ensino jurídico e exame de ordem: história, dilemas e desafios

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1 ENSINO JURÍDICO E EXAME DE ORDEM: HISTÓRIA, DILEMAS E DESAFIOS Rita de Cássia Fagundes Mestranda em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) e bolsista da FAPITEC/SE, Brasil. Introdução Em decorrência das transformações da sociedade contemporânea, adquire relevância apresentar o contexto histórico da educação jurídica do Brasil e relacioná-la com os desafios e dilemas encontrados em nossa cotidianidade. É oportuno explicitar que, a história do ensino jurídico brasileiro vem sendo discutida mais no âmbito da educação do que do próprio Direito. Para falarmos da História do Ensino Jurídico no Brasil, partimos do pressuposto de que se torna fundamental inserir o contexto histórico na totalidade social, ou seja, inserir neste trabalho, questões sociais, políticas e econômicas que contribuíram para o desenvolvimento da ciência jurídica. Dessa forma, destacamos alguns acontecimentos marcantes da História da Educação Brasileira, que a nosso ver, tiveram relevância no âmbito do Ensino Jurídico. Importante esclarecer que quando nos referimos à educação, partimos do entendimento de Maria T. Nunes, que entende a educação como um fato social e assim, ligado à estrutura sócio-econômica, o que, porém, não impede que com ela entre em confronto e a possa superar no decorrer do processo histórico. “Não a encaro como um dado preestabelecido, mas variando segundo as condições sócio-político-econômicas vividas por um povo no decorrer de sua evolução” (NUNES, 1984, p.13). No que se refere à história, embora tenhamos notado a forte influência de intelectuais como Lucien Febvre e Le Goff no campo da História da Educação, não compactuamos com o entendimento desses autores que, consideram que não há história econômica e social, que há simplesmente história, sua unidade. Como afirma Le Goff, que o saber histórico encontra-se, ele próprio, na história, isto é, na imprevisibilidade, o que apenas o torna mais real e mais verdadeiro (LE GOFF, 2003, p. 144). Para tanto, partimos

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ENSINO JURÍDICO E EXAME DE ORDEM: HISTÓRIA, DILEMAS E

DESAFIOS

Rita de Cássia Fagundes

Mestranda em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) e bolsista da FAPITEC/SE, Brasil.

Introdução

Em decorrência das transformações da sociedade contemporânea, adquire

relevância apresentar o contexto histórico da educação jurídica do Brasil e relacioná-la

com os desafios e dilemas encontrados em nossa cotidianidade. É oportuno explicitar que,

a história do ensino jurídico brasileiro vem sendo discutida mais no âmbito da educação do

que do próprio Direito.

Para falarmos da História do Ensino Jurídico no Brasil, partimos do pressuposto de

que se torna fundamental inserir o contexto histórico na totalidade social, ou seja, inserir

neste trabalho, questões sociais, políticas e econômicas que contribuíram para o

desenvolvimento da ciência jurídica. Dessa forma, destacamos alguns acontecimentos

marcantes da História da Educação Brasileira, que a nosso ver, tiveram relevância no

âmbito do Ensino Jurídico.

Importante esclarecer que quando nos referimos à educação, partimos do

entendimento de Maria T. Nunes, que entende a educação como um fato social e assim,

ligado à estrutura sócio-econômica, o que, porém, não impede que com ela entre em

confronto e a possa superar no decorrer do processo histórico. “Não a encaro como um

dado preestabelecido, mas variando segundo as condições sócio-político-econômicas

vividas por um povo no decorrer de sua evolução” (NUNES, 1984, p.13).

No que se refere à história, embora tenhamos notado a forte influência de

intelectuais como Lucien Febvre e Le Goff no campo da História da Educação, não

compactuamos com o entendimento desses autores que, consideram que não há história

econômica e social, que há simplesmente história, sua unidade. Como afirma Le Goff, que

o saber histórico encontra-se, ele próprio, na história, isto é, na imprevisibilidade, o que

apenas o torna mais real e mais verdadeiro (LE GOFF, 2003, p. 144). Para tanto, partimos

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da premissa marxista1 que considera a idéia de totalidade, sem descartar a unidade, visto

que toda aproximação do homem sobre a totalidade dar-se-á através da análise de uma

particularidade sua, que, na produção de conhecimento, se constitui em objeto de estudo,

onde o movimento de elaboração precisa ser dialético para acompanhar o movimento do

real.

O Ensino Jurídico no Brasil: uma incursão pela história

Antes de falarmos da criação dos primeiros cursos de Direito no Brasil, achamos

necessário, mesmo que sucintamente, fazer algumas considerações sobre a forma como

chegou o Direito no Brasil, ainda no período colonial. Quando os colonizadores aqui

chegaram, não encontraram nenhuma forma de organização jurídica e rapidamente

passaram a ser os detentores dos meios de produção e logo, a submeter os nativos a seu

império, nem que para isso fosse necessária a força. Com a chegada da força escrava e

aumento da produção e comercialização, passou a ser fundamental pensar o Brasil no

âmbito jurídico.

A citação de Machado Neto é importante para compreendermos aquele período:

Povos de origem tribal em diferentes estágios culturais, todos eles beirando, porém o neolítico, despossuídos por completo de uma regulação realmente jurídica, mas antes dominados pelo império da norma indiferenciada de cunho sagrado. Era, pois, o dinheiro português que deveria construir a base de nosso direito nacional sem maiores competições. Também no âmbito jurídico temos aqui mais uma ocupação do que uma conquista (MACHADO NETO, 1979, p. 311).

Nesse contexto, confirma-se a grande influência do direito português na

formação jurídica brasileira, não sendo obra de evolução gradual e de experiência grupal,

como ocorreu com o Direito em povos mais antigos. Pelo contrário, aqui não se respeitou

as demais etnias (negros e índios), de forma que o modelo jurídico e conseqüentemente o

Direito, foram impostos nos moldes portugueses, sem representar de fato, os interesses do

bem comum da coletividade. Wolkmer coloca que, durante os dois primeiros séculos de

colonização foram marcados pelos princípios e diretrizes do direito português, forasteiro,

que segregava e era discricionário com relação à própria população nativa, revelando, mais

1 Curso de Extensão: Introdução ao Método Materialista Histórico, proferido pela Profª. Liliam Faria Porto Borges – GPPS/UNIOESTE.

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do que nunca as intenções e o comprometimento da estrutura elitista do poder.

(WOLKMER, 1994, p. 12)

No Brasil Colônia, a população não dispunha de nenhum modelo de atenção à

saúde e também não havia o interesse por parte de Portugal em criá-lo. Com a vinda da

família real para o Brasil, a Corte portuguesa fora transferida para o Rio de Janeiro,

tornando-se necessária a quem governava a criação de uma organização sanitária, além de

meios que viabilizassem a segurança da Corte. Com o intuito de proteger a própria Corte,

Dom João VI, funda na Bahia em 1808, o Colégio Médico, criado inclusive tardiamente, se

compararmos com os países que foram colonizados pela Espanha, que, nesse mesmo

período já possuíam várias universidades.

O fato da Educação Brasileira nesse período estar bem atrasada se comparada a

outros países, tem relação direta com a influência jesuítica em nossa educação. Fernando

Azevedo ao falar das instituições escolares no Brasil Colônia coloca que as mesmas se

mantiveram quase que exclusivamente nas mãos dos jesuítas e que quando transferidas,

foram para as mãos de padres seculares ou frades, franciscanos e carmelitas, considerados

seus naturais continuadores. (AZEVEDO, 1964, p. 546)

Diante das modificações ocorridas no mundo, principalmente ao que se refere à

produção, Portugal precisava se modernizar juntamente com sua principal Colônia, a

brasileira. Para acompanhar os avanços de países como a Inglaterra, era preciso que

Portugal passasse da etapa mercantil para a industrial. Como medida dessa política, o então

Rei de Portugal, nomeou como Ministro, o Marquês de Pombal, objetivando que este

contribuísse expressivamente para recuperar a economia e modernizar a cultura

portuguesa, na busca das transformações almejadas pelo Rei. Entre as mudanças

necessárias, constava a necessidade de reformas no âmbito educacional, cabendo à Coroa a

instalação de um novo sistema de ensino. Nesse período, quem tinha condições de custear

um curso superior, ia para Europa, especialmente para Coimbra. Era fundamental que os

filhos das elites estudassem e o curso mais recomendado era o de Direito, pois o país

precisava de quadros para a vida pública.

A esse respeito, interessante as colocações de Jacobine Lacombe:

A formação de juristas não era urgente. A Universidade de Coimbra forneceu-nos bacharéis em Direito em número suficiente [...]. A relação de nossos estadistas, magistrados e professores é toda de bacharéis de

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Coimbra. Todo o Brasil político e intelectual foi formado em Coimbra, único centro formador do mundo português. Era um ponto básico da orientação da Metrópole essa formação centralizada. (LACOME, 1985, p. 361)

Na Reforma realizada por Pombal - conhecida como Reforma Pombalina –

ocorreram várias mudanças no âmbito educacional, culminando com a expulsão dos

jesuítas2 e com isso, o comando da educação passou para as mãos do Estado. Como

explicita Azevedo:

Entre a expulsão dos jesuítas em 1759 e a transplantação da corte portuguesa para o Brasil em 1808, abriu-se um parêntese de quase meio século, um largo hiato que se caracteriza pela desorganização e decadência do ensino colonial. Nenhuma organização institucional veio, de fato, substituir a poderosa homogeneidade do sistema jesuítico [...] o que surgiu, sob pressão das circunstâncias, foram aulas isoladas de matérias, fragmentárias e dispersas, que mal chegaram a tomar aspecto de ensino sistemático, em raros colégios religiosos estabelecidos em conventos. Mas, nem a partida, em massa, dos Padres da Companhia, nem as reformas pombalinas [...] conseguiram quebrar a unidade social e cultural dada pela idéia religiosa e mantida pela mesma concepção de vida e de cultura e pelo mesmo regime social e econômico. (AZEVEDO, 1964, p. 545)

Por vários anos, os cursos criados no Brasil, tiveram a influência pombalina, ou

seja, eram cursos técnicos e práticos, que visavam basicamente formar profissionais para a

administração do Estado, profissionais estes da elite brasileira.

Passado alguns anos, viu-se a necessidade da criação de cursos jurídicos no Brasil,

necessidade que passava a ser discutida em várias instâncias da sociedade, lembrando que,

desde 1808 já havia o curso de medicina no Brasil, criada por Carta Régia, pelo príncipe

regente D. João.

O projeto inicial de criação de uma universidade no Brasil foi iniciativa do então

Deputado José Feliciano Fernandes Pinheiro – conhecido como Visconde de São

Leopoldo. O projeto tinha como objetivo disciplinar o ensino e orientar os professores,

com base nos Estatutos da Universidade de Coimbra. Para tanto, estendeu-se um longo

debate, realizado na Assembléia Constituinte e na Assembléia Geral.

2 Consta nas produções ligadas à história da educação brasileira, que os jesuítas criaram o primeiro estabelecimento de Ensino Superior no Brasil, além de criarem 17 colégios, demonstrando sua grande influência. Sobre esse aspecto, recomendamos a leitura: CUNHA, Luiz Antônio. Ensino Superior e Universidade Brasileira. In: 500 anos de Educação no Brasil, Belo Horizonte, MG: Autêntica, 2007.

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Nesse período – de transição e exaltação - o Brasil caminhava para constituir-se

como Nação independente. A Independência do Brasil era vista como a grande obra liberal

e logo a sociedade brasileira passou a ser organizada nos moldes liberais. Ocorre que,

naquele período, havia um liberalismo na doutrina, sendo demonstrada pelas idéias da

Constituição, mas no campo da ação ou da prática, era apenas uma bandeira

revolucionária, pois o embate entre liberais e conservadores ainda era grande. Chocavam-

se interesses, como pode ser provada pela própria convocação da Assembléia Constituinte,

que carregava junto uma reforma demasiadamente ousada para a época: acabar com a

escravidão no Brasil. Somando-se a isso, os liberais encontravam grande rejeição por parte

dos católicos, que dispunham de grande influência, não só religiosa, como política,

econômica e social, incluindo aí as questões relativas à educação.

A Constituinte demonstrava a ambição brasileira de progresso, tanto intelectual

como político e o projeto de criação de uma universidade era expressão dessa ambição.

Ambição esta, ancoradas na tônica do momento, ou seja, nas idéias do liberalismo e do

constitucionalismo que se uniam para as formulações básicas da vida orgânica que

começava com a Independência. Os debates que se sucediam para a criação da

universidade giravam em torno de duas questões principais. A primeira referia-se ao local

onde seria criada a universidade e como as mesmas seriam mantidas. Antes de definir-se

por criar universidades em São Paulo e Olinda, ocorreram outras propostas, seguidas de

debate intenso. Os estados sugeridos além de São Paulo foram a Bahia, o Rio de Janeiro e

a Paraíba. Havia praticamente um consenso em relação a São Paulo, por entenderem que

São Paulo era um centro natural por sua localização, diferentemente de Olinda.

Diante das disputas pela localidade de criação dos cursos, quando algum deputado

propunha a criação de uma universidade em um determinado estado, logo vinham às

críticas, baseadas em questões diversas. Criticando a criação na Bahia, o Sr. Andrada

Machado argumenta3:

Há para o norte outra cidade que à primeira vista parecerá preferível, que é a Paraíba; mas tem grandes inconvenientes; é quase deserta, e não tem casas e nem acomodações bastantes. A Bahia, em que tenho ouvido falar, nunca eu a escolheria para isso; é a segunda babilônia do Brasil; as distrações são infinitas e também os caminhos de corrupção; é uma cloaca de vícios... Enfim não acho nada mais a propósito do que o lembrado pela comissão, e por isso voto com ela pelos dois lugares indicados, Olinda e São Paulo; nenhuns outros reúnem tantas circunstâncias atendíveis. (MACHADO, 1823)

3 Pronunciamento realizado na sessão de 3 de setembro de 1823, presidida pelo Sr. Barão de Santo Amaro.

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No que se refere à manutenção das Universidades, a proposta que prevalecia era de

que a Universidade Central seria bancada com dinheiro público, já nas Províncias, cada

entidade deveria arranjar fundos para sobreviver. Diante de tantas discussões que

pareciam intermináveis, o Deputado Senhor Dias, fez uma fala incisiva, argumentando que

tinha receio de que o projeto de universidade não chegasse ao fim, o que de fato ocorreu,

pois, embora tenha sido votado e aprovado na presença de 72 deputados no dia 4 de

novembro de 1823, tal aprovação não ocorreu na prática, em decorrência de um ato

autoritário de Dom Pedro I, que dissolveu a Constituinte em novembro de 1823.

A idéia da criação de universidades no Brasil não morre, embora tenha ficado

adormecida por mais de três anos, continuava sendo o sonho de muitos, como demonstra

Nilo Pereira: “A criação da universidade brasileira era antes de tudo uma reparação

histórica, além de ser um ato de profunda compreensão do nosso destino de País livre, que

atingia a plenitude dos seus sonhos de emancipação e de autodeterminação (PEREIRA,

1977, p. XXXVIII).

Novamente aparece entre as discussões a questão da localidade. Na sessão de 18 de

agosto de 1826 é apresentado um novo Projeto, baseado no Projeto de 1823, contendo nove

artigos e definindo que as cidades de São Paulo e Olinda seriam contempladas com os

cursos. A partir daí a discussão prolonga-se com o propósito da organização curricular,

fazendo com que o Projeto passasse a ter treze artigos e encerrando a luta pela criação das

universidades. O referido Projeto fora aprovado no Senado e sancionado pelo Imperador,

através da Lei de 11 de agosto de 1827, data que posteriormente passou a ser comemorada

como o dia do advogado.

Diante dessas colocações e da necessidade de se criar cursos jurídicos no Brasil,

fica o questionamento de porque o curso fora criado em Olinda e não na Bahia ou Paraíba,

como vários deputados queriam. Já justificamos a criação do curso em São Paulo, mas é

preciso explicitar as motivações que levaram Olinda a ter um curso de Direito.

Havia em Olinda um grande Seminário, criado ainda em 1880 por padres

considerados iluministas, liberais. Este Seminário era uma espécie de pré-universidade,

como coloca Nilo Pereira:

Ali não se formavam apenas sacerdotes, mas todos aqueles que desejavam ingressar na vida pública com um sólido conhecimento das humanidades. Nisso residia o sentido universal do ensino, naquela casa

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de formação religiosa, a ‘Escola de Heróis’, como chamou o Cônego Carmo Barata (PEREIRA, 1977, p. L)

Vale notar que na época, várias pessoas influentes temiam o que seria aprendido

pelos estudantes no Seminário, conhecido também como ‘Centro de Rebeldia’, visto que o

ensino obedecia a uma orientação ampla, podendo ser chamada de liberal.

É importante destacar que a criação dos cursos jurídicos no Brasil, decorre de uma

opção política, que segundo Rodrigues, tinha como função básica: sistematizar a ideologia

político-jurídica do liberalismo, almejando com isso a promoção da integração ideológica

do Estado Nacional, projetado pelas elites e; formar a burocracia encarregada de

operacionalizar esta ideologia, para a administração do Estado Nacional, que quase nunca,

tinha haver com os interesses da grande maioria (RODRIGUES, 1993, p. 13).

Os critérios para admissão no curso eram que os estudantes deveriam ter idade

mínima de 15 anos e serem aprovados nos testes preparatórios. Os cursos eram altamente

elitistas, só os filhos de famílias nobres conseguiam cursar. Assim, a burguesia brasileira

buscou a educação aristocrática como meio de ascensão social, afirmando-se como elite

econômica e política.

Sobre a formação de bacharéis em Direito no Brasil, Wolkmer cita que:

No bojo das instituições, amarrava-se, com muita lógica, o ideário de uma camada profissional comprometida com o projeto burguês individualista, projeto assentado na liberdade, na segurança e na propriedade. Com efeito, a harmonização do bacharelismo com o liberalismo reforçava o interesse pela supremacia da ordem legal constituída (Estado e Direito) e pela defesa dos direitos individuais e dos sujeitos habilitados à cidadania sem prejuízo do Direito à propriedade privada. O bacharel assimilou e viveu um discurso sócio-político que gravitava em torno de projeções liberais desvinculadas de práticas democráticas e solidárias, privilegiavam-se o fraseado, os procedimentos e a representação de interesses em detrimento da efetividade social, da participação e da experiência concreta. Concomitantemente, o caráter não-democrático das instituições brasileiras inviabilizava, também, a existência de um liberalismo autenticamente popular nos operadores do Direito (WOLKMER, 2005, p. 101).

Só em 1854 os cursos de Direito sofreram alterações curriculares, onde foram

acrescidas as disciplinas de direito romano e direito administrativo. Com a queda do

Império e conseqüente Proclamação da República ocorreram outras modificações na

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estrutura curricular. A mudança mais significativa foi à extinção da disciplina de direito

eclesiástico e a introdução das disciplinas de história e filosofia do direito. Em 1891 os

cursos passaram por uma reforma, quando efetivamente os cursos de Direito ganharam

emancipação, libertando-se da influência portuguesa.

Como coloca Cynthia G. Veiga, nas primeiras décadas republicanas, em

consonância com o federalismo presente na Constituição de 1891, apenas o Ensino

Superior era da alçada do governo federal. Dessa época em diante, houve uma maior

preocupação em traçar um projeto nacional de educação, podendo ser observado nas

reformas educacionais que surgiram. (VEIGA, 2007, p. 230)

A educação, ano após ano, passou a ganhar mais espaço na sociedade, tanto que em

1924 foi criada a Associação Brasileira de Educação (ABE). Diante de uma série de

mudanças passadas pela sociedade, a educação passou a ser vista com outros olhares e

também a ser discutida sob mais de um ponto de vista, sendo facilmente visualizada a

existência de dois lados antagônicos. De um lado, as lideranças católicas que buscavam

manter a situação existente, ancoradas nos princípios morais católicos e de outro, os

princípios republicanos, que tinham na escola o trampolim para o progresso. Romanelli faz

considerações importantes desse período:

Assim, o período que se seguiu à Independência política viu também diversificar-se um pouco a demanda escolar: a parte da população que então procurava a escola já não era apenas pertencente à classe oligárquico-rural. A esta, aos poucos, se somava a pequena camada intermediária, que, desde cedo, percebeu o valor da escola como instrumento de ascensão social. Desde muito antes, o título de doutor valia tanto quanto o de proprietário de terras, como garantia para a conquista de prestígio social e de poder político. Era compreensível, portanto, que, desprovida de terras, fosse para o título que essa pequena burguesia iria apelar, a fim de firmar-se como classe e assegurar-se o status a que aspirava (ROMANELLI, 1997, p. 37)

Contemplando o cenário de agitação, mudanças e divergência de opiniões,

destacamos que na ABE também ocorreram disputas. Prova disso é a diferença entre o

Manifesto dos Pioneiros – documento que representou uma bandeira do liberalismo

educacional no Brasil – e o Manifesto dos Instrutores – documento onde preocupações

ligadas à luta de classes estavam presentes – como explicita Zaia Brandão: “O Manifesto

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dos Inspetores é o trabalho que assinala o primeiro movimento de ruptura de Paschoal

Lemme4 com o ideário liberal” (BRANDÃO, 1999, p. 68).

Marta Carvalho coloca que mesmo havendo divergências, as semelhanças das

propostas eram mais relevantes: “[...] ‘Renovadores’ e ‘tradicionalistas’ moviam-se num

mesmo campo de debates. Propunham a questão educacional preponderantemente da ótica

da ‘formação da nacionalidade’. Por isso, nas propostas, as semelhanças eram mais

relevantes que as diferenças” (CARVALHO, 1998, p. 24)

Interessante destacar nesse período as idéias da Escola Nova – tendo em vista que

em 1920, aproximadamente 75% dos brasileiros eram analfabetos – que levaram a elite

intelectual da época a reivindicar novas reformas pedagógicas. Nesse movimento de

renovação educacional, o que caracterizava o grupo, como afirma Cynthia G. Veiga, ao

menos a princípio, era a visão da educação como fator de reforma social. (VEIGA, 2004, p.

254).

No que se refere ao campo do Direito, é interessante notar que os principais

intelectuais desse período eram formados em Direito. Fernando Azevedo, Anísio Teixeira,

Francisco Campos, Lourenço Filho, entre outros, que contribuíram para a divulgação das

idéias da Escola Nova. De acordo com Cynthia Veiga, na concepção dos escolanovistas,

mudar o ser humano significava dotá-lo de condições para o desenvolvimento de suas

potencialidades e habilidades, sendo a escola o lugar primordial de favorecimento da

formação do novo homem, tendo como pressuposto a necessidade do progresso da nação

brasileira (VEIGA, 2004, p.272).

No Governo Getúlio Vargas, através do Decreto nº 19.408 de 1930 foi instituída a

Ordem dos Advogados do Brasil (entidade que será discutida a seguir) e em 1931, com a

Reforma Francisco Campos, que culminou com uma série de medidas, incluindo a criação

do Estatuto das Universidades Brasileiras, o curso de Direito passou a ser dividido em

bacharelado e doutorado, sem mudanças significativas, pois, continuava com seu caráter

puramente elitista. Nesse período do Governo Vargas, a educação passou a ocupar um

lugar importante nos discursos oficiais, como destaca Horta: “A concepção de educação

como ‘problema nacional’ servirá para justificar uma intervenção cada vez mais intensa do

Governo Federal nos diferentes níveis de ensino e uma crescente centralização do aparelho

educativo” (HORTA, 1994, p.02).

4 Consultar: BRANDÃO, Zaia. A intelligentsia educacional: um percurso com Paschoal Lemme por entre as

memórias e as histórias da Escola Nova no Brasil. Bragança Paulista, SP: EDUSF, 1999.

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Entre os dispositivos contidos no Estatuto, constava a exigência de que num rol de

cinco cursos (Ciências e Letras, Engenharia, Medicina, Educação e Direito) era necessária

a criação de pelo menos três destes, para que fosse criada uma universidade. Importante

destacar a relação de Francisco Campos5 com a Igreja, principalmente no que se refere à

formação católica, mesmo considerando que nesse período a disciplina de direito

eclesiástico já tivesse sido extinta da grade curricular do curso:

No esquema autoritário de Francisco Campos o ensino religioso era, ao mesmo tempo, um instrumento de formação moral da juventude, um mecanismo de cooptação da Igreja Católica e uma arma poderosa contra o liberalismo e no processo de inculcação dos valores que constituíam a base de justificação ideológica do pensamento político autoritário (HORTA, 1994, p.107).

Sobre a influência católica, Clarice Nunes coloca que:

Os católicos, dentro da maquina estatal, colaboraram para o fortalecimento do seu poder e exploraram os equívocos dos educadores reformistas quanto à avaliação dos rumos que ganhava a centralização política. A identificação quase automática desses educadores, entre fortalecimento do poder estatal com o desenvolvimento e progresso social, acabou facilitando a apropriação da doutrina escolanovista pelo Estado, que lhe imprimiria nova substância, mantendo aspectos operativos e acoplando à idéia de uma Escola Nova, a idéia de uma Escola Nova para o Estado Novo (NUNES, 2000, p.513).

Já em 1945, com o fim do Estado Novo, através do governo provisório fora

aprovado decreto, que dava às universidades autonomia administrativa, didática e

financeira nas universidades. Diferentemente do Estatuto proposto pelo governo Vargas,

nesse decreto, era necessário que entre as três faculdades que iriam compor a universidade,

duas deveriam ser de Direito, Filosofia, Medicina ou Engenharia.

Em 1962, após a promulgação da Lei 4.024 que fixou as diretrizes e bases da

educação nacional, a grade curricular deixou de ser imposta pelo Estado e passou as

atribuições ao Conselho Federal de Educação e as Instituições de Ensino. Na década de 70,

através da Resolução nº. 3, nova estrutura curricular foi definida, no entanto poucas

inovações ocorreram, como esclarece Rodrigues e Junqueira:

5 Em decorrências dos anseios de renovação no âmbito educacional, é criado em 1930 o Ministério da Educação e Saúde, tendo como primeiro ministro, Francisco Campos.

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Embora a quase totalidade dos especialistas que trabalharam a questão concorde com o avanço curricular trazido pela Resolução CFE no 003/72, a maioria vê como grande carência do sistema por ela adotado a ausência de um trabalho interdisciplinar e direcionado para as reais necessidades sociais, ou seja, que estivesse voltado a um mercado de trabalho diversificado, existente na área jurídica, e que não estaria sendo atendido. Esse, saliente-se, não era um problema da norma, mas sim dos docentes e administradores das instituições de ensino. E se ele persistir, não haverá novo conjunto normativo, currículo mínimo, ou diretrizes curriculares que resolvam a crise existente (RODRIGUES e JUNQUEIRA, 2002, p. 27).

Com a Constituição Federal de 1988, ocorreram avanços significativos no que se

refere ao ensino e aprendizagem, contemplados no Capítulo III que trata da Educação, da

Cultura e do Desporto. As universidades passaram a gozar de autonomia didático-

científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial.

A criação da Ordem dos Advogados do Brasil

Como já sinalizamos anteriormente, os primeiros anos da década de 30 foram

destacados por inúmeras agitações e mudanças no cenário político. Dentro desse contexto,

em sintonia com o desejo de modernização do Brasil, é criada a Ordem6 dos Advogados do

Brasil (OAB) pelo artigo 177 do Decreto n.º 19.408 de 18 de novembro de 1930, assinado

pelo então, chefe de governo, Getúlio Vargas. Tal criação chegou a ser vista como um

milagre, como afirma André de Faria Pereira8:

A criação da Ordem dos Advogados, naquele momento histórico, constituiu um verdadeiro milagre, em que hoje eu mesmo custo a acreditar. Em verdade, ao mesmo tempo em que a derrocada das Instituições rasgava, pela revolução vitoriosa, a Constituição e as leis e concentrava nas mãos do ditador os três poderes constitucionais da República, ferindo o próprio Poder Judiciário, no momento em que a insânia do poder pessoal se instalava no País, com todas as agravantes do arbítrio e da violência, foram subtraídas à centralização dominante e entregues a órgãos da própria classe a disciplina e seleção de seus membros (PEREIRA, 1955).

6 Na tradição francesa, a palavra Ordem, que foi adotada na denominação da entidade brasileira, vincula-se à organização medieval, como conjunto estatutário que ordena um modo de vida reconhecido pela Igreja, semelhante à Ordo Clericorum ou às ordens de cavalaria (LOBO, 2002, p. 223). 7 Art. 17. Fica criada a Ordem dos Advogados Brasileiros, órgão de disciplina e seleção da classe dos

advogados, que se regerá pelos estatutos que forem votados pelo Instituto da Ordem dos Advogados Brasileiros, com a colaboração dos Institutos dos Estados, e aprovados pelo Governo (Decreto n.º 19.408 de 1930) 8 Comentário realizado na 792.ª sessão da 25.ª Reunião Ordinária do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, ocorrida em 22/11/1955

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Conforme determinado no Decreto, a Ordem dos Advogados do Brasil seria regida

pelos estatutos votados pelo Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB) e aprovados pelo

governo. Vale destacar que muito antes de existir a OAB, já existia o Instituto, criado em

agosto de 1843 e aprovado pela então Secretaria Imperial dos Negócios da Justiça.

Enquanto não existia a OAB, o Instituto reunia e representava com exclusividade toda a

comunidade jurídica do país. Importante salientar que, nesse período as atividades ligadas

ao Direito eram exercidas exclusivamente por homens e que, somente em 1906, foi aceita a

primeira mulher no Instituto, a advogada Myrthes Gomes de Campos, sendo esta a

primeira mulher no Brasil a exercer a advocacia.

Embora não faça parte desse estudo à discussão sobre gênero, achamos interessante

citar um trecho de Maria Thetis Nunes, que contextualiza bem o papel da mulher nesse

período:

Repercutindo o que se passava no Brasil, também em Sergipe começou a alterar-se a situação da mulher na sociedade, da qual passa a participar mais ativamente, saindo do recesso do lar, buscando as escolas. Impunha-se, assim, a necessidade de fornecer-lhe conhecimentos adequados. Já na imprensa aparecem artigos falando da necessidade de dar à mulher educação (NUNES, 1984, p.155).

Voltando a questão da OAB, é oportuno esclarecer que, embora a OAB tenha sido

criada em 1930, a primeira Sessão Ordinária do Conselho Federal só veio ocorrer em 1933,

consolidando assim a entidade. Nota-se que com a criação da OAB o Instituto dos

Advogados Brasileiros continuou e continua existindo, sendo uma entidade de caráter

nacional, que congrega graduados em Direito, tendo como premissa a difusão dos

conhecimentos jurídicos e a manutenção e o aperfeiçoamento da ordem jurídica. Mas

diferente da OAB, o Instituto não tem poderes como, por exemplo, de caçar o registro de

um profissional.

Desde seu surgimento, a OAB vem participando ativamente dos grandes momentos

políticos brasileiros e legalmente é entendida como uma associação civil, sem fins

lucrativos, que tem representações ou seccionais em todos os estados da Federação para

representar os advogados. Como sociedade Civil, exerce o papel de mediadora entre a

sociedade civil e o Estado, cumprindo inclusive a prerrogativa corporativa de selecionar os

profissionais tidos como preparados, ou melhor, os aprovados no Exame de Ordem.

Considera-se advogado aqueles que cumprem os requisitos da Lei Federal nº 8.906 de

1994, que dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil.

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Entre os requisitos para inscrição como advogado consta que é necessário diploma ou

certidão de graduação em Direito, obtido em instituição de ensino oficialmente autorizada

e credenciada e aprovação em Exame de Ordem, além de pagamento anual à OAB de seu

estado, valor que varia de seccional para seccional.

O Exame de Ordem

O Exame de Ordem fora regulamentado e passado a vigorar a partir do Provimento

nº 81/96, elaborado pelo Conselho Federal da OAB. Tal Provimento estabelece normas e

diretrizes para o Exame de Ordem. No referido Provimento consta que o Exame é

obrigatório aos bacharéis de Direito e que somente após a aprovação é que o bacharel será

admitido no quadro de advogados. O Provimento foi criado, tendo como suporte legal a

Lei 8.096 de 1994, que dispõe sobre o Estatuto da advocacia e sobre a Ordem dos

Advogados do Brasil.

Para justificar a criação do Exame, buscamos textos, leis e principalmente a posição

da OAB, representada pelo depoimento de profissionais que ocupam ou ocuparam cargos

importantes dentro do Conselho Federal da OAB.

De acordo com Rubens A. Machado, então presidente do Conselho Federal da

OAB, em palestra realizada em 2002 no VI Seminário de Ensino Jurídico, houve uma

disparada de criação de cursos jurídicos no país, sem levar em conta as reais demandas e

especialidades do mercado, abrindo um imenso fosso entre a base técnica e a massificação

do ensino. Massificação que, segundo ele, resultou numa visível queda na qualidade do

ensino (MACHADO, 2003, p. 19).

Antonio Maria Iserhard entende que a OAB cumpre sua prerrogativa corporativa ao

selecionar profissionais preparados, evitando com isso que lesem a si próprios, os clientes

e a própria sociedade, pois o Exame para ele reflete em grande medida o nível de ensino

jurídico, como segue:

O Exame de Ordem, ao servir de critério de seleção da classe dos advogados, trata-se de um concurso público genérico, embora não tenha limite de vagas nem ordem de classificação, obedece aos princípios da legalidade, moralidade, transparência, impessoalidade, publicidade, igualdade e eficiência. (ISERHARD, 2003, p. 81)

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Diante de alguns posicionamentos que se apresentam como favoráveis ao Exame

parece oportuno destacar outras posições, visto que consta na Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional9 que a Educação Superior tem como finalidade, formar diplomados nas

diferentes áreas de conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais e para a

participação no desenvolvimento da sociedade brasileira, além de colaborar na sua

formação contínua. No Art. 5º da Constituição Federal, consta que é livre o exercício de

qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei

estabelecer. Partindo dessa premissa, o advogado José de Freitas Guimarães argumenta:

As limitações impostas para que um cidadão possa trabalhar deverão estar amparadas pelo valor que esta ação produz como efeito social, de sorte a que eventuais condições que limitem o seu exercício não devem impedir, efetivamente, a sua execução, sem que motivos relevantes, essenciais e imprescindíveis, sejam considerados e/ou observados, em total respeito à cidadania, a dignidade da pessoa humana e aos valores sociais do trabalho (GUIMARÃES, 2006, p. 2).

Coincidência ou não, a atual regulamentação do Exame de Ordem foi instituída na

mesma década em que a criação de cursos de Direito teve o maior crescimento da história.

Com todas as críticas pertinentes aos moldes de expansão do Ensino Superior no país, em

específico na era Fernando Henrique Cardoso, a de se reconhecer, que o acesso fora

ampliado, no entanto, sem garantias de que o ensino ofertado fosse de qualidade.

Gostaríamos de esclarecer que no nosso entendimento os modelos que avaliam o Ensino

Superior são complexos e necessitam de uma maior reflexão, reflexão esta que não será

feita neste trabalho.

Estima-se, segundo a própria OAB que se o Exame deixar de existir, em breve

haveria no Brasil quatro milhões de advogados. E enquanto existir o Exame, segundo

Machado, que se posiciona a favor do Exame, haverá: “Milhares de bacharéis que

concluíram seus cursos, com muitos sacrifícios pessoais, gastos, tempo e inúmeros outros

problemas, têm um diploma que nada vale” (MACHADO, 2003, p. 22).

No endereço eletrônico da Ordem dos Advogados do Brasil, consta o seguinte

material: “Conheça os cursos de Direito recomendados pela OAB”. Nesse material,

divulgado primeiramente em janeiro de 2004, consta os cursos recomendados. Esses cursos

são recomendados com base no desempenho dos estudantes no Exame Nacional de Cursos

e no Exame da OAB. De um total de 215 cursos de Direito avaliados, apenas 28% 9 A título de conhecimento, nossa primeira LDB foi promulgada somente em 1961, após 14 anos de tramitação no Congresso Nacional e que ela beneficiou principalmente a iniciativa privada.

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obtiveram o selo de qualidade conferido pela OAB. Na época da divulgação dos cursos

recomendados, havia 762 cursos de Direito no país. Segundo o Conselho Federal da OAB,

esse programa de recomendação foi criado como instrumento de controle e incentivo à

melhoria dos padrões de qualidade dos cursos. Na primeira edição do programa, divulgado

em 2004, nos estados do Amapá, Tocantins e Mato Grosso do Sul nenhum curso foi

recomendado.

Em um dos Exames realizados em 2005, no Paraná, os resultados foram alarmantes.

Apenas 2,55% dos candidatos inscritos foram aprovados, forçando a reflexão sobre o

caráter desse Exame e qualidade de ensino proferida nas instituições de ensino. Na terceira

edição do “OAB recomenda” divulgada em 2007, foram adotados, basicamente, os

mesmos critérios das avaliações anteriores. Na primeira edição do OAB recomenda havia

762 cursos de Direito no país. Na terceira edição, o número já era de 1017 cursos.

Tornou-se uma prática comum o fato do candidato reprovar no Exame em seu

estado e tentar a prova em outro, visto que as datas e o próprio conteúdo eram

determinados em cada estado da Federação. Na tentativa de sanar isso, o Conselho Federal

da Ordem dos Advogados do Brasil aprovou em caráter experimental a proposta levantada

pelo presidente da seccional sergipana da OAB, Henri Clay Andrade, de unificação

nacional do Exame. Com essa unificação as provas passaram a ocorrer simultaneamente

em todo país, impedindo que os candidatos realizassem provas em diversos estados. Vale

salientar que a unificação gerou críticas, pois se entende que a diversidade cultural do país

é muito grande, demonstrando que cada região do país tem sua realidade econômica e

cultural, e uma demanda jurídica específica. Como a unificação é muito recente, ainda não

dispomos de dados para analisá-la. Acreditamos inclusive que a unificação nos trará dados

mais concretos para uma futura avaliação do Exame e de seus resultados que parecem já

terem sido mais favoráveis que em anos anteriores. Destacando-se que 33 Instituições de

Ensino Superior registraram mais de 60% de aprovação na última edição do Exame

unificado, destas, 25 são Instituições públicas e oito são privadas.

O Ensino Jurídico no contexto atual do Ensino Superior Brasileiro

Como já relatamos anteriormente, foram apresentadas várias propostas de criação

de universidades no Brasil durante o período imperial. Mas não era de interesse do reino,

visto que em quase 50 anos de reinado do segundo Imperador, não foram criadas novas

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faculdades além das criadas nas primeiras décadas do século XVIII e uma criada em 1839

(OLIVE, 2002, p.32).

Atualmente as Instituições de Ensino Superior (IES) são definidas pela LDB, Lei nº

9.394/96 que quando promulgada, trouxe uma série de inovações no sistema de Ensino

Superior. Referindo-se à natureza acadêmica, as definições foram feitas por decretos

complementares. Em relação à caracterização público/privado todas estão vinculadas ao

sistema federal de ensino, de acordo com a própria LDB.

Apresentaremos alguns dados do Ensino Superior, a partir de informações

disponibilizadas pelo Censo da Educação Superior, realizado pelo Instituto Nacional de

Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC). Importante destacar que

participaram do Censo todas as IES que até outubro de 2004, tinham pelo menos um curso

de graduação em funcionamento, totalizando um número de 2.013 instituições, distribuídas

por região, a tabela se apresenta da seguinte forma:

Crescimento das IES por Região - Brasil 1990-2004

Ano Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-oeste

1990 918 26 111 564 147 70

1995 894 31 92 561 120 90

2000 1.180 46 157 667 176 134

2004 2.013 118 344 1.001 335 215

Fonte: MEC/Inep/Deaes

Pela tabela acima, podemos verificar a grande disparidade ainda existente entre as

regiões do país, destacando-se o contraste entre a região norte e a região sudeste. A região

sudeste possui 883 Instituições de Ensino Superior a mais que a região norte.

No que se refere à distribuição de IES por categoria administrativa, em 2004 havia

no Brasil 224 instituições públicas e 1.789 instituições privadas. Levando em consideração

o número de matrículas e concluintes, o curso de Direito aparece como o segundo maior

curso, tendo 533.317 matriculas, e 67.238 concluintes.

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A justificativa principal da OAB em realizar o Exame de Ordem, decorre do grande

crescimento do Ensino Superior, especificamente dos cursos de Direito. Para tanto, a

entidade argumenta que, assumindo sua responsabilidade, tem procurado, a fim de suprir a

falta de conhecimentos técnicos e especializados, oferecer cursos de curta, média e longa

duração nas Escolas Superiores de Advocacia, que segundo a OAB, tem relevante

importância para a defasagem dos cursos de Direito. Machado, enquanto presidente do

Conselho Federal da OAB (2001-2004) apresentou uma proposta, em que o curso de

Direito seria dividido em dois ciclos. O primeiro ciclo teria duração de cinco anos, mas não

poderia exercer a profissão de advogado e nem qualquer função pública das carreiras

jurídicas - como promotor, procurador, delegado, defensor público – para se tornar um

profissional de qualquer uma das carreiras jurídicas era necessário fazer o segundo ciclo,

que teria no mínimo dois anos de duração. Nesse segundo ciclo seria destinado à formação

profissional, a ser realizado em universidades ou em centros educacionais reconhecidos.

Após a realização desses dois ciclos, o aluno aprovado teria condições de prestar

concursos, bem como realizar o Exame de Ordem ( MACHADO, 2003, p. 25-26).

Achamos oportuno destacar que, a crítica em relação à qualidade dos cursos de

Direito não é de hoje, pelo contrário, Sergio Adorno coloca que havia distinção entre

academia formal e academia local já nos primeiros cursos de Direito do país. Segundo ele:

As permanentes críticas dirigidas contra a má qualidade de ensino e contra a própria habilitação do corpo docente, formuladas até mesmo por acadêmicos que vivenciaram esse processo educativo àquela época, sugerem que a profissionalização do bacharel se operou fora do contexto das relações didáticas estabelecidas entre o corpo docente e o corpo discente, a despeito das doutrinas jurídicas defendidas em sala de aula (ADORNO, 1988, p.93)

Pesquisas realizadas pelo INEP demonstram que no período de 1998 a 2003 o

Ensino Superior privado teve um crescimento de 116%, fazendo com que o Brasil passasse

a ser destaque mundial no crescimento dessa modalidade de ensino. Segundo dados

disponibilizados pelo MEC, de 1991 para 2003, o país teve um crescimento de 326,6 % no

que se refere à criação de cursos jurídicos.

Recentemente o MEC divulgou que irá vistoriar 60 cursos de Direito no país, pelo

baixo desempenho que esses cursos tiveram no cruzamento de dados do Exame Nacional

de Avaliação de Desempenho dos Estudantes, do Índice de Desempenho Desejável e do

Exame de Ordem dos Advogados do Brasil. Segundo o atual Ministro da Educação,

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Fernando Haddad, "é preciso a visita in loco porque a resposta das instituições foi

considerada insatisfatória pela comissão" e reafirmou que a ação não é punitiva, mas

regulatória. Tais medidas são recentes e ainda não tiveram um resultado concreto.

Diante do que foi exposto, nosso questionamento principal é saber quem paga a

“conta” pela expansão desenfreada no Ensino Superior privado brasileiro. Partindo do

pressuposto que educação tornou-se mercadoria, todo consumidor ao cursar uma

graduação nas instituições privadas e reconhecidas pelo MEC, ao ser aprovado, receber o

diploma pela instituição de ensino, não conseguir aprovação no Exame de Ordem e

automaticamente não poder exercer a profissão, esse bacharel deverá reclamar a situação

para quem? Para o MEC que autorizou a abertura do curso, para instituição que no mínimo

por cinco anos recebeu o pagamento de mensalidades ou a OAB que criou esse critério

para exercício da profissão? Nossa hipótese principal é de que o Exame de Ordem é

realizado muito mais com o objetivo de frear o número de advogados no mercado de

trabalho do que de avaliar a educação jurídica ofertada no país. Mas ainda temos muito que

percorrer para poder das respostas mais precisas.

Enquanto realizávamos esse trabalho, ficamos felizes com recente decisão do

Superior Tribunal de Justiça que condenou a Universidade Bandeirante, em decorrência de

um aluno que concluíra o curso de Direito e após realizar Exame de Ordem e ser aprovado,

não pode fazer sua inscrição na OAB e receber seu registro, em virtude do curso não ser

reconhecido pelo MEC. Como falamos acima, até então, quem tem se prejudicado com o

ensino considerado de baixa qualidade tem sido os estudantes brasileiros. Mas neste caso,

se pode constatar que a Universidade “pagou” pela falta de “qualidade” do ensino ofertado.

Decisão esta que ainda é rara no ordenamento jurídico brasileiro.

Considerações Finais

Diante do objetivo de apresentar e discutir a História do Ensino Jurídico no Brasil,

relacionando-o com o atual contexto do Ensino Superior brasileiro e com o Exame de

Ordem, proposto pela Ordem dos Advogados do Brasil, apresentamos algumas

considerações.

Tendo como base a História da Educação Brasileira e mais especificamente a

História do Ensino Jurídico no Brasil, é importante destacar o papel exercido pelos

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bacharéis em Direito no desenvolvimento da sociedade e principalmente nas grandes

decisões que envolveram a esfera política. Diante desses acontecimentos, a profissão de

advogado passou a ser considerada nobre, carregando essa característica desde o seu

surgimento. Tanto que, quando Dom Pedro I aprovou a criação de dois cursos de Direito

no Brasil, através da Lei do Imperial de 11 de agosto de 1827, foi determinado que quem

dispusesse do título de advogado, seria chamado de “doutor”. Título este que tais

profissionais, passados quase duzentos anos, fazem questão de exibir.

Ocorre que hoje, diante de uma série de transformações ocorridas em toda a esfera

social, a profissão de advogado não exerce mais tanto prestígio, mas nos discursos

continua exigindo tal “majestade”. Os tempos mudaram, o Ensino Superior mudou, tanto

pelo acesso como pela variedade de profissões. Os bancos escolares que antes eram

ocupados somente por filhos da elite, passaram a receber jovens de posições sociais

variadas. Nesse contexto, a proposta apresentada pelo então Presidente do Conselho

Federal, discutida neste trabalho, de que os cursos de Direito passassem a ser realizados em

dois ciclos que totalizariam sete anos para que aí sim o estudante pudesse ter direito a

realizar concursos e a prestar o Exame de Ordem, não condiz com a realidade da grande

maioria da juventude brasileira - nos referimos aqui à juventude por ser ela a parcela da

população que mais ocupa os bancos universitários – que precisa antes mesmo de se

formar, estar inserida no mercado de trabalho.

Tendo ciência da grande influência liberal no ordenamento jurídico brasileiro, nos

parece contraditória a posição da OAB, visto que ela nega o exercício da profissão no

chamado “livre mercado”. É tido como natural no modo de produção capitalista que alguns

profissionais se destaquem mais do que outros, lucrem mais do que outros. A própria

sociedade, baseada nesse modelo de funcionamento, continuará explicitando as diferenças

entre classes e posições sociais.

Antes de pensar nas “propriedades” que poderão ser ameaçadas pelas ações de um

“mau” advogado, é preciso lembrar que vivemos num país que abriga milhares de

analfabetos e que pessoas ainda morrem em filas de hospitais por falta de atendimento.

Compreender as relações de poder presentes na sociedade e no caso específico

desse trabalho, compreender a História da Educação Brasileira, nos traz subsídios para

olhar para a realidade e entender seus dilemas.

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Diante do que já foi relatado, fica evidente que o Ensino Jurídico brasileiro está

deficitário e entender as relações que envolvem o Ensino e o próprio Exame de Ordem, nos

ajuda a tentar explicitar que existem muito mais implicações e que respostas precisam ser

dadas. Nos últimos anos foi crescente o número de cursinhos criados exclusivamente para

preparar bacharéis em Direito para o Exame, demonstrando que vários dos cursos jurídicos

ofertados no país não estão dando conta de sua função. Mas as implicações são maiores. Se

levarmos em conta que se o Exame deixar de existir, haverá em breve quatro milhões de

advogados no país e com tal medida conseqüentemente o acesso a um profissional do

Direito seria ampliado. Nosso país que possui uma justiça considerada demasiadamente

lenta, o que faria com tantos profissionais e litígios que viessem a surgir? São questões que

ainda não possuem respostas, mas que precisam ser refletidas.

Portanto, consideramos fundamental conhecer a História da Educação Brasileira,

pois ela nos ajuda a compreender o presente e dependendo da problemática, nos ajuda a

encontrar respostas para tantos problemas encontrados em nossa cotidianidade.

Compactuamos com o entendimento de Antonio Carlos Wolkmer (1996, p. 9) de que a

historiografia jurídica precisa ser reinterpretada e desmistificada para que assim, possamos

melhor compreender as origens e a evolução das formas jurídicas de dominação.

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