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Eneida de Goes Leal TEORIA FONOLÓGICA E VARIAÇÃO:AQUEDA DE SÍLABA EM CAPIVARI E EM CAMPINAS (Versão corrigida) Tese apresentada junto ao Departamento de Linguística da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Doutora em Linguística. Orientadora: Profª Drª Raquel Santana Santos Coorientador: Prof Dr Emilio Gozze Pagotto São Paulo 2012

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EneidadeGoesLeal

TEORIAFONOLÓGICAEVARIAÇÃO:AQUEDADE

SÍLABAEMCAPIVARIEEMCAMPINAS(Versãocorrigida)

Tese apresentada junto ao Departamento deLinguística da Faculdade de Filosofia, Letras eCiências Humanas da Universidade de São PauloparaobtençãodotítulodeDoutoraemLinguística.

Orientadora: ProfªDrªRaquelSantanaSantosCoorientador: ProfDrEmilioGozzePagotto

SãoPaulo2012

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Unstablecondition/AsymptomoflifeInmentalandenvironmentalchange/Atmosphericdisturbance

Thefeverishflux/Ofhumaninterfaceandinterchange

Theimpulseispure/SometimesourcircuitsgetshortedByexternalinterference/Signalsgetcrossed

Andthebalancedistorted/Byinternalincoherence

Atiredmindbecomeashape-shifter/EverybodyneedamoodlifterEverybodyneedreversepolarity/Everybodygotmixedfeelings

Aboutthefunctionandtheform/Everybodygottodeviatefromthenorm

Anounceofperception/ApoundofobscureProcessinformationathalfspeed/Pause,rewind,replay

Warmmemorychip/Randomsampleholdtheoneyouneed

Leaveoutthefiction/ThefactisthisfrictionWillonlybewornbypersistence/Leaveoutconditions

Courageousconvictions/Willdragthedreamintoexistence

Atiredmindbecomeashape-shifter/EverybodyneedasoftfilterEverybodyneedreversepolarity/Everybodygotmixedfeelings

Aboutthefunctionandtheform/Everybodygottoelevatefromthenorm

Everybodygotmixedfeelings/EverybodygotmixedfeelingsEverybodygottodeviatefromthenorm/EverybodygottodeviatefromthenormEverybodygottoelevatefromthenorm/Everybodygottoelevatefromthenorm

EverybodygottoelevatefromthenormEverybodygottoevelatefromthenorm

Everybodygottoescalatefromthenorm/EverybodygottoelevateEverybodygottoelevatefromthenormEverybodygottodeviatefromthenooormEverybodygottodeviatefromthenorm

Lifeson, A.; Lee, G; Peart, N. (1981). Signos Vitais. Moving Pictures. Track 3, Side B.Canada:Anthem.

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ParaAntonioLeal(inmemorian),GloriaMadeGoesLeal,BelindadeGoesLeal

(anjosterrestres)

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AgradecimentosDepois de quatro anos, terminar de escrever uma tese é um momento de muita

alegria. Devo isto (e mais) à minha Orientadora, Profª Drª Raquel Santana Santos, com

quemtantoaprendieaprendo.AgradeçoàRaquelpeloapoio,pelasegurançatransmitida,

pelocontato,peladidáticaeficienteedireta.Dizemqueapupiladevesuperaramestra:é

commuito orgulho que serei sempre sua Eterna Aluna! QueDeus lhe dê em dobro e a

abençoehojeesempre.Brigada,Raquel!

Agradeço aoProfDr EmilioGozzePagotto,meu co-orientador, porme passar de

maneira tão fácil, simples o conhecimento sociolinguístico (tão legal aprender a jogar no

Varbrul).Agradeçotambémasreuniões(inclusiveasskypianasdealém-mar).

Agradeçomuitoàminhafamília,aosmeuspaise irmã,porserem/estaremsempre

presente.ÀmamãeeBê,agradeçodemaispelaspresençasconstantesaolongodaescrita

destatese.(Vamovêumfilminhoagora?)

AgradeçoaosProfsDrsEsterMirianScarpa,GiselaCollischonn,LucianiTenanie

Ronald Beline por comporem minha banca de defesa, um grande privilégio que tive.

Agradeçomuitotodososcomentários,queseguirãocomigoemminhavidaacadêmica.Aos

Profs Drs Emilio Gozze Pagotto e Ronald Beline, agradeço todos os comentários muito

proveitososnaminhaqualificaçãodedoutorado.

Agradeço às minhas irmãs de coração, Dimaura e Babi, pelo apoio e presença

constantes,mesmocomdistânciafísica.(Ai,quesaudádos6).

AgradeçoaoProfDrDrEverardopormeajudar/ensinartanto.Agradeçooombrotão

perto, tão amigo... Agradeço por me ajudar a passar pelas aventuras da vida (como a

escritadestatese,porexemplo),cheiasdetantosaltosebaixos!

AgradeçoaoProfDrBruceHayespor terme recebido naUniversity ofCalifornia,

LosAngeles.

Agradeço à CAPES pelas bolsas de doutorado e de sanduíche – sem elas,

impossível.

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AgradeçoàProfªDrªEsmeraldaV.NegrãoeEvaniViotti,pelagrandeajudaquando

saínosanduíche.

Érica,Ben-HureRobson,sempreali!Muitoobrigada!

Agradeço àAlinha, aoBrunoB. e àSymare pelo apoio enquanto estive longe da

minhaterrinha.Vocêsforamfundamentais!AgradeçotambémàMare,NetãoeVardopelas

boasevelhasgargalhadas.

ARodolfoefamília;àLetíciaefamília,agradeçopor...existirem...

AgradeçoaRodrigo,àSimonee,principalmente,àClarinhapormealegraremtanto

epor“estarem”comigoemLalaland.

AgradeçoàMariaAngelapor todososcafés “filosóficos”que tomamos, todosque

gostaríamosdetertomadoeportodososmuitosqueaindavamostomar.

Agradeço à Fer Consoni, Livia, Marquinhus Lunguinho, Renatchinha e Aline Cruz

por...seremmeusamigos!Tãobomquandoagenteseencontra!

AgradeçoàSamarapormeproporcionarmomentosmuitolegaisextra-sanduíches–

queralouim!(Whassup,guria?)

TotheLongs(KevinandMegan),Iamtrulythankfulforfindingyouguys.Ithankyou

guysforbecomingmyfamily.CometoBrazilRIGHTnow.Missyou.

Agradeçoatodososinformantes(maisdoque48,quesãoosqueestãonestatese)

quemeajudaramtanto,quemedeixaramentraremsuascasaseambientesdetrabalho,

dispostosaconversar!

AgradeçoaoAllan,àAndressa,àMaitê,àMelanieA.,àRaiça,àUilaeàVanessa

pelagrandeajudacomastranscrições.

Agradeço à Aline, Babi, Livia e Matchizinho por estarem na defesa. Agradeço às

suaspresençasconstantes,tantonaminhavidapessoalquantonaprofissional.

Agradeço à família Freitas Leal pela presença na defesa, representada pelo tio

Ditinho.Quealegria!

Agradeçoàpresença-surpresadeMarcia(CiaVi),àsuaamizade,aoseucarinhoe

apoio.AgradeçoàFernandaPimentaFalciroli pela presençanão físicanaminhadefesa.

AgradeçoàCiaViePincesaporserem.

À Teca, agradeço cada apoio, cada estímulo, cada interesse, cada palavra. Se

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Galileu fosse linguista, ele diria: “A linguística é a equação com qual Deusmultiplicou o

universo.”

Porfim,masnemumpouquinhosemimportância,agradeçoàtiaMá,Harol,tiaAna,

tioNenê,tioLamar,vôBene,pelosfinsdesemanadeliciosos,derisosebrincadeiras,que

tantomeajudarama“espairecer”eseguirescrevendoestatese.Tantasvezesdesopileio

fígado,comodiriaTica!

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ResumoEsta tese trata da comparação dos dialetos de Capivari e de Campinas, com o

objetivodeverificarseháumamesmaregradequedadesílabanasduascidadesouse

cadaumdosdialetostemcaracterísticasdiferentesparaoprocesso.

O trabalho tem base na teoria fonológica gerativista e na sociolinguística

variacionista, analisando variáveis linguísticas e sociais. As interferências linguísticas

analisadas foram os segmentos do contexto de queda de sílaba (com a geometria de

traços, cf. Clements & Hume 1995), as estruturas das duas sílabas do contexto de

apagamento (cf.Selkirk1982),aestruturamétrica (Selkirk1984,Hayes1995),aprosódia

(Nespor&Vogel1986)e,dapalavrasujeitaàqueda,verificamosonúmerodesílabasea

frequência de uso. Quanto às variáveis sociais, analisamos a escolaridade, o gênero, a

faixaetáriaeacidadedosinformantes.

No nível segmental, os resultados apontam que a igualdade dos segmentos não

interfereemCapivari,masháumainterferênciaemCampinas:osresultadosapontamque

nãoéaigualdadedoconteúdodassílabasqueéimportanteparaaaplicaçãodoprocesso,

massimascaracterísticasdaprimeirasílaba(aquelasujeitaaoapagamento).Comrelação

às consoantes, pudemos observar que coronais favorecem e nasais desfavorecem, em

ambososdialetos –edemodoquase idêntico.Noentanto, háumagrandediferençana

implementaçãonocontextoconsonantalcomdorsais:oprocessoéfavorecidoemCapivari

e desfavorecido em Campinas. No que concerne às vogais, pudemos verificar que há

diferençasnasduascidades,poissequências[coronal+coronal]e[dorso-labial+coronal]

sãoneutrasaoprocessoemCapivariefavorecememCampinas.Aindaparaasvogais,o

quepareceimportarnãoéaigualdadedasduassílabas,massimotraçodavogalsujeita

ao apagamento, assim como apontam os resultados para a igualdade do conteúdo das

sílabas(emCampinas).

Nonívelsuprassegmental,paraasestruturasdassílabas,ascidadesdiferemsea

primeirasílabaforumaCVseguidadeoutrostiposdeestruturas:háumaneutralidadeem

Capivari e em Campinas há um favorecimento. Com relação a número de sílabas, o

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tamanho da palavra importa para Capivari (quanto maior a palavra, há um leve

favorecimento),enquantoqueestavariávelnãofoiselecionadaemCampinas.

No âmbito lexical, foi visto que a frequência de uso da palavra sujeita à queda

importa para o dialeto de Campinas (palavras de frequência média de uso favorecem

levemente; em palavras de frequência alta, há uma neutralidade; e palavras de baixa

frequência desfavorecem um pouco). Uma vez que esta variável não foi selecionada em

Capivari, podemos concluir que há uma diferença na queda de sílaba nas duas cidades,

comrelaçãoàfrequênciadeusodaprimeirapalavra.

Assim,podemosafirmarquehádiferençassegmentais,suprassegmentaiselexicais

nasduascidades;sóhásemelhançascomrelaçãoàCavidadeOraldasConsoantessem

distinguir a nasalidade entre as variantes (pois esta variável não foi selecionada em

nenhumadascidades),ecomrelaçãoàProsódia(osresultadosforammuitoparecidos:há

um leve favorecimento entre duas frases fonológicas, neutralidadeentre grupos clíticos e

umpoucodedesfavorecimentoentrefrasesentonacionais).

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AbstractThisdissertationdealswithsyllabledropinCapivariandCampinas’dialectsandthe

principleaimistoverifywhetherthereisonesinglephonologicalruleortwodistinctsyllable

droprulesforbothcities.

This work is based on generative phonological theory and variacionist

sociolinguistics,henceweanalyzebothlinguisticandsocialvariables.Thelinguisticfactors

analyzed were the segments (feature geometry, cf. Clements & Hume 1995), syllable

structure (cf. Selkirk 1982), metrical structure (Hayes 1995), prosody (Nespor & Vogel

1986),numberofsyllables,andusagefrequencyforthefirstwordinthecontext.Asforthe

socialfactors,weanalyzedthesubjectsschooling,gender,age,andcity.

At segmental level, we have found that it is not important for the segments to be

equalinCapivari,anditisinCampinasinstead.Asfortheconsonants,coronalsarebiased,

andnasalsdisfavortheprocess,inbothcities.Ontheotherhand,thereisagreatdifference

in consonantal context concerning to dorsals: syllable drop is favored in Capivari and

disfavored inCampinas.Considering thevowels, therearedifferencesbetween the cities,

sincesequencesof[coronal+coronal]and[dorso-labial+coronal]areunbiasedinCapivari

andfavoringinCampinas.

At the suprasegmental level, both the dialects behave differently as for syllable

structure if the first one is CV followed by other types of structures: the process is

neutralized in Capivari and there is a favoring effect in Campinas. Regarding number of

syllables,thesizeofthewordundergoingtheprocessisimportantinCapivari(biggerwords

areslightlybiased),andthisvariablehasnotbeenselectedinCampinas.

Inrelationtothelexicallevel,usagefrequencyofthefirstword(subjectedtodeletion)

matters in Campinas (average frequency words slightly favor; high frequency words are

unbiased,andlowfrequencywordsslightlydisfavor).Sincethisvariablewasnotselectedin

Capivari,weunderstandthatthereisadifferenceinusagefrequencyofwordsbetweenthe

cities.

Therefore, we can conclude that there are segmental, suprasegmental e lexical

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differencesinCapivariandCampinas.ThereareequaleffectsinthevariableOralCavityof

Consonants if [nasal] feature isnot taken intoaccount (thisvariablewasneverselected in

thecities),andequaleffectsinProsodyvariable(theresultswereverysimilar:theprocessis

aslightlyfavoredbetweenphonologicalphrases,it isunbiasedbetweencliticgroupsandit

isslightlydisfavoredbetweenentonationalphrases).

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SumárioAgradecimentos...............................................................................................................iv

Resumo..............................................................................................................................vii

Abstract..............................................................................................................................ix

ListadeTabelas.............................................................................................................xvi

ListadeGráficos.............................................................................................................xix

CAPÍTULOI .......................................................................................................................... 1

1.Introdução....................................................................................................................... 1

1.1.Oqueéaquedadesílaba? ............................................................................................... 31.2.Ascidades:ospanoramassociaiseosdialetos ........................................................ 41.2.1.Formaçãodascidadesepanoramassociais ..................................................................... 51.2.2.Osdialetoscapivarianoecampineiro.................................................................................. 7

1.3.Oquadroteóricoequestõesaseremrespondidas ................................................. 91.4.Organizaçãodatese ........................................................................................................ 11

CAPÍTULOII .......................................................................................................................12

2.Oquadroteórico .........................................................................................................12

2.1.Osmodelosvariacionistaegerativista:pontosdediálogo ............................... 122.2.Teoriasfonológicas ......................................................................................................... 172.2.1.Geometriadetraços:aestruturainternadossegmentos........................................ 172.2.2.Aestruturasilábica(doportuguêsbrasileiro) ............................................................. 222.2.3.Acentoeestruturamétrica.................................................................................................... 262.2.4.Hierarquiaprosódica:ainterfacefonologiaeoutrosníveisgramaticais ......... 32

CAPÍTULOIII .....................................................................................................................37

3.Adefiniçãodoprocessodequedadesílaba ......................................................37

3.1.Elisãosilábica.................................................................................................................... 383.2.Haplologia .......................................................................................................................... 413.2.1.Contextosegmental .................................................................................................................. 423.2.2.Estruturasilábica ...................................................................................................................... 49

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3.2.3.Métrica ........................................................................................................................................... 503.2.4.Prosódia......................................................................................................................................... 52

3.3.AanálisedeLeal(2006):unindoosdoisprocessos ............................................ 533.4.Coalescênciaouapagamento....................................................................................... 59

CAPÍTULOIV......................................................................................................................67

4.Metodologia ..................................................................................................................67

4.1.Oenvelopedevariação.................................................................................................. 694.1.1.Ocorpus ......................................................................................................................................... 694.1.2.Coletadedados:asrestrições.............................................................................................. 714.1.3.Afonética ...................................................................................................................................... 784.1.4.Osgruposdefatores................................................................................................................. 814.1.4.1.Osgruposdefatoreslinguísticos ................................................................................................ 824.1.4.1.1.Contextosegmental.................................................................................................................. 824.1.4.1.1.1.IgualdadedeSegmentosnasSílabasCV ................................................................ 834.1.4.1.1.2.CavidadeOraldasConsoantes ................................................................................... 874.1.4.1.1.3.CavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode[nasal] ............................... 894.1.4.1.1.4.CavidadeOraldasVogais.............................................................................................. 92

4.1.4.1.2.EstruturaSilábica...................................................................................................................... 934.1.4.1.3.Métrica........................................................................................................................................... 964.1.4.1.4.Prosódia ........................................................................................................................................ 994.1.4.1.5.NúmerodeSílabas..................................................................................................................1014.1.4.1.6.FrequênciadeUsodePalavras .........................................................................................103

4.1.4.2.Osgruposdefatoressociais ........................................................................................................1054.1.4.2.1.Escolaridade..............................................................................................................................1054.1.4.2.2.Gênero..........................................................................................................................................1064.1.4.2.3.FaixaEtária ................................................................................................................................1074.1.4.2.4.Informantes ...............................................................................................................................1074.1.4.2.5.Cidade ..........................................................................................................................................109

4.1.5.Sumáriodoenvelope .............................................................................................................109

CAPÍTULOV .................................................................................................................... 112

5.Resultadosgerais..................................................................................................... 112

5.1.Oestudopiloto................................................................................................................1125.1.1.Casosparticularesnoestudopiloto ................................................................................115

5.2.Distribuiçãogeralecomputaçãodosdados .........................................................118

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5.3.Resultados:asduascidades .......................................................................................1225.3.1.Asvariáveislinguísticas .......................................................................................................1225.3.1.1.Contextosegmental.........................................................................................................................1235.3.1.1.1.IgualdadedeSegmentosnasSílabas ..............................................................................1235.3.1.1.2.CavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode[nasal] ......................................1275.3.1.1.3.CavidadeOraldasVogais.....................................................................................................130

5.3.1.2.Estruturadassílabas ......................................................................................................................1335.3.1.3.Métrica..................................................................................................................................................1355.3.1.4.Prosódia ...............................................................................................................................................1385.3.1.5.NúmerodeSílabas...........................................................................................................................1405.3.1.6.FrequênciadeUsodePalavras ..................................................................................................142

5.3.2.Asvariáveissociaisnasduascidades .............................................................................1435.3.2.1.Escolaridade.......................................................................................................................................1435.3.2.2.Gênero...................................................................................................................................................1445.3.2.3.FaixaEtária .........................................................................................................................................1445.3.2.4.Informantes ........................................................................................................................................1455.3.2.5.Cidade....................................................................................................................................................148

5.4.Resumo..............................................................................................................................149

CAPÍTULOVI................................................................................................................... 152

6.EmCapivari ................................................................................................................ 1526.1.Asvariáveislinguísticas ..............................................................................................1526.1.1.Contextosegmental ................................................................................................................1536.1.1.1.IgualdadedeSegmentosnasSílabas .......................................................................................1536.1.1.2.CavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode[nasal] ...............................................1556.1.1.3.CavidadeOraldasVogais..............................................................................................................157

6.1.2.EstruturaSilábica ....................................................................................................................1596.1.3.Métrica .........................................................................................................................................1616.1.4.Prosódia.......................................................................................................................................1636.1.5.NúmerodeSílabas ..................................................................................................................1646.1.6.FrequênciadeUsodePalavras..........................................................................................166

6.2.AsvariáveissociaisemCapivari...............................................................................1666.2.1.Escolaridade ..............................................................................................................................1666.2.2.Gênero ..........................................................................................................................................1676.2.3.FaixaEtária ................................................................................................................................1676.2.4.Informantes................................................................................................................................168

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CAPÍTULOVII ................................................................................................................. 170

7.EmCampinas ............................................................................................................. 170

7.1.Asvariáveislinguísticas ..............................................................................................1707.1.1.Contextosegmental ................................................................................................................1717.1.1.1.IgualdadedeSegmentosnasSílabas .......................................................................................1717.1.1.2.CavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode[nasal] ...............................................1727.1.1.3.CavidadeOraldasVogais..............................................................................................................174

7.1.2.Estruturadassílabas..............................................................................................................1767.1.3.Métrica .........................................................................................................................................1777.1.4.Prosódia.......................................................................................................................................1797.1.5.NúmerodeSílabas ..................................................................................................................1807.1.6.FrequênciadeUsodePalavras..........................................................................................182

7.2.AsvariáveissociaisemCampinas ............................................................................1837.2.1.Escolaridade ..............................................................................................................................1837.2.2.Gênero ..........................................................................................................................................1837.2.3.FaixaEtária ................................................................................................................................1847.2.4.Informantes................................................................................................................................184

CAPÍTULOVIII................................................................................................................ 186

8.Comparaçãodasduascidades............................................................................. 186

8.1.Asigualdades...................................................................................................................1878.1.1.CavidadeOraldasConsoantes...........................................................................................1878.1.2.Prosódia.......................................................................................................................................1878.1.3.Osgruposdefatoresexternos ...........................................................................................189

8.2.Assimilaridades.............................................................................................................1898.2.1.CavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode[nasal].......................................1898.2.2.CavidadeOraldasVogais .....................................................................................................1918.2.3.EstruturaSilábica ....................................................................................................................1938.2.4.Métrica .........................................................................................................................................1958.2.5.Gênero ..........................................................................................................................................197

8.3.Asdiferenças ...................................................................................................................1978.3.1.IgualdadedeSegmentos.......................................................................................................1988.3.2.NúmerodeSílabas ..................................................................................................................1998.3.3.FrequênciadeUsodePalavras..........................................................................................200

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xv

8.3.4.EscolaridadeeFaixaEtária .................................................................................................2008.4.Resumo..............................................................................................................................2028.5.Duascidades,duasregras?.........................................................................................205

CAPÍTULOIX................................................................................................................... 210

9.Algumasquestõeslinguísticas ............................................................................ 210

9.1.Métrica...............................................................................................................................2109.2.Prosódia ............................................................................................................................2139.3.Tamanhodapalavra .....................................................................................................2159.4.Estruturasilábicaegeometriadetraços:Sílabasousegmentos?.................216

CAPÍTULOX .................................................................................................................... 226

10.Conclusão ................................................................................................................. 226

10.1.Doquefoiconstatado ................................................................................................22710.2.Daspistasencontradas:continuaçãodeestudos.............................................230

ReferênciasBibliográficas......................................................................................... 234

Anexos.............................................................................................................................. 240

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xvi

ListadeTabelasTabela1 –Comparaçãodostraçosinternosdeconsoantes ............................................. 39

Tabela2 –Aplicaçõesdehaplologiacomrelaçãoàsconsoantes(Pavezi2006a:25)–fala

espontânea .................................................................................................................... 45

Tabela3 –Haplologiaetonicidade,adaptadodeTenani(2002:141)............................... 51

Tabela4 –Haplologiaedomíniosprosódicos–dadosadaptadosdePavezi(2006a:52) 52

Tabela5 –Variáveisexternasparaaconstituiçãodocorpus............................................ 70

Tabela6 – Aplicações de haplologia em contextos com consoantes [nasal] no teste de

Pavezi(2006a:115)....................................................................................................... 90

Tabela7 –Os48informantes .......................................................................................... 108

Tabela8 –Sumáriodoenvelopedevariação.................................................................. 110

Tabela9 –Informantesutilizadosnaprimeiraanálise ..................................................... 113

Tabela10 –Frequênciasdasconsoantessegundoascavidadesorais.......................... 114

Tabela11 – Aplicações de queda de sílaba com cavidades orais das consoantes

diferentes ..................................................................................................................... 116

Tabela12 –Resultadosgeraisdeaplicaçãodequedadesílaba.................................... 118

Tabela13 – Semelhanças nos pesos relativos da variável Frequência de Uso das

Palavras ....................................................................................................................... 120

Tabela14 –VariávelIgualdadedeSegmentos(asduascidades) .................................. 124

Tabela15 –VariávelCavidadeOraldasConsoantescomDistinçãodoTraço [nasal] (as

duascidades) .............................................................................................................. 127

Tabela16 –VariávelCavidadeOraldasVogais(asduascidades) ................................ 130

Tabela17 –VariávelEstruturaSilábica(asduascidades).............................................. 133

Tabela18 –VariávelMétrica(asduascidades) .............................................................. 135

Tabela19 –VariávelProsódia(asduascidades)............................................................ 138

Tabela20 –VariávelNúmerodeSílabas(asduascidades) ........................................... 140

Tabela21 –VariávelFrequênciadeUsodePalavras(asduascidades)........................ 142

Tabela22 –FrequênciasdavariávelEscolaridade(asduascidades) ............................ 144

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xvii

Tabela23 –FrequênciasdavariávelGênero(asduascidades)..................................... 144

Tabela24 –FrequênciasdavariávelFaixaEtária(asduascidades).............................. 144

Tabela25 –VariávelInformante(asduascidades)......................................................... 145

Tabela26 –FrequênciasdavariávelCidade................................................................... 148

Tabela27 –ResultadosdeaplicaçãodequedadesílabaemCapivari .......................... 152

Tabela28 –VariávelIgualdadedeSegmentosapenasdarodada2(Capivari).............. 154

Tabela29 – Variável Cavidade Oral das Consoantes com Distinção do Traço [nasal]

(Capivari) ..................................................................................................................... 156

Tabela30 –VariávelCavidadeOraldasVogais(Capivari) ............................................. 158

Tabela31 –VariávelEstruturaSilábica(Capivari)........................................................... 160

Tabela32 –VariávelMétrica(Capivari) ........................................................................... 162

Tabela33 –VariávelProsódia(Capivari)......................................................................... 163

Tabela34 –VariávelNúmerodeSílabas(Capivari) ........................................................ 165

Tabela35 –VariávelFrequênciadeUsodePalavras(Capivari) .................................... 166

Tabela36 –FrequênciasdavariávelEscolaridade(Capivari)......................................... 167

Tabela37 –FrequênciasdavariávelGênero(Capivari).................................................. 167

Tabela38 –FrequênciasdavariávelFaixaEtária(Capivari) .......................................... 168

Tabela39 –ResultadosdeaplicaçãodequedadesílabaemCampinas ....................... 170

Tabela40 –VariávelIgualdadedeSegmentos(Campinas)............................................ 171

Tabela41 – Variável Cavidade Oral das Consoantes com Distinção do Traço [nasal]

(Campinas) .................................................................................................................. 173

Tabela42 –VariávelCavidadeOraldasVogais(Campinas) .......................................... 174

Tabela43 –VariávelEstruturaSilábica(Campinas)........................................................ 176

Tabela44 –VariávelMétrica(Campinas) ........................................................................ 178

Tabela45 –VariávelProsódia(Campinas)...................................................................... 179

Tabela46 –VariávelNúmerodeSílabasnarodada2(Campinas)................................. 181

Tabela47 –VariávelFrequênciadeUsodePalavras(Campinas) ................................. 182

Tabela48 –FrequênciasdavariávelEscolaridade(Campinas)...................................... 183

Tabela49 –FrequênciasdavariávelGênero(Campinas)............................................... 184

Tabela50 –FrequênciasdavariávelFaixaEtária(Campinas) ....................................... 184

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Tabela51 – Comparação da variável Gênero na rodada Geral, em Capivari e em

Campinas..................................................................................................................... 197

Tabela52 –FrequênciasdasvariáveisexternasdeEscolaridadeeFaixaEtáriadarodada

Geral,emCapivarieemCampinas............................................................................. 201

Tabela53 –ResumodastendênciasdasfatoresemCapivarieCampinas.................... 203

Tabela54 –Resumodasdiferenças,semelhançaseigualdadesemCapivarieCampinas

206

Tabela55 –Relaçãoentreaquedadesílabaeahierarquiadeacentoemqueprimeira

palavraé[x•]) ............................................................................................................ 211

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xix

ListadeGráficosGráfico1 –Relaçãoentreconstituintesnageometriadetraços........................................ 19

Gráfico2 –Geometriadetraços(adaptadodeClements&Hume1995:292) .................. 20

Gráfico3 –Organizaçãointernadetraçosdasconsoantes/t/e/d/................................... 21

Gráfico4 –Espectrogramade quedado clítico: posTODESAúde> pos(TODE) saúde

[ˈpos:aˈude]..................................................................................................................... 77

Gráfico5 –SemelhançasnospesosrelativosdavariávelFrequênciadeUsodasPalavras

121

Gráfico6 –VariávelIgualdadedeSegmentos(asduascidades).................................... 126

Gráfico7 –VariávelCavidadeOral dasConsoantes comDistinção do Traço [nasal] (as

duascidades) .............................................................................................................. 129

Gráfico8 –VariávelCavidadeOraldasVogais(asduascidades).................................. 132

Gráfico9 –VariávelEstruturaSilábica(asduascidades) ............................................... 134

Gráfico10 –VariávelMétrica(asduascidades) .............................................................. 137

Gráfico11 –VariávelProsódia(asduascidades) ........................................................... 140

Gráfico12 –VariávelNúmerodeSílabas(asduascidades) ........................................... 141

Gráfico13 –VariávelFrequênciadeUsodePalavras(asduascidades) ....................... 143

Gráfico14 –PesosrelativosdavariávelInformante(rodada1–asduascidades)......... 147

Gráfico15 –VariávelIgualdadedeSegmentosapenasdarodada2(Capivari) ............. 155

Gráfico16 – Variável Cavidade Oral das Consoantes com Distinção do Traço [nasal]

(Capivari) ..................................................................................................................... 157

Gráfico17 –VariávelCavidadeOraldasVogais(Capivari)............................................. 159

Gráfico18 –VariávelEstruturaSilábica(Capivari) .......................................................... 161

Gráfico19 –VariávelMétrica(Capivari)........................................................................... 163

Gráfico20 –VariávelProsódia(Capivari) ........................................................................ 164

Gráfico21 –VariávelNúmerodeSílabas(Capivari)........................................................ 165

Gráfico22 –PesosrelativosdavariávelInformante(Capivari) ....................................... 168

Gráfico23 –VariávelIgualdadedeSegmentos(Campinas) ........................................... 172

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Gráfico24 – Variável Cavidade Oral das Consoantes com Distinção do Traço [nasal]

(Campinas) .................................................................................................................. 173

Gráfico25 –VariávelCavidadeOraldasVogais(Campinas).......................................... 175

Gráfico26 –VariávelEstruturaSilábica(Campinas) ....................................................... 177

Gráfico27 –VariávelMétrica(Campinas)........................................................................ 179

Gráfico28 –VariávelProsódia(Campinas) ..................................................................... 180

Gráfico29 –VariávelNúmerodeSílabasnarodada2(Campinas) ................................ 181

Gráfico30 –VariávelFrequênciadeUsodePalavras(Campinas) ................................. 182

Gráfico31 –PesosrelativosdavariávelInformante(Campinas) .................................... 185

Gráfico32 – Comparação da variável Prosódia na rodada Geral, em Capivari e em

Campinas..................................................................................................................... 188

Gráfico33 –Comparação da variável CavidadeOral dasConsoantes comDistinção do

Traço[nasal]narodadaGeral,emCapivarieemCampinas...................................... 190

Gráfico34 – Comparação da variável Cavidade Oral das Vogais na rodada Geral, em

CapivarieemCampinas ............................................................................................. 192

Gráfico35 –ComparaçãodavariávelEstruturaSilábicana rodadaGeral, emCapivari e

emCampinas............................................................................................................... 194

Gráfico36 – Comparação da variável Métrica na rodada Geral, em Capivari e em

Campinas..................................................................................................................... 196

Gráfico37 – Comparação da variável Igualdade de Segmentos na rodada Geral, em

CapivarieemCampinas ............................................................................................. 198

Gráfico38 –Geometriadosnós: raiz, laringale cavidadeoral (adaptadodeClements&

Hume1995:292) ......................................................................................................... 221

Gráfico39 –Aplicaçãodequedadesílaba:nóderaiz .................................................... 222

Gráfico40 –Geometriadosnós: raiz, laringale cavidadeoral (adaptadodeClements&

Hume1995:292) ......................................................................................................... 225

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1

CAPÍTULOI

1. IntroduçãoEsta tese(praticamente) teve inícioapartirdeumdiálogoentreduascapivarianas,

umasenhoraesuaneta,emqueestaperguntavaondeestavaseupai:1

Criança –Vó,cadêmeupai?

Avó –Foinaacademia.

Criança –QueméMia?

No diálogo acima, na academia tem uma forma fonética muito semelhante na

produçãodaavó(cf.(1))enapercepçãodacriança(ver(2)):2

(1) produçãodaavó > [nɐ.ˌka.de.ˈmi.a]

(2) percepçãodacriança > [nɐ.ˈka.de.ˈmi.a]

Asformasfonéticasnãosãoidênticas,jáqueasílaba[ka]recebeacentosecundário

em(1)eacentoprimárioem(2).Noentanto,estadiferençanãoresolveaambiguidadeentre

oqueaavóproduziueoqueanetaentendeu.Adiferençaentreaformafonológicadaavó

(ver(3))eaformafonológicadacriança(cf.(4))édadaaseguir:

(3) /na.a.ˌka.de.ˈmi.a/ > n[a]cademia > [na.ˌka.de.ˈmi.a]

(4) /na.ˈka.za.de.ˈmia/> naca(sa)deMia > [na.ˈka.de.ˈmi.a]

Um outro exemplo domesmo fenômeno ocorre na realização a seguir, em que o

outputfonéticoem(5)podeserresultadodedoisinputsfonológicosemCapivari;oprimeiro,

apresentado em (5)a), é comum a diversos outros falares, enquanto que o input (5)b) é

1Nodiálogoaseguir,esclareçoquenãoháregradealçamentoemCapivarieoartigonãoéusadonafrentedenomespróprios.2Emtodososexemplosdestatese,astranscriçõesseguemoIPA(InternationalPhoneticAlphabet)e,comosevêem(1)e(2),ossímbolos“ˈ”e“ˌ”indicamacentoprimárioesecundário,respectivamente.

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peculiaràCapivari:3

(5) [ˈvi.a.ka.ˈdɛ.lɐ]

a)Viacadela.

b)Viaca(SA)DEla.

ApeculiaridadequeencontramosemCapivariestáapresentadanaquedadesílaba

em(5)b)ca(sa)dela:searealizaçãoem(5)[ˈvi.a.ka.ˈdɛ.lɐ]forouvidaporumcampineiro,a

única interpretação para ele é (5)a)Vi a cadela, e nunca (5)b)Vi a ca(SA)DEla. Para os

capivarianos, é o contexto que vai dizer se o assunto é “uma cachorra” ou “uma casa”.

Curiosamente,seo tópicodaconversa for “umacasa”,comumarealização [ˈka.ˈdɛ.lɐ],os

capivarianosparecemnãonotaraambiguidadecom“a fêmeadocão”.Noteaindaquehá

diferençanoacentodasílabaka:emViacadela,o[ka]éumasílabafraca,[ˈvi.a.ka.ˈdɛ.lɐ],

enquanto que em Vi a ca(SA) DEla, o [ka] que restou de casa porta acento primário

[ˈvi.a.ˈka.ˈdɛ.lɐ].Mesmocomestadiferençaacentual,háambiguidade.

FoiapartirdestadiferençaentreumaproduçãoquepodeserambíguaemCapivarie

quepodecausarestranhamentoemCampinasquedecidimosporentendermelhoraqueda

desílabanasduascidades.

Assim,oprincipalobjetivodestateseéanalisarascaracterísticasdequedadesílaba

emduascidadesdo interiorpaulista,CapivarieCampinas,observando-seseasvariáveis

linguísticasesociaisquepodeminterferirnesteprocessofonológicoatuamdemaneiraigual

oudiferentenasduascidades, tendocomoassunçãoqueaaplicaçãodaquedadesílaba

nãosedáaleatoriamenteemnenhumadascidades.

Para as interferências linguísticas, os níveis analisados foram o segmental

(consoantesevogais),osuprassegmental(estruturasilábica,métrica,prosódiaenúmerode

sílabas)eolexical(nestecaso,aanálisedizrespeitoàfrequênciadeusodepalavras).Com

relaçãoàsvariáveissociais,examinamosaatuaçãodaescolaridade,dogêneroedafaixa

etáriadosinformantes.

Na próxima subseção, passamos a delimitar o escopo do trabalho, definindo o

processofonológico.

3 O contexto segmental de queda de sílaba está representado em maiúsculas e os parênteses indicam oapagamentodesegmento(s).

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1.1. Oqueéaquedadesílaba?

Osestudossobreaquedadesílabanãosãonovos.Umadenossasreferênciasmais

constanteséde,porexemplo,30anos(cf.Alkmim&Gomes1982).Demodogeral,aqueda

desílabaédefinidacomoumprocessofonológicoemqueaadjacênciadeduassílabasque

tenham unidades internas iguais ou semelhantes resulta em apagamento de uma delas.

Nesta tese, o processo estudado é o de sândi externo, ou seja, a queda de sílaba que

ocorreentrefronteirasmaioresdoqueapalavra.

Geralmente, a queda de sílaba é dividida em dois processos fonológicos: a elisão

silábica(exemplificadoem(7))eahaplologia(cf.exemplo(6))–esteéotipodequedade

sílaba mais estudado na literatura (cf. referências apresentadas na seção 3). Em linhas

gerais, a diferença entre elisão silábica e haplologia é que, nesta última, as consoantes

podemdiferir,nomáximo,notraço[vozeamento](cf.exemplo(6)),enquantoquenaelisão

silábica,hámaisdiferençadoque[vozeamento]–em(7),asconsoantesdiferemem[nasal],

porexemplo,eaplicaçãoépossível(emCapivari,cf.Leal2006).Osexemplos(6),(7)e(9)

sãodeLeal(2006)4eoexemplo(8)édeAlkmim&Gomes(1982:49):

(6) /te+da/ nafren(TE)DApopular [ˈfrẽ.da]popular (ALES)

(7) /dos+nuN/senta(DOS)NUMcanto sen[ˈta.nũ]canto (ALES)

(8) /go+de/ *pin(GO)DEleite5>ping(o)deleite *pin[dʒi]leite (teste)

(9) /va+bo/ *viú(VA)BOnita>viúV(A)BOnita *viú[bu]nita (teste)

No exemplo (6), o contexto consonantal /te+da/ é formado por duas consoantes

coronais[-contínuo],naterminologiadageometriadetraços(cf.Clements&Hume1995e

subseção 2.2.1), com uma única diferença entre as consoantes, o [vozeamento]: /t/ é

[-vozeado]e/d/é[+vozeado]).Ocontextoconsonantal/d+n/em(7)écompostotambémde

duas coronais [-contínuo], mas a primeira é oral e a segunda é uma nasal.6 Pode haver

aplicação de queda de sílaba no exemplo (6), de acordo com Alkmim & Gomes (1982),

Battisti (2004), Tenani (2002), Pavezi (2006a) e Leal (2006); e foram atestados casos de

4 O informante que proferiu a sentença está marcado pelas letras entre parênteses; aqueles em que estãomarcados(teste)sãoexemplosdotestedegramaticalidadedeLeal(2006).5Usamososinaldeasteriscoparaindicarqueasentençaéagramatical.6 Observe que /n/, apesar de ser [+contínuo] na cavidade nasal, é [-contínuo] na cavidade oral (cf. 2.2.1 eClements&Hume1995).

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quedade sílabaemcontextos como (7) nodialeto deCapivari, segundoLeal (2006).Por

outro lado, há bloqueio da queda de sílaba nos exemplos (8) e (9): no primeiro caso, o

contexto /go+de/ são duas consoantes [-contínuo] com pontos de C diferentes, [dorsal +

coronal]; no segundo caso, as consoantes de /va+bo/ são duas [labial], e a diferença do

contextoestánovalorparacontínuo:aprimeiraconsoante/v/[+contínuo]easegunda/b/[-

contínuo])tornaasentençaagramatical,mesmotendoumvalorigualdepontodeC.

Estes exemplos (6)-(9) ilustram que a queda de sílaba depende do contexto

consonantalparaocorrer:osnósdascavidadesoraisdasconsoantesdevemseriguais(cf.

Leal2006),sendoquehábloqueioseasconsoantes foremdiferentesempontodeC(ver

(8))ouem[contínuo](cf.(9)).

Comovimosnosexemplos,háaplicaçõesdequedadesílabaquenãosãoaceitas

emCampinas,masquesãousuaisemCapivari, emboraascidades tenhamumamesma

herançadialetal(cf.subseção1.2aseguir).Destaforma,apresentoospanoramassociaise

osdialetosdeCapivariedeCampinasnasubseçãoaseguir.

1.2. Ascidades:ospanoramassociaiseosdialetos

AescolhadeseestudarCapivari foi feitaapartirdos resultadosobtidosemminha

dissertaçãodemestrado(Leal2006):nestetrabalho,verificou-sequeocontextosegmental

dequedadesílabaémaisabrangente (em termosde traços fonológicos)doqueaqueles

reportadosnaliteratura(cf.CapítuloIIIereferênciasalicitadas).

Ao longo da feitura da dissertação, pudemos notar também que contextos

segmentais que eram gramaticais em Capivari (tanto nos testes quanto nos dados das

entrevistas)eramagramaticaisparafalantesdecidadespróximas.Escolhemosentãoeleger

Campinas, cidade a 54 quilômetros, e cujos informantes apresentam o fenômeno nos

moldesemqueeleédescritopelaliteraturaparacomparação.Assim,dadaasdiferençasde

aplicação de queda de sílaba, um trabalho interessante seria comparar as duas cidades,

quantificandodados,afimdeverificarsehá,defato,diferençasnaaplicaçãodequedade

sílabaentreCapivarieCampinas.

Outros fatores interessantes se colocaram: estas duas cidades têm uma mesma

herança dialetal (cf. subseção 1.2.1), mas seguiram caminhos diferentes de

desenvolvimentos sociais e dos dialetos (cf. subseções 1.2.1 e 1.2.2). Nacionalmente,

Campinaséumaregiãometropolitana (RM),uma regiãoadministrativa (RA)euma região

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de governo (RG), enquanto que Capivari pertence à RM e à RA de Campinas e à RG

Piracicaba.7

Nassubseçõesaseguir,examinamosbrevementeahistóriadaformaçãodasduas

cidades e seus panoramas socioeconômico atuais (cf. 1.2.1); em seguida, descrevemos

como a definição do contexto segmental de queda de sílaba pode depender do dialeto

estudado, nosso ponto de partida para a comparação entre os dialetos de Campinas e

Capivari(ver1.2.2).

1.2.1. Formaçãodascidadesepanoramassociais

Na época da colonização, houve diversos momentos de picos de vindas de

portuguesesaoBrasil,comooda“corridadoouro”,nofinaldoséculoXVII(MattoseSilva

2004: 74-5). A exploração do ouro foi uma das principais razões para a formação das

cidades de Campinas e Capivari:8 exploradores em busca de riqueza e bandeirantes

enviadospelacortesaíamdaregiãodeSãoPaulo,entrandopelasmataserios,emdireção

ao estado do Mato Grosso (região em que havia jazidas de ouro), formando-se

acampamentos por essas passagens. Estes acampamentos acabavam por se tornar

vilarejosnasáreasemquehojeestãoCampinaseCapivari.

No século XIX, depois do estabelecimento das cidades propriamente ditas

(Campinas em 1774 e Capivari em 1832), a agricultura passa a ser a principal atividade

econômica, com base principalmente nas lavouras de cana de açúcar e café. Estas

sociedadeseramconstituídasdedonosdeengenhoedemigrantes(provindosdecidades

vizinhas)eimigrantes,quesupriamamãodeobrabarata.

Jánasdécadasde1950e1960,omovimentodemigraçãopopulacionaldaszonas

ruraisparaasurbanasfazcomqueCampinassedestaquecomoograndepólourbanono

interiordeSãoPaulo,enquantoqueaurbanizaçãodeCapivaripodesercomparadaàdos

bairros de Campinas na mesma época. Numa entrevista que faz parte do corpus deste

7RMéareuniãodeumcentropopulacional(acidadedeCampinasnestecaso)esuascidadessatélites,quetenhamaltograudeintegração(econômica,políticaoucultural).RAeRGsãosubdivisõesqueestãoabaixodosestados,aglomeradosdecidadesdeacordocomsimilaridadeseconômicasesociais.RMsestãoprevistasnaConstituição Federal: cada estado brasileiro pode “instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas emicrorregiões, constituídas por agrupamentos de Municípios limítrofes, para integrar a organização, oplanejamentoeaexecuçãodefunçõespúblicasdeinteressecomum.”(cf.Artigo25parágrafo3odaConstituiçãoFederal).AsRGsestãosubordinadasàsRAseestasàsRMs.8 Cf. websites do IBGE e das prefeituras dos municípios de Campinas e de Capivari (cf. referênciasbibliográficas).

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trabalho,ainformantem(quetemensinofundamentalincompleto,de54anos)relataqueo

aspectocampineiroruralnadécadade1960aindaexistianosbairros:asruaseramdeterra

ededifícilacesso,comoeraocentrodacidadedeCapivarinessamesmadécadade1960

(panoramaqueaindapersistenosdiasdehojeemalgunsbairrosdosubúrbiodestacidade).

Apartirdosanos80,oquadrosocioeconômicodeCampinassetornasemelhanteao

atual: pessoas do nordeste e do sul do país passam a viver nesta cidade, em busca de

trabalho; nos dias de hoje, a cidade deCampinas é umdos grandes centros urbanos do

Brasil.QuantoàCapivari,umadasbaseseconômicasaindaéusinasdecanadeaçúcar,

embora a cidade possua metalúrgicas, indústrias de bebida e de tecelagem, e diversos

estabelecimentoscomerciais.

Comrelaçãoaoquadropopulacional(cf.dadosdoIBGE2010),Campinastemuma

área de 795 Km², com uma população de um pouco mais de um milhão de habitantes

(1.080.999),enquantoqueaáreaterritorialdeCapivariéde323Km²,contandocom48.573

habitantes–portanto,aáreadeCampinaséquase2,5vezesmaiordoqueadeCapivari;

aquelacidadepossui22,3vezesmaishabitantesdoqueesta.Outrainformaçãoarespeito

dasduascidadeséo ÍndicedeDesenvolvimentoHumano–Municipal (IDH-M),9quepode

variarde0(nenhumdesenvolvimentohumano)a1(desenvolvimentohumanototal):IDH-M

(geral)deCAMPINASé0,852,enquantoqueodeCapivarié0,803;comrelaçãoaoIDHM-

educação,oscampineiros têmumdesenvolvimentode0,925eoscapivarianos,0,86. Isto

significaqueasduascidadestêmumaltodesenvolvimentohumano–apesardadiferença

deCampinasserumacidadedegrandeporte,eCapivariumacidadepequena.

9 O Índice de Desenvolvimento Humano foi feito paramedir o desenvolvimento humano nos países. Depois,foram feitasmodificações para se trabalhar com cidades (Índice deDesenvolvimentoHumano –Municípios –IDH-M).A base para o índice é 3 indicadores: educação (taxas de alfabetização e dematrícula em todos osníveisdeensinodacidade),longevidade(expectativadevidaaonascernacidade)erenda(PIBdacidade,emdólarPPC–paridadedopoderdecompra).Um índicena faixade0a0,499podeserconsideradobaixo;de0,500a0,799:desenvolvimentohumanoconsideradomédio;emaiorque0,800:desenvolvimentohumanoalto(cf.“EntendaocálculodoIDHMunicipal(IDH-M)”:www.pnud.org.br/atlas/PR/Calculo_IDH.doc).

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1.2.2. Osdialetoscapivarianoecampineiro

Primeiramente,énecessáriodiscutiroqueentendemospordialeto.Neste trabalho,

usamosestetermolatosensu,comosinônimode“variedadedeumalínguaprópriadeuma

região”10 ou cidade, mas esclarecemos que há muito mais complexidade por trás desta

simplesdefiniçãoqueestamosempregando:Camacho(1988)ressaltaquenãoéapenasa

limitação(geográfica)dacidadequeditaasdiferençasentreosfalares.Emoutraspalavras,

umdialeto podenãoestar circunscrito apenasa umadistinçãodiatópica,maspodeestar

relacionado também à comunidade de fala em que um indivíduo está inserido, às suas

práticas sociais, e outras variáveis externas à língua. Uma vez que o foco desta tese é

(principalmente) o linguístico (buscar uma regra dequedade sílaba), o termo “dialeto” foi

usado de forma ampla, numa tentativa de delimitar “dialeto de Capivari”, “dialeto de

Campinas”;“dialetodeSãoJosédoRioPreto”,“dialetodeSãoPaulo”,eoutros–ouseja,

discutiroqueéumdialetofogedoescopodestatese.

Quantoàformadefalarnessesdoislugares,Amaral(1920)eGarcia(2009a,2009b)

descrevem particularidades do falar capivariano, e Leite (2004, 2005, 2011) trata de

Campinas.AmaraleGarcia classificamomodode falar capivariano comopertencenteao

dialetocaipira.Amaralexemplificaatrocadofonema/l/por[ɽ](comoemc[ɽ]aroemlugarde

claro), um dos muitos “vícios de pronúncia” (cf. Amaral 1920) atribuídos ao falar caipira.

Com relação ao dialeto campineiro, amaioria dos trabalhos são voltados ao /r/ retroflexo

(Leite 2004, 2005, 2011). Especificamente em sua tese, Leite (2004) faz uma análise

sociolinguísticasobreo/r/retroflexodeCampinas,relacionando-oaatitudeslinguísticasde

estudantes de São José do Rio Preto (isto é, outra cidade do interior paulista). A autora

trabalhou com 8 informantes de São José do Rio Preto que estudam em Campinas e

verificou que há um prestígio do dialeto campineiro por parte destes estudantes rio-

pretenses(Campinaséumagrandecidade,compodereconômico, temrepresentatividade

se comparada às outras cidades do interior). Na visão dos estudantes, o campineiro tem

uma fala socialmentemenosmarcada (cf. Leite 2004: 132) do que as outras cidades do

interior paulista. Por fim, a autora conclui que há um mascaramento do retroflexo pelos

falantes da sua pesquisa, pois entendem que o dialeto de Campinas é uma fala

10Cf.definiçãoemDicionárioPriberamdaLínguaPortuguesa[online].

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intermediária(éumacidadedointerior,masodialetotemmaisprestígiodoqueocaipira–

cf.Leite2004:97-113).

Especificamente para a queda de sílaba, apresentamos diversos trabalhos sobre

haplologia, de variados dialetos: Alkmim & Gomes (1982) não afirmam qual é o dialeto

estudado,edefinem-nocomo “sotaquebrasileiro” (p.44);Tenani (2002,2003)estudamo

dialeto de São José do Rio Preto; Battisti (2004) analisa o de Porto Alegre; Bisol (2000)

também não define qual a variedade estudada, chamando-a de “dialetos populares” do

português brasileiro (p. 406); Pavezi (2006a) analisa os dialetos de São Paulo (corpus

NURC-SP)edeSãoJosédoRioPreto (corpus IBORUNA-SJRP); finalmente,Leal (2006,

2007) estudamo falar da cidadedeCapivari.Até onde sabemos, nãohánenhumestudo

sobrequedadesílabacominformantesdeCampinas.

Notamosqueaquedadesílabaédescritademododiferente (cf. tambémCapítulo

III)nestestrabalhoscitados:comrelaçãoaocontextoconsonantal,porexemplo,Alkmim&

Gomes (1982)afirmamqueahaplologia sópodeocorrer comasconsoantes /t/ e /d/; em

Porto Alegre, Battisti (2004) estuda contextos segmentais somente com /t/ e /d/, sem

analisaroutrasconsoantes,jáqueoobjetivodaautoraéverificaranaturezadahaplologia;

damesmaforma,Tenani(2002)nãoanalisacontextosdiferentesde/t/e/d/,11jáqueofoco

do estudo é verificar a relação entre a prosódia e a haplologia;Bisol (2000) tambémnão

analisaocontextosegmental(seuobjetivoéverificararelaçãoentrehaplologiaeoritmo),

mas apresenta umexemplo de aplicação do processo com /k+k/.Dois trabalhos focamo

contexto segmental: em Pavezi (2006) e Leal (2006), a haplologia pode ocorrer com

contextos diferentes de /t/ e /d/ (cf. também capítulo 3 desta tese). Em outras palavras,

notamos que, em dialetos diferentes, a queda de sílaba parece se dar também demodo

diferente.

No exemplo (5)b) da seção 1, vimos que há uma diferença na aceitação deVi a

ca(SA)DEla:paracapivarianos,aquedadesílabaépossível,enquantoqueaaplicaçãodo

processo causa estranhamento aos campineiros. É esta a oposição entre Capivari e

Campinas com que trabalhamos: as cidades podem ter regras de queda de sílaba

diferentes. Tendo em vista esta hipótese, observe a seguir a afirmação de Guy & Zilles

11 Tenani (2002: 135-6) explica: “Para argumentar que a ocorrência da haplologia é sensível à estruturaprosódica,buscamosinicialmenteidentificaroscontextossegmentaisquefavorecemoprocesso,tomandocomopontodepartida(...)AdescriçãodocontextosegmentalfeitaporAlkimim&Gomes(1982).”

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(2007:221):

Sempre que o pesquisador pensar que há possibilidade de os subgrupos ouindivíduos incluídos na análise terem gramáticas diferentes, pode rodá-losseparadamente,permitindoassimquecadaumtenhadiferentesvaloresdosfatores.Feito isso,opesquisadorpodecompararos resultadosdas rodadasseparadas:semostraremdiferençasimportantes,devemanterosgruposseparados.Semostraremresultados basicamente iguais eles (os subgrupos ou indivíduos) podem sercombinadosnumarodadaunificada.

Combasenacitaçãoacima,analisamosprimeiramenteaquedadesílabanasduas

cidadescomputadasemconjunto(cf.capítuloV);emseguida,comoobjetivodeverificarse

há duas gramáticas diferentes emCapivari eCampinas, as cidades foramanalisadas em

separado(vercapítulosVIeVII,respectivamente).

Ditodeformasimples,aquestãoquenorteiaestateseé:

HádiferençasnaregradequedadesílabaemCapivarieCampinas?

1.3. Oquadroteóricoequestõesaseremrespondidas

Comofoiditonaseção1,oprincipalobjetivodestateseéverificarseháumaregra

de queda de sílaba em Capivari e outra em Campinas, ou se as duas cidades têm

características iguaisparaoprocesso.Dessa forma, nãopartimosdeuma regra (geral)a

priori12eempregamosametodologialabovianadequantificaçãodosdados,oquesignifica

que, num dado contexto segmental, as possibilidades de aplicação ou não aplicação de

queda de sílaba são contadas e, a partir destas quantificações, podemos verificar quais

interferências linguísticasesociaisatuamnoprocesso–demodoafavorecê-loou inibi-lo.

Assim,algumasquestõeslinguísticasaseremdiscutidassão:

• Háumaconsoantequefavorece/inibeoprocesso?

• Háumavogalquefavorece/inibeoprocesso?

• Duas sílabas iguais favorecemmais o processo do que sílabas diferentes?

Sílabasdiferentesinibemoprocesso?

• SílabascomestruturaCVfavorecem/inibemoprocesso?

• Quetipodeestruturamétricafavorece/inibeoprocesso?

12Aúnicarestriçãoqueadotamoséqueasílabasujeitaàquedadeveserfraca,cf.exemplo(10)aseguir(vertambémdiscussãoem2.2.3).

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• Quetipodeestruturaprosódicafavorece/inibeoprocesso?

• O tamanho fonológico, isto é, o número de sílabas da palavra, interfere de

queformanoprocesso?

• A frequênciadeusodepalavras (ouseja,serumapalavramuito frequente,

frequenteerara)interferenoprocesso?

Além das características linguísticas, também apontamos questões relacionadas a

variáveissociais,como:

• Qual cidade favorece/inibe a queda de sílaba: Capivari ou Campinas? Há

regrasdequedadesílabadistintasnasduascidadesouaimplementaçãodo

processoéigual/semelhante?

• Características sociais, comoescolaridade, gêneroe faixaetária, interferem

noprocessodequemodo?

Há ainda a possibilidade de encontrarmos no corpus dados categóricos, ou seja,

bloqueiosdequedadesílaba,quepodemser verificadosemocorrências com knockouts.

Assim,algumasquestõesaseremverificadassão:

• Háalgumaconsoante,vogalouestruturadesílabaquebloqueieoprocesso?

• Háumaestruturamétricaquebloqueieoprocesso?

• Háumaestruturaprosódicaquebloqueieoprocesso?

• Otamanhodapalavraenvolvidanocontextopodebloquearprocesso?

• Afrequênciacomqueumapalavraéutilizadapodebloquearoprocesso?

Para exemplificar, temos que o processo nunca ocorre se a sílaba sujeita ao

apagamentofor forte(cf.Alkmim&Gomes1982,Bisol2000,Mercado2001,Tenani2002,

2003,Battisti2004,Pavezi2006aeLeal2006),comonoexemploaseguir,deTenani(2002:

141):

(10) *odi(DI)DItouregrasàpolícia

Aprimeirasílabadocontextosegmental /di+di/é forteem (10),oqueocasionao

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bloqueio da queda de sílaba. Em outras palavras, na estrutura métrica, há bloqueio de

quedadesílabaseaprimeirasílabaforforte.

Umavezqueoprocessofonológicoésilábico(caiasílaba),abaseteóricautilizada

foiateoriadasílabadeSelkirk(1982);comoétambémprocessosegmental(desencadeado

pela igualdade/semelhança entre as consoantes), utilizamos Clements & Hume (1995);

finalmente, jáquepodeserafetadopelaprosódiaepelamétrica,usamosNespor&Vogel

(1986)eSelkirk(1984),respectivamente.

1.4. Organizaçãodatese

NoCapítuloII,apresentamosoquadroteóricoutilizado.Emseguida,noCapítuloIII,

apresentamos a definição do processo de queda de sílaba. No Capítulo IV, apresento a

base metodológica, incluindo o envelope de variação linguístico e social (cf. subseção

4.1.4),comasvariáveisinternaseexternasinvestigadascomoatuantesnaquedadesílaba.

Os dados foram computados em três grandes conjuntos de rodadas:13Geral (com dados

dasduascidades),CapivarieCampinas.Primeiramente,todasasocorrênciasencontradas

no corpus foram rodadas, unindo os tokens tanto da cidade de Capivari quanto de

Campinas,eosresultadosdaanálisegeralestãoreportadosnoCapítuloV.NosCapítulos

VIeVII,apresentoosresultadosencontradosparaCapivarieCampinas,respectivamente.

NoCapítuloVIII,háumacomparaçãoentreasduascidades,emqueforamobservadasas

igualdades, semelhanças e diferenças entreCapivari eCampinas. A partir dos resultados

encontrados,apresentoalgumasquestões linguísticas relacionadasàquedadesílaba,no

CapítuloIX.Por fim,noCapítuloX,apresentoumaconclusãodosresultadosencontrados,

discutindo o que pôde ser constatado e também as pistas encontradas nesta tese, que

podemcontribuirparaoutrosestudosaseremfeitos.

13 Neste trabalho, utilizamos o programaGoldVarb (cf. Sankoff, Tagliamonte & Smith 2005) para os cálculosestatísticosfeitosnosdados.Otermo“rodada”éusadoparaindicaroprodutofinaldesteprograma(cf.CapítuloIV,emqueexplicitamosofuncionamentodoprograma).

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CAPÍTULOII

2. OquadroteóricoAntes de apresentar o processo fonológico (cf. seção 3 a seguir), julgamos

necessáriotratardoquadroteóricoqueestánabasedesteestudo.

Osdadosdocorpus tiveramum tratamentoestatístico, seguindo-seametodologia

laboviana,oqueimplicanoestudodavariação,umainterfaceentreaestruturalinguísticae

seus aspectos sociais (ou, nos termos sociolinguísticos variacionistas, as variáveis

linguísticas e sociais). Assim, apresento na subseção 2.1 como relacionamos a teoria

gerativistaeomodelo labovianonopresenteestudo;enasubseção2.2,estãoas teorias

fonológicasutilizadasparaanálisedocorpus.

2.1. Osmodelosvariacionistaegerativista:pontosdediálogo14

Aquestãodeunirteoriafonológicaevariaçãoéumadiscussãoqueintegradiversos

trabalhos (Tarallo 1983, 1991; BorgesNeto&Müller 1987; ePagotto 2004).Utilizar num

trabalho estas duas abordagens sobre a linguagem, o gerativismo e a sociolinguística

variacionista, pode ser interpretado como contraditório: para o gerativismo, a língua é

homogênea, enquanto que a sociolinguística variacionista parte exatamente da

heterogeneidade; a gerativa tem uma abordagem mentalista, enquanto que a linha

variacionistaécrucialmentesocial(Honeybone2011).

De acordo com a teoria gerativa, as línguas são estruturadas por princípios e

parâmetros(cf.Chomsky1965).Osprincípioschomskyanossãouniversais,nosentidode

que todasas línguas têmasmesmaspropriedadescapturadasporelesenãohá línguas

nasquaiselesnãoseapliquem.Osparâmetrosporsuavez,sãoprincípioscomvaloresa

seremescolhidos. Istoé,dentrodeumconjuntodevalorespossíveisparaumparâmetro,

as línguas podem variar exatamente por marcações paramétricas diferentes. Mais

importante,umavezmarcadososvaloresdosparâmetrosnumadeterminada língua, não

14AgradeçooscomentáriosdoProfDrRonaldBeline,quemelevaramamelhoraradiscussãodestaseção.

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há possibilidade demudança.Com relação ao acento, por exemplo, temos (adaptado de

Massini-Cagliari1995):

1. Princípio:todapalavraéacentuada.

2. Parâmetro deposiçãodonúcleodopénoportuguêsbrasileiro: o acento à

esquerda(vs.direita)noúltimopénapalavrafonológica.

Assim,oprincípiodequetodaapalavraportaacentonãomudanaslínguas:nãohá

línguasqueapresentempalavrassemalgumtipodeproeminência(queracentual(stress),

quer tonal (tone)).Noque respeitaàposiçãodaproeminência,umavezquea língua faz

uma seleção, não há possibilidade de mudança (a estrutura seria agramatical em uma

língua comumvalor diferente).Por exemplo, o valor doparâmetro (2) gera as seguintes

formas acentuadas: menino [me.ˈni.nu] e casa [ˈka.za]. Não existe, no português, a

possibilidadedeproduçãodestaspalavrascomo*[ˈme.ni.nu]ou*[me.ni.ˈnu]e*[ka.ˈza].Os

errosacentuaisporfalantesnativossemprevãodizerrespeitoapalavrasquesãoexceção

àaplicaçãodoparâmetro(porexemplo,saci[sa.ˈsi]).Assim,podemosdizerqueavariação

estánaestruturapossível(naGU–GramáticaUniversal),quepermitequehajamaisdeum

valor para um parâmetro, e esta variação desaparece nas línguas, dado que as línguas

fazemaseleçãodeumvalorparaoparâmetro.

Noentanto,mesmonogerativismo,existealgumavariação,aomenosaosediscutir

fonologia.Istopordoismotivos:primeiroporque,diferentementedasintaxe,assume-seque

na fonologia haja também regras (por exemplo, elisão, degeminação, ditongação), nem

todas redutíveis a combinações paramétricas, como foi o acento (cf. em Bisol 1992 a

explicação do acento no português brasileiro via regra, e emMassini-Cagliari (1995), na

formadevaloresparamétricos).

O problema que deve ser resolvido para a pesquisa desta tese está no seguinte

aspecto: as teorias fonológicas aqui empregadas são gerativistas (que buscam

homogeneidadenaslínguas),eametodologiatembasenavariaçãolinguística(navariação

regulada).Exemplificandoaoposiçãoteóricacomoprocessoestudado,temos:

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(11) TôcomsaudaDEDELosAngeles–semaplicaçãodequeda

(12) Tôcomsauda(DE)DELosAngeles–comaplicaçãodequeda

Tomando-seporbaseogerativismo,emquealínguaéhomogênea,temosqueum

mesmo falante pode produzir (11) ou (12) arbitrariamente, uma vez que os ambientes

internos nas duas realizações são os mesmos: contexto segmental, acento, prosódia (e

outras variáveis linguísticas); no gerativismo, o falante produzir as formas (11) ou (12) é

devidoaoacaso–àvariaçãolivre.Nasociolinguísticavariacionista,adiferençaentre(11)e

(12)éoquemoveospressupostoslabovianos:todasasocorrênciasemquehouveenão

houveaplicaçãodequedasãoquantificados,bemcomotodasaspossíveisvariáveis(sejam

linguísticas, sejam sociais) que podem interferir na aplicação do processo. Em seguida,

todas as aplicações versus não aplicações são relacionadas às variáveis (linguísticas e

sociais),deondeseconcluiquaisfavorecem,inibemousãoneutrosàquedadesílaba. Na

sociolinguística, produzir (11)ou(12) não é aleatório,masestatisticamenteorientado.Nos

termossociolinguísticos,oprocessofonológicoaquiemestudoéumaregravariável.

Alémda questão das regras, na fonologia tambémassume-se que haja princípios

violáveis,comooPrincípiodeContornoObrigatório(OCP),deLeben(1973),ouoPrincípio

de Alternância Rítmica (PAR), de Selkirk (1984) (cf. também subseção 2.2.3). A autora

formula provisoriamente o PAR (p. 12) da seguinte forma: entre duas batidas fortes

sucessivas deve(m) intervir pelo menos uma e no máximo duas batida(s) fraca(s). Para

garantir a ‘obediência’ a este princípio, diversas regras podem ser aplicadas (retração

acentual, apagamento de sílaba, inserção de batida silenciosa). Observe as grades a

seguir,emqueosacentosrelevantesestãosublinhados(exemplosdeSantos2002:71):

(13) ojosémariacantouhoje

can tou ho je• x x •

(14) ojosémariacantouhoje

can tou ho jex • x •

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DeacordocomAbousalh(1997),umadasresoluçõesparachoquesacentuaiscomo

exemplificado em (13) é a retração de acento apresentada em (14), e esta última é a

sequênciarítmicaqueobedeceaoPAR.Noentanto,chamoaatençãoparaofatodeque

ambasassentençassãogramaticais,istoé,umaproduçãocomo(13)égramatical,mesmo

violandooPAR.DissopodemosconcluirqueprincípioscomooPAR(cf. 2.1)nãosãoda

mesmanaturezadoqueosprincípiossintáticosouaqueleem(1)–sãomaistendênciasa

serembuscadasnaslínguas.

Desta forma, encontramos 2 casos de variação na fonologia: regras opcionais e

princípios/tendências–ambospodendoounãoseraplicados.Mesmonestescasos,oque

vemos na teoria gerativa atual é umabusca por descobrir a estrutura da língua, a forma

comoumalínguaéorganizada,estruturadaenquantosistema.

Nocasodasociolinguísticavariacionista,seuobjetivoéexatamentemostrarcomoa

línguanãoéhomogênea,ecomohádiferençasnestesistema.Estasdiferençaspodemser

resultadodoprópriosistema(diferençaslinguísticas)oudevariáveisexternasqueafetama

produção.O importante aqui não é que pessoas diferentes falamdemodo diferente (por

exemplo,capivarianosdizemporta[ˈpɔɽ.tɐ]enquantoquecariocasdizem[ˈpɔh.tɐ],poisisto

poderiaserinterpretadocomodoissistemas(dialetos?)diferentes),masofatodequeuma

mesma pessoa pode produzir a mesma sequência de forma diferente: um mesmo

capivarianopodedizertantocantouhoje[kɐ.ˈtow.ˈo.ʒi]quantocantouhoje[ˈkɐ.tow.ˈo.ʒi].

Omodoencontradopelasociolinguísticavariacionista(cf.Labov1972,1994,2001)

para buscar a lógica dentro das línguas é quantificar dados do vernáculo, analisando-os

com ferramentas estatísticas e interpretando-os de modo a relacionar quais variáveis

(linguísticas e sociais) podemestar agindo num processo fonológico. Além disso, a linha

variacionistaoperanainterfaceentreolinguísticoeosocialdalíngua,emqueabaseestá

naheterogeneidadeordenada(Weinreich,Labov,&Herzog1968),ouseja,napremissade

quehávariaçõesequesãoreguladas,enãodadasaoacaso.Épelaprobabilidadequese

podeobservaraatuaçãodevariáveis linguísticasesociaisnavariaçãoentrecantouhoje

[kɐ.ˈtow.ˈo.ʒi]ecantouhoje[ˈkɐ.tow.ˈo.ʒi],porexemplo.

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Ditodeformaresumida,ogerativismobuscaumalógicalinguísticadentrodopróprio

sistema, com base em princípios e parâmetros imutáveis, sem computar o externo à

linguagem,enquantoqueasociolinguísticavariacionistavêalínguacomoumsistemadual,

e opera na interface entre as variáveis linguísticas e sociais, com base na quantificação

destasinterferênciasinternaseexternasàlíngua.

Há, no entanto, a questão de como unir a Teoria Fonológica Gerativa e a

SociolinguísticaVariacionista.SegundoGuy&Bisol(1991:135):

(...) estudos quantitativos da língua têm um papel central na avaliação e nodesenvolvimento da teoria fonológica. (...) acreditamos que essa espécie deinteração entre teoria e dado, entre construção de modelos e observação,representaamaisprodutivalinhadefuturaspesquisaslinguísticas.(grifosmeus)

Assim, os estudos quantitativos serviriam para avaliar as propostas

descritivas/explicativas das teorias fonológicas, contribuindo para o desenvolvimento das

mesmas.Pagotto(2004:195),poroutrolado,afirmaque:

“(...)nãooperamoscomopressupostodequeasociolinguísticaseja (...)somenteumdispositivoheurísticoparaatestagemdehipótesesoriundasdaLinguística(...).”(grifomeu)

Nestetrabalho,ospontosdediálogoentreosdoismodelosserãointerpretadoscom

relaçãoàtendênciadaquedadesílabaesuaprodutividade.15Comoditoem1.2.2,nosso

objetivoédescobrir sea regradequedade sílabaéamesmaemCapivari eCampinas.

Parachegaraesta resposta,observaremosa tendênciae aprodutividade (expressosvia

pesorelativodasociolinguísticavariacionista)dosdiferentescontextospossíveisdasregras

(definidos pela fonologia gerativa). Os contextos são as variáveis (linguísticas e sociais)

analisadasneste trabalho.Umavariávelquetenhaumamesmatendência(favorecimento,

neutralidade ou desfavorecimento) e uma mesma produtividade (pesos relativos muito

15AgradeçoaEmílioPagottopormechamaraatençãoparaadiscussãoentreprodutividadeeexpansãodecontextoderegra,quemelevaramaorecortequefareiparaainterpretaçãodosresultadosencontrados.

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próximos) é interpretada como uma mesma propriedade da regra em Capivari e em

Campinas. Se os resultados de uma variável tiverem tendências iguais mas os pesos

relativos foremdiferentes,a interpretaçãoéqueháumamesmaregra,comprodutividade

diferente nas duas cidades. Finalmente, tendências diferentes (e, consequentemente,

produtividadeepesosrelativosdiferentes)indicamqueháduasregrasdiferentes:umapara

Capivari,outraparaCampinas.

Assim,estatesetembasenateoriafonológicagerativistaemque,demodogeral,a

sistematização da linguagem é feita pela forma ou estrutura, mas integramos também o

modelodequantificaçãodedadosdasociolinguísticavariacionista,afimdeexaminarquais

variáveis(propriedades)interferemnaaplicaçãodaquedadesílabanasduascidades.

2.2. Teoriasfonológicas

Nesta seção, apresento as teorias utilizadas para a análise do corpus,

compreendendoosníveis fonológicosdaestrutura internadosegmento(vergeometriade

traços em 2.2.1) e da sílaba (cf. subseção 2.2.2), a métrica (subseção 2.2.3) e os

constituintesprosódicos(ver2.2.4).

2.2.1. Geometriadetraços:aestruturainternadossegmentos

AfimdejustificarporqueousodaGeometriadeTraçoséimportantenaanálisedo

corpus, observe, primeiramente, os contextos consonantais dos exemplos a seguir,

definidosdeacordocomafonologiatradicional:16

(15) tape(TE)DAporta /t/[plosivaalveolar] + /d/[plosivaalveolar]

(16) lógi(CO)QUEnão /k/[plosivavelar] + /k/[plosivavelar]

(17) quei(JO)saboroso /ʒ/[fricativapós-alveolar] + /s/[fricativaalveolar]

(18) *esco(VA)SEparada /v/[fricativalabio-dental] + /s/[fricativaalveolar]

Numa análise dos segmentos nos moldes estruturalistas tradicionais, podemos

16Osexemplos(15)-(18)sãodostestesdegramaticalidadedeLeal(2006).

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observarqueem(15)háduasplosivasalveolares;em(16),ocontextoéformadoporduas

plosivasvelares;em(17),oambienteparaaquedadesílabaécompostodeduasfricativas,

a primeira é pós-alveolar e a segunda é alveolar; finalmente, em (18), há também duas

fricativas, com pontos de consoantes diferentes – [labio-dental] e [alveolar],

respectivamente. Se a queda de sílaba ocorre com segmentos iguais, a descrição

tradicional dos segmentos dá conta da possibilidade de aplicação em (15) (são duas

plosivasalveolares)eem(16)(duasplosivasvelares);explicatambémporquehábloqueio

em(18),poisasconsoantestêmomesmomododearticulação(duasfricativas),mas,dado

queopontoédiferente (labio-dentalseguida+alveolar),aquedadesílabanãopodeser

aplicada.Noentanto,comoexplicarqueem(17)oprocessosejapossível,seospontosde

articulação de /ʒ/ e /s/ são diferentes ([pós-alveolar] e [alveolar], respectivamente)? Esta

dificuldadeemdescreverosdadospelafonologiatradicionalpodeserresolvida pelaanálise

viageometriadetraços.

Umadasdiferençasentreasabordagenstradicionaleageometriadetraçosestáno

pontodevistadecomoossonssãoarticulados:naprimeira,ossegmentossãodefinidosde

acordocomseusarticuladorespassivos:num/t/,porexemplo,a línguabatenosalvéolos

localizados na parte frontal da cavidade oral e esta é a descrição deste som (uma

consoante alveolar). Na geometria, os traços são concebidos conforme os articuladores

ativos:naproduçãodeum /t/,porexemplo,apontada línguaqueatingeosalvéoloséo

quedescreveessesom(échamadodeconsoantecoronal–corona,pontada língua–cf.

Chomsky&Halle1968;Jakobson,Fant&Halle1952).

Para facilitaravisualização,assentenças (15)-(18)estão reescritasabaixo,coma

descriçãodascavidadesoraisdasconsoantesnosmoldesdageometriadetraços:

(19) tape(TE)DAporta /t/[coronal,-contínuo] + /d/[coronal,-contínuo]

(20) lógi(CO)QUEnão /k/[dorsal,-contínuo] + /k/[dorsal,-contínuo]

(21) quei(JO)saboroso /ʒ/[coronal,+contínuo] + /s/[coronal,+contínuo]

(22) *esco(VA)SEparada /v/[labial,+contínuo] + /s/[coronal,+contínuo]

Nosexemplos(19)-(22)acima,ostraçosdepontodeCede[contínuo]dãocontade

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descrever as características segmentais de queda de sílaba: em (19), há duas coronais

[-contínuo];em(20),ocontexto/k+k/éformadoporduasdorsais[-contínuo];noexemplo

(21), há, novamente, duas coronais, desta vez, o traço para ambas as consoantes é

[+contínuo];17 finalmente,em (22),háuma labial /v/ seguidadeumacoronal /s/,eambas

são[+contínuo].Assim,oúnicocasoemquehábloqueiodequedadesílabaé(22),emque

opontodeCdasconsoantesédiferente(labialseguidadecoronal).

Clements&Hume(1995:267)defendemquehádiferentesmaneirasdeostraçosse

relacionarem,comorepresentadonoGráfico1:

a)xdominay b)ydominax c)xeysãoirmãos d)xeyformamumnó... ... ... ...│ │ │ │x y z [x,y]│ │ ╱╲ y x xy

Gráfico1 –Relaçãoentreconstituintesnageometriadetraços

Em a), há uma relação de dominância, já que x domina y; em b) a relação é a

mesma,mas,destavez,ydominax;emc),umúnicotraçozdominaxey,eestesdoissão

nósirmãos;finalmente,emd),xeyformamumúniconó.

Combasenessesquatromodosde ligaçãoquepodehaverentreosconstituintes,

Clements&Hume(1995:292)propõemumaárvoredetraçosfonológicos,organizadosde

acordo com a geometria (adaptada) dada a seguir, em que estão assinalados os nós

relevantesaesteestudo:

17 Note que em (21) a diferença entre as consoantes abaixo do traço coronal parece não importar: /ʒ/ é [-anterior,+distribuído]e/s/é[+anterior,-distribuído]eaquedadesílabaégramatical(cf.Leal2006).

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[±soante]Raiz [±aproximante]

[±vocálico]

Laringal [nasal]

Cavidadeoral

[±vozeado][gloteconstrita] [±contínuo]

[glotenãoconstrita] PontodeC

[labial]

[coronal] [dorsal] Vocálico

[±anterior]

[±distribuído] Abertura PontodeV

[dorsal]

[aberto] [labial] [coronal]

[±anterior][±distribuído]

Gráfico2 –Geometriadetraços(adaptadodeClements&Hume1995:292)

Ostraçosmaisimportantesparaadefiniçãodoprocessoaquiemestudosãoosnós

irmãos Ponto de C e [contínuo] (cf. Leal 2006), ambos dominados pelo nó de Cavidade

Oral, queaparecemdestacadosnoGráfico2.Os traçosna representaçãoarbóreaacima

estão organizados de modo a implicar que, se uma regra fonológica ocorre em um

determinadonó,estamesmaregraseaplicaatodososseusnósdominados(Clements&

Hume1995: 251).Clements&Hume (1995: 250) propõemainda que a organização dos

traçosdeveobedeceraoseguinteprincípio:

Phonologicalrulesperformsingleoperationsonly.(grifomeu)

Assim,regrasfonológicasseaplicamumaúnicavez(ouseja,executamumaúnica

operação).

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Portanto,oconstituintemaisimportantenopresentetrabalhoéacavidadeoral,pois

énestenó18queestãoasinformaçõesdeumcontextoquepermiteaquedadesílaba(para

oscasosdebloqueio,cf.subseção5.1eLeal2006).

Assim,aquedadesílabadeve “olhar”acavidadeoralpara identificarsemelhança

entreossegmentos;deoutraforma,seriam2aplicações:primeiro,parapontodeC,eoutra

para [contínuo].A relaçãoentre a cavidadeoral, ponto deCe [contínuo] é capturadana

representação pelo item c) do Gráfico 1, já que cavidade oral domina ponto de C e

[contínuo],eestesdoissãonós irmãos–emoutraspalavras,seoprocessoseaplicana

cavidadeoral,refletediretamentenosdoisnósabaixodele.

Paraexemplificarageometriacomaquedadesílaba, tomamosumdosdadosde

Leal (2006: 101). No sintagma ...na fren(Te) Da casa dela, o contexto consonantal para

aplicação de apagamento é /t+d/, com aplicação do processo. A seguir, apresento a

geometriadestasduasconsoantes:

/t/ /d/ x x

-sonorante -sonorante r→-aproximante -aproximante←r

-vocóide -vocóidelaringal laringal[-vozeado] [+vozeado]

[-nasal] [-nasal] cavidadeoral cavidadeoral[-contínuo] [-contínuo] pontodaconsoante pontodaconsoante [coronal] [coronal]

[+anterior] [+anterior]

Gráfico3 –Organizaçãointernadetraçosdasconsoantes/t/e/d/

Acavidadeoraldestacadanográficoacimaéonóqueatuacomogatilho(trigger)no

processofonológicoemestudo:seostraçosdecavidadeoralforemiguaisnasconsoantes,

18Paraumapropostaalternativa,cf.Sagey(1986).

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há possibilidade de queda, se a cavidade oral das consoantes for diferente, o processo

nuncaocorre.19

Outravantagemdageometriadetraçosnaanálisedocorpuséauniformizaçãoque

seobtémparadescreverconsoantesevogais,umavezqueambosostiposdesegmentos

sãodefinidosdamesmaforma.Noexemplo(23),há4segmentoscoronaisnocontexto/te

+de/;em(24),asconsoantessãocoronais,masasvogaissão[dorso-labial]:20

(23) ...umpaco(TE)DEfeijão,táligado? (ALES)

/te+de/: C1:coronal;V1:coronal C2:coronal;V2:coronal

(24) ...fo(TO)DOnariz,queixo... (ALES)

/to+do/: C1:coronal;V1:dorso-labial C2:coronal;V2:dorso-labial

Comosepodeobservarem(23)e(24),hápossibilidadedequedadesílabamesmo

queospontosdeCdasconsoantesedasvogaissejamdiferentes,comoocorreem(24)(as

consoantessãocoronais,enquantoqueasvogais têmos traços [dorsal, labial]ou [dorso-

labial]–naterminologiautilizadanestatese–,eaquedadesílabaégramatical).

2.2.2. Aestruturasilábica(doportuguêsbrasileiro)

Uma grande parte dos processos em português leva em conta a estrutura das

sílabas – por exemplo, Bisol (1992) mostra que uma sílaba pesada final atrai o acento;

Quednau(1993)apontaqueavelarização([ɫ])ouvocalização([w])daslaterais([l]),noRio

GrandedoSul,sóocorreemposiçãodecodadesílaba.

Alkmin&Gomes(1982)defendemqueahaplologiasóocorrecomaprimeirasílaba

comestruturaCV(easegundasílabapode tercoda)–cf.exemplos (25)e (26)aseguir.

Contudo,Battisti(2004),Pavezi(2006a)eLeal(2006)encontraramcasosemqueasílaba

19Não estamos dizendo, com isso, que a queda de sílaba seja umprocesso de geometria de traços.Comovimosnosexemploscitadosatéomomento,todaasílabaéelidida,enãoapenasumsegmento.Noentanto,éde se chamar a atenção que a variação dialetal leva em conta os valores abaixo do nó de cavidade oral,mostrandoqueoprocessovaialémdosegmento,eageometriadossegmentosenvolvidosdeveserlevadaemconta.Vertambémdiscussãonasubseção9.4.20ExemplosdocorpusdeLeal(2006:102).

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sujeitaaoapagamentonãoéumaCV,massimCCV(ver(27),dePavezi2006a:33),como

exemplificadoaseguir:21

(25) CV+CV: limi(TE)DEpalavra

(26) CV+CVC: lei(TE)TEMperado

(27) CCV+CV: cen(TRO)DEprocessamentodedados

Este fato aponta que há uma organização silábica que deve ser considerada em

algumasregrasfonológicas.

AteoriaqueassumimosparaaestruturasilábicaéSelkirk(1982),emqueasílaba

subdivide-sehierarquicamenteemataquee rima;estesconstituintes,porsuavez,podem

ser novamente subdivididos em outros constituintes binários (núcleo e coda), como

representandoaseguir(doexemplodeSelkirk1982:331):

(28) Representaçãosilábicadapalavraflounce/flawns/

sílaba

ataque rima

fl núcleo coda

aw ns

Umdospontosmenoscontroversos relacionadosàestrutura internadasílabaéo

ataque, já que pode ser facilmente comprovado que os segmentos precedentes aos

vocálicos em sílabas CCV formam uma unidade: nas diferentes línguas que distinguem

sílabas pesadas e sílabas leves para marcação de acento (como no português), não

importaseoataqueé ramificadoounão,semprecontarácomoumamora (Hayes1995).

Para exemplificar, observem-se as últimas sílabas /ko/ e /kro/ dos exemplos abaixo, com

21Osexemplos(25)e(26)sãodeAlkmim&Gomes(1982:48)e(27))édocorpusdePavezi(2006a:33).

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duaspalavrastrocaicassimilares:

(29) saco/ˈsa.ko/ sílaba/ko/:CV,nãoatraiacento

(30) sacro/ˈsa.kro/ sílaba/kro/:CCV,nãoatraiacento

Em(29)e(30),assílabasfortessão leves,eoataqueramificadoem/kro/de (30)

nãoatraiacento.Entretanto,seosegmento/r/estiveremposiçãodecoda,asílabaatraio

acentonoportuguês:

(31) fato/ˈfa.to/ sílaba/to/:CV,nãoatraiacento

(32) fator/fa.ˈtor/enão*/ˈfa.tor/ sílaba/tor/:CVC,atraiacento

Em(31),ambasassílabassãoleves;em(32),o/r/emcodatornaasílabapesada,

atraindooacentodapalavra.

Paraoscasosdeditongoscrescentes,assumimosapropostadeBisol(1989),para

quemaposiçãodoglidedependeseeleéleve(cf.(33))ouverdadeiro(ver(34))(p.189):

(33) peixe>pe(i)xe→ditongoleve,rimasimples

(34) peito>*pe(i)to→ditongopesado(verdadeiro),rimacomplexa

Osditongos levessãoaquelesquepodemser reduzidosaumaúnicavogalepor

issoaautoraadvogaseremfonéticosenãopreencheremumaposiçãonaestruturasilábica

(apenas na melódica) – em (33) portanto, a primeira sílaba é uma CV. Os ditongos

verdadeiros,poroutro lado,nãosãopassíveisdemonotongação,epor issoBisol sugere

seremsílabascomumsegmentopós-nuclear.Paraestesditongos,assumimosaproposta

de Câmara Jr (1970) (cf. também Cristófaro-Silva 1999, Lee 1999)22 de que o glide

preenche a posição de núcleo (a não ser que o glide seja resultado de uma líquida

vocalizada,quandoentãopreenchea coda–CamaraJr. 1969:29-30).Oargumentodos

autoresbaseia-senofatodequeseguindo-seditongos(verdadeiros)épossívelumasílaba

iniciada pelo segmento ambissilábico /ɾ/ (cf. (35)), o que não ocorre com sílabas emque

22Paraanálisealternativa,Cf.Wetzels(2007).

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claramentetem-seumsegmentoemcoda(ver(36)):

(35) Cairo>Cai/ɾ/o /r/fracoambissilábico CVVɾV

(36) Israel>is/h/ael,enão*is/ɾ/ael /r/forte CVC.CV

A mesma questão da distribucionalidade do /r/ ambissilábico nos auxilia na

interpretaçãodasvogaisnasalizadasemportuguês.Comosepodeobservarem(37),nãoé

possívelo/r/forteseguindoumasílabacomvogalnasalizada.

(37) tenro>ten/h/o,enão*ten/ɾ/o /r/forte CVC.CV

Assim,assumimosqueanasaltambémpreencheaposiçãodecodadesílaba.

As vogais nasalizadas foram codificadas comoorais, levando-se em conta o nível

subjacente, já que consideramos que há estes tipos de segmentos somente no nível

fonéticonoportuguês (cf.CamaraJr. 1970eWetzels1997,2000).23Assim,é importante

discutircomofoitratadaanasalidadenopresenteestudo.Nosexemplosaseguir,podemos

observarvogaisnasalizadasporregrafonológica(cf.(38))eporregrafonética(ver(39)):

(38) canto:/kaNto/>[kɐntʊ] nasalizaçãofonológica

(39) cano:/kano/>[kɐnʊ] nasalizaçãofonética

23Assumimosqueo inventário fonológicovocálicodoportuguêséoral (nãohávogaisnasaissubjacentes),equeestessegmentospodemsernasalizadosdosdoismodosapresentadosem(38)e(39).Noscasoscomoem(38),aprimeirasílabatemumaestruturaCVNeé,portanto,pesada.Umargumentoparaaexistênciadeumanasalsubjacenteéadistribuiçãodo/r/forteedo/r/fraconoportuguês(porexemplo,[h]fortee[ɾ]fraco,comoemcarroca[h]oecaroca[ɾ]o) tambéméumindicativodapresençadeumanasalsubjacente, jáquesóhá/r/forte antecedido por nasal, e nunca de /r/ fraco (Camara Jr. 1970, Wetzels 1997, 2000). O /r/ fraco éambissilábico:estánoataquedeumasílabaetambémnacodadaanterior,impossibilitandoapresençadeumanasal nessaposição– somentehápalavras comogenro, nunca *gen[ɾ]onoportuguêsbrasileiro.Um terceiroargumentodeCamaraJr.(1970)équenãohávogalnasalemhiato:ouanasalidadedesaparece,comoemboa(queprovémdebona),ouaconsoantenasalvaiparaasílabaseguinte,comoemvalentão>valentonaounemum > nenhum. “Assim, não haver vogal nasal em hiato, dentro de um vocábulo, equivale a dizer que oarquifonemanasal, se subsiste, se comporta comoqualquer consoantenasal intervocálica: pertenceà sílabaseguinte (u-ma, enãoum-a, comoa-sa,a-ço,a-la,a-ra etc)” (Camara Jr. 1970: 60).Finalmente,Camara Jr.(1970) explica que, em casos de distinção fonológica, comoemminto emito, não é a ressonância nasal davogalquegeraocontraste,massimotravamentodaconsoantenasal,comoemsemmana(comtravamento)esemana(semtravamento).

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Em (38), há uma sequência de 5 segmentos fonológicos kaNto, em que uma

consoante /N/ subjacente passa o traço [nasal] à vogal anterior, ou seja, a vogal é

nasalizadaporestaremcontatooucomumanasal tautossilábicasubjacente–umaregra

fonológica,comorepresentadonageometriaem(40):

(40) Nívelfonológico:/kaN.to/

/a/ /N/raiz raiz

[nasal]

Em(38),há4segmentosfonológicosemcano,semtravamentodasílaba,eavogal

recebe o traço [nasal] a partir da produção (fonética) da consoante [n], isto é, o traço

[+nasal]de[n](umanasalheterossilábica)seespalhaparaavogalanterior,decorrenteda

coarticulaçãoentre/a/oralseguidode/n/,comorepresentadonageometriaem(41)abaixo:

(41) Nívelfonético:[kɐ.nʊ]

/a/ [n] raiz raiz

[nasal]

Assim,apartirdoexpostonestasubseção,seguimosateoriaderepresentaçãode

estruturasilábicadeSelkirk (1982),aanálisedeBisol (1989)paraditongosnoportuguês

brasileiro,easpropostasdeCamaraJr.(1970)eWetzels(1997,2000)paraanasalização

devogais.

2.2.3. Acentoeestruturamétrica

Inúmerosprocessosfonológicoslevamemcontaaestruturamétricaouaomenoso

tipo de proeminência envolvida no contexto. A retração acentual, por exemplo, ocorre

quandoduassílabasportadorasdeacentoprimárioestãoadjacentes(cf.Abousalah1997,

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Santos2002,entreoutros),enquantoqueadegeminaçãopodeocorrerseaprimeirasílaba

for forte, como exemplificam Komatsu & Santos (2007: 225) decidi estudar >

[desiˈdʒistuˈdar] – cf. também Bisol (1996, 2000, 2003); Tenani (2002); Veloso (2003).

Defende-se quemuitos destes processos ocorrem para otimizar a alternância rítmica em

umdadocontexto,alternando-sesílabasfracasefortes.

DeacordocomHayes(1995:01),aestruturarítmicadeumalínguaéaexpressão

de seus padrões acentuais, ou seja, é o modo com que os acentos se organizam na

fonologia; e cabe à teoria métrica resolver como são gerados e como se organizam no

sistema fonológico (cf.Liberman&Prince1977,Hayes1995,Fudge1999).Hayes (1995:

377-8)explicaqueaclassificaçãodosacentosérelacional:

(...)astrongbeatisnotstrongtosomeabsolutedegree,butonlyinrelationtootherbeatsinthesamerhythmicstructure.

Galves & Abaurre (1996) e Collischonn (2007) definem 3 graus de acento para o

portuguêsbrasileiro,dentreosquaiscitamosdois:(i)oacentoprimário(proeminênciamais

forte de umapalavra); e (ii) o acento secundário (qualquer outra proeminência na cadeia

(string)desílabas,cujodomíniopodeserapalavraousequênciadepalavras).24

SegundoHayes(1995:24),umadasprincipaiscaracterísticasdoacentoprimárioé

aculminância:

Onedistinctivephonologicalcharacteristicofstressisthatit isnormallyculminative,in the sense that eachword or phrase has a single strongest syllable bearing themainstress.(grifosdoautor)

Assimsendo,umapalavracomoabacaxi/abakaˈʃi/temumacentomaisforteem/ˈʃi/

doquenasoutrassílabas/abaka/.

No entanto, podemos notar que na sequência /abaka/ as sílabas também têm

proeminências diferentes.Neste exemplo há outra umaproeminência, que pode estar na

24OterceirograudeacentoapresentadoporGalves&Abaurre(1996)eCollischonn(2007)échamadodefrasal(ou principal), que é atribuído a uma sequência de palavras (tanto sintagmas quanto sentenças). Galves &Abaurre(1996)explicamque“Oacentoprincipaldesintagmadevenecessariamentecorresponderaumasílabapreviamentemarcadacomoportadoradeacentoprimáriodepalavra.”

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primeiraounasegundasílaba:/ˌabakaˈʃi/ou/aˌbakaˈʃi/(Sandalo&Abaurre2007:150).Esta

segunda proeminência é conhecida como acento secundário. As autoras explicam que o

padrão no português brasileiro do acento secundário é binário, raramente violado; as

exceçõessãoosdátilos(comoem/ˌabakaˈʃi/),masnãosãoobrigatórios.Sandalo&Abaurre

(2007)explicamqueenquantoaatribuiçãodoacentoprimárionoportuguêsbrasileiroeno

europeuéomesmo,osdoisdialetossãodiferentesnoqueconcerneaoacentosecundário

(ou acento rítmico, cf. tambémBisol 2000).No caso deabacaxi, é possível /ˌabakaˈʃi/ ou

/aˌbakaˈʃi/ embora esta última produção seja a mais comum no português brasileiro. Os

exemplos de Sandalo & Abaurre (2007: 146) a seguir ilustram a distribuição de acentos

secundáriosemcontextosmaioresdoqueapalavranosintagmaamodernização:25

(42) Portuguêseuropeu:a)Amodernizaçãofoisatisfatória

b)Amodernizaçãofoisatisfatória

(43) Portuguêsbrasileiro:a)Amodernizaçãofoisatisfatória

Observando-seosexemplos(42)e(43)deSandalo&Abaurre(2007:146),notamos

que há duas alternativas na atribuição de acento secundário no português europeu: na

sílabamo,emamodernização ounoclíticoamodernização .Paraoportuguêsbrasileiro,

sóháumapossibilidade:amodernização .Assim,osexemplos(42)e(43)ilustramquenão

háapossibilidadedeodeterminanteem *amodernização receberacentosecundáriono

portuguêsbrasileiro,eesteclíticofonológicopodeserentãoconsideradomaisfracodoque

osecundário.26

Finalmente, a literatura é consensual em admitir que há sílabas que não portam

acento–sãoassílabas fracas.Nocasodeabacaxi, a sílabaka ilustraumasílaba fraca,

quaisquerquesejamasposiçõesdoacentosecundário.Nocasodesequênciasmaioresdo

queapalavra,hátrabalhosdefendemquehásegmentosinvisíveisaoacento(cf.Galves&

25Nosexemplos (42)e (43),osacentos fortesestãomarcadasemnegritoeassílabasportadorasdeacentosecundárioestãosublinhadas.26 Exceções de o clítico sermais forte do que o acento secundário no português brasileiro são oscasos deênfase.Porexemplo,numasentençacomoCompreioquadro,oartigopodeserenfatizado,Compreioquadroparamostrarque“nãofoiqualquerquadro”,masumdeterminadoquadro–enãooutro.

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Abaurre1996).Porexemplo,em(43)vimosquenãoéumaopçãonoportuguêsbrasileiro

queoacentosecundáriocaianodeterminantea, igualando-oàsílabaza;estes trabalhos

definem os determinantes monossilábicos como clíticos fonológicos. Diversos trabalhos

tratam da natureza híbrida do clítico fonológico (Nespor & Vogel 1986: 145; Galves &

Abaurre1996):éumaformainvisívelaregrasdeacentoedeveseapoiaraformasplenas;

estão sujeitas frequentemente a reduções fonológicas segmentais. Em nota de rodapé,

Hayes(1995:377)explica:

(...) function words, such as pronouns, typically do not take phrasal stress. Weassumethisistobeaccountedforbyphonologicallycliticizingthemontoneighboringfullwords,asinHayes(1989);thustheyarenotpresentasterminalsforpurposesofphrasalstressrules.

Hayes (2009:271)exemplificaoclíticocomapalavra theem thebook [ðəbʊk]:o

clítico fonológico [ðə] é desacentuado porque está adjacente a umapalavra de conteúdo

[bʊk], passando fonologicamente a fazer parte da palavra de conteúdo. Ainda, o autor

explicaque se the for usada isoladamente, recebeumacentoartificial, comoem [ðʌ:] ou

[ði:],obedecendoaoprincípiodaculminância.Hayes (1995)apontaqueosdeterminantes

nãorecebemacentoprimário.ApartirdosexemplosdeSandalo&Abaurre(2007)inferimos

que estes clíticos também não podem portar acento secundário no português brasileiro.

Assim, até aqui, temos uma distinção de 3 graus de acento: comparando-se o acento

primárioeosecundário,temosqueesteémaisfracodoqueaquele;aocomparar,deum

lado,oprimárioeosecundárioe,deoutro,oclítico,notamosqueambossãomaisfortesdo

queoclítico,poisestenãotemproeminência(Hayes1995,Galves&Abaurre1996).Dado

queoclíticoeasílabafracanãotêmproeminência,aperguntaquesecolocaé:háalguma

diferençaemgraudeacentoentreclíticosfonológicosesílabasfracas?

Observeosexemplosaseguir,nodialetocampineiro:

(44) a)pretônica: semente>s[e]mente *s[i]mente

b)clítico: semente>s[i]mente

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(45) a)pretônica: oAlckminébomdevoto>d[e]voto *d[i]voto

b)clítico: oAlckminébomdevoto>d[i]voto

Comparando-se a sílaba pretônicas de SEmente em (44)a) com o clítico em SE

menteem(44)b),parecenãohaverreduçãode/e/>[i]naspretônicas,somentenoclítico

fonológico.Damesmaforma,oexemploem(45)a)parecenãoreduzir,diferentede(45)b).

Assumimosquenãohámudançadequalidadedavogalnumasílabapretônica,enquanto

queumclíticoparecereduzir.

Passamosacompararagorasílabaspostônicaseclíticos.Osexemplosaseguirsão

ditospopulareseque,adependerdodialeto,podemserproduzidosdiferentemente:

(46) Umhomemestavanomorroa/ca.ˈva.lo/.

a)postônicadecavalO: cava[lʊ]

b)clíticodecavá-lO: caval[o]

(47) Hojeédomingo,/ˈpe.de/cachimbo

a)postônicadepedE: pe[dʒɪ]

b)clíticodepédE: pé[de]

Num teste piloto de julgamento de gramaticalidade, notamos uma direção no

julgamento:quandoháneutralizaçãodavogal,asílabafinaltantopodeseraúltimasílaba

deumapalavra,comoumclítico.Poroutro lado,senãoháneutralização,asílaba finalé

interpretada como clítico. Nunca é o caso de se interpretar a sílaba que não sofreu

neutralizaçãocomopartedoradical.Istoé,em(46),quandoloéproduzidacomo[lʊ],tanto

podeterumainterpretaçãodecavaloquantocavá-lo;poroutrolado,quandoloéproduzida

como[lo],aprimeirainterpretaçãoédecavá-lo,enãodecavalo.

Damesmaforma, tambémédiferentea realizaçãodedeapresentadanoexemplo

(47):quandoháalçamentode/e/>[i],háduasinterpretaçõespossíveis:pédeoupede;se

nãoocorreoalçamentoeaproduçãofica[de],aprimeirainterpretaçãoéqueasequênciaé

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péde.

Emresumo,tantoparaclíticosvs.pretônicasquantoclíticosvs.postônicas,parece

haverumadiferençanocomportamentodeclíticosesílabasfracas.27Tendoemvistaestes

fatos, trabalharei com uma hierarquia com quatro graus de acento, os dois primeiros

acentuados,eosdoisúltimos,desacentuados:

(48) Hierarquiadeacento:

acentoprimário>acentosecundário>clítico>sílabafraca

acentuadas desacentuadas

Além da geração e tipos de acentos, uma questão importante ao se lidar com

processosquealteramaquantidadedesílabasnumacadeiaéoquemotivaestaalteração.

Especificamente para a queda de sílaba, no nível segmental advoga-se o OCP como

motivador da aplicação do processo. Do ponto de vistamétrico, um outro princípio pode

estaremação,oPrincipleofRhythmicAlternation(PAR)(cf.em2.1aformulaçãoprovisória

doprincípio).Selkirk(1984:52)propõequeelesejaformuladodoseguintemodo:

ThePrincipleofRhythmicAlternationa.Everystrongpositiononametricallevelnshouldbefollowedbyatleastoneweakpositiononthatlevel.b.Anyweakpositiononametrical levelnmaybeprecededbyatmostoneweakpositiononthatlevel.Tomando-sencomosentença,porexemplo,temosqueumaposiçãofortedeveser

seguidadepelomenosuma fracana sentença; umaposição fracapode ser seguida, no

máximo,porumaposiçãofracanasentença.

27Asílabapostônicaéprosodicamentemaisfracadoquepretônica(cf.Bisol2003:187,Leal&Santos2010);assim, a pretônica deve reduzir menos. É o que podemos observar se compararmos os exemplos (44)a) e(45)a),deumlado,(46)a)e(47)a),deoutro:asvogaisdaspretônicasemSEmenteeemDEvotoparecemnãoreduzir, enquantoqueas vogaisdaspostônicasdecavaLO > cava[lʊ] epeDE >pe[dʒɪ] são reduzidas.Comrelaçãoaosclíticos,aexpectativaéqueocomportamentosejaomesmo,semimportaraposiçãocomrelaçãoàpostônica.Noentanto,comparando-seosclíticosqueaparecemantesdasílabaforteem(44)b)e(45)b),deumlado,eaquelesqueestãodepoisdasílabaforteem(46)b)e(47)b),vemosque,noprimeirocaso,háreduçãodavogal(SEmente>s[i]menteeDEvoto>d[i]voto),enquantoqueomesmonãoocorrenosegundocaso(cavá-LO>caval[o]epéDE>pé[de]).Não temosumaexplicaçãoparaeste fato,maséumtemaaser trabalhadofuturamente.AgradeçoàProfªDrªLucianiTenanipormechamaraatençãoaestaquestão.

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Observeoexemploaseguir:

(49) OrganizaçãoacentualnosintagmafaculdaDEDEmedicina

fa cul da DE DE me di ci na x • x • • x • x • estruturarítmica

Em (49), a estrutura rítmica resulta em um lapso acentual, um encontro de duas

sílabas fracas /de+de/ (marcadasemvermelho).Lapsosechoquesacentuais tendema

ser evitados nas línguas, ou seja, de um modo geral, há uma grande tendência de

regularidadenaalternânciadesílabasfortesefracas.

Assim,umadassoluçõespararesolverolapsoacentualem(49)éapagarasílabaà

esquerdadosintagma,reestruturadodoseguintemodo:

(50) Reestruturaçãorítmicanosintagmafaculda(DE)DEmedicina

fa cul da (DE)DE me di ci na x • x • x • x • estruturarítmicareestruturada

Comaaplicaçãodequedadesílabaem(50),olapsodaúltimasílabadefaculdade

edapreposiçãodeseresolve, jáqueosdois temposdassílabas /de+de/passama ter

umaúnicabatidanaproduçãodafala.

2.2.4. Hierarquia prosódica: a interface fonologia e outros níveis

gramaticais

Uma questão importante a se levantar é se a queda de sílaba é um fenômeno

puramentefonológicoouselevaemcontainformaçõesdeoutroscomponentesgramaticais,

como acontece na retração acentual, por exemplo (Cf. Abousalah 1997; Santos 2002,

2003a, 2003b). Alguns trabalhos sobre haplologia apontam que esta ocorre

preferencialmente em alguns domínios prosódicos (mais especificamente a frase

fonológica,cf.CapítuloIIIecitaçõesalireferidas).

Emlinhasgerais,ahierarquiaprosódicaéa interfaceentrea fonologiacomoutros

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33

níveisdagramática,emqueossonsdafalaestãoorganizadosemunidadesmaiores,como

apresentoabaixo:

(51) Organizaçãodossonsemconstituintesprosódicos:

(U...) Uenunciado(s)…

(I…) Ifrase(s)entonacional(is)…

(Φ…) Φfrase(s)fonológica(s)…

(C…) Cgrupo(s)clítico(s)…

(ω…) ωpalavra(s)fonológica(s)…

(Σ…) Σpé(s)prosódico(s)…

(σ…) σsílaba(s)…

A representação acima correspondeaos níveis prosódicos definidos emNespor&

Vogel(1986).ParaSelkirk(1984),onúmerodeníveisé5enão7:nãoháoníveldepalavra

fonológica,somentedegrupoclítico(chamadodepalavraprosódicapelaautora),enemo

níveldeenunciado.Assim,aprincipaldiferençaentreasduasabordagenséseháounão

umclíticonaorganizaçãoprosódica,comoexemplificadoaseguir:

(52) Sintagma:pertodelá

per to de lá Nespor&Vogel(1986) per to de lá Selkirk(1984)[• • • x] fraseentonacional [• • • x] fraseentonacional[• • • x] frasefonológica [• • • x] frasefonológica[x •] [• x] grupoclítico [x •] [x] [x] palavrafonológica

[x •] [• x] palavraprosódica

[x •] [x] [x] péfonológico [x •] [x] [x] péfonológico[x] [x] [x] [x] sílaba [x] [x] [x] [x] sílaba

Oitemlexicaldeem(52)éumapalavrafonológicaparaNespor&Vogel(1986), já

querecebeacentonestenívelprosódico.Noentanto,nogrupoclítico,denãoéacentuado

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eseagregaàpalavraquepossuiacentonestenível, lá(note-sequelánãoéumclítico,já

que recebeacentonestenível), formandooconstituinte [de lá] grupo clítico.Poroutro lado,a

palavraprosódicaparaSelkirk (1984)equivaleaoconstituintequeNespor&Vogel (1986)

chamamdegrupoclítico:[delá]palavrafonológica(marcadoemitáliconasduasgradesem(52)).

Nestenível, láéacentuadoedenãoé.Neste trabalho,assumimosa teoriadeNespor&

Vogel(1986),dadoqueestaincluiadeSelkirk(apesardenãohaverdiferençaentreutilizar

ateoriadeSelkirk(1984)eNespor&Vogel(1986)nopresentetrabalho;assim,chamamos

onívelmaisbaixoestudadodegrupoclítico–enãopalavraprosódica).28

Osníveisprosódicosdeinteresseparaestetrabalhosãoaquelesacimadapalavra

fonológica,quaissejam:ogrupoclítico(C),afrasefonológica(Φ)eafraseentonacional(I).

Nespor&Vogel(1986:07)afirmamqueaconstruçãodecadaumdosníveisédeterminada

pelasmesmasregras,daseguinteforma:

ProsodicConstituentConstructionJoinintoann-arybranchingXPallXP-1includedinastringdelimitedbythedefinitionofthedomainofXP.

Em outras palavras, um constituinte prosódico é formado pelos constituintes que

estão logoabaixodele–ouseja,umgrupoclíticoé formadoporpalavra(s) fonológica(s);

umafrasefonológicaéconstituídadegrupo(s)clítico(s);eumafraseentonacionalcontém

frase(s)fonológica(s).

Apresentoabaixoaformaçãodostrêsconstituintesestudadosnopresentetrabalho:

(53) AlgoritmodeformaçãodoGrupoClítico(Nespor&Vogel1986:155)

I.CdomainThe domain of C consists of aω containing an independent (i.e. nonclitic) wordplusanyadjacentωscontaininga.aDCL[directionalclitic],orb.aCL [clitic] such that there isnopossiblehostwithwhich it sharesmore thancategorymemberships.

28Nãohácontextodequedadesílabaentreduaspalavrasfonológicas(nostermosdeNespor&Vogel1986),eonívelmaisbaixodahierarquiaaserconsideradoparaanálisedocorpusfoiodegruposclíticos–cf.subseção4.1.4.1.4.

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(54) AlgoritmodeformaçãodaFraseFonológica(Nespor&Vogel1986:168)

I.ΦdomainThedomainofΦconsistsofaCwhichcontainsalexicalhead(X)andallCsonitsnon-recursive29sideup to theC thatcontainsanotherheadoutsideof themaximalprojectionofX.(55) AlgoritmodeformaçãodaFraseEntonacional

IntonationalPhraseFormation(Nespor&Vogel1986:189)I.IDomainAnIdomainmayconsistofa.allthesinastringthatisnotstructurallyattachedtothesentencetreeatthelevelofs-structure;orb.anyremainingsequenceofadjacentsinarootsentence.

Especificamentesobreafrasefonológica,asautorasafirmamquepodehaveruma

reestruturaçãoneste nível, de aplicação opcional30 cujo principal propósito é evitar frases

fonológicascurtas:

(56) Reestruturaçãodefrasefonológica(opcional)

Anon-branchingΦwhichisthefirstcomplementofXonitsrecursivesideisjoinedintotheΦthatcontainsX.

Nareestruturaçãodafrasefonológica,nãoéformadoumnovonível,poisafronteira

entreasduas frases fonológicasemquestãoéapagada,eo resultadoéumaúnica frase

fonológica:

(57) [[deserto]C]Φ[[distante]C]Φ frasefonológica

(58) [[deserto]C[distante]C]Φr frasefonológicareestr.

29Oladorecursivodeumalínguaéaqueleemquesãointroduzidaspalavrasparagerarnovassentenças.30Areestruturaçãoéumparâmetroe,umavezmarcado(reestruturarounão),éfixonumadeterminadalíngua.Assim,opcionalserefereaumavariaçãoentreaslínguas,umavezquehálínguasemqueareestruturaçãoéobrigatória,outrasemqueéimpossívele,ainda,outrasemqueéopcional(cf.Nespor&Vogel1986:172-186).

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Asduasfrasesfonológicas[deserto]Φe[distante]Φ(marcadasemazul)podemser

reestruturadasemumúnicoconstituinte[desertodistante]Φreestr(marcadoemvermelho);a

fronteira de frase fonológica entre elas é apagada e o que fica é uma fronteira de dois

gruposclíticos–segundoNespor&Vogel(1986),háprocessosquepodemocorrerinternos

aumdomínio,noslimitesdeumdomínioouentredomínios.

Como dissemos, a hierarquia prosódica resulta domapeamento da fonologia com

outrosníveisdagramática:nogrupoclítico,estemapeamentoé feitoentreocomponente

fonológicoeomorfo-sintático;nafrasefonológica,éentreafonologiaeasintaxe;nafrase

entonacional, o mapeamento pode ser entre a fonologia e informações semânticas,

sintáticas e de performance (como a taxa de elocução, o tamanho da sentença, etc).

Emboraahierarquiaprosódicasejaconstruídaapartirdarelaçãoentreafonologiaeoutros

níveisgramaticais,Nespor&Vogel (1986)explicamquenãohánecessidadede isomorfia

entreeles,comoexemplificonoportuguês:

(59) [[linda]ω[mente]ω]adv

Em(59),háapenasumaelementoterminalnaárvoresintáticalindamente,enquanto

que, prosodicamente, há duas palavras fonológicas, pois há acento primário em ˈlinda e

outroemˈmente,(cf.Lee1994).

Uma vez delineado o quadro teórico de fonologia, passamos a tratar, no próximo

capítulo,dadefiniçãodoprocessofonológico.

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CAPÍTULOIII

3. AdefiniçãodoprocessodequedadesílabaNeste capítulo, descrevemosas características quedefinemaquedade sílabano

portuguêsbrasileirocombaseemanálisesencontradastantoparaestalínguaquantopara

outras,limitando-nosaprocessossincrônicosdesândiexterno(cf.Alkmim&Gomes1982,

Battisti2004,Tenani2002,Pavezi2006aeLeal2006).

Geralmente,aelisãosilábica(cf.Leal2006)eahaplologia(Alkmim&Gomes1982,

Battisti2004,Tenani2002,Pavezi2006aeLeal2006),doisprocessosdequedadesílaba,

são tratados separadamente e a grande maioria dos trabalhos do português brasileiro

apresentados nesta tese – que são a base para definirmos o processo – analisam a

haplologia, apresentando restrições variadas para o processo. Estas restrições diferentes

nas análises podem indicar que a implementação da queda de sílaba é diferente porque

dependedodialetoestudado.Dostrabalhossobrehaplologia,Alkmim&Gomes(1982)não

reportamqualéodialeto,afirmandologonoiníciodoartigo(p.44):

Pretendemos aqui dar uma contribuição ao estudo dos fenômenos de limite depalavra, área pouco explorada da fonologia portuguesa, em que pese a suaimportância como ingrediente do que se pode chamar, impressionisticamente, o“sotaquebrasileiro”.

Ainterpretaçãoquesetemdaafirmaçãoacimaéqueahaplologiateriaasmesmas

característicasemtodososdialetosdoportuguêsbrasileiro.AssimcomoAlkmim&Gomes

(1982),Bisol(2000)nãodefineodialeto,masafirmaqueabaseéoportuguêsbrasileiroe,

comoobjetivodeanalisaroritmo,umdosprocessosfonológicosestudadospelaautoraéa

haplologia.OutrotrabalhosobrehaplologiaéodeBattisti(2004)que,combasenocorpus

VARSUL,analisaodialetodePortoAlegre.OstrabalhosdeTenani(2002,2003)tratamdo

dialetodeSãoJosédoRioPreto,tambémparahaplologia.Pavezi(2006a,2006b)analisaa

haplologianosdialetosdeSãoJosédoRioPreto,combasenoIBORUNA-SãoJosédoRio

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Preto,edeSãoPaulo,combasenoNURC-SP.Finalmente,comoobjetivodeanalisara

elisãosilábicaeahaplologia,odialetoestudadoemLeal(2006,2007)éodeCapivari.

Assim, chamamosa atençãopara o fato de queas diferenças entre as propostas

paraaquedadesílabapodemestarrelacionadasaodialetoemestudo,ouseja,podesero

casodedetectarmosdiferençasentreaaplicaçãodequedadesílabaemdiferentescidades

(casosdevariaçãodiatópica).

Leal(2006)argumentaqueaelisãosilábicaeahaplologia,tratadasseparadamente

naliteratura,sãoumúnicoprocessofonológico–aquedadesílaba–emCapivari,comas

mesmas propriedades nos níveis segmental, prosódico e métrico. Assim, trataremos as

duasseparadamente(haplologiaem3.1eelisãosilábicaem3.2),eem3.3apresentamosa

análisedeLeal(2006).

3.1. Elisãosilábica

Para definirmos a elisão silábica, observe os exemplos abaixo, todos do teste de

Leal(2006):

(60) /t+n/ consoan(TE)NAsalizada conso[ˈɐ.na]salizada (teste)

(61) /z+ʒ/ bele(ZA)GIgantesca be[ˈle.ʒi]gantesca (teste)

(62) /k+p/ *mole(QUE)POderoso *mo[ˈlɛ.po]deroso (teste)

(63) /s+d/ *crian(ÇA)DIfícil *crian[di]fícil (teste)

No exemplo (60), o contexto consonantal /t + n/ é formado por duas consoantes

coronais [-contínuo, +anterior, -distribuído], em que a primeira é um segmento oral

[-vozeado]easegundaéumanasal[+vozeado],eaquedadesílabapodeseraplicada.31

No contexto /z + ʒ/ em (61), há duas coronais [+contínuo, +vozeado], e há aplicação do

processo, mesmo que o segmento /z/ seja [+anterior, -distribuído] e /ʒ/ [-anterior,

31 Lembramos que as nasais são [+contínuo] na cavidade nasal, mas na cavidade oral são segmentos[-contínuo],eéestaúltimaqueditaseoprocessopodeounãoocorrer.Otraço[nasal]eopontodeCcoronal,noexemplo(60),estãoemnósdiferentes,seguindo-seageometriadetraços:onóquedomina[nasal]éaraizdo segmento, enquanto que o que domina o ponto de C é a cavidade oral (cf. Clements & Hume 1995 esubseção2.2.1destatese).

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+distribuído].32Emcasoscomo(62),hádoissegmentos[-contínuo]/k+p/,masopontode

Cdas consoantesédiferente (háumadorsal seguidadeuma coronal), eaaplicaçãodo

processoéagramatical,segundoLeal(2006).Em(63),háduascoronais/s+d/,aprimeira

é [-vozeado, +contínuo, +anterior, -distribuído] e a segunda é [+vozeado, -contínuo,

+anterior,-distribuído]eaplicaçãodoprocessotornaasentençaagramatical.Parafacilitara

discussãoquesegue,apresentonatabelaabaixoumacomparaçãodostraçosinternosdas

consoantesdoscontextos(60)-(63):

Tabela1 –Comparaçãodostraçosinternosdeconsoantes

contexto vozeamento anterior,distribuído pontodeC contínuo possibilidadedeaplicação33

/t+n/ diferente igual igual[coronal]

igual[-contínuo] sim

/z+ʒ/ igual diferente igual[coronal]

igual[+contínuo] sim

/k+p/ igual – diferente[dorsal+labial]

igual[-contínuo] não

/s+d/ diferente igual igual[coronal]

diferente[+contínuo]+[-contínuo]

não

Com relaçãoa vozeamento, notamosqueeste traçonão interfere noprocesso, já

quenoscasosemqueasconsoantessãodiferentes(cf.contexto/t+n/em(60))ouiguais

(ver/z+ʒ/em(61))em[vozeamento],oprocessopodeocorrer(cf.Alkmim&Gomes1982,

Tenani2002,Battisti2004ePavezi2006a).Ostraços[anterior,distribuído]dizemrespeito

apenasàscoronais(cf.nota32)epodehaveraplicaçãodoprocessocomvaloresiguais(cf.

/t+n/em(60))oudiferentes(ver/z+ʒ/em(61)).Comosepodevernocontexto/k+p/em

(62),hábloqueiodoprocessoe,mesmoquetenhamumvalorigualparacontínuo(ambas

são[-contínuo]),ospontosdeCsãodiferentes:háumadorsalseguidadeumalabial,oque

32 Veja que os traços [anterior, distribuído] se aplicam somente para as coronais, já que são nós irmãosdependentes do traço [coronal], que está abaixo deste nó na geometria – cf. subseção 2.2.1 desta tese eClements&Hume(1995:292).33ApossibilidadedeaplicaçãodequedadesílabaéestabelecidadeacordocomosresultadosdoestudodeLeal(2006),ouseja,dodialetocapivariano.

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causaobloqueio.Em /s+d/ (cf.exemplo (63)),opontodeCéomesmo [coronal],masa

primeiraconsoanteé[+contínuo]easegundaé[-contínuo]eoprocessoébloqueado.

Assim,podemosobservarqueaaplicaçãodaelisãosilábicanãoéaleatória,jáque

os traços de cavidade oral (ponto de C e contínuo) é o que restringe a regra: se as

consoantesdocontextosegmentalnãotiveremummesmopontodeCeummesmovalor

para o traço [contínuo], a implementação do processo é bloqueada, como exemplificado

comoscontextos(62)e(63)(cf.subseção3.3).

Casos de elisão silábica são pouco estudados na literatura, e Alkmim & Gomes

(1982:50)apontam,demaneirabreve,queháalguns tiposdeelisãosilábica34emqueo

resultadoéobtidoporefeitodapróclise,comoexemplificadoaseguir:35

(64) poDEFAlar>po(DE)Falar[ˈpɔ.fa.ˈla]

No entanto, não há como se considerar que a sílaba po de pode, resultante do

apagamentosilábico,sejaumproclítico:clíticosfonológicossãopalavrasquenãocarregam

acento acima da palavra, e que podem se juntar à direita (enclíticos) ou à esquerda

(proclíticos)depalavrasquepossuemacento,comoexemplificadoabaixo:

(65) omenino > [o]ω[menino]ω]C

(66) pegue-o > [[pegue-]ω[o]ω]C

Em (65), o determinante o é um clítico fonológico que se associa à palavra

fonológicamenino por efeito da próclise; em (66), o pronomeo se associa àpegue, em

decorrênciadaênclise.

RetomandooexemplodeAlkmim&Gomes (1982),observeasgradesmétricasa

seguir:

34Alkmim&Gomes(1982)chamamoprocessoapresentadoem(67)deredução;usamosaquiotermo‘elisãosilábica’paracontemplaraespecificidadedeste tipodeprocesso fonológico,diferenciando-odousogenérico‘redução’–estetermoéumhiperônimo,queabarcaváriostiposdeprocessosfonológicos(cf.Leal2006:11-4).35Cf.tambémdiscussãoemLeal(2006).

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(67) Sintagmapodefalar

[• • • x] frasefonológica[x •] [• x] grupoclítico[x •] [• x] palavrafonológicapo de fa lar

(68) Sintagmapo(de)falar

[• • x] frasefonológica[x] [• x] grupoclítico[x] [• x] palavrafonológicapo fa lar

Como representado em (67) e (68), a primeira sílaba de pode recebe acento nos

níveis de palavra fonológica e de grupo clítico, não podendo ser considerada um clítico

fonológico.Mesmoqueseconstruaumagradecomapagamentodasílabadedepode,cf.

(68),[pɔ]continuaareceberacentonosníveiscitados.

ComrelaçãoaonívelsegmentaldosintagmapoDeFalar,observamosque tantoo

pontodeCquantoovalorpara [contínuo] (istoé,acavidadeoral)dasconsoantes /d+ f/

sãodiferentes:oprimeirosegmentoéumacoronal[-contínuo],enquantoqueosegundoé

uma labial [+contínuo]e,apesardestasdiferenças,aquedadesílabaégramatical.Estes

tiposdedadossãomuito interessantes,epodemseranalisadospelapropostadedifusão

lexical (cf.Oliveira1992eCristófaro2001): podemser palavrasespecíficasemqueuma

mudança de som se aplica, ou seja, parecem ser marcadas lexicalmente para uma

propensãoaumdeterminadoprocessofonológico.36Noentanto,associaraquedadesílaba

aprocessosfonológicosdedifusãolexicalfogeaoescopodestetrabalho(cf.resultadosdo

estudopilotodestetrabalhoeadiscussãonasubseção5.1).

3.2. Haplologia

Emlinhasgerais,ahaplologiaéumprocessodeapagamentodesílabas,noqualo

contexto segmental deve ser duas sílabas iguais ou semelhantes. Para o caso de

semelhanças,asconsoantesdevemser,nomáximo,diferentesem[vozeamento].Observe

osexemplosaseguir,adaptadosdeAlkmim&Gomes(1982:48):

36Oliveira(1992:32)explicaqueadifusãolexical,“emsuaessência,propõequeasmudançassonorassejamvistascomosendolexicalmentegraduaisefoneticamenteabruptas.OmodelodaDL[difusãolexical]seopõe,portanto,aomodeloNeogramático(NG),queconcebeasmudançassonorascomosendolexicalmenteabruptasefoneticamentegraduais.”

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(69) /t+t/ quanTOTRAbalho > quan(TO)TRAbalho

(70) /t+d/ limiTEDEpalavra > limi(TE)DEpalavra

Em (69), as consoantes do contexto segmental são idênticas e, em (70), são

semelhantes,vistoqueaúnicadiferençaentreelasé[vozeamento];emambososcasos,os

contextospermitemaaplicaçãodehaplologia.

A literatura sobre haplologia é mais abundante e trata de diferentes aspectos do

contextodeaplicação.Porisso,nassubseçõesaseguir,apresentoasanálisessobreeste

processo,deacordocomosseguintesníveisfonológicos:ocontextosegmental,em3.2.1;a

estruturasilábica,nasubseção3.2.2;aestruturaprosódica,em3.2.3;eaestruturamétrica

em 3.2.4. Em 3.3, apresento a análise de Leal (2006), em que se unificam os dois

processos.Finalmente,em3.4,háumadiscussãosobrea natureza da queda de sílaba, se

é de coalescênciaouapagamento.

3.2.1. Contextosegmental

Comoditonasubseçãoanterior,diferentementedaelisãosilábica,ahaplologiaéum

processo fonológico muito estudado na literatura (cf. referências a seguir), cuja regra é

formalizadadoseguintemodoporAlkmim&Gomes(1982:51):

(71) RegradehaplologiaparaAlkmim&Gomes(1982:51)37

C V C C V+coronal +alto +coronal +soante [-acento]-contínuo -acento##-contínuo -contínuo-nasal -nasal -nasal

1 2 3 4 5

Segundo as autoras, a regra em (71) representa que pode haver aplicação de

haplologia, num contexto de sândi externo (as fronteiras de palavra estãomarcadas por

“#”), se a primeira sílaba for uma CV e a segunda pode ser tanto CV quanto CCV (a

37ApesardeospontosdeCnãoserembinários,deacordocomomodelodegeometriadetraços(cf.Clements&Hume1995)queadotamosaqui,conservamosanotaçãodeAlkmim&Gomes(1982)como[+coronal].

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opcionalidade da segunda consoante está representada pelos parênteses em (71)), e a

possibilidadedeapagamentodossegmentos1e2deveseguirosseguintescritérios:

i. Osegmento1(primeiraconsoante)éumacoronal[-contínuo,-nasal](ouseja,é

necessariamente/t/ou/d/);

ii. Osegmento2 (primeiravogal)nãodeveseracentuadoenãodeve tero traço

[+alto];

iii. O segmento 3 (segunda consoante) é uma coronal [-contínuo, -nasal]

(novamente,somentepodeser/t/ou/d/);

iv. O segmento 4 (segunda consoante de ataque ramificado) é uma soante

[-contínuo,-nasal],quepodeaparecerounão;e

v. Osegmento5 (segundavogal)nãodeveseracentuadoeseus traços internos

nãoimportam.

Alkmim&Gomes(1982:48)afirmamque,mesmoqueasconsoantespossuamum

mesmo ponto de articulação na forma subjacente, se forem diferentes de /t/ e /d/, o

processo fonológico é outro: há elisão vocálica, acarretando a adjacência de duas

consoantesiguais,queficamalongadasnooutput:

(72) saBEBEIjar>*sa(BE)BEIjar,massim:saB(E)BEIjar[ˈsab:ejˈʒa]

Em (72), a vogal /e/ é elidida, duas consoantes /b/ se tornam adjacentes, o que

acarretaoalongamentodestessegmentos,segundoAlkmim&Gomes(1982),econtinuam

a ser produzidos distintamente como [b:]. No entanto, as autoras não apresentam

espectrogramasemsuaanálisequemostremestealongamento.

Paracorroborara ideiadequeháapenasapagamentodavogal,enãohaplologia,

Alkmim&Gomes(1982:50)apresentamoseguinteparmínimo:

(73) AFalelimitou>[a.fa.l:i.mi.tow]

(74) AFaleimitou>[a.fa.li.mi.tow]

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Segundo as autoras, não há possibilidade de queda de sílaba em (73), já que o

resultado é a produção de dois /l/, que continuam sendo pronunciados distintamente [l:].

Estaproduçãodistintadasconsoantes [l:]podeserpercebidacomacomparaçãode (73)

com(74),jáque,nesteúltimoexemplo,háapenasum[l]naprodução.Assim,paraAlkmim

&Gomes (1982), só há possibilidade de haplologia com as consoantes /t/ e /d/; para as

outras consoantes, o processo aplicado só pode ser a elisão vocálica, e as duas

consoantes, em consequência do apagamento da vogal, ficam geminadas e são

pronunciadasdistintamente–umsegmentoalongado.

Bisol (2000), Battisti (2004) e Tenani (2002, 2006) concordam que, de fato, há a

geminaçãoconsonantal.SeguindoapropostadeSáNogueira(1958),asautorasapontam

queháduasetapasnahaplologia:naprimeira,háelisãodavogal;nasegundaetapa,por

estaremadjacentes,asconsoantespodemgeminarounão.38

A diferença entre as duas propostas (a primeira em Bisol 2000, Tenani 2002 e

Battisti2004,seguindoSáNogueira1958)éque,paraAlkmim&Gomes(1982),sehouver

duasconsoantesiguaisnoresultadodoapagamentovocálico,nãoháhaplologia,jáqueas

duas consoantes continuam a ser produzidas; por outro lado, para Bisol (2000), Battisti

(2004) e Tenani (2002, 2006), a haplologia decorre de dois processos fonológicos:

primeiramente, há elisão da vogal, e as consoantes adjacentes podem continuar a ser

produzidas–destavez,comdegeminaçãodestessegmentos.

Tenani (2003: 284, 304) explica que não trabalha com contextos segmentais que

possambloquearahaplologia,eassumeaquelesquefavorecemoprocesso(/t/e/d/,como

apontado por Alkmim&Gomes 1982), já que a finalidade da autora é estudar a relação

entre haplologia e constituintes prosódicos (cf. subseção 3.2.3). Da mesma forma, a

variáveldependenteno trabalho de Battisti (2004)éahaplologiacomasconsoantes /t/e

/d/, com o finalidade de verificar qual é a natureza do processo fonológico, se de

apagamento ou de coalescência. Assim, as duas autoras não discutem contextos

segmentaisdiferentesde/t/e/d/.

Bisol(2000)tambémnãotratadecontextossegmentais,jáqueointuitodoartigoé

verificararelaçãoentreritmoeprocessosfonológicos,masaautoraapresentaoseguinte

38Cf.subseção3.3,emqueháumadiscussãosobrecoalescênciaeapagamentodesegmentos.

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exemplodehaplologia(Bisol2000:409):

(75) OmacaCOCOmeutodasasbananas>maca(CO)COmeu

Como vemos em (75), há a possibilidade de queda de sílaba com o contexto

segmental /ko + ko/ para Bisol (2000), ou seja, um contexto diferente da definição de

Alkmim&Gomes(1982)–diferentede/t/e/d/.

Pavezi(2006a),trabalhandocomosdialetosdacidadedeSãoPaulo(NURC-SP)e

deSãoJosédoRioPreto(IBORUNA-SJRP),eLeal(2006),comodeCapivari,expandemo

inventário de Alkmim & Gomes (1982) com relação às consoantes que podem sofrer

haplologia(eelisãosilábica,segundoLeal2006).39

AtabelaaseguirapresentaosresultadosdosdadosdefalaespontâneadePavezi

(2006a:25):

Tabela2 –Aplicaçõesdehaplologiacomrelaçãoàsconsoantes(Pavezi2006a:25)–falaespontânea

consoantes total %aplobstruintesnãocontínuas 1552 93

nasais 82 5fricativas 33 2total 1667 100

Os resultados da autora apontam que: i) as consoantes [-contínuo] representam

93%deaplicaçãodoprocesso; ii) as nasais tiveram5%; e iii) as consoantes [+contínuo]

resultaramem2%do totaldeaplicações.ComopodemosobservarnaTabela2,aautora

faz distinções das consoantes pelo seumodo de articulação, sem tratar das consoantes

separadamente.Jánocorpusexperimental,Pavezi(2006a)analisaassílabas(consoantes

evogaisunidas)40e,apartirdos resultadosapresentados (Quadro3.1emPavezi2006a:

39OsresultadosdeLeal(2006)estãoreportadosnasubseção3.3.40Pavezi (2006a: 114) classifica as consoantes do seguintemodo: (i) obstruintes: [labial] /p/ e /b, [-contínuo,+distribuído][tʃ]e[dʒ]e[dorsal]/k/e/g/;(ii)nasais:[labial]/m/e[coronal]/n/;(iii)fricativas:[+contínuo,labial]/f/e /v/, [+contínuo, coronal, +anterior] /s/ e /z/, [+contínuo, coronal, -anterior] /ʃ/ e /ʒ/; (iv) vibrantes: [+vozeado,-contínua,-distribuído]/r/;e(v)lateral:[+sonoro,+contínua,coronal]/l/.Quantoàsvogais,sãoclassificadasem[+baixo]/a/e[+alto]/i/e/u/.

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115)podemosverificarque:

(i) coronais [-contínuo] variaram de 70%a 80%na aplicação de haplologia

(contextos/tu+tu/,/tʃi+tʃi/,/da+da/,/du+du/e/dʒi+dʒi/;eapenas25%

paraocontexto/ta+ta/;

(ii) coronal[+contínuo]teveumavariaçãodeaplicaçãodoprocessode65%a

90%,eoscontextos/zu+zu/e/lu+lu/tiveram,respectivamente,só25%

e30%deaplicação;

(iii) paraaslabiais[-contínuo],ataxadeaplicaçãoéumpoucomaisbaixa(de

20%a60%),eocontextoquemenosvarioufoi/pa+pa/,com15%;

(iv) aslabiais[+contínuo]tiveramde35%a60%deaplicação,eocontexto/fu

+fu/teveapenas5%;

(v) asdorsais[-contínuo]variaramnaaplicaçãoentre40%e80%,eastaxas

mais baixas são para os contextos /ga + ga/ e /ku + ku/ (40% e 45%,

respectivamente);

(vi) com relaçãoàsnasais (todas [-contínuo]), a taxadeaplicaçãovarioude

45%a60%,eocontexto/ma+ma/teveapenas20%deaplicação;e

(vii) paracontextoscomosfonemas/r/(o/r/forte,comoemcarro),astaxasde

aplicaçãodehaplologiavariaramde85%a55%.

Aautoraconcluiquepodehaveraplicaçãodehaplologiacomcontextossegmentais

diferentesdaquelesapresentadosporAlkmim&Gomes(1982).

Com relação às vogais, Alkmim & Gomes (1982: 50) afirmam que somente há

haplologia se a primeira vogal do contexto segmental possuir o traço [+alto] (cf. regra

apresentadaem(71)).Assim,noexemploabaixo,aaplicaçãodehaplologiaéagramatical

paraasautoras(p.50):

(76) comiDADOLíbano>*comi(DA)DOLíbano

Alkmim&Gomes (1982) não discutem qual processo fonológico pode ocorrer em

(76), mas afirmam que há bloqueio de haplologia. Para Pavezi (2006a), no entanto, a

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haplologiapodeocorrer tantocomvogaisaltas /i/e /u/, como tambémcomvogaisbaixas

/a/,combasenomesmotesteaplicadoauniversitáriosdeSãoJosédoRioPreto.

Comrelaçãoaonívelemqueoprocessopodeseraplicado,podemosverificarque,

ao longo dos trabalhos de Tenani (2002) e Pavezi (2006a), os segmentos vocálicos

favoráveis à haplologia são /i/ e /u/, ou seja, as autoras utilizambarras para designar os

segmentos, o que indicaria que são fonemas. Por outro lado, Alkmim & Gomes (1982)

descrevemossegmentosdocontextodehaplologiaentrecolchetes “[ ]”, indicandoquea

definição do processo está no nível fonético (cf. a regra para a haplologia de Alkmim &

Gomes(1982:51),esuareescritaem(71),apresentadanasubseção3.2.1).Ainda,Alkmim

&Gomes(1982:48)definemahaplologiacomo:

(...) a supressão da sílaba final de uma palavra quando seguida por outrafoneticamentesemelhante.(grifosmeus)

Observe os exemplos abaixo deAlkmim&Gomes (1982: 48) (cf. (77) e (78)), de

Tenani(2002:105)(ver(79))edePavezi(2006a:116)(cf.exemplo(80)):

(77) [i+i] limiTEDEpalavra > limi(TE)DEpalavra

(78) [u+i] calDODEcana > cal(DO)DEcana

(79) /i+i/ faculdaDEDInâmica > faculda(DE)DInâmica

(80) /u+u/ boniTOTUbarão > boni(TO)TUbarão

Em(77)e(78),Alkmim&Gomes(1982)representamasvogaiscomotraço[+alto],

nonívelfonético;nosexemplos(79)deTenani(2002)e(80)dePavezi(2006a),asvogais

sãosubjacentes.

Assim, é necessário uma discussão com relação a que nível deve ser levado em

contaparaoapagamentodesílaba,seofonológicoouofonético.Umindíciodequeéno

nível fonológico (e não no fonético) que a regra de queda de sílaba se aplica pode ser

encontrado no corpus desta tese, se levarmos em conta a diferença de processos de

alçamentodasvogaisemfinaldepalavra.EmCampinas,estaregraseaplica,aocontrário

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deCapivari,comoexemplificamosabaixocomapalavracaldo:

(81) Capivari,semalçamento: [ˈkaw.do]

(82) Campinas,comalçamento: [ˈkaw.dʊ]

Emambasascidades,apesardehaverumareduçãonavogalfinal,notamosqueas

qualidadesdasvogaisemfinaldepalavrasãodiferentesemCapivarieCampinas.Epode

haver aplicação de queda de sílaba tanto em dialetos sem o alçamento (o capivariano)

quanto em dialetos com alçamento (o campineiro) – há variação de queda de sílaba em

ambasascidades.

Um outro argumento para interpretarmos que a queda de sílaba ocorre no nível

fonológico, e não no fonético, é o emprego da teoria que embasa a análise do contexto

segmental: trabalhamoscomageometriade traços,poiséapartirdos traços internosda

cavidade oral (ponto de C e contínuo) dos segmentos que se define o processo

(fonologicamente).

Assim, as vogais do contexto de queda de sílaba dos exemplos (77)-(80) são

escritasaseguir,combasenageometriadetraços,comotendofonologicamenteostraços

depontodeC,daseguinteforma:

(83) /e+e/:[coronal+coronal] limi(TE)DEpalavra

(84) /o+e/:[dorso-labial+coronal] cal(DO)DEcana

(85) /e+i/:[coronal+coronal] faculda(DE)DInâmica

(86) /o+u/:[dorso-labial+dorso-labial] boni(TO)TUbarão

Adicionalmente,vogais[+baixo]sãotratadascomoapresentoabaixo(cf.exemplode

Leal2006:141),emqueaimplementaçãodaregraégramatical:

(87) /a+a/:[dorsal+dorsal] nãoadian(TA),TÁfeito (ALES)

Portanto, como pudemos observar nesta subseção, a regra de haplologia e, em

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termos gerais, de queda de sílaba, pode comportar todos os segmentos consonantais e

vocálicos, assim como explicamPavezi (2006a) e Leal (2006) (sobre este trabalho, cf. a

subseção3.3).

3.2.2. Estruturasilábica

Comrelaçãoàestruturasilábica,vimosqueasílabaelididadeveserCV,segundoa

análisedeAlkmim&Gomes(1982).

Paraexplicararelaçãoentreacentoeestruturasilábica,Collischonn(2007)analisa

processos fonológicosdesândi internoeexternoe,dentreestes,ahaplologia.Deacordo

com a autora (pp. 221-2), a estrutura silábica não interfere neste processo fonológico, já

que:

(...)assílabasafetadassãooriginalmentebem-formadas.(...)Oquedesencadeiaahaplologia não é nem uma nem outra [estrutura silábica e acento], mas umaexigênciasobrepropriedadesdaestruturasegmental,oOCP.

Collischonn (2007) defende que a haplologia está relacionada ao OCP,

primeiramente proposto por Leben (1973) em estudos de línguas tonais, emuitos outros

autores trabalhamcomoprincípio (cf.McCarthy1979,Goldsmith1990).McCarthy (1988:

88)reformulou-odoseguintemodo:41

Adjacentidenticalelementsareprobibited.

Assim, para Collischonn (2007), se houver elementos adjacentes idênticos numa

sequência segmental, a haplologia é implementada; a autora sustenta que a estrutura

silábicanãoéum fator importantenaquedadesílaba,poisasestruturasoriginais jásão

bem formadas.Contudo,Battisti (2004),Pavezi (2006a)eLeal (2006)encontraramcasos

emqueasílabasujeitaaoapagamentonãoéumaCV,massimCCV.Oexemploaseguiré

deBattisti(2004):

41 McCarthy (1986: 208) define o OCP de um modo mais restrito: “At the melodic level, adjacent identicalelementsareprohibited.”

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(88) Den(TRO)DOconsultório.

Em(88),asílabaelididatemataqueramificado,emqueaconsoante/r/preenchea

segundaposiçãodoataquee,mesmoassim,ahaplologiaégramatical.

Osexemplosabaixotambémilustramcontextosemqueassílabassujeitasàqueda

têmestruturasdiferentes–sílabaleveem(89)e(92),sílabacomataqueramificadoem(90)

e(93),esílabapesadaem(91)e(94):

(89) ocenTODAbananaécaro>ocen(TO)DAbananaécaro

(90) ocenTRODAcidadeébonito>ocen(TRO)DAcidadeébonito

(91) ageneralmoTORSDObrasil>ageneralmo(TORS)DObrasil

(92) odenTEDOjuízo>oden(TE)DOjuízo

(93) ovenTREDAterra>oven(TRE)DAterra

(94) oshoppingcenTERDECampinas>oshoppingcen(TER)DECampinas

Assim, a queda de sílaba não é bloqueada em (89)-(94); em outras palavras, a

sílabasujeitaaoprocessonãoprecisasernecessariamenteumaestruturaCV.42

3.2.3. Métrica

Amaior parte dos trabalhos sobre haplologia emétrica discutem se o acento das

sílabasdocontextopodeinfluenciaroprocesso;poucossãoostrabalhosqueobservamse

aaplicaçãodoprocessopodeterconsequênciasrítmicas.

42Assílabassujeitasaoapagamento,porexemplo,/tre/deventre(em(93))e/ter/decenter(cf.(94))nãotêmumaestruturasimplesCV,massimCCVeCVC, respectivamente.Poderíamosseguiro raciocíniodequeassílabas/tre/e/ter/possamserealizarcomaquedade/r/,jáqueessetipodeprocessofonológicoécomumempalavrascomodentro,quetambémpodeserproduzidoparaden[tʊ],centro>cen[tʊ];outro>ou[tʊ].Damesmaforma,sílabasCVCpodemsersimplificadasparaCV,comoemrevólver>revólve;açúcar>açúca;hambúrguer>hambúrgue.Haveria, talvez, duas causas (dentre outras) paraa simplificação silábica: (i) taxadeelocução(contextos em que as palavras tenderiam a uma maior simplificação); e (ii) difusão lexical (de acordo comCristófaro (2001),osdifusionistas “sugeremqueumamudançasonoraéaplicadaaalgumaspalavrasepodeatingir (ounão) o léxico comoum todo.Portanto, é a palavraquemudaem relaçãoa sonsespecíficos.” (cf.tambémcf.nota36).Nãotratamosdotemanestatese,eanálisesfuturaspodemelucidaraquestão.AgradeçoaoProf.Dr.EmilioGozzePagottoeProfªDrªLucianiTenanipormechamaremaatençãoaestaspossibilidadesdeanálise.

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Especificamente com relação ao acento da primeira sílaba do contexto de

haplologia, Alkmim&Gomes (1982), Bisol (2000), Pavezi (2006a) e Tenani (2002, 2003,

2006)concordamquesóépossívelaaplicaçãodehaplologiaseasílabasujeitaàqueda

forfraca–sílabacomacentobloqueiaoprocesso(cf.Alkmim&Gomes1982,Tenani2002:

141esubseção1.3).

De acordo com Alkmim & Gomes (1982), a segunda sílaba do contexto também

deve ser fraca, como vimos na regra apresentada em (71). Observe o exemplo abaixo,

adaptadodeAlkmim&Gomes(1982:50):

(95) gaTOTONto>*ga(TO)TONto

Deacordocomasautoras,nãoháquedadesílabaem(95)porqueasegundasílaba

docontextosegmentaltonéforte,oqueimpedeaaplicaçãodoprocesso.Afimdeverificar

se contextos em que a segunda sílaba é forte podem causar o bloqueio do processo,

Tenani (2002) testa os acentos das sílabas do contexto de haplologia, controlando o

contextosegmental,aprosódia(fronteiradefrasesfonológicas)eaestruturarítmica,como

exemplificoaseguir:

Tabela3 –Haplologiaetonicidade,adaptadodeTenani(2002:141)sentença estruturarítmica %dehaplologia

(a)aautoridaDEDItouregrasàpolícia ˈσσ#σˈσ 50(b)aautoridaDEDItaregrasàpolícia ˈσσ#ˈσσ 50(c)odiDIDItouregrasàpolícia σˈσ#σˈσ 0

No testedeTenani,houvebloqueiodehaplologiasomenteseaprimeirasílabado

contextosegmentalforforte–cf.exemplo(c)naTabela3.Estesresultadossãoosmesmos

deAlkmim&Gomes(1982),Pavezi(2006a)eLeal(2006).Tenani(2002:141)continua:

Como o contexto segmental e a estrutura prosódica são exatamente iguais aoscontextosemqueassílabassãoambasátonasousomenteasegundaacentuada,conclui-sequeobloqueioencontradoémotivadopelatonicidadedaprimeirasílabadocontextodesândi.

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Assim,pode-seconcluirqueumaexigênciaacentualdaaplicaçãodoprocessoéque

aprimeirasílabadeveserfraca.

3.2.4. Prosódia

Hátrêstrabalhosquerelacionamahaplologiacomaestruturaprosódica.

O primeiro deles é Tenani (2002), que examinou os contextos segmentais de

haplologia dentro frase fonológica (ou seja, entre dois grupos clíticos), entre frases

fonológicas,entrefrasesentonacionaiseentreenunciados.Tenaniexplicaqueaaplicação

doprocessoestá inversamenterelacionadaaosconstituintesmaisaltosdahierarquia, isto

é,quantomaisaltoforoconstituinte,menoréaaplicaçãodehaplologia.

Outro trabalho é o de Battisti (2004), que analisa, com base na sociolinguística

variacionista,aposiçãodocontextosegmentalnafrasefonológica.Aautoraexplicaqueo

contextoquemaisfavoreceuahaplologiafoiodevogaisiguais,dentrodefrasefonológica,

comoexemplificoaseguir:

(96) vonta(DE)DEconhecer

OsníveisestudadosporPavezi(2006a)sãoosmesmosqueTenani(2002)(dentro

frase fonológica,entre frases fonológicas,entre frasesentonacionaiseentreenunciados);

no entanto, os resultados encontrados pelas autoras foram diferentes: dentro de frases

fonológicaseentre frases fonológicassãoosníveismaispropíciosàhaplologia,segundo

Pavezi (2006a).Apresentoabaixoa tabeladecomparaçãoentreos resultadosdeTenani

(2002)ePavezi(2006a)(adaptadadePavezi2006a:52):

Tabela4 –Haplologiaedomíniosprosódicos–dadosadaptadosdePavezi(2006a:52) Tenani(2002)(dadosexperimentais) Pavezi(2006a)(falaespontânea)

estruturaprosódica tokens aplicação % tokens aplicação %entreΦsemesmoΦ 24 22 92 51 25 49entreIsemesmoI 12 8 66 1 0 0enunciado 30 17 56 0 0 0total 66 47 52 25

Pavezi (2006a) explica que, ao comparar resultados de fala espontânea e dados

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experimentais,oúnicoconstituintequepôdedefatosercomparadofoia frasefonológica,

poispara fraseentonacionalhouveapenasumdado,enenhum token paraenunciado.A

autoraconcluiquecontextosdehaplologianafrasefonológicasãoosmaisfrequentes,com

variaçãonaaplicaçãodoprocesso.

Deformaresumida,vimosnestasubseçãoqueonívelmaisfavorávelparaaplicação

dehaplologiaéa frase fonológica,deacordocomBattisti (2004)ePavezi (2006a)–para

dados de fala espontânea. Tenani (2003) argumenta que quanto mais alto for o nível

prosódico,menoréaimplementaçãodahaplologia.

3.3. AanálisedeLeal(2006):unindoosdoisprocessos

Nesta subseção, apresento os resultados de queda de sílaba (elisão silábica e

haplologia) encontrados emLeal (2006), unificandonesta análise os dados apresentados

nassubseçõesanteriores.

OprincipalobjetivodeLeal(2006)foiverificarseaelisãosilábicaeahaplologiasão

ummesmoprocesso fonológicoousesãoduasregrasdistintas,combaseemtrêsníveis

fonológicos:segmental,prosódicoemétrico.Ocorpusdessetrabalhoécompostodeduas

partes: na primeira (experimental), foram aplicados testes contendo sintagmas nominais

(substantivo seguido de adjetivo), controlando-se o ponto de C, o traço [contínuo] (cf.

Clements&Hume1995)eovozeamentodossegmentos.Agramaticalidadedaquedade

sílabanossintagmasfoijulgadadeacordocomaintuiçãodapesquisadoraedainformante

capivarianaFC,de31anos.Asegundapartedocorpusénaturalística, formadaporduas

seçõesdetrintaminutoscadauma(falasespontâneas),comdoisinformantescapivarianos

de28anos,umdelescomestudoatéoensinofundamental(ALES)eooutroestudouatéo

ensinomédio(BGN).

Paraocontextosegmental,osresultadosdotesteedaanálisenaturalísticaapontam

que, na elisão silábica e na haplologia, deve haver consoantes que tenham osmesmos

traçosabaixodacavidadeoral,ouseja,ospontosdeCeovalorpara[contínuo]devemser

osmesmos.Observeosseguintesexemplos(deLeal2006):

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(97) /t+d/ ...ummon(TE)DEtécnicapracantar. (BGN)

(98) /d+d/ ...tenhovonta(DE)DEmatar. (ALES)

(99) /d+t/ var(DO)TInhacontado (ALES)

(100) /k+k/ ummole(QUE)COMoutra (ALES)

Em(97),ocontextoconsonantalécompostodeduascoronais[-contínuo],eaúnica

diferençaentreelaséqueaprimeiraé[-vozeado]easegundaé[+vozeado].Nocontexto

em(98),háduassílabasidênticascomconsoantescoronais[-contínuo].Em(99),também

háapenasumadiferençaentreasconsoantes: /d/é [+vozeado]e /t/é [-vozeado],ambas

coronais[-contínuo].Oexemplo(100),/k+k/écompostodeduasconsoantescomostraços

dorsais [-contínuo].43 Uma vez que os ambientes nestes exemplos têm consoantes com

diferenças,nomáximo,emvozeamento,caracterizamcasosdehaplologia.

Nos exemplos a seguir, as consoantes do contexto segmental são diferentes em

maistraçosdoqueapenas[vozeamento]:

(101) /b+m/ goia(BA)MAdura >[goˈia.ma]dura (teste)

(102) /z+ʃ/ babo(SA)CHEIrosa >ba[ˈbɔʃe]rosa (teste)

(103) /s+d/ *crian(ÇA)DInamarquesa>*crian[di]namarquesa (teste)

(104) /b+d/ *goia(BA)DOcinha >*[goˈjado]cinha (teste)

Nocontextosegmental /b+m/em(101),asduas labiais [+vozeado, -contínuo],que

diferemquantoaotraço[nasal]:aprimeiraéumaconsoanteoraleasegundaéumanasal.

Em(102),ocontexto/z+ʃ/éformadoporduascoronais[+contínuo];aprimeiraconsoanteé

[+anterior,-distribuído]easegundaé[-anterior,+distribuído].Em(103),/s+d/éformadopor

duas consoantes que têm em comum o ponto de C [coronal] e os traços [+anterior,

-distribuído];mas,alémdadistinçãoem[vozeamento](/s/é[-vozeado]e/d/é[+vozeado]),

as consoantes são diferentes em [contínuo]: a primeira é [+contínuo] e a segunda é

[-contínuo]. Finalmente, no contexto /b+d/ em (104), há duas consoantes [+vozeado,

-contínuo] que diferem no ponto de C: /b/ é uma [labial] e /d/ é uma [coronal, +anterior,

43Cf.exemploapresentadoem(75),deBisol(2000),comummesmocontexto/k+k/.

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-distribuído].Em(103),/s+d/sãodiferentesem[contínuo]e,em(104),/b+d/têmpontosde

Cdistintos;aaplicaçãodehaplologiaedeelisãosilábica, respectivamente,emambosos

casos,éagramatical.

Nos exemplos de haplologia e de elisão silábica, podemos observar que os dois

processossãoregidospelasmesmasregras:seasconsoantestiverempontosdeCiguais

e valores para [contínuo] idênticos (cf. exemplos de haplologia de (97)-(100) e de elisão

silábicaem(102)e(101)),oprocessopodeserimplementado.Poroutrolado,consoantes

com[contínuo](cf.contexto/s+d/noexemplo(103))oupontosdeCdiferentes(cf.contexto

/b+d/ em (104)), o processo é bloqueado. Além disso, notamos que [vozeamento] não

bloqueia o processo, pois as consoantes podem ser iguais neste traço (cf. contextos de

haplologia /d+d/, /k+k/ e /b+m/ de elisão silábica) ou diferentes (/t+d/, /d+t/ que são

contextos de haplologia e /z+ʃ/ de elisão silábica). Finalmente, podemos observar que a

diferençaem[anterior,distribuído]nãobloqueiaoprocesso,comosevênocontexto/z+ʃ/.

Assim, no que concerne ao contexto segmental, de acordo com a análise

consonantal realizada, Leal (2006) explica que a elisão silábica e a haplologia são um

mesmoprocessofonológico,queobedeceàseguinteregra(p.165):

AquedadesílabasedáseasconsoantesenvolvidasnoprocessotiveremomesmopontodeCeomesmovalorparaotraço[contínuo].

Com relação às vogais, Leal (2006) aponta que a qualidade não influencia na

aplicaçãodaquedadesílaba:ascombinaçõesvocálicaspodemvariaremanterioridadeou

altura, com gramaticalidade da sentença (cf. de Lacy 1999, Bisol 2000, Pavezi 2006a e

Sasaki2008)–diferentedoqueafirmamAlkmim&Gomes(1982).Observeosexemplosa

seguir,docorpusnaturalísticodeLeal(2006):

(105) /a+a/ cabe(ÇA)SAUdável (teste)

(106) /a+e/ estra(DA)DEterra (BGN)

Ocontexto(105)édehaplologia,poisháduasconsoantesiguais/s+s/;quantoàs

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vogais,tambémsãoiguais,/a+a/.Noexemplo(106),noquedizrespeitoàsconsoantes,é

novamenteumambienteparahaplologia (coronais /d+d/commesmo traço [+vozeado]).

Noentanto,ocontexto/a+e/,emqueaprimeiravogalé[dorsal](ou[+baixa],nostermos

deAlkmin&Gomes1982),seguidadeumacoronaleliminariaeste tipodecontextocomo

possibilidade de haplologia, segundo as autoras, já que a primeira vogal é uma dorsal.

Comosepodenotar,aquedadasílabaépossível.Assim,alémdevogais[coronal]/e,i/e

[dorso-labial] /o, u/ (segmentos com o traço [+alto], segundo a fonologia tradicional), a

queda de sílaba é permitida também em contextos vocálicos com [dorsal] na primeira

sílaba.Omesmo ocorre com os contextos referidos por Leal (2006) como ambientes de

elisão silábica, isto é, casos em que as consoantes partilham o mesmo ponto de C e

contínuo, diferente de [coronal], também permitem a queda de sílaba quando a primeira

vogalé[dorsal],comoilustramosexemplosabaixo:

(107) /a+a/ namora(DA)NAriguda (teste)

(108) /a+e/ cabe(ÇA)GIgante (teste)

Em (107), há uma possibilidade de aplicação de elisão silábica, pois o contexto

consonantalédeduascoronais [-contínuo],diferentesem [nasal] (éumaoral seguidade

uma nasal); quanto às vogais, são duas dorsais idênticas. No exemplo (108), há um

contexto consonantal /s + ʒ/ de elisão silábica, já que as consoantes são coronais

[+contínuo], que diferem nos traços que estão abaixo do nó coronal: a primeira é uma

consoante [+anterior, -distribuído] e a segunda é [-anterior, +distribuído].Com relação às

vogais, há uma dorsal seguida de uma coronal – contexto /a + e/. Comparando-se os

contextos vocálicos nos exemplos de (105)-(108), podemos notar que, tanto para a

haplologia (cf. (105) e (106)) quanto para a elisão silábica (ver (107) e (108)), não há

bloqueiodosprocessossehouvernaprimeirasílabaumavogaldorsal–tantoparavogais

iguais/a+a/(cf.haplologiaem(105)eelisãosilábicaem(107))oudiferentes/a+e/(ver.

haplologiaem(106)eelisãosilábicaem (108)).Emoutraspalavras,seavogaldasílaba

sujeitaàquedaforumadorsal,aelisãosilábicaeahaplologiapodemocorrer.

Leal (2006) não controlou a estrutura das sílabas sujeitas à elisão silábica e

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haplologia.Noentanto,houveaplicaçãodehaplologiacomsílabasCCV,oquecorrobora

Battisti(2004)ePavezi(2006a),comoexemplificadoaseguir:

(109) den(TRO)DAdelegacia (ALES)

(110) den(TRO)DOesgoto (ALES)

(111) vi(DRO)DAfrente (ALES)

Para a elisão silábica, houve um caso de aplicação em que a sílaba sujeita ao

processoéumaCVC:

(112) ...oscarassenta(DOS)NUMcanto (ALES)44

Até o momento, verificamos que a elisão silábica e a haplologia são um mesmo

processofonológiconoqueconcerneaocontextosegmental(consoantesevogais).Mesmo

nãotendocontroladoaestruturasilábica,notamosquepodehavercasosdeaplicaçãode

elisãosilábicaehaplologiacomsílabasdiferentesdeCVnosdadosdeLeal(2006),oque

vaideencontroaosresultadosdeAlkmim&Gomes(1982).

Corroborando Tenani (2002, 2003), Battisti (2004) e Pavezi (2006a), Leal (2006)

verificaqueahaplologiapodeseraplicadaemqualquernívelprosódico,comoilustramos

exemplosaseguir:

(113) [agen(TE)]Φ[TOcou]ΦeRonigravou (BGN)

(114) [pendura(DO)]Φ[NOpau-de-arara]Φ (ALES)

Ocontextosegmentalem (113)éambienteparahaplologia, jáqueasconsoantes

44Chamamosaatençãoparaapossibilidade, nesteexemplo (112), deo /s/ desentados poder ser apagadoantesdaaplicaçãodaquedadesílaba,poiséa3amarcadepluralnosintagmanominaloScaraSsentadoS,quepodeserproferidacomooscarasentado.Dessemodo,haveriaumasimplificaçãodasílabadeCVC/dos/desentadoSparaumaestruturaCV/do/sentado(S).Aperguntaquesecolocaé:comosedáaordenaçãoderegrasnestescasosdeapagamento,emqueparecehaverumefeitodamorfologianaquedadesílaba?Estaéumaquestãoquefogedoescopodestetrabalho,aserestudadafuturamente.AgradeçoàProfªDrªEsterMirianScarpapormechamaraatençãoparaestetema.

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sãoidênticas,eoprocessoocorreentreduasfrasesfonológicas:[agente]Φe[tocou]Φ

nãopodemserreestruturadas,poistocounãoécomplementodeagente.Em(114)/d+n/

éumcontextodeelisãosilábica, emquenopau-de-arara é complementodependurado,

masnãoháreestruturaçãoporqueasegundafrasefonológicaéramificada(hádoisgrupos

clíticos[nopau]Ce[de-arara]Cqueimpossibilitamareestruturação).

Paraambososprocessos,oconstituinteprosódicoemquemaisocorreuaquedade

sílabaédentrode frase fonológicareestruturada,oquecorroboraBattisti (2004)ePavezi

(2006a).

De tudo o que vimos podemos concluir que a elisão silábica e a haplologia são

regidastambémpelasmesmascaracterísticasprosódicas.

Com relação à métrica, o maior número de aplicação de elisão silábica e de

haplologiadocorpusdeLeal(2006)foiasequênciade[sílabaforte+sílabafraca+sílaba

forte],ouseja,numasucessãodesílabas[x•#•x],comumresultado[x#•x].Nestes

casos, a tendência ao PAR é respeitada na aplicação de ambos os processos. Nos

resultadosdeLeal(2006),observou-setambémquehápossibilidadedeelisãosilábicaede

haplologia comum resultado de choque de acento, o que corrobora Tenani (2002) (para

haplologia):umasequência[x(•)#x]nãobloqueiaoprocesso–diferentedapropostade

haplologiadeAlkmim&Gomes(1982).

Combasenasanálisesapresentadasnestasubseção,podemosafirmarqueaelisão

silábicaehaplologiapossuemasmesmaspropriedadesfonológicas,listadasaseguir:

i. Contextosegmental:nãoénecessariamentecompostodasconsoantes /t/e /d/

(especificamente para a haplologia, cf. Alkmim & Gomes 1982), mas pode

ocorreraindacomoutrasconsoantes(tambémparaahaplologia,cf.Bisol2000e

Pavezi2006a),eestessegmentosdevemter,internamente,omesmopontode

C e o mesmo valor para o traço [contínuo] (Leal 2006, 2007). As vogais

subjacentes do contexto podem ser, além daquelas propostas por Alkmim &

Gomes(1982)(quaissejam:/i/,/e/,/o/,/u/),também/a/(cf.Pavezi2006aeLeal

2006);

ii. Estruturasilábica:nãoestárestritaasílabasCV(Alkmim&Gomes1982),maso

apagamentopodeseraplicadotambémcomsílabasCCV(Battisti2004,Pavezi

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2006a,Leal2006)ouCVC(Leal2006);

iii. Hierarquia prosódica: não afeta a aplicação de queda de sílaba, uma vez que

nenhum constituinte bloqueia o processo (Tenani 2002, 2003; Pavezi 2006a e

Leal2006)eonívelemqueháummaiorfavorecimentodoprocessoéodafrase

fonológica(Tenani2002,2003;Battisti2004,Pavezi2006aeLeal2006);e

iv. Nível métrico: a sílaba propensa ao apagamento deve ser fraca (Alkmim &

Gomes1982;Tenani2003,2006;Bisol2000,Pavezi2006aeLeal2006);Leal

2006 aponta também que o maior número de aplicações de queda está no

contexto[x•#•x]queresultaem[x#•x];porfim,aaplicaçãodequedade

sílabaqueresulteemchoqueacentualnãobloqueiaoprocesso.

Uma vez descritas as propriedades dos segmentos, das estruturas silábicas,

prosódicasemétricasdequedadesílaba,combasenaliteratura,umaquestãorelevanteé

seanaturezadaregraédeapagamentooucoalescência,questãotratadanasubseçãoa

seguir.

3.4. Coalescênciaouapagamento

Umaquestãoimportantesobreaquedadesílabadizrespeitoàquestãodequalsua

natureza:oprocessoresultadecoalescência(fusão)ouapagamento?

Agrandepartedostrabalhosdefendemqueahaplologia45éummododeseevitar

material fonético/fonológico idêntico (cf. Plag 1998) e normalmente o desencadeador do

processoéentãoalgumtipoderestriçãocomooOCP(Plag1998,Yip1998,Tenani2002,

Battisti 2004, McBride 2004, Neeleman & Koot 2005, Collischonn 2007). A definição de

Stemberger(1981)aseguiréumarestriçãomaisespecíficadoqueMcCarthy(1988:88)(cf.

3.2.2),poislevaemcontatambéminformaçõesmorfológicas:

45 Veja que aqui haplologia não está restrita a um tipo de segmento ou sílaba. Assim, observamos que, emconformidadecomapropostadeLeal(2006),eleseaplicatambémaoscasosdeelisãosilábica–cf.capítulo3,seção3.3.

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(115) Stem-EndHaplology(Stemberger1981:791):

[The absence of] an affix or clitic (…) when the adjacent part of the stem ishomophonoustoit.

OutrotrabalhoemqueháumaversãomaisrestritadoOCPéMenn&McWhinney

(1984).Paraosautores,hánas línguasumarestriçãodemorfes repetidosequeestejam

adjacentes,masestarestriçãopodeserviolada(p.519).

Como se vê, estas restrições fazemmenção a aspectosmorfo-fonológicos. E de

fato,osestudoscostumamdiferenciardoistiposdehaplologia:morfológica(ousintática)46e

fonológica.DeLacy(1999),porexemplo,distingueahaplologiamorfológicadafonológica:

na primeira, há dois morfemas fonologicamente idênticos no nível subjacente que se

coalescemnooutput.Emnotaderodapé(p.51),oautorafirmaqueahaplologiafonológica

é somenteencontradadiacronicamentenas línguase temumanaturezadeapagamento,

masestasupressãoéidiossincrática:

Phonologicalhaplologyisbasicallyadiachronicprocess(Hock1991:109,Grammont1933), and is the idiosyncratic deletion of similar sequences ofmorpheme-internalmaterial.(grifomeu)

De Lacy (1999) apresenta os exemplos (116) e (117) abaixo, casos de haplologia

morfológicaefonológica,respectivamente:

(116) /analIZ/+{-ISt}>/analISt/versus*/analIZISt/

‘analisar’‘sufixosubst.’>analista(francês)

(exemplodeCorbin&Plénat1992:101)

(117) *nuTRITRIx>nuTRIx

‘enfermeira’(latim)

(exemplodeHock1991:109)

46 Há outros autores que consideram que a morfologia tem um papel importante na haplologia, em quemorfemas homófonos (sufixos, raízes,morfes) se fundem (merge) nooutput – por isso, o processo émuitasvezes chamado de haplologia morfológica (Russel 1999; Stemberger 1981; Menn & McWhinney 1984; Plag1998;deLacy1999;Plag1998).

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Em(116),ossegmentos/iz/e/is/sefundem(nenhumsegmentoéapagado)em/is/,

permanecendopropriedadesmorfológicasnooutput,deacordocomdeLacy (1999).Este

exemploéumdos casos chamadosde identidadeparcial, já queo traço [vozeamento] é

diferenteentreasconsoantes.DeLacy (1999:72)explicaqueeste traçoé irrelevantena

haplologia, já que o processo pode ser implementado mesmo com uma diferença em

[vozeamento].

Apropostadehaplologiamorfológicaésimilaràassimilaçãodetraçosnafonologia

autossegmental: informações morfológicas não poderiam ser apagadas no output; caso

contrário, estas informações se perderiam depois da aplicação do processo. O conteúdo

morfológicoseuneaoelementoquepermanecenooutput.

Nocasodahaplologia fonológica, tem-seoapagamentodoconteúdosemelhante,

comoem(117),emqueháduassequências/TRI+TRI/.Mas,paradeLacy,ahaplologia

fonológicaéidiossincrática,ouseja,nãoháumaregradeaplicaçãosemprequeocontexto

forencontrado.

Outros autores que consideram a haplologia como resultado de coalescência são

Stemberger (1981), Menn & McWhinney (1984), Plag (1998), Lawrence (1998) e Russel

(1999).

Oproblemadeseconsiderarahaplologiacomocoalescênciaou fusãoéqueeste

processo indica a convergência de unidades linguísticas, originalmente separadas, que

antes podiam ser distinguidas (Crystal 1985: 49, 123). Observe um exemplo de

coalescêncianoportuguêsbrasileiro:

(118) /eu/ropa>[o]ropa

Emalgunsdialetos,asvogais /eu/podemse fundir, formandoumúnicosegmento

[o]nooutput.Observeque,no resultadoda fusão [o],há traçosdeambosossegmentos

subjacentes/e/e/u/:

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(119) Fusãoentre/e+u/>[o]

ant. post.

alto /i/• •/u/

médio /e/• •/o/

baixo /a/•

/e/: [anterior,médio]/u/: [posterior,alto]

resultaem[o]: [posterior,médio]

Como se nota em (119), a fusão entre os traços [anterior, médio] da vogal /e/ e

[posterior,alto]davogal/u/resultanostraços[posterior,médio]davogal[o].

DeLacy(1999:06-08)buscanojaponêsumexemplodehaplologiapararatificara

propostadoprocessocomocoalescênciadesegmentos,comoapresentoaseguir:

(120) Kanasi + {-si} > [kaˈnaʃi]

│ │ │basesemacento provedordeacento resultadoadjetivo predicativo ‘triste’

coalescênciade/si/:traçoadjetivo+traçopredicativo

Comoseobservaem(120),nojaponês,oadjetivokanasi‘triste’nãopossuiacento,

mas, quando se junta ao predicativo {-si}, este morfema atribui acento à sílaba

imediatamente anterior a ele, em bases não acentuadas. Se fosse concebido como

apagamentodeafixo,ooutputnãoteriaacento,formando*[kanaʃi].Oacentoestariacorreto

embasesdesacentuadas,como/kanasi/,maserradoembasesacentuadas–aacentuação

porafixaçãode{-si}fazcomqueseacentueapenúltimavogaldaraiz.Dessaforma,oafixo

{-si} deve pertencer à raiz e, simultaneamente, ao sufixo da palavra. Então, o resultado

[kaˈnaʃi],comacento,explicariaacoalescênciadetraçosmorfológicos.

No entanto, como vimos no exemplo sobre coalescência do português, duas

consoantes coronais /s/ [+anterior, -distribuído] não teriampor que se tornar /ʃ/ [-anterior,

+distribuído], como resultado de coalescência. Assim, entendemos que a união dos

fonemas/s/daraizkanasie/s/dosufixo{-si}quesetornam[ʃ]em[kaˈnaʃi]nãopodemser

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explicadosfonologicamentecomofusão.

Alémdaquestãoacima,sehaplologiacomocoalescênciapodedarcontadecasos

em que os segmentos não são necessariamente idênticos,mas semelhantes – como na

haplologiacom/t/e/d/ounocasodofrancês/analiZ/+{-iSt}>/analiSt/versus*/analiZiSt/,

cf.exemploanterior (116),dedeLacy (1999:22),paraquemo traço [vozeamento]nãoé

relevante para o processo – a coalescência não dá conta de outros casos, como

exemplificadoaseguir(cf.exemplosdeBattisti2004,Pavezi2006eLeal2006):

(121) den(TRO)DE47

Em(121),umresultadodecoalescênciaentreasconsoantes/tr/e/d/deverialevar

emcontatambémostraçosde/r/,doataqueramificado,oquenãoacontece.

A alternativa, então, é a análise de que o processo se dá por apagamento,

independentementedeserhaplologiasintáticaoufonológica.Neeleman&Koot(2005)dão

oseguinteexemploemmandarim:

(122) Bing dou hua LE (LE)

gelo todo derreter perfectivo mudançadeestado

‘Ogeloderreteu’(exemplodeYip:1998:226)

Em (122), segundo os autores, há apagamento do segundo {-le}, indicativa de

‘mudançadeestado’,umavezqueestáadjacenteaoperfectivo{-le}.

Autores que assumemquea natureza da haplologia é por apagamento sãoMiller

(1992),Ortmann&Propescu(2000),Neeleman&Koot (2005),Mercado(2001)eMcBride

(2004).

Paraoportuguêsbrasileiro,Battisti (2004)defendequeesteprocessofonológicoé

deapagamento(resultantedoOCP).Combasenateoriadaotimalidade,aautoradefende

que,nahierarquiadehaplologia,oOCPestáabaixodeMAX,econclui:

47Cf.nota42.

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O desempate pela versão A [apagamento] deHS [haplologia sintática] para o PB[português brasileiro] vem da análise com OCP abaixo de MAX, conforme aHierarquiaBásicadedeLacy(1999).Porela,sósequênciasidênticasdesegmentossofremhaplologia(porCo[coalescência]);sequênciasparcialmente idênticascomoasquesãopassíveisdesofrerHSnoPBnãosãopossíveis.

No caso de haver apagamento, a questão que se coloca é qual sílaba deve ser

apagada,aprimeiraouasegunda.DeacordocomCasali(1997),aslínguasdiferemquanto

aapagamentosvocálicosemcontextosV#V:émaiscomumoapagamentodeV1doque

deV2.Oautorestudou85línguase,dentreelas,55apagamV1,etodalínguaqueapaga

V2apagatambémV1(comexceçãode2línguasapenas–cf.Casali1997:496).

ParaMiller (1992) eOrtmann&Popescu (2000), por exemplo, háapagamentodo

primeiroousegundomorfema,adependerdecaracterísticasmorfológicas.

Há inclusive análises que propõem um apagamento de partes de sílaba, como

Malamud (2004) que, embora não afirme quais segmentos são apagados na haplologia,

apresentaoseguinteexemplodoinglês:

(123) proBABLY>proB’LY→proB(AB)LY ‘provavelmente’

Combasenoexemploem(123),observa-sequeossegmentoselididossãoavogal

/a/eosegundo/b/,deacordocomoautor.

Battisti (2004: 33) afirma que a sílaba produzida no output em português é a

segunda,combaseemexemploscomo:

(124) completamenTEDiferente/te+di/>completamen(TE)DIferente

No exemplo (124), o contexto segmental é formado por sílabas diferentes: as

consoantes /t + d/ diferem apenas no traço [vozeamento] (a primeira é [-vozeado] e a

segundaé[+vozeado]);easvogais/e+i/diferemnaaltura(aprimeiraé[-alto,-baixo]ea

segunda é [+alto, -baixo]). SegundoBattisti (2004), se o contexto segmental tiver sílabas

diferentes, como no caso apresentado em (124), do corpus da autora, o resultado da

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haplologia (emqueasegundasílabadocontextoéproduzida,easegundanãoé),éum

indicativodequeaprimeiraéaapagada.

Finalmente, há uma terceira análise, que propõeque na haplologia temosos dois

processos:fusãoeapagamento(cf.Frota1995,Bisol2000,Tenani2002,Battisti2004).As

autorasseguemadefiniçãodehaplologiadeSáNogueira(1958),quedefendequehátrês

passosnesteprocesso(cf.Capítulo3,subseção3.2.1).Inicialmentetem-seoapagamento

daprimeiravogal,eemseguida,opcionalmente,afusãodasduasconsoantes.Umterceiro

passo ainda possibilita ou não o encurtamento da consoante fundida, como ilustram os

exemplosaseguir,apartirdasentençadeBisol:

(125) Omaca(CO)COmeutodasasbananas

a)macaC(O)COmeu b)macaC+COmeu c)macaCOmeu

apagamentodavogal [ma.ka.k.ko.mew] [ma.ka.k.ko.mew] [ma.ka.k.ko.mew]

fusãodasconsoantes ..... [ma.ka.k:o.mew] [ma.ka.k:o.mew]

encurtamento ..... ..... [ma.ka.ko.mew]

output [ma.ka.k.ko.mew] [ma.ka.k:o.mew] [ma.ka.ko.mew]

Em(125)a),noprimeiropasso,aconteceaelisãovocálicade/o/,fazendocomque

duas consoantes idênticas fiquem adjacentes /k.k/; em seguida, há fusão das duas

consoantesgeminadas/k:/(cf.(125)b),finalmente,aconsoantealongadapodeseencurtar,

gerandoahaplologiacompleta,comosevêem(125).

Como se pode observar, ainda são muitas as questões sobre o processo de

haplologia,especificamente,edaquedadesílaba,emâmbitomaisgeral–esperamosque

os resultados encontrados possam trazer mais luzes para uma futura resposta. Nosso

trabalhonãoversasobreestasquestões,eassumimosqueaquedadesílabanoportuguês

brasileiro tem uma natureza de apagamento (da primeira sílaba), com base em três

indicativos: (i) no português brasileiro, sílabas postônicas (isto é, a primeira sílaba do

contexto) são prosodicamente mais fracas que pretônicas (cf. Bisol 2003: 187, Leal &

Santos2010)esãoexatamenteaspostônicasassílabasquedesaparecemnahaplologia;

(ii) com base em Casali (1997), para quem, em contextos V # V, a grande maioria das

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línguasapagamaprimeiravogal;e(iii)emBattisti(2004),segundoquemcontextosemque

asduassílabassujeitasaoprocessosãodiferentes,háapagamentodaprimeirasílaba,ea

segundapermanece.

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CAPÍTULOIV

4. MetodologiaComo vimos na subseção 2.1, esta tese se fundamenta na teoria fonológica

gerativistaenomodelodasociolinguísticavariacionistaparaexaminardadosdeumaregra

variável–aquedadesílaba.48UtilizamosaferramentaestatísticaGoldVarbX(cf.Sankoff,

Tagliamonte & Smith 2005) para a análise, programa que, em linhas gerais, oferece ao

pesquisadoroprodutodecálculosestatísticosdeumaregravariável.

Nopresentetrabalho,avariáveldependente(binária)éapagarasílabaouproduzi-

la: estas duas maneiras de falar variam49 a depender dos tipos de contextos (sociais e

linguísticos). Com a variável dependente definida, buscamos as variáveis independentes,

quesãooscondicionamentosque“pressionam”apreferênciadofalanteporumaformaou

outra (apagar a sílaba ou não). Estas “pressões” são interpretadas pelo pesquisador via

hipóteses formuladas que podem interferir no processo, pela construção de grupos de

fatores independentes.Porexemplo,umadashipóteses levantadasnesta tese(combase

na literatura – cf. Tenani 2002, Battisti 2004, Pavezi 2006 e Leal 2006) é que não há

bloqueiodequedadesílabaemnenhumnívelprosódico;ainda,háum favorecimentodo

processoentre frases fonológicas.Assim,o informanteseria “pressionado”aapagarmais

sílabas no nível de frase fonológica (cf. subseção 4.1.4.1.4). Mas não é apenas uma

variável que pode interferir no processo, mas diversas, atuando simultaneamente na

variáveldependente–nestetrabalhosão14.ÉnestaetapaquevemosavaliadoGoldVarb:

o programa calcula como cada uma das variáveis independentes atua na variável

dependenteetambémfazumacomputaçãoemqueseobtémcomoasdiversasvariáveis

independentesatuam,emconjunto,navariáveldependente.Hádoistiposdecomputação

dosdados:naanáliseunivariada(ouunidimensional)obtêm-seresultadosdoefeitodeuma

48 Agradeço à Profª Drª Gisela Collischonn pelos comentários que me fizeram melhorar a exposição nestaseção.49O objeto de estudo numa pesquisa sociolinguística deve ser variável: o pesquisador busca dois (oumais)“modosdesefalaramesmacoisa”(Labov1972).

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variável independente sobre a dependente (Guy & Zilles 2007: 98), ou seja, o programa

apresenta as frequências de uma variável independente em relação a uma dimensão da

variável dependente (Brescancini 2002) – por exemplo naanálise univariada, oGoldVarb

podeoferecerafrequênciadeaplicaçãodequedadesílabadeacordocomasconsoantes.

Na segunda análise, chamadamultivariada (oumultidimensional)Guy&Zilles (2007: 50)

explicam:

(...) é uma tentativa de modelar os dados como uma função de várias forçassimultâneas, interseccionadas e independentes, que podem agir em diferentesdireções.Defato,umdosprodutosdaanáliseéumamedidanuméricadopesoeda“direção”(favoráveloudesfavorável)decadaforça.

Há duas etapas na análise multivariada: o step-up e o step-down. O step-up é

realizadodeacordocomonúmerodevariáveisindependentes,comníveisde0ax,sendo

x o númerode variáveis independentesestatisticamente relevantesmais um (Brescancini

2002:36).Nonível0dostep-up,oprogramacalculaoinputdainteraçãodefatores,queé

aprobabilidadedeaplicaçãodaregra–ouseja,ovalorobtidonoinputdeveestarpróximo

daporcentagemdeaplicaçãodaregra(Brescancini2002).Nosoutrosníveisdostep-up,o

programafazcálculoscomcadaumadasvariáveis independentessignificativas, inserindo

nacomputaçãocadavariávelumaauma.Nostep-down,acomputaçãoéfeitaaocontrário,

retirandoasvariáveisindependentesnãosignificativasumaauma.Dostep-up,oprograma

escolheamelhorrodada(emtermosdesignificância)efazomesmocomostep-down.Guy

&Zilles(2007:166)explicam:

Normalmente,ostep-upeostep-downvãoescolherosmesmosgruposdefatorescomo significativos. Isto é, a lista dos grupos incluídos (selecionados) no step-upserá equivalente à lista dos grupos não excluídos no step-down. Assim sendo, nofinal,amelhorrodadadecadaprocedimentoseráigual:amelhoranálisedostep-upincluiráexatamenteosgruposquenãoforamexcluídospelostep-down.

Otermorodadaéusadoparaindicartodoequalquerprodutodoprocessamentode

dados com um programa de regra variável (Brescancini 2002: 29): para indicar a

computação dos dados feita pelo programa de regra variável (isto é, a comparação de

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análisederegravariáveldeumconjuntodedados–Tagliamonte2006:266);eparaindicar

cadaumdoscálculosfeitosdentrodeumaetapadostep-upoudostep-down.

Uma vez explicitado o funcionamento da estatística na metodologia variacionista

empregada neste trabalho, passamos a tratar, na próxima subseção, do envelope de

variação.

4.1. Oenvelopedevariação

Nesta subseção, apresento omodo com que trabalhamos a variável dependente,

apresentandocontextosondeépossívelou impossíveldeavariávelocorrer (Guy&Zilles

2007:36):em4.1.1,estádispostocomoocorpus foiconstituído;em4.1.2,estácomo foi

feitaacoletadosdados,comasrestriçõesseguidas;em4.1.3estáafonéticaecomoforam

feitasas leiturasdosespectrogramas;na subseção 4.1.4estãoosgruposde fatoresque

podemintervirnavariáveldependente;eem4.1.5,estáosumáriodasvariáveislinguísticas

esociais.

4.1.1. OcorpusOcorpusdestapesquisaécompostopor48gravações50de1horacadae,paraa

análise, foramdesprezados os 10 primeirosminutos de cada entrevista.Os diálogos são

seçõesdotipodocumentador-informante,conduzidosdetalformaqueasconversasfossem

informais e os tópicos das entrevistas foram, basicamente, cinco: infância, adolescência,

namoro/casamento,trabalho,pontodevistadoinformantecomrelaçãoasuacidadenatal

(comoera,comoestáhojeemdia).51Os temas foram favoráveisaumaconversa “solta”,

comointuitodequeoinformanteprestasseatençãoaoconteúdodoqueestavafalando,e

desviassesuaatençãodomododefalar.52

No início de cada seção de gravação, os entrevistados eram informados de que

fariampartedeumapesquisasobrediferençasdeseviveremumacidadegrandeeuma

5045gravaçõesforamconduzidaspormime3delasforamfeitasporLíviaOushiro.Agradeçoimensamenteàpesquisadorapelaconduçãodestas3entrevistas.51Seoinformantenãoseguisseos5temas,nãohouveintervençãodopesquisador,ouseja,omaisimportantefoideixaraentrevistafluir.52Comesses temas conversacionais, buscamosnasentrevistas o vernáculo, definido por Labov (1972: 208)como“thestyleinwhichtheminimumattentionisgiventothemonitoringofspeech.”

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cidade pequena, sendo cientificados do uso do gravador.53 Apesar da informalidade

buscada, os informantes estavam cientes da gravação, o que pode diminuir a

espontaneidadenasentrevistas(cf.discussãosobreoparadoxodoobservador,emLabov

1972).54

Abuscadeinformantes55foiamaisaleatóriapossível,controlando-seasseguintes

variáveisexternas(cf.detalhamentodasvariáveisexternasnasubseção4.1.4.2):

Tabela5 –VariáveisexternasparaaconstituiçãodocorpusVariáveis Fatores

ensinofundamentalEscolaridade

ensinosuperior

masculinoGênero

feminino

de20a35anosFaixaetária

maisde50anos

CapivariCidade

Campinas

Onúmerode informantesporcélula foi3, resultando48gravações:2 fatorespara

Cidadesx2fatoresparaEscolaridadex2fatoresparaGênerox2fatoresparaFaixaEtária

=16x3porcélula=48Informantes(48horasgravadas).

A partir destas entrevistas, fizemos uma primeira análise (com dados de 3

informantes),cujoobjetivofoiodeexaminarquaisdadossão,defato,variaçõesdequeda

desílaba–comofoivistonaseção3,hábloqueiodoprocessofonológicoemCapivariseas

consoantes não tiverem o mesmo ponto de C e/ou o mesmo valor para contínuo,

excetuando-sealgunsitenslexicais(cf.Leal2006esubseção5.1.1aseguir).Osresultados

da primeira análise forama base para se codificar e analisar o corpus variável de forma

53Paraas45gravações,utilizeiocomputadorToshibaSatelliteM35X-S161,osoftwareAudacity(versão1.2.1)e o microfone de lapela Clone, Multimedia System. Para as 3 gravações conduzidas por Lívia Oushiro, foiutilizadoumgravadorSony,modeloICD-P320IC.54Numaentrevistasociolinguística,opesquisadordevetentar,aomáximo,superaroparadoxodoobservador,definidopor Labov (1972:61-2) do seguintemodo: “(...) our goal is to observe thewaypeople use languagewhentheyarenotbeingobserved.(...)thestructurethatexistsindependentlyoftheanalyst.”55Todososinformantespassaram,pelomenos,2/3davidanacidadeemanálise(ealimoravamnaocasiãodagravação).Outraspessoasquemorarammenosqueistoforamdescartadasdocorpus.

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precisa, excetuando-se os processos categóricos (cf. os resultados do trabalho piloto na

subseção5.1.1).

Napróximasubseção4.1.2,apresentoasrestriçõesfeitasparaacoletadosdados

e,em4.1.3,oenvelopedevariação.

4.1.2. Coletadedados:asrestrições

A seguir, apresentoas7restriçõesseguidasnacoletadostokensdocorpusque,de

formaresumida,são:i)hápelomenosumaconsoantenoataquedassílabasdocontexto;

ii)empréstimosforamcodificadosdeacordocomafonologiadoportuguês;iii)oscontextos

segmentaistêmumamesmacavidadeoralparaasconsoantes;iv)aprimeirasílabaéfraca;

v) computamos somente falas neutras; vi) o limite de frase entonacional foi usado para

definir se um dado seria computado ou não; e vii) casos de apagamento do clítico não

foramanalisados.

Aprimeirarestriçãofoiqueassílabasdocontextodequedadevemter,pelomenos,

umaconsoantenoataque,umavezqueoprocessoéentendidocomocondicionadopelas

consoantes do ataque. Ademais, contextos V # V podem produzir outros processos

fonológicosquenãoaquedadesílaba(cf.subseção3.2.2),comoexemplificadoaseguir:

(126) ogaTODEbotas>ogaDEbotas [ga.dʒɪ.ˈbɔ.tɐs] quedadesílaba

(127) ogaTOOlhou>ogat[o]lhou [ˈga.to.ˈʎow] degeminação

(128) ogaTOEStava>ogat[wi]stava [ˈga.twis.ˈta.vɐ] ditongação

(129) agaTAEStava>agat[i]stava [ˈga.tis.ˈta.vɐ] elisão

Nocontexto(126),háduasconsoantesnasduassílabas,oquepermiteaaplicação

daquedadesílaba.Poroutrolado,em(127)-(129),nãoháumcontextoparaesteprocesso,

já que a segunda sílaba não tem ataque: em (127), o processo fonológico que pode ser

implementado é degeminação, resultado de duas vogais adjacentes /o/ de gato e /o/ de

olhou; em (128), o contexto também é de duas vogais /o + e/ subjacentes que podem

ditongar, tornando-se [wi]; finalmente, em (129), pode ocorrer a elisão vocálica da última

vogal de gata, que aparece no contexto seguida de /e/ subjacente da primeira vogal da

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palavraestava.

Outra restrição ao se coletar os dados foi que a interpretação dos segmentos (e,

consequentemente, a codificação do contexto segmental) foi feita de acordo com a

fonologiadoportuguês,comonosexemplosaseguir,retiradosdocorpus:

(130) catchup > /kɛ.te.ˈʃu.pe/

(131) internet > /interˈnɛte/

(132) honda > /ˈhoNda/

As palavras acima entraram no português por empréstimo: em (130) e (131), as

sílabasfinaisdaspalavrassãoabertas,com/e/final,aocontráriodoinglês,línguaemque

essas palavras são pronunciadas com sílabas travadas (catchup [ˈkætʃ.əp] e internet

[ˈɪn.tᴈr.nɛt]); em (132), o que está grafado com a letra h é o /r/ “forte”, encontrado em

palavras como carro. Para vocábulos estrangeiros como esses apresentados em (130) e

(131),adotamosapropostadeCamaraJr.(1969:28):

Apraxeortodoxaéescreverclube,Juditeeassimpordiante.Nasonomatopeias,emquenãoseadotaessapraxe,aletraconsoantefinaléentendidacomoumasílabaeficapressupostoumsilábiconãoescrito.

O autor exemplifica que há uma sílaba final fonológica em onomatopeias com os

versosdeGuerraJunqueiro,56emqueestepoeta fazuma rimade toc-toccomapalavra

reboque,eexplica(p.29):

Éfácil,comefeito,perceberquetocdoprimeiroequartoversorimacomreboque(eportanto -c equivale a -que) e temduas sílabas para fazer dos versos emque seachamhendecassílaboscomoosdemaisversos. (...)Na realidade,asconsoantesquepodemserdecrescentesemportuguêsefigurarnodeclivedasílaba,travandoosilábico,são/l/,/r/e/z/.”

56OsprimeirosversosdeAMoleirinha,deGuerraJunqueiro,apresentadosporCamaraJr.(1969:29)são:“Pelaestradaplana,toc-toc-toc,/Guiaumjumentinhoumavelhinhaerrante./Comovãoligeiros,ambosareboque,/Antesqueanoiteça,toc-toc-toc,/Avelhinhaatrás,ojumentinhoadiante”.

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Assim, consideramos que não haja no português sílabas travadas com outras

consoantesquenãosejam/l/,/r/e/z/.

A terceira restrição foi queapenas trabalhamoscomoscontextossegmentaisque

tenhamCavidadeOral dasConsoantes iguais, isto é, os segmentos devem ter omesmo

pontodeCeomesmovalorde[contínuo],tomando-secomobaseosresultadosdoestudo

piloto(cf.subseção5.1).

A quarta restrição para a coleta dos dados foi que primeira sílaba do contexto

deveria ser fraca (cf. referências na seção 3), sem importar o acento nas sílabas

adjacentes,comoexemplificadonasgradesmétricasabaixo:57

(133) ElaaceiTANUmaboa. (b)

a cei TA NU ma[• x •] [x •]

(134) ...davamuitopresentepragenTETAMbém,né? (a)

gen te tam bém[x •] [• x]

(135) Fomosconstruin(DO)DEvagar.58 (d)

cons tru in do de va gar[y • x •] [y • x]

Asentençaapresentadaem(133)éumcasodenãoaplicaçãodequedadesílaba,

emqueaceita(•x•)estáseguidadapalavranuma,quepossuiumasílabaforteseguida

deoutrafraca(x•);em(134)(semaplicaçãodoprocesso),asegundapalavradocontexto

57Apartirdesteponto,asílaba forteestárepresentadapor “x”,a fracapor “•”e “y” indicaacentosecundário,comonagrademétricaem(135).Lembramosqueasletrasentreparêntesesindicamoinformantequeproferiuasentença.58Nestetipodeexemploapresentadoem(135),notamosqueaprimeirapalavradocontextodequedadesílabaé um verbo no gerúndio, construção que é comumente reduzida de construindo para construin(d)o – 1aconjugação: brincando > brincan(d)o, 2a conjugação: correndo > corren(d)o e 3a conjugação: construindo >construin(d)o. Assim, um tema a ser investigado é se a redução comumente aplicada ao gerúndio favorece,desfavoreceounão temqualquerefeitonaquedadesílaba.Assimcomoem(112),podemossuporquehajaumaordenaçãode regras, emqueamorfologia também temumefeito.Não trataremosdesteassuntonestatese,deixandoestaquestãopara trabalhos futuros (cf.nota44).AgradeçoàProfªDrªLucianiTenanipormeapontarestaquestão.

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tambéméumiambo(•x),quepossuiumasílabafracaseguidadeoutraforte;eem(135),

contextoemquehouvequedadesílaba,háumacentosecundário(representadopory)na

primeirasílabadedevagar,seguidodeumafracaeoutraforte(y•x).

Adecisãodenãoincluirnapesquisasílabasfortesnaprimeiraposiçãodocontexto

segmental tem base na literatura, já que todos os autores concordamque esta deve ser

fraca (cf.Alkmim&Gomes1982,Tenani2002,Battisti 2004,Pavezi2006aeLeal2006).

Incluir dados sem importar o acento da primeira sílaba da segunda palavra também foi

determinadopela literatura;nestecasoosautores têm resultadoscontroversos:enquanto

Alkmim & Gomes (1982) afirmam que a segunda sílaba do contexto segmental deve

necessariamente ser fraca, Tenani (2002), Pavezi (2006a) e Leal (2006) encontraram

resultadosemqueasegundasílabapodeserforte.

Alémdeapresentaroscritériosqueutilizamosparacoletarostokensdasentrevistas

e analisá-los, é importante explicitar também que tipos de dados foram desconsiderados

(Tagliamonte2006:87).Levamosemcontasomentedadosde falaneutra,delimitadosde

acordo com o nível da frase entonacional. Assim, não foram computados hesitação (cf.

exemplo(136)abaixo),ênfase(ver(137))emomentosemqueoinformanteriu(cf.(138)).59

(136) Hesitação: ...dolaDODO...doseuArlindo (b)

(137) Ênfase: NaquelanoiTE,DEpoisjáacostumava,né? (a)

(138) Risos: Fieleraocachorro,saBE?BRINcandocomigo (a)

As palavras sublinhadas na sentença em (136) indicam hesitação na fala da

informante b, o que é confirmado pela repetição do clítico do; na sentença (137), houve

ênfase na palavra noite na fala da informante a; na produção da sentença (138), a

informantea riu.Casoscomoestesapresentamcontextossegmentais favoráveisàqueda

desílaba,quaissejam:em(136),ocontextoé/do+do/,de laDO+DO;em(137),é/te+

de/, de noiTE + DEpois, e em (138), é /be + briN/, de saBE +BRINcando. No entanto,

exemploscomoosapresentadosacimaforamdescartadosdacomputaçãoporquenãosão

59Apesardeterhavidovariaçõesemdadosdehesitaçãoeênfase,decidimosporanalisarapenasosdadosdefalaneutra,deixandoestestiposdevariáveisparatrabalhosfuturos.

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neutros(casodaênfase)oucriammodificaçõesnaproduçãoquepoderiamafetarosdados

(casosdehesitaçãoerisos).

A fraseentonacional foi tomadacomo limitepara computarounãoos tokens.Por

exemplo,observeoparsingprosódicodasentençaabaixo:

(139) [...todososossosdocorpohumaNO.] I[NAterceirasérie] I (b)60

Em(139),háumafronteiradefraseentonacionalseparandoassílabasdocontexto

segmental/no+na/,eterceiraesérieaparecemsublinhadasparaindicarqueainformante

benfatizouestasduaspalavras.JáquenãoháênfasenoprimeiroI,ocontextodeossosdo

entrou na análise;61 mas o contexto formado pelas palavras terceira e série não foi

computado. Quanto ao contexto /no + na/, de humano na, delimitado por duas frases

entonacionais (a primeira sem e a segunda com ênfase), suas sílabas também não

entraramnacomputaçãodosdados–porcausadaênfasenasegundafraseentonacional

(terceiraesérie).

Em (139), o contexto /do + cor/ da sentença todos os ossosDOCORpo humano

ilustra outro tipo de sequência que não foi analisada. Ele está relacionado ao processo

fonológico de apagamento clítico. Veloso (2003) mostra que, diferentemente dos outros

processos fonológicos de sândi externo (ditongação e degeminação) no português

brasileiro, a elisão vocálica é bloqueada se a primeira palavra for monossilábica,

exemplificandoobloqueiodaseguinteforma(Veloso2003:58):

60Na fala da informanteb apresentada em (139), há 8 contextos de queda de sílaba: (i) toDOSOS, (ii)OSOssos,(iii)oSSOSDO,(iv)DOCORpo,(v)corPOHUmano,(vi)humaNONA,(vii)NATERceira,(viii)terceiRASÉrie. Primeiramente, esclarecemos que contextos com sílabas sem ataque não foram computados; emsegundo lugar,como foiditoem4.1.1, foram feitasduasanálisese,naprimeiradelas (cf.oestudopilotoem5.1),nãofoiempregadaaterceirarestrição,ouseja,casoscomoossosdoem(139)foramcontados–em/s+d/há umamesma cavidade oral,mas os valores para contínuo são diferentes, já que /s/ é [+contínuo] e /d/ é[-contínuo];.Nasegundaanálise(definitiva,cf.resultadosem5.3),foramapenascomputadosdadosemqueoscontextos consonantais tivessemumamesmaCavidadeOral (querdizer, ummesmopontodeCeomesmovalorde[contínuo])e,nestecaso,dadoscomoossosdonãoentraramnasrodadas.61Contexto/s+d/,inclusosomentenaprimeiraanálise(cf.notaanterioreoestudopilotoem5.1).

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(140) Aespiga > *(A)espiga

(141) dAHungria > *d(A)Hungria

Pavezi(2006a),seguindoVeloso(2003), levantaahipótesedequehábloqueiode

haplologia se omonomorfema de ocupar a primeira posição no contexto do processo, e

estahipóteseseconfirmaemseucorpus, jáque,dos38contextos,numasequênciade+

item lexical, não houve nenhuma aplicação de haplologia, como exemplificado abaixo

(Pavezi2006a:67):

(142) ...aespigademilhodepois*(DE)DEbulhada...oquefica...chamasabugo

Alémdeste fator,umoutro–metodológico–secoloca.Observeoexemploabaixo

retiradodocorpusdopresentetrabalho:

(143) [pɾeˈsi.zʊ.faˈze]

Estetipodedadoéambíguo,pois,adependerdodialetodoportuguêsbrasileiro,a

produçãoapresentadaem(143)podeserresultadodeduassentenças:

(144) Precisodefazer

(145) Precisofazer

Em(144),háumclíticoentreosdoisverbosnosintagmae,em(145),oclíticonão

aparecenaproduçãodofalante.Em(143),nãotemoscomoafirmarsehouveapagamento

do clíticode em (145)ou seo informante jáestáproduzindoesta sentençasemo clítico

(portanto, não há apagamento, como em (144)). Em nossos dados, tivemos a seguinte

produção:

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(146) OndeéoposTODESAúdehoje > [ˈpo.s:a.ˈu.de] (b)

a)1ocontexto:posTODEsaúde > [ˈpoz.dʃɪ.saˈu.dʃɪ]

b)2ocontexto:postoDESAúde > [ˈpos.tʊ.saˈu.dʃɪ]

Em(146),hádoispossíveiscontextosparahaplologia:(146)a)/to+de/e(146)b)/de

+sa/.Seocorresseaquedadesílabanoprimeirocontexto,oesperadoseriaaprodução

[ˈpoz.dʃɪ.saˈu.dʃɪ] e, se ocorresse no segundo contexto, o esperado seria a produção

[ˈpos.tʊ.saˈu.dʃɪ].Entretanto,a informanteb, alémdasílaba /to/, apagou tambémoclítico,

pos(TODE)saúde.Abaixoestáoespectrogramadoexemplo(146),emqueainformanteb

produziuasentençacomapagamentodeduassílabas:

Gráfico4 –Espectrogramadequedadoclítico:posTODESAúde>pos(TODE)saúde[ˈpos:aˈude]

O caso em (146) émenos claro quanto a uma possível variação dialetal (não há

como saber se o clítico está no nível fonológico em (146), posto de saúde, e depois foi

apagadoposto (de) saúde, ou seo informante já produziuposto saúde (semo clítico) e,

neste caso, apagou apenas a última sílaba de posto), no entanto, é um indício de que

devemostercautelaaoanalisardadosdestetipo.

Assim,pelacomplexidadeeespecificidadequehánessetipodequedadesílaba(o

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apagamentodoclítico),dadosambíguoscomo(146)nãoforamcomputados.

Na subseção a seguir, apresento as técnicas utilizadas na análise fonética dos

dados.

4.1.3. Afonética

Na constituição de um corpus, os dados podem se apresentar ao investigador de

doismodosopostos:porumlado,háumapreferênciadequesejamosmaisespontâneos

possíveis; por outro, os dados devemser acusticamente perfeitos.Nesta dualidade entre

espontaneidade versus boa acústica, o pesquisador pode ponderar se é melhor uma

gravação em que o monitoramento da fala (pelo informante) é mínimo, mesmo que a

gravação resulte em ruídos – o que pode comprometer a análise fonética –, ou fazer as

entrevistasnumacabineacústica–comocustodaperdadeespontaneidadedoinformante,

prejudicandoabuscadovernáculo(cf.Labov1972:208).

No presente trabalho, procuramos unir as duas metodologias, buscando

espontaneidade na fala do informante (com temas conversacionais do cotidiano dos

informantes, entrevistas feitas na casa ou no trabalho da pessoa) e, ao mesmo tempo,

evitando aomáximo ruídos externos nas gravações. Por exemplo, para que o som fique

mais“limpo”,colocamosomicrofonedelapela(unidirecional)omaispróximoeconfortável

possível do informante;62marcamos, semprequepossível, asentrevistasparamomentos

silenciosos–ànoiteoulogonocomeçododia.Adicionalmente,todasasgravaçõesforam

feitasemmono,comumafaixaquevaiatéaproximadamente11kHz63(comumataxade

amostragemde22050Hz–cf.Ladefoged2003:26).

Nasgravações, emconsequência de se buscar o vernáculo, os sons não são tão

perfeitosquantoosdetestesnumacabineacústica.Então,seosegmentoparecetersido

apagado(nãoapareceasolturadeum/t/,porexemplo,típicadestestiposdesegmentos),

mas o tempo dele permaneceu, estes contextos foram contados como não aplicação de

62 Feagin (2002: 24) explica que “(...) some types of equipment have abiding advantages. The lavalieremicrophone improves the quality of the sound and minimizes the speaker's attention to the recordingmechanism.”Assim,ousodomicrofonedelapelanãoatrapalhaaespontaneidadedoinformante.63Umataxadeamostragemde22050Hzimplicaqueasgravaçõesnãovãoalémde11kHze,mesmocomapossibilidadedeperdade frequênciasmaisaltas, nãoháperdade informaçãonasanálisesparaopropósitodestatese.

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quedadesílaba.Emalgunscasosextremos,emqueoespectrograma,osformantesouo

pitch nãoajudaramnapercepçãopara definir se houveounãoa aplicaçãodaquedade

sílaba,oscontextosnãoforamcomputadosnaanálise.

A coleta de todos os dados foi feita com a ajuda de dois programas: o Praat

(Boersma&Weenink2010),paraouvirasgravaçõeseexaminarosespectrogramas;eo

Excel,paracodificarearmazenarosdados.

Nas análises dos espectrogramas com o Praat (Boersma & Weenink 2010), a

frequênciadefaultutilizada foi visualizarossonsa6kHz (variando,porexemplo, comas

fricativas, em que aumentamos para 10 kHz ou 12 kHz, a depender do segmento), e a

resoluçãonatelavarioude0,5a1segundo,aproximadamente.

Comofoiditoem4.1.1,foramutilizados50minutosdecadagravação,eacoletade

todososdadosfoifeitadiretamentenoPraat:tomamoscadaarquivodegravação(emmp3)

e,apartirdele,criamosumarquivodecamadade texto (textgrid)paraquepudéssemos

anotarotempo(apresentadoemsegundospeloPraat)emquehouvecontextosdevariação

dequedadesílaba.Seaaplicaçãoouanãoaplicaçãodequedadesílabanocontextoem

questão fosse facilmente determinada (de oitiva), ficava anotado o tempodo contexto no

arquivodetextgriddoPraate,emseguida,eramanotadosnoExcel:otempodocontexto,

a primeirapalavra, a segundapalavra, o informanteea varianteproduzida (aplicaçãoou

nãoaplicação).Nestaetapa,forammarcadostambémquaiseramasconsoantesevogais

docontextoeasestruturasdasduassílabas,marcadasseparadamenteemumacolunano

Excel. Adicionalmente, marcamos também os fatores para prosódia (cf. 4.1.4.1.4), pois

marcar os níveis da hierarquia prosódica depende de como o informante proferiu a

sentença.Porexemplo,háumaúnica fraseentonacionalnasentença [o copoquebrou] I,

mas,seoinformanteproduzir[ocopo] I//[quebrou] I,emque“//”indicaumapausainserida

entre copo e quebrou, há duas frases entonacionais distintas. Fazendo estes

procedimentos,acoletade1informanteestavafinalizadae,nestemomento,voltávamosao

arquivo do Excel a fim de codificar as outras informações, contando com a ajuda dos

recursos oferecidos pelos programa.64 Terminadas as codificações de um informante,

64Os recursos do Excel ajudaram também na conferência dos fatores, a fim de verificar se uma sílaba /do/estavaindicadapordnacolunadeconsoanteseonacolunadevogais,porexemplo.

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passávamosaoutro–destemodo,cadainformanteerafinalizadocomacodificaçãopronta.

Noscontextosemquehouvesseapossibilidadedeaplicaçãodoprocesso,ajanela

eradiminuídaparaafaixade0,5a1segundos,marcandonosarquivosde textgrid,além

dotempodaocorrência,tambémossegmentosrelevantes.Portanto,todososcontextosde

quedadesílabadestateseforamchecadosnosespectrogramas.

A fim de verificar se toda a sílaba foi elidida, a vogal pode ser mais facilmente

comprovada, observando-se se restou ou não formantes deste tipo de segmento. Com

relaçãoàsconsoantesplosivasdesvozeadas/t,p,k/,utilizamos3métodos:

(i) observarasolturadaconsoantenoespectrograma;

(ii) verificar,deoitivasehá1tempodaconsoante;

(iii) seestesdoisprocedimentosaindanãodeterminaremsehouveapagamento

ounão, comparar aduraçãoda consoante comumaconsoante igual aela

(aquela que estiver mais próxima na gravação, com as mesmas

característicasacentuais).

Paraplosivassonoras/d,b,g/,utilizamososmesmosprocedimentosapresentados

de (i)-(iii),mas émais fácil verificar a produção (ou não) destes segmentos do que a de

desvozeadas,jáqueaquelastêmoadicionaldavibraçãodascordasvocais,quepodeser

observadopelabarradesonoridade(há tambéma ferramentachamadapitch,65quepode

fornecer,pelográfico,seháaliumaconsoante[vozeado]).

Com relação às fricativas, além de utilizarmos os procedimentos de (i)-(iii), foram

aumentadosastamanhos(navertical)doespectrograma,passandode6kHza10kHzou

12 kHz, para visualizar frequências mais altas. Adicionalmente, observamos o pitch e a

barra de sonoridade das fricativas sonoras. Outro método utilizado foi tocar o som ao

contráriona identificaçãode fricativas (sound in reverse), vistoqueémais fácil identificar

umoffglidesefizerestesomparecerumonset(Ladefoged2003:27).

65SegundoLadefoged(2003:75)“Strictlyspeaking,pitchisanauditoryproperty–somethingyouhear.Itisnotanacousticproperty–anaspectofthesoundwavethatyoucanmeasure.Fromapracticalpointofviewwhendiscusssingthepitchofthevoice,itcanusuallybesaidtobetherateatwhichvocalfoldpulsesrecur,andthusthefundamentalfrequencyofthesoundwave.”

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Finalmente, saliento que os procedimentos apresentados nesta subseção são

recursos adicionais de análise acústica. Para uma análise detalhada dos segmentos

(consonantais), refiro o leitor ao capítulo 3 de Ladefoged (2003) e ao capítulo 6 de

Ladefoged(2006).

4.1.4. Osgruposdefatores

Nesta subseção, apresento todas as variáveis linguísticas e sociais empregadas

neste trabalho. Lembramos que, na codificação definitiva, computamos apenas os

contextos em que houvesse cavidade oral das consoantes iguais (cf. as restrições em

4.1.2).Exemplificandocontextosdequedadesílaba,temos:

(147) per(TO)DAUnicamp,saBEBArãogeralDO,NÉ? (g)

Nasentençaproferidaem(147),foramcoletadososseguintestokens:

(148) 1otoken: per(TO)DA /to+da/

(149) 2otoken: saBEBArão /be+ba/

(150) 3otoken: GeralDONÉ /do+nɛ/

Nos contextos apresentados em (148)-(150), as consoantes têm uma mesma

cavidadeoral:em(148),háduascoronais [-contínuo] /t+d/ ;em(149),háduas labiais [-

contínuo] /b + b/; e em (150), há também duas coronais [-contínuo], com a diferença

também em nasalidade: /d/ é uma consoante oral e /n/ é uma nasal. Assim, há 3

ocorrênciasdequedadesílaba,sendoqueapenasem(148)houveaplicaçãodoprocesso.

Como dito, a variável dependente neste trabalho é binária, com uma variante de

aplicaçãodequedadesílabaeaooutradenãoaplicaçãodoprocesso:

Variáveldependentedequedadesílaba,comosfatores:

1. aplicação apagamentodesílabas2. nãoaplicação permanênciadesílabas

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Apresentoabaixoexemplificaçõesdocorpusdavariáveldependente:66

(151) ...agen(TE)TAvafazendooscálculos. (m)

(152) ...agenTETAvanocéu,né? (a)

Em (151), observamos que a informante m produziu a sentença com queda de

sílaba; não houve aplicação do processo com o mesmo contexto /te + ta/, como

apresentadoem(152)nafaladainformantea.

As variáveis estão apresentados nas subseções a seguir: os linguísticos estão na

subseção4.1.4.1aseguireasvariáveissociaisem4.1.4.2.

Todas as exemplificações no envelope são do corpus utilizado neste trabalho, e

cadapardosexemplosilustraaaplicaçãoeanãoaplicaçãodequedadesílaba.

4.1.4.1. Osgruposdefatoreslinguísticos

Nassubseçõesqueseguem,estãoasvariáveisindependentesinternas(linguísticas)

quepodem favorecer/desfavoreceraquedade sílaba,quais sejam:ocontextosegmental

(ver subseção 4.1.4.1.1); a estrutura das sílabas (ver 4.1.4.1.2); os acentos (tanto da

palavraquepodesofreroprocessoquantodaquelaqueasegue–em4.1.4.1.3);aestrutura

prosódica (cf. 4.1.4.1.4); o tamanho da palavra sujeita à queda, contado em número de

sílabas(ver4.1.4.1.5);e,finalmente,afrequênciadeusodapalavrasujeitaaoapagamento

(cf.4.1.4.1.6).

4.1.4.1.1. Contextosegmental

Como foi visto na seção 3, Alkmim & Gomes (1982) afirmam que há um tipo de

apagamento de sílaba chamado pelas autoras de uma “regra diferente” (cf. Alkmim &

Gomes 1982: 50), pois é um processo fonológico que só ocorre com determinados itens

lexicais,comopode.Paraahaplologia,vimosqueocontextoconsonantalnãoserestringe

a /t/ e /d/ (Alkmim & Gomes 1982), já que há a possibilidade de aplicação com outras

66 Lembramos que os contextos segmentais do processo estão em maiúsculas e os parênteses indicamapagamento.Ainda,asletrasentreparêntesesdepoisdecadaexemploidentificamoinformantequearticulouasentença.

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consoantes(paraoportuguêsbrasileiro,cf.Bisol2000ePavezi2006a).Leal(2006)unea

elisãosilábicaeahaplologiacomoumúnicoprocessofonológico(aquedadesílaba),pois

ambas têm as mesmas características fonológicas – estes segmentos devem ter,

internamente,omesmopontodeCeomesmovalorparaotraço[contínuo](cf.subseção

3.3).Comrelaçãoàsvogais,enquantoAlkmim&Gomes(1982)afirmamqueahaplologia

só ocorre com segmentos vocálicos [+alto] (sendo o processo bloqueado com outras

vogais),Pavezi(2006a)eLeal(2006)explicamquehávariaçãodehaplologiatambémcom

vogais [dorsal] (cf. seção 3.2.1), ou seja, não há bloqueio do processo com /a/. Assim,

decidimossistematizarquantitativamenteumapossívelvariaçãonaaplicaçãodoprocesso,

adependerdavogalquepreencheassílabas.

Combasenestesresultados,podemosentenderocontextosegmentalcomoomais

importanteefeito,jáqueéapartirdelequesedefineaquedadesílaba(cf.subseção3.2.1).

Assim, o contexto segmental foi codificado de várias formas, sempre unindo a

primeira e a segunda sílabas, como intuito de verificar quais combinações interferemou

nãonaquedadesílaba.Asconfiguraçõesforamasseguintes:

• IgualdadedeSegmentosnassílabasCV(versubseção4.1.4.1.1.1);

• CavidadeOraldasConsoantes(ver4.1.4.1.1.2);

• Cavidade Oral das Consoantes com Distinção de Segmentos [nasal] (ver

4.1.4.1.1.3);e

• CavidadeOraldasVogais(cf.4.1.4.1.1.4).

4.1.4.1.1.1. IgualdadedeSegmentosnasSílabasCV

Vimosquenahaplologia (cf. referênciasapresentadasem3.2.1), sílabas idênticas

ousemelhantestêmumamaiorpropensãoaoapagamento,ouseja,quantomaispróximos

foremostraçosdossegmentosnasduassílabas,háumamaiorprobabilidadedeaplicação

do processo. A hipótese para esta variável é que quanto mais parecidas forem

segmentalmenteassílabas,maioréapropensãoàqueda.Osfatoressão:67

67AgradeçoaoProfDrEmilioGozzePagottopormechamaraatençãoparaestavariável.

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1. consoantesiguais,vogaisiguais2. consoantesiguais,vogaisdiferentes3. consoantesdiferentesem[vozeamento],vogaisiguais4. consoantesdiferentesem[vozeamento],vogaisdiferentes5. consoantesdiferentesem[nasal],vogaisiguais6. consoantesdiferentesem[nasal],vogaisdiferentes7. consoantesdiferentesem[anterior,distribuído]

Ditodeformaresumida,alémdeverificarsesílabasiguaisfavorecemoprocesso,o

intuitocomestavariáveldeIgualdadedeSegmentosnassílabaséverificarcomoostraços

[vozeamento], [nasal]e[anterior,distribuído]dasconsoantespodeminterferirnaquedade

sílaba.Comrelaçãoàsvogais,acadaespecificaçãodiferentedeconsoantes,propusemos

também vogais iguais e diferentes, a fim de verificar se as vogais também intervêm no

processo(cf.referênciasapresentadasem3.2.1).

Comoprimeiroeosegundofatores(cf.itens1e2acima),buscamosidentificaraté

que ponto a Igualdade de Segmentos nas sílabas pode favorecer o processo, como

exemplificadoabaixo:

(153) apren(DE)DEsenho (M)

(154) máquiNANAusina (D)

(155) apareci(DA)DOnorte (k)

(156) acabaDODEtrocaraletra (S)

Os exemplos (153) e (154) têm sílabas idênticas, /de + de/ e /na + na/,

respectivamente,enquantoque (155)e (156) têmconsoantes iguais /d+d/,masdiferem

quantoaocontextovocálico:/a+o/e/o+e/,respectivamente.Ahipóteseéquehajauma

tendência maior à queda nos exemplos (153) e (154) do que em (155) e (156), já que

aquelestêmsílabasidênticas.

Uma vez que há possibilidade de queda de sílaba com consoantes diferentes em

[vozeamento](cf.referênciasem3.2.1),oobjetivocomosfatores3e4éverificarcomoo

traço [vozeamento] pode intervir no apagamento de sílaba. Observe os exemplos (157)-

(160):

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(157) ajudan(TE)DEpintor (C)

(158) ajudanTEDEpedreiro (C)

(159) mui(TO)DIfícil (j)

(160) muiTODIfícil (h)

As vogais são idênticas em (157) e (158), enquanto que as consoantes diferem

apenas em vozeamento, e houve aplicação na primeira e não aplicação no segundo

exemplo.Damesmaforma,osexemplos(159)e(160)sãodeaplicaçãodequedadesílaba

edenãoaplicação,respectivamente,e,alémdeasconsoantesdiferiremem[vozeamento],

háumadiferençatambémnasvogais,jáqueoscontextossão/o+i/.Ahipóteseéquehaja

maior propensão à queda de sílaba nos dois primeiros exemplos, já que as vogais são

idênticas.

ParaAlkmim&Gomes(1982),deLacy(1999),Tenani(2002),Battisti(2004),Pavezi

(2006a)eLeal(2006),otraço[vozeamento]nãointerferenahaplologia(enaelisãosilábica,

cf.Leal2006),poisoprocessonãoébloqueadoseasconsoantesdiferiremnestetraço.Ao

comparar, de um lado, os fatores 1 (consoantes iguais, vogais iguais) e 2 (consoantes

iguais,vogaisdiferentes)e,deoutro,osfatores2(consoantesdiferentesem[vozeamento],

vogais iguais)e3(consoantesdiferentesem[vozeamento],vogaisdiferentes),poderemos

verificardeque formao [vozeamento]pode interferirnoprocesso:senão interfere (neste

caso,a tendênciaentreos fatores1e2versus3e4deveseramesma),ouseatuana

quedadesílaba(aqui,haveriaumadiferençanatendênciade1e2versus3e4).

Os fatores 5 e 6 indicam contextos consonantais que diferem em [nasal], sem

importarseestetraçoestánaprimeiraounasegundaconsoante:

(161) conversan(DO)NOtelefone (A)

(162) choranDONOmeiodocaminho (N)

(163) do(NO)DOmercado (T)

(164) doNODObar (B)

(165) chegarnu(MA)POsiçãomelhor (k)

(166) costuMAPEdir (S)

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Os exemplos(161)e(162)têmumacoronaloral/d/seguidadeumanasal/n/esão,

respectivamente, casosdeaplicaçãoedenãoaplicaçãodequedadesílaba;em (163)e

(164),asconsoantestambémdiferemem[nasal],masnestesdoisexemplosocontexto/n+

d/édeumacoronalnasalseguidadeumaconsoanteoral;oscasosem(165)e(166)são

de contextos /m + p/, em que além da diferença em [nasal] das consoantes, as vogais

tambémsediferem(cf./a+o/em(165)e/a+e/em(166)).

As consoantes nasais são [-contínuo] na cavidade oral; assim, nos exemplos de

(161)-(166), os contextos têmconsoantes [-contínuo]naprimeiraenasegundaposições.

Asanálisesexistentesapontamqueasconsoantesdevemser/t/ou/d/(Alkmim&Gomes

1982)outerummesmopontodeCe[contínuo](Leal2006).Sesóestesdoistraçosforem

importantes,aprevisãoéque,em/n+d/,porexemplo,tenhaamesmatendênciaàqueda

desílabadoque/t+d/,porexemplo.Assim,isolarasnasaispermiteobservarsemaisum

traço,asaber[nasal],influinaaplicaçãodoprocesso.

A análise experimental de Leal (2006) aponta que há possibilidade de queda de

sílaba se as consoantes tiverem uma diferença em [anterior, distribuído], como

exemplificadoabaixo(cf.Leal2006:84):

(167) babo(SA)CHEIrosa

Em (167), as duas consoantes são coronais [+contínuo], a primeira é [+anterior,

-distribuído]easegundaé[-anterior,+distribuído],eaquedadesílabapodeacontecer.É

interessantenotarque,seopontodeCdeveserigual,tudoabaixodeveriaserigual,mas

[anterior,distribuído]édiferenteeocorreu(cf.arepresentaçãodageometriadetraçosem

Clements&Hume(1995:292)eGráfico2nasubseção2.2.1).Assim,aperguntaquesefaz

é: se as consoantes forem diferentes em [anterior, distribuído], a aplicação é produtiva?

Assim, o fator 7 deve indicar se há um efeito quantitativo no caso de as consoantes

diferiremnestestraços,comoexemplificadoaseguir:

(168) ...laçarcabe(ÇA).JÁvamosfazeruma? (J)

(169) paSSAJAguariúna (p)

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Oscontextosconsonantaisem(168)e(169)sãoosmesmos/s+ʒ/,ouseja,estes

segmentosdiferemem[vozeamento]e[anterior,distribuído];asvogaissão/a+a/idênticas

eoprocessopodeseraplicado,comoem(168),ounão,comoem(169).

Neste fator, não distinguimos as vogais porque os dados não tiveram uma

distribuição ortogonal: para consoantes diferentes em [anterior, distribuído], com vogais

iguais, a frequência foi de apenas 2/28, enquanto que para consoantes diferentes em

[anterior, distribuído], com vogais diferentes, houve knockout (de 27 dados, não houve

nenhuma aplicação de queda de sílaba). Dessa forma, esses dados foram unidos num

únicofator, totalizandoumafrequênciade2/55–apesardobaixonúmerodeocorrências,

esse tipo de configuração possibilitou obtermos os pesos relativos das análises

multivariadas.

Finalmente,valesalientarquetodasassílabasquetenhamestruturasdiferentesde

CV não entraram nesta variável por razões qualitativas, já que, a fim de verificar a

Igualdade de Segmentos das sílabas, devemos controlar a Estrutura Silábica – de outra

forma,haveriamaisinterferênciasnavariáveldoqueapenasossegmentos.68Porexemplo,

paraanalisarmossílabasCCV,deveríamosterdecontrolartantoosegmentoquantoasua

posição na sílaba. Chamamos a atenção que não estamos afirmando que a estrutura

silábica não interfere na queda de sílaba; ao contrário, esta foi uma variável controlada,

comose vêem4.1.4.1.2.Devemosesclarecerqueo intuito comesta variável foi ver até

que ponto uma gradação de sílabas com segmentos totalmente iguais até sílabas com

segmentos totalmente diferentes pode interferir no processo.E este objetivo só pode ser

atingidocomsílabasquetenhamestruturasiguaisCV,emboracomconteúdosdiferentes.

4.1.4.1.1.2. CavidadeOraldasConsoantes

Outro modo de rodar o contexto segmental foi codificar a primeira e a segunda

consoantes de acordo com suas cavidades orais (ponto deC e valor para [contínuo]), e

propusemososseguintesfatores:

68Nãolevamosemconta2243tokens,quaissejam:1315decontextosCV+outros,318tokensdeCCV+outros,46 deCCVC+outros, 497 ocorrências deCVC+outros, 4 deCVCC+outros, 2 ocorrências comCCgV+CV, 54tokens de estruturas CgV+outros, 3 de CgVC+outros, 1 com CVg+outros e 3 contextos com sílabasCVgC+outros.

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1. duasconsoantescoronais[-contínuo];2. duasconsoantescoronais[+contínuo];3. duasconsoanteslabiais[-contínuo];4. duasconsoanteslabiais[+contínuo];e5. duasconsoantesdorsais.69

Observeassentençasaseguirretiradasdocorpus,deaplicaçãoenãoaplicaçãode

quedadesílaba,emqueexemplificocadaumdosfatoresapresentadosacimade1-5.Para

uma melhor visualização, contextos com duas consoantes coronais [-contínuo] estão

representadaspor/t+t/;ambientes/s+s/representamduasconsoantescoronais[+contínuo];

/p+p/denotaduasconsoanteslabiais[-contínuo];/f+f/,duasconsoanteslabiais[+contínuo];

eduasconsoantesdorsaissãodescritaspor/k+k/:

(170) t+t faculda(DE)DEletras (P)

(171) t+t quanDOTÁsaindoacriançadadaescola (a)

(172) s+s apolí(CIA)CHEgou (B)

(173) s+s nãopreciSASEmatar (b)

(174) p+p tem(PO)PRAaposentadoria (k)

(175) p+p mesMOPRAmim (i)

(176) f+f nãota(VA)FAzendonadadeerrado (m)

(177) f+f taVAFAzendopós (P)

(178) k+k lógi(CO)QUEnão (K)

(179) k+k nunCACAí (p)

Naproduçãoapresentadaem(170),háduascoronais[+vozeado],comaplicaçãode

quedadesílaba;em(171),asconsoantesdiferemem[vozeamento]enãoháaplicaçãodo

processo.Estesdoiscasosforamcodificadoscomocoronais/t+t/[-contínuo],semimportar

69 Nesta tese, todas as consoantes dorsais encontradas no corpus são [-contínuo] – /k/ e /g/. No portuguêsbrasileiro,o/r/forteemratopodeserproduzidodeduasformas:comum[h],umalaringal[+contínuo,-vozeado],como em [ha.tʊ]; ou com [x], uma dorsal [+contínuo, +vozeado], como em [xa.tʊ]. No entanto, este tipo decontexto /r+r/ forte não foi encontrado no corpus. Assim, já que a outra possibilidade de dorsais [x] para oportuguês brasileiro [+contínuo] não apareceu no corpus, deste ponto em diante, o valor de [contínuo] paradorsaisnãoserámaisindicado–serásempreumadorsal[-contínuo].

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otraço[vozeamento],jáquenestavariável,observamosapenasacavidadeoral.Em(172),

ocontextoconsonantalé /s+ʃ/e,em(173),é /z+s/.Estescasosforamcodificadoscomo

coronais [+contínuo] e, como se nota nos exemplos, não importam os traços [anterior,

distribuído],ouseja,controlamos,nestavariável,acavidadeoral(pontodeCe[contínuo])–

o traço [vozeamento] está abaixo de [laringal], cf. no Gráfico 2 na subseção 2.2.1. No

exemplo (174), há aplicação com as consoantes desvozeadas /p+p/, enquanto que não

houveaplicaçãodoprocessocomossegmentos /m+p/ (ver (175)).Acodificaçãoaqui foi

unir estes casos emum fator labial [-contínuo], já que o traço [nasal] não importa, como

vemos a diferença entre as consoantes em (175). As labiais [+contínuo] /f+f/ foram

codificadas como apresentado nos exemplos (176) e (177), em que os contextos

consonantais são ummesmo (/v + f/) e, novamente, as diferenças em [vozeamento] não

foram levadas em conta. Finalmente, os exemplos (178) e (179), com contextos

consonantais/k+k/,representamcomoforamcodificadasasdorsais.

Ahipótese levantadaparaestavariáveléqueháumamaior tendênciaàaplicação

de queda de sílaba com segmentos coronais, uma vez que estes segmentos são

subespecificadosemdiversaslínguas(cf.Paradis&Prunet1991eFikkert&Levelt2006)e,

mesmonoportuguêsbrasileiro,estudosreportamqueécom/t/e/d/queaquedadesílaba

ocorre(Alkmim&Gomes1982).

4.1.4.1.1.3. CavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode[nasal]

Asconsoantes foramcodificadasnovamentee,alémdedistinguirmosos traçosde

cavidade oral (o ponto deC e o valor de [contínuo]), separamos tambémas consoantes

nasais.Osfatoresestãoapresentadasabaixo:

1. duasconsoantescoronaisorais[-contínuo];2. duasconsoantescoronaisorais[+contínuo];3. duasconsoanteslabiaisorais[-contínuo];4. duasconsoanteslabiaisorais[+contínuo];5. duasconsoantesdorsais;e6. contextoscomumaouduasconsoantesnasais

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Decidiu-seporanalisarocomportamentodasnasaisporquehádois trabalhosque

naliteraturaquetratamdequedadesílabacomnasais.Noprimeirodeles(cf.Tabela2na

subseção 3.2.1) Pavezi (2006a) reporta que houve 5% de aplicação de haplologia com

segmentos [nasal]. Adicionalmente, com o objetivo de verificar se há uma consoante ou

vogalquefavoreçaahaplologia,bemcomoseháalgumtipodesegmentoquebloqueieo

processo, além da análise dos dados naturalísticos, Pavezi (2006a) conduziu um estudo

experimentalcomseisdiferentestiposdecontextoscomnasais,cujosresultadosapresento

aseguir:

Tabela6 –Aplicaçõesdehaplologiaemcontextoscomconsoantes[nasal]notestedePavezi(2006a:115)

sentença contexto apl ñApl %apl total

1)AcaMAMAgníficaquebrouontem /ma.ma/ 4 16 20 20

2)OtiMEMIlagrososaiuvencedor /me.mi/ 11 9 55 20

3)OagrônoMOMUçulmanoacordoucedo /mo.mu/ 11 9 55 20

4)AaluNANAmoradeirachegouatrasada /na.na/ 9 11 45 20

5)OtelefoNENIpônicoduramais /ne.ni/ 12 8 60 20

6)OaluNONUtridoaprendemais /no.nu/ 11 9 55 20

total 58 62 120 120

Como se observa na Tabela 6, a haplologia pode ser aplicada com quaisquer

contextoscomconsoantesnasais,e/ne+ni/éomaisfavorável,segundoPavezi(2006a).

Afimdeverificarseháalgumcontexto(segmentalevocálico)quepossabloqueara

quedade sílaba (ou seja, elisão silábicae haplologia), Leal (2006) conduziu um teste de

(a)gramaticalidade,everificouque:70

i)ahaplologiaépermitidacom/m+m/e/n+n/:

(180) alar(ME)MOderno (teste)

(181) more(NA)NERvosa (teste)

70Osexemplos(180)-(185)eadiscussãosobreosresultadosdotesteestãonasubseção6.1deLeal(2006).

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ii) aelisãosilábicaépermitidasomentenasequência [oral+nasal]; emcontextos

[nasal+oral],hábloqueio:

(182) /b+m/ goia(BA)MAdura (teste)

(183) /t+n/ consoan(TE)NAsalizada (teste)

(184) /m+b/ ?perfu(ME)BAcana>perf[uba]cana (teste)

(185) /n+d/ ?pági(NA)DIfícil>pág[idi]fícil (teste)

A partir destes resultados de Leal (2006), foi feita uma análise com um corpus

naturalístico,71 em que o único contexto de haplologia com duas nasais foi de não

aplicação,comoapresentoaseguir:

(186) ÉumfoNENORmal... (BGN)

Com relaçãoà elisão silábica, houvediversas ocorrências, todas de [oral + nasal]

(ouseja,sequências[nasal+oral]nãoapareceramnasgravações),exemplificadoaseguir:

(187) ...pendura(DO)NOpau-de-arara... (ALES)

Assim, examinaremos se e de que forma as consoantes nasais podem atuar na

quedadesílaba;comesteobjetivodeopornasaisvs.orais,decidimosporunirascoronais

[nasal] e as labiais [nasal] num único fator. Não há, até onde sabemos, estudos que

reportemoutrasdiferençasqueestãoalémdotraço[vozeamento],comexceçãodePavezi

(2006a) e de Leal (2006). Além disso, não há nestes trabalhos uma análise quantitativa

(univariadasemultivariadas),comofoifeitonestatese.

Apresento a seguir exemplos do nosso corpus com diferenças em [nasal] nas

consoantes:

71 Os exemplos (186) e (187) e a discussão sobre os resultados dos dados naturalísticos podem serencontradosemLeal(2006)(cf.subseção6.2).

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(188) deita(DO)NOchão (J)

(189) nãocoMOPOlenta (d)

(190) va(MOS)MARcar (O)

(191) compraumamáquiNANOva (K)

Exemploscomo(188)-(191)entraramno fator6apresentadaacimaparacontextos

nasais,semimportarseanasalestánasegunda(cf.exemplo(188))ounaprimeirasílaba

docontextosegmental(ver(189))ouemambasassílabas(cf.(190)comnasais/m+m/e

(191)comnasais/n+n/).

Não temos uma hipótese formulada para esta variável que vá além daquela

apresentada na subseção anterior – a hipótese levantada em 4.1.4.1.2 é que, por sua

subespecificação,ascoronaissãoasconsoantesmaiselididas–,maso intuitoéverificar

como se comportam também as nasais. Ainda, o objetivo é verificar também qual das

configuraçõesdeconsoantes(semcolocarecolocandoasnasaisnumfatoràparte)émais

relevanteparaaaplicaçãodoprocesso.

4.1.4.1.1.4. CavidadeOraldasVogais

A última variável para o contexto segmental foi criada para observar qual é o

comportamentodasvogais,cujosfatoresapresentoaseguir:

1. duasvogaiscoronais2. duasvogaisdorso-labiais3. duasvogaisdorsais4. coronal+dorsal5. dorso-labial+dorsal6. dorso-labial+coronal7. coronal+dorso-labial8. dorsal+coronal9. dorsal+dorso-labial

Comoseobservaacima,houve9possibilidadesparaocontextovocálico.Nostrês

primeiros,ascavidadesoraisdasvogaissãoidênticas:coronal+coronal,quecompreende

asvogais/i/,/e/e/ɛ/;dorso-labial+dorso-labial,incluindoasvogais/u/,/o/e/ɔ/;edorsal+

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dorsal,contextocomduasvogais/a/.Aspossibilidadesapresentadasem4-9sãotodasas

outrascombinaçõescomvogaiscoronal,dorso-labialedorsal.

DeacordocomLeal(2006)(cf.subseção3.2.1),nãoimportamaanterioridadeoua

altura na combinação dos traços das vogais do contexto segmental para a aplicação de

queda de sílaba; os resultados de Pavezi (2006a) apontam que há a possibilidade de

aplicaçãocomsegmentos[dorsal].Assim,ahipóteseéque,diferentementedoqueafirmam

Alkmim&Gomes(1982),hávariaçãocomvogaisdiferentesde[+alto].

4.1.4.1.2. EstruturaSilábica

A análise de Alkmim & Gomes (1982) para haplologia (cf. seção 3) prevê que a

estruturadasílabasujeitaàquedadevesernecessariamenteCV,enãohárestriçõespara

asegundasílaba;noentanto,encontramosnaliteraturacasosdequedacomsílabasCCV,

porexemplo, comoemsintagmascomden(TRO)+DE (cf.Battisti 2004,Pavezi2006ae

Leal 2006). Logo, é necessário verificar se e como a estrutura da sílaba sujeita a

apagamentopodeinterferirnaquedadesílaba.

Além de sílabas CV, controlamos também estruturas com ataque (CCV) e coda

ramificados (CVC) e sílabas com outros tipos de estruturas (neste caso, são todas as

estruturas da primeira sílaba que são diferentes da estrutura da segunda sílaba), como

apresentadoaseguir:

1. CV+CV duassílabassimples2. CVC+CVC duassílabascomcodaramificada3. CCV+CCV duassílabascomataqueramificado4. CV+outros sílabasimplesseguidadeoutrotipodeestrutura5. CVC+outros sílabacomcodaseguidadeoutrotipodeestrutura6. CCV+outros sílabacomataqueramificadoseguidadeoutrotipodeestrutura7. outros+outros duassílabascomoutrostiposdeestruturas(quenãoasde1-6)

Exemplosdecontextoscomestruturassilábicasiguaissãoapresentadosabaixo:

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(192) CV+CV beira(DA)DApista (F)

(193) CV+CV sãobernarDODOcampo (Q)

(194) CVC+CVC cuidandodosne(TOS)DOSoutros72 (m)

(195) CVC+CVC vendeMOSPORcentoeoitentamil (d)

(196) CCV+CCV iasem(PRE)PRAcasa (q)

(197) CCV+CCV semPREPROcureidevolver (g)

Há variação de queda de sílaba em contextos como (192) e (193), em que as

estruturassilábicassãoCV,eestescasosforamcodificadoscomoapresentadonofator1;

em (194) e (195), também pode haver apagamento ou não aplicação do processo com

estruturas que tenham coda,73 codificados como 2; da mesma forma, sílabas CCV com

ataquevariam,comoexemplificadoem(196)e(197),codificadoscomoapresentadoem3.

Avariaçãoacontece tambémemcontextosque tenhamestruturasdiferentesentre

si,comodemonstramosexemplosaseguir:

(198) CV+outros po(DE)DEIxar (E)

(199) CV+outros orozimBOMAIA (M)

(200) CVC+outros verosami(GOS)CREscer74 (D)

(201) CVC+outros boDASDEprata (i)

(202) CCV+outros osemes(TRE)TAMbémnãoédiferente (k)

(203) CCV+outros cenTRODAcidade (v)

(204) outros+outros previdên(CIA)SOcial (V)

(205) outros+outros winDOWSNOventaeoito (K)

Em(198)e(199),aprimeirasílabaéCV,seguidadeoutrostiposdeestruturas:em

72Noexemplo(194),novamentepodemosobservarqueamorfologiapodeinterferirnaquedadesílaba,jáque/s/de/dos/éa2amarcadepluralnosintagmadoSnetoSdoSoutroS–assuntoaserestudadoemtrabalhosfuturos(cf.tambémnotas44e58).AgradeçoàProfªDrªEsterMirianScarpapormechamaraatençãoaestetema.73SeguindoWetzels (1997,2000),aprimeirasílabadapalavramuito foiconsideradacomoumaCVC, jáquepodemosinterpretarquenonívelsubjacenteestapalavraé/muiNto/que,naproduçãodafalatorna-se[mũjtʊ].74Cf.nota72.

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(198),asegundasílabaéumditongoCVgque,narealizaçãofonética,podeserproduzida

comaperdadoglide (éumditongo leve),enquantoque,em(199),asegundasílabatem

umaestruturaCVgV,ouseja,háumglideambissilábico/maja/entreasvogaisdorsais/a/.

Estes casos foram codificados como 4, em que unimos todos os contextos de sílabas

simplesseguidasdequaisqueroutrostiposdeestrutura.Osdoisexemplosseguintes(200)

e(201)foramcodificadoscomo5,ouseja,sãocasosemqueumasílabacomcodaaparece

seguidadeoutrostiposdeestrutura:em(200),aprimeirasílabaCVCestáseguidadeuma

CCVdecrescere,em(201),deumasílabacomestruturasimplesCV.Em(202)e(203),a

estruturadaprimeirasílaba temataque ramificado,sendoque,em (202)estáseguidade

umasílabacomcodanasalCVCeem (203),aestruturadasegundasílabaéCV,sendo

codificadoscomo6–sílabascomcodaseguidadeoutrostiposdeestruturas.Finalmente,

oscasosem(204)e(205)exemplificamestruturasdiferentesentresiequenãosejamCV,

CVCouCCVnaprimeiraposiçãodocontexto:aprimeirasílabaem(204)éCVV,umhiato

fonológico,eestáseguidadeumasílabasimples;eem(205),aprimeirasílabaéCVgC,um

ditongoverdadeirocomcoda,tambémseguidadeumasílabacomestruturaCV,casosque

foramcodificadoscomo7,duassílabascomoutrostiposdeestruturas–diferentesdeCV,

CCVeCVC.Ecomosepodeobservar,emtodosestescasos(198)-(205),houvevariação

dequedadesílaba.

A hipótese para esta variável é que quanto mais leve for a sílaba sujeita ao

apagamento,maiorseráatendênciaàqueda.Assim,seocontextotiverambasassílabas

comestruturaCV,ahipóteseéquehajaumfavorecimentodaquedadesílaba;poroutro

lado, se as sílabas sujeitas ao apagamento tiverem coda, a hipótese é que há um

desfavorecimentodoprocesso.LevantamosestasduashipótesescombaseemAlkmim&

Gomes(1982)eCollischonn(2007),jáqueasautorasafirmamqueésomentecomsílabas

CVnaprimeiraposiçãodocontextosegmentalquehápossibilidadedequedadesílaba.E,

se é importante que as sílabas sejam idênticas ou parecidas (cf. propostas da subseção

4.1.4.1.1.1),sendoambasCV,aquedaseráhipoteticamenteimplementadamaisfacilmente

(cf.Collischonn2007,paraquemasestruturasdas sílabasquepodemsofreroprocesso

sãooriginalmentebem-formadas).

Finalmente,comrelaçãoaestruturasCCV,nãotemosumahipótese,masointuitoé

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verificar como a queda de sílaba é conduzida se a sílabas sujeita à queda tiver uma

consoanteemsegundaposiçãodoataque.Demodo informal,aperguntaparaestruturas

CCVé:asegundaconsoantedoataque“atrapalha”aquedadesílabaouéinerte?

4.1.4.1.3. Métrica

Para esta variável, a hipótese que levantamos está relacionada à sequência dos

acentosdaprimeiraedasegundapalavras:oresultadodequedadesílabadeveteruma

tendênciaaoPAR(cf.subseção2.2.3),ouseja,aaplicaçãodoprocessodeveráfazercom

queosacentos fortese fracossealternem.Codificamososdados levando-seemcontao

contexto de queda de sílaba, para depois observarmos se o processo otimiza ritmo do

contextoanalisado.

Paraaprimeirapalavra, levamosemcontadesdeoacentoprimárioatéo finalda

palavra,considerandoumasílaba forteseguidadeduas fracas [x • • ]eumasílaba forte

seguida de uma fraca [ x • ], já que palavras com a última sílaba acentuada não foram

analisadas; para a segunda palavra, observamos se a primeira sílaba portava acento

primário[x],secundário[y],clítico[c]ouéfraca[•].

Tendoemvistaacombinaçãodeacentosdaprimeiraesegundapalavras,nossos

fatoresforam:

1. [x••#•] lapsode3sílabas2. [x••#c] lapsode3sílabas(aúltimaéumclítico)3. [x••#y] duassílabasfracasentreumacento1árioeumacento2ário4. [x••#x] duasfracasentreduasfortes5. [x•#•] lapsode2sílabas6. [x•#c] lapsode2sílabas(aúltimaéumclítico)7. [x•#y] umasílabafracaentreumacento1árioeumacento2ário8. [x•#x] umasílabafracaentreduassílabasfortes

Aotimizaçãodo ritmodependedecomoentendemosograudeproeminênciadas

sílabas.Seassumirmosque clíticos são tão fracosquanto sílabas fracas (não clíticas), o

esperadoéqueassequências[x••#x],[x••#y],[x•#•]e[x•#c],aosofrerem

apagamento,tornem-sesequênciasótimasritmicamente,poisosresultadosserão[x•#x],

[x •#y ], [x#• ] [x#c ], respectivamente.Assequências [x• •#• ]e [x• •#c ],se

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sofreremapagamento,melhoramritmicamente(poisaoinvésde3sílabasfracas,passama

terapenas2),masnãosãoconsideradasótimas.Finalmente,assequências[x•#x]e[x•

# y ], se sofrerem a queda de sílaba, criam contextos de encontro acentual. A hipótese,

neste caso, é que a queda de sílaba tenderá a ser evitada em contextos que criem

encontrosdeacento.

Como vimos em (48) (cf. subseção 2.2.3 e referências ali citadas), assumimos a

seguintehierarquia,emqueosacentosestãoorganizadosdomaisforteparaomaisfraco:

(206) Hierarquiadeacento:

acentoprimário>acentosecundário>clítico>sílabafraca

acentuadas desacentuadas

Como se vê em (206), as sílabas acentuadas podem ter dois graus de acento

(primárioesecundário)esílabassemacentopodemserclíticosou fracas.Decidimospor

identificar separadamente fracas, clíticos, secundário e primário de forma a observar se

estes produzem uma distribuição diferente quando à aplicação da regra. Em outras

palavras,apesardeosacentosprimáriosesecundáriosseremconsiderados fortes,como

representadoem(206),primáriossãomaisfortesdoquesecundários;damesmaforma,há

umahierarquiaentreumclíticofonológicoeumasílabafraca,jáqueaquelaémaisfortedo

queesta.

Exemplosdocorpusparaestavariávelsãodadosabaixo:

(207) [x••#•] naépoCACAsava (V)

é po CA CA sa vax • • • x •

(208) [x••#c] lógi(CO)QUEnão (K)

ló gi CO QUEx • (•) c

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(209) [x••#y] ériCACOmeçou (b)

é ri CA CO me çoux • • y • x

(210) [x••#x] aúni(CA)COIsaqueeunãofiz (K)

ú ni CA COI sax • (•) x •

(211) [x•#•] cheganDODIretodaembratel (K)

che gan DO DI re to• x • • x •

(212) [x•#c] veiochama(DA)DAunicamp (b)

cha ma DA DA• x (•) c

(213) [x•#y] uMAMAravilha (n)

u MA MA ra vi lhax • x • y •

(214) [x•#x] elesnãofizeramna(DA)DIssoaí (a)

na DA DI ssox (•) x •

Nosexemplos(207)e(208),aexpectativaédequehajaumatendênciaquedade

sílaba,jáquesuaaplicaçãofazcomqueoritmopassedeumlapsode3sílabasparaoutro

de 2 sílabas. Nestes dois casos, o resultado não é ótimo (já que duas sílabas fracas

continuam adjacentes), mas a sequência rítmica melhora. As sequências métricas em

(209)-(212) têm em comum lapsos acentuais de 2 sílabas. Ao ser aplicada, a queda de

sílabatornaassequênciasótimas:em(209),[x••#y]>[x•#y]eem(210)[x••#x]>

[x •#x ],ouseja, ficauma fracaentreduassílabascomacento (secundárioem(209)e

primárioem (210)).Paraoscasosem (211)e (212), sehouveraplicaçãodoprocesso,o

resultadoéumritmoótimo,emque[x•#•]>[x•#•](verexemplo(211))e[x•#c]>

[x•#c](cf.(212)),ouseja,aexpectativaétambémdetendênciaàquedadesílaba.Os

contextos métricos (originais) em (213) e (214) são ótimos e aplicar a queda de sílaba

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significa irdeencontroàotimização,umavezquea implementaçãodoprocessoacarreta

choqueacentual.Emcasoscomo (213)e (214),ahipóteseéqueaquedadesílabaseja

desfavorecida.

4.1.4.1.4. Prosódia

Como foi vistonaseção3sobrea literaturadequedadesílaba,os resultadosde

Tenani(2003),Pavezi(2006a)eLeal(2006)75apontamquenãoháumnívelprosódicoque

bloqueie a queda de sílaba. Segundo Battisti (2004) e Pavezi (2006a), dentro de frase

fonológica e entre frases fonológicas são os ambientes mais favoráveis à aplicação de

haplologia; já Leal (2006) argumenta que, tanto para a elisão silábica quanto para a

haplologia, há umamaior aplicação dentro de frase fonológica reestruturada. Finalmente,

Tenani (2003) afirma que a aplicação de haplologia se dá de modo inversamente

proporcionalaosníveisprosódicosmaisaltos.

Com base nesses resultados, levantamos duas hipóteses para esta variável:

primeiro,nãoháumnívelsemvariaçãodequedadesílaba,jáquenenhumdelesbloqueia

o processo; em segundo lugar, há uma maior propensão ao apagamento entre frases

fonológicas.

ComrelaçãoaosresultadosdeTenani(2002),nosquaisháumamaiortendênciase

os níveis prosódicos forem mais baixos, não temos uma hipótese, uma vez que os

resultados de Pavezi (2006a) e Leal (2006) não corroboraram os de Tenani (2002). No

entanto,verificamosseistoacontecenosdadosdopresentetrabalho.

No que concerne à queda de sílaba no nível da palavra fonológica, observe o

exemploabaixo:

(215) [TE]ω[TElefonou]ω

Emtetelefonou,asequência/te+te/é,segmentalmente,umcontextodequedade

75 O nível estudado por Battisti (2004) foi dentro de frase fonológica; Tenani (2002) analisou dentro frasefonológica,entrefrasesfonológicas,entrefrasesentonacionaiseentreenunciados;ePavezi(2006a)trabalhoucom contextos dentro frase fonológica, entre frases fonológicas, dentro de frase entonacional, entre frasesentonacionais,dentrodeenunciadoeentreenunciados(cf.3.2.3).

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sílaba, já que as sílabas são idênticas. No entanto, se a primeira sílaba é um clítico

fonológico, só há um sílaba; isto significa que, se houver a implementação do processo,

toda a palavra deve ser apagada, o pronome te. Em casos como estes, seguimos as

propostas de Veloso (2003) e Pavezi (2006a), para quem contextos em que a primeira

palavraéummonomorfema,oapagamentoébloqueado(cf.tambémsubseção4.1.2):

(216) TETElefonou>*(TE)TElefonou

Assim, casos emque o contexto segmental está entre palavras fonológicas foram

desconsiderados, e a condição seguida neste trabalho é que a primeira palavra seja, no

mínimo,umdissílabo:

(217) [[UM]ω[MEnino]ω]C > *(UM)MEnino

(218) [[uMA]ω]C[[MEnina]ω]C > u(MA)MEnina

Em (217), os itens um emenino são duas palavras fonológicas, já que carregam

acento primário (no nível da palavra fonológica).76 A primeira palavra um é um clítico

fonológico,quedeveseassociaraoseunúcleo,umapalavrafonológicaindependente–isto

é,nãoclítica(cf.algoritmosapresentadosnasubseção2.2.4)–paraformarogrupoclítico

ummenino. Diferentemente, em (218), há duas palavras fonológicas independentes (não

clíticas)que,alémdereceberemacentoprimário(noníveldapalavrafonológica),carregam

acentotambémnoníveldegrupoclítico, formandodoisconstituintes independentesneste

nível. Neste caso, a queda de sílaba pode ser aplicada. Comparando os ambientes

prosódicos em (217) e (218), verificamos que o nível mais baixo da hierarquia para a

aplicaçãodequedadesílabaéafronteiradegruposclíticos.

Osfatoresfraseentonacional,frasefonológicaegrupoclíticodestavariávelindicam

fronteiras de constituintes, enquanto que, em frase fonológica reestruturada, o processo

76Nespor&Vogel(1986:145)explicamqueosclíticostêmumanaturezahíbrida,comcaracterísticasexternasde justaposiçãoepropriedades internasdeelementos independentes;éuma formaqueseassemelhaaumapalavra,masquenãopodeaparecersozinhanumenunciadonormal.

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ocorredentrodesteconstituinteeafronteiraédegrupoclítico.Aspalavrasdocontextode

queda dentro e da em (57) que estão dentro do nível de frase fonológica reestruturada

estãoentregruposclíticos.Emoutraspalavras,podemosunirasocorrênciasdosníveisde

frasefonológicareestruturadaedegrupoclíticoporqueoscontextossãoosmesmos.

Assim, os níveis analisados no presente trabalho foram frase entonacional, frase

fonológicaegrupoclítico,comosseguintesfatores:

1. entrefrasesentonacionais2. entrefrasefonológica3. entregruposclíticos(edentrodefrasefonológicareestruturada)

Exemplificando,temos:

(219) cincopar(TES).]I[TUdorosa (m)

(220) vocêiarespondenDO.]I[DEpois,eladavanota (c)

(221) paradepoisvirparaacida(DE)]Φ[DEnovo (u)

(222) tôdescansanDO]Φ[DOmeuúltimolivro (h)

(223) foidola(DO)]C[DOprefeito,né? (a)

(224) elaficougostanDO]C[DOespanhol (c)

Os contextos de queda de sílaba em (219) /tes + tu/ e em (220) /do + de/ estão entre

sentenças; em (221)e(222),há limitesdefrasefonológicaentreoscontextos /de+de/e

/do + do/; e em (223) e (224) o nível prosódico entre as palavras lado edo (cf. (223)) e

gostando e do (224) é o de grupo clítico. E há variação na aplicação nos três níveis

prosódicos,comosevênosexemplos.

4.1.4.1.5. NúmerodeSílabas

Otamanhofonológicotemumapapelimportantenaaplicaçãoderegrasfonológicas,

comoapontamNespor&Vogel(1986:41-46).Umdosprocessosfonológicosapresentados

pelasautoraséodeaspiraçãodeplosivasdesvozeadasintervocálicasnoitaliano(aregra

Georgia Toscana, cf. Nespor & Vogel 1986: 42-44), em que há uma tendência a ser

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aplicado em constituintes pequenos.Outro trabalho que aponta a relevância do tamanho

fonológicoéTenani(2002),segundoquemotamanhodoenunciadoinfluencianaaplicação

da haplologia na hierarquia prosódica: enunciados maiores tendem à aplicação do

processo.

Combasenestasanálises,procuramosverificarseo tamanhodapalavrasujeitaà

queda interfere na aplicação do processo. A extensão da palavra foi contada a partir de

suassílabas,umavezqueoprocessoemestudoésilábico.Observeosexemplosabaixo:

(225) Oquequetáacontecen(DO),NÉ? (a)

(226) ...porquemamãetinhameDO,NÉ? (t)

O contexto segmental nos dois exemplos apresentados em (225) e (226) são o

mesmo/do+nɛ/,masahipóteseéqueaprobabilidadedequedadesílabaseraplicadaé

maiornoprimeiroexemplo,jáqueacontecendopossui5sílabasemedotemsomente2.

ValeressaltarqueoNúmerodeSílabasfoicontadodentrodapalavrafonológica:a

palavradesfavoravelmente,porexemplo,possui2acentos,ouseja,2palavrasfonológicas

([desfavoravel]ωe[mente]ω);então,contam-se2sílabas/meN.te/seestapalavraestiverna

primeiraposiçãodocontextodequeda;seocuparasegundaposição,contam-se5sílabas

/des.fa.vo.ra.vel/.

Apresentoabaixoosfatores:

1. 2sílabas2. 3sílabas3. 4sílabasoumais

Finalmente, outro fator importante é contar sílabas da primeira e não da segunda

palavra,jáqueestacontinuainteiradepoisdoprocesso.

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4.1.4.1.6. FrequênciadeUsodePalavras

Observe os exemplos hipotéticos a seguir, em que os contextos segmentais de

quedadesílabasãoiguais:77

(227) cenTRODOcaos>cen(TRO)DOcaos

(228) coenTRODOcaldo>coen(TRO)DOcaldo

Nosexemplos(227)e(228),ocontextosegmentaléomesmo,/tro+do/.Ahipótese

paraestavariáveléquehajaumamaiorpropensãoàquedadesílabaem(227),jáqueea

palavra sujeita ao apagamento centro émais frequente do que coentro, apresentada em

(228).

Num estudo sobre frequência, devemos primeiramente definir se é importante

analisar a frequência de type ou a frequência de token, definidas do seguinte modo em

Cristófaro&Oliveira(2004:657):

Frequênciade tipo(type frequency) refere-seà frequênciadeumpadrãoparticularno léxico (ou dicionário). Frequência de ocorrência (token frequency) refere-se àfrequência de uma determinada unidade, usualmente uma palavra, em umdeterminadocorpus(oralouescrito).

Decidimosporanalisararelaçãoentreaquedadesílabaeafrequênciade tokens

(emoposiçãoàde types)poiseste tipodeanálisenospermitecapturarmelhoro fatode

umapalavraserounãosujeitaàqueda,adependerdesua frequência.Porexemplo,na

seção 5.1.1, veremos que muitos dos itens lexicais em que houve apagamento

independentementedepontodeCecontínuoeramitensnodiminutivo,esuascontrapartes

emgraunormalnãosofriamesteapagamento.Seestivéssemosanalisandoostypes,esta

informação seria perdida, já que o diminutivo seria contado juntamente com os graus

normaleaumentativoparafinsdefrequência.

Comométododecontagemde frequênciadefinido (tokens), umproblemaquese

coloca é que o número de ocorrências no nosso corpus (5628) é muito pequeno se

77AgradeçoaoProfDrJairoNunespormeapontaraspossibilidadeseosexemplosaseguir.

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considerarmosa línguaportuguesacomoumtodo.Adecisãofoiutilizarasfrequênciasde

tokensdoASPA78,79porqueestetemummaiornúmerodetokensdoqueonosso,80oque

podeestarmaispróximoderepresentarasfrequênciasdoportuguêscomoumtodo.

Estabelecemos 3 fatores nesta variável: cada uma das 3 faixas representam

palavras de alta, média e baixa frequências de uso. O cálculo para se delimitar os três

fatores foi feito seguindo-se a metodologia empregada em Françozo et al. (2002) que,

analisando um corpus com aproximadamente 1 bilhão e 420 milhões de ocorrências de

palavras,estabeleceuasseguintesfaixasdefrequência:

1) Palavrasmuitofrequentes maisde100ocorrênciaspormilhão

2) Palavraspoucofrequentes entre5e50ocorrênciaspormilhão

3) Palavrasraras menosde1ocorrênciapormilhão

O corpus do projeto Avaliação Sonora do Português Atual (ASPA) tem 607.392

types,deumtotalde228.766.402tokens.Assim,nastrêsfaixasdefrequênciascalculadas

porFrançozoetal.(2002),osfatoresparaFrequênciadeUsodePalavrasencontradasno

nossocorpusforam:

1. alta maisde20.900ocorrênciasnocorpusASPA2. média de10.451a20.899ocorrênciasnocorpusASPA3. baixa menosde10.450ocorrênciasnocorpusASPA

78OprojetoASPAfoielaboradoporThaisCristófaro-Silva,emparceriacomLeonardoAlmeida(CPDEE-UFMG),Raquel Fontes-Martins (Poslin-FALE-UFMG), César Reis (Labfon-FALE-UFMG), Hani Camille Yehia (Cefala-DELT-UFMG),RafaelLaboissiere(MaxPlank Institute-Germany)eTonySardinha(PUCSP).Cf.sitedoprojetohttp://www.projetoaspa.org/.79AgradeçoàProfªDrªThaïsCristófaroSilvapornosforneceroacessoaobuscadordefrequênciadocorpusASPA.80Nasentrevistas,buscamosovernáculo(cf.nota52),masostemassão limitados:mesmoqueo informantefalasse livremente e desviasse dos temas principais, sem a intervenção do documentador – como diversasvezesocorreu–,háumadelimitaçãotemáticageralquetemcomoconsequênciadelimitartambémaspalavrasenunciadas.ComoexplicamGuy&Zilles(2007:115),umcorpusé“partedodiscursodepessoaseminteraçãoe que a interpretação de quaisquer resultados deveria levar isso em conta em lugar de abstraí-locompletamente.”Exemplificando,apalavramartelo,queécomum,nuncaapareceunocorpus;poroutrolado,onome computador foi uma palavra muito frequente na fala do informante K, já que este capivariano é umprogramador.

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Houve 90 tokens que não entraram nesta variável, totalizando 5538 dados

analisados.Asexclusõessãoneologismos(comoaborrescente),nomespróprios(Windows,

Zepe), derivados de nomes próprios (capivariana) e algumas palavras em inglês (diesel,

diet).Nãohátambémentradaspara2palavras(sãopaulino).Háfrequênciasparaamaioria

dosnomespróprios(comoCampinas,Roberto,Diego)eestesentraramnacontagem.

Ahipóteseparaestavariáveléqueatendênciadeaplicaçãodaquedadesílabaé

diretamente proporcional à produtividade da palavra sujeita ao apagamento, ou seja,

palavrasdealtafrequênciatendemàaplicaçãodoprocesso.

4.1.4.2. Osgruposdefatoressociais

Optamos por verificar o comportamento de 5 variáveis extralinguísticas, a fim de

tornar completa ametodologia laboviana empregada, como explicamMollica&Roncarati

(2001:48):

(...) a inclusão de parâmetros sociais, tal como proposto no modelo laboviano,propicia delineamento de perfil social do falante e de pressões a que estásubmetido.

As variáveis externas controladas (Escolaridade, Gênero, Faixa Etária e Cidade)

foramabaseparasedelimitaraamostra,deondeobtivemososdados(cf.subseção4.1.2

destecapítulo).

Battisti (2004) explica que utilizou o corpus VARSUL (24 informantes de Porto

Alegre),todoscomnívelsuperiordeescolaridade,paraanalisarahaplologia.Optamospor

verificar a relação entre a queda de sílaba e Escolaridade (ver 4.1.4.2.1), Gênero (em

4.1.4.2.2), Faixa Etária (cf. 4.1.4.2.3), Informantes (cf. subseção 4.1.4.2.4) e Cidade (ver

4.1.4.2.5),quesãodiscutidasnassubseçõesaseguir.

4.1.4.2.1. Escolaridade

Emseutrabalhosobrehaplologia,Battisti(2004)controlouaEscolaridadedemodo

autilizarentrevistasemquetodososinformantestivessemnívelsuperior.Assim,decidimos

porverificaraatuaçãodaEscolaridadenavariáveldependente,cujosfatoresforam:

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1. até8ªsérie2. superior

Estavariáveléimportantenamedidaemquepodeservirdebaseparademonstraro

valor(social)associadoàvariáveldependente,comoexplicamSchwindtetal(2007):

(...) o nível de escolarização correlaciona-se positivamente com a aderência àsformascaracterísticasdavariantepadrãodalíngua.

A partir da afirmação de Schwindt et al (2007), a expectativa é que haja uma

diferençanosdoisgrupos.Sehouver,oqueocorrercomofatordemaiorestudoéindício

dequeestaregrapodeserentendidacomopadrão.

4.1.4.2.2. Gênero

AssimcomoparaavariávelEscolaridade,avariávelGêneropodefornecerpistasde

avariáveldependenteserounãopadrão,comoexplicaLabov(1990):

PrincipleI. For stable sociolinguistic variables, men use a higher frequency ofnonstandardformsthanwomen.(p.210)PrincipleIa. Inchangefromabove,womenfavortheincomingprestigeformsmorethanmen.(p.213)PrincipleII. Inchangefrombelow,womenaremostoftentheinnovators.(p.215)

DeacordocomoPrincípioI,homensusamumafrequênciamaisaltadeformasnão

padrãodoqueasmulheresemvariáveissociolinguísticasestáveis.ApartirdoPrincípioIa,

temos que, se as mudanças partem da classe social mais alta, mulheres favorecem as

formas inovadoras(incoming)maisdoqueoshomens.ComrelaçãoaoPrincípio II,seas

mudanças são da classe social mais baixa, as mulheres são frequentemente as mais

inovadoras. Assim, em linhas gerais, para Labov (1990), homens tendem a usar mais a

variantenãopadrãodoqueasmulheres.

Novamente, não temos uma hipótese, mas observaremos o comportamento da

variável Gênero e a queda de sílaba. Da mesma forma que para Escolaridade, os

resultados destes fatores podem ser pistas de a queda de sílaba ser ou não uma regra

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107

padrão.

4.1.4.2.3. FaixaEtária

DecidimosporanalisarcomoaquedadesílabaserelacionacomFaixaEtária,com

osseguintesfatores:

1. de20a35anos2. maisde50anos81

Estas duas faixas foram definidas principalmente de acordo com a inserção do

falantenomercadodetrabalho:ofator1representaumapopulaçãoouqueestáentrando

nomercadode trabalhoou jáestádentrodele,eo fator2 representapessoasqueestão

saindodomercadodetrabalho.Poressarazão,pessoasde20a35anos“estariammais

atentosàsvariantesvalorizadassocialmente”(Pagotto2004),enquantoquefalantesde50

anosnãoestariamtãopreocupadoscomanormapadrão.

Não temosumahipóteseparaestavariável,maso intuitoéverificardeque forma

capivarianos e campineiros nas faixas de 20-35 anos e osmais velhos, commais de 50

anos, implementamaquedadesílaba.Emoutraspalavras,sehouverumadiferença, isto

pode ser pista de que mais estudos devem ser conduzidos para verificar se há uma

mudançaemcurso.

4.1.4.2.4. Informantes

Aorodarestavariável,oobjetivoéverificarsealgumindivíduopodeestarcomum

comportamento muito diferente dos outros e, com isso, afetar o resultado geral. São 48

fatoresparaosinformantes,identificadasaseguir:

81 Já que dividimos os informantes em dois grupos de faixas etárias discretas, como apresentado em 1 e 2acima (ficandoum intervaloentreas2variantes),o intuitonãoéverificarmudançae tempoaparente (Labov2001:142).

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Tabela7 –Os48informantesfator informante fator informante

1 a 25 m

2 b 26 n

3 c 27 o

4 d 28 s

5 e 29 t

6 f 30 u7 g 31 p

8 h 32 q

9 i 33 r

10 j 34 v

11 k 35 x

12 l 36 z

13 A 37 M

14 B 38 N

15 C 39 O

16 D 40 S

17 E 41 T

18 F 42 U

19 G 43 P

20 H 44 Q

21 I 45 R22 J 46 V

23 K 47 X

24 L 48 Z

Controlar os informantes nos permite observar se algum deles teve um

comportamentoquedesviedopadrãoesperado.Emoutraspalavras, falantesquetiveram

umataxadeaplicaçãopolarizada(umfavorecimentoouumdesfavorecimentoexcessivos,

queescapemàregrageral)foramconsideradoscomodesviantes,comumcomportamento

queprovémdeumapeculiaridadedoindivíduo.

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4.1.4.2.5. Cidade

Apesardeapresentarmosestavariávelporúltimo,oefeitodascidadesnaquedade

sílaba émuito importante, pois, como vimos no capítulo 3, os resultados de Leal (2006)

apontamqueocontextosegmentaldeaplicaçãodequedadesílabaemCapivariocorreem

mais contextos do que em outras cidades brasileiras (cf. o dialeto de Porto Alegre,

analisadoemBattisti2004;dialetodeSãoJosédoRioPretoemTenani2002,2003,2006;

comparação dos dialetos de São Paulo e São José do Rio Preto, por Pavezi 2006a;

“dialetos populares”, em Bisol 2000; e, finalmente, Alkmim & Gomes 1982, que não

especificamodialetocomquetrabalham).

Nopresentetrabalho,osfatoresparaCidadesão:

1. Capivari2. Campinas

A hipótese para a variável Cidade é que, se há uma maior possibilidade de

contextos de queda de sílaba em Capivari, é nesta cidade em que teremos uma maior

aplicaçãodequedadesílaba.

4.1.5. Sumáriodoenvelope

Nesta subseção, apresento o quadro resumido do envelope de variação com que

trabalhamos:

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Tabela8 –Sumáriodoenvelopedevariação variáveis símbolos fatores

C=V= CseVscompletamenteiguais

C=V# Csiguais,Vsdiferentes

C#vozV= Csdiferentesem[voz],VsiguaisC#vozV# Csdiferentesem[voz],Vsdiferentes

C#nasalV= Csdiferentesem[nasal],Vsiguais

C#nasalV# Csdiferentesem[nasal],Vsdiferentes

IgualdadedeSegmentos

C#distr. Csdiferentesem[ant.,distr.]

t+t 2coronais[-contínuo]

s+s 2coronais[+contínuo]

p+p 2labiais[-contínuo]

f+f 2labiais[+contínuo]

CavidadeOraldasConsoantes

k+k 2dorsais

t+t 2coronais[-contínuo]

s+s 2coronais[+contínuo]

p+p 2labiais[-contínuo]

f+f 2labiais[+contínuo]

k+k 2dorsais

CavidadeOraldasConsoantescom

[nasal]

n+n nasais(/m/,/n/)

ee coronal+coronal

oo dorso-labial+dorso-labial

aa dorsal+dorsalea coronal+dorsal

oa dorso-labial+dorsal

oe dorso-labial+coronal

eo coronal+dorso-labial

ae dorsal+coronal

CavidadeOraldasVogais

ao dorsal+dorso-labial

CV+CV duassílabassimples

CV+o sílabasimples+outrasestruturas

CCV+CCV duassílabascomataqueramificado

CCV+o sílabacomataqueramificado+outrasestruturas

CVC+CVC duassílabascomcodaramificada

CVC+o sílabacomcoda+outrasestruturas

linguísticas

EstruturaSilábica

o+o duassílabascom+outrasestruturas

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x••#• lapsode3sílabas

x••#c lapsode3sílabas(aúltimaéumclítico)

x••#y duassílabasfracasentreumacento1árioeumacento2ário

x••#x duasfracasentreduasfortes

x•#• lapsode2sílabas

x•#c lapsode2sílabas(aúltimaéumclítico)

x•#y umasílabafracaentreumacento1árioeumacento2ário

Métrica

x•#x umasílabafracaentreduassílabasfortes

entreIs entrefrasesentonacionais

entreΦs entrefrasesfonológicasProsódiaentreCs(Φr) entregruposclíticos,Φsreestr

2σs 2sílabas

3σs 3sílabasNúmerodeSílabas4σsoumais 4sílabasoumais

alta maisde20.900(noASPA)

média de10.451a20.899(noASPA)

FrequênciadeUsodePalavras

baixa menosde10.450(noASPA)

capi CapivariCidade

camp Campinas

fund ensinofundamentalEscolaridade

sup ensinosuperior

masc masculinoGênero

fem feminino

20-35 de20a35anos

sociais

Faixaetária50 maisde50anos

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CAPÍTULOV

5. ResultadosgeraisNeste capítulo, apresento, primeiramente, os resultados encontrados no estudo

pilotodestetrabalho(ver5.1),quefoiabaseparaacodificaçãodefinitiva.Emseguida(cf.

subseção 5.2), estão a distribuição geral dos dados e a descrição de como foram

computados; finalmente, apresento os resultados de queda de sílaba em que as duas

cidadesforamrodadasjuntas(ver5.3).

5.1. Oestudopiloto

Encontramosmuitos estudos sobre a haplologia, tanto para o português brasileiro

quanto para outras línguas (cf. referências citadas no capítulo 3), e estes indicam que o

contexto segmental da regra é aquele que tem consoantes iguais ou que diferem, no

máximo,emvozeamento.OstrabalhosdeLeal(2006,2007)(cf.subseção3.3)constataram

que há outras possibilidades de aplicação de queda de sílaba, em que as consoantes

podemdiferiralémdevozeamento.Noentanto,nãohá,atéondesabemos,umestudoque

verifiquequaissãoestaspossibilidadesutilizando-seferramentasquantitativas.

Assim,numaprimeiraaproximaçãoaosdados,decidimosporfazerumestudopiloto,

cujoobjetivo foiverificar todasaspossíveiscombinaçõessegmentaisdequedadesílaba,

mesmoaquelasquenão tenhamsido,poracaso,encontradasemLeal (2006,2007).Em

outras palavras, a fimde comprovar ondehápoucaounenhuma variação, buscamosno

pilototantoosdadoscategóricosquantoaquelescomaplicação/nãoaplicaçãodequedade

sílaba, quantificando as variações do processo de acordo com a Cavidade Oral das

Consoantes(pontodeCeovalorpara[contínuo]).

Nesta primeira análise, foram codificados dados de 3 entrevistas do corpus,

desprezando-se os 10 primeiros minutos da gravação até 1 hora, com os seguintes

informantes:82

82TodasasrodadasdopresentetrabalhoforamfeitascomoprogramaGoldVarbX,versão3.0b3(cf.Sankoff,

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Tabela9 –InformantesutilizadosnaprimeiraanáliseInformante Cidade Escolaridade Gênero Faixaetária

a Capivarib Capivarim Campinas

ensinofundamental feminino maisde50anos

Aescolhados3informantesfoifeitadeacordocomaordem emqueosinformantes

foramsendogravados,ouseja,amaisaleatóriapossível.Exemplificoabaixocomofoifeita

acoletadosdados.Porexemplo,dasentençaaseguir:

(229) Agenteficavaláemfrentedacasa (a)

foramcoletadososseguintestokens:

(230) 1otoken: genTEFIcava /te+fi/

(231) 2otoken: ficaVALÁ /va+la/

(232) 3otoken: fren(TE)DA /te+da/

No primeiro token apresentado em (230), o contexto consonantal /t + f/ é uma

coronal [-contínuo] seguidadeuma labial [+contínuo], ou seja tantoopontodeCquanto

[contínuo] são diferentes; em (231), ambas as consoantes /v + l/ são [+contínuo],mas o

pontodeCdifere(éumalabialseguidadeumacoronal);finalmente,nocontexto/t+d/em

(232),háigualdadetantonopontodeC(sãoduascoronais)comonotraço[-contínuo].De

acordocomosresultadosdeLeal(2006),aúnicapossibilidadedeaplicaçãodequedade

sílabaé(232),jáqueascoronais(mesmopontodeC)possuemotraço[-contínuo].Defato,

nãohouvequedadesílabaem(230)e(231),somenteem(232).Noentanto,nãohácomo

saber,atéaqui,seoscontextos(230)e(231)sãonãoaplicaçõesdequedadesílabaouse

são contextos em que nunca há apagamento – dados categóricos. E é neste ponto que

vemos a valia da primeira análise: retirar os contextos em que há bloqueio de queda de

sílaba,computando,numasegundaanálise,somenteoscasosdevariaçãodoprocesso.

Tagliamonte&Smith2005).

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Comumtotalde4024tokens,oresultadogeralapresentadoaseguircorrespondea

todososquatropossíveiscontextosdetraçosinternosàsconsoantes:83,84

Tabela10 –FrequênciasdasconsoantessegundoascavidadesoraisCavidadeOraldasConsoantes N Ntotal %apl

a)pontodeCigual,[contínuo]igual 121 909 13,3

b)pontodeCigual,[contínuo]diferente 27 881 3,1

c)pontodeCdiferente,[contínuo]igual 21 1209 1,7

d)pontodeCdiferente,[contínuo]diferente 5 1025 0,5

Total 174 4024 4,3

Podemos observar na Tabela 10 que os dados têm uma boa distribuição de

ocorrências (909dadosparao contextoa; 881parab; 1209paraa sequênciac; e 1025

para d); entretanto, a frequência de aplicação de queda de sílaba é muito baixa: houve

somente174/4024 tokens,correspondenteaapenas4,3%(aplicaçõesde121,27,21e5

tokens,paraoscontextosa,b,ced, respectivamente).85Estesnúmerossãoreveladores,

poisapontamanecessidadedesefazerestaprimeiraanálise:se,porumlado,buscamos

tokensdequedadesílabaqueporacasonãoapareceramnocorpusdeLeal (2006),por

outro,hádiversoscontextosqueapresentaramresultadoscategóricosdenãoaplicaçãoda

quedadesílabanestaprimeiraanálise–ouseja,dadosemquenuncahápossibilidadede

oprocessoocorrer ouqueaaplicaçãoémuito baixa, quase categórica: compontodeC

iguale[contínuo]diferente(contextob),afrequênciaé27/881,com3,1%deaplicaçãode

quedadesílaba;compontodeCdiferenteeummesmovalorpara[contínuo](contextoc),

houve 21/1209 ocorrências (1,7% de aplicação); e a frequência é aindamais baixa se o

pontodeCeovalorpara[contínuo]foremdiferentes(contextod),comN=5/1025e0,5%.

Observamostambémqueamaiorpartedeaplicaçãodoprocessoestáemcontextos

com consoantes que têm a cavidade oral igual: de todas as 174 aplicações, 121 são de

83Cf. AnexoII,noqualdescrevemososcontextosconsonantaisumaum.84Todososvaloresdefrequênciasepesosrelativosnastabelasegráficossereferemàaplicaçãodequedadesílaba,indicadapor“apl”nastabelas.85Afrequênciadeaplicaçãodequedadesílaba(4,3%)apresentadanaTabela10estáabaixodaporcentagemmínima (5%)paraa feitura deumaanálisemultivariada confiável.Noentanto, nãohouvenecessidadedestaanálise, e o objetivo do piloto foi atingido: pudemos verificar que as aplicações de queda de sílaba comconsoantesdiferentesempontodeCe/ou[contínuo]équasecategórica.

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consoantescomummesmopontodeC/valorpara[contínuo],oquecorrespondea69,5%

dasaplicações.Olhandodepertoparaos53dadosrestantes(30,5%de174aplicaçõesde

quedadesílabaou1,3%de4024dados),vemosquecompreendemcasosparticularesde

quedadesílaba,ouseja,sãopalavrasespecíficasque,mesmocomumcontextoemque

asconsoantestêmcavidadeoraldiferentes,podehaverapagamentodaprimeirasílabado

contextosegmental,comoapresentadonapróximasubseção.

5.1.1. Casosparticularesnoestudopiloto

Como vemos na Tabela 10 da subseção anterior, a maior parte de aplicação de

quedadesílabaécomconsoantesquetêmcavidadesoraisiguais.Noentanto,oprocesso

acontecetambémcomcavidadesoraisdiferentes;são53tokensde31 types,enumerados

aseguir:

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Tabela11 –Aplicaçõesdequedadesílabacomcavidadesoraisdasconsoantesdiferentespalavra classe frequênciadeuso cidade N Ntotal

1.falava baixa Campinas 2 172.ficava baixa Campinas 1 143.tava baixa Capivari 2 364.viajava

palavrasterminadasemmorfemadeimperfeito{-va}

baixa Campinas 1 1 subtotal 6 68

5.amiguinho baixa Campinas 1 16.amiguinhos baixa Campinas 1 17.blusinha baixa Campinas 2 28.cabelinho baixa Campinas 2 89.carrinho baixa Campinas 1 210.mochilinha baixa Campinas 1 511.pequenininha baixa Campinas 1 112.pertinho baixa Campinas 3 313.pouquinho baixa Campinas 1 514.quietinho baixa Campinas 1 115.rapidinho baixa Campinas 1 116.tapinha

palavrasterminadasem{-inh-}morfológico

baixa Campinas 1 1 subtotal 16 31

17.tinha alta Campinas 2 7018.banho

palavrasterminadasem/-ɲ-/nãomorfológico baixa Campinas 1 2 subtotal 3 72

19.casa alta Capivari 6 4320.causa alta Capivari 6 1521.coisas alta Capivari 1 1122.ela alta Capivari 1 24323.ele alta Capivari 1 16224.fala alta Campinas 1 2525.gente alta Capivari 2 10326.negócio alta Capivari 2 327.sabe alta Campinas 2 3428.tudo alta Campinas 2 5329.conhece baixa Campinas 1 330.embaixo baixa Campinas 2 531.gosta

outros

média Campinas 1 10 subtotal 28 710 total 53 881

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NaTabela11,estãoostypes,suasclassificações,asfrequênciasdeuso(combase

noASPA),ascidadesaquepertencemosinformantes,osnúmerosdeaplicaçõesdequeda

de sílaba e os números de tokens de quantas vezes a palavra apareceu no corpus do

presente trabalho. Lembramos que as variáveisEscolaridade,Gênero e FaixaEtária dos

informantessãoiguais:todasestudaramatéoensinofundamentalsérieetêmmaisde50

anos(cf.Tabela9).

Podemos observar que a maior parte de aplicações de queda de sílaba com

cavidades orais das consoantes diferentes são palavras terminadas em /-ɲ-/, tanto não

morfológico (3 tokens)quantomorfológicos (16casos);observamos tambémque6casos

sãocompalavrasterminadasemmorfemadeimperfeito{-va}.

Dos31 typesapresentadosnaprimeiracoluna,12sãopalavrasdealta frequência

deuso: tinha,casa,causa,coisas,ela,ele, fala,gente,negócio,sabe, tudoegosta (este

últimoéumtipodefrequênciamédianocorpusASPA,maséumapalavramuitocomum).

No entanto, mesmo nestes casos de palavras de alta frequência, a taxa de aplicação é

muitobaixa:aspalavrasemqueoprocessoocorreumaisforamcasa(6aplicaçõesem43

tokensqueapareceramnocorpusdoestudopiloto)ecausa (também6aplicaçõesem15

ocorrências da palavra). Levando-se em consideração que o total de dados foi 4024, o

númerodeaplicaçõesémuitobaixo.

Assim,devidoaobaixonúmerode frequênciados tokens (cf.Tabela11)oscasos

particularesdequedadesílabaserãodeixadosparatrabalhosfuturos.

*

Umavezquepudemosnoscertificardequeamaioriadoscasosdeaplicaçãode

quedade sílaba são contextosemqueaCavidadeOral dasConsoanteséamesma, foi

comessestiposdedadosquetrabalhamos(cf.coletadedadosnaseção4.1.2).

Napróximasubseção5.2,apresentocomofoifeitaacomputaçãodosdadosequais

foram as distribuições gerais obtidas e, em 5.3, estão os resultados das duas cidades

computadasnumamesmarodada.

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5.2. Distribuiçãogeralecomputaçãodosdados

Na rodada geral, trabalhamos com48 informantes, sendo 24 deCapivari e 24 de

Campinas. No estudo piloto, foram coletados 4924 dados de 3 informantes e, no corpus

definitivo,foram5628tokensde48informantes.Comparativamente,onúmerodedadosdo

corpus definitivo é menor. A razão desta diminuição de dados foi porque, com os 48

informantes,computamossomenteosdadosemqueháummesmopontodeCevalorpara

[contínuo] das consoantes nas produções dos informantes – assim, deixamos de lado os

contextos com ponto deC igual e [contínuo] diferente, ponto deC diferente e [contínuo]

igual e ponto deC diferente e [contínuo] diferentes (contextos b, c ed apresentados na

Tabela10).Aseguir,apresentamosasdistribuiçõesdestes5628tokens:

Tabela12 –ResultadosgeraisdeaplicaçãodequedadesílabaGERAL N %aplicação 1186 21,1nãoaplicação 4442 78,9

total 5628

ComoseobservanaTabela12,houve21,1%deaplicaçãodequedadesílaba.

Foram feitas 5 rodadas com as variáveis apresentadas em (233) abaixo (cf. o

envelopedevariaçãonasubseção4.1.3):

(233) Asvariáveislinguísticasesociaisdequedadesílaba

a) variáveislinguísticas

-docontextosegmental:1. IgualdadedeSegmentosnointeriordassílabas–sóestruturasCV;2. CavidadeOraldasConsoantes;3. CavidadeOraldasConsoantescomdistinçãodesegmentos[nasal];4. CavidadeOraldasVogais;

-outrasvariáveis(alémdecontextosegmental):

5. EstruturaSilábica;6. Métricadaspalavras;7. Prosódia;8. NúmerodeSílabasdapalavra1(aquelasujeitaaoapagamento);9. FrequênciadeUsodapalavra1(aquelasujeitaaoapagamento);

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119

b) variáveissociais:

10. Informantes;11. Escolaridade;12. Gênero;13. FaixaEtária;e14. Cidade

Naprimeirarodada,entraramtodasasvariáveis,ouseja,incluindo-seas4variáveis

do contexto segmental (apresentados em 1-4 acima), as outras variáveis linguísticas e

sociais (em5-14acima).Emseguida, foramrodadascadaumadasvariáveisdocontexto

segmentalemoposiçãoatodasosoutrasvariáveis(linguísticosesociais),umaauma.De

formaresumida,temosasseguintesrodadas:

(234) Resumodasrodadas

Rodada1: todos os grupos de contexto segmental (cf. 1-4), variáveis linguísticas

listadasde5-10evariáveissociais(ver11-15);

Rodada2: contexto segmental de Igualdade de Segmentos nas sílabas somente

comestruturasCV,variáveislinguísticas(5-10)esociais(11-15);

Rodada3: Cavidade Oral das Consoantes no contexto segmental, variáveis

linguísticas(5-10)esociais(11-15);

Rodada4: nocontextosegmental,foramrodadasasvariáveisdeCavidadeOraldas

Consoantes com distinção de segmentos [nasal], incluindo também as

variáveislinguísticos(5-10)esociais(11-15);e

Rodada5: Cavidade Oral das Vogais como contexto segmental, variáveis

linguísticas(5-10),sociais(11-15).

Como observamos em (234), foram 5 rodadas, diferenciadas a partir do contexto

segmental.Optamosporexaminarosdadosdocontextosegmentalmaisdeperto(incluindo

e excluindo variáveis) por ser este o modo como o processo fonológico é definido,

buscando identificar quais características do contexto segmental se sobrepõemàs outras

(porexemplo,responderàquestõescomo:asconsoantessãomaisimportantesdoqueas

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vogais?).Umavezqueosdadosforamrodadoscomasduascidadesjuntasetambémem

separado,houve3rodadasgrandes(ageral,CapivarieCampinas)e,multiplicando-seas5

rodadasapresentadasem(234),obtivemosumtotalde15rodadas.

Das 5 rodadas feitas (para cada um dos 3 conjuntos de dados), os resultados

obtidosforammuitosemelhantes,variandoalguns(pequenos)números.Masoimportanteé

queatendênciaaoprocessopermaneceuigualemtodasasrodadas:seumfatorfavoreceu

aquedadesílaba,estemesmofatorcontinuoua favorecernasoutrasrodadas;omesmo

comportamentofoiobservadoseumfatordesfavoreceuaquedadesílaba,ousefoineutro:

permaneceudesfavorecendo(ou ficouneutro)nasoutrasrodadas–asrodadas foramtão

parecidasque,diversasvezes,oprogramaselecionouasmesmasiteraçõesemdiferentes

rodadas. Para ilustrar os resultados de que todas as variáveis tiveram comportamentos

semelhantesemdiferentesrodadas,86apresentoospesosrelativosdasvariávelFrequência

deUsodasPalavras:

Tabela13 –SemelhançasnospesosrelativosdavariávelFrequênciadeUsodasPalavrasfrequênciadepalavra rodada1 rodada2 rodada3 rodada4 rodada5

alta 0,504 0,519 0,507 0,512 0,515

média 0,564 0,549 0,565 0,565 0,552

baixa 0,459 0,441 0,454 0,445 0,448Rodada1:input=0.136significância:0.004;Rodada2:input=0.148significância:0.001;Rodada3:input=0.155 significância: 0.000;Rodada4: input=0.142 significância: 0.001;Rodada5: input=0.147significância:0.001.

Como podemos observar na tabela acima, na rodada em que todas as

configuraçõesdecontextosegmentalforamcomputadas(rodada1),ospesosrelativospara

osfatoresalta,médiaebaixaforamp=0,504,p=0,564ep=0,459,respectivamente,ouseja,

palavras de alta frequência parecem ser neutras ao processo, enquanto que palavras de

frequênciamédia tendem (levemente) à queda de sílaba e palavras de baixa frequência

inibem, também levemente, o processo. Na rodada 2, em que a variável de contexto

segmental foi Igualdade de Segmentos, as tendências continuam iguais: alta frequência,

comp=0,519,sãoneutrascomrelaçãoap=0,549ep=0,441,depalavrasdemédia (com

86Cf.resumodas5rodadasem(234),nasubseção5.2.

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umatendênciaàquedadesílaba)ebaixafrequências(quedesfavorece),respectivamente.

Paraas rodadasemque foramcomputadososcontextossegmentaiscomCavidadeOral

dasConsoantes (rodada3),CavidadeOral dasConsoantes comdistinçãode segmentos

[nasal](rodada4),eCavidadeOraldasVogais(rodada5),todasasvariáveisdeFrequência

deUsodePalavrastiveramomesmocomportamento:palavrasdefrequênciamédiadeuso

favorecemaquedadesílaba;palavrascomfrequênciabaixa inibemoprocesso;eo fator

querepresentapalavrasdealtafrequênciadeusopareceserneutro.

Para uma melhor visualização dos resultados, observe abaixo o gráfico com os

pesosrelativosobtidosnas5rodadasparaavariávelFrequênciadeUsodasPalavras:

Gráfico5 –SemelhançasnospesosrelativosdavariávelFrequênciadeUsodasPalavras

Vemosnográficoacimaqueos resultadosparao fator de frequênciaalta sempre

apresentaramumpeso relativo indicativodeneutralidadecom relaçãoàquedadesílaba;

palavras de frequência média tendem (um pouco) ao processo; finalmente, palavras de

baixafrequênciainibem(levemente)oprocesso.

Ressaltoaindaqueavariável Informantes foi selecionadaem todasas5 rodadas,

enquantoquenenhumadasvariáveisdasoutrasvariáveisexternasEscolaridade,Gênero,

FaixaEtáriaeCidadefoiselecionado.

Assim,decidimosporapresentarosresultadosdasfrequênciasepesosrelativosda

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rodada1,emquetodasasvariáveisparaocontextosegmentalforamrodadas.

Apresento,napróximasubseção,osresultadosdarodadageral,emqueCapivarie

Campinasforamrodadasemconjunto.

5.3. Resultados:asduascidades

Como dito na seção 5.2, nesta rodada geral aqui apresentada, todas as variáveis

paraocontextosegmentalforamutilizadas,incluindoorestantedasvariáveislinguísticase

asvariáveissociais.87

Aúnicavariável(linguística)nãoselecionadanarodadageralfoiCavidadeOraldas

Consoantessemdistinguirotraço[nasal].Assim,aIgualdadedeSegmentosnassílabas,a

Cavidade Oral das Consoantes (fazendo-se distinção de segmentos [nasal]) e Cavidade

Oral das Vogais são variáveis que interferem no processo. Ainda, as outras variáveis

linguísticas (que não do contexto segmental) Estrutura Silábica, Métrica e Prosódia, o

NúmerodeSílabasdaprimeirapalavraesuaFrequênciadeUsotambémsãoimportantes

paraaaplicaçãodaquedadesílabanosdadosdeCapivarieCampinasjuntas.

Se,paraasvariáveislinguísticassónãofoiselecionadoumdeles,paraasvariáveis

sociais só foi selecionada uma delas: os informantes, do que podemos interpretar que

Escolaridade,Gênero,FaixaEtáriaeCidadenãointerferemnoprocesso.

A apresentação detalhada dos resultados da rodada geral está disposta em 2

subseçõesprincipaisaseguir,asvariáveislinguísticas(cf.5.3.1)eossociais(ver5.3.2).

5.3.1. Asvariáveislinguísticas

Apresento nesta subseção as seguintes variáveis linguísticas que podem interferir

na queda de sílaba: o contexto segmental (cf. 5.3.1.1); a Estrutura Silábica (5.3.1.2); a

Métrica (5.3.1.3); a Prosódia (5.3.1.4); o Número de Sílabas da palavra sujeita ao

87 Lembramos que, para a variável de igualdade de segmentos, foram excluídas 2243 combinações deestruturas silábicas diferentes de CV, totalizando 3385 tokens computados nesta variável. Com relação àfrequênciadeusodaspalavras,90tokensquenãoentraram,totalizando5538dados–cf.envelopedevariaçãonas subseções 4.1.4.1.1.1 (Igualdade de Segmentos) e 4.1.4.1.6 (Frequência deUso de Palavras). No queconcerneàcavidadeoraldasconsoantes,codificamosdeduasformas:primeiramente,verificamosospontosdeC e os valores para [contínuo] (ou seja, a cavidade oral) de todos os tokens. Num segundo momento,codificamostambémasconsoantesquetivessemotraço[nasal]–cf.subseções4.1.4.1.1.2(cavidadeoraldasconsoantes)e4.1.4.1.1.3(cavidadeoraldasconsoantescomdistinçãode[nasal]).

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apagamento (cf. 5.3.1.5); e a Frequência de Uso da primeira palavra do contexto (ver

5.3.1.6).

5.3.1.1. Contextosegmental

Comovimosnasubseção4.1.4.1.1,ocontextosegmentalémuitoimportanteparaa

queda de sílaba, pois é com ele que se define o processo (cf. em 3.2.1 a definição do

contexto segmental de queda de sílaba com base na literatura). Assim, optamos por

analisá-lo de diversas formas e aqui o apresentamos nas seguintes subseções: em

5.3.1.1.1,estãoosresultadosparaavariáveldeIgualdadedeSegmentosnassílabas;em

5.3.1.1.2, apresentamos as variáveis relacionadas às consoantes; e em 5.3.1.1.3

apresentamosavariáveldasvogais.

5.3.1.1.1. IgualdadedeSegmentosnasSílabas

As frequênciasepesosrelativosparaavariávelde IgualdadedeSegmentos88são

dadasaseguir:89,90

88 Vale lembrar que, nesta variável, entraram apenas sílabas simples, ou seja, 2243 dados com sílabasdiferentesdeCVforamexcluídos(cf.envelopeem4.1.3).89As frequênciasepesos relativossãodeaplicaçãodequedadesílaba,como indicaaabreviação “apl”nastabelas(cf.nota84).Apresentamostambém,depoisdonomedecadavariante,suarespectivaabreviaçãoentreparênteses (abreviaçõesque foramusadasnosgráficos.Porexemplo,ossímbolos (C=,V=) indicam“sílabascompletamenteiguais”Tabela14).Finalmente,“N”e“p.r.”indicam,respectivamente,“númerodeocorrências”e“pesorelativo”.90NaTabela14,aocompararamaiorporcentagemeomaiorpesorelativodosfatores,temosqueambossãoparaofatordesílabascompletamenteiguais(C=V=),com37,6%ep=0,576.Noentanto,omesmonãoocorrecom o segundo colocado: a segundamaior porcentagem é para o fatorC#vozV# (consoantes diferentes em[vozeamento]evogaisdiferentes),com30,6%eseupesorelativo(p=0,512)nãocorrespondeaosegundomaiorpesorelativo.Esteresultadopodedecorrerdeduascausas:(i)ouporcausadanãoortogonalidadedosdados(hámuitosdadosemumlocalemuitopoucosemoutro);(ii)ouháinteraçãoentregruposdefatores.Optamospor utilizar os resultados apresentados na Tabela 14, e casos como (i) e (ii) serão abordados futuramente.AgradeçoaoProfDrRonaldBelineMendespormeapontarestapossibilidade.

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Tabela14 –VariávelIgualdadedeSegmentos(asduascidades)IgualdadedeSegmentos N Ntotal %apl P.R.

σscompletamenteiguais(C=V=) 94 250 37,6 0,576

Csiguais,Vsdiferentes(C=V#) 258 888 29,1 0,555

Csdiferentesem[vozeamento],Vsiguais(C#vozV=) 96 323 29,7 0,477Csdiferentesem[vozeamento],Vsdiferentes(C#vozV#) 232 758 30,6 0,512

Csdiferentesem[nasal],Vsiguais(C#nasalV=) 20 154 13 0,438

Csdiferentesem[nasal],Vsdiferentes(C#nasalV#) 81 959 8,4 0,462

Csdiferentesem[anterior,distr.],Vsnãoimportam(C#distr.) 2 53 3,8 0,148

total 783 3385 23,1 input=0.136;significância:0.004

Os fatores que mais favorecem a queda de sílaba são Sílabas Completamente

Iguais,comp=0,576,eConsoantesIguais,VogaisDiferentes,comp=0,555,exemplificadas

aseguir:91

(235) C=V= apren(DE)DEsenho (M)

(236) C=V# acaba(DO)DEficarnoivo (O)

Em (235) e (236), as consoantes são idênticas /d + d/ e as vogais diferem no

segundo exemplo (contexto vocálico /o + e/). Em ambos os casos, há um favorecimento

paraaquedadesílaba,masseasvogais foremdiferentes, (cf. (236)),o favorecimentoé

(levemente)menor.

Seasconsoantesdiferirememvozeamento,ospesos relativosestãopróximosdo

neutro, tanto se as vogais forem iguais (p=0,477) ou diferentes (p=0,512), como

exemplificadoaseguir:

(237) C#vozV= monTEDEárvore (B)

(238) C#vozV# aberTODEsexta (l)

91Nosexemplosdecadaumadasvariantes,demospreferênciaaoambientedequedadesílaba,sendoqueasaplicações e não aplicações foram tomadas ao acaso (lembramos que os casos de aplicação estão entreparênteses).Paraexemplosdas variantesque levamemcontaaplicaçãoenãoaplicaçãodoprocesso,cf. oenvelopedevariaçãoem4.1.4.

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Em (237) e (238), a primeira consoante do contexto segmental é desvozeada /t/,

seguida de uma /d/ vozeada; aqui também, apesar da diferençaentre as consoantes em

(237) /e+e/ e em (238) /o+e/, o comportamento dos dois fatores é semelhante (os pesos

relativosestãopróximosaopontoneutro).

Apartirdestesresultados,verificamosqueovozeamentopodeinterferirnaquedade

sílaba,diferentedo resultadoda literatura (ver subseção 3.2.1): se compararmos,porum

lado, os pesos relativos para consoantes iguais, com p=0,576 (para vogais iguais) e

p=0,555(paravogaisdiferentes)e,poroutrolado,consoantesquediferememvozeamento,

comp=0,477(paravogaisiguais)ep=0,512(paravogaisdiferentes),podemosnotarquese

as consoantes foremdiferentesem [vozeamento], háumaneutralidadedoprocesso–ou

seja,senãohouverumadiferençaentreasconsoantes,oprocessoéfavorecidoenquanto

que,seestessegmentosforemdiferentesem[vozeamento],háumaneutralidade.

Ainda de acordo com estes resultados, as vogais parecem não interferir no

processo, já que, sendo iguais ou diferentes, as tendências são parecidas: se as

consoantesforemiguais,ospesosrelativossãop=0,576paravogaisiguaisep=0,555para

vogais diferentes; para consoantes diferentes em [vozeamento], os pesos relativos são

p=0,477 e p=0,512 (vogais iguais e diferentes, respectivamente). Estes resultados de

neutralidade das vogais podem ser corroborados com consoantes diferentes no traço

[nasal]:mesmocomadiferençanasvogais,estesdoiscontextosdesfavorecemaquedade

sílaba–vogaisiguais(p=0,438)ediferentes(p=0,462).Apresentoabaixoexemplosdestes

fatores:

(239) C#nasalV= viDANAcidade (v)

(240) C#nasalV# esperanDONAporta (H)

Paraofatoremqueasconsoantesdiferemem[anterior,distribuído],92nãopodemos

tirar conclusões, já que a frequência foi muito baixa, com N=2/53. Observe o exemplo

92 Lembramosquenãohádistinçãoentre vogaisnesta varianteem razãodopouconúmerode tokens destavariável: as ocorrências de consoantes que diferem em [anterior, distribuído] com vogais iguais e diferentesforamN=2/28eN=0/27,respectivamente.

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abaixo, em que a primeira consoante é [+anterior, -distribuído] e a segunda é [-anterior,

+distribuído]:93

(241) C#ant.distr. quaSECHEgando (N)

Apresentoaseguirográfico94dospesosrelativosobtidosnestavariável:

Gráfico6 –VariávelIgualdadedeSegmentos(asduascidades)

De forma resumida, observamos que consoantes iguais favorecem (levemente) a

queda de sílaba; contextos emque as consoantes diferemem [vozeamento] são inertes;

consoantesdiferentesem [nasal]desfavorecemaquedadesílaba.Alémdisso,asvogais

parecem não interferir no processo, se se levar em conta a característica de

93Demodogeral,oobjetivonestateseédelimitarascombinaçõesdossegmentosnaaplicaçãodequedadesílaba. Dessa forma, controlamos os traços de cavidade oral (ponto de C e [contínuo]) e a nasalidade. Noentanto,não foipossívelanalisardamesma formaos traços [anterior,distribuído]porquea frequênciadestessegmentos foi baixa (2/53 ocorrências de aplicação). Outra delimitação imposta pelas frequências dossegmentosfoidistinguircasosemquehásonorantesorais.Paraoportuguês,estestiposdesegmentossão/r/,/ʎ/ e /l/ e, especificamente para este estudo, não há possibilidade de contextos com as duas primeirasconsoantes, jáquenãohápalavrasemportuguêsqueseiniciempor/r/ou/ʎ/–ouseja,nãohácontextosdequedadesílabaquesejam/r+ r/ou /ʎ+ʎ/.Paracontextos /l+ l/ (quesãopossíveiscandidatosàquedadesílaba),asfrequênciasencontradasforammuitobaixas–10/85deaplicação.Estaspossibilidadesserão,assim,trabalhadasemoutrosestudos.94Nosgráficos,osnúmerosentreparêntesesindicamasocorrências(Ntotal)davariante.Porexemplo,C=V=(250)noGráfico6significaqueavariantedeconsoantesevogaisiguaisteve250ocorrênciasnocorpus).

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igualdade/diferença entre a primeira e a segunda vogais. Finalmente, não há conclusões

para consoantes diferentes em [anterior, distribuído], pois o número de tokens para este

fatorfoibaixo.

5.3.1.1.2. CavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode[nasal]

Dasduasconfiguraçõesparaasconsoantes(cf.envelope4.1.4.1.1.2e4.1.4.1.1.3),

omaisadequadoésepararsegmentos [nasal], jáquefoiestaavariávelselecionadapelo

programa em todas as rodadas. Apresentado a seguir os pesos relativos para Cavidade

OraldasConsoantescomDistinçãode[nasal]:

Tabela15 –VariávelCavidadeOraldasConsoantescomDistinçãodoTraço[nasal](asduascidades)CavidadeOraldasConsoantescom[nasal] N Ntotal %apl P.R.

2consoantescoronal[-contínuo](t+t) 826 2563 32,2 0,642

2consoantescoronal[+contínuo](s+s) 75 385 19,5 0,643

2consoanteslabial[-contínuo](p+p) 18 88 20,5 0,582

2consoanteslabial[+contínuo](f+f) 14 119 11,8 0,517

2consoantesdorsal(k+k) 45 218 20,6 0,451

nasais(n+n) 208 2255 9,2 0,319

total 1186 5628 21,1 input=0.136;significância:0.004

Seoscontextosconsonantaisforemduascoronaisorais,háumfavorecimento,tanto

para consoantes [-contínuo] (com p=0,642) quanto [+contínuo] (p=0,643); também

favorecem as labiais [-contínuo] (p=0,582). Outros segmentos inibem a queda de sílaba

(duas dorsais, comp=0,451; e duas labiais [+contínuo], comp=0,517), e o contexto com

nasaiséoquemaisdesfavorece,comp=0,319.

Destes resultados, podemos concluir que os valores para [±contínuo] não são

suficientesparadeterminaraquedadesílaba:se,porumlado,estetraçonãointerferepara

coronaisorais(cf.contextosrepresentadosport+tes+snaTabela15),jáqueemambosos

casosháfavorecimento;poroutro,sehouverumaconsoantenasal[-contínuo],háomaior

desfavorecimentodoscontextosconsonantais.Aindacomrelaçãoa[contínuo],observamos

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que háumadiferençatambémparaaslabiais:seestaconsoantefor[-contínuo],oprocesso

tende ao favorecimento, com p=0,582; se o segmento for [+contínuo] (com p=0,517), o

comportamentopassaaserinerte.Contudo,notamosqueonúmerodetokensparalabiais

[-contínuo]foibaixo(88tokens);assim,cabeaquiumestudo(futuro)comummaiornúmero

deocorrênciasparaaslabiais,afimdenoscertificarseocomportamentodecontextoscom

labiais[-contínuo]édefatodiferentedesequênciascomlabiais[+contínuo].Finalmente,as

dorsais [-contínuo] (p=0,451) desfavorecem o processo. Apresento a seguir os exemplos

retiradosdocorpusparatodososfatoresdestavariável:

(242) t+t laDODOconselhotutelar (B)

(243) s+s faÇOSÓtaichi (p)

(244) p+p tem(PO)PRAaposentadoria (k)

(245) f+f jogaVAVÔlei (f)

(246) k+k cin(CO)QUIlômetros (u)

(247) n+n reú(NE)NAquartafeira (x)

Em (242) há duas consoantes coronais [-contínuo]; o exemplo (243) representa

contextos também com duas coronais que desta vez são [+contínuo]; em (244) há duas

labiais[-contínuo];em(245)hánovamenteduaslabiaismasquesão[+contínuo];em(246),

háumadorsalseguidadeoutradorsal; finalmente,em (247)ocontextoconsonantalestá

preenchidoporduasnasais.95

Abaixo, está o gráfico que representa os resultados da Cavidade Oral das

ConsoantescomDistinçãodeSegmentos[nasal]:

95Lembramosque,navariantedasnasaisestãotantosequências[nasal+nasal]comotambém[oral+nasal]e[nasal+oral]–cf.subseção4.1.4.1.1.3doenvelopedevariação.

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Gráfico7 –VariávelCavidadeOraldasConsoantescomDistinçãodoTraço[nasal](asduascidades)

Para a variável Cavidade Oral das Consoantes, a configuração mais relevante é

levar em conta o traço de nasalidade, já que foi esta a selecionada pelo programa;

Cavidade Oral das Consoantes (sem distinguir a nasalidade) nunca foi selecionada em

nenhuma das rodadas (cf. configuração das rodadas em (234), na subseção 5.2). As

coronaisorais[+contínuo]e[-contínuo]sãoasconsoantesquemaisfavorecemaquedade

sílaba. As nasais (que são [-contínuo] na cavidade oral) desfavorecem o processo.

Finalmente,notamosquecontextoscomdorsais(tambémtodas[-contínuo])desfavorecem

oprocesso.Apartirdestesresultados,notamosqueotraço[contínuo]nãoésuficientepara

o estabelecimento da regra de queda de sílaba: [-contínuo] pode favorecer (ver contexto

comcoronais)oudesfavorecer(sequênciascomdorsais);[+contínuo]podefavorecer(com

coronais)ouserneutro(comlabiais).

Finalmente, com relaçãoàs labiais, aquelasque têmo traço [-contínuo] provocam

umfavorecimentodaquedadesílaba,enquantoquelabiais[+contínuo]inibemoprocesso;

contudo,vimosqueafrequênciadeambososfatoresparalabiaisfoibaixa,eosresultados

paraestesfatoresforaminconclusivos.

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5.3.1.1.3. CavidadeOraldasVogais

Comovimosem5.3.1.1.1,selevarmosemcontaumagradaçãodesegmentosque

vãodeiguais,passandoporsemelhantes,atécompletamentediferentes,oquepareceser

decisivoparaaimplementaçãodaquedadesílabaéacombinaçãodasconsoantes,enão

adasvogais–asintaxedestessegmentoséinerte.Noentanto,estavariáveldeCavidade

Oral das Vogais foi selecionada. Apresento a seguir as frequências e pesos relativos

obtidos:96

Tabela16 –VariávelCavidadeOraldasVogais(asduascidades)CavidadeOraldasVogais N Ntotal %apl P.R.

coronal+coronal(ee) 198 819 24,2 0,557

dorso-labial+dorso-labial(oo) 121 460 26,3 0,588

dorsal+dorsal(aa) 60 497 12,1 0,356coronal+dorsal(ea) 113 440 25,7 0,597

dorso-labial+dorsal(oa) 203 741 27,4 0,632

dorso-labial+coronal(oe) 340 1384 24,6 0,556

coronal+dorso-labial(eo) 42 216 19,4 0,417

dorsal+coronal(ae) 81 693 11,7 0,343

dorsal+dorso-labial(ao) 28 378 7,4 0,246

total 1186 5628 21,1 input=0.136;significância:0.004

A igualdadedaprimeiraedasegundavogalparecenão importarparaaquedade

sílaba, de acordo com os resultados desta variável: se houver duas vogais coronais

(p=0,557) ou 2 dorso-labiais (comp=0,588) há um favorecimento; em contrapartida, se o

houver duas vogais dorsais, o processo é desfavorecido, com p=0,356. Estes resultados

estãorepresentadosnosexemplosaseguir:

96 Levantamos anteriormente algumas possibilidades de estudo de como amorfologia poderia influenciar naquedadesílaba (cf.notas44,58e72).Paraestegrupode fatoresCavidadeOraldasVogais, tambémseriainteressanteverificarse/comoo tipode informaçãogramaticalestaria influenciandoaquedadesílaba.Assim,procuraríamosresponderaperguntascomo:ummorfemazerotemumatendênciamaioraoapagamentodoquemorfemasmarcados?Exemplificando, temos:daspalavrasmantO (morfemamasculino{-o}),mentA (morfemafeminino{-a})oumentE(morfema{-∅}),qualseriaoefeitodosmorfemasnaquedadesílaba?AgradeçoàProfªDrªLucianiTenanipormeapontarestapossibilidade.

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131

(248) ee cida(DE)DEPorecatu (u)

(249) oo acontecen(DO)NOcentrodacidade (U)

(250) aa juniNANAigreja (q)

Os contextos em (248)-(250) têm vogais iguais, mas há favorecimento nas duas

primeiras,enquantoque,em(250),oprocessoéinibido.

Odesfavorecimentocomvogaisdorsaispodesercorroboradoseobservarmosestes

tipos de segmentos na primeira posição do contexto:mesmo que seguida de uma vogal

coronal(p=0,343,cf.exemplo(251))oudeumadorso-labial(p=0,246,verexemplo(252)),

háumdesfavorecimentodaquedadesílaba:

(251) ae falTADEatenção (G)

(252) ao mediDADOpossível (r)

Por outro lado, se a vogal dorsal estiver na segunda sílaba, e a primeira for uma

coronal (p=0,597) ou uma dorso-labial (p=0,632), a queda de sílaba é favorecida. O

processo também é favorecido com uma dorso-labial seguida de uma coronal (p=0,556).

Exemplificoaseguirestestrêsfatoresdecontextovocálico:

(253) ea tes(TE)NAponte (M)

(254) oa advogaDODAmãe (h)

(255) oe calça(DO)DEsolabemgrossa (t)

Estes resultados podem indicar que o importante é ponto deC da vogal sujeita à

queda(istoé,daprimeirasílaba)enãoaigualdadedasduasvogais–navariávelIgualdade

deSegmentos(cf.5.3.1.1.1)osresultadosapontamque,defato,asvogaisnãointerferem

noprocessoseconsiderarmosestessegmentosdeacordocomaigualdade/diferençaentre

eles. Emoutras palavras, contextos emque há uma coronal na primeira posição (cf. ee,

comp=0,557eea,comp=0,597)ouumadorso-labial (cf.oe,p=0,556;oap=0,632;eoo,

p=0,588),aquedadesílabaéfavorecida.Aexceçãoaestepadrãopareceserseavogal

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coronalestiverseguidadeumadorso-labial,comp=0,417,porexemplo:

(256) eo cida(DE)DOporto (v)

Olhandoestesdadosmaisdeperto,notamosqueonúmerodetokensdoscontextos

eofoiomenordestavariável,comN=42/216,etrabalhosdevemserfeitosparaverificaro

comportamentodestefator.

Apresentoospesosrelativosobtidosnográficoabaixo:

Gráfico8 –VariávelCavidadeOraldasVogais(asduascidades)

A partir dos resultados desta variável, pudemos verificar que não é apenas a

igualdadedasvogaisqueimportaparaaquedadesílaba(cf.subseção5.3.1.1.1),massim

qualéopontodeCdavogalquepreencheasposições:seocontextotiverduascoronais

ou duas dorso-labiais, o processo é favorecido; por outro lado, se as vogais forem duas

dorsais,háumdesfavorecimento.

Se a primeira posição for preenchida por uma dorsal (sem importar a vogal

seguinte), há um desfavorecimento; se a primeira vogal for uma coronal ou uma dorso-

labial,oprocessoé favorecido–comexceçãodocontextocoronal+dorsal,sobreoqual

nadaafirmamosporquehouvepoucosdados.

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5.3.1.2. Estruturadassílabas

Observeasfrequênciasepesosrelativosapresentadosnatabelaaseguir,emque

relacionamosoprocessofonológicoeasestruturasdassílabasdocontextosegmental:

Tabela17 –VariávelEstruturaSilábica(asduascidades)EstruturaSilábica N Ntotal %apl P.R.

duassílabassimples(CV+CV) 783 3385 23,1 0,508

duassílabascomcodaramificada(CVC+CVC) 8 73 11 0,445

duassílabascomataqueramificado(CCV+CCV) 3 8 37,5 0,726

sílabasimplesseguidadeoutrotipodeestrutura(CV+o) 251 1315 19,1 0,562

sílabacomcodaseguidadeoutrotipodeestrutura(CVC+o) 38 424 9 0,311

sílabacomataqueramificado+outrotipodeestrutura(CCV+o) 82 310 26,5 0,517

duassílabascomoutrostiposdeestruturas(excetoasacima)(o+o) 21 113 18,6 0,279

total 1186 5628 21,1 input=0.136;significância:0.004

SeambasassílabastiveremumaestruturaCV,háumaneutralidade(p=0,508);há

um (leve) favorecimento para os contextos de sílabas CV seguidas de outros tipos de

estruturas(p=0,562)etambémparasílabasCCVseguidasdeoutrasestruturas(p=0,517).

Exemplificandocontextosdequedadesílabacomsílabassimples(ver(257)e(258))ecom

sílabascomataqueramificado(naprimeiraposiçãodocontexto,cf.(259)),temos:

(257) CV+CV dolaDODOnotredame (V)

(258) CV+o arquite(TO)TAMbémpode (d)

(259) CCV+o tea(TRO)DEarena (s)

Háduassílabassimplesem(257),contextoemqueoprocessoéneutro;em(258)e

(259),háumlevefavorecimentodaquedadesílaba,emsequênciasdesílabassimples+

outros tipos de estruturas e de sílabas com ataque ramificado na primeira posição,

respectivamente.

Sílabas com coda (CVC) seguidas de outros tipos de sílabas desfavorecem o

processo,comp=0,311,damesma formaquesequênciasdesílabascomoutros tiposde

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estruturas+outrostiposdeestruturas,comp=0,279,comoexemplificadoabaixo:

(260) CVC+o alguMASPEssoas (z)

(261) o+o casadosouTROS,TRAbalhandonacasadosoutros (B)

Em(260),háumasílabacomcodaseguidadeumasílabasimples,ouseja,éum

contextodeCVC+outrostiposdeestruturas;em(261),háumasílabaCCVCseguidade

umaCCV;nestesdoiscasos,háumainibiçãodoprocesso.

Háumgrandefavorecimentodeaplicaçãodoprocessoseambasassílabasforem

CCV, com p=0,726; no entanto, não podemos afirmar que este tipo de contexto tende à

queda,umavezqueafrequênciadestefatorémuitobaixa:houve3aplicaçõesemapenas

8 tokens. Damesma forma, não há nenhuma conclusão dos contextos em que há duas

sílabascomcoda (CVC+CVC), jáqueasocorrências também forambaixas:apenas8/73

tokens.

Ográficoabaixoresumeosresultadosobtidos:

Gráfico9 –VariávelEstruturaSilábica(asduascidades)

Nesta variável, vimos que sílabas CV+CV não interferem no processo; para

contextosCV+o,háum leve favorecimento.ComrelaçãoàssílabasCCV,nadapodemos

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concluirsobrecontextosCCV+CCV, jáquea frequência foibaixaparaeste fator (N=3/8);

mas verificamos que também são neutros os contextos com CCV na primeira posição,

seguidas de quaisquer outros tipos de estruturas. Se a primeira posição for ocupada por

sílabas com coda, o processo é desfavorecido, bem como com contextos em que as

estruturassãooutrostiposdeestruturas+outrostiposdeestruturas.

5.3.1.3. Métrica

Asfrequênciasepesosrelativosparaassequênciasacentuaissãodadosaseguir:

Tabela18 –VariávelMétrica(asduascidades)Métrica N Ntotal %apl P.R.

lapsode3sílabas(x••#•) 9 26 34,6 0,684

lapsode3sílabas(aúltimaéumclítico)(x••#c) 31 93 33,3 0,747

duasfracasentreumacento1árioeumacento2ário(x••#y) 1 6 16,7 0,894duasfracasentreduasfortes(x••#x) 10 73 13,7 0,485

lapsode2sílabas(x•#•) 169 819 20,6 0,508

lapsode2sílabas(aúltimaéumclítico)(x•#c) 624 2036 30,6 0,638

umafracaentreumacento1árioeumacento2ário(x•#y) 56 218 25,7 0,629

umafracaentreduasfortes(x•#x) 286 2357 12,1 0,354

total 1186 5628 21,1 input=0.136;significância:0.004

Com relação aos 4 primeiros contextos métricos apresentados na Tabela 18, as

ocorrências forambaixas,esãosequênciasemqueaprimeirapalavraéumdátilo,quais

sejam:umlapsode3sílabas[x••#•](comN=9/26);umlapsode3sílabas,sendoquea

últimaéumclítico[x••#c](N=31/93);duasfracasentreumacentoprimárioeumacento

secundário[x••#y](N=1/6);eduasfracasentreduasfortes[x••#x](N=10/73).Dessa

forma,nãopodemostirarconclusõesdestes4fatores,jáqueonúmerodetokensfoibaixo.

Aseguir,apresentoosexemplosdocorpusparaestesquatrofatores:

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136

(262) [x••#•] AtelefoniCAGArantecontratualmente (K)

te le fo ni CA ga ran tey • x • • • x •

(263) [x••#c] Lógi(CO)QUEcêconsegue... (L)

ló gi (CO) QUEx • (•) •

(264) [x••#y] ...daprevidên(CIA)SOcial,entendeu? (V)

pre vi dên (CIA) SO ci aly • x (•) y • x

(265) [x••#x] ...nãotinhageladeiraelétri(CA)COmotemhoje. (K)

e lé tri CA CO mo• x • (•) x •

Para os outros 4 contextos, há um favorecimento da queda de sílaba com uma

sequência [x • # c], com p=0,638; numa sequênciamétrica em que há uma sílaba fraca

entre uma forte e outra com acento secundário [x • # y], também há uma tendência ao

processo,comp=0,629;asequênciadeumasílabaforteseguidadeduasfracas[x•#•]é

inerte, com p=0,508; e na sequência em que há uma sílaba desacentuada entre dois

acentosfortes[x•#x],oprocessoédesfavorecido,comp=0,354.

Exemplificandocomosdadosdocorpus, temosasseguintesgradesmétricaspara

os4contextosemqueaprimeirapalavraéumasílabaforteseguidadeumafraca:

(266) [x•#•] cidaDEDEsenvolvida (Q)

ci da DE DE sen vol vi da• x • • y • x •

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(267) [x•#c] esta(DO)DOparaná (o)

es ta (DO) DO• x (•) •

(268) [x•#y] começan(DO)DEvagarzinho (Z)

co me çan (DO) DE va gar zi nhoy • x (•) • x • x •

(269) [x•#x] nascimenTODEle (v)

na sci men TO DE ley • x • x •

Em(266),háumcontextodeumasílabaforteseguidadeduasfracas[x•#•],um

exemplo de neutralidade à queda de sílaba. Em contextosmétricos como [ x • # c ] (cf.

(267))e[x•#y](ver(268)),háfavorecimentodoprocesso,eemambososexemplos,a

queda de sílaba foi aplicada. Finalmente, sequências [ x • # x ] em que a aplicação da

queda de sílaba pode resultar em choque de acento, o processo é inibido, como

exemplificadoem(269).

NoGráfico10,apresentoospesosrelativosparaavariávelMétrica:

Gráfico10 –VariávelMétrica(asduascidades)

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Resumindo os resultados para a variável Métrica, pudemos observar que

sequências comumasílaba fracaentre umasílaba forte e umclítico [x • # c] favorecea

implementação do processo, bem como contextos [x • # y], em que a sequência é uma

sílaba com acento primário seguida de uma fraca e outra com acento secundário.

Sequências comumasílaba forte seguidadeduas fracas [x • # •] sãoneutras, enquanto

que contextos [x • # x] desfavorecem – isto é, são sequências em que a aplicação do

processoresultaemchoqueacentual.Nosquatrocontextosemqueaprimeirasílabaéum

dátilo([x••#•],[x••#c],[x••#y]e[x••#x]),nãotemosconclusões,jáqueforam

poucososdadosnestesdoisfatores.

5.3.1.4. Prosódia

Os resultadosdequedadesílaba relacionadosaosconstituintesprosódicos foram

osseguintes:

Tabela19 –VariávelProsódia(asduascidades)Prosódia N Ntotal %apl P.R.

entrefrasesentonacionais(entreIs) 202 1694 11,9 0,451

entrefrasesfonológicas(entreΦs) 358 1313 27,3 0,558

entregruposclíticos(dentrodeΦreestr.)(entreCs) 626 2621 23,9 0,503

total 1186 5628 21,1 input=0.136;significância:0.004

Comopodemosobservarna tabelaacima,aquedadesílabanãoébloqueadaem

nenhumnível,oquecorroboraaliteratura(Tenani2002,Battisti2004ePavezi2006a,para

ahaplologia,eLeal2006paraquedadesílaba).Notamostambémqueospesosrelativos

nãosãopolarizados,oquepodeindicarquenãoháumagrandediferençanastendências

dos níveis prosódicos relacionados à queda de sílaba. Há um leve favorecimento do

processo na fronteira de frases fonológicas, com p=0,558. Entre grupos clíticos, que é

tambémdentrodefrasefonológicareestruturada,nãoháefeitonoprocesso(p=0,503)(com

a reestruturação, as palavras do contexto segmental ficam entre dois grupos clíticos, cf.

Nespor & Vogel 1986 e subseção 2.2.4). Com relação à sentença, observamos que a

aplicaçãodequedadesílabaé levementedesfavorecidaentre frasesentonacionais, com

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p=0,451.Exemplificando,temos:

(270) EntreCs [aqueLA]C[LEI]C (V)

(271) DentrodeΦsr [[[aciden(TE)]C]Φ[[DEcaminhão]C]Φ]Φreest (C)

(272) EntreΦs [acontecen(DO)]Φ[NOcentrodacidade]Φ (U)

(273) EntreIs [absurDO,]I[NÉ]I (l)

Em(270)e(271),afronteiraentreosconstituinteséamesma:doisgruposclíticos.

Adiferençaéque,em(271),[acidente]Φe[decaminhão]Φsãoduasfrasesfonológicasque

podemserreestruturadas,jáqueosegundoconstituinte[decaminhão]nãoéramificadoeé

complementodaprimeirafrasefonológica[acidente].Osdoisexemplosfazempartedeum

mesmo fator, e o peso relativo indica que há uma neutralidade ao processo.O exemplo

(272) representa um contexto de queda de sílaba em que a fronteira é duas frases

fonológicas que não podem ser reestruturadas – apesar de [no centro da cidade] ser

complementode [acontecendo],éuma frase fonológica ramificada (ouseja, tem2grupos

clíticos: [nocentro] Ce [dacidade]C),oque impossibilitaa reestruturação;nestecaso,há

um leve favorecimento do processo. Finalmente, o contexto segmental no exemplo (273)

estáentreduassentenças(frasesentonacionais),emqueháumlevedesfavorecimentodo

processo.

Comovimosnasubseção3.2.4,Tenani(2003)(paraahaplologia)afirmaquequanto

mais altos os níveis prosódicos, a tendência ao apagamento vai diminuindo.No entanto,

nosdadosdonossocorpus, isto seria verdadesehouvessemaisaplicaçãodequedade

sílabaentregruposclíticosdoqueentrefrasesfonológicas.Assim,paraahierarquiacomo

um todo, os resultados aqui apresentados vão de encontro aos de Tenani (2003), e

corroboramBattisti(2004)ePavezi(2006a).

Aseguir,apresentoográficodepesosrelativosparavariávelProsódia:

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Gráfico11 –VariávelProsódia(asduascidades)

Como podemos notar no Gráfico 11, os pesos relativos sãomuito próximos para

estavariável:entregruposclíticos(edentrodefrasefonológicareestruturada),oprocessoé

neutro;entrefrasesentonacionais,aquedadesílabaélevementedesfavorecida;eháum

levefavorecimentoentrefrasesfonológicas.EsteúltimoresultadocorroboraPavezi(2006a)

eBattisti(2004)paraahaplologiaeLeal(2006)paraquedadesílaba.Verificamostambém

que a queda de sílaba não é bloqueada em nenhumnível (para a haplologia, cf. Tenani

2002,ePavezi2006a,eparaaquedadesílabaLeal2006).

5.3.1.5. NúmerodeSílabas

OsresultadosobtidosparaNúmerodeSílabasforamosseguintes:97

Tabela20 –VariávelNúmerodeSílabas(asduascidades)NúmerodeSílabas N Ntotal %apl P.R.2sílabas(2σs) 662 3250 20,4 0,472

3sílabas(3σs) 324 1552 20,9 0,507

4sílabasoumais(4σsou+) 200 826 24,2 0,593

total 1186 5628 21,1

97UmprocedimentoaserfeitoécruzarogrupodefatoresMétricaemestegrupoNúmerodeSílabas.Optamospor analisar todos os grupos de fatores separadamente, deixando os cruzamentos para trabalhos futuros.AgradeçoàProfªDrªLucianiTenanipormechamaraatençãoparaestapossibilidade.

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input=0.136;significância:0.004

Há um favorecimento do processo para palavras maiores do que 4 sílabas, com

p=0,593;podemosobservarquepalavrascom3sílabassãoneutras(p=0,507);epalavras

com2sílabasdesfavorecemlevementeoprocesso,p=0,472.

Assim,aaplicaçãodequedade sílabaédiretamenteproporcional ao tamanhoda

palavra:quantomaiorapalavra,atendênciadeaplicaçãoaoprocessoaumenta.Observeo

exemploaseguir:

(274) 6sílabas o.por.tu.ni.da(DE)DEconversarcomela (G)

Casos como (274) tendem ao processo, pois a palavra sujeita à queda tem 6

sílabas.

Apresento abaixo o gráfico com os pesos relativos para a variável deNúmero de

Sílabas:

Gráfico12 –VariávelNúmerodeSílabas(asduascidades)

Os resultadosparao tamanhodapalavrasujeita àquedaapontamque,àmedida

queaumentaonúmerodesílabas,aumentatambémaimplementaçãodoprocesso.

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5.3.1.6. FrequênciadeUsodePalavras

Apresentoaseguirasfrequênciasepesosrelativosparaestavariável:

Tabela21 –VariávelFrequênciadeUsodePalavras(asduascidades)FrequênciadeUsodasPalavras N Ntotal %apl P.R.

maisde20.900ocorrênciasnoASPA(alta) 620 2948 21 0,504

de10.451a20.899ocorrênciasnoASPA(média) 246 888 27,7 0,564

menosde10.450ocorrênciasnoASPA(baixa) 306 1702 18 0,459

total 1172 5538 21,2 input=0.136;significância:0.004

Como vemos na Tabela 21, os resultados para esta variável também não estão

polarizados: palavras de alta frequência (commais de 20.900 ocorrências) parecem não

interferirnoprocesso (p=0,504),eháuma leve tendênciaaoprocessocompalavrascom

frequência média (de 10.451 a 20.899 ocorrências), com p=0,564. Palavras de baixa

frequência(frequênciademenosde10.450ocorrências)pareceminibiraquedadesílaba

(p=0,459).Osexemplosaseguirilustramoscontextosdequedadesílabanos3fatores:

(275) frequênciaalta úniCAQUEtinha (i)

(276) frequênciamédia máqui(NA)DEcostura (u)

(277) frequênciabaixa gráviDADEnovo (O)

Ospesosrelativosobtidosestãoapresentadosnográficoaseguir:

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143

Gráfico13 –VariávelFrequênciadeUsodePalavras(asduascidades)

Paraestavariável,vimosqueseapalavra tiveralta frequência,aquedadesílaba

tendeaopontoneutro;palavrasdebaixafrequênciadesfavorecemlevementeoprocesso;e

palavrasdefrequênciadeusomedianatêmumlevefavorecimentodaquedadesílaba.

5.3.2. Asvariáveissociaisnasduascidades

Nenhuma das variáveis externas foi selecionada nas rodadas, com exceção de

informantes, que foi selecionada em todas elas. Ainda, esta variável foi a primeira a ser

selecionadacomoestatisticamentesignificativanonível1dostep-up,tambémemtodasas

rodadas(cf.adescriçãodasrodadasem(233),nasubseção5.2).

Nas subseções a seguir apresento os resultados das variáveis externas,

organizadas da seguinte maneira: Escolaridade (5.3.2.1), Gênero (5.3.2.2), Faixa Etária

(5.3.2.3),Informantes(5.3.2.4)eCidade(5.3.2.5).

5.3.2.1. Escolaridade

Apesardenãoselecionada(portanto,semrelevânciaestatística),háumadiferença

entreasfrequênciasdosfatoresdeEscolaridade,comoapresentadonatabelaaseguir:

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Tabela22 –FrequênciasdavariávelEscolaridade(asduascidades)Escolaridade N Ntotal %apl

atéfundamental 712 2819 25,3

ensinosuperior 474 2809 16,9

total 1186 5628

Estes resultados apontam que pessoas que estudaram até o ensino fundamental

aplicammais o processo do que pessoas que fizeram faculdade, com, respectivamente,

25,3%e16,9%deaplicaçãodequedadesílaba.

5.3.2.2. Gênero

Tambémnestavariável,verificamosumadiferençanaaplicaçãodequedadesílaba:

Tabela23 –FrequênciasdavariávelGênero(asduascidades)Gênero N Ntotal %apl

masculino 741 2813 26,3

feminino 445 2815 15,8total 1186 5628

Como apresentado na Tabela 23, certificamos que os homens aplicam mais o

processofonológico(26,3%)doqueasmulheres(15,8%).

5.3.2.3. FaixaEtária

VerificamosnavariáveldeFaixaEtáriaqueexisteumadiferençadefrequênciasna

aplicaçãodequedadesílabacomasduascidades rodadas juntas,masestadiferençaé

menordoqueparaasvariáveisdeEscolaridadeeGênero:

Tabela24 –FrequênciasdavariávelFaixaEtária(asduascidades)FaixaEtária N Ntotal %apl

de20a35 644 2850 22,6

maisde50 542 2778 19,5

total 1186 5628

Como se vê na Tabela 24, apesar de haver uma diferença na implementação da

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145

queda de sílaba entre pessoas mais jovens (22,6%) e os mais velhos (19,5%), esta

diferençanãoégrande.

5.3.2.4. Informantes

Como foi dito em 4.1.4.2.4, com esta variável, examinamos o comportamento de

cadainformante,afimdeverificarse,individualmente,algumdelestemumcomportamento

muitodiferentedosoutros–seesteforocaso,osresultadospodemestarmascarados.

Natabelaabaixo,apresentoasfrequênciaseospesosrelativosparaestavariável:

Tabela25 –VariávelInformante(asduascidades)cod. N Ntotal %apl P.R.

a 20 96 20,8 0,565

b 8 88 9,1 0,262

c 6 83 7,2 0,229d 5 108 4,6 0,242

e 23 109 21,1 0,484

f 2 97 2,1 0,075

g 10 102 9,8 0,324

h 2 103 1,9 0,056

i 23 97 23,7 0,694

j 15 94 16 0,524

k 53 150 35,3 0,766

l 14 113 12,4 0,358

A 31 167 18,6 0,518

B 25 105 23,8 0,603

C 17 130 13,1 0,324D 31 68 45,6 0,851

E 19 89 21,3 0,51

F 24 87 27,6 0,64

G 16 122 13,1 0,36

H 7 114 6,1 0,181

I 6 107 5,6 0,248

J 23 90 25,6 0,621

K 38 146 26 0,598

L 31 134 23,1 0,557

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146

m 42 140 30 0,687

n 11 128 8,6 0,28

o 38 144 26,4 0,653

s 40 87 46 0,827

t 60 176 34,1 0,83

u 54 108 50 0,869

p 15 65 23,1 0,617

q 18 173 10,4 0,407

r 15 107 14 0,41

v 14 132 10,6 0,294

x 27 131 20,6 0,516z 27 147 18,4 0,481

M 30 161 18,6 0,48

N 32 109 29,4 0,678

O 25 118 21,2 0,551

S 46 164 28 0,567

T 91 149 61,1 0,909

U 32 108 29,6 0,627

P 29 114 25,4 0,614

Q 8 130 6,2 0,199

R 11 112 9,8 0,286

V 12 115 10,4 0,294

X 44 144 30,6 0,665Z 16 67 23,9 0,463

total 1186 5628 21,1 input=0.136;significância:0.004

Amédiade tokens coletadosdecada informante foide117,eos informantesque

tiverammenostokensforamD,p,eZ.Astaxasdeaplicaçõesdaquedadesílabaparape

Zestãopertodamédiade20%(informantep,N=15/65,com23,1%deaplicação;eZcom

N=16/67, 23,9%), eo informanteD, alémdepoucos tokens, teveuma frequênciaaltade

aplicaçãodequedadesílaba,com31/68(45,6%).

Observando-seospesosrelativos,vemosqueD,f,h,H,Q,s,t,Teunãoseguemo

padrão geral. Para melhor visualização dos pesos relativos, apresento-os em forma de

gráfico:

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147

Gráfico14 –PesosrelativosdavariávelInformante(rodada1–asduascidades)deA-L:Capivari minúsculas:maisvelhosdeM-Z:Campinas maiúsculas:maisjovens

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148

Houve9informantesquetiveramcomportamentosdiferenciados:4delesnosentido

dedesfavoreceraquedadesílabaeosoutros5,demodooposto,favorecendooprocesso.

Os pesos relativos para estes 9 informantes são peculiares porque suas características

externas (escolaridade,gênero, faixaetáriaecidade) nãoseguemnenhumpadrão, como

veremosaseguir.

Das4pessoasquedesfavorecem,apenasumadelasécampineira(ainformanteQ

temensinosuperioreestánafaixade20a35anosdeidade);dosoutros3,ocapivarianof

tem ensino fundamental; enquanto que as capivarianas h e H têm faculdade; f e h

pertencemàfaixamaisvelhadosinformantes,enquantoqueHtemde20a35anos.

Damesmaforma,nãoobservamosumpadrãoparaos5informantesquefavorecem

excessivamenteaquedadesílaba.Dentreeles,oúnicodeCapivariéD,quecursouatéo

ensinofundamentaletem21anos.Quantoaosoutroscampineiros,todossãohomensque

estudaramatéoensinofundamental;s,teutêmmaisde50anosenquantoqueDeTtêm

idades entre 20 e 35 anos. Observando-se as aplicações/pesos relativos gerais e

comparando-as com os 9 informantes que fogem do padrão geral, notamos que 3

capivarianos f, h e H desfavorecem muito a queda de sílaba, enquanto que apenas 1

capivariano favorece muito. E, para Campinas, o contrário aconteceu: apenas uma

campineiradesfavorecemuito,e4campineirosfavorecemmuito.

Podemosinterpretarqueosresultadosdestesinformantespodeseracausadeuma

maior aplicação de queda de sílaba emCampinas do que emCapivari, cujos resultados

apresentonapróximasubseção.

5.3.2.5. Cidade

Na rodadageral, a variávelCidadenão foi selecionado.ObservenaTabela26as

frequênciasdeaplicaçãodasduascidades:

Tabela26 –FrequênciasdavariávelCidadecidade N Ntotal %apl

Capivari 449 2599 17,3

Campinas 737 3029 24,3

total 1186 5628

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149

Comopodemosobservar,houveumamaioraplicaçãodequedadesílabanacidade

deCampinasdoqueemCapivari.Seestatisticamentenãohádiferençarelevante(jáquea

variávelCidadenãofoiselecionada),percebemospelasfrequênciasqueháumadiferença

linguística relevantenasduascidades,ouseja,háumamaioraplicaçãoemCampinasdo

queemCapivari.

*

DosresultadosdeLeal(2006)(cf.tambémsubseção3.3),vimosque,paraCapivari,

ascombinaçõesdostraçosconsonantaisqueimplementamaregradequedadesílabasão

diferentesdosencontradosnaliteratura–cf.dialetoemAlkmim&Gomes(1982)(chamado

de impressionisticamente brasileiro pelas autoras); dialeto de São José do Rio Preto em

Tenani(2002,2003)eemPavezi(2006a,2006b);dialetodePortoAlegreemBattisti(2004).

Assim, a hipótese formulada para a variável Cidade (cf. 4.1.4.2.5) foi que há uma

probabilidade de o processo ocorrer mais em Capivari do que em Campinas, se

compararmosos resultados de Leal (2006) para aquela cidade comoutros resultados da

literatura.Noentanto,ahipótesenãofoicorroborada,jáqueataxadeaplicaçãodequeda

desílabaemCapivarifoi17,3%,eCampinasaplicoumaisoprocesso,com24,3%.

Paraverificarporque(ecomo)sedáestadiferençanaaplicaçãodaquedadesílaba

emCapivarieemCampinas,decidimosporrodá-lasseparadamente,comosugeremGuy&

Zilles (2007: 221) (cf. tambémsubseção 1.2), como objetivo de verificar de quemodoo

processo se diferencia (ou é igual) nas duas cidades.Nas rodadas emque computamos

CapivarieCampinasseparadamente(cf.capítulos6e7aseguir),buscamosresponderà

seguintequestão:sehádiferençasdeaplicaçãodoprocessonasduascidades,quaissão

elas?

5.4. Resumo

Nestecapítulodosresultadosdasduascidadesrodadasemconjunto,vimosqueas

variáveisquenão interferemnaquedadesílaba(ouseja,osquenãoforamselecionados

peloprograma)foram:aCavidadeOraldasConsoantes(semdistinguirotraço[nasal])eas

variáveisexternasEscolaridade,Gênero,IdadeeCidade.

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150

Das as variáveis selecionadas, vimos que, na igualdade do conteúdo das sílabas

(variável chamadade IgualdadedeSegmentos), as consoantesparecemditar a regra, já

que,seasvogaisvariarem,nãohánenhumefeito;ovozeamentodasconsoantesinterfere

noprocesso:seasconsoantesforemidênticas(semimportarasvogais),háumatendência

à queda, mas se as consoantes diferirem em vozeamento, há uma neutralidade do

processo. Finalmente, o traço [nasal] desfavorece, e nada interpretamos dos traços

[anterior,distribuído],emdecorrênciadobaixonúmerodetokens.

Ainda quanto às consoantes, verificamos que além separá-las quanto às suas

cavidades orais, deve-se levar emconta tambémo traço [nasal], uma vez que foi esta a

configuração selecionada na rodada 1 (com todos os contextos segmentais); e os

resultados apontam que coronais orais favorecem e dorsais levemente desfavorecem a

queda de sílaba; as nasais inibem o processo; e não houve interpretação para labiais [-

contínuo]e[+contínuo]devidoaospoucosdados.

Paraasvogais,os resultados indicamqueasdorsaisdesfavorecem (ea segunda

posição vocálica é indiferente); as dorso-labiais e coronais favorecem, também sem

importar a segunda posição; se observarmos os contextos de coronal seguida de dorso-

labial,háumdesfavorecimentodoprocesso;noentanto,sãopoucosostokensnestefatore

nãopodemostirarumaconclusão.

No que concerne à Estrutura Silábica, sílabas CV e CCV na primeira posição do

contextotêmumcomportamentoparecido,jáqueparecemserneutras;sílabascomcodae

sílabascomoutrasestruturasdiferentesentresi(quenãoCV,CCVeCVC)desfavorecem.

OsresultadosparaaMétricaapontamqueháumfavorecimentodaquedadesílaba

seaprimeirapalavrativerumasílabaforteseguidadeumafracaeasegundainiciarporum

clítico ou por uma sílaba com acento secundário; para contextos rítmicos em que a

aplicaçãodoprocessoresultaemchoquedeacento(istoé,háumasílabafracaentreduas

fortes),háumainibiçãodoprocesso;finalmente,contextosdeumasílabaforteseguidade

suasfracassãoneutros.

ComrelaçãoàProsódia,oprocessoé levementefavorecidoemfronteiradefrases

fonológicas; um pouco desfavorecido entre sentenças; e é neutro em fronteira de dois

gruposclíticos(edentrodefrasefonológicareestruturada).

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151

QuantoaoNúmerodeSílabas,palavrascommaisde4sílabasfavorecemumpouco

o processo; com 3, são neutras; e palavras pequenas (com duas sílabas) desfavorecem

levemente.

Na variável de Frequência de Uso de Palavras, os pesos relativos também não

forampolarizados,evimosquepalavrasdefrequênciamédiafavorecemumpouco;dealta

frequênciasãoinertes;epalavrasdebaixafrequênciadesfavorecemlevemente.

Finalmente, para as variáveis externas, a única delas selecionada foi informantes.

Das restantes, observando-se as frequências, pudemos constatar que idade parece não

influir (já quea frequência deaplicaçãoparaosmais jovensemais velhos foi parecida);

pessoascommenosnúmerodeanosdeestudoedegêneromasculinoaplicammais; e,

percentualmente,CampinasaplicamaisdoqueCapivari.

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152

CAPÍTULOVI

6. EmCapivariNestecapítulo,apresentamososresultadosdosefeitoslinguísticosesociaisobtidos

dosdadosdeCapivari.Na tabelaabaixoestãoas frequênciasdos tokensdoestudo feito

emCapivari,com24 informantes:

Tabela27 –ResultadosdeaplicaçãodequedadesílabaemCapivariCapivari N %aplicação 449 17,3nãoaplicação 2150 82,7

total 2599

Damesmaformaquenarodadageral, foramfeitas5rodadas,variandoocontexto

segmental (cf.acomputaçãodosdadosem5.2),enãohouvemuitasdiferençasentreos

resultadosobtidosnas5rodadasparaosdadosdeCapivari.Porisso,novamente,optamos

por descrever a rodadamais geral, emque todas as variáveis foramutilizadas, incluindo

todasasvariáveisdocontextosegmental.

Todas as variáveis linguísticas foram selecionadas em Capivari para o contexto

segmental,excetoIgualdadedeSegmentoseCavidadeOraldasConsoantessemdistinguir

asnasais.Apesardeselecionadapeloprogramanarodadageral,avariável linguísticade

FrequênciadeUsodePalavrasnão foiselecionadaemCapivarie,novamente,avariável

Informantesfoiaúnicavariávelexternaselecionada.

Na subseção 6.1 a seguir, apresento os resultados das variáveis linguísticas

encontradasparaCapivarie,em6.2,estãoasvariáveissociais.

6.1. Asvariáveislinguísticas

Nesta seção apresento a análise desenvolvida levando-se em conta as variáveis,

quaissejam:ocontextosegmental(ver6.1.1),aEstruturaSilábica(cf.6.1.2),aMétrica(ver

6.1.3), aProsódia (cf. 6.1.4), oNúmerodeSílabas (ver 6.1.5) eaFrequênciadeUsode

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153

Palavras(cf.6.1.6).

6.1.1. Contextosegmental

Os resultados do contexto segmental, rodado de diferentes formas (Igualdade de

Segmentosem6.1.1.1,CavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode[nasal]em6.1.1.2,

eCavidadeOraldasVogaisem6.1.1.3),estãoapresentadonassubseçõesaseguir.

6.1.1.1. IgualdadedeSegmentosnasSílabas

JáqueestavariávelnãofoiselecionadapeloprogramacomosdadosdeCapivari,

podemos concluir que não é a igualdade dos segmentos que ocupam as posições de

primeira e de segunda sílabas que importa para a realização de queda de sílaba em

Capivari. Em outras palavras, as diferenças de vozeamento, de nasalidade e dos traços

[anterior, distribuído] das consoantes, nemmesmodiferençasentre vogais, ditama regra

segmentalemCapivari.

Detodasas5configuraçõesderodadasparaCapivari(cf.resumodasrodadasem

(234), na subseção 5.2), a única vez que o programa selecionou esta variável foi

exatamentenarodadaemqueaIgualdadedeSegmentoseraaúnicavariáveldocontexto

segmental (isto é, na rodada2 descrita em (234), na subseção 5.2); assim, optamospor

analisarosdadosnestarodada.

Foram excluídos N=143/986 tokens com sílabas diferentes de CV, totalizando

306/1613dadosparaestavariável.98Apresentoaseguiras frequênciasepesos relativos

obtidosnarodada2:

98 Assim como na rodada geral, desconsideramos todos os contextos com sílabas diferentes de CV, o quetotalizou986tokens.Osdadosdescartadostêmasseguintesestruturasnaprimeirasílaba:139contextoscomCCVnaprimeirasílaba,12dadoscomCCVC,21comCgV,580contextoscomCV,228dadosdeCVC,3comestruturasCVCCe3comsílabasCVgCnaprimeiraposição.

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154

Tabela28 –VariávelIgualdadedeSegmentosapenasdarodada2(Capivari)IgualdadedeSegmentos(rodada2) N Ntotal %apl P.R.

σscompletamenteiguais(C=V=) 34 120 28,3 0,619

Csiguais,Vsdiferentes(C=V#) 105 445 23,6 0,609

Csdiferentesem[vozeamento],Vsiguais(C#vozV=) 37 157 23,6 0,556Csdiferentesem[vozeamento],Vsdiferentes(C#vozV#) 91 348 26,1 0,633

Csdiferentesem[nasal],Vsiguais(C#nasalV=) 9 66 13,6 0,363

Csdiferentesem[nasal],Vsdiferentes(C#nasalV#) 29 453 6,4 0,282

Csdiferentesem[ant.distr.],Vsnãoimportam(C#distr.) 1 24 4,2 0,299

total 306 1613 input=0.119;significância:0.000

Seasconsoantesforemiguais(p=0,619ep=0,609)ousediferirememvozeamento

(p=0,556 e p=0,633), o processo é favorecido. Entretanto, há um desfavorecimento da

quedade sílaba se as consoantes diferirememnasalidadee as vogais foremdiferentes,

comp=0,282.Seasconsoantestiveremnasalidadediferenteeasvogaisforemiguais,ou

ainda,sehouverumadiferençanostraços[anterior,distribuído],nadapodemosconcluir,já

queosdadosparaestesfatoresforampoucos(9/66paraofatordeconsoantesdiferentes

em[nasal]evogaisdiferentes;e1/24paraconsoantesdiferentesem[anterior,distribuído]).

E, assim comopara a rodada comas duas cidades juntas (cf. 5.3.1.1.1), podemosnotar

também que as vogais não interferem no processo: para consoantes iguais, os pesos

relativos são parecidos, tanto para vogais iguais (p=0,619) quanto para vogais diferentes

(p=0,609); em ambos os casos de consoantes diferentes em [vozeamento] com vogais

iguais ou diferentes (p=0,556 e p=0,633, respectivamente), há um favorecimento do

processo; finalmente, há um desfavorecimento nos dois fatores de consoantes diferentes

em[nasal](vogaisiguais,p=0,363,evogaisdiferentesp=0,282).

Apresentoaseguirospesosrelativosobtidosemformadegráfico:

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155

Gráfico15 –VariávelIgualdadedeSegmentosapenasdarodada2(Capivari)

Para esta variável, vimos que se as consoantes forem iguais (sem importar as

vogais), ouseasconsoantes foremdiferentesem vozeamento (tambémsem importaras

vogais),háumapropensãoàquedadesílaba;seasconsoantesdiferirememnasalidadee

asvogaisforemdiferentes,oprocessoéinibido.Nãoobtivemosresultadosconfiáveiscom

nasais seguidas de vogais iguais e com consoantes que diferem nos traços [anterior,

distribuído],jáque,nestesdoiscasos,houvebaixafrequênciadosdados.Lembramosque

estavariávelnãofoiselecionadanarodada1,apenasnarodada2.

6.1.1.2. CavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode[nasal]

ACavidadeOraldasConsoantessemdistinguirotraço[nasal]nãofoiselecionada;

por outro lado, se separarmos as consoantes nasais num único fator, a variável é

selecionada. Assim, parece ser importante para a cidade de Capivari não somente

estabelecerospontosdeCeosvalorespara[contínuo]dasconsoantes,mastambémsua

nasalidade.

Asfrequênciasepesosrelativosdasconsoantescomdistinçãode[nasal]sãodados

aseguir:

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Tabela29 –VariávelCavidadeOraldasConsoantescomDistinçãodoTraço[nasal](Capivari)CavidadeOraldasConsoantescom[nasal] N Ntotal %apl P.R.

2consoantescoronal[-contínuo](t+t) 305 1164 26,2 0,653

2consoantescoronal[+contínuo](s+s) 31 182 17 0,626

2consoanteslabial[-contínuo](p+p) 14 51 27,5 0,777

2consoanteslabial[+contínuo](f+f) 4 60 6,7 0,378

2consoantesdorsal(k+k) 21 89 23,6 0,584

nasais(n+n) 74 1053 7 0,3

total 449 2599 17,3 input=0.100;significância:0.013

Comopodemosobservarnatabelaacima,coronaisoraisfavorecemoprocesso(se

forem [-contínuo], p=0,653 e, se forem [+contínuo], há uma pequena diminuição, com

p=0,626, mas ainda há uma tendência). Os resultados das nasais indicam que há um

desfavorecimentodoprocessocomestestiposdecontextosconsonantais,comp=0,3.Para

as consoantes dorsais, labiais [+contínuo] e [-contínuo] não podemos tirar conclusões, já

que a frequência de tokens foi baixa: N=14/51 para dorsais, N=4/60 para as labiais

[+contínuo]eN=21/89paraaslabiais[-contínuo].

A partir dos resultados apresentados desta variável, podemos concluir que não é

apenas o ponto de C e [+contínuo] os traços que devem ser lavados em conta para a

aplicaçãodequedade sílabaemCapivari,mas também [nasal], uma vezqueeste traço

interferenoprocesso,demodoadesfavorecê-lo.

AseguirestãoospesosrelativosparaCavidadeOraldasConsoantescomDistinção

de[nasal]:

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Gráfico16 –VariávelCavidadeOraldasConsoantescomDistinçãodoTraço[nasal](Capivari)

ParaCapivari,verificamosqueimporta,alémdacavidadeoral,tambémanasalidade

das consoantes, uma vez que a configuração que distingue este traço foi aquela

selecionada, e a nasalidade interfere no sentido de desfavorecer o processo. Ambas as

coronais [-contínuo] e [+contínuo] favorecemaquedade sílaba.Dos contextosde labiais

[-contínuo]e[+contínuo]ededorsais,osresultadosnãosãoconfiáveis,jáqueafrequência

detokensfoibaixanestestrêsfatores.

6.1.1.3. CavidadeOraldasVogais

Estavariávelfoiselecionada,easinformaçõesestãoapresentadasabaixo:

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Tabela30 –VariávelCavidadeOraldasVogais(Capivari)CavidadeOraldasVogais N Ntotal %apl P.R.

coronal+coronal(ee) 72 379 19 0,519

dorso-labial+dorso-labial(oo) 46 211 21,8 0,605

dorsal+dorsal(aa) 25 236 10,6 0,408coronal+dorsal(ea) 54 220 24,5 0,633

dorso-labial+dorsal(oa) 83 347 23,9 0,649

dorso-labial+coronal(oe) 106 621 17,1 0,501

coronal+dorso-labial(eo) 18 106 17 0,383

dorsal+coronal(ae) 32 302 10,6 0,373

dorsal+dorso-labial(ao) 13 177 7,3 0,29

total 449 2599 17,3 input=0.100;significância:0.013

Paraasvogais,umcontextocomduasvogaisdorso-labiais(comp=0,605)favorece

oprocesso,enquantoqueduascoronaisestãopertodopontoneutro,comp=0,519,eduas

dorsais desfavorecem o processo (p=0,408). Com base nestes três primeiros resultados,

podemosnotarque,assimcomonarodadageral(comasduascidades),a igualdadedas

vogaistambémparecenãoserumfatorrelevanteemCapivari.Háumpadrãocomrelação

acontextosemqueprimeiravogaléumadorsal,comumdesfavorecimentodoprocesso:

uma vogal dorsal seguida de uma coronal teve p=0,373, e uma dorsal seguida de uma

vogal dorso-labial resultou em p=0,29 – da mesma forma, contextos dorsal + dorsal

desfavorecem (cf. p=0,408).Seaprimeira vogal for dorso-labial, háum favorecimento se

seguidadeumadorsal,comp=0,649;háumaneutralidade,comp=0,501,seadorso-labial

forseguidadeumacoronal–enãotemosumaexplicaçãolinguísticaparaestadiferençano

comportamentodedorso-labialnaprimeiraposição.

Parasequênciasdeumacoronalseguidadeumadorso-labial(cf.eo),aexpectativa

édequehouvesseumfavorecimentodaquedadesílaba, jáqueéesteocomportamento

decoronaisnaprimeira sílaba (cf. contextosee, comp=0,519,eea, comp=0,633).Uma

justificativa para este resultado pode ser o baixo número de tokens de coronal + dorso-

labial,comN=18/106.

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Gráfico17 –VariávelCavidadeOraldasVogais(Capivari)

Noqueconcerneàsvogais,foivistoque,seaprimeiraposiçãoforocupadaporuma

dorsal, há um desfavorecimento da queda de sílaba. Para as dorso-labiais em primeira

posição do contexto, há um favorecimento se seguida de outra dorso-labial ou de uma

dorsal, enquanto que seguida de uma coronal, há uma neutralidade. Finalmente, se a

primeiravogaldasequênciaforumacoronal,háumfavorecimentodoprocesso;seseguida

deoutracoronal,ocomportamentopareceserneutro.Paraocasodeumacoronalseguida

deumadorso-labial,háumdesfavorecimento,resultadoquenãoéconfiável,vistoquehá

poucostokens.

6.1.2. EstruturaSilábica

Nesta subseção, apresento os resultados dos tipos de estruturas silábicas do

contextosegmentalparaCapivari:

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Tabela31 –VariávelEstruturaSilábica(Capivari)EstruturaSilábica N Ntotal %apl P.R.

duassílabassimples(CV+CV) 306 1613 19 0,542

duassílabascomcodaramificada(CVC+CVC) 3 32 9,4 0,36

duassílabascomataqueramificado(CCV+CCV) 1 4 25 0,406sílabasimplesseguidadeoutrotipodeestrutura(CV+o) 91 580 15,7 0,485

sílabacomcodaseguidadeoutrotipodeestrutura(CVC+o) 18 196 9,2 0,295

sílabacomataqueramificado+outrotipodeestrutura(CCV+o) 24 135 17,8 0,479

duassílabascomoutrostiposdeestruturas(excetoasacima)(o+o) 6 39 15,4 0,31

total 449 2599 17,3 input=0.100;significância:0.013

ParacontextoscomduassílabasCV,háuma (leve) tendênciaàquedadesílaba,

comp=0,542;umcontextocomaprimeirasílabaCVseguidadesílabasdeoutrostiposde

estruturas(quenãoCV,CCVeCVC),nãoháefeitonoprocesso,jáqueopesorelativoestá

próximoaoneutro(cf.CV+op=0,485).OnúmerodetokensparaCCV+CCV(apenas4)foi

muitobaixoenãopodemostirarconclusõesparaestefator;poroutrolado,oresultadode

sílabas com ataque ramificado pode ser observado no fator CCV+outros, que tem um

númeromaiselevadode tokens (135), comp=0,479, pertodopontoneutro.Sílabas com

codaCVC seguidas de outros tipos de estruturas influenciam demodo a desfavorecer o

processo, comp=0,295e, com relaçãoaduas sílabasque tenhamcodaCVC+CVC,não

podemostirarconclusões,jáqueafrequênciafoibaixa(N=3/32dados).Finalmente,sílabas

com estruturas diferentes entre si (e diferentes de CV, CCV ou CVC) tiveram baixa

frequência, comN=6/39,enãohácomo interpretarpoucosdados (cf. sequênciao+o na

Tabela31).

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Gráfico18 –VariávelEstruturaSilábica(Capivari)

ParaofatorCCV+CCV,nadapodemosafirmar,umavezqueosdadossãopoucos

(N=1/4).Contudo,podemosobservarocomportamentodesílabascomataque ramificado

no fator CCV+outros, e podemos verificar que estes tipos de sílabas se comportam de

modo semelhante àquele de sílabas simples (seguidas de outros tipos de estruturas); o

contextocomduassílabassimplesfavorece(levemente)aquedadesílaba;esílabascom

codadesfavorecemaquedadesílaba.Finalmente,contextosdeduassílabasquetenham

estruturasdiferentesentresinãoforaminterpretados,devidoaobaixonúmerodetokens.

6.1.3. Métrica

Comrelaçãoaosacentosdaprimeirasílabaedaseguinte,obtivemosasseguintes

frequênciasepesosrelativos:

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Tabela32 –VariávelMétrica(Capivari)Métrica N Ntotal %apl P.R.

lapsode3sílabas(x••#•) 5 11 45,5 0,614

lapsode3sílabas(aúltimaéumclítico)(x••#c) 13 38 34,2 0,687

duasfracasentreumacento1árioeumacento2ário(x••#y) 0 3 0 –duasfracasentreduasfortes(x••#x) 4 32 12,5 0,469

lapsode2sílabas(x•#•) 70 378 18,5 0,548

lapsode2sílabas(aúltimaéumclítico)(x•#c) 218 894 24,4 0,61

umafracaentreumacento1árioeumacento2ário(x•#y) 26 107 24,3 0,67

umafracaentreduasfortes(x•#x) 113 1136 9,9 0,376

total 449 2599 17,3 input=0.100;significância:0.013

Como podemos observar no terceiro fator apresentada na Tabela 32, houve

knockout com contextos em que a primeira palavra é um dátilo e a primeira sílaba da

segunda palavra é portadora de acento secundário, com N=0/3. Assim, este fator foi

descartadadarodada.Oscontextosquefavorecemaquedadesílabasãoaquelesemque

há lapsosacentuais deduas sílabas, comoem [x • # •] e [x • # c], comp=0,548e 0,61,

respectivamente. É interessante notar que, se houver uma fraca entre uma forte e uma

sílaba com acento secundário [x • # y], há também um favorecimento na aplicação do

processo,comp=0,67.Paracontextosemqueaimplementaçãodaquedadesílabaresulte

choquedeacentos[x•#x],oprocessoéevitado,comp=0,376.

Houve três sequências métricas com dátilos (sem knockouts), quais sejam: uma

sílabaforteseguidadeumlapsode3sílabas[x••#•],duasfracasentreumasílabafortee

umclítico[x••#c]eduasfracasentreumaforteeumasílabacomacentosecundário[x••

#y].Destescontextosmétricos,nãopodemostirarconclusões,devidoaopouconúmerode

tokens(N=5/11,N=13/38eN=0/3,respectivamente).

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Gráfico19 –VariávelMétrica(Capivari)

Pudemosverificarcomestavariávelquetrêsestruturasmétricastendemàquedade

sílaba:i)umasílabaforteseguidadeduasfracas;ii)umafracaentreumaforteeumclítico;

eiii)umafracaentreumasílabacomacentoprimárioeoutracomacentosecundário.Vimos

tambémque,seoresultadodaaplicaçãodoprocessoforruim(istoé,seoapagamentode

sílabaresultaremchoqueacentual),aquedadesílabaédesfavorecida.Comrelaçãoaos

dátilos,osresultadosencontradosnãosãoconsistentes,poisasfrequênciassãobaixas.

6.1.4. Prosódia

VerificamosqueosníveisprosódicosinterferemnaquedadesílabaemCapivarida

maneirarepresentadanatabelaabaixo:

Tabela33 –VariávelProsódia(Capivari)Prosódia N Ntotal %apl P.R.

entrefrasesentonacionais(entreIs) 76 814 9,3 0,444

entrefrasesfonológicas(entreΦs) 150 624 24 0,571

entregruposclíticos(dentrodeΦreestr.)(entreCs) 223 1161 19,2 0,501

total 449 2599 17,3 input=0.100;significância:0.013

ComosevênaTabela33,os resultadosparaProsódianãoestão tãopolarizados:

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entre sentenças, o processo é desfavorecido, comp=0,444; entre grupos clíticos, o peso

relativoéneutro(p=0,501),enquantoqueentrefrasesfonológicasháumalevetendênciaà

quedadesílaba,comp=0,571.

Gráfico20 –VariávelProsódia(Capivari)

Se o contexto segmental estiver entre sentenças, o processo é um pouco

desfavorecido; entre grupos clíticos (e dentro de frase fonológica reestruturada), não há

propensão;porfim,aquedadesílabaélevementefavorecidanafronteiraentreduasfrases

fonológicas.

6.1.5. NúmerodeSílabas

Paraotamanhodapalavra,obtivemosasseguintesfrequênciasepesosrelativos:

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Tabela34 –VariávelNúmerodeSílabas(Capivari)NúmerodeSílabas N Ntotal %apl P.R.

2sílabas(2σs) 241 1508 16 0,46

3sílabas(3σs) 124 717 17,3 0,519

4sílabasoumais(4σsou+) 84 374 22,5 0,624total 449 2599 17,3

input=0.100;significância:0.013

Notamos que à medida que o número de sílabas da palavra aumenta, pode

aumentar também a tendência à queda; no entanto, os pesos relativos não são tão

polarizados para esta variável: palavras com 2 sílabas desfavorecem levemente, com

p=0,46;palavrasde3sílabasnãointerferem,jáqueopesorelativoestápróximoaoneutro,

p=0,519;epalavrasquetenham4sílabasoumaisfavorecemoprocesso,comp=0,624.

Apresento no gráfico abaixo os resultados para Número de Sílabas da palavra

sujeitaàqueda:

Gráfico21 –VariávelNúmerodeSílabas(Capivari)

Comestavariável, pudemosverificarquea tendênciaàquedaaumentaàmedida

que a palavra aumenta de tamanho; ainda, vemos que os resultados não estão tão

polarizados.Palavrascom2sílabasinibemumpoucooprocesso.

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6.1.6. FrequênciadeUsodePalavras

Esta variável não foi selecionada para Capivari, o que parece indicar que, seja a

palavramuitousadaouseja rara,nãohánenhumefeitoparaoscapivarianos.Apresento

abaixoasfrequênciasobtidas:

Tabela35 –VariávelFrequênciadeUsodePalavras(Capivari)FrequênciadeUsodasPalavras N Ntotal %apl

maisde20.900ocorrênciasnoASPA(alta) 235 1378 17,1

de10.451a20.899ocorrênciasnoASPA(média) 82 369 22,2

menosde10.450ocorrênciasnoASPA(baixa) 124 793 15,6

total 441 2540 17,4

Podemos observar na Tabela 35 que as porcentagens para os fatores alta (com

mais de 20.900 ocorrências no ASPA) e baixa (commenos de 10.450 ocorrências) são

semelhantes:17,1%paraaltafrequênciadeusoe15,6%parabaixafrequênciadeuso.A

porcentagemfoimaiorcompalavrasdefrequênciamédia(queestãoentre10.451e20.899

ocorrênciasnoASPA),com22,2%deaplicaçãodoprocesso.

Resumidamente, palavras de alta e baixa frequências têm uma porcentagem de

aplicaçãoparecidas,esãomenoresdoqueparapalavrasdefrequênciamédia.

6.2. AsvariáveissociaisemCapivari

Nesta seção apresento as análises das frequências99 das variáveis externas de

Capivari–Escolaridade(cf.6.2.1),Gênero(ver6.2.2)eFaixaEtária(cf.6.2.3).

6.2.1. Escolaridade

Se na rodada geral há uma diferença de aplicação da regra, em Capivari a

Escolaridadeparecenãoimportar:

99 Lembramos que utilizamos as frequências dos grupos de fatores externos Escolaridade, Gênero e FaixaEtária,enãoosp-valores,porquenãoforamselecionadospeloprograma.

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Tabela36 –FrequênciasdavariávelEscolaridade(Capivari)Escolaridade N Ntotal %apl

atéfundamental 211 1227 17,2

ensinosuperior 238 1372 17,3

total 449 2599

Como vemos na tabela acima, a frequência de aplicação de queda de sílaba das

pessoasqueestudaramatéoensinofundamentalémuitoparecidacomadepessoasque

cursaramensinosuperior.Umavezqueháumaboadistribuiçãodetokens,concluímosque

aescolaridadedosinformantesnãoimportaparaaregradequedadesílabaemCapivari.

6.2.2. Gênero

EmCapivari,háumadiferençanaaplicaçãodoprocessoseconsiderarmosogênero

dosinformantes,comorepresentadonatabelaabaixo:

Tabela37 –FrequênciasdavariávelGênero(Capivari)Gênero N Ntotal %apl

masculino 278 1285 21,6

feminino 171 1314 13

total 449 2599

TambémparaestavariávelGênero,osdadosestãodistribuídosdemodoortogonal,

e podemos observar que os capivarianos aplicam a queda de sílaba mais do que as

capivarianas, já que aqueles têm 21,6% de implementação em oposição aos 13% das

mulheres.

6.2.3. FaixaEtária

Da mesma forma que para as variáveis Escolaridade e Gênero, a distribuição

ortogonal dos dados para Faixa Etária torna os resultados confiáveis. Como podemos

observarnatabelaabaixo,asporcentagensdosdoisfatoresestãopróximos:

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Tabela38 –FrequênciasdavariávelFaixaEtária(Capivari)Faixaetária N Ntotal %apl

de20a35 268 1359 19,7

maisde50 181 1240 14,6

total 449 2599

Apesardadiferençanaaplicação,osmaisjovenscom19,7%eosmaisvelhoscom

14,6%de implementação do processo, notamos que esta diferença é pequena.Assim, a

aplicaçãodequedadesílabacomrelaçãoàFaixaEtáriados informantesparecenãoser

umavariávelrelevanteparaoprocessoemCapivari.

6.2.4. Informantes

Na subseção 5.3.2.4, apresentamos os pesos relativos e as frequências para a

variável Informantes da rodada geral. Uma vez que as frequências são asmesmas para

cada indivíduo, passamos a tratar nesta subseção dos pesos relativos para os 24

capivarianos,apresentadosnográficoquesegue:

Gráfico22 –PesosrelativosdavariávelInformante(Capivari)

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No Gráfico 22, os fatores em letras minúsculas representam os informantes com

idadeacimade50anos,enquantoqueasmaiúsculasindicamosinformantesquetêmentre

20e35anos.

Houve 13 informantes que favoreceram a queda de sílaba –D, i e k tiveram os

pesos relativos mais altos (p=0,878, p=0,747 e 0,819, respectivamente). Os informantes

quedesfavorecemaquedadesílabasão7,eapenasumdelestemidadenafaixade20a

35anos–ainformanteH,comp=0,251.Osfatoresquenãotêmnenhumatendênciasão4

e,dentreelas,apenasCtemensinofundamental,comp=0,413;osoutrosinformantesG,g

e l fizeram faculdade (os pesos relativos para estas pessoas são, respectivamente:

p=0,443,p=0,389e0,43).

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CAPÍTULOVII

7. EmCampinasPara Campinas, também foram 24 informantes, e a distribuição dos dados

analisadosestáapresentadaaseguir:

Tabela39 –ResultadosdeaplicaçãodequedadesílabaemCampinasCampinas N %aplicação 737 24,3nãoaplicação 2292 75,7

total 3029

DamesmaformaquenarodadageralenadeCapivari,rodamostodosasvariáveis

unidas, inclusive aquelas do contexto segmental. Em seguida, rodamos cada um dos

grupos de contexto segmental, opondo-os às outras variáveis linguísticas e sociais, do

modo apresentado em (234), no resumo das rodadas na subseção 5.2. Novamente, os

resultadosparaas5rodadasforammuitosemelhantes,eoptamospordescreverarodada

emquetodasasvariáveisentraram,porserestaamaisgeral.

A única variável do contexto segmental não selecionada para Campinas foi a

CavidadeOral dasConsoantes (sem distinguir as consoantes nasais); e a única variável

linguística não selecionada paraCampinas foi oNúmero de Sílabas da palavra sujeita à

queda;alémdisso,nenhumavariávelexternafoiselecionada,comexceçãodeinformantes.

ApresentoaseguirasvariáveisrelevantesparaaregradequedadesílabaemCampinas,

emduassubseçõesprincipais:aslinguísticos(cf.7.1)eassociais(ver7.2).

7.1. Asvariáveislinguísticas

Nesta subseção, apresento os resultados de queda de sílaba relacionados efeitos

internosàlíngua:contextosegmental(ver7.1.1),EstruturaSilábica(cf.7.1.2),Métrica(ver

7.1.3),Prosódia(cf.7.1.4),NúmerodeSílabas(em7.1.5)eFrequênciadeUsodePalavras

(cf.7.1.6).

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7.1.1. Contextosegmental

Novamente, separamos os resultados para o contexto segmental nas subseções

queseguem(IgualdadedeSegmentosnasubseção7.1.1.1,asconsoantesem7.1.1.2eas

vogaisem7.1.1.3),afimdefacilitaraleituradosdados.

7.1.1.1. IgualdadedeSegmentosnasSílabas

AssimcomoparaIgualdadedeSegmentosnarodadageralenadeCapivari,nesta

variáveldeCampinastambémrodamosIgualdadedeSegmentossomentecomsílabasCV,

enãoentraram1257tokens.100Apresentoaseguirosresultadosdestavariável:

Tabela40 –VariávelIgualdadedeSegmentos(Campinas)IgualdadedeSegmentos N Ntotal %apl P.R.

σscompletamenteiguais(C=V=) 60 130 46,2 0,644

Csiguais,Vsdiferentes(C=V#) 153 443 34,5 0,572

Csdiferentesem[vozeamento],Vsiguais(C#vozV=) 59 166 35,5 0,495

Csdiferentesem[vozeamento],Vsdiferentes(C#vozV#) 141 410 34,4 0,499

Csdiferentesem[nasal],Vsiguais(C#nasalV=) 11 88 12,5 0,372

Csdiferentesem[nasal],Vsdiferentes(C#nasalV#) 52 506 10,3 0,455Csdiferentesem[ant.distr.],Vsnãoimportam(C#distr.) 1 29 3,4 0,1

total 477 1772 26,9 input=0.164;significância:0.048

Podemos notar que sílabas completamente iguais favorecem a queda; se as

consoantes forem idênticaseas vogais foremdiferentes, háumaquedano peso relativo

(de0,644parasílabasidênticaspassaa0,572),masoprocessocontinuaaserfavorecido.

Seasconsoantes foremdiferentesemvozeamento,ospesos relativosdiminuem, ficando

perto do ponto neutro e a vogal ser ou não diferente parece não importar (vogais iguais

p=0,495evogaisdiferentes0,499).Seadiferençaentreasconsoantesfornotraço[nasal]

(p=0,372 para vogais iguais e 0,455 se forem diferentes), há um desfavorecimento da

100Estavariáveltotalizou1772dadosporquesílabasdiferentesdeCVnãoentraramnacomputação(omesmofoi feitonasrodadasgeraledeCapivari–cf.subseções5.3.1.1.1e6.1.1.1,respectivamente).Os1257tokensdesprezadosforamasseguintesestruturasnaprimeiraposição:735comsílabasCV,179desílabasCCV,269estruturasCVC,34dadoscomCCVCnaprimeirasílaba,1estruturaCVCC,33tokenscomsílabasCgV,2deestruturasCCgV,3CgVCe1CVg.

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queda de sílaba. Para os contextos em que as consoantes diferem nos traços [anterior,

distribuído], não podemos tirar conclusões, já que este fator teve baixa frequência (1/29

tokens).ApresentoaseguirospesosrelativosparaavariávelIgualdadedeSegmentosna

formadegráfico:

Gráfico23 –VariávelIgualdadedeSegmentos(Campinas)

Resumidamente, notamos nesta variável que sílabas com consoantes e vogais

idênticas tendem à aplicação da queda de sílaba e, se a vogal for diferente, há uma

diminuição,maso favorecimentocontinua.Sehouverumadiferençade[vozeamento]nas

consoantes,nãohánenhumefeitonoprocesso, jáqueospesosrelativosestãopróximos

aopontoneutro.Secontextosegmentaltiverumaconsoantenasal(semimportaraordem

da posição da nasal), o processo é desfavorecido. Não pudemos interpretar consoantes

diferentesentresiem[anterior,distribuído],jáquefoibaixoonúmerodetokensnestefator.

7.1.1.2. CavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode[nasal]

Paraas consoantes, também foram rodadasduas configurações, assimcomonas

rodadasgeraledeCapivari:naprimeira, levamosemcontaopontodeCe[contínuo];na

segunda, alémda cavidadeoral, separamos tambémasnasais.A configuraçãoque teve

relevância foi a segunda, aquela em que foram separadas as nasais, cujos resultados

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apresentoabaixo:

Tabela41 –VariávelCavidadeOraldasConsoantescomDistinçãodoTraço[nasal](Campinas)CavidadeOraldasConsoantescom[nasal] N Ntotal %apl P.R.

2consoantescoronal[-contínuo](t+t) 521 1399 37,2 0,644

2consoantescoronal[+contínuo](s+s) 44 203 21,7 0,652

2consoanteslabial[-contínuo](p+p) 4 37 10,8 0,225

2consoanteslabial[+contínuo](f+f) 10 59 16,9 0,605

2consoantesdorsal(k+k) 24 129 18,6 0,343

nasais(n+n) 134 1202 11,1 0,33

total 737 3029 24,3 input=0.164;significância:0.048

Ascoronais têmumatendênciaaoprocesso,sem importaro traço [contínuo],com

pesos relativos muito semelhantes (coronais [-contínuo] p=0,644 e [+contínuo] p=0,652).

DorsaisenasaisdesfavorecemaquedadesílabaemCampinas,comp=0,343ep=0,33,

respectivamente.Nãopodemosconcluircomoéocomportamentodaslabiaisemrelaçãoà

queda de sílaba em Campinas, uma vez que os números de tokens foram baixos: para

labiais[-contínuo],N=4/37e,paralabiais[+contínuo]N=10/59.

Gráfico24 –VariávelCavidadeOraldasConsoantescomDistinçãodoTraço[nasal](Campinas)

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Em resumo, vimos que a nasalidade consonantal é um traçomuito importante na

quedade sílaba: comovimosna rodadageral, emCapivari e emCampinas, somenteas

variáveis que distinguem estes segmentos foram selecionadas nas três rodadas e, em

todaselas, o traço [nasal] da consoante inibeoprocesso.Ascoronaisorais favorecem a

quedadesílabaemCampinas,enquantoquedorsais[-contínuo]desfavorecemoprocesso;

comrelaçãoa labiais[±contínuo],nãotiramosconclusões,poisosnúmerosdedadosnos

doisfatores[-contínuo]e[+contínuo]forambaixos.

7.1.1.3. CavidadeOraldasVogais

Apresento a seguir as frequências e pesos relativos obtidos para a variável

CavidadeOraldasVogais:

Tabela42 –VariávelCavidadeOraldasVogais(Campinas)CavidadeOraldasVogais N Ntotal %apl P.R.

coronal+coronal(ee) 126 440 28,6 0,571

dorso-labial+dorso-labial(oo) 75 249 30,1 0,571

dorsal+dorsal(aa) 35 261 13,4 0,308

coronal+dorsal(ea) 59 220 26,8 0,569

dorso-labial+dorsal(oa) 120 394 30,5 0,63

dorso-labial+coronal(oe) 234 763 30,7 0,593

coronal+dorso-labial(eo) 24 110 21,8 0,46

dorsal+coronal(ae) 49 391 12,5 0,328

dorsal+dorso-labial(ao) 15 201 7,5 0,226total 737 3029 24,3

input=0.164;significância:0.048

Em Campinas, observamos que duas coronais ou duas dorso-labiais no contexto

vocálicotendemàqueda(vercontextoseeeoo),fatoresquetiverampesosrelativosiguais

(p=0,571).Contextosemqueaprimeiravogaléumadorsaldesfavorecemoprocesso,sem

importaracavidadeoraldasvogaisseguintes:mesmoseseguidadeoutradorsal(p=0,308,

cf.aa),deumacoronal, comp=0,328 (verae)oudeumavogaldorso-labial (p=0,226,cf.

contextoao).Háumfavorecimentodaquedadesílabaseaprimeiravogalforumacoronal

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seguidadedorsal,comp=0,569(cf.ea),ehátambémumatendênciaseaprimeiravogal

forumadorso-labial–nestescasos,nãoimportamostraçosdasegundavogal,comp=0,63

quando seguida de dorsal (cf. contexto oa) e p=0,593, se seguida de uma coronal (ver

contexto oe). A partir destes resultados, notamos que o que parece importar para a

implementaçãodoprocessoéaprimeiravogaldocontexto:sehouverumacoronalouuma

dorso-labial,háumatendênciaàquedadesílaba;seaprimeiraposiçãoforpreenchidapor

umadorsal,háuma inibição.Assim,paraocontextoemqueháumacoronal seguidade

uma dorso-labial (cf. eo no gráfico), a expectativa é que haja um favorecimento do

processo,oquenãoocorre:háumaneutralidade,comp=0,46.Esteresultado inesperado

podeserexplicadoseobservarmosonúmerodedadosnestefator,quefoiN=24/110,isto

é,éofatorquetemomenornúmerodeocorrências.

Paraumamelhorvisualizaçãodospesosrelativos,apresento-osaseguiremforma

degráfico:

Gráfico25 –VariávelCavidadeOraldasVogais(Campinas)

Para Campinas, pudemos observar que vogais iguais têm uma tendência ao

apagamento,comexceçãodedorsais,queoinibem.Eestecomportamentodeasdorsais

desfavorecerem o processo pode ser verificado também se este tipo de vogal estiver na

primeirasílaba,semimportaroqueasucede.Seavogalcoronaloudorso-labialestiverna

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176

primeira posição do contexto, o processo é favorecido, sem importar a segunda vogal.

Nestecaso,háumaexceçãodecoronal+dorso-labial,deondenadaconcluímos,poreste

fatorteromenornúmerodeocorrênciasnavariável.

7.1.2. Estruturadassílabas

Os resultadosdassequênciasdeestruturasdaprimeiraedasegundasílabassão

dadosaseguir:

Tabela43 –VariávelEstruturaSilábica(Campinas)EstruturaSilábica N Ntotal %apl P.R.

duassílabassimples(CV+CV) 477 1772 26,9 0,506

duassílabascomcodaramificada(CVC+CVC) 5 41 12,2 0,482duassílabascomataqueramificado(CCV+CCV) 2 4 50 0,935

sílabasimplesseguidadeoutrotipodeestrutura(CV+o) 160 735 21,8 0,586

sílabacomcodaseguidadeoutrotipodeestrutura(CVC+o) 20 228 8,8 0,287

sílabacomataqueramificado+outrotipodeestrutura(CCV+o) 58 175 33,1 0,5

duassílabascomoutrostiposdeestruturas(excetoasacima)(o+o) 15 74 20,3 0,213

total 737 3029 24,3 input=0.164;significância:0.048

Um contexto com duas sílabas sujeitas a apagamento que tenham estruturas CV

parecemserneutrasàquedadesílaba(p=0,506),enquantoquecontextosdesílabasCV

seguidasdeoutrostiposdeestruturasfavorecemoprocesso,comp=0,586.Contextosem

queaprimeirasílabatemataqueramificadoeasegundativeroutrostiposdeestruturasnão

interferemnoprocesso,jáqueopesorelativoé0,5.Seasílabasujeitaaoapagamentotiver

codaeestiverseguidadeoutrostiposdeestruturas,háumdesfavorecimentodoprocesso,

comp=0,287.ParaoscontextosdeduassílabascomataqueramificadoCCV+CCV,duas

sílabascomcodaramificadaCVC+CVCecontextosemqueasduassílabastêmestruturas

diferentesentresi(vero+onatabela),notamosqueasocorrênciassãomuitobaixas:N=2/4

para CCV+CCV; N=5/41 para estruturas silábicas CVC+CVC; e N=15/74 para contextos

o+o.Assim,nãopodemostirarquaisquerconclusõesdestestrêsfatores.

Para uma melhor visualização dos dados, apresento no Gráfico 26 os pesos

relativosparaestavariável:

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Gráfico26 –VariávelEstruturaSilábica(Campinas)

Não pudemos interpretar três fatores desta variável devido à baixa frequência de

tokens–contextosCCV+CCV,CVC+CVCeo+o.Contextosemqueháumasílabasimples

seguidadeumasílabacomoutrostiposdeestruturasfavorecemoprocesso,enquantoque

sequências com duas sílabas simples CV+CV e com uma sílaba de ataque ramificado

seguida de outros tipos de estruturas são inertes ao processo. Sílabas com coda na

primeira posição desfavorecem o apagamento quando seguidas de outros tipos de

estruturas.

7.1.3. Métrica

Paraavariáveldeestruturamétrica,obtivemososseguintesresultados:

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Tabela44 –VariávelMétrica(Campinas)Métrica N Ntotal %apl P.R.

lapsode3sílabas(x••#•) 4 15 26,7 0,78

lapsode3sílabas(aúltimaéumclítico)(x••#c) 18 55 32,7 0,815

duasfracasentreumacento1árioeumacento2ário(x••#y) 1 3 33,3 0,956duasfracasentreduasfortes(x••#x) 6 41 14,6 0,552

lapsode2sílabas(x•#•) 99 441 22,4 0,472

lapsode2sílabas(aúltimaéumclítico)(x•#c) 406 1142 35,6 0,655

umafracaentreumacento1árioeumacento2ário(x•#y) 30 111 27 0,613

umafracaentreduasfortes(x•#x) 173 1221 14,2 0,332

total 737 3029 24,3 input=0.164;significância:0.048

Estruturas métricas em que as duas primeiras sílabas são uma forte e uma fraca

favorecem a queda de sílaba, quando seguidas de um clítico fonológico (p=0,655) ou de

uma sílaba com acento secundário (p=0,613). Contextos em que há uma sílaba forte

seguida de duas sílabas fracas não interferem, com um peso relativo próximo ao ponto

neutro (p=0,472). Choques acentuais são evitados também em Campinas, com p=0,332

para o fator [ x • # x ]. Com relação a contextos com dátilos na primeira posição, não

podemos tirar quaisquer conclusões, uma vez que foram poucas ocorrências: estruturas

métricas[x••]seguidasdeumasílabaforte,N=6/41;seguidasdeumasílabacomacento

secundário,N=1/3;seasegundasílabadocontextosegmentalforumclítico,N=18/55;ese

aprimeirasílabadasegundapalavra for fraca,4/15ocorrências.Nográficoabaixo,estão

ospesosrelativosparaavariávelMétrica:

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Gráfico27 –VariávelMétrica(Campinas)

Destavariável,pudemosverificarqueosdoiscontextosde[sílabaforte+umafraca

+ um clítico] e sequências constituídas de [sílaba forte + fraca + acento secundário]

favorecemaquedadesílaba;sequências[forte+fraca+fraca]sãoneutras;econtextos[x

•#x]queresultamemchoquesacentuaissãoevitados.Hápoucos tokenscomdátilos,e

nada podemos concluir dos quatro fatores que têm este tipo de estrutura acentual na

primeirapalavra.

7.1.4. Prosódia

Osresultadosdequedadesílabarelacionadosàhierarquiaprosódicasãoparecidos

comaquelesdarodadageraledeCapivari,comoseverificaaseguir:

Tabela45 –VariávelProsódia(Campinas)Prosódia N Ntotal %apl P.R.

entrefrasesentonacionais(entreIs) 126 880 14,3 0,45

entrefrasesfonológicas(entreΦs) 208 689 30,2 0,552

entregruposclíticos(dentrodeΦreestr.)(entreCs) 403 1460 27,6 0,505

total 737 3029 24,3 input=0.164;significância:0.048

Aquedadesílabaélevementefavorecidaentrefrasesfonológicas,comp=0,552;há

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neutralidadeseaspalavrasdocontextodequedadesílabaestiverementre fronteirasde

grupos clíticos (ou dentro de frase fonológica reestruturada), com p=0,505; e entre

sentenças,oprocessoéumpoucodesfavorecido(p=0,45).

OspesosrelativosparaavariávelProsódiaestãoapresentadosnográfico:

Gráfico28 –VariávelProsódia(Campinas)

PodemosconcluirqueaProsódiainterferelevementenaquedadesílaba,jáquehá

um pouco de desfavorecimento entre frases entonacionais, uma pequena tendência em

fronteiraentrefrasesfonológicaseumaneutralidadeseafronteirafordegruposclíticos(e,

nestecaso,tambémdentrodefrasefonológica).

7.1.5. NúmerodeSílabas

Avariávelde tamanhodepalavranão foiselecionadana rodadadeCampinasem

que entraram todos as variáveis. No entanto, o Número de Sílabas foi selecionado nas

rodadas2,4e5,istoé,comosseguintescontextossegmentais:IgualdadedeSegmentos,

Consoantes (comdistinção de nasais) eVogais (cf. o resumo das rodadas em (234), na

subseção5.2).Apresentoabaixoasfrequênciaseospesosrelativosdarodada2:101

101NaTabela13“SemelhançasnospesosrelativosdavariávelFrequênciadeUsodasPalavrassubseção”(cf.subseção 5.2), pudemos verificar que não houve diferenças significativas entre as 5 rodadas, em que 5

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Tabela46 –VariávelNúmerodeSílabasnarodada2(Campinas)Númerodesílabas N Ntotal %apl rodada2

2σs 421 1742 24,2 0,474

3σs 200 835 24 0,5

4σsoumais 116 452 25,7 0,6total 737 3029

input=0.183;significância:0.007

Comopodemosobservar,onúmerodesílabasdapalavrasujeitaaoapagamentoé

diretamente proporcional à aplicação do processo: dissílabos desfavorecem (levemente),

comp=0,474;trissílabosnãointerferem(p=0,5);epalavrascom4sílabasoumaistendem

aoapagamento,comp=0,6.

Para umamelhor visualização dos resultados, apresento abaixo o gráfico com os

pesosrelativosobtidosnarodada2:

Gráfico29 –VariávelNúmerodeSílabasnarodada2(Campinas)

Para esta variávelNúmero deSílabas, observamosque quantomaior é a palavra

sujeitaàqueda,atendênciaaoprocessovailevementeaumentando.

configuraçõesdecontextosegmentalforamcomputadas.Assim,escolhemosaleatoriamentearodada2paraaexibiçãodosdadosdogruposdefatoresNúmerodeSílabas.

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7.1.6. FrequênciadeUsodePalavras

Os campineiros são sensíveis à frequência de palavra (já que a variável foi

selecionada),comoobservamosnosresultadosapresentadosnatabelaaseguir:

Tabela47 –VariávelFrequênciadeUsodePalavras(Campinas)FrequênciadeUsodasPalavras N Ntotal %apl P.R.

maisde20.900ocorrênciasnoASPA(alta) 385 1570 24,5 0,502

de10.451a20.899ocorrênciasnoASPA(média) 164 519 31,6 0,559

menosde10.450ocorrênciasnoASPA(baixa) 182 909 20 0,463

total 731 2998 24,4 input=0.183;significância:0.007

Os números da tabela acima mostram que palavras de baixa frequência de uso

desfavorecemumpoucoaquedadesílaba,comp=0,46;seaprimeirapalavradocontexto

tiverumafrequênciamédia,háumlevefavorecimentodoprocesso,comp=0,559;porfim,

palavrassujeitasaoprocessodealtafrequênciasãoneutras(p=0,502).

Nográfico que segue, estão os pesos relativos da variável Frequência deUsode

Palavras:

Gráfico30 –VariávelFrequênciadeUsodePalavras(Campinas)

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Emresumo,vimosquepalavrasdealta frequênciaparecemserneutrasnaqueda

desílaba;palavrasdefrequênciamédiafavorecem(levemente)oprocesso,enquantoque

palavrasdebaixafrequênciadeusooinibemumpouco.

7.2. AsvariáveissociaisemCampinas

Da mesma forma que na rodada geral e em Capivari, apenas Informantes foi a

variávelexternaselecionadaemCampineiras(cf.resultadosdestavariávelem5.3.2.4).Nas

subseções que seguem, apresentamos as frequências encontradas para estas variáveis:

Escolaridade(ver7.2.1),Gênero(cf.7.2.2)eFaixaEtária(em7.2.3).

7.2.1. Escolaridade

As frequências obtidas com a variável Escolaridade em Campinas foram os

seguintes:

Tabela48 –FrequênciasdavariávelEscolaridade(Campinas)Escolaridade N Ntotal %apl

atéfundamental 501 1592 31,5

ensinosuperior 236 1437 16,4

total 737 3029

Como vemos na Tabela 48, os anos de estudo dos informantes são muito

importantesparaaregradequedadesílabaemCampinas:aspessoasqueestudaramaté

oensinofundamentaltiveramumataxadeaplicaçãode31,5%,enquantoque,paraosque

fizeramfaculdade,ataxacaipara16,4%.

7.2.2. Gênero

Apresentoabaixoastaxasdequedadesílabaparaoscampineirosecampineiras:

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Tabela49 –FrequênciasdavariávelGênero(Campinas)Gênero N Ntotal %apl

masculino 463 1528 30,3

feminino 274 1501 18,3

total 737 3029

Comovemosna tabela,háumadiferençanaporcentagemdeaplicaçãodaqueda

desílabaentrehomensemulheresdeCampinas(30,3%e18,3%,respectivamente),eeste

resultadopodeser consideradoconfiável, jáqueháumaboadistribuiçãodeocorrências:

1528paraogêneromasculinoe1501paraofeminino.

7.2.3. FaixaEtária

ApresentoabaixoostokensrelacionadosàFaixaEtáriadosinformantes:

Tabela50 –FrequênciasdavariávelFaixaEtária(Campinas)FaixaEtária N Ntotal %apl

de20a35 376 1491 25,2

maisde50 361 1538 23,5

total 737 3029

Como observamos na Tabela 50, pessoas na faixa de 20 a 35 anos de idade e

aqueles que têmmais de 50 anos têmuma taxa de aplicação de queda de sílabamuito

semelhante.

7.2.4. Informantes

Ospesosrelativosobtidosparaoscampineirosforam:

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Gráfico31 –PesosrelativosdavariávelInformante(Campinas)

ParaCampinas,resultadosdefavorecimentodequedadesílabaforamencontrados

em11fatoreseapenas3delessão informantesquetêmensinosuperior.Os informantes

neutrosàquedadesílabasão3:O,comp=0,485;Scomp=0,485;ex,comumresultado

p=0,451. Os 10 informantes restantes desfavorecem a queda de sílaba e apenas duas

mulherestêmensinofundamental(M,comp=0,404;en,comp=0,225).

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CAPÍTULOVIII

8. ComparaçãodasduascidadesComo vimos na subseção 1.2, a principal questão a ser respondida nesta tese é

identificar se a queda de sílaba tem restrições diferentes em Capivari e em Campinas.

Assim,nestecapítulo,comparamososresultadosdasduascidades,demodoaverificarse

aquedadesílabatemasmesmascaracterísticasnasduascidades,ouseascidadestêm

regrasdiferentesparaaaplicaçãodoprocesso.

Para que a comparação fosse feita de forma objetiva, seguimos os seguintes

critériosparadefinirsehouveumresultadodiferente,semelhanteou igualparaos fatores

dasduascidades:

• Iguais: são fatores que têm amesma tendência nas duas cidades, e a diferença

entre os pesos relativos são pequenas – isto é, há uma mesma tendência e

produtividadedaregra;

• Semelhantes:dentrodeumamesmavariável,háumfator(s)comcomportamento(s)

idêntico(s)nasduascidades,masaprodutividadeédiferente,ouseja,podeserque

umfatorsejaaplicadomaisvezesnumacidadedoquenaoutra;e

• Diferentes: são os fatores com tendências diferentes nas duas cidades (por

exemplo, favorecimento versus desfavorecimento, desfavorecimento versus

neutralidade, favorecimento versus neutralidade, etc.) e, consequentemente, a

produtividade também é diferente; adicionalmente, consideramos diferentes as

variáveisque foramselecionadasnumacidadeenãoemoutra,dadoque,seuma

variável é selecionada, podemos interpretar que aquela variável condiciona o

processo e, de modo contrário, uma variável não selecionada indica que um

conjuntodefatoresnãoexercequalquerefeitonoprocesso.

Este capítulo está organizado da seguinte maneira: em 8.1, apresento as

características iguais entre as duas cidades; em 8.2, estão as similaridades; em 8.3,

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apresentoasdiferenças;nasubseção8.4,estáoresumodascomparações;eem8.5,há

uma conclusão do capítulo – de que há duas regras de quedade sílaba paraCapivari e

Campinas.

8.1. Asigualdades

Nesta subseção, apresentamos os resultados que foram iguais nas duas cidades,

quaissejam:aCavidadeOraldasConsoantes(cf.subseção8.1.1);aProsódia(ver8.1.2);e

osgrupodefatoresexternos(cf.8.1.3).

8.1.1. CavidadeOraldasConsoantes

A primeira característica de queda de sílaba que é a mesma em Capivari e

Campinasestárelacionadaàsconsoantes,segmentosanalisadosemduasvariáveis:numa

primeiravariável,separamostodasasconsoantescomrelaçãoaostraçosdacavidadeoral

(pontodeCe[contínuo]);e,numaoutravariável,alémdeinvestigarascavidadesoraisdas

consoantes,examinamostambémotraço[nasal],separandonumfatortodososcontextos

que tivessem uma ou duas nasais. As hipóteses para estas duas variáveis foram que

haveria umamaior tendência ao processo com coronais, com base na subespecificação

destessegmentos;eaoutrahipótesefoiquenãohaveriabloqueiocomoutrasconsoantes.

Nãolevantamosnenhumahipóteseespecíficaparaasnasais,masopropósitofoivercomo

estes segmentos podem atuar no processo, bem como examinar qual das duas

configurações é mais adequada para descrever as consoantes relacionadas à queda de

sílaba:separarounãoasnasais.

Com a primeira configuração (sem distinção de [nasal]), a variável CavidadeOral

dasConsoantesnãofoiselecionadaemnenhumadasrodadas–ouseja,foiumresultado

igualnasduascidades.

8.1.2. Prosódia

Outra variável que revelou resultados iguais nas duas cidades foi Prosódia. As

hipóteses formuladas foramque não há umnível que bloqueie o processo e que o nível

com umamaior tendência ao apagamento é o de frase fonológica (Battisti 2004, Pavezi

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2006aeLeal2006).

Observe no Gráfico 32 abaixo que os pesos relativos para as duas cidades são

muitopróximos:102

Gráfico32 –ComparaçãodavariávelProsódianarodadaGeral,emCapivarieemCampinas

OsresultadosdeProsódiaforampraticamenteiguaisnasrodadasGeral,deCapivari

e deCampinas e, em todas elas, o resultado foi robusto, com uma boa distribuição dos

dados.Emambasascidades,entresentenças,háumlevedesfavorecimentodaquedade

sílaba (fronteira entre frase entonacional); há um leve favorecimento do processo entre

frasesfonológicas,oquecorroboraahipóteseinicial;eseaprimeiraeasegundasílabas

docontextosegmentalestiverementredoisgruposclíticos,háumaneutralidade.

Assim, concluímos que o efeito da hierarquia prosódica na queda de sílaba em

CapivarieemCampinaséidêntica.

102Osnúmerosentreparêntesesnosgráficosdestecapítulorepresentamosnúmerosdetokensdasvariantes,naseguinteordem:darodadaGeral,darodadadeCapivarienarodadadeCampinas.Porexemplo,noGráfico32, os números entre parênteses na variante entre Is indicam que houve 1694 dados na rodadaGeral, 814dadosemCapivarie880tokensemCampinas.

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8.1.3. Osgruposdefatoresexternos

Outra igualdadeentre as duas cidades que pôde ser verificada está nas variáveis

externas: em nenhuma das rodadas (incluindo a rodada Geral) as variáveis externas

Escolaridade, Gênero e Faixa Etária foram selecionadas e, de modo oposto, a variável

Informantesfoiselecionadaemtodaselas.

8.2. Assimilaridades

Nesta subseção, apresento os resultados que podem ser considerados similares

entreasduascidades:houvequatrovariáveis linguísticascom tendências iguais,mashá

algumas diferenças entre os pesos relativos que podem indicar particularidades em cada

cidade. A comparação da variável de Cavidade Oral das Consoantes com Distinção de

[nasal]estáapresentadanasubseção8.2.1;aCavidadeOraldasVogaisestáem8.2.2;a

Estrutura Silábica está apresentada em 8.2.3; na subseção 8.2.4, está a Métrica;

finalmente,nasubseção8.2.5estáavariávelGênero.

8.2.1. CavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode[nasal]

Como vimos em 8.1, as hipóteses levantadas para as consoantes foram que

coronaistêmumatendênciaaoprocesso,enãohábloqueionosoutroscontextos.

ObserveográficoabaixodospesosrelativosnastrêsrodadasGeral,deCapivarie

deCampinas:

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Gráfico33 –ComparaçãodavariávelCavidadeOraldasConsoantescomDistinçãodoTraço[nasal]narodadaGeral,emCapivarieemCampinas

As variáveis de consoantes coronais (orais) têm comportamento igual nas duas

cidades (com pesos relativos muito próximos), favorecendo a queda de sílaba, o que

corrobora a hipótese inicial de subespecificação das coronais; quanto às nasais, há um

desfavorecimento do processo, também de forma igual nas duas cidades. Assim, estes

resultados apontamque, para nasais e coronais orais, as duas cidades têmpreferências

(quaseque)idênticas:coronaisfavorecemenasaisinibem.

Interessantemente,aCavidadeOraldasConsoantesseparandootraço[nasal]num

fator, foi selecionada nos dois dialetos (cf. também resultados das consoantes com

distinção de nasalidade na rodada geral 5.3.1.1.2; subseção 6.1.1.2 para a rodada de

Capivari; e 7.1.1.2 paraCampinas), um resultado que pode ser considerado idêntico nas

duas cidades, pois significaqueCavidadeOral dasConsoantes comDistinçãode [nasal]

interfere na aplicação de queda de sílaba nos dois dialetos, diferentemente deCavidade

OraldasConsoantes(semseparar[nasal]).Noentanto,nãopodemosconsiderarqueesta

variável atua na queda de sílaba de modo idêntico nos dois dialetos porque as dorsais

interferem no processo de modo oposto: Capivari favorece o processo neste contexto,

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191

enquantoqueCampinasdesfavorece.

Das labiais, não podemos tirar conclusões, na medida em que não houve uma

quantidadeconfiáveldedadosnastrêsrodadas(rodadaGeral,rodadadeCapivarierodada

deCampinas).

Assim,consideramosqueCavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode [nasal]

temumaatuaçãosemelhantenasduascidades:porum lado,os resultadosdascoronais

orais (independentemente de [contínuo]) e das nasais foram muito parecidos nas duas

cidades; por outro lado, o traço [dorsal] tem um comportamento oposto – há um

favorecimentodaregraemCapivarieumdesfavorecimentoemCampinas.

8.2.2. CavidadeOraldasVogais

Paraestavariável,ahipótesefoiquepodehaverumapossibilidadedeaplicaçãode

queda de sílaba com dorsais (com base em Pavezi 2006a e Leal 2006, para quem é

possívelapagamentoscomvogaisdiferentesde[+alto],naterminologiadasautoras),enão

somente com coronais e dorso-labiais (como apontam Alkmim & Gomes 1982). Esta

variável foi selecionada nas duas cidades e apresento os pesos relativos no gráfico a

seguir:

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Gráfico34 –ComparaçãodavariávelCavidadeOraldasVogaisnarodadaGeral,emCapivarieemCampinas

Observamos primeiramente as diferenças entre as duas cidades: nas sequências

comduascoronais (vereenoGráfico34)ecomumadorso-labialseguidadeumcoronal

(cf. oe), as tendências são diferentes: estes contextos favorecem a queda de sílaba em

Campinas,esãoneutrosemCapivari.

Podemos considerar semelhantes quatro contextos: uma coronal seguida de uma

dorsal(sequênciaea),emqueháumatendênciaàquedadesílabanosdoisdialetos,eo

favorecimentoémaioremCapivari;osoutros trêscontextosdizem respeitoasequências

comumadorsalnaprimeiraposição,emqueoprocessoédesfavorecidonasduascidades,

maspodemosnotarqueosapagamentosdedorsaisnaprimeirasílabasãomaisaceitosem

Capivari do que emCampinas. Interessantemente, como vimos na subseção anterior (cf.

8.2.1), contextos com o ponto de C [dorsal] também diferem nos dois dialetos no que

concerneaconsoantes:háumfavorecimentodoprocessoemCapivarieoapagamentoé

desfavorecidoemCapivari.Emoutraspalavras,opontodeC[dorsal]dasconsoantesedas

vogais interfere na queda de sílaba de formas semelhantes nas duas cidades (há uma

aceitabilidade maior de apagamento com estes segmentos em Capivari do que em

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193

Campinas).

Umaoutrasemelhançaentreascidadesestánoscontextoscomduasvogaisiguais

(cf.contextoseecomduascoronais,oocomduasdorso-labiaiseaacomduasdorsais),de

onde podemos concluir que a igualdade das vogais não é uma característica importante

paraaquedadesílaba:ospontosdeC [coronal]ou [dorso-labial] favorecemoprocesso,

enquantoqueaigualdadenoscontextoscomduas[dorsal]resultaemdesfavorecimentoda

quedadesílabaemambososdialetos.

Do contexto de uma coronal seguida de uma dorso-labial (cf.eo), nada podemos

concluir,emconsequênciadobaixonúmerodetokensnestesfatoresparaasduascidades.

Osresultadosdestavariávelcorroboramahipóteseinicial,poishouveaplicaçãode

queda de sílaba, além de coronais e de dorso-labiais, também com dorsais (cf. Pavezi

2006a e Leal 2006); e, ao contrário de Alkmim & Gomes (1982), contextos com vogais

dorsaisnãobloqueiamoprocesso–estescontextosdesfavorecemoprocesso.

Concluímosquea variávelCavidadeOral dasVogais atuanaquedade sílabade

modosimilarnasduascidades:sãodiferentesnosfatoreseeeoe (sãocontextosneutros

em Capivari e favorecedores em Campinas); semelhantes em contextos ea (há

favorecimentonasduascidades,sendoumpoucomaioremCapivari)eemcontextoscom

dorsais (desfavorecem, com uma aceitaçãomaior entre os capivarianos do que entre os

campineiros); e sequências oo e oa são iguais nas duas cidades (há favorecimento do

processo,compesosrelativospróximos).

8.2.3. EstruturaSilábica

A hipótese levantada para esta variávelfoiqueaaplicaçãodoprocessodependede

asílabaserleveoupesada:sílabassimplestenderiamàaplicaçãodoprocesso,enquanto

quesílabaspesadasoinibiriam.Nográficoabaixoestãoospesosrelativosobtidosnastrês

rodadas:

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194

Gráfico35 –ComparaçãodavariávelEstruturaSilábicanarodadaGeral,emCapivarieemCampinas

Comrelaçãoàsdiferençasentreascidades,contextoscomduassílabassimples(cf.

CV+CV)favorecem(levemente)oprocessoemCapivariesãoneutrosemCampinas;para

sequências em que há uma sílaba simples seguida de outros tipos de estruturas, isto é,

estruturas diferentes de CV (ver CV+o no gráfico), ocorre o contrário: há um (leve)

favorecimentoemCampinaseneutralidadeemCapivari.

Emumcontextocomumasílabadeataque ramificadoseguidadeoutros tiposde

estruturas (que não sejamCCV – cf. CCV+o no gráfico), há uma neutralidade nas duas

cidades; em sequências de sílabas sujeitas à queda que tenham coda ramificada e

seguidas de outros tipos de estruturas, que sejam diferentes de CVC (ver CVC+o no

gráfico) os pesos relativos são muito parecidos, indicando um desfavorecimento do

processo. Assim, podemos interpretar que, estes dois contextos (CCV+o e CVC+o) são

iguaisnasduascidades.

Comrelaçãoàssequênciasemqueháataqueramificadoemambasassílabas(cf.

contextoCCV+CCV)etambémestruturascomcodanasduassílabas(verCVC+CVC),os

resultados são inconclusivos, já que o número de tokens foi baixo (a maior quantidade

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195

nestescasosfoi73dados).

Ahipóteseinicialfoiparcialmenteconfirmadaparasílabascomcoda:defato,estas

estruturas desfavorecem o processo em ambos os dialetos; mas somente se estiver na

primeiraposição,semnecessidadedeocontextoterasduassílabascomestruturaCVC–

paracontextosCVC+CVC,onúmerode tokensfoimuitobaixo.Outrahipóteseparaesta

variável era que quanto mais leve fosse a sílaba sujeita ao apagamento, maior seria a

tendênciaàqueda;entretanto,esílabasleves(tambémnaprimeiraposição)oufavorecem

somenteemCapivari,eemCampinassãoneutrasaoprocesso.Finalmente,sílabascom

ataque ramificado (em primeira posição) são neutras – não tínhamos uma hipótese,mas

levantamosaseguintepergunta (cf.subseção4.1.4.1.2):asegundaconsoantedoataque

“atrapalha” a queda de sílaba ou é inerte? Pudemos verificar que o comportamento de

estruturasCCV é semelhante aCV, isto é, estruturasCCV são neutras ao processo – a

segundaconsoantedoataquenão“atrapalha”aquedadesílaba.

8.2.4. Métrica

AhipóteseparaavariávelMétricafoiqueaplicar(ounão)aquedadesílabadecorre

de uma otimização rítmica, com base noPAR: se houver um resultado (da aplicação do

processo) em que os acentos se alternem em fortes e fracos, o apagamento será

implementado; por outro lado, se uma sequência rítmica resultar em choque acentual, a

quedadesílabaseráinibida.

Nográficoaseguir,apresentoospesosrelativosdessavariável:

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196

Gráfico36 –ComparaçãodavariávelMétricanarodadaGeral,emCapivarieemCampinas

PodemosobservarnoGráfico36(cf.númerosentreparênteses)quehouvebaixas

ocorrênciasparaasquatrosequênciasemqueaprimeirapalavraéumdátilo[x••].Note

quenãoháumpeso relativoparao fatorcomumasílaba forteseguidadeduas fracase

outrasílabadeacentosecundário[x••#y]emCapivari,jáqueestasequênciaresultouem

knockout(N=0/3).

Para os quatro contextos com número de tokens consistente (aqueles em que

primeira palavra tem uma estrutura [ x • ]), os resultados foram semelhantes nas duas

cidades:contextos[x•#c]e[x•#y]favorecemaquedadesílaba,esequênciasoriginais

[ x •# x ] desfavorecemoprocesso.Nestecaso,umavezaplicadaaquedadesílaba,o

resultadoéumasequênciarítmica[x#x],emqueháduassílabasfortesadjacentes,oque

confirmaahipóteseinicial:umasequênciarítmicaruim(deacordocomoPAR)desfavorece

oprocesso.Masconsideramosqueavariávelatuadeformasemelhanteporquecontextos

[x•#•]sãofavorecedoresemCapivarieneutrosemCampinas.

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197

8.2.5. Gênero

Dos resultadosdaanálisedas frequênciasdasvariáveisexternas,aúnicavariável

comresultadossemelhantesnasduascidadesfoiGênero:oshomensaplicammaisdoque

asmulheres.Nográficoaseguir,apresentoasfrequênciasdestavariávelnastrêsrodadas:

Tabela51 –ComparaçãodavariávelGêneronarodadaGeral,emCapivarieemCampinasGênero %Geral %Capivari %Campinas

masculino 26,3 21,6 30,3

feminino 15,8 13 18,3

Apesardeastaxasdeaplicaçãoseremdiferentesnasduascidades(e,valelembrar,

osnúmerosdetokenstambémsãodiferentes–Capivaricom2599dadoseCampinascom

3029),éinteressantenotarqueadiferençanasporcentagensentreosfatoresmasculinoe

feminino foi muito semelhante: os capivarianos aplicam 1,662 vezes mais do que as

capivarianas;eoscampineirosaplicam1,656maisvezesdoqueascampineiras.

CombasenoresultadodequeavariávelGêneronãofoiselecionada,interpretamos

quenão importa,paraaaplicaçãodaregradequedadesílaba,seofalanteéhomemou

mulher, seja em Capivari ou em Campinas. Interessantemente, a diferença entre as

aplicações, por um lado, de capivarianos e capivarianas, e por outro, de campineiros e

campineirasfoimuitosemelhante(porvoltade1,66%).

8.3. Asdiferenças

Consideramostrêsvariáveislinguísticascomresultadosinteiramentediferentesnos

dois dialetos, já que foram selecionadas em apenas uma das cidades: Igualdade de

Segmentos,selecionadaapenasemCampinas(cf.8.3.1);NúmerodeSílabas,somenteem

Capivari (ver 8.3.2); e Frequência de uso, unicamente emCampinas (cf. 8.3.3). Para as

variáveisexternas,os resultadosdiferentesnasduascidades foramEscolaridadeeFaixa

Etária(cf.subseção8.3.4).

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198

8.3.1. IgualdadedeSegmentos

Na variável Igualdade de Segmentos, a hipótese foi que haveria uma maior

aplicaçãodequedadesílabaseseuconteúdofosseidênticoousemelhante(nestecaso,a

diferençavaialémdotraço[vozeamento],incluindo[nasal]e[anterior,distribuído]).Assim,a

expectativaseriadequecontextoscomduassílabassegmentalmenteiguaisfavoreceriamo

processo; e, de modo inverso, sílabas com segmentos diferentes desfavoreceriam o

processo.EstavariávelsófoiselecionadaemCampinas,oquesignificaqueaigualdadede

segmentos nas sílabas não é importante para Capivari. Na subseção 6.1.1.1, foram

apresentados os pesos relativos da rodada 2 em Capivari, já que a rodada 1 não foi

selecionada nesta cidade (cf. resumo da descrição das rodadas em (234), na subseção

5.2.).

Apresentoaseguirospesosrelativosobtidosnasduascidades:103

Gráfico37 –ComparaçãodavariávelIgualdadedeSegmentosnarodadaGeral,emCapivarieemCampinas

103 No Gráfico 37, os resultados de Capivari aparecem com preenchimentos diferentes para indicar que avariávelnãofoiselecionadanarodada1,massimnarodada2(cf.resumodasrodadasem(234),em5.2).

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199

Dos resultadospara IgualdadedeSegmentos, tratamosprimeiramentedos fatores

iguaisnasduascidades.Vimosqueoprocessoéfavorecidonofatordesílabasidênticas,

confirmandoa hipótese inicial, e tambémno contextos emque as consoantes são iguais

comvogaisdiferentes,emambasascidades.Seocontextoconsonantal fordiferenteem

[nasalidade](comvogais iguaisoudiferentesentresi),oprocessoé inibidoemCapivarie

em Campinas. Quanto às vogais, estes segmentos parecem ser inertes ao processo, já

que, sendo as vogais iguais ou diferentes, não há mudança na tendência em que as

consoantes são iguais (cf. C=V= versus C=V#); a tendência é a mesma (em Capivari,

favorecendo o processo e, em Campinas, há uma neutralidade) nos fatores em que as

consoantes têm valores diferentes para [vozeamento] e as vogais forem iguais versus

diferentes(vercontextosC#vozV=versusC#vozV#),ouseja,oprocessoéinertenosdois

contextos em Campinas e favorecido em Capivari; por fim, podemos nos certificar da

neutralidadedasvogais tambémnosambientesemqueasconsoantessãodiferentesno

traço [nasal] (cf. C#nasal V= versus C#nasal V#): em ambos os casos, há inibição do

processo.

Notamosqueháumadiferençaentreascidades:seasconsoantesforemdiferentes

em[vozeamento](comvogaisiguaisoudiferentes),oprocessoéfavorecidoemCapivarie

neutroemCampinas.

Finalmente, no que concerne às diferenças consonantais nos traços [anterior,

distribuído],nadapodemosconcluir,umavezqueonúmerodetokensdestefatornasduas

rodadasfoimuitobaixo.

Mesmo com poucas diferenças entre as cidades, chamamos a atenção que esta

variáveldeIgualdadedeSegmentossófoiselecionadaemCampinas,econcluímosqueter

sílabassegmentalmenteiguaisoudiferentesnãoérelevanteparaaaplicaçãodoprocesso

emCapivari. Assim, a variável Igualdade de Segmentos tem efeitos diferentes nas duas

cidades.

8.3.2. NúmerodeSílabas

ComrelaçãoaoNúmerodeSílabas,estavariávelnãofoiselecionadaemCampinas,

ou seja, a variável não é importante na implementação da regra nesta cidade; ainda,

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200

podemos interpretar que o efeito do tamanho da palavra é diferente nas duas cidades

(importa para Capivari e não importa para Campinas). A hipótese era que quantomaior

fosseapalavra,maiorseriaa tendênciaàqueda.DosresultadosparaCapivari,pudemos

observar que dissílabos desfavorecem o processo, trissílabos parecem ser inertes e

palavrasque tenham4sílabasoumais favorecemaquedadesílaba.Assim,concluímos

queo favorecimentodequedade sílabaaumentaàmedidaqueapalavra se tornamais

extensa(oquecorroboraosresultadosdeTenani(2002):ahaplologiaémaisaplicadaem

enunciadosdetamanhosmaiores).

8.3.3. FrequênciadeUsodePalavras

AúltimavariávellinguísticaqueapresentoudiferençasentreCapivarieCampinasé

Frequência de Uso de Palavras, já que esta variável não foi selecionada na rodada de

Capivari – isto é, os capivarianos não levamem conta se a palavra é frequente ou rara.

Então,maisumavez,hádiferençanestavariávelentreoscampineiroseoscapivarianos.

Ahipótesefoiquequantomaisfrequentefosseapalavra,maiorseriaatendênciaao

apagamento.OsresultadosdeCampinasapontamqueseapalavrasujeitaaoapagamento

tiverumafrequênciaaltadeusooprocessoéinerteequepalavrasdefrequênciamédiade

uso favorecem a aplicação. Para palavras de baixa frequência de uso, há um

desfavorecimentodoprocesso,eesteéoúnicofatorquecorroboraahipóteseinicial.

8.3.4. EscolaridadeeFaixaEtária

Comrelaçãoàsvariáveisexternas,vimosqueasfrequênciasdeaplicaçãodequeda

de sílaba na rodada Geral foram diferentes nas duas cidades (cf. a variável Cidade da

rodadaGeralem5.3.2.5)e,maisainda,osresultadosforamcontráriosàhipóteseproposta

no envelope de variação (em que propusemos que Capivari aplicaria mais do que

Campinas, cf. subseção 4.1.4.2.5): Campinas aplicou mais, com 24,3%, e Capivari teve

umataxade17,3%.Dessaforma,apresentamosasanálisesfeitasdasvariáveisexternas

combasenas frequências, já quenão foi possível obter os pesos relativos (cf. 6.2 e 7.2

variáveis externas para Capivari e Campinas, respectivamente). Apresento abaixo as

frequências das variáveis externas com resultados diferentes nas duas cidades,

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201

EscolaridadeeFaixaEtária:

Tabela52 –FrequênciasdasvariáveisexternasdeEscolaridadeeFaixaEtáriadarodadaGeral,emCapivarieemCampinas

variável fator geral Capivari Campinas

atéfundamental 25,3 17,2 31,5escolaridade

ensinosuperior 16,9 17,3 16,4

de20a35 22,6 19,7 25,2faixaetária

maisde50 19,5 14,6 23,5

Ao analisar apenas a rodada geral, notamos que, para Escolaridade, o fator que

indicapessoasqueestudaram,nomáximo,atéoensinofundamentaléaquelaqueresultou

numamaiorfrequência;comrelaçãoàFaixaEtária,oprocessoocorremaisentreosmais

jovens do que entre os mais velhos. Como foi visto em 8.1, a variável Gênero foi

semelhante nas duas cidades: os homens (capivarianos e campineiros) aplicammais do

queasmulheres(capivarianasecampineiras).Emresumo,asvariáveisexternasdarodada

Geral apontam que homens mais jovens com pouca escolaridade são os que mais

favorecemaquedadesílaba. Interessantemente,mudanças linguísticas seoriginamcom

ascaracterísticassociaisdegêneromasculino,maisjovensecompoucosanosdeestudo

(cf.Labov2001:294-322).104CombaseapenasnaanálisedarodadaGeral,podemosser

tentados a levantar uma hipótese de que há umamudança em curso, no entanto, essa

aparente direção de mudança não se sustenta ao olharmos para as cidades

separadamente: há diferenças na escolaridade, visto que pessoas que estudaram até o

ensinoaté fundamentalaplicarammaisdoqueaquelesquecursaramensinosuperiorem

Campinas, enquanto que, em Capivari, praticamente não há diferenças entre os dois

fatores,jáqueasfrequênciasestãomuitopróximas.ComrelaçãoàFaixaEtária,vemosna

Tabela52quenãohouvediferençanaaplicaçãodequedadesílabaparaoscampineiros,

enquantoquehádiferençasentreosmais jovenseosmaisvelhosemCapivari:naFaixa

Etáriaentre20e35anos,háumamaioraplicaçãodoquenafaixademaisde50anos.

104Dadoqueoobjetivodestatesefoiverificar,principalmente,asinterferênciasfonológicasqueatuamnaquedadesílaba(cf.seção1.2.2),ocorpusnão foiconstituídodemodoapermitirumaanálisedemudança:háumalacunaentreasduasvariantesdeFaixaEtária,sendoqueoprimeirointervalovaide20a35anos,eosegundoédefalantescommaisde50anos.

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202

Concluímos que, para Escolaridade, parece haver uma diferença ente as duas

cidades:emCapivari,adiferençanasporcentagensparaosdois fatoresémuitopróxima,

de 0,1% (17,2% para os que estudaram até o ensino fundamental e 17,3% para os que

cursaram ensino superior); em Campinas, as pessoas que estudaram até o ensino

fundamentalimplementamaquedadesílaba(quaseque)odobrodevezesdoqueaqueles

que têm ensino superior (pessoas que estudaram até fundamental aplicam a queda de

sílaba 31,5%, enquanto que os que cursaram o ensino superior aplicam 16,4%). Com

relaçãoàFaixaEtária,astaxasdeaplicaçãosãomuitoparecidasemCampinas(pessoas

nafaixade20a35anosaplicam25,2%,enquantoqueinformantescommaisde50anos

aplicam23,5%),comumadiferençade1,7%entreosfatores;emCapivari,osmaisjovens

aplicam5,1%maisdoqueosmaisvelhos(de20a35anos,aporcentagemdeaplicaçãofoi

de19,7%,enquantoquepessoascommaisde50aplicaram14,6%).

8.4. Resumo

Aquestãogeralquenorteouestetrabalhofoiqueoprocessoseriamaisaplicadona

cidadedeCapivaridoqueemCampinas,vistoquehámaiscontextosdeaplicaçãonaquela

cidade (combasenos resultadosdeLeal 2006) doqueemoutrosdialetos (cf.Alkmim&

Gomes 1982, Battisti 2004 e Pavezi 2006a para haplologia). No entanto, esta hipótese

inicial(cf.subseção4.1.4.2.5)nãofoiconfirmada,poisaquedadesílabafoiaplicadamais

vezesemCampinas.Umahipóteseaserinvestigadaéverificarseesteresultadopodeser

atribuído à variável Informantes, selecionada nas duas cidades (e também na rodada

Geral). Ao analisar cada um dos informantes, vimos que este resultado (oposto ao

esperado)poderiaserexplicadopelasidiossincrasiasde9pessoasqueouaplicarammuito

ou desfavorecerammuito a queda de sílaba – estão nos dois extremos da tendência ao

processo.Houve5informantesquefavoreceramexcessivamenteoprocessoe,dentreeles,

3 são campineiros – isto é, um grande favorecimento em Campinas. Os outros 4

informantes desfavoreceram a queda de sílaba, e 3 são capivarianos – ou seja, grande

desfavorecimento em Capivari. Em outras palavras, dos 5 informantes primeiramente

citados,4 “empurramparacima”o favorecimentoemCampinas;dasoutras4pessoas,3

“puxamparabaixo”odesfavorecimentoemCapivari.

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203

Natabelaabaixo,apresentoas tendênciasdos fatoresemcadaumadasvariáveis

linguísticas, de modo a resumir quais favorecem, desfavorecem ou são neutros ao

processo,deacordounicamentecompesorelativo;paraasvariáveissociais,comparoas

frequências:105

Tabela53 –ResumodastendênciasdasfatoresemCapivarieCampinas variáveis fatores Capivari Campinas

C=V= favorece

C=V# favorece

C#vozV= neutro

C#vozV# neutro

C#nasalV= desfavorece

C#nasalV# desfavorece

IgualdadedeSegmentos

C#distr.

nãoselecionada

inconclusivo

t+t

s+s

p+p

f+f

CavidadeOraldasConsoantes

k+k

nãoselecionada nãoselecionada

t+t favorece favorece

s+s favorece favorece

p+p inconclusivo inconclusivo

f+f inconclusivo inconclusivo

k+k favorece desfavorece

CavidadeOraldasConsoantescom[nasal]

n+n desfavorece desfavorece

ee neutro favorece

oo favorece favorece

aa desfavorece desfavorece

ea favorece favorece

oa favorece favorece

linguísticas

CavidadeOraldasVogais

oe neutro favorece

105 As tendências marcadas em cinza claro na Tabela 53 indicam igualdades em Capivari e Campinas; asmarcações em cinza escuro são tendências semelhantes nas duas cidades.Células embranco representamtendênciasdiferentesnasduascidadesouresultadosinconclusivos.

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204

eo inconclusivo inconclusivo

ae desfavorece desfavorece

ao desfavorece desfavorece

CV+CV favorece neutro

CV+o neutro favorece

CCV+CCV inconclusivo inconclusivo

CCV+o neutro neutro

CVC+CVC inconclusivo inconclusivo

CVC+o desfavorece desfavorece

EstruturaSilábica

o+o inconclusivo inconclusivo

x••#• inconclusivo inconclusivo

x••#c inconclusivo inconclusivo

x••#y inconclusivo inconclusivo

x••#x inconclusivo inconclusivo

x•#• neutro neutro

x•#c favorece favorece

x•#y favorece favorece

Métrica

x•#x desfavorece desfavorece

entreIs desfavorece desfavorece

entreΦs favorece favoreceProsódia

entreCs(Φr) neutro neutro

2σs desfavorece

3σs neutroNúmerodeSílabas

4σsoumais favorece

nãoselecionada

alta neutro

média favorece

FrequênciadeUsodePalavras

baixa

nãoselecionada

desfavorece

fundamental aplicaigual aplicamaisEscolaridade

superior aplicaigual aplicamenos

masculino aplicamais aplicamaisGênero

feminino aplicamenos aplicamenos

20-35 aplicamais aplicaigual

sociais

FaixaEtáriamaisde50 aplicamenos aplicaigual

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205

8.5. Duascidades,duasregras?

Naseção8,consideramostrêstiposdecomparaçõesentreosfatoresdasvariáveis

deCapivariedeCampinas,quaissejam: iguais(fatorescomtendênciasepesosrelativos

iguais nas duas cidades); semelhantes (fatores com tendências iguais, mas com uma

frequência de aplicação maior numa cidade do que na outra); e diferentes (fatores com

tendênciasdistintasnasduascidades;ainda,seumavariávelfoiselecionadanumacidade

enão foiemoutra, tambémconsideramosqueaatuaçãodavariávelédiferente – jáque

interferenacidadeemquefoiselecionadaenãotemnenhumaatuaçãonacidadequenão

foiselecionada).Nasdescriçõesapresentadasnassubseções8.1,8.2e8.3anteriores (e

resumidas em 8.4), pudemos verificar que há distinções nos dialetos de Capivari e

Campinasnoqueconcerneàaplicaçãodaquedadesílaba.Parafacilitaravisualizaçãodas

diferenças,semelhançaseigualdadesnasduascidades,apresentoumresumonatabelaa

seguir,quelevaemcontaacomparaçãodospesosrelativos(paraasvariáveislinguísticas)

efrequências(paraasvariáveissociais):

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Tabela54 –Resumodasdiferenças,semelhançaseigualdadesemCapivarieCampinas variáveis fatores CapivarieCampinas

C=V=

C=V#

C#vozV=C#vozV#

C#nasalV=

C#nasalV#

IgualdadedeSegmentos

C#distr.

diferente,selecionadasóemCampinas

t+t

s+s

p+p

f+f

CavidadeOraldasConsoantes

k+k

igual(nãoselecionada)

t+t igual

s+s igual

p+p inconclusivo

f+f inconclusivo

k+k diferente

CavidadeOraldasConsoantescom[nasal]

n+n igual

ee diferente

oo igual

aa semelhanteea semelhante

oa igual

oe diferente

eo inconclusivo

ae semelhante

CavidadeOraldasVogais

ao semelhante

CV+CV diferente

CV+o diferente

CCV+CCV inconclusivo

CCV+o igual

CVC+CVC inconclusivo

CVC+o igual

EstruturaSilábica

o+o inconclusivo

linguísticas

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x••#• inconclusivo

x••#c inconclusivo

x••#y inconclusivo

x••#x inconclusivo

x•#• igual

x•#c semelhante

x•#y semelhante

Métrica

x•#x semelhante

entreIs igual

entreΦs igualProsódia

entreCs(Φr) igual

2σs

3σsNúmerodeSílabas

4σsoumais

diferente,selecionadasóemCapivari

alta

média

FrequênciadeUsodePalavras

baixa

diferente,selecionadasóemCapivari

fundamental diferenteEscolaridade

superior diferente

masculino igualGênero

feminino igual

20-35 diferente

sociais

FaixaEtáriamaisde50 diferente

Como foi visto em 2.1, integramos teoria fonológica e variação de acordo com a

tendênciaeaprodutividadedequedadesílaba:

• Variável com uma mesma tendência (favorecimento, neutralidade ou

desfavorecimento) emesma produtividade: as características de queda de sílaba

sãoconsideradasiguaisemCapivarieemCampinas;

• Variável com tendências iguais mas os pesos relativos são diferentes: há uma

mesmaregraquetemumaprodutividadediferentenasduascidades;e

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• Finalmente, tendências diferentes (e, consequentemente, pesos relativos

diferentes):háumaregraparaCapivarieoutraregraparaCampinas.

A produtividade do processo (tendências iguais com pesos relativos diferentes)

indicamqueaaplicaçãoémaiornumacidadeemenoremoutra,masastendênciassãoas

mesmas–háumamesmaregra.Tendênciasdiferentes indicamqueháumadiferençano

contextodeaplicaçãodaregrae,consequentemente,háduasregrasdiferentesnasduas

cidades–umfatorpodefavoreceroprocessoemumacidade,edesfavoreceremoutra.

Voltando à Tabela 54, temos que Igualdade de Segmentos, Número de Sílabas,

FrequênciadeUsodePalavras,EscolaridadeeFaixaEtáriasãoclaramentedistintosnas

duas cidades. Por outro lado, Cavidade Oral das Consoantes sem Distinção de [nasal],

Prosódia e Gênero são claramente iguais. Nas demais as variáveis, encontramos uma

distribuiçãomenosclara.Poroutro lado,CavidadeOraldasConsoantescomdistinçãodo

traço [nasal] tem tendências e produtividades praticamente idênticas para coronais orais

(favorecedoras), nasais (desfavorecedoras) e labiais (em ambas as cidades, a

produtividadedestecontextoémuitobaixa);apesardestasigualdadesnavariávelCavidade

OraldasConsoantescomDistinçãode[nasal],noentanto,astendênciassãoopostaspara

dorsais,oqueindicaduasregrasdistintas.NoqueconcerneàCavidadeOraldasVogais,

verificamos que há: (i) igualdades (como no favorecimento nos contextos [dorso-labial +

dorso-labial] e [dorso-labial + dorsal]), ou seja, os fatores têm uma mesma tendência e

produtividade;(ii)semelhanças(comonoscontextoscomuma[dorsal]naprimeirasílabae

contextos[coronal+dorsal],casosquedesfavorecemoprocesso), istoé,atendênciaéa

mesma,masaprodutividadeédiferente;e(iii)finalmente,oscontextos[coronal+coronal]e

[dorso-labial+coronal]sãodiferentesnasduascidades,umavezqueháumaneutralidade

emCapivari e um favorecimento emCampinas.Observando-se (i), (ii) e (iii), concluímos

queCavidadeOral das Vogais tem efeito diferente nas duas cidades.Quanto àMétrica,

vimosqueháumadiferençanaprodutividade,masnãonaregra:contextos[x•#y]e[x•#

c]favorecemoprocesso,[x•#•]sãoneutrose[x•#x]desfavorecem–todasastrêscom

umamesmatendêncianasduascidades.

Finalmente,comovimosnoCapítuloIII,emqueabordamosadefiniçãodoprocesso

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209

fonológico, o nível mais importante para definir a queda de sílaba é o segmental, mais

especificamente,asconsoantes,oquefoicorroboradopeloestudopilotodestetrabalho(cf.

5.1).Vimostambém(cf.subseção8.2.1)queasconsoantescoronaisoraiseasnasaistêm

comportamentos muito parecidos nas duas cidades; no entanto, as dorsais têm

comportamento oposto: há um favorecimento do processo com estes segmentos em

Capivari,enquantoqueoprocessoé inibidoemCampinas.Eseoquedefineaquedade

sílaba é o contexto consonantal, há uma diferença nas regras das duas cidades: as

tendênciaseasprodutividadesdascoronaisedasnasaissão(quaseque)idênticas(para

as coronais [-contínuo], os pesos relativos foram 0,653 e 0,644 em Capivari e em

Campinas,respectivamente;paraascoronais[+contínuo],p=0,626emCapivariep=0,652

em Campinas; para as nasais, p=0,3 em Capivari e p=0,33 em Campinas).

Interessantemente, as labiais ([-contínuo] e [+contínuo]) tiveram ocorrências baixas, em

ambas as cidades, o que indica que estes contextos não são tão produtivos, tanto em

CapivariquantoemCampinas.Assim,somenteobservandocoronaisorais,nasaiselabiais,

poderíamos concluir que há uma mesma regra nas duas cidades. No entanto, há uma

expansão no contexto de queda de sílaba em Capivari se comparado à Campinas com

contextos com duas dorsais: na primeira cidade, há um favorecimento do processo, com

p=0,584, enquanto que na segunda há um desfavorecimento, com p=0,343, e

consequentemente, uma produtividade diferente nas duas cidades. A regra se aplica de

mododistinto:háumfavorecimentocomdorsaisparacapivarianosedesfavorecimentopara

campineiros.

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CAPÍTULOIX

9. AlgumasquestõeslinguísticasNestecapítulo,discutoasseguintesquestões linguísticasrelacionadasàquedade

sílaba: o papel damétrica (ver 9.1); o papel da frase fonológica (cf. 9.2); o tamanho da

palavra (sujeita à queda) e recuperação de informação (cf. subseção 9.3); e a estrutura

silábicaversusestruturainternadossegmentos(ver9.4).

9.1. Métrica

Nesta variável, propusemos oito fatores: em quatro deles, a primeira palavra tem

umasílabaforteseguidadeduasfracas[x••#•],[x••#c],[x••#y]e[x••#x]e,

nosoutrosquatro,aprimeirapalavratemumasílabaforteseguidadeumafraca[x•#•],

[x•#c], [x•#y]e[x•#x].Nãopudemosinterpretarasquatroprimeirassequências

com dátilos, pois as frequências forammuito baixas nestes fatores.106Os resultados dos

contextos em que a primeira palavra tem uma sílaba forte seguida de uma fraca, no

entanto,levantamalgumasquestõesparaaspropostasmétricasatuais.

A literaturasobreoassuntoéconcordequeosacentossãoatribuídosnãodeum

modoabsoluto,masquecadasílabarecebeumgraudeacentoemrelaçãoaoutrasbatidas

numamesmaestruturarítmica:oacentotemumanaturezarelacional(cf.Hayes1995:377-

8 e subseção 2.2.3). Na hierarquia apresentada em (206) (cf. subseção 4.1.4.1.3 e

referênciasalicitadas),háquatrograusdeacento,comoreescrevoabaixo:

(278) Hierarquiadeacento:

acentoprimário>acentosecundário>clítico>sílabafraca

acentuadas desacentuadas

106AsocorrênciasdarodadaGeral(versubseção5.3.1.3),deCapivari(cf.6.1.3)eCampinas(ver7.1.3)foram,respectivamente:[x••#•]com26,11e15;[x••#c]com93,38e55;[x••#y]com6,3e3;e[x••#x]com73,32e41.

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Em(278),observamosqueosgrausmaisaltossãooacentoprimárioeosecundário

(oprimárioémais fortedoqueosecundário);eosgrausmais fracossãoclíticoesílaba

fraca(destesdoisgraus,clíticospodemserconsideradosmaisfortesdoquesílabasfracas

porquecarregamacentodepalavra).

Esquematicamente, ao relacionar a queda de sílaba (dos contextos em que a

primeirapalavratemumaestruturaacentual[x•])àhierarquiadeacentoem(278),temos:

Tabela55 –Relaçãoentreaquedadesílabaeahierarquiadeacentoemqueprimeirapalavraé[x•])contexto resultado expectativadequedadesílaba

(1)x•#x choquedeacentos1ário x#x evitesempre

(2)x•#y choquede1árioe2ário x#y evite(menosdoque(1))

(3)x•#c forte+clítico x#c implemente(menosdoque(4))

(4)x•#• forte+fraca x#• implementesempre

ComovemosnaTabela55, aexpectativaé que contextosemqueháumasílaba

forteseguidadeuma fracanaprimeirapalavraeumacentoprimárionasegundapalavra

[ x • # x ] ou secundário [ x • # y ] tenham, ao menos, resultados semelhantes,

desfavorecendoaquedadesílaba:aaplicaçãodoprocessoresultaemsequênciasrítmicas

ruinscomrelaçãoaoPAR[x#x]e[x#y],jáquegeraduassílabasfortesadjacentes–

umchoqueacentual.Comrelaçãoàssequências[x•#c]e[x•#•],umavezqueclíticos

esílabasfracasnãocarregamacento,ambasdeveriamfavoreceroprocesso:nestesdois

contextos,háduassílabasfracasadjacentes,umasequênciaritmicamenteruim,deacordo

comoPAR,eaimplementaçãodaquedadesílabaresultariaemsequênciasritmicamente

melhores[x#c]e[x#•]doqueasoriginais[x•#c]e[x•#•].

Oresultadoobtidoparaofator[x•#c]nasduascidadescorroboraasprevisõesda

Tabela 55 e está de acordo com o PAR: há um favorecimento do processo neste fator

(estrutura[x•]seguidadeclíticofonológico)emCapivarieemCampinas.Naestrutura[x•

#x]queresultaem[x#x],vimosquechoqueacentualnãobloqueiaaquedadesílaba,

mas desfavorece o processo nas duas cidades, também de acordo com o PAR (Selkirk

1984:52),ecorroboraosresultadosdehaplologiadeTenani(2002)edequedadesílaba

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deLeal(2006).

Asurpresaocorrecomassequências [x•#•]e[x•#y].Aexpectativaeraque

contextos [ x • # • ] tivessem um resultado semelhante às sequências [ x • # c ], como

apresentadonaTabela55,pordoismotivos:

(a) Ou deveriam ser iguais, com favorecimento da queda de sílaba nos dois

contextos(jáqueasduassílabasnãotêmacento);

(b) Ouocontexto[x•#c]favoreceriaaquedadesílabaumpoucomenosdoquea

sequência [ x •# • ], levando-seemcontaqueumclíticopodeserconsiderado

mais acentuado do que uma sílaba fraca (um clítico carrega acento de palavra

enquanto que uma sílaba fraca nunca tem acento em nenhum nível) – cf.

referênciasnasubseção2.2.3.

Nas subseções de resultado paraMétrica,107 vimos que a sequência [ x • # • ] é

neutra,nãofavoreceoprocesso,levandoamaioresviolaçõesdoPAR.Alémdisso,noque

concerneaopadrãodeaplicaçãode[x•#•]emcomparaçãoa[x•#c],temosque,em

cada um dos contextos, há uma sílaba com acento seguida de duas sem acento. A

diferença entre os resultados das duas variáveis é que, embora ambas sejam sílabas

fracas,ocomportamentofoidiferente([x•#c]favoreceoprocesso,mas[x•#•]éneutro,

oquenãoestádeacordocomaexpectativaapresentadanaTabela55).

Outroresultadointeressantefoiodasequência[x•#y].Aexpectativaapresentada

naTabela55eraqueaquedadesílaba fossedesfavorecida,damesma formaquenum

contexto [x•#x ],poisaaplicaçãodoprocessocriariaumchoqueacentual.Noentanto,

estecontexto[x•#y]favoreceaquedadesílaba.Emoutraspalavras,vistoqueassílabas

finaisdoscontextos[x•#x]e[x•#y]carregamacento,aimplementaçãodoprocesso

causachoqueacentual,oquevaicontraoPAR.

ConformemefoiapontadoporSantos(comunicaçãopessoal),estemesmopadrãoé

encontrado em outros processos entre palavras, a saber a degeminação e a retração

acentual.Arestriçãométricaparaadegeminaçãoentrepalavraséqueoprocessoocorre

107 Cf. em 5.3.1.3 os resultados da rodada geral, em 6.1.3 da rodada deCapivari e em 7.1.3 da rodada deCampinas.

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entreduassílabasfracas(meninohorrível>meni[no]rrível),masnãoseasegundasílaba

portar acento primário (ovo oco > *o[vo]co) – cf. Santos (2007). No caso de menino

operário, em que a primeira sílaba da segunda palavra recebe acento secundário no

portuguêsbrasileiro,oprocessopodeocorrer (meni[no]perário), oquemostraqueparaa

regra, interessaapenasoacentoprimário.Omesmoocorrecomretraçãoacentual:sóhá

aplicaçãoentresílabasportadorasdeacentoprimário.Umasequênciadeacentoprimário

maisacentosecundárionão levaà retraçãoacentual,comopodesevernoexemplocafé

operário *[ˈka.fɛ.ˌo.pe.ˈra.riw]. Tal fato leva-a a sugerir que pode ser o caso de que, no

portuguêsbrasileiro,ahierarquiaem(278)devaser:

(279) Hierarquiadeacento:

acentoprimário>acentosecundário>clítico>sílabafraca

acentuada desacentuadas

Em (279), o que se sugere é que o acento secundário também seja considerado

comoumasílabafracanoportuguêsbrasileiro.Dessaforma,teríamosqueumasílabafraca

entreduas sílabas fortes [ x • # x ] desfavoreceaquedade sílaba, poishádoisacentos

adjacentes; para os outros contextos – uma sílaba fraca entre um acento primário e um

secundário[x•#y],umlapsode2sílabas(emqueaúltimaéumclítico)[x•#c]elapso

de2sílabasfracas[x•#•]–aúnicarestriçãoserianãodesfavorecer,pois,seoresultado

daaplicaçãodequedadesílabanestescontextosnãocausachoqueacentual,atendência

podetantoseraofavorecimentoquantoàneutralidadedaaplicaçãodoprocesso.

9.2. Prosódia

Nesta variável, pudemos verificar que a fronteira entre duas frases fonológicas é

(levemente) mais propícia à queda de sílaba, o que corrobora os resultados de Battisti

(2004),Pavezi (2006a)eLeal (2006).Na fronteiraentredoisgruposclíticos (que também

podeserdentrodefrasefonológicareestruturada),nãoháqualquerefeito;finalmente,entre

sentenças (frases entonacionais), o processo é (levemente) desfavorecido. E estes

resultadosparaostrêsníveisestudadossãoosmesmosnasduascidades.

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Assim,umaprimeirainterpretaçãodosresultadoséqueahierarquiaprosódicanão

interfere no processo, pois ele pode ocorrer em qualquer nível (cf. Tenani 2002, Pavezi

2006a e Leal 2006) e, além disso, vimos que os resultados dos fatores não sãomuito

polarizados–afrasefonológicainfluencialevementenaquedadesílaba.

Comoreportamosem3.2.4,osdadosdeTenani(2002)apontamqueaaplicaçãode

haplologia se dá inversamente aos níveis prosódicos; assim, quanto mais baixo for o

constituinte, maior é a taxa de implementação do processo. Estes resultados não foram

corroborados em nossos dados, pois a queda de sílaba foi levemente favorecida entre

frases fonológicas (oquecorroboraBattisti2004,Pavezi2006a,paraahaplologia,eLeal

2006,paraaquedadesílaba).

Chamamosaatençãoparaofatodeque,comovimosem8.5,CapivarieCampinas

têmregrasdiferentesdequedadesílaba;mesmoassim,nasduascidades,háumpequeno

favorecimentoentrefrasesfonológicas.ParaosdialetosdePortoAlegre(cf.Battisti2004),

deSãoJosédoRioPretoedeSãoPaulo(ambososdialetos,cf.Pavezi2006a),étambém

entrefrasesfonológicasqueahaplologiamaisocorre.Estesresultadospodemserpistasde

que a tendência ao apagamento entre duas frases fonológicas é uma característica do

portuguêsbrasileiro:oprimeirodialetoédosuldopaís,avariedadedePortoAlegre(Battisti

2004); o outro é do norte do estado de São Paulo, o dialeto de São José do Rio Preto

(Pavezi2006a);háaindaavariedadedacapitaldoestadodeSãoPaulo(Pavezi2006a);e

finalmente,o favorecimentode frase fonológica foiencontradoemduascidadespróximas

do interiorpaulista,CapivarieCampinas–masvale lembrarqueestasduascidades têm

regrassegmentaisdiferentesdeaplicaçãodoprocesso.

Dado que há neutralidade em grupo clítico, um (leve) desfavorecimento em frase

entonacionale(leve)favorecimentoapenasemfrasefonológica,levantamosahipótesede

ser este um processo característico de frase fonológica no português brasileiro. Se

estivermos na direção certa, a queda de sílaba pode ser utilizada na investigação de

processos de interface fonologia-sintaxe (cf. Abousalh 1997, Santos 2002, 2003, 2009,

Nunes&Santos2009).

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9.3. Tamanhodapalavra

Nos resultados da variável de Número de Segmentos (selecionada apenas em

Capivari), vimosquea tendênciadeaplicaçãoédiretamenteproporcionalao tamanhoda

palavra: dissílabos desfavorecem (levemente) o processo, trissílabos são neutros e

palavrascom4sílabasoumaisfavorecem(levemente)aquedadesílaba.

Podemosassociarestesresultadoscomarecuperaçãodainformação,peloouvinte,

do que “não está lá”.Observe os exemplos a seguir, em que há aplicação de queda de

sílabae,originalmente,aprimeirapalavradoexemplo(280)tem4sílabaseadoexemplo

(281)temduassílabas:

(280) [ˌdẽ.si.ˈda]doalho 1apalavra:4sílabas

(281) [ˈdẽ]doalho 1apalavra:2sílabas

Em(280),oprocessoéumpoucofavorecido(apalavratem4sílabas)e,em(281),a

queda de sílaba é levemente desfavorecida (a palavra sujeita à queda é um dissílabo).

Comparando-seasduasaplicações,ainformaçãoapagadanoexemplo(280)émuitomais

facilmente recuperada, e o ouvinte pode deduzir que a primeira palavra só pode ser

densidade;aproduçãoem(281)podeserambígua, jáque [ˈdẽ]doalhopodese referira

dentro do alho ou a dente do alho; assim, o ouvinte está muito mais dependente do

contextoem(281)doqueem(280).

Observeosexemplosaseguir:

(282) [aɽ.ki.ˈtɛ]deCampinas 1apalavra:4sílabas

(283) [ˈga]deCapivari 1apalavra:2sílabas

Assim como no par apresentado em (280) e (281), a informação perdida com a

aplicaçãodaquedadesílabaem (282)podesermaissermais facilmente recuperadado

que em (283), também por causa do tamanho da palavra. Note que émais difícil de se

encontrar umapalavraquecomececom [aɽ.ki.ˈtɛ].Poroutro lado, [ˈga] em (283)podese

referir agarra,galo,gafe, etc. (considerando-se apenas palavras que começam por [ˈga]

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comosílabaforte).

Adiferençaentre(280)[ˌdẽ.si.ˈda]doalhoe(281)[ˈdẽ]doalho,deumlado,e(282)

[aɽ.ki.ˈtɛ]deCampinase(283)[ˈga]deCapivari,deoutro,éque,nosegundopar,éapagado

também um morfema. Assim, em (282), a informação apagada pode ser arquitetO de

CampinasouarquitetAdeCampinas;damesmaforma,em(283),ossintagmaspodemser

gatOdeCapivariougatAdeCapivari.Mesmocomoapagamentodeummorfema,aqueda

épermitida,eémuitomaissimplesparaoouvinterecuperararquitetdoquegat.

Podemos concluir que a condição de recuperação informacional depende do

tamanhodapalavrasujeitaàqueda–quantomaissílabas,maisfácilsetornarecuperara

palavra original, e talvez seja essa a razão de encontrarmos um padrão na queda

proporcionalaotamanhodapalavra.

9.4. Estruturasilábicaegeometriadetraços:Sílabasousegmentos?

Nestasubseçãodiscutoalgumasquestõessobreumfatocuriososobreaquedade

sílaba:éumprocessoquetemcomoalvoasílaba(poisoresultadoéoapagamentodesta

unidade); entretanto, o gatilho da regra não é silábico, mas sim segmental – mais

especificamente,consonantal.Emoutraspalavras,éa identidadededeterminados traços

consonantais da primeira posição do ataque de duas sílabas que importa para que o

processo ocorra; nem os traços vocálicos interessam, nem a consoante num ataque

ramificado.Dequalquerforma,oprocessoparecedependerdedoiselementos(silábicosou

intrassilábicos)idênticosediscutimostambémoOCP(cf.2.2.2).

Assumimos a teoria da estrutura da sílaba de Selkirk (1982) (cf. subseção 2.2.2),

repetidaem(284):

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(284) Representaçãodaestruturadasílaba,adaptadodeSelkirk(1982:331)

sílaba

ataque rima

(C)(C)núcleo coda

V(V) (C)(C)

Comovemosem(284),asílabaestádivididaemataqueerima,sendoquearimase

divideaindaemoutrosdoisconstituintes:onúcleoeacoda.Oataque,onúcleoeacoda

podem ser ramificados, e estes constituintes são todos binários para Selkirk (1982). Em

(284), os parênteses indicam que as duas posições de ataque, as duas de coda e a

segunda posição da rima não precisam ser necessariamente preenchidas; assim, temos

exemplosdoportuguêsbrasileirodeestruturasdesílabasV(comonoverboserflexionado

É), CV (como em PÉ), CCV (por exemplo, PREto), CVC (PERto), CVV (PEIto), VVCC

(EINStein),CCVV(BREU),etc.

Seoataque,acodaeasegundaposiçãodarimanãotêmnecessidadedeaparecer

em todasassílabas,como representadonanotaçãoem (284),aúnicaposiçãodasílaba

que deve ser obrigatoriamente preenchida é o núcleo (peak), ocupada, nas diversas

línguas,porumavogal,oudeummodomaisabrangente,porumsegmentovocálico.108Em

outraspalavras,avogalquepreencheonúcleoéapartefundamentaldasílaba.

Umprimeiroproblemaquesecolocaéofatodequeaquedadesílaba“olha”para

umsegmentoquenãoestánaposiçãofundamentaldasílaba;maisdoqueisso,oprocesso

devedesprezarestessegmentos–asvogais–afimdepoder“enxergar”algumaidentidade

entreasconsoantes.ParailustraraquestãocomduassílabasCV,temos:

108 Os segmentos /r/ e /l/ são [+vocálicos] e podem também ser o núcleo de uma sílaba, como no inglêsamericano Jenifer > Jeni[fr] (cf. Clements&Keyser 1983: 189, para quem /ɛ, ɪ, r/ constituempicos silábicosnesta palavra). De acordo com Goldsmith (2011), no Imdlawn Tashlhiyt Berber (dialeto berber falado noMarrocos),ofemininodaterceirapessoadosingulardoverbo‘puxar’ét/l/di,ouseja,o/l/éonúcleodaprimeirasílaba.

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(285) sílaba1 sílaba2

ataque rima ataque rima

C núcleo C núcleo

V V

Este fato de o processo ter de ignorar as vogais para poder “enxergar” as

consoantes vai de encontro à generalização de Clements & Hume (1995: 288) dada a

seguir:

It is a striking crosslinguistic generalization that consonantal place features do notappeartobeabletospreadasaunitfromoneconsonanttoanotheracrossvowels.(...)Forexample,althoughwecommonfindrulesinwhichanasalassimilatestoanadjacent consonant in all its place features, we never find rules in which a nasalassimilatestoallplacefeaturesofaconsonantacrossavowel.(grifosmeus)

Os itálicos na citação acima indicam que os casos tratados pelos autores são

espalhamentodetraços(featurespreading),quevaideumaconsoanteaoutra,oquenão

ocorrecomaquedadesílaba.Noentanto,mesmonãosendoumprocessodeassimilação

(não há espalhamento de traços),mas sim um tipo de dissimilação (cf. Mercado 2001 e

Plag1998),ogatilhodoprocesso(duasconsoantescomdeterminadostraçosiguais)deve,

dealgumaforma,ignoraravogalintermediária.Alguémpoderiaargumentarqueoprocesso

olhaparaostraçosdasconsoantesedasvogais,comoem:

(286) dependen(DO)DOdia (q)

Neste caso, deveríamos tomar as sílabas do + do como duas unidades, e não

quatro;assim,oprimeiroelementodoéigualeestáadjacenteaosegundoelementodo,o

quepoderesultarnoapagamentodeumadasunidades(silábicas)do.Assim,poderíamos

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concluir que o processo pode ocorrer com sílabas iguais, o que corroboraria o OCP:

elementos(sílabas)adjacentesidênticossãoproibidos.

Porém,ofatoéqueaquedadesílabapodesedarcomconteúdosdiferentes(desde

quecomasconsoantesdoataquetendoomesmopontodeCe[contínuo]),oquenãopode

serexplicadopeloOCP.Maisainda:nocasodeCCV(cf.exemplo(287)),oprocesso“pula”

tambémasegundaconsoantedoataque,oquemostraumadiferençadasduasposições

doataquequenãoestácapturadapeloesquemaem(284),exemplificadoaseguir:

(287) /tro+de/ encon(TRO)DEmoto (s)

No contexto segmental /tro + de/ acima, há não um, mas dois cruzamentos de

linhas,poishádoiselementosintervenientes.Assim,oprocessodeve“enxergar”oataque

da primeira sílaba /t/ e o ataque da segunda sílaba /d/, “pulando” dois segmentos: a

segundaconsoante/r/doataqueramificadoeavogaldaprimeirasílaba/o/.

Umoutrofatoaserlevandoemcontaéque,seaquedadesílabaignoraarima,e

trata-sedeumaregradeataque,comoexplicarqueCVCinibearegra?

(288) /deN+dos/ orDEMDOSadvogados (j)

Nocontextoacima,a sílabassujeitaaoapagamento temcoda final, oque inibea

regra.

Podemos resumiraspropriedades interessantesdaquedadesílabaque levantam

questõessobreaestruturadasílabacomoseguinteexemplo:

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(289) /tros+de/ meufilhocaiudedoisme(TROS)DEaltura (Q)

sílaba1 sílaba2

2odesfavorecimento

ataque rima ataque rima

ignorado

trnúcleo coda d núcleo

o s e

1oidentidadedetraçosinternos

Assim,aquestãoaserrespondidaé:senãoéoOCPodesencadeadordaquedade

sílaba,qualéarestrição?Emoutraspalavras,seaidentidadequeoprocessoolhanãoéa

dassílabas,qual(is)é(são)esta(s)unidade(s)?

A discussão a seguir tem o objetivo de relacionar a geometria de traços aos

resultadosdequedadesílabaparaonódecavidadeoral(oqueenglobaopontodeCeo

traço[contínuo]),paraotraço[nasal]eparaotraço[vozeamento](queédominadopelonó

[laringal]).

Observeageometriaapresentadaaseguir,emqueestãoosnósetraçosrelevantes

paraadiscussãoquesesegue:109

109Ostraçosquenãoserãodiscutidos foramretiradosdoGráfico38para facilitaravisualização.Cf.aárvorecompletaemClements&Hume(1995:292)etambémnasubseção2.2.1destatese.

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Raiz nóA

Laringal [nasal]

Cavidadeoral nóB

[±vozeado] [±contínuo]

PontodeC nóC

[labial] [coronal] [dorsal]

Gráfico38 –Geometriadosnós:raiz,laringalecavidadeoral(adaptadodeClements&Hume1995:292)

Nasubseção2.2.1, vimosqueos traçosestãoorganizadosdemodoque, seuma

regrafonológicaseaplicanumnó,todososnósdominadostambémserãoafetados,poisas

linhas de associação agrupam constituintes (classes naturais de sons) – cf. Clements &

Hume(1995:251).Adicionalmente,osautores(p.50)propõemoprincípiodequeasregras

fonológicas devem executar uma única operação (cf. 2.2.1). Unindo este princípio e a

organização de traços apresentada no Gráfico 38 aos resultados obtidos no presente

trabalho,quaissejam:

• traço[±vozeado](submetidoaonó laringal):seforemdiferentes,não interferemna

quedadesílaba(háneutralidade);seforemiguais,favorecem.

• otraço[nasal]:interferenaquedadesílaba,desfavorecendo-a;

• [±contínuo](submetidoàcavidadeoral):interferenaquedadesílaba,bloqueandose

nãohouverigualdadenestestraços;

• pontodeC(submetidoàcavidadeoral):interferenaquedadesílaba,bloqueandose

nãohouverigualdadenestenó,

aperguntaquebuscamosresponderé:emqual(is)nó(s)outraço(s)aquedadesílabase

aplica?

Observe-seinicialmenteonóCqueincluiopontodeCeoqueestáabaixodele.Os

resultados (cf. Leal 2006)mostraram que não só o ponto deC é importante,mas que o

traço[contínuo]tambémtemumpapelnaaplicaçãodequedadesílaba.Umavezqueeste

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222

traço está acima de ponto de C, podemos concluir que a regra não atua no nó C. Leal

(2006) propõe que é no nó B que o processo se baseia, pois ele inclui ponto de C e

[contínuo].Noentanto,nãopodesernestenó,poisnossosresultadosapontamque[nasal]

interferenoprocesso,desfavorecendo-o,eestetraçoestáacimadonóB(cavidadeoral)–

o que indica que a regra de queda de sílaba depende mais do que de ponto de C e

[contínuo],aocontráriodoqueafirmaLeal(2006).

Assim,paraqueaquedadesílaba“enxergue”otraço[nasal],aúnicaopçãoéqueo

processoseapliquenonóA,naraizdosegmento:

Raiz nóA

Laringal [nasal]

Cavidadeoral

[±vozeado]

Gráfico39 –Aplicaçãodequedadesílaba:nóderaiz

SeaquedadesílabaseaplicaaonóA(araiz),estahipótesedácontadofatoquea

regra“enxerga”otraço[nasal]eacavidadeoral(pontodeCe[contínuo]),comoexemplifico

aseguir:

(290) tembugri(NO)NAfamília (T)

(291) fazen(DO)NAdadeerrado (m)

Em (290), há duas consoantes com ummesmo ponto deC [coronal], ummesmo

valor [-contínuo]esãoduasnasais;em (291), /d+n/diferemem [nasal],poisaprimeiraé

oral.Emambososcasos,oprocessoédesfavorecido.

Noentanto,onóderaiz tambémenglobaotraço[vozeamento],queédependente

donó[laringal].SeoprocessoprocuraaigualdadenonóA,entãocasoscomvariaçãode

[vozeamento]deveriamdesfavoreceroprocesso:

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223

(292) /z+s/ qua(SE)CERteza (G)

(293) /d+d/ apareci(DA)DOnorte (k)

Em(292),háumaconsoante[+vozeado]seguidadeoutra [-vozeado],contextoem

que encontramos umaneutralidade da quedade sílaba; em (293), ambas as consoantes

têmummesmovalor[+contínuo],casosemqueháumfavorecimentodoprocesso.

Arespostaparaaquestãopodeestarnoresumodosfatos:enquantoquepontosde

C diferentes e [contínuo] diferentes bloqueiam o processo, uma diferença em [nasal] ou

[vozeamento]nãobloqueiaoprocesso,apenasdesfavoreceoumantém-seneutro.

Assim, a questão que se coloca é que parece que cada nó/traço tem um peso

diferentenoprocesso.Adiscussãoquedesenvolveremosaseguirdizrespeitoquestões:

1.Qual(is)é(são)o(s)nó(s)outraço(s)queimpõe(m)obloqueiodoprocesso?2.Qual(is)é(são)o(s)nó(s)ou traço(s) responsável(is)pelavariaçãodaquedadesílaba? Em outras palavras, qual(is) é(são) o(s) nó(s) ou traço(s) responsável(is)pelofavorecimento,neutralidadeedesfavorecimentodoprocesso?

VoltandoaoGráfico38,temosqueacavidadeoral(nóB)éoqueregeaquedade

sílaba,poisénopontodeCenotraço[contínuo]queestáocontextodequedadesílaba:

se as cavidades orais das consoantes forem diferentes num desses dois traços, não há

implementaçãodoprocesso,comoexemplificoaseguir:

(294) /d+v/ masgostavatambémquanDOVInhanacidade (a)

Aproduçãodainformanteaem(294)éumdosdadosdoestudopiloto(cf.5.1.1)e

ilustraumcontexto/d+v/,comduasconsoantescomcavidadesoraisdiferentes:/d/éuma

[coronal,-contínuo]e/v/éuma[labial,+contínuo],enestecontextonuncahouveaplicação

dequedadesílabanosdadosdopiloto.Quaisquerquesejamosprocessosfonológicosque

possamserimplementadosnocontextoquanDOVInha,nãoéaquedadesílaba.

Poroutrolado,ostraços[nasal]e[vozeamento]nãoregemoprocesso(bloqueioou

possibilidade de aplicação),mas definem sua tendência: se há uma ou duas consoantes

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nasaisnocontexto,haveráumdesfavorecimento;se [vozeamento] for igual,oprocessoé

neutro. Isto significa que, apesar de ambos serem dominados pelo nó de raiz, há uma

diferençadecomportamento.

Ainda,alémdeopontodeCdefiniraregra(juntamentecom[contínuo]),os traços

queestãoabaixodestenótambémditamtendências:coronais(orais)favorecemedorsais

podemfavorecer(emCapivari)oudesfavorecer(emCampinas)–nadaafirmamossobreas

labiais porque houve poucos tokens nestes contextos (cf. subseções 5.3.1.1.2, 6.1.1.2 e

7.1.1.2). Dessa forma, mesmo sendo traços irmãos (ou seja, todos dominados pelo nó

ponto de C), [labial], [coronal] e [dorsal] têm comportamentos diferentes na queda de

sílaba.110

Umaformadedarcontaentredadoseteoriaseriainterpretarquehá,pelosmenos,

duas“fases”naquedadesílaba:

• 1a fase: verificar se a cavidade oral das consoantes, isto é, o ponto de C e

[±contínuo],éamesma(nóB);

• 2afase:subirnovamenteaonóderaiz,paraque[nasal],[±vozeado]e[coronal,

dorsal e labial] possam atuar com favorecimento, neutralidade ou

desfavorecimento.

Esquematicamente,temosqueolocaldeaplicaçãodaregraénacavidadeoral(em

vermelho)eostraçosqueditamastendênciasestãocirculados(emazul):

110Nãodiscutimosostraços[anterior,distribuído]dascoronaisporqueestescontextostiverampoucaocorrêncianestetrabalho.Noentanto,umavezqueestestraçossãodominadospor[coronal]e,maisacima,porpontodeC e cavidade oral, uma hipótese a ser checada é que deve haver igualdade em [anterior, distribuído] nasconsoantesparaqueoprocessoaconteça;seestes traços foremdiferentesnascoronais,ahipóteseéqueoprocessoébloqueado–damesmaformaquepudemosconcluirdonódecavidadeoral.

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Raiz 2oTendênciadaregra

Laringal [nasal]

Cavidadeoral 1oLocaldaregra

[±vozeado] [±contínuo]

PontodeC

[labial] [coronal] [dorsal]

Gráfico40 –Geometriadosnós:raiz,laringalecavidadeoral(adaptadodeClements&Hume1995:292)

No entanto, esta interpretação de duas “fases” contraria o princípio de que regras

fonológicasexecutamumaúnicaoperação(Clements&Hume1995:250),poisaquedade

sílaba identifica primeiro a cavidadeoral (local da regra, emvermelhonográfico) e sobe

novamenteaonóderaiz,paraqueostraçoscirculadosnoGráfico40ditemfavorecimento,

neutralidadeoudesfavorecimento.Estainterpretaçãovaideencontrotambémaoprincípio

de que, se um processo fonológico é aplicado num determinado nó, aplica-se tambéma

todososseusnósdominados(cf.Clements&Hume1995:251):nasegundafase,emque

o processo “retorna” ao nó de raiz para determinar a tendência do processo, deve-se

ignorar[±contínuo],poisestetraçodeterminaapossibilidadedeaplicaçãoouobloqueio–

nuncaatendência.

Emvistadoqueapresentamosnesta subseção, vemosqueháaindaumagrande

dificuldade em capturar a queda de sílaba. Por outro lado, estudos sobre este processo

fonológicopodemcontribuirparaateoriafonológica.

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CAPÍTULOX

10. ConclusãoEstapesquisatevecomoinícioaplicaçõesdequedadesílabaquesãopeculiaresa

capivarianos,equesãorejeitadasporcampineiros.Porexemplo,dosoutputs:

(295) [na.ˌka.de.ˈmi.a]~[na.ˈka.de.ˈmi.a]

vimosquepodehaverdois inputs/na.a.ˌka.de.ˈmi.a/>n[a]cademiaou/na.ˈka.za.de.ˈmi.a/>

na ca(sa) de Mia em Capivari, mas /na.ˈka.za.de.ˈmi.a/ > *na ca(sa) de Mia é uma

interpretaçãoimpossívelemCampinas.

Com base nesta diferença, o principal objetivo desta tese foi verificar se a

implementação da queda de sílaba é igual ou diferente nos dialetos de Capivari e de

Campinas. Interessantemente, o contexto segmental /z+d/ foi descartado como contexto

paraaplicaçãodoprocessologonoestudopiloto,poisveioaserumcontextodeexceção

dequedadesílaba(cf.resultadosdoestudopilotoem5.1).

Na rodada Geral, vimos que a variável Cidade não foi selecionada, de onde

concluiríamosquenãoháinterferênciaseofalanteécapivarianooucampineiro–ouseja,

Capivari eCampinas teriam umamesma regra de aplicação de queda de sílaba.Porém,

partindodasfrequênciasdeaplicaçãodoprocessonasduascidades,umsegundoexame

apontouqueCapivarieCampinasaplicamoprocessodemododiferente;assim,combase

nestes resultados, computamos as duas cidades separadamente, a fim de analisar mais

profundamentequaissãoasdiferençasentreasduascidades.

Pudemos concluir que propriedades segmentais, suprassegmentais e lexicais são

diferentes em Capivari e Campinas. Na primeira subseção deste capítulo, apresento as

constataçõesgeraisdestatesee,nasubseçãoseguinte,apresentopistasparatrabalhosa

seremdesenvolvidos–sugestõesmotivadaspelosresultadosqueencontramos.

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227

10.1. Doquefoiconstatado

Nesta subseção, apresento os resultados que corroboram a literatura sobre o

assuntoetambémaquelesqueforamencontradospelaprimeiraveznestatese.

Comrelaçãoaocontextoconsonantal,concluímosquehápossibilidadedequedade

sílaba com segmentos diferentes de /t/ e /d/, o que corrobora Pavezi (2006a) (para

haplologia)eLeal (2006) (paraaquedadesílaba) –chamamosaatençãoparao fatode

queutilizamos ferramentasestatísticas,diferentementedasmetodologiasempregadaspor

Pavezi(2006a)eLeal(2006).

Ainda para os traços consonantais, constatamos que capivarianos e campineiros

têm tendências idênticascomrelaçãoaopontodeC [coronal] (deconsoantesorais)eao

traço [nasal]: as coronais orais favorecem o processo (sem importar os valores para

[contínuo]), enquanto que nasais desfavorecem. No caso das nasais, vimos que Pavezi

(2006a) verificou que estas consoantes permitem a haplologia; os dados de Leal (2006)

resultaramqueaquedadesílaba(elisãosilábicaehaplologia) tambémpodeseraplicada

comnasais,masháumaexceçãonostestes,sequências[nasal+oral]–cf.descriçãodos

trabalhos sobre as nasais nas subseções 3.2.1, 3.3 e 4.1.4.1.1.3. Dos resultados desta

tese, vimos que ambas as cidades preferemuma configuração emque estes segmentos

são levados em conta, já que, nas rodadasGeral, emCapivari e emCapivari, só foram

selecionadas as variáveis em que este traço foi examinado em separado. Na variável

CavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode[nasal],pudemosconcluirqueesteéum

traço que interfere na regra, no sentido de desfavorecer o processo, nos dois dialetos

estudados. Entretanto, as cavidades orais das consoantes não são iguais emCapivari e

Campinasporqueascidadesdivergemnotraço[dorsal]:háumfavorecimentodoprocesso

entreoscapivarianos,eumdesfavorecimentoentreoscampineiros.

Quanto ao traço [vozeamento], corroboramos a literatura em dois pontos.

Primeiramente, este traço não bloqueia o processo, o que corrobora Alkmim & Gomes

(1982), de Lacy (1999), Tenani (2002), Pavezi (2006a) e Leal (2006), dentre outros. Em

segundo lugar, encontramos um resultado que revela que, se as consoantes forem

diferentes em [vozeamento], há uma neutralidade ao processo. No entanto, se as

consoantes forem idênticas, isto é, os contextos consonantais forem iguais em

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[vozeamento], o processo é favorecido. Em outras palavras, pudemos nos certificar com

ferramentasestatísticasdequeotraço[vozeamento]interferenaquedadesílabaseambas

asconsoantestiveremomesmovalorparaestetraço,demodoafavoreceroprocesso.

Noqueconcerneaocontextovocálico,pudemosobservarquenãohábloqueiocom

vogais dorsais, o que corrobora Pavezi (2006a) e Leal (2006). Este resultado vai de

encontroàpropostadeAlkmim&Gomes(1982),paraquemsóháhaplologiacomvogais

[+alto]; interessantemente, contextos com vogais dorsais desfavorecem o processo em

ambas as cidades. Da Cavidade Oral das Vogais, pudemos constatar que houve: (i)

diferenças: nos contextos com duas coronais e com uma dorso-labial seguida de uma

coronal, há um favorecimento em Campinas e uma neutralidade em Capivari; (ii)

semelhanças: contextos em que há uma coronal seguida de uma dorsal favorecem o

processo nos dois dialetos, e a tendência é maior em Capivari; outra semelhança diz

respeitoaoscontextoscomdorsais,jáqueháumdesfavorecimentonasduascidades,eos

capivarianos aceitammais o apagamento com estes contextos do os campineiros; e (iii)

igualdades:há favorecimentodoprocesso,compesosrelativospróximos,nassequências

com duas dorso-labiais e nos contextos de uma dorso-labial seguida de uma dorsal em

ambas as cidades. Um resultado interessante está relacionado a vogais iguais versus

diferentes: pudemos verificar que a igualdade destes segmentos não é relevante para

aplicaçãodaquedadesílaba,massimqualéotraçodavogalsujeitaaoapagamento:duas

coronaisnocontextodequedaeduasdorso-labiaisfavorecem,enquantoqueduasdorsais

desfavorecem–portanto,aigualdadedasvogaisnãoérelevante,massimopontodeCda

vogalsujeitaaoapagamento.

Para as Estruturas das Sílabas do contexto de queda, houve variação com

estruturasCCVnaprimeiraposição,ouseja,nãohábloqueiodoprocessocomsílabasde

ataque ramificado, resultado que vai de encontro aos de Alkmim & Gomes (1982), e

corrobora Battisti (2004), Pavezi (2006a) e Leal (2006). Foi verificado também que

estruturas CCV parecem não interferir no processo, pois os resultados indicam uma

neutralidadedaquedadesílaba.Concluímos tambémquesílabasque tenhamestruturas

comcodaCVCnaprimeirasílabadesfavorecemoprocessoemambasascidades.Assim

comoparavogais,verificamosnestavariávelqueéaestruturadasílabasujeitaàqueda(e

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229

nãoaigualdadeentreelas)queditaseháummaioroumenorfavorecimentoemambasas

cidades.

Da variável Métrica, os resultados são semelhantes nas duas cidades: há um

favorecimentonoscontextosoriginaisdeumasílabaforteseguidadeumafracaeumclítico

[x•#c]edeumasílabaforteseguidadeumafracaeumacentosecundário[x•#y];há

umaneutralidadeemcontextosdeumasílabaforteseguidadeduasfracas[x•#•];ehá

um desfavorecimento se o contexto original resultar em choque acentual depois da

aplicaçãodoprocesso[x•#x].

Com relação às variáveis Igualdade de Segmentos, Número de Sílabas e

FrequênciadeUsodaPalavraSujeitaaoApagamento,osresultadosparaasduascidades

foram diferentes, já que estas variáveis foram selecionados apenas em uma delas. Ao

examinar o contexto segmental como uma gradação de sílabas com segmentos iguais

versus sílabascomsegmentosdiferentes, foi verificadoquesóháefeitode Igualdadede

Segmentos para os campineiros (a variável não foi selecionada em Capivari). Em

Campinas, seas consoantes forem idênticas, háumamaior aplicação; seas consoantes

variarememvozeamento, háumaneutralidade;por fim, seadiferençaconsonantal for a

nasalidade, há um desfavorecimento, o que corrobora os achados da variável Cavidade

Oral das Consoantes com Distinção de [nasal] – vimos que este traço desfavorece o

processo.Otamanhofonológico(variávelNúmerodeSílabas)éimportantenaaplicaçãodo

processo,tambémadependerdodialeto:avariávelfoiselecionadaemCapivari,masnão

emCampinas. EmCapivari, vimos que dissílabos desfavorecem (levemente) o processo,

trissílabossãoneutrosepalavrasdemaisdequatrosílabasfavorecemumpoucoaqueda

de sílaba. Com base nestes resultados, interpretamos que a informação pode ser mais

facilmenterecuperadapeloouvinteseapalavrasujeitaàquedaformaior.

AvariávelFrequênciadeUsodaPalavraSujeitaaoApagamentonãoé importante

nodialetocapivariano,enquantoqueoscampineiroslevamemcontaseéumapalavrade

média frequência (que favorece o processo) e de baixa frequência (desfavorecendo a

quedadesílaba),enquantoqueháumaneutralidadeseapalavrafordealtafrequência.

VimosqueoefeitodaProsódiaé idênticonasduascidades:háumaneutralidade

em fronteiraentregruposclíticos,oprocessoé inibidoentresentençaseé favorecidona

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fronteiraentreduasfrasesfonológicas–esteresultadodarelaçãoentrequedadesílabae

frase fonológica corrobora Battisti (2004), Pavezi (2006a) e Leal (2006): as autoras

sustentamqueesteéonívelmaisfavorávelàhaplologia(especificamente,tambémparaa

elisãosilábicaemLeal2006).

Dentre as variáveis externas, vimos que a variável Gênero tem um mesmo

comportamentonosdoisdialetos:emCapivari,oshomensaplicaram1,662vezesmaisdo

que as mulheres; em Campinas, os homens aplicaram 1,656 vezes mais do que as

mulheres. Quanto à Escolaridade e Faixa Etária dos falantes, houve um comportamento

diferente nas duas cidades. Para Escolaridade, campineiros commenos anos de estudo

aplicam mais a queda de sílaba do que campineiros que cursaram faculdade; e em

Capivari, não há diferença se o informante estudou até o ensino fundamental ou até o

ensino superior. Para a Faixa Etária, capivarianos mais jovens aplicam mais do que

capivarianos mais velhos; e, em Campinas, as porcentagens foram praticamente as

mesmasnosfatoresde20a35anosedemaisde50anosdeidade.

Assim,concluímosqueascidadestêmregrasdiferentesdeaplicaçãodequedade

sílaba.

10.2. Daspistasencontradas:continuaçãodeestudos

Nesta tese, pudemosnoscertificardequeosdialetosdeCapivari edeCampinas

têmregrasdiferentesnoqueconcerneàquedadesílaba.Opresente trabalhopodeabrir

portas a novos estudos: a identificação e a descrição da queda de sílaba em trabalhos

futuros pode ampliar a investigação do processo, com base nos resultados encontrados

nestatese.

Nestasubseção,apresentopistasencontradasnestapesquisaquepodemservirde

baseaoutrostrabalhos.

Para o contexto segmental, partimos da proposição de que a sílaba é o alvo do

processo fonológico,mas o que determina se o apagamento ocorre ou é bloqueado é o

nívelsegmental,asconsoantes.Foiimportantesepararconsoantesevogaisnesteestudo,

deondepudemoscomprovarqueestasduasclassesfonológicastêmpapéisdiferentesna

implementaçãodaregra:asconsoantesdefinemoprocesso,jáquesedevelevaremconta

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traços internos a estes segmentos; quanto às vogais, a importância é que ditam a

produtividadedoprocesso,enãoobloqueiam.Umoutromododeseanalisarocontexto

segmental seria unir sílaba 1 + sílaba 2, ou seja, colocar os segmentos das sílabas

C1V1+C2V2numaúnicavariável,comoobjetivoderesponderàseguintequestão:háum

favorecimentoàquedasetodosossegmentosdocontextotiveremummesmopontodeC?

Por exemplo, umahipótese seria que, emsequências de segmentos [C1 coronal V1 coronal +

C2coronalV2coronal],háumamaiorpropensãoaoprocesso.

Um resultado interessante foi que são as características da sílaba que ocupa a

primeira posição no contexto que parece ser importante na queda de sílaba, e não a

igualdade/diferença entre as unidades. Estes resultados foram obtidos nas variáveis de

Cavidade Oral das Vogais e de Estrutura Silábica: não importam as semelhanças/

diferenças entre as duas vogais/estruturas das sílabas, mas sim quais são as

características da vogal/estrutura sujeita à queda. Com relação a [vozeamento], os

resultados apontam que, se as consoantes forem diferentes neste traço, o processo é

neutro; e se as consoantes forem idênticas (ou seja, tiverem o mesmo valor para

[vozeamento]),háumlevefavorecimentodaquedadesílaba.Noentanto,nãoverificamos

comoasucessãodestestraçosnassílabaspodeminterferirnoprocesso,comoocorrecom

asvogaiseestruturadassílabas.Assim,umtemaaserconsideradoemtrabalhosfuturosé

examinarcomoascombinaçõesentreconsoantes[±vozeado]podeminterferirnoprocesso,

respondendo a questões como: (i) Há alguma diferença na aplicação do processo se as

consoantesforem[+vozeado]+[-vozeado]ou[-vozeado]+[+vozeado]?(ii)Seaigualdade

em [vozeamento] favorece, há alguma diferença se as consoantes forem [+vozeado] +

[+vozeado] ou [-vozeado] + [-vozeado]? (iii) Assim como os resultados encontrados para

vogaiseparaestruturasdassílabas,oquedeveser levadoemcontaéovozeamentoda

primeiraconsoanteouaigualdadedestetraçoentreasconsoantes?

NoqueconcerneàMétrica,vimosquecontextosoriginais[x•#x]queresultamem

choque de acento com a aplicação de queda de sílaba são desfavorecedores, enquanto

que uma sílaba forte seguida de uma fraca e um clítico [x • # c] são favorecedores. No

entanto, contextos com uma sílaba forte seguida de duas fracas [x • # •] deveriam se

comportarlinguisticamentedemodosemelhanteàsequência[x•#c](favorecendoaqueda

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de sílaba, e não resultando em neutralidade, como pudemos verificar), enquanto que

contextos [x •#y]deveriamter resultadosparecidoscom[x •#x], inibindooprocesso(e

nãofavorecendo-o,comoresultaramestesdados).Interpretamosestesdadosdaseguinte

maneira (cf. subseção9.1): (i) ouahierarquia deacentosdeve ser revista, considerando

queháapenasumaacento forte (oprimário)e todososoutrosgraussão fracos; (ii)oua

aplicação de queda de sílaba leva em conta apenas o acento primário, desprezando o

acentosecundárioeoacentodeumclíticofonológico.Umtemainteressanteparatrabalhos

futuros(querelacionemaquedadesílabaàmétrica)éenglobarumcontextomaisamplodo

que o acento forte na primeira palavra seguido de uma (ou duas) sílaba(s) fraca(s) e a

primeira sílaba da segunda palavra, a fim de examinar como a métrica interfere no

processo,considerando-seosquatrograusdeacento.

Houve algumas análises inconclusivas no presente estudo, devido à baixa

frequência de tokens, quais sejam: os contextos consonantais com labiais [+contínuo] e

[-contínuo] e comconsoantesdiferentesem [anterior, distribuído]; osdadosdeestruturas

comsílabasCCV+CCVeCVC+CVC;econtextosemqueaaplicaçãodequedadesílaba

é possível com duas consoantes que diferem na cavidade oral. Assim, investigar estes

contextospodesertemasinteressantesparatrabalhosfuturos.

Um fatorquenão foianalisadonopresenteestudoequepoderiaser associadoà

queda de sílaba é a taxa de elocução da fala. Logo no início de seu artigo, Alkmim &

Gomes (1982) afirmam que a taxa de elocução pode ser um fator importante no

condicionamentodahaplologia–e,demodomaisamplo,daquedadesílaba.

Com relação às variáveis externas, um trabalho a ser feito poderia discutir se a

queda de sílaba é umprocesso socialmentemarcado, já que, de acordo Labov (1972) e

Guy(1981),processosfonológicosdeapagamentosãosocialmentemarcados.Observando

os resultados de Escolaridade e Gênero do presente estudo (as variáveis que podem

indicar se a variável dependente é socialmentemarcada), uma pista de que a queda de

sílaba pode ser um processo fonológico marcado está na variável Gênero, tanto em

Capivari quanto em Campinas (o processo é mais aplicado por homens); quanto à

Escolaridade,parecequeestainterpretaçãodeaquedadesílabasermarcadasocialmente

sósesustentaemCampinas, jáqueas taxasparaCapivari forammuitopróximas.Desta

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forma,trabalhosfuturosquefoquemarelaçãoentreaquedadesílabaserounãomarcada

sãonecessários.

*

Neste trabalho, pudemos responder a questões interessantes sobre a queda de

sílaba,emdiversosníveisfonológicos–segmental,suprassegmentalelexical.

Noentanto,estaseçãomostraqueo trabalhoestáapenascomeçandoeaindahá

muitasquestõesa seremdiscutidas (algumassugeridasaqui, outrasque só se revelarão

quandomaisestudosforemconduzidos).

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ReferênciasBibliográficasAbousalh,E.S.F.(1997).Resoluçãodechoquesdeacentonoportuguêsbrasileiro.Tesede

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AnexosAnexoI:CaracterísticasdosInformantes

número Capivari Campinas Escolaridade Gênero FaixaEtária1 a m ensinofundamental feminino maisde50anos2 b n ensinofundamental feminino maisde50anos3 c o ensinofundamental feminino maisde50anos4 d s ensinofundamental masculino maisde50anos5 e t ensinofundamental masculino maisde50anos6 f u ensinofundamental masculino maisde50anos7 g p ensinosuperior feminino maisde50anos8 h q ensinosuperior feminino maisde50anos9 i r ensinosuperior feminino maisde50anos10 j v ensinosuperior masculino maisde50anos11 k x ensinosuperior masculino maisde50anos12 1 z ensinosuperior masculino maisde50anos13 A M ensinofundamental feminino de20a35anos14 B N ensinofundamental feminino de20a35anos15 C O ensinofundamental feminino de20a35anos16 D S ensinofundamental masculino de20a35anos17 E T ensinofundamental masculino de20a35anos18 F U ensinofundamental masculino de20a35anos19 G P ensinosuperior feminino de20a35anos20 H Q ensinosuperior feminino de20a35anos21 I R ensinosuperior feminino de20a35anos22 J V ensinosuperior masculino de20a35anos23 K X ensinosuperior masculino de20a35anos24 L Z ensinosuperior masculino de20a35anos

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ANEXOII:FrequênciasdoEstudoPilotoparaaCavidadeOraldasConsoantes

sílaba1 sílaba2 N %apl

dorsal,labial coronal[+contínuo] 0/1 0

labial[+contínuo] dorsal 1/33 3

labial[+contínuo] coronal[-contínuo] 0/79 0

laringal labial[-contínuo] 0/3 0

laringal coronal[+contínuo] 0/3 0

laringal coronal[-contínuo] 0/5 0

dorsal labial[+contínuo] 0/58 0

dorsal laringal 0/4 0

dorsal coronal[+contínuo] 4/54 7,4

labial[-contínuo] laringal 0/5 0

labial[-contínuo] coronal[+contínuo] 0/49 0coronal[+contínuo] dorsal,labial 0/7 0

coronal[+contínuo] dorsal 0/303 0

coronal[+contínuo] labial[-contínuo] 0/289 0

coronal[-contínuo] labial[+contínuo] 0/116 0

coronal[-contínuo] laringal 0/16 0

pontodeCdiferente,[contínuo]diferente 5/1025 0,5

labial[+contínuo] laringal 0/3 0

labial[+contínuo] coronal[+contínuo] 1/34 2,9

dorsal labial[-contínuo] 2/102 2

dorsal coronal[-contínuo] 13/181 7,2

labial[-contínuo] dorsal,labial 1/7 14,3

labial[-contínuo] dorsal 1/84 1,2labial[-contínuo] coronal[-contínuo] 0/127 0

coronal[+contínuo] labial[+contínuo] 0/215 0

coronal[+contínuo] laringal 0/13 0

coronal[-contínuo] dorsal,labial 0/7 0

coronal[-contínuo] dorsal 2/185 1,1

coronal[-contínuo] labial[-contínuo] 1/249 0,4

dorsal,labial labial[-contínuo] 0/2 0

pontodeCdiferente,[contínuo]igual 21/1209 1,7

labial[+contínuo] labial[-contínuo] 4/49 8,2

labial[-contínuo] labial[+contínuo] 0/53 0

coronal[+contínuo] coronal[-contínuo] 21/617 3,4

coronal[-contínuo] coronal[+contínuo] 2/162 1,2

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pontodeCigual,[contínuo]diferente 27/881 3,1

dorsal,labial dorsal 0/1 0

labial[+contínuo] labial[+contínuo] 7/24 29,2

dorsal dorsal,labial 0/2 0

dorsal dorsal 13/91 14,3

labial[-contínuo] labial[-contínuo] 10/105 9,5

coronal[+contínuo] coronal[+contínuo] 2/154 1,3

coronal[-contínuo] coronal[-contínuo] 89/532 16,7

pontodeCigual,contínuoigual 121/909 13,3

total 174/4024 4,3