entrevista ao presidente da câmara municipal da guarda

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ENTREVISTA O MUNICIPAL N.º 359 - Dezembro/2010 ASSOCIAÇÃO DOS TÉCNICOS ADMINISTRATIVOS MUNICIPAIS leva a que durante o ano as temperaturas sejam baixas e muitas vezes negativas, proporcionando belas imagens de neve e gelo; Fiel, porque é valorizada a atitude de Álvaro Gil Cabral, o alcaide, apoiante do Mestre de Avis, que recusou entregar o castelo a D. João I de Castela; Formosa, porque vários autores a perpetuaram nos cantos e recantos ricos em lendas e tradições, nas paisagens únicas e nos horizontes infinitos. “O Municipal” - Soubemos que a Câmara Municipal da Guarda participou na “I Feira Transfronteiriça ECORAYA-ECORAIA”, que decorreu em Salamanca, nos dias 11 e 12 de Dezembro de 2010. Qual o objectivo deste projecto? Eng.º Joaquim Valente - A Câmara Municipal da Guarda tem tido uma aposta coerente na cooperação transfronteiriça, fazendo questão de estrategicamente criar e manter relações políticas, económicas e culturais com as regiões espanholas. É para nós orgulhosamente assumida a relação secular com Espanha pelo que sentimos que, deve ser nossa, a missão de manter e potenciar esta relação das mais diversas formas. Quero, a este “O Municipal” - A cidade da Guarda é conhecida como “a cidade dos 5 F’s”. Pode explicar-nos a origem desta designação? Eng.º Joaquim Valente - A Júlio Ribeiro são atribuídas as quadras que, no original, se referem à Guarda como «Alta cidade da vetusta Beira, | Entalhada na monstra serrania, | Chamem-te, embora, feia, farta e fria, | Mas também és fidalga hospitaleira. Alta cidade, a todos sobraneira. | Tens do Mondego as graças e a alegria. | E a pureza de altura é tão sadia que os físicos te chamam (feiticeira)” Dois outros versos, do mesmo autor referem-se a esta cidade como “sendo Forte e Fria | És também Fidalga e Farta”. Com o tempo e as tradições orais, estas quadras, do início do séc. XX, deram origem aos 5 Fs que hoje são associados à Guarda: Forte, Farta, Fria, Fiel e Formosa. Forte, porque pela situação altaneira sempre teve uma posição de defesa ao longo da história portuguesa; Farta, porque a fertilidade do Vale do Mondego garante sabores divinos e mesas ricamente abastecidas; Fria, porque o clima de montanha ENG. JOAQUIM CARLOS DIAS VALENTE Presidente da Câmara Municipal da Guarda GUARDA Localizado na província da Beira Alta, o Município da Guarda é composto por 52 freguesias e compreende três bacias hidrográficas: Mondego, Côa e Zêzere. Da sua formação encontraram-se elementos que permitem datar uma presença humana em épocas remotas, como o final do Neolítico, princípios do Calcolítico, com um testemunho funerário, a anta de Pêra do Moço (freguesia de Pêra do Moço), datada do IIIº milénio. Por todo o concelho encontram-se vestígios da Idade do Bronze e do Ferro, em sítios com uma defensabilidade natural, dominando vastos vales. Esta presença está, sem dúvida, relacionada com a prática da mineração, nomeadamente do ferro e do chumbo, e o controlo das portelas naturais, por onde circulavam as rotas do minério. A posição de destaque da cidade face ao território envolvente e compreendendo a importância de uma cidade poderosa, elevada a 1056 metros, que levou D. Sancho I a atribuir foral à Guarda, a 27 de Novembro de 1199, visando o seu desenvolvimento e prosperidade. O município da Guarda é possuidor de um vasto Património Cultural, que é de todo o interesse preservar. A seguir se reproduz a entrevista que o Presidente da Câmara Municipal, Eng.º Joaquim Dias Valente, concedeu a “O Municipal”, permitindo-nos conhecer um pouco mais o município da Guarda.

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O município da Guarda é possuidor de um vasto Património Cultural, que é de todo o interesse preservar. A seguir se reproduz a entrevista que o Presidente da Câmara Municipal, Eng.º Joaquim Dias Valente, concedeu a “O Municipal”, permitindo-nos conhecer um pouco mais o município da Guarda.

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Page 1: Entrevista ao Presidente da Câmara Municipal da Guarda

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O MUNICIPAL N.º 359 - Dezembro/2010

ASSOCIAÇÃO

DOS TÉCNICOS ADMINISTRATIVOS

MUNICIPAIS

leva a que durante o ano as temperaturas

sejam baixas e muitas vezes negativas,

proporcionando belas imagens de neve e gelo;

Fiel, porque é valorizada a atitude de Álvaro

Gil Cabral, o alcaide, apoiante do Mestre de

Avis, que recusou entregar o castelo a D. João

I de Castela; Formosa, porque vários autores

a perpetuaram nos cantos e recantos ricos em

lendas e tradições, nas paisagens únicas e nos

horizontes infinitos.

“O Municipal” - Soubemos que a Câmara

Municipal da Guarda participou na “I Feira

Transfronteiriça ECORAYA-ECORAIA”, que

decorreu em Salamanca, nos dias 11 e 12 de Dezembro de 2010.

Qual o objectivo deste projecto?

Eng.º Joaquim Valente - A Câmara Municipal da Guarda tem tido

uma aposta coerente na cooperação transfronteiriça, fazendo

questão de estrategicamente criar e manter relações políticas,

económicas e culturais com as regiões espanholas. É para nós

orgulhosamente assumida a relação secular com Espanha

pelo que sentimos que, deve ser nossa, a missão de manter e

potenciar esta relação das mais diversas formas. Quero, a este

“O Municipal” - A cidade da Guarda é conhecida

como “a cidade dos 5 F’s”. Pode explicar-nos a

origem desta designação?

Eng.º Joaquim Valente - A Júlio Ribeiro são

atribuídas as quadras que, no original, se

referem à Guarda como «Alta cidade da vetusta

Beira, | Entalhada na monstra serrania, |

Chamem-te, embora, feia, farta e fria, | Mas

também és fidalga hospitaleira.

Alta cidade, a todos sobraneira. | Tens do

Mondego as graças e a alegria. | E a pureza

de altura é tão sadia que os físicos te chamam

(feiticeira)” Dois outros versos, do mesmo autor

referem-se a esta cidade como “sendo Forte e Fria | És também

Fidalga e Farta”.

Com o tempo e as tradições orais, estas quadras, do início do

séc. XX, deram origem aos 5 Fs que hoje são associados à Guarda:

Forte, Farta, Fria, Fiel e Formosa.

Forte, porque pela situação altaneira sempre teve uma posição

de defesa ao longo da história portuguesa; Farta, porque a

fertilidade do Vale do Mondego garante sabores divinos e mesas

ricamente abastecidas; Fria, porque o clima de montanha

Eng. Joaquim Carlos Dias ValEntEPresidente da Câmara municipal da guarda

guarDa

Localizado na província da Beira Alta, o Município da Guarda é composto por 52 freguesias e compreende três bacias hidrográficas:

Mondego, Côa e Zêzere.

Da sua formação encontraram-se elementos que permitem datar uma presença humana em épocas remotas, como o final do Neolítico,

princípios do Calcolítico, com um testemunho funerário, a anta de Pêra do Moço (freguesia de Pêra do Moço), datada do IIIº milénio.

Por todo o concelho encontram-se vestígios da Idade do Bronze e do Ferro, em sítios com uma defensabilidade natural, dominando vastos

vales. Esta presença está, sem dúvida, relacionada com a prática da mineração, nomeadamente do ferro e do chumbo, e o controlo das

portelas naturais, por onde circulavam as rotas do minério.

A posição de destaque da cidade face ao território envolvente e compreendendo a importância de uma cidade poderosa, elevada a 1056

metros, que levou D. Sancho I a atribuir foral à Guarda, a 27 de Novembro de 1199, visando o seu desenvolvimento e prosperidade.

O município da Guarda é possuidor de um vasto Património Cultural, que é de todo o interesse preservar.

A seguir se reproduz a entrevista que o Presidente da Câmara Municipal, Eng.º Joaquim Dias Valente, concedeu a “O Municipal”,

permitindo-nos conhecer um pouco mais o município da Guarda.

Page 2: Entrevista ao Presidente da Câmara Municipal da Guarda

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O MUNICIPAL N.º 359 - Dezembro/2010

ASSOCIAÇÃO

DOS TÉCNICOS ADMINISTRATIVOS

MUNICIPAIS

directamente os afectam bem como ser um meio privilegiado

para os jovens serem auscultados pelo executivo quando se

planeia e orçamenta a actividade da Câmara Municipal.

Para além do Vereador com o pelouro da Juventude, têm acento

no CMJ todas as associações juvenis e de estudantes sedeadas no

concelho e inscritas no Registo Nacional de Associações Juvenis,

um representante de cada grupo partidário da Assembleia

Municipal e um membro de cada organização concelhia de

juventudes partidárias, cujo partido tenha representação nos

órgãos do município ou na Assembleia da República.

O Conselho Municipal da Juventude da Guarda teve o seu

primeiro plenário no dia 6 de Junho de 2010, nos Paços do

Concelho, após os seus estatutos terem sido aprovados pelo

Executivo e pela Assembleia Municipal e publicados em Diário

da República no dia 17 de Maio de 2010.

“O Municipal” - Que balanço faz a autarquia local em relação

ao Parque Urbano do Rio Diz?

Eng.º Joaquim Valente - O Parque Urbano do Rio Diz constitui

um elemento fundamental da principal estrutura verde da

cidade, sendo um centro de convívio, recreio, lazer e desporto

da população, constituindo também um valor estético urbano

que enriquece a cidade da Guarda.

A sua localização está favorecida por fáceis acessibilidades,

dada a sua contiguidade e proximidade aos principais eixos

rodoviários que ligam o centro cívico às periferias da área,

tornando-se assim um Parque com uma elevada importância

para a população e para o enriquecimento dos espaços verdes

da cidade.

Dada a sua especificidade morfológica, várias têm sido as

inovações implementadas, coadjuvadas pela excelente

disponibilidade patente na estruturação do espaço.

Actualmente, o Parque é uma referência não só a nível local,

mas também nacional e internacional, pois os complementos

existentes, actividades realizadas, dinamização e serviços

oferecidos, fizeram do mesmo um local prioritário de passagem,

onde as rotinas diárias têm um ajustamento preponderante.

No ano de 2010, foi definida como prioridade a rentabilização

do espaço, por forma à sua complementação, aumentado para

a sua totalidade a área de interesse.

Nesse sentido, foram implementados alguns projectos,

nomeadamente o “Parque Sénior”, “Pista de Bike Dirt Jumping”

e “Pistas Medicalizadas”.

propósito, referir o Centro de Estudos Ibéricos que tem tido o

papel predominante de, em termos académicos e de investigação

científica, dar sustentabilidade a defesa de uma “Ibéria”, conceito

desenvolvido pelo “provocador” da criação desta estrutura,

Eduardo Lourenço; e a geminação da Guarda com Bejar que tem

dado frutos, nomeadamente numa colaboração muito acentuada

no âmbito cultural com o Teatro Municipal da Guarda.

É neste contexto, que os projectos transfronteiriços são por nós

canalizados para criarem uma relação equilibrada que potencie

o desenvolvimento territorial de ambos os lados da fronteira (ou,

neste contexto de proximidade social, comercial e cultural, da

Raia).

O objectivo da participação na I Feira Transfronteiriça ECORAYA-

ECORAIA surge, no contexto estratégico definido, como

potenciador do desenvolvimento de um quadro de cooperação

transfronteiriço que se pretende que facilite a integração dos

territórios, mediante um conjunto de acções publico-privadas

que reverterão para a dinamização da produção e da coesão

social do território em comum. Tratando-se de uma feira

na componente alimentar a Câmara Municipal da Guarda,

tendo objectivos promocionais do território, mas querendo,

igualmente, potenciar a actividade económica e comercial dos

empresários participou acompanhada com investidores locais a

nível dos produtores regionais com potencialidades económicas

no âmbito do mercado turístico: os enchidos e em particular a

Morcela e a Farinheira da Guarda (únicos na forma de confecção

e no sabor inconfundível); os frutos secos, nomeadamente com as

castanhas, produto que tem uma potencialidade culinária impar:

da sobremesa passando pelo acompanhamento até ser doce ou

licor, e a Bola da Guarda que, devido a sua forma mais rude e

a uma confecção mais cuidada, era muito confeccionada por se

conservada durante muito tempo sem perder o seu sabor único

numa mistura deliciosa entre a canela e a manteiga.

Tratou-se de uma participação que apresentou bons retornos e

que nos leva a considerar outras participações conjuntas com

a iniciativa privada, com o objectivo de potenciar os produtos

locais.

“O Municipal” - Constituído em Julho de 2010, qual o objectivo

do Conselho Municipal de Juventude?

Eng.º Joaquim Valente - O Conselho Municipal da Juventude

é um órgão consultivo que tem como principal objectivo ser

um fórum de debate dos jovens do concelho da Guarda, onde

os mesmos se possam pronunciar sobre os temas que mais

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O MUNICIPAL N.º 359 - Dezembro/2010

ASSOCIAÇÃO

DOS TÉCNICOS ADMINISTRATIVOS

MUNICIPAIS

Naturalmente, dada a visibilidade e importância do espaço

para a cidade da Guarda, o mesmo deverá continuar a

proporcionar actividades continuas a quem o procura, inovando

e criando novas atracções, capacitando o parque de estruturas

dinamizadoras capazes de cimentar a sua visibilidade como

sendo um espaço de referência que é.

Durante todo o ano, são diversas as actividades programadas e

realizadas pela Autarquia, que quase sempre necessitam de um

espaço semelhante ao Parque para poderem ter a visibilidade e

funcionalidade desejada.

“O Municipal” - Dada a proximidade com a Serra da Estrela,

o turismo constitui um dos principais pilares económicos do

Município da Guarda. Quais as ofertas turísticas para quem

visita o concelho?

Eng.º Joaquim Valente - Esta pergunta remete-me para uma

frase do José Augusto de Castro que, no início do século passado

escrevia “Outras terras mais lindas há, de-certo… Porém nenhuma

fica assim tão perto do puro azul do céu de Portugal!”

E é verdade, outras e muitas terras existem, inclusive na cordilheira

da Serra da Estrela, mas como a Guarda não há nenhuma. A altura

(1056m) dá-nos condições extraordinárias seja em termos de

turismo natureza, seja em termos de turismo de saúde, seja em

termos de turismo cultural. E são estes os nossos eixos prioritários

em termos de desenvolvimento turístico da região.

O Turismo da Natureza, pelas condições naturais de excepção

possibilitam, por exemplo a existência de duas praias fluviais,

ambas reconhecidas pela atribuição dos Galardões de Bandeira

Azul e Praia Acessível, (em 2009 este reconhecimento público

levou a que a Guarda fosse o primeiro concelho a possuir

duas praias fluviais distinguidas com esta classificação); pela

diversidade da fauna e da flora o concelho da Guarda é propício a

actividades de pedestrianismo, observação de pássaros e prática

de turismo fotográfico.

No âmbito do Turismo de Saúde a Guarda tem uma tradição

centenária que a legitima para continuar a reivindicar e a

definir como estratégico este vector de desenvolvimento. A

altura da cidade, o clima frio e seco levaram a que, na Guarda,

se instalasse o Sanatório com prioridade nos tratamentos de

doenças respiratórios. Ainda hoje se reconhece à Guarda estas

capacidades terapêuticas que foram ao longo dos anos um

forte polo de atracção. Para a cidade do Ar Puro e do melhor

ar da Península Ibérica é fundamental recuperar esta tradição

e criar a oportunidade de vir a ser a grande alavanca, seja em

termos do desenvolvimento local, seja em termos de promoção

turística no exterior.

O Turismo Cultural tem-se consubstanciado num percurso que

tem envolvido uma aposta clara em termos de equipamento

culturais, de produção própria e de recuperações de espaços de

cariz histórico. Insere-se neste contexto a edificação do Teatro

Municipal da Guarda que me atrevo a dizer ser um dos melhores

equipamentos do género a nível nacional, a Biblioteca Municipal

Eduardo Lourenço, o Centro de Estudos Ibéricos; a programação

cultural do Teatro Municipal da Guarda, do Núcleo de Animação

Cultural e das várias colectividades existentes no concelho; a

recuperação do antigo edifício do Paço Episcopal, transformado

em Galerias de Exposições e Auditório, da Torre de Menagem,

adaptada para uma visita virtual ao concelho e para uma breve

exposição de achados arqueológicos que servem de pretexto

para contar a história do concelho; o projecto para a futura Casa

da Memória e da Identidade; o Solar dos Póvoas, adaptado para

o Cibercentro; o Solar de Alarcão…

“O Municipal” - Em que consiste a Plataforma Logística de

Iniciativa Empresarial (PLIE)?

Eng.º Joaquim Valente - A Plataforma Logística da Guarda é um

parque empresarial com características inovadoras e modernas,

com uma área de cerca de cem hectares. A Plataforma Logística

da Guarda pretende ser um pólo empresarial com condições de

referência, especializado na logística e complementado com a

indústria transformadora e os serviços de apoio.

Tendo em consideração a importância desta infra-estrutura,

quer a nível regional como nacional, a Plataforma Logística da

Guarda insere-se na Rede Nacional de Plataformas Logísticas, no

Anta de Pêro do Moço

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DOS TÉCNICOS ADMINISTRATIVOS

MUNICIPAIS

âmbito do programa Portugal Logístico, promovido pelo Governo

de Portugal, tendo como principais objectivos a dinamização

da economia regional, através da fixação de empresas que

dependam de infra-estruturas logísticas de referência, aliadas às

novas tecnologias da informação.

Neste momento encontram-se vários projectos de investimento

em fase de negociação, outros em fase de implementação e

construção de instalações, e outros já em laboração.

A Plataforma Logística da Guarda vai ser um centro empresarial

de excelência, que tem como factor âncora, a Logística, mas

também com áreas destinadas à instalação de indústrias

transformadoras e actividades de serviços, adequado às

necessidades de desenvolvimento desta região. Acredito

que a PLIE se irá assumir como um centro de negócios e de

interacção entre empresas portuguesas, espanholas e de toda a

Europa. Assim os empresários também acreditem e colaborem

activamente na implementação deste equipamento que não é da

responsabilidade exclusiva da autarquia.

“O Municipal” - Está, actualmente, no seu segundo mandato

como Presidente da Câmara Municipal da Guarda. Ao longo

destes anos, à frente dos destinos da autarquia local, pode

salientar algumas das iniciativas que lhe tenham dado especial

prazer e orgulho em realizar? Que outros projectos gostava de

ver concluídos?

Eng.º Joaquim Valente - Ao longo da vida existem sempre

preferências, seja enquanto decorrem, seja mais tarde quando

a nossa memória já nos atraiçoa com a selectividade subjectiva

das preferências. Posso incorrer numa destas situações, mas

penso que existem, de facto, alguns projectos que merecem ser

referidos. A Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço é um projecto

que sempre recordarei, seja pelo equipamento muito necessário

e desejado, seja pelo seu patrono que nos influencia de forma

indelével.

Outro projecto que tenho de referir pelo impacto positivo nas

populações são os Centros Escolares (Gonçalo, Vale do Mondego

e a iniciar em Setembro deste ano o da Sequeira).

Também tive muito prazer em devolver a Torre de Menagem

à Guarda e a todos os que nos visitam, afinal tratava-se de

um espaço fechado há décadas, existindo gerações que nunca

tinham subido ao alto dos mais de 1.056m. Ainda hoje é muito

emotivo ver a reacção das pessoas quando pela primeira vez

avistam a 360º toda a paisagem que rodeia a Guarda. No

mesmo contexto poderia referir, outra vez, todos os espaços

com importância histórica que devolvemos recuperados à

população, Solares, Museus, Praças, etc…

Devo igualmente reconhecer o orgulho que tive em negociar

o Hotel de Turismo para ser transformado num Hotel de Luxo

com valências de ensino das actividades turísticas. Trata-se

de um processo que, em conjunto com o Turismo de Portugal,

vai permitir recuperar um edifício emblemático e criar na

cidade uma oferta turística impar, potenciando a dinâmica

comercial.

Por outro lado o mesmo projecto que me orgulho de ter

negociado é o mesmo que anseio por ver concluído, ou seja

tanto como ter conseguido envolver o Turismo de Portugal num

projecto único na Beira Interior, agora anseio por ver o Hotel de

Turismo da Guarda com nova e redobrada glória.

Por fim não posso deixar de referir o quanto nos temos esforçado

pela consolidação da PLIE e o quanto desejo que este processo

se consubstancie, permitindo completar todo o espaço

disponível com empresas que de forma directa ou indirecta

trazem desenvolvimento económico, desenvolvimento local

e, consequentemente, qualidade de vida.

“O Municipal” - Que análise faz da evolução das competências

e atribuições das autarquias locais?

Eng.º Joaquim Valente - As autarquias locais têm vindo

a adquirir ao longo dos últimos anos novas atribuições e

competências. Considerando que o poder local é, por natureza,

Sé da Guarda

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DOS TÉCNICOS ADMINISTRATIVOS

MUNICIPAIS

o que melhor conhece as necessidades das populações

e do território que administra, a transferência de novas

competências e atribuições permite a adopção de medidas

mais adequadas e que melhor respondem aos anseios dos

seus destinatários, o que por si só é claramente positivo. No

entanto, a transferência de novas competências e atribuições

deverá ser sempre acompanhada das respectivas verbas sob

pena de as Autarquias se verem severamente limitadas na

implementação das medidas e políticas concretizadoras das

novas áreas de actuação.

“O Municipal” - A propósito da reorganização da rede de

escolas do 1.º ciclo do ensino básico, que comentário faz

sobre o encerramento de algumas e a concentração dos

alunos em estabelecimentos de maior dimensão?

Eng.º Joaquim Valente - A reorganização da rede escolar

do 1º ciclo do ensino básico no concelho da Guarda tem

obedecido globalmente aos critérios definidos pelo Ministério

da Educação, mas respeitando a Carta Educativa do Concelho

da Guarda, nomeadamente no que diz respeito à previsão de

abertura de novos Centros Escolares.

Se considerarmos o período de 2004 – 2010, foram suspensas

cerca de trinta escolas do 1º ciclo do ensino básico no

concelho da Guarda, sobretudo em função do reduzido

número de alunos que as frequentavam.

Os alunos provenientes destas escolas, entretanto encerradas,

foram inicialmente deslocados para outras escolas com

melhores condições e segundo um critério de proximidade

geográfica, sendo integrados nos Centros Escolares de Gonçalo

e do Vale do Mondego todos os alunos que frequentavam as

escolas pertencentes a estes territórios educativos, conforme

consta da Carta Educativa do Município.

A partir de Setembro, irá entrar em funcionamento o novo

Centro Escolar da Sequeira, cuja tipologia estabelece um

total de 12 salas para o 1º ciclo e 3 da educação pré-escolar,

o qual receberá os alunos das escolas e jardins-de-infância

da Sequeira, Arrifana, Carpinteiro e Casal de Cinza.

Considero que todo o processo de reorganização da rede

escolar do 1º ciclo no concelho da Guarda tem decorrido em

perfeita normalidade, em sintonia com a Direcção Regional de

Educação do Centro e os Agrupamentos de Escolas existentes,

obedecendo a critérios de verdadeira melhoria das condições

de funcionamento dos novos estabelecimentos de ensino.

“O Municipal” - Como avalia a descentralização de

competências para os municípios no domínio da educação?

Eng.º Joaquim Valente - Considero que o conjunto de

competências descentralizadas para os municípios na

área da educação, regulamentadas pelo Decreto-Lei nº

144/2008, de 28 de Julho, configuram uma nova dinâmica na

relação que deverá existir entre a administração local e as

estruturas educativas, pressupondo princípios de autonomia

administrativa e financeira na gestão dos recursos existentes,

seja ao nível dos equipamentos educativos, dos meios

humanos ou dos recursos financeiros que permitam uma maior

eficácia aos responsáveis autárquicos e aos órgãos de gestão

dos Agrupamentos de Escolas ou escolas não agrupadas.

Contudo, não poderá o Ministério da Educação deixar de

assegurar os meios necessários à implementação de uma

verdadeira autonomia municipal na gestão dos equipamentos

educativos, em estreita observância dos compromissos

assumidos sobretudo na requalificação do parque escolar,

na manutenção ou eventual reforço dos recursos humanos

necessários ao normal funcionamento de toda a rede escolar

e também ao nível da garantia de programas que se têm

revelado fundamentais nos sectores de ensino que nos

estão mais intrinsecamente ligados. Falo nomeadamente

do Programa de Expansão e Desenvolvimento da Educação

Pré-Escolar (PEDEPE), do Programa das Actividades de

Enriquecimento Curricular ou dos apoios previstos ao nível

da Acção Social Escolar.

Importa esclarecer que o Município da Guarda não subscreveu

o protocolo de transferência de competências proposto

pelo Ministério da Educação, sobretudo considerando que o

nível de exigência que se coloca aos Municípios será muito

maior do que o que existe perante o Ministério da Educação,

pela proximidade com as escolas e todos os intervenientes

educativos, sem que exista uma garantia efectiva do

cumprimento de todos os pressupostos que deverão estar

associados a um plano tão ambicioso de transferência de

competências para os Municípios. Existem algumas áreas para

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O MUNICIPAL N.º 359 - Dezembro/2010

ASSOCIAÇÃO

DOS TÉCNICOS ADMINISTRATIVOS

MUNICIPAIS

as quais a própria estrutura dos Municípios poderá não estar

capacitada para o seu desenvolvimento, entre as quais refiro,

por exemplo, a gestão do parque escolar nos 2º e 3º ciclos do

ensino básico ou do respectivo pessoal não docente.

Parece-me fundamental que as condições de transferência de

competências do Ministério da Educação para os Municípios

sejam asseguradas e respeitadas através dos respectivos

contratos de execução, os quais deverão permitir o respectivo

financiamento sem prejuízo do que estiver definido em sede

do Fundo Social Municipal.

“O Municipal - O que acha da Proposta de Lei n.º 25/XII,

que altera o regime jurídico da tutela administrativa em

vigor? Qual é a sua opinião sobre a perda de mandato por

não avaliação dos trabalhadores?

Eng.º Joaquim Valente - A Câmara Municipal da

Guarda tem vindo a desenvolver desde o ano de 2007 o

processo de avaliação de desempenho, desenvolvendo

todos os procedimentos que lhe estão associados.

Consequentemente todos os trabalhadores desta Autarquia

têm o seu desempenho monitorizado e quantificado face

aos objectivos e competências previamente definidas

pelo avaliador e enquadradas nas directivas emitidas pelo

Conselho Coordenador de Avaliação.

No ano de 2010, esta autarquia implementou o processo

de avaliação de desempenho não só dos seus trabalhadores

como também dos serviços da Autarquia e dos seus

Dirigentes, pelo que a questão efectuada não se coloca neste

Município que entende a avaliação de desempenho não só

como uma imposição legal, mas também como uma medida

imprescindível a uma correcta gestão e ao desenvolvimento

dos seus recursos humanos.

“O Municipal” - A respeito da Lei n.º 55-A/2010, de 31

de Dezembro, que aprovou o Orçamento do Estado para

2011, que comentário faz às disposições aplicáveis aos

trabalhadores do sector público, em especial, as que se

referem à redução das remunerações e à proibição de

valorizações remuneratórias, não esquecendo a forma como

passa a ser efectuada a determinação do posicionamento,

no âmbito dos procedimentos concursais?

Eng.º Joaquim Valente - O Orçamento de Estado para o ano

de 2011 caracteriza-se pela implementação de medidas de

rigor e de austeridade que se afiguram indispensáveis ao

cumprimento dos compromissos assumidos por Portugal.

As normas de redução remuneratória inserem-se neste

quadro de restrições e limitações à despesa de Estado.

Consequentemente e considerando que o cumprimento

dos compromissos assumidos, nomeadamente do défice

se afigura como um verdadeiro desígnio nacional,

compreende-se a adopção de medidas tão penalizadoras.

No entanto, não podemos alhear-nos de como as referidas

normas penalizam os trabalhadores da Administração

Pública, que como os demais Portugueses também se

deparam com as dificuldades decorrentes da actual

situação de crise e que desta forma são duplamente

penalizados.

“O Municipal” - Qual é a sua posição sobre a intenção

anunciada pelo Secretário de Estado da Administração

Local, de se reorganizar o mapa autárquico, envolvendo a

fusão e extinção de municípios e freguesias?

Eng.º Joaquim Valente - Concordo plenamente com a

intenção do Governo em relançar o debate acerca da

reorganização do mapa autárquico do país. A reorganização

administrativa do país tem que ser adaptada à realidade

actual, mais racional, mais eficiente e mais moderna. Não

defendo a extinção de municípios ou freguesias, mas a sua

reorganização administrativos, em estruturas intermédias

por forma a tornar os concelhos ou as freguesias mais

homogéneas e assim reforçar as suas competências, dotando-

as de melhores condições de resposta às necessidades das

populações que representam.