entendendo o oriente médio

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SOLUÇÃO PARA A PAZ SOLUÇÃO PARA A PAZ ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO ENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO PAZ - Book AF.indb 1 PAZ - Book AF.indb 1 01.06.09 15:01:43 01.06.09 15:01:43

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Page 1: Entendendo o Oriente Médio

SOLUÇÃO PARA A PAZSOLUÇÃO PARA A PAZENTENDENDO O ORIENTE MÉDIOENTENDENDO O ORIENTE MÉDIO

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Page 2: Entendendo o Oriente Médio

Associação Benefi cente e Cultural B´nai B´rith do BrasilOrganização: Comissão Nacional de Direitos Humanos Coordenação: Abraham GoldsteinTextos: Adriana Dias, Claudio Silberberg, Eric Calderoni, Gisele Valdstein, Lia Bergmann, Tounée RossetColaboração: José Simantob NettoCapa: Marcelo Seiko HigaProjeto gráfi co e diagramação: DG Impressão: Gráfi ca SKY

ISBN: 978-85-62655-00-51.ª edição publicada em junho de 2009.

Reprodução permitida desde que citada a fonte.

Associação Benefi cente e Cultural B´nai B´rith do BrasilRua Caçapava, 105 – CEP: 01408-010 – São Paulo – SP Tel.: (11)3082-5844www.bnai-brith.org.br

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Solução para a paz : entendendo o Oriente Médio / [organização: Comissão Nacional de Direitos Humanos;

coordenação Abraham Goldstein] . – São Paulo : Associação Benefi cente e Cultural B’nai B’rith do Brasil, 2009.

Vários autores.Bibliografi a.

1. Confl ito Árabe-Israelense 2. Judeus - História 3. Oriente Médio - Condições econômicas 4. Oriente Médio - Condições sociais 5. Oriente Médio -História 6. Sionismo I. Comissão Nacional de Direitos Humanos. II. Goldstein, Abraham.

09-04473 CDD-956

Índice para catálogo sistemático:1. Oriente Médio : História 956

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“Todas as pessoas nascem livres e iguais emdignidade e direitos. São dotadas de razão

e consciência e devem agir em relação umasàs outras com espírito de fraternidade.”

Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948)

Apoiamos a excelente iniciativa de divulgação deste material que inspira a paz e a coexistência em homenagem

às vítimas da violação dos direitos humanos.

FUNDAÇÃO FILANTRÓPICA ARYMAX

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IO 1 Oriente Médio: o que é e onde fi ca 6 Lia Bergmann

2 Israel: 3.700 anos de história 17 Lia Bergmann

3 O Islã: 1.300 anos de história 25 Lia Bergmann

4 O antissemitismo a partir do século XIX e o Holocausto 34 Adriana Dias

5 A independência do Estado de Israel contemporâneo e sua realidade hoje 45 Lia Bergmann, Gisele Valdstein e Claudio Silberberg

6 Os judeus nos principais países da Liga Árabe 59 Tounée Rosset

7 Solução para a paz: dois Estados para dois povos 71 Eric Calderoni

8 Linha do tempo: Terra de Israel e principais eventos mundiais 92 Lia Bergmann

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IntroduçãoPonto de convergência das três grandes religiões da atualidade – judaísmo, cristianismo e islamismo –, o Oriente Médio é uma área geográfi ca que engloba países do sudoeste da Ásia e do nordeste da África. Grande parte deles é banhada pelo Mar Vermelho, Mar Mediterrâneo, Golfo Pérsico, Mar Negro e Mar Cáspio. Vamos conhecer melhor essa região, que abriga grande diversidade étnica, cul-tural, social e política, como se depreende das tabelas 1 e 2, com dados básicos e essenciais sobre cada um dos países do Oriente Médio, território marcado por confl itos políticos e religiosos que só podem ser compreendidos à luz da reali-dade histórica e geográfi ca.

Para começar, encontramos diferentes conceituações sobre quais países fa-zem parte do Oriente Médio. Não há fronteiras defi nidas e consensuais. Alguns autores falam em treze países, outros afi rmam que são dezesseis, e outros ainda estendem mais, por afi nidade cultural e política, a abrangência da região.

Os primeiros historiadores e geógrafos europeus modernos dividiram o Oriente em três partes, de acordo com a distância que as separam da Europa: Extremo Oriente (China, Japão etc.), Oriente Médio e Oriente Próximo. Hoje os dois últimos são sinônimos, e o nome Oriente Médio, que começou a ser usado depois de 1900, se afi rmou durante a Segunda Guerra Mundial.

Vamos considerar Oriente Médio os Estados que correspondem ao Platô Persa: Irã; à antiga Mesopotâmia: Iraque; à Península Arábica: Arábia Saudita, Kuwait, Iêmen, Omã, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos (EAU); ao Levante: Israel, Jordânia, Líbano e Síria; à Anatólia: Turquia; ao norte da África: Egito; e ao Mar Mediterrâneo: Chipre1.

Embora não sejam um Estado legalmente constituído, temos os territórios palestinos, que incluem a Faixa de Gaza, controlada hoje pelo grupo extremista palestino Hamas, e a Cisjordânia, sob o controle da Autoridade Nacional Palesti-na, formada majoritariamente por membros do Fatah (veja Capítulo 3).

Para ter uma ideia das dimensões, os países situados na costa do Mar Mediter-râneo – Israel, Líbano, Jordânia e Síria – têm uma área equivalente à do Estado do Maranhão. As nações localizadas no Golfo Pérsico – Kuwait, Bahrein, Catar e Emirados Árabes Unidos – possuem, ao todo, uma área pouco menor que a do Estado de Pernambuco. Mas há também países como o Irã, cujo tamanho é pou-co maior do que todo o Nordeste brasileiro, ou a Arábia Saudita, maior do que a Amazônia, que possui cerca de 1.600.000 km2. Em comparação, o Estado de Israel é menor do que Sergipe: tem apenas 20.700 km2.

1 Cia. World Factbook 2008.

1C

AP

ÍTU

LOORIENTE MÉDIO: O QUE É E ONDE FICA

Lia Bergmann

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Conforme é possível verifi car na Tabela 1, o Oriente Médio corresponde a uma área su-perior a 7.000.000 km2, tem mais de 350 milhões de habitantes e apresenta grande diver-sidade de população.

Os grupos étnicos mais numerosos da região são os árabes, concentrados, principalmente, na Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos (EAU), Iêmen, Iraque, Jordânia, Kuwait, Líbano, Omã e Síria; os turcos, encontrados basicamente na Turquia e em Chipre; e os iranianos ou persas, no Irã. Os minoritários incluem os judeus (Israel), curdos e palestinos.

Como vemos também na Tabela 1, a independência de muitos países do Oriente Médio se deu após 1940, com o fi m do domínio dos ingleses e franceses na região, o que legiti-mou o surgimento dos novos Estados. Assim, com exceção de pequenas nações da Península Arábica, independentes após 1971, a maior parte dos países do Oriente Médio obteve sua independência do Reino Unido e da França depois da década de 1940.

Nos dias de hoje, o Oriente Médio possui grande importância política e econômica no mundo, por sua posição estratégica no globo e por suas reservas de petróleo.

O mapa a seguir e os dados da tabela 1 mostram as dimensões dos diversos Estados que compõem o Oriente Médio, dando uma ideia do que representa o tamanho de Israel em meio aos países árabes que o rodeiam e/ou fazem parte da Liga Árabe.

Dimensões de Israel e dos países árabes.

http://cheekymax.blogspot.com/2006/07/max-on-middle-east.html

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SOLUÇÃO PARA A PAZ

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Tabela 1 – Países do Oriente Médio e dados básicos sobre sua composição2

Nome do país Área em km2 População (em milhões)

Governo CapitalAno da

independência

Arábia Saudita 2.149.690 25,3 Monarquia Islâmica (reinado)

Riad 1932

Bahrein 720 0,766 Monarquia Constitucional

Manama 1971

Catar 11.521 0,856 Monarquia Doha 1971

Chipre 9.251 0,864 República Presidencialista

Nicósia 1960

Egito 1.001.449 76,8 República Presidencialista

Cairo 1923

Emirados Árabes Unidos

83.600 4,5 Federação de Monarquias Islâmicas (emirados)

Abu Dhabi 1971

Iêmen 527.968 23,1 República mista Sanaa 1918

Irã 1.648.195 72,2 República Islâmica Presidencialista

Teerã 1921

Iraque 434.128 29,5 País sob ocupação

Bagdá 1932

Israel 20.700 7 República Parlamentarista

Jerusalém 1948

Jordânia 88.778 6,1 Monarquia Parlamentarista

Amã 1946

Kuwait 17.818 2,9 Monarquia Islâmica (emirado)

Cidade do Kuwait

1961

Líbano 10.400 4,1 República Parlamentarista

Beirute 1941

Omã 309.500 2,7 Monarquia Islâmica (sultanato)

Mascate 1951

Síria 185.180 20,4 Ditadura militar desde 1970

Damasco 1946

Turquia 783.562 75,8 República Parlamentarista

Ancara 1922

Comparativo com números do Brasil

Nome do país Área (em km2)População

(em milhões)Governo Capital

Ano da independência

Brasil 8.514.876 194,2 República Presidencialista

Brasília 1822

2 UNDP – United Nations Development Program/Human Development Report 2007/2008.

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Tabela 2 – Dados essenciais para compreender os países do Oriente Médio3

Nome do país

Fecundidade (fi lhos por mulheres)

Expectativa de vida

– homens

Expectativa de vida

– mulheres

Mortalidade infantil (mortes por mil)

Analfabetismo%

IDH*Renda per capita (em

dólares)

Arábia Saudita

3,3 71 75,4 19 17 0,812 13.980

Bahrein 2,27 74,4 77,6 11 13,5 0,866 19.350Chipre 1,6 76,6 81,7 6 3,2 0,903 23,27Egito 2,87 69,3 73,8 29 28,6 0,708 1.360Emirados Árabes Unidos

2,28 77,2 81,5 8 11,3 0,868 26.210

Iêmen 5,44 61,3 64,6 58 45,9 0,508 760Irã 2,02 69,5 72,8 30 17,6 0,759 2.930Iraque 4,21 58,4 62,1 79 – – –Israel 2,73 78,7 82,9 5 2,9 0,932 20.170Jordânia 3,08 70,9 74,6 19 8,9 0,773 2.650Kuwait 2,17 76,1 79,9 8 6,7 0,891 30.630Líbano 2,19 69,9 74,3 22 11,7 0,772 5.580Omã 2,95 74,3 77,6 12 18,6 0,814 11.120Catar 2,64 75,3 76,5 8 11 0,875 80.900Síria 3,04 72,4 76,2 16 19,2 0,724 1.560Turquia 2,13 69,5 74,7 27 12,6 0,798 5.400

Comparativo com números do Brasil

Nome do país

Fecundidade (fi lhos por mulheres)

Expectativa de vida

– homens

Expectativa de vida

– mulheres

Mortalidade infantil (mortes por mil)

Analfabetismo%

IDH*Renda per capita (em

dólares)

Brasil 2,23 68,9 76,2 23 11,4 0,8 4.710

* Índice de Desenvolvimento Humano.

3 UNDP – United Nations Development Program/Human Development Report 2007/2008.

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SOLUÇÃO PARA A PAZ

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Países do Oriente Médio

ARÁBIA SAUDITA – 2.149.690 km2

O Reino da Arábia Saudita localiza-se na Ásia. O país tem fronteiras com Jordânia, Iraque, Kuwait, Catar, Emirados Árabes Unidos, Omã e Iêmen. Está situado na Península Arábica, da qual ocupa grande parte. Sua capital é Riad, e a língua falada no território é o árabe. O regi-me de governo adotado é o de monarquia absoluta, e sua independência foi declarada em janeiro de 1926. O país ocupa uma área de 2.149.690 km2, onde vivem mais de 25 milhões de pessoas. É o país de origem da religião islâmica; por causa disso, milhões de seguidores se dirigem às duas cidades sagradas todos os anos, Medina e Meca.

BAHREIN – 720 km2

O Reino do Bahrein, que signifi ca Reino dos Dois Mares, é um arquipélago formado por mais de trinta ilhas e ilhotas que fi ca no Golfo Pérsico, tendo a leste a Arábia Saudita e a noroeste o Catar. A maior das ilhas é a “dhkle Bahrein”, com 16 km de extensão no sentido leste-oeste e 48 km no sentido norte-sul. Uma estrada liga a ilha principal às de Muharraq e Sitra, e, em 1986, foi inaugurada a ponte que faz a ligação do Bahrein com a Arábia Saudi-ta. O país tem superfície total de 720 km². A população é predominantemente muçulmana (81,2%), dividida em xiitas4 (55%) e sunitas5 (45%); entre as minorias há 9% de cristãos, uma grande comunidade de iranianos e uma pequena comunidade judaica. Sua riqueza econômica deriva do petróleo e das pérolas. A religião ofi cial do regime monárquico cons-titucional é o islamismo.

CHIPRE – 9.251 km2

A República do Chipre é um país insular situado no lado oriental do Mar Mediterrâneo, a leste da Grécia, a oeste do Líbano, Síria e Israel, ao sul da Turquia e ao norte do Egito. Atrai mais de 2,4 milhões de turistas por ano. Tornou-se uma república independente em 1960, passando a fazer parte da União Europeia em 2004. Sua população é formada majoritaria-mente por gregos (70%), e as principais religiões são grega ortodoxa (78%) e muçulmana (18%).

4 Xiitas – Defensores de que Ali, primo e genro do profeta Mohamed (Maomé), era seu sucessor. São maioria no Irã. Veja mais no Capítulo 3.

5 Sunitas – Seguidores da “suna” (prática) do profeta Mohamed, tal como relatado por seus companheiros. Repre-sentam 85% dos muçulmanos. Veja mais no Capítulo 3.

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EGITO – 1.001.449 km2

A República Árabe do Egito é um país do norte da África que inclui também a Península do Sinai, na Ásia, o que o torna um Estado transcontinental. Limita-se a oeste com a Líbia, ao sul com o Sudão e a leste com a Faixa de Gaza e Israel. O litoral norte é banhado pelo Mar Mediterrâneo; o litoral oriental, pelo Mar Vermelho; e a Península do Sinai, pelos golfos de Suez e de Acaba. Sua capital é a cidade do Cairo. O Egito é um dos países mais populosos da África. A grande maioria dos 76,8 milhões de habitantes vive nas margens do Rio Nilo, a única área cultivável do país, com cerca de 40.000 km2. Em 2000, o índice de analfabetismo era de mais de 44% da população; hoje, é de 28,6%. A religião controla vários aspectos da vida social, como em outros estados árabes, tendo apoio na legislação. Embora com 90% de muçulmanos, o Egito possui a maior comunidade cristã do Oriente Médio (cerca de 10% da população, dos quais 90% são da Igreja Católica Ortodoxa, Igreja Ortodoxa Copta de Alexandria, Igreja Evangélica Copta e denominações protestantes coptas).

EMIRADOS ÁRABES UNIDOS – 83.600 km2

Os Emirados Árabes Unidos (EAU) situam-se no sudoeste da Ásia, têm costa no Golfo de Omã e no Golfo Pérsico e fronteiras com Omã e Arábia Saudita. Sua localização estra-tégica no Estreito de Ormuz faz com que sejam um ponto de trânsito vital para o petróleo bruto mundial. Consistem em uma federação de sete emirados (Abu Dhabi, Dubai, Sharjah, Ajman, Umm al-Qaiwain, Ra’s al-Khaimah e Fujairah) e foi ofi cialmente estabelecida em dezembro de 1971. O Sheikh Khalifa bin Zayed Al Nahyan foi eleito presidente dos EAU em novembro de 2004, após a morte do Sheikh Zayed bin Sultan Al Nahyan, que governou o país desde a fundação do Estado. Cada emirado tem as próprias instituições de governo, e foi estabelecida uma Constituição provisória determinando os poderes que deveriam ser atribuídos às novas instituições federais, respeitando as particularidades de cada emirado. O novo regime de governo inclui o Conselho Supremo, o Gabinete ou Conselho de Ministros, o Conselho Nacional Federal (Parlamento) e o Poder Judiciário.

IÊMEN – 527.968 km2

A República do Iêmen (Al-Jumhuriya al-Yamaniya) tem uma população de mais de 23 milhões de pessoas, a maioria de árabes iemenitas, e os demais divididos em outros árabes, afro-árabes e sul-asiáticos. Possui uma forma mista de governo, e sua capital é Sanaa. O idioma ofi cial é o árabe, e a religião de Estado, o islamismo. A maioria de seus habitantes (99,9%) se divide em sunitas (53%) e xiitas (46,9%). Localiza-se a sudoeste da Ásia. Há li-berdade de culto, existindo até uma pequena comunidade judaica, mas, a exemplo de outros países muçulmanos conservadores, o proselitismo é considerado ilegal. Sua independência foi conquistada em 1918. Possui grande nível de analfabetismo (45,9% da população) e índi-ce de mortalidade infantil de 58 por mil. A unifi cação política do Iêmen do Sul (regime re-publicano, de orientação marxista) e do Norte (república constitucional) se deu em 1990.

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IRÃ – 1.648.195 km2

A República Islâmica do Irã é um país asiático que se limita ao norte com a Armênia, o Azerbaijão, o Turcomenistão e o Mar Cáspio, a leste com o Afeganistão e o Paquistão, a oeste com o Iraque e a Turquia e ao sul com o Golfo de Omã e o Golfo Pérsico. A capital é Teerã e a língua ofi cial, o persa. Conhecido no Ocidente até 1935 como Pérsia, o país passou a ser chamado de Irã, que signifi ca “terra dos arianos” (no sentido étnico do termo). O is-lamismo xiita é a religião ofi cial e compreende 89% da população. A Constituição iraniana reconhece três minorias religiosas: os zoroastrianos, os judeus e os cristãos. Os bahá’is são perseguidos e muçulmanos que se convertem a outra religião são instados a ser mortos pe-los próprios parentes.

A história moderna do Irã começa em 1921, com o golpe militar liderado por Reza Khan (1878-1944) contra o governo da dinastia Kajar. Em 1925, foi proclamado xá da Pérsia, denominando-se Shah Reza Pahlevi. Em 1935, mudou o nome do país para Irã. Em 1941, o país foi ocupado por forças britânicas e soviéticas e Reza Pahlevi abdicou do poder em nome de seu fi lho, Mohamed Reza Pahlevi (1919-1980), que se voltou para o Ocidente. Em 1951, o primeiro-ministro Mohammad Mossadegh (1882-1967) nacionalizou o petróleo iraniano, contrariando interesses ingleses e norte-americanos e iniciando um confronto com o xá, que deixou o país. Em 1953, sob infl uência dos Estados Unidos, o governo de Mossadegh foi derrubado. Em 1975, instituiu-se o unipartidarismo no Irã, o que, somado às perseguições promovidas pelo governo, intensifi cou a oposição dos muçulmanos xiitas, que condenavam a ocidentalização do país. Em 1977, os protestos se intensifi caram e os manifestantes exigiram a volta do aiatolá Ruhollah Khomeini (1902-1989), líder religioso xiita exilado do Irã desde 1963. Após inúmeros confrontos, Khomeini retornou ao país, enquanto o xá fugia para o exterior. O aiatolá assumiu o poder, e o Irã tornou-se uma re-pública islâmica que estimula o fanatismo religioso, consagra o terrorismo e prega a guerra santa contra os opositores do regime, sobretudo os Estados Unidos, vistos como a causa dos males do planeta.

IRAQUE – 438.317 km2

Com uma população de cerca de 30 milhões de habitantes, o Iraque é um país em que predominam os muçulmanos (97%), 32% a 37% deles sunitas. Os demais englobam mi-norias religiosas: cristãos (católicos, ortodoxos), bahá’is e outros. A antiga Mesopotâmia foi o berço de importantes culturas, como a dos sumérios, babilônios, caldeus e assírios, dos quais resta apenas uma pequena minoria. Depois, esteve sob domínio persa, grego e romano. Nos séculos VIII e IX, constituiu-se em expressivo centro do Império Árabe. Bagdá, sua capital, foi fundada pelos árabes em 762, mas o atual Iraque surgiu na década de 1920, após o desmembramento do Império Turco-Otomano, tornando-se a partir de 1932 uma monarquia independente do Mandato Britânico.

Em 1958, a monarquia foi derrubada por um general, que instaurou um regime nacio-nalista. A partir desse ano, a descoberta do petróleo e a presença curda no Norte provocaram golpes de Estado, revoltas e massacres de milhares de curdos (1974-1975). Em 1979, com um golpe de Estado, o vice-presidente Saddam Hussein assumiu a presidência, transforman-

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do-se em ditador. Em 1980, o Iraque invadiu o Irã, com o apoio de potências ocidentais e árabes, temerosas de que a revolução fundamentalista do aiatolá Khomeini se expandisse em outros países petrolíferos. A guerra durou oito anos e deixou 300 mil iraquianos e 400 mil iranianos mortos. Em 1990, o Iraque invadiu o Kuwait, anexando-o como a décima nona província, mas, após tentativas diplomáticas fracassadas para que se retirasse de lá, o país foi invadido, em janeiro de 1991 (Guerra do Golfo), por uma coalizão de trinta nações liderada pelos Estados Unidos. Em poucos dias de guerra, estima-se que o número de mortes tenha sido de 100 mil soldados e 7 mil civis iraquianos, 30 mil kuwaitianos e 610 soldados norte--americanos e aliados. Saddam iniciou uma guerra de represália contras os separatistas cur-dos do Norte. Foram impostas ao Iraque uma série de sanções, como a proibição da venda de petróleo, e uma missão de inspetores internacionais para fi scalizar se estaria fabricando armas de destruição em massa. Em março de 2003, o país foi invadido pela “coalizão” for-mada pelos Estados Unidos, Reino Unido e outras nações. Em 1.º de maio, o governo do partido Ba’ath foi destituído e o presidente Saddam Hussein, deposto. Capturado em 14 de dezembro de 2004, foi julgado e morto, ao mesmo tempo que se dava início ao processo de transição de poderes à população iraquiana. As línguas faladas no Iraque hoje são o árabe (ofi cial), curdo, turcomano, siríaco, caldeu e armênio.

ISRAEL – 20.700 km2

O Estado de Israel está localizado no oeste da Ásia, ao longo da costa oriental do Mar Mediterrâneo, limitando-se ao norte com o Líbano, a leste com a Síria e a Jordânia, ao sul com o Egito e a oeste com o Mar Mediterrâneo. Está situado no ponto de encontro de três continentes: a Europa, a Ásia e a África. Com sua forma longa e estreita, o país tem 470 km de comprimento (ou seja, pouco mais do que a distância entre as cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro) e mede 135 km em seu ponto mais largo (o que corresponde a pouco mais do que a distância de São Paulo às cidades paulistas de Americana ou Santos). Embora pequeno em tamanho, Israel apresenta a variedade topográfi ca de um continente, e nele se encontram desde montanhas cobertas de fl orestas e verdes vales férteis até desertos monta-nhosos; a planície costeira e o vale do Jordão semitropical, sem falar no Mar Morto, o ponto mais baixo da Terra. Aproximadamente metade da área do país é semiárida, sendo um dos poucos do Oriente Médio que não possuem petróleo.

Só para ter uma ideia, Israel possui uma área de 20.700 km², menor do que o Estado de Sergipe ou o equivalente a três vezes a área da Grande São Paulo. As principais cidades são: Jerusalém, Tel-Aviv e Haifa. Conta com um clima mediterrâneo e a densidade demográfi ca é de 299 hab./km2. Israel é uma democracia, com liberdade religiosa e de expressão. Veja mais dados no Capítulo 5.

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SOLUÇÃO PARA A PAZ

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JORDÂNIA – 88.778 km2

A Jordânia limita-se ao norte com a Síria, a leste com o Iraque, a leste e ao sul com a Arábia Saudita e a oeste com o Golfo de Acaba (através do qual faz fronteira marítima com o Egito), Israel e Cisjordânia. Sua capital é Amã. Possui 88.778 km2 e mais de 6 milhões de habitantes. Em 1946, foi criado o Reino Hashemita da Transjordânia, após a saída dos britâ-nicos da região. Mais de 70% do território do Mandato Britânico da Palestina, a leste do Rio Jordão, era conhecido como Transjordânia. Em 1950, passou a se denominar Jordânia. Na Guerra da Independência de Israel, o país anexou a Samaria e Judeia, território conhecido como Cisjordânia, reconquistado em 1967 pelos israelenses e hoje sob administração da Autoridade Palestina.

KUWAIT – 17.818 km2

Esse pequeno país limita-se ao norte e a oeste com o Iraque, a leste com o Golfo Pérsico, do outro lado do qual se estendem as costas do Irã, e ao sul com a Arábia Saudita. Sua capital também se chama Kuwait. A forma de governo é o emirado, sendo o chefe de Estado desig-nado por emir ou xeque. É dominado quase totalmente por desertos.

LÍBANO – 10.400 km2

A República Libanesa foi criada em 1926 e se tornou Estado independente em 1941. Hoje possui mais de 4 milhões de habitantes. Sua capital é Beirute. Limita-se ao sul com Israel, ao norte e a leste com a Síria e a oeste com o Mar Mediterrâneo.

OMÃ – 309.500 km2

O país margeia o Mar da Arábia, o Golfo de Omã e o Golfo Pérsico, entre o Iêmen e os Emirados Árabes Unidos. É composto por árabes, balúchis, sul-asiáticos (da Índia, Paquistão, Sri Lanka e Bangladesh) e africanos, que em sua maioria são muçulmanos ibaditas (75%), dividindo-se o restante (25%) em muçulmanos sunitas, xiitas e hindus. O idioma ofi cial é o árabe.

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CATAR – 11.521 km2

Monarquia árabe, situa-se na pequena Península de Catar, no Golfo Pérsico e em algumas ilhas ao redor. Tem apenas pequenas fronteiras terrestres ao sul, com os Emirados Árabes Unidos e a Arábia Saudita. As fronteiras marítimas são com o Irã, ao norte, e com o Bahrein, a oeste. O país, cuja capital é Doha, possui 11.521 km2. Independente desde 1971, rico em petróleo e gás natural, possui a maior renda per capita do mundo: US$ 80.900 (2007). Sua taxa de mortalidade infantil é de oito por mil, equivalente, no Oriente Médio, à dos Emira-dos Árabes Unidos e à do Kuwait e maior apenas do que a de Israel, que é de cinco por mil. O islamismo é a religião predominante: 10,13% são sunitas e 80,7%, xiitas. A maioria dos que não são cidadãos vem do sul e do sudeste da Ásia e de países árabes como trabalhadores temporários em empregos sob contrato, em alguns casos acompanhados pela família. Entre eles há também cristãos, hindus, budistas e bahá’is.

SÍRIA – 185.180 km2

As principais cidades da República Árabe da Síria são Alepo, Damasco (capital) e Homs. O país tem 20 milhões de habitantes, entre árabes sírios, curdos, circassianos, turcos e armê-nios. A religião da maioria da população é o islamismo (74% sunitas e 12% xiitas); 8,9% são cristãos e 3% são drusos. A forma de governo é república presidencialista (ditadura militar desde 1970).

TURQUIA – 783.562 km2

A República da Turquia fi ca no sudeste europeu e sudoeste da Ásia. Faz fronteira com oito países: Bulgária a noroeste, Grécia a oeste, Geórgia a nordeste, Armênia, Irã e Azerbaijão a leste e Iraque e Síria a sudeste. É banhada pelos mares Negro, ao norte, Egeu e de Mármara, a oeste, e Mediterrâneo, ao sul. Sua capital é Ancara. Segundo sua Constituição, a Turquia é uma república democrática, secular e constitucional, cujo sistema político foi estabeleci-do em 1923, após o fi m do Império Otomano. Embora apenas uma pequena parte de seu território fi que na Europa, busca tornar-se membro pleno da União Europeia. Possui uma localização geográfi ca estratégica, controlando o Estreito de Bósforo, o Mar de Mármara e o Estreito de Dardanelos, que ligam o Mar Negro e o Mar Egeu. A Turquia e os Estados que a antecederam no local foram uma ponte entre as culturas ocidental e oriental e o centro de diversas grandes civilizações.

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SOLUÇÃO PARA A PAZ

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TERRITÓRIO PALESTINOConforme acordos estabelecidos internacionalmente, mas não aceitos na integralidade

pelos representantes dos palestinos, o território está distribuído em duas regiões:

• Cisjordânia 6 – Com área de 5.860 km2, tem cerca de 2,5 milhões de habitantes, entre os quais 75% são muçulmanos sunitas, 17% judeus e 8% cristãos e outros. Sua capital ad-ministrativa é Ramalah. Hoje a região está sob o controle político da Autoridade Nacional Palestina (ANP), comandada pelo Fatah e apoiada pela Organização das Nações Unidas e seus principais membros.

• Faixa de Gaza 7 – Ocupa uma área de 360 km2 e possui cerca de 1,5 milhão de habitantes (2007), sendo 99,3% muçulmanos e 0,7% cristãos. Sua principal cidade chama-se Gaza e tem sido controlada, desde 2005, pelo Hamas, partido de oposição ao Fatah. O Hamas é um movimento fundamentalista islâmico intolerante, considerado pela União Europeia e pelos Estados Unidos uma organização terrorista.

Os palestinos têm renda per capita de US$ 1.100 por ano.

6 Dados da Folha Online.7 Dados do jornal Folha de S.Paulo.

Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Faculdade Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil. Este Capítulo contou com a colaboração dos demais autores desta obra. Agradecimento especial a Adriana Dias, que elaborou as tabelas 1 e 2.

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ISRAEL: 3.700 ANOS DE HISTÓRIA

Lia Bergmann

“Sábio é aquele que aprende com todos os homens.” (Pirkei Avot 4,11)

IntroduçãoA Terra de Israel está ligada indissoluvelmente ao povo judeu. Foi onde a his-tória desse povo teve início, há 3.700 anos, e durante todos esses séculos nela se manteve presente. Mesmo quando escravizados, expulsos, vivendo no exílio ou na Diáspora (dispersão), os judeus nunca se esqueceram de sua terra e sempre sonharam com o retorno. Apesar de essa região ter sido ocupada por numerosos conquistadores, nenhum outro povo ali viveu de forma independente ou a consi-derou o centro de sua existência nacional.

Apenas 1.700 anos depois do estabelecimento dos judeus na Terra de Israel, esta foi conquistada pelos árabes, no século VII d.C., ou seja, 700 anos depois do nascimento de Jesus e 400 do advento do cristianismo. Jesus nasceu, viveu e morreu como judeu, na época do domínio romano.

A Terra de Israel recebeu diversos nomes no decorrer do tempo. Na Antigui-dade era chamada de Canaã, depois de Judeia2, a terra dos judeus (de Judá), e muito mais tarde, sob o domínio romano, no século I d.C., foi denominada pela primeira vez Palestina. Na época, era a pátria dos judeus, habitantes majoritários da Judeia, e, portanto, o termo “palestino” se referia aos judeus que lá nasciam e moravam. Mesmo assim, nos séculos seguintes a região era conhecida como Terra Santa ou Terra de Israel.

A cidade de Jerusalém se tornou a capital da Terra de Israel há cerca de 3 mil anos, com o rei David, e até hoje nunca foi a capital de outro povo que não o judeu. É mencionada mais de setecentas vezes nas Escrituras Sagradas (Bíblia – Antigo Testamento), mas aparece apenas uma vez no Corão, o livro sagrado dos muçulmanos. É a cidade mais sagrada para o judaísmo e a terceira para o isla-mismo, depois de Meca e Medina. Em todas as orações os judeus se voltam para Jerusalém; os muçulmanos, para Meca. Hoje, é uma cidade sagrada para judeus, cristãos e muçulmanos, que têm seus locais históricos e de culto preservados pelas autoridades israelenses.

1 Pirkei Avot – Ética dos Pais. 5. ed. São Paulo: B’nai B’rith do Brasil, 1990. O texto foi escrito há mais de 2 mil anos.

2 Judeia (do latim Judaea, Terra de Judá) – O nome aparece no tempo dos macabeus, passando, em 62 a.C., a designar toda a Palestina. Em 153 d.C., após a derrota da revolta judaica de Bar Kochba, foi rebatizada de Palestina pelos romanos. Judeia também se aplica à parte meridional do país.

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SOLUÇÃO PARA A PAZ

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Para o povo judeu, a própria cidade é santa. Escolhida por Deus em sua aliança com David, Jerusalém é a essência e o centro da existência e continuidade espiritual e nacional judaicas. Há quase 2 mil anos os judeus se voltam na direção de Jerusalém e do Monte do Templo quando rezam, onde quer que estejam.

Assim como os muçulmanos devem peregrinar para Meca, o Muro Ocidental, conhecido como Muro das Lamentações (remanescente do Segundo Templo de Jerusalém) por ser o lo-cal mais sagrado do judaísmo, é o lugar de peregrinação (como era na Antiguidade) nas três principais festas do calendário religioso judaico: Pessach (fi m da escravidão do Egito), Shavuot (Pentecostes, a “Festa das Semanas”) e Sucot (Festa da Colheita). No Pessach, a narrativa que lembra a libertação dos judeus da escravidão no Egito termina com as seguintes palavras: “No ano que vem em Jerusalém”.

Na Terra de Israel o povo judeu formou sua identidade cultural, religiosa e nacional e nela manteve ininterruptamente sua presença física. Mesmo depois da Diáspora, o exílio forçado, não deixou de ter forte ligação com sua terra, cuja independência foi recuperada em 1948. Durante esse período sempre houve comunidades judaicas na Terra de Israel.

A presença dos judeus na Terra de Israel

Período bíblico (século XVIII a.C.)A Bíblia, em especial o Antigo Testamento, é uma das principais fontes de conhecimen-

to sobre a origem do povo judeu, também conhecido como hebreu ou israelita. A ela se somam fontes da antropologia histórica, como a geografi a, a climatologia e a arqueologia bíblica, com importantes descobertas, entre elas a dos Manuscritos de Qumran, ou Perga-minhos do Mar Morto, datados do século I a.C., e outras que atestam a presença judaica na região do Oriente Médio, ou ainda os relatos do historiador Flávio Josefo, na época do rei Herodes (40-4 a.C.), que descreve, em minúcias, o Segundo Templo de Jerusalém, o local mais sagrado para os judeus.

De acordo com o primeiro livro bíblico, o Gênesis, há quase 4 mil anos Abraão, o patriar-ca do povo judeu, se estabelece em Canaã, respondendo ao chamado de um Deus único, e, com seus descendentes, dá início à história da religião judaica. José Jobson de A. Arruda e Nelson Piletti, em Toda a História, descrevem: “Pesquisadores afi rmam que, por volta do século XVIII a.C., os hebreus teriam chegado a seu destino (a Terra Prometida)”.

Em torno de 1800 a.C., a seca força os judeus a emigrar para o Egito, onde passam por 400 anos de escravidão. Após a revolta conduzida por Moisés para a libertação de seu povo, tem início o Êxodo, provavelmente em 1250 a.C. Os judeus vagam durante quarenta anos no deserto antes de chegar a Canaã, quando então é criada a nação de Israel. Pelos 2 mil anos seguintes, Israel estará sob a soberania ou administração judaica.

Em 1020 a.C., estabelece-se a monarquia e, em 1000 a.C., o rei David torna Jerusalém a capital do reino (este, na época, fazia fronteira com o Egito e o Mar Vermelho e se estendia até as margens do Rio Eufrates, onde hoje é o Iraque). Ao sucedê-lo, o rei Salomão constrói o Primeiro Templo de Jerusalém, que se tornará o centro da vida nacional e religiosa do povo judeu.

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A fé judaica: a vida é o bem mais sagradoA fé judaica tem origem no chamado divino que leva Abraão a deixar

sua terra natal, indo para Canaã, e a transformar-se no pai de uma nação. Após a libertação do Egito, os judeus vagam por quarenta anos no deserto, e durante essa peregrinação Moisés recebe no Monte Sinai as Tábuas da Lei, ou os Dez Mandamentos, um código de leis, de conduta e de ensinamentos que constitui a base espiritual do povo judeu. Os Dez Mandamentos valori-zam a verdade e a vida acima de tudo e se tornam a base da ética do mundo ocidental. A ideia de um Deus único – o monoteísmo – adotada pelos judeus foi uma verdadeira revolução na sociedade, que até então cultuava ídolos, tornando-se mais tarde também a base do cristianismo e do islamismo.

A experiência religiosa judaica é descrita em uma série de livros sagrados. O mais importante deles é a Torá, composta pelos cinco livros de Moisés, os primeiros livros do Antigo Testamento, ou Pentateuco. A Torá é lida diaria-mente, até os dias de hoje, nos serviços religiosos nas sinagogas.

O termo “sinagoga” começou a ser empregado após a destruição do Pri-meiro Templo de Jerusalém pelos babilônios, passando a ser um espaço des-tinado às orações das comunidades judaicas dispersas.

Da Torá surgiu, mil anos depois, um largo corpo de tradições rabínicas, o Talmud, lei oral que trata de assuntos legais, éticos e históricos. Obra en-ciclopédica de grande envergadura, foi elaborada durante oito séculos (de 300 a.C. até 500 d.C.). O mais popular é o Talmud Babilônico, publicado na Babilônia em 499 a.C. O Talmud de Jerusalém foi compilado no fi nal do sé-culo III a.C.

O judaísmo é uma religião sem um sistema dogmático, que valoriza o li-vre-arbítrio de cada indivíduo. Tem como princípios fundamentais o Tikkun Olam, a ideia de que Deus criou o mundo e cabe ao homem melhorá-lo – portanto, é missão do ser humano fazer deste um mundo melhor para to-dos – e a Tzedaká, justiça social e ajuda ao próximo. Outra máxima judaica é: “Não faças aos outros o que não queres que façam a ti mesmo”.

Para o judaísmo, a vida é sagrada e está acima de tudo; todas as tradi-ções podem deixar de ser observadas para salvar um ser humano e mesmo um animal.

Segundo a tradição judaica, Deus criou o mundo em seis dias e no sétimo descansou. Por isso, o sétimo dia, o Shabat, é santifi cado. Nesse dia todos devem descansar. Na Antiguidade, quando existia escravidão, os servos e os animais também tinham garantido seu dia de descanso. A cada sete anos, a terra tinha de permanecer um ano sem uso, e os cantos das plantações não deviam ser colhidos, para que os necessitados pudessem se alimentar. Essas foram as primeiras leis de direitos humanos do mundo.

A sobrevivência do povo judeu e do judaísmo é um fenômeno ímpar. Com todas as perseguições e reveses, há 3.700 anos os judeus vêm mantendo suas tradições e sua fé inabalável em um Deus único, um Deus de bondade, de amor e de justiça.

Como já dito, Jerusalém, onde estão situados o Monte do Templo e o Muro Ocidental (Muro das Lamentações), é a cidade sagrada do judaísmo.

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SOLUÇÃO PARA A PAZ

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Períodos persa e helenístico (586-142 a.C.)O reino de Israel se organiza em doze tribos e divide-se em dois: Israel e Judá. Israel é

devastado pelos assírios e Judá conquistado pelos babilônios em 586 a.C, quando o Templo de Jerusalém é destruído e os judeus levados como escravos para a Babilônia.

Depois, o rei persa Ciro permite que os judeus retornem do exílio para a Terra de Israel. Durante quatrocentos anos, mesmo sob o domínio dos persas e depois dos gregos, há uma independência e um renascimento nacional, com o país sendo dirigido segundo as leis ju-daicas. Reconstrói-se o Templo de Jerusalém (Segundo Templo) e cria-se a Haguedolá (Grande Assembleia), que é hoje o Knesset, o Parlamento do Estado de Israel.

Em termos comparativos, é bom lembrar que o Brasil não tem, ainda, duzentos anos de independência, o que demonstra como é histórica a presença judaica na Terra de Israel.

A partir do século III a.C., com a assimilação da língua e dos gêneros literários gregos, muitos textos judaicos também são traduzidos. O mais importante é, sem dúvida, a mais antiga tradução da Bíblia hebraica para o grego, a chamada LXX, que continha o Pentateuco (os cinco livros de Moisés ou os livros das leis), datada de 285 a.C.

Império Romano (63 a.C.-313 d.C.)A Terra de Israel torna-se província do Império Romano. Nasce Jesus de Nazaré, cujos en-

sinamentos, tais como se encontram reunidos nos Evangelhos, dão origem ao cristianismo (Concílio de Niceia, em 325 d.C., na atual Turquia), que também é uma religião monoteísta.

Jesus viveu e morreu como judeu, tendo os romanos escrito em sua cruz “INRI”, sigla em latim que signifi ca “Jesus de Nazaré, Rei dos Judeus”. À semelhança do judaísmo e do islamismo, o cristianismo é considerado uma religião abraâmica, ou seja, originária do pa-triarca Abraão.

No ano 70 d.C., o general romano Tito (depois imperador) arrasa Jerusalém e destrói o Segundo Templo. Tem início uma nova Diáspora (dispersão), em que os judeus se espalham pelo mundo. Mesmo assim, as instituições políticas, econômicas e espirituais da comunidade judaica continuarão existindo na Terra de Israel por, pelo menos, mais trezentos anos.

Em um esforço para apagar as marcas da milenar presença judaica na região, após sufocar uma revolta dos judeus em 153 d.C., o imperador romano Adriano muda o nome da Terra de Israel, então chamada de Judeia (a terra dos judeus ou de Judá), para Palestina e proíbe o acesso dos judeus à antiga Jerusalém.

No entanto, monges, médicos, viajantes, historiadores romanos, judeus e muçulmanos, entre outros, relatam os percalços das gerações de judeus que lá permaneceram durante quase 2 mil anos, a despeito das inúmeras perseguições étnicas e religiosas, das invasões e conquistas, sem nunca deixar o solo sagrado nem se esquecer de sua Jerusalém, de Sion, na qual foram proibidos de entrar em diversos períodos de sua história. E, segundo cronistas de várias épocas, sempre houve uma comunidade judaica ao pé do Monte do Templo, em Jerusalém3.

3 BAHAR, Vinte Séculos de Vida Judaica na Terra de Israel - As Gerações Esquecidas.

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Na Terra de Israel ou na Diáspora, o anseio de voltar a Jerusalém permanece vivo nas orações, na literatura, no coração e na alma dos judeus em todos os tempos. É preciso res-saltar, também, que, se não fossem as invasões romanas e de outros impérios, Israel teria hoje 3 mil anos.

Uma obra muito importante para a compreensão da história de Israel dessa época foi escrita pelo historiador Flávio Josefo, nascido em Jerusalém em 37 ou 38 a.C. Na famosa História dos Hebreus, ele descreve a Torá como o grande código cultural, moral, social e político dos judeus. Posteriormente, Josefo se alia aos romanos, mas seu livro é um relato interpre-tativo da presença dos judeus na Terra de Israel durante o Império Romano.

Império Bizantino (313-636)Nesse período, o cristianismo torna-se a religião de Estado e o Sinédrio (corte de Justiça

judaica) é abolido, sendo construídas inúmeras igrejas em Belém, em Jerusalém e na Galileia.Os judeus que permaneceram em sua terra passam por diversas fases, umas com fl oresci-

mento de vida cultural e religiosa e outras com muitas difi culdades, incluindo a destruição de sinagogas, perseguições e a proibição de visitar Jerusalém.

Período árabe (639-1099)Sete anos após a morte do profeta Mohamed, criador do islamismo, a região foi con-

quistada pelos muçulmanos. No início, os judeus tinham garantia de vida e de propriedade, além de liberdade de culto. Depois vieram as restrições aos não muçulmanos, e os judeus foram obrigados a deixar suas propriedades nas áreas rurais, passando a viver nas cidades ou abandonando o país. Os judeus foram, portanto, expropriados e expulsos pelos árabes. A região nunca foi exclusivamente árabe. O idioma árabe tornou-se o mais falado ali depois das invasões muçulmanas do século VII. Essas permitiram a construção do Império Otoma-no em todo o Oriente Médio.

Cruzadas (1099-1291)As Cruzadas foram expedições militares, em nome da Igreja Católica, realizadas na Idade

Média contra o domínio do Islã, combatendo os “infi éis”, denominação dada na época aos que não fossem cristãos. A Primeira Cruzada, ordenada pelo papa Urbano II, para libertar Je-rusalém, teve início em 1095. Os cruzados tomaram a cidade em 1099, dizimando também a população judaica local. Formou-se o Reino Latino dos Cruzados. Com a abertura das rotas de transporte da Europa, multiplicaram-se as peregrinações à Terra Santa e muitos judeus retornaram a sua pátria, entre eles trezentos rabinos da França e da Inglaterra. Em 1187, quando o exército muçulmano de Saladino derrotou os cruzados, foi possível aos judeus voltar a morar em Jerusalém, onde permaneceram até a chegada dos mamelucos.

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Período mameluco (1291-1516)Os mamelucos, casta militar muçulmana que conquistou o poder no Egito, passaram a

dominar a Terra de Israel, transformando-a em província arrasada, com a sede de governo em Damasco, que é hoje a capital da Síria. No fi nal da Idade Média, com a destruição dos portos de Acco e Yafo (Jafa), além de epidemias, pragas e terremotos, os judeus viveram em total penúria.

Império Otomano (1517-1917)Em seu auge, o Império Otomano compreendia a Anatólia, o Oriente Médio, parte do

norte da África e do sudeste europeu. Sua capital era a cidade de Constantinopla, tomada do Império Bizantino em 1453. Sob o domínio otomano, que durou quatrocentos anos, a região recebeu melhorias e incentivo à imigração judaica. Safed era um centro têxtil, de intensa atividade intelectual e de estudo da Cabala (mística judaica). Com o declínio do Império Otomano, a região fi cou novamente abandonada, no fi nal do século XVIII. Áreas produtivas transformaram-se em deserto ou pântano. No século XIX, houve uma revitaliza-ção, com rotas marítimas regulares, e a abertura do Canal de Suez, que tornaram a região um ponto comercial. Em 1860, a população de Jerusalém extrapolou seus muros, estabelecendo a Cidade Nova, com mais sete bairros. Em 1880, a população judaica constituía a maioria local. Em todo o país, terras compradas se transformaram em colônias rurais (kibutzim4) e o hebraico voltou a ser a língua falada no cotidiano. No fi nal do século XIX, começou nova onda de imigração de judeus para a Terra de Israel, fugindo dos massacres e da discrimina-ção que estavam sofrendo na Europa, especialmente na Rússia.

Mandato Britânico (1918-1948)Com o declínio do Império Otomano, no século XIX, e

após a Primeira Guerra Mundial, na qual foi derrotado, seu território foi dividido entre potências europeias, vencedo-ras da guerra, que passaram a exercer mandatos na região. O Mandato Francês foi exercido sobre o que na época era denominado Síria, que englobava tanto a atual Síria como o que é hoje o Líbano, enquanto o Mandato Britânico se esten-deu sobre a Terra de Israel (na época chamada Palestina) e o Iraque. No mapa ao lado, é possível observar como estava dividida a região na segunda década do século XX.

Em 1917, a Grã-Bretanha aprovou a Declaração Balfour, comprometendo-se com a criação de uma pátria judaica na Terra de Israel. Em 1922, a Sociedade das Nações atribuiu a administração da Terra de Israel ao Reino Unido da Grã-Breta-

4 Kibutzim (plural de kibutz, que em hebraico signifi ca “reunir”) – Colônias comunitárias em Israel, no início pre-dominantemente agrícolas.

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-nha e Irlanda do Norte, que de fato já vinha administrando-a desde 1917. Nesse ano, a Grã--Bretanha decidiu dividir a Terra de Israel em Emirado Hashemita da Transjordânia (atual Jordânia, que se tornou independente em 1946, pouco antes de Israel) e Palestina, tendo o Rio Jordão por fronteira.

Apenas após a Segunda Guerra Mundial e com as evidências do Holocausto praticado pela Alemanha nazista contra os judeus, a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas aprovou o estabelecimento na região de dois Estados, um judeu e um árabe. A Resolução 181, de 20 de novembro de 1947, em sessão presidida pelo embaixador brasileiro Osvaldo Aranha, foi aprovada por 33 votos a 13 e fi cou conhecida como “Partilha da Palestina”.

Cópia da ata da votação da Partilha da Palestina e criação do Estado de Israel contemporâneo5.

5 BAHAT, Vinte Séculos de Vida Judaica na Terra de Israel - As Gerações Esquecidas.

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SOLUÇÃO PARA A PAZ

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Bibliografi a sugerida

ARRUDA, José Jobson de A.; PILETTI Nelson. Toda a História. 13. ed. São Paulo: Ática, 2007.

BAHAT, Dan. Vinte Séculos de Vida Judaica na Terra de Israel – As gerações esquecidas. São Pau-lo: B’nai B’rith do Brasil, 2002.

BEREZIN, Rifka (Org.). Caminhos do Povo Judeu. São Paulo: Vaad Hachinuch, 1982.

BLECH, Benjamin. Judaísmo. São Paulo: Sêfer, 2004.

EBBAN, Aba. História do Povo de Israel. Rio de Janeiro: Bloch, 1971.

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GRANADOS, Jorge Garcia. Assim Nasceu Israel. São Paulo: Sêfer, 2008.

“Israel: 4.000 anos de história”. Revista da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Israel, São Paulo, 2001.

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Estudos Bíblicos: http://www.panoramabiblico.blogspot.com.

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Língua Hebraica: http://www.linguahebraica.blogspot.com.

Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Facul-dade Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil.

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O ISLÃ: 1.300 ANOS DE HISTÓRIA

Lia Bergmann

A Península Arábica antes do islamismoA geografi a da Ásia possui três grandes penínsulas: a Indochina, a Índia e a Arábia. A Península Arábica, localizada no sudoeste asiático, é o centro de con-fl uência de três continentes. É uma unidade geográfi ca na forma de um trapézio, com cerca de 2.590.000 km2, e, atualmente, está dividida nos seguintes Estados: Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Catar, Kuwait, Omã e Iêmen. Limita-se ao norte com a Jordânia e o Iraque, a leste com os golfos Pérsico e de Omã, ao sul com o Mar da Arábia (Oceano Índico) e a oeste com o Mar Vermelho. O território, que foi denominado pelos historiadores de Região Pré-Islâmica, si-tua-se numa área desértica, e suas caracte-rísticas impediram o desenvolvimento da agricultura; por conta disso, a população que povoou essa região do século II ao VI dedicou-se, quase exclusivamente, ao pastoreio. É importante salientar que, du-rante todo esse período não houve nes-se lugar um poder político centralizado, originado na região, que, sob o Império Romano, na época de Trajano, foi dividida em três grandes grupos: a Arábia Pétrea, a Arábia Desértica e a Arábia Feliz.

• A Arábia Pétrea foi assim denominada por causa de suas características geo-lógicas: situada ao norte, era uma região muito escarpada, com inúmeras co-linas rochosas e muitos desfi ladeiros. Todas as caravanas vindas do sul em direção ao Mar Mediterrâneo passavam por essa região, que, nos relatos dos viajantes e exploradores, muitas vezes era tratada como muito perigosa, em razão de suas difi culdades naturais.

• A Arábia Desértica correspondia à parte da região habitada por tribos de nômades denominados beduínos. Esses grupos, dedicados ao pastoreio, reu-niam-se em torno de poços e oásis e, por conta de muitas disputas, nas quais guerreavam entre si e contra os impérios Romano e Persa, eram tidos como belicosos. Eram politeístas e costumavam guardar objetos de adoração de seus deuses em Meca. Cada tribo adorava seus ancestrais com imagens. O deus principal era Alá, simbolizado pela “pedra negra”, que, segundo eles, havia sido enviada dos céus. Seu principal elemento de sobrevivência era o camelo, animal do qual retiravam seu alimento (leite e carne) e vestimentas (feitas com o pelo).

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• A Arábia Feliz (em latim, Arabia Felix) era um território da Ásia que correspondia aos atuais Iêmen e Omã, formada por tribos sedentárias cujas principais atividades econô-micas eram a agrícola e a mercantil, nas regiões litorâneas da Península Arábica. Na Antiguidade, a Arábia Feliz se diferenciou como grande exportadora de mirra. A água nessa região, ao contrário das outras duas, não era escassa, tendo sido muito aproveita-da no cultivo dos campos.

A unifi cação política – Mohamed (570-632) Mohamed (Maomé) nasceu em Meca, parte de uma linhagem pobre da tribo coraixita,

e dele surgiu uma nova religião, o islamismo, que garantiu a unidade política à Arábia. Mo-hamed era órfão e foi criado por um avô e um tio. Aos 20 anos, quando começou sua vida de pastor, empregou-se na caravana de uma rica viúva chamada Kadidja. Mais tarde ela se tornaria sua esposa. Durante suas caravanas, conheceu as duas grandes religiões monoteístas da época – o judaísmo e o cristianismo –, das quais retirou elementos para fundar uma nova religião monoteísta.

O islamismo acredita que, depois de um período de isolamento no deserto, Mohamed recebeu mensagens de Deus, por intermédio do Arcanjo Gabriel. Nessas mensagens, Deus desaprovava o politeísmo idólatra, fonte de disputas entre os árabes, e defendia o monoteís-mo instituído na submissão a Alá e na leitura rigorosa do Corão, livro sagrado dos mu-çulmanos. Por conta de confl itos econômicos, os coraixitas de Meca receavam que a nova religião reduzisse as inúmeras peregrinações à Caaba, prejudicando assim seus negócios. Mohamed sofreu ameaças e acabou expulso de Meca em 622 (essa data é considerada muito importante para os muçulmanos e demarca o início do calendário islâmico), dirigindo-se para a cidade de Yatreb, episódio conhecido como Hégira (fuga).

Rapidamente Mohamed atraiu uma legião de adeptos que, em 630, conquistou Meca. Surgia a religião monoteísta imposta pelos adeptos de Mohamed, elemento determinante para a unifi cação política da região. É importante salientar: Mohamed, além de chefe reli-gioso, também era chefe político dos árabes. Em 632, com a morte de Mohamed, os califas seguidores do profeta passaram a governar em seu lugar.

A expansão do islamismo No fi nal do século VII, motivada por seu enorme crescimento demográfi co, a população

islâmica utilizou como justifi cativa para a expansão territorial um preceito religioso: para eles, todo seguidor de Mohamed deveria agir como um guerreiro encarregado de levar a fé a todos os “infi éis” (o que recebeu o nome de jihad). Comandados pelos califas, os seguidores dessa religião expandiram seus locais de domínio por vastas áreas do Mediterrâneo, até se-rem detidos na Europa por Carlos Martel, do reino franco, em 732. Durante quase mil anos controlaram a navegação e o comércio no Mediterrâneo, bloqueando o acesso dos europeus ao comércio com o Oriente. Em meados do século VIII, o Império Islâmico começou a dar os primeiros sinais de decadência. Isso se deveu a vários fatores: primeiro, porque as diver-sas dinastias muçulmanas brigavam pelo poder dos califados, e, quando a dinastia principal, a Omíada, responsável pelo apogeu expansionista, foi substituída pela dinastia dos Abássi-das, o Império foi totalmente fragmentado, em califados independentes. Houve também o

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3grande movimento das Cruzadas, ciclo de lutas religiosas e econômicas, iniciado no século X pelos cristãos, que tentava derrotar os muçulmanos, o que contribuiu para fragilizar o Império. Por fi m, os turco-otomanos, recém-convertidos ao islamismo, guerrearam com os árabes pelo domínio político e econômico da região mediterrânea.

A expansão islâmica e suas divisõesPara entender a expansão islâmica, é importante perceber a assimilação que essa cultura

fez de muitos elementos de diversas culturas e das outras duas religiões monoteístas: o ju-daísmo e o cristianismo. No campo das ciências, os muçulmanos desenvolveram pesquisas na matemática, aprimorando a álgebra e a geometria e criando o sistema numérico, na as-tronomia e na química. Muitas foram suas contribuições para a cultura universal.

No entanto, diversos confl itos se sucederam após a morte do profeta, em 632, quando, em inúmeros confrontos, surgiram os sunitas, seguidores da tradição do profeta, a suna, e os xiitas, partidários de Ali, primo e genro de Mohamed, que o consideravam seu único herdeiro legítimo.

A fé islâmicaO mais importante fundamento da fé islâmica é a crença rigorosa no monoteísmo. Cada

capítulo do Corão (com exceção de um) principia com a frase “Em nome de Deus, o bene-fi cente, o misericordioso”. O islamismo destaca seis grandes elementos cruciais de fé:

1. A crença em Alá (Allah), único Deus existente.

2. A crença nos Anjos, seres criados por Alá.

3. A crença nos Livros Sagrados (o Livro de Ibrahim, que se perdeu, a Lei de Moisés, ou seja, a Torá, os Salmos de David, denominados Zabur, e o Evangelho de Jesus, chamado Injil). O Corão, para o islamismo, é o último e mais completo livro sagrado, que com-pleta todos os outros, e é o registro dos preceitos revelados por Alá ao profeta Mohamed. É o livro que os muçulmanos acreditam ser a palavra literal de Deus (Alá) revelada ao profeta Mohamed ao longo de um período de 22 anos. A palavra “Corão” procede do verbo árabe que denota a ideia de declamar ou recitar; Corão, ou Alcorão, é, portanto, uma “recitação” ou algo que deve ser recitado.

4. A crença em vários profetas enviados à humanidade. Personagens bíblicos bem conheci-dos, como Adão, Noé, Abraão, Moisés, Jesus, Maria (a mãe de Jesus) e João Batista, são mencionados no Corão como profetas do Islã, dos quais Mohamed é o último e mais importante.

5. A crença no dia do Julgamento Final, no qual as ações de cada pessoa serão julgadas por Alá.

6. A crença na predestinação, tradução em português da palavra qadar, cujo sentido mais preciso é “medir” ou “decidir quantidade ou qualidade”. Para o islamismo, Deus, criador de tudo, incluindo os seres humanos, sabe exatamente como são as características de cada elemento de sua obra. Dessa forma, os muçulmanos acreditam que tudo, absolutamente tudo, que acontece a uma pessoa é determinado por Deus.

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No islamismo não existem grandes hierarquias religio-sas e a prática do Islã é constituída por cinco elementos, denominados os cinco pilares.

O primeiro deles é a shahada, profi ssão de fé, que de-marca a entrada para o islamismo. Na conversão, o muçul-mano repete, na frente de uma testemunha: “Não existe nenhum Deus exceto Deus, e Mohamed é o mensagei-ro de Deus”, ou, em árabe, “Wa la ilaha illa’llah Muhammad rasulu’llah”. Embora possa ser dita em qualquer idioma, muitos muçulmanos optam por usar o árabe, por ser a língua do Corão.

O segundo pilar é a oração, realizada cinco vezes por dia: pouco antes do amanhecer, ao meio-dia, no meio da tarde, pouco depois de o Sol se pôr e à noite. Alguns versos do Corão são declamados, em árabe, durante as orações, que são diferentes umas das outras.

O terceiro pilar é o ato de caridade. Todo muçulmano deve doar cerca de 2,5% de sua renda a uma mesquita ou a um centro de caridade locais.

O quarto pilar se refere ao Ramadã, o mês do jejum. Durante esse período, espera-se que todos os muçulmanos, do nascer do Sol ao entardecer, se abstenham de comer e beber, evi-tem atividade sexual, mantenham sua mente limpa de pensamentos impuros e demonstrem compaixão e respeito profundos. Uma das datas mais sagradas para o islamismo é a festa em que se comemora o fi m do jejum no Ramadã. Nessa festa eles sacrifi cam um cordeiro, para lembrar o momento em que Abraão lidou com uma dor profunda: por ordem de Deus, ele teria de sacrifi car seu fi lho Ismael. Para os muçulmanos, Ismael, fi lho de Abraão com Agar, e não Isaac, seria sacrifi cado.

O quinto e último pilar é a peregrinação à cidade de Meca, na Arábia Saudita, quando há condições físicas e fi nanceiras.

As divisões do islamismoAs principais divisões ou correntes islâmicas são a sunita e a xiita, e sua maior diferença

é determinada pela interpretação da sucessão de Mohamed. Durante sua vida, o profeta não determinou nem quem o sucederia, nem como seria a escolha do sucessor. Isso causou a di-visão do islamismo, quando a comunidade islâmica mergulhou numa guerra civil, após a morte de Mohamed, que deu origem a três grupos: os sunitas, os xiitas e os caridjitas.

• Os sunitas, que representam 85% dos muçulmanos, aceitaram essa sucessão, denomina-da tradição do profeta (suna), tal como relatada por seus companheiros (a sahaba).

• Os xiitas defendiam que Ali, primo e genro de Mohamed, deveria ser o grande califa, que em árabe quer dizer “sucessor”.

• Os caridjitas primeiro apoiaram a posição dos xiitas, atribuindo a Ali o lugar de único sucessor legítimo de Mohamed. Decepcionados com Ali, por não ter declarado guerra ao califa sunita, entenderam que isso representava uma traição a seu legado por Deus. Posteriormente, Ali foi assassinado pelos caridjitas com uma espada envenenada.

O Corão, século XII.Fonte: Washington University.

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3Diferenças importantes

O movimento xiita sempre exerceu infl uência decisiva sobre o islamismo, a despeito de ser minoritário. Com o passar dos séculos, os xiitas dividiram-se em diversas seitas pareci-das, entre as quais a dos ismaelitas. O anseio de que os descendentes de Ali formassem os líderes do mundo islâmico jamais se concretizou, mesmo porque os sunitas sempre foram mais numerosos e expressivos. Os muçulmanos xiitas estão espalhados por todas as partes do mundo, mas alguns países têm uma concentração particularmente forte: o Irã é quase totalmente xiita, e no Iraque, país onde cerca de 95% da população é muçulmana, cerca de dois terços são xiitas. Os xiitas são maioria também no Bahrein.

Em termos teológicos, há diferenças entre sunitas e xiitas. Os dois ramos compartilham apenas três doutrinas: a individualidade de Deus, as revelações de Mohamed e a ressurreição do profeta no Dia do Julgamento Final.

A compreensão do islamismo é diferente para sunitas e xiitas. Os primeiros dão grande importância à peregrinação a Meca, enquanto os segundos dão também muita importância a outras peregrinações. Os xiitas se valem comumente do termo “imã”, que designa suas autoridades religiosas, exclusivamente para Ali e seus descendentes, ao contrário dos suni-tas. Os xiitas acreditam que os imãs, como descendentes de Mohamed e Ali, são seres com algo de divino. Os sunitas, por seu lado, creem em tradições baseadas em escolas teológicas e jurídicas que envolvem analogias do Corão e da tradição.

Algumas características particulares dos xiitas: a camufl agem da fé em público, de modo a impedir problemas sociais, é admitida, desde que conservada na privacidade; é possível contratar um casamento temporário, estabelecido por um período entre um dia e 99 anos, no qual podem existir ou não sexo e/ou o pagamento em dinheiro, e o homem que alcan-çar quatro casamentos desse tipo garante um lugar no Paraíso.

O islamismo hojeA religião islâmica, que conta com 1,3 bilhão de fi éis em todo o mundo, encontra nos

sunitas sua maioria, cerca de 85% do total. Um equívoco muito comum é a confusão entre árabe e muçulmano. O termo “árabe” se refere a uma etnia (de onde surgiu a língua árabe) e o termo muçulmano se refere ao adepto da religião islâmica. Os árabes1 são o maior grupo étnico do Oriente Médio. São maioria no Egito, Jordânia, Síria, Líbano, Iraque, nos países da Península Arábica e nos territórios sob a Autoridade Palestina. Também estão presentes nos países do norte da África, reunindo ao todo 350 milhões de pessoas.

Os muçulmanos, seguidores da fé islâmica, estão espalhados por todo o mundo. O Orien-te Médio reúne apenas 18% da população muçulmana mundial – sendo que turcos, afegãos e iranianos (persas) não são árabes. Outros 30% de muçulmanos estão no subcontinente in-diano (Índia e Paquistão), 20% no norte da África, 17% no sudeste da Ásia e 10% na Rússia e na China. Há minorias muçulmanas em quase todas as partes do mundo.

1 Originários da Península Arábica, os árabes se espalharam, a partir do século VII, em uma grande corrente migra-tória provocada pela expansão do islamismo. O principal fator que os une, porém, não é a religião, mas a língua, que pertence ao tronco semítico, assim como o hebraico.

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Os árabes na PalestinaO nome

Existem duas versões para a origem do nome “Palestina”. A primeira é que a palavra viria do hebraico “Peleshet”, que signifi ca divisor, invasor. Ela é traduzida como “Falastin”, denominação que os árabes usam atualmente para “Palestina” (na língua árabe não há o som de “p”). No século I d.C., os romanos destruíram o reino independente da Judeia. Após uma revolta frustrada dos judeus no segundo século, o imperador romano Adriano determinou que a identidade de Israel com a região fosse negada/obscurecida, impondo o nome “Palestina” para toda a terra judaica e rebatizando Jerusalém de “Aélia Capitolina”. Os romanos mataram milhares de judeus e expulsaram ou venderam como escravos outras centenas de milhares.

A outra versão é que a palavra “Palestina” derivaria do grego “Philistia”, nome dado pe-los autores da Grécia Antiga a essa região, devido ao fato de em parte dela se terem fi xado no século XII a.C. os fi listeus. Os fi listeus não eram semitas e sua provável origem é creto-mice-niana, oriundos, portanto, do litoral sul do Mar Mediterrâneo, de tal forma que os fi listeus não poderiam ser ascendentes dos atuais palestinos, que são de etnia semita (árabe).

É muito importante notar: os judeus viviam na Terra de Israel havia mais de 3.700 anos, os judeus é que eram chamados de “palestinos” na época dos romanos e não há nenhum povo na Palestina hoje que se origine no litoral sul do Mar Mediterrâneo.

A históriaA área que correspondia ao Mandato Britânico da Palestina foi dividida pelos ingleses,

tendo o Rio Jordão como fronteira, criando-se a Transjordânia, hoje Jordânia. O restante, correspondente à Palestina até 1948, encontra-se hoje dividido em três partes: uma delas in-tegra o Estado de Israel e as duas outras abrangem a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, de maioria árabe-palestina, que deveriam integrar um Estado Palestino a ser criado, de acordo com a lei internacional, bem como as determinações das Nações Unidas e da anterior potência colonial da região, o Reino Unido.

A Terra de Israel, por conta de sua localização, um estreito trecho de favorável passagem entre África, Ásia e Europa, sempre foi almejada por muitos conquistadores, pelos mais va-riados povos, por se constituir num corredor natural para os antigos exércitos.

A presença de árabes na Terra de Israel iniciou-se no ano 614, quando a região foi con-quistada pelos persas sassânidas, que mantiveram seu domínio até 628, sendo sucedidos em 638 pelo domínio árabe muçulmano. De 1517 a 1917, o Império Otomano controlou toda a região (incluindo Síria e Líbano).

Durante a Primeira Guerra Mundial, o Império Otomano apoiou a Alemanha e acabou derrotado com a ajuda de povos árabes que auxiliavam as tropas aliadas. Esses povos árabes receberam a promessa da constituição de um Estado árabe independente no Oriente Mé-dio. Foram criados vários Estados árabes após o período de mandatos britânico e francês. A Assembleia Geral das Nações Unidas determinou a Partilha da Palestina (os 25% ainda em disputa) entre um Estado judeu e outro árabe com base na concentração das populações, por meio da Resolução 181.

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3Os refugiados palestinos

Com o desenvolvimento proporcionado pelos judeus, que adquiriram terras, im-plantaram saneamento básico e abriram novas possibilidades de trabalho, muitos árabes de países vizinhos foram para a Palestina. Em 15 de maio de 1948, um dia depois da fundação do Estado de Israel, sete exércitos de países da Liga Árabe atacaram Israel, e, durante a guerra que se seguiu (que durou quinze meses), a maioria da população árabe de lá fugiu para os países vizinhos (Líbano, Jordânia, Síria e Egito) em busca de segurança. Passado algum tempo, muitos dos refugiados foram expulsos desses países de acolhimento, dirigindo-se para o sul do Líbano, onde permanecem em campos de refugiados até hoje. Na Jordânia, o rei Hussein mandou matar cerca de metade dos palestinos de seu país, no episódio conhecido como Setembro Negro. Os sobreviventes foram expulsos para o Líbano.

Em 1964, o Alto Comissariado da Palestina solicitou à Liga Árabe a fundação da Organi-zação para a Libertação da Palestina (OLP). Em 1988, a OLP proclamou o estabelecimento de um Estado palestino. O principal líder da organização foi o egípcio Yasser Arafat, falecido em 2004. Arafat, após anos de luta contra Israel, iniciou as negociações que levaram aos acordos de paz de Oslo. Desde 1994, os territórios palestinos estão sob a administração da Autoridade Nacional Palestina, como resultado dos acordos. No entanto, estes não puderam ser implantados em sua totalidade, pois Arafat e seus dirigidos promoveram vários atentados terroristas ou foram coniventes com eles. Muitos atentados em ônibus, mercados, restauran-tes deixaram centenas de mortos e feridos em Israel, entre eles árabes israelenses. A mídia palestina sempre desenvolveu grandes manifestações contra o direito de Israel de existir. E nas escolas árabes e palestinas o ódio a Israel e aos judeus é ensinado desde cedo. Infeliz-mente, Arafat, no ano 2000, não aceitou a proposta de paz intermediada pelo presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, e abandonou seu compromisso de repudiar o terrorismo, marcando o início de uma segunda revolta, com muitas vítimas, conhecida como Segunda Intifada.

Os árabes que permaneceram em Israel, por outro lado, têm direitos civis, como cida-dãos, podendo votar e ser votados, além de usufruir o avançado sistema de saúde do país. Hoje há dois partidos árabes no Parlamento israelense.

A Irmandade MuçulmanaDentro do islamismo, uma das interpre-

tações mais radicais das práticas religiosas foi concebida pela Irmandade Muçulmana. Fundada no Cairo, em 1928, por Hasan al--Bana e seus colegas de estudo, defendia, inicialmente, reformas morais e espirituais. Suas principais formas de atuação concen-travam-se na educação e na propaganda, especialmente durante sua primeira década de existência. Seu matiz ideológico princi-pal constitui-se na união de credo e Estado

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(livro e espada), juntamente com o retorno à pureza do Islã, o sacrifício extremo pela causa, a unifi cação do mundo islâmico sob a autoridade exclusiva do Corão, a rejeição aos valores e ao colonialismo das potências ocidentais. Em oposição às ideias leigas, modernas e ocidentais, essa interpretação afi rma que, a fi m de formar um Estado islâmico puro, os valores da tradição e religião islâmicas devem desempenhar papel central na vida econô-mica, social e política.

O principal objetivo da Irmandade Muçulmana era libertar a pátria islâmica do controle dos estrangeiros e infi éis, estabelecendo um Estado islâmico unifi cado (o califado) em to-dos os territórios que estiveram em alguma época sob o domínio árabe, como, por exem-plo, a Espanha. A Irmandade foi um dos primeiros grupos a invocar a jihad contra todos os não seguidores do islamismo. Jihad é um conceito essencial da religião islâmica. Pode ser entendida como a luta, mediante vontade pessoal, para buscar e conquistar a fé perfeita. Há opiniões divergentes quanto às formas de ação que são consideradas jihad. O fenômeno do fundamentalismo islâmico, uma forma de oportunismo político de alguns grupos, se aproveitou da noção de jihad, desvirtuando o Islã para torná-lo um fator de ação política em proveito próprio. O lema da Irmandade Muçulmana era: “Alá é o nosso objetivo. A mensa-gem é o nosso líder. O Corão é a nossa lei. A Guerra Santa é o nosso caminho. Morrer no caminho de Alá é a nossa maior esperança”.

Os movimentos islâmicos na PalestinaExistem muitos grupos islâmicos na Palestina, entre eles o Fatah, o Hamas e a Jihad

Islâmica. Alguns surgiram de metamorfoses internas da Irmandade Muçulmana, como o Hamas (sigla, em árabe, de Movimento de Resistência Islâmica), que é uma organização pa-ramilitar e um partido político. O grupo surgiu em 1987 como uma resposta da Irmandade Muçulmana ao crescimento da Jihad Islâmica, cuja popularidade aumentara na Palestina por causa das condições de sofrimento dos habitantes da região e das denúncias de corrupção do Fatah. Um texto do documento de fundação do Hamas afi rma: “O Dia do Juízo não vai acontecer até que os muçulmanos venham a lutar contra os judeus (matando os judeus)”.

A Irmandade Muçulmana cresceu muito na Palestina durante a década de 1980. Em de-zembro de 1987, a Intifada eclodiu na Faixa de Gaza e, posteriormente, na Cisjordânia. A Intifada foi uma revolta preparada pela Irmandade Muçulmana, que, na véspera do primeiro ataque, estabeleceu no Hamas uma organização adjunta.

Os grupos políticos na PalestinaA Autoridade Nacional Palestina é uma instituição que governa a Cisjordânia e a Faixa de

Gaza. Esses dois territórios fi zeram parte dos acordos de Oslo entre a OLP e Israel. Em 1964 surgiu o Fatah (sigla, em árabe, de Movimento de Libertação Nacional da Pales-

tina), organização política e militar fundada por Yasser Arafat e Khalil al-Wazir (Abu Jihad), juntamente com a criação da OLP. Os membros desse grupo defendiam, no início, a luta ar-mada para destruir Israel e jogar os judeus no mar. Posteriormente, reconheceram o direito de existência do Estado de Israel. Após muitas denúncias de corrupção, o Fatah foi derrotado pelo Hamas nas últimas eleições para o Parlamento palestino. Após a contagem fi nal, em 28 de janeiro de 2006, o Hamas conquistou 74 das 132 cadeiras do Parlamento.

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3O Hamas se utiliza de atentados suicidas e de lançamento de mísseis, e é por isso con-

siderado uma organização terrorista pelo Canadá, União Europeia, Israel, Japão e Estados Unidos, além de ter sido banido da Jordânia. Os Estados Unidos e a União Europeia têm implementado medidas restritivas contra o Hamas em nível internacional.

Em seu documento de fundação, o Hamas estabeleceu como objetivo “trabalhar para impor a palavra de Alá sobre cada centímetro da Palestina” (artigo 6.º). Para ele, a Palestina deve incluir todo o território de Israel, Gaza e Cisjordânia. O Hamas não aceita o Estado de Israel e, no artigo 7.º do mesmo documento, recorda que o profeta Mohamed afi rmou: “O julgamento fi nal não virá até que os muçulmanos lutem contra os judeus e os matem”. Também nesse documento o Hamas diz não acreditar em acordos de paz, vendo a jihad como a única solução.

O Hamas tem atacado duramente a população civil de Israel há muitos anos, lançando mísseis e foguetes da Faixa de Gaza (de onde Israel se retirou em busca da paz). Em dezem-bro de 2008, o governo israelense decidiu reagir, objetivando destruir a capacidade arma-mentista do Hamas, que infelizmente lança seus mísseis e instala seus quartéis-generais e seu armamento em meio aos civis palestinos, não poupando escolas, hospitais e casas de família, com o apoio de países como o Irã, que paga um valor determinado por foguete lançado contra Israel e fornece auxílio e armas aos militantes do Hamas. Durante a operação israelense foram destruídas dezenas de túneis que serviam para o contrabando de armas. Essa foi mais uma crise no permanente cenário de tensão, desacordo, infl uência e difícil acordo entre as partes diretamente envolvidas.

Bibliografi a sugerida

BARD, Mitchell G. Mitos e Fatos – A verdade sobre o confl ito árabe-israelense. São Paulo: Sêfer, 2004. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/4902428/MITOS-E-FATOS-Mitchell-G-Bard.

Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Facul-dade Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil.

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O ANTISSEMITISMO A PARTIR DO SÉCULO XIX E O HOLOCAUSTO

Adriana Dias

O antissemitismo do século XIXCom o advento da Revolução Francesa e o desenvolvimento do na-cionalismo moderno, que desencadeou a formação dos Estados nacionais, uma nova abordagem se espalhou pelo mundo: ao lado do racionalismo, o Ocidente desenvolveu ideias racistas, que dividiam as raças humanas em superiores e inferiores. Embora hoje saibamos que só existe uma raça, a humana, naquela época a produção de textos “científi cos” a respeito das raças buscava nas lín-guas e culturas elementos classifi catórios. No século XIX, o preconceito aos ju-deus mudou sua temática: passou a ser conduzido por uma ideologia motivada pelo discurso racial, o antissemitismo, e cresceu, fortemente, em toda a Rússia e Europa.

A palavra “antissemitismo” foi empregada pela primeira vez pelo escritor ale-mão Wilhelm Marr, em 1873, para traduzir a ideia de “Judenhass”, que signifi ca “ódio aos judeus”. O ódio aos judeus era muito forte em toda a Europa, como demonstra a literatura da época, que os descrevia de forma pejorativa ou ranco-rosa. Mas, depois do discurso antissemita, a situação fi cou cada vez mais grave. A extrema esquerda via nos judeus uma ameaça a sua liga internacional, porque eles estavam presentes em diversas nações, muitos deles ocupando postos-chave de Estado. Por outro lado, a extrema direita via nos judeus uma ameaça ao Estado nacional, que deveria se constituir apenas de pessoas da mesma raça. Não havia lugar para a convivência pacífi ca. Na Áustria, por exemplo, leis posteriores a 1882 negavam aos judeus direitos de cidadania, concedidos apenas aos cristãos. Aconteceram, em muitas localidades, diversos pogroms, perseguições sangrentas cujo objetivo era o massacre em massa. Em abril de 1903, em outro exemplo, turbas enfurecidas na Rússia, incentivadas pelas autoridades locais, assassinaram brutalmente 45 judeus e feriram setecentos, destruindo centenas de casas e lojas. Por conta desse quadro grave, expandiu-se a imigração de judeus da Europa para a Terra de Israel (então Palestina).

Para compreender o antissemitismo, é preciso entender, como informou Sar-tre, grande fi lósofo do século XX, que o antissemitismo e o racismo não são atividades racionais; portanto, não são opiniões. O antissemita e o racista condi-cionam seu objeto de ódio a um estado de desconhecimento: eles não querem sequer conhecer o outro, para permanecer no ódio que sentem por ele. Disso se conclui que o antissemitismo e o racismo se desenvolvem apenas na mente de quem os defende; o judeu e os grupos que sofreram ou sofrem racismo, como os negros, jamais podem ser responsabilizados pelo ódio alheio. O antissemita e o racista negam ao objeto de seu ódio a condição humana e, por isso, são pro-fundamente destrutivos.

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Como o discurso e a prática antissemitas cresceram tanto? A Alemanha estava destruída pela Primeira Guerra Mundial e com muitos problemas sociais e econômicos. Aprovei-tando esse cenário, e para atingir seu objetivo, os nazifascistas, com intensa propaganda, em programas de rádio e em fi lmes para cinema, usaram algumas estratégias. A primeira delas era culpar suas vítimas de maneira quase compulsória pelas coisas que eles mesmos faziam ou esperavam fazer; os judeus estariam, mentiam os nazistas, destruindo a raça ariana e a economia da nação.

Em segundo lugar, construíram a suspeita de que os judeus teriam manipulado os pode-res internacionais, por meio de partidos políticos e comunicações, recorrendo à ideia de que realmente haveria muita coisa que a população não sabia, atiçando o rancor e a revolta das massas, tornando-as potenciais delatoras dos judeus. As pessoas foram habilmente levadas a crer que a iniciativa estava com elas e que, para salvar a Alemanha, era preciso denunciar os judeus. O emocionalismo consciente e enfático também fez parte dessa terrível arquitetura: era o terceiro elemento do discurso. Movida por paixões estimuladas pela propaganda, a po-pulação se rendia à falta de racionalidade do antissemitismo. Os gestos histéricos de Hitler serviam de modelo para as condutas com as quais ele pretendia contagiar o povo, movidas por ódio, vingança, rancor. Em quarto lugar, o antissemitismo vivia de reafi rmar a própria inocência; o povo alemão estaria sujeito à constante perseguição, às ameaças e conspirações de seus inimigos, afi rmavam as propagandas fascista e nazista. Esse elemento era associado a uma exaltação ao cinismo e ao sadismo, o que o tornava ainda mais cruel. Outros elemen-tos no nazismo também ajudaram a compor a catástrofe: os arianos eram descritos como infatigáveis (deveriam repousar apenas depois da vitória sobre o inimigo, o judeu) e mensa-geiros da natureza, dos deuses (a mitologia nórdica foi bastante enfatizada), substituindo-se muitas vezes símbolos cristãos por pagãos; os líderes defendiam uma Alemanha grande, o que mexia com desejos de poder, reprimidos, da população; e, fi nalmente, mas não menos importante, cinicamente, tudo isso era emoldurado pelo fato de que estariam promovendo o bem humano, o bem dos alemães.

O caso DreyfusO antissemitismo continuou crescendo por toda a Europa, de maneira vigorosa. Um

dos mais fortes exemplos desse crescimento pode ser observado em um caso considerado por muitos o mais severo erro judiciário dos tempos modernos: o caso Dreyfus. O drama do capitão Alfredo Dreyfus, judeu, ofi cial do Estado-Maior francês, se iniciou, no fi nal de 1894, com a acusação de que ele estaria fornecendo documentos militares aos alemães. O veredicto, condenatório, determinou a pena de deportação perpétua para a Ilha do Diabo. O mais grave no caso – o processo fraudulento conduzido a portas fechadas, que culmi-

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nou na condenação unânime de Dreyfus e em sua difamação pública – foi o fato de que, mesmo quando se provou a inocência do acusado e que toda a condenação se baseava em documentos falsifi cados, os coordenadores do processo, ofi ciais de alta patente franceses, ainda decidiram, por todas as formas, ocultar o terrível e absurdo erro judicial. A defi nitiva revisão do processo de Dreyfus aconteceu em 1906, quando se revelou, fi nalmente, que Charles-Ferdinand Walsin Esterhazy, também ofi cial do Exército francês, escrevera as cartas erroneamente atribuídas a Dreyfus e era, portanto, espião dos alemães. Contudo, embora reconduzido à vida militar, os anos de prisão de Dreyfus não lhe foram restituídos como tempo de carreira, o que o obrigou a uma dolorosa demissão em 1907.

A formação do sionismo modernoEm 1897, aconteceu o Primeiro Congresso Sionista, promovido por Theodor Herzl na

Basileia, Suíça, que defendia a construção de uma pátria judaica. A proposta era restaurar o lar nacional judaico na Terra de Israel, a Palestina, de modo que os judeus de todo o mundo pudessem nele encontrar refúgio. A isso se associaria a autodeterminação do povo judeu para promover o renascimento nacional de sua civilização e cultura.

Em 1917, a Grã-Bretanha aprovou a Declaração Balfour, proclamando-se a favor do es-tabelecimento, na Palestina, de um lar nacional para o povo judeu e comunicando que se empenharia em favor desse objetivo.

O HolocaustoNo entanto, com a ascensão do Partido

Nazista na Alemanha, o antissemitismo se tornou uma função do Estado. As bases para o Holocausto haviam sido lançadas.

Apesar do aumento da imigração de ju-deus para a Palestina, as maiores comuni-dades judaicas estavam na Europa, algumas desde a época do Império Romano. Com o advento do nacional-socialismo, a Alemanha se tornou um regime nazista. Durante a Se-gunda Guerra Mundial, o antissemitismo do regime hitlerista levou mais de 6 milhões de judeus (dois terços da população judaica da Europa) à morte, em campos de concentração e extermínio, fato que fi cou conhecido histo-ricamente como Holocausto. A forte e perversa propaganda nazista induziu a população ale-mã ao ódio pelos judeus, de modo a convencer as pessoas a denunciá-los, objetivando sua eliminação. Em 1933, na Alemanha, promulgou-se a lei que retirava dos judeus qualquer proteção do Estado. Como consequência, não era necessário nenhum motivo para prendê-los e enviá-los aos campos de concentração.

Milhões de judeus foram aprisionados nos campos de concentração nazistas.

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“Holocausto” é uma palavra de origem grega que signifi ca “sacrifício pelo fogo”. Para os estudiosos do tema, ela descreve a perseguição e o extermínio sistemáticos dos judeus, promo-vidos pelo governo nazista. Este defendia a ideia da “superioridade racial” dos arianos e tam-bém que os judeus ameaçavam essa superioridade, por serem uma “raça inferior”. Os judeus foram descritos pela propaganda e pela ideologia nazistas como elementos que deveriam ser destruídos para preservar o povo ariano.

Outros grupos foram exterminados pelo governo hitlerista, quer por seu comportamento político ou ideológico, quer por seu comportamento social ou religioso, tais como os comu-nistas, os socialistas, as testemunhas de Jeová, os homossexuais e os ciganos.

Para aprisionar suas vítimas, a Alemanha nazista estabeleceu, entre 1933 e 1945, cerca de 20 mil campos, nos quais foram detidos mais de 20 milhões de vítimas. Havia campos de trabalho forçado, de transição, que serviam como estações de passagem, e de extermínio, usados, principal ou exclusivamente, para assassinatos em massa. Outra forma de eliminação de vítimas eram as marchas: levavam-se prisioneiros, sob intenso frio e neve, a caminhadas desumanas infi ndáveis, que atravessavam países, com o objetivo de torturá-los e assassiná-los.

A destruição em massa de judeus foi realizada pelos nazistas, sobretudo, em enormes cam-pos de extermínio na Polônia, o país com a maior população judaica, compondo uma verda-deira indústria de morte. Chelmno, o primeiro campo de extermínio, começou a operar em dezembro de 1941; nele, judeus e ciganos eram assassinados por envenenamento em furgões com canos de escapamento que soltavam gás para dentro dos veículos nos quais eles eram amontoados. Em 1942, os nazistas edifi caram os campos de extermínio de Belzec, Sobibor e Treblinka para matar ainda mais sistematicamente os judeus e suas outras vítimas.

Durante o Holocausto, os prisioneiros eram identifi cados com triângulos costurados nas roupas. As cores defi niam a espécie de “acusação” a eles imposta pelo nazismo:

• amarelo: judeus – dois triângulos sobrepostos, para formar a estrela de davi, com a palavra “Jude” (judeu) inscrita;

• vermelho: dissidentes políticos, incluindo comunistas; • verde: criminosos comuns;• púrpura: testemunhas de Jeová;• azul: imigrantes;• castanho: ciganos roma e sinti; • negro: lésbicas e antissociais (alcoólatras e indolentes); • rosa: homossexuais.

Posteriormente, nos campos de extermínio surgiram as câmaras de gás, cujo objetivo era tornar o processo de assassinato em massa mais efi ciente, rápido e menos pessoal para os executores. Nelas, imensos espaços fechados que recebiam gás letal, pessoas eram amontoa-das para morrer por asfi xia. Somente no campo de Birkenau existiam quatro câmaras de gás, dentro do complexo de Auschwitz. Para descrever essa perseguição violentíssima, cunhou--se, depois da Segunda Guerra Mundial, o termo “genocídio”. A Itália, sob o fascismo, tam-bém promulgou leis raciais, a partir de 1938, perseguindo e matando judeus.

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Raul Hilberg, um dos mais importantes historiadores do Holocausto, identifi cou nele quatro etapas:

1. Identifi cação/defi nição – Produziam-se listas de judeus, e estes eram identifi -cados e discriminados; vários direitos civis lhes eram negados.

2. Discriminação econômica e separação – Instalavam-se os judeus identifi cados em guetos em precárias condições e sem acesso à Justiça.

3. Concentração – Milhares de acusados eram levados aos campos.

4. Extermínio

Os guetos eram locais imundos onde os judeus fi cavam confi nados e morriam de ina-nição e doenças; os que sobreviviam eram amontoados em vagões de carga que os trans-portavam até os campos de concentração e extermínio. Lá chegando, eram despojados de tudo: roupas, cabelos, que eram raspados, nomes, porque passavam a ser identifi cados por números, em geral marcados com ferro quente na pele; tudo para que perdessem a iden-tidade individual e coletiva. Todos os direitos civis e políticos lhes eram negados. Esquecer seu número de identifi cação, por exemplo, podia ser motivo de fuzilamento, contam sobre-viventes do Holocausto. Primo Levi, um deles, indaga, em seu livro É Isto um Homem?, como seres humanos puderam fazer isso com outros seres humanos.

Após a derrota de Hitler, quando todos souberam dos horrores a que fora submetido o povo judeu, ganhou força, no mundo inteiro, a ideia de que os judeus tinham direito legíti-mo a um território no qual pudessem reconstruir seu Estado. Finalmente, em 1948, a ONU defi niu que esse Estado seria na Palestina.

Em memória das vítimas do Holocausto, foi inaugurada, em 2005, no Museu do Ho-locausto, em Jerusalém, a Galeria dos Nomes. Nela encontram-se milhares de registros das histórias das pessoas que viveram na época. Há relatos provenientes de cadernos, fotos de família e também muitos itens pessoais de judeus de quando estavam em campos de concentração.

O crime de genocídioO conceito de “crime de genocídio”, expressão cunhada em 1943 pelo polonês Raphael

Lemkin, foi adotado pela Convenção da ONU aprovada, em Paris, em 9 de dezembro de 1948, entrando em vigor em 12 de janeiro de 1951, após a ratifi cação por 22 países. O Brasil o fez em 15 de abril do ano seguinte, promulgando-o com o Decreto 30.822, de 6 de maio de 1952.

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A palavra “genocídio” designa, em Direito Internacional, o maior crime contra os direitos humanos, “um crime que ataca um direito fundamental de qualquer ser humano: o direito de ser diferente. Professar uma religião diferente, pertencer a uma outra raça, etnia ou grupo nacional, defender ideias políticas contrárias ou ter uma cultura diversa são os motivos que levam um grupo a querer exterminar outro”, segundo a Convenção da ONU. A prática do crime de genocídio percorreu, infelizmente, toda a história da humanidade, numa alusão direta a quanto é particularmente difícil à espécie humana desenvolver a tolerância.

São tidos como genocídios os crimes provocados pelos seguintes motivos, previstos no Direito Internacional:

• nacionais;

• étnicos;

• raciais;

• religiosos.

A mesma convenção determinou a investigação dos crimes de genocídio caso sejam cometidos com a intenção de destruir totalmente ou em parte um grupo nacional, étnico, racial ou religioso, utilizando-se dos seguintes meios:

• o assassinato;

• os atentados graves à integridade física e mental;

• a submissão intencional de membros do grupo a condições de existência que levam a sua destruição física total ou parcial;

• as medidas visando a impedir os nascimentos dentro do grupo;

• a transferência forçada de crianças de um grupo para o outro.

Ruanda e Bósnia, entre outros países, já tiveram julgamentos internacionais e mais de vinte condenações por genocídio. Quem julga os crimes de genocídio é o Tribunal Penal Internacional, e da denúncia de genocídio devem constar: a acusação criminal, as razões históricas para essa denúncia, as provas do crime cometido, o nome dos responsáveis e acu-sados e a jurisdição do Tribunal Penal Internacional envolvida no caso.

Muitos extermínios aconteceram na trajetória da humanidade. Recordemos alguns exem-plos dessa infeliz história:

• morte, no Brasil, de cerca de 5 milhões de índios pela colonização portuguesa e de 10 milhões pela colonização espanhola e inglesa;

• extermínio de mais de 200 mil aborígines na Austrália, depois de sua colonização;

• morte de 200 mil hutus, bantos do Burundi, em 1972, e de mais 600 mil em oito anos pelos tútsis;

• chacina, em Ruanda, de cerca de 1 milhão de tútsis, hutus moderados e minoria twa, constituída por pigmeus, pelos radicais hutus que dominavam as Forças Armadas, em 1994;

• entre 1975 e 1979, extermínio, pelo Khmer Vermelho, exército liderado por Pol Pot, de 2 milhões de habitantes no Camboja (25% da população);

• morte de 1,5 milhão de armênios na Primeira Guerra Mundial;

• assassinato de 300 mil membros de minorias no Kosovo, entre 1991 e 1999.

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Um dos piores crimes contra os direitos humanos nos dias atuais acontece na região de Darfur, no oeste do Sudão. O confl ito surgiu da oposição entre os janjawid, milicianos recrutados entre os baggara, tribos nômades africanas de língua árabe e religião muçulma-na, e os povos não árabes da área. O governo sudanês, apesar de negar publicamente seu apoio ao movimento janjawid, é o maior fornecedor de armas e assistência para esse grupo e compartilha seus ataques. O confl ito causou a morte de milhões de pessoas e deixou outras desabrigadas.

A mídia descreve o confl ito como um caso de “limpeza étnica” e de “genocídio”, embora o Conselho das Nações Unidas ainda não o tenha considerado genocídio. Um dos motivos para essa demora é o fato de a China ser grande parceira comercial do governo sudanês e defender o país em todos os fóruns internacionais que tratam do tema. Várias indicações de intervenção militar internacional propostas pela ONU foram rejeitadas por veto chinês.

Em julho de 2008, a Corte Criminal Internacional (CCI), por meio do procurador do Tri-bunal Penal Internacional, o argentino Luis Moreno Ocampo, solicitou aos juízes que emi-tissem um mandado de prisão contra o chefe de Estado do Sudão pelos crimes cometidos na região de Darfur. Omar al-Bashir, o acusado, rejeitou todas as acusações. O promotor da CCI desenvolve investigações no momento em quatro países africanos: República Democrática do Congo, Uganda, Sudão e República Centro-Africana. Até agora requereu doze ordens de prisão e prossegue buscando sete suspeitos foragidos.

Luis Moreno Ocampo declarou, por ocasião de sua eleição como primeiro procurador do Tribunal Penal Internacional pela Assembleia da ONU, em Nova York, em 22 de abril de 2003: “Eu espero profundamente que os horrores que a humanidade sofreu durante o sécu-lo XX sirvam-nos como uma dolorosa lição, e que a criação do Tribunal Penal Internacional nos auxilie a prevenir que essas atrocidades sejam repetidas no futuro”.

Para que seu desejo, e também de todos que trabalham pela paz, se torne realidade, é preciso vencer as raízes da intolerância e do preconceito.

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Árabes e islâmicos em geral mortos após a Segunda Guerra Mundial

Confl ito N.º de mortosAfeganistão versus Rússia 1.200.000Chechênia versus Rússia 200.000Afeganistão – guerra civil 1.000.000Argélia – independência 750.000Argélia – pós-independência 100.000Bangladesh 1.600.000Bósnia 150.000Indonésia 400.000Irã 800.000Iraque 1.700.000Líbano 130.000Somália – guerra civil 400.000Sudão – Darfur 2.600.000Timor Leste 150.000Iêmen 125.000Total 11.305.000

Fonte: Maariv; números geralmente aceitos pelas partes envolvidas.

Árabes e outras etnias muçulmanas matando-se entre si totalizam 8,5 milhões de mortos em disputas de cunho político, territorial (petróleo), religioso (seitas islâmicas, tais como xiitas ver-sus sunitas) e racial (contra negros muçulmanos).

O antissemitismo contemporâneoNos anos 1980, o antissemitismo, especialmente nos Estados Unidos, na Europa e na

Rússia, voltou a crescer. Muitos movimentos que evocam a possibilidade de reconstruir o ideal ariano se revestem de uma força renovadora: avaliações estimam em cerca de 450 mil o número de pessoas que leem literatura produzida pelos movimentos racista, revisionista e neonazista, apenas nos Estados Unidos. Desse montante, em torno de 25 mil, em 1995, eram considerados “membros militantes radicais”, observados por órgãos governamentais por práticas de ódio racial. Os crimes que envolvem ódio racial, apenas nos Estados Unidos, crescem cerca de 8 mil casos por ano.

Na Espanha, especialistas da Guarda Civil estimam em pelo menos 10 mil os jovens ca-dastrados em grupos ultradireitistas e neonazistas; apenas a organização Sangre y Honor, uma das mais radicais, afi rma possuir mais de 50 mil simpatizantes. Bandas neonazistas ilegais, como Hammerskin, Blood and Honour e Volksfront (também denominada Frente Popular), atraem multidões de jovens em seus shows, nos quais postulam a supremacia da raça branca, a veneração a Adolf Hitler e o ódio explícito aos judeus, negros, imigrantes e homossexuais. O neonazismo cresce, de maneira preocupante, segundo a ONU, no Leste Europeu, na Rússia, no Japão e na África do Sul.

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No Brasil, crimes de ódio racial ainda são precariamente resumidos em dados específi -cos, muitas vezes assinalados apenas como lesão corporal, injúria ou até homicídio e não enfatizados como crimes de racismo, embora a Constituição brasileira de 1988 o defi na como imprescritível e inafi ançável. Ainda assim, as estatísticas dos movimentos antirracistas apontam para o fato de que pelo menos 150 mil pessoas sejam simpatizantes do movimento racista, cerca de um terço delas apenas no Estado de Santa Catarina. Há grupos neonazistas organizados em São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná, Brasília e Belo Hori-zonte. No país, há centenas de casos de agressões a negros e judeus, principalmente rela-cionadas com esses grupos. Investigações contra eles são realizadas pelo Ministério Público Federal e por Delegacias de Intolerância Racial. Em 2008, foram presos seis integrantes do grupo Carecas do ABC, e seguem investigações a respeito do Front 88, do White Power São Paulo e dos Sulistas SS.

Aproveitando o surgimento e a expansão de novas formas de comunicação, especialmen-te as que nascem da internet, como sites, blogs, listas de discussão, canais de IRC e fóruns, o neonazismo tem crescido de maneira intensa, infelizmente. Nos grupos, duas caracterís-ticas se destacam: o “negacionismo” (chamado por seus defensores de “revisionismo”), que identifi ca o discurso direcionado para invalidar a veracidade histórica do Holocausto, a perseguição e morte dos judeus, o número de mortos, enfi m, que pretende uma revisão da história, a partir dos agentes nazistas; e o cultivo de símbolos nazistas, com especial ên-fase a seus aspectos do paganismo nórdico. Há mais de 15 mil sites neonazistas em língua espanhola, inglesa e portuguesa. Os subversivos grupos neonazistas preferem a internet por dois motivos principais: o formato da rede garante anonimato e a extensão permite alcançar milhares de pessoas ao mesmo tempo, num período muito menor do que o necessário por outro veículo, o que amplia essa forma de sociabilização. A tentativa desses grupos, em sua propaganda de ódio, é retomar símbolos, mitos e propostas jurídicas, religiosas e políticas do nacional-socialismo, valendo-se do negacionismo para tentar se livrar do retrato de des-truição que a presença deste deixou na história. Desse modo, pretendem eles, segundo afi r-mam, “proteger a raça ariana”, que estaria correndo perigo iminente, da “contaminação” por religiões “naturais” (como o judaísmo e o cristianismo), por casamentos inter-raciais, por adoção de crianças negras em famílias brancas, pela divulgação de heróis e esportistas negros e homossexuais. Seu objetivo é divulgar um ódio enorme contra todas as minorias.

Paralelamente, surgem também grupos islâmicos radicais que negam o Holocausto. Fa-zem isso por motivação política, para tentar negar aos judeus o direito a seu Estado. Um dos piores exemplos é o presidente do Irã, o ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad, que afi rma, repetidas vezes, que o Holocausto é um mito. Isso causa enorme sofrimento a todos os que perderam milhões de parentes na tragédia que o Holocausto, de fato, foi. E choca toda a humanidade que tal defesa seja feita em nome do ódio. Em momentos de confl itos no Oriente Médio, infelizmente, multiplicam-se ataques a cemitérios judaicos e sinagogas por todo o mundo. Exemplos dessa triste prática são os ataques a sinagogas francesas e, aqui na América do Sul, na Venezuela, a invasão à principal sinagoga de Caracas por quinze pessoas armadas, que picharam em suas paredes mensagens de ódio e juramentos de morte, em ja-neiro de 2009, e, no Brasil, ataques a sinagogas e pichações em Campinas (SP), Santo André (SP) e Santa Maria (RS), entre outros. É preciso defender a humanidade desses radicais.

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_____. Os Anacronautas do Teutonismo Virtual – Uma etnografi a do neonazismo na internet. Dissertação (Mestrado), Universidade de Campinas, 2007.

KLEMPERER, Victor. LTI. La Lengua del Tercer Reich – Apuntes de un fi lólogo. Barcelona: Minús-cula, 2001.

POLIAKOV, Léon. A Europa Suicida: 1870-1933 – História do antissemitismo IV. São Paulo: Pers-pectiva, 1985.

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SEMPRUM, Jorge. A Escrita ou a Vida. São Paulo: Cia. das Letras, 1995.

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Filmes

O Pianista. Direção: Roman Polanski. Inglaterra/Polônia, 2002. 148 min.

Sunshine – O despertar de um século. Direção: István Szabó. Alemanha/Áustria/Canadá/Hun-gria, 1999. 180 min.

Sites Em português:

http://ensinandodesiao.org.br/anussim/index.php?option=com_content&task=view&id=33&Itemid=27

http://etnografi anovirtual.blogspot.com

http://netjudaica.blogspot.com

http://www.bnai-brith.com.br

http://www.jornalalef.com.br

http://www.pletz.com

http://www.ushmm.org/museum/exhibit/focus/portuguese (Museu do Holocausto)

http://www.visaojudaica.com.br

Em inglês:

http://www.adl.org

http://www.bnaibrith.org

http://www.icc-cpi.int/library/about/offi cialjournal/Rome_Statute_English.pdf

Adriana Dias Doutoranda em Antropologia Social pela Universidade de Campinas, membro da Associação Bra-sileira de Antropologia e da Latin American Jewish Studies Association.

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A INDEPENDÊNCIA DO ESTADO DE ISRAEL CONTEMPORÂNEO E SUA REALIDADE HOJE

A formação do atual Estado de IsraelO retorno à condição de uma na-ção independente aconteceu quan-do o Estado de Israel foi proclamado em 14 de maio de 1948, de acordo com o Plano de Partilha da ONU de 1947. Assim que nasceu o Estado de Israel contemporâneo, as forças militares de diversos países da re-gião (Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Iraque) invadiram o território is-raelense. Para garantir a sobrevivên-cia e soberania recém-readquiridas, Israel reagiu ao ataque, no episódio que fi cou conhecido como Guerra da Independência de Israel.

Essa guerra durou quinze meses, e em suas batalhas morreram cerca de 6 mil israelenses (aproximadamente 1% da população judaica no país na época). Após diversas negociações, conduzidas pela ONU, os invasores (exceto o Iraque, que não negocia com Israel até os dias atuais) esta-beleceram um acordo a respeito das terras da região: a planície costeira, a Galileia e todo o Negev fi cariam sob soberania israelense; a Judeia e a Samaria (a margem ocidental), sob domínio da Jordânia; a Faixa de Gaza, sob administração egípcia; a cidade de Jerusalém fi cou dividida, cabendo à Jordânia o controle da parte oriental, incluindo a Cidade Velha, e a Israel o setor ocidental.

Entre 1948 e 1952, aconteceu a imigração em massa dos judeus da Europa e dos países árabes para Israel e, ao celebrar seu décimo aniversário, a população do país ultrapassava os 2 milhões de habitantes.

Em outubro de 1956, concretizou-se uma aliança militar tripartite entre o Egito, a Síria e a Jordânia, o que fez com que, novamente, se evidenciasse a ame-aça à existência de Israel. O líder egípcio Gamal Abdel Nasser desejava a total nacionalização do Canal de Suez, que era estratégico, como única passagem para o Mar Vermelho e possibilidade de irrigação do Deserto do Negev. No curso de uma campanha militar de oito dias (Campanha do Sinai), envolvendo ingleses e

Península do Sinai, regiões da Judeia e Samaria.

Lia Bergmann, Gisele Valdstein e Claudio Silberberg

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franceses, os israelenses ocuparam a Faixa de Gaza e toda a Península do Sinai, detendo-se a 16 km a leste do Canal de Suez. Novos acordos foram realizados, para que a região fosse devolvida gradativamente.

Em 1967, o Egito violou acordos alcançados após a Campanha do Sinai de 1956, solicitando à ONU que retirasse as tropas internacionais e deslocando todo o poderio de seu exército para as fronteiras com Israel, restaurando o bloqueio do Estreito de Tirã. Israel utilizou seu direito inerente de autodefesa e realizou um ataque preventivo contra o Egito, no sul (5 de junho de 1967), seguido por um contra-ataque à Jordânia, no leste, e pela expulsão das forças sírias entrincheiradas nas Colinas de Golã, ao norte. Depois dos seis dias de combates, as antigas li-nhas de cessar-fogo tinham sido substituídas por novas; a Judeia, a Samaria, Gaza, a Península do Sinai e as Colinas de Golã estavam agora sob o controle de Israel. Jerusalém, que estivera dividida entre Israel e Jordânia desde 1949, foi reunifi cada sob a autoridade israelense.

Depois da Guerra dos Seis Dias, houve outras batalhas na região, sempre provocadas por grupos que não reconhecem o direito dos judeus de ter seu Estado.

Em 1973, o Egito e a Síria lançaram a Guerra do Yom Kippur, assim chamada porque o Egito tomou de surpresa as tropas israelenses acantonadas no Sinai, na margem do Canal de Suez, no dia mais sagrado da tradição judaica, o Dia do Perdão – Yom Kippur. Israel, após sofrer grandes baixas, reagiu e retomou as regiões perdidas, inclusive o Golã, na fronteira com a Síria, e chegou a poucos quilômetros do Cairo e de Damasco, quando um novo ces-sar-fogo, com a intervenção da ONU, foi assinado.

Em novembro de 1977, o presidente do Egito, Anwar Sadat, fez uma viagem histórica a Jerusalém, a convite do primeiro-ministro israelense, Menachem Begin, iniciando a conso-lidação de um processo formal de reconhecimento e de paz.

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OJEQuando, em novembro de 1978, foram negociados os acordos de Camp David1, defi -

niram-se as linhas gerais para uma paz abrangente no Oriente Médio e uma proposta de autogoverno para os palestinos. Os dois acordos de paz de Camp David foram assinados por Anwar Sadat e por Menachem Begin e formaram um só tratado. Em suas disposições havia a defi nição da busca de uma solução pacífi ca de controvérsias, a extinção de boicotes econô-micos e a defi nição de direitos de passagem.

A OLP (criada em 1964, a Organização para a Libertação da Palestina deveria ter como objetivo a criação de um Estado palestino), cujo principal líder foi o egípcio Yasser Arafat, promoveu, durante as décadas de 1970 e 1980, muitos confl itos contra Israel. Um dos mais importantes aconteceu depois da guerra civil que se deu no Líbano entre a minoria cristã e os muçulmanos. A OLP de Yasser Arafat utilizou a anarquia no país e ampliou os ataques contra Israel, usando o território libanês como abrigo. Como era necessário se defender desses ataques, Israel invadiu o Líbano em junho de 1982 e cercou Beirute (lugar do quar-tel-general da OLP).

Posteriormente, em 9 de dezembro de 1987, eclodiu uma revolta (denominada Revolta das Pedras) em todos os territórios ocupados e nos setores árabes de Jerusalém. Essa rebelião fi cou conhecida como Intifada. A população civil palestina participou da revolta atirando pedras contra os militares israelenses, em especial no campo de refugiados de Jabaliyah, no extremo norte da Faixa de Gaza.

Em 1993, Israel e a Autoridade Nacional Palestina assinaram os acordos de Oslo, nos quais defi niram um compromisso de estabelecimento de um processo de paz a ser atingido ao longo de alguns anos de entendimentos progressivos.

Desde 1994, parte da Palestina está sob a administração da Autoridade Nacional Palestina, como resultado dos acordos. No entanto, estes não puderam se concretizar: Arafat e seus diri-gidos empreenderam vários atentados terroristas ou foram coniventes com eles. A educação aplicada às novas gerações palestinas promove o ódio a Israel e aos judeus, assim como o valor de agir como mártir da causa que objetiva destruir o Estado de Israel. Nos mapas utili-zados nos programas escolares, o Estado de Israel não existe e o território palestino se estende do Rio Jordão ao Mar Mediterrâneo. A mídia palestina sempre desenvolveu grandes manifes-tações contra o direito de Israel de existir. Infelizmente, Arafat, no ano 2000, na segunda parte dos acordos de Camp David, não aceitou a proposta de paz intermediada pelo presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, e abandonou seu compromisso de repudiar o terrorismo.

Novos confl itosEm 27 de setembro de 2000, um atentado palestino provocou a morte de um colono

judeu na vila de Netzarim, na Faixa de Gaza. Era o começo de várias manifestações de ódio na região, que por fi m deram início a uma segunda revolta, com muitas vítimas, conhecida como Segunda Intifada. Os episódios de violência se reproduziram constantemente, e, em 15 de fevereiro de 2006, quando foi feito um levantamento pela ONU, o número de mortos chegava a 4.995, dos quais 3.858 eram palestinos e 1.022, israelenses.

1 Receberam esse nome por conta do local das negociações, todas realizadas na casa de campo do presidente dos Estados Unidos em Maryland, denominada Camp David.

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Durante as últimas décadas, muitos grupos radicais dividiram a direção política dos palestinos, desde o Fatah, que é uma organização política e militar, fundada por Yasser Arafat e Khalil al-Wazir (Abu Jihad), juntamente com a criação da OLP, até o Hamas. Os membros do Fatah defendiam, no início, a luta armada para expulsar os israelenses. Posteriormente, reconheceram o direito de existência do Estado de Israel. Após muitas denúncias de corrupção, o Fatah foi derrotado pelo Hamas, nas eleições de 2006, quando conquistou a maioria das cadeiras do Parlamento. Os grupos armados palestinos, Hamas e Fatah, se envolveram, então, em grandes confrontos violentos. Israel, Estados Unidos e União Europeia consideram o Hamas uma organização terrorista.

O Hamas, que não reconhece o direito de Israel de existir, declarou que não abandona-rá as armas. Muitos analistas políticos defendem a ideia de que a imensa frustração com o papel do Fatah nos últimos anos e os inúmeros casos de corrupção (desvio das verbas recebidas de organizações internacionais, muitas vezes, para contas pessoais dos líderes do movimento) revoltaram a população empobrecida dos territórios palestinos. Isso ex-plicaria, segundo os analistas, a vitória do Hamas, muito mais que o apoio a seus preceitos fundamentalistas.

Israel retirou todas as suas colônias da Faixa de Gaza, entregando-a à Autoridade Nacional Palestina (ANP) em busca da paz, que não veio. Como resultado, a população civil das ci-dades israelenses próximas à fronteira, como Sderot, Ashkelon e Ashdot, entre outras, fi cou sob fogo constante de foguetes disparados por militantes do Hamas a partir de bases móveis na Faixa de Gaza, por vezes localizadas no telhado de casas de família. Houve dias em que mais de cem foguetes foram lançados após o Hamas ter lutado contra seus irmãos palestinos da Fatah, à qual pertence o presidente da Autoridade Nacional Palestina, expulsando-os e assumindo o total controle sobre a Faixa de Gaza.

É preciso lembrar que o Estado de Israel é menor do que o Estado de Sergipe, que ao longo dos anos o alcance e o poder de destruição dos foguetes lançados pelos liderados do Hamas vêm aumentando e que, a cada foguete lançado contra Israel, o Irã paga determinado valor, pois todos esses fatores incentivam a continuidade do terrorismo.

A vida de crianças, jovens, adultos e idosos se vê ameaçada diariamente sob constante terror. Ao fi nal de 2008 e início de 2009, Israel realizou uma operação em Gaza para des-truir bases de lançamento, arsenais de armas e túneis por onde estas eram contrabandeadas a partir do Egito. Infelizmente, o Hamas usou escudos humanos, infi ltrando armamento e terroristas em mesquitas, escolas, hospitais e em meio à população civil, colocando-a deli-beradamente sob risco. No entanto, ao contrário do que foi divulgado pela mídia, embora depois desmentido, mesmo sem as manchetes e o destaque das notícias iniciais, nenhuma escola da ONU foi atingida pelos israelenses.

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OJEIsrael: uma democracia no Oriente Médio

Lia Bergmann

IntroduçãoEm sessenta e um anos, o Estado de Israel transformou os desertos e pântanos em terras

férteis, tornando-se grande exportador de fl ores e frutas; absorveu milhões de imigrantes sem recursos, dando-lhes estabilidade, educação gratuita de alto nível, sistema de saúde pública, gerando uma das economias mais desenvolvidas do mundo, criando avançadas tecnologias nas diversas áreas do conhecimento, como medicina, informática, agricultura, meio ambiente, entre outras, sendo um exemplo para o mundo. Essa realidade não se vê nos jornais.

Estrutura políticaO Estado de Israel é uma democracia parlamentarista, com os poderes Legislativo, Exe-

cutivo e Judiciário. As instituições do Estado incluem a Presidência e o Knesset (Parlamento), o governo (gabinete de ministros) e o Judiciário. O sistema se baseia na separação dos três poderes e o braço executivo (governo) está sujeito à confi ança do braço legislativo (Knesset), que tem o poder de depor o primeiro-ministro, e a independência do Judiciário é garantida por lei. O Knesset possui 120 deputados. Seu nome e número baseiam-se na antiga Haguedolá (Grande Assembleia), órgão representativo judaico convocado em Jerusalém pela primeira vez no século V a.C.

Todos os cidadãos israelenses – judeus, árabes, cristãos, drusos, entre outros – podem ser eleitos para o Parlamento, que tem contado, ao longo de sua história, com partidos, depu-tados e até mesmo ministros e embaixadores árabes israelenses.

Sociedade pluralistaA natureza da sociedade israelense é plura-

lista. Sua população é formada por diferentes etnias, religiões e culturas. Dos 7,1 milhões de habitantes, 75,8% são judeus, 19,9% ára-bes (em sua maioria muçulmanos) e os 4,3% restantes dividem-se entre drusos, circassia-nos e outros, como os beduínos, que habi-tam o Deserto do Negev. Os idiomas falados no país são o hebraico (ofi cial), o árabe e o inglês.Meninas beduínas diante de um computador

distribuído pelo programa “Um computador para cada criança”.

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Imigração judaica: porto seguroIsrael foi estabelecido como pátria do povo judeu, como um porto seguro para um povo

alvo de diversas perseguições religiosas, políticas e raciais no decorrer da história. Tem por base ser um Estado permanentemente aberto à imigração judaica, para que os judeus per-seguidos, como aconteceu no Holocausto nazista, tenham para onde ir. Nesse sentido, tem absorvido centenas de judeus, incluindo etíopes, nas últimas décadas.

Liberdade religiosa e de expressãoA liberdade de expressão e de imprensa é garantida por lei. Israel escolheu deliberada-

mente adotar os princípios de liberdade, igualdade e proteção aos direitos humanos a todos os indivíduos dentro de suas fronteiras, sem distinção de religião, etnia, sexo ou cultura. A visão estabelecida na Declaração de Independência de Israel, promulgada em 1948, cons-titui os fundamentos do caráter de Israel, os princípios de acordo com os quais o Estado é governado, outorgando liberdade a todos os cidadãos. A liberdade religiosa é um direito garantido. Cada comunidade religiosa é livre por lei e na prática para seguir suas tradições. Os locais sagrados de todas as religiões são preservados, o que não aconteceu quando Jeru-salém, cidade santa para judeus, cristãos e muçulmanos, esteve dividida sob o domínio da Jordânia, de 1948 a 1967.

Igualdade de gênero, direitos das crianças e adolescentes

Em 1951, o Parlamento aprovou a Lei de Igualdade de Direitos da Mulher, que vem ocupando cargos proeminentes nas insti-tuições democráticas de Israel, desde a pri-meira-ministra Golda Meir (1969-1974) até Tzipi Livni, vice-primeira-ministra e ministra de Relações Exteriores até o início de 2009. As leis de proteção às crianças co-meçaram a ser promulgadas em 1954 e têm sido aprimoradas até a atualidade. Existe até mesmo a Lei dos Direitos do Aluno.

Igreja do Santo Sepulcro: peregrinação constante.

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OJEDireitos ao cuidado maternal e ao bem-estar da criança

Os direitos ao cuidado maternal e ao bem-estar da criança, também incorporados pela legislação israelense, são garantidos pelo sistema de saúde e serviços médicos altamente de-senvolvidos. Há clínicas gerenciadas pelo governo para a mãe e para a criança em todo o país, como parte dos serviços de saúde pública. A efi ciência desse sistema se comprova pelos dados de vacinação: entre 91% e 96% de todos os segmentos da população estão vacinados.

Educação gratuitaDesde 1949, o ensino é obrigatório dos 6 aos 16 anos, sendo gratuito até os 18. A taxa de

analfabetismo é a menor de todo o Oriente Médio: 2,9%. O Brasil tem hoje 11,4% de anal-fabetos, isso sem contar os analfabetos funcionais, que não têm os conhecimentos mínimos necessários para exercer sua plena cidadania.

O índice de desenvolvimento humano (IDH) em Israel é de 0,932 e a renda per capita, de 20.170 dólares.

SaúdeO sistema de saúde pública de Israel fornece ampla rede de serviços, incluindo hospitais,

a todos os residentes no país. O investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) tem como resultado uma medicina de ponta com tecnologia e procedimentos entre os mais avançados do mundo, como hospitais, clínicas e centros de medicina preventiva e de rea-bilitação, e cirurgias de cérebro, medula óssea e transplantes. A Maguem David Adom é o serviço de emergência médica, equivalente à Cruz Vermelha.

O kibutz e o moshavEstrutura social e econômica única no mundo, o kibutz é uma comunidade igualitária, no

início predominantemente agrícola, criada pelos pioneiros no começo do século XX. Nos primeiros anos foi fundamental para o estabelecimento dos milhares de imigrantes no país. Depois passou a englobar indústrias e empresas de serviços. O moshav tem a mesma fi losofi a de trabalho coletivo do kibutz, mas no início os fi lhos fi cavam em uma casa separada nos kibutzim, o que não acontecia nos moshavim desde sua criação, nos anos 1920.

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Agricultura e meio ambienteIsrael possui convênios com a África, ajudando o continente a combater a desertifi cação,

e fornece especial atenção às tecnologias alternativas para geração de energia e aos cuidados com o meio ambiente. Com largos desertos e poucas fontes de água, desenvolveu uma agri-cultura pujante e aplica os mais avançados métodos para o cultivo e a agroindústria.

TurismoO turismo é uma importante fonte de renda e de emprego para Israel e cresce a cada ano.

O turismo religioso, também de brasileiros que visitam os lugares sagrados para cristãos e judeus, tem registrado aumentos consecutivos. Entre as belezas naturais encontra-se o Mar Morto, o mais baixo do mundo. Uma completa infraestrutura hoteleira e de transportes está à disposição dos visitantes.

Costa do Mediterrâneo.

Mar Vermelho na cidade de Eilat. Tel-Aviv – Jafa.

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OJEIsrael – educação, ciência e tecnologia

Gisele Valdstein e Claudio Silberberg

“A pesquisa científi ca e suas conquistas deixaram de ser mero objetivo intelectual abstrato [...] são fator central na vida de todo povo civilizado.”

Investimento contínuo em educação e pesquisa: buscando desenvolver produtos de excelência

1870 – Criação da Escola Mikve Israel, pri-meira instituição de pesquisa agrícola. Tor-nou-se posteriormente o Instituto Volcani, hoje principal instituição de pesquisa e de-senvolvimento agrícola em Israel. Atualmen-te Israel exporta tecnologia de irrigação para diversos países, entre eles o Brasil, possibi-litando aumento da produção agrícola com gerenciamento de recursos hídricos.

1901 – Estabelecimento, em Jerusalém, da Teva Pharmaceutical Industries Ltda., pionei-ra no desenvolvimento de medicamentos ge-néricos, hoje com mais de 20 fi liais em todo o mundo.

1924 – Inauguração do Instituto de Tecnolo-gia Technion, em Haifa.

1925 – Início das atividades da Universidade Hebraica de Jerusalém, período em que se formaram as bases para o Hospital Hadassah, uma das mais importantes instituições de pesquisa médica de Israel.

1934 – Centro de Pesquisa Daniel Sieff, fundado em Rehovot, que, posteriormente, em 1949, se tornou o Instituto Weizmann de Ciências.

2009 – Atualmente existem oito universidades reconhecidas pelo governo, incluindo as acima citadas: Universidade de Tel-Aviv, Universidade de Haifa, Universidade Bar-Illan, Uni-versidade Ben-Gurion do Negev, Universidade Aberta de Israel. Juntas, produzem um dos maiores índices de graduação e publicações científi cas per capita do mundo.

David Ben-Gurion, primeiro chefe de governo do Estado de Israel contemporâneo (1948).

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Ciência e tecnologiaPrioridade de governo desde a criação do Estado de Israel para enfrentar a falta de recur-

sos naturais e a hostilidade dos países vizinhos, a área de ciência e tecnologia é a principal ferramenta para o crescimento nacional, criando mecanismos para estimular a atuação da iniciativa privada de forma competitiva. Hoje, destaca-se nos setores de alta tecnologia, aviôni-ca, telecomunicações, manufatura, equipamentos médicos eletrônicos e de fi bra óptica.

A indústria de alta tecnologia de Israel responde por 12% do produto interno bruto (PIB) e por mais de 80% das exportações. Israel é o segundo país, depois dos Estados Unidos, com empresas negociadas na Nasdaq (Bolsa de Tecnologia de Nova York).

1950 – Início das atividades da IBM Corporation em Israel, desenvolvendo aplicações com-putadorizadas para as áreas de medicina, agricultura, irrigação e elaboração de modelos para políticas em fertilização.– Primeira unidade da General Electric (GE).

1964 – Motorola Israel Ltda., que emprega atualmente 4 mil funcionários espalhados em cinco centros de desenvolvimento de tecnologia para sistemas de comunicação móvel.

1974 – Intel Israel – microprocessadores e componentes de memória para computador.

1981 – Rad Data Communications Ltda. – sistemas sofi sticados de comunicação sem fi o.

1989 – Microsoft Corporation, primeira subsidiária fora dos Estados Unidos.

1994 – 3G.COM Technologies – alta tecnologia de comunicação de dados.

2006 – Alcatel-Lucent de Israel – hardware, software e serviços de ponta em telecomunica-ções.

1981 a 2009 – Mais de 160 companhias de biotecnologia em atividade.

2009 – Cerca de 173 empresas de alta tecnologia em telecomunicações.

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OJEAlguns exemplos da criatividade israelense na prática

Israel é o pioneiro na tecnologia de armazenamento portátil de memória (pen drive) e em chips de memória.

A M-Systems foi pioneira no desenvolvimento de me-mória fl ash DiskOnKey e DiskOnChip (conhecidos como pen drive e chip de memória), permitindo a ágil transfe-rência, transporte e armazenamento de informações.

A GE Healthcare Israel lançou o primeiro equipamento miniaturizado de ultrassom cardíaco portátil do mundo. O scanner de tomografi a computadorizada Philips Brillian-ce faz um diagnóstico abrangente do paciente em poucos instantes, nas salas de emergência, onde cada segundo é vital.

Equipamento portátil de ultrassom cardíaco.

A empresa israelense Lumus Optical criou os vídeo-ócu-los PD2, para assistir a programas de TV e vídeos em qualquer lugar.

Vídeo-óculos, para assistir a seu fi lme preferido onde quer que esteja.

A telefonia pioneira pelo protocolo IP foi lançada pela Vocaltec (VOIP, sigla em inglês de transmissão de voz por internet – ex.: Skype).

A tecnologia de compressão de arquivos ZIP foi desenvolvida por dois professores do Instituto de Tecnologia Technion, de Haifa. Permite, por exemplo, comprimir grande quantidade de imagens sem nenhuma perda de qualidade ou integridade, facilitando seu arquivamento e envio.

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A pílula endoscópica com microcâmera foi lançada pela Given Imaging, que permite visualizar todo o trato di-gestivo.

Pílula endoscópica com microcâmera.

A ferramenta ICQ, do AOL Instant Messenger, foi desenvolvida, em 1996, por quatro jovens israelenses.

Os microprocessadores Centrino e Pentium-4 Dotan fo-ram desenvolvidos pela Intel Israel.

Microprocessador Centrino, usado também em notebooks.

A Keter Plastic, empresa israelense com 23 fábricas espalhadas pelo mundo, é con-siderada a maior empresa de produtos de plástico da Europa.

Dois professores do Instituto de Tecnologia Technion ganharam o Prêmio Nobel de Química, em 2004. Seu trabalho de identifi cação da proteína Ubiquitin é uma ino-vação nas pesquisas do câncer, doenças degenerativas do cérebro e muitas outras.

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Universidade Hebraica de Jerusalém. Universidade de Haifa.

Intel – microprocessadores.Instituto de Tecnologia Technion.

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Israel – História e desenvolvimento por um mundo melhor

Bibliografi a sugerida

Revista Notícias de Israel.

Sites

http://www.mfa.gov.il/MFA – Ministério das Relações Exteriores de Israel

http://www.mfa.gov.il/MFA/Visual+Media/General+Videos.htm (vídeos do tipo “você sabia?”)

http://www.science.co.il/Computer Science.asp

http://www.israel21c.com

Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Faculdade Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil.

Gisele Valdstein Fonoaudióloga, foi presidente da B’nai B’rith de São Paulo.

Claudio Silberberg Administrador e membro da B’nai B’rith.

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OS JUDEUS NOS PRINCIPAIS PAÍSES DA LIGA ÁRABE1

Entre 1948 e 1968, cerca de 850 mil judeus foram forçados a abandonar alguns países da Liga Árabe, onde viveram por vários séculos, expulsos ou fugindo de con-dições de discriminação e intolerância. Deixando todos os seus pertences para trás, essa multidão teve de recomeçar a vida em países como Israel, França e Brasil.

Até hoje essa história é pouco conhecida pela comunidade internacional. Por isso, mais de quarenta entidades judaicas lançaram, em novembro de 2006, a Cam-panha Internacional por Direitos e Reparação, para os judeus dos países árabes.

O êxodo silenciosoDos 848 mil judeus que moravam nos países da Liga em 1948, restavam ape-

nas 7.800 em 2001.

Quantidade de judeus nos países da Liga Árabe por anoPaíses 1948 1958 1968 1976 2001

Líbano 5.000 6.000 3.000 400 100Síria 30.000 5.000 4.000 4.500 100Líbia 38.000 3.750 100 40 0Iêmen 55.000 3.500 500 500 200Egito 75.000 40.000 1.000 400 100Tunísia 105.000 80.000 10.000 7.000 1.500Iraque 135.000 6.000 2.500 350 100Argélia 140.000 130.000 1.500 1.000 0Marrocos 265.000 200.000 50.000 18.000 5.700

Total 848.000 474.250 72.600 32.190 7.800

Comparação entre a situação dos árabes em Israel e a dos judeus nos países da Liga Árabe

Em 1948, havia algo entre 600 mil e 950 mil árabes no território que passou a integrar o Estado de Israel. Na Guerra da Independência, aproximadamente 156 mil desses palestinos permaneceram em Israel, enquanto os demais deixaram o país.

Os árabes que permaneceram em Israel e seus descendentes hoje são mais de 1,4 milhão e possuem cidadania israelense. Ou seja, a população árabe palestina residente em Israel aumentou quase 900% de 1948 até hoje e goza de plenos direitos, inclusive elegendo deputados. Os árabes com cidadania israelense são 20% da população de Israel.

1 Este capítulo é uma versão ampliada e adaptada por Tounée Rosset do texto publicado em www.judeusdospaisesarabes.com.br, incorporando também sugestões de Abraham Goldstein e dos auto-res dos diversos textos desta obra.

Tounée Rosset

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Por sua vez, a população palestina residente na Faixa de Gaza e na Cisjordânia hoje é de mais de 4 milhões de pessoas, sem contar os 4,5 milhões a 5 milhões de palestinos que vivem em outros lugares além de Israel e territórios palestinos. Esse número é muito maior do que o de palestinos que viviam em toda a Terra de Israel antes da criação do Estado de Israel.

Isso signifi ca que, ao contrário do que pessoas mal-intencionadas dizem, não existe ge-nocídio generalizado contra palestinos. A verdade é que tanto em Gaza e na Cisjordânia como no próprio território de Israel a população palestina tem se multiplicado, e muito.

Situação muito diferente ocorreu nos países da Liga Árabe, onde a população judaica foi expulsa ou teve de fugir da violência e da discriminação: dos 848 mil judeus que moravam em países como Líbano, Síria, Líbia, Iêmen, Egito, Tunísia, Iraque, Argélia e Marrocos, 840 mil haviam saído até o ano 2001, ou seja, só sobrou menos de 1%.

O gráfi co a seguir compara a evolução da população de palestinos vivendo em Israel desde o fi nal da Guerra da Independência até hoje, possuindo cidadania israelense, com a situação dos judeus em nove países da Liga Árabe, onde têm sido tratados como dhimmis.

Evolução da população árabe em Israel e da população judaica em nove países da Liga Árabe

Situação das comunidades judaicas nos países da Liga Árabe

Os judeus vivem no Oriente Médio, no norte da África e na região do Golfo há vários séculos. Houve presença ininterrupta de grandes comunidades judaicas no Oriente Mé-dio desde tempos remotos, mais de 2.500 anos antes do nascimento dos Estados árabes modernos.

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Após a conquista da região pelos muçulmanos, os judeus passaram a ser considerados cidadãos de segunda classe, mas a eles foram dadas, durante determinado período, liberdade religiosa e oportunidades educacionais, profi ssionais e de trabalho, embora limitadas.

Isso mudou no século XX, quando ocorreu um padrão de perseguição consistente e difundido e violações em massa dos direitos humanos das minorias judaicas em países da Liga Árabe. Decretos e legislações ofi ciais aprovados pelos regimes árabes negaram direitos humanos e civis aos judeus e a outras minorias; suas propriedades foram desapropriadas; foram privados de sua cidadania e de seu sustento. Os judeus eram frequentemente vítimas de assassinato, prisões e detenções arbitrárias, tortura e expulsões.

Com a declaração do Estado de Israel, em 1948, o status dos judeus nos países árabes piorou drasticamente à medida que muitos desses países apoiavam a guerra ou a declaravam contra Israel. Os judeus foram, então, expulsos dos países onde residiam havia anos e torna-ram-se reféns políticos do confl ito árabe-israelense.

Os judeus residentes em países da Liga Árabe passaram a ser atacados física e legalmente pelos governos e pela população de modo geral. Na Síria, por causa das perseguições antiju-daicas em Alepo, em 1947, dos 10 mil judeus da cidade, 7 mil fugiram do terror. No Iraque, o “sionismo” tornou-se crime capital. Mais de 70 judeus foram assassinados por bombas na região judaica do Cairo, no Egito. Depois de os franceses terem desocupado a Argélia, as autoridades emitiram uma variedade de decretos antijudaicos que induziram os quase 160 mil judeus a fugir prontamente do país. Após a Resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas sobre a partilha da Palestina, em 1947, amotinadores muçulmanos deram início a perseguições sanguinárias em Áden, no Iêmen, que acabaram causando a morte de 82 ju-deus. Em diversos países os judeus foram expulsos ou tiveram sua cidadania revogada (por exemplo, na Líbia). Inúmeros judeus fugiram de dez países da Liga Árabe. Eles se tornaram refugiados em uma região predominantemente hostil aos judeus.

As restrições sancionadas pelo Estado, frequentemente associadas à violência e repressão, forçaram um deslocamento em massa dos judeus. Resultado: mais de 850 mil judeus foram expulsos das terras em que eles e seus ancestrais viveram por várias gerações.

DhimmisDurante muitos séculos, membros de várias etnias, entre elas judeus, mas também gregos

e armênios, viveram dentro do Império Otomano, sob uma denominação que lhes determi-nava um lugar à parte no mundo social: dhimmis (em árabe, protegidos). Esses grupos eram submetidos a uma tributação especial (jizya), ao uso de uma rodela de cor amarela no peito e outros sinais distintivos, além de outras formas de discriminação.

Os judeus mais afetados foram os do Marrocos, do Iêmen e da Pérsia: eram sujeitos a graves humilhações, expropriação de bens, julgamentos injustos, assassinatos etc.

Mas, no geral, em troca do pagamento da jizya, os judeus, que estavam acostumados a sobreviver a situações adversas, após séculos de perseguições dos impérios Romano e Bizan-tino, viram nas conquistas islâmicas apenas uma substituição de poder.

A conversão voluntária ao islamismo foi muito rara; os judeus conseguiram preservar a fé em todas as terras muçulmanas.

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EGITOOs judeus têm vivido no Egito desde os

tempos bíblicos. As tribos israelitas muda-ram-se durante o reinado do faraó egípcio Amenhotep IV (1375-1358 a.C.). Ao longo dos anos, os judeus buscaram abrigo e ha-bitaram o Egito. Em 1897, havia mais de 25 mil judeus no Egito, a maior parte de-les concentrada nas cidades do Cairo e de Alexandria. Em 1937, a população alcançou 63.500 judeus.

Na década de 1940, com o crescimento do nacionalismo egípcio e os esforços do movimento sionista para recriar um lar na-cional judaico na Terra de Israel, as atividades antijudaicas começaram a surgir com mais in-tensidade. Em 1945, as agitações começaram: dez judeus foram mortos, 350 fi caram feridos e uma sinagoga, um hospital judeu e um lar para idosos foram incendiados. Após o sucesso do movimento sionista em estabelecer o Estado de Israel, medidas violentas e repressoras vindas do governo e dos cidadãos egípcios tiveram início em meados de 1948. Bombas fo-ram colocadas em um quarteirão judaico, matando mais de setenta pessoas e ferindo cerca de duzentas. As agitações nos meses que se seguiram resultaram em várias outras mortes. Dois mil judeus foram presos e muitos tiveram suas propriedades confi scadas.

Em 1956, o governo egípcio usou a Campanha do Sinai como pretexto para expulsar aproximadamente 25 mil judeus egípcios do país e confi scar suas propriedades. A eles foi permitido levar apenas uma mala e uma pequena quantidade de dinheiro, e todos foram obrigados a assinar documentos “doando” suas propriedades ao governo egípcio. Aproxi-madamente outros mil judeus foram presos ou mandados para campos de concentração.

Em 23 de novembro de 1956, um manifesto, assinado pelo ministro de Assuntos Re-ligiosos e lido em voz alta nas mesquitas de todo o Egito, declarava que “todos os judeus são sionistas e inimigos do Estado” e prometia que todos seriam, em breve, expulsos (Associated Press, 26/11/1956; New York World-Telegram, 29/11/1956).

Em 1957, a população judaica no Egito já tinha caído para 15 mil. Em 1967, depois da Guerra dos Seis Dias, houve nova onda de perseguições, e a comunidade judaica diminuiu para 2.500. Na década de 1970, após ser dada aos judeus remanescentes a permissão de deixar o país, a comunidade reduziu-se a algumas poucas famílias.

Os direitos dos judeus foram fi nalmente recuperados em 1979, depois que o presidente egípcio Anwar Sadat assinou o primeiro acordo de Camp David com Israel. Somente então foi permitido à comunidade estabelecer laços com Israel e com a coletividade judaica no mundo. Os quase duzentos judeus deixados no Egito são agora idosos, e a comunidade judaica do país, outrora orgulhosa e crescente, está praticamente extinta.

Bar-mitzva de gêmeos – Cairo, Egito, 1930.

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IRAQUEIraque é a designação moderna para o

país estabelecido com as antigas Babilônia e Assíria e a parte sul da Turquia após a Primei-ra Guerra Mundial. É o lugar da mais antiga diáspora judaica, a de história contínua mais longa, uma faixa de tempo de 2.670 anos.

No século III, os judeus prosperaram no que era então a Babilônia por 1.200 anos an-tes da conquista muçulmana, em 634 d.C. Sob o domínio dos muçulmanos, a situação da comunidade judaica tornou-se instável.

Enquanto alguns judeus possuíam altos cargos de governo ou prosperavam com o comércio e as trocas, outros eram submeti-dos a taxas especiais e restrições em suas atividades profi ssionais. Sob o controle britânico, que começou em 1927, os judeus iam bem economicamente, mas esse progresso cessou quando o Iraque conquistou sua independência, em 1932.

Em junho de 1941, o golpe de Rashid Ali, de apoio aos nazistas e inspirado pelo Mufti, iniciou uma série de manifestações e perseguições em Bagdá. Multidões de iraquianos ar-mados assassinaram 180 judeus e feriram mil.

Insurreições adicionais com manifestações antijudaicas ocorreram entre 1946 e 1949. Após o estabelecimento de Israel, em 1948, o sionismo tornou-se crime capital.

Cerimônia em memória de Menahem Salah Daniel, líder da comunidade judaica de Bagdá.

Comerciantes judeus de Bagdá.

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Em 1950, foi permitido aos judeus iraquianos deixarem o país em um ano caso desis-tissem de sua cidadania. Um ano mais tarde, no entanto, as propriedades dos judeus que emigraram foram congeladas e restrições econômicas foram impostas aos que permanece-ram no país. De 1949 a 1951, 104 mil judeus foram expulsos do Iraque na Operação Ezra e Nehemiah e 20 mil retirados clandestinamente pelo Irã. Assim, uma comunidade que chegara a 150 mil pessoas em 1947 rapidamente se reduziu a 6 mil depois de 1951.

Em 1952, o governo do Iraque proibiu a imigração de judeus. Com a ascensão de facções rivais do partido Ba’ath em 1963, restrições adicionais foram impostas aos judeus iraquia-nos remanescentes. A venda de propriedades foi proibida e todos os judeus foram forçados a carregar cartões de identidade amarelos. As perseguições continuaram, especialmente após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, quando muitos dos 3 mil judeus restantes foram presos e demitidos de seus empregos. Nessa época, medidas mais repressoras surgiram: proprie-dades judaicas foram tomadas; contas bancárias foram congeladas; judeus perderam cargos públicos; lojas foram fechadas; licenças comerciais foram canceladas; telefones foram desli-gados. Os judeus passaram a viver em prisão domiciliar por longos períodos ou restritos às próprias cidades.

As perseguições chegaram ao limite máximo no fi nal de 1968. Grupos de judeus eram presos sob a alegação de descobertas de “grupos de espiões” compostos por empresários judeus. Catorze homens, onze deles judeus, foram sentenciados à morte em julgamentos encenados e, em 27 de janeiro de 1969, enforcados em praças públicas de Bagdá; outros morreram sob tortura.

Em resposta às pressões internacionais, o governo de Bagdá silenciosamente permitiu que a maior parte dos judeus restantes emigrasse no início da década de 1970, mesmo en-quanto outras restrições eram mantidas. Em 1973, os judeus iraquianos estavam, na maio-ria, velhos demais para sair do país e foram pressionados pelo governo a entregar títulos, sem compensações, de propriedades judaicas no valor de mais de 200 milhões de dólares (The New York Times, 18/2/1973).

Atualmente, cerca de 60 judeus permanecem em Bagdá. O que fora um dia uma comunida-de crescente de judeus no Iraque hoje encontra-se extinta (Associated Press, 28/3/1998).

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LÍBIAA comunidade judaica da Líbia tem suas

origens ao século III a.C. Na época da ocu-pação italiana, em 1911, havia apenas 21 mil judeus no país, a maior parte em Trípoli.

No fi nal da década de 1930, leis antiju-daicas foram gradualmente reforçadas, e os judeus foram submetidos a repressões terrí-veis. Ainda assim, em 1941, eles respondiam por um quarto da população de Trípoli e mantinham 44 sinagogas.

Em 1942, os alemães ocuparam o bairro judeu e tornaram tudo muito difícil para os judeus na Líbia, e as condições não melho-raram após a liberação. Durante a ocupação britânica, o crescimento do nacionalismo árabe e do fervor antijudaico foram as prin-cipais razões por trás de uma série de perse-guições, a pior das quais, em novembro de 1945, resultou no massacre de 140 judeus em Trípoli e regiões próximas e na destrui-ção de cinco sinagogas (Howard Sachar, A History of Israel).

O estabelecimento do Estado de Israel le-vou muitos judeus a deixar o país. Em junho de 1948, em protesto contra o novo Estado, manifestantes assassinaram 12 judeus e des-truíram cerca de 280 de seus lares. Ainda que a emigração fosse ilegal, mais de 3 mil judeus conseguiram fugir para Israel. Entre 1949, quando os ingleses legalizaram a emigração, e 1951, ano em que a Líbia conquistou a independência e se tornou membro da Liga Árabe, demonstrações hostis e manifestações antijudaicas causaram a partida de cerca de 30 mil judeus para o norte do país (Norman Stillman, The Jews of Arab Lands in Modern Times).

Bairro dos judeus em Trípoli.

Família judia da Líbia.

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ARGÉLIANo século XIV, com a deterioração das con-

dições na Espanha, muitos judeus espanhóis mudaram-se para a Argélia. Após a ocupação francesa do país, em 1830, os judeus gradual-mente receberam a cidadania francesa.

Em 1934, os muçulmanos, incitados por eventos ocorridos na Alemanha nazista, se agitaram em Constantina, matando 25 ju-deus e ferindo muitos outros. Antes de 1962, havia 60 comunidades judaicas, cada uma mantendo os próprios rabinos, sinagogas e instituições educacionais. Depois da inde-pendência da Argélia, em 1962, o governo argelino atormentou a comunidade judaica e privou os judeus de seus direitos econômicos, resultando na emigração de quase 130 mil judeus argelinos para a França e, desde 1948, de 25.681 para Israel.

A independência da Argélia foi o evento--chave na expulsão da comunidade judaica. Como consequência do desejo do governo e dos argelinos de juntarem-se à onda de nacionalismo e pan-arabismo que varria o norte da África, os judeus não mais se sen-tiam bem-vindos após a partida francesa. O Código de Nacionalidade Argelino de 1963 deixou isso bem claro, dando a cidadania argelina como direito apenas àqueles cujos pais e avôs paternos possuíssem algum sta-tus pessoal muçulmano na Argélia. Em ou-tras palavras, ainda que a Frente Libertadora Nacional na Argélia fosse conhecida pelo slogan “Um Estado secular democrático”, ela seguia critérios religiosos rígidos ao dar a cidadania, fortifi cando assim sentimentos antijudeus e anti-Israel no país.

Família celebrando o Seder de Pessach – Oran, 1930.

Professores e rabinos da Escola Etz Haim – Oran, 1927.

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TUNÍSIAAs primeiras evidências documentadas de judeus vivendo onde é hoje a Tunísia vêm de

antes do ano 200. Após a conquista árabe da Tunísia no século VII, os judeus viviam em con-dições satisfatórias, apesar de algumas medidas discriminatórias, como taxas.

Em 1948, a comunidade judaica na Tunísia chegava a 105 mil pessoas, com 65 mil viven-do somente em Túnis. Depois que a Tunísia conquistou sua independência, em 1956, uma série de decretos antijudaicos foi promulgada. Em 1958, o conselho da comunidade judaica na Tunísia foi abolido pelo governo, e sinagogas, cemitérios e bairros judaicos antigos foram destruídos sob a alegação de “renovação urbana”.

Em condições similares às dos judeus na Argélia, a ascensão do nacionalismo tunisiano levou a legislações antijudaicas e, em 1961, grande número de judeus deixou o país. A situa-ção de instabilidade crescente fez com que mais de 40 mil judeus tunisianos emigrassem para Israel. Em 1967, a população judaica caiu para 20 mil.

Durante a Guerra dos Seis Dias, os judeus foram atacados em agitações árabes, e várias sinagogas e lojas foram queimadas. O governo denunciou a violência e apelou à população judaica para que fi casse; ainda assim, não proibiu os judeus de deixarem o país. Logo de-pois, 7 mil judeus emigraram para a França.

Mesmo em 1982 houve ataques a judeus em cidades como Zarzis e Ben Guardane. Hoje, cerca de 2 mil judeus vivem na Tunísia.

SÍRIAOs judeus têm vivido na Síria desde os tempos bíblicos, e a história da comunidade é

mesclada à história dos judeus na Terra de Israel. A população judaica aumentou signifi cati-vamente após a expulsão dos judeus da Espanha, em 1942. Através das gerações, as princi-pais comunidades judaicas encontravam-se em Damasco e Alepo.

Em 1943, a comunidade judaica na Síria possuía 30 mil membros, a maioria distribuída entre Alepo (17 mil) e Damasco (11 mil). Em 1945, em uma tentativa de impedir esforços para estabelecer um lar nacional judaico, o governo restringiu a emigração para Israel, e propriedades judaicas foram queimadas e saqueadas. Perseguições antijudaicas começaram a acontecer em Alepo em 1947, fazendo com que 7 mil dos 10 mil judeus que ali viviam fugissem por medo. O governo então congelou as contas bancárias e confi scou as proprie-dades dos que permaneceram no país.

Logo após a independência de Israel, uma política de discriminação econômica na Síria foi posta em prática contra os judeus. Virtualmente, todos os cidadãos judeus civis empre-gados pelo governo sírio foram demitidos. A liberdade de movimentos foi praticamente abolida e postos especiais de fronteira foram estabelecidos para controlar o movimento dos judeus (The New York Times, 16/5/1948).

Em 1949, os bancos receberam instruções para congelar as contas dos judeus e confi scar todos os seus pertences. Ao longo dos anos que se seguiram, o padrão contínuo de estran-gulamento político e econômico fez com que um total de 15 mil judeus deixasse a Síria, emigrando para os Estados Unidos e para Israel.

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IÊMEN Os judeus do Iêmen têm várias lendas re-

lacionadas com sua chegada ao país; a mais conhecida delas diz que chegaram antes da destruição do Primeiro Templo. A primeira evidência histórica de sua presença no Iê-men data do século III.

Os judeus começaram a deixar o Iêmen por volta de 1880, quando aproximadamen-te 2.500 rumaram para Jerusalém e Jafa. Mas foi após a Primeira Guerra Mundial, quan-do o Iêmen se tornou independente, que o sentimento antijudaico no país transformou a emigração em uma necessidade. Leis antis-semitas, que tinham fi cado esquecidas por anos, foram trazidas à tona. Em um tribunal, as evidências de um judeu não eram aceitas diante das evidências de um muçulmano.

Em 1922, o governo do Iêmen reintroduziu uma antiga lei islâmica que exigia que ór-fãos judeus menores de 12 anos fossem convertidos ao islamismo. Quando um judeu de-cidia emigrar, ele deveria deixar todas as suas posses. Apesar disso, entre 1923 e 1945, um total de 17 mil judeus iemenitas deixou o país e foi para a Palestina.

Após a Segunda Guerra Mundial, milhares de outros judeus iemenitas queriam migrar para a Palestina, mas o Livro Branco dos britânicos ainda estava em vigor, e aqueles que dei-xassem o Iêmen acabariam em morros abarrotados de gente em Áden, onde revoltas graves aconteceram em 1947, depois que as Nações Unidas decidiram pela Partilha da Palestina em um estado judaico e um estado árabe. Muitos judeus foram mortos, e o bairro judeu foi completamente incendiado. Apenas em setembro de 1948 as autoridades britânicas em Áden permitiram que os refugiados fossem para Israel.

Em 1947, após a decisão pela Partilha, revoltosos muçulmanos deram início a uma san-grenta perseguição em Áden que matou 82 judeus e destruiu centenas de casas judias. A comunidade judaica em Áden, que contava com 8 mil pessoas em 1948, foi forçada a fugir. Até 1959, mais de 3 mil já haviam chegado a Israel. Muitos fugiram para os Estados Unidos e Inglaterra. Atualmente não há judeus remanescentes em Áden.

Na época da fundação de Israel, a comunidade judaica no Iêmen estava economicamente paralisada, já que a maioria das lojas e negócios judaicos foi destruída. Essa situação cada vez mais perigosa levou à emigração de toda a comunidade judaica iemenita – quase 50 mil Judeus – entre junho de 1949 e setembro de 1950, na chamada Operação Tapete Mágico. Uma emigração em menor escala foi permitida até 1962, quando uma guerra civil trouxe um fi nal abrupto ao êxodo judaico.

Família iemenita estudando hebraico.

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MARROCOSOs judeus apareceram pela primeira vez

no Marrocos há mais de dois milênios, via-jando em parceria com negociantes fenícios. A primeira colonização dos judeus ocorreu em 568 a.C., quando Nabucodonosor des-truiu Jerusalém.

Por volta de 1948, essa antiga comuni-dade judaica, a maior no norte da África, contava com 265 mil pessoas. Em junho de 1948, após a constituição do Estado de Is-rael, manifestações sanguinárias em Oujda e Djerada mataram 44 judeus e deixaram outros feridos. No mesmo ano, um boicote econômico não ofi cial foi incitado contra os judeus marroquinos.

A emigração para Israel começou com a iniciativa de pequenos grupos que lá chega-ram na época de sua independência. Entre-tanto, a maior emigração, que levou mais de 250 mil judeus marroquinos para Israel, foi induzida por medidas antijudaicas executa-das em resposta à constituição do Estado de Israel. Em 4 de junho de 1949, ocorreram manifestações no norte do Marrocos, matan-do e ferindo dezenas de judeus. Logo depois, os judeus começaram a deixar o país.

Entre 1955 e 1957, mais de 70 mil judeus marroquinos chegaram a Israel. Em 1956, o Marrocos declarou sua independência, e a emigração de judeus para Israel foi suspensa. Em 1959, atividades sionistas tornaram-se ilegais no país. Durante esses anos, mais de 30 mil judeus fugiram para a França e para as Américas. Em 1963, a proibição da emi-gração para Israel foi revogada, levando mais de 100 mil para a costa.

Hoje, a comunidade judaica do Marrocos é menos de 10% de seu tamanho original. Dos 17 mil judeus que restam, dois terços vivem em Casablanca.

Menino celebrando seu Bar-mitzva a caminho da sinagoga com seus familiares e amigos – Fez, Marrocos, 1940.

Mulheres judias em festa com músicos.

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LÍBANOOs judeus têm vivido no Líbano desde os tempos antigos. O rei Herodes, o Grande, no

século I, manteve a comunidade judaica em Beirute. Durante a primeira metade do século XX, a comunidade judaica desenvolveu-se am-

plamente por causa da imigração da Grécia, da Turquia e, depois, da Síria e do Iraque. Em meados dos anos 1950, aproximadamente 7 mil judeus viviam em Beirute. Em comparação com os países islâmicos, as regras árabe-cristãs, características da estrutura política do país, conduziam uma política de relativa tolerância à população judaica. Todavia, por estarem tão próximos do “Estado inimigo” Israel, os judeus libaneses se sentiram inseguros e, em 1967, decidiram emigrar para a França, Israel, Itália, Inglaterra e América do Sul.

Em 1974, 1.800 judeus permaneciam no Líbano, a maioria concentrada em Beirute. A guerra civil muçulmano-cristã destruiu o bairro judeu, danifi cando muitos lares, negócios e sinagogas. A maior parte dos judeus libaneses restantes emigrou em 1976, temendo que a presença da Síria no Líbano impedisse sua liberdade de partir. Hoje, um número estimado de 150 judeus permanece no Líbano.

Sites

http://www.judeusdospaisesarabes.com.br (em português)

http://en.wikipedia.org/wiki/Dhimmi (em inglês)

Tounée Rosset Formada em Ciências Econômicas pela USP, é membro da Loja Horácio Lafer e foi presidente da B’nai B’rith de São Paulo. Atualmente faz parte da Comissão de Direitos Humanos da B’nai B’rith.

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Dezenas de projetos já foram propostos para o confl ito entre Israel e seus vizinhos. Entre os mais famosos estão a Partilha da Palestina, aprovada pela ONU em 1947, o Road Map (cuja tradução mais comum é “mapa da estrada”, mas também poderia ser “caminho para a paz”), os acordos de Oslo, a proposta da Arábia Saudita, a iniciativa árabe e o acordo de Genebra. Cada partido político ou facção da região ou governo de outro país do restante do mundo tem sua fi loso-fi a e suas opiniões, que mudam com o decorrer do tempo. No entanto, diante de tanta diversidade, é possível agrupar as propostas que são mais frequentemente defendidas hoje em dia em três grandes grupos:

A) Solução de dois Estados para dois povos.

B) Proposta de um Estado para dois povos.

C) Projetos de um Estado para um povo.

Quando se fala em apoiar os palestinos ou a “causa palestina”, muitas pessoas logo concordam, pois se trata de um povo sofrido. Contudo, é importante saber de que “causa” estão falando e para o que exatamente estão pedindo seu apoio, ou seja, qual encaminhamento para o confl ito a pessoa está promovendo: a solução de dois Estados para dois povos, que pode levar à paz; um projeto inviável de um Estado binacional; ou um projeto extremista de um único Estado para somente um povo?

Passamos agora a comentar cada um desses grupos de propostas.

A) Solução de dois Estados para dois povos: a solução para a paz

Na solução de dois Estados para dois povos, coexistiriam, lado a lado, dois países. Um deles seria o Estado de Israel, que manteria maioria judaica; o outro, um Estado palestino, que abrigaria, em sua maioria, famílias árabes que habitam a região desde antes da constituição do Estado de Israel.

Esses dois países então poderiam viver em paz, exercendo relações diplomá-ticas e comerciais. Livres de ataques terroristas, teriam fronteiras abertas para a circulação de pessoas e mercadorias, assim como ocorria antes da Segunda Inti-fada, entre Gaza, Cisjordânia e Estado de Israel.

SOLUÇÃO PARA A PAZ: DOIS ESTADOS PARA DOIS POVOS

Eric Calderoni

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A solução de dois Estados para dois po-vos respeita as necessidades nacionais tanto dos judeus, que, em razão do antissemitismo histórico, desejam e necessitam que exista no mundo pelo menos um país de maioria judaica, como da população árabe daquela região.

A solução de dois Estados para dois po-vos foi adotada em 1947 pela Organização das Nações Unidas (ONU), que determinou a Partilha da Palestina, ou seja, justamente a divisão do território para a constituição de um Estado judeu e de outro país árabe na re-gião, que seria o Estado palestino. Por aquela resolução da ONU, Jerusalém fi caria sob ju-risdição internacional. A solução para a paz consiste justamente em aceitar os princípios gerais daquilo que já foi decidido há mais de sessenta anos.

A Partilha da Palestina, contudo, não foi aceita pelos países árabes, que exigiam fi-car com 100% do território. Uma coalizão árabe atacou Israel assim que os britânicos deixaram a região com a intenção de destruir Israel, que no entanto venceu a guerra e assim conseguiu sobreviver. Ao término do conflito, que ficou conhecido como Guerra da Independência de Israel, os países da Liga Árabe Egito e Jordânia ocuparam os ter-ritórios da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, respectivamente, situação que se manteve entre 1948 e 1967, e decidiram não criar neles o Estado palestino. É por isso que não foi criado o Estado palestino já naquela época: por falta de interesse dos próprios países árabes vizinhos.

Hoje, o governo de Israel e o partido palestino Fatah, bem como a maioria dos países do mundo, apoiam uma solução de dois Estados para dois povos na região. Essa solução foi aceita nos acordos de Oslo, assinados em 1993 e em 1995 entre Israel e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), e reiterada na Conferência de Anápolis, em 2007, tanto pelo governo de Israel como pela Autoridade Nacional Palestina (ANP).

Resolução da ONU pela Partilha da Palestina (1947).Fonte: Revista Shalom, 356 (VIII), 13/2/2006.

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Para a implementação da solução de dois Estados para dois povos, seria necessário defi nir as fronteiras exatas. Quanto a isso, sempre haveria motivos para discordâncias. Em primeiro lugar, teria de se acertar uma base, que, no Road Map, defendido pelo chamado “quarteto” (comissão composta por representantes dos Estados Unidos, da União Europeia, da Rússia e da ONU), são as fronteiras de antes da guerra de 1967. Defi nida a base, passar-se-ia a discu-tir as exceções. Não mais se tomaria como base as fronteiras que haviam sido planejadas em 1947, mas sim as que fi caram depois da Guerra da Independência, que são mais ou menos as mesmas que separam hoje em dia judeus e palestinos.1

Outra questão referente às fronteiras diz respeito às colônias judaicas na Cisjordânia, que teriam de ser entregues aos palestinos ou então ter seu território negociado em troca de compensação territorial em outro local ou compensação de outra espécie com que as partes concordassem. A Figura 1 apresenta uma solução de dois Estados para dois povos, com as prováveis fronteiras que teriam.

1 A Resolução 242 da ONU, de 22/11/1967, estabelece o retorno às fronteiras de antes da Guerra dos Seis Dias, como fi cou conhecida a guerra travada em 1967.

O autor do presente capítulo ostenta bandeiras de Israel e da Palestina pela convivência pacífi ca entre os povos em uma solução de dois Estados para dois povos – Memorial da América Latina, São Paulo (SP), 18/1/2009.

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Figura 1 – Solução de dois Estados para dois povos

Os palestinos que hoje habitam a Fai-xa de Gaza e a Cisjordânia manter-se-iam onde estão e aqueles que moram em campos de refugiados nos países vizinhos seriam transferidos para o território palestino. Os palestinos que vivem em outros países te-riam como opção emigrar para o Estado palestino.

Poderia haver compensação fi nanceira aos palestinos que perderam suas casas durante o período de construção do Estado de Israel, mas não haveria o direito de retornarem aos locais onde habitavam naquela época. Res-taria ver daí se, em contrapartida, também teriam direito a compensações os mais de 840 mil judeus que viviam nos países da Liga

Árabe que perderam o que tinham quando foram expulsos ou tiveram de fugir.

As Colinas de Golã, território militarmen-te estratégico, pois pode servir de barreira natural ou de plataforma para artilharia, que foram conquistadas da Síria por Israel na Guerra dos Seis Dias em 1967, provavelmen-te seriam devolvidas à Síria em troca de sua aceitação dessa solução e de seu compromis-so em não atacar Israel.

A solução de dois Estados para dois povos, baseada nas fronteiras anteriores a 1967, é de-fendida por Israel e, atualmente, também pelo partido palestino Fatah e pela Autoridade Na-cional Palestina (cujo presidente, Mahmoud Abbas, pertence ao Fatah).

Na solução de dois Estados para dois po-vos, tal como aqui exposta, Israel permane-ceria como o único país de maioria judaica do mundo, enquanto seria constituído na Faixa de Gaza e na Cisjordânia o 46.º país de maioria muçulmana.

Uma questão que precisaria ser melhor detalhada na solução de dois Estados para dois povos diz respeito à descontinuidade territorial do Estado palestino a ser criado, pois hoje a Faixa de Gaza e a Cisjordânia não têm ligação sem passar por dentro de Israel. Soluções possíveis para o problema da des-continuidade territorial poderiam envolver rodovias e ferrovias especiais, sob autorida-de palestina, para ligarem Gaza e Cisjordâ-nia. Uma das propostas seria a construção de um túnel semelhante ao Eurotúnel, que liga Londres a Paris, que manteria a separação com Israel mais rígida; outras propostas dão preferência a obras de superfície por serem mais baratas e de mais fácil integração com a malha viária israelense.

Mais uma questão que se coloca é a da se-gurança do Estado de Israel em relação ao que aconteceria se palestinos baseados no territó-rio palestino continuassem atacando Israel e as autoridades palestinas não fossem efi cien-tes (ou não tivessem empenho) para impedir.

Montagem sobre mapa fornecido pela Embaixada de Israel à Revista Shalom.

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Ainda outra questão é o status de Jerusalém, que é a cidade mais sagrada para o judaísmo e também é sagrada para o Islã (a terceira cidade mais sagrada depois de Meca e Medina). Alguns alegam que Jerusalém deveria fi car sob jurisdição internacional, mas Israel considera que isso não é necessário, pois sempre garantiu aos judeus, aos muçulmanos e aos cristãos o livre acesso a seus locais sagrados.

Por fi m, a questão mais fundamental envolvida na solução de dois Estados diz respeito ao direito de retorno palestino. Abordaremos essa questão logo após a explicação e análise da proposta de criação de um Estado para dois povos, que nos ajudará a entendê-la.

B) Proposta da criação de um único Estado para dois povos (Estado binacional)

Na proposta da criação de um único Estado para dois povos, ou seja, um Estado binacio-nal, judeus e palestinos viveriam em um mesmo país.

Essa proposta foi defendida pelo grupo palestino Fatah de 1974 a 1988, como forma de garantir pleno direito de retorno aos palestinos que foram deslocados no contexto da criação do Estado de Israel. A proposta recebe até hoje apoio de alguns intelectuais e de grupos extremistas.

Para quem vive no Brasil, um país multiétnico com tradição de convivência relativamente pacífi ca e tolerante entre pessoas de diferentes etnias, religiões etc., é simples, às vezes, sim-patizar com a ideia, à primeira vista.

A ideia de que judeus e palestinos poderiam se respeitar plenamente, sob o mesmo Esta-do, sem qualquer forma de distinção, tem forte apelo emotivo. O cantor John Lennon, dos Beatles, compôs em 1971 a música “Imagine”. A letra tem uma passagem que, livremente traduzida, diz: “Imagine que não existam países. Não é difícil. Nenhuma causa pela qual ma-tar ou pela qual sacrifi car a própria vida. E tampouco exista qualquer religião. Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz. Você pode dizer que eu sou um sonhador, mas eu não sou o único. Espero que algum dia você se junte a nós. Daí o mundo será unido”.

A letra da música faz sentido, e pouca gente discorda que seria maravilhoso morarmos num mundo tão unido assim. Todavia, infelizmente, para que o sonho de John Lennon possa se tornar realidade, se é que algum dia poderá, sua concretização precisaria ser buscada lenta e gradualmente e enfrentaria muitos problemas práticos ligados à realidade atual.

Não há registro de que duas nacionalidades diferentes, com valores religiosos e culturais distintos, tenham conseguido compartilhar um mesmo território e estabelecido um gover-no unifi cado estável e democrático.

Existem no mundo diversas experiências nas quais a separação de um país em dois ou mais foi a única capaz de produzir a paz, quando os Estados bi ou multinacionais estavam promovendo confl itos étnicos ou tinham potencial para o confl ito.

Durante a independência, a Índia, que também era domínio britânico, foi dividida em dois territórios, fi cando a atual Índia, de maioria hindu, separada do Paquistão, de maioria muçulmana. Não quer dizer que a relação entre os vizinhos seja sempre pacífi ca, mas, pelo menos, não há constante guerra civil. Atualmente, o maior confl ito entre Índia e Paquistão é justamente pela disputa da Caxemira, região de maioria muçulmana que fi cou sob controle in-diano. Quando se tenta juntar povos diferentes que não desejam fi car juntos, a tendência é a de confl ito, a menos que haja uma ditadura muito poderosa que os possa manter unidos à força.

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Na Iugoslávia ocorreu um dos maiores massacres étnicos da história da humanidade na década de 1990, quando a Sérvia tinha como objetivo tentar manter unida uma região onde a maioria queria se separar, até que se obteve a paz pela solução de dividi-la em vários paí-ses (Sérvia, Croácia, Eslovênia, Bósnia-Herzegovina, Macedônia, Montenegro e Kosovo). Em âmbito menor, municípios emancipam-se, mas continuam ligados um ao outro em relações comerciais e com liberdade de ir e vir entre eles.

O Líbano é um país onde o confl ito entre árabes cristãos e árabes muçulmanos leva a assassinatos de líderes políticos, entre outros problemas.

Outra questão que fi ca é: sim, no universo imaginário de John Lennon não deveriam existir fronteiras, mas por que começar justamente com Israel, o único país judeu do mun-do, que tem uma população tão pequena em relação à de seus vizinhos?

A primeira iniciativa de superar as fronteiras com o livre deslocamento dos cidadãos de várias etnias e religiões tem ocorrido na União Europeia, formada por países que, por sé-culos, se enfrentaram. Hoje, após aprender duramente com a devastação da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e sem lançamento de foguetes e educação pelo ódio, muito esforço vem sendo feito para superar o desafi o cultural das fronteiras. Todavia, franceses, ingleses, alemães, italianos, espanhóis, portugueses e outros não deixam de promover e manter suas culturas históricas e seus valores, sem alteração de seu território e fronteiras nacionais.

A função da existência do Estado de Israel é justamente a de representar a autodetermi-nação do povo judeu, bem como servir de abrigo e proteger todos os judeus que estejam sendo perseguidos em outras partes do mundo (além de ameaçados em Israel, por exemplo, por mísseis e atentados suicidas). Assim, antes de passar a cogitar um Estado para dois po-vos, seria necessário construir, de fato, as condições de paz, acabando com as perseguições étnicas. Daí, sim, quem sabe, as fronteiras perderão parte de seu sentido.

A realidade da perseguição aos judeus é extremamente concreta tanto no passado lon-gínquo e no passado recente como atualmente. Há pouco mais de apenas sessenta anos, ou seja, ainda existindo pessoas para contar a história, séculos de perseguições aos judeus na Europa (e em outros lugares), que haviam tomado a forma de pogroms (massacres), culmina-ram num genocídio contra os judeus sem paralelo na história da humanidade, envolvendo um sistema industrial de extermínio, sem que os judeus representassem qualquer ameaça aos genocidas, não os tendo atacado, não promovendo guerras, não disputando território. Esse foi o Holocausto.

Israel foi criado justamente pelo ideal do sionismo, que objetiva existir, no mundo, pelo menos um país judeu, na Terra de Israel, que possa apoiar, proteger e abrigar os judeus que venham a ser perseguidos em outros países. Por exemplo, Israel resgatou da Etiópia os falashas, judeus negros que estavam passando por situação difícil. Ofereceu uma nova opor-tunidade aos judeus da antiga União Soviética de viverem com sua identidade judaica. Que Estado no mundo dará abrigo aos judeus se o antissemitismo continuar agravando-se na Venezuela, onde as sinagogas são depredadas e pichadas com frases como “Fora, judeus”? O presidente e a imprensa ligada ao governo reivindicam a “dissolução do Estado de Israel” e ao mesmo tempo culpam os judeus venezuelanos por muitos dos males que ocorrem no país, propondo boicotes contra os judeus que lá vivem.

Temos episódios contínuos de discriminação e expulsão de judeus dos países árabes. Es-tamos diante de um país como o Irã, que nega que o Holocausto tenha existido e propaga mentiras conspiratórias contra os judeus, ao mesmo tempo que constrói sua bomba atô-

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mica. Em diversos países, inclusive no Brasil, tem havido alguns atos de vandalismo contra sinagogas, como em Santo André, Várzea Paulista e Campinas em 2006 e em Passo Fundo em 2009. Antes de pensar em descaracterizar a existência de um lar nacional judaico, se-ria necessário acabar com esse tipo de discriminação e intolerância. Se o Estado de Israel contemporâneo existisse de forma independente antes, não teriam perecido 6 milhões de judeus na Europa durante o Holocausto.

A grande maioria dos judeus é contrária à solução de um Estado para dois povos em Israel por, em termos práticos, isso acabar implicando a destruição do Estado de Israel, por meio da chamada “bomba demográfi ca”.

É que não existe nenhum genocídio ocorrendo na região, muito ao contrário: há grande crescimento da população palestina, maior do que o crescimento da população israelense. Somando a população palestina residente em Gaza (1,5 milhão de pessoas), na Cisjordânia (2,5 milhões), palestinos espalhados pelo mundo, sobretudo em países vizinhos (entre 4,5 milhões e 5 milhões), com a população de palestinos cidadãos de Israel (1,4 milhão), to-talizam-se cerca de 10 milhões de palestinos, o que é maior do que a população de judeus israelenses (5,4 milhões)2.

Além disso, os casais palestinos têm mais fi lhos em média do que os casais judeus de Is-rael. O crescimento médio da população de judeus israelenses tem sido de 1,5% ao ano, e a dos árabes israelenses, 2,6%.3 Assim, a diferença populacional (maior para o lado palestino) aumenta a cada ano.

Portanto, um Estado binacional teria maioria palestina e não judaica. Não existiria ne-nhum país com maioria judaica no mundo, e teríamos o 46.º país com maioria muçulmana. Os judeus fi cariam sem pátria, seriam um povo que não desfrutaria de seu direito à autode-terminação.

2 Note que a população total de Israel é menor do que a da cidade de São Paulo, que é de aproximadamente 11 milhões de habitantes, sem contar a população da Grande São Paulo.

3 Veja as fontes dos dados no site da Sociedade Acadêmica Palestina para o Estudo de Assuntos Internacionais: http://www.passia.org/palestine_facts/pdf/pdf2008/Population.pdf.

Fonte: PCBS, Mid-year 2004 estimates, Statistical Abstract, n. 6, 2005.

População de Israel (setembro de 2006)

Judeus 5.393.400 (76%)Árabes muçulmanos 1.267.200 (18%)Árabes cristãos 149.100 (2%) Outros 310.000 (4%)TOTAL 7.166.700 (100%)

População palestina (2004)

Cisjordânia 2.517.047 (24,5%)Faixa de Gaza 1.499.369 (14,5%)Árabes israelenses (cidadãos de Israel)

1.436.300 (14%)

Países árabes 4.350.685 (42%)Outros países 542.708 (5%)TOTAL 10.346.109 (100%)Fonte: Israeli CBS 2007.

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Na Figura 2a está representada a ideologia que prega que um único Estado binacional não seria nem judaico nem árabe, possibili-tando a convivência pacífi ca e a prosperidade de ambos os povos.

Figura 2a – Descrição utópica do Estado binacional

Já na Figura 2b abaixo está representado que, na prática, esse seria apenas mais um país de maioria árabe como tantos outros que existem, deixando os judeus sem ne-nhum país no mundo de maioria judaica e promovendo confl itos internos entre a maio-ria árabe e a minoria judaica no país.

Figura 2b – Realidade prática de um Estado erroneamente chamado de “binacional”

Diante da quantidade de confl itos envolvendo muçulmanos hoje no mundo, diante do crescente aumento da porcentagem de fundamentalistas entre os muçulmanos e diante do fato de o Hamas ter sido eleito pelos palestinos, não há razão que permita assegurar aos judeus que a maioria árabe-muçulmana de seu país binacional não votaria em leis prejudiciais à minoria judaica e muito menos que daria plena garantia de segurança aos judeus de todo o mundo contra eventuais perseguições.

A não aceitação da solução de um único Estado binacional não implica discriminação; signifi ca apenas a crença de que cada um deva ter sua independência. Por exemplo, é como defender que cada família tenha a própria casa, que seja seu lar; isso não quer dizer que as

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famílias não possam conviver bem entre si nas praças do bairro, que os vizinhos não pos-sam se dar bem, e até é provável que um vizinho seja bem-vindo na casa do outro para uma celebração ou que se ajudem mutuamente em caso de necessidade.

A ideia de um Estado de maioria judaica em Israel não signifi ca que o país seja intole-rante com as demais culturas. Embora evoque também aspectos ligados à religiosidade, a Declaração de Independência justifi ca o Estado de Israel não em função da religião, mas sim evocando o direito de autodeterminação, comum a todos os povos.4

Israel inclui e acolhe todas as crenças, etnias e orientações sexuais, como no Brasil, inde-pendentemente de cada cidadão ser ou não mais ou menos religioso e da religião que ele siga ou não siga. No Brasil, alguns feriados de importância para o cristianismo são respei-tados, em tribunais e câmaras de vereadores se afi xam crucifi xos e a festa junina recebe o nome de um santo, São João. Isso não faz do Brasil um país religioso nem muito menos um país racista, independentemente de poder existir racismo por outros motivos e de muitas pessoas serem contrárias mesmo a essas pequenas ligações entre Estado e religião.

O Estado de Israel, embora respeite o dia semanal do descanso (Shabat) e algumas regras sobre alimentação e as festas religiosas judaicas, é um país que garante plena liberdade re-ligiosa e de culto, diferentemente de alguns países muçulmanos (nem todos), que impõem a Sharia (lei islâmica).

4 Seguem trechos da Declaração de Independência de Israel:“A terra de Israel é o local de origem do povo judeu. Aqui a sua identidade espiritual, política e religiosa foi mol-dada. Aqui eles primeiro atingiram a formação de um Estado, criaram valores culturais de signifi cância nacional e universal e deram ao mundo o eterno Livro dos Livros. Depois de serem forçosamente exilados de sua terra, o povo conservou consigo sua fé durante sua Dispersão e nunca deixou de rezar e sonhar com o retorno para sua terra e com a restauração, lá, de sua liberdade política.[...] Este é o direito natural de o povo judeu ser mestre de seu próprio destino, como todas as outras nações, em seu próprio Estado soberano.[...] por virtude de nossos direitos naturais e históricos e pela força da resolução da Assembleia Geral das Nações Unidas, aqui declaramos o estabelecimento do Estado judeu em Eretz-Israel, a ser conhecido como Estado de Israel.O Estado de Israel [...] patrocinará o desenvolvimento do país para o benefício de todos os seus habitantes; será baseado na liberdade, justiça e paz como imaginado pelos profetas de Israel; garantirá liberdade de religião, cons-ciência, língua, educação e cultura; respeitará os lugares sagrados de todas as religiões; e será fi el aos princípios da Ata das Nações Unidas.O Estado de Israel está preparado para cooperar com agências e representantes das Nações Unidas a implementar a resolução da Assembleia Geral de 29 de novembro de 1947 [...].[...]Nós fazemos um apelo – em meio ao duro ataque lançado contra nós há meses – aos habitantes árabes do Estado de Israel para manter a paz e participar da construção do Estado na base de igual e completa cidadania e através de representação em todas as suas instituições provisórias e permanentes.Nós estendemos nossa mão a todos os Estados vizinhos e seus povos, numa oferta de paz e boa vizinhança, e apelamos a eles para o estabelecimento de laços de cooperação e ajuda mútua com o soberano povo judeu, es-tabelecido em sua própria terra. O Estado de Israel está preparado para fazer a sua parte em um esforço comum para o desenvolvimento de todo o Oriente Médio.[...]”

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Presença da religião na Constituição de países cujo maior grupo religioso é o muçulmano

Da mesma forma que no Brasil, em Israel as minorias integram-se à vida nacional com todos os direitos. Israel abriga ampla minoria de 20% da população com cidadania israelen-se sendo árabe. Esses árabes com cidadania israelense pertencem às famílias que permanece-ram em território israelense no contexto de criação do Estado de Israel e seus descendentes. Um quinto, ou seja, 20% dos cidadãos de Israel, é árabe, e a bancada árabe no Parlamento, bastante volumosa, infl uencia com grande peso as decisões.

Em termos comparativos, existem 45 países do mundo com maioria muçulmana; em 35 deles mais de 80% da população é muçulmana, atingindo mais de 95% em 21. Em boa parte desses países, os judeus são ou perseguidos ou tolerados como dhimmis, ou seja, cidadãos de segunda classe com menos direitos e mais deveres do que os muçulmanos. Além de Israel, não existe nenhum país no mundo que chegue sequer a 2% de população judaica.

A ideia de um Estado binacional hoje não recebe apoio de nenhuma parcela signifi cativa nem da população judaica nem da palestina. Quase sempre a proposta de um único Estado para dois povos é defendida somente por pessoas que não vivem lá, pois quem vive lá não quer isso. A proposta de um único Estado para dois povos não é colocada nem pela coalizão do governo de Israel, nem por nenhum dos principais partidos políticos palestinos, que são o Fatah e o Hamas, nem pelos grupos extremistas de nenhum dos dois lados, nem pelos países árabes. No entanto, a ideia de um único Estado para os dois povos circula com certa frequência no Brasil.

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A reivindicação de um direito de retorno palestino: grande entrave para a paz

O chamado “direito de retorno” palestino consiste na reivindicação de que Israel deveria permitir o retorno de todos os palestinos que deixaram o território de Israel durante seu processo de independência, concedendo-lhes cidadania israelense.

O direito de retorno equivaleria à solução de um Estado binacional, caso fosse criado ape-nas um Estado na Terra de Israel, o que já seria injusto, pelas razões expostas anteriormente.

No entanto, para aumentar a injustiça, muitos grupos alegam que se deveriam criar dois Estados: um deles seria exclusivamente palestino e o outro, Israel, concederia direito de retorno aos palestinos. Ou seja, trata-se de um projeto de dois Estados no qual, além de ser criado um Estado palestino, o Estado de Israel se tornaria binacional.

É muito importante frisar que a ideia do direito de retorno na solução de dois Estados não consiste no direito dos palestinos de retornarem ao Estado palestino, mas sim dos pa-lestinos de retornarem ao Estado de Israel. Por isso, alguns críticos chamam essa proposta de “um Estado e meio” para os palestinos, que fi cariam com 100% do próprio Estado e ainda compartilhariam do Estado vizinho.

Outra questão a considerar é o direito de retorno ou de compensação para os judeus que foram expulsos de países da Liga Árabe, totalizando, na época, cerca de 840 mil pessoas5. O retorno desses judeus, mesmo se aceitassem, não alteraria o perfi l das sociedades dos países de sua origem nem de seus sistemas de governo existentes.

Indo ainda mais fundo, no entanto, devemos nos lembrar da demografi a. Assim, chamar essa solução de “um Estado e meio” seria ainda irreal, pois suporia condições de igualdade entre judeus e palestinos no Estado de Israel. Pelo que já foi apresentado, todavia, fi cou claro que seria provável que em pouco tempo o Estado de Israel se tornasse também um país de maioria palestina.

Portanto, seria “dois Estados de maioria palestina” a expressão que melhor descreveria as consequências práticas do projeto de dois Estados com direito de retorno palestino ao Estado de Israel.

A reivindicação do direito de retorno dos palestinos ao Estado de Israel é um seriíssimo en-trave à paz, pois isso eliminaria a ideia de partilha, descaracterizando o Estado de Israel como lar nacional judaico. Na proposta de um Estado palestino mais um Estado de Israel descarac-terizado pelo direito de retorno palestino a seu território, a defi nição de Israel como Estado judeu e democrático fi caria impossível, uma vez que os palestinos seriam maioria da popula-ção, de tal forma que o Estado só poderia se manter judaico se deixasse de ser democrático, o que seria inconcebível, deixando, assim, de ser judaico. Os palestinos fi cariam, portanto, com dois Estados para seu povo.

A solução coerente com a fi losofi a de dois Estados para dois povos inclui frequentemente indenizações para os palestinos que perderam suas casas. Com essa indenização, eles poderiam construir uma bela casa e prosperar no país palestino, mas não teriam o direito de retornar ao local original que habitavam no passado caso este passasse a pertencer ao Estado de Israel.

5 http://www.judeusdospaisesarabes.com.br.

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É muito importante estarmos atentos a esse “detalhe”. Alguns grupos árabes dizem que “reconhecem, sim”, o direito de existir de Israel e a solução de dois Estados. No entanto, muitos deles reivindicam o direito de retorno dos palestinos ao território israelense, com cidadania israelense; portanto, seu reconhecimento do direito de existir de Israel é apenas fachada, já que, se concedido o direito de retorno tal como eles reivindicam, seu projeto implica manter somente Estados de maioria árabe-muçulmana no Oriente Médio.

As negociações entre Israel e a Autoridade Nacional Palestina-ANP fracassaram no ano 2000 principalmente pelo fato de os palestinos terem insistido em seu direito de retorno ao território de Israel (embora tenha havido também outras razões), apesar de 95% das solici-tações territoriais terem sido aceitas por Israel.

De 1993 a 1995, o líder da Organização para a Libertação da Palestina-OLP, Yasser Arafat, fi rmou com Israel os acordos de Oslo, reconhecendo o direito de existir de Israel e aceitan-do uma solução com dois Estados. Como decorrência desses acordos, houve cinco anos de relativa paz entre palestinos e israelenses e a construção dos alicerces do Estado palestino, com a fundação da Autoridade Nacional Palestina (espécie de presidência da república pa-lestina que estava ainda sendo criada) e a transferência gradual do controle dos territórios palestinos para ela.

No entanto, em 2000, na hora de detalhar como funcionaria a solução de dois Estados, Arafat, na época presidente da ANP, insistiu no direito de retorno dos palestinos ao Estado judeu, destruindo, assim, o processo de paz e levando a uma nova onda de confl itos (cha-mada de Segunda Intifada), e, em razão dessa sua insistência, até hoje não pôde ser criado o Estado palestino, que melhoraria muito a vida dos palestinos.6

Apenas na Conferência de Anápolis, realizada em 2007 com a presença do Brasil, após o falecimento de Arafat, a Autoridade Nacional Palestina aceitou conversar sobre a possibilida-de de concordar com a existência de Israel com maioria judaica convivendo em paz ao lado do Estado palestino, ou seja, aceitou conversar sobre a possibilidade de trocar o direito de retorno por alguma forma de compensação.

No entanto, não há ainda consenso tranquilo sobre a questão, proliferando documentá-rios, cartazes, cartas e documentos em que palestinos continuam insistindo no direito de retorno ao Estado de Israel, com cidadania israelense e não palestina.

6 Veja histórico detalhado da busca de Israel pela paz no livro A Busca de Israel pela Paz, disponível gratuitamente em: http://www.ajc.org/atf/cf/%7B42D75369-D582-4380-8395-D25925B85EAF%7D/A_Busca_de_Israel_pela_Paz_2007.

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Figura 3a – Projeto de dois Estados

A Figura 3a mostra a aparência mais su-perfi cial da divisão entre dois Estados com direito de retorno palestino a Israel. Nessa representação ingênua, Israel é desenhado como se fosse continuar como Estado judeu. Essa fi gura é idêntica à Figura 1, exceto pelo ponto de interrogação na legenda.

A Figura 3b mostra que no projeto de retorno palestino a Israel, Israel tornar-se-ia um Estado binacional, enquanto os palesti-nos teriam um Estado somente deles consti-tuído na Faixa de Gaza e na Cisjordânia.

Figura 3b – Projeto de dois Estados com direito de retorno dos palestinos a Israel – versão otimista

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Por fi m, a Figura 3c revela as consequên-cias práticas do projeto de constituição de dois Estados com direito de retorno dos pa-lestinos a Israel. O nome “Israel” não aparece no mapa nem na legenda, pois provavelmen-te seria trocado pela maioria árabe do país.

Figura 3c – Consequência do projeto de dois Estados com direito de retorno dos palestinos a Israel

Projeto de três Estados Existe uma proposta, hoje em desuso,

conhecida como “solução de três Estados”, que dá conta da descontinuidade territorial, propondo que Gaza fi que controlada pelo Egito, e a Cisjordânia, pela Jordânia, que são países árabes, tendo a Jordânia sido criada em 1946, ou seja, mais ou menos na mes-ma época que Israel, fi cando com 70% do território que correspondia à Palestina, sob Mandato Britânico.

Note-se que, nessa solução, os três Esta-dos seriam Israel, Jordânia e Egito, isto é, não se criaria um Estado palestino. A chamada “solução de três Estados”, hoje muito pou-co aceita por qualquer grupo, considera que não existiria um povo palestino, mas sim que, em vez disso, sua identidade seria sim-plesmente árabe, não importando em qual Estado os palestinos fi cariam, desde que fos-se um Estado árabe, ou seja, um Estado árabe não necessariamente apenas palestino, e não necessariamente o mesmo Estado incluiria tanto a Faixa de Gaza como a Cisjordânia.

A solução de três Estados fazia mais senti-do algumas décadas atrás, lembrando que foi a Jordânia, e não Israel, que ocupou a Cisjor-dânia entre 1949 e 1967, e que foi o Egito e não Israel que ocupou Gaza durante aqueles mesmos anos. Se Jordânia e Egito tivessem tido interesse, ou se houvesse reivindicação dos palestinos nesse sentido naquela época, o Estado palestino poderia ter sido criado pelo Egito e pela Jordânia a qualquer tempo.

Hoje em dia, a situação é inversa: não pa-rece haver interesse do Egito e da Jordânia de receberem como cidadãos os palestinos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, e existe um movimento organizado entre os palestinos pela criação de um Estado palestino. Por es-sas razões, atualmente muito pouco se ouve falar dessa proposta de anexar Gaza ao Egito e a Cisjordânia à Jordânia.

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Outra solução de três Estados – um deles um Estado de maioria judaica (Israel) e dois Estados palestinos independentes, um em Gaza e outro na Cisjordânia – apenas começou a ser colocada publicamente em 2009, quando o Fatah acusou o Hamas de querer promover um separatismo na Palestina, ou seja, tornar Gaza e Cisjordânia independentes uma da ou-tra, de tal forma que o Hamas fi casse com o controle sobre a Faixa de Gaza e o Fatah com o controle sobre a Cisjordânia, perenizando o que vem ocorrendo.

Hoje o Fatah governa na Cisjordânia e o Hamas, em Gaza. Tal divisão resultou do acordo de paz entre os dois partidos posterior à onda de violência causada pelo Hamas, que perseguiu a oposição assim que venceu as últimas eleições, em 2005. O presidente da Autoridade Nacio-nal Palestina, Mahmoud Abbas, do Fatah, afi rma que não aceita qualquer separatismo7.

C) Projetos de um Estado para somente um povoAs soluções de um Estado para somente um dos povos apenas podem ser realizadas por

meio de uma guerra total e não de negociações pacífi cas, pois implicam que o outro povo interessado no mesmo território seja eliminado ou expulso.

Essas soluções são defendidas por radicais extremistas dos dois lados, geralmente moti-vados por um fundamentalismo religioso, mas em alguns casos também por pessoas não muito religiosas. Do lado israelense, existem radicais que têm uma interpretação fundamen-talista da Torá (cinco livros de Moisés, do Antigo Testamento), considerando que toda a Terra de Israel foi prometida por Deus ao povo hebreu. Eles utilizam a expressão “Grande Israel” para designar o território que consideram deveria ser o do Estado de Israel, que englobaria também a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.

É preciso não perder de vista as dimensões reais dos territórios em questão. O Estado de Israel tem hoje 20.700 km2, sendo menor do que o Estado de Sergipe, e pode ser percorrido de ponta a ponta em nove horas, de carro, sendo circundado por países árabes, com mais de 7 milhões de km2.

Portanto, para os judeus europeus do século XIX e início do XX, era compreensível o pensamento sobre a Grande Israel, pois não conheciam bem quem habitava a região, muitos acreditando que ela era pouco habitada e não estava ainda dividida da forma como o foi a partir da Primeira Guerra Mundial, de tal modo que não existia uma identidade palestina como foi se formando no processo de separação entre os países árabes da região. Ou seja, uma divisão da terra em países árabes ou país árabe e país judeu justifi caria que o minúsculo Israel, mesmo que “Grande” ainda sendo pequeno, pudesse fi car para um povo, enquanto todo o resto do Oriente Médio fi caria sob controle árabe.

Já hoje em dia o pensamento sobre a Grande Israel perde adesão entre a grande maioria dos judeus, tanto por razões pacifi stas negociais históricas, baseadas no princípio de abrir mão de terras em troca de paz, como já ocorreu com a Jordânia e o Egito, quanto pelo fato de não se desejar incorporar uma maioria não judaica com cidadania israelense, nem se desejar criar cidadãos de segunda classe (algo análogo, por exemplo, aos dhimmis do mundo muçulmano). Como os palestinos são discriminados pelos países árabes vizinhos, não sendo aceitos por eles em seu território com cidadania, a solução real é que venham a constituir o próprio Estado.

7 Veja notícia da denúncia do Fatah de que o Hamas deseja promover separatismo na Palestina em: http://www.estadao.com.br/internacional/not_int311272,0.htm.

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O fato é que tais radicais hoje são ínfi ma minoria em Israel. Desde a Declaração de Inde-pendência, Israel já afi rmou seu compromisso com a Partilha da Palestina. Nos acordos de Oslo, a intenção de promover dois Estados para dois povos foi reafi rmada, e Israel começou a tomar os passos nessa direção. Em 2005, como forma de promover a paz, Israel decidiu entregar a Faixa de Gaza ao controle palestino, desmantelando todas as colônias israelenses que haviam sido estabelecidas nela.

O problema foi que, assim que Israel tomou essas medidas em favor da constituição do Estado palestino, a população palestina elegeu o partido Hamas, que tem como bandeira de luta a destruição do Estado de Israel, ou seja, fundar um Estado islâmico em toda a Terra de Israel. Assim que empossado, o Hamas começou a perseguir, prender, torturar e matar membros do partido de oposição Fatah pelo fato de ele ser atualmente favorável a fi rmar a paz com Israel por meio de uma solução de dois Estados para dois povos. Israel estabele-ceu um bloqueio econômico e logístico para impedir que armas e dinheiro chegassem ao Hamas, enquanto este constantemente lançava, contra o sul de Israel, mísseis cada vez mais sofi sticados, de maior alcance.

Grupos terroristas fundamentalistas como o Hamas, o Hezbollah e a Jihad Islâmica são os mais famosos na luta pela criação de um Estado islâmico em toda a Terra de Israel. O Irã, país que fi nancia esses grupos terroristas, também defende a destruição do Estado de Israel e faz propaganda para afi rmar que não houve matanças de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

As trágicas incursões das Forças de Defesa de Israel ao Líbano em 2006 e à Faixa de Gaza na virada de 2008 para 2009 foram necessárias para combater, respectivamente, o Hez-bollah e o Hamas, que havia anos estavam lançando mísseis contra a população civil em Israel. Grupos como esses atrapalham as negociações entre os palestinos que desejam a paz e Israel, impedindo a criação do Estado palestino que reconheça a legitimidade da existência de Israel como Estado judeu.

Além disso, mentem, distorcem e obscurecem ao se fazerem de vítimas perante a im-prensa. Durante a incursão ao Líbano, dezenas de fotos de supostas atrocidades que teriam sido cometidas por Israel foram lançadas na mídia, o que um mês depois começou a se revelar falso8. Em 2008, Israel foi acusado de bombardear uma escola da ONU em Gaza, e novamente um mês depois a ONU confi rmou que nunca existiu tal ataque9; já o Hamas, sim, roubou alimentos da ajuda humanitária da ONU10. O Hamas mantém os palestinos na miséria, como forma de conseguir apoio ao oferecer uma alternativa radical e distribuir cestas básicas para o povo.

A luta desses grupos não é apenas contra Israel e contra os judeus, mas também contra todas as pessoas que não seguem a religião islâmica de maneira estrita. Os grupos funda-mentalistas islâmicos são contrários ao estilo de vida “ocidental”, desejando instalar a Sha-ria (lei muçulmana), e cultuam o suicídio como forma de atingir seus objetivos políticos e encontrar lugar no paraíso pós-morte. Grupos fundamentalistas islâmicos promoveram um atentado a bomba na Argentina, derrubaram prédios comerciais com aviões nos Estados Unidos (o famoso “11 de Setembro”), explodiram o metrô lotado de passageiros em Ma-

8 Veja exemplos de fotos falsas usadas na mídia para exagerar e distorcer fatos sobre os contra-ataques israelenses contra grupos extremistas islâmicos que usam civis como escudos humanos em: http://www.maozisrael.com.br/shira/especial/Informativo_Setembro.pdf.

9 http://www.haaretz.com/hasen/spages/1061189.html.10 http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/02/090204_gaza_consfi sco_rc.shtml.

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dri, na Espanha, e mataram dezenas de inocentes em ações em Mumbai, na Índia, em 2008, apenas para dar alguns exemplos. Será que o Brasil será alvo? Há denúncias de que existe em operação um campo de treinamento terrorista na região da Tríplice Fronteira para promover atentados sobretudo no Brasil e na Argentina. Cabe aos governos da região tomarem as me-didas em tempo, investigando e atuando para evitar ações terroristas islâmicas.

Observe o contraste entre a Declaração de Independência de Israel, citada em nota de rodapé, e a carta constitutiva (estatuto) do Hamas, cujo artigo 7.º dispõe: “O dia do juízo fi nal não virá até que os muçulmanos lutem contra os judeus (matando os judeus), quando os judeus se esconderão atrás de pedras e árvores. As pedras e árvores dirão ó, muçulmanos, ó Abdullah, tem um judeu atrás de mim, venha e mate-o...”.

Infelizmente, existem fanáticos no mundo inteiro que defendem a destruição do Estado de Israel. Alguns deles são muçulmanos fundamentalistas; outros, grupos socialistas com uma interpretação equivocada da situação, que pensam que apoiar os interesses do funda-mentalismo islâmico contribuiria para o enfraquecimento do sistema capitalista global.

A existência de tantas pessoas contra Israel e contra os judeus somente reforça a necessi-dade de um lar nacional judaico que possa servir de abrigo e proteção contra as pessoas que odeiam e desejam destruir os judeus e/ou impedi-los de realizar seus direitos humanos, como o direito à autodeterminação.

Veja, por exemplo, foto de uma manifestação realizada no Masp, em São Paulo, em 11 de janeiro de 2009, na qual militantes árabes e grupos políticos extremistas brasileiros reivin-dicam a destruição do Estado de Israel queimando bandeiras do país, em: http://noticias.uol.com.br/album/090111protestos_album.jhtm?abrefoto=14.

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A importância da educaçãoMuito do extremismo que causa o confl ito na região do Oriente Médio tem origem na

educação, pela qual se transmite o ódio às novas gerações. A constituição de dois Estados para dois povos é condição necessária para a paz, mas não sufi ciente. Podem bem existir dois Estados sob constante tensão, como foi o relaciona-mento entre Israel e seus vizinhos árabes até pelo menos 1978. Outra condição necessária para a paz é que se eduquem as crianças para cultivá-la. Com a divisão territorial em dois Estados que respeitem cada um o modo de ser de seus respectivos povos e uma educação para a paz, teremos as condições sufi cientes para o desenvolvimento de uma paz duradoura.

Os princípios judaico-cristãos pregam a valorização da vida e o amor ao próximo. No entanto, segundo interpretações literais do Corão, o livro sagrado muçulmano, é dever de todo muçulmano lutar pelo que chamam de “guerra santa” (jihad, em árabe), que é o esforço por converter o mundo todo ao Islã e matar quem não aceitar se converter. Existem também interpretações do Corão que veem nele uma mensagem de amor e harmonia com outros povos, mas têm crescido os adeptos da interpretação que vê no livro um chamado para a guerra total. Grupos como o Hamas, o Hez-bollah e a Jihad Islâmica utilizam-se de escudos humanos nas guerras, ou seja, escondem-se em meio à população civil para causar o maior número de notícias na mídia sobre mortes de palestinos e treinam terroristas para cometer atentados suicidas. Muitas crianças palestinas são desde cedo doutrinadas a odiar Israel e os judeus e a realizar treinamentos militares11.

11 Veja vídeo sobre treinamento das crianças palestinas pelo Hamas em: http://www.youtube.com/watch?v=TkwthDpeZWk.

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O Hamas, partido político palestino, classifi cado como organização terrorista, que cau-sou a incursão de Israel em Gaza, possui um canal de televisão em que exibe programas infantis, além de usar a internet e uma revista na Grã-Bretanha, para ensinar às crianças o ódio aos judeus e glorifi car o terrorismo com ataques suicidas. Em um desses programas, chamado Os Pioneiros do Amanhã, o personagem Farfour, um ratinho muito semelhante ao Mi-ckey Mouse, ensina à criançada que se deve morrer combatendo os judeus como forma de obter o paraíso após a morte para si e para toda a família do suicida.

Em Israel, algumas iniciativas educacionais reúnem crianças judias e palestinas para que cresçam em paz. Esse é o caminho que deve ser incentivado.

No Brasil, é muito importante promover uma educação em prol da tolerância e amizade entre os dois povos, sendo imprescindível transmitir informações corretas sobre a realidade e a história.

O ratinho Farfour ensina às crianças que se deve atirar com metralhadoras contra Israel e os judeus, no episódio número 103 do programa Os Pioneiros do Amanhã, exibido na emissora Al-Aqsa, a TV do Hamas.

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O exemplo brasileiroJudeus e árabes tradicionalmente se deram bem no Brasil, sejam os árabes cristãos, sejam

muçulmanos. Aqui, é comum a amizade entre pessoas dessas duas origens, motivo pelo qual se costuma dizer que o Brasil dá ao mundo um exemplo de tolerância, convivência e amizade.

Representantes das comunidades judaica e muçulmana enfatizam a necessidade de não “importar o confl ito”, isto é, trazer a violência para dentro do país.

No Brasil, líderes de várias religiões publicaram em janeiro de 2009 uma nova declaração pela paz:

LÍDERES RELIGIOSOS REAFIRMAM COMPROMISSO COM A PAZ

Preocupados com a crescente escalada do confl ito no Oriente Médio, nós, líderes religiosos, unimo-nos para pedir o estabelecimento e a manutenção da paz na região.

Reafi rmamos nossa opção pelo diálogo entre as partes como caminho para a solução do confl ito.

No Brasil, os representantes das diferentes comunidades contam com um canal permanentemente aberto de conversação. Desejamos que a relação fraterna entre povos de diferentes credos e culturas que se desenvolveu com mais intensidade nas últimas décadas em solo brasileiro se fortaleça, cada vez mais, e sirva de inspiração para outras sociedades ameaçadas em sua convivência pacífi ca.

Com desejos de Paz, Salam e Shalom!

Dom Raymundo Damasceno Assis – Presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano

Padre José Bizon – Casa da Reconciliação

Armando Hussein Saleh – Xeque Missionário pela Paz Mundial

Bayram Dagdeviren – Comunidade Turca no Brasil

Ruben Sternschein e Michel Schlesinger – Rabinos da Congregação Israelita Paulista

Monja Coen – Comunidade Zen Budista

Reverendo Gustavo Alberto C. Pinto – Monge Budista da Tradição Terra Pura

Iya Sandra Epega – Sacerdotisa da Tradição de Orixá

No entanto, infelizmente, há motivos para preocupação, pois recentemente alguns gru-pos que se dizem “pró-palestinos”, em vez de reivindicar a construção de um Estado pales-tino que conviva em paz com Israel, têm pregado o ódio contra Israel e os judeus no Brasil. Além de divulgarem fatos distorcidos e fazerem demonstrações com cartazes com frases em favor da violência, eles vêm praticando vandalismos contra sinagogas (templo religioso ju-daico), como os que ocorreram em Campinas e Santo André em 2006 e em Passo Fundo em 2009. Traz grande perigo o campo de treinamento de terroristas que foi montado na região da Tríplice Fronteira, para promover ataques principalmente no Brasil e na Argentina.

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Bibliografi a sugerida

LivrosBARD, Mitchell G. Mitos e Fatos – A verdade sobre o confl ito árabe-israelense. São Paulo: Sêfer, 2004. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/4902428/MITOS-E-FATOS-Mitchell-G-Bard.

COMITÊ JUDAICO AMERICANO. A Busca de Israel pela Paz, 2007. Disponível gratuitamente em: http://www.ajc.org/atf/cf/%7B42D75369-D582-4380-8395-D25925B85EAF%7D/A_Busca_de_Israel_pela_Paz_2007.pdf.

DERSHOWITZ, Alan. Em Defesa de Israel. São Paulo: Nobel, 2004.

GODGRUB, Franklin Winston. O Antissionismo: de esquerda, direita, liberal, islâmico. São Paulo: Samizdat, 2008.

KAMEL, Ali. Sobre o Islã – A afi nidade entre muçulmanos, judeus e cristãos e as origens do terrorismo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.

FilmeA Lista de Schindler. Direção: Steven Spielberg. Estados Unidos, 1993. 195 min.

Dossiê sobre fotos falsifi cadas veiculadas durante a incursão de Israel ao Líbano em 2006SORKO-RAM, Shira. “Fotos do Líbano: uma grande farsa montada”. Maoz Israel, Elul-Tishrei 5766-5767, 2006. Disponível gratuitamente em: http://www.maozisrael.com.br/shira/especial/Informativo_Setembro.pdf.

Artigo em espanholDÉS, Mihály. “El antisemitismo posmoderno”. Lateral Revista de Cultura, n. 107, nov. 2003. Disponível gratuitamente em: http://www.circulolateral.com/revista/revista/editorial/107antisemitismo.html.

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http://namiradohamas.blogspot.com

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http://www.deolhonamidia.org.br

http://www.jornalalef.com.br

http://www.owurman.com/blog

http://www.pletz.com

http://www.visaojudaica.com.br

Em inglês:

http://jta.org

http://www.adl.org

http://www.bnaibrith.org

http://www.imra.org.il

http://www.israelnationanews.com

http://www.israelpolitik.org

http://www.jpost.com

http://www.pmw.org.il

http://www.wiesenthal.com

http://www.youtube.com/user/idfnadesk

Eric Calderoni Doutor em Psicologia Social, é diretor de projetos do Instituto Brasil Ambiente, professor da Universidade Anhembi-Morumbi, pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Trabalho e Ação Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e membro da Comissão Nacional de Direitos Humanos da Associação Benefi cente e Cultural B’nai B’rith do Brasil. Colaboraram para a confecção deste capítulo o coordenador e os demais autores desta obra, além de Wolf Ejzenberg, Daniel Douek e José Calderoni, que contribuíram para a revisão de versões anteriores do texto. Agradecimento especial a Roberta Zrycki pela assistência administrativa.

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LINHA DO TEMPO: TERRA DE ISRAEL E PRINCIPAIS EVENTOS MUNDIAIS

Lia Bergmann

Séculos XVII-VI a.C. – Época bíblicaSéculo XVII a.C.O patriarca do povo judeu, Abraão, cria o monoteísmo, crença em um Deus único, e se estabelece na Terra de Israel. A fome força os israelitas a emigrar para o Egito.

Século XIII a.C.Êxodo dos israelitas (hebreus ou judeus), que deixam o Egito, conduzidos por Moisés, e vagam no deserto durante quarenta anos.Moisés recebe os Dez Mandamentos, no Monte Sinai.

Século XIII-XII a.C.Os israelitas retornam à Terra de Israel.

1020 a.C.A monarquia judaica é estabelecida; Saul é o primeiro rei.

1000 a.C.Jerusalém torna-se a capital do Reino de David.

960 a.C.O Primeiro Templo, centro nacional e espiritual do povo judeu, é construído em Jerusalém pelo rei Salomão.

930 a.C.Divisão do reino: Judá e Israel.

722-720 a.C.O Reino de Israel é destruído pelos assírios; dez tribos exiladas (as “Dez Tribos Per-didas”).

586 a.C.O Reino de Judá é conquistado pela Babilônia. Jerusalém e o Primeiro Templo são destruídos; maioria dos judeus exilada e escravizada.

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536-142 a.C. – Períodos persa e helenístico538-515 a.C. Muitos judeus retornam da Babilônia; o Templo é reconstruído.

332 a.C.Alexandre Magno conquista o país; domínio helenístico.

166-160 a.C.Revolta dos macabeus (Hasmoneus) contra as restrições à prática do judaísmo e a profanação do Templo.

142-129 a.C.Autonomia judaica sob a liderança dos Hasmoneus.

129-63 a.C.Independência judaica sob a monarquia dos Hasmoneus.

63 a.C.Jerusalém é capturada pelo general romano Pompeu.

63 a.C.-313 d.c. – Domínio romano37 a.C.-4 d.C.O rei Herodes, vassalo romano, governa a Terra de Israel. O Templo de Jerusalém é reformado.

20-33Jesus de Nazaré prega o que mais tarde viria a ser o cristianismo.

66 Revolta dos judeus contra Roma.

70 Destruição de Jerusalém e do Segundo Templo. Início da Diáspora, dispersão dos judeus pelo mundo.

73 Queda do último bastião da resistência judaica, em Massada.

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132-135Revolta de Bar Kochba contra os romanos.

135O imperador romano Adriano muda o nome da Judeia (a terra dos judeus, de Judá) para Palestina.

313-636 – Domínio bizantino614Invasão persa.

636-1099 – Domínio árabe691 O Domo da Rocha é construído em Jerusalém pelo califa Abd el-Malik no local dos Templos (Primeiro e Segundo).

1099-1291 – Domínio cruzado (Reino latino de Jerusalém)

1291-1516 – Domínio mameluco1492Expulsão dos judeus da Espanha.

1536Início da Inquisição em Portugal.

1517-1917 – Domínio otomano1859Extinção do Tribunal do Santo Ofício, pondo fi m à Inquisição, que vigorou por mais de trezen-tos anos na Europa, perseguindo judeus e cristãos novos, inclusive no Brasil.

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1860 Primeiro bairro construído fora dos muros de Jerusalém.

1882-1903Primeira Aliá (imigração para Israel, em grande escala), principalmente da Rússia.

1897Primeiro Congresso Sionista, reunido por Theodor Herzl em Basileia, Suíça; fundação da Organização Sionista.

1904-1914Segunda Aliá, principalmente da Rússia e Polônia.

1909Fundação de Degânia, o primeiro kibutz (comunidade agrícola de idelogia socialista), e de Tel-Aviv, a primeira cidade moderna completamente judaica.

1914-1918Primeira Guerra Mundial.

1917Quatrocentos anos de domínio otomano chegam ao fi m com a conquista britânica; Lord Balfour, ministro de Relações Exteriores britânico, declara o apoio ao estabelecimento de “um lar nacional judaico na Palestina”.

1918-1948 – Domínio britânico1919-1923Terceira Aliá, principalmente da Rússia.

1920Fundação da Histadrut (Federação Geral dos Trabalhadores) na Terra de Israel. A comunidade judaica cria o Vaad Leumi (Conselho Nacional) para dirigir seus assuntos internos.

1921Fundação do primeiro moshav (comunidade agrícola), Nahalal.

1922A Liga das Nações confi a à Grã-Bretanha o Mandato sobre a Palestina (Terra de Israel); três quartos da área são entregues à Transjordânia (atual Jordânia), deixando apenas um quarto para o Lar Nacional Judaico. Criação da Agência Judaica, representante da comunidade judaica diante das autoridades do Mandato.

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1924Fundação do Technion, o primeiro instituto de tecnologia de Israel.

1924-1932Quarta Aliá, principalmente da Polônia.

1925Inauguração da Universidade Hebraica de Jerusalém, no Monte Scopus.

1929Massacre dos judeus de Hebron por militantes árabes.Quinta Aliá, principalmente da Alemanha.

1932 Independência da Arábia Saudita e do Iraque.

1935 A Pérsia passa a ser chamada de Irã.

1936-1939Distúrbios antijudaicos na Palestina instigados por militantes árabes.

1939O Livro Branco britânico limita drasticamente a imigração judaica.

1939-1945Segunda Guerra Mundial; Holocausto na Europa, com a morte de 6 milhões de judeus pelo nazismo, que perseguiu e assassinou também testemunhas de Jeová, ciganos, homossexuais, presos políticos, defi cientes, considerados “inferiores”.

1944Formação da Brigada Judaica, como parte das forças britânicas que lutam contra o nazismo na Segunda Guerra Mundial.

1945Independência do Líbano. A República Libanesa havia sido criada em 1926.

1946 Criação do Reino Hashemita da Transjordânia, denominado em 1950 de Jordânia.Independência da Síria.

1947A ONU propõe o estabelecimento de dois Estados, um árabe e outro judeu, o que fi cou conhecido como a Partilha da Palestina.

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1948 Fim do Mandato Britânico e proclamação do Estado de Israel (14 de maio).Invasão de Israel por cinco exércitos árabes (15 de maio).Guerra da Independência (maio de 1948-julho de 1949).Criação das Forças de Defesa de Israel (FDI).

1949 Assinatura de acordos de armistício com Egito, Jordânia, Síria e Líbano. Jerusalém é dividida, sob domínio de Israel e da Jordânia. Eleição do primeiro Knesset (Parlamento).Israel é aceito como o 59.º membro da ONU.

1948-1952Imigração em massa da Europa e dos países árabes.

1951Independência da Líbia.

1956 Campanha do Sinai. Independência do Sudão.

1961 Independência do Kuwait.

1962 Adolf Eichmann é julgado e executado em Israel por sua participação no Holocausto.

1964Completado o Conduto Nacional, para trazer água do Lago Kineret, no norte, ao sul semiárido.

1967 Guerra dos Seis Dias; reunifi cação de Jerusalém.

1968-1970Guerra de Desgaste do Egito contra Israel.

1973 Guerra do Yom Kippur.

1975Israel torna-se membro associado do Mercado Comum Europeu.

1977 O Likud forma o governo após as eleições para o Knesset; fi m de 30 anos de governo trabalhista. Visita do presidente egípcio Anwar Sadat a Jerusalém.

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1978 Os acordos de Camp David apresentam as linhas gerais para uma paz abrangente no Oriente Médio e uma proposta de autogoverno para os palestinos.

1979 Assinatura do Tratado de Paz Israel-Egito. O primeiro-ministro Menachem Begin e o presidente Anwar Sadat são agraciados com o Prêmio Nobel da Paz.

1979 O aiatolá Khomeini promove a Revolução Islâmica no Irã, que passa a se chamar República Is-lâmica do Irã

1981A Força Aérea israelense destrói o reator atômico do Iraque pouco antes de sua entrada em operação.

1982Completam-se as três etapas de retirada de Israel da Península do Sinai. A Operação Paz para a Galileia expulsa do Líbano os terroristas da OLP (Organização para a Libertação da Palestina).

1984Formado um governo de unidade nacional (Likud e Trabalhista) após as eleições. Operação Moisés: imigração dos judeus da Etiópia.

1985 Assinado o Acordo de Livre Comércio com os Estados Unidos.

1987 Distúrbios violentos e generalizados (Intifada) irrompem nas áreas administradas por Israel.

1988Governo do Likud após as eleições.

1989Israel propõe uma iniciativa de paz de quatro pontos.Início da imigração em massa dos judeus da antiga União Soviética.

1990 Unifi cação do Iêmen.

1991Israel é atacado por mísseis Scud do Iraque durante a Guerra do Golfo. Reúne-se em Madri a Conferência de Paz para o Oriente Médio. A Operação Salomão traz a Israel, por via aérea, mais judeus da Etiópia.

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1992Estabelecimento de relações diplomáticas com a China e a Índia.

1993Israel e a OLP, representante do povo palestino, assinam a Declaração de Princípios sobre os procedimentos do autogoverno interino para os palestinos. Entre 1993 e 1995, nasce a Autoridade Nacional Palestina (ANP), chefi ada por Yasser Arafat.

1994Implementação do autogoverno palestino na Faixa de Gaza e na região de Jericó. Plenas relações diplomáticas com a Santa Sé. Marrocos e Tunísia estabelecem escritórios de representação de interesses. Assinatura do Tratado de Paz Israel-Jordânia. Yitzhak Rabin, Shimon Peres e Yasser Arafat são agraciados com o Prêmio Nobel da Paz.

1995 Ampliação do autogoverno palestino implementado na Margem Ocidental (Cisjordânia) e na Faixa de Gaza; eleição do Conselho Palestino. Assinatura dos segundos acordos de Oslo, pelo primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, e pelo presidente da OLP, Yasser Arafat, testemunhado pelo presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton. Assassinato de Yitzhak Rabin, num comício em prol da paz. Shimon Peres torna-se o primeiro--ministro de Israel.

1996 Escalada do terrorismo árabe fundamentalista contra Israel.Operação Vinhas da Ira, em retaliação aos ataques terroristas do Hezbollah ao norte de Israel. O partido de direita Likud sobe ao poder após as eleições para o Knesset.

1997Assinatura do Protocolo de Hebron entre Israel e a Autoridade Palestina.

2000Visita do papa João Paulo II a Israel.Início da Segunda Intifada. Recrudescimento dos ataques terroristas em Israel, atingindo ônibus, escolas, restaurantes, entre outros.

Século XXI2001Em fevereiro, Ariel Sharon assume como primeiro-ministro de Israel, pelo Likud.

2002 Apresentação do Road Map (“mapa da estrada”), proposta de paz feita pelo “quarteto” – Estados Unidos, União Europeia, Rússia e ONU –, com vários passos para a criação de um Estado palestino independente.

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2004 Morte de Yasser Arafat, presidente da ANP. Assume Mahmoud Abbas, do mesmo partido de Arafat, Fatah (antiga OLP).

2005O grupo terrorista Hamas (Movimento de Resistência Islâmico), que não aceita a existência do Estado de Israel, ganha as eleições da ANP e Ismail Haniyeh assume como primeiro-ministro. Abbas continua sendo presidente. Fundação do partido Kadima (de centro) por Ariel Sharon, em Israel.Decretada a Lei de Implementação do Plano de Retirada, para remover todas as colônias israe-lenses da Faixa de Gaza e quatro no norte da Cisjordânia. Em 12 de setembro, não há mais ne-nhum judeu na Faixa de Gaza. A saída unilateral é vista como forma de chegar mais rapidamente à paz com os palestinos.

2006 Ariel Sharon sofre um derrame cerebral (AVC) e entra em coma.Ehud Olmert assume como primeiro-ministro de Israel.Sequestro de soldados israelenses pelo Hamas e pelo Hezbollah, que invadiu o território israe-lense.Israel lança operação no Líbano para diminuir capacidade de fogo do Hezbollah, que atua em meio aos civis.

2007Crescente tensão entre partidários do Fatah e do Hamas leva à criação de um governo de coali-zão da Autoridade Nacional Palestina, na Cisjordânia e em Gaza. O Hamas assume o controle de Gaza, após luta com o Fatah, impondo um governo fundamentalista sunita. Realizada a Conferência de Anápolis, reunindo Estados Unidos, o governo de Israel e a Autori-dade Palestina. O Brasil participa do encontro.

2008Trégua de seis meses com o Hamas faz com que o lançamento de foguetes contra civis ao sul de Israel diminua.

2008-2009Depois de oito anos de ataques ininterruptos de mísseis por palestinos ao sul de Israel, que re-crudescem com o domínio da Faixa de Gaza pelo Hamas, Israel lança uma ofensiva contra Gaza, para neutralizar a ação do Hamas contra civis israelenses no sul do país.

2009O Partido Likud assume o governo em Israel.

Lia Bergmann Formada em História pela Universidade de São Paulo e jornalista com pós-graduação pela Facul-dade Cásper Líbero, Lia Bergmann é assessora de comunicação e de direitos humanos da B’nai B’rith do Brasil.

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Apoio

Fundação ARYMAX

Boris e Bella WainsteinRaul Hacker

Loja Bertie Levi

Hanus KlingerLoja David Ben Gurion

Loja Yehuda Halevi

Salomon Katz

Dr. Ronaldo Golcman

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Associação Benefi cente e Cultural B´nai B´rith do Brasil

2009www.bnai-brith.org.br

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