ensaios e análise de resposta de estacas em solo residual do
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FEUP FACULDADE DE ENGENHARIA UNIVERSIDADE DO PORTO
MMSEG Mestrado em Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica - 2006
Ensaios e Análise de Resposta de Estacas em
Solo Residual do Granito sob Acções Horizontais
Catarina Tuna de Sousa
MMSEG - 2006
Dissertação apresentada à Faculdade de Engenharia
Da Universidade do Porto para a obtenção do Grau de Mestre
Em Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica
Ao Rodrigo,
pelos pequenos e grandes
momentos que fazem a nossa vida
ÍNDICE GERAL
ÍNDICE GERAL......................................................................................................... V
RESUMO ............................................................................................................. VII
ABSTRACT............................................................................................................ IX
AGRADECIMENTOS .................................................................................................. XI
ÍNDICE DE TEXTO ..................................................................................................XIII
ÍNDICE DE FIGURAS ................................................................................................XIX
ÍNDICE DE QUADROS............................................................................................. XXIX
SIMBOLOGIA .....................................................................................................XXXIII
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS…………………… .......................................................... 1
2 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE......... 3
3 TRAÇADO DE CURVAS P-Y……………………………………………………….………….49
4 CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP………..................................................................97
5 SIMULAÇÃO NUMÉRICA DOS ENSAIOS REALIZADOS NO CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP......... 167
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS………………. ............................................................... 211
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................. 215
RESUMO
São muitos os factores que influenciam o comportamento das fundações profundas, nomeadamente
a natureza do maciço, o grau de perturbação causado pela sua execução, o efeito de escala, o tipo
e a magnitude das solicitações, etc. Alguns destes factores são de difícil ou mesmo impossível
caracterização, pelo que, ainda hoje, é grande a indefinição sentida sobre os critérios de
dimensionamento de estacas, particularmente em solos residuais. Assim, é imperiosa a realização
de ensaios de carga em estacas, executadas nas mesmas condições da prática corrente, munidas de
instrumentação que permita a observação e a modelação do seu comportamento.
Nesse sentido, desenvolveu-se um campo experimental num maciço de solo residual de granito, em
terrenos da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP). Foram executadas várias
estacas, recorrendo a técnicas de construção diferentes, sobre as quais se conduziram ensaios de
carregamentos verticais e horizontais. Esta iniciativa, inserida num exercício internacional de
previsão de comportamento de estacas, incluiu ainda uma vasta campanha de caracterização
geotécnica, englobando ensaios in situ e ensaios em laboratório sobre amostras indeformadas.
O âmbito deste trabalho de dissertação é o de descrever metodologias de condução dos ensaios,
interpretação de resultados e modelação do comportamento das estacas sujeitas a carregamentos
transversais.
Assim, na parte inicial deste trabalho, faz-se uma revisão bibliográfica dos métodos utilizados para
a análise de estacas isoladas, solicitadas horizontalmente ao nível da sua cabeça, e detalham-se as
propostas mais divulgadas relativas ao método das curvas p-y. A previsão do andamento deste tipo
de curvas vem sendo desenvolvida com base em estudos de várias naturezas, como sejam os ensaios
de carga de estacas em verdadeira grandeza, as correlações empíricas com base em ensaios
laboratoriais e com base em ensaios in situ de caracterização de maciços.
Posteriormente, apresenta-se o trabalho experimental realizado. Descrevem-se os trabalhos de
execução e as características materiais das estacas ensaiadas, deduzem-se as propriedades do solo
com base nos ensaios de caracterização geotécnica, expõem-se a preparação e a condução dos
ensaios de carga horizontais e apresentam-se os seus resultados.
Por fim, como corolário desta contribuição para o conhecimento do comportamento de estacas em
solos residuais carregadas horizontalmente, faz-se uma simulação numérica dos ensaios, utilizando o
método das curvas p-y e analisa-se a adequabilidade das várias propostas apresentadas.
ABSTRACT
The behaviour of deep foundations is influenced by many factors, namely the nature of the soil, the
degree of soil disturbance induced by the construction of the piles, the scale effect, the type and
magnitude of loading, etc. Some of these factors are difficult or even impossible to characterize
and there is still today considerable uncertainty regarding pile design criteria, particularly in
residual soils. Thus, it is important to conduct load tests on instrumented piles, constructed using
current practice techniques, to enable the observation, and modelling of its behaviour.
For that purpose, an experimental test site in residual soil from granite was implemented, within
the Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto campus. Several piles were executed by
means of different construction techniques, which were later tested under vertical and horizontal
loads. This initiative, part of an international prediction event on pile behaviour, included a very
extensive geotechnical site characterization, involving in situ and laboratory tests on undisturbed
samples.
The scope of this work comprises the description of methodologies for performing load tests, data
interpretation, and numerical modelling and analysis of the behaviour of laterally loaded piles.
At the first stage of this dissertation, a revision is made on the methods used for the analysis of
isolated laterally loaded piles, with emphasis to the most common proposals related to the p-y
method, which are analysed in greater detail. This type of p-y curves have been developed based on
a variety of studies, such as lateral load tests on full-size piles, empirical correlations based on
laboratory tests and based on field tests.
Subsequently, the experimental work is detailed. The construction works and material
characteristics of the piles are described, the soil properties are deduced from the geotechnical
characterization, the preparation and performance of the horizontal load tests is described, and the
results are presented.
Finally, as a corollary for this contribution to the knowledge of the behaviour of laterally loaded
piles in residual soils, a numerical simulation of the pile tests is made, using the p-y method and
conclusions are drawn on the adequacy of the various proposals under analysis.
AGRADECIMENTOS
Este trabalho integra-se na actividade de investigação do CEC da FEUP e do ICIST do IST, centros da
Fundação para a Ciência e Tecnologia do MCES, financiado por empresas da especialidade e
enquadrado na “2nd International Conference on Site Characterization”, recentemente organizada
no Porto (www.fe.up.pt/isc-2) pela FEUP e pela SPG, Sociedade Portuguesa de Geotecnia.
Gostaria de expressar os meus agradecimentos a todas as pessoas que directa ou indirectamente
colaboraram e me ajudaram neste projecto, em especial:
ao Professor António Viana da Fonseca, por ter tornado este projecto possível, pelo seu
dinamismo e pela sua orientação e apoio incansáveis;
ao Professor Jaime Santos, pela sua orientação, pela sua sabedoria e pela ajuda demonstrada
em todos os momentos;
ao Professor Couto Marques, por todo o carinho e dedicação que tem com os seus alunos;
ao Professor Paulo Pinto, pela sua disponibilidade constante e pelo auxílio com o programa de
cálculo utilizado nas simulações numéricas realizadas;
ao ETECLda, nas pessoas do Professor Mota Freitas e Eng.º Batista Barros, por me permitirem
realizar este trabalho; um agradecimento muito especial ao Professor Mota Freitas, pela forma
carinhosa com que me acolheu em todos os anos que trabalhei com ele e por tudo o que me
ensinou;
ao Laboratório de Geotecnia da FEUP, em especial ao Sr. Pinto e ao Luís Miguel por toda a sua
dedicação durante a fase experimental deste trabalho;
às empresas Mota-Engil, SA, Teixeira Duarte - Engenharia e Construções, SA, Sopecate –
Sociedade de Pesquisas, Captações de Água e Transportes, SA e Tecnasol FGE – Fundações e
Geotecnia, SA, pelo patrocínio do Campo Experimental;
ao CICCOPN, em particular ao Eng.º Nuno Cruz, pela colaboração e pelas facilidades concedidas
na realização dos ensaios de campo;
AGRADECIMENTOS
à A. M. Mesquita & Filhos, na pessoa da Eng.ª Manuela Mesquita, pela cedência do contentor
para salvaguardo de pessoas e bens nos longos períodos de ensaios;
à Reitoria da Universidade do Porto, em especial ao Professor António Silva Cardoso, Vice-
Reitor, pelo apoio que permitiu mobilizar meios para concluir os trabalhos de inspecção do
maciço, pós-ensaios;
ao Instituto de Engenharia Mecânica e Gestão Industrial (INEGI), na pessoa do seu director, o
Professor Barata da Rocha, pela cedência dos terrenos para a implantação do Campo
Experimental da FEUP;
à Fernando Lemos, Lda, pelo empréstimo do aparelho de apoio em neoprene cintado;
a todos os meus amigos, sem os quais a vida não tinha a menor graça, pelo apoio nos bons e nos
maus momentos, em especial ao João Lima pela ajuda na última fase deste trabalho e ao
Ricardo Poças por todo o seu companheirismo;
à Cristiana, pela amizade, pela constante disponibilidade, e pelos seus ensinamentos;
à Elisabete, minha colega do campo experimental, pelo trabalho que desenvolvemos em
conjunto;
à Céu e à Emília pela revisão do trabalho;
à Zélia, ao Jorge, à Joana, ao Ivo e ao pequeno Francisco, pela família que somos;
à Graciette, ao Fred e ao Álvaro, por me fazerem sentir em casa;
ao Rodrigo, por tudo.
xiii
ÍNDICE DE TEXTO
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1.1 ÂMBITO DO TRABALHO..................................................................................... 1
1.2 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO ........................................................................... 2
2 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS ................................................................................... 3
2.2 CAPACIDADE RESISTENTE DAS ESTACAS .................................................................... 4
2.2.1 Mecanismos de rotura.......................................................................... 5 2.2.2 Métodos de cálculo ............................................................................. 7 2.2.2.1 Solos incoerentes ............................................................................. 7 2.2.2.2 Solos coerentes ..............................................................................12
2.3 ANÁLISE DAS DEFORMAÇÕES ............................................................................. 17
2.3.1 Modelos de análise baseados em modelos discretos................................... 18 2.3.1.1 Modelo de Winkler – Comportamento do solo elástico e linear ......................18 2.3.1.1.1 Coeficiente de reacção kh (FL-3)......................................................................20 2.3.1.1.2 Métodos de resolução do problema..................................................................21 2.3.1.1.2.1 Soluções analíticas..................................................................................21 2.3.1.1.2.2 Método das diferenças finitas ....................................................................22 2.3.1.1.2.3 Método dos elementos finitos ....................................................................27 2.3.1.2 Desenvolvimentos do modelo de Winkler................................................28 2.3.1.2.1 Comportamento não linear do solo ..................................................................29 2.3.1.2.1.1 Curvas p -y ...........................................................................................29 2.3.1.2.1.2 Ábacos e expressões para determinação dos deslocamentos das estacas admitindo para
o solo comportamento elástico perfeitamente plástico ...........................................................31 2.3.1.2.1.3 Método da Carga Característica (CLM) ..........................................................32
ÍNDICE DE TEXTO
xiv
2.3.1.2.1.4 Método do Módulo de Reacção Máximo......................................................... 36 2.3.1.2.2 Outros desenvolvimentos ............................................................................. 38 2.3.2 Modelos de análise baseados em modelos contínuos...................................39 2.3.2.1 Generalidades................................................................................ 39 2.3.2.1.1 Método das equações integrais ...................................................................... 40 2.3.2.1.2 Método dos elementos finitos ........................................................................ 46
2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................48
3 TRAÇADO DE CURVAS P-Y
3.1 CONSIDERAÇÕES PRÉVIAS .................................................................................51
3.2 ENSAIOS DE CARGA EM VERDADEIRA GRANDEZA...........................................................52
3.3 CORRELAÇÕES EMPÍRICAS COM RESULTADOS DE ENSAIOS LABORATORIAIS SOBRE SOLOS ..................54
3.3.1 Determinação dos parâmetros φ e nh para solos incoerentes ........................55 3.3.2 Determinação dos parâmetros su e ε50 para solos coerentes .........................61 3.3.3 Propostas clássicas para a definição de curvas p-y .....................................62 3.3.3.1 Curvas p-y para areias ...................................................................... 62 3.3.3.2 Curvas p-y para argilas moles ............................................................. 65 3.3.3.3 Curvas p-y para argilas rijas acima do nível freático .................................. 68 3.3.3.4 Curvas p-y para argilas rijas na presença de água livre............................... 70 3.3.3.5 Curvas p-y para solos com coesão e ângulo de atrito ................................. 74 3.3.4 Novas Propostas para a definição de curvas p-y ........................................77 3.3.4.1 Método dos três troços (Santos, 1999) ................................................... 77 3.3.4.2 Modelo Hiperbólico.......................................................................... 79
3.4 CORRELAÇÕES EMPÍRICAS COM RESULTADOS DE ENSAIOS IN SITU .........................................80
3.4.1 Ensaios de penetração SPT e CPT ..........................................................81 3.4.2 Ensaios pressiométricos ......................................................................81 3.4.2.1 Método de Ménard et al. (1969) .......................................................... 82 3.4.2.2 Método de Robertson et al. (1985) ....................................................... 84 3.4.3 Ensaio com o dilatómetro plano ............................................................85 3.4.3.1 Método de Robertson et al. (1989) ....................................................... 87 3.4.3.2 Estimativa dos parâmetros do solo por correlação com o ensaio DMT.............. 88
ÍNDICE DE TEXTO
xv
3.5 PREVISÃO DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE EM CASOS REAIS ......... 90
3.5.1 Experiência nacional ......................................................................... 90 3.5.2 Experiência internacional................................................................... 93
4 CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
4.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS ................................................................................. 97
4.2 ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO DO CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP..................................... 98
4.3 REALIZAÇÃO DAS ESTACAS E SUAS CARACTERÍSTICAS....................................................100
4.3.1 Estacas moldadas.............................................................................102 4.3.2 Estacas realizadas com trado contínuo (CFA) ..........................................103 4.3.3 Estacas cravadas .............................................................................105 4.3.4 Propriedade dos Materiais .................................................................106
4.4 CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA.........................................................................110
4.4.1 Considerações gerais ........................................................................110 4.4.2 Apresentação e análise dos resultados dos ensaios laboratoriais..................112 4.4.3 Apresentação e análise dos resultados dos ensaios in situ..........................116 4.4.3.1 Ensaios SPT ................................................................................. 116 4.4.3.2 Ensaios de penetração estática (CPTU) ................................................ 119 4.4.3.2.1 Ensaios conduzidos antes da cravação das estacas “C” ........................................ 119 4.4.3.2.2 Ensaios conduzidos depois da cravação das estacas “C” ....................................... 124 4.4.3.3 Ensaios com o Pressiómetro de Ménard (PMT) ........................................ 127 4.4.3.4 Ensaios com o dilatómetro de Marchetti (DMT)....................................... 129 4.4.3.4.1 Ensaios conduzidos antes da cravação das estacas “C” ........................................ 129 4.4.3.4.2 Ensaios conduzidos após a cravação das estacas “C”........................................... 132 4.4.3.5 Ensaios sísmicos entre furos ou ensaio Cross-Hole (CH) ............................. 133
4.5 REALIZAÇÃO DOS ENSAIOS DE CARGA HORIZONTAIS .....................................................135
4.5.1 Previsão da capacidade resistente das estacas ensaiadas...........................135 4.5.2 Estrutura de aplicação da carga ..........................................................137 4.5.3 Grandezas medidas e equipamentos de medição utilizados ........................140 4.5.3.1 Medição dos deslocamentos e rotações da cabeça das estacas .................... 140 4.5.3.2 Medição das rotações em profundidade ............................................... 142
ÍNDICE DE TEXTO
xvi
4.5.3.3 Medição das extensões ................................................................... 143 4.5.3.4 Medição da carga aplicada............................................................... 144 4.5.4 Programa de aplicação de cargas e de registo da instrumentação ................ 144 4.5.4.1 Programa de aplicação de cargas....................................................... 144 4.5.4.2 Programa de registo das medições da instrumentação.............................. 145 4.5.5 Condução dos ensaios e apresentação dos resultados ............................... 145 4.5.5.1 Ensaio entre a estaca E0 e a estaca E1 ................................................ 145 4.5.5.1.1 Resultados da estaca E0..............................................................................147 4.5.5.1.2 Resultados da estaca E1..............................................................................152 4.5.5.2 Ensaio entre a estaca C2 e a estaca E7 ................................................ 154 4.5.5.3 Ensaio entre a estaca T2 e a estaca E8 ................................................ 157 4.5.5.4 Comparação dos vários ensaios ......................................................... 160 4.5.6 Campanha geotécnica complementar ................................................... 161 4.5.7 Extracção das estacas....................................................................... 162
5 SIMULAÇÃO NUMÉRICA DOS ENSAIOS REALIZADOS NO CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
5.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O PROGRAMA FLORIDA-PIER ........................................... 167
5.2 MODELO DE CÁLCULO .................................................................................. 168
5.3 MODELAÇÃO DO COMPORTAMENTO DOS MATERIAIS DAS ESTACAS....................................... 171
5.3.1 Lei constitutiva do betão à compressão ................................................ 171 5.3.2 Lei constitutiva do betão à tracção...................................................... 173 5.3.3 Comportamento do aço..................................................................... 175 5.3.4 Grandezas adoptadas no cálculo ......................................................... 175
5.4 MODELAÇÃO DO COMPORTAMENTO DO SOLO E APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA SIMULAÇÃO ...... 177
5.4.1 Avaliação dos parâmetros do solo ........................................................ 177 5.4.2 Métodos baseados em ensaios laboratoriais e correlações empíricas ............ 180 5.4.2.1 Aplicação do método de Reese et al. (1974).......................................... 180 5.4.2.2 Aplicação do método dos três troços (Santos, 1999) ................................ 182 5.4.2.2.1 Modelação da estaca E0..............................................................................184 5.4.2.2.2 Modelação da estaca E1..............................................................................189 5.4.2.2.3 Modelação da estaca T2..............................................................................191 5.4.2.2.4 Modelação da estaca C2..............................................................................193 5.4.3 Métodos baseados em ensaios in situ.................................................... 194
ÍNDICE DE TEXTO
xvii
5.4.3.1 Aplicação do método de Ménard et al. (1969) ........................................ 194 5.4.3.2 Aplicação do método de Robertson et al. (1989)..................................... 196
5.5 ANÁLISE GLOBAL DOS RESULTADOS .....................................................................199
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
6.1 CONCLUSÕES DO TRABALHO REALIZADO ................................................................211
6.2 DESENVOLVIMENTOS FUTUROS..........................................................................213
xix
ÍNDICE DE FIGURAS
2 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
Figura 2.1 - Estaca submetida a acções horizontais: a) deformação e b) distribuição das tensões antes e depois
do carregamento .................................................................................................. 5
Figura 2.2 – Estacas curtas: a) mecanismo de rotura; b) reacção do solo ............................................... 6
Figura 2.3– Estacas longas: a) mecanismo de rotura; b) reacção do solo ................................................ 6
Figura 2.4 – Várias propostas da distribuição da reacção do solo para estacas solicitadas horizontalmente, em
solos incoerentes (depois de Prasad e Chari, 1999 segundo Zangh et al., 2005) ....................... 8
Figura 2.5 - Método de Broms para estacas longas em solos incoerentes: a) deformada da estaca; b) modelo da
distribuição da resistência do solo; c) momentos flectores da estaca (adaptado de Poulos e Davis,
1980) ................................................................................................................ 9
Figura 2.6 – Modelo do comportamento do solo incoerente para pequenas profundidades (depois de Reese et
al., 1974) ..........................................................................................................10
Figura 2.7 - Modelo do comportamento do solo para maiores profundidades (depois de Reese et al., 1974) ....10
Figura 2.8 – Distribuição da resistência frontal e por atrito lateral desenvolvidas numa estaca solicitada
horizontalmente (adaptado de Zhang et al., 2005).........................................................11
Figura 2.9 - Método de Broms para estacas curtas em solos coerentes: a) deformada da estaca; b) modelo da
distribuição da resistência do solo; c) momentos flectores da estaca (adaptado de Poulos e Davis,
1980) ...............................................................................................................13
Figura 2.10 - Método de Broms para estacas longas em solos coerentes: a) deformada da estaca; b) modelo da
distribuição da resistência do solo; c) momentos flectores da estaca (adaptado de Poulos e Davis,
1980) ...............................................................................................................14
Figura 2.11 - a) Variação da resistência última do solo com a aderência e b) Região deformada para o caso de
adesão nula ou adesão igual à resistência não drenada (adaptado de Randolph e Houlsby, 1984) .16
Figura 2.12 - Modelo do comportamento do solo coerente para pequenas profundidades (depois de Reese, 1958)
......................................................................................................................16
Figura 2.13 – Critério de rotura para solos coerentes em condições não drenadas....................................17
Figura 2.14 – Coeficientes adimensionais em função de Z para estacas flexíveis (Zmáx>5) instaladas em solos cujo
módulo de reacção varia linearmente em profundidade ..................................................27
Figura 2.15 – Curvas p-y: a) conjunto das curvas p-y características da interacção solo-estaca; b) relação típica
entre a reacção do solo e o deslocamento da estaca a uma dada profundidade (curva p-y); e, c)
variação do módulo de reacção secante do solo e o deslocamento da estaca .........................30
ÍNDICE DE FIGURAS
xx
Figura 2.16 – Ábacos adimensionais desenvolvidos para areias, para determinação, em função de uma força
aplicada na cabeça, dos: a) deslocamentos à superfície; b) momentos flectores máximos
(adaptado de Alem e Benamar, 2003)........................................................................ 32
Figura 2.17 – Deslocamento da cabeça da estaca solicitada por uma força horizontal: a) em solo argiloso e b)
em solo arenoso; deslocamento da cabeça da estaca solicitada por um momento concentrado: c)
em solo argiloso e d) em solo arenoso; determinação do momento flector máximo: e) em solo
argiloso e f) em solo arenoso .................................................................................. 35
Figura 2.18 – a) Modelo de Pasternak aplicado a estacas solicitadas horizontalmente (adaptado de Horvath,
1984) e b) Modelo discreto de Liu e Meyerhof (1987)...................................................... 38
Figura 2.19 – Representação do modelo continuo pelo método das equações integrais: a) representação do
problema; b) modelação da estaca; c) modelação do solo (adaptado de Poulos e Davis, 1980).... 41
3 TRAÇADO DE CURVAS P-Y
Figura 3.1 – Curva p-y........................................................................................................... 51
Figura 3.2 – Correlação entre NSPT e os parâmetros do solo: a) ângulo de atrito e b) compacidade (GCO, 1982) 57
Figura 3.3 – Comparação das várias correlações propostas entre NSPT e nh: a) areias submersas; e, b) areias
emersas ........................................................................................................... 58
Figura 3.4 – Comparação dos valores propostos para K para uma areia de compacidade média (N=20): a) areia
submersa; e, b) areia emersa.................................................................................. 58
Figura 3.5 - Relação entre (N1)60 e φ’ (Décourt, 1989) ..................................................................... 60
Figura 3.6 – Correlação entre qc e φ’ para areias de quartzo não cimentadas (Robertson e Campanella, 1983). 61
Figura 3.7 – Curvas p-y para areias (Reese et al., 1974) .................................................................. 63
Figura 3.8 - Coeficientes empíricos A e B em função da profundidade e do tipo de carregamento (estático ou
cíclico)............................................................................................................. 64
Figura 3.9 – Definição das curvas p-y para argilas moles em carregamento estático propostas por Matlock (1970)
..................................................................................................................... 66
Figura 3.10 – Definição das curvas p-y para argilas moles em carregamento cíclico propostas por Matlock (1970)
..................................................................................................................... 67
Figura 3.11 – Curva p-y para carregamentos estáticos para argilas rijas acima do nível freático (Reese e Welch,
1975)............................................................................................................... 69
Figura 3.12 - Curva p-y para carregamentos cíclicos para argilas rijas acima do nível freático (Reese e Welch,
1975)............................................................................................................... 70
ÍNDICE DE FIGURAS
xxi
Figura 3.13 – Curva p-y para carregamentos estáticos de estacas inseridas em argilas rijas na presença de água
livre (Reese et al., 1975) .......................................................................................71
Figura 3.14 – Factores adimensionais As e Ac ................................................................................72
Figura 3.15 - Curva p-y para carregamentos cíclicos de estacas inseridas em argilas rijas na presença de água
livre (Reese et al., 1975) .......................................................................................74
Figura 3.16 – Curva p-y para solo coesivo-friccionais c’-φ’ (Reese e Van Impe, 2001)................................75
Figura 3.17 – Valores de nhc’ e nhφ’ (Reese e Van Impe, 2001) ............................................................76
Figura 3.18 - Curva p-y do método dos três troços (Santos, 1999).......................................................78
Figura 3.19 – a) Pressiómetro e trado para perfuração prévia e b) calibração do pressiómetro ....................81
Figura 3.20 – Curva p-y a partir do ensaio PMT..............................................................................83
Figura 3.21 – Curvas p-y para estacas solicitadas horizontalmente com carregamentos predominantemente: a)
carga concentrada permanente; b) carga concentrada de curta duração e c) carga concentrada
acidental de muito curta duração (Frank, 1999)............................................................84
Figura 3.22 – Obtenção das curvas p-y a partir das curvas dos ensaios pressiométricos (Robertson et al., 1985)85
Figura 3.23 – Dilatómetro: a) aparelho completo; b) dilatómetro .......................................................86
Figura 3.24 – a) Determinação de K0 a partir de KD e de qc/σv0’ (Marchetti, 1985) e b) ábaco para determinação
de φps’ a partir de KD e qc/σvo’ (Marchetti, 1985 adaptado por Campanella e Robertson, 1991)....89
4 CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
Figura 4.1 - Extracto do mapa geológico do Porto com a localização do Campo Experimental da FEUP (adaptado
de Viana da Fonseca et al., 2004) .............................................................................99
Figura 4.2 - Planta do campo experimental: E – estaca moldada; T– estaca realizada com trado contínuo; C –
estaca cravada.................................................................................................. 100
Figura 4.3 – Materiais e armadura constituintes das estacas............................................................ 101
Figura 4.4 – Equipamento utilizado na execução das estacas “E”: a) máquina de apoio; b) e c) armaduras
previamente montadas e após a sua colocação no furo; d) extremidade do trado; e, e)
extremidade da limpadeira................................................................................... 102
Figura 4.5 - Execução das estacas moldadas: a) troços do tubo moldador; b) e c) abertura do furo com
protecção de um encamisamento metálico; d) ligação entre troços de tubo moldador; e) limpeza
do furo; f) colocação da armadura; g) e h) betonagem; e, i) remoção do tubo moldador
sequencialmente com a betonagem......................................................................... 103
ÍNDICE DE FIGURAS
xxii
Figura 4.6 - Execução das estacas realizadas com trado contínuo: a), b) e c) abertura do furo com bombagem
simultânea do betão; d) e e) colocação da armadura; e, f) estaca realizada ........................104
Figura 4.7 – Equipamento utilizado na execução das estacas "T": a) máquina de apoio; b) bomba de betão; c)
trado e armaduras; e, d) base do trado.....................................................................105
Figura 4.8 - Cravação da estaca C2: a) equipamento e estacas; b) identificação da localização; c) e d)
posicionamento da estaca e verificação da sua verticalidade; e) e f) cravação da estaca .........106
Figura 4.9 – Localização da caracterização in situ ........................................................................111
Figura 4.10 – a) Amostrador; e, b) a d) preparação da amostra após extracção .....................................113
Figura 4.11 - Curva granulométrica (adaptado de Viana da Fonseca et al., 2004)...................................114
Figura 4.12 – Ensaios triaxiais: trajectórias de tensões e curvas tensão – deformação correspondentes (Viana da
Fonseca et al., 2004)...........................................................................................115
Figura 4.13 – Ensaios de coluna ressonante: curva de degradação do módulo de distorção G versus distorção γ e
curva do coeficiente de amortecimento histerético ξ versus a distorção γ (Viana da Fonseca et al.,
2004)..............................................................................................................116
Figura 4.14 – Perfil Geotécnico: a) litologia; e, b) resultados dos ensaios SPT.......................................117
Figura 4.15 – Correlação entre (N1)60 e o Índice de compacidade ......................................................118
Figura 4.16 – Determinação de φ (º) a partir de: a) (N1)60 (Décourt, 1989) e b) NSPT e σ’v0 (GCO, 1982) .........118
Figura 4.17 - Equipamento utilizado para a realização dos ensaios CPTU: a) e b) máquina de apoio; e, c) e d)
ponteira do aparelho...........................................................................................119
Figura 4.18 – Gráficos de variação das resistências qc (MPa) e fs (MPa), da relação qc/fs (%) e da pressão neutra
u2 (MPa), referentes aos ensaios CPT1, CPT2, CPT3, CPT4 e CPT6 .....................................120
Figura 4.19 – Variação de qc e de fs com σ’v0 ..............................................................................121
Figura 4.20 – Ábaco de classificação do solo (Robertson, 1990): enquadramento dos resultados dos CPT
conduzidos antes da cravação das estacas .................................................................122
Figura 4.21 – Correlação entre qc, σ’v0 e φ’ para areias de quartzo não cimentadas (Robertson e Campanella,
1983)..............................................................................................................123
Figura 4.22 – a) Determinação da coesão e de Dr (ID) a partir da resistência lateral do CPT em areias cimentadas
artificialmente, com o enquadramento dos valores do campo experimental; b) Dr (ID) versus φ’ –
areia de Monterrey (Puppala et al., 1993 segundo Viana da Fonseca, 1996) .........................124
Figura 4.23 - Variação em profundidade das resistências qc (MPa) e fs (MPa), da relação qc/fs (%) e da pressão
neutra u2 (MPa), referentes aos ensaios CPT5, CPT7, CPT8 e CPT9 ....................................125
Figura 4.24 - Variação de qc e de fs com σ’v0 ..............................................................................126
Figura 4.25 - Ábaco de classificação do solo (Robertson, 1990), enquadrando os resultados dos ensaios CPT
conduzidos depois da cravação das estacas ................................................................126
ÍNDICE DE FIGURAS
xxiii
Figura 4.26 – Realização do ensaio pressiométrico: a) furacão prévia, b) colocação do pressiómetro; e, c)
aplicação da pressão........................................................................................... 127
Figura 4.27 – Resultados dos ensaios PMT1, PMT2 e PMT3: a) pressão limite pL, pressão de fluência pf e módulo
pressiométrico EM; e, b) curvas pressão–volume para as profundidades aproximadas de 3m, 6m e
9m, respectivamente .......................................................................................... 128
Figura 4.28 – a) Variação de pL* versus σ’v0 e b) Variação de EM versus σ’v0.......................................... 129
Figura 4.29 – Resultados dos ensaios DMT1 a DMT5: valores de ED, KD e ID em função da profundidade......... 130
Figura 4.30 – Relação entre KD e qc/σ’v0 ................................................................................... 130
Figura 4.31 – a) Valores de K0 em função de σ’v0 segundo a proposta de Baldi et al. (1986) adaptada por Viana
da Fonseca (1996); e, b) enquadramento dos pares de valores (K0;KD) no ábaco de Marchetti
adaptado por Campanella e Robertson (1991)............................................................. 131
Figura 4.32 - Resultados dos ensaios DMT6 a DMT9: valores de ED, KD e ID em função da profundidade......... 132
Figura 4.33 – Variação de Vs e Vp em profundidade ...................................................................... 134
Figura 4.34 – Relação entre σ’v0 e o módulo de distorção G ............................................................ 134
Figura 4.35 - Configuração típica para ensaiar duas estacas simultaneamente (adaptado de ASTM D3966) .... 137
Figura 4.36 – Estrutura de aplicação da carga nos ensaios realizados no Campo Experimental da FEUP ........ 137
Figura 4.37 – Alçado e corte dos elementos: a) placa de distribuição A; e, b) placa de distribuição B.......... 138
Figura 4.38 - a) e b) aparelho de apoio em neoprene cintado; c) rótula metálica esférica; d) célula de carga; e,
e) sistema composto pela bomba, macaco, célula de carga e rótula metálica esférica............ 139
Figura 4.39 – Alçados e cortes dos elementos: a) escora; e, b) elemento de ligação escora-macaco............ 139
Figura 4.40 Transdutores de deslocamento: a) horizontais e b) verticais ............................................ 141
Figura 4.41 – a) Estrutura de referência (planta e alçados); b) estrutura de referência e montagem da sua
estrutura de protecção; e, c) protecção da zona de ensaio............................................. 141
Figura 4.42 – Localização dos transdutores de deslocamento e cotagem das dimensões das estacas ............ 142
Figura 4.43 – a) e b) Inclinómetro do tipo spiral e sua utilização; c) e d) inclinómetro corrente ................ 143
Figura 4.44 – Extensómetros: a) descrição do sistema; b) localização dos tubos de PVC na estaca E0; c), d) e e)
extensómetros e sua colocação na estaca E0.............................................................. 144
Figura 4.45 – Exemplificação do plano de cargas definido para o ensaio entre as estacas E0 e E1 ............... 145
Figura 4.46 - Variação da força aplicada com o tempo .................................................................. 146
Figura 4.47 – Fim de curso do macaco no final do ensaio E0–E1–1ªparte.............................................. 146
Figura 4.48 – Curva força – deslocamento da cabeça da estaca E0 .................................................... 147
Figura 4.49 - Curva força – torção do maciço de encabeçamento da estaca E0 ..................................... 148
Figura 4.50 - Curva força – rotação do maciço de encabeçamento da estaca E0 .................................... 150
ÍNDICE DE FIGURAS
xxiv
Figura 4.51 – a) Evolução dos deslocamentos em profundidade em função do carregamento (leituras
inclinométricas); b) e c) descolamento entre o solo e a face posterior estaca na 1ª e 2ª parte do
ensaio, respectivamente; e, d) aparelho de apoio em carga (2ª parte do ensaio) ...................150
Figura 4.52 – Resultados dos extensómetros: a) extensões e b) curvatura ............................................151
Figura 4.53 - Curva força – deslocamento da cabeça da estaca E1 .....................................................152
Figura 4.54 - a) Evolução dos deslocamentos em profundidade em função do carregamento (leituras
inclinométricas); b) - Curva força – rotação do maciço de encabeçamento; e, c) rótula esférica em
carga..............................................................................................................153
Figura 4.55 – Ensaio E0-E1–2ªparte...........................................................................................154
Figura 4.56 - Variação da força aplicada com o tempo no ensaio C2-E7...............................................154
Figura 4.57 - Curva força – deslocamento da cabeça da estaca C2.....................................................155
Figura 4.58 - Curva força – deslocamento da cabeça da estaca E7 .....................................................155
Figura 4.59 - Curva força – rotação do maciço de encabeçamento: a) estaca C2; e, b) estaca E7................156
Figura 4.60 - Ensaio C2 – E7 ...................................................................................................156
Figura 4.61 – Deformação do solo adjacente à estaca C2: a) vista paralela ao carregamento; b) detalhe do
descolamento do solo da face posterior da estaca; e, c) movimento vertical do solo junto à face
anterior da estaca ..............................................................................................157
Figura 4.62 - Variação da força aplicada com o tempo no ensaio T2-E8...............................................157
Figura 4.63 - Curva força – deslocamento da cabeça da estaca T2.....................................................158
Figura 4.64 - Curva força – deslocamento da cabeça da estaca E8 .....................................................159
Figura 4.65 - a) Evolução dos deslocamentos em profundidade em função do carregamento da estaca T2; b) e c)
curva força – rotação do maciço de encabeçamento das estacas T2 e E8 .............................159
Figura 4.66 - Curva força – deslocamento da cabeça das estacas ensaiadas ..........................................160
Figura 4.67 - Curva força – rotação da cabeça das estacas ensaiadas..................................................161
Figura 4.68 – Resultados dos DPSH: a) nº de pancadas N20 e b) resistência dinâmica Rd (MPa) ...................162
Figura 4.69 - Estaca E0: a) estaca inserida no terreno; b) localização da rótula plástica; e, c) pormenor da
rótula plástica formada........................................................................................163
Figura 4.70 – a) Extracção da estaca C2; b) pormenor do solo superficial resultante do ensaio de carga; c)
localização da rotula plástica; e, d) pormenor da rotula plástica ......................................164
Figura 4.71 – a) Extracção das estacas E7 e E8; b) localização da rótula plástica na estaca E8; e, c) pormenor da
rótula plástica da estaca E8...................................................................................165
Figura 4.72 – Estaca T2: a) estaca extraída do terreno; b) pormenor da extremidade..............................165
ÍNDICE DE FIGURAS
xxv
5 SIMULAÇÃO NUMÉRICA DOS ENSAIOS REALIZADOS NO CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
Figura 5.1 – Modelo mecânico dos elementos discretos (adaptado de Hoit et al., 1996)........................... 168
Figura 5.2 – Discretização das secções transversais da estaca em filamentos (adaptado de Hoit et al., 1996) 168
Figura 5.3 – Discretização do solo para a modelação de cada estaca ................................................. 169
Figura 5.4 – Diagrama tensão–extensão para betão não confinado sujeito a compressão uniaxial (MC90) ...... 172
Figura 5.5 – Aproximação da relação tensão-extensão para betão confinado (MC90)............................... 173
Figura 5.6 - Diagrama idealizado do comportamento à tracção uniaxial de um elemento de betão ............. 173
Figura 5.7 – Modelos de comportamento à tracção do betão pós-pico: a) tension-softening e b) tension-
stiffening (adaptado de Barros e Fortes, 2004) ........................................................... 174
Figura 5.8 – Curvas momento-curvatura: a) estaca E0; b) estaca E1; c) estaca T2; e, d) estaca C2 ............. 177
Figura 5.9 – Evolução de K em profundidade e valores para a profundidade nula................................... 179
Figura 5.10 – Curvas p-y para profundidades até 3,0m para φ de 40º (estaca E0) ................................... 181
Figura 5.11 – Comparação dos deslocamentos medidos e calculados pelo método de Reese et al. (1974) para as
várias estacas ensaiadas ...................................................................................... 181
Figura 5.12 – Curvas p-y pelo método dos três troços até 3m de profundidade: a) φ =43 e n=1 e b) φ =43 e n=0,4
.................................................................................................................... 183
Figura 5.13 – Relação entre os deslocamentos medidos e calculados na cabeça da estaca E0 à cota dos
transdutores do deslocamento: a) modelos que adoptam γu=2% e b) modelos que adoptam γu=3%
.................................................................................................................... 184
Figura 5.14 – Curva de degradação do módulo de reacção do solo com a distorção para o modelo 1 e 2A ..... 185
Figura 5.15 – Evolução da relação pu/z com a distorção para os modelos 1 e 2A.................................... 185
Figura 5.16 – Deslocamentos em profundidade para a estaca E0, medidos e calculados (modelo 1 a 4),
correspondentes a carregamentos até 450kN ............................................................. 186
Figura 5.17 – Diagrama dos momentos–flectores da estaca E0 determinados pelos modelos 1 a 4 sobrepostos
com a localização da rótula plástica........................................................................ 187
Figura 5.18 – Momentos flectores ao longo do fuste da estaca E0 calculados pelos modelos 1 a 4 e determinados
a partir dos extensómetros para pequenos carregamentos ............................................. 188
Figura 5.19 - Relação entre os deslocamentos medidos e calculados na cabeça da estaca E1 à cota dos
transdutores do deslocamento: a) modelos que adoptam γu=2% e b) modelos que adoptam γu=3%
.................................................................................................................... 189
Figura 5.20 – Deslocamentos em profundidade para a estaca E1, medidos e calculados (modelo 1 a 4),
correspondentes a carregamentos até 450kN ............................................................. 190
ÍNDICE DE FIGURAS
xxvi
Figura 5.21 - Relação entre os deslocamentos medidos e calculados na cabeça da estaca T2 à cota dos
transdutores do deslocamento: a) modelos que adoptam γu=2% e b) modelos que adoptam γu=3%
....................................................................................................................191
Figura 5.22 – a) a d) Deslocamentos em profundidade, medidos ( os valores designados por inclinómetro’ são
corrigidos) e calculados pelos modelos 1 a 4; e) a h) diagrama dos momentos flectores
determinados....................................................................................................192
Figura 5.23 - Relação entre os deslocamentos medidos e calculados na cabeça da estaca C2 à cota dos
transdutores do deslocamento: a) modelos que adoptam γu=2% e b) modelos que adoptam γu=3%
....................................................................................................................193
Figura 5.24 - Diagrama dos momentos – flectores da estaca C2 determinados pelos modelos 1 a 4 sobrepostos
com a localização da rótula plástica ........................................................................193
Figura 5.25 – Evolução linear da resistência última do solo em profundidade, para a estaca E0, e sua
aproximação por uma expressão exponencial..............................................................195
Figura 5.26 - Comparação dos deslocamentos medidos e calculados pelo método de Ménard et al. (1969) para as
várias estacas ensaiadas .......................................................................................195
Figura 5.27 – Variação de ED: a) em profundidade; b) em função de σ’v0 para ensaios conduzidos antes da
cravação das estacas “C”; c) em função de σ’v0 para ensaios conduzidos depois da cravação das
estacas “C” ......................................................................................................197
Figura 5.28 - Comparação do deslocamento medido e calculado pelo método de Robertson et al. (1989) para as
várias estacas ensaiadas .......................................................................................198
Figura 5.29 - Diagrama dos momentos – flectores da estaca C2, determinados pelo método de Robertson,
sobrepostos com a localização da rótula plástica: a) φ=40º, b) φ=43º; e, c) φ=45º...................198
Figura 5.30 - Comparação do deslocamento medido e calculado à superfície do terreno para a estaca E1, por
aplicação do método de Robertson et al. (1989), considerando duas leis de variação pu em
profundidade ....................................................................................................199
Figura 5.31 – Deslocamentos à superfície do terreno, em função do carregamento, determinados nas simulações
que exibiram melhor desempenho para a estaca E0 ......................................................201
Figura 5.32 - Deslocamentos à superfície do terreno, em função do carregamento, determinados nas simulações
que exibiram melhor desempenho para a estaca E1 ......................................................202
Figura 5.33 - Deslocamentos ao nível dos transdutores de deslocamento, em função do carregamento,
determinados nas simulações que exibiram melhor desempenho para a estaca T2 .................203
Figura 5.34 - Deslocamentos ao nível dos transdutores de deslocamento, em função do carregamento,
determinados nas simulações que exibiram melhor desempenho para a estaca C2 .................204
Figura 5.35 – Determinação da carga de cedência das estacas E0 e C2................................................205
Figura 5.36 – Momento flector máximo e respectiva localização em função do carregamento, enquadrados com
a força de cedência e profundidade da rótula plástica da estaca E0 ..................................206
ÍNDICE DE FIGURAS
xxvii
Figura 5.37 – Momento flector máximo e respectiva localização em função do carregamento, enquadrados com
a força de cedência e profundidade da rótula plástica da estaca C2.................................. 206
Figura 5.38 – Curvas p-y para o método dos quatro troços representadas simultaneamente com os
deslocamentos da estaca E1 medidos para várias profundidades ...................................... 208
xxix
ÍNDICE DE QUADROS
2 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
Quadro 2-I - Comprimentos mínimos para a validade do método CLM ..................................................34
Quadro 2-II – Valores recomendados para Ki para areias submersas (Prakash e Kumar, 1996) ......................37
Quadro 2-III – Factores de majoração de nH em função da posição do nível freático (Prakash e Kumar, 1996) ..37
3 TRAÇADO DE CURVAS P-Y
Quadro 3-I – Correlação entre (N1)60 e o índice de compacidade das areias (Skempton, 1986) .....................55
Quadro 3-II – Valores de nh em areias em função da compacidade relativa (Terzaghi, 1955 segundo Habibagahi
e Langer, 1984)...................................................................................................56
Quadro 3-III – Valor de nh em função de NSPT para solos granulares emersos (Johnson e Kavanagh, 1968 segundo
Habibagahi e Langer, 1984) ....................................................................................56
Quadro 3-IV – Valores de nh (MN/m3) em função da compacidade relativa do solo (Reese et al., 1974) ..........56
Quadro 3-V - Correlação entre NSPT (não corrigido) e ID e φ (Teng, 1962 segundo Anderson e Townsed, 2001)..60
Quadro 3-VI - Valores de ε50 em função de su para argilas normalmente e sobreconsolidadas (Reese e Van Impe,
2001) ...............................................................................................................62
Quadro 3-VII – Valores dos coeficientes nhs e nhc em função de su .......................................................72
Quadro 3-VIII – Valores nh (MPa) obtidos experimentalmente (Kim et al, 2004) .......................................80
Quadro 3-IX – Coeficiente α em função do tipo de solo....................................................................83
Quadro 3-X – Identificação dos solos a partir do DMT (Marchetti, 1980 segundo Viana da Fonseca, 1996)........88
ÍNDICE DE QUADROS
xxx
4 CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
Quadro 4-I – Resultado dos ensaios de compressão dos provetes das estacas moldadas aos 28 dias ..............107
Quadro 4-II – Classes de resistência do betão (NP ENV-206, 1993) .....................................................108
Quadro 4-III - Resultado dos ensaios de compressão dos carotes da estaca T1.......................................109
Quadro 4-IV – Propostas para a determinação das grandezas fcm, fctm e Ecm, segundo o EC2 e o REBAP..........109
Quadro 4-V – Características do betão ......................................................................................110
Quadro 4-VI – Informações sobre os ensaios in situ .......................................................................112
Quadro 4-VII – Lista das amostras dos ensaios realizados e registo de alguns parâmetros físicos (adaptado de
Viana da Fonseca et al., 2004) ...............................................................................113
Quadro 4-VIII – Valores de Vs e de G0 para as amostras S5/1 e S5/3....................................................116
Quadro 4-IX – Previsão da capacidade última das estacas e localização da rótula plástica ........................136
Quadro 4-X – Características geométricas das estacas....................................................................162
Quadro 4-XI – Resumo da localização das rótulas plásticas desenvolvidas nas estacas..............................163
5 SIMULAÇÃO NUMÉRICA DOS ENSAIOS REALIZADOS NO CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
Quadro 5-I – Identificação da diferença entre o ponto de aplicação do carregamento real e modelado e da
excentricidade do carregamento.............................................................................170
Quadro 5-II – Carregamento efectuado para as estacas E0 e E1 e respectivas malhas ..............................170
Quadro 5-III - Carregamento efectuado para as estacas T2 e C2 e respectivas malhas .............................171
Quadro 5-IV Propriedades do betão aos 210 dias ..........................................................................175
Quadro 5-V – Parâmetros do betão confinado..............................................................................176
Quadro 5-VI – Propriedades do betão à tracção ...........................................................................176
Quadro 5-VII – Parâmetros do aço............................................................................................176
Quadro 5-VIII – Valores do ângulo de atrito.................................................................................178
Quadro 5-IX – Valores de K deduzidos por retroanálise...................................................................179
Quadro 5-X – Identificação dos modelos efectuados ......................................................................183
Quadro 5-XI – Resumo dos resultados das simulações com melhor desempenho - estaca E0 .......................200
Quadro 5-XII - Resumo dos resultados das simulações com melhor desempenho - estaca E1 ......................201
ÍNDICE DE QUADROS
xxxi
Quadro 5-XIII - Resumo dos resultados das simulações com melhor desempenho - estaca T2..................... 202
Quadro 5-XIV - Resumo dos resultados das simulações com melhor desempenho - estaca C2..................... 203
Quadro 5-XV – Parâmetros do solo que conduziram a um melhor ajustamento do comportamento das estacas 204
Quadro 5-XVI – Deslocamento permanente resultante dos ensaios dinâmicos........................................ 207
xxxiii
SIMBOLOGIA
À medida que vão surgindo, os símbolos utilizados no texto são definidos de forma que os
respectivos significados não suscitem dúvidas. Considera-se, no entanto, conveniente apresentar
uma listagem dos mais importantes. De notar que a adopção da simbologia utilizada pelos vários
autores conduziria à coincidência dos mesmos símbolos para designar grandezas diferentes, pelo
que se optou por algumas alterações no sentido de obter uma maior clareza do texto.
Letras latinas
a - adesão
- constante ou expoente genérico
Ai - coeficiente adimensional da solução de Matlock e Reese (1961)
- coeficiente empírico de Reese et al. (1974 e 1975)
b - constante ou expoente genérico
B - dimensão transversal da estaca
Bi - coeficiente adimensional da solução de Matlock e Reese (1961)
C - constante
c’ - coesão efectiva
Ci - constante de integração
Cn - constante da lei de variação do módulo de reacção do solo com a profundidade
di - deslocamento determinado pela construção de Taylor (1942) correspondente a um grau de consolidação i%
DR - compacidade relativa
e - excentricidade da força horizontal aplicada na cabeça da estaca em relação à superfície do terreno
- índice de vazios
E - módulo de elasticidade do material constituinte da estaca
Ecm - módulo de elasticidade do betão
ED - módulo dilatométrico do ensaio DMT
EM - módulo pressiométrico do ensaio PMT
Es - módulo de elasticidade do solo (módulo de Young)
SIMBOLOGIA
xxxiv
f - profundidade referente à secção de momento flector máximo ou localização da rótula plástica
- factor adimensional
Fc, Fφ - factor de rigidez empírico de Robertson et al. (1989)
fck - resistência característica do betão à compressão
fcm - resistência média do betão à compressão
fctm - resistência média do betão à tracção
Fi - factor de cedência
Fr - razão atrítica ou de fricção normalizada do ensaio CPT
fs - resistência lateral unitária no ensaio CPT
G - módulo de distorção do solo
- densidade das partículas sólidas
G0 - módulo de distorção máximo do solo
Gc - módulo de distorção do solo afectado da influência do coeficiente de Poisson na deformação da estaca
GF - energia de fractura
H, H0 - força horizontal concentrada aplicada na cabeça da estaca
Hc - força característica (método da carga característica)
Hu - capacidade da carga última da estaca
I - momento de inércia da secção transversal da estaca
ID - índice de compacidade;
- índice do material do ensaio DMT
Is - factores de influência do deslocamento do solo
J - constante empírica adimensional de Matlock (1970)
K - módulo de reacção do solo
K0 - coeficiente de impulso em repouso
Ka - coeficiente de impulso activo (de Rankine)
Kc - factor de resistência lateral em terrenos puramente coesivos
KD - índice de tensão lateral do ensaio DMT
kh - coeficiente de reacção do solo
Ki - módulo de reacção tangente (inicial ou máximo)
kL - coeficiente de reacção do solo na ponta da estaca
Kp - coeficiente de impulso passivo (de Rankine)
Ks - módulo de reacção secante
L - comprimento da estaca
M - momento flector
SIMBOLOGIA
xxxv
M, Mo - momento flector concentrado aplicado na cabeça da estaca
Mc - momento característico (método da carga característica)
Mmáx - momento flector máximo
My - momento de plastificação da secção transversal da estaca
n - coeficiente genérico
- número de intervalos de subdivisão da estaca
- expoente da lei de variação do módulo de reacção do solo em profundidade
N - esforço axial
- força vertical concentrada aplicada na cabeça da estaca
(N1)60 - valor normalizado (à tensão efectiva de referência) de N60 (ensaio SPT)
N20 - número de pancadas em 20 cm de penetração no ensaio DPSH
N60 - NSPT corrigido em relação à energia de referência do ensaio SPT (60% de energia teórica)
Nc - factor de capacidade resistente
Nh - taxa de variação do módulo de elasticidade do solo em profundidade
nh - taxa de variação do módulo de reacção em profundidade
NSPT - número de pancadas na segunda fase do ensaio SPT
p - força de reacção do solo por unidade de comprimento da estaca
- tensão média ou octaédrica em termos de tensões totais
P’ - tensão média ou octaédrica em termos de tensões efectivas
p0 - pressão de início de carga ou de ajuste (pressiométrica ou dilatométrica) – “lift-off”
P1 - pressão de expansão para 1mm de deslocamento da lâmina no ensaio DMT
pf - pressão de fluência do ensaio PMT
pL - pressão limite do ensaio PMT
pL* - pressão limite diferencial do ensaio PMT
ps - tensão horizontal no contacto estaca-solo
pu - resistência última do solo
q - tensão de desvio (σ1-σ3)
qc - resistência de ponta no ensaio CPT
R - factor de rigidez relativa
Rd - resistência dinâmica do ensaio DPSH
RN - factor de rigidez relativa estaca-solo num solo tipo Gibson
RR - factor de rigidez relativa estaca-solo num solo homogéneo
Sr - grau de saturação
su - resistência ao corte não drenado do solo
u - pressão neutra
SIMBOLOGIA
xxxvi
u0 - pressão neutra em repouso
V - esforço transverso
Vp - velocidade de propagação da onda de compressão
Vs - velocidade de propagação da onda de corte
y - deslocamento horizontal da estaca
y50 - deslocamento do solo correspondente a uma resistência igual a metade da resistência última do solo
ye, yk - deslocamento do solo correspondente ao limite do regime elástico do solo
ys - deslocamento do solo
yu - deslocamento do solo correspondente à resistência última do solo
z - profundidade
Z - coeficiente adimensional de profundidade
Letras gregas
α - ângulo genérico
- coeficiente que depende do tipo de solo (PMT)
- relação entre a adesão e a resistência não drenada
β - ângulo genérico
ε - extensão ou deformação
ε50 - extensão correspondente a metade da diferença entre as tensões principais máximas na rotura
φ - ângulo de atrito interno do solo
φ’ - ângulo de atrito interno do solo em termos de tensões efectivas
γ - peso volúmico do solo
- distorção
η - factor de forma
λ - coeficiente de rigidez relativa estaca – solo
ν - coeficiente de Poisson
θ - rotação
ρ - massa volúmica
σ - tensão total
σ’ - tensão efectiva
σ’vo - tensão efectiva vertical em repouso
SIMBOLOGIA
xxxvii
τ - tensão de corte, tangencial ou distorcional
ω - teor em água
ξ - coeficiente de amortecimento histerético
- factor de forma
Ψ - função do módulo de reacção do solo
Abreviaturas mais utilizadas
Instituições
ASTM - American Society for Testing and Materials
CICCOPN - Centro de Formação Profissional da Indústria e Construção Civil e Obras Públicas do Norte
FEUP - Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
IST - Instituto Superior Técnico
Ensaios in situ
CH - Cross-Hole (ensaio sísmico entre furos)
CPT - Cone Penetration Test (ensaio com o cone penetrómetro estático - cone holandês)
CPTU - Piezocone Penetration Test (ensaio com o piezocone)
CSWS - Continuous Surface Wave System (ensaio com sistema contínuo de ondas de superfície)
DH - Down-Hole (ensaio sísmico ao longo de um furo, com fonte à superfície
DMT - Dilatometer Test (ensaio com o dilatómetro plano)
DP - Dynamic Probing (ensaio com penetrómetros dinâmicos)
DPSH - Dynamic Probing Super Heavy (ensaio com penetrómetro dinâmico super-pesado)
PDP - PreDrilled Pressuremeter (ensaio com o pressiómetro com prefuração prévia)
PIP - Push in Pressuremeter (ensaio com o pressiómetro penetrante)
PMT - Pressuremeter Test (ensaio com o pressiómetro)
SASW - Spectral Analysis of Surface Waves (ensaio de análise espectral de ondas de superfície)
SBP - Selfboring Pressuremeter (ensaio com o pressiométro autoperfurador)
SPT - Standard Penetration Test (ensaio de penetração standard, com o amostrador de
Terzaghi)
SIMBOLOGIA
xxxviii
Outros
BE - Bender Elements (transdutores piezoeléctricos para determinação da velocidade de propagação das ondas de corte)
CFA - Continuous Flight Auger (estaca realizada com trado contínuo oco)
LVDT - Load Variable Differential Transdutor (transdutor de deslocamento)
NF - Nível Freático
RC - Resonant Column (ensaio de coluna ressonante)
1
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1.1 ÂMBITO DO TRABALHO
A utilização de estacas é o método mais antigo utilizado pelos homens para ultrapassar as
dificuldades em fundar em maciços com características inadequadas. A sua principal função é
transmitir cargas verticais a uma dada profundidade onde exista capacidade resistente suficiente
para o nível de carregamento em causa. No entanto, para além de resistir a acções verticais, as
estacas também resistem a acções horizontais.
Como exemplos de acções horizontais, transmitidas tanto à cabeça como ao longo do seu
desenvolvimento enterrado, podem referir-se os impulsos de terras, os sismos, as acelerações e
travagens de veículos em tabuleiros de pontes, os ventos e as variações de temperatura. No caso de
estruturas portuárias podem acrescentar-se o impacto de navios durante uma atracagem, as acções
transmitidas por cabos de amarração daqueles, as correntes, as ondas, etc.
A análise de estacas solicitadas horizontalmente é um problema de interacção solo-estrutura em
que o comportamento não linear do solo e da estaca deve ser considerado. O dimensionamento
deste tipo de fundação, às acções horizontais, deve quantificar não só a capacidade resistente
suficiente quer do solo, quer da estaca, mas também a limitação dos deslocamentos, que mesmo
para pequenas cargas podem ser significativos.
Os métodos de dimensionamento de fundações profundas através de estacas assentam geralmente
em bases empíricas e semi-empíricas, logo em correlações experimentais locais, não podendo ser
directamente aplicadas noutras zonas, sem avaliação de aplicabilidade a novos ambientes.
Na cidade do Porto, bem como a região Noroeste de Portugal, os granitos e seus produtos de
alteração são dominantes. Por processos de desintegração e de decomposição química estes dão
origem a maciços residuais “jovens”, que se designam por solos saprolíticos de granito.
Com o intuito de analisar o comportamento de estacas isoladas solicitadas horizontalmente,
instaladas nestes solos residuais do granito, realizou-se este trabalho, destinado à condução,
interpretação e modelação de ensaios em verdadeira grandeza sobre estacas bem instrumentadas.
Esta é, aliás, a forma mais precisa de conhecer a resposta de estacas em condições e ambientes
específicos (o que é, aliás, reconhecido pelos códigos estruturais, como o europeu), tendo em
consideração o processo construtivo e o local específico onde esta é implementada.
CAPITULO 1
2
1.2 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO
Esta dissertação está dividida em seis capítulos. Neste primeiro capítulo, apresenta-se o âmbito e o
enquadramento do trabalho realizado.
No capítulo 2 faz-se uma descrição dos modelos e métodos de análise mais utilizados no
dimensionamento de estacas isoladas, solicitadas horizontalmente. Começa-se por abordar a
capacidade resistente das estacas, apresentando-se os mecanismos de rotura e as propostas mais
divulgadas, tanto para solos incoerentes como coerentes. Depois, apresentam-se os métodos
baseados na análise de deformações, subdivididos nos que utilizam modelos discretos e nos que
abordam essa resposta por modelos contínuos.
No capítulo 3 detalha-se o método das curvas p-y, que seria adoptado no desenvolvimento das
análises realizadas no âmbito deste trabalho. Desta forma, descrevem-se as várias propostas
existentes, baseadas em ensaios de carga de estacas em verdadeira grandeza, nas correlações
empíricas com base em ensaios laboratoriais e com base em ensaios in situ.
O capítulo 4 destina-se à descrição do Campo Experimental da FEUP. Inicia-se pelo relato da
execução das estacas e a definição das suas características. Apresentam-se os resultados da
caracterização geotécnica e a determinação dos parâmetros do solo mais relevantes para o assunto
em análise. Posteriormente, descreve-se a preparação e condução dos ensaios de carga horizontais,
nomeadamente a estrutura de aplicação da carga, as grandezas medidas e os equipamentos de
medição utilizados, o programa de aplicação das cargas e, finalmente, apresentam-se os resultados
obtidos a partir dos sistemas de medição adoptados.
O capítulo 5 refere-se às simulações numéricas das estacas ensaiadas, utilizando o método das
curvas p-y, e analisa-se a adequabilidade das várias propostas apresentadas.
Por fim, no capítulo 6 apresenta-se uma listagem dos aspectos fundamentais referidos nesta
dissertação e resumem-se as principais conclusões deste trabalho. Indicam-se ainda alguns temas
que poderão ser aprofundados em estudos posteriores.
3
2 ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
2.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS
A utilização de estacas é o método mais antigo utilizado pelos homens para ultrapassar as
dificuldades em fundar em solos com características inadequadas. A sua principal função é
transmitir cargas verticais a uma dada profundidade onde exista capacidade resistente suficiente
para o nível de carregamento em causa. No entanto, apesar deste tipo de fundações existir desde as
aldeias pré-históricas edificadas sobre lagos, o seu dimensionamento efectuou-se até ao século XIX,
baseado unicamente na experiência. O aparecimento de literatura moderna sobre estacas data da
publicação de “Piles and Pile Driving”, editado em 1893, onde foi proposta uma fórmula de
estimativa da capacidade resistente pela energia da cravação das estacas. Desde então foram
publicadas muitas teorias para a previsão da capacidade resistente vertical de estacas, baseadas na
experiência de campo e em derivação empírica. Nos últimos anos, a necessidade crescente da
engenharia de fundações prever o comportamento das estacas, estimulou a investigação,
envolvendo o conceito da interacção das estacas com o solo envolvente. E, nos dias de hoje, o
grande volume de conhecimento empírico é balançado por um conhecimento teórico
comparativamente mais limitado, mas crescente (Poulos and Davis, 1980).
As estacas não estão apenas sujeitas a cargas verticais, sendo frequentemente solicitadas por
acções horizontais. Nos casos correntes, as cargas verticais são significativamente maiores do que as
horizontais pelo que estas últimas são facilmente absorvidas pela resistência e rigidez dos
elementos dimensionados para aquelas, sendo, por isso, negligenciada a sua consideração específica
no dimensionamento. Existem, no entanto, situações em que estas cargas não podem ser
negligenciáveis, como é o caso das pontes de grandes vãos, dos cais e das estruturas portuárias que
estão sujeitas a acções horizontais resultantes do impacto de um navio e às acções das ondas, das
estruturas “offshore” submetidas à acção do vento, das ondas e das correntes, das fundações de
estruturas altas como chaminés e torres de alta tensão onde a acção do vento pode ser elevadíssima
e ainda em zonas de elevado risco sísmico, entre outras.
O dimensionamento de estacas sujeitas a acções horizontais, à semelhança do que acontece com as
restantes estruturas, é efectuado a dois níveis, nomeadamente: estados limites últimos de
resistência (ELU) e estados limites de utilização ou de serviço (ELS). Os estados limites são estados
para além dos quais a estrutura deixa de satisfazer as exigências de segurança estipuladas em
projecto. Os estados limites classificam-se em estados limites últimos quando envolvem a perda de
CAPITULO 2
4
equilíbrio estático ou a rotura de uma secção crítica da estrutura ou do maciço portante (no caso
das fundações pode estar associado a plastificação generalizada ou deformações excessivas) e em
estados limites de utilização que correspondem a estados para além dos quais as condições de
utilização deixam de ser satisfeitas, referindo-se ao desempenho das estruturas em serviço, ao
conforto das pessoas e à aparência da construção.
No caso do dimensionamento de estacas deverão ser considerados os seguintes estados limites:
a) perda de estabilidade global;
b) rotura no terreno devido à carga lateral aplicada às estacas;
c) rotura estrutural das estacas por esforços excessivos de flexão ou corte;
d) deslocamentos ou rotações excessiva da cabeça da estaca de modo a comprometer a
funcionalidade da estrutura.
Os três primeiros casos configuram estados limites últimos, sendo o quarto caso referente a um
estado limite de utilização (Sousa Coutinho, 1995).
Usualmente, o dimensionamento das estacas é efectuado em duas fases distintas. Numa primeira
fase, determina-se a carga de rotura considerando a resistência da estaca e do maciço. Na segunda
fase, prevêem-se os deslocamentos expectáveis para a fundação associados a cargas de serviço que
se limitam a um deslocamento máximo admissível.
Nas secções que se seguem desenvolver-se-ão estas duas vertentes do dimensionamento.
2.2 CAPACIDADE RESISTENTE DAS ESTACAS
A capacidade resistente de estacas solicitadas horizontalmente é efectuada normalmente admitindo
para o solo um comportamento rígido plástico e utilizando modelos de equilíbrio limite, que
admitem mobilizada, na íntegra, a resistência ao corte do solo. A resistência ao carregamento é
geralmente avaliada a partir das teorias de Rankine ou de Coulomb, considerando planas as
superfícies onde actuam os impulsos de terras.
Será de enfatizar que, citando Varatojo (1995), é possível introduzir um conjunto de esferas de
igual dimensão numa caixa e dispô-las de tal modo que se crie um furo vertical entre elas. Neste
caso, o impulso activo (que causaria a ruína de uma parede numa escavação plana) é transferido
circunferencialmente às esferas adjacentes, originando um anel em compressão (“efeito de arco”)
que elimina a necessidade de garantir a integridade do furo à custa de qualquer suporte. Pode-se
então concluir que as condições geométricas do problema em estudo não correspondem à hipótese
de superfície plana contida nas teorias de Rankine e de Coulomb. No caso da teoria de Coulomb,
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
5
considera-se que a cunha de rotura é de espessura uniforme. Ora, no caso de superfícies circulares,
as cunhas de deslizamento são tridimensionais e há necessidade de introduzir dois factores
adicionais: o efeito dos impulsos em repouso nos lados não paralelos da cunha e a variação do peso
da cunha. Estes dois factores têm efeitos contrários. Numa superfície convexa, o impulso em
repouso tende a reduzir as forças em jogo e o factor peso a aumentá-las, passando-se o contrário no
caso da superfície côncava.
Em 1966, Mackey apresenta um estudo destes fenómenos e conclui que no caso de superfícies
convexas, como é o caso das estacas, a aplicação das teorias convencionais conduz a uma
subestimação dos impulsos passivos e a uma sobrestimação dos impulsos activos. Na maioria dos
casos práticos, este efeito tridimensional é contabilizado à custa de coeficientes de forma ou dando
uma sobrelargura à dimensão transversal da estaca, sendo estes artifícios estabelecidos com base
mais ou menos empírica (Varatojo, 1995).
2.2.1 Mecanismos de rotura
Quando uma carga horizontal é aplicada na cabeça de uma estaca vertical, que é livre de se mover
em qualquer direcção, a carga é inicialmente equilibrada pelo solo existente perto da superfície.
Em consequência do carregamento, o solo situado na face anterior da estaca no sentido do
carregamento sofre um acréscimo de tensão ao contrário do que acontece na sua face posterior,
cuja tensão diminui. À medida que o carregamento aumenta, existe uma transferência de
carregamento para zonas cada vez mais profundas. O solo existente na face posterior da estaca
tende a separar-se dela abrindo-se uma fenda e no solo existente na sua face anterior começa a
formar-se uma cunha de rotura que tende a deslocar-se verticalmente, como se encontra
representado na Figura 2.1. Para profundidades maiores, devido a um maior confinamento do solo,
a sua rotura dá-se por escoamento do solo da face frontal da estaca para a sua face posterior.
Alçado H
a)
secção transversal antes do carregamento
secção transversal depois do carregamento
b)
Figura 2.1 - Estaca submetida a acções horizontais: a) deformação e b) distribuição
das tensões antes e depois do carregamento
CAPITULO 2
6
São dois os mecanismos de rotura usualmente admitidos para estacas isoladas: esgotamento da
resistência máxima do solo e esgotamento da capacidade resistente de uma das secções transversais
da estaca. O primeiro mecanismo é típico de estacas curtas ou rígidas e o segundo de estacas longas
ou flexíveis.
As estacas rígidas, como se ilustra na Figura 2.2, têm tendência para girar como um corpo rígido em
torno de um ponto de rotação situado próximo da base da estaca, até que o impulso das terras seja
mobilizado, de modo a encontrar uma situação de equilíbrio. Neste caso são desenvolvidos impulsos
passivos na parte anterior da estaca até ao ponto de rotação e a partir do qual se desenvolvem na
sua face posterior. Tipicamente o ponto de rotação fica a uma distância da superfície entre 70% a
80% do comprimento embebido da estaca.
He
a
L
a) b)B
Figura 2.2 – Estacas curtas: a) mecanismo de rotura; b) reacção do solo
No caso de estacas flexíveis a rotura ocorre pela formação de uma rótula plástica na secção de
momento máximo coincidente com a secção de esforço transverso mínimo, como mostra a Figura
2.3. Neste caso o impulso passivo que actua na face anterior da estaca até à rótula plástica
equilibra o conjunto solo-estaca e os restantes impulsos actuantes no fuste auto equilibram-se.
L
f
eH
a) b)B
Figura 2.3– Estacas longas: a) mecanismo de rotura; b) reacção do solo
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
7
2.2.2 Métodos de cálculo
Foram várias as metodologias publicadas no intuito de estimar a capacidade resistente de estacas
solicitadas horizontalmente na sua cabeça. Estes métodos, divergindo na definição da resistência
última do solo e da sua distribuição ao longo do fuste da estaca, conduzem a uma gama de valores
relativamente lata, resultante, quer da natureza semi-empírica dos modelos que envolvem
simplificações, quer da natureza tridimensional e não linear do problema de difícil modelação.
Neste trabalho não se pretende fazer uma compilação exaustiva dos métodos existentes, mas
apenas fazer referência a algumas das propostas desenvolvidas. Em 1961, Brinch-Hansen
desenvolveu um método válido para estacas curtas, aplicável a solos com coesão e ângulo de atrito.
Posteriormente, várias propostas surgiram, individualizando o comportamento de solos incoerentes
e coerentes.
2.2.2.1 Solos incoerentes
Broms, num trabalho de 1964, propõe uma distribuição do impulso passivo ao longo da face anterior
da estaca igual a três vezes a pressão passiva de Rankine. Esta hipótese de distribuição da reacção
máxima do terreno é baseada em comparações efectuadas entre o comportamento previsto e
observado por Broms em resultados experimentais de diversas fontes e é justificável pela natureza
tridimensional da distribuição das tensões laterais (Poulos e Davis, 1980).
Desta forma, a resistência do solo a uma dada profundidade z é:
03u v pp K Bσ ′= ⋅ ⋅ ⋅ (2.1)
onde,
B é a dimensão transversal da estaca;
0'vσ é a tensão efectiva vertical em repouso a uma dada profundidade z;
φ ′ é o ângulo de atrito interno do solo;
(1 ')/(1 ')pK sen senφ φ= + − é o coeficiente de impulso passivo de Rankine.
No caso de estacas curtas, a rotura ocorre pela rotação da estaca sobre um ponto que se encontra
perto da extremidade inferior da estaca, existindo várias propostas para a forma do diagrama da
resistência oposta pelo solo ao movimento da estaca. Broms define a forma deste diagrama como
linearmente crescente, partindo da premissa que o solo se comporta plasticamente. Outros autores,
como Brinch-Hansen (1961) e Petrasovits e Award (1972), partindo da mesma hipótese, propõem
outras formas para este diagrama. Como ilustra a Figura 2.4, existem ainda propostas, mais
CAPITULO 2
8
próximas da realidade, como são exemplos, as de Meyerhof et al. (1981) e Prasad e Chari (1999) que
consideram que o solo exibe um comportamento elasto-plástico (Zangh et al., 2005).
H
e
a
L
B
0,6a
pu
u
a) Brinch Hansen (1961)
b) Broms(1964)
c) Petrasovits e Award(1972)
d) Meyerhof et al.(1981)
e) Prasad e Chari(1999)
Figura 2.4 – Várias propostas da distribuição da reacção do solo para estacas solicitadas
horizontalmente, em solos incoerentes (depois de Prasad e Chari, 1999 segundo Zangh et al., 2005)
Retomando o método de Broms que admite um diagrama de pressões do solo triangular e que
substitui as elevadas pressões actuantes perto do ponto de rotação por uma força concentrada
actuando na ponta da estaca, a capacidade última da estaca é determinada pela expressão (2.2),
impondo para a resultante de momentos em relação à ponta da estaca um valor nulo.
30,5 p
u
B L KH
e L
γ⋅ ⋅ ⋅ ⋅=
+ (2.2)
O momento flector máximo da estaca ocorre a uma distância f da superfície (ver expressão (2.3)) e
a sua determinação pode ser efectuada recorrendo à expressão (2.4).
2
3u
p
Hf
B Kγ⋅
=⋅ ⋅ ⋅
(2.3)
max
23uM H e f⎛ ⎞= ⋅ + ⋅⎜ ⎟
⎝ ⎠ (2.4)
Se o momento máximo determinado for superior ao momento de plastificação da secção da estaca,
My, então a estaca comportar-se-á como uma estaca longa e a capacidade última da estaca é
calculada substituindo o momento máximo pelo momento My, como se apresenta na expressão (2.5).
2 23 3
yu
u
p
MH
He
B Kγ
=+ ⋅ ⋅
⋅ ⋅
(2.5)
Neste caso admite-se que é mobilizada a totalidade da resistência última do solo até à profundidade
f onde se forma a rotula plástica e que as reacções do terreno para profundidades superiores se
auto-equilibram.
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
9
L
a) b) c)
My
e
uH
f
Figura 2.5 - Método de Broms para estacas longas em solos incoerentes: a) deformada da estaca; b) modelo da
distribuição da resistência do solo; c) momentos flectores da estaca (adaptado de Poulos e Davis, 1980)
Barton (1982) propôs que se considere a resistência do solo proporcional ao coeficiente de impulso
passivo de Rankine para pequenas profundidades (até 1,5·B) e para profundidades superiores,
proporcional ao seu quadrado. Também Fleming et al. (1992) recomendam a expressão (2.7) para a
determinação da resistência última do solo (Zangh et al., 2005).
Para z≤ 1,5·B 0'u p vp K Bσ= ⋅ ⋅ (2.6)
Para z> 1,5·B 20'u p vp K Bσ= ⋅ ⋅ (2.7)
Esta divisão permite ter em conta a semelhança, para pequenas profundidades, do comportamento
de uma estaca com a de um muro de suporte, resultante da falta de confinamento da camada
superficial do solo.
Esta ideia já tinha sido considerada por Reese et al. (1974) que apresentam uma formulação distinta
para dois casos: junto à superfície do terreno, em que é analisado o equilíbrio da cunha que tem
tendência a destacar-se na face anterior da estaca, e a grandes profundidades, para as quais já não
se fazem sentir os efeitos da superfície e em que o terreno tem tendência a escoar-se
horizontalmente em torno da estaca. Esta formulação permite determinar a resistência última pu,
utilizando o equilíbrio limite.
O primeiro modelo, válido para pequenas profundidades, é ilustrado na Figura 2.6. A força
horizontal total Fpt, desenvolvida pelo solo por oposição ao movimento da estaca, determina-se
subtraindo a força activa Fa, calculada pela teoria de Rankine e actuante na face posterior da
estaca, da força passiva Fp actuante na sua face anterior. A força Fp é determinada em função da
geometria admitida para a cunha onde se considera o modelo de rotura de Mohr-Coulomb nos planos
ADE, BCF e AEFB. Neste modelo, não é considerada qualquer força de natureza atrítica actuando na
CAPITULO 2
10
face da estaca. A resistência última do solo por comprimento da estaca é obtida por diferenciação
da expressão que determina a força horizontal total Fpt.
B
E
A
B
C
D z1
z
direcção do movimentoda estaca
F
Fp
β
α
aFFptFp
Figura 2.6 – Modelo do comportamento do solo incoerente para pequenas profundidades
(depois de Reese et al., 1974)
O segundo modelo, ilustrado na Figura 2.7 e válido para maiores profundidades, relaciona o
movimento de uma estaca cilíndrica com o de cinco blocos de solo adjacentes a esta. Neste modelo,
assume-se que o movimento da estaca causa, de uma forma sequencial, a rotura por corte no bloco
5 e no 4, o escorregamento do bloco 3 e a rotura por corte do bloco 2 e do 1. A resistência última pu
determina-se admitindo os estados de tensão ilustrados na Figura 2.7b).
4 3 2
15
σ4
6σ
4σ 3σ 3σ
5σ
σ6 σ1 σ1
σ5
5σ
σ2
2σ
σ2
movimento
a) b)
φ
1σ σ2 σ3 σ4 σ5 σ6σ
τ
Figura 2.7 - Modelo do comportamento do solo para maiores profundidades (depois de Reese et al., 1974)
O valor a adoptar para a resistência última do solo é o menor dos valores obtidos pelos dois modelos
considerados.
Este método de avaliação de pu voltará a ser analisado com mais detalhe no Capítulo 3 deste
trabalho.
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
11
Num trabalho de 2005, Zhang et al. propõem um método para determinar a resistência última do
solo, considerando as forças desenvolvidas numa estaca solicitada horizontalmente, identificadas
por Briaud et al. (1983). As diversas componentes da resistência do solo são: a resistência frontal; a
resistência por atrito ao longo do fuste da estaca; e, a resistência do solo na ponta da estaca a
movimentos verticais e horizontais. Exceptuando o caso de estacas muito curtas (L/B<3), a
resistência do solo é maioritariamente resultante da resistência frontal (Q) e por atrito ao longo do
fuste (F) ilustradas na Figura 2.8. Para cargas de serviço, a contribuição desta última parcela de
resistência pode chegar a 50% da resistência total do solo (Briaud et al., 1983).
possível separaçãoentre a estaca e o solo
tensão frontal
corte = F/2Força de
σ máx
tensão de cortedistribuição da
Força
estaca
θ pmáxtotal = QPressão
distribuição da
corte = F/2Força de σmáx
tensão de cortedistribuição da
Figura 2.8 – Distribuição da resistência frontal e por atrito lateral desenvolvidas numa
estaca solicitada horizontalmente (adaptado de Zhang et al., 2005)
A resistência última do solo determina-se pela soma das suas duas componentes, como se apresenta
na expressão seguinte:
up Q F= + (2.8)
em que,
e máx máxQ p B F Bη ξ τ= ⋅ ⋅ = ⋅ ⋅ (2.9)
onde,
η é um factor de forma que tem em consideração a distribuição das pressões do solo actuantes na
face da estaca, que toma o valor de 1,0 para estacas quadradas e 0,8 para estacas circulares;
ξ é um factor de forma que tem em consideração a distribuição da resistência por atrito
desenvolvida nas faces laterais da estaca, valendo 2,0 para estacas quadradas e 1,0 para estacas
circulares;
pmáx é a pressão máxima do solo para θ = 0;
τmáx é o atrito lateral unitário máximo para θ = ± π/2.
CAPITULO 2
12
Para determinar o valor de pmáx e o de τmáx, Zhang et al. (2005) sugerem a utilização das seguintes
expressões:
20'máx p vp K σ= ⋅ (2.10) tanmáx K zτ γ δ= ⋅ ⋅ ⋅ (2.11)
onde,
K é o coeficiente de impulso das terras;
δ é o ângulo de atrito solo-fuste da estaca.
Estes autores analisaram os resultados experimentais de ensaios de carga em centrifugadora
realizados por Barton e Finn em 1983, sobre estacas embebidas em areia densa. Após deduzirem a
resistência última do solo para várias profundidades, compararam-na com as propostas de Broms
(1964), Fleming et al. (1992), Reese et al. (1974) e com a sua própria proposta (acima descrita).
Concluíram que:
o método de Broms subestima a resistência última do solo para todas as profundidades;
a proposta de Fleming et al. sobrestima a resistência última do solo para todas as
profundidades;
o método de Reese et al. subestima a resistência do solo para pequenas profundidades e
sobrestima-a para grandes profundidades;
a resistência última do solo calculada pelo método de Zangh et al. ajusta-se bem aos resultados
experimentais.
Também Randolph comparou várias propostas para a determinação da resistência última do solo e
concluiu que, apesar de conduzirem a valores bastante diferentes para grandes profundidades,
ainda assim, para profundidades inferiores a cinco vezes o diâmetro da estaca (que controlam
maioritariamente o comportamento da estaca), os valores calculados mostram-se bastante
semelhantes, concluindo que não é necessário uma expressão muito complexa para a definição da
resistência última do solo.
2.2.2.2 Solos coerentes
Em solos puramente coesivos é corrente considerar que a resistência última do solo cresce desde a
superfície do terreno até atingir um valor constante para profundidades superiores a
aproximadamente três diâmetros da estaca.
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
13
Para profundidades em que a resistência última do solo é constante, verificam-se apenas
movimentos horizontais puros, e a grandeza em análise pode determinar-se pela teoria da
plasticidade e recorrendo aos teoremas da região superior e inferior. É então possível obter uma
relação entre a resistência última do solo e a resistência não drenada do solo (su), como mostra a
expressão apresentada em sequência:
u c up K s B= ⋅ ⋅ (2.12)
sendo,
Kc – o factor de resistência lateral em terrenos puramente coesivos;
su - a resistência não drenada.
Broms (1964b) sugeriu uma distribuição simplificada da resistência do solo como se apresenta na
Figura 2.9, considerando que esta é nula até uma profundidade equivalente a um diâmetro e meio
da estaca, para permitir a separação entre a estaca e o solo envolvente, a partir da qual permanece
constante e igual a 9·su·B (Poulos e Davis, 1980).
f
H
e
L
u
Mmáx9s Bu
1,5B
g/2
g/2
g
a) b) c)
Figura 2.9 - Método de Broms para estacas curtas em solos coerentes: a) deformada da estaca; b) modelo da
distribuição da resistência do solo; c) momentos flectores da estaca (adaptado de Poulos e Davis, 1980)
Conhecendo a distribuição da resistência do solo em profundidade e definido a profundidade f que
corresponde à secção de momento máximo da estaca,
9
u
u
Hf
s B=
⋅ ⋅ (2.13)
o momento máximo pode ser obtido pela integração da parte superior do diagrama de esforço
transverso, traduzido pela seguinte expressão:
( )
291,5
2u
máx u
s B fM H e B f
⋅ ⋅ ⋅= ⋅ + ⋅ + −
(2.14)
CAPITULO 2
14
ou pela expressão (2.15) em resultado da introdução da equação (2.13) na sua forma:
( )1,5 0,5máx uM H e B f= ⋅ + ⋅ + ⋅ (2.15)
Uma outra via de determinar o momento máximo é pela integração da parte inferior do diagrama de
esforços transversos (ver Figura 2.9), ou seja:
29 9 2,252 2 4 2 4máx u u u
g g g g gM s B s B s B g⎛ ⎞= ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ + − ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ = ⋅ ⋅ ⋅⎜ ⎟
⎝ ⎠ (2.16)
Dispondo ainda da equação 1,5L B f g= ⋅ + + é possível determinar o valor da carga última que iguala
as expressões (2.15) e (2.16). Determinada esta grandeza e o valor do momento máximo, este
último será comparado com o momento de plastificação da secção da estaca My para avaliar se a
estaca se comporta como curta ou longa, à semelhança do procedimento efectuado para solos
incoerentes.
No caso da estaca ser flexível, o seu comportamento pode ser assemelhado ao ilustrado na Figura
2.10, em que ocorre a formação de uma rótula plástica na secção mais esforçada do seu fuste.
Nesta situação, a carga última obtém-se directamente da expressão (2.15) substituindo o valor de
Mmáx pelo valor de My.
L
Hu
e
f
1,5B
u9s B
a) b) c)
Mmáx
Figura 2.10 - Método de Broms para estacas longas em solos coerentes: a) deformada da estaca; b) modelo da
distribuição da resistência do solo; c) momentos flectores da estaca (adaptado de Poulos e Davis, 1980)
Autores como Poulos e Davis (1980) e Randolph e Houlsby (1984) também se dedicaram ao assunto
em estudo, tendo analisado a influência da adesão na resistência última do solo para grandes
profundidades.
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
15
Poulos e Davis (1980) estudaram, numa estaca rectangular, a influência no valor do factor de
resistência lateral Kc, do coeficiente determinado pela razão entre a adesão (a) e a resistência não
drenada (su) e de um coeficiente de forma resultante da divisão entre as dimensões da estaca no
sentido perpendicular e paralelo ao do carregamento (B1/B2). Do estudo realizado, concluíram que,
para uma estaca quadrada (B1/B2=1), o factor de resistência lateral Kc varia no intervalo de valores
entre 8,28 e 11,14.
Randolph e Houlsby (1984), assemelhando o problema em estudo ao caso de um longo cilindro que
se move horizontalmente num meio infinito, reduziram-no a uma análise em termos de deformações
planas. Neste trabalho, os autores consideraram o comportamento do solo como rígido-plástico e
derivaram expressões para a resistência última do solo em estacas circulares, em função da
aderência criada na interface estaca-solo e da resistência não drenada do solo, considerando, quer
o teorema da região inferior, quer o da superior. As expressões desenvolvidas são iguais utilizando
qualquer um dos teoremas, donde se conclui que as expressões desenvolvidas são exactas.
Considerando a adesão (a) constante e definida em função da resistência não drenada (su), pela
expressão:
ua sα= ⋅ (2.17)
chegaram a uma variação de /u up s B⋅ em função de ua sα = como ilustra a Figura 2.11a). O valor
de pu varia desde 9,14 us B⋅ ⋅ para uma estaca lisa (α=0,0) até 11,94 us B⋅ ⋅ para uma estaca rugosa
(α=1,0), podendo admitir-se uma aproximação à curva definida do tipo:
9 3u
u
ps B
α= + ⋅⋅
(2.18)
A Figura 2.11b) mostra a dimensão das zonas sujeitas a deformação para os casos extremos de
adesão nula ou adesão igual à resistência não drenada, concluindo-se que, a maior resistência
verificada para o caso de maior adesão se prende com uma maior dimensão da região deformada.
Randolph e Houlsby (1984) sugerem o valor de 10,5u up s B= ⋅ ⋅ , correspondente a 0,4α = , valor
esse superior ao adoptado por Broms.
CAPITULO 2
16
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,09
10
11
12
uα=a / s
α=0,0
α=1,0
a) b)
p / s B u u
Figura 2.11 - a) Variação da resistência última do solo com a aderência e b) Região deformada para o caso de
adesão nula ou adesão igual à resistência não drenada (adaptado de Randolph e Houlsby, 1984)
Também para os solos coerentes, à semelhança do exposto para solos incoerentes, Reese (1958)
apresentam uma formulação que distingue dois casos: junto à superfície do terreno e para maiores
profundidades onde o efeito da superfície deixa de se fazer sentir.
O primeiro modelo, válido para pequenas profundidades, é ilustrado na Figura 2.12. A força Fp pode
ser determinada por integração das componentes horizontais da resistência criada nas superfícies de
escorregamento, tendo em consideração o peso da cunha. Integrando a força Fp em relação à
profundidade z abaixo da superfície do terreno determinar-se-á a expressão da resistência última pu
ao longo do fuste da estaca.
B
z1
z
direcção do movimentoda estaca
Fp
β
Figura 2.12 - Modelo do comportamento do solo coerente para pequenas profundidades
(depois de Reese, 1958)
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
17
O modelo válido para grandes profundidades é o já apresentado na Figura 2.7, mas utilizando o
critério de rotura apresentado na Figura 2.13.
σ
τ
1 σ2 σ3 σ4 σ5 σ6
σ
2 s u
10 s u
su
Figura 2.13 – Critério de rotura para solos coerentes em condições não drenadas
A resistência última pu determina-se pela diferença gerada entre as tensões σ6 e σ1 (ver Figura 2.7),
que valerá 10 vezes a resistência não drenada do solo su.
Neste método, o valor a adoptar para a resistência última do solo é o menor dos valores obtidos
pelos dois modelos considerados.
2.3 ANÁLISE DAS DEFORMAÇÕES
O comportamento de estacas sujeitas a acções horizontais é caracterizado por movimentos
significativos, pelo que, na grande maioria dos casos, o seu dimensionamento é condicionado pela
análise e limitação dos seus deslocamentos e esforços, em detrimento da sua capacidade última
(exceptuando-se o caso de estacas relativamente curtas). Assim, nas últimas décadas foram
desenvolvidos vários métodos para a previsão do seu comportamento, de forma a permitir avaliar os
deslocamentos e os esforços a que estes elementos de fundação estão sujeitos. Praticamente em
todos eles, a estaca é assimilada a uma peça linear caracterizada por uma dada rigidez à flexão,
residindo a sua principal diferença na modelação do comportamento reológico do solo envolvente.
Existem duas vias que normalmente são utilizadas para modelar o comportamento do solo,
nomeadamente os modelos discretos e os modelos contínuos (Santos, 1999).
Nos modelos discretos, o solo é caracterizado por uma série de molas independentes, desprezando-
se a natureza contínua do solo, o que implica que os deslocamentos de um ponto não são afectados
por eventuais acções sobre outros pontos do meio. Nos modelos contínuos, o solo é considerado
como um meio contínuo.
CAPITULO 2
18
2.3.1 Modelos de análise baseados em modelos discretos
Nos modelos de análise baseados em modelos discretos, a natureza contínua do solo é ignorada,
sendo o seu comportamento simulado por uma série de molas independentes, cujo comportamento
tensão-deformação é conhecido.
Estes modelos têm como base um meio fictício introduzido por Winkler em 1867, com o objectivo de
estudar o problema de uma viga assente em meio elástico sujeita a acções verticais, aplicadas
perpendicularmente ao seu eixo. No problema de interacção solo-estrutura estudado então, Winkler
admitiu que a reacção do solo que actua num determinado ponto é unicamente dependente do
deslocamento desse ponto e independente dos deslocamentos dos pontos vizinhos. Este autor
admitiu ainda a existência de proporcionalidade entre a reacção do solo e o deslocamento. O
problema assim descrito pode ser estudado admitindo a viga assente numa série de molas isoladas
com comportamento elástico linear, que simulam o comportamento do solo.
Desde cedo, o modelo de Winkler foi adoptado no problema de estacas solicitadas horizontalmente,
dada a sua analogia com o problema de uma viga assente em meio elástico. E, ao longo de décadas
de utilização, este método sofreu vários desenvolvimentos acompanhados pela experiência
acumulada e pela evolução dos meios informáticos e de instrumentação.
2.3.1.1 Modelo de Winkler – Comportamento do solo elástico e linear
Admita-se uma estaca vertical embebida no terreno e cujo comprimento seja suficientemente
grande em relação às suas dimensões transversais que possa ser estudada como uma peça linear.
Enquanto a estaca não estiver a ser solicitada, as tensões no terreno envolvente à estaca são auto-
equilibráveis, mas à medida que a sua cabeça é solicitada por uma força horizontal, a estaca sofre
deformações ao longo do seu eixo e geram-se alterações no estado de tensão do solo envolvente.
Num ponto situado à frente da estaca, a tensão aumenta, ao contrário do que acontece num ponto
situado na sua face posterior. A integração das pressões no solo, em torno da secção da estaca num
comprimento infinitesimal, conduz a uma força de reacção não equilibrada p por unidade de
comprimento longitudinal (Portugal, 1992).
Aplicando o modelo de Winkler ao problema assim formulado, pode admitir-se que a força de
reacção p com dimensões [FL-1] se relaciona com o deslocamento da estaca y de dimensões [L] da
seguinte forma:
p K y= − ⋅ (2.19)
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
19
À constante de proporcionalidade entre a reacção do terreno e o deslocamento do terreno dá-se o
nome de módulo de reacção do solo K [FL-2], que dividido pela dimensão transversal da estaca dá
origem ao coeficiente de reacção kh [FL-3]. O sinal negativo da expressão indica que o sentido da
reacção do terreno é sempre oposto ao do deslocamento horizontal sofrido pela estaca.
Considere-se a estaca uma peça linear sujeita a um carregamento qualquer na sua cabeça e a uma
força distribuída p actuando ao longo do seu fuste e admita-se ainda a hipótese dos pequenos
deslocamentos. O comportamento da estaca pode ser avaliado pela equação diferencial,
2 2 2
2 2 2 ( , )d d y d y
E I N p z ydz dz dz
⎡ ⎤⋅ ⋅ + ⋅ =⎢ ⎥
⎣ ⎦ (2.20)
onde,
E é o módulo de elasticidade do material constituinte da estaca;
I é o momento de inércia da secção transversal da estaca;
z é a coordenada ao longo do eixo longitudinal da estaca (positivo no sentido descendente);
N é a força vertical actuante na cabeça da estaca.
As cargas verticais a que normalmente as estacas estão sujeitas, em comparação com a sua carga
crítica por encurvadura, são muito pequenas, pelo que é usual desprezar-se a contribuição do
deslocamento horizontal da estaca por este fenómeno de instabilidade. Considerando ainda a
compatibilidade dos deslocamentos da estaca e do terreno, a expressão (2.20) toma a seguinte
forma:
2 2
2 2 ( ) 0d d y
E I K z ydz dz
⎡ ⎤⋅ ⋅ + ⋅ =⎢ ⎥
⎣ ⎦ (2.21)
A equação regente do problema em estudo é uma equação diferencial de quarta ordem e para
determinar a sua solução são necessárias quatro equações que estabelecem as condições fronteira.
No caso de estacas com a cabeça livre, as condições fronteira estabelecem a relação entre a
terceira e a quarta derivada do deslocamento da estaca e a força e o momento concentrado
aplicado na sua cabeça, respectivamente. Estas condições estão expressas nas equações (2.22) e
(2.23):
2
2
0z
d d yE I H
dz dz=
⎡ ⎤⎛ ⎞⋅ ⋅ =⎢ ⎥⎜ ⎟
⎝ ⎠⎣ ⎦ (2.22)
2
20z
d yE I M
dz =
⎡ ⎤− ⋅ ⋅ =⎢ ⎥
⎣ ⎦ (2.23)
As outras duas condições remanescentes definem as condições de apoio da ponta da estaca. Assim,
no caso de estacas flutuantes, estipula-se que, quer o esforço transverso, quer o momento flector
na ponta da estaca são nulos, como ilustram as duas expressões seguintes:
CAPITULO 2
20
2
2 0 z L
d d yE I
dz dz=
⎡ ⎤⎛ ⎞⋅ ⋅ =⎢ ⎥⎜ ⎟
⎝ ⎠⎣ ⎦ (2.24)
2
2 0z L
d yE I
dz =
⎡ ⎤− ⋅ ⋅ =⎢ ⎥
⎣ ⎦ (2.25)
No caso de estacas encastradas na ponta, por seu lado, as condições fronteira postulam que o
deslocamento e a rotação da ponta da estaca são nulas, como se apresenta nas expressões (2.26) e
(2.27).
( ) 0y L = (2.26) ( ) 0dy
Ldz
= (2.27)
2.3.1.1.1 Coeficiente de reacção kh (FL-3)
A análise do comportamento de uma estaca solicitada horizontalmente utilizando os modelos
discretos, exige o conhecimento da variação do coeficiente de reacção kh ao longo do seu
comprimento.
Segundo Varatojo (1986), uma das leis de variação mais correntemente empregues emergiu dos
trabalhos de Palmer e Thompson (1948), cuja forma é:
n
h L
zk k
L⎛ ⎞= ⋅ ⎜ ⎟⎝ ⎠
(2.28)
em que,
kL é o valor do coeficiente de reacção na ponta da estaca;
L é o comprimento da estaca;
n é um número real, positivo, maior ou menor do que a unidade.
Em geral é usual considerar-se que o exponente n toma um valor nulo (correspondente a solos
homogéneos) para solos coerentes sobreconsolidados e igual à unidade (relativo à definição de solos
tipo Gibson) para solos incoerentes ou solos coerentes normalmente consolidados.
Para o caso dos solos tipo Gibson, normalmente apresenta-se o coeficiente de reacção sob a forma
da expressão (2.29).
h h
zk n
B⎛ ⎞= ⋅ ⎜ ⎟⎝ ⎠
(2.29)
sendo,
nh – a taxa de variação do módulo de reacção (K=kh·B) com a profundidade [FL-3].
Em solos reais, a relação entre a reacção do solo e o deslocamento de uma estaca solicitada
horizontalmente é não linear, com a reacção do solo atingindo um valor limite para grandes
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
21
deformações, como se apresenta em 2.3.1.2.1. No entanto, e para que se evite uma análise mais
complexa, a utilização de uma análise linear implica a escolha de um valor secante apropriado para
o coeficiente de reacção (Poulos e Davis, 1980).
2.3.1.1.2 Métodos de resolução do problema
A solução do problema em estudo pode ser obtida por via analítica ou por via numérica. A via
analítica só é viável para casos muito específicos, pela grande complexidade dos cálculos
envolvidos. No caso da via numérica são de referir dois métodos: o método das diferenças finitas e o
método dos elementos finitos.
2.3.1.1.2.1 Soluções analíticas
A generalidade das soluções analíticas para o problema em estudo parte da hipótese de inércia da
estaca e módulo de reacção constantes em profundidade. Para outras situações, a dificuldade do
cálculo obriga a recorrer a desenvolvimentos em séries, de tal modo que os resultados são obtidos
através de cálculos extremamente trabalhosos, sendo aproximações dos valores correctos.
Hetenyi (1946) desenvolveu equações para o deslocamento, rotação, momento flector e esforço
transverso de uma viga assente em meio elástico (K constante) carregada por uma força em
qualquer ponto do seu eixo, do qual o problema de estacas solicitadas horizontalmente constitui um
caso particular, uma vez que o carregamento se situa numa das extremidades da viga (Varatojo,
1986).
A solução geral da equação (2.21) é da forma:
( ) ( )1 cos 2 3 cos 4z zy C z C sen z e C z C sen z eλ λλ λ λ λ −= ⋅ + ⋅ ⋅ + ⋅ + ⋅ ⋅ (2.30)
em que C1 a C4 são constantes de integração que dependem do carregamento e das condições
fronteira e o parâmetro λ é dado pela expressão:
4
4KE I
λ =⋅ ⋅
(2.31)
As soluções desenvolvidas dividem-se em três casos, nomeadamente o caso de estacas flexíveis,
semi-flexíveis e rígidas pelas simplificações que podem ser efectuadas nos casos limites.
No caso de estacas rígidas, pode-se desprezar a deformação por flexão da própria estaca por ser
negligenciável comparativamente com a deformação da própria fundação. Assim, neste caso, a
solução do problema pode ser resolvido pela consideração de equilíbrio estático.
CAPITULO 2
22
Nas estacas semi-flexíveis (vigas finitas), uma força actuante numa das extremidades tem efeito
finito e não desprezável na outra extremidade. Consequentemente, no estudo de uma estaca com
estas características, efectuado com base no comportamento de uma viga infinita assente em meio
elástico, o efeito das condições fronteira na ponta da estaca é importante para a avaliação do seu
desempenho.
Por fim, nas estacas flexíveis (vigas semi-infinitas), as condições fronteira da ponta da estaca são
negligenciáveis.
As expressões para os deslocamentos, rotações, momentos flectores e esforços transversos para as
várias condições fronteira e na condição do solo ser homogéneo podem ser encontradas na
bibliografia como por exemplo no trabalho de Varatojo de 1986 ou de Santos de 1993.
Para o caso do módulo de reacção variar linearmente em profundidade, não existem soluções
analíticas exactas, sendo necessário recorrer a desenvolvimentos em séries. Segundo Velloso e
Lopes (2002), Miche (1930) foi o primeiro autor a resolver este problema, no entanto vários outros
autores se dedicaram a este assunto.
2.3.1.1.2.2 Método das diferenças finitas
A solução da equação diferencial (2.21), para o caso de distribuições do módulo de reacção em
profundidade diferentes da constante (e para o caso da sua variação com a deformação da estaca
que será analisada em 2.3.1.2.1), foi determinada predominantemente pelo método das diferenças
finitas.
Citando Varatojo (1986), os primeiros desenvolvimentos no domínio da utilização deste método para
a análise do problema em estudo devem-se a Palmer e Thompson (1948), que apresentaram a
solução para o caso do módulo de reacção evoluir linearmente em profundidade, considerando a
estaca dividida em oito partes iguais, livre de rodar no topo. Posteriormente, Gleser (1953) obteve a
mesma solução para o caso de rotação impedida na cabeça da estaca, mas generalizando o método,
tornando-o aplicável a qualquer número de partes em que a estaca é dividida.
Neste método, a estaca é dividida em n troços de igual comprimento, dando origem a n+1 pontos
nodais. Para cada ponto nodal a equação (2.21) reescreve-se da seguinte forma:
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
23
-2
-1
0
1
2
3
4
n-1
n-2
i+2
i+1
i
i-1
i-2
n
n+2
n+1
Ho
Mo
( )
2 1 1 24
4 6 40i i i i i
i i i i
y y y y yE I K y
L n− − + +
⎡ ⎤− ⋅ + ⋅ − ⋅ +⋅ ⋅ + ⋅ =⎢ ⎥
⎢ ⎥⎣ ⎦ (2.32)
em que,
Ei é o módulo de elasticidade do material constituinte da estaca no ponto i;
Ii é o momento de inércia da secção transversal da estaca no ponto i;
yi é o deslocamento da estaca no ponto i;
Ki é o módulo de reacção do solo no ponto i;
L é o comprimento da estaca;
n é o número de intervalos em que a estaca é dividida.
As incógnitas do problema são n+5: n+1 dos deslocamentos dos nós da estaca e
quatro dos dois nós fictícios em cada extremidade da estaca.
A equação de compatibilidade pode ser escrita para os pontos de 1 a n-1, obtendo-se assim n-1
equações. Para o sistema ser determinado faltam seis equações, quatro das quais fornecidas pelas
condições fronteira na cabeça e na ponta da estaca e as outras duas pelas condições de equilíbrio
das forças horizontais e dos momentos.
As equações (2.22) e (2.23) que estabelecem as condições fronteira para a cabeça da estaca, tomam
a seguinte forma em diferenças finitas:
3
02 1 1 2 3
22 2
H Ly y y y
E I n− −
⋅ ⋅− ⋅ + ⋅ − =
⋅ ⋅ (2.33)
2
01 0 1 22
M Ly y y
E I n−
⋅− ⋅ + =
⋅ ⋅ (2.34)
e as equações (2.24) e (2.25) que ilustram as condições fronteira para a ponta de estacas flutuantes
expressam-se da seguinte forma:
2 1 1 22 2 0n n n ny y y y+ + − −− ⋅ + ⋅ − = (2.35) 1 1 2 0n n ny y y+ −− ⋅ + = (2.36)
e no caso de estacas encastradas na ponta:
0ny = (2.37)
1 1 0n ny y− +− = (2.38)
Esta metodologia de resolução do problema permite considerar qualquer tipo de variação do módulo
de reacção em profundidade, no entanto, cada problema terá que ser solucionado individualmente
segundo as características físicas da estaca, do módulo de reacção e das condições de carregamento
(Sousa Coutinho, 1995).
CAPITULO 2
24
Pela razão apontada, são de grande importância os trabalhos de 1956, 1960 e 1961 de Matlock e
Reese onde estes autores desenvolveram soluções adimensionais para várias leis de variação do
módulo de reacção em profundidade. Em 1956 estes autores estudaram o caso do módulo de
reacção com variação linear em profundidade. Em 1960 é fornecido um encaminhamento para se
resolver o problema com qualquer lei de variação e em 1961 é retomado o caso do módulo de
reacção variar linearmente com a profundidade (Velloso e Lopes, 2002).
O método dos parâmetros adimensionais baseia-se na semelhança entre um sistema físico qualquer
e um modelo que se possa dizer semelhante ao sistema original, pelo que os sistemas têm de
obedecer às seguintes condições: a) os sistemas terão de ser geometricamente semelhantes; b) para
cada grandeza considerada terá que existir proporcionalidade entre os valores associados aos
elementos correspondentes de um e outro sistema; e, c) as relações entre os valores de todas as
grandezas físicas consideradas, nos dois sistemas, expressas num dado sistema de unidades, terão
de conduzir a relações unívocas entre as dimensões fundamentais das grandezas de ambos os
sistemas (Brotas, 1980 por Sousa Coutinho, 1995).
Assim, a solução do modelo é igualmente a solução de todos os sistemas físicos que lhe sejam
semelhantes. No caso de estacas solicitadas horizontalmente, a grandeza fundamental da
adimensionalização do sistema tem o nome de factor de rigidez relativa e as dimensões de um
comprimento, sendo uma função da lei de variação com a profundidade do módulo de reacção e das
grandezas físicas que definem a rigidez à flexão da estaca.
Das várias leis possíveis para a variação do módulo de reacção em profundidade, a variação
exponencial em profundidade, ou seja K=Cn·zn, é a mais utilizada e segundo Sousa Coutinho (1995)
esta lei parece suficiente para a generalidade dos problemas práticos de maciços sem
estratificação, desde que exista uma escolha criteriosa dos parâmetros que nela intervêm. Neste
caso, o factor de rigidez relativa R vale:
4n
n
E IR
C+ ⋅
= (2.39)
Se os deslocamentos forem pequenos em relação às dimensões da estaca e admitido para o solo um
comportamento elástico linear, é válido o princípio de sobreposição de efeitos e os deslocamentos
resultantes da acção de uma força e de um momento actuantes na cabeça da estaca podem ser
determinados isoladamente e adicionados à posteriori.
Sendo yA e yB os deslocamentos resultante da acção de uma força concentrada H0 e de um momento
concentrado M0 actuantes na cabeça da estaca respectivamente, o deslocamento total será:
A By y y= + (2.40)
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
25
em que yA e yB são função das acções, da profundidade, do comprimento da estaca, do factor de
rigidez relativa, do módulo de reacção e da rigidez à flexão da estaca (E·I). Poder-se–á no entanto
reduzir de seis para quatro variáveis adimensionais independentes, apresentadas em sequência:
Coeficiente de profundidade:
z
ZR
= (2.41)
Coeficiente de profundidade máxima:
max
LZ
R= (2.42)
Função do módulo de reacção do solo:
4( )K
Z RE I
Ψ = ⋅⋅
(2.43)
Coeficientes de deslocamento:
3 20 0
ou A By y
y E I y E IA B
H R M R⋅ ⋅ ⋅ ⋅
= =⋅ ⋅
(2.44)
Para satisfazer as condições de semelhança, cada um dos coeficientes acima descritos deve ser igual
no modelo e no protótipo.
Pode então reescrever-se a equação regente do problema considerando separadamente os efeitos
da força ou do momento aplicado na cabeça da estaca:
4 4
4 4( ) 0 e ( ) 0y yy y
d A d BZ A Z B
dZ dZ+ Ψ ⋅ = + Ψ ⋅ = (2.45)
Resolvendo as equações anteriormente descritas, determinam-se os coeficientes de deslocamento
Ay e By como funções de Z para cada lei Ψ(Z) que tenha sido considerada. Os movimentos e os
esforços da estaca são então dados pelas seguintes expressões:
Deslocamento:
3 2
( ) ( ) ( )o oy y
H R M Ry Z A Z B Z
E I E I⋅ ⋅
= ⋅ + ⋅⋅ ⋅
(2.46)
Rotação:
2
( ) ( ) ( )o oH R M RZ A Z B Z
E I E Iθ θθ⋅ ⋅
= ⋅ + ⋅⋅ ⋅
(2.47)
Momento flector:
( ) ( ) ( )M o M oM Z A Z H R B Z M= ⋅ ⋅ + ⋅ (2.48)
Esforço transverso:
( ) ( ) ( ) o
V o V
MV Z A Z H B Z
R= ⋅ + ⋅ (2.49)
Reacção do solo:
2( ) ( ) ( )o o
p p
H Mp Z A Z B Z
R R= ⋅ + ⋅ (2.50)
No caso de estacas rígidas, o método das diferenças finitas introduz erros significativos pela razão
do valor das diferenças sucessivas que estão em jogo ser muito pequeno, sendo preferível
considerar outro método no qual a estaca é considerada como um elemento rígido e obter as
soluções a partir do equilíbrio estático do sistema. Matlock e Reese defendem ainda a importância
CAPITULO 2
26
das soluções generalizadas obtidas para este tipo de estacas e desenvolvem um procedimento
análogo ao das estacas flexíveis (Varatojo, 1986).
Vários autores comparam os resultados do método adimensional proposto e o método referente a
estacas curtas, com o objectivo de determinar a gama de valores de Zmax para a qual cada uma das
teorias é aplicável. Sousa Coutinho em 1995 apresenta as conclusões obtidas, que se resumem nos
seguintes pontos:
estacas cujo comprimento seja menor ou igual a 2 R⋅ comportam-se como estacas rígidas; neste
caso, as soluções para estacas rígidas são adequadas, reduzindo-se o problema à determinação
da profundidade do centro de rotação e o valor dessa rotação;
estacas com comprimento igual ou superior a 4 R⋅ podem ser analisadas como se tivessem
apenas um comprimento de 4 R⋅ , uma vez que, para comprimentos superiores as soluções são
praticamente idênticas; o valor de 4L R= ⋅ é normalmente designado como o comprimento
crítico ou efectivo da estaca;
estacas com um comprimento entre 2 R⋅ e 4 R⋅ têm que ser analisadas individualmente; na
prática, bastará dispor de uma série de soluções em termos de parâmetros adimensionais para
diferentes coeficientes de profundidade máxima entre aqueles dois limites e de acordo com a
lei de variação do módulo de reacção do solo em profundidade seleccionada.
No caso de estacas flexíveis e para uma variação exponencial do módulo de reacção em
profundidade, Matlock e Reese analisaram a influência do valor do expoente nos deslocamentos e
esforços expectáveis para as estacas. Analisando os casos de n= ½, 1 e 2, estes autores chegaram à
conclusão que embora os módulos de reacção sejam bastante diferentes entre si, os deslocamentos
e momentos flectores são semelhantes, uma vez que o comportamento da estaca depende da raiz
(n+4) do factor de rigidez relativa e consequentemente da raiz (n+4) do módulo de reacção.
Concluíram ainda que os deslocamentos e os momentos flectores máximos crescem quando n cresce
e que os valores do modulo de reacção que controlam o comportamento da estaca são os verificados
para coeficientes de profundidade Z inferiores à unidade. Para os casos em que o módulo de
reacção não varie linearmente em profundidade (n>1), concluíram que a hipótese de n=1 é
satisfatória na prática (Velloso e Lopes, 2002).
Desta forma e devido à sua utilidade, apresentam-se na Figura 2.14 as soluções para estacas
flexíveis instaladas em solos cujo módulo de reacção varia linearmente em profundidade (n=1).
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
27
0
1
2
3
4
5
-1,0 0,0 1,0 2,0 3,0
Ay ou By
Z
Ay
By
a)
0
1
2
3
4
5
-2,0 -1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5
Aθ ou Bθ
Z
Αθ
Βθ
b)
0
1
2
3
4
5
-0,5 0,0 0,5 1,0 1,5
Am ou Bm
Z
Am
Bm
c)
0
1
2
3
4
5
-1,0 -0,5 0,0 0,5 1,0 1,5
Av ou Bv
Z
Av
Bv
d)
0
1
2
3
4
5
-1,5 -1,0 -0,5 0,0 0,5
Ap ou Bp
Z
Ap
Bp
e)
Figura 2.14 – Coeficientes adimensionais em função de Z para estacas flexíveis (Zmáx>5) instaladas em solos cujo
módulo de reacção varia linearmente em profundidade
2.3.1.1.2.3 Método dos elementos finitos
O método dos elementos finitos (MEF) é uma outra via numérica possível para resolver o problema
de estacas solicitadas horizontalmente. Este método, pela sua grande capacidade de adaptação e
facilidade de utilização, tem vindo a ser cada vez mais utilizado não só nesta matéria, mas nos
vários problemas de modelação numérica em Geotecnia, bem como noutras áreas da engenharia.
Neste caso particular, foi a capacidade de incorporar um conjunto de fenómenos inerentes ao
comportamento de estacas solicitadas horizontalmente (que serão expostos em 2.3.1.2) permitindo
o aperfeiçoamento do modelo de interacção solo-estaca, que impulsionou a utilização deste
método.
CAPITULO 2
28
A formulação do MEF baseada nos deslocamentos, na qual as incógnitas do problema são os
deslocamentos nodais, engloba resumidamente as seguintes operações: a) discretização do domínio,
que consiste na subdivisão do domínio em zonas, denominadas elementos finitos que se ligam entre
si por intermédio de nós situados nas suas fronteiras; b) selecção das funções de interpolação que
definem aproximadamente o campo dos deslocamentos no interior do elemento finito, em função
do comportamento dos seus nós (estas funções podem ser polinomiais, trignométricas ou de outro
tipo); c) obtenção das matrizes de rigidez dos elementos recorrendo ao teorema dos trabalhos
virtuais ou ao princípio da energia potencial mínima; d) construção da matriz de rigidez global e do
vector de solicitação global tendo em consideração a contribuição de cada elemento finito; e)
considerando as condições fronteira, resolução do sistema de equações permitindo a obtenção dos
deslocamentos nodais incógnitos e as reacções de apoio em nós de deslocamento prescrito; e, f)
determinação através das funções de aproximação dos deslocamentos no interior dos elementos e
posteriormente as deformações e as tensões.
A aplicação deste método ao estudo de estacas solicitadas horizontalmente, utilizando modelos
discretos, pode encontrar-se detalhadamente no trabalho de Portugal (1992).
2.3.1.2 Desenvolvimentos do modelo de Winkler
O modelo de Winkler, pela experiência acumulada ao longo de anos e pela facilidade da sua
utilização em conjunto com os ábacos e soluções tabeladas disponíveis, particularmente para solos
cujo módulo de reacção é constante ou linearmente crescente em profundidade, é um método de
utilização corrente. Apesar disso, este método é diversas vezes criticado pelas suas limitações e
pela sua natureza semi-empírica.
A limitação mais óbvia deste método é a falta de continuidade na modelação do solo. De facto o
solo é um meio contínuo, na medida em que os deslocamentos num ponto são influenciados pelas
tensões e forças eventualmente aplicadas noutros pontos da massa de solo.
Uma outra limitação do método, como foi originalmente proposto, prende-se com o facto de
assumir para o solo um comportamento elástico e linear. O solo só terá comportamento linear numa
fase inicial do processo de deformação, pelo que, para estágios mais avançados, a não linearidade
da curva reacção do solo – deslocamento deverá ser considerada.
A natureza semi-empírica do método, bem como a desconsideração dos efeitos do carregamento
axial são outras das críticas efectuadas ao modelo. Assim, na tentativa de aproximar o modelo o
mais possível à realidade, vários autores têm introduzido certas modificações ao modelo
inicialmente proposto.
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
29
2.3.1.2.1 Comportamento não linear do solo
2.3.1.2.1.1 Curvas p -y
No modelo de Winkler, como foi originalmente proposto, o comportamento do solo é simulado por
molas independentes com comportamento elástico linear. Varatojo (1986, 1995) aponta várias
razões para que o comportamento dos solos não seja adequadamente descrito por modelos elásticos
e lineares, nomeadamente: 1) sendo o solo um meio particulado apresenta um comportamento
tensão-deformação não linear e deslocamentos que em grande parte se mantêm na descarga; 2) o
solo apresenta nula ou pequena resistência a esforços de tracção; 3) entra em cedência para níveis
de tensão por vezes muito baixos; e, 4) existem fenómenos de fluência e/ou consolidação
associados às deformações.
Desta forma, tornou-se necessária a adopção, no modelo proposto, de molas com comportamento
não linear com deformabilidade crescente com o nível de tensão. A determinação do
comportamento de uma estaca solicitada horizontalmente envolve assim a resolução de um
problema de interacção solo-estrutura na qual duas condições devem ser verificadas: as equações
de equilíbrio da estaca e a compatibilidade entre o deslocamento e a reacção do solo.
McClelland e Focht em 1956 foram pioneiros na proposta da definição do módulo de reacção em
função da deformação da estaca e da profundidade, por curvas a que se deu o nome de curvas p-y.
Na Figura 2.15 apresenta-se uma curva p-y pertencente a uma família de curvas que representam o
comportamento do solo em função da profundidade. Pode admitir-se que estas curvas são composta
essencialmente por três zonas: 1) a primeira zona, da origem ao ponto A, corresponde ao domínio
das muito pequenas deformações em que o comportamento do solo é elástico linear; 2) a segunda
zona, definida entre os pontos A e B, relativa ao domínio das pequenas a grandes deformações,
exibe o crescimento da resistência do solo com o deslocamento da estaca, mas com uma taxa de
crescimento decrescente; 3) e, por último, a terceira zona, após o ponto B, corresponde ao domínio
das grandes deformações, em que o solo tem um comportamento plástico (Santos, 1999).
Tradicionalmente, a resolução numérica do problema é conseguida pela aplicação do método das
diferenças finitas (ou do método dos elementos finitos) para obtenção da solução da equação
diferencial de 4ª ordem (2.21) que traduz o comportamento da estaca carregada horizontalmente,
por analogia com a viga assente em meio elástico.
CAPITULO 2
30
pu
deslocamento da estaca y [L]
resi
stên
cia
do s
olo
p [F
L ]-1
B
A Ks
Ki
b)
y z=z1
2z=zy
3z=zy
4z=zy
y
z
p
a) deslocamento da estaca y [L]
mód
ulo
de re
acçã
o do
sol
o K
s [F
L ]
-2
c)
Figura 2.15 – Curvas p-y: a) conjunto das curvas p-y características da interacção solo-estaca; b) relação
típica entre a reacção do solo e o deslocamento da estaca a uma dada profundidade (curva p-y); e, c)
variação do módulo de reacção secante do solo e o deslocamento da estaca
Para baixos níveis de deformação, a relação p-y pode ser adequadamente representada à custa do
módulo reacção tangente ou inicial do solo (Ki). No entanto, quando se pretende analisar o
comportamento em estádios avançados de deformação a não linearidade da relação p-y deverá ser
considerada pela adopção do módulo de reacção secante do solo (Ks), que é definido pela inclinação
da secante traçada desde a origem até qualquer ponto ao longo da curva p-y.
A essência do método que utiliza as curvas p-y consiste na introdução de uma série destas curvas,
que permitam a obtenção de um valor representativo do módulo de reacção do solo para uma dada
profundidade e deslocamento.
As curvas p-y dependem de uma vasta gama de parâmetros, nomeadamente: a dimensão e a forma
da secção transversal da estaca, a rigidez à flexão da estaca, o tipo de terreno e os seus parâmetros
de resistência ao corte e relações tensão–deformação, o tipo de carregamento (constante ou
cíclico), a velocidade de aplicação das cargas, o número de vezes que a carga é aplicada e o seu
tempo de actuação, o efeito das sobrecargas no terrapleno, o posicionamento do nível das águas
subterrâneas, a tensão de confinamento, o modo de deformação e fenómenos de consolidação e
fluência do terreno (Varatojo, 1995). A previsão do seu andamento tem sido desenvolvida com base
em estudos de várias naturezas que podem ser enquadrados nos seguintes grupos:
- ensaios de carga de estacas em verdadeira grandeza;
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
31
- ensaios de carga de cargas em modelo reduzido;
- ensaios in situ (ensaio pressiométrico, ensaio de placa);
- correlações empíricas com base em ensaio laboratoriais.
A apresentação detalhada das propostas para estas curvas apresenta-se no próximo capítulo deste
trabalho.
2.3.1.2.1.2 Ábacos e expressões para determinação dos deslocamentos das estacas
admitindo para o solo comportamento elástico perfeitamente plástico
Alem e Gherbi (2000) e posteriormente Alem e Benamar (2003) desenvolveram expressões
analíticas, baseadas no método das curvas p-y, para prever o comportamento de estacas solicitadas
horizontalmente embebidas em argilas e areias, respectivamente.
Nesses trabalhos admitiram para as molas, que simulam o comportamento do solo, um
comportamento elástico-perfeitamente plástico, caracterizando o solo através de dois parâmetros:
a resistência última pu e o módulo de reacção K. Para a resistência última do solo, os autores
consideraram para as argilas a proposta de Broms (1964b) e para as areias optaram pela proposta de
Barton (1982), mas por simplificação consideraram que a resistência do solo é sempre proporcional
ao quadrado do coeficiente de impulso passivo de Rankine. Para o caso do módulo de reacção ser
crescente em profundidade, estes autores propõem a adopção de um valor representativo desta
grandeza, deduzido por uma expressão que iguala os deslocamentos em fase elástica de uma estaca
solicitada por uma força na cabeça, com uma dada excentricidade, embebida nos dois tipos de solo
considerados, homogéneo e tipo Gibson.
A distribuição da reacção do solo é decomposta em duas zonas distintas: uma zona plástica que se
estende até à profundidade zp (função da força actuante na cabeça da estaca e do seu ponto de
aplicação, da resistência última do solo e da rigidez relativa solo-estaca); e uma zona elástica
situada a partir dessa mesma profundidade até à ponta da estaca. Na zona plástica, a reacção do
solo é igual à resistência última do solo e, na zona elástica, é proporcional ao deslocamento da
estaca.
Para além das expressões analíticas, os autores desenvolveram ábacos adimensionais para o cálculo
do deslocamento e da rotação à superfície do terreno e do momento flector máximo nas estacas
solicitadas. A título de exemplo apresentam-se na Figura 2.16 os ábacos desenvolvidos para areias,
referentes à determinação do deslocamento à superfície e do momento flector máximo.
CAPITULO 2
32
4 E IKλ=
λL=
1,5λL
=2
λL=
3
λL=
4
λL=
6
λL=
8
λL=
10
λL=0,6λL=0,4
0,0
deslocamento adimensional à superfície do terreno y0 λ K/α
0,00,0
40,0 120,080,00,0
160,0
forç
a ap
licad
a ad
imen
sion
al
H0
λ /α
1,0
2
2,0
2pu=Kp γ z B=α z
forç
a ap
licad
a ad
imen
sion
al
H0
λ /α
λL=4
4,0
2,0
λL=10λL=8
λL=6
2
8,0
6,0
λL=3
λL=2
λL=1,5
λL=1,0λL=0,8
pu=Kp γ z B=α z
momento máximo adimensional Mmáx λ /α
1,0
3
2,0 3,0
4 E I
4
2
λ= K
λL=0λL=0,2λL=0,4λL=0,6λL=0,8λL=
1,0
3,0
4 λL=0,2λL=0 10,0
a) b)
Figura 2.16 – Ábacos adimensionais desenvolvidos para areias, para determinação, em função de uma força
aplicada na cabeça, dos: a) deslocamentos à superfície; b) momentos flectores máximos (adaptado de Alem e
Benamar, 2003)
2.3.1.2.1.3 Método da Carga Característica (CLM)
As curvas p-y permitem representar o comportamento dos diferentes tipos de solo de uma forma
realista e os resultados das análises efectuadas aproximam-se dos resultados de ensaios de carga em
estacas. No entanto, a plena aplicação do método nem sempre é justificável dada ao tempo
necessário para a sua utilização. Assim, segundo Brettmann e Duncan (1996), Duncan et al. em 1994
desenvolveram um método denominado “Método da Carga Característica” (CLM) que, apesar de
aproximado, é bastante simples e pode ser utilizado, quer numa fase de pré-dimensionamento, quer
no caso de estruturas de menor importância.
Este método resultou da aplicação do método das curvas p-y a inúmeros casos, considerando estacas
com a cabeça livre e encastrada instaladas em solos coerentes e incoerentes. O resultado deste
estudo foi sistematizado através de relações entre variáveis adimensionais.
Este método pode ser utilizado para determinar os deslocamentos à superfície do terreno e o
momento flector máximo de estacas sujeitas a forças horizontais e/ou momentos concentrados
aplicados na sua cabeça.
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
33
Existem três grupos principais de relações adimensionais: força-deslocamento, momento-
deslocamento e força-momento, que se apresentam sob a forma de expressões exponenciais e que
se podem representar em ábacos como se ilustra na Figura 2.17.
( ) ( )0b
cy B a H H= ⋅
(2.51)
( ) ( )0b
cy B a M M= ⋅
(2.52)
( ) ( )0b
máx c cM M a H H= ⋅
(2.53)
em que,
y é o deslocamento à superfície do terreno;
H0 e Hc são a força aplicada na cabeça da estaca e a força característica (força de normalização),
respectivamente;
M0, Mc e Mmáx são o momento aplicado na cabeça da estaca, o momento característico (momento de
normalização) e o momento flector máximo, respectivamente;
a e b são coeficientes determinados pelo método dos mínimos quadrados que ajustam as curvas às
grandezas determinadas pelas curvas p-y.
As forças e os momentos característicos são determinados pelas seguintes expressões, definindo-se
RL pela relação entre os momentos de inércia da estaca e de uma estaca de secção transversal
circular de diâmetro B.
Solos argilosos:
( )0,68
27,34 uc L
L
sH B E R
E R⎛ ⎞
= ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⎜ ⎟⋅⎝ ⎠ (2.54)
( )0,46
33,86 uc L
L
sM B E R
E R⎛ ⎞
= ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⎜ ⎟⋅⎝ ⎠ (2.55)
Solos arenosos:
( )0,57
2 ' '1,57 p
c LL
B KH B E R
E R
γ φ⋅ ⋅ ⋅⎛ ⎞= ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⎜ ⎟⋅⎝ ⎠
(2.56)
( )0,40
3 ' '1,33 p
c LL
B KM B E R
E R
γ φ⋅ ⋅ ⋅⎛ ⎞= ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⎜ ⎟⋅⎝ ⎠
(2.57)
Os valores de su e de φ’, nos casos respectivamente de solos argilosos e arenosos, devem ser
determinados ao longo de uma profundidade igual a 8 B⋅ abaixo da superfície do terreno.
Para determinar o deslocamento à superfície do terreno, nos casos de aplicação isolada de uma
força ou um momento concentrado, basta utilizar os ábacos ou expressões correspondentes. No
entanto, no caso de uma solicitação conjunta destes dois tipos de solicitação e uma vez que o
princípio da sobreposição não é válido devido ao comportamento não linear do solo, pode-se utilizar
a seguinte metodologia:
1. calcular os deslocamentos yH e yM produzidos respectivamente pela força H0 e pelo momento
concentrado M0 actuantes na cabeça da estaca;
2. calcular a força HM capaz de produzir o deslocamento yM e o momento concentrado MH capaz de
produzir o deslocamento yH;
CAPITULO 2
34
3. calcular o deslocamento yHM produzido pela força H0 + HM e o deslocamento yMH produzido pelo
momento concentrado M0 + MH;
4. determinar o valor aproximado do deslocamento ( )12 HM MHy y y= ⋅ + .
O momento flector máximo determina-se directamente pela expressão (2.53) ou pelos ábacos
correspondentes, mas apenas para o caso da estaca ser solicitada unicamente por uma força
aplicada na sua cabeça. No caso da aplicação de uma força e de um momento concentrado na
cabeça da estaca, é necessário determinar o valor do deslocamento como descrito no parágrafo
anterior e determinar o comprimento característico da estaca, recorrendo às soluções
adimensionais de Matlock e Reese (1960), pela expressão:
3 20 02,435 1,623H My R R
E I E I⋅ ⋅
= ⋅ + ⋅⋅ ⋅
(2.58)
determinando-se em seguida os momentos flectores utilizando a expressão (2.59).
0 0( ) ( ) ( )M MM Z A Z H R B Z M= ⋅ ⋅ + ⋅ (2.59)
No caso da estaca ser de betão armado e o momento máximo calculado exceder o momento de
fendilhação da secção da estaca, a sua rigidez à flexão E I⋅ deve ser calculada tendo em
consideração a fissuração do betão, recomendando-se que se repitam os cálculos, considerando uma
redução de 50% do momento de inércia da secção.
No Quadro 2-I apresentam-se os comprimentos mínimos para as estacas para que seja válido o
método CLM . Outra das limitações deste método é o facto de não ser aplicável a terrenos
estratificados.
Quadro 2-I - Comprimentos mínimos para a validade do método CLM
argilas areias
L
u
E Rs⋅
Comprimento mínimo ' '
L
p
E RB Kγ φ
⋅⋅ ⋅ ⋅
Comprimento mínimo
100 000 6·B 10 000 8·B
300 000 10·B 40 000 11·B
1 000 000 14·B 200 000 14·B
3 000 000 18.B - -
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
35
0,00
0,01
0,02
0,03
0,04
0,05
0,00 0,05 0,10 0,15
y/B
H0/
Hc
cabeça livre
cabeça encastrada
argilas
0,000
0,005
0,010
0,015
0,020
0,00 0,05 0,10 0,15
y/B
H0/
Hc
cabeça livre
cabeça encastrada
areias
a) b)
0,00
0,01
0,02
0,03
0,00 0,05 0,10 0,15
y/B
M0/
Mc
argilas
0,00
0,01
0,02
0,03
0,00 0,05 0,10 0,15
y/B
M0/
Mc
areias
c) d)
0,000
0,010
0,020
0,030
0,040
0,050
0,000 0,005 0,010 0,015
Mmáx/Mc
H0/
Hc
cabeça livre
cabeça encastrada
argilas
0,000
0,005
0,010
0,015
0,020
0,000 0,005 0,010 0,015
Mmáx/Mc
H0/
Hc
cabeça livre
cabeça encastrada
areias
e) f)
Figura 2.17 – Deslocamento da cabeça da estaca solicitada por uma força horizontal: a) em solo argiloso e b)
em solo arenoso; deslocamento da cabeça da estaca solicitada por um momento concentrado: c) em solo
argiloso e d) em solo arenoso; determinação do momento flector máximo: e) em solo argiloso e f) em solo
arenoso
CAPITULO 2
36
2.3.1.2.1.4 Método do Módulo de Reacção Máximo
Prakash e Kumar (1996), baseando-se na análise que Mwindo (1992) efectuou sobre os resultados
experimentais de 22 ensaios de carga em estacas de materiais diferentes, embebidas em areias de
diferentes compacidades, desenvolveram um método para prever o deslocamento de estacas
solicitadas horizontalmente e instaladas em areias, denominado neste trabalho por Método do
Módulo de Reacção Máximo.
O método baseia–se na relação não linear existente entre o módulo de reacção do solo e o
deslocamento da estaca e, consequentemente, da deformação do solo envolvente a esta.
A distorção do solo envolvente a uma estaca solicitada horizontalmente depende da sua
deformação. Kagawa e Kraft (1980) concluíram que cerca de 70% do deslocamento da estaca é
devida à deformação de uma região de solo equivalente a um diâmetro da estaca. Assim, o aumento
da distorção do solo resultante da interacção solo-estaca está concentrado nesta zona. Os autores,
à semelhança de Matlock (1970), propõem para a deformação normal média do solo segundo a
direcção e o sentido do carregamento a seguinte expressão:
2,5y B ε= ⋅ ⋅ (2.60)
Na direcção perpendicular ao carregamento a deformação é igual a υ ε− ⋅ e a distorção máxima do
solo é então dada por:
1
(1 )2,5
yB
υγ υ ε += + ⋅ = ⋅
⋅ (2.61)
Mwindo desenvolveu relações empíricas para relacionar a degradação do módulo de reacção máximo
do solo com a distorção, utilizando uma expressão exponencial representada em (2.62),
apresentando valores para as constantes a e b em função da compacidade da areia e do material da
estaca.
b
i
K aK γ −= ⋅ (2.62)
Prakash e Kumar quando representaram todos os resultados experimentais em conjunto,
entenderam que a curva de degradação do módulo de reacção deveria ser única, sugerindo a
expressão (2.62) com os valores de 0,052 para a constante a e 0,48 para a constante b,
correspondendo o módulo de reacção máximo a uma distorção de 0,002.
Após a exposição das duas expressões bases, apresentam-se os passos a seguir para a condução do
método proposto:
1) assumir um dado deslocamento na cabeça da estaca;
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
37
2) determinar a distorção associada a esse deslocamento pela expressão:
12,5
yB
υγ += ⋅
⋅ (2.63)
3) seleccionar o valor de Ki, definido como o valor do módulo de reacção do solo relativo a uma
distorção de 0,002 a 1m de profundidade, em função da compacidade da areia, de acordo com o
Quadro 2-II;
Quadro 2-II – Valores recomendados para Ki para areias submersas (Prakash e Kumar, 1996)
Compacidade da areia Ki (kN/m2)
Compacta 40000 – 80000
Média 21500 – 45500
Solta 4050 - 10800
4) determinar o valor de K em função de Ki e γ pela expressão (2.62);
5) calcular o valor da taxa de variação do módulo de reacção com a profundidade (nH = K/L, com
L=1m) e afectá-lo da posição do nível freático em consonância com o Quadro 2-III;
Quadro 2-III – Factores de majoração de nH em função da posição do nível freático (Prakash e Kumar, 1996)
Profundidade do nível freático z1 (m) Factor de majoração de nH
0 – 3,05 1,00 – 0,1311·z1
3,05 – 4,6 1,67
> 4,6 2,00
6) calcular o valor do factor de rigidez relativa R pela expressão (2.64), verificando se a estaca é
flexível (L/R> 5), utilizando o comprimento real da estaca:
5H
EIR n= (2.64)
7) calcular o carregamento à cabeça da estaca correspondente ao deslocamento arbitrado em 1),
utilizando para isso os coeficientes adimensionais de Matlock e Reese (1960):
3 2
( ) ( ) ( )o oy y
H R M Ry Z A Z B Z
E I E I⋅ ⋅
= ⋅ + ⋅⋅ ⋅
(2.65)
com Ay = 2,435 e By = 1,623.
CAPITULO 2
38
2.3.1.2.2 Outros desenvolvimentos
A principal limitação apontada ao modelo de Winkler deve-se à sua falta de continuidade. Uma das
várias sugestões que surgiram para ultrapassar esta limitação foi desenvolvida por Georgiadis e
Butterfield (1982) que aplicaram o modelo de Pasternak a estacas solicitadas horizontalmente,
como se ilustra na Figura 2.18a). Neste modelo, é introduzida uma membrana ligando os topos das
molas do modelo de Winkler que se encontram desta forma solidarizadas, levando à sua deformação
conjunta (Horvath, 1984; Portugal, 1992; Sousa Coutinho, 1995).
5
alçado planta
a)
3
4
b)
estaca
membrana
estaca
MH molas
2
comportamento reológico dos elementos 1 a 5
pui
yi
1
pi
Figura 2.18 – a) Modelo de Pasternak aplicado a estacas solicitadas horizontalmente (adaptado de Horvath,
1984) e b) Modelo discreto de Liu e Meyerhof (1987)
O facto de se desprezarem as tensões de corte que se geram no contacto estaca-solo ao longo do
processo de deformação, bem como a resistência da base da estaca é outra das limitações dos
modelos tipo Winkler (Portugal, 1992). Este fenómeno é especialmente importante em estacas
curtas, face à relação entre o diâmetro e o comprimento deste tipo de estacas ser elevado. Esta
limitação foi ultrapassada por modelos que consideram para além de molas horizontais, molas
verticais ao longo do fuste e uma mola helicoidal, uma vertical e uma horizontal na ponta da
estaca. Segundo Sousa Coutinho (1995), esta idealização, ilustrada na Figura 2.18b), foi introduzida
por Vallabhan e Alikhanlou em 1982 e retomada em 1987 por Liu e Meyerhof.
Ainda autores como Graushuis et al. (1990) e Trochanis et al. (1991a) incorporaram nas suas análises
alguns efeitos resultantes do carregamento cíclico, nomeadamente: a abertura de uma fenda entre
a estaca e o solo do lado contrário ao movimento da estaca, o colapso do solo para a fenda criada, o
atrito entre a superfície lateral da estaca e as paredes da fenda e a degradação da rigidez e da
resistência do solo à medida que o número de ciclos aumenta (Sousa Coutinho, 1995).
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
39
2.3.2 Modelos de análise baseados em modelos contínuos
2.3.2.1 Generalidades
De um ponto de vista teórico, a representação do solo através de uma modelação de meio contínuo
é mais correcta, pois, apesar do solo ser um meio particulado, permite atender ao efeito de através
deste se transmitirem forças (Varatojo, 1995). Este modelo, além de permitir a aplicação de
parâmetros mecânicos inferidos de ensaios de caracterização geotécnica, permite a sua extensão à
análise de grupos de estacas, uma vez que, o efeito de interacção entre estacas através do terreno
pode ser considerado.
Citando Portugal (1992), existem duas grandes vias para a análise de estacas solicitadas
horizontalmente admitindo o solo como um meio contínuo: o método das equações integrais
(também denominado por método dos elementos de fronteira) e o método dos elementos finitos.
No método das equações integrais o domínio em estudo é tratado considerando a existência de dois
meios distintos: o solo e a estaca. O comportamento do solo é analisado tradicionalmente à custa de
soluções do tipo Mindlin e relativamente à estaca é usual recorrer à teoria da flexão de peças
lineares. No entanto, é possível a aplicação de algoritmos mais gerais nos quais, quer a estaca, quer
o solo, são idealizados como sólidos elásticos tridimensionais. A solução do problema é obtida a
partir da compatibilização de deslocamentos na fronteira dos dois subdomínios.
No método dos elementos finitos (MEF) o domínio em análise é assimilado como um meio único mas
com propriedades físicas distintas para o solo e para a estaca, e a solução do problema é conseguida
à custa da Teoria da Elasticidade.
Além dos dois métodos referidos, existe a possibilidade da sua conjugação, dividindo o domínio em
estudo em dois subdomínios (característica do primeiro método) sendo o comportamento da estaca
equacionado através da teoria das peças lineares, mas à semelhança do segundo método referido, o
solo é estudado pelo método dos elementos finitos. A solução do problema é obtida, mais uma vez,
a partir da compatibilização de deslocamentos na fronteira dos dois subdomínios.
As primeiras aplicações dos métodos referidos para a modelação do solo como meio contínuo
partiram de simplificações drásticas do comportamento real dos solos. De facto, e como referiram
Spillers e Stoll (1964), para formular um modelo contínuo de comportamento da massa do solo é
necessário decidir quais são as propriedades que se pretendem incluir em face da especificidade do
problema a abordar. O procedimento prático mais simples, com vista a situar tal decisão, consiste
CAPITULO 2
40
em começar por um modelo simples e ir adicionando sucessivamente as propriedades desejadas até
se atingir uma idealização suficientemente detalhada para representar o material real (Portugal,
1992 e Sousa Coutinho, 1995).
O modelo contínuo mais simples é aquele em que se admite o solo como um material homogéneo,
isotrópico, elástico linear e sem peso. Inicialmente, o problema foi formulado para a estaca elástica
no interior do meio assim caracterizado, no entanto em consequência do aperfeiçoamento da
modelação física e matemática dos solos e ainda das técnicas e dos meios de cálculo numéricos foi
possível a consideração nos modelos dos solos de outras propriedades como sejam a
heterogeneidade, a cedência local (zona superior da estaca) e o descolamento entre o solo e a
parte posterior da estaca.
2.3.2.1.1 Método das equações integrais
Autores como Douglas e Davis (1964), Spillers e Stoll (1964), Lenci et al. (1968) e Poulos (1971 e
1972) utilizaram o método das equações integrais para a resolução do problema de estacas
solicitadas horizontalmente modelando o solo como meio contínuo. Uma vez que a formulação do
problema é similar nos vários trabalhos desenvolvidos, faz-se uma breve apresentação da
desenvolvida por Poulos (1971 e 1972), que se encontra sistematizada em Poulos e Davis (1980). De
facto, além destes trabalhos terem servido como referência a outros, os seus resultados encontram-
se apresentados de forma a poderem ser utilizados correntemente e o autor fornece conclusões
interessantes (Sousa Coutinho, 1995).
Considere-se então uma estaca vertical, embebida num estrato de solo homogéneo, solicitada na
sua cabeça por uma força horizontal e um momento concentrado. As solicitações exteriores
provocam a deformação da estaca, que, ao alterar o estado de tensão do solo envolvente, induz a
que este desenvolva reacções sobre a superfície lateral da mesma. A Figura 2.19 ilustra o problema
de interacção em estudo que pode ser descrito em função do deslocamento lateral da estaca y e da
tensão p que traduz a reacção que o meio contínuo oferece ao movimento.
Nos trabalhos de Poulos a formulação deste problema foi desenvolvida admitindo a estaca como
uma lâmina rectangular e vertical de largura B, comprimento L e rigidez à flexão (EI) constante.
Como hipótese simplificativa negligenciou as tensões tangenciais desenvolvidas entre o solo e a
superfície da estaca.
A formulação em sequência diz respeito a estacas flutuantes e no seguimento do texto faz-se uma
pequena referência a estacas apoiadas.
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
41
M
H
0
0 0H
M0
1
2
3
j
n
n+1
ps1
spj
spn+1
ps j
n+1spn+1
j
n
sp1
3
2
1
a) b) c)
Figura 2.19 – Representação do modelo continuo pelo método das equações integrais: a) representação do
problema; b) modelação da estaca; c) modelação do solo (adaptado de Poulos e Davis, 1980)
A estaca é dividida em n+1 elementos de comprimento L nδ = (excepto os elementos extremos
cujos comprimentos valem 2δ ) em cada qual actua uma pressão uniforme p, constante em toda a
largura da secção da estaca. O solo é assumido como um material ideal, homogéneo, isotrópico e
elástico, aderente à superfície da estaca em todo o seu comprimento.
Se o solo apresentar um comportamento puramente elástico e a espessura da estaca for considerada
nula, os pontos contidos no plano comum à estaca e ao solo têm os mesmos deslocamentos, ou seja
os deslocamentos do solo e da estaca são iguais e podem ser determinados à custa da expressão:
{ } [ ] { }s s ss
By I p
E= ⋅ ⋅ (2.66)
em que,
{ys} é o vector dos deslocamentos do solo;
{ps} é o vector da tensão horizontal que se desenvolve entre a estaca e o solo;
[Is] é a matriz dos factores de influência do deslocamento do solo;
Es é o módulo de elasticidade do solo.
Os factores de influência do deslocamento do solo são obtidos por integração, sobre uma área
rectangular, da equação de Mindlin que relaciona o deslocamento horizontal de um ponto no
interior de uma massa semi-infinita com a força aplicada num outro ponto qualquer dessa massa. A
integração referida pode ser encontrada no trabalho de Douglas e Davis (1964) e está reproduzida
em Poulos e Davis (1980).
CAPITULO 2
42
Os deslocamentos da estaca podem descrever-se pela equação diferencial regente da deformação
da estaca escrita em termos de diferenças finitas desde o ponto 2 ao n, como apresentada no
2.3.1.1.2.2. Impondo as condições fronteira apropriadas no topo e na base da estaca é possível
obter explicitamente a expressão que fornece o vector dos deslocamentos da estaca {ye} em função
do vector {ps} e das acções actuantes na sua cabeça.
Estabelecendo a equação de compatibilidade que iguala os deslocamentos verificados na estaca e
no solo e considerando o equilíbrio das forças horizontais e momentos flectores, estão reunidas as
equações necessárias para resolver o problema. Determinados os deslocamentos, calculam-se as
rotações e os esforços ao longo do fuste da estaca.
Poulos e Davis (1980), utilizando o método descrito, desenvolveram soluções adimensionais em
função de duas grandezas: factor de rigidez da estaca em relação ao solo (RR) e esbelteza da estaca
(L/B). Admitindo a aplicação de uma carga horizontal H actuante na cabeça da estaca com uma
excentricidade e (e=M/H) e caracterizaram o solo pelo módulo de deformabilidade constante Es e o
coeficiente de Poisson igual a 0,5. Para atender a efeitos de cedência local, o solo foi ainda
caracterizado pela sua resistência última pu.
Note-se que a utilização do comprimento da estaca como uma das propriedades do seu
comportamento tem merecido alguns reparos uma vez que, na prática, são poucas as estacas que se
deformam em todo o seu comprimento. Normalmente, as deformações e os momentos reduzem-se a
valores negligenciáveis a uma profundidade de poucos diâmetros.
O factor de rigidez da estaca em relação ao solo (RR) é determinada para um solo homogéneo por:
4p p
Rs
E IR
E L
⋅=
⋅ (2.67)
Estacas relativamente rígidas são caracterizadas por valores de RR superiores a 10-2 e estacas muito
flexíveis por valores inferiores a 10-5.
A cedência local do solo junto à superfície foi introduzida por um método iterativo que basicamente
consiste no seguinte: a) determinar uma primeira solução do problema admitindo para o solo
comportamento elástico e linear; b) nos elementos onde a tensão do solo calculada p for superior à
reacção última pu, a condição de compatibilidade dos deslocamentos estaca-solo é substituída pela
condição p=pu; c) a solução é novamente determinada de uma forma iterativa até que a condição
p≤pu seja satisfeita em todos os pontos. Segundo os autores do método, este procedimento é
aceitável se a plastificação se limitar a uma pequena percentagem de elementos, mas é
sucessivamente mais imprecisa à medida que as cargas aplicadas ao elemento de fundação se
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
43
aproximam do seu valor último. Desta análise surgiram factores de cedência que são função da
rigidez relativa RR, do nível de carregamento e da relação entre a excentricidade da carga e o
comprimento da estaca.
O deslocamento e a rotação ao nível da superfície do terreno de estacas com a cabeça livre são
determinados pelas seguintes expressões:
( )yH yM ys
H ey I I F
LE L= ⋅ + ⋅
⋅ (2.68)
2 ( )H Ms
H eI I F
LE L θ θ θθ = ⋅ + ⋅⋅
(2.69)
em que,
yH yM θH θMI , I , I e I são factores de influência elásticos dos deslocamentos e rotações, apresentados
adimensionalmente em forma de ábacos, em função de RR e L/B;
y θF e F são factores de cedência que representam a razão entre o deslocamento ou rotação da
cabeça da estaca no solo considerado elástico e no solo onde a cedência já se iniciou. Estes factores
estão apresentados em forma de ábacos em função de RR, da relação e/L e do nível de
carregamento considerado adimensionalmente pela relação H/Hu, sendo Hu a carga última da estaca
se a estaca for rígida.
Para estacas com a cabeça encastrada, o deslocamento é determinado pela seguinte expressão:
yF yFs
Hy I F
E L= ⋅
⋅ (2.70)
onde yFI e yFF são respectivamente o factor de influência elástico do deslocamento para uma estaca
de cabeça fixa submetida a uma força horizontal e o factor de cedência. Os valores destes factores
encontram igualmente apresentados em forma de ábacos.
Da análise dos resultados sistematizados para estacas flutuantes instaladas em solos homogéneos, os
autores chegaram, entre outras, às seguintes conclusões:
os deslocamentos e as rotações vão crescendo à medida que RR decresce ou à medida que L/B
cresce, o que significa que, à medida que a estaca se torna mais flexível, os seus movimentos
aumentam (torna-se mais económico dimensionar estacas mais curtas mas de maior diâmetro);
a condição de impedimento da rotação da cabeça da estaca influência consideravelmente o seu
comportamento, correspondendo a estacas impedidas de rodar valores inferiores de
deslocamentos;
CAPITULO 2
44
para um dado valor do módulo de deformabilidade Es, existe um comprimento da estaca a
partir do qual o seu aumento não provoca qualquer redução adicional nos deslocamentos da
cabeça da estaca (o que está de acordo com o conceito de comprimento efectivo da estaca);
em condições elásticas ( y θF e F iguais a um) e no caso de estacas com cabeça livre solicitadas
por uma força horizontal à cabeça, o momento flector máximo ocorre entre as profundidades
0,1L e 0,4L, correspondendo as profundidades maiores a estacas mais rígidas; no caso da
solicitação na cabeça da estaca ser um momento concentrado, o momento flector máximo
ocorre à superfície do terreno e toma o valor do momento aplicado;
para estacas relativamente rígidas (RR>10-2), o efeito da cedência do solo não é muito elevado
para cargas de serviço;
para uma solicitação equivalente à carga última, o momento máximo expectável no fuste da
estaca pode ser até cerca de duas vezes superior, quando se consideram os efeitos da cedência
local do solo, comparativamente com uma análise em condições puramente elásticas;
utilizando um método iterativo que considera o efeito da separação do solo na face posterior
da estaca, conclui-se que, mesmo para pequenas cargas, os deslocamentos são afectados por
este efeito, sendo mais pronunciado para estacas flexíveis; para cargas normais de serviço, a
separação ocorre até profundidades de 0,2L e 0,4L para estacas flexíveis e rígidas,
respectivamente; os autores referem que, para análises práticas, o efeito da separação entre o
solo e a estaca pode ser considerado, duplicando o deslocamento a cabeça da estaca
determinado em condições elásticas.
As soluções do tipo de Mindlin são apenas válidas para solos homogéneos. Para areias e argilas
normalmente consolidadas é necessário admitir uma variação do módulo de deformabilidade em
profundidade, sendo corrente admitir-se uma variação linear. Relativamente ao coeficiente de
Poisson ν, dado a sua insignificante influência para efeitos de análise, é corrente admiti-lo
constante em profundidade, mesmo para solos heterogéneos.
A utilização da formulação descrita para solos homogéneos, utilizando um módulo de
deformabilidade equivalente para solos não homogéneos, não é uma via aceitável, estando
confirmado que o seu valor, além de depender das propriedades do solo, depende da escala
geométrica da fundação e do nível de carregamento a que a estaca é submetida.
Poulos, considerando uma variação linear de Es em profundidade a uma taxa de Nh, como ilustra a
expressão (2.71), admitiu que se pode aplicar as soluções do tipo Mindlin para a determinação
aproximada dos deslocamentos do solo, utilizando o valor de Es da profundidade respectiva. Para ter
em consideração a cedência do solo considerou igualmente uma variação linear da resistência
última do solo em profundidade.
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
45
s hE N z= ⋅ (2.71)
Nos solos tipo Gibson, o factor de rigidez da estaca em relação ao solo é determinada da seguinte
forma:
5p p
Nh
E IR
N L
⋅=
⋅ (2.72)
Consciente que esta metodologia tende a sobrestimar os deslocamentos e as rotações à superfície
do terreno e com a cautela que não se deve utilizar em solos fortemente heterogéneos, o autor
publicou, à semelhança do caso de solos homogéneos, ábacos para obtenção dos factores de
influência dos deslocamentos e rotações, bem como dos factores de cedência. As expressões que
fornecem os deslocamentos e as rotações à superfície do terreno são:
2 ( ' ' ) 'yH yM yh
H ey I I F
LN L= ⋅ + ⋅
⋅ (2.73)
3 ( ' ' ) 'H Mh
H eI I F
LN L θ θ θθ = ⋅ + ⋅⋅
(2.74)
Refira-se que os momentos flectores máximos nas estacas embebidas em solos heterogéneos são
consideravelmente maiores do que os verificados para solos homogéneos, admitindo a mesma
rigidez relativa, quer se trate de estacas com rotação livre ou impedida da cabeça.
Para estacas apoiadas na base, articuladas ou encastradas, Poulos (1972) desenvolveu uma
formulação idêntica da apresentada para estacas flutuantes, mas admitindo que subjacente à
camada de solo está presente uma estrato rígido, que desenvolve na ponta da estaca uma força Hp,
e no caso das estacas encastradas também um momento Mp, que restringe o seu movimento
horizontal.
Neste caso, o meio envolvente da estaca deixará de ser considerado como semi-infinito e as
equações de Mindlin deixam de ser aplicáveis. No entanto, Poulos (1972) considera a sua validade,
desde que se tenha em consideração de alguma forma o efeito da presença do estrato rígido nos
deslocamentos do solo. O artifício que utilizou consiste em admitir uma imagem reflectida da
estaca, carregada por pressões iguais, mas de sentido contrário, às originais.
As expressões para determinar os deslocamentos e as rotações são idênticas às apontadas para
estacas flutuantes, mas utilizando factores de influência elásticos diferentes. Em relação aos
factores de cedência, o autor aconselha a utilização dos definidos para estacas flutuantes para o
caso de RR < 10-2 e nos restantes, a utilização dos seus valores iguais à unidade.
Refira-se que as condições da ponta da estaca (encastrada ou articulada) apenas tem influência
para estacas relativamente rígidas (RR > 10-2), quer em termos de movimentos, quer em termos de
CAPITULO 2
46
esforços. Além disso, para valores de RR inferiores a 10-2 os factores de influência são praticamente
iguais aos das estacas flutuantes.
Relativamente ao estudo de estacas pelo método das equações integrais, tendo em consideração o
comportamento elasto-plástico do solo, refiram-se os trabalhos de Davies e Budhu (1986) e Budhu e
Davies (1987). A partir de estudos paramétricos e recorrendo à técnica do ajustamento de curvas a
resultados numéricos, foram desenvolvidas expressões empíricas que permitem determinar os
deslocamentos, rotações e momentos flectores máximos de estacas flexíveis solicitadas
horizontalmente por uma força e um momento concentrado na cabeça, e para as condições de
cabeça livre ou encastrada.
Nestes trabalhos, a estaca é considerada como uma viga sólida e elástica, discretizada em
elementos com comprimento igual ao diâmetro da estaca. O modelo do solo assume um
comportamento elástico linear para o domínio das pequenas deformações, iniciando-se o processo
de cedência quando as pressões normais e de corte sobre a superfície lateral da estaca igualam
certos valores limites, os quais são funções simples da resistência ao corte dos solos. No processo de
plastificação são assim considerados para além do esgotamento da capacidade resistente na parte
da frente da estaca, a rotura por corte ao longo dos lados e por tracção no solo adjacente à parte
traseira da estaca.
Os deslocamentos do solo são determinados recorrendo às soluções de Mindlin modificadas de forma
a permitir o estudo de casos não homogéneos e os da estaca à custa da teoria da flexão de peças
lineares. Os deslocamentos destes dois subdomínios são compatibilizados na sua interface. A solução
aproximada é determinada por uma análise incremental, na qual a flexibilidade da estaca se
mantém constante, mas que a do solo vai sendo reduzida à medida que o processo de cedência se
desenvolve como resultado do aumento do carregamento, anulando-se consecutivamente a rigidez
dos elementos do solo que plastificam e mantendo-se a interacção entre os elementos que se
mantêm em regime elástico (Sousa Coutinho, 1995).
2.3.2.1.2 Método dos elementos finitos
Tal como noutros problemas de Engenharia, o método dos elementos finitos é a técnica numérica
mais poderosa para a análise do comportamento de estacas solicitadas lateralmente. Limitações ao
nível dos meios de cálculo disponíveis levaram que as suas primeiras aplicações fossem formuladas
aproveitando a axissimetria geométrica do problema em estudo e admitindo comportamento
elástico e linear para os materiais intervenientes (Portugal, 1992).
No problema em estudo, apesar da geometria e das propriedades dos materiais ficarem bem
definidos pela consideração do plano meridional, o mesmo não acontece com as forças aplicadas e
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
47
os deslocamentos impostos. Uma forma de solucionar o problema passa pela utilização das técnicas
de Fourier para modelar em coordenadas polares o campo das forças e dos deslocamentos,
decompondo desta forma o problema tridimensional em n parcelas bidimensionais.
Randolph (1981) utilizou a formulação descrita para analisar o comportamento de estacas flexíveis
embebidas num meio continuo elástico com rigidez constante ou aumentando linearmente em
profundidade. Com base nos resultados obtidos, desenvolveu expressões analíticas para o cálculo do
deslocamento e da rotação da cabeça da estaca, introduzindo os conceitos de módulo de distorção
característico e grau de homogeneidade do meio.
Com o aumento das capacidades de cálculo dos computadores, as análises axissimétricas têm vindo
a ser gradualmente substituídas por análises tridimensionais completas. A primeira análise deste
tipo data de 1976 e deve-se a Desai e Appel, na qual os autores desenvolveram um algoritmo de
elementos finitos com comportamento não linear, considerando os efeitos de atrito e separação
através da utilização de elementos de junta, cuja lei constitutiva é também ela não linear. Deste
trabalho os autores concluíram que a não linearidade da resposta de estacas solicitadas
lateralmente não tem qualquer relação com o fenómeno de separação ocorrente na face posterior
do elemento de fundação, mas exclusivamente devida à não linearidade do comportamento dos
solos (Portugal, 1992).
Trochanis et al. (1991b) utilizando um modelo 3D estudaram em simultâneo e separadamente o
efeito de não resistência à tracção do terreno e o comportamento elastoplástico do meio
envolvente. Neste trabalho o comportamento da estaca foi considerado elástico e linear e o solo foi
modelado como um material de Drucker-Prager. Os autores concluíram que a não consideração da
separação solo-estaca induz a uma significativa redução dos deslocamentos, apesar de não se
observar não linearidade da resposta devido a este efeito, conforme já tinham concluído Desai e
Apple em 1976 (Varatojo, 1995).
A utilização de programas de elementos finitos que permitem análises elastoplásticas
tridimensionais, contemplando leis de cedência complexas e que possibilitam a consideração de
vários fenómenos observáveis quando uma estaca se deforma lateralmente, como por exemplo a
separação e o atrito na interface estaca-solo, são de grande utilidade em estudos de sensibilidade
que mostrem as limitações inerentes aos métodos correntes de dimensionamento e que ponham em
evidência a influência dos diferentes factores a ter em conta no processo de deformação entre o
solo e a estaca. No entanto, devido ao tempo dispendido neste tipo de análises e da crescente
dificuldade da caracterização experimental à medida que os modelos se tornam mais refinados,
estas análises não são entendidas como ferramentas correntes de dimensionamento.
CAPITULO 2
48
Uma das possíveis utilizações dos modelos de elementos finitos é a de determinar e validar as
curvas p-y, de forma a serem utilizadas com níveis de fiabilidade cada vez maiores. Esta foi a via
seguida por Bransby num trabalho de 1999.
Bransby (1999) efectuou um estudo comparativo entre um modelo de elementos finitos
tridimensionais e o método das curvas p-y deduzidas a partir de modelos de elementos finitos
bidimensionais que simulam um plano horizontal, intersectando a secção da estaca carregada
horizontalmente, embebida em solos em condições não drenadas. O autor considerou duas
possibilidades para as leis constitutivas do material terroso, elástico linear e não linear
considerando uma relação tensão-deformação potencial. No modelo 2D a estaca simulada por um
disco rígido é forçada a transladar de um dado deslocamento, numa região de solo cuja lei
constitutiva é conhecida à priori. O autor conclui que, ao contrário do que acontece para solos com
comportamento elástico linear, em solos considerando a não linearidade existe uma boa
concordância entre os dois métodos sugerindo que as análises em elementos finitos 2D podem ser
utilizadas para determinar curvas p-y e que estas últimas podem ser obtidas multiplicando por um
factor de escala, a lei tensão-deformação que descreve o comportamento do solo.
2.4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O dimensionamento de uma estaca isolada, solicitada horizontalmente na sua cabeça, é
normalmente efectuado em duas fases. Na primeira fase é analisada a capacidade resistente da
estaca, avaliando-se numa segunda fase os deslocamentos e esforços ao longo do seu fuste. Os
métodos existentes para a análise deste problema foram revistos neste capítulo.
Assim, começou por se apresentar a determinação da capacidade resistente das estacas, onde foram
expostas diversas propostas para a resistência última do solo, quer para solos incoerentes, quer para
solos coerentes. Para solos incoerentes, apesar das várias propostas conduzirem a valores bastante
diferentes para grandes profundidades, ainda assim para pequenas profundidades, que comandam o
comportamento de estacas solicitadas horizontalmente, os valores mostram-se bastante
concordantes, pelo que não se justifica a adopção de modelos muito complexos.
Na maioria dos casos, a análise do problema é condicionada pela limitação dos deslocamentos e
pela verificação da resistência à flexão das secções transversais da estaca.
Na análise das deformações, os modelos distinguem-se principalmente pela forma como se modela o
comportamento do solo, dividindo-se as análises em modelos discretos e modelos contínuos.
Nos modelos discretos, o solo é caracterizado por um conjunto de molas independentes com
comportamento elástico linear ou elástico não linear traduzido pelas curvas p-y.
ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS ISOLADAS SOLICITADAS HORIZONTALMENTE
49
Os modelos discretos com a consideração do comportamento não linear do solo são de grande
aceitação prática e são recomendados por diversos livros da especialidade. É de referir, como disse
Portugal (1992), que este método tem uma larga experiência mundial difundida por uma vastíssima
quantidade de aplicações e suportada por muitos casos práticos bem fundamentados. No entanto,
algumas críticas são efectuadas a este método, essencialmente pela sua natureza semi-empírica,
pela falta de continuidade na modelação do comportamento do solo e pelo facto de só englobar as
tensões normais que se desenvolvem na interface solo-estaca. No sentido de ultrapassar as
limitações apontadas, vários autores introduziram aperfeiçoamentos a este modelo. No entanto,
estes acarretam uma maior complexidade na resolução do problema, eliminando uma das grandes
vantagens deste método que é a sua facilidade de utilização.
Nos modelos contínuos, o solo é considerado como um meio contínuo. As vias mais utilizadas para
resolver o problema de estacas solicitadas horizontalmente considerando este tipo de modelação do
solo são o método das equações integrais e o método dos elementos finitos.
Com o grande desenvolvimento tecnológico verificado nas últimas décadas, a modelação contínua
do problema em análise pelo método dos elementos finitos tem todas as potencialidades para
simular, de uma forma completa, os fenómenos inerentes ao processo de deformação de estacas
solicitadas horizontalmente. Tem ainda a vantagem de possibilitar a simulação do comportamento
de grupos de estacas. No entanto, à medida que a modelação se torna mais complexa, é
sucessivamente mais exigente na quantidade e qualidade dos parâmetros de entrada e a
caracterização geotécnica não consegue acompanhar a evolução da modelação numérica. Assim,
este tipo de análises deve ser utilizada essencialmente no domínio de estudos de sensibilidade,
fundamentando e aperfeiçoando modelos de cálculo mais simples que possam ser utilizados
correntemente no dimensionamento de fundações.
Assim, cada tipo de análise tem a sua utilidade e domínio de aplicação, tendo presente que é
discutível recomendar o recurso a métodos extremamente refinados, suportados por valores
relativamente grosseiros dos parâmetros de cálculo, em vez de manter o uso de métodos
aproximados, baseados em valores de parâmetros igualmente grosseiros mas que a experiência tem
mostrado conduzirem a resultados razoavelmente satisfatórios (Guedes de Melo, 1987 por Portugal,
1992).
É assim importante continuar a estimular o estudo da problemática de estacas solicitadas
horizontalmente pela modelação de casos de observação de obra, cujo terreno seja devidamente
caracterizado geotecnicamente, de forma a validar modelos e parâmetros de cálculo.
51
3 TRAÇADO DE CURVAS P-Y
3.1 CONSIDERAÇÕES PRÉVIAS
O método das curvas p-y, largamente utilizado na análise do comportamento de estacas solicitadas
horizontalmente, apresenta-se como uma extensão do modelo de Winkler, no qual o solo é
considerado como um conjunto de molas independentes, contemplando, no entanto, a relação não
linear existente entre a reacção desenvolvida pelo solo p [FL-1] e o deslocamento da estaca y [L].
A essência deste método consiste na introdução de uma série de curvas p-y, como a apresentada na
Figura 3.1, que representam o comportamento do solo. Para baixos níveis de deformação, a relação
p-y pode ser adequadamente representada à custa do módulo reacção tangente ou inicial do solo
(Ki). No entanto, quando se pretendem analisar estádios avançados de deformação, a não
linearidade da reacção do solo deve ser considerada pela adopção de um módulo de reacção
secante (Ks), definido pela inclinação da recta traçada desde a origem até qualquer ponto ao longo
da curva p-y. Note-se que a reacção do solo é limitada à sua resistência última pu.
pu
deslocamento da estaca y [L]
resi
stên
cia
do s
olo
p [F
L ]-1
B
A Ks
Ki
Figura 3.1 – Curva p-y
A previsão do andamento deste tipo de curvas tem sido desenvolvida com base em estudos de várias
naturezas, como sejam os ensaios de carga de estacas em verdadeira grandeza, as correlações
empíricas com base em ensaios laboratoriais e com base em ensaios in situ.
Este método é de grande aceitação, quer pela sua facilidade de utilização, quer pela vasta
experiência mundial acumulada e suportada por casos práticos fundamentados. Desta forma, este
método foi o escolhido para a análise do estudo das estacas ensaiadas no Campo Experimental da
FEUP, pelo que a sua descrição e as suas propostas mais difundidas são apresentadas no presente
capítulo deste Trabalho.
CAPITULO 3
52
3.2 ENSAIOS DE CARGA EM VERDADEIRA GRANDEZA
A estratégia que normalmente é seguida para deduzir curvas p-y partindo de ensaios de carga em
estacas em verdadeira grandeza utiliza métodos teóricos ajustados aos resultados experimentais,
por intermédio de parâmetros empíricos. Estes ensaios devem ser conduzidos sobre estacas
instrumentadas em que se medem os deslocamentos e as rotações das respectivas cabeças.
Complementarmente, e sempre que possível, deve instrumentar-se ao longo do fuste das estacas,
através da instalação de extensómetros e de calhas inclinométricas.
A via mais desejável para obter as grandezas p e y dos ensaios de carga é a sua medição directa.
Medir os deslocamentos implica a aplicação de um processo com um princípio simples, mas de difícil
concretização. Este processo envolve a utilização de estacas ocas nas quais é realizada uma leitura
óptica, antes e após a aplicação de cada incremento de carga, de escalas colocadas em vários
pontos no fuste da estaca. Outro processo mais simples e corrente é a fixação de calhas
inclinométricas no interior da estaca, fazendo-se a leitura da rotação do seu eixo com um
inclinómetro e obtendo-se os deslocamentos por integração das rotações medidas. A medição
directa da reacção do solo envolve a construção de um aparelho que integre as tensões aplicadas na
estaca ao longo do seu perímetro para uma dada profundidade. Segundo Reese e Van Impe (2001) já
foi apresentado um projecto para a construção de um instrumento que desempenhe esta função,
mas ainda não foi concretizado.
Outra forma para a obtenção das curvas p-y utiliza a medição indirecta dos momentos flectores pela
leitura das deformações de extensómetros colocados no fuste da estaca. A deformada da estaca
obtém-se pela dupla integração do diagrama dos momentos flectores, sendo necessária a medição
do deslocamento e da rotação da cabeça da estaca para a determinação das constantes de
integração. A determinação da reacção do solo faz-se pela dupla diferenciação do diagrama dos
momentos flectores. É, no entanto, necessário ter em mente que, enquanto a integração tende a
atenuar os erros experimentais nos diagramas de momentos flectores, o contrário acontece com a
diferenciação, tornando-se necessário obter uma medição bastante correcta destes esforços para
que exista fiabilidade dos valores deduzidos para a reacção do solo.
Neste domínio refira-se o trabalho de Sousa Coutinho (1995) que interpretou os resultados de
ensaios de carga realizados em estacas de betão armado, com base nas extensões medidas ao longo
dos seus fustes. Este autor propõe que tais extensões sejam aproximadas por funções spline-B
calculadas por um algoritmo de aproximação pesada pelos mínimos quadrados. Estas funções
permitem acompanhar as variações localizadas de comportamento quer do solo (estratificação do
terreno), quer da estaca (fendilhação). Os movimentos das estacas determinam-se por integração
das curvaturas e em relação às reacções do solo, o autor propõe que sejam determinadas por
TRAÇADO DE CURVAS P-Y
53
integração da distribuição em profundidade dos momentos flectores, à custa da resolução de uma
equação integral.
Outra alternativa para a determinação da reacção do solo com estacas instrumentadas com
extensómetros envolve a utilização das soluções adimensionais de Matlock e Reese, assumindo uma
lei de variação do módulo de reacção em profundidade, como por exemplo K=Cn·zn. Assim, para
cada escalão de carga, deduzem-se os parâmetros Cn e n que melhor ajustam os momentos flectores
calculados e medidos. Repetido este procedimento para os vários escalões de carga define-se a
variação do módulo de reacção com o deslocamento lateral y, a qualquer profundidade.
Em estacas instrumentadas com calhas inclinométricas são medidas as rotações do eixo da estaca
em profundidade. Os deslocamentos são obtidos por integração das rotações e a reacção do solo por
tripla diferenciação. A dificuldade deste método de obtenção das curvas p-y é a referida para as
estacas instrumentadas com extensómetros, com o inconveniente adicional de envolver uma tripla,
em vez de uma dupla diferenciação. Neste caso também é possível a utilização referida das soluções
adimensionais de Matlock e Reese.
Autores como Brown et al. (1994) e Nip e Ng (2005) apresentaram outras propostas para a utilização
das medições com o inclinómetro para a dedução das curvas p-y.
O método de Brown et al. (1994) indica um procedimento para determinar iterativamente os
parâmetros do solo que definem uma curva p-y pré-estabelecida, pelo ajuste dos valores calculados
para os deslocamentos aos medidos pelo inclinómetro.
Nip e Ng (2005) sugerem a utilização de um método iterativo que considera a aproximação das
reacções do solo por um polinómio de quarto grau. A escolha do grau do polinómio de aproximação
foi condicionada pelo número de condições que se podem estabelecer. Os autores deste método
admitem quatro condições fronteira na cabeça da estaca (rotação da cabeça da estaca medida pelo
inclinómetro, a força e o momento concentrados aplicados, e a reacção do solo nula à superfície do
terreno) e uma condição de estaca flexível, admitindo que a partir de uma profundidade z0 as
rotações do fuste da estaca podem considerar-se nulas. O método inicia-se pela escolha de z0 e a
assunção de uma distribuição da rigidez à flexão da estaca (EI) em profundidade. É então resolvido
o sistema de equações que permite determinar os coeficientes que definem o polinómio. O cálculo
do diagrama de momentos flectores é imediato e, à custa da relação momento-curvatura, podem
determinar-se as rotações do fuste da estaca. O método é iterativo e concluiu-se quando as
rotações calculadas forem uma boa aproximação das rotações medidas pelo inclinómetro. A
determinação das curvas p-y é então imediata.
CAPITULO 3
54
No caso de apenas se efectuar a medição dos deslocamentos e rotações da estaca ao nível da
superfície do terreno, será necessário admitir uma lei de variação em profundidade do módulo de
reacção do solo e utilizar as soluções adimensionais de Matlock e Reese para determinar as curvas
p-y. Admitindo, mais uma vez como exemplo, uma variação em profundidade do módulo de reacção
do tipo K=Cn·zn, este método consiste em seleccionar valores de n, determinar os respectivos
coeficientes adimensionais Ay, By, Aθ e Bθ para o coeficiente de profundidade Z=0 e, pela resolução
das equações (2.46) e (2.47) em função do factor de rigidez relativa R, traçar, para cada valor de n
seleccionado e para cada escalão de carga, duas curvas (n, R). A intersecção destas duas curvas
corresponde ao par de valores das grandezas (n, R), válido para a solicitação considerada.
3.3 CORRELAÇÕES EMPÍRICAS COM RESULTADOS DE ENSAIOS
LABORATORIAIS SOBRE SOLOS
Os métodos baseados em correlações empíricas entre ensaios laboratoriais e o traçado das curvas p-
y têm sido os mais utilizados na prática. Estes métodos partem do pressuposto que é possível
correlacionar a relação tensão–deformação obtida nos ensaios laboratoriais da caracterização do
solo com a relação p-y da estaca (Santos, 1999).
McClelland e Focht (1956) foram pioneiros nesta matéria. Estes autores, partindo do conhecimento
dos diagramas de momentos flectores obtidos em ensaios de carga em estacas instaladas em argilas,
determinaram as respectivas curvas p-y para cada profundidade e para cada escalão de carga.
Compararam as curvas obtidas com as curvas tensão-deformação determinadas em ensaios triaxiais,
convertendo a reacção do solo numa tensão e o deslocamento numa deformação adimensional. Os
factores escolhidos para esta conversão foram o diâmetro e o raio da estaca, respectivamente.
McClelland e Focht verificaram a semelhança da forma de ambas as curvas, apesar da discrepância
dos resultados numéricos, que pode justificar-se pela disparidade dimensional das massas envolvidas
nos dois tipos de ensaio e pela diferença no modo de aplicação das solicitações. No entanto, este
facto pode ser ultrapassado desde que se considere que os factores de transposição são
independentes das características do solo, relacionando-os por um factor de escala (Varatojo,
1986).
As metodologias desenvolvidas para o traçado das curvas p-y apresentam-se separadamente para o
caso de solos coerentes e incoerentes e baseiam-se num número restrito de ensaios de carga em
verdadeira grandeza. As propostas clássicas existentes para solos incoerentes partem do
conhecimento de três parâmetros do solo: o peso volúmico (γ), o ângulo de atrito interno φ’ e a taxa
de variação do módulo de reacção em profundidade (nh). Para solos coerentes, esses parâmetros
são, para além do peso volúmico, a resistência não drenada (su) e a deformação correspondente à
semi-diferença entre as tensões principais máximas na rotura (ε50).
TRAÇADO DE CURVAS P-Y
55
3.3.1 Determinação dos parâmetros φ e nh para solos incoerentes
O valor do ângulo de atrito é em geral obtido através de correlações com a resistência à penetração
e a taxa de variação do módulo de reacção em profundidade pode ser especificado qualitativamente
em função da compacidade relativa exibida pelo solo (Portugal, 1992). Entre as variadíssimas
propostas para a correlações referidas, e que podem ser encontradas no trabalho de Varatojo de
1995, referem-se apenas algumas que possam servir de referência para a escolha dos parâmetros em
análise. Uma vez que o ensaio SPT (standard penetration test) é de longe o ensaio in situ mais
utilizado em todos os países, a maioria das propostas apresentadas correlacionam-se com o
resultado deste ensaio.
O ensaio SPT não é um ensaio verdadeiramente normalizado, por esse motivo torna-se necessário
proceder a diversas correcções do seu resultado, de forma a torná-lo comparável, quando conduzido
de formas distintas. Um factor importante a considerar é o ratio de energia (ERr) utilizado no
ensaio, que caso difira do padrão estabelecido (60% da energia gravítica teórica), deve corrigir-se o
valor do ensaio N obtendo-se o designado N60. Outro aspecto importante é a consideração do efeito
do nível de tensões efectivas à profundidade do ensaio, surgindo o conceito de N1 que é o resultado
que seria estabelecido com um dado sistema num dado solo para uma tensão efectiva de repouso
igual a 100kPa.
Como anteriormente referido, na maioria dos casos torna-se necessário conhecer o nível de
compacidade do solo para proceder à escolha dos parâmetros necessários para a elaboração das
curvas p-y. Assim, apresenta-se no Quadro 3-I a correlação entre o (N1)60 e a compacidade relativa
Dr, actualmente designada por índice de compacidade ID, de areias normalmente consolidadas
proposta por Skempton (1986).
Quadro 3-I – Correlação entre (N1)60 e o índice de compacidade das areias (Skempton, 1986)
(N1)60 0 – 3 3 – 8 8 – 25 25 – 42 > 42
ID (%) 0 - 15 15 – 35 35 – 65 65 – 85 85 – 100
Compacidade muito solta Solta medianamente compacta
compacta ou densa
muito compacta ou muito densa
Em relação à taxa de variação do módulo de reacção em profundidade nh foram vários os valores
sugeridos em função da compacidade do solo ou directamente do resultado do SPT. Das primeiras
propostas efectuadas, refira-se a de Terzaghi (1955), apresentada no Quadro 3-II. Autores como
Francis (1964) e Scott (1981), tendo em conta que Terzaghi se baseou na resposta de uma viga
assente em meio elástico, o que reflete hipoteticamente só metade da reacção em estacas
solicitadas horizontalmente, sugerem que se multiplique os valores propostos por 2 de forma a
CAPITULO 3
56
considerar a influência do solo na parte de trás da estaca, o que equivale a ter dois conjuntos de
molas, um à frente e outro atrás da estaca (Varatojo, 1986 e Portugal, 1992).
Quadro 3-II – Valores de nh em areias em função da compacidade relativa (Terzaghi, 1955 segundo
Habibagahi e Langer, 1984)
Compacidade relativa da areia Parâmetros
solta média densa
nh (MN/m3) - areia submersa 1,3 4,4 10,7
nh (MN/m3) - areia emersa 2,2 6,6 17,6
Johnson e Kavanagh (1968) obtiveram valores para nh em solos granulares emersos, utilizando o
critério da capacidade resistente e assumindo que os valores dos módulos de reacção horizontal e
vertical são iguais para pequenas profundidades (Habibagahi e Langer, 1984). Os valores propostos
apresentam-se no Quadro 3-III e também neste caso é justificável que sejam multiplicados por dois.
Quadro 3-III – Valor de nh em função de NSPT para solos granulares emersos (Johnson e Kavanagh, 1968 segundo
Habibagahi e Langer, 1984)
NSPT 8 10 15 20 30
nh (MN/m3) 2,7 4,1 7,4 9,7 14,5
Reese et al. (1974) na metodologia apresentada para a previsão de curvas p-y em areias sugerem
valores superiores para nh, como indica o Quadro 3-IV.
Quadro 3-IV – Valores de nh (MN/m3) em função da compacidade relativa do solo (Reese et al., 1974)
Compacidade relativa Solta Média Densa
Areia submersa 5,4 16,3 33,9
Areia emersa 6,8 24,4 61,0
Segundo Ng et al. (2001), o Geotechnical Engineering Office (GEO, 1996) de Hong Kong indica como
limite inferior para nh os valores propostos por Terzaghi (1955) e como limite superior a equação
empírica referida por Elson (1984) e transcrita em (3.1). Nesta expressão, o valor de nh é uma
função da compacidade relativa (ou índice de compacidade) do solo que pode ser determinada a
partir do SPT com o auxílio da Figura 3.2, segundo o Geotechnical Control Office (GCO, 1982) de
Hong Kong. Nesta mesma figura apresenta-se a relação proposta pelo GCO (1982) para a
determinação de φ.
1,16 30,19 (%) (MN/m )h Rn D= ⋅ (3.1)
TRAÇADO DE CURVAS P-Y
57
φ'=50 º
φ'=45 º
φ'=40 º
φ'=35 º
φ'=30 º
φ'=25 º
Tensão efectiva σ'vo
NSPT
(kPa)
50 100 150 200 250 30000
10
20
30
40
50
60
Dr
40% 60%
80%
100%
NSPT
Tensão efectiva σ'vo (kPa)
100 20 30 40 50 60 70 800
50
100
150
200
250
300
Figura 3.2 – Correlação entre NSPT e os parâmetros do solo: a) ângulo de atrito e b) compacidade (GCO, 1982)
Em Hong Kong, Ng et al. (2001) realizaram ensaios de carga em estacas instaladas em terrenos
compostos por depósitos superficiais e maciços rochosos completamente decompostos (solos
residuais). Os autores determinaram os parâmetros do solo nh e φ' que conduziram, pela aplicação
das curvas p-y propostas por Reese et al. (1974), ao melhor ajuste entre os deslocamentos
calculados e os valores experimentais obtidos através do inclinómetro, num dos ensaios realizados.
Ng et al. (2001) correlacionaram estes parâmetros do solo com o número de pancadas N do SPT
obtidos na caracterização geotécnica efectuada no local do ensaio, propondo as seguintes relações:
' 10 log 27Nφ = ⋅ + (3.2) 3(MN/m ) 40 log 28hn N= ⋅ − (3.3)
Na Figura 3.3 faz-se uma comparação das várias correlações propostas entre o valor de NSPT e nh.
Pode concluir-se que existe uma grande dispersão nos valores sugeridos, sendo a proposta de
Terzaghi a que apresenta valores mais baixos, quer no caso de areias submersas, como no das
emersas, ao contrário dos valores indicados por Reese et al. que se apresentam como dos mais
elevados. Pode admitir-se que esta discrepância possa estar associada a diferentes níveis de
deformação considerados pelos autores das várias propostas.
A Figura 3.4 apresenta um simples exercício paramétrico, em que se determinaram os valores em
profundidade do módulo de reacção correspondente a cada proposta referida, para uma areia de
compacidade média com um valor de NSPT equivalente a 20.
a) b)
CAPITULO 3
58
0
10
20
30
40
50
60
70
0 10 20 30 40 50
N (SPT)
n h (
MN
/m3 )
Terzaghi, 1955
Terzaghi (valores x2)
Johnson e Kavanagh, 1968
Johnson e Kavanagh (valores x2)Reese et al.,1974
Elson,1984 Tensão efectiva=100kPa
0
10
20
30
40
50
60
70
0 10 20 30 40 50
N (SPT)
n h (
MN
/m3 )
Terzaghi, 1955
Terzaghi (valores x2)
Reese et al.,1974
Elson,1984 Tensão efectiva=100kPaNg et al., 2001
a) b)
Figura 3.3 – Comparação das várias correlações propostas entre NSPT e nh: a) areias submersas; e, b) areias
emersas
0
2
4
6
8
10
12
14
16
0 200 400 600 800
K=nhz (MN/m2)
z (m
)
Terzaghi, 1955
Terzaghi (valoresx2)
Reese et al., 1974
Elson, 1984 tensão efectiva=100kPa
Ng, 2001
a)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
0 200 400 600 800
K=nhz (MN/m2)
z (m
)
Terzaghi, 1955
Terzaghi (valoresx2)
Johnson e Kavanagh, 1968
Johnson e Kavanagh(valoresx2)Reese et al., 1974
Elson, 1984 tensão efectiva=100kPa
b)
Figura 3.4 – Comparação dos valores propostos para K para uma areia de compacidade média (N=20): a) areia
submersa; e, b) areia emersa
Santos (1993), verificando a grande dispersão no valor do módulo de reacção determinado por várias
correlações propostas por diferentes autores, propôs-se fazer uma comparação entre os resultados
obtidos pelo modelo de Winkler e pelo modelo elástico contínuo, a partir da qual fosse possível
relacionar o valor de K com as propriedades elásticas do solo. A comparação de soluções do modelo
de Winkler e do modelo elástico e contínuo já havia sido utilizada por outros autores, como é o caso
de Vesic (1961) que comparou as duas soluções para o caso de uma viga de comprimento infinito
apoiada em meio isotrópico, elástico e contínuo. Neste trabalho de 1961, Vesic concluiu que a
relação (3.4) é a que mais aproxima as duas soluções, quer em termos de deslocamentos, quer em
termos de momentos flectores.
TRAÇADO DE CURVAS P-Y
59
4
1220,65
1s s
s
E B EK
E I ν⋅
= ⋅ ⋅⋅ −
(3.4)
em que,
E é o módulo de elasticidade do material constituinte da estaca;
I é o momento de inércia da secção transversal da estaca;
Es é o módulo de deformabilidade do solo;
νs é o coeficiente de Poisson do solo.
Para a aplicação da expressão anterior ao caso de uma estaca solicitada horizontalmente dever-se-á
multiplicar o valor de K por dois, para ter em consideração a influência do solo na parte de trás da
estaca, como foi antes referido.
Poulos e Davis (1980) compararam as soluções do modelo de Winkler com as do modelo elástico
contínuo para o caso de estacas com cabeça encastrada e com uma relação L/B igual a 25.
Igualando os deslocamentos ao nível da cabeça, Poulos e Davis obtiveram a relação K=0,82·Es. No
seguimento desta metodologia, Santos (1993) comparou desta vez o modelo de Winkler com as
soluções de Randolph (1981) para o caso de estacas flexíveis embebidas num meio elástico,
homogéneo e isotrópico e solicitadas por uma força horizontal na cabeça. Igualando os
deslocamentos ao nível da cabeça da estaca e os momentos flectores máximos, obteve a seguinte
relação:
7 cc
GK f G
E= ⋅ ⋅ (3.5)
em que,
Gc - é o módulo de distorção do solo afectado da influência do coeficiente de Poisson ν na
deformação da estaca, que é avaliado pela seguinte expressão:
3 31 1
4 2 (1 ) 4s s s
cs
EG G
ν νν
⋅ ⋅⎛ ⎞ ⎛ ⎞= ⋅ + = ⋅ +⎜ ⎟ ⎜ ⎟⋅ +⎝ ⎠ ⎝ ⎠ (3.6)
O factor f é adimensional e dependente das condições fronteira na cabeça da estaca e das
grandezas a comparar (deslocamentos ou momentos flectores), podendo em termos práticos
adoptar-se o valor de 10.
Estes estudos foram efectuados admitindo a hipótese do solo ser homogéneo. No caso de areias, em
que normalmente se considera o aumento de rigidez em profundidade, poderá admitir-se, segundo
Santos (1993), que o módulo de reacção K e o módulo de deformabilidade do solo exibem a mesma
taxa de variação.
CAPITULO 3
60
O ângulo de atrito é outro parâmetro do solo necessário para a definição das curvas p-y em areias.
Para além das correlações com o ensaio SPT já mencionadas, podem ainda referir-se, entre outras,
as propostas de Teng (1962) que se apresenta no Quadro 3-V, de Peck et al. (1974) e de Décourt
(1989).
Quadro 3-V - Correlação entre NSPT (não corrigido) e ID e φ (Teng, 1962 segundo Anderson e Townsed, 2001)
compacidade relativa da areia Parâmetros
muito solta solta média densa muito densa
NSPT 0 - 4 4 - 10 10 - 30 30 - 50 > 50
ID (%) 0 - 15 15 - 35 35 - 65 65 - 85 85 – 100
φ (º) 28 28 - 30 30 - 36 36 - 41 > 41
A seguinte expressão é a de Peck et al. (1974) e relaciona o número de pancadas N (valores não
corrigidos) com o valor do ângulo de atrito efectivo:
0,0147' 53,881 27,6034 Neφ − ⋅= − ⋅ (3.7)
Na Figura 3.5 apresenta-se a proposta de Décourt (1989) que relaciona o valor de (N1)60 com φ’.
25
30
35
40
45
0 10 20 30 40 50 60 (N1)60
φ (º)
Figura 3.5 - Relação entre (N1)60 e φ’ (Décourt, 1989)
Outro ensaio de grande utilidade para a caracterização do solo e cujos resultados podem ser
correlacionados com o ângulo de atrito é o ensaio CPT. O ensaio CPT (cone penetration test)
consiste na cravação, por meio de um sistema hidráulico, de uma ponteira de aço normalizada. Por
meio de um transdutor colocado no interior da ponteira é possível medir, durante a cravação, a
chamada resistência de ponta, qc, enquanto que a resistência lateral, fs, ao longo da manga é
medida noutro transdutor colocado junto à superfície desta.
TRAÇADO DE CURVAS P-Y
61
Uma das relações mais divulgadas entre a resistência de ponta qc e o ângulo de atrito é a
apresentada por Robertson e Campanella (1983) para areias de quartzo não cimentadas, que se
apresenta na Figura 3.6.
φ'=48 º
46 º
44 º
42 º
40 º
38 º
36 º34 º32º
30 º
qc (MPa)
σ'vo (kPa)
100 20 30 40 50
200
150
100
50
0
250
300
350
400
Figura 3.6 – Correlação entre qc e φ’ para areias de quartzo não
cimentadas (Robertson e Campanella, 1983)
3.3.2 Determinação dos parâmetros su e ε50 para solos coerentes
Para a avaliação da resistência não drenada su, Matlock (1970) sugere, por ordem decrescente de
preferência, os seguintes ensaios: ensaio de corte rotativo in situ com amostragem; ensaio triaxial
consolidado não drenado; ensaio de corte rotativo em laboratório e ensaio de compressão não
confinada.
Segundo Reese e Van Impe (2001) o valor de ε50 deve ser determinado em laboratório por ensaios
triaxiais. No entanto, na ausência destes ensaios, poderão ser utilizados os valores indicativos
apresentados no Quadro 3-VI. Refira-se que a adopção de valores menores para ε50 conduz a
deslocamentos calculados também menores, especialmente para pequenos níveis de carregamento.
Para cargas elevadas, é a resistência última do solo, dependente da resistência não drenada do solo,
que controla os resultados, pelo que, o momento flector máximo para estes níveis de carregamento
é pouco afectado pela extensão ε50. Assim, uma selecção criteriosa do valor ε50 torna-se muito
importante no caso de ser desejável a avaliação correcta dos deslocamentos para pequenas cargas.
CAPITULO 3
62
Quadro 3-VI - Valores de ε50 em função de su para argilas normalmente e
sobreconsolidadas (Reese e Van Impe, 2001)
Argilas normalmente consolidadas
(Skempton, 1951)
Argilas sobreconsolidadas
(Reese et al., 1975)
su (kPa) ε50 su (kPa) ε50
< 50 0,02 50 – 100 0,007
50 – 100 0,01 100 – 200 0,005
100 – 200 0,005 200 - 400 0,004
3.3.3 Propostas clássicas para a definição de curvas p-y
Em sequência apresentam-se algumas propostas para a elaboração das curvas p-y, denominadas
neste trabalho por clássicas, distinguindo-se os casos de areias, argilas moles e argilas rijas acima e
abaixo do nível freático. A distinção entre argilas moles e rijas é habitualmente efectuada pela
avaliação da resistência não drenada do solo, inserindo-se no primeiro caso as argilas para as quais
esta grandeza seja inferior a 96kPa.
3.3.3.1 Curvas p-y para areias
Em 1974, Reese et al. propuseram um método para construção de curvas p-y em areias, baseando-se
em ensaios em verdadeira grandeza efectuados em Mustang Island, no Texas, descritos por Cox et
al. (1974). As duas estacas ensaiadas eram metálicas, de 21m de comprimento, constituídas por
perfis tubulares de 0,61m de diâmetro e 9,5mm de espessura. As estacas foram cravadas num solo
submerso de elevada compacidade relativa, variando de areia fina a areia fina siltosa com valores
de φ’ e γ’ de 39º e 10,4kN/m3, respectivamente. Ambas as estacas foram instrumentadas com
extensómetros eléctricos, tendo uma delas sido submetida a carregamentos estáticos e a outra a
carregamentos cíclicos (Reese e Van Impe, 2001).
Os passos para a construção da curva p-y sugerida, válida para carregamentos estáticos e cíclicos,
apresentam-se em sequência e devem ser acompanhados da Figura 3.7 para a identificação das
grandezas em causa.
Esta construção inicia-se pela determinação dos valores de φ’, γ’ e nh, mais adequados para o solo
em estudo. Os autores deste método sugerem para nh os valores indicados no Quadro 3-IV. O troço
inicial da curva p-y é linear e estabelece-se utilizando a expressão (3.8).
( )hp n z y= ⋅ ⋅ (3.8)
TRAÇADO DE CURVAS P-Y
63
B/60 3B/80
m
p
y
(yu;pu)
(ym;pm)
(yk;pk)nh z
z=z3
z=z2
z=z1
Figura 3.7 – Curvas p-y para areias (Reese et al., 1974)
Posteriormente, fixando-se a profundidade para a qual se pretende definir a curva, determina-se a
resistência última do solo. Reese et al. (1974) indicam uma metodologia para determinar esta
grandeza, distinguindo o caso da profundidade a analisar se situar próxima da superfície do terreno,
em que é considerado o equilíbrio da cunha que tem tendência a destacar-se na face anterior da
estaca e o caso das grandes profundidades, para as quais já não se fazem sentir os efeitos da
superfície e em que o terreno tem tendência a escoar-se horizontalmente em torno da estaca.
O primeiro modelo citado, válido para pequenas profundidades, é ilustrado na Figura 2.6 (ver ponto
2.2.2.1). A força horizontal total Fpt, desenvolvida pelo solo por oposição ao movimento da estaca,
vale:
2
0
tan tantan tan
3 tan( ) cos tan( ) 2 3tan
(tan tan )3 2
o
pt
a
K z sen B z
F zK z K B
sen
φ β β β αβ φ α β φγ
βφ β α
⋅ ⋅ ⋅⎡ ⎤⎛ ⎞+ ⋅ + ⋅ ⋅⎜ ⎟⎢ ⎥⋅ − ⋅ − ⎝ ⎠⎢ ⎥= ⋅ ⋅⋅ ⋅ ⋅⎢ ⎥
+ ⋅ ⋅ − −⎢ ⎥⎣ ⎦
(3.9)
onde,
K0 é o coeficiente de impulso em repouso (os autores sugerem para as areias, por defeito, o valor de
0,4); 2tan (45 )aK α= − é o coeficiente de impulso activo de Rankine;
45º2φβ = + e
'2φα = são os ângulos que definem a geometria da cunha.
A resistência última do solo, por comprimento da estaca, é obtida por diferenciação da expressão
anterior em função da profundidade z:
( )
( )
0
0
tan tantan tan
tan( ) cos( ) tan( )
tan tan tanut
a
K z senB z
p zK z sen K B
φ β β β αβ φ α β φγ
β φ β α
⋅ ⋅ ⋅⎡ ⎤+ ⋅ + ⋅ ⋅ +⎢ ⎥− ⋅ −= ⋅ ⎢ ⎥⎢ ⎥⋅ ⋅ ⋅ ⋅ − − ⋅⎣ ⎦
(3.10)
CAPITULO 3
64
O modelo válido para maiores profundidades, está ilustrado na Figura 2.7 (ver ponto 2.2.2.1) e,
neste caso, a resistência última do solo determina-se pela expressão:
( )8 4tan 1 tan tanud a op K B z K B zγ β γ φ β= ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ − + ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ (3.11)
Seleccionando-se a partir da Figura 3.8, os coeficientes empíricos As (ou Ac) e Bs (ou Bc) em função
da profundidade e do tipo de carregamento, estático ou cíclico, é possível determinar os
deslocamentos ym e yu e as resistências pm e pu a partir das equações (3.12) e (3.13). Os coeficientes
adimensionais A e B têm uma função de ajuste e a sua utilização justifica-se pelas disparidades
observadas, relativamente às resistências verificadas em resultados experimentais e teóricos.
3; ( ; )
80u u s ut ud
By p A menor p p
⋅= = ⋅ (3.12) ; ( ; )
60m m s ut ud
By p B menor p p= = ⋅ (3.13)
0.00
1.00
2.00
3.00
4.00
5.00
6.00
0.00 1.00 2.00 3.00A
z/B
As - Carregamento estáticoAc - Carregamento cíclico
a)
0.00
1.00
2.00
3.00
4.00
5.00
6.00
0.00 1.00 2.00 3.00B
z/B
Bs - Carregamento estáticoBc - Carregamento cíclico
b)
Figura 3.8 - Coeficientes empíricos A e B em função da profundidade e do tipo de carregamento (estático ou
cíclico)
De ym a yu, a curva p-y é constituída por um troço rectilíneo de inclinação m, definido pela
expressão (3.15). Para deslocamentos superiores a yu, a reacção do solo é constante.
u m
u m
p pm
y y−
=−
(3.14) ( )m mp p m y y= + ⋅ − (3.15)
O troço remanescente é parabólico e desenvolve-se entre os pontos k e m da seguinte forma:
1 np C y= ⋅ (3.16)
TRAÇADO DE CURVAS P-Y
65
em que,
m
m
pn
m y=
⋅ (3.17) 1( )
mn
m
pC
y= (3.18)
definindo –se o ponto k pelo par ordenado (yk; pk), de acordo com as expressões (3.19) e (3.20).
1
nn
kh
Cy
n z
−⎛ ⎞= ⎜ ⎟⋅⎝ ⎠
(3.19) ( )1 nk kp C y= ⋅ (3.20)
Murchison e O’Neil (1984) simplificaram a proposta de Reese et al. (1974), definindo a curva p-y por
uma única expressão que se apresenta em sequência:
ta h h
u u
p n z yA g
p A pη
η⎛ ⎞⋅ ⋅
= ⋅ ⋅ ⎜ ⎟⋅ ⋅⎝ ⎠ (3.21)
em que,
pu é determinado pelo menor valor dado pelas expressões (3.10) e (3.11);
η é um factor de forma que toma o valor 1,5 para estacas de secção variável e 1,0 para estacas de
secção prismática;
A é um coeficiente que vale 3 0,8 0,9z B− ⋅ ≥ para carregamentos estáticos e 0,9 para carregamentos
cíclicos.
3.3.3.2 Curvas p-y para argilas moles
Matlock, em 1970, estabeleceu uma metodologia para o traçado das curvas p-y em argilas moles
normalmente consolidadas. O trabalho baseou-se num programa de ensaios de carga, realizado
sobre uma estaca metálica que foi cravada em Lake Austin e posteriormente em Sabine Pass. A
estaca ensaiada, de 12,8m de comprimento, era constituída por um perfil tubular circular de
0,319m de diâmetro e 12,7mm de espessura de parede. A resistência não drenada média do local
onde foi instalada em Lake Austin é de 38,3kPa e em Sabine Pass de 14,4kPa. Em ambas as
campanhas, a estaca foi ensaiada estaticamente e, após ser extraída e voltada a cravar, foi
ensaiada ciclicamente (Reese e Van Impe, 2001).
A curva p-y sugerida pelo autor é uma parábola cúbica definida pela equação (3.22) e representada
na Figura 3.9. O deslocamento do solo y50 corresponde a uma resistência igual a metade da
resistência última do solo e para a sua determinação o autor propõe a expressão (3.23). Para
deslocamentos superiores a 508 y⋅ atinge-se a resistência última do solo e portanto upp = .
13
50
0,5u
p yp y
⎛ ⎞= ⋅ ⎜ ⎟
⎝ ⎠ (3.22) 50 502,5y Bε= ⋅ ⋅ (3.23)
CAPITULO 3
66
p p
u
yy50810
0,5
1,0
y50
y= 0,5pu
p 1 3
Figura 3.9 – Definição das curvas p-y para argilas moles em carregamento estático
propostas por Matlock (1970)
A construção da curva referida inicia-se pela estimativa da variação de su e γ’ em profundidade e
pela determinação do valor de ε50 a partir de ensaios triaxiais ou, em alternativa, utilizando os
valores indicados no Quadro 3-VI (proposta de Skempton, 1951), com o qual se determina y50.
Para a resistência última do solo em argilas moles submersas, Matlock propõe uma expressão
genérica do tipo:
u c up K s B= ⋅ ⋅ (3.24)
onde Kc é um factor de resistência lateral para solos puramente coesivos. Para grandes
profundidades Kc toma o valor de 9 e junto à superfície do terreno o autor sugere uma variação
deste factor em profundidade:
'3c
u
z J zK
s Bγ ⋅ ⋅
= + + (3.25)
onde,
γ’ é o peso volúmico submerso médio desde a superfície do terreno até à profundidade da curva p-y
em causa;
J é um factor empírico que toma o valor 0,5 para o caso de argilas moles e 0,25 para argilas médias,
sendo usual a adopção do primeiro valor indicado.
Segundo a expressão (3.25), o factor Kc vale 3 à superfície do terreno. O segundo termo da
expressão demonstra o aumento da resistência com a profundidade devido ao aumento da tensão
efectiva e o terceiro termo refere-se ao constrangimento geométrico que mesmo um solo sem peso
envolvendo a estaca exerce contra o escoamento ascensional (Varatojo, 1986).
A resistência última do solo terá o menor dos valores determinados admitindo a hipótese de
pequenas ou grandes profundidades, ou seja, o menor dos valores dados pelas expressões (3.26) e
(3.27).
TRAÇADO DE CURVAS P-Y
67
'3u u
u
z J zp s B
s Bγ⎡ ⎤⋅ ⋅
= + + ⋅ ⋅⎢ ⎥⎣ ⎦
(3.26) 9u up s B= ⋅ ⋅ (3.27)
Por último, determina-se pela expressão (3.22) os pares ordenados ( )50 ; uy y p p para as várias
profundidades pretendidas.
No caso da solicitação ser cíclica, as curvas p-y tomam o aspecto da Figura 3.10 e a sua construção
inicia-se de forma idêntica ao caso de acções estáticas para valores de p inferiores a 0,72·pu.
yy50
p p
u
0,72
31
0,50
15
z>zr
z<zr
z rz0,72
Figura 3.10 – Definição das curvas p-y para argilas moles em carregamento cíclico
propostas por Matlock (1970)
Resolvendo-se as equações (3.26) e (3.27) simultaneamente, determina-se a profundidade zr para a
qual se intersectam as curvas. Se o peso volúmico e a resistência não drenada do solo forem
constantes, então a profundidade zr é dada pela expressão (3.28), caso contrário esta deve ser
avaliada com as propriedades do solo à profundidade onde se pretende definir a curva p-y.
6r
u
Bz
BJ
sγ
⋅=
⋅+
(3.28)
Para profundidades superiores a zr, a curva p-y é definida como para acções estáticas, mas
limitando-se a reacção do solo a 0,72·pu, correspondente a um deslocamento igual a 3·y50. Para
profundidades inferiores, o valor de p decresce desde 0,72·pu para o deslocamento igual a 3·y50 até
o valor fornecido pela expressão (3.29) para um deslocamento igual a 15·y50, a partir do qual se
mantém constante.
0,72 ur
zp p
z⎛ ⎞
= ⋅ ⋅ ⎜ ⎟⎝ ⎠
(3.29)
Segundo Varatojo (1986 e 1995), Lee e Gilbert (1979) procederam a uma reanálise do método
proposto por Matlock, de modo a ajustar os coeficientes a outro caso particular. Ensaiaram uma
estaca metálica cravada num terreno submerso constituído por um estrato superficial de argila
CAPITULO 3
68
orgânica e turfa muito mole com 4,6m de espessura, sobre um estrato de argila muito mole a mole,
altamente plástica.
Em sequência do ensaio realizado, sugeriram alterações à metodologia apresentada por Matlock, no
que concerne à determinação da resistência última do solo e à definição do deslocamento y50.
Assim, para a resistência última propuseram as seguintes expressões:
'
3 *'u u
u
z J zp s B
s Bγ⎡ ⎤⋅ ⋅
= + + ⋅ ⋅⎢ ⎥⎣ ⎦
(3.30) 9 *u up s B= ⋅ ⋅ (3.31)
em que su’ é a resistência não drenada avaliada em ensaios de compressão não confinada e su* é
igual a 2,6 vezes o valor de su’. Para o deslocamento y50 indicam a expressão (3.32).
50 500,1y Bε= ⋅ ⋅ (3.32)
Stevens e Audibert (1979) também propuseram alterações à proposta de Matlock e, para além de
considerarem valores superiores do coeficiente Kc, admitem que o deslocamento não é uma função
linear do diâmetro da estaca sugerindo que o deslocamento y50 seja determinado em centímetros
pela expressão (3.33):
0,550 5014,2 ( )y B cmε= ⋅ ⋅ (3.33)
3.3.3.3 Curvas p-y para argilas rijas acima do nível freático
No caso de argilas rijas, Reese e Welch (1975) apresentaram um critério para o traçado das curvas
p-y, baseado num ensaio de carga realizado numa estaca de betão moldado in situ. A estaca
ensaiada tinha 0,762m de diâmetro e 12,8m de comprimento e foi instrumentada com
extensómetros eléctricos de resistência. O ensaio realizou-se em Houston, no Texas, numa argila
sobreconsolidada, localmente conhecida por “Beaumount clay”, tendo-se determinado para a
resistência não drenada valores entre 75kPa e 163kPa (Reese e Van Impe, 2001).
A metodologia apresentada é a descrita em sequência, em primeiro lugar para carregamentos
estáticos e em segundo para carregamentos cíclicos.
Mais uma vez a construção da família de curvas p-y, como a apresentada na Figura 3.11, inicia-se
pela determinação da evolução em profundidade de su e de γ. O valor de ε50 deve ser obtido
preferencialmente através de ensaios triaxiais, ou, em alternativa, podem utilizar-se os valores de
0,005 ou 0,010 (mais conservativo).
A resistência última do solo é fornecida pelo menor dos valores obtidos pela aplicação das
expressões (3.26) e (3.27), utilizando na primeira expressão um valor médio da resistência não
TRAÇADO DE CURVAS P-Y
69
drenada do solo desde a superfície até à profundidade z, para a qual se pretende definir a curva p-
y. O deslocamento y50 é determinado pela expressão (3.23).
p
y
y50
y= 0,5pu
p 1 4
pu
16 y50
Figura 3.11 – Curva p-y para carregamentos estáticos para argilas rijas acima do nível
freático (Reese e Welch, 1975)
Os pontos que descrevem a curva p-y podem ser avaliados, para valores inferiores a 16·y50, pela
expressão (3.34). Para valores superiores, a pressão do solo equivale à resistência última do solo pu.
14
50
0,5u
p yp y
⎛ ⎞= ⋅ ⎜ ⎟
⎝ ⎠ (3.34)
O efeito de cargas repetidas nas curvas p-y está representado na Figura 3.12. Após a definição das
curvas p-y para o caso estático de curta duração, define-se o número de vezes (N) que a carga
inicial é aplicada. Para vários valores de p/pu é definida a constante C que descreve o efeito da
repetição da carga sobre a deformação. Este parâmetro pode ser estimado a partir de ensaios
laboratoriais admitindo como válida a seguinte relação simplificada:
50 logN i C Nε ε ε= + ⋅ ⋅ (3.35)
em que,
εN é a deformação após N ciclos de repetição da carga;
εi é a deformação correspondente ao primeiro ciclo de carga.
Na ausência de ensaios, pode determinar-se C a partir da expressão (3.36).
4
9,6u
pC
p⎛ ⎞
= ⋅ ⎜ ⎟⎝ ⎠
(3.36)
CAPITULO 3
70
y
p
pu
N
N1 N2N3
yN=yi+y50 C log(N1)
16 y50
+ 9,6 y50 log(N1)
yN=yi+y50 C log(N2)
yN=yi+y50 C log(N3)
16 y50
+ 9,6 y50 log(N2)
16 y50
+ 9,6 y50 log(N3)
Figura 3.12 - Curva p-y para carregamentos cíclicos para argilas rijas acima do nível
freático (Reese e Welch, 1975)
Para os valores de p correspondentes aos vários valores de p/pu para os quais se definiu a constante
C, calculam-se através da expressão (3.37) novos valores de y para carregamentos cíclicos. As
curvas p-yN definem a resposta do solo após N ciclos de carga.
50 logN iy y y C N= + ⋅ ⋅ (3.37)
em que,
yN é o deslocamento após N ciclos de repetição da carga;
yi é o deslocamento correspondente à carga estática de curta duração.
3.3.3.4 Curvas p-y para argilas rijas na presença de água livre
O método proposto por Reese et al. (1975) para argilas rijas na presença de água livre baseou-se nos
ensaios de carga de duas estacas metálicas cravadas, de secção tubular cilíndricas com diâmetro
variável entre 0,641m na extremidade superior e 0,610m na inferior e com 15,2m de comprimento.
Os ensaios foram realizados em Manor, no Texas, numa argila sobreconsolidada com uma resistência
não drenada variando entre 25kPa à superfície até 1100kPa aos 20m de profundidade. As estacas
foram instrumentadas com extensómetros eléctricos de resistência. Uma das estacas foi submetida
a acções estáticas e a outra a acções cíclicas (Reese e Van Impe, 2001).
A curva p-y para carregamentos estáticos proposta por estes autores está ilustrada na Figura 3.13.
Para a sua elaboração, é necessário determinar a resistência não drenada e o peso volúmico
submerso do solo entre a superfície do terreno e a profundidade z para a qual se pretende construir
TRAÇADO DE CURVAS P-Y
71
a curva p-y. Posteriormente, determina-se o valor médio da resistência não drenada us até à
profundidade z.
y
p
p=0,5 pu yy
50
0,5
Δp=0,055 pu
1,25y-As y50
As y50
m=-0,0625 pu
y50
Ki=nh z
As y50 y50 6 As y50 18 As y50
0,5 pu
Figura 3.13 – Curva p-y para carregamentos estáticos de estacas inseridas em argilas rijas na presença de água
livre (Reese et al., 1975)
Para a resistência última do solo, estes autores propõem as formulações apresentadas no ponto
2.2.2.2 do Capítulo 2 deste trabalho, que distinguem os modos de rotura junto à superfície do
terreno e para maiores profundidades, onde o efeito da superfície deixa de se fazer sentir. O
modelo para pequenas profundidades está representado na Figura 2.12. A força Fp determina-se por
integração das componentes horizontais da resistência criada nas superfícies de escorregamento,
tendo em consideração o peso da cunha, donde resulta a seguinte expressão:
[ ] 2 21tan (1 ) tan sec
2p u uF s B z co B z s zβ χ β γ β= ⋅ ⋅ ⋅ + + ⋅ + ⋅ ⋅ ⋅ + ⋅ ⋅ (3.38)
sendo,
χ - um factor de redução para a resistência criada entre a face da estaca e o solo;
β – o ângulo da cunha (ver Figura 2.12).
Caso se admita para o solo um comportamento não drenado, o ângulo β pode ser considerado igual
a 45º. Considerando ainda que o factor χ tem um valor nulo e diferenciando a expressão anterior
em função da profundidade, determina-se a expressão para a resistência do solo:
2 ' 2,83ut u up s B B z s zγ= ⋅ ⋅ + ⋅ ⋅ + ⋅ ⋅ (3.39)
O modelo, válido para grandes profundidades, é apresentado na Figura 2.7, utilizando o critério de
rotura descrito na Figura 2.13. Neste caso, a resistência última pu determina-se pela diferença
gerada entre as tensões σ6 e σ1 (identificadas na Figura 2.7) que valerá 10 vezes a resistência não
drenada do solo su, no entanto é usual considerar-se o valor de 11·su, pelo que:
CAPITULO 3
72
11ud up s B= ⋅ ⋅ (3.40)
A resistência última do solo é determinada pelo menor dos valores obtidos pelas expressões (3.39) e
(3.40).
Em função da profundidade relativa z/B e de acordo com a Figura 3.14, determina-se o factor
adimensional As relativo a carregamentos estáticos.
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,00
2
4
6
8
10
12
Ac As
A
Bz
Figura 3.14 – Factores adimensionais As e Ac
O troço recto inicial da curva p-y é traçado utilizando a expressão (3.41) e com os valores de nhs (ou
nhc) indicados pelo Quadro 3-VII.
ou hs hcp n z y p n z y= ⋅ ⋅ = ⋅ ⋅ (3.41)
Quadro 3-VII – Valores dos coeficientes nhs e nhc em função de su
Resistência não drenada su (kPa) 50 - 100 100 - 200 200 – 400
nhs para carregamentos estáticos (MN/m3) 135 270 540
nhc para carregamentos cíclicos (MN/m3) 55 110 540
O valor do deslocamento y50 determina-se pela expressão (3.42), avaliando ε50 preferencialmente
por ensaios triaxiais, podendo em alternativa utilizar-se os valores indicados pelo Quadro 3-VI
(proposta de Reese et al., 1975) para argilas sobreconsolidadas, considerando um valor médio da
resistência não drenada desde a superfície do terreno até à profundidade equivalente a cinco
diâmetros da estaca.
50 50y Bε= ⋅ (3.42)
TRAÇADO DE CURVAS P-Y
73
O primeiro troço parabólico da curva p-y é válido desde a sua intersecção com o troço inicial
rectilíneo até ao deslocamento definido por 50sA y⋅ , a partir do qual se desenvolve um segundo
troço parabólico e finalmente dois últimos troços rectilíneos. As expressões que os definem e a
gama de deslocamentos em que são válidos apresentam-se em sequência:
50sy A y≤ ⋅ : 0,5
50
0,5 u
yp p
y⎛ ⎞
= ⋅ ⋅ ⎜ ⎟⎝ ⎠
(3.43)
50 506s sA y y A y⋅ ≤ ≤ ⋅ ⋅ : 0,5 1,25
50
50 50
0,5 0,055 su u
s
y A yyp p p
y A y⎛ ⎞ ⎛ ⎞− ⋅
= ⋅ ⋅ − ⋅ ⋅⎜ ⎟ ⎜ ⎟⋅⎝ ⎠ ⎝ ⎠ (3.44)
50 506 18s sA y y A y⋅ ⋅ ≤ ≤ ⋅ ⋅ : ( ) ( )0,550
50
0,06250,5 6 0,411 6u s u sp p A p y A y
y= ⋅ ⋅ ⋅ − ⋅ − ⋅ − ⋅ ⋅ (3.45)
5018 sy A y≥ ⋅ ⋅ : ( )0,50,5 6 0,411 0,75u s u u sp p A p p A= ⋅ ⋅ ⋅ − ⋅ − ⋅ ⋅ (3.46)
O método proposto está descrito para o caso de existir uma intersecção entre a equação (3.41) e
(3.43). Se tal não se verificar, a equação (3.41) prevalece até à sua intersecção com uma qualquer
das outras equações de (3.43) a (3.46).
No caso do carregamento ser cíclico, a curva p-y proposta é a ilustrada na Figura 3.15. A sua
elaboração inicia-se pela determinação da resistência última do solo e pela definição do troço
inicial rectilíneo como se apresentou para o caso do carregamento estático. Os passos
remanescentes descrevem-se em sequência.
Da Figura 3.14 escolhe-se o valor do factor adimensional Ac, relativo a carregamentos cíclicos,
correspondente à profundidade relativa z/B e determina-se o deslocamento yp pela seguinte
expressão:
504,1p cy A y= ⋅ ⋅ (3.47)
O primeiro troço parabólico da curva p-y é válido entre a sua intersecção com a recta inicial e o
deslocamento 0,6·yp, após o qual se seguem duas rectas. As expressões (3.48) a (3.50) definem
estes três últimos troços.
CAPITULO 3
74
p
y
m=-0,085 pu
y50
0,45 yp 0,6 yp 18 yp
Ac pu
Ki=nhc z
p=Ac pu 1-2,5y-0,45 yp
0,45 yp
Figura 3.15 - Curva p-y para carregamentos cíclicos de estacas inseridas em argilas rijas na presença de água
livre (Reese et al., 1975)
0,6 py y≤ ⋅ : 2,5
0,451
0,45p
c up
y yp A p
y
⎡ ⎤⎛ ⎞− ⋅⎢ ⎥= ⋅ − ⎜ ⎟⎜ ⎟⋅⎢ ⎥⎝ ⎠⎣ ⎦
(3.48)
0,6 1,8p py y y⋅ ≤ ≤ ⋅ : ( )50
0,0850,936 0,6c u u pp A p p y y
y= ⋅ ⋅ − ⋅ ⋅ − ⋅ (3.49)
1,8 py y≥ ⋅ : 50
0,1020,936 c u u pp A p p y
y= ⋅ ⋅ − ⋅ ⋅ (3.50)
Da mesma forma como foi referido para o carregamento estático, a metodologia para o
estabelecimento da curva p-y foi formulada admitindo a existência de uma intersecção entre as
equações (3.41) e (3.48). Se tal não for concretizável, deve ser escolhida a expressão que traduz o
menor valor da pressão do solo p para qualquer valor de y.
3.3.3.5 Curvas p-y para solos com coesão e ângulo de atrito
A maioria das propostas existentes para a elaboração das curvas p-y refere-se a solos puramente
incoerentes ou a solos puramente coesivos ou coerentes, caracterizando-se o maciço em estudo
pelo seu ângulo de atrito ou pela sua resistência não drenada, respectivamente. No entanto,
existem situações em que se torna necessário fazer uma análise do comportamento do solo tendo
em consideração a sua coesão e ângulo de atrito, como são exemplos os casos de solos coesivos não
saturados e os solos cimentados.
Nesta perspectiva Reese e Van Impe (2001) propõem uma metodologia para a elaboração de curvas
p-y em solos coesivo-friccionais (c’-φ'), semelhante à descrita para o caso de areias e baseada em
TRAÇADO DE CURVAS P-Y
75
ensaios de carga conduzidos no Kuwait por Ismael (1990). Os ensaios de carga referidos foram
realizados sobre doze estacas de betão moldadas em areias cimentadas (solo c’-φ'). As estacas
ensaiadas tinham 30cm de diâmetro, quatro delas com 3m de comprimento e as restantes com 5m.
O solo era composto por dois estratos, um superficial de 3,5m de espessura constituído por areias
siltosas cimentadas e um mais profundo constituído por areias siltosas de compacidade densa a
muito densa. Os valores dos parâmetros de resistência c’ e φ’ foram determinados através de
ensaios triaxiais drenados, tendo-se obtido para o estrato superior o valor de 20kPa para a coesão e
35º para o ângulo de atrito, e para o estrato inferior os valores de coesão nula e 43º para o ângulo
de atrito.
O desenvolvimento da curva proposta por Reese e Van Impe ilustra-se na Figura 3.16 e para a sua
elaboração é sugerida uma metodologia semelhante à descrita em 3.3.3.1 para areias, tendo em
conta a semelhança do comportamento tensão – deformação destes dois tipos de solos.
y
p
B/60 3 B/80
(ym;pm)
(yu;pu)(yk;pk)
(nhφ+nhc) z
Figura 3.16 – Curva p-y para solo coesivo-friccionais c’-φ’ (Reese e Van Impe, 2001)
Para a determinação da resistência última do solo, e como haviam sugerido Evans e Duncan em
1982, torna-se necessário adicionar uma componente de resistência atrítica e uma coesiva, como
ilustra a seguinte expressão:
' 'u u ucp A p pφ= ⋅ + (3.51)
em que,
A é o coeficiente As ou Ac determinado pela Figura 3.8;
'up φ é determinado pelo menor valor dado pelas expressões (3.10) e (3.11), utilizando os valores de
K0, Ka, β e α sugeridos em 3.3.3.1;
'ucp é determinado pelo menor valor dado pelas expressões (3.52) e (3.53), semelhantes às
apresentadas em 3.3.3.2, mas substituindo a resistência não drenada pela coesão.
CAPITULO 3
76
'
3 ''u
z J zp c B
c Bγ ⋅ ⋅⎡ ⎤= + + ⋅ ⋅⎢ ⎥⎣ ⎦
(3.52) 9 'up c B= ⋅ ⋅ (3.53)
O troço inicial da curva p-y é linear e estabelece-se utilizando a expressão (3.54), seleccionando os
valores de nhc’ e nhφ’ com o auxílio da Figura 3.17.
( )' 'h hcp n n z yφ⎡ ⎤= + ⋅ ⋅⎣ ⎦ (3.54)
carregamentoestático
carregamentocíclico
Rija Muito Rija Dura
ARGILA RIJA
nhc' (MN/m )3
600
500
400
300
200
100
050 100 150 200 250 300 350
su ou c' (kPa )
areiaemersa
areiasubmersa
Solta Média Densa
AREIA
nhφ' (MN/m )3
80
60
50
40
20
10
029 31 33 35 37 39 41
ângulo de atrito φ' ( º )
30
70
Figura 3.17 – Valores de nhc’ e nhφ’ (Reese e Van Impe, 2001)
Determinando, a partir da Figura 3.8, os coeficientes empíricos As (ou Ac) e Bs (ou Bc) em função da
profundidade e do tipo de carregamento, é possível definir o valor dos deslocamentos ym e yu e as
resistências pm e pu pelas equações (3.55) e (3.56).
' '
3;
80u u s u uc
By p A p pφ
⋅= = ⋅ + (3.55) ';
60m m s u
By p B p φ= = ⋅ (3.56)
Para deslocamentos superiores a yu a reacção do solo é constante e igual a pu. Para a gama de
deslocamentos entre ym e yu a relação p-y é linear, exibindo uma inclinação m, e define-se através
da expressão (3.58).
u m
u m
p pm
y y−
=−
(3.57) ( )m mp p m y y= + ⋅ − (3.58)
O troço remanescente é parabólico e desenvolve-se entre os pontos k e m da seguinte forma:
1 np C y= ⋅ , (3.59)
em que,
m
m
pn
m y=
⋅ (3.60) 1( )
mn
m
pC
y= (3.61)
O ponto k (yk; pk) é determinado com o auxílio das expressões (3.62) e (3.63).
TRAÇADO DE CURVAS P-Y
77
1
( )
nn
kh hc
Cy
n n zφ
−⎛ ⎞= ⎜ ⎟⎜ ⎟+ ⋅⎝ ⎠
(3.62) ( )1 nk kp C y= ⋅ (3.63)
3.3.4 Novas Propostas para a definição de curvas p-y
3.3.4.1 Método dos três troços (Santos, 1999)
Santos (1999), analisando o trabalho de Prakash e Kumar (1996), referido no ponto 2.3.1.2.1.4 do
Capítulo 2 deste trabalho, e o de Terashi et al. (1991), verificou que, ambos os autores propõem
para areias uma relação entre a reacção do solo e o respectivo deslocamento formalmente idêntica,
como indica a seguinte expressão:
0,5sp K y= ⋅ (3.64)
De facto, Prakash e Kumar ao admitirem, por um lado, a relação (3.65) entre o deslocamento do
solo e a respectiva distorção e, por outro lado, ao estabelecerem a relação entre o módulo de
reacção e a distorção como se apresenta na expressão (2.62):
12,5
yB
υγ += ⋅
⋅ (3.65) 0,480,052
i
KK γ −= ⋅ (3.66)
deduziram a relação entre a reacção do solo e o deslocamento da seguinte forma:
0,48
0,5210,052
2,5s ip K y K y y yB
ν−⎡ ⎤+⎛ ⎞= ⋅ = ⋅ ⋅ ⋅ ⋅ ∝⎢ ⎥⎜ ⎟⋅⎝ ⎠⎢ ⎥⎣ ⎦
(3.67)
Estes autores associam o valor de Ki a uma distorção na ordem de 0,002, enquanto que Terashi et
al. a 0,0008.
Santos (1999) refere que a correlação expressa por (3.64) é adoptada há já bastante tempo no
Japão (Bureau of Ports and Harbours, 1980) e aponta como uma deficiência das propostas
apresentadas o facto de não afectarem o comportamento do conjunto solo-estaca da resistência
última do solo. Assim, propõe a definição das curvas p-y para o caso de areias, composta por três
zonas distintas, como se apresenta na Figura 3.18.
CAPITULO 3
78
pu
Ki
p
y
pe
ye yr yuγe γr γu
zona 1 zona 2 zona 3
Figura 3.18 - Curva p-y do método dos três troços (Santos, 1999)
A zona 1 traduz o comportamento do solo elástico linear, correspondente ao domínio das muito
pequenas deformações, para a qual a relação p-y é admitida linear:
e ePara y y ou : ip K yγ γ≤ ≤ = ⋅ (3.68)
O valor do módulo de reacção tangente Ki pode ser obtido por correlação com os parâmetros do
solo, como apresentado em 3.3.1.
Na zona 2, correspondente ao domínio das pequenas a grandes deformações, a relação p-y define-se
por uma relação como a apresentada na expressão (3.64). Por compatibilização com o troço
anterior, este troço da curva p-y determina-se da seguinte forma:
0,5 0,5e u e uPara y y y ou : i ep K y yγ γ γ≤ ≤ ≤ ≤ = ⋅ ⋅ (3.69)
Por último, a zona 3 traduz a limitação da reacção do solo à sua resistência última:
u uPara y y ou : up pγ γ≥ ≥ = (3.70)
A delimitação das zonas definidas faz-se para o deslocamento linear limite (ye) e para o
deslocamento último (yu) a que correspondem, respectivamente, a distorção linear limite (γe) e a
distorção última (γu). Uma outra grandeza inerente ao modelo proposto é o deslocamento de
referência yr definido por:
ur
i
py
K= (3.71)
Segundo Santos (1999) o valor da distorção linear limite não deve ser um valor fixo, mas
determinado a partir da expressão (3.73), adoptando γu um valor entre 2% e 4%.
TRAÇADO DE CURVAS P-Y
79
220,5 0,5 0,5 0,5 1 1
=K2,5
r uu i r u i e u i r i e u e
u i u
y pp K y p K y y K y y y y
y K Bν
γ⎛ ⎞ +⎛ ⎞= ⋅ ∧ = ⋅ ⋅ ⇒ ⋅ ⋅ ⋅ ⇒ = = ⋅ ⋅⎜ ⎟ ⎜ ⎟⋅⎝ ⎠⎝ ⎠
(3.72)
2 21 1 12,5 2,5
ue e
i u
py
B K Bν νγ
γ⎛ ⎞+ +⎛ ⎞ ⎛ ⎞= ⋅ = ⋅ ⋅⎜ ⎟⎜ ⎟ ⎜ ⎟⋅ ⋅⎝ ⎠ ⎝ ⎠⎝ ⎠
(3.73)
O autor deste método refere que este é extensível a solos coesivos, admitindo para o expoente da
expressão (3.64) um valor de 1/4 ou 1/3, como defendem as várias metodologias apresentadas
anteriormente para a definição de curvas p-y em argilas. Nestes casos, a curva de degradação do
módulo de reacção será proporcional a γ1/4 -1 e γ1/3-1, respectivamente. A relação entre a distorção
limite ye e a distorção última pode ser determinada pela compatibilidade entre as várias zonas que
constituem a curva p-y, de uma forma semelhante à indicada para o caso das areias.
3.3.4.2 Modelo Hiperbólico
Nos últimos anos têm surgido alguns autores como Georgiadis et al. (1992) e Kim et al. (2004) que,
baseados em ensaios de carga em modelos reduzidos, sugerem a definição da relação p-y por uma
função hiperbólica, como se apresenta em (3.74).
1
i u
yp
yK p
=+
(3.74)
Georgiadis et al. (1992) ensaiaram estacas embebidas em areia seca compactada para uma
compacidade relativa de 60%, com um peso volúmico de 16,3kN/m3 e um ângulo de atrito de 36º
determinado através de ensaios triaxiais. Estes autores afirmam que os valores de nh sugeridos por
Terzaghi (1955) e apresentados no Quadro 3-II se ajustam bem à rigidez inicial das curvas p-y
obtidas experimentalmente. Para a resistência última do solo, pu, os autores propõem as expressões
de Reese et al. (1974), mas considerando para o coeficiente A da expressão (3.12) a expressão:
2 13
z BA = − ≥ (3.75)
Baseados noutros estudos experimentais, Georgiadis et al. (1992) referem que a expressão (3.74)
também se mostrou apropriada para o estudo de estacas instaladas em solos coesivos, mas
utilizando outras relações para K e pu.
Kim et al. (2004) com objectivo de desenvolverem curvas p-y para as areias de Nak-Dong River, na
Coreia, e analisarem a influência da compacidade relativa do solo, das condições de fixação da
cabeça das estacas e do seu método de execução nas curvas p-y, conduziram uma série de ensaios
de carga em laboratório, sobre dois tipos de protótipos de grandeza reduzida: estacas moldadas e
CAPITULO 3
80
estacas cravadas. O solo do ensaio foi preparado com uma compacidade relativa de 50% e 73%, às
quais correspondem um peso volúmico de 13,1kN/m3 e 13,7kN/m3, respectivamente.
Os diagramas dos momentos flectores foram ajustados a polinómios de 4ºgrau, obtendo-se a reacção
do solo diferenciando duas vezes os diagramas dos momentos flectores e os deslocamentos
integrando-os duas vezes. As constantes de integração foram determinadas pelo conhecimento do
deslocamento e da rotação da cabeça que tinham sido medidos. Estes investigadores determinaram
as curvas p-y ajustando-as à expressão (3.74), obtendo desta forma o valor de Ki e de pu.
Admitindo que Ki varia linearmente com a profundidade, Kim et al. obtiveram para a sua taxa de
variação nh os valores apresentados no Quadro 3-VIII. Para a resistência última do solo, propuseram
a seguinte expressão:
' nup
pK z
Bγ= ⋅ ⋅ (3.76)
em que,
Kp é o coeficiente de impulso passivo;
n é um expoente que depende das condições de restrição da cabeça da estaca, valendo 0,4 para
estacas com cabeça livre e 0,7 para estacas com cabeça encastrada no maciço.
Quadro 3-VIII – Valores nh (MPa) obtidos experimentalmente (Kim et al, 2004)
Compacidade da areia Modo de instalação das estacas
Condições de fixação da cabeça das estacas média densa
Estacas moldadas livre 4,3 12,0
Estacas moldadas encastrada 21,1 32,5
Estacas cravadas com uma energia de 0,5J/1,0J e 1,5J livre 9,5/16,5/24,7 18,0/24,0/30,0
3.4 CORRELAÇÕES EMPÍRICAS COM RESULTADOS DE ENSAIOS IN SITU
Os ensaios in situ apresentam-se como uma ferramenta de grande utilidade na caracterização
geotécnica. De facto, estes ensaios permitem a caracterização de um grande número de pontos do
maciço, são de rápida execução e envolvem, em geral, custos reduzidos partindo da premissa que
aproveitam os furos de sondagem, em qualquer caso indispensáveis para a identificação da posição
do nível aquífero e da sequência dos estratos do maciço em estudo. Outra virtude da sua utilização
prende-se com o facto de se ensaiar o solo no seu próprio meio, logo sem alteração do seu estado
de tensão (Matos Fernandes, 1995).
TRAÇADO DE CURVAS P-Y
81
No estudo do comportamento de estacas solicitadas horizontalmente, os resultados destes ensaios
são muitas vezes correlacionados com o traçado das curvas p-y. Neste campo, merecem especial
atenção os ensaios SPT e CPT pela possibilidade de avaliar os parâmetros necessários ao traçado das
referidas curvas e os ensaios com o pressiómetro e o dilatómetro pela analogia existente entre a
deformação do solo durante a execução do ensaio e durante o processo de deformação de uma
estaca solicitada horizontalmente.
3.4.1 Ensaios de penetração SPT e CPT
Em Portugal, como na grande maioria dos países, a caracterização geotécnica de um dado terreno é
usualmente efectuada através de ensaios SPT e, por vezes, por ensaios CPT. A vasta experiência
mundial na utilização dos ensaios referidos, em particular do ensaio SPT, permitiu associar os seus
resultados a certas propriedades dos solos. No problema em estudo, estes ensaios mostram-se de
extrema importância para a avaliação dos parâmetros necessários para a elaboração das curvas p-y,
referindo-se particularmente a obtenção do ângulo de atrito φ e do módulo de reacção do solo K.
Algumas das correlações desenvolvidas foram já apresentadas no ponto 3.3.1 deste capítulo.
3.4.2 Ensaios pressiométricos
Define-se pressiómetro como um instrumento cilíndrico projectado e construído para aplicar,
através de um fluido, pressões uniformes às paredes de um furo, por meio de uma membrana
flexível. É usual incluir-se sob a designação de pressiómetro, tanto a sonda, como o equipamento de
controlo e as tubagens. Na Figura 3.19 ilustra-se um pressiómetro.
a) b1) b2)
Figura 3.19 – a) Pressiómetro e trado para perfuração prévia e b) calibração do pressiómetro
CAPITULO 3
82
Existem três grandes categorias de pressiómetros, dependendo do seu método de instalação. Os
pressiómetros com perfuração prévia (PDP – PreDrilled Pressuremeter) são instalados em furos pré
executados, com o diâmetro ligeiramente superior à sonda. Os pressiómetros mais conhecidos
dentro desta categoria são os de Ménard. Os pressiómetros autoperfuradores (SBP – SelfBoring
Pressuremeter) executam eles próprios a furacão para o seu posicionamento no local do ensaio,
sendo de referir o modelo desenvolvido em Cambridge, conhecido por CSBP, e o construído em
França pelos LPC - Laboratoires dês Ponts et Chaussées, designado por PAF (pressiomètre
autoforeur). Por último, existem os pressiómetros penetrantes (PIP – Push In Pressuremeter), que
são posicionados no local do ensaio, forçando a sua penetração por vibração ou cravação. A
interpretação deste último tipo de pressiómetros segue, de uma forma geral, ou as regras dos PDP
ou as do SBP (Sousa Coutinho, 1995).
A analogia entre o ensaio pressiométrico e a estaca carregada lateralmente já é antiga. De facto,
apesar do deslocamento do solo no segundo caso ser mais complexo, uma vez que este se move
radialmente da face frontal da estaca para a sua face posterior, é expectável que o solo situado na
região central da face anterior da estaca e o solo em redor do pressiómetro se deformem de forma
idêntica (Robertson et al., 1983 e 1985). É ainda possível instalar o pressiómetro de forma a
permitir modelar a perturbação causada pelo método de instalação das estacas, utilizando o
pressiómetro com perfuração prévia ou auto-perfurante no caso de estacas moldadas e o
pressiómetro penetrante por cravação no caso das cravadas. Desta forma, foram vários os métodos
desenvolvidos para o dimensionamento deste tipo de fundação utilizando os resultados do
pressiómetro.
Descreve-se em sequência dois destes métodos. O primeiro método descrito é o aconselhado pelo
LPC – Laboratoires dês Ponts et Chaussèes para a determinação da curva p-y a partir do ensaio
pressiométrico de Ménard. O segundo método, originalmente proposto por Hughes et al. (1979) para
a determinação das curvas p-y a partir do ensaio CSBP, foi estendido por Robertson et al. (1985) ao
ensaio PIP resultante do CSBP cuja ponta em bisel é substituída por um cone.
3.4.2.1 Método de Ménard et al. (1969)
Segundo Baguelin et al. (1986), a curva p-y proposta por Ménard et al. (1969), baseada no ensaio
pressiométrico PMT, é composta por três troços lineares obtidos a partir do módulo pressiométrico
(EM), da pressão de fluência (pf) e da pressão limite (pL). Como se pode verificar pela Figura 3.20 que
representa a proposta citada, a curva é composta por um primeiro troço OA de inclinação igual ao
módulo de reacção, por um segundo troço AB com metade da inclinação do primeiro e por último por
uma recta BC definida pela resistência última do solo pu. Na prática corrente, a tensão de fluência não
deve ser excedida, e a curva a adoptar é definida pelos pontos OAB’.
TRAÇADO DE CURVAS P-Y
83
[FL ]
O
p
K
y [L]
B'AK/2
B C
-1
pu=pL B
pu=pL B/2
pL B
pf B
K/4
K/2
z>zc
z=0
Figura 3.20 – Curva p-y a partir do ensaio PMT
O módulo de reacção K é obtido pelas expressões seguintes:
0
0
0
18Para B>B :
4 2,65 3MK E
BBB B
α
α
= ⋅⎛ ⎞
⋅ ⋅ ⋅ + ⋅⎜ ⎟⎝ ⎠
(3.77)
( )0
18e para B<B :
4 2,65 3MK E α α
= ⋅⋅ + ⋅
(3.78)
sendo,
B0 – o diâmetro de referência da estaca igual a 0,60m;
α - um coeficiente que depende do tipo de solo, fornecido pelo Quadro 3-IX.
Quadro 3-IX – Coeficiente α em função do tipo de solo
Tipo de solo Turfa Argila Silte Areia Areia ou
cascalho
Sobreconsolidado ou muito compacto - 1 2/3 1/2 1/3
Normalmente consolidado ou compacto 1 2/3 1/2 1/3 1/4
Subconsolidado, alterado, remexido ou solto - 1/2 1/2 1/3 -
A curva proposta é válida para profundidades superiores à profundidade critica zc, que se define
igual a 2 B⋅ para solos coerentes e 4 B⋅ para solos incoerentes, a partir da qual, a falta de
confinamento vertical, resultante da proximidade da superfície do terreno, deixa de se fazer sentir.
Para profundidades inferiores, a reacção do solo deve ser dividida por um coeficiente que vale
( )0,5 1 cz z⋅ + .
CAPITULO 3
84
Baguelin et al. (1986) concluíram, a partir de dados experimentais, que a curva sugerida neste
método é, em geral, pessimista para carregamentos monotónicos de curta duração, tendendo a
sobrestimar o deslocamento na cabeça e o momento máximo actuante para estacas solicitadas por
forças horizontais na cabeça. No entanto, referem que este método parece ser bastante aceitável
na prática do projecto, uma vez que as fundações estão na sua grande maioria sujeitas a acções
cíclicas ou de longa duração e os processos de instalação das estacas podem perturbar o solo
envolvente.
Frank (1999) sugere as curvas p-y apresentadas na Figura 3.21 em função do tipo de carregamento,
utilizando o mesmo coeficiente de redução da reacção do solo para profundidades inferiores à
crítica.
b)a) c)
p
O
K
O [L]y
[FL ]p -1
[L]y
2K
O
2K
K
y [L]
p [FL ][FL ]-1 -1
pf B pf B pf B
pL B
Figura 3.21 – Curvas p-y para estacas solicitadas horizontalmente com carregamentos predominantemente: a)
carga concentrada permanente; b) carga concentrada de curta duração e c) carga concentrada acidental de
muito curta duração (Frank, 1999)
3.4.2.2 Método de Robertson et al. (1985)
Robertson et al. (1985) sugerem a utilização da curva pressiométrica, que descreve a pressão σr em
função da extensão circunferencial ε0= ΔR/R0, para a obtenção da curva p-y para uma dada
profundidade. Para a determinação do deslocamento y, a extensão circunferencial ε0 deve ser
multiplicada por metade da largura da estaca B/2 e a pressão σr, após ter sido corrigida
transladando a curva pressiométrica para o lift-off, deve ser multiplicada por B e por um factor
correctivo α, de forma a obter a resistência do solo p. Para o factor α foram propostos os valores de
2,0 para o caso de solos coerentes e de 1,5 para o caso de solos incoerentes.
Este método, como acaba de ser descrito, é ilustrado na Figura 3.22 e é válido para profundidades
superiores à crítica que se define por 4·B. Para profundidades inferiores, os autores sugerem que o
TRAÇADO DE CURVAS P-Y
85
factor α varie linearmente desde a superfície do terreno até à profundidade crítica, tomando
valores de 0,67 até 2,0 para solos coerentes e de 0 a 1,5 para solos incoerentes.
RΔ0R y =
p
αp
curva p-y da estaca
curva pressiométrica
RΔ0R
B2
curva pressiométrica transladada para o lift-off
[FL ]-1
[L]
[FL ]-2[FL ]-2σr
RΔ0R
σr p=σr B
Figura 3.22 – Obtenção das curvas p-y a partir das curvas dos ensaios pressiométricos (Robertson et al., 1985)
3.4.3 Ensaio com o dilatómetro plano
O ensaio com o dilatómetro plano (DMT) foi desenvolvido em Itália por Marchetti (1975). Os
resultados do ensaio são obtidos de 20 em 20cm e o seu reduzido tamanho permite a obtenção de
dados muito próximo da superfície do terreno, zona que mais influencia a resposta de estacas
solicitadas horizontalmente (Robertson et al., 1989).
O dilatómetro, apresentado na Figura 3.23, consiste numa espátula de aço inoxidável com 15mm de
espessura, 96mm de largura e 220m de altura, que possui numa das faces uma membrana flexível,
também em aço inoxidável, e com diâmetro de 60mm. A membrana é expandida por acção de
elevadas pressões de azoto gasoso conduzido até à espátula por um tubo existente no interior das
varas de cravação. Debaixo da membrana, existe um dispositivo que faz interromper um zumbido
emitido electronicamente no equipamento de leitura, instalado na superfície do terreno, desde o
momento em que a membrana descola do diafragma até se deformar em 1 mm no seu centro.
No processo de expansão da membrana são registadas duas leituras A e B que, após corrigidas,
fornecem as pressões correspondentes ao descolamento da membrana do diafragma (inicio da
expansão) e ao deslocamento do seu centro de 1mm, que se denominam por pressão p0 e p1,
respectivamente.
CAPITULO 3
86
a)
b)
Figura 3.23 – Dilatómetro: a) aparelho completo; b) dilatómetro
Estas duas pressões, conjuntamente com a tensão efectiva vertical e a pressão neutra referentes ao
estado inicial em repouso, permitem definir três parâmetros típicos do ensaio:
Índice do material: 1 0
0 0
D
p pI
p u−
=−
(3.79)
Índice de tensão lateral: 0 0
0
K'Dv
p uσ
−= (3.80)
Módulo dilatométrico: ( )1 0 E 34,6D p p= ⋅ − (3.81)
À semelhança do pressiómetro, o dilatómetro de Marchetti é apresentado, hoje em dia, como um
ensaio in situ capaz de conduzir a boas previsões do comportamento de estacas a acções
horizontais. A via que tem sido utilizada na aplicação dos seus resultados ao problema em estudo
consiste na utilização de propostas de curvas p-y baseadas em ensaios laboratoriais, nas quais os
parâmetros do solo são obtidos a partir deste ensaio. A justificação para este procedimento
relaciona-se com o facto de no ensaio DMT apenas se produzir um deslocamento horizontal de 1
mm, não se aplicando uma gama de pressões suficiente que permita a definição da curva p-y na sua
totalidade. Neste domínio, são de referir os trabalhos de Robertson et al. (1989), de Garb e Borden
(1988), de Garb et al. (1991) e de Marchetti et al. (1991), que apresentam a aplicação do
dilatómetro à estimativa das curvas p-y em areias e em argilas.
Marchetti et al. (1991) compararam os resultados experimentais de ensaios em verdadeira grandeza,
realizados em duas estacas cuidadosamente instrumentadas, inseridas numa argila mole saturada,
com as previsões realizadas aplicando os métodos propostos por Robertson et al. (1989) e por Garb e
TRAÇADO DE CURVAS P-Y
87
Borden (1988). Os ensaios realizaram-se em Livorno, no Nordeste de Itália. Da comparação
efectuada, concluíram que, os deslocamentos previstos pelo método de Robertson et al. estavam
em grande conformidade com os observados para todos os níveis de carga e para as várias
profundidades consideradas. Relativamente ao método de Garb e Borden, os autores concluíram que
este conduz a deslocamentos sobrestimados para carregamentos elevados e subestimados para
pequenas cargas, supondo-se que na realidade o valor da resistência última do solo pu é superior e o
do módulo de reacção inicial é inferior relativamente aos considerados no método. No mesmo
trabalho, Marchetti et al. propõem um método simplificado do método de Robertson et al. não
tendo, no entanto, chegado a melhores estimativas do que as obtidas com o método que lhe deu
origem.
Em sequência, apresenta-se brevemente o método proposto por Robertson et al. (1989) para a
determinação das curvas p-y pela aplicação dos resultados do dilatómetro.
3.4.3.1 Método de Robertson et al. (1989)
Robertson et al. (1989) propõem a utilização da parábola cúbica (3.22) sugerida por Matlock (1970)
para a obtenção das curvas p-y, a partir dos resultados do ensaio DMT. Esta parábola está
reproduzida na expressão (3.82), mantendo-se válidas as definições anteriormente efectuadas para
as variáveis intervenientes.
13
50
0,5u
p yp y
⎛ ⎞= ⋅ ⎜ ⎟
⎝ ⎠ (3.82)
Para solos coerentes, Robertson et al. sugerem a utilização da expressão de Stevens e Audibert
(1979) para a determinação do deslocamento y50 em centímetros:
0,550 50( ) 14,2 ( )y cm B cmε= ⋅ ⋅ (3.83)
A extensão ε50, correspondente à semi-diferença entre as tensões principais máximas na rotura,
pode avaliar-se pela expressão (3.84), adoptando para o factor de rigidez empírico Fc o valor
aproximado de 10.
50
1,67 u
c D
sF E
ε⋅
=⋅
(3.84)
A resistência última do solo pu determina-se pela expressão (3.26) ou (3.27), recorrendo aos
resultados do DMT para determinar a resistência não drenada do solo (ver ponto 3.4.3.2).
No caso de solos incoerentes, a expressão adoptada para o deslocamento y50 é a já conhecida:
50 502,5y Bε= ⋅ ⋅ (3.85)
CAPITULO 3
88
Para a determinação de ε50 os autores propõem a expressão (3.86), sugerindo inicialmente o valor
de 1 para uma primeira aproximação do factor de rigidez empírico Fφ. No entanto, após analisarem
os resultados de ensaios de carga que conduziram, concluíram que, adoptando o valor de 2 para Fφ o
método aproximava melhor o comportamento das estacas ensaiadas.
050
2 '1,2 1
v
D
senF E senφ
σ φεφ
⋅= ⋅
⋅ ⋅ − (3.86)
Para a resistência última do solo pu adopta-se o menor valor dado pelas expressões de Reese et al.
(1974) apresentadas em (3.10) e (3.11), determinando φ e K0 através de correlações com os
resultados do DMT (ver ponto 3.4.3.2).
Robertson et al. (1989) referem na apresentação deste método que este foi desenvolvido para
carregamentos monotónicos e que para carregamentos cíclicos deve ser possível estimar as curvas
p-y utilizando os factores de redução sugeridos por Matlock e Reese nas suas propostas.
3.4.3.2 Estimativa dos parâmetros do solo por correlação com o ensaio DMT
Foi referido no ponto anterior que os parâmetros φ, K0 e su poderiam ser estimados através de
correlações com os resultados do ensaio DMT. Em sequência faz-se uma pequena introdução a este
tema.
Uma informação útil que pode ser dada pelo ensaio DMT é a identificação do tipo de solo em
análise, pela referenciação do índice do material ID nos limites apresentados no Quadro 3-X.
Quadro 3-X – Identificação dos solos a partir do DMT (Marchetti, 1980 segundo Viana da Fonseca, 1996)
Argilas Siltes Areias Tipo de solo
sensíveis siltosas argilosos puros arenosos siltosas puras
ID 0,10 0,35 0,60 0,90 1,20 1,80 3,30
De acordo com a maioria das propostas existentes, o ângulo de atrito e o coeficiente de impulso em
repouso em areias determina-se, a partir do DMT, simultaneamente, fazendo intervir a resistência
de ponta qc do ensaio CPT.
Uma das primeiras propostas para a determinação de K0 em areias não cimentadas é da autoria de
Schmertmann (1983), que propõe a sua avaliação, em função de KD e φ, como se apresenta na
expressão (3.87).
TRAÇADO DE CURVAS P-Y
89
2
0
40 23 86 (1 ') 152 (1 ') 717 (1 ')192 717 (1 ')
D DK K sen sen senK
senφ φ φ
φ+ ⋅ − ⋅ ⋅ − + ⋅ − − ⋅ −
=− ⋅ −
(3.87)
Tendo presente que o ângulo de atrito é também desconhecido, este autor sugere a medição
simultânea de KD e de qc, de forma a obter os valores de K0 e φ simultaneamente. Nesse sentido
Schmertmann (1983) propõe a combinação da expressão (3.87) com a teoria de Durgunoglu e
Mitchell (1975), que expressa qc em função de K0 e φ (Marchetti, 1985).
Marchetti (1985) combinou as duas expressões propostas por Schmertmann (1983) e eliminando a
incógnita φ obteve uma relação entre K0, KD e qc como a apresentada na Figura 3.24a). Por outro
lado, sistematizou a teoria de Durgunoglu e Mitchell (1975) em forma de ábaco. Este mesmo ábaco
foi complementado por Campanella e Robertson (1991) que adicionaram uma escala referente ao
índice de tensão lateral KD, como se apresenta na Figura 3.24b).
2426
28
30
32
34
36
38
40
42
44
0,2 0,5 1,0 5,0
K0
10
100
1000
1
2
3
45
10
20
30
φ'=46 º
Parâmetro DMT(KD)
Parâmetro CPT(qc / σ'vo)
1 1,5 2 3 4 5 6 8 10 15 200,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,8
1,0
1,5
2,0
KD
K0 =10qc
σ'vo20
50
100
200
300
500
50 75 100
125
150
dados de calibração
dados de "Po River"
Figura 3.24 – a) Determinação de K0 a partir de KD e de qc/σv0’ (Marchetti, 1985) e b) ábaco para determinação
de φps’ a partir de KD e qc/σvo’ (Marchetti, 1985 adaptado por Campanella e Robertson, 1991)
Em 1986, Baldi et al. propõem uma outra expressão para a determinação de K0, como a apresentada
em (3.88).
0
0
0,376 0,095 0,00172'c
Dv
qK K
σ= + ⋅ − ⋅ (3.88)
Por último refere-se o trabalho de 1997 de Marchetti que, utilizando o ábaco da Figura 3.24b) e
assumindo três valores para K0, apresentou como uma estimativa de φ em função de KD a seguinte
expressão (Marchetti et al., 2001):
228 14,6 log( ) 2,1 log ( )D DK Kφ = + ⋅ − ⋅ (3.89)
Relativamente à resistência não drenada de solos coerentes, Marchetti (1980) propõe a seguinte
relação com o Índice de tensão lateral KD:
a) b)
CAPITULO 3
90
1,2500,22 ' (0,5 )u v Ds Kσ= ⋅ ⋅ ⋅ (3.90)
Vários autores verificaram a sua aplicabilidade em argilas moles saturadas. Lutenegger (1988),
comparando o erro na avaliação su aplicando o DMT e o ensaio com molinete, verificou que a
exactidão da previsão de su dependia fortemente do índice do material ID, sugerindo a utilização da
expressão (3.90) apenas em solos cujos valores de ID sejam inferiores a 0,33 (Riaund e Miran, 1992).
3.5 PREVISÃO DO COMPORTAMENTO DE ESTACAS SOLICITADAS
HORIZONTALMENTE EM CASOS REAIS
Apresenta-se neste ponto a experiência de alguns autores na comparação dos resultados obtidos
através de ensaios de carga horizontais conduzidos em estacas de verdadeira grandeza e as
propostas existentes para o traçado das curvas p-y.
3.5.1 Experiência nacional
Neste domínio, e relativamente a autores portugueses, podem referir-se, entre outros, os trabalhos
de Portugal (1992), Santos (1993) e Santos (1999).
Os dois primeiros trabalhos referem-se a um conjunto de ensaios de carga realizados pelo LNEC e
solicitados pela Junta Autónoma das Estradas, no local de implantação das pontes sobre o rio Sado
(Portugal, 1992 e Santos, 1993) e sobre o rio Arade (Portugal, 1992). Num trabalho de Sousa
Coutinho (1995) é abordado pormenorizadamente o tratamento da informação experimental
recolhida no decorrer daqueles ensaios e dos realizados no âmbito de uma ponte construída sobre o
rio Guadiana, onde é apresentada uma metodologia de interpretação com base nos resultados das
extensões medidas. Refira-se que, também Varatojo (1995) analisou a respostas destas estacas,
dando, no entanto, maior destaque aos modelos de natureza contínua.
A descrição que se segue destes dois casos de obra, ponte sobre o rio Sado e ponte sobre o rio
Arade, baseia-se nos trabalhos anteriormente referidos (Portugal, 1992; Santos, 1993; Sousa
Coutinho, 1995; Varatojo, 1995).
A ponte sobre o rio Sado e respectivos viadutos de acesso, integrados na variante de Alcácer do Sal
do actual IC1 (Lisboa – Algarve), desenvolvem-se na baixa aluvionar do rio Sado, com uma extensão
total de 1200m. As fundações desta obra de arte incluem estacas moldadas no terreno, de 1,2m e
de 1,0m de diâmetro, no caso da ponte e no dos viadutos de acesso, respectivamente.
TRAÇADO DE CURVAS P-Y
91
Em resultado da campanha de prospecção realizada, que incluiu ensaios SPT, CPT, ensaios de corte
rotativo e ensaios laboratoriais (identificação, propriedades índice e compressão simples), verificou-
se que o enchimento aluvionar é constituído fundamentalmente por areias médias e grossas mais ou
menos lodosas, seixos e calhaus rolados, intercalados com camadas espessas de lodos argilosos e
silto-argilosos. De uma forma sistemática, e considerando os locais onde foram realizados os ensaios
de carga, pode admitir-se que o maciço em estudo, é constituído pela seguinte sequência de
estratos: cerca de 3m de lodos siltosos (su=20kPa); um estrato de 2 a 5m de areias médias a grossas
(φ=30º); cerca de 10m de lodos (su=32kPa); uma camada de 10m de areias lodosas (φ=35º) e por fim
o substrato rochoso.
Neste maciço foram realizados dois ensaios de carga. Num foi provocada a divergência entre duas
estacas solidarizadas por um maciço de encabeçamento e uma estaca isolada, e, no outro,
ensaiaram-se simultaneamente duas estacas isoladas. Durante o ensaio mediram-se deslocamentos e
rotações, quer ao nível da cabeça das estacas, quer ao longo dos seus fustes. Mediram-se ainda as
extensões para possibilitar o cálculo dos esforços nas estacas, utilizando um sistema extensométrico
inovador, desenvolvido pelo LNEC.
A ponte sobre o rio Arade foi construída, a cerca de 1km a norte de Portimão, no âmbito da variante
à actual EN125, paralela à costa sul algarvia. As formações aluvionares interessadas pelas fundações
da ponte e respectivos viadutos de acesso, constituídas por lodos, areias lodosas e cascalheira de
base sobrejacentes a formações rochosas, levaram à adopção de uma solução em estacas moldadas
com 1,1m de diâmetro.
A caracterização geotécnica das formações aluvionares foi determinada através de ensaios SPT,
CPT, ensaios de corte rotativo, ensaios com o pressiómetro autoperfurador e ensaios geofísicos,
tendo ainda sido realizados ensaios laboratoriais (análises granulométricas, limites de Atterberg e
ensaio de consolidação unidimensional). Da caracterização efectuada pode, resumidamente,
admitir-se a seguinte sequência de estratos: 12m de lodos siltosos (su=50kPa); 14m de areias lodosas
(φ=30º); 18m de areias grossas e calhau rolado (φ=35º) e por fim o substrato rochoso.
Foi realizado um ensaio de carga sobre estacas experimentais, provocando a divergência entre duas
estacas solidarizadas por um maciço de encabeçamento e uma estaca isolada. Adicionalmente
foram ainda ensaiados entre si, dois maciços de fundação, constituídos cada um deles por 16
estacas. As estacas do primeiro ensaio referido e oito do segundo foram instrumentadas de forma
semelhante das ensaiadas no caso da ponte sobre o rio Sado.
Portugal (1992) comparou os resultados experimentais dos ensaios descritos com os obtidos pela
aplicação do método das curvas p-y, adoptando para solos coerentes a proposta de Matlock (1970) e
para solos incoerentes a de Reese et al. (1974). Os parâmetros do solo su e φ foram deduzidos a
CAPITULO 3
92
partir da correlação com os ensaios in situ realizados e para ε50 e nh o autor adoptou as propostas de
Matlock (1970) e Reese et al. (1974), respectivamente. Refira-se que Portugal apenas analisou os
escalões de carga iniciais dos ensaios, correspondentes a um comportamento das estacas em secção
não fendilhada. Da comparação realizada, o autor constatou uma boa concordância entre os
resultados experimentais e calculados, quer em termos de deslocamentos, quer em termos de
momentos flectores, tendo o cálculo fornecido sistematicamente resultados conservativos, isto é,
do lado da segurança.
Santos (1993) também analisou os ensaios realizados no âmbito da construção da ponte sobre o rio
Sado. Defendendo a ideia que não seria muito lógico a adopção de regras muito complexas para o
traçado das curvas p-y, quando à priori o método contém limitações devido ao carácter semi-
empírico, sugeriu que se adoptasse um modelo elástico perfeitamente plástico.
Na simulação efectuada, utilizou para as formações lodosas a relação Eu/su=400, determinando o
módulo de reacção do solo pela expressão de Vesic (1961), em função de Eu e νu, e para a
resistência última do solo adoptou as expressões sugeridas por Matlock (1970). Para as areias
considerou os valores de nh sugeridos por Reese et al. (1974) e para a resistência última do solo, a
proposta de Broms (1964a). Os valores de su e φ foram determinados por correlação com os ensaios
in situ realizados. O comportamento não linear das estacas foi considerado recorrendo ao método
preconizado pelas normas ACI. O autor conclui que o modelo elástico perfeitamente plástico
conseguiu reproduzir de uma forma satisfatória o comportamento das estacas, quer em termos de
deslocamentos, quer em termos de momentos flectores, para todas as fases do ensaio. Num
trabalho posterior, Santos (1999) refere que este modelo apenas conduz a resultados satisfatórios
no caso do maciço envolvido ser constituído por solos coerentes.
Em 1999, Santos apresentou a modelação de um ensaio de carga realizado no âmbito da construção
do Oceanário, no parque da EXPO’98 em Lisboa. O ensaio foi realizado por convergência de duas
estacas definitivas de betão armado com um diâmetro de 1,3m, realizadas com recurso a lamas
bentoníticas. O ensaio foi realizado pela empresa ENGIL – Sociedade de Construção Civil, SA, com o
apoio do Centro de Geotecnia e do Instituto de Engenharia de Estruturas, Território e Construção,
ambos do Instituto Superior Técnico.
A campanha de prospecção realizada pela Tecnasol, SA, englobou sondagens à percussão, ensaios in
situ (ensaios SPT, Cross-Hole e de corte rotativo) e ensaios laboratoriais (identificação, consolidação
com o edómetro, determinação do teor de água e determinação do teor em sulfatos). Da
caracterização efectuada, identificou-se uma camada superficial recente formada por aluviões,
sobrejacentes a uma formação Miocénica constituída por uma alternância de argilas siltosas e de
calcários conquíferos. Devido às suas precárias características mecânicas, a camada superficial foi
TRAÇADO DE CURVAS P-Y
93
substituída parcialmente (numa espessura de cerca de 7 a 8m) por um aterro de areia, tratado por
vibro-compactação.
As estacas ensaiadas foram instrumentadas de forma a permitir a medição dos deslocamentos e
rotações das suas cabeças, por intermédio de transdutores de deslocamento, e a dedução dos
deslocamentos dos seus fustes pelas medições com inclinómetro.
Uma das estacas foi simulada numericamente utilizando o método das curvas p-y, adoptando o
método dos três troços para o aterro em areia e, simplificadamente, um modelo elástico linear para
o aluvião, dado a profundidade a que este se encontra. O módulo de reacção do aterro foi deduzido
por retroanálise, igualando o valor do deslocamento medido à superfície, para o menor
carregamento efectuado, ao calculado através das soluções teóricas existentes, admitindo um
comportamento elástico e linear para o solo e uma lei de variação linear de rigidez em
profundidade. Desta forma foi determinado para nh o valor de 180MN/m3. A resistência última do
solo foi determinada para um ângulo de atrito de 40º considerando a proposta de Broms (1964a). O
deslocamento elástico limite foi definido para três valores de distorção última, 2%, 3% e 4%. Para o
aluvião foi considerado, como referido, um modelo elástico linear admitindo para o módulo de
reacção do solo um valor de 50MPa. O comportamento não linear da estaca foi simulado pela
consideração de curvas momento-curvatura. A modelação efectuada por Santos (1999) conduziu a
resultados com uma boa concordância com os experimentais, sendo o melhor ajustamento referente
à adopção de 3% para γu.
3.5.2 Experiência internacional
Sendo vasta a experiência a nível internacional neste domínio e não sendo o objectivo deste
trabalho a recolha de todos os ensaios de carga relatados na bibliografia, apresentam-se em
sequência um conjunto de análises efectuadas por autores associados a universidades americanas.
Refira-se que Reese e Van Impe (2001) apresentaram um razoável número de casos de ensaios de
carga realizados sobre estacas de verdadeira grandeza, instaladas em solos de diferentes naturezas,
conduzidos e analisados por diversos autores. A análise numérica desses casos foi realizada,
utilizando as propostas clássicas para o traçado das curvas p-y, tendo-se verificado, de uma forma
geral, uma boa concordância entre os resultados de cálculo e os experimentais.
É importante referir que, tanto na análise efectuada de um ensaio de carga relatado por Gooding et
al. (1984), conduzido em Lousiana, sobre uma estaca metálica tubular com 0,9144m de diâmetro e
4,27m de comprimento, cujo carregamento envolveu forças horizontais, verticais e momentos
concentrados aplicados na cabeça da estaca, como na análise efectuada de um ensaio descrito por
Davis (1977), realizado na Florida, sobre uma estaca metálica de 1,42m de diâmetro e 7,92m de
CAPITULO 3
94
comprimento, foi considerada a força resultante do atrito gerado na base da estaca, que se mostrou
um factor importante para a boa concordância entre os resultados calculados e observados.
A propósito da substituição da ponte “East Pascagoula River Bridge” em Pascagoula, no Mississipi,
foram realizados diversos ensaios de carga sobre estacas instrumentadas, embebidas em argilas
submersas. Anderson e Townsend (1999) aplicaram os métodos de Robertson et al. (1985 e 1989)
para a previsão das curvas p-y, a partir do ensaio do pressiómetro com a ponta em cone e do ensaio
com o dilatómetro de Marchetti e compararam as previsões efectuadas com os resultados
experimentais obtidos num dado grupo de estacas. Os autores concluíram que os métodos referidos
previram satisfatoriamente o comportamento das estacas.
Anderson et al. (1999) aplicaram os mesmos métodos para a previsão das curvas p-y num solo
residual coesivo, localizado no Campo Experimental da Universidade de Auburn, em Alabama. O solo
foi classificado como uma argila siltosa ou um silte argiloso. Os deslocamentos previstos foram
comparados com os resultados de ensaios de carga conduzidos em várias estacas de betão armado.
Os autores concluíram que as previsões efectuadas com ambos os métodos, apesar de menos rígidas,
aproximaram-se bastante do comportamento real das estacas, sendo a previsão com o dilatómetro a
que obteve o melhor desempenho.
Anderson e Townsend (2001) compararam as previsões efectuadas pelo método das curvas p-y,
deduzindo os parâmetros do solo por correlações com os ensaios SPT e CPT, e os resultados obtidos
em ensaios de carga em verdadeira grandeza. A base de dados deste estudo era constituída por 24
SPT e 6 CPT, cada um dos quais referentes a um ensaio de carga.
Numa primeira fase do estudo, estes autores compararam para 12 casos, os resultados obtidos
numericamente considerando diferentes propostas de correlação entre o ângulo de atrito e a taxa
de variação do módulo de reacção em profundidade nh e o ensaio SPT. Entre essas propostas, os
autores referem a de Peck et al. (1974), a de Terzaghi (1955), a de Gibbs e Holtz (1957) e a de Teng
(1962) para a obtenção de φ’ e a de Terzaghi (1995) e a de Johnson e Kavanaugh (1968) para a
estimativa de nh. Anderson e Townsend concluíram que, quaisquer que fossem as correlações
utilizadas, as previsões eram bastante semelhantes, pelo que prosseguiram o seu estudo utilizando a
proposta de Peck et al. e a de Terzaghi para a estimativa de φ’ e de nh, respectivamente. Em
relação ao ensaio CPT fizeram uma análise comparativa semelhante, fixando neste caso a
determinação de nh a partir da proposta de Terzaghi e determinando φ pelo ábaco de Robertson e
Campanella (1983) e pela expressão de deBeer. Concluíram que os resultados eram similares,
optando pela proposta de Robertson e Campanella.
Na segunda fase do estudo, com as propostas escolhidas na primeira, prosseguiram com a
comparação dos deslocamentos previstos e os obtidos nos ensaios de carga, para os níveis de
TRAÇADO DE CURVAS P-Y
95
carregamento correspondentes a 25, 50, 75 e 100% do valor da carga máxima aplicada durante o
ensaio. Os autores concluíram que o ensaio SPT conduz a resultados conservativos especialmente
para níveis baixos de carregamento, ou contrário do ensaio CPT que conduziu a previsões não
conservativas, particularmente para cargas elevadas.
Num trabalho de 2003, Anderson et al. realizaram um estudo comparativo entre alguns métodos de
previsão das curvas p-y, baseados em correlações com ensaios in situ e os resultados experimentais
de ensaios de carga realizados em cinco locais diferentes. Os ensaios de carga analisados, para além
dos conduzidos em Alabama e em Pascagoula referidos anteriormente, incluíam: os efectuados no
âmbito da construção de uma nova ponte sobre o rio Saint Lucie, em Stuart, denominada “Roosevelt
Bridge”, em areias submersas; os realizados entre duas estacas metálicas em Rio Puerto Nuevo, em
Puerto Rico, pelo “U.S. Army Corps of Engineering”, no âmbito da construção de uma estrutura de
suporte de terras de um maciço constituído por argilas submersas; e, os realizados para a
construção de uma ponte sobre o rio “Cape Fear River”, inserido na construção de uma nova estrada
em Wilmington, em “North Caroline”, envolvendo argilas submersas.
As previsões foram efectuadas considerando: a e b) os métodos clássicos para a elaboração das
curvas p-y baseados nas correlações com ensaios laboratoriais, determinando os parâmetros de
entrada através de correlações com o ensaio SPT (correlação de Peck et al. (1974) para
determinação do ângulo de atrito e a de Terzaghi (1955) para o módulo de reacção) e com o ensaio
CPT (correlação de Robertson e Campanella (1983) para a determinação do ângulo de atrito e a de
Terzaghi (1955) para o módulo de reacção); c) proposta de Robertson et al. (1989) para a definição
das curvas p-y a partir do ensaio DMT e d) a proposta de Robertson et al. (1985) para a elaboração
das curvas p-y baseada nos ensaios com o pressiómetro.
Para os casos analisados neste trabalho, os autores chegaram às seguintes conclusões:
os ensaios SPT conduzem geralmente a resultados conservativos especialmente para níveis
baixos de carregamento, no entanto este foi o único ensaio cujas previsões foram satisfatórias
no caso das argilas submersas de Puerto Rico;
de uma forma geral os ensaios CPT conduzem a melhores previsões do que os ensaios SPT;
as curvas p-y elaboradas utilizando o ensaio DMT prevêem bastante bem o comportamento das
estacas ensaiadas horizontalmente para níveis de carregamento baixos. Para cargas elevadas, o
ensaio revela-se demasiadamente rígido, o que seria expectável face ao nível de deformações
envolvido durante a sua execução;
o método de Robertson et al. (1985), que se baseia no ensaio pressiométrico, proporciona boas
previsões para areias e argilas acima do nível freático. No caso de argilas submersas, o método
demonstrou-se excessivamente rígido, logo contra a segurança.
97
4 CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
4.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS
Neste capítulo descreve-se o Campo Experimental desenvolvido na Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto, em solo residual do granito, e que foi motivado pela realização da 2ª
Conferência Internacional de Caracterização de Maciços (ISC’2), na FEUP entre 19 e 22 de Setembro
de 2004.
Com o objectivo de estudar o comportamento de estacas neste tipo de solo, foram realizadas, no
Campo Experimental, catorze estacas executadas por três técnicas distintas e correntemente
utilizadas em Portugal. Assim, em Julho de 2003, foram construídas dez estacas por moldagem in
situ, com recurso a tubo moldador recuperado, e duas estacas realizadas com trado oco contínuo
com injecção de betão pelo seu interior (designadas em linguagem anglo-saxónica por “CFA –
Continuous Flight Auger”). Em Setembro de 2003, foram cravadas dinamicamente duas estacas
prefabricadas em betão armado.
A caracterização exaustiva deste maciço, no seu horizonte terroso, foi realizada através de um
conjunto significativo de ensaios in situ e de laboratório. Na caracterização in situ foram efectuadas
5 sondagens com amostragem contínua, em quatro das quais se realizaram ensaios SPT alternados
de 1,5m em 1,5m, 9 CPT(U), 9 DMT, 3 PMT e vários ensaios sísmicos (CH, DH, SASW, CSWS, etc.).
Em laboratório, sobre amostras indeformadas de elevada qualidade, foram realizados 6 ensaios
triaxiais CK0D, 4 em compressão com medição de velocidades de ondas sísmicas com recurso a
bender elements e 2 em extensão com medição local das deformações, 2 ensaios em coluna
ressonante e um ensaio edométrico (Viana da Fonseca et al., 2004).
Adicionalmente, foram realizados 6 DPSH posteriores à realização dos ensaios de carga nas estacas.
Aquando da cravação das estacas prefabricadas, ensaiaram-se dinamicamente cinco estacas.
Entre Janeiro e Março de 2004, realizaram-se três ensaios de carga verticais e três horizontais em
estacas de tipologia diferente. Os ensaios verticais, que são âmbito de outra dissertação (Costa
Esteves, 2005), foram realizados utilizando, para cada estaca a ensaiar, quatro estacas de reacção.
Em cada ensaio horizontal, ensaiaram-se duas estacas simultaneamente.
CAPITULO 4
98
Em Julho de 2004, foram extraídas as estacas do terreno no sentido de, para além de uma
verificação directa do maciço e da recolha de blocos para ensaios, verificar a sua integridade e
analisar as suas superfícies.
Neste capítulo descreve-se a caracterização geotécnica efectuada, a realização das estacas e a
condução dos ensaios de carga horizontais, incluindo a estrutura de aplicação de carga, o plano de
carga e a instrumentação utilizada. Finalmente, apresentam-se os resultados obtidos nos ensaios de
carga realizados.
4.2 ENQUADRAMENTO GEOLÓGICO DO CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
No Porto, onde fica situado o Campo Experimental da FEUP, podem distinguir-se três tipos de
formações litológicas: as formações sedimentares de cobertura, as formações metamórficas e as
formações de origem ígnea. Deste conjunto, o mais expressivo é, sem dúvida, o das formações de
origem ígnea (Noronha, 2005).
Nas formações sedimentares de cobertura, compostas essencialmente por material herdado e
resultante da erosão das rochas ígneas e metamórficas mais antigas, podem referir-se: a) os aterros
recentes, que se encontram principalmente entre a Circunvalação e a foz do rio Douro; b) as
aluviões, que correspondem a depósitos fluviais que ocupam os vales de pequenos rios e ribeiros; c)
o quaternário antigo, unidade onde se incluem os depósitos de origem marinha da faixa litoral
existente na Foz do Douro e Nevogilde, essencialmente arenosos mas com muitos seixos rolados; e,
d) o quaternário antigo e pliocénico recente, depósitos constituídos por areias grosseiras e cascalhos
de origem fluvial.
Relativamente às rochas metamórficas presentes na cidade do Porto, podem distinguir-se dois
conjuntos: a) o "Complexo Metamórfico da Foz do Douro" (CMFD), constituído pelos gnaisses da Foz
do Douro e os metassedimentos de Lordelo do Ouro; e, b) o "Complexo Xisto-Grauváquico" (CXG),
presente essencialmente na zona oriental da cidade, cujas formações são principalmente
constituídas por micaxistos e metagrauvaques finos.
Nas formações de origem ígnea podem considerar-se, em função da sua mineralogia, os granitos
biotíticos com plagioclase cálcica e os granitos de duas micas, que são predominantes na cidade do
Porto.
Os granitos porfiróides de grão médio a grosseiro, presentes por exemplo no afloramento onde
assenta o forte de S. Francisco Xavier (Castelo do Queijo), e os granitos de grão médio a fino, que
afloram em pequenas manchas que ocorrem na zona oriental da cidade, nomeadamente em
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
99
Azevedo-Campanhã, inserem-se nos granitos biotíticos com plagioclase cálcica. Os granitos de duas
micas englobam o granito de grão médio - Granito do Porto - e o granito porfiróide e/ou de tendência
porfiróide de grão grosseiro ou médio a grosseiro - Granito de Contumil (Noronha, 2005).
Este trabalho é sobre um produto de alteração deste granito, denominado Granito do Porto, e que
sofre processos de desintegração e de decomposição química dando origem a um maciço de solo
residual saprolítico.
Na Figura 4.1 apresenta-se um extracto do mapa geológico do Porto, localizando-se a FEUP e o
respectivo campo experimental.
Figura 4.1 - Extracto do mapa geológico do Porto com a localização do Campo Experimental da FEUP (adaptado
de Viana da Fonseca et al., 2004)
Os solos residuais são, como se disse, resultantes de processos de desintegração e de decomposição
química das rochas que se verificam de uma forma mais célere do que os processos de erosão e de
transporte dos grãos resultantes daqueles, formando no próprio local da chamada “rocha mãe”,
maciços terrosos (Matos Fernandes, 1994).
Em geral consideram-se dois tipos de solos residuais: o solo residual jovem ou saprolítico e o solo
residual maduro ou laterítico. O primeiro é constituído por material que física e quimicamente se
pode classificar como solo, mas que, no perfil de alteração, preserva a estrutura e fábrica original
da rocha originária. No segundo, os processos de enfraquecimento conduziram à perda completa da
estrutura e da fábrica da rocha-mãe (Viana da Fonseca, 1996).
No caso em estudo, e pelo facto de Portugal ser um país temperado, a aceleração dos processos
químicos e mineralógicos resulta essencialmente da pluviosidade, da hidrologia local e da
Legenda: a – aluviões
x – rochas metamórficas (micaxistos e metagrauvaques)
G – rochas ígneas (granitos de duas micas)
G1: granito de grão médio a médio-fino (Granito do Porto)
G2: granito de grão médio a médio-fino, esporadicamente
muito orientado (Granito do Porto)
zonas de elevados níveis de caulinização
xistosidade vertical
CAPITULO 4
100
percolação da água. Nos granitos, o quartzo e a mica branca são inalteráveis, pelo que o processo
de alteração da rocha-mãe é efectuado ao nível do feldspato que se transforma em argila caulinítica
em meio ácido e a mica preta e os minerais ferromagnesianos que se transformam mais rápida ou
lentamente em argilas misturadas com óxido de ferro, constituindo os saibros (Viana da Fonseca,
1996; Sousa, 2002). Estes solos residuais do granito, com horizontes de alteração entre 0 e 20m,
mas mais comummente entre 5 e 9m, são normalmente classificados como areias siltosas ou siltes
arenosos. Geralmente o material fino é não plástico ou de baixa plasticidade e com um índice de
vazios variando mais incidentalmente entre 0,5 e 0,8 (Viana da Fonseca et al., 2004).
4.3 REALIZAÇÃO DAS ESTACAS E SUAS CARACTERÍSTICAS
No campo experimental foram realizadas catorze estacas, nomeadamente dez estacas moldadas,
duas com trado oco contínuo “CFA” e duas estacas prefabricadas realizadas por cravação dinâmica,
designadas neste trabalho por “E”, “T” e “C”, respectivamente. A sua localização representa-se na
Figura 4.2.
3
1
2
E4
E0
A B
E9
E1
E2
E3
C
E6
E5
C1 T1
D
T2
C2E7
E8
4,00 4,00 4,00
2,00 2,00 2,002,29 2,24
1,75
0,58
2,002,00
Figura 4.2 - Planta do campo experimental: E – estaca moldada; T– estaca realizada com trado contínuo; C – estaca cravada
As estacas moldadas E0 e E9 têm um comprimento aproximado de seis metros e foram ensaiadas
horizontalmente e axialmente, respectivamente. As estacas E1 à E8 são estacas de reacção e por
isso encastradas no firme, que se encontra a vinte e dois metros da superfície do terreno, e que é
constituído por rocha do complexo xisto-grauváquico. As estacas moldadas realizadas têm sessenta
centímetros de diâmetro nominal e na sua execução foram utilizados o aço A500 e betão cuja
resistência foi determinada recorrendo a ensaios de compressão em provetes cúbicos preparados
durante a betonagem, obtendo-se um valor característico da tensão de rotura à compressão (fck) de
27,7 MPa.
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
101
A estaca T1 ensaiada à compressão e a T2 ensaiada horizontalmente são estacas com
aproximadamente seis metros de comprimento e sessenta centímetros de diâmetro. Os materiais
usados na sua realização foram o aço A500 e betão com resistência fck de 44,0MPa avaliada em
provetes cilíndricos resultantes da carotagem da estaca T1.
Nas estacas cravadas, os materiais utilizados na sua pré-fabricação foram o betão C45/55 (EC2,
1992), o aço A400 nas armaduras longitudinais e A235 nas cintas helicoidais. Os seus comprimentos
rondam os seis metros e a sua secção transversal é quadrada, com trinta e cinco centímetros de
lado.
Os materiais e as armaduras utilizados na realização das estacas encontram-se sistematizados na
Figura 4.3.
Armadura longitudinal: 12Ø25cintas: Ø12a.10
Até aos 12m:Armadura longitudinal: 12Ø25cintas: Ø12a.10
Dos 12m aos 22m:Armadura longitudinal: 6Ø25cintas: Ø12a.20
Aço: A500Betão: C20/25 (ensaios em provetes cúbicos: fck=27,7MPa )
Aço: A500Betão: C20/25 (ensaios em provetes cúbicos: fck=27,7MPa )
E0 e E9
E1 a E8
Aço: A400 (armadura longitudinal); A235 (cintas) Betão: C45/55
Armadura longitudinal: 8Ø16cintas: Ø6a.16
T1 e T2
Aço: A500Betão: C40/50 (ensaios em carotes cilindricos: fck=44,0MPa )
Armadura longitudinal: 12Ø25cintas: Ø10a.10
C1 e C2
Figura 4.3 – Materiais e armadura constituintes das estacas
CAPITULO 4
102
4.3.1 Estacas moldadas
As estacas moldadas com recurso a tubo moldador são recomendáveis quando é imperativo
minimizar os movimentos e as perturbações do terreno. Podem ser realizadas com grandes
comprimentos e têm a vantagem de, durante a sua execução, ser possível inspeccionar o terreno e
compará-lo com as premissas do projecto.
No campo experimental, esta tipologia de estacas foi realizada pela Divisão de Fundações Especiais
da empresa Mota-Engil, S.A., e na sua construção foi aberto um furo utilizando uma máquina do tipo
Soilmec R-620 e trados em hélice de 600mm de diâmetro nominal. Na Figura 4.4 apresentam-se
alguns pormenores do equipamento utilizado. O furo foi realizado com a protecção de um
encamisamento metálico, que foi introduzido, sempre em ligeiro avanço, à medida que se extraiu o
terreno. Durante esta cravação, o solo foi sendo retirado por trado ou limpadeira do interior e,
finalmente, procedeu-se à limpeza do fundo do furo e colocou-se a armadura previamente montada.
Posteriormente, betonou-se com recurso a um tremi e retirou-se o tubo de encamisamento
sequencialmente, como se ilustra na Figura 4.5.
b)
c)
a)
d)
e)
Figura 4.4 – Equipamento utilizado na execução das estacas “E”: a) máquina de apoio; b) e c) armaduras
previamente montadas e após a sua colocação no furo; d) extremidade do trado; e, e) extremidade da
limpadeira
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
103
a)
b)
c)
d)
e)
f)
g)
h)
i)
Figura 4.5 - Execução das estacas moldadas: a) troços do tubo moldador; b) e c) abertura do furo com
protecção de um encamisamento metálico; d) ligação entre troços de tubo moldador; e) limpeza do furo; f)
colocação da armadura; g) e h) betonagem; e, i) remoção do tubo moldador sequencialmente com a
betonagem
4.3.2 Estacas realizadas com trado contínuo (CFA)
Como diz Coelho (1996), a utilização de trado contínuo e oco permite, com um rendimento muito
elevado e sem revestimento provisório, assegurar a estabilidade das paredes de fundação. Este tipo
de estaca foi concebido para aproveitar as vantagens da perfuração por rotação, como sejam a
ausência de vibrações e eliminação dos riscos de execução, assegurando a estabilidade das paredes
CAPITULO 4
104
da perfuração durante a betonagem, que se faz pelo interior do trado oco em simultâneo com a sua
retirada. Em princípio, se a escavação é cuidadosa, consegue-se boa a razoável limpeza da ponta da
estaca. Têm sido, no entanto, limitadas a profundidades usualmente inferiores a 10m, pela
dificuldade em introduzir a armadura acima desses comprimentos, embora recentemente tenham
sido registados resultados para comprimentos superiores a 20m.
O método de execução deste tipo de estacas consiste em ir introduzindo no terreno, com a ajuda de
uma máquina de apoio com uma dada capacidade de rotação, um trado contínuo montado sobre um
tubo oco. À medida que o trado é introduzido no terreno, pelo efeito do parafuso de Arquimedes, o
solo vai sendo trazido para a superfície. Quando é atingida a profundidade pretendida e à medida
que o trado vai sendo retirado, transportando ainda o terreno contido na hélice, procede-se à
bombagem de betão fluido pelo tubo central do trado a alta pressão, de forma a preencher
totalmente o volume libertado pelo trado. Após a betonagem, introduz-se a armadura previamente
montada que desce devido ao seu peso próprio, podendo ser ajustada por vibração.
No Campo Experimental da FEUP as estacas realizadas com trado contínuo foram realizadas pela
empresa Teixeira Duarte - Engenharia e Construções, S.A., e a sequência da sua execução está
ilustrada na Figura 4.6.
a) b) c) d) e) f)
Figura 4.6 - Execução das estacas realizadas com trado contínuo: a), b) e c) abertura do furo com bombagem
simultânea do betão; d) e e) colocação da armadura; e, f) estaca realizada
O equipamento de furação utilizado englobou uma máquina de apoio do tipo Soi lmec R412-HD
e trados em hélice de 600mm de diâmetro nominal. O betão foi injectado a 60 bar no fundo da
estaca, com o recurso a uma bomba, diminuindo-se essa pressão gradualmente à medida que a
estaca se aproximava da superfície no processo da retirada. O equipamento referido apresenta-se
na Figura 4.7.
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
105
b1)
a1) a2) b2)
c) d)
Figura 4.7 – Equipamento utilizado na execução das estacas "T": a) máquina de apoio; b) bomba de
betão; c) trado e armaduras; e, d) base do trado
4.3.3 Estacas cravadas
A utilização de estacas cravadas tem como principais vantagens a possibilidade da inspecção do
material antes da cravação, a velocidade de execução e a possibilidade de melhorar a compacidade
da camada granular da fundação. Estas estacas têm, no entanto, limitações de utilização, quer pela
restrição das suas dimensões, quer pelas vibrações induzidas pela sua instalação, que embora
moderadas, podem em certas circunstâncias ser insustentáveis na maioria dos empreendimentos
urbanos.
No campo experimental, o fornecimento e a cravação das estacas foram da responsabilidade da
empresa Sopecate – Sociedade de Pesquisas, Captações de Água e Transportes, S.A. A cravação
dinâmica realizou-se por percussão com martelo de queda livre, controlando-se a profundidade de
cravação pelo comprimento da estaca e a sua verticalidade com o auxílio de um nível. As cabeças
das estacas, durante o processo de cravação, foram protegidas com sofrideiras dotadas de tacos de
madeira. Na Figura 4.8 ilustra-se o processo de cravação da estaca C2.
CAPITULO 4
106
a)
b)
c) d)
e)
f)
Figura 4.8 - Cravação da estaca C2: a) equipamento e estacas; b) identificação da localização; c) e d)
posicionamento da estaca e verificação da sua verticalidade; e) e f) cravação da estaca
4.3.4 Propriedade dos Materiais
O comportamento de estacas sob acções horizontais é condicionado pela capacidade resistente das
estacas, pelo que se torna importante uma avaliação correcta das propriedades dos materiais
envolvidos na sua realização. Como o aço para construção civil é um material com pouca
variabilidade e fabricado sob um controlo apertado, as dúvidas incidem principalmente sobre o
betão.
Para a avaliação das características do betão utilizado na realização das estacas moldadas, foram
executados ensaios de compressão em provetes cúbicos de 15cm de aresta, preparados aquando da
betonagem das estacas. Estes ensaios foram realizados no dia 27 e 28 de Agosto de 2003, pelo
Laboratório de Ensaios de Materiais de Construção da FEUP, e os resultados estão ilustrados no
Quadro 4-I.
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
107
Quadro 4-I – Resultado dos ensaios de compressão dos provetes das estacas moldadas aos 28 dias
Referência dos provetes Massa dos provetes (kg) Tensão de rotura (MPa)
E5 - 30.07.2003/nº1 8,001 28,8
E5 - 30.07.2003/nº2 7,910 30,1
E5 - 30.07.2003/nº3 7,812 29,6
E4 - 30.07.2003/nº1 7,729 30,1
E4 - 30.07.2003/nº2 7,833 30,5
E4 - 30.07.2003/nº3 7,797 30,1
E1 - 31.07.2003/nº1 7,745 34,4
E1 - 31.07.2003/nº2 7,602 31,8
E1 - 31.07.2003/nº3 7,642 31,4
E9 - 31.07.2003/nº1 7,739 27,4
E9 - 31.07.2003/nº2 7,716 33,6
E9 - 31.07.2003/nº3 7,621 34,0
Dos ensaios de compressão realizados a 12 provetes, determinou-se o valor da resistência
característica à compressão fck seguindo a metodologia proposta pela Norma Portuguesa NP ENV-206
(1993). Assim, para um número de amostras superior a 6, este documento indica que a resistência
fck satisfaça as condições (3.91) e (3.92):
n ck nX f Sλ≥ + ⋅ (3.91) min ckX f k≥ − (3.92)
em que,
minX é o menor valor individual do conjunto de amostras;
nX é a resistência média do conjunto de amostras;
Sn é o desvio padrão das resistências do conjunto de amostras;
λ e k são parâmetros cujos valores estão tabelados em função do número n de amostras, valendo
1,55 e 4, respectivamente, para n=12.
No caso em estudo, obtiveram-se os seguintes valores para as grandezas em consideração:
nX = 31,0MPa; minX = 27,4MPa; Sn = 2,14; λ = 1,55; k = 4
Por aplicação das condições (3.91) e (3.92), obtém-se para fck o valor de 27,7MPa.
As restantes propriedades do betão podem ser determinadas de acordo com o “Regulamento de
Estruturas de Betão Armado e Pré-esforçado” (REBAP, 1983) ou pelo “Eurocódigo 2 –
Dimensionamento de Estruturas de Betão” (EC2, 2004), tomando como referência o valor
CAPITULO 4
108
característico da resistência à compressão determinado em provetes cilíndricos de 15cm de
diâmetro e 30cm de altura. Torna-se então necessário transpor a resistência fck determinada em
provetes cúbicos para a que seria determinada no caso de se terem utilizado provetes cilíndricos
normalizados. No Quadro 4-II apresentam-se as classes de betão existentes, bem como os
respectivos valores mínimos para a resistência característica da tensão de rotura à compressão
determinada, quer em provetes cilíndricos (∅30x15cm3), quer em provetes cúbicos (15x15x15cm3).
Quadro 4-II – Classes de resistência do betão (NP ENV-206, 1993)
Classes de resistência C12/15 C16/20 C20/25 C25/30 C30/37 C35/45 C40/50 C45/55 C50/60
fck, cil (MPa) 12 16 20 25 30 35 40 45 50
fck, cubo (MPa) 15 20 25 30 37 45 50 55 60
fck, cil é idêntico ao valor fck usado nos Eurocódigos
A diferença da resistência à compressão entre provetes cilíndricos e cúbicos para o valor de fck, cubo =
27,7MPa é de 5MPa. Assim, para um provete cilíndrico fictício, o valor característico da resistência à
compressão é de 22,7MPa.
Para o betão das estacas de trado contínuo, foi seguida a mesma metodologia apresentada para as
estacas moldadas, apontando-se como a única diferença o facto dos ensaios de compressão terem
sido efectuados sobre carotes cilindros extraídos da estaca T1 e cujos resultados se apresentam na
Quadro 4-III. Neste caso, obtiveram-se os seguintes valores para as grandezas em causa:
nX = 52,6MPa; minX = 43,5MPa; Sn = 5,75; λ = 1,48; k = 4.
Mais uma vez, pela aplicação das condições (3.91) e (3.92), obtém-se fck que, neste caso, toma o
valor de 44,0MPa.
Para a estaca cravada, adoptou-se os valores regulamentares do betão C45/55, material utilizado
para a sua fabricação, segundo o catálogo de estacas cravadas da empresa Sopecate – Sociedade de
Pesquisas, Captações de Água e Transportes, S.A.
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
109
Quadro 4-III - Resultado dos ensaios de compressão dos carotes da estaca T1
Referência do provete
Tensão de rotura (MPa)
Referência do provete
Tensão de rotura (MPa)
T1 - P1 60,8 Continuação
T1 - P2 65,9 T1 - P6 49,0
T1 - P3 61,3 T1 - P6A 52,0
T1 - P4 46,1 T1 - P6D 51,2
T1 - P4A 43,5 T1 - P7 54,4
T1 - P4D 46,4 T1 - P7A 48,2
T1 - P5 52,1 T1 - P7D 56,1
T1 - P5A 50,4 T1 - P8 51,7
T1 - P5AA 48,0 T1 - P8A 56,1
T1 - P5D 49,2 T1 - P8D 56,3
O valor médio da resistência à compressão (fcm) é determinado por ambos os códigos, EC2 e REBAP,
adicionando 8MPa ao valor de fck. Para a resistência à tracção (fctm) os dois regulamentos têm
propostas idênticas, sendo a única diferença a distinção efectuada pelo EC2 para classes de betão
superiores a C50/60. Para o módulo de elasticidade (Ecm) as propostas dos regulamentos têm
pequenas diferenças, tendo sido adoptada a do EC2. Estas propostas apresentam-se no Quadro 4-IV
e os valores determinados para as grandezas em causa estão sistematizados no Quadro 4-V para as
estacas moldadas, em conjunto com as estacas de trado e as cravadas.
Quadro 4-IV – Propostas para a determinação das grandezas fcm, fctm e Ecm, segundo o EC2 e o REBAP
Grandeza Expressão Observações
fcm (MPa) 8cm ckf f= + (3.93) EC2, REBAP
fctm (MPa)
Para classes não superiores a C50/60: 2/30,30ctm ckf f= ⋅ (3.94)
Para classes superiores a C50/60:
( )( )2,12 ln 1 /10ctm cmf f= ⋅ + (3.95)
EC2, REBAP
Apenas o EC2 faz a distinção para classes superiores a C50/60
( ) ( ) 0,322 /10cm cmE GPa f MPa= ⋅ ⎡ ⎤⎣ ⎦ (3.96) EC2
Ecm (GPa)
( ) ( )39,5cm cmE GPa f MPa= ⋅ (3.97) REBAP
CAPITULO 4
110
Quadro 4-V – Características do betão
Estaca fck,cubos (MPa) fck,cil (MPa) fcm (MPa) fctm (MPa) Ecm (GPa)
E 27,7 22,7 30,7 2,4 30,8
T - 44,0 52,0 3,7 36,1
C - 45,0 53,0 3,8 36,3
4.4 CARACTERIZAÇÃO GEOTÉCNICA
4.4.1 Considerações gerais
O maciço em estudo foi caracterizado recorrendo a uma campanha de ensaios in situ, bem como a
ensaios de laboratório sobre amostras indeformadas.
A caracterização in situ compreendeu quatro fases. Numa primeira fase, realizada antes da
execução das estacas, foram realizadas 3 sondagens com amostragem contínua, tendo sido
conduzidos, em duas delas, ensaios SPT, alternados de 1,5m em 1,5m, 4 CPT(U), 5 DMT e vários
ensaios sísmicos (CH, DH, SASW, CSWS, etc.). Na segunda fase, compreendida entre a execução das
estacas moldadas e de trado contínuo e a cravação das estacas “C”, foram realizados: 2 sondagens
com SPT, 1 CPT(U) e 3 PMT. A terceira fase, posterior à cravação das estacas, foi constituída por 4
CPT(U) e 4 DMT. Após os ensaios de carga nas estacas foi ainda realizada uma campanha
complementar, denominada por fase 4, que englobou 6 DPSH.
A localização, no campo experimental, dos ensaios realizados encontra-se representada na Figura
4.9 e a data da sua realização no Quadro 4-VI.
Em laboratório, sobre amostras indeformadas de elevada qualidade, foram realizados 6 ensaios
triaxiais CK0D, 4 em compressão, com medição de velocidades de ondas sísmicas com recurso a
bender elements e 2 em extensão, com medição local das deformações, 2 ensaios em coluna
ressonante e um ensaio edométrico.
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
111
DMT6
CPT2
DMT3
DMT8
CPT3
DMT5
CPT4
PMT1DMT4
CPT6
S5+SPT
CPT8
CPT5S4+SPT PMT2DMT9
CPT9
DMT7
CPT7
VALA
PA
RA
EN
SA
IOS
SÍS
MIC
OS
PMT3
S3+SPT
P S2
S1+SPT
DMT2
DMT1
CPT1
LEGENDA :
CARACTERIZAÇÃO IN SITUS - Sondagem (+SPT)SPT; CPT; DMT; PMTP - Piezometro Cross-Hole
ESTACAS: E - moldadaT - trado continuoC - cravada
31 2
E4
E0
A
B
E9
E1
E2
E3
C
E6E5
C1
T1
D
T2C2
E7E8
4,00
4,00
4,00
2,00 2,00
DPSH6
DPSH1DPSH2
DPSH5
DPSH3
DPSH4
PLANTA
CORTE TRANSVERSAL
variavel (min. 0,5m; max. 0,9m)Terreno Natural
Nova plataforma 0,00
cota de referênciaz
Figura 4.9 – Localização da caracterização in situ
CAPITULO 4
112
Quadro 4-VI – Informações sobre os ensaios in situ
Fase Fase
S1 + SPT 02-10-2002 -0,70 1 DMT3 14-09-2002 -0,70 1
S3 + SPT 30-09-2002 -0,60 1 DMT4 22-05-2003 -0,60 1
S4 + SPT 11-09-2003 -0,70 2 DMT5 22-05-2003 -0,60 1
S5 + SPT 11-09-2003 -0,62 2 DMT6 09-10-2003 0,00 3
CPT1 13-09-2002 -0,70 1 PMT1 10-09-2003 -0,60 2
CPT2 23-05-2003 -0,65 1 PMT2 10-09-2003 0,00 2
CPT3 21-05-2003 -0,55 1 PMT3 09-09-2003 -0,65 2
CPT4 23-05-2003 -0,60 1 DPSH1 19-06-2004 0,00 4
CPT5 25-09-2003 0,00 3 DPSH2 19-06-2004 0,00 4
CPT6 15-09-2003 -0,55 2 DPSH3 19-06-2004 0,00 4
CPT7 + DMT7 25-09-2003 0,00 3 DPSH4 19-06-2004 0,00 4
CPT8 + DMT8 08-10-2003 0,00 3 DPSH5 19-06-2004 0,00 4
CPT9 + DMT9 26-09-2003 0,00 3 DPSH6 19-06-2004 0,00 4
DMT1 14-09-2002 -0,70 1 CH CH11-07-2003
a 14-07-20030,00 1
DMT2 14-09-2002 -0,70 1
Identificação das fases de condução dos ensaios:
Fase 1 - Anterior à execução das estacas E e T 17-07-2003
Fase 2 - Posterior à execução das estacas E e T, mas anterior à cravação das estacas C 19-09-2003
Fase 3 - Posterior à cravação das estacas C 01-01-2004
Fase 4 - Posterior aos ensaios de carga das estacas
Data (dia-mês-ano)
Cota da boca (m)
Cota da boca (m)
DPSH
PMT
DMT (cont.)
Ensaios in situEnsaios in situData
(dia-mês-ano)
DMT
CPT + DMT
SPT
CPT
4.4.2 Apresentação e análise dos resultados dos ensaios laboratoriais
Os ensaios laboratoriais realizados foram conduzidos pelo LABGEO - Laboratório de Geotecnia da
FEUP, pela sua equipa e pela doutoranda Cristiana Ferreira, com a excepção dos ensaios de coluna
ressonante que foram realizados no Instituto Superior Técnico (IST). As amostras indeformadas
utilizadas foram extraídas dos furos de sondagem S2 e S5, a determinadas profundidades. A
campanha de sondagens foi realizada pela empresa Mota–Engil, S.A., ilustrando-se na Figura 4.10 o
amostrador de paredes grossas utilizado, bem como o processo de preparação da amostra após a sua
extracção.
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
113
a) b) c) d)
Figura 4.10 – a) Amostrador; e, b) a d) preparação da amostra após extracção
No Quadro 4-VII são apresentados os parâmetros físicos do solo, nomeadamente, o peso volúmico γ,
a densidade das partículas G, o grau de saturação Sr, o teor em água w e os limites de Atterberg. No
mesmo quadro faz-se a correspondência entre as amostras e os ensaios triaxiais, coluna ressonante
e edométrico realizados.
Quadro 4-VII – Lista das amostras dos ensaios realizados e registo de alguns parâmetros físicos (adaptado de
Viana da Fonseca et al., 2004)
Prof. σ'cv σ'ch γ w e Sr wL wP
(m) (kPa) (kPa) (kN/m3) (%) (%) (%) (%)
S2/1(c) 3,2 triaxial de compressão (1) BE 60,0 30,0 18,2 16,3 0,716 62 32,0 27,0 2,74
S2/2(e) 3,5 triaxial de extensão (2) --- 60,0 30,0 16,6 18,8 0,925 56 2,74
S2/3(c) 4,0 triaxial de compressão (1) BE 90,0 45,0 18,4 16,2 0,748 61 44,0 27,0 2,82
S2/4(e) 4,4 triaxial de extensão (2) --- 80,0 40,0 18,4 21,7 0,830 74 2,82
S2/5(c) 5,5 triaxial de compressão (1) BE 100,0 50,0 19,0 22,5 0,709 86 NP NP 2,70
S2/6(c) 7,0 triaxial de compressão (1) BE 140,0 70,0 19,0 20,2 0,676 81 NP NP 2,70
S5/1 4,0 coluna ressonante RC 80,0 40,0 20,0 13,8 0,505 74 --- --- 2,70
S5/2 6,3 edométrico --- --- --- 17,8 22,1 0,818 73 --- --- 2,70
S5/3 8,0 coluna ressonante RC 160,0 80,0 19,0 19,7 0,663 80 --- --- 2,70
(1 ) CK0(=0,5)D tensão controlada: σv'<<,σh'= ctt;
(2) CK0(=0,5)D extensão controlada: σh'>>, σv'= ctt
G
S5
ensaio
sísmico
S2
Sondagem Amostra Método de ensaio
O peso volúmico do solo, determinado pela média dos valores obtidos para as várias amostras,
desprezando-se a S2/2, é igual a 18,7kN/m3. Viana da Fonseca (2003) e Viana da Fonseca et al.
(2004) apontam para este tipo de solo uma gama corrente de valores de γ entre 15,0 e 19,0kN/m3.
Também o teor em água apresenta valores típicos, sendo, no entanto, o grau de saturação um
pouco inferior à média, resultado possivelmente dos valores um pouco elevados do índice de vazios
apresentado comparativamente como os valores típicos (0,50 – 0,80).
O fuso granulométrico das várias amostras ensaiadas, referentes ao furo de sondagem S2, é
apresentado na Figura 4.11, exibindo uma boa graduação do solo. Na mesma figura enquadram-se as
CAPITULO 4
114
percentagens de areia, silte e argila de cada amostra num diagrama indicativo para a caracterização
do solo quanto às dimensões das suas partículas, segundo o qual o solo se classifica como uma areia
siltosa.
peneiros do ASTM (mm)
4,76
0
2,00
0
0,84
1
0,25
0
0,18
0
0,10
5
0,07
4
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0,001 0,01 0,1 1 10
diâmetro equivalente das partículas (mm)
% d
e m
ater
ial p
assa
do
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
% d
e m
ater
ial r
etid
o
S2/1 + S2/2[3.20-3.80m]
S2/3 + S2/4[4.00-4.70m]
S2/5 [5.50-6.10m]
S2/6 [7.00-7.60m]
ARGILA CASCALHOSILTE AREIA
FINO FINAMÉDIO MÉDIAGROSSO GROSSA
0,002 0,006 0,02 0,06 0,2 0,6 2,0 mm
Areia
Argila
siltosa
Argilaarenosa
Argilasiltosa
Areia argilosa Silte argiloso
Areia Silte
Siltearenoso
0
50
70
80
100
100
50
30
20
00 20 50 80 100
% A
reia
% Argila
% Silte
Figura 4.11 - Curva granulométrica (adaptado de Viana da Fonseca et al., 2004)
Para a avaliação da resistência ao corte do maciço em estudo, foram realizados 6 ensaios triaxiais
CK0D, 4 em compressão com medição de velocidades de ondas sísmicas com recurso a bender
elements e 2 em extensão com medição local das deformações. As amostras foram consolidadas,
admitindo para K0 o valor de 0,5. Os ensaios de compressão foram conduzidos mantendo a tensão na
câmara e aumentando a tensão axial e os de extensão, aumentando a tensão na câmara e mantendo
constante a tensão axial. Na Figura 4.12 apresentam-se as trajectórias das tensões até à rotura,
bem como as respectivas curvas tensão – deformação dos ensaios realizados.
Considerando uma aproximação linear, pelo método dos mínimos quadrados, aos invariantes de
tensões na rotura verificada nos ensaios de compressão e desprezando os resultados do ensaio
conduzido sobre a amostra S2/3, obteve-se para os parâmetros de resistência pelo critério de Mohr-
Coulomb, o valor de 45,8º para o ângulo de atrito e de 4,5kPa para a coesão efectiva. Dos ensaios
de extensão, os valores obtidos para as mesmas grandezas foram de 28,0º e 12,3kPa,
respectivamente.
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
115
Ko = 0.5
-400
-300
-200
-100
0
100
200
300
400
0 100 200 300 400
Tensão média efectiva, p' (kPa)
Tens
ão d
e de
svio
, q
(kPa
)
S2/1 (c)
S2/2 (e)
S2/3 (c)
S2/4 (e)
S2/5 (c)
S2/6 (c)
p' = (σ'v + 2σ'h)/ 3
q = σv - σh
-400
-300
-200
-100
0
100
200
300
400
-3,0 -1,0 1,0 3,0 5,0 7,0
Extensão axial interna, εa (%)
Tens
ão d
e de
svio
, q
(kPa
)
S2/1 (c)
S2/2 (e)S2/3 (c)
S2/4 (e)S2/5 (c)
S2/6 (c)
Figura 4.12 – Ensaios triaxiais: trajectórias de tensões e curvas tensão – deformação correspondentes (Viana da
Fonseca et al., 2004)
Para a determinação das características dinâmicas do solo residual, nomeadamente o módulo de
distorção G e o coeficiente de amortecimento histerético ξ, foram realizados dois ensaios de coluna
ressonante, recorrendo ao equipamento do laboratório de Geotecnia do IST. Na Figura 4.13
apresenta-se a curva de degradação do módulo de distorção G com o nível de distorção γ, bem como
o valor do coeficiente de amortecimento igualmente em função da distorção.
O valor do módulo de distorção máximo G0 e a respectiva velocidade de propagação das ondas de
corte Vs apresentam-se no Quadro 4-VIII para os dois ensaios de coluna ressonante realizados,
conjuntamente com os resultados obtidos nos ensaios triaxiais de compressão, através dos bender
elements. Estas duas grandezas relacionam-se da seguinte forma:
2sG Vρ= ⋅ (3.98)
em que,
ρ é a massa volúmica do solo;
Vs é a velocidade de propagação das ondas de corte.
CAPITULO 4
116
Quadro 4-VIII – Valores de Vs e de G0 para as amostras S5/1 e S5/3
amostra ρ (Mg/m3) Vs (m/s) G0 (MPa)
S2/1 1,86 169 53,2
S2/3 1,88 192 69,3
S2/5 1,94 182 64,6
S2/6 1,94 220 93,8
S5/1 2,04 199 80,7
S5/3 1,94 210 85,2
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
0,80
0,90
1,00
1,0E-06 1,0E-05 1,0E-04 1,0E-03distorção, γ
G/G0
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
14,0
ξ (%)
S5/1 S5/3
G/G0 G/G0
ξ (%) ξ (%)
Figura 4.13 – Ensaios de coluna ressonante: curva de degradação do módulo de distorção G versus distorção γ e
curva do coeficiente de amortecimento histerético ξ versus a distorção γ (Viana da Fonseca et al., 2004)
4.4.3 Apresentação e análise dos resultados dos ensaios in situ
Neste ponto apresentam-se e analisam-se os resultados obtidos pela caracterização in situ,
distinguindo os ensaios conduzidos antes (fase 1 e 2) e após a cravação das estacas “C” (fase 3).
4.4.3.1 Ensaios SPT
A condução dos ensaios SPT no Campo Experimental da FEUP foi da responsabilidade da Divisão de
Fundações Especiais da empresa Mota-Engil, S.A. Para o SPT1 e SPT3 foi utilizado um equipamento
da marca Mustang A-32C e para os restantes, Sedidril 350.
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
117
Os resultados dos ensaios já corrigidos, para ter em consideração os comprimentos das varas e o
diâmetro do furo, apresentam-se na Figura 4.14.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
Prof
undi
dade
(m
)
aterro arenoso
+ + +
. . . . . . solo residual:
areia média a fina (solo saprolítico
estruturado do granito)
Grau de Alteração w5
+ + +
. . . . . .
+ + + . . . . . .
+ + +
. . . . . .
solo residual:areia média a fina (w5-w6)
+ + + +
. . . . . . .
Granito de grão médio, muito alterado
(w5-w4)
+ + + +
+ Firme rochoso + +
+ + + + +
NF
NF
S1 S3 S4 S50,35 8
0,85 10 14 11
1,35 14
1,85 20
2,35 10 11
2,85
3,35
3,85 14 18 17
4,35 14
4,85
5,35 34 23 26
5,85
6,35
6,85 25 21 28 17
7,35
7,85
8,35 25 29 21 29
8,85
9,35
9,85 30 26 23 33
10,35
10,85
11,35 25 24 21 56
11,85
12,35
12,85 38 25
13,35
13,85
14,35 27 26
14,85
15,35
15,85 60 (29cm) 60 (42cm)
16,35
16,85
17,35 60 (28cm) 33
17,85
18,35
18,85 60 (26cm) 42
19,35
19,85
20,35 60 (24cm)
20,85
21,35
21,85
z (m)N60 (SPT)
0 10 20 30 40 50 60
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
N60 (SPT)
Prof
undi
dade
(m
)
N(S1+SPT)
N(S3+SPT)
N(S4+SPT)
N(S5+SPT)
© ISC’2 FEUP
a) b)
Figura 4.14 – Perfil Geotécnico: a) litologia; e, b) resultados dos ensaios SPT
A expressão (3.99) relaciona o valor NSPT com a tensão vertical efectiva de repouso (σ'vo). A posição
do nível freático experimentou ligeiras oscilações tendo sido considerado a sua posição determinada
em cada ponto de ensaio. Para o peso volúmico foi considerado o valor de 18,7kN/m3, conforme
referido em 4.4.2.
260 00,12 ' 7,35 (R 0,60)vN σ= ⋅ + = (3.99)
O valor de (N1)60 varia entre 14 e 36, com uma média de 22. De acordo com este último valor pode
classificar-se o solo, segundo a proposta de Skempton (1986), como uma areia mediamente
CAPITULO 4
118
compacta, com um índice de compacidade próximo de 60%. O enquadramento dos valores do campo
experimental na proposta referida é ilustrado na Figura 4.15. Ressalva-se que esta noção não tem a
substancialidade nos solos residuais que tem em solos sedimentares, como foi analisado por Viana
da Fonseca (1996). No entanto, é aqui apresentado para enquadramento geral em relação à prática
corrente.
(N )1 60
SPT1
SPT3
SPT4
SPT5
0 3 8 25 42 60
I0
(%)15 35 65 85 100
22
60
mui
to s
olta
solta
med
iana
men
te c
ompa
cta
com
pact
a ou
den
sa
mui
to c
ompa
cta
ou m
uito
den
sa
D
Figura 4.15 – Correlação entre (N1)60 e o Índice de compacidade
Na Figura 4.16 apresentam-se a aplicação ao solo do Campo Experimental da FEUP das propostas de
Décourt (1989) e do GCO (1982), para a determinação do ângulo de atrito a partir dos resultados dos
SPT, como exposto no Capítulo 3.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
25 30 35 40 45 50
ângulo de atrito φ(º)
prof
undi
dade
z(m
)
SPT1 SPT3 SPT4 SPT5 a)
0
10
20
30
40
50
60
0 100 200 300
Tensão vertical efectiva σ'vo (kPa)
N SPT
SPT1
SPT3
SPT4
SPT5
φ ' = 30º
φ ' = 25º
φ ' = 35º
φ ' = 40º
φ ' = 50º
φ ' = 45º
b)
Figura 4.16 – Determinação de φ (º) a partir de: a) (N1)60 (Décourt, 1989) e b) NSPT e σ’v0 (GCO, 1982)
Da análise da figura referida pode admitir-se que pela proposta de Décourt, o ângulo de atrito varia
entre 35º e 41º, com um média de 38º e a proposta de CGO (1993) conduz a um valor de cerca de
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
119
40º para a mesma grandeza. Note-se que o ângulo de atrito não apresenta uma grande variação em
profundidade.
Não se procedeu à avaliação de nh em função dos resultados do SPT, pelas propostas para solos
arenosos apresentadas no ponto 3.3.1. Esta decisão assenta na hipótese deste solo, apesar de exibir
uma resistência última pu crescente em profundidade, possuir uma rigidez elástica bastante
homogénea em profundidade, pelo que o módulo de reacção tangente poderá ser também
praticamente constante.
4.4.3.2 Ensaios de penetração estática (CPTU)
Os ensaios de penetração estática com o piezocone (CPTU) foram realizados pelo Laboratório de
Geotecnia e Materiais de Construção do CICCOPN (Centro de Formação Profissional da Indústria e
Construção Civil e Obras Públicas do Norte). O equipamento utilizado ilustra-se na Figura 4.17 e os
seus resultados apresentam-se divididos em dois grupos, os realizados antes e os depois da cravação
das estacas “C”.
b)
a)
c)
d)
Figura 4.17 - Equipamento utilizado para a realização dos ensaios CPTU: a) e b) máquina de apoio; e, c) e d)
ponteira do aparelho
4.4.3.2.1 Ensaios conduzidos antes da cravação das estacas “C”
A resistência de ponta, a resistência lateral e a pressão neutra u2 registadas em profundidade nos
ensaios CPT1, CPT2, CPT3, CPT4 e CPT6 ilustram-se na Figura 4.18, incluindo-se a denominada
razão atrítica (Fr).
CAPITULO 4
120
Da análise da Figura 4.18 conclui-se que a pressão neutra é muito reduzida comparativamente com
a resistência de ponta qc e a resistência lateral fs, pelo que os valores corrigidos destas grandezas qt
e ft são, praticamente, iguais aos primeiros. A opção pela designação CPT em detrimento de CPTU
foi tomada por simplificação e por se haver assumido que a pressão neutra gerada é, para o fim em
causa, irrelevante.
-1,0
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
0,0 2,5 5,0 7,5 10,0 12,5 15,0
qt (MPa)
Prof
undi
dade
(m
)
qc - CPT1 qc - CPT2qc - CPT3 qc - CPT4qc - CPT6
-1,0
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50
fs (MPa)
fs - CPT1 fs - CPT2fs - CPT3 fs - CPT4fs - CPT6
-1,0
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
-0,03 -0,02 -0,01 0,00 0,01
u2 (MPa)
u2 - CPT1 u2 - CPT2u2 - CPT3 u2 - CPT4u2 - CPT6
-1,0
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
0 5 10 15
Fr=fs/qc (%)
Fr - CPT1 Fr - CPT2
Fr - CPT3 Fr - CPT4
Fr - CPT6
6
Figura 4.18 – Gráficos de variação das resistências qc (MPa) e fs (MPa), da relação qc/fs (%) e da pressão neutra
u2 (MPa), referentes aos ensaios CPT1, CPT2, CPT3, CPT4 e CPT6
Considerando todos os dados dos ensaios conduzidos, obteve-se a seguinte relação entre a
resistência de ponta qc e a tensão vertical efectiva de repouso (σ'vo):
20( ) 24,6 ' ( ) 2287 (R 0,30)c vq kPa kPaσ= ⋅ + = (3.100)
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
121
Considerando que os valores nulos de resistência registados no CPT1, até à profundidade 1,1m,
possam ser resultado de uma falha de aquisição de dados (esta suposição foi sempre considerada
nas análises subsequentes), obteve-se a relação (3.101) entre as mesmas grandezas.
20( ) 20,0 ' ( ) 2815 (R 0,22)c vq kPa kPaσ= ⋅ + = (3.101)
Para a relação entre a resistência atrítica fs e a tensão vertical efectiva de repouso (σ'vo), a
expressão obtida é a apresentada em (3.102).
20( ) 1,1 ' ( ) 100 (R 0,56)s vf kPa kPaσ= ⋅ + = (3.102)
Na Figura 4.19 ilustra-se a variação das resistências qc e fs com σ’v0, juntamente com a
representação gráfica das relações obtidas entre estas grandezas.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
0 50 100 150 200
σ'v0 (kPa)
q c (M
Pa)
CPT1CPT2CPT3CPT4CPT6
a)
0
100
200
300
400
500
0 50 100 150 200
σ'v0 (kPa)
f s (k
Pa)
CPT1CPT2CPT3CPT4CPT6
b)
Figura 4.19 – Variação de qc e de fs com σ’v0
Para proceder à indexação do material, realizou-se a classificação sugerida por Robertson (1990) e
ilustrada na Figura 4.20, só em função de dois parâmetros Fr e Qt definidos em sequência, não
recorrendo ao parâmetro da pressão neutra pelas mesmas razões acima apontadas.
0
100 (%)'
sr
c v
fF x
q σ=
− (3.103) 0
0
''
c vt
v
σσ−
=
(3.104)
Verifica-se uma grande dispersão dos resultados, estando, no entanto, todos os valores em áreas
tipificadoras de materiais fortemente sobreconsolidados ou “cimentados naturalmente”, o que vem
sendo revelado pelos trabalhos conduzidos regionalmente (Viana da Fonseca, 2003). Optou-se por
distinguir os pontos obtidos para profundidades inferiores e superiores a 1,5m, verificando-se que o
estrato superior se mostra inequivocamente cimentado (zona 8 e 9) e que para profundidades
superiores o solo se classifica entre uma argila siltosa e uma areia siltosa com menor grau de
“cimentação”. Note-se porém, que esta ligeira diminuição do comportamento estruturado pode não
CAPITULO 4
122
ser alheia à concomitante diminuição da sucção em profundidade. Resumidamente o solo residual
em estudo pode admitir-se como areia silto-argilosa naturalmente cimentada. Refira-se que, de
acordo com a análise granulométrica, o solo foi classificado como uma areia siltosa.
1,0
10,0
100,0
1000,0
0,1 1,0 10,0
CPT1 CPT2 CPT3 CPT4 CPT6
CPT1 CPT2 CPT3 CPT4 CPT6
Profundidades inferiores a 1,5m:
Profundidades superiores a 1,5m:
Figura 4.20 – Ábaco de classificação do solo (Robertson, 1990): enquadramento dos resultados dos CPT
conduzidos antes da cravação das estacas
Para determinar, através dos ensaios CPT, os parâmetros de resistência do solo em estudo utilizou-
se o ábaco proposto por Robertson e Campanella (1983) que relaciona o par de valores (qc, σ’v0) com
o ângulo de atrito de pico em materiais puramente atríticos e não cimentados. Os valores
experimentais apresentam uma evolução de qc em profundidade praticamente constante,
resultando para a presente proposta uma grande gama de valores para o ângulo de atrito, desde 35º
até 44º, correspondendo os valores maiores a pequenas profundidades. Para as profundidades com
maior relevância no comportamento das estacas solicitadas horizontalmente (equivalentes a cerca
de cinco diâmetros da estaca) pode apontar-se como valor mais incidente o de 41º.
A proposta de Robertson e Campanella (1983) tende normalmente a conduzir, comparativamente
com os valores obtidos por ensaios triaxiais, a valores elevados de φ’, especialmente para pequenas
profundidades, uma vez que a componente coesiva não é considerada. No entanto, no caso em
estudo, a presente proposta conduz a valores inferiores de φ’ relativamente aos obtidos em
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
123
laboratório, em especial para maiores profundidades. Aquela tendência pode ser uma consequência
do comportamento dos solos que contêm componentes de resistência coesivo-friccional, sendo que
a primeira componente apresenta especial predominância para baixos níveis de confinamento e a
segunda para níveis mais elevados (Viana da Fonseca et al., 2004). No ábaco de classificação do solo
de Robertson era já notória uma maior presença de cimentação para profundidades inferiores a
1,5m.
0
25
50
75
100
125
150
175
200
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Resistência de ponta qc (MPa)
σ' v0
(kPa
)
CPT1
CPT2
CPT3
CPT4
CPT6
φ'=48º
φ'=46º
φ'=44º
φ'=42º
φ'=40ºφ'=38ºφ'=36º
φ'=34ºφ'=32º
φ'=30º
z=2,7m
z=0,0m
z=5,3m
z=8,0m
z=10,7m
z=9,4m
z=4,0m
z=1,3m
z=6,7m
Figura 4.21 – Correlação entre qc, σ’v0 e φ’ para areias de quartzo não cimentadas (Robertson e Campanella,
1983)
Devido à grande dispersão observada para o valor de φ’ determinado pela proposta anterior, optou-
se por analisar adicionalmente a proposta por Puppala et al. (1993). Segundo Viana da Fonseca
(1996), os referidos autores apresentam valores do ângulo de atrito para areias artificialmente
cimentadas, definidos a partir dos valores de c’/σ’v0 e de Dr (ou mais recentemente ID) (%), obtidos
através das relações qc/σ’v0 e fs/qc. Esta proposta apresenta-se na Figura 4.22, enquadrando os
resultados do campo experimental. Para o caso em estudo, esta proposta conduziu a valores muito
elevados para a coesão e valores muito diminutos para ID (inferiores a 20%) e consequentemente
para o ângulo de atrito φ’, mostrando a inaplicabilidade de critérios deduzidos de trabalhos
laboratoriais sobre amostras artificialmente cimentadas ao caso de solos naturais estruturados como
os saprolíticos de granito (Viana da Fonseca, 1996).
CAPITULO 4
124
10
100
1000
10000
0 1 2 3 4 5Fr = fs/qc (%)
q c /
σ' v0
CPT1CPT2
CPT3CPT4
CPT6
Figura 4.22 – a) Determinação da coesão e de Dr (ID) a partir da resistência lateral do CPT em areias cimentadas
artificialmente, com o enquadramento dos valores do campo experimental; b) Dr (ID) versus φ’ – areia de
Monterrey (Puppala et al., 1993 segundo Viana da Fonseca, 1996)
4.4.3.2.2 Ensaios conduzidos depois da cravação das estacas “C”
Na Figura 4.23 apresentam-se os valores da resistência de ponta, da resistência lateral e da pressão
neutra u2 registados em profundidade nos ensaios CPT5, CPT7, CPT8 e CPT9, bem como a chamada
razão atrítica (Fr).
Seguindo os mesmos passos efectuados para os ensaios CPT realizados antes da cravação das
estacas, determinou-se a relação entre qc e σ’vo:
20( ) 19,4 ' ( ) 3912 (R 0,16)c vq kPa kPaσ= ⋅ + = (3.105)
Para a relação entre a resistência atrítica fs e a tensão vertical efectiva de repouso (σ'vo), a
expressão obtida é a apresentada em (3.106).
20( ) 1,4 ' ( ) 141 (R 0,49)s vf kPa kPaσ= ⋅ + = (3.106)
Por comparação das expressões obtidas antes e após a cravação das estacas, pode concluir-se que
houve um acréscimo de resistência. Considerando apenas profundidades até 3,0m, pela existência
de um maior número de resultados e também por ser o domínio que mais influenciará o
comportamento das estacas (equivalente a cinco diâmetros), a média da resistência de ponta
aumenta de 3,4MPa para 4,5MPa, equivalente a um acréscimo de 30% após o processo de cravação e
a resistência lateral sobe de 132kPa para 184kPa.
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
125
-1,0
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
0,0 2,5 5,0 7,5 10,0 12,5 15,0
qt (MPa)
Prof
undi
dade
(m
)
qc - CPT5 qc - CPT7
qc - CPT8 qc - CPT9
-1,0
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50
fs (MPa)
fs - CPT5 fs - CPT7
fs - CPT8 fs - CPT9
-1,0
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
-0,04 -0,03 -0,02 -0,01 0,00 0,01
u2 (MPa)
u2 - CPT5 u2 - CPT7
u2 - CPT8 u2 - CPT9
-1,0
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
0 5 10 15
Fr=fs/qc (%)
Fr - CPT5 Fr - CPT7
Fr - CPT8 Fr - CPT9
6
Figura 4.23 - Variação em profundidade das resistências qc (MPa) e fs (MPa), da relação qc/fs (%) e da pressão
neutra u2 (MPa), referentes aos ensaios CPT5, CPT7, CPT8 e CPT9
Na Figura 4.24 apresentam-se os pares ordenados (qc, σ’v0) e (fs, σ’v0), com a representação das
relações obtidas para o caso em estudo e para a fase anterior à cravação das estacas (traço
interrompido). Também aqui não serão analisados os factores associados a alterações dos níveis de
sucção, até porque não se considera que tenha havido manifesta alteração deste factor entre as
duas campanhas (pela observação sazonal e circunstancial dos níveis aquíferos).
CAPITULO 4
126
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
0 50 100 150 200
σ'vo (kPa)
q c (M
Pa)
CPT5CPT7CPT8CPT9RLRL antes de "C"
a)
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
0 50 100 150 200
σ'vo (kPa)
f s (k
Pa)
CPT5CPT7CPT8CPT9RLRL antes de "C"
b)
Figura 4.24 - Variação de qc e de fs com σ’v0
Relativamente à indexação do material de acordo com o ábaco de Robertson (1990), fazendo, mais
uma vez, a divisão entre profundidades inferiores e superiores a 1,5m, verifica-se pela Figura 4.25
que o solo, após a cravação das estacas, aparenta possuir mais cimentação ou, o que pode também
ser relevante, um aumento da compacidade mais substancial do que uma eventual desestruturação
por acção da cravação.
1,0
10,0
100,0
1000,0
0,1 1,0 10,0
CPT5 CPT7 CPT8 CPT9
CPT5 CPT7 CPT8 CPT9
Profundidades inferiores a 1,5m:
Profundidades superiores a 1,5m:
Figura 4.25 - Ábaco de classificação do solo (Robertson, 1990), enquadrando os resultados dos ensaios CPT
conduzidos depois da cravação das estacas
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
127
Para a determinação dos parâmetros de resistência utilizou-se, mais uma vez, o ábaco de Robertson
e Campanella (1983) e as conclusões obtidas foram semelhantes. O ângulo de atrito determinado
por esta proposta apresentou um pequeno acréscimo, sendo o valor de maior incidência para
profundidades até 3,0m (equivalente a cinco diâmetros da maior estaca) o referente aos 42º. A
proposta de Pupalla et al. (1993) confirmou-se inadequada ao solo em estudo.
4.4.3.3 Ensaios com o Pressiómetro de Ménard (PMT)
Os ensaios pressiométricos conduzidos no Campo Experimental da FEUP foram realizados com o
pressiómetro de Ménard pela empresa Mota – Engil, S.A. Todos os ensaios foram conduzidos antes da
cravação das estacas, ilustrando-se na Figura 4.26 a sua realização.
a)
b)
c)
Figura 4.26 – Realização do ensaio pressiométrico: a) furacão prévia, b) colocação do pressiómetro; e, c)
aplicação da pressão
Os resultados obtidos, sob a forma das grandezas pressão limite pL, pressão de fluência pf, módulo
pressiométrico EM e curvas pressão–volume para diversas profundidades aproximadas, apresentam-se
na Figura 4.27.
A relação entre a pressão limite diferencial (pL*) e o módulo pressiométrico com a tensão vertical
efectiva apresentam-se em sequência, tendo-se desprezado os valores do PMT1 para a profundidade
de 8,40m. A Figura 4.28 ilustra a variação de pL* e EM com σ’v0.
20* ( ) 6,39 ' ( ) 857,15 (R 0,88)L vp kPa kPaσ= ⋅ + = (3.107)
20( ) 0,09 ' ( ) 12,95 (R 0,58)M vE MPa kPaσ= ⋅ + = (3.108)
CAPITULO 4
128
0
100
200
300
400
500
600
700
800
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Pressão (bar)
Vol
ume
(cm
3)
PMT1- 2,40m
PMT2- 3,00m
PMT3- 2,35m
b1)
0
100
200
300
400
500
600
700
800
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Pressão (bar)
Vol
ume
(cm
3)PMT1- 5,40m
PMT2- 6,00m
PMT3- 5,35m
b2)
pLpf EM
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0
pL, pf (MPa)
Prof
undi
dade
(m
)
0,0 10,0 20,0 30,0
EM (MPa)
PMT1 PMT2 PMT3
pL pL pL
pf pf pf
EM EM EM a)
0
100
200
300
400
500
600
700
800
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Pressão (bar)
Vol
ume
(cm
3)
PMT1- 8,40m
PMT2- 9,00m
PMT3- 8,35m
b3)
Figura 4.27 – Resultados dos ensaios PMT1, PMT2 e PMT3: a) pressão limite pL, pressão de fluência pf e módulo
pressiométrico EM; e, b) curvas pressão–volume para as profundidades aproximadas de 3m, 6m e 9m,
respectivamente
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
129
0
500
1000
1500
2000
2500
0 50 100 150 200 250
σ'v0 (kPa)
P L*
(kP
a)
PMT1
PMT2
PMT3
0* 6,39 ' 857,15L vp σ= ⋅ +
a)
0
5
10
15
20
25
30
35
40
0 50 100 150 200 250
σ'v0 (kPa)
E M (M
Pa)
PMT1
PMT2
PMT3
00,09 ' 12,95M vE σ= ⋅ +
b)
Figura 4.28 – a) Variação de pL* versus σ’v0 e b) Variação de EM versus σ’v0
4.4.3.4 Ensaios com o dilatómetro de Marchetti (DMT)
À semelhança dos ensaios CPT realizados, os ensaios com o dilatómetro de Marchetti foram
conduzidos em duas grandes fases, antes e após a cravação das estacas. No primeiro grupo inserem-
se os DMT’s numerados de 1 a 5 e no segundo os numerados de 6 a 9, ambos conduzidos pelo
Laboratório de Geotecnia e Materiais de Construção do CICCOPN. A descrição deste ensaio foi
apresentada no Capítulo 3 deste trabalho e os resultados de cada grupo e a respectiva análise
apresentam-se no ponto 4.4.3.4.1 e 4.4.3.4.2, respectivamente.
4.4.3.4.1 Ensaios conduzidos antes da cravação das estacas “C”
Os resultados dos ensaios com o dilatómetro de Marchetti, sob a forma das grandezas ED, KD e ID,
apresentam-se na Figura 4.29.
A mais divulgada classificação dos solos a partir do ensaio DMT utiliza o índice do material ID como
se apresentou em 3.4.3.2. Enquadrando os valores obtidos para esta grandeza nos apresentados no
Quadro 3-X, o solo classifica-se como um silte arenoso.
Relativamente aos parâmetros de resistência do solo, estes podem ser avaliados pelo ábaco de
Marchetti adaptado por Campanella e Robertson (1991), apresentado na Figura 3.24b). A proposta
referida permite determinar o ângulo de atrito a partir da relação qc/σ’v0 ou KD e do coeficiente de
impulso em repouso K0.
CAPITULO 4
130
-1,0
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
0 10 20 30 40 50
KD
DMT1 DMT2 DMT3
DMT4 DMT5
-1,0
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
0,1 1,0 10,0
ID
DMT1 DMT2 DMT3
DMT4 DMT5
argila silte areia
-1,0
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
0 10 20 30 40 50 60
ED (MPa)Pr
ofun
dida
de (
m)
DMT1 DMT2 DMT3
DMT4 DMT5
Figura 4.29 – Resultados dos ensaios DMT1 a DMT5: valores de ED, KD e ID em função da profundidade
Para os valores do Campo Experimental da FEUP a relação de qc/σ’v0 equivale a 8,4·KD, como se
apresenta na Figura 4.30. Este valor é igual ao determinado por Viana da Fonseca (1996) para o
mesmo tipo de solo, mas bastante inferior ao apresentado por Campanella e Robertson (1991).
qc/σ'vo= = 8,4KD
R2 = 0,89
0
500
1000
1500
2000
2500
0 10 20 30 40 50 60
KD
q c/ σ
' v0
Campo Experimental da FEUP
Proposta de Campanella e Robertson (1991)
Figura 4.30 – Relação entre KD e qc/σ’v0
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
131
Para a determinação de K0 foi utilizada a proposta de Baldi et al. (1986), adaptada por Viana da
Fonseca (1996) para atender à diferença de relação entre qc/σ’v0 e KD considerada por Campanella e
Robertson e pelo referido autor, para o caso específico de solos residuais do granito. A expressão
utilizada é a descrita em sequência:
0
0
0,376 0,024 0,00172'c
Dv
qK K
σ= + ⋅ − ⋅ (3.109)
Os valores obtidos apresentam-se na Figura 4.31a), podendo admitir-se para K0 o valor médio de
0,45. Este valor está dentro da gama de valores expectáveis para esta grandeza de acordo com um
trabalho de Viana da Fonseca e Almeida e Sousa (2001). Estes autores efectuaram uma retroanálise
do comportamento de algumas secções de um túnel cuidadosamente monitorizado e concluíram que
o valor de K0 para os solos saprolíticos do granito do Porto varia numa gama de valores entre 0,35 e
0,50 para elevados graus de alteração (W6-W5) e apresenta valores próximos da unidade para graus
de alteração menores (W4-W3).
Com os valores de K0 obtidos e considerando a relação de qc/σ’vo=33·KD (e não tomando a relação
realmente identificada entre o CPT e o DMT do campo) determinou-se o ângulo de atrito pela
proposta de Campanella e Robertson (1991), como se representa na Figura 4.31b). Pode verificar-se
que o ângulo de atrito φ’ varia entre 40º e 46º, com valores mais incidentes nos 42º. Considerando as
profundidades mais influentes no comportamento das estacas ensaiadas a acções horizontais, este
valor aumenta para 44º.
2426
28
30
32
34
36
38
40
42
44
0,2 0,5 1,0 5,0K0
10
100
1000
1
2
3
45
10
20
30
φ'=46 º
Parâmetro DMT(KD)(qc / σ'vo)
Parâmetro CPT
Legenda:z<1m1m<z<2m2m<z<3mz>3m
a) b)
Figura 4.31 – a) Valores de K0 em função de σ’v0 segundo a proposta de Baldi et al. (1986) adaptada por Viana
da Fonseca (1996); e, b) enquadramento dos pares de valores (K0;KD) no ábaco de Marchetti adaptado por
Campanella e Robertson (1991)
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0 25 50 75 100 125 150 175 200
σ'v0 (kPa)
K0
CAPITULO 4
132
4.4.3.4.2 Ensaios conduzidos após a cravação das estacas “C”
Os resultados dos ensaios realizados com o dilatómetro de Marchetti, após a cravação das estacas,
apresentam-se na Figura 4.32 sob a forma das grandezas ED, KD e ID.
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
0 10 20 30 40 50 60
ED (MPa)
Prof
undi
dade
(m
)
DMT6 DMT7
DMT8 DMT9
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
0 10 20 30 40 50
KD
DMT6 DMT7
DMT8 DMT9
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
9,0
10,0
0,1 1,0 10,0
ID
DMT6 DMT7
DMT8 DMT9
argila silte areia
Figura 4.32 - Resultados dos ensaios DMT6 a DMT9: valores de ED, KD e ID em função da profundidade
Os valores de ID estão predominantemente na gama dos 1,2 a 1,8, o que confirma a classificação do
solo em silte arenoso.
Relativamente à relação entre KD e qc/σ’v0, considerando a resistência de ponta dos ensaios CPT
conduzidos após a cravação das estacas “C” e desprezando os valores muito elevados de KD obtidos
nos primeiros 40cm, obteve-se a seguinte expressão:
0
9,4'c
Dv
qK
σ= ⋅ (3.110)
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
133
Utilizando a expressão (3.109), adaptada para a nova relação entre KD e qc/σ’v0, foi obtido para o
coeficiente de impulso em repouso o valor médio de 0,52.
Também neste caso foi determinado o ângulo de atrito pela proposta de Campanella e Robertson
(1991), utilizando mais uma vez a relação de qc/σ’vo=33·KD. O ângulo de atrito varia entre 42º e 47º,
podendo adoptar-se o valor de 45º, considerando profundidades até 3,0m.
4.4.3.5 Ensaios sísmicos entre furos ou ensaio Cross-Hole (CH)
O ensaio sísmico entre furos, também designado por ensaio Cross-Hole, consiste essencialmente na
geração artificial (por meio de fontes explosivas ou mecânicas) de ondas de corte S e de compressão
P, a uma determinada profundidade, no interior de um furo aberto no terreno, e no registo da
chegada dessas ondas num ou mais furos adjacentes, à mesma profundidade. Conhecendo-se as
distâncias entre furos, é definido o tempo de propagação das ondas entre furos, o que permite
calcular as velocidades Vp e Vs.
No campo experimental em estudo foram realizados ensaios Cross-Hole entre os furos de sondagem
S1 e S2 e entre o S2 e o S3. A representação das velocidades Vs e Vp em profundidade é efectuada
na Figura 4.33.
A determinação das velocidades de propagação destas ondas elásticas permite a avaliação dos
parâmetros elásticos do meio. Conhecida a massa volúmica ρ é possível calcular o módulo de
distorção elástico do solo G a partir da velocidade da onda de corte pela expressão (3.98) e,
conhecidos ambos os valores de Vp e Vs, é possível calcular o coeficiente de Poisson ν pela expressão
(3.111).
2
2
2
2 2
p
s
p
s
VV
VV
ν
⎛ ⎞−⎜ ⎟
⎝ ⎠=⎛ ⎞
⋅ −⎜ ⎟⎝ ⎠
(3.111)
O coeficiente de Poisson, determinado a partir dos resultados obtidos, tem um valor médio de 0,24
da superfície do terreno até à profundidade de 12,85m, a partir do qual exibe o valor de 0,48,
revelando a presença do nível freático (Viana da Fonseca et al. 2005).
CAPITULO 4
134
VS (m/s)
in situ (CH) e lab (BE+RC)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
0 100 200 300 400
Prof
undi
dade
(m
)
S3-S2
S2-S1
S2/1 - BE
S2/3 - BE
S2/5 - BE
S2/6 - BE
S2
S1+SPT
S3+SPT
VP (m/s)
in situ (CH)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
0 500 1000 1500 2000
Prof
undi
dade
(m
)
Figura 4.33 – Variação de Vs e Vp em profundidade
O módulo de distorção G, determinado a partir da velocidade das ondas de corte, varia entre
128MPa e 196MPa. A sua relação com a tensão vertical efectiva apresenta-se na Figura 4.34.
G(MPa) = 0,218σ'v0(kPa) + 127,8
R2 = 0,83
0
50
100
150
200
250
0 50 100 150 200 250 300 350
σ'v0 (kPa)
Mód
ulo
de d
isto
rção
G (
MPa
)
Figura 4.34 – Relação entre σ’v0 e o módulo de distorção G
Repare-se que o módulo de distorção inicial avaliado em laboratório através do ensaio de coluna
ressonante e dos ensaios triaxiais de compressão, pela medição das velocidades de ondas sísmicas
com recurso a bender elements, é inferior ao determinado in situ, o que provavelmente estará
relacionado com o processo de amostragem.
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
135
Nos trabalhos de Viana da Fonseca et al. (2004 e 2006) são diversas as relações apresentadas entre o
módulo de distorção determinado para o Campo Experimental da FEUP com as grandezas tensão
média efectiva e NSPT. É ainda efectuada a identificação do solo relacionando G com a resistência de
ponta e atrítica determinada pelo ensaio CPT, considerando-o como uma mistura de areias e siltes
cimentada.
4.5 REALIZAÇÃO DOS ENSAIOS DE CARGA HORIZONTAIS
Foram realizados três ensaios de carga horizontais, um por cada tipologia de estaca de 6m de
comprimento, provocando a divergência entre a estaca em estudo e a estaca de 22m mais próxima.
Desta forma, no primeiro ensaio, provocou-se a divergência entre a estaca E0 e a estaca E1, no
segundo, entre as estacas E7 e C2 e, no terceiro, ensaiou-se a estaca E8 contra a T2.
É escassa a documentação normativa referente à condução de ensaios desta natureza, pelo que
foram seguidas de perto as indicações da norma ASTM D3966 (1990).
4.5.1 Previsão da capacidade resistente das estacas ensaiadas
Com o objectivo de preparar os ensaios de carga realizados, foi efectuada uma previsão da
capacidade resistente das estacas do Campo Experimental da FEUP. Para isso, foi necessário
determinar a resistência à flexão das estacas ensaiadas.
O cálculo do momento flector resistente foi efectuado, admitindo para o comportamento mecânico
do betão um diagrama tensões-extensões com a forma parábola–rectângulo e para o aço um
diagrama bilinear, considerando 3,5‰ e 10‰ o valor da extensão máxima para o betão e para o aço,
respectivamente. A teoria de comportamento utilizada tem como premissas a hipótese de Bernoulli,
que diz que durante a deformação as secções se mantêm planas, e a hipótese de o betão não
resistir à tracção. Considera ainda as equações de equilíbrio de forças e momentos e as relações
tensões-extensões do betão e do aço mencionadas anteriormente.
Desta forma, o momento flector resistente das secções das estacas do campo experimental foi
efectuado com o auxílio dos ábacos e tabelas de flexão composta (LNEC, 1996), que permitem, a
partir da área da armadura, características geométricas da secção, posição das armaduras e da
classe de resistência do betão e do aço, determinar o momento flector resistente da secção.
CAPITULO 4
136
Com o objectivo de avaliar o mais correctamente o valor plausível do momento resistente último,
optou-se por utilizar o valor médio da resistência à compressão, em vez do valor de cálculo obtido
pelo valor característico desta grandeza dividido pelo factor de segurança do betão. Também no
caso das armaduras foi utilizado o valor de cedência do aço em vez do seu valor de cálculo.
Desta forma, para as estacas moldadas E1 e E9 e para os primeiros 12m das estacas E1 a E8, cuja
secção transversal é circular de 0,60m de diâmetro e a armadura é composta por 12 varões de
25mm, obteve-se para o momento resistente último o valor de 609kNm. Para o troço inferior das
estacas E1 a E8, em que a armadura é composta apenas por seis varões de 25mm, obteve-se um
momento resistente de 328kNm.
Nas estacas de trado determinou-se o valor de 635kNm para a grandeza em estudo e no caso das
estacas cravadas utilizaram-se as fórmulas de flexão simples, desprezando as armaduras de
compressão, chegando-se a um valor para o momento resistente de 90kNm.
Para a preparação dos ensaios realizou-se então uma estimativa da capacidade última das estacas
ensaiadas pelos métodos de Broms (1964), Barton (1982) e Fleming et al. (1992), apresentados no
Capítulo 2, considerado para a excentricidade do carregamento o valor de 0,35m.
Para o ângulo de atrito do solo foi adoptado o valor de 45,8º, determinado pelos ensaios triaxiais de
compressão. Optou-se por considerar o valor máximo determinado para esta grandeza para prever a
capacidade máxima que o conjunto estaca-solo poderia exibir.
Segundo as metodologias utilizadas, todas as estacas foram classificadas como flexíveis. A
capacidade última determinada, bem como a localização da rótula plástica em profundidade
apresentam-se no Quadro 4-IX.
Quadro 4-IX – Previsão da capacidade última das estacas e localização da rótula plástica
f (m) Hu (kN) f (m) Hu (kN) f (m) Hu (kN)Moldada 609 1.91 374 1.73 350.49 1.47 443.75Trado Contínuo 635 1.94 386 1.75 362.31 1.49 457.12Cravada 90 1.16 80 1.04 76.05 0.88 93.24
Mrd (kN.m)
Tipo de estacaBroms Barton Fleming
Metodologia
Tendo em conta os valores apresentados no Quadro 4-IX, o dimensionamento da estrutura de
aplicação da carga foi efectuado para 600kN, considerando um coeficiente de segurança de 1,35.
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
137
4.5.2 Estrutura de aplicação da carga
A norma ASTM D3966 refere várias configurações possíveis para materializar o carregamento de uma
estaca a ensaiar. Correntemente a estaca é ensaiada pela aplicação de uma carga por um macaco
hidráulico actuando contra um sistema de reacção ou ensaiada simultaneamente com outra estaca.
O sistema de reacção pode ser materializado por uma ou mais estacas, um bloco de distribuição
designado por deadman, uma plataforma dita pesada ou um edifício existente.
No Campo Experimental da FEUP as estacas foram ensaiadas duas a duas, provocando a divergência
entre elas. A esquematização de um ensaio com esta configuração e a identificação das várias peças
que o constituem é apresentado na norma ASTM D3966 e reproduzido na Figura 4.35.
escora
macaco hidráulico
placas de distribuição
transdutor de deslocamento e estrutura de referência
transdutor de deslocamento e estrutura de referência
Figura 4.35 - Configuração típica para ensaiar duas estacas simultaneamente (adaptado de ASTM D3966)
O sistema de aplicação das cargas utilizado nos ensaios conduzidos consistiu numa estrutura
metálica, em aço FE430, descrita em sequência e apresentada na Figura 4.36 e um macaco
hidráulico com uma capacidade de 1000kN e 150mm de curso.
1
2 3
4
5
67
9
8
1011
1
LEGENDA:
placa de distribuição A
aparelho de apoio2
escora3
4 elemento de ligação escora-macaco
macaco5
êmbolo externo do macaco6
célula de carga7
rótula8
placa de distribuição B9
10 roletes
11 lajeta de betão
Figura 4.36 – Estrutura de aplicação da carga nos ensaios realizados no Campo Experimental da FEUP
Para assegurar a transmissão da carga ao elemento de fundação, a norma refere que deve ser
colocada, na vertical e contra a face lateral da cabeça estaca ou maciço de encabeçamento, uma
placa de distribuição metálica com rigidez suficiente para que não se deforme por flexão para os
níveis de solicitação em causa. Com esta função, foi fixada com buchas, no maciço de
CAPITULO 4
138
encabeçamento de uma das estacas, uma chapa metálica de dimensões 350x350x35mm,
identificada na Figura 4.36 por placa de distribuição B. No maciço da outra estaca, também fixo por
buchas, colocou-se um elemento metálico composto por uma chapa de 500x380x25mm e quatro
cutelos soldados de 150x368(ou300)x20mm. Neste elemento, designado por placa de distribuição A,
foi colocado um aparelho de apoio de neoprene cintado contra o qual foi colocada uma folha de
teflon, com o objectivo de cingir à componente horizontal a carga aplicada. O aparelho de apoio,
constituído por dois apoios de 250x250x63mm com 45mm de espessura total de neoprene, em
camadas intercaladas por chapas de aço, garante uma rotação de 0,03 radianos. Para a rotação
permitida previu-se um pequeno deslocamento vertical relativo entre o apoio e a aplicação da carga
e, consequentemente, foi considerada uma folga, preenchida com placas de esferovite, entre o
apoio e o elemento metálico onde foi colocado. Os desenhos de fabrico das duas placas de
distribuição apresentam-se na Figura 4.37 e na Figura 4.38 ilustra-se o aparelho de apoio.
(Ø furo = 20mm)4 buchas M12 - HSL-TZ
126
25150
40
500
20
300
20
20 20
40
Elementos de fixação:
Alçado Corte A-A
4040
380
80 80
2030
020
a)
4 buchas M12 - HSL-TZ
60350
60
6060
350
35
(Ø furo = 20mm)Elementos de fixação:
Alçado Corte A-A
b)
Figura 4.37 – Alçado e corte dos elementos: a) placa de distribuição A; e, b) placa de distribuição B
O macaco tem acoplado um êmbolo no qual encaixa a célula de carga e, posteriormente, uma rótula
esférica metálica. Foi esta rótula que ficou em contacto com o maciço de encabeçamento da estaca
na qual se fixou a placa de distribuição B. A célula de carga utilizada é da marca Novatech, do tipo
F209 e com uma capacidade de 1000kN.
Para preencher o espaço restante entre as estacas, a norma ASTM refere a colocação de uma escora
metálica que possua área e rigidez suficiente para transmitir convenientemente as cargas aplicadas
sem sofrer flexões, distorções ou fenómenos de instabilidade. No campo experimental, esta escora
foi materializada por um troço de HEB240 ao qual se soldou, na extremidade em contacto com o
aparelho de apoio, uma chapa de 250x250x40mm. Como a distância entre os três pares de estacas
ensaiadas não era constante, a outra extremidade desta escora foi sendo cortada para perfazer o
comprimento pretendido. A ligação entre a escora e o macaco foi estabelecida por uma chapa de
325x306x30mm, com quatro cutelos de 296(ou240)x50x15mm na face que recebe o HEB240 e oito
cutelos de 101x50x16mm, fazendo uma bordadura octogonal no lado que recebe a base do macaco,
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
139
como ilustra a Figura 4.39. O rasgo na bordadura referida, como esquematizado no corte C-C da
mesma figura, serve para a colocação de um dos tubos que estabelece a ligação entre a bomba e o
macaco.
a)
b)
c)
d)
e)
Figura 4.38 - a) e b) aparelho de apoio em neoprene cintado; c) rótula metálica esférica; d) célula de carga; e,
e) sistema composto pela bomba, macaco, célula de carga e rótula metálica esférica
40
250x
250
HEB240
Variavel (529, 364, 69)
Alçado
Corte A-A
a)
Alçado Corte A-A
Corte B-B Corte C-C
5030
50
1624
0x24
016
Ø 2
4516
16
325
306
30
296
240
325
306
1616
16 16
101
50
30
b)
Figura 4.39 – Alçados e cortes dos elementos: a) escora; e, b) elemento de ligação escora-macaco
CAPITULO 4
140
A estrutura de aplicação da carga ficou apoiada numa lajeta de betão. Sob o macaco e a viga
HEB240 foram colocados roletes em aço, concretizados por tubulares cilíndricos com 48,3mm de
diâmetro e 8mm de espessura, para garantir a sua mobilidade e guiamento.
Refira-se ainda que a área do ensaio foi escavada, criando uma plataforma de ensaio e, para evitar
o atrito entre a base dos maciços de encabeçamento das estacas e a superfície do terreno, foi
colocada uma placa de esferovite aquando da betonagem dos respectivos maciços que
posteriormente foi retirada. Uma outra solução possível, para evitar o contacto do terreno e do
maciço de encabeçamento das estacas, é a colocação de uma camada de areia sobre a qual é
espalhada uma betonilha antes da betonagem dos maciços que é posteriormente removida (Sousa
Coutinho, 1995).
4.5.3 Grandezas medidas e equipamentos de medição utilizados
A instrumentação efectuada nos ensaios em descrição foi da responsabilidade do Laboratório de
Geotecnia da FEUP e da empresa Tecnasol-FGE, S.A.
Para obter o máximo de informação possível dos ensaios realizados, optou-se por medir, sempre que
possível, além dos deslocamentos e das rotações das cabeças das estacas, a rotação em
profundidade ao longo dos seus fustes. A título excepcional, mediram-se também as extensões no
betão em pontos diametralmente opostos de uma das estacas.
4.5.3.1 Medição dos deslocamentos e rotações da cabeça das estacas
A medição dos deslocamentos e rotações das cabeças das estacas foi efectuada recorrendo a
transdutores de deslocamento lineares com 50mm de curso do tipo linear strain conversion
transducer (LSCT ou DCDT).
Em cada estaca ensaiada foram utilizados três transdutores de deslocamento aplicados na
horizontal, um no centro do maciço de encabeçamento e outros dois colaterais, um em cada
extremidade, com o objectivo de medir, para além do deslocamento horizontal, alguma torção
eventualmente induzida pelo carregamento.
A rotação da cabeça das estacas foi medida utilizando outros dois transdutores de deslocamento,
desta vez aplicados na vertical, um em cada extremidade do maciço de encabeçamento. A
diferença destas leituras, dividida pela distância entre as suas linhas de acção, permitem
determinar a rotação da cabeça da estaca (Santos, 1999).
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
141
Na Figura 4.40 ilustram-se os transdutores de deslocamento utilizados para a medição dos
deslocamentos horizontais e as rotações.
a)
b)
Figura 4.40 Transdutores de deslocamento: a) horizontais e b) verticais
Foi necessário conceber uma estrutura de referência, ilustrada na Figura 4.41, que fosse
considerada fixa, na qual se apoiaram estes dispositivos. A norma ASTM – D3966 refere que estas
estruturas devem ser dotadas de apoios independentes encastrados no solo que distem pelo menos
dois metros da estaca a ensaiar e devem ter rigidez axial e lateral suficiente para que possam servir
de pontos de referência estáveis à medição dos deslocamentos da estaca.
b)
>2,
00>
2,00
>2,
00>
2,00
A A
B
B
~1,
15
PLANTA
ALÇADO A - A
ALÇADO B - B
a) c)
Figura 4.41 – a) Estrutura de referência (planta e alçados); b) estrutura de referência e montagem da sua
estrutura de protecção; e, c) protecção da zona de ensaio
CAPITULO 4
142
A estrutura de referência utilizada foi realizada em perfis tubulares, sendo constituída por dois
pórticos colocados perpendicularmente à direcção de aplicação da carga, por duas vigas transversais
de travamento, uma viga para fixação dos transdutores de deslocamento verticais e ainda por duas
pequenas vigas para a fixação dos transdutores de deslocamento horizontais. Tanto as vigas dos
pórticos como as de travamento são vigas-escada. Durante todo o ensaio, a estrutura de referência,
bem como toda a área do ensaio, foram protegidos por uma tenda.
Na Figura 4.42 localizam-se os transdutores de deslocamento nos três ensaios realizados e cotam-se
as dimensões das estacas e a sua posição relativa.
e1
Força
Dh
i6
i4i5
h6h5
i3
i2
h2h1
i1
a4a3a2
Dva1
b4,5
,6
DhDh
b1,2
,3c1
d4d5
d6d3 d1d2
f3g2
f2
h4 h7
E0E1g1f1
h3
ALÇADO
1 2Dv3Dv 4Dv
1
2Dh
3Dh
4Dh
5Dh
6Dh
1,2,3 4,5,6
C2 E7
T2 E8
PLANTA
E0-E1 C2-E7 T2-E8a1
a2
a3
a4
b1,2,3
b4,5,6
c1
d1
d2
d3
d4
d5
d6
1e1f2f3f1g
g2
1h2h3h4h5h6h7h1i
i 2
i 3
i 4
i 5
i 6
Ensaios vs grandezas (mm)
0,15 0,115 0,03
0,18 0,115 0,15
0,12 0,065 0,15
0,07 0,04 0,13
0,45 0,34 0,34
0,36 0,475 0,385
0,20 0,21 0,195
0,20 0,18 0,20
0,490,460,495
0,20 0,21 0,22
0,180,200,20
0,82 0,67 0,70
0,32 0,20 0,39
0,22 0,16 0,27
-0,045-0,120,09
1,00 1,07 1,07
0,50 0,51 0,505
0,50 0,49 0,53
1,01 1,00 0,98
0,46 0,50 0,535
0,4450,500,55
1,29 1,135 0,84
1,031,020,99
0,51 0,535 0,47
0,48 0,485 0,56
1,00 1,01 1,01
0,590,520,50
0,50 0,49 0,42
0,545 0,505 0,50
0,46 0,50 0,51
1,010,961,09
1,011,0051,005
Figura 4.42 – Localização dos transdutores de deslocamento e cotagem das dimensões das estacas
4.5.3.2 Medição das rotações em profundidade
Para definir a evolução de rotações e deslocamentos horizontais em profundidade foram efectudas
medições com o inclinómetro nas estacas E0, E1 e T2. Nas estacas E0 e T2, os tubos inclinométricos
com um diâmetro de 85mm abrangeram todo o comprimento das estacas, enquanto que a estaca E1,
de 22m de comprimento, foi instrumentada apenas até à profundidade de 12,5m.
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
143
Para aferir as torções aplicadas ao tubo inclinométrico durante a execução das estacas foram
efectuadas leituras iniciais com um inclinómetro do tipo “spiral”.
Os dois tipos de inclinómetros utilizados são da marca Slope Indicator e ilustram-se na Figura 4.43.
c)
a) b) d)
Figura 4.43 – a) e b) Inclinómetro do tipo spiral e sua utilização; c) e d) inclinómetro corrente
4.5.3.3 Medição das extensões
Com o objectivo de avaliar o momento flector instalado na estaca E0 foram medidas as extensões
do betão em dois pontos diametralmente opostos. Para isso foram instalados dois tubos de PVC
Hidronil ∅ 2”, com aproximadamente 6 m, prolongando-se até à extremidade do maciço de
encabeçamento no topo da estaca. No interior de cada um dos tubos de PVC foi instalado um
sistema constituído por ancoragens actuadas pneumaticamente que têm sensores ligados entre si
por uma barra de ligação e que medem a deformação entre ancoragens. Na Figura 4.44a) apresenta-
se um esquema do sistema instalado.
Na Figura 4.44b) localizam-se em planta os dois tubos de PVC, a que se denominaram R1 e R2, em
cada um dos quais foram instalados cinco sensores (retrievable extensometers) às profundidades de
1,35m, 2,37m, 3,39m, 4,41m e 5,43m, medidas a partir da face superior do maciço. A ancoragem de
fundo ficou colocada a 6,45m.
CAPITULO 4
144
b)
c)
a)
d)
e)
Figura 4.44 – Extensómetros: a) descrição do sistema; b) localização dos tubos de PVC na estaca E0; c), d) e e)
extensómetros e sua colocação na estaca E0
4.5.3.4 Medição da carga aplicada
A leitura do valor da força aplicada processou-se através de uma célula de carga, ilustrada na Figura
4.38d), que, pela sua precisão, foi considerada como o registo mais fiável, embora se dispusesse das
leituras do manómetro ligado ao circuito do macaco hidráulico.
4.5.4 Programa de aplicação de cargas e de registo da instrumentação
4.5.4.1 Programa de aplicação de cargas
Os planos de carregamento dos três ensaios foram definidos admitindo ciclos de carga e descarga de
amplitudes crescentes, com escalões de carga intermédios de 10 minutos e escalões de extremos
(de pico) de 60 minutos. Para níveis de carga próximos da rotura, optou-se por diminuir o
incremento de carga para metade, fazendo os escalões de carga em ramo virgem com 60 minutos. A
Figura 4.45 exemplifica o plano de cargas definido para o ensaio entre as estacas E0 e E1.
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
145
0
100
200
300
400
500
600
0 50 100
150
200
250
300
350
400
450
500
550
600
650
700
750
tempo (minutos)
Forç
a (k
N)
Figura 4.45 – Exemplificação do plano de cargas definido para o ensaio entre as estacas E0 e E1
Desta forma foram definidos, para os ensaios E0–E1 e T2–E8, ciclos de carga com escalões de pico de
100, 200, 300, 400 e 500kN, com escalões de carga intermédios de 50 em 50kN e de descarga de 100
em 100kN. E para o ensaio C2–E7, os escalões de pico programados foram de 30, 60, 90, 120 e
150kN, com escalões de carga intermédios de 15 em 15kN e de descarga de 30 em 30kN. Durante os
ensaios procedeu-se a pequenos ajustes aos planos de carga propostos, em função do
comportamento observado.
4.5.4.2 Programa de registo das medições da instrumentação
O registo dos deslocamentos e das extensões foi efectuado automaticamente de 30 em 30 segundos,
em consonância com o registo do carregamento efectuado. Adicionalmente, foi efectuado um
registo manual da medição dos transdutores de deslocamento no início e no fim de cada escalão de
carga com a duração de 10 minutos e de 15 em 15minutos, nos de duração de 60 minutos.
Dada a relativa morosidade das leituras do inclinómetro, apenas se procedeu à leitura deste
aparelho nos extremos de cada ciclo, ou seja, nos escalões de pico e nas descargas a zero.
4.5.5 Condução dos ensaios e apresentação dos resultados
4.5.5.1 Ensaio entre a estaca E0 e a estaca E1
Nos dias 18 e 19 de Fevereiro de 2004, realizou-se o primeiro ensaio de carga entre a estaca E0 e a
estaca E1. O carregamento realizado apresenta-se na Figura 4.46.
Não foi possível continuar este ensaio até à rotura por se ter atingido o fim do curso do macaco,
como mostra a Figura 4.47. Para permitir a sua finalização, procedeu-se, após alguns dias, a um
CAPITULO 4
146
segundo ensaio a que se denominou ensaio E0–E1–2ªparte, no qual se utilizou um macaco
emprestado pela empresa Teixeira Duarte,S.A., com capacidade de 850kN e um curso de 350mm.
Para que fosse possível utilizá-lo, foi necessário proceder a algumas modificações na estrutura de
aplicação da carga. Nesta segunda parte do ensaio, por não ter sido possível utilizar os transdutores
de deslocamento da empresa Tecnasol - FGE, não se determinou a torção da cabeça da estaca.
Apresentam-se em sequências os resultados obtidos, primeiro para a estaca E0 e depois para a
estaca E1, distinguindo-se a primeira e a segunda fase do ensaio realizado.
0
100
200
300
400
500
600
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33
tempo (horas)
Forç
a (k
N)
1ª Parte do ensaio
2ª Parte do ensaio
Figura 4.46 - Variação da força aplicada com o tempo
Figura 4.47 – Fim de curso do macaco no final do ensaio E0–E1–1ªparte
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
147
4.5.5.1.1 Resultados da estaca E0
Na Figura 4.48 apresenta-se a curva força – deslocamento observado para a cabeça da estaca E0 a
36cm da face superior do seu maciço de encabeçamento (nível dos LVDT). Os deslocamentos foram
medidos directamente a partir dos transdutores de deslocamentos colocados na horizontal e
indirectamente deduzidos pelo inclinómetro, para o mesmo nível.
0
100
200
300
400
500
600
0 50 100 150 200 250 300 350
deslocamento (mm)
Forç
a (k
N)
transdutores de deslocamento - 1ª parte do ensaio inclinómetro - 1ª parte do ensaio
transdutores de deslocamento - 2ª parte do ensaio inclinómetro - 2ª parte do ensaio
Figura 4.48 – Curva força – deslocamento da cabeça da estaca E0
Para a determinação do deslocamento da cabeça da estaca a partir dos três transdutores de
deslocamento, admitiu-se que o maciço de encabeçamento da estaca rodou como um corpo rígido
no plano horizontal (torção) e determinou-se o deslocamento expectável por cada transdutor na
linha de aplicação da carga, realizando-se posteriormente a média dos três valores obtidos. A torção
verificada pelo maciço de encabeçamento da estaca E0 é praticamente insignificante, como se pode
verificar na Figura 4.49. Como anteriormente referido, não foi possível medir esta grandeza na
segunda parte do ensaio.
Ainda referente à Figura 4.48, é necessário fazer algumas observações. Em consequência de se ter
considerado dez minutos para a estabilização do carregamento de 325kN e 375kN, período pequeno
comparativamente com os sessenta minutos considerados nos escalões de carga que os precederam,
foi necessário fazer uma projecção no tempo dos deslocamentos expectáveis. Para isso, foi feita
uma analogia com a teoria da consolidação e utilizou-se a construção de Taylor (1942), desenvolvida
para modelar a curva de consolidação determinada em laboratório a partir de ensaios edométricos
com a curva teórica que relaciona o grau de consolidação U e a raiz quadrada do factor tempo T.
CAPITULO 4
148
0
100
200
300
400
500
600
0,000 0,050 0,100 0,150 0,200 0,250
Torção do maciço de encabeçamento (º)
Forç
a (k
N)
Figura 4.49 - Curva força – torção do maciço de encabeçamento da estaca E0
Para os vários escalões de pico e sobre uma representação do deslocamento horizontal em função
da raiz do tempo de duração do respectivo escalão, foi determinado o valor de:
( )100 0 90 0
10090
d d d d− = ⋅ − (3.112)
sendo d0, d90 e d100 os deslocamentos determinados pela construção de Taylor correspondentes a um
grau de consolidação equivalente a 0, 90 e 100%, respectivamente. Posteriormente, foi determinada
uma linha de tendência, relacionando a força aplicada com o valor de (d100-d0), utilizada para a
dedução do valor do deslocamento expectável para os escalões de carga de 325kN e 375kN, caso
tivessem tido a duração de sessenta minutos.
Para que fosse válida a comparação dos deslocamentos medidos pelos transdutores de deslocamento
e pelo inclinómetro, determinou-se, para este último instrumento, o deslocamento a uma
profundidade de 0,36m contabilizada a partir da face superior do maciço de encabeçamento
(posição dos transdutores no caso da estaca E0), considerando a rotação do eixo da estaca entre as
profundidades 0,50m e 1,00m. Refira-se ainda que para o deslocamento inicial do ensaio E0-E1-
2ªparte, foi utilizado o valor determinado pelo inclinómetro para a descarga do último ciclo do
ensaio E0-E1-1ªparte.
Comparando os deslocamentos determinados pelos transdutores de deslocamento e pelo
inclinómetro, verifica-se que para a primeira parte do ensaio estes são bastante concordantes (por
exemplo, para uma força de 475kN obteve-se o valor de 85,0mm e 88,8mm, respectivamente). No
entanto, o mesmo não aconteceu para a segunda parte do ensaio, tendo-se obtido, para uma força
de 520kN, os valores de 253,7mm e 316,1mm (diferença de 62,3mm). Uma explicação possível para
a diferença obtida entre estes dois sistemas de medição na 2ª parte do ensaio seria a de que a
extremidade inferior da estaca, admitida como um ponto fixo numa medição com inclinómetro,
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
149
tivesse sofrido um deslocamento no sentido contrário ao da força aplicada. No entanto, a forma da
curva dos deslocamentos em profundidade, que se apresenta na Figura 4.51, não indicia esse
fenómeno. O que parece mais plausível é que tenha havido uma subestimação dos deslocamentos
medidos pelos transdutores de deslocamentos para os níveis de carregamento envolvidos nesta
parte final do ensaio, em consequência dos vários ajustes que foram necessários efectuar ao curso
dos transdutores de deslocamentos e pela elevada velocidade de deformação observada na estaca.
Alerta-se para a necessidade de, em ensaios futuros, se adoptar a utilização de transdutores com
cursos maiores para evitar este tipo de situações.
Em relação às leituras inclinométricas, existem dois factores que as distinguem entre a 1ª e a 2ª
parte do ensaio, embora de pequena forma. Por um lado, o aparelho utilizado não foi o mesmo e
por outro, não estando o último aparelho calibrado com a medição da torção da calha efectuada a
partir do inclinómetro do tipo “spiral”, foi necessário projectar na direcção do deslocamento as
leituras efectuadas para a direcção A e B do inclinómetro. Uma outra questão prende-se com o
facto das leituras do inclinómetro, na segunda parte do ensaio, terem sido efectuadas até uma
profundidade menor relativamente ao que o antecedeu, ou seja, enquanto que na primeira parte do
ensaio a profundidade da calha acusou um comprimento de 6,75m (um metro correspondente ao
maciço de encabeçamento e 5,75m correspondente ao comprimento da estaca), na segunda parte
do ensaio as medições só foram efectuadas até à profundidade de 6,0m, o que pressupõe que a
calha estava, à altura do ensaio, obstruída na sua extremidade inferior.
Na Figura 4.50 apresentam-se as rotações verificadas para o maciço de encabeçamento da estaca
E0, em função da força aplicada, a partir dos transdutores colocados na vertical e através das
leituras inclinométricas. Como mostra a figura, os resultados são bastante concordantes, com uma
diferença máxima entre eles de 0,37º referente ao carregamento de 475kN. Na segunda parte do
ensaio e para o carregamento de 520kN não foi possível fazer a medição com os transdutores porque
as suas extremidades saíram da placa de acrílico coladas no maciço de encabeçamento, que lhes
serviam de base.
Na Figura 4.51, conjuntamente com os resultados do inclinómetro, já comentados, retrata-se o
descolamento do solo relativamente à face posterior da estaca, para os escalões máximos dos
últimos ciclos de carregamento das duas partes do ensaio. Na mesma figura, ilustra-se o bom
funcionamento do aparelho de apoio em carga que, apesar da grande rotação experimentada pelo
maciço de encabeçamento, permitiu que a carga fosse aplicada uniformemente na horizontal.
CAPITULO 4
150
0
100
200
300
400
500
600
0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00 7,00
rotação (º)
Forç
a (k
N)
transdutores de deslocamento - 1ª parte do ensaio inclinómetro - 1ª parte do ensaio
transdutores de deslocamento - 2ª parte do ensaio inclinómetro - 2ª parte do ensaio
Figura 4.50 - Curva força – rotação do maciço de encabeçamento da estaca E0
b)
c)
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
5,5
6
6,5
7
-350 -300 -250 -200 -150 -100 -50 0 50
Ciclo 50 - 0kNCiclo 100 - 100kNCiclo 100 - 0kNCiclo 200 - 200kNCiclo 200 - 0kNCiclo 300 - 300kNCiclo 300 - 0kNCiclo 400 - 350kNCiclo 400 - 400kNCiclo 400 - 0kNCiclo 475 - 450kNCiclo 475 - 475kNCiclo 475 - 0kNCiclo 520 - 400kNCiclo 520 - 500kNCiclo 520 - 520kNCiclo 520 - 00kN
Deslocamento (mm)
Prof
un
dida
de (
m)
a) d)
Figura 4.51 – a) Evolução dos deslocamentos em profundidade em função do carregamento (leituras
inclinométricas); b) e c) descolamento entre o solo e a face posterior estaca na 1ª e 2ª parte do ensaio,
respectivamente; e, d) aparelho de apoio em carga (2ª parte do ensaio)
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
151
Durante a primeira parte deste ensaio foram ainda medidas as extensões do betão em dois pontos
diametralmente opostos R1 e R2, como foi apresentado no ponto 4.5.3.3.
Na Figura 4.52a) apresentam-se as extensões medidas nas prumadas R1 e R2, para as profundidades
em que foram colocados os sensores. Relembra-se que a profundidade é relativa à face superior do
maciço de encabeçamento.
Em consequência da fissuração do betão, verifica-se que as extensões de tracção medidas para o
ponto R1 são substancialmente maiores do que as extensões de compressão medidas para o ponto
R2. Um outro factor que também influencia esta diferença, mas apenas em 10% aproximadamente,
é a diferença entre as distâncias projectadas na linha de acção do carregamento entre os pontos R2
e R1 e o centro da estaca. Essas distâncias são respectivamente 0,14m e 0,15m.
Na Figura 4.52b) ilustra-se a curvatura das secções instrumentadas calculadas em função das
extensões medidas.
0
1
2
3
4
5
6
7
-1,E-03 -5,E-04 0,E+00 5,E-04 1,E-03 2,E-03 2,E-03 3,E-03 3,E-03 4,E-03
Extensões (mm/mm)
Prof
undi
dade
(m
)
F = 0kN
F = 100kN
F = 200kN
F = 300kN
F = 400kN
F = 425kN
F = 450kN
F = 475kN
F = 0kN
F = 100kN
F = 200kN
F = 300kN
F = 400kN
F = 425kN
F = 450kN
F = 475kN
Ponto R2Ponto R1
0
1
2
3
4
5
6
7
0,E+00 2,E-03 4,E-03 6,E-03 8,E-03 1,E-02
Curvatura (1/m)Pr
ofun
dida
de (
m)
F = 0kNF = 100kNF = 200kNF = 300kNF = 400kNF = 425kNF = 450kNF = 475kN
a) b) Figura 4.52 – Resultados dos extensómetros: a) extensões e b) curvatura
CAPITULO 4
152
4.5.5.1.2 Resultados da estaca E1
Neste ponto, apresentam-se os resultados obtidos para a estaca E1, em consequência do ensaio de
carga conduzido entre esta estaca e a E0.
O deslocamento da cabeça da estaca E1, em função do carregamento, está ilustrado na Figura 4.53.
Esta grandeza foi medida directamente pelos três transdutores de deslocamento colocados na
horizontal e indirectamente pelo inclinómetro. Os deslocamentos referem-se a uma profundidade
de 0,45m em relação à face superior do maciço de encabeçamento, coincidente com o
posicionamento dos transdutores. Repare-se que os transdutores de deslocamento ficaram no
mesmo alinhamento dos da estaca E0, a diferença da profundidade apresentada está relacionada
com a diferença de alturas dos seus maciços de encabeçamento, sendo o da estaca E1 maior 9cm.
A determinação dos deslocamentos medidos pelos transdutores foi efectuada da forma apresentada
para a estaca E0. Refira-se no entanto que, a torção que a estaca E1 experimenta é insignificante,
atingindo um valor máximo de 0,07º para um carregamento de 475kN. Para o carregamento de
325kN e 375kN, à semelhança do realizado para a estaca E0, foi utilizada a construção de Taylor
para projectar o deslocamento no tempo.
0
100
200
300
400
500
600
0 20 40 60 80 100 120 140
deslocamento (mm)
Forç
a (k
N)
transdutores de deslocamento - 1ª parte do ensaio inclinometro - 1ª parte do ensaio
transdutores de deslocamento - 2ª parte do ensaio
Figura 4.53 - Curva força – deslocamento da cabeça da estaca E1
As medições efectuadas pelo inclinómetro foram transpostas para a profundidade de 0,45m tendo
em consideração a rotação do eixo da estaca entre as profundidades de 0,50m e 1,00m. Estas
medições efectuadas na primeira parte do ensaio são muito semelhantes às realizadas pelos
transdutores, com uma diferença máxima de 2,6mm para o carregamento de 475kN.
Na segunda parte do ensaio realizaram-se leituras inclinométricas para o carregamento de 520kN e
para a descarga final a zero. No entanto, os resultados não têm sentido, pensando-se que possa ter
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
153
havido um erro de medição, pelo que não se apresentam neste trabalho. Contudo, não será de
esperar que os deslocamentos determinados pelos transdutores na segunda parte do ensaio estejam
subestimados, uma vez que esta estaca apresentou deformações muito inferiores às verificadas pela
estaca E0 (cerca de metade para o carregamento máximo) e consequentemente não foram
necessários a quantidade de ajustes efectuados ao curso do transdutor da estaca E0.
Na Figura 4.54a) apresenta-se a evolução dos deslocamentos em profundidade em função do
carregamento.
As rotações verificadas para o maciço de encabeçamento medidas através, quer dos transdutores
colocados na vertical, quer das leituras inclinométricas, estão ilustradas na Figura 4.54b). Como se
pode verificar, os resultados obtidos pelos dois sistemas de medição são bastante concordantes,
apresentando uma diferença máxima de 0,20º referente ao carregamento de 475kN. Na mesma
figura, retrata-se ainda o funcionamento da rótula esférica para a carga de 520kN.
0
100
200
300
400
500
600
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00
rotação (º)
Forç
a (k
N)
transdutores de deslocamento - 1ª parte do ensaio
inclinómetro - 1ª parte do ensaio
transdutores de deslocamento - 2ª parte do ensaio b)
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
5,5
6
6,5
7
7,5
8
8,5
9
9,5
10
10,5
11
11,5
12
12,5
13
-70 -60 -50 -40 -30 -20 -10 0 10
Ciclo 50 - 0kN
Ciclo 100 - 100kNCiclo 100 - 0kN
Ciclo 200 - 200kNCiclo 200 - 0kN
Ciclo 300 - 300kN
Ciclo 300 - 0kNCiclo 400 - 350kN
Ciclo 400 - 400kNCiclo 400 - 0kN
Ciclo 475 - 450kNCiclo 475 - 475kN
Ciclo 475 - 0kN
Deslocamento (mm)
Prof
undi
dade
(m
)
a)
c)
Figura 4.54 - a) Evolução dos deslocamentos em profundidade em função do carregamento (leituras
inclinométricas); b) - Curva força – rotação do maciço de encabeçamento; e, c) rótula esférica em carga
CAPITULO 4
154
Para terminar ilustra-se na Figura 4.55, o último ciclo de carga efectuado no ensaio realizado.
Figura 4.55 – Ensaio E0-E1–2ªparte
4.5.5.2 Ensaio entre a estaca C2 e a estaca E7
O ensaio de carga divergente entre as estacas C2 e E7 foi realizado nos dias 26 e 27 de Fevereiro de
2004. O carregamento efectuado representa-se na Figura 4.56.
0
20
40
60
80
100
120
140
160
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
tempo (horas)
Forç
a (k
N)
Figura 4.56 - Variação da força aplicada com o tempo no ensaio C2-E7
Nas estacas ensaiadas não foram previstas calhas inclinométricas, pelo que apenas foram medidos
os deslocamentos horizontais, as torções e as rotações das cabeças das estacas, através dos
transdutores de deslocamento colocados, tanto no plano horizontal como no vertical.
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
155
Os deslocamentos horizontais das cabeças das estacas C2 e E7 apresentam-se na Figura 4.57 e na
Figura 4.58, respectivamente. Estes deslocamentos foram determinados considerando as medições
dos três transdutores de deslocamento aplicados na horizontal em cada estaca, tendo presente a
torção do respectivo maciço de encabeçamento. A medição dos deslocamentos da estaca C2 para o
escalão de carga de 150kN foi efectuada apenas pelos transdutores extremos, em consequência do
central ter deixado de estar em contacto com a chapa colada na face do maciço que lhe servia de
base. É necessário acautelar este tipo de situações em ensaios de carga horizontais, tanto no
posicionamento inicial dos transdutores, como na escolha das dimensões das bases dos transdutores.
0
20
40
60
80
100
120
140
160
0 20 40 60 80 100 120 140 160
deslocamento (mm)
Forç
a (k
N)
Figura 4.57 - Curva força – deslocamento da cabeça da estaca C2
0
20
40
60
80
100
120
140
160
0 2 4 6 8 10 12 14
deslocamento (mm)
Forç
a (k
N)
Figura 4.58 - Curva força – deslocamento da cabeça da estaca E7
Também neste ensaio foi necessário projectar no tempo os deslocamentos dos escalões de carga de
105kN e 135kN, tendo sido utilizada a mesma metodologia apresentada para o ensaio E0–E1.
CAPITULO 4
156
A torção máxima verificada na estaca C2 foi de 0,12º e na estaca E7 de 0,02º, referentes ao
carregamento de 150kN.
As rotações observadas nas cabeças das estacas C2 e E7 estão ilustradas na Figura 4.59. Não foi
possível medir a rotação da estaca cravada para cargas superiores a 135kN, uma vez que a
extremidade de um dos transdutores deixou de estar em contacto com a placa de acrílico colada no
maciço de encabeçamento, que lhe servia de base.
0
20
40
60
80
100
120
140
160
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00
rotação (º)
Forç
a (k
N)
a)
0
20
40
60
80
100
120
140
160
0,00 0,10 0,20 0,30 0,40
rotação (º)
Forç
a (k
N)
b)
Figura 4.59 - Curva força – rotação do maciço de encabeçamento: a) estaca C2; e, b) estaca E7
Na Figura 4.60, retrata-se o último escalão de carga do ensaio em análise, onde se evidencia a
deformação da estaca cravada. Nesta figura, pode ainda verificar-se o problema anteriormente
referido com o transdutor de deslocamento vertical e que se encontra assinalado com uma
circunferência.
Figura 4.60 - Ensaio C2 – E7
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
157
A deformação do solo à superfície, visível na Figura 4.61, é a retratada na bibliografia. Como se
pode ver, na parte posterior a estaca descolou-se do solo dando origem a uma fenda e, na parte
anterior, o solo deslocou-se verticalmente, evidenciando um mecanismo tipo cunha.
b)
a) c)
Figura 4.61 – Deformação do solo adjacente à estaca C2: a) vista paralela ao carregamento; b) detalhe do
descolamento do solo da face posterior da estaca; e, c) movimento vertical do solo junto à face anterior da
estaca
4.5.5.3 Ensaio entre a estaca T2 e a estaca E8
Nos dias 2 e 3 de Março de 2004 foi realizado o ensaio de carga entre a estaca de trado contínuo T2
e a estaca moldada E8. O plano de cargas levado a cabo apresenta-se na Figura 4.62. O pico
observado no último ciclo de carga – descarga, deve-se ao carregamento de 425kN que não foi
possível concretizar por falta de curso do macaco.
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18
tempo (horas)
Forç
a (k
N)
Figura 4.62 - Variação da força aplicada com o tempo no ensaio T2-E8
CAPITULO 4
158
À semelhança dos ensaios E0-E1 e C2-E7, os deslocamentos horizontais das cabeças das estacas
foram determinados em função das medições efectuadas pelos três transdutores instalados em cada
uma delas. Adicionalmente, obteve-se o deslocamento horizontal da estaca T2 medida
indirectamente pelas leituras inclinométricas, realizadas nos escalões extremos e nas descargas a
zero. Os resultados obtidos para os deslocamentos à cota dos transdutores apresentam-se na Figura
4.63 e na Figura 4.64 para a estaca T2 e E8, respectivamente. A torção máxima observada para os
maciços de encabeçamento foi de 0,07º para a estaca de trado e 0,09º para a estaca moldada.
Analisando a Figura 4.63 são notórias as diferenças entre os deslocamentos obtidos pelos
transdutores e pelo inclinómetro. Por exemplo, para o carregamento máximo de 400kN, os
transdutores mediram 65,9mm de deslocamento da cabeça da estaca e pelo inclinómetro obteve-se
para a mesma cota um deslocamento de 81,8mm. No entanto, ao contrário do sucedido com a
estaca E0 em que as diferenças entre os deslocamentos medidos só se fizeram sentir para a segunda
parte do ensaio, neste caso a proporção entre a diferença lida pelos dois sistemas de medição e a
grandeza do deslocamento é sempre a mesma valendo aproximadamente 20%. Este facto leva a
pensar que as causas destas diferenças no caso do ensaio E0-E1-2ªParte e no caso do ensaio em
análise não são as mesmas.
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
deslocamento (mm)
Forç
a (k
N)
transdutores de deslocamentoinclinómetro
Figura 4.63 - Curva força – deslocamento da cabeça da estaca T2
Na Figura 4.65, ilustram-se os deslocamentos em profundidade para a estaca T2, determinados pelo
inclinómetro em função da carga aplicada e as rotações das cabeças das estacas T2 e E8
determinadas pelos sistemas de medição instalados. Como se pode verificar, também as rotações da
cabeça da estaca T2 não são coincidentes para os dois sistemas de medição, sendo as rotações
medidas pelo inclinómetro 16% superiores às obtidas pelos transdutores de deslocamento, para os
vários níveis de carregamento.
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
159
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
0 20 40 60 80 100 120
deslocamento (mm)
Forç
a (k
N)
Figura 4.64 - Curva força – deslocamento da cabeça da estaca E8
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
0,00 0,50 1,00 1,50rotação (º)
Forç
a (k
N)
transdutores de deslocamento
inclinómetro
b)
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
5,5
6
6,5
7
-84 -76 -68 -60 -52 -44 -36 -28 -20 -12 -4 4
Ciclo 50 - 0kN
Ciclo 100 - 100kN
Ciclo 100 - 0kN
Ciclo 200 - 200kN
Ciclo 200 - 0kN
Ciclo 300 - 300kN
Ciclo 300 - 0kN
Ciclo 400 - 400kN
Ciclo 400 - 0kN
Ciclo 400 - 400kN
Ciclo 400 - 0kN
Deslocamento (mm)
Prof
un
dida
de (
m)
a)
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50
rotação (º)
Forç
a (k
N)
c)
Figura 4.65 - a) Evolução dos deslocamentos em profundidade em função do carregamento da estaca T2; b) e c)
curva força – rotação do maciço de encabeçamento das estacas T2 e E8
CAPITULO 4
160
A forma dos deslocamentos em profundidade não indicia que tivesse ocorrido movimento da ponta
da estaca, que se considera como um ponto fixo nas leituras inclinometricas e uma vez que os três
transdutores de deslocamento, instalados na cabeça da estaca T2, mediram valores semelhantes,
suspeita-se que as medições inclinométricas realizadas durante este ensaio não correspondam à
realidade.
4.5.5.4 Comparação dos vários ensaios
Na Figura 4.66 e na Figura 4.67 apresentam-se respectivamente os deslocamentos e as rotações das
cabeças de todas as estacas ensaiadas. Como se pode verificar nos primeiros escalões de carga o
comportamento da estaca de trado contínuo e da moldada com o mesmo comprimento é
semelhante. A estaca E0 apresenta deslocamentos ligeiramente superiores à E1, que numa primeira
análise pode ser explicável pela diferença dos seus comprimentos, 6m e 22m respectivamente.
Inexplicavelmente a estaca E8 mostrou-se mais deformável, podendo existir a possibilidade de
alguma deficiência de construção, ou de uma pequena zona do terreno mais caulinizada na sua
periferia.
Relativamente à estaca C2, como já era previsível devido à sua menor inércia, os deslocamentos
medidos para o mesmo nível de carregamento foram muito superiores, comparativamente com as
outras estacas.
0
100
200
300
400
500
600
0 50 100 150 200 250 300 350
deslocamento (mm)
Forç
a (k
N)
Estaca E0 - LVDT - 1º ensaio
Estaca E0 - inclinómetro - 1º ensaio
Estaca E0 - LVDT - 2º ensaio
Estaca E0 - inclinómetro - 2º ensaio
Estaca E1 - LVDT - 1º ensaio
Estaca E1 - inclinometro - 1º ensaio
Estaca E1 - LVDT - 2º ensaio
Estaca C2 - LVDT
Estaca E7 - LVDT
Estaca T2 - LVDT
Estaca T2 - inclinómetro
Estaca E8 - LVDT
Figura 4.66 - Curva força – deslocamento da cabeça das estacas ensaiadas
Comparando os deslocamentos e as rotações das cabeças das estacas, os resultados mostram-se
bastante concordantes, com excepção da estaca T2, que, apesar de exibir deslocamentos superiores
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
161
aos da estaca E0, apresenta menores rotações da cabeça, quando consideradas as medições
efectuadas pelos transdutores de deslocamento. Outra questão que se coloca é que enquanto nas
estacas E0 e E1 as rotações medidas com o inclinómetro são inferiores às medidas com os
transdutores de deslocamento verticais, o contrário acontece para a estaca T2.
0
100
200
300
400
500
600
0 1 2 3 4 5 6 7
rotação (º)
Forç
a (k
N)
Estaca E0 - LVDT - 1º ensaio
Estaca E0 - inclinómetro - 1º ensaio
Estaca E0 - LVDT - 2º ensaio
Estaca E0 - inclinómetro - 2º ensaio
Estaca E1 - LVDT - 1º ensaio
Estaca E1 - inclinómetro - 1º ensaio
Estaca E1 - LVDT - 2º ensaio
Estaca C2 - LVDT
Estaca E7 - LVDT
Estaca T2 - LVDT
Estaca T2 - inclinómetro
Estaca E8 - LVDT
Figura 4.67 - Curva força – rotação da cabeça das estacas ensaiadas
4.5.6 Campanha geotécnica complementar
Após a realização dos ensaios de carga, com o intuito de verificar a homogeneidade e localizar
zonas menos resistentes do maciço, foi realizada uma campanha geotécnica complementar
constituída por seis ensaios com penetrómetros dinâmicos super-pesados, vulgarmente designados
por DPSH. Estes ensaios foram realizados nas proximidades de cada estaca ensaiada.
O ensaio consiste na determinação do número de pancadas (N) de um pilão de massa (M) em queda
livre de uma altura (H) sobre um conjunto constituído, de cima para baixo, por um batente, um
trem de varas e uma ponta cónica (cuja base tem área A), para que ocorra determinado
comprimento de penetração (L) (Matos Fernandes, 1995).
Os resultados dos ensaios, sob a forma de número de pancadas necessárias para penetrar 20cm
(N20) e de resistência dinâmica Rd apresentam-se na Figura 4.68. Os resultados mostram-se bastante
concordantes, sem grandes variações em função da localização, o que evidencia alguma
homogeneidade do maciço em estudo.
CAPITULO 4
162
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
0 10 20 30 40 50
N20 - DPSH
Prof
undi
dade
(m
)
DPSH1
DPSH2
DPSH3
DPSH4
DPSH5
DPSH6
a)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
0 10 20 30 40 50
Rd (MPa)
Prof
undi
dade
(m
)
DPSH1
DPSH2
DPSH3
DPSH4
DPSH5
DPSH6
b)
Figura 4.68 – Resultados dos DPSH: a) nº de pancadas N20 e b) resistência dinâmica Rd (MPa)
4.5.7 Extracção das estacas
O trabalho de campo terminou com uma escavação generalizada do maciço em torno das estacas
ensaiadas. Com este trabalho foi possível confirmar as dimensões das estacas, verificar a sua
integridade e identificar correctamente o seu ponto de rotação.
O comprimento e o diâmetro real das estacas ensaiadas apresentam-se resumidos no Quadro 4-X.
Não se procedeu à extracção completa das estacas de 22m pelo que foi este o comprimento
adoptado.
Quadro 4-X – Características geométricas das estacas
Designação E0 E1, E7 e E8 T2 C2
Secção (mm) 0,605 0,610 0,605 0,35x0,35
Comprimento total (m) 5,90 22,00 6,16 6,47
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
163
Em sequência apresentam-se alguns registos fotográficos da extracção das estacas ensaiadas, bem
como das rótulas plásticas formadas nas estacas E0, C2 e E8, cuja localização em profundidade se
encontra resumida no Quadro 4-XI. Pela inspecção visual realizada à superfície lateral das restantes
estacas não foi perceptível a formação de rótulas.
Quadro 4-XI – Resumo da localização das rótulas plásticas desenvolvidas nas estacas
Localização da rótula plástica E0 C2 E8
desnível entre face inferior do maciço e
a superfície do terreno (m) 0,32 0,16 0,39
profundidade do início e do fim da rótula
em relação à superfície do terreno (m) 1,00 / 2,14 0,55 / 1,21 0,66 / 1,51
profundidade média da rótula
em relação à superfície do terreno (m) 1,57 0,88 1,08
Na Figura 4.69 retrata-se a estaca E0. A rótula plástica formada é bem visível, tem uma extensão de
1,14m e inicia-se a 1,32m da face inferior do maciço de encabeçamento, localizando-se em
concordância com a gama de profundidades previstas pelos métodos de determinação da
capacidade última da estaca (ver ponto 4.5.1). Não se encontraram deficiências de construção, a
secção transversal da estaca é constante e a qualidade do betão aparenta ser homogénea.
a)
b) c)
Figura 4.69 - Estaca E0: a) estaca inserida no terreno; b) localização da rótula plástica; e, c) pormenor da
rótula plástica formada
A Figura 4.70 ilustra a extracção da estaca cravada C2, podendo verificar-se alguma
heterogeneidade do terreno com a existência de zonas com uma coloração mais clara. Na mesma
figura, apresenta-se o movimento relativo entre a estaca e o solo envolvente, com a separação
entre estes, na face posterior da estaca. A rótula plástica formada a 0,71m da face inferior do
1,14m
1,32m
CAPITULO 4
164
maciço de encabeçamento da estaca e com uma extensão de 0,66m é ilustrada na Figura 4.72c) e
d). Pelos métodos utilizados para a previsão da capacidade última desta estaca, determinaram-se
para a sua posição profundidades entre 0,88m e 1,16m (ver ponto 4.5.1).
b)
c)
a) d)
Figura 4.70 – a) Extracção da estaca C2; b) pormenor do solo superficial resultante do ensaio de carga; c)
localização da rotula plástica; e, d) pormenor da rotula plástica
A Figura 4.71 mostra as estacas E7 e E8 inseridas no terreno. Na estaca E8 formou-se uma rótula a
1,05m de distância da face inferior do maciço de encabeçamento com uma extensão de 0,85m,
situação que não foi verificada nas restantes estacas longas. Repare-se que o ensaio entre a estaca
E7 e a C2 não envolveu o mesmo nível de carregamento efectuado no ensaio da estaca T2 contra a
E8. No entanto, no ensaio entre as estacas E1 e E0, as forças máximas envolvidas foram de cerca de
10% superiores. É ainda de constatar a diferença da aparência do betão da superfície lateral da
estaca E8 relativamente, por exemplo, à da estaca E0.
0,71m 0,66m
CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
165
Pela diferença de comportamento exibido por esta estaca relativamente às restantes, não se
procederá no próximo capítulo à sua simulação numérica.
a)
b)
c)
Figura 4.71 – a) Extracção das estacas E7 e E8; b) localização da rótula plástica na estaca E8; e, c) pormenor da
rótula plástica da estaca E8
Para finalizar, apresenta-se na Figura 4.72 a estaca de trado T2 onde se retrata a forma da sua
extremidade inferior, resultante do processo construtivo.
a) b)
Figura 4.72 – Estaca T2: a) estaca extraída do terreno; b) pormenor da extremidade
1,05m 0,85m
167
5 SIMULAÇÃO NUMÉRICA DOS ENSAIOS REALIZADOS NO CAMPO EXPERIMENTAL DA FEUP
Em capítulos anteriores descreveram-se os métodos mais utilizados para a previsão do
comportamento de estacas isoladas, solicitadas horizontalmente e apresentaram-se os ensaios
realizados no Campo Experimental da FEUP, bem como os seus resultados. No presente capítulo
realiza-se uma simulação numérica das estacas ensaiadas.
Para o efeito foi utilizado o método das curvas p-y, implementado num programa de cálculo
comercial designado por Florida-Pier (versão 2), desenvolvido por Mark Hoit, Cliff Hays, Mike
MacVay e Mark Williams, em conjunto com a Divisão de Estruturas do Departamento de Transportes
da Florida (Florida Department of Transportation – FDOT).
5.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE O PROGRAMA FLORIDA-PIER
O Florida-Pier é um programa de elementos finitos que permite uma análise não linear do solo e da
estaca, sendo a solução do problema de interacção resolvida de forma iterativa incremental,
utilizando o método da secante.
A formulação implementada neste programa permite a modelação do elemento de estaca
recorrendo a elementos discretos tridimensionais, considerando não linearidade física e geométrica.
Estes elementos foram desenvolvidos por Mitchell (1973) e modificados por Andrade (1994), segundo
Hoit et al. (1996).
O modelo que define estes elementos discretos, que permitem a flexão nos dois planos, torção e
deformações axiais, pode, por analogia, ser representado pelo esquema da Figura 5.1. Este modelo
é constituído essencialmente por quatro blocos. Os dois blocos centrais podem rodar e mover
axialmente entre si, estando cada um deles ligado a um bloco extremo por uma junta. Esta junta
permite flexão em torno dos eixos y e z, pelo alongamento e compressão de molas apropriadas. Os
blocos centrais são alinhados por uma peça tubular que é fixa num dos blocos e que corre numa
cavidade existente no outro. No fundo da cavidade referida existe uma mola helicoidal que limita os
movimentos axiais e de torção.
CAPITULO 5
168
xz
molajunta
M1 M3
planta
h/2 h h/2
blocos centrais
x
alçado
M2
bloco extremo
M4
bloco extremo
y
h/2 h/2h
Figura 5.1 – Modelo mecânico dos elementos discretos (adaptado de Hoit et al., 1996)
O comportamento das molas, que simulam o comportamento não linear dos elementos discretos, é
definido a partir da integração, sobre a secção transversal da estaca, das leis constitutivas dos seus
materiais. Para isso, a secção transversal da estaca é discretizada em filamentos, de acordo com o
esquema de princípio ilustrado na Figura 5.2, materializando a possibilidade de o modelo ser
aplicado a elementos de secção transversal qualquer, com diferentes materiais constituintes.
varão(integração 1x1)
discretização da
a) secção transversal circular a) secção transversal rectangular
(integração 1x1)varão
secção de betão discretização dasecção de betão
Figura 5.2 – Discretização das secções transversais da estaca em filamentos (adaptado de Hoit et al., 1996)
A discretização do solo pode ser feita em várias camadas com a possibilidade de este ser modelado
por leis pré-definidas ou por curvas p-y introduzidas pelo utilizador, por um conjunto de pares
ordenados (p,y). A interacção do solo é considerada através de molas não lineares acopladas à
estaca, cuja rigidez é determinada a partir das curvas p-y definidas (Hoit et al., 1996).
5.2 MODELO DE CÁLCULO
Na versão do programa utilizada, a discretização longitudinal da estaca encontra-se limitada à
utilização de 47 elementos de iguais dimensões, pelo que foi esta a malha adoptada em todos os
estudos efectuados.
O solo foi discretizado em camadas, definindo-se a curva p-y para o topo e a base de cada camada.
O programa utiliza então uma interpolação linear para definir, para cada nó da estaca, a curva p-y
correspondente.
SIMULAÇÃO NUMÉRICA
169
Para se obter os deslocamentos no maciço e no comprimento da estaca não embebido no solo, foi
considerada uma camada de solo de resistência nula desde o topo do maciço até à superfície do
terreno.
Para profundidades até aproximadamente seis metros, medidos a partir da superfície do terreno, o
solo foi modelado por camadas de 0,5m de espessura. Entre os seis e os onze metros, profundidade
onde se localiza o nível freático, considerou-se apenas uma camada de solo. No caso da estaca E1,
foi ainda considerada uma camada entre os 11m e os 28m. A discretização adoptada é ilustrada na
Figura 5.3, referindo-se as cotas à face superior do maciço de encabeçamento.
Para cada estaca foram definidas as secções correspondentes quer ao maciço de encabeçamento,
quer à estaca propriamente dita. Assim, definiram-se duas secções para a modelação das estacas
E0, T2 e C2 e três secções para a estaca E1, para ter em consideração a dispensa da armadura
longitudinal a partir dos 12 metros de profundidade.
1,32
1,82
2,32
2,82
3,32
3,82
4,32
4,82
5,32
5,82
6,32
6,82
7,32
12,32
cotas
1,28
1,78
2,28
2,78
3,28
3,78
4,28
4,78
5,28
5,78
6,28
6,78
7,28
12,28
cotas
1,12
1,62
2,12
2,62
3,12
3,62
4,12
4,62
5,12
5,62
6,12
6,62
7,12
12,28
cotas
1,31
1,81
2,31
2,81
3,31
3,81
4,31
4,81
5,31
5,81
6,31
6,81
7,31
12,31
cotas
29,31
1,081,00
1,01 ,96
Estaca E0 Estaca E1 Estaca T2 Estaca C2
,73
,59
,82
,49
,70
,58
,67
,45
Figura 5.3 – Discretização do solo para a modelação de cada estaca
As cargas foram aplicadas no nó mais próximo da sua aplicação real. Nos casos em que esta
coincidência não foi possível, dada a limitação da regularidade da dimensão dos elementos em que
a barra foi discretizada, optou-se pela aplicação de um carregamento equivalente, composto por
uma força e um momento flector, no nó imediatamente acima do ponto de aplicação real da carga.
No Quadro 5-I identificam-se as diferenças de cotas entre os pontos de aplicação do carregamento
CAPITULO 5
170
real e modelado. No Quadro 5-II e no Quadro 5-III ilustra-se a malha de cada estaca simulada, bem
como o carregamento adoptado.
Quadro 5-I – Identificação da diferença entre o ponto de aplicação do carregamento real e modelado e da excentricidade do carregamento
Estaca Cota de aplicação do carregamento (m) (1)
Cota do nó mais próximo (m) (1)
Identificação do nó
Δ (m) (2)
E0 0,73 0,73 6 0,59
E1 O,82 0,49 2 0,49
T2 0,70 0,61 5 0,58
C2 0,67 0,63 5 0,45 (1) A cota de referência (cota zero) é a do topo do maciço de encabeçamento
(2) Δ – distância entre o ponto de aplicação real da carga e a superfície do terreno
Quadro 5-II – Carregamento efectuado para as estacas E0 e E1 e respectivas malhas
Estaca E0 Estaca E1
Caso carga
Nó F
(kN) M
(kNm) Caso carga
Nó F
(kN) M
(kNm)
1 6 50 0,00 1 2 50 16,50
2 6 100 0,00 2 2 100 33,00
3 6 150 0,00 3 2 150 49,50
4 6 200 0,00 4 2 200 66,00
5 6 250 0,00 5 2 250 82,50
6 6 300 0,00 6 2 300 99,00
7 6 325 0,00 7 2 325 107,25
8 6 350 0,00 8 2 350 115,50
9 6 375 0,00 9 2 375 123,75
10 6 400 0,00 10 2 400 132,00
11 6 425 0,00 11 2 425 140,25
12 6 450 0,00 12 2 450 148,50
13 6 475 0,00 13 2 475 156,75
14 6 500 0,00 14 2 500 165,00
Malha E0
15 6 520 0,00
Malha E1
15 2 520 171,60
SIMULAÇÃO NUMÉRICA
171
Quadro 5-III - Carregamento efectuado para as estacas T2 e C2 e respectivas malhas
Estaca T2 Estaca C2
Caso carga
Nó F
(kN) M
(kNm) Caso carga
Nó F
(kN) M
(kNm)
1 5 50 4,50 1 5 15 0,60
2 5 100 9,00 2 5 30 1,20
3 5 150 13,50 3 5 45 1,80
4 5 200 18,00 4 5 60 2,40
5 5 250 22,50 5 5 75 3,00
6 5 300 27,00 6 5 90 3,60
7 5 350 31,50 7 5 105 4,20
8 5 400 36,00 8 5 120 4,80
- - - - 9 5 135 5,4
Malha T2 e C2
- - - - 10 5 150 6,00
5.3 MODELAÇÃO DO COMPORTAMENTO DOS MATERIAIS DAS ESTACAS
5.3.1 Lei constitutiva do betão à compressão
Para simular o comportamento do betão à compressão uniaxial foi adoptada uma lei de
comportamento de acordo com o preconizado no código modelo CEB-fib1990 (MC90).
O efeito do confinamento conferido pelas armaduras transversais foi considerado em todas a
simulações com a excepção da estaca cravada. Neste caso o elevado espaçamento entre os estribos
proporciona um pequeno efeito de cintagem revelando-se o seu comportamento mais próximo de
um modelo não confinado.
De acordo com o MC90 a relação tensão–extensão do betão não confinado pode ser determinada
recorrendo às expressões (5.1) e (5.2), que representam na Figura 5.4 os troços da curva
desenhados a cheio e a traço interrompido.
CAPITULO 5
172
fcm
Ec1
Eci
εc1 εc,lim εc
σc
Figura 5.4 – Diagrama tensão–extensão para betão não confinado sujeito a compressão uniaxial (MC90)
Para εc ≤ εc,lim
2
1 1 1
1 1
1 2
ci c c
c c cc cm
ci c
c c
EE
fEE
ε εε ε
σεε
⎛ ⎞⋅ − ⎜ ⎟
⎝ ⎠= − ⋅⎛ ⎞
+ − ⋅⎜ ⎟⎝ ⎠
(5.1)
Para εc > εc,lim ( )
12
2,lim 1 1 ,lim 1 1,lim 1
1 2 4c cc cm
c c c c c cc c
fε εσ ξ ξ
ε ε ε ε ε εε ε
−⎡ ⎤⎛ ⎞ ⎛ ⎞⎛ ⎞ ⎛ ⎞⎢ ⎥⎜ ⎟= − ⋅ − ⋅ + − ⋅ ⋅⎜ ⎟⎜ ⎟ ⎜ ⎟⎜ ⎟⎢ ⎥⎜ ⎟ ⎝ ⎠ ⎝ ⎠⎝ ⎠⎝ ⎠⎣ ⎦
(5.2)
em que,
Eci é o módulo de elasticidade tangente inicial;
σc é a tensão de compressão;
εc é a extensão de compressão do betão;
εc1 vale 0,0022;
Eci é o módulo de elasticidade secante desde a origem até ao pico definido pela tensão fcm;
εc,lim é a extensão correspondente a uma tensão equivalente a metade de fcm, que se determina pela
expressão (5.3);
ξ é determinado pela expressão (5.4).
1/22
,lim
1 1 1
1 1 1 1 11 1
2 2 4 2 2c ci ci
c c c
E EE E
εε
⎡ ⎤⎛ ⎞ ⎛ ⎞= ⋅ ⋅ + + ⋅ ⋅ + −⎢ ⎥⎜ ⎟ ⎜ ⎟
⎢ ⎥⎝ ⎠ ⎝ ⎠⎣ ⎦
(5.3)
2
,lim ,lim
1 1 1 1
2
,lim
1 1
4 2 2
2 1
c cci ci
c c c c
c ci
c c
E EE E
EE
ε εε ε
ξεε
⎡ ⎤⎛ ⎞ ⎛ ⎞⋅ ⋅ − + ⋅ −⎢ ⎥⎜ ⎟ ⎜ ⎟⎢ ⎥⎝ ⎠ ⎝ ⎠⎣ ⎦=
⎡ ⎤⎛ ⎞⋅ − +⎢ ⎥⎜ ⎟⎝ ⎠⎣ ⎦
(5.4)
Para ter em consideração o confinamento conferido pelas armaduras transversais foi utilizada a
curva apresentada na Figura 5.5, determinando-se as grandezas nela definidas pelas expressões
(5.5) a (5.8), sendo σ2 a tensão lateral efectiva, ww a razão volumétrica do aço confinante e α um
factor redutor que expressa a área efectiva de betão que se encontra confinado.
SIMULAÇÃO NUMÉRICA
173
σc
εc
com confinamento
sem confinamento
εc1 εc,85 εc1* εc,85*
fcc*
fcc0,85 fcc
w w=0
w w
Figura 5.5 – Aproximação da relação tensão-extensão para betão confinado (MC90)
σ2/fcm < 0,05 * (1 2,5 )cm cm wf f wα= ⋅ + ⋅ ⋅ (5.5)
σ2/fcm > 0,05 * (1,125 1,25 )cm cm wf f wα= ⋅ + ⋅ ⋅ (5.6)
( )21 1* *c c cm cmf fε ε= + (5.7) 0,85 0,85* 0,1c c wwε ε α= + ⋅ ⋅ (5.8)
5.3.2 Lei constitutiva do betão à tracção
Quando submetido à tracção uniaxial, o betão apresenta um comportamento elástico e linear até
ser atingida a sua capacidade resistente, seguindo-se o início de fendilhação que marca a passagem
para um estado de comportamento manifestamente não linear, com uma perda brusca de
resistência, no qual o betão simples desenvolve uma limitada capacidade de retenção de tensões de
tracção. Esta é determinada pela capacidade de absorção de energia, ou energia de fractura (GF),
do material e pelas características das armaduras que atravessam o elemento fendilhado,
diminuindo com o aumento do estado de deformação.
σct
εct
fctm
αfctm
b1εcrεcr b2εcr
Eci
gf =Gf/lb
Figura 5.6 - Diagrama idealizado do comportamento à tracção uniaxial de um elemento de betão
CAPITULO 5
174
A energia de fractura é definida como a energia necessária para propagar uma fenda de tracção por
unidade de área. A sua determinação poderá, segundo o MC90, ser realizada recorrendo à expressão
(5.9):
0,70 ( /10)F F cmG G f= ⋅ (5.9)
em que,
GF0 é função do diâmetro máximo do inerte que constitui o betão;
fcm é o valor médio da resistência à compressão do betão em MPa.
A área definida desde a resistência de pico e a extensão última à tracção no diagrama tensão-
extensão é equivalente à razão entre a energia de fractura e a largura da banda de fendilhação (lb)
que, para o caso de modelos de secção, poderá ser estimada como sendo igual a três vezes a
dimensão do maior inerte (Bazant e Oh, 1983), tal que:
3
FF
máx inerte
Gg
D −
=⋅
(5.10)
De uma forma geral, no caso de elementos de betão simples, a lei que governa o comportamento do
betão fendilhado designa-se por amolecimento em tracção (tension - softening), enquanto que, no
caso de elementos de betão armado em que a influência das armaduras é relevante, o
comportamento é determinado por uma lei de endurecimento em tracção (tension - stiffening) de
acordo com o ilustrado na Figura 5.7.
σct σct
εct εct
fctm
α1fctm
α2fctm
fctm
α2fctm
α1fctm
β1εcrεcr β2εcr εu β2εcrεcr β1εcr εu
(1)
(2)
(3)
(1) Estabilização da fendilhação
(2) Plastificação da armadura na fenda
(3) A extensão média alcança a extensão de cedência da armadura
Figura 5.7 – Modelos de comportamento à tracção do betão pós-pico: a) tension-softening e b) tension-
stiffening (adaptado de Barros e Fortes, 2004)
No caso das estacas em estudo, uma vez que o programa de cálculo utilizado apenas possibilita a
consideração de uma lei de comportamento para o betão e atendendo a que apenas a periferia das
estacas se encontra armada, foi adoptado o modelo de tension-softening.
SIMULAÇÃO NUMÉRICA
175
5.3.3 Comportamento do aço
Para o aço adoptou-se um modelo tri-linear composto por: um troço linear da origem até à tensão
de cedência (fsyk) com a inclinação dada pelo módulo de elasticidade do aço; um segundo troço
exibindo endurecimento atingindo a tensão de rotura (fsuk) para a extensão de 10‰ e o último troço
a tensão constante até uma extensão máxima de 30‰.
5.3.4 Grandezas adoptadas no cálculo
No Capítulo 4 foram deduzidas as principais propriedades do betão. No entanto, quando os ensaios
de carga foram realizados, as estacas tinham uma idade aproximada de sete meses (210 dias). Assim
os valores apresentados no quadro 4-V foram alterados de forma a considerar o envelhecimento do
betão, seguindo as indicações do EC2.
Adicionalmente, após a escavação generalizada do maciço e da remoção das estacas, foram
extraídos carotes das estacas E9, E1 e T2. Sobre estes carotes foram realizados ensaios para
avaliação do módulo de elasticidade dos respectivos materiais. Os valores obtidos foram de
28,07GPa para a estaca E9, 26,16GPa para a estaca E1 e 37,29GPa para a estaca T2. Neste caso
procedeu-se a uma metodologia inversa para a consideração do efeito da idade, transpondo para a
data do ensaio os resultados obtidos, ou seja de 720 dias para 210 dias de idade.
Estas características estão sistematizadas no Quadro 5-IV, tendo-se considerado no cálculo o valor
de Ecm determinados pelos ensaios respectivos para as estacas moldadas e para a de trado contínuo.
Na ausência da realização deste ensaio para a estaca cravada foi utilizado o valor deduzido a partir
da resistência à compressão do betão utilizado.
Quadro 5-IV Propriedades do betão aos 210 dias
Estaca fcm (MPa) fctm (MPa) Ecm (GPa) determinado a partir de fcm
Ecm (GPa) ensaio dos provetes
Ecm (GPa) adoptado no
cálculo
E 36,0 2,7 32,3 26,8 26,8
T 60,9 4,1 37,9 36,8 36,8
C 62,1 2,9 (1) 38,1 - 38,1
(1) Na estaca C2 optou-se por utilizar o valor característico da resistência à tracção
Para proceder à aplicação do modelo que relaciona a tensão e a deformação do betão confinado
foram determinadas as grandezas definidas no ponto 5.3.1. O Quadro 5-V resume os valores obtidos
para estas grandezas.
CAPITULO 5
176
Quadro 5-V – Parâmetros do betão confinado
Estaca ww α σ2 (MPa) fcm* (MPa) εc1* (‰) εco,85* (‰)
E0 0,1274 0,8986 2,3 45,6 3,54 14,27
E1 <12m 0,1261 0,8996 2,3 45,6 3,53 14,17
E1 >12m 0,0631 0,7992 1,1 40,5 2,79 7,86
T2 0,0520 0,8990 1,6 68,1 2,74 7,27
Para finalizar a caracterização do comportamento do betão é necessário caracterizá-lo à tracção.
Como já foi referido o modelo utilizado após pico foi o de tension-softening.
Os parâmetros α1, α2, β1 e β2 adoptados foram baseados nos utilizados por Barros e Fortes (2004) na
caracterização de vigas com e sem reforço com laminados de carbono. O valor destes parâmetros é
respectivamente 0,4, 0,2, 2,0 e 10,0.
Definida a resistência à tracção de pico e o módulo de elasticidade, a extensão correspondente ao
início da fendilhação tem determinação imediata. A extensão última em tracção é definida após
fixação dos restantes parâmetros em função de gf.
No Quadro 5-VI apresentam-se os valores adoptados para as diferentes estacas.
Quadro 5-VI – Propriedades do betão à tracção
Estaca Dmax-inerte
(mm) GF0
(kNm/m2) GF
(kNm/m2) gf
(kN/m2)
fctm (MPa)
εcr (‰)
εu (‰)
E 25 0,045 0,110 1,462 2,7 0,10 3,38
T 25 0,045 0,159 2,114 4,1 0,11 2,80
C 20 0,036 0,129 2,155 2,9 0,08 5,66
Para terminar, apresentam-se no Quadro 5-VII as características mecânicas das armaduras
longitudinais utilizadas no fabrico das estacas ensaiadas.
Quadro 5-VII – Parâmetros do aço
Estaca fsyk (MPa) fsuk (MPa) Es (GPa)
E 500 550 200
T 500 550 200
C 400 460 200
SIMULAÇÃO NUMÉRICA
177
As curvas momento–curvatura definidas para as várias estacas, adoptando os parâmetros do betão e
do aço referidos anteriormente, apresentam-se na Figura 5.8.
0
100
200
300
400
500
600
700
0,0E+00 5,0E-03 1,0E-02 1,5E-02 2,0E-02 2,5E-02 3,0E-02 3,5E-02
curvatura (1/m)
Mom
ento
(kN
m)
Rigidez variávelRigidez constante
a)
0
100
200
300
400
500
600
700
0,0E+00 5,0E-03 1,0E-02 1,5E-02 2,0E-02 2,5E-02 3,0E-02 3,5E-02
curvatura (1/m)
Mom
ento
(kN
m)
Rigidez variável (até aos 12m)
Rigidez variável (dos 12 aos 22m)Rigidez constante
b)
0
100
200
300
400
500
600
700
800
0,0E+00 5,0E-03 1,0E-02 1,5E-02 2,0E-02 2,5E-02 3,0E-02 3,5E-02
curvatura (1/m)
Mom
ento
(kN
m)
Rigidez variável
Rigidez constante
c)
0
20
40
60
80
100
120
0,0E+00 5,0E-03 1,0E-02 1,5E-02 2,0E-02 2,5E-02 3,0E-02 3,5E-02
curvatura (1/m)
Mom
ento
(kN
m)
Rigidez variável
Rigidez constante
d) Figura 5.8 – Curvas momento-curvatura: a) estaca E0; b) estaca E1; c) estaca T2; e, d) estaca C2
5.4 MODELAÇÃO DO COMPORTAMENTO DO SOLO E APRESENTAÇÃO DOS
RESULTADOS DA SIMULAÇÃO
A modelação do solo foi efectuada, utilizando quatro das curvas p-y descritas no Capítulo 3 deste
trabalho. Inseridas nos métodos baseados em ensaios laboratoriais e correlações empíricas,
utilizaram-se as curvas p-y para areias de Reese et al. (1974) e o método dos três troços proposto
por Santos (1999). Dos métodos baseados em ensaios in situ, foram utilizados o de Ménard et al.
(1969) a partir dos resultados dos ensaios pressiométricos e o de Robertson et al. (1989) para
ensaios com o dilatómetro.
5.4.1 Avaliação dos parâmetros do solo
Uma vez que a maioria dos métodos referidos utilizam o ângulo de atrito do solo, compila-se no
Quadro 5-VIII os valores obtidos no Capítulo 4 para esta grandeza.
CAPITULO 5
178
Quadro 5-VIII – Valores do ângulo de atrito
Ângulo de atrito φ (º) Ensaio Proposta
antes da cravação das
estacas “C” depois da cravação das
estacas “C”
Compressão 45,8 (c’= 4,5kPa) - Triaxiais
Tracção 28,0 (c’=12,3kPa) -
GCO (1982) 40 - SPT
Décourt (1989) 38 -
CPT Robertson e Campanella (1983) 41 42
DMT Campanella e Robertson (1991) 44 45
Para o módulo de reacção, no domínio das muito pequenas deformações, foi realizada uma
comparação adoptando a expressão (3.4) proposta por Vesic (1961) multiplicada por 2 e a expressão
(3.5) proposta por Santos (1993). Em ambos os casos foram considerados os valores do módulo de
distorção do solo obtido através dos ensaios Cross-Hole (CH). Não foi utilizado o módulo de
distorção do solo deduzido a partir da coluna ressonante (RC) e ensaios triaxiais com a utilização de
bender-elements (BE), uma vez que o processo de amostragem afectou esta propriedade do solo. A
sensibilidade à amostragem deste tipo de solos já tinha sido constatada e analisada por Viana da
Fonseca e Ferreira (2002).
Adicionalmente determinou-se o módulo de reacção proposto por Ménard et al. e, admitindo uma
lei constante em profundidade para a rigidez do solo, calculou-se o valor de K por retroanálise, para
as várias estacas ensaiadas, utilizando as expressões analíticas do modelo de Winkler.
No que se segue, exemplifica-se para a estaca E1 a metodologia realizada na retroanálise. Para o
menor carregamento efectuado neste ensaio, a que corresponde, à superfície do terreno, a
aplicação de uma força de 50kN e um momento concentrado de 24,5kNm, mediu-se um
deslocamento também à superfície do terreno de 1,3mm. Determinou-se o valor de 46MN/m2 para o
módulo de reacção do solo, igualando o deslocamento medido ao calculado pela expressão (5.11),
referente a estaca longa ou flexível. O valor de λ foi definido pela expressão (2.31).
22 2F M
yK K
λ λ⋅ ⋅ ⋅ ⋅= + (5.11)
No Quadro 5-IX resumem-se os resultados obtidos pela retroanálise para as várias estacas.
SIMULAÇÃO NUMÉRICA
179
Quadro 5-IX – Valores de K deduzidos por retroanálise
Estaca F (kN) M (kNm) y (mm) γ K (MN/m2) λL Tipo de estaca
E0 50 29,5 1,4 1,1x10-3 45 2,7 semi-flexível
E1 50 24,5 1,3 1,1x10-3 46 10,4 longa ou flexível
T2 50 29,0 1,4 1,1x10-3 41 2,6 semi-flexível
C2 15 6,75 1,4 2,0x10-3 13 3,3 longa ou flexível
A evolução do módulo de reacção do solo em profundidade, para as diversas propostas
apresentadas, ilustra-se na Figura 5.9.
0
1
2
3
4
5
6
0 200 400 600 800 1000
K (MN/m2)
z (m
)
Valores de K para a superfície do terreno
Proposta K (MN/m2)
CH - Vesic 349
CH - Santos 725
PMT - Ménard et al. 37
Retroanálise - Winkler
(Média das estacas E0, E1 e T2)44
Nota: as propostas apresentadas não se referem aos mesmos níveis de deformação
CH - Vesic, 1961
CH - Santos, 1993
PMT - Ménard et al., 1969
Retroanálise
Reese et al., 1974
Figura 5.9 – Evolução de K em profundidade e valores para a profundidade nula
A proposta de Vesic afectada do coeficiente 2 e a de Santos diferem aproximadamente do dobro
para os valores do módulo de distorção do solo em estudo. Os valores claramente inferiores de K
obtidos a partir da proposta de Ménard et al. e por retroanálise devem-se ao nível de distorção em
causa. O ensaio pressiométrico está associado a níveis de distorção entre 10-3 e 10-2 e para a
CAPITULO 5
180
retroanálise efectuada para as estacas E0, E1 e T2, a distorção foi avaliada em 1,1x10-3, a partir do
diâmetro da estaca e do deslocamento utilizando a expressão (3.65). Com o intuito de
enquadramento das propostas, poder-se-á assumir que os níveis de distorção associados aos valores
de K das propostas de Vesic e de Santos são da ordem dos 10-6.
Nas simulações numéricas efectuadas e consoante o método aplicado foram adoptados diferentes
parâmetros para o solo que se apresentam conjuntamente com os resultados obtidos. A justificação
para adopção de parâmetros distintos prende-se com a calibração efectuada aquando da definição
de cada método.
Para todos os parâmetros do solo que variam em profundidade foi considerada, como cota de
referência para a sua determinação, a da plataforma do terreno. No entanto, como foi escavado o
terreno por baixo dos maciços de encabeçamento das estacas, a contribuição da resistência do solo
sob a forma da curva p-y apenas foi considerado a partir da cota definida após a escavação referida.
5.4.2 Métodos baseados em ensaios laboratoriais e correlações empíricas
5.4.2.1 Aplicação do método de Reese et al. (1974)
O método de Reese et al. (1974) desenvolvido para areias foi aplicado ao estudo das estacas
ensaiadas, utilizando os parâmetros aconselhados pelos autores para as diferentes grandezas que
definem a curva p-y.
Admitindo que o solo em estudo é medianamente compacto, foi utilizado para a taxa de variação do
módulo de reacção em profundidade o valor de 24,4MN/m3. Para o coeficiente de impulso em
repouso adoptou-se o valor de 0,45 como estimado no ponto 4.4.3.4.1.
Os cálculos foram efectuados admitindo para o ângulo de atrito os valores de 40º, 43º e 45º. O
objectivo, para além de avaliar a influência deste parâmetro na aplicação do método em análise,
era o de cobrir a gama de valores obtida para o ângulo de atrito, tanto pelos ensaios laboratoriais
como por correlação com os ensaios in situ.
A título de exemplo apresentam-se na Figura 5.10 as curvas p-y definidas para a estaca E0 para
profundidades até 3,0m, relativas à adopção de um ângulo de atrito de 40º.
SIMULAÇÃO NUMÉRICA
181
0
200
400
600
800
1000
1200
0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12
y (m)
p (k
N/m
)
z=0,0m
z=0,5m
z=1,0m
z=1,5m
z=2,0m
z=2,5m
z=3,0m
Figura 5.10 – Curvas p-y para profundidades até 3,0m para φ de 40º (estaca E0)
Na Figura 5.11 apresentam-se os deslocamentos medidos e calculados para cada estaca, à cota dos
transdutores de deslocamento.
0
20
40
60
80
100
120
0 20 40 60 80 100 120deslocamento medido (mm)
desl
ocam
ento
cal
cula
do (
mm
)
E0 - caso 300
E0- Caso 301
E0-Caso Æ 302
φ = 40º
φ = 43º
φ = 45º
Estaca E0
0
20
40
60
80
100
120
0 20 40 60 80 100 120deslocamento medido (mm)
desl
ocam
ento
cal
cula
do (
mm
)
E1 - caso 300
E1- Caso 301
E1-Caso 302
φ = 40º
φ = 43º
φ = 45º
b) Estaca E1
0
20
40
60
80
100
0 20 40 60 80 100deslocamento medido (mm)
desl
ocam
ento
cal
cula
do (
mm
)
T2 - caso 300
T2- Caso 301
T2-Caso 302
φ = 40º
φ = 43º
φ = 45º
c) Estaca T2
0
20
40
60
80
0 20 40 60 80deslocamento medido (mm)
desl
ocam
ento
cal
cula
do (
mm
)
C2 - caso 300
C2- Caso 301
C2-Caso 302
φ = 40º
φ = 43º
φ = 45º
d) Estaca C2
Figura 5.11 – Comparação dos deslocamentos medidos e calculados pelo método de Reese et al. (1974) para as
várias estacas ensaiadas
CAPITULO 5
182
De uma forma geral pode considerar-se que o método de Reese et al., conforme foi aplicado,
sobrestima os deslocamentos na cabeça das estacas. As estacas cravada e de trado são bem
aproximadas adoptando um ângulo de atrito de 43º a 45º. No entanto, nas estacas moldadas o
desempenho do método diminui bastante. Tomando como exemplo a estaca E1 e adoptando um φ'
de 45º, os deslocamentos medidos à cabeça são sobrestimados em cerca de 40% a 100%.
A sobrestimação dos deslocamentos é mais acentuada para pequenos carregamentos, resultante da
adopção, para pequenas profundidades, de valores demasiadamente baixos para o módulo de
reacção. Note-se que para baixos níveis de carregamento os deslocamentos calculados são
praticamente independentes do ângulo de atrito considerado.
5.4.2.2 Aplicação do método dos três troços (Santos, 1999)
A maior flexibilidade que o método dos três troços (Santos, 1999) apresenta, levou a aplicá-lo na
simulação do comportamento das várias estacas ensaiadas, fazendo-se uma análise de sensibilidade
aos parâmetros que o definem.
Assim, para o módulo de reacção máximo foram consideradas duas hipóteses. Na primeira hipótese,
deduziu-se o valor do módulo de reacção máximo (que se designou por K1) a partir da expressão
(3.5) proposta por Santos (1993), adoptando o módulo de distorção do solo obtido pelos ensaios CH.
Numa segunda hipótese, utilizou-se um valor cinco vezes inferior do que o primeiro, ao qual se
designou K2. Assim:
( )7
1 0
1 3 4310 1 com ( ) 0,218 ' ( ) 127,8
4ss
v
GK G G MPa kPa
Eνν σ
⋅ + ⋅⋅⎛ ⎞= ⋅ ⋅ + ⋅ = ⋅ +⎜ ⎟⎝ ⎠
(5.12)
2 1 5K K= (5.13)
Para a resistência última do solo utilizou-se uma variante à proposta de Fleming, definida pela
expressão (5.14). O coeficiente de impulso passivo de Rankine (Kp) foi determinado para φ=43º e
φ=45º e para o expoente da expressão adoptaram-se dois valores de n: n=1 e n=0,4.
2 nu pp K B zγ= ⋅ ⋅ ⋅ (5.14)
A utilização de uma expressão exponencial de variação de pu com a profundidade foi considerada de
forma a poder simular uma maior resistência do solo para pequenas profundidades. A escolha do
valor 0,4 para o expoente foi fundamentada pela análise da variação da resistência última do solo
determinada pelo método de Ménard et al. (ver Figura 5.25).
SIMULAÇÃO NUMÉRICA
183
O valor de 40º não foi testado, uma vez que havia apresentado resultados demasiadamente
conservativos aquando da aplicação do método de Reese et al. (1974).
O deslocamento elástico limite ye foi definido adoptando para a distorção última do solo os valores
de γu = 2% e γu = 3%.
No Quadro 5-X discriminam-se as 16 análises efectuadas e faz-se a correspondência destas com os
parâmetros adoptados para o solo.
Quadro 5-X – Identificação dos modelos efectuados
Modelo γu (1) (2)
K n φ’ (º) (1) (2)
Modelo 1 Modelo 1A K1 1,0 43 2% 3%
Modelo 2 Modelo 2A K1 1,0 45 2% 3%
Modelo 3 Modelo 3A K1 0,4 43 2% 3%
Modelo 4 Modelo 4A K1 0,4 45 2% 3%
Modelo 5 Modelo 5A K2 1,0 43 2% 3%
Modelo 6 Modelo 6A K2 1,0 45 2% 3%
Modelo 7 Modelo 7A K2 0,4 43 2% 3%
Modelo 8 Modelo 8A K2 0,4 45 2% 3%
A título de exemplo apresenta-se na Figura 5.12, as curvas p-y definidas pelo método dos três
troços, para a estaca E0, até profundidades de 3,0m, adoptando um ângulo de atrito de 43º e um
expoente de 1,0 e 0,4.
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1
y (m)
p (k
N/m
)
z=0,0m z=0,5m z=1,0m z=1,5m
z=2,0m z=2,5m z=3,0m
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
0 0,02 0,04 0,06 0,08 0,1
y (m)
p (k
N/m
)
z=0,0m z=0,5m z=1,0m z=1,5mz=2,0m z=2,5m z=3,0m
a) b)
Figura 5.12 – Curvas p-y pelo método dos três troços até 3m de profundidade: a) φ =43 e n=1 e b) φ =43 e n=0,4
CAPITULO 5
184
Para uma melhor exposição dos resultados obtidos, estes apresentam-se separadamente para as
várias estacas ensaiadas.
5.4.2.2.1 Modelação da estaca E0
Na Figura 5.13 representam-se conjuntamente os deslocamentos calculados para a cabeça da estaca
E0, com os deslocamentos medidos correspondentes.
A primeira conclusão a reter da análise desta figura é que a consideração de um valor cinco vezes
inferior para o módulo de reacção máximo, praticamente não altera os resultados obtidos. Ou seja,
a consideração do valor do módulo de reacção elástico como referência, quando da integração da
não linearidade, é fundamentalmente mais correcto. Tal será observado igualmente nas análises
que se seguem.
0
20
40
60
80
100
120
140
160
0 20 40 60 80 100 120 140 160
deslocamento medido (mm)
desl
ocam
ento
cal
cula
do (
mm
)
Modelo 1Modelo 2Modelo 3Modelo 4Modelo 5Modelo 6Modelo 7Modelo 8
a)
0
20
40
60
80
100
120
140
160
0 20 40 60 80 100 120 140 160
deslocamento medido (mm)
desl
ocam
ento
cal
cula
do (
mm
)
Modelo 1AModelo 2AModelo 3AModelo 4AModelo 5AModelo 6AModelo 7AModelo 8A
b)
Figura 5.13 – Relação entre os deslocamentos medidos e calculados na cabeça da estaca E0 à cota dos
transdutores do deslocamento: a) modelos que adoptam γu=2% e b) modelos que adoptam γu=3%
Verifica-se também que os modelos que consideram uma distorção última maior (γu igual a 3%)
conduzem a resultados semelhantes aos modelos que utilizam uma distorção última menor (γu igual
a 2%) e uma resistência do solo também menor. São exemplos disso os pares de modelos 1 e 2A e 3 e
4A. A justificação para este facto deve-se à semelhança das curvas de degradação do módulo de
reacção do solo com a distorção para os pares de modelos referidos, como ilustra a Figura 5.14,
para os modelos 1 e 2A. A razão para as respostas dadas por estes dois modelos começarem por
divergir para deslocamentos superiores a cerca de 40mm, a que corresponde uma distorção de cerca
de 3%, estará relacionada com a diferença das resistências consideradas por eles para estes níveis
de deformação, como se pode verificar pela Figura 5.15.
Nas análises seguintes, pelas razões de semelhança acima apresentadas, apenas se fazem referência
aos modelos que adoptam um valor de 2% para γu e K1 para o módulo de reacção, embora os
modelos que consideram deformações e ângulos de atrito maiores também pareçam um bom
compromisso.
SIMULAÇÃO NUMÉRICA
185
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,0E-07 1,0E-06 1,0E-05 1,0E-04 1,0E-03 1,0E-02 1,0E-01 1,0E+00
γ
k /
Kmax
z=0,0m
z=0,5m
z=1,0m
z=1,5m
z=2,0m
z=2,5m
z=3,0m
z=0,0m
z=0,5m
z=1,0m
z=1,5m
z=2,0m
z=2,5m
z=3,0m
Modelo 1
Modelo 2A
Figura 5.14 – Curva de degradação do módulo de reacção do solo com a distorção para o modelo 1 e 2A
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
0,0E+00 1,0E-02 2,0E-02 3,0E-02 4,0E-02 5,0E-02 6,0E-02 7,0E-02 8,0E-02 9,0E-02 1,0E-01 1,1E-01γ
p/z
(kN
/m2)
Modelo 1 todas as profundidades
Modelo 2A todas as profundidades
Figura 5.15 – Evolução da relação pu/z com a distorção para os modelos 1 e 2A
É importante referir que, apesar de à primeira vista os modelos 2 e 4 serem os que melhor
aproximam o comportamento da estaca E0 (ver Figura 5.13), esse facto não tem correspondência
com a resposta global. Analisando a Figura 5.16, que ilustra os deslocamentos medidos e calculados
para as várias profundidades, verifica-se que a adopção de um ângulo de atrito de 45º subestima a
avaliação dos deslocamentos ao longo do fuste da estaca.
Na realidade a estaca começa a deformar-se para profundidades maiores, mas os seus
deslocamentos crescem mais lentamente até à superfície. A adopção de um ângulo de atrito de 43º
aproxima melhor os deslocamentos em todo o comprimento da estaca, sendo o ajuste melhorado
com a utilização de uma lei exponencial (n=0,4) de variação da resistência última do solo em
profundidade. Este facto pode ser justificado pela estrutura interparticular cimentada existente
neste tipo de solos residuais que implicará para pequenas profundidades, correspondentes a baixos
níveis de confinamento, uma maior resistência quando comparada à dos solos puramente atríticos.
CAPITULO 5
186
F = 100kN
0
1
2
3
4
5
6
7
-2 0 2 4 6 8deslocamentos (mm)
Prof
undi
dade
(m
)
M odelo 1M odelo 2M odelo 3M odelo 4inclinómetro
LVDT
F = 200kN
0
1
2
3
4
5
6
7
-5 0 5 10 15 20 25deslocamentos (mm)
Prof
undi
dade
(m
)
M odelo 1M odelo 2M odelo 3M odelo 4inclinómetroLVDT
F = 300kN
0
1
2
3
4
5
6
7
-10 0 10 20 30 40 50deslocamentos (mm)
Prof
undi
dade
(m
)
M odelo 1M odelo 2M odelo 3M odelo 4inclinómetroLVDT
F = 350kN
0
1
2
3
4
5
6
7
-10 0 10 20 30 40 50 60deslocamentos (mm)
Prof
undi
dade
(m
)
M odelo 1M odelo 2M odelo 3M odelo 4inclinómetroLVDT
F = 400kN
0
1
2
3
4
5
6
7
-10 0 10 20 30 40 50 60 70 80deslocamentos (mm)
Prof
undi
dade
(m
)
M odelo 1M odelo 2M odelo 3M odelo 4inclinómetroLVDT
F = 450kN
0
1
2
3
4
5
6
7
-20 0 20 40 60 80 100 120deslocamentos (mm)
Prof
undi
dade
(m
)
M odelo 1
M odelo 2
M odelo 3
M odelo 4
inclinómetro
LVDT
Figura 5.16 – Deslocamentos em profundidade para a estaca E0, medidos e calculados (modelo 1 a 4),
correspondentes a carregamentos até 450kN
SIMULAÇÃO NUMÉRICA
187
Na Figura 5.17 representam-se os momentos flectores determinados pelos modelos 1 a 4, com a
localização da rótula plástica. De uma forma geral, a forma dos diagramas determinados está em
consonância com a localização da rótula plástica, identificada em 4.5.7.
0
1
2
3
4
5
6
7
-100 100 300 500 700
Momento-flector (kN.m)
Prof
undi
dade
(m
)
Modelo 1 - todos oscarregamentos
localização da rótulaplástica
0
1
2
3
4
5
6
7
-100 100 300 500 700
Momento-flector (kN.m)
Prof
undi
dade
(m
)
Modelo 2 - todos oscarregamentos
localização darótula plástica
0
1
2
3
4
5
6
7
-100 100 300 500 700
Momento-flector (kN.m)
Prof
undi
dade
(m
)
Modelo 3 - todos oscarregamentos
localização darótula plástica
0
1
2
3
4
5
6
7
-100 100 300 500 700
Momento-flector (kN.m)
Prof
undi
dade
(m
)
Modelo 4 - todos oscarregamentoslocalização da rótulaplástica
Figura 5.17 – Diagrama dos momentos–flectores da estaca E0 determinados pelos modelos 1 a 4 sobrepostos
com a localização da rótula plástica
Por fim utilizaram-se as extensões médias, medidas entre âncoras por intermédio dos
extensómetros, para a determinação da curvatura da secção da estaca. Pela relação momento-
curvatura foram deduzidos os valores dos momentos flectores médios expectáveis, que se
apresentam na Figura 5.18, conjuntamente com os determinados nas análises numéricas efectuadas.
A lei de variação linear de pu em profundidade conduz à determinação de momentos flectores
máximos de valores superiores, bem como menores valores dos momentos para profundidades mais
elevadas, quando comparados com os deduzidos da instrumentação. Este facto estará relacionado
com uma subestimação da resistência do solo para pequenas profundidades. Também na avaliação
dos esforços, a adopção de uma lei exponencial ajusta melhor o comportamento observado para a
estaca.
CAPITULO 5
188
0
1
2
3
4
5
6
7
8
-100 0 100 200 300
Momento-flector (kN.m)
Prof
undi
dade
(m
)
Modelo 1; F=50kNModelo 1; F=100kNModelo 1; F=150kNModelo 1; F=200kNExtensómetros; F=50kNExtensómetros; F=100kNExtensómetros; F=150kNExtensómetros; F=200kNrótula
0
1
2
3
4
5
6
7
8
-100 0 100 200 300
Momento-flector (kN.m)
Prof
undi
dade
(m
)
Modelo 2; F=50kNModelo 2; F=100kNModelo 2; F=150kNModelo 2; F=200kNExtensómetros; F=50kNExtensómetros; F=100kNExtensómetros; F=150kNExtensómetros; F=200kNrótula
0
1
2
3
4
5
6
7
8
50 50 150 250
Momento-flector (kN.m)
Prof
undi
dade
(m
)
Modelo 3; F=50kNModelo 3; F=100kNModelo 3; F=150kNModelo 3; F=200kNExtensómetros; F=50kNExtensómetros; F=100kNExtensómetros; F=150kNExtensómetros; F=200kNrótula
0
1
2
3
4
5
6
7
8
-50 50 150 250
Momento-flector (kN.m)
Prof
undi
dade
(m
)
Modelo 4; F=50kNModelo 4; F=100kNModelo 4; F=150kNModelo 4; F=200kNExtensómetros; F=50kNExtensómetros; F=100kNExtensómetros; F=150kNExtensómetros; F=200kNrótula
Figura 5.18 – Momentos flectores ao longo do fuste da estaca E0 calculados pelos modelos 1 a 4 e determinados
a partir dos extensómetros para pequenos carregamentos
SIMULAÇÃO NUMÉRICA
189
5.4.2.2.2 Modelação da estaca E1
À semelhança do procedimento realizado com a estaca E0, apresentam-se os resultados obtidos pela
condução das análises numéricas em conjunto com os determinados pela instrumentação colocada
na estaca E1. Na Figura 5.19 comparam-se os deslocamentos medidos e calculados ao nível dos
transdutores de deslocamento.
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
deslocamento medido (mm)
desl
ocam
ento
cal
cula
do (
mm
)
Modelo 1Modelo 2Modelo 3Modelo 4Modelo 5Modelo 6Modelo 7Modelo 8
a)
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
deslocamento medido (mm)
desl
ocam
ento
cal
cula
do (
mm
)
Modelo 1AModelo 2AModelo 3AModelo 4AModelo 5AModelo 6AModelo 7AModelo 8A
b)
Figura 5.19 - Relação entre os deslocamentos medidos e calculados na cabeça da estaca E1 à cota dos
transdutores do deslocamento: a) modelos que adoptam γu=2% e b) modelos que adoptam γu=3%
Da análise da figura, confirma-se que a adopção de valores inferiores para o módulo de reacção
máximo não influencia os resultados obtidos e que existe uma boa semelhança entre os modelos que
utilizam valores de γu distintos (2 e 3%).
Neste caso, tanto os deslocamentos à superfície como os determinados ao longo do fuste, e que se
apresentam na Figura 5.20, são melhor ajustados pela adopção de um ângulo de atrito de 45º. À
diferença de comportamento (esta estaca longa foi executada pelo mesmo processo construtivo e
tem aproximadamente o mesmo nível de flexibilidade) não será estranha a execução prévia sobre a
estaca E0 de ensaios dinâmicos para estimativa da capacidade resistente vertical.
Constatou-se que, também neste caso, uma lei exponencial de variação da resistência última do
solo com a profundidade ajusta melhor a evolução dos deslocamentos em profundidade.
CAPITULO 5
190
F = 100kN
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
-2 0 2 4 6 8
deslocamentos (mm)
Prof
undi
dade
(m
)
M odelo 1
M odelo 2M odelo 3
M odelo 4inclinómetro
LVDT
F = 200kN
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
-10 0 10 20 30deslocamentos (mm)
Prof
undi
dade
(m
)
M odelo 1M odelo 2M odelo 3M odelo 4
inclinómetroLVDT
F = 300kN
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
-10 0 10 20 30 40 50deslocamentos (mm)
Prof
undi
dade
(m
)
M odelo 1M odelo 2M odelo 3M odelo 4inclinómetroLVDT
F = 350kN
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
-10 0 10 20 30 40 50 60deslocamentos (mm)
Prof
undi
dade
(m
)
M odelo 1M odelo 2M odelo 3M odelo 4inclinómetroLVDT
F = 400kN
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
-10 0 10 20 30 40 50 60 70 80deslocamentos (mm)
Prof
undi
dade
(m
)
M odelo 1M odelo 2M odelo 3M odelo 4inclinómetroLVDT
F = 450kN
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
-15 0 15 30 45 60 75 90 105deslocamentos (mm)
Prof
undi
dade
(m
)
M odelo 1M odelo 2M odelo 3M odelo 4inclinómetroLVDT
Figura 5.20 – Deslocamentos em profundidade para a estaca E1, medidos e calculados (modelo 1 a 4),
correspondentes a carregamentos até 450kN
SIMULAÇÃO NUMÉRICA
191
5.4.2.2.3 Modelação da estaca T2
Os deslocamentos determinados e medidos para a estaca T2 apresentam-se na Figura 5.21. A análise
numérica que adopta um ângulo de atrito de 43º, γu de 2% e uma evolução, quer linear, quer
exponencial da resistência última do solo em profundidade, ajustam de uma forma muito razoável
os deslocamentos medidos na cabeça da estaca T2 (refira-se que à semelhança da estaca E0
também a adopção de um valor de φ’ igual a 45º e γu igual a 3% conduz a resultados igualmente
bons).
0
20
40
60
80
0 20 40 60 80deslocamento medido (mm)
desl
ocam
ento
cal
cula
do (
mm
)
Modelo 1Modelo 2Modelo 3Modelo 4Modelo 5Modelo 6Modelo 7Modelo 8
a)
0
20
40
60
80
0 20 40 60 80deslocamento medido (mm)
desl
ocam
ento
cal
cula
do (
mm
)
Modelo 1AModelo 2AModelo 3AModelo 4AModelo 5AModelo 6AModelo 7AModelo 8A
b)
Figura 5.21 - Relação entre os deslocamentos medidos e calculados na cabeça da estaca T2 à cota dos
transdutores do deslocamento: a) modelos que adoptam γu=2% e b) modelos que adoptam γu=3%
Note-se que nas estacas E0 e E1, as diferenças verificadas nos deslocamentos calculados, adoptando
uma, ou outra lei de variação de pu em profundidade, estão relacionadas com maiores níveis de
carregamento, logo de deformações, como se pode verificar pela análise da Figura 5.13 e da Figura
5.19.
Uma vez que os resultados das leituras dos inclinómetros não parecem fiáveis, verificando-se uma
diferença substancial (cerca de 20%) entre os deslocamentos determinados a partir destas e dos
transdutores dos deslocamentos, apresentam-se na Figura 5.22, apenas a título de curiosidade, a
evolução dos deslocamentos em profundidade calculados e medidos. Para além dos valores dos
deslocamentos determinados directamente a partir dos resultados das leituras inclinométricas,
apresenta-se uma curva definida a partir destes últimos, igualando os deslocamentos na cabeça da
estaca integrados dos registos inclinométricos aos medidos por intermédio dos transdutores dos
deslocamentos, na devida profundidade (valores expressos na Figura 5.22 por inclinómetro’).
CAPITULO 5
192
0
1
2
3
4
5
6
7
-100 100 300 500 700Momento-flector (kN.m)
Prof
undi
dade
(m
)
Modelo 1 - todos oscarregamentos
e)
F = 100kN
0
1
2
3
4
5
6
7
8
-2 0 2 4 6
deslocamentos (mm)
Prof
undi
dade
(m
)
M odelo 1M odelo 2M odelo 3M odelo 4inclinómetroinclinometro 'LVDT
a)
F = 200kN
0
1
2
3
4
5
6
7
8
-10 0 10 20 30deslocamentos (mm)
Prof
undi
dade
(m
)
M odelo 1M odelo 2M odelo 3M odelo 4inclinómetroinclinometro 'LVDT
b)
0
1
2
3
4
5
6
7
-100 100 300 500 700Momento-flector (kN.m)
Prof
undi
dade
(m
)
Modelo 2 - todos oscarregamentos
f)
0
1
2
3
4
5
6
7
-100 100 300 500 700Momento-flector (kN.m)
Prof
undi
dade
(m
)
Modelo 3 - todos oscarregamentos
g)
F = 300kN
0
1
2
3
4
5
6
7
8
-10 0 10 20 30 40 50
deslocamentos (mm)
Prof
undi
dade
(m
)
M odelo 1M odelo 2M odelo 3M odelo 4inclinómetroinclinometro 'LVDT
c)
F = 400kN
0
1
2
3
4
5
6
7
8
-10 0 10 20 30 40 50 60 70 80
deslocamentos (mm)
Prof
undi
dade
(m
)
M odelo 1M odelo 2M odelo 3M odelo 4inclinómetroinclinometro 'LVDT
d)
0
1
2
3
4
5
6
7
-100 100 300 500 700Momento-flector (kN.m)
Prof
undi
dade
(m
)
Modelo 4 - todosos carregamentos
h)
Figura 5.22 – a) a d) Deslocamentos em profundidade, medidos ( os valores designados por inclinómetro’ são
corrigidos) e calculados pelos modelos 1 a 4; e) a h) diagrama dos momentos flectores determinados
SIMULAÇÃO NUMÉRICA
193
5.4.2.2.4 Modelação da estaca C2
A Figura 5.23 relaciona os deslocamentos observados e os calculados para o maciço de
encabeçamento da estaca cravada.
0
10
20
30
40
50
0 10 20 30 40 50
deslocamento medido (mm)
desl
ocam
ento
cal
cula
do (
mm
)
Modelo 1Modelo 2
Modelo 3Modelo 4Modelo 5Modelo 6
Modelo 7Modelo 8
a)
0
10
20
30
40
50
0 10 20 30 40 50deslocamento medido (mm)
desl
ocam
ento
cal
cula
do (
mm
)
Modelo 1A
Modelo 2A
Modelo 3A
Modelo 4A
Modelo 5A
Modelo 6A
Modelo 7A
Modelo 8A
b)
Figura 5.23 - Relação entre os deslocamentos medidos e calculados na cabeça da estaca C2 à cota dos
transdutores do deslocamento: a) modelos que adoptam γu=2% e b) modelos que adoptam γu=3%
Na Figura 5.24 enquadram-se os diagramas dos momentos flectores calculados com a localização da
rótula plástica, identificada no ponto 4.5.7. Nos modelos considerados, não foi possível simular
carregamentos superiores a 90kN ou a 105kN, por falta de convergência.
0
1
2
3
4
5
6
7
-20 0 20 40 60 80 100 120Momento-flector (kN.m)
Prof
undi
dade
(m
)
Modelo 1 - todosos carregamentoslocalização darótula plástica
0
1
2
3
4
5
6
7
-20 0 20 40 60 80 100 120
Momento-flector (kN.m)
Prof
undi
dade
(m
)
Modelo 2 - todosos carregamentoslocalização darótula plástica
0
1
2
3
4
5
6
7
-20 0 20 40 60 80 100 120
Momento-flector (kN.m)
Prof
undi
dade
(m
)
Modelo 3 - todosos carregamentoslocalização darótula plástica
0
1
2
3
4
5
6
7
-20 0 20 40 60 80 100 120
Momento-flector (kN.m)
Prof
undi
dade
(m
)
Modelo 4 - todosos carregamentoslocalização darótula plástica
Figura 5.24 - Diagrama dos momentos – flectores da estaca C2 determinados pelos modelos 1 a 4 sobrepostos
com a localização da rótula plástica
Como se pode verificar, o modelo 1 (com resultados semelhantes ao modelo 2A) aproxima bastante
bem o comportamento da estaca, tanto ao nível dos deslocamentos, como na conformidade entre os
esforços calculados e a localização da rótula plástica. Note-se, no entanto, que os deslocamentos
CAPITULO 5
194
para pequenos carregamentos estão subestimados, o que leva a supor que o módulo de reacção do
solo para pequenas deformações está sobrestimado. Kim et al. (2004), num estudo já referido sobre
estacas moldadas e cravadas instaladas nas areias de Nak-Dong River, dava conta de uma menor
rigidez inicial das estacas cravadas relativamente às moldadas. No entanto, e ao contrário do
verificado no Campo Experimental da FEUP, estes autores observaram uma resistência última do
solo superior para estacas cravadas, aumentando com a energia utilizada na cravação.
Possivelmente este resultado é fruto das características evolutivas destes solos residuais, cujas
ligações interparticulares se perdem com a indução de cargas dinâmicas, decorrendo daí uma perda
da rigidez inicial (pequenas deformações) e da resistência (coesão estrutural), sendo esta perda
superior ao ganho devido à densificação.
5.4.3 Métodos baseados em ensaios in situ
5.4.3.1 Aplicação do método de Ménard et al. (1969)
Os deslocamentos das estacas ensaiadas foram previstos pelo método de Ménard et al. (1969),
utilizando a evolução da pressão limite (pL), de fluência (pF) e do módulo pressiométrico (EM) em
profundidade, avaliadas pelas expressões de (5.15) a (5.17). Para o factor α foi utilizado o valor de
1/3 correspondente a areias compactas.
0( ) 6,4 ' ( ) 1017,2L vp kPa kPaσ= ⋅ + (5.15)
0( ) 2,4 ' ( ) 365,3F vp kPa kPaσ= ⋅ + (5.16)
0( ) 92,5 ' ( ) 12949M vE kPa kPaσ= ⋅ + (5.17)
Adicionalmente, fez-se um estudo aproximando a resistência do solo correspondente aos pontos A e
B, por expressões exponenciais. Estes pontos definem as curvas p-y propostas por esta metodologia,
de acordo com a Figura 3.20 do Capítulo 3. O objectivo era o de diminuir o valor muito elevado,
obtido pela aplicação do método ao presente caso, para a resistência última do solo para
profundidades até 0,5m.
Tomando como exemplo a estaca E0, o valor da resistência última do solo foi aproximado pela
expressão apresentada na Figura 5.25.
As aplicações do método de Ménard et al., nos termos originalmente propostos e com a aproximação
acima referida, foram designadas na exposição deste trabalho por modelos A e B, respectivamente.
Os deslocamentos determinados em função dos deslocamentos medidos à cabeça das várias estacas
ilustram-se na Figura 5.26.
SIMULAÇÃO NUMÉRICA
195
y = 530,55x0,4044
R2 = 0,9892
0
200
400
600
800
1000
1200
0 1 2 3 4 5 6 7
z (m)
p u (
kN/m
)
Figura 5.25 – Evolução linear da resistência última do solo em profundidade, para a
estaca E0, e sua aproximação por uma expressão exponencial
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
deslocamento medido (mm)
desl
ocam
ento
cal
cula
do (
mm
)
Modelo A
Modelo B
Estaca E0
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
deslocamento medido (mm)
desl
ocam
ento
cal
cula
do (
mm
)
Modelo A
Modelo B
b) Estaca E1
0
20
40
60
80
0 20 40 60 80
deslocamento medido (mm)
desl
ocam
ento
cal
cula
do (
mm
)
Modelo A
Modelo B
c) Estaca T2
0
10
20
30
40
50
0 10 20 30 40 50deslocamento medido (mm)
desl
ocam
ento
cal
cula
do (
mm
)
Modelo A
Modelo B
d) Estaca C2
Figura 5.26 - Comparação dos deslocamentos medidos e calculados pelo método de Ménard et al. (1969) para as
várias estacas ensaiadas
À excepção da estaca C2 em que os deslocamentos são genericamente subestimados, o modelo A
sobrestima os deslocamentos calculados para pequenos carregamentos, subestimando-os para níveis
de carregamento elevados. O modelo B, exceptuando de novo a genérica substimação dos
deslocamentos da estaca cravada, sobrestima-os no caso das estacas moldadas (E0 e E1) e ajusta-se
bem na estaca de trado T2. A aplicação destes modelos parece, assim, pecar pela improcedente
CAPITULO 5
196
utilização de uma curva p-y trilinear, que subestima o valor do módulo de reacção para pequenas
deformações, por um lado, e pela adopção de um valor muito elevado para a resistência do solo
para profundidades até cerca de 0,5m, por outro, como se pode comprovar pela comparação dos
modelos A e B. Refira-se que, o facto de ambos os modelos em análise subestimarem os
deslocamentos da estaca cravada para todos os carregamentos, se deverá à manifesta mudança de
características do terreno aquando da cravação, o que não pode ser traduzido nos únicos ensaios
PMT executados antes da produção desta tipologia de estacas.
5.4.3.2 Aplicação do método de Robertson et al. (1989)
O método de Robertson et al. (1989) baseado nos resultados do DMT foi utilizado para prever o
comportamento das estacas ensaiadas, tal como foi descrito no ponto 3.4.3.1.
Para a avaliação da deformação correspondente à metade da diferença entre as tensões principais
máximas na rotura, ε50, foi adoptado para o factor de rigidez empírico Fφ o valor de 2. Para a
variação do módulo dilatométrico com a tensão efectiva adoptou-se a expressão (5.18) para as
estacas moldadas e para a realizada com recurso a trado contínuo, que considera os ensaios DMT
realizados antes da cravação das estacas “C”.
0( ) 0,143 ' ( ) 18,154D vE MPa kPaσ= ⋅ + (5.18)
Pela consideração dos ensaios DMT realizados após a cravação das estacas, obteve-se uma relação
diferente, conduzindo a valores ligeiramente inferiores de ED, particularmente se desprezados os
valores espúrios aí assinalados, como se apresenta na Figura 5.27. Para pequenas profundidades os
valores obtidos para esta grandeza na primeira campanha de ensaios foram, em média, ligeiramente
superiores aos obtidos na segunda. Na simulação da estaca C2 foi então utilizada a expressão (5.19)
que aproxima linearmente os valores de ED, em função da tensão vertical efectiva.
0( ) 0,255 ' ( ) 10,700D vE MPa KPaσ= ⋅ + (5.19)
O ângulo de atrito intervém na determinação de ε50, bem como na de pu, tendo sido estimado em
44º por correlação com o índice de tensão lateral KD, considerando apenas os primeiros três metros
de terreno, utilizando o ábaco de Marchetti (1985) adaptado por Campanella e Robertson (1991).
Esta mesma grandeza foi avaliada em 45º após a cravação das estacas. Nos cálculos efectuados e de
forma a avaliar a sensibilidade do método a este parâmetro, optou-se por considerar três valores
diferentes para o ângulo de atrito: 40º, 43º e 45º. Para o coeficiente de impulso em repouso foi
adoptado o valor de 0,45, de acordo com o exposto no parágrafo 4.4.3.4.
A resistência última do solo foi determinada pelas expressões propostas por Reese et al. (1974),
como preconizado no método que se segue nesta análise.
SIMULAÇÃO NUMÉRICA
197
y = 0,1433x + 18,154
R2 = 0.4095
0
10
20
30
40
50
60
0 25 50 75 100 125 150 175 200
σ'v0 (kPa)
ED (
MPa
)
b)
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
0 20 40 60
ED (MPa)
prof
undi
dade
(m
)
ensaios conduzidos antesda cravaçãoensaios conduzidosdepois da cravação
a)
y = 0,255x + 10,700
R2 = 0,7971
0
10
20
30
40
50
60
0 25 50 75 100 125 150 175 200
σ'v0 (kPa)
E D (M
Pa)
c)
Figura 5.27 – Variação de ED: a) em profundidade; b) em função de σ’v0 para ensaios conduzidos antes da
cravação das estacas “C”; c) em função de σ’v0 para ensaios conduzidos depois da cravação das estacas “C”
Os deslocamentos medidos e calculados para a cabeça das estacas, ao nível dos transdutores de
deslocamento, apresentam-se na Figura 5.28. Da sua análise, pode concluir-se que para pequenos
carregamentos, os deslocamentos das estacas moldadas e de trado são bem aproximados de uma
forma geral, sendo subestimados na estaca cravada.
Para carregamentos maiores, a adopção de um valor de 40º para o ângulo de atrito conduz a uma
elevada sobrestimação dos deslocamentos das estacas moldadas e também significativa na de trado.
À semelhança do referido no ponto 5.4.2.2.1, apesar do ângulo de atrito de 45º ser o que melhor
ajusta os deslocamentos da estaca E0 ao nível dos transdutores de deslocamento, é a adopção de
um valor de 43º para esta grandeza que melhor simula o comportamento global desta estaca, até
carregamentos de 400kN. No caso da estaca E1 é o valor de 45º que conduz a um melhor
desempenho do método e para a T2 esse valor fixa-se nos 43º. No caso da estaca C2, a adopção de
um ângulo de atrito de 43º parece poder aproximar simultaneamente os deslocamentos verificados e
a localização do momento flector máximo em relação ao posicionamento da rótula plástica, como
ilustra a Figura 5.29. Ainda assim, do que se depreende destes resultados, o efeito da não
linearidade parece não ser convenientemente reproduzida neste método.
CAPITULO 5
198
0
20
40
60
80
100
120
140
0 20 40 60 80 100 120 140
deslocamento medido (mm)
desl
ocam
ento
cal
cula
do (
mm
)
E0 - caso 700
E0 - Caso 701
E0 - Caso 702
φ = 40º
φ = 43º
φ = 45º
a) Estaca E0
0
20
40
60
80
100
120
140
0 20 40 60 80 100 120 140deslocamento medido (mm)
desl
ocam
ento
cal
cula
do (
mm
)
E1 - caso 700
E1 - Caso 701
E1 - Caso 702
φ = 40º
φ = 43º
φ = 45º
b) Estaca E1
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
deslocamento medido (mm)
desl
ocam
ento
cal
cula
do (
mm
)
T2 - caso 700
T2 - Caso 701
T2 - Caso 702
φ = 40º
φ = 43º
φ = 45º
c) Estaca T2
0
10
20
30
40
50
0 10 20 30 40 50deslocamento medido (mm)
desl
ocam
ento
cal
cula
do (
mm
)
C2 - caso 700
C2 - Caso 701
C2 - Caso 702
φ = 40º
φ = 43º
φ = 45º
d) Estaca C2
Figura 5.28 - Comparação do deslocamento medido e calculado pelo método de Robertson et al. (1989) para as
várias estacas ensaiadas
0
1
2
3
4
5
6
7
-20 0 20 40 60 80 100 120
Momento-flector (kN.m)
Prof
undi
dade
(m
)
localização darótula plástica
a)
0
1
2
3
4
5
6
7
-20 0 20 40 60 80 100 120
Momento-flector (kN.m)
Prof
undi
dade
(m
)
localização darótula plástica
b)
0
1
2
3
4
5
6
7
-20 0 20 40 60 80 100 120
Momento-flector (kN.m)
Prof
undi
dade
(m
)
localização darótula plástica
c)
Figura 5.29 - Diagrama dos momentos – flectores da estaca C2, determinados pelo método de Robertson,
sobrepostos com a localização da rótula plástica: a) φ=40º, b) φ=43º; e, c) φ=45º
SIMULAÇÃO NUMÉRICA
199
Com o objectivo de melhorar o desempenho desta metodologia, e tendo em conta o desajuste da
não linearidade, foi realizado um estudo adicional utilizando a expressão (5.14) para a
determinação de pu, adoptando-se um expoente n=0,4 para as estacas E0, E1 e T2 e n=1,0 para a
estaca C2. Para o factor Fφ adoptou-se o valor de 1. O método apresenta ligeiras melhorias em
relação ao original, em especial para a estaca E1, como se pode verificar pela análise da Figura
5.30.
0
20
40
60
80
100
120
0 20 40 60 80 100 120
deslocamento medido (mm)
desl
ocam
ento
cal
cula
do (
mm
)
700 701 702 700-2
701-2 702-2 Série1
0
100
200
300
400
500
600
0 20 40 60 80 100 120
deslocamento (mm)
Forç
a (k
N)
deslocamento medido (inclinómetro)700701702700-2701-2702-2
φ=40º;n=0,4; Fφ=1φ=43º;n=0,4; Fφ=1φ=45º;n=0,4; Fφ=1
deslocamento medido (inclinómetro)φ=40º; Fφ=2φ=43º; Fφ=2φ=45º; Fφ=2
M étodo de Robertson pu de Reese et al.
M étodo de Robertson pu do método 3 troços
Figura 5.30 - Comparação do deslocamento medido e calculado à superfície do terreno para a estaca E1, por
aplicação do método de Robertson et al. (1989), considerando duas leis de variação pu em profundidade
Do estudo realizado com a aplicação dos resultados dos ensaios DMT e para o maciço em análise,
verifica-se que os valores de ângulo de atrito, estimados por sensibilidade, que melhor simulam o
comportamento às acções horizontais das estacas ensaiadas são próximos dos derivados dos
resultados dos ensaios DMT, a partir do ábaco de Marchetti (1985) adaptado por Robertson e
Campanella (1991), considerando uma relação qc/σ’v0=33·KD e não a razão real identificada entre o
CPT e o DMT em campo.
5.5 ANÁLISE GLOBAL DOS RESULTADOS
O comportamento das estacas ensaiadas no Campo Experimental da FEUP foi simulado utilizando o
método das curvas p-y. Para isso, foi utilizado um programa de cálculo comercial, Florida Pier, onde
se modelou o solo considerando os métodos de Reese et al. (1974) e dos três troços (Santos, 1999),
ambos com base em parâmetros fundamentais do maciço terroso, e de Ménard et al. (1969) e de
Robertson et al. (1989), em que os parâmetros são relacionados com os resultados de ensaios in
situ. Estes últimos métodos, porém, foram interpretados e aplicados de forma singular, tendo-se
ajustado as leis de variação das propriedades em profundidade de forma distinta.
CAPITULO 5
200
O método de Reese et al. conduziu de uma forma geral a resultados conservativos, o que resulta de
uma subestimação do módulo de reacção e da resistência última do solo para pequenas
profundidades, de relevante preponderância no comportamento de estacas solicitadas
horizontalmente. Não será, portanto, mais explorado.
Nos quadros e figuras seguintes apresentam-se os resultados obtidos para os restantes métodos,
utilizando os parâmetros do solo que simularam de forma mais satisfatória o comportamento das
estacas ensaiadas. Assim, o Quadro 5-XI resume os deslocamentos e as rotações obtidos para a
superfície do terreno para a estaca E0, bem como os momentos flectores máximos e respectivas
localizações em profundidade e na Figura 5.31 ilustram-se os deslocamentos à superfície em função
do carregamento. O Quadro 5-XII e a Figura 5.32 referem-se, por sua vez, à estaca E1, o Quadro
5-XIII e a Figura 5.33, à estaca T2, e o Quadro 5-XIV e a Figura 5.34, à estaca C2. Para estas duas
últimas estacas e de forma a fazer a comparação com grandezas medidas, os deslocamentos e as
rotações correspondem à cota dos transdutores de deslocamento.
Quadro 5-XI – Resumo dos resultados das simulações com melhor desempenho - estaca E0
F (kN) 100 200 300 350 400 450 475 500 520
2,8 10,1 21,7 32,6 40,2 53,9 63,0 131,6 212,7
3,4 11,8 22,3 28,4 37,7 58,1 80,4 - -
3,0 11,3 21,9 28,3 36,9 54,1 71,9 - -
5,4 14,7 25,3 31,0 38,5 51,9 63,8 - -
2,0 9,3 20,8 28,5 41,5 72,8 - - -
1,8 9,4 22,1 31,0 42,8 65,9 86,7 - -
0,08 0,29 0,63 0,86 1,09 1,42 1,63 3,75 6,24
0,14 0,48 0,87 1,08 1,41 2,17 3,02 - -
0,12 0,45 0,83 1,04 1,31 1,90 2,52 - -
0,18 0,55 0,93 1,13 1,40 1,93 2,41 - -
0,10 0,42 0,83 1,09 1,54 2,64 - - -
0,08 0,40 0,83 1,09 1,43 2,16 2,84 - -
z rótula1,32 1,32 1,32 1,47 1,47 1,47 1,47 - -
1,18 1,32 1,32 1,32 1,47 1,47 1,47 - -
1,32 1,32 1,32 1,32 1,32 1,32 1,32 - -
1,03 1,18 1,32 1,47 1,47 1,47 - - -
1,03 1,18 1,32 1,47 1,47 1,62 1,62 - -
127 261 404 479 559 645 691 - -
116 236 365 435 514 603 652 - -
128 259 398 468 540 614 656 - -
116 248 405 492 582 676 - - -
105 223 361 441 526 613 659 - -
z Mmáx (m)
Mmáx (kNm)
Mét
odo
Mét
odo
Mét
odo
Mét
odo
Ménard (PMT): modelo B
Robertson (DMT): pu do método dos 3 troços; φ=43º; n=0,4; Fφ=1
rotula entre 1,0m - 2,14m; zmédio = 1,57
Três troços: n=0,4; φ=43º
Robertson (DMT): pu de Reese et al.; φ=43º; Fφ=2
Três troços: n=0,4; φ=43º
Robertson (DMT): pu de Reese et al.; φ=43º; Fφ=2
Três troços: n=1; φ=43º
Ensaio
Três troços: n=1; φ=43º
Ménard (PMT): modelo B
Robertson (DMT): pu do método dos 3 troços; φ=43º; n=0,4; Fφ=1
Três troços: n=1; φ=43º
Três troços: n=0,4; φ=43º
Ménard (PMT): modelo B
Robertson (DMT): pu de Reese et al.; φ=43º; Fφ=2
Robertson (DMT): pu do método dos 3 troços; φ=43º; n=0,4; Fφ=1
Três troços: n=0,4; φ=43º
Ménard (PMT): modelo B
Robertson (DMT): pu de Reese et al.; φ=43º; Fφ=2
Robertson (DMT): pu do método dos 3 troços; φ=43º; n=0,4; Fφ=1
Ensaio
Carregamento
Ensaio
Três troços: n=1; φ=43º
y (mm)
θ (º)
SIMULAÇÃO NUMÉRICA
201
0
100
200
300
400
500
600
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
deslocamento à superficie do terreno (mm)
Forç
a ap
licad
a (k
N)
deslocamento da estaca à superficiedo terreno (dados do inclinómetro)
Três troços: n=1; f=43º
Três troços: n=0,4; f=43º
Ménard (PMT): modelo B
Robertson (DMT): pu de Reese et al.;f=43º; Ff=2
Robertson (DMT): pu do método dos 3troços; f=43º; n=0,4; Ff=1
deslocamento da estaca à superfície do terreno (dados do inclinómetro)
Método dos três troços: n=1; φ=43º
Método dos três troços: n=0,4; φ=43º
Método de Ménard (PMT): modelo B
Método de Robertson (DMT): pu de Reese et al.; φ=43º; Fφ=2
Método de Robertson (DMT): pu do método dos três troços; φ=43º;n=0,4; Fφ=1
Figura 5.31 – Deslocamentos à superfície do terreno, em função do carregamento, determinados nas simulações
que exibiram melhor desempenho para a estaca E0
Quadro 5-XII - Resumo dos resultados das simulações com melhor desempenho - estaca E1
F (kN) 100 200 300 350 400 450 475 500 520
1,9 8,5 17,9 21,3 28,6 39,2 44,9 55,9 103,4
2,7 9,8 18,8 23,7 29,7 39,1 48,0 60,7 89,8
2,2 8,8 17,3 22,1 27,4 34,9 40,2 49,4 59,2
4,6 13,2 23,0 28,3 34,5 42,6 49,7 60,4 71,0
1,6 7,9 18,0 24,2 32,1 50,7 65,6 - -
1,3 6,9 16,0 22,1 30,5 41,4 49,3 59,6 72,8
0,11 0,28 0,55 0,71 0,88 1,13 1,27 1,72 1,88
0,11 0,40 0,73 0,90 1,11 1,45 1,79 2,27 3,47
0,09 0,35 0,66 0,83 1,00 1,25 1,43 1,77 2,12
0,15 0,47 0,81 0,99 1,20 1,49 1,76 2,16 2,59
0,07 0,35 0,71 0,92 1,19 1,83 2,35 - -
0,06 0,30 0,62 0,82 1,07 1,39 1,65 2,00 2,44
z rótula1,15 1,15 1,15 1,64 1,64 1,64 1,64 1,64 1,64
1,15 1,15 1,15 1,15 1,15 1,64 1,64 1,64 1,64
1,64 1,15 1,15 1,15 1,64 1,15 1,15 1,15 1,15
1,15 1,15 1,15 1,64 1,64 1,64 1,64 - -
1,15 1,15 1,15 1,15 1,64 1,64 1,64 1,64 1,64
121 246 376 446 520 593 634 676 706
109 219 336 397 458 530 566 612 646
119 241 368 434 504 570 606 647 680
111 235 378 462 545 638 683 - -
95 203 322 388 465 549 589 626 661
z Mmáx (m)
Mmáx (kNm)
Mét
odo
Mét
odo
Mét
odo
Mét
odo
Robertson (DMT): pu do método dos 3 troços; φ=45º; n=0,4; Fφ=1
Ensaio
Carregamento
Ensaio
Três troços: n=1; φ=45º
y (mm)
θ (º)
Ménard (PMT): modelo B
Robertson (DMT): pu do método dos 3 troços; φ=45º; n=0,4; Fφ=1
Três troços: n=1; φ=45º
Três troços: n=0,4; φ=45º
Ménard (PMT): modelo B
Robertson (DMT): pu de Reese et al.; φ=45º; Fφ=2
Robertson (DMT): pu do método dos 3 troços; φ=45º; n=0,4; Fφ=1
Três troços: n=0,4; φ=45º
Ménard (PMT): modelo B
Robertson (DMT): pu de Reese et al.; φ=45º; Fφ=2
Ménard (PMT): modelo B
Robertson (DMT): pu do método dos 3 troços; φ=45º; n=0,4; Fφ=1
não foi visível
Três troços: n=0,4; φ=45º
Robertson (DMT): pu de Reese et al.; φ=45º; Fφ=2
Três troços: n=0,4; φ=45º
Robertson (DMT): pu de Reese et al.; φ=45º; Fφ=2
Três troços: n=1; φ=45º
Ensaio
Três troços: n=1; φ=45º
CAPITULO 5
202
0
100
200
300
400
500
600
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
deslocamento à superficie do terreno (mm)
Forç
a ap
licad
a (k
N)
deslocamento da estaca à superficiedo terreno (dados do inclinómetro)
Três troços: n=1; f=45º
Três troços: n=0,4; f=45º
Ménard (PMT): modelo B
Robertson (DMT): pu de Reese et al.;f=45º; Ff=2
Robertson (DMT): pu do método dos 3troços; f=45º; n=0,4; Ff=1
deslocamento da estaca à superfície do terreno (dados do inclinómetro)
Método dos três troços: n=1; φ=45º
Método dos três troços: n=0,4; φ=45º
Método de Ménard (PMT): modelo B
Método de Robertson (DMT): pu de Reese et al.; φ=45º; Fφ=2
Método de Robertson (DMT): pu do método dos três troços; φ=45º;n=0,4; Fφ=1
Figura 5.32 - Deslocamentos à superfície do terreno, em função do carregamento, determinados nas simulações
que exibiram melhor desempenho para a estaca E1
Quadro 5-XIII - Resumo dos resultados das simulações com melhor desempenho - estaca T2
F (kN) 100 200 300 350 400
3,7 18,0 35,3 46,1 59,2
3,9 17,8 35,1 44,6 58,7
3,8 17,3 34,8 44,7 57,7
5,9 20,1 36,7 45,3 55,1
2,5 14,2 32,6 44,2 63,1
2,6 14,7 34,9 48,3 65,8
0,07 0,34 0,66 0,85 1,06
0,09 0,42 0,81 1,02 1,34
0,09 0,40 0,79 1,00 1,28
0,11 0,45 0,83 1,02 1,24
0,06 0,35 0,77 1,02 1,43
0,07 0,35 0,79 1,05 1,40
z rótula não foi visível
1,47 1,47 1,47 1,47 1,47
1,47 1,31 1,47 1,47 1,47
1,62 1,31 1,31 1,31 1,47
1,16 1,31 1,47 1,47 1,62
1,16 1,31 1,47 1,47 1,62
142 279 427 504 584
131 256 392 463 544
137 265 403 472 543
127 264 424 512 605
117 244 387 469 557
y (mm)
θ (º)
z Mmáx (m)
Mmáx (kNm)
Mét
odo
Mét
odo
Mét
odo
Mét
odo
Ménard (PMT): modelo B
Robertson (DMT): pu do método dos 3 troços; φ=43º; n=0,4; Fφ=1
Três troços: n=0,4; φ=43º
Robertson (DMT): pu de Reese et al.; φ=43º; Fφ=2
Três troços: n=0,4; φ=43º
Robertson (DMT): pu de Reese et al.; φ=43º; Fφ=2
Três troços: n=1; φ=43º
Ensaio
Três troços: n=1; φ=43º
Ménard (PMT): modelo B
Robertson (DMT): pu do método dos 3 troços; φ=43º; n=0,4; Fφ=1
Robertson (DMT): pu de Reese et al.; φ=43º; Fφ=2
Três troços: n=1; φ=43º
Três troços: n=0,4; φ=43º
Ménard (PMT): modelo B
Robertson (DMT): pu de Reese et al.; φ=43º; Fφ=2
Robertson (DMT): pu do método dos 3 troços; φ=43º; n=0,4; Fφ=1
Ensaio
Carregamento
Ensaio
Três troços: n=1; φ=43º
Robertson (DMT): pu do método dos 3 troços; φ=43º; n=0,4; Fφ=1
Três troços: n=0,4; φ=43º
Ménard (PMT): modelo B
SIMULAÇÃO NUMÉRICA
203
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
deslocamento ao nível dos LVDT (mm)
desl
ocam
ento
cal
cula
do (
mm
)
deslocamento da estaca ao nível dosLVDT (dados dos LVDT)
Três troços: n=1; f=43º
Três troços: n=0,4; f=43º
Ménard (PMT): modelo B
Robertson (DMT): pu de Reese et al.;f=43º; Ff=2
Robertson (DMT): pu do método dos 3troços; f=43º; n=0,4; Ff=1
deslocamento da estaca ao nível dos LVDT (dados do LVDT)
Método dos três troços: n=1 ; φ=43º
Método dos três troços: n=0,4; φ=43º
Método de Ménard (PMT): modelo B
Método de Robertson (DMT): pu de Reese et al.; φ=43º; Fφ=2
Método de Robertson (DMT): pu do método dos três troços; φ=43º;n=0,4; Fφ=1
Figura 5.33 - Deslocamentos ao nível dos transdutores de deslocamento, em função do carregamento,
determinados nas simulações que exibiram melhor desempenho para a estaca T2
Quadro 5-XIV - Resumo dos resultados das simulações com melhor desempenho - estaca C2
F (kN) 0 15 30 45 60 75 90 105 120 135
0 1,4 5,2 9,9 16,8 22,8 29,3 37,1 42,4 61,1
0 1,0 3,3 8,9 15,1 21,6 28,4 - - -
0 0,8 2,2 7,2 12,5 18,4 24,4 33,8 - -
0 1,4 3,0 7,9 12,8 17,9 23,0 29,2 - -
0 0,5 1,7 6,7 12,6 19,3 27,3 - - -
0 0,6 2,1 7,7 14,2 21,4 30,0 - - -
0 0,05 0,16 0,30 0,49 0,66 0,85 1,01 1,23 1,64
0 0,03 0,10 0,28 0,48 0,68 0,89 - - -
0 0,03 0,07 0,23 0,41 0,59 0,78 1,08 - -
0 0,04 0,08 0,25 0,42 0,58 0,75 0,96 - -
0 0,02 0,06 0,23 0,42 0,63 0,87 - - -
0 0,02 0,07 0,25 0,46 0,68 0,92 - - -
z rótula 0 rotula entre 0,55m - 1,21m; zmédio = 0,88
0 0,94 1,10 0,94 0,94 0,94 1,10 - - -
0 0,78 0,94 0,94 0,94 0,94 0,94 0,94 - -
0 1,10 1,10 0,78 0,78 0,78 0,78 0,78 - -
0 0,62 0,94 0,94 0,94 0,94 1,10 - - -
0 0,62 0,94 0,94 0,94 0,94 1,10 - - -
0 15 31 46 62 78 94 - - -
0 13 29 41 55 70 85 99 - -
0 14 29 41 55 69 84 98 - -
0 13 29 43 59 77 96 - - -
0 13 30 44 60 77 96 - - -
y (mm)
θ (º)
z Mmáx (m)
Mmáx (kNm)
Mét
odo
Mét
odo
Mét
odo
Mét
odo
Robertson (DMT): pu do método dos 3 troços; φ=43º; n=1; Fφ=1
Ensaio
Carregamento
Ensaio
Três troços: n=1; φ=43º
Robertson (DMT): pu do método dos 3 troços; φ=43º; n=1; Fφ=1
Três troços: n=0,4; φ=43º
Ménard (PMT): modelo B
Robertson (DMT): pu de Reese et al.; φ=43º; Fφ=2
Três troços: n=1; φ=43º
Três troços: n=0,4; φ=43º
Ménard (PMT): modelo B
Robertson (DMT): pu de Reese et al.; φ=43º; Fφ=2
Três troços: n=0,4; φ=43º
Robertson (DMT): pu de Reese et al.; φ=43º; Fφ=2
Três troços: n=1; φ=43º
Ensaio
Três troços: n=1; φ=43º
Ménard (PMT): modelo B
Robertson (DMT): pu do método dos 3 troços; φ=43º; n=1; Fφ=1
Ménard (PMT): modelo B
Robertson (DMT): pu do método dos 3 troços; φ=43º; n=1; Fφ=1
Três troços: n=0,4; φ=43º
Robertson (DMT): pu de Reese et al.; φ=43º; Fφ=2
CAPITULO 5
204
0
20
40
60
80
100
120
140
160
0 10 20 30 40 50 60 70 80
deslocamento ao nível dos LVDT (mm)
Forç
a ap
licad
a (k
N)
deslocamento da estaca ao nível dosLVDT (dados dos LVDT)
Três troços: n=1; f=43º
Três troços: n=0,4; f=43º
Ménard (PMT): modelo B
Robertson (DMT): pu de Reese et al.;f=43º; Ff=2
Robertson (DMT): pu do método dos 3troços; f=43º; n=1; Ff=1
deslocamento da estaca ao nível dos LVDT (dados do LVDT)
Método dos três troços: n=1; φ=43º
Método dos três troços: n=0,4; φ=43º
Método de Ménard (PMT): modelo B
Método de Robertson (DMT): pu de Reese et al.; φ=43º; Fφ=2
Método de Robertson (DMT): pu do método dos três troços; φ=43º;n=1; Fφ=1
Figura 5.34 - Deslocamentos ao nível dos transdutores de deslocamento, em função do carregamento,
determinados nas simulações que exibiram melhor desempenho para a estaca C2
Da análise dos resultados apresentados, pode concluir-se que o método dos três troços apresentou
um bom desempenho. Na maioria dos casos, a adopção de um ângulo de atrito de 43º e de uma lei
exponencial da variação da resistência última em profundidade, foi a que conduziu a um melhor
ajuste do comportamento observado. Este facto pode ser justificado pela estrutura interparticular
cimentada existente neste tipo de solos residuais que implica, para pequenas profundidades,
correspondentes a baixos níveis de confinamento, uma maior resistência e rigidez quando
comparada às dos solos puramente atríticos. A parcela de sucção nos horizontes mais superficiais
também não é negligenciável. No Quadro 5-XV apresentam-se os parâmetros do solo que conduziram
a uma melhor aproximação.
Quadro 5-XV – Parâmetros do solo que conduziram a um
melhor ajustamento do comportamento das estacas
Estaca φ K n γu
E0 43º K1 0,4 2%
E1 45º K1 0,4 2%
T2 43º K1 0,4 / 1 2%
C2 43º K1 1 2%
Com o intuito de validar os pares de valores de φ e n apresentados no Quadro 5-XV, procedeu-se ao
seguinte exercício, para as estacas nas quais se observou uma rotura por flexão. Em função da curva
força–deslocamento ajustada por dois trechos rectilíneos, determinou-se graficamente a carga a que
se designou por “carga de cedência”, que corresponderia à formação da rótula plástica no fuste da
estaca. Para cada par de valores (φ,n), determinou-se o momento flector máximo expectável no
SIMULAÇÃO NUMÉRICA
205
fuste da estaca, admitindo que a resistência do solo se encontra totalmente mobilizada até à secção
transversal mais esforçada (secção onde ocorre o momento máximo). Pode admitir-se que os pares
de valores (φ,n) que melhor simulam o comportamento das estacas são os que conduzem, para a
carga de cedência, a valores de momentos flectores máximos idênticos ao momento resistente da
estaca.
Seguindo a metodologia apresentada, determinou-se a carga de cedência para as estacas E0 e C2,
como ilustra a Figura 5.35, tendo-se obtido para esta grandeza o valor de 473kN e 103kN,
respectivamente. Para o momento resistente da estaca E0 foi considerado o valor de 694kNm e para
a estaca C2 o valor de 103kNm, definidos com o auxílio das curvas momento-curvatura apresentadas
na Figura 5.8
A Figura 5.36 representa para a estaca E0, a evolução do momento flector máximo e respectiva
localização em função do carregamento. Na mesma figura representam-se a carga de cedência, o
momento resistente e a localização da rótula plástica da estaca em estudo. Pela análise desta
figura, verifica-se que o ângulo de atrito de 43º, considerando quer uma variação linear (n=1), quer
exponencial (n=0,4) em profundidade, é o que conduz, para a carga de cedência, a valores de
momento flector máximo mais próximos do momento resistente e que a sua localização é coerente
com a localização da rótula.
0
100
200
300
400
500
600
0 50 100 150 200 250 300 350
deslocamento (mm)
Forç
a (k
N)
Estaca E0 - LVDT - 1º ensaio
Estaca E0 - inclinómetro - 1º ensaio
Estaca E0 - LVDT - 2º ensaio
Estaca E0 - inclinómetro - 2º ensaio
Estaca C2 - LVDT
473
103
Figura 5.35 – Determinação da carga de cedência das estacas E0 e C2
CAPITULO 5
206
400
500
600
700
800
900
400 425 450 475 500 525 Força aplicada (kN)
Mom
ento
máx
imo
(kN
m)
0
0,5
1
1,5
2
2,5
4 0 0 4 2 5 4 5 0 4 7 5 5 0 0 5 2 5
loca
lizaç
ão d
a ró
tula
plá
stic
a (m
)
pu linear em profundidade; n=1; f=40
pu exponencial em profundidade; n=0,4; f=40
pu linear em profundidade; n=1; f=43
pu exponencial em profundidade; n=0,4; f=43
pu linear em profundidade; n=1; f=45
pu exponencial em profundidade; n=0,4; f=45
profundidade da rótula plástica
Força de cedência
pu linear em profundidade; n=1; φ=40º
pu exponencial em profundidade; n=0,4; φ=40º
pu linear em profundidade; n=1; φ=43º
pu exponencial em profundidade; n=0,4; φ=43º
pu linear em profundidade; n=1; φ=45º
pu exponencial em profundidade; n=0,4; φ=45º
Momento resistente da estaca ou profundidade da rótula plástica
Força de cedência
Figura 5.36 – Momento flector máximo e respectiva localização em função do carregamento, enquadrados com
a força de cedência e profundidade da rótula plástica da estaca E0
A Figura 5.37 representa o mesmo exercício para estudo do comportamento da estaca C2. Pela sua
análise pode admitir-se que a adopção de um ângulo de atrito de 43º e uma variação linear da
resistência do solo em profundidade, ou de φ’=40º e n=0,4, são as que conduzem a resultados mais
próximos dos observados.
40
60
80
100
120
140
160
75 90 105 120 135Força aplicada (kN)
Mom
ento
máx
imo
(kN
m)
0
0,25
0,5
0,75
1
1,25
1,5
7 5 9 0 1 0 5 1 2 0 1 3 5
loca
lizaç
ão d
a ró
tula
plá
stic
a (m
)
pu linear em profundidade; n=1; f=40
pu exponencial em profundidade; n=0,4; f=40
pu linear em profundidade; n=1; f=43
pu exponencial em profundidade; n=0,4; f=43
pu linear em profundidade; n=1; f=45
pu exponencial em profundidade; n=0,4; f=45
profundidade da rótula plástica
Força de cedência
pu linear em profundidade; n=1; φ=40º
pu exponencial em profundidade; n=0,4; φ=40º
pu linear em profundidade; n=1; φ=43º
pu exponencial em profundidade; n=0,4; φ=43º
pu linear em profundidade; n=1; φ=45º
pu exponencial em profundidade; n=0,4; φ=45º
Momento resistente da estaca ou profundidade da rótula plástica
Força de cedência
Figura 5.37 – Momento flector máximo e respectiva localização em função do carregamento, enquadrados com
a força de cedência e profundidade da rótula plástica da estaca C2
SIMULAÇÃO NUMÉRICA
207
Importa ainda ressalvar e analisar a diferença de comportamentos verificados entre a estaca E1 e as
restantes, uma vez que, aparentemente, o solo que a envolve parece ser comparativamente mais
resistente, pelo menos, no que se refere a pequenas profundidades. Um facto que as distingue, e
que poderá estar na base da diferença de comportamentos observados, prende-se com os ensaios
dinâmicos que foram conduzidos previamente (aquando da cravação das estacas) nas estacas E0, T2
e C2. Os deslocamentos permanentes observados nos ensaios referidos apresentam-se no Quadro
5-XVI.
Quadro 5-XVI – Deslocamento permanente resultante dos ensaios dinâmicos
Estaca deslocamento permanente u (cm) u / B (%)
E0 11,0 18%
T2 4,0 7%
C2 15,3 44%
Verifica-se que os deslocamentos registados são significativos, especialmente para a estaca cravada,
o que leva a supor que o efeito de acções dinâmicas e consequentemente da cravação não é
benéfico neste tipo de solos, no que respeita ao desempenho de estacas solicitadas
horizontalmente, levando, a sua aplicação, à perda das ligações interparticulares. Note-se, no
entanto, que o efeito deste tipo de acções, em especial o da cravação, apenas poderá ser bem
fundamentado com a realização de mais ensaios de carga, alertando-se para a necessidade de
comparar estacas com dimensões e secções semelhantes para as diferentes tipologias (moldada, de
trado e cravada).
É importante também salvaguardar o facto do comportamento a acções horizontais de estacas com
as dimensões das estudadas envolver uma pequena massa de solo. Assim, uma eventual
heterogeneidade na zona do maciço envolvido pode conduzir a ligeiras diferenças de
comportamento.
Mais interessante para este estudo analítico será apontar para um possível aperfeiçoamento do
método dos três troços, o qual se poderá designar por método dos quatro troços, como se ilustra na
Figura 5.38. A modificação que se sugere considera uma perda da resistência do solo, desde o seu
valor máximo determinado para o ângulo de atrito de pico até ao seu valor determinado com o
ângulo de atrito a volume constante. No caso das estacas ensaiadas, a aplicação deste método
quando comparado com o dos três troços não evidencia alterações significativas, uma vez que a
rotura por flexão das estacas é anterior à perda de resistência referida.
CAPITULO 5
208
-600
-400
-200
0
200
400
600
800
-0.1 -0.05 0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25
y (m)
p (k
N/m
)
z=0,0m z=0,5m
z=1,0m z=1,5m
z=2,0m z=2,5m
z=3,0m
Curvas p-y
deslocamentos para os
carregamentos:
100kN, 200kN, 300kN, 350kN,
400kN, 450kN e 475kN
Figura 5.38 – Curvas p-y para o método dos quatro troços representadas simultaneamente com os
deslocamentos da estaca E1 medidos para várias profundidades
Feita uma revisão do método dos três troços, reflecte-se sobre as análises e resultados dos métodos
baseados nos ensaios in situ.
O método de Ménard et al. (1969) baseado no PMT, como originalmente proposto e para o caso do
maciço em estudo, subestima os deslocamentos para carregamentos elevados, o que pode ser
corrigido pela diminuição da resistência do solo para muito pequenas profundidades, como foi
referido no ponto 5.4.3.1. Verifica-se que ambas as propostas, e em especial a modificada,
sobrestimam os deslocamentos para pequenos carregamentos, consequência da consideração de um
valor demasiadamente pequeno para o módulo de reacção do solo inicial. Mesmo assim, pode
admitir-se que o método adaptado conduz a uma simulação satisfatória das estacas E0, E1 e T2.
Para a estaca C2 o desempenho do método é insatisfatório, consequência da consideração de uma
lei exponencial de variação de pu em profundidade que, como já foi referido, não se adapta ao
comportamento desta estaca.
O método de Robertson et al. (1989) baseado no DMT conduz, de uma forma generalizada, a uma
boa previsão do comportamento das estacas para pequenos carregamentos. Para níveis de
carregamento superiores, a utilização de ângulos de atrito equivalentes aos que conduziram a um
melhor desempenho do método dos três troços, e que se encontram na gama de valores deduzidos
pelo ábaco de Marchetti (1985) adaptado por Campanella e Robertson (1991), é satisfatória na
simulação das estacas ensaiadas, embora não reproduza na totalidade o efeito da não linearidade.
SIMULAÇÃO NUMÉRICA
209
A adequabilidade deste método, ao maciço em estudo, pode ser melhorada, determinando a
resistência última do solo pela expressão (5.14), considerando os parâmetros apresentados no
Quadro 5-XV.
De uma forma geral, pode concluir-se que os métodos estudados prevêem razoavelmente o
comportamento das estacas ensaiadas, especialmente se forem efectuados alguns ajustes de forma
a ter em consideração as particularidades deste solo residual do granito.
211
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
6.1 CONCLUSÕES DO TRABALHO REALIZADO
O trabalho realizado visou uma melhor compreensão da resposta de estacas instaladas em solos
residuais do granito, quando solicitadas horizontalmente. Com este objectivo, foram realizados
ensaios de carga em verdadeira grandeza, sobre estacas bem instrumentadas.
A introdução ao tema em estudo foi realizada através de uma revisão bibliográfica dos métodos de
análise disponíveis.
Numa primeira abordagem o assunto foi tratado em termos de capacidade última das estacas por
perda resistência do maciço terroso. Refira-se, no entanto, que esta capacidade última das estacas
raramente constitui um factor determinante no seu dimensionamento, exceptuando-se os casos de
estacas curtas e rígidas.
Na maioria dos casos, a limitação dos deslocamentos das estacas e a verificação da resistência das
suas secções transversais à flexão e ao corte são os factores preponderantes no dimensionamento
destas fundações, quando solicitadas horizontalmente.
Na análise das deformações, os modelos distinguem-se principalmente pela forma como se modela o
comportamento do solo, dividindo-se em dois grupos: modelos discretos e modelos contínuos.
Nos modelos discretos, o solo é caracterizado por um conjunto de molas independentes com
comportamento elástico linear ou elástico não linear, traduzido pelas curvas “p-y”.
Nos modelos contínuos, o solo é considerado como um meio contínuo. As vias mais utilizadas para
resolver o problema de estacas solicitadas horizontalmente considerando este tipo de modelação do
solo, são o método das equações integrais e o método dos elementos finitos.
Por se julgar constituir um compromisso aceitável entre a simplicidade e grau de aproximação da
realidade, optou-se, no desenvolvimento do trabalho realizado, pela adopção do método das curvas
“p-y”. Assim, as propostas existentes referentes a este método foram analisadas em detalhe.
Revistos os conceitos teóricos mais preponderantes, a segunda fase do trabalho destinou-se à
descrição do campo experimental realizado nos terrenos da FEUP, num solo residual do granito do
Porto.
CAPITULO 6
212
Da campanha de caracterização geotécnica realizada, procurou-se deduzir todos os parâmetros do
solo relevantes, de forma a conseguir, posteriormente, uma análise fundamentada do
comportamento das estacas ensaiadas.
Da condução dos ensaios de carga realizados, podem reter-se, entre outros, os seguintes
ensinamentos práticos:
- é de extrema importância prever sistemas de medição redundantes, para que seja possível validar
os registos efectuados;
- é necessário utilizar transdutores de deslocamento e meios de aplicação da carga com curso
compatível com os deslocamentos expectáveis para as estacas a ensaiar, constituindo esta
observação um alerta importante para os responsáveis por estudos similares;
- os transdutores de deslocamentos devem ser correctamente posicionados e devem ser escolhidas
as dimensões dos elementos que lhe sirvam de base, tendo em conta a deformação esperada para as
estacas;
- para além de uma caracterização exaustiva do maciço terroso, é necessário avaliar as
características físicas e mecânicas de todos os materiais constituintes dos elementos de fundação;
- a extracção das estacas ensaiadas permite a observação do posicionamento correcto de uma
possível rótula plástica, que é uma ajuda importante na aferição das análises de comportamento.
A simulação numérica realizada das estacas ensaiadas, utilizando quatro métodos distintos, permitiu
retirar algumas conclusões acerca do comportamento do sistema solo residual - estaca.
Para pequenas profundidades, correspondentes a baixos níveis de carregamento, o solo residual em
estudo parece ter uma resistência última superior quando comparada à dos solos puramente
atríticos, o que pode ser justificado pela sua estrutura interparticular cimentada, de sobremaneira,
e pela componente matricial de sucção, eventualmente mais relevante a estes níveis mais
superficiais. A variação da resistência em profundidade não parece ser linearmente crescente.
Quanto à sua rigidez, a análise da evolução do módulo de distorção máximo do solo deduzido a
partir dos ensaios CH, indica uma pequena variação desta grandeza com a tensão efectiva, o que
implica um pequeno acréscimo do módulo de reacção do solo em profundidade. Esta tendência é
também própria dos solos naturalmente cimentados, com são os residuais em apreço.
Dos ensaios realizados e relativamente ao método de instalação das estacas, pode admitir-se que as
estacas moldadas com recurso a tubo recuperado e as executadas com trado contínuo oco têm
comportamentos semelhantes. A estaca cravada mostrou-se mais deformável comparativamente
CONSIDERAÇÕES FINAIS
213
com as realizadas pelos outros referidos métodos construtivos. Pode, assim, admitir-se que o efeito
da cravação não é benéfico para este fim, neste tipo de solos, o que é consequência das
características evolutivas destes solos residuais, cujas ligações interparticulares se perdem com a
indução de cargas dinâmicas, decorrendo daí uma perda da rigidez inicial (pequenas deformações) e
da resistência (coesão estrutural), sendo esta perda superior ao ganho devido à densificação. Esta
suposição apenas poderá ser bem fundamentada com a condução de mais ensaios da natureza dos
realizados, utilizando, no entanto, estacas com secções semelhantes para diferentes tipologias.
De uma forma geral, pode admitir-se que os métodos desenvolvidos para solos incoerentes podem
ser aplicados ao estudo de estacas solicitadas horizontalmente instaladas em solos residuais do
granito, realizando pequenos ajustes, para ter em consideração as particularidades deste tipo de
maciços, acima referidas.
Dentro da categoria dos métodos baseados em parâmetros fundamentais do solo, o método dos três
troços parece ser uma boa escolha na simulação de estacas solicitadas horizontalmente. No que se
refere aos métodos baseados em ensaios in situ, aqueles que utilizam os resultados dos ensaios com
o pressiómetro com pré-furação (PMT) e com o dilatómetro plano (DMT), desde que realizadas
algumas adaptações, também indiciam constituir uma boa via para a análise, tanto de estacas
moldadas, como de realizadas com recurso a trado contínuo, em solos residuais do granito. Em
estacas cravadas torna-se necessário, porém, que estes ensaios de caracterização sejam realizados
após a execução dos elementos de fundação, traduzindo o efeito daquela acção na alteração de
estado do maciço.
6.2 DESENVOLVIMENTOS FUTUROS
A validação das conclusões deste trabalho só poderá ser efectuada por uma observação continuada
de mais casos práticos, que permitam a acumulação de experiência neste domínio, envolvendo
tanto carregamentos de curta como também de longa duração.
O efeito do método construtivo das estacas no seu comportamento a acções horizontais, ainda não
ficou totalmente compreendido, pelo que apenas a realização de mais ensaios de carga sobre
estacas de diferentes tipologias, mas com as mesmas características geométricas poderá levar à sua
melhor compreensão. A quantificação do efeito da sucção em maciços parcialmente saturados,
tanto nos ensaios de caracterização como nas respostas aos carregamentos horizontais de estacas
construídas nestas condições deve também constituir mote de investigações futuras.
Não se tendo efectuado uma análise exaustiva do comportamento das estacas ensaiadas, seria
importante, num trabalho futuro, deduzir as curvas p-y directamente a partir das leituras
inclinométricas, bem como realizar a sua simulação com recurso a modelos contínuos.
215
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Símbolos:
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