epidemiologia e avaliação de programas

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EPIDEMIOLOGIA E AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS: DESAFIOS METODOLÓGICOS EM DANT Iná S.Santos Univ. Fed. Pelotas

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Page 1: epidemiologia e avaliação de programas

EPIDEMIOLOGIA E AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS: DESAFIOS METODOLÓGICOS EM DANT

Iná S.SantosUniv. Fed. Pelotas

Page 2: epidemiologia e avaliação de programas

•Aceitar que ensaios randomizados não são osdelineamentos de primeira escolha

• Identificar a cadeia lógica através da qual a intervenção produz seu efeito

• Construir indicadores que expressem os passosda cadeia lógica

• Compatibilizar unidade amostral e unidade deanálise nos estudos de avaliação

DESAFIOS EM AVALIAÇÃO DE PROGRAMAS

Page 3: epidemiologia e avaliação de programas

Aceitar que ensaios randomizados não sãoos delineamentos de primeira escolha

Victora et al. Evidence-based Public Health: moving beyond randomized

trials. Am J Public Health 2004;94(3):400-405

Habicht JP et al. Evaluation designs for adequacy, plausibility and probability

of public health programme performance and impact. Intern J Epidemiology

1999;28:10-18

Page 4: epidemiologia e avaliação de programas

Tipos de evidência epidemiológicapara a Saúde Pública

ObservacionalEfetividade de programas

Experimental (ou observacional)

Eficácia de intervenções

DescritivoCobertura de intervenções

Experimental (ou observacional)

Associação entreexposição/doença

DescritivoFrequência de exposições

DescritivoFrequência de doenças

Tipo de estudoepidemiológico

Tipo de evidência

Page 5: epidemiologia e avaliação de programas

Validade: interna e externa

Amostra

População alvo

População real

População externa

Page 6: epidemiologia e avaliação de programas

Validade

• Validade interna–Os resultados do estudo são verdadeiros paraa população alvo?–Há erros que afetam os achados do estudo?

•Erro sistemático (viés, confusão)

•Erro aleatório (precisão)

• Validade externa–Generalização

–Os resultados do estudo são aplicáveis emoutros locais?

Page 7: epidemiologia e avaliação de programas

Validade

• Validade interna–Pode ser julgada com base na metodologia do estudo

• Validade externa

–Requer um “julgamento de valor”

Page 8: epidemiologia e avaliação de programas

Ensaios Randomizados Controlados(RCT)

Page 9: epidemiologia e avaliação de programas

Validade interna em RCT

Efeito Hawthorne Efeito placebo

Uso de placeboEfeitos

Viés de informaçãoCegamentoObservações

Viés de seleçãoRandomizaçãoPopulações

Viés prevenidoRCTComparabilidadeentre

RCTs são o padrão-ouro em validade interna

Page 10: epidemiologia e avaliação de programas

RCT (Cochrane Collaboration)

• Os participantes são alocados aleatoriamentepara receber o tratamento experimental e o tratamento controle

• Quando um RCT é conduzido adequadamente, o efeito do tratamento pode ser estudado emgrupos de pessoas muito semelhantes tratadasda mesma maneira, exceto pela intervenção emestudo

• Quaisquer diferenças observadas entre osgrupos, ao final do estudo, poderão ser atribuídas à diferença no tratamento apenas e não a vieses ou ao acaso

Page 11: epidemiologia e avaliação de programas

Ensaios randomizados controlados

• Priorizam validade interna–Alocação aleatória reduz viés de seleção e confusão–Cegamento reduz viés de informação

• Ganharam popularidade através de ensaiosclínicos de novos medicamentos

• Essencial para determinar eficácia de novosagentes biológicos

• Adequados para cadeias causais curtas–Efeito biológico de drogas, vacinas, suplementosnutricionais etc

Page 12: epidemiologia e avaliação de programas

O que um RCT mostra?

• A probabilidade de que o resultadoobservado seja devido à intervenção

• Mas requer evidência adicional que torneo resultado conceitualmente plausível

–Plausibilidade biológica

–Plausibilidade operacional

Page 13: epidemiologia e avaliação de programas

• Allocation• Rationale• Eligibility• Interventions• Objectives• Outcomes• Sample size• Randomization

– Sequence generation– Concealment– Implementation– Blinding (masking)

• Statistical methods• Participant flow• Recruitment• Baseline data• Numbers analyzed• Outcomes and

estimation• Ancillary analyses• Adverse events• Interpretation• Generalizability• Overall evidence

Page 14: epidemiologia e avaliação de programas

• Construir a cadeia lógica através da qual a

intervenção produz seu efeito

Page 15: epidemiologia e avaliação de programas

Passos principais em ensaios de Saúde Pública

• Provisão da intervenção pelo nível central aosserviços locais (ex. Postos de Saúde)

• Adesão dos profissionais locais à intervenção

• Adesão dos beneficiários à intervenção

• Efeito biológico da intervenção

Page 16: epidemiologia e avaliação de programas

Exemplo Intervenção em Saúde Pública: Aconselhamento Nutricional

Programa nacional é implementado

Profissionais de saúde são treinados

Aumenta conhecimento dos profissionais

Melhora o desempenho dos profissionais

Aumenta o conhecimento materno

Muda a alimentação da criança

Aumenta o aporte energético

Melhora o estado nutricional

Utilizaçãoé adequada

Profissionaistreináveis

Equipamentodisponível

Alimentosdisponíveis

Equipe central é competente

Falta alimentoé uma causa

da desnutrição

Page 17: epidemiologia e avaliação de programas

Os resultados de RCT sãogeneralizáveis para programas de

rotina?

• A dose da intervençãopode ser menor– Modificação de efeito

comportamental• Comportamento do

profissional• Comportamento do

beneficiário

• A relação dose-resposta pode ser diferente– Modificação de

efeito biológico

Quanto mais longa a cadeia causal, maior a probabilidade de modificação de efeito

Page 18: epidemiologia e avaliação de programas

Associações Curvilíneas

Necessidade de intervenção

Res

po

sta

RCTsfeitos aqui

Resultadosaplicados aqui

Page 19: epidemiologia e avaliação de programas

• Construir indicadores que expressem os passosda cadeia lógica e definir a metodologia de coletade dados

Page 20: epidemiologia e avaliação de programas

Exemplo Intervenção em Saúde Pública: Aconselhamento Nutricional

Programa nacional é implementado

Profissionais de saúde são treinados

Aumenta conhecimento dos profissionais

Melhora o desempenho dos profissionais

Aumenta o conhecimento materno

Muda a alimentação da criança

Aumenta o aporte energético

Melhora o estado nutricional

Utilizaçãoé adequada

Profissionaistreináveis

Equipamentodisponível

Alimentosdisponíveis

Equipe central é competente

Falta alimentoé uma causa

da desnutrição

Page 21: epidemiologia e avaliação de programas

• 1. Conhecimento dos profissionais

• 2. Profissioanis aplicavam a intervenção

• 3. Mães recordavam a recomendação, posse do cartão, satisfação

4. Mães aderiam à recomendação

• 5. Antropometria da criança

• 1. Prova escrita

• 2. Observação de 3 + 3 consultas

• 3. Entrevista domiciliar aos 8, 45 e 180 dias

• 4. Recordatório alimentar de 24 horas + frequência nas 3 visitas domiciliares + daylong

• 5. Peso e comprimento aos 8, 45 e 180 dias

Page 22: epidemiologia e avaliação de programas

• Compatibilizar unidade amostral e unidade deanálise nos estudos de avaliação

Page 23: epidemiologia e avaliação de programas

– É incorreto usar alocação em grupo (ex., postos de saúde, comunidades etc) e analisaros dados em nível individual

– Isso tem implicações sobre o cálculo do tamanho amostral e sobre os métodos de análise

Page 24: epidemiologia e avaliação de programas

Porque RCT têm papel limitado emavaliações de efetividade de

intervenções de larga escala?• Frequentemente é impossível randomizar

–não é ético, politicamente inaceitável, rápidacobertura

• A avaliação afeta a qualidade do serviço–o serviço passa a ser no mínimo a “melhorprática”

• Modificação de efeito é a regra–Necessidade de dados locais

• Necessidade de outras abordagens paraavaliações em Saúde Pública

Page 25: epidemiologia e avaliação de programas

Estudos Não-Randomizados

(Quase experimentos)

Page 26: epidemiologia e avaliação de programas

Tipos de inferência em avaliaçõesde impacto

• Adequação (estudos descritivos)–As mudanças esperadas estão acontecendo

• Plausibilidade (estudos observacionais)–As mudanças observadas parecem ser devidas ao programa

• Probabilidade (RCT)–estudos randomizados mostram que o programa tem um impacto estatisticamentesignificativo

Page 27: epidemiologia e avaliação de programas

Validade interna em estudosprobabilísticos e de plausibilidade

Considerando o viés Hawthorne e o efeito placebo

Uso de placeboEfeitos

Evitando viés de informaçãoCegamentoObservações

EmparelhamentoConhecimento sobredeterminantes da implementaçãoConsiderando fatores contextuais

RandomizaçãoPopulações

Plausibilidade(quase-experimento)

Probabilidade(RCT)

Comparabilidade

Page 28: epidemiologia e avaliação de programas

Avaliações de adequação

• Perguntas:–Os objetivos iniciais foram alcançados?

•Ex.: reduzir em 20% a mortalidade de menores de 5 anos

–As tendências nos indicadores de impactoforam

•na direção esperada?•de magnitude adequada?

Page 29: epidemiologia e avaliação de programas

Avaliações de Plausibilidade

• Pergunta:–É provável que o impacto observado seja devido àintervenção?

• Requer descartar influência de fatores externos:–Necessidade de grupo de comparação–Ajuste para fatores de confusão

• Também chamados de quase experimentos

Page 30: epidemiologia e avaliação de programas

Estudos de Adequação/plausibilidade (1)

• Desenho: transversal• Medidas: uma vez• Desfecho: diferença ou razão• Grupo controle:

–Indivíduos que não receberam a intervenção–Grupos/áreas sem a intervenção

–Análise dose-resposta, se possível

Page 31: epidemiologia e avaliação de programas

TRO e mortes por diarréia no Brasil

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

30% 35% 40% 45%

Cobertura T.R.O.

Mo

rtal

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po

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iarr

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%

Spearman r = -0,61 (p=0,04)

Cada ponto = 1 estado

Page 32: epidemiologia e avaliação de programas

Estudos de Adequação/plausibilidade (2)

• Desenho: longitudinal (antes-e-depois)• Medidas: duas vezes ou mais• Desfecho: mudança• Grupo controle:

–Os mesmos ou indivíduos semelhantes, antes da intervenção

–Os mesmos grupos/áreas, depois daintervenção–Análises de tendência temporal, se possível

Page 33: epidemiologia e avaliação de programas

Vacina Hib no Uruguai

O Uruguai reduziu emmais de 95% o númerode casos registrados de infecção por Hib após a introdução da vacinaçãoem 1994

Page 34: epidemiologia e avaliação de programas

Estudos de Adequação/plausibilidade (3)

• Desenho: longitudinal-controlado• Medidas: duas vezes ou mais• Desfecho: mudança relativa• Grupo controle:

–Os mesmos ou indivíduos semelhantes, antes da intervenção

–Os mesmos grupos/áreas, antes daintervenção–Análises de tendência temporal, se possível

Page 35: epidemiologia e avaliação de programas

Óbitos infantis acumulados,Pelotas 2005 - 2006

0

20

40

60

80

100Ja

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2005 2006

Page 36: epidemiologia e avaliação de programas

Estudos de Adequação/plausibilidade (4)

• Desenho: caso-controle• Medidas: uma vez• Comparação: exposição à intervenção• Grupos:

–Casos: indivíduos com a doença de interesse–Controles: amostra da população que originouos casos

Page 37: epidemiologia e avaliação de programas
Page 38: epidemiologia e avaliação de programas

Conclusões (1)

• RCT são essenciais para–estudos clínicos–Estudos comunitários para estabelecereficácia de intervenções relativamente simples

• RCT requerem evidência adicional de estudos não-randomizados para aumentara validade externa

Page 39: epidemiologia e avaliação de programas

Conclusões (2)• Dada a complexidade de várias

intervenções de Saúde Pública, estudosde adequação e plausibilidade sãoessenciais em diferentes populações–mesmo para intervenções aprovadas por RCT

• Avaliações de adequação deveriam fazerparte da rotina dos gestores– e avaliações de plausibilidade também, quando possível

Page 40: epidemiologia e avaliação de programas

MUITO OBRIGADA!