entrevista i deia john thackara
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Design Sustentável:a nova forma de pensar O Mundopor Michael Eudes
Entrevista John Thackara
Desenvolver medidas econômicas e
buscar materiais que não agridam
o meio ambiente são os principais
objetivos e valores das corporações
contemporâneas. E, no design, há
a mesma preocupação com a
preservação do Planeta. O fi lósofo
e escritor inglês John Thackara
é símbolo desse novo modus
operandis do setor e pioneiro em
soluções sustentáveis.
Desde a Revolução Industrial, no século XVIII, o ho-mem intensifi cou a exploração dos recursos natu-rais. A tecnologia trouxe benefícios – avanços signi-fi cativos aos mecanismos de produção na indústria. Em contrapartida, a natureza fi cou em segundo plano, sendo devastada com avidez. Agora, ela dá constantes sinais de que está no limite. Diversas mudanças climáticas causam fenômenos naturais nocivos ao homem. Por isso, mais do que nunca, é chegado o momento de repensar as ferramentas de produção e aliar a estas ações de desenvolvi-mento, soluções que causem menos estragos ao meio ambiente.
Por falar em Revolução Industrial, coincidência ou não, foi justamente onde nasceu esse movimento, em Middlesbrough, na Inglaterra, que surgiu outra prática, contrária à primeira. Nessa cidade, locali-zada ao nordeste da Inglaterra, John Thackara fez do seu trabalho vitrine para outros continentes do mundo. Ele conseguiu, por meio de estratégias bem elaboradas, plantar alimentos em quantidade sufi -ciente para atender a população local. O povo foi
orientado e conseguiu aproveitar bem cada espa-ço disponível ao plantio. Resultado: em apenas um ano, foram produzidos alimentos sufi cientes para sete dos 142 mil habitantes da cidade.
O exemplo de Middlesbrough ressalta a importân-cia de atitudes sustentáveis. No entanto, John não acredita que deve, obrigatoriamente, mudar os há-bitos da população. “É sempre um desastre quan-do designers tentam dizer a outras pessoas como elas devem viver. Não sou favorável à ideia de que o design possa alterar o comportamento das pes-soas. O que pode ser feito, no entanto, é criar fer-ramentas e plataformas que possibilitem às pessoas partilhar recursos, como: energia, tempo, matéria, habilidade, softwares, espaços, ou até mesmo co-mida”, pondera o escritor.
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O profi ssional acredita que, para haver maior difu-são da sustentabilidade, é necessário popularizar, ou seja, facilitar o acesso das pessoas de várias classes sociais ao design. “Acredito que o design deve deixar de ser uma ferramenta disponível ape-nas para quem pode pagar. Ele precisa estar di-retamente relacionado a valores explícitos, como respeito incondicional pela vida e pelas condições que a suportam”, salienta Thackara. Para ele, o problema está em acharmos que o atual estado do planeta é culpa e responsabilidade de outras pessoas.
Mesmo assim, não basta que apenas os designers se preocupem com a preservação do mundo. As indústrias e o comércio, motores da economia, também precisam contribuir. De acordo com Thackara, esses setores devem criar mecanismos que encorajem atitudes de preservação. “Muitos designers e líderes de negócios estão se conscien-tizando da loucura do crescimento da economia industrial, e começando a buscar medidas, ainda modestas, para o desenvolvimento de uma eco-nomia regenerativa. É o início de um período de transformação”, garante.
John destaca o trabalho de profi ssionais que se preocupam com a sustentabilidade: “É fantástico perceber que os designers estão sendo envolvi-dos em projetos que melhoram o acesso à água potável. É inspirador ver engenheiros descobrindo maneiras de reduzir o custo de equipamentos mé-dicos ou agrícolas. E o design de comunicação, aumentando a conscientização sobre questões sociais urgentes, desempenha um papel genuina-mente crítico da vida em desenvolvimento”.
O futuro é, de fato, uma das bases de trabalho da política de sustentabilidade. Por isso, despertar o interesse dos jovens para essa questão também é um fator imprescindível. Segundo Thackara, muitos estudantes e jovens designers estão em busca de uma nova direção. Porém, em muitas escolas, as ações estão restritas apenas a cartazes sobre o assunto. “A transição para a sustentabilidade não
é mais sobre mensagens, e sim, sobre atitudes e ações. Não tenho dúvida, a escolha é muito clara! Se você não for a favor da biosfera, você é contra ela, não tem meio termo” alerta.
A necessidade imediata de mudança da qual se refere o britânico encontra um grande obstáculo: o excesso de produção industrial. John é enfáti-co ao descrever os exageros: “No ano passado, um novo produto foi lançado em algum lugar do mundo, a cada três minutos. A maioria dessas mer-cadorias envolveu a utilização de energia, água e recursos naturais. Cada produto, assim, contri-buiu para os 70 milhões de toneladas de C02 que é emitido para a atmosfera terrestre, a cada 24 horas, como resultado da atividade humana. Nós não precisamos de mais produtos!”.
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Design no BrasilConfi ra um bate papo
rápido sobre o olhar do inglês
em relação ao Brasil:
Você conhece algum projeto no Brasil que está
caminhando de acordo com o que você acredita
ser o correto? Pode nos dizer qual?
Eu fui ao Brasil apenas algumas vezes, então não sou um expert no mundo do design brasileiro. Mas, como uma reação instantânea, eu diria que todos os projetos que podem levar o país em direção à forma antiga de industrialização - a produção de carros particulares, agronegócio, supermercados, grandes hotéis, são uma forma ruim de desenvolvimento, do ponto de vista dos interesses da biosfera.
Há alguma fi gura da área de design, em especial,
que você admira no país?
O que mantém meus olhos atentos, e que sempre apoio, são exemplos de profi ssionais que ajudam
a desenvolver novas possibilidades para atender às necessidades da vida diária. Uma inspiração recente, em minha opinião, é o novo livro de Adélia Borges “Design + Artesanato: O Caminho Brasileiro”. Ela reúne uma série gloriosa de artefatos coletadas em cada região brasileira. Algo impor-tante que o livro traz são os artesãos, o papel deles como especialistas em técnicas e administradores das possibilidades agrícolas e artesanais de suas regiões.
Como o design pode contribuir no caso do Brasil?
Uma das possibilidades importantes é poder cola-borar com a economia regenerativa, que é agora emergente, é descobrir quais os bens e recursos já estão lá, no seu território. Os recursos naturais, como o vento, o sol, com potencial para gerar energias limpas, materiais diversos, e as habilidades necessárias para usá-los se tornam matéria-prima do design para uma nova economia.
Entrevista John Thackara
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Empresa de
Zurique que com
apenas 02
entregadores
fornece produtos
orgânicos a
bares da cidade,
com 40 diferentes
tipos de sopa,
tudo sem aditivos,
completamente
orgânico.
(John Thackara)
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Fazendas de Zurique
que distribuem seus
produtos através de
suas próprias lojas.
Vinte novos projetos
foram lançados, no
oeste da Suíça só nos
últimos tempos. Um
desses é o de Orto-
loco (abaixo) é uma
fazenda auto-gerida
cooperativa com 200
membros ativos.
(John Thackara)
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Visitei uma
fazenda inspiradora,
Akur, onde
Thordur Halldorsson e
Karolina Gunnarsdo
ttir passaram
os últimos 20 anos
criando o
protótipo de um
mercado
auto-sufi ciente.
(John Thackara)
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