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ENTREVISTA SUSANA KAKUTA – PROGRAMA CENÁRIOS 12/6/13 Polibio – Nós vamos conversar hoje com Susana Kakuta que vem a ser diretora executiva do Tecnosinos. Na verdade um pólo Tecnológico da Unisinos em São Leopoldo, bem pertinho de Porto Alegre. A Susana Kakuta, antes de ir para o Tecnosinos, foi Presidente da Caixa Estadual, hoje Badesul do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, dirigiu também o Sebrae. Enfim, tem uma biografia muito extensa........ Neste primeiro bloco vamos explorar um pouco as informações a respeito da própria Tecnosinos...No RS temos 20 pólos Tecnológicos? Susana – 12, 3 implantados e 9 em implantação. Polibio – Quando começou o Tecnosinos, o que deu na Unisinos de implementar o seu pólo tecnológico porque o pólo mesmo não começou dentro da Unisinos, foi no lado. Susana – Bom, o pólo Tecnosinos, neste mês de julho agora, completa 14 anos. Nesses 14 anos, podemos dizer que 3 anos foram de saírem as ideias e o primeiro prédio que abrigou as primeiras empresas. Começou por uma questão bem simples e que o RS continua ainda com este desafio que é a questão do emprego e da renda. São Leopoldo, a 14 anos atrás, sofria, como Novo Hamburgo, a crise do deslocamento das indústrias coureiro-calçadistas, que indiciava não só ir em busca de mão- de-obra mais barata, para o Norte do Brasil, mas também para a China. São Leopoldo, naquela época, meio que não tinha muita personalidade em termos de economia. Era couro e calçado, um pouco metal, mecânico e borracha e a crise chegou e faltou emprego. Naquele momento se reuniram o Prefeito de São Leopoldo, o reitor da Unisinos e mais o Presidente da Associação das Empresas da cidade e naqueles momentos de inspiração de querer mudar o futuro de uma cidade, resolveram, a exemplo das tecnópoles francesas, iniciar na cidade de São Leopoldo uma nova economia através de um pólo de tecnologia.

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Page 1: Entrevista susana kakuta

ENTREVISTA SUSANA KAKUTA – PROGRAMA CENÁRIOS 12/6/13

Polibio – Nós vamos conversar hoje com Susana Kakuta que vem a ser diretora executiva do Tecnosinos. Na verdade um pólo Tecnológico da Unisinos em São Leopoldo, bem pertinho de Porto Alegre. A Susana Kakuta, antes de ir para o Tecnosinos, foi Presidente da Caixa Estadual, hoje Badesul do Governo do Estado do Rio Grande do Sul, dirigiu também o Sebrae. Enfim, tem uma biografia muito extensa........

Neste primeiro bloco vamos explorar um pouco as informações a respeito da própria Tecnosinos...No RS temos 20 pólos Tecnológicos?

Susana – 12, 3 implantados e 9 em implantação.

Polibio – Quando começou o Tecnosinos, o que deu na Unisinos de implementar o seu pólo tecnológico porque o pólo mesmo não começou dentro da Unisinos, foi no lado.

Susana – Bom, o pólo Tecnosinos, neste mês de julho agora, completa 14 anos. Nesses 14 anos, podemos dizer que 3 anos foram de saírem as ideias e o primeiro prédio que abrigou as primeiras empresas. Começou por uma questão bem simples e que o RS continua ainda com este desafio que é a questão do emprego e da renda. São Leopoldo, a 14 anos atrás, sofria, como Novo Hamburgo, a crise do deslocamento das indústrias coureiro-calçadistas, que indiciava não só ir em busca de mão-de-obra mais barata, para o Norte do Brasil, mas também para a China. São Leopoldo, naquela época, meio que não tinha muita personalidade em termos de economia. Era couro e calçado, um pouco metal, mecânico e borracha e a crise chegou e faltou emprego. Naquele momento se reuniram o Prefeito de São Leopoldo, o reitor da Unisinos e mais o Presidente da Associação das Empresas da cidade e naqueles momentos de inspiração de querer mudar o futuro de uma cidade, resolveram, a exemplo das tecnópoles francesas, iniciar na cidade de São Leopoldo uma nova economia através de um pólo de tecnologia. Num primeiro momento a escolha foi TI, Tecnologia da Informação, isso muito porque São Leopoldo tinha lá uma série de pequenas empresas que começavam nesse ramo e, por outro lado, a Unisinos tinha cursos reconhecidos. Isso foi o embrião disso tudo. Nasceu dali o pólo do informática de São Leopoldo. Esse pólo cresceu até o ano de 2009.

Polibio – Quer dizer: nasceu como pólo de informática e não como pólo de tecnologia.

Susana – Em 2009, já existiam lá dentro empresas de outras áreas, como por exemplo eletro-eletrônicos, automação, comunicação, que são áreas muito convergentes e se rebatizou o pólo de informática para Tecnosinos – Parque Tecnológico São Leopoldo – que hoje abriga 5 grandes especialidades que a gente chama de novas economias. O Tecnosinos tem bastante orgulho porque é um pólo referência na América Latina. Nós, hoje, geramos, são números de 2011, 4 mil empregos diretos de altíssimo valor agregado.

Polibio – São 4 mil trabalhadores lá no próprio Tecnosinos. Quantas empresas são?

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Susana – Nós temos 75 empresas de 10 países diferentes. É um parque de tecnologia muito especializado.

Polibio – Pode citar algumas?

Susana – Claro, são empresas tradicionais gaúchas como por exemplo a Altus, na área de automação industrial, uma das líderes nacionais hoje. Nós temos o grupo Metta, é uma fábrica de Software, a maior do Estado na sua área, tem cerca de 1200 empregados hoje. Mas também temos empresas internacionais como por exemplo a SAP alemã que tem lá seu laboratório de engenharia para a América Latina, que hoje tem cerca de 560 funcionários e está em plena duplicação, de sistema de gestão. E muita coisa nova acontecendo. Estamos implantando a primeira fábrica de semi-condutores na área de capsulamento e teste de semi-condutores que é um investimento de 160 milhões de dólares, uma coisa muito significativa, uma parceria com a Coréia do Sul e vem novas coisas por ai.

Polibio – Vocês são o maior do RS ou é o TecnoPUC? São semelhantes em tamanho?

Susana – Em tamanho somos muito semelhantes. Uma pequena diferença entre Tecnosinos e TecnoPUC é que nós também marcamos uma parte de produção de automação eletro-eletrônica. A PUC tem mais áreas soft, tem o pessoal só de engenharia de TI. Nós embarcamos também fábricas, como a Altus, que produzem o produto final também.

Ruschel – Na verdade, acho que o aspecto mais interessante disso é aproximar, o que acontece muito no exterior, os centros acadêmicos com uma prática de inovação. Acho que um dos grandes problemas que temos no Brasil é exatamente se formarem mais aqueles profissionais que vão se voltar apenas para a vida acadêmica. Às vezes até tem cidades, pelo menos a experiência que eu tive aqui na UFRGS, é até meio mal visto uma aproximação com o mercado que não seria puritano do ponto de vista acadêmico se envolver com uma empresa ou desenvolver algum tipo de tecnologia. A minha percepção é que isso é extremamente importante para o Estado e, obviamente, para o país e óbvio que falta mais inovação. Neste final de semana nós tivemos uma palestra com André Esteves lá do BTG e ele colocava a diferença entre Europa e EUA. Por que os EUA está saindo da crise e a Europa não dá sinais de sair da crise? E ele coloca pra nós o seguinte: se o público poderia citar 10 empresas que surgiram nos últimos 5 anos que valem mais de 1 bilhão de dólares. Falou que no mercado americano ele pode citar 20, no mercado europeu nenhuma. E isso tem a ver com a inovação, tem a ver com o estímulo, a busca de novas ideias, as novas tencologias. Foi assim que se criou a riqueza da Internet, o mundo .Com se criou a partir da inovação. A minha percepção é de que esta iniciativa é extremamente importante.

Polibio – E ai você acha que o que já se conseguiu é o suficiente? Por exemplo, essa área, você acha que ela tem alguma representatividade no contexto do RS e do Brasil, ou isso é um grãozinho que não significa grande coisa?

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Susana – Assim, eu vou falar da TI do Brasil, não dá para segmentar só a do RS. A TI do Brasil hoje representa quase a metade do que se produz de Tecnologia da Informação da América Latina. Ela tem um papel bastante relevante e nós temos empresas importantes a nível nacional, como uma Stefanini, como uma Tottus e como algumas das nossas gaúchas que hoje estão no mercado internacional buscando ocupar espaços, e ai estou falando especificamente na área de TI. O grande desafio disso tudo está o nosso desafio a nível de Estado e está o nosso desafio a nível federal, é que a gente não pode tratar esses que são os setores novos, essas novas economias, com políticas tradicionais. Essas novas economias, elas prescindem de algumas questões que são absolutamente estratégicas. Eu vou me ater a duas delas: a primeira delas é a questão que foi aqui bem lembrada, que é da criatividade da inovação, se você for ver o que os países que estão hoje à frente desses processos fase, e a gente tem exemplos interessantes como a Coréia, a própria China nos últimos anos, como os EUA, Japão, a gente vai ver que na verdade começa tudo com o ensino da matemática, das exatas lá na educação básica. Se tu não tiver isso forte, tu não vai ter o engenheiro no final. Então, no Brasil nós temos um gargalo tremendo em termos de engenharias como um todo. Nas áreas tecnológicas nós temos um desafio porque o jovem chega com pouco preparo nas matemáticas, nas exatas, física, química e isso faz com que ele muitas vezes até escolha, pela oportunidade, ir para a carreira das engenharias e ele não se vê em condições e acaba desistindo.

Rischel – isso foi piorado até com a política das bolsas porque chega gente despreparada que não tem condições nenhuma.

Susana – Inclusive isso. Então, um dos desafios é tratar da educação para um país que quer ter um setor, que isso é uma área, um setor novo, que são essas novas economias. Então, educação é fundamental pra isso. Você ter a criatividade embarcada desde as primeiras séries, a lógica do ensino das exatas é fundamental. A outra coisa é política pública de investimento, e ai é um tema bem interessante, que tire a incerteza das empresas de quando elas vão poder ter o apoio de governo, por exemplo, para investir na área de inovação. Quando a gente vai para a Coréia do Sul, por exemplo, eu conheço muito as empresas de lá, é um país que investe hoje quase 5% do PIB só na parte governo e inovação.

Polibio – Aqui é quanto?

Susana – No Brasil nós devemos estar hoje a 1. alguma coisa. Na Coréia você tem um calendário plurianual de investimentos. Então, você sabe que todos os anos a agência que incentiva a inovação, que dá lá recursos com tarifas diferenciadas ou recurso não reembolsado, cada ano no mês tal vão ser liberados tantos para projetos de inovação. No Brasil não se sabe isso. Como vai fazer inovação dentro da empresa se tu não consegue ter um cronograma? Isso é fazer política pública.

Polibio – No próximo bloco falaremos de mercado. Qual o nível de expansão do mercado de TI, os empregos que estão gerando, os salários.....Esse mercado de TI, de tecnologia, é muito novo aqui no Brasil, é muito recente. Me recordo que há coisa de 15 ou 16 anos atrás surgiu

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o primeiro computador pessoal. 15 ou 16 anos. Isso para o mundo, inclusive a nós do Brasil, é pouco tempo. Mas claro, algumas nações avançaram, assim, a uma maneira geométrica. E o Brasil, a percepção que se tem, aqui no RS temos 12 pólos tecnológicos. 3 em operação e 9 em implantação. Isso é pouco. É um universo de quantos trabalhadores?

Susana – Acho que em torno de 15 mil pessoas, se tiver.

Polibio – Isso para uma população de 13 milhões de habitantes que tem o RS é pouco. Saberia me dizer qual é a participação do PIB dessa área?

Susana – Eu não sei a participação do PIB, mas tem um dado muito interessante: TI, até a estabilidade econômica o TI era considerado um plus dentro da economia. Quando a gente falava...................com a estabilidade econômica, o TI passou a ocupar um espaço dentro da produtividade da empresa. Ou seja, hoje se faz mais com menos com o apoio da TI. Isso é fácil de a gente ver, por exemplo: qual de nós aqui foi num banco nos últimos tempos? A gente vai no terminal bancário, isso é TI. Se faz tudo pelo smartphone, o que tu pode fazer, tu faz por ali. Então isso tudo vai facilitando. Isso tudo faz com que a TI no Brasil cresça 4 x mais que o PIB nacional. Isso vem se mantendo. O último indicador em 2011 foi um crescimento de 9,5% ao ano, o ano que passou 7,5%, que são taxas muito altas. Ou seja, é um setor que está em plena expansão porque, de um lado, todo mundo quer usar isso para realmente contribuir com a produtividade dentro da empresa e mais do que isso, você começa a ver a entrada da TI em todos os segmentos. Então, na medicina é um monte de TI embarcada, no agro-negócio olha as grandes colheitadeiras, o cara já não é mais um tratorista, é tudo computadorizado. Ele teve que aprender. A TI é um setor em ampla expansão.

Polibio – Eu fui numa fazenda no interior de Chicago. Na fazenda trabalhavam o dono, a mulher dele e o filho. Mil hectares, não é pouca coisa, plantador de soja. Ele me mostrou a colheitadeira, é uma Mercedes. Ele plugava num GPS e o GPS ficava rastreando toda a superfície da fazenda e já estava tudo assim: aqui vai x gramas de calcário, aqui x gramas de nitrogênio, cada grão tinha tal profundidade. Tudo por satélite e já estava tudo programado no computador. Estou falando coisa de uns 7 anos atrás, aqui nem se pensava nisso.

Susana – Agora nós já temos aqui no RS.

Ruschel – Nós podemos até ficar próximos aqui do público da Leandro Stormer, nós operamos em bolsa. Hoje, praticamente, 70% do volume financeiro negociado na bolsa americana é gerada por robôs. Não são pessoas que estão operando, são robôs. No mercado brasileiro não há uma estatística muito precisa, mas a gente estima que seja algo em torno de 15%. Então, são softwares que são desenvolvidos para entender o comportamento do mercado e operar de uma forma que seria impossível para o ser humano fazer. Então, a medicina também tem muitos exemplos como esse.

Polibio – Inclusive operações altamente complexas que só o computador poderia fazer.

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Ruschel – Altamente complexas e em alta velocidade. Estão brigando agora para quebrar a barreira do mili-segundo, cada milésimo de segundo que você ganha é uma vantagem em relação ao mercado.

Polibio – Susana, e esse pessoal que trabalha, esses 15 mil trabalhadores que estão na área de TI aqui do RS, eles são aqui do RS, vem gente de fora? O salário que esse pessoal ganha, digamos como programador, enfim, nas diversas funções principais, está em que nível em comparado com funções parecidas no restante da indústria?

Susana – O RS é um pólo produtor de talentos nessa área.

Polibio – Ou seja, ele não traz gente. Produz pra ele mesmo e ainda manda pra fora.

Susana – Isso. E isso tem sido usado como um fator de atração dos nossos parques para a gente poder sediar estas grandes empresas. É um grande círculo virtuoso: você tem uma empresa de classe mundial, você produz tecnologia de classe mundial, você tem um talento de classe mundial que por sua vez é alimentado numa universidade, numa escola técnica que tem que crescer no seu conhecimento. Essa região, vou falar aqui na região metropolitana, esse eixo que vai até o vale TEC em Campo Bom, Tecnopuc, Tecnosinos e ValeTEC, nós temos uma série de universidades de excelência. O RS mantém no nível universitário, a UFRGS é uma das melhores do país nessas áreas, na engenharia ela é a melhor do país. A PUC e a Unisinos são sempre líderes como universidades privadas e a gente tem, ainda assim no entorno, grandes escolas técnicas como o Liberato e essas escolas técnicas dão conta desse conhecimento. Isso tudo se usa para atrair gente. Hoje falta gente. Falta gente e ai mora a grande oportunidade no nosso Estado: de alinhamento do setor da educação, desse novo momento e de empregabilidade e oportunidade pro jovem. Com o salário, lá no Tecnosinos nós temos uma pesquisa que mostra que, e isso é reiterado pela Bras como nível nacional, que nos setores tradicionais, um jovem entrante ganha em torno de R$ 1250. No setor de tecnologia, isso é uma média nacional, o número está em torno de R$ 3500.

Polibio – Entra com isso? Nessa área de TI?

Susana – Entra com isso na TI. É o setor ali de programação...

Polibio – E esse é o nível de São Paulo?

Susana – De São Paulo. Só que São Paulo tudo que nós temos, está com um pouquinho de vantagem. Quando a gente fala aqui em São Paulo, fala numa diferença de salário a 20%.

Polibio – Lá 20% mais?

Susana – Mais, além do maior grau de competição em São Paulo. Como você tem mais empresas, você tem uma competição mais acirrada. Então, aqui nós temos um bom tecido educacional.

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Polibio – Se vocês forçarem para atrair mais grandes grupos, atrair como a Hyundai agora, se vocês fizerem esse movimento, vocês vão ter problema de mão-de-obra aqui.

Susana – Nós estamos trabalhando muito fortemente nisso. No Tecnosinos nós temos um programa muito interessante que chama Talentos Tecnosinos. Nós trabalhamos com 15 escolas de nível técnico, onde a gente traz pra dentro os alunos dos últimos anos e eles passam conosco um tempo lá dentro do Tecnosinos para saber o que é ser um talento nessa área, o que é empreender nessa área de tecnologia e o que é a carreira possível nessa área de tecnologia. Tudo isso para direcionar e mostrar pra ele que ai tem uma bela de uma oportunidade de emprego.

Ruschel – E dentro dessa área, por que quando a gente fala em tecnologia, é uma coisa muito ampla, digamos que tenha como nosso espectador um jovem que está buscando uma carreira, quais, na sua opinião, são as carreiras mais promissoras dentro da área de tecnologia?

Susana – Hoje existe uma pesquisa, a nível mundial, bem interessante sobre aquelas tecnologias que vão fazer a definição dos próximos 50 anos. TI é uma dessas que interfere diretamente na convergência de tecnologias. Então, pro jovem, apostar sua carreira na área de tecnologia da informação, seja na programação, seja na área de sistemas, na engenharia de sistemas, ele vai estar acertando porque essa é uma tecnologia matricial. E essa é uma mudança muito grande de comportamento das próprias universidades, do currículo das universidades. Eu me lembro, quando eu fiz a faculdade, quem fazia administração cuidava da administração da empresa, hoje o administrador tem que dar conta de sistemas de qualidade que é uma coisa mais da fábrica. Então, essa matricialidade, o engenheiro não é mais só engenheiro, tem que liderar pessoas, tem que liderar o conhecimento. Essa matricialidade cada vez acontece mais. Uma área portadora de futuro para carreira é TI.

Stormer – Se a gente considerar o conceito de que está havendo um crescimento exponencial do nível de conhecimento tecnológico, a gente está praticamente dobrando o conhecimento tecnológico em questão de velocidade de processamento. Em questão de poucos meses se dobra o nível de velocidade, sem dúvida alguma, pelo menos eu considero a área de TI como uma das áreas mais atraentes enquanto possibilidade de crescimento no futuro e por muito tempo. É difícil projetar o mundo para daqui a 50 anos, olha como o mundo mudou nos últimos 5 anos.

Ruschel – Não é possível projetar, mas é muito possível que não seja necessário continuar produzindo softwares.

Polibio – O RS é conhecido como o Estado de bombachudos. Essa expressão tem tudo a ver com a formação da nossa economia que é gravemente vinculada ao que acontece no campo. 45% da formação do nosso PIB é do chamado agro-business que é o resultado da agricultura e pecuária, mais a comercialização e mais a industrialização. Isso dá quase 50% do PIB. É uma economia dependente, muito tradicional, atrasada. Quando se tentou, aqui no Estado, a

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20 anos atrás, mudar esse paradigma para que a gente tivesse uma indústria mais dinâmica, para que a gente entrasse no mundo da civilização industrial finalmente, o que acabou é que não entramos. Mandamos a Ford embora, a GM ficou sozinha aqui, perdemos essa oportunidade. E inclusive nós estamos aqui hoje, conversando sobre uma coisa que vai muito além das indústrias dinâmicas que é a inovação, que são os parques tecnológicos, a tecnologia da informação. Um Estado como esse, Susana, ele tem alguma chance de avançar para que influencie, inclusive, na mudança da matriz econômica do Estado? Você acha que isso é possível?

Susana – Acho que sim, Polibio, acho que esse é o nosso grande esforço. Acho que casos bem sucedidos como Tecnopuc, Tecnosinos, são exemplos de que isso é possível acontecer. Vale a gente destacar que esses dois parques tiveram até, um momento bem recente, investimentos no setor privado.

Polibio – Isso é importante sublinhar porque é uma característica. Não sei se no resto do Brasil é assim ou não?

Susana – Não, a maioria dos parques são subsidiadas por áreas que pertencem ao Estado e ao Município. No nosso caso, o Tecnosinos tem o que a gente chama de uma governança...

Polibio – Ele não pertence à Unisinos?

Susana – Ele pertence 33% à Unisinos, 33% à Unisinos de São Leopoldo e 33% à Associação das Empresas. É essa mescla que faz esse negócio dar certo porque eu também não acredito em coisas 100% subsidiadas.

Polibio – Que faturou quanto o ano passado, só pra dar uma ideia?

Susana – Algo em torno de 1 bi.

Polibio – As empresas que estão lá faturaram em torno de 1 bilhão de reais.

Susana – Isso mexe muito na economia da região, não é só de São Leopoldo. Isso mexe na economia de toda uma região. Nós temos funcionários que vêm de Gravataí, Cachoeirinha, Taquara, kms dali e mostrando que dá certo e que tem empresário no RS que está disposto a avançar nessa área que é uma área, obviamente, de maior risco. É muito mais fácil você locacionar investimentos nos setores tradicionais que a gente conhece.

Polibio – Nessa área o índice de mortalidade é maior do que em áreas tradicionais?

Susana – No geral sim, mas dentro dos parques não. Isso também é uma coisa confirmada, as empresas que estão dentro dos parques tecnológicos, elas invertem a lógica da taxa de sobrevivência.

Polibio – Por quê? Interagem umas com as outras?

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Susana – Porque, primeiro, por estarem dentro de um ambiente que é concebido para a formação tecnológica. Uma mescla de grandes e pequenas empresas, grandes passando o conhecimento. Muitas são chamadas de “espinofes” que são derivadas de grandes empresas. Outras pequenas nascentes vão fornecer à grande. Isso tudo suportado por um sistema onde a gente leva conhecimento. O que nós mais queremos é o seguinte: a gente hoje está pegando uma ideia que em 3 anos tem que ser um produto que bomba no mercado, essa é a curva que a gente tem que passar. E existe na inovação um negócio já identificado que é o negócio que posso chamar do vale da morte das ideias, que é uma coisa dramática que a gente tem que fazer passar. É assim: você tem uma pessoa com uma grande ideia na cabeça, o grande desafio é você transformar essa ideia num produto de performance econômica.

Polibio – Que vá pro mercado e sobreviva.

Susana – Que sobreviva. Escalabilidade: quanto mais rápido você faz isso acontecer, esse é o grande desafio dos parques tecnológicos. Nós temos uma encubadora com 30 empresas de TI, empresas bem interessantes, com grau de maturidade...

Polibio – São todas empresas novas, jovens, pequenas.

Susana – Pequenas, ficam até 3 anos dentro da encubadora, que são empresas de alta tecnologia.

Polibio – E quanto tempo pode ficar na encubadora?

Susana – Até 3 anos. Depois ela fica dentro do parque, mas fora da encubadora.

Ruschel – Qual seria a dica que tu darias a um jovem empreendedor? Nós tivemos recentemente uma rede social criada por um jovem que não tinha nem 2° grau completo, o Tambler, que foi vendido para o Yahoo por 750 milhões de dólares, então, nós temos no Brasil, apesar da educação deficiente, nós temos um povo muito empreendedor, criativo. Talvez essa mescla de culturas, de DNAs que gerou uma massa crítica bem interessante. Mas esse empreendedor que tem uma ideia ou tem interesse de desenvolver uma nova ideia, um novo negócio, quais seriam as dicas que tu poderias dar baseando-se na experiência da Tecnosinos e por experiências pessoais tuas?

Polibio – Começando pelo começo: com quem que ele pode entrar em contato. O problema fundamental é “com quem eu falo”.

Susana – isso acontece muito. Ter um jovem que tem um conhecimento técnico bastante elevado. Tem uma idéia na cabeça ou às vezes não tem a formação formal, mas ele tem o conhecimento. Primeiro: se é no campo da tecnologia, procure um parque tecnológico porque ele vai estar se inserindo num ambiente onde a gente sabe tratar isso. Segundo: monte um plano de negócio porque o plano de negócio não tem por objetivo um instrumento burocrático que tu tem que preencher, ele vai ser um grande teste da tua idéia no exercício de se fazer a idéia se transformar num produto de mercado. É preferível que esse jovem gaste

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um bom tempo buscando subsídio para construir esse plano de trabalho, que a gente lá no parque tem um exemplo, são mais ou menos comuns os planos de negócios que opera a PUC que a Vale Tec opera também. Dedique um tempo a isso, porque a gente também já viu que existe uma dificuldade muito grande em você transformar uma idéia, uma tecnologia, uma idéia tecnológica num produto. Isso porque na verdade a pessoa vem com um conhecimento muito específico. Mesmo uma empresa de tecnologia, não sobrevive só com a tecnologia.

Ruschel – Ela precisa ter o marketing, precisa ter o comercial...

Susana – Tem que ter a gestão. Então, o plano de negócio é esse instrumento que vai forçar ele a pensar que ele vai ter que pagar funcionário, que ele vai ter que pagar tributo, quanto ele tem que vender para suportar tudo isso, quando o produto dele vai chegar no mercado, qual é o investimento que ele vai ter que fazer. Ele começa a pensar tudo isso de forma estruturada. Outra coisa legal também é o seguinte: quando ele apresenta isso a um parque tecnológico, nós nos submetemos com um grupo de pessoas que vai olhar esse plano. Não é que o cara vai rodar no business planning, vai ser aconselhado ao que é melhor porque nos interessa embarcar no nos parques tecnológicos ou nas encubadoras idéias que vão performar. Então a gente prefere gastar mais tempo nessa parte, antes do CNPJ, para que ele se torne um CNPJ e não gaste tempo, recurso financeiro, a sua vida em algo que vai naufragar ali na frente.

Ruschel – E no caso Tecnosinos, qual seria o primeiro contato?

Susana – Nós na Tecnosinos temos a Unitec que é a área que faz a gestão do parque tecnológico, nós temos uma equipe.

Polibio – O primeiro contato pode ser até por e-mail, tem algum e-mail de cabeça?

Susana – Temos o e-mail [email protected] ou ir diretamente conosco lá porque a gente tem toda uma série de eventos, inclusive de preparo dessas pessoas.

Polibio – Há duas semanas o Prefeito de Porto Alegre, José Fortunatti, foi para o Vale do Silício nos EUA. Levou com ele uma missão de políticos e de empresários do RS. O pessoal voltou, ainda hoje meio deslumbrados com o Vale do Silício. Nós vamos conversar sobre isso no próximo bloco... O prefieto de Porto Alegre, José Fortunatti, surpreendeu todo mundo quando anunciou que iria viajar para o Vale do Silício comandando uma missão de políticos, empresários, se servidores públicos para conhecer e saber o que está acontecendo naquela região lá nos EUA. Ele voltou deslumbrado do que viu, aliás todos voltaram. Foi uma programação muito intensa e altamente positiva, é muito melhor você fazer com que um homem público viagem para o Vale do Silício do que pro vale da morte. Você não foi dessa vez NE Susana, mas um pessoal seu foi.

Susana – A Unisinos participou e eu já tinha ido antes.

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Polibio – O que uma visita, porque é um homem público, não podemos exigir que um homem público seja um tecnólogo, mas se ele tiver uma visão mais abrangente sobre essa área ele pode melhorar sua administração em relação a isso. O que você acha que tem de positivo e por que surpreendeu tanto? O Vale do Silício continua sendo...

Susana – Continua sendo, tem empresas importantes nascendo e que continuam lá. O Facebook, isso tudo é lá que brotou. Eu acho que isso é de fundamental importância porque na verdade o Brasil precisa avançar de um lado em conhecimento disso, do entendimento disso para poder avançar em políticas públicas. A inovação prescindi uma parceria público privada porque inovação subentende risco e esse risco para crescer, para que aconteça e se transforme em produto de valor agregado todos os países de sucesso compartilham. Se a gente olhar o caso dos EUA, caso da Coréia, caso de Israel, são países que claramente colocam uma contribuição importante no seu PIB em investimentos de inovação e tecnologia como em contrapartida ao que as empresas colocam. Então, esse modelo ele tem que acontecer e tem que funcionar numa outra base, então eu acho extremamente importante. Outra coisa importante é entender como esse negócio funciona porque a gente também tem muitos equívocos. Primeiro: um grande equívoco que se dá é a gente achar que inovação se dá em qualquer lugar. Não, o lugar da inovação é dentro da empresa, que inovação é aquilo que vai para o consumidor final. Inovação é um troço que é puxado pelo mercado, só as empresas tem competência de fazer inovação. O que as universidades fazem e os institutos são pesquisas aplicadas em tecnologia, dificilmente ela vai fazer uma inovação tecnológica. Ela vai produzir uma determinada tecnologia...

Ruschel – Sim, porque inovação vem da necessidade.

Susana – Inovação tem um definição muito simples: é aquilo que agrega valor ao consumidor e traz rentabilidade para a empresa. Então, isso mostra com clareza, inovação é tudo que é novo pra mim como consumidor e para a empresa muda o portfólio, agrega valor. Então, entender tudo isso é muito importante e o Vale do Silício segue sendo um grande exemplo. Se a gente olhar por exemplo uma das áreas mais importantes para o Brasil que é a área de semi-condutores, nós temos um déficit de quase 20 bilhões de reais ano em termos de importação. É lá que está a grande produção, no mundo, hoje, existem dois grandes núcleos: existe o núcleo asiático e os EUA e uma área que é definidora do mundo. Semi-condutores diz respesito a grossura do nosso computador, à capacidade de memória, o que tu embarca lá dentro, o que tu pode fazer.

Ruschel – A capacidade de desenvolver modelos...

Susana – Modelos. Isso tu está lá. Então, segue sendo um grande modelo. O que eles conseguiram descrobrir lá e fazer rodar é muito bem esse trinômio: pesquisa, tecnologia e inovação.

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Ruschel – E seguindo o exemplo americano, onde entra a figura de um investidor? A gente sabe que nos EUA isso já é consolidado. Como entra a figura do investidor, pra falar na linguagem dessa área, o investidor-anjo?

Polibio – Até esse rapaz, que nós falamos a pouco, quer entrar, se alguém não investir, como vai ser isso ai?

Susana – No Brasil essa é uma questão ainda extremamente mal resolvida. Quando a gente está falando, pelo menos, nos órgãos oficiais, Sinep, BNDES, a questão do capital de risco, o capital-anjo é de fundamental importância. Quando a academia através de um grupo de pesquisa desenvolve uma determinada tecnologia, essa tecnologia ela ganha, durante 3 anos ou 5 anos um dinheiro de investimento de uma outra empresa, de um anjo, ou de alguém para ela viver e poder transformar aquilo ali na forma de um produto. Isso no Brasil, não existe. No Brasil tem um conceito torto que é o seguinte: tu vai olhar para determinados fundos e eles dizem o seguinte “ah, eu invisto em ti como capital semente, só que tu já tem que estar faturando 1 bilhão e ter teu produto vendido”, ai não é! Inovação subentende risco, é óbvio que a gente não pode deixar de considerar que pela própria dificuldade de conhecimento, de ser mais fácil as pessoas lidarem com setores tradicionais, esses setores apresentam ao investidor maior área de dúvida. Ele não sabe muitas vezes o que ele está tratando como tecnologia. Mas ai é a importância de ele buscar investimentos que estão dentro de um parque tecnológico. Passa por um bom filtro, são empresas que estão ganhando um conhecimento, estão performando no mercado, então, isso tira bastanteo risco dele. Essa é uma coisa essencial. Não existe empresa que possa potencializar o nascimento de empresas tecnológicas sem...

Ruschel – A gente pode ver o exemplo, uma coisa que está na moda é Facebook, para quem não viu o filme, acho um filme bem interessante, que teve momentos chaves. O investidor anjo foi o próprio brasileiro Saverin, que colocou aquele capital inicial de 7 mil dólares, hoje parece pouco pelo tamanho do negócio. Se não tivesse aqueles 7 mil talvez não tivesse Facebook hoje. E depois, durante o processo, tivemos grandes fundos que é o que falta aqui no Brasil, que aportaram somas vultuosas com um negócio que não estava dando resultado nenhum e ganharam muito dinheiro com isso. Claro que temos ai vários exemplos que não deram certo, mas isso faz parte do jogo.

Susana – Inovação é isso.

Polibio – As empresas.Com sempre quebram o WallStret.

Ruschel – É, mas isso sempre acontece quando uma nova tecnologia está chegando. Aconteceu com as ferrovias, a primeira onde gerou uma bolha que foi estourada, só que depois, na esteira dessa bolha estourada aconteceu toda uma estrutura e a mesma coisa aconteceu com a .Com.

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Polibio – Nós vamos conversar sobre as perspectivas desse mercado. Essas empresas que estão chegando e até se isso pode representar uma guinada na economia no RS e no Brasil, numa direção de mais modernidade ou não...Às vezes a gente fala em parque tecnológico, pensando que só tem TI ali, informática digamos assim, mas vocês ali têm vários campos. Quais são?

Susana – Nós criamos empresas em 5 áreas. A mais antiga que é TI; depois a gente tem comunicação e divergência digital, toda essa parte que faz as mídias digitais; uma área nova que é semi-condutores, automação e engenharia, automação a gente já tinha, mas estamos embarcando semi-condutores na parte de capsulamento e teste; e duas áreas bem novas que são bem importantes também: uma é a área de nutraceutica que é o encontro da nutrição da farmácia, é o que faz agregação de valor em alimentos. A característica mais fácil é a seguinte: antes a gente comia o yogurte e tomava o yacult, hoje a gente toma um Activia ou um Essence da Piá e esse produto já é um yogurte com um probiótico dentro e faz duas funções. Então, esse é um projeto extremamente importante para o RS porque é a nossa aposta na mudança de dependência do setor agro-comoditie para empresas de alto valor agregado. Isso é uma tendência no mundoNós temos ido em feiras importantes, o setor de alimentos, mais pra frente, tem um desafio tremendo: a população segue aumentando e áreas agricultáveis estacionadas, o que tem que acontecer: aumento da produtividade. Como faz isso? De um lado aumentando a produtividade dentro da porteira e a outra área é melhorar a produtividade do alimento em si e a nutraceutica entra. Então o conceito de montadora está cada vez ficando mais evidente e é isso que nós queremos fazer. Hoje tu compra, quando tu compra um bioativo tu compra o probiótico de uma empresa, a essência de outra, o bacilo daqui, é uma montadora, é como se fosse uma montadora de carro isso. E o RS tem potencialmente cara para poder ter esse novo empreendimento aqui. É uma área importante que a gente está fazendo. Nós vamos ter dentro doparque, em uma parceria com a Unisinos o principal centro de tecnologia da América Latina em nutracêutica, que vai ser inaugurado em outubro agora, investimento de quase 15 milhões, é do Governo Federal. Não tem igual no Brasil, a referência é do Canadá e da Europa. A outra área é novas energias. São áreas todas, existe um corte de áreas que a gente chama de áreas portadoras de futuro pra gente entender que nós temos que ser sim aquele espaço diferenciado onde a gente vai estar construindo um outro RS. Mesmo que a gente considere que todas essas nossas áreas impatem nos setores tradicionais, a gente quer ser um elo puxador dessa nova economia.

Polibio – Comparando com o que acontece no mundo desenvolvido, de 1 a 10, em que pontuação nós estamos hoje e chegariamos a que pontuação digamos a 10 ou 15 anos?

Stormer – Tenho uma Coréia do Sul que a 30 anos atrás era um país miserável, hoje é o que é: a gente chega lá algum dia? Tem chance e quando? E o que precisa ser feito?

Susana – Chance tem, o Brasil é um ...

Polibio – Se continuar como está indo, ai não tem.

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Susana – Ai eu concordo contigo. O Brasil é um país que, pelas suas p´roprias características de diversidade econômica, tem excelente chance para ingressar nesse mundo. O brasileiro também tem uma coisa extremamente relevante nesse mundo dessas novas tecnologias que é a criatividade. Se a gente transformar uma coisa que hoje é mal vista, que é o jeitinho brasileiro, que é o princípio da criatividade, que é criar o novo, numa coisa positiva, a gente pode chegar lá. Para mim, a base de tudo só tem uma que é a educação. Enquanto o Brasil não tiver um programa com muito incentivo para mudar a qualidade da educação, não estou falando em número de pessoas alfabetizadas, não é uma questão quantitativa. Claro que o quantitativo é extremamente importante, mas o qualitativo, sobre esse aspecto, é de fundamental importância. Educação é tudo. Você me perguntou de 1 a 10: se a gente olhar Tecnosinos, TecnoPuc, comparados a grandes parques no mundo inteiro, nós não perdemos nada Polibio. A tecnologia que se faz aqui é a tecnologia que conversa com a Índia, com a China, com os EUA. Só que o volume é menor. Para isso tem que ter 3 coisas:1 – formação de talentos, por isso a educação; 2 – papel de governo na questão de políticas públicas, fundamental; 3 – empresário a fim de assumir o risco da inovação. Sem isso nós não vamos adiante.