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Entre Tanto revista da faculdade de ciências e tecnologia distribuição gratuita N.º5 Maio 2008 http://www.fct.unl.pt/ ISSN 1646-6721

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EntreTantorevista da faculdade de ciências e tecnologia distribuição gratuita

N.º5 Maio 2008 http://www.fct.unl.pt/

ISSN 1646-6721

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www.fct.unl.pt

Licenciaturas

Mestrados

Dou

toramentos

Engenh

arias

Ciências

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_Destaques FCT

_EntrevistaFrancisco Ferreira e Joanaz de Melo

_ReportagemCampus Verde

_Biblioteca

_Empresas FCT PH Informática

_Investigação FCT

_Notícias FCT

_Novos Mestres e Doutores

_CrónicaAlice Vieira

Permitida a citação, ainda que parcial, de textos, fotografias ou ilustrações, sob quaisquer meios, desde que indicando sempre a sua origem.

Propriedade e Edição FCT /UNL — Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Monte de Caparica 2829-516 Caparica (www.fct.unl.pt; [email protected])

Director Fernando Santana Editora Luísa Pedroso ([email protected]) Fotógrafo Mário Sousa Colaborações nesta Edição Alice Vieira, Carmen Carvalho, Christopher

Damien Auretta, Filipa Santos, José Paulo Santos, Maria Eugénia Webb, Paulo Limão-Vieira Conselho Editorial José Moura (presidente), Palmira Costa, Rita Monteiro e Luísa

Pedroso Participação Editorial Biblioteca da FCT/UNL Concepção Gráfica e Paginação Designpúblico, soluções globais, lda. (www.designpublico.com) Impressão Tipografia

Lobão (www.tipografialobao.pt) Tiragem desta Edição 2500 exemplares

O campus é verde

O campus da Faculdade é hoje um dos elementos signi-ficativamente valorizados na procura da nossa oferta edu-cativa, recentemente reforçado pela melhoria de acessibili-dades resultante da chegada do Metro Sul do Tejo. Dentro do possível, tem-se procurado cuidar do cam-pus, sendo para já difícil contemplar algumas ideias (que não faltam!), face ao espartilho das restrições orçamentais que nos foram impostas. Não havendo portanto disponibi-lidade para grandes realizações, importa prosseguir com a sua manutenção e com a execução de pequenos detalhes que também traduzem qualidade. Contudo, embora impres-cindível, a manutenção de infra-estruturas, que “não se vê”, é a grande consumidora de recursos. Consequentemente, importa observar um equilíbrio entre o aspecto exterior e a garantia de funcionalidades determinantes para as nossas actividades. Por outro lado, com o projecto “campus verde”, que visa obter, tão rapidamente quanto possível, a certificação ambiental do campus, espera-se adicionar mais um factor de diferenciação pela positiva, inédito a nível nacional, e que, pelas exigências inerentes àquela certificação, deter-minará maior eficiência ambiental na utilização de recur-sos, antecipando um rumo não só desejável, mas também inexorável. O campus é verde. A frase não é minha e o campus ainda não é tão verde quanto se pretende. No entanto, es-tou certo, expressa bem um desejo que nos é comum e que progressiva e colectivamente haveremos de concretizar.

Fernando SantanaDirector da FCT

NESTAEDITORIAL

n.º 5 Maio 2008

EDIÇÃO

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Depósito legal n.º 251725/06 ISSN 1646-6721

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MOSTRA DE CIÊNCIA, INOVAÇÃO E TECNOLOGIA

EXPOFCT 2008 Pelo segundo ano consecutivo, a Faculdade de Ciências e Tecnologia abriu as suas portas para re-ceber mais de 4500 alunos do 9.º, 10.º, 11.º e 12.º anos do Ensino Secundário. Foi a 2.ª edição da Expo-FCT, uma mostra de Ciência, Tecnologia e Inovação. A iniciativa, que decorreu no passado dia 4 de Abril, teve como principal objectivo divulgar a dinâ-mica científica desta Faculdade, assim como estrei-tar relações com toda a comunidade exterior. Dese-jando também contribuir para que a FCT/UNL seja, cada vez mais, uma forte opção na escolha futura de uma instituição de ensino superior. O Campus de Caparica teve as suas portas abertas durante todo o dia e os visitantes puderam usufruir de um vasto leque de iniciativas: mais de 100 experiências e demonstrações em laboratórios, visitas guiadas aos sectores departamentais, ac-ções de divulgação, exposições, desportos radicais, espectáculos de dança, música e teatro. Conhecer o perfurador que vai a Marte, apren-der a lançar satélites virtuais, ver o efeito de ventos, tempestades e terramotos, medir a radioactividade,

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Um dia diferente para os participantes na expoFCT: das experiências em laboratório aos desportos radicais, foram muitas e apelativas as actividades oferecidas. Até o calor marcou presença, o que levou muitos jovens a preferir a sombra.

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soldar e fabricar uma peça mecânica, programar robôs, produzir biodisel, analisar o DNA e identificar micróbios foram algumas das actividades prepara-das a pensar nos alunos que nos visitaram e que vieram de todo o país. Dos 4500 estudantes que se inscreveram para participar na ExpoFCT, 750 escolheram visitar as áreas de Materiais, Mecânica, Civil, Eng. Industrial e Eng. Geológica, 1350 alunos visitaram os Departa-mentos de Física, Informática, Engenharia Electro-técnica e Matemática, enquanto os restantes 2400 optaram pelas áreas de Química, Biotecnologia, Ambiente e Conservação e Restauro. Independentemente da área de interesse, todos puderam habilitar-se a uma vasta panóplia de pré-mios, desde pen-drives a bolsas de estudo. Para tal, só tiveram de realizar algumas actividades e colar o carimbo comprovativo no passaporte que recebe-ram à chegada. Mais uma vez, a Expo FCT voltou a ser um su-cesso: para a Faculdade que conseguiu receber cer-ca de 5 mil visitantes e para aos alunos que tiveram a oportunidade de viver um dia diferente. Empenhada em continuar a mostrar o que de melhor se faz nesta Faculdade, a ExpoFCT promete voltar no próximo ano.

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Márcio Temtem, 26 anos, doutorando em Química na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, foi um dos premiados no Programa de Estímulo à Investigação 2007, da Fundação Calouste Gulbenkian, com o projecto «Partículas nanoporosas inteligentes: um novo caminho para a libertação con-trolada nos pulmões». A questão que se põe é a de saber se existirá um processo através do qual, com uma simples inalação, se consigam libertar fármacos anti-cancerígenos nos pulmões, deixando intactos os tecidos saudáveis.Para este jovem cientista, a resposta é sim. A utilização de partículas inaladas para transporte de fármacos até aos pulmões poderá ajudar, no futuro, ao tratamento mais eficaz de algumas doenças respiratórias, como a asma ou o cancro do pulmão. Porém, o método só é viável se as partículas evitarem os mecanismos de defesa do organismo fixando-se nos pulmões, onde li-bertarão os agentes activos. Para garantir que o transporte é bem sucedido, Márcio Temtem, do Centro de Química Fina e Biotecno-logia (CQFB), integrado no Laboratório Associado RE-QUIMTE, propõe-se produzir partículas nanoporosas, as quais, devido à sua baixa densidade — introduzida pelos minúsculos poros —, evitarão ser expulsas pe-los mecanismos de defesa dos pulmões. Esses poros serão depois revestidos por polímeros «inteligentes», como hidrogéis, moléculas que são sensíveis a peque-nas variações do pH ou da temperatura dos tecidos.

De acordo com Márcio Temtem, “os tumores têm um pH mais baixo do que os tecidos saudáveis e os po-límeros sentem essa diferença e libertam os fármacos [que transportam] apenas na zona do tumor”. Desta forma, será possível bombardear com drogas os teci-dos doentes, deixando intacta a região circundante. A técnica de produção de partículas nanoporo-sas, proposta por Márcio Temtem, apresenta ainda a vantagem de ser ambientalmente saudável. “Vamos usar uma nova tecnologia com solventes amigos do ambiente”, diz o investigador. Geralmente, na produ-ção destas partículas usam-se solventes orgânicos, os quais, além de poluentes, são muitas vezes com-postos cancerígenos. Mas a produção de partículas no CQFB/REQUIMTE irá recorrer a dióxido de carbono a alta-pressão, não deixando no fim das experiências quaisquer resíduos e reutilizando, desta forma, um gás com efeito de estufa. Inserido na área da nanoquímica, o projecto de Márcio Temtem recebeu da Fundação Calouste Gul-benkian o valor monetário de 12.500 euros, dos quais 2.500 euros são para o investigador e os restantes 10 mil para a instituição de acolhimento. O cientista da FCT/UNL foi um dos oito jovens distinguidos pelo júri do Programa de Estímulo à Investigação, entre mais de 30 candidaturas.

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PARTÍCULAS INTELIGENTES DÃO PRÉMIO A JOVEM CIENTISTA DA FCT

Márcio Temtem

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PRÉMIO SECIL UNIVERSIDADES PARA ALUNOS DA FCT Um dos três prémios Secil Universidades, na ca-tegoria de Engenharia Civil, foi atribuído a um projecto elaborado por alunos da Faculdade de Ciências e Tec-nologia da UNL. Desenvolvido por três alunos finalistas do curso de Engenharia Civil, o projecto vencedor foi o edifí-cio “Torre NOVA”, situado no Campus de Caparica. O edifício é composto por duas torres gémeas incli-nadas em ambas as direcções, unidas na fundação, e por uma estrutura mista formada por pilares me-tálicos, núcleos de betão armado e lajes alveolares. O projecto foi desenvolvido pelos alunos Hugo Sousa, Edmar Martins e Fábio Quádrio, partindo de um estudo prévio de arquitectura (Arq. Luís Chastre) e teve a su-pervisão do Prof. Carlos Chastre Rodrigues (responsá-vel pela disciplina de Projecto de Engenharia Civil). O Prémio Secil Universidades / Engenharia Civil tem como objectivo premiar os melhores projectos de Engenharia Civil feitos por alunos finalistas de univer-sidades portuguesas. Nesta última edição, a de 2007, foram distinguidos seis projectos, três de Engenharia Civil e três de Arquitectura. Cada um foi premiado com uma verba de cinco mil euros.

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“Torre Nova”: o projecto desenvolvido pelos finalistas de Eng. Civil da FCT

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UNIVERSIDADES ROMENA E MOLDAVA DISTINGUEM PROFESSORES DA FCTO Professor Doutor António Gonçalves Coelho, do De-partamento de Eng. Mecânica e Industrial da FCT, re-cebeu o grau de Doctor Honoris Causa pela Universita-tea Tehnicã “Gh. Asachi” de Iasi, na Roménia. António Gonçalves Coelho, Professor Associado de Engenharia Mecânica da FCT/UNL e Investigador da UNIDEMI, vai ser agraciado com o título de Doctor Ho-noris Causa pela Universidade Técnica “Gh. Asachi” de Iasi, na Roménia. Esta distinção é atribuída em sinal de reconhecimento pela colaboração que o homenageado tem dispensado à Faculdade de Construção de Máqui-nas e Gestão Industrial daquela Universidade, ao lon-go de mais de 5 anos. Essa cooperação traduziu-se na participação em diversos projectos, na orientação de estágios de doutoramento e pós-doutoramento, na or-ganização de conferências internacionais e workshops, na co-autoria de artigos científicos e de um livro, e no intercâmbio de estudantes e docentes no âmbito dos programas Sócrates-Erasmus e Nicolae Titulescu. A Universitatea Tehnicã “Gh. Asachi” remonta a 1813, sendo a universidade romena mais antiga no en-sino e na investigação em Engenharia. Actualmente, é uma das mais importantes entre as 56 universidades públicas daquele país. António Manuel Gonçalves Coelho é licenciado em Engenharia Mecânica pela Universidade de Luanda e Doutor em Engenharia Mecânica pela Universidade Nova de Lisboa, onde obteve igualmente o título de Agregado. É “Profesor Onorific” da Universidade “Du-nãrea de Jos” de Galati, na Roménia, e membro da Ordem dos Engenheiros e da International Society for Productivity Enhancement (ISPE). A cerimónia solene de outorga do título realizou-se dia 29 de Maio na Aula Magna da Universidade Técnica “Gh. Asachi”, em Iasi.

O Prof. Doutor José Alcino Rodrigues Carvalho foi distinguido com o grau de Doctor Honoris Causa pela Universitatea Pedagogica de Stat da República da Mol-dávia. A cerimónia realizou-se em Chisinau, capital da Moldávia, em sessão pública extraordinária do Senado da Universidade, no passado dia 25 de Fevereiro. A distinção foi atribuída em reconhecimen-to do mérito da acção do Prof. Rodrigues Carvalho no âmbito da cooperação internacional universi-tária, bem como do apoio à integração da Moldá-via na área Europeia de Ensino Superior e à pro-moção dos objectivos de Bolonha naquele país. Licenciado em Ciências Geológicas pela Universidade de Lisboa e doutorado pelo Imperial College of Science Technology de Londres, Rodrigues Carvalho é Profes-sor no Departamento de Ciências da Terra da FCT/UNL, onde coordena o Mestrado (Bolonha) em Engenharia Geológia (Geotecnia). Nos últimos três anos e meio o Prof. Rodrigues Carvalho integrou um grupo de trabalho alargado – que incluía representantes de várias universidades da República da Moldávia e da União Europeia (Reino Unido, Itália, Suécia) bem como do Ministério da Edu-cação e Juventude da Moldávia – que se dedicou ao estudo de aspectos da integração da Moldávia na Área Europeia do Ensino Superior e no sistema de Bolonha.

António Gonçalves Coelho

José Alcino Rodrigues Carvalho com o Reitor e a Directora do Departamento de Relações Internacionais da Universitatea Pedagogica de Stat

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Considerações futebolísticas à parte, e pela consideração que o ambiente nos merece e que hoje tanto na moda está, o nosso Campus merece ser verde, azul, amarelo, vermelho, um arco-íris com-pleto. Merece, precisa e todos nós o devemos não só exigir mas também trabalhar para que o mesmo persista. Os anos vão passando e desde a sua génese, já lá vão trinta, tudo parece urgente no nosso dia-a-dia: organização de cursos, serviços, recuperação de edifícios, construção de infra-estruturas e a ver-dade, aqui bem inconveniente, é que o ambiente (numa escola que até o ensina) nem sempre acom-panhou a velocidade de todo este desenvolvimento que se impunha a uma nova Faculdade. Chegou a hora de aproveitar o que de melhor foi realizado ao longo do tempo, projectar a sustenta-bilidade futura e manter o desenvolvimento neces-sário a uma (ainda) nova Faculdade. Porque um só tempo é o nosso, seremos nós a desafiar os hábitos e costumes mais impregnados e a acreditar que o desempenho ambiental da FCT tem de ser excelente. O trabalho já começou, conhecer a fundo as ac-tividades desenvolvidas em todo o Campus e os im-pactes que as mesmas produzem no ambiente foi prioritário e surpreendente. Logo aqui foi necessário reajustar toda a calen-darização do projecto e dar prioridade a questões de base, porque de nada serve sermos galardoados por uma bandeira certificada se na realidade o sistema estiver fragilizado. Assim, aliou-se o verde do Cam-pus à prática dos serviços técnicos, numa parceria até então pouco imaginada. Resultado: uma articu-lação pensada das intervenções, tecnicamente efi-cazes e ambientalmente sustentáveis. Não sendo

estas intervenções de longe totalmente perfeitas, pelo menos tem-se em vista a melhoria que está ao nosso alcance. As motivações são as suficientes, pretende-se garantir o cumprimento de todas as obrigações legais a nível de ambiente, reduzir o consumo de recursos e de emissões, reduzir custos, melhorar a imagem e formar a sociedade, numa incansável busca pela melhoria do desempenho ambiental da FCT. De momento já se iniciou a fase de implementa-ção de acções com vista à minimização dos impac-tes mais significativos: adopção de uma política am-biental, instalação de contadores parciais de água e electricidade e registo de consumos, monitoriza-ção das emissões atmosféricas e efluentes líquidos, valorização de resíduos, organização dos espaços, levantamento e limpeza das redes de águas residu-ais e pluviais e sensibilização dos principais interve-nientes do Campus. O Campus está em acção e o Campus Verde mantém o seu objectivo inicial: implementar e cer-tificar um Sistema de Gestão Ambiental, o primeiro num Campus Universitário português.

Filipa SantosGestora Ambiental do Campus FCT/UNL

www.fct.unl.pt/campus-verde/

OS PORQUÊS DE UM CAMPUS VERDE

FCT COM BOM AMBIENTE

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EM TONS DE VERDE... O interesse e a curiosidade pela cor fazem parte da natureza humana. Reproduzir as cores dos animais e das plantas, atribuir significado às cores, combinar e dar forma às cores têm sido actividades desenvol-vidas no decurso da evolução de conceitos e de cultu-ras. Neste contexto, lembremos algumas figuras cé-lebres do campo das artes e da ciência e aspectos do seu relacionamento com as cores. Leonardo Da Vinci (1452-1519), considerado como o génio da pintura e da escultura, costumava perguntar porque motivo o céu era azul. Para Robert Boyle (1627-1691), filósofo e quí-mico anglo-irlandês, a cor era uma sensação provoca-da pela luz. A interpretação das cores em função dos comprimentos de onda é avançada por Hermann von Helmholtz (1821-1894), famoso médico e físico alemão conhecido pelas suas contribuições para diversas áre-as da ciência moderna, em especial pelo seu trabalho sobre percepção das cores. De facto, a assinatura da cor corresponde ao com-primento de onda da luz. É bem conhecido o efeito dos raios luminosos nas gotículas de água da chuva quan-do, por exemplo, o sol espreita por entre as nuvens, situação tão vulgar nos dias de Primavera. As deslum-brantes cores do arco-íris representam toda a gama de comprimentos de onda compreendidos entre 380 e 750 nm. Isaac Newton (1642-1726) explicou-as num dos seus mais conhecidos e famosos trabalhos, misto de ciência e de estética, quando interpretou a dispersão da luz branca através de um prisma de vidro.

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Cordyline australis (fiteira) sobressai, em primeiro plano, nos tons de verde do Campus de Caparica.

Arauto da Primavera, a ameixoeira de jardim estende os braços carregados de vistosas flores rosa claro.

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De um modo geral, as cores e as diversas tonali-dades encontradas na Natureza devem-se à absorção selectiva da luz através da acção de moléculas espe-cializadas, designadas pigmentos. Se, por exemplo, um determinado pigmento é capaz de absorver tanto na zona do azul-violeta como na zona do vermelho do espectro, como é o caso da clorofila (molécula chave no processo fotossintético), a cor resultante que per-cepcionamos é o verde. Esta é uma das características mais evidentes das plantas e senão a mais importante. A fotossíntese pode ser entendida como uma es-pécie de ponte dinâmica entre o Sol e os organismos existentes na Terra fornecendo, directa ou indirecta-mente, a energia base necessária à vasta maioria de formas de vida. Potenciadas pela luz solar, as plantas retiram dióxido de carbono da atmosfera incorporando o carbono na sua própria estrutura e libertando o oxi-génio. Na generalidade todas as plantas absorvem di-óxido de carbono da atmosfera, no entanto, as árvores e os arbustos apresentam uma maior capacidade para realizarem o armazenamento do carbono. Cerca de 80% do carbono armazenado numa árvore reside no tronco e nos ramos, o sistema radicular contribui com apenas 18% para o armazenamento deste elemento, sendo o restante distribuído pelas folhas. O sequestro de carbono, designação atribuída ao processo que permite olharmos para cada árvore/ar-busto como um reservatório de carbono a longo/médio prazo, constitui seguramente uma das mais preciosas habilidades metabólicas, fruto de milhares de anos de evolução. Numa altura em que concentações elevadas

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de dióxido de carbono, entre outros gases, envolvem a Terra numa espécie de mortalha gasosa, conduzindo ao aumento da temperatura do planeta a uma escala global, qualquer auxílio no sentido de diminuir a sua concentração é vital. Com as densas manchas verdes já existentes e com o que futuramente se plantar, o Campus de Capa-rica constitui um admirável exemplo de como contri-buir localmente para a solução de um problema a nível global. Embora o cálculo da incorporação e armaze-namento de carbono por uma árvore seja complexo e condicionado por uma série de variáveis, estima-se que cada árvore de dimensão média possa contribuir com o sequestro de aproximadamente 29 kg de car-bono, por ano. Com mais de 1 200 árvores no perímetro delimitado do Campus o cálculo da estimativa envolve uma simples operação aritmética. Para além do sequestro de carbono, as árvores contribuem ainda de outras formas no sentido de au-xiliarem na diminuição da concentração de dióxido de carbono na atmosfera. De facto, ao ensombrarem os edifícos onde permanecemos durante a maior parte do dia, as árvores estão a contribuir para uma gestão adequada e efectiva de energia, reduzindo significati-vamente os gastos relativos a arrefecimento dos edífi-cios. A plantação ou disposição estratégica de árvores em relação aos volumes edificados pode servir de que-bra-vento representando, de igual modo, uma poupan-ça significativa de energia. Inegavelmente a presença de árvores, seja em den-sas manchas verdes ou em simples pontos, correspon-

Exemplo de placa identificadora das espécies arbóreas e arbustivas do Campus de Caparica.

Uma das 25 casas-ninho apropriadas para aves da Ordem Passeriformes colocadas em árvores do Campus.

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dentes à singela árvore de rua, reflectem preocupação com a qualidade ambiental. Em nome da sustentabili-dade urbana a presença de árvores é absolutamente necessária e o Campus de Caparica reflecte plena-mente esta preocupação. A queima de combustíveis fósseis introduziu um fluxo contínuo de poluentes de elevada toxicidade na atmosfera. Felizmente, a desig-nada estrutura verde é cada vez mais uma realidade e estas “máquinas depuradoras” são capazes de operar autênticas maravilhas em termos de melhoramento da qualidade do ar, particularmente em ambiente urbano. De facto, para além da libertação de oxigénio durante o dia, a folhagem reduz em mais de 60 % a quantida-de de matéria particulada que atinge o nível do solo. A absorção de dióxido de enxofre, de ozono, de monóxi-do de carbono e de dióxido de azoto em quantidades apreciáveis, para além da diminuição da temperatura, intercepção e armazenamento de quantidades signi-ficativas de água da chuva, aumento da percentagem de humidade do ar, redução do ruído e da intensidade da luz e protecção das áreas pavimentadas, são razões mais do que suficientes para associarmos os tons e cambiantes de verde da vegetação e em particular da vegetação urbana, a uma melhor qualidade de vida.

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Com mais de 1 200 árvores e arbustos, o patrimó-nio arbóreo do Campus de Caparica diversifica-se por cerca de cinquenta e quatro espécies, distribuídas por vinte e nove famílias botânicas. Cada uma das espé-cies tem um exemplar ostentando uma placa identifi-cadora. Entre espécies de folha persistente e de folha caduca o aspecto do Campus altera-se, navegando numa espiral desenhada pelo fluir das estações do ano. Prunus cerasifera constitui seguramente uma das espécies mais apelativas. Arauto da Primavera, a quem estende os braços carregados de vistosas flores rosa claro, a ameixoeira de jardim encontra no Cam-pus mais de cinquenta locais onde expõe a sua carac-terística folhagem avermelhada. No Verão, os frutos, semelhantes a grandes cerejas, espreitam por entre as folhas lembrando que a viagem na espiral do tempo continua. Nesta profusão de ramos floridos, a ameixo-eira de jardim encontra na olaia (Cercis siliquastrum) uma séria competidora. Na exuberância do rosa, os cachos de flores parecem aguardar impacientes pelo aparecimento das folhas, de um verde reluzente e com as quais contrastam, num diálogo que dura quase até ao Verão, altura em que as características vagens cas-tanho-avermelhado se desenvolvem. A olaia, resisten-

Plátano (Platanusxhispanica) próximo da entrada principal do Edifício Departamental.

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te à poluição urbana e profusamente utilizada como árvore de rua, aparece mais de uma vintena de vezes no nosso Campus. Se estas espécies cativam a nossa atenção pela sua beleza, muito em especial durante a época de flo-ração, o maior impacte visual é causado pela presença de cerca de oitenta palmeiras das Canárias (Phoenix canariensis). Bordando a artéria principal do Campus, as palmeiras parecem indicar o caminho entre as en-tradas principais do Campus, como que servindo de elo de ligação entre grande parte dos edifícios. Suge-rindo exotismo, frequentemente associadas a locais de veraneio e a paraísos tropicais, o conjunto de frondes de Phoenix canariensis agitando-se ao vento ou espre-guiçando-se na quietude de um dia de Verão não pode, seguramente, passar despercebido. Originária da América do Norte e plantada pela primeira vez na Europa pelos jardineiros de Luís XIII de França, Robinia pseudoacacia (falsa-acácia ou acácia-bastarda) é especialmente apreciada pela sombra que proporciona e pelo seu valor paisagístico, fazendo par-te da lista de espécies eleitas pela eficiência no con-trolo da erosão do solo. Durante o Verão, seduz pela beleza dos cachos pendentes ornamentados por flores brancas e de aroma suave.

Bico de lacre (Estrilda astrild), uma das espécies canoras fotografada no Campus (in “Avifauna do Campus de Caparica”).

O coberto vegetal constitui um suporte valioso para a avifauna, oferecendo a possibilidade de nidificação.

Elemento característico das paisagens do Sul da Europa e Norte de África, Viburnum tinus (folhado) constitui uma das mais interessantes espécies que preenchem o espaço arbustivo. Com grandes aglo-merados de flores brancas, polinizadas por insectos, o folhado tem vindo a ser cada vez mais utilizado como espécie autócne com valor paisagístico. No Campus podemos encontrar excelentes exemplares de folhado

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nas proximidades da Cantina, por exemplo. Parte da tradição de algumas regiões do país, o folhado é utili-zado para ornamentar a mesa da Consoada. Símbolo de renovação, o plátano (Platanusxhispa-nica) pode atingir cerca de quarenta metros de altura. O tronco é direito podendo chegar aos catorze metros de diâmetro nos exemplares mais antigos. Caracteris-ticamente ostenta manchas amarelas de forma irre-gular, devido às marcas deixadas pelo destacamento da casca (ritidoma). Utilizado intensamente na orna-mentação de parques e jardins desde o século XVII, o plátano adquire presentemente um papel de relevo como árvore de rua, não só pela sombra que propro-ciona como também pela sua resistência aos poluen-tes atmosféricos, de uma forma geral. Dos cerca de vinte e cinco exemplares desta espécie dispersos pelo Campus, seleccionámos o que se encontra próximo da entrada principal do Edifício Departamental. Estas são apenas algumas das espécies que inte-gram o já diversificado património arbóreo do Campus de Caparica. A vasta maioria destas espécies tem sido plantada, no entanto, na memória da antiga Quinta da Torre (área actualmente ocupada pelo Campus) onde existem ainda os contornos típicos das figueiras, dando conta do passado rural do espaço que hoje é utilizado por outro tipo de cultura. De facto, no início dos anos oitenta, Ficus carica, a figueira, fazia parte dos recan-

Carduelis carduelis (pintassilgo) assegura o seu território, entoando diversas canções

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Com folhas brilhantes e de verde intenso, o folhado (Viburnum tinus) é uma espécie autócne com valor paisagístico.

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tos bucólicos que mais tarde deram lugar aos diversos edifícos que abrigam outras tantas funcionalidades e unidades orgânicas da Faculdade de Ciências e Tec-nologia (UNL). Com a sua folhagem densa e apetitosos frutos, tão típicos do Verão Mediterrânico, a figueira está de volta ao Campus. A densidade e composição do coberto vegetal constitui um suporte valioso para a fauna, muito em especial para a avifauna. Surpreendentemente o Cam-pus, nos seus meandros e recantos, oferece igualmen-te uma diversidade considerável de espécies de aves. Das vinte e sete espécies observadas e fotografadas no perímetro delimitado do Campus de Caparica desta-cam-se, pelas suas canções harmoniosas, o pintassil-go (Carduelis carduelis) e o bico de lacre (Estrilda as-trild). No entanto, a colocação de 25 casas-ninho para aves da Ordem Passeriformes (temos como exemplo as espécies acima mencionadas) e uma adequada para mochos (Ordem Strigiformes) vêm, seguramen-te, fazer aumentar o número de aves no perímetro do Campus. Na sua diversidade, dimensão, percentagem de área coberta e relação com os volumes construídos, as espécies arbóreas e arbustivas actualmente presentes no Campus de Caparica oferecem um ambiente pro-pício à aprendizagem, à concentração e à produtivida-de. De facto, a incorporação da vida silvestre no teci-do urbano proporciona, entre outros efeitos positivos, bem-estar psicológico e fisiológico, promove uma série de influências que reduzem o stress, facilita a sociabi-lização e auxilia na recuperação de estados de fadiga cognitiva, o que, em conjunto, se traduz numa melhor qualidade de vida. É isto que o Campus de Caparica oferece.

Texto e fotos de MARIA WEBBProfessora Auxiliar do Departamento de Ciência e Eng. do Ambiente

No Verão, os frutos da ameixoeira de jardim espreitam por entre a folhagem avermelhada.

Robinia pseudoacacia (falsa-acácia ) seduz pela beleza dos cachos de flores brancas com aroma suave.

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fct entrevista

Precursora no ensino da Engenharia do Ambiente em Portugal, a FCT procura agora aplicar a si própria o que anda a ensinar há vário anos. Isto é, implementar e certificar um Sistema de Gestão Ambiental. Os bene-fícios não são apenas ambientais, são também econó-micos. É o que pensam Francisco Ferreira (FF) e João Joanaz de Melo (JJM), professores da FCT e dirigentes ambientalistas. Em entrevista conjunta à Entretanto, falam da im-portância da FCT demonstrar que ter uma prática am-biental é viável do ponto de vista organizativo e da ges-tão de uma instituição. Tanto mais que a Universidade tem uma particular responsabilidade, na medida em que está a formar os futuros dirigentes do País.

Qual a importância do projecto Campus Verde? JJM_Eu diria que é importante em vários domí-nios. Em primeiro lugar, é uma questão de imagem institucional. Aquilo que nós ensinamos e que inclusi-vamente fazemos como consultores de terceiros, deve-mos praticar dentro de casa. Hoje em dia, a preocupação com o ambiente é uma marca de qualidade em qualquer organização. E isto é verdade para as empresas, como é verdade para as universidades. Em segundo lugar é importante por uma questão de eficiência. Este tipo de metodologia, neste caso a implementação de um Sistema de Ges-tão Ambiental, representa uma questão de eficiência do próprio Campus. Uma gestão mais eficiente, por exemplo na gestão da água e da energia, permite à Fa-culdade poupar dinheiro, além de ter obviamente um melhor desempenho ambiental. Temos de ser, pela prática real, demonstradores de que esse tipo de coi-

ENTREVISTA A FRANCISCO FERREIRA E JOÃO JOANAZ DE MELO:

“A PREOCUPAÇÃO COM O AMBIENTE É UMA MARCA DE QUALIDADE”

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Francisco Ferreira Joanaz de Melo

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sas funciona e é positivo a vários títulos, a nível am-biental e ao mesmo tempo é algo que é viável do ponto de vista organizativo e da gestão de uma instituição.

FF_Gostaria só de acrescentar que um dos aspec-tos mais importantes neste tipo de opções é, na linha do que o Joanaz disse, um problema económico. Isto é, todas as acções de eficiência ou de conservação de água, de energia, de produção de resíduos, tudo isso significa uma poupança de custos enorme. Portanto, eu consigo aliar um benefício ambiental com o bene-fício de médio a longo prazo de poupança para a ins-tituição. Por outro lado, há também a possibilidade de alargar um conjunto de comportamentos, da recolha selectiva, do uso da água, de denúncia de situações que não estão a funcionar bem, por parte de todos os utentes do Campus. Há aqui uma possibilidade de mo-dificação de comportamentos e de atitudes que devem ser integradas num serviço desta natureza.

A implementação deste sistema é um projecto que já se arrasta há algum tempo. Porque é que não é as-sim tão fácil concretizar esta ideia, ainda para mais quando se trata de uma Faculdade pioneira no Curso de Engenharia do Ambiente e que devia estar mais sensibilizada para este tipo de questões? JJM_Bem… Aqui entra um bocadinho a autonomia pedagógica dos próprios departamentos, que tem van-tagens e desvantagens. Só desde há muito pouco tem-po é que foi assumido como política institucional da casa querer montar um sistema de gestão ambiental. Portanto, a atribuição desta prioridade ou desse patro-cínio institucional de uma forma mais veemente é de facto mais recente.

À imagem do que acontece com o resto da socieda-de, não terá a ver também com o facto de as pessoas estarem mais sensibilizadas para este tipo de ques-tões? JJM_Tem a ver com isso, tem a ver com o facto do Director da Faculdade ser oriundo do Departamento de Ambiente e portanto ter uma sensibilidade acresci-da para este tipo de temáticas.

FF_Em parte também tem a ver com as exigências que são colocadas do ponto de vista legal, a certifica-ção energética dos edifícios, o tratamento de resídu-os… Portanto, há também aqui uma série de instru-mentos legais e uma pressão económica para que o Campus Verde acabe por ser uma iniciativa que tenha de ir irremediavelmente para a frente.

JJM_Agora é importante também dizermos que, se por um lado, tem de haver uma vontade da gestão de topo da instituição, neste caso da Direcção, isto só vai funcionar em pleno se for da vontade da generalidade das pessoas. Há vários tipos de coisas aqui envolvidos. Há aspectos que são de organização institucional, há aspectos de comportamento individuais e há uma di-mensão de investimento. Há algumas coisas que são fáceis de executar, mas há outras que exigem algum investimento. Portanto é uma questão de opção: é fa-zer investimentos agora para poupar no futuro.

O projecto Campus Verde, tal como foi delineado, é o projecto ideal ou foi o possível? Reparo que, por exemplo, a questão das energias alternativas ou re-nováveis, não está contemplada. JJM_Vamos dizer que é um projecto de geome-tria variável. Há várias componentes: há uma compo-nente de organização de informação e criação de um sistema de gestão formal que está a ser trabalhado; há outra componente que é de linhas de intervenção ou de investimento que tem de ser feito em diferentes áreas. Algumas coisas já foram feitas, por exemplo, já foi montado um sistema de recolha de resíduos pe-rigosos, já foi feita uma campanha de caracterização de efluentes….Há uma série de acções concretas que estão a ser feitas e portanto não há limite para isto. Há apenas, se quiser, uma definição de prioridades. Agora, está na altura de passar para coisas mais avan-çadas e não tenho dúvida nenhuma que vamos ter de apostar seriamente nas energias alternativas ou reno-váveis. Até agora isso não foi uma prioridade, mas não quer dizer que esteja fora do horizonte.

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Significa que para se conseguir o objectivo mais ime-diato, que é a certificação, bastam determinados pa-râmetros… JJM_A certificação exige dois tipos de coisas: exige, por um lado, um conjunto de informação organizada, a qual está numa fase bastante adiantada, e um conjunto de actividades que garantam um princípio importante que é chamado de melhoria contínua. Isto é, temos de conseguir demonstrar que estamos a melhorar o nos-so desempenho, que não temos só boas intenções. Eu diria que não há um objectivo último, que o caminho se faz caminhando. Se quiséssemos ser extraordina-riamente ambiciosos podíamos dizer: queremos uma Faculdade que seja auto-sustentável em energia, por exemplo, mas estamos a uma distância muito, muito longa de conseguir uma coisa dessas, quer por moti-vos económicos, quer tecnológicos. Portanto, eu diria que há um caminho a percorrer e que devemos ser si-multaneamente ambiciosos e realistas.

Digamos que este é um processo dinâmico, que é possível ir sempre melhorando. Que outros aspectos consideram que seria interessante ter em conta? FF_Eu considero que um aspecto muito importan-te é o da mobilidade. Não há razão para nós, com uma infra-estrutura de luxo que é ter o metro aqui à por-ta, não fazermos um esforço no sentido de estimular

o uso do transporte colectivo e desincentivar o uso do automóvel. Tudo o que diz respeito a um estímulo a uma mo-bilidade mais sustentável de quem aqui estuda e tra-balha é absolutamente fundamental, mais uma vez por razões económicas, também por razões ambientais, por razões de conforto e de qualidade de vida.

JJM_Eu diria que isso passa por dois tipos de in-tervenção: interna, naquilo que é o espaço da própria Faculdade, como criar uma rede de ciclovias dentro do Campus, estacionamento para bicicletas, etc. Há me-didas que podem ser tomadas a este nível, mas depois há coisas que dependem de terceiros. Por exemplo, se alguém quiser efectivamente levar a bicicleta no com-boio ou no metro, tem de haver uma negociação com os parceiros. Digamos que a própria instituição univer-sidade devia assumir-se como um actor social no sen-tido de reclamar essas intervenções a nível municipal, ou mesmo governamental.

É importante o exemplo que as universidades podem dar a nível ambiental? FF_Eu acho que é fundamental, particularmente se houver um departamento a trabalhar na área. A Uni-versidade, com o conhecimento que tem de boas práti-cas, com a capacidade que tem de avaliação, o conhe-cimento mais detalhado de situações, tem a obrigação de desenvolver esse tipo de trabalho. Em comparação com uma normal empresa ou outra instituição pública qualquer, a Universidade como centro de investigação e desenvolvimento, com uma dinâmica própria do pon-to de vista formativo, educacional e científico, tem aqui claramente um papel relevante.

A nível do País, quais consideram ser os problemas ambientais mais prementes e inadiáveis? FF_A questão da nossa dependência energética e a poluição associada a uma das componentes do uso da energia, que são os transportes, é talvez um dos pro-blemas maiores. Não só porque o petróleo não pára de

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Nós devíamos olhar para o nosso território, para a nossa biodiversidade e para a nossa paisagem como verdadeiros recursos, quer recursos para suportar uma actividade económica, por exemplo um turismo de qualidade, quer recursos para as gerações futuras. O que é que nós vamos deixar aos nossos filhos e aos nossos netos? E esta noção do território como recurso a salvaguardar como valor para o futuro é algo a que é dada, de facto, muito pouca importância.

aumentar em termos de preço, mas também porque o automóvel individual representa um grave problema em termos de qualidade do ar, de ruído, de produção de resíduos, de congestionamento, de stress… Destacaria ainda outra área, que também tem a ver com as alterações climáticas, mas numa outra perspectiva. Isto é, as alterações climáticas já nos es-tão a afectar e vão afectar-nos cada vez mais e nós não estamos preparados para isso. Por um lado, cerca de 77 % das zonas costeiras estão em risco com a subida do nível do mar e, por outro, a biodiversidade caracte-rística do nosso país está a ser destruída, não só por causa do clima, mas também pelo mau ordenamento do território e pelo uso indevido de determinadas zonas. Basicamente, a questão da energia, e dentro da energia o transporte, e do outro lado a questão da pre-servação dos valores naturais, que em muitos casos também são valores económicos — o caso do Monta-do de Sobro, por exemplo — são questões pertinentes para as quais Portugal devia olhar.

JJM_Dentro deste sector da energia, eu concordo que não há em Portugal uma política de transporte, mas uma política de obras públicas virada para o au-tomóvel. E isto é uma lógica completamente errada, quer do ponto de vista económico, quer do ponto de vista ambiental e da qualidade de vida das pessoas. Todo o sector energético sofre de um problema gravíssimo de ineficiência. As estimativas que existem apontam para que 20 % a 30 % do nosso consumo de energia é desperdício. O outro domínio que foi referido, que tem a ver com o território e a biodiversidade, também concordo que é uma área importante a vários títulos. Nós, hoje em dia, temos um padrão de ocupação territorial em que es-tamos a concentrar as pessoas nas cidades de média dimensão do interior e nas periferias das metrópoles de Lisboa e Porto. Portanto, estamos a desertificar o centro das cidades e a desertificar as aldeias.

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fct reportagem

a norma ISO 14001:2004. Foi, então, criado um grupo de trabalho, orientado pelo Prof. Fernando Santana e constituído pelos Professores Paula Antunes, Graça Martinho, Joanaz de Melo, Nuno Videira e pela Eng.ª Fernanda Fernandes. Desse grupo fazia ainda parte a Eng.ª Filipa Santos, agora gestora ambiental do Cam-pus da FCT/UNL. Licenciada em Eng. do Ambiente e com especialização em Eng. Sanitária, por esta Facul-dade, foi ela que nos guiou nesta “viagem ambientalis-ta”, da qual resultou o presente artigo.E como o melhor é mesmo começar pelo princípio, ou seja, cumprir a legislação, o trabalho deste grupo começou precisamente por verificar o que era preci-so cumprir a nível de ambiente. E à medida que foram detectadas falhas ou incumprimentos foram sendo in-troduzidas as necessárias correcções. Mas, muito embora tenham sido dados passos sig-nificativos a nível de melhorias ambientais, ainda não foi possível passar à fase da verificação do sistema. Ultrapassada a meta de Dezembro de 2007 para ter o sistema implementado e passar à fase de verificação, o objectivo agora é ter, até ao final do ano, as primeiras auditorias internas feitas para se poder avançar então para a certificação por uma entidade externa.

Pioneira na introdução, em Portugal, da Licen-ciatura em Engenharia do Ambiente, a Faculdade de Ciências e Tecnologia pretende agora que o seu Cam-pus universitário seja também o primeiro ambien-talmente sustentável e certificado com a norma ISO 14001:2004. A ideia de transformar o Campus da FCT num Campus Verde começou a criar forma em 1998, quando na disciplina de Eco-projecto dois alunos da Licencia-tura em Engenharia do Ambiente decidiram fazer um levantamento ambiental. Dois anos mais tarde, uma outra equipa conseguiu uma bolsa de estudo para dar continuidade ao projecto, tendo feito um levantamen-to ambiental, ainda mais exaustivo, de todo o Campus. Foi a este segundo documento que se deu o nome de Campus Verde. Desde então, e apesar dos inevitáveis interregnos ou mesmo recuos no processo, a ideia foi sempre a de se evoluir para a criação de um Sistema de Gestão Ambiental. Pelo meio, na procura de um modelo que pudesse ser seguido, foram feitos alguns estudos para se ten-tar perceber que países e Universidades já dispunham de sistemas de gestão ambiental implementados. Foi o caso da Harvard Green Campus Initiative e da Univer-sidade Autónoma de Madrid. Há cerca de dois anos, em 2006, o projecto Campus Verde foi reactivado, desta vez já com objectivos emi-nentemente práticos, no sentido de se implementar um sistema de gestão ambiental e de o certificar com

O Campus da FCTVERDE, SUSTENTÁVEL E CERTIFICADO

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O que já foi feito Um dos passos mais importantes neste caminho, que a FCT se propôs fazer, foi a assinatura da Politi-ca Ambiental, um dos pilares do Sistema de Gestão Ambiental. Trata-se do compromisso da Direcção em agir no sentido de que as actividades a realizar no Campus tenham reduzidos impactos ambientais. Foi feito também um levantamento profundo das activida-des desenvolvidas e respectivos impactos ambientais em cada um dos Departamentos e sectores da FCT. A metodologia utilizada permitiu fazer uma avaliação quantitativa e chegar à conclusão de que os principais impactos são o consumo de água e de energia muito elevados e a produção de resíduos. Estes serão, por isso mesmo, os pontos prioritários de intervenção. Também por esta altura, o Campus Verde adquire maior operacionalidade ao ser integrado num sector da FCT, neste caso, na Divisão de Logística e Conser-vação (DCL). Até aqui não existia enquanto serviço autónomo, nem dispunha de um espaço físico para funcionar. Como um dos aspectos decisivos para o funcionamen-to do sistema passa pelo envolvimento de todos os habitantes do Campus, foi criado um site que permite acompanhar a evolução do projecto Campus Verde. Se tivermos em conta que, num dia normal de au-las, a FCT comporta cerca de sete mil pessoas, compre-ende-se que chegar a todos não é fácil. Assim sendo, foi nomeado um representante de cada Departamento, para a área do ambiente, através do qual se faz passar a informação. Também o plano anual de formação prevê que, no ano em curso, se formem funcionários de diver-sas categorias e funções numa vertente essencialmente prática, isto é, ensiná-los a ter um melhor desempenho ambiental nas tarefas que realizam diariamente.

A nível da população estudantil, essa sensibiliza-ção faz-se sobretudo através de acções de divulgação e pela participação nas diversas actividades internas e externas que envolvam os alunos.

Áreas de Acção No seu compromisso de preservação do ambien-te e de desenvolvimento sustentável, o Campus Verde abrange todas as actividades desenvolvidas no Campus Universitário da Caparica, de acordo com as seguintes áreas de acção:

Água Numa tentativa de reduzir e controlar o desper-dício de água foram instalados contadores sectoriais (36), cujos consumos são verificados mensalmente. Esta medida permite a monitorização dos gastos de água por Departamento ou Serviço e a definição de metas de redução de consumos. Após a detecção de várias roturas foram realizadas obras de reparação que permitiram reduzir os consumos médios mensais de 7 200 m3 em 2007 para 5 300 m3 este ano. Outra estratégia de redução do consumo de água passa por tentar perceber junto de todos os laborató-rios quais são os equipamentos que utilizam sistemas de refrigeração de água em circuito aberto e, sempre que possível, transformá-los em sistemas fechados.

Águas Residuais Recentemente, foi realizada a limpeza e desobs-trução das redes de águas residuais domésticas e plu-viais de todo o Campus. Este trabalho foi acompanhado por um rigoroso registo de todas as caixas de visita e

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Os espaços verdes ocupam uma parte substancial do campus da FCT

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ligações de modo a actualizar as plantas com o cadas-tro destas redes. Uma das situações detectadas prende-se com a existência de gordura nas redes, proveniente das águas residuais da restauração. No caso da cantina, como maior produtor de águas residuais, foi então colocada uma caixa de retenção de gorduras e de óleos, num trabalho articulado entre a FCT e os SAS/UNL. Des-te modo, todas as águas de lavagem passam por esta caixa, que retém os sólidos de maiores dimensões, os óleos e as gorduras, antes de seguirem para o esgoto. Actualmente encontra-se também implementada, em todos os serviços de restauração, a recolha de óleos alimentares usados por uma empresa licenciada que depois encaminha estes subprodutos para a produção de biodíesel. Nos edifícios com laboratorios existe uma rede se-parativa de águas laboratoriais e águas residuais do-mésticas. Para garantir que a descarga de águas residuais está conforme o Regulamento Municipal de Águas e Águas Residuais de Almada, são feitas periodicamen-te análises para a caracterização deste efluente. Este trabalho conta com a colaboração do laboratório Re-quimte, do Departamento de Química, do Departamen-to de Ciências e Engenharia do Ambiente e do Grupo de Disciplinas da Ecologia da Hidrosfera. Para que os valores se mantenham dentro dos limites exigidos é absolutamente necessário que todos os utilizadores do Campus cumpram as normas internas relativas à

descarga de águas residuais e que procedam à correc-ta separação e entrega de efluentes perigosos. Estes efluentes são, por isso, separados na origem, identifi-cados e entregues à Divisão de Logística e Conserva-ção, de acordo com um formulário elaborado especi-ficamente para a entrega de resíduos perigosos. Este processo tornou-se também mais amigo do ambiente na medida em que passou a ser totalmente informati-zado, dispensando a utilização de papel.

Energia Em nome de medidas mais racionais de poupança de energia, também o sistema de controlo do consumo de electricidade mudou. Se até aqui a factura era en-viada pela EDP e referente a um consumo total, agora foram instalados contadores sectoriais — 52 contado-res de electricidade em todo o Campus — o que per-mite controlar os consumos por edifício ou por zonas, assim como nos espaços públicos. Deste modo é pos-sível detectar anomalias e intervir de imediato, assim como responsabilizar os Departamentos e Serviços pelos seus próprios consumos. Neste momento a FCT já consegue controlar 97 % do consumo energético to-tal do Campus. Tendo-se verificado ser a área da energia uma das mais problemáticas, a FCT pretende incentivar a for-mação de técnicos nesta matéria, nomeadamente de Electrotecnia, para que possam ser os próprios peritos da Faculdade a elaborar um plano de racionalização de energia e a proceder às respectivas auditorias energéticas.

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A FCT promove e incentiva a separação de residuos

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Um estudo elaborado em 2007 pelo Departamento de Ciências e Engenharia do Ambiente e pelo Campus Verde, permitiu quantificar e caracterizar fisicamente os resíduos produzidos no Campus em três períodos distintos: período representativo de uma semana de aulas, período representativo de uma semana de exa-mes e período representativo de uma semana de fé-rias.

De acordo com os dados obtidos, no ano lectivo 2006/2007, produziram-se na FCT cerca de 303 tone-ladas de resíduos urbanos indiferenciados. Em relação à sua composição física verifica-se que predomina a componente papel/cartão. A segunda categoria mais importante é a dos plásticos, seguindo-se os fermen-táveis (ver quadro 2). Tendo-se verificado um peso ex-cessivo dos têxteis sanitários (toalhetes de papel para secagem das mãos) — cerca de 22% do total de resí-duos indiferenciados — e tendo em conta que estes são muitas vezes responsáveis pela obstrução da rede de águas residuais, a FCT/UNL optou por substituir os to-alhetes de papel por secadores de ar nas casas-de-ba-nho mais frequentadas do Campus. Com esta medida, apesar de existir um aumento do consumo de energia, pretende-se diminuir a produção de resíduos e evitar problemas na drenagem de águas residuais.

Recolha selectiva de resíduos Com o objectivo de promover a reciclagem e au-mentar as taxas de deposição dos resíduos nos eco-pontos, a FCT/UNL começou já a implantar um siste-ma interno de recolha selectiva de resíduos. Essa recolha, que até aqui era feita de forma vo-luntária, começou por ser implantada no Edifício II. A ideia é testar o sistema — verificar se a recolha é a correcta e se o número de contentores é o suficiente — para depois se avançar, gradualmente, para os res-tantes edifícios.

Resíduos Para uma correcta gestão dos resíduos produzi-dos nas actividades desenvolvidas no Campus, a FCT promove os princípios da hierarquização da gestão de resíduos tentando assegurar que após a utilização de um bem se seguem, sempre que possível, novas utili-zações do mesmo. Não sendo viável a sua reutilização deve-se proceder à sua reciclagem ou ainda a outras formas de valorização e só em último caso à deposição final em destino adequado sem valorização.

Resíduos perigosos Os resíduos perigosos produzidos na FCT/UNL são resultantes essencialmente dos laboratórios de ensino e investigação e das actividades de manutenção. A ges-tão destes resíduos é da responsabilidade do Campus Verde, estando a sua recolha, entrega e tratamento su-jeitos a rigorosos procedimentos. Os produtores destes resíduos devem separar e identificar de forma correcta o tipo de resíduo e o seu modo de acondicionamento, bem como preencher um formulário, disponível on-line. As embalagens destes resíduos são identificadas atra-vés de uma etiqueta, disponível no final do formulário, que, além da designação do resíduo, apresenta tam-bém o respectivo código relativo à Lista Europeia de Resíduos e espaço para colocar avisos de segurança, se for caso disso. O formulário é enviado para a DLC que, posteriormente, entra em contacto com o produ-tor do resíduo para agendar a entrega do mesmo. O passo seguinte é o seu armazenamento num espaço da Faculdade até ser encaminhado para um operador licenciado, o que acontece semestralmente.

Os resíduos indiferenciados Os resíduos equiparados a urbanos e depositados nos contentores de resíduos indiferenciados são reco-lhidos diariamente pelos serviços da Câmara Munici-pal de Almada, num circuito de recolha que, além da FCT/UNL, abrange outras zonas residenciais envolven-tes ao Campus.

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A presença de arvores, algumas de grande porte, marca a paisagem do campus

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A deposição posterior destes resíduos nos ecopon-tos da Amarsul (empresa responsável pela gestão dos resíduos no concelho de Almada) existentes no Cam-pus, fica a cargo do pessoal da limpeza que, entretan-to, está a receber formação para esse efeito. O objectivo é que, até ao final do ano, todo o Cam-pus esteja abrangido pela recolha selectiva.

Recolha de tinteiros, toners, telemóveis e baterias A FCT associou-se ao projecto de reciclagem de consumíveis informáticos, telemóveis e baterias da Assistência Médica Internacional (AMI). Neste sentido, foram distribuídos pelo Campus 32 pontos de recolha de tinteiros e toners e 3 pontos de recolha de telemó-veis e baterias. Posteriormente, estes resíduos são re-colhidos por um operador licenciado, a empresa Biore-cuperação, que promove a sua valorização, sendo este valor doado à AMI. Todo o processo de recolha é feito com guias de acompanhamento de resíduos e, no final do ano, a empresa entrega à Faculdade a informação relativa ao seu contributo para a AMI. Ao participar neste projecto, a FCT cumpre a sua missão de defender o ambiente, uma vez que estes materiais contêm substâncias poluentes, e ajuda a AMI nos seus objectivos sociais, visando assim todas as vertentes do desenvolvimento sustentável.

Recolha de pilhas A FCT assinou também um protocolo de colabo-ração com a ECOPILHAS, que é a sociedade que gere os resíduos de pilhas e acumuladores em Portugal, tornando-se assim num Ecoparceiro. Actualmente, encontram-se distribuídos pelo Campus 20 receptácu-los para recolha de pilhas e acumuladores que poste-riormente serão entregues à Ecopilhas para o correcto encaminhamento destes resíduos.O processo de recolha verifica-se quando existem pelo menos quatro destas caixas cheias, o que corresponde sensivelmente a 100 kg de pilhas.

Outros Resíduos Outros resíduos merecem ainda alguma atenção. No que se refere aos equipamentos eléctricos e elec-trónicos, após o seu correcto abate, é realizada uma triagem para aproveitamento de alguns componen-tes sendo o restante entregue no Ecocentro ou num Centro de Recepção autorizado. As lâmpadas fluores-centes são armazenadas temporariamente pela DLC e posteriormente entregues num Centro de Recepção autorizado. Os resíduos de construção e demolição re-sultantes de intervenções no interior do Campus são depositados num contentor específico para este tipo de resíduos e recolhidos por um operador licenciado que procede à triagem, valorização ou deposição em aterro dos diferentes materiais.

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Separação de resíduos perigosos

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Qualidade do Ar De acordo com a legislação vigente, a FCT/UNL possui sete fontes pontuais de emissão de poluentes atmosféricos, todas resultantes da combustão de gás propano ou gás natural em caldeiras para climatização dos edifícios. Considerando o carácter sazonal destas fontes, aliado ao facto de seis delas serem semelhantes no processo de combustão (gás propano), resultando as-sim em emissões semelhantes, optou-se por realizar a monitorização destas emissões com carácter rota-tivo. Deste modo, em 2007, realizou-se a monitoriza-ção pontual das emissões da caldeira do DCEA (gás propano) e da Biblioteca (gás natural). Os resultados apresentaram caudais mássicos de emissão inferiores ao mínimo fixado.

Fumo Interdito Desde 1 de Janeiro de 2008, com a entrada em vi-gor da Lei nº 37/2007, que não é permitido fumar ou vender tabaco na Faculdade. No exterior de cada edi-fício foram colocados recipientes próprios para utiliza-ção dos fumadores.

Ambiente Sonoro Todos os equipamentos de utilização no exterior, actualmente existentes na FCT/UNL e posteriores a 2002, como roçadoras, corta-sebes e corta-relva, pos-suem a respectiva marcação CE e cumprem o nível de potência sonora admissível por lei. Por outro lado, as actividades desenvolvidas na FCT/UNL não são consideradas actividades ruidosas permanentes e, assim sendo, não estão sujeitas à rea-lização de avaliações de ruído ambiente.

Ecologia O Campus da FCT/UNL possui um rico e diversifi-cado património arbóreo — 1200 árvores e arbustos de 54 espécies e 29 famílias botânicas — que abriga uma considerável diversidade de espécies de aves. Para preservar e até aumentar a avifauna do Cam-pus foram instaladas 25 casas-ninho para aves da or-dem dos Passeriformes e uma adequada para mochos. Com estes dispositivos pretende-se abrigar os ninhos e proteger as aves e respectivas crias. Por razões ambientais, mas também no sentido de proporcionar uma melhor qualidade de vida aos ha-bitantes do Campus, a FCT/UNL pretende plantar um mini-bosque sumidouro de (algum do) carbono produ-zido pelas actividades directas e indirectas da Faculda-de. Numa área de cerca de 1800 m2 vão ser plantados pinheiros e carrascos oferecidos pela Associação de Produtores Florestais e pela Direcção-Geral de Recur-sos Florestais.

Por outro lado, foram recentemente plantadas mais de uma dezena de Figueiras em diversos pontos Campus. Esta decisão assume um valor simbólico im-portante, na medida em que a Figueira era, nos anos oitenta, um elemento caracterizador da paisagem ru-ral onde nasceu a FCT.

Espaços Verdes A FCT/UNL dispõe de sete jardineiros a trabalhar a tempo inteiro, o que não é demais tendo em conta que os espaços verdes representam uma parte substancial do Campus. Neste momento procede-se ao arranjo das zonas envolventes da Biblioteca, o último edifício a ser cons-truído, assim como do novo acesso à Faculdade em virtude da chegada do Metro à FCT. Esta nova entrada, situada na parte de trás da Biblioteca, era uma zona da Faculdade que se encontrava ao abandono e onde, agora, foi construída uma alameda com jardins e zonas relvadas. Também na escolha da relva houve preocupações ambientais, na medida em que se escolheu um tipo de relva — escalracho - que exige menos consumo de água e menor manutenção. A FCT está presentemente a elaborar o processo de licenciamento de um furo existente junto à circular norte do Campus, o qual permite a captação de água subterrânea para rega dos espaços verdes. A FCT dispõe de uma pequena estufa onde se cul-tivam algumas plantas e se fazem sementeiras que são, posteriormente, utilizadas na ornamentação dos espaços verdes do Campus.

Segurança Finalmente, e para que o processo de certificação possa avançar, é ainda necessário ter todos os siste-mas de segurança implementados. Esse trabalho de articulação com o Gabinete de Segurança da FCT/UNL está presentemente a decorrer. Embora a maioria dos edifícios já disponha de pla-no de emergência, torna-se ainda necessário proceder à formação de equipas de intervenção e à realização de simulacros.

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Os resíduos perigosos resultam essencialmente dos laboratórios de ensino e investigação

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Os efeitos que já se fazem sentir são assustado-res: o degelo da Antárctida (perdeu 152 km entre 2002 e 2005), o aumento do nível do mar, das secas, inun-dações, furacões, tufões e ciclones, a destruição de ecossistemas e consequente extinção de espécies e o aumento das regiões desérticas. Das intervenções que se seguiram, destaque para três ideias consensuais entre os convidados para o de-bate: — O problema é de facto grave e inadiável não po-dendo continuar a ser ignorado; — É um problema global e globalizante na medida em que afecta e exige o envolvimento das sociedades no seu todo e de cada um de nós; — Os governos não têm sabido ou não têm queri-do enfrentar a situação limitando-se a tomar medidas que, em muitos casos, apenas adiam os problemas.

A verdade é que também não existem receitas mi-lagrosas e muitas das iniciativas em curso não estão a ter resultados evidentes. Sabe-se que a utilização de energias renováveis tem vantagens ambientais e económias mas, por exemplo, existem dúvidas se será uma solução viável para o aquecimento global a captu-ra e armazenamento de carbono. Projectos neste sen-tido estão actualmente a ser implantados em diversas regiões do globo. Também a utilização de biocombus-tíveis não parece ser uma boa solução, uma vez que acarreta outras consequências, nomeadamente a des-truição da floresta tropical.

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“Carbono Sustentável” foi o tema da primeira grande conversa, incluída no ciclo de debates “Frontei-ras”, a realizar ao longo do ano e no qual se pretende abordar assuntos de interesse geral e académico. Trata-se de mais uma iniciativa da Biblioteca da FCT/UNL, no Campus de Caparica, que pretende atrair oradores conceituados, cuja participação enriqueça a discussão dos temas escolhidos. O formato dos de-bates “Fronteiras” envolve um moderador, um orador principal que introduz o tópico, e quatro convidados que debatem o tema de um modo aberto e sem pre-conceitos. Nesta 1.ª conversa os Professores da FCT José Moura e Júlia Seixas foram, respectivamente, modera-dor e orador. No debate participaram Fernando Santa-na (FCT-UNL), António Costa e Silva (PARTEX OIL and GAS), Nuno Ribeiro da Silva (Endesa Portugal), José P. Mota (FCT-UNL). Na intervenção inicial a Prof. Júlia Seixas apre-sentou um resumo nada animador da situação actu-al quanto às emissões de gases com efeito de estufa. Referiu ainda as principais previsões para os próximos anos e algumas iniciativas em curso para reverter a situação. De facto, sabe-se que as emissões mundiais de dióxido de carbono, o principal dos chamados ga-ses do efeito estufa, aumentaram três vezes mais ra-pidamente desde 2000 do que na década de 1990. Este aumento ultrapassou todas as previsões, mesmo os cenários mais extremos previstos pelo Painel Intergo-vernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas.

GRANDES CONVERSAS

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Os participantes na primeira grande conversa. Da esquerda para a direita: Júlia Seixas, Fernando Santana, Nuno Ribeiro da Silva, Antóno Costa e Silva, José Mota e José Moura

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Quanto ao papel da relatividade na sociedade, mencionou-se que a contribuição mais evidente está no sistema GPS (do inglês Global Positioning System) que permite determinar a posição de um objecto re-lativa à superfície da Terra. Este sistema é constituído por 24 satélites com relógios atómicos e órbitas circu-lares em torno da Terra. Cada satélite envia um sinal codificado com a localização do satélite e o tempo de emissão do sinal. Os efeitos relativistas traduzem-se numa diferença de 39 µs por dia entre os relógios nos satélites e na Terra, o que originaria um erro acumula-do de cerca 10 km/dia caso não fossem considerados. A discussão acalorada entre Rodrigo Abreu e Pau-lo Crawford, com a intervenção dos restantes convida-dos e alguns elementos da audiência, mostrou que não existe consenso no meio científico quanto à interpre-tação das bases da teoria da relatividade. Ao contrário do que é aceite pela maioria da comunidade científica, Rodrigo Abreu defendeu que é possível estabelecer um referencial absoluto. Quanto ao futuro, discutiu-se que novas medições experimentais podem abalar o edifício da relatividade, tais como as medições da constante de estrutura fina, que questionam se a velocidade da luz, c, teve sempre o mesmo valor.

José Paulo SantosProf. Associado c/ AgregaçãoDepartamento de Física da FCT/UNL

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RELATIVIDADE RELATIVA É consensual que a teoria da relatividade (restrita e geral) alterou o curso da ciência no início do século XX. Foi uma das raras vezes em que a teoria, ou a ima-ginação, desempenhou o papel principal, relegando a experiência para segundo plano. Por isso se afirmava que a relatividade generalizada é paraíso dos teóricos e o purgatório dos experimentalistas — um reflexo da atitude de Einstein que, embora tivesse extensos co-nhecimentos do mundo físico, sentia que a teoria era a cereja em cima do bolo. Quando Eddington, em 1919, efectuou as primeiras medições que confirmaram a teoria da relatividade generalizada, um aluno pergun-tou-lhe o que é que ele pensaria se estas medições não confirmassem a sua teoria. Einstein respondeu: “Teria sentido pena do querido Senhor. A teoria está correcta”. Nas últimas quatro décadas, a relatividade geral tem passado incólume por provas experimentais cada vez mais precisas. Mas o trabalho não está concluído, nem provavelmente nunca estará. Qual é a percepção que a sociedade tem da teoria da relatividade? Esta interessa apenas a um número restrito de cientistas ou afecta a vida quotidiana do ci-dadão comum? No meio científico estão todos de acor-do quanto à sua interpretação e validade? Quais são os maiores desafios com que a teoria da relatividade se irá defrontar? Estas foram algumas das questões abordadas na 2.ª Grande Conversa do ciclo FRONTEIRAS 2008, que decorreu na Biblioteca da FCT/UNL, a 19 de Mar-ço. Moderada por José Paulo Santos (FCT/UNL), teve como orador Paulo Crawford (FC/UL) e como convida-dos professores dos Departamentos de Física das três Universidades de Lisboa: Rui Agostinho da FC/UL, Ro-drigo de Abreu do IST/UTL, e Fernando Parente e João Paulo Casquilho da FCT/UNL.

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NOVA EXPOSIÇÃO:

UM OLHAR CONTEMPORÂNEO SOBRE A GRAVURA A Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa regressou à sala de exposições da Biblioteca da FCT, desta vez com uma mostra de Gravura Con-temporânea de alunos e professores dessa Faculdade, com trabalhos elaborados entre 1999/2007. Recorde-se que, no início do ano passado, este mesmo espaço acolheu uma exposição colectiva dos alunos finalistas de pintura da FBAUL — ano lectivo de 2004/2005. De acordo com os professores responsáveis pela mostra, Matilde Marçal e José Quaresma, as obras ex-postas traduziam “uma visão da diversidade de orien-tações estéticas e plásticas que pautam a praxis da gravura na FBAUL”. Para o Prof. José Moura, director da Biblioteca da FCT, esta exposição “foi um olhar contemporâneo so-bre a gravura (…) que surpreendeu pelas formas e pe-las soluções encontradas na arte de gravar (…)”. Inaugurada dia 10 de Março, esta mostra de gravu-ra contemporânea esteve patente até dia 30 de Abril na Sala de Exposições da Biblioteca da UNL, no Campus de Caparica.

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PALESTRA SOBRE PABLO NERUDA “El Madrid de Pablo Nerura” foi o título da palestra que o escritor chileno Sergio Macías proferiu, no pas-sado dia 21 de Fevereiro, no Auditório da Biblioteca da FCT/UNL. Uma iniciativa no âmbito das actividades que acompanharam a exposição “Claridade — 30 imagens para Neruda”, que esteve patente ao público até ao fi-nal do mês de Fevereiro. Sergio Macías, que reside há já bastante tempo em Madrid, especializou-se em literatura latino-america-na. É também ensaísta e poeta, tendo recebido nume-rosos prémios literários no Chile e em Espanha. Nesta conferência, este especialista em Neruda abordou em particular o período em que o poeta chile-no exerceu funções consulares em Madrid, revelando uma série de factos desconhecidos: pequenas histó-rias em torno da casa onde viveu, as pessoas que co-nheceu, as paixões, a relação com a família e com o regime franquista. O Professor Sergio Macías falou ainda do carinho que Pablo Neruda tinha por Portugal e, a terminar a sua palestra, recitou o poema que este dedicou a Álva-ro Cunhal quando o dirigente português esteve preso em Peniche.

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PH INFORMÁTICAINOVAÇÃO E EXPERIÊNCIA EM TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO Fundada em 1990, por Paiva Fernandes e Hugo Dias, a PH Informática é uma empresa de prestação de serviços na área das Tecnologias de Informação. A empresa, com sede no Porto, foi buscar parte do seu nome ao nome dos sócios fundadores: P de Paiva e H de Hugo. Mais de uma dezena de anos depois, o crescimen-to da empresa ditou a necessidade de abrir uma filial na área de Lisboa. Foi assim que, em 2003, a PH In-formática se instalou no Madan Parque — Parque de Ciência e Tecnologia, no Campus da FCT/UNL. Sandra Silva, Assessora de Direcção, considera muito importante a ligação ao Madan Parque pois, além das excelentes condições e das facilidades encontradas, em particular a nível de infra-estruturas, é também profissionalmente estimulante a vivência em ambiente tecnológico. De acordo com Sandra Silva, “a estratégia da em-presa foi sempre a de desenvolver soluções para res-ponder a determinadas falhas ou lacunas que havia no mercado, primeiro no mercado empresarial e depois essencialmente no mercado Público”. Assim, tendo como alvo preferencial os Municípios, em 1997, a PH Informática iniciou o desenvolvimento de aplicações SIG específicas para as Câmaras, detendo actualmen-te a liderança, a nível nacional, no fornecimento deste tipo de soluções. Estabeleceu igualmente parcerias com empresas líderes no mercado das TI como a Au-todesk, Oracle, Microsoft, Navetq e a HP que conferem a toda a oferta da PH a qualidade tecnológica e de ser-viços que exige prestar aos seus clientes. Actualmente, embora o Governo continue a ser o seu principal cliente, nomeadamente a Administração Central e Local, o sector privado começa a ocupar uma parte considerável do seu mercado. A empresa, que entrou em funcionamento apenas com três pessoas, tem hoje vinte e três funcionários, divididos por 4 áreas diferentes: além das áreas admi-nistrativo-financeira e comercial, a PH Informática tem nove programadores a trabalhar na área do desenvol-vimento e quatro pessoas a fazer as implementações dos sistemas a nível nacional (nos municípios, nos or-ganismos públicos e entidades privadas). A empresa também desenvolve soluções, a nível nacional, na área dos Sistemas Críticos como o caso do INEM, entidade para a qual desenvolveu toda a compo-nente de georeferenciação e gestão de ocorrências, de

um sistema de prevenção florestal ou de um outro para a gestão da actividade de extracção de inertes nos rios Tejo e Douro. Este sistema, criado depois da queda da Ponte de Entre-os-Rios, permite que as entidades reguladoras e fiscalizadoras possam monitorizar em tempo real a actividade de cada barco. Uma outra área, mais recente, mas na qual a em-presa já começou a apostar, é a dos Sistemas de Na-vegação para PDA ou telemóvel. De acordo com a Assessora de Administração da PH Informática, esta tem tido “um crescimento anual muito interessante, da ordem dos 35 %”. E tudo indica que assim vai continuar, embora este ano, por causa da retracção do mercado, o crescimento possa ser li-geiramente menor. A empresa encontra-se actualmente num pro-cesso de internacionalização, nomeadamente para os mercados do Brasil, Cabo Verde e Espanha. A prospec-ção de mercado efectuada já permitiu encontrar al-guns parceiros, em particular no Brasil. Os países para onde a empresa pretende estender os seus negócios, acrescenta, “ainda estão muito carenciados deste tipo de soluções”. Sendo uma área com grandes possibilidades de progressão a nível nacional, a PH Informática vai con-tinuar a apostar nos Sistemas de Informação Geográ-fica. Na opinião de Sandra Silva “há áreas específicas, como a saúde, os transportes e a prevenção em que é fundamental, cada vez mais, haver este tipo de siste-mas”. Quanto à área dos sistemas de navegação, consi-dera que “a margem de progressão será incomensu-ravelmente maior a nível global do que nacional e será essa a nossa grande aposta”. Devido à grande procura de SIG Municipais, poten-ciada não só pela necessidade crescente de apostar neste tipo de sistemas mas também pelos incentivos do QREN, a tendência é para haver cada vez mais con-corrência. Contudo, Sandra Silva faz questão de referir que a PH Informática apresenta a vantagem “de ter já um caminho percorrido”, em virtude de ter sido a pri-meira empresa a ter este tipo de aplicações a nível de SIG. Por outro lado, a facilidade de utilização dos sis-temas que desenvolve (qualquer pessoa pode utilizar Sistemas de Informação Geográfica sem ser especia-lista em SIG) e o facto das aplicações serem desenvol-vidas na língua local são vantagens adicionais. Agora, que a empresa enfrenta novos desafios, de-vido ao recente processo de internacionalização, espe-ra-se que a proximidade com a FCT e com os meios académico e tecnológico se venha a revelar uma boa aposta.

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Sandra Silva

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QUÍMICA SUSTENTÁVEL

QUÍMICA VERDE A 300 KM DE DISTÂNCIA Uma experiência científica entre os Departamen-tos de Química da UNL e da UP — REQUIMTE, um La-boratório Associado da Fundação para a Ciência e a Tecnologia do MCTES

A REQUIMTE (REde de QUIMica e TEcnologia) é um Laboratório Associado formado por dois Centros de Investigação em Química (e áreas afins) da Univer-sidade Nova de Lisboa e da Universidade do Porto (a 300 km de distância), e que integra cerca de 300 inves-tigadores. A QUÍMICA VERDE é o tópico previlegiado — um novo modo científico de estar e actuar: desenhar processos químicos mais limpos, transformar e rede-senhar reacções químicas com viabilidade económica, reciclar materiais, com uma preocupação fundamen-tal: mudar a imagem negativa que o público, em geral, tem da Química. A Química está presente no nosso dia-a-dia e per-mite bem-estar e qualidade de vida. A Química tem um papel importante na sustentabilidade. Na realida-de a actividade humana usa uma enorme quantidade de materiais que acabam muitas vezes em desperdí-cios. Os problemas químicos da sustentabilidade não são em geral tidos em conta no ensino tradicional da Química. A REQUIMTE impõe urgência e pressão para uma tomada de consciência desta problemática. Os investigadores são desafiados a conceber processos sustentáveis, mostrando que segurança e viabilidade económica não são conceitos antagónicos. Em cursos de licenciatura e especializados, a REQUIMTE ensina os alunos e jovens investigadores a apresentar alter-nativas aos processos tradicionais, com vantagens para o ambiente e áreas de saúde. Mais ainda, reciclar é a palavra de ordem.

A Química Verde ou Química sustentável (conforme praticada na rede) é orientada em grandes áreas: — energias renováveis que podem contribuir para uma sociedade high-tec e sustentável (i.e., solar, hi-drogénio), — obtenção de reagentes e solventes a partir de fontes renováveis, reduzindo a dependência de com-bustíveis fósseis, — desenvolvimento de processos não poluentes (abandono de reagentes tóxicos e sua substituição) permitindo uma atitude amigável para o ambiente, — aplicações relevantes no estudo de produtos ali-mentares, famacêuticos e produtos naturais.

Para atingir estes objectivos a REQUIMTE tem uma enorme tarefa pela frente: divulgar, obedecer e pra-ticar os princípios da Química Verde (http://www.epa.gov/greenchemistry), integrar estes tópicos nos curri-cula educacionais e promover uma discussão alargada da importância de programas de investigação, junto de organismos governamentais e indústria, em parti-cular os que considerem a sustentabilidade como prio-ridade.

REQUIMTE, Departamento de Química da FCT/UNL www.requimte.pt

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Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa n.º5 | EntreTanto | Maio 2008

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“MOLECULAR FINGERPRINTING FORATMOSPHERIC SENSING” A compreensão dos processos físicos e químicos no balanço da atmosfera terrestre, bem como a sua susceptibilidade a alterações decorrentes das emis-sões de compostos naturais e antropogénicos, de-pende fortemente da caracterização remota e in situ destes compostos. Assim, só é possível obter infor-mação detalhada da caracterização molecular à custa de elevados poderes de resolução espectroscópica em laboratório, o que se torna fundamental em face das exigências cada vez maiores da tecnologia de detecção e do grau de precisão necessário para emitir parece-res científicos e técnicos em questões atmosféricas. Apesar do enorme interesse nestes compostos, ainda são poucos os trabalhos dedicados ao estudo sistemá-tico dos processos de excitação electrónica e posterior relaxação e fragmentação iónica, em particular a es-pectroscopia de moléculas emitidas por fontes biogé-nicas. Contudo, nos últimos anos tem sido reconheci-da a relevância da actividade biogénica na química da atmosfera, o que acontecia apenas para as emissões antropogénicas, pelo que os seus efeitos têm passado a desempenhar um papel cada vez mais importante como elemento fundamental na interacção da atmos-fera com a biosfera na modelação das alterações cli-máticas. Como parte de um esforço de investigação internacional na determinação exacta dos efeitos das emissões biogénicas, iniciámos o estudo da espectros-copia de diversos compostos atmosféricos, recorrendo a diversas técnicas experimentais bem como a mode-lação teórica. No programa de cooperação bilateral com o Rei-no Unido, financiado pelo British Council ao abrigo do Tratado de Windsor e do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) em 2004-2005, concentrámos o estudo em Compostos Orgânicos Vo-láteis (Volatile Organic Compounds — VOC) que se en-contram principalmente em regiões florestais, contri-buindo assim para uma das maiores fontes de emissão biogénica em Portugal (ex., isopreno, limoneno, ...). De facto, as emissões florestais destes compostos, como fonte de VOC, são todavia superiores a todas as emis-sões antropogénicas de VOC. Nesta conformidade, a estimativa destas emissões é importante no estabele-cimento dos processos químicos que ocorrem na at-mosfera e na formação de ozono a altitudes tropos-féricas, uma vez que é conhecido que as emissões de VOC potenciam a formação de óxidos de azoto, NOx, uma fonte precursora de O3 na troposfera. A reacção subsequente do ozono com os VOCs pode originar a formação de minúsculas partículas suspensas (ae-

rossóis) e desta forma causar uma camada obstruti-va da troposfera sob as regiões florestais em causa. Das actividades propostas na candidatura do projecto de cooperação bilateral “Molecular Fingerprinting for Atmospheric Sensing”, destacaram-se ainda as inter-venções do ponto de vista da caracterização e estudo da espectroscopia de moléculas de relevo para a at-mosfera terrestre, nomeadamente aquelas emitidas antropogenicamente (ex., SF6 e SF5CF3) e que podem contribuir para a depleção da camada de ozono e aque-cimento global. Tais resultados pioneiros obtidos por espectroscopia de elevada resolução de fotoabsorção de ultravioleta do vácuo (VUV) por radiação sincrotrão e de infravermelhos (FTIR), permitiram complementar e compreender melhor as taxas de fotólise e tempos médios de vida na atmosfera terrestre (até ao limite da estratosfera). Estes trabalhos encontram-se publicados em re-vistas científicas de circulação internacional e têm sido citados e referenciados por diversos organismos internacionais, destacando-se o National Institute of Standards and Technology (NIST), EEUU, o Max-Planck-Institut fur Chemie-UV-VIS Spectral Atlas of Gaseous Molecules on: A Database of Atmospheric Relevant Species, Including Numerical Data and Gra-phical Representations, Alemanha, o The National Ae-ronautics and Space Administration (NASA) nas suas edições tri-anuais de referência em Chemical Kinetics and Photochemical Data for Use in Atmospheric Stu-dies, EEUU, entre outros. Acresce ainda que no ano de 2005, no âmbito das comemorações do Ano Mundial da Física e do Albert Einstein’s miraculous year 1905, em face dos resultados que obtivémos fomos convidados pelo Institute of Physics, Reino Unido, a contribuir com uma publicação intitulada “Atmospheric chemistry with synchrotron radiation”, numa edição especial do internacionalmente reconhecido Journal of Physics B. Tendo em 2007 o British Council comemorado 20 anos de cooperação de protocolos de financiamento entre instituições Portuguesas e Britânicas ao abrigo do Tratado de Windsor, de entre 690 projectos financiados ao longo deste período, 12 foram pré-seleccionados e destes o nosso foi seleccionado para figurar na bro-chura das referidas comemorações. Os estudos espectroscópicos dos diversos com-postos moleculares têm sido efectuados em parceria com o Prof. Nigel Mason do Departamento de Física e Astronomia, da The Open University, e têm sido parte integrante de projectos de pós-graduação e doutora-mento de diversos alunos tais como Elizabeth Drage e Eva Vasekova no Reino Unido, Raquel Mota, Filipe Ri-beiro da Silva, Rodrigo Antunes, Paulo Gomes, Diogo Almeida e Gonçalo Martins na FCT-UNL.

Paulo Limão-Vieira Professor do Departamento de Física da FCT-UNL, responsável pelo Laboratório de Colisões Atómicas e Moleculares do Centro de Física e Investigação Tecnológica, Researcher Fellow do Cen-tre of Molecular and Optical Sciences da The Open University, Reino Unido e Professor Visitante da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil.

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A interdisciplinaridade vê o “mapa” do saber hu-mano como uma realidade que se re-escreve continu-amente: o processo criativo floresce na sua capacidade de tornar permeável o que antes parecia fronteira in-transponível. Se os saberes da humanidade são fruto de uma formalização de fronteiras disciplinares, são também fruto de um acto de “contrabando”. Este con-trabando será simbólico, mas assinala uma permea-bilidade que torna a ordem do universo habitado um vasto tecido de citação. A cultura perdura como um texto vivo de citação do discurso dos outros; a inter-disciplinaridade procura estabelecer tais horizontes de proximidade. Há, contudo, riscos. Basta enveredarmos pela obra de Borges, por exemplo. Na ficção “A Biblio-teca de Babel”, oscila-se entre o axiomático e o ale-górico. Demonstra o autor até que ponto o “mapa” se pode tornar impossivelmente complexo, pois o saber nunca nos é dado de uma vez por todas nem se pres-ta a classificações irrefutáveis. A consciência humana, portanto, jamais coincide com uma verdade absoluta. Restam aos habitantes da “biblioteca” os fragmentos dessa mítica Torre, a “des-memória” das suas origens na deriva infinita da actividade humana. Em ciência e literatura, apreciam-se tais citações. O questionamento responde à nossa situação fáustica. Com Fausto, lembre-se, aprendemos que o saber não é apenas uma doutrina mas também um destino. Não constitui apenas uma sabedoria mas, sobretudo, uma condição que provoca curiosidade e mal-estar, desco-berta e inquietude. Não é tão-só uma visão privilegiada das coisas, mas, antes, um campo de nova perplexi-dade. No diálogo entre a ciência e a literatura, dá-se conta da construção do saber no seu inacabamento. Saber, fazer e ser fazem do humano uma natureza indagadora e aberta. E a construção do humano será porventura a própria missão da Universidade.

Christopher Damien [email protected] Auxiliar do Dpt. de Ciências Sociais Aplicadas

“CIÊNCIA E LITERATURA: UMA INTERDISCIPLINARIDADE ABERTA” O seminário em Ciência e Literatura integra o leque de seminários organizados no âmbito do Mestrado em História e Filosofia da Ciência. Actualmente faz parte de novos programas, reflexo da evolução natural dos currículos universitários impulsionados pela dinâmica característica do mundo contemporâneo. Este semi-nário não representa apenas um campo de indagação específico que traça os intercâmbios e transposições possíveis entre as ciências naturais e humanas mas integra também as actividades de docência realizadas no sector de História e Filosofia da Ciência e da Tecno-logia do Departamento de Ciências Sociais Aplicadas. Este sector visa proporcionar aos alunos uma lingua-gem conceptual permitindo, entre outros objectivos: 1) perspectivar o impacte da racionalidade técnico-científica sobre a sociedade moderna, i.e., os seus mo-dos de pensar e de se pensar; 2) caracterizar a con-temporaneidade nas etapas mais marcantes da sua evolução histórica; e 3) contextualizar a formação dis-ciplinar específica dos alunos numa perspectiva his-tórica que se exprime pela palavra reflexiva, estética e interpretativa. A natureza interdisciplinar inerente a esta tipologia de questionamento destaca o fermento conceptual de que a humanidade actual é detentora. Se a racionalidade científica moderna passa pelo fenómeno de um criterioso especialismo profissionali-zante dos saberes em áreas disciplinares discretas, o diálogo entre os saberes, impulsionados pelo sucesso dessa racionalidade em remodelar o destino humano, manifesta igualmente uma grande vitalidade. Os sabe-res de hoje transformam-se amanhã em nova desco-berta inesperada. São redimensionados continuamente.

Biblioteca em Fogo, Vieira da Silva, 1974

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A Torre de Babel, Pieter Brueghel, 1563

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...Com a Edifer A Edifer Construções e a Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNL acordaram conjugar meios, com-petências e conhecimentos científicos e tecnológicos, no sentido de promover a colaboração entre as duas instituições em projectos de investigação e de desen-volvimento tecnológico. Visa, em concreto, a criação de soluções inovado-ras incorporando conhecimentos tecnológicos e cientí-ficos, a formação profissional e a consultadoria espe-cializada. O Protocolo foi assinado, no passado dia 6 de Fe-vereiro, pelo Administrador da Edifer, Eng. Rui Furtado Marques e pelo Director da FCT, Prof. Doutor Fernando Santana.

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...Com o ITN O Departamento de Conservação e Restauro da Uni-versidade Nova de Lisboa (DCR/UNL) também assinou um protocolo de cooperação científica, pedagógica e tecnológica com o Instituto Tecnológico e Nuclear (ITN). Além da colaboração em projectos de investi-gação e em programas doutorais, este protoco-lo prevê que, ainda este ano lectivo, seja criado um Mestrado em Ciências da Conservação da UNL. De forma a assegurar um ensino de elevada qua-lidade, este Programa de Mestrado envolve o en-sino de técnicas e métodos não existentes no De-partamento de Conservação e Restauro da FCT, mas que o ITN está em condições de assegurar. Em contrapartida, a FCT concede um estatuto de privilégio ao ITN no que se refere a vagas e custos de formação, nomeadamente a dispensa de pagamento de propinas na realização de mestrados, doutoramen-tos e pós-doutoramentos, no âmbito deste protocolo.

FCT ASSINA PROTOCOLOS DE COOPERAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA …

Assinatura do protocolo com o

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...E com a Escola Superior de Tecnologia do Mar O Instituto Politécnico de Leiria, através da sua Escola Superior de Tecnologia do Mar, de Peniche, e a Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNL assinaram um protocolo de cooperação técnica e científica em domínios de interesse mútuo. Essa colaboração bilateral prevê, nomeadamente, o acesso facilitado a informação científica, bibliográfica e de material didáctico; a utilização de recursos huma-nos, incluindo a colocação de estagiários, meios técni-cos e infra-estruturas tecnológicas para a realização de trabalhos de investigação, de ensino e de formação; a realização conjunta de projectos de investigação fun-damental ou aplicada e de trabalhos de prestação de serviços; a promoção e participação de ambas as enti-dades em projectos, acções de formação, colóquios e outras iniciativas de carácter técnico e científico.

...Com o IMC A Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNL, através do NDCR — Núcleo do Departamento de Con-servação e Restauro, e o IMC — Instituto dos Museus e da Conservação estabeleceram um protocolo de co-operação nos sectores do ensino e da investigação em áreas de interesse comum ou complementar. A colaboração entre o IMC e o NDCR permitirá estabelecer parcerias sinérgicas em prol do estudo, conservação, valorização, divulgação e qualificação do património cultural e dos seus agentes. Permitirá, ainda, assegurar aos alunos uma escolha de estágios diversificada, implementar projectos de investigação conjuntos, organizar encontros, seminários e congres-sos tendo em vista um maior conhecimento dos bens culturais móveis.

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Assinatura do protocolo com o IMC

Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa n.º5 | EntreTanto | Maio 2008

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Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa n.º5 | EntreTanto | Abril 2008

A Presidente da Câmara Municipal de Almada e o Director da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNL assinaram, no passado dia 19 de Fevereiro, um importante protocolo de colaboração, numa cerimónia que decorreu no Auditório da Biblioteca do Campus de Caparica. Apresentado pelo Vereador da Cultura do Municí-pio de Almada, o protocolo prevê o estabelecimento de parcerias nos domínios da Comunicação/Divulgação, Promoção Cultural, Leitura Pública, Conservação e Restauro e Formação. Na opinião de António Matos, este protocolo não é mais do que a continuação da já intensa e profícua co-laboração entre as duas entidades, que agora se alar-ga a novas áreas. Para José Moura, Director da Biblioteca, este é um protocolo que procura abranger diversas áreas,

atingir públicos muito diferentes e, mais do que isso, abrir-se à comunidade envolvente. Na mesma linha de pensamento, considerou o Director da FCT que esta colaboração “se insere numa cultura desta casa de re-lacionamento com o exterior, e em particular com a Câmara de Almada”. A Presidente Maria Emília Sousa considerou tra-tar-se de “mais um marco no caminho que temos vin-do a fazer em conjunto” e recordou a primeira experi-ência entre as duas entidades que decorreu há já 25 anos. Tratou-se de um projecto na área do ambiente, absolutamente inovador na altura. Inovadora é também agora a colaboração na área da conservação e restauro. Esta aposta da Câmara de Almada resulta da necessidade de começar a ser fei-ta a conservação da arte pública do concelho, sempre que possível em colaboração com os artistas.

FCT E CÂMARA MUNICIPAL DE ALMADA INTENSIFICAM COLABORAÇÃO

O Director da FCT e a Presidente da Câmara Municipal de Almada assinam protocolo que alarga a colaboração entre as duas instituições a novas áreas

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FCT NA MOSTRA DO ENSINO SUPERIOR DE ALMADA Com o objectivo divulgar a oferta educativa do concelho e aproximar os cidadãos dos meios universitários, realizou-se mais uma Mostra do Ensino Superior de Almada. A Mostra, que se realizou de 16 a 19 de Abril, decorreu este ano em três espaços distintos: no Fórum Municipal Romeu Correia, onde estiveram patentes duas exposições; numa tenda montada na Praça da Liberdade onde decorreram os ateliers e no Parque Urbano da cidade que foi palco de actividades desportivas. Além de ter participado na exposição “ Dinâmicas Sociais do ensino secundário ao superior”, a FCT marcou presença diariamente na tenda da Praça da Liberdade onde deu a conhecer a sua oferta educativa de forma dinâmica e interactiva. Cada Departamento da Faculdade preparou uma série de actividades e experiências científicas que apelavam à participação dos visitantes. Organizada pela Câmara Municipal de Almada, nesta Mostra participaram, além da FCT/UNL, outras instituições universitárias do concelho, nomeadamente a Escola Superior de Tecnologias Navais, o Instituto Piaget, o Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz, a Escola Superior de Saúde Egas Moniz e a Universidade Sénior de Almada.

A FCT marcou presença na tenda da praça da liberdade, onde deu a conhecer a sua oferta educativa

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FCT PRESTA HOMENAGEM AO PROFESSOR MANUEL LARANJEIRA

A Faculdade de Ciências e Tecnologia inaugurou o “Auditório Professor Manuel Laranjeira”, numa home-nagem a este docente que, além de fundador do Curso de Engenharia Física da FCT e Presidente do respecti-vo Departamento, foi Decano desta Faculdade e Reitor da Universidade Nova de Lisboa. À homenagem, que decorreu no passado dia 24 de Janeiro e foi presidida pelo Reitor da UNL, assistiram os dois filhos do homenageado. Também os membros da Secção Permanente do Senado, cuja reunião teve lugar nesse mesmo dia na FCT, se associaram a esta homenagem, participando na inauguração do Auditório. Nas palavras da Presidente do Departamento de Física, Manuel Laranjeira era um homem tempera-mental, mas afável, sempre disponível e de uma imen-sa sabedoria. Para o Reitor da UNL, Prof. Doutor António Ren-das, o Professor Manuel Laranjeira foi um homem de-dicado a esta Universidade para a qual desempenhou diversos cargos, sem qualquer apego ao poder. Por tudo isto, o Director da FCT, Prof. Doutor Fer-nando Santana, considerou que esta foi uma home-nagem mais do que justa, que há muito se pretendia fazer, mas que só agora foi possível.

PROFESSOR DA FCT/UNL INTEGRA CONSELHO CONSULTIVO DE INSTITUTO DA SOCIEDADE MAX PLANCK

Manuel Carrondo, Professor Catedrático de Enge-nharia Química e Bioquímica da FCT/UNL e Investiga-dor do ITQB/UNL e do IBET foi convidado para integrar, durante os próximos seis anos, o Scientific Advisory Board do Max Planck Institute for Dynamics of Com-plex Technical Systems. Este órgão consultivo tem como função principal o aconselhamento e a avaliação crítica do desempenho do instituto, de acordo com os padrões internacionais. O Max Planck Institute for Dynamics of Complex Technical Systems, em Magdeburg, Alemanha, é o mais recente dos 80 institutos que constituem a Socie-dade Max Planck. A sua actividade científica principal está centrada na análise, síntese, desenho e controlo de processos químicos e de bioengenharia. Manuel Carrondo licenciou-se em Engenharia Química, na Universidade do Porto em 1971. Douto-rou-se em Engenharia Ambiental no Imperial College of Science and Technology, da Universidade de Lon-dres, em 1979. Foi fundador e director do IBET (Institu-to de Biologia Experimental e Tecnológica) e membro fundador da Academia Portuguesa de Engenharia. É investigador em áreas científicas de charneira, como a tecnologia das células animais e sua aplicação na saúde dos seres humanos e em veterinária: diagnós-tico e terapêutica utilizando proteínas recombinantes incluindo proteínas de fusão, pesquisa de vírus e agen-tes de vacinação no âmbito da terapia genética e de-senvolvimento de biofármacos.

Manuel Carrondo

O Reitor da UNL e a filha do homenageado descerram a placa que dá nome ao auditório

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Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa n.º5 | EntreTanto | Maio 2008

ESTUDANTES DA FCT TÊM NOVO LÍDER

No início de Janeiro tomaram posse os novos Ór-gãos Sociais da Associação de Estudantes da Faculda-de de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa (AEFCT/UNL) para o mandato de 2008.Numas eleições pouco participadas, saiu inequivoca-mente vitorioso o projecto do estudante Luís Coelho. Na cerimónia de tomada de posse, o novo presidente da AEFCT/UNL lamentou a falta de mobilização dos estudantes, mas salientou que esse facto, não só não retira legitimidade à eleição como serve de motivação reforçada à nova Direcção. Assumindo a mudança na continuidade, o novo di-rigente estudantil disse ter muitas ideias e projectos que espera poder concretizar com a colaboração da Direcção da Faculdade. O Director da FCT assegurou que essa colaboração vai continuar, salientando que os estudantes são o que de mais importante tem a Faculdade e que, portanto, não faria sentido que fosse de outra maneira.Também o Reitor da UNL, que presidiu à cerimónia, manifestou total abertura ao diálogo e à colaboração com a AEFCT, por parte da equipa reitoral.

GOOGLE DISTINGUE EMPRESA SEDIADA NO CAMPUS DA FCT

A Holos, empresa da área das Tecnologias de In-formação e Comunicação, sediada no Campus da Fa-culdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, foi recentemente distinguida pela Google. Entre várias dezenas de empresas da região EMEA (Europa, Médio Oriente e África), a Google distinguiu a HOLOS em Portugal, por esta ter sido a empresa que, no primeiro trimestre deste ano, mais projectos de-senvolveu utilizando a tecnologia empresarial Google, em vários organismos dos sectores público e privado. A distinção foi atribuída em Roma, durante a reu-nião anual “Partner Connect 08“ pelo Director EMEA de parceiros empresariais, Peter Lorant. Criada em 1996, no Parque de Ciências e Tecnolo-gia da Universidade Nova de Lisboa, a Holos trabalha há diversos anos em sectores como a Administração Pública, Banca e Seguros, sendo um fornecedor au-torizado da Agência Espacial Europeia. Desde 2006 é uma empresa Google Enterprise Professional.

Luis Coelho, o novo presidente da AEFCT/UNL

Rui Lobo (ao centro) com o júri que presidiu à sua agregação

1.ª AGREGAÇÃO EM NANOENGENHARIA

O Professor Doutor Rui Filipe Lobo, do Departa-mento de Física da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNL, realizou nos dias 27 e 28 de Março a primei-ra Agregação na especialidade de Nanoengenharia, subordinada ao tema “Nanofísica e Nanotecnologia — Conceitos de Nanociência Moderna”. O júri das Provas de Agregação foi constituído por vários professores catedráticos, internos e externos à Universidade Nova de Lisboa, das áreas de Física, Quí-mica, Materiais e Electrotecnia, e ainda pelo Professor Angel Urena, professor catedrático da Universidade Complutense de Madrid, um reputado especialista a nível mundial de Lasers e Feixes Moleculares.

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BioenergiaMestre David dos Santos Diniz

Biologia Doutora Maria José Travassos Leandro

Biologia/Especialidade de Biologia VegetalDoutora Ana Sofia Vieira Dias de Almeida

BioorgânicaMestre Mónica Alexandra Silva EstêvãoMestre Diana Isabel Carreta de Almeida

BiotecnologiaMestre Andreia Pereira BarateiroMestre Bruna Teresa Vicente Albino

Conservação e RestauroMestre Filipe da Silva Capela

Conservação e Restauro/Especialidade de Ciências da ConservaçãoDoutora Márcia Gomes Vilarigues

Engenharia do AmbienteDoutor João Pedro Carvalho NunesDoutor Gustavo Alexandre da Silva Vidal VicenteMestre Andreia Sofia Mendes Ferreira RijoMestre Ana Carina Silva FreitasMestre Cláudia Patrícia Adriano Marques VideiraMestre Luís Filipe Vieira MachadoMestre Ana Filipa Nunes TavaresMestre Joana Martins dos SantosMestre Luís Alexandre da Silva NogueiroMestre Sofia Alexandra da Silva Marques AnacletoMestre Joana Correia Serpa dos SantosMestre Carla Sofia Valente AbreuMestre Joana Calado Araújo PratesMestre Elsa Jofre Pereira Dias FerreiraMestre Rita Joana da Cruz AlvesMestre Filipa Cardoso Morais de Almeida PicoMestre Joana Vasconcelos MonjardinoMestre Norma Carina Franco dos SantosMestre Maria de Fátima Martins PereiraMestre Sandra Cristina Santos de Carvalho

NOVOS MESTRES E DOUTORESNA FCT/UNL

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sfct mestres e doutores

Entre 1 de Janeiro e 15 de Abril de 2008, a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa graduou mais de sete dezenas de alunos. A lista que se segue revela os novos Doutores e Mestres por área curricular:

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Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa n.º5 | EntreTanto | Maio 2008

Engenharia de MateriaisMestre Rui Miguel Caldeira DiasMestre Pedro Miguel Ramalhete Simões

Engenharia MecânicaMestre Luís Manuel Évora Bonito

Engenharia Química e BioquímicaMestre Ygor Márcio Neto FranciscoMestre Vera de Castro BentinhoMestre Inês Isabel Silva Nobre PeçaMestre Ana Luísa Lopes MarceloMestre Sónia Cristina do Nascimento Ramalho

Engenharia SanitáriaMestre Luís Álvaro Fazendeiro de SáMestre Marisa Isabel Lameiras da Silva

Física/Especialidade de Física AplicadaDoutora Joana Maria Dória Vaz Pinto

Física Laboratorial, Ensino e História da FísicaMestre Sandra Benedita Fernandes de Sousa

Gestão e Políticas AmbientaisMestre Ana Isabel Fonseca Moiteiro

História e Filosofia da CiênciaMestre Ricardo Motta Veiga Themudo de Castro

Matemática/Especialidade de Lógica e Fundamentos da MatemáticaDoutor Manuel Almeida Silva

Ordenamento do Território e Planeamento AmbientalMestre Maria Manuela Belo Afonso

Química/Especialidade de Química OrgânicaDoutor Nuno Miguel Torres Lourenço

Tecnologia Alimentar/QualidadeMestre Catarina Pires Soares

Engenharia BiomédicaMestre Vânia Raquel Ramalhinho MartinsMestre Cátia Covachã Faria

Engenharia Civil/Especialidade de EstruturasDoutor José Carlos Piteira Gomes

Engenharia Electrotécnica/Especialidade de ElectrónicaDoutor Nuno Filipe Silva Veríssimo Paulino

Engenharia Electrotécnica/Especialidade de Robótica e Manufactura IntegradaDoutor António Paulo Duarte Gomes de AbreuDoutor Luís Octávio Gonzalez Castolo

Engenharia Electrotécnica/Especialidade de TelecomunicaçõesDoutor Pedro Miguel Alves Sobral

Engenharia Electrotécnica e de ComputadoresMestre António José Luzio dos SantosMestre Diogo Nuno Simões LourençoMestre João Miguel Campos MartinsMestre José Manuel Correia SerraMestre Sara Valério GranjoMestre Henrique Braz Falcão FerreiraMestre Nuno Filipe Nogueira PenetraMestre Ana Patrícia dos Reis Vilhena Caeiro

Engenharia Física/Especialidade de NanoengenhariaDoutora Quirina Alexandra Tavares Ferreira

Engenharia Geológica (Georrecursos)Mestre Ruben Filipe Martins Nunes

Engenharia IndustrialMestre Rui Jorge Antão Sebrosa

Engenharia InformáticaDoutor Federico BantiMestre Tiago Delgado DiasMestre Ruben Duarte Dias da CostaMestre Ruben Frederico Duarte ViegasMestre José Vicente Pereira dos Reis

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fct crónica

Acho que nunca me vou esquecer daquela sensação de medo (a sensação de vergonha viria muito mais tarde) que tive na primeira noite que passei em Chicago. Era a primeira vez que eu chegava à cidade, onde o meu filho e os meus netos esperavam por mim, e a re-vista do avião contara-me coisas terríveis exactamente sobre a zona para onde eu ia. Eu não conhecia nada de Chicago.A não ser, evidentemente, Al Capone e sus muchachos, a lei seca, os speakeasies.Isso, a acrescentar à prosa da revista, não me tranqui-lizava absolutamente nada.E nem mesmo depois de o avião ter aterrado sem inci-dentes, nem mesmo depois de o meu filho me ter ga-rantido que, ou eu tinha lido mal o artigo da revista ou quem o tinha escrito devia estar com os copos — nem mesmo assim eu tinha ficado descansada.Por isso quando, depois de jantar, oiço baterem insis-tentemente à porta da cozinha e vejo, a toda a largura do vidro da porta, o rosto enorme de um negro, cabe-lo em tranças “rasta”, fazendo gestos perfeitamente ameaçadores, tive a sensação de que tinha chegado o último dia da minha vida. Eu estava sozinha em casa, o meu filho ia chegar tarde, as crianças dormiam nos quartos ao fundo.Imaginei-me no meio do pior filme de terror.Do lado de lá do vidro o negro acenava, e eu não tinha outra opção senão abrir a porta.As pernas tremiam, eu imaginava já o assalto, eu aos gritos, as crianças aos gritos, sangue por todo o lado, carros de polícia, o filme completo.De repente oiço a voz ensonada de um dos meus netos atrás de mim, “vó, esse é o nosso vizinho de baixo, é colega do pai na Universidade”.Era — e os gestos ameaçadores eram apenas gestos de um pai sozinho em casa, que acabava de descobrir que não tinha leite no frigorífico.A vergonha que senti acho que nunca chegou a pas-sar durante os dias todos que lá estive, nem mesmo depois de lhe ter largado nas mãos um pacote inteiro e de, todas as manhãs ter tido sempre para ele o mais rasgado dos sorrisos. Quando se fala de racismo é sempre assim: acla-ramos a voz, damos meia dúzia de exemplos terríveis, e acabamos a jurar que é sempre tudo com os outros e não connosco. Racista, eu? Que ideia! Eu, que sou um coração de manteiga, que todas as manhãs antes de sair para o trabalho clico para todos os sites de bem-fazer, ele é as crianças com fome, ele

RACISTA, EU?ALICE VIEIRA

é a defesa dos povos de África, ele é a Somália e a Ni-géria e Moçambique, não, eu não sou, nunca fui nem serei racista.Os outros sim, evidentemente.Eu, nunca. Mas a verdade é que todos somos, instintivamente, racistas. Ou então já estamos programados para o sermos. E desta vez não estou sequer em Chicago.Desta vez estou na estação de metro de Sete Rios.Passa pouco das seis da manhã, há uma luz difusa pe-las estradas rolantes ainda paradas, pela esplanada com as cadeiras ainda encaixadas umas nas outras, pelo quiosque do café ainda fechado.Faço horas para apanhar uma camioneta da Rodoviá-ria, mesmo em frente. É então que o negro aparece.Enorme, o cabelo em tranças, olhos pesados de sono e álcool, ar de quem ainda não se deitou.Estende a mão e pede-me um cigarro.Entrego-lhe um maço quase inteiro, sem dizer nada mas olhando em volta, só que em volta não há nin-guém, o metro só começa a funcionar depois das seis e meia. Ele pede lume e eu dou-lhe o isqueiro, sempre sem dizer uma palavra, sempre olhando em volta, e esperando que ele não repare como a minha mão tre-me.-- Obrigado — diz — obrigado pela sua amabilidade.Olha para o cigarro e repete:-- A-ma-bi-li-da-de.Devagarinho, separando bem as sílabas. De repente franze o sobrolho, tenta endireitar-se melhor e coloca-se mesmo na minha frente, como se me quisesse impedir o caminho. Devo ter pensado “agora é que não há fuga possível”, mas ele pergunta:-- É amabilidade que se diz?Não me dá tempo de responder, nem eu saberia o que dizer-lhe, e continua:-- Não será antes “amavilidade”? Pois se a gente diz “amável”, também devíamos dizer “amavilidade”! Não é? A não ser que a palavra venha de “habilidade”. Quer dizer: a habilidade de ser amável! Amabilidade!E durante muito tempo ficou perdido naquelas altas filosofias matinais. Já se afastara um pouco quando, de repente, volta atrás, corre para mim, deixa cair a mão pesadamente no meu ombro (eu tenho metro e meio, ele deve ter o dobro…) e, enquanto eu olho desesperadamente em volta, ele exclama:-- A nossa língua é muito bonita! O quiosque acabava de abrir, paguei-lhe um café.Aquele “nossa”, pronunciado com tanta força e convic-ção, tinha-nos feito, de repente, irmãos.Exactamente da mesma cor.

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