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Entrevista CREAS Maruípe TÓPICOS DA ANÁLISE DE CONTEÚDO DEMANDAS GERAIS DEMANDAS DOS ADOLESCENTES EM LA ESTRATÉGIAS ORGANIZAÇÃO DO EQUIPE ORIGEM DAS DEMANDAS Finalização da medida INSTRUMENTOS CONDIÇÕES DE TRABALHO ESPAÇO FÍSICO DO CREAS ATUAÇÃO FRENTE AS COMPLEXIDADES DO TRABALHO INICIO DO ATENDIMENTO DE MSE OPINIÃO DO AS SOBRE LA TRABALHO EM REDE PERFIL DOS ADOLESCENTES ATENDIDOS EM LA AVANÇOS NO ESPAÇO SÓCIO-OCUPACIONAL DIFICULDADES NA SOCIOEDUCAÇÃO IDEIAS PARA O ENFRENTAMENTO DA QS Fluxo do atendimento de LA 1-De um modo geral, quais são as demandas dos CREAS? E como a equipe se organiza nos atendimentos? 2-Quais são as suas estratégias de intervenção enquanto assistente social inserido nos CREAS? Quais instrumentos de trabalho e procedimentos que realiza?

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Page 1: Entrevista Com Tópicos Preenchidos CREAS Maruípe

Entrevista CREAS Maruípe

TÓPICOS DA ANÁLISE DE CONTEÚDO

DEMANDAS GERAIS

DEMANDAS DOS ADOLESCENTES EM LA

ESTRATÉGIAS

ORGANIZAÇÃO DO EQUIPE

ORIGEM DAS DEMANDAS

Finalização da medida

INSTRUMENTOS

CONDIÇÕES DE TRABALHO

ESPAÇO FÍSICO DO CREAS

ATUAÇÃO FRENTE AS COMPLEXIDADES DO TRABALHO

INICIO DO ATENDIMENTO DE MSE

OPINIÃO DO AS SOBRE LA

TRABALHO EM REDE

PERFIL DOS ADOLESCENTES ATENDIDOS EM LA

AVANÇOS NO ESPAÇO SÓCIO-OCUPACIONAL

DIFICULDADES NA SOCIOEDUCAÇÃO

IDEIAS PARA O ENFRENTAMENTO DA QS

Fluxo do atendimento de LA

1-De um modo geral, quais são as demandas dos CREAS? E como a equipe se organiza nos atendimentos?

2-Quais são as suas estratégias de intervenção enquanto assistente social inserido nos CREAS? Quais instrumentos de trabalho e procedimentos que realiza?

3- Quais as condições de trabalho dos assistentes sociais? (Vínculo empregatício, horas de trabalho, ambiente de trabalho as equipes de atendimento são as mesmas para todos os programas que o CREAS executa. O mesmo acontece em relação ao espaço físico, é o mesmo espaço para a execução de todos os atendimentos ou programas?)

Page 2: Entrevista Com Tópicos Preenchidos CREAS Maruípe

4-Como os profissionais estão reagindo às complexidades do trabalho na instituição?

5-Quando e como se iniciou o atendimento de medidas socioeducativas nos CREAS de Vitória? Existe algum documento que narre este processo?

6- Quais são as demandas dos adolescentes em LA, direcionadas ao assistente social que trabalha na execução da medida de liberdade assistida?

7- Em sua opinião, a medida socioeducativa de liberdade assistida contribui para a mudança de perspectiva de vida do adolescente? (Queremos saber a respeito da resolutividade, eficácia, resultados)

8-Existem autores que concebem a medida socioeducativa como uma sanção e outros como uma medida educativa. Qual a sua opinião a respeito da medida?

9-Qual o perfil dos adolescentes atendidos em LA? Existe alguma série histórica, ou documento para nos disponibilizar?

10- Como você avalia o trabalho em rede? Os serviços têm funcionado de forma articulada como retaguarda no atendimento ao adolescente cumpridor da medida socioeducativa?

11-Que limites e avanços existem neste espaço sócio-ocupacional no que se refere a medida socioeducativa de liberdade assistida?

12-Quais as principais dificuldades enfrentadas pelo assistente social no atendimento ao adolescente em conflito com a lei?

13- É possível a criação de novas estratégias para enfrentar as expressões da questão social nesse espaço sócio ocupacional?

14- Em sua opinião é possível seguir as diretrizes e os princípios colocado pelo SINASE na sua prática profissional?

Page 3: Entrevista Com Tópicos Preenchidos CREAS Maruípe

DEMANDAS GERAIS

O CREAS ele é um serviço que atende todo tipo de violação de direito, né, todo tipo

de violência. Então as demandas são diversas, é violência sexual, violência física,

negligência, é violência psicológica, violência financeira. Então é uma demanda,

assim, bem grande. E também atende a medida socioeducativa. Na medida

socioeducativa nós acolhemos os adolescentes para LA...E PSC...

Não tem equipe diferenciada ainda. Minto! Tem uma equipe diferenciada o SEAD, que é o Serviço Especializado de Atendimento Domiciliar. O Serviço de Atendimento Domiciliar ele é executado pelo SEAD, e qual é o público alvo do SEAD? São os idosos e as pessoas com deficiência que estão impossibilitadas de sair de suas residências. Idosos e pessoas com deficiência com direitos violados, tem que esclarecer muito bem isso, por que o CREAS tem que tá com o direito violado ou com o vínculo quase rompido.

É o PAEFI, né, que são as famílias que não são de medida socioeducativa- PAEFI e o medida socioeducativa.

DEMANDAS DOS ADOLESCENTES EM LA

Os adolescentes chegam aqui com várias demandas. Mais a que marca mesmo é

em relação à escola, praticamente eles já estão a mais de um ano fora da escola.

Escolaridade defasada. Um grande número tem o terceiro, quarto ano do ensino

fundamental 1.

Traz também a demanda relacionada a substância psicoativas, que são as famosas

drogas. Eles, um grande número, eles fazem uso e estão envolvidos com tráfico de

drogas. Outra demanda que eles apresentam também. Então não deixa de ser uma

demanda de saúde também, por que o uso de substância psicoativa é uma

demanda de saúde.

Outra demanda que eles trazem também é... deixa eu ver aqui educação, saúde. Trabalho, a maioria, nunca participaram de nenhum programa de profissionalização, profissional. Não foram inseridos em adolescente aprendiz.

. Então a questão do trabalho tá muito presente na vida desses meninos, que a

maioria a família não tem o mínimo de recursos para sobreviver. Então eles foram

recrutado para o tráfico na verdade. É um recrutamento que, eles tendo se

Page 4: Entrevista Com Tópicos Preenchidos CREAS Maruípe

destacado no bairro, comprar as coisas deles, eles se utilizam do tráfico de drogas

mesmo.

Então a demanda é trabalho, saúde e educação. A maioria estão fora da escola. E a

gente trabalha com todas essas demandas, eu acho que elas são....

ESTRATÉGIAS

E PSC, é realizado o acolhimento aqui, só que eles não cumprem aqui a PSC, eles

vão cumprir numa instituição parceira, então nós temos parcerias com outras

instituições. A PSC é a Prestação de Serviço a Comunidade.

Como eu te falei, o atendimento aqui é psicossocial. Então que estratégia nós

fazemos? O acolhimento, e partir do acolhimento uma escuta bem qualificada.

Verifica os fatores de risco, seja vulnerabilidade social ou outros serviços, né,

pessoal.

Então a primeira coisa é conhecer a realidade da família. A realidade da família e a

realidade do sujeito também. Por que também tem que ver a singularidade de cada

sujeito. E a partir daí é iniciado o acompanhamento, através de um plano de

acompanhamento. Então as estratégias também, entre as estratégias de intervenção

estão os encaminhamentos, a partir do conhecimento daquela realidade tem os

encaminhamentos pra rede socioassistencial, tem o estudo de caso, que são

realizados, tem visitas domiciliares. Então tudo isso aí são estratégias que a gente

utiliza.

A gente procura agendar sempre o dia do plantão da dupla, cada dupla tem um dia de plantão.

Só que na maioria das vezes eles não vem, aí a gente tem que fazer busca ativa.

Mais não tem assim um planejamento específico, tal dia PAEFI, tal dia medida

socioeducativa, não tem, é atendido tudo de forma geral.

A gente acompanha. No período que eles estão executando lá a medida fora, pode

ser realizados atendimentos com a família, visita domiciliar, contato direto com a

instituição parceira pra verificar como que esta o cumprimento da medida. Então a

gente continua acompanhando. Mais a execução da medida não é realizada dentro

do CREAS.

Page 5: Entrevista Com Tópicos Preenchidos CREAS Maruípe

Encaminhamos também para projetos sociais. Tem o projeto navegar em Vitória,

que é lá no Tranquedão. Tem aqui na nossa região tem a fundação Batista. Tem o

João XXIII que é lá em Santo Antônio.

Até que, é importante eu falar isso também, a gente faz escala, pra que os meninos

de bairros em conflito não se encontrem, ta por que, quando eu falo meninos, pode

ser meninos e meninas, é os adolescentes que estão cumprindo medida não se

encontrem. Os adolescentes de Conquista e Resistência não podem se encontrar de

jeito nenhum com os adolescentes de Nova Palestina. É importantíssimo, a gente

faz uma escala, a gente conversa entre as equipes pra eles não se encontrarem

aqui no serviço, por que eles podem ta colocando a vida deles em risco.

A gente encaminha relatório circunstanciado pra Vara informando da impossibilidade

dele cumprir, e solicitando medida protetiva. Ou solicitando, se o adolescente já tiver

inserido na escola, se tiver inserido no trabalho, a gente pede extinção, solicita né,

sugere, por que a gente não tem esse, quem pode determinar é só o Judiciário, a

gente faz a sugestão de que a medida seja extinta, ou até mesmo a gente pede pra

cumprir em outro CREAS. Nós já atendemos aqui adolescente de Maria Ortiz, que

não é da nossa região. Então nós já atendemos aqui adolescentes de Maria Ortiz

que ele teria que cumprir a medida lá em Bento Ferreira, que é em Ilha de Santa

Maria, no CREAS Bento Ferreira. Como ele é ameaçado lá naquela região ele não

podia cumprir lá, ele cumpriu aqui com a gente. Então são feitas essas estratégias

também de intervenção, pra que os adolescentes não se coloquem em risco

Não seria mudança de vida o nome. Por que aqui a gente não busca pegar lá atrás

não, a gente busca pegar de agora pra frente. A gente não busca culpar, a gente

não busca punir, a gente não busca falar quem tá certo, quem tá errado não. A

gente trabalha com a proposta de, vamos fazer uma reflexão a partir de agora. O

quê que a gente vai fazer a partir de agora? Como que está?

Essa aí é outra questão. A medida de LA ela pode ser no mínimo de 6? Não.

(Hesitação e resposta) Ela pode ser até de 12 meses. Então eles começam a

cumprir, aí cumpriu 1 mês, cumpriu 2, aí começa a faltar. A gente faz busca ativa, a

gente faz visita domiciliar, entrega solicitação de comparecimento pedindo pra eles

retornarem, a gente telefona, faz busca ativa por meio do telefone. Então, aí eles

não vem, não vem mesmo. A gente encaminha o relatório circunstanciado pra Vara,

informando do descumprimento. Esse relatório...

Page 6: Entrevista Com Tópicos Preenchidos CREAS Maruípe

. Agora, nesse ano, a gente ta estabelecendo assim... Agente vai encontrando

estratégias! A gente está estabelecendo um vínculo direto de contato com a Vara da

Infância, com a 2º Vara. Então, tem o técnico lá, que a gente faz estudo de caso,

quando... Esses casos que já estão parados a muito tempo. A gente faz estudo de

caso, abre o processo junto com ele, aí ele já vê o que ta lá no processo pra gente

dá encaminhamentos pra aquele caso. Se vai pedir extinção, se vai pedir uma

audiência de justificação. Aí a gente já ta tendo esse canal, a gente ta buscando

estratégias pra burlar essa morosidade do judiciário. Então a gente tem feito estudo

de caso. A minha equipe, a minha dupla ainda não começamos. Mas a dupla que

trabalha na nossa sala, elas fazem 1 vez por mês estudo de caso, pra fazer o

levantamento desses processos que estão parados lá 1 ano, 2 anos, pra dar

andamento.

E como que a gente vai ter que aprender a trabalhar com essa morosidade? Não é

recuando, não é concordando, é agindo. Se você tentou de tudo, se você não

conseguiu, elabora um relatório com base em teorias, com base em leis, Estatuto da

Criança, SINASE, elabora relatórios, os planos municipais de educação, nacional...

elabora e encaminha pros órgãos de proteção: Conselho Tutelar, Promotoria da

Infância e da Juventude, Vara da Infância. Por que... Pode demorar um pouco?

Pode. Mas pode ter resultado. Então você não pode ficar só concordando com tudo

não. Você tem em mãos muitas leis de proteção, então você tem que garantir direito,

que preconizar direito, então você tem que lançar mão dessas leis. Você tem sua

autonomia relativa, mas você pode fazer relatórios e encaminhar pra esses órgãos

de proteção.

Agora a gente tem buscado nos polos de medida socioeducativa aqui em Vitória,

tem buscado levar os adolescentes pra participar, mais é um número muito

pequeno.

Mais aqui também a gente busca fazer algumas estratégias, a gente faz oficinas, a

gente faz grupos reflexivos, a gente busca chamar eles aqui.

ORGANIZAÇÃO Da EQUIPE

Então se são demandas encaminhadas, se eles chegam aqui encaminhados, é

realizado o acolhimento a equipe de plantão, que tem uma equipe de plantão que

atende, realiza o acolhimento e encaminha para a equipe de referência do bairro.

Page 7: Entrevista Com Tópicos Preenchidos CREAS Maruípe

Cada bairro tem uma equipe de referência. Por exemplo, eu e minha dupla, que nós

trabalhamos em duplas aqui, que não é só assistente social, é assistente social e

psicólogo, a gente atende o bairro de Resistência e Conquista. Verificado no

acolhimento que esse munícipe é desses bairros, eles encaminham para uma dupla

técnica, a dupla técnica tem o apoio de outros profissionais – pedagogo, assessor

jurídico, oficineiro, tem também os educadores sociais. Então é uma equipe bem

grande.

Eu queria deixar bem claro, que aqui a gente trabalha mesmo em uma equipe

interdisciplinar, assistente social, psicólogo e outros profissionais. Até

multidisciplinar, por que tem pedagogo, acessor jurídico. Mas a demanda ela se

mistura, então a gente procura atender de forma igual.

ORIGEM DAS DEMANDAS

As demandas chegam aqui encaminhadas pelo CRAS, por toda a rede CRAS – Unidade de Saúde, escola, educação também encaminha, judiciário, as promotorias, as Varas de infância, o disque 100, tem o 156, que é um canal de denúncias também, do município de Vitória. Então se são demandas encaminhadas, se eles chegam aqui encaminhados

. Então quem acolhe esse adolescente lá na vara da infância é o técnico, é a equipe técnica lá da vara, eles agendam e encaminham eles pra qui, com horário tudo direitinho marcado.

Finalização da medida

Eles encaminham um oficio pra cá, e nós temos o assessor jurídico também que faz

a consulta processual pra gente, ele entra lá no processo do adolescente e consulta.

O assessor jurídico é um profissional, é um advogado.

Mas o que é válido mesmo, é quando a 2 º Vara e o judiciário encaminham esse

oficio pra gente com o mando da extinção. Só que isso as vezes também não chega,

demora muito pra chegar.

Se o adolescente... Se a gente ainda tiver contato, a gente chama o adolescente

aqui, informa e faz a finalização da medida. Se a gente consegui contato com ele.

Mas por vezes a gente não consegue nem informar. A gente orienta também: “-Oh

de vez em quando...”

Principalmente quando é um adolescente que consegue cumprir toda a medida...

Page 8: Entrevista Com Tópicos Preenchidos CREAS Maruípe

“ -Oh, de vez em quando você vai lá também na Vara, pra ver se você... se sua

medida foi extinta. Consultar.

Se ele ficar 2 anos sem contato nenhum... se o processo dele ficou parado... eu

acho que são 2 anos. Eu não vou poder afirmar... Se o processo fica engavetado

dois anos, a medida pode ser extinta. Não é extinta, ela não vai ser extinta. Deixa eu

ver qual o nome correto. Prescrição eu acho, se eu não me engano. Por que? Ela

vai permanecer lá, não significa que ele foi liberado. Ela vai permanecer lá, o

processo vai permanecer lá até os 21 anos. Tá? Só vai extinguir mesmo a medida

com 21 anos. A medida vai ser finalizada mesmo quando ele tiver 21 anos, ou

quando ele for apreendido, quando for apreendido, quando for preso. Quando for

preso mesmo. Preso por cometer algum ato a partir dos 18 anos, aí também a

medida é extinta lá da vara. Mas até 21 anos ela permanece se ele não cumprir. E

pode ser apreendido também. Se a justiça não localizar e se ele estiver em

descumprimento, pode ser expedido o mandato de busca e apreensão pra ele. E ele

pode ser apreendido. Tem muitos adolescentes que tem mandado de busca e

apreensão. Então se eles forem abordados na rua e feito um levantamento, ele pode

ser apreendido na medida, mais são casos raros. Tá? Por isso que eles sempre tem

aquela frase: “Não dá nada não”. Eles tem essa frase muito constante com a gente.

INSTRUMENTOS

Aqui são realizadas as oficinas. E PSC, é realizado o acolhimento aqui, só que eles não cumprem aqui a PSC, eles vão cumprir numa instituição parceira, então nós temos parcerias com outras instituições

O acolhimento

Tem um Plano Individual de Atendimento, que é o PIA, que também é solicitado no

SINASE, todo acompanhamento de medida tem que ter o PIA.

Então o Plano Individual de Atendimento a gente busca a gente busca refletir ali com o adolescente novas perspectivas de vida, novos horizontes. Mais não é fácil, é muito difícil.

CONDIÇÕES DE TRABALHO

Page 9: Entrevista Com Tópicos Preenchidos CREAS Maruípe

O vínculo empregatício é terceirizado, é CLT, nós somos carteira assinada. Mais nós

somos contratados por uma fundação, que é a fundação Monte Belo, no momento o

contrato é com a fundação Monte Belo. A gente trabalha 6 horas, assistente social

trabalha 6 horas.

Só que no momento, a gente tem que falar, né, dessa realidade, da terceirização do

trabalho, a gente não tem nenhum profissional efetivo, só a coordenadora. Só a

coordenadora? Só a coordenadora do serviço no momento. E a equipe aqui é

aproximadamente 40 pessoas. Então só a coordenadora efetiva no momento. E não

tem ninguém pra chamar.

ESPAÇO FÍSICO DO CREAS

Em relação ao espaço físico? É o mesmo espaço para a execução de todos os

atendimentos e programas? Sim, é o mesmo espaço. Ao não ser a PSC, que é a

Prestação de Serviço a Comunidade, que conforme determina as legislações, as leis

do cumprimento da medida, tem que ser com a instituição parceira pra cumprir fora

daqui. O CREAS não executa medida socioeducativa de PSC.

ATUAÇÃO FRENTE AS COMPLEXIDADES DO TRABALHO

Porque o CREAS tem que tá com o direito violado ou com o vínculo quase rompido.

A Cris nossa coordenadora costuma falar, é um fio desencapado, bem

desencapadinho, que fica só num pontinho, o vínculo familiar ali ta quase rompido.

Então a gente trabalha essas famílias pra evitar que esse vínculo se rompa, o

abrigamento e o asilamento. Então o objetivo do CREAS é esse, evitar que esse

vínculo se rompa. Então aqui no momento a equipe especializada que tem o serviço,

é o SEAD.

É..Essas complexidades elas, assim, aparecem diariamente. Assim, no nosso

cotidiano profissional, no nosso dia-a-dia profissional. E são complexidades cada

vez mais, assim, a realidade parece que cada dia ta ficando mais complexa.

Mais o que a gente observa é que essas famílias que chegam aqui com essa

tamanha complexidade, ela já tem uma jornada, uma caminhada de violência na

família. Essa violência ela vai passando por gerações, ela se mantêm no serviço à

anos. Eu tenho dois anos de formada só, enquanto assistente social. Mais no

período de estágio eu verifiquei isso na leitura dos prontuários, e agora que eu estou

Page 10: Entrevista Com Tópicos Preenchidos CREAS Maruípe

atuando como profissional eu verifico, vai repassando, e são gerações que sofrem

violência. São gerações que sofrem violência, vai passando, são famílias que se

comunicam as vezes pela violência, a comunicação deles é pela violência. Então

são gerações que vem sofrendo violência.

E essa violência, igual, por exemplo: a negligência. A negligência ela não parte só da família. E a gente tem que ter muito cuidado com isso, pra não rotular aquela família, por que essa família já foi excluída do trabalho, da escola e de muitas outras políticas sociais. Então além de ser a própria família que tem a negligência, o Estado também tem negligência em relação a essas famílias. Então assim, é uma complexidade muito grande, que demandam intervenções muito específicas, muita estratégia mesmo entre os profissionais. E em função mesmo desse número grande de famílias, essa impossibilidade de você ter um número reduzido, uma equipe maior, por vez a gente não consegue fazer tudo que é necessário, né!

Porque eles já chegam aqui com muitas violações, escolaridade muito baixa, muito baixa mesmo. Então as vezes a gente não consegue encaminhar pro mercado de trabalho, a gente não consegue encaminhar pro adolescente aprendiz.

A maioria das vezes eles evadem dos serviços, eles não conseguem alcançar os

objetivos do acompanhamento, não conseguem, não conseguem mesmo. Eu acho

que a política em si é uma política boa, ela pode contribuir. Só que eu sempre falo,

quando eles chegam aqui, eles já estão muito saturados. Não que não exista a

chance deles retornarem a vida deles, de caminhar em outra direção. Mais eles já

chegam aqui, assim, com muita complexidade. E a questão da educação. A

educação, a exclusão da escola, é assim muito marcante, muito marcante. Então

impossibilita vários encaminhamentos. Igual agora, adolescente aprendiz, a maioria

é de 6 série em diante. Teve um programa agora que não é específico pra medida

socioeducativa, mais as vezes pode ser né. O público de LA, o Programa Viva a

Vida, que é um programa voltado pra exploração sexual, 6 ano, e esses jovens não

tem essa escolaridade, não tem. Cursos profissionalizantes, 6 ano, eles não tem.

Não tem, eles não tem essa escolaridade.

Mas, eu costumo sempre falar: as políticas elas não estão pra resolver, elas estão

pra acalmar os ânimos. Isso que a gente estuda na faculdade é uma realidade. E a

gente vai ter que aprender no nosso dia-a-dia de trabalho, no nosso cotidiano de

trabalho, a trabalhar com essa morosidade.

Então eu acho que a diferença da intervenção técnica, da equipe técnica faz muita

diferença no profissional, a intervenção técnica ela faz muita diferença no serviço, e

buscar, ser criativo, pro ativo e a gente aprende também na faculdade, criativo, pro

Page 11: Entrevista Com Tópicos Preenchidos CREAS Maruípe

ativo, sempre tentando mudar a realidade não se acomodar, agente não pode se

acomodar, não pode se acomodar de jeito nenhum, por que a gente encontra muitos

desafios mesmo no dia-a-dia de trabalho da gente, são muitos, a gente não pode

concordar com tudo, tem que buscar ser criativo, e buscar as respostas pras

demandas que chegam pra gente.

Então a prática profissional ela vai esbarrar nessas dificuldades aí que a gente tem, de o número reduzido de serviços, de falta de investimento. Então na minha opinião, ainda falta muito pra gente alcançar.

INICIO DO ATENDIMENTO DE MSE

O CREAS foi implantado em 2010, ele tem 5 anos de implantação. Desde então ele

já tem a medida socioeducativa, no CREAS. Por que ele foi implantado justamente

pra atender, eu não vou saber a data exata, justamente pra atender a novas leis né,

que é o Estatuto da Criança e do Adolescente, o Sinase, e principalmente a

tipificação.

OPINIÃO DO AS SOBRE LA

Então, a medida socioeducativa, ela na minha opinião, ela contribui para a mudança? Eu acho que ela contribui. Ela poderia contribuir ainda mais se tivesse maior investimento nas políticas, espaços mais adequados, por que os espaços de forma geral são precarizados. Assim, o CREAS aqui, é uma casa adaptada pra atender esse público. E espaço pra atender adolescente principalmente, tem que ser espaços mais atrativos, teriam que ser espaços mais amplos, não sei, um local que tivesse quadra, uma sala de jogos, eu acho que a gente sofre por isso aí. A falta de investimento, de recurso financeiro. A assistência ela não tem um percentual do, é muito baixo, eu acho que hoje ta 2% de recurso do município pra investir na assistência. Existe um projeto pra que seja investido 5%, mais não foi aprovado. Então é um valor muito mínimo pra assistência

Eu acho importante o processo de medida de cumprimento sim. Eu acho que a

eficácia dos resultados elas não vem em função disso, em função da precariedade

dos serviços e em função da falta de investimento, recursos financeiros. Eu acho

que isso que influencia, por que aqui, nesse momento, eles tem oportunidade de ter

uma equipe técnica pra atender eles, pra possibilitar a reflexão.

Então eu acho que a política em si é uma política boa, só que falta a base. Ela já

vem pra resolver um problema, uma questão social tardiamente, por que o

investimento teria que ser lá na base.

Page 12: Entrevista Com Tópicos Preenchidos CREAS Maruípe

Eu acho que ela tem os dois caráter. Não tem como não ter os dois caráter, por que

ela é punitiva, ela é punitiva. Por vezes a gente vê falar aí sobre a redução da

maioridade penal, por que nada, os adolescentes, eles não sofrem punição

nenhuma. Mas é uma punição. Por que é uma obrigação. Eles tem que vir aqui

cumprir. Mas ela também tem o caráter educativo. Ela tem os dois caráter, ela é

punitiva, mas ela também tem o caráter educativo.

Na minha opinião eu acho que ela tem os dois caráter, tanto de sansão, quanto de

medida educativa. Só que, para ela ter essa vertente de medida educativa, é aquilo

que eu falei, os espaços teriam que ser mais, mais investimento, no partir do

princípio da precarização do serviço, teria que ter mais investimento. O serviço, ele

não tem o perfil pra atender de forma adequada os adolescentes. Então eu concordo

que ela tem um pouco dos dois. Eu não posso falar que ela não tem um pouco dos

dois. Ela tem, um pouco dos dois.

Falta muito, falta muito ainda pra gente alcançar o que é previsto lá no Sinase, falta

muito mesmo, muito. Então a gente precisaria de mais apoio, principalmente que as

políticas fossem mais eficazes, é o que eu sempre falo, as políticas elas não estão

pra resolver, elas estão pra acalmar os ânimos. Então falta muito ainda pra gente

alcançar o que ta previsto no Sinase, falta muito.

TRABALHO EM REDE

Então eu avalio que o trabalho em rede em relação aos meninos que cometeram ato

infracional, ainda tem a questão do preconceito. Escola, pra gente encontrar uma

vaga na escola pra eles é difícil.

É um direito. É difícil, por quê? Por duas questões: primeiro, eles já foram expulso.

Né? Agora não é expulso. Como é que fala? Transferência compulsória. Não existe

mais ser expulso, eles falam que não existe, é transferência compulsória. Então,

quando você vai buscar a escola, a rede de escola já conhece aquele adolescente.

Ali na região a gente não tem EJA, dentro do bairro a gente não tem. Ele teria que ir

pra outro bairro pra estudar. Então ele não pode, principalmente a noite ele não

pode. E ainda não tem o EJA diurno na nossa região.

O trabalho em rede... quando o adolescente, é alguma questão de saúde...

principalmente quando é questão de uso abusivo de substância, a gente tem...

Vitória ela tem uma rede assim, não vou dizer muito estruturada, mas ela tem uma

Page 13: Entrevista Com Tópicos Preenchidos CREAS Maruípe

rede estruturada, razoavelmente estruturada. Tem unidade de saúde, tem os CAPS,

que é o Centro de Atendimento Psicossocial, tem várias instituições voltadas pra

atendimento. Só que, quando é adolescente que cometeu ato infracional, esbarra

um pouco no preconceito. Isso daí a gente tem que falar por que é uma realidade.

Esbarra no preconceito sim, e fica as vezes, o próprio Estado exclui ele, ele vai ficar

fora da escola. Né?

E tem a questão também da... são muitos adolescentes querendo trabalhar, as vezes a gente encaminha né, o exército de mão de obra sobrante. A gente encaminha para o Adolescente Aprendiz, mas não dá pra atender todo mundo, não tem vaga. A gente quer encaminhar pra curso, não dá pra atender todo mundo. E eles ainda tem a questão da escolaridade, que esbarra na escolaridade. Então, existe articulação? Existe. Mais não dá pra atender todo mundo. Então como você avalia o trabalho em rede? Eu acho que o trabalho em rede poderia ser melhor, se tivesse uma rede ainda mais estruturada.

Então eu acho que a rede ela precisava ser mais bem estruturada. Mas a gente historicamente sabe e os teóricos falam tanto, que as políticas não estão pra resolver, estão pra acalmar os ânimos

PERFIL DOS ADOLESCENTES ATENDIDOS EM LA

Agora na minha opinião. Existe muita evasão. Eles começam a cumprir e não

conseguem concluir o processo. Outra coisa que eu gostaria de falar, muitos

adolescentes que chegam aqui pra cumprir medida, eles já tiveram diversos direitos

violados quando crianças, eles fazem parte dessa família que eu falei com vocês

que tem um histórico de violência, são gerações de violência, então eles já sofreram

violência e quando chega aqui, quando eles cometeram a violência, é por que eles já

foram violados. Todos praticamente, eu posso dizer que praticamente todos,

principalmente dessa região onde eu estou atendendo agora, que é Conquista e

Resistência. Então tem adolescentes aqui que foram negligenciados pela família

quando eram crianças, que já tinha lá trás quando criança já tinha processo aqui

solicitando medida protetiva pra eles, eles estavam fora da escola, chegou o

processo solicitando medidas protetivas e agora eles retornam ao CREAS como

violadores, pra cumprir medida socioeducativa.

E a liberdade assistida é um momento que o jovem, que o adolescente, por vezes

eles já chegam aqui jovens, eles cometeram ato infracional dois anos atrás e vem

cumprir medida quando já ta com 18, 19. Ou não conseguiram cumprir lá atrás, aí

volta pra audiência, quando chega aqui já estão casados, com filhos, trabalhando.

Page 14: Entrevista Com Tópicos Preenchidos CREAS Maruípe

Agora o perfil, é o perfil que é apresentado todos os dias aí na mídia. Né?

Afrodescendente, a maioria são afrodescendentes, famílias pobres, bem pobres e

com histórico de violência, já assim, de gerações. E escolaridade bem baixa. E a

maioria são meninos. Aqui nesse CREAS eu não atendi nenhuma menina ainda de

medida socioeducativa, a maioria são homens, a maioria deles são homens.

Então meninos, afro-descendentes, família em risco social e em vulnerabilidade

social, famílias pobres, fora da escola. Também é um perfil bem... Escolaridade

muito defasada, eu acho que não chega nem 1% que tem o ensino fundamental

completo. Praticamente não tem. E já estão fora da escola há um bom tempo, 1 ou 2

anos. Então eu acho que o perfil deles fecha nisso aí.

AVANÇOS NO ESPAÇO SÓCIO-OCUPACIONAL

Mais muitas famílias conseguem acompanhar o objetivo do plano de

acompanhamento, muitas famílias.

Inclusive esse plano de medida socioeducativa que ta sendo implementado agora aqui no município de Vitória, na verdade ele vem da política nacional, a política nacional que determinou e teria que ser feito até agora 2015. Então foi aprovado agora o CONANDA, o Conselho aprovou, ficou tudo aprovadinho. É um documento muito importante que fala sobre essa resolutividade, eficácia, resultados.

Mais avanços, eu acho que esse plano municipal de atendimento, plano municipal

de medida socioeducativa, eu acho que é um avanço, veio lá do macro, demorou um

pouco, mais ele ta saindo. E o Siase também, eu já estava esquecendo de falar do

Siase. Vocês sabem o quê que é o Siase?

Os adolescentes agora quando estão sendo apreendidos, ta sendo mais ágil, eles

estão indo direto pra lá, e eles já saem de lá com a audiência, a audiência já é feita

lá, ele já sai de lá com a medida socioeducativa e já vem direto pra cá.

Então a criação do plano municipal foi um grande avanço, e a inauguração do Siase

também, foi um grande avanço. Por que agora ta agilizando mais os processos, e os

técnicos eles lá também entram em contato com a gente, quando os adolescentes

estão apreendidos lá, isso aí foi um grande avanço. Mais ainda, quero deixar bem

claro, ainda falta muito ainda pra...

No CREAS, essas políticas mais macro vão influenciar aqui mais no micro, por que a partir do momento que ações são criadas no macro, elas vão atingir o serviço, por exemplo, agora já está se pensando numa equipe voltada para o cumprimento de medida socioeducativa, uma equipe especializada pra medida socioeducativa.

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E deixa eu ver mais. E foi criado também, os adolescentes, Estão sendo criados alguns projetos, igual ano passado foi criado o projeto cicatriz

Passos estão sendo dados, a gente não pode deixar de falar isso também.

Essa complementação aí do Plano Municipal de medida socioeducativa ele vai ter um grande valor pra gente. Por que quando fala de uma política a nível federal é mais difícil a gente ter como se embasar nos nossos relatórios, agora quando é municipal já começa a afunilar mais, aí é mais fácil né, por que eles tem um prazo pra cumprir o que ta escrito ali. Então eu acho que vai contribuir muito sim, o plano municipal de medida socioeducativa, mais ta longe de ser alcançado, ta muito longe.

DIFICULDADES NA SOCIOEDUCAÇÃO

Inclusive existe, está sendo estudado pela gestão a possibilidade de ter uma equipe

específica pra medida socioeducativa. A demanda é grande. É um grupo, né, um

grupo etário, um público alvo, que demanda muitas intervenções. Então por vezes, a

gente vai muito pra um lado, e o PAEFI que também é um público que demanda

muita intervenção, principalmente em questão de violência sexual, negligência,

expõe a pessoa violada a risco eminente, talvez possa ficar um pouco de lado em

função da medida socioeducativa. Então a secretaria de assistência de Vitória, em

outros municípios já funciona assim separado, e a secretaria de assistência de

Vitória está pensando também em fazer separado, mais ainda não...

Eu acredito que sim. Na minha opinião eu acredito que seria melhor. Daria pra você

trabalhar com uma maior facilidade. Sem contar que a NOB/RH ela determina um

grupo, um público de 40 famílias pra cada equipe técnica, no caso, dupla técnica,

assistente social e psicólogo, e hoje nós atendemos bem mais do que determina a

NOB/RH, bem mais, a gente tem equipe técnica aqui que atende 100 famílias, 110.

Então se tivesse essa equipe especializada pra medida socioeducativa, vai facilitar

sim, vai facilitar bastante.

Só que a gente tem ser muito claro no momento da entrevista, existe a questão do

conflito, o conflito entre os bairros. Isso aí é muito importante vocês colocarem no

trabalho de vocês. Então esses adolescentes eles são impossibilitados praticamente

de circular por Vitória, então eles ficam no bairro deles, eles não podem sair, por que

eles são ameaçados mesmo, eles não podem sair. Ali na nossa região a questão do

conflito ela é assim... as vezes a gente não pode realizar a visita domiciliar, em

função do conflito entre bairros, a gente não pode, a gente não consegue ir fazer a

Page 16: Entrevista Com Tópicos Preenchidos CREAS Maruípe

visita domiciliar, principalmente na região de Conquista, Resistência nem tanto, mais

Conquista a gente tem muita dificuldade de realizar a visita lá, por que os conflitos

são constantes.

. Então a questão do conflito ela é clara aqui no município de Vitória.

Não. Não conseguiu. E também a família, não é só o adolescente. A família, ela tem

uma renda familiar muito baixa, os pais, escolaridade também muito baixa. Tem

grande parte que sabem somente assinar o nome, alguns não sabem, são letrados.

E principalmente ali na nossa região tem, assim, poucas políticas públicas voltadas

pra criança e os adolescentes, são poucas. E a questão do conflito é marcante, eles

não podem circular entre os bairros. Então tem o CAJUM lá em Nova Palestina,

mais quem mora em Resistência não pode ir no CAJUM de Nova palestina. O

CAJUM é um serviço de fortalecimento de vínculo da proteção social básica. Eles

não podem ir lá. Então quando tem medida protetiva, o único serviço que a gente

poderia encaminhar seria o CAJUM. Mais quem mora em Resistência não pode ir

em Nova palestina, quem mora em Conquista não pode descer pra Nova Palestina.

Então a violência ela trás muitos reflexos, de forma geral.

Existe relatório que nós encaminhamos ano passado e a gente ainda não tem

retorno. Então, isso aí também é uma das preocupações, é um dos entraves do

cumprimento da medida socioeducativa: a morosidade, a morosidade do judiciário.

Não da nada não. E um fala isso pro outro: “- Olha eu não cumpri. Você ta indo lá.

Vai fazer o que lá?” Entendeu.

Então essa morosidade também é um desafio. A morosidade tanto pra eles

chegarem aqui pra cumprir... Ultimamente melhorou ta. Mas à uns dois anos atrás,

três anos, tinha adolescente que chegava aqui quase dois anos depois que ele

cometeu o ato infracional, que ele chegava pra cumprir. E a gente ainda tem caso

assim, que cometeu o ato infracional em 2012 e chega aqui pra cumprir agora em

2015.

Então a morosidade do judiciário também é um dificultador desse cumprimento de

medida socioeducativa. Então isso aí também é muito complicado. Por que a gente

encaminha relatório e a gente demora muito pra ter retorno.

Principalmente em medida socioeducativa existe ainda o preconceito estabelecido.

Existe o preconceito por quê? Porque esses meninos nos bairros que eles residem,

eles já são marcados, eles já têm aquela marca de, todo mundo já conhece. Então...

Page 17: Entrevista Com Tópicos Preenchidos CREAS Maruípe

eu telefonei pra uma instituição aqui em Vitória, para encaminhar os adolescentes

para fazer curso. E a pessoa que me atendeu me perguntou se era presidiário, e eu

falei: “Por quê? Tem essa separação? Quem cometeu um ato ilícito não pode

frequentar aí?”

Por que é uma ONG. Não sei se eles tem a ...e ... esse... se é uma ONG mesmo, se

juridicamente eles estão amparados pela ONG. Mas é uma instituição que ela é de

caráter da assistência. Então eu fiquei um pouco assustada por que perguntou. Eu

falei: “- Não, são adolescentes que a gente atende aqui. E não falei qual era o perfil,

por quê esses adolescentes eram atendidos aqui.

Eu acho que limites já foram lançados muitos, já foram desafios, limites, já foram

apontados muitos aí. Que é a precarização, é a falta de investimento financeiro, é a

questão do preconceito, é exclusão desses adolescentes de todo tipo de política, e

até mesmo, né, da família também.

Já foram citadas várias. A morosidade dos processos que demoram muito pra

chegar, quando chega aquela medida de repente já não tem sentido mais pra aquele

adolescente, ele pode estar em um outro momento da vida dele, já pode ta

trabalhando, já pode ta... ou ao contrário, já pode estar envolvido demais né, já pode

ter cometido outros atos infracionais.

Então a morosidade é um dificultador, a precarização do serviço público, a falta de

investimento, de recurso financeiro, o número reduzido de equipes. Quando a gente

fala assim a precarização, é a falta de serviço, a rede ela poderia ser mais, uma rede

mais fortalecida, ter uns outros serviços, eu acho que é isso aí.

Ah, outra coisa também, a falta de envolvimento da família. A família por vezes ela

não se sente envolvida no processo, isso aí é também muito importante falar: não foi

eles que cometeram! Eles não contribuíram pra esse processo, o adolescente que

fez.

Então a família por vezes ela não se envolve no processo, isso é muito importante

colocar no relatório, no trabalho de vocês. Isso é um dificultador também, a falta de

envolvimento da família. As vezes nem é por que eles não querem também, mais é

por que eles também tem a dinâmica da vida deles, trabalhar né, as vezes falta

recurso financeiro pra poder pagar a passagem pra vir aqui, isso aí também é muito

claro na nossa região, por vezes eles não tem dinheiro pra vim cumprir a medida.

Recurso financeiro é um grande dificultador. Eles não conseguem vim ao serviço,

por que eles não têm dinheiro pra pagar a passagem, por que o nosso bairro precisa

Page 18: Entrevista Com Tópicos Preenchidos CREAS Maruípe

sair de lá pra vir aqui, antes tivesse um CREAS lá perto, dentro do território, seria

bem mais fácil.

É complicado. Teria que ter um número muito maior de instituições, é a

precarização, é o investimento, recurso financeiro, isso tudo é dificuldade pra gente.

Os nossos adolescentes que cumprem medida, a maioria deles estão fora da escola,

estão fora do mercado de trabalho, e lá no Sinase prevê tudo isso, prevê tudo isso.

O Estatuto da criança e do Adolescente prevê isso, e não estão. Tem adolescentes

nossos que tem questões do agravo de saúde, em função do uso, abuso de

substância que precisava de proteções mais eficazes e por vezes não tem. E os

espaços também são distantes da região, são longe, por exemplo, o CAPS infantil

ele funcionava no São Pedro, lá em cima, ali eles não podiam ir, era região de

conflito, agora ele ta funcionando ali em Bento Ferreira, então são locais longes, só

tem 1 a nível Estadual. A Catigi é uma política voltada pra questão de uso abusivo

de substância psicoativa pra adolescentes, começou e parou de funcionar, não foi a

frente. Então assim, falta muito ainda pra gente alcançar as diretrizes e os princípios

previstos lá no Sinase.

As políticas de forma geral né, públicas voltadas para o atendimento a criança e ao

adolescente enquanto sujeito de direitos, elas são muito recentes. Então ainda falta

um grande caminho, tudo muito novo, eles não eram reconhecidos enquanto sujeito

de direito, agora a partir dessas políticas, desses marcos teóricos que começou essa

luta, mais ainda falta muito a ser alcançado.

IDEIAS PARA O ENFRENTAMENTO DA QS

Sim. É possível sim. Eu acho que o fundamental seria criar espaços mais democráticos de participação. Espaços que os mais interessados pudessem estar presentes. Que as políticas quando elas são implementadas, quando elas são criadas, elas não são, os mais interessados não se fazem presentes nesses espaços de discussão

Então eu acho que essas estratégias, elas poderiam tomar força, elas teriam forças

a partir do momento que outros atores sociais pudessem participar, pudessem vir ao

CREAS, falar o que eles querem, e a gente pudesse, tivessem condições de passar

isso a frente, envolver mais a sociedade no processo.

E, como que a gente pode alcançar isso? Através da transmissão do conhecimento

né, mas que esse conhecimento ele pudesse ser transmitido também de forma mais

Page 19: Entrevista Com Tópicos Preenchidos CREAS Maruípe

democrática, é, nas escolas, nas séries iniciais tivessem informações relacionadas a

questão do direito, a gente não tem isso nas nossas escolas, e que as pessoas

tivessem como ter acesso a esse conhecimento. Por que mesmo quem ta fora da

escola, mesmo quem é iletrado fosse orientado de uma maneira mais fácil de

entender, os espaços de discussão eles são, é usado uma linguagem, é usado uma

nomenclatura muito complexa pras pessoas entenderem, então elas se afastam

desses locais, elas se sentem excluídas.