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QUAL O VALOR DOS BENS A SER ADOTADO NA COLAÇÃO POR ESTIMATIVA: O DO MOMENTO DA DOAÇÃO OU O DO TEMPO DA ABERTURA DA SUCESSÃO? Autora: Lislaine Xavier Correia Orientadora: Profª. Karla Neves Faiad de Moura Direito PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

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CAPTULO II

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LISLAINE XAVIER CORREIAQUAL O VALOR DOS BENS A SER ADOTADO NA COLAO POR ESTIMATIVA: O DO MOMENTO DA DOAO OU O DO TEMPO DA ABERTURA DA SUCESSO?

Monografia apresentada ao curso de graduao em Direito da Universidade Catlica de Braslia, como requisito parcial para a obteno do Ttulo de Bacharel em Direito.

Orientadora: Prof. Karla Neves Faiad de Moura

Braslia

2009

Monografia de autoria de Lislaine Xavier Correia, intitulada QUAL O VALOR DOS BENS A SER ADOTADO NA COLAO POR ESTIMATIVA: O DO MOMENTO DA DOAO OU O DO TEMPO DA ABERTURA DA SUCESSO?, apresentada como requisito parcial para obteno do grau de Bacharel em Direito da Universidade Catlica de Braslia, em ____ / ____ / ____, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:___________________________________________________

Presidente: Prof. Karla Neves Faiad de Moura

Universidade Catlica de Braslia

___________________________________________________

Integrante: Prof.

Universidade Catlica de Braslia

___________________________________________________

Integrante: Prof.

Universidade Catlica de Braslia

Braslia

2009

Dedico o presente trabalho a meu esposo Luiz e aos meus filhos, Luiz Augusto e Larissa, pelo amor, apoio e pela compreenso que tiveram quando no pude estar na companhia de vocs, porque precisava estudar. memria de meu pai, Luiz, que foi exemplo de garra e determinao, lutando com todas as foras que ainda lhe restavam at o final de sua vida.

AGRADECIMENTO

Agradeo, primeiramente, ao meu Deus, pois sem Ele, nada poderia ter feito; por ter permitido que eu pudesse conquistar to valiosa aprendizagem, por ter me tomado pela mo e cuidado de mim.

Agradeo a meu esposo Luiz pelo seu amor, companheirismo, apoio e por colaborar com mais essa etapa em minha vida.

Tambm agradeo aos meus filhos, Luiz Augusto e Larissa, pelo amor, pela fora que me deram e por me motivarem na realizao deste trabalho.

Agradeo, tambm, a minha querida orientadora Karla Neves Faiad de Moura pela sabedoria na orientao e pela valiosa contribuio para o desenvolvimento do tema em questo.

Agradeo, tambm, a minha me, pelas suas oraes que me mantiveram firme e a minha famlia pelo apoio dispensado.

Agradeo, ainda, aos colegas de trabalho, lotados na Contadoria-Partidoria de Braslia, do Tribunal de Justia do Distrito Federal e dos Territrios, pela oportunidade de poder aplicar ali os conhecimentos adquiridos ao longo do curso, com vistas a melhoria do servio oferecido pela Justia do Distrito Federal populao brasiliense.O temor do SENHOR o princpio da sabedoria, e a cincia do Santo, a prudncia.

Provrbios 9:10

Bem-aventurados os que tm fome e sede de justia, porque eles sero fartos; Mateus 5:6

RESUMO

CORREIA, Lislaine Xavier. Qual o valor dos bens a ser adotado na colao por estimativa: o do momento da doao ou o do tempo da abertura da sucesso? 2009. 111 f. Trabalho de Concluso de Curso (Bacharelado em Direito) Faculdade de Direito, Universidade Catlica de Braslia, Braslia, 2009.

O objetivo do presente trabalho foi discorrer sobre qual o valor dos bens mais adequado a ser adotado na colao por estimativa: o do momento da doao ou o do tempo da abertura da sucesso, em face do contido no Cdigo Civil Brasileiro de 2002. Pela legislao vigente, o valor ser o do tempo da doao; entretanto, tal determinao trouxe consigo discusso na doutrina brasileira, que entende ser mais correto colacionar os bens pelo valor que possurem ao tempo da abertura da sucesso. Esse posicionamento da doutrina justificado pelo fato de que, se for considerado o valor do bem no ato da doao, e no ao tempo da abertura da sucesso, o mesmo ter valor diferenciado dos demais constantes do monte partvel, que foram avaliados na data da abertura da sucesso. Essa divergncia de valores gerar desigualdade na diviso das cotas hereditrias dos herdeiros necessrios (descendentes e cnjuge sobrevivente) e conseqente prejuzo, desrespeitando, assim o princpio da igualdade das legtimas. Para que seja preservada a legtima dos herdeiros necessrios, entende a doutrina que deve ser mantida a regra contida no artigo 1.014, do Cdigo de Processo Civil de 1973, o qual determinou a colao do bem pelo seu valor na abertura da sucesso.

Palavras-chave: Colao por estimativa. Doao. Adiantamento de legtima. Valor do bem ao tempo da liberalidade. Desequilbrio dos quinhes hereditrios. Herdeiros necessrios. Igualdade da Legtima. Valor do bem ao tempo da abertura da sucesso. SUMRIO10INTRODUO

12CAPTULO 1 SUCESSO

121.1 SUCESSO

141.2 DA ABERTURA DA SUCESSO. DO DIREITO DE SUCEDER.

171.3 DA CAPACIDADE PARA SER SUCESSOR. DOS EXCLUDOS DA SUCESSO

211.4 ACEITAO E RENNCIA DA HERANA

231.4.1 Cesso de Direitos Hereditrios

241.5 SUCESSO LEGTIMA

261.5.1 Herdeiros Necessrios

291.5.2 Herdeiros Facultativos

311.6 SUCESSO TESTAMENTRIA

33CAPTULO 2 INVENTRIO E PARTILHA

332.1 INVENTRIO

342.2 NATUREZA JURDICA DO INVENTRIO

352.3 PROCESSO DE INVENTRIO JUDICIAL

362.3.1 O Inventariante e as Primeiras Declaraes

392.3.2 Avaliao dos Bens e ltimas Declaraes

412.3.3 Pagamento das Dvidas

432.4 INVENTRIO NEGATIVO

442.5 ARROLAMENTO

452.5.1 Arrolamento Sumrio

462.5.2 Arrolamento Comum

472.6 PARTILHA

482.6.1 Partilha Judicial

502.7 INVENTRIO E PARTILHA EXTRAJUDICIAIS (LEI N. 11.441/2007)

522.8 SONEGADOS

532.8.1 Sujeitos pena de Sonegados. Pena imposta

542.8.2 Ao de Sonegados

56CAPTULO 3 DOAO

563.1 CONTRATOS

573.2 CONTRATO DE DOAO

603.2.1 Espcies de Doao

613.2.2 Capacidade para ser Doador

623.3 DOAO COMO ADIANTAMENTO DA LEGTIMA

643.4 RESTRIES LEGAIS LIBERDADE DE DOAR

653.4.1 Doao Inoficiosa

663.4.2 Doao a Ttulo Universal

673.4.3 Doao do Cnjuge Adltero a seu Concubino

683.5 REVERSO

703.6 REVOGAO DA DOAO

73CAPTULO 4 QUAL O VALOR DOS BENS A SER ADOTADO NA COLAO POR ESTIMATIVA: O DO MOMENTO DA DOAO OU O DO TEMPO DA ABERTURA DA SUCESSO?

734.1 COLAO

754.1.1 Natureza Jurdica

764.1.2 Momento da Colao

774.1.3 Clculo da Legtima

784.1.4 Dos obrigados a Colacionar

824.1.5 Dispensa de Colao

854.1.6 Espcies de Colao

864.2 COLAO E REDUO DAS LIBERALIDADES

884.3 QUAL O VALOR DOS BENS A SER ADOTADO NA COLAO POR ESTIMATIVA: O DO MOMENTO DA DOAO OU O DO TEMPO DA ABERTURA DA SUCESSO?

94CONCLUSO

97REFERNCIAS

INTRODUO

Embasado na Constituio Federal de 1.998, que garante o direito de herana em seu artigo 5, inciso XXX, o Direito das Sucesses, ramo do Direito Civil, cuida das normas a serem observadas na ocorrncia do fenmeno morte.

Quando da abertura do inventrio, os bens deixados pelo falecido e seus sucessores se tornam conhecidos para que a partilha destes bens possa ser realizada. Mas pode ser que o morto tenha efetuado alguma liberalidade a algum ou alguns de seus sucessores (cnjuge ou descendentes), importando em adiantamento da herana que lhes caiba, nos termos do artigo 544, do Cdigo Civil.

Essas doaes efetuadas tero de ser colacionadas no inventrio judicial, a fim de se resguardar o equilbrio das cotas hereditrias dos herdeiros necessrios, em observncia ao princpio da igualdade das legtimas.

A Colao de Bens apresenta-se de duas formas: colao in natura, onde o prprio bem volta ao acervo hereditrio na abertura da sucesso; e a colao por estimativa, ocorre quando o prprio bem permanece da posse do donatrio, imputando-se o valor certo ou estimado, constante do ato da liberalidade, no quinho do beneficirio.

Por ser assunto polmico e de grande importncia para o Direito Sucessrio, o modo de colao por estimativa, tem gerado crticas por parte dos doutrinadores, desde sua aplicao pelo Cdigo Civil de 1.916, tendo como centro da discusso qual o valor mais adequado a ser empregado na conferncia dos bens doados.

O valor, se o do tempo da liberalidade ou o da abertura da sucesso, o objeto de estudo do presente trabalho e sua escolha deveu-se, num primeiro momento, afinidade com o Direito Sucessrio e necessidade de se aprofundar o conhecimento sobre o assunto, visando ao aperfeioamento do trabalho executado na Contadoria-Partidoria de Braslia do Tribunal de Justia do Distrito Federal e dos Territrios TJDFT, visto estar em contato com os processos judiciais de inventrio e partilha, desde meados de 1998. Deveu-se, tambm, s aulas de Direito Civil V, do Curso de Direito da Universidade Catlica de Braslia - UCB, onde, aps estudar sobre a Colao de Bens, verificou-se sua relao com a rea de clculos, incitando, assim, o desejo de se analisar melhor o tema em questo.

Determinou-se como objetivo investigatrio geral pesquisar e descrever, com base na legislao vigente e na doutrina e jurisprudncia brasileira predominante, qual o critrio mais adequado a ser empregado aos bens doados, quando da conferncia dos mesmos no processo de inventrio judicial; se o valor que tinham ao tempo da doao ou o do momento da abertura da sucesso, apresentando a forma como a doutrina e jurisprudncia brasileira posicionam-se sobre o assunto.

Os objetivos especficos estabelecidos foram: 1) abordagem de tpicos do Direito Sucessrio relacionados ao assunto tratado, que, embora independentes entre si, esto intimamente ligados ao foco do presente trabalho; 2) mostrar a importncia que a conferncia das liberalidades possui na preservao do princpio da igualdade da legtima.

No primeiro captulos foram trazidos o conceito de sucesso, sua origem histrica e demais aspectos gerais; discorreu-se sobre a capacidade para ser sucessor e aqueles que esto excludos da sucesso; tipos de sucesso previstos pelo Cdigo Civil Brasileiro e os sucessores pertinentes a cada uma delas.

No segundo captulo apresentou-se o inventrio judicial, sua natureza jurdica e aspectos processuais; a realizao de inventrio negativo, quando da necessidade de comprovao da no existncia de bens a serem inventariados. Discorreu-se, ainda, acerca da partilha judicial e sua obrigatoriedade; sobre as modificaes ocorridas com a entrada em vigor da Lei n 11.441/2007, finalizando com o tpico de sonegados, que so aqueles que no colacionaram os bens recebidos do de cujus em adiantamento de herana.

O terceiro captulo discorreu, sucintamente, sobre o contrato de doao, suas espcies e quem so as pessoas aptas a serem doadoras; tratou da doao como adiantamento de legtima, limitaes liberdade de doar e da reverso e revogao da doao.

O quarto captulo, finalizando o trabalho, tratou do instituto da colao, sua natureza jurdica, o momento em que ocorrer e o modo como feita; apresentou o clculo da legtima, as pessoas que esto sujeitas colao e os desobrigados da mesma. O principal enfoque do presente captulo foi tratar, embasado na doutrina, do valor a ser considerado na colao por estimativa.

No presente trabalho empregou-se o mtodo hipottico-dedutivo, embasado na legislao vigente, pesquisa bibliogrfica, jurisprudencial, artigos e sites da internet relacionados ao tema abordado, com o fito de se fundamentar o tema, visando alcanar os objetivos traados.

CAPTULO 1 SUCESSO

1.1 SUCESSO

O termo sucesso vem do latim sucessio, derivado de sucedere, dando a idia de troca de titulares. De forma mais abrangente, significa a substituio de uma pessoa por outra, investindo-se esta nos direitos que eram inerentes quela.

No entendimento de Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka, a palavra sucesso indica a passagem, a transferncia de um direito de uma pessoa (fsica ou jurdica) para outra.

Orlando Gomes conceitua o direito das sucesses como (...) parte especial do Direito Civil que regula a destinao do patrimnio de uma pessoa depois de sua morte.

O Direito Sucessrio trata da transmisso de herana ou legado, atendendo determinao legal ou testamentria, conforme o caso, quando tenha ocorrido o fenmeno morte; garantindo, portanto, o direito de herana previsto na Constituio Federal de 1988, em seu artigo 5, inciso XXX.

Est tambm relacionado com o princpio da dignidade da pessoa humana, pelo fato de promover valores existenciais, uma vez que, a herana recebida pelo sucessor poder permitir a este uma vida mais justa e digna dentro de um contexto social.

Historicamente, o Direito Sucessrio passou por inmeras mudanas. Surgiu dando preferncia aos homens, em relao s mulheres, as quais no herdavam, seja porque a lei determinava ou quando a renncia lhes era imposta, tendo que se contentarem somente com um dote que lhes era dado.

Salienta Slvio Rodrigues que a sucesso transmitia-se na linhagem masculina, pois como o filho era o responsvel religioso pela famlia, e no sua irm, ele quem receberia a herana, por cuidar do culto do altar domstico do falecido, no deixando seu tmulo abandonado, preservando, assim, a religio de seus antepassados.

Antes de ser econmica, a base das sucesses, com foco na morte, era de cunho religioso. Com o passar dos tempos tomou outro sentido, desenvolvendo-se no fundamento de continuao da vida, sugerindo a continuidade do patrimnio, que, por sua vez, levaria acumulao de bens. Ocorrendo essa acumulao, haveria a garantia de segurana e proteo aos filhos com a transmisso do patrimnio a eles.

Caio Mario da Silva Pereira enfatiza que o conceito moderno de direito sucessrio diverge da concepo que era admitida nos tempos mais antigos, onde preponderava a religio que envolvia condies de chefia e autoridade. Afirma que hoje, a propriedade, como forma individual assegurada famlia, baseada no princpio de solidariedade, de assistncia dos pais para com os filhos, estendendo-se tambm a outros membros da famlia. Entende ainda, que o dever de cuidar tambm ocorre na forma recproca, isto , do filho para com o pai, fundamentando no artigo 229, da Constituio Federal/1988, que assim declara: Art. 229. Os pais tm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores tm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carncia ou enfermidade.

Assim, pela evoluo histrica do Direito Sucessrio, pode-se constatar a igualdade e uniformidade na distribuio da herana aos sucessores do falecido atualmente, em detrimento das restries impostas de que somente os homens podiam herdar, recebendo com isso, imensos privilgios sucessrios.

1.2 DA ABERTURA DA SUCESSO. DO DIREITO DE SUCEDER.

Consoante o estabelecido no artigo 6, do Cdigo Civil Brasileiro, a existncia da pessoa natural termina com a sua morte, presumindo-se esta, com relao aos ausentes. Entende-se por morte presumida aquela que ocorre nas circunstncias previstas no artigo 7, do Cdigo Civil.

J a morte real aquela atestada biologicamente, pela certido de bito, ou seja, h a presena do corpo. de suma importncia que o registro de bito indique a hora, o dia e o lugar do falecimento, visto que o momento em que ocorreu tem interesse quando morrem, simultaneamente, pessoas que, reciprocamente, so sucessoras umas das outras para poder estabelecer-se a ordem de transmisso dos bens entre elas.

Entretanto, quando no se consegue precisar quem faleceu primeiro, estamos diante do fenmeno denominado comorincia, que est disciplinado no artigo 8, do Cdigo Civil Brasileiro: Art. 8 - Se dois ou mais indivduos falecerem na mesma ocasio, no se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-o simultaneamente mortos.

Tal dispositivo prev uma situao em que duas ou mais pessoas falecem numa mesma ocasio, sem que se saiba precisar qual delas faleceu primeiro, ou seja, no se pode verificar a ordem cronolgica dos falecimentos. Ocorrendo esta situao, presumir-se-o falecidas ao mesmo tempo e no ocorrer direito sucesso entre elas.

Vale destacar tambm que, se o herdeiro sobrevive ao falecido, mesmo que por alguns instantes, faz jus herana por ele deixada, mesmo tendo falecido no sabendo que herdou o referido patrimnio.

Como a condio para que a sucesso seja aberta a ocorrncia da morte, no h possibilidade de haver herana de pessoa viva, conforme disposto no artigo 426, do nosso diploma legal, posto que a condio para a abertura da sucesso a ocorrncia da morte. A proibio ao chamado pacta corvina fundamenta-se no fato de que, somente com o falecimento que o acervo hereditrio ser transmitido aos herdeiros.

Entretanto, poder ocorrer a abertura provisria da sucesso de pessoa ausente, cuja ausncia ser declarada pelo juiz, nos termos do artigo 26 e seguintes do Cdigo Civil.

Sendo assim, para fins didticos, o fenmeno sucessrio dividido em trs partes que se coincidem cronologicamente, mas distinguem-se conceitualmente. O primeiro momento ocorre com a abertura da sucesso, ou seja, o momento em que nasce o direito hereditrio; este ocorre no exato momento da morte do autor da herana, sendo os bens que lhe pertenciam transmitidos aos seus herdeiros legtimos e testamentrios, conforme preceitua o artigo 1.784 do Cdigo Civil, quer os herdeiros saibam ou no do falecimento ou que o acervo patrimonial lhes foi transmitido.

O referido artigo 1.784 consagra o princpio da saisine atribuindo ao herdeiro a condio de possuidor, segundo Slvio Rodrigues, mesmo que no detenha a posse material da coisa; ressalte-se que esse princpio no se aplica ao legatrio, mas to somente, aos herdeiros legtimos e testamentrios, conceitos esses que sero detalhados mais adiante. Diz ainda o autor que:

A regra atual, consignando o princpio da saisine, ou seja, a idia de que a posse da herana se transmite in continenti aos herdeiros, surgiu no direito francs, para resolver uma situao peculiar, e encontra seus mais antigos traos em escritos do terceiro quartel do sculo XIII.

Cabe, contudo, segundo Slvio de Salvo Venosa, observar que ningum pode ser herdeiro contra sua vontade. necessrio que haja harmonia entre o princpio da saisine e o repdio herana, pois o sucessor pode deixar de aceitar a herana ou renunci-la.

Por haver essa possibilidade de os herdeiros aceitarem ou no a transmisso de bens que ocorre o segundo momento sucessrio, chamado de devoluo sucessria ou delao.

Na delao, conforme ensina Orlando Gomes, a herana oferecida a quem possui a qualidade para adquiri-la, para que possa ele deliberar sobre o recebimento ou no da mesma. Por ter a herana natureza de direito e no de dever que a oportunidade de decidir a respeito dada aos sucessores, que podero aceit-la ou renunci-la.

Para Caio Mrio, a delao da herana o conceito jurdico que consiste no oferecimento do patrimnio do defunto aos herdeiros. No terceiro momento, chamado de aquisio da herana ou adio, o sucessor torna-se titular das relaes jurdicas concentradas na herana e ocorrer somente se tiver havido a aceitao desta. Os efeitos da aceitao retroagem data da abertura da sucesso. Caso o herdeiro haja renunciado, como se ele nunca tivesse participado do fenmeno sucessrio.

O artigo 1.804 e seu pargrafo nico, do Cdigo Civil Brasileiro dispem a respeito da aceitao e renncia da seguinte forma:

Art. 1.804. Aceita a herana, torna-se definitiva a sua transmisso ao herdeiro, desde a abertura da sucesso.

Pargrafo nico. A transmisso tem-se por no verificada quando o herdeiro renuncia herana.

Destaca-se, tambm, que a abertura da sucesso ocorrer no lugar do ltimo domiclio do falecido, conforme artigo 1.785 do Cdigo Civil, entendendo-se este como a sede principal dos interesses e negcios do autor da herana. Tal circunstncia observada em virtude da fixao da competncia para se processar o inventrio dos bens deixados, bem como das aes dos co-herdeiros, legatrios e credores, relativas s heranas e legados, renncia e abertura de testamento cerrado.

Por fim, cabe ainda, acrescentar que, segundo o artigo 1.787, do Cdigo Civil, a lei que regula a sucesso depender da data em que ocorreu a morte, ou seja, a lei que regular o fenmeno sucessrio ser a Cdigo Civil de 1.916, para os bitos ocorridos at 10(dez) de janeiro de 2.003, e o Cdigo Civil Vigente de 2.002, para os falecimentos ocorridos aps a supramencionada data.

1.3 DA CAPACIDADE PARA SER SUCESSOR. DOS EXCLUDOS DA SUCESSO

Segundo Venosa, a capacidade para suceder a aptido para se tornar herdeiro ou legatrio de uma determinada herana, que adquirida no momento da abertura da sucesso.

Esta capacidade para suceder no pode ser confundida com a capacidade civil, que aquela que a pessoa tem para exercer todos os atos da vida civil. Conclui-se, diante disso, que uma pessoa pode ser capaz civilmente, mas no ter capacidade para suceder, e, tambm, que, pode ter capacidade para suceder e no ser civilmente capaz.

Caio Mrio entende que, para se apurar a capacidade sucessria, dois pressupostos devem ser analisados: a existncia para fins de sucesso e a convocao para receber por causa de morte.

Coexistir, fundamentado no artigo 1.798, do Cdigo Civil, significa ter nascido ou pelo menos estar concebido no ventre materno e se aplica tanto na sucesso legtima como na sucesso testamentria. A regra geral da coexistncia admite a exceo em relao ao nascituro, protegendo seus direitos desde a concepo, e caso nasa com vida, um curador nomeado para que fique na administrao da herana que lhe coube, por no possuir ainda capacidade civil para tanto.

Podem ainda ser chamados, excepcionalmente, a suceder sob a forma de testamento, consoante o disposto no artigo 1.799 e seus incisos, do Cdigo Civil, os filhos, ainda no concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas na abertura da sucesso, existindo a uma condio futura e incerta para que a herana seja transmitida, que se no ocorrer em 02 (dois) anos aps a abertura da sucesso, os bens retornaro legtima, salvo disposio em contrrio; as pessoas jurdicas (desde que registrada na Junta Comercial existncia formal da pessoa jurdica); as pessoas jurdicas, cuja organizao for determinada pelo testador sob a forma de fundao.

Tambm h de se observar a sobrevivncia, ou seja, a continuao da existncia aps a morte do autor da herana, isso porque, no entendimento de Slvio Rodrigues, a deixa testamentria, quer a ttulo universal (nomeao de herdeiro), quer a ttulo singular (instituio de legatrio), eminentemente intuit personae.

Alm dos pressupostos fticos, isto , ser coexistente e sobrevivente, necessrio, tambm, o pressuposto jurdico, ou seja, um vnculo jurdico com o morto para ter direito herana.

Existem dois tipos de vnculos jurdicos que fundamentam a sucesso: o legal (em razo da lei), que advm do casamento, parentesco (natural: na linha reta ascendente e descendente e na linha colateral at o 4 grau; e civil, por meio de adoo ou reproduo assistida heterloga) ou unio estvel; e o testamentrio trazido pelo autor da herana, em razo de vontade manifestada por meio de testamento.

Necessrio se faz, ainda, para ter capacidade de suceder que no recaiam sobre o herdeiro os pressupostos negativos de indignidade e deserdao.

Orlando Gomes conceitua o indigno como o herdeiro que cometeu atos ofensivos pessoa ou honra do de cujus, ou atentou contra sua liberdade de testar. Explica que a indignidade reconhecida por meio de sentena judicial e o indigno considerado como pessoa inexistente.

Para Washington de Barros Monteiro, a indignidade constitui pena civil aplicada a herdeiro acusado de ter praticado crime ou atos reprovveis contra o autor da herana, posto que tais atos so incompatveis com a posio de sucessor que ocupa, tornando-o incapaz de suceder.

A indignidade abrange tanto a sucesso legtima quanto a testamentria, incluindo-se tambm o legatrio, e os atos que a caracterizam vem taxativamente enumerados nos casos previstos no artigo 1.814, do Cdigo Civil, no existindo outros casos de indignidade.

Outro ponto importante a salientar que a excluso do herdeiro ou legatrio ser declarada por sentena, com efeitos retroativos abertura da sucesso, por meio de ao declaratria de indignidade, que ter efeitos pessoais, ou seja, somente o indigno sofrer tais efeitos e o prazo para mover a referida ao extingue-se em quatro anos, a contar da abertura da sucesso. Excludo o indigno do fenmeno sucessrio, ser considerado pr-morto, apenas para efeitos de representao de seus sucessores, permitindo a estes receberem a herana em seu lugar.

Pode o autor da herana perdoar o indigno, mas esse perdo tem de ser expresso e constar do testamento ou escritura pblica, no se admitindo perdo tcito ou presumido, nem to pouco concedido oralmente, ou por instrumento particular. Neste caso, ocorrer a reabilitao que se encontra disposta no artigo 1.818, do Cdigo Civil devidamente transcrito:

Art. 1.818. Aquele que incorreu em atos que determinem a excluso da herana ser admitido a suceder, se o ofendido o tiver expressamente reabilitado em testamento, ou em outro ato autntico.

Cabe ressaltar que, se houver contemplao do indigno em testamento do ofendido, este poder suceder somente nos limites da disposio testamentria.

Por fim, poder, ainda, o sucessor ser excludo da herana, por motivo de deserdao, que, em nada se assemelha indignidade. Apesar de terem a mesma finalidade, que a punio quele que praticou atos ilcitos contra a pessoa do autor da herana, a deserdao ato privativo do autor da herana fundado em motivo legal e por meio de testamento, cabvel somente aos herdeiros necessrios, sendo prevista em nosso Cdigo Civil nos artigos 1.961 e seguintes. 1.4 ACEITAO E RENNCIA DA HERANA

Para Washington de Barros, a aceitao da herana assim definida:

Aceitao ou adio da herana vem a ser, portanto, ato pelo qual o herdeiro exprime a vontade de receber a herana transmitida pelo falecido. o ato jurdico pelo qual a pessoa chamada a suceder declara que deseja ser herdeira e recolher a herana.

A aceitao considerada uma confirmao da transferncia do patrimnio do de cujus aos seus sucessores, desde a abertura da sucesso, de forma definitiva, conforme dispe o artigo 1.804, do Cdigo Civil; no entanto, necessrio que o herdeiro aceite essa transferncia, porque ningum obrigado a herdar contra a prpria vontade, cabendo, ainda, ressaltar que tal ato irrevogvel. Poder ocorrer tanto a aceitao de herana quanto de legado e ser pura e simples, no cabendo aceitao parcial, sob condio ou termo.

Essa confirmao de transferncia de patrimnio somente pode ser praticada pelas pessoas com capacidade de agir; os incapazes devem ser representados ou assistidos.

Existem trs modalidades de aceitao: expressa, tcita e presumida. A expressa feita por escrito, pblico ou privado, onde o herdeiro declara que deseja receber a herana, no sendo admitida a mera deliberao oral, ressaltando que ser intil a demonstrao de vontade em aceitar a herana por meio de testemunhas.

A aceitao tcita, que a mais comum, resulta da prtica de atos compatveis com a condio de herdeiro, ou seja, quando a pessoa que ainda no deliberou, pratica atos peculiares e especficos de herdeiros. Os atos oficiosos, consoante o artigo 1.805, 1, do Cdigo Civil, como funeral de morto, os meramente conservatrios e os de administrao, bem como a cesso gratuita, pura e simples da herana aos demais co-herdeiros no importam em aceitao. A aceitao presumida ocorrer quando o herdeiro, dentro do prazo de um ms, devidamente intimado, no manifestou sua vontade.

J a renncia no poder ser tcita nem presumida, existindo apenas a expressa, com efeitos desde a abertura da sucesso, exigindo forma especial, qual seja, o instrumento pblico ou termo judicial. Dever, tambm, ser pura e simples, no cabendo a ela qualquer condio ou termo e, assim como a aceitao, irrevogvel.

Itabaiana de Oliveira conceitua renncia como o ato pelo qual o herdeiro declara expressamente, que a no quer aceitar, preferindo conservar-se completamente estranho sucesso.

O renunciante considerado como se nunca houvesse existido; como se jamais tivesse sido chamado sucesso e, por esse motivo, seus sucessores no herdam por representao na sucesso legtima, entretanto, se ele for o nico da classe, ou se todos os outros da mesma classe renunciarem, os filhos podero vir a suceder, por direito prprio, e por cabea, consoante o disposto no artigo 1.811, do Cdigo Civil.

Anota Orlando Gomes que os efeitos da renncia na sucesso legtima so diferentes da sucesso testamentria. Naquela, a parte que o renunciante no aceitou acrescida a dos demais sucessores da mesma classe, exceto, claro se no for o nico. J na sucesso testamentria, as solues dependem das hipteses apresentadas; se o testador houver designado substituto ao renunciante, a parte que lhe pertencia, caber ao seu respectivo substituto; entretanto, caso no haja designao, ser transmitida aos herdeiros legtimos.

Convm acrescentar que a renncia est disponvel a todos os herdeiros, exceto para os incapazes, os quais necessitam de consentimento dos seus representantes legais ou assistentes e tambm, de autorizao judicial concedida apenas no caso de justo fundamento para a renncia.

Quanto aos credores do renunciante, caso a renncia os prejudique, a lei prev aceitao por parte destes, mediante autorizao judicial. Eles recebero o pagamento das dvidas, e, havendo remanescente, ser devolvido aos demais herdeiros.

O nosso ordenamento jurdico no admite a renncia translativa, chamada de renncia paga por Caio Mrio, posto que, neste caso o herdeiro recebe uma determinada quantia, um determinado bem para renunciar herana e o repassa a outro herdeiro. O que existe, neste caso uma cesso onerosa de herana e no uma renncia, pois para receber o bem necessrio que haja a aceitao da herana, que tem carter irrevogvel, ou seja, uma vez aceita, no poder ser renunciada.1.4.1 Cesso de Direitos Hereditrios

Posto que o ordenamento jurdico vigente probe a renncia translativa, conforme anteriormente mencionado, h a previso do instituto legal da cesso de direito hereditrio.

G. Giancobbe esclarece o significado do termo herana como objeto jurdico, de natureza complexa, suscetvel de alienao pelo herdeiro, tornando-se irrelevante que esse objeto seja economicamente ativo ou passivo.

A herana poder ser cedida antes ou depois da aceitao; caso tenha ocorrido antes da abertura da sucesso, equivaler renncia e no ser objeto de transmisso. Caso ocorra aps a aceitao, ser objeto de segunda transmisso, posto ter o herdeiro aceito o seu quinho hereditrio e t-lo transferido a terceiro. Essa distino que se faz tem carter importantssimo para o recolhimento de impostos.

Caso a cesso seja feita a titulo oneroso, possui o carter de compra e venda; se a titulo gratuito, o de doao. Exige forma prescrita em lei, qual seja, escritura publica, conforme disposto no artigo 1.793, do Cdigo Civil.

Dever ser observado o direito de preferncia dos co-herdeiros, caso o herdeiro queira ceder seu direito a terceiro, uma vez que a herana indivisvel e pertence a todos em comum. O co-herdeiro, que no tiver sido notificado, poder haver para si a cota parte cedida, depositando o preo equivalente a ela, no prazo de cento e oitenta dias e, se houver vrios co-herdeiros, entre eles se dividir o quinho cedido proporcionalmente s quotas que lhe caibam.

1.5 SUCESSO LEGTIMA

Antes de adentrarmos no campo da sucesso legtima, importante esclarecer que a sucesso poder ser dividida, de acordo com a destinao dos bens da herana, em sucesso a ttulo universal e a ttulo singular, que sero de relevante importncia para o entendimento do assunto em questo.

Na sucesso a ttulo universal o patrimnio do autor da herana transferido como um todo aos sucessores, que so chamados de herdeiros, recebendo cada um, uma cota-parte ou a totalidade da herana, caso haja apenas um nico herdeiro.

A sucesso a ttulo singular aquela em que ocorre a transferncia de bens especficos a pessoas determinadas. Tem como sucessor o legatrio (beneficirio) e se dar por meio de legado (bem deixado), existindo apenas na sucesso testamentria.

A sucesso legtima, tambm chamada de sucesso legal ou ab intestato, a que resulta da lei, ou seja, os herdeiros do autor da herana so indicados pelo ordenamento legal vigente e ocorrer nas seguintes circunstncias: quando o falecido possuir herdeiros necessrios; quando ele morrer sem deixar testamento vlido ou quando no dispuser de todos os bens nele por possuir herdeiros necessrios; quando o testamento caducar ou for declarado invlido.

A indicao dos sucessores do de cujus feita pela chamada ordem de vocao hereditria (ordem pela qual os herdeiros sero chamados a suceder) vem beneficiar os membros da famlia, presumindo o legislador que nela residam os maiores vnculos de afeto do autor da herana e foi estipulada para se evitar que todos fossem chamados ao mesmo tempo. Esse critrio leva em conta os laos de famlia entre os sucessores e o autor da herana, includos neste o parentesco consanguneo ou civil e o vnculo decorrente do casamento ou da unio estvel, supondo que o falecido teria o desejo de destinar a eles seus bens, fruto de uma vida inteira de trabalho, mesmo no manifestando expressamente sua vontade.

Na sucesso ab intestato, distinguem-se classes, ordens e graus.

Segundo Salomo de Arajo Cateb, (...) a forma de chamamento denominada de classes, estabelece uma hierarquia entre elas, de tal maneira que o chamamento de uma resulta na extino da outra seguinte, at o chamamento da ltima delas., ou seja, compreende cada um dos tipos de sucessores que compem o rol de legitimidade e podem entrar na ordem de sucesso dos bens.

A classe se subdivide em descendentes, ascendentes, cnjuge e colaterais, conforme artigo 1.829, do Cdigo Civil; a classe dos companheiros considerada uma classe atpica que s ir suceder se for compatvel com as situaes especficas previstas no artigo 1.790, do Cdigo Civil.

Exemplificando: se forem chamados os descendentes, que em alguns casos concorrem com o cnjuge sobrevivente, nenhum outro herdeiro ser chamado a recolher a herana; se no houver descendentes, sero chamados os ascendentes em concorrncia com o cnjuge, ou na falta deste, o companheiro (se houver), caso no haja impedimento para o matrimnio, ser chamado a suceder, na forma da lei e, por fim, o Municpio, Distrito Federal ou Unio, que no fazem parte da ordem de vocao hereditria, somente adquirem os bens da herana na falta de sucessor das demais classes, e se no houver testamento vlido.

A ordem, por sua vez, pode ser entendida como a relao preferencial entre as classes, ou seja, a preferncia interna na convocao das classes, sendo que os mais prximos excluem os mais distantes, isto , o filho prefere ao neto, o pai, ao av, o irmo ao sobrinho.

Com relao aos graus, podem ser entendidos como a proximidade que existe entre sucessores que compem a mesma classe e o morto. Importando ressaltar que, quanto mais prxima for a relao entre a classe e o falecido, menor o grau dado quela classe. A contagem de graus diz respeito apenas s classes iguais, ou seja, descendentes em 1, 2 e 3 grau.

1.5.1 Herdeiros Necessrios

Herdeiros necessrios so aqueles que sucedem de pleno direito, ressalvados os casos de indignidade e deserdao, anteriormente abordados.

Disciplina o Cdigo Civil Brasileiro que, havendo herdeiros necessrios, quais sejam, descendentes, ascendentes e cnjuge, o testador somente poder dispor de metade de seus bens (chamada de poro disponvel), em observncia ao principio da intangibilidade da legtima, reservando-se a outra metade ao herdeiros necessrios.

No clculo da legtima devem ser abatidos do monte-mor as dvidas do de cujus e as despesas de funeral, posto que tais dvidas integram o passivo da herana. O valor apurado, aps as referidas dedues, dever ser dividido ao meio, sendo uma metade correspondente poro do patrimnio disponvel do autor da herana e a outra, a reserva dos herdeiros necessrios, qual seja a legtima necessria.

Essa apurao tem a finalidade de verificar se o autor da herana, ao testar, avanou a metade indisponvel, servindo de auxlio na partilha dos bens entre os herdeiros necessrios, que devem receber quotas hereditrias idnticas, para que no haja benefcio de um herdeiro em detrimento dos demais.

Os descendentes so herdeiros sucessveis da primeira classe (filhos, netos, bisnetos, trinetos, etc), excludas as demais classes; sucedem infinitamente, no havendo, assim, limitao de grau.

Se os descendentes estiverem na mesma classe (sucesso por direito prprio), a herana ser dividida em tantas partes quantos forem os herdeiros (partilha por cabea); porm, se concorrerem descendentes de graus diversos, como por exemplo, filhos e netos, estes herdaro por representao e os bens sero partilhados por estirpe. Na representao, chama-se o descendente de herdeiro pr-morto, ou julgado indigno para tomar-lhe o lugar como se tivesse o mesmo grau de parentesco dos outros chamados.

Na sucesso dos ascendentes, conforme disposto no artigo 1.829, do Cdigo Civil, no pode haver descendentes, pois estes sempre tero preferncia. O direito de representao no ocorre neste tipo de sucesso, pois o ascendente de grau mais prximo exclui o de grau mais remoto. A partilha nesse tipo de sucesso, obedece diviso por linhas (paterna e materna), cabendo a metade da herana para cada um deles.

A sucesso do cnjuge sobrevivente em concorrncia com os descendentes s ser reconhecida se, ao tempo da morte do autor da herana, no se encontravam separados judicialmente, ou de fato, h mais de dois anos (neste caso, com culpa exclusiva do falecido) e depender do regime de bens pactuado entre o falecido e o cnjuge sobrevivente, no herdando o mesmo, se tiver sido casado pelo regime da comunho universal, ou da separao obrigatria, ou da comunho parcial sem bens particulares, conforme disposto no artigo 1.829, inciso I, do diploma legal vigente.

Em concorrncia com filhos comuns, ser reservada a quarta parte da herana ao cnjuge, se for ascendente dos herdeiros com que concorrer; havendo filhos no comuns, o cnjuge sobrevivente herdar cota igual a que couber a cada um deles, nos termos do artigo 1.832, do Cdigo Civil Brasileiro.

Na falta de descendentes, o cnjuge concorrer com ascendentes do falecido, independentemente do regime de bens adotado, tocando a ele 1/3 (um tero) da herana e se concorrer com apenas um ascendente, caber-lhe- a metade do esplio. Recolher a totalidade da herana, na falta de descendentes e ascendentes, de acordo com o artigo 1.838 do Cdigo Civil.

Por fim, ao cnjuge sobrevivente garantido o direito real de habitao no imvel destinado residncia da famlia, sem prejuzo da parte que lhe caiba na herana, independentemente do regime de bens em que foi casado com o de cujus, conforme estabelecido pelo artigo 1.831, do Cdigo Civil.

1.5.2 Herdeiros Facultativos

Nas palavras de Venosa so colaterais os parentes que descendem de um s tronco, sem descenderem uns dos outros. So eles chamados de herdeiros facultativos, pois podem ser excludos da sucesso por meio de disposio testamentria do autor da herana.

Na falta dos descendentes, ascendentes ou cnjuge sobrevivente, conforme disposto no artigo 1.829, IV, c/c o artigo 1.839, do Cdigo Civil, herdaro os colaterais at o 4 grau, sendo que os mais prximos excluem os mais distantes, exceto no caso do direito de representao concedido aos filhos de irmos. Sendo assim, o direito de representao na classe dos colaterais, opera-se, nica e exclusivamente, entre os filhos de irmos.

Para melhor explicar a assertiva acima, citamos o seguinte exemplo: se o de cujus possui trs irmos vivos e dois sobrinhos de outro irmo pr-morto, a herana ser dividida em quatro partes, sendo um quarto para cada irmo e aos sobrinhos, um oitavo para cada um, pois estes herdam por estirpe.

Se concorrerem irmos bilaterais com irmos unilaterais, caber a cada um destes, metade do que couber a cada um daqueles.

Lembramos, ainda, que, os tios herdaro somente na falta de irmos e sobrinhos do falecido, mesmo estendendo-se a sucesso entre os colaterais at o 4 (quarto) grau, pois os graus mais prximos afastam os mais distantes.

Se no existirem os chamados por Hironaka de colaterais com preferncia, que so os irmos, sobrinhos e tios, nesta ordem, herdaro os tios-avs e sobrinhos-netos, primos-irmos, concorrendo entre si, por cabea.

Celso Affonso Garreta Prats diz que, na linguagem vulgar, os colaterais em quarto grau so os primos-irmos entre si, os tios-avs com relao aos sobrinhos-netos e estes com referncia queles.

Convm, ainda, salientar que, para exclu-los da sucesso, basta que o autor da herana disponha de seus bens em testamento sem contempl-los.

Na classe dos herdeiros facultativos encontra-se, tambm, o companheiro que tem seu modo de suceder disposto no artigo 1.790, do Cdigo Civil.

Determina o citado artigo que o companheiro participar da sucesso do de cujus, somente com relao aos bens que foram adquiridos de maneira onerosa, na vigncia da unio estvel, nas seguintes hipteses: concorrendo com filhos comuns, recebera cota igual a que cada um receber; se concorrer com filhos no comuns, receber metade do que couber a cada um deles; se concorrer com outros parentes sucessveis, receber um tero da herana e, por ultimo, caso no haja parentes sucessveis, receber a totalidade da herana.

1.6 SUCESSO TESTAMENTRIA

Salomo de Arajo Cateb, citando Carlos Maximiliano, define testamento como (...) um ato unilateral, de ltima vontade, gratuito e solene, contendo disposies patrimoniais ou providncias de carter pessoal ou familiar, exeqveis depois da morte do prolator.

Para Paulo Nader, o testamento assim definido:

(...) modalidade de negcio jurdico unilateral, personalssimo, formal, revogvel, mortis causa, cujo objeto a destinao de bens, para pessoas fsicas ou jurdicas, respeitado a quota dos herdeiros necessrios, ou disposio de natureza no-econmica, expressamente admitida em lei.

A sucesso testamentria ocorrer em virtude da manifestao da vontade do falecido em testamento, de beneficiar outras pessoas, respeitando a legtima dos herdeiros necessrios; caso estes no existam, poder dispor da totalidade de seus bens.

Anota Euclides de Oliveira que as sucesses legtima e testamentria no se excluem, pois podem ocorrer conjuntamente, de modo que se o testador deixou de trazer ao testamento alguns de seus bens, estes sero transmitidos aos seus sucessores, conforme disposto em lei e, da mesma forma, se o testamento caducar ou for considerado nulo.

O testamento, conforme disposto no artigo 1.858, do Cdigo Civil, personalssimo, revogvel a qualquer tempo; nele instituir-se-o os herdeiros, que sucedem a ttulo universal, e os legatrios, a titulo singular; exige forma prescrita em lei, que se no for observada, invalid-o.

Poder versar tanto de questes patrimoniais como de no patrimoniais. E tambm, sobre questes relacionadas a reconhecimento de filho extramatrimonial, deserdao, reabilitao do indigno, nomeao de tutores, curadores, testamenteiro, revogao de testamento anterior, dispensa de colao, tendo como prazo para impugnao de sua validade 05 (cinco) anos, desde a data de seu registro.

Todas as pessoas naturais podem testar, em princpio, salvo aquelas proibidas pelo Cdigo Civil, em seu artigo 1.860, que diz: Alm dos incapazes, no podem testar os que, no ato de faz-lo, no tiverem pleno discernimento, deixando expresso no pargrafo nico do citado artigo que os maiores de dezesseis anos podem testar.

J o artigo 1.801, do Cdigo Civil aponta as pessoas incapazes de adquirir por testamento, quais sejam: quem, a rogo, escreveu o testamento, seu cnjuge ou companheiro, ou seus ascendentes e irmos; as testemunhas que presenciaram a feitura do testamento; o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato h mais de cinco anos; o tabelio, civil ou militar, ou o comandante ou escrivo, perante quem se fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento.

CAPTULO 2 INVENTRIO E PARTILHA

2.1 INVENTRIO

Paulo Nader apresenta dois conceitos para o vocbulo inventrio: um no sentido amplo, que significa o levantamento do patrimnio ativo e passivo de uma determinada pessoa e, estritamente, o procedimento por meio do qual se apuram os bens deixados pelo de cujus aos seus herdeiros e legatrios.

Segundo Caio Mrio, o inventrio assim definido:

Inventrio (derivado do verbo invenire, que significa achar, encontrar) o meio tcnico de anotar e registrar o que for encontrado, pertencente ao morto, para ser atribudo aos seus sucessores.

A finalidade principal do inventrio, segundo Slvio Venosa, catalogar os bens da herana, seu ativo e passivo, sucessores, credores. Entende ainda o citado autor que, para dividir o patrimnio do falecido, importante fazer uma minuciosa descrio de todos os bens que lhe pertencem, das dvidas a receber e a pagar, com o propsito de, depois de satisfeitos todos os valores devidos, partilhar o que restou do esplio entre herdeiros, legatrios e, ainda, entre os cessionrios de direitos hereditrios.

O inventrio possui carter instrumental, sendo, pois, de responsabilidade das regras de processo a sua normatizao, regras essas que se encontram dispostas no artigo 991, do Cdigo de Processo Civil, observando-se, entretanto, as regras do direito material contidas no artigo 1.991, do Cdigo Civil.

2.2 NATUREZA JURDICA DO INVENTRIO

A questo da natureza jurdica do inventrio bastante divergente na doutrina, posto que alguns entendam que seu processamento de cunho administrativo, isto , de jurisdio voluntria e outros afirmam ser ele de jurisdio contenciosa.

Como observa Orlando Gomes, o inventrio judicial, mesmo estando inserido entre os procedimentos de natureza contenciosa, possui caractersticas (...) e o rito simples dos processos administrativos, nele no se encontrando as figuras de autor e ru..

J Caio Mrio sustenta ser o inventrio obrigatoriamente judicial, uma vez tratar-se de matria de procedimento na liquidao da herana.

Para Euclides de Oliveira, a regra nos processos de inventrio (...) a contenciosidade, em face do possvel litgio entre os interessados na herana; (...); assevera que determinadas questes exigem julgamento, e no simples homologao judicial.

O Cdigo de Processo Civil de 1.973, seguindo norma estabelecida pelo Cdigo de 1.939, que ps fim s dvidas anteriormente surgidas quanto natureza jurdica do inventrio e estabeleceu o inventrio judicial, mesmo havendo herdeiros capazes, manteve o mesmo posicionamento, em seu artigo 982, determinando que: Proceder-se- ao inventrio judicial, ainda que todas as partes sejam capazes.

O Cdigo Civil de 2002, repetindo a mesma regra contida no Cdigo de Processo Civil de 1973, dispe em seu artigo 2.015, que: Se os herdeiros forem capazes, podero fazer partilha amigvel, por escritura pblica, termo nos autos do inventrio, ou escrito particular, homologado pelo juiz, confirmando a obrigatoriedade do inventrio judicial, ainda que houvesse somente herdeiros capazes.

Diante da posio adotada pelo ordenamento jurdico vigente, as sentenas proferidas nos processos de inventrios judiciais fazem coisa julgada material. Convm, contudo, ressaltar que, se houver o processamento de inventrio extrajudicial, introduzido pela Lei 11.441/2007, este ser meramente administrativo.

2.3 PROCESSO DE INVENTRIO JUDICIAL

O processo de inventrio judicial correr perante o juzo competente do ltimo domiclio do falecido, via de regra; entretanto, se o de cujus no possua domiclio certo, o foro ser o da situao dos bens; na falta deste, e os bens se situarem em lugares diversos, a competncia ser do lugar onde ocorreu o bito.

Deve ser iniciado dentro de sessenta dias da morte do indivduo, e findado nos doze meses subsequentes, prazo esse que poder ser prorrogado, de ofcio ou a requerimento das partes, caso haja motivo justificado. Esse prazo no fatal, pelo fato de serem pouco frequentes os processos que o cumprem.

Hironaka assevera que o descumprimento do prazo legal de abertura do inventrio no traz a privao do direito sucessrio, que permanece intacto, pois necessrio dar destino s relaes do falecido. Entende, ainda, a autora que, por tratar-se de prazo imprprio, o descumprimento do prazo de concluso do inventrio pode trazer conseqncias para o inventariante, que poder ser destitudo, se comprovada sua apatia, e, ainda, pelo testamenteiro (se houver), que poder ser privado de seu prmio.

Ser obrigatria a instaurao do inventrio judicial se houver herdeiro incapaz ou testamento deixado pelo autor da herana, ou ainda, quando houver divergncia entre sucessores; por outro lado, se todos forem capazes e concordes, podero optar pela via extrajudicial.

Preleciona Silvio Rodrigues que o inventrio pode ser requerido por quem se encontrar na posse e administrao dos bens. Aduz tambm, que so legtimos o cnjuge sobrevivente, o herdeiro, o legatrio, o testamenteiro, o cessionrio do herdeiro ou do legatrio, o credor do herdeiro, do legatrio ou do autor da herana, o sndico da falncia do herdeiro, do legatrio, do autor da herana ou do cnjuge suprstite, o Ministrio Pblico (havendo herdeiros incapazes), a Fazenda Pblica, quando tiver interesse, e tambm, a atuao do juiz, de ofcio, quando os interessados, anteriormente citados, permaneam inertes.

O pedido de abertura do inventrio dever ser acompanhado da certido de bito do falecido, procurao ao advogado nomeado e documentos que comprovem o vnculo entre o morto e seus sucessores, como por exemplo, certido de casamento, certido de nascimento, testamento, e tambm, rol indicando os bens que compem o acervo hereditrio.

Durante o processamento do inventrio podero surgir questes chamadas de alta indagao, que exigem produo de provas quanto matria de fato, ou seja, que dependam de produo de outras provas, que no a documental, como por exemplo, as relativas nulidade de testamento, doao, deserdao, indignidade, dentre outras, devendo ser remetidas s vias ordinrias, pois escapam competncia do juiz que preside o processo de inventrio.

Resolvem-se, contudo, no inventrio judicial, as questes relativas interpretao de testamento, renncia de herana, recusa de conferir bens doados, dentre outras.

2.3.1 O Inventariante e as Primeiras Declaraes

Antes de haver a nomeao do inventariante, poder o juiz nomear um administrador provisrio para representar o esplio ativa e passivamente.

Anota Venosa que podem ser administradores provisrios o cnjuge ou companheiro, o herdeiro que estiver na posse e administrao dos bens, o testamenteiro, a pessoa de confiana do juiz e que essa nomeao, na prtica, s existir nas heranas de grande valor ou caso haja dificuldade em se nomear inventariante.

Aps o recebimento do pedido de inventrio, o juiz nomear o inventariante, cuja funo precpua a de administrar e representar ativa e passivamente a herana, at que seja feita a partilha, que ter o prazo de (05) cinco dias, aps ter sido intimado, para firmar o compromisso de desempenhar o cargo.

Euclides de Oliveira e Sebastio Amorim enumeram, ainda, outros deveres do inventariante como: prestao das primeiras e ltimas declaraes, pessoalmente, ou por procurador com poderes especiais; exibio em cartrio, a qualquer tempo, para exame das partes, dos documentos relativos ao esplio;juntada aos autos da certido do testamento, se houver; trazer colao os bens recebidos pelo herdeiro ausente, renunciante ou excludo; prestao de contas de sua gesto ao deixar o cargo ou sempre que o juiz lhe determinar;requerer a declarao de insolvncia; ouvidos os interessados e com autorizao do juiz, alienar bens de qualquer espcie;transigir em juzo ou fora dele;pagar dvidas do esplio efazer as despesas necessrias com a conservao e o melhoramento dos bens do esplio.

Essa nomeao dever obedecer seguinte ordem preferencial: sobre o cnjuge sobrevivente (casado sob o regime da comunho de bens, exceto se este no estiver convivendo com seu consorte ao tempo de sua morte); sobre o herdeiro que estiver na posse e administrao de bens da herana; sobre o herdeiro mais idneo (caso nenhum outro esteja na posse dos bens); sobre o testamenteiro (se no houver cnjuge sobrevivente ou herdeiro capaz de exercer a funo e lhe tiver sido confiada a administrao da herana ou houver a distribuio da mesma em legados); sobre o inventariante judicial (onde houver) e sobre pessoa estranha, da confiana do Juzo (se no houver sido nomeado inventariante judicial).

Com relao nomeao da companheira como inventariante Slvio Rodrigues assim se manifesta:

Diante do artigo 226, pargrafo 3, da Constituio Federal, que reconhece a unio estvel como entidade familiar, e do princpio de que os bens adquiridos onerosamente na constncia da unio estvel pertencem a ambos os conviventes, salvo contrato escrito entre os companheiros (CC, art. 1.725), penso que, conforme as circunstncias, o juiz pode nomear inventariante o companheiro sobrevivente (RSTJ, 7/333).

Investido na funo de inventariante, ter ele o prazo de vinte dias para apresentar as primeiras declaraes que, segundo Paulo Nader, tida como Pea fundamental ao processo de inventrio judicial (...) e consiste na identificao do de cujus; indicao dos herdeiros e relao dos bens que compem a herana, descrevendo-os de maneira individualizada, informando, inclusive, os valores estimados de cada um deles.

Caso o inventariante no cumpra com suas obrigaes e encargos ou se comprove a falta de aptido ou idoneidade para o exerccio do cargo, poder ser removido por meio de requerimento de qualquer herdeiro ou interessado, ou ainda, de ofcio. Ser a remoo promovida em autos apartados, e da deciso que se determinou a remoo do inventariante caber agravo de instrumento, posto ter resolvido incidente processual, e no dado fim ao inventrio.

Na concepo de Arnoldo Wald, as causas de remoo do inventariante previstas no artigo 995, do Cdigo Processual vigente so meramente exemplificativas e no taxativas, significando com isso, que os atos praticados ou no pelo inventariante no se restringem apenas ao rol ali descrito.

Recebidas as primeiras declaraes pelo juiz, este mandar citar os sucessores para se manifestarem, no prazo de dez dias, apontado erros, omisses, opondo-se nomeao do inventariante ou contestando quem foi includo como herdeiro, que sero resolvidos pelo juiz, determinando-se o aditamento s primeiras declaraes.

nesse momento que aqueles herdeiros, beneficiados em vida, pelo autor da herana, devem colacionar os bens recebidos, a fim de se verificar se no houve prejuzo para qualquer herdeiro, em face da liberalidade efetuada.

Aps o prazo deferido aos sucessores, tambm sero chamados ao processo a Fazenda Pblica, o Ministrio Pblico, caso haja herdeiro incapaz ou ausente, e o testamenteiro, se houver testamento deixado pelo de cujus.

2.3.2 Avaliao dos Bens e ltimas Declaraes

Aps a manifestao dos sucessores sobre as primeiras declaraes, os bens que compem o acervo hereditrio sero avaliados pelo avaliador judicial, ou na falta deste, pelo perito nomeado pelo juiz.

Roberto Senise Lisboa conceitua a avaliao como (...) a fixao de um preo sobre determinado bem integrante do acervo hereditrio.. Esta avaliao interessa tanto aos sucessores, pois possibilitar uma partilha perfeita dos bens, quanto Fazenda Pblica, no tocante ao recolhimento dos impostos causa mortis e imposto de renda.

Observa Euclides de Oliveira que a avaliao ocorrer sempre que houver discordncia entre os herdeiros ou no caso de partilha diferenciada, envolvendo incapazes. Diz ainda que, o objetivo da avaliao atingir o escopo principal da partilha, que a igualdade na distribuio dos quinhes hereditrios.

Se todos os herdeiros forem capazes e concordes quanto aos valores dos bens informados nas primeiras declaraes, e, tambm, se houver concordncia da Fazenda Pblica, a avaliao poder ser dispensada; caso haja discordncia do Fisco em relao ao valor atribudo a determinados bens, somente estes sero novamente avaliados.

Apresentado o laudo relativo avaliao dos bens em juzo, abre-se o prazo de dez dias para que os interessados possam manifestar-se nos autos do inventrio, aceitando ou impugnando os valores nele contidos.

Se for julgada procedente a impugnao ao laudo apresentado pelo perito, o juiz determinar que seja retificado; observando determinao por ele exarada.

A avaliao s ser repetida se houver dolo ou culpa do perito ou quando os bens apresentarem defeito que lhes diminui o valor.

Depois de aceita a avaliao ou resolvidas as impugnaes a respeito de seu contedo, ser lavrado o termo de ltimas declaraes, onde o inventariante modificar ou complementar as primeiras declaraes por ele efetuadas, incluindo outros bens que no tenham constado, retificando as primeiras declaraes, esclarecendo pontos que tenham ficado obscuros, e fornecendo meios de facilitao da partilha dos bens.

Ainda sobre a avaliao, anota Caio Mrio:

A avaliao tem, ainda, a finalidade de perpetuar a estimativa do acervo sucessrio. uma vez concluda e aprovada, servir de base a todos os atos subseqentes: clculo do imposto causa mortis, partilha dos bens, venda judicial ou adjudicao dos que se destinem ao pagamento de dbitos, ou no se prestem diviso cmoda. Demais disso, se em razo de incidentes processuais ou outra causa eventual, procrastinar-se o encerramento do processo, a avaliao que servir de elemento para determinar o valor do patrimnio transferido, contemporaneamente abertura da sucesso.

Mesmo no havendo mais nada a declarar pelo inventariante, este ter que se manifestar nos autos, informando que no h mais nada a declarar ou acrescentar, pois as ltimas declaraes so indispensveis, isto , pea obrigatria.

Ouvidas as partes sobre as ltimas declaraes, no prazo de dez dias, ser calculado o imposto devido sobre os bens imveis e sobre o lquido da herana, bem como o clculo das custas judiciais.

Convm aqui salientar que, no Distrito Federal, o clculo do ITCMD, ou seja, imposto de transmisso causa mortis e doao, feito pela Fazenda Pblica do Distrito Federal, e no pelo Contador Judicial, como consta no Cdigo de Processo Civil.

2.3.3 Pagamento das Dvidas

O pagamento das dvidas ser efetuado de acordo com os bens deixados pelo autor da herana, ou seja, a herana deve suportar o passivo deixado pelo falecido, sendo os herdeiros responsveis at o limite dos bens que compem o acervo hereditrio.

Carlos Roberto Gonalves afirma que o patrimnio do devedor responsvel pelas suas dvidas, e, no caso especfico da pessoa falecida, a herana responder pelos dbitos por ele deixados e os herdeiros s so responsveis proporcionalmente cota que receberam, consoante o disposto nos artigos 1.997, do Cdigo Civil e 597, do Cdigo de Processo Civil vigentes.

Diz ainda, o supramencionado autor, citando Zeno Veloso:

Enquanto vivia, o patrimnio do devedor representava a garantia genrica dos credores. Se morre o devedor, no se consideram, s por isso, pagas e quitadas as suas dvidas. O direito dos credores remanesce no acervo que ele deixou. Os credores acionaro o esplio e recebero da herana o que lhes for devido.

Itabaiana de Oliveira classifica as dvidas em duas espcies: dvidas do falecido e dvidas pstumas, que, por sua vez, divide os credores em duas categorias: credores do falecido e credores pstumos.

Dvidas do falecido so aquelas contradas pelo autor da herana ainda vivo. J as dvidas pstumas, aquelas contradas em decorrncia de sua morte ou do prprio processo de apurao da herana, tais como: despesas funerrias, vintena do testamenteiro e custas judiciais.

As dvidas a serem pagas pelo monte, conforme leciona Caio Mrio, so:

I. Em primeiro plano, aquelas que gozam de privilgio geral, na ordem legalmente estabelecida (novo Cdigo Civil, art. 965), a saber: a) o crdito por despesas com funeral, feito segundo a condio do finado, costume do lugar; b) as custas judiciais e despesas com a arrecadao e liquidao da massa; c) os gastos com o luto do cnjuge sobrevivo e dos filhos; d) o crdito por despesas com a doena de que faleceu o devedor, no semestre anterior sua morte; e) o crdito pelos gastos de mantena do devedor falecido e sua famlia, no trimestre anterior ao falecimento; f) o crdito pelos salrios devidos aos empregados e mais pessoas de servio domstico do devedor, nos seus derradeiros seis meses de vida; g) os demais crditos de privilgio geral.

II. As dvidas contradas em vida pelo falecido, e que se transmitem por sua morte aos herdeiros.

Os credores do esplio devero se habilitar perante o processo de inventrio antes de ultimada a partilha, para cobrana de suas dvidas. A citada habilitao ser distribuda por dependncia e correr em autos apartados, com prova literal da dvida. Havendo concordncia das partes, o juiz ordenar que se separe valor suficiente em dinheiro, ou na falta deste, bens suficiente para quitao da dvida. Caso no haja concordncia sobre o pedido do credor, ser este remetido s vias ordinrias, reservando o juiz, bens suficientes para pagamento, no caso de entender que a prova apresentada suficiente e a impugnao no se fundar em quitao.

Oportuno lembrar que os crditos relativos Fazenda Pblica no esto sujeitos habilitao em inventrio, nos termos dos artigos 187 e 189, do Cdigo Tributrio Nacional.

As dvidas liqudas, certas, e ainda no vencidas, podero ser requeridas junto ao inventrio; neste caso, se houver concordncia das partes, o juiz habilitar o crdito e determinar a reserva de bens para pagamento futuro; em no havendo concordncia, ser indeferida a habilitao e o credor ter que aguardar o vencimento da dvida para poder interpor a medida judicial cabvel, qual seja, cobrana, execuo, ou nova habilitao.

2.4 INVENTRIO NEGATIVO

Utilizado em situaes excepcionais, conforme tem entendido a doutrina, embora ainda no esteja previsto na legislao vigente, o inventrio negativo, que medida facultativa, servir para se comprovar que no existem bens a inventariar, com o objetivo de se acertar determinada situao patrimonial do vivo ou de terceiro.

Caio Mrio descreve-o assim:

A rigor, a expresso inventrio negativo contraditria: consistindo em uma relao de bens deixados pelo finado, somente poderia ser positivo. A ausncia de bens a negao do inventrio, e, portanto, se a pessoa morre sem nada de seu, caso seria de se no proceder a qualquer medida.

A hiptese mais comum em que se faz necessrio o procedimento do inventrio negativo a prevista no artigo 1.523, inciso I, do Cdigo Civil, que a do vivo que tenha filho do falecido e que tenha que inventariar os bens do casal, partilhando-os entre os sucessores, no devendo se casar antes disso, exceto se for no regime da separao obrigatria de bens. Se quiser se casar noutro regime, dever instaurar o processo de inventrio negativo para provar que no existem bens a inventariar. De igual modo, a situao contida no inciso III, do citado artigo 1.523, do Cdigo Civil, que a do divorciado, quando ainda no homologada ou decidida a partilha dos bens, dever, tambm, realizar o inventrio negativo.

Pode ocorrer, ainda, que haja necessidade de se provar que o de cujus no deixou bens ou os mesmos no so suficientes para quitao das dvidas por ele contradas, demonstrando o inventrio negativo que o esplio no possui recursos suficientes para arcar com as obrigaes assumidas pelo morto e que no pode responder por encargos superiores herana.

Outra situao a hiptese em que o falecido deixou apenas obrigaes a cumprir, em que se nomeia inventariante para que cumpra tal obrigao, como o caso da outorga de escritura a compromissrios compradores de imveis vendidos e quitados anteriormente abertura da sucesso.

O inventrio negativo ser impetrado, pelo interessado, pelo rito sumrio, e informar a ocorrncia do bito, a prestao de compromisso de inventariante, e declarao da total inexistncia de bens a partilhar; aps, sero citados os possveis interessados, o Ministrio Pblico e Fazenda Pblica e estando todos de acordo, o juiz proferir a sentena, declarando no haver bens a inventariar.

2.5 ARROLAMENTO

O arrolamento uma espcie de inventrio simplificado, que suprime a maior parte das formalidades do processo de inventrio comum, tendo como objetivo a rapidez e economia processual. cabvel nas situaes especficas dos artigos 1.031 ao 1.036, do Cdigo de Processo Civil, quais sejam, partilha amigvel entre herdeiros capazes; quando houver herdeiro nico e quando o valor dos bens do esplio for igual ou inferior a 2.000 (duas mil) Obrigaes do Tesouro NacionalOTN.

Duas so as modalidades de arrolamento: o sumrio, regulado nos artigos 1.031 a 1.035, do Cdigo de Processo Civil, que tem como requisitos partes capazes, concordes, independentemente do valor da herana e o arrolamento comum, disposto no artigo 1.036, do Cdigo de Processo Civil, para o caso de herana de pequeno valor, mesmo havendo herdeiros incapazes ou ausentes.

2.5.1 Arrolamento Sumrio

Carlos Roberto Gonalves conceitua o arrolamento sumrio como: (...) forma simplificada de inventrio-partilha, permitida quando todos os herdeiros so capazes e convierem em fazer partilha amigvel dos bens deixados pelo falecido, qualquer que seja o seu valor.

Aplica-se, tambm, o arrolamento sumrio no caso de homologao de pedido de adjudicao, quando houver apenas um nico herdeiro, nos termos do 1, do artigo 1.031, do Cdigo de Processo Civil.

Na petio inicial os herdeiros requerero a nomeao do inventariante por eles indicado, informaro os ttulos dos herdeiros e bens do esplio, bem como seus respectivos valores para efetivao da partilha. No haver avaliao judicial dos bens constantes do acervo hereditrio, exceto se impugnados os valores dos bens reservados aos credores do de cujus e tambm no sero conhecidas questes referentes a recolhimento de impostos de transmisso, nem as relativas taxa judiciria.

Para se requerer a homologao da partilha amigvel perante o juiz, necessrio prvio recolhimento do imposto de transmisso causa mortis (ITCD) e reserva de bens necessrios ao pagamento de credores do esplio.

Na segunda hiptese de cabimento de arrolamento sumrio, que a de haver herdeiro nico, este, aps o recolhimento do imposto de transmisso, de acordo com o contido no pargrafo 1, do artigo 1.031, do Cdigo de Processo Civil, poder requerer a adjudicao dos bens ao juiz, devendo tambm observar a regra de reserva de bens, caso haja dvidas a serem quitadas.

Por fim, devido possibilidade de se realizar o inventrio e a partilha pela via administrativa, mediante escritura pblica, no necessitando de homologao judicial, de acordo com a Lei n 11.441/07, preleciona Carlos Roberto Gonalves que:

(...) o procedimento judicial de arrolamento sumrio fica reservado aos casos em que o falecido deixou testamento, ou em que, mesmo no havendo manifestao de ltima vontde, as partes preferirem essa via, em face do carter opcional da celebrao de inventrio por escritura pblica.

2.5.2 Arrolamento Comum

O arrolamento comum, tambm denominado como simples, utilizado no caso de os bens que compem o acervo hereditrio forem de pequeno valor at o limite de 2.000 ORTNs (Obrigaes Reajustveis do Tesouro Nacional), que correspondem a 13,840 BTNs (Bnus do Tesouro Nacional), ndices esses que foram extintos, sendo substitudos pela TR (Taxa Referencial criada pela Lei n 8.177/91).

O critrio nesse tipo de procedimento o valor dos bens a serem inventariados e no se h concordncia entre os herdeiros quanto partilha ou a adjudicao ao nico herdeiro.

O inventariante no assina termo de compromisso, ele apenas apresenta suas declaraes com os valores dos respectivos bens deixados pelo falecido, bem como o modo como sero partilhados.

Caso haja impugnao aos valores dos bens apresentados pelo inventariante, ser determinada nova avaliao pelo juiz e apresentada no prazo de dez dias. Aps, o juiz resolver as questes impugnadas, decidindo sobre a partilha e determinando o pagamento de dvidas no impugnadas.

No que diz respeito taxa judiciria e a imposto de transmisso, bem como ao julgamento da partilha, aplica-se o estabelecido para o arrolamento sumrio, qual seja, a prova do recolhimento dos supramencionados tributos.

A diferena entre o arrolamento sumrio e o comum que naquele condio obrigatria que todos os interessados sejam concordes, enquanto que neste no precisa haver concordncia das partes, bastando o valor reduzido dos bens da herana.

2.6 PARTILHA

Depois de terminado o inventrio, no qual esto contidos os bens deixados pelo falecido, e dele abatidas as dvidas deixadas, pagos os legados, recolhido o imposto de transmisso, ser feita a partilha do restante lquido entre os herdeiros.

Clvis Bevilqua entende ser a partilha a diviso dos bens da herana segundo o direito hereditrio dos que sucedem, e na consequente e imediata adjudicao dos quocientes assim obtidos aos diferentes herdeiros.

No entendimento de Arnold Wald, a partilha assim definida:

(...) a repartio ou distribuio dos bens do falecido e tem efeitos meramente declaratrios, pois os haveres do de cujus transferem-se aos herdeiros com o falecimento e independentemente da partilha, que se limita a esclarecer os pertences de cada herdeiro.

Caio Mrio apresenta o seguinte conceito de partilha:

A partilha o ponto culminante da liquidao da herana. Pe termo ao estado de indiviso. Discrimina e especifica os quinhes hereditrios. Fixa o momento em que o acervo deixa de ser uma res communis dos herdeiros, operando a mutao em coisas particulares de cada um.

Com a partilha, o carter de indivisibilidade da herana determinado pela abertura da sucesso desaparece, ou seja, a partilha pe fim ao estado de indiviso dos bens; a figura do esplio d lugar ao herdeiro e sua respectiva cota hereditria.

A partilha poder ser amigvel ou judicial; podendo, ainda, ser feita em vida. A partilha amigvel aquela em que todos os herdeiros so maiores, capazes, com deciso unnime sobre a diviso do acervo hereditrio; neste modo de partilhar aceita-se somente unanimidade de decises, no permitindo, to somente, a maioria, para se efetivar a diviso dos bens. Poder ser feita por escritura pblica, termo nos autos ou instrumento particular, homologado pelo juiz.

Judicial ser a partilha, quando houver herdeiro incapaz ou discordncia entre interessados a respeito dos bens a serem partilhados.

Poder ainda, haver a partilha em vida, onde o ascendente distribui seus bens, estabelecendo a maneira como sero divididos, seja em forma de doaes, gerando conseqncias imediatas, ou por testamento, cujos efeitos se verificam aps a morte. Ressalte-se que a legtima dos herdeiros necessrios dever ser preservada e, tambm, esta ela sujeita reviso do juiz.2.6.1 Partilha Judicial

Conforme mencionado anteriormente, a partilha judicial ser obrigatria quando houver herdeiro incapaz, para que a atribuio de quinhes seja acompanhada e conferida pelo Ministrio Pblico e fiscalizada pelo juiz, ou ainda, quando no existir acordo entre os herdeiros, mesmo sendo todos capazes.

Ao serem os bens partilhados judicialmente, deve ser observada a maior igualdade possvel quando da diviso dos quinhes hereditrios, seja quanto ao valor, natureza e qualidade dos bens.

Preleciona Hironaka que:

Essa igualdade buscada pelo magistrado no representa destinar uma parte aritmtica idntica entre os herdeiros. Primeiro, porque devem ser tambm respeitadas eventuais diferenas entre os quinhes, uns maiores, outros menores. Segundo, a melhor acomodao da partilha pode no representar o condomnio entre os bens. Alis, a doutrina sugere que o condomnio, considerado a discordiarium nutrix, mater rixarum ou sementeira de demandas, atritos e dissenses, seja sempre evitado.

Orlando Gomes ensina que a partilha judicial deve, em suma, atender s seguintes regras: 1 a da igualdade; 2 a da preveno de litgios futuros; 3 a da comodidade dos co-herdeiros.

Para se elaborar o esboo de partilha judicial, o processo de inventrio dever ser remetido ao Contador-Partidor que, na referida elaborao, observar as regras constantes do artigo 1.023 do Cdigo de Processo Civil.

Slvio de Salvo Venosa aponta a desnecessidade de interveno do partidor, mesmo sendo judicial a partilha, quando o inventariante ou outro interessado apresentar plano com o qual todos concordem.

Depois de elaborado o plano de partilha, abre-se vista aos herdeiros para se manifestarem no prazo comum de cinco dias e resolvidas as impugnaes, far-se- o lanamento da partilha nos autos, na qual constar de um auto de oramento, que mencionar: os nomes do autor da herana, do inventariante, do cnjuge suprstite, dos herdeiros, dos legatrios e dos credores admitidos; o ativo, o passivo e o lquido partvel, com as necessrias especificaes e o valor de cada quinho; alm do oramento, haver uma folha de pagamento para cada parte, declarando a quota a pagar-lhe, a razo do pagamento, a relao dos bens que Ihe compem o quinho, as caractersticas que os individualizam e os nus que os gravam.

Pago o imposto de transmisso e juntado respectivo comprovante de pagamento nos autos, bem como Certido Negativa de Dvida para com a Fazenda Pblica, o juiz julgar a partilha por sentena.

Tendo transitado em julgado a sentena, cada herdeiro receber os bens que lhe couberam e um formal de partilha.

2.7 INVENTRIO E PARTILHA EXTRAJUDICIAIS (LEI N. 11.441/2007)

Orlando Gomes assinala que a partilha por meio do inventrio extrajudicial uma tendncia moderna adotada em vrios pases, retirando da apreciao do Poder Judicirio questes relativas a direitos disponveis entre pessoas maiores e capazes.

Moacir Csar Pena Jr. faz o seguinte comentrio acerca da partilha extrajudicial: A partilha extrajudicial independe de homologao judicial e possui carter facultativo, possibilitando aos interessados, ainda que capazes e concordes, a opo pelo processo judicial (de homologao de partilha amigvel).

A Lei n 11.141, de 04 de janeiro de 2007, de aplicao imediata, deu nova redao ao artigo 982, do Cdigo de Processo Civil, possibilitando a realizao de inventrio e partilha extrajudiciais, isto , por meio de escritura pblica, observados determinados requisitos, a qual constitui ttulo hbil para o registro imobilirio. O objetivo da supramencionada lei foi dar rapidez e tornar menos onerosos os atos a que se refere, e desafogar o Poder Judicirio, posto tratar-se de questes simples, meramente homologatrias de acordos.

Convm ressaltar que a presena do advogado, cuja qualificao e assinatura constaro da escritura pblica, assistindo aos interessados indispensvel no ato da lavratura do referido instrumento pblico.

A referida lei causou vrias controvrsias quando da sua entrada em vigor, fazendo com que o Conselho Nacional de Justia CNJ editasse a Resoluo n 35, de 24.04.2007, contendo cinqenta e quatro artigos, disciplinando a sua aplicabilidade, pelos servios notarias e de registro.

Ao discorrer sobre a citada Resoluo, Arnoldo Wald declara que:

A escolha pela via extrajudicial ou judicial representa uma opo dos interessados. Dessa forma, no havendo testamento ou interessado incapaz, facultada a via administrativa do inventrio e da partilha, desde que os interessados cheguem ao consenso. Caso contrrio, a via judicial ser obrigatria.

Se todos os herdeiros forem capazes, de comum acordo quanto diviso dos bens inventariados, assistidos por um advogado e no houver testamento deixado pelo falecido, podero optar pela via administrativa, nomeando, obrigatoriamente um interessado, com poderes de inventariante para represent-los. Caso no haja consenso entre os mesmos, a via judicial ser obrigatria.

Se houver cnjuge ou companheiro vivo, devero igualmente comparecer para o ato.

Com relao transferncia de bens imveis e mveis constantes da escritura pblica procedente da partilha extrajudicial, ensina Orlando Gomes que:

A escritura pblica constitui ttulo hbil para transferncia dos imveis perante o Registro Geral de Imveis e, tambm, para transferncia dos bens mveis, embora a lei seja omissa. No faz sentido proceder escritura de inventrio e partilha para bens imveis e, simultaneamente, ter de fazer o inventrio judicial para transferncia dos bens mveis.

Importante ressaltar que o recolhimento do imposto de transmisso causa mortis ser feito administrativamente e antes da lavratura da escritura.

2.8 SONEGADOS

Carlos Maximiliano conceitua o vocbulo sonegado:

sonegado tudo aquilo que deveria entrar em partilha, porm foi ciente e conscientemente omitido na descrio de bens pelo inventariante, no restitudo pelo mesmo ou por sucessor universal, ou doado a herdeiro e no trazido colao pelo beneficiado com a liberalidade.

Na viso de Slvio Rodrigues, sonegados so os bens que:

(...) deviam entrar na partilha, porm foram ciente e conscientemente dela desviados, quer por no terem sido descritos ou restitudos pelo inventariante ou por herdeiro, quer por este ltimo no os haver trazido colao, quando esse dever se lhe impunha.

Assevera ainda, o supramencionado autor que, essa falta revela m-f, e por isso, quem a cometeu, sujeita-se pena civil de sonegados e, tambm, pena criminal relativa ao delito de apropriao indbita.

Venosa certifica que, independentemente de a conduta do sonegador ensejar punio da esfera criminal, a sonegao instituto tpico do direito sucessrio, sendo o meio pelo qual se atingir o sonegador unicamente em razo de ter agido intencionalmente para prejudicar a apurao dos bens deixados pelo falecido, ocultando os que se encontram em sua posse.

Para haver sonegao necessrio que dois elementos estejam presentes: o objetivo e o subjetivo. O elemento objetivo caracteriza-se pela omisso de informaes no processo de inventrio ou na escritura pblica, ou deixar de colacionar os bens doados em vida pelo autor da herana. J o segundo elemento diz respeito conscincia do agente; est ligado ao fato de que a negao de informar ou restituir o bem contrria ao estabelecido pelo ordenamento jurdico.

2.8.1 Sujeitos pena de Sonegados. Pena imposta

Na lio de Washington de Barros, a sonegao poder ser praticada pelas seguintes pessoas: inventariante herdeiro; inventariante no-herdeiro; herdeiro ou seu cessionrio e tambm, pelo testamenteiro.

Tanto o inventariante quanto o herdeiro estaro sujeitos pena de sonegados. O primeiro, quando omitir, intencionalmente, bens ou valores, nas primeiras declaraes, posto estar obrigado a trazer aos autos declarao completa e individuada de todos os bens do esplio e dos alheios que nele forem encontrados, e nas ltimas declaraes, afirmando no existirem outros bens a serem inventariados.

Com relao ao herdeiro, se o mesmo no indicar bens que estejam sob seu poder, ou sabendo ele que estejam nas mos de terceiros, ou ainda, quando omitir bens doados pelo de cujus que devem ser colacionados, comete delito civil de sonegao.

Alm do inventariante e do herdeiro, tambm o testamenteiro estar sujeito pena de sonegados, caso esteja exercendo a inventariana.

A respeito da sonegao imputada ao inventariante e ao herdeiro, Caio Mrio leciona:

S se pode, contudo, argir de sonegao o inventariante, depois de encerrada a descrio dos bens, com a declarao por ele feita de no existirem outros a inventariar e partir; e o herdeiro, depois de declarar no inventrio que os no possui (Novo Cdigo Civil, art. 1.996).

Cumpre, ainda, destacar que a ocultao dos bens tem de ser praticada por pessoas que estejam ligadas sucesso para que o delito de sonegao seja caracterizado, porque, se houver omisso por parte de terceiros, estranhos sucesso, estaremos diante de uma ao reivindicatria ou possessria.

A pena imposta pelo artigo 1.992, do Cdigo Civil, consiste, para o herdeiro, na perda do direito sobre o bem sonegado, que devolvido ao monte e partilhado entre os outros herdeiros, como se o sonegador nunca tivesse existido, tendo ainda, que restituir os frutos e rendimentos do bem sonegado. Caso o bem sonegado no se encontrar mais sob o poder do sonegador, ter que restituir o seu valor, mais perdas e danos.

Se o prprio inventariante for o sonegador, alm de sofrer a perda do direito sobre o bem sonegado, ser, tambm, removido do cargo, sendo a pena imposta ao mesmo, aplicada, independentemente de processo especial, bastando a comprovao plena e imediata da sonegao com documentos.

Se o sonegador for testamenteiro e a sonegao for atinente aos bens testados, ser ele removido da inventariana e perder o prmio.

2.8.2 Ao de Sonegados

Bevilqua define a ao de sonegados como (...) a via judicial destinada a obrigar o inventariante ou herdeiro a apresentar os bens que dolosamente ocultar.

Com relao ao de sonegados, Hironaka assevera que:

Essa ao, justamente por envolver questo de alta indagao, desenvolve-se em separado dos autos de inventrio, sendo, no entanto, o foro do inventrio o competente para conhecer e julgar esta questo, de resto conexa quela. Tal conexo, no entanto, no impede que a ao de sonegados seja proposta depois de findo o inventrio. Nesse caso, a ao dever ser proposta no juzo prevento.

Legitimados a propor a ao de sonegados so: qualquer herdeiro, contra o inventariante; o inventariante ou outro herdeiro, no caso de ter sido a sonegao praticada por herdeiro; o credor do monte, quando tiver sofrido prejuzo com a ocultao dos bens.

Moacir Csar Pena Jr. apresenta outros interessados que podero figurar no plo ativo da ao de sonegados, como o cnjuge ou companheiro sobrevivente, que, mesmo no sendo herdeiros, demonstrem falhas na descrio de bens que compem a herana, visto terem interesse legtimo na meao dos bens que compem o monte partvel. Interessante, tambm, ressaltar que o referido doutrinador acrescenta entre os interessados o parceiro da unio homoafetiva.

Entende Carlos Roberto Gonalves que a ao de sonegados prescreve em dez anos, iniciados contra o inventariante, quando ele afirma no haver mais outros bens a serem inventariados e, contra o herdeiro, aps ter ele declarado que no possui os bens sonegados.

A sentena proferida na referida ao aproveitar aos demais interessados, devido indivisibilidade da herana at que ocorra o trmino da partilha, e tambm, pelo fato de o bem, ou o valor ser devolvido ao monte para ser partilhado. Normalmente, neste tipo de ao, j houve a partilha dos bens, entretanto a mesma no ser anulada nem rescindida, o que ocorrer a sobrepartilha dos bens.

CAPTULO 3 DOAO

3.1 CONTRATOS

Arnaldo Rizzardo traz o conceito clssico do vocbulo contrato, apresentado por Caio Mrio, que o define tecnicamente como um acordo de vontades, na conformidade da lei, e com a finalidade de adquirir, resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos.

Por outro lado, Miguel Reale conceitua o contrato da seguinte forma: um elo que, de um lado, pe o valor do indivduo como aquele que o cria, mas, de outro lado, estabelece a sociedade como o lugar onde o contrato vai ser executado e onde vai receber uma razo de equilbrio e medida.

Segundo Paulo Nader, na acepo atual, o contrato tido como (...) acordo de vontades que visa a produo de efeitos jurdicos de contedo patrimonial. Por ele, cria-se, modifica-se ou extingue-se a relao de fundo econmico.

Para que o contrato exista e seja considerado vlido, esta o mesmo sujeito a determinados requisitos de validade que, se no forem observados, tornam o contrato ineficaz.

Caio Mrio aponta duas espcies de requisitos de validade: gerais, que dizem respeito a todos os atos negociais (a capacidade das partes, o objeto lcito, possvel, determinado ou determinvel, e a forma prescrita ou no defesa em lei); e especficos (peculiares aos contratos), que, por sua vez, subdividem-se em requisitos subjetivos (capacidade das partes, aptido especfica para contratar e aptido para consentir ou, na linguagem comum, manifestao de vontade), objetivos (possibilidade fsica e jurdica do objeto, liceidade licitude de seu objeto, determinao pelo gnero, pela espcie, pela quantidade, pelas caractersticas individuais do objeto e economicidade) e formais (forma, que deve ser prescrita ou no defesa em lei).

Na formao dos contratos, Rizzardo destaca os seguintes princpios a serem obedecidos: autonomia da vontade (liberdade de contratar, limitada funo social do contrato); liberdade e funo social do contrato (liberdade na elaborao do contrato; caso haja estipulaes ou clusulas abusivas, haver o predomnio da funo social sobre as mesmas); equivalncia das prestaes (preo justo, equivalente ao valor aproximado da coisa vendida); supremacia da ordem pblica (obedincia s restries impostas pela lei); obrigatoriedade dos contratos (como h liberdade para contratar, os contratos devem ser fielmente cumpridos); probidade e boa-f (sinceridade de vontade ao firmar o contrato) e o dirigismo contratual (interveno do Estado no domnio econmico, controlando o individualismo contratual e refreando a autonomia da vontade, por meio da lei).

3.2 CONTRATO DE DOAO

Nos ensinamentos de Orlando Gomes, a doao no Direito moderno, vista como: (...) contrato pelo qual uma das partes se obriga a transferir gratuitamente um bem de sua propriedade para patrimnio da outra, que se enriquece na medida em que aquela se empobrece.

Segundo Roberto Senise Lisboa, a doao considerada como (...) contrato por meio do qual uma parte assume a obrigao de entregar outra, a ttulo gratuito, determinado bem, que por esta aceito.

Para Pablo Stonze Gagliano, a doao :

(...) um negcio jurdico que firmado entre dois sujeitos (doador e donatrio), por fora do qual o primeiro transfere bens, mveis ou imveis para o patrimnio do segundo, animado pelo simples propsito de beneficncia ou liberalidade.

Csar Fiuza conceitua o contrato de doao como (...) contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere de seu patrimnio bens ou vantagens para o de outra, que os aceita.

A doao est tipificada nos artigos 538 a 564, do Cdigo Civil, tendo seu conceito disposto no artigo 538 do Cdigo Civil: (...) o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimnio bens ou vantagens para o de outra. Ao comentar a definio de doao constante do supramencionado artigo 538, Carlos Roberto Gonalves entende que a funo de um diploma legal estatuir normas e comandos e no apresentar definies e conceitos sobre temas tratados, os quais so tarefa para a doutrina.

Pelo conceito de doao constante do supramencionado artigo 538, do Cdigo Civil, pode-se afirmar que o contrato de doao apresenta as seguintes caractersticas: unilateral, posto somente o doador ter obrigaes; consensual, bastando o acordo de vontades e gratuito, posto diminuir o patrimnio do doador e aumentar o do donatrio. E, ainda, formal, porque tem de ser obediente forma prescrita em lei.

A forma relativa ao contrato de doao exigida pela lei a escrita, por meio de escritura pblica ou instrumento particular, tanto para os bens mveis quanto para imveis, salientando que, se o valor dos bens imveis exceder trinta salrios mnimos vigentes no Pas, a escritura pblica ser indispensvel. Existe, ainda, a possibilidade de doao verbal, no caso de bens mveis, de pequeno valor, seguida, de imediato a tradio do referido bem.

Com relao aos bens mveis de pequeno valor, Rizzardo entende serem eles doaes de pequenas coisas, aquelas que no esto no comrcio, inclusive de valor inferior a um salrio mnimo e sua deteno ou posse no requer documento determinado ou registro especial. Aduz, ainda, o citado autor que:

Trata-se da doao de coisas pessoais, de lembranas, de bens colhidos na produo rural, ou manufaturados, e que nem esto no comrcio. Mostra-se inconveniente e impraticvel documentar a doao de um presente, ou de coisas singelas e de uso comum.

Caio Mrio, apresentando entendimento diverso, citando Serpa Lopes; afirma que, pelo fato de a lei no haver estabelecido critrio estimativo, sua fixao se estabelecer pelas circunstncias em que ocorrer e pelas posses do doador, fundamentando-se na certeza de que um mesmo objeto que para uma pessoa de elevados recursos representa valor reduzido, para outra de pequena resistncia econmica alcana as propores do inatingvel.

J Pablo Stonze traz a seguinte lio:

Observe-se, entretanto, que o legislador no cuidou de estabelecer critrios para a mensurao do conceito de pequeno valor. Trata-se, pois, de um conceito aberto ou indeterminado, que dever ser preenchido pelo juiz, no caso concreto.

O contrato de doao tspec

em como requisitos indispensveis o enriquecimento do donatrio (devido modificao patrimonial ocorrida com a doao); o animus donandi (vontade de doar sem esperar nada em troca); a atualidade (transferncia atual de bens do doador para o donatrio) e a irrevogabilidade. No se pode deixar de observar, tambm, os requisitos essenciais fixados pela lei, atinentes a todos os contratos, que so: agente capaz, vontade no viciada, forma prescrita e no defesa em lei e objeto lcito e possvel.

3.2.1 Espcies de Doao

As doaes classificam-se em: doao pura; doao modal, ou com encargo; doao remuneratria; doao em contemplao do merecimento do donatrio; doao condicional e doao mista.

Na doao pura no se exige nada do donatrio, s