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1º, 2 e 3 de junho de 2007 Bento Gonçalves / RS Conhecimento: Entre a Mercadoria e a Dádiva Nilson José Machado 1. Desequilíbrio: a crise na idéia de valor O desequilíbrio é a causa de muitas doenças, físicas ou mentais. No plano econômico, é a palavra-chave para a compreensão dos problemas mais candentes dos dias atuais, como a má distribuição de renda e o desemprego. De fato, de um ponto de vista global, o mundo vai bem. Somando-se o PIB de todos os países e dividindo-se pela população mundial, obtém-se algo entre 5000 e 6000 dólares, um número nada desprezível, em termos absolutos, algo como o dobro da renda per capita brasileira. Entretanto, quase a metade da população mundial vive com até cerca de 2 dólares por dia; um grupo de menos de 40 das mais ricas pessoas do mundo possui uma renda comparável à soma da renda dos 48 países mais pobres; e as 300 pessoas mais ricas concentram uma renda equivalente a cerca de 45% da renda do planeta. Ao que tudo indica, somos pródigos na produção e pífios na distribuição. Diariamente, toda a economia funciona de modo a produzir mais e mais desequilíbrios na distribuição do que se produz. As fusões de empresas em todas as áreas de atuação, dos bancos às cervejarias, reforçam a impressão de que os grandes serão cada vez maiores e os menores tenderão a desaparecer. Elementos aparentemente periféricos, como por exemplo, as loterias, contribuem de modo decisivo, no plano simbólico, para o aumento das desigualdades: diariamente, milhões de indivíduos contribuem para que algumas dezenas aumentem suas posses e apenas alguns poucos se tornem milionários. O esporte também entra com uma parcela expressiva nesse sinistro balanço. Em todas as modalidades, muitos se esforçam para financiar o sucesso de poucos. O princípio norteador é o do chamado “star system”: os vencedores levam tudo; aos perdedores, resta o sonho do dia da vitória. No caso da “distribuição” do trabalho, um desequilíbrio similar ocorre. Ao mesmo tempo em que o desemprego é considerado o mal do fim do século, o excesso de trabalho

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1º, 2 e 3 de junho de 2007 Bento Gonçalves / RS

Conhecimento: Entre a Mercadoria e a Dádiva Nilson José Machado

1. Desequilíbrio: a crise na idéia de valor O desequilíbrio é a causa de muitas doenças, físicas ou mentais. No plano econômico, é

a palavra-chave para a compreensão dos problemas mais candentes dos dias atuais, como a má distribuição de renda e o desemprego. De fato, de um ponto de vista global, o mundo vai bem. Somando-se o PIB de todos os países e dividindo-se pela população mundial, obtém-se algo entre 5000 e 6000 dólares, um número nada desprezível, em termos absolutos, algo como o dobro da renda per capita brasileira. Entretanto, quase a metade da população mundial vive com até cerca de 2 dólares por dia; um grupo de menos de 40 das mais ricas pessoas do mundo possui uma renda comparável à soma da renda dos 48 países mais pobres; e as 300 pessoas mais ricas concentram uma renda equivalente a cerca de 45% da renda do planeta. Ao que tudo indica, somos pródigos na produção e pífios na distribuição. Diariamente, toda a economia funciona de modo a produzir mais e mais desequilíbrios na distribuição do que se produz. As fusões de empresas em todas as áreas de atuação, dos bancos às cervejarias, reforçam a impressão de que os grandes serão cada vez maiores e os menores tenderão a desaparecer.

Elementos aparentemente periféricos, como por exemplo, as loterias, contribuem de modo decisivo, no plano simbólico, para o aumento das desigualdades: diariamente, milhões de indivíduos contribuem para que algumas dezenas aumentem suas posses e apenas alguns poucos se tornem milionários.

O esporte também entra com uma parcela expressiva nesse sinistro balanço. Em todas as modalidades, muitos se esforçam para financiar o sucesso de poucos. O princípio norteador é o do chamado “star system”: os vencedores levam tudo; aos perdedores, resta o sonho do dia da vitória.

No caso da “distribuição” do trabalho, um desequilíbrio similar ocorre. Ao mesmo tempo em que o desemprego é considerado o mal do fim do século, o excesso de trabalho

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também o é. Quem está trabalhando, encontra-se cada vez mais ocupado; quem está desocupado, cada vez tem mais dificuldade em encontrar uma ocupação remunerada.

Não se trata, naturalmente, de falta do que fazer. Cada um de nós mantém-se vivo em função dos projetos que pretende realizar. Na feliz expressão de Julián Marías, em sentido humano, “ser é pretender ser”. Ocorre que não se remunera as pessoas para fazerem o que desejariam fazer: o trabalho organiza-se em pacotes de ocupações remuneradas, socialmente valorizadas. E precisamente aí se encontra o cerne da questão: o desequilíbrio na distribuição de renda e o crescimento no número de desempregados constituem reflexos de uma mesma crise, que é a da idéia de valor.

Mesmo os indiscutíveis avanços na produção de tecnologias para poupar-nos o tempo dedicado a determinadas e inevitáveis tarefas do dia-a-dia não logram esconder a perspectiva de outro desequilíbrio patente: como somente se pode viver um dia por vez, não sendo possível "estocar" o tempo, cada vez mais tempo supostamente livre parece conduzir ao tédio, ao vazio, ou ao seu féerico preenchimento com a realização de um número cada vez maior de tarefas, o que faz com que cada dia tenhamos menos tempo disponível para nós mesmos.

Em sentido amplo, os desequilíbrios revelam-se em todos os âmbitos. Urge, por exemplo, que se reflita sobre o significado de pagar-se imensas quantias a um pequeno número de artistas ou desportistas para realizarem suas atividades, tão dignas de admiração ou de remuneração quanto as de um padeiro, de um médico, de um enfermeiro, de um professor ou de um lixeiro, enquanto grande parte da humanidade vive sem um mínimo de condições materiais. Urge refletir-se sobre o esvaziamento na valorização do reconhecimento público pelo que se faz, do aplauso, da distinção honorífica que não se pode traduzir em termos pecuniários, da dedicação ao serviço público que visa ao bem comum. O que, realmente, vale a pena?

Tudo vale a pena, se a alma não é pequena, já decretou o poeta. Entretanto, a redução de todas as formas de circulação de bens aos parâmetros do mercado produz um inevitável apequenamento da alma. O bem primordial em todas as épocas, que, além disso, hoje, transformou-se objetivamente no principal fator de produção, é o conhecimento. Os universos do conhecimento e do trabalho já não se podem mais separar nitidamente. Em sua produção e circulação, no entanto, o conhecimento tem sido tratado como uma mercadoria em sentido industrial, como um sabonete ou um automóvel. E aí parece encontrar-se a fonte de todos os desencontros, de todos os desequilíbrios, de todos os paradoxos. Mesmo sem negar sua dimensão mercadoria, o conhecimento é algo mais que isso. Além de seu valor de uso, ou de seu valor de troca, o conhecimento apresenta um indiscutível valor de laço. O conhecimento precisa estar a serviço das pessoas, de seus projetos. Sua circulação é uma fonte permanente de criação de laços. Assim como uma dádiva, ou um presente que se dá, não se deixam apreender

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minimamente quando são reduzidos ao seu preço, ou à sua dimensão mercantil, o conhecimento como um bem deve circular precipuamente para criar laços, para fazer as pessoas felizes. Explicitar tal fato é um dos objetivos fundamentais do presente texto.

O que aqui se pretenderá mostrar é o fato de que enquanto as metas econômicas se limitarem a maximizar a produção de bens de necessidade duvidosa ou artificialmente criada, não restam muitas esperanças de ultrapassagem da crise do desemprego em que estamos mergulhados. Insistimos na afirmação de que os números do desemprego constituem apenas a ponta de um iceberg, o sintoma mais evidente da mãe de todas as crises, que desorienta todos os projetos: a crise na idéia de valor.

O fato é que o pão de cada dia está cada vez mais difícil de se ganhar por meio do trabalho. Em toda parte, sobram braços ávidos por ocupações remuneradas, mas a engrenagem econômica produz cada vez mais valor utilizando cada vez menos braços.

A sensação é de absoluta impotência: o trabalho humano já não parece essencial para a criação de valor. Ou pelo menos o trabalho da maior parte dos humanos. Já se disse que a tecnologia desempenharia, na sociedade atual, o papel que os escravos desempenharam na sociedade grega. Ela substituiria o homem em trabalhos menos nobres, liberando-o para o lazer, para atividades criativas, ricas em significações. Mas não é o que parece estar ocorrendo.

Quem perde o emprego, sente-se desnorteado. Apoiado ou não pelo Estado, a sensação é de desconforto. Se a expectativa de transitoriedade da situação de desemprego se desvanece, a vida torna-se carente de significações. O tempo ocioso não favorece minimamente os momentos de lazer. A angústia e o desamparo tomam o lugar dos sonhos, das ilusões, dos projetos.

Onde estará a saída, se é que existe alguma?

Sem dúvida, ela não está na recusa da tecnologia na substituição do trabalho humano, naquilo em que pode substituí-lo. Ainda que alguns clientes continuem a merecer um atendimento personalizado, os caixas automáticos continuarão a reduzir o número de bancários. Se eles eram infelizes em razão das tarefas insípidas, infinitamente repetidas, agora o são pela perda do emprego. Mas os computadores devem ocupar cada vez mais espaço em tais tarefas. Também telefonistas, frentistas de postos de gasolina, como tem ocorrido com os digitadores e muitas outras ocupações, deverão desaparecer em poucos anos.

Algumas ocupações resistirão à substituição, com toda certeza, mas não será a regra. O magistério, por exemplo, deverá resistir. Fala-se muito de “educação a distância”. Trata-se de uma expressão enganadora. A educação sempre foi e sempre será uma atividade que se realiza em um sistema de proximidades. A relação professor-aluno não se efetiva senão em um tal sistema. Os

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computadores podem estar transformando o significado de proximidade. A vizinhança geográfica dá lugar à vizinhança de significações. Posso sentir-me mais próximo de alguém situado do outro lado do mundo, com quem me correspondo eletronicamente todos os dias, em razão de interesses comuns, do que de um vizinho com quem nada mais partilho, senão o espaço físico.

De modo geral, no entanto, o movimento nítido ocorre no sentido da diminuição dos postos de trabalho. Em alguns setores, tal diminuição apresenta características dramáticas. Há muito que a porcentagem da força de trabalho ocupada na produção agrícola é decrescente no mundo inteiro, tendendo, hoje, a algo entre 2 a 5% nos países industrializados. Também a indústria ocupa cada vez menos mão de obra, com a crescente automação dos equipamentos, declinando para pouco mais de 10% sua participação na força de trabalho, nos países de economia de ponta. Mesmo com a crescente automação dos serviços, a única participação sistematicamente crescente é a do setor de serviços, incluindo-se aí os trabalhadores da Educação, que lidam essencialmente com o conhecimento. Há quem prediga, inclusive, como Adam Schaff em A Sociedade Informática (1987), que ensinar e aprender constituirão o padrão das ocupações futuras, ou seja, mais diretamente, que o futuro do trabalho é a Educação.

Não é por acaso, portanto, que os universos do conhecimento e do trabalho têm se aproximado tanto, nas últimas décadas. E é por essa razão que uma reflexão sobre a crise na idéia de valor, que afeta a sociedade em sua totalidade, precisa iniciar-se pela análise do modo como o conhecimento tem sido tratado no universo do trabalho, ou da economia. É a tarefa a que nos dedicaremos a partir de agora. Posteriormente, analisaremos mais especificamente certas questões associadas à circulação, à "distribuição" desse bem, uma vez que essa é a função primordial da Educação.

2. O conhecimento e a Economia da Informação

Vivemos imersos numa economia em que o conhecimento transformou-se, efetivamente, no principal fator de produção, constituindo o elemento fundamental na composição do preço final dos produtos mais expressivos da época atual. Em um automóvel, por exemplo, um produto típico da economia industrial, o peso da matéria-prima no custo final do produto é, ainda muito alto, podendo chegar a cerca de 30%, mesmo numa fábrica com alto índice de automação. Já em um computador, um produto diretamente associado à nova economia, o peso da matéria-prima na composição final é muito mais modesto, beirando os

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meros 3%; em um software, atinge menos do que isso. Nesses casos, o que se paga ao adquirir o produto, é, muito mais explicitamente, o conhecimento nele incorporado. A questão fundamental que subjaz é: como se atribui valor a tais produtos? Como o conhecimento incorporado é calculado, no âmbito do mercado? Para que se tenha uma idéia de como a teoria econômica vem respondendo a tal questão, faremos uma breve incursão em um texto atual denso e expressivo, característico dos princípios que subjazem à moderna Economia da Informação: trata-se do livro Knowledge Assets, de Max Boisot (1998).

De acordo com Boisot, o conhecimento pode ser representado por um ponto de um espaço tridimensional; em cada um dos eixos, os valores crescem de 0% a 100%. As dimensões de tal espaço são caracterizadas pelos eixos concreto/abstrato, não codificado/codificado, e difundido/não-difundido.

A quantificação operada no eixo concreto/abstrato traduz a seguinte pressuposição: quanto mais concreto é o conhecimento, no sentido de ser referido a um contexto bem determinado e somente a ele, menos valor ele tem; quanto mais abstrato, no sentido de que pode transitar de um contexto para outro, podendo realizar-se em múltiplos contextos, mais valor ele representa. Se, por exemplo, um aluno "conhece" que 3 abacaxis mais 4 abacaxis somam 7 abacaxis apenas no "contexto" abacaxis, não sabendo calcular quanto dá a soma 3 bananas mais quatro bananas, então, efetivamente, seu "conhecimento" não vale coisa alguma, ou vale muito pouco. A capacidade de abstrair o contexto, apreender as relações fundamentais e referi-las a outros, a múltiplos contextos significa um conhecimento mais valioso. Na Economia ou na Educação, tal pressuposição parece natural e aceitável.

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O segundo eixo no referencial de Boisot na atribuição de valor ao conhecimento é o eixo não-codificado/codificado. Se sei realizar determinada tarefa em determinado contexto e não sou capaz de representar o que sei por escrito, ou de recorrer a algum tipo de codificação de modo a possibilitar que outras pessoas também sejam capazes de aprender a realizar o que faço, então meu conhecimento vale pouco. A capacidade de codificar meu conhecimento possibilita ao mesmo ser transformado em um produto e inserido no mercado na forma de livros, softwares ou outros meios, sendo possível extrair valor do mesmo. Também aqui parece haver certa convergência entre as pressuposições econômicas e as educacionais, uma vez que a escolarização formal visa, de alguma forma, ao desenvolvimento da capacidade de codificação em diferentes linguagens: língua materna, matemática, informática, entre outras. Um adulto pouco escolarizado procura a escola, muitas vezes, justamente em busca de incrementar sua capacidade de codificação.

É no terceiro eixo do referencial de Boisot, no entanto, que o escorpião mercado mostra seu veneno. A pressuposição de que um conhecimento amplamente difundido de nada vale, no sentido de que, dele, já não se pode extrair valor, enquanto que algo desconhecido por todos apresenta potencialmente muito valor pode ser perfeita para os mecanismos do mercado, mas é absolutamente inadequada no terreno educacional.

De fato, o conhecimento é um "bem" cuja circulação parece impossível de compreender-se, à luz de tal pressuposição, o mesmo ocorrendo com a compreensão das relações entre professores e alunos no contexto educacional. Mesmo no âmbito do mercado, a idéia de "esconder" o que se sabe, ou dificultar o acesso a determinado conhecimento, condicionando-se, por exemplo, o acesso a um software à compra de um hardware, pode funcionar dentro de certos limites, mas facilmente provoca o estiolamento do mesmo e a conseqüente diminuição de um valor que se queria aumentar.

Como se pode depreender, o referencial que sustenta a atribuição de valor aos produtos na Economia da Informação baseia-se inteiramente no tripé concreto/abstrato, não codificado/codificado, difundido/não difundido. Em decorrência, o valor mínimo do conhecimento corresponde a algo que se sabe fazer apenas concretamente, em determinado contexto, que não é codificado, não podendo ser transmitido a outrem de modo explícito, e que todos conhecem, não havendo a possibilidade de comercialização, ou de extração de valor. Conversamente, o valor máximo é atribuído a um conhecimento abstrato, no sentido de que pode ser aplicado em múltiplos contextos, que é codificado, o que viabiliza a publicação e a comercialização, e que ninguém, ou poucos conhecem, o que significaria uma grande interesse, ou uma demanda garantida. Tais configurações, ainda que efetivamente eficazes no que se refere ao lançamento de produtos de natureza tecnológica no mercado, podem conduzir - e muitas vezes conduzem - a certas situações paradoxais, em decorrência das características especiais do

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tipo de "mercadoria" que o conhecimento representa. Examinaremos, a seguir, algumas de tais características.

3. Conhecimento como mercadoria: limites A produção e a circulação de mercadorias baseiam-se em certos princípios que são

apenas parcialmente aplicáveis ao conhecimento, ou então que são absolutamente impertinentes em tal universo. A materialidade, a fungibilidade, a objetivação, a estocabilidade, a confiança e a equivalência constituem alguns terrenos onde a "mercadoria" conhecimento parece derrapar.

De fato, se disponho de certo conhecimento e alguém se mostra interessado em comprá-lo, posso negociar o preço considerado justo e vendê-lo: no entanto, diferentemente de uma mercadoria em sentido industrial, o comprador fica com ele, mas não fico sem ele. Como se pode lidar com um "bem" que posso vender, ou mesmo dar ou trocar, sem ficar sem ele? Esse caráter imaterial do conhecimento viola de modo inexorável certas expectativas mercantis.

Também não parece simples a assimilação de um fato fundamental: o conhecimento é um "bem" que não se gasta, que não é fungível, e de que se pode dizer, inclusive, que quanto mais uso, mais novo fica. Algumas vezes, pretende-se disseminar a necessidade de uma formação continuada em razão do que seria um crescimento acelerado da "quantidade" de conhecimento disponível, ao mesmo tempo em que haveria uma espécie de caducidade, ou de obsolescência do conhecimento de que se dispõe. Quase sempre, quando isso ocorre, existe um uso inadequado dos termos em questão, confundindo-se conhecimento com a mera disponibilidade de dados, que podem ser acumulados sem muita dificuldade, ou mesmo das informações, que podem circular em quantidades cada vez maiores. Mas o conhecimento é mais que o mero dado, ou a simples informação. Conhecimento pressupõe a teoria, ou a visão que leva à compreensão, e não é possível conceber-se que, uma vez que tenhamos visto, deixemos de ver, mas apenas que nossa visão se transforme, que atualizemos nosso ponto de vista, o que é favorecido pelo uso, pela vivência, pela prática do conhecimento. A obsolescência planejada que subjaz ao funcionamento do mercado não pode conviver bem com tal característica do conhecimento.

Um outro terreno especialmente pantanoso, que tangencia o da materialidade mas é independente dele, é o da objetivação. A questão de base é o fato de que o conhecimento é sempre pessoal, não sendo passível de objetivação fora das pessoas que o produzem. Quem compra uma Enciclopédia não compra conhecimento, mas apenas representações codificadas do mesmo, que não se objetivarão senão nas pessoas que a elas recorrerem. Tal questão foi

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examinada de modo percuciente por Michael Polanyi em seu seminal livro Personal Knowledge (1958). Um atestado veemente de que o universo da economia e das empresas já algum tempo já se conscientizou de tal fato pode ser obtido ao observarmos a bibliografia de referência da grande quantidade de livros publicados sobre o conhecimento como um "ativo" em sentido econômico: A criação do conhecimento na empresa, Capital intelectual, A nova riqueza das organizações, Ecologia da informação, entre outros; em quase todos eles, a referência aos trabalhos de Polanyi está presente. Já vai muito longe a época em que visões simplificadoras como as que sustentavam a intenção explícita de operações de downsizing, ou da substituição pura e simples de pessoal em busca de diminuição de custos ignoravam solenemente a pessoalidade do conhecimento, ou o fato de que um trabalhador que se vai leva consigo uma bagagem de conhecimento, de cultura da empresa. Sem abdicar das intenções originais da acumulação intensiva, as empresas buscam agora organizar-se de modo a explorar o conhecimento tácito, reconhecidamente valioso, que todo trabalhador apresenta, incorporado em sua pessoa, antes do momento de despedi-lo.

Diretamente associado com as três características anteriormente referidas - materialidade, fungibilidade e objetivação -, o terreno da estocabilidade apresenta, no entanto, uma conotação especial, diretamente associada à possibilidade da prefiguração de um estoque. Certamente, na dinâmica do mercado, a regulação dos estoques conduz à flutuação dos valores e à fixação dos preços. Um produto raro, no sentido da parca disponibilidade, vale mais, enquanto o excesso de oferta traduz-se numa diminuição natural dos preços. Quando se lida com uma mercadoria como o conhecimento, como se pode falar em estoque? Quem é capaz de estimá-lo, ou mesmo de avaliar sua finitude/infinitude? Como se pode controlar o estoque e a produção de algo cuja característica mais própria é o permanente transbordamento das expectativas planejadas, cujo resultado mais previsível é a produção de efeitos do tipo serendipity, ou seja, de resultados que não eram inicialmente previstos?

Outro aspecto que delimita o tratamento do conhecimento como mercadoria é a confiança mútua que deve existir entre os negociadores. De fato, mesmo no terreno simples da mera informação, se disponho de alguma que considero valiosa para meu interlocutor e lhe ofereço, ele terá que decidir sobre se compra ou se não se interessa em função da confiança ou desconfiança em mim; não posso revelar a informação à venda, para que decida a posteriori se quer ou não comprá-la, sob pena de não ter mais o que vender. De uma forma ou de outra, toda transação monetária repousa em alguma confiança na moeda, que era objetivamente fundada, em tempos idos, no lastro em ouro que sustentava a mesma. Há mais de 30 anos, no entanto, tal necessidade de lastro encerrou-se e se um tresloucado governante de uma grande potência conseguir driblar as autoridades monetárias, traindo a confiança do mercado e emitindo uma quantidade descabida de moeda, a economia mundial corre o risco de sofrer abalos sísmicos de

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monta. Especialmente no caso das transações envolvendo o conhecimento, no entanto, a própria natureza do "produto" determina que, sem a confiança mútua, não há negociação possível.

Examinemos, agora, a pressuposição da equivalência que subjaz a toda transação mercantil. O mercado foi revolucionário, em sua origem. Ele contribuiu para o rompimento de uma estrutura de relações sociais e de poder que determinava ou condicionava fortemente quem poderia possuir o quê. Com o mercado, se disponho de dinheiro, busco o produto desejado, que deve estar disponível, oferecido pelo produtor. Se pago o preço considerado justo, realizo uma troca de equivalentes; nada fico a dever ao vendedor e a mercadoria agora me pertence. Ao lançarem um produto no mercado, os produtores desvinculam-se dele; dispondo de recursos, posso comprar quase tudo o que quiser, o que pode ser considerado tanto um bem quanto um mal. Naturalmente, há o que não tem preço, o que não pode ser comprado, o que resiste às leis e pressuposições do mercado, mas os tentáculos mercantis avançam continuamente em todas as direções com uma voracidade assustadora. A inclusão do conhecimento em seu âmbito, sem dúvida, provoca certo desconforto.

Ainda que de cunho filosófico, trata-se de uma questão essencialmente prática. Afinal, o mercado, que volatilizou os laços sociais enrijecidos por estruturas pré-determinadas, transformou-se, ao fim e ao cabo em um grande laço, em um único laço, que inclui uns e exclui muitos, que seduz quase todo mundo, reduzindo o quadro de valores ao cálculo de preços, concentrando as riquezas e esgarçando o tecido social. E uma questão que explicitamente se coloca é até que ponto o conhecimento pode ser inserido automaticamente num quadro como esse, desvinculado de seu produtor, tanto em razão da pessoalidade do mesmo, ou da impossibilidade de objetivação, quanto em decorrência dos laços que naturalmente impregnam sua produção. Ao lançá-lo no mercado, como uma televisão ou um creme dental, com o apoio e o estímulo da propaganda, como se pode lidar com a atribuição de valor? O que todo mundo sabe, nada vale? O que não tem demanda, não tem valor? O que todo mundo busca, vale mais? O mais novo é o mais valioso? A durabilidade é desejável ou é contraproducente? É legítimo criar dificuldades para vender facilidades ou criar necessidades artificialmente? O conhecimento deve submeter-se a leis como a da oferta e da procura? Deve vincular-se ao sentido prático-utilitário, aos interesses econômicos, ou seu principal interesse é justamente o de mantermo-nos unidos, o de sermos juntos com os outros, entre os outros (inter + esse), tendo em vista a criação de laços sociais?

Numa palavra, a questão central é o reconhecimento do fato de que, a despeito de sua inserção no universo da economia, não pode ser identificado com uma mera mercadoria, não pode esgotar-se em tal dimensão. Assim como a pessoalidade inclui a cidadania como seu núcleo duro, mas é muito mais abrangente; assim como a cidadania inclui o consumidor, mas não se esgota nele; assim também o conhecimento inclui a dimensão mercantil, mas a transcende em

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muito, transbordando efusivamente no sentido de uma dimensão dadivosa. Dedicaremos a próxima seção a tal questão.

4. Conhecimento: a dimensão dádiva Existem muitas razões que tornam o tratamento do conhecimento como simples

mercadoria absolutamente inviável, conforme anteriormente foi apontado. Não se trata de um mandamento ético, ou de uma exigência formal, mas sim de uma questão eminentemente prática. Porque, como vimos, o conhecimento é um "bem" de que não se pode falar em estoque; um "material" que quanto mais eu uso, mais novo fica; um "produto" que eu posso dar, vender ou trocar sem ficar sem ele; uma "riqueza", portanto, pela qual posso competir, ou seja, pedir junto com os outros, sem a má consciência decorrente das competições em busca de bens materiais, como um pote de ouro: em tais casos, para alguém ficar com é necessário que alguém fique sem... o que não ocorre, quando o pote é o conhecimento. Como se pode, então, lidar com tal "bem"?

A resposta parece simples: ainda que possa ser negociado, comprado ou vendido em transações comerciais, como pagamento de direitos autorais, por exemplo, a transmissão / construção / circulação do conhecimento apresenta inexoravelmente uma dimensão com características de uma doação, de uma dádiva. Sem a consideração de tal dimensão, é virtualmente impossível compreender-se a natureza das relações entre professores e alunos, orientadores e orientandos, ou de modo geral, toda a rede de motivações que alimenta o funcionamento de uma escola.

O referencial de Boisot, anteriormente apresentado, sugere que quanto mais se sonega uma informação, mais ela se torna valiosa. Trata-se, como se pode depreender, de um fundamento oposto ao da circulação dadivosa, e que tem conduzido a paradoxos no âmbito do próprio mercado. Quanto mais o tratamento dado ao conhecimento levar em consideração tal fundamento, mais estaremos condenados a não compreender minimamente a dinâmica da criação/divulgação do conhecimento. Do conhecimento em geral, e do conhecimento científico em especial, particularmente, nesse último caso, do conhecimento sobre a dádiva maior em circulação entre nós: a vida humana.

A inteligência humana, ou a vida em sentido humano, caracteriza-se pela capacidade de projetar, de projetar-se, de lançar-se à frente, em busca de metas que prefiguramos, numa articulação simbiótica entre interesses pessoais e coletivos. Quem não tem qualquer projeto, qualquer objetivo, qualquer motivo/motivação para seguir em frente, já não está vivo em sentido

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humano. Vivemos dos projetos que alimentamos e realizamos, dos papeís que representamos juntamente com os outros. Ocorre, no entanto, que não basta ter metas, não basta ter vontade de realizar tal ou qual desejo, é preciso agir para atingi-las, e é preciso conhecimento para instrumentar a ação. A legitimação de todo conhecimento reside na possibilidade de sua mobilização, tendo em vista a realização de nossos projetos mais caros. O valor do conhecimento reside nessa pressuposição, que nem de longe pode ser identificada a um privilegiamento de sua dimensão prático-utilitária. Aquilo a que nos referimos é o interesse, é o estar entre os outros, conviver com os outros, constituir-se como pessoa por meio dos laços criados nas relações interpessoais. A dádiva é o elemento fundamental para a compreensão da circulação de bens e valores em uma perspectiva propriamente humana, que não se reduz a dinâmicas de compra e venda, ou a troca de equivalentes. A dádiva é o instrumento básico para a criação de laços sociais. E o conhecimento, fundado na semeadura da confiança na palavra, na criação de narrativas instituintes dos significados, na construção de argumentações, interpretações ou explicações que viabilizem a compreensão e o entendimento mútuo, não pode circular de modo producente sem o pleno reconhecimento de sua dimensão dadivosa.

Bibliografia BOISOT, Max - Knowledge Assets. New York: Oxford University Press, 1998.

BOULDING, Kenneth - La economia del amor y del temor. Madrid: Alianza, 1976.

DARNTON, Robert - O Iluminismo como negócio. São Paulo: Cia das Letras, 1996.

MACHADO, Nilson José – Conhecimento e valor. São Paulo: Editora Moderna, 2004.

MARTINS, Paulo Henrique – A Dádiva entre os Modernos. São Paulo: Vozes, 2002.

POLANYI, Michael – Personal Knowledge. London: Routledge&Kegan Paul, 1958.

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Conhecimento: entre a Mercadoria e a Dádiva

Nilson José Machado

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O valor do conhecimento

Conhecimento e informação: cenário

Conhecimento e Trabalho: relações

valor de laço Conhecimento como mercadoria: paradoxos

Mercado: dimensões do conhecimento

Conhecimento: a dimensão dádiva

PUCRS Projeto REFLEXÕES Porto Alegre, 1 de junho de 2007

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Conhecimento e informação: cenário

dados informações

conhecimento

inteligência

bancos/acumulação

veículos/comunicação

teoria/compreensão

pessoas/projetos

tecnologias (máximas possibilidades)

tecnologias (mínimas possibilidades)

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Trabalho e Conhecimento: relações

antes da Revolução Industrial

século XVIII

período industrial (até o computador)

período pós- industrial

Trivium Quadrivium

separação

Enciclopédia

Tecnologia

aplicação

Tecnologias informáticas

integração

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Trabalho e Conhecimento: relações

separação antes da RI

aplicação per. industrial

integração per. pós- ind.

Trivium Quadrivium

Arendt

Enciclopédia Darnton

Tecnologias Reich

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Conhecimento como mercadoria: dimensões

concreto abstrato

não- codificado codificado

difundido não- difundido 0% 1 00%

0% 1 00%

0% 1 00%

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Conhecimento: paralelepípedo do valor Max Boisot, Knowledge Assets, 1 998

concreto

não codificado

codificado

difundido não difundido

máx

mín nasc.

esgot.

abstrato

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Economia: mercado, temor, amor Kenneth Boulding, 1 973

mercado

temor

amor

P

N M

F C

S1

S2

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Conhecimento como mercadoria: paradoxos

Fungibilidade/obsolescência (quanto mais uso, mais novo fica)

Materialidade/virtualidade (dou, vendo, troco e não fico sem)

Objetividade/pessoalidade (não se pode falar em estoque)

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Dádiva: o outro do mercado?

n Dom/Dádiva: etimologia n Dádiva: presente/veneno

gift, dósis n Antropologia: ser humano/totalidade n Individualismo: liberalismo/mercado

n Holismo: Estado/Sociedade

n Questão: n Lugar da dádiva na constituição do ser humano,

na concepção do conhecimento

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A dádiva não mais existe; A dádiva está em toda parte

n Vida/crianças/velhos n Palavra/diálogo/situação ideal de fala

n Tempo/sacrifício n Confiança

n Amor/cálculo n Política/voto

n Herança/genética/cultural n Profissionalismo

n Arte n Violência/perdão

n Fidelidade/mercado n Conhecimento n Economia

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“Leis” da Dádiva

n Dar/receber/retribuir n Circunstância/oportunidade

n Interesse/laço n Assimetria local/equilíbrio global

n Pessoalidade/sociabilidade n Tácito/dissimulação generosa

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Dádiva: fundamento da pessoa?

Mounier: entre Sartre e Marx existencialismo (indivíduo) personalismo (1 949) (pessoa/sociedade) marxismo (sociedade)

pessoa: elementos descentrar- se compreender o outro assumir responsabilidades generosidade fidelidade

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Conhecimento: a dimensão dádiva

não- eqüivalência, assimetria

sutileza, dissimulação generosa

oportunidade, diluição temporal

valor de laço

dar, receber, retribuir

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ação consciente é ação projetada

dádiva: entre a vontade e o projeto

O MOTOR DA AÇÃO É A DOAÇÃO

dádiva: rede de laços constitutivos da pessoa

conhecimento: rede de significações pessoais

ser humano: ser dadivoso

Conhecimento: entre a mercadoria e a dádiva

PUCRS Projeto REFLEXÕES Porto Alegre, 1 de junho de 2007