasil. Da mesma forma como foi debatido por Frenk e colaboradores, os processos de transição demográfica e epidemio-lógica também demandam transformações nas respostas sociais, expressas inclusive pela forma como o sistema de saúde se organiza para ofertar serviços, impondo, portanto, uma transição na atenção à saúde.3

Elisabeth Carmen DuarteFaculdade de Medicina, Universidade de Brasília, Brasília-DF, BrasilOrganização Pan-Americana da Saúde, Brasília-DF, Brasil

Sandhi Maria BarretoFaculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil

Referências

1. Araujo D. Polarização epidemiológica no Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2012; 21(4):6.

2. Omran A. The epidemiologic transition: a theory of the epidemiology of population change. Milbank Quarterly. 2005; 83(4):731-757.

3. Frenk J, Frejka T, Bobadilla JL, Stern C, Lozano R, Sepúlveda Jaime J, et al. La transición epidemiológica en América Latina. Boletín de la Oficina Sanitaria Pan-americana. 1991; 111(6):485-496.

4. Vasconcelos AMN, Gomes MMF. Transição demográfica: a experiência brasileira. Epidemiologia e Serviços de Saúde. 2012; 21(4):10.

5. Organização Pan-Americana de Saúde. Saúde nas Américas 2012: panorama da situação de saúde dos países das Américas. Organização Pan-Americana da Saúde; 2012.

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 21(4):529-532, out-dez 2012

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6. Rede Interagencial de Informação para á Saúde. Indicadores e dados básicos para a Saúde. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde; 2012.

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Epidemiological Polarization in Brazil

Republicação Polarização epidemiológica no Brasil*

José Duarte de Araújo (in memorian)

doi: 10.5123/S1679-49742012000400002

Introdução

No transcorrer dos últimos cem anos, os países industrializados, pólos centrais da economia mundial, obser-varam uma profunda transformação em seu perfil epidemiológico, caracterizada pela gradual e progressiva queda das doenças infecciosas e parasitárias e pela ascensão das doenças crônico-degenerativas e, particularmente, das doenças cardiovasculares, como principal causa de morte.

Os países chamados ‘em desenvolvimento’, situados na periferia do sistema econômico mundial, sofreram, também, nos últimos 30 a 40 anos, uma transformação em seus perfis de morbidade e de mortalidade semelhante, porém não idêntica, àquela verificada nos países centrais.

No Brasil, essas transformações tornaram-se evidentes a partir de 1960 e se acentuaram progressivamente de modo que, ao chegar à década dos noventa, o país apresentava um perfil epidemiológico polarizado, cujas causas e consequências para a atual política de saúde devem ser analisadas.

A transição epidemiológica nos países desenvolvidos

A gradual e progressiva melhora nos níveis de saúde dos países do hemisfério norte se acentuou a partir das transformações sociais associadas à revolução industrial, que resultaram em mudanças sensíveis na disponibili-dade de alimentos, nas condições de moradia e em medidas de saneamento básico. As alterações nos padrões de morbidade e mortalidade desses países correspondem a uma fase mais recente de um processo histórico secular, ao qual Omram, em 1971, denominou de ‘transição epidemiológica’.1

Segundo a teoria de OMRAM, a humanidade teria atravessado três fases epidemiológicas ao longo da sua história:a) A ‘Era da Fome das Pestilências’, que durou desde o início dos tempos históricos até o fim da Idade Média, foi

caracterizada por altos índices de natalidade, altas taxas de mortalidade por doenças infecciosas endêmicas e epidemias que assumiam, com frequência, caráter pandêmico, devastando as populações. Nessa fase, a expectativa de vida estava em torno de 20 anos e o crescimento demográfico foi lento.

b) A ‘Era do Declínio das Pandemias’, correspondendo historicamente ao período que vai da Renascença até o início da Revolução Industrial, foi caracterizada pelo progressivo desaparecimento das grandes pandemias, embora as doenças infecciosas continuassem a ser a principal causa de morte. Nesse período verificou-se uma gradual melhora no padrão de vida e a expectativa de vida alcançou os 40 anos. Como as taxas de mortalidade declinaram até níveis de 30 por 1000 e a natalidade continuava acima de 40 por 1000, iniciou-se um longo período de crescimento populacional.

c) A ‘Era das Doenças Degenerativas e das Causadas pelo Homem’ estende-se da Revolução Industrial até os tempos modernos. Caracterizou-se por uma progressiva melhora do padrão de vida das populações (habi-tação, saneamento, alimentação, educação) e um correspondente declínio das doenças infecciosas, que se iniciou várias décadas antes do aparecimento das sulfas e dos antibióticos e se acentuou após esses progres-sos da medicina. A expectativa de vida foi aumentando até atingir os 70 anos, nos meados deste século. As principais causas de mortalidade passaram a ser doenças cardiovasculares e as neoplasias malignas. Nessa fase, houve uma desaceleração no crescimento demográfico.

* Araújo JD. Polarização epidemiológica no Brasil. Informe Epidemiológico do SUS. 1992; 1(2): 6-15.

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Em 1986, Olshansky e Ault,2 analisando as tendências nos padrões da morbidade e da mortalidade nos Estados Unidos, sugeriram o início de um quarto estágio da transição epidemiológica, ao qual denominaram de ‘A Era do Retardamento das Doenças Degenerativas’, caracterizado por um declínio da mortalidade nas idades mais avançadas, em decorrência de um retardamento nas mortes causadas pelas doenças crônicas e degenerativas. Nessa fase, a expectativa da vida superaria o limite dos 80 anos. O consequente rápido aumento na proporção de pessoas idosas apresentaria novos desafios para os sistemas de seguridade social e de atenção á saúde.

A transição epidemiológica nos países em desenvolvimento

Nos países que não foram beneficiados pelos aspectos positivos da Revolução Industrial e nos quais só tardia-mente tiveram início as tentativas de desenvolvimento econômico autônomo, também se verificaram, nas últimas cinco décadas, mudanças importantes nos padrões de morbidade.

Como a melhoria das condições de vida nesses países tem sido gradual e descontínua, o declínio das doenças infecciosas deu-se de forma mais lenta e só se acentuou após o advento da era dos antibióticos e de outros avanços da medicina moderna. Nessa fase, a queda rápida da mortalidade, associada á persistência de taxas elevadas de natalidade, levou a uma aceleração do crescimento populacional. Com o aumento gradual da expectativa de vida, a proporção de pessoas com mais de 60 anos passou a crescer de modo constante. De modo semelhante ao que ocorreu nos países industrializados, as doenças cardiovasculares, as neoplasias malignas e as causas externas (sobretudo os acidentes de trânsito) passaram a assumir maior importância como causas de morte. Todavia, ao contrário do que ocorreu nos países centrais, persistem ainda, nos países ‘em desenvolvimento’, taxas compara-tivamente altas de morbidade e de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias.3

Alguns epidemiologistas que se dedicaram ao estudo do padrão de morbidade e mortalidade desses países, como Frenk4 e Bobadilla,5 demonstraram que o modelo linear da transição demográfica, observado nas nações centrais, não se aplicava aos países da periferia do sistema econômico, da mesma forma que a concepção de desenvolvi-mento econômico de Rostow,6 pressupondo etapas sucessivas e pré-determinadas no processo de desenvolvimento, não foi comprovada pela experiência dos países da América Latina, onde predominam os exemplos de processos interrompidos e até de retrocessos. O mesmo vem ocorrendo com os padrões de morbidade e mortalidade nesses países. Será visto adiante, há um nexo entre os percalços na busca frustrada do desenvolvimento econômico e os atrasos e retrocessos no perfil epidemiológico desses países.

A experiência do Brasil

As estatísticas de mortalidade no Brasil7 mostram que, até 1940 (Figura 1), havia um nítido predomínio das doenças infecciosas e parasitárias como principal causa de morte (43,5% do total de óbitos). As doenças do aparelho circulatório correspondiam a 14,5% e as neoplasias malignas a apenas 3,9% dos óbitos com causa definida. Trinta anos depois, em 1970, as doenças do aparelho circulatório já surgiam como a primeira causa de mortalidade (24,8%); as doenças infecciosas e parasitárias como a segunda (15,7%); e as neoplasias malignas como a terceira (9,7%).

Dados recentes, de 1986,8 mostram que as Doenças do Aparelho Circulatório já eram responsáveis por 33,5% dos óbitos, vindo em segundo lugar as Causas Externas (14,85%) e, em terceiro lugar, as neoplasias malignas (11,9%). Aparentemente, esses índices indicariam que se estava verificando no Brasil, de forma tardia, o terceiro estágio de transição epidemiológica, na teoria de Oram. Todavia, o exame mais cuidado-so dos próprios dados de mortalidade, associado à consideração dos escassos dados de morbidade, bem como a uma análise do comportamento desses indicadores em diferentes regiões do país, mostra que se está diante de um quadro bastante diverso e que pode ser caracterizado como polarização epidemiológica, de acordo com o conceito apresentado por Frenk e colaboradores.4 Apresenta-se a seguir, fatos e dados em apoio a esse ponto de vista.

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Figura 1 - Distribuição das mortes por grupos de causas. Brasil e capitais, 1930-1986a

Outras causasCausas externasNeoplasias malígnasAparelho digestivoAparelho respiratórioAparelho circulatórioInfecções parasitárias

21,32,62,74,4

11,511,845,7

19,82,43,93,8

12,114,543,5

29,43,35,72,49,1

14,235,9

29,24,88,12,58,0

21,525,9

30,87,59,72,59,0

24,815,7

24,57,7

11,24,3

10,130,811,4

16,714,811,94,7

10,333,58,0

1930 1940 1950 1960 1970 1980 1986

Perc

entu

al d

e ób

itos

100,0

80,0

60,0

40,0

20,0

0,0

Fontes: Dados n° 7, RADIS, Fiocruz

a) Estatísticas de mortalidade/MS

A persistência da morbidade e da mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias no Brasil

Embora as estatísticas de morbidade sejam sabidamente deficientes no Brasil, as estimativas mais recentes indicam que continua muito alta a prevalência das antigas ‘endemias rurais’, tais como: a doença de Chagas9 e a esquistossomose.10 No caso da malária,11 enfrenta-se uma situação grave na Amazônia, onde se concentra 95,0% dos 533.360 casos confirmados em 1990/91. Acrescente-se a esses problemas os surtos de dengue, em 1986/87 e em 1990/91;11 a reintrodução da cólera12 em 1991 na Amazônia e sua penetração no Nordeste, em 1992; e o aumento na incidência e na prevalência da hanseníase, nos últimos 20 anos.11

Verifica-se, assim, ao lado da permanência e do agravamento de problemas sanitários antigos, o reaparecimento de “velhos fantasmas”13 como a cólera.

A esse quadro soma-se o novo drama da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (SIDA/AIDS), cujo primeiro caso ocorreu em 1980 e cuja incidência vem aumentando em progressão geométrica, tendo atingido um total acumulado de 25.000 casos registrados em 1992, afetando não apenas os chamados grupos de risco, mas a praticamente todos os segmentos da população.14

No que tange as taxas de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias, embora tenha havido um acen-tuado declínio na mortalidade proporcional, de 45,7% em 1930 para 7,97% em 1986, quando se considera a mortalidade por 100.000 habitantes, verificamos que no Brasil ainda é de 33 por 100.000 habitantes, mais do dobro verificada no Chile e quase quatro vezes a verificada em Cuba (Tabela 1).

Desta forma, ao enfrentar o problema emergente do aumento da morbidade e da mortalidade pelas doenças crônico-degenerativas, cujo custo social vem sendo destacado,15 o Brasil defronta-se com a permanência ou até mesmo com o recrudescimento das doenças infecciosas e parasitárias, ao contrário do que se deu nos países industrializados, onde as doenças crônicas só passaram a assumir papel preponderante após o virtual controle das doenças transmissíveis.

Verifica-se assim, no Brasil, uma polarização epidemiológica com a existência simultânea de elevadas taxas de morbidade e mortalidade por doenças crônico-degenerativas e de incidência e prevalência de doenças in-fecciosas e parasitárias, cuja mortalidade ainda é elevada em comparação com as taxas de países desenvolvidos e de outros países da América Latina.

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Tabela 1 - Taxa de mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias por 1000 habitantes

Ano País Taxa bruta

Taxa ajustada a composição etária

1986 Argentina 25,2 29,11986 Brasil 37,2 33,01988 Canadá 4,3 2,01987 Chile 19,2 16,01984 Colômbia 31,7 34,31988 Costa Rica 11,8 11,91988 Cuba 9,1 8,81985 Suriname 36,3 34,7

Fonte: Health Conditionsin the Americas, 1990 edition

A disparidade dos níveis de saúde entre as regiões do país

Outra característica marcante dos índices da morbidade e mortalidade no Brasil é a disparidade entre as regiões Sul, Sudeste e Nordeste, que representam os extremos em termos de indicadores de saúde.

Em 1980, a mortalidade infantil era de 48,9% por 1.000 nascidos vivos, na região Sul, e de 122,5, no Nordeste. Analisando as principais causas de morte segundo grupos de causas (Tabela 2), observa-se, de início, que as causas ‘mal definidas’ − um indicador de falta de assistência médica − correspondem a 45,5% no Nordeste e apenas a 8,9% na região Sudeste. As enfermidades do aparelho circulatório, embora sejam a primeira causa de morte em ambas as regiões, corresponde a 35,7% dos óbitos com causa definida na região Sudeste e a 27,4% na região Nordeste, enquanto as enfermidades infecciosas e parasitárias correspondem a 14,3% dos óbitos, na região Nordeste, e apenas a 5,7% dos óbitos no Sudeste.

Observa-se assim, no Brasil, ao lado da polarização entre tipos de agravos á saúde (doenças crônico-dege-nerativas versus doenças infecciosas e parasitárias), um outro tipo de polarização, a geográfica, significando a existência de regiões com padrões de saúde comparáveis aos dos países desenvolvidos e regiões com índices de mortalidade comparáveis aos dos países mais pobres do hemisfério sul. Existe ainda a polarização social que se manifesta pelos desníveis nos indicadores de mortalidade e morbidade entre diferentes grupos populacionais, dentro de uma mesma região, estado ou cidade. Ela é uma expressão das desigualdades de renda, da carência, de alimentação, moradia, saneamento, educação e, também, da dificuldade de acesso aos serviços de saúde.

Vale destacar que, atualmente, o quadro epidemiológico apresentado pelo Brasil guarda grande semelhança com o observado em outros países da América Latina.4 Este quadro ao lado de causas históricas mais remotas tem, pelo menos no que diz respeito á deteriorização verificada nos últimos anos, uma nítida relação com um processo

Tabela 2 - Mortalidade proporcional (%) segundo grupos de causas nas regiões Nordeste e Sudeste do Brasil em 1986

Principais causas Nordeste Sudeste

Sinais, sintomas e afecções maldefinidas 45,5 8,9Causas definidasa 100,0 100,0

Enfermidades do aparelho circulatório 27,4 (1) 35,7 (1)Causas externas 15,7 (2) 14,0 (2)Tumores malignos 7,8 (6) 11,7 (3)Enfermidades infecciosas e parasitárias 14,3 (3) 5,7 (5)Afecções do período perinatal 9,7 (4) 6,4 (6)Outras causas 15,6 15,6

Fonte: Divisão Nacional de Epidemiologia/Secretaria de Ações Básicas de Saúde/Ministério da Saúde.

a) Os números entre parênteses indicam o número de ordem entre as seis causas principais. As porcentagens estão baseadas no total de disfunções por causas definidas.

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econômico comum a toda a América Latina na década de oitenta: a política de ajuste econômico, resultante do endividamento externo. Tal fato é destacado com clareza em recente documento da Organização Pan-Americana de Saúde,10 do qual são extraídas as seguintes citações:

A ‘crise da divida’, que causou um fluxo negativo de capitais nos países devedores, é um aspecto da crise uni-versal e profunda da economia global, que amplia seus efeitos sobre as sociedades periféricas, as quais incluem a maioria das sociedades das Américas.

“Como resultado, o conjunto do contexto econômico social e político durante o último quadriênio foi duplamente desfavorável para as condições de saúde nas Américas”.

“As taxas de crescimento econômico caíram, o desemprego aumentou e, em geral, a “qualidade de vida” foi prejudicada por aumentos nos custos de vida e pela degradação ambiental”.

“Os recursos disponíveis para a Saúde Pública diminuíram na mesma proporção que o dispêndio público total”.Essas constatações estabelecem um nexo entre as causas da chamada ‘década perdida’, no processo de de-

senvolvimento da América Latina e as causas da deterioração do quadro de saúde desses países, da qual é um exemplo a polarização epidemiológica registrada no Brasil.

Os desafios para a política de saúde

O quadro epidemiológico descrito apresenta, para os responsáveis pela formulação e pela execução política de saúde brasileira, um duplo desafio.

O primeiro desafio é o da luta em duas frentes: o Ministério da Saúde, ao tempo em que enfrenta a batalha contra a cólera, a dengue, a aids e as antigas e ainda persistentes endemias (malária, esquistossomose, doença de Chagas, hanseníase, etc.), não pode negligenciar o problema dos novos agravos, cuja incidência aumenta ano a ano e cujas taxas de mortalidade ocupam os primeiros lugares.

As doenças cardiovasculares podem ser prevenidas e isso já foi demonstrado nas três últimas décadas nos Estados Unidos e na Europa. Trata-se, aqui, de tomar medidas de promoção da saúde (combate ao fumo, estímulo ao exercício físico, restrição de sal e de gorduras saturadas na alimentação) e de medidas simples de prevenção secundária (diagnóstico precoce e tratamento da hipertensão, profilaxia da febre reumática), que podem e devem ser incorporadas na rotina da atenção primária à saúde no SUS.

No caso das neoplasias malignas, particularmente do câncer ginecológico, as medidas de prevenção são de baixo custo e facilmente incorporáveis à rotina do SUS. Já a questão das causas externas (particularmente as mortes por acidentes de trânsito e homicídios), embora o problema transcenda os limites do setor saúde, cabe aos epidemiologistas dar o alerta para a gravidade crescente da questão social.

O segundo desafio é o da equidade. Trata-se aqui tanto a equidade entre indivíduos, como entre as regiões. As disparidades dos índices de morbidade e mortalidade entre diferentes grupos sociais refletem não apenas a conhecida relação entre pobreza e doença, mas também um aspecto negativo do nosso sistema de atenção à saúde: a dificuldade de acesso a serviços eficazes de saúde por partes das camadas mais desfavorecidas da população, em flagrante desobediência ao preceito constitucional do direito à saúde.

As desigualdades regionais são uma extensão geográfica dos desníveis sociais. Aos serviços públicos, particu-larmente aos serviços de saúde, caberia, em tese, um papel redistribuidor, de corrigir ou atenuar os desníveis regionais, exatamente o contrário do que vem sucedendo no país, onde a distribuição regional dos serviços e dos recursos humanos na área de saúde é terrivelmente desigual.

Para enfrentar esses desafios é fundamental a informação epidemiológica. Sem uma vigilância epidemiológica moderna e adequada a nova dinâmica da morbidade e da mortalidade no Brasil será impossível encaminhar soluções oportunas e adequadas aos graves problemas apontados.

A informação epidemiológica é a base do planejamento de saúde. O processo decisório, a definição das priori-dades, em um contexto tão complexo quanto o da saúde no Brasil, tem que se fundamentar em dados confiáveis e atualizados não só de mortalidade, mas também de morbidade, incluindo aí atendimentos ambulatoriais, hospitali-zações e seus respectivos custos por agravos. Acredita-se que as informações oriundas do sistema de atendimento

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ambulatorial e hospitalar do SUS possam fornecer o material de que o Centro Nacional de Epidemiologia (Cenepi) necessita para prover o Ministério da Saúde com as informações epidemiológicas indispensáveis. O lançamento do Informe Epidemiológico do SUS reforça esse ponto de vista.

Permanece aberto o espaço para a comunidade acadêmica de epidemiologistas prestam a sua colaboração aprofundando a análise dos dados oferecidos pelo Cenepi e tomando iniciativa de realizar, com o apoio do Minis-tério da Saúde ou das agências de fomento á pesquisa, estudos especiais de prevalência de determinadas doenças como foi feito recentemente para o diabetes16 e para a hipertensão, que encontra-se em andamento,17 ou então estudos de fatores de risco, como a determinação do perfil lipídico da população brasileira.18

Cabe ainda à comunidade acadêmica, particularmente àqueles grupos mais interessados na Epidemiologia Social, o aprofundamento da análise das causas da polarização epidemiológica, como um reflexo nos níveis de saúde da crise econômica e social na América Latina, tal como transparece da coletânea de trabalhos organizada por Leal e colaboradores19 para a Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

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Demographic transition: the Brazilian experience

aRtigo

oRiginal Transição demográfica: a experiência brasileira

Endereço para correspondência: Universidade de Brasília Departamento de Estatística, Campus Universitário Darcy Ribeiro, Asa Norte, Brasília-DF, Brasil. CEP: 70910-000E-mail: [email protected]

Ana Maria Nogales VasconcelosDepartamento de Estatística, Universidade de Brasília, Brasília-DF, Brasil

Marília Miranda Forte GomesUniversidade Católica de Brasília, Brasília-DF, Brasil Pesquisadora colaboradora do Laboratório de População e Desenvolvimento, Núcleo de Estudos Urbanos e Regionais, Centro de Estudos Avançados Multidisciplinares, Universidade de Brasília, Brasília-DF, Brasil

ResumoObjetivo: descrever o processo de transição demográfica no Brasil e suas grandes regiões. Métodos: estudo descritivo com

dados dos Censos Demográficos de 1950 a 2010, e estimativas da dinâmica demográfica publicadas pela Fundação Instituto Bra-sileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e Rede Interagencial de Informações para a Saúde (RIPSA). Resultados: desde 1950, as quedas dos níveis de mortalidade, natalidade e fecundidade caracterizaram o processo de transição demográfica brasileiro; a estrutura etária iniciou seu processo de envelhecimento; essas mudanças não ocorreram simultânea, nem homogeneamente, nas grandes Regiões brasileiras; enquanto Sudeste, Sul e Centro-Oeste se encontram mais adiantadas nesse processo, Norte e Nordeste permanecem com níveis de mortalidade e fecundidade mais elevados e estruturas etárias menos envelhecidas. Conclusão: ainda que os níveis de fecundidade tenham declinado abaixo do nível de reposição na maior parte do país, todavia não se alcançou o equilíbrio demográfico, com baixos níveis de mortalidade e natalidade.

Palavras-chave: Taxa de Fecundidade; Mortalidade; Envelhecimento da População; Transição Demográfica; Demografia.

AbstractObjective: to describe the process of demographic transition in Brazil and its regions. Methods: descriptive study with

demographic Census data from 1950 to 2010, and estimates of demographic dynamics published by Brazilian Institute of Geography and Statistics and Interagency Health Information Network. Results: since 1950, the process of demographic transition in Brazil has been characterized by the drop of mortality, birth and fecundity rates. The age structure started its ageing process. These changes have not simultaneously nor evenly occurred in Brazilian regions. While Southeast, South and Midwest are more advanced in the process of transition, North and Northeast still present mortality and fecundity rates more elevated, and age structures less aged. Conclusion: even though the fecundity levels had declined below reposition level in most parts of Brazil, the demographic balance with low mortality and birth rates has not been achieved yet.

Key words: Fecundity Rate; Mortality; Demographic Aging; Demographic Transition; Demography.

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Introdução

Proposta nas primeiras décadas do século XX,1,2 a teoria da transição demográfica foi formulada à luz da relação entre o crescimento populacional e o desenvolvimento socioeconômico. Segundo essa teoria, o desenvolvimento econômico e o proces-so de modernização das sociedades estariam na origem das mudanças nas taxas de natalidade e de mortalidade verificadas em países europeus, com consequentes mudanças nos ritmos de crescimento populacional.

A passagem de uma sociedade rural e tradicional com altas taxas de natalidade e mortalidade para uma sociedade urbana e moderna com baixas taxas de natalidade e mortalidade constituiria o esquema da transição. Durante essa passagem, as sociedades vivenciariam fases de desequilibrio demográfico, com um descompasso entre as taxas de mortalidade e de natalidade. A redução precoce das taxas de morta-lidade vis-à-vis às de natalidade promoveria ritmos acelerados de crescimento populacional. O equilíbrio seria retomado com a redução, em momento posterior, das taxas de natalidade e, consequentemente, redução do ritmo de crescimento da população.3,4

O debate sobre se o modelo teórico proposto poderia ser aplicado a todas as sociedades, ou seja, se o processo experimentado pelos países europeus repetir-se-ía em outros países e diferentes níveis de desenvolvimento socioeconômico foi intenso em meados do século XX. A tese de que o desenvolvi-mento econômico seria condição necessária para a redução das taxas de mortalidade e de natalidade nos diferentes países foi questionada e rejeitada. Ao longo do século passado, as diferentes experiências de evolução da natalidade e mortalidade evidenciaram que a transição demográfica não ocorre da mesma forma entre as diversas sociedades. As mudanças nas taxas de mortalidade e de natalidade têm múltiplos fatores explicativos, o tempo de transição entre os

dois momentos de equilíbrio demográfico pode variar entre mais de um século e apenas algumas décadas, e ademais, diferentes fases da transição podem ser observadas simultaneamente em uma mesma sociedade.4,5

Além da questão teórica sobre a relação entre desenvolvimento e crescimento populacional, a passagem de elevadas para reduzidas taxas de nata-lidade e mortalidade trouxe ao debate da transição demográfica as importantes mudanças nas estruturas populacionais. No período pré-transição, quando as sociedades experimentam taxas de natalidade eleva-das e quase estáveis e taxas de mortalidade elevadas e flutuantes, o crescimento vegetativo da população é baixo e sua estrutura etária é jovem. Na primeira fase da transição, os níveis de mortalidade caem e os de natalidade mantêm-se elevados; como consequência, o ritmo de crescimento é acelerado e a estrutura etária da população torna-se ainda mais jovem. Na segunda fase da transição, inicia-se a redução dos níveis de natalidade e persiste a queda dos níveis de mortalidade. As taxas de crescimento da população diminuem, e a estrutura etária começa sua grande transformação: inicia-se o processo de envelhecimen-to. Observa-se nesta fase, um aumento substantivo da população em idade ativa, reflexo dos níveis de natalidade elevados do passado. Por fim, os baixos níveis de natalidade e mortalidade aproximam-se e observa-se uma estagnação das taxas de crescimento. Diminui o peso da população em idade ativa e nota-se um envelhecimento significativo da estrutura etária.4-6

O presente estudo tem como objetivo descrever o processo de transição demográfica no Brasil e suas macrorregiões, mostrando a evolução das taxas de mortalidade, natalidade e fecundidade no período de 1950 a 2010.

Métodos

Trata-se de um estudo descritivo sobre a evolução da natalidade, fecundidade e mortalidade no Brasil e seus impactos na estrutura etária, o que caracteriza o processo de transição demográfica.

Foram utilizados dados populacionais oriundos dos Censos Demográficos brasileiros de 1950 a 2010, levantados pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), segundo sexo e idade no Brasil (disponível em www.ibge.gov.br); e

Transição demográfica: a experiência brasileira

A passagem de elevadas para reduzidas taxas de natalidade e mortalidade trouxe ao debate da transição demográfica as importantes mudanças nas estruturas populacionais.

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dados colhidos pelos Censos de 1970 a 2010, para as grandes Regiões.

Com o propósito de caracterizar os diferentes momentos da transição demográfica, foram consi-derados os seguintes indicadores de estrutura etária, natalidade, fecundidade e mortalidade:- Idade mediana- Distribuição relativa da população, segundo três

grupos etários: menor de 15 anos, 15 a 59 e 60 e mais anos.

- Índice de envelhecimento: número de pessoas de 60 e mais anos de idade, para cada 100 pessoas menores de 15 anos.

- Razão de Dependência (RD): razão entre o seg-mento etário da população definido como econo-micamente dependente (menores de 15 e pessoas de 60 e mais anos de idade) e o segmento etário potencialmente produtivo (entre 15 e 59 anos de idade).

- Taxa de Fecundidade Total (TFT): número médio de filhos nascidos vivos, tidos por uma mulher ao final do seu período reprodutivo.

- Taxa de Mortalidade Infantil (TMI): número de óbitos de menores de um ano de idade, por 1000 nascidos vivos.

- Esperança de vida ao nascer (e0): número médio de anos de vida esperados para um recém-nascido, mantido o padrão de mortalidade existente na po-pulação analisada em determinado ano. (trata-se de um indicador sintético da mortalidade que não é influenciado pelos efeitos de distintas estruturas etárias)

- Taxa Bruta de Natalidade (TBN): número de nasci-dos vivos, por mil habitantes.

- Taxa Bruta de Mortalidade (TBM): número total de óbitos, por mil habitantes.

- Taxa de crescimento anual: percentual de incre-mento médio anual da população no período considerado.Os indicadores de estrutura etária e as taxas mé-

dias de crescimento anual foram calculados a partir dos dados censitários. Os indicadores de natalidade, fecundidade e mortalidade foram extraídos de publi-cações do IBGE e da publicação ‘Indicadores e Dados Básicos – IDB’, produzida pela Rede Interagencial de Informações para a Saúde – RIPSA.

O presente estudo foi realizado exclusivamente com dados secundários, de acesso público, sem

identificação dos sujeitos, estando de acordo com as condutas éticas na pesquisa envolvendo seres humanos (Resolução CNS no 196, de 10 de outubro de1996, do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde).

Resultados

A partir da segunda metade do século XX, a po-pulação brasileira sofreu diversas transformações. As primeiras mudanças referem-se ao descenso dos níveis de mortalidade, com a queda das taxas de mortalidade infantil e o aumento da esperança de vida ao nascer (Tabela 1). Nas décadas de 1950 e 1960, o descenso da mortalidade combinado com a manutenção de níveis elevados de natalidade e de fecundidade, acima de 40 nascimentos por mil habitantes e mais de 6 filhos por mulher ao final da vida reprodutiva, resultaram nas taxas de crescimento populacional mais elevadas na história do país: 3,1 e 2,9% ao ano, respectivamente.

Nesta primeira fase da transição demográfica, observou-se pouco impacto na estrutura etária: a população era muito jovem, com idade mediana de apenas 18 anos. A razão de dependência era elevada, sendo que em 1960 ela alcançou seu valor máximo (90,0%). O peso da dependência era sobretudo juvenil (81,0%) e a proporção de idosos (pessoas com 60 anos ou mais) ainda era muito pequena (4,0 a 5,0%).

A segunda fase da transição demográfica iniciou-se timidamente, em meados da década de 1960, e em 1970 os indicadores de natalidade e fecundidade de-tectaram essas mudanças, ainda que os níveis fossem muito elevados: 37,7 nascimentos por mil habitantes e 5,8 filhos por mulher (Tabela 1). Os níveis de mortalidade continuaram em queda e observou-se o início do processo de envelhecimento populacional: a idade mediana aumentou para 19 anos, a razão de dependência iniciou sua trajetória de descenso, com menor peso do componente juvenil, e a proporção de idosos superou 5,0%.

É a partir de 1970 que o Brasil experimenta uma verdadeira revolução demográfica. Os indicadores de natalidade, fecundidade e mortalidade para 1980 reve-laram essas grandes mudanças: todos eles tiveram seus níveis drasticamente reduzidos. A taxa de mortalidade infantil declinou para 83 óbitos por cada 1000 nasci-

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dos vivos e a esperança de vida ultrapassou o limite de 60 anos de idade. O número de filhos por mulher reduziu-se para 4,4 e a taxa bruta de natalidade para 31,7 nascidos vivos por mil habitantes.

Em 1980, o número de habitantes alcançou os 120 milhões. Em 30 anos, a população mais que dobrou de tamanho; porém, a taxa de crescimento anual começou a reduzir (2,5% entre 1970 e 1980). A estrutura etária da população foi impactada por essas mudanças nas taxas de natalidade, fecundidade e mortalidade: a idade mediana se elevou a 20 anos, a razão de dependência reduziu-se para 79,5%, sendo que o peso do compo-nente juvenil caiu para 68,6%, e a proporção de idosos aumentou para 6,1%.

Na década de 1980, as tendências de queda da natalidade e da mortalidade foram ainda mais acentu-adas que na década anterior. Em 1991, a taxa bruta de natalidade caiu para apenas 23,7 nascimentos por mil habitantes e o número médio de filhos por mulher para

2,9. Nesse período, a queda da taxa de mortalidade infantil foi ainda mais importante: caiu praticamente pela metade, para 45,2 óbitos de menores de um ano por cada 1000 nascidos vivos. A esperança de vida ao nascer do brasileiro aumentou ainda mais, alcançando 65,8 anos.

Em 1991, mais uma vez, a população brasileira dobrou de tamanho em apenas 30 anos, chegando a 147 milhões de habitantes. O ritmo de crescimento na década, no entanto, foi muito menor que no passado: 1,9% entre 1980 e 1991.

Confirmando as tendências da mortalidade e sobretudo da natalidade observadas na década an-terior, a estrutura etária continuou seu processo de envelhecimento, conforme mostrou o Censo de 1991: a idade mediana aumentou para 22 anos, a razão de dependência caiu para 72,5% e o índice de envelhe-cimento alcançou 20,9%, duas vezes maior do que o valor observado em 1950.

Tabela 1 - Indicadores de estrutura etária, fecundidade e mortalidade. Brasil, 1950 a 2010

Indicador 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010

População 51.941.767 70.070.457 93.139.067 119.002.706 146.825.475 169.799.170 190.755.799

Idade mediana 18 18 19 20 22 25 27

<15 41,8% 42,6% 41,7% 38,2% 34,8% 29,6% 24,1%

15-59 53,9% 52,6% 53,1% 55,7% 58,0% 61,8% 65,1%

60+ 4,3% 4,8% 5,2% 6,1% 7,3% 8,6% 10,8%

Índice de envelhecimento 10,3% 11,2% 12,4% 15,9% 20,9% 28,9% 44,8%

Razão de Dependência (RD) 85,5% 90,0% 88,3% 79,5% 72,5% 61,7% 53,6%

RDJovem

77,6% 81,0% 78,6% 68,6% 60,0% 47,9% 37,0%

RDidosos

8,0% 9,0% 9,7% 10,9% 12,5% 13,8% 16,6%

TFT 6,2 6,3 5,8 4,4 2,9 2,4 1,9

TBN 43,5 44,0 37,7 31,8 23,7 21,1 16,0

TBM 19,7 15,0 9,4 8,9 7,3 6,9 6,1

TMI 135,0 124,0 115,0 82,8 45,2 27,4 16,2

e0

45,5 51,6 53,5 62,8 65,8 70,4 73,5

1950-1960 1960-1970 1970-1980 1980-1991 1991-2000 2000-2010

Taxa de crescimento anual (%) 3,0 2,9 2,5 1,9 1,6 1,2

Fonte:

Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE –, Censos Demográficos de 1950 a 2010.

Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE –, Séries Estudos e Pesquisas, Evolução e Perspectivas da Mortalidade Infantil no Brasil, 1999.

Rede Interagencial de Informações para a Saúde – RIPSA –, http://www.datasus.gov.br

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Nas duas décadas seguintes, entre 1991 e 2010, os níveis de mortalidade e natalidade reduziram-se ainda mais. A taxa de mortalidade infantil caiu para 16,2 óbitos de menores de um ano por 1000 nascidos vivos e a esperança de vida ao nascer ultrapassou 70 anos, chegando a 73,5 anos em 2010. A taxa bruta de natalidade caiu para 16 nascimentos por mil habitantes e a taxa de fecundidade total para apenas 1,9 filho por mulher, valor abaixo do nível de reposição de 2,1.

Como consequência da desaceleração do ritmo de crescimento demográfico (de 2,5% entre 1970 e 1980 para 1,2% entre 2000 e 2010), o tempo para a duplicação do tamanho da população aumentou para 40 anos: 190 milhões em 2010 representam pouco mais que o dobro da população em 1970.

Todas essas mudanças foram refletidas na estrutura etária da população, que envelheceu ainda mais. Em 2010, a idade mediana aumentou para 27 anos, apenas 1 em cada 4 habitantes tinham idade inferior a 15 anos e 10,8% tinham 60 anos ou mais de idade. O índice de envelhecimento aumentou para 44,8%: para cada 100 jovens, havia 45 idosos. A razão de dependência caiu para 53,6%, o componente juvenil caiu para apenas 37,0% e o de idosos aumentou para 16,6%.

As pirâmides etárias representadas na Figura 1 descrevem e resumem o processo de transição

demográfica no Brasil entre 1950 e 2010. De uma estrutura etária extremamente jovem em 1950 e 1960, a população brasileira iniciou seu processo de envelhecimento com o estreitamento na base da pirâmide em 1970. As sucessivas quedas da natalida-de fizeram com que a base da pirâmide se estreitasse cada vez mais e a estrutura piramidal se aproximasse de um perfil retangular, com o aumento relativo da população em idades ativas (15 a 59 anos) e idosos (60 e mais anos), em 2010.

As transformações na população brasileira não ocorreram simultaneamente em todas as Regiões do país. Os indicadores de mortalidade e fecundidade entre 1970 e 2010 mostraram as diferenças regionais desse processo (Tabela 2).

Em 1970, os indicadores de mortalidade e nata-lidade para as regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste evidenciavam um processo de transição demográfica já iniciado, enquanto nas regiões Norte e Nordes-te, os elevados níveis de mortalidade infantil e de número médio de filhos por mulher (8,15 e 7,53, respectivamente) caracterizavam um momento de pré-transição.

Na década de 1970, todas as Regiões encontravam-se em processo de transição. A queda dos níveis de mortalidade, especialmente da mortalidade infantil,

80

70

60

50

40

30

20

10

010% 8% 6% 4% 2% 0% 2% 4% 6% 8% 10%

1950

1960

1970

1980

1991

2000

2010

Fonte: IBGE – Censos Demográficos de 1950 a 2010.

Figura 1 - Pirâmide etária. Brasil, 1950 a 2010

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Tabela 2 - Indicadores de estrutura etária, fecundidade e mortalidade nas grandes regiões. Brasil, 1970 a 2010

Região Indicador 1970 1980 1991 2000 2010Norte População 4.188.313 5.842.980 10.032.583 12.898.444 15.864.451

Idade mediana 16 16 18 20 22 <15 47% 46% 43% 37% 31% 15-59 49% 50% 53% 57% 61% 60+ 4% 4% 5% 5% 8% Índice de envelhecimento 8,2% 8,9% 10,7% 14,6% 24,6% Razão de Dependência (RD) 102,2% 100,8% 89,5% 74,8% 62,8% RD

Jovem94,5% 92,6% 80,9% 65,3% 50,4%

RDidosos

7,7% 8,2% 8,7% 9,5% 12,4% TFT 8,15 6,40 3,99 3,16 2,47 TMI 104,30 79,40 44,60 33,20 21,80 e

0 54,06 60,75 66,92 69,53 72,43

Nordeste População 28.675.110 34.714.790 42.463.868 47.771.652 53.081.950Idade mediana 17 17 19 22 27

<15 45% 43% 39% 33% 27% 15-60 50% 50% 53% 59% 63% 60+ 5% 6% 7% 8% 10% Índice de envelhecimento 11,5% 14,7% 18,4% 25,4% 38,6% Razão de dependência (RD) 99,5% 98,8% 87,4% 70,6% 58,4% RD

Jovem89,2% 86,2% 73,9% 56,3% 42,1%

RDidosos

10,3% 12,6% 13,6% 14,3% 16,3% TFT 7,53 6,20 3,38 2,69 2,06 TMI 146,40 117,60 74,30 38,40 20,10 e

0 44,38 58,25 62,83 67,15 70,76

Sudeste População 40.331.969 51.680.210 62.733.864 72.436.207 80.364.413Idade mediana 20 22 25 27 32

<15 38% 34% 31% 27% 22% 15-60 56% 59% 61% 64% 66% 60+ 6% 6% 8% 9% 12% Índice de envelhecimento 14,8% 18,8% 25,3% 34,9% 54,6% Razão de dependência (RD) 78,9% 68,4% 64,4% 56,2% 50,6% RD

Jovem68,7% 57,6% 51,4% 41,7% 32,7%

RDidosos

10,2% 10,8% 13,0% 14,5% 17,8% TFT 4,56 3,50 2,28 2,10 1,70 TMI 96,20 57,00 33,60 19,60 13,10 e

0 56,89 64,82 68,83 71,99 74,88

Sul População 16.683.551 19.008.395 22.146.278 25.106.349 27.386.890Idade mediana 18 20 24 27 32<15 43% 36% 32% 27% 22%15-60 53% 58% 60% 63% 66%60+ 5% 6% 8% 9% 12%Índice de envelhecimento 11,1% 16,6% 24,0% 33,5% 55,0%Razão de dependência (RD) 89,8% 72,9% 65,6% 58,0% 51,2%

RDJovem

80,8% 62,5% 52,9% 43,4% 33,0%RD

idosos9,0% 10,4% 12,7% 14,5% 18,2%

TFT 5,42 3,60 2,45 2,24 1,78TMI 81,90 58,90 27,40 16,90 11,30e

0 60,26 66,01 70,40 72,74 75,47

Centro-Oeste População 4.629.640 7.549.370 9.446.291 11.637.831 14.058.095Idade mediana 17 18 21 24 27

<15 45% 41% 35% 30% 24% 15-60 52% 55% 60% 63% 67% 60+ 3% 4% 5% 7% 9% Índice de envelhecimento 7,7% 10,2% 14,4% 22,1% 36,0% Razão de dependência (RD) 93,1% 82,6% 67,8% 57,6% 49,9% RD

Jovem86,4% 75,0% 59,2% 47,1% 36,7%

RDidosos

6,7% 7,6% 8,5% 10,4% 13,2% TFT 6,42 4,50 2,60 2,25 1,92 TMI 89,70 69,60 31,20 21,80 15,90 e

0 55,96 62,85 68,55 71,75 74,51

Fonte:Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE –, Censos Demográficos de 1970 a 2010. Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE –, Séries Estudos e Pesquisas, Evolução e Perspectivas da Mortalidade Infantil no Brasil, 1999.Rede Interagencial de Informações para a Saúde – RIPSA –, http://www.datasus.gov.br

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e o consequente aumento da esperança de vida eram generalizados. Todas as Regiões, à exceção do Nordeste, alcançavam ou superavam os 60 anos de vida média, que apenas a região Sul havia atingido na década anterior. Observa-se também a queda nos níveis de fecundidade, persistindo, no entanto, as grandes diferenças regionais. No Norte e Nordeste, apesar da queda, os níveis de fecundidade, superiores a 6 filhos por mulher, ainda eram bastante elevados. Já no Sudeste e Sul, os níveis de fecundidade em patamares

intermediários (em torno de 3,5 filhos por mulher) impactavam fortemente a estrutura etária da população (Figura 2).

Entre 1980 e 2010, as quedas dos níveis de mor-talidade e fecundidade foram acentuadas, em todas a Regiões. Nas regiões Norte, Sul e Centro-Oeste, a queda da taxa de mortalidade infantil foi mais expressiva entre os anos de 1980 e 1991, enquanto no Sudeste, a queda foi igualmente importante em todo o período de 1980 a 2000. Já o Nordeste teve a maior redução entre os anos

Fonte: IBGE – Censos Demográficos de 1950 a 2010.

80

10%

Região Norte1970

1980

1991

2000

2010

70

60

50

40

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20

10

08% 6% 4% 2% 0% 2% 4% 6% 8% 10%

80

10%

Região Nordeste1970

1980

1991

2000

2010

70

60

50

40

30

20

10

08% 6% 4% 2% 0% 2% 4% 6% 8% 10%

80

10%

Região Sudeste1970

1980

1991

2000

2010

70

60

50

40

30

20

10

08% 6% 4% 2% 0% 2% 4% 6% 8% 10%

80

10%

Região Sul1970

1980

1991

2000

2010

70

60

50

40

30

20

10

08% 6% 4% 2% 0% 2% 4% 6% 8% 10%

80

10%

Região Centro-Oeste1970

1980

1991

2000

2010

70

60

50

40

30

20

10

08% 6% 4% 2% 0% 2% 4% 6% 8% 10%

Figura 2 - Pirâmides etárias das grandes regiões. Brasil, 1970 a 2010

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de 1991 e 2010 (Tabela 2). Ainda que tenham sido observados ritmos diferenciados de queda da taxa de mortalidade infantil nas diferentes regiões, a redução nesse indicador foi espetacular em todas elas: mais de 70,0% de queda, entre 1980 e 2010.

O aumento da esperança de vida também pôde ser observado em todas as regiões, com valores maiores que 70 anos em 2010.

Paralelamente à redução dos níveis de mortalidade, verificou-se uma drástica queda dos níveis de fecun-didade. Em 2000, somente a região Norte apresentava número médio de filhos por mulher superior a 3,0; em 2010, todas as demais regiões viram seus níveis de fecundidade reduzidos abaixo do nível de reposição de 2,1 filhos por mulher.

As pirâmides etárias e os indicadores de estrutura etária mostram os diferentes momentos da transição demográfica nas regiões brasileiras (Figura 2 e Tabela 2). As regiões Sudeste e Sul iniciaram esse processo de transição, que se espalhou por todas as regiões do país, apresentando em 2010, estruturas etárias envelheci-das ou em processo acelerado de envelhecimento. As diferenças regionais são ainda relevantes e devem ser destacadas: (i) dez anos de diferença entre idades me-dianas separam as regiões Sudeste e Sul, as populações mais envelhecidas, da região Norte, esta de população mais jovem (22 anos de idade mediana); (ii) a razão de dependência alcança valores mínimos, em torno de 50,0%, nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste; (iii) o componente juvenil dessa razão é superior a 40,0% nas regiões Norte e Nordeste, e em torno de 33,0% nas regiões Sudeste e Sul; (iv) o índice de envelhecimento é superior a 50,0% nas regiões Sul e Sudeste, o dobro do índice para a região Norte.

Discussão

A evolução das taxas de mortalidade, natalidade e fecundidade a partir de 1950 caracteriza o processo de transição demográfica no Brasil. De uma população predominante jovem em um passado nem tão distante, observa-se, nos dias atuais, um contingente, cada vez mais importante, de pessoas com 60 anos ou mais de idade.7

Ainda que o presente estudo tenha encontrado li-mitações inerentes à utilização dos dados secundários provenientes dos Censos Demográficos realizados pelo IBGE, os erros decorrentes da declaração de

idade e as diferenças de cobertura dos levantamentos censitários não afetaram os resultados apresentados quanto à mudança do perfil etário da população brasileira.

Pode-se concluir, portanto, que o país teve seu perfil demográfico totalmente transformado: de uma sociedade majoritariamente rural e tradicional, com famílias numerosas e risco de morte na infância ele-vado, passa-se a uma sociedade predominantemente urbana, com arranjos familiares diversos4,8,9 (famílias com filhos, sem filhos, unipessoais, homoafetivas, entre outras categorias) e risco de morte na infância reduzido.

Nesse processo de transição, destacam-se a redução da mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias e o aumento da importância de doenças crônico-degenerativas, muitas delas tendo como fatores de risco aqueles associados às condições de vida em grandes áreas urbanas, como sedentarismo e estresse.10 Maior acesso da população a redes ge-rais de água e esgotamento sanitário, maior acesso à atenção à saúde, campanhas de vacinação, entre outras ações da Saúde Pública, contribuíram deci-sivamente na redução dos níveis de mortalidade no país e, consequentemente, no aumento da esperança de vida da população brasileira.

No que se refere à fecundidade, a escolarização das mulheres e a inserção no mercado de trabalho, especialmente na área urbana, são fatores associados a sua rápida redução.9

Se por um lado, para o conjunto do Brasil, as transições de mortalidade e fecundidade já estão bem adiantadas, por outro, as regiões brasileiras vivem momentos diferentes dessas transições. As variações nas tendências de crescimento dos segmentos da população jovem, adulta e idosa, em resposta aos diferentes níveis e ritmos de queda dos indicadores de mortalidade e fecundidade, corroboram que a transição demográfica não têm ocorrido de maneira simultânea, tampouco homogênea, ao longo do terri-tório brasileiro.11

As diferenças sociais e econômicas entre as ma-crorregiões brasileiras, intrinsecamente vinculadas ao processo histórico de desenvolvimento, indus-trialização e urbanização de cada região, explicam essas variações.

Tendo em vista essa grande variabilidade de situa-ções, pode-se afirmar que o país todavia não alcançou

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Ana Maria Nogales Vasconcelos e Marília Miranda Forte Gomes

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O momento atual da transição demográfica propor-ciona ao país condições muito favoráveis. É o chamado ‘bônus demográfico’.15 Esse momento especial, que toda sociedade experimentou, experimenta ou deverá

experimentar, caracteriza-se pela redução da razão de dependência e sua relação com a proporção de população em idade ativa (15 a 59 anos).

O impacto da redução do componente juvenil da razão de dependência ainda não foi superado pelo aumento do componente idoso. O país encontra-se em transição, em rápido processo de envelhecimento, e novos desafios se apresentam, como ampliar e apri-morar a atenção à saúde dos idosos. É fundamental que na elaboração de políticas públicas para as áreas sociais – especialmente para a área da Saúde –, seja levado em consideração o processo de transição demográfica no país com suas diferenças regionais.

Contribuição das autoras

Ambas as autoras participaram da concepção, análise dos dados, redação do manuscrito e discussão dos resultados.

Também realizaram a revisão critica do conteúdo intelectual do artigo e aprovaram a versão final.

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Transição demográfica: a experiência brasileira

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Recebido em 18/07/2012 Aprovado em 13/12/2012

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Mortality from cervical cancer in the State of Minas Gerais, Brazil, 2004-2006: analysis of magnitude and regional differences of corrected cause-specific deaths

aRtigo

oRiginal Mortalidade por câncer de colo do útero no Estado de Minas Gerais, Brasil, 2004-2006: análise da magnitude e diferenciais regionais de óbitos corrigidos

Endereço para correspondência: Av. Alfredo Balena, 190, 10° andar, Santa Efigênia, Belo Horizonte-MG, Brasil. CEP: 30130-100E-mail: : [email protected]

Renato Azeredo TeixeiraPrograma de Avaliação e Vigilância do Câncer e seus fatores de riscos, Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil

Joaquim Gonçalves ValenteInstituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro-RJ, Brasil

Elisabeth Barboza FrançaPrograma de Pós-Graduação em Saúde Pública e Grupo de Pesquisas em Epidemiologia e Avaliação em Saúde, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil

ResumoObjetivo: comparar taxas de mortalidade por câncer do colo do útero (CCU) nas macrorregiões de saúde do estado de Mi-

nas Gerais, Brasil, em 2004-2006, antes e após correção dos dados brutos. Métodos: correção dos dados brutos do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) considerando-se sub-registro estimado, causas inespecíficas dos cânceres, cânceres dos órgãos genitais femininos ou de porção não especificada do útero, além das causas mal definidas; utilizou-se a variação percentual relativa (VPR) para quantificar a diferença entre a taxa bruta de mortalidade e a taxa com os dados corrigidos, e, como indicador socioeconômico, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Resultados: verificou-se correção diferenciada no estado, sendo que macrorregiões com menor IDH apresentaram as maiores correções; a macrorregião Nordeste apresentou maior VPR, de 232%. Conclusão: a magnitude da mortalidade corrigida por CCU em Minas Gerais apresentou valores maiores do que a observada com uso dos dados do SIM sem correção.

Palavras-chave: Neoplasias do Colo do Útero; Mortalidade; Sistemas de Informação; Sub-registro.

AbstractObjective: to compare mortality rates by cervical cancer (CC) in the health administrative macro-regions of the state

of Minas Gerais, Brazil, in 2004-2006, before and after correction of mortality data. Methods: correction of raw data from the Brazilian Mortality Information System (MIS) considering estimated under-reporting of deaths, unspecified causes of cancer-related deaths, cancers on female genitalia or unspecified portions of the uterus, and ill-defined causes; relative percentage variation (RPV) was used to quantify the difference between cervical mortality rates before and after correction, and as socioeconomic indicator, the Human Development Index (HDI). Results: the differences varied through the State, showing the widest corrections related to the regions with the least HDI; Northeastern macro-region presented the highest RPV (232%). Conclusion: corrected cause-specific mortality rates due to CC-related mortality in Minas Gerais were higher than the crude rates observed in MIS data.

Key words: Uterine Cervical Neoplasms; Mortality; Information Systems; Underregistration.

doi: 10.5123/S1679-49742012000400004

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Câncer do colo do útero em Minas Gerais

Introdução

O câncer do colo do útero (CCU) é uma doença de grande relevância mundial e chega a ser o câncer mais incidente em mulheres da África, Ásia e América Central. Nestas regiões, as taxas de incidência são superiores a 30 por 100 mil mulheres, o que resulta em aproximadamente 500 mil casos novos por ano no mundo. Esse tipo de câncer, que representa 12,0% dos tumores femininos, foi responsável por mais de 200 mil mortes no mundo, apenas em 2010.1-3 A maioria dessas mortes ocorreu nos países em desenvolvimento, onde os casos foram diagnosticados em fase avançada da doença, ou como doença metastática.4,5

Para o ano de 2012, estima-se que ocorram 17.540 casos novos de CCU no Brasil, correspondendo a uma taxa de 17 casos por 100 mil mulheres.6 O CCU representa o segundo tumor mais frequente entre brasileiras, à exceção dos tumores na pele não mela-noma, e chega a ser primeiro na região Norte (taxa de incidência de 24/100 mil mulheres). No ano de 2009, 5.063 mulheres morreram por CCU no país, o que representou uma taxa bruta de mortalidade de 5,2 por 100 mil mulheres.7 Para o estado de Minas Gerais, estima-se que sejam 1.360 casos novos de CCU em 2012, o que corresponde a 4,9% dos casos de câncer em mulheres.6

Sabe-se que as atuais taxas de neoplasias podem ser reduzidas em até 40,0% com a mudança de com-portamentos relacionados à saúde e fatores de risco, como cessação do consumo de tabaco, melhoria da dieta, atividade física regular, redução do consumo de álcool, proteção contra agentes cancerígenos no local de trabalho, além da imunização contra o vírus da hepatite B e, sobremaneira, do controle do vírus do HPV.8 A ocorrência do CCU tem sido relacionada principalmente à infecção persistente por tipos onco-gênicos do papilomavírus humano (HPV). A Agency for Research on Cancer (IARC) reconhece 13 tipos de vírus cancerígenos do HPV, sendo os mais comuns o HPV 16 e o HPV 18. Esses dois tipos são encontrados em 70,0% dos casos de câncer relatados.5 Atualmente, os programas de rastreamento são a abordagem mais eficaz para o controle do CCU. Independentemente do nível inicial de incidência da doença, os países que implantaram programas de rastreamento reduziram os casos novos para taxas mais baixas, de cerca de 10 casos por 100 mil mulheres/ano.9

Para a análise e monitoramento da situação das neoplasias e avaliação dos programas implantados, os dados de mortalidade são comumente utilizados. Isso acontece pela alta letalidade da maioria das afecções que compõem esse grupo de doenças e pela carência de informações relativas à morbidade.10 Apesar de os registros de câncer fazerem parte de um sistema de informações com cobertura e validade que vêm melho-rando progressivamente no país, ainda não apresentam um fluxo tão bem estruturado como o do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), que já se en-contra mais consolidado e tem cobertura universal.11

Por outro lado, um importante problema no Brasil são os óbitos não registrados, que não entram na composição das taxas brutas de mortalidade. Apesar do desenvolvimento de procedimentos que permitem a estimação da cobertura dos óbitos, há poucas pes-quisas brasileiras nessa direção. Dimensionar esses óbitos significa medir o sub-registro, regionalmente diferenciado por sexo e idade,12,13 e requer procedi-mentos analíticos com metodologias variadas e muitas vezes complexas.14

Além disso, a heterogênea qualidade das decla-rações de óbito (DO) – a fonte do SIM –, com altas proporções de causas mal definidas registradas em alguns locais, pode comprometer a consistência e o uso adequado dos dados de mortalidade no país. Estados das regiões Norte e Nordeste apresentam níveis altos de sub-registros de óbitos e proporções mais elevadas de causas mal definidas, que diminuem a acurácia da distribuição da mortalidade por causas, sendo exatamente nessas regiões onde os indicadores de desenvolvimento são os mais precários no Brasil.12 No caso do CCU, óbitos codificados como de câncer da porção não especificada do útero devem ser ana-lisados, visto que uma grande parte dos óbitos assim classificados pode ter como sítio de origem o colo do útero. Em estudo realizado na cidade do Recife-PE, a investigação das DO por meio de prontuários médicos de pacientes encontrou aproximadamente metade dos casos de CCU que haviam sido classifica-

O câncer de colo do útero representa o segundo tumor mais frequente entrebrasileiras.

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dos como câncer do útero, como câncer em porção não especificada.15 Dessa forma, as taxas brutas de mortalidade por CCU, calculadas sobre dados oficiais, podem estar subestimadas, e a mortalidade real, ser maior do que a observada sobre os dados do SIM. Estudo feito com a correção da mortalidade por CCU observou que o maior acréscimo nos óbitos aconteceu na etapa de redistribuição dos óbitos por câncer do útero sem especificação de localização, resultando em um acréscimo de aproximadamente 55,0% nas taxas de mortalidade para o Brasil.16

A extensa área geográfica e a numerosa variedade cultural, socioeconômica, de estrutura e de acesso aos serviços de saúde faz de Minas Gerais um estado com grandes diferenciais, o que leva à necessidade de uma avaliação regionalizada da situação epidemiológica do CCU. No ano de 2009, a taxa de mortalidade bruta em Minas Gerais foi de 3,7 óbitos por 100 mil mulheres, enquanto, para o mesmo ano, essa taxa no estado de São Paulo foi de 3,8 óbitos por 100 mil mulheres. Apesar de os dois estados apresentarem taxas de mortalidade para o CCU com valores próximos, os indi-cadores de qualidade dos dados do SIM, como a razão entre óbitos informados e estimados e a proporção de causas mal definidas de óbitos, apresentaram valores mais adequados em São Paulo.7 Assim, as mulheres de Minas Gerais podem estar apresentando valor da taxa de mortalidade para o CCU mais subestimada que as de São Paulo.

Não obstante tratar-se de uma neoplasia cujos pro-gramas de rastreamento resultam em uma melhoria na assistência e controle, esses números dimensionam bem a gravidade do problema entre as mulheres mi-neiras. Entretanto, estudos com dados de mortalidade corrigidos são escassos e, para Minas Gerais, até o presente momento, apenas um estudo foi encontrado: um relatório de pesquisa no âmbito estadual.17

Este estudo objetivou estimar a mortalidade por câncer do colo do útero no estado de Minas Gerais e suas macrorregiões de saúde, no período de 2004 a 2006, levando-se em consideração, nesta análise, pro-blemas de qualidade dos dados como o sub-registro de óbitos e as causas mal definidas.

Métodos

As informações sobre óbitos por CCU foram coletadas do Sistema de Informações sobre Mortali-

dade (SIM) para os residentes em Minas Gerais, no período de 2004 a 2006, discriminadas segundo as 13 macrorregiões de saúde do estado definidas pelo Plano Diretor de Regionalização de Minas Gerais (PDR-MG).18 Realizou-se correção dos dados brutos, levando-se em consideração o sub-registro e as causas mal definidas, segundo as macrorregiões de saúde do estado, ano de ocorrência, sexo e grupo etário, conforme descrito a seguir.

Primeiramente, para a correção da sub-notificação, foram utilizados os fatores de correção (FC) definidos pelo Projeto Carga Global de Doença no estado de Minas Gerais em 2005.17 Este estudo corrigiu, por técnicas demográficas indiretas, separadamente, os óbitos dos menores de um ano de idade e aqueles com um ano de idade ou mais. Para os menores de um ano, foi utilizada metodologia que envolve a estimativa do número de nascimentos e da taxa de mortalidade infantil. Os óbitos de um ano ou mais obtiveram grau de cobertura estimado pelos seguintes métodos demo-gráficos: equação de balanço original; e equação de balanço geral. A equação de balanço mostra que, em uma população estável, a equação de balanço do cres-cimento pode-se expressar como uma relação linear entre a taxa de mortalidade e a taxa de natalidade para os diferentes grupos etários, cujo coeficiente angular especifica o fator de correção, ou seja, o sub-registro.

Em seguida, os óbitos por causas inespecíficas das neoplasias, codificados no capítulo II da Décima Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID-10),19 e por causas mal definidas, em capítulo especí-fico (capítulo XVIII), foram redistribuídos em quatro etapas consecutivas.

A primeira etapa consistiu em redistribuir proporcio-nalmente os códigos inespecíficos de câncer de órgãos genitais femininos (OGF), como a neoplasia maligna dos órgãos genitais femininos com lesão invasiva (C57.8) e a neoplasia maligna de órgão genital feminino, não especificado (C57.9) entre todos os cânceres de órgãos genitais femininos (códigos C51 a C58).

Na segunda etapa, os óbitos codificados como neoplasia maligna de outras localizações e de loca-lizações mal definidas (C76), neoplasia maligna sem especificação de localização (C80) e neoplasias de localizações múltiplas independentes (C97) foram redistribuídos proporcionalmente entre todos os cânceres (C00 a C96).

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Na terceira etapa, os óbitos por neoplasia de útero sem especificação (C55) foram distribuídos entre os cânceres do corpo do útero e do colo do útero (C53 e C54).

Finalizando, na quarta etapa, redistribuíram-se as causas inespecíficas e mal definidas, contidas no capítulo XVIII (Sintomas, sinais e achados anormais de exames clínicos e de laboratório, não classificados em outra parte) pro-rata entre todas as causas de óbitos, exceto as causas externas, as quais supõe-se contarem com cobertura próxima de 100,0%, e as neoplasias, para as quais se utilizou o peso de 0,5 por serem consideradas mais bem declaradas que as demais doenças.17,20

Como variável socioeconômica, utilizou-se o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) referente ao ano 2000, para aferir o desenvolvimento das macrorregiões de saúde do estado. O IDH pressupõe que, para aferir o avanço de uma população, não se deve considerar apenas a dimensão econômica e sim, também, ou-tras características sociais, culturais e políticas que influenciam a qualidade da vida humana. Os valores do IDH são obtidos diretamente do software ‘Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil’.21 Como os dados estão disponíveis para os municípios, foi estimado o IDH para as macrorregiões de saúde de Minas Gerais utilizando-se os cálculos das médias ponderadas das três dimensões que resultam no índice final: longevi-dade; educação; e renda. A ponderação foi feita com base na população sobre a qual os índices parciais são baseados. A longevidade e a renda foram ponderadas pela população total dos municípios. Já a educação, que usa a taxa de alfabetização e a taxa de frequência à escola para gerar um índice parcial, teve esses índices ponderados pela população de 15 anos ou mais e pela população de 7 a 22 anos de idade, respectivamente.

Foram calculados os valores absolutos e as taxas brutas de óbitos por CCU. Para o cálculo das taxas, foram utilizadas as populações das macrorregiões de saúde, segundo o PDR-MG.18

A variação percentual relativa (VPR) foi usada para quantificar a proporção da diferença observada entre a taxa bruta de mortalidade e a taxa bruta com os dados corrigidos, tendo como referência a taxa bruta. Sua forma de cálculo constitui-se na subtração da razão entre a taxa corrigida e a taxa bruta e uma unidade. Este valor multiplicado por 100 resulta na proporção de acréscimo da taxa corrigida em relação à taxa bruta.

As correlações entre as taxas de mortalidade por CCU, o IDH e a VPR nas macrorregiões foram testadas pela estatística de Pearson. Para quantificar as relações mais importantes entre as variáveis correlacionadas, foi ajustada uma regressão linear.

No que concerne aos aspectos éticos, o presente estudo foi elaborado com dados secundários, dispo-nibilizados ao público,7 sem informações nominais ou outras que pudessem identificar os indivíduos envolvidos. Os dados foram utilizados de forma agre-gada, exclusivamente para a realização dos objetivos do estudo.

Resultados

Foram registrados 325.422 óbitos totais no estado de Minas Gerais entre os anos de 2004 e 2006. Como segunda causa de mortalidade, o câncer representou 13,5% dos óbitos em ambos os sexos, sendo o CCU responsável por 1.042 óbitos de mulheres, o que cor-responde a 5,3% dos óbitos por câncer em mulheres.

As causas mal definidas representaram 11,9% dos óbitos ocorridos no estado, no global do período 2004-2006. A macrorregião Sudeste teve a menor proporção de causas mal definidas (8,1%), e a macrorregião Norte de Minas, a maior (29,4%), representando a variação máxima entre macrorregiões (262,0%). No geral, as maiores proporções de óbitos por causas mal definidas foram observadas nas regiões que compõem o norte do estado e as menores nas regiões do sul.

Diferentemente das causas mal definidas, a propor-ção dos óbitos classificados com códigos inespecíficos das neoplasias apresentaram valores espacialmente heterogêneos no estado. Nas macrorregiões Sul (10,4%) e Jequitinhonha (10,0%), foram observadas as maiores proporções das causas mal definidas, en-quanto a Nordeste e Centro (ambas com 5,8%) tiveram as menores proporções.

Os óbitos atribuídos a causas inespecíficas por neoplasias dos cânceres de órgãos genitais femininos (OGF) apresentaram as mais altas proporções nas ma-crorregiões Nordeste (35,0%) e Leste (33,5%). Já as macrorregiões Triângulo do Norte (15,0%) e Norte de Minas (16,5%) apresentaram os menores valores para o indicador. Assim como as proporções dos códigos inespecíficos das neoplasias, as causas de óbitos classi-ficadas como inespecíficas dos OGF apresentaram pro-porções espacialmente dispersas pelo estado mineiro.

Câncer do colo do útero em Minas Gerais

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Na Tabela 1 e nas figuras 1 e 2, são apresentadas as taxas de mortalidade por CCU no estado e macrorregi-ões de saúde, a VPR e os valores do IDH. A taxa bruta de mortalidade foi de 3,6 óbitos por 100 mil mulheres em Minas Gerais. Após correção, esse valor aumentou para 6,8 por 100 mil mulheres, o que representou um incremento de 88,9%. As macrorregiões Nordeste (232,9%), Jequitinhonha (221,7%) e Leste (139,2%) apresentaram os maiores aumentos nas taxas após a correção dos óbitos. Com 43,3%, a macrorregião Triângulo do Norte teve o menor acréscimo nos óbitos depois da correção.

Os valores mais baixos do IDH foram observados nas macrorregiões Nordeste (0,66), Jequitinhonha (0,68) e Norte de Minas (0,70); ou seja, houve uma concentração dos piores índices ao norte do estado. As macrorregiões Triângulo do Norte (0,81), Triângulo do Sul (0,81) e Centro (0,80) apresentaram os maiores índices (Tabela 1).

Analisando-se as taxas de mortalidade por CCU segundo faixa etária, verificou-se que, na maioria das macrorregiões, o coeficiente de mortalidade foi maior nas faixas etárias mais avançadas. O Triângulo do Sul

e o Leste do Sul apresentaram as maiores taxas entre adultos jovens (20 a 29 anos de idade). As faixas etárias de 70 a 79 anos e 80 e mais anos apresentaram os maiores coeficientes, conforme esperado.

Com relação aos resultados da análise das correla-ções de Pearson entre os dados de mortalidade, taxas e razões das taxas, e o IDH, não se verificou correlação significante entre o IDH e as taxas de mortalidade corrigidas. Entretanto, a correlação entre o IDH e a VPR das taxas de mortalidade por CCU referentes às macrorregiões de Minas Gerais antes e após a correção dos dados foi significativa (valor de p<0,001), de -0,92 (estatística de Pearson). Isso significa que quanto mais desenvolvida a macrorregião, menor a correção nas taxas de mortalidade por CCU. Também foi observada a correlação significativa entre o IDH, o VPR e as taxas de mortalidade por CCU sem correção.

Após a remoção de ponto discrepante relativo à macrorregião Nordeste, a regressão linear entre a taxa bruta de mortalidade por CCU e o IDH mostrou bom ajuste. Outrossim, verificou-se que quanto maior o IDH, maior foi a taxa de mortalidade observada (Figura 3). Também a relação entre a razão das taxas de mor-

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Tabela 1 - Taxas brutas de mortalidade por câncer do colo do útero (por 100 mil mulheres) sem correção e com correção, VPR (%)a e IDHb segundo macrorregiões de saúde do estado de Minas Gerais.

Brasil, 2004 a 2006

Macrorregião de saúde Sem correção Com correção VPR (%) a IDH b

Macrorregiões ao norte do estado

Noroeste 3,1 5,9 90,1 0,77Norte 2,6 6,1 136,4 0,70Jequitinhonha 1,9 6,1 221,7 0,68Nordeste 3,7 12,3 232,9 0,66

Macrorregiões centrais

Centro 3,9 6,2 57,8 0,80Oeste 3,8 7,8 103,5 0,79Leste 3,3 7,7 135,8 0,74Leste do Sul 2,0 4,5 124,1 0,73

Macrorregiões ao sul do estado

Sul 2,7 5,5 108,9 0,79Sudeste 4,7 7,2 54,1 0,78Centro-Sul 3,3 7,0 115,3 0,77

Macrorregiões do Triângulo Mineiro

Triângulo do Sul 4,0 6,8 71,8 0,81Triângulo do Norte 5,3 7,9 48,0 0,81

Minas Gerais 3,6 6,8 88,2 0,77

a) VPR: variação percentual relativa, entre a taxa sem correção e taxa com correção dos óbitos.

b) IDH: Índice de Desenvolvimento Humano

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Figura 1 - Distribuição espacial das taxas brutas de mortalidade por câncer de colo de útero (por 100 mil mulheres) sem correção no estado de Minas Gerais. Brasil, 2004 a 2006

Figura 2 - Distribuição espacial das taxas ajustadas de mortalidade por câncer de colo de útero (por 100 mil mulheres) após correção no estado de Minas Gerais. Brasil, 2004 a 2006

LegendaAté 2,72,7 –| 3,53,5 –| 3,93,9 –| 5,5

LegendaAté 6,06,0 –| 6,86,8 –| 7,77,7 –| 12,3

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talidade corrigidas e sem correção e o IDH ajustou-se muito bem em um modelo de regressão linear, com um R² de 0,84 (Figura 4). A fórmula do modelo mostrou

que, para um aumento de um centésimo de ponto do IDH em uma macrorregião, a correção das taxas de mortalidade diminuiu em aproximadamente 11,0%.

Figura 3 - Gráfico de dispersão com a linha de tendência e equação da reta do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e a taxa bruta de mortalidade sem correção por câncer de colo de útero (por 100 mil mulheres) no estado de Minas Gerais. Brasil, 2004 a 2006

6,0

5,0

4,0

3,0

2,0

1,0

0,00,60 0,65 0,70 0,80 0,850,75

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

Y = 18,977 x 1,132R_ = 0,5719

Obs.: o ponto da macrorregião Nordeste foi retirado por ser outlier.

Figura4 - Gráfico de dispersão com a linha de tendência e a equação da reta do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e da razão entre as taxas de mortalidade por câncer de colo de útero (por 100 mil mulheres) brutas e após a correção no estado de Minas Gerais. Brasil, 2004 a 2006

3,5

3,0

2,5

2,0

1,5

1,0

0,00,60 0,65 0,70 0,80 0,850,75

Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)

Y = 10,657 x 10,222R_ = 0,84220,5

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Discussão

Neste estudo, a correção da magnitude da mor-talidade por CCU mostrou-se correlacionada com o desenvolvimento aferido pelo IDH: quanto mais desenvolvida a macrorregião, menor a correção nos dados de mortalidade notificados ao SIM. Sabe-se que o nível socioeconômico da região pode condicionar a qualidade dos serviços de saúde, inclusive a qualidade dos dados de óbitos coletados.22

A taxa de mortalidade por CCU após a correção nas macrorregiões do estado teve um aumento proporcio-nal de até 233,0% no período 2004-2006, em relação à taxa bruta calculada, sem considerar a ocorrência de sub-registro de óbitos, de causas mal definidas e de causas inespecíficas das neoplasias. Em estudos feitos com correção dos óbitos por CCU para o Brasil e esta-dos da região Nordeste do país, verificou-se variação superior a 340,0% no interior da Região; e acima de 500,0% para o interior do Maranhão e do Piauí.16,20 Ressalta-se que, da mesma forma que os estados do Maranhão e do Piauí apresentam os menores IDH do Brasil, a macrorregião Nordeste de Minas Gerais apresenta o menor IDH do estado.21

No presente trabalho, as macrorregiões Leste do Sul e Sul apresentaram as taxas de mortalidade mais baixas, enquanto a macrorregião Nordeste, a maior taxa de mortalidade por CCU após correção: 12,3 óbitos/100 mil mulheres. Este resultado é condizente com a literatura que relata uma tendência, de a mor-talidade por câncer do colo do útero ser mais alta em populações de mais baixo nível socioeconômico.3,23 As falhas que podem ocorrer nos sistemas de saúde, como o tempo entre o diagnóstico e o início do tra-tamento, a baixa cobertura do exame de Papanicolau e a falta de informação das mulheres, são problemas fundamentais para um melhor controle do CCU.24 Em relação ao perfil de produção do exame citopatológi-co em Minas Gerais, verificou-se uma concentração geográfica de 70,0% dos municípios do grupo com melhor qualidade do exame no centro e sul do esta-do; e 80,0% dos municípios do grupo com os piores resultados, concentrados ao norte e leste do estado.25 Dessa forma, fica claro que dentro de um mesmo estado, existem desigualdades no acesso às ações de rastreamento para a doença.

O resultado inesperado ficou com o Triângulo do Norte que, a despeito de contar com o maior IDH

entre todas as macrorregiões de saúde do estado, apresentou a maior taxa de mortalidade por CCU antes da correção (5,5 óbitos por 100 mil mulheres); e que, apesar do menor VPR observado, manteve-se no posto da segunda maior taxa após a correção, de 7,9 por 100 mil mulheres. Este resultado poderia ser considerado inconsistente, uma vez que os serviços de saúde disponíveis costumam incluir desde a atenção primária até a assistência aos pacientes com diagnós-tico confirmado, além de serem melhores em regiões mais desenvolvidas.3 Uma possível explicação seria um melhor preparo dos recursos humanos dessa região no que diz respeito ao preenchimento e codificação das DO, minimizando erros do processo de coleta de dados. Novos estudos são necessários para esclareci-mento dessa hipótese e outros possíveis determinantes relacionados com as altas taxas observadas.

Ao se considerar as taxas brutas de mortalidade por CCU sem correção, verificou-se correlação significativa positiva entre o IDH e as taxas; ou seja, quanto maior o IDH, maior a taxa de mortalidade por CCU, o que repre-senta um achado inconsistente. Também foi observada altíssima correlação negativa – valor próximo de -1,0 – entre a razão das taxas brutas de mortalidade, corrigidas e sem correção, e o IDH. Estes resultados reforçam a ne-cessidade de correção nos dados de mortalidade para o CCU, visto que altas taxas de mortalidade são, na verdade, observadas em regiões com baixo desenvolvimento.3,22

Ou seja, o uso direto dos dados de mortalidade com o objetivo de comparação entre regiões com qualidade heterogênea de informações deve ser evitado, pois os resultados gerados podem estar enviesados, conforme já destacado no caso do Brasil.26-29

Em relação às limitações deste estudo, o fato de não haver consenso sobre os métodos de correção a serem utilizados faz com que a redistribuição proporcional das mortes por causas mal definidas segundo causas definidas venha sendo questionada.25,28 Neste estudo, procurou-se minimizar possível viés de superestimação dos cânceres na redistribuição das causas mal defi-nidas aplicando-se – conforme citado anteriormente – um peso de 0,5.16,20 De toda forma, o método direto representa o método ideal, menos sujeito a erros de estimação e, portanto, digno de prioridade em ações que pretendam melhorar a qualidade do SIM e per-mitam o cálculo direto das taxas.29

A desigualdade de acesso a determinados bens e serviços, especialmente os que dizem respeito à Saúde,

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além de fatores culturais e socioeconômicos e distâncias entre as comunidades e os cartórios, reflete-se em pro-blemas relacionados ao sub-registro dos eventos vitais30 e na subnotificação de óbitos ao SIM.13 As áreas com sistemas de informações que apresentem baixos valores nos indicadores de qualidade merecem, portanto, ações específicas que levem em consideração suas peculiarida-des, para que o avanço na qualidade da informação seja evidenciado em todas as regiões do país e dos estados.31

Assim como na maior parte mundo, as taxas de incidência e mortalidade do CCU têm mostrado um declínio nos dados nacionais do Brasil,3,4,10,16,20,32 onde, nos últimos anos, as doenças crônicas não transmissí-veis – DCNT – têm sido foco de políticas de prevenção, promoção da saúde, e de trabalhos intersetoriais integrados com a assistência médica.33,34 Desde então, o país vem ampliando a cobertura populacional de oferta de exames citopatológicos e o número de labo-ratórios com capacidade para realizá-los.23 Salienta-se que essas ações devem continuar a ser aprimoradas para reduzir as mortes por CCU, visto que as taxas de mortalidade por essa doença em países desenvolvidos são inferiores a 2 óbitos por 100 mil mulheres.1

Fatores que contribuem para piores condições so-ciais das mulheres, principalmente o nível de educação, devem ser combatidos pelo Poder Público, permanente-mente, ainda que por ações que produzam resultados a médio e longo prazo, para que haja uma melhora futura nos indicadores do CCU.9 Ações de prevenção da doença e de promoção da saúde devem ser elaboradas pelos

gestores de forma a minimizar as taxas de incidência e mortalidade, haja vista o CCU apresentar um dos maiores potenciais de prevenção e cura, quando detectado antes de desenvolver a forma invasiva.

A magnitude da mortalidade corrigida por CCU no estado de Minas Gerais apresentou valores mais ex-pressivos do que a observada sobre dados do SIM sem correção. A análise regionalizada mostrou, ainda, que a correção foi diferenciada segundo as macrorregiões do estado: aquelas macrorregiões de pior desenvolvi-mento apresentaram as maiores correções. A análise de situação de saúde com dados de mortalidade corrigidos é uma estratégia importante no planejamento de ações para controle dessa moléstia. Estudos com os dados do SIM que revelem suas limitações e adotem metodologias de correção de óbitos devem ser estimulados, para servir de incentivo a todos os profissionais de saúde envolvi-dos e comprometidos com a melhoria da qualidade do Sistema de Informações sobre Mortalidade.

Contribuição dos autores

Teixeira RA e França EB participaram da concepção do estudo, correção dos óbitos, análise dos dados, interpretação dos resultados, elaboração do texto e redação da versão final do manuscrito. Valente JG par-ticipou da análise dos dados e contribuiu na discussão e redação final do artigo.

Todos os autores aprovaram a versão final do manuscrito.

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Recebido em 08/03/2012 Aprovado em 19/11/2012

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Prêmio: RESS evidencia

A Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) instituiu, por meio da portaria nº 25, de 1º de outubro de 2012, o Prêmio "RESS evidencia" para reconhecer, anualmente, o melhor artigo científi co publicado na Revista Epide-miologia e Serviços de Saúde (RESS).

O objetivo da premiação é incentivar a produção de trabalhos na área da vigilância em saúde que contribuem para o aperfeiçoamento das ações e serviços de vigilância, prevenção e controle de doenças e agravos de interesse da Saúde Pública no país e divulgar a RESS. O prêmio, em 2012, teve como fi nalistas:

Uso da busca ativa de óbitos na avaliação do Sistema de Informações sobre Mortalidade em Minas Gerais Carolina Cândida da Cunha et al

Estado nutricional e fatores determinantes do défi cit estatural em crianças cadastradas no Programa Bolsa Família

Fabiana de Cássia Carvalho et al

Diferenciais intraurbanos de sífi lis congênita no Recife, Pernambuco, Brasil (2004-2006) Nara Gertrudes Diniz Oliveira Melo et al

A seleção fi nal do melhor artigo aconteceu na edição anual da EXPOEPI – Mostra Nacional de Experiências Bem-Sucedidas em Epidemiologia, Prevenção e Controle de Doenças.

O resultado, escolhido pela audiência da 12ª EXPOEPI, trouxe como vencedor o artigo cujo resumo a RESS republica:

Diferenciais intraurbanos de sífi lis congênita no Recife, Pernambuco, Brasil (2004-2006) Nara Gertrudes Diniz Oliveira Melo, Djalma Agripino de Melo Filho e Luiz Oscar Cardoso Ferreira

Objetivo: o estudo analisa diferenciais intraurbanos da sífi lis congênita (SC) no Recife-PE, entre 2004 e 2006, segundo fatores biológicos, socioeconômicos e assistenciais. Métodos: com base no Sistema de Informação de Agravos de Notifi cação (Sinan) e do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), realizou-se estudo descritivo e ecológico em que foram classifi cados os bairros pela condição de vida e segundo proporções de nascidos vivos (NV) com baixo peso ao nascer (BPN) e da raça/cor negra, fi lhos de mães com idade inferior a 20 anos e escolaridade menor do que 4 anos de estudo, idade gestacional inferior a 37 semanas e com até três consultas de pré-natal. Resultados: foram detectados 700 casos de SC (10,2/1.000 NV); após comparação dos coefi cientes entre os três estratos de bairros, identifi caram-se como fatores de risco a raça/cor preta e parda, a condição de vida, a idade materna inferior a 20 anos, a escolaridade materna menor do que 4 anos e número de consultas de pré-natal inferior a 4, e como consequência associada, o BPN. Conclusão: a SC apresentou distri-buição desigual no espaço urbano, demandando estratégias diferenciadas de intervenção.

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Temporal trend of caesarean delivery in Brazil and its Regions: 1994 to 2009

aRtigo

oRiginal Tendência temporal de partos cesáreos no Brasil e suas Regiões: 1994 a 2009

Endereço para correspondência: Rua Uruguai, 458, Centro, Itajaí-SC, Brasil. CEP: 88302-202. Caixa Postal 360E-mail: [email protected]

Doroteia Aparecida HöfelmannCurso de Nutrição, Universidade do Vale do Itajaí, Santa Catarina, Brasil

ResumoObjetivo: descrever a tendência temporal e a distribuição do parto cirúrgico no Brasil e suas Regiões, no período de 1994 a

2009. Métodos: foram utilizados dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (Sinasc), do Ministério da Saúde, para o período de 1994 a 2009, para o Brasil e suas cinco Regiões. Resultados: proporção de partos cesáreos no período analisado variaram de 23,3% a 55,7%, na região Nordeste em 1994 e na região Sudeste em 2008, respectivamente; a proporção nacional variou de 32,0 a 48,4%; observou-se tendência de aumento para todas as Regiões, exceto a Centro-Oeste. Conclusão: a proporção de partos cesáreos no país é superior à observada em países mais desenvolvidos; a cobertura diferenciada dos dados do Sinasc ao longo dos anos estudados pode ter influenciado as variações nos dados observados; os achados reforçam a necessidade de medidas mais efetivas para reduzir as elevadas proporções observadas.

Palavras-chave: Cesárea; Parto Normal; Parto; Estudos Ecológicos; Distribuição Temporal.

AbstractObjective: to describe temporal trend and distribution of caesarian section in Brazil and its macro-regions, in the period

1994-2009. Methods: data were extracted from Live Born Information System (Sinasc), of Brazilian Health System, from 1994 to 1999 for the whole country and its macro-regions. Results: cesarean section proportion during the analyzed time ranged from 23.3% to 55.7% in Northeast in 1994 and in Southeast in 2008, respectively; in the whole countrythe proportion ranged from 32.0 to 48.4%; trend of increase was observed for all regions except Midwest. Conclusion: the proportion of cesarean section in Brazil is higher than that observed in wealthier countries; different coverage of the Sinasc through the studied years could have induced the variations in the observed data; such findings reinforce the importance of more effective measures to decrease the high caesarian proportions.

Key words: Cesarean Section; Natural Childbirth; Parturition; Ecological Studies; Temporal Distribution.

doi: 10.5123/S1679-49742012000400005

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Tendência temporal de partos cesáreos no Brasil

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Introdução

Nas últimas décadas, observou-se um importante aumento na proporção de partos cesáreos em diversos países do mundo.1-4 Belizan e colaboradores5 estima-ram que 1,5 milhões de cesarianas desnecessárias são realizadas na América Latina a cada ano, causando cer-ca de 100 mortes maternas e 40.000 casos de doença respiratória neonatal; e, provavelmente, aumentando a ocorrência de partos prematuros e mortalidade neonatal.5-7

Estudo com amostra estratificada em múltiplos es-tágios, compreendendo 24 regiões geográficas de oito países da América Latina, incluindo o Brasil, encontrou proporção de 33,0% de partos cesáreos, sendo que nos hospitais privados, essa proporção foi de 51,0%. Fatores como primiparidade, parto cirúrgico prévio e complexidade institucional influenciaram os valores observados.3

Dados de estudo realizado em Pelotas-RS, região Sul do Brasil, indicaram proporção global de partos cesáreos de 45,0% – 36,0% entre pacientes do Sistema Único de Saúde e 81,0% no serviço privado –, sendo que 35,0% das cesarianas foram eletivas.8

Apesar da existência de controvérsias em relação à proporção ótima de partos cesáreos, a análise da literatura sobre o tema indica que valores menores do que 1,0% e maiores do que 15,0% estão associados a mais riscos do que benefícios.9

Estudos demonstram que não há reduções significa-tivas na mortalidade e morbidade materna e neonatal quando a frequência de cesáreas é maior do que 15,0%, valor recomendado pela Organização Mun-dial da Saúde (OMS).10 Por outro lado, foi verificado que o aumento na ocorrência da intervenção esteve associado a maiores taxas de desfechos adversos em mães e neonatos.3,11

A cesárea é um procedimento cirúrgico original-mente desenvolvido para salvar a vida da mãe e/ou da criança quando ocorrem complicações durante a gravidez ou o parto. É, portanto, um recurso utili-zável quando surge algum tipo de risco para a mãe, o bebê ou ambos, durante a evolução da gravidez e/ou do parto. Como todo procedimento cirúrgico, a cesárea não é isenta de riscos e está associada, no Brasil e em outros países, a maior morbimor-talidade materna e infantil, quando comparada ao parto vaginal.3,7

Villar e colaboradores3 verificaram que a realiza-ção de partos cesáreos esteve associada ao uso de tratamento antibiótico e morbidade e à mortalidade materna, mesmo após ajuste para outros fatores. O aumento da proporção de cesáreas também esteve associado a um aumento da mortalidade fetal e a um maior número de bebês admitidos em cuidado inten-sivo por sete dias ou mais, mesmo após ajuste para parto prematuro.3 Além disso, o parto cesáreo também tem sido considerado uma barreira para o início do aleitamento materno.12,13

Poucos estudos sobre a proporção de parto ce-sáreo foram publicados no Brasil.8 Em estudos que empregaram dados do Sistema Nacional de Nascidos Vivos (Sinasc), a proporção de partos cesáreos foi empregada apenas como variável de exposição.14 Em publicação do Ministério da Saúde, foram apresentadas as proporções de parto cesáreo segundo município de residência da mãe, cor da pele e Região do país, estratificadas segundo o porte dos municípios, para os anos 2000, 2005 e 2009.15 O Sinasc representa importante fonte de informações por sua expressiva cobertura, superior inclusive àquela dos nascimentos registrados em cartório.16,17

O objetivo deste trabalho foi descrever a tendência temporal do parto cesáreo no Brasil e sua distribuição por Regiões, no período de 1994 a 2009, a partir da observação dos dados do Sinasc.

Métodos

Trata-se de estudo descritivo, ecológico de séries temporais. Os dados sobre o tipo de parto foram co-letados da base de dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos – Sinasc –, do Ministério da Saúde, durante o período de 1994 a 2009, para o Brasil e cada uma de suas cinco Regiões. Adicionalmente, os valores para cada Unidade da Federação foram também analisados.

A cesárea não é isenta de riscos e está associada a maior morbimortalidade materna e infantil, quando comparada ao parto vaginal.

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A proporção de partos cesáreos foi calculada como o percentual desse tipo de parto em relação ao total de partos realizados.

A apreciação visual de tendências em representa-ções gráficas de séries temporais é muitas vezes pre-judicada pela rugosidade do polígono de frequências. Esta rugosidade é causada pelo movimento de variação aleatória que, em adição à tendência, se faz presente na série temporal. Para evitar que esse efeito prejudicasse a aferição visual das tendências, os gráficos delineados empregaram o recurso de alisamento por médias móveis18 de ordem três. Ou seja, a média de cada ano foi calculada considerando (i) o valor observado no ano, (ii) o valor do ano anterior e (iii) o valor do ano subsequente.

Na análise de regressão linear, a proporção de partos cesáreos para cada Região e para o país como um todo foi considerada como variável dependente (y) e os anos do período foram considerados como variável independente (x).

A análise de pressupostos para aplicação da regres-são linear indicou que os valores de média e mediana das proporções de parto cesáreo foram relativamente próximos (41,0 e 39,9 respectivamente). O coeficiente de variação foi de 11,03%, indicando distribuição homogênea da variável. A normalidade também foi atestada pelo teste de Shapiro Wilk, apresentando valor de p=0,49025.

A hipótese de autocorrelação de primeira ordem entre as proporções observadas foi analisada pelo teste de Durbin-Watson; as proporções foram corrigidas pela estatística de Prais-Winster.19

Com o intuito de estimar o acréscimo ou decrés-cimo entre os anos investigados, foi calculada a variação percentual relativa, contabilizada a partir da diferença entre o valor do ano final do período de tempo estudado e o valor observado no ano de início, dividida pelo valor do ano de início. A variação percentual anual estimada também foi calculada a partir do ajuste da regressão linear ao logaritmo natural das proporções, usando o ano calendário como variável dependente.20

Foram consideradas significativas as variações na proporção de partos cirúrgicos quando o valor de p≤0,05.

Para o estudo, foram empregados exclusivamente dados de acesso público obtidos do Sinasc sem a identificação dos sujeitos participantes, de acordo com

os princípios éticos para realização de pesquisas que envolvem seres humanos.

Resultados

As proporções de parto cesáreo no período anali-sado variaram de 23,3% a 55,7%, na região Nordeste em 1994 e na região Sudeste em 2008, respectiva-mente. Para o país como um todo, essa proporção variou de 32,0 a 48,4%, do primeiro ao último período analisado, o que representa um incremento de 51,3% no período de 16 anos investigados. Na região Centro-Oeste, observa-se um comportamento diferente na distribuição, com redução nos anos de 1998 e 1999 e aumento progressivo nos anos sub-sequentes, até atingir, em 2005, valores superiores àqueles observados no primeiro ano de acompanha-mento (Figura 1).

Na Tabela 1 é apresentada à variação percentual anual estimada da proporção de partos cesáreos. Observa-se tendência de aumento para todas as Regi-ões, no período analisado, exceto para a Centro-Oeste. A maior variação percentual foi observada na região Nordeste do país: quase 5,0% ao ano.

Na Tabela 2 é apresentada a variação anual per-centual das proporções de cesarianas para cada Unidade da Federação. Observa-se que apenas para cinco estados, a tendência demonstrou-se estacio-nária – Amazonas, Paraíba, Tocantins, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul –, enquanto para todos os demais, pode ser considerada de aumento. Ceará, Rio Grande do Norte e Roraima apresentaram as maiores elevações anuais.

Discussão

A proporção de partos cesáreos observada para o Brasil no ano de 2009 foi mais de três vezes superior àquela recomendada pela Organização Mundial da Saúde (48,4% versus 15,0%), o que representa um total absoluto de mais de um milhão de intervenções cirúrgicas (1.009.455). Além disso, as análises indi-caram tendência de crescimento, uma vez que a va-riação média percentual anual, no período de 16 anos analisado, foi de 2,0% ao ano para o país, alcançando quase 5,0% na região Nordeste.

Em análises sobre as proporções de parto cesáreo no Brasil nos anos 2000, 2005 e 2009, Maranhão e

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a) Região Norte

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b) Região Nordeste

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c) Região Sudeste

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d) Região Sul

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e) Região Centro-Oeste

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f) Brasil

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Fonte: Sistema de Informações de Nascidos Vivos (SINASC)

Figura 1 - Proporção de partos cesáreos após suavização de ordem 3. Brasil e Regiões, 1994 a 2009

colaboradores.15 destacaram que a utilização da téc-nica no país aumentou, passando de 38,0 para 50,1% (2009). Não obstante o aumento tenha acontecido em todos os portes de municípios, essa proporção é maior nos municípios de maior porte.15

Declercq e colaboradores1 investigaram as pro-porções de cesarianas em 21 países e observaram que no ano de 2007, aproximadamente metade dos países apresentaram proporções superiores a 25,0%, como por exemplo: Itália (39,0%); Portugal (35,0%); Estados Unidos da América (EUA) (32,0%); e Suíça (32,0%). Para cinco países, as proporções mais do que dobraram entre 1992 e 2007: República Eslovaca; República Tcheca; Irlanda; Áustria; e Hungria.1 Neste mesmo ano, para o Brasil, a proporção foi de 46,5%,

valor superior, portanto, àqueles observados em países de maior renda. O uso indiscriminado da cesárea no Brasil é evidenciado pelo fato de o procedimento ser mais frequente em instituições privadas e nas Regiões de maior renda, onde as gestantes encontram-se em melhores condições sociais e de saúde, apresentando, em princípio, menor risco gestacional.8,21

Patah e Malik22 sugeriram que as proporções de cesárea não devem ser analisadas isoladamente do modelo assistencial em vigor, assim como das caracte-rísticas sociais e culturais das sociedades.22 O modelo das regiões urbanas do Brasil, assim como o de países como os EUA, Irlanda, Rússia, República Tcheca, Fran-ça e Bélgica, é considerado altamente medicalizado, com uso de alta tecnologia e pouca participação das

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Tabela 1 - Coeficientes de regressão e variação anual percentual na proporção de partos cesáreos. Brasil e regiões, 1994 a 2009

Região Coeficiente IC95%

a P Variação (%) IC

95% a Interpretação

Norte 0,84 0,33-1,34 0,003 2,33 1,13-3,54 Aumento

Nordeste 1,19 0,72-1,66 <0,001 4,71 3,49-5,95 Aumento

Sudeste 0,95 0,48-1,42 0,001 2,09 1,30-2,90 Aumento

Sul 1,01 0,56-1,46 <0,001 2,09 1,30-2,90 Aumento

Centro-Oeste 0,47 -0,28-1,21 0,202 0,93 -0,26-2,12 Estabilidade

BRASIL 1,01 0,52-1,52 0,001 2,33 1,53-3,14 Aumento

a) IC95%

: intervalo de confiança de 95%

Fonte: Sistema de Informações de Nascidos Vivos (Sinasc)

Tabela 2 - Variação percentual anual estimada da proporção de partos cesáreos para as Unidades da Federação. Brasil, 1994 a 2009

Unidades da Federação Variação (%) IC95%

a Interpretação

Rondônia 3,28 2,87-3,68 Aumento

Acre 2,33 1,53-3,14 Aumento

Amazonas 1,39 -0,58-3,40 Estabilidade

Roraima 4,71 2,68-6,79 Aumento

Pará 2,80 1,20-4,43 Aumento

Amapá 6,66 6,24-7,08 Aumento

Tocantins 0,23 -0,94-1,42 Estabilidade

Maranhão 1,86 0,27-3,47 Aumento

Piauí 2,09 0,50-3,71 Aumento

Ceará 5,44 4,98-5,89 Aumento

Rio Grande do Norte 4,71 3,49-5,95 Aumento

Paraíba 1,16 -1,19-3,57 Estabilidade

Pernambuco 3,99 3,18-4,81 Aumento

Alagoas 6,41 4,76-8,10 Aumento

Sergipe 5,44 4,61-6,27 Aumento

Bahia 3,75 2,14-5,39 Aumento

Minas Gerais 1,39 0,21-2,59 Aumento

Espírito Santo 2,09 1,30-2,90 Aumento

Rio de Janeiro 1,62 1,23-2,02 Aumento

São Paulo 2,57 1,37-3,78 Aumento

Paraná 1,62 0,83-2,43 Aumento

Santa Catarina 2,33 1,53-3,14 Aumento

Rio Grande do Sul 2,57 2,16-2,97 Aumento

Mato Grosso do Sul -0,14 -1,69-1,44 Estabilidade

Mato Grosso 0,69 -0,48-1,88 Estabilidade

Goiás 3,04 2,68-3,40 Aumento

Distrito Federal 2,33 1,53-3,14 Aumento

a) IC95%

: intervalo de confiança de 95%

Fonte: Sistema de Informações de Nascidos Vivos (Sinasc)

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obstetrizes.23 Modelos menos medicalizados, encontra-dos na Holanda, Nova Zelândia e países escandinavos, são caracterizados pela maior participação de obste-trizes e menor frequência de intervenções. Modelos intermediários foram encontrados na Grã-Bretanha, Canadá, Alemanha e Austrália.23 Em cada um desses modelos e países, observa-se diversos comportamentos médicos e sociais, bem como diferentes proporções de cesárea.22

No passado, as cesáreas eram realizadas apenas em mulheres mortas, para salvar a vida do feto. Apesar de a maioria dos autores concordarem que a cesárea deve ser evitada na ausência de indicação médica, com o passar dos anos, a melhoria das técnicas cirúrgicas, medidas de prevenção de infecção e transfusões sanguíneas permitiram indicar o procedimento tam-bém para a satisfação dos anseios da mãe e/ou da família.22,24

A preocupação do meio científico e órgãos governamentais em relação ao elevado percentual de partos cesáreos no Brasil e na América Latina pode ser observada em diversas publicações sobre o assunto.3,8,9,25

Em relação às causas da elevada ocorrência de cesáreas, estas podem estar relacionadas a: pouco tempo dedicado pelo médico obstetra para acompa-nhar o trabalho de parto, em decorrência de atividades concomitantes que desempenha na prática médica; desinformação da mulher em relação ao parto vaginal; falta de conhecimento sobre a indicação da cesárea anterior; despreparo do médico, formado para intervir; falta de enfermeiras obstétricas para assistir o parto; realização da laqueadura tubária durante a cesariana; e questões relacionadas ao pagamento de procedi-mentos médicos e da analgesia no parto.8,26,27 Barros e colaboradores8 observaram que as cesarianas foram mais frequentes às terças e quartas-feiras, com uma redução de cerca de um terço aos domingos, enquanto os partos normais apresentaram distribuição uniforme ao longo da semana. O horário das cesarianas no setor público e no privado foi muito diferente.8 Os autores8 ainda destacaram que os padrões descritos são compa-tíveis com a hipótese de que as cesáreas são feitas, em grande parte, para atender a conveniência das agendas dos médicos, e que a situação atual só será revertida com políticas radicais.8

Em 1996, a Organização Mundial da Saúde pu-blicou um guia para a assistência ao parto normal,

apresentando as recomendações, baseadas em evidências, sobre as práticas relacionadas ao parto normal.28 Em 2000, o Ministério da Saúde do Brasil regulamentou o Programa de Humanização do Parto e Pré-Natal (PHPN). Em municípios onde o PHPN foi prioridade, várias iniciativas foram implementadas – e sedimentadas – em relação à qualidade da atenção. Nas inúmeras observações realizadas, o pré-natal foi resgatado como estratégia importante e seu mo-nitoramento cuidadosamente feito, inclusive com a implementação de atividades recomendadas, embora não obrigatórias, como a visita da gestante à mater-nidade e a presença de acompanhantes no momento do parto.29 Contudo, no presente estudo, a análise das proporções observadas e do período de implantação das medidas citadas mostrou pouca ou nenhuma alteração nas proporções de parto cesáreo. De fato, Altabe e colaboradores9 concluíram que as medidas de intervenção implementadas nas últimas décadas têm atingido pouco ou nenhum sucesso.30

Em 2011, o Ministério da Saúde lançou o pro-grama Rede Cegonha, composto por estratégias fundamentadas nos princípios da Humanização e da Assistência. O Rede Cegonha representa um novo modelo de atenção ao parto, ao nascimento e à saúde da criança por meio de uma rede de atenção que garanta acesso, acolhimento e resolubilidade, redu-zindo a mortalidade materna e neonatal. O programa prevê o financiamento de Centros de Parto Normal e da Casa da Gestante, Bebê e Puépera com 100,0% do custeio/ano, além de investimento para construção nos dois primeiros anos.31

Chaillet e Dumond,32 ao realizarem uma meta-análise cujo propósito foi identificar a efetividade de medidas para reduzir as proporções de cesáreas, con-cluíram que estas, seguramente, podem ser reduzidas por intervenções que envolvam profissionais da saúde na análise e modificação de sua prática. Ademais, estratégias multifacetadas, baseadas em auditorias e retorno aos participantes, com identificação de bar-reiras à realização do parto vaginal, são aconselhadas para melhorar a prática clínica e, efetivamente, reduzir os partos cirúrgicos.32

Os resultados encontrados neste estudo estão con-dicionados à cobertura do Sinasc. Por exemplo, as diferenças observadas nas regiões do país, no primeiro e no último ano do período investigado, podem ter sido influenciadas pelos diferentes graus de implantação

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do sistema, especialmente na região Nordeste. É fato reconhecido que a efetiva implementação do Sinasc não ocorreu de forma homogênea em todos os esta-dos brasileiros.33,34 A cobertura do sistema em 2004 foi estimada em 90,0% do total de nascidos vivos no país, valor que supera amplamente a de nascimentos registrados em cartório.17 Apenas na região Nordeste, essa cobertura foi estimada em mais de 80,0% – e me-nor que 90,0%. Nesse sentido, esforços têm sido feitos pelos órgãos gestores para a melhoria da cobertura e da qualidade de dados do Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos – Sinasc.17

Por fim, a análise permitiu identificar elevação na proporção de partos cesáreos realizados no Brasil, no período investigado. A região com maior variação percentual anual foi a Nordeste, exatamente aquela com proporções mais baixas no início do período analisado. As proporções observadas no país são superiores àquelas existentes em países desenvolvidos.

A redução da proporção de partos cesáreos depen-de da realização de políticas públicas mais efetivas, que considerem os riscos para a saúde do binômio mãe-filho relacionados à realização desnecessária dessa intervenção cirúrgica.

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Recebido em 13/05/2012 Aprovado em 16/11/2012

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Prospective study of implementation of active surveillance post-cesarean surgical-wound infection in an University Hospital in the State of Minas Gerais, Brazil, 2010 to 2011

aRtigo

oRiginal Estudo prospectivo da implantação da vigilância ativa de infecções de feridas cirúrgicas pós-cesáreas em hospital universitário no Estado de Minas Gerais, Brasil, 2010 a 2011*

Endereço para correspondência: Universidade Federal de Minas Gerais, Hospital das Clínicas, Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, Av. Alfredo Balena 110, 1o andar, Ala Oeste, Santa Efigênia, Belo Horizonte-MG, Brasil. CEP: 30110-100 E-mail: [email protected]

Roberta Maia de Castro RomanelliDepartamento de Pediatria e Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil

Regina Lopes Pessoa de AguiarDepartamento de Ginecologia e Obstetrícia, Faculdade de Medicina e Maternidade Otto Cirne, Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil

Henrique VitorLeiteDepartamento de Ginecologia e Obstetrícia, Faculdade de Medicina e Maternidade Otto Cirne, Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil

Daniela Guimarães SilvaHospital das Clínicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil

Rafael Viana Pessoa NunesFaculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil

Joseline Iodith BritoFaculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil

Hosana Ramos FernandesFaculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil Klaus Zanuncio ProtilFaculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil Ive Souza e SousaEscola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil

Lenize Adriana de JesusComissão de Controle de Infecção Hospitalar, Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil

Guilherme Augusto ArmondComissão de Controle de Infecção Hospitalar, Hospital das Clínicas, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil

Wanessa Trindade ClementeComissão de Controle de Infecção Hospitalar, Hospital das Clínicas e Departamento de Propedêutica Complementar, Faculdade de Medicina, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil

doi: 10.5123/S1679-49742012000400006

* Órgãos financiadores da pesquisa:Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig): Bolsa de Iniciação Científica para aluno de graduação em Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (Pró-Reitoria de Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais, Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica PIBIC/CNPq, Probic/Fapemig e Fundep/Santander – Edital Único PRPq, de 01/2011).Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Minas Gerais: Bolsa de Extensão para aluno de graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (Programa de Bolsas de Extensão – PBEXT – Guia 2010, Edital PROEX 01/2009).

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Introdução

Nos últimos anos, o Brasil tem apresentado uma das mais elevadas taxas de cesarianas do mundo, que já representa mais de 40,0% dos partos realizados no país.1,2 Na Saúde Suplementar, esse percentual chega a 80,0%, enquanto no Sistema Único de Saúde, 30,0% do total de partos são cesarianas.2 Infecções de ferida cirúrgica (IFC) constituem complicações pós-operatórias comuns e, portanto, são uma questão importante em termos de morbimortalidade, tempo de hospitalização e custos.3 Dados do Brasil são escassos; porém, as taxas de infecção puerperal encontram-se entre 0,8 e 1,0%.1,4 No estado de Minas Gerais, um estudo revelou proporção significantemente maior de IFC em ferida operatória abdominal, em relação a episiotomia.5 No município de Belo Horizonte-MG, são relatadas taxas de IFC variando em torno de 3,0% por vigilância passiva6 e 9,6% por vigilância ativa.7

As taxas de IFC são consideradas indicadores da qualidade da assistência e cuidado pós-operatório providos pelos hospitais.8 A utilização de sistemas de vigilância ativa de pacientes submetidas a cesariana contribui, significativamente, para a identificação

correta dos casos de infecção e, com isso, permite a proposição de práticas diretamente relacionadas à melhoria da assistência.9 Entretanto, para estimar a real taxa de infecção pós-operatória, a busca ativa não deve ser realizada apenas durante o período de internação mas também após alta.10 Estudos que incluíram aplicação de questionários para o médico assistente e para o paciente, ligações telefônicas, busca em prontuário eletrônico pós-alta, além de avaliação clínica quando a infecção não pode ser definida, revelam aumento de 32,0 a 72,0% na noti-ficação das taxas de infecção.11-14

Considerando-se o exposto e a necessidade de identificação de complicações puerperais – como a IFC – para ações de prevenção e redução de morbi-dade puerperal, foi implantada a vigilância ativa na

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ResumoObjetivo: avaliar a implantação de vigilância ativa pós-alta de infecções de ferida cirúrgica (IFC) pós-cesariana na Maternidade

Otto Cirne, município de Belo Horizonte, estado de Minas Gerais, Brasil. Métodos: estudo observacional prospectivo, realizado de março/2010 a março/2011; os dados foram obtidos por vigilância ativa, realizada pela Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, incluindo contato telefônico seguido de avaliação clínica quando necessária; a notificação seguiu critérios do National Healthcare Safety Network. Resultados: identificaram-se 762 pacientes submetidas a cesariana (29,3%) e fez-se contato telefônico com 500 puérperas; 7 IFC foram notificadas por vigilância passiva (0,9%) e 34 por vigilância ativa (6,8%), com aumento significativo do número de casos identificados (p<0,0001). Conclusão: a notificação de maior número de casos de IFC pós-cesariana por vigilância ativa reforça a necessidade da identificação de casos de infecção de sítio cirúrgico para reduzir a subnotificação, com referência de puérperas para assistência quando necessário, para definição diagnóstica e tratamento adequado.

Palavras-chave: Cesárea; Infecção da Ferida Operatória; Vigilância Epidemiológica; Notificação de Doenças.

AbstractObjective: to evaluate the implementation of active surveillance post-discharge of Cesarean Surgical-Wound Infections(SWI)

at Otto Cirne Maternity, Belo Horizonte, state of Minas Gerais, Brazil. Methods: prospective observational study conducted from March 2010-2011; data was obtained by active surveillance performed by the Hospital Infection Control Committee, including telephone call followed by clinical evaluation when necessary; notification was performed according to National Healthcare Safety Network criteria. Results: 762 patients who underwent cesarean section (29.3%) were identified and 500 women were contacted; 7 SWI were notified by passive surveillance (0.9%) and 34 by active surveillance (6.8%), with a significant increase on identified cases (p<0.0001). Conclusion: notification of number of cases of SWI post-cesarean section by active surveillance emphasizes the need to identify cases of surgical-wound infection to reduce underreporting, referring to postpartum care when necessary for a definitive diagnosis and appropriate treatment.

Key words: Cesarean Section; Surgical Wound Infection; Epidemiological Surveillance; Disease Notification.

A utilização de sistemas de vigilância ativa de pacientes submetidas a cesariana contribui, significativamente, para a identificação correta dos casos de infecção.

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Maternidade Otto Cirne, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC/UFMG).

O objetivo do presente estudo foi avaliar a implanta-ção de um sistema de vigilância ativa por busca telefô-nica pós-alta em serviço de referência em gestação de alto risco na rede pública, para identificar puérperas com IFC visando à melhoria da notificação dos casos e da assistência a essas pacientes acompanhadas no período de 2010 a 2011.

Métodos

Trata-se de estudo observacional prospectivo, realizado na Maternidade Otto Cirne do HC/UFMG entre 14/03/2010 e 31/03/2011, constituindo um ano completo de seguimento de vigilância ativa.

O Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais – HC/UFMG – é um hospital universitário e de referência para assistência secundária e terciária nos sistemas Municipal e Estadual de Saúde, com aproximadamente 500 leitos. A Unidade Funcional de Ginecologia Obstetrícia, Obstetrícia e Neonatologia conta com um Centro Obstétrico dispondo de cinco salas, responsável por aproximadamente 240 partos/mês, além do serviço de reprodução humana. O aloja-mento conjunto, com 17 leitos, permite permanência do binômio mãe-filho; dispõe sete leitos para interna-ção clínica obstétrica, além da Unidade Neonatal de Cuidados Progressivos.

Como critério de inclusão, foram consideradas todas as pacientes submetidas a cesárea no serviço e foram consideradas perdas de seguimento aquelas com as quais não foi obtido contato telefônico para obtenção das informações até 30 dias pós-parto.

A busca é realizada diariamente, em prontuários, e ligações telefônicas com 15 e 30 dias para completar o período de vigilância recomendado após proce-dimentos cirúrgicos. A notificação foi realizada por profissionais e acadêmicos treinados, vinculados à Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do HC/UFMG. Os acadêmicos realizavam os contatos telefô-nicos e preenchiam uma ficha de coleta com todos os critérios. Posteriormente, essa ficha e os critérios eram avaliados sob a supervisão dos médicos e enfermeiro do setor, para fechamento do caso.

Além de características da evolução clínica da po-pulação assistida (presença de febre, características do liquido amniótico, tempo de ruptura de membra-

nas, número de toques e tempo cirúrgico), a variável IFC foi notificada de acordo com critérios estabeleci-dos pelo National Healthcare Safety Network15 para o componente cirúrgico, como também, de acordo com a topografia: infecção de ferida cirúrgica superficial (IFCS); infecção de ferida cirúrgica profunda (IFCP); e infecção de ferida cirúrgica de órgão ou cavidade (IFCOC). A infecção não foi notificada se os critérios recomendados não puderam ser confirmados.

O banco de dados foi construído mediante programa interno elaborado para a Comissão de Controle de Infec-ção Hospitalar/HC/UFMG. A análise estatística realizada nesse programa incluiu análise descritiva da frequência e percentual do total de infecções cirúrgicas e de infec-ções por topografia (IFCP, IFCS, IFCOC), frequência e percentual de cada critério notificado e taxas de infecção por cesáreas realizadas (número de IFC por 100 proce-dimentos), além de frequência, média e desvio-padrão, mediana e amplitude de variáveis contínuas.

Um diagrama de controle considerando a propor-ção de incidência média (taxa de IFC), o limite de alerta (dois desvios-padrão) e o limite de controle (três desvios-padrão) foi construído para avaliar a notificação após introdução da vigilância. A média e os limites do nível endêmico foram calculados a partir das taxas mensais de IFC por 100 procedimentos. O modelo escolhido para representação das taxas foi o gráfico do tipo U, baseado na distribuição probabilís-tica de Poisson.16

A comparação das proporções de infecções notifi-cadas pelas vigilâncias passiva e ativa foi realizada pelo teste do qui-quadrado, com significância estatística de p<0,05.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais em 12/11/10 (ETIC no 476/10).

Resultados

Durante o período do estudo, foram identificadas 762 pacientes submetidas a cesariana, de um total de 2.604 partos realizados pelo serviço no período analisado. Isso corresponde a uma taxa de cesárea de 29,3%. Das 762 pacientes citadas, 262 (34,4%) foram consideradas como perda de seguimento. Essas 262 puérperas não apresentavam sinais de IFC à alta, embora não se conseguisse contato telefônico em momento algum durante os 30 dias pós-parto. Assim,

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Figura 1 - Fluxograma da amostra de pacientes submetidas a cesárea para notifi cação de infecção da ferida cirúrgica pós-cesárea por busca ativa em puérperas da Maternidade Otto Cirne, município de Belo Horizonte, estado de Minas Gerais. Brasil, 2010 a 2011

2.604Partos

762 (29,3%)Partos cesarianos

1.842 (70,7%)Partos vaginais

500 (65,6%)Puérperas com seguimento

262 (34,4%)Perdas de seguimento

466 (93,2%)Puérperas sem infecção de ferida cirúrgica (IFC)

34 (6,8%)Puérperas com infecção de ferida cirúrgica (IFC)

a amostra do presente estudo foi constituída de 500 pacientes, o que corresponde a 65,6% do total de cesarianas realizadas (Figura 1).

Desse grupo, foram notifi cadas 34 IFC no período, o que corresponde a uma taxa de 6,8%. O diagrama de controle (Figura 2) apresenta a notifi cação das infecções ao longo do período, com incidência média de 3,5, limite de alerta de 10,1 e limite de controle de 13,4.

Observou-se notifi cação de 7 IFC no mesmo perí-odo, por vigilância passiva, o que corresponde a uma taxa de 0,9 infecções por procedimento. A comparação da proporção do número de infecções por vigilância ativa (34/500) e por vigilância passiva (7/762) revelou χ2 = 31,38 e p<0,0001, com diferença estatisticamente signifi cante.

Considerando-se a distribuição das 34 infecções por topografi a, foram notifi cadas 24 IFCS, 3 IFCP e 7 IFCOC. Quanto à frequência dos critérios notifi cados por topografi a referentes à incisão primária, observou-se que todas as 24 IFCS ocorreram com presença de acometimento de pele e subcutâneo (critério obriga-tório), além de drenagem purulenta local identifi cada

em 23 pacientes e diagnóstico médico de IFC relatado em 23 dos casos. Os sinais fl ogísticos variaram de 9 a 19 casos, com drenagem cirúrgica da ferida em apenas 2 (Figura 3).

No caso das três pacientes com IFCP, todas apre-sentaram acometimento de tecido mole profundo da incisão primária (critério obrigatório), deiscência de sutura associada a febre ou dor à palpação. Ademais, uma paciente teve o diagnóstico de abscesso em nova cirurgia e outra apresentou relato de drenagem puru-lenta profunda (Figura 4).

Quanto aos critérios de IFCOC, as 7 pacientes apresentaram infecção com acometimento uterino (critério obrigatório) e todas foram confi rmadas com diagnóstico médico à internação. Quatro des-sas pacientes apresentavam abscesso acometendo o útero, uma delas necessitou de colocação de dreno e em outra foi isolado, em cultura de fl uido obtido do local, Staphylococcus aureus sensível à oxacilina (Figura 5). Ressalta-se que apenas para 3 pacientes, foi registrado pedido de cultura de material da ferida cirúrgica.

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Figura 3 - Frequência de critérios notificados em infecções de ferida cirúrgica superficial (IFCS) (n=24) de pacientes submetidas a parto cesáreo na Maternidade Otto Cirne, município de Belo Horizonte, estado de Minas Gerais. Brasil, 2010 a 2011

Drenagem cirúrgica da ferida

Calor local

Hiperemia local

Dor ou hipersensibilidade local

Edema local

Diagnóstico médico de IFCS

Drenagem purulenta local

Acometimento de pele e subcutâneo

0 4 8 12 16 20 24

2

9

16

17

19

23

23

24

22

15

8

7

5

1

1

0

Sim Não

Figura 2 - Diagrama de controle da taxa de infecção da ferida cirúrgica pós-cesárea por busca ativa em puérperas da Maternidade Otto Cirne, município de Belo Horizonte, estado de Minas Gerais. Brasil, 2010 a 2011

20

Mar-10

15

10

5

0Abr-10 Mai-10 Jun-10 Jul-10 Ago-10 Set-10 Out-10 Nov-10 Dez-10 Jan-11 Fev-11 Mar-11

Limite de controle

Taxa de infecção (busca ativa)

Limite de alerta

Limite médio

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Tão somente uma das pacientes com IFCS apre-sentava febre à admissão para assistência ao parto, o que é considerado fator de risco para infecção. Não foram notificados outros fatores de risco para infecção à admissão, como bolsa rota acima de 18 horas ou corioaminionite. No entanto, apenas uma paciente relatou líquido fétido e foi notificada como IFCS.

Nos 34 casos com IFC, o número médio de toques vaginais foi de 4,03 (desvio-padrão de 3,79), com mediana de 2,5. O tempo de ruptura de membranas amnióticas foi, em média, de 8,99 horas (desvio-

padrão de 24,05); o tempo cirúrgico médio foi de 63 minutos (desvio-padrão de 22,56), com mediana de 55 minutos, variando 35 a 135 minutos.

Discussão

A vigilância ativa pós-parto de cesárea na Mater-nidade Otto Cirne do HC/UFMG permitiu aumento da notificação de casos de IFC e orientações à puérpera, para uma melhor e mais ampla assistência prestada. Neste estudo, a taxa de IFC pós-cesariana apresentou

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Figura 5 - Frequência de critérios notificados em infecções de ferida cirúrgica de órgão ou cavidade (IFCOC) (n=7) de pacientes submetidas a parto cesáreo na Maternidade Otto Cirne, município de Belo Horizonte, estado de Minas Gerais. Brasil, 2010 a 2011

Isolamento de microorganismo de material obtido do órgão ou cavidade

0 1 5

1

7

4

6

6

Sim Não

1

7

0

0

Dreno inserido no órgão com drenagem de secreção purulenta

Abscesso uterino

Diagnóstico médico

Acometimento de órgão ou cavidade (útero)

72 3 4 6

03

Figura 4 - Frequência de critérios notificados em infecções de ferida cirúrgica profunda (IFP) (n=3) de pacientes submetidas a parto cesáreo na Maternidade Otto Cirne, município de Belo Horizonte, estado de Minas Gerais. Brasil, 2010 a 2011

Abscesso ou evidência de infecção profunda em nova cirurgia

0 1 2

1

3

3

2

2

0

Sim Não

1

3

0

0

Deanagem prurlenta profunda

Deiscencia de sutura com febre ou dor à palpação

Diagnóstico médico

Acometimento de tecido profundo (músculo ou fáscia)

3

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aumento de quase oito vezes a partir da notificação por vigilância ativa com contato telefônico, significantemente maior que a notificação passiva (p<0,0001). A identifi-cação dessas infecções e a implementação de medidas de prevenção devem ser foco de ação das Comissões de Controle de Infecção Hospitalar, pois as IFC estão associadas a alta morbimortalidade, além de elevar o custo das internações para as instituições de saúde.17

Sabe-se que as taxas de cesarianas podem influir diretamente nas taxas de infecção. No presente estudo, a taxa do procedimento (29,3%) encontrou-se acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (15,0%), porém próxima à média de 30,0% descrita no Brasil, onde ações do Ministério da Saúde visam incentivar a redução de cesarianas.2 Deve-se conside-rar que a maternidade onde o estudo foi realizado é um serviço terciário, de alto risco, em que essas taxas podem ser elevadas em função das próprias indicações clínicas das pacientes e/ou de indicações obstétricas.

Observa-se que a taxa encontrada por vigilância passiva na maternidade estudada foi semelhante às taxas relatadas pela maioria dos estudos da literatura citados,7,14,18,19 embora alguns autores tenham notifica-do taxas acima de 2,0%.11,13 Por outro lado, as taxas de vigilância ativa apresentam ampla variação. Taxa seme-lhante à do presente estudo foi observada por Hulton e colaboradores19 ao utilizarem questionários enviados aos médicos assistentes, com 90,0% de respostas e notificação de 6,3% de IFC pós-cesárea. No estudo de Eriksen e colaboradores,12 a vigilância foi realizada com informação das puérperas por correspondência e encontrou taxa de infecção de 8,3%, com taxa de IFCS (81,0%) semelhante à do presente estudo, não obstante aqueles autores houvessem observado maior proporção de IFCP (17,4%) e menor proporção de IFCOC (1,6%). A maior taxa relatada com implantação de sistema de vigilância ativa foi observada no estudo de Creed e Noy:11 a taxa de IFC aumentou em 32,0%, variando de 2,8 para 17,0% quando os autores utiliza-ram questionário associado a contato telefônico, por não obterem retorno da paciente.

Gravel-Tropper e colaboradores,13 em estudo com vigilância ativa por questionário enviado aos médicos e pacientes no pós-parto, observaram aumento das taxas de infecção notificadas: 41,7% das infecções foram diagnosticadas apenas pelos questionários retornados, embora tenham incluído cirurgias ginecológicas. Mes-mo quando a vigilância ocorreu por meio de busca em

prontuário eletrônico, Friedman e colaboradores14

notificaram taxa de IFC de 4,5%, significativamente superior (p<0,01) à relatada na vigilância habitual. A busca ativa revela taxa comparável ao percentil de 90,0%, se considerada categoria de índice de risco cirúrgico de nível I.20

No Brasil, estudo conduzido em Campinas, estado de São Paulo, encontrou taxa de 1,2 % de IFC quando a busca foi realizada apenas durante a internação hospitalar, comparada à taxa de 14,4% quando essas pacientes foram acompanhadas após a alta, também por contato telefônico.18

As taxas das maternidades no município, relatadas pela Prefeitura de Belo Horizonte-MG, não passaram de 3,0% mas ressalta-se que, na maioria dos hospitais, é realizada apenas vigilância passiva.6 Na Região Metro-politana da capital mineira, estudo conduzido por Couto e colaboradores7 incluiu avaliação clínica ambulatorial das pacientes submetidas a cesárea e a taxa obtida foi de 9,6%, com diferença significante em relação à notificação realizada no pós-parto, apenas no hospital (p<0,00001). A maior sensibilidade pode ser atribuída à avaliação clínica realizada por profissionais capacitados para utilizar critérios de notificação de infecção.

Considera-se que a sensibilidade de critérios diagnós-ticos obtidos por informações da paciente na vigilância pós-alta podem se mostrar variáveis, porém o valor preditivo negativo é alto e chega a 98,0%; ademais, a associação de métodos pode identificar casos não definidos pelos relatos das pacientes.21 Para pacientes que relataram sinais e sintomas que não puderam de-finir IFC, a avaliação clínica sequencial e a conduta do médico assistente permitiram a definição de critérios que pudessem preencher o diagnóstico para notificação.

As manifestações clínicas de febre, hiperemia, dor e edema isoladamente, relatadas pelas puérperas com frequência, não são suficientes para definir um caso de infecção15 e foram referidas por um número maior de mulheres do que aquelas realmente notificadas. Liga-ções telefônicas foram realizadas com maior frequên-cia, para obter informações sobre o seguimento dessas puérperas, e quando estas não obtinham atendimento em assistência primária, eram orientadas a retornar ao serviço para reavaliação e tratamento adequados.

Em obstetrícia, o breve período de internação hospitalar (mediana de quatro dias) e a ausência de vigilância após a alta das pacientes podem ser responsáveis pela subestimação da taxa de infecção

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pós-operatória.13,22 A literatura refere que até 80,0% das infecções são relatadas nos primeiros 15 dias após o procedimento.7,11,12,18,22 No estudo conduzido por Cardoso Del Monte e colaboradores,18 93,0% das mulheres com infecção apresentaram IFC até o 15o

dia do puerpério, sendo esse percentual ainda mais elevado em estudo realizado em Belo Horizonte-MG,7

quando se observou percentual de 95,0% para o mes-mo período. Embora, neste estudo, tenha-se realizado vigilância de 30 dias pós-parto, considera-se que o acompanhamento realizado pelo menos até o 15o dia pós-parto pode identificar a maioria das mulheres com infecção, para uma assistência adequada.

Aqui, não foi avaliada estratificação de risco – de acordo com Culver e colaboradores23 –, que inclui tempo cirúrgico, gravidade definida pela American Society of Anesthesiology e potencial de contaminação, o que representa a principal limitação do presente estudo. A avaliação de variáveis locais que interferem no risco devem ser consideradas,24 pois o hospital em estudo é universitário, de referência terciária e alto risco, o que pode ter influenciado no aumento do número de partos situados em maior estratificação de risco. Assim, pretende-se manter a vigilância com inclusão de fatores de risco potenciais para atuação preventiva.25-27 O tempo de procedimento foi avaliado isoladamente e, embora a média tenha ultrapassado o tempo recomendado de 57 minutos para cesarianas,23 a mediana demonstra menor tempo cirúrgico.

Quanto ao tempo de ruptura de membranas, esta é considerada de maior risco para infecção materna e neonatal se além de 18 horas,28,29 valor maior do que o observado. No estudo de Killian e colaboradores,25 pacientes com IFC apresentaram tempo médio de ruptura de membranas de 11,5 horas, também acima do observa-do neste estudo. Já o número médio de toques realizados em pacientes que evoluíram com infecção mostrou-se acima do observado na literatura, como no estudo de Mitt e colaboradores30 que relatou 2,6 toques (desvio-padrão de 1,7). Embora não se encontrem na estratificação de risco, essas e outras variáveis são relatadas como fatores de risco, a exemplo de hematoma, procedimento em serviço universitário e índice de massa corporal.27

Na literatura, não há recomendação de padrão ouro para vigilância pós-alta e observa-se aumento da sensibilidade e especificidade na identificação de

casos quando há associação de métodos, além de se recomendar utilização de critérios padronizados como o do National Healthcare Safety Network.15

Considera-se como principal limitação do estudo a dificuldade na obtenção de informações para preenchi-mento de critérios para notificação pela busca ativa por contato telefônico. Além disso, o estudo foi realizado em um único centro, embora seja referência de alto risco obstétrico para o município e para o estado.

A elevada perda de seguimento (34,4%) também pode ser considerada uma limitação do estudo, uma vez que outras puérperas com infecção podem não ter sido contactadas e identificadas.

Conclui-se que a identificação de maior número de casos de IFC após cesariana reforça a necessidade da vigilância ativa para notificação de IFC, bem como a importância do monitoramento telefônico, sendo essa uma prática viável para a maioria das maternidades. Com isso, objetiva-se reduzir a subnotificação associa-da ao encaminhamento das puérperas para assistência quando necessária, o que vem a auxiliar na definição diagnóstica e no tratamento adequado.

Agradecimentos

A todos os profissionais responsáveis pela assis-tência e seguimento das parturientes e puérperas do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais – HC/UFMG.

Contribuição dos autores

Romanelli RMC, Aguiar RLP, Leite HV e Clemente WT participaram na concepção e delineamento do estudo, análise e interpretação dos dados, redação ou revisão crítica relevante do conteúdo intelectual do manuscrito e aprovação da versão final.

Silva DG, Nunes RVP, Brito JI, Fernandes HR, Protil KZ, Sousa IS e Armond GA participaram na coleta e interpretação dos dados, redação ou revisão crítica relevante do conteúdo intelectual do manuscrito e aprovação da versão final

Jesus LA participou na análise e interpretação dos dados, redação ou revisão crítica relevante do conteúdo intelectual do manuscrito e aprovação da versão final.

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Recebido em 16/09/2012 Aprovado em 26/11/2012

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Indicators of effectiveness of the Unified Health System smoking cessation program in Minas Gerais, Brazil, 2008

aRtigo

oRiginal Indicadores de efetividade do Programa de Tratamento do Tabagismo no Sistema Único de Saúde em Minas Gerais, Brasil, 2008

Endereço para correspondência: Rua Professor Morais, 476, Apto 1303, Bairro Funcionários, Belo Horizonte, MG, Brasil. CEP 30250-370 E-mail: [email protected]

Juliana Dias Pereira dos Santos Secretaria de Saúde da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, Belo Horizonte-MG, Brasil

Bruce Bartholow DuncanPrograma de Pós-graduação em Epidemiologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS, Brasil

Sérgio Antônio SirenaCentro de Educação Tecnológica e Pesquisa em Saúde – Escola GHC, Grupo Hospitalar Conceição, Porto Alegre-RS, Brasil

Álvaro VigoPrograma de Pós-graduação em Epidemiologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre-RS, Brasil

Mery Natali Silva AbreuDepartamento de Enfermagem Aplicada, Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil

ResumoObjetivo: analisar indicadores de efetividade do Programa de Tratamento do Tabagismo oferecido pelo Sistema Único de

Saúde em 60 municípios do estado de Minas Gerais, Brasil, em 2008. Métodos: foi realizado estudo ecológico; os indicadores de efetividade foram descritos e o risco relativo (RR; IC

95%) foi calculado para analisar a associação entre uso de medicamentos

(>60,0% usuários com apoio medicamentoso) e sucesso (>50,0% usuários sem fumar na quarta sessão). Resultados: o programa, disponível em apenas 7,0% dos municípios mineiros, apresentou grande heterogeneidade em seus indicadores; a taxa média de permanência foi 71,8% (IC

95%: 67,1-76,5), de cessação na quarta semana foi 40,5% (IC

95%: 34,3-46,5) e de uso de medicamentos

foi 57,8% (IC95%

: 49,2-66,3); encontrou-se forte relação entre uso de medicamentos e taxa de sucesso (RR 2,29; IC95%

: 1,42-3,66, p<0,05). Conclusão: o programa parece efetivo, sendo melhor em municípios onde o tratamento medicamentoso é oferecido para mais de 60,0% dos pacientes.

Palavras-chave: Tabagismo; Abandono do Hábito de Fumar; Abandono do Uso de Tabaco; Atenção Primária à Saúde; Estudos Ecológicos.

AbstractObjective: to evaluate the effectiveness indicators of the Tobacco Addiction Treatment Program of 60 municipalities in

the State of Minas Gerais in 2008; offered by the Brazilian Public Health System. Methods: An ecologic study was conducted. We described the indicators of effectiveness and calculated the Relative Risk (RR; CI

95%) to evaluate the association between

the medication intake (>65.0% of users with medication support) and the program success (>50.0% of users not smoking up to the fourth session. Results: The program is available in only 7.0% of municipalities of Minas Gerais; shows important heterogeneity in its indicators. The average rate of retention was 71.8% (CI

95%: 67.1-76.5), of cessation was 40.5% (CI

95%:

34.3-46.5) and use of medication was 57.8% (CI95%

: 49.2-66l.3). We found a strong association between medication use and cessation (RR 2.29; CI

95%: 1.42-3.66, p<0.05). Conclusion: The program seems to be effective, and shows better performance

in municipalities in which drug treatment was offered to more than 60.0% of patients.Key words: Smoking; Smoking Cessation; Tobacco Use Cessation; Primary Health Care; Ecological Studies.

doi: 10.5123/S1679-49742012000400007

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Introdução

No século XX, a epidemia tabágica matou 100 milhões de pessoas no mundo. No século XXI, poderá matar um bilhão.1 Uma das estratégias preconizadas pela Organização Mundial da Saúde para o enfrenta-mento deste problema é o tratamento da dependência do fumo. As estratégias terapêuticas são clinicamente efetivas, e ações de Saúde Pública, altamente custo-efetivas.1,2 No Brasil, o tratamento da dependência do fumo é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) mediante um programa coordenado pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA), que ampliou seu acesso com a inclusão da oferta do serviço na rede de Atenção Primária a partir de 2004.3,4 São poucas as avaliações da efetividade e do alcance do Programa de Tratamento de Tabagismo no SUS após sua ampliação.5-7

O tratamento do tabagismo foi inserido na rede de Atenção Primária do SUS pelas Portarias Ministeriais GM/MS no 1.035, de maio de 2004, e SAS/MS no 442, de agosto de 2004, aprovando o Plano de Implantação da Abordagem e Tratamento do Tabagismo no SUS e Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas – Depen-dência à Nicotina. Essas Portarias ampliaram o acesso da abordagem e tratamento do tabagismo, dos serviços de média complexidade para os centros de saúde.4,8

O programa de tratamento sugerido pelo Ministério da Saúde propõe diretrizes para a terapêutica do fu-mante. A primeira delas é a avaliação inicial, com uso de questionário padronizado sobre história tabágica, presença de comorbidades, grau de dependência de nicotina (teste de Fagerstrom) e estágio motivacional para definição do plano terapêutico. A segunda é a indicação de participação do paciente em grupos de terapia cognitivo-comportamental. Dessas sessões tera-pêuticas, as quatro primeiras são semanais (primeiro mês de tratamento) e trazem roteiro bastante sistema-tizado, a partir de um manual padronizado para cada uma delas. O tratamento individual é outra alternativa. A terceira é a indicação de apoio medicamentoso aos pacientes com elevado e muito elevado grau de dependência. As unidades de atendimento cadastradas recebem, gratuitamente, gomas de mascar de 2mg, adesivos de nicotina de 7, 14 e 21mg e bupropiona 150mg, além de manuais destinados aos participantes e coordenadores das sessões e cartazes educativos.9

Durante a existência do programa, o ano de 2007 foi o primeiro em que todos os medicamentos (bupro-

piona, adesivo e goma) foram distribuídos.5 Naquele ano, entretanto, faltaram os manuais. Em 2008, o Ministério da Saúde forneceu manuais, adesivos para reposição nicotínica e bupropiona com regularidade; o problema, dessa vez, foi o fornecimento de goma de mascar, embora essa alternativa terapêutica seja a menos usada como apoio medicamentoso. Por esses motivos, o ano de 2008 permite boa oportunidade para avaliação do tratamento oferecido pelo programa atra-vés da terapia cognitivo-comportamental, estruturada nos manuais, e da distribuição gratuita dos principais medicamentos de apoio.

Esta pesquisa tem o objetivo de analisar indicadores de efetividade deste programa nos municípios cadas-trados do estado de Minas Gerais em 2008 e descrever oferta e taxas de permanência, cessação e percentual de uso de medicamentos durante o primeiro mês de tratamento, entre os usuários atendidos.

Métodos

Para este estudo ecológico, adotou-se como uni-dade de análise o município. Foram obtidos dados de todos os 62 municípios cadastrados no Programa de Tratamento do Tabagismo do Ministério da Saúde em Minas Gerais, durante o ano de 2008. Foram incluídos neste estudo todos os municípios com pelo menos um atendimento realizado naquele ano, totalizando 60.

Os dados foram obtidos a partir das planilhas padronizadas pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) para acompanhamento por município, dispo-nibilizadas pela coordenação estadual do programa. Os municípios atualizam e repassam essas planilhas trimestralmente, via coordenações regionais, para a coordenação estadual, que as envia ao INCA. Foram buscados dados adicionais, junto aos municípios ou regionais, quando as planilhas se encontravam dispo-níveis na coordenação estadual apenas em sua forma sumarizada.

O tratamento da dependência do fumo é oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS) mediante um programa coordenado pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA).

Efetividade do Programa de Tratamento do Tabagismo no SUS

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Os dados fornecidos apontam informações de três momentos de acompanhamento: número de participantes que passaram pela avaliação inicial do fumante; número desses participantes que compare-ceram à primeira sessão; e número de participantes que compareceram à quarta sessão. Sobre o último momento, também é fornecida a informação de quantos dos usuários estavam sem fumar. Além disso, a planilha informa o número de pacientes que usou algum medicamento e o número de unidades de saúde que atenderam no período.

Para a análise da cobertura, considerou-se o número de fumantes atingidos pelo programa em re-lação à estimativa do total de fumantes na população, selecionando-se apenas os municípios que atingiram 200 ou mais usuários.

Foram analisados quatro indicadores de processo e resultado sugeridos pelo Ministério de Saúde:1) número de fumantes atendidos na primeira consulta

de avaliação clínica;2) percentual de abandono, definido como percentual

de pacientes que participaram da primeira sessão e não estavam presentes na quarta sessão estruturada;

3) percentual de cessação, definido como a proporção dos fumantes que participaram da primeira sessão estruturada e que estavam sem fumar na quarta sessão estruturada; e

4) percentual de fumantes que fizeram uso de algum tipo de medicamento.5 Para analisar a associação entre maior uso de

medicamentos (os municípios com mais de 60,0% de usuários com apoio medicamentoso) e sucesso (mais de 50,0% de usuários sem fumar na quarta sessão), ca-racterizada pelo risco relativo (RR), foi utilizado o teste qui-quadrado de Pearson com nível de significância de 5%. Demais medidas são apresentadas como médias e percentuais dos dados coletados. A análise de dados foi realizada pelo programa estatístico SPSS versão 15.0.

Com o propósito de estimar o número necessário de pessoas tratadas para que uma obtivesse sucesso no programa, dividiu-se 100 pela diferença entre a média da taxa de cessação obtida no programa e a taxa de cessação na população que não recebe intervenção, conforme referido na literatura.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde da Pre-feitura de Belo Horizonte: Parecer de Aprovação no 0800.0.410.165.09A.

Resultados

Os municípios do estado de Minas Gerais ca-dastrados no programa até o final de 2008 podem ser localizados no mapa (Figura 1). Observa-se um cadastramento maior de municípios do sul de Minas e da Região Metropolitana de Belo Horizonte-MG, regiões onde o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH – é maior no estado. Na região que inclui o chamado Triângulo Mineiro, confirmou-se a oferta do programa apenas em Uberaba-MG e Uberlândia-MG, os municípios de maior porte da região.

Os dados sobre o acesso, definido como o número de fumantes avaliados pelo programa entre o total de fumantes estimados para a população do município, variaram bastante. Alguns municípios com menos de 10 mil habitantes têm conseguido um bom número de atendimentos, como Piranguinho-MG e Florestal-MG, que atingiram mais de 200 fumantes em 2008 garan-tindo acesso a mais de 30,0% dos fumantes estimados para esses municípios. Enquanto isso, as três maiores cidades mineiras, com mais de 500 mil habitantes – Belo Horizonte-MG, Uberlândia-MG e Contagem-MG – atenderam menos de 200 pessoas nesse período. O município de Juiz de Fora-MG, que também soma mais de 500 mil habitantes, atendeu mais de 400 pessoas, as quais, entretanto, representam menos de 1,0% dos fumantes estimados para a cidade. Os municípios com mais que 200 atendimentos estão listados na Tabela 1, junto às estimativas do percentual de fumantes abrangido pelo programa.

Na Tabela 2, apresentam-se os dados globais dos fumantes avaliados: um total de 7.269 participantes, distribuídos em 60 (7,0%) dos 853 municípios mi-neiros, ingressaram no programa. Dois municípios, já cadastrados para participar no programa em 2008, não realizaram atendimentos no período do estudo. Quanto à regularidade da oferta de atendimento, a maioria dos municípios ficou pelo menos algum dos trimestres analisados sem inclusão de novos fumantes no programa (dados não apresentados). A média total de municípios que mantiveram o programa com atendimento durante cada trimestre variou entre 75 e 86,0%. Menos da metade (44,0%) dos 45 municípios cadastrados desde o início de 2008 realizaram atendi-mentos durante todo o ano.

A Tabela 2 ainda mostra, em sua primeira coluna, um crescimento de 52,0% no atendimento dos usuá-

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Efetividade do Programa de Tratamento do Tabagismo no SUS

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Tabela 1 - Lista de número de municípios com registro de mais de 200 fumantes avaliados no estado de Minas Gerais. Brasil, 2008

Município Microrregião PopulaçãoEstimativa de

fumantes a

(A)

Pacientes avaliados(B)

Percentual (%) defumantes atendidos

(B/A)

Poços de Caldas Poços de Caldas 151.449 15.460 1.206 7,8

Lavras Lavras 91.333 8.800 556 6,3

Juiz de Fora Juiz de Fora 526.726 52.180 406 0,8

Uberaba Uberaba 296.261 28.700 279 1,0

Betim Belo Horizonte 429.507 31.627 272 0,9

Florestal Pará de Minas 6.086 613 271 44,2

Piranguinho Itajubá 8.160 791 263 33,3

Mateus Leme Belo Horizonte 28.998 2.573 220 8,5

a) Para estimativa de fumantes, considerou-se 15,1% da população maior de 15 anos de idade segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD – e percentual dessa faixa etária na população, por município, segundo dados do Departamento de Informática do SUS – Datasus – e da Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.

Figura1 - Municípios cadastrados para o tratamento do tabagismo no estado de Minas Gerais. Brasil, 2008

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Tabela 2 - Número de pacientes avaliados e participantes da primeira sessão e taxas de abandono e cessação de fumar no momento da 4ª sessão do Programa de Tratamento do Tabagismo em municípios do estado de Minas Gerais. Brasil, 2008

Período

Pacientes atendidosna 1ª consulta de avaliação clínica

Pacientes que participaram da 1ª

sessão

Pacientes que participaram da 4ª

sessão

Pacientessem fumar

na 4ª sessão

N N (%) a N (%) b N (%) c

Janeiro a março 1.318 1.127 (86%) 831 (74%) 545 (66%)

Abril a junho 1.708 1.492 (87%) 1.091 (73%) 763 (70%)

Julho a setembro 2.236 1.837 (82%) 1.325 (72%) 856 (65%)

Outubro a dezembro 2.007 1.848 (92%) 1.370 (74%) 920 (67%)

TOTAL 7.269 6.304 (87%) 4.617 (73%) 3.084 (67%)

a) Percentual de pacientes avaliados que compareceram à primeira sessão.

b) Percentual de pacientes da primeira sessão que compareceram na quarta sessão.

c) Percentual de pacientes da primeira sessão que compareceram na quarta sessão e estavam sem fumar.

rios do SUS pelo programa em Minas Gerais, entre o primeiro e o quarto trimestres de 2008.

Compareceram à primeira sessão de tratamento 6.304 indivíduos, 87,0% do total de usuários que re-alizou a avaliação inicial para ingresso no programa. No entanto, apenas 4.617 (73% deles) permaneciam na quarta sessão. Dos presentes, 3.084 (67,0%) es-tavam sem fumar, ou seja, 49,0% daqueles presentes na primeira sessão.

Os dados gerais apresentados ocultam uma grande heterogeneidade entre os diversos programas munici-pais (Figura 2). O percentual médio de permanência encontrado entre os municípios foi de 71,8%, com percentuais variando entre 0,0 e 100,0%. Esse indi-cador impacta diretamente no indicador principal de sucesso do programa, que é a taxa de cessação: 23 municípios (38,0%) tiveram permanência >80,0%; 24 (40,0%), entre 60,0 e 80,0%; e 13 (22,0%), per-manência ≤60,0%.

O uso de medicamentos também foi realizado em frequência variada pelos municípios, com percentual médio de 57,8% dos pacientes recebendo tratamento farmacológico. A variação desse percentual foi de 0,0 a 100,0%.

O número de municípios que usaram apoio medica-mentoso em 0,0 a 25,0% dos pacientes, 25,1 a 50,0%, 50,1 a 75,0% e 75,1 a 100,0% dos pacientes atendidos foram de 13 (22,0%), 8 (13,0%), 18 (30,0%) e 21 (35,0%) respectivamente. Observou-se, entre os 13 municípios que fizeram menos uso de medicamentos, que 9 deles não distribuíram qualquer medicação de

apoio; 28 (47,0%) municípios usaram apoio medica-mentoso para menos de 60,0% dos pacientes.

Na taxa de cessação do tabagismo, resultado principal do programa, também encontramos alta variação, de 0,0 a 100,0%, com média de 40,5% na quarta sessão. Em 22 (37,0%) dos municípios, a taxa de sucesso foi de até 30,0%; em 26 (43,0%), entre 30 e 59,9%; e em 12 (20,0%), de mais de 60,0%. Municípios que ofereceram apoio medicamentoso a 60,0% ou mais usuários, conforme sugestão do INCA, tiveram maior probabilidade de ter pelo menos 50,0% dos usuários sem fumar na quarta sessão (RR 2,29; IC

95%: 1,42-3,66; p<0,05).

Considerando-se um cenário com as médias encon-tradas neste estudo para as taxas de uso de medicação, permanência e cessação, e que a cessação em pessoas sem intervenção seja de 6,0%,10 haveria que tratar três pessoas (número necessário a tratar ou NNT = 100/(40,5-6,0) = 2,90) para que uma parasse de fumar ao final do primeiro mês de tratamento. Extrapolando as estimativas destes autores, de cessação do programa em Minas Gerais em 2008 para seis meses, a taxa de cessação ficaria em torno de 33,4%. Ou seja, haveria que tratar quatro pessoas (NNT = 100/(33,4-6,0) = 3,65) para que uma passasse a ser não fumante após 6 meses.

Discussão

Conforme observamos neste estudo, o alcance do programa em Minas Gerais ainda era baixo em 2008, atingindo apenas 7,0% do total de municípios. Sobre

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Efetividade do Programa de Tratamento do Tabagismo no SUS

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Figura 2 - Distribuição da taxa de permanência, percentual de uso de medicamento e taxa de cessação de prática tabagista entre os municípios avaliados no estado de Minas Gerais. Brasil, 2008

16

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Taxa de permanência (%)

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de m

unic

ípio

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2

00 20 40 60 80 100

Taxa de uso de medicação (%)

Núm

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de m

unic

ípio

s16

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12

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8

6

4

2

00 20 40 60 80 100

Taxa de cessação (%)

Núm

ero

de m

unic

ípio

s

os indicadores verificados, encontramos, entre os pro-gramas municipais, uma taxa média de permanência de 71,8% (IC

95%: 67,1-76,5); a taxa média de cessação

na 4ª semana foi de 40,5% (IC95%

: 34,3-46,5); e a taxa média de uso de algum medicamento de apoio à terapia cognitivo comportamental de 57,8% (IC

95%:

49,2-66,3). Encontramos forte relação entre o uso de medicamento em mais de 60,0% dos usuários e a taxa de sucesso (RR 2,29; IC

95%: 1,42-3,66).

Talvez esta dificuldade de distribuição regular de insumos possa afetar a regularidade da oferta do pro-grama. No presente estudo, observou-se irregularidade na frequência dos atendimentos prestados, na grande maioria dos municípios. Apenas 32,0% ofertaram o serviço durante todo o ano. Esses achados sugerem a necessidade de melhor estruturação do programa.

Outros motivos levantados pelo INCA e que parecem prejudicar o programa são mudanças frequentes dos coordenadores municipais, falta de engajamento dos municípios por motivos políticos, falta de pessoal nas equipes municipais e estaduais com dedicação exclusiva, e outras insuficiências da capacidade insti-tucional (recursos financeiros, salários e apoio) para a coordenação.11

Minas Gerais, apesar de ter cadastrado apenas 7,0% de seus municípios, estava na terceira posição em número absoluto de municípios cadastrados para o tratamento, sendo o primeiro o Rio Grande do Sul (27,0%) e o segundo, o Paraná (19,0%).5

Na Tabela 1, também é apresentada a grande variação no acesso, a depender do município. Uma publicação do National Institute for Health and Clinical

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Excellence – NICE – da Inglaterra, no ano de 2008, apontou que o objetivo dos serviços deveria ser atingir pelo menos 5,0% dos fumantes por cada ano.12

O grande avanço na implantação do programa no Brasil aconteceu em 2008. Até 2001, 50 unidades de saúde estavam cadastradas para oferecer o atendimen-to e apenas 33 ofereciam-no.13 O primeiro salto do número de municípios cadastrados foi de 2005 (88) para 2006 (259); e o segundo salto, de 298 municípios credenciados em 2007 para 465 em 2008, quantitativo que representa um pouco menos que 10,0% dos mu-nicípios brasileiros.5 A Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais aderiu ao Programa de Tratamento do Tabagismo em 2005. Até 2007, implantou o programa e cadastrou unidades para atendimento do fumante em 45 municípios. Em 2009, mais 51 novos municípios foram cadastrados e mais unidades básicas de atendi-mento foram capacitadas nas cidades que já ofereciam o programa, segundo informações da Secretaria.

Além do alcance no Estado, buscou-se analisar os indicadores do programa nos municípios. Sobre os valores encontrados para cada indicador, fica evidente na Figura 2 a heterogeneidade entre os municípios em todas as avaliações realizadas. Essa heterogeneidade pode refletir a variedade na estrutura de oferta do pro-grama, uma vez que cada unidade credenciada para o atendimento pode ter coordenadores locais de diferen-tes categorias profissionais, cenários de atendimento variados (desde hospitais e centros especializados até unidades básicas de saúde) e, na atenção básica, coordenadores locais com ou sem vínculo com a es-tratégia Saúde da Família. Infelizmente, com os dados disponíveis, não foi possível avaliar se a variabilidade encontrada está associada a esses fatores.

Nos municípios estudados, 78,0% dos serviços man-tiveram taxas de permanência maiores que 60,0% entre a primeira e a quarta sessão terapêutica. No Brasil, em 2008, o percentual médio de fumantes que abando-nou o tratamento foi de 25,3%.5 Pode ser importante desenvolver e avaliar estratégias de envolvimento de equipes de Saúde da Família e agentes comunitários, a fim de ampliar o engajamento familiar e comunitário no programa. A busca ativa, desenvolvida por esses atores, pode significar uma estratégia interessante no sentido de manter as taxas de abandono menores

A permanência no grupo terapêutico é importante. Ensaios clínicos demonstram que a terapia com-portamental apresenta sucesso mesmo em seu uso

isolado, além de aumentar o sucesso de tratamento medicamentoso quando usados simultaneamente. Uma meta-análise realizada em 2005 encontrou aumento importante na cessação do tabagismo em pacientes que participaram de programas de grupo versus pacientes sem intervenção (Razão de chances, ou RC=2,17; IC

95%: 1,37-3,45) ou quando comparado ao

recebimento de material de auto-ajuda sem instruções face-a-face (RC=2,04; IC

95%: 1,60-2,60).14

No uso de medicamentos, encontramos resultados inesperados neste estudo, uma vez que apenas 53,3% dos municípios tiveram 60,0% ou mais dos pacientes usando medicamento, parâmetro sugerido pelo INCA.5

No Brasil, em 2008, o percentual de fumantes que usou apoio medicamentoso foi de 71,3%.5

Algumas limitações desse trabalho referem-se ao fato de características de estrutura do programa não terem sido avaliadas. Podem contribuir com baixo acesso ao uso de medicamentos: perfil de usuário atendido (baixo grau de dependência reduzindo a indicação de medica-mento); composição da equipe que conduz o programa (no caso de não contar com médico); regularidade no fornecimento de medicação gratuita pelo município. Outra limitação diz respeito ao fato de a cessação do tabagismo ser, na maioria dos casos, confirmada apenas pela informação do usuário, ou seja, basear-se em relato, sem confirmação laboratorial. A avaliação da cessação na quarta semana também não tem uma pergunta pa-dronizada, portanto pode ocorrer registro de sucesso sem clareza do tempo mínimo sem fumar considerado pelos diferentes grupos.

Uma meta-análise de 2008 conclui que o uso de terapias de reposição de nicotina aumenta as taxas de cessação em 50,0 a 70,0% independentemente do cenário de tratamento, da duração do uso ou da intensidade de suporte terapêutico adicional.15 Outra meta-análise de 2008, que avalia as farmacoterapias para parar de fumar, confirma a efetividade dos trata-mentos usados no programa do INCA encontrando uma razão de chances – RC – para terapia nicotínica usando adesivos de 2,07 (IC

95%: 1,69-2,62), com uso de goma,

de RC=1,71 (IC95%

: 1,35-2,21), e de bupropiona, RC=2,07 (IC

95%: 1,73-2,55).7 O consenso nacional,9

assim como os consensos internacionais,2 propõe o apoio medicamentoso nas abordagens terapêuticas aos fumantes. A forte relação encontrada neste trabalho, entre o uso de medicamento e a taxa de sucesso, está de acordo com as diretrizes terapêuticas atuais.

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Efetividade do Programa de Tratamento do Tabagismo no SUS

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Sobre a taxa de cessação, 65,0% dos municípios mineiros conseguiram ter mais de 50,0% dos fuman-tes sem fumar na quarta sessão. O percentual médio nacional de fumantes sem fumar na quarta sessão estruturada no mesmo ano foi de 52,0%.5 É impor-tante salientar que o período de quatro semanas é curto para a real percepção de sucesso do programa. Aproximadamente 2/3 de todos os lapsos iniciais acontecem dentro dos primeiros três meses após a cessação.14 As meta-análises do Cochrane consideram para indicador de sucesso terapêutico a abstinência por período de pelo menos seis meses, provavelmente devido à comum ocorrência de recaídas nesse período inicial de tratamento.10 Entretanto, o período do pri-meiro mês permite avaliar o momento mais intensivo do programa do Ministério da Saúde (constituído de encontros semanais, estruturados com uso de material educativo padronizado, definição do início do uso de medicamentos e sugestão do agendamento do dia para parar de fumar).

O National Institute for Health and Clinical Ex-cellence indica que um objetivo para os serviços de tratamento do tabagismo é uma taxa de sucesso (cessação) de no mínimo 35,0% na quarta semana, com resultado validado por monitoramento pela medida de monóxido de carbono. Recomenda que o serviço considere como denominador do cálculo todos aqueles que iniciaram o tratamento e o sucesso seja definido por aqueles que não estiverem fumando na terceira ou quarta semana após a data marcada para parar de fumar. Isso não implica que o tratamento deva parar nas quatro semanas.12 Tomando por base esse parâmetro, os resultados do programa em Minas Gerais têm sido muito bons. No entanto, é preciso salientar que a forma de aferir a cessação usada na maioria dos estudos nacionais e rotineiramente usada nos serviços de saúde é o auto-relato. Essa condição pode subestimar a prevalência de fumantes.

Na busca de estudos nacionais sobre o Programa de Tratamento do Tabagismo, encontramos um ensaio clínico randomizado, realizado no Rio de Janeiro e cuja proposta terapêutica é semelhante ao modelo INCA, com grupos de intervenção que participaram de um a quatro encontros estruturados de terapia cognitivo-comportamental, recebendo ou não adesivos. Nesse ensaio clínico, a abstinência no primeiro mês de tratamento ficou entre 13,9 e 29,3% nos grupos sem adesivos e entre 59,3 e 65,7% nos grupos que rece-

beram adesivos. Após seis meses, as taxas de cessação ficaram entre 21,6 e 25,3% nos grupos sem adesivos e entre 32,8 e 37,3% nos grupos que receberam adesivos além da terapia comportamental. A medida de desfecho (abstinência) foi obtida via contato telefônico.16

Usando as medidas do presente estudo, estimou-se que aos seis meses, a média das taxas de cessa-ção em Minas Gerais, no ano de 2008, ficaria em torno de 33,4%. Dessa forma, pode-se comparar o achado com os de estudos internacionais que usam o mínimo de seis meses de abstinência para avaliar o sucesso terapêutico de seus programas. Estudos internacionais encontram taxas de cessação entre 6 e 12 meses, de em média 19,7% entre pacientes que usaram bupropiona, 18,9% entre tratados com goma e 13,3% entre tratados com adesivo transdérmico.7

Alguns desses estudos associavam medidas suportivas, como a terapia comportamental, desde que usadas nos grupos tratados e nos grupos-placebo. Os dados encontrados neste estudo demonstram um potencial sucesso superior aos demais estudos avaliados. Esse diferencial, se verdadeiro, pode-se dever à associação de materiais educativos, terapias cognitivas, maior uso de medicamentos, vínculo com os profissionais e até facilidade de acesso (distância reduzida) nos casos dos serviços de atenção primária.

Outro estudo nacional, realizado em Ambulatório de Apoio ao Tabagista, em Hospital de Fortaleza-CE (con-duzido por pneumologista e equipe interdisciplinar), também tratou pacientes no modelo INCA e obteve taxa de cessação de 50,8% e taxa de abandono de apenas 11,8%, ao avaliar pacientes no programa há pelo menos 12 meses.6 Este estudo, ademais, demonstrou taxa de cessação acima da média esperada para esse período. Tamanho sucesso pode estar associado à inclusão de pacientes com pneumopatia ou outras co-morbidades, potencialmente mais motivados, e ao alto uso de medicação entre participantes do programa.

A partir da observação da primeira tabela apre-sentada, deve-se estar atento aos numeradores e denominadores que determinam o indicador da taxa de cessação. A padronização do denominador dessa equação foi recentemente determinada pelo INCA e considera que o universo a ser avaliado é o número de pacientes presentes na primeira sessão. Assim, perdas são consideradas como ‘ainda fumantes’, de maneira semelhante à da metodologia usada nas meta-análises.15,17 Taxas de cessação apresentadas

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anteriormente, em notícias regionais sobre o Programa de Tratamento do Tabagismo, tendiam a apresentar taxas de sucesso maiores que os valores aqui apresen-tados por considerar apenas o universo de usuários presentes na quarta sessão.

O tratamento do tabagismo é altamente custo-efetivo, mesmo quando produz abstinência sustentada para uma minoria dos fumantes tratados. Mesmo o aconselhamento clínico breve apresenta razão de custo-efetividade melhor que a do tratamento da hipertensão, dislipidemia; ou de outras intervenções preventivas, como as mamografias periódicas.2 De fato, o tratamento do tabagismo tem sido referido como o ‘padrão-ouro’ do custo-efetividade nos cuidados em saúde.2 Sendo assim, o Programa de Tratamento do Tabagismo, oferecido no SUS, merece melhor finan-ciamento e condições para sua ampliação.

A efetividade observada, apoiada pelos dados de múltiplos ensaios clínicos, é um bom motivo para investir na regularidade e ampliação do serviço nos Municípios. As dificuldades dos municípios em ofe-recer medicação precisam de avaliação, já que esse apoio terapêutico determina uma maior chance de cessação para o paciente.

Limitações deste estudo merecem menção. Utilizar dados secundários aumenta o risco de erros. Por vezes, encontrou-se problemas no preenchimento das planilhas, nem sempre possíveis de resolver a partir de

discussão com os coordenadores. Como a cessação foi aferida apenas por relato, é possível que a verdadeira taxa seja mais baixa. Finalmente, a extrapolação dos dados para estimar taxas de sucesso após 6 meses e os NNT são apenas estimativas e, portanto, devem ser interpretados com cautela.

Conclui-se que o programa, com média de taxas de cessação de 40,5% no primeiro mês, parece apre-sentar boa efetividade. Os resultados são melhores especialmente em municípios com uso de apoio me-dicamentoso na maioria dos pacientes atendidos. São necessários, entretanto, estudos com dados primários para se chegar a uma conclusão mais firme, especial-mente devido aos problemas de preenchimento local das planilhas. Os resultados obtidos neste estudo reforçam a importância de se promover maior inves-timento na expansão do Programa de Tratamento do Tabagismo no Brasil.

Contribuição dos autores

Santos JDP, Duncan BB e Sirena SA desenvolveram a proposta.

Santos JDP coletou os dados.Santos JDP, Vigo A e Abreu MNS analisaram os dados.Santos JDP escreveu o artigo.Todos os autores revisaram e aprovaram a versão

final do artigo.

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Efetividade do Programa de Tratamento do Tabagismo no SUS

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Recebido em 19/05/2011 Aprovado em 30/11/2012

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Characterization of victims of traffic accidents attended by the Mobile Emergency Service in João Pessoa-PB in 2010

aRtigo

oRiginal Caracterização das vítimas de acidentes de trânsito atendidas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) no Município de João Pessoa, Estado da Paraíba, Brasil, em 2010

Endereço para correspondência: Alameda Gravatá, Quadra 301, Conjunto 9, Ed. Império das Águas, Águas Claras-DF, Brasil. CEP 71901-350E-mail: [email protected]

Rackynelly Alves Sarmento SoaresPrograma de Pós-graduação em Modelos de Decisão e Saúde, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa-PB, Brasil

Ana Paula de Jesus Tomé PereiraPrograma de Pós-graduação em Modelos de Decisão e Saúde, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa-PB, Brasil

Ronei Marcos de MoraesDepartamento de Estatística, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa-PB, Brasil

Rodrigo Pinheiro de Toledo ViannaDepartamento de Nutrição, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa-PB, Brasil

ResumoObjetivo: caracterizar as vítimas de acidentes de trânsito (AT) e investigar a distribuição espacial desses eventos. Métodos:

estudo ecológico, incluiu todas as vítimas de AT atendidas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) em João Pessoa-PB, Brasil, em 2010; os dados foram coletados nas Fichas de Regulação Médica do SAMU. Resultados: foram atendidas 4.514 vítimas, a maioria do sexo masculino (75,45%) com idade entre 20 e 39 anos (60,0%); o mecanismo mais frequente do trauma foi motocicleta (63,0%); a região corpórea mais frequentemente atingida, os membros (62,5%); a análise espacial identificou o centro da cidade com risco relativo dez vezes maior que o do município. Conclusão: os dados do SAMU foram considerados fonte de informações para identificar áreas de maior risco e grupos mais expostos aos AT, sendo essas informações fundamentais para o planejamento do atendimento a emergências no município.

Palavras-chave: Acidentes de Trânsito; Epidemiologia; Risco Relativo; Serviços Médicos de Emergência; Conglomerados Espaço-Temporais.

AbstractObjective: to characterize the victims of traffic accidents and investigate the spatial distribution of these events. Methods:

ecological study of all victims of traffic accidents treated by the Mobile Emergency Services (SAMU), in João Pessoa, 2010. Data were collected on medical records of SAMU. Results: 4,514 victims were treated, most males (75.45%), aged between 20 and 39 years (60.0%). The most common vehicle was motorcycle (63.0%), members were the most frequently affected body region (62.5%). The spatial analysis identified the city center with a relative risk (RR) ten times greater than the RR of the municipality. Conclusion: SAMU data was considered a source of information to identify high-risk areas of traffic accidents and most the exposed groups, which are fundamental information for planning emergency response in the city.

Key words: Accidents, Traffic; Epidemiology; Relative Risk; Emergency Medical Services; Space-Time Clustering.

doi: 10.5123/S1679-49742012000400008

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Introdução

As causas externas, especialmente os acidentes de trânsito (AT), passaram a ter grande importância no comprometimento da saúde da população.1 Em 2004, os AT totalizavam 2,2% das principais causas de mortalidade no mundo. A estimativa para 2030 é que o percentual alcance 3,6%, passando a ser a quinta principal causa de mortalidade.2

Os acidentes de trânsito provocam, no mundo, a morte de aproximadamente 1,3 milhão de pessoas e lesionam de 20 a 50 milhões de outras a cada ano. Desse total de mortes, quase a metade (46,0%) são pedestres, ciclistas ou motociclistas, considerados mais vulneráveis no trânsito.2

Países de média e baixa renda apresentam taxas de mortalidade por AT mais altas (21,5/100 mil habitan-tes) que os países desenvolvidos (10,3/100 mil hab.). Embora de maneiras distintas, ambos sofrem com esse sério problema. Enquanto nos países de média e baixa renda, os AT têm vitimado principalmente os pedestres, os ciclistas e os motociclistas, nos países desenvolvidos, as principais vítimas são os ocupantes de veículos de quatro rodas.2 No Brasil, a taxa de mortalidade estimada pelo relatório da Organização Mundial da Saúde – OMS – é de 15/100 mil habitantes.2

Em relação aos eventos não fatais, observa-se um grande número de internações, atendimentos em serviços de emergência e sequelas permanentes, traduzindo-se em altos custos para a sociedade.3

No Brasil, os AT apresentam taxas de mortalidade superiores às de países desenvolvidos, além de ser a principal causa de morte na população economica-mente ativa.4 A violência e os acidentes vitimaram mais de um milhão de pessoas na década de 1990 no Brasil, entre as quais 310 mil mortes foram por AT.5 Entre as causas externas, os AT foram responsáveis por 26,5% das mortes no Brasil, em 2009; na população de 10 a 14 anos e de 40 a 59 anos, os AT foram a principal causa de morte.6

A Política Nacional de Trânsito (PNT) apresenta como um de seus objetivos a ‘prioridade e a preserva-ção da vida, da saúde e do meio ambiente’ e para isso apresentou um conjunto de metas, entre elas a redução da taxa nacional de mortes por AT para 14 mortes em cada 100 mil habitantes até dezembro de 2010.4

Esta meta não foi alcançada pela cidade de João Pessoa-PB, que apresentou nos últimos dois anos,

valores superiores aos pleiteados pela PNT. Segun-do os dados da Superintendência de Transportes e Trânsito de João Pessoa (STTrans), o ano de 2010 apresentou taxa de mortalidade de 20,18 mortes para cada 100 mil hab., representando um aumento de 29,5% quando comparado ao ano de 2008 (15,58).7 Com relação à morbidade, em 2008, o hospital de referência em emergência e trauma atendeu 5.466 vítimas de AT; em 2010, foram 6.031 vítimas atendidas pela unidade.7

No Brasil, o serviço de atendimento pré-hospitalar, antes implantado de forma heterogênea nas grandes cidades e voltado principalmente para o atendimento de vítimas de lesões traumáticas, foi reformulado em 2003, constituindo-se o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), que inclui o atendimento às urgências clínicas.8 Este serviço consiste em uma das primeiras instâncias da Saúde a sofrer os impactos causados pelos AT, no atendimento às suas vítimas.

A análise espacial é uma ferramenta da geoestatísti-ca muito utilizada quando o objeto de interesse está na localização espacial de um determinado evento.9 A uti-lização de eventos na área da Saúde georreferenciados em nível local tem se tornado, cada vez mais, útil como ferramenta para o planejamento e gestão em saúde e, nesse sentido, a ocorrência de AT tem especial apelo para o georreferenciamento, possibilitando melhor localização de áreas de risco.10 Além disso, a geração de informações sobre AT é fundamental para subsidiar a tomada de decisões nos diversos setores, mais além da Saúde, tais como a Educação e a Fiscalização do Transporte, servindo de alicerce para a redução do risco de acidentes.11

No presente estudo, objetivou-se caracterizar as vítimas e suas lesões, a partir dos dados de atendi-mentos do SAMU –, bem como identificar um padrão na distribuição espacial dos acidentes e possíveis aglomerados com alto índice desses eventos na cidade de João Pessoa, no estado da Paraíba, Brasil, no ano de 2010.

Caracterização das vítimas de acidentes de trânsito atendidas pelo SAMU

No Brasil, os AT apresentam taxas de mortalidade superiores às de países desenvolvidos, além de ser a principal causa de morte na população economicamente ativa.

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Métodos

Trata-se de um estudo ecológico de base popula-cional com uso de dados secundários que objetiva caracterizar a população vítima de pelo menos um acidente de trânsito atendida pelo SAMU na cidade de João Pessoa-PB, no ano de 2010, descrever a distribui-ção espacial e temporal do acidente de trânsito – AT – e estimar o risco populacional e relativo.

João Pessoa é a capital do estado da Paraíba. Se-gundo o Censo Demográfico 2010, sua população era de 723.514 mil habitantes. A cidade é considerada de porte médio, possui uma área de aproximadamente 210,45km e está localizada no Nordeste do Brasil, na Zona da Mata paraibana.

O instrumento de coleta adotado foi a Ficha de Regulação Médica (FRM), preenchida pela equipe do SAMU no momento dos atendimentos de urgência. A FRM adotou as seguintes variáveis: tipo de ambulância (Unidade de Suporte Básico ou Unidade de Suporte Avançado); unidade hospitalar de destino; sexo da vítima; uso de substância psicotrópica (álcool; outras drogas; e não utilizou); faixa etária; parte do corpo atingida (abdome/pelve; cabeça/pescoço; face; mem-bros; não especificado; não se aplica; tórax); orien-tação (algo desorientado; orientado; não informado; não se aplica); nível de consciência (coma; consciente; inconsciente; não se aplica; não informado); uso da Abbreviated Injury Scale (ou escala AIS); veículos envolvidos; natureza do acidente (atropelamento; capotamento; choque com fixo; colisão; queda de moto; queda <5m; tombamento; não informado); data e bairro da ocorrência.

As lesões foram classificadas por região corpórea segundo a escala AIS, que estabelece um escore indi-cativo da gravidade de uma lesão traumática específica, de acordo com o tipo e localização anatômica, varian-do de 1 (lesão leve) até 6 (lesão quase sempre fatal). Esta escala foi atualizada em 2005 pela Association for the Advancement of Automotive Medicine (AAAM) e serve de base para vários escores de trauma, criados com o objetivo de aumentar a acurácia na determina-ção da mortalidade, considerando-se a soma de três lesões mais graves em um politraumatizado.12 Neste estudo, além dos valores de 1 a 6 admitidos na escala AIS, utilizamos o valor zero para os casos em que o SAMU foi acionado mas, ao chegar ao local da ocor-rência, detectou que a vítima não apresentava lesão.

Com relação à variável ‘uso de substância psi-cotrópica’, é importante mencionar que sua coleta – pelo SAMU – baseou-se no auto-relato das vítimas e na observação dos notórios sinais de embriaguez, classificados pela Associação Brasileira de Medicina de Tráfego e homologados pelo Conselho Nacional de Trânsito, conforme a Resolução nº 206, de 20 de outubro de 2006. Os dados das FRM foram coletados na base de operações do SAMU e transcritos para planilha eletrônica (BrOfficeCalc 3.2), para se realizar, em momento posterior, a análise estatística descritiva.

Para caracterizar as vítimas e os acidentes de trân-sito, foram utilizados todos os casos de vítimas de AT. Entretanto, para a análise espacial, dada a não com-pletude das FRM no que se refere à variável espacial ‘bairro da ocorrência’, nem todos os casos puderam ser considerados.

Inicialmente, o total de atendimentos do SAMU foi agrupado por bairro; em seguida, esses dados foram organizados de maneira a relacioná-los à informação espacial. Esse relacionamento foi feito através do processo denominado de geocodificação (geocoding), que consiste em atribuir coordenadas geográficas par-tindo de uma referência alfanumérica.13 Concluída essa etapa, os dados foram carregados em um sistema de informações geográficas (TerraView 4.2.0), pelo qual foram elaborados os mapas de risco relativo. O mapa de varredura scan foi feito pelo pacote estatístico R.

Para o cálculo da incidência de acidente de trânsito, foram utilizados os casos geocodificados de vítimas de acidentes de trânsito:14

O denominador para o cálculo da incidência refere-se à população residente em João Pessoa-PB, obtida a partir do censo do IBGE para o ano de 2010.

O mapa de risco relativo pode ser definido como uma região geográfica formada por áreas contínuas e disjuntas, denotadas por A

1, A

2,..., A

k; e seja X uma

variável aleatória, definida como o número de ocorrên-cias do evento, então as observações das n áreas serão denotadas por x

1, x

2, ..., x

n, esteja associada a área A

i,

com população ni (i=1, 2, ..., k). O risco relativo de

N° de casos de uma doença ou agravo ocorrentes em

determinada comunidade em certo período de tempo

N° de pessoas expostas ao risco de adquirir a doença no período

x potência de 10Incidência =

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uma área Ai, denotada por θ

i, é o quociente entre a

incidência do fenômeno em estudo sobre a região Aie e

a incidência correspondente a toda região de estudo.15

Para fins deste estudo, considerou-se a razão da taxa de incidência de vítimas de AT atendidas pelo SAMU de cada bairro pela taxa de incidência de vítimas de AT atendidas pelo SAMU em toda a cidade. A interpretação desse resultado considerou que os valores menores que 1 implicam em fator de proteção, ou seja, que o risco de ter uma vítima de AT no bairro é menor do que o risco da cidade; valores iguais a 1 implicam a não existência de associação, ou seja, que o risco de ter uma vítima de AT no bairro é igual ao risco da cidade; e para os valores superiores a 1, que o fator de risco, ou seja, o risco de ter uma vítima de AT no bairro, é maior que o risco da cidade.14

O mapa de varredura scan tem como principal objetivo identificar conglomerados (também chama-dos de clusters, na língua inglesa) onde a ocorrência de um evento seja significativamente mais provável dentro de determinada área do que fora dela.16 Os conglomerados podem ser definidos como sendo áreas cujo risco – elevado ou baixo – é significa-tivamente distinto e não pode ser explicado pelas covariáveis conhecidas.17

O modelo probabilístico adotado foi o modelo de Poisson. Para este modelo, ‘é computado o raio cujos valores de p (z) e q (z) maximizam a função de veros-similhança condicionada ao total de casos observados’; para isso, considera-se a estatística:1

onde: p é a probabilidade de haver casos dentro do círculo; q é a probabilidade de haver casos fora do círculo; e Z é o conjunto de todos os possíveis candi-datos a conglomerados. L

0 é definido como:

onde: C é o total de casos observados na região considerada; e M é a população total sob toda região de estudo.

onde: exp representa a função exponencial; cz é

o número de casos no circulo z; e nz é o número de

indivíduos em risco no circulo z.15

A varredura scan considera a hipótese nula (H0) de

homogeneidade, ou seja, admite não haver conglome-rados espaciais, implicando risco constante em toda área adotada no estudo.15,17

Quanto aos aspectos éticos referenciados na Re-solução CNS no 196, de 10 de outubro de1996, do Conselho Nacional de Saúde, o projeto do estudo foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário de João Pessoa – CEP/UNIPÊ –, sendo aprovado em sua 35ª Reunião Ordinária, realizada em 16 de fevereiro de 2011.

Resultados

Em 2010, foram atendidas 4.514 vítimas de AT pelo SAMU em João Pessoa-PB o que representa, aproxima-damente, 25,0% de todos os atendimentos realizados pelo Serviço, quando se inclui as outras causas de atendimento. As Unidades de Suporte Básico, ou USB, que contavam, em sua equipe de salvamento, com con-dutores e técnicos em emergência médica, realizaram 4.449 (98,6%) atendimentos. Foram registrados 30 óbitos no período do estudo.

A maioria dessas vítimas (77,9%) foi atendida e encaminhada para algum hospital de referência em trauma da cidade. Verificou-se que 405 (9,0%) delas foram atendidas no local do acidente e liberadas em seguida, não sendo necessário o encaminhamento para um estabelecimento de saúde. Outras 103 (2,0%) recusaram o atendimento após a chegada do SAMU, sendo necessária a assinatura do termo de recusa na FRM.

Do total de atendimentos, 3.406 (75,4%) foram de pessoas do sexo masculino e 1.094 (24,2%) do sexo feminino. O sexo não foi informado em apenas 14 (0,3%) FRM.

Quanto ao uso de substâncias psicotrópicas, 753 (16,7%) apresentaram sinais de uso de álcool e 8 (0,2%) relataram estar sob a influência de outras drogas. O uso de álcool apresentou-se mais frequente nas vítimas do sexo masculino com 657 (87,3%) casos, entre a colisão e a queda de moto (66,0% dos casos) e os dias que correspondem ao fim de semana (sexta, sábado e domingo) com 69,5% dos casos. Entre esses três dias, o domingo foi o mais frequente com 248

L (z, p (z), q(z))L

o

KN = maxz∈Z

ˆ ˆˆ

CC (M – C)M-C

MML0 =

exp[–p.nz–q(M–n

z)]

C!L(z) = p q

cz c – c

z ciΠ

i

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(33,0%) casos. Essas vítimas apresentaram lesões de menor gravidade (AIS<3) 93,1%.

A média de idade das vítimas foi de 30,6 anos (desvio-padrão: 13,5), as maiores frequências de AT encontram-se nas faixas etárias de 20 a 29 anos (38,0%) e de 30 a 39 anos (22,0%). As menores frequências foram observadas nas faixas etárias das extremidades: de 0 a 9 anos (3,0%) e aos 60 anos ou mais. Esta variável não foi informada em 91 (2,0%) atendimentos.

Quanto às lesões, a parte do corpo mais atingida foram os membros, com 2.820 (62,5%) casos (Tabela 1). Dos 30 óbitos registrados no período do estudo, em 15 o SAMU não informou o tipo da lesão. No momento do acidente, a maioria das vítimas estava orientada (73,6%), consciente (80,9%) e com AIS 1 (64,3%). Nos 57 casos em que nenhuma parte do corpo foi atingida, o AIS atribuído foi zero. Para os casos em que o SAMU não informou a parte do corpo atingida mas informou o tipo de lesão, foi possível atribuir AIS a 77 casos, uma vez que somente a lesão já seria suficiente para isso. Como exemplo, cita-se os casos de pequenas escoriações, às quais são atribuídas AIS 1 (gravidade leve). Os membros – tanto superiores quanto inferiores – foram as regiões corpóreas mais atingidas (62,5%), seguidas pela região da cabeça/pes-coço (15,9%). A maioria das vítimas de AT apresentou lesões de gravidade leve, AIS 1 (64,3%), e lesões de gravidade moderada, AIS 2 (22,2%), representando um total de 86,5% das lesões. Entre os casos de maior gravidade (AIS≥3), registrou-se 178 colisões (46,6%), 102 quedas de moto (26,7%) e 45 atropelamentos (11,8%).

Quanto à natureza do acidente, a mais frequente foi a colisão, com 1.972 (44,0%) casos, seguida pelas quedas de moto, com 1.299 (29,0%); entre-tanto, salienta-se que, se forem considerados todos os envolvimentos com motocicletas (carro × moto, moto × moto, ônibus × moto, entre outros), este tipo de veículo encontra-se envolvido em 63,0% dos atendimentos. Os atropelamentos apresentaram 501 (11,0%) vítimas; e as quedas de bicicleta, 327 (7,0%).

Com relação à distribuição de atendimentos por dia da semana, os dias que correspondem ao fim de semana (sexta, sábado e domingo) perfizeram 2.387 atendimentos, número que representa 52,0% do total. Os dias de sábado e domingo apresentaram maior risco relativo (1,8), quase o dobro quando comparados com

a quarta-feira, o dia de referência; em seguida, tem-se a sexta-feira (1,3) (Tabela 2).

Na distribuição mensal, esse aumento foi mais suave. Fevereiro foi o mês que apresentou menor número de vítimas (6,0%); em segundo lugar ficaram os meses de abril, junho e setembro (7,0%); em terceiro, os meses de janeiro, maio e agosto (9,0%); e em último lugar, ficaram os meses de outubro, novembro e dezembro (10,0%). Quando comparado com o mês de julho, adotado como referência, o mês que apresentou maior risco relativo de atendimento foi novembro (1,2), e o de menor risco, o mês de fevereiro (0,73) (Tabela 2).

Dos 4.514 atendimentos realizados pelo SAMU, em 266 (5,9%) o bairro não foi informado, motivo porque esses eventos não foram incluídos nas análises espaciais. A variável ‘local da ocorrência’, informando o logradouro correspondente, apresentou taxa de preenchimento inferior a 80,0% e, por isso, não foi adotada no estudo.

Com respeito à distribuição das vítimas segundo a escala AIS, para as situações em que as lesões resul-tantes dos AT são menos graves (AIS<3), o bairro de Mangabeira (58) apresentou 399 vítimas, seguido do bairro do Cristo Redentor (51), com 255 vítimas, e do Centro (48), com 245.

Para a situação em que as lesões resultantes dos AT foram mais graves (AIS≥3), o resultado é semelhante ao anterior, porém com menores frequências: o bairro de Mangabeira (58) apresentou 44 vítimas com AIS≥3, seguido pelo bairro do Centro (48) com 27 e pelo Cristo Redentor (51) com 25 vítimas com lesões mais graves. O bairro que apresentou maior percentual de óbitos foi Mangabeira (58), com 16,7%.

O mapa de risco (Figura 1) demonstra que os bair-ros que apresentaram maior risco relativo de contar com vítimas de AT foram, em primeiro lugar, o Centro (48), cujo risco relativo é dez vezes maior quando comparado com o risco do município, seguindo-se os bairros de Água Fria (57) e Penha (8), com risco relativo 3,2. Mangabeira (58), um bairro com alto nú-mero de vítimas, não aparece nestes Resultados como um bairro de risco relativo mais destacado: seu risco apresentado foi igual a 1, ou seja, igual ao risco global para AT. Este comportamento era esperado, pois sua população residente é muito alta, contribuindo para a redução dessa medida.

Com relação ao mapa de varredura scan, o que melhor se adequou ao mapa de risco relativo (Figura

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Tabela 1 - Caracterização das vítimas de acidentes de trânsito atendidas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU – no município de João Pessoa, estado da Paraíba. Brasil, 2010

Variável N (4.514) %Tipo de ambulância

Unidade de Suporte Avançado 65 1,4Unidade de Suporte Básico 4.449 98,6

Unidade hospitalar de destinoAtendimento no local 405 9,0Hospital Estadual de Emergência e Trauma Sen. Humberto Lucena 2.132 47,2Complexo Hospitalar de Mangabeira Gov. Tarcísio Burity 1.381 30,6Recusa 103 2,2Outras unidades 493 11

SexoFeminino 1.094 24,2Masculino 3.406 75,4Não informado 14 0,4

Uso de substância psicotrópicaÁlcool 753 16,7Outras drogas 8 0,3Não utilizou 3.753 83,0

Faixa etária (em anos)0-9 116 2,610-19 616 13,620-29 1.734 38,430-39 1.004 22,240-49 539 12,050-59 238 5,360 e mais 176 3,9Não informada 91 2,0

Parte do corpoAbdome/pelve 119 2,6Cabeça/pescoço 719 15,9Face 325 7,2Membros 2.821 62,5Não se aplica a 57 1,3Não informado 248 5,5Tórax 225 5,0

OrientaçãoAlgo orientado 256 5,7Não informado 904 20,0Não se aplica b 30 0,7Orientado 3.324 73,6

Nível de consciênciaComa 1 0,0Consciente 3.650 80,9Inconsciente 78 1,7Não informado 755 16,7Não se aplica b 30 0,7

Abbreviated Injury Scale – AIS0 57 1,31 2.903 64,32 1.002 22,23 324 7,24 28 0,65 0 0,06 30 0,7Não informado 170 3,7

NaturezaAtropelamento 501 11,1Capotamento 67 1,5Choque com fixo 23 0,5Colisão 1.972 43,7Queda de bicicleta 327 7,2Queda de moto 1.299 28,8Tombamento 2 0,0Não informado 323 7,2

a) O SAMU foi acionado, porém a vítima não apresentou ferimentos em qualquer parte do corpo.

b) óbito no local do acidente.

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2) foi o de 5,0% da população (Figura 2c). Com 5,0% da população, todos os bairros com risco relativo >1 – exceto Mandacaru e Brisamar, ambos com risco relativo 1,1 –, foram detectados pela varredura scan, representando conglomerados espaciais significativos com alto risco. Além disso, a técnica detectou alguns conglomerados significativos não identificados no mapa de risco relativo e, por isso, de baixo risco: Portal do Sol (23); Jardim São Paulo (47); Anatólia (46); Cidade dos Colibris (45); e Róger (35). Todos os bairros com risco relativo entre 2 e 10,1 – Centro (48); Tambiá (34); Bairro dos Estados (29); Altiplano (24); Bancários (56); Água Fria (57); e Distrito Industrial (20) – foram detectados pela varredura scan a 1,0%, 3,0%, 5,0%, 7,0% e 10,0% da população (Figura 2).

Discussão

Os resultados observados foram consistentes com aqueles de outros estudos, quanto ao sexo e à faixa etária.18,19 Nesse sentido, um estudo realizado na cidade de Olinda-PE relatou que as vítimas do sexo masculino totalizaram 78,09%, e que os adultos entre 20 e 39 anos perfizeram 65,0% do total de atendimentos pelo SAMU.19

Quanto ao uso do álcool, nosso estudo apresentou um percentual preocupante (17,0%), semelhante ao já reportado pela ‘Vigilância de fatores de risco e proteção para doenças crônicas por inquérito telefô-nico’ – Vigitel – em 2008, que apresentou uma taxa de prevalência de adultos (18 anos ou mais de idade) que referiram dirigir veículos motorizados após consumo

Tabela 2 - Distribuição absoluta e relativa, incidência e risco relativo de atendimento do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU – por acidente de trânsito, segundo o dia da semana e o mês, no município de João Pessoa, estado da Paraíba. Brasil, 2010

Variável Total de atendimentos % Incidência a

(10 mil hab.) RR b IC95%

c

Dia da semana d

Domingo 877 19,4 12,5 1,8 1,6;1,9

Segunda-feira 583 12,9 8,3 1,2 1,1;1,3

Terça-feira 507 11,2 7,2 1,0 0,9;1,1

Quarta-feira 487 10,8 6,9 1,0 0,9;1,1

Quinta-feira 550 12,2 7,8 1,1 1,0;1,2

Sexta-feira 654 14,5 9,3 1,3 1,2;1,4

Sábado 856 19,0 12,2 1,8 1,7;1,9

Mês e

Janeiro 393 8,7 5,6 1,0 0,9;1,1

Fevereiro 274 6,1 3,9 0,7 0,6;0,8

Março 354 7,8 5,0 0,9 0,8;1,0

Abril 310 6,9 4,4 0,8 0,7;0,9

Maio 423 9,4 6,0 1,1 1,0;1,2

Junho 324 7,2 4,6 0,9 0,8;1,0

Julho 373 8,3 5,3 1,0 0,9;1,1

Agosto 401 8,9 5,7 1,1 1,0;1,2

Setembro 338 7,5 4,8 0,9 0,8;1,0

Outubro 432 9,6 6,1 1,2 1,1;1,3

Novembro 449 9,9 6,4 1,2 1,1;1,3

Dezembro 443 9,8 6,3 1,2 1,1;1,3

a) Para o cálculo da incidência, a população exposta admitida refere-se à população residente segundo o censo do IBGE para 2010: 723.514 habitantes.

b) RR: risco relativo

c) IC95%

: intervalo de confiança de 95%

d) Adotou-se o dia da semana – quarta-feira como o dia de referência.

e) Adotou-se julho como mês de referência.

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Figura 1 - Mapa de risco relativo das vítimas de acidentes de trânsito atendidas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU –, por bairro no município de João Pessoa, estado da Paraíba. Brasil, 2010

1 - Mandacaru2 - Brisamar8 - Penha20 - Distrito Industrial23 - Portal do Sol24 - Altiplano 29 - Bairro dos Estados34 - Tambiá35 - Róger45 - Cidade dos colibris46 - Anatólia47 - Jardim São Paulo48 - Centro51 - Cristo Redentor56 - Bancários57 - Água Fria58 - Mangabeira

LegendaBairros_vítima de ATRisco relativo

0,00 - 0,50

0,51 - 1,00

1,01 - 10,14

35

58

23

45

47

51

20

4834

1

29 2

56

24

46

8

57

abusivo de álcool, de 17,3. A preocupação com este resultado para João Pessoa-PB se justifica. Estudos20,21 afirmam haver relação entre acidente de trânsito e uso do álcool, de maneira que dirigir sob o efeito dessa substância é considerado um fator de risco para a ocorrência de AT, principalmente se, somado a isso, houver sonolência, excesso de velocidade e falta de experiência na direção veicular.21,22

A não exposição ao álcool, por consequência, implica fator de proteção. Isso pôde ser vivenciado, no Brasil, com a implantação da chamada Lei Seca em 2008, reduzindo-se o limite permitido da concen-tração alcoólica sanguínea de 0,06 para 0,02, o que

resultou em uma redução da mortalidade (-22,6%) e da internação hospitalar (-23,2%) motivadas por AT no segundo semestre de 2008, quando comparadas às mesmas taxas do segundo semestre de 2007.23

Contudo, o que se percebe é que o Brasil, ainda que apresente leis que proíbem a direção de veículos auto-motores sob a influência do uso de bebidas alcoólicas, carece de fiscalização do cumprimento dessa proibi-ção. Há cidades brasileiras que não possuem, entre outros itens, etilômetro, equipamento fundamental para aplicação da Lei.21

Ainda com respeito ao uso do álcool, nosso estudo apontou que os acidentes mais graves, com AIS≥3,

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Figura 2 - Mapa de varredura scan espacial dos atendimentos do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – SAMU – às vítimas de acidentes de trânsito no município de João Pessoa, estado da Paraíba. Brasil, 2010

a) 10% da população e 5% de significância b) 7% da população e 5% de significância

c) 5% da população e 5% de significância d) 3% da população e 5% de significância

e) 3% da população e 5% de significância

Legenda:

Conglomerado significativo.

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apresentaram maior percentual entre as vítimas que não apresentaram uso de álcool (9,2%), embora essa diferença não tenha sido estatisticamente significativa. Contrariando esse achado, uma pesquisa realizada na Coréia do Sul demonstrou que acidentes mais graves, que resultam em lesões AIS≥3, localizadas na cabeça, estão mais presentes entre vítimas que fizeram uso de álcool.22

Nosso estudo mostra que os membros são a região corpórea mais atingida (62,5%). De maneira seme-lhante, um estudo24 envolvendo motociclistas mostrou que a área corpórea mais atingida por lesões foram os membros inferiores (59,70%), seguidos dos supe-riores (41,79%). Os autores explicam que, para os motociclistas, os membros são justamente as regiões mais desprotegidas, uma vez que o equipamento de segurança utilizado oferece proteção somente para a região da cabeça. Em outro estudo,25 os resultados mostraram que os ocupantes de motocicleta apresen-taram maior percentual de lesões em membros/cintura pélvica (50,56%), enquanto os pedestres sofreram mais lesões, proporcionalmente, na região da cabeça/pescoço (29,43%).

As lesões de gravidade leve e moderada foram maioria em nosso estudo (86,5%) e explicam o envio mais frequente (98,6%) das Unidades de Suporte Básico – USB – para atendimento dessas vítimas. Uma pesquisa sobre gravidade do trauma em acidentes de trânsito ocorridos em Natal-RN observou que, das 1.645 lesões, 41,52% eram do tipo AIS 2 (moderada) e 38,8% do tipo AIS 1 (leve). Dados semelhantes foram encontrados em outro estudo, evidenciando lesões de gravidade leve e moderada como as mais frequentes.25

Com relação à caracterização dos acidentes, outros estudos também apresentaram resultados semelhantes aos nossos. Um deles constatou que de 2.057 vítimas acidentadas e registradas em boletins de ocorrência, a maioria ocupava motocicleta (30,3%) ou auto-móvel (29,9%).26 Em outro estudo, percebeu-se o elevado percentual de envolvimento de motocicletas (30,9%), quando comparadas aos carros de passeio (18,9%), vans ou caminhões (2,3%), nos AT.27 Uma possível explicação para esse fenômeno refere-se às facilidades, como baixo custo e financiamentos diver-sos, para a aquisição de motocicletas sem que haja mais investimento na segurança dos indivíduos que as pilotam.28 Além disso, as motocicletas estão sendo bastante utilizadas nos serviços de entrega a domicílio,

cuja necessidade de rapidez, exigida pela natureza do trabalho, acaba se tornando um importante fator de risco para ocorrência de acidente.29

O mapa de varredura scan que melhor se adequou ao mapa de risco relativo foi o de 5,0% da população. Quanto ao percentual da população, sabe-se que não existe uma padronização perfeita para esse valor.15 Em virtude disso, vários testes são realizados a fim de encontrar o percentual mais adequado ao estudo.

De uma maneira geral, a análise espacial mostrou-se viável na identificação de áreas de risco para a ocorrência de acidente de trânsito, ao utilizar os dados contidos nas Fichas de Regulação Médica – FRM – do SAMU. Salienta-se, entretanto, a importância de com-pletude desses instrumentos, especialmente no que se refere ao maior detalhamento do local da ocorrência, possibilitando análises pontuais. Eis uma das limita-ções do presente estudo.

Nesse sentido, o estudo realizado em Olinda-PE20 conseguiu mais precisão no georreferenciamento dos atendimentos às vítimas de AT atendidas pelo SAMU quando agregou tais eventos aos setores censitários definidos pelo IBGE. Isso foi possível porque naquela cidade, Unidades de Suporte Básico – USB – e Unida-des de Suporte Avançado – USA – são viaturas equipa-das com aparelhos de Global Positioning System (GPS) e seus condutores foram treinados a manuseá-lo.20

A medida de incidência por bairro pode ter sido afetada pelas vítimas de AT que residem em outros municípios mas sofreram o agravo em João Pessoa-PB. Tal limitação poderia ser superada com a inclusão da variável ‘município de residência’ nas FRM.

A cobertura do SAMU é de 100,0% na cidade de João Pessoa-PB. Entretanto, as vítimas de AT podem ser atendidas por terceiros, razão porque não foram contempladas pelo presente estudo. A STTrans regis-trou 6.031 vítimas de AT em 2010;7 ou seja, o SAMU não foi acionado em 25,2% dos casos.

Os desfechos consequentes do AT (alta, internação ou óbito) pós-atendimento pré-hospitalar não pude-ram ser aqui caracterizados, por falta de comunica-ção entre o atendimento hospitalar e o pré-hospitalar. Outra limitação a se considerar refere-se ao número reduzido de variáveis coletadas acerca da vítima, es-pecialmente quanto aos aspectos socioeconômicos. Isso se justifica, pois as FRM objetivam caracterizar a situação de emergência do paciente via registro de dados vitais, tipo de lesão, parte do corpo atingida,

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procedimentos realizados, entre outros. Uma variá-vel importante para a caracterização dos AT – mas inexistente nas FRM – é a hora da ocorrência. A impossibilidade de incluí-la no estudo aponta para a necessidade de reformulação das FRM do SAMU de João Pessoa-PB.

A identificação do padrão na distribuição espa-cial dos acidentes possibilita aos órgãos públicos vinculados ao trânsito, tais como STTrans, Polícia Rodoviária Federal e a Companhia Polícia de Trânsito, a intervenção em locais da cidade de João Pessoa-PB onde, de fato, se necessite. Eventualmente, poderão ser implementadas ações educativas voltadas para o perfil mais atingido (homens com idade entre 20 e 39 anos, usuários de ciclomotores), nos locais indicados pela análise, aumentando, assim, a eficiência dessas ações. Além disso, o SAMU pode utilizar esses resultados para redistribuir suas unidades descentralizadas, bem como as USA e as USB.

O estudo do AT a partir das fichas do SAMU apre-sentou resultados satisfatórios, confirmando-as como uma importante fonte de informação para a vigilância de saúde. Os resultados identificaram áreas de maior risco e grupos mais expostos aos acidente de transpor-te, informações fundamentais para o planejamento do atendimento a emergência no município.

Contribuição dos autores

Soares RAS realizou a concepção do projeto, co-leta, análise e interpretação dos dados, bem como, a redação e revisão crítica do artigo.

Pereira APJT realizou análise e interpretação dos dados, bem como, a redação e revisão crítica do artigo.

Moraes RM e Vianna RPT participaram da concep-ção do projeto e realizaram revisão crítica.

Todos os autores participaram da aprovação da versão final.

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Recebido em 12/06/2012 Aprovado em 27/11/2012

Caracterização das vítimas de acidentes de trânsito atendidas pelo SAMU

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Baseline of acute lymphocytic leukemia for surveillance of environmental health on the oil refinery area of the State of Pernambuco, Brazil, 2004 to 2008

aRtigo

oRiginal Linha de base da leucemia linfocítica aguda para a vigilância da saúde ambiental no território de abrangência da refinaria de petróleo do Estado de Pernambuco, Brasil, 2004 a 2008*

Endereço para correspondência: Faculdade de Ciências Médicas, Universidade de Pernambuco, Rua Padre Nestor de Alencar, 6268, Apto. 302, Candeias, Jaboatão dos Guararapes-PE, Brasil. CEP: 54450-220E-mail: [email protected]

Silvia Natália Serafim CabralFaculdade de Ciências Médicas, Universidade de Pernambuco, Recife-PE, Brasil

Solange Laurentino dos SantosDepartamento de Medicina Social, Universidade Federal de Pernambuco, Recife-PE, Brasil

Alexandre Barbosa BeltrãoFaculdade de Ciências Médicas, Universidade de Pernambuco, Recife-PE, Brasil

Lia Giraldo da Silva AugustoFaculdade de Ciências Médicas, Universidade de Pernambuco, Recife-PE, Brasil

ResumoObjetivo: descrever a ocorrência de leucemia linfocítica aguda (LLA) na região onde será instalada refinaria de petróleo, no

estado de Pernambuco, Brasil. Métodos: estudo descritivo da LLA em menores de 15 anos atendidos em dois centros de referência para câncer infantil – Centro de Oncohematologia Pediátrico do Hospital Universitário Oswaldo Cruz; e Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira [Instituto Materno-Infantil de Pernambuco (IMIP)] – no período de 2004 a 2008, provenientes dos municípios de Cabo de Santo Agostinho, Escada, Ipojuca, Jaboatão dos Guararapes e Moreno. Resultados: foram identificados 18 casos de LLA em menores de 15 anos provenientes desses municípios, nos dois centros de referência; a maior frequência de casos ocorreu no grupo de menores de 4 anos, com pred omínio do sexo masculino. Conclusão: faz-se necessário organizar o sistema de vigilância da saúde ambiental infantil na região, com a participação da Atenção Básica em Saúde..

Palavras-chave: Leucemia Linfocítica Aguda; Neoplasias; Vigilância Sanitária Ambiental; Petróleo.

AbstractObjective: to describe the occurrence of Acute Lymphocytic Leukemia (ALL) in the state of Pernambuco, Brazil, where a

petroleum refinery will be installed. Methods: descriptive study of ALL in minors under age 15 assisted at two referral centers for childhood cancer – Centro de Oncohematologia Pediátrico/Hospital Oswaldo Cruz; and Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira [Instituto Materno-Infantil de Pernambuco (IMIP)] – in the period 2004-2008, from the muni-cipalities of Cabo de Santo Agostinho, Escada, Ipojuca, Jaboatão dos Guararapes and Moreno. Results: the authors identified, in both referral centers, 18 cases of ALL in minors under 15 living in these municipalities; the highest frequency occurred in the group with children under 4, with male predominance. Conclusion: it is necessary to organize the surveillance system on children's environmental health in the region, with the participation of the Primary Health Care.

Key words: Precursor Cell Lymphoblastic Leukemia-Lymphoma; Neoplasms; Environmental Health Surveillance; Petroleum.

doi: 10.5123/S1679-49742012000400009

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* Pesquisa financiada pelo Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde – DSAST/SVS/MS.

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Introdução

No Brasil, o câncer representa a segunda causa de morte na população, atrás apenas das doenças do aparelho circulatório. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), órgão ligado ao Ministério da Saúde, estimam-se 489.270 novos casos de câncer no Brasil para o ano de 2010.1 Com o aumento dos registros do número de casos novos nas últimas décadas, ressalta-se a importância da doença e sua relação com a urbanização e industrialização, visto que 70,0% da população concentram-se em grandes centros urba-nos, um motivo que favorece a exposição aos fatores de risco ambientais, aos quais é atribuída relação direta ou indireta com 80,0% das ocorrências de câncer.2

O câncer infantil, ou seja, as neoplasias que acometem menores de 15 anos de idade,3 deve ser estudado separadamente do câncer do adulto por apresentar diferentes comportamentos clínicos. Os tumores infantis tendem a apresentar menores períodos de latência, em geral crescem rapidamente e são mais invasivos; porém, respondem melhor ao tratamento, sendo a leucemia o tipo mais comum nessa população.4

Os tumores infantis correspondem a um grupo altamente específico, geralmente são tumores em-brionários, do sistema reticuloendotelial, do sistema nervoso central, do tecido conectivo e de vísceras, ao passo que tumores epiteliais são extremamente raros nessa faixa etária.5 Representam de 0,5 a 3,0% de todos os tumores na maioria das populações, sendo os tumores pediátricos mais comuns as leucemias, os linfomas e os tumores do sistema nervoso central. Estes estão definidos pela Classificação Internacional do Câncer na Infância (CICI-3) com base na sua morfologia, ao invés do local primário de origem do tumor como é nos adultos.6

A leucemia leufocítica aguda (LLA) é uma neoplasia maligna, caracterizada pelo acúmulo de células linfoi-des imaturas na medula óssea, sendo os sinais e sinto-

mas apresentados pelos pacientes resultantes de graus variáveis de anemia, neutropenia, trombocitopenia e infiltração dos tecidos por células leucêmicas.7 O pico de incidência da LLA ocorre entre 2 e 5 anos de idade, o que corresponde a 25,0% de todos os cânceres em crianças nessa faixa etária.8

Existe uma maior frequência em países industria-lizados e em áreas urbanas.9 A etiologia é complexa e ainda não está bem definida, embora sejam enfatizados como possíveis condicionantes: radiação ionizante e não ionizante; exposição a drogas antineoplásicas; fatores genéticos associados; fatores imunológicos; e exposição a alguns vírus e produtos químicos.10

A radiação ionizante é um dos poucos fatores ambientais comprovados que está relacionado com a ocorrência de leucemia na infância. A magnitude do risco depende da dose da radiação, duração da exposi-ção e idade do indivíduo no momento da exposição. Os efeitos potenciais de exposição a radiações ionizantes em crianças podem ocorrer durante a preconcepção, gravidez ou no período pós-natal.11

Os produtos químicos também podem estar relacionados à leucemia na infância, merecendo destaque os hidrocarbonetos e os pesticidas.11 O hidrocarboneto mais conhecido é o benzeno, agente cancerígeno humano que mantém uma forte relação de exposição-resposta positiva com leucemia.12 A associação de leucemias com exposição ao benzeno está muito bem estudada na literatura, como foi apresentada por Augusto,13 desde os primeiros casos relatados nas primeiras décadas do século XX até clássicos estudos epidemiológicos das décadas de 1970 e 1980.

Áreas urbano-industriais oferecem impactos crescentes na qualidade do ar, da água, do solo e, consequentemente, na saúde da população. Contradi-toriamente, os padrões de consumo da sociedade mo-derna demandam um aumento na produção industrial com base na intensificação da exploração da natureza. Neste cenário, a indústria petroquímica ampliou sua produção mediante a revolução tecnológica da síntese química, dando ao petróleo um papel central como fornecedor de energia e matéria-prima para a manu-fatura de inúmeros bens de consumo.14 As refinarias de petróleo passam a constituir uma das atividades humanas de maior potencial poluidor, podendo afetar o ar, a água, o solo e, consequentemente, todo o meio biótico em seu entorno.14

A leucemia leufocítica aguda (LLA) é uma neoplasia maligna, caracterizada pelo acúmulo de células linfoides imaturas na medula óssea.

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Na expectativa de aumentar a produção de petróleo no Brasil, uma nova refinaria está sendo instalada no Complexo Industrial Portuário de Suape (CIPS).15 Assim, torna-se importante a criação de uma linha de base para conhecer a ocorrência da LLA em menores de 15 anos, no Território Estratégico de Suape, que abrange cinco municípios: Cabo de Santo Agostinho; Escada; Ipojuca; Jaboatão dos Guararapes; e Moreno. A LLA foi escolhida para este estudo por ser o câncer mais prevalente entre as crianças, ter um período de latência curto e por haver evidências científicas sufi-cientes de sua relação com poluentes, especialmente os hidrocarbonetos aromáticos.16

O objetivo deste trabalho foi descrever a ocorrência de leucemia linfocítica aguda – LLA – em crianças menores de 15 anos de idade, no Território Estratégico de Suape, visando à criação de uma linha de base para o estudo da doença.

Métodos

Trata-se de um estudo descritivo sobre a ocorrência de LLA nos centros de referência de câncer infantil, na Região Metropolitana e Litoral Sul de Pernambuco. A área de estudo foi composta por cinco municípios do Território Estratégico de Suape (TES) – Cabo de Santo Agostinho, Escada, Ipojuca, Jaboatão dos Guararapes e Moreno –, de acordo com a definição da Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco. Esses municípios fazem parte da I Gerência Regional de Saúde (GERES) de Pernambuco, à exceção do município de Escada que pertence à III GERES.

O Complexo Industrial Portuário de Suape, localiza-do entre os municípios do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, dista cerca de 40 quilômetros de Recife-PE.15 A definição dessa área para o presente estudo aconte-ceu por conta da proximidade desses municípios com a refinaria e em virtude destes serem seus principais fornecedores de mão de obra.

A população do estudo foi constituída por crianças e adolescentes menores de 15 anos de idade atendidos nos dois principais centros de referência para câncer infantil no estado de Pernambuco – Centro de Oncohe-matologia Pediátrico do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (CEONHPE); e o setor de oncologia pediátrica do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira [Instituto Materno-Infantil de Pernambuco (IMIP)] – no período de janeiro de 2004 a dezembro

de 2008, cujo diagnóstico foi a leucemia linfocítica aguda e que eram provenientes da TES. Salienta-se que o IMIP representa o maior centro de pediatria do estado, servindo de Hospital de Referência para o encaminhamento de casos pediátricos de LLA por outros centros de oncologia.

Os dados secundários referentes aos casos de LLA das crianças menores de 5 anos de idade foram co-letados dos prontuários provenientes do CEONHPE e do IMIP, cujas variáveis elencadas foram: idade (faixas etárias: menor de 1 ano; 1 a 4 anos; 5 a 9 anos; e 10 a 14 anos); sexo (masculino e feminino); ano de diagnóstico (2004, 2005, 2006 2007 e 2008); raça/cor; e procedência (Cabo de Santo Agostinho, Escada, Ipojuca, Jaboatão dos Guararapes e Moreno). Foi considerada a idade do caso na data do diagnóstico que constava no prontuário. Os dados relacionados à caracterização da região do estudo foram coletados na Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Esta-tística (IBGE)17 e no documento do Plano Estratégico de Suape.18

No período de 2004 a 2008, o tamanho médio anual da população total do Território Estratégico de Suape era de 1.004.677 habitantes, sendo Jaboatão dos Guararapes o município mais populoso, com uma média de 650.433 habitantes, seguido do Cabo de Santo Agostinho, com uma média de 169.982, o que representa 64,7 e 16,9% da população da área res-pectivamente. A população de menores de 5 anos nos cinco municípios da região correspondia a 1.440.448 habitantes, sendo o grupo na faixa etária de 10 a 14 anos o de maior população: 495.672 crianças.

Os dados de morbidade foram obtidos do Departa-mento de Informática do SUS (Datasus), pelo Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS). Para a carac-terização das causas de internação, foram considera-dos os seguintes capítulos da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – Décima Revisão (CID-10): I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII, IX, X, XI, XII, XIII, XIV, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX e XX. Os casos de LLA foram classificados segundo os códigos C91 e C91-0 do capítulo II – Neoplasias da CID-10.

A análise dos dados foi feita mediante a organiza-ção em tabelas de frequências absolutas e relativas, com uso do Programa Office Excel 2007. A média foi a medida empregada para apresentação dos dados populacionais dos municípios do estudo. A prevalência foi a medida adotada para os dados de morbidade

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utilizando-se no denominador a população na faixa etária, segundo cada um dos municípios.

Este estudo, que corresponde a uma das partes do projeto ‘Saúde Ambiental Infantil e Atenção Primária à Saúde’, uma parceria entre a Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco e o Centro de Pesquisas Aggeu Magalhães/Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz), foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (HUOC), registrado com o no 083/2008, em con-formidade com as normas previstas na Resolução CNS no 196/06, do Conselho Nacional de Saúde.

Resultados

No que se refere à morbidade hospitalar em meno-res de 15 anos de idade na TES, de acordo com a CID-10, o grupo das doenças do ouvido e apófise mastoide (capítulo VIII) foi responsável pelo maior número de internações, seguido pelo grupo das doenças do aparelho geniturinário (capítulo XIV). O grupo das neoplasias (capítulo II) ocupou a oitava posição, com 1,84% do total da morbidade hospitalar (Tabela 1).

Na caracterização dos casos de LLA em menores de 15 anos, na área de abrangência de Suape, foram

Tabela 1 - Distribuição percentual de morbidade hospitalar segundo causas (CID-10) em menores de 15 anos de idade, segundo faixa etária, provenientes de municípios do Território Estratégico de Suape, estado de Pernambuco. Brasil, 2004 a 2008

Capítulo CIDFaixa etária (em anos)

Total< 1 1 a 4 5 a 9 10 a 14

n % n % n % n % n

I. Algumas doenças infecciosas e parasitárias 106 24,1 146 33,1 100 22,6 89 20,2 441

II. Neoplasias (tumores) 425 18,5 927 40,2 572 24,8 377 16,5 2.301

III. Doenças do sangue, órgãos hematopoiéticos e imunitários 3 5,4 8 14,3 5 8,9 40 71,4 56

IV. Doenças endócrinas nutricionais e metabólicas 341 25,7 475 35,8 310 23,4 200 15,1 1.326

V. Transtornos mentais e comportamentais 97 30,1 85 26,4 90 28,0 50 15,5 322

VI. Doenças do sistema nervoso 22 5,4 107 25,9 150 36,3 134 32,4 413

VII. Doenças do olho e anexos 40 1,3 77 2,5 2.803 90,9 162 5,3 3.082

VIII. Doenças do ouvido e da apófise mastóide 5.339 25,8 10.724 51,9 3.361 16,3 1.248 6,0 20.672

IX. Doenças do aparelho circulatório 410 11,1 1.287 34,9 1.298 35,2 693 18,8 3.688

X. Doenças do aparelho respiratório 99 13,7 286 39,5 207 28,6 132 18,2 724

XI. Doenças do aparelho digestivo 32 4,1 140 17,9 273 34,8 339 43,2 784

XII. Doenças da pele e do tecido subcutâneo 361 12,4 935 32,2 967 33,3 642 22,1 2.905

XIII. Doenças sistema ósteomuscular e tecido conjuntivo 2 0,2 − 0,0 3 0,3 964 99,5 969

XIV. Doenças do aparelho geniturinário 7.703 86,1 1.229 13,7 10 0,1 5 0,0 8.947

XV. Gravidez, parto e puerpério 585 35,8 522 31,9 307 18,8 220 13,5 1.634

XVI. Algumas afecções originadas no período perinatal 501 24,1 704 33,9 514 24,7 358 17,3 2.077

XVII. Malformações congênitas, deformidades e anomalias cromossômicas 113 4,4 592 23,2 872 34,1 979 38,3 2.556

XVIII. Sintomas, sinais e achados anormais, exames clínicos e laboratoriais 6 40,0 6 40,0 3 20,0 − 0,0 15

XIX. Lesões, envenenamento e algumas outras consequências causas externas 32 10,8 59 19,9 88 29,6 118 39,7 297

XX. Causas externas de morbidade e mortalidade 20.529 28,7 25.587 35,8 16.225 22,8 9.072 12,7 71.413

TOTAL 36.746 43.896 28.158 15.822 124.622

a) CID-10: Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde – Décima Revisão.

Fonte: Departamento de Informática do SUS (Datasus)/Ministério da Saúde; dados obtidos em 2012.

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identificados nos dois centros de referência, IMIP e CEONHPE, 18 casos de leucemia linfocítica aguda, sendo 17 casos no IMIP e apenas 1 no CEONHPE.

Em relação à distribuição dos casos segundo muni-cípio de residência, pôde-se verificar que o município de Jaboatão dos Guararapes referiu o maior número de casos (n=11), apresentando coeficiente de prevalência de 1,22 por 100 mil habitantes; porém, o município com maior coeficiente de prevalência para o período total foi Ipojuca (1,76 casos/100 mil hab.), seguido do município de Moreno (1,25 casos/100 mil hab.) (Tabela 2).

Na análise dos dados segundo o sexo, observa-se a maior ocorrência de leucemia linfocítica aguda em pacientes do sexo masculino (78,0%), quando com-

parada à ocorrência em pacientes do sexo feminino (22,0%): uma razão de 3,5:1.

Em relação à distribuição por faixa etária, foi encontrado um maior número de casos entre 1 e 4 anos, seguida da faixa etária de 5 a 9 anos, totalizando 83,3% do total dos casos do Território Estratégico de Suape (Tabela 3).

Discussão

Os resultados demonstraram a ocorrência de casos de LLA em menores de 15 anos de idade distribuída de forma diferenciada entre os municípios estudados que compõem o Território. Os 17 casos registrados no Hospital de Referência/IMIP podem ser indício desta

Tabela 2 - Distribuição do número de casos e coeficientes de prevalência de leucemia linfocítica aguda (LLA) em menores de 15 anos de idade provenientes de municípios do Território Estratégico de Suape, estado de Pernambuco, segundo ano. Brasil, 2004 a 2008

AnoCabo de Santo

Agostinho Escada Ipojuca Jaboatão dos Guararapes Moreno Total

N CPa N CPa N CPa N CPa N CPa N CPa

2004 1 1,97 1 5,19 1 4,49 2 1,11 − − 5 1,73

2005 − 0,00 − − − − 3 1,61 1 6,01 4 1,34

2006 1 1,87 − − 1 4,19 3 1,58 − − 5 1,65

2007 v − − − − − − − − − − −

2008 1 2,14 − − − − 3 1,74 − − 4 1,46

TOTAL 3 1,19 1 1,07 2 1,76 11 1,22 1 1,25 18 1,25

a) CP: coeficiente de prevalência por 100 mil habitantes menores de 15 anos de idade.

Fonte:

Casos de LLA obtidos dos prontuários do Centro de Oncohematologia de Pernambuco (CEOHNPE) e o Instituto Materno-Infantil de Pernambuco (IMIP);

Dados populacionais dos municípios obtido na Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Tabela 3 - Distribuição dos casos de leucemia linfocítica aguda (LLA), população e prevalência segundo faixa etária em menores de 15 anos provenientes de municípios do Território Estratégico de Suape, estado de Pernambuco. Brasil, 2004 a 2008

Faixa etária (em anos) Casos População CP a

<1 – 92.919 –

1-4 8 372.960 2,15

5-9 7 478.932 1,46

10-14 3 495.672 0,61

TOTAL 18 1.440.483 1,25

a) CP: coeficiente de prevalência por 100 mil habitantes menores de 15 anos de idade.

Fonte:

Casos de LLA obtidos dos prontuários do Centro de Oncohematologia de Pernambuco (CEOHNPE) e o Instituto Materno-Infantil de Pernambuco (IMIP);

Dados populacionais dos municípios obtido na Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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unidade servir como referência no atendimento de casos de LLA, pela resposta positiva que a instituição de saúde tem dado na atenção ao paciente, como também pela reorganização institucional por que esta vem passando nos últimos anos. O IMIP é uma instituiçao que, atualmente, passa por uma expansão de atendimento e ampliaçao de sua rede de atençao à saúde no estado de Pernambuco. Por outro lado, o número reduzido de casos de LLA no CEONHPE pode ser devido à ser referência no atendimento dos tumores sólidos, em relaçao aos casos de LLA.

Este estudo apresentou limitações importantes, re-lacionadas ao viés de registro e de diagnóstico que não foi possível de ser controlado, uma vez que os dados utilizados foram secundários. O tempo de residência na área dos casos identificados de LLA, os casos trata-dos e diagnosticados em outras instituições, além do subregistro, podem constituir limitações adicionais.

Outra limitação observada por estes autores foi re-lacionada às variáveis ‘raça’ e ‘ocupação dos pais’. Em relação à raça, o registro foi observado em apenas um prontuário, enquanto no que diz respeito à ocupação e antecedentes dos pais, não se verificou esse registro em qualquer dos prontuários das crianças atendidas no IMIP e no CEONHPE. Dados relativos a tais carac-terísticas merecem especial atenção, no contexto de uma região como o Nordeste do Brasil, marcada por forte desigualdade socioambiental, além de contribuir para uma melhoria na investigação de morbidades, entre elas as leucemias.19

A existência de incompletudes de variáveis impor-tantes para a vigilância, como também foi observado no estudo realizado por Cazarin e colaboradores20 em um centro de referência de hematologia em Per-nambuco, demonstra que ainda não está internalizada entre os profissionais de saúde a preocupação com as situações de riscos ambientais e ocupacionais para a saúde, mesmo quando estes já são bem conheci-dos e pertencentes a uma cadeia de causalidade de determinados agravos, incluindo patologias graves. Isso pode ser comprovado pela ausência do registro de dados relativos à atividade ocupacional dos pais das crianças portadoras de leucemia linfocítica aguda. Recente estudo demonstrou uma correlação positiva entre pesticida e prematuridade, baixo peso ao nascer e anomalia congênita, sendo a ocupação dos pais uma informação importante e necessária para a compreensão dessa questão.21

Na análise das morbidades, observou-se que a população infantil dessa região sofre com as doenças respiratórias (23,4%) e também com as doenças relacionadas às condições do saneamento ambien-tal inadequado, como as infecciosas e parasitárias (19,0%).22 Programas específicos de intervenção têm dado prioridade ao grupo das doenças infecciosas e parasitárias mediante ações como o Projeto Sanar – Programa de Enfrentamento às Doenças Negligencia-das –,23 cujas ações pretendem atuar na causalidade socioambiental dos grupos mais vulneráveis.

Entre os fatores relacionados à saúde da criança e do adolescente, as condições ambientais são bastante relevantes. Além da dificuldade de acesso a água, saneamento e habitação nos países em desenvol-vimento,24 outras questões, como a contaminação do meio ambiente por agentes químicos, têm sido associadas ao aumento da prevalência de agravos em crianças, como malformações congênitas, asma, câncer, distúrbios neurológicos, hepáticos, dermatológicos, gástricos, endócrinos, alérgicos e comportamentais.25

Estudos epidemiológicos sobre as leucemias agudas em crianças têm examinado uma série de fatores de ris-co, no esforço para determinar a etiologia da doença. O conhecimento a respeito dos fatores ambientais de risco para as leucemias pode ser usado para subsidiar medidas que visem à redução de riscos e, consequen-temente, do risco da doença.26

Em relação aos problemas de registro observados no CEONHPE, não foi possível esclarecer suas razões. É re-comendável um estudo descritivo com base na análise de prontuários, semelhante ao estudo realizado por Cazarin e colaboradores,20 que confirmaria se há ocorrência de casos com diagnóstico de LLA no CEONHPE ou se ocorreu falha no registro de base hospitalar.

O predomínio de LLA no sexo masculino também foi observado por Silva,27 em estudo realizado no período de 1994 a 1998, em um centro de referência para tratamento do câncer pediátrico no estado de Santa Catarina, porém com uma diferença menor; e por Reis e colaboradores,28 quando analisaram os casos de câncer pediátrico em vários estados do país, a partir dos Registros de Câncer de Base Populacional.

A implantação da refinaria de petróleo no Polo Industrial de Suape poderá trazer impactos negativos, não só para o meio ambiente como também para a saúde da população que vive ao seu redor.29 O seg-

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Silvia Natália Serafim Cabral e colaboradores

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mento infantil apresenta-se como bastante vulnerável a alterações ambientais e, portanto, pode servir como um grupo sentinela na vigilância à saúde da população como um todo.

Outro aspecto a ser considerado refere-se à alta densidade populacional apresentada nos cinco muni-cípios da região. O fato de haver mais de um milhão de habitantes residindo nessa área servirá, ainda, como uma linha de base de migração populacional, considerando-se que o processo de desenvolvimento a ser instalado é um fator de aumento da densidade populacional para a região. Esse crescimento e aden-samento da população demandará do poder público uma organização política e estrutural de extrema importância para a manutenção de serviços que deem proteção social a esses moradores.

Diante disso, ressalta-se a importância do registro, nos prontuários dos serviços que atendem crianças, de informações que possam estar relacionadas a questões ambientais, como local de residência, ocupação dos pais e antecedentes familiares. É fundamental que, além do diagnóstico, faça-se a correlação com o aspec-to epidemiológico e socioambiental, o que permitirá uma ação preventiva mais abrangente.20

Nos territórios de atuação da Atenção Básica, é necessário selecionar indicadores para a vigilância da saúde das crianças no contexto onde vivem e trabalham os pais. E que essas ações de vigilância da saúde – epidemiológica, ambiental e do trabalhador – sejam congruentes com os contextos de nocividade e de exposição da população a agentes tóxicos, reque-rendo, portanto, ações prioritárias na organização do sistema de informações em saúde.20

A observação da ocorrência de leucemia linfocítica aguda em menores de 15 anos de idade residentes em

municípios que compõem o Território Estratégico de Suape no período de 2004 a 2008, a verificação da maior prevalência da doença no município de Ipojuca, do grupo de crianças do sexo masculino como o de maior percentual de ocorrências e da faixa etária de 1 a 4 anos como a de maior concentração de casos são indicadores importantes na caracterização da Linha de Base para as vigilâncias dos municípios que compõem o Território, assim como para os demais municípios do estado de Pernambuco.

Agradecimentos

Ao Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador, da Secretaria de Vigilância da Saúde do Ministério da Saúde – DSAST/SVS/MS –, pelo financiamento.

À Faculdade de Ciências Médicas da Universidade de Pernambuco.

À Secretaria Municipal de Saúde da Cidade de Recife-PE.

Ao Instituto Materno-Infantil de Pernambuco – IMIP – e ao Centro de Oncohematologia Pediátrico do Hospital Universitário Oswaldo Cruz – CEONHPE –, pelo fornecimento de dados.

Contribuição dos autores

Cabral SNS e Santos SL foram responsáveis pela concepção e delineamento do estudo, análise e inter-pretação dos dados. Beltrão AB colaborou na redação. Augusto LGS foi responsável pela revisão crítica e revisão da versão final.

Todos os autores aprovaram a versão final do manuscrito.

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Recebido em 29/05/2012 Aprovado em 14/11/2012

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Prevalence of serological markers of hepatitis B virus in health professionals from a research laboratory in the eastern Amazon, State of Pará, Brazil, 2007 to 2009

aRtigo

oRiginal Prevalência de marcadores sorológicos do vírus da hepatite B em profissionais de saúde de um laboratório de pesquisa na Amazônia oriental, Estado do Pará, Brasil, 2007 a 2009*

Endereço para correspondência: Instituto Evandro Chagas, Rodovia BR 316, Km 7, S/N, Levilândia, Ananindeua-PA, Brasil. CEP: 67030-000E-mail: [email protected]

Candida Maria Abrahão de OliveiraInstituto Evandro Chagas, Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, Belém-PA, Brasil

Márcio Roberto Teixeira NunesInstituto Evandro Chagas, Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, Belém-PA, Brasil

Heloisa Marceliano NunesInstituto Evandro Chagas, Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, Belém-PA, Brasil

Manoel do Carmo Pereira SoaresInstituto Evandro Chagas, Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, Belém-PA, Brasil

ResumoObjetivo: determinar a prevalência dos marcadores sorológicos da infecção pelo vírus da hepatite B (VHB) entre trabalhadores

de um instituto de pesquisas na Amazônia oriental, estado do Pará, Brasil. Métodos: estudo descritivo, desenvolvido entre 2007 e 2009, com trabalhadores que concordaram em participar mediante entrevista e investigação dos marcadores sorológicos da hepatite B, por técnicas imunoenzimáticas. Resultados: entre 528 trabalhadores pesquisados, encontrou-se prevalência de 0,4% do antígeno de superfície do VHB, 8,0% anticorpos contra o antígeno core do VHB/anticorpos contra o antígeno de superfície do VHB, 2,5% anticorpos contra o antígeno core do VHB isolado e 28,8% anticorpos contra o antígeno de superfície do VHB isolado, entre 68,4% de suscetíveis ao VHB que correspondiam aos indivíduos não vacinados. Conclusão: identificou-se prevalência e soroconversão inadequadas, abaixo da média informada pelo Ministério da Saúde, em que três doses da vacina devem conferir proteção de aproximadamente 90,0% em adultos.

Palavras-chave: Hepatite B; Prevalência; Profissionais da Saúde; Vacinação; Epidemiologia Descritiva.

AbstractObjective: to determine the prevalence of serological markers of infection by hepatitis B virus (HBV) among workers at

a research institute in eastern Amazon, state of Pará, Brazil. Methods: descriptive study, carried between 2007 and 2009, with workers who agreed to participate through interview and investigation of serological markers of hepatitis B by immu-noenzymatic techniques. Results: among 528 individuals surveyed, was found the prevalence of 0,4% of surface antigen of HBV, 8.0% of antibodies against hepatitis B core antigen/antibody against the surface antigen of VHB, 2.5% antibodies against hepatitis B core isolated antigen and 28.8% antibodies against surface antigen of isolated HBV, 68.4% susceptible to HBV that corresponded to non-vaccinated individuals. Conclusion: the research identified inadequate prevalence of sero-conversion below the average reported by the Ministry of Health, in which three doses of the vaccine should confer protection of approximately 90.0% in adults.

Key words: Hepatitis B; Prevalence; Health Personnel; Vaccination; Epidemiology, Descriptive.

doi: 10.5123/S1679-49742012000400010

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* Dissertação de mestrado pelo Programa de Pós-Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários, do Instituto de Ciência Biológicas da Universidade Federal do Pará, defendida em 27 de agosto de 2009.

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Introdução

A hepatite B – causada pelo vírus da hepatite B (VHB) – é uma infecção potencialmente grave e trans-missível. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de dois bilhões de pessoas já foram infectadas pelo vírus, o que corresponde a 30,0% da população do planeta. São aproximados 350 milhões de portadores crônicos do vírus no mundo, e um a dois milhões de mortes atribuídas à doença, a cada ano. Mesmo sendo uma doença imunoprevenível, a hepatite B continua a ser um sério problema de Saúde Pública.1

A Norma Regulamentadora nº 32/2008, do Ministé-rio do Trabalho e Emprego, estabeleceu as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores em serviço de saúde.2

Estudo de Olkner mostrou que o risco de infecção pelo VHB adquirida ocupacionalmente representava 4,0% do total de casos e que a transmissão do VHB poderia ocorrer por meio de um único episódio de exposição.3

Bonanni e Bonaccorsi, em seu trabalho ‘Vaccination against hepatitis B in health care workers’, afirmaram que a hepatite B é a doença ocupacional infecciosa mais importante para os trabalhadores da Saúde.4

A cobertura vacinal contra a hepatite B em tra-balhadores da área da Saúde, em diferentes países, é bastante variável. Estudo transversal realizado na Suécia, envolvendo trabalhadores de um hospital uni-versitário, detectou que apenas 40,0% dos avaliados teriam completado o esquema vacinal.5 Pesquisa em Rotterdam, Holanda, com 144 trabalhadores extra-hospitalares que haviam sofrido lesões percutâneas e exposição ocupacional a sangue, mostrou que 65,0% deles estavam vacinados contra hepatite B e que a maior ocorrência de vacinação era entre os enfermeiros (81,0%), outros trabalhadores (79,0%) e auxiliares de enfermagem (53,0%).6

No Hospital de Base de São José do Rio Preto-SP, obteve-se prevalência de 73,5% vacinados contra a hepatite B. No Rio de Janeiro, estudo com 298 traba-lhadores da Saúde mostrou prevalência de vacinação contra a hepatite B de 56,0%.7,8

No Brasil, entre os casos confirmados de hepatite B, 0,4% (308/81.443) foram considerados ocupacionais, conforme dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) para o período de 1999 a 2008.9

Estudos sobre o assunto, realizados no Rio de Janei-ro em 1999 e em São José do Rio Preto-SP em 2005, referiam-se exclusivamente a programas realizados de forma individualizada, em hospitais universitários e outros serviços de saúde.10

Bensabath e Soares, em estudos conduzidos na Amazônia oriental, mostraram prevalência de antígeno de superfície do vírus B (HBsAg) variando de 0,0 a 2,7%; e de anticorpo contra o antígeno de superfície do vírus B (anti-HBs), entre 6,7 e 13,8%.11,12

Existe, portanto, a necessidade de sensibilizar os profissionais da área da Saúde sobre a importância da vacinação contra a hepatite B como medida pontual a ser posta em prática. Ressalta-se, também, a utilização de técnicas de proteção individual (precauções básicas de isolamento, prevenção de acidentes com materiais perfurocortantes, uso de equipamentos de proteção individual e coletivos) como forma de minimizar os riscos de contrair doenças infecciosas, por exemplo, na exposição a sangue e fluídos orgânicos a que esses profissionais estão sujeitos quando realizam pesquisas de campo. Especialmente na Amazônia, área endêmica para a hepatite B.13

Marcadores sorológicos disponíveis podem ser utilizados para diagnóstico de hepatite B aguda ou crônica, acompanhamento dos pacientes e indicação e monitorização do tratamento. São eles:a) HBsAg (antígeno de superfície do vírus B), cuja pre-

sença indica infecção em curso; sendo o primeiro marcador a aparecer, se continuar presente por mais de seis meses, caracteriza infecção crônica;

b) anti-HBcIgM (anticorpo IgM contra o antígeno core do vírus B), cuja presença indica infecção aguda; é o primeiro anticorpo detectável, encontrado no soro até 32 semanas após a infecção;

c) anti-HBcIgG (anticorpos contra o antígeno do núcleo do VHB), é o marcador que indica contato prévio com o vírus, permanecendo por toda a vida nos indivíduos que tiveram a infecção;

d) anti-HBc total (anticorpos totais contra o antígeno core do vírus B), melhor marcador de exposição ao vírus, indica contato prévio com o vírus;

A hepatite B é a doença ocupacional infecciosa mais importante para os trabalhadores da Saúde.

Prevalência de marcadores sorológicos do vírus da hepatite B

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e) HBeAg (antígeno ‘e’ do vírus B), marcador de replicação viral, sua positividade é indicativa de alta infectividade;

f) anti-HBe (anticorpo contra o antígeno “e” do vírus B), detectado geralmente após o desaparecimento do HBeAg, sugere redução ou ausência de replicação viral – exceção para as cepas que sofreram mutação pré-core, não produtoras da proteína ‘e’ –; e

g) anti-HBs (anticorpo contra o antígeno de superfície do vírus B), protetor e neutralizante; aparece, ge-ralmente, quando desaparece o HBsAg, indicando resolução da infecção e imunidade; encontrado isoladamente, em pessoas vacinadas.14

A presente pesquisa objetivou determinar a prevalên-cia dos marcadores sorológicos da infecção pelo VHB, HBsAg, anti-HBs e anti-HBc total entre trabalhadores de diferentes categorias em um instituto de pesquisas, por meio de estudo descritivo e epidemiológico.

Métodos

Esta pesquisa foi desenvolvida no período de janeiro de 2007 a janeiro de 2009. As coletas de material foram realizadas entre os meses de janeiro e abril de 2008, nos campi I e II do Instituto Evandro Chagas, localizados respectivamente nos municípios de Belém e Ananindeua, estado do Pará, Brasil. O instituto, vinculado à Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (IEC/SVS/MS), atua nas áreas de pesquisas biomédicas e na prestação de serviços em Saúde Pública. À época da coleta de dados, havia 833 trabalhadores na instituição.

O estudo incluiu trabalhadores do IEC/SVS/MS efe-tivos, contratados, terceirizados, estagiários e outros que concordaram em participar, independentemente do estado vacinal contra a hepatite B, todos avaliados segundo a faixa etária, sexo, escolaridade e local de trabalho por meio da busca ativa nos serviços, seções e setores, e segundo critérios de inclusão e exclusão acima descritos. A coleta de dados foi realizada me-diante entrevistas, com aplicação de Ficha de Inquérito Individual pela autora principal.

A metodologia não inclui a investigação do tempo entre a 3ª dose da vacina e a coleta do sangue para exame da situação sorológica.

As fontes de consulta para avaliação do estado va-cinal foram: banco de dados, alimentado pelo modelo ‘Cadastro Individual do Trabalhador’; aplicação de

Ficha de Inquérito Individual, em que se verificou a presença de indivíduos vacinados e/ou com resposta sorológica prévia, por haverem participado de outros projetos de avaliação de resposta vacinal; e entre-vista, ocasião quando os que dispunham do cartão de vacinação o apresentaram. Para aqueles que não possuíam o documento, foi realizada a busca da situação vacinal nas fontes citadas (banco de dados) e providenciada a confecção e preenchimento do car-tão conforme preconizado pelo Programa Nacional de Imunização.

A coleta, o processamento e os kits utilizados na realização das sorologias para a pesquisa seguiram o estabelecido pelo Laboratório da Seção de Hepatologia do Instituto Evandro Chagas, referência em hepatites virais para a região Norte.

A média de tempo entre a coleta e a realização dos exames foi de cerca de 7,5 meses, durante os quais o material permaneceu acondicionado de maneira adequada.

De cada participante da pesquisa, coletou-se apro-ximadamente 8mL de sangue, por meio de punção venosa utilizando agulha e tubo vacutainer siliconi-zado, com separador inerte e ativado não contendo anticoagulante. O material, após identificação nominal e numérica, permaneceu em repouso de 1 a 3 horas, à temperatura ambiente, para retração do coágulo; em seguida, foi centrifugado por 15 minutos, a 3.000 rotações por minuto. Os soros obtidos foram acondi-cionados em criotubos (tubo KMA, de 3mL), refrige-rados em gelo comum e posteriormente congelados a -20ºC, até a realização dos exames.

No laboratório de sorologia, realizaram-se os testes de marcadores sorológicos da hepatite B, por técnica imunoenzimática do tipo Enzyme Linked Immunosor-bent Assay (ELISA), utilizando kits comerciais. Todas as amostras foram examinadas para a presença de HBsAg (Hepanostika HBsAg Ultra, Biomérieux®), anti-HBc total (Hepanostika anti-HBc Uni-Form, Biomérieux®) e anti-HBs (ETI-AB-AUK-3, Diaso-rin®), segundo as recomendações do fabricante. Os resultados foram considerados duvidosos quando a densidade óptica ficou situada entre 20,0% para cima ou para baixo do limite de corte, levando a nova coleta e repetição do teste.

Os dados obtidos e os resultados dos testes foram armazenados em base de dados, pelo programa Epi Info 2002, versão 3.3. As análises estatísticas foram

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realizadas pelo programa BioEstat, versão 5.0;15 e as proporções foram avaliadas pelo teste não paramétrico qui-quadrado, para amostras esperadas iguais, sendo estabelecido o nível de significância igual a 0,05.

Com base na Resolução CNS n° 196/1996,16 do Con-selho Nacional de Saúde, que normaliza as pesquisas envolvendo seres humanos no país, os trabalhadores do IEC/SVS/MS concordaram em participar do estudo mediante assinatura de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e o projeto do estudo foi aprovado por um Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo seres humanos, mediante o Certificado de Apresentação para Apreciação Ética (CAAE) no 0029.0.072.000-07, em 19 de dezembro de 2007.

Resultados

Foram examinados (528/833) indivíduos, o que correspondeu a 63,4% do total de trabalhadores da instituição cadastrados no Serviço de Recursos Huma-nos até dezembro de 2007; 36,6% não concordaram em participar do estudo.

Entre os examinados, observou-se frequência de 54,2% (286/528) para indivíduos do sexo masculi-no e de 45,8% (242/528) para indivíduos do sexo feminino. A média de idade foi de 39,5±12,6 anos (variação de 15 e 69 anos); e a mediana, 41 anos. A população estudada constituiu-se, principalmente, de pessoas nas faixas etárias <30 anos. A distribuição dos trabalhadores por situação funcional e faixa etária mostrou que os efetivos e terceirizados concentraram a maioria desses trabalhadores (Tabela 1).

Conforme apresentado na Tabela 2, 31,6% comple-taram o esquema vacinal contra a hepatite B e 44,5% não haviam recebido qualquer dose da vacina. O maior número de vacinados (46,5%) encontrava-se na faixa etária ≥50 anos, e o menor número, nos indivíduos com idade inferior a 30 anos (16,2%). Verificou-se significância estatística para a terceira dose por meio do teste qui-quadrado de aderência para amostras esperadas iguais: p (valor) <0,0001.

A análise das amostras demonstrou prevalência total de 39,7% para algum marcador do VHB. Na Tabela 3, demonstra-se (i) o perfil compatível com o estado de portador (HBsAg+), (ii) os indicadores de infecção pregressa pelo VHB (anti-HBc+/anti-HBs+), (iii) o marcador isolado compatível com infecção pregressa ou atual pelo vírus (anti-HBc+ isolado) e (iv) o perfil de proteção vacinal (anti-HBs+ isolado). Não se observou significância estatística para a variável ‘perfil de portador do VHB’, com p (valor) = 0,5221 e para a variável ‘perfil compatível com infecção pregressa ou atual pelo VHB’, com p (valor) = 0,2685. Entretanto, encontrou-se signifi-cância estatística para a variável ‘perfil de infecção pregressa pelo VHB’, com p (valor) = 0,0002, e para a variável ‘perfil compatível com proteção vacinal’, com p (valor) = 0,0395, ambas identificadas pelo teste qui-quadrado de aderência.

Quanto à predominância dos marcadores sorológi-cos da hepatite B por sexo, observou-se, para a variável ‘perfil de infecção pregressa pelo VHB’, significância estatística com p (valor) = 0,0034 pelo teste qui-quadrado de aderência (Tabela 4).

Prevalência de marcadores sorológicos do vírus da hepatite B

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Tabela 1 - Distribuição dos trabalhadores do Instituto Evandro Chagas, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, por faixa etária e situação funcional, nos municípios de Belém e Ananindeua, estado do Pará. Brasil, 2008

Faixa etária (em anos)

Efetivo (%)

Contratado (%)

Terceirizado (%) Estagiário (%) Outro a (%) Total (%)

<30 1 (0,2) 25 (4,8) 51 (9,7) 66 (12,5) 5 (0,9) 148 (28,0)

30-39 12 (2,3) 27 (5,1) 55 (10,4) 3 (0,6) 7 (1,3) 104 (19,7)

40-49 76 (14,4) 11 (2,1) 46 (8,7) – b – b 133 (25,2)

≥50 115 (21,8) 4 (0,8) 19 (3,6) – b 5 (0,9) 143 (27,1)

TOTAL (%) 204 (38,6) 67 (12,7) 171 (32,4) 69 (13,1) 17 (3,2) 528 (100,0)

a) Outro: funcionários do restaurante/IEC; professores da Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA) e da Universidade Federal do Pará (UFPA) desenvolvendo trabalhos temporários na SAARB/SEPAR.

b) – : dado numérico igual a zero, não resultante de arredondamento.

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Candida Maria Abrahão de Oliveira e colaboradores

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Tabela 2 - Distribuição dos trabalhadores do Instituto Evandro Chagas, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, por faixa etária e situação vacinal contra a hepatite B, nos municípios de Belém e Ananindeua, estado do Pará. Brasil, 2008

Faixa etária (em anos) n a

Situação vacinal contra a hepatite BP (valor)

1ª dose (%) 2ª dose (%) 3ª dose (%) NV b

<30 148 32 (21,6) 16 (10,8) 24 (16,2) 76 (51,4)

<0,000130-39 104 9 (8,6) 11 (10,6) 26 (25,0) 58 (55,8)

40-49 134 20 (14,9) 13 (9,7) 51 (38,1) 49 (36,6)

≥50 142 14 (9,9) 11 (7,7) 66 (46,5) 52 (36,6)

TOTAL (%) 528 75 (14,2) 51 (9,7) 167 (31,6) 235 (44,5)

a) n: número amostral b) NV: não vacinados

Tabela 3 - Prevalência de antígeno de superfície do vírus B (VHB: vírus da hepatite B), anticorpos contra o antígeno core do vírus B/anticorpo contra o antígeno de superfície do vírus B, anticorpo contra o antígeno de superfície do vírus B isolado e anticorpo contra o antígeno de superfície do vírus C isolado, por faixa etária, entre os trabalhadores do Instituto Evandro Chagas, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, nos municípios de Belém e Ananindeua, estado do Pará. Brasil, 2008

Faixa etária(em anos) n a HBsAg+ b

(%) IC95%

c anti-HBc+/anti-HBs+ d

(%) IC95%

c anti-HBc+ isolado e

(%) IC95%

c anti-HBs+ isolado f

(%) IC95%

c

<30 148 1 (0,7) 0,1-1,5 1 (0,7) 0,1-12,6 1 (0,7) 0,1-1,5 40 (27,0) 25,9-33,930-39 104 – g – g 8 (7,7) 0,1-16,2 1 (1,0) 0,1-2,6 25 (24,0) 14,9-26,740-49 134 1 (0,7) 0,1-1,5 14 (10,4) 0,1-19,5 1 (0,7) 0,1-1,5 37 (27,6) 21,6-29,2≥50 142 – g – g 19 (13,4) 2,7-19,5 10 (7,0) 0,3-12,0 50 (35,2) 23,4-36,1

TOTAL 528 2 (0,4) 0,1-1,6 42 (8,0) 5,1-9,5 13 (2,5) 1,3-7,8 152 (28,8) 14,9-34,1

a) n: número amostralb) HBsAg+: portador do VHBc) IC

95%: intervalo de confiança de 95%

d) anti-HBc+/anti-HBs+: perfil de infecção pregressa pelo VHBe) anti-HBc+ isolado: perfil compatível com infecção pregressa ou atual pelo VHB f) anti-HBs+ isolado: perfil compatível com proteção vacinalg) – : dado numérico igual a zero, não resultante de arredondamento.

Tabela 4 - Prevalência dos marcadores sorológicos da hepatite B por sexo, entre os trabalhadores do Instituto Evandro Chagas, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, nos municípios de Belém e Ananindeua, estado do Pará. Brasil, 2008

Sexo n a HBsAg+ b

(%)anti-HBc+/anti-HBs+

c (%)anti-HBs+ isolado d

(%)anti-HBc+ isolado

e (%) P (valor)

Masculino 286 2 (100,0) 31 (73,8) 64 (42,1) 10 (76,9)0,0034

Feminino 242 – f 11 (26,2) 88 (57,9) 3 (23,1)

TOTAL 528 2 (0,4) 42 (8,0) 152 (28,8) 13 (2,5)

a) n: número amostralb) HBsAg+: portador do VHB (vírus da hepatite B)c) anti-HBc+/anti-HBs+: perfil de infecção pregressa pelo VHBd) anti-HBs+ isolado: perfil compatível com proteção vacinale) anti-HBc+ isolado: perfil compatível com infecção pregressa ou atual pelo VHBf) – : dado numérico igual a zero, não resultante de arredondamento.

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Do total de trabalhadores examinados, 68,4% (361/528) eram indivíduos não vacinados (receberam apenas 1 ou 2 doses de vacina, ou nenhuma dose de vacina foi-lhes aplicada anteriormente), portanto suscetíveis ao VHB.

Na distribuição dos trabalhadores por área da instituição – Saúde e Administração –, entre os traba-lhadores da área da Saúde, 151 não foram vacinados e 38 tinham história prévia de vacinação. Aqui, a aplicação do teste qui-quadrado de aderência, em nível de significância de 5% (0,05), encontrou signi-ficância estatística para trabalhadores suscetíveis, com p (valor) = 0,0228.

Discussão

A cobertura vacinal contra a hepatite B preconi-zada pelo Ministério da Saúde do Brasil é de 90,0%. Entretanto, o estudo atual detectou que apenas 31,6% dos trabalhadores receberam o esquema vacinal completo, uma medida fundamental, principalmente para os que se encontram na faixa etária abaixo dos 30 anos. Para os profissionais da Saúde, é necessário que, 30 dias após a administração da última dose do esquema vacinal, seja realizado teste sorológico para controle dos títulos de anticorpos e avaliação da res-posta imunológica, uma vez que o aumento do número de susceptíveis pode proporcionar o surgimento de infectados e/ou portadores do vírus.17

O resultado de 31,6% de prevalência do esquema vacinal completo, observado nesta pesquisa, foi infe-rior ao de estudos realizados no Hospital de Base de São José do Rio Preto-SP, onde se obteve uma pre-valência de 73,5% de vacinados contra hepatite B; o resultado também foi inferior à prevalência encontrada em pesquisa desenvolvida no Rio de Janeiro.7,8

A pesquisa mostrou um padrão de endemicidade moderada (2,0% e 7,0%), segundo a classificação ado-tada por Beasley e Whang, corroborando o apontado nos estudos de Bensabath e Soares sobre a Amazônia oriental, onde os percentuais de HBsAg variam de 0,0 a 2,7%, e do anti- HBs, entre 6,75 e 13,8%.11,12

A prevalência de 0,4% obtida para o HBsAg+ reve-lou a presença de portadores do VHB na população estudada, achado semelhante a 0,6% encontrado para os cirurgiões-dentistas e auxiliares odontológicos avaliados no Município de Ribeirão Preto-SP, em 2002.18 Não obstante, valores quatro vezes inferiores

de HBsAg+ (0,1%) foram obtidos entre doadores de sangue em Ribeirão Preto-SP, em 2005.19 A avaliação de profissionais de saúde em Hospital de São José dos Campos-SP no ano de 2005, contudo, encontrou prevalência de VHB de 0,8%,7 o dobro da apresentada neste estudo.

A prevalência de 8,0% dos marcadores anti-HBc+/anti-HBs+ indicou a presença de indivíduos pre-viamente infectados, que desenvolveram imunidade natural ao VHB, sendo esse percentual maior que o encontrado entre trabalhadores de hospital universitá-rio de Natal, capital do estado do Rio Grande no Norte, no ano de 1999, quando a presença simultânea desses marcadores foi de 4,3%.20

No atual estudo, o anti-HBs+ isolado mostrou elevada prevalência (28,8%) quando comparada à prevalência intermediária (5,2%) desse marcador, encontrada no estudo realizado em Natal-RN (1999).20 Ademais, no estudo de São José dos Campos-SP, de 2005, 86,4% da população analisada mostrou resposta positiva para o marcador, sugerindo imunização contra o VHB.7

A prevalência de anti-HBc+ isolado em 2,5% dos indivíduos foi equivalente à observada por vários estudos com doadores de sangue.8,18

Na avaliação da relação da prevalência de marcado-res sorológicos com o sexo, observou-se predomínio do sexo masculino para o HBsAg+, anti-HBc+/anti-HBs+ e anti-HBc+ isolado, enquanto para o anti-HBs+ isolado, a prevalência maior foi do sexo feminino. Em estudo de soroprevalência da hepatite B desenvolvido em 2007, com profissionais de um Laboratório de Saúde Pública, não foi observada diferença estatisti-camente significativa entre o sexo feminino e o sexo masculino, para os títulos de anti-HBs+ isolado.21

A pesquisa identificou baixa cobertura vacinal entre os trabalhadores da instituição, com soroconversão de 28,8% para o anti-HBs e presença de não respon-dedores à vacinação. A taxa de soroconversão para o anti-HBs encontrada mostrou-se inferior à relatada em outros estudos,22,23 em caso de exposição ocupacional à material biológico, de acordo com o que preconiza o Programa Nacional para a Prevenção e o Controle das Hepatites Virais/SVS/MS.24

Relacionando-se as áreas de atuação dos traba-lhadores do IEC/SVS/MS a sua situação vacinal, a taxa de soroconversão para o anti-HBs+ (28,8%) entre os trabalhadores, tanto da área da Saúde como da Administração, mostrou-se muito abaixo da média

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informada pelo Ministério da Saúde, o qual considera que a aplicação de três doses da vacina deveria conferir proteção de aproximadamente 90,0% em adultos.14

Entre os trabalhadores da Administração do IEC/SVS/MS, a prevalência (58,1%) de suscetíveis ao vírus estava muito acima do percentual encontrado na área da Saúde, no instituto (31,3%). Segundo um estudo da prevalência de anti-HBs+ em função do tipo de atividade hospitalar, realizado em 1999, as categorias que apresentaram maiores índices de prevalência foram os trabalhadores do laboratório de análises clínicas (24,0%), da enfermagem (23,6%), médicos (20,8%) e pessoal da limpeza (18,2%). Nas atividades administrativas e em outras áreas onde os trabalhadores não mantinham contato direto com os pacientes, essa prevalência foi de 9,1%.20

Como limitações do estudo, destacam-se a elevada proporção de perdas, assim como o desconhecimento do tempo decorrido entre a administração da terceira dose e a coleta do material para exame. A titulação de anticorpos tende a declinar com o passar do tempo pós-vacinação, de maneira que a prevalência de imunização com titulação adequada de anticorpos pode ter sido subestimada caso a coleta do sangue para mensuração da titulação de anticorpos tenha se realizado muito tempo após a vacinação, em uma proporção elevada de trabalhadores.

Não se tem dúvida sobre a necessidade de imuni-zação do profissional da Saúde, no cumprimento do que determina a legislação vigente: a Norma Regula-mentadora 32 (NR-32), que versa sobre a segurança do trabalhador em saúde.2

Ressalta-se a importância da realização de estudos na área dos laboratórios, no sentido de contribuir para esta discussão sobre a necessidade de se conhecer a situação vacinal e o perfil sorológico da hepatite B entre os trabalhadores da Saúde, particularmente os profissionais envolvidos em atividade de pesquisa extra-institucional, para a confirmação da imunidade por eles adquirida, não se limitando à realização de testes sorológicos unicamente após a ocorrência dos acidentes ocupacionais ou quando solicitados por serviços de medicina do trabalho.

Agradecimentos

A Direção do Instituto Evandro Chagas – IEC/SVS/MS –, pelo auxílio recebido, aos funcionários de sua Seção de Hepatologia e a todos que contribuíram para a realização do projeto.

Contribuição dos autores

Oliveira CMA, foi responsável por todas as fases do estudo, incluindo a elaboração do projeto e dos instru-mentos, realização das análises e redação final do artigo.

Nunes MRT colaborou no desenho do estudo, orien-tou, revisou e implementou modificações necessárias.

Nunes HM participou integralmente de todas as fases do trabalho, desde o desenho do estudo à redação final.

Soares MCP colaborou no desenho do estudo e na discussão dos achados.

Todos os autores aprovaram a versão final do manuscrito.

Candida Maria Abrahão de Oliveira e colaboradores

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2. Portaria nº 939, de 18 de novembro de 2008. O Ministro do Trabalho e Emprego, no uso das atribuições que lhe confere o artigo 87, parágrafo único, inciso II, da Constituição Federal, e os artigos 155, inciso I, e 200 da Consolidação das Leis do Trabalho. Diário Oficial da União, Brasília, p. 238, 19 de novembro 2008. Seção 1.

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Referências

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24. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Hepatites Virais: o Brasil está atento. Brasília: Ministério da Saúde; 2008.

Recebido em 03/09/2010 Aprovado em 11/10/2012

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Detection of infection by hepatitis B virus in the brazilian municipalities according to the coverage of hemotherapy services, in the period from 2001 to 2008

aRtigo

oRiginal Detecção de infecção pelo vírus da hepatite B nos municípios brasileiros segundo cobertura dos serviços de hemoterapia, no período de 2001 a 2008*

Endereço para correspondência: Universidade do Estado de Mato Grosso, Av. São João S/N, Cavalhada, Cáceres-MT, Brasil. Cep: 78200-000 E-mail: [email protected]

Letícia Gomes CostaCurso de Enfermagem, Universidade do Estado de Mato Grosso, Cáceres-MT, Brasil

Regiane Cardoso de PaulaInstituto de Ensino e Pesquisa Educatie, São Paulo-SP, Brasil

Eliane IgnottiPrograma de Mestrado em Ciências Ambientais, Universidade do Estado de Mato Grosso, Cáceres-MT, Brasil

ResumoObjetivo: descrever a taxa de detecção de infecção pelo vírus da hepatite B no Brasil e a razão de taxas de detecção nos municípios

segundo cobertura dos serviços de hemoterapia (SH) durante o período 2001-2008. Métodos: estudo descritivo, compreendeu o cálculo da taxa de detecção de infecção pelo vírus da hepatite B por sexo, faixa etária, Regiões brasileiras e presença de SH; regressão linear para tendência; teste de qui-quadrado para comparação de proporções da detecção e razão de taxas; os dados foram coletados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan-NET). Resultados: a taxa de detecção de infecção pelo vírus dahepatite B apresentou incremento no Brasil, sendo 2,4 vezes mais elevada nos municípios com SH. Conclusão: a detecção da infecção pelo vírus da hepatite B apresentou pequeno incremento no período estudado e em todas as Regiões brasileiras foram encontradas taxas mais elevadas em municípios com serviço de hemoterapia.

Palavras-chave: Hepatite B; Incidência; Sexo; Serviço de Hemoterapia; Epidemiologia Descritiva.

AbstractObjective: to describe the detection rate of infection by hepatitis B virus in Brazil and detection rates ratioin municipalities

regarding hemotherapy service (HS) during the period 2001-2008. Methods: a descriptive study reached the detection rate of infection by hepatitis Bvirus by gender, age, Brazilian macro-regions and presence of HS; it was applied linear regression for trend, and chi-squared test to compare proportions of detection and ratio rates; data from the Reportable Diseases Database (Sinan-NET) was used. Results: the detection rates of infection by hepatitis B virus showed increase in Brazil, and were 2.4 higherin municipalities with HS. Conclusion: the detection of infection by hepatitis B virus showed small increase during the study period, and all Brazilian regions presented higher rates in municipalities with hemotherapy service.

Key words: Hepatitis B; Incidence; Sex; Hemotherapy Service; Epidemiology, Descriptive.

doi: 10.5123/S1679-49742012000400011

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 21(4):617-626, out-dez 2012

* Este manuscrito baseia-se no trabalho de conclusão do curso de bacharelado em enfermagem de Letícia Gomes Costa, da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT.

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Introdução

Hepatite B é uma inflamação do fígado causada por um vírus: VHB, ou vírus da hepatite B. Devido a sua alta especificidade, o VHB infecta um número restrito de espécies de primatas, entre elas a humana, que constitui o reservatório natural da doença. O risco para infecção crônica varia de acordo com a idade.1-5

A transmissão do VHB se faz por via parenteral, ver-tical, por solução de continuidade, por contato íntimo domiciliar, transfusão de sangue e hemoderivados; e sobretudo, pela via sexual, sendo considerada uma doença sexualmente transmissível.3,4 Concentrações moderadas ocorrem no sêmen e no fluido vaginal; e concentrações menores, na saliva. O vírus da hepatite B é, aproximadamente, 100 vezes mais infectante que o vírus da imunodeficiência humana (HIV) e dez vezes mais do que o vírus da hepatite C (VHC). O VHB circula em altas concentrações no sangue e em secreções de feridas.4

Nos primeiros anos de vida, a transmissão vertical ou horizontal ocorre, comumente, em regiões de alta endemicidade como a África, o Sudeste Asiático e a China, enquanto em regiões de baixa endemicidade, como a Europa, os Estados Unidos da América (EUA) e a Austrália, a contaminação é predominantemente horizontal.6

No ano de 2008, a prevalência mundial do VHB foi estimada em cerca 350 milhões de infectados croni-camente,3,4 com distribuição variada e prevalências baixas, inferiores a 2,0%, na Europa Ocidental, na América do Norte, na Nova Zelândia e na Austrália, no Japão, até prevalências superiores a 8,0%, estas encontradas na África, no Sudeste Asiático e na China.7,8

Na América Latina, a hepatite B é considerada endêmica e estima-se que 400 mil casos novos da doença ocorram a cada ano.9,10 O aumento na prevalência da doença ocorre a partir dos 16 anos de idade, sugerindo a transmissão sexual como a principal via de infecção.11

Os registros de doenças transmissíveis são influen-ciados por características da doença, que incluem tan-to os mecanismos de transmissão como a capacidade dos serviços de saúde em captar os casos. No Brasil, o serviço de hemoterapia, componente da Hemorrede Nacional, foi regulamentado em 2001,12 quando os casos de hepatite B passaram a ser identificados com maior frequência.

No ano de 2009, as regiões Sudeste e Sul concen-traram, respectivamente, 36,6 e 31,6% dos casos notificados. Quanto à taxa de detecção por 100 mil habitantes, a região Sul apresenta as maiores taxas, seguida pela região Norte.13

A hepatite B é um problema de saúde importante em todo o mundo. Quando a infecção pelo VHB cursa de forma assintomática, a doença pode cronificar, causando complicações tardias. A cirrose e o câncer hepático são as principais complicações da hepatite B.5

Considerando-se a natureza contagiosa da doença, mantida mesmo quando o indivíduo não apresenta qualquer sintoma, e a possibilidade de as infecções serem insuficientemente notificadas, a prevalência de hepatite B pode ser subestimada em localidades com menor acesso aos serviços de hemoterapia;1,14 ao con-trário, ela pode ser mais frequentemente notificada em localidades com serviços de hemoterapia instalados. Comparar áreas com e sem tais serviços possibilita uma abordagem aproximada da carga da doença no país.

Este estudo tem por objetivo descrever a taxa de detecção de infecção pelo vírus da hepatite B no Brasil e a razão das taxas de detecção nos municípios segundo a existência de serviço de hemoterapia, no período de 2001 a 2008.

Métodos

Estudo descritivo da detecção da infecção pelo vírus da hepatite B no Brasil no período de 2001 a 2008. O indicador em estudo foi a taxa de detecção de infecção pelo vírus da hepatite B: (casos confirmados residentes em um determinado local e período/população do mesmo local e período) X 100 mil habitantes. Foram utilizados os dados de hepatite B do Brasil por esta-dos, municípios e região geográfica, por faixa etária e sexo e por municípios com e sem rede de serviço de hemoterapia, para o cálculo das taxas. Como casos detectados, foram selecionados todos os casos noti-ficados, considerando-se o município de notificação,

Na América Latina, a hepatite B é considerada endêmica e estima-se que 400 mil casos novos da doença ocorram a cada ano.

Hepatite B no Brasil

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independentemente do tipo de manifestação clínica da doença.

Os dados sobre hepatite B são provenientes do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan-NET), captados pelo Departamento de Infor-mática do Sistema Único de Saúde (Datasus: www.datasus.gov.br). Considera-se caso de hepatite B o indivíduo que preencha as condições de caso suspeito e que apresente um ou mais marcadores sorológicos reagentes ou exame de biologia molecular para he-patite B.13 No presente estudo, as taxas de detecção de infecção pelo vírus da hepatite B referem-se ao conjunto de doentes com hepatite B crônica e aguda, além de indivíduos assintomáticos portadores do marcador HBsAg.

As estimativas populacionais para os anos de 2001 a 2008 foram disponibilizadas pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Os dados sobre a rede física dos serviços de hemoterapia que integram a Hemorrede Nacional foram obtidos do ‘Caderno de informação: sangue e hemoderivados’, do Ministério da Saúde.14 Este estudo utilizou-se dos dados dos hemocentros coordenado-res, hemocentros regionais, núcleos de hemoterapia, unidades de coleta e transfusão e unidades de coleta, considerados serviços de hemoterapia que integram a Hemorrede Nacional.

De acordo com a Resolução RDC/Anvisa nº 151, de 21 de agosto de 2001,12 a Hemorrede Nacional é coordenada, no nível federal, pela Gerência Geral de Sangue, outros Tecidos e Órgãos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) do Ministério da Saúde, enquanto nos estados e Distrito Federal, pelo gestor do Sistema Único de Saúde – SUS.

Definiu-se, como período deste estudo, os anos de 2001 a 2008. Considerando-se que o Sinan foi implan-tado em 1998, o período de 1998 a 2000 (três anos) foi compreendido como o tempo necessário para a implantação do programa e do fluxo de informações em todos os níveis hierárquicos do SUS. Para a análise de dados, as agregações etárias foram definidas de acordo com a forma disponibilizada pelo Sinan até a faixa etária de 39 anos, categorizadas em: menores de 1 ano; 1 a 4; 5 a 9; 10 a 14; 15 a 19; e 20 a 39 anos de idade. Para facilitar a comparação dos resultados com a maioria dos estudos, as faixas etárias de 40 a 59, 60 a 64 e 65 a 69 anos foram agrupadas em um único estrato: 40 a 69. Realizou-se (i) o cálculo da

taxa de detecção de infecção pelo VHB segundo sexo, faixa etária e regiões brasileiras, para o ano de 2008; e (ii) a análise da série histórica e da taxa média da detecção de 2001 a 2008, segundo presença de servi-ço de hemoterapia. Calculou-se a razão das taxas de detecção médias dos municípios que apresentam ser-viços de hemoterapia e daqueles que não apresentam tais serviços, para o ano de 2008, segundo unidades da Federação. Optou-se pelo maior detalhamento das análises para o último ano de estudo: 2008.

Foi utilizada regressão linear simples, para avaliar a tendência da taxa de detecção de infecção pelo vírus da hepatite B no Brasil. O teste qui-quadrado foi utili-zado para comparar as proporções da ocorrência da doença entre os sexos, para cada grupo etário e região geográfica do país, e a razão das taxas de detecção foi utilizada para comparar a diferença na detecção da doença nos municípios com e sem serviço de hemoterapia, estratificados por regiões geográficas. Os testes estatísticos foram realizados pelo programa computacional Epi Info versão 3.5.2.

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT – em agosto de 2011, sob o Protocolo nº 97/2011.

Resultados

Na Tabela 1, observa-se a detecção de infecção pelo vírus da hepatite B por 100 mil habitantes, segundo sexo e faixa etária nas regiões geográficas brasileiras, para o ano de 2008. Nas regiões Sudeste e Sul, a de-tecção de infecção pelo VHB foi significativamente mais elevada entre o sexo masculino, enquanto nas regiões Norte e Centro-Oeste, prevaleceu o sexo feminino. Para a região Nordeste, não foi verificada diferença estatisticamente significante entre os sexos.

Em relação à faixa etária, a ocorrência de hepatite B foi mais elevada a partir dos 15 anos de idade, em todas as regiões estudadas. Igualmente em todas as cinco macrorregiões brasileiras, a detecção do VHB na faixa etária dos 40 aos 69 anos foi mais elevada para o sexo masculino, exceto na região Norte. Para o sexo feminino entre 15 e 39 anos de idade, a detecção de infecção pelo vírus da hepatite B foi significativamente maior nas regiões Centro-Oeste, Sul e Norte; na região Sudeste, a detecção no sexo feminino foi mais elevada entre os 15 e os 19 anos de idade.

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Hepatite B no Brasil

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Tabela 1 - Detecção de infecção pelo vírus da hepatite B por 100 mil habitantes segundo sexo e faixa etária, nas regiões e unidades federadas. Brasil, 2008

Área e faixa etária (em anos)

Sexo TOTAL

χ² a pFeminino Masculinon Detecção n Detecção n Detecção

Região Norte <1 8 5,20 4 2,49 12 3,82 1,51 0,2181-4 5 0,78 11 1,65 16 1,22 2,01 0,1565-9 6 0,71 8 0,91 14 0,81 0,22 0,64210-14 15 1,87 13 1,56 28 1,71 0,23 0,63215-19 72 9,23 30 3,72 102 6,43 18,64 <0,001b

20-39 403 15,70 290 11,21 693 13,44 19,32 <0,001b

40-69 207 13,78 225 14,55 432 14,17 1,58 0,208Sub total 716 9,83 581 7,78 1.297 8,79 17,68 <0,001b

Região Nordeste<1 3 0,60 4 0,77 7 0,68 0,11 0,7431-4 2 0,09 − − 2 0,04 2,07 0,1505-9 3 0,11 − − 3 0,05 3,08 0,07910-14 3 0,12 6 0,23 9 0,17 0,91 0,34115-19 22 0,86 21 0,79 43 0,82 0,07 0,79720-39 194 2,15 179 2,03 373 2,09 0,30 0,58040-69 105 1,58 158 2,71 263 2,11 18,66 <0,001b

Sub total 332 1,28 368 1,46 700 1,37 2,95 0,085Região Centro-Oeste

<1 2 1,73 8 6,64 10 4,24 3,33 0,0671-4 1 0,21 − − 1 0,10 1,05 0,3065-9 − − 3 0,48 3 0,24 2,88 0,08910-14 11 1,84 6 0,97 17 1,40 1,64 0,20015-19 56 9,04 15 2,38 71 5,68 24,38 <0,001b

20-39 425 17,29 230 9,67 655 13,55 51,74 <0,001b

40-69 168 9,28 271 15,82 439 12,46 30,16 <0,001b

Sub total 663 9,95 533 8,11 1.196 9,04 26,37 <0,001b

Região Sudeste<1 17 3,00 14 2,36 31 2,67 0,44 0,5071-4 4 0,16 7 0,27 11 0,22 0,69 0,4055-9 12 0,37 7 0,20 19 0,28 1,52 0,21810-14 19 0,60 21 0,65 40 0,62 0,05 0,82915-19 128 3,95 69 2,08 197 3,01 19,00 <0,001b

20-39 1.307 9,62 1.457 11,01 2.764 10,30 12,57 <0,001b

40-69 1.312 10,45 1.924 17,18 3.236 13,62 197,12 <0,001b

Sub total 2.799 7,22 3.499 9,34 6.298 8,26 103,1 <0,001b

Região Sul<1 2 1,14 10 5,45 12 3,35 4,92 0,025b

1-4 1 0,12 1 0,12 2 0,12 0,00 0,9745-9 4 0,36 2 0,17 6 0,26 0,75 0,38510-14 20 1,78 11 0,94 31 1,35 2,97 0,08415-19 88 7,55 35 2,90 123 5,18 24,73 <0,001b

20-39 668 14,96 570 12,79 1238 13,88 7,58 0,005b

40-69 419 9,61 613 15,23 1032 12,31 515,94 <0,001b

Sub total 1.202 9,14 1.242 9,56 2.444 9,35 522,96 <0,000b

a) Para células com menos de 5 casos, foi utilizado teste exato de Fisher. b) Nível de significância 5%

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A detecção de hepatite B entre menores de 1 ano mostrou-se mais elevada na região Centro-Oeste, com 4,2 casos por 100 mil habitantes desse grupo etário. Nenhuma região apresentou diferença significante na detecção de hepatite B entre os sexos, na primeira faixa etária.

A Tabela 2 apresenta as taxas médias de detecção de infecção pelo VHB por 100 mil habitantes, segundo presença de serviço de hemoterapia, número de mu-nicípios (n) e razão de taxas para o Brasil, regiões e unidade da federação no ano de 2008. Para todas as macrorregiões brasileiras, a taxa média de detecção de hepatite B foi mais elevada nas localidades providas de serviço de hemoterapia, resultando em uma razão de taxas de detecção de 2,4 casos a mais. As razões de taxas de detecção de hepatite B em locais com e sem serviço de hemoterapia mostraram maiores diferenças nas regiões Norte, Sudeste e Nordeste – respectivamen-te 2,7, 2,9 e 1,8 vezes mais elevadas que nas localidades sem o serviço. O estado do Pará apresentou razão de taxas de detecção de hepatite B 8,7 vezes mais elevada em municípios com serviço de hemoterapia, seguido pelo estado do Maranhão com 7,4.

A Figura 1 mostra a detecção de hepatite B por 100 mil habitantes segundo presença de serviço de hemoterapia no Brasil, no período de 2001 a 2008. Nos municípios em que não há esse serviço, a detec-ção de hepatite B é menor ao longo de toda a série estudada, comparativamente a detecção da doença nos municípios que dispõem do serviço. Tanto para o Brasil quanto para os locais com e sem serviço de hemoterapia, a detecção de hepatite B apresentou-se crescente de 2001 a 2005, com flutuação no período de 2006 a 2008. A linha de tendência para o Brasil mostra um incremento médio de 30,0% ao ano na detecção de infecção pelo vírus da hepatite B.

Discussão

Em todas as regiões brasileiras, a taxa média de detecção de hepatite B foi mais elevada em localidades com serviços de hemoterapia instalados. Tais achados decorrem, possivelmente, da introdução da pesquisa de marcadores sorológicos, ou seja, do acesso ao diagnóstico laboratorial.

A pesquisa do HBsAg, primeiro marcador a apare-cer no curso da infecção pelo vírus da hepatite B, tem sido realizada desde 1989 nos pré-doadores de san-

gue, para evitar a transmissão parenteral do VHB.15,16 Desde1993, a pesquisa do anti-HBc total, marcador das infecções agudas – pela presença de IgM – e das infecções crônicas – pela presença da IgG –, vem aumentando a sensibilidade da triagem.17,18

Ao analisar a detecção de hepatite B segundo a presença de serviços de hemoterapia instalados, devem ser considerados elementos como: heterogeneidade socioeconômica; distribuição irregular dos serviços de saúde; incorporação desigual de tecnologia avan-çada para diagnóstico e tratamento da enfermidade;1 e descolamento de pessoas dos municípios de menor porte para municípios maiores e melhor servidos de aparato diagnóstico. Outros aspectos relevantes são as fontes de notificação compulsória dos casos, constituídas principalmente por serviços de assistência médica, hemocentros e bancos de sangue, clínicas de hemodiálise e laboratórios.19

Ainda que o presente estudo tenha utilizado todos os casos notificados da base de dados do Sinan, in-dependentemente do tipo de manifestação clínica da doença, a presença de serviços de hemoterapia pode estar relacionada à maior demanda, devido às doações de sangue, e consequentemente, à maior detecção da infecção pelo VHB. No entanto, os resultados das pesquisas de marcadores sorológicos em doadores de sangue não devem ser considerados indicadores de infecção para o VHB em nível populacional, visto que o doador deve ter entre 18 e 60 anos de idade, além de cumprir outros critérios – os quais podem excluir o candidato à doação por um período temporário ou definitivo.17 Características do perfil do doador, como sexo e faixa etária, também são relevantes. Pesquisa a respeito do perfil de doadores e não doadores mostra que entre os não doadores, destaca-se o sexo feminino e a faixa etária de 20 a 24 anos, enquanto entre os doadores, prevalece o sexo masculino e a faixa etária de 30 a 39 anos.18

As elevadas razões de taxas de detecção de infecção pelo VHB segundo cobertura de serviço de hemotera-pia, verificadas nas regiões Norte e Nordeste, podem indicar subnotificação dos casos de hepatite B nos municípios de menor porte, provavelmente por defi-ciência no diagnóstico, devida a dificuldades de acesso aos serviços hemoterápicos. Nos municípios de menor porte, baixas coberturas vacinais são verificadas,20 não obstante saiba-se que a cobertura vacinal não é ade-quada, inclusive em localidades do Sudeste brasileiro.21

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Hepatite B no Brasil

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Tabela 2 - Taxa média de detecção de infecção pelo vírus da hepatite B por 100 mil habitantes segundo presença de serviço de hemoterapia (SH), número de municípios (n) e razão de taxas de detecção,

nas unidades federadas. Brasil, 2008

Região / UFMunicípios com SH (A) Municípios sem SH (B) Razão

A/B IC95%

a

n População Taxa n População Taxa

Brasil 269 80.161.529 9,76 5.300 109.451.285 4,12 2,36 2,28-2,46

Norte 46 7.038.714 13,28 403 8.103.970 4,83 2,74 2,45-3,10

Rondônia 5 660.684 44,19 47 832.882 13,32 3,31 2,66-4,12

Acre 3 397.619 35,96 19 282.454 33,98 1,05 0,82-1,37

Amazonas 24 2.525.074 3,44 38 816.022 3,18 1,08 0,70-1,68

Roraima 1 260.930 41,00 14 151.853 38,19 1,07 0,78- ,48

Pará 7 2.316.370 10,05 136 5.005.123 1,15 8,73 6,51-11,57

Amapá 2 454.753 2,41 14 158.411 1,89 1,27 0,36-4,58

Tocantins 4 423.284 14,64 135 857.225 4,66 3,14 2,11-4,67

Nordeste 65 18.073.637 1,94 1.729 35.014.862 1,05 1,84 1,60 - 2,14

Maranhão 10 1.888.053 5,61 207 4.417.486 0,76 7,38 4,96-10,73

Piauí 4 1.077.485 0,27 219 2.042.212 0,34 0,79 0,21-3,14

Ceará 6 3.191.605 0,25 178 5.258.922 0,36 0,69 0,30-1,58

Rio Grande do Norte 5 1.173.069 0,85 162 1.933.361 0,56 1,51 0,64-3,53

Paraíba 14 1.536.148 0,84 210 2.206.458 0,31 2,70 1,06-6,69

Pernambuco 9 2.555.307 1,44 176 6.178.887 0,76 1,89 1,24-2,93

Alagoas 3 1.204.792 5,72 99 1.922.765 1,92 2,97 2,00-4,44

Sergipe 1 536.785 4,09 74 1.462.589 5,60 0,73 0,46-1,17

Bahia 13 4.910.393 1,71 404 9.592.182 1,29 1,32 1,00-1,75

Sudeste 75 37.579.129 12,59 1.593 42.608.588 4,30 2,92 2,77-3,09

Minas Gerais 16 5.071.096 3,41 837 14.778.976 3,28 1,03 0,87-1,24

Espírito Santo 4 660.086 16,81 74 2.793.562 6,69 2,51 1,99-3,18

Rio de Janeiro 15 10.218.502 2,36 77 5.653.860 2,37 0,99 0,81-1,23

São Paulo 40 21.629.445 19,45 605 19.382.190 5,30 3,66 3,43-3,93

Sul 44 10.024.834 10,86 1.145 17.473.136 8,04 1,35 1,25-1,46

Paraná 24 4.982.353 10,43 375 5.607.816 6,25 1,66 1,46-1,91

Santa Catarina 11 2.165.751 12,14 282 3.886.836 10,90 1,11 0,95-1,30

Rio Grande do Sul 9 2.876.730 10,63 488 7.978.484 7,89 1,34 1,18-1,54

Centro-Oeste 39 7.445.215 9,60 430 6.250.729 8,15 1,17 1,05-1,32

Mato Grosso do Sul 10 1.406.129 10,88 68 929.929 6,66 1,63 1,21-2,19

Mato Grosso 17 1.666.869 7,43 124 1.290.863 10,61 0,70 0,55-0,89

Goiás 9 1.815.059 16,63 238 4.029.937 7,71 2,15 1,84-2,53

Distrito Federal 3 2.557.158 5,31 − − − − −

a) Intervalo de confiança de 95%

A elevada razão de taxas de detecção de hepatite B da região Sudeste deve-se, possivelmente, à presença de serviços mais estruturados de hemoterapia, em oposição àqueles – implantados mais recentemente – nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Neste estudo, entretan-to, a comparação das razões de taxas não se refere à comparação de endemicidade entre regiões ou unidades

federadas. Observam-se razões de taxas elevadas em áreas de baixa e alta endemicidade. Trata-se portanto, da comparação de carga de doença nos municípios dentro da unidade da federação, reveladora de deficiências no acesso aos serviços de diagnóstico da hepatite B.

De acordo com o Ministério da Saúde,14 a coleta de sangue no Brasil, no âmbito do SUS, apresentou um

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acréscimo de 12,7% entre os anos de 2004 e 2005, passando de 2.747.519 em 2004 para 3.096.181 pro-cedimentos em 2005. Entre os anos de 2005 e 2006, houve um decréscimo de 3.096.181 para 3.065.352 procedimentos; ou seja, em 2005, foram realizadas 1,0% coletas de sangue a mais que em 2006.14 Estes dados podem explicar a diminuição da detecção de hepatite B em 2006. Já em 2007, ressalta-se que, a par-tir da compilação dos dados do setor privado, houve acréscimo de aproximadamente 529 mil coletas,3 fato possivelmente relacionado com o aumento da detecção de hepatite B naquele ano.

No Brasil, a detecção de hepatite B foi significati-vamente mais elevada para osexo feminino na faixa etária de 15 a 39 anos, e para o sexo masculino entre os 40 e os 69 anos. A detecção de hepatite B torna-se mais elevada a partir dos 15 anos de idade, para todas as regiões estudadas e independentemente do sexo. Este fato se deve, provavelmente, ao estilo de vida, transmissão sexual, transfusional, e a comportamentos que oferecem maior risco, a exemplo do uso de drogas injetáveis e de relações sexuais sem preservativos e com vários parceiros.11,22

É provável que a maior detecção no sexo feminino com idade entre 15 e 39 anos esteja relacionada a fatores de risco, como a multiplicidade de parceiros sexuais, relações sem preservativos e práticas da comercialização da atividade sexual.23 Situações de desigualdade nas relações de gênero, em que prevalece a dominação masculina, principalmente nas parceiras fixas, podem estar associadas à maior vulnerabilidade das mulheres ao VHB nessa faixa etária, dada sua dificuldade, na negociação do uso do preservativo com os homens.24

Para o sexo masculino na faixa dos 40 aos 69 anos, é possível que os achados deste estudo estejam relacionados a fatores que incluem atividades sexuais extraconjugais sem o uso de preservativos.25 No que se refere ao perfil sorológico, a taxa de desaparecimento do HBsAg no plasma é menor no sexo masculino,26 o que justifica maior detecção da doença entre homens; além disso, a idade acima de 40 anos constitui fator de risco para a redução da imunogenicidade da vacina contra hepatite B.1,27,28 Outro aspecto a ser conside-rado reside nas doações de sangue, em que o sexo masculino representa a maioria dos doadores.19,29,30

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2001

5,45

3,13

4,94

2002

6,17

3,36

5,26

2003

7,53

4,57

7,28

2004

8,01

4,86

8,00

2005

7,53

6,48

7,97

2006

6,45

5,57

6,11

2007

11,53

7,04

8,94

2008

9,76

4,12

6,50

Com SH

Sem SH

BRASIL

y = 0,3069x + 5,4939

0

2

4

6

8

10

12

14

Taxa

de

dete

cção

de

hepa

tite

b p

or

100

mil

habi

tant

es

Figura 1 - Detecção de infecção pelo vírus da hepatite B por 100 mil habitantes segundo municípios com e sem serviço de hemoterapia (SH). Brasil, 2001 a 2008

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624

A detecção de hepatite B entre menores de 1 ano foi mais elevada do que para as idades de 1 a 14 anos. Esta situação pode indicar a importância da rota de transmissão vertical, assim como uma qualidade insatisfatória do atendimento pré-natal. A maior detecção entre os menores de 1 ano foi encontrada na região Centro-Oeste; porém, a re-gião Sudeste apresentou o maior número de casos registrados. No Brasil, a redução na ocorrência de hepatite B em crianças de 1 a 14 anos pode estar relacionada à inclusão da vacina contra hepatite B no calendário do Programa Nacional de Imunização (PNI), implementada em 1997.

Este estudo tem como limitações (i) a utilização de uma única fonte de dados (Sinan), sem a comple-mentação de outras, bem como de fontes inerentes aos estudos realizados a partir de bases de dados secundá-rias, com a possibilidade de subnotificações de casos diagnosticados; e (ii) da inclusão de registros de casos falsos positivos, ainda que esta segunda hipótese seja menos provável que a primeira. No entanto, a implan-tação dos serviços de hemoterapia e a disponibilização dos dados possibilitam maior acesso aos números de

ocorrência da infecção no país, ainda que se refiram a casos anti-HBsAg. Trata-se de importante avanço no que diz respeito à vigilância da hepatite B, facilitando a realização dos estudos epidemiológicos.

A detecção de hepatite B apresentou aumento no período de 2001 a 2004 e flutuações no período de 2005 a 2008. Em todas as regiões brasileiras, alcançou-se taxas médias de detecção mais elevadas nos municípios onde há serviço de hemoterapia, o que caracteriza dificuldade de acesso ao diagnóstico da hepatite B e importante subnotificação de casos onde não se dispõe desse serviço.

Contribuição dos autores

Costa LG participou da elaboração do manuscrito e análise de dados.

Paula RC participou da revisão do texto e das refe-rências bibliográficas.

Ignotti E participou da revisão do texto e da análise de dados.

Todos os autores aprovaram a versão final do manuscrito.

Hepatite B no Brasil

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 21(4):617-626, out-dez 2012

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Hepatite B no Brasil

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Recebido em 09/04/2012 Aprovado em 27/11/2012

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Investigation of hepatitis A outbreak in the Municipality of Ibiracatu, State of Minas Gerais, Brazil, 2008

aRtigo

oRiginal Investigação de surto de hepatite A no Município de Ibiracatu, Estado de Minas Gerais, Brasil, 2008

Endereço para correspondência: Universidade Federal de Viçosa, Departamento de Biologia Geral, Laboratório de Imunovirologia Molecular, Av. PH Rolfs, s/n. Viçosa-MG, Brasil. CEP: 36570-000E-mail: [email protected]

Ana Flávia Costa da Silveira OliveiraInstituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais, Almenara-MG, Brasil

André Silva de OliveiraInstituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais, Almenara-MG, Brasil

Andréia Patrícia GomesDepartamento de Medicina, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil

Rodrigo Siqueira-BatistaDepartamento de Medicina, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil

Eduardo Rezende HondaCentro de Pesquisa em Medicina Tropical, Porto Velho-RO, Brasil

Cynthia Canêdo da SilvaDepartamento de Biologia Geral, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil

Leandro Licursi de OliveiraDepartamento de Biologia Geral, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil

Eduardo de Almeida Marques da SilvaDepartamento de Biologia Geral, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil

Sérgio Oliveira de PaulaDepartamento de Biologia Geral, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil

ResumoObjetivo: descrever a investigação de um surto de hepatite A no município de Ibiracatu, estado de Minas Gerais, Brasil, e

relatar as medidas de controle adotadas. Métodos: estudo descritivo do tipo série de casos; a investigação seguiu o roteiro de investigação de epidemia/surto do Ministério da Saúde. Resultados: foram contabilizados 16 casos, sendo três confirmados por vínculo clínico-epidemiológico e 13 por pesquisa de anticorpo anti-VHAIgM; a maior incidência da doença foi em infantes de até dez anos de idade, dos quais a metade era de estudantes de uma escola pública local. Conclusão: as condições oferecidas pela escola favoreceram a disseminação da doença e as medidas realizadas para conter a veiculação viral foram adequadas e promo-veram queda considerável na incidência da doença; o monitoramento epidemiológico e as medidas de intervenção colaboraram efetivamente para o rápido controle do surto.

Palavras-chave: Hepatite A; Epidemiologia; Prevenção de Doenças; Doenças Transmitidas pela Água.

AbstractObjective: to describe the investigation of a hepatitis A outbreak in the municipality of Ibiracatu, state of Minas Gerais,

Brazil, and to report the control measures taken. Methods: descriptive study of case series type; the investigation followed the guideline foroutbreak investigation of the Brazilian Ministry of Health. Results: 16 cases were accounted, from which three were confirmedby clinical-epidemiological criteria and 13 by seropositiveness for anti-HAV IgMantibody; the highest prevalence was observed in childrenaged up to ten years old, from which 50.0% were students of a local public school. Conclusion: the school conditions contributed tospreading the disease. The control measures taken to contain the viral transmission were appropriate and promoted a significant decrease in the disease incidence; thesurveillance and control measures applied contributed to the quick control of the outbreak.

Key words: Hepatitis A; Epidemiology; Disease Prevention; Waterborne Diseases.

doi: 10.5123/S1679-49742012000400012

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Introdução

A infecção pelo vírus da hepatite A (VHA) tem ad-quirido maior destaque no âmbito da Saúde Pública, em diferentes partes do mundo.1-3 De fato, mesmo sendo responsável por uma baixa taxa de mortalidade, sua morbidade global é expressiva e tem aumentado nos últimos anos, inclusive em países desenvolvidos.1 A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que ocorrem cerca de 1,5 milhão de casos de hepatite A no mundo, a cada ano.4 Como a maioria dos casos são assintomáticos, a exatidão do cálculo de incidência da doença fica comprometida.5

Acredita-se que nas regiões endêmicas, a imuni-dade é adquirida durante a infância; e em 70,0% dos casos, crianças menores de seis anos de idade não apresentam sintomas.6,7 Quanto maior a idade, maior a ocorrência de manifestações clínicas.8,9 A vacina tem sido indicada pela OMS como um método efetivo de prevenção1,2 mas ainda não é disponibilizada no calen-dário de vacinação do Ministério da Saúde brasileiro. Países como os Estados Unidos da América, a Argentina e Israel instalaram programas de vacinação contra a hepatite A, o que tem sido apontado como uma medida relacionada à diminuição de hospitalizações e visitas clínicas em decorrência da doença.2

O vírus é transmitido pela via fecal-oral, geralmente através do contato direto com uma pessoa infectada pelo VHA ou pela ingestão de comida ou água conta-minadas pelo vírus.9-11 As condições socioeconômicas estão diretamente relacionadas com a incidência da doença, destacando-se que a oferta de água tratada e a canalização de esgotos nos centros urbanos são pontos fundamentais para minimizar o risco de ado-ecimento.12-14 Apesar da falta de saneamento, regiões rurais têm apresentado taxas de infecção mais baixas que regiões urbanas.15,16

Na cidade de Limeira, São Paulo, Brasil, constatou-se que 48,0% das amostras de água coletada de esgotos domésticos ao longo do período de estudo foram positivas para o vírus da hepatite A, evidenciando que a falta de tratamento adequado desse material antes da disposição no meio ambiente facilita o ciclo de contágio da doença.17

Essas questões têm contribuído para mudar o perfil epidemiológico de uma doença que hoje se manifesta de forma esporádica, como surtos em cidades de pequeno e médio porte, assim como

em escolas e creches,8 ou mesmo em periferias de grandes centros urbanos, pela falta de condições sanitárias. Esses surtos podem ser longos e de difícil controle;1 portanto, o monitoramento de novos casos e a intervenção precoce e efetiva contribuem para o controle desses eventos.

No Brasil, o perfil epidemiológico varia com a região estudada. No Norte e no Nordeste, além de um número maior de infecções, estas ocorrem por volta dos três anos de idade, enquanto nas regiões Sul e Sudeste, concentram-se entre os 15 e os 20 anos,18

o que implica maior número de susceptíveis entre adolescentes e adultos jovens.19 De acordo com dados disponibilizados pelo Departamento de Informática do SUS (www.datasus.gov.br), no Brasil, no período de 2007 a 2009, ocorreram 154.914 casos de hepatites virais, 21,0% destes atribuídos a infecções pelo VHA. Esses resultados são compatíveis com a atual abran-gência dos serviços de saneamento no país, onde 33 municípios declararam, em 2008, a inexistência de rede de abastecimento de água e 2.495 declararam falta de rede coletora de esgoto.20

Este estudo objetivou descrever a investigação de um surto de hepatite A no município de Ibiracatu, estado de Minas Gerais, Brasil, visando à formulação de hipóteses sobre o modo de transmissão, aferição de fatores associados à infecção e proposição de medidas de prevenção e controle.

Métodos

Nos meses de julho e agosto de 2008, a Vigilância Epidemiológica do município de Ibiracatu, situado na região norte do estado de Minas Gerais, Brasil, detectou um aumento do número de casos de hepatite A entre a comunidade rural de Campo Alegre, relacio-nado a uma escola pública da localidade.

Este estudo caracteriza-se como descritivo do tipo de série de casos, segundo pessoa, tempo e lugar. Teve como base os casos confirmados de hepatite A notificados no Sistema de Informação de Agravos

A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que ocorrem cerca de 1,5 milhão de casos de hepatite A no mundo, a cada ano.

Surto de hepatite A em Ibiracatu-MG

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de Notificação (Sinan) em Ibiracatu-MG, de junho a dezembro de 2008.

A definição de caso confirmado utilizada foi: indi-víduo notificado no Sinan que apresentou sorologia anti-VHA IgM reagente ou vínculo clínico epidemio-lógico com um caso confirmado de hepatite A por critério laboratorial. A sorologia foi realizada pela técnica-padrão ELISA, no Laboratório de Saúde Pública da Fundação Ezequiel Dias (Lacen/MG). Para a coleta de dados, foram realizadas entrevistas com auxílio de questionário semiestruturado. A entrevista foi realizada com o responsável quando o indivíduo era menor de 18 anos de idade.

O trabalho foi realizado seguindo o roteiro de inves-tigação de epidemia ou surto do Ministério da Saúde,21 o qual segue 11 etapas, iniciando com a confirmação do diagnóstico da doença e terminando com a suma-rização de todos os dados que descreveram o evento, incluindo gráficos, medidas de controle, conclusões e recomendações que foram divulgadas e que estão apresentadas individualmente, nos Resultados deste trabalho.

O presente estudo foi realizado com dados secun-dários, a partir dos registros da investigação realizada no âmbito do serviço da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde de Ibiracatu-MG.

O estudo foi realizado segundo os preceitos éticos constantes na Resolução CNS nº 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde, resguar-dando a privacidade dos sujeitos, sem gerar qualquer prejuízo aos mesmos.

Resultados

Os resultados estão apresentados de acordo com o roteiro de investigação de epidemia ou surto do Minis-tério da Saúde21 e, apesar de serem apresentados em etapas, estas não indicam uma sequência cronológica e podem ter sido realizadas simultaneamente.

Na Etapa 1: Confirmação do diagnóstico da doença, todos os casos suspeitos que não apresen-tavam vínculo clínico-epidemiológico com um caso confirmado de hepatite A por critério laboratorial foram submetidos ao exame de sorologia anti-VHA IgM. Treze dos 16 casos suspeitos foram confirmados por sorologia reagente.

Na Etapa 2: Confirmação da existência de epi-demia ou surto, com o início da notificação dos casos

e a suspeita de uma frequência inusitada da doença, foi necessário realizar uma comparação dos dados obtidos naquele período com a frequência habitual desses casos, no período e lugar, em anos anteriores (2007 e 2006), conforme demonstrado na Figura 1.

Constatado o aumento na frequência habitual dos casos, foram descartadas outras circunstâncias que poderiam explicar porque o número de casos da do-ença superou o valor esperado, tais como: mudança na nomenclatura da doença; alteração no conhecimento da doença que resulte no aumento da sensibilidade diagnóstica; melhoria no sistema de notificação; variação sazonal; e implantação ou implementação de programa de saúde que resulte no aumento da sensibilidade de detecção de casos.21

Na Etapa 3: Caracterização da epidemia (pes-soa, tempo e lugar), o primeiro caso de hepatite A referente ao surto diagnosticado no município de Ibiracatu-MG ocorreu após a paciente número 1 ter recebido hóspedes em sua casa, para uma festa fol-clórica local. A festa foi realizada no início do mês de agosto mas os hóspedes chegaram no início do mês de julho, em virtude do período de férias.

A paciente número 1, do sexo feminino e com sete anos de idade, iniciou o quadro clínico no dia 21/07/2008, apresentando febre, dores abdominais, vômito e náuseas com confirmação sorológica (re-atividade para anti-VHA IgM). Considerada o caso índice da infecção, ela estava institucionalizada em escola pública.

No dia seguinte, outro caso foi notificado, porém na comunidade rural de São Domingos. Tratava-se do caso número 2, do sexo feminino, com dez anos de idade e confirmação sorológica; ato contínuo, houve adoecimento do paciente número 3, vizinho do pacien-te número 2, com sete anos de idade e também do sexo feminino, com início dos sintomas em 07/08/2008 e confirmação clínico-epidemiológica.

Na mesma instituição a que pertencia a paciente 1, cinco casos secundários foram diagnosticados – pacientes de números 4, 5, 6, 7 e 8 –, todos com sete anos de idade. O paciente 4 teve início dos sintomas em 12/8/2008, os enfermos 5 e 6 em 13/8/2008 e os pacientes 7 e 8 em 18/08/2008 e 25/08/2008, respec-tivamente. Nesse primeiro momento do surto, um total de oito casos foram diagnosticados, todos infantes, seis deles pertencentes ao mesmo estabelecimento de ensino.

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Surto de hepatite A em Ibiracatu-MG

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Figura 1 - Número de casos de hepatite A por mês de ocorrência (junho a dezembro) no município de Ibiracatu, estado de Minas Gerais. Brasil, 2006 a 2008

8

7

6

5

4

3

2

1

0Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro

Núm

ero

abso

luto

de c

asos

2006 2007 2008

Nessa instituição, mais dois enfermos foram notifi-cados, os pacientes de números 11 e 14: o primeiro, com seis anos de idade, teve início dos sintomas em 16/09/2008, caracterizando-se como caso terciário; e o segundo, com sete anos, apresentou início dos sintomas em 03/11/2008, caracterizando-se como caso quaternário.

Por vínculo familiar, o paciente 7 promoveu a transmissão do vírus para o paciente 9 (seis anos de idade), que teve início dos sintomas em 25/08/2008 e reatividade para anti-VHA IgM.

Os pacientes 4 e 11 transmitiram a doença para outros dois pacientes da comunidade de Campo Alegre. O caso número 10 tinha três anos de idade, diagnóstico laboratorial confirmatório para o vírus da hepatite A e início dos sintomas em 02/09/2008, sendo também institucionalizado em uma creche pública. O paciente número 13, 33 anos de idade e inicio de sintomas em 20/10/2008, era alcoolista com manifestação de hepatite A grave controlada por meio de intervenção adequada.

A infecção do paciente institucionalizado na creche promoveu o contágio de mais duas crianças,

pacientes 12 e 15: a primeira com seis anos de idade e início dos sintomas em 12/10/2008; e a segunda com cinco anos de idade e início dos sintomas em 5/11/2008.

Na sede do município, o paciente número 16 tinha nove anos de idade e conviveu em sua residência com uma moradora da comunidade de Campo Alegre – que provocou a disseminação do vírus para a criança –, apresentando início dos sintomas em 8/11/2008.

Foram contabilizados 16 casos confirmados de hepatite A, identificados como parte do surto no Município de Ibiracatu-MG, sendo três confirmados por vínculo clínico-epidemiológico e 13 por pesquisa de anticorpo anti-VHA IgM. A mediana da idade foi de sete anos, sendo a idade mínima de três anos e a máxima de 33 anos; 9 dos 16 pacientes pertenciam ao sexo feminino.

Os casos relatados e respectivos vínculos de infec-ção estão representados na Figura 2.

Na Etapa 4: Formulação de hipóteses preli-minares, o caso-índice deste surto apresentou início dos sintomas em 21/07/2008 e os hóspedes chegaram a sua residência entre 15 a 20 dias antes dessa data.

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Ana Flávia Costa da Silveira Oliveira e colaboradores

O fato sugere que a primeira infecção ocorreu pelo contato da paciente com os visitantes.

Ao se perceber uma concentração do número de casos na escola pública local, realizou-se uma visita à instituição para avaliar possíveis situações favoráveis à disseminação da doença. Nessa visita, verificaram-se condições de higiene precárias, com pias e descargas quebradas e falta de sabão no banheiro, para que os estudantes realizassem a higienização adequada após a utilização dos sanitários. Na ausência de pias, os estu-dantes lavavam as mãos em uma caixa d’água no pátio. Além disso, observou-se a disponibilidade permanente de canecas nos filtros e bebedouros, para uso comum por todos os alunos. A situação oferecida pela instituição, portanto, era favorável à cadeia de contágio da doença.

A creche pública também recebeu visitas da equipe de Vigilância em Saúde, encontrando-se em estado mais adequado do que a escola.

O teste formal das hipóteses foi desnecessário: as evidências epidemiológicas, clínicas, laboratoriais e ambientais foram suficientes para sustentar as hipó-teses destes pesquisadores.21

Na Etapa 5: Análises parciais, durante todo o período de investigação, a equipe responsável pela

execução dessa tarefa realizava, com frequência diária (no início do surto) e mensal (no final do surto), os seguintes procedimentos: consolidação dos dados disponíveis, de acordo com as características de pes-soa, tempo e lugar; análises preliminares dos dados clínicos e epidemiológicos; discussão das análises; formulação de hipóteses quanto ao diagnóstico clínico, fonte de transmissão e potenciais riscos ambientais; identificação de informações adicionais, necessárias para a elucidação das hipóteses levantadas e a continui-dade da investigação; e identificação de informações adicionais, necessárias para a avaliação da efetividade das medidas de controle adotadas.21

Na Etapa 6: Busca ativa de casos, durante todo o período de investigação, casos similares foram pes-quisados na localidade do surto, pela equipe local de Vigilância em Saúde, a qual contou com o apoio da Estratégia Saúde da Família.

Na Etapa 7: Busca de dados adicionais, durante a formulação/confirmação das hipóteses, todas as ve-zes que se percebia a ausência de alguma informação necessária para o processo de investigação, era reali-zada busca de dados adicionais para esclarecimento das hipóteses iniciais.

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Escola

038/7/2008

027/22/2008

017/21/2008

048/12/2008

058/13/2008

068/13/2008

078/18/2008

088/25/2008

119/16/2008

1411/3/2008

109/2/2008

1310/20/2008

098/25/2008

1210/12/2008

1511/5/2008

1611/8/2008

Vínculo familiar

Creche

Contato com

funcionária

ComunidadeBom Jardim

ComunidadeCampo Alegre

ComunidadeSão Domingos

Sede

Figura 2 - Cadeia de contágio dos casos de hepatite A durante surto ocorrido no município de Ibiracatu, estado de Minas Gerais. Brasil, julho a novembro de 2008

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Na Etapa 8: Análise final, os dados coletados foram consolidados, permitindo uma visão global do evento. Foi realizada análise de acordo com as seguintes variá-veis: pessoa, tempo e lugar – e a relação causal –, sendo comparadas com períodos anteriores (2006 e 2007).

Na Etapa 9: Medidas de controle, logo após a identificação das fontes de infecção, modo de trans-missão e população exposta, medidas de controle foram recomendadas e relatórios circunstanciados do evento foram produzidos e disponibilizados para os profissionais de saúde envolvidos no processo.

As medidas de intervenção foram iniciadas a partir do dia 15 de agosto de 2008, após a notificação de cinco casos suspeitos, além do caso-índice. O setor de Vigilância em Saúde do município iniciou os tra-balhos com a investigação dos pacientes notificados e avaliação das possíveis relações entre eles.

As comunidades de Campo Alegre, Bom Jardim e São Domingos foram informadas pelas equipes da Estratégia Saúde da Família locais/equipe da Vigilân-cia em Saúde sobre os mecanismos de transmissão da doença e os métodos preventivos recomendados, incluindo a distribuição de hipoclorito para utilização na água de consumo, se a família preferisse o consu-mo de água de cisterna, a despeito da oferta de água tratada por empresa pública. A principal ênfase das medidas de controle foi concedida à escola pública, onde se concentrou o maior número de casos e a circulação viral. Nesse local, foi realizada uma palestra para pais e alunos, com enfoque tanto na necessidade de higienização dos alimentos consumidos quanto na higiene pessoal. Durante a palestra, foram distribuídos panfletos sobre tratamento adequado da água.

Para interromper a disseminação viral, a Direção da escola foi orientada a retirar as ‘canecas comunitárias’ e solicitar aos estudantes que cada um levasse sua pró-pria. A caixa d’água para lavagem das mãos foi retirada e salientou-se a necessidade do conserto das pias e das descargas dos vasos sanitários. A Secretaria Municipal de Saúde disponibilizou suportes de sabonete líquido e papel-toalha para a escola, com o objetivo de auxiliar na higiene pessoal dos alunos.

Na creche municipal, destaque-se que foram rea-lizadas orientações sobre o meio de transmissão da doença, solicitando auxílio dos funcionários no sentido de evitar a circulação viral.

Após 45 dias (período máximo de incubação viral) sem notificação de casos nas comunidades de Bom

Jardim e São Domingos, todas as medidas preventivas concentraram-se na região de Campo Alegre, onde, apesar da notável diminuição do número de casos, o vírus ainda estava em circulação. Promoveu-se uma ampla mobilização social, em praça pública, aprovei-tando a oportunidade de evento local, e manteve-se vigilância constante da creche e da escola. Novos panfletos foram distribuídos e cartazes foram afixados em locais de maior circulação de pessoas.

Diante do aparecimento de caso suspeito na sede do município, as mesmas medidas preventivas foram realizadas, principalmente na escola em que estudava o paciente número 16. A inspeção ali realizada detectou ambiente pouco propício para disseminação viral.

As medidas de controle e intervenção foram man-tidas até o dia 23 de dezembro de 2008, 45 dias após a notificação do último caso. Contudo, o município continuou sob alerta e execução de ações de educação em saúde, com o objetivo de evitar um novo surto.

Na Etapa 10: Relatório final, os dados do proces-so de investigação foram sumarizados em relatório que descreveu o evento e apresentou as principais conclu-sões e recomendações destes investigadores, incluindo: situação epidemiológica atual do agravo; causa da ocor-rência e como a vigilância em saúde local deveria ter atuado, no sentido de evitá-la; medidas de intervenção adotadas; descrição das orientações e recomendações a serem seguidas, no médio e longo prazos, tanto pela área da Saúde como por outros setores.

Na Etapa 11: Divulgação, o relatório foi enviado a todos os participantes do processo de investigação e contenção do surto, aos que prestaram assistência médica, aos líderes comunitários locais, às escolas e creches, às autoridade locais e à administração central responsável pela investigação e controle do evento.

Discussão

No mês de julho de 2008, iniciou-se um surto de hepatite A na comunidade rural de Campo Alegre, pertencente ao município de Ibiracatu-MG. A maior incidência da doença foi observada em infantes até 10 anos de idade, os quais, em sua maioria, estavam institucionalizados em uma escola pública local.

Após a análise dos resultados apresentados, a hipótese de causa de infecção do caso-índice foi a realização da festa folclórica local, responsável pelo aumento da circulação de pessoas no município.

Surto de hepatite A em Ibiracatu-MG

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Diante disso, fica clara a necessidade de intensificação das medidas de prevenção nos período antecedentes à realização desse tipo de evento, não só para evitar surtos de hepatite A como também de outros agravos importantes para a Saúde Pública.

A situação em que se encontrava a escola pública lo-cal foi mais um fator a contribuir para o estabelecimento da cadeia de transmissão da doença. Nesti e Goldbaum24 (apud Gensheimer, 1994) relataram, em estudos ante-riores, o papel dessas instituições como ambientes de características epidemiológicas especiais, por abrigar população com perfil característico e sob risco específi-co para a transmissão de doenças infecciosas. A melhora do saneamento e a adoção de procedimentos de higiene nessas instituições são fundamentais, considerando-se a forma de transmissão da hepatite A.25

As medidas realizadas com o objetivo de conter a veiculação viral foram adequadas e promoveram, em curto período de tempo, uma queda considerável na incidência da doença. Entre elas, destacam-se os monitoramentos nas instituições envolvidas no surto e os trabalhos de educação em saúde.

O monitoramento epidemiológico, quando reali-zado corretamente, constitui uma importante ação no processo de contenção/combate da hepatite A, na medida em que busca a eliminação de focos de con-tágio da doença e a sensibilização dos profissionais e alunos, impedindo a disseminação do agravo.

Já os trabalhos de educação em saúde devem ser constantes, em qualquer comunidade, para que se for-me uma população com conhecimento dos princípios de higiene, do mecanismo de infecção e das formas de prevenção das doenças mais comuns em sua região de residência. Enfatiza-se aqui a contribuição indiscutível do sistema descentralizado de assistência, em que as equipes da Estratégia Saúde da Família participam ativamente, bem como das ações intersetoriais, as quais envolvem um esforço adicional de mobilização e

articulação com outros órgãos, governamentais ou não, além da mobilização e envolvimento dos indivíduos, famílias e coletividades que vivem e trabalham no local.27

Cada surto ou epidemia apresenta características próprias e por isso deve ser diagnosticado, avaliado e controlado seguindo todas as etapas determinadas pelo protocolo-padrão de investigação.

Como a rota de transmissão do vírus é fecal-oral, tornam-se importantes os investimentos públicos para implementação de estações de tratamento de esgoto eficazes – no sentido de inativar as partículas virais antes do descarte final no meio ambiente –,17

diminuindo as possibilidades de contágio da doença. Outra contribuição importante para a mudança da epidemiologia da doença seria a vacinação de crianças e, igualmente, de outros grupos de risco.26

A atuação da Vigilância em Saúde é ponto-chave no controle de um surto ou epidemia. De acordo com o artigo 18, inciso IV, alínea ‘a’ da Lei nº 8.080, publicada em 19 de setembro de 1990, cabe ao muni-cípio executar as ações de competência da Vigilância Epidemiológica. Tais ações, específicas e intercomple-mentares, quando desenvolvidas de modo contínuo, permitem reconhecer o comportamento da doença/agravo como alvo das ações, de forma a que as medidas de intervenção pertinentes possam ser desencadeadas com oportunidade e eficácia.

A atuação adequada da Vigilância e o cumprimento de todas as etapas do processo de investigação/con-tenção de um surto/epidemia colaboram efetivamente para a execução de uma ação coerente e adequada, de resultados rápidos e resolutivos para a Saúde Pública.

Contribuição dos autores

Todos os autores do presente estudo contribuíram na revisão bibliográfica, tabulação e análise dos dados, redação e aprovação do texto final.

Ana Flávia Costa da Silveira Oliveira e colaboradores

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Recebido em 02/05/2012 Aprovado em 26/10/2012

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Tuberculin skin test prescription and tuberculosis latent infection treatment in HIV-positive, Municipality of Blumenau, State of Santa Catarina, Brazil, 2004-2009

aRtigo

oRiginal Indicação da prova tuberculínica e infecção latente da tuberculose em HIV-positivos, Município de Blumenau, Estado de Santa Catarina, Brasil, 2004-2009*

Endereço para correspondência: Rua Victor Konder, 99, Apto. 503, Bairro Victor Konder, Blumenau-SC, Brasil. CEP: 89012-170 E-mail: [email protected]

Keila Zaniboni SiqueiraDepartamento de Ciências Naturais, Universidade Regional de Blumenau, Blumenau-SC, Brasil

Sergio Adam MendonçaDepartamento de Medicina, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Regional de Blumenau, Blumenau-SC, Brasil

Camila Corrêa PenedoCurso de Medicina, Centro de Ciências da Saúde, Universidade Regional de Blumenau, Blumenau-SC, Brasil

ResumoObjetivo: determinar a indicação à prova tuberculínica (PT) e tratamento para infecção latente da tuberculose (ILTB) pelo

Serviço de Atendimento Especializado em DST/aids (SAE-DST/aids) do município de Blumenau, estado de Santa Catarina, Brasil. Métodos: estudo transversal, em prontuários de pacientes HIV-positivos ingressantes entre 2004 e 2009; análises estatísticas foram estabelecidas pelos testes exato de Fisher, t de Student e qui-quadrado. Resultados: dos 693 pacientes, 56,6% tinham aids e 96,23% tinham indicação para PT, embora somente 16,29% realizaram-na; a prescrição da PT foi de 23,46% mas apenas 1,31% realizou tratamento; fatores clínicos, como comorbidades relacionadas ao HIV, tiveram associação estatística com a prescrição da PT em 19,58% dos não prescritos e 14,01% dos prescritos (p<0,01); houve diferença estatística na frequência de indicação pelos médicos do serviço avaliado. Conclusão: os dados evidenciam que as recomendações para prescrição da PT em pacientes HIV-positivos e o tratamento da ILTB não estão sendo cumpridas pelo SAE/DST/aids de Blumenau-SC.

Palavras-chave: Estudos Transversais; Serviços de Saúde; Tuberculose Latente; HIV.

AbstractObjective: to evaluate the indication of Tuberculin Skin Test (TST) and Latent Tuberculosis Infection (LTBI) treatment

by the Specialized HIV/AIDS Healthcare Services (SHS-STD/AIDS) in Blumenau, state of Santa Catarina, Brazil. Methods: cross-sectional study with records of HIV-positive patients admitted between 2004 and 2009; statistical analysis were esta-blished using Fisher exact, t Student and chi-squared tests. Results: among 693 patients, 56.6% had aids and 96.23% had indication to TST, although only 16.29% performed it; TST prescription was 23.46% but only 1.31% did the treatment; clinical featuressuch as HIV-related comorbidities were statistically associated with TST prescription in 19.58% non-prescribed and 14.01% prescribed (p<0.01); there was statistical difference in the proportion of indication among the physicians of the assessed service. Conclusion: data indicates that the recommendations to TST prescription in patients HIV-positiveand LTBI treatment are not being accomplished by the SHS-STD/AIDS of Blumenau-SC.

Key words: Cross-sectional Studies; Health Services; Latent Tuberculosis; HIV.

doi: 10.5123/S1679-49742012000400013

Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 21(4):635-644, out-dez 2012

* Artigo elaborado a partir de dados provenientes de Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito para graduação no Curso de Medicina da Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB), Blumenau, Santa Catarina, Brasil, em 2010.O estudo contou com o apoio financeiro da FURB.

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Introdução

Embora o perfil epidemiológico de pessoas infec-tadas com o vírus da imunodeficiência humana (HIV) tenha sido profundamente alterado desde o advento da terapia antirretroviral (TARV), a coinfecção com a tuberculose (TB) continua sendo um problema de Saú-de Pública mundial. Mesmo com tratamento correto, a incidência de TB relacionada ao HIV é elevada em todo o globo.1,2 Estima-se que, ainda hoje, a tuberculose seja responsável por 30,0% das mortes associadas ao HIV/aids e que 10,0% dos casos de TB no mundo ocorram em pacientes HIV-positivos (HIV+).3,4

Frente a isso, a American Thoracic Society (ATS),5 os Centers for Disease Control and Prevention dos Estados Unidos da América (CDC/USA),6 a Organização Mundial da Saúde (OMS)7 e o Ministério da Saúde do Brasil8 recomendam o tratamento da infecção latente da tuberculose (ILTB) – ou quimioprofilaxia para TB – como uma das medidas de controle da doença em pacientes HIV+. Segundo as recomendações da OMS,9 há 12 atividades colaborativas para o manejo da coinfecção TB/HIV, entre elas os “três Is”. Seriam eles: quimioprofilaxia com (i) Isoniazida; (ii) Intensi-ficação da detecção de novos casos; e controle da (iii) Infectibilidade. Sabe-se que a TARV reduz a incidência de TB em até 80% e a adição do tratamento da ILTB a esse controle reduziria a incidência em mais 58,0-70,0%.10-12

Desde a década de 1960, diversos ensaios clínicos, placebo-controlados e duplo-cegos vêm demonstrando a eficácia da isoniazida como medi-camento profilático para pacientes com ILTB.1,13-15 O tratamento da ILTB não previne a progressão da imunodeficiência causada pelo HIV ou a incidência de doenças definidoras de aids, contudo possui impacto sobre a mortalidade dos indivíduos reatores à prova tuberculínica.16 A despeito das recomendações em curso, a implementação da quimioprofilaxia em nível global continua em graus muito baixos, atingindo, segundo o relatório da OMS de 2007, menos de 0,1% dos pacientes HIV+.9,12,17

A prova tuberculínica (PT), realizada pelo inóculo do derivado proteico purificado (PPD) na técnica de Mantoux é, ainda hoje, o teste de escolha para o diag-nóstico dos pacientes com ILTB.1,6,11 As recomendações do Ministério da Saúde esclarecem que os indivíduos HIV+ devem realizar a PT no momento do diagnóstico

de HIV/aids e anualmente, caso sejam não reatores (enduração <5mm). Quando reatores (enduração ≥5mm) e na ausência de tuberculose como doença ativa, o paciente tem uma indicação precisa da reali-zação da quimioprofilaxia com isoniazida 300mg/dia, via oral, autoadministrada, de 6 a 9 meses. Deverão também receber esse medicamento aqueles indivíduos não reatores mas contatos de pacientes bacilíferos, também após excluir doença ativa, a fim de evitar a monoterapia.6,11,12,18,19

A estimativa da indicação à PT e ao tratamento da ILTB visa trazer um embasamento científico, que possa orientar a resolubilidade de caráter imediato na prestação do serviço. Informes internos da Vigilância Sanitária de Santa Catarina mostram uma proporção de co-infecção de HIV+TB de 21,0% em 2008.20

Diante do exposto, este estudo teve por objetivo determinar a indicação à prova tuberculínica (PT) e tratamento para infecção latente da tuberculose (ILTB) no Serviço de Atendimento Especializado em DST/aids do município de Blumenau, estado de Santa Catarina, Brasil.

Métodos

Trata-se de um estudo transversal sobre uma popu-lação definida: indivíduos atendidos pelo Serviço de Atendimento Especializado em DST/Aids de Blumenau-SC que ali ingressaram como HIV+, entre janeiro de 2004 e dezembro de 2009.

O município de Blumenau-SC está localizado na região Médio Vale do Itajaí, estado de Santa Catarina. Segundo dados do Censo Demográfico 2010, o muni-cípio tinha 309.000 habitantes naquele ano. No mesmo ano, a prevalência estimada de tuberculose na região era de 26,8 por 100 mil habitantes, sendo 3,4/100 mil hab. exclusivamente de novos casos, e quanto à aids, a incidência estimada era de 25,3/100 mil hab. no estado de Santa Catarina.20,21 A atenção aos pacientes de tuberculose no município é feita pelo Programa de

Estima-se que, ainda hoje, a tuberculose seja responsável por 30,0% das mortes associadas ao HIV/aids.

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Controle da Tuberculose e existe um único Serviço de Atendimento Especializado em DST/aids em Blumenau-SC, para atender todos os pacientes HIV+ da rede pública da cidade.

Os dados utilizados neste estudo foram obtidos a partir da revisão de prontuários referentes ao período de janeiro a julho de 2010, considerados exatamente como foram descritos pelo profissional médico, sem avaliação dos critérios diagnósticos utilizados. As va-riáveis analisadas foram: sexo; idade do paciente no momento do diagnóstico para HIV; condições de mo-radia: orientação sexual; notificação de aids; presença de outras comorbidades, incluindo as de notificação compulsória; uso de TARV; contagem de linfócitos T-CD4; carga viral logarítima; história prévia de TB; médico que prestou o primeiro atendimento; e médico que indicou a PT. Além disso, os pacientes foram avaliados quando iniciaram atendimento pelo Programa de Controle da Tuberculose, mediante realização da PT, resultado do teste e realização do tratamento da ILTB.

Foram excluídos do estudo indivíduos transferidos de Serviços de Atendimento Especializado em DST/aids de outras regiões, que já tinham sido acompa-nhados por médico para controle do HIV em serviços públicos ou privados, presumindo-se que o exame cutâneo houvesse sido realizado no serviço anterior. Também foram excluídos os pacientes com idade inferior a 15 anos ou cujos dados dos prontuários estivessem incompletos.

A análise dos dados envolveu o percentual de indicação e realização da PT, além da consequente prevalência da indicação e realização do tratamento da ILTB nesses pacientes. Foram utilizadas comparações de proporções, aplicando-se o teste qui-quadrado com correção de Yates, com nível de significância p<0,01, entre o grupo indicado para PT e o grupo não indicado. Para as variáveis com n<5, utilizou-se o teste exato de Fisher. Também foram avaliadas carac-terísticas sociodemográficas dos indivíduos, além da aplicação das normas e das recomendações da Saúde para pacientes HIV+. Dados laboratoriais, como o resultado da contagem de linfócitos T-CD4 e a carga viral, foram analisados pela comparação de médias, mediante o teste t de Student.

Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética na Pesquisa em Seres Humanos da Fundação Universidade Regional de Blumenau – FURB –, sob o protocolo no 219/09.

Resultados

Foram revisados todos os prontuários dos pacientes assistidos pelo Serviço de Atendimento Especializado em DST/aids de Blumenau-SC que ingressaram no serviço de janeiro de 2004 a dezembro de 2009, totalizando 1.004 prontuários. Destes registros, 311 foram excluídos por apresentarem dados incompletos e/ou pelos critérios de exclusão previamente citados.

Os parâmetros demográficos e clínicos dos 693 pacientes avaliados nessa análise estão sumarizados na Tabela 1. A média de idade desses indivíduos foi de 35,95±11,25 anos, variando de 15 a 70 anos. Do total de prontuários avaliados, 56,6% dos pacientes tinham aids. A média de contagem de T-CD4 encontrada nos pacientes foi de 428 células/mm3±331,73 – sendo 427,93 células/mm3 nos pacientes com aids e 430,68 células/mm3 nos pacientes sem doença definidora de aids. Quanto ao logaritmo de carga viral, a média encontrada foi de 3,93±1,19. Pela análise dos dados obtidos nos prontuários, verificou-se que 18,32% (n=127) dos pacientes apresentavam comorbidades associadas ao HIV. Além disso, outras comorbidades não associadas ao HIV (Tabela 2) foram encontradas em 57,72% (n=400) dos casos, percentual composto de 23,23% (n=161) tabagistas, 10,24% (n=71) diag-nosticados com depressão e 8,22% (n=57) etilistas. Entre todos os prontuários analisados, foi descrita mais de uma comorbidade associada para 26,84% pacientes (n=186), entre os quais as frequências maiores foram de tabagismo/etilismo (4,61%; n=32) e tabagismo/depressão (3,17%; n=22). Outros fa-tores de risco, tais como não adesão ao tratamento antirretroviral e/ou ao acompanhamento médico (12,12%; n=84), detenção penitenciária (2,02%; n=14), profissionais do sexo (0,72%; n=5) e múlti-plos parceiros sexuais (0,57%; n=4), também foram observados nos registros.

Quanto à indicação para realização da PT, 96,23% (n=669) dos pacientes tinham indicação precisa para a prova tuberculínica por não apresentarem dados ou registros clínicos nos prontuários de TB prévia (0,013%) ou contraindicações relativas ao tratamento da ILTB, a exemplo das hepatopatias crônicas (0,3%), como é o caso dos portadores crônicos do vírus da hepatite B ou do vírus da hepatite C. Entretanto, dos 23,46% (n=157) que receberam encaminhamento médico para realização do exame, somente 16,29%

Keila Zaniboni Siqueira e colaboradores

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Prova tuberculínica e infecção latente da tuberculose em HIV-positivos

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Tabela 1 - Características demográficas e clínicas dos pacientes HIV-positivos (n=693) no município de Blumenau, estado de Santa Catarina. Brasil, 2004 a 2009

Variáveis Com aids Sem aids n %

Sexo

Masculino 250 175 425 61,3

Feminino 142 126 268 38,7

Moradia

Domiciliados 388 290 678 97,8

Moradores de rua 4 11 15 2,2

Orientação sexual

Heterossexuais 237 177 414 59,7

Homossexuais/bissexuais 46 46 92 13,3

Ignorada 109 78 187 27,0

Uso de TARV a

Não 46 225 271 39,1

Sim 346 76 422 60,9

Diagnóstico atual de tuberculose

Não 371 297 668 96,4

Sim 21 4 25 3,6

Outras doenças de notificação compulsória b

Não 306 212 524 75,6

Sim 86 83 169 24,4

a) TARV: terapia antirretroviral

b) Outras doenças de notificação compulsória: gestante HIV-positiva; hepatite A; hepatite B; hepatite C; condiloma acuminado; herpes genital; papilomavírus humano (HPV); e sífilis.

(n=109) procuraram o Programa de Controle da Tuberculose com esse objetivo.

Dos 109 pacientes que fizeram o teste, quatro (3,66%) eram contatos de pacientes bacilíferos, um indivíduo (0,92%) teve TB anteriormente e cinco (4,59%) realizaram a PT e foram diagnosticados com TB ativa, por análises microbiológicas, exames radiológicos e/ou biópsia. Os resultados, com relação à leitura da enduração, foram: 79,81% não reatores (n=87); 11,93% reatores (n=13); e 8,25% não lidos (n=9). Finalmente, constatou-se que entre os 11,93% reatores, portanto, com indicação para realização do tratamento da ILTB, nove (1,31%) realizaram a quimioprofilaxia para tuberculose e destes, sete eram reatores, um era contato e o outro, não reator.

O estudo considerou como variável do serviço os médicos que prescreveram a PT ao paciente, nomeados de A a E para preservar sua identidade; e quando não especificados no prontuário, foram designados como ‘desconhecido’. Esses profissionais correspondem aos médicos que atenderam no serviço, no período de janeiro de 2004 a dezembro de 2009. Esta variável mostra que 56,05% (n=88) das indicações para rea-lização da PT partiram do médico A, 12,10% (n=19) do médico B, 12,10% (n=9) do médico C, 8,28% (n=13) do médico D, 1,27% (n=2) do médico E e 10,19% (n=16) de médico desconhecido.

Quanto ao fator relacionado ao serviço, a frequência de indicação a PT teve relação estatisticamente signifi-cativa (p<0,01) com o médico da primeira consulta.

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Entre os pacientes que receberam encaminhamento para realização da PT (Tabela 3), 52,86% era do sexo masculino, em comparação com 63,8% dos pacientes não indicados. Trata-se de uma diferença estatistica-mente significativa (p=0,008).

A diferença entre as médias de idade da população dos dois grupos foi de 0,11 anos, o que não repre-senta significância estatística (p=0,91). Tampouco houve significância estatística na associação entre indicação para PT e (i) frequência de notificação de aids (p=0,40), (ii) uso de TARV (p=0,10), (iii) condições de moradia (p=0,11) e (iv) orientação

sexual (p=0,06). Igualmente, não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes entre as mé-dias de contagem de células T-CD4 (p=0,86) ou carga viral logarítmica (p=0,92).

Encontrou-se maior frequência de comorbidades relacionadas ao HIV nos pacientes não indicados para PT (19,58%), em relação aos pacientes in-dicados (14,01%), sendo a diferença estatistica-mente significante (p<0,01). Entretanto, para as comorbidades não relacionadas ao HIV, não houve diferença estatisticamente significante entre os dois grupos (p=0,13).

Tabela 2 - Descrição das comorbidades associadas e não associadas ao vírus da imunodeficiência humana – HIV – no município de Blumenau, estado de Santa Catarina. Brasil, 2004 a 2009

Associadas ao HIV Não associadas ao HIV

Candidíase Asma

Coriorretinite por toxoplasmose Cardiopatias

Demência por HIV Depressão

Herpes Zoster Diabetes mellitus

LEMP a Doenças reumáticas

Linfoma DPOC c

Neurocriptococose Etilismo

Neuropatia por TARV b Hepatopatias

Neuropatia por HIV Hiperplasia prostática benigna

Neurotoxoplasmose Hipertensão arterial sistêmica

Mielotoxicidade por TARV b Meningite meningocócica

Plaquetopenia Nefropatias

Pneumocistose Neoplasias

Sarcoma de Kaposi Obesidade

Síndrome de Guillain-Barrét Outras DST d

Síndrome de Miller-Fisher Parasitoses

Tabagismo

Tireoidopatias

Transtornos psiquiátricos

Vasculopatias

a) LEMP: leucoencefalopatia múltipla progressiva

b) TARV: terapia antirretroviral

c) DPOC: doença pulmonar obstrutiva crônica

d) DST: doenças sexualmente transmissíveis

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Discussão

Os dados obtidos no Serviço de Atendimento Espe-cializado em DST/aids mostram que, dos 693 pacientes analisados, 669 tinham indicação para a realização da PT mas apenas 23,46% receberam encaminhamento médico. E destes, somente 16,29% procuraram o Pro-grama de Controle da Tuberculose para a realização do exame. Dos pacientes que realizaram a PT, 11,93% eram reatores e, portanto, tinham indicação de realizar o tratamento da infecção latente da tuberculose – ILTB. Apenas 1,31% realizaram-no.

Estudos latino-americanos e europeus demons-tram que uma pequena parcela dos pacientes com potencial elegibilidade para o tratamento da ILTB realizam a quimioprofilaxia com isoniazida.2,14,22 Conforme os dados obtidos por este estudo, apenas 23,46% dos pacientes realizaram a PT e destes, tão-somente 1,31% realizaram o tratamento da ILTB. Tais informações sugerem que características do serviço avaliado, bem como as características dos pacientes considerados, estão envolvidas na indi-cação para tratamento da ILTB. Outros serviços no Brasil apresentam taxas de indicação a PT duas vezes maiores, aproximadamente, do que as encontradas no presente estudo.23

A recomendação da ATS, OMS, CDC/USA e Ministério da Saúde do Brasil é de que todos os pacientes HIV+,

no momento do diagnóstico de soropositividade para o HIV, realizem a PT para a precoce detecção da ILTB. Essa medida tem por objetivo a detecção de indivíduos elegíveis a quimioprofilaxia para TB. No entanto, são descritas três principais preocupações relacionadas a sua indicação: indução de resistência do Mycobac-terium tuberculosis à isoniazida; possíveis efeitos adversos nos pacientes que já fazem uso de TARV; e problemas relacionados à adesão do paciente ao tratamento.1,2,23

Um estudo de coorte prospectivo, realizado na Espa-nha, avaliou os critérios de elegibilidade e desfecho do tratamento da ILTB em pacientes HIV+ e constatou que em cada cinco pessoas com indicação de quimiopro-filaxia para TB, quatro não o realizavam, seja por falta de prescrição médica, seja pela recusa ao tratamento. Em ambas as situações, as características psicossociais dos pacientes eram relacionadas ao desfecho e alguns médicos não prescreviam o tratamento da ILTB por acreditarem que o paciente não mostraria adesão a ele ou se negaria a fazê-lo.2 Embora alguns fatores psicossociais ou demográficos dos indivíduos possam estar relacionados à não indicação da quimioprofila-xia, a ausência de prescrição e/ou realização da prova tuberculínica – amplamente recomendada – parece ser o principal fator relacionado à não indicação de tratamento da ILTB na região de Blumenau-SC, con-forme nossos dados.

Tabela 3 - Associação das características sociodemográficas e clínicas de acordo com a prescrição da prova tuberculínica – PT – no município de Blumenau, estado de Santa Catarina, 2004 a 2009

Variáveis Prescrito PT (%)

Não prescrito PT (%) p

Sexo masculino 52,9 63,8 <0,01

Aids 55,4 56,9 0,40

Uso de TARV a 65,6 59,5 0,10

Morador de rua 0,6 2,6 0,11

Comorb-HIV b 14,1 19,6 <0,01

Comorb-não HIV c 53,5 59,0 0,13

T-CD4 434,03 (média) 427,65 (média) 0,86

Log CV d 3,95 (média) 3,93 média) 0,92

a) TARV: terapia antirretroviral

b) Comorb-HIV: comorbidades associadas ao vírus da imunodeficiência humana (HIV)

c) Comorb-não HIV: comorbidades não associadas ao vírus da imunodeficiência humana (HIV)

d) Log CV: logaritmo de carga viral

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Percebe-se que, no estudo em tela, uma maior parcela dos pacientes do sexo masculino recebe in-dicação para realização da PT. Os dados da literatura não demonstram qualquer relação entre o sexo e a indicação a quimioprofilaxia.2,24 Diferentemente de outros trabalhos,2,25 os dados demográficos e psicos-sociais aqui representados – tais como idade, condi-ções de moradia ou orientação sexual – não tiveram relação estatisticamente significativa com a indicação da PT ou do tratamento da ILTB. Parâmetros clínicos obtidos, como contagem de células T-CD4, carga viral, situação definidora de aids, uso de TARV, presença de comorbidades ou notificações, não pareceram relevantes para indicação à realização da PT pelos médicos, ainda segundo este estudo. Pacientes que apresentavam comorbidades relacionadas ao HIV, no entanto, tinham uma frequência estatisticamente menor de prescrição para PT.

De qualquer forma, não se percebe, estatistica-mente, um padrão coerente para a indicação a PT nos pacientes HIV+ avaliados aqui, um achado que re-mete à característica de aleatoriedade na prescrição do exame no município. Essa característica pode ser percebida quando são avaliadas variáveis inerentes ao cumprimento das recomendações preconizadas. Por exemplo: encontrou-se uma relação estatisticamente significativa entre o médico que prestou a primeira consulta no Serviço de Atendimento Especializado e a indicação para PT; ao mesmo tempo, 56,05% das indicações ao exame foram prescritas por apenas um dos cinco médicos que prestavam atendimento no serviço, à época quando as consultas foram realizadas.

A baixa frequência de indicação para PT e, con-sequentemente, para o tratamento da ILTB resulta de um receio inerente aos programas de controle da TB em todo o mundo: a indução de resistência a isonia-zida.1,16,25 Um estudo de caso-controle realizado na África do Sul demonstrou que o uso de isoniazida como quimioprofilaxia não traria um risco adicional para desenvolver resistência, uma vez que a prevalência de M. tuberculosis resistentes a esse fármaco é semelhan-te nos indivíduos que não o utilizaram previamente, em monoterapia.17 Uma metanálise, cujo objetivo foi identificar o risco de resistência à isoniazida, envolveu 12 ensaios clínicos randomizados e tampouco verificou aumento estatisticamente significante de resistência no grupo que realizou a quimioprofilaxia. Os autores

ainda relataram que a maior causa de resistência aos tuberculostáticos encontra-se no manejo inadequado das drogas em pacientes com TB ativa.26 Assim, não obstante exista um pequeno risco potencial de desen-volvimento de resistência, ele deve ser ponderado em relação aos benefícios majoritários da isoniazida na redução da incidência de TB.

Outra preocupação relevante para o uso da isoniazida seria o advento de efeitos colaterais em pacientes que já estão em curso de medicação de uso contínuo. É descrito na literatura que os efeitos colaterais relacionados a essa droga existem e são significativamente maiores do que na população que não faz uso da TARV.27 No entanto, uma metanálise que incluiu 12 ensaios clínicos randomizados, tota-lizando 8.578 indivíduos, avaliou o tratamento da ILTB em pacientes HIV+ e demonstrou que somente quando se usam esquemas profiláticos combinados (isoniazida e rifampicina, por exemplo), os efeitos adversos são relevantes, podendo levar à descontinui-dade da droga. Já os efeitos adversos desencadeados pela monoterapia com isoniazida são bem tolerados e raramente levam à descontinuidade do tratamen-to.1,25 Desse modo, a preocupação em gerar efeitos adversos nesses pacientes pode ser um dos motivos da não indicação ao tratamento da ILTB para uma parcela de indivíduos elegíveis.22

A preocupação com a adesão é o terceiro fator citado, relacionado à não indicação para quimiopro-filaxia. Embora uma menor adesão seja comum em regimes terapêuticos e/ou profiláticos mais longos, é interessante ressaltar que a maioria dos pacien-tes que não terminarão o regime medicamentoso abandonará o serviço nas fases mais precoces de tratamento. Alguns estudos revelam que mais de 40,0% dos pacientes sem adesão não comparecem à primeira consulta de seguimento.2,15 Como a quimioprofilaxia é um regime autoadministrado, isso pode acarretar um maior número de pacientes que deixarão de completar o esquema preconiza-do. Estudo realizado na Inglaterra comparou dois regimes com diferentes durações, quanto à adesão, e constatou que a possibilidade de escolha do pa-ciente entre aqueles dois regimes estava diretamente relacionada à correta administração da droga.23 Em termos gerais, pacientes com adesão adequada à TARV tendem a seguir o mesmo padrão em relação à isoniazida.12 Oferecer ao paciente informação e

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percepção, discutir os reais riscos da ILTB e a im-portância de manter o esquema terapêutico por seis meses parece ser uma medida relacionada à maior adesão ao tratamento.27

Entre as limitações encontradas para esta análise, é de importância destacar que os dados que lhe ser-viram de base foram obtidos de prontuários médicos, os quais, dificilmente padronizados, são passíveis de ausência de informações relevantes. Outro fator que pode ter prejudicado as análises destes autores seria a exclusão dos 311 pacientes, em razão dos critérios adotados.

A partir dos dados obtidos e analisados, pode-se concluir que o manejo da ILTB nos pacientes HIV+ tem sido inadequado no município de Blumenau-SC. A indicação para PT e, por conseguinte, para o tratamento da ILTB, embora seja comum também em outros países em desenvolvimento,28,29 é inacei-tavelmente menor nesse serviço. Além da terapia antirretroviral – TARV –, a política de Saúde Pública brasileira também disponibiliza gratuitamente a qui-mioprofilaxia para TB com isoniazida. Essa medida de controle, embora seja de baixo custo, comprova-damente efetiva e aceitável como segura, não tem sido disponibilizada aos pacientes que seriam beneficiados por ela, como foi verificado no município catarinense. Vários autores discorrem sobre a necessidade de adoção de medidas para garantir que os programas de TB e de HIV/Aids trabalhem em conjunto e atinjam o objetivo comum de erradicar a tuberculose em 2050.28-30 A integração entre o Serviço de Atendi-

mento Especializado em DST/Aids e o Programa de Controle da Tuberculose, mesmo que não ocorra de forma física ou burocrática, deveria ser intrínseca aos prestadores de serviço de saúde. Os recursos humanos que trabalham com pacientes HIV+ deve-riam priorizar o controle de TB, assim como os que trabalham no programa de TB deveriam priorizar a investigação de HIV nos pacientes do serviço.

Agradecimentos

Aos profissionais da saúde do Serviço de Atendimen-to Especializado em DST/Aids e do Programa Municipal de Controle da Tuberculose de Blumenau-SC, que possibilitaram a coleta de dados.

Ao Dr. Ernani Tiaraju Santa Helena, por sua con-tribuição na elaboração e delineamento do projeto e nas análises estatísticas.

Contribuição dos autores

Penedo CC, Siqueira KZ e Mendonça SA participa-ram da concepção e delineamento do estudo, além da interpretação inicial dos dados.

Penedo CC realizou a coleta e compilação dos dados e a análise estatística.

Penedo CC e Siqueira KZ realizaram a interpretação dos dados, a redação e revisão/correção do conteúdo do manuscrito.

Todos os autores participaram da aprovação final do artigo.

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Recebido em 18/03/2011 Aprovado em 15/11/2012

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Spatial distribution of cases of tuberculosis in Santa Cruz do Sul a priority municipality of Rio Grande do Sul State, Brazil 2000 to 2010

aRtigo

oRiginal Distribuição espacial de casos de tuberculose em Santa Cruz do Sul, município prioritário do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, 2000 a 2010

Endereço para correspondência: Endereço para correspondência:Universidade de Santa Cruz do Sul, Avenida Independência, 2293, Bairro Universitário, Santa Cruz do Sul-RS, Brasil. CEP: 96815-900E-mail: [email protected]

Alexandre DaroncoPrograma de Educação pelo Trabalho para a Saúde/Vigilância – da Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul-RS, Brasil

Tássia Silvana BorgesPrograma de Educação pelo Trabalho para a Saúde/Vigilância – da Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul-RS, Brasil

Eduardo Chaida SondaPrograma de Educação pelo Trabalho para a Saúde/Vigilância – da Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul-RS, Brasil

Bruna LutzPrograma de Educação pelo Trabalho para a Saúde/Vigilância – da Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul-RS, Brasil

Alexandre RauberDepartamento de História e Geografia e Núcleo de Gestão Pública, Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul-RS, Brasil

Fabiana BattistiPrograma de Educação pelo Trabalho para a Saúde/Vigilância e Unidade Básica de Saúde Avenida, Santa Cruz do Sul-RS, Brasil

Marcos Moura Baptista dos SantosDepartamento de Ciências Humanas e Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde/Vigilância, Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul-RS, Brasil

Andréia Rosane de Moura ValimPrograma de Mestrado em Promoção da Saúde e Departamento de Biologia e Farmácia, Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul-RS, Brasil

Marcelo CarneiroDepartamento de Biologia e Farmácia, Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul-RS, Brasil

Lia Gonçalves PossueloDepartamento de Biologia e Farmácia e Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde/Vigilância – da Universidade de Santa Cruz do Sul, Santa Cruz do Sul-RS, Brasil

doi: 10.5123/S1679-49742012000400014

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Distribuição espacial de casos de tuberculose

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Introdução

Apesar da implementação governamental de diver-sas estratégias de controle e vigilância, a tuberculose (TB) continua sendo um grande problema de Saúde Pública. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que ocorreram em torno de 8,5 a 9,2 milhões de casos de TB em todo o mundo, no ano de 2010. A mortalidade associada a essa doença ainda registra valores bastante elevados: 1,2 a 1,5 milhões de mortes em 2010.1 O Brasil é um dos 22 países responsáveis por 80% dos casos de TB do mundo. O estado do Rio Grande do Sul (RS) atingiu, em 2010, uma incidência de 47 casos/100 mil habitantes. Santa Cruz do Sul-RS, situado na região central do estado do Rio Grande do Sul, é um dos 15 municípios prioritários para o controle da TB, segundo Nota Técnica emitida pelo Ministério da Saúde em outubro de 2011.2

Nos países em desenvolvimento, a TB ocorre, pre-dominantemente, entre a população economicamente ativa (de 15 a 54 anos de idade) e os homens adoecem duas vezes mais que as mulheres. A disseminação em localidades de maior pobreza, baixa escolaridade e dificuldade de acesso a serviços de saúde é evidente.3-5 Na população de infectados pelo vírus da imunodefi-ciência humana (HIV), a TB é uma importante causa de morbidade.6

As estratégias de vigilância utilizadas para controle da tuberculose devem incluir sistemas confiáveis de informações e eficientes métodos para localização dos casos bacilíferos, no intuito de melhorar o entendimen-to da dinâmica de transmissão da doença.7,8 A utilização de tecnologias baseadas na distribuição espacial é uma alternativa confiável para melhorar o entendimento dessa dinâmica de transmissão. O geoprocessamento é um conjunto de técnicas de coleta e exibição de informações referenciadas em determinado espaço geográfico9 e sua aplicação na área da Saúde é inte-ressante porque amplia as evidências e organiza os dados, facilitando o planejamento de condutas frente à realidade local.8,10 A utilização de mapas permite a avaliação da distribuição da tuberculose e seus deter-minantes populacionais no espaço e no tempo.

No contexto dessa realidade, justifica-se a realização do presente estudo, que teve por objetivo caracterizar, espacialmente e epidemiologicamente, os casos de

ResumoObjetivo: descrever a distribuição espacial e as características epidemiológicas dos casos de tuberculose (TB) existentes na zona

urbana na cidade de Santa Cruz do Sul-RS, Brasil. Métodos: estudo descritivo de prevalência, incluiu dados de pacientes diagnosticados entre 2000 e 2010; as fontes de dados foram os prontuários da unidade de referência municipal para tratamento da TB e as fichas do Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan. Resultados: de um total de 321 (63,7%) casos avaliados, 267 (83,1%) foram localizados espacialmente; o sexo masculino foi predominante (72,3%) e a idade média foi de 40,7 anos; observou-se frequência elevada de casos na região sul do Município; verificou-se uma frequência de coinfecção TB/HIV (vírus da imunodeficiência humana) de 9,7%; a taxa média de cura no período estudado foi de 72,0%. Conclusão: constatou-se distribuição espacial dos casos com alta frequência na região sul da área urbana do Município, onde este apresenta pior nível socioeconômico.

Palavras-chave: Distribuição Espacial; Epidemiologia; Tuberculose; Epidemiologia Descritiva.

AbstractObjective: to describe the spatial distribution and epidemiological characteristics of tuberculosis (TB) cases in the urban

area of the city of Santa Cruz do Sul-RS. Methods: a descriptive cross-sectional study, including data from patients diagnosed from 2000 to 2010. Data sources were the medical records of referral center for TB treatment of Santa Cruz do Sul and of the reportable disease database – Sinan. Results: A total of 321 (63.7%) cases were evaluated and of these, 267 (83.1%) were located spatially. We observed a high proportion of cases in the South region. The frequency of TB/HIV coinfection was 9.7%. The average cure rate during the study period was 72.0%. Conclusion: the male was predominant and the average age was 40.7 years. The spatial distribution of cases was concentrated in southern urban area, where the socioeconomic status is lower.

Key words: Residence Characteristics; Epidemiology; Tuberculosis; Epidemiology, Descriptive.

As estratégias de vigilância utilizadas para controle da tuberculose devem incluir sistemas confiáveis de informações e eficientes métodos para localização dos casos bacilíferos.

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tuberculose diagnosticados na cidade de Santa Cruz do Sul, estado do Rio Grande do Sul, no período de 2000 a 2010.

Métodos

Estudo descritivo de prevalência no qual foram incluídos, inicialmente, todos os casos de tuberculose – TB – diagnosticados e notificados na área urbana do município de Santa Cruz do Sul-RS, no período de janeiro de 2000 a setembro de 2010.

Santa Cruz do Sul-RS, cuja população soma 118.374 habitantes, localiza-se na encosta inferior do nor-deste do estado do Rio Grande do Sul (29º43'59"S e 52º24'52"W), a 155km de sua capital, Porto Alegre-RS. O Município possui área de 733km2 e é referência econômica regional da região do Vale do Rio Pardo (420 mil hab.)11,12 (Figura 1).

Foram utilizados, como fontes de dados epide-miológicos, os prontuários da unidade de referência municipal para tratamento da TB (URTB) e o banco de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação do Ministério da Saúde (Sinan).

Foram considerados, para caracterização epidemio-lógica, os casos que tinham notificação e prontuário, no Sinan e na URTB, e residiam na área urbana do município.

Foram excluídos os casos que se mudaram para outros Municípios, aqueles de pacientes oriundos de área rural e os que apresentassem discrepância de endereços entre as duas bases pesquisadas. Também foram excluídos casos notificados em Santa Cruz do Sul-RS embora residissem em outros municípios à época de seu diagnóstico. As variáveis aferidas foram: sexo; idade; tipo de tuberculose; coinfeção com HIV; e desfecho do tratamento.

A distribuição espacial dos casos de TB foi reali-zada a partir da informação do endereço residencial constante nas bases de dados. As latitudes e longitu-des, no sistema de coordenadas UTM [Sistema Uni-versal Transverso de Mercator, baseado na projeção cilíndrica transversa e um sistema de coordenadas sobre o plano cartesiano (eixos x e y) e o uso do metro (m) como unidade para medir distâncias e determinar a posição de um objeto do planeta], fo-ram identificadas pelo software Google Earth™. Na etapa seguinte, os padrões de pontos de ocorrência dos eventos foram inseridos no AutoCadMap®, sobre

o mapa base de logradouros e bairros fornecido pela Prefeitura Municipal; posteriormente, os pontos marcados foram exportados para o TerraView versão 3.5.0, um sistema de informações cartográficas – ou SIG – desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesqui-sas Espaciais (INPE). No TerraView, foram realizadas as análises geoespaciais e produzidos mapas temá-ticos. A análise de distribuição dos casos de TB foi realizada utilizando-se a técnica de representação por pontos de contagem. Não foram mapeados os casos de TB notificados nos anos de 2002 e 2003, haja vista menos de 60,0% deles não disporem do endereço completo, além da consideração da possi-bilidade de não serem representativos (Tabela 1). Os dados socioeconômicos do município de Santa Cruz do Sul-RS são traduzidos em um mapa coroplético, estratificado por classes socioeconômicas (por renda média familiar) conforme os Critérios de Classifica-ção Econômica do Brasil criados pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa.

Após o levantamento das informações epidemio-lógicas, foi criado um banco de dados no programa Excel; posteriormente, foram realizadas as análises descritivas e univariadas, por meio do programa SPSS versão 18.0.

O cálculo da prevalência de TB por bairro foi rea-lizado utilizando-se o número médio de casos durante todo o período do estudo sobre a população residente, por bairro, segundo dados disponibilizados pela Fun-dação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística no Censo Demográfico de 2010.

Este projeto foi previamente submetido à apreciação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC – e aprovado sob o Proto-colo no 2764/10.

Resultados

Um total de 504 casos de tuberculose foi notificado no Sinan, no município de Santa Cruz do Sul-RS, no período de 2000 a 2010. A caracterização epidemio-lógica da população estudada foi realizada a partir dos 321 (63,7%) casos com notificação e prontuário tanto na URTB quanto no Sinan, residentes na área urbana.

Entre os 321 casos estudados, 232 (72,3%) eram homens. A idade média foi de 40,7 anos (±16,6), variando de 3 a 91 anos, e a faixa etária de maior predominância foi a de 30 a 45 anos.

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Distribuição espacial de casos de tuberculose

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Figura 1 - Localização da área urbana do município de Santa Cruz do Sul, estado do Rio Grande do Sul. Brasil, 2010

Tabela 1 - Distribuição dos casos de Tuberculose na área urbana do município de Santa Cruz do Sul, estado do Rio Grande do Sul, segundo o número de casos georreferenciados. Brasil, 2000 a 2010

Ano Total Georreferenciados %

2000 23 18 78,32001 18 17 94,42002 20 11 55,02003 12 6 50,02004 15 11 73,32005 34 26 76,52006 41 36 87,82007 39 37 94,92008 37 31 83,82009 46 43 93,52010 36 31 86,1TOTAL 321 267 83,2

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Com relação às formas de tuberculose, verificou-se que 47 (14,8%) pacientes eram portadores de TB extrapulmonar (Tabela 2), cuja forma pleural foi a mais frequente com 30 (9,3%) casos.

No que concerne à sorologia para HIV, observou-se que 31 (9,7%) pacientes eram coinfectados. Entre-tanto, não se encontrou a informação referente ao resultado do teste de HIV em 113 (35,2%) prontuários; outros 25 (7,8%) pacientes não realizaram o exame. Entre os pacientes coinfectados com o HIV, 10/31 desenvolveram TB extrapulmonar.

Dos 321 casos avaliados, 267 (83,2%) foram localizados espacialmente, e 54 (16,0%) casos foram excluídos da análise por incompatibilidade entre o endereço descrito nos prontuários e a base cartográ-fica, ou decorrência do preenchimento incompleto do campo ‘Endereço’.

Pode-se verificar uma variação na qualidade dos dados, e por conseguinte, na distribuição espacial de 75,0 a 95,0% dos casos dos demais períodos. Até o ano de 2006, a distribuição da TB foi dispersa na área urbana; a partir daquele ano, os casos se concentraram na região sul do Município (Figura 2). Quando foram avaliadas, as taxas de prevalência da área urbana do município, por bairro, variam de zero a 116 casos por 100 mil habitantes. O bairro da região sul da cidade que apresenta uma das maiores prevalências de TB abriga o presídio regional.

Na Figura 3, apresenta-se a distribuição dos casos de TB no período, de acordo com a classificação so-

cioeconômica: a maior parte dos casos encontram-se distribuídos em bairros com renda familiar menor que cinco salários mínimos.

Discussão

A interpretação dos dados da primeira década deste século evidenciou uma discrepância entre o total de casos notificados no Sinan e os casos registrados nos prontuários da URTB. Tal diferença se justifica pelo fato de alguns pacientes, possivelmente, terem-se tratado em consultórios médicos privados e permanecido sem prontuários registrados na URTB, como também, de haver ocorrido mudança de endereço da URTB no ano de 2007, o que acarretaria perda de um número significativo de prontuários. A identificação dessa discrepância é de considerável relevância, porque dificulta o controle de casos e torna sua interpretação epidemiológica incompleta por parte do Município, prejudicando o desenvolvimento de estratégias de pre-venção e controle da doença.15 Também foi observado que 16 casos possuíam prontuário na URTB embora não tivessem sido notificados no Sinan, sendo então encaminhados para notificação.

Com relação às características dos casos estudados, a faixa etária predominante no período foi a de 30 a 45 anos, pouco abaixo daquela referida pelo Ministério da Saúde (45 a 59 anos) nas III Diretrizes para Tu-berculose.16 Em estudo realizado por Chaimowicks,17 a faixa etária predominante dos pacientes estudados

Tabela 2 - Características clínicas e epidemiológicas dos pacientes com tuberculose na área urbana do município de Santa Cruz do Sul, estado do Rio Grande do Sul. Brasil, 2000 a 2010

Descrição Total de casosN=321 %

HIV-reagente 31 9,7

Homens 232 72,3

Etilismo 59 18,4

Tuberculose extrapulmonar 47 14,8

Internação hospitalar 41 12,8

Desfecho do tratamento

Cura 222 72,1

Abandono 24 7,8

Óbito por tuberculose 19 6,2

Em tratamentoa 24 13,9

a) Pacientes ainda em tratamento, no momento da coleta de dados.

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Distribuição espacial de casos de tuberculose

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Figura 2 - Distribuição dos casos de tuberculose na área urbana do município de Santa Cruz do Sul, estado do Rio Grande do Sul, de 2000 a 2010 (excluídos os anos de 2002 e 2003), mediante a técnica de representação por pontos de contagem. Brasil

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Figura 3 - Distribuição dos casos de tuberculose na área urbana do munícipio de Santa Cruz do Sul, estado do Rio Grande do Sul, de acordo com a classificação socioeconômica, segundo dados do Censo 2010. Brasil

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foi a de 30 a 39 anos, de acordo com o encontrado na presente pesquisa. Em relação ao gênero, a predo-minância continua sendo verificada entre os homens, possível reflexo de fatores culturais, econômicos e so-ciais relacionados à exposição.18 A tuberculose pleural foi a forma de TB extrapulmonar mais prevalente, de acordo com o descrito para a população brasileira.19

A meta preconizada pelo Ministério da Saúde para a cura da TB, conforme a Portaria no 2.669, de 3 de novembro de 2009, é de 85,0%. Na área urbana de Santa Cruz do Sul-RS, a taxa média de cura no período estudado foi de 72,0%, evidenciando a necessidade de dedicar-se maior atenção não somente à cobertura de casos como também para um acompanhamento mais efetivo, além da implementação de políticas públicas capazes de educar a população sobre a necessidade de seguir o tratamento durante o período de seis meses. Belo e colaboradores18 relataram um percentual de cura em torno de 66,3% quando analisaram a distribui-ção e a característica da doença por gênero na cidade de Duque de Caxias-RJ. No estado do Rio Grande do Sul, no ano de 2008, a taxa de cura foi de 68,0%.2

O índice de abandono neste estudo (7,8%) é maior que o preconizado pelo Ministério da Saúde, segundo o qual deveria ser inferior a 5,0%.19,20 O tratamento diretamente observado e o estabelecimento de vínculo entre paciente e profissional de saúde são fatores que levam à melhora da adesão à terapia.21 É importante frisar que o desenvolvimento de programas educacio-nais diferenciados constitui medida importante para a melhora de qualidade de vida dos pacientes, com resultados tanto na redução de casos de tuberculose como no abandono do tratamento.22

A tuberculose é comum no curso da infecção pelo HIV.23 Ela é responsável pelo aumento da mortalidade em soropositivos, sendo um dos motivos pelos quais a sorologia de cada paciente diagnosticado com TB é recomendada. O registro de sorologias não foi verificado em grande parcela dos dados averiguados, contra a lógica necessária à estruturação de um plano de Saúde Pública que previna e reduza as mortes por TB-HIV. A ausência desse registro também impediu a identificação, no presente estudo, da real taxa de coinfecção TB-HIV.

No tocante ao mapeamento de casos, 83,2% dos pacientes foram localizados espacialmente. Trata-se de um valor percentual considerável, diante dos pro-blemas enfrentados quando do levantamento de dados envolvendo logradouro. Porém, nos anos de 2002 e

2003, menos de 60,0% dos casos tinham informações referentes a endereço. Esses resultados apontam para a necessidade de uma vigilância mais eficaz com vistas à melhoria na qualidade das informações, tornando os registros de dados mais verossímeis e, consequen-temente, a proposição de políticas mais eficazes, com o objetivo de impedir a disseminação da doença na comunidade.24 Essa necessidade também foi lembrada por Santos e colaboradores,9 ao descreverem dificulda-des para a confecção de mapas e cruzamento de dados em função da incompatibilidade entre endereços e fichas incompletas, o que pode subestimar o número de casos em determinadas áreas.

A pesquisa evidenciou que os bairros com maiores taxas de tuberculose encontram-se na zona sul da área urbana do município, onde, sabidamente, residem famílias de classe media-baixa, fator socioeconômico citado por diversos autores como um agravante para a transmissão da doença.10,25 Constatou-se um total de 23 casos distribuídos ao longo dos anos, notificados entre indivíduos privados de liberdade na unidade pri-sional regional, localizada na região sul do Município. Conforme o Ministério da Saúde, os casos de TB entre apenados correspondem a aproximadamente 5,0% dos casos notificados no Sinan.19 Melhor qualidade das informações sobre essa população e a promoção de melhores condições de infraestrutura carcerária e acesso aos serviços de saúde podem ajudar no controle da TB no ambiente prisional. Contudo, se excluídos os casos de tuberculose encontrados nas unidades prisionais, as áreas mais próximas a essas instituições ainda mantêm as maiores prevalências da doença.

O levantamento de dados também evidenciou certa assincronia entre registros no Sinan e na URTB, o que sugere a necessidade de uma comunicação di-ferenciada entre esses setores para lograr um maior detalhamento do perfil epidemiológico da tuberculose em Santa Cruz do Sul-RS. Da mesma forma, a presença de dados ignorados pelo exame médico ao longo do período estudado mostra o funcionamento desses órgãos aquém de sua real capacidade.

O mapeamento de casos, indubitavelmente, é um instrumento assaz conveniente para a caracterização espacial da tuberculose e pode ser benéfico no sentido de melhor conhecer a distribuição da patologia e tornar mais verossímeis os eventos relacionados à doença. Tal prática seria bem-vinda na formulação de políticas de saúde mais eficazes entre as comunidades. A relevância

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do tema e das múltiplas variáveis que envolvem a tuber-culose aponta para a necessidade de mais estudos sobre a distribuição e a caracterização de casos da patologia.

Agradecimentos

Os autores agradecem à equipe da URTB e da Vigi-lância epidemiológica do município de Santa Cruz do Sul pelo auxílio na coleta dos dados e ao Ministério da Saúde e da Educação pelo financiamento através de bolsas do PET Vigilância em Saúde.

Contribuição dos autores

Daronco A, Borges TS, Lutz B; Possuelo LG, Battisti F e Sonda EC participaram da revisão de literatura, elaboração da metodologia, coleta, análise e interpre-tação dos resultados, redação e aprovação da versão final do manuscrito.

Carneiro M, Valim ARM, Santos MMBS e Rauber A participaram de todas as etapas da pesquisa, da revisão crítica e aprovação do texto final.

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Referências

Alexandre Daronco e colaboradores

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Distribuição espacial de casos de tuberculose

Recebido em 22/07/2012 Aprovado em 24/11/2012

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Socioeconomic profile and insecurity food of families beneficiaries of the Bolsa Familia Program in the city of Viçosa, Minas Gerais, 2011: a cross-sectional study

aRtigo oRiginal Perfil socioeconômico e insegurança alimentar e

nutricional de famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família no município de Viçosa, Estado de Minas Gerais, Brasil, em 2011: um estudo epidemiológico transversal*

Endereço para correspondência: Avenida P.H. Rolfs S/N, Campus Universitário, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil. CEP: 36570-000E-mail: [email protected]

Natália Nunes de SouzaCurso de Nutrição, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil

Mariana de Moura e DiasCurso de Nutrição, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil

Naiara SperandioPrograma de Pós-Graduação em Ciências da Nutrição, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil

Sylvia do Carmo Castro Franceschini Departamento de Nutrição e Saúde, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil

Silvia Eloiza PrioreDepartamento de Nutrição e Saúde, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa-MG, Brasil

doi: 10.5123/S1679-49742012000400015

ResumoObjetivo: avaliar a associação entre indicadores socioeconômicos e insegurança alimentar de famílias beneficiárias do Programa

Bolsa Família (PBF). Métodos: estudo transversal sobre 243 famílias com crianças de 2 a 6 anos, beneficiadas pelo PBF, residentes na zona urbana de Viçosa-MG, em 2011; utilizou-se questionário estruturado com informações socioeconômicas e demográficas; no diagnóstico de segurança alimentar, utilizou-se a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA). Resultados: a prevalência de insegurança alimentar foi de 72,8%, sendo 14,8% grave, 10,7% moderada e 47,3% leve; maiores prevalências de insegurança alimentar foram encontradas nos domicílios com quatro ou mais moradores (p=0,010), que tinham água tratada por filtração (p=0,023), mães com escolaridade inferior a dez anos (p<0,001), pertencentes a famílias classificadas no menor nível socioeco-nômico (p=0,002). Conclusão: a prevalência de insegurança alimentar foi alta, maior entre crianças de famílias maiores, com pior nível socioeconômico e cujas mães tinham menor escolaridade.

Palavras-chave: Segurança Alimentar e Nutricional; Fatores Socioeconômicos; Estudos Transversais; Políticas Públicas.

AbstractObjective: to evaluate the association between socioeconomic indicators and food insecurity of families receiving the

Bolsa Família Program (PBF). Methods: cross sectional study, conducted in 2011, with 243 families who had children aged 2-6 years old, benefited from the PBF, living in the urban area of Viçosa, MG. For data collection were used a structured questionnaire containing socioeconomic and demographic information and also the Brazilian Food Insecurity Scale (EBIA). Results: the prevalence of food insecurity was 72.8%, being 14.8% severe, 10.7% moderate and 47.3% mild. Higher prevalence of food insecurity were found in households with four or more residents (p=0.01); in families in which maternal education was less than 10 years (p<0.01) and in those classified as the lowest socioeconomic level (p=0.002). Conclusion: the pre-valence of food insecurity was high, concentrated in larger families, with low socioeconomic and maternal education level.

Key words: Food Security; Socioeconomic Factors; Cross-Sectional Studies; Public Policies.

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* Artigo oriundo do estudo de pesquisa ‘Capacidade preditiva da escala brasileira de insegurança alimentar para identificar riscos de vulnerabilidade social e biológica em crianças beneficiárias do programa Bolsa Família do município de Viçosa-MG’, projeto apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq): Processo no 563644/2010-9. O presente manuscrito foi elaborado a partir da dissertação de Mestrado de Naiara Sperandio, no âmbito do Programa de Pós-graduação em Ciências da Nutrição da Universidade Federal de Viçosa, defendida em 2011.

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Perfil socioeconômico e insegurança alimentar

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Introdução

O Brasil, em sua trajetória econômica, social e política, é um país que se destaca pela desigualdade e concentração de renda, bens e serviços públicos distinta entre as diversas esferas da sociedade.1,2

Nessa trajetória, encontram-se fatores socioeconô-micos como a acentuada diferença de renda, péssimas condições de saneamento básico e baixa escolaridade, além de determinantes demográficos como cor ou raça, gênero, condição civil e origem espacial-geográfica.2

Na tentativa de reverter o quadro exposto, emba-sados na Carta Magna de 1988, surgem os programas de assistência social do Governo Federal, de que é exemplo o Programa Bolsa Família (PBF).3

O PBF assiste famílias compostas por crianças na idade de zero a quinze anos ou gestantes em situação de pobreza ou extrema pobreza. Os objetivos básicos do programa, em relação a seus beneficiários, são:a) promover o acesso à rede de serviços públicos de

saúde, educação e assistência social;b) combater a fome e promover a segurança alimentar

e nutricional;c) estimular a emancipação sustentada das famílias que

vivem em situação de pobreza e extrema pobreza;d) combater a pobreza; ee) promover a intersetorialidade, a complementarida-

de e a sinergia das ações sociais do Poder Público.4

A transferência dos recursos de programas de as-sistência social como o Bolsa Família é vinculada ao cumprimento de condicionantes, pelas quais se busca garantir a segurança alimentar, as boas condições de saú-de e a manutenção das crianças e dos jovens na escola.5

As condicionalidades do PBF se destinam a (i) estimu-lar as famílias beneficiárias a exercerem seu direito de acesso às políticas públicas de saúde, educação e assis-tência social, promovendo a melhoria das condições de vida da população, e (ii) identificar as vulnerabilidades sociais que afetam ou impedem o acesso das famílias beneficiárias aos serviços públicos a que têm direito, mediante o monitoramento de seu cumprimento.6

Nesse contexto, o Programa Bolsa Família contribui para a redução da pobreza e das desigualdades sociais. E para o combate à fome entre as famílias de baixo poder aquisitivo.7

Existem outras preocupações além da transferência de renda condicionada3 à adesão aos programas assis-tencialistas. Uma delas é a (in)segurança alimentar, es-

tudada pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) 2009.8 Nesta pesquisa, identifi-cou-se insegurança alimentar em 30,2% dos domicílios do país, e uma prevalência de insegurança alimentar grave de 5,0%. Dada sua importância e magnitude, a segurança alimentar passou a ser protegida pela Lei no

11.346, de 15 de setembro de 2006, responsável pela criação do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), assegurando o direito do cidadão à alimentação adequada. A mesma Lei também define o conceito de segurança alimentar:9,10

A segurança alimentar e nutricional consiste na realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quanti-dade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais, tendo como base práticas alimentares promotoras de saúde que respeitem a diversidade cultural e que sejam ambiental, cultu-ral, econômica e socialmente sustentáveis.(II Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Olinda, 2004).10

Na busca pelo melhor entendimento do mapa da insegurança alimentar no Brasil, uma das grandes ferramentas utilizadas pelo IBGE, nas PNAD de 2004 e 2009, foi a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA).9,11-14 Trata-se de uma adaptação ao país da escala desenvolvida pelo United States Departament of Agriculture (USDA) e utilizada nos Estados Unidos da América para análise de inquéritos populacionais.11

Entre os fatores socioeconômicos e demográficos associados à insegurança alimentar, estão a renda, o número de moradores no domicílio, o sexo, a cor ou raça, a escolaridade, residência rural e presença menores de 18 anos de idade no domicílio.9,15,16

Identificar possíveis situações de insegurança alimentar e seus fatores envolvidos – ambientais, socioeconômicos, demográficos, culturais e étnicos – possibilita o norteamento de políticas públicas. São fatores que podem estar associados à ocorrência de insegurança alimentar, determinada principalmente pela pobreza e pela desigualdade social.17

A transferência dos recursos de programas de assistência social como o Bolsa Família é vinculada ao cumprimento de condicionantes.

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O presente artigo teve como objetivo estabelecer as prevalências de insegurança alimentar em seus diferentes níveis, bem como avaliar a associação entre os indicadores socioeconômicos e demográficos e a insegurança alimentar em famílias da área urbana do município de Viçosa, estado de Minas Gerais, que apre-sentam ao menos uma criança entre dois e seis anos e que sejam beneficiárias do Programa Bolsa Família.

Métodos

Trata-se de estudo epidemiológico transversal, rea-lizado no período de janeiro a junho de 2011, no qual se avaliou famílias que possuíam crianças com idade de 2 a 6 anos, de ambos os sexos, residentes na zona urbana do município de Viçosa-MG, localizado na Zona da Mata Mineira, composto por aproximadamente 72.244 habitantes, dos quais 67.337 (93,2%) residem na zona urbana segundo o Censo 2010.18

Para o cálculo da amostra, considerou-se prevalên-cia de 80,3% de insegurança alimentar em benefici-ários do PBF no Sudeste, com base nos resultados da pesquisa ‘Repercussões do Programa Bolsa Família na Segurança Alimentar e Nutricional das Famílias Bene-ficiadas’.19 Estimou-se um erro máximo de ±5%, para um nível de significância de 95% e, com o acréscimo de 20% para possíveis perdas, definiu-se a amostra de 241 famílias. Para o cálculo, utilizou-se a função StatCalc do Epi Info versão 6.04.

Das 1.160 famílias que atendiam aos pré-requisitos para participar da pesquisa, 243 foram selecionadas mediante processo de amostragem probabilística, um sorteio em que todas as famílias tinham a mesma chance de serem escolhidas.

Para obtenção dos indicadores socioeconômicos e demográficos, foram aplicados formulários estruturados junto ao responsável pela criança, abordando as seguin-tes variáveis: abastecimento de água; coleta de lixo; es-goto; presença de água tratada por filtração; número de moradores; número de cômodos; escolaridade materna e paterna; cor ou raça do titular do benefício (avaliada pelos entrevistadores em três categorias: branca, parda e negra); e classificação socioeconômica de acordo com a proposta da Associação Brasileira de Empresas e Pesquisa (ABEP).20 Os dados foram coletados durante visitas domiciliares realizadas por estudantes, matricula-dos na Graduação e na Pós-graduação em Nutrição da Universidade Federal de Viçosa, previamente treinados.

Para o diagnóstico da insegurança alimentar, utilizou-se a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), composta por 15 perguntas direcionadas aos três últimos meses, com respostas de tipo ‘Sim’ ou ‘Não’, sendo que cada resposta afirmativa do questionário correspondia a um ponto.21 Validada no Brasil desde 2004, a partir de estudos liderados pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a EBIA avalia a in-suficiência alimentar, permitindo classificar as famílias em quatro categorias: segurança alimentar, quando não há problemas de acesso aos alimentos, em termos qualitativos ou quantitativos, e não há preocupação de que os alimentos venham a faltar no futuro; insegurança alimentar leve, quando há preocupação com a falta de alimentos no futuro próximo, retratando um componen-te psicológico de insegurança; insegurança alimentar moderada, quando há situação de comprometimento da qualidade da alimentação na busca por manter a quantidade necessária; e insegurança alimentar grave, condição em que há deficiência quantitativa de alimento, levando à situação de fome.12,13

O banco de dados foi organizado com dupla digitação no Microsoft Office Excel 2007. A análise estatística constou de descrição das freqüências das variáveis e associação entre indicadores socioeconô-micos e demográficos e insegurança alimentar, sem utilização de fator de ponderação. Para tanto, foram aplicados os testes de qui-quadrado de associação e qui-quadrado de tendência linear, pelo software Epi Info versão 6.04, considerando-se significante o valor de p≤0,05.

A participação da família no estudo foi condicionada à assinatura, por parte do responsável pela criança, de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. O Projeto de Pesquisa foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Viçosa, sob o Protocolo no 0146/2010, de 24 de novembro de 2010. A pesquisa seguiu as orientações fornecidas na Resolução CNS no 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde.

Resultados

Participaram da pesquisa 243 famílias, das quais 72,8% apresentaram insegurança alimentar: para 14,8% destas famílias, essa insegurança alimentar foi considerada grave; para 10,7%, moderada; e para 47,3%, leve (Tabela 1).

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Em relação às condições de saneamento básico, observou-se que 1,6% dos domicílios não estavam ligados à rede pública de abastecimento de água, 2,9% não tinham o lixo coletado pelo serviço público, 2,1% não estavam ligados à rede pública para destino do esgoto e 8,6% não possuíam água para consumo tratada por filtração.

Entre as famílias estudadas, 72,0% foram clas-sificadas como pertencentes à classe econômica C, de acordo com a classificação da ABEP, e 79,0% dos domicílios possuíam quatro ou mais moradores.

Quanto à cor ou raça do titular do Programa Bolsa Família, 45,3% dos titulares foram classificados como negros e, em relação à escolaridade materna e paterna, 56,0 e 63,3%, respectivamente, tinham completado o Ensino Fundamental.

Maiores prevalências de insegurança alimentar foram encontradas nos domicílios que abrigavam 4 ou mais moradores (73,1%) (p=0,01), naqueles que pos-suíam água tratada por filtração (74,3%) (p=0,023), nas famílias em que a escolaridade materna era inferior a dez anos (79,1%) (p<0,01) e nas famílias classifica-das com nível socioeconômico E (91,0%) (p=0,002), segundo a classificação da ABEP (Tabela 2).

Em relação às demais variáveis consideradas na amostra estudada (tipo de abastecimento de água, coleta de lixo pelo serviço público, rede pública para o destino do esgoto, escolaridade paterna e raça/cor do titular do PBF), o teste de qui-quadrado não mostrou associação desses fatores com a percepção de insegurança alimentar (Tabela 2).

Discussão

Aproximadamente um quarto das famílias estudadas apresentou-se em situação de insegurança alimentar, e destas, quase a metade foi classificada na categoria de insegurança alimentar leve. A prevalência de in-segurança alimentar foi mais elevada nos domicílios com menor nível socioeconômico, maior número de moradores, que possuíam água tratada por filtração e cujas mães tinham baixa escolaridade.

Os achados do presente estudo corroboram aqueles de Panigassi e colaboradores,2 para quem a insegurança alimentar moderada ou grave é mais frequentes em famílias com maior número de membros, menor renda, expostas a condições precárias de saneamento básico e compostas de indivíduos de menor escolaridade.

As prevalências de insegurança alimentar obser-vadas foram consideravelmente maiores do que as encontradas pelo IBGE no ano de 2004, em pesquisa realizada em todo o território nacional.22 Porém, deve-se considerar que o artigo em questão trabalhou com amostra específica, constituída de famílias beneficiadas pelo Programa Bolsa Família com pelo menos uma criança na idade entre dois e seis anos.

A PNAD8 realizada em 2009 identificou insegurança alimentar em 30,2% dos domicílios do país, e uma prevalência de insegurança alimentar grave de 5,0%. Especialmente na região Sudeste, 23,3% das famílias estavam em insegurança alimentar, sendo 2,9% em situação grave, valores inferiores aos encontrados neste trabalho. O mesmo foi observado por um es-tudo realizado em Campinas-SP, no ano de 2005, em famílias com idosos, encontrando-se uma prevalência de insegurança alimentar de 52,0%, e de insegurança alimentar grave de 7,0%.23

No estudo de Salles-Costa e colaboradores (2011),14 realizado na região metropolitana do Rio de Janeiro-RJ, a prevalência de insegurança alimentar também foi inferior à apresentada neste estudo. Aqueles autores observaram 53,8% de insegurança alimentar, sendo que 31,4% dos domicílios referiram insegurança alimentar leve, 16,1%, moderada e 6,3%, insegurança alimentar grave.

Assim como no estudo de Salles-Costa e colabo-rades,14 na amostra estudada aqui, as variáveis ‘nível socioeconômico’ e ‘número de pessoas por domicílio’ apresentaram associação com insegurança alimentar: quanto maior o nível socioeconômico, menor a pre-valência de insegurança alimentar. Já as condições de saneamento não apresentaram associação com a percepção de insegurança alimentar, o que pode estar relacionado à diferença do número de famílias entre as categorias, sendo que a grande maioria dos domicílios apresentou condições favoráveis de saneamento.

Enquanto 65,2% dos domicílios brasileiros estão em segurança alimentar,22 na amostra pesquisada, apenas 27,3% alcançaram tal segurança. Segundo o IBGE, famílias que contam, em sua composição, com indivíduos menores de 18 anos de idade apresentam maior prevalência de insegurança alimentar, e como a amostra pesquisada conta com pelo menos um menor de 18 anos na família, acredita-se que esta seja uma das possíveis explicações para a discrepância encontrada.22

No estudo de Anschau e colaboradores,24 também foi observado que a presença de moradores menores

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Tabela 1 - Caracterização dos domicílios e insegurança alimentar de participantes do Programa Bolsa Família no município de Viçosa, estado de Minas Gerais. Brasil, 2011

Variáveis n %

Níveis de insegurança alimentarSegurança alimentar 66 27,2Insegurança alimentar 177 72,8Insegurança alimentar leve 115 47,3Insegurança alimentar moderada 26 10,7Insegurança alimentar grave 36 14,8

Raça/cor do titular do Programa Bolsa FamíliaNegra 110 45,3Branca 93 38,3Parda 40 16,4

Número de moradores no domicílioAté três pessoas 50 21,0Quatro pessoas ou mais 193 79,0

Saneamento Lixo com coleta pelo serviço público 236 97,1Abastecimento de água pela rede pública 239 98,4Água tratada por filtração 222 91,4Rede pública para o destino do esgoto 238 97,9

Escolaridade maternaAnalfabeto 2 0,8Ensino Fundamental incompleto 34 14,0Ensino Fundamental completo 136 56,0Ensino Médio incompleto 40 16,5Ensino Médio completo 28 11,5Ensino Superior incompleto 3 1,2

Escolaridade paterna a

Analfabeto 6 2,8Ensino Fundamental incompleto 29 13,8Ensino Fundamental completo 133 63,3Ensino Médio incompleto 24 11,5Ensino Médio completo 16 7,6Ensino Superior incompleto 2 1,0

Nível socioeconômico (ABEP b)B 3 1,2C 175 72,0D 54 22,3E 11 4,5

TOTAL 243 100,0

a) Para essa variável, houve perda de informação em 33 observações (n=210): nem todas as mães souberam informar a escolaridade do pai; estes não residiam no mesmo domicílio.

b) ABEP: Associação Brasileira de Empresas e Pesquisas

de 18 anos relacionou-se à maior frequência de insegurança alimentar. Nos domicílios apenas com moradores adultos, a condição de segurança alimentar apresentou proporção de 54,2%, duas vezes superior à das famílias com crianças e adolescentes.

Em estudo realizado com crianças menores de 30 meses, em Campos Elíseos/Duque de Caxias-RJ, encontrou-se insegurança alimentar em 72,0% dos domicílios, sendo 12,0% com insegurança alimentar grave,12 valores próximos aos encontrados no trabalho em questão (72,8 e 14,8%, respectivamente).

Outro ponto a ser considerado é o fato de a amostra ser composta exclusivamente por beneficiários do Progra-ma Bolsa Família, o que constitui uma limitação do atual trabalho, ao tornar difícil sua comparação com estudos que utilizaram amostras mais abrangentes. Famílias beneficiárias de programas de transferência de renda já constituem, em si, um grupo com menor renda e sob maior vulnerabilidade a privações alimentares, portanto mais susceptíveis às condições de insegurança alimentar.24

Entre as limitações do trabalho, está também o fato de ser um estudo transversal, que mostra a situação da

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segurança alimentar somente no momento da coleta de dados, sem contemplar sua evolução desde que as famílias começaram a receber o benefício. Além disso, não foi considerado, nestas análises, o tempo de rece-bimento do benefício. O fato de a informação sobre cor ou raça não ter sido coletada de forma autodeclarada também representa uma limitação para esta pesquisa, na medida em que, também, dificulta a comparação com outros estudos, nos quais a forma autodeclarada é, comumente, a mais utilizada.

Anschau, ao estudar famílias beneficiárias de programas de transferência de renda, residentes no município de Toledo-PR, encontrou prevalência de insegurança alimentar de 74,6%, sendo 44,9% de insegurança alimentar leve,24 valores semelhantes aos encontrados por estes autores. Em relação à

classificação econômica, Anschau também encon-trou associação entre essa variável e a insegurança alimentar.24

Assim como os dados divulgados pelo IBGE, referentes a todo o território nacional, observou-se associação entre insegurança alimentar e número de residentes por moradia.2,22 Novamente, Anschau e co-labs. observaram essa relação em unidades familiares beneficiárias de programas de transferência de renda, ao verificarem, entre famílias que possuíam cinco membros ou mais, chances maiores de vir a passar por insegurança alimentar moderada ou grave, quando comparadas às famílias menores. Essa relação pode ser explicada pelo fato de famílias grandes necessitarem de mais recursos para a compra de alimentos, o que normalmente não acompanha o crescimento familiar.24

Tabela 2 - Prevalências de segurança e insegurança alimentar de acordo com as características socioeconômicas e de saneamento no município de Viçosa, estado de Minas Gerais. Brasil, 2011

VariáveisSegurança alimentar Insegurança alimentar p

n % n %Raça/cor do titular do Programa Bolsa Família a 0,297

Negra 25 22,7 85 77,3Branca 30 32,3 63 67,7Parda 11 25,0 29 72,5

Número de moradores no domicílio b 0,010Até três pessoas 14 28,0 36 72,0Quatro pessoas ou mais 52 26,9 141 73,1Saneamento b

Abastecimento de água 0,936Com rede pública 65 27,2 174 72,8Sem rede pública 02 50,0 02 50,0

Coleta de lixo pelo serviço público 0,437Sim 66 28,1 169 71,9Não 01 12,5 07 87,5

Rede pública para o destino do esgoto 0,223Sim 67 28,2 171 71,8Não 01 20,0 04 80,0

Água tratada por filtração 0,023Sim 57 25,7 165 74,3Não 10 47,6 11 52,4

Escolaridade materna b <0,001Menos de dez anos 36 20,9 136 79,1Mais de dez anos 30 42,2 41 57,8

Escolaridade paterna b 0,289Menos de dez anos 43 25,6 125 74,4Mais de dez anos 15 35,7 27 64,3

Nível socioeconômico (ABEP c) a 0,002B 02 66,7 01 33,3C 53 30,3 122 69,7D 10 18,5 44 81,5E 01 9,0 10 91,0

a) Teste do qui-quadrado de tendência linear

b) Teste do qui-quadrado de associação; nível de significância menor que 5% (p-valor <0,05).

c) ABEP: Associação Brasileira de Empresas e Pesquisas

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A cor ou raça foi um parâmetro para o qual os re-sultados encontrados não se mostraram de acordo com os divulgados pelo IBGE.22 No estudo que se apresenta, os domicílios nos quais o titular do Programa Bolsa Família foi classificado como negro ou pardo não mos-traram maior prevalência de insegurança alimentar.

No estudo de Panigassi e colaboradores,2 assim como na PNAD 2004,25 verificou-se que as famílias com informantes de cor negra ou parda apresentaram prevalências significativamente maiores de insegurança alimentar. No entanto, no estudo de Pimentel, não foi observada associação significante entre cor da pele ou raça e insegurança alimentar.12

Tampouco foi encontrada associação entre condições de saneamento e segurança alimentar, contrariando os dados da PNAD 2004, na qual se observou que a existên-cia de água encanada e a destinação apropriada de esgoto reduzem a probabilidade de insegurança alimentar.9

A ausência de associação entre condições de sanea-mento básico e segurança alimentar pode estar relacio-nada ao fato de as condições de abastecimento de água, destino do lixo e destino do esgoto nos domicílios de estudo serem muito similares, não havendo grandes di-ferenciações quanto a esses parâmetros, entre as famílias estudadas. A grande maioria dos domicílios apresentou padrão sanitário satisfatório, com rede pública para abas-tecimento de água e destino de esgoto, água de consumo tratada por filtração e coleta de lixo pelo serviço público.

A partir dos dados apresentados, evidenciou-se a dimensão da insegurança alimentar associada ao perfil socioeconômico da população estudada: alta prevalên-cia de insegurança alimentar, relacionada tanto com o nível socioeconômico das famílias investigadas como com o número de moradores por domicílio. Tendo em vista a relação existente entre situação de insegurança

alimentar e características socioeconômicas, destaca-se a necessidade de ações de responsabilidade social e políticas públicas, como o próprio Programa Bolsa Família, que visem à garantia da segurança alimentar.

A medida de segurança alimentar e nutricional por meio da Escala Brasileira de Insegurança Alimen-tar – EBIA –, da mesma forma que sua relação com indicadores socioeconômicos, pode representar um importante indicador de monitoramento da iniquidade em saúde, auxiliando na identificação dos grupos com vulnerabilidade social e no estabelecimento de inter-venções por parte dos órgãos públicos responsáveis.

A questão do acesso inadequado e insuficiente aos alimentos, no caso brasileiro, é causada, principalmen-te, pelas desigualdades socioeconômicas existentes no país, indicando a necessidade de políticas voltadas à solução desses problemas. Estudos referentes à inse-gurança alimentar e que incluam famílias cadastradas em programas de transferência de renda devem ser realizados com maior frequência, a fim de melhorar a avaliação desses programas.

Agradecimentos

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq –, pelo apoio financeiro.

Contribuição dos autores

Sperandio N, Souza NN e Dias MM contribuíram no delineamento do estudo, análise e interpretação dos dados e redação do manuscrito.

Priore SE e Franceschini SCC contribuíram na revisão crítica do conteúdo do manuscrito e aprovação da versão final, além da concepção e delineamento do estudo.

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Recebido em 03/09/2012 Aprovado em 11/10/2012

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Care profile of a Family Health Support Centers in rehabilitation, Belo Horizonte Municipality, Minas Gerais State, Brazil, 2009

aRtigo oRiginal Perfil de atendimento de um Núcleo de Apoio à Saúde

da Família na área de reabilitação, Município de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, Brasil, 2009

Endereço para correspondência: Rua dos Ferroviários, 90, Horto, Belo Horizonte-MG, Brasil. CEP: 31035-150E-mail: [email protected]

Dener Carlos dos ReisEscola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil

Tácia Maria Pereira FlischEscola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil

Mariana Henriques Fraga VieiraEscola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte-MG, Brasil Wanderlin Soares dos Santos-JuniorSecretaria Municipal de Saúde, Belo Horizonte-MG, Brasil

doi: 10.5123/S1679-49742012000400016

ResumoObjetivo: descrever o perfil dos atendimentos realizados pelo Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) na área de reabilitação,

Regional Barreiro, Belo Horizonte-MG, Brasil. Métodos: estudo descritivo com dados coletados dos prontuários e fichas de atendi-mento do NASF de janeiro a julho de 2009, totalizando 453 atendimentos relacionados a 179 usuários. Resultados: predominou o atendimento de mulheres (58,1%), idosos (38,5%) e indivíduos com problemas osteomusculares (30,7%) e neurológicos (25,1%); do total de atendimentos, 38,5% foram realizados em domicílio e 31,3% por equipe multiprofissional; a alta por alcance dos objetivos ocorreu em 34,4% dos casos e 45,8% foram encaminhados para serviços de referência de reabilitação ou atividades de grupo do próprio Núcleo. Conclusão: o perfil de atendimento do NASF demonstrou que essa estratégia contribuiu para a continuidade do cuidado em reabilitação pautado na integralidade e para a promoção do trabalho interdisciplinar na Atenção Primária à Saúde.

Palavras-chave: Atenção Primária à Saúde; Saúde da Família; Assistência Integral à Saúde; Reabilitação.

AbstractObjective: to describe the profile of the consultations carried by the Family Health Support Centers (NASF) in Barreiro

District, Belo Horizonte, Minas Gerais State, Brazil. Methods: data were collected from patients records from January to July of 2009, totaling 453 consultations related to 179 patients. Results: there was a higher prevalence of women (58.1%), elderlies (38.5%), patients with musculoskeletal (30.7%) and neurological (25.1%) problems. Of all visits, 38.5% were home care based and 31.3% done by a multidisciplinary team. The discharges due to treatment goals achievement occurred in 34.4% of the cases and 45.8% were referred for rehabilitation services or focused groups of the NASF. Conclusion: the profile of the NASF consultations showed that this strategy contributed to promote the continuity of care in rehabilitation and to enhance the interdisciplinary team work within the primary health care scope.

Key words: Primary Health Care; Family Health; Comprehensive Health Care; Rehabilitation.

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Introdução

São crescentes as demandas de atenção em saúde longitudinais – como as de reabilitação, foco deste estudo –, decorrentes, principalmente, da transição epidemiológica, nutricional e demográfica.1 Inserem-se nesse cenário as demandas advindas das compli-cações e agravamentos das doenças crônicas não transmissíveis como diabetes, hipertensão arterial sistêmica, obesidade e morbidades ocasionadas por acidentes:2 por exemplo, lesões medulares, acidente vascular encefálico (AVE) e osteoatroses.3,4 Há tam-bém, no Brasil, 45,6 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência visual, motora, auditiva, cognitiva, e observa-se um aumento significativo do número de pessoas com alguma incapacidade para as atividades diárias, resultante do processo de envelhecimento populacional.5-7 Inserem-se, nesse debate, as ações de promoção e de prevenção desses agravos e suas complicações, que também devem ser instituídas de forma contínua no âmbito da Atenção Primária em Saúde (APS).

Diante dessa crescente demanda de atenção em saúde longitudinal, como a reabilitação na APS, muitas vezes dependente da ação multidisciplinar de áreas não contempladas na composição da equipe de Saúde da Família, a implantação do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) representa uma importante iniciativa de ampliação do acesso e de integralidade em saúde.7

O NASF incorpora a atuação de profissionais de diversas áreas, médicos especialistas (pediatria; gine-cologia; psiquiatria), psicólogos, nutricionistas, farma-cêuticos e fisioterapeutas, para o apoio e o atendimento compartilhando com as equipes de Saúde da Família em nove áreas, entre as quais as de reabilitação.7,8 É importante mencionar que o NASF não constitui uma porta de entrada e um serviço especializado na Atenção Primária em Saúde e sim uma proposta de matriciamento que busca garantir às equipes de Saúde da Família o apoio ao processo assistencial,

estabelecendo as contribuições das distintas áreas e profissionais para a integralidade e construção de rede compartilhada entre apoio e referência.9,10

Na área da reabilitação, o NASF e as equipes de Saúde da Família atuam de forma colaborativa e compartilhada, em ações coletivas e clínicas como as de orientação à família e ao usuário, sobre manuseio, posicionamento e atividades da vida diária, ações de inclusão escolar, laboral ou social das pessoas com deficiência, e ações voltadas ao idoso com problemas de locomoção ou acamado. O NASF e as equipes de Saúde da Família também definem os encaminhamen-tos, se necessários, do usuário/família para obtenção de órteses, próteses, meios auxiliares de locomoção e programas públicos de auxílio social. E planejam e executam projetos de saúde no território, com foco na promoção da saúde e prevenção de agravos que demandam por reabilitação nas populações mais vulneráveis.7 O NASF representa uma importante iniciativa em resposta à problemática da oferta e da continuidade do cuidado na área de reabilitação. Po-rém, o impacto de sua implementação ainda precisa ser melhor investigado.

Este estudo se insere no campo de discussões sobre a integralidade das práticas de saúde, princípio do Sistema Único de Saúde (SUS) que permanece como um desafio no contexto da Atenção Primária à Saúde. Também se justifica pela necessidade de intensificar-se ações para a suplantação das formas fragmentadas de organização e oferta de serviços na rede de atenção do SUS,11 de superação das barreiras que dificultam a efetivação de diretrizes que norteiam a integração das ações de promoção, prevenção, reabilitação e cura, de continuidade do cuidado12 e de ampliação da política de educação permanente dos profissionais de saúde, para uma abordagem de atenção à saúde integral e interdisciplinar, efetivamente.13,14

O presente estudo teve como objetivo descrever o perfil dos atendimentos realizados pelo Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF – na área de reabi-litação, no distrito sanitário Barreiro, município de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil.

Métodos

Trata-se de um estudo descritivo que utilizou fonte de dados secundários para identificar o padrão demo-gráfico e epidemiológico dos atendimentos do NASF

A implantação do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) representa uma importante iniciativa de ampliação do acesso e de integralidade em saúde.

Atuação do NASF na área de reabilitação

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na área de reabilitação, na regional Barreiro, em Belo Horizonte-MG, no período de janeiro a julho 2009.

O município de Belo Horizonte-MG possui nove regiões delimitadas geograficamente, com caracte-rísticas urbanísticas e sociais distintas. O estudo foi realizado na regional Barreiro, área industrial, com uma população de 262.194 habitantes que representa 11,7% da população do Município.15 Trata-se de uma população marcada pela pobreza: metade das famílias (49,65%) tem rendimento mensal entre meio e três salários mínimos e 47,0% são classificadas como de risco elevado em relação à vulnerabilidade social.15 Esta vulnerabilidade e a grande distância entre a região e a localização dos serviços de reabilitação foram as motivações de escolha desse local para o estudo.

A Saúde Pública dessa regional é gerenciada de forma descentralizada, pelo Distrito Sanitário do Bar-reiro (DISAB), composto, em 2009, por 20 centros de saúde, um centro de saúde mental, uma unidade de pronto atendimento e sete polos de NASF, sendo que cada dois polos de NASF atendiam cinco centros de saúde. O estudo foi conduzido com os dois polos de NASF que davam suporte a 19 equipes de Saúde da Família dos centros de saúde Barreiro, Barreiro de Cima, Diamante/Teixeira Dias, Miramar e Urucuia, e por conseguinte, a uma população estimada em 75.551 habitantes. Esses NASF eram compostos por farma-cêutico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo, nutricionista e terapeuta ocupacional. Além destes, contavam com o apoio de profissionais da área de serviço social e de psicologia, de outra equipe de NASF.

Em Belo Horizonte-MG, a implantação dos NASF antecede a de âmbito nacional.8 Ela se iniciou em 2005, com os Núcleos de Apoio à Reabilitação (NAR), integrando o projeto municipal de reorganização da assistência em reabilitação. Após sua implantação, de acordo com a Portaria no 154/2008,8 esses núcleos passaram a ser designados de NASF.

As ações desenvolvidas pelo NASF investigado eram pactuadas junto às equipes de Saúde da Família, com base nas demandas das comunidades, e englobavam visitas domiciliares, atendimentos compartilhados, atividades coletivas, acompanhamentos individuais e outras ações contidas nos projetos terapêuticos cons-truídos coletivamente. Esse processo envolvia reuniões mensais, com discussão das demandas das equipes de Saúde da Família para o NASF, incluindo as de re-abilitação. Nesse tipo de demanda, o referenciamento

para os centros de reabilitação, serviços públicos de concessão de órteses, próteses, meio auxiliar de lo-comoção e serviços de suporte social para benefícios governamentais eram feitos de forma compartilhada, pela equipe de Saúde da Família e pelo NASF.

Utilizou-se um instrumento pré-estabelecido para a coleta de dados em prontuários e nas fichas de aten-dimentos do NASF, que continha informações demo-gráficas (sexo; idade) e relacionadas ao atendimento (tipo e motivo de atendimento; categoria profissional; condição de alta). Foram registrados, no período de janeiro a julho de 2009, 485 atendimentos realizados com 179 indivíduos. Desses atendimentos, 32 (6,6%) foram excluídos, pois referiam-se aos atendimentos realizados pelos profissionais das áreas de serviço social e psicologia, que não compunham os NASF investigado mas davam suporte ao atendimento desses Núcleos. O período foi delimitado considerando-se a disponibilidade de registros dos atendimentos do NASF em um modelo de impresso recém-implantado à época da proposta de estudo.

Garantiu-se o anonimato dos indivíduos e dos profissionais de saúde envolvidos nos atendimentos investigados. Para a análise dos dados, utilizou-se frequências absolutas e relativas e o teste do qui-quadrado com nível de significância de p≤0,05, para a identificação de diferenças no padrão de atendimento do NASF por tipo de atendimento e condição de alta.

O estudo cumpre as orientações da Resolução CNS no 196, de 10 de outubro de1996, do Conselho Nacio-nal de Saúde/Ministério da Saúde e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Secretaria Municipal de Saúde/Prefeitura Municipal de Belo Horizonte-MG, de acordo com o Parecer no 0065.0.410.000-09-A.

Resultados

Os 179 indivíduos que utilizaram o NASF investigado demandaram por 453 atendimentos na área de reabili-tação, com média de 2,5 – mínimo de 1 e máximo de 19 atendimentos por usuário –, no período avaliado. Entre os usuários, predominaram mulheres (58,1%) e indivíduos com idade acima de 60 anos (38,5%). A faixa etária associada à adolescência (10-19 anos) correspondeu à menor proporção de utilização (5,6%) (Tabela 1).

Os principais motivos que demandaram atendimen-tos pela equipe do NASF-R pesquisado foram os proble-

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Tabela 1 - Descrição dos atendimentos do Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF – no município de Belo Horizonte, estado de Minas Gerais. Brasil, janeiro a julho de 2009

Variável N a (%)

Modalidade de atendimento a

Domiciliar 174 38,5

Consultório 279 61,5

Total 453 100,0

Sexo

Masculino 75 41,9

Feminino 104 58,1

Total 179 100,0

Idade (em anos)

0-9 32 17,9

10-19 10 5,6

20-39 24 13,4

40-59 44 24,6

60 e + 69 38,5

Total 179 100,0

Motivo do atendimento

Osteomuscular 55 30,7

Neurológica 45 25,1

Endócrino 32 17,9

Cardiovascular 10 5,6

Outros b 37 20,7

Total 179 100,0

Categoria profissional a

Farmácia 21 4,6

Fisioterapia 203 44,8

Fonoaudiologia 117 25,8

Nutrição 80 17,7

Terapia Ocupacional 32 7,1

Total 453 100.0

Condição de alta

Alcance dos objetivos 33 34,4

Encaminhamento c 44 45,8

Abandono 7 7,3

Recusa/Óbito 12 12,5

Total 96 100,0

a) N=453 atendimentos

b) Exemplo: distúrbios da fala e deglutição, atraso no desenvolvimento infantil, agravos de saúde mental.

c) Referenciamento para atendimento em grupo ou serviço de referência.

mas osteomusculares (como lombalgias, osteoatroses – 30,7%), neurológicos (como acidentes vasculares encefálicos – AVE –, parkinsonismo, demência – 25,1%)

e endócrinos/nutricionais (como diabetes – 17,9%). Todavia, 20,7% dos casos foram agrupados na categoria ‘Outros motivos’, por representarem uma diversidade de

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demandas com baixo percentual de utilização (≤1,0%), como as relacionadas aos agravos de saúde mental e saúde do trabalhador, que não eram passíveis de agru-pamento em categorias comuns.

A fisioterapia foi a categoria profissional com o maior percentual de atendimentos (44,8%), seguida da fonoaudiologia (25,8%) e da nutrição (17,7%). Por outro lado, as categorias da área de farmácia e da terapia ocupacional que integram o NASF tiveram percentuais de utilização, no atendimento individual em consultório ou domiciliar, abaixo de 10,0%.

Destaca-se que os atendimentos não ocorreram apenas nas unidades de saúde: 38,5% foram repor-tados como assistência domiciliar, pelos profissionais do Núcleo. Os resultados também mostraram que, do total de 96 indivíduos com relato de alta, em 34,4% dos casos alcançou-se os objetivos propostos ini-cialmente, na assistência. Entretanto, em 45,8% dos atendimentos houve necessidade de encaminhamento para o serviço de referencia municipal de reabilita-ção ou para o atendimento em grupo, ofertado pela própria equipe do NASF. A alta por abandono dos usuários ao tratamento representou 7,3% dos casos estudados (Tabela 1).

Houve diferença estatisticamente significativa (p≤0,001) na análise estratificada da utilização do NASF-R por categoria profissional, em relação à idade. O profissional de fonoaudiologia atendeu em maior proporção ao grupo etário de 0-19 anos (11,2%); e

o profissional de fisioterapia atendeu, principalmente, adultos (20-59 anos) e idosos (acima de 60 anos), com 17,3 e 14,0% respectivamente. Os atendimentos do profissional de nutrição tiveram menor variação nos percentuais em relação à idade. Os indivíduos acima de 60 anos também foram os que mais demandaram por atendimento multiprofissional e representaram a totalidade dos atendimentos individuais da terapia ocupacional (Figura 1). Cabe mencionar que os profissionais de farmácia e de terapia ocupacional, no NASF estudado, participam em maior proporção dos atendimentos coletivos de grupos, que não foram investigados neste estudo.

Os atendimentos de fisioterapia tiveram como principal demanda os agravos relacionados aos problemas osteomusculares (25,1%), como lom-balgia, cervicalgias, osteoatroses e dorsalgias; e os da fonoaudiologia ocuparam-se de outros tipos de atendimento, principalmente os relativos aos proble-mas de desenvolvimento infantil, distúrbio da fala e de deglutição. Na população acima de 60 anos de idade, observou-se, também, um predomínio dos atendi-mentos multiprofissionais, em sua maioria ligados a problemas neurológicos, como AVE, neuropatias, demências, parkinsonismo. As demandas de agravos endócrinos, como diabetes I e II, e nutricionais, como sobrepeso e obesidade, representaram o principal motivo de atendimento do profissional de nutrição, em todas as faixas etárias avaliadas (Figura 2). Essas

Figura 1 - Atendimentos do Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF – por área profissional e idade, no município de Belo Horizonte, estado de Minas Gerais. Brasil, janeiro a julho de 2009

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20

Farmácia

15

10

5

0Fisioterapia Fonoaudiologia Nutrição Terapia

ocupacionalMultiprofissional

%

Área profissional

0,61,2 1,8

5,3

13,7

14,6

12,9

1,8 1,2

4,12,9

4,1

5,8

1,2

5,8

2,3

7,0

17,5

≤1920-3940-59≥60

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diferenças do motivo de atendimento por categoria profissional foram estatisticamente significativas (p≤0,001).

Os dados de atendimentos do NASF, quando es-tratificados por atendimento multiprofissional ou realizado por apenas uma categoria (Tabela 2) e por condição de alta (Tabela 3), demonstram que houve diferenças estatisticamente significativas (p≤0,05) nas seguintes variáveis: modalidade de atendimento; idade; motivo de atendimento; e condição de alta. A alta clínica por alcance dos objetivos aconteceu em maior percentual (23,7%) entre os maiores de 60 anos atendidos em domicílio (21,6%) pela equipe multiprofissional, seguida da fisioterapia e da nutri-ção. No atendimento multiprofissional, predominou a modalidade de atendimento domiciliar ao idoso com agravos neurológicos, diferentemente do atendimento em consultório, que apesar de também ter como público principal a população idosa, apresentou maiores percentuais de atendimento relacionados aos agravos osteomusculares.

Discussão

Diante das demandas da área de reabilitação na APS, as equipes de Saúde da Família, em colaboração com o NASF, têm papel importante na proposição e desenvolvimento de ações coletivas de promoção da saúde e prevenção de eventos que podem causar ou

agravar deficiências, principalmente em grupos mais vulneráveis como idosos, crianças e pessoas com alguma incapacidade funcional ou deficiência. O atendimento clínico realizado por profissionais do NASF, embora deva acontecer em caráter excepcional, constitui uma ferramenta essencial para a ampliação e garantia de um adequado processo terapêutico na área de reabilitação.7

O presente estudo mostrou que as mulheres repre-sentaram um maior percentual de utilização do NASF na área de reabilitação, o que corrobora com outros estudos de utilização dos serviços de Atenção Primária à Saúde – APS –, não se configurando, portanto, como um aspecto diferencial dos atendimentos relacionados ao NASF. Esse resultado pode ser associado ao maior investimento em programas de atenção à saúde da mulher, na APS.16,17

Outro aspecto se deve, provavelmente, a uma maior proporção de mulheres que definem seu estado de saúde como regular ou ruim e relatam morbidades crônicas e restrição de atividade por motivo de saúde, se comparadas com os homens e seus relatos. Além disso, observa-se que as mulheres possuem maior in-teresse por sua saúde e utilizam o mesmo serviço com maior regularidade.16 Por sua vez, estudos epidemio-lógicos demonstram que as doenças osteomusculares crônicas, como osteoartrose, afetam principalmente as mulheres,18 em algumas situações, com maior inci-dência a partir da menopausa, o que poderia justificar essa maior utilização do NASF por elas.

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Figura 2 - Atendimentos do Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF – por área profissional e motivo de atendimento, no município de Belo Horizonte, estado de Minas Gerais. Brasil, janeiro

a julho de 2009

30

Farmácia

15

10

5

0Fisioterapia Fonoaudiologia Nutrição Terapia

ocupacionalMultiprofissional

%

Área profissional

0,6

25,0

4,6

12,1

3,41,7

12,6

4,6 4,6

16,1 OsteomuscularNeurológicaEndócrinoCardiovascular

20

25

0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,62,3

4,6

1,7 1,1

Outros

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A menor utilização do NASF investigado entre os homens pode estar relacionada aos aspectos culturais, como as formas de perceber e valorizar as questões de saúde, e de enfrentar o adoecimento mesmo diante da percepção de incapacidades fun-cionais. Observam-se, também, aspectos ligados à organização e oferta dos serviços de saúde, como a limitação do horário de atendimento e a carência

de programas de saúde específicos para a população masculina.19,20 Aqui, destaca-se a necessidade de se promover as iniciativas públicas de comunicação em massa que sensibilizem os homens a utilizarem os serviços de APS de forma adequada, sempre que necessário. Todos esses aspectos podem representar obstáculos para uma maior participação e utilização dos serviços de APS pelos homens e demonstram a

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Tabela 2 - Estratificação da utilização do Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF – por tipo de atendimento, no município de Belo Horizonte, estado de Minas Gerais. Brasil, janeiro a julho de 2009

Variável 1 categoriaN (%)

MultiprofissionalN (%) Valor de p

Modalidade de atendimento a

Domiciliar 73 (16,2) 101 (22,3) <0,001

Consultório 241 (53,2) 38 (8,3)

Total 314 (69,4) 139 (30,6)

Sexo

Masculino 52 (29,1) 23 (12,8) 0,880

Feminino 71 (39,7) 33 (18,4)

Total 123 (68,8) 56 (31,2)

Idade (em anos)

0-9 24 (13,4) 8 (4,5)

10-19 8 (4,5) 2 (1,1) 0,049

20-39 20 (11,1) 4 (2,2)

40-59 32 (17,9) 12 (6,7)

60 e + 39 (21,8) 30 (16,8)

Total 123 (68,7) 56 (31,3)

Motivo do atendimento

Osteomuscular 46 (25,7) 8 (4,5)

Neurológica 14 (7,8) 25 (15,6) <0,001

Endócrino 24 (13,4) 8 (4,5)

Cardiovascular 6 (3,4) 4 (2,2)

Outros b 33 (18,4) 8 (4,5)

Total 123 (68,7) 53 (31,3)

Condição de alta

Alcance dos objetivos 45 (18,5) 38 (15,5)

Encaminhamento c 88 (36,1) 23 (9,3) 0,011

Abandono 15 (6,2) 2 (1,0)

Recusa/Óbito 13 (5,2) 20 (8,2)

Total 161 (66,0) 83 (34,0)

a) N=453 atendimentos

b) Exemplo: distúrbios da fala e deglutição, atraso no desenvolvimento infantil, agravos de saúde mental.

c) Referenciamento para atendimento em grupo ou serviço de referência.

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necessidade de investimentos em ações que visem a sua superação. Nessa perspectiva, esse resultado demonstra que a organização das ações do NASF deve ser cuidadosamente planejada, para não reproduzir as possíveis iniquidades no acesso dos homens aos serviços de APS.19

As condições de saúde que demandaram por um maior percentual de atendimentos da equipe de profissionais da área de reabilitação do NASF foram os problemas osteomusculares, neurológicos e endócrinos/nutricionais. Entre estes, 30,7% foram categorizados como problemas osteomusculares, com predomínio das fraturas, osteoatroses e proces-sos degenerativos crônicos da coluna, confirmando resultado de estudo de Vieira21 que observou ser esse o principal motivo de procura por atendimento da APS em área rural de Minas Gerais. Observou-se

que entre as condições neurológicas, o acidente vascular encefálico – AVE –, lesões medulares, para-lisia cerebral e Parkinson apresentaram as maiores demandas por ações de reabilitação. De fato, essas condições de saúde representam uma importante demanda enfrentada cotidianamente, pela equipe de Saúde da Família, para cujo atendimento os NASF podem contribuir de forma expressiva com projetos terapêuticos singulares, pautados na integralidade, diminuindo ou prevenindo a gravidade das lesões, seus custos sociais e familiares.22-24

O crescente envelhecimento populacional, que demanda por serviços especializados e cuidados de saúde longitudinal, configura-se como um dos maiores desafios da Saúde Pública contemporânea.5 Isso impli-ca estabelecer intervenções que envolvem tecnologias e conhecimentos de diversas áreas da Saúde, confir-

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Epidemiol. Serv. Saúde, Brasília, 21(4):663-674, out-dez 2012

Tabela 3 - Estratificação da utilização do Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF – por condição de alta, no município de Belo Horizonte, estado de Minas Gerais. Brasil, janeiro a julho de 2009

Variável Alcance dos objetivos Encaminhamento a Abandono Recusa/

Óbito Valor de p

Modalidade de atendimento b

Domiciliar 53 (21,6) 30 (12,4) – 15 (6,2) 0,001

Consultório 30 (12,4) 80 (33,0) 18 (7,2) 718 (7,2)

Sexo

Masculino 16 (16,5) 19 (19,6) 2 (2,1) 5 (5,2) 0,776

Feminino 17 (17,5) 25 (25,8) 5 (5,2) 8 (8,2)

Idade (em anos)

0-9 3 (3,1) 6 (6,2) 1 (1,0) 3 (3,1)

10-19 2 (2,1) 3 (3,1) – – 0,003

20-59 5 (5,2) 27 (27,8) 3 (3,1) 5 (5,2)

60 e + 23 (23,7) 8 (8,2) 3 (3,1) 5 (5,2)

Motivo do atendimento

Osteomuscular 7 (7,2) 21 (21,6) 4 (4,1) 1 (1,0)

Neurológica 15 (15,5) 13 (13,4) – 5 (5,2)

Endócrino 5 (5,2) 2 (2,1) 1 (1,0) 4 (4,1) 0,033

Cardiovascular 2 (2,1) – 1 (1,0) 1 (1,0)

Outros c 4 (4,1) 8 (8,2) 1 (1,0) 2 (2,1)

Atendimento por categoria profissional a

Categoria 45 (18,6) 88 (36,1) 15 (6,2) 13 (5,2) 0,011

Multiprofissional 38 (15,5) 23 (9,3) 2 (1,0) 20 (8,2)

a) Referenciamento para atendimento em grupo ou serviço de referência.

b) N=453 atendimentos

c) Exemplo: distúrbios da fala e deglutição, atraso no desenvolvimento infantil, agravos de saúde mental.

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mando a necessidade de ampliar a atuação interdisci-plinar na Atenção Primária em Saúde. Geralmente, as doenças dos idosos são crônicas e múltiplas, e tendem a demandar por ações de reabilitação.24

A composição do NASF, com fisioterapeuta, nutricio-nista, farmacêutico, terapeuta ocupacional, educador físico, psicólogo, assistente social e fonoaudiólogo, re-serva um potencial de respostas a essa demanda, como foi observado neste estudo. Os idosos representaram 38,5% da utilização do NASF, predominando entre essa faixa etária a atuação da equipe multiprofissional e da fisioterapia; esta última, também destacada em outro estudo.20 Entretanto, a atuação do NASF deve romper com a lógica centrada unicamente no atendimento aos agravos em saúde, criando espaço para o desenvolvi-mento da autoconfiança e da autonomia possível da pessoa idosa, no exercício das atividades cotidianas.25

Deve-se problematizar, junto às equipes de Saúde da Família e representantes dos usuários, os determi-nantes do processo saúde-doença e as possibilidades de enfrentamento das condições oriundas do processo de transição demográfica/epidemiológica e das multi-plicidades de fatores que levam ao adoecimento e mor-te, nas diversas faixas etárias. O desafio da transição demográfica não está somente no atendimento à po-pulação idosa, ele também se concentra em promover a saúde e o bem-estar em todos os momentos do ciclo de vida.26 Na perspectiva da promoção da saúde, o envelhecimento não começa subitamente aos 60 anos. Ele consiste no acúmulo e interação de processos sociais, ambientais, biológicos e de comportamento dos indivíduos no decorrer da vida.

O perfil de atendimento no presente estudo revelou predominância dos agravos neurológicos, como lesões medulares, Parkinson, paralisia cerebral e AVE. Estes agravos podem, em algumas situações, levar à restrição de locomoção, provocando uma demanda de atendi-mento de reabilitação no domicílio que muitas vezes extrapola o escopo de atuação da equipe de Saúde da Família. Além disso, cabe registrar que antes da implantação do NASF, a trajetória dos indivíduos sob essas condições até o serviço de reabilitação envolvia diversas etapas, como acolhimento pela equipe de Saúde da Família, consulta médica, consulta médica especializada e, por fim, o encaminhamento para o serviço de reabilitação. Em alguns casos, havia também a dificuldade de acesso devido aos custos financeiros envolvidos com o transporte até os serviços de referên-

cia em reabilitação, o que representava uma barreira para sua utilização e gerava uma descontinuidade do cuidado com as necessidades do paciente.

O NASF, com sua atuação na área de reabilitação, pode garantir, por meio da assistência domiciliar, o acesso dos usuários com dificuldade ou impossibili-dade de deslocamento aos serviços de reabilitação. De fato, ao atender 38,5% dos indivíduos na modalidade domiciliar, o NASF estudado demonstrou que é possível responder a essa problemática no contexto da Atenção Primária em Saúde.

A integralidade também foi exercida, ao incluir atendimentos que muitas vezes não aconteciam, e assim comprometiam a recuperação, favorecendo o surgimen-to de novos agravos. Essa ampliação do acesso também permitia identificar a necessidade do uso de tecnologias duras: por exemplo, o tratamento utilizando estimulação elétrica. Nesses casos, a equipe de Saúde da Família e o NASF conduzem o caso para a atenção secundária, em centros de reabilitação, embora continuem com seu acompanhamento no âmbito da APS.

O atendimento no domicílio configura um dos sentidos da integralidade, que se apresenta no modo de organizar uma prática que potencializa a compre-ensão e a participação da família no processo assis-tencial, e que na reabilitação, geralmente, demanda por uma continuidade do cuidado.27 O atendimento domiciliar auxilia o profissional na melhor percepção do contexto familiar e das condições ambientais do domicílio, e seu poder de influência no processo de reabilitação. A adaptação da terapêutica ao contex-to domiciliar é possível quando o profissional de saúde visualiza in loco as condições peculiares de habitação, higiene e hábitos de vida e realiza um planejamento das ações factíveis às condições por ele observadas no domicílio.

A transição nutricional tem impacto nos processos de morbidade da população, com reflexos na utilização dos serviços de saúde e na demanda por novas práticas de atuação interdisciplinar.28 A partir da inserção do NASF na Atenção Primária em Saúde, e especificamente do profissional nutricionista, observou-se um maior percentual de atendimento dos agravos relacionados a problemas nutricionais e endócrinos. O nutricionista amplia o escopo de atuação da APS no enfrentamento dos agravos associados à transição nutricional, com ações, por exemplo, de diagnóstico da situação ali-mentar e nutricional da população.29

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Nos atendimentos avaliados, verificou-se que o aten-dimento multiprofissional com o envolvimento de mais de uma categoria pode ter influenciado na redução da necessidade de encaminhamentos internos entre as áre-as de conhecimento do NASF. Apesar das especificidades de cada profissional do Núcleo, esse achado demonstra que o esforço de confluência dos vários saberes no atendimento pode resultar em uma expressão de in-tegralidade do cuidado e de maior resolubilidade dos serviços. Porém, a proposta do trabalho interdisciplinar depende do nível de interação dos atores envolvidos para se atingir uma proposição de intervenções técnicas de forma colaborativa e complementar, em uma forma de trabalho que possibilite enfrentar a intensa demanda por cuidados especializados na APS.

De fato, os NASF podem intensificar o trabalho interdisciplinar por meio do matriciamento, clínica ampliada, atendimento multiprofissional e elaboração de projetos terapêuticos fundamentados no território e singulares às necessidades dos indivíduos e da comunidade. Sua implantação também se justifica quando consideramos que são complexas e múltiplas as determinações do adoecimento.

O trabalho dos profissionais do NASF no contexto da APS também parece favorecer a continuidade da informação em saúde, antes mediada por impressos de sistema de referência e contra-referência, em algumas situações. Passa-se, assim, à mediação por diálogos, permeados por múltiplos sentidos e representações, associadas às práticas de cada ator. Dessa forma, realiza-se um processo de compartilhamento dos sa-beres envolvidos, traduzido em maior resolubilidade na atenção à saúde.11

Os resultados sobre a condição de alta dos aten-dimentos investigados mostraram que em 34,4% deles, os objetivos propostos no projeto terapêutico, a curto, médio e longo prazo, foram alcançados. Considerando-se o perfil de agravos investigados, esse resultado parece indicar uma boa efetividade desses atendimentos.

Observou-se que o percentual de referenciamento para os grupos de tratamento específico do NASF ou serviço complementar de reabilitação foi de 45,8%, reafirmando que os atendimentos em reabilitação, geralmente, dependem de uma maior continuidade do cuidado para sua efetiva consecução. Cabe aqui mencionar algumas categorias profissionais do NASF,

possivelmente mais envolvidas com os atendimentos em grupos educacionais ou terapêuticos, o que não foi objeto desta investigação.

O padrão de atendimento do NASF investigado diferenciou-se e agregou maior caráter resolutivo às ações das equipes de Saúde da Família na área de rea-bilitação, a exemplo dos problemas osteomusculares, nutricionais e neurológicos, contemplados por um amplo atendimento domiciliar. Apesar disso, a maior utilização desse polo do NASF por mulheres pode in-dicar iniquidade de gênero no acesso a esse serviço, o que precisa ser melhor investigado. Acredita-se que a implantação do NASF possa representar uma estratégia de promoção da ampliação do acesso e da integralida-de do cuidado na área de reabilitação; e que a atuação desses Núcleos, de forma conjunta com as equipes de Saúde da Família, com responsabilização sobre o território, demonstra um avanço em direção à gestão integrada do cuidado e de uma melhor qualificação dos encaminhamentos aos serviços de referência em reabilitação.

Como limitações deste estudo, destacam-se o perío-do considerado, de apenas seis meses, e a abrangência da investigação a um serviço tão somente. É importante destacar que as informações utilizadas referem-se aos atendimentos realizados, impossibilitando o aprofun-damento do estudo sobre os aspectos de acesso dos usuários ao serviço.

Estes autores sugerem iniciativas de pesquisa de maior abrangência temporal e territorial, como também de aspectos organizacionais, percepções dos usuários e da equipe de saúde sobre o NASF. Espera-se que este estudo auxilie nas discussões sobre o planeja-mento das ações de reabilitação e contribua para uma reflexão sobre o impacto do Núcleo de Apoio à Saúde da Família – NASF – no contexto da Atenção Primária em Saúde – APS.

Contribuição dos autores

Reis DC e Santos-Junior WS contribuíram na con-cepção, delineamento do estudo, análise e redação do artigo.

Flisch TMP e Fraga MHF contribuíram na análise e interpretação dos dados e redação do artigo.

Todos os autores aprovaram a versão final do manuscrito.

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Recebido em 19/08/2012 Aprovado em 03/12/2012

Atuação do NASF na área de reabilitação

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A estrutura adotada na maioria dos artigos científicos originais é composta de quatro seções: introdução, método, resultados e discussão. No presente artigo, abordaremos a redação da introdução.

Conteúdo da introduçãoA introdução é a parte do artigo científico em que o autor informa o que foi pesquisado e o porquê da investi-

gação.1 - p.42 É local para precisar aspectos particulares da pesquisa, tais como a justificativa para a sua realização, a originalidade e a lógica que guiou a investigação. Algumas questões auxiliam na redação.2 De que trata o estudo? Por que foi feito? Por que deve ser publicado?

Procura-se também mostrar que a pesquisa está assentada em bases sólidas. Assim, na introdução, se faz a ligação com a literatura pertinente. O que se sabia sobre o assunto no início da investigação? O que não se sabia sobre o assunto e motivou a investigação?2 Resposta à essas questões envolve um processo de escolha de trabalhos a citar.1 - p.46 Em artigo original, não há lugar para revisão extensiva sobre o que foi publicado sobre o assunto. Não se trata de artigo de revisão. Os editores limitam o número de trabalhos a constar na lista de referências e esse limite precisa ser obedecido. Mas, se o autor fez revisão detalhada da literatura, deve tentar publicá-la sepa-radamente. Se a revisão estiver publicada ou aceita para publicação, ela será incluída na lista de referências do artigo que está sendo escrito, e menciona-se algo assim: “Revisão sistemática da literatura apontou para ...”.

Se não houver a publicação mencionada no parágrafo anterior, a introdução do artigo original conterá as referências em que o autor fundamentou seu raciocínio.1 - p.46 Entre os critérios utilizados para escolhê-las estão relevância, acessibilidade e atualidade.1 - p.132

Final da introduçãoO objetivo da publicação encontra-se habitualmente no fim da introdução. Se o encadeamento de assuntos

no início do artigo for adequado, o objetivo será a consequência natural e o fechamento da introdução.1 - p.132 Ao iniciar-se a redação, é conveniente ter o objetivo do artigo por escrito. Ele será o ponto de apoio para a com-posição de todo o texto. Quem avalia a qualidade de um artigo costuma verificar se o texto reflete o objetivo e, em especial, se objetivo e conclusão combinam. Daí a importância de ter presente o objetivo durante a redação.

Há diversas formas de expressar o objetivo. Pode-se relacioná-lo ao campo da pesquisa, se frequência, diagnós-tico, etiologia, tratamento e prevenção de doenças.1 - p.50 Outra maneira consiste em redigir o objetivo em função do método utilizado. Nesse caso, os tradicionais usos da Epidemiologia podem servir de apoio. Por exemplo, descrever a situação de saúde (estudo descritivo), esclarecer a relação entre eventos, de um fator supostamente de risco e de um desfecho (estudo analítico de observação), e determinar o impacto de algum programa, produto ou procedimento (estudo de avaliação de intervenção). Ler sobre esses temas em livros de Epidemiologia pode ser útil para auxiliar a redação da introdução e de todo o texto.3 - p.17

Comentários adicionaisEscritores experientes organizam a introdução com o intuito de despertar o interesse do leitor e fazê-lo prosseguir

na leitura. Quem escreve quer ser lido, citado e espera que suas informações sejam úteis para a coletividade. No intuito de agradar leitores e editores científicos, o texto deve ter certas características, entre as quais, concisão, clareza, exatidão, sequência lógica e elegância.1 - p.22 Os editores científicos apreciam introduções curtas mas com

comunicação científica A introdução de um artigo científico

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Mauricio Gomes PereiraProfessor Titular, Universidade de Brasília, Brasília-DF, Brasil

The introduction of a paper

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informações suficientes e adequadas. Para conseguir texto com tais atributos, é bom lembrar as três regras para bem escrever: revisar, revisar, revisar.1 - p.210

Referências

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Preparo para a redação do artigo científico

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Instruções aos autores

Escopo e política

A Epidemiologia e Serviços de Saúde é uma publicação trimestral de caráter técnico-científico e acesso livre, nos formatos eletrônico e impresso, editada pela Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde (CGDEP/SVS/MS). Sua principal missão é difundir o conhecimento epidemiológico aplicável às ações de vigilância, prevenção e controle de doenças e agravos de interesse da Saúde Pública, visando ao aprimoramento dos serviços oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Além das modalidades de manuscritos aceitos para publicação, a revista divulga Portarias, Regimentos e Resoluções do Ministério da Saúde, bem como Notas Técnicas relativas aos programas de vigilância, prevenção e controle de doenças e agravos à saúde, consensos, relatórios e recomendações de reuniões ou oficinas de trabalho sobre temas de interesse do SUS. Também está prevista a republicação de textos originalmente editados por outras fontes de divulgação técnico-científica e considerados pelos editores da revista como relevantes para os serviços de saúde.

A Epidemiologia e Serviços de Saúde segue as orientações do documento Requisitos Uniformes para Ma-nuscritos Submetidos a Periódicos Biomédicos, do International Committee of Medical Journal Editors (ICMJE), conhecido como ‘Normas de Vancouver’.

A Epidemiologia e Serviços de Saúde segue os princípios da ética na publicação contidos no código de conduta do Committee on Publication Ethics (COPE).

Modalidades de manuscrito

O Núcleo Editorial da revista acolhe manuscritos nas seguintes modalidades:a) Artigo original – produto inédito de pesquisa inserido em uma ou mais das diversas áreas temáticas da vigi-

lância, prevenção e controle das doenças e agravos de interesse da Saúde Pública, como doenças transmissíveis, doenças crônicas e agravos não transmissíveis, análise de situação de saúde, promoção da saúde, vigilância em saúde do trabalhador, vigilância em saúde ambiental, respostas às emergências em Saúde Pública, políticas e gestão em vigilância em saúde e desenvolvimento da epidemiologia nos serviços de saúde (limite: 20 laudas);

b) Artigo de revisãob.a) Artigo de revisão sistemática – apresentação de uma síntese de resultados de estudos originais com o

objetivo de responder a uma pergunta específica; deve descrever, em detalhes, o processo de busca dos estudos originais e os critérios para sua inclusão na revisão; pode ou não apresentar procedimento de síntese quantitativa dos resultados, no formato de metanálise (limite: 30 laudas); e

b.b) Artigo de revisão narrativa – uma análise crítica de material publicado, discussão aprofundada sobre tema relevante para a Saúde Coletiva ou atualização sobre tema controverso ou emergente; deve ser elaborado por especialista na área em questão, a convite dos editores (limite: 20 laudas);

c) Nota de pesquisa – relato conciso de resultados finais ou parciais (notas prévias) de pesquisa original, pertinente ao escopo da revista (limite: 8 laudas);

d) Artigo de opinião – comentário sucinto sobre temas específicos, expressando a opinião qualificada dos autores (limite: 8 laudas);

e) Debate – artigo teórico elaborado por especialista, a convite dos editores, que receberá críticas/comentários por meio de réplicas assinadas por especialistas, também convidados. (limite: 20 laudas para o artigo, 10 laudas para cada réplica ou tréplica);

f) Relato de experiência – descrição de experiência em epidemiologia, vigilância, prevenção e controle de doenças e agravos de interesse para a Saúde Pública; deve ser elaborado a convite dos editores (limite: 8 laudas); e

g) Carta – críticas ou comentários breves sobre temas de interesses dos leitores, geralmente vinculados a artigo publicado na última edição da revista (limite: 2 laudas); sempre que possível, uma resposta dos autores do artigo comentado será publicada junto com a carta (limite: 2 laudas).

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Eventualmente, a critério dos editores, serão aceitos outros formatos, a exemplo de Entrevista com persona-lidades ou autoridades (limite: 3 laudas) e Resenha de obra contemporânea (limite: 2 laudas).

Responsabilidade dos autores

Os autores são os responsáveis pela veracidade e ineditismo do trabalho. O manuscrito submetido deve ser acompanhado de uma Declaração de Responsabilidade, assinada por todos os autores, em que afirmam que o estudo não foi publicado anteriormente, parcial ou integralmente, em meio impresso ou eletrônico, tampouco encaminhado para publicação em outros periódicos, e que todos os autores participaram na elaboração intelectual de seu conteúdo. O modelo da Declaração de Responsabilidade está disponível ao final destas Instruções (Anexo I).

Critérios de autoria

Os critérios de autoria devem se basear nas deliberações do ICMJE/Normas de Vancouver. O reconhecimento da autoria deve estar fundamentado em contribuição substancial, relacionada aos seguintes aspectos: (i) concepção e delineamento do estudo, análise e interpretação dos dados; (ii) redação ou revisão crítica relevante do conteúdo intelectual do manuscrito; e (iii) aprovação final da versão a ser publicada. Os autores, ao assinarem a Declaração de Responsabilidade, afirmam a participação de todos na elaboração do manuscrito e assumem, publicamente, a responsabilidade por seu conteúdo. Ao final do texto do manuscrito, deve ser incluído um parágrafo com a informação sobre a contribuição de cada autor para sua elaboração.

Fontes de financiamento

Os autores devem declarar todas as fontes de financiamento ou suporte – institucional ou privado – para a realização do estudo. Fornecedores de materiais, equipamentos, insumos ou medicamentos, gratuitos ou com descontos também devem ser descritos como fontes de financiamento, incluindo cidade, estado e país de origem desses fornecedores. Essas informações devem constar da Declaração de Responsabilidade.

Conflito de interesses

Conflitos de interesses, por parte dos autores, são situações em que estes possuem interesses – aparentes ou não –, capazes de influir no processo de elaboração dos manuscritos. São conflitos de natureza diversa – pessoal, comercial, política, acadêmica ou financeira – a que qualquer um pode estar sujeito, razão porque os autores devem-nos reconhecer e revelar, quando presentes, na Declaração de Responsabilidade assinada, ao submeter seu manuscrito para publicação.

Ética na pesquisa envolvendo seres humanos

A observância dos preceitos éticos referentes à condução, bem como ao relato da pesquisa, são de inteira respon-sabilidade dos autores, respeitando-se as recomendações éticas contidas na Declaração de Helsinque (disponível em http://www.wma.net). Para pesquisas realizadas com seres humanos no Brasil, os autores devem observar, integralmente, as normas constantes na Resolução CNS nº 196, de 10 de outubro de 1996, do Conselho Nacional de Saúde (disponível em http://conselho.saude.gov.br/resolucoes/reso_96.htm); e resoluções complementares, para situações especiais. Os procedimentos éticos adotados na pesquisa devem ser descritos no último parágrafo da seção Métodos, fazendo menção ao número do protocolo de aprovação por Comitê de Ética em Pesquisa. No caso de ensaio clínico controlado e randomizado, será necessária a indicação do número de registro.

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Instruções aos autores

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Agradecimentos

Quando desejável e pertinente, recomenda-se a nomeação, ao final do manuscrito, das pessoas que colaboraram com o estudo embora não tenham preenchido os critérios de autoria adotados por esta publicação. Os autores são os responsáveis pela obtenção da autorização dessas pessoas antes de nomeá-las em seus Agradecimentos, dada a possibilidade de os leitores inferirem que elas subscrevem os dados e conclusões do estudo. Também podem constar agradecimentos a instituições, pelo apoio financeiro ou logístico à realização do estudo. Devem-se evitar os agradecimentos impessoais, por exemplo “... a todos aqueles que colaboraram, direta ou indiretamente, com a realização deste trabalho”.

Direito de reprodução

Os manuscritos publicados pela Epidemiologia e Serviços de Saúde são de sua propriedade. Sua reprodu-ção – total ou parcial – por outros periódicos, tradução para outro idioma ou criação de vínculos eletrônicos é permitida somente mediante autorização expressa do editor geral da revista ou, por sua delegação, de seu editor executivo. Após a decisão final de ‘Aceito’ do manuscrito para publicação, os autores deverão enviar, em formato PDF, o Termo de Cessão de Direitos assinado por cada um dos autores, cujo modelo se encontra ao final destas Instruções (Anexo II).

Preparo dos manuscritos para submissão

Para o preparo dos manuscritos, os autores devem-se orientar pelo documento Requisitos Uniformes para Manuscritos Submetidos a Periódicos Biomédicos, do International Committee of Medical Journal Editors – ICMJE –, conhecido como ‘Normas de Vancouver’, disponível no idioma inglês, em http://www.icmje.org e em sua tra-dução para o português, em http://scielolab.iec.pa.gov.br/pdf/ess/v15n1/v15n1a02.pdf (edição da Epidemiologia e Serviços de Saúde 2006; 15(1):7-34).

Formato dos manuscritos

Serão acolhidos manuscritos redigidos no idioma português. O trabalho deverá ser digitado em espaço duplo, fonte Times New Roman 12, no formato RTF (Rich Text Format) ou DOC (Documento do Word), em folha-padrão A 4, com margens de 3cm. Não são aceitas notas de texto de pé de página.

Cada manuscrito, obrigatoriamente, deverá conter:

Folha-de-rostoa) título do manuscrito, em português e inglês;b) título resumido, para referência no cabeçalho das páginas;c) nome completo dos autores e das instituições a que pertencem;d) endereço eletrônico de todos os autores;e) endereço completo e endereço eletrônico, números de fax e de telefones do autor correspondente;f) informação sobre monografia, dissertação ou tese que originou o manuscrito, com as respectivas instituições

de ensino envolvidas, se pertinente; eg) créditos a órgãos financiadores da pesquisa, se pertinente.

ResumoParágrafo único, de até 150 palavras, estruturado com as seguintes seções: Objetivo; Métodos; Resultados; e

Conclusão.

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Palavras-chaveTrês a cinco, selecionadas a partir da lista de Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), vocabulário estruturado

pelo Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde, também conhecido pelo nome original de Biblioteca Regional de Medicina (BIREME). Os DeCS foram criados para padronizar uma linguagem única de indexação e recuperação de documentos científicos (disponíveis em http://decs.bvs.br); e

Abstract Versão em inglês do Resumo, contendo as seguintes seções: Objectives; Methods; Results; e Conclusion; e

Keywords Versão em inglês das mesmas palavras-chave selecionadas a partir dos DeCS.

Texto completoO texto de manuscritos nas modalidades de artigo original e nota de pesquisa deverão apresentar as seguintes

seções, nesta ordem: Introdução; Métodos; Resultados; Discussão; e Referências. Tabelas e figuras serão referidas nos Resultados e apresentadas ao final do artigo, quando possível, ou em arquivo separado. Eis as definições e conteúdos dessas seções:

Introdução – apresentação do problema, justificativa e objetivo do estudo, nesta ordem.Métodos – descrição dos métodos empregados, incluindo, quando pertinente, cálculo do tamanho da amostra,

amostragem, procedimentos de coleta dos dados, procedimentos de processamento e análise dos dados; quando se tratar de estudo envolvendo seres humanos ou animais, devem estar contempladas as Considerações éticas pertinentes; pesquisas clínicas devem apresentar número de identificação em um dos registros de ensaios clínicos validados pela Organização Mundial da Saúde e pelo ICMJE.

Resultados – exposição dos resultados alcançados, podendo considerar tabelas e figuras, desde que autoex-plicativas (ver o item Tabelas e Figuras destas Instruções).

Discussão – comentários sobre os resultados, suas implicações e limitações; confrontação do estudo com outras publicações de relevância para o tema e, no último parágrafo da seção, as conclusões.

Agradecimentos – após a discussão devem-se limitar ao mínimo indispensável.Contribuição dos autores – parágrafo descritivo da contribuição de cada um dos autores.Referências – para citação das referências no texto, deve-se utilizar o sistema numérico adotado pelas Normas

de Vancouver; os números devem ser grafados em sobrescrito, sem parênteses, imediatamente após a passagem do texto em que é feita a citação, separados entre si por vírgulas; em caso de números sequenciais de referências, separá-los por um hífen, enumerando apenas a primeira e a última referência do intervalo sequencial de citação (Ex.: 7,10-16); após a seção Contribuição dos autores, as referências serão listadas segundo a ordem de citação no texto; em cada referência, deve-se listar até os seis primeiros autores, seguidos da expressão latina et al para os demais; os títulos de periódicos, livros e editoras deverão constar por extenso; as citações são limitadas a 30; para artigos de revisão sistemática e meta-análise, não há limite de citações e o manuscrito fica condicionado ao limite de laudas definidas nestas Instruções; o formato das Referências deve seguir os Requisitos Uniformes para Manuscritos Submetidos a Periódicos Biomédicos do ICMJE (disponíveis em www.icmje.org), com adaptações definidas pelos editores conforme os exemplos a seguir:

(anais de congresso)1. Samad SA, Silva EMK. Perdas de vacinas: razões e prevalência em quatro unidades federadas do Brasil In:

Anais da 11ª Expoepi – Mostra Nacional de Experiências Bem-Sucedidas em Epidemiologia, Prevenção e Controle de Doenças; 2011; Brasília, Brasil. Brasília: Ministério da Saúde, 2011. p142.

(artigos de periódicos)2. Lima IP, Mota ELA. Avaliação do impacto de uma intervenção para a melhoria da notificação da causa básica

de óbitos no estado do Piauí, Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde. 2011; 20(3):297-305.

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(autoria institucional)3. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Guia

Vigilância Epidemiológica. 7a ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2009.(livros)4. Pereira MG. Artigos científicos – como redigir, publicar e avaliar. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2011.

(livros, capítulos de)5. Mascarenhas MDM, Monteiro RA, Sa NNB, Gonzaga LAA, Neves ACM, Roza DL et al. Epidemiologia das causas

externas no Brasil: mortalidade por acidentes e violências no período de 2000 a 2009. In: Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Análise de Situação de Saúde. Saúde Brasil 2010 – uma análise de situação de saúde e de evidências selecionadas de impacto de ações de vigilância em saúde. Brasília: Ministério da Saúde; 2011.

(material não publicado)6. Freitas LRS, Garcia LP. Evolução da prevalência do diabetes e diabetes associado à hipertensão arterial no

Brasil: análise das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios, 1998, 2003 e 2008. Epidemiol. Serv. Saúde. No prelo 2012.

(Portarias e Leis)7. Portaria no 116, de 11 de fevereiro de 2009. Regulamenta a coleta de dados, fluxo e periodicidade de envio

das informações sobre óbitos e nascidos vivos para os Sistemas de Informações em Saúde sob gestão da Secretaria de Vigilância em Saúde. Diário Oficial da União, Brasília, p.37, 12 fevereiro 2009. Seção 1.

8. Brasil. Lei no 9.431, de 6 de janeiro de 1997. Decreta a obrigatoriedade do Programa de Controle de Infec-ção Hospitalar em todos os hospitais brasileiros. Diário Oficial da União, Brasília, p.165, 7 jan. 1997. Seção 1.

(referências eletrônicas)9. Rede Interagencial de Informação para a Saúde. Indicadores básicos para a saúde no Brasil: conceitos e apli-

cações [acessado em 05 fev. 2012]. Disponível em http://tabnet.datasus.gov.br/tabdata/livroidb/2ed/indicadores.pdf10. Malta DC, Morais Neto OL, Silva Junior JB. Apresentação do plano de ações estratégicas para o enfrentamento

das doenças crônicas não transmissíveis no Brasil, 2011 a 2022. Epidemiol. Serv. Saúde. 2011; 20(4):93-107 [acessado em 06 fev. 2012]. Disponível em http://scielo.iec.pa.gov.br/pdf/ess/v20n4/v20n4a02.pdf

(teses e dissertações)11. Waldman EA. Vigilância epidemiológica como prática de saúde pública [Tese de Doutorado]. São Paulo

(SP): Universidade de São Paulo; 1991.12. Daufenbach LZ. Morbidade hospitalar por causas relacionadas à influenza em idosos no Brasil, 1992 a

2006: situação atual, tendências e impacto da vacinação [Dissertação de Mestrado]. Salvador (BA): Universidade Federal da Bahia; 2008.

No caso de ter sido usado algum software para gerenciamento das referências (por exemplo, Zotero, End-note, Reference Manager ou outro), as mesmas referências deverão ser convertidas para o texto. A exatidão das referências constantes na listagem e a correta citação no texto são de exclusiva responsabilidade dos autores.

Tabelas e FigurasFiguras e as tabelas serão apresentadas ao final do manuscrito (quando possível) ou em arquivos separados,

por ordem de citação no texto. Os títulos das tabelas e figuras devem ser concisos e evitar o uso de abreviaturas ou siglas; estas, quando indispensáveis, serão traduzidas em legendas ao pé da própria tabela ou figura. Tabelas, quadros (estes, classificados como figuras), organogramas e fluxogramas devem ser apresentados em meio

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eletrônico, nos formatos-padrão do Microsoft Office (Word; Excel); gráficos, mapas, fotografias e demais ima-gens serão apresentados nos formatos EPS, JPG, BMP ou TIFF, no modo CMYK, em uma única cor (preto) e suas diversas tonalidades.

Uso de siglasSiglas ou acrônimos de até três letras devem ser escritos com maiúsculas (Ex: DOU; USP; OIT). Em sua

primeira aparição no texto, acrônimos desconhecidos serão escritos por extenso, acompanhados da sigla entre parênteses. Siglas e abreviaturas compostas apenas por consoantes serão escritas em letras maiúsculas. Siglas com quatro letras ou mais serão escritas em maiúsculas se cada uma delas for pronunciada separadamente (Ex: BNDES; INSS; IBGE). Siglas com quatro letras ou mais e que formarem uma palavra (siglema), ou seja, que incluam vogais e consoantes, serão escritas apenas com a inicial maiúscula (Ex: Funasa; Datasus; Sinan). Siglas que incluam letras maiúsculas e minúsculas originalmente, serão escritas como foram criadas (Ex: CNPq; UnB). Para siglas estrangeiras, recomenda-se a correspondente tradução em português, se universal-mente aceita; ou seu uso na forma original, se não houver correspondência em português, ainda que o nome por extenso – em português – não corresponda à sigla (Ex: UNESCO = Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Algumas siglas, popularizadas pelos meios de comunicação, assumiram um sentido nominal: é o caso de AIDS (em inglês), a síndrome da imunodeficiência adquirida, sobre a qual a Co-missão Nacional de Aids do Ministério da Saúde (que se faz representar pela sigla CNAIDS) decidiu recomendar que todos os documentos e publicações do ministério nomeiem por sua sigla original do inglês – aids –, em letras minúsculas (Brasil. Fundação Nacional de Saúde. Manual de editoração e produção visual da Fundação Nacional de Saúde. Brasília: Funasa, 2004. 272p.).

Submissão

A submissão dos manuscritos deverá ser feita via e-mail, para o seguinte endereço eletrônico: [email protected]

Juntamente com o arquivo do manuscrito, os autores devem providenciar o envio da Declaração de Respon-sabilidade, assinada por cada um deles, digitalizada em formato PDF.

Para se assegurar da adequação do formato do manuscrito às recomendações do núcleo editorial da Epide-miologia e Serviços de Saúde, contempladas nestas Instruções, sugere-se aos autores conferir a lista de itens apresentada ao final deste documento (Anexo III).

Análise e aceitação dos manuscritos

Serão acolhidos apenas os manuscritos formatados de acordo com estas Instruções e cujos assuntos se enqua-drem no escopo da revista. Uma análise preliminar verificará a aprovação por um Comitê de Ética em Pesquisa, no caso de o estudo envolver seres humanos, assim como seu potencial para publicação e seu interesse para os leitores da revista. Trabalhos que não atenderem a essas exigências serão recusados. Após a avaliação dos editores, os manuscritos serão enviados para avaliação "cega" (não identificada) por, ao menos, dois revisores especialistas (peer reviewers) e, concomitantemente, para consulta às áreas técnicas do Ministério da Saúde especializadas. Os autores poderão indicar até três possíveis revisores, também especialistas no assunto abordado em seu manuscrito. Eles ainda poderão indicar, opcionalmente, até três revisores especialistas para os quais não gostariam que seu manuscrito fosse submetido. Caberá aos editores da revista a decisão de acatar ou não as sugestões dos autores.

A partir dos pareceres recebidos, os editores poderão considerar o manuscrito: (i) Aceitável para publicação; (ii) Aceitável, condicionado a reformulação; ou (iii) Não aceitável. A comunicação com o autor principal acon-tecerá pelo endereço eletrônico informado por ele. Os trabalhos aceitos para publicação, porém condicionados a reformulação, serão enviados aos autores com prazo definido para devolução do manuscrito reformulado à secretária executiva da revista. Uma vez aprovado para publicação, se todavia for identificada a necessidade de

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Instruções aos autores

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pequenas correções e ajustes no texto, os editores da revista reservam-se o direito de o fazer. Finalmente, a decisão definitiva pela publicação do manuscrito será condicionada à aprovação final do Comitê Editorial da Epidemiologia e Serviços de Saúde. Nessa ocasião, nova reformulação poderá ser solicitada pelo Comitê aos autores, os quais terão prazo adicional para o reenvio do trabalho reformulado.

Prova de preloApós a aprovação do manuscrito, a prova de prelo será encaminhada ao autor principal por e-mail, em formato

PDF. Feita a revisão da prova, o autor deverá encaminhar à secretária executiva da revista sua autorização para publicação do manuscrito, no prazo determinado pelo Núcleo Editorial.

Em caso de dúvidas sobre quaisquer aspectos relativos a estas Instruções, os autores devem entrar em contato com os editores da revista por meio do endereço eletrônico: [email protected]

Endereço para correspondência

Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviço/SVS/MSEpidemiologia e Serviços de Saúde

SCS, Quadra 4, Bloco A, Edifício Principal, 5º andar, Asa Sul, Brasília-DF, Brasil. CEP: 70304-000Telefones: (61) 3213-8387 / 3213-8397

Telefax: (61) 3213-8404E-mail: [email protected]

Anexo I

Declaração de Responsabilidade

Este documento deve ser encaminhado juntamente com o manuscrito, de acordo com o modelo a seguir:

Os autores do manuscrito intitulado (título do manuscrito) submetido à Epidemiologia e Serviços de Saúde: revista do Sistema Único de Saúde do Brasil, declaram:

1. Este manuscrito representa um trabalho original cujo conteúdo integral ou parcial ou substancialmente semelhante não foi publicado ou submetido à publicação em outro periódico, seja no formato impresso ou eletrônico;

2. Houve participação efetiva de todos os autores relacionados no trabalho, tornando pública sua responsabilidade pelo conteúdo apresentado;

3. A versão final do manuscrito foi aprovada por todos os autores;4. Não há qualquer conflito de interesse dos autores em relação a este manuscrito (ou) existem conflitos de

interesses dos autores em relação a este manuscrito (no caso de haver, deve-se descrever, nesta passagem, o conflito ou conflitos de interesse existentes).

(registrar o local, data e nome; a Declaração de Responsabilidade deve ser assinada por cada um dos autores do manuscrito).

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Anexo II

Termo de Cessão de Direitos

Este documento será enviado à revista, assinado por todos os autores, desde que aprovada a publicação do manuscrito na revista. A seguir, o modelo:

Declaro que, uma vez aceito o manuscrito (título do manuscrito) e autorizada sua publicação pela Epidemio-logia e Serviços de Saúde: revista do Sistema Único de Saúde do Brasil, concordo que os respectivos direitos autorais serão de propriedade exclusiva da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. Qualquer reprodução de seu conteúdo, total ou parcial, em meio impresso ou eletrônico, necessitará de solicitação previa, a ser encaminhada à Coordenação-Geral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviço, da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, para obtenção da autorização expressa de seu Editor Geral.

(registrar o local, data e nome; o Termo de Cessão de Direitos deve ser assinado por cada um dos autores do manuscrito).

Anexo III

Lista de itens de verificação prévia à submissão

1. Formatação: fonte Times New Roman 12, tamanho de folha A4, margens de 3cm, espaço duplo.2. Folha-de-rosto:

a. Modalidade do manuscrito;b. Título do manuscrito, em português e inglês;c. Título resumido, em português;d. Nomes e instituição de afiliação e e-mail de cada um dos autores;e. Endereço completo e telefone do autor correspondente;f. Nomes das agências financiadoras e números dos processos, quando pertinente; eg. No caso de manuscrito redigido com base em monografia, dissertação ou tese acadêmica, indicar o nome

da instituição de ensino e o ano de defesa.3. Resumo em português e Abstract em inglês, para todos os tipos de manuscritos – exceto cartas; e especifi-

camente para artigos originais e notas, respeito ao formato estruturado e discriminado – objetivo, métodos, resultados e conclusão.

4. Palavras-chave/Key words, selecionadas entre os Descritores em Ciências da Saúde, criados pela Biblioteca Virtual em Saúde e disponíveis em sua página eletrônica.

5. Informação do número de aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa e do número de registro do ensaio clínico, quando pertinente.

6. Parágrafo contendo a contribuição de cada autor.7. Tabelas e figuras – para artigos originais e de revisão, somadas, não devem exceder o número de cinco, e para

notas de pesquisa, não devem exceder o total de três.8. Referências normalizadas segundo o padrão ICMJ (Normas de Vancouver), ordenadas e numeradas na sequ-

ência em que aparecem no texto; verificar se todas estão citadas no texto e se sua ordem-número de citação corresponde à ordem-número em que aparecem na lista das Referências ao final do manuscrito.

9. Anuência das pessoas mencionadas nos Agradecimentos.10.Declaração de Responsabilidade, assinada por todos os autores.

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Instruções aos autores

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Epidemiologiae Serviços de SaúdeR E V I S T A D O S I S T E M A Ú N I C O D E S A Ú D E D O B R A S I L

| Volume 21 - Nº 4 - outubro / dezembro de 2012 |

ISSN 1679-4974

artigos neste número

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ISSN online 2237-9622

Biblioteca Virtual em Saúde do Ministério da Saúdewww.saude.gov.br/bvs

» EDITORIAL: Transição demográfica e epidemiológica: a Epidemiologia e Serviços de Saúde revisita e atualiza o tema

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