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Ensino de literatura no Brasil – letramento, história e documentos norteadores
Mayra Geovana da Costa Bonetti (UEM)
Resumo: O presente artigo tem como objetivo discutir as mudanças no ensino de literatura no
Brasil durante o século XX e início do século XXI e como se propõe seu estudo na
contemporaneidade. Para tanto, analisar-se-ão os documentos norteadores para o ensino de
português e literatura no Ensino Médio a nível nacional (Parâmetros Curriculares Nacionais,
Parâmetros Curriculares Nacionais + e Orientações Curriculares Educacionais para o Ensino
Médio) a partir da perspectiva dos conceitos de leitura literária e letramento literário. Objetiva-
se, também, verificar a existência de documentos estaduais nas regiões Sul e Sudeste do país
de modo a compará-los com a documentação nacional e averiguar quais suas propostas em
relação ao ensino da literatura e se estes são coerentes com as perspectivas de leitura literária
e ensino propostos por teóricos das áreas, tais como Hansen (2005), Zilberman (1999; 2010),
Kleimann, (2004) e Paulino (2008).
Palavras-chave: Ensino de literatura; leitura literária; letramento.
Resumen: El presente artículo tiene como objetivo discutir los cambios en la enseñanza de
literatura en Brasil durante el siglo XX e inicio del siglo XXI y cómo se propone su estudio en
la contemporaneidad. Para esto, se analizarán los documentos orientadores para la enseñanza
de portugués y literatura en la Enseñanza Media a nivel nacional (Parâmetros Curriculares
Nacionais, Parâmetros Curriculares Nacionales + y Orientações Curriculares Educacionais
para o Ensino Médio) a partir de la perspectiva de los conceptos de lectura literaria y letramento
literario. Se pretende también verificar la existencia de documentos estaduales en las regiones
Sur y Sudeste del país para compararlos con la documentación nacional y averiguar cuáles sus
propuestas en relación a la enseñanza de la literatura y si éstos son coherentes con las
perspectivas de lectura literaria y enseñanza propuestos por teóricos de las áreas, tales como
Hansen (2005), Zilberman (1999; 2010), Kleimann, (2004) y Paulino (2008).
Palavras-chave: Enseñanza de literatura; lectura literaria; letramento.
Introdução
De seletas aos Parâmetros Curriculares Nacionais, o ensino da literatura nas escolas de
ensino médio passou por grandes mudanças, ao mesmo tempo em que na prática escolar poucas
mudanças sejam perceptíveis. A princípio, as obras literárias eram compostas por compilações
com trechos de obras (quase sempre portuguesas) e lidas com o intuito de ensinar aos
educandos a arte da retórica e do ler bem. Hoje em dia, estão presentes nas escolas livros
didáticos também com trechos de obras consideradas canônicas.
Nos últimos dois séculos, houve a promulgação de leis regulamentadoras do ensino
básico e a uniformização dos conteúdos escolares. Neste contexto, no início do século XXI,
surgem documentos complementares à LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional),
como os Parâmetros Curriculares Nacionais, Parâmetros Curriculares Nacionais + Ensino
Médio e as Orientações Curriculares Educacionais para o Ensino Médio que objetivam guiar
os professores quanto ao que e como deveria ser o ensino básico. Tais documentos apresentam
um pequeno guia para todas as matérias do currículo base, dentre elas, a literatura.
O ensino da literatura, embora remeta aos gregos, é bastante complexo e controverso,
uma vez que não possui uma aplicação prática na vida dos estudantes e também à sua
complexidade. Afinal, o que é literatura? O que pode ser chamado de leitura literária? E texto
literário? No percurso deste texto, observaremos que existem diferentes concepções do que
pode ser considerado texto literário e até mesmo leitura literária – com a ajuda das concepções
de letramento, e como tais estudos determinam o que deve ser estudado nas escolas brasileiras.
A partir desses estudos, propõe-se relacionar a história da escola secundária no Brasil,
especificamente o desenvolvimento da matéria língua portuguesa a partir do século XIX com
as concepções de ensino de literatura nos documentos nacionais do século XXI, a fim de
verificar se existiram mudanças ou evoluções na concepção de literatura nas escolas
secundárias, além de verificar a existência de outros documentos de esferas estaduais, com o
intuito de compará-los com os primeiros, de modo a averiguar quais seriam suas propostas e
quais suas diferenças em relação àqueles.
Sobre letramento e leitura literária na escola
Os estudos sobre letramento, no Brasil, são relativamente jovens e têm como um de
seus propósitos “separar os estudos sobre o ‘impacto social da escrita’ dos estudos sobre
alfabetização” (KLEIMAN, 2004, p. 15-16). Atualmente, por não ser um termo dicionarizado,
existem diversas definições para o termo ‘letramento’. Para Ângela Kleiman, o letramento é
“um conjunto de práticas sociais que usam a escrita como sistema simbólico e como tecnologia,
em contextos específicos para objetivos específicos” (KLEIMAN, 2004, p. 18). O letramento,
por essa perspectiva, está relacionado tanto ao ato de escrever quanto ao de ler e pode ocorrer
entre qualquer grupo social, ou individualmente, por alguém que faça uso da língua escrita para
alcançar um objetivo. Pode-se concluir, portanto, que as práticas de letramento não ocorrem
exclusivamente no ambiente escolar, como crê boa parte da sociedade, nem tampouco, consiste
na alfabetização. Esta, embora possa ser classificada como um tipo de prática de letramento, é
apenas uma dentre várias outras. Kleiman afirma que
O fenômeno de letramento, então, extrapola o mundo da escrita tal qual ele é
concebido pelas instituições que se encarregam de introduzir formalmente os
sujeitos no mundo da escrita. Pode-se afirmar que a escola, a mais importante
das agências de letramento, preocupa-se não com o letramento, prática social,
mas com apenas um tipo de prática de letramento, qual seja, a alfabetização,
o processo de aquisição de códigos [...]. Já as outras agências de letramento,
como a família, a igreja, a rua – como lugar de trabalho –, mostram
orientações de letramento muito diferentes. (KLEIMAN, 2004, p. 20 - grifos
do autor).
Magda Soares, por sua vez, define o letramento como “o estado ou condição de
indivíduos ou de grupos sociais de sociedades letradas que exercem efetivamente as práticas
sociais de leitura e de escrita, participam competentemente de eventos de letramento”
(SOARES, 2002, p.145 - grifos do autor). Neste caso, os participantes dos eventos de
letramento (eventos sendo considerados como o local em que a situação de letramento ocorre)
são capazes, efetivamente, de participar ativamente deles, ou seja, “têm as habilidades e
atitudes necessárias para uma participação ativa e competente em situações em que práticas de
leitura e/ou de escrita têm uma função essencial” (SOARES, 2002, p. 146). Partindo deste
pressuposto, pode-se pensar em como ocorre a leitura no âmbito escolar, especificamente a
leitura de textos literários.
No século XIX, a escolarização torna-se obrigatória e a primeira coisa que o aluno deve
aprender é a ler, contradizendo Schopenhauer, que dizia que “Quando lemos, outra pessoa
pensa por nós: só repetimos seu processo mental” (SCHOPENHAUER apud ZILBERMAN,
p.72). Zilberman afirma que “rejeitar a leitura é, portanto, rejeitar a escola. Ou pelo menos, a
leitura promovida pela escola, aquela que transmite ‘um assunto exteriormente e por meio de
sinais’” (ZILBERMAN, 1999, p. 73). A estudiosa também afirma que ao analisarmos o modo
de ensino da leitura e da literatura propostos desde o início do século XIX no Brasil, é possível
compreender Platão e Schopenhauer, os quais eram contra a leitura. Os livros da época
propunham a leitura oral como forma de aprendizado da leitura, pressupunha-se que a imitação
era a melhor forma de aprender como escrever bem. Em 1931, é criado o Ministério da
Educação e a matéria escolar passa a se chamar Português, cujos objetivos seriam
“proporcionar ao estudante a aquisição efetiva da língua portuguesa, habilitando-o a exprimir-
se corretamente, comunicando-lhe o gosto da leitura dos bons escritores e ministrando-lhe o
cabedal indispensável à formação do seu espírito bem como a sua educação literária”
(ZILBERMAN, 1999 p. 77). O professor deveria, de acordo com estes objetivos, utilizar a
leitura, principalmente dos textos literários para ensinar todo o resto do conteúdo de Português.
A ideia era que a leitura destes textos resultaria na memorização do aluno e na assimilação de
como um bom texto deve ser escrito.
Desde então a literatura é ensinada na escola valendo-se dos mesmos autores e sempre
com o mesmo objetivo: despertar/preparar o leitor para leituras posteriores, para depois da
escola. Zilberman, no entanto, aponta que desde seu início não se consegue – de fato – ensinar
a literatura, porque a literatura, pelos preceitos da Estética da Recepção e do Efeito de Jauss e
Iser, é um ato dialógico em que o leitor deve ser ativo e participante, deve participar de forma
efetiva de sua interpretação, não ser um receptor passivo.
Para a professora, os equívocos no ensino da literatura talvez estejam em “[a Poética]
colocar-se de modo normativo diante dos textos literários, a que facultou sua circulação pela
escola [...] mas, esgotada, deu lugar às vanguardas que, sob várias formulações, produziu
criações destinadas a escandalizar o público” (ZILBERMAN, 1999, p.82). A autora segue
afirmando que vanguardas e escola, por hora, são termos inconciliáveis. Aquelas, por não
seguirem os moldes da literatura canônica acabam criando confusões, por isso a permanência
dos mesmos textos e autores nesta, mas que teóricos como Jauss já estão propondo uma
“metodologia de trabalho que libere a obra das amarras [...] que a escola o condenou”
(ZILBERMAN, 1999, p. 88). Para Zilberman, portanto, o erro da escola está em ignorar a
relação entre texto e leitor e o preenchimento de lacunas que cada um pode realizar, o que é
uma pena, pois neste aspecto, quem perde é a escola.
Hansen (2005), por sua vez, no artigo Reorientações no campo da leitura literária,
afirma que a leitura é sempre feita a partir de um lugar na sociedade, ela é feita considerando-
se que quem lê, ocupa um lugar social e cultural, reiterando que até o ler bem ou ler mal são
frutos culturais. Ele explana que talvez um dos motivos do “Nosso interesse pela leitura literária
é, talvez, um índice do nosso desejo de descobrir como atuam em nós as formas de dominação
do corpo escrito pela lei do outro, uma vez que é justamente este o tema nuclear da ficção que
vale a pena ler” (HANSEN, 2005, p.13).
O autor acredita que as falas sobre a leitura são pautadas em relação à divisão do
trabalho intelectual, ou seja, existem vários campos teóricos para estudar um texto literário,
mas cada um o analisará de forma distinta. Para provar seu ponto, cita Paul Valéry que diz que
“Compreender consiste na substituição mais ou menos rápida de um sistema de sonoridades de
durações e de signos por outra coisa, que é, em suma, uma modificação ou uma reorganização
interior da pessoa a quem se fala” (VALERY apud HANSEN, 2005, p.14). Hansen promove
duras críticas ao conceito atual de ficção e ao conceito amplo daquilo que se considera
“literário”, de arte, e culpa a indústria cultural e àqueles que mesmo em universidades aprovam
textos que, em sua concepção, não são dignos de ser chamados literários, devido a seu caráter
óbvio e raso, reprodutor daquilo que o leitor espera ler. Embora com suas críticas, na concepção
do teórico, a ficcionalidade é um dos fatores que conferem ao texto seu caráter literário. Estes
textos possuem uma intencionalidade gratuita, são moldados apenas pelo aspecto da ficção.
Maria Graça Paulino (2008), por sua vez, destaca que cada tipo de leitura é feita de uma
maneira, não se pode ler um texto literário da mesma maneira como lemos uma receita de bolo
ou uma notícia. As leituras são feitas de acordo com os objetivos e objetos de leitura. Por isso
mesmo, para a autora, o mero contato com o texto literário não garante uma leitura literária. Se
este texto é utilizado para uma análise gramatical, a leitura feita será sistemática, não literária.
A autora questiona então o que seria a leitura literária, e afirma que é perigoso tentar defini-la
sem considerar a “complexidade dos processos histórico-sociais nela envolvidos” (PAULINO,
2008, p. 61). Para se aproximar de uma resposta, a pesquisadora utiliza-se de perspectivas
diferentes como a da Teoria Literária (majoritariamente a Estética do Efeito de Iser), a
sociologia dos indivíduos e a teoria da complexidade. Ela afirma, grosso modo, que existem
diferentes formas de leitura, a leitura literária depende de vários processos, tais como a
condição social e histórica do leitor, conhecimento estético sobre os textos literários, além de
habilidade cognitiva para compreendê-lo. Esses elementos não são facilmente mapeáveis,
portanto, definir em um único termo a leitura literária é arriscado. O que a autora afirma, porém,
é que a leitura literária é relevante atualmente, pois é através deste conhecimento, não apenas
pela leitura de textos informativos, é que o status quo da sociedade pode ser mudado.
Sobre a história da Literatura na escola
No livro História da Educação no Brasil de Otaíza de Oliveira Romanelli, a autora
apresenta um panorama da educação no Brasil abrangendo em sua pesquisa desde a vinda dos
jesuítas da Companhia de Jesus ainda no século XVI até o final dos anos 80 do século XX.
Naquela época apenas uma parcela ínfima da população tinha acesso à escola (somente filhos
homens de donos de terras e senhores de engenho - e mesmo entre esses, apenas os que não
fossem os primogênitos).
Neste contexto surgem os primeiros colégios jesuíticos, destinados aos estudos das
ciências humanas, das letras e das ciências teológicas. No início da escolarização, os estudos
básicos eram destinados para a população em geral, os secundários para os homens das classes
dominantes e o superior era exclusivamente eclesiástico. Nos séculos seguintes, quando extinta
a Companhia de Jesus no Brasil no século XVIII, e, consequentemente, as escolas coordenadas
por eles, a base curricular escolar continuou, porém, sendo a mesma, atravessando todo o
período do Brasil Colônia até o início da República.
Um dos motivos para que não houvesse alteração nos currículos escolares, segundo
Romanelli, é o surgimento dos pequenos burgueses brasileiros (classe intermediária que surge
a partir do crescimento do mercado interno brasileiro). Como esta classe não tinha grandes
posses, acabava buscando nos títulos acadêmicos o prestígio destinado aos latifundiários, no
entanto, como eram estes que controlavam os sistemas de ensino por serem os políticos, a nova
classe acabava se adequando e buscando a educação por eles fornecida, a qual havia sido
relegada à administração de cada província no caso da educação primária e secundária, o que
fez com que surgissem várias escolas privadas e poucas públicas. Além disso, o caráter
propedêutico do ensino secundário fez com que sua obrigatoriedade não existisse por um longo
período. No fim do século XIX, quando o estudo secundário passa a ser obrigatório para o
ingresso nas universidades é que há maiores investimentos em educação, mas ainda assim,
quase exclusivamente voltada para a elite. A partir de 1930, com a reforma do ensino é que o
acesso à escolarização fica mais fácil e organizado, embora se mantivesse um cunho humanista.
Já no início dos anos 70, tornam-se recorrentes as escolas técnicas profissionalizantes, as quais
passam a ser válidas para o acesso ao ensino superior.
A partir deste panorama geral do ensino no Brasil, evidencia-se que durante a maior
parte da colonização do Brasil, o ensino era destinado a poucos e este ensino não era voltado
àquilo produzido no país. As escolas eram voltadas ao ensino de Latim e Retórica e a língua
portuguesa só passa a ser obrigatoriamente utilizada na Colônia após o decreto de Marquês de
Pombal, em 1758, e, como a linguagem era vista como inerente ao ser humano, os estudos de
língua portuguesa não existiam.
Ao estudar o ensino de Português especificamente, temos os estudos de Marcia Razzini,
que pesquisa a formação do ensino secundário brasileiro, mais especificamente a trajetória do
ensino de língua portuguesa com o intuito de analisar o livro Antologia Nacional de Fausto
Barreto e Carlos de Laet e como este influenciou o ensino de literatura no país. Durante esse
processo, a pesquisadora levantou vários dados relevantes sobre a história da disciplina
português e conseguiu estabelecer algumas fases para o ensino desta matéria, bem como
mapear a formação do currículo escolar brasileiro baseando-se no currículo do Colégio Pedro
II – instituição modelo para todo o território nacional.
Um dos tópicos ressaltados por Razzini é que, inicialmente, tanto nas legislações quanto
nos programas de ensino secundários, os “Exames Preparatórios” são grandes influenciadores
na trajetória do ensino secundário brasileiro. No ano de 1831, nas Academias de Direito de São
Paulo e de Olinda, foram instituídas as “Aulas Preparatórias”, as quais tinham como função
ensinar os conteúdos básicos necessários para a formação acadêmica. Estes exames, geralmente
aplicados pelas faculdades em que se queria ingressar, eram a única exigência para a entrada
no ensino superior. Os primeiros cursos secundários serviam, portanto, como uma ponte para
que as elites brasileiras conseguissem frequentar as universidades. Estes cursos geralmente
eram fracionados, pois por não serem obrigatórios, os estudantes frequentavam apenas aquelas
matérias que lhes ajudariam a passar nos preparatórios para o curso escolhido.
O estudo secundário brasileiro era meramente preparatório, tanto é que em alguns liceus
não existiam cadeiras das disciplinas que não fossem cobradas nos exames de ingresso à
Universidade. A situação escolar do país permaneceu assim até 1931, quando foi implantada a
reforma Francisco Campos que estabelecia um currículo básico para o ensino secundário e este
passou a ser a base para os exames vestibulares.
Antes disso, porém, o Colégio Pedro II, na então capital Rio de Janeiro, já era
considerado como modelo de formação secundária. Inaugurado em 1838, a instituição serviria
como modelo para todas as outras escolas do Império, porém, mesmo com sua importância,
pautava sua base curricular nos exames preparatórios. Mesmo assim, seu prestígio era tanto
que seus alunos não precisavam realizar os exames preparatórios para ingressar em nenhuma
das universidades do território brasileiro desde que possuíssem o diploma de “Bacharel em
Letras” (para receber tal título o aluno deveria frequentar todo o curso secundário, situação que
pouco acontecia). Ainda assim, como apenas em 1871 o exame de Português passa a ser
obrigatório para todos os cursos superiores (o decreto é de outubro de 1869, no entanto, passa
a ser aplicado apenas dois anos depois), é neste momento que os cursos preparatórios, liceus e
até o Colégio Pedro II começam a aumentar a carga horária da disciplina, antes só estudada no
primeiro ano.
Ao analisar especificamente a disciplina Português, Razzinni estabelece uma divisão
em quatro fases: a primeira entre 1838 e 1869, abrangendo todo o período anterior à inclusão
do português nos exames preparatórios (só se estudava o português no 1º ano). Na literatura
era dado mais peso aos autores portugueses do que brasileiros e a leitura destas obras
(compilações vindas direto de Portugal) eram utilizadas mais para a prática retórica; a segunda,
de 1870 a 1889, que, com a entrada da matéria português nos exames de ingresso dos cursos
superiores, provoca o aumento da carga horária da matéria e seu ensino no 1º, 2º e 3º ano.
Inicia-se o incentivo da leitura cronológica inversa das obras literárias e também o início dos
estudos de autores brasileiros; a terceira fase, entre 1890 e 1930, que exclui os exames de
Poética e Retórica do currículo escolar e aumenta a importância do português. Também nesta
fase ocorre o aumento da presença de escritores brasileiros nos livros didáticos utilizados no
colégio modelo bem como a adoção de menos livros de seletas literárias e mais livros de
gramática da língua; e por último, a partir de 1931, quando do desaparecimento dos exames
preparatórios e o estudo de Literatura é incorporado ao currículo de português em 1942.
Neste breve histórico é possível perceber que nem sempre o estudo da literatura foi
considerado importante nas escolas secundárias brasileiras. Quando o estudo era feito, era para
servir como modelo para os futuros escritores, assim como eram determinadas pelos
professores do Pedro II quais autores eram bons e valiam a pena ser lidos (em geral, a partir da
segunda fase, os livros utilizados no Pedro II eram produzidos pelos professores da instituição).
O estudo dessas obras, geralmente seletas literárias, focava a cópia de trechos como forma de
ensino de ortografia, ou, como já dito anteriormente, modelos de escrita e retórica a serem
copiadas. Após algum tempo, são acrescentados dados biográficos e contextualização histórica
das obras. Essas produções deram origem aos atuais livros didáticos de literatura.
Regina Zilberman, afirma que esses livros possuem um vínculo profundo com o
“mundo das letras”,
Determinando uma espécie de obra que se torna padrão para todas as áreas do
conhecimento. Isto é, o livro didático pertence à literatura, nasceu para
difundi-la sob suas várias formas – seja como modalidade singular da
expressão, exemplo de uso bem acabado da língua, e maneira de ser e falar a
ser imitado – e, por causa disso, converteu-se no paradigma repetido em
outros campos do saber (ZILBERMAN, 2010, p. 173).
Porém, embora a utilização de livros didáticos seja uma forma eficiente de ensino, no
que concerne ao ensino de literatura, a autora acredita que o problema é que a literatura perde
suas características intrínsecas e acaba “miniaturizada na condição de texto” (ZILBERMAN,
2010, p.186), ou seja, perde-se o contato com o objeto da literatura, o livro, para que se tenha
o contato apenas com o texto – ou parte dele, o que, por sua vez, reforça o caráter elitista do
consumo de literatura.
Essa metodologia do ensino da literatura no Brasil não teve grandes alterações até a
década de 1970, época da ditadura militar. Neste período, foram expandidas as escolas técnicas,
que eram frequentadas pelos grupos mais pobres da população para que fornecessem mão de
obra mais qualificada, necessária ao surto industrial da época. A partir deste momento, as
disciplinas de história, geografia, filosofia e português tiveram sua importância minimizada e
o ensino de literatura não tinha outra razão além dos exames vestibulares. É a partir do fim da
década de 80 e início dos anos 90 é que ocorrem maiores mudanças nos planos educacionais
nacionais e, no ano 2000, são publicados os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs),
documento guia para o ensino em todos os níveis básicos no país.
Sobre os documentos nacionais de ensino no Ensino Médio - Literatura
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) é um documento criado durante a
segunda metade dos anos 90 e publicado no ano 2000. Ele tem como objetivo a reformulação
do ensino como forma de acompanhar as mudanças mundiais, que já não são as mesmas dos
anos 70 e 80, e que exigem “a aquisição de conhecimentos básicos, a preparação científica e
a capacidade de utilizar as diferentes tecnologias relativas às áreas de atuação” (BRASIL,
2000a, p. 5). Para o Ensino Médio, é proposta uma formação geral, que proporcione a
capacidade de “pesquisar, buscar informações, analisá-las e selecioná-las; a capacidade de
aprender, criar, formular, ao invés do simples exercício de memorização” (BRASIL, 2000a, p.
5). Nesta perspectiva, o documento organiza o currículo por áreas de conhecimento
(Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Ciências da Natureza, Matemática e suas
Tecnologias e Ciências Humanas e suas Tecnologias), para que os conteúdos possam ser
estudados de forma interdisciplinar e contextualizada. Todas as áreas de conhecimento devem
englobar quatro eixos estruturais: aprender a conhecer; aprender a fazer; aprender a viver e
aprender a ser.
Nos PCNs específicos de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, “a linguagem é
considerada como capacidade humana de articular significados coletivos em sistemas
arbitrários de representação, que são compartilhados e que variam de acordo com as
necessidades e experiências da vida em sociedade” (BRASIL, 2000a, p. 19). No que concerne
especificamente aos conhecimentos de Língua Portuguesa para o Ensino Médio, a proposta é
que não haja a divisão entre Língua e Literatura, esta última nem é tratada especificamente no
documento. O documento apenas propõe a extinção do costume de se ensinar a literatura pela
perspectiva histórica, ele deve estar integrado à área de leitura, ou seja, a leitura dos textos
literários deve ser feita, mas é considerada um tipo de leitura equivalente às de outros tipos e
gêneros. No terceiro tópico, porém, embora não seja dito explicitamente que este é o papel da
literatura no Ensino Médio, o documento afirma que é papel da Língua Portuguesa
Analisar os recursos expressivos da linguagem verbal, relacionando
textos/contextos, mediante a natureza, função, organização, estrutura, de
acordo com as condições de produção/recepção (intenção, época,
interlocutores participantes da criação e propagação de ideias e escolhas)
(BRASIL, 2000b, p.20).
Embora tal processo de leitura possa ser aplicado em quase todos os gêneros textuais,
também se aproxima da leitura literária, portanto, pode-se concluir que os PCNs ainda abordam
a literatura, apenas não a separam como matéria escolar independente.
Os PCN+ Ensino Médio (2002), por sua vez, procuram apresentar de forma
sistematizada como deve ser o ensino da Língua Portuguesa no Ensino Médio, e, assim como
seu predecessor, não faz divisão entre a matéria Português e Literatura. Já na apresentação do
documento, há a afirmação que
Entre seus objetivos centrais está o de facilitar a organização do trabalho
escolar na área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Para isso,
explicita a articulação das competências gerais que se deseja promover com
os conhecimentos disciplinares e seus conceitos estruturantes e apresenta,
ainda, um conjunto de sugestões de práticas educativas e de organização dos
currículos, coerentes com essa articulação (BRASIL, 2002, p. 7).
Já quando fala especificamente do ensino de Língua Portuguesa, afirma em sua
introdução que “cabe ao ensino médio oferecer aos estudantes oportunidades de uma
compreensão mais aguçada dos mecanismos que regulam nossa língua, tendo como ponto de
apoio alguns dos produtos mais caros às culturas letradas: textos escritos, especialmente os
literários” (BRASIL, 2002, p. 55). Assim como os PCNs do ano 2000, embora não estabeleça
uma divisão entre matérias, os PCN+ consideram o texto literário o ponto de partida para o
ensino neste nível de escolarização. Adiante no documento, através de breve exemplo de como
deve ser trabalhado o texto literário na escola, o documento afirma que
A leitura do texto literário – e a consequente percepção dos recursos
expressivos de que se vale o autor para constituir seu estilo – mobiliza uma
série de relações: entre texto e contexto sociocultural de produção e recepção;
entre escolhas do autor, temáticas abordadas, estruturas composicionais e
estilo, apenas para citar algumas. [...] A leitura da obra literária poderá assim
fazer muito mais sentido para os estudantes, pois passa a ser entendida não
como mero exercício de erudição e estilo, mas como caminho para se
alcançar, por meio da fruição, a representação simbólica das experiências
humanas (BRASIL, 2002, p. 58).
A partir deste trecho, é possível perceber que há preocupação do documento (muito
maior do que nos PCN), com o ensino da literatura. Tal concepção está bastante próxima
daquelas apresentadas no início deste artigo, apresentadas por Zilberman e Paulino. Embora
sem uma sessão exclusiva, em quase todos os tópicos dos Conceitos e competências gerais a
serem desenvolvidos são feitos comentários sobre como a literatura deveria ser trabalhada em
sala de aula.
Em outro documento, de 2006, o Orientações Curriculares para o Ensino Médio, o
próprio documento se apresenta como necessário, pois
A demanda era pela retomada da discussão dos Parâmetros Curriculares
Nacionais do Ensino Médio, não só no sentido de aprofundar a compreensão
sobre pontos que mereciam esclarecimentos, como também, de apontar e
desenvolver indicativos que pudessem oferecer alternativas didático-
pedagógicas para a organização do trabalho pedagógico, a fim de atender às
necessidades e às expectativas das escolas e dos professores na estruturação
do currículo para o ensino médio (BRASIL, 2006, p. 8).
Sendo assim, o que se espera deste documento, são alternativas distintas daquelas já
apresentadas pelos PCN e PCN+, como ele próprio propõe. Dentre os três, este é o primeiro
documento que traz o ensino da literatura separado do da Língua Portuguesa. A justificativa
para essa separação é que, por “incorporarem no estudo da linguagem os conteúdos de
Literatura, passaram ao largo dos debates que o ensino de tal disciplina vem suscitando, além
de negar a ela a autonomia e a especificidade que lhe são devidas” (BRASIL, 2006, p. 49). No
decorrer do capítulo, porém, existem alguns trechos discutíveis.
A proposta deste documento é que o ensino de literatura no ensino médio se justifica
porque não se pode estudar apenas aquilo que é útil ou aplicável no dia a dia, conceito coerente
com a concepção de literatura de Hansen, quem a concebe como texto inerentemente ficcional
e, portanto, sem aplicação prática no dia a dia. A literatura é, portanto, uma manifestação
artística que deve ser mantida, mesmo que não se saiba dizer bem o porquê. Para provar tal
ponto, o documento resgata a história da disciplina afirmando que na época dos estudos
humanistas questionar a presença da matéria seria impensável.
Para os estudos da literatura no ensino médio, o documento apresenta a seguinte
definição do que entende por literatura “arte que se constrói por palavras” (BRASIL, 2006,
p.52). O documento também afirma que os PCNs e os PCN+ não rompem com os estudos
tradicionalistas de literatura, entretanto, já observamos que esta afirmação não é
completamente verdadeira.
As Orientações Curriculares também apresentam um conceito de letramento literário,
que seria “o estado ou condição de quem não apenas é capaz de ler poesia ou drama, as dele se
apropria efetivamente por meio da experiência estética, fruindo-o” (2006, p. 55). A priori, a
leitura proposta por este documento é altamente especializada, não sendo feita, muitas vezes,
nem nos cursos de graduação em Letras. Além disso, a ideia é que a experiência literária ocorre
com o contato efetivo com o texto literário, mas já observamos, pela fala de Maria das Graças
Paulino, que o contato com o texto literário por si só não determina a experiência literária.
Para que haja a experiência literária, é necessário que o aluno consiga identificar nos
textos aquilo que lhe confere características literárias. Para que isso ocorra, alguns preceitos
presentes dos dois documentos anteriores são necessários, tais como a contextualização da
produção e a aproximação entre interlocutores, bem como o contato direto com a obra e não
com excertos presentes em livros literários. Logo, percebe-se que, embora existam três
documentos norteadores para o ensino da Língua Portuguesa e literatura e que se suponha que
cada um apresente uma perspectiva nova em relação ao anterior, os três são muito parecidos
em relação ao papel do professor e da literatura na escola.
Sobre a existência de diretrizes estatuais de ensino
No estado do Paraná, nos cursos de Letras, além de serem estudados os documentos
nacionais para o ensino de língua portuguesa, também é estudado outro documento: As
Diretrizes Curriculares da Educação Básica, elaborado pela Secretaria de Estado de Educação.
A existência deste documento provoca a ideia de que haverá alguma diferença ou
especificidades em relação ao ensino neste estado que não são apresentadas nos documentos
nacionais, algo aceitável dada a dimensão do país. Mesmo assim, o que se observa é que
embora apresente outras teorias, tais como o Método Recepcional de Bordini e Aguiar, sua
proposta para o ensino de literatura é bastante vago e parecido com os dos documentos
nacionais.
A observação destas semelhanças fez com que surgisse o questionamento da existência
de documentos equivalentes ao do Paraná no restante do país. Para o início desta pesquisa,
verificou-se que todos os estados do sul e sudeste do país têm sua própria versão de documento
orientador de ensino. A respeito do ensino de literatura ou concepção de literatura, temos o
seguinte quadro:
Tabela: Documentos estaduais contemporâneos norteadores para o ensino de literatura (Sul e Sudeste) e seus
objetivos
Diretrizes
Curriculares
do Estado do
Paraná
2008
“O professor não ficará preso à linha do tempo da historiografia, mas fará a análise
contextualizada da obra, no momento de sua produção e no momento de sua
recepção (historicidade). Utilizará, no caso do Ensino Médio, correntes da crítica
literária mais apropriadas para o trato com a literatura, tais como: os estudos
filosóficos e sociológicos, a análise do discurso, os estudos culturais, entre tantos
outros que podem enriquecer o entendimento da obra literária” (PARANÁ, p. 76-
77).
Referencial
Curricular –
Rio Grande
do Sul
2009
“O professor não pode ensinar apenas os períodos e suas características, ou fatos da
história literária. Antes de dar relevo aos processos que caracterizam uma pretensa
“evolução literária”, interessa destacar a função constitutiva que cabe à literatura,
entre as demais artes e forças sociais de uma época, para a emancipação do humano.
Predomina então o leitor, ou a sua experiência estética, que decorre do contato direto
com o texto, sobre aspectos relacionados aos autores, às obras, aos gêneros ou aos
estilos, tradicionalmente contemplados nas histórias da literatura” (RIO GRANDE
DO SUL, p. 87).
Currículo
Básico
escola
estadual –
Espírito
Santo
2009
“1. Criar espaço para vivências e cultivos de emoções e sentimentos humanos, bem
como para experienciar situações em que se reconheça o trabalho estético da obra
literária, identificando as múltiplas formas de expressão e manifestações da(s)
linguagem(ns) para levar a efeito o discurso.
2. Favorecer a produção de lócus em que se compreendam as transformações
histórico-socio-culturais pelas quais o homem passa, por meio da linguagem
literária, de modo a pensar a complexidade do mundo real.
3. Promover o letramento múltiplo como ferramenta para o exercício da cidadania.
4. Possibilitar o conhecimento das escolas literárias, obras e autores, inclusive da
literatura capixaba” (ESPÍRITO SANTO, p. 68).
“Relacionar textos literários a partir de concepções estéticas, estilo do autor e
contexto histórico-social, político e cultural; estabelecer relações entre eles e seus
distintos contextos, inferindo as escolhas de temas, gêneros, discursivos e recursos
expressivos dos autores” (ESPÍRITO SANTO, p. 75).
Currículo
Mínimo –
Rio de
Janeiro
2012
O ensino de literatura segue o sistema de divisão por escolas literárias. Ex. de
proposta sobre a Poesia no Arcadismo para o 1º Ano do Ensino Médio para o 3º
Bimestre:
“Relacionar os modos de organização da linguagem às escolhas do autor, à tradição
literária e ao contexto sociocultural da época.
- Reconhecer na preferência pelo soneto o resgate de formas e temas da Antiguidade
Clássica.
- Identificar aspectos estruturais da poesia quanto à estrofação, metrificação e
disposição das rimas” (p. 16).
Currículo do
estão de São
Paulo
2012
“O estudo da Literatura não pode ser reduzido à mera exposição de listas de escolas
literárias, autores e suas características” (SÃO PAULO, p. 28)
[...] nossa proposta para a disciplina Língua Portuguesa não separa o estudo da
linguagem e da literatura do estudo do homem em sociedade. (SÃO PAULO, p. 31)
Proposta
Curricular
de Santa
Catarina
2014
“as vivências com a Literatura no Ensino Médio, as quais precisam transcender a
vinculação biunívoca com o vestibular: ler e analisar apenas obras que as
universidades de prestígio indicam como ‘conteúdo de prova’. Seguramente um
percurso formativo que contemple a formação integral precisa criar condições para
que os sujeitos, em suas diferentes faixas etárias, vivenciem interações a partir dos
gêneros da esfera literária de modo que compreendam como a cultura humana da
qual são parte – em grupos mais específicos ou não – faculta-lhes interagir nessa
esfera e nela se enriquecem mutuamente. Formar o leitor de textos em gêneros do
discurso do campo da Literatura e, em alguns casos, contribuir para formar também
o escritor são processos que requerem essas vivências na escolaridade básica, esse
‘provar de interações que se estabelecem entre os sujeitos’ na esfera literária”
(SANTA CATARINA, p. 122).
Proposta
Curricular
de Minas
Gerais
s/d
“Com relação aos gêneros do domínio literário, vale lembrar que cabe à escola
mediar a leitura e a apreciação dos textos literários, a partir de categorias que
reconheçam a especificidade da recepção literária. [...] A compreensão da
especificidade do texto literário justifica porque ele não deve ser usado para outras
finalidades, além daquela de contribuir para formar leitores capazes de reconhecer
e apreciar os usos estéticos e criativos da linguagem.” (MINAS GERAIS, p. 82-83)
Tabela criada pela autora.
Na tabela acima, foram transcritos apenas alguns trechos para ilustrar como a matéria
literatura é concebida por cada um dos documentos. Todos eles apresentam uma estrutura
similar à dos PCNs e dos PCN+ Ensino Médio e apresentam referenciais teóricos norteadores
para suas propostas curriculares. Todos citam os PCNs e o usam como referência para sua
própria proposta, à exceção do Estado do Rio de Janeiro, que afirma que segue os preceitos dos
PCNs e apenas cria uma tabela com a sequência em que os conteúdos devem ser estudados.
Sendo assim, os estados pesquisados possuem propostas específicas para o ensino de
Literatura, em maior ou menor grau relacionadas aos documentos nacionais. Entre eles, apenas
o documento do estado do Espírito Santo demonstra preocupação com as literaturas marginais
e regionais. Embora haja a menção aos estudos culturais nos documentos dos outros estados,
nenhum enfatiza o que deveria ser estudado em um núcleo tão abrangente de pesquisas. Já os
documentos de São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Minas Gerais enfatizam a
importância dos estudos filosóficos, sociológicos e históricos para a compreensão dos textos
literários e a importância da literatura na formação humanitária do educando.
É evidente, após toda a pesquisa bibliográfica citada, que o estudo da Língua Portuguesa
e da literatura no Brasil acompanhou o próprio processo de evolução e mudanças do sistema
educacional nacional – assim como suas permanências. As críticas relacionadas ao trabalho
com periodização histórica, leitura de excertos e análises prontas são válidas e importantes,
mas os documentos norteadores para a educação básica já vêm tentando superá-las, propondo
leituras relacionadas a uma concepção mais humanista e social das obras literárias. Falta,
claramente, a unificação das concepções de ensino de literatura, letramento e leitura literário,
mas se compararmos as propostas atuais com as do século XIX, vemos que já houve avanços,
pelo menos na teoria. No entanto, essas mudanças nem sempre podem ser postas em prática,
visto que o objetivo do Ensino Médio brasileiro permanece sendo o de acesso à educação
superior – unicamente propedêutico, assim como no século passado.
Referências bibliográficas
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tecnologias. Brasília: MEC/ SEB, 2008.
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