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Entraves e Conta-gotas Canalizar recursos para as comunidades que apoiam as crianças órfãs e vulneráveis na África Austral

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Entraves e Conta-gotas

Canalizar recursos para as comunidadesque apoiam as crianças órfãs e vulneráveis na África Austral

Entraves e Conta-gotas Canalizar recursos para as comunidades que apoiamas crianças órfãs e vulneráveis na África Austral

Na África Austral, um dos maiores desafios é como apoiaruma quantidade enorme e crescente de crianças órfãs evulneráveis dentro das suas próprias comunidades.

Baseada num recente estudo da Save the Children UK na África Austral, este relatório identifica um determinadonúmero de ‘entraves’ que estão a bloquear o fluxo regular de recursos financeiros com o fim de apoiar iniciativas da comunidade. Entraves e Conta-gotas oferece algumasrecomendações. Incluiam mais recursos que comprometer a satisfazer as necessidades de crianças órfãs e vulneráveis,e o compromisso a longo prazo de recursos financeiros,ou ‘conta-gotas’ que permitem aos grupos comunitários de apoiar crianças órfãs e vulneráveis ao longo prazo.

Save the Children1 St John’s LaneLondon EC1M 4ARUK

Tel +44 (0)20 7012 6400

www.savethechildren.org.uk

Entraves e Conta-gotas Canalizar recursos para as comunidadesque apoiam as crianças órfãs e vulneráveis na África Austral

Geoff Foster

Realizado com o apoio da Cooperação de Desenvolvimento Irlanda

No Reino Unido e através do mundo inteiro, a Save the Children luta pelas crianças que sofrem com a pobreza, doenças, injustiças e violência.Nós trabalhamos com elas para procurarmos respostas vitalícias para osproblemas que elas enfrentam.

A Save the Children UK é um membro da Aliança Internacional Save the Children, a principal organização mundial independente de direitos de crianças, com membros em 27 países e programas operacionais em mais de 100.

Publicado por Save the Children1 St John’s LaneLondon EC1M 4ARUK

Tel +44 (0)20 7012 6400

Primeira edição em 2005

© The Save the Children Fund 2005

N° do Registo da Companhia 178159

Esta publicação tem direitos autorais, mas, para efeitos de ensino,pode ser reproduzida por qualquer método sem comissão nempermissão prévia, mas não para revenda. Para se copiar emqualquer outras circunstânicas, deve-se obter autorização préviado editor, podendo estar sujeita a pagamento de uma comissão.

Tipografado por Grasshopper Design Company

Impresso por Colorpress (pty) ltd., Johannesburg

Reconhecimentos v

Abreviaturas vi

Sumário executivo 1

Principais conclusões e recomendações 1

1 Introdução 3

A situação na África Austral 3

2 As iniciativas comunitárias são extremamente importantes para o combate contra o VIH/SIDA 5

As comunidades estão a reagir 5

3 Vozes das comunidades 8

Questões do estudo e metodologia 8

Conclusões da parte da comunidade 9

4 A despesa actual com o VIH/SIDA e entrega do financiamento 15

A despesa nacional com o VIH/SIDA e com as crianças órfãs e vulneráveis 15

Despesa do agregado familiar e da comunidade com o VIH/SIDA 16

Recursos dispendidos a nível comunitário 17

Como actualmente se entrega o financiamento 17

5 Entraves em mecanismos de entrega 24

Entraves e recomendações 26

6 Conclusões 29

Apêndice 1 Organizações e grupos entrevistados 30

Referências 32

Índice

v

Reconhecimentos

Este estudo foi realizado e controlado pelo GeoffFoster em nome da Save the Children UK na ÁfricaAustral. Gerard Boyce (África do Sul), AgostinhoMamade (Moçambique), Faith Mkhonta (Suazilândia)e Rosemary Tindwa (Zimbabwe) encarregaram-se da investigação dentro dos seus respectivos países. John Williamson e Linda Richter actuaram comoconselheiros neste estudo e forneceram comentários

detalhados sobre o relatório. Siân Long proporcionoucomentários e coordenou o estudo. Igualmente seagradece a: Komborero Daniel Choga, DanielCollison, Christina D’Allesandro, Becky Dunkirk, Jo Foster, Kate Harrison, Karen Johnson, JaneMacAskill, Mandla Mazibuko, Chris McIvor, LynetteMudekunye, Fiona Napier, Rachel Pounds, GregRamm, Bill Rau, Linda Sussman e Nigel Taylor.

Timeo danaos et dona ferentes. – Tenho receio dos Gregos mesmo quando trazem dádivas.

Laocoön no Cavalo de Tróia

AOD Assistência Oficial ao DesenvolvimentoCAD Comité de Apoio ao Desenvolvimento CNS Conselho Nacional do SIDA COV Crianças Órfãos e Vulneráveis CRS Sociedade de Assistência CatólicaDFID Departamento para o Desenvolvimento Internacional ECPE Estudos de Estratégia para Redução da Pobreza EUA Estados Unidos da América IDASA Instituto para a Democracia na África do Sul MAP Programa VIH/SIDA para África em Diversos Países MCP Mecanismo Coordenador do País NU Nações Unidas OBF Organização baseada na fé OBG Organização baseada no governo OBC Organização baseada na comunidadeOCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Económicos ONG Organização não-governamental ONUSIDA Organização das Nações Unidas de SIDAPEPFAR Plano de Emergência do Presidente para Auxílio ao SIDA PNE Plano Nacional Estratégico do VIH/SIDA PVVS Pessoas a viver com o VIH/SIDA PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento RAAAP Avaliação Rápida, Análise e Planeamento da Acção RIB/PIB Rendimento/Produto Interno Bruto RU Reino Unido UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância USAID Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional

vi

Abreviaturas

1

Sumário executivo

A África Austral está-se a extenuar com o peso da faltade saúde e perda de vidas ocasionada pelo VIH/SIDA.Entre os mais trágicos efeitos da doença pandémica doVIH/SIDA está o impacto que ela tem sobre ascrianças. Um dos maiores desafios para todos osparticipantes é como apoiar uma quantidade enorme esempre em crescimento de crianças órfãs e vulneráveisdentro das suas próprias comunidades. Pequenosgrupos de membros dedicados à comunidade já seencontram a cuidar de crianças, mas têm necessidadeurgente de mais recursos financeiros e de apoio técnicopara assegurar que todas as crianças órfãs e vulneráveisrecebam o apoio de que necessitam. De momento,existem muitos impedimentos que fazem com que osrecursos não cheguem as comunidades.

Nos últimos anos, aumentou dràsticamente ofinanciamento internacional para programas doVIH/SIDA. Até 2007, espera-se que os recursosglobais para o VIH/SIDA aumentem para 10 bilhõesde dólares. Uma análise de financiamentos declaradosnos 17 países mais afectados da África a sul do Saradeu a entender que, em 2003, o financiamento paracrianças órfãs e vulneráveis se cifrou em cerca de 200 a300 milhões de dólares (Gutierrez & Bertozzi, 2004).Algumas das principais iniciativas internacionais no mundo em desenvolvimento reconhecemparticularmente a importância de apoiar criançasvulneráveis e declaram ser prioritária a canalização de recursos para o nível comunitário. Contudo, umamaior distribuição de recursos para o VIH/SIDAraramente se transforma em financiamentointensificado a nível da comunidade.

As despesas correntes por agregados familiares, amaioria dos quais são pobres, constituem a maiorcomponente, por si só, das despesas totais doVIH/SIDA em países africanos, uma lembrança nua e

crua de que o encargo económico é suportado poraqueles que têm menos possibilidades. Os agregadosfamiliares encontram-se cada vez mais vulneráveis,consumidos por doenças e por mortes, estandofamílias e membros da comunidade a cuidar e a apoiaras crianças afectadas. Estas estruturas estão a exceder-sesob este peso. Trata-se manifestamente de casos dosque são muito pobres a ajudar os necessitados. Aquestão prioritária para os governos, para as agênciasinternacionais e para outros é encontrar a melhormaneira para assegurar que novos e disponíveisrecursos de crianças órfãs e vulneráveis (COV) e doVIH/SIDA sejam devidamente utilizados de modo areforçar a capacidade das comunidades afectadas e dosagregados familiares e a beneficiar directamente ascrianças vulneráveis.

Este relatório resume as conclusões dum recenteestudo da Save the Children UK na África Austral. Foi realizado para identificar questões de política eadvocacia que, uma vez levantadas, aumentariam ofluxo de recursos para as organizações baseadas nacomunidade (OBC)1 de maneira a garantirem quecrianças vulneráveis beneficiem. Este relatórioconsidera os mais eficientes e eficazes mecanismos que possam ser introduzidos em escala para prestar este apoio.

Principais conclusões erecomendações

Este estudo encontrou muito poucos exemplos demecanismos eficazes para canalizar recursos paraorganizações a nível da comunidade que olham pelasnecessidades de crianças vulneráveis. Nem dadores,nem departamentos de estado, nem organizações não–governamentais intermediárias (ONG) nem grupos

comunitários puderam dar exemplos de mecanismoseficazes para canalizar recursos numa escala quesatisfaça o nível da necessidade.

Este estudo identificou vários ‘entraves’ que estão abloquear o fluxo regular de recursos financeiros paraapoiar as iniciativas da comunidade:• a nível global e nacional, não se leva a sério o

fornecimento de recursos a comunidades • os actuais mecanismos não permitem que ‘fluxos’

de recursos atinjam organizações • a ausência de clareza sobre a quantidade de crianças

atingidas e a qualidade das intervenções• os dadores e os governos não se responsabilizam

por despesas para apoiar iniciativas da comunidade.

As OBC necessitam de financiamento a longo prazo que seja a ‘conta-gotas’ – pequenos valores derecursos, contínuos e regulares, para assegurar que ascomunidades possam sustentar as suas reacções epossam melhorar a qualidade de vida das criançasafricanas.

Este relatório recomenda que: • o financiamento a longo prazo se dedique a

satisfazer as necessidades de crianças órfãs evulneráveis

• seja feito um maior investimento a diversos níveis do sistema de financiamento para assegurarque os recursos atinjam comunidades e reajamràpidamente às necessidades de crianças, arriscandoaonde fôr necessário

• seja aumentado o apoio técnico a todos os níveis • seja fiscalizado o financiamento do VIH/SIDA para

se estabelecer quanto atingiu as comunidades paraque as crianças beneficiem.

As actuais distribuições para auxílio não são capazes dese encaminharem para grupos comunitários, e é poucoprovável que, com um simples aumento de fluxos deauxílio, se consiga que recursos cheguem ao nível dacomunidade. Este relatório realça a discrepância entreos recursos reforçados que estão a ser mobilizados ouadquiridos por dadores, governos e organizaçõesinternacionais para mais iniciativas para o VIH/SIDA,e os valores reais que estão a ser canalizados para osagregados familiares e as comunidades afectados. Os habitantes locais dedicam as suas próprias pessoas e os seus recursos a ajudar crianças vulneráveis, e asagências externas têm agora uma oportunidade únicapara reforçar as reacções da comunidade ao assegurarque os donativos de recursos financeiros sejamcanalizados para estes grupos comunitários. O apoioaos grupos comunitários não constitui uma alternativapara as principais estratégias de alívio a pobreza que os países estão a implementar. Contudo, são umcomplemento necessário para estas estratégias.

Notas

1 As organizações baseadas na comunidade são organizações

de membros que contam exclusivamente com voluntários e

normalmente recebem pouco financiamento externo.

● E N T R A V E S E C O N T A - G O T A S

2

3

1 Introdução

A situação na África Austral

A África Austral está a passar por um desastre semprecedentes e de proporções maciças em virtude daperda de saúde e de vidas ocasionada pelo VIH/SIDA.Um dos resultados mais trágicos da doença pandémicado VIH/SIDA é o seu impacto sobre as crianças.Calcula-se que cerca de 12,1 milhões de crianças naAfrica a sul do Sara perderam um ou ambos os pais, e este número continua a crescer (ONUSIDA/UNICEF/USAID, 2004). Outros tantos milhares decrianças estão igualmente afectadas, incluindo aquelasque vivem com pais com doenças crónicas, crianças emagregados familiares que adoptaram orfãos de parentesfalecidos, e aquelas em famílias que estejam a cuidarou apoiar parentes doentes noutros lugares. Muitasvezes, estas crianças não são consideradas como‘vulneráveis’ visto serem menos evidentes e ser difícildeterminar o seu número. A responsabilidade decuidar de crianças vulneráveis cai sobre uma variedadede participantes, principalmente os pais e outrosparentes, mas igualmente sobre as ONG, os governos e a comunidade internacional.2

Deverá ser dado apoio a crianças vulneráveis atravésduma série de mecanismos, que podem ser, em geral,classificados do seguinte modo: • Serviços básicos prestados através do governo:

Estes serviços incluem o apoio a crianças através deserviços de saúde gratuitos ou pouco dispendiosos,dum ensino acessível a todos, e outros serviços quegarantam que crianças possam aceder aos seusdireitos de sobrevivência, de protecção e dedesenvolvimento.

• Mecanismos formais da rede de protecção: Algunspaíses Africanos a sul do Sara têm prestações desegurança social do estado tais como pensões,subsídios de assistência a crianças e a incapacitadosou sistemas de protecção tais como esquemas dealimentação e programas humanitários para

proteger os que não são capazes de auferir um nível de rendimento adequado.

• Grupos e organizações da sociedade civil: A nível comunitário, estes incluem congregaçõesreligiosas, associações voluntárias locais eorganizações baseadas na comunidade (OBC).Outras organizações tais como as ONG locais einternacionais e orgãos coordenadores religiososassim como orgãos estatais e o sector empresarial,oferecem apoio directo a crianças vulneráveis.Algumas destas organizações actuam comointermediários fornecendo assistência técnica efinanceira a grupos a nível da comunidade.

Este relatório confirma que estes dois primeirosmecanismos são essenciais para o bem-estar, a longoprazo, de todas as crianças. O acesso a serviçosessenciais é um direito básico e é essencial para ocrescimento económico a longo prazo. Para este efeito, os governos devem responsabilizar-se peloscompromissos que tomaram sob a Convenção dasNações Unidas (NU) sobre os Direitos da Criança (ver o quadro 1). Não seria necessário o dispêndio dedinheiro em programas de emergência para resolverproblemas se estivessem disponíveis os serviços básicostais como a escolaridade gratuita, a assistência médicagratuita e a alimentação suplementar. No entanto, esterelatório não se concentra nestas duas primeiras áreas.

Este relatório concentra-se em identificar a maneiraapropriada para os recursos poderem alcançar gruposcomunitários e desse modo melhorarem o fluxo derecursos para as comunidades que apoiam criançasafectadas pelo VIH/SIDA. Embora os compromissosdos governos da África Austral e doutras áreas estejama aumentar a nível nacional, e os recursos tenhamaumentado através de financiamentos para o VIH, a maioria das crianças ainda estão a ser assistidasdentro das suas próprias comunidades e com escassos recursos.

Ao se considerar as reacções da comunidade para comcrianças vulneráveis, existe a tendência de se idealizar a noção de ‘comunidade’ ou de utilizar o termo comouma metáfora para uma estrutura imaginária deprotecção de redes de assistência social. Isto colocaexpectativas irreais na comunidade e também deixa de reconhecer as limitações das comunidades. Ascomunidades estão a caminhar para a frente, maspodem sòmente oferecer os serviços que as criançasnecessitam se forem devidamente apoiadas, tantofinanceira como tècnicamente, em termos deconcepção e avaliação de programas.

Este relatório trata em primeiro lugar do papel e valôrde programas comunitários (Secção 2), prosseguindocom um sumário das principais conclusões darecapitulação do trabalho e estudo do país, na Secção3. A Secção 4 coloca o argumento em contexto nostermos do actual financiamento para o VIH e SIDA

e descreve os actuais mecanismos de entrega edistribuição de dinheiro a comunidades. Em seguida,este relatório examina quatro entraves nos mecanismosde entrega e apresenta recomendações concretas para asseguintes fases da Secção 5, antes de concluir com aSecção 6.

Notas

2 Tal como em outras áreas do desenvolvimento social, será

necessário ter-se cuidado com as abreviaturas que possam

fàcilmente resultar em presunção e estigmatização. COV (crianças

órfãs e vulneráveis) trata-se de um acrónimo geralmente aceite para

descrever um grupo de crianças afectadas pelo SIDA. Este relatório

utiliza a abreviatura ‘COV’ sòmente para se referir a estratégias de

financiamento e programação. Noutros lugares e em especial ao se

falar das crianças em si, dá-se preferência aos termos ‘crianças

vulneráveis’, ‘crianças órfãs e vulneráveis’, ou ‘crianças afectadas

pelo VIH/SIDA’.

● E N T R A V E S E C O N T A - G O T A S

4

Quadro 1:Artigos da Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança queos governos aprovaram

A convenção é um acordo entre países que obedecemà mesma lei. Quando um governo dum país ratificauma convenção, ele concorda em obedecer à leiredigida nessa convenção. A maior parte dos paísesafricanos ratificaram a Convenção sobre os Direitos da Criança que declara:

Artigo 4: A execução de direitos: “ O governo devefazer todos os esforços para executar os direitoscontidos nesta Convenção.’

Artigo 24: A saúde e os serviços de saúde: ‘A criançatem direito ao mais elevado nível de assistência médicae de saúde. Nenhuma criança deve ser privada deacesso a serviços de saúde efectivos.’

Artigo 26: A segurança social: ‘A criança tem direito abeneficiar da segurança social através de subsídios’.

Artigo 27: O nível de vida: ‘As crianças têm direito a um nível de vida adequado consistindo em boaalimentação, roupa suficiente e alojamento decente,e quando os pais não os podem fornecer, cabe aogoverno fazê-lo.’

Artigo 28: A educação: ‘A criança tem direito àeducação e é o dever do Estado garantir que o ensinoprimário seja gratuito e obrigatório.Todas as criançasdeverão igualmente ter possibilidade de frequentar uma escola secundária.’

5

2 As iniciativas da comunidade são extremamente importantes para o combate contra VIH/SIDA

As comunidades têm uma longa história de apoio aos seus membros. A ausência de serviços essenciaisatravés de África a sul do Sara não representa nada de novo, e apesar de questões de estigma, no passado,os vizinhos e as comunidades davam apoio a curtoprazo àqueles que se encontravam em crise. Com o tempo, as comunidades foram desenvolvendoestruturas de protecção que ofereciam apoio mútuo e assistência àqueles que encaravam dificuldades sociais e económicas. Quando os agregados familiaresenfrentam crises tais como doença ou morte, as comunidades oferecem dádivas em dinheiro,empréstimos, alimentos, roupa e propinas escolares,possibilitam acesso a cuidados médicos, contribuemcom mão-de-obra e fornecem emprego (Luzze, 2002).Em suma, existe uma intensa história de vizinhos aajudarem-se uns aos outros.

Nos últimos dez anos, perante impactos crescentes do SIDA, os mecanismos de estruturas de protecçãocomunitários, tais como associações de poupança,cooperativas, emprestadores, grupos filantrópicos ouindivíduos, estão-se a adaptar a reagir a quantidadescada vez mais elevadas de crianças vulneráveis eadultos. Por exemplo, a angariação de mão-de-obra nacomunidade para ajudar a preparar e lavrar campos,está a ser posta em prática com mais frequência; ascomunidades rurais estão a revitalizar esquemas depoupança de cereais para assistir agregados familiarescom orfãos; e muitos grupos religiosos estão a criariniciativas para crianças e agregados familiaresafectados pelo SIDA. As comunidades oferecem maisde 90 por cento do apoio económico actualmenterecebido por agregados familiares afectados pelo SIDA. Num estudo do Banco Mundial realizado em Tanzânia, 90 por cento da assistência materialoferecida como ajuda a agregados familiares afectados

pelo SIDA veio de parentes e dos grupos comunitários.(Mutangadura et al, 1999)

Um estudo de grupos de fé na Namibia constatou que87 por cento tinham estabelecido uma actividade emresposta ao VIH/SIDA. Dos 109 grupos baseados nafé, 26 por cento tinham desenvolvido programas doVIH/SIDA, 33 por cento estavam em vias de criaruma iniciativa, 28 por cento tinham uma respostamínima e 13 por cento não tinham nenhumaresposta. Um outro estudo de 690 organizaçõesbaseadas na fé, em seis países, verificou que 95 porcento estavam envolvidos em actividades de apoio aOVC, com mais de 9.000 voluntários a apoiar cercade 157.000 crianças vulneráveis.

(Yates, 2003)

As comunidades estão a reagir

Muitas comunidades em África consideram o impactodo VIH/SIDA nas crianças como um dos maisimportantes impactos da epidemia do VIH/SIDA eestão a reagir por intermédio de iniciativascomunitárias.

Perguntou-se a 50 residentes em 30 aldeias nosudoeste do Uganda o que pensavam serem osprincipais problemas que afectavam as suascomunidades como resultado do VIH. Os trêsproblemas que foram igualmente classificados comosendo os maiores são: a grande quantidade de orfãos;a ausência de aconselhamento da criança e daorientação e cuidados de pais; a pobreza ou baixosrendimentos.

(Bolton e Wilk, 2004)

As reacções comunitárias oferecem uma oportunidadeúnica para uma estratégia bem orientada e a longoprazo no sentido de apoiar agregados familiares semrecursos e crianças vulneráveis:• As iniciativas comunitárias dedicadas à criança

podem incluir o aconselhamento parental, aprotecção, o apoio psico-social e espiritual assimcomo o apoio económico, oferecendo uma misturaadequada de assistência material e psico-social.

• Normalmente as OBC tentam evitar a dependência oferecendo dinheiro sòmente quando fôr absolutamente necessário, e em vezdisto, promovem iniciativas para auto-ajuda.

• As OBC encontram-se muitas vezes em melhorposição para decidir sobre o objectivo adequado;contudo, podem necessitar de apoio para assegurarque se dêem prioridade às maiores necessidades.

• Muitas vezes, as actividades executadas pelascomunidades beneficiam todo o agregado familiarem vez de simplesmente incidirem sobre criançasindividuais.

• O apoio comunitário é flexível e pode sermobilizado ràpidamente respondendo a crises,permitindo aos agregados familiares impedir a sua queda e evitando estratégias de adaptaçãoprejudiciais a uma longa sobrevivência.

• Os encargos administrativos para as actividades deapoio levadas a cabo pelas OBC são baixos. ‘Asorganizações baseadas na comunidade e baseadas

na fé parecem ter vantagem em relação às ONGinternacionais, prestando serviços à maior parte dosbeneficiários duma maneira mais económica.’ (Fase1 Relatório Sumário STRIVE, CRS, Zimbabwe, sem data)

Algumas das mais efectivas iniciativas para apoiarcrianças afectadas pelo VIH/SIDA são poucodispendiosas e recebem pequenos valores definanciamento privado. Por exemplo, no Zimbabwe, o Projecto Bethany mobilizou 656 voluntários atravésdum distrito inteiro. Eles visitaram e deram apoiomaterial a 4.952 orfãos necessitados e a outras 3.052 crianças pelo custo anual de $20.000 dólares,ou $2.50 por criança. O Fundo Familiar deCuidados para com o SIDA (FACT) mobilizou sete comunidades envolvendo 142 voluntários queapoiaram 6.500 orfãos e crianças vulneráveis em2.170 agregados familiares ao custo de $3 porcriança, $10 por família e $0,31 por visita.

(Phiri et al., 2000)

Um estudo da Comissão do SIDA do Uganda é aúnica análise de financiamento a nível nacional que se refere a crianças órfãs e vulneráveis, emboraneste caso o estudo tenha focado aspectos relativos a cuidados com orfãos. Este estudo identificou 183 organizações que recebem financiamento,assistindo 88.065 orfãos (menos de 5 por cento

● E N T R A V E S E C O N T A - G O T A S

6

Orientação internacional sobre o apoio a crianças a nível da comunidade

Seguem-se as cinco principais estratégias contidas na ‘Estrutura para a protecção, cuidados e apoio acrianças órfãs e vulneráveis a viver num mundo comVIH e SIDA’:

1. Reforçar a capacidade de famílias para protegere cuidar de crianças órfãs e vulneráveis prolongandoas vidas dos pais e oferecendo apoio económico,psico-social e o demais.

2. Mobilizar e apoiar respostas comunitárias.

3. Garantir o acesso a serviços de primeiranecessidade por parte de crianças órfãs e

vulneráveis, incluindo a educação, cuidados desaúde, registo de nascimento e outros serviços.

4. Garantir que governos protejam as crianças mais vulneráveis através duma melhor política elegislação e canalizando recursos para famílias ecomunidades.

5. Sensibilizar a todos os níveis, através de advocacia emobilização social, de modo a criar um ambientede apoio para crianças e famílias afectadas peloVIH/SIDA.

7

2 A S I N I C I A T I V A S D A C O M U N I D A D E S Ã O E X T R E M A M E N T E I M P O R T A N T E S P A R A O C O M B A T E C O N T R A V I H / S I D A ●

dos orfãos no Uganda). O custo médio por criançaassistida pelos maiores programas ONG era 170 por cento mais elevado do que os programas maispequenos da OBC.

(Deininger et al, 2001)

Muitos dos principais agentes internacionais estãofinalmente a reconhecer a importância dascomunidades na resposta ao VIH/SIDA. As respostascomunitárias são identificadas como uma das cincoprincipais estratégias contidas na muito reconhecida‘Estrutura para a protecção, cuidados e apoio decrianças órfãs e vulneráveis a viver num mundo com o VIH e o SIDA’ (UNICEF 2004).

Actualmente, a maior parte das iniciativascomunitárias são auto-financiadas, visto existirempoucos programas que canalizem recursos para gruposa nível comunitário, e aqueles que na realidadeexistem, funcionam mal. Existe pouca informaçãosobre o valor do financiamento que na realidade atinge as crianças e muito menos sobre o impactoalcançado pelas intervenções. O sucesso limita-seessencialmente a certos locais. Existe um grande

número de pequenos projectos que estão a fazer umexcelente trabalho. Contudo, estão longe de atingir o número de crianças que necessitam de apoio, e delhes dar a variedade e qualidade de serviços de que elas tanto necessitam. Alguns programas estão a serintensificados e estão a beneficiar mais crianças. Mas é evidente que, embora se esteja a fazer progressos, aproporção da resposta é inadequada em comparaçãocom as necessidades crescentes de uma população de crianças afectadas pelo VIH/SIDA e em vias de expansão.

Um estudo em seis países, realizado no Quénia,Malavi, Moçambique, Namibia, Suazilândia eUganda identificou 690 organizações baseadas na fé que, em conjunto, apoiavam mais de 156.000crianças órfãs e vulneráveis. A maior parte erampequenas; contudo, o alcance colectivo é significativo.A maioria das iniciativas eram auto-financiadas, um indício de que grandes quantidades de criançasestão a ser apoiadas por organizações baseadas na fé, a maior parte das quais recebem financiamentosinsignificantes do exterior.

(Foster, 2004)

A maior parte das análises da resposta dada a criançasvulneráveis nunca atinge os níveis mais baixos das comunidades. Muitas vezes, as ONG sãoerròneamente consideradas como reflectindo ascomunidades. Esta investigação tentou descobrir estas comunidades, com diversos graus de sucesso.

Questões do estudo e metodologia

Esta investigação procurou responder às seguintesquestões: • Na Africa Austral, que mecanismos existem para

canalizar recursos para organizações a nívelcomunitário ?

• Quais são os mecanismos efectivos para atingir umnúmero adequado das crianças mais vulneráveis,com bons níveis de responsabilidade e impacto?

• Quais são os mecanismos que estão a receber apoioadequado de fornecedores de recursos, e se não oestão a receber, por que razão?

A investigação compreendeu um artigo publicado e uma investigação rápida dentro de países tais como Moçambique, África do Sul, Suazilândia eZimbabwe. Os investigadores entrevistaram as OBC,congregações, pequenas ONG e funcionários dogoverno a nível distrital e comunitário e, a nívelnacional ou provincial, agências estatais, dadoresinternacionais e religiosos, ONG, fundos fiduciários efundações comunitárias. Cada investigador elaborouum relatório analizando mecanismos para canalizarrecursos para grupos a nível comunitário, no seurespectivo país. As conclusões tiradas dos estudos em cada país foram incorporadas neste artigo. Foramfeitas recomendações através de um processo departicipação.

Limitações

Ao realizar este estudo, foram observadas variaslimitações metodológicas relacionadas com respostas:

Metodológicas

• Alcance: A investigação compreendeu umaavaliação rápida de mecanismos de financiamento e não tentou investigar todos os eventuaismecanismos em cada área do país em questão. Mais pròpriamente, procurou obter os pontos devista de representantes dos diferentes tipos deorganizações relativamente aos pontos fortes efracos dos diferentes mecanismos que fornecemrecursos a grupos comunitários.

• Detalhes: A investigação não procurou aprofundar-se sobre um único mecanismo. Contou com ainformação prestada pelos principais informadores.

• Identificando grupos comunitários: Nos países de estudo, são muitos os grupos comunitários que apoiam crianças vulneráveis. Todavia, osinvestigadores tiveram dificuldade em preparar umasíntese detalhada de grupos a nível comunitário emcada país e em identificar uma comunidade degrupos para serem entrevistados. Não existem listas de grupos comunitários nem existe umaidentificação de grupos comunitários que apoiamcrianças vulneráveis. A maior parte dos gruposcomunitários foram identificados durante asentrevistas com organizações de recursos ou ONG intermediárias, resultando em selecçõespredispostas.

Relacionadas com respostas

• Disponibilidade: Em vários casos, os investigadoresforam incapazes de obter entrevistas comorganizações, particularmente com autoridadesgovernamentais, em virtude do pessoal não seencontrar disponível ou mostrar relutância emserem entrevistados sem autorização superior.

8

3 As vozes das comunidades

9

3 A S V O Z E S D A S C O M U N I D A D E S ●

• Conhecimento das despesas da sua própriaorganização: A maior parte dos respondentes nãosabia o valôr do financiamento que tinha sidoutilizado a nível comunitário nem que percentagemdo seu financiamento total estava reservada paraactividades de apoio a crianças vulneráveis.

• Conhecimento de programas de outrasorganizações: Os respondentes não puderam darestimativas dos valores dispendidos por outrasorganizações para financiar o apoio a criançasvulneráveis, tanto a nível nacional como a nívelcomunitário.

• Falta de conhecimentos sobre iniciativascomunitárias: Muitos dos respondentes não tinham conhecimento das actividades de gruposcomunitários para apoiar e proteger criançasvulneráveis, nem avaliavam as perspectivas demembros da comunidade. Portanto, durante esteestudo, os investigadores tiveram dificuldades em seconcentrarem no sector voluntário. (ver Quadro 2).

• Sensibilidade da informação financeira: Algunsrespondentes recusaram-se a mencionar númerosno que diz respeito a subsídios ou mesmoestimativas de proporções de financiamentodispendidas a nível comunitário.

• Respostas predispostas: Os investigadores ficaramcom a impressão de que alguns respondentestinham depreciado a capacidade de gruposcomunitários em gerir recursos, possìvelmente porse preocuparem que os seus financiamentos possamvir a ser utilizados para outros efeitos.

Conclusões da parte dacomunidade

Nos países de estudos, quase nenhum grupocomunitário tem acesso directo a recursos financeirosde dadores nem recebe subsídios para apoiar as actividades de ajuda a crianças vulneráveis. Ospoucos grupos comunitários que recebem recursosexternos têm normalmente acesso a estes, através deONG, actuando como intermediárias. As ONGintermediárias apresentam propostas de projectos aosdadores visto que os grupos comunitários podem nãoconseguir satisfazer os requisitos dos dadores no quediz respeito à apresentação de propostas, relatórios econtabilidade financeira. As ONG nem sempre trocamidéias com parceiros comunitários para se certificaremque estas propostas satisfazem of requisitos dascomunidades.

Os obstáculos para obter financiamentos

Os respondentes comunitários identificaram os muitos obstáculos que tinham que ultrapassar paraobter financiamentos: • Identificação de financiadores: Os grupos

comunitários devem saber quem fornece ofinanciamento e a maneira de contactar com estes.Muitas vezes, isto torna-se difícil para iniciativascomunitárias pequenas e rurais.

• Requisitos de financiadores: Os grupos devemcompreender os requisitos dos financiadores e

Quadro 2: Neste estudo, incluiram-se três categorias de organizações a nível comunitário:

1. As organizações não-governamentais (ONG)empregam pessoal, apresentam propostas definanciamento, recebem apoio de dadores eexecutam projectos. O estudo concentrou-se em‘pequenas’ ONG com menos de 10 membros depessoal.

2. As organizações baseadas na comunidade (OBC)são organizações de membros que contamexclusivamente com voluntários, e em geralrecebem pouco financiamento do exterior.

3. As iniciativas comunitárias ou associaçõesvoluntárias estão menos desenvolvidas que as OBC.Elas consistem em esquemas de participação emmão-de-obra, cooperativas agrícolas, associações depoupança e crédito rotativos, sociedades funerárias,esquemas de empréstimos de cereais, associaçõesde assistência mútua, grupos de apoio a pessoas aviver com o VIH/SIDA (PVVS), iniciativas paracuidados em casa e iniciativas de apoio a criançasvulneráveis. A maior parte da investigação nuncachega a este nível.

considerar se poderão satisfazer esses requisitos. Emseguida devem decidir se vale a pena dispendertempo e esforço para apresentar um pedido. Osrespondentes indicaram que havia uma diferençaentre o que as comunidades consideravam sernecessário para apoiar crianças vulneráveis (com

ênfase em iniciativas dirigidas a famílias ) e o queos financiadores estavam preparados a conceder em termos da população predeterminada que sepretende apoiar (por exemplo, limitadas a ‘orfãosduplos’) e de serviços (por ex. ‘remessas dealimentos para 20 famílias’).

● E N T R A V E S E C O N T A - G O T A S

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Financiamento do CNS e a experiência de programas baseados na fé doVIH/SIDA no Malavi

Em 2004, a Associação Evangélica do Malavi recolheuinformações de 15 igrejas que apresentavamrequerimentos para financiamento da parte doConselho Nacional do SIDA (CNS). A experiência foi uma luta penosa, e a maior parte acabava por seretirar do processo de requerimento:

• O processo para requerer financiamento é complicado e moroso. Das 15 igrejas, oitorequereram financiamento da parte do CNS eforam mal sucedidas. Muitas disseram ter enviadopropostas, terem recebido respostas, e teremenviado mais informações mas eventualmentedesistiram por falta de resposta. Só tinha sidoaprovada uma proposta apresentada por uma igreja mas ainda estavam a aguardar os recursosfinanceiros.

• Não existem informações sobre o processode financiamento e os pedidos deinformação ao CNS não são atendidosprontamente. As igrejas pouco sabiam sobre asorientações para apresentar propostas e outrasinformações importantes. Elas indicaram que asorganizações baseadas na fé (OBF) raramente eram convidadas a participar em reuniões do CNS.Consideravam que os ministérios do governo e asONG tinham mais informações do que os gruposbaseados na fé.

• Falta de comunicação e de colaboraçãoentre igrejas. Poucas igrejas e outras OBFs tinhamconhecimento dos princípios orientadores daspropostas e outras informações importantes epoucas poderiam partilhar mais informações comoutras igrejas.

• Poucas igrejas podiam satisfazer o nívelrequerido no formato do requerimento do CNS. Os princípios orientadores do CNS para se apresentarem propostas requeriam elevadonível de elaboração de propostas e considerávelesforço e tempo de que as igrejas não dispõem.Tradicionalmente, as igrejas vinham a solicitar apoiofinanceiro apresentando uma carta detalhando osproblemas, sugerindo actividades e o total de verbasrequeridas. Muitas igrejas consideram isto comouma ‘proposta’. A resposta dada às necessidadeslocais é um dos pontos fortes das igrejas mas a preparação de propostas ‘profissionais’ é umponto fraco.

• Embora se tenha dedicado a trabalhar comOBFs, o CNS não incluiu no seu apoio acomponente para o reforço da capacidadepara organizações a nível comunitário.Considerou-se que o CNS foi estabelecido paratrabalhar, apoiar e colaborar com instituições que já tinham essa capacidade de organização.

• Os mecanismos de financiamento a níveldistrital não são considerados comoabertos e transparentes. Foram criadosorganismos protectores distritais para aprovaremfinanciamentos para iniciativas a nível distrital. Estesorganismos tinham tendência a serem ONG cujasfunções deveriam, no futuro, ser entregues aAssembleias Distritais. As igrejas consideravam que as prioridades distritais dependiam dos valores e pontos fortes sectoriais dos organismoscontroladores. Os organismos controladores leigoseram considerados como tendo adoptado atitudesnegativas para com os programas das igrejasporque estas não fomentavam a distribuição depreservativos. (Taylor, 2005a & b)

11

3 A S V O Z E S D A S C O M U N I D A D E S ●

• Apresentar pedidos: Muitas vezes, o formato para apresentar pedidos torna-se complicado. Os respondentes da comunidade consideram que a documentação para requerimentos causatranstornos e os requisitos orçamentais faziam com que o processo se inclinasse a favor das ONGestabelecidas, sendo da opinião de que essesrequisitos eram impostos de modo a afastar osrequerentes a nível comunitário uma vez que têmpouca capacidade para preencher requerimentos.

• Verificar o progresso de requerimentos: Os gruposcomunitários queixaram-se de que quase nuncarecebiam qualquer informação por parte dosfinanciadores acerca dos requerimentosapresentados.

Por que razão os recursos financeiros nãoatingem as comunidades

Perguntou-se aos respondentes por que razão tãopoucos dadores oferecem recursos a gruposcomunitários. • As percepções de dadores: A resposta mais vulgar

por parte dos sectores comunitários e centrais

era que os dadores consideram que os gruposcomunitários não têm capacidade para seresponsabilizarem por recursos financeiros. Osrespondentes comunitários concordam que, emborarepresentasse uma percepção de dadores, narealidade as comunidades eram capazes de seresponsabilizarem por recursos financeiros. Umestudo realizado por OBFs que apoiam criançasvulneráveis chegou à mesma conclusão, concluindoque as congregações e as OBC tinham semelhantesníveis de capacidades em termos de controlo esistemas financeiros aos das ONG e dos organismoscoordenadores religiosos (Foster, 2004).

• Desafios de pequenos subsídios: Os concessores desubsídios têm dificuldade em administrar pequenossubsídios. Trata-se muitas vezes de entravesrelacionadas com a capacidade do dador, tornando-se dispendioso para eles oferecerem subsídiospequenos por causa dos custos elevados dastransacções. Alguns respondentes comunitáriosdeclararam que os dadores não consideravam sersua responsabilidade financiar pequenos grupos.Outros sugeriram que dadores competiam uns com

Gravura 1: Por que razão dadores e ONG intermediárias não concedem mais recursos a gruposcomunitários que apoiam crianças vulneráveis (N = 20)

Preocupação sobre Dificuldade em Receio de causar Falta de competências Falta sensibilização Nenhuma necessidade responsabilidade conceder pequenos dependência para concessão de para necessidade de dinheiro a ser

financeira subsídios subsídios adequados de financiar grupos gasto a nível comunitários comunitário

Explicação dada

100

80

60

40

20

0

Perc

enta

gem

Key

Concordaram

Discordaram

Não têm certeza ou nenhuma resposta

os outros e preferiam associar os seus nomes erecursos financeiros a organizações de grandeenvergadura, conhecidas e bem sucedidas, em vezde arriscarem não serem reconhecidos, apreciados e respeitados pelos seus concorrentes. A maioria dos concessores não considerava utilizar a porçãode dinheiro dispendido a nível comunitário como indicador para medir a efectividade dofinanciamento, e resistiam à ideia de concederpequenos subsídios a grupos comunitários por causa do trabalho suplementar que istorequeria.

Donde vem o financiamento

A investigação dentro do país encontrou muitospoucos exemplos de mecanismos efectivos paracanalizar recursos para organizações a nívelcomunitário apoiando crianças vulneráveis. Nemdadores, nem departamentos governamentais, nemONG intermediárias nem grupos comunitáriospuderam dar exemplos de mecanismos efectivos para canalizar recursos a grande número de grupos a nível comunitário.

Foram identificados alguns exemplos em pequenaescala de financiamentos comunitários efectivos. Os respondentes pensavam que as ONG que apoiamos grupos comunitários faziam parte dum dosmecanismos mais bem sucedidos, uma vez queajudaram a reforçar a capacidade das OBC assim comoa conceder apoio financeiro. Em particular, tinham aimpressão que as ONG reforçavam a capacidade dopessoal e dos voluntários através de formação em áreas tais como sistemas de administração, gestão deprojectos, contabilidade e elaboração de propostas.Contudo, foram identificadas diversas limitações: • Falta de coordenação: Muitas vezes as ONG

iniciam esses projectos e especificam os recursosdisponíveis mas estes podem não satisfazer asnecessidades das comunidades.

• Controlo da ONG: Algumas ONG procuramcontrolar parceiros comunitários e manter a suadependência em vez de reforçar a sua capacidadepara que grupos comunitários possam obterfinanciamento directamente de dadores. Tendo em conta as necessidades a longo prazo das

comunidades, e questões de sustentação, éparticularmente importante que as ONGinternacionais se envolvam no reforço dacapacidade de organizações locais em vez deprestarem serviços directos a crianças vulneráveis.

• Falta de compreensão: Parece que os dadores ficam mais satisfeitos em conceder subsidios parafinanciar os salários e programas de governos e dasgrandes ONG, mas resistem dar dinheiro a gruposdo povo de modo a igualarem as contribuiçõescorrentes de membros comunitários para apoiarcrianças vulneráveis.

Os respondentes comunitários também pensavam queas organizações baseadas na fé fossem boas parceiras de recursos, uma vez que ofereciam importante apoio não-financeiro, tais como o fornecimento de escritórios, e a possibilidade de receber apoio alongo prazo de fontes locais através de ligações comorganizações baseadas na fé regionais e nacionais. Os respondentes comunitários pensavam que ofinanciamento directo de governos e de grandesdadores tivesse menos êxito, e mencionaram algunsproblemas, particularmente no que diz respeito aofinanciamento do governo: • A continuação e insuficiência de financiamentos a

curto prazo, e muitas vezes a entrega tardia derecursos financeiros.

• A inflexibilidade na utilização do financiamento,com a incapacidade da rolagem do financiamentopara o ano seguinte mesmo depois do desembolsotardio

• O condicionalismo do financiamento, (num caso,o dinheiro só foi concedido para a sustentação decrianças órfãs e vulneráveis entre as idades doscinco a sete anos)

• Tomada de decisão à distância, decisões sobrefinanciamentos feitas fora das comunidades, semvisitas ao local

• O controlo excessivo, restrições impostas às OBCem termos de burocracia e requisitos de controlorigoroso, difíceis de cumprir ou que se consideramcomo inúteis

• A rotação de pessoal, perda de pessoal formadopara o governo, associada aos baixos salários dasONG em alguns dos países de pesquisa

● E N T R A V E S E C O N T A - G O T A S

12

13

3 A S V O Z E S D A S C O M U N I D A D E S ●

• O financiamento indisponível, designados recursosfinanceiros a serem encaminhados por organismosde financiamento para outros efeitos

• A perda de identidade, constituição de OBC nas estratégias operacionais do seu financiadorresultando em perda de identidade (ver a seguir).

Como os mecanismos de financiamentopodem satisfazer as necessidadescomunitárias

Os respondentes solicitaram que os mecanismos definanciamento fossem alterados das seguintes maneirasde modo a satisfazer as suas necessidades: • Sistemas de requerimento simples: Além de serem

simples, os processos do requerimento deveriamreduzir ao mínimo a concorrência entre gruposcomunitários.

• Comunicação com financiadores: Os grupossolicitaram a ajuda dos financiadores paraapresentarem os requerimentos e que lhes sejamdadas informações sobre o progresso dos seusrequerimentos. Pretendiam igualmente saber daparte dos financiadores se havia demoras naprovisão dos financiamentos.

• Tamanho adequado do subsídio: Os respondentesdeclararam que não se preocupavam com o facto dereceberem subsídios e ficarem dependentes: ‘Nósnão precisamos de muito, sòmente o necessário’disse um grupo Moçambicano. Alguns gruposcomunitários estavam preocupados pelo facto de, serecebessem subsídios de uma única fonte, poderlevá-los a serem controlados pelos concessores eperderem a sua identidade.

• Financiamento a longo prazo: As crises doVIH/SIDA e das crianças vulneráveis em Africa são a longo prazo. Portanto, existe a necessidade de parcerias a longo prazo. O financiamento acurto prazo resulta na falta de desenvolvimento da parceria e favorece o oportunismo na utilizaçãodos recursos financeiros. Em vez de um únicosubsídio que possa dominar as suas actividades, os grupos comunitários solicitaram subsídiosproporcionais à sua capacidade de desenvolvimentoe por um periodo de mais de um ano, de cada vez.

• Flexibilidade: Os grupos comunitários oferecemmuito apoio a crianças vulneráveis e às suas famíliase estavam plenamente conscientes da necessidadede fomentar a auto-suficiência e de reduzir apossibilidade da dependência. Os subsídios queimpunham orientação rigorosa e a utilização decritérios limitavam a sua capacidade de responderadequadamente às necessidades dos agregadosfamiliares vulneráveis. Os grupos pretendiamigualmente que os concessores de subsídios ospermitissem re-utilizar os recursos financeiros nãogastos, em vez de retirarem o financiamento quenão tivesse sido dispendido impondo periodosestabelecidos que eram por vezes ridìculamentecurtos.

• Reforço de capacidades: Os respondentescomunitários solicitaram que juntamente com ofinanciamento, pretendiam receber apoio técnicoatravés de visitas e formação a ser facultada porparceiras ONG e orgãos coordenadores religiosos.

A perda de identidade de organizaçõesbaseadas na comunidade através definanciamentos externos

O grau de perda de identidade foi ilustrado numdos centros que se visitou, onde o pessoalidentificou ‘o governo’ como o seu chefe e solicitouque toda a correspondência fosse enviada atravésdeste canal. Em alguns casos, o desembolso doimportante financiamento do governo antecedeu adesagregação da identidade organizacional, com acriação gradual duma classe de organizações queforam designadas ‘organizações baseadas nogoverno’ (OBGs). A maior parte destas sãofinanciadas em maioria pelo governo e sãoconsideradas pelas ONG como o braço deimplementação do governo, ficando obscurecida adistinção entre estas organizações e o governo.Alguns funcionários membros do pessoal da OBGafirmam que o financiamento do governo foi-lhesconcedido para que o governo possa assumirresponsabilidade pelo sucesso da sua organização.

Investigador do país, África do sul

• Falta de acesso: Os respondentes acreditam que,em geral, os recursos financeiros eram suficientes epermitiam apoiar agregados familiares vulneráveismas o problema principal era a falta deacessibilidade. As organizações mais pequenas não conseguiam ter acesso a um financiamentodesignado a assistir crianças vulneráveis. Algunspensavam que as suas organizações mereciamfinanciamento tal como as maiores ONG por causada sua qualidade de trabalho, mas julgavam queeram menos ‘deslumbrantes’ e que não tinhamrecursos para iniciar boas relações públicas.

Muitas iniciativas comunitárias pretendem alargar as suas actividades para envolver maisvoluntários e apoiar mais crianças. A sua capacidadeorganizacional é fraca e os seus recursos materiais sãofinitos. Para alargar as suas actividades, os gruposcomunitários precisam de mais recursos financeiros e apoio em formação e conselhos. Milhares de grupos comunitários com poucos recursos estãodesesperadamente à procura de pequenas entradas

de capital para ajudar a alargarem as suas carecentesiniciativas.

Os dadores e os seus parceiros devem arriscar e confiar nas comunidades. A não ser que isto se passe,continuaremos a encontrar uma separação entreprogramas financiados por dadores e iniciativascomunitárias.

OBC Moçambicana

Existem poucos canais em que as finanças defornecedores de recursos possam escoar para executorescomunitários. Os mecanismos de entrega de pequenossubsídios a grupos comunitários, associados aadequado apoio técnico, ou são rudimentares ou nãoexistem. Os grupos comunitários com capacidadeslimitadas têm dificuldade em encaminharprocedimentos complexos relativos a pedidos definanciamento e em ultrapassar obstáculos que lhes sãocolocados por concessores. Necessita-se de um sistemade canalização financeira que irá canalizar recursospara o nível da comunidade e do agregado familiar.

● E N T R A V E S E C O N T A - G O T A S

14

Os subsídios de risco para organizações baseadas na comunidade e as novas ONG

A Fundação Firelight (FLF) é uma fundação baseadanos EUA, criada em 2000, apoiando crianças vulneráveisem 12 países africanos através de subsídios a pequenasONG e OBC. Até 2004, a fundação concedeusubsídios no valor total de $3,5 milhões de dólares a170 parceiros–concessionários. Pretende aumentar aconcessão anual de subsídios para $1,35 milhões dedólares em 2005. A maior parte dos subsídios são de menos de $10.000. Os subsídios de ‘risco’ sãosubsídios de um ano, de $5.000 ou menos, concedidosa organizações com pouca ou nenhuma experiência de administração de financiamentos de dadoresexternos. Cerca de um terço dos subsídios da FLF são subsídios de risco, representando sete por cento do total de subsídios. Depois de um ano, trêsquartos dos subsídios foram considerados bemsucedidos e os concessionários receberam novos

subsídios. Os subsídios de risco conduziram aocrescimento organizacional, reforçando a qualidade de chefia da ONG, o desenvolvimento estratégico emaior participação comunitária. Algumas organizaçõesconseguiram adquirir muitos mais financiamentos deoutras fontes. Cerca de um quarto dos subsídios derisco não foram renovados, especialmente por haverpreocupações sobre a orientação de programas e nãopela capacidade organizacional. Os anteriores subsídiosde risco eram maiores mas a média do valor dossubsídios diminuiu em virtude da FLF ter constatado acapacidade absorvível dos seus potenciais parceirosconcessionários. A FLF procura agora estabelecer umanova abordagem (mini-subsídios globais) para enviarsubsídios ainda mais pequenos para pequenos gruposcomunitários através de organizações intermediárias.

15

O financiamento global para o VIH/SIDA ésubstancial e está em crescimento. Em 1996, ofinanciamento do SIDA em países de rendimentobaixo e médio cifrou-se em $300 m, representando 6 por cento da assistência médica de dadores. Até2002, o financiamento aumentou para $1,7 biliões(Gravura 2), e em 2003, estavam disponíveis $4,7biliões para responder ao SIDA, incluindo despesasgovernamentais e do agregado familiar, que se calculou terem satisfeito 84 por cento das necessidadestotais e globais de financiamento do VIH/SIDA(ONUSIDA, 2004). O valor total requerido para ofinanciamento do VIH/SIDA poderá vir a aumentarsignificativamente nos próximos dez anos.

Calculou-se que os recursos globais requeridos paracuidar de orfãos e crianças vulneráveis atingiriam $600 m em 2004 e que aumentariam para $2 bilhõesem 2007. Muitas das iniciativas internacionais, taiscomo o Fundo Global para combater o SIDA, a

Tuberculose e a Malária (subsequentemente designadopor Fundo Global), o Plano de Emergência doPresidente dos EUA para auxílio ao SIDA(PEPFAR), e o financiamento para o VIH/SIDA do Governo do Reino Unido, reconhecem especificamente aimportância de se apoiar crianças vulneráveis. Tanto o governo dos EUA como o do Reino Unido secomprometeram a específicos objectivos de despesascom crianças órfãs e vulneráveis.

Despesa nacional com o VIH/SIDA,e com crianças órfãs e vulneráveis

Em 2002, a despesa do governo com programas doSIDA de 58 países com baixo e médio rendimentocifrou-se em cerca de $995 m (ONUSIDA, 2004).Embora, nos últimos anos, tenha havido mais interessea nível nacional, ainda se presta menos atenção àprotecção de crianças órfãs e vulneráveis do que à

4 Despesas correntes do VIH/SIDA e entrega de financiamentos

Gravura 2: Despesas institucionais com VIH & SIDA 1996–2002 (Dispendio em milhoes de US$)

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Ano

3,000

2,500

2,000

1,500

1,000

500

0

Milh

oes

de

US

$

Chave

Doméstico: tanto as despesas do sector

público como as despesas ‘correntes’ privadas

Privado: inclui fundações, organizações

não-governamentais internacionais,

organizações baseadas na fé e a comunidade

empresarial

Sistema NU: inclui o Banco Mundial

Bilateral

16

transmissão da mãe para filho, à prevenção doVIH/SIDA entre jovens, ou à prestação de cuidados e tratamento de pessoas a viver com o VIH/SIDA.

A falta de atenção dispensada às necessidades dascrianças vulneráveis é evidente em muitos outrosdocumentos de política. É dada pouca atenção àsnecessidades de crianças nos Estudos de Estratégia para Redução da Pobreza (ECPE). Isto pode resultardo facto dos Planos Nacionais Estratégicos doVIH/SIDA (NSP) terem igualmente dispensado pouca atenção a esta questão, apesar da magnitude doproblema. Nos países africanos, a questão de criançasórfãs e vulneráveis foi sòmente mencionada num terço dos ECPE e dos NSP. Além disso, nenhum paísincluiu no seu orçamento as actividades para orfãos ecrianças vulneráveis, o que indica que, mesmo que aquestão tenha sido identificada, havia um elevado riscode deslize de política, com as intervenções COV adesaparecerem das ordens do dia sobre a redução dapobreza, antes da sua implementação. Algumas dasúltimas iniciativas podem vir a ajudar a chamar a

atenção para as crianças vulneráveis. Por exemplo, o último processo de Avaliação Rápida, Análise ePlaneamento de Acção realizado pela UNICEF(RAAAP) resultou na preparação de Planos de AcçãoNacionais para crianças vulneráveis em diversossectores de 16 países da África Austral.

Despesas de agregados familiares ede comunidades com o VIH/SIDA

Os agregados familiares encontram-se na vanguardadas iniciativas para crianças afectadas pelo SIDA. Asdespesas correntes individuais representam o maiorcomponente por si só das despesas totais com oVIH/SIDA em muitos países de África a sul do Sara.ONUSIDA calcula que, em 2003, as despesas com oVIH/SIDA, de indivíduos, excedeu $1 bilhão, estandoas pessoas, que provàvelmente pagam, a viver empaíses mais pobres onde a infraestrutura do sectorpúblico de saúde é deficiente. No Quénia, 41 porcento das despesas totais com o VIH/SIDA vieramdirectamente do bolso dos cidadãos quenianos,enquanto que no Ruanda, as despesas correntesatingiram o surpreendente valor de 93 por cento(ONUSIDA, 2004). Além disso, os custos indirectossão substanciais e representam perdas de rendimentospara assistentes sociais. Por exemplo, na Tanzânia, asmulheres a cuidar de parentes doentes dispenderam 45 por cento menos tempo em trabalhos agrícolas(ONUSIDA, 2004).

Muitos dos pobres em áreas rurais de países emdesenvolvimento pagam 85 por cento do custo totaldos serviços de saúde que recebem (Sachs, 2001).Cerca de 90 por cento de pessoas seropositivas nãorecebem cuidados básicos para o VIH/SIDA doscentros de saúde, e a situação relativamente à provisãode serviços sociais é ainda pior. Visto não haver apoiodo estado na maior parte de África, o principalmétodo de seguro social para agregados familiares em crise, consiste no auxílio prestado por parentes.

Torna-se clara a maneira de pensar para se incluircomunidades em iniciativas. A questão prioritária

Gravura 3: Financiamento de governos locais e organizacoesbaseadas na comunidade por planos estrategicos (Bonnel et al., 2004)

Nao menciona Financiamento Financiamentoparcial de gov. locais

& CBOs

90

80

70

60

50

40

30

20

10

0

Perc

enta

gem

Key

PRSPs

NSPs

● E N T R A V E S E C O N T A - G O T A S

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4 D E S P E S A S C O R R E N T E S D O V I H / S I D A E E N T R E G A D E F I N A N C I A M E N T O S ●

para governos, agências internacionais e outros consiste em assegurar da melhor maneira que novosrecursos e aqueles que estejam disponíveis sejamdesembolsados o mais eficiente e efectivamentepossível de modo a reforçar a capacidade dascomunidades e dos agregados familiares afectados e abeneficiar crianças vulneráveis.

Recursos dispendidos a nívelcomunitário

Torna-se difícil determinar qual é a proporção derecursos financeiros, concedidos para apoiar as crianças vulneráveis, que alcança o nível comunitário.A fiscalização de recursos para o SIDA está poucodesenvolvida ou está mesmo posta de parte,reepresentando uma prioridade baixa na maior parte dos países a sul do Sara(ONUSIDA, 2004). Por exemplo, existe um problema para se verificar o que se está a passar com os recursos do FundoGlobal, para além dos pagamentos a nível nacional.Isto traz sérias preocupações sobre a responsabilidade e o impacto dos recursos financeiros concedidos e é incompatível com o compromisso do FundoGlobal em manter um controlo transparente (Taylor, 2005b).

Uma análise orçamental permite um exame dequestões de igualdade, e pode assistir a determinar se os recursos são distribuidos convenientemente,embora não consiga verificar a distribuição de recursos (IDASA, 2004). De momento, a maior partedos países sòmente fiscaliza os financiamentos doVIH/SIDA que são enviados a ministérios de saúde.Normalmente, não existem elementos que permitamcalcular as despesas do governo para apoiar orfãos eoutras crianças que se tornam vulneráveis peloVIH/SIDA. Tanto a iniciativa do Programa do VIH eSIDA para Africa em diversos países (MAP) como oFundo Global fiscalizam financiamentos distribuidos aorganizações, e contam com as auditorias da despesanacional para avaliar se os recursos foram devidamenteutilizados; contudo, não existem importantesinformações financeiras sobre o dinheiro gasto.

Presentemente, é impossível determinar a proporção de recursos designados por ‘COV ‘que na realidadeestejam a atingir as comunidades e agregados familiaresafectados, de modo a beneficiar directamente ascrianças vulneráveis.

Mesmo quando as organizações observam de pertoquanto dinheiro foi gasto, raramente fiscalizam emgrande detalhe as despesas comunitárias. Em 2004, oPEPFAR concedeu subsídios de muitos milhares dedólares a ONG internacionais para criar programasCOV; contudo, apesar dos sofisticados sistemas deresultados para controlar uma grande variedade deindicadores, nenhum dos indicadores que foramestipulados incluia a fiscalização do montante nem aproporção de recursos que atingem as comunidadesafectadas.

Como está presentemente a serentregue o financiamento

O fluxo de financiamento do VIH/SIDA da parte dosconcessores para comunidades e agregados familiaresafectados tem vindo a ser comparado com um sistemafinanceiro de canalização, com reservatórios de

Despesas a nível comunitário

O programa das famílias, orfãos e crianças sobtensão do Fundo Familiar de Cuidados com o SIDA(FOCUS) no Zimbabwe é um dos poucos estudosonde a despesa a nível comunitário foi calculada edivulgada. Em 1996, este programa apoiava 3.192orfãos; as despesas elevavam-se a $26.000,51 por cento das quais eram dispendidas a nívelcomunitário em forma de assistência material (31 por cento), reuniões de voluntários (11 porcento), e incentivos (9 por cento); 49 por cento do subsídio do financiamento era gasto a nívelorganizativo em forma de salários (27 por cento),transportes (13 por cento) e outros encargos (9 por centro)

(Drew et al, 1998)

recursos e ‘tubos’ ou mecanismos por onde passamesses recursos financeiros.

Os fluxos de financiamento podem ser maisrepartidos.

Estruturas governamentais

Alguns governos criaram fundos nacionais para apoiar os que estão afectados pelo VIH/SIDA. Os governos adquirem uma soma limitada de dinheiro das receitas gerais e suplementam-na com o apoio orçamental de agências internacionais. A África do Sul é uma excelente excepção onde existe financiamento substancial do governo nacional e do sector privado.

Organizações internacionais

As organizações internacionais incluem as ONGinternacionais, as agências bilaterais e multilaterais.Elas angariam findos dos governos nórdicos, do sector privado e de contribuições individuais. Algumas gerem os seus próprios programas de apoiodirecto encaminhados para agregados familiares ecomunidades afectados, e podem igualmente prestarassistência indirecta através de projectos realizados ou controlados por ONG, por organizações baseadasna fé e por departamentos do governo local.

Os dadores internacionais têm certas vantagens emconceder subsídios a organizações mais pequenas. Elestêm acesso a grandes quantidades de dinheiro, têm

● E N T R A V E S E C O N T A - G O T A S

18

Agregados familiares afectados por SIDA

Chave

Financiamento directo

Financiamento indirecto

Financiamento públicoAgências bilaterais

e multilateraisEx. USAID, DFID, Banco Mundial

Receitas

Estruturas Governamentais

NGOs internacionais

NGOs locais Governo local

Grupos a nível comunitário

Gravura 4: Os fluxos de recursos a comunidades e agregados familiares

19

4 D E S P E S A S C O R R E N T E S D O V I H / S I D A E E N T R E G A D E F I N A N C I A M E N T O S ●

O Fundo Nacional Fiduciário do SIDA do Zimbabwe

Em 1999, o Governo do Zimbabwe introduziu umataxa do SIDA a contribuintes, representando três porcento da suas contribuições de imposto, para abrandaro impacto do SIDA e dar uma fonte de rendimentopara aqueles cujas vidas foram afectadas por estadoença pandémica. Foi criado um Fundo NacionalFiduciário do SIDA (FNFS) sob a responsabilidade doConselho Nacional do SIDA (CNS). Essa taxa e fundofiduciário foram introduzidos parcialmente para evitarque se contasse demasiado com o financiamento dedadores que, se fossem impostas estratégias ocidentais,podiam comprometer as respostas do governo ou se,mais tarde, por razões políticas, esses doadoresabandonassem os projectos; uma outra consideraçãoera a de reforçar iniciativas locais para com a epidemiae assistir as actividades de mitigação – áreas em que serecebe pouco apoio de dadores. Até 2002, o valorcumulativo obtido era Z$6 bilhões (US$1,7m). Asdespesas aumentaram de Z$160m em 2001 paraZ$1.626m em 2002 e para Z$4.238m em fins de 2003,durante um periodo caracterizado por hiperinflação. Osrecursos financeiros foram inicialmente desembolsadospara ONG e grupos de apoio a PVVS e utilizados paraeventos tais como dramas, grupos de trabalho e cursosde recapitulação. As organizações de membrosutilizaram os recursos financeiros para pagar propinas,obter medicamentos ou iniciar projectos que pudessemgerar rendimentos.

As auditorias constataram que a contabilidade não era efectuada e que o CNS tinha uma capacidadeorganizativa inadequada para administrar o FNFS demaneira efectiva e eficiente. Uma auditoria especial

realizada depois dos recursos financeiros terem sidoabusados pela Rede Nacional do Zimbabwe paraPessoas Seropositivas concluiu que haviam poucasprovas de que os recursos financeiros tinham atingidoos beneficiários pretendidos, e que tinha havido poucasvisitas de controlo. As outras auditorias especiaisrealizadas nos escritórios do governo provincial edistrital resultaram em processo criminal por abuso derecursos financeiros. Após estes casos, o sistema dedesembolso centralizado foi substituído por um sistemadescentralizado. Este é gerido pelo CNS, através de 11 comités de acção SIDA provinciais e 84 distritais,com outros comités a níveis de bairros e aldeias. Osistema de desembolso é apoiado por coordenadoresdo SIDA empregados pelo CNS, a trabalhar emescritórios do governo de cada distrito e a nívelprovincial, e os coordenadores do SIDA estãodependentes dos conselhos do estado locais.

O abuso e o controlo dos recursos financeiros e a falta de experiência em programação são problemasrelacionados com o FNFS. Alguns conselhos rurais não têm aptidão estratégica para o VIH/SIDA edistribuiram os Z$20m (US$6.000) que recebem todos os trimestres para cerca de 30 bairros em cadadistrito, os quais em seguida dividem os recursosfinanceiros pelas cinco a dez aldeias de cada bairro.Embora haja informação de recursos do FNFS quetenham sido utilizados para apoiar iniciativas dacomunidade, pouco se ouve sobre a utilização derecursos financeiros e existem poucas informaçõessobre o abuso destes.

Baird S., 2005

Enfraquecendo estratégias de sobrevivência comunitárias

Uma organização baseada na comunidade numa árearural remota mobilizou voluntários que estavam a darum apoio compreensivo a crianças vulneráveis. Umaorganização estabelecida na cidade decidiu começar a formar membros da comunidade nesta área paraestabelecer actividades de apoio a crianças órfãs evulneráveis. Não houve nenhum contacto com aorganização local, nem foi reconhecida a existência ou o programa dessa organização local. A organização

da cidade fez pagamentos substanciais a membros dacomunidade que participavam no grupo de trabalho,enfraquecendo deste modo a voluntariedade que tinhasido desenvolvida pela organização da comunidade e arriscando comprometer a posse comunitária dasactividades de apoio a crianças que tinham vindo a ser meticulosamente estabelecidas durante algumtempo.

(Foster, 2002)

● E N T R A V E S E C O N T A - G O T A S

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conhecimentos das melhores práticas de programação,experiência e competência em conceder subsídios, ecapacidade de prestar apoio técnico a concessionários.Mas os subsídios internacionais também têm algunspontos fracos: as decisões para financiamentos podemnão estar de acordo com as políticas nacionais; asdecisões são normalmente tomadas por estrangeirosem vez de organizações locais, desencorajandoarticulações e resonsabilidades nacionais ; os processosenvolvem frequentemente abordagens de ‘projectos’para o desenvolvimento geridos do exterior, ossubsídios são muitas vezes limitados a curta duração; eos dadores podem impor às comunidades locais as suaspróprias estratégias e valores (Williamson et al, 2002).

Em teoria, os mecanismos estabelecidos a nívelnacional para conceder subsídios apresentam vantagenssobre as estruturas de concessão de subsídios

internacionais, devido à sua proximidade com ospotenciais concessionários, à sua promoção dearticulações nacionais e à sua consideração pelosvalores e necessidades locais.

Foram estabelecidos novos canais para distribuirrecursos financeiros do Fundo Global e do BancoMundial, com financiamentos destinados a apoiarcomunidades afectadas pelo SIDA (Fundo Global eBanco Mundial 2004). O Fundo Global declara: ‘Paraa preparação e execução de propostas, o Conselho deInspecção Técnica procura propostas que dêem adevida prioridade a grupos e comunidades maisafectadas e/ou expostas a riscos, incluindo o reforço da participação de comunidades e pessoas infectadaspelas três doenças.’ Taylor (2005b) chama a atençãopara o ponto fraco que caracteriza esta declaração, no que diz respeito à sua falta de pormenor sobre

A Fundação do SIDA da África do Sul (AFSA)

A AFSA já há muito tempo que reconheceu que asmais pequenas ONG e as OBC enfrentam doisgrandes problemas que retardam a sua capacidade paradesempenhar e prestar serviços efectivos e sustentáveisàs suas comunidades: recursos inadequados paratrabalhar o mais efectivamente possível, e umacapacidade limitada para planear, introduzir, controlar eavaliar as suas intervenções de maneira eficaz. A AFSAcompromete-se a financiar concessionários das ONG edas OBC a prazos mais longos (três anos) e reforçaestas organizações através do seu apoio técnico e doprograma de reforço da capacidade.

O ímpeto do programa é para criar níveis adequadosde sustentação, permitindo a organizações de seconcentrarem a prestar serviços efectivos e nãogerirem crises de financiamento. A abordagem daFundação para o reforço da capacidade e apoio técnicotoma a forma de ‘instrução’ e apoio, estabelecendorelações estreitas de trabalho entre a Fundação e cada projecto financiado. Um membro do pessoal do

projecto da Fundação visita cada projecto quatro vezesao ano. Estas visitas dão oportunidade à Fundação paracontrolar o progresso, identificar as áreas problemáticase para fornecer apoio a projectos no terreno. De igualmodo, todos os anos, a Fundação organiza semináriospara o reforço da capacidade do quadro do pessoal deorganizações concessionárias, com a duração de quatrodias cada, assim como dois seminários para gestores edirectores destas organizações. A AFSA relata que asorganizações por ela apoiadas demonstraram umamaior capacidade estrutural, uma aptidão para gerir assuas finanças e para utilizar recursos efectivamente, umacapacidade para planear, executar, controlar e avaliar oseu trabalho e uma capacidade técnica para executarprogramas efectivos e importantes. Por sua vez, estasmelhorias permitiram às ONG e às OBC prestaremserviços VIH/SIDA de boa qualidade. Até Setembro de2001, a Fundação do SIDA apoiava 45 organizações noKwaZulu Natal, no Free State e em Mpumalanga.

(Referenciado no Williamson et al, 2002)

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4 D E S P E S A S C O R R E N T E S D O V I H / S I D A E E N T R E G A D E F I N A N C I A M E N T O S ●

o valor dos recursos financeiros que atingem os grupos comunitários. O componente principal domecanismo de entrega do Fundo Global é oMecanismo de Coordenação do País (MCP), uma‘mesa redonda’ utilizada para preparar propostasbaseadas em necessidades prioritárias a nível nacional.Os MCPs são fundamentais para o compromisso do Fundo Global para com a propriedade local, osprocessos participativos de tomada de decisão e ocontrolo do progresso da execução. Os MCPs devemser representativos incluindo o governo, as agênciasbilaterais e multilaterais, a sociedade civil, asinstituições académicas, o sector privado, pessoas aviver com doenças e organizações baseadas na fé,embora em casos em que os MCPs se distinguem dos Conselhos Nacionais do SIDA constituidos pelo governo, têm por vezes sido dominados porrepresentantes do governo com representantes não-governamentais a serem nomeados através de processos que não têm sido inteiramentetransparentes.

Metade dos recursos financeiros do MAP do BancoMundial são reservados para fins não-governamentais.O chefe do Banco Mundial declarou que esteprograma insere 30.000 OBC (Wolfensohn, 2004). O Director do programa VIH/SIDA explicou: ‘Umempréstimo ou subsídio bancário vai para o governo, eé o governo central que distribui o dinheiro através dosseus canais. No MAP, nós dispendemos muito tempo apreparar o sistema de canalização financeira através doqual 40 a 60 por cento dos recursos vão directamentepara a comunidade’ (Cashel, 2003). É louvável que apolítica do Banco Mundial confirme a necessidade deconceder recursos directamente a comunidades que seencontrem na vanguarda de iniciativas para o SIDA.No entanto, os mecanismos criados recentemente, tais como os programas nacionais, têm que superarquestões operacionais antes do dinheiro poderverdadeiramente chegar às comunidades. O relatórioprovisório do MAP de 2004 encontrou pontos fracosna governação, nos procedimentos e na falta deabordagens em vários sectores, indicando de igualmodo que não haviam sistemas de controlo e de

avaliação a nível nacional nem incentivos para os criar(Banco Mundial, 2004).

Ainda se confunde quando se refere a ‘comunidade’,um termo frequentemente utilizado como sinónimo de ‘não governamental’. Dar-se dinheiro a uma ONG não é o mesmo que dar recursos financeiros à‘comunidade’; mais pròpriamente, devemos considerarque tipo de dinheiro está na realidade a aproximar-semais perto do terreno e não introduzir OBC queestejam a trabalhar dentro das suas comunidades.

Organizações intermediárias

Poucos grandes doadores utilizam os seus mecanismospara concessão de subsídios para apoiar directamentegrupos comunitários. Normalmente, os doadores quepretendam canalizar recursos para grupos comunitáriosutilizam organizações intermediárias, utilizando umasérie de estruturas e de organizações locais.

A seguinte lista descreve várias estruturas distintas.Apresenta uma descrição breve dos principais aspectos e examina as vantagens e desvantagens decada estrutura.

Dominar organizações baseadas nacomunidade

As organizações do exterior, ao pretender apoiariniciativas comunitárias, devem ter cuidado paraevitarem enfraquecer estratégias de adaptaçãocomunitárias. No Congo, existe um provérbio quediz: ‘Quando se pede chuva, lembrem-se deproteger as bananeiras’. Noutras palavras, aprestação de recursos externos pode, na verdade,se não se tiver cuidado, piorar a situação destruindoas iniciativas locais. As agências externas devemlembrar-se de que as iniciativas comunitáriasconstituem uma iniciativa de vanguarda paracrianças órfãs e vulneráveis, e devem planear o seuapoio nesse sentido.

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Tabela 1: Vantagens e desvantagens das diferentes estruturas de apoio

Estrutura Principais aspectos Vantagens Desvantagens

Comités de múltiplas • geralmente criados pelo • alcance visionário para o nível • falta de capacidade para classes governo, incluindo o governo o povo permitir o funcionamento MCPs, CNSs e a sociedade civil; a níveis • falta de cobertura compreensiva e execução de decisões de

nacional, distrital e sub-distrital; • incorporação dos principais reuniões de comités em geral, coordena actividades participantes a cada nível • politicalização de comités e VIH/SIDA, mas tem interesse • podem apoiar situações favoritismo em recomendaçõesparticular em crianças vulneráveis permissivas através do

• alguns procuraram agir como envolvimento governamental conselheiros de dadores examinando propostas ou propuseram que sejam utilizados comités para gerir ‘o conjunto’ que apoia grupos comunitários

Redes, orgãos globais e • redes nacionais ou sub-nacionais • alguns envolvem as principais • provoca competição entre orgãos coordenadores para crianças; podem ser organizações membros religiosos: formais (pessoal de secretariado • podem ter capacidade de apoio • favoritismo e estabelecimento Rede de Crianças e permanente) ou informal técnico de prioridades de membros Necessitadas (Zâmbia), (secretariado rotativo) • capazes de determinar a com influência Rede de Organizações • facilitar a troca de informações, legitimidade e capacidade • falta de capacidade e de A Trabalhar para apoiar a colaboração, o apoio, reforço do requerente para experiência para controlar a Crianças Órfãs e Vulneráveis da capacidade, investigação e o financiamento utilização de recursos (Etiópia), Aliança de Igrejas por vezes distribuição de • cobertura limitada e falta de para Orfãos (Namibia) e financiamentos inclusão de grupos comunitários Orfãos através de Mãos • o número de membros pode Estendidas do Zimbabwe. incluir ONG, OBC, governo

nacional ou local, grupos baseados na fé

• alguns recebem financiamento de dadores para concederem a outrém; outros aconselham a associar dadores a requerentes;podem determinar a qualidade e consistência das propostas com as políticas nacionais

continuado oposto

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4 D E S P E S A S C O R R E N T E S D O V I H / S I D A E E N T R E G A D E F I N A N C I A M E N T O S ●

Tabela 1 continuado

Estrutura Principais aspectos Vantagens Desvantagens

ONG intermediárias • tem experiência para servir • forte capacidade de gestão • potencial para despesas gerais (ou organização de apoio de intermediário entre grupos e responsabilidade fiscal elevadas, especialmente ONG a OBC/ONG) do povo e organizações de • compromisso para o reforço internacionais Aliança Internacional do financiamento da capacidade dos parceiros • cobertura limitada VIH/SIDA, Initiativa Privada • funções intermediárias • possibilidade de facultar uma • envolvimento selectivo de e Comunitária contra o incluem formação, reforço da mistura apropriada de apoio grupos comunitários SIDA (Burkina Faso), capacidade, advocacia, partilha técnico e financeiro Fundo Familiar de Cuidados de informações, moderação de SIDA (Zimbabwe) e redes e articulações entre Agências Privadas a Cooperar comunidades, canalização de em conjunto (Etiópia) recursos ou concessão de

subsídios • poucos fornecem reforço da

capacidade a grupos comunitáriosfora do seu programa de prestação de serviços

• poucos incluem concessão de subsídios a OBC devido à falta de recursos, experiência na gestão de subsídios, e preocupação que a concessão de subsídios possa alterar as suas relações com outras organizações

Fundo nacional ou da área • maior alcance, sub-nacional • orgãos de tomada de decisão • pode não ter acesso a redes que ou fundação através do país ou geográfico com conhecimentos das alcançam o nível do povo ou só Fundo Fiduciário para Acção estabelecido dentro da estrutura condições locais financeiam ONG resultando em Social do Tanzânia, Fundo das existente para concessão de • trabalha ou colabora com ter dificuldades na tomada de Crianças de Nelson Mandela subsídios estruturas existentes ou redes decisões sobre propostas a (África do Sul), e o Fundo • criação de fundação ou fundo com ligações a nível do povo financiar de Acção Social do Malavi independente com o fim • subsídios de acordo com as • despesas gerais mais elevadas do

específico de promover e apoiar políticas e com os planos que mecanismos menos formais crianças vulneráveis ou de apoiar nacionais devido à necessidade de pessoal iniciativas globais para VIH/SIDA • fornece um único meio para de gerir os desembolsos,

• orgãos de tomada de decisão doadores apoiarem comunidades assegurar responsabilidade e com representantes de orgãos • pode distribuir subsídios fornecer reforço da capacidade governamentais, organizações da pequenos e grandes que atingem • exige competências elevadas tais sociedade civil e/ou empresas grandes quantidades de grupos como instalação do Conselho,que estabelecem critérios para do povo concessão do subsídio e reforço avaliação de propostas da capacidade

• recebem propostas directamente de grupos comunitários ou através de orgãos intermediários,que podem aconselhar ou decidir sobre propostas locais

• recebem financiamento de dadores e/ou geram recursos através de investimentos do sector privado ou empréstimos

• podem ter capacidade para administrar formação e outros tipos de desenvolvimento organizativo

É evidente que os recursos externos para o VIH/SIDAse estão a proliferar e que as iniciativas comunitárias se alargam. Contudo, os dois processos funcionamquase separadamente, apesar da vontade declarada dos doadores para canalizar recursos para o nívelcomunitário. Como foi indicado anteriormente, anossa investigação dentro do país encontrou muitospoucos exemplos de mecanismos efectivos paracanalizar recursos para organizações a nível

comunitário e responsáveis por crianças vulneráveis.Nem os doadores, nem os departamentos do estado,nem as ONG intermediárias nem os gruposcomunitários puderam exemplificar mecanismosefectivos para canalizar recursos para um grandenúmero de grupos a nível comunitário.

Os sistemas através dos quais passam osfinanciamentos podem ser morosos, com os fundos

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5 Entraves nos mecanismos de entrega

Abordagens na Zâmbia

A Zâmbia levou uma abordagem inovadora para oFundo Global. Estabeleceu 4 Receptores Principaisrepresentando diversas abordagens para desembolsos:• Orgão Central da Saúde da Zâmbia – o braço

executivo do Ministério da Saúde • Associação de Saúde das Igrejas da Zâmbia

(CHAZ) – uma organização nacional baseada na fé • Ministério de Finanças e Planeamento Nacional –

que gere recursos financeiros para ministérios dosector público

• Rede Nacional do SIDA da Zâmbia – redeONG/OBC com alcance significativo emcomunidades locais.

A CHAZ é uma organização global de instituições desaúde de igrejas na Zâmbia. A sua rede de pessoal de saúde presta 30 por cento de toda a assistênciamédica na Zâmbia e 50 por cento de toda a assistênciamédica nas áreas rurais. Ocupava o primeiro lugar nas iniciativas do SIDA na Zâmbia e por conseguintedesempenhou um papel importante na preparação depropostas do Fundo Global da Zâmbia. Na proposta‘Round One’ (Tempo Um) da Zâmbia, o Fundo Globalfornecerá à CHAZ mais de $6m para iniciativas deapoio ao SIDA. A CHAZ passa estes financiamentos a 13 sub-recebedores, incluindo a ComunidadeEvangélica da Zâmbia (EFZ- Evangelical Fellowship of Zambia).

A EFZ é o secretariado duma rede nacional com maisde 100 igrejas e organizações. Alguns dos membros daEFZ são, eles próprios, associações eclesiásticas commilhares de congregações locais. Os primeiros recursosdo Fundo Global da EFZ elevaram-se a mais de$40.000 e cobriram os custos de instalação para a EFZ e os subsídios para 16 igrejas, permitindo quemelhorassem e continuassem com as iniciativasexistentes. Alguns destes subsídios foram utilizados para encargos periódicos e outros para pagamentosexcepcionais tais como os pagamentos de propinas ou a provisão de fardas.

A EFZ compromete-se a habilitar outras igrejas a criar iniciativas para o VIH e o SIDA.Tem vindo acompartilhar oportunidades e informações comeclesiásticos nas províncias. Para simplificar osrequerimentos, a EFZ preparou um questionáriosimples e que serve como modelo para propostas.Dois membros do seu pessoal encontram-sedisponíveis para aconselhar e assistir com propostas:em certos casos, visitam e preenchem o questionáriocom a congregação requerente. Em seguida, um sub-comité avalia as propostas concluídas. Como resultadodesta abordagem, a EFZ tem muitas propostas a seguiros seus trâmites e prevê que, nos próximos anos, oprograma aumente consideràvelmente.

(Taylor, 2005 a & b)

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5 E N T R A V E S N O S M E C A N I S M O S D E E N T R E G A ●

do governo central tomando caminhos complexosatravés de diversos departamentos e em seguida atravésde diferentes burocracias e de cascatas de organizaçõessub-contratantes. A cada etapa, uma percentagem, por vezes a maior parte do dinheiro disponível paraconceder subsídios é utilizado pelo intermediário paraas suas próprias iniciativas. Com tantas etapas noprocesso de financiamento, o valor do dinheiro queeventualmente se escoa para as comunidades – seexistir – é uma fracção mínima dos recursosdisponíveis ao início.

Alguns governos demonstraram que é possívelestabelecer com a sociedade civil parcerias definanciamento efectivas e superar as suas restrições de competências, como demonstra o exemplo da

Zâmbia a que nos referimos anteriormente. Mas nos países de estudo, as ONG executoras e osrespondentes comunitários expressaram a suafrustração com os mecanismos nacionais definanciamento. A apresentação de inúmeras propostas,a falta de comunicação, as demoras e a rejeição depropostas faziam parte de experiências comuns (Taylor, 2005 a & b).

As entraves na canalização de recursos para ascomunidades ocorrem a todos os níveis e em lugaresmuito diferentes. O diagrama que se segue indica ondeforam identificadas as principais entraves através deartigos em publicações e estudos levados a cabo emdiversos países. Referimo-nos explìcitamente a entravese fazemos recomendações.

Agregados familiares afectados por SIDA

Chave

Entrave

Financiamento directo

Financiamento indirecto

●✖

●✖

●✖

●✖

●✖ ●✖ ●✖ ●✖

●✖

Financiamento públicoAgências bilaterais

e multilateraisEx. USAID, DFID, Banco Mundial

Receitas

Estruturas Governamentais

ONGs internacionais

ONGs locais Governo local

Grupos a nível comunitário

●✖ ●✖ ●✖ ●✖

Gravura 5: Entraves nos fluxos de recursos a comunidades e agregados familiares

Entraves e recomendações

Entrave 1: Cuidar e apoiar crianças dentrodas suas comunidades não é prioridade altapara os doadores e os orgãos nacionais detomada de decisão

As estruturas internacionais consideram que ascomunidades são a vanguarda de apoio a crianças. Noentanto, este facto não se está a reflectir em recursosadequados para cuidar e apoiar os mais vulneráveis.

Necessita-se de mais trabalho para analisar os aspectosessenciais dos diferentes sistemas de financiamento etipos de organização financiadora, e para identificarquais os esquemas que melhor funcionam nosdiferentes contextos. Os mecanismos de financiamentoque promovem a propriedade local e perspectivas alongo prazo, e que prestam apoio técnico a pequenosgrupos para melhorar a sua capacidade de apoiarcrianças, parecem reforçar as reacções comunitárias. Os mecanismos efectivos que foram identificados neste estudo incluem as fundações comunitárias e as parcerias ONG–Governo.

Recomendação 1: o financiamento a longo prazodeve ser entregue para satisfazer as necessidadesdas crianças órfãs e vulneráveis

Os doadores3 e orgãos coordenadores nacionais4

devem :• Identificar mecanismos indígenas que comuniquem

bem com comunidades e que sejam capazes deobter dinheiro para as OBC, e investir nestesmecanismos para reforçar a sua habilidade deconceder subsídios e apoiar OBC.

• Avaliar uma variedade de mecanismos dedesembolso – incluindo o sector privado – para sedecidir quais permitem aos grupos comunitáriosapoiar as crianças vulneráveis de maneira maisrápida e eficiente

• Compartilhar as melhores práticas para financiar os programas COV com outros doadores e orgãosnacionais de tomada de decisão

• Comprometer-se a facultar recursos para aprogramação COV a longo prazo, como parte dasintervenções do VIH e SIDA a longo prazo.

Organizações intermediárias5 devem:• Comprometer-se ao ‘conta-gotas’ – compromisso

a longo prazo de recursos financeiros para OBC com aumentos incrementais à razão que as OBCpossam controlar.

Entrave 2: Os planos de financiamentoexistentes não se destinam a satisfazer asnecessidades das comunidades, dificultandoo acesso das OBC ao financiamentodisponível

Apesar da vontade declarada de doadores paracanalizar recursos para o nível comunitário, as OBCnão conseguem ter acesso a recursos disponíveis. A nível nacional, existe pouca coordenação entredoadores sobre a distribuição de recursos. A nível sub-nacional, os orgãos coordenadores de múltiplossectores nem sempre sabem quais recursos estãodisponíveis para iniciativas comunitárias. Quando asOBC são informadas sobre a disponibilidade derecursos e fundos, têm dificuldade em ter acesso a elespor causa da falta de informação e dos procedimentosadministrativos complicados.

Os respondentes das OBC identificaram muitosobstáculos para se requerer e obter financiamentos:dificuldades em identificar financiadores;incompatibilidade das actividades dos gruposcomunitários com os requisitos dos financiadores;complexidade em apresentar requerimentos; falta deinformação acerca do progresso dos requerimentos; edemoras em obter os financiamentos. As condições dofinanciamento são muitas vezes inflexíveis. As ONG eos dadores muitas vezes requerem um compromisso da parte das OBC para com as suas estratégias eprioridades. Isto reduz a posse comunitária de umainiciativa e compromete a sua sustentabilidade. Nestainvestigação, foram encontrados exemplos disto: aassistência médica comunitária e os esquemas pre-escolares que eram fortemente apoiados por doadoresmas ficaram arruinados quando o financiamento dosdoadores terminou.

As OBC sugeriram que os mecanismos definanciamento deveriam ser modificados de diferentes

● E N T R A V E S E C O N T A - G O T A S

26

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5 E N T R A V E S N O S M E C A N I S M O S D E E N T R E G A ●

maneiras: processos de requerimento mais simples;melhor informação sobre propostas; tamanhoapropriado do subsídio; financiamento a longo prazo;e flexibilidade na maneira como os subsídios são gastose o limite de tempo para os utilizar. Além disso, ofinanciamento deve ser acompanhado pelo reforço dacapacidade sob a forma de apoio técnico e formação.

Recomendação 2: É necessário mais investimentoa diferentes níveis do sistema de financiamentopara assegurar que os recursos atinjam ascomunidades e respondam ràpidamente àsnecessidades das crianças, arriscando onde fôrnecessário

Os doadores e os orgãos nacionais de tomada dedecisão devem: • conceber e anunciar um plano de financiamento

que indique como as diferentes etapas do sistemade financiamento se articulam, e que custos senecessita para o funcionamento efectivo a todos os níveis

• responsabilizar as ONG internacionais e nacionaispelo financiamento e o reforço das capacidadesfinanceiras e dos sistemas da OBC

• assumir riscos ao tentar sistemas para desembolsomais rápidos, utilizando redes existentes, incluindoorgãos coordenadores religiosos, e apoiando orgãosintermediários a serem capazes de concederpequenos subsídios

• apoiar as organizações intermediárias a sereminovadoras, tal como a oferecer ‘subsídios de risco’ a novos grupos (ver o exemplo que se segue)

As organizações intermediárias devem: • ajudar a reforçar a capacidade de organizações

locais em vez de elas próprias prestarem serviçosdirectos

• reforçar as capacidades e sistemas financeiros dasOBC

• assegurar que informações sobre recursos sejampostas ao dispôr das OBC utilizando os orgãos decomunicação apropriados e facilitando a troca deinformações

• simplificar sistemas de relatórios financeiros paraassegurar que pequenos valores de financiamento se movimentem ràpidamente

• apoiar os beneficiários da OBC para assegurar queo controlo de recursos seja executado e comunicadoa nível superior.

Entrave 3: O controlo e a avaliação doimpacto são fracos e o apoio paraprogramação de qualidade é inadequado

O controlo e a avaliação são fracos a todos os níveis do fluxo de financiamento. Nada resultará desimplesmente se dirigir recursos através dum sistemadeficiente, sem haver investimentos a todos os níveis.Sòmente quando a capacidade e confiança dasorganizações intermediárias fôr forte e o seu mandatoclaro, elas serão capazes de apoiar as OBC paraassegurar um impacto e cobertura apropriados.

As OBC não são capazes de satisfazer requisitos pararelatórios complexos porque não têm pessoalpermanente pago. A responsabilidade de assegurarqualidade, cobertura e resposta global cai sobre asorganizações que lhes fornecem apoio directo,geralmente uma agência governamental local, umaorganização baseada na fé ou uma ONG. As OBCnecessitam igualmente de apoio para alcançar os maisvulneráveis e para medir o impacto do seu trabalho nas vidas das crianças.

As organizações baseadas na comunidadecompreendem a situação no terreno e sabem quais as crianças que estão necessitadas. Para se atingirefectivamente as crianças mais vulneráveis ter-se-á que o fazer a nível comunitário com a participação das crianças.

Recomendação 3: O apoio técnico deve seraumentado a todos os níveis

Os doadores e orgãos nacionais de tomada de decisãodevem: • apoiar e conceder recursos a organizações que

prestam apoio técnico a OBC para melhorar amedição e efectividade do impacto

• controlar o desembolso de subsídios para assegurarque a distribuição de recursos a nível nacionalresulte em melhor medição do impacto a nívelabaixo do nacional

• promover o apoio às ONG para permitir que setransformem em organizações intermediárias

• assegurar-se que as crianças sejam incluidas naconcepção, no controlo e na avaliação deprogramas.

As organizações intermediárias devem: • desenvolver competências de apoio técnico, desde

a formação da OBC a pequenas concessões desubsídios

• introduzir mecanismos que possam avaliar aefectividade, o impacto e a capacidade dasintervenções das OBC

• investir em desenvolver a capacidade de OBC eONG a aumentar tanto o alcance geográfico comoo programático

• trocar idéias com as OBC acerca da preparação deprocessos adequados para concessão e controlo desubsídios.

Entrave 4: De momento, dispõe-se depoucos elementos para fiscalizar asdespesas governamentais

A boa programação COV requer informações paradeterminar onde ocorrem lacunas e para estabelecerprioridades nas despesas. Além disso, deve havermecanismos de controlo para, quando fôr necessário,permitir a administradores movimentarem dinheiroràpidamente. Os grupos comunitários devem estarenvolvidos na elaboração de estratégias definanciamento.

No entanto, a maior parte dos países só controlam ofinanciamento do VIH/SIDA para os ministérios desaúde ou para os Conselhos Nacionais do SIDA. Até àdata, não fomos capazes de desagregar as despesasgovernamentais para apoiar orfãos e outras crianças

que se tornaram vulneráveis pelo VIH/SIDA. Sem estainformação, não podemos avaliar devidamente aqualidade da resposta.

Recomendação 4: O financiamento VIH/SIDAdeve ser fiscalizado para se determinar quantoatinge as comunidades em benefício de crianças

Os doadores e os orgãos nacionais de tomada dedecisão devem:• estabelecer prioridades na fiscalização das despesas

VIH/SIDA com crianças órfãs e vulneráveis,particularmente abaixo do nível nacional, paraidentificar onde se requerem mais recursos

• assegurar que as informações sobre osfinanciamentos que na realidade atingem o nívelcomunitário estejam disponíveis, assim como oscustos operacionais de cada organização sub-concessora

• reforçar dentro do país a capacidade decontroladores independentes da despesa públicapara fiscalizarem o dispêndio de recursos

• incluir as OBC na elaboração de sistemas defiscalização

Notas

3 Doadores significa todos os doadores internacionais e nacionais e

doadores nacionais que concedem financiamentos para crianças

órfãs e vulneráveis.

4 Os orgãos nacionais de tomada de decisão incluem os Conselhos

Nacionais do SIDA, os Secretariados COV e outros orgãos multi-

sectoriais com responsabilidades para com as crianças órfãs e

vulneráveis.

5 Organizações intermediárias referem-se a orgãos governamentais

e não-governamentais que têm uma ligação directa com as OBC e

que são capazes de facultar tanto financiamento como apoio

técnico, e que aceitam ficar dependentes dos doadores.

● E N T R A V E S E C O N T A - G O T A S

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6 Conclusões

Até recentemente, a maior parte das reacções aosimpactos do VIH/SIDA têm-se manifestado a níveislocais e comunitários e não a níveis regionais enacionais, registando-se quase nenhumas a nívelinternacional (Barnett & Whiteside, 2002). Esteestudo realça o facto de que muitos doadores e orgãosgovernamentais têm poucos conhecimentos sobre ascontribuições feitas por grupos a nível comunitáriopara apoiar agregados familiares e crianças que setornaram vulneráveis pelo VIH/SIDA.

Apesar de ser evidente que existem entraves para ascomunidades terem acesso a recursos, é importantereconhecer que o sistema de canalização financeirapoderá ser igualmente demasiado poroso, com derramedevido ao fraco alcance de objectivos, ou sendo oreservatório financeiro esvaziado antes do dinheiro tercomeçado a ser utilizado. Os meios tubos por onde osrecursos financeiros e materiais são despejados podemser demasiado estreitos, ou os recursos podem ir para lugares onde eles não sejam necessários, ou narealidade, pode não haver nenhum tubo. No entanto,uma outra razão pela qual subsídios não estão a ser enviados a grupos comunitários pode ser a que os intermediários não queiram capacitar gruposcomunitários, e em vez disso procurem manter ocontrolo dos recursos financeiros. Isto pode acontecerpor causa da necessidade dos intermediários demanterem o seu nicho no mercado, ou indivíduos

que pretendam beneficiar pessoalmente de recursosfinanceiros que se destinam a beneficiar as criançasvulneráveis. Neste estudo, eram vulgares as atitudesnegativas acerca da capacidade de grupos comunitáriospara gerir fundos; um trabalhador duma ONGdeclarou: ‘Nada obriga os voluntários comunitários ase tornarem responsáveis pelos recursos financeiros.Até haverem mecanismos que os responsabilizem, elespodem fazer o que mais desejarem sem se importarempelo dinheiro que está a ser mal empregue’.

Existem entraves. As actuais distribuições de assistêncianão conseguem encaminhar-se para os gruposcomunitários, e é pouco provável que, pelo simplesfacto de se aumentar os fluxos de assistência,suficientes recursos possam vir a atingir o nívelcomunitário. Este relatório elucida a disparidade entreos crescentes recursos que estão a ser mobilizados ou adquiridos por doadores, por governos e pororganizações internacionais para mais iniciativas para o VIH/SIDA, e os valores actuais que estão a ser canalizados para os agregados familiaries e as comunidades afectados. Os habitantes locaiscomprometeram as suas próprias pessoas e os seusrecursos a ajudar crianças vulneráveis, e as agênciasexteriores têm uma oportunidade única para ajudarema reforçar as reacções comunitárias assegurando que osrecursos financeiros concedidos sejam canalizados paraestes grupos comunitários.

África do sul

Principais informadores

Fundação do SIDA da África do Sul; Rede de Crianças em Aflição; Departamento de Saúde do Município de Msundizi; O Fundo SEMENTE; Cuidados caseiros de Sinoziso;Formação e Recursos no Ensino da Infância;Conselho Regional Pastoral Zulu InterdiocesanoComité VIH/SIDA.

A nível do campo

Centro de Recursos Comunitários de Clermont; Fundo do Centro do SIDA de Hillcrest; Projecto de Auto-Ajuda do Centro Jabulani; Mini Centro de Cuidados em crise;Sociedade de Beneficiência para Crianças e Famílias naAutoestrada de Pinetown;Formação e Recursos no Ensino de Infância; Organização de Saúde de Vulamehlo

Moçambique

Principais informadores

Fundação para o Desenvolvimento Comunitário DFIDIniciativa HACI Clero de Mulheres e Acção Social Rede Moçambicana da Sociedade Civil para oVIH/SIDAConselho Nacional VIH/SIDARENSIDA (Rede Nacional de Pessoas a viver comVIH/SIDA)Save the Children EUA Save the Children Reino Unido UNICEFUSAID

A nível do campo

Associação Cristã para o DesenvolvimentoComunitário Centro de Reabilitação da Criança da Rua Grupo Comunitário de Gestão de Escolinhas de Incaia Lar da Rapariga Centro Dia e Centro Vocacional Mães de Mavalane Grupo Comunitário de Gestão de Escolinhas daPalmeira

30

Apêndice 1: Organizações e gruposentrevistados

31

A P Ê N D I C E 1 : O R G A N I Z A Ç Õ E S E G R U P O S E N T R E V I S T A D O S ●

Suazilândia

Principais informadores

Aliança da Iniciativa de Presidentes de Câmara paraAcção Comunitária para o SIDA a Nível Local(AMICAALL)Sociedade da Cruz Vermelha de Baphaladi CUIDADOS Nakekela Assembleia Coordenadora de ONGCabinete do Vice-Primeiro Ministro, Mulheres emDesenvolvimentoServiço de Desenvolvimento Luterano Conselho Nacional de Resposta a Emergências doVIH/SIDA (NERCHA)Assistência a Orfãos (CARITAS)Exército da Salvação Aldeia de Crianças SOS, Suazilândia Associação da Suazilância para Prevenção de Crimes eReabilitação de TransgressoresPNUD UNICEF USAID, Unidade da Paz Visão do Mundo da Suazilândia

A nível do campo

Viver Positivamente Suazilândia (SWAPOL)O lar da Gigi Centro Moya Estação de Cuidados do Campo Murray Centro Cristão de Ajuda e Reabilitação de Remar

Zimbabwe

Principais informadores

Serviços de Auxílio Católicos DFIDFundo Familiar para Cuidados do SIDA – Mutare Programa Nacional para Controle do SIDA ConselhoNacional do SIDA Fundação OakPACTPlano Internacional Save the Children Reino Unido Fundo do SIDA da África Austral UNICEFRede do SIDA do Zimbabwe Associação do Zimbabwe de Hospitais relacionadoscom Igrejas

A nível do campo

Programa Baptista para Cuidados a Orfãos Centro para Transformação Total Lar da Esperança de Hillside Conselho Nacional SIDA, Distrito de EpworthNova Fronteira Internacional Lar da Criança Novo Começo Rosa de Sarão Organização Unidade Rural para o Desenvolvimento Cuidados Rurais baseados em Casa do SekeFundo para Cuidados a Orfãos de Uzumba

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