eneida de goes leal - teses.usp.br · agradeço às minhas irmãs de coração, dimaura e babi,...
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EneidadeGoesLeal
TEORIAFONOLÓGICAEVARIAÇÃO:AQUEDADE
SÍLABAEMCAPIVARIEEMCAMPINAS(Versãocorrigida)
Tese apresentada junto ao Departamento deLinguística da Faculdade de Filosofia, Letras eCiências Humanas da Universidade de São PauloparaobtençãodotítulodeDoutoraemLinguística.
Orientadora: ProfªDrªRaquelSantanaSantosCoorientador: ProfDrEmilioGozzePagotto
SãoPaulo2012
ii
Unstablecondition/AsymptomoflifeInmentalandenvironmentalchange/Atmosphericdisturbance
Thefeverishflux/Ofhumaninterfaceandinterchange
Theimpulseispure/SometimesourcircuitsgetshortedByexternalinterference/Signalsgetcrossed
Andthebalancedistorted/Byinternalincoherence
Atiredmindbecomeashape-shifter/EverybodyneedamoodlifterEverybodyneedreversepolarity/Everybodygotmixedfeelings
Aboutthefunctionandtheform/Everybodygottodeviatefromthenorm
Anounceofperception/ApoundofobscureProcessinformationathalfspeed/Pause,rewind,replay
Warmmemorychip/Randomsampleholdtheoneyouneed
Leaveoutthefiction/ThefactisthisfrictionWillonlybewornbypersistence/Leaveoutconditions
Courageousconvictions/Willdragthedreamintoexistence
Atiredmindbecomeashape-shifter/EverybodyneedasoftfilterEverybodyneedreversepolarity/Everybodygotmixedfeelings
Aboutthefunctionandtheform/Everybodygottoelevatefromthenorm
Everybodygotmixedfeelings/EverybodygotmixedfeelingsEverybodygottodeviatefromthenorm/EverybodygottodeviatefromthenormEverybodygottoelevatefromthenorm/Everybodygottoelevatefromthenorm
EverybodygottoelevatefromthenormEverybodygottoevelatefromthenorm
Everybodygottoescalatefromthenorm/EverybodygottoelevateEverybodygottoelevatefromthenormEverybodygottodeviatefromthenooormEverybodygottodeviatefromthenorm
Lifeson, A.; Lee, G; Peart, N. (1981). Signos Vitais. Moving Pictures. Track 3, Side B.Canada:Anthem.
iii
ParaAntonioLeal(inmemorian),GloriaMadeGoesLeal,BelindadeGoesLeal
(anjosterrestres)
iv
AgradecimentosDepois de quatro anos, terminar de escrever uma tese é um momento de muita
alegria. Devo isto (e mais) à minha Orientadora, Profª Drª Raquel Santana Santos, com
quemtantoaprendieaprendo.AgradeçoàRaquelpeloapoio,pelasegurançatransmitida,
pelocontato,peladidáticaeficienteedireta.Dizemqueapupiladevesuperaramestra:é
commuito orgulho que serei sempre sua Eterna Aluna! QueDeus lhe dê em dobro e a
abençoehojeesempre.Brigada,Raquel!
Agradeço aoProfDr EmilioGozzePagotto,meu co-orientador, porme passar de
maneira tão fácil, simples o conhecimento sociolinguístico (tão legal aprender a jogar no
Varbrul).Agradeçotambémasreuniões(inclusiveasskypianasdealém-mar).
Agradeçomuitoàminhafamília,aosmeuspaise irmã,porserem/estaremsempre
presente.ÀmamãeeBê,agradeçodemaispelaspresençasconstantesaolongodaescrita
destatese.(Vamovêumfilminhoagora?)
AgradeçoaosProfsDrsEsterMirianScarpa,GiselaCollischonn,LucianiTenanie
Ronald Beline por comporem minha banca de defesa, um grande privilégio que tive.
Agradeçomuitotodososcomentários,queseguirãocomigoemminhavidaacadêmica.Aos
Profs Drs Emilio Gozze Pagotto e Ronald Beline, agradeço todos os comentários muito
proveitososnaminhaqualificaçãodedoutorado.
Agradeço às minhas irmãs de coração, Dimaura e Babi, pelo apoio e presença
constantes,mesmocomdistânciafísica.(Ai,quesaudádos6).
AgradeçoaoProfDrDrEverardopormeajudar/ensinartanto.Agradeçooombrotão
perto, tão amigo... Agradeço por me ajudar a passar pelas aventuras da vida (como a
escritadestatese,porexemplo),cheiasdetantosaltosebaixos!
AgradeçoaoProfDrBruceHayespor terme recebido naUniversity ofCalifornia,
LosAngeles.
Agradeço à CAPES pelas bolsas de doutorado e de sanduíche – sem elas,
impossível.
v
AgradeçoàProfªDrªEsmeraldaV.NegrãoeEvaniViotti,pelagrandeajudaquando
saínosanduíche.
Érica,Ben-HureRobson,sempreali!Muitoobrigada!
Agradeço àAlinha, aoBrunoB. e àSymare pelo apoio enquanto estive longe da
minhaterrinha.Vocêsforamfundamentais!AgradeçotambémàMare,NetãoeVardopelas
boasevelhasgargalhadas.
ARodolfoefamília;àLetíciaefamília,agradeçopor...existirem...
AgradeçoaRodrigo,àSimonee,principalmente,àClarinhapormealegraremtanto
epor“estarem”comigoemLalaland.
AgradeçoàMariaAngelapor todososcafés “filosóficos”que tomamos, todosque
gostaríamosdetertomadoeportodososmuitosqueaindavamostomar.
Agradeço à Fer Consoni, Livia, Marquinhus Lunguinho, Renatchinha e Aline Cruz
por...seremmeusamigos!Tãobomquandoagenteseencontra!
AgradeçoàSamarapormeproporcionarmomentosmuitolegaisextra-sanduíches–
queralouim!(Whassup,guria?)
TotheLongs(KevinandMegan),Iamtrulythankfulforfindingyouguys.Ithankyou
guysforbecomingmyfamily.CometoBrazilRIGHTnow.Missyou.
Agradeçoatodososinformantes(maisdoque48,quesãoosqueestãonestatese)
quemeajudaramtanto,quemedeixaramentraremsuascasaseambientesdetrabalho,
dispostosaconversar!
AgradeçoaoAllan,àAndressa,àMaitê,àMelanieA.,àRaiça,àUilaeàVanessa
pelagrandeajudacomastranscrições.
Agradeço à Aline, Babi, Livia e Matchizinho por estarem na defesa. Agradeço às
suaspresençasconstantes,tantonaminhavidapessoalquantonaprofissional.
Agradeço à família Freitas Leal pela presença na defesa, representada pelo tio
Ditinho.Quealegria!
Agradeçoàpresença-surpresadeMarcia(CiaVi),àsuaamizade,aoseucarinhoe
apoio.AgradeçoàFernandaPimentaFalciroli pela presençanão físicanaminhadefesa.
AgradeçoàCiaViePincesaporserem.
À Teca, agradeço cada apoio, cada estímulo, cada interesse, cada palavra. Se
vi
Galileu fosse linguista, ele diria: “A linguística é a equação com qual Deusmultiplicou o
universo.”
Porfim,masnemumpouquinhosemimportância,agradeçoàtiaMá,Harol,tiaAna,
tioNenê,tioLamar,vôBene,pelosfinsdesemanadeliciosos,derisosebrincadeiras,que
tantomeajudarama“espairecer”eseguirescrevendoestatese.Tantasvezesdesopileio
fígado,comodiriaTica!
vii
ResumoEsta tese trata da comparação dos dialetos de Capivari e de Campinas, com o
objetivodeverificarseháumamesmaregradequedadesílabanasduascidadesouse
cadaumdosdialetostemcaracterísticasdiferentesparaoprocesso.
O trabalho tem base na teoria fonológica gerativista e na sociolinguística
variacionista, analisando variáveis linguísticas e sociais. As interferências linguísticas
analisadas foram os segmentos do contexto de queda de sílaba (com a geometria de
traços, cf. Clements & Hume 1995), as estruturas das duas sílabas do contexto de
apagamento (cf.Selkirk1982),aestruturamétrica (Selkirk1984,Hayes1995),aprosódia
(Nespor&Vogel1986)e,dapalavrasujeitaàqueda,verificamosonúmerodesílabasea
frequência de uso. Quanto às variáveis sociais, analisamos a escolaridade, o gênero, a
faixaetáriaeacidadedosinformantes.
No nível segmental, os resultados apontam que a igualdade dos segmentos não
interfereemCapivari,masháumainterferênciaemCampinas:osresultadosapontamque
nãoéaigualdadedoconteúdodassílabasqueéimportanteparaaaplicaçãodoprocesso,
massimascaracterísticasdaprimeirasílaba(aquelasujeitaaoapagamento).Comrelação
às consoantes, pudemos observar que coronais favorecem e nasais desfavorecem, em
ambososdialetos –edemodoquase idêntico.Noentanto, háumagrandediferençana
implementaçãonocontextoconsonantalcomdorsais:oprocessoéfavorecidoemCapivari
e desfavorecido em Campinas. No que concerne às vogais, pudemos verificar que há
diferençasnasduascidades,poissequências[coronal+coronal]e[dorso-labial+coronal]
sãoneutrasaoprocessoemCapivariefavorecememCampinas.Aindaparaasvogais,o
quepareceimportarnãoéaigualdadedasduassílabas,massimotraçodavogalsujeita
ao apagamento, assim como apontam os resultados para a igualdade do conteúdo das
sílabas(emCampinas).
Nonívelsuprassegmental,paraasestruturasdassílabas,ascidadesdiferemsea
primeirasílabaforumaCVseguidadeoutrostiposdeestruturas:háumaneutralidadeem
Capivari e em Campinas há um favorecimento. Com relação a número de sílabas, o
viii
tamanho da palavra importa para Capivari (quanto maior a palavra, há um leve
favorecimento),enquantoqueestavariávelnãofoiselecionadaemCampinas.
No âmbito lexical, foi visto que a frequência de uso da palavra sujeita à queda
importa para o dialeto de Campinas (palavras de frequência média de uso favorecem
levemente; em palavras de frequência alta, há uma neutralidade; e palavras de baixa
frequência desfavorecem um pouco). Uma vez que esta variável não foi selecionada em
Capivari, podemos concluir que há uma diferença na queda de sílaba nas duas cidades,
comrelaçãoàfrequênciadeusodaprimeirapalavra.
Assim,podemosafirmarquehádiferençassegmentais,suprassegmentaiselexicais
nasduascidades;sóhásemelhançascomrelaçãoàCavidadeOraldasConsoantessem
distinguir a nasalidade entre as variantes (pois esta variável não foi selecionada em
nenhumadascidades),ecomrelaçãoàProsódia(osresultadosforammuitoparecidos:há
um leve favorecimento entre duas frases fonológicas, neutralidadeentre grupos clíticos e
umpoucodedesfavorecimentoentrefrasesentonacionais).
ix
AbstractThisdissertationdealswithsyllabledropinCapivariandCampinas’dialectsandthe
principleaimistoverifywhetherthereisonesinglephonologicalruleortwodistinctsyllable
droprulesforbothcities.
This work is based on generative phonological theory and variacionist
sociolinguistics,henceweanalyzebothlinguisticandsocialvariables.Thelinguisticfactors
analyzed were the segments (feature geometry, cf. Clements & Hume 1995), syllable
structure (cf. Selkirk 1982), metrical structure (Hayes 1995), prosody (Nespor & Vogel
1986),numberofsyllables,andusagefrequencyforthefirstwordinthecontext.Asforthe
socialfactors,weanalyzedthesubjectsschooling,gender,age,andcity.
At segmental level, we have found that it is not important for the segments to be
equalinCapivari,anditisinCampinasinstead.Asfortheconsonants,coronalsarebiased,
andnasalsdisfavortheprocess,inbothcities.Ontheotherhand,thereisagreatdifference
in consonantal context concerning to dorsals: syllable drop is favored in Capivari and
disfavored inCampinas.Considering thevowels, therearedifferencesbetween the cities,
sincesequencesof[coronal+coronal]and[dorso-labial+coronal]areunbiasedinCapivari
andfavoringinCampinas.
At the suprasegmental level, both the dialects behave differently as for syllable
structure if the first one is CV followed by other types of structures: the process is
neutralized in Capivari and there is a favoring effect in Campinas. Regarding number of
syllables,thesizeofthewordundergoingtheprocessisimportantinCapivari(biggerwords
areslightlybiased),andthisvariablehasnotbeenselectedinCampinas.
Inrelationtothelexicallevel,usagefrequencyofthefirstword(subjectedtodeletion)
matters in Campinas (average frequency words slightly favor; high frequency words are
unbiased,andlowfrequencywordsslightlydisfavor).Sincethisvariablewasnotselectedin
Capivari,weunderstandthatthereisadifferenceinusagefrequencyofwordsbetweenthe
cities.
Therefore, we can conclude that there are segmental, suprasegmental e lexical
x
differencesinCapivariandCampinas.ThereareequaleffectsinthevariableOralCavityof
Consonants if [nasal] feature isnot taken intoaccount (thisvariablewasneverselected in
thecities),andequaleffectsinProsodyvariable(theresultswereverysimilar:theprocessis
aslightlyfavoredbetweenphonologicalphrases,it isunbiasedbetweencliticgroupsandit
isslightlydisfavoredbetweenentonationalphrases).
xi
SumárioAgradecimentos...............................................................................................................iv
Resumo..............................................................................................................................vii
Abstract..............................................................................................................................ix
ListadeTabelas.............................................................................................................xvi
ListadeGráficos.............................................................................................................xix
CAPÍTULOI .......................................................................................................................... 1
1.Introdução....................................................................................................................... 1
1.1.Oqueéaquedadesílaba? ............................................................................................... 31.2.Ascidades:ospanoramassociaiseosdialetos ........................................................ 41.2.1.Formaçãodascidadesepanoramassociais ..................................................................... 51.2.2.Osdialetoscapivarianoecampineiro.................................................................................. 7
1.3.Oquadroteóricoequestõesaseremrespondidas ................................................. 91.4.Organizaçãodatese ........................................................................................................ 11
CAPÍTULOII .......................................................................................................................12
2.Oquadroteórico .........................................................................................................12
2.1.Osmodelosvariacionistaegerativista:pontosdediálogo ............................... 122.2.Teoriasfonológicas ......................................................................................................... 172.2.1.Geometriadetraços:aestruturainternadossegmentos........................................ 172.2.2.Aestruturasilábica(doportuguêsbrasileiro) ............................................................. 222.2.3.Acentoeestruturamétrica.................................................................................................... 262.2.4.Hierarquiaprosódica:ainterfacefonologiaeoutrosníveisgramaticais ......... 32
CAPÍTULOIII .....................................................................................................................37
3.Adefiniçãodoprocessodequedadesílaba ......................................................37
3.1.Elisãosilábica.................................................................................................................... 383.2.Haplologia .......................................................................................................................... 413.2.1.Contextosegmental .................................................................................................................. 423.2.2.Estruturasilábica ...................................................................................................................... 49
xii
3.2.3.Métrica ........................................................................................................................................... 503.2.4.Prosódia......................................................................................................................................... 52
3.3.AanálisedeLeal(2006):unindoosdoisprocessos ............................................ 533.4.Coalescênciaouapagamento....................................................................................... 59
CAPÍTULOIV......................................................................................................................67
4.Metodologia ..................................................................................................................67
4.1.Oenvelopedevariação.................................................................................................. 694.1.1.Ocorpus ......................................................................................................................................... 694.1.2.Coletadedados:asrestrições.............................................................................................. 714.1.3.Afonética ...................................................................................................................................... 784.1.4.Osgruposdefatores................................................................................................................. 814.1.4.1.Osgruposdefatoreslinguísticos ................................................................................................ 824.1.4.1.1.Contextosegmental.................................................................................................................. 824.1.4.1.1.1.IgualdadedeSegmentosnasSílabasCV ................................................................ 834.1.4.1.1.2.CavidadeOraldasConsoantes ................................................................................... 874.1.4.1.1.3.CavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode[nasal] ............................... 894.1.4.1.1.4.CavidadeOraldasVogais.............................................................................................. 92
4.1.4.1.2.EstruturaSilábica...................................................................................................................... 934.1.4.1.3.Métrica........................................................................................................................................... 964.1.4.1.4.Prosódia ........................................................................................................................................ 994.1.4.1.5.NúmerodeSílabas..................................................................................................................1014.1.4.1.6.FrequênciadeUsodePalavras .........................................................................................103
4.1.4.2.Osgruposdefatoressociais ........................................................................................................1054.1.4.2.1.Escolaridade..............................................................................................................................1054.1.4.2.2.Gênero..........................................................................................................................................1064.1.4.2.3.FaixaEtária ................................................................................................................................1074.1.4.2.4.Informantes ...............................................................................................................................1074.1.4.2.5.Cidade ..........................................................................................................................................109
4.1.5.Sumáriodoenvelope .............................................................................................................109
CAPÍTULOV .................................................................................................................... 112
5.Resultadosgerais..................................................................................................... 112
5.1.Oestudopiloto................................................................................................................1125.1.1.Casosparticularesnoestudopiloto ................................................................................115
5.2.Distribuiçãogeralecomputaçãodosdados .........................................................118
xiii
5.3.Resultados:asduascidades .......................................................................................1225.3.1.Asvariáveislinguísticas .......................................................................................................1225.3.1.1.Contextosegmental.........................................................................................................................1235.3.1.1.1.IgualdadedeSegmentosnasSílabas ..............................................................................1235.3.1.1.2.CavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode[nasal] ......................................1275.3.1.1.3.CavidadeOraldasVogais.....................................................................................................130
5.3.1.2.Estruturadassílabas ......................................................................................................................1335.3.1.3.Métrica..................................................................................................................................................1355.3.1.4.Prosódia ...............................................................................................................................................1385.3.1.5.NúmerodeSílabas...........................................................................................................................1405.3.1.6.FrequênciadeUsodePalavras ..................................................................................................142
5.3.2.Asvariáveissociaisnasduascidades .............................................................................1435.3.2.1.Escolaridade.......................................................................................................................................1435.3.2.2.Gênero...................................................................................................................................................1445.3.2.3.FaixaEtária .........................................................................................................................................1445.3.2.4.Informantes ........................................................................................................................................1455.3.2.5.Cidade....................................................................................................................................................148
5.4.Resumo..............................................................................................................................149
CAPÍTULOVI................................................................................................................... 152
6.EmCapivari ................................................................................................................ 1526.1.Asvariáveislinguísticas ..............................................................................................1526.1.1.Contextosegmental ................................................................................................................1536.1.1.1.IgualdadedeSegmentosnasSílabas .......................................................................................1536.1.1.2.CavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode[nasal] ...............................................1556.1.1.3.CavidadeOraldasVogais..............................................................................................................157
6.1.2.EstruturaSilábica ....................................................................................................................1596.1.3.Métrica .........................................................................................................................................1616.1.4.Prosódia.......................................................................................................................................1636.1.5.NúmerodeSílabas ..................................................................................................................1646.1.6.FrequênciadeUsodePalavras..........................................................................................166
6.2.AsvariáveissociaisemCapivari...............................................................................1666.2.1.Escolaridade ..............................................................................................................................1666.2.2.Gênero ..........................................................................................................................................1676.2.3.FaixaEtária ................................................................................................................................1676.2.4.Informantes................................................................................................................................168
xiv
CAPÍTULOVII ................................................................................................................. 170
7.EmCampinas ............................................................................................................. 170
7.1.Asvariáveislinguísticas ..............................................................................................1707.1.1.Contextosegmental ................................................................................................................1717.1.1.1.IgualdadedeSegmentosnasSílabas .......................................................................................1717.1.1.2.CavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode[nasal] ...............................................1727.1.1.3.CavidadeOraldasVogais..............................................................................................................174
7.1.2.Estruturadassílabas..............................................................................................................1767.1.3.Métrica .........................................................................................................................................1777.1.4.Prosódia.......................................................................................................................................1797.1.5.NúmerodeSílabas ..................................................................................................................1807.1.6.FrequênciadeUsodePalavras..........................................................................................182
7.2.AsvariáveissociaisemCampinas ............................................................................1837.2.1.Escolaridade ..............................................................................................................................1837.2.2.Gênero ..........................................................................................................................................1837.2.3.FaixaEtária ................................................................................................................................1847.2.4.Informantes................................................................................................................................184
CAPÍTULOVIII................................................................................................................ 186
8.Comparaçãodasduascidades............................................................................. 186
8.1.Asigualdades...................................................................................................................1878.1.1.CavidadeOraldasConsoantes...........................................................................................1878.1.2.Prosódia.......................................................................................................................................1878.1.3.Osgruposdefatoresexternos ...........................................................................................189
8.2.Assimilaridades.............................................................................................................1898.2.1.CavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode[nasal].......................................1898.2.2.CavidadeOraldasVogais .....................................................................................................1918.2.3.EstruturaSilábica ....................................................................................................................1938.2.4.Métrica .........................................................................................................................................1958.2.5.Gênero ..........................................................................................................................................197
8.3.Asdiferenças ...................................................................................................................1978.3.1.IgualdadedeSegmentos.......................................................................................................1988.3.2.NúmerodeSílabas ..................................................................................................................1998.3.3.FrequênciadeUsodePalavras..........................................................................................200
xv
8.3.4.EscolaridadeeFaixaEtária .................................................................................................2008.4.Resumo..............................................................................................................................2028.5.Duascidades,duasregras?.........................................................................................205
CAPÍTULOIX................................................................................................................... 210
9.Algumasquestõeslinguísticas ............................................................................ 210
9.1.Métrica...............................................................................................................................2109.2.Prosódia ............................................................................................................................2139.3.Tamanhodapalavra .....................................................................................................2159.4.Estruturasilábicaegeometriadetraços:Sílabasousegmentos?.................216
CAPÍTULOX .................................................................................................................... 226
10.Conclusão ................................................................................................................. 226
10.1.Doquefoiconstatado ................................................................................................22710.2.Daspistasencontradas:continuaçãodeestudos.............................................230
ReferênciasBibliográficas......................................................................................... 234
Anexos.............................................................................................................................. 240
xvi
ListadeTabelasTabela1 –Comparaçãodostraçosinternosdeconsoantes ............................................. 39
Tabela2 –Aplicaçõesdehaplologiacomrelaçãoàsconsoantes(Pavezi2006a:25)–fala
espontânea .................................................................................................................... 45
Tabela3 –Haplologiaetonicidade,adaptadodeTenani(2002:141)............................... 51
Tabela4 –Haplologiaedomíniosprosódicos–dadosadaptadosdePavezi(2006a:52) 52
Tabela5 –Variáveisexternasparaaconstituiçãodocorpus............................................ 70
Tabela6 – Aplicações de haplologia em contextos com consoantes [nasal] no teste de
Pavezi(2006a:115)....................................................................................................... 90
Tabela7 –Os48informantes .......................................................................................... 108
Tabela8 –Sumáriodoenvelopedevariação.................................................................. 110
Tabela9 –Informantesutilizadosnaprimeiraanálise ..................................................... 113
Tabela10 –Frequênciasdasconsoantessegundoascavidadesorais.......................... 114
Tabela11 – Aplicações de queda de sílaba com cavidades orais das consoantes
diferentes ..................................................................................................................... 116
Tabela12 –Resultadosgeraisdeaplicaçãodequedadesílaba.................................... 118
Tabela13 – Semelhanças nos pesos relativos da variável Frequência de Uso das
Palavras ....................................................................................................................... 120
Tabela14 –VariávelIgualdadedeSegmentos(asduascidades) .................................. 124
Tabela15 –VariávelCavidadeOraldasConsoantescomDistinçãodoTraço [nasal] (as
duascidades) .............................................................................................................. 127
Tabela16 –VariávelCavidadeOraldasVogais(asduascidades) ................................ 130
Tabela17 –VariávelEstruturaSilábica(asduascidades).............................................. 133
Tabela18 –VariávelMétrica(asduascidades) .............................................................. 135
Tabela19 –VariávelProsódia(asduascidades)............................................................ 138
Tabela20 –VariávelNúmerodeSílabas(asduascidades) ........................................... 140
Tabela21 –VariávelFrequênciadeUsodePalavras(asduascidades)........................ 142
Tabela22 –FrequênciasdavariávelEscolaridade(asduascidades) ............................ 144
xvii
Tabela23 –FrequênciasdavariávelGênero(asduascidades)..................................... 144
Tabela24 –FrequênciasdavariávelFaixaEtária(asduascidades).............................. 144
Tabela25 –VariávelInformante(asduascidades)......................................................... 145
Tabela26 –FrequênciasdavariávelCidade................................................................... 148
Tabela27 –ResultadosdeaplicaçãodequedadesílabaemCapivari .......................... 152
Tabela28 –VariávelIgualdadedeSegmentosapenasdarodada2(Capivari).............. 154
Tabela29 – Variável Cavidade Oral das Consoantes com Distinção do Traço [nasal]
(Capivari) ..................................................................................................................... 156
Tabela30 –VariávelCavidadeOraldasVogais(Capivari) ............................................. 158
Tabela31 –VariávelEstruturaSilábica(Capivari)........................................................... 160
Tabela32 –VariávelMétrica(Capivari) ........................................................................... 162
Tabela33 –VariávelProsódia(Capivari)......................................................................... 163
Tabela34 –VariávelNúmerodeSílabas(Capivari) ........................................................ 165
Tabela35 –VariávelFrequênciadeUsodePalavras(Capivari) .................................... 166
Tabela36 –FrequênciasdavariávelEscolaridade(Capivari)......................................... 167
Tabela37 –FrequênciasdavariávelGênero(Capivari).................................................. 167
Tabela38 –FrequênciasdavariávelFaixaEtária(Capivari) .......................................... 168
Tabela39 –ResultadosdeaplicaçãodequedadesílabaemCampinas ....................... 170
Tabela40 –VariávelIgualdadedeSegmentos(Campinas)............................................ 171
Tabela41 – Variável Cavidade Oral das Consoantes com Distinção do Traço [nasal]
(Campinas) .................................................................................................................. 173
Tabela42 –VariávelCavidadeOraldasVogais(Campinas) .......................................... 174
Tabela43 –VariávelEstruturaSilábica(Campinas)........................................................ 176
Tabela44 –VariávelMétrica(Campinas) ........................................................................ 178
Tabela45 –VariávelProsódia(Campinas)...................................................................... 179
Tabela46 –VariávelNúmerodeSílabasnarodada2(Campinas)................................. 181
Tabela47 –VariávelFrequênciadeUsodePalavras(Campinas) ................................. 182
Tabela48 –FrequênciasdavariávelEscolaridade(Campinas)...................................... 183
Tabela49 –FrequênciasdavariávelGênero(Campinas)............................................... 184
Tabela50 –FrequênciasdavariávelFaixaEtária(Campinas) ....................................... 184
xviii
Tabela51 – Comparação da variável Gênero na rodada Geral, em Capivari e em
Campinas..................................................................................................................... 197
Tabela52 –FrequênciasdasvariáveisexternasdeEscolaridadeeFaixaEtáriadarodada
Geral,emCapivarieemCampinas............................................................................. 201
Tabela53 –ResumodastendênciasdasfatoresemCapivarieCampinas.................... 203
Tabela54 –Resumodasdiferenças,semelhançaseigualdadesemCapivarieCampinas
206
Tabela55 –Relaçãoentreaquedadesílabaeahierarquiadeacentoemqueprimeira
palavraé[x•]) ............................................................................................................ 211
xix
ListadeGráficosGráfico1 –Relaçãoentreconstituintesnageometriadetraços........................................ 19
Gráfico2 –Geometriadetraços(adaptadodeClements&Hume1995:292) .................. 20
Gráfico3 –Organizaçãointernadetraçosdasconsoantes/t/e/d/................................... 21
Gráfico4 –Espectrogramade quedado clítico: posTODESAúde> pos(TODE) saúde
[ˈpos:aˈude]..................................................................................................................... 77
Gráfico5 –SemelhançasnospesosrelativosdavariávelFrequênciadeUsodasPalavras
121
Gráfico6 –VariávelIgualdadedeSegmentos(asduascidades).................................... 126
Gráfico7 –VariávelCavidadeOral dasConsoantes comDistinção do Traço [nasal] (as
duascidades) .............................................................................................................. 129
Gráfico8 –VariávelCavidadeOraldasVogais(asduascidades).................................. 132
Gráfico9 –VariávelEstruturaSilábica(asduascidades) ............................................... 134
Gráfico10 –VariávelMétrica(asduascidades) .............................................................. 137
Gráfico11 –VariávelProsódia(asduascidades) ........................................................... 140
Gráfico12 –VariávelNúmerodeSílabas(asduascidades) ........................................... 141
Gráfico13 –VariávelFrequênciadeUsodePalavras(asduascidades) ....................... 143
Gráfico14 –PesosrelativosdavariávelInformante(rodada1–asduascidades)......... 147
Gráfico15 –VariávelIgualdadedeSegmentosapenasdarodada2(Capivari) ............. 155
Gráfico16 – Variável Cavidade Oral das Consoantes com Distinção do Traço [nasal]
(Capivari) ..................................................................................................................... 157
Gráfico17 –VariávelCavidadeOraldasVogais(Capivari)............................................. 159
Gráfico18 –VariávelEstruturaSilábica(Capivari) .......................................................... 161
Gráfico19 –VariávelMétrica(Capivari)........................................................................... 163
Gráfico20 –VariávelProsódia(Capivari) ........................................................................ 164
Gráfico21 –VariávelNúmerodeSílabas(Capivari)........................................................ 165
Gráfico22 –PesosrelativosdavariávelInformante(Capivari) ....................................... 168
Gráfico23 –VariávelIgualdadedeSegmentos(Campinas) ........................................... 172
xx
Gráfico24 – Variável Cavidade Oral das Consoantes com Distinção do Traço [nasal]
(Campinas) .................................................................................................................. 173
Gráfico25 –VariávelCavidadeOraldasVogais(Campinas).......................................... 175
Gráfico26 –VariávelEstruturaSilábica(Campinas) ....................................................... 177
Gráfico27 –VariávelMétrica(Campinas)........................................................................ 179
Gráfico28 –VariávelProsódia(Campinas) ..................................................................... 180
Gráfico29 –VariávelNúmerodeSílabasnarodada2(Campinas) ................................ 181
Gráfico30 –VariávelFrequênciadeUsodePalavras(Campinas) ................................. 182
Gráfico31 –PesosrelativosdavariávelInformante(Campinas) .................................... 185
Gráfico32 – Comparação da variável Prosódia na rodada Geral, em Capivari e em
Campinas..................................................................................................................... 188
Gráfico33 –Comparação da variável CavidadeOral dasConsoantes comDistinção do
Traço[nasal]narodadaGeral,emCapivarieemCampinas...................................... 190
Gráfico34 – Comparação da variável Cavidade Oral das Vogais na rodada Geral, em
CapivarieemCampinas ............................................................................................. 192
Gráfico35 –ComparaçãodavariávelEstruturaSilábicana rodadaGeral, emCapivari e
emCampinas............................................................................................................... 194
Gráfico36 – Comparação da variável Métrica na rodada Geral, em Capivari e em
Campinas..................................................................................................................... 196
Gráfico37 – Comparação da variável Igualdade de Segmentos na rodada Geral, em
CapivarieemCampinas ............................................................................................. 198
Gráfico38 –Geometriadosnós: raiz, laringale cavidadeoral (adaptadodeClements&
Hume1995:292) ......................................................................................................... 221
Gráfico39 –Aplicaçãodequedadesílaba:nóderaiz .................................................... 222
Gráfico40 –Geometriadosnós: raiz, laringale cavidadeoral (adaptadodeClements&
Hume1995:292) ......................................................................................................... 225
1
CAPÍTULOI
1. IntroduçãoEsta tese(praticamente) teve inícioapartirdeumdiálogoentreduascapivarianas,
umasenhoraesuaneta,emqueestaperguntavaondeestavaseupai:1
Criança –Vó,cadêmeupai?
Avó –Foinaacademia.
Criança –QueméMia?
No diálogo acima, na academia tem uma forma fonética muito semelhante na
produçãodaavó(cf.(1))enapercepçãodacriança(ver(2)):2
(1) produçãodaavó > [nɐ.ˌka.de.ˈmi.a]
(2) percepçãodacriança > [nɐ.ˈka.de.ˈmi.a]
Asformasfonéticasnãosãoidênticas,jáqueasílaba[ka]recebeacentosecundário
em(1)eacentoprimárioem(2).Noentanto,estadiferençanãoresolveaambiguidadeentre
oqueaavóproduziueoqueanetaentendeu.Adiferençaentreaformafonológicadaavó
(ver(3))eaformafonológicadacriança(cf.(4))édadaaseguir:
(3) /na.a.ˌka.de.ˈmi.a/ > n[a]cademia > [na.ˌka.de.ˈmi.a]
(4) /na.ˈka.za.de.ˈmia/> naca(sa)deMia > [na.ˈka.de.ˈmi.a]
Um outro exemplo domesmo fenômeno ocorre na realização a seguir, em que o
outputfonéticoem(5)podeserresultadodedoisinputsfonológicosemCapivari;oprimeiro,
apresentado em (5)a), é comum a diversos outros falares, enquanto que o input (5)b) é
1Nodiálogoaseguir,esclareçoquenãoháregradealçamentoemCapivarieoartigonãoéusadonafrentedenomespróprios.2Emtodososexemplosdestatese,astranscriçõesseguemoIPA(InternationalPhoneticAlphabet)e,comosevêem(1)e(2),ossímbolos“ˈ”e“ˌ”indicamacentoprimárioesecundário,respectivamente.
2
peculiaràCapivari:3
(5) [ˈvi.a.ka.ˈdɛ.lɐ]
a)Viacadela.
b)Viaca(SA)DEla.
ApeculiaridadequeencontramosemCapivariestáapresentadanaquedadesílaba
em(5)b)ca(sa)dela:searealizaçãoem(5)[ˈvi.a.ka.ˈdɛ.lɐ]forouvidaporumcampineiro,a
única interpretação para ele é (5)a)Vi a cadela, e nunca (5)b)Vi a ca(SA)DEla. Para os
capivarianos, é o contexto que vai dizer se o assunto é “uma cachorra” ou “uma casa”.
Curiosamente,seo tópicodaconversa for “umacasa”,comumarealização [ˈka.ˈdɛ.lɐ],os
capivarianosparecemnãonotaraambiguidadecom“a fêmeadocão”.Noteaindaquehá
diferençanoacentodasílabaka:emViacadela,o[ka]éumasílabafraca,[ˈvi.a.ka.ˈdɛ.lɐ],
enquanto que em Vi a ca(SA) DEla, o [ka] que restou de casa porta acento primário
[ˈvi.a.ˈka.ˈdɛ.lɐ].Mesmocomestadiferençaacentual,háambiguidade.
FoiapartirdestadiferençaentreumaproduçãoquepodeserambíguaemCapivarie
quepodecausarestranhamentoemCampinasquedecidimosporentendermelhoraqueda
desílabanasduascidades.
Assim,oprincipalobjetivodestateseéanalisarascaracterísticasdequedadesílaba
emduascidadesdo interiorpaulista,CapivarieCampinas,observando-seseasvariáveis
linguísticasesociaisquepodeminterferirnesteprocessofonológicoatuamdemaneiraigual
oudiferentenasduascidades, tendocomoassunçãoqueaaplicaçãodaquedadesílaba
nãosedáaleatoriamenteemnenhumadascidades.
Para as interferências linguísticas, os níveis analisados foram o segmental
(consoantesevogais),osuprassegmental(estruturasilábica,métrica,prosódiaenúmerode
sílabas)eolexical(nestecaso,aanálisedizrespeitoàfrequênciadeusodepalavras).Com
relaçãoàsvariáveissociais,examinamosaatuaçãodaescolaridade,dogêneroedafaixa
etáriadosinformantes.
Na próxima subseção, passamos a delimitar o escopo do trabalho, definindo o
processofonológico.
3 O contexto segmental de queda de sílaba está representado em maiúsculas e os parênteses indicam oapagamentodesegmento(s).
3
1.1. Oqueéaquedadesílaba?
Osestudossobreaquedadesílabanãosãonovos.Umadenossasreferênciasmais
constanteséde,porexemplo,30anos(cf.Alkmim&Gomes1982).Demodogeral,aqueda
desílabaédefinidacomoumprocessofonológicoemqueaadjacênciadeduassílabasque
tenham unidades internas iguais ou semelhantes resulta em apagamento de uma delas.
Nesta tese, o processo estudado é o de sândi externo, ou seja, a queda de sílaba que
ocorreentrefronteirasmaioresdoqueapalavra.
Geralmente, a queda de sílaba é dividida em dois processos fonológicos: a elisão
silábica(exemplificadoem(7))eahaplologia(cf.exemplo(6))–esteéotipodequedade
sílaba mais estudado na literatura (cf. referências apresentadas na seção 3). Em linhas
gerais, a diferença entre elisão silábica e haplologia é que, nesta última, as consoantes
podemdiferir,nomáximo,notraço[vozeamento](cf.exemplo(6)),enquantoquenaelisão
silábica,hámaisdiferençadoque[vozeamento]–em(7),asconsoantesdiferemem[nasal],
porexemplo,eaplicaçãoépossível(emCapivari,cf.Leal2006).Osexemplos(6),(7)e(9)
sãodeLeal(2006)4eoexemplo(8)édeAlkmim&Gomes(1982:49):
(6) /te+da/ nafren(TE)DApopular [ˈfrẽ.da]popular (ALES)
(7) /dos+nuN/senta(DOS)NUMcanto sen[ˈta.nũ]canto (ALES)
(8) /go+de/ *pin(GO)DEleite5>ping(o)deleite *pin[dʒi]leite (teste)
(9) /va+bo/ *viú(VA)BOnita>viúV(A)BOnita *viú[bu]nita (teste)
No exemplo (6), o contexto consonantal /te+da/ é formado por duas consoantes
coronais[-contínuo],naterminologiadageometriadetraços(cf.Clements&Hume1995e
subseção 2.2.1), com uma única diferença entre as consoantes, o [vozeamento]: /t/ é
[-vozeado]e/d/é[+vozeado]).Ocontextoconsonantal/d+n/em(7)écompostotambémde
duas coronais [-contínuo], mas a primeira é oral e a segunda é uma nasal.6 Pode haver
aplicação de queda de sílaba no exemplo (6), de acordo com Alkmim & Gomes (1982),
Battisti (2004), Tenani (2002), Pavezi (2006a) e Leal (2006); e foram atestados casos de
4 O informante que proferiu a sentença está marcado pelas letras entre parênteses; aqueles em que estãomarcados(teste)sãoexemplosdotestedegramaticalidadedeLeal(2006).5Usamososinaldeasteriscoparaindicarqueasentençaéagramatical.6 Observe que /n/, apesar de ser [+contínuo] na cavidade nasal, é [-contínuo] na cavidade oral (cf. 2.2.1 eClements&Hume1995).
4
quedade sílabaemcontextos como (7) nodialeto deCapivari, segundoLeal (2006).Por
outro lado, há bloqueio da queda de sílaba nos exemplos (8) e (9): no primeiro caso, o
contexto /go+de/ são duas consoantes [-contínuo] com pontos de C diferentes, [dorsal +
coronal]; no segundo caso, as consoantes de /va+bo/ são duas [labial], e a diferença do
contextoestánovalorparacontínuo:aprimeiraconsoante/v/[+contínuo]easegunda/b/[-
contínuo])tornaasentençaagramatical,mesmotendoumvalorigualdepontodeC.
Estes exemplos (6)-(9) ilustram que a queda de sílaba depende do contexto
consonantalparaocorrer:osnósdascavidadesoraisdasconsoantesdevemseriguais(cf.
Leal2006),sendoquehábloqueioseasconsoantes foremdiferentesempontodeC(ver
(8))ouem[contínuo](cf.(9)).
Comovimosnosexemplos,háaplicaçõesdequedadesílabaquenãosãoaceitas
emCampinas,masquesãousuaisemCapivari, emboraascidades tenhamumamesma
herançadialetal(cf.subseção1.2aseguir).Destaforma,apresentoospanoramassociaise
osdialetosdeCapivariedeCampinasnasubseçãoaseguir.
1.2. Ascidades:ospanoramassociaiseosdialetos
AescolhadeseestudarCapivari foi feitaapartirdos resultadosobtidosemminha
dissertaçãodemestrado(Leal2006):nestetrabalho,verificou-sequeocontextosegmental
dequedadesílabaémaisabrangente (em termosde traços fonológicos)doqueaqueles
reportadosnaliteratura(cf.CapítuloIIIereferênciasalicitadas).
Ao longo da feitura da dissertação, pudemos notar também que contextos
segmentais que eram gramaticais em Capivari (tanto nos testes quanto nos dados das
entrevistas)eramagramaticaisparafalantesdecidadespróximas.Escolhemosentãoeleger
Campinas, cidade a 54 quilômetros, e cujos informantes apresentam o fenômeno nos
moldesemqueeleédescritopelaliteraturaparacomparação.Assim,dadaasdiferençasde
aplicação de queda de sílaba, um trabalho interessante seria comparar as duas cidades,
quantificandodados,afimdeverificarsehá,defato,diferençasnaaplicaçãodequedade
sílabaentreCapivarieCampinas.
Outros fatores interessantes se colocaram: estas duas cidades têm uma mesma
herança dialetal (cf. subseção 1.2.1), mas seguiram caminhos diferentes de
desenvolvimentos sociais e dos dialetos (cf. subseções 1.2.1 e 1.2.2). Nacionalmente,
Campinaséumaregiãometropolitana (RM),uma regiãoadministrativa (RA)euma região
5
de governo (RG), enquanto que Capivari pertence à RM e à RA de Campinas e à RG
Piracicaba.7
Nassubseçõesaseguir,examinamosbrevementeahistóriadaformaçãodasduas
cidades e seus panoramas socioeconômico atuais (cf. 1.2.1); em seguida, descrevemos
como a definição do contexto segmental de queda de sílaba pode depender do dialeto
estudado, nosso ponto de partida para a comparação entre os dialetos de Campinas e
Capivari(ver1.2.2).
1.2.1. Formaçãodascidadesepanoramassociais
Na época da colonização, houve diversos momentos de picos de vindas de
portuguesesaoBrasil,comooda“corridadoouro”,nofinaldoséculoXVII(MattoseSilva
2004: 74-5). A exploração do ouro foi uma das principais razões para a formação das
cidades de Campinas e Capivari:8 exploradores em busca de riqueza e bandeirantes
enviadospelacortesaíamdaregiãodeSãoPaulo,entrandopelasmataserios,emdireção
ao estado do Mato Grosso (região em que havia jazidas de ouro), formando-se
acampamentos por essas passagens. Estes acampamentos acabavam por se tornar
vilarejosnasáreasemquehojeestãoCampinaseCapivari.
No século XIX, depois do estabelecimento das cidades propriamente ditas
(Campinas em 1774 e Capivari em 1832), a agricultura passa a ser a principal atividade
econômica, com base principalmente nas lavouras de cana de açúcar e café. Estas
sociedadeseramconstituídasdedonosdeengenhoedemigrantes(provindosdecidades
vizinhas)eimigrantes,quesupriamamãodeobrabarata.
Jánasdécadasde1950e1960,omovimentodemigraçãopopulacionaldaszonas
ruraisparaasurbanasfazcomqueCampinassedestaquecomoograndepólourbanono
interiordeSãoPaulo,enquantoqueaurbanizaçãodeCapivaripodesercomparadaàdos
bairros de Campinas na mesma época. Numa entrevista que faz parte do corpus deste
7RMéareuniãodeumcentropopulacional(acidadedeCampinasnestecaso)esuascidadessatélites,quetenhamaltograudeintegração(econômica,políticaoucultural).RAeRGsãosubdivisõesqueestãoabaixodosestados,aglomeradosdecidadesdeacordocomsimilaridadeseconômicasesociais.RMsestãoprevistasnaConstituição Federal: cada estado brasileiro pode “instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas emicrorregiões, constituídas por agrupamentos de Municípios limítrofes, para integrar a organização, oplanejamentoeaexecuçãodefunçõespúblicasdeinteressecomum.”(cf.Artigo25parágrafo3odaConstituiçãoFederal).AsRGsestãosubordinadasàsRAseestasàsRMs.8 Cf. websites do IBGE e das prefeituras dos municípios de Campinas e de Capivari (cf. referênciasbibliográficas).
6
trabalho,ainformantem(quetemensinofundamentalincompleto,de54anos)relataqueo
aspectocampineiroruralnadécadade1960aindaexistianosbairros:asruaseramdeterra
ededifícilacesso,comoeraocentrodacidadedeCapivarinessamesmadécadade1960
(panoramaqueaindapersistenosdiasdehojeemalgunsbairrosdosubúrbiodestacidade).
Apartirdosanos80,oquadrosocioeconômicodeCampinassetornasemelhanteao
atual: pessoas do nordeste e do sul do país passam a viver nesta cidade, em busca de
trabalho; nos dias de hoje, a cidade deCampinas é umdos grandes centros urbanos do
Brasil.QuantoàCapivari,umadasbaseseconômicasaindaéusinasdecanadeaçúcar,
embora a cidade possua metalúrgicas, indústrias de bebida e de tecelagem, e diversos
estabelecimentoscomerciais.
Comrelaçãoaoquadropopulacional(cf.dadosdoIBGE2010),Campinastemuma
área de 795 Km², com uma população de um pouco mais de um milhão de habitantes
(1.080.999),enquantoqueaáreaterritorialdeCapivariéde323Km²,contandocom48.573
habitantes–portanto,aáreadeCampinaséquase2,5vezesmaiordoqueadeCapivari;
aquelacidadepossui22,3vezesmaishabitantesdoqueesta.Outrainformaçãoarespeito
dasduascidadeséo ÍndicedeDesenvolvimentoHumano–Municipal (IDH-M),9quepode
variarde0(nenhumdesenvolvimentohumano)a1(desenvolvimentohumanototal):IDH-M
(geral)deCAMPINASé0,852,enquantoqueodeCapivarié0,803;comrelaçãoaoIDHM-
educação,oscampineiros têmumdesenvolvimentode0,925eoscapivarianos,0,86. Isto
significaqueasduascidadestêmumaltodesenvolvimentohumano–apesardadiferença
deCampinasserumacidadedegrandeporte,eCapivariumacidadepequena.
9 O Índice de Desenvolvimento Humano foi feito paramedir o desenvolvimento humano nos países. Depois,foram feitasmodificações para se trabalhar com cidades (Índice deDesenvolvimentoHumano –Municípios –IDH-M).A base para o índice é 3 indicadores: educação (taxas de alfabetização e dematrícula em todos osníveisdeensinodacidade),longevidade(expectativadevidaaonascernacidade)erenda(PIBdacidade,emdólarPPC–paridadedopoderdecompra).Um índicena faixade0a0,499podeserconsideradobaixo;de0,500a0,799:desenvolvimentohumanoconsideradomédio;emaiorque0,800:desenvolvimentohumanoalto(cf.“EntendaocálculodoIDHMunicipal(IDH-M)”:www.pnud.org.br/atlas/PR/Calculo_IDH.doc).
7
1.2.2. Osdialetoscapivarianoecampineiro
Primeiramente,énecessáriodiscutiroqueentendemospordialeto.Neste trabalho,
usamosestetermolatosensu,comosinônimode“variedadedeumalínguaprópriadeuma
região”10 ou cidade, mas esclarecemos que há muito mais complexidade por trás desta
simplesdefiniçãoqueestamosempregando:Camacho(1988)ressaltaquenãoéapenasa
limitação(geográfica)dacidadequeditaasdiferençasentreosfalares.Emoutraspalavras,
umdialeto podenãoestar circunscrito apenasa umadistinçãodiatópica,maspodeestar
relacionado também à comunidade de fala em que um indivíduo está inserido, às suas
práticas sociais, e outras variáveis externas à língua. Uma vez que o foco desta tese é
(principalmente) o linguístico (buscar uma regra dequedade sílaba), o termo “dialeto” foi
usado de forma ampla, numa tentativa de delimitar “dialeto de Capivari”, “dialeto de
Campinas”;“dialetodeSãoJosédoRioPreto”,“dialetodeSãoPaulo”,eoutros–ouseja,
discutiroqueéumdialetofogedoescopodestatese.
Quantoàformadefalarnessesdoislugares,Amaral(1920)eGarcia(2009a,2009b)
descrevem particularidades do falar capivariano, e Leite (2004, 2005, 2011) trata de
Campinas.AmaraleGarcia classificamomodode falar capivariano comopertencenteao
dialetocaipira.Amaralexemplificaatrocadofonema/l/por[ɽ](comoemc[ɽ]aroemlugarde
claro), um dos muitos “vícios de pronúncia” (cf. Amaral 1920) atribuídos ao falar caipira.
Com relação ao dialeto campineiro, amaioria dos trabalhos são voltados ao /r/ retroflexo
(Leite 2004, 2005, 2011). Especificamente em sua tese, Leite (2004) faz uma análise
sociolinguísticasobreo/r/retroflexodeCampinas,relacionando-oaatitudeslinguísticasde
estudantes de São José do Rio Preto (isto é, outra cidade do interior paulista). A autora
trabalhou com 8 informantes de São José do Rio Preto que estudam em Campinas e
verificou que há um prestígio do dialeto campineiro por parte destes estudantes rio-
pretenses(Campinaséumagrandecidade,compodereconômico, temrepresentatividade
se comparada às outras cidades do interior). Na visão dos estudantes, o campineiro tem
uma fala socialmentemenosmarcada (cf. Leite 2004: 132) do que as outras cidades do
interior paulista. Por fim, a autora conclui que há um mascaramento do retroflexo pelos
falantes da sua pesquisa, pois entendem que o dialeto de Campinas é uma fala
10Cf.definiçãoemDicionárioPriberamdaLínguaPortuguesa[online].
8
intermediária(éumacidadedointerior,masodialetotemmaisprestígiodoqueocaipira–
cf.Leite2004:97-113).
Especificamente para a queda de sílaba, apresentamos diversos trabalhos sobre
haplologia, de variados dialetos: Alkmim & Gomes (1982) não afirmam qual é o dialeto
estudado,edefinem-nocomo “sotaquebrasileiro” (p.44);Tenani (2002,2003)estudamo
dialeto de São José do Rio Preto; Battisti (2004) analisa o de Porto Alegre; Bisol (2000)
também não define qual a variedade estudada, chamando-a de “dialetos populares” do
português brasileiro (p. 406); Pavezi (2006a) analisa os dialetos de São Paulo (corpus
NURC-SP)edeSãoJosédoRioPreto (corpus IBORUNA-SJRP); finalmente,Leal (2006,
2007) estudamo falar da cidadedeCapivari.Até onde sabemos, nãohánenhumestudo
sobrequedadesílabacominformantesdeCampinas.
Notamosqueaquedadesílabaédescritademododiferente (cf. tambémCapítulo
III)nestestrabalhoscitados:comrelaçãoaocontextoconsonantal,porexemplo,Alkmim&
Gomes (1982)afirmamqueahaplologia sópodeocorrer comasconsoantes /t/ e /d/; em
Porto Alegre, Battisti (2004) estuda contextos segmentais somente com /t/ e /d/, sem
analisaroutrasconsoantes,jáqueoobjetivodaautoraéverificaranaturezadahaplologia;
damesmaforma,Tenani(2002)nãoanalisacontextosdiferentesde/t/e/d/,11jáqueofoco
do estudo é verificar a relação entre a prosódia e a haplologia;Bisol (2000) tambémnão
analisaocontextosegmental(seuobjetivoéverificararelaçãoentrehaplologiaeoritmo),
mas apresenta umexemplo de aplicação do processo com /k+k/.Dois trabalhos focamo
contexto segmental: em Pavezi (2006) e Leal (2006), a haplologia pode ocorrer com
contextos diferentes de /t/ e /d/ (cf. também capítulo 3 desta tese). Em outras palavras,
notamos que, em dialetos diferentes, a queda de sílaba parece se dar também demodo
diferente.
No exemplo (5)b) da seção 1, vimos que há uma diferença na aceitação deVi a
ca(SA)DEla:paracapivarianos,aquedadesílabaépossível,enquantoqueaaplicaçãodo
processo causa estranhamento aos campineiros. É esta a oposição entre Capivari e
Campinas com que trabalhamos: as cidades podem ter regras de queda de sílaba
diferentes. Tendo em vista esta hipótese, observe a seguir a afirmação de Guy & Zilles
11 Tenani (2002: 135-6) explica: “Para argumentar que a ocorrência da haplologia é sensível à estruturaprosódica,buscamosinicialmenteidentificaroscontextossegmentaisquefavorecemoprocesso,tomandocomopontodepartida(...)AdescriçãodocontextosegmentalfeitaporAlkimim&Gomes(1982).”
9
(2007:221):
Sempre que o pesquisador pensar que há possibilidade de os subgrupos ouindivíduos incluídos na análise terem gramáticas diferentes, pode rodá-losseparadamente,permitindoassimquecadaumtenhadiferentesvaloresdosfatores.Feito isso,opesquisadorpodecompararos resultadosdas rodadasseparadas:semostraremdiferençasimportantes,devemanterosgruposseparados.Semostraremresultados basicamente iguais eles (os subgrupos ou indivíduos) podem sercombinadosnumarodadaunificada.
Combasenacitaçãoacima,analisamosprimeiramenteaquedadesílabanasduas
cidadescomputadasemconjunto(cf.capítuloV);emseguida,comoobjetivodeverificarse
há duas gramáticas diferentes emCapivari eCampinas, as cidades foramanalisadas em
separado(vercapítulosVIeVII,respectivamente).
Ditodeformasimples,aquestãoquenorteiaestateseé:
HádiferençasnaregradequedadesílabaemCapivarieCampinas?
1.3. Oquadroteóricoequestõesaseremrespondidas
Comofoiditonaseção1,oprincipalobjetivodestateseéverificarseháumaregra
de queda de sílaba em Capivari e outra em Campinas, ou se as duas cidades têm
características iguaisparaoprocesso.Dessa forma, nãopartimosdeuma regra (geral)a
priori12eempregamosametodologialabovianadequantificaçãodosdados,oquesignifica
que, num dado contexto segmental, as possibilidades de aplicação ou não aplicação de
queda de sílaba são contadas e, a partir destas quantificações, podemos verificar quais
interferências linguísticasesociaisatuamnoprocesso–demodoafavorecê-loou inibi-lo.
Assim,algumasquestõeslinguísticasaseremdiscutidassão:
• Háumaconsoantequefavorece/inibeoprocesso?
• Háumavogalquefavorece/inibeoprocesso?
• Duas sílabas iguais favorecemmais o processo do que sílabas diferentes?
Sílabasdiferentesinibemoprocesso?
• SílabascomestruturaCVfavorecem/inibemoprocesso?
• Quetipodeestruturamétricafavorece/inibeoprocesso?
12Aúnicarestriçãoqueadotamoséqueasílabasujeitaàquedadeveserfraca,cf.exemplo(10)aseguir(vertambémdiscussãoem2.2.3).
10
• Quetipodeestruturaprosódicafavorece/inibeoprocesso?
• O tamanho fonológico, isto é, o número de sílabas da palavra, interfere de
queformanoprocesso?
• A frequênciadeusodepalavras (ouseja,serumapalavramuito frequente,
frequenteerara)interferenoprocesso?
Além das características linguísticas, também apontamos questões relacionadas a
variáveissociais,como:
• Qual cidade favorece/inibe a queda de sílaba: Capivari ou Campinas? Há
regrasdequedadesílabadistintasnasduascidadesouaimplementaçãodo
processoéigual/semelhante?
• Características sociais, comoescolaridade, gêneroe faixaetária, interferem
noprocessodequemodo?
Há ainda a possibilidade de encontrarmos no corpus dados categóricos, ou seja,
bloqueiosdequedadesílaba,quepodemser verificadosemocorrências com knockouts.
Assim,algumasquestõesaseremverificadassão:
• Háalgumaconsoante,vogalouestruturadesílabaquebloqueieoprocesso?
• Háumaestruturamétricaquebloqueieoprocesso?
• Háumaestruturaprosódicaquebloqueieoprocesso?
• Otamanhodapalavraenvolvidanocontextopodebloquearprocesso?
• Afrequênciacomqueumapalavraéutilizadapodebloquearoprocesso?
Para exemplificar, temos que o processo nunca ocorre se a sílaba sujeita ao
apagamentofor forte(cf.Alkmim&Gomes1982,Bisol2000,Mercado2001,Tenani2002,
2003,Battisti2004,Pavezi2006aeLeal2006),comonoexemploaseguir,deTenani(2002:
141):
(10) *odi(DI)DItouregrasàpolícia
Aprimeirasílabadocontextosegmental /di+di/é forteem (10),oqueocasionao
11
bloqueio da queda de sílaba. Em outras palavras, na estrutura métrica, há bloqueio de
quedadesílabaseaprimeirasílabaforforte.
Umavezqueoprocessofonológicoésilábico(caiasílaba),abaseteóricautilizada
foiateoriadasílabadeSelkirk(1982);comoétambémprocessosegmental(desencadeado
pela igualdade/semelhança entre as consoantes), utilizamos Clements & Hume (1995);
finalmente, jáquepodeserafetadopelaprosódiaepelamétrica,usamosNespor&Vogel
(1986)eSelkirk(1984),respectivamente.
1.4. Organizaçãodatese
NoCapítuloII,apresentamosoquadroteóricoutilizado.Emseguida,noCapítuloIII,
apresentamos a definição do processo de queda de sílaba. No Capítulo IV, apresento a
base metodológica, incluindo o envelope de variação linguístico e social (cf. subseção
4.1.4),comasvariáveisinternaseexternasinvestigadascomoatuantesnaquedadesílaba.
Os dados foram computados em três grandes conjuntos de rodadas:13Geral (com dados
dasduascidades),CapivarieCampinas.Primeiramente,todasasocorrênciasencontradas
no corpus foram rodadas, unindo os tokens tanto da cidade de Capivari quanto de
Campinas,eosresultadosdaanálisegeralestãoreportadosnoCapítuloV.NosCapítulos
VIeVII,apresentoosresultadosencontradosparaCapivarieCampinas,respectivamente.
NoCapítuloVIII,háumacomparaçãoentreasduascidades,emqueforamobservadasas
igualdades, semelhanças e diferenças entreCapivari eCampinas. A partir dos resultados
encontrados,apresentoalgumasquestões linguísticas relacionadasàquedadesílaba,no
CapítuloIX.Por fim,noCapítuloX,apresentoumaconclusãodosresultadosencontrados,
discutindo o que pôde ser constatado e também as pistas encontradas nesta tese, que
podemcontribuirparaoutrosestudosaseremfeitos.
13 Neste trabalho, utilizamos o programaGoldVarb (cf. Sankoff, Tagliamonte & Smith 2005) para os cálculosestatísticosfeitosnosdados.Otermo“rodada”éusadoparaindicaroprodutofinaldesteprograma(cf.CapítuloIV,emqueexplicitamosofuncionamentodoprograma).
12
CAPÍTULOII
2. OquadroteóricoAntes de apresentar o processo fonológico (cf. seção 3 a seguir), julgamos
necessáriotratardoquadroteóricoqueestánabasedesteestudo.
Osdadosdocorpus tiveramum tratamentoestatístico, seguindo-seametodologia
laboviana,oqueimplicanoestudodavariação,umainterfaceentreaestruturalinguísticae
seus aspectos sociais (ou, nos termos sociolinguísticos variacionistas, as variáveis
linguísticas e sociais). Assim, apresento na subseção 2.1 como relacionamos a teoria
gerativistaeomodelo labovianonopresenteestudo;enasubseção2.2,estãoas teorias
fonológicasutilizadasparaanálisedocorpus.
2.1. Osmodelosvariacionistaegerativista:pontosdediálogo14
Aquestãodeunirteoriafonológicaevariaçãoéumadiscussãoqueintegradiversos
trabalhos (Tarallo 1983, 1991; BorgesNeto&Müller 1987; ePagotto 2004).Utilizar num
trabalho estas duas abordagens sobre a linguagem, o gerativismo e a sociolinguística
variacionista, pode ser interpretado como contraditório: para o gerativismo, a língua é
homogênea, enquanto que a sociolinguística variacionista parte exatamente da
heterogeneidade; a gerativa tem uma abordagem mentalista, enquanto que a linha
variacionistaécrucialmentesocial(Honeybone2011).
De acordo com a teoria gerativa, as línguas são estruturadas por princípios e
parâmetros(cf.Chomsky1965).Osprincípioschomskyanossãouniversais,nosentidode
que todasas línguas têmasmesmaspropriedadescapturadasporelesenãohá línguas
nasquaiselesnãoseapliquem.Osparâmetrosporsuavez,sãoprincípioscomvaloresa
seremescolhidos. Istoé,dentrodeumconjuntodevalorespossíveisparaumparâmetro,
as línguas podem variar exatamente por marcações paramétricas diferentes. Mais
importante,umavezmarcadososvaloresdosparâmetrosnumadeterminada língua, não
14AgradeçooscomentáriosdoProfDrRonaldBeline,quemelevaramamelhoraradiscussãodestaseção.
13
há possibilidade demudança.Com relação ao acento, por exemplo, temos (adaptado de
Massini-Cagliari1995):
1. Princípio:todapalavraéacentuada.
2. Parâmetro deposiçãodonúcleodopénoportuguêsbrasileiro: o acento à
esquerda(vs.direita)noúltimopénapalavrafonológica.
Assim,oprincípiodequetodaapalavraportaacentonãomudanaslínguas:nãohá
línguasqueapresentempalavrassemalgumtipodeproeminência(queracentual(stress),
quer tonal (tone)).Noque respeitaàposiçãodaproeminência,umavezquea língua faz
uma seleção, não há possibilidade de mudança (a estrutura seria agramatical em uma
língua comumvalor diferente).Por exemplo, o valor doparâmetro (2) gera as seguintes
formas acentuadas: menino [me.ˈni.nu] e casa [ˈka.za]. Não existe, no português, a
possibilidadedeproduçãodestaspalavrascomo*[ˈme.ni.nu]ou*[me.ni.ˈnu]e*[ka.ˈza].Os
errosacentuaisporfalantesnativossemprevãodizerrespeitoapalavrasquesãoexceção
àaplicaçãodoparâmetro(porexemplo,saci[sa.ˈsi]).Assim,podemosdizerqueavariação
estánaestruturapossível(naGU–GramáticaUniversal),quepermitequehajamaisdeum
valor para um parâmetro, e esta variação desaparece nas línguas, dado que as línguas
fazemaseleçãodeumvalorparaoparâmetro.
Noentanto,mesmonogerativismo,existealgumavariação,aomenosaosediscutir
fonologia.Istopordoismotivos:primeiroporque,diferentementedasintaxe,assume-seque
na fonologia haja também regras (por exemplo, elisão, degeminação, ditongação), nem
todas redutíveis a combinações paramétricas, como foi o acento (cf. em Bisol 1992 a
explicação do acento no português brasileiro via regra, e emMassini-Cagliari (1995), na
formadevaloresparamétricos).
O problema que deve ser resolvido para a pesquisa desta tese está no seguinte
aspecto: as teorias fonológicas aqui empregadas são gerativistas (que buscam
homogeneidadenaslínguas),eametodologiatembasenavariaçãolinguística(navariação
regulada).Exemplificandoaoposiçãoteóricacomoprocessoestudado,temos:
14
(11) TôcomsaudaDEDELosAngeles–semaplicaçãodequeda
(12) Tôcomsauda(DE)DELosAngeles–comaplicaçãodequeda
Tomando-seporbaseogerativismo,emquealínguaéhomogênea,temosqueum
mesmo falante pode produzir (11) ou (12) arbitrariamente, uma vez que os ambientes
internos nas duas realizações são os mesmos: contexto segmental, acento, prosódia (e
outras variáveis linguísticas); no gerativismo, o falante produzir as formas (11) ou (12) é
devidoaoacaso–àvariaçãolivre.Nasociolinguísticavariacionista,adiferençaentre(11)e
(12)éoquemoveospressupostoslabovianos:todasasocorrênciasemquehouveenão
houveaplicaçãodequedasãoquantificados,bemcomotodasaspossíveisvariáveis(sejam
linguísticas, sejam sociais) que podem interferir na aplicação do processo. Em seguida,
todas as aplicações versus não aplicações são relacionadas às variáveis (linguísticas e
sociais),deondeseconcluiquaisfavorecem,inibemousãoneutrosàquedadesílaba. Na
sociolinguística, produzir (11)ou(12) não é aleatório,masestatisticamenteorientado.Nos
termossociolinguísticos,oprocessofonológicoaquiemestudoéumaregravariável.
Alémda questão das regras, na fonologia tambémassume-se que haja princípios
violáveis,comooPrincípiodeContornoObrigatório(OCP),deLeben(1973),ouoPrincípio
de Alternância Rítmica (PAR), de Selkirk (1984) (cf. também subseção 2.2.3). A autora
formula provisoriamente o PAR (p. 12) da seguinte forma: entre duas batidas fortes
sucessivas deve(m) intervir pelo menos uma e no máximo duas batida(s) fraca(s). Para
garantir a ‘obediência’ a este princípio, diversas regras podem ser aplicadas (retração
acentual, apagamento de sílaba, inserção de batida silenciosa). Observe as grades a
seguir,emqueosacentosrelevantesestãosublinhados(exemplosdeSantos2002:71):
(13) ojosémariacantouhoje
can tou ho je• x x •
(14) ojosémariacantouhoje
can tou ho jex • x •
15
DeacordocomAbousalh(1997),umadasresoluçõesparachoquesacentuaiscomo
exemplificado em (13) é a retração de acento apresentada em (14), e esta última é a
sequênciarítmicaqueobedeceaoPAR.Noentanto,chamoaatençãoparaofatodeque
ambasassentençassãogramaticais,istoé,umaproduçãocomo(13)égramatical,mesmo
violandooPAR.DissopodemosconcluirqueprincípioscomooPAR(cf. 2.1)nãosãoda
mesmanaturezadoqueosprincípiossintáticosouaqueleem(1)–sãomaistendênciasa
serembuscadasnaslínguas.
Desta forma, encontramos 2 casos de variação na fonologia: regras opcionais e
princípios/tendências–ambospodendoounãoseraplicados.Mesmonestescasos,oque
vemos na teoria gerativa atual é umabusca por descobrir a estrutura da língua, a forma
comoumalínguaéorganizada,estruturadaenquantosistema.
Nocasodasociolinguísticavariacionista,seuobjetivoéexatamentemostrarcomoa
línguanãoéhomogênea,ecomohádiferençasnestesistema.Estasdiferençaspodemser
resultadodoprópriosistema(diferençaslinguísticas)oudevariáveisexternasqueafetama
produção.O importante aqui não é que pessoas diferentes falamdemodo diferente (por
exemplo,capivarianosdizemporta[ˈpɔɽ.tɐ]enquantoquecariocasdizem[ˈpɔh.tɐ],poisisto
poderiaserinterpretadocomodoissistemas(dialetos?)diferentes),masofatodequeuma
mesma pessoa pode produzir a mesma sequência de forma diferente: um mesmo
capivarianopodedizertantocantouhoje[kɐ.ˈtow.ˈo.ʒi]quantocantouhoje[ˈkɐ.tow.ˈo.ʒi].
Omodoencontradopelasociolinguísticavariacionista(cf.Labov1972,1994,2001)
para buscar a lógica dentro das línguas é quantificar dados do vernáculo, analisando-os
com ferramentas estatísticas e interpretando-os de modo a relacionar quais variáveis
(linguísticas e sociais) podemestar agindo num processo fonológico. Além disso, a linha
variacionistaoperanainterfaceentreolinguísticoeosocialdalíngua,emqueabaseestá
naheterogeneidadeordenada(Weinreich,Labov,&Herzog1968),ouseja,napremissade
quehávariaçõesequesãoreguladas,enãodadasaoacaso.Épelaprobabilidadequese
podeobservaraatuaçãodevariáveis linguísticasesociaisnavariaçãoentrecantouhoje
[kɐ.ˈtow.ˈo.ʒi]ecantouhoje[ˈkɐ.tow.ˈo.ʒi],porexemplo.
16
Ditodeformaresumida,ogerativismobuscaumalógicalinguísticadentrodopróprio
sistema, com base em princípios e parâmetros imutáveis, sem computar o externo à
linguagem,enquantoqueasociolinguísticavariacionistavêalínguacomoumsistemadual,
e opera na interface entre as variáveis linguísticas e sociais, com base na quantificação
destasinterferênciasinternaseexternasàlíngua.
Há, no entanto, a questão de como unir a Teoria Fonológica Gerativa e a
SociolinguísticaVariacionista.SegundoGuy&Bisol(1991:135):
(...) estudos quantitativos da língua têm um papel central na avaliação e nodesenvolvimento da teoria fonológica. (...) acreditamos que essa espécie deinteração entre teoria e dado, entre construção de modelos e observação,representaamaisprodutivalinhadefuturaspesquisaslinguísticas.(grifosmeus)
Assim, os estudos quantitativos serviriam para avaliar as propostas
descritivas/explicativas das teorias fonológicas, contribuindo para o desenvolvimento das
mesmas.Pagotto(2004:195),poroutrolado,afirmaque:
“(...)nãooperamoscomopressupostodequeasociolinguísticaseja (...)somenteumdispositivoheurísticoparaatestagemdehipótesesoriundasdaLinguística(...).”(grifomeu)
Nestetrabalho,ospontosdediálogoentreosdoismodelosserãointerpretadoscom
relaçãoàtendênciadaquedadesílabaesuaprodutividade.15Comoditoem1.2.2,nosso
objetivoédescobrir sea regradequedade sílabaéamesmaemCapivari eCampinas.
Parachegaraesta resposta,observaremosa tendênciae aprodutividade (expressosvia
pesorelativodasociolinguísticavariacionista)dosdiferentescontextospossíveisdasregras
(definidos pela fonologia gerativa). Os contextos são as variáveis (linguísticas e sociais)
analisadasneste trabalho.Umavariávelquetenhaumamesmatendência(favorecimento,
neutralidade ou desfavorecimento) e uma mesma produtividade (pesos relativos muito
15AgradeçoaEmílioPagottopormechamaraatençãoparaadiscussãoentreprodutividadeeexpansãodecontextoderegra,quemelevaramaorecortequefareiparaainterpretaçãodosresultadosencontrados.
17
próximos) é interpretada como uma mesma propriedade da regra em Capivari e em
Campinas. Se os resultados de uma variável tiverem tendências iguais mas os pesos
relativos foremdiferentes,a interpretaçãoéqueháumamesmaregra,comprodutividade
diferente nas duas cidades. Finalmente, tendências diferentes (e, consequentemente,
produtividadeepesosrelativosdiferentes)indicamqueháduasregrasdiferentes:umapara
Capivari,outraparaCampinas.
Assim,estatesetembasenateoriafonológicagerativistaemque,demodogeral,a
sistematização da linguagem é feita pela forma ou estrutura, mas integramos também o
modelodequantificaçãodedadosdasociolinguísticavariacionista,afimdeexaminarquais
variáveis(propriedades)interferemnaaplicaçãodaquedadesílabanasduascidades.
2.2. Teoriasfonológicas
Nesta seção, apresento as teorias utilizadas para a análise do corpus,
compreendendoosníveis fonológicosdaestrutura internadosegmento(vergeometriade
traços em 2.2.1) e da sílaba (cf. subseção 2.2.2), a métrica (subseção 2.2.3) e os
constituintesprosódicos(ver2.2.4).
2.2.1. Geometriadetraços:aestruturainternadossegmentos
AfimdejustificarporqueousodaGeometriadeTraçoséimportantenaanálisedo
corpus, observe, primeiramente, os contextos consonantais dos exemplos a seguir,
definidosdeacordocomafonologiatradicional:16
(15) tape(TE)DAporta /t/[plosivaalveolar] + /d/[plosivaalveolar]
(16) lógi(CO)QUEnão /k/[plosivavelar] + /k/[plosivavelar]
(17) quei(JO)saboroso /ʒ/[fricativapós-alveolar] + /s/[fricativaalveolar]
(18) *esco(VA)SEparada /v/[fricativalabio-dental] + /s/[fricativaalveolar]
Numa análise dos segmentos nos moldes estruturalistas tradicionais, podemos
16Osexemplos(15)-(18)sãodostestesdegramaticalidadedeLeal(2006).
18
observarqueem(15)háduasplosivasalveolares;em(16),ocontextoéformadoporduas
plosivasvelares;em(17),oambienteparaaquedadesílabaécompostodeduasfricativas,
a primeira é pós-alveolar e a segunda é alveolar; finalmente, em (18), há também duas
fricativas, com pontos de consoantes diferentes – [labio-dental] e [alveolar],
respectivamente. Se a queda de sílaba ocorre com segmentos iguais, a descrição
tradicional dos segmentos dá conta da possibilidade de aplicação em (15) (são duas
plosivasalveolares)eem(16)(duasplosivasvelares);explicatambémporquehábloqueio
em(18),poisasconsoantestêmomesmomododearticulação(duasfricativas),mas,dado
queopontoédiferente (labio-dentalseguida+alveolar),aquedadesílabanãopodeser
aplicada.Noentanto,comoexplicarqueem(17)oprocessosejapossível,seospontosde
articulação de /ʒ/ e /s/ são diferentes ([pós-alveolar] e [alveolar], respectivamente)? Esta
dificuldadeemdescreverosdadospelafonologiatradicionalpodeserresolvida pelaanálise
viageometriadetraços.
Umadasdiferençasentreasabordagenstradicionaleageometriadetraçosestáno
pontodevistadecomoossonssãoarticulados:naprimeira,ossegmentossãodefinidosde
acordocomseusarticuladorespassivos:num/t/,porexemplo,a línguabatenosalvéolos
localizados na parte frontal da cavidade oral e esta é a descrição deste som (uma
consoante alveolar). Na geometria, os traços são concebidos conforme os articuladores
ativos:naproduçãodeum /t/,porexemplo,apontada línguaqueatingeosalvéoloséo
quedescreveessesom(échamadodeconsoantecoronal–corona,pontada língua–cf.
Chomsky&Halle1968;Jakobson,Fant&Halle1952).
Para facilitaravisualização,assentenças (15)-(18)estão reescritasabaixo,coma
descriçãodascavidadesoraisdasconsoantesnosmoldesdageometriadetraços:
(19) tape(TE)DAporta /t/[coronal,-contínuo] + /d/[coronal,-contínuo]
(20) lógi(CO)QUEnão /k/[dorsal,-contínuo] + /k/[dorsal,-contínuo]
(21) quei(JO)saboroso /ʒ/[coronal,+contínuo] + /s/[coronal,+contínuo]
(22) *esco(VA)SEparada /v/[labial,+contínuo] + /s/[coronal,+contínuo]
Nosexemplos(19)-(22)acima,ostraçosdepontodeCede[contínuo]dãocontade
19
descrever as características segmentais de queda de sílaba: em (19), há duas coronais
[-contínuo];em(20),ocontexto/k+k/éformadoporduasdorsais[-contínuo];noexemplo
(21), há, novamente, duas coronais, desta vez, o traço para ambas as consoantes é
[+contínuo];17 finalmente,em (22),háuma labial /v/ seguidadeumacoronal /s/,eambas
são[+contínuo].Assim,oúnicocasoemquehábloqueiodequedadesílabaé(22),emque
opontodeCdasconsoantesédiferente(labialseguidadecoronal).
Clements&Hume(1995:267)defendemquehádiferentesmaneirasdeostraçosse
relacionarem,comorepresentadonoGráfico1:
a)xdominay b)ydominax c)xeysãoirmãos d)xeyformamumnó... ... ... ...│ │ │ │x y z [x,y]│ │ ╱╲ y x xy
Gráfico1 –Relaçãoentreconstituintesnageometriadetraços
Em a), há uma relação de dominância, já que x domina y; em b) a relação é a
mesma,mas,destavez,ydominax;emc),umúnicotraçozdominaxey,eestesdoissão
nósirmãos;finalmente,emd),xeyformamumúniconó.
Combasenessesquatromodosde ligaçãoquepodehaverentreosconstituintes,
Clements&Hume(1995:292)propõemumaárvoredetraçosfonológicos,organizadosde
acordo com a geometria (adaptada) dada a seguir, em que estão assinalados os nós
relevantesaesteestudo:
17 Note que em (21) a diferença entre as consoantes abaixo do traço coronal parece não importar: /ʒ/ é [-anterior,+distribuído]e/s/é[+anterior,-distribuído]eaquedadesílabaégramatical(cf.Leal2006).
20
[±soante]Raiz [±aproximante]
[±vocálico]
Laringal [nasal]
Cavidadeoral
[±vozeado][gloteconstrita] [±contínuo]
[glotenãoconstrita] PontodeC
[labial]
[coronal] [dorsal] Vocálico
[±anterior]
[±distribuído] Abertura PontodeV
[dorsal]
[aberto] [labial] [coronal]
[±anterior][±distribuído]
Gráfico2 –Geometriadetraços(adaptadodeClements&Hume1995:292)
Ostraçosmaisimportantesparaadefiniçãodoprocessoaquiemestudosãoosnós
irmãos Ponto de C e [contínuo] (cf. Leal 2006), ambos dominados pelo nó de Cavidade
Oral, queaparecemdestacadosnoGráfico2.Os traçosna representaçãoarbóreaacima
estão organizados de modo a implicar que, se uma regra fonológica ocorre em um
determinadonó,estamesmaregraseaplicaatodososseusnósdominados(Clements&
Hume1995: 251).Clements&Hume (1995: 250) propõemainda que a organização dos
traçosdeveobedeceraoseguinteprincípio:
Phonologicalrulesperformsingleoperationsonly.(grifomeu)
Assim,regrasfonológicasseaplicamumaúnicavez(ouseja,executamumaúnica
operação).
21
Portanto,oconstituintemaisimportantenopresentetrabalhoéacavidadeoral,pois
énestenó18queestãoasinformaçõesdeumcontextoquepermiteaquedadesílaba(para
oscasosdebloqueio,cf.subseção5.1eLeal2006).
Assim,aquedadesílabadeve “olhar”acavidadeoralpara identificarsemelhança
entreossegmentos;deoutraforma,seriam2aplicações:primeiro,parapontodeC,eoutra
para [contínuo].A relaçãoentre a cavidadeoral, ponto deCe [contínuo] é capturadana
representação pelo item c) do Gráfico 1, já que cavidade oral domina ponto de C e
[contínuo],eestesdoissãonós irmãos–emoutraspalavras,seoprocessoseaplicana
cavidadeoral,refletediretamentenosdoisnósabaixodele.
Paraexemplificarageometriacomaquedadesílaba, tomamosumdosdadosde
Leal (2006: 101). No sintagma ...na fren(Te) Da casa dela, o contexto consonantal para
aplicação de apagamento é /t+d/, com aplicação do processo. A seguir, apresento a
geometriadestasduasconsoantes:
/t/ /d/ x x
-sonorante -sonorante r→-aproximante -aproximante←r
-vocóide -vocóidelaringal laringal[-vozeado] [+vozeado]
[-nasal] [-nasal] cavidadeoral cavidadeoral[-contínuo] [-contínuo] pontodaconsoante pontodaconsoante [coronal] [coronal]
[+anterior] [+anterior]
Gráfico3 –Organizaçãointernadetraçosdasconsoantes/t/e/d/
Acavidadeoraldestacadanográficoacimaéonóqueatuacomogatilho(trigger)no
processofonológicoemestudo:seostraçosdecavidadeoralforemiguaisnasconsoantes,
18Paraumapropostaalternativa,cf.Sagey(1986).
22
há possibilidade de queda, se a cavidade oral das consoantes for diferente, o processo
nuncaocorre.19
Outravantagemdageometriadetraçosnaanálisedocorpuséauniformizaçãoque
seobtémparadescreverconsoantesevogais,umavezqueambosostiposdesegmentos
sãodefinidosdamesmaforma.Noexemplo(23),há4segmentoscoronaisnocontexto/te
+de/;em(24),asconsoantessãocoronais,masasvogaissão[dorso-labial]:20
(23) ...umpaco(TE)DEfeijão,táligado? (ALES)
/te+de/: C1:coronal;V1:coronal C2:coronal;V2:coronal
(24) ...fo(TO)DOnariz,queixo... (ALES)
/to+do/: C1:coronal;V1:dorso-labial C2:coronal;V2:dorso-labial
Comosepodeobservarem(23)e(24),hápossibilidadedequedadesílabamesmo
queospontosdeCdasconsoantesedasvogaissejamdiferentes,comoocorreem(24)(as
consoantessãocoronais,enquantoqueasvogais têmos traços [dorsal, labial]ou [dorso-
labial]–naterminologiautilizadanestatese–,eaquedadesílabaégramatical).
2.2.2. Aestruturasilábica(doportuguêsbrasileiro)
Uma grande parte dos processos em português leva em conta a estrutura das
sílabas – por exemplo, Bisol (1992) mostra que uma sílaba pesada final atrai o acento;
Quednau(1993)apontaqueavelarização([ɫ])ouvocalização([w])daslaterais([l]),noRio
GrandedoSul,sóocorreemposiçãodecodadesílaba.
Alkmin&Gomes(1982)defendemqueahaplologiasóocorrecomaprimeirasílaba
comestruturaCV(easegundasílabapode tercoda)–cf.exemplos (25)e (26)aseguir.
Contudo,Battisti(2004),Pavezi(2006a)eLeal(2006)encontraramcasosemqueasílaba
19Não estamos dizendo, com isso, que a queda de sílaba seja umprocesso de geometria de traços.Comovimosnosexemploscitadosatéomomento,todaasílabaéelidida,enãoapenasumsegmento.Noentanto,éde se chamar a atenção que a variação dialetal leva em conta os valores abaixo do nó de cavidade oral,mostrandoqueoprocessovaialémdosegmento,eageometriadossegmentosenvolvidosdeveserlevadaemconta.Vertambémdiscussãonasubseção9.4.20ExemplosdocorpusdeLeal(2006:102).
23
sujeitaaoapagamentonãoéumaCV,massimCCV(ver(27),dePavezi2006a:33),como
exemplificadoaseguir:21
(25) CV+CV: limi(TE)DEpalavra
(26) CV+CVC: lei(TE)TEMperado
(27) CCV+CV: cen(TRO)DEprocessamentodedados
Este fato aponta que há uma organização silábica que deve ser considerada em
algumasregrasfonológicas.
AteoriaqueassumimosparaaestruturasilábicaéSelkirk(1982),emqueasílaba
subdivide-sehierarquicamenteemataquee rima;estesconstituintes,porsuavez,podem
ser novamente subdivididos em outros constituintes binários (núcleo e coda), como
representandoaseguir(doexemplodeSelkirk1982:331):
(28) Representaçãosilábicadapalavraflounce/flawns/
sílaba
ataque rima
fl núcleo coda
aw ns
Umdospontosmenoscontroversos relacionadosàestrutura internadasílabaéo
ataque, já que pode ser facilmente comprovado que os segmentos precedentes aos
vocálicos em sílabas CCV formam uma unidade: nas diferentes línguas que distinguem
sílabas pesadas e sílabas leves para marcação de acento (como no português), não
importaseoataqueé ramificadoounão,semprecontarácomoumamora (Hayes1995).
Para exemplificar, observem-se as últimas sílabas /ko/ e /kro/ dos exemplos abaixo, com
21Osexemplos(25)e(26)sãodeAlkmim&Gomes(1982:48)e(27))édocorpusdePavezi(2006a:33).
24
duaspalavrastrocaicassimilares:
(29) saco/ˈsa.ko/ sílaba/ko/:CV,nãoatraiacento
(30) sacro/ˈsa.kro/ sílaba/kro/:CCV,nãoatraiacento
Em(29)e(30),assílabasfortessão leves,eoataqueramificadoem/kro/de (30)
nãoatraiacento.Entretanto,seosegmento/r/estiveremposiçãodecoda,asílabaatraio
acentonoportuguês:
(31) fato/ˈfa.to/ sílaba/to/:CV,nãoatraiacento
(32) fator/fa.ˈtor/enão*/ˈfa.tor/ sílaba/tor/:CVC,atraiacento
Em(31),ambasassílabassãoleves;em(32),o/r/emcodatornaasílabapesada,
atraindooacentodapalavra.
Paraoscasosdeditongoscrescentes,assumimosapropostadeBisol(1989),para
quemaposiçãodoglidedependeseeleéleve(cf.(33))ouverdadeiro(ver(34))(p.189):
(33) peixe>pe(i)xe→ditongoleve,rimasimples
(34) peito>*pe(i)to→ditongopesado(verdadeiro),rimacomplexa
Osditongos levessãoaquelesquepodemser reduzidosaumaúnicavogalepor
issoaautoraadvogaseremfonéticosenãopreencheremumaposiçãonaestruturasilábica
(apenas na melódica) – em (33) portanto, a primeira sílaba é uma CV. Os ditongos
verdadeiros,poroutro lado,nãosãopassíveisdemonotongação,epor issoBisol sugere
seremsílabascomumsegmentopós-nuclear.Paraestesditongos,assumimosaproposta
de Câmara Jr (1970) (cf. também Cristófaro-Silva 1999, Lee 1999)22 de que o glide
preenche a posição de núcleo (a não ser que o glide seja resultado de uma líquida
vocalizada,quandoentãopreenchea coda–CamaraJr. 1969:29-30).Oargumentodos
autoresbaseia-senofatodequeseguindo-seditongos(verdadeiros)épossívelumasílaba
iniciada pelo segmento ambissilábico /ɾ/ (cf. (35)), o que não ocorre com sílabas emque
22Paraanálisealternativa,Cf.Wetzels(2007).
25
claramentetem-seumsegmentoemcoda(ver(36)):
(35) Cairo>Cai/ɾ/o /r/fracoambissilábico CVVɾV
(36) Israel>is/h/ael,enão*is/ɾ/ael /r/forte CVC.CV
A mesma questão da distribucionalidade do /r/ ambissilábico nos auxilia na
interpretaçãodasvogaisnasalizadasemportuguês.Comosepodeobservarem(37),nãoé
possívelo/r/forteseguindoumasílabacomvogalnasalizada.
(37) tenro>ten/h/o,enão*ten/ɾ/o /r/forte CVC.CV
Assim,assumimosqueanasaltambémpreencheaposiçãodecodadesílaba.
As vogais nasalizadas foram codificadas comoorais, levando-se em conta o nível
subjacente, já que consideramos que há estes tipos de segmentos somente no nível
fonéticonoportuguês (cf.CamaraJr. 1970eWetzels1997,2000).23Assim,é importante
discutircomofoitratadaanasalidadenopresenteestudo.Nosexemplosaseguir,podemos
observarvogaisnasalizadasporregrafonológica(cf.(38))eporregrafonética(ver(39)):
(38) canto:/kaNto/>[kɐntʊ] nasalizaçãofonológica
(39) cano:/kano/>[kɐnʊ] nasalizaçãofonética
23Assumimosqueo inventário fonológicovocálicodoportuguêséoral (nãohávogaisnasaissubjacentes),equeestessegmentospodemsernasalizadosdosdoismodosapresentadosem(38)e(39).Noscasoscomoem(38),aprimeirasílabatemumaestruturaCVNeé,portanto,pesada.Umargumentoparaaexistênciadeumanasalsubjacenteéadistribuiçãodo/r/forteedo/r/fraconoportuguês(porexemplo,[h]fortee[ɾ]fraco,comoemcarroca[h]oecaroca[ɾ]o) tambéméumindicativodapresençadeumanasalsubjacente, jáquesóhá/r/forte antecedido por nasal, e nunca de /r/ fraco (Camara Jr. 1970, Wetzels 1997, 2000). O /r/ fraco éambissilábico:estánoataquedeumasílabaetambémnacodadaanterior,impossibilitandoapresençadeumanasal nessaposição– somentehápalavras comogenro, nunca *gen[ɾ]onoportuguêsbrasileiro.Um terceiroargumentodeCamaraJr.(1970)équenãohávogalnasalemhiato:ouanasalidadedesaparece,comoemboa(queprovémdebona),ouaconsoantenasalvaiparaasílabaseguinte,comoemvalentão>valentonaounemum > nenhum. “Assim, não haver vogal nasal em hiato, dentro de um vocábulo, equivale a dizer que oarquifonemanasal, se subsiste, se comporta comoqualquer consoantenasal intervocálica: pertenceà sílabaseguinte (u-ma, enãoum-a, comoa-sa,a-ço,a-la,a-ra etc)” (Camara Jr. 1970: 60).Finalmente,Camara Jr.(1970) explica que, em casos de distinção fonológica, comoemminto emito, não é a ressonância nasal davogalquegeraocontraste,massimotravamentodaconsoantenasal,comoemsemmana(comtravamento)esemana(semtravamento).
26
Em (38), há uma sequência de 5 segmentos fonológicos kaNto, em que uma
consoante /N/ subjacente passa o traço [nasal] à vogal anterior, ou seja, a vogal é
nasalizadaporestaremcontatooucomumanasal tautossilábicasubjacente–umaregra
fonológica,comorepresentadonageometriaem(40):
(40) Nívelfonológico:/kaN.to/
/a/ /N/raiz raiz
[nasal]
Em(38),há4segmentosfonológicosemcano,semtravamentodasílaba,eavogal
recebe o traço [nasal] a partir da produção (fonética) da consoante [n], isto é, o traço
[+nasal]de[n](umanasalheterossilábica)seespalhaparaavogalanterior,decorrenteda
coarticulaçãoentre/a/oralseguidode/n/,comorepresentadonageometriaem(41)abaixo:
(41) Nívelfonético:[kɐ.nʊ]
/a/ [n] raiz raiz
[nasal]
Assim,apartirdoexpostonestasubseção,seguimosateoriaderepresentaçãode
estruturasilábicadeSelkirk (1982),aanálisedeBisol (1989)paraditongosnoportuguês
brasileiro,easpropostasdeCamaraJr.(1970)eWetzels(1997,2000)paraanasalização
devogais.
2.2.3. Acentoeestruturamétrica
Inúmerosprocessosfonológicoslevamemcontaaestruturamétricaouaomenoso
tipo de proeminência envolvida no contexto. A retração acentual, por exemplo, ocorre
quandoduassílabasportadorasdeacentoprimárioestãoadjacentes(cf.Abousalah1997,
27
Santos2002,entreoutros),enquantoqueadegeminaçãopodeocorrerseaprimeirasílaba
for forte, como exemplificam Komatsu & Santos (2007: 225) decidi estudar >
[desiˈdʒistuˈdar] – cf. também Bisol (1996, 2000, 2003); Tenani (2002); Veloso (2003).
Defende-se quemuitos destes processos ocorrem para otimizar a alternância rítmica em
umdadocontexto,alternando-sesílabasfracasefortes.
DeacordocomHayes(1995:01),aestruturarítmicadeumalínguaéaexpressão
de seus padrões acentuais, ou seja, é o modo com que os acentos se organizam na
fonologia; e cabe à teoria métrica resolver como são gerados e como se organizam no
sistema fonológico (cf.Liberman&Prince1977,Hayes1995,Fudge1999).Hayes (1995:
377-8)explicaqueaclassificaçãodosacentosérelacional:
(...)astrongbeatisnotstrongtosomeabsolutedegree,butonlyinrelationtootherbeatsinthesamerhythmicstructure.
Galves & Abaurre (1996) e Collischonn (2007) definem 3 graus de acento para o
portuguêsbrasileiro,dentreosquaiscitamosdois:(i)oacentoprimário(proeminênciamais
forte de umapalavra); e (ii) o acento secundário (qualquer outra proeminência na cadeia
(string)desílabas,cujodomíniopodeserapalavraousequênciadepalavras).24
SegundoHayes(1995:24),umadasprincipaiscaracterísticasdoacentoprimárioé
aculminância:
Onedistinctivephonologicalcharacteristicofstressisthatit isnormallyculminative,in the sense that eachword or phrase has a single strongest syllable bearing themainstress.(grifosdoautor)
Assimsendo,umapalavracomoabacaxi/abakaˈʃi/temumacentomaisforteem/ˈʃi/
doquenasoutrassílabas/abaka/.
No entanto, podemos notar que na sequência /abaka/ as sílabas também têm
proeminências diferentes.Neste exemplo há outra umaproeminência, que pode estar na
24OterceirograudeacentoapresentadoporGalves&Abaurre(1996)eCollischonn(2007)échamadodefrasal(ou principal), que é atribuído a uma sequência de palavras (tanto sintagmas quanto sentenças). Galves &Abaurre(1996)explicamque“Oacentoprincipaldesintagmadevenecessariamentecorresponderaumasílabapreviamentemarcadacomoportadoradeacentoprimáriodepalavra.”
28
primeiraounasegundasílaba:/ˌabakaˈʃi/ou/aˌbakaˈʃi/(Sandalo&Abaurre2007:150).Esta
segunda proeminência é conhecida como acento secundário. As autoras explicam que o
padrão no português brasileiro do acento secundário é binário, raramente violado; as
exceçõessãoosdátilos(comoem/ˌabakaˈʃi/),masnãosãoobrigatórios.Sandalo&Abaurre
(2007)explicamqueenquantoaatribuiçãodoacentoprimárionoportuguêsbrasileiroeno
europeuéomesmo,osdoisdialetossãodiferentesnoqueconcerneaoacentosecundário
(ou acento rítmico, cf. tambémBisol 2000).No caso deabacaxi, é possível /ˌabakaˈʃi/ ou
/aˌbakaˈʃi/ embora esta última produção seja a mais comum no português brasileiro. Os
exemplos de Sandalo & Abaurre (2007: 146) a seguir ilustram a distribuição de acentos
secundáriosemcontextosmaioresdoqueapalavranosintagmaamodernização:25
(42) Portuguêseuropeu:a)Amodernizaçãofoisatisfatória
b)Amodernizaçãofoisatisfatória
(43) Portuguêsbrasileiro:a)Amodernizaçãofoisatisfatória
Observando-seosexemplos(42)e(43)deSandalo&Abaurre(2007:146),notamos
que há duas alternativas na atribuição de acento secundário no português europeu: na
sílabamo,emamodernização ounoclíticoamodernização .Paraoportuguêsbrasileiro,
sóháumapossibilidade:amodernização .Assim,osexemplos(42)e(43)ilustramquenão
háapossibilidadedeodeterminanteem *amodernização receberacentosecundáriono
portuguêsbrasileiro,eesteclíticofonológicopodeserentãoconsideradomaisfracodoque
osecundário.26
Finalmente, a literatura é consensual em admitir que há sílabas que não portam
acento–sãoassílabas fracas.Nocasodeabacaxi, a sílabaka ilustraumasílaba fraca,
quaisquerquesejamasposiçõesdoacentosecundário.Nocasodesequênciasmaioresdo
queapalavra,hátrabalhosdefendemquehásegmentosinvisíveisaoacento(cf.Galves&
25Nosexemplos (42)e (43),osacentos fortesestãomarcadasemnegritoeassílabasportadorasdeacentosecundárioestãosublinhadas.26 Exceções de o clítico sermais forte do que o acento secundário no português brasileiro são oscasos deênfase.Porexemplo,numasentençacomoCompreioquadro,oartigopodeserenfatizado,Compreioquadroparamostrarque“nãofoiqualquerquadro”,masumdeterminadoquadro–enãooutro.
29
Abaurre1996).Porexemplo,em(43)vimosquenãoéumaopçãonoportuguêsbrasileiro
queoacentosecundáriocaianodeterminantea, igualando-oàsílabaza;estes trabalhos
definem os determinantes monossilábicos como clíticos fonológicos. Diversos trabalhos
tratam da natureza híbrida do clítico fonológico (Nespor & Vogel 1986: 145; Galves &
Abaurre1996):éumaformainvisívelaregrasdeacentoedeveseapoiaraformasplenas;
estão sujeitas frequentemente a reduções fonológicas segmentais. Em nota de rodapé,
Hayes(1995:377)explica:
(...) function words, such as pronouns, typically do not take phrasal stress. Weassumethisistobeaccountedforbyphonologicallycliticizingthemontoneighboringfullwords,asinHayes(1989);thustheyarenotpresentasterminalsforpurposesofphrasalstressrules.
Hayes (2009:271)exemplificaoclíticocomapalavra theem thebook [ðəbʊk]:o
clítico fonológico [ðə] é desacentuado porque está adjacente a umapalavra de conteúdo
[bʊk], passando fonologicamente a fazer parte da palavra de conteúdo. Ainda, o autor
explicaque se the for usada isoladamente, recebeumacentoartificial, comoem [ðʌ:] ou
[ði:],obedecendoaoprincípiodaculminância.Hayes (1995)apontaqueosdeterminantes
nãorecebemacentoprimário.ApartirdosexemplosdeSandalo&Abaurre(2007)inferimos
que estes clíticos também não podem portar acento secundário no português brasileiro.
Assim, até aqui, temos uma distinção de 3 graus de acento: comparando-se o acento
primárioeosecundário,temosqueesteémaisfracodoqueaquele;aocomparar,deum
lado,oprimárioeosecundárioe,deoutro,oclítico,notamosqueambossãomaisfortesdo
queoclítico,poisestenãotemproeminência(Hayes1995,Galves&Abaurre1996).Dado
queoclíticoeasílabafracanãotêmproeminência,aperguntaquesecolocaé:háalguma
diferençaemgraudeacentoentreclíticosfonológicosesílabasfracas?
Observeosexemplosaseguir,nodialetocampineiro:
(44) a)pretônica: semente>s[e]mente *s[i]mente
b)clítico: semente>s[i]mente
30
(45) a)pretônica: oAlckminébomdevoto>d[e]voto *d[i]voto
b)clítico: oAlckminébomdevoto>d[i]voto
Comparando-se a sílaba pretônicas de SEmente em (44)a) com o clítico em SE
menteem(44)b),parecenãohaverreduçãode/e/>[i]naspretônicas,somentenoclítico
fonológico.Damesmaforma,oexemploem(45)a)parecenãoreduzir,diferentede(45)b).
Assumimosquenãohámudançadequalidadedavogalnumasílabapretônica,enquanto
queumclíticoparecereduzir.
Passamosacompararagorasílabaspostônicaseclíticos.Osexemplosaseguirsão
ditospopulareseque,adependerdodialeto,podemserproduzidosdiferentemente:
(46) Umhomemestavanomorroa/ca.ˈva.lo/.
a)postônicadecavalO: cava[lʊ]
b)clíticodecavá-lO: caval[o]
(47) Hojeédomingo,/ˈpe.de/cachimbo
a)postônicadepedE: pe[dʒɪ]
b)clíticodepédE: pé[de]
Num teste piloto de julgamento de gramaticalidade, notamos uma direção no
julgamento:quandoháneutralizaçãodavogal,asílabafinaltantopodeseraúltimasílaba
deumapalavra,comoumclítico.Poroutro lado,senãoháneutralização,asílaba finalé
interpretada como clítico. Nunca é o caso de se interpretar a sílaba que não sofreu
neutralizaçãocomopartedoradical.Istoé,em(46),quandoloéproduzidacomo[lʊ],tanto
podeterumainterpretaçãodecavaloquantocavá-lo;poroutrolado,quandoloéproduzida
como[lo],aprimeirainterpretaçãoédecavá-lo,enãodecavalo.
Damesmaforma, tambémédiferentea realizaçãodedeapresentadanoexemplo
(47):quandoháalçamentode/e/>[i],háduasinterpretaçõespossíveis:pédeoupede;se
nãoocorreoalçamentoeaproduçãofica[de],aprimeirainterpretaçãoéqueasequênciaé
31
péde.
Emresumo,tantoparaclíticosvs.pretônicasquantoclíticosvs.postônicas,parece
haverumadiferençanocomportamentodeclíticosesílabasfracas.27Tendoemvistaestes
fatos, trabalharei com uma hierarquia com quatro graus de acento, os dois primeiros
acentuados,eosdoisúltimos,desacentuados:
(48) Hierarquiadeacento:
acentoprimário>acentosecundário>clítico>sílabafraca
acentuadas desacentuadas
Além da geração e tipos de acentos, uma questão importante ao se lidar com
processosquealteramaquantidadedesílabasnumacadeiaéoquemotivaestaalteração.
Especificamente para a queda de sílaba, no nível segmental advoga-se o OCP como
motivador da aplicação do processo. Do ponto de vistamétrico, um outro princípio pode
estaremação,oPrincipleofRhythmicAlternation(PAR)(cf.em2.1aformulaçãoprovisória
doprincípio).Selkirk(1984:52)propõequeelesejaformuladodoseguintemodo:
ThePrincipleofRhythmicAlternationa.Everystrongpositiononametricallevelnshouldbefollowedbyatleastoneweakpositiononthatlevel.b.Anyweakpositiononametrical levelnmaybeprecededbyatmostoneweakpositiononthatlevel.Tomando-sencomosentença,porexemplo,temosqueumaposiçãofortedeveser
seguidadepelomenosuma fracana sentença; umaposição fracapode ser seguida, no
máximo,porumaposiçãofracanasentença.
27Asílabapostônicaéprosodicamentemaisfracadoquepretônica(cf.Bisol2003:187,Leal&Santos2010);assim, a pretônica deve reduzir menos. É o que podemos observar se compararmos os exemplos (44)a) e(45)a),deumlado,(46)a)e(47)a),deoutro:asvogaisdaspretônicasemSEmenteeemDEvotoparecemnãoreduzir, enquantoqueas vogaisdaspostônicasdecavaLO > cava[lʊ] epeDE >pe[dʒɪ] são reduzidas.Comrelaçãoaosclíticos,aexpectativaéqueocomportamentosejaomesmo,semimportaraposiçãocomrelaçãoàpostônica.Noentanto,comparando-seosclíticosqueaparecemantesdasílabaforteem(44)b)e(45)b),deumlado,eaquelesqueestãodepoisdasílabaforteem(46)b)e(47)b),vemosque,noprimeirocaso,háreduçãodavogal(SEmente>s[i]menteeDEvoto>d[i]voto),enquantoqueomesmonãoocorrenosegundocaso(cavá-LO>caval[o]epéDE>pé[de]).Não temosumaexplicaçãoparaeste fato,maséumtemaaser trabalhadofuturamente.AgradeçoàProfªDrªLucianiTenanipormechamaraatençãoaestaquestão.
32
Observeoexemploaseguir:
(49) OrganizaçãoacentualnosintagmafaculdaDEDEmedicina
fa cul da DE DE me di ci na x • x • • x • x • estruturarítmica
Em (49), a estrutura rítmica resulta em um lapso acentual, um encontro de duas
sílabas fracas /de+de/ (marcadasemvermelho).Lapsosechoquesacentuais tendema
ser evitados nas línguas, ou seja, de um modo geral, há uma grande tendência de
regularidadenaalternânciadesílabasfortesefracas.
Assim,umadassoluçõespararesolverolapsoacentualem(49)éapagarasílabaà
esquerdadosintagma,reestruturadodoseguintemodo:
(50) Reestruturaçãorítmicanosintagmafaculda(DE)DEmedicina
fa cul da (DE)DE me di ci na x • x • x • x • estruturarítmicareestruturada
Comaaplicaçãodequedadesílabaem(50),olapsodaúltimasílabadefaculdade
edapreposiçãodeseresolve, jáqueosdois temposdassílabas /de+de/passama ter
umaúnicabatidanaproduçãodafala.
2.2.4. Hierarquia prosódica: a interface fonologia e outros níveis
gramaticais
Uma questão importante a se levantar é se a queda de sílaba é um fenômeno
puramentefonológicoouselevaemcontainformaçõesdeoutroscomponentesgramaticais,
como acontece na retração acentual, por exemplo (Cf. Abousalah 1997; Santos 2002,
2003a, 2003b). Alguns trabalhos sobre haplologia apontam que esta ocorre
preferencialmente em alguns domínios prosódicos (mais especificamente a frase
fonológica,cf.CapítuloIIIecitaçõesalireferidas).
Emlinhasgerais,ahierarquiaprosódicaéa interfaceentrea fonologiacomoutros
33
níveisdagramática,emqueossonsdafalaestãoorganizadosemunidadesmaiores,como
apresentoabaixo:
(51) Organizaçãodossonsemconstituintesprosódicos:
(U...) Uenunciado(s)…
(I…) Ifrase(s)entonacional(is)…
(Φ…) Φfrase(s)fonológica(s)…
(C…) Cgrupo(s)clítico(s)…
(ω…) ωpalavra(s)fonológica(s)…
(Σ…) Σpé(s)prosódico(s)…
(σ…) σsílaba(s)…
A representação acima correspondeaos níveis prosódicos definidos emNespor&
Vogel(1986).ParaSelkirk(1984),onúmerodeníveisé5enão7:nãoháoníveldepalavra
fonológica,somentedegrupoclítico(chamadodepalavraprosódicapelaautora),enemo
níveldeenunciado.Assim,aprincipaldiferençaentreasduasabordagenséseháounão
umclíticonaorganizaçãoprosódica,comoexemplificadoaseguir:
(52) Sintagma:pertodelá
per to de lá Nespor&Vogel(1986) per to de lá Selkirk(1984)[• • • x] fraseentonacional [• • • x] fraseentonacional[• • • x] frasefonológica [• • • x] frasefonológica[x •] [• x] grupoclítico [x •] [x] [x] palavrafonológica
[x •] [• x] palavraprosódica
[x •] [x] [x] péfonológico [x •] [x] [x] péfonológico[x] [x] [x] [x] sílaba [x] [x] [x] [x] sílaba
Oitemlexicaldeem(52)éumapalavrafonológicaparaNespor&Vogel(1986), já
querecebeacentonestenívelprosódico.Noentanto,nogrupoclítico,denãoéacentuado
34
eseagregaàpalavraquepossuiacentonestenível, lá(note-sequelánãoéumclítico,já
que recebeacentonestenível), formandooconstituinte [de lá] grupo clítico.Poroutro lado,a
palavraprosódicaparaSelkirk (1984)equivaleaoconstituintequeNespor&Vogel (1986)
chamamdegrupoclítico:[delá]palavrafonológica(marcadoemitáliconasduasgradesem(52)).
Nestenível, láéacentuadoedenãoé.Neste trabalho,assumimosa teoriadeNespor&
Vogel(1986),dadoqueestaincluiadeSelkirk(apesardenãohaverdiferençaentreutilizar
ateoriadeSelkirk(1984)eNespor&Vogel(1986)nopresentetrabalho;assim,chamamos
onívelmaisbaixoestudadodegrupoclítico–enãopalavraprosódica).28
Osníveisprosódicosdeinteresseparaestetrabalhosãoaquelesacimadapalavra
fonológica,quaissejam:ogrupoclítico(C),afrasefonológica(Φ)eafraseentonacional(I).
Nespor&Vogel(1986:07)afirmamqueaconstruçãodecadaumdosníveisédeterminada
pelasmesmasregras,daseguinteforma:
ProsodicConstituentConstructionJoinintoann-arybranchingXPallXP-1includedinastringdelimitedbythedefinitionofthedomainofXP.
Em outras palavras, um constituinte prosódico é formado pelos constituintes que
estão logoabaixodele–ouseja,umgrupoclíticoé formadoporpalavra(s) fonológica(s);
umafrasefonológicaéconstituídadegrupo(s)clítico(s);eumafraseentonacionalcontém
frase(s)fonológica(s).
Apresentoabaixoaformaçãodostrêsconstituintesestudadosnopresentetrabalho:
(53) AlgoritmodeformaçãodoGrupoClítico(Nespor&Vogel1986:155)
I.CdomainThe domain of C consists of aω containing an independent (i.e. nonclitic) wordplusanyadjacentωscontaininga.aDCL[directionalclitic],orb.aCL [clitic] such that there isnopossiblehostwithwhich it sharesmore thancategorymemberships.
28Nãohácontextodequedadesílabaentreduaspalavrasfonológicas(nostermosdeNespor&Vogel1986),eonívelmaisbaixodahierarquiaaserconsideradoparaanálisedocorpusfoiodegruposclíticos–cf.subseção4.1.4.1.4.
35
(54) AlgoritmodeformaçãodaFraseFonológica(Nespor&Vogel1986:168)
I.ΦdomainThedomainofΦconsistsofaCwhichcontainsalexicalhead(X)andallCsonitsnon-recursive29sideup to theC thatcontainsanotherheadoutsideof themaximalprojectionofX.(55) AlgoritmodeformaçãodaFraseEntonacional
IntonationalPhraseFormation(Nespor&Vogel1986:189)I.IDomainAnIdomainmayconsistofa.allthesinastringthatisnotstructurallyattachedtothesentencetreeatthelevelofs-structure;orb.anyremainingsequenceofadjacentsinarootsentence.
Especificamentesobreafrasefonológica,asautorasafirmamquepodehaveruma
reestruturaçãoneste nível, de aplicação opcional30 cujo principal propósito é evitar frases
fonológicascurtas:
(56) Reestruturaçãodefrasefonológica(opcional)
Anon-branchingΦwhichisthefirstcomplementofXonitsrecursivesideisjoinedintotheΦthatcontainsX.
Nareestruturaçãodafrasefonológica,nãoéformadoumnovonível,poisafronteira
entreasduas frases fonológicasemquestãoéapagada,eo resultadoéumaúnica frase
fonológica:
(57) [[deserto]C]Φ[[distante]C]Φ frasefonológica
(58) [[deserto]C[distante]C]Φr frasefonológicareestr.
29Oladorecursivodeumalínguaéaqueleemquesãointroduzidaspalavrasparagerarnovassentenças.30Areestruturaçãoéumparâmetroe,umavezmarcado(reestruturarounão),éfixonumadeterminadalíngua.Assim,opcionalserefereaumavariaçãoentreaslínguas,umavezquehálínguasemqueareestruturaçãoéobrigatória,outrasemqueéimpossívele,ainda,outrasemqueéopcional(cf.Nespor&Vogel1986:172-186).
36
Asduasfrasesfonológicas[deserto]Φe[distante]Φ(marcadasemazul)podemser
reestruturadasemumúnicoconstituinte[desertodistante]Φreestr(marcadoemvermelho);a
fronteira de frase fonológica entre elas é apagada e o que fica é uma fronteira de dois
gruposclíticos–segundoNespor&Vogel(1986),háprocessosquepodemocorrerinternos
aumdomínio,noslimitesdeumdomínioouentredomínios.
Como dissemos, a hierarquia prosódica resulta domapeamento da fonologia com
outrosníveisdagramática:nogrupoclítico,estemapeamentoé feitoentreocomponente
fonológicoeomorfo-sintático;nafrasefonológica,éentreafonologiaeasintaxe;nafrase
entonacional, o mapeamento pode ser entre a fonologia e informações semânticas,
sintáticas e de performance (como a taxa de elocução, o tamanho da sentença, etc).
Emboraahierarquiaprosódicasejaconstruídaapartirdarelaçãoentreafonologiaeoutros
níveisgramaticais,Nespor&Vogel (1986)explicamquenãohánecessidadede isomorfia
entreeles,comoexemplificonoportuguês:
(59) [[linda]ω[mente]ω]adv
Em(59),háapenasumaelementoterminalnaárvoresintáticalindamente,enquanto
que, prosodicamente, há duas palavras fonológicas, pois há acento primário em ˈlinda e
outroemˈmente,(cf.Lee1994).
Uma vez delineado o quadro teórico de fonologia, passamos a tratar, no próximo
capítulo,dadefiniçãodoprocessofonológico.
37
CAPÍTULOIII
3. AdefiniçãodoprocessodequedadesílabaNeste capítulo, descrevemosas características quedefinemaquedade sílabano
portuguêsbrasileirocombaseemanálisesencontradastantoparaestalínguaquantopara
outras,limitando-nosaprocessossincrônicosdesândiexterno(cf.Alkmim&Gomes1982,
Battisti2004,Tenani2002,Pavezi2006aeLeal2006).
Geralmente,aelisãosilábica(cf.Leal2006)eahaplologia(Alkmim&Gomes1982,
Battisti2004,Tenani2002,Pavezi2006aeLeal2006),doisprocessosdequedadesílaba,
são tratados separadamente e a grande maioria dos trabalhos do português brasileiro
apresentados nesta tese – que são a base para definirmos o processo – analisam a
haplologia, apresentando restrições variadas para o processo. Estas restrições diferentes
nas análises podem indicar que a implementação da queda de sílaba é diferente porque
dependedodialetoestudado.Dostrabalhossobrehaplologia,Alkmim&Gomes(1982)não
reportamqualéodialeto,afirmandologonoiníciodoartigo(p.44):
Pretendemos aqui dar uma contribuição ao estudo dos fenômenos de limite depalavra, área pouco explorada da fonologia portuguesa, em que pese a suaimportância como ingrediente do que se pode chamar, impressionisticamente, o“sotaquebrasileiro”.
Ainterpretaçãoquesetemdaafirmaçãoacimaéqueahaplologiateriaasmesmas
característicasemtodososdialetosdoportuguêsbrasileiro.AssimcomoAlkmim&Gomes
(1982),Bisol(2000)nãodefineodialeto,masafirmaqueabaseéoportuguêsbrasileiroe,
comoobjetivodeanalisaroritmo,umdosprocessosfonológicosestudadospelaautoraéa
haplologia.OutrotrabalhosobrehaplologiaéodeBattisti(2004)que,combasenocorpus
VARSUL,analisaodialetodePortoAlegre.OstrabalhosdeTenani(2002,2003)tratamdo
dialetodeSãoJosédoRioPreto,tambémparahaplologia.Pavezi(2006a,2006b)analisaa
haplologianosdialetosdeSãoJosédoRioPreto,combasenoIBORUNA-SãoJosédoRio
38
Preto,edeSãoPaulo,combasenoNURC-SP.Finalmente,comoobjetivodeanalisara
elisãosilábicaeahaplologia,odialetoestudadoemLeal(2006,2007)éodeCapivari.
Assim, chamamosa atençãopara o fato de queas diferenças entre as propostas
paraaquedadesílabapodemestarrelacionadasaodialetoemestudo,ouseja,podesero
casodedetectarmosdiferençasentreaaplicaçãodequedadesílabaemdiferentescidades
(casosdevariaçãodiatópica).
Leal(2006)argumentaqueaelisãosilábicaeahaplologia,tratadasseparadamente
naliteratura,sãoumúnicoprocessofonológico–aquedadesílaba–emCapivari,comas
mesmas propriedades nos níveis segmental, prosódico e métrico. Assim, trataremos as
duasseparadamente(haplologiaem3.1eelisãosilábicaem3.2),eem3.3apresentamosa
análisedeLeal(2006).
3.1. Elisãosilábica
Para definirmos a elisão silábica, observe os exemplos abaixo, todos do teste de
Leal(2006):
(60) /t+n/ consoan(TE)NAsalizada conso[ˈɐ.na]salizada (teste)
(61) /z+ʒ/ bele(ZA)GIgantesca be[ˈle.ʒi]gantesca (teste)
(62) /k+p/ *mole(QUE)POderoso *mo[ˈlɛ.po]deroso (teste)
(63) /s+d/ *crian(ÇA)DIfícil *crian[di]fícil (teste)
No exemplo (60), o contexto consonantal /t + n/ é formado por duas consoantes
coronais [-contínuo, +anterior, -distribuído], em que a primeira é um segmento oral
[-vozeado]easegundaéumanasal[+vozeado],eaquedadesílabapodeseraplicada.31
No contexto /z + ʒ/ em (61), há duas coronais [+contínuo, +vozeado], e há aplicação do
processo, mesmo que o segmento /z/ seja [+anterior, -distribuído] e /ʒ/ [-anterior,
31 Lembramos que as nasais são [+contínuo] na cavidade nasal, mas na cavidade oral são segmentos[-contínuo],eéestaúltimaqueditaseoprocessopodeounãoocorrer.Otraço[nasal]eopontodeCcoronal,noexemplo(60),estãoemnósdiferentes,seguindo-seageometriadetraços:onóquedomina[nasal]éaraizdo segmento, enquanto que o que domina o ponto de C é a cavidade oral (cf. Clements & Hume 1995 esubseção2.2.1destatese).
39
+distribuído].32Emcasoscomo(62),hádoissegmentos[-contínuo]/k+p/,masopontode
Cdas consoantesédiferente (háumadorsal seguidadeuma coronal), eaaplicaçãodo
processoéagramatical,segundoLeal(2006).Em(63),háduascoronais/s+d/,aprimeira
é [-vozeado, +contínuo, +anterior, -distribuído] e a segunda é [+vozeado, -contínuo,
+anterior,-distribuído]eaplicaçãodoprocessotornaasentençaagramatical.Parafacilitara
discussãoquesegue,apresentonatabelaabaixoumacomparaçãodostraçosinternosdas
consoantesdoscontextos(60)-(63):
Tabela1 –Comparaçãodostraçosinternosdeconsoantes
contexto vozeamento anterior,distribuído pontodeC contínuo possibilidadedeaplicação33
/t+n/ diferente igual igual[coronal]
igual[-contínuo] sim
/z+ʒ/ igual diferente igual[coronal]
igual[+contínuo] sim
/k+p/ igual – diferente[dorsal+labial]
igual[-contínuo] não
/s+d/ diferente igual igual[coronal]
diferente[+contínuo]+[-contínuo]
não
Com relaçãoa vozeamento, notamosqueeste traçonão interfere noprocesso, já
quenoscasosemqueasconsoantessãodiferentes(cf.contexto/t+n/em(60))ouiguais
(ver/z+ʒ/em(61))em[vozeamento],oprocessopodeocorrer(cf.Alkmim&Gomes1982,
Tenani2002,Battisti2004ePavezi2006a).Ostraços[anterior,distribuído]dizemrespeito
apenasàscoronais(cf.nota32)epodehaveraplicaçãodoprocessocomvaloresiguais(cf.
/t+n/em(60))oudiferentes(ver/z+ʒ/em(61)).Comosepodevernocontexto/k+p/em
(62),hábloqueiodoprocessoe,mesmoquetenhamumvalorigualparacontínuo(ambas
são[-contínuo]),ospontosdeCsãodiferentes:háumadorsalseguidadeumalabial,oque
32 Veja que os traços [anterior, distribuído] se aplicam somente para as coronais, já que são nós irmãosdependentes do traço [coronal], que está abaixo deste nó na geometria – cf. subseção 2.2.1 desta tese eClements&Hume(1995:292).33ApossibilidadedeaplicaçãodequedadesílabaéestabelecidadeacordocomosresultadosdoestudodeLeal(2006),ouseja,dodialetocapivariano.
40
causaobloqueio.Em /s+d/ (cf.exemplo (63)),opontodeCéomesmo [coronal],masa
primeiraconsoanteé[+contínuo]easegundaé[-contínuo]eoprocessoébloqueado.
Assim,podemosobservarqueaaplicaçãodaelisãosilábicanãoéaleatória,jáque
os traços de cavidade oral (ponto de C e contínuo) é o que restringe a regra: se as
consoantesdocontextosegmentalnãotiveremummesmopontodeCeummesmovalor
para o traço [contínuo], a implementação do processo é bloqueada, como exemplificado
comoscontextos(62)e(63)(cf.subseção3.3).
Casos de elisão silábica são pouco estudados na literatura, e Alkmim & Gomes
(1982:50)apontam,demaneirabreve,queháalguns tiposdeelisãosilábica34emqueo
resultadoéobtidoporefeitodapróclise,comoexemplificadoaseguir:35
(64) poDEFAlar>po(DE)Falar[ˈpɔ.fa.ˈla]
No entanto, não há como se considerar que a sílaba po de pode, resultante do
apagamentosilábico,sejaumproclítico:clíticosfonológicossãopalavrasquenãocarregam
acento acima da palavra, e que podem se juntar à direita (enclíticos) ou à esquerda
(proclíticos)depalavrasquepossuemacento,comoexemplificadoabaixo:
(65) omenino > [o]ω[menino]ω]C
(66) pegue-o > [[pegue-]ω[o]ω]C
Em (65), o determinante o é um clítico fonológico que se associa à palavra
fonológicamenino por efeito da próclise; em (66), o pronomeo se associa àpegue, em
decorrênciadaênclise.
RetomandooexemplodeAlkmim&Gomes (1982),observeasgradesmétricasa
seguir:
34Alkmim&Gomes(1982)chamamoprocessoapresentadoem(67)deredução;usamosaquiotermo‘elisãosilábica’paracontemplaraespecificidadedeste tipodeprocesso fonológico,diferenciando-odousogenérico‘redução’–estetermoéumhiperônimo,queabarcaváriostiposdeprocessosfonológicos(cf.Leal2006:11-4).35Cf.tambémdiscussãoemLeal(2006).
41
(67) Sintagmapodefalar
[• • • x] frasefonológica[x •] [• x] grupoclítico[x •] [• x] palavrafonológicapo de fa lar
(68) Sintagmapo(de)falar
[• • x] frasefonológica[x] [• x] grupoclítico[x] [• x] palavrafonológicapo fa lar
Como representado em (67) e (68), a primeira sílaba de pode recebe acento nos
níveis de palavra fonológica e de grupo clítico, não podendo ser considerada um clítico
fonológico.Mesmoqueseconstruaumagradecomapagamentodasílabadedepode,cf.
(68),[pɔ]continuaareceberacentonosníveiscitados.
ComrelaçãoaonívelsegmentaldosintagmapoDeFalar,observamosque tantoo
pontodeCquantoovalorpara [contínuo] (istoé,acavidadeoral)dasconsoantes /d+ f/
sãodiferentes:oprimeirosegmentoéumacoronal[-contínuo],enquantoqueosegundoé
uma labial [+contínuo]e,apesardestasdiferenças,aquedadesílabaégramatical.Estes
tiposdedadossãomuito interessantes,epodemseranalisadospelapropostadedifusão
lexical (cf.Oliveira1992eCristófaro2001): podemser palavrasespecíficasemqueuma
mudança de som se aplica, ou seja, parecem ser marcadas lexicalmente para uma
propensãoaumdeterminadoprocessofonológico.36Noentanto,associaraquedadesílaba
aprocessosfonológicosdedifusãolexicalfogeaoescopodestetrabalho(cf.resultadosdo
estudopilotodestetrabalhoeadiscussãonasubseção5.1).
3.2. Haplologia
Emlinhasgerais,ahaplologiaéumprocessodeapagamentodesílabas,noqualo
contexto segmental deve ser duas sílabas iguais ou semelhantes. Para o caso de
semelhanças,asconsoantesdevemser,nomáximo,diferentesem[vozeamento].Observe
osexemplosaseguir,adaptadosdeAlkmim&Gomes(1982:48):
36Oliveira(1992:32)explicaqueadifusãolexical,“emsuaessência,propõequeasmudançassonorassejamvistascomosendolexicalmentegraduaisefoneticamenteabruptas.OmodelodaDL[difusãolexical]seopõe,portanto,aomodeloNeogramático(NG),queconcebeasmudançassonorascomosendolexicalmenteabruptasefoneticamentegraduais.”
42
(69) /t+t/ quanTOTRAbalho > quan(TO)TRAbalho
(70) /t+d/ limiTEDEpalavra > limi(TE)DEpalavra
Em (69), as consoantes do contexto segmental são idênticas e, em (70), são
semelhantes,vistoqueaúnicadiferençaentreelasé[vozeamento];emambososcasos,os
contextospermitemaaplicaçãodehaplologia.
A literatura sobre haplologia é mais abundante e trata de diferentes aspectos do
contextodeaplicação.Porisso,nassubseçõesaseguir,apresentoasanálisessobreeste
processo,deacordocomosseguintesníveisfonológicos:ocontextosegmental,em3.2.1;a
estruturasilábica,nasubseção3.2.2;aestruturaprosódica,em3.2.3;eaestruturamétrica
em 3.2.4. Em 3.3, apresento a análise de Leal (2006), em que se unificam os dois
processos.Finalmente,em3.4,háumadiscussãosobrea natureza da queda de sílaba, se
é de coalescênciaouapagamento.
3.2.1. Contextosegmental
Comoditonasubseçãoanterior,diferentementedaelisãosilábica,ahaplologiaéum
processo fonológico muito estudado na literatura (cf. referências a seguir), cuja regra é
formalizadadoseguintemodoporAlkmim&Gomes(1982:51):
(71) RegradehaplologiaparaAlkmim&Gomes(1982:51)37
C V C C V+coronal +alto +coronal +soante [-acento]-contínuo -acento##-contínuo -contínuo-nasal -nasal -nasal
1 2 3 4 5
Segundo as autoras, a regra em (71) representa que pode haver aplicação de
haplologia, num contexto de sândi externo (as fronteiras de palavra estãomarcadas por
“#”), se a primeira sílaba for uma CV e a segunda pode ser tanto CV quanto CCV (a
37ApesardeospontosdeCnãoserembinários,deacordocomomodelodegeometriadetraços(cf.Clements&Hume1995)queadotamosaqui,conservamosanotaçãodeAlkmim&Gomes(1982)como[+coronal].
43
opcionalidade da segunda consoante está representada pelos parênteses em (71)), e a
possibilidadedeapagamentodossegmentos1e2deveseguirosseguintescritérios:
i. Osegmento1(primeiraconsoante)éumacoronal[-contínuo,-nasal](ouseja,é
necessariamente/t/ou/d/);
ii. Osegmento2 (primeiravogal)nãodeveseracentuadoenãodeve tero traço
[+alto];
iii. O segmento 3 (segunda consoante) é uma coronal [-contínuo, -nasal]
(novamente,somentepodeser/t/ou/d/);
iv. O segmento 4 (segunda consoante de ataque ramificado) é uma soante
[-contínuo,-nasal],quepodeaparecerounão;e
v. Osegmento5 (segundavogal)nãodeveseracentuadoeseus traços internos
nãoimportam.
Alkmim&Gomes(1982:48)afirmamque,mesmoqueasconsoantespossuamum
mesmo ponto de articulação na forma subjacente, se forem diferentes de /t/ e /d/, o
processo fonológico é outro: há elisão vocálica, acarretando a adjacência de duas
consoantesiguais,queficamalongadasnooutput:
(72) saBEBEIjar>*sa(BE)BEIjar,massim:saB(E)BEIjar[ˈsab:ejˈʒa]
Em (72), a vogal /e/ é elidida, duas consoantes /b/ se tornam adjacentes, o que
acarretaoalongamentodestessegmentos,segundoAlkmim&Gomes(1982),econtinuam
a ser produzidos distintamente como [b:]. No entanto, as autoras não apresentam
espectrogramasemsuaanálisequemostremestealongamento.
Paracorroborara ideiadequeháapenasapagamentodavogal,enãohaplologia,
Alkmim&Gomes(1982:50)apresentamoseguinteparmínimo:
(73) AFalelimitou>[a.fa.l:i.mi.tow]
(74) AFaleimitou>[a.fa.li.mi.tow]
44
Segundo as autoras, não há possibilidade de queda de sílaba em (73), já que o
resultado é a produção de dois /l/, que continuam sendo pronunciados distintamente [l:].
Estaproduçãodistintadasconsoantes [l:]podeserpercebidacomacomparaçãode (73)
com(74),jáque,nesteúltimoexemplo,háapenasum[l]naprodução.Assim,paraAlkmim
&Gomes (1982), só há possibilidade de haplologia com as consoantes /t/ e /d/; para as
outras consoantes, o processo aplicado só pode ser a elisão vocálica, e as duas
consoantes, em consequência do apagamento da vogal, ficam geminadas e são
pronunciadasdistintamente–umsegmentoalongado.
Bisol (2000), Battisti (2004) e Tenani (2002, 2006) concordam que, de fato, há a
geminaçãoconsonantal.SeguindoapropostadeSáNogueira(1958),asautorasapontam
queháduasetapasnahaplologia:naprimeira,háelisãodavogal;nasegundaetapa,por
estaremadjacentes,asconsoantespodemgeminarounão.38
A diferença entre as duas propostas (a primeira em Bisol 2000, Tenani 2002 e
Battisti2004,seguindoSáNogueira1958)éque,paraAlkmim&Gomes(1982),sehouver
duasconsoantesiguaisnoresultadodoapagamentovocálico,nãoháhaplologia,jáqueas
duas consoantes continuam a ser produzidas; por outro lado, para Bisol (2000), Battisti
(2004) e Tenani (2002, 2006), a haplologia decorre de dois processos fonológicos:
primeiramente, há elisão da vogal, e as consoantes adjacentes podem continuar a ser
produzidas–destavez,comdegeminaçãodestessegmentos.
Tenani (2003: 284, 304) explica que não trabalha com contextos segmentais que
possambloquearahaplologia,eassumeaquelesquefavorecemoprocesso(/t/e/d/,como
apontado por Alkmim&Gomes 1982), já que a finalidade da autora é estudar a relação
entre haplologia e constituintes prosódicos (cf. subseção 3.2.3). Da mesma forma, a
variáveldependenteno trabalho de Battisti (2004)éahaplologiacomasconsoantes /t/e
/d/, com o finalidade de verificar qual é a natureza do processo fonológico, se de
apagamento ou de coalescência. Assim, as duas autoras não discutem contextos
segmentaisdiferentesde/t/e/d/.
Bisol(2000)tambémnãotratadecontextossegmentais,jáqueointuitodoartigoé
verificararelaçãoentreritmoeprocessosfonológicos,masaautoraapresentaoseguinte
38Cf.subseção3.3,emqueháumadiscussãosobrecoalescênciaeapagamentodesegmentos.
45
exemplodehaplologia(Bisol2000:409):
(75) OmacaCOCOmeutodasasbananas>maca(CO)COmeu
Como vemos em (75), há a possibilidade de queda de sílaba com o contexto
segmental /ko + ko/ para Bisol (2000), ou seja, um contexto diferente da definição de
Alkmim&Gomes(1982)–diferentede/t/e/d/.
Pavezi(2006a),trabalhandocomosdialetosdacidadedeSãoPaulo(NURC-SP)e
deSãoJosédoRioPreto(IBORUNA-SJRP),eLeal(2006),comodeCapivari,expandemo
inventário de Alkmim & Gomes (1982) com relação às consoantes que podem sofrer
haplologia(eelisãosilábica,segundoLeal2006).39
AtabelaaseguirapresentaosresultadosdosdadosdefalaespontâneadePavezi
(2006a:25):
Tabela2 –Aplicaçõesdehaplologiacomrelaçãoàsconsoantes(Pavezi2006a:25)–falaespontânea
consoantes total %aplobstruintesnãocontínuas 1552 93
nasais 82 5fricativas 33 2total 1667 100
Os resultados da autora apontam que: i) as consoantes [-contínuo] representam
93%deaplicaçãodoprocesso; ii) as nasais tiveram5%; e iii) as consoantes [+contínuo]
resultaramem2%do totaldeaplicações.ComopodemosobservarnaTabela2,aautora
faz distinções das consoantes pelo seumodo de articulação, sem tratar das consoantes
separadamente.Jánocorpusexperimental,Pavezi(2006a)analisaassílabas(consoantes
evogaisunidas)40e,apartirdos resultadosapresentados (Quadro3.1emPavezi2006a:
39OsresultadosdeLeal(2006)estãoreportadosnasubseção3.3.40Pavezi (2006a: 114) classifica as consoantes do seguintemodo: (i) obstruintes: [labial] /p/ e /b, [-contínuo,+distribuído][tʃ]e[dʒ]e[dorsal]/k/e/g/;(ii)nasais:[labial]/m/e[coronal]/n/;(iii)fricativas:[+contínuo,labial]/f/e /v/, [+contínuo, coronal, +anterior] /s/ e /z/, [+contínuo, coronal, -anterior] /ʃ/ e /ʒ/; (iv) vibrantes: [+vozeado,-contínua,-distribuído]/r/;e(v)lateral:[+sonoro,+contínua,coronal]/l/.Quantoàsvogais,sãoclassificadasem[+baixo]/a/e[+alto]/i/e/u/.
46
115)podemosverificarque:
(i) coronais [-contínuo] variaram de 70%a 80%na aplicação de haplologia
(contextos/tu+tu/,/tʃi+tʃi/,/da+da/,/du+du/e/dʒi+dʒi/;eapenas25%
paraocontexto/ta+ta/;
(ii) coronal[+contínuo]teveumavariaçãodeaplicaçãodoprocessode65%a
90%,eoscontextos/zu+zu/e/lu+lu/tiveram,respectivamente,só25%
e30%deaplicação;
(iii) paraaslabiais[-contínuo],ataxadeaplicaçãoéumpoucomaisbaixa(de
20%a60%),eocontextoquemenosvarioufoi/pa+pa/,com15%;
(iv) aslabiais[+contínuo]tiveramde35%a60%deaplicação,eocontexto/fu
+fu/teveapenas5%;
(v) asdorsais[-contínuo]variaramnaaplicaçãoentre40%e80%,eastaxas
mais baixas são para os contextos /ga + ga/ e /ku + ku/ (40% e 45%,
respectivamente);
(vi) com relaçãoàsnasais (todas [-contínuo]), a taxadeaplicaçãovarioude
45%a60%,eocontexto/ma+ma/teveapenas20%deaplicação;e
(vii) paracontextoscomosfonemas/r/(o/r/forte,comoemcarro),astaxasde
aplicaçãodehaplologiavariaramde85%a55%.
Aautoraconcluiquepodehaveraplicaçãodehaplologiacomcontextossegmentais
diferentesdaquelesapresentadosporAlkmim&Gomes(1982).
Com relação às vogais, Alkmim & Gomes (1982: 50) afirmam que somente há
haplologia se a primeira vogal do contexto segmental possuir o traço [+alto] (cf. regra
apresentadaem(71)).Assim,noexemploabaixo,aaplicaçãodehaplologiaéagramatical
paraasautoras(p.50):
(76) comiDADOLíbano>*comi(DA)DOLíbano
Alkmim&Gomes (1982) não discutem qual processo fonológico pode ocorrer em
(76), mas afirmam que há bloqueio de haplologia. Para Pavezi (2006a), no entanto, a
47
haplologiapodeocorrer tantocomvogaisaltas /i/e /u/, como tambémcomvogaisbaixas
/a/,combasenomesmotesteaplicadoauniversitáriosdeSãoJosédoRioPreto.
Comrelaçãoaonívelemqueoprocessopodeseraplicado,podemosverificarque,
ao longo dos trabalhos de Tenani (2002) e Pavezi (2006a), os segmentos vocálicos
favoráveis à haplologia são /i/ e /u/, ou seja, as autoras utilizambarras para designar os
segmentos, o que indicaria que são fonemas. Por outro lado, Alkmim & Gomes (1982)
descrevemossegmentosdocontextodehaplologiaentrecolchetes “[ ]”, indicandoquea
definição do processo está no nível fonético (cf. a regra para a haplologia de Alkmim &
Gomes(1982:51),esuareescritaem(71),apresentadanasubseção3.2.1).Ainda,Alkmim
&Gomes(1982:48)definemahaplologiacomo:
(...) a supressão da sílaba final de uma palavra quando seguida por outrafoneticamentesemelhante.(grifosmeus)
Observe os exemplos abaixo deAlkmim&Gomes (1982: 48) (cf. (77) e (78)), de
Tenani(2002:105)(ver(79))edePavezi(2006a:116)(cf.exemplo(80)):
(77) [i+i] limiTEDEpalavra > limi(TE)DEpalavra
(78) [u+i] calDODEcana > cal(DO)DEcana
(79) /i+i/ faculdaDEDInâmica > faculda(DE)DInâmica
(80) /u+u/ boniTOTUbarão > boni(TO)TUbarão
Em(77)e(78),Alkmim&Gomes(1982)representamasvogaiscomotraço[+alto],
nonívelfonético;nosexemplos(79)deTenani(2002)e(80)dePavezi(2006a),asvogais
sãosubjacentes.
Assim, é necessário uma discussão com relação a que nível deve ser levado em
contaparaoapagamentodesílaba,seofonológicoouofonético.Umindíciodequeéno
nível fonológico (e não no fonético) que a regra de queda de sílaba se aplica pode ser
encontrado no corpus desta tese, se levarmos em conta a diferença de processos de
alçamentodasvogaisemfinaldepalavra.EmCampinas,estaregraseaplica,aocontrário
48
deCapivari,comoexemplificamosabaixocomapalavracaldo:
(81) Capivari,semalçamento: [ˈkaw.do]
(82) Campinas,comalçamento: [ˈkaw.dʊ]
Emambasascidades,apesardehaverumareduçãonavogalfinal,notamosqueas
qualidadesdasvogaisemfinaldepalavrasãodiferentesemCapivarieCampinas.Epode
haver aplicação de queda de sílaba tanto em dialetos sem o alçamento (o capivariano)
quanto em dialetos com alçamento (o campineiro) – há variação de queda de sílaba em
ambasascidades.
Um outro argumento para interpretarmos que a queda de sílaba ocorre no nível
fonológico, e não no fonético, é o emprego da teoria que embasa a análise do contexto
segmental: trabalhamoscomageometriade traços,poiséapartirdos traços internosda
cavidade oral (ponto de C e contínuo) dos segmentos que se define o processo
(fonologicamente).
Assim, as vogais do contexto de queda de sílaba dos exemplos (77)-(80) são
escritasaseguir,combasenageometriadetraços,comotendofonologicamenteostraços
depontodeC,daseguinteforma:
(83) /e+e/:[coronal+coronal] limi(TE)DEpalavra
(84) /o+e/:[dorso-labial+coronal] cal(DO)DEcana
(85) /e+i/:[coronal+coronal] faculda(DE)DInâmica
(86) /o+u/:[dorso-labial+dorso-labial] boni(TO)TUbarão
Adicionalmente,vogais[+baixo]sãotratadascomoapresentoabaixo(cf.exemplode
Leal2006:141),emqueaimplementaçãodaregraégramatical:
(87) /a+a/:[dorsal+dorsal] nãoadian(TA),TÁfeito (ALES)
Portanto, como pudemos observar nesta subseção, a regra de haplologia e, em
49
termos gerais, de queda de sílaba, pode comportar todos os segmentos consonantais e
vocálicos, assim como explicamPavezi (2006a) e Leal (2006) (sobre este trabalho, cf. a
subseção3.3).
3.2.2. Estruturasilábica
Comrelaçãoàestruturasilábica,vimosqueasílabaelididadeveserCV,segundoa
análisedeAlkmim&Gomes(1982).
Paraexplicararelaçãoentreacentoeestruturasilábica,Collischonn(2007)analisa
processos fonológicosdesândi internoeexternoe,dentreestes,ahaplologia.Deacordo
com a autora (pp. 221-2), a estrutura silábica não interfere neste processo fonológico, já
que:
(...)assílabasafetadassãooriginalmentebem-formadas.(...)Oquedesencadeiaahaplologia não é nem uma nem outra [estrutura silábica e acento], mas umaexigênciasobrepropriedadesdaestruturasegmental,oOCP.
Collischonn (2007) defende que a haplologia está relacionada ao OCP,
primeiramente proposto por Leben (1973) em estudos de línguas tonais, emuitos outros
autores trabalhamcomoprincípio (cf.McCarthy1979,Goldsmith1990).McCarthy (1988:
88)reformulou-odoseguintemodo:41
Adjacentidenticalelementsareprobibited.
Assim, para Collischonn (2007), se houver elementos adjacentes idênticos numa
sequência segmental, a haplologia é implementada; a autora sustenta que a estrutura
silábicanãoéum fator importantenaquedadesílaba,poisasestruturasoriginais jásão
bem formadas.Contudo,Battisti (2004),Pavezi (2006a)eLeal (2006)encontraramcasos
emqueasílabasujeitaaoapagamentonãoéumaCV,massimCCV.Oexemploaseguiré
deBattisti(2004):
41 McCarthy (1986: 208) define o OCP de um modo mais restrito: “At the melodic level, adjacent identicalelementsareprohibited.”
50
(88) Den(TRO)DOconsultório.
Em(88),asílabaelididatemataqueramificado,emqueaconsoante/r/preenchea
segundaposiçãodoataquee,mesmoassim,ahaplologiaégramatical.
Osexemplosabaixotambémilustramcontextosemqueassílabassujeitasàqueda
têmestruturasdiferentes–sílabaleveem(89)e(92),sílabacomataqueramificadoem(90)
e(93),esílabapesadaem(91)e(94):
(89) ocenTODAbananaécaro>ocen(TO)DAbananaécaro
(90) ocenTRODAcidadeébonito>ocen(TRO)DAcidadeébonito
(91) ageneralmoTORSDObrasil>ageneralmo(TORS)DObrasil
(92) odenTEDOjuízo>oden(TE)DOjuízo
(93) ovenTREDAterra>oven(TRE)DAterra
(94) oshoppingcenTERDECampinas>oshoppingcen(TER)DECampinas
Assim, a queda de sílaba não é bloqueada em (89)-(94); em outras palavras, a
sílabasujeitaaoprocessonãoprecisasernecessariamenteumaestruturaCV.42
3.2.3. Métrica
Amaior parte dos trabalhos sobre haplologia emétrica discutem se o acento das
sílabasdocontextopodeinfluenciaroprocesso;poucossãoostrabalhosqueobservamse
aaplicaçãodoprocessopodeterconsequênciasrítmicas.
42Assílabassujeitasaoapagamento,porexemplo,/tre/deventre(em(93))e/ter/decenter(cf.(94))nãotêmumaestruturasimplesCV,massimCCVeCVC, respectivamente.Poderíamosseguiro raciocíniodequeassílabas/tre/e/ter/possamserealizarcomaquedade/r/,jáqueessetipodeprocessofonológicoécomumempalavrascomodentro,quetambémpodeserproduzidoparaden[tʊ],centro>cen[tʊ];outro>ou[tʊ].Damesmaforma,sílabasCVCpodemsersimplificadasparaCV,comoemrevólver>revólve;açúcar>açúca;hambúrguer>hambúrgue.Haveria, talvez, duas causas (dentre outras) paraa simplificação silábica: (i) taxadeelocução(contextos em que as palavras tenderiam a uma maior simplificação); e (ii) difusão lexical (de acordo comCristófaro (2001),osdifusionistas “sugeremqueumamudançasonoraéaplicadaaalgumaspalavrasepodeatingir (ounão) o léxico comoum todo.Portanto, é a palavraquemudaem relaçãoa sonsespecíficos.” (cf.tambémcf.nota36).Nãotratamosdotemanestatese,eanálisesfuturaspodemelucidaraquestão.AgradeçoaoProf.Dr.EmilioGozzePagottoeProfªDrªLucianiTenanipormechamaremaatençãoaestaspossibilidadesdeanálise.
51
Especificamente com relação ao acento da primeira sílaba do contexto de
haplologia, Alkmim&Gomes (1982), Bisol (2000), Pavezi (2006a) e Tenani (2002, 2003,
2006)concordamquesóépossívelaaplicaçãodehaplologiaseasílabasujeitaàqueda
forfraca–sílabacomacentobloqueiaoprocesso(cf.Alkmim&Gomes1982,Tenani2002:
141esubseção1.3).
De acordo com Alkmim & Gomes (1982), a segunda sílaba do contexto também
deve ser fraca, como vimos na regra apresentada em (71). Observe o exemplo abaixo,
adaptadodeAlkmim&Gomes(1982:50):
(95) gaTOTONto>*ga(TO)TONto
Deacordocomasautoras,nãoháquedadesílabaem(95)porqueasegundasílaba
docontextosegmentaltonéforte,oqueimpedeaaplicaçãodoprocesso.Afimdeverificar
se contextos em que a segunda sílaba é forte podem causar o bloqueio do processo,
Tenani (2002) testa os acentos das sílabas do contexto de haplologia, controlando o
contextosegmental,aprosódia(fronteiradefrasesfonológicas)eaestruturarítmica,como
exemplificoaseguir:
Tabela3 –Haplologiaetonicidade,adaptadodeTenani(2002:141)sentença estruturarítmica %dehaplologia
(a)aautoridaDEDItouregrasàpolícia ˈσσ#σˈσ 50(b)aautoridaDEDItaregrasàpolícia ˈσσ#ˈσσ 50(c)odiDIDItouregrasàpolícia σˈσ#σˈσ 0
No testedeTenani,houvebloqueiodehaplologiasomenteseaprimeirasílabado
contextosegmentalforforte–cf.exemplo(c)naTabela3.Estesresultadossãoosmesmos
deAlkmim&Gomes(1982),Pavezi(2006a)eLeal(2006).Tenani(2002:141)continua:
Como o contexto segmental e a estrutura prosódica são exatamente iguais aoscontextosemqueassílabassãoambasátonasousomenteasegundaacentuada,conclui-sequeobloqueioencontradoémotivadopelatonicidadedaprimeirasílabadocontextodesândi.
52
Assim,pode-seconcluirqueumaexigênciaacentualdaaplicaçãodoprocessoéque
aprimeirasílabadeveserfraca.
3.2.4. Prosódia
Hátrêstrabalhosquerelacionamahaplologiacomaestruturaprosódica.
O primeiro deles é Tenani (2002), que examinou os contextos segmentais de
haplologia dentro frase fonológica (ou seja, entre dois grupos clíticos), entre frases
fonológicas,entrefrasesentonacionaiseentreenunciados.Tenaniexplicaqueaaplicação
doprocessoestá inversamenterelacionadaaosconstituintesmaisaltosdahierarquia, isto
é,quantomaisaltoforoconstituinte,menoréaaplicaçãodehaplologia.
Outro trabalho é o de Battisti (2004), que analisa, com base na sociolinguística
variacionista,aposiçãodocontextosegmentalnafrasefonológica.Aautoraexplicaqueo
contextoquemaisfavoreceuahaplologiafoiodevogaisiguais,dentrodefrasefonológica,
comoexemplificoaseguir:
(96) vonta(DE)DEconhecer
OsníveisestudadosporPavezi(2006a)sãoosmesmosqueTenani(2002)(dentro
frase fonológica,entre frases fonológicas,entre frasesentonacionaiseentreenunciados);
no entanto, os resultados encontrados pelas autoras foram diferentes: dentro de frases
fonológicaseentre frases fonológicassãoosníveismaispropíciosàhaplologia,segundo
Pavezi (2006a).Apresentoabaixoa tabeladecomparaçãoentreos resultadosdeTenani
(2002)ePavezi(2006a)(adaptadadePavezi2006a:52):
Tabela4 –Haplologiaedomíniosprosódicos–dadosadaptadosdePavezi(2006a:52) Tenani(2002)(dadosexperimentais) Pavezi(2006a)(falaespontânea)
estruturaprosódica tokens aplicação % tokens aplicação %entreΦsemesmoΦ 24 22 92 51 25 49entreIsemesmoI 12 8 66 1 0 0enunciado 30 17 56 0 0 0total 66 47 52 25
Pavezi (2006a) explica que, ao comparar resultados de fala espontânea e dados
53
experimentais,oúnicoconstituintequepôdedefatosercomparadofoia frasefonológica,
poispara fraseentonacionalhouveapenasumdado,enenhum token paraenunciado.A
autoraconcluiquecontextosdehaplologianafrasefonológicasãoosmaisfrequentes,com
variaçãonaaplicaçãodoprocesso.
Deformaresumida,vimosnestasubseçãoqueonívelmaisfavorávelparaaplicação
dehaplologiaéa frase fonológica,deacordocomBattisti (2004)ePavezi (2006a)–para
dados de fala espontânea. Tenani (2003) argumenta que quanto mais alto for o nível
prosódico,menoréaimplementaçãodahaplologia.
3.3. AanálisedeLeal(2006):unindoosdoisprocessos
Nesta subseção, apresento os resultados de queda de sílaba (elisão silábica e
haplologia) encontrados emLeal (2006), unificandonesta análise os dados apresentados
nassubseçõesanteriores.
OprincipalobjetivodeLeal(2006)foiverificarseaelisãosilábicaeahaplologiasão
ummesmoprocesso fonológicoousesãoduasregrasdistintas,combaseemtrêsníveis
fonológicos:segmental,prosódicoemétrico.Ocorpusdessetrabalhoécompostodeduas
partes: na primeira (experimental), foram aplicados testes contendo sintagmas nominais
(substantivo seguido de adjetivo), controlando-se o ponto de C, o traço [contínuo] (cf.
Clements&Hume1995)eovozeamentodossegmentos.Agramaticalidadedaquedade
sílabanossintagmasfoijulgadadeacordocomaintuiçãodapesquisadoraedainformante
capivarianaFC,de31anos.Asegundapartedocorpusénaturalística, formadaporduas
seçõesdetrintaminutoscadauma(falasespontâneas),comdoisinformantescapivarianos
de28anos,umdelescomestudoatéoensinofundamental(ALES)eooutroestudouatéo
ensinomédio(BGN).
Paraocontextosegmental,osresultadosdotesteedaanálisenaturalísticaapontam
que, na elisão silábica e na haplologia, deve haver consoantes que tenham osmesmos
traçosabaixodacavidadeoral,ouseja,ospontosdeCeovalorpara[contínuo]devemser
osmesmos.Observeosseguintesexemplos(deLeal2006):
54
(97) /t+d/ ...ummon(TE)DEtécnicapracantar. (BGN)
(98) /d+d/ ...tenhovonta(DE)DEmatar. (ALES)
(99) /d+t/ var(DO)TInhacontado (ALES)
(100) /k+k/ ummole(QUE)COMoutra (ALES)
Em(97),ocontextoconsonantalécompostodeduascoronais[-contínuo],eaúnica
diferençaentreelaséqueaprimeiraé[-vozeado]easegundaé[+vozeado].Nocontexto
em(98),háduassílabasidênticascomconsoantescoronais[-contínuo].Em(99),também
háapenasumadiferençaentreasconsoantes: /d/é [+vozeado]e /t/é [-vozeado],ambas
coronais[-contínuo].Oexemplo(100),/k+k/écompostodeduasconsoantescomostraços
dorsais [-contínuo].43 Uma vez que os ambientes nestes exemplos têm consoantes com
diferenças,nomáximo,emvozeamento,caracterizamcasosdehaplologia.
Nos exemplos a seguir, as consoantes do contexto segmental são diferentes em
maistraçosdoqueapenas[vozeamento]:
(101) /b+m/ goia(BA)MAdura >[goˈia.ma]dura (teste)
(102) /z+ʃ/ babo(SA)CHEIrosa >ba[ˈbɔʃe]rosa (teste)
(103) /s+d/ *crian(ÇA)DInamarquesa>*crian[di]namarquesa (teste)
(104) /b+d/ *goia(BA)DOcinha >*[goˈjado]cinha (teste)
Nocontextosegmental /b+m/em(101),asduas labiais [+vozeado, -contínuo],que
diferemquantoaotraço[nasal]:aprimeiraéumaconsoanteoraleasegundaéumanasal.
Em(102),ocontexto/z+ʃ/éformadoporduascoronais[+contínuo];aprimeiraconsoanteé
[+anterior,-distribuído]easegundaé[-anterior,+distribuído].Em(103),/s+d/éformadopor
duas consoantes que têm em comum o ponto de C [coronal] e os traços [+anterior,
-distribuído];mas,alémdadistinçãoem[vozeamento](/s/é[-vozeado]e/d/é[+vozeado]),
as consoantes são diferentes em [contínuo]: a primeira é [+contínuo] e a segunda é
[-contínuo]. Finalmente, no contexto /b+d/ em (104), há duas consoantes [+vozeado,
-contínuo] que diferem no ponto de C: /b/ é uma [labial] e /d/ é uma [coronal, +anterior,
43Cf.exemploapresentadoem(75),deBisol(2000),comummesmocontexto/k+k/.
55
-distribuído].Em(103),/s+d/sãodiferentesem[contínuo]e,em(104),/b+d/têmpontosde
Cdistintos;aaplicaçãodehaplologiaedeelisãosilábica, respectivamente,emambosos
casos,éagramatical.
Nos exemplos de haplologia e de elisão silábica, podemos observar que os dois
processossãoregidospelasmesmasregras:seasconsoantestiverempontosdeCiguais
e valores para [contínuo] idênticos (cf. exemplos de haplologia de (97)-(100) e de elisão
silábicaem(102)e(101)),oprocessopodeserimplementado.Poroutrolado,consoantes
com[contínuo](cf.contexto/s+d/noexemplo(103))oupontosdeCdiferentes(cf.contexto
/b+d/ em (104)), o processo é bloqueado. Além disso, notamos que [vozeamento] não
bloqueia o processo, pois as consoantes podem ser iguais neste traço (cf. contextos de
haplologia /d+d/, /k+k/ e /b+m/ de elisão silábica) ou diferentes (/t+d/, /d+t/ que são
contextos de haplologia e /z+ʃ/ de elisão silábica). Finalmente, podemos observar que a
diferençaem[anterior,distribuído]nãobloqueiaoprocesso,comosevênocontexto/z+ʃ/.
Assim, no que concerne ao contexto segmental, de acordo com a análise
consonantal realizada, Leal (2006) explica que a elisão silábica e a haplologia são um
mesmoprocessofonológico,queobedeceàseguinteregra(p.165):
AquedadesílabasedáseasconsoantesenvolvidasnoprocessotiveremomesmopontodeCeomesmovalorparaotraço[contínuo].
Com relação às vogais, Leal (2006) aponta que a qualidade não influencia na
aplicaçãodaquedadesílaba:ascombinaçõesvocálicaspodemvariaremanterioridadeou
altura, com gramaticalidade da sentença (cf. de Lacy 1999, Bisol 2000, Pavezi 2006a e
Sasaki2008)–diferentedoqueafirmamAlkmim&Gomes(1982).Observeosexemplosa
seguir,docorpusnaturalísticodeLeal(2006):
(105) /a+a/ cabe(ÇA)SAUdável (teste)
(106) /a+e/ estra(DA)DEterra (BGN)
Ocontexto(105)édehaplologia,poisháduasconsoantesiguais/s+s/;quantoàs
56
vogais,tambémsãoiguais,/a+a/.Noexemplo(106),noquedizrespeitoàsconsoantes,é
novamenteumambienteparahaplologia (coronais /d+d/commesmo traço [+vozeado]).
Noentanto,ocontexto/a+e/,emqueaprimeiravogalé[dorsal](ou[+baixa],nostermos
deAlkmin&Gomes1982),seguidadeumacoronaleliminariaeste tipodecontextocomo
possibilidade de haplologia, segundo as autoras, já que a primeira vogal é uma dorsal.
Comosepodenotar,aquedadasílabaépossível.Assim,alémdevogais[coronal]/e,i/e
[dorso-labial] /o, u/ (segmentos com o traço [+alto], segundo a fonologia tradicional), a
queda de sílaba é permitida também em contextos vocálicos com [dorsal] na primeira
sílaba.Omesmo ocorre com os contextos referidos por Leal (2006) como ambientes de
elisão silábica, isto é, casos em que as consoantes partilham o mesmo ponto de C e
contínuo, diferente de [coronal], também permitem a queda de sílaba quando a primeira
vogalé[dorsal],comoilustramosexemplosabaixo:
(107) /a+a/ namora(DA)NAriguda (teste)
(108) /a+e/ cabe(ÇA)GIgante (teste)
Em (107), há uma possibilidade de aplicação de elisão silábica, pois o contexto
consonantalédeduascoronais [-contínuo],diferentesem [nasal] (éumaoral seguidade
uma nasal); quanto às vogais, são duas dorsais idênticas. No exemplo (108), há um
contexto consonantal /s + ʒ/ de elisão silábica, já que as consoantes são coronais
[+contínuo], que diferem nos traços que estão abaixo do nó coronal: a primeira é uma
consoante [+anterior, -distribuído] e a segunda é [-anterior, +distribuído].Com relação às
vogais, há uma dorsal seguida de uma coronal – contexto /a + e/. Comparando-se os
contextos vocálicos nos exemplos de (105)-(108), podemos notar que, tanto para a
haplologia (cf. (105) e (106)) quanto para a elisão silábica (ver (107) e (108)), não há
bloqueiodosprocessossehouvernaprimeirasílabaumavogaldorsal–tantoparavogais
iguais/a+a/(cf.haplologiaem(105)eelisãosilábicaem(107))oudiferentes/a+e/(ver.
haplologiaem(106)eelisãosilábicaem (108)).Emoutraspalavras,seavogaldasílaba
sujeitaàquedaforumadorsal,aelisãosilábicaeahaplologiapodemocorrer.
Leal (2006) não controlou a estrutura das sílabas sujeitas à elisão silábica e
57
haplologia.Noentanto,houveaplicaçãodehaplologiacomsílabasCCV,oquecorrobora
Battisti(2004)ePavezi(2006a),comoexemplificadoaseguir:
(109) den(TRO)DAdelegacia (ALES)
(110) den(TRO)DOesgoto (ALES)
(111) vi(DRO)DAfrente (ALES)
Para a elisão silábica, houve um caso de aplicação em que a sílaba sujeita ao
processoéumaCVC:
(112) ...oscarassenta(DOS)NUMcanto (ALES)44
Até o momento, verificamos que a elisão silábica e a haplologia são um mesmo
processofonológiconoqueconcerneaocontextosegmental(consoantesevogais).Mesmo
nãotendocontroladoaestruturasilábica,notamosquepodehavercasosdeaplicaçãode
elisãosilábicaehaplologiacomsílabasdiferentesdeCVnosdadosdeLeal(2006),oque
vaideencontroaosresultadosdeAlkmim&Gomes(1982).
Corroborando Tenani (2002, 2003), Battisti (2004) e Pavezi (2006a), Leal (2006)
verificaqueahaplologiapodeseraplicadaemqualquernívelprosódico,comoilustramos
exemplosaseguir:
(113) [agen(TE)]Φ[TOcou]ΦeRonigravou (BGN)
(114) [pendura(DO)]Φ[NOpau-de-arara]Φ (ALES)
Ocontextosegmentalem (113)éambienteparahaplologia, jáqueasconsoantes
44Chamamosaatençãoparaapossibilidade, nesteexemplo (112), deo /s/ desentados poder ser apagadoantesdaaplicaçãodaquedadesílaba,poiséa3amarcadepluralnosintagmanominaloScaraSsentadoS,quepodeserproferidacomooscarasentado.Dessemodo,haveriaumasimplificaçãodasílabadeCVC/dos/desentadoSparaumaestruturaCV/do/sentado(S).Aperguntaquesecolocaé:comosedáaordenaçãoderegrasnestescasosdeapagamento,emqueparecehaverumefeitodamorfologianaquedadesílaba?Estaéumaquestãoquefogedoescopodestetrabalho,aserestudadafuturamente.AgradeçoàProfªDrªEsterMirianScarpapormechamaraatençãoparaestetema.
58
sãoidênticas,eoprocessoocorreentreduasfrasesfonológicas:[agente]Φe[tocou]Φ
nãopodemserreestruturadas,poistocounãoécomplementodeagente.Em(114)/d+n/
éumcontextodeelisãosilábica, emquenopau-de-arara é complementodependurado,
masnãoháreestruturaçãoporqueasegundafrasefonológicaéramificada(hádoisgrupos
clíticos[nopau]Ce[de-arara]Cqueimpossibilitamareestruturação).
Paraambososprocessos,oconstituinteprosódicoemquemaisocorreuaquedade
sílabaédentrode frase fonológicareestruturada,oquecorroboraBattisti (2004)ePavezi
(2006a).
De tudo o que vimos podemos concluir que a elisão silábica e a haplologia são
regidastambémpelasmesmascaracterísticasprosódicas.
Com relação à métrica, o maior número de aplicação de elisão silábica e de
haplologiadocorpusdeLeal(2006)foiasequênciade[sílabaforte+sílabafraca+sílaba
forte],ouseja,numasucessãodesílabas[x•#•x],comumresultado[x#•x].Nestes
casos, a tendência ao PAR é respeitada na aplicação de ambos os processos. Nos
resultadosdeLeal(2006),observou-setambémquehápossibilidadedeelisãosilábicaede
haplologia comum resultado de choque de acento, o que corrobora Tenani (2002) (para
haplologia):umasequência[x(•)#x]nãobloqueiaoprocesso–diferentedapropostade
haplologiadeAlkmim&Gomes(1982).
Combasenasanálisesapresentadasnestasubseção,podemosafirmarqueaelisão
silábicaehaplologiapossuemasmesmaspropriedadesfonológicas,listadasaseguir:
i. Contextosegmental:nãoénecessariamentecompostodasconsoantes /t/e /d/
(especificamente para a haplologia, cf. Alkmim & Gomes 1982), mas pode
ocorreraindacomoutrasconsoantes(tambémparaahaplologia,cf.Bisol2000e
Pavezi2006a),eestessegmentosdevemter,internamente,omesmopontode
C e o mesmo valor para o traço [contínuo] (Leal 2006, 2007). As vogais
subjacentes do contexto podem ser, além daquelas propostas por Alkmim &
Gomes(1982)(quaissejam:/i/,/e/,/o/,/u/),também/a/(cf.Pavezi2006aeLeal
2006);
ii. Estruturasilábica:nãoestárestritaasílabasCV(Alkmim&Gomes1982),maso
apagamentopodeseraplicadotambémcomsílabasCCV(Battisti2004,Pavezi
59
2006a,Leal2006)ouCVC(Leal2006);
iii. Hierarquia prosódica: não afeta a aplicação de queda de sílaba, uma vez que
nenhum constituinte bloqueia o processo (Tenani 2002, 2003; Pavezi 2006a e
Leal2006)eonívelemqueháummaiorfavorecimentodoprocessoéodafrase
fonológica(Tenani2002,2003;Battisti2004,Pavezi2006aeLeal2006);e
iv. Nível métrico: a sílaba propensa ao apagamento deve ser fraca (Alkmim &
Gomes1982;Tenani2003,2006;Bisol2000,Pavezi2006aeLeal2006);Leal
2006 aponta também que o maior número de aplicações de queda está no
contexto[x•#•x]queresultaem[x#•x];porfim,aaplicaçãodequedade
sílabaqueresulteemchoqueacentualnãobloqueiaoprocesso.
Uma vez descritas as propriedades dos segmentos, das estruturas silábicas,
prosódicasemétricasdequedadesílaba,combasenaliteratura,umaquestãorelevanteé
seanaturezadaregraédeapagamentooucoalescência,questãotratadanasubseçãoa
seguir.
3.4. Coalescênciaouapagamento
Umaquestãoimportantesobreaquedadesílabadizrespeitoàquestãodequalsua
natureza:oprocessoresultadecoalescência(fusão)ouapagamento?
Agrandepartedostrabalhosdefendemqueahaplologia45éummododeseevitar
material fonético/fonológico idêntico (cf. Plag 1998) e normalmente o desencadeador do
processoéentãoalgumtipoderestriçãocomooOCP(Plag1998,Yip1998,Tenani2002,
Battisti 2004, McBride 2004, Neeleman & Koot 2005, Collischonn 2007). A definição de
Stemberger(1981)aseguiréumarestriçãomaisespecíficadoqueMcCarthy(1988:88)(cf.
3.2.2),poislevaemcontatambéminformaçõesmorfológicas:
45 Veja que aqui haplologia não está restrita a um tipo de segmento ou sílaba. Assim, observamos que, emconformidadecomapropostadeLeal(2006),eleseaplicatambémaoscasosdeelisãosilábica–cf.capítulo3,seção3.3.
60
(115) Stem-EndHaplology(Stemberger1981:791):
[The absence of] an affix or clitic (…) when the adjacent part of the stem ishomophonoustoit.
OutrotrabalhoemqueháumaversãomaisrestritadoOCPéMenn&McWhinney
(1984).Paraosautores,hánas línguasumarestriçãodemorfes repetidosequeestejam
adjacentes,masestarestriçãopodeserviolada(p.519).
Como se vê, estas restrições fazemmenção a aspectosmorfo-fonológicos. E de
fato,osestudoscostumamdiferenciardoistiposdehaplologia:morfológica(ousintática)46e
fonológica.DeLacy(1999),porexemplo,distingueahaplologiamorfológicadafonológica:
na primeira, há dois morfemas fonologicamente idênticos no nível subjacente que se
coalescemnooutput.Emnotaderodapé(p.51),oautorafirmaqueahaplologiafonológica
é somenteencontradadiacronicamentenas línguase temumanaturezadeapagamento,
masestasupressãoéidiossincrática:
Phonologicalhaplologyisbasicallyadiachronicprocess(Hock1991:109,Grammont1933), and is the idiosyncratic deletion of similar sequences ofmorpheme-internalmaterial.(grifomeu)
De Lacy (1999) apresenta os exemplos (116) e (117) abaixo, casos de haplologia
morfológicaefonológica,respectivamente:
(116) /analIZ/+{-ISt}>/analISt/versus*/analIZISt/
‘analisar’‘sufixosubst.’>analista(francês)
(exemplodeCorbin&Plénat1992:101)
(117) *nuTRITRIx>nuTRIx
‘enfermeira’(latim)
(exemplodeHock1991:109)
46 Há outros autores que consideram que a morfologia tem um papel importante na haplologia, em quemorfemas homófonos (sufixos, raízes,morfes) se fundem (merge) nooutput – por isso, o processo émuitasvezes chamado de haplologia morfológica (Russel 1999; Stemberger 1981; Menn & McWhinney 1984; Plag1998;deLacy1999;Plag1998).
61
Em(116),ossegmentos/iz/e/is/sefundem(nenhumsegmentoéapagado)em/is/,
permanecendopropriedadesmorfológicasnooutput,deacordocomdeLacy (1999).Este
exemploéumdos casos chamadosde identidadeparcial, já queo traço [vozeamento] é
diferenteentreasconsoantes.DeLacy (1999:72)explicaqueeste traçoé irrelevantena
haplologia, já que o processo pode ser implementado mesmo com uma diferença em
[vozeamento].
Apropostadehaplologiamorfológicaésimilaràassimilaçãodetraçosnafonologia
autossegmental: informações morfológicas não poderiam ser apagadas no output; caso
contrário, estas informações se perderiam depois da aplicação do processo. O conteúdo
morfológicoseuneaoelementoquepermanecenooutput.
Nocasodahaplologia fonológica, tem-seoapagamentodoconteúdosemelhante,
comoem(117),emqueháduassequências/TRI+TRI/.Mas,paradeLacy,ahaplologia
fonológicaéidiossincrática,ouseja,nãoháumaregradeaplicaçãosemprequeocontexto
forencontrado.
Outros autores que consideram a haplologia como resultado de coalescência são
Stemberger (1981), Menn & McWhinney (1984), Plag (1998), Lawrence (1998) e Russel
(1999).
Oproblemadeseconsiderarahaplologiacomocoalescênciaou fusãoéqueeste
processo indica a convergência de unidades linguísticas, originalmente separadas, que
antes podiam ser distinguidas (Crystal 1985: 49, 123). Observe um exemplo de
coalescêncianoportuguêsbrasileiro:
(118) /eu/ropa>[o]ropa
Emalgunsdialetos,asvogais /eu/podemse fundir, formandoumúnicosegmento
[o]nooutput.Observeque,no resultadoda fusão [o],há traçosdeambosossegmentos
subjacentes/e/e/u/:
62
(119) Fusãoentre/e+u/>[o]
ant. post.
alto /i/• •/u/
médio /e/• •/o/
baixo /a/•
/e/: [anterior,médio]/u/: [posterior,alto]
resultaem[o]: [posterior,médio]
Como se nota em (119), a fusão entre os traços [anterior, médio] da vogal /e/ e
[posterior,alto]davogal/u/resultanostraços[posterior,médio]davogal[o].
DeLacy(1999:06-08)buscanojaponêsumexemplodehaplologiapararatificara
propostadoprocessocomocoalescênciadesegmentos,comoapresentoaseguir:
(120) Kanasi + {-si} > [kaˈnaʃi]
│ │ │basesemacento provedordeacento resultadoadjetivo predicativo ‘triste’
coalescênciade/si/:traçoadjetivo+traçopredicativo
Comoseobservaem(120),nojaponês,oadjetivokanasi‘triste’nãopossuiacento,
mas, quando se junta ao predicativo {-si}, este morfema atribui acento à sílaba
imediatamente anterior a ele, em bases não acentuadas. Se fosse concebido como
apagamentodeafixo,ooutputnãoteriaacento,formando*[kanaʃi].Oacentoestariacorreto
embasesdesacentuadas,como/kanasi/,maserradoembasesacentuadas–aacentuação
porafixaçãode{-si}fazcomqueseacentueapenúltimavogaldaraiz.Dessaforma,oafixo
{-si} deve pertencer à raiz e, simultaneamente, ao sufixo da palavra. Então, o resultado
[kaˈnaʃi],comacento,explicariaacoalescênciadetraçosmorfológicos.
No entanto, como vimos no exemplo sobre coalescência do português, duas
consoantes coronais /s/ [+anterior, -distribuído] não teriampor que se tornar /ʃ/ [-anterior,
+distribuído], como resultado de coalescência. Assim, entendemos que a união dos
fonemas/s/daraizkanasie/s/dosufixo{-si}quesetornam[ʃ]em[kaˈnaʃi]nãopodemser
63
explicadosfonologicamentecomofusão.
Alémdaquestãoacima,sehaplologiacomocoalescênciapodedarcontadecasos
em que os segmentos não são necessariamente idênticos,mas semelhantes – como na
haplologiacom/t/e/d/ounocasodofrancês/analiZ/+{-iSt}>/analiSt/versus*/analiZiSt/,
cf.exemploanterior (116),dedeLacy (1999:22),paraquemo traço [vozeamento]nãoé
relevante para o processo – a coalescência não dá conta de outros casos, como
exemplificadoaseguir(cf.exemplosdeBattisti2004,Pavezi2006eLeal2006):
(121) den(TRO)DE47
Em(121),umresultadodecoalescênciaentreasconsoantes/tr/e/d/deverialevar
emcontatambémostraçosde/r/,doataqueramificado,oquenãoacontece.
A alternativa, então, é a análise de que o processo se dá por apagamento,
independentementedeserhaplologiasintáticaoufonológica.Neeleman&Koot(2005)dão
oseguinteexemploemmandarim:
(122) Bing dou hua LE (LE)
gelo todo derreter perfectivo mudançadeestado
‘Ogeloderreteu’(exemplodeYip:1998:226)
Em (122), segundo os autores, há apagamento do segundo {-le}, indicativa de
‘mudançadeestado’,umavezqueestáadjacenteaoperfectivo{-le}.
Autores que assumemquea natureza da haplologia é por apagamento sãoMiller
(1992),Ortmann&Propescu(2000),Neeleman&Koot (2005),Mercado(2001)eMcBride
(2004).
Paraoportuguêsbrasileiro,Battisti (2004)defendequeesteprocessofonológicoé
deapagamento(resultantedoOCP).Combasenateoriadaotimalidade,aautoradefende
que,nahierarquiadehaplologia,oOCPestáabaixodeMAX,econclui:
47Cf.nota42.
64
O desempate pela versão A [apagamento] deHS [haplologia sintática] para o PB[português brasileiro] vem da análise com OCP abaixo de MAX, conforme aHierarquiaBásicadedeLacy(1999).Porela,sósequênciasidênticasdesegmentossofremhaplologia(porCo[coalescência]);sequênciasparcialmente idênticascomoasquesãopassíveisdesofrerHSnoPBnãosãopossíveis.
No caso de haver apagamento, a questão que se coloca é qual sílaba deve ser
apagada,aprimeiraouasegunda.DeacordocomCasali(1997),aslínguasdiferemquanto
aapagamentosvocálicosemcontextosV#V:émaiscomumoapagamentodeV1doque
deV2.Oautorestudou85línguase,dentreelas,55apagamV1,etodalínguaqueapaga
V2apagatambémV1(comexceçãode2línguasapenas–cf.Casali1997:496).
ParaMiller (1992) eOrtmann&Popescu (2000), por exemplo, háapagamentodo
primeiroousegundomorfema,adependerdecaracterísticasmorfológicas.
Há inclusive análises que propõem um apagamento de partes de sílaba, como
Malamud (2004) que, embora não afirme quais segmentos são apagados na haplologia,
apresentaoseguinteexemplodoinglês:
(123) proBABLY>proB’LY→proB(AB)LY ‘provavelmente’
Combasenoexemploem(123),observa-sequeossegmentoselididossãoavogal
/a/eosegundo/b/,deacordocomoautor.
Battisti (2004: 33) afirma que a sílaba produzida no output em português é a
segunda,combaseemexemploscomo:
(124) completamenTEDiferente/te+di/>completamen(TE)DIferente
No exemplo (124), o contexto segmental é formado por sílabas diferentes: as
consoantes /t + d/ diferem apenas no traço [vozeamento] (a primeira é [-vozeado] e a
segundaé[+vozeado]);easvogais/e+i/diferemnaaltura(aprimeiraé[-alto,-baixo]ea
segunda é [+alto, -baixo]). SegundoBattisti (2004), se o contexto segmental tiver sílabas
diferentes, como no caso apresentado em (124), do corpus da autora, o resultado da
65
haplologia (emqueasegundasílabadocontextoéproduzida,easegundanãoé),éum
indicativodequeaprimeiraéaapagada.
Finalmente, há uma terceira análise, que propõeque na haplologia temosos dois
processos:fusãoeapagamento(cf.Frota1995,Bisol2000,Tenani2002,Battisti2004).As
autorasseguemadefiniçãodehaplologiadeSáNogueira(1958),quedefendequehátrês
passosnesteprocesso(cf.Capítulo3,subseção3.2.1).Inicialmentetem-seoapagamento
daprimeiravogal,eemseguida,opcionalmente,afusãodasduasconsoantes.Umterceiro
passo ainda possibilita ou não o encurtamento da consoante fundida, como ilustram os
exemplosaseguir,apartirdasentençadeBisol:
(125) Omaca(CO)COmeutodasasbananas
a)macaC(O)COmeu b)macaC+COmeu c)macaCOmeu
apagamentodavogal [ma.ka.k.ko.mew] [ma.ka.k.ko.mew] [ma.ka.k.ko.mew]
fusãodasconsoantes ..... [ma.ka.k:o.mew] [ma.ka.k:o.mew]
encurtamento ..... ..... [ma.ka.ko.mew]
output [ma.ka.k.ko.mew] [ma.ka.k:o.mew] [ma.ka.ko.mew]
Em(125)a),noprimeiropasso,aconteceaelisãovocálicade/o/,fazendocomque
duas consoantes idênticas fiquem adjacentes /k.k/; em seguida, há fusão das duas
consoantesgeminadas/k:/(cf.(125)b),finalmente,aconsoantealongadapodeseencurtar,
gerandoahaplologiacompleta,comosevêem(125).
Como se pode observar, ainda são muitas as questões sobre o processo de
haplologia,especificamente,edaquedadesílaba,emâmbitomaisgeral–esperamosque
os resultados encontrados possam trazer mais luzes para uma futura resposta. Nosso
trabalhonãoversasobreestasquestões,eassumimosqueaquedadesílabanoportuguês
brasileiro tem uma natureza de apagamento (da primeira sílaba), com base em três
indicativos: (i) no português brasileiro, sílabas postônicas (isto é, a primeira sílaba do
contexto) são prosodicamente mais fracas que pretônicas (cf. Bisol 2003: 187, Leal &
Santos2010)esãoexatamenteaspostônicasassílabasquedesaparecemnahaplologia;
(ii) com base em Casali (1997), para quem, em contextos V # V, a grande maioria das
66
línguasapagamaprimeiravogal;e(iii)emBattisti(2004),segundoquemcontextosemque
asduassílabassujeitasaoprocessosãodiferentes,háapagamentodaprimeirasílaba,ea
segundapermanece.
67
CAPÍTULOIV
4. MetodologiaComo vimos na subseção 2.1, esta tese se fundamenta na teoria fonológica
gerativistaenomodelodasociolinguísticavariacionistaparaexaminardadosdeumaregra
variável–aquedadesílaba.48UtilizamosaferramentaestatísticaGoldVarbX(cf.Sankoff,
Tagliamonte & Smith 2005) para a análise, programa que, em linhas gerais, oferece ao
pesquisadoroprodutodecálculosestatísticosdeumaregravariável.
Nopresentetrabalho,avariáveldependente(binária)éapagarasílabaouproduzi-
la: estas duas maneiras de falar variam49 a depender dos tipos de contextos (sociais e
linguísticos). Com a variável dependente definida, buscamos as variáveis independentes,
quesãooscondicionamentosque“pressionam”apreferênciadofalanteporumaformaou
outra (apagar a sílaba ou não). Estas “pressões” são interpretadas pelo pesquisador via
hipóteses formuladas que podem interferir no processo, pela construção de grupos de
fatores independentes.Porexemplo,umadashipóteses levantadasnesta tese(combase
na literatura – cf. Tenani 2002, Battisti 2004, Pavezi 2006 e Leal 2006) é que não há
bloqueiodequedadesílabaemnenhumnívelprosódico;ainda,háum favorecimentodo
processoentre frases fonológicas.Assim,o informanteseria “pressionado”aapagarmais
sílabas no nível de frase fonológica (cf. subseção 4.1.4.1.4). Mas não é apenas uma
variável que pode interferir no processo, mas diversas, atuando simultaneamente na
variáveldependente–nestetrabalhosão14.ÉnestaetapaquevemosavaliadoGoldVarb:
o programa calcula como cada uma das variáveis independentes atua na variável
dependenteetambémfazumacomputaçãoemqueseobtémcomoasdiversasvariáveis
independentesatuam,emconjunto,navariáveldependente.Hádoistiposdecomputação
dosdados:naanáliseunivariada(ouunidimensional)obtêm-seresultadosdoefeitodeuma
48 Agradeço à Profª Drª Gisela Collischonn pelos comentários que me fizeram melhorar a exposição nestaseção.49O objeto de estudo numa pesquisa sociolinguística deve ser variável: o pesquisador busca dois (oumais)“modosdesefalaramesmacoisa”(Labov1972).
68
variável independente sobre a dependente (Guy & Zilles 2007: 98), ou seja, o programa
apresenta as frequências de uma variável independente em relação a uma dimensão da
variável dependente (Brescancini 2002) – por exemplo naanálise univariada, oGoldVarb
podeoferecerafrequênciadeaplicaçãodequedadesílabadeacordocomasconsoantes.
Na segunda análise, chamadamultivariada (oumultidimensional)Guy&Zilles (2007: 50)
explicam:
(...) é uma tentativa de modelar os dados como uma função de várias forçassimultâneas, interseccionadas e independentes, que podem agir em diferentesdireções.Defato,umdosprodutosdaanáliseéumamedidanuméricadopesoeda“direção”(favoráveloudesfavorável)decadaforça.
Há duas etapas na análise multivariada: o step-up e o step-down. O step-up é
realizadodeacordocomonúmerodevariáveisindependentes,comníveisde0ax,sendo
x o númerode variáveis independentesestatisticamente relevantesmais um (Brescancini
2002:36).Nonível0dostep-up,oprogramacalculaoinputdainteraçãodefatores,queé
aprobabilidadedeaplicaçãodaregra–ouseja,ovalorobtidonoinputdeveestarpróximo
daporcentagemdeaplicaçãodaregra(Brescancini2002).Nosoutrosníveisdostep-up,o
programafazcálculoscomcadaumadasvariáveis independentessignificativas, inserindo
nacomputaçãocadavariávelumaauma.Nostep-down,acomputaçãoéfeitaaocontrário,
retirandoasvariáveisindependentesnãosignificativasumaauma.Dostep-up,oprograma
escolheamelhorrodada(emtermosdesignificância)efazomesmocomostep-down.Guy
&Zilles(2007:166)explicam:
Normalmente,ostep-upeostep-downvãoescolherosmesmosgruposdefatorescomo significativos. Isto é, a lista dos grupos incluídos (selecionados) no step-upserá equivalente à lista dos grupos não excluídos no step-down. Assim sendo, nofinal,amelhorrodadadecadaprocedimentoseráigual:amelhoranálisedostep-upincluiráexatamenteosgruposquenãoforamexcluídospelostep-down.
Otermorodadaéusadoparaindicartodoequalquerprodutodoprocessamentode
dados com um programa de regra variável (Brescancini 2002: 29): para indicar a
computação dos dados feita pelo programa de regra variável (isto é, a comparação de
69
análisederegravariáveldeumconjuntodedados–Tagliamonte2006:266);eparaindicar
cadaumdoscálculosfeitosdentrodeumaetapadostep-upoudostep-down.
Uma vez explicitado o funcionamento da estatística na metodologia variacionista
empregada neste trabalho, passamos a tratar, na próxima subseção, do envelope de
variação.
4.1. Oenvelopedevariação
Nesta subseção, apresento omodo com que trabalhamos a variável dependente,
apresentandocontextosondeépossívelou impossíveldeavariávelocorrer (Guy&Zilles
2007:36):em4.1.1,estádispostocomoocorpus foiconstituído;em4.1.2,estácomo foi
feitaacoletadosdados,comasrestriçõesseguidas;em4.1.3estáafonéticaecomoforam
feitasas leiturasdosespectrogramas;na subseção 4.1.4estãoosgruposde fatoresque
podemintervirnavariáveldependente;eem4.1.5,estáosumáriodasvariáveislinguísticas
esociais.
4.1.1. OcorpusOcorpusdestapesquisaécompostopor48gravações50de1horacadae,paraa
análise, foramdesprezados os 10 primeirosminutos de cada entrevista.Os diálogos são
seçõesdotipodocumentador-informante,conduzidosdetalformaqueasconversasfossem
informais e os tópicos das entrevistas foram, basicamente, cinco: infância, adolescência,
namoro/casamento,trabalho,pontodevistadoinformantecomrelaçãoasuacidadenatal
(comoera,comoestáhojeemdia).51Os temas foram favoráveisaumaconversa “solta”,
comointuitodequeoinformanteprestasseatençãoaoconteúdodoqueestavafalando,e
desviassesuaatençãodomododefalar.52
No início de cada seção de gravação, os entrevistados eram informados de que
fariampartedeumapesquisasobrediferençasdeseviveremumacidadegrandeeuma
5045gravaçõesforamconduzidaspormime3delasforamfeitasporLíviaOushiro.Agradeçoimensamenteàpesquisadorapelaconduçãodestas3entrevistas.51Seoinformantenãoseguisseos5temas,nãohouveintervençãodopesquisador,ouseja,omaisimportantefoideixaraentrevistafluir.52Comesses temas conversacionais, buscamosnasentrevistas o vernáculo, definido por Labov (1972: 208)como“thestyleinwhichtheminimumattentionisgiventothemonitoringofspeech.”
70
cidade pequena, sendo cientificados do uso do gravador.53 Apesar da informalidade
buscada, os informantes estavam cientes da gravação, o que pode diminuir a
espontaneidadenasentrevistas(cf.discussãosobreoparadoxodoobservador,emLabov
1972).54
Abuscadeinformantes55foiamaisaleatóriapossível,controlando-seasseguintes
variáveisexternas(cf.detalhamentodasvariáveisexternasnasubseção4.1.4.2):
Tabela5 –VariáveisexternasparaaconstituiçãodocorpusVariáveis Fatores
ensinofundamentalEscolaridade
ensinosuperior
masculinoGênero
feminino
de20a35anosFaixaetária
maisde50anos
CapivariCidade
Campinas
Onúmerode informantesporcélula foi3, resultando48gravações:2 fatorespara
Cidadesx2fatoresparaEscolaridadex2fatoresparaGênerox2fatoresparaFaixaEtária
=16x3porcélula=48Informantes(48horasgravadas).
A partir destas entrevistas, fizemos uma primeira análise (com dados de 3
informantes),cujoobjetivofoiodeexaminarquaisdadossão,defato,variaçõesdequeda
desílaba–comofoivistonaseção3,hábloqueiodoprocessofonológicoemCapivariseas
consoantes não tiverem o mesmo ponto de C e/ou o mesmo valor para contínuo,
excetuando-sealgunsitenslexicais(cf.Leal2006esubseção5.1.1aseguir).Osresultados
da primeira análise forama base para se codificar e analisar o corpus variável de forma
53Paraas45gravações,utilizeiocomputadorToshibaSatelliteM35X-S161,osoftwareAudacity(versão1.2.1)e o microfone de lapela Clone, Multimedia System. Para as 3 gravações conduzidas por Lívia Oushiro, foiutilizadoumgravadorSony,modeloICD-P320IC.54Numaentrevistasociolinguística,opesquisadordevetentar,aomáximo,superaroparadoxodoobservador,definidopor Labov (1972:61-2) do seguintemodo: “(...) our goal is to observe thewaypeople use languagewhentheyarenotbeingobserved.(...)thestructurethatexistsindependentlyoftheanalyst.”55Todososinformantespassaram,pelomenos,2/3davidanacidadeemanálise(ealimoravamnaocasiãodagravação).Outraspessoasquemorarammenosqueistoforamdescartadasdocorpus.
71
precisa, excetuando-se os processos categóricos (cf. os resultados do trabalho piloto na
subseção5.1.1).
Napróximasubseção4.1.2,apresentoasrestriçõesfeitasparaacoletadosdados
e,em4.1.3,oenvelopedevariação.
4.1.2. Coletadedados:asrestrições
A seguir, apresentoas7restriçõesseguidasnacoletadostokensdocorpusque,de
formaresumida,são:i)hápelomenosumaconsoantenoataquedassílabasdocontexto;
ii)empréstimosforamcodificadosdeacordocomafonologiadoportuguês;iii)oscontextos
segmentaistêmumamesmacavidadeoralparaasconsoantes;iv)aprimeirasílabaéfraca;
v) computamos somente falas neutras; vi) o limite de frase entonacional foi usado para
definir se um dado seria computado ou não; e vii) casos de apagamento do clítico não
foramanalisados.
Aprimeirarestriçãofoiqueassílabasdocontextodequedadevemter,pelomenos,
umaconsoantenoataque,umavezqueoprocessoéentendidocomocondicionadopelas
consoantes do ataque. Ademais, contextos V # V podem produzir outros processos
fonológicosquenãoaquedadesílaba(cf.subseção3.2.2),comoexemplificadoaseguir:
(126) ogaTODEbotas>ogaDEbotas [ga.dʒɪ.ˈbɔ.tɐs] quedadesílaba
(127) ogaTOOlhou>ogat[o]lhou [ˈga.to.ˈʎow] degeminação
(128) ogaTOEStava>ogat[wi]stava [ˈga.twis.ˈta.vɐ] ditongação
(129) agaTAEStava>agat[i]stava [ˈga.tis.ˈta.vɐ] elisão
Nocontexto(126),háduasconsoantesnasduassílabas,oquepermiteaaplicação
daquedadesílaba.Poroutrolado,em(127)-(129),nãoháumcontextoparaesteprocesso,
já que a segunda sílaba não tem ataque: em (127), o processo fonológico que pode ser
implementado é degeminação, resultado de duas vogais adjacentes /o/ de gato e /o/ de
olhou; em (128), o contexto também é de duas vogais /o + e/ subjacentes que podem
ditongar, tornando-se [wi]; finalmente, em (129), pode ocorrer a elisão vocálica da última
vogal de gata, que aparece no contexto seguida de /e/ subjacente da primeira vogal da
72
palavraestava.
Outra restrição ao se coletar os dados foi que a interpretação dos segmentos (e,
consequentemente, a codificação do contexto segmental) foi feita de acordo com a
fonologiadoportuguês,comonosexemplosaseguir,retiradosdocorpus:
(130) catchup > /kɛ.te.ˈʃu.pe/
(131) internet > /interˈnɛte/
(132) honda > /ˈhoNda/
As palavras acima entraram no português por empréstimo: em (130) e (131), as
sílabasfinaisdaspalavrassãoabertas,com/e/final,aocontráriodoinglês,línguaemque
essas palavras são pronunciadas com sílabas travadas (catchup [ˈkætʃ.əp] e internet
[ˈɪn.tᴈr.nɛt]); em (132), o que está grafado com a letra h é o /r/ “forte”, encontrado em
palavras como carro. Para vocábulos estrangeiros como esses apresentados em (130) e
(131),adotamosapropostadeCamaraJr.(1969:28):
Apraxeortodoxaéescreverclube,Juditeeassimpordiante.Nasonomatopeias,emquenãoseadotaessapraxe,aletraconsoantefinaléentendidacomoumasílabaeficapressupostoumsilábiconãoescrito.
O autor exemplifica que há uma sílaba final fonológica em onomatopeias com os
versosdeGuerraJunqueiro,56emqueestepoeta fazuma rimade toc-toccomapalavra
reboque,eexplica(p.29):
Éfácil,comefeito,perceberquetocdoprimeiroequartoversorimacomreboque(eportanto -c equivale a -que) e temduas sílabas para fazer dos versos emque seachamhendecassílaboscomoosdemaisversos. (...)Na realidade,asconsoantesquepodemserdecrescentesemportuguêsefigurarnodeclivedasílaba,travandoosilábico,são/l/,/r/e/z/.”
56OsprimeirosversosdeAMoleirinha,deGuerraJunqueiro,apresentadosporCamaraJr.(1969:29)são:“Pelaestradaplana,toc-toc-toc,/Guiaumjumentinhoumavelhinhaerrante./Comovãoligeiros,ambosareboque,/Antesqueanoiteça,toc-toc-toc,/Avelhinhaatrás,ojumentinhoadiante”.
73
Assim, consideramos que não haja no português sílabas travadas com outras
consoantesquenãosejam/l/,/r/e/z/.
A terceira restrição foi queapenas trabalhamoscomoscontextossegmentaisque
tenhamCavidadeOral dasConsoantes iguais, isto é, os segmentos devem ter omesmo
pontodeCeomesmovalorde[contínuo],tomando-secomobaseosresultadosdoestudo
piloto(cf.subseção5.1).
A quarta restrição para a coleta dos dados foi que primeira sílaba do contexto
deveria ser fraca (cf. referências na seção 3), sem importar o acento nas sílabas
adjacentes,comoexemplificadonasgradesmétricasabaixo:57
(133) ElaaceiTANUmaboa. (b)
a cei TA NU ma[• x •] [x •]
(134) ...davamuitopresentepragenTETAMbém,né? (a)
gen te tam bém[x •] [• x]
(135) Fomosconstruin(DO)DEvagar.58 (d)
cons tru in do de va gar[y • x •] [y • x]
Asentençaapresentadaem(133)éumcasodenãoaplicaçãodequedadesílaba,
emqueaceita(•x•)estáseguidadapalavranuma,quepossuiumasílabaforteseguida
deoutrafraca(x•);em(134)(semaplicaçãodoprocesso),asegundapalavradocontexto
57Apartirdesteponto,asílaba forteestárepresentadapor “x”,a fracapor “•”e “y” indicaacentosecundário,comonagrademétricaem(135).Lembramosqueasletrasentreparêntesesindicamoinformantequeproferiuasentença.58Nestetipodeexemploapresentadoem(135),notamosqueaprimeirapalavradocontextodequedadesílabaé um verbo no gerúndio, construção que é comumente reduzida de construindo para construin(d)o – 1aconjugação: brincando > brincan(d)o, 2a conjugação: correndo > corren(d)o e 3a conjugação: construindo >construin(d)o. Assim, um tema a ser investigado é se a redução comumente aplicada ao gerúndio favorece,desfavoreceounão temqualquerefeitonaquedadesílaba.Assimcomoem(112),podemossuporquehajaumaordenaçãode regras, emqueamorfologia também temumefeito.Não trataremosdesteassuntonestatese,deixandoestaquestãopara trabalhos futuros (cf.nota44).AgradeçoàProfªDrªLucianiTenanipormeapontarestaquestão.
74
tambéméumiambo(•x),quepossuiumasílabafracaseguidadeoutraforte;eem(135),
contextoemquehouvequedadesílaba,háumacentosecundário(representadopory)na
primeirasílabadedevagar,seguidodeumafracaeoutraforte(y•x).
Adecisãodenãoincluirnapesquisasílabasfortesnaprimeiraposiçãodocontexto
segmental tem base na literatura, já que todos os autores concordamque esta deve ser
fraca (cf.Alkmim&Gomes1982,Tenani2002,Battisti 2004,Pavezi2006aeLeal2006).
Incluir dados sem importar o acento da primeira sílaba da segunda palavra também foi
determinadopela literatura;nestecasoosautores têm resultadoscontroversos:enquanto
Alkmim & Gomes (1982) afirmam que a segunda sílaba do contexto segmental deve
necessariamente ser fraca, Tenani (2002), Pavezi (2006a) e Leal (2006) encontraram
resultadosemqueasegundasílabapodeserforte.
Alémdeapresentaroscritériosqueutilizamosparacoletarostokensdasentrevistas
e analisá-los, é importante explicitar também que tipos de dados foram desconsiderados
(Tagliamonte2006:87).Levamosemcontasomentedadosde falaneutra,delimitadosde
acordo com o nível da frase entonacional. Assim, não foram computados hesitação (cf.
exemplo(136)abaixo),ênfase(ver(137))emomentosemqueoinformanteriu(cf.(138)).59
(136) Hesitação: ...dolaDODO...doseuArlindo (b)
(137) Ênfase: NaquelanoiTE,DEpoisjáacostumava,né? (a)
(138) Risos: Fieleraocachorro,saBE?BRINcandocomigo (a)
As palavras sublinhadas na sentença em (136) indicam hesitação na fala da
informante b, o que é confirmado pela repetição do clítico do; na sentença (137), houve
ênfase na palavra noite na fala da informante a; na produção da sentença (138), a
informantea riu.Casoscomoestesapresentamcontextossegmentais favoráveisàqueda
desílaba,quaissejam:em(136),ocontextoé/do+do/,de laDO+DO;em(137),é/te+
de/, de noiTE + DEpois, e em (138), é /be + briN/, de saBE +BRINcando. No entanto,
exemploscomoosapresentadosacimaforamdescartadosdacomputaçãoporquenãosão
59Apesardeterhavidovariaçõesemdadosdehesitaçãoeênfase,decidimosporanalisarapenasosdadosdefalaneutra,deixandoestestiposdevariáveisparatrabalhosfuturos.
75
neutros(casodaênfase)oucriammodificaçõesnaproduçãoquepoderiamafetarosdados
(casosdehesitaçãoerisos).
A fraseentonacional foi tomadacomo limitepara computarounãoos tokens.Por
exemplo,observeoparsingprosódicodasentençaabaixo:
(139) [...todososossosdocorpohumaNO.] I[NAterceirasérie] I (b)60
Em(139),háumafronteiradefraseentonacionalseparandoassílabasdocontexto
segmental/no+na/,eterceiraesérieaparecemsublinhadasparaindicarqueainformante
benfatizouestasduaspalavras.JáquenãoháênfasenoprimeiroI,ocontextodeossosdo
entrou na análise;61 mas o contexto formado pelas palavras terceira e série não foi
computado. Quanto ao contexto /no + na/, de humano na, delimitado por duas frases
entonacionais (a primeira sem e a segunda com ênfase), suas sílabas também não
entraramnacomputaçãodosdados–porcausadaênfasenasegundafraseentonacional
(terceiraesérie).
Em (139), o contexto /do + cor/ da sentença todos os ossosDOCORpo humano
ilustra outro tipo de sequência que não foi analisada. Ele está relacionado ao processo
fonológico de apagamento clítico. Veloso (2003) mostra que, diferentemente dos outros
processos fonológicos de sândi externo (ditongação e degeminação) no português
brasileiro, a elisão vocálica é bloqueada se a primeira palavra for monossilábica,
exemplificandoobloqueiodaseguinteforma(Veloso2003:58):
60Na fala da informanteb apresentada em (139), há 8 contextos de queda de sílaba: (i) toDOSOS, (ii)OSOssos,(iii)oSSOSDO,(iv)DOCORpo,(v)corPOHUmano,(vi)humaNONA,(vii)NATERceira,(viii)terceiRASÉrie. Primeiramente, esclarecemos que contextos com sílabas sem ataque não foram computados; emsegundo lugar,como foiditoem4.1.1, foram feitasduasanálisese,naprimeiradelas (cf.oestudopilotoem5.1),nãofoiempregadaaterceirarestrição,ouseja,casoscomoossosdoem(139)foramcontados–em/s+d/há umamesma cavidade oral,mas os valores para contínuo são diferentes, já que /s/ é [+contínuo] e /d/ é[-contínuo];.Nasegundaanálise(definitiva,cf.resultadosem5.3),foramapenascomputadosdadosemqueoscontextos consonantais tivessemumamesmaCavidadeOral (querdizer, ummesmopontodeCeomesmovalorde[contínuo])e,nestecaso,dadoscomoossosdonãoentraramnasrodadas.61Contexto/s+d/,inclusosomentenaprimeiraanálise(cf.notaanterioreoestudopilotoem5.1).
76
(140) Aespiga > *(A)espiga
(141) dAHungria > *d(A)Hungria
Pavezi(2006a),seguindoVeloso(2003), levantaahipótesedequehábloqueiode
haplologia se omonomorfema de ocupar a primeira posição no contexto do processo, e
estahipóteseseconfirmaemseucorpus, jáque,dos38contextos,numasequênciade+
item lexical, não houve nenhuma aplicação de haplologia, como exemplificado abaixo
(Pavezi2006a:67):
(142) ...aespigademilhodepois*(DE)DEbulhada...oquefica...chamasabugo
Alémdeste fator,umoutro–metodológico–secoloca.Observeoexemploabaixo
retiradodocorpusdopresentetrabalho:
(143) [pɾeˈsi.zʊ.faˈze]
Estetipodedadoéambíguo,pois,adependerdodialetodoportuguêsbrasileiro,a
produçãoapresentadaem(143)podeserresultadodeduassentenças:
(144) Precisodefazer
(145) Precisofazer
Em(144),háumclíticoentreosdoisverbosnosintagmae,em(145),oclíticonão
aparecenaproduçãodofalante.Em(143),nãotemoscomoafirmarsehouveapagamento
do clíticode em (145)ou seo informante jáestáproduzindoesta sentençasemo clítico
(portanto, não há apagamento, como em (144)). Em nossos dados, tivemos a seguinte
produção:
77
(146) OndeéoposTODESAúdehoje > [ˈpo.s:a.ˈu.de] (b)
a)1ocontexto:posTODEsaúde > [ˈpoz.dʃɪ.saˈu.dʃɪ]
b)2ocontexto:postoDESAúde > [ˈpos.tʊ.saˈu.dʃɪ]
Em(146),hádoispossíveiscontextosparahaplologia:(146)a)/to+de/e(146)b)/de
+sa/.Seocorresseaquedadesílabanoprimeirocontexto,oesperadoseriaaprodução
[ˈpoz.dʃɪ.saˈu.dʃɪ] e, se ocorresse no segundo contexto, o esperado seria a produção
[ˈpos.tʊ.saˈu.dʃɪ].Entretanto,a informanteb, alémdasílaba /to/, apagou tambémoclítico,
pos(TODE)saúde.Abaixoestáoespectrogramadoexemplo(146),emqueainformanteb
produziuasentençacomapagamentodeduassílabas:
Gráfico4 –Espectrogramadequedadoclítico:posTODESAúde>pos(TODE)saúde[ˈpos:aˈude]
O caso em (146) émenos claro quanto a uma possível variação dialetal (não há
como saber se o clítico está no nível fonológico em (146), posto de saúde, e depois foi
apagadoposto (de) saúde, ou seo informante já produziuposto saúde (semo clítico) e,
neste caso, apagou apenas a última sílaba de posto), no entanto, é um indício de que
devemostercautelaaoanalisardadosdestetipo.
Assim,pelacomplexidadeeespecificidadequehánessetipodequedadesílaba(o
78
apagamentodoclítico),dadosambíguoscomo(146)nãoforamcomputados.
Na subseção a seguir, apresento as técnicas utilizadas na análise fonética dos
dados.
4.1.3. Afonética
Na constituição de um corpus, os dados podem se apresentar ao investigador de
doismodosopostos:porumlado,háumapreferênciadequesejamosmaisespontâneos
possíveis; por outro, os dados devemser acusticamente perfeitos.Nesta dualidade entre
espontaneidade versus boa acústica, o pesquisador pode ponderar se é melhor uma
gravação em que o monitoramento da fala (pelo informante) é mínimo, mesmo que a
gravação resulte em ruídos – o que pode comprometer a análise fonética –, ou fazer as
entrevistasnumacabineacústica–comocustodaperdadeespontaneidadedoinformante,
prejudicandoabuscadovernáculo(cf.Labov1972:208).
No presente trabalho, procuramos unir as duas metodologias, buscando
espontaneidade na fala do informante (com temas conversacionais do cotidiano dos
informantes, entrevistas feitas na casa ou no trabalho da pessoa) e, ao mesmo tempo,
evitando aomáximo ruídos externos nas gravações. Por exemplo, para que o som fique
mais“limpo”,colocamosomicrofonedelapela(unidirecional)omaispróximoeconfortável
possível do informante;62marcamos, semprequepossível, asentrevistasparamomentos
silenciosos–ànoiteoulogonocomeçododia.Adicionalmente,todasasgravaçõesforam
feitasemmono,comumafaixaquevaiatéaproximadamente11kHz63(comumataxade
amostragemde22050Hz–cf.Ladefoged2003:26).
Nasgravações, emconsequência de se buscar o vernáculo, os sons não são tão
perfeitosquantoosdetestesnumacabineacústica.Então,seosegmentoparecetersido
apagado(nãoapareceasolturadeum/t/,porexemplo,típicadestestiposdesegmentos),
mas o tempo dele permaneceu, estes contextos foram contados como não aplicação de
62 Feagin (2002: 24) explica que “(...) some types of equipment have abiding advantages. The lavalieremicrophone improves the quality of the sound and minimizes the speaker's attention to the recordingmechanism.”Assim,ousodomicrofonedelapelanãoatrapalhaaespontaneidadedoinformante.63Umataxadeamostragemde22050Hzimplicaqueasgravaçõesnãovãoalémde11kHze,mesmocomapossibilidadedeperdade frequênciasmaisaltas, nãoháperdade informaçãonasanálisesparaopropósitodestatese.
79
quedadesílaba.Emalgunscasosextremos,emqueoespectrograma,osformantesouo
pitch nãoajudaramnapercepçãopara definir se houveounãoa aplicaçãodaquedade
sílaba,oscontextosnãoforamcomputadosnaanálise.
A coleta de todos os dados foi feita com a ajuda de dois programas: o Praat
(Boersma&Weenink2010),paraouvirasgravaçõeseexaminarosespectrogramas;eo
Excel,paracodificarearmazenarosdados.
Nas análises dos espectrogramas com o Praat (Boersma & Weenink 2010), a
frequênciadefaultutilizada foi visualizarossonsa6kHz (variando,porexemplo, comas
fricativas, em que aumentamos para 10 kHz ou 12 kHz, a depender do segmento), e a
resoluçãonatelavarioude0,5a1segundo,aproximadamente.
Comofoiditoem4.1.1,foramutilizados50minutosdecadagravação,eacoletade
todososdadosfoifeitadiretamentenoPraat:tomamoscadaarquivodegravação(emmp3)
e,apartirdele,criamosumarquivodecamadade texto (textgrid)paraquepudéssemos
anotarotempo(apresentadoemsegundospeloPraat)emquehouvecontextosdevariação
dequedadesílaba.Seaaplicaçãoouanãoaplicaçãodequedadesílabanocontextoem
questão fosse facilmente determinada (de oitiva), ficava anotado o tempodo contexto no
arquivodetextgriddoPraate,emseguida,eramanotadosnoExcel:otempodocontexto,
a primeirapalavra, a segundapalavra, o informanteea varianteproduzida (aplicaçãoou
nãoaplicação).Nestaetapa,forammarcadostambémquaiseramasconsoantesevogais
docontextoeasestruturasdasduassílabas,marcadasseparadamenteemumacolunano
Excel. Adicionalmente, marcamos também os fatores para prosódia (cf. 4.1.4.1.4), pois
marcar os níveis da hierarquia prosódica depende de como o informante proferiu a
sentença.Porexemplo,háumaúnica fraseentonacionalnasentença [o copoquebrou] I,
mas,seoinformanteproduzir[ocopo] I//[quebrou] I,emque“//”indicaumapausainserida
entre copo e quebrou, há duas frases entonacionais distintas. Fazendo estes
procedimentos,acoletade1informanteestavafinalizadae,nestemomento,voltávamosao
arquivo do Excel a fim de codificar as outras informações, contando com a ajuda dos
recursos oferecidos pelos programa.64 Terminadas as codificações de um informante,
64Os recursos do Excel ajudaram também na conferência dos fatores, a fim de verificar se uma sílaba /do/estavaindicadapordnacolunadeconsoanteseonacolunadevogais,porexemplo.
80
passávamosaoutro–destemodo,cadainformanteerafinalizadocomacodificaçãopronta.
Noscontextosemquehouvesseapossibilidadedeaplicaçãodoprocesso,ajanela
eradiminuídaparaafaixade0,5a1segundos,marcandonosarquivosde textgrid,além
dotempodaocorrência,tambémossegmentosrelevantes.Portanto,todososcontextosde
quedadesílabadestateseforamchecadosnosespectrogramas.
A fim de verificar se toda a sílaba foi elidida, a vogal pode ser mais facilmente
comprovada, observando-se se restou ou não formantes deste tipo de segmento. Com
relaçãoàsconsoantesplosivasdesvozeadas/t,p,k/,utilizamos3métodos:
(i) observarasolturadaconsoantenoespectrograma;
(ii) verificar,deoitivasehá1tempodaconsoante;
(iii) seestesdoisprocedimentosaindanãodeterminaremsehouveapagamento
ounão, comparar aduraçãoda consoante comumaconsoante igual aela
(aquela que estiver mais próxima na gravação, com as mesmas
característicasacentuais).
Paraplosivassonoras/d,b,g/,utilizamososmesmosprocedimentosapresentados
de (i)-(iii),mas émais fácil verificar a produção (ou não) destes segmentos do que a de
desvozeadas,jáqueaquelastêmoadicionaldavibraçãodascordasvocais,quepodeser
observadopelabarradesonoridade(há tambéma ferramentachamadapitch,65quepode
fornecer,pelográfico,seháaliumaconsoante[vozeado]).
Com relação às fricativas, além de utilizarmos os procedimentos de (i)-(iii), foram
aumentadosastamanhos(navertical)doespectrograma,passandode6kHza10kHzou
12 kHz, para visualizar frequências mais altas. Adicionalmente, observamos o pitch e a
barra de sonoridade das fricativas sonoras. Outro método utilizado foi tocar o som ao
contráriona identificaçãode fricativas (sound in reverse), vistoqueémais fácil identificar
umoffglidesefizerestesomparecerumonset(Ladefoged2003:27).
65SegundoLadefoged(2003:75)“Strictlyspeaking,pitchisanauditoryproperty–somethingyouhear.Itisnotanacousticproperty–anaspectofthesoundwavethatyoucanmeasure.Fromapracticalpointofviewwhendiscusssingthepitchofthevoice,itcanusuallybesaidtobetherateatwhichvocalfoldpulsesrecur,andthusthefundamentalfrequencyofthesoundwave.”
81
Finalmente, saliento que os procedimentos apresentados nesta subseção são
recursos adicionais de análise acústica. Para uma análise detalhada dos segmentos
(consonantais), refiro o leitor ao capítulo 3 de Ladefoged (2003) e ao capítulo 6 de
Ladefoged(2006).
4.1.4. Osgruposdefatores
Nesta subseção, apresento todas as variáveis linguísticas e sociais empregadas
neste trabalho. Lembramos que, na codificação definitiva, computamos apenas os
contextos em que houvesse cavidade oral das consoantes iguais (cf. as restrições em
4.1.2).Exemplificandocontextosdequedadesílaba,temos:
(147) per(TO)DAUnicamp,saBEBArãogeralDO,NÉ? (g)
Nasentençaproferidaem(147),foramcoletadososseguintestokens:
(148) 1otoken: per(TO)DA /to+da/
(149) 2otoken: saBEBArão /be+ba/
(150) 3otoken: GeralDONÉ /do+nɛ/
Nos contextos apresentados em (148)-(150), as consoantes têm uma mesma
cavidadeoral:em(148),háduascoronais [-contínuo] /t+d/ ;em(149),háduas labiais [-
contínuo] /b + b/; e em (150), há também duas coronais [-contínuo], com a diferença
também em nasalidade: /d/ é uma consoante oral e /n/ é uma nasal. Assim, há 3
ocorrênciasdequedadesílaba,sendoqueapenasem(148)houveaplicaçãodoprocesso.
Como dito, a variável dependente neste trabalho é binária, com uma variante de
aplicaçãodequedadesílabaeaooutradenãoaplicaçãodoprocesso:
Variáveldependentedequedadesílaba,comosfatores:
1. aplicação apagamentodesílabas2. nãoaplicação permanênciadesílabas
82
Apresentoabaixoexemplificaçõesdocorpusdavariáveldependente:66
(151) ...agen(TE)TAvafazendooscálculos. (m)
(152) ...agenTETAvanocéu,né? (a)
Em (151), observamos que a informante m produziu a sentença com queda de
sílaba; não houve aplicação do processo com o mesmo contexto /te + ta/, como
apresentadoem(152)nafaladainformantea.
As variáveis estão apresentados nas subseções a seguir: os linguísticos estão na
subseção4.1.4.1aseguireasvariáveissociaisem4.1.4.2.
Todas as exemplificações no envelope são do corpus utilizado neste trabalho, e
cadapardosexemplosilustraaaplicaçãoeanãoaplicaçãodequedadesílaba.
4.1.4.1. Osgruposdefatoreslinguísticos
Nassubseçõesqueseguem,estãoasvariáveisindependentesinternas(linguísticas)
quepodem favorecer/desfavoreceraquedade sílaba,quais sejam:ocontextosegmental
(ver subseção 4.1.4.1.1); a estrutura das sílabas (ver 4.1.4.1.2); os acentos (tanto da
palavraquepodesofreroprocessoquantodaquelaqueasegue–em4.1.4.1.3);aestrutura
prosódica (cf. 4.1.4.1.4); o tamanho da palavra sujeita à queda, contado em número de
sílabas(ver4.1.4.1.5);e,finalmente,afrequênciadeusodapalavrasujeitaaoapagamento
(cf.4.1.4.1.6).
4.1.4.1.1. Contextosegmental
Como foi visto na seção 3, Alkmim & Gomes (1982) afirmam que há um tipo de
apagamento de sílaba chamado pelas autoras de uma “regra diferente” (cf. Alkmim &
Gomes 1982: 50), pois é um processo fonológico que só ocorre com determinados itens
lexicais,comopode.Paraahaplologia,vimosqueocontextoconsonantalnãoserestringe
a /t/ e /d/ (Alkmim & Gomes 1982), já que há a possibilidade de aplicação com outras
66 Lembramos que os contextos segmentais do processo estão em maiúsculas e os parênteses indicamapagamento.Ainda,asletrasentreparêntesesdepoisdecadaexemploidentificamoinformantequearticulouasentença.
83
consoantes(paraoportuguêsbrasileiro,cf.Bisol2000ePavezi2006a).Leal(2006)unea
elisãosilábicaeahaplologiacomoumúnicoprocessofonológico(aquedadesílaba),pois
ambas têm as mesmas características fonológicas – estes segmentos devem ter,
internamente,omesmopontodeCeomesmovalorparaotraço[contínuo](cf.subseção
3.3).Comrelaçãoàsvogais,enquantoAlkmim&Gomes(1982)afirmamqueahaplologia
só ocorre com segmentos vocálicos [+alto] (sendo o processo bloqueado com outras
vogais),Pavezi(2006a)eLeal(2006)explicamquehávariaçãodehaplologiatambémcom
vogais [dorsal] (cf. seção 3.2.1), ou seja, não há bloqueio do processo com /a/. Assim,
decidimossistematizarquantitativamenteumapossívelvariaçãonaaplicaçãodoprocesso,
adependerdavogalquepreencheassílabas.
Combasenestesresultados,podemosentenderocontextosegmentalcomoomais
importanteefeito,jáqueéapartirdelequesedefineaquedadesílaba(cf.subseção3.2.1).
Assim, o contexto segmental foi codificado de várias formas, sempre unindo a
primeira e a segunda sílabas, como intuito de verificar quais combinações interferemou
nãonaquedadesílaba.Asconfiguraçõesforamasseguintes:
• IgualdadedeSegmentosnassílabasCV(versubseção4.1.4.1.1.1);
• CavidadeOraldasConsoantes(ver4.1.4.1.1.2);
• Cavidade Oral das Consoantes com Distinção de Segmentos [nasal] (ver
4.1.4.1.1.3);e
• CavidadeOraldasVogais(cf.4.1.4.1.1.4).
4.1.4.1.1.1. IgualdadedeSegmentosnasSílabasCV
Vimosquenahaplologia (cf. referênciasapresentadasem3.2.1), sílabas idênticas
ousemelhantestêmumamaiorpropensãoaoapagamento,ouseja,quantomaispróximos
foremostraçosdossegmentosnasduassílabas,háumamaiorprobabilidadedeaplicação
do processo. A hipótese para esta variável é que quanto mais parecidas forem
segmentalmenteassílabas,maioréapropensãoàqueda.Osfatoressão:67
67AgradeçoaoProfDrEmilioGozzePagottopormechamaraatençãoparaestavariável.
84
1. consoantesiguais,vogaisiguais2. consoantesiguais,vogaisdiferentes3. consoantesdiferentesem[vozeamento],vogaisiguais4. consoantesdiferentesem[vozeamento],vogaisdiferentes5. consoantesdiferentesem[nasal],vogaisiguais6. consoantesdiferentesem[nasal],vogaisdiferentes7. consoantesdiferentesem[anterior,distribuído]
Ditodeformaresumida,alémdeverificarsesílabasiguaisfavorecemoprocesso,o
intuitocomestavariáveldeIgualdadedeSegmentosnassílabaséverificarcomoostraços
[vozeamento], [nasal]e[anterior,distribuído]dasconsoantespodeminterferirnaquedade
sílaba.Comrelaçãoàsvogais,acadaespecificaçãodiferentedeconsoantes,propusemos
também vogais iguais e diferentes, a fim de verificar se as vogais também intervêm no
processo(cf.referênciasapresentadasem3.2.1).
Comoprimeiroeosegundofatores(cf.itens1e2acima),buscamosidentificaraté
que ponto a Igualdade de Segmentos nas sílabas pode favorecer o processo, como
exemplificadoabaixo:
(153) apren(DE)DEsenho (M)
(154) máquiNANAusina (D)
(155) apareci(DA)DOnorte (k)
(156) acabaDODEtrocaraletra (S)
Os exemplos (153) e (154) têm sílabas idênticas, /de + de/ e /na + na/,
respectivamente,enquantoque (155)e (156) têmconsoantes iguais /d+d/,masdiferem
quantoaocontextovocálico:/a+o/e/o+e/,respectivamente.Ahipóteseéquehajauma
tendência maior à queda nos exemplos (153) e (154) do que em (155) e (156), já que
aquelestêmsílabasidênticas.
Uma vez que há possibilidade de queda de sílaba com consoantes diferentes em
[vozeamento](cf.referênciasem3.2.1),oobjetivocomosfatores3e4éverificarcomoo
traço [vozeamento] pode intervir no apagamento de sílaba. Observe os exemplos (157)-
(160):
85
(157) ajudan(TE)DEpintor (C)
(158) ajudanTEDEpedreiro (C)
(159) mui(TO)DIfícil (j)
(160) muiTODIfícil (h)
As vogais são idênticas em (157) e (158), enquanto que as consoantes diferem
apenas em vozeamento, e houve aplicação na primeira e não aplicação no segundo
exemplo.Damesmaforma,osexemplos(159)e(160)sãodeaplicaçãodequedadesílaba
edenãoaplicação,respectivamente,e,alémdeasconsoantesdiferiremem[vozeamento],
háumadiferençatambémnasvogais,jáqueoscontextossão/o+i/.Ahipóteseéquehaja
maior propensão à queda de sílaba nos dois primeiros exemplos, já que as vogais são
idênticas.
ParaAlkmim&Gomes(1982),deLacy(1999),Tenani(2002),Battisti(2004),Pavezi
(2006a)eLeal(2006),otraço[vozeamento]nãointerferenahaplologia(enaelisãosilábica,
cf.Leal2006),poisoprocessonãoébloqueadoseasconsoantesdiferiremnestetraço.Ao
comparar, de um lado, os fatores 1 (consoantes iguais, vogais iguais) e 2 (consoantes
iguais,vogaisdiferentes)e,deoutro,osfatores2(consoantesdiferentesem[vozeamento],
vogais iguais)e3(consoantesdiferentesem[vozeamento],vogaisdiferentes),poderemos
verificardeque formao [vozeamento]pode interferirnoprocesso:senão interfere (neste
caso,a tendênciaentreos fatores1e2versus3e4deveseramesma),ouseatuana
quedadesílaba(aqui,haveriaumadiferençanatendênciade1e2versus3e4).
Os fatores 5 e 6 indicam contextos consonantais que diferem em [nasal], sem
importarseestetraçoestánaprimeiraounasegundaconsoante:
(161) conversan(DO)NOtelefone (A)
(162) choranDONOmeiodocaminho (N)
(163) do(NO)DOmercado (T)
(164) doNODObar (B)
(165) chegarnu(MA)POsiçãomelhor (k)
(166) costuMAPEdir (S)
86
Os exemplos(161)e(162)têmumacoronaloral/d/seguidadeumanasal/n/esão,
respectivamente, casosdeaplicaçãoedenãoaplicaçãodequedadesílaba;em (163)e
(164),asconsoantestambémdiferemem[nasal],masnestesdoisexemplosocontexto/n+
d/édeumacoronalnasalseguidadeumaconsoanteoral;oscasosem(165)e(166)são
de contextos /m + p/, em que além da diferença em [nasal] das consoantes, as vogais
tambémsediferem(cf./a+o/em(165)e/a+e/em(166)).
As consoantes nasais são [-contínuo] na cavidade oral; assim, nos exemplos de
(161)-(166), os contextos têmconsoantes [-contínuo]naprimeiraenasegundaposições.
Asanálisesexistentesapontamqueasconsoantesdevemser/t/ou/d/(Alkmim&Gomes
1982)outerummesmopontodeCe[contínuo](Leal2006).Sesóestesdoistraçosforem
importantes,aprevisãoéque,em/n+d/,porexemplo,tenhaamesmatendênciaàqueda
desílabadoque/t+d/,porexemplo.Assim,isolarasnasaispermiteobservarsemaisum
traço,asaber[nasal],influinaaplicaçãodoprocesso.
A análise experimental de Leal (2006) aponta que há possibilidade de queda de
sílaba se as consoantes tiverem uma diferença em [anterior, distribuído], como
exemplificadoabaixo(cf.Leal2006:84):
(167) babo(SA)CHEIrosa
Em (167), as duas consoantes são coronais [+contínuo], a primeira é [+anterior,
-distribuído]easegundaé[-anterior,+distribuído],eaquedadesílabapodeacontecer.É
interessantenotarque,seopontodeCdeveserigual,tudoabaixodeveriaserigual,mas
[anterior,distribuído]édiferenteeocorreu(cf.arepresentaçãodageometriadetraçosem
Clements&Hume(1995:292)eGráfico2nasubseção2.2.1).Assim,aperguntaquesefaz
é: se as consoantes forem diferentes em [anterior, distribuído], a aplicação é produtiva?
Assim, o fator 7 deve indicar se há um efeito quantitativo no caso de as consoantes
diferiremnestestraços,comoexemplificadoaseguir:
(168) ...laçarcabe(ÇA).JÁvamosfazeruma? (J)
(169) paSSAJAguariúna (p)
87
Oscontextosconsonantaisem(168)e(169)sãoosmesmos/s+ʒ/,ouseja,estes
segmentosdiferemem[vozeamento]e[anterior,distribuído];asvogaissão/a+a/idênticas
eoprocessopodeseraplicado,comoem(168),ounão,comoem(169).
Neste fator, não distinguimos as vogais porque os dados não tiveram uma
distribuição ortogonal: para consoantes diferentes em [anterior, distribuído], com vogais
iguais, a frequência foi de apenas 2/28, enquanto que para consoantes diferentes em
[anterior, distribuído], com vogais diferentes, houve knockout (de 27 dados, não houve
nenhuma aplicação de queda de sílaba). Dessa forma, esses dados foram unidos num
únicofator, totalizandoumafrequênciade2/55–apesardobaixonúmerodeocorrências,
esse tipo de configuração possibilitou obtermos os pesos relativos das análises
multivariadas.
Finalmente,valesalientarquetodasassílabasquetenhamestruturasdiferentesde
CV não entraram nesta variável por razões qualitativas, já que, a fim de verificar a
Igualdade de Segmentos das sílabas, devemos controlar a Estrutura Silábica – de outra
forma,haveriamaisinterferênciasnavariáveldoqueapenasossegmentos.68Porexemplo,
paraanalisarmossílabasCCV,deveríamosterdecontrolartantoosegmentoquantoasua
posição na sílaba. Chamamos a atenção que não estamos afirmando que a estrutura
silábica não interfere na queda de sílaba; ao contrário, esta foi uma variável controlada,
comose vêem4.1.4.1.2.Devemosesclarecerqueo intuito comesta variável foi ver até
que ponto uma gradação de sílabas com segmentos totalmente iguais até sílabas com
segmentos totalmente diferentes pode interferir no processo.E este objetivo só pode ser
atingidocomsílabasquetenhamestruturasiguaisCV,emboracomconteúdosdiferentes.
4.1.4.1.1.2. CavidadeOraldasConsoantes
Outro modo de rodar o contexto segmental foi codificar a primeira e a segunda
consoantes de acordo com suas cavidades orais (ponto deC e valor para [contínuo]), e
propusemososseguintesfatores:
68Nãolevamosemconta2243tokens,quaissejam:1315decontextosCV+outros,318tokensdeCCV+outros,46 deCCVC+outros, 497 ocorrências deCVC+outros, 4 deCVCC+outros, 2 ocorrências comCCgV+CV, 54tokens de estruturas CgV+outros, 3 de CgVC+outros, 1 com CVg+outros e 3 contextos com sílabasCVgC+outros.
88
1. duasconsoantescoronais[-contínuo];2. duasconsoantescoronais[+contínuo];3. duasconsoanteslabiais[-contínuo];4. duasconsoanteslabiais[+contínuo];e5. duasconsoantesdorsais.69
Observeassentençasaseguirretiradasdocorpus,deaplicaçãoenãoaplicaçãode
quedadesílaba,emqueexemplificocadaumdosfatoresapresentadosacimade1-5.Para
uma melhor visualização, contextos com duas consoantes coronais [-contínuo] estão
representadaspor/t+t/;ambientes/s+s/representamduasconsoantescoronais[+contínuo];
/p+p/denotaduasconsoanteslabiais[-contínuo];/f+f/,duasconsoanteslabiais[+contínuo];
eduasconsoantesdorsaissãodescritaspor/k+k/:
(170) t+t faculda(DE)DEletras (P)
(171) t+t quanDOTÁsaindoacriançadadaescola (a)
(172) s+s apolí(CIA)CHEgou (B)
(173) s+s nãopreciSASEmatar (b)
(174) p+p tem(PO)PRAaposentadoria (k)
(175) p+p mesMOPRAmim (i)
(176) f+f nãota(VA)FAzendonadadeerrado (m)
(177) f+f taVAFAzendopós (P)
(178) k+k lógi(CO)QUEnão (K)
(179) k+k nunCACAí (p)
Naproduçãoapresentadaem(170),háduascoronais[+vozeado],comaplicaçãode
quedadesílaba;em(171),asconsoantesdiferemem[vozeamento]enãoháaplicaçãodo
processo.Estesdoiscasosforamcodificadoscomocoronais/t+t/[-contínuo],semimportar
69 Nesta tese, todas as consoantes dorsais encontradas no corpus são [-contínuo] – /k/ e /g/. No portuguêsbrasileiro,o/r/forteemratopodeserproduzidodeduasformas:comum[h],umalaringal[+contínuo,-vozeado],como em [ha.tʊ]; ou com [x], uma dorsal [+contínuo, +vozeado], como em [xa.tʊ]. No entanto, este tipo decontexto /r+r/ forte não foi encontrado no corpus. Assim, já que a outra possibilidade de dorsais [x] para oportuguês brasileiro [+contínuo] não apareceu no corpus, deste ponto em diante, o valor de [contínuo] paradorsaisnãoserámaisindicado–serásempreumadorsal[-contínuo].
89
otraço[vozeamento],jáquenestavariável,observamosapenasacavidadeoral.Em(172),
ocontextoconsonantalé /s+ʃ/e,em(173),é /z+s/.Estescasosforamcodificadoscomo
coronais [+contínuo] e, como se nota nos exemplos, não importam os traços [anterior,
distribuído],ouseja,controlamos,nestavariável,acavidadeoral(pontodeCe[contínuo])–
o traço [vozeamento] está abaixo de [laringal], cf. no Gráfico 2 na subseção 2.2.1. No
exemplo (174), há aplicação com as consoantes desvozeadas /p+p/, enquanto que não
houveaplicaçãodoprocessocomossegmentos /m+p/ (ver (175)).Acodificaçãoaqui foi
unir estes casos emum fator labial [-contínuo], já que o traço [nasal] não importa, como
vemos a diferença entre as consoantes em (175). As labiais [+contínuo] /f+f/ foram
codificadas como apresentado nos exemplos (176) e (177), em que os contextos
consonantais são ummesmo (/v + f/) e, novamente, as diferenças em [vozeamento] não
foram levadas em conta. Finalmente, os exemplos (178) e (179), com contextos
consonantais/k+k/,representamcomoforamcodificadasasdorsais.
Ahipótese levantadaparaestavariáveléqueháumamaior tendênciaàaplicação
de queda de sílaba com segmentos coronais, uma vez que estes segmentos são
subespecificadosemdiversaslínguas(cf.Paradis&Prunet1991eFikkert&Levelt2006)e,
mesmonoportuguêsbrasileiro,estudosreportamqueécom/t/e/d/queaquedadesílaba
ocorre(Alkmim&Gomes1982).
4.1.4.1.1.3. CavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode[nasal]
Asconsoantes foramcodificadasnovamentee,alémdedistinguirmosos traçosde
cavidade oral (o ponto deC e o valor de [contínuo]), separamos tambémas consoantes
nasais.Osfatoresestãoapresentadasabaixo:
1. duasconsoantescoronaisorais[-contínuo];2. duasconsoantescoronaisorais[+contínuo];3. duasconsoanteslabiaisorais[-contínuo];4. duasconsoanteslabiaisorais[+contínuo];5. duasconsoantesdorsais;e6. contextoscomumaouduasconsoantesnasais
90
Decidiu-seporanalisarocomportamentodasnasaisporquehádois trabalhosque
naliteraturaquetratamdequedadesílabacomnasais.Noprimeirodeles(cf.Tabela2na
subseção 3.2.1) Pavezi (2006a) reporta que houve 5% de aplicação de haplologia com
segmentos [nasal]. Adicionalmente, com o objetivo de verificar se há uma consoante ou
vogalquefavoreçaahaplologia,bemcomoseháalgumtipodesegmentoquebloqueieo
processo, além da análise dos dados naturalísticos, Pavezi (2006a) conduziu um estudo
experimentalcomseisdiferentestiposdecontextoscomnasais,cujosresultadosapresento
aseguir:
Tabela6 –Aplicaçõesdehaplologiaemcontextoscomconsoantes[nasal]notestedePavezi(2006a:115)
sentença contexto apl ñApl %apl total
1)AcaMAMAgníficaquebrouontem /ma.ma/ 4 16 20 20
2)OtiMEMIlagrososaiuvencedor /me.mi/ 11 9 55 20
3)OagrônoMOMUçulmanoacordoucedo /mo.mu/ 11 9 55 20
4)AaluNANAmoradeirachegouatrasada /na.na/ 9 11 45 20
5)OtelefoNENIpônicoduramais /ne.ni/ 12 8 60 20
6)OaluNONUtridoaprendemais /no.nu/ 11 9 55 20
total 58 62 120 120
Como se observa na Tabela 6, a haplologia pode ser aplicada com quaisquer
contextoscomconsoantesnasais,e/ne+ni/éomaisfavorável,segundoPavezi(2006a).
Afimdeverificarseháalgumcontexto(segmentalevocálico)quepossabloqueara
quedade sílaba (ou seja, elisão silábicae haplologia), Leal (2006) conduziu um teste de
(a)gramaticalidade,everificouque:70
i)ahaplologiaépermitidacom/m+m/e/n+n/:
(180) alar(ME)MOderno (teste)
(181) more(NA)NERvosa (teste)
70Osexemplos(180)-(185)eadiscussãosobreosresultadosdotesteestãonasubseção6.1deLeal(2006).
91
ii) aelisãosilábicaépermitidasomentenasequência [oral+nasal]; emcontextos
[nasal+oral],hábloqueio:
(182) /b+m/ goia(BA)MAdura (teste)
(183) /t+n/ consoan(TE)NAsalizada (teste)
(184) /m+b/ ?perfu(ME)BAcana>perf[uba]cana (teste)
(185) /n+d/ ?pági(NA)DIfícil>pág[idi]fícil (teste)
A partir destes resultados de Leal (2006), foi feita uma análise com um corpus
naturalístico,71 em que o único contexto de haplologia com duas nasais foi de não
aplicação,comoapresentoaseguir:
(186) ÉumfoNENORmal... (BGN)
Com relaçãoà elisão silábica, houvediversas ocorrências, todas de [oral + nasal]
(ouseja,sequências[nasal+oral]nãoapareceramnasgravações),exemplificadoaseguir:
(187) ...pendura(DO)NOpau-de-arara... (ALES)
Assim, examinaremos se e de que forma as consoantes nasais podem atuar na
quedadesílaba;comesteobjetivodeopornasaisvs.orais,decidimosporunirascoronais
[nasal] e as labiais [nasal] num único fator. Não há, até onde sabemos, estudos que
reportemoutrasdiferençasqueestãoalémdotraço[vozeamento],comexceçãodePavezi
(2006a) e de Leal (2006). Além disso, não há nestes trabalhos uma análise quantitativa
(univariadasemultivariadas),comofoifeitonestatese.
Apresento a seguir exemplos do nosso corpus com diferenças em [nasal] nas
consoantes:
71 Os exemplos (186) e (187) e a discussão sobre os resultados dos dados naturalísticos podem serencontradosemLeal(2006)(cf.subseção6.2).
92
(188) deita(DO)NOchão (J)
(189) nãocoMOPOlenta (d)
(190) va(MOS)MARcar (O)
(191) compraumamáquiNANOva (K)
Exemploscomo(188)-(191)entraramno fator6apresentadaacimaparacontextos
nasais,semimportarseanasalestánasegunda(cf.exemplo(188))ounaprimeirasílaba
docontextosegmental(ver(189))ouemambasassílabas(cf.(190)comnasais/m+m/e
(191)comnasais/n+n/).
Não temos uma hipótese formulada para esta variável que vá além daquela
apresentada na subseção anterior – a hipótese levantada em 4.1.4.1.2 é que, por sua
subespecificação,ascoronaissãoasconsoantesmaiselididas–,maso intuitoéverificar
como se comportam também as nasais. Ainda, o objetivo é verificar também qual das
configuraçõesdeconsoantes(semcolocarecolocandoasnasaisnumfatoràparte)émais
relevanteparaaaplicaçãodoprocesso.
4.1.4.1.1.4. CavidadeOraldasVogais
A última variável para o contexto segmental foi criada para observar qual é o
comportamentodasvogais,cujosfatoresapresentoaseguir:
1. duasvogaiscoronais2. duasvogaisdorso-labiais3. duasvogaisdorsais4. coronal+dorsal5. dorso-labial+dorsal6. dorso-labial+coronal7. coronal+dorso-labial8. dorsal+coronal9. dorsal+dorso-labial
Comoseobservaacima,houve9possibilidadesparaocontextovocálico.Nostrês
primeiros,ascavidadesoraisdasvogaissãoidênticas:coronal+coronal,quecompreende
asvogais/i/,/e/e/ɛ/;dorso-labial+dorso-labial,incluindoasvogais/u/,/o/e/ɔ/;edorsal+
93
dorsal,contextocomduasvogais/a/.Aspossibilidadesapresentadasem4-9sãotodasas
outrascombinaçõescomvogaiscoronal,dorso-labialedorsal.
DeacordocomLeal(2006)(cf.subseção3.2.1),nãoimportamaanterioridadeoua
altura na combinação dos traços das vogais do contexto segmental para a aplicação de
queda de sílaba; os resultados de Pavezi (2006a) apontam que há a possibilidade de
aplicaçãocomsegmentos[dorsal].Assim,ahipóteseéque,diferentementedoqueafirmam
Alkmim&Gomes(1982),hávariaçãocomvogaisdiferentesde[+alto].
4.1.4.1.2. EstruturaSilábica
A análise de Alkmim & Gomes (1982) para haplologia (cf. seção 3) prevê que a
estruturadasílabasujeitaàquedadevesernecessariamenteCV,enãohárestriçõespara
asegundasílaba;noentanto,encontramosnaliteraturacasosdequedacomsílabasCCV,
porexemplo, comoemsintagmascomden(TRO)+DE (cf.Battisti 2004,Pavezi2006ae
Leal 2006). Logo, é necessário verificar se e como a estrutura da sílaba sujeita a
apagamentopodeinterferirnaquedadesílaba.
Além de sílabas CV, controlamos também estruturas com ataque (CCV) e coda
ramificados (CVC) e sílabas com outros tipos de estruturas (neste caso, são todas as
estruturas da primeira sílaba que são diferentes da estrutura da segunda sílaba), como
apresentadoaseguir:
1. CV+CV duassílabassimples2. CVC+CVC duassílabascomcodaramificada3. CCV+CCV duassílabascomataqueramificado4. CV+outros sílabasimplesseguidadeoutrotipodeestrutura5. CVC+outros sílabacomcodaseguidadeoutrotipodeestrutura6. CCV+outros sílabacomataqueramificadoseguidadeoutrotipodeestrutura7. outros+outros duassílabascomoutrostiposdeestruturas(quenãoasde1-6)
Exemplosdecontextoscomestruturassilábicasiguaissãoapresentadosabaixo:
94
(192) CV+CV beira(DA)DApista (F)
(193) CV+CV sãobernarDODOcampo (Q)
(194) CVC+CVC cuidandodosne(TOS)DOSoutros72 (m)
(195) CVC+CVC vendeMOSPORcentoeoitentamil (d)
(196) CCV+CCV iasem(PRE)PRAcasa (q)
(197) CCV+CCV semPREPROcureidevolver (g)
Há variação de queda de sílaba em contextos como (192) e (193), em que as
estruturassilábicassãoCV,eestescasosforamcodificadoscomoapresentadonofator1;
em (194) e (195), também pode haver apagamento ou não aplicação do processo com
estruturas que tenham coda,73 codificados como 2; da mesma forma, sílabas CCV com
ataquevariam,comoexemplificadoem(196)e(197),codificadoscomoapresentadoem3.
Avariaçãoacontece tambémemcontextosque tenhamestruturasdiferentesentre
si,comodemonstramosexemplosaseguir:
(198) CV+outros po(DE)DEIxar (E)
(199) CV+outros orozimBOMAIA (M)
(200) CVC+outros verosami(GOS)CREscer74 (D)
(201) CVC+outros boDASDEprata (i)
(202) CCV+outros osemes(TRE)TAMbémnãoédiferente (k)
(203) CCV+outros cenTRODAcidade (v)
(204) outros+outros previdên(CIA)SOcial (V)
(205) outros+outros winDOWSNOventaeoito (K)
Em(198)e(199),aprimeirasílabaéCV,seguidadeoutrostiposdeestruturas:em
72Noexemplo(194),novamentepodemosobservarqueamorfologiapodeinterferirnaquedadesílaba,jáque/s/de/dos/éa2amarcadepluralnosintagmadoSnetoSdoSoutroS–assuntoaserestudadoemtrabalhosfuturos(cf.tambémnotas44e58).AgradeçoàProfªDrªEsterMirianScarpapormechamaraatençãoaestetema.73SeguindoWetzels (1997,2000),aprimeirasílabadapalavramuito foiconsideradacomoumaCVC, jáquepodemosinterpretarquenonívelsubjacenteestapalavraé/muiNto/que,naproduçãodafalatorna-se[mũjtʊ].74Cf.nota72.
95
(198),asegundasílabaéumditongoCVgque,narealizaçãofonética,podeserproduzida
comaperdadoglide (éumditongo leve),enquantoque,em(199),asegundasílabatem
umaestruturaCVgV,ouseja,háumglideambissilábico/maja/entreasvogaisdorsais/a/.
Estes casos foram codificados como 4, em que unimos todos os contextos de sílabas
simplesseguidasdequaisqueroutrostiposdeestrutura.Osdoisexemplosseguintes(200)
e(201)foramcodificadoscomo5,ouseja,sãocasosemqueumasílabacomcodaaparece
seguidadeoutrostiposdeestrutura:em(200),aprimeirasílabaCVCestáseguidadeuma
CCVdecrescere,em(201),deumasílabacomestruturasimplesCV.Em(202)e(203),a
estruturadaprimeirasílaba temataque ramificado,sendoque,em (202)estáseguidade
umasílabacomcodanasalCVCeem (203),aestruturadasegundasílabaéCV,sendo
codificadoscomo6–sílabascomcodaseguidadeoutrostiposdeestruturas.Finalmente,
oscasosem(204)e(205)exemplificamestruturasdiferentesentresiequenãosejamCV,
CVCouCCVnaprimeiraposiçãodocontexto:aprimeirasílabaem(204)éCVV,umhiato
fonológico,eestáseguidadeumasílabasimples;eem(205),aprimeirasílabaéCVgC,um
ditongoverdadeirocomcoda,tambémseguidadeumasílabacomestruturaCV,casosque
foramcodificadoscomo7,duassílabascomoutrostiposdeestruturas–diferentesdeCV,
CCVeCVC.Ecomosepodeobservar,emtodosestescasos(198)-(205),houvevariação
dequedadesílaba.
A hipótese para esta variável é que quanto mais leve for a sílaba sujeita ao
apagamento,maiorseráatendênciaàqueda.Assim,seocontextotiverambasassílabas
comestruturaCV,ahipóteseéquehajaumfavorecimentodaquedadesílaba;poroutro
lado, se as sílabas sujeitas ao apagamento tiverem coda, a hipótese é que há um
desfavorecimentodoprocesso.LevantamosestasduashipótesescombaseemAlkmim&
Gomes(1982)eCollischonn(2007),jáqueasautorasafirmamqueésomentecomsílabas
CVnaprimeiraposiçãodocontextosegmentalquehápossibilidadedequedadesílaba.E,
se é importante que as sílabas sejam idênticas ou parecidas (cf. propostas da subseção
4.1.4.1.1.1),sendoambasCV,aquedaseráhipoteticamenteimplementadamaisfacilmente
(cf.Collischonn2007,paraquemasestruturasdas sílabasquepodemsofreroprocesso
sãooriginalmentebem-formadas).
Finalmente,comrelaçãoaestruturasCCV,nãotemosumahipótese,masointuitoé
96
verificar como a queda de sílaba é conduzida se a sílabas sujeita à queda tiver uma
consoanteemsegundaposiçãodoataque.Demodo informal,aperguntaparaestruturas
CCVé:asegundaconsoantedoataque“atrapalha”aquedadesílabaouéinerte?
4.1.4.1.3. Métrica
Para esta variável, a hipótese que levantamos está relacionada à sequência dos
acentosdaprimeiraedasegundapalavras:oresultadodequedadesílabadeveteruma
tendênciaaoPAR(cf.subseção2.2.3),ouseja,aaplicaçãodoprocessodeveráfazercom
queosacentos fortese fracossealternem.Codificamososdados levando-seemcontao
contexto de queda de sílaba, para depois observarmos se o processo otimiza ritmo do
contextoanalisado.
Paraaprimeirapalavra, levamosemcontadesdeoacentoprimárioatéo finalda
palavra,considerandoumasílaba forteseguidadeduas fracas [x • • ]eumasílaba forte
seguida de uma fraca [ x • ], já que palavras com a última sílaba acentuada não foram
analisadas; para a segunda palavra, observamos se a primeira sílaba portava acento
primário[x],secundário[y],clítico[c]ouéfraca[•].
Tendoemvistaacombinaçãodeacentosdaprimeiraesegundapalavras,nossos
fatoresforam:
1. [x••#•] lapsode3sílabas2. [x••#c] lapsode3sílabas(aúltimaéumclítico)3. [x••#y] duassílabasfracasentreumacento1árioeumacento2ário4. [x••#x] duasfracasentreduasfortes5. [x•#•] lapsode2sílabas6. [x•#c] lapsode2sílabas(aúltimaéumclítico)7. [x•#y] umasílabafracaentreumacento1árioeumacento2ário8. [x•#x] umasílabafracaentreduassílabasfortes
Aotimizaçãodo ritmodependedecomoentendemosograudeproeminênciadas
sílabas.Seassumirmosque clíticos são tão fracosquanto sílabas fracas (não clíticas), o
esperadoéqueassequências[x••#x],[x••#y],[x•#•]e[x•#c],aosofrerem
apagamento,tornem-sesequênciasótimasritmicamente,poisosresultadosserão[x•#x],
[x •#y ], [x#• ] [x#c ], respectivamente.Assequências [x• •#• ]e [x• •#c ],se
97
sofreremapagamento,melhoramritmicamente(poisaoinvésde3sílabasfracas,passama
terapenas2),masnãosãoconsideradasótimas.Finalmente,assequências[x•#x]e[x•
# y ], se sofrerem a queda de sílaba, criam contextos de encontro acentual. A hipótese,
neste caso, é que a queda de sílaba tenderá a ser evitada em contextos que criem
encontrosdeacento.
Como vimos em (48) (cf. subseção 2.2.3 e referências ali citadas), assumimos a
seguintehierarquia,emqueosacentosestãoorganizadosdomaisforteparaomaisfraco:
(206) Hierarquiadeacento:
acentoprimário>acentosecundário>clítico>sílabafraca
acentuadas desacentuadas
Como se vê em (206), as sílabas acentuadas podem ter dois graus de acento
(primárioesecundário)esílabassemacentopodemserclíticosou fracas.Decidimospor
identificar separadamente fracas, clíticos, secundário e primário de forma a observar se
estes produzem uma distribuição diferente quando à aplicação da regra. Em outras
palavras,apesardeosacentosprimáriosesecundáriosseremconsiderados fortes,como
representadoem(206),primáriossãomaisfortesdoquesecundários;damesmaforma,há
umahierarquiaentreumclíticofonológicoeumasílabafraca,jáqueaquelaémaisfortedo
queesta.
Exemplosdocorpusparaestavariávelsãodadosabaixo:
(207) [x••#•] naépoCACAsava (V)
é po CA CA sa vax • • • x •
(208) [x••#c] lógi(CO)QUEnão (K)
ló gi CO QUEx • (•) c
98
(209) [x••#y] ériCACOmeçou (b)
é ri CA CO me çoux • • y • x
(210) [x••#x] aúni(CA)COIsaqueeunãofiz (K)
ú ni CA COI sax • (•) x •
(211) [x•#•] cheganDODIretodaembratel (K)
che gan DO DI re to• x • • x •
(212) [x•#c] veiochama(DA)DAunicamp (b)
cha ma DA DA• x (•) c
(213) [x•#y] uMAMAravilha (n)
u MA MA ra vi lhax • x • y •
(214) [x•#x] elesnãofizeramna(DA)DIssoaí (a)
na DA DI ssox (•) x •
Nosexemplos(207)e(208),aexpectativaédequehajaumatendênciaquedade
sílaba,jáquesuaaplicaçãofazcomqueoritmopassedeumlapsode3sílabasparaoutro
de 2 sílabas. Nestes dois casos, o resultado não é ótimo (já que duas sílabas fracas
continuam adjacentes), mas a sequência rítmica melhora. As sequências métricas em
(209)-(212) têm em comum lapsos acentuais de 2 sílabas. Ao ser aplicada, a queda de
sílabatornaassequênciasótimas:em(209),[x••#y]>[x•#y]eem(210)[x••#x]>
[x •#x ],ouseja, ficauma fracaentreduassílabascomacento (secundárioem(209)e
primárioem (210)).Paraoscasosem (211)e (212), sehouveraplicaçãodoprocesso,o
resultadoéumritmoótimo,emque[x•#•]>[x•#•](verexemplo(211))e[x•#c]>
[x•#c](cf.(212)),ouseja,aexpectativaétambémdetendênciaàquedadesílaba.Os
contextos métricos (originais) em (213) e (214) são ótimos e aplicar a queda de sílaba
99
significa irdeencontroàotimização,umavezquea implementaçãodoprocessoacarreta
choqueacentual.Emcasoscomo (213)e (214),ahipóteseéqueaquedadesílabaseja
desfavorecida.
4.1.4.1.4. Prosódia
Como foi vistonaseção3sobrea literaturadequedadesílaba,os resultadosde
Tenani(2003),Pavezi(2006a)eLeal(2006)75apontamquenãoháumnívelprosódicoque
bloqueie a queda de sílaba. Segundo Battisti (2004) e Pavezi (2006a), dentro de frase
fonológica e entre frases fonológicas são os ambientes mais favoráveis à aplicação de
haplologia; já Leal (2006) argumenta que, tanto para a elisão silábica quanto para a
haplologia, há umamaior aplicação dentro de frase fonológica reestruturada. Finalmente,
Tenani (2003) afirma que a aplicação de haplologia se dá de modo inversamente
proporcionalaosníveisprosódicosmaisaltos.
Com base nesses resultados, levantamos duas hipóteses para esta variável:
primeiro,nãoháumnívelsemvariaçãodequedadesílaba,jáquenenhumdelesbloqueia
o processo; em segundo lugar, há uma maior propensão ao apagamento entre frases
fonológicas.
ComrelaçãoaosresultadosdeTenani(2002),nosquaisháumamaiortendênciase
os níveis prosódicos forem mais baixos, não temos uma hipótese, uma vez que os
resultados de Pavezi (2006a) e Leal (2006) não corroboraram os de Tenani (2002). No
entanto,verificamosseistoacontecenosdadosdopresentetrabalho.
No que concerne à queda de sílaba no nível da palavra fonológica, observe o
exemploabaixo:
(215) [TE]ω[TElefonou]ω
Emtetelefonou,asequência/te+te/é,segmentalmente,umcontextodequedade
75 O nível estudado por Battisti (2004) foi dentro de frase fonológica; Tenani (2002) analisou dentro frasefonológica,entrefrasesfonológicas,entrefrasesentonacionaiseentreenunciados;ePavezi(2006a)trabalhoucom contextos dentro frase fonológica, entre frases fonológicas, dentro de frase entonacional, entre frasesentonacionais,dentrodeenunciadoeentreenunciados(cf.3.2.3).
100
sílaba, já que as sílabas são idênticas. No entanto, se a primeira sílaba é um clítico
fonológico, só há um sílaba; isto significa que, se houver a implementação do processo,
toda a palavra deve ser apagada, o pronome te. Em casos como estes, seguimos as
propostas de Veloso (2003) e Pavezi (2006a), para quem contextos em que a primeira
palavraéummonomorfema,oapagamentoébloqueado(cf.tambémsubseção4.1.2):
(216) TETElefonou>*(TE)TElefonou
Assim, casos emque o contexto segmental está entre palavras fonológicas foram
desconsiderados, e a condição seguida neste trabalho é que a primeira palavra seja, no
mínimo,umdissílabo:
(217) [[UM]ω[MEnino]ω]C > *(UM)MEnino
(218) [[uMA]ω]C[[MEnina]ω]C > u(MA)MEnina
Em (217), os itens um emenino são duas palavras fonológicas, já que carregam
acento primário (no nível da palavra fonológica).76 A primeira palavra um é um clítico
fonológico,quedeveseassociaraoseunúcleo,umapalavrafonológicaindependente–isto
é,nãoclítica(cf.algoritmosapresentadosnasubseção2.2.4)–paraformarogrupoclítico
ummenino. Diferentemente, em (218), há duas palavras fonológicas independentes (não
clíticas)que,alémdereceberemacentoprimário(noníveldapalavrafonológica),carregam
acentotambémnoníveldegrupoclítico, formandodoisconstituintes independentesneste
nível. Neste caso, a queda de sílaba pode ser aplicada. Comparando os ambientes
prosódicos em (217) e (218), verificamos que o nível mais baixo da hierarquia para a
aplicaçãodequedadesílabaéafronteiradegruposclíticos.
Osfatoresfraseentonacional,frasefonológicaegrupoclíticodestavariávelindicam
fronteiras de constituintes, enquanto que, em frase fonológica reestruturada, o processo
76Nespor&Vogel(1986:145)explicamqueosclíticostêmumanaturezahíbrida,comcaracterísticasexternasde justaposiçãoepropriedades internasdeelementos independentes;éuma formaqueseassemelhaaumapalavra,masquenãopodeaparecersozinhanumenunciadonormal.
101
ocorredentrodesteconstituinteeafronteiraédegrupoclítico.Aspalavrasdocontextode
queda dentro e da em (57) que estão dentro do nível de frase fonológica reestruturada
estãoentregruposclíticos.Emoutraspalavras,podemosunirasocorrênciasdosníveisde
frasefonológicareestruturadaedegrupoclíticoporqueoscontextossãoosmesmos.
Assim, os níveis analisados no presente trabalho foram frase entonacional, frase
fonológicaegrupoclítico,comosseguintesfatores:
1. entrefrasesentonacionais2. entrefrasefonológica3. entregruposclíticos(edentrodefrasefonológicareestruturada)
Exemplificando,temos:
(219) cincopar(TES).]I[TUdorosa (m)
(220) vocêiarespondenDO.]I[DEpois,eladavanota (c)
(221) paradepoisvirparaacida(DE)]Φ[DEnovo (u)
(222) tôdescansanDO]Φ[DOmeuúltimolivro (h)
(223) foidola(DO)]C[DOprefeito,né? (a)
(224) elaficougostanDO]C[DOespanhol (c)
Os contextos de queda de sílaba em (219) /tes + tu/ e em (220) /do + de/ estão entre
sentenças; em (221)e(222),há limitesdefrasefonológicaentreoscontextos /de+de/e
/do + do/; e em (223) e (224) o nível prosódico entre as palavras lado edo (cf. (223)) e
gostando e do (224) é o de grupo clítico. E há variação na aplicação nos três níveis
prosódicos,comosevênosexemplos.
4.1.4.1.5. NúmerodeSílabas
Otamanhofonológicotemumapapelimportantenaaplicaçãoderegrasfonológicas,
comoapontamNespor&Vogel(1986:41-46).Umdosprocessosfonológicosapresentados
pelasautoraséodeaspiraçãodeplosivasdesvozeadasintervocálicasnoitaliano(aregra
Georgia Toscana, cf. Nespor & Vogel 1986: 42-44), em que há uma tendência a ser
102
aplicado em constituintes pequenos.Outro trabalho que aponta a relevância do tamanho
fonológicoéTenani(2002),segundoquemotamanhodoenunciadoinfluencianaaplicação
da haplologia na hierarquia prosódica: enunciados maiores tendem à aplicação do
processo.
Combasenestasanálises,procuramosverificarseo tamanhodapalavrasujeitaà
queda interfere na aplicação do processo. A extensão da palavra foi contada a partir de
suassílabas,umavezqueoprocessoemestudoésilábico.Observeosexemplosabaixo:
(225) Oquequetáacontecen(DO),NÉ? (a)
(226) ...porquemamãetinhameDO,NÉ? (t)
O contexto segmental nos dois exemplos apresentados em (225) e (226) são o
mesmo/do+nɛ/,masahipóteseéqueaprobabilidadedequedadesílabaseraplicadaé
maiornoprimeiroexemplo,jáqueacontecendopossui5sílabasemedotemsomente2.
ValeressaltarqueoNúmerodeSílabasfoicontadodentrodapalavrafonológica:a
palavradesfavoravelmente,porexemplo,possui2acentos,ouseja,2palavrasfonológicas
([desfavoravel]ωe[mente]ω);então,contam-se2sílabas/meN.te/seestapalavraestiverna
primeiraposiçãodocontextodequeda;seocuparasegundaposição,contam-se5sílabas
/des.fa.vo.ra.vel/.
Apresentoabaixoosfatores:
1. 2sílabas2. 3sílabas3. 4sílabasoumais
Finalmente, outro fator importante é contar sílabas da primeira e não da segunda
palavra,jáqueestacontinuainteiradepoisdoprocesso.
103
4.1.4.1.6. FrequênciadeUsodePalavras
Observe os exemplos hipotéticos a seguir, em que os contextos segmentais de
quedadesílabasãoiguais:77
(227) cenTRODOcaos>cen(TRO)DOcaos
(228) coenTRODOcaldo>coen(TRO)DOcaldo
Nosexemplos(227)e(228),ocontextosegmentaléomesmo,/tro+do/.Ahipótese
paraestavariáveléquehajaumamaiorpropensãoàquedadesílabaem(227),jáqueea
palavra sujeita ao apagamento centro émais frequente do que coentro, apresentada em
(228).
Num estudo sobre frequência, devemos primeiramente definir se é importante
analisar a frequência de type ou a frequência de token, definidas do seguinte modo em
Cristófaro&Oliveira(2004:657):
Frequênciade tipo(type frequency) refere-seà frequênciadeumpadrãoparticularno léxico (ou dicionário). Frequência de ocorrência (token frequency) refere-se àfrequência de uma determinada unidade, usualmente uma palavra, em umdeterminadocorpus(oralouescrito).
Decidimosporanalisararelaçãoentreaquedadesílabaeafrequênciade tokens
(emoposiçãoàde types)poiseste tipodeanálisenospermitecapturarmelhoro fatode
umapalavraserounãosujeitaàqueda,adependerdesua frequência.Porexemplo,na
seção 5.1.1, veremos que muitos dos itens lexicais em que houve apagamento
independentementedepontodeCecontínuoeramitensnodiminutivo,esuascontrapartes
emgraunormalnãosofriamesteapagamento.Seestivéssemosanalisandoostypes,esta
informação seria perdida, já que o diminutivo seria contado juntamente com os graus
normaleaumentativoparafinsdefrequência.
Comométododecontagemde frequênciadefinido (tokens), umproblemaquese
coloca é que o número de ocorrências no nosso corpus (5628) é muito pequeno se
77AgradeçoaoProfDrJairoNunespormeapontaraspossibilidadeseosexemplosaseguir.
104
considerarmosa línguaportuguesacomoumtodo.Adecisãofoiutilizarasfrequênciasde
tokensdoASPA78,79porqueestetemummaiornúmerodetokensdoqueonosso,80oque
podeestarmaispróximoderepresentarasfrequênciasdoportuguêscomoumtodo.
Estabelecemos 3 fatores nesta variável: cada uma das 3 faixas representam
palavras de alta, média e baixa frequências de uso. O cálculo para se delimitar os três
fatores foi feito seguindo-se a metodologia empregada em Françozo et al. (2002) que,
analisando um corpus com aproximadamente 1 bilhão e 420 milhões de ocorrências de
palavras,estabeleceuasseguintesfaixasdefrequência:
1) Palavrasmuitofrequentes maisde100ocorrênciaspormilhão
2) Palavraspoucofrequentes entre5e50ocorrênciaspormilhão
3) Palavrasraras menosde1ocorrênciapormilhão
O corpus do projeto Avaliação Sonora do Português Atual (ASPA) tem 607.392
types,deumtotalde228.766.402tokens.Assim,nastrêsfaixasdefrequênciascalculadas
porFrançozoetal.(2002),osfatoresparaFrequênciadeUsodePalavrasencontradasno
nossocorpusforam:
1. alta maisde20.900ocorrênciasnocorpusASPA2. média de10.451a20.899ocorrênciasnocorpusASPA3. baixa menosde10.450ocorrênciasnocorpusASPA
78OprojetoASPAfoielaboradoporThaisCristófaro-Silva,emparceriacomLeonardoAlmeida(CPDEE-UFMG),Raquel Fontes-Martins (Poslin-FALE-UFMG), César Reis (Labfon-FALE-UFMG), Hani Camille Yehia (Cefala-DELT-UFMG),RafaelLaboissiere(MaxPlank Institute-Germany)eTonySardinha(PUCSP).Cf.sitedoprojetohttp://www.projetoaspa.org/.79AgradeçoàProfªDrªThaïsCristófaroSilvapornosforneceroacessoaobuscadordefrequênciadocorpusASPA.80Nasentrevistas,buscamosovernáculo(cf.nota52),masostemassão limitados:mesmoqueo informantefalasse livremente e desviasse dos temas principais, sem a intervenção do documentador – como diversasvezesocorreu–,háumadelimitaçãotemáticageralquetemcomoconsequênciadelimitartambémaspalavrasenunciadas.ComoexplicamGuy&Zilles(2007:115),umcorpusé“partedodiscursodepessoaseminteraçãoe que a interpretação de quaisquer resultados deveria levar isso em conta em lugar de abstraí-locompletamente.”Exemplificando,apalavramartelo,queécomum,nuncaapareceunocorpus;poroutrolado,onome computador foi uma palavra muito frequente na fala do informante K, já que este capivariano é umprogramador.
105
Houve 90 tokens que não entraram nesta variável, totalizando 5538 dados
analisados.Asexclusõessãoneologismos(comoaborrescente),nomespróprios(Windows,
Zepe), derivados de nomes próprios (capivariana) e algumas palavras em inglês (diesel,
diet).Nãohátambémentradaspara2palavras(sãopaulino).Háfrequênciasparaamaioria
dosnomespróprios(comoCampinas,Roberto,Diego)eestesentraramnacontagem.
Ahipóteseparaestavariáveléqueatendênciadeaplicaçãodaquedadesílabaé
diretamente proporcional à produtividade da palavra sujeita ao apagamento, ou seja,
palavrasdealtafrequênciatendemàaplicaçãodoprocesso.
4.1.4.2. Osgruposdefatoressociais
Optamos por verificar o comportamento de 5 variáveis extralinguísticas, a fim de
tornar completa ametodologia laboviana empregada, como explicamMollica&Roncarati
(2001:48):
(...) a inclusão de parâmetros sociais, tal como proposto no modelo laboviano,propicia delineamento de perfil social do falante e de pressões a que estásubmetido.
As variáveis externas controladas (Escolaridade, Gênero, Faixa Etária e Cidade)
foramabaseparasedelimitaraamostra,deondeobtivemososdados(cf.subseção4.1.2
destecapítulo).
Battisti (2004) explica que utilizou o corpus VARSUL (24 informantes de Porto
Alegre),todoscomnívelsuperiordeescolaridade,paraanalisarahaplologia.Optamospor
verificar a relação entre a queda de sílaba e Escolaridade (ver 4.1.4.2.1), Gênero (em
4.1.4.2.2), Faixa Etária (cf. 4.1.4.2.3), Informantes (cf. subseção 4.1.4.2.4) e Cidade (ver
4.1.4.2.5),quesãodiscutidasnassubseçõesaseguir.
4.1.4.2.1. Escolaridade
Emseutrabalhosobrehaplologia,Battisti(2004)controlouaEscolaridadedemodo
autilizarentrevistasemquetodososinformantestivessemnívelsuperior.Assim,decidimos
porverificaraatuaçãodaEscolaridadenavariáveldependente,cujosfatoresforam:
106
1. até8ªsérie2. superior
Estavariáveléimportantenamedidaemquepodeservirdebaseparademonstraro
valor(social)associadoàvariáveldependente,comoexplicamSchwindtetal(2007):
(...) o nível de escolarização correlaciona-se positivamente com a aderência àsformascaracterísticasdavariantepadrãodalíngua.
A partir da afirmação de Schwindt et al (2007), a expectativa é que haja uma
diferençanosdoisgrupos.Sehouver,oqueocorrercomofatordemaiorestudoéindício
dequeestaregrapodeserentendidacomopadrão.
4.1.4.2.2. Gênero
AssimcomoparaavariávelEscolaridade,avariávelGêneropodefornecerpistasde
avariáveldependenteserounãopadrão,comoexplicaLabov(1990):
PrincipleI. For stable sociolinguistic variables, men use a higher frequency ofnonstandardformsthanwomen.(p.210)PrincipleIa. Inchangefromabove,womenfavortheincomingprestigeformsmorethanmen.(p.213)PrincipleII. Inchangefrombelow,womenaremostoftentheinnovators.(p.215)
DeacordocomoPrincípioI,homensusamumafrequênciamaisaltadeformasnão
padrãodoqueasmulheresemvariáveissociolinguísticasestáveis.ApartirdoPrincípioIa,
temos que, se as mudanças partem da classe social mais alta, mulheres favorecem as
formas inovadoras(incoming)maisdoqueoshomens.ComrelaçãoaoPrincípio II,seas
mudanças são da classe social mais baixa, as mulheres são frequentemente as mais
inovadoras. Assim, em linhas gerais, para Labov (1990), homens tendem a usar mais a
variantenãopadrãodoqueasmulheres.
Novamente, não temos uma hipótese, mas observaremos o comportamento da
variável Gênero e a queda de sílaba. Da mesma forma que para Escolaridade, os
resultados destes fatores podem ser pistas de a queda de sílaba ser ou não uma regra
107
padrão.
4.1.4.2.3. FaixaEtária
DecidimosporanalisarcomoaquedadesílabaserelacionacomFaixaEtária,com
osseguintesfatores:
1. de20a35anos2. maisde50anos81
Estas duas faixas foram definidas principalmente de acordo com a inserção do
falantenomercadodetrabalho:ofator1representaumapopulaçãoouqueestáentrando
nomercadode trabalhoou jáestádentrodele,eo fator2 representapessoasqueestão
saindodomercadodetrabalho.Poressarazão,pessoasde20a35anos“estariammais
atentosàsvariantesvalorizadassocialmente”(Pagotto2004),enquantoquefalantesde50
anosnãoestariamtãopreocupadoscomanormapadrão.
Não temosumahipóteseparaestavariável,maso intuitoéverificardeque forma
capivarianos e campineiros nas faixas de 20-35 anos e osmais velhos, commais de 50
anos, implementamaquedadesílaba.Emoutraspalavras,sehouverumadiferença, isto
pode ser pista de que mais estudos devem ser conduzidos para verificar se há uma
mudançaemcurso.
4.1.4.2.4. Informantes
Aorodarestavariável,oobjetivoéverificarsealgumindivíduopodeestarcomum
comportamento muito diferente dos outros e, com isso, afetar o resultado geral. São 48
fatoresparaosinformantes,identificadasaseguir:
81 Já que dividimos os informantes em dois grupos de faixas etárias discretas, como apresentado em 1 e 2acima (ficandoum intervaloentreas2variantes),o intuitonãoéverificarmudançae tempoaparente (Labov2001:142).
108
Tabela7 –Os48informantesfator informante fator informante
1 a 25 m
2 b 26 n
3 c 27 o
4 d 28 s
5 e 29 t
6 f 30 u7 g 31 p
8 h 32 q
9 i 33 r
10 j 34 v
11 k 35 x
12 l 36 z
13 A 37 M
14 B 38 N
15 C 39 O
16 D 40 S
17 E 41 T
18 F 42 U
19 G 43 P
20 H 44 Q
21 I 45 R22 J 46 V
23 K 47 X
24 L 48 Z
Controlar os informantes nos permite observar se algum deles teve um
comportamentoquedesviedopadrãoesperado.Emoutraspalavras, falantesquetiveram
umataxadeaplicaçãopolarizada(umfavorecimentoouumdesfavorecimentoexcessivos,
queescapemàregrageral)foramconsideradoscomodesviantes,comumcomportamento
queprovémdeumapeculiaridadedoindivíduo.
109
4.1.4.2.5. Cidade
Apesardeapresentarmosestavariávelporúltimo,oefeitodascidadesnaquedade
sílaba émuito importante, pois, como vimos no capítulo 3, os resultados de Leal (2006)
apontamqueocontextosegmentaldeaplicaçãodequedadesílabaemCapivariocorreem
mais contextos do que em outras cidades brasileiras (cf. o dialeto de Porto Alegre,
analisadoemBattisti2004;dialetodeSãoJosédoRioPretoemTenani2002,2003,2006;
comparação dos dialetos de São Paulo e São José do Rio Preto, por Pavezi 2006a;
“dialetos populares”, em Bisol 2000; e, finalmente, Alkmim & Gomes 1982, que não
especificamodialetocomquetrabalham).
Nopresentetrabalho,osfatoresparaCidadesão:
1. Capivari2. Campinas
A hipótese para a variável Cidade é que, se há uma maior possibilidade de
contextos de queda de sílaba em Capivari, é nesta cidade em que teremos uma maior
aplicaçãodequedadesílaba.
4.1.5. Sumáriodoenvelope
Nesta subseção, apresento o quadro resumido do envelope de variação com que
trabalhamos:
110
Tabela8 –Sumáriodoenvelopedevariação variáveis símbolos fatores
C=V= CseVscompletamenteiguais
C=V# Csiguais,Vsdiferentes
C#vozV= Csdiferentesem[voz],VsiguaisC#vozV# Csdiferentesem[voz],Vsdiferentes
C#nasalV= Csdiferentesem[nasal],Vsiguais
C#nasalV# Csdiferentesem[nasal],Vsdiferentes
IgualdadedeSegmentos
C#distr. Csdiferentesem[ant.,distr.]
t+t 2coronais[-contínuo]
s+s 2coronais[+contínuo]
p+p 2labiais[-contínuo]
f+f 2labiais[+contínuo]
CavidadeOraldasConsoantes
k+k 2dorsais
t+t 2coronais[-contínuo]
s+s 2coronais[+contínuo]
p+p 2labiais[-contínuo]
f+f 2labiais[+contínuo]
k+k 2dorsais
CavidadeOraldasConsoantescom
[nasal]
n+n nasais(/m/,/n/)
ee coronal+coronal
oo dorso-labial+dorso-labial
aa dorsal+dorsalea coronal+dorsal
oa dorso-labial+dorsal
oe dorso-labial+coronal
eo coronal+dorso-labial
ae dorsal+coronal
CavidadeOraldasVogais
ao dorsal+dorso-labial
CV+CV duassílabassimples
CV+o sílabasimples+outrasestruturas
CCV+CCV duassílabascomataqueramificado
CCV+o sílabacomataqueramificado+outrasestruturas
CVC+CVC duassílabascomcodaramificada
CVC+o sílabacomcoda+outrasestruturas
linguísticas
EstruturaSilábica
o+o duassílabascom+outrasestruturas
111
x••#• lapsode3sílabas
x••#c lapsode3sílabas(aúltimaéumclítico)
x••#y duassílabasfracasentreumacento1árioeumacento2ário
x••#x duasfracasentreduasfortes
x•#• lapsode2sílabas
x•#c lapsode2sílabas(aúltimaéumclítico)
x•#y umasílabafracaentreumacento1árioeumacento2ário
Métrica
x•#x umasílabafracaentreduassílabasfortes
entreIs entrefrasesentonacionais
entreΦs entrefrasesfonológicasProsódiaentreCs(Φr) entregruposclíticos,Φsreestr
2σs 2sílabas
3σs 3sílabasNúmerodeSílabas4σsoumais 4sílabasoumais
alta maisde20.900(noASPA)
média de10.451a20.899(noASPA)
FrequênciadeUsodePalavras
baixa menosde10.450(noASPA)
capi CapivariCidade
camp Campinas
fund ensinofundamentalEscolaridade
sup ensinosuperior
masc masculinoGênero
fem feminino
20-35 de20a35anos
sociais
Faixaetária50 maisde50anos
112
CAPÍTULOV
5. ResultadosgeraisNeste capítulo, apresento, primeiramente, os resultados encontrados no estudo
pilotodestetrabalho(ver5.1),quefoiabaseparaacodificaçãodefinitiva.Emseguida(cf.
subseção 5.2), estão a distribuição geral dos dados e a descrição de como foram
computados; finalmente, apresento os resultados de queda de sílaba em que as duas
cidadesforamrodadasjuntas(ver5.3).
5.1. Oestudopiloto
Encontramosmuitos estudos sobre a haplologia, tanto para o português brasileiro
quanto para outras línguas (cf. referências citadas no capítulo 3), e estes indicam que o
contexto segmental da regra é aquele que tem consoantes iguais ou que diferem, no
máximo,emvozeamento.OstrabalhosdeLeal(2006,2007)(cf.subseção3.3)constataram
que há outras possibilidades de aplicação de queda de sílaba, em que as consoantes
podemdiferiralémdevozeamento.Noentanto,nãohá,atéondesabemos,umestudoque
verifiquequaissãoestaspossibilidadesutilizando-seferramentasquantitativas.
Assim,numaprimeiraaproximaçãoaosdados,decidimosporfazerumestudopiloto,
cujoobjetivo foiverificar todasaspossíveiscombinaçõessegmentaisdequedadesílaba,
mesmoaquelasquenão tenhamsido,poracaso,encontradasemLeal (2006,2007).Em
outras palavras, a fimde comprovar ondehápoucaounenhuma variação, buscamosno
pilototantoosdadoscategóricosquantoaquelescomaplicação/nãoaplicaçãodequedade
sílaba, quantificando as variações do processo de acordo com a Cavidade Oral das
Consoantes(pontodeCeovalorpara[contínuo]).
Nesta primeira análise, foram codificados dados de 3 entrevistas do corpus,
desprezando-se os 10 primeiros minutos da gravação até 1 hora, com os seguintes
informantes:82
82TodasasrodadasdopresentetrabalhoforamfeitascomoprogramaGoldVarbX,versão3.0b3(cf.Sankoff,
113
Tabela9 –InformantesutilizadosnaprimeiraanáliseInformante Cidade Escolaridade Gênero Faixaetária
a Capivarib Capivarim Campinas
ensinofundamental feminino maisde50anos
Aescolhados3informantesfoifeitadeacordocomaordem emqueosinformantes
foramsendogravados,ouseja,amaisaleatóriapossível.Exemplificoabaixocomofoifeita
acoletadosdados.Porexemplo,dasentençaaseguir:
(229) Agenteficavaláemfrentedacasa (a)
foramcoletadososseguintestokens:
(230) 1otoken: genTEFIcava /te+fi/
(231) 2otoken: ficaVALÁ /va+la/
(232) 3otoken: fren(TE)DA /te+da/
No primeiro token apresentado em (230), o contexto consonantal /t + f/ é uma
coronal [-contínuo] seguidadeuma labial [+contínuo], ou seja tantoopontodeCquanto
[contínuo] são diferentes; em (231), ambas as consoantes /v + l/ são [+contínuo],mas o
pontodeCdifere(éumalabialseguidadeumacoronal);finalmente,nocontexto/t+d/em
(232),háigualdadetantonopontodeC(sãoduascoronais)comonotraço[-contínuo].De
acordocomosresultadosdeLeal(2006),aúnicapossibilidadedeaplicaçãodequedade
sílabaé(232),jáqueascoronais(mesmopontodeC)possuemotraço[-contínuo].Defato,
nãohouvequedadesílabaem(230)e(231),somenteem(232).Noentanto,nãohácomo
saber,atéaqui,seoscontextos(230)e(231)sãonãoaplicaçõesdequedadesílabaouse
são contextos em que nunca há apagamento – dados categóricos. E é neste ponto que
vemos a valia da primeira análise: retirar os contextos em que há bloqueio de queda de
sílaba,computando,numasegundaanálise,somenteoscasosdevariaçãodoprocesso.
Tagliamonte&Smith2005).
114
Comumtotalde4024tokens,oresultadogeralapresentadoaseguircorrespondea
todososquatropossíveiscontextosdetraçosinternosàsconsoantes:83,84
Tabela10 –FrequênciasdasconsoantessegundoascavidadesoraisCavidadeOraldasConsoantes N Ntotal %apl
a)pontodeCigual,[contínuo]igual 121 909 13,3
b)pontodeCigual,[contínuo]diferente 27 881 3,1
c)pontodeCdiferente,[contínuo]igual 21 1209 1,7
d)pontodeCdiferente,[contínuo]diferente 5 1025 0,5
Total 174 4024 4,3
Podemos observar na Tabela 10 que os dados têm uma boa distribuição de
ocorrências (909dadosparao contextoa; 881parab; 1209paraa sequênciac; e 1025
para d); entretanto, a frequência de aplicação de queda de sílaba é muito baixa: houve
somente174/4024 tokens,correspondenteaapenas4,3%(aplicaçõesde121,27,21e5
tokens,paraoscontextosa,b,ced, respectivamente).85Estesnúmerossãoreveladores,
poisapontamanecessidadedesefazerestaprimeiraanálise:se,porumlado,buscamos
tokensdequedadesílabaqueporacasonãoapareceramnocorpusdeLeal (2006),por
outro,hádiversoscontextosqueapresentaramresultadoscategóricosdenãoaplicaçãoda
quedadesílabanestaprimeiraanálise–ouseja,dadosemquenuncahápossibilidadede
oprocessoocorrer ouqueaaplicaçãoémuito baixa, quase categórica: compontodeC
iguale[contínuo]diferente(contextob),afrequênciaé27/881,com3,1%deaplicaçãode
quedadesílaba;compontodeCdiferenteeummesmovalorpara[contínuo](contextoc),
houve 21/1209 ocorrências (1,7% de aplicação); e a frequência é aindamais baixa se o
pontodeCeovalorpara[contínuo]foremdiferentes(contextod),comN=5/1025e0,5%.
Observamostambémqueamaiorpartedeaplicaçãodoprocessoestáemcontextos
com consoantes que têm a cavidade oral igual: de todas as 174 aplicações, 121 são de
83Cf. AnexoII,noqualdescrevemososcontextosconsonantaisumaum.84Todososvaloresdefrequênciasepesosrelativosnastabelasegráficossereferemàaplicaçãodequedadesílaba,indicadapor“apl”nastabelas.85Afrequênciadeaplicaçãodequedadesílaba(4,3%)apresentadanaTabela10estáabaixodaporcentagemmínima (5%)paraa feitura deumaanálisemultivariada confiável.Noentanto, nãohouvenecessidadedestaanálise, e o objetivo do piloto foi atingido: pudemos verificar que as aplicações de queda de sílaba comconsoantesdiferentesempontodeCe/ou[contínuo]équasecategórica.
115
consoantescomummesmopontodeC/valorpara[contínuo],oquecorrespondea69,5%
dasaplicações.Olhandodepertoparaos53dadosrestantes(30,5%de174aplicaçõesde
quedadesílabaou1,3%de4024dados),vemosquecompreendemcasosparticularesde
quedadesílaba,ouseja,sãopalavrasespecíficasque,mesmocomumcontextoemque
asconsoantestêmcavidadeoraldiferentes,podehaverapagamentodaprimeirasílabado
contextosegmental,comoapresentadonapróximasubseção.
5.1.1. Casosparticularesnoestudopiloto
Como vemos na Tabela 10 da subseção anterior, a maior parte de aplicação de
quedadesílabaécomconsoantesquetêmcavidadesoraisiguais.Noentanto,oprocesso
acontecetambémcomcavidadesoraisdiferentes;são53tokensde31 types,enumerados
aseguir:
116
Tabela11 –Aplicaçõesdequedadesílabacomcavidadesoraisdasconsoantesdiferentespalavra classe frequênciadeuso cidade N Ntotal
1.falava baixa Campinas 2 172.ficava baixa Campinas 1 143.tava baixa Capivari 2 364.viajava
palavrasterminadasemmorfemadeimperfeito{-va}
baixa Campinas 1 1 subtotal 6 68
5.amiguinho baixa Campinas 1 16.amiguinhos baixa Campinas 1 17.blusinha baixa Campinas 2 28.cabelinho baixa Campinas 2 89.carrinho baixa Campinas 1 210.mochilinha baixa Campinas 1 511.pequenininha baixa Campinas 1 112.pertinho baixa Campinas 3 313.pouquinho baixa Campinas 1 514.quietinho baixa Campinas 1 115.rapidinho baixa Campinas 1 116.tapinha
palavrasterminadasem{-inh-}morfológico
baixa Campinas 1 1 subtotal 16 31
17.tinha alta Campinas 2 7018.banho
palavrasterminadasem/-ɲ-/nãomorfológico baixa Campinas 1 2 subtotal 3 72
19.casa alta Capivari 6 4320.causa alta Capivari 6 1521.coisas alta Capivari 1 1122.ela alta Capivari 1 24323.ele alta Capivari 1 16224.fala alta Campinas 1 2525.gente alta Capivari 2 10326.negócio alta Capivari 2 327.sabe alta Campinas 2 3428.tudo alta Campinas 2 5329.conhece baixa Campinas 1 330.embaixo baixa Campinas 2 531.gosta
outros
média Campinas 1 10 subtotal 28 710 total 53 881
117
NaTabela11,estãoostypes,suasclassificações,asfrequênciasdeuso(combase
noASPA),ascidadesaquepertencemosinformantes,osnúmerosdeaplicaçõesdequeda
de sílaba e os números de tokens de quantas vezes a palavra apareceu no corpus do
presente trabalho. Lembramos que as variáveisEscolaridade,Gênero e FaixaEtária dos
informantessãoiguais:todasestudaramatéoensinofundamentalsérieetêmmaisde50
anos(cf.Tabela9).
Podemos observar que a maior parte de aplicações de queda de sílaba com
cavidades orais das consoantes diferentes são palavras terminadas em /-ɲ-/, tanto não
morfológico (3 tokens)quantomorfológicos (16casos);observamos tambémque6casos
sãocompalavrasterminadasemmorfemadeimperfeito{-va}.
Dos31 typesapresentadosnaprimeiracoluna,12sãopalavrasdealta frequência
deuso: tinha,casa,causa,coisas,ela,ele, fala,gente,negócio,sabe, tudoegosta (este
últimoéumtipodefrequênciamédianocorpusASPA,maséumapalavramuitocomum).
No entanto, mesmo nestes casos de palavras de alta frequência, a taxa de aplicação é
muitobaixa:aspalavrasemqueoprocessoocorreumaisforamcasa(6aplicaçõesem43
tokensqueapareceramnocorpusdoestudopiloto)ecausa (também6aplicaçõesem15
ocorrências da palavra). Levando-se em consideração que o total de dados foi 4024, o
númerodeaplicaçõesémuitobaixo.
Assim,devidoaobaixonúmerode frequênciados tokens (cf.Tabela11)oscasos
particularesdequedadesílabaserãodeixadosparatrabalhosfuturos.
*
Umavezquepudemosnoscertificardequeamaioriadoscasosdeaplicaçãode
quedade sílaba são contextosemqueaCavidadeOral dasConsoanteséamesma, foi
comessestiposdedadosquetrabalhamos(cf.coletadedadosnaseção4.1.2).
Napróximasubseção5.2,apresentocomofoifeitaacomputaçãodosdadosequais
foram as distribuições gerais obtidas e, em 5.3, estão os resultados das duas cidades
computadasnumamesmarodada.
118
5.2. Distribuiçãogeralecomputaçãodosdados
Na rodada geral, trabalhamos com48 informantes, sendo 24 deCapivari e 24 de
Campinas. No estudo piloto, foram coletados 4924 dados de 3 informantes e, no corpus
definitivo,foram5628tokensde48informantes.Comparativamente,onúmerodedadosdo
corpus definitivo é menor. A razão desta diminuição de dados foi porque, com os 48
informantes,computamossomenteosdadosemqueháummesmopontodeCevalorpara
[contínuo] das consoantes nas produções dos informantes – assim, deixamos de lado os
contextos com ponto deC igual e [contínuo] diferente, ponto deC diferente e [contínuo]
igual e ponto deC diferente e [contínuo] diferentes (contextos b, c ed apresentados na
Tabela10).Aseguir,apresentamosasdistribuiçõesdestes5628tokens:
Tabela12 –ResultadosgeraisdeaplicaçãodequedadesílabaGERAL N %aplicação 1186 21,1nãoaplicação 4442 78,9
total 5628
ComoseobservanaTabela12,houve21,1%deaplicaçãodequedadesílaba.
Foram feitas 5 rodadas com as variáveis apresentadas em (233) abaixo (cf. o
envelopedevariaçãonasubseção4.1.3):
(233) Asvariáveislinguísticasesociaisdequedadesílaba
a) variáveislinguísticas
-docontextosegmental:1. IgualdadedeSegmentosnointeriordassílabas–sóestruturasCV;2. CavidadeOraldasConsoantes;3. CavidadeOraldasConsoantescomdistinçãodesegmentos[nasal];4. CavidadeOraldasVogais;
-outrasvariáveis(alémdecontextosegmental):
5. EstruturaSilábica;6. Métricadaspalavras;7. Prosódia;8. NúmerodeSílabasdapalavra1(aquelasujeitaaoapagamento);9. FrequênciadeUsodapalavra1(aquelasujeitaaoapagamento);
119
b) variáveissociais:
10. Informantes;11. Escolaridade;12. Gênero;13. FaixaEtária;e14. Cidade
Naprimeirarodada,entraramtodasasvariáveis,ouseja,incluindo-seas4variáveis
do contexto segmental (apresentados em 1-4 acima), as outras variáveis linguísticas e
sociais (em5-14acima).Emseguida, foramrodadascadaumadasvariáveisdocontexto
segmentalemoposiçãoatodasosoutrasvariáveis(linguísticosesociais),umaauma.De
formaresumida,temosasseguintesrodadas:
(234) Resumodasrodadas
Rodada1: todos os grupos de contexto segmental (cf. 1-4), variáveis linguísticas
listadasde5-10evariáveissociais(ver11-15);
Rodada2: contexto segmental de Igualdade de Segmentos nas sílabas somente
comestruturasCV,variáveislinguísticas(5-10)esociais(11-15);
Rodada3: Cavidade Oral das Consoantes no contexto segmental, variáveis
linguísticas(5-10)esociais(11-15);
Rodada4: nocontextosegmental,foramrodadasasvariáveisdeCavidadeOraldas
Consoantes com distinção de segmentos [nasal], incluindo também as
variáveislinguísticos(5-10)esociais(11-15);e
Rodada5: Cavidade Oral das Vogais como contexto segmental, variáveis
linguísticas(5-10),sociais(11-15).
Como observamos em (234), foram 5 rodadas, diferenciadas a partir do contexto
segmental.Optamosporexaminarosdadosdocontextosegmentalmaisdeperto(incluindo
e excluindo variáveis) por ser este o modo como o processo fonológico é definido,
buscando identificar quais características do contexto segmental se sobrepõemàs outras
(porexemplo,responderàquestõescomo:asconsoantessãomaisimportantesdoqueas
120
vogais?).Umavezqueosdadosforamrodadoscomasduascidadesjuntasetambémem
separado,houve3rodadasgrandes(ageral,CapivarieCampinas)e,multiplicando-seas5
rodadasapresentadasem(234),obtivemosumtotalde15rodadas.
Das 5 rodadas feitas (para cada um dos 3 conjuntos de dados), os resultados
obtidosforammuitosemelhantes,variandoalguns(pequenos)números.Masoimportanteé
queatendênciaaoprocessopermaneceuigualemtodasasrodadas:seumfatorfavoreceu
aquedadesílaba,estemesmofatorcontinuoua favorecernasoutrasrodadas;omesmo
comportamentofoiobservadoseumfatordesfavoreceuaquedadesílaba,ousefoineutro:
permaneceudesfavorecendo(ou ficouneutro)nasoutrasrodadas–asrodadas foramtão
parecidasque,diversasvezes,oprogramaselecionouasmesmasiteraçõesemdiferentes
rodadas. Para ilustrar os resultados de que todas as variáveis tiveram comportamentos
semelhantesemdiferentesrodadas,86apresentoospesosrelativosdasvariávelFrequência
deUsodasPalavras:
Tabela13 –SemelhançasnospesosrelativosdavariávelFrequênciadeUsodasPalavrasfrequênciadepalavra rodada1 rodada2 rodada3 rodada4 rodada5
alta 0,504 0,519 0,507 0,512 0,515
média 0,564 0,549 0,565 0,565 0,552
baixa 0,459 0,441 0,454 0,445 0,448Rodada1:input=0.136significância:0.004;Rodada2:input=0.148significância:0.001;Rodada3:input=0.155 significância: 0.000;Rodada4: input=0.142 significância: 0.001;Rodada5: input=0.147significância:0.001.
Como podemos observar na tabela acima, na rodada em que todas as
configuraçõesdecontextosegmentalforamcomputadas(rodada1),ospesosrelativospara
osfatoresalta,médiaebaixaforamp=0,504,p=0,564ep=0,459,respectivamente,ouseja,
palavras de alta frequência parecem ser neutras ao processo, enquanto que palavras de
frequênciamédia tendem (levemente) à queda de sílaba e palavras de baixa frequência
inibem, também levemente, o processo. Na rodada 2, em que a variável de contexto
segmental foi Igualdade de Segmentos, as tendências continuam iguais: alta frequência,
comp=0,519,sãoneutrascomrelaçãoap=0,549ep=0,441,depalavrasdemédia (com
86Cf.resumodas5rodadasem(234),nasubseção5.2.
121
umatendênciaàquedadesílaba)ebaixafrequências(quedesfavorece),respectivamente.
Paraas rodadasemque foramcomputadososcontextossegmentaiscomCavidadeOral
dasConsoantes (rodada3),CavidadeOral dasConsoantes comdistinçãode segmentos
[nasal](rodada4),eCavidadeOraldasVogais(rodada5),todasasvariáveisdeFrequência
deUsodePalavrastiveramomesmocomportamento:palavrasdefrequênciamédiadeuso
favorecemaquedadesílaba;palavrascomfrequênciabaixa inibemoprocesso;eo fator
querepresentapalavrasdealtafrequênciadeusopareceserneutro.
Para uma melhor visualização dos resultados, observe abaixo o gráfico com os
pesosrelativosobtidosnas5rodadasparaavariávelFrequênciadeUsodasPalavras:
Gráfico5 –SemelhançasnospesosrelativosdavariávelFrequênciadeUsodasPalavras
Vemosnográficoacimaqueos resultadosparao fator de frequênciaalta sempre
apresentaramumpeso relativo indicativodeneutralidadecom relaçãoàquedadesílaba;
palavras de frequência média tendem (um pouco) ao processo; finalmente, palavras de
baixafrequênciainibem(levemente)oprocesso.
Ressaltoaindaqueavariável Informantes foi selecionadaem todasas5 rodadas,
enquantoquenenhumadasvariáveisdasoutrasvariáveisexternasEscolaridade,Gênero,
FaixaEtáriaeCidadefoiselecionado.
Assim,decidimosporapresentarosresultadosdasfrequênciasepesosrelativosda
122
rodada1,emquetodasasvariáveisparaocontextosegmentalforamrodadas.
Apresento,napróximasubseção,osresultadosdarodadageral,emqueCapivarie
Campinasforamrodadasemconjunto.
5.3. Resultados:asduascidades
Como dito na seção 5.2, nesta rodada geral aqui apresentada, todas as variáveis
paraocontextosegmentalforamutilizadas,incluindoorestantedasvariáveislinguísticase
asvariáveissociais.87
Aúnicavariável(linguística)nãoselecionadanarodadageralfoiCavidadeOraldas
Consoantessemdistinguirotraço[nasal].Assim,aIgualdadedeSegmentosnassílabas,a
Cavidade Oral das Consoantes (fazendo-se distinção de segmentos [nasal]) e Cavidade
Oral das Vogais são variáveis que interferem no processo. Ainda, as outras variáveis
linguísticas (que não do contexto segmental) Estrutura Silábica, Métrica e Prosódia, o
NúmerodeSílabasdaprimeirapalavraesuaFrequênciadeUsotambémsãoimportantes
paraaaplicaçãodaquedadesílabanosdadosdeCapivarieCampinasjuntas.
Se,paraasvariáveislinguísticassónãofoiselecionadoumdeles,paraasvariáveis
sociais só foi selecionada uma delas: os informantes, do que podemos interpretar que
Escolaridade,Gênero,FaixaEtáriaeCidadenãointerferemnoprocesso.
A apresentação detalhada dos resultados da rodada geral está disposta em 2
subseçõesprincipaisaseguir,asvariáveislinguísticas(cf.5.3.1)eossociais(ver5.3.2).
5.3.1. Asvariáveislinguísticas
Apresento nesta subseção as seguintes variáveis linguísticas que podem interferir
na queda de sílaba: o contexto segmental (cf. 5.3.1.1); a Estrutura Silábica (5.3.1.2); a
Métrica (5.3.1.3); a Prosódia (5.3.1.4); o Número de Sílabas da palavra sujeita ao
87 Lembramos que, para a variável de igualdade de segmentos, foram excluídas 2243 combinações deestruturas silábicas diferentes de CV, totalizando 3385 tokens computados nesta variável. Com relação àfrequênciadeusodaspalavras,90tokensquenãoentraram,totalizando5538dados–cf.envelopedevariaçãonas subseções 4.1.4.1.1.1 (Igualdade de Segmentos) e 4.1.4.1.6 (Frequência deUso de Palavras). No queconcerneàcavidadeoraldasconsoantes,codificamosdeduasformas:primeiramente,verificamosospontosdeC e os valores para [contínuo] (ou seja, a cavidade oral) de todos os tokens. Num segundo momento,codificamostambémasconsoantesquetivessemotraço[nasal]–cf.subseções4.1.4.1.1.2(cavidadeoraldasconsoantes)e4.1.4.1.1.3(cavidadeoraldasconsoantescomdistinçãode[nasal]).
123
apagamento (cf. 5.3.1.5); e a Frequência de Uso da primeira palavra do contexto (ver
5.3.1.6).
5.3.1.1. Contextosegmental
Comovimosnasubseção4.1.4.1.1,ocontextosegmentalémuitoimportanteparaa
queda de sílaba, pois é com ele que se define o processo (cf. em 3.2.1 a definição do
contexto segmental de queda de sílaba com base na literatura). Assim, optamos por
analisá-lo de diversas formas e aqui o apresentamos nas seguintes subseções: em
5.3.1.1.1,estãoosresultadosparaavariáveldeIgualdadedeSegmentosnassílabas;em
5.3.1.1.2, apresentamos as variáveis relacionadas às consoantes; e em 5.3.1.1.3
apresentamosavariáveldasvogais.
5.3.1.1.1. IgualdadedeSegmentosnasSílabas
As frequênciasepesosrelativosparaavariávelde IgualdadedeSegmentos88são
dadasaseguir:89,90
88 Vale lembrar que, nesta variável, entraram apenas sílabas simples, ou seja, 2243 dados com sílabasdiferentesdeCVforamexcluídos(cf.envelopeem4.1.3).89As frequênciasepesos relativossãodeaplicaçãodequedadesílaba,como indicaaabreviação “apl”nastabelas(cf.nota84).Apresentamostambém,depoisdonomedecadavariante,suarespectivaabreviaçãoentreparênteses (abreviaçõesque foramusadasnosgráficos.Porexemplo,ossímbolos (C=,V=) indicam“sílabascompletamenteiguais”Tabela14).Finalmente,“N”e“p.r.”indicam,respectivamente,“númerodeocorrências”e“pesorelativo”.90NaTabela14,aocompararamaiorporcentagemeomaiorpesorelativodosfatores,temosqueambossãoparaofatordesílabascompletamenteiguais(C=V=),com37,6%ep=0,576.Noentanto,omesmonãoocorrecom o segundo colocado: a segundamaior porcentagem é para o fatorC#vozV# (consoantes diferentes em[vozeamento]evogaisdiferentes),com30,6%eseupesorelativo(p=0,512)nãocorrespondeaosegundomaiorpesorelativo.Esteresultadopodedecorrerdeduascausas:(i)ouporcausadanãoortogonalidadedosdados(hámuitosdadosemumlocalemuitopoucosemoutro);(ii)ouháinteraçãoentregruposdefatores.Optamospor utilizar os resultados apresentados na Tabela 14, e casos como (i) e (ii) serão abordados futuramente.AgradeçoaoProfDrRonaldBelineMendespormeapontarestapossibilidade.
124
Tabela14 –VariávelIgualdadedeSegmentos(asduascidades)IgualdadedeSegmentos N Ntotal %apl P.R.
σscompletamenteiguais(C=V=) 94 250 37,6 0,576
Csiguais,Vsdiferentes(C=V#) 258 888 29,1 0,555
Csdiferentesem[vozeamento],Vsiguais(C#vozV=) 96 323 29,7 0,477Csdiferentesem[vozeamento],Vsdiferentes(C#vozV#) 232 758 30,6 0,512
Csdiferentesem[nasal],Vsiguais(C#nasalV=) 20 154 13 0,438
Csdiferentesem[nasal],Vsdiferentes(C#nasalV#) 81 959 8,4 0,462
Csdiferentesem[anterior,distr.],Vsnãoimportam(C#distr.) 2 53 3,8 0,148
total 783 3385 23,1 input=0.136;significância:0.004
Os fatores que mais favorecem a queda de sílaba são Sílabas Completamente
Iguais,comp=0,576,eConsoantesIguais,VogaisDiferentes,comp=0,555,exemplificadas
aseguir:91
(235) C=V= apren(DE)DEsenho (M)
(236) C=V# acaba(DO)DEficarnoivo (O)
Em (235) e (236), as consoantes são idênticas /d + d/ e as vogais diferem no
segundo exemplo (contexto vocálico /o + e/). Em ambos os casos, há um favorecimento
paraaquedadesílaba,masseasvogais foremdiferentes, (cf. (236)),o favorecimentoé
(levemente)menor.
Seasconsoantesdiferirememvozeamento,ospesos relativosestãopróximosdo
neutro, tanto se as vogais forem iguais (p=0,477) ou diferentes (p=0,512), como
exemplificadoaseguir:
(237) C#vozV= monTEDEárvore (B)
(238) C#vozV# aberTODEsexta (l)
91Nosexemplosdecadaumadasvariantes,demospreferênciaaoambientedequedadesílaba,sendoqueasaplicações e não aplicações foram tomadas ao acaso (lembramos que os casos de aplicação estão entreparênteses).Paraexemplosdas variantesque levamemcontaaplicaçãoenãoaplicaçãodoprocesso,cf. oenvelopedevariaçãoem4.1.4.
125
Em (237) e (238), a primeira consoante do contexto segmental é desvozeada /t/,
seguida de uma /d/ vozeada; aqui também, apesar da diferençaentre as consoantes em
(237) /e+e/ e em (238) /o+e/, o comportamento dos dois fatores é semelhante (os pesos
relativosestãopróximosaopontoneutro).
Apartirdestesresultados,verificamosqueovozeamentopodeinterferirnaquedade
sílaba,diferentedo resultadoda literatura (ver subseção 3.2.1): se compararmos,porum
lado, os pesos relativos para consoantes iguais, com p=0,576 (para vogais iguais) e
p=0,555(paravogaisdiferentes)e,poroutrolado,consoantesquediferememvozeamento,
comp=0,477(paravogaisiguais)ep=0,512(paravogaisdiferentes),podemosnotarquese
as consoantes foremdiferentesem [vozeamento], háumaneutralidadedoprocesso–ou
seja,senãohouverumadiferençaentreasconsoantes,oprocessoéfavorecidoenquanto
que,seestessegmentosforemdiferentesem[vozeamento],háumaneutralidade.
Ainda de acordo com estes resultados, as vogais parecem não interferir no
processo, já que, sendo iguais ou diferentes, as tendências são parecidas: se as
consoantesforemiguais,ospesosrelativossãop=0,576paravogaisiguaisep=0,555para
vogais diferentes; para consoantes diferentes em [vozeamento], os pesos relativos são
p=0,477 e p=0,512 (vogais iguais e diferentes, respectivamente). Estes resultados de
neutralidade das vogais podem ser corroborados com consoantes diferentes no traço
[nasal]:mesmocomadiferençanasvogais,estesdoiscontextosdesfavorecemaquedade
sílaba–vogaisiguais(p=0,438)ediferentes(p=0,462).Apresentoabaixoexemplosdestes
fatores:
(239) C#nasalV= viDANAcidade (v)
(240) C#nasalV# esperanDONAporta (H)
Paraofatoremqueasconsoantesdiferemem[anterior,distribuído],92nãopodemos
tirar conclusões, já que a frequência foi muito baixa, com N=2/53. Observe o exemplo
92 Lembramosquenãohádistinçãoentre vogaisnesta varianteem razãodopouconúmerode tokens destavariável: as ocorrências de consoantes que diferem em [anterior, distribuído] com vogais iguais e diferentesforamN=2/28eN=0/27,respectivamente.
126
abaixo, em que a primeira consoante é [+anterior, -distribuído] e a segunda é [-anterior,
+distribuído]:93
(241) C#ant.distr. quaSECHEgando (N)
Apresentoaseguirográfico94dospesosrelativosobtidosnestavariável:
Gráfico6 –VariávelIgualdadedeSegmentos(asduascidades)
De forma resumida, observamos que consoantes iguais favorecem (levemente) a
queda de sílaba; contextos emque as consoantes diferemem [vozeamento] são inertes;
consoantesdiferentesem [nasal]desfavorecemaquedadesílaba.Alémdisso,asvogais
parecem não interferir no processo, se se levar em conta a característica de
93Demodogeral,oobjetivonestateseédelimitarascombinaçõesdossegmentosnaaplicaçãodequedadesílaba. Dessa forma, controlamos os traços de cavidade oral (ponto de C e [contínuo]) e a nasalidade. Noentanto,não foipossívelanalisardamesma formaos traços [anterior,distribuído]porquea frequênciadestessegmentos foi baixa (2/53 ocorrências de aplicação). Outra delimitação imposta pelas frequências dossegmentosfoidistinguircasosemquehásonorantesorais.Paraoportuguês,estestiposdesegmentossão/r/,/ʎ/ e /l/ e, especificamente para este estudo, não há possibilidade de contextos com as duas primeirasconsoantes, jáquenãohápalavrasemportuguêsqueseiniciempor/r/ou/ʎ/–ouseja,nãohácontextosdequedadesílabaquesejam/r+ r/ou /ʎ+ʎ/.Paracontextos /l+ l/ (quesãopossíveiscandidatosàquedadesílaba),asfrequênciasencontradasforammuitobaixas–10/85deaplicação.Estaspossibilidadesserão,assim,trabalhadasemoutrosestudos.94Nosgráficos,osnúmerosentreparêntesesindicamasocorrências(Ntotal)davariante.Porexemplo,C=V=(250)noGráfico6significaqueavariantedeconsoantesevogaisiguaisteve250ocorrênciasnocorpus).
127
igualdade/diferença entre a primeira e a segunda vogais. Finalmente, não há conclusões
para consoantes diferentes em [anterior, distribuído], pois o número de tokens para este
fatorfoibaixo.
5.3.1.1.2. CavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode[nasal]
Dasduasconfiguraçõesparaasconsoantes(cf.envelope4.1.4.1.1.2e4.1.4.1.1.3),
omaisadequadoésepararsegmentos [nasal], jáquefoiestaavariávelselecionadapelo
programa em todas as rodadas. Apresentado a seguir os pesos relativos para Cavidade
OraldasConsoantescomDistinçãode[nasal]:
Tabela15 –VariávelCavidadeOraldasConsoantescomDistinçãodoTraço[nasal](asduascidades)CavidadeOraldasConsoantescom[nasal] N Ntotal %apl P.R.
2consoantescoronal[-contínuo](t+t) 826 2563 32,2 0,642
2consoantescoronal[+contínuo](s+s) 75 385 19,5 0,643
2consoanteslabial[-contínuo](p+p) 18 88 20,5 0,582
2consoanteslabial[+contínuo](f+f) 14 119 11,8 0,517
2consoantesdorsal(k+k) 45 218 20,6 0,451
nasais(n+n) 208 2255 9,2 0,319
total 1186 5628 21,1 input=0.136;significância:0.004
Seoscontextosconsonantaisforemduascoronaisorais,háumfavorecimento,tanto
para consoantes [-contínuo] (com p=0,642) quanto [+contínuo] (p=0,643); também
favorecem as labiais [-contínuo] (p=0,582). Outros segmentos inibem a queda de sílaba
(duas dorsais, comp=0,451; e duas labiais [+contínuo], comp=0,517), e o contexto com
nasaiséoquemaisdesfavorece,comp=0,319.
Destes resultados, podemos concluir que os valores para [±contínuo] não são
suficientesparadeterminaraquedadesílaba:se,porumlado,estetraçonãointerferepara
coronaisorais(cf.contextosrepresentadosport+tes+snaTabela15),jáqueemambosos
casosháfavorecimento;poroutro,sehouverumaconsoantenasal[-contínuo],háomaior
desfavorecimentodoscontextosconsonantais.Aindacomrelaçãoa[contínuo],observamos
128
que háumadiferençatambémparaaslabiais:seestaconsoantefor[-contínuo],oprocesso
tende ao favorecimento, com p=0,582; se o segmento for [+contínuo] (com p=0,517), o
comportamentopassaaserinerte.Contudo,notamosqueonúmerodetokensparalabiais
[-contínuo]foibaixo(88tokens);assim,cabeaquiumestudo(futuro)comummaiornúmero
deocorrênciasparaaslabiais,afimdenoscertificarseocomportamentodecontextoscom
labiais[-contínuo]édefatodiferentedesequênciascomlabiais[+contínuo].Finalmente,as
dorsais [-contínuo] (p=0,451) desfavorecem o processo. Apresento a seguir os exemplos
retiradosdocorpusparatodososfatoresdestavariável:
(242) t+t laDODOconselhotutelar (B)
(243) s+s faÇOSÓtaichi (p)
(244) p+p tem(PO)PRAaposentadoria (k)
(245) f+f jogaVAVÔlei (f)
(246) k+k cin(CO)QUIlômetros (u)
(247) n+n reú(NE)NAquartafeira (x)
Em (242) há duas consoantes coronais [-contínuo]; o exemplo (243) representa
contextos também com duas coronais que desta vez são [+contínuo]; em (244) há duas
labiais[-contínuo];em(245)hánovamenteduaslabiaismasquesão[+contínuo];em(246),
háumadorsalseguidadeoutradorsal; finalmente,em (247)ocontextoconsonantalestá
preenchidoporduasnasais.95
Abaixo, está o gráfico que representa os resultados da Cavidade Oral das
ConsoantescomDistinçãodeSegmentos[nasal]:
95Lembramosque,navariantedasnasaisestãotantosequências[nasal+nasal]comotambém[oral+nasal]e[nasal+oral]–cf.subseção4.1.4.1.1.3doenvelopedevariação.
129
Gráfico7 –VariávelCavidadeOraldasConsoantescomDistinçãodoTraço[nasal](asduascidades)
Para a variável Cavidade Oral das Consoantes, a configuração mais relevante é
levar em conta o traço de nasalidade, já que foi esta a selecionada pelo programa;
Cavidade Oral das Consoantes (sem distinguir a nasalidade) nunca foi selecionada em
nenhuma das rodadas (cf. configuração das rodadas em (234), na subseção 5.2). As
coronaisorais[+contínuo]e[-contínuo]sãoasconsoantesquemaisfavorecemaquedade
sílaba. As nasais (que são [-contínuo] na cavidade oral) desfavorecem o processo.
Finalmente,notamosquecontextoscomdorsais(tambémtodas[-contínuo])desfavorecem
oprocesso.Apartirdestesresultados,notamosqueotraço[contínuo]nãoésuficientepara
o estabelecimento da regra de queda de sílaba: [-contínuo] pode favorecer (ver contexto
comcoronais)oudesfavorecer(sequênciascomdorsais);[+contínuo]podefavorecer(com
coronais)ouserneutro(comlabiais).
Finalmente, com relaçãoàs labiais, aquelasque têmo traço [-contínuo] provocam
umfavorecimentodaquedadesílaba,enquantoquelabiais[+contínuo]inibemoprocesso;
contudo,vimosqueafrequênciadeambososfatoresparalabiaisfoibaixa,eosresultados
paraestesfatoresforaminconclusivos.
130
5.3.1.1.3. CavidadeOraldasVogais
Comovimosem5.3.1.1.1,selevarmosemcontaumagradaçãodesegmentosque
vãodeiguais,passandoporsemelhantes,atécompletamentediferentes,oquepareceser
decisivoparaaimplementaçãodaquedadesílabaéacombinaçãodasconsoantes,enão
adasvogais–asintaxedestessegmentoséinerte.Noentanto,estavariáveldeCavidade
Oral das Vogais foi selecionada. Apresento a seguir as frequências e pesos relativos
obtidos:96
Tabela16 –VariávelCavidadeOraldasVogais(asduascidades)CavidadeOraldasVogais N Ntotal %apl P.R.
coronal+coronal(ee) 198 819 24,2 0,557
dorso-labial+dorso-labial(oo) 121 460 26,3 0,588
dorsal+dorsal(aa) 60 497 12,1 0,356coronal+dorsal(ea) 113 440 25,7 0,597
dorso-labial+dorsal(oa) 203 741 27,4 0,632
dorso-labial+coronal(oe) 340 1384 24,6 0,556
coronal+dorso-labial(eo) 42 216 19,4 0,417
dorsal+coronal(ae) 81 693 11,7 0,343
dorsal+dorso-labial(ao) 28 378 7,4 0,246
total 1186 5628 21,1 input=0.136;significância:0.004
A igualdadedaprimeiraedasegundavogalparecenão importarparaaquedade
sílaba, de acordo com os resultados desta variável: se houver duas vogais coronais
(p=0,557) ou 2 dorso-labiais (comp=0,588) há um favorecimento; em contrapartida, se o
houver duas vogais dorsais, o processo é desfavorecido, com p=0,356. Estes resultados
estãorepresentadosnosexemplosaseguir:
96 Levantamos anteriormente algumas possibilidades de estudo de como amorfologia poderia influenciar naquedadesílaba (cf.notas44,58e72).Paraestegrupode fatoresCavidadeOraldasVogais, tambémseriainteressanteverificarse/comoo tipode informaçãogramaticalestaria influenciandoaquedadesílaba.Assim,procuraríamosresponderaperguntascomo:ummorfemazerotemumatendênciamaioraoapagamentodoquemorfemasmarcados?Exemplificando, temos:daspalavrasmantO (morfemamasculino{-o}),mentA (morfemafeminino{-a})oumentE(morfema{-∅}),qualseriaoefeitodosmorfemasnaquedadesílaba?AgradeçoàProfªDrªLucianiTenanipormeapontarestapossibilidade.
131
(248) ee cida(DE)DEPorecatu (u)
(249) oo acontecen(DO)NOcentrodacidade (U)
(250) aa juniNANAigreja (q)
Os contextos em (248)-(250) têm vogais iguais, mas há favorecimento nas duas
primeiras,enquantoque,em(250),oprocessoéinibido.
Odesfavorecimentocomvogaisdorsaispodesercorroboradoseobservarmosestes
tipos de segmentos na primeira posição do contexto:mesmo que seguida de uma vogal
coronal(p=0,343,cf.exemplo(251))oudeumadorso-labial(p=0,246,verexemplo(252)),
háumdesfavorecimentodaquedadesílaba:
(251) ae falTADEatenção (G)
(252) ao mediDADOpossível (r)
Por outro lado, se a vogal dorsal estiver na segunda sílaba, e a primeira for uma
coronal (p=0,597) ou uma dorso-labial (p=0,632), a queda de sílaba é favorecida. O
processo também é favorecido com uma dorso-labial seguida de uma coronal (p=0,556).
Exemplificoaseguirestestrêsfatoresdecontextovocálico:
(253) ea tes(TE)NAponte (M)
(254) oa advogaDODAmãe (h)
(255) oe calça(DO)DEsolabemgrossa (t)
Estes resultados podem indicar que o importante é ponto deC da vogal sujeita à
queda(istoé,daprimeirasílaba)enãoaigualdadedasduasvogais–navariávelIgualdade
deSegmentos(cf.5.3.1.1.1)osresultadosapontamque,defato,asvogaisnãointerferem
noprocessoseconsiderarmosestessegmentosdeacordocomaigualdade/diferençaentre
eles. Emoutras palavras, contextos emque há uma coronal na primeira posição (cf. ee,
comp=0,557eea,comp=0,597)ouumadorso-labial (cf.oe,p=0,556;oap=0,632;eoo,
p=0,588),aquedadesílabaéfavorecida.Aexceçãoaestepadrãopareceserseavogal
132
coronalestiverseguidadeumadorso-labial,comp=0,417,porexemplo:
(256) eo cida(DE)DOporto (v)
Olhandoestesdadosmaisdeperto,notamosqueonúmerodetokensdoscontextos
eofoiomenordestavariável,comN=42/216,etrabalhosdevemserfeitosparaverificaro
comportamentodestefator.
Apresentoospesosrelativosobtidosnográficoabaixo:
Gráfico8 –VariávelCavidadeOraldasVogais(asduascidades)
A partir dos resultados desta variável, pudemos verificar que não é apenas a
igualdadedasvogaisqueimportaparaaquedadesílaba(cf.subseção5.3.1.1.1),massim
qualéopontodeCdavogalquepreencheasposições:seocontextotiverduascoronais
ou duas dorso-labiais, o processo é favorecido; por outro lado, se as vogais forem duas
dorsais,háumdesfavorecimento.
Se a primeira posição for preenchida por uma dorsal (sem importar a vogal
seguinte), há um desfavorecimento; se a primeira vogal for uma coronal ou uma dorso-
labial,oprocessoé favorecido–comexceçãodocontextocoronal+dorsal,sobreoqual
nadaafirmamosporquehouvepoucosdados.
133
5.3.1.2. Estruturadassílabas
Observeasfrequênciasepesosrelativosapresentadosnatabelaaseguir,emque
relacionamosoprocessofonológicoeasestruturasdassílabasdocontextosegmental:
Tabela17 –VariávelEstruturaSilábica(asduascidades)EstruturaSilábica N Ntotal %apl P.R.
duassílabassimples(CV+CV) 783 3385 23,1 0,508
duassílabascomcodaramificada(CVC+CVC) 8 73 11 0,445
duassílabascomataqueramificado(CCV+CCV) 3 8 37,5 0,726
sílabasimplesseguidadeoutrotipodeestrutura(CV+o) 251 1315 19,1 0,562
sílabacomcodaseguidadeoutrotipodeestrutura(CVC+o) 38 424 9 0,311
sílabacomataqueramificado+outrotipodeestrutura(CCV+o) 82 310 26,5 0,517
duassílabascomoutrostiposdeestruturas(excetoasacima)(o+o) 21 113 18,6 0,279
total 1186 5628 21,1 input=0.136;significância:0.004
SeambasassílabastiveremumaestruturaCV,háumaneutralidade(p=0,508);há
um (leve) favorecimento para os contextos de sílabas CV seguidas de outros tipos de
estruturas(p=0,562)etambémparasílabasCCVseguidasdeoutrasestruturas(p=0,517).
Exemplificandocontextosdequedadesílabacomsílabassimples(ver(257)e(258))ecom
sílabascomataqueramificado(naprimeiraposiçãodocontexto,cf.(259)),temos:
(257) CV+CV dolaDODOnotredame (V)
(258) CV+o arquite(TO)TAMbémpode (d)
(259) CCV+o tea(TRO)DEarena (s)
Háduassílabassimplesem(257),contextoemqueoprocessoéneutro;em(258)e
(259),háumlevefavorecimentodaquedadesílaba,emsequênciasdesílabassimples+
outros tipos de estruturas e de sílabas com ataque ramificado na primeira posição,
respectivamente.
Sílabas com coda (CVC) seguidas de outros tipos de sílabas desfavorecem o
processo,comp=0,311,damesma formaquesequênciasdesílabascomoutros tiposde
134
estruturas+outrostiposdeestruturas,comp=0,279,comoexemplificadoabaixo:
(260) CVC+o alguMASPEssoas (z)
(261) o+o casadosouTROS,TRAbalhandonacasadosoutros (B)
Em(260),háumasílabacomcodaseguidadeumasílabasimples,ouseja,éum
contextodeCVC+outrostiposdeestruturas;em(261),háumasílabaCCVCseguidade
umaCCV;nestesdoiscasos,háumainibiçãodoprocesso.
Háumgrandefavorecimentodeaplicaçãodoprocessoseambasassílabasforem
CCV, com p=0,726; no entanto, não podemos afirmar que este tipo de contexto tende à
queda,umavezqueafrequênciadestefatorémuitobaixa:houve3aplicaçõesemapenas
8 tokens. Damesma forma, não há nenhuma conclusão dos contextos em que há duas
sílabascomcoda (CVC+CVC), jáqueasocorrências também forambaixas:apenas8/73
tokens.
Ográficoabaixoresumeosresultadosobtidos:
Gráfico9 –VariávelEstruturaSilábica(asduascidades)
Nesta variável, vimos que sílabas CV+CV não interferem no processo; para
contextosCV+o,háum leve favorecimento.ComrelaçãoàssílabasCCV,nadapodemos
135
concluirsobrecontextosCCV+CCV, jáquea frequência foibaixaparaeste fator (N=3/8);
mas verificamos que também são neutros os contextos com CCV na primeira posição,
seguidas de quaisquer outros tipos de estruturas. Se a primeira posição for ocupada por
sílabas com coda, o processo é desfavorecido, bem como com contextos em que as
estruturassãooutrostiposdeestruturas+outrostiposdeestruturas.
5.3.1.3. Métrica
Asfrequênciasepesosrelativosparaassequênciasacentuaissãodadosaseguir:
Tabela18 –VariávelMétrica(asduascidades)Métrica N Ntotal %apl P.R.
lapsode3sílabas(x••#•) 9 26 34,6 0,684
lapsode3sílabas(aúltimaéumclítico)(x••#c) 31 93 33,3 0,747
duasfracasentreumacento1árioeumacento2ário(x••#y) 1 6 16,7 0,894duasfracasentreduasfortes(x••#x) 10 73 13,7 0,485
lapsode2sílabas(x•#•) 169 819 20,6 0,508
lapsode2sílabas(aúltimaéumclítico)(x•#c) 624 2036 30,6 0,638
umafracaentreumacento1árioeumacento2ário(x•#y) 56 218 25,7 0,629
umafracaentreduasfortes(x•#x) 286 2357 12,1 0,354
total 1186 5628 21,1 input=0.136;significância:0.004
Com relação aos 4 primeiros contextos métricos apresentados na Tabela 18, as
ocorrências forambaixas,esãosequênciasemqueaprimeirapalavraéumdátilo,quais
sejam:umlapsode3sílabas[x••#•](comN=9/26);umlapsode3sílabas,sendoquea
últimaéumclítico[x••#c](N=31/93);duasfracasentreumacentoprimárioeumacento
secundário[x••#y](N=1/6);eduasfracasentreduasfortes[x••#x](N=10/73).Dessa
forma,nãopodemostirarconclusõesdestes4fatores,jáqueonúmerodetokensfoibaixo.
Aseguir,apresentoosexemplosdocorpusparaestesquatrofatores:
136
(262) [x••#•] AtelefoniCAGArantecontratualmente (K)
te le fo ni CA ga ran tey • x • • • x •
(263) [x••#c] Lógi(CO)QUEcêconsegue... (L)
ló gi (CO) QUEx • (•) •
(264) [x••#y] ...daprevidên(CIA)SOcial,entendeu? (V)
pre vi dên (CIA) SO ci aly • x (•) y • x
(265) [x••#x] ...nãotinhageladeiraelétri(CA)COmotemhoje. (K)
e lé tri CA CO mo• x • (•) x •
Para os outros 4 contextos, há um favorecimento da queda de sílaba com uma
sequência [x • # c], com p=0,638; numa sequênciamétrica em que há uma sílaba fraca
entre uma forte e outra com acento secundário [x • # y], também há uma tendência ao
processo,comp=0,629;asequênciadeumasílabaforteseguidadeduasfracas[x•#•]é
inerte, com p=0,508; e na sequência em que há uma sílaba desacentuada entre dois
acentosfortes[x•#x],oprocessoédesfavorecido,comp=0,354.
Exemplificandocomosdadosdocorpus, temosasseguintesgradesmétricaspara
os4contextosemqueaprimeirapalavraéumasílabaforteseguidadeumafraca:
(266) [x•#•] cidaDEDEsenvolvida (Q)
ci da DE DE sen vol vi da• x • • y • x •
137
(267) [x•#c] esta(DO)DOparaná (o)
es ta (DO) DO• x (•) •
(268) [x•#y] começan(DO)DEvagarzinho (Z)
co me çan (DO) DE va gar zi nhoy • x (•) • x • x •
(269) [x•#x] nascimenTODEle (v)
na sci men TO DE ley • x • x •
Em(266),háumcontextodeumasílabaforteseguidadeduasfracas[x•#•],um
exemplo de neutralidade à queda de sílaba. Em contextosmétricos como [ x • # c ] (cf.
(267))e[x•#y](ver(268)),háfavorecimentodoprocesso,eemambososexemplos,a
queda de sílaba foi aplicada. Finalmente, sequências [ x • # x ] em que a aplicação da
queda de sílaba pode resultar em choque de acento, o processo é inibido, como
exemplificadoem(269).
NoGráfico10,apresentoospesosrelativosparaavariávelMétrica:
Gráfico10 –VariávelMétrica(asduascidades)
138
Resumindo os resultados para a variável Métrica, pudemos observar que
sequências comumasílaba fracaentre umasílaba forte e umclítico [x • # c] favorecea
implementação do processo, bem como contextos [x • # y], em que a sequência é uma
sílaba com acento primário seguida de uma fraca e outra com acento secundário.
Sequências comumasílaba forte seguidadeduas fracas [x • # •] sãoneutras, enquanto
que contextos [x • # x] desfavorecem – isto é, são sequências em que a aplicação do
processoresultaemchoqueacentual.Nosquatrocontextosemqueaprimeirasílabaéum
dátilo([x••#•],[x••#c],[x••#y]e[x••#x]),nãotemosconclusões,jáqueforam
poucososdadosnestesdoisfatores.
5.3.1.4. Prosódia
Os resultadosdequedadesílaba relacionadosaosconstituintesprosódicos foram
osseguintes:
Tabela19 –VariávelProsódia(asduascidades)Prosódia N Ntotal %apl P.R.
entrefrasesentonacionais(entreIs) 202 1694 11,9 0,451
entrefrasesfonológicas(entreΦs) 358 1313 27,3 0,558
entregruposclíticos(dentrodeΦreestr.)(entreCs) 626 2621 23,9 0,503
total 1186 5628 21,1 input=0.136;significância:0.004
Comopodemosobservarna tabelaacima,aquedadesílabanãoébloqueadaem
nenhumnível,oquecorroboraaliteratura(Tenani2002,Battisti2004ePavezi2006a,para
ahaplologia,eLeal2006paraquedadesílaba).Notamostambémqueospesosrelativos
nãosãopolarizados,oquepodeindicarquenãoháumagrandediferençanastendências
dos níveis prosódicos relacionados à queda de sílaba. Há um leve favorecimento do
processo na fronteira de frases fonológicas, com p=0,558. Entre grupos clíticos, que é
tambémdentrodefrasefonológicareestruturada,nãoháefeitonoprocesso(p=0,503)(com
a reestruturação, as palavras do contexto segmental ficam entre dois grupos clíticos, cf.
Nespor & Vogel 1986 e subseção 2.2.4). Com relação à sentença, observamos que a
aplicaçãodequedadesílabaé levementedesfavorecidaentre frasesentonacionais, com
139
p=0,451.Exemplificando,temos:
(270) EntreCs [aqueLA]C[LEI]C (V)
(271) DentrodeΦsr [[[aciden(TE)]C]Φ[[DEcaminhão]C]Φ]Φreest (C)
(272) EntreΦs [acontecen(DO)]Φ[NOcentrodacidade]Φ (U)
(273) EntreIs [absurDO,]I[NÉ]I (l)
Em(270)e(271),afronteiraentreosconstituinteséamesma:doisgruposclíticos.
Adiferençaéque,em(271),[acidente]Φe[decaminhão]Φsãoduasfrasesfonológicasque
podemserreestruturadas,jáqueosegundoconstituinte[decaminhão]nãoéramificadoeé
complementodaprimeirafrasefonológica[acidente].Osdoisexemplosfazempartedeum
mesmo fator, e o peso relativo indica que há uma neutralidade ao processo.O exemplo
(272) representa um contexto de queda de sílaba em que a fronteira é duas frases
fonológicas que não podem ser reestruturadas – apesar de [no centro da cidade] ser
complementode [acontecendo],éuma frase fonológica ramificada (ouseja, tem2grupos
clíticos: [nocentro] Ce [dacidade]C),oque impossibilitaa reestruturação;nestecaso,há
um leve favorecimento do processo. Finalmente, o contexto segmental no exemplo (273)
estáentreduassentenças(frasesentonacionais),emqueháumlevedesfavorecimentodo
processo.
Comovimosnasubseção3.2.4,Tenani(2003)(paraahaplologia)afirmaquequanto
mais altos os níveis prosódicos, a tendência ao apagamento vai diminuindo.No entanto,
nosdadosdonossocorpus, isto seria verdadesehouvessemaisaplicaçãodequedade
sílabaentregruposclíticosdoqueentrefrasesfonológicas.Assim,paraahierarquiacomo
um todo, os resultados aqui apresentados vão de encontro aos de Tenani (2003), e
corroboramBattisti(2004)ePavezi(2006a).
Aseguir,apresentoográficodepesosrelativosparavariávelProsódia:
140
Gráfico11 –VariávelProsódia(asduascidades)
Como podemos notar no Gráfico 11, os pesos relativos sãomuito próximos para
estavariável:entregruposclíticos(edentrodefrasefonológicareestruturada),oprocessoé
neutro;entrefrasesentonacionais,aquedadesílabaélevementedesfavorecida;eháum
levefavorecimentoentrefrasesfonológicas.EsteúltimoresultadocorroboraPavezi(2006a)
eBattisti(2004)paraahaplologiaeLeal(2006)paraquedadesílaba.Verificamostambém
que a queda de sílaba não é bloqueada em nenhumnível (para a haplologia, cf. Tenani
2002,ePavezi2006a,eparaaquedadesílabaLeal2006).
5.3.1.5. NúmerodeSílabas
OsresultadosobtidosparaNúmerodeSílabasforamosseguintes:97
Tabela20 –VariávelNúmerodeSílabas(asduascidades)NúmerodeSílabas N Ntotal %apl P.R.2sílabas(2σs) 662 3250 20,4 0,472
3sílabas(3σs) 324 1552 20,9 0,507
4sílabasoumais(4σsou+) 200 826 24,2 0,593
total 1186 5628 21,1
97UmprocedimentoaserfeitoécruzarogrupodefatoresMétricaemestegrupoNúmerodeSílabas.Optamospor analisar todos os grupos de fatores separadamente, deixando os cruzamentos para trabalhos futuros.AgradeçoàProfªDrªLucianiTenanipormechamaraatençãoparaestapossibilidade.
141
input=0.136;significância:0.004
Há um favorecimento do processo para palavras maiores do que 4 sílabas, com
p=0,593;podemosobservarquepalavrascom3sílabassãoneutras(p=0,507);epalavras
com2sílabasdesfavorecemlevementeoprocesso,p=0,472.
Assim,aaplicaçãodequedade sílabaédiretamenteproporcional ao tamanhoda
palavra:quantomaiorapalavra,atendênciadeaplicaçãoaoprocessoaumenta.Observeo
exemploaseguir:
(274) 6sílabas o.por.tu.ni.da(DE)DEconversarcomela (G)
Casos como (274) tendem ao processo, pois a palavra sujeita à queda tem 6
sílabas.
Apresento abaixo o gráfico com os pesos relativos para a variável deNúmero de
Sílabas:
Gráfico12 –VariávelNúmerodeSílabas(asduascidades)
Os resultadosparao tamanhodapalavrasujeita àquedaapontamque,àmedida
queaumentaonúmerodesílabas,aumentatambémaimplementaçãodoprocesso.
142
5.3.1.6. FrequênciadeUsodePalavras
Apresentoaseguirasfrequênciasepesosrelativosparaestavariável:
Tabela21 –VariávelFrequênciadeUsodePalavras(asduascidades)FrequênciadeUsodasPalavras N Ntotal %apl P.R.
maisde20.900ocorrênciasnoASPA(alta) 620 2948 21 0,504
de10.451a20.899ocorrênciasnoASPA(média) 246 888 27,7 0,564
menosde10.450ocorrênciasnoASPA(baixa) 306 1702 18 0,459
total 1172 5538 21,2 input=0.136;significância:0.004
Como vemos na Tabela 21, os resultados para esta variável também não estão
polarizados: palavras de alta frequência (commais de 20.900 ocorrências) parecem não
interferirnoprocesso (p=0,504),eháuma leve tendênciaaoprocessocompalavrascom
frequência média (de 10.451 a 20.899 ocorrências), com p=0,564. Palavras de baixa
frequência(frequênciademenosde10.450ocorrências)pareceminibiraquedadesílaba
(p=0,459).Osexemplosaseguirilustramoscontextosdequedadesílabanos3fatores:
(275) frequênciaalta úniCAQUEtinha (i)
(276) frequênciamédia máqui(NA)DEcostura (u)
(277) frequênciabaixa gráviDADEnovo (O)
Ospesosrelativosobtidosestãoapresentadosnográficoaseguir:
143
Gráfico13 –VariávelFrequênciadeUsodePalavras(asduascidades)
Paraestavariável,vimosqueseapalavra tiveralta frequência,aquedadesílaba
tendeaopontoneutro;palavrasdebaixafrequênciadesfavorecemlevementeoprocesso;e
palavrasdefrequênciadeusomedianatêmumlevefavorecimentodaquedadesílaba.
5.3.2. Asvariáveissociaisnasduascidades
Nenhuma das variáveis externas foi selecionada nas rodadas, com exceção de
informantes, que foi selecionada em todas elas. Ainda, esta variável foi a primeira a ser
selecionadacomoestatisticamentesignificativanonível1dostep-up,tambémemtodasas
rodadas(cf.adescriçãodasrodadasem(233),nasubseção5.2).
Nas subseções a seguir apresento os resultados das variáveis externas,
organizadas da seguinte maneira: Escolaridade (5.3.2.1), Gênero (5.3.2.2), Faixa Etária
(5.3.2.3),Informantes(5.3.2.4)eCidade(5.3.2.5).
5.3.2.1. Escolaridade
Apesardenãoselecionada(portanto,semrelevânciaestatística),háumadiferença
entreasfrequênciasdosfatoresdeEscolaridade,comoapresentadonatabelaaseguir:
144
Tabela22 –FrequênciasdavariávelEscolaridade(asduascidades)Escolaridade N Ntotal %apl
atéfundamental 712 2819 25,3
ensinosuperior 474 2809 16,9
total 1186 5628
Estes resultados apontam que pessoas que estudaram até o ensino fundamental
aplicammais o processo do que pessoas que fizeram faculdade, com, respectivamente,
25,3%e16,9%deaplicaçãodequedadesílaba.
5.3.2.2. Gênero
Tambémnestavariável,verificamosumadiferençanaaplicaçãodequedadesílaba:
Tabela23 –FrequênciasdavariávelGênero(asduascidades)Gênero N Ntotal %apl
masculino 741 2813 26,3
feminino 445 2815 15,8total 1186 5628
Como apresentado na Tabela 23, certificamos que os homens aplicam mais o
processofonológico(26,3%)doqueasmulheres(15,8%).
5.3.2.3. FaixaEtária
VerificamosnavariáveldeFaixaEtáriaqueexisteumadiferençadefrequênciasna
aplicaçãodequedadesílabacomasduascidades rodadas juntas,masestadiferençaé
menordoqueparaasvariáveisdeEscolaridadeeGênero:
Tabela24 –FrequênciasdavariávelFaixaEtária(asduascidades)FaixaEtária N Ntotal %apl
de20a35 644 2850 22,6
maisde50 542 2778 19,5
total 1186 5628
Como se vê na Tabela 24, apesar de haver uma diferença na implementação da
145
queda de sílaba entre pessoas mais jovens (22,6%) e os mais velhos (19,5%), esta
diferençanãoégrande.
5.3.2.4. Informantes
Como foi dito em 4.1.4.2.4, com esta variável, examinamos o comportamento de
cadainformante,afimdeverificarse,individualmente,algumdelestemumcomportamento
muitodiferentedosoutros–seesteforocaso,osresultadospodemestarmascarados.
Natabelaabaixo,apresentoasfrequênciaseospesosrelativosparaestavariável:
Tabela25 –VariávelInformante(asduascidades)cod. N Ntotal %apl P.R.
a 20 96 20,8 0,565
b 8 88 9,1 0,262
c 6 83 7,2 0,229d 5 108 4,6 0,242
e 23 109 21,1 0,484
f 2 97 2,1 0,075
g 10 102 9,8 0,324
h 2 103 1,9 0,056
i 23 97 23,7 0,694
j 15 94 16 0,524
k 53 150 35,3 0,766
l 14 113 12,4 0,358
A 31 167 18,6 0,518
B 25 105 23,8 0,603
C 17 130 13,1 0,324D 31 68 45,6 0,851
E 19 89 21,3 0,51
F 24 87 27,6 0,64
G 16 122 13,1 0,36
H 7 114 6,1 0,181
I 6 107 5,6 0,248
J 23 90 25,6 0,621
K 38 146 26 0,598
L 31 134 23,1 0,557
146
m 42 140 30 0,687
n 11 128 8,6 0,28
o 38 144 26,4 0,653
s 40 87 46 0,827
t 60 176 34,1 0,83
u 54 108 50 0,869
p 15 65 23,1 0,617
q 18 173 10,4 0,407
r 15 107 14 0,41
v 14 132 10,6 0,294
x 27 131 20,6 0,516z 27 147 18,4 0,481
M 30 161 18,6 0,48
N 32 109 29,4 0,678
O 25 118 21,2 0,551
S 46 164 28 0,567
T 91 149 61,1 0,909
U 32 108 29,6 0,627
P 29 114 25,4 0,614
Q 8 130 6,2 0,199
R 11 112 9,8 0,286
V 12 115 10,4 0,294
X 44 144 30,6 0,665Z 16 67 23,9 0,463
total 1186 5628 21,1 input=0.136;significância:0.004
Amédiade tokens coletadosdecada informante foide117,eos informantesque
tiverammenostokensforamD,p,eZ.Astaxasdeaplicaçõesdaquedadesílabaparape
Zestãopertodamédiade20%(informantep,N=15/65,com23,1%deaplicação;eZcom
N=16/67, 23,9%), eo informanteD, alémdepoucos tokens, teveuma frequênciaaltade
aplicaçãodequedadesílaba,com31/68(45,6%).
Observando-seospesosrelativos,vemosqueD,f,h,H,Q,s,t,Teunãoseguemo
padrão geral. Para melhor visualização dos pesos relativos, apresento-os em forma de
gráfico:
147
Gráfico14 –PesosrelativosdavariávelInformante(rodada1–asduascidades)deA-L:Capivari minúsculas:maisvelhosdeM-Z:Campinas maiúsculas:maisjovens
148
Houve9informantesquetiveramcomportamentosdiferenciados:4delesnosentido
dedesfavoreceraquedadesílabaeosoutros5,demodooposto,favorecendooprocesso.
Os pesos relativos para estes 9 informantes são peculiares porque suas características
externas (escolaridade,gênero, faixaetáriaecidade) nãoseguemnenhumpadrão, como
veremosaseguir.
Das4pessoasquedesfavorecem,apenasumadelasécampineira(ainformanteQ
temensinosuperioreestánafaixade20a35anosdeidade);dosoutros3,ocapivarianof
tem ensino fundamental; enquanto que as capivarianas h e H têm faculdade; f e h
pertencemàfaixamaisvelhadosinformantes,enquantoqueHtemde20a35anos.
Damesmaforma,nãoobservamosumpadrãoparaos5informantesquefavorecem
excessivamenteaquedadesílaba.Dentreeles,oúnicodeCapivariéD,quecursouatéo
ensinofundamentaletem21anos.Quantoaosoutroscampineiros,todossãohomensque
estudaramatéoensinofundamental;s,teutêmmaisde50anosenquantoqueDeTtêm
idades entre 20 e 35 anos. Observando-se as aplicações/pesos relativos gerais e
comparando-as com os 9 informantes que fogem do padrão geral, notamos que 3
capivarianos f, h e H desfavorecem muito a queda de sílaba, enquanto que apenas 1
capivariano favorece muito. E, para Campinas, o contrário aconteceu: apenas uma
campineiradesfavorecemuito,e4campineirosfavorecemmuito.
Podemosinterpretarqueosresultadosdestesinformantespodeseracausadeuma
maior aplicação de queda de sílaba emCampinas do que emCapivari, cujos resultados
apresentonapróximasubseção.
5.3.2.5. Cidade
Na rodadageral, a variávelCidadenão foi selecionado.ObservenaTabela26as
frequênciasdeaplicaçãodasduascidades:
Tabela26 –FrequênciasdavariávelCidadecidade N Ntotal %apl
Capivari 449 2599 17,3
Campinas 737 3029 24,3
total 1186 5628
149
Comopodemosobservar,houveumamaioraplicaçãodequedadesílabanacidade
deCampinasdoqueemCapivari.Seestatisticamentenãohádiferençarelevante(jáquea
variávelCidadenãofoiselecionada),percebemospelasfrequênciasqueháumadiferença
linguística relevantenasduascidades,ouseja,háumamaioraplicaçãoemCampinasdo
queemCapivari.
*
DosresultadosdeLeal(2006)(cf.tambémsubseção3.3),vimosque,paraCapivari,
ascombinaçõesdostraçosconsonantaisqueimplementamaregradequedadesílabasão
diferentesdosencontradosnaliteratura–cf.dialetoemAlkmim&Gomes(1982)(chamado
de impressionisticamente brasileiro pelas autoras); dialeto de São José do Rio Preto em
Tenani(2002,2003)eemPavezi(2006a,2006b);dialetodePortoAlegreemBattisti(2004).
Assim, a hipótese formulada para a variável Cidade (cf. 4.1.4.2.5) foi que há uma
probabilidade de o processo ocorrer mais em Capivari do que em Campinas, se
compararmosos resultados de Leal (2006) para aquela cidade comoutros resultados da
literatura.Noentanto,ahipótesenãofoicorroborada,jáqueataxadeaplicaçãodequeda
desílabaemCapivarifoi17,3%,eCampinasaplicoumaisoprocesso,com24,3%.
Paraverificarporque(ecomo)sedáestadiferençanaaplicaçãodaquedadesílaba
emCapivarieemCampinas,decidimosporrodá-lasseparadamente,comosugeremGuy&
Zilles (2007: 221) (cf. tambémsubseção 1.2), como objetivo de verificar de quemodoo
processo se diferencia (ou é igual) nas duas cidades.Nas rodadas emque computamos
CapivarieCampinasseparadamente(cf.capítulos6e7aseguir),buscamosresponderà
seguintequestão:sehádiferençasdeaplicaçãodoprocessonasduascidades,quaissão
elas?
5.4. Resumo
Nestecapítulodosresultadosdasduascidadesrodadasemconjunto,vimosqueas
variáveisquenão interferemnaquedadesílaba(ouseja,osquenãoforamselecionados
peloprograma)foram:aCavidadeOraldasConsoantes(semdistinguirotraço[nasal])eas
variáveisexternasEscolaridade,Gênero,IdadeeCidade.
150
Das as variáveis selecionadas, vimos que, na igualdade do conteúdo das sílabas
(variável chamadade IgualdadedeSegmentos), as consoantesparecemditar a regra, já
que,seasvogaisvariarem,nãohánenhumefeito;ovozeamentodasconsoantesinterfere
noprocesso:seasconsoantesforemidênticas(semimportarasvogais),háumatendência
à queda, mas se as consoantes diferirem em vozeamento, há uma neutralidade do
processo. Finalmente, o traço [nasal] desfavorece, e nada interpretamos dos traços
[anterior,distribuído],emdecorrênciadobaixonúmerodetokens.
Ainda quanto às consoantes, verificamos que além separá-las quanto às suas
cavidades orais, deve-se levar emconta tambémo traço [nasal], uma vez que foi esta a
configuração selecionada na rodada 1 (com todos os contextos segmentais); e os
resultados apontam que coronais orais favorecem e dorsais levemente desfavorecem a
queda de sílaba; as nasais inibem o processo; e não houve interpretação para labiais [-
contínuo]e[+contínuo]devidoaospoucosdados.
Paraasvogais,os resultados indicamqueasdorsaisdesfavorecem (ea segunda
posição vocálica é indiferente); as dorso-labiais e coronais favorecem, também sem
importar a segunda posição; se observarmos os contextos de coronal seguida de dorso-
labial,háumdesfavorecimentodoprocesso;noentanto,sãopoucosostokensnestefatore
nãopodemostirarumaconclusão.
No que concerne à Estrutura Silábica, sílabas CV e CCV na primeira posição do
contextotêmumcomportamentoparecido,jáqueparecemserneutras;sílabascomcodae
sílabascomoutrasestruturasdiferentesentresi(quenãoCV,CCVeCVC)desfavorecem.
OsresultadosparaaMétricaapontamqueháumfavorecimentodaquedadesílaba
seaprimeirapalavrativerumasílabaforteseguidadeumafracaeasegundainiciarporum
clítico ou por uma sílaba com acento secundário; para contextos rítmicos em que a
aplicaçãodoprocessoresultaemchoquedeacento(istoé,háumasílabafracaentreduas
fortes),háumainibiçãodoprocesso;finalmente,contextosdeumasílabaforteseguidade
suasfracassãoneutros.
ComrelaçãoàProsódia,oprocessoé levementefavorecidoemfronteiradefrases
fonológicas; um pouco desfavorecido entre sentenças; e é neutro em fronteira de dois
gruposclíticos(edentrodefrasefonológicareestruturada).
151
QuantoaoNúmerodeSílabas,palavrascommaisde4sílabasfavorecemumpouco
o processo; com 3, são neutras; e palavras pequenas (com duas sílabas) desfavorecem
levemente.
Na variável de Frequência de Uso de Palavras, os pesos relativos também não
forampolarizados,evimosquepalavrasdefrequênciamédiafavorecemumpouco;dealta
frequênciasãoinertes;epalavrasdebaixafrequênciadesfavorecemlevemente.
Finalmente, para as variáveis externas, a única delas selecionada foi informantes.
Das restantes, observando-se as frequências, pudemos constatar que idade parece não
influir (já quea frequência deaplicaçãoparaosmais jovensemais velhos foi parecida);
pessoascommenosnúmerodeanosdeestudoedegêneromasculinoaplicammais; e,
percentualmente,CampinasaplicamaisdoqueCapivari.
152
CAPÍTULOVI
6. EmCapivariNestecapítulo,apresentamososresultadosdosefeitoslinguísticosesociaisobtidos
dosdadosdeCapivari.Na tabelaabaixoestãoas frequênciasdos tokensdoestudo feito
emCapivari,com24 informantes:
Tabela27 –ResultadosdeaplicaçãodequedadesílabaemCapivariCapivari N %aplicação 449 17,3nãoaplicação 2150 82,7
total 2599
Damesmaformaquenarodadageral, foramfeitas5rodadas,variandoocontexto
segmental (cf.acomputaçãodosdadosem5.2),enãohouvemuitasdiferençasentreos
resultadosobtidosnas5rodadasparaosdadosdeCapivari.Porisso,novamente,optamos
por descrever a rodadamais geral, emque todas as variáveis foramutilizadas, incluindo
todasasvariáveisdocontextosegmental.
Todas as variáveis linguísticas foram selecionadas em Capivari para o contexto
segmental,excetoIgualdadedeSegmentoseCavidadeOraldasConsoantessemdistinguir
asnasais.Apesardeselecionadapeloprogramanarodadageral,avariável linguísticade
FrequênciadeUsodePalavrasnão foiselecionadaemCapivarie,novamente,avariável
Informantesfoiaúnicavariávelexternaselecionada.
Na subseção 6.1 a seguir, apresento os resultados das variáveis linguísticas
encontradasparaCapivarie,em6.2,estãoasvariáveissociais.
6.1. Asvariáveislinguísticas
Nesta seção apresento a análise desenvolvida levando-se em conta as variáveis,
quaissejam:ocontextosegmental(ver6.1.1),aEstruturaSilábica(cf.6.1.2),aMétrica(ver
6.1.3), aProsódia (cf. 6.1.4), oNúmerodeSílabas (ver 6.1.5) eaFrequênciadeUsode
153
Palavras(cf.6.1.6).
6.1.1. Contextosegmental
Os resultados do contexto segmental, rodado de diferentes formas (Igualdade de
Segmentosem6.1.1.1,CavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode[nasal]em6.1.1.2,
eCavidadeOraldasVogaisem6.1.1.3),estãoapresentadonassubseçõesaseguir.
6.1.1.1. IgualdadedeSegmentosnasSílabas
JáqueestavariávelnãofoiselecionadapeloprogramacomosdadosdeCapivari,
podemos concluir que não é a igualdade dos segmentos que ocupam as posições de
primeira e de segunda sílabas que importa para a realização de queda de sílaba em
Capivari. Em outras palavras, as diferenças de vozeamento, de nasalidade e dos traços
[anterior, distribuído] das consoantes, nemmesmodiferençasentre vogais, ditama regra
segmentalemCapivari.
Detodasas5configuraçõesderodadasparaCapivari(cf.resumodasrodadasem
(234), na subseção 5.2), a única vez que o programa selecionou esta variável foi
exatamentenarodadaemqueaIgualdadedeSegmentoseraaúnicavariáveldocontexto
segmental (isto é, na rodada2 descrita em (234), na subseção 5.2); assim, optamospor
analisarosdadosnestarodada.
Foram excluídos N=143/986 tokens com sílabas diferentes de CV, totalizando
306/1613dadosparaestavariável.98Apresentoaseguiras frequênciasepesos relativos
obtidosnarodada2:
98 Assim como na rodada geral, desconsideramos todos os contextos com sílabas diferentes de CV, o quetotalizou986tokens.Osdadosdescartadostêmasseguintesestruturasnaprimeirasílaba:139contextoscomCCVnaprimeirasílaba,12dadoscomCCVC,21comCgV,580contextoscomCV,228dadosdeCVC,3comestruturasCVCCe3comsílabasCVgCnaprimeiraposição.
154
Tabela28 –VariávelIgualdadedeSegmentosapenasdarodada2(Capivari)IgualdadedeSegmentos(rodada2) N Ntotal %apl P.R.
σscompletamenteiguais(C=V=) 34 120 28,3 0,619
Csiguais,Vsdiferentes(C=V#) 105 445 23,6 0,609
Csdiferentesem[vozeamento],Vsiguais(C#vozV=) 37 157 23,6 0,556Csdiferentesem[vozeamento],Vsdiferentes(C#vozV#) 91 348 26,1 0,633
Csdiferentesem[nasal],Vsiguais(C#nasalV=) 9 66 13,6 0,363
Csdiferentesem[nasal],Vsdiferentes(C#nasalV#) 29 453 6,4 0,282
Csdiferentesem[ant.distr.],Vsnãoimportam(C#distr.) 1 24 4,2 0,299
total 306 1613 input=0.119;significância:0.000
Seasconsoantesforemiguais(p=0,619ep=0,609)ousediferirememvozeamento
(p=0,556 e p=0,633), o processo é favorecido. Entretanto, há um desfavorecimento da
quedade sílaba se as consoantes diferirememnasalidadee as vogais foremdiferentes,
comp=0,282.Seasconsoantestiveremnasalidadediferenteeasvogaisforemiguais,ou
ainda,sehouverumadiferençanostraços[anterior,distribuído],nadapodemosconcluir,já
queosdadosparaestesfatoresforampoucos(9/66paraofatordeconsoantesdiferentes
em[nasal]evogaisdiferentes;e1/24paraconsoantesdiferentesem[anterior,distribuído]).
E, assim comopara a rodada comas duas cidades juntas (cf. 5.3.1.1.1), podemosnotar
também que as vogais não interferem no processo: para consoantes iguais, os pesos
relativos são parecidos, tanto para vogais iguais (p=0,619) quanto para vogais diferentes
(p=0,609); em ambos os casos de consoantes diferentes em [vozeamento] com vogais
iguais ou diferentes (p=0,556 e p=0,633, respectivamente), há um favorecimento do
processo; finalmente, há um desfavorecimento nos dois fatores de consoantes diferentes
em[nasal](vogaisiguais,p=0,363,evogaisdiferentesp=0,282).
Apresentoaseguirospesosrelativosobtidosemformadegráfico:
155
Gráfico15 –VariávelIgualdadedeSegmentosapenasdarodada2(Capivari)
Para esta variável, vimos que se as consoantes forem iguais (sem importar as
vogais), ouseasconsoantes foremdiferentesem vozeamento (tambémsem importaras
vogais),háumapropensãoàquedadesílaba;seasconsoantesdiferirememnasalidadee
asvogaisforemdiferentes,oprocessoéinibido.Nãoobtivemosresultadosconfiáveiscom
nasais seguidas de vogais iguais e com consoantes que diferem nos traços [anterior,
distribuído],jáque,nestesdoiscasos,houvebaixafrequênciadosdados.Lembramosque
estavariávelnãofoiselecionadanarodada1,apenasnarodada2.
6.1.1.2. CavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode[nasal]
ACavidadeOraldasConsoantessemdistinguirotraço[nasal]nãofoiselecionada;
por outro lado, se separarmos as consoantes nasais num único fator, a variável é
selecionada. Assim, parece ser importante para a cidade de Capivari não somente
estabelecerospontosdeCeosvalorespara[contínuo]dasconsoantes,mastambémsua
nasalidade.
Asfrequênciasepesosrelativosdasconsoantescomdistinçãode[nasal]sãodados
aseguir:
156
Tabela29 –VariávelCavidadeOraldasConsoantescomDistinçãodoTraço[nasal](Capivari)CavidadeOraldasConsoantescom[nasal] N Ntotal %apl P.R.
2consoantescoronal[-contínuo](t+t) 305 1164 26,2 0,653
2consoantescoronal[+contínuo](s+s) 31 182 17 0,626
2consoanteslabial[-contínuo](p+p) 14 51 27,5 0,777
2consoanteslabial[+contínuo](f+f) 4 60 6,7 0,378
2consoantesdorsal(k+k) 21 89 23,6 0,584
nasais(n+n) 74 1053 7 0,3
total 449 2599 17,3 input=0.100;significância:0.013
Comopodemosobservarnatabelaacima,coronaisoraisfavorecemoprocesso(se
forem [-contínuo], p=0,653 e, se forem [+contínuo], há uma pequena diminuição, com
p=0,626, mas ainda há uma tendência). Os resultados das nasais indicam que há um
desfavorecimentodoprocessocomestestiposdecontextosconsonantais,comp=0,3.Para
as consoantes dorsais, labiais [+contínuo] e [-contínuo] não podemos tirar conclusões, já
que a frequência de tokens foi baixa: N=14/51 para dorsais, N=4/60 para as labiais
[+contínuo]eN=21/89paraaslabiais[-contínuo].
A partir dos resultados apresentados desta variável, podemos concluir que não é
apenas o ponto de C e [+contínuo] os traços que devem ser lavados em conta para a
aplicaçãodequedade sílabaemCapivari,mas também [nasal], uma vezqueeste traço
interferenoprocesso,demodoadesfavorecê-lo.
AseguirestãoospesosrelativosparaCavidadeOraldasConsoantescomDistinção
de[nasal]:
157
Gráfico16 –VariávelCavidadeOraldasConsoantescomDistinçãodoTraço[nasal](Capivari)
ParaCapivari,verificamosqueimporta,alémdacavidadeoral,tambémanasalidade
das consoantes, uma vez que a configuração que distingue este traço foi aquela
selecionada, e a nasalidade interfere no sentido de desfavorecer o processo. Ambas as
coronais [-contínuo] e [+contínuo] favorecemaquedade sílaba.Dos contextosde labiais
[-contínuo]e[+contínuo]ededorsais,osresultadosnãosãoconfiáveis,jáqueafrequência
detokensfoibaixanestestrêsfatores.
6.1.1.3. CavidadeOraldasVogais
Estavariávelfoiselecionada,easinformaçõesestãoapresentadasabaixo:
158
Tabela30 –VariávelCavidadeOraldasVogais(Capivari)CavidadeOraldasVogais N Ntotal %apl P.R.
coronal+coronal(ee) 72 379 19 0,519
dorso-labial+dorso-labial(oo) 46 211 21,8 0,605
dorsal+dorsal(aa) 25 236 10,6 0,408coronal+dorsal(ea) 54 220 24,5 0,633
dorso-labial+dorsal(oa) 83 347 23,9 0,649
dorso-labial+coronal(oe) 106 621 17,1 0,501
coronal+dorso-labial(eo) 18 106 17 0,383
dorsal+coronal(ae) 32 302 10,6 0,373
dorsal+dorso-labial(ao) 13 177 7,3 0,29
total 449 2599 17,3 input=0.100;significância:0.013
Paraasvogais,umcontextocomduasvogaisdorso-labiais(comp=0,605)favorece
oprocesso,enquantoqueduascoronaisestãopertodopontoneutro,comp=0,519,eduas
dorsais desfavorecem o processo (p=0,408). Com base nestes três primeiros resultados,
podemosnotarque,assimcomonarodadageral(comasduascidades),a igualdadedas
vogaistambémparecenãoserumfatorrelevanteemCapivari.Háumpadrãocomrelação
acontextosemqueprimeiravogaléumadorsal,comumdesfavorecimentodoprocesso:
uma vogal dorsal seguida de uma coronal teve p=0,373, e uma dorsal seguida de uma
vogal dorso-labial resultou em p=0,29 – da mesma forma, contextos dorsal + dorsal
desfavorecem (cf. p=0,408).Seaprimeira vogal for dorso-labial, háum favorecimento se
seguidadeumadorsal,comp=0,649;háumaneutralidade,comp=0,501,seadorso-labial
forseguidadeumacoronal–enãotemosumaexplicaçãolinguísticaparaestadiferençano
comportamentodedorso-labialnaprimeiraposição.
Parasequênciasdeumacoronalseguidadeumadorso-labial(cf.eo),aexpectativa
édequehouvesseumfavorecimentodaquedadesílaba, jáqueéesteocomportamento
decoronaisnaprimeira sílaba (cf. contextosee, comp=0,519,eea, comp=0,633).Uma
justificativa para este resultado pode ser o baixo número de tokens de coronal + dorso-
labial,comN=18/106.
159
Gráfico17 –VariávelCavidadeOraldasVogais(Capivari)
Noqueconcerneàsvogais,foivistoque,seaprimeiraposiçãoforocupadaporuma
dorsal, há um desfavorecimento da queda de sílaba. Para as dorso-labiais em primeira
posição do contexto, há um favorecimento se seguida de outra dorso-labial ou de uma
dorsal, enquanto que seguida de uma coronal, há uma neutralidade. Finalmente, se a
primeiravogaldasequênciaforumacoronal,háumfavorecimentodoprocesso;seseguida
deoutracoronal,ocomportamentopareceserneutro.Paraocasodeumacoronalseguida
deumadorso-labial,háumdesfavorecimento,resultadoquenãoéconfiável,vistoquehá
poucostokens.
6.1.2. EstruturaSilábica
Nesta subseção, apresento os resultados dos tipos de estruturas silábicas do
contextosegmentalparaCapivari:
160
Tabela31 –VariávelEstruturaSilábica(Capivari)EstruturaSilábica N Ntotal %apl P.R.
duassílabassimples(CV+CV) 306 1613 19 0,542
duassílabascomcodaramificada(CVC+CVC) 3 32 9,4 0,36
duassílabascomataqueramificado(CCV+CCV) 1 4 25 0,406sílabasimplesseguidadeoutrotipodeestrutura(CV+o) 91 580 15,7 0,485
sílabacomcodaseguidadeoutrotipodeestrutura(CVC+o) 18 196 9,2 0,295
sílabacomataqueramificado+outrotipodeestrutura(CCV+o) 24 135 17,8 0,479
duassílabascomoutrostiposdeestruturas(excetoasacima)(o+o) 6 39 15,4 0,31
total 449 2599 17,3 input=0.100;significância:0.013
ParacontextoscomduassílabasCV,háuma (leve) tendênciaàquedadesílaba,
comp=0,542;umcontextocomaprimeirasílabaCVseguidadesílabasdeoutrostiposde
estruturas(quenãoCV,CCVeCVC),nãoháefeitonoprocesso,jáqueopesorelativoestá
próximoaoneutro(cf.CV+op=0,485).OnúmerodetokensparaCCV+CCV(apenas4)foi
muitobaixoenãopodemostirarconclusõesparaestefator;poroutrolado,oresultadode
sílabas com ataque ramificado pode ser observado no fator CCV+outros, que tem um
númeromaiselevadode tokens (135), comp=0,479, pertodopontoneutro.Sílabas com
codaCVC seguidas de outros tipos de estruturas influenciam demodo a desfavorecer o
processo, comp=0,295e, com relaçãoaduas sílabasque tenhamcodaCVC+CVC,não
podemostirarconclusões,jáqueafrequênciafoibaixa(N=3/32dados).Finalmente,sílabas
com estruturas diferentes entre si (e diferentes de CV, CCV ou CVC) tiveram baixa
frequência, comN=6/39,enãohácomo interpretarpoucosdados (cf. sequênciao+o na
Tabela31).
161
Gráfico18 –VariávelEstruturaSilábica(Capivari)
ParaofatorCCV+CCV,nadapodemosafirmar,umavezqueosdadossãopoucos
(N=1/4).Contudo,podemosobservarocomportamentodesílabascomataque ramificado
no fator CCV+outros, e podemos verificar que estes tipos de sílabas se comportam de
modo semelhante àquele de sílabas simples (seguidas de outros tipos de estruturas); o
contextocomduassílabassimplesfavorece(levemente)aquedadesílaba;esílabascom
codadesfavorecemaquedadesílaba.Finalmente,contextosdeduassílabasquetenham
estruturasdiferentesentresinãoforaminterpretados,devidoaobaixonúmerodetokens.
6.1.3. Métrica
Comrelaçãoaosacentosdaprimeirasílabaedaseguinte,obtivemosasseguintes
frequênciasepesosrelativos:
162
Tabela32 –VariávelMétrica(Capivari)Métrica N Ntotal %apl P.R.
lapsode3sílabas(x••#•) 5 11 45,5 0,614
lapsode3sílabas(aúltimaéumclítico)(x••#c) 13 38 34,2 0,687
duasfracasentreumacento1árioeumacento2ário(x••#y) 0 3 0 –duasfracasentreduasfortes(x••#x) 4 32 12,5 0,469
lapsode2sílabas(x•#•) 70 378 18,5 0,548
lapsode2sílabas(aúltimaéumclítico)(x•#c) 218 894 24,4 0,61
umafracaentreumacento1árioeumacento2ário(x•#y) 26 107 24,3 0,67
umafracaentreduasfortes(x•#x) 113 1136 9,9 0,376
total 449 2599 17,3 input=0.100;significância:0.013
Como podemos observar no terceiro fator apresentada na Tabela 32, houve
knockout com contextos em que a primeira palavra é um dátilo e a primeira sílaba da
segunda palavra é portadora de acento secundário, com N=0/3. Assim, este fator foi
descartadadarodada.Oscontextosquefavorecemaquedadesílabasãoaquelesemque
há lapsosacentuais deduas sílabas, comoem [x • # •] e [x • # c], comp=0,548e 0,61,
respectivamente. É interessante notar que, se houver uma fraca entre uma forte e uma
sílaba com acento secundário [x • # y], há também um favorecimento na aplicação do
processo,comp=0,67.Paracontextosemqueaimplementaçãodaquedadesílabaresulte
choquedeacentos[x•#x],oprocessoéevitado,comp=0,376.
Houve três sequências métricas com dátilos (sem knockouts), quais sejam: uma
sílabaforteseguidadeumlapsode3sílabas[x••#•],duasfracasentreumasílabafortee
umclítico[x••#c]eduasfracasentreumaforteeumasílabacomacentosecundário[x••
#y].Destescontextosmétricos,nãopodemostirarconclusões,devidoaopouconúmerode
tokens(N=5/11,N=13/38eN=0/3,respectivamente).
163
Gráfico19 –VariávelMétrica(Capivari)
Pudemosverificarcomestavariávelquetrêsestruturasmétricastendemàquedade
sílaba:i)umasílabaforteseguidadeduasfracas;ii)umafracaentreumaforteeumclítico;
eiii)umafracaentreumasílabacomacentoprimárioeoutracomacentosecundário.Vimos
tambémque,seoresultadodaaplicaçãodoprocessoforruim(istoé,seoapagamentode
sílabaresultaremchoqueacentual),aquedadesílabaédesfavorecida.Comrelaçãoaos
dátilos,osresultadosencontradosnãosãoconsistentes,poisasfrequênciassãobaixas.
6.1.4. Prosódia
VerificamosqueosníveisprosódicosinterferemnaquedadesílabaemCapivarida
maneirarepresentadanatabelaabaixo:
Tabela33 –VariávelProsódia(Capivari)Prosódia N Ntotal %apl P.R.
entrefrasesentonacionais(entreIs) 76 814 9,3 0,444
entrefrasesfonológicas(entreΦs) 150 624 24 0,571
entregruposclíticos(dentrodeΦreestr.)(entreCs) 223 1161 19,2 0,501
total 449 2599 17,3 input=0.100;significância:0.013
ComosevênaTabela33,os resultadosparaProsódianãoestão tãopolarizados:
164
entre sentenças, o processo é desfavorecido, comp=0,444; entre grupos clíticos, o peso
relativoéneutro(p=0,501),enquantoqueentrefrasesfonológicasháumalevetendênciaà
quedadesílaba,comp=0,571.
Gráfico20 –VariávelProsódia(Capivari)
Se o contexto segmental estiver entre sentenças, o processo é um pouco
desfavorecido; entre grupos clíticos (e dentro de frase fonológica reestruturada), não há
propensão;porfim,aquedadesílabaélevementefavorecidanafronteiraentreduasfrases
fonológicas.
6.1.5. NúmerodeSílabas
Paraotamanhodapalavra,obtivemosasseguintesfrequênciasepesosrelativos:
165
Tabela34 –VariávelNúmerodeSílabas(Capivari)NúmerodeSílabas N Ntotal %apl P.R.
2sílabas(2σs) 241 1508 16 0,46
3sílabas(3σs) 124 717 17,3 0,519
4sílabasoumais(4σsou+) 84 374 22,5 0,624total 449 2599 17,3
input=0.100;significância:0.013
Notamos que à medida que o número de sílabas da palavra aumenta, pode
aumentar também a tendência à queda; no entanto, os pesos relativos não são tão
polarizados para esta variável: palavras com 2 sílabas desfavorecem levemente, com
p=0,46;palavrasde3sílabasnãointerferem,jáqueopesorelativoestápróximoaoneutro,
p=0,519;epalavrasquetenham4sílabasoumaisfavorecemoprocesso,comp=0,624.
Apresento no gráfico abaixo os resultados para Número de Sílabas da palavra
sujeitaàqueda:
Gráfico21 –VariávelNúmerodeSílabas(Capivari)
Comestavariável, pudemosverificarquea tendênciaàquedaaumentaàmedida
que a palavra aumenta de tamanho; ainda, vemos que os resultados não estão tão
polarizados.Palavrascom2sílabasinibemumpoucooprocesso.
166
6.1.6. FrequênciadeUsodePalavras
Esta variável não foi selecionada para Capivari, o que parece indicar que, seja a
palavramuitousadaouseja rara,nãohánenhumefeitoparaoscapivarianos.Apresento
abaixoasfrequênciasobtidas:
Tabela35 –VariávelFrequênciadeUsodePalavras(Capivari)FrequênciadeUsodasPalavras N Ntotal %apl
maisde20.900ocorrênciasnoASPA(alta) 235 1378 17,1
de10.451a20.899ocorrênciasnoASPA(média) 82 369 22,2
menosde10.450ocorrênciasnoASPA(baixa) 124 793 15,6
total 441 2540 17,4
Podemos observar na Tabela 35 que as porcentagens para os fatores alta (com
mais de 20.900 ocorrências no ASPA) e baixa (commenos de 10.450 ocorrências) são
semelhantes:17,1%paraaltafrequênciadeusoe15,6%parabaixafrequênciadeuso.A
porcentagemfoimaiorcompalavrasdefrequênciamédia(queestãoentre10.451e20.899
ocorrênciasnoASPA),com22,2%deaplicaçãodoprocesso.
Resumidamente, palavras de alta e baixa frequências têm uma porcentagem de
aplicaçãoparecidas,esãomenoresdoqueparapalavrasdefrequênciamédia.
6.2. AsvariáveissociaisemCapivari
Nesta seção apresento as análises das frequências99 das variáveis externas de
Capivari–Escolaridade(cf.6.2.1),Gênero(ver6.2.2)eFaixaEtária(cf.6.2.3).
6.2.1. Escolaridade
Se na rodada geral há uma diferença de aplicação da regra, em Capivari a
Escolaridadeparecenãoimportar:
99 Lembramos que utilizamos as frequências dos grupos de fatores externos Escolaridade, Gênero e FaixaEtária,enãoosp-valores,porquenãoforamselecionadospeloprograma.
167
Tabela36 –FrequênciasdavariávelEscolaridade(Capivari)Escolaridade N Ntotal %apl
atéfundamental 211 1227 17,2
ensinosuperior 238 1372 17,3
total 449 2599
Como vemos na tabela acima, a frequência de aplicação de queda de sílaba das
pessoasqueestudaramatéoensinofundamentalémuitoparecidacomadepessoasque
cursaramensinosuperior.Umavezqueháumaboadistribuiçãodetokens,concluímosque
aescolaridadedosinformantesnãoimportaparaaregradequedadesílabaemCapivari.
6.2.2. Gênero
EmCapivari,háumadiferençanaaplicaçãodoprocessoseconsiderarmosogênero
dosinformantes,comorepresentadonatabelaabaixo:
Tabela37 –FrequênciasdavariávelGênero(Capivari)Gênero N Ntotal %apl
masculino 278 1285 21,6
feminino 171 1314 13
total 449 2599
TambémparaestavariávelGênero,osdadosestãodistribuídosdemodoortogonal,
e podemos observar que os capivarianos aplicam a queda de sílaba mais do que as
capivarianas, já que aqueles têm 21,6% de implementação em oposição aos 13% das
mulheres.
6.2.3. FaixaEtária
Da mesma forma que para as variáveis Escolaridade e Gênero, a distribuição
ortogonal dos dados para Faixa Etária torna os resultados confiáveis. Como podemos
observarnatabelaabaixo,asporcentagensdosdoisfatoresestãopróximos:
168
Tabela38 –FrequênciasdavariávelFaixaEtária(Capivari)Faixaetária N Ntotal %apl
de20a35 268 1359 19,7
maisde50 181 1240 14,6
total 449 2599
Apesardadiferençanaaplicação,osmaisjovenscom19,7%eosmaisvelhoscom
14,6%de implementação do processo, notamos que esta diferença é pequena.Assim, a
aplicaçãodequedadesílabacomrelaçãoàFaixaEtáriados informantesparecenãoser
umavariávelrelevanteparaoprocessoemCapivari.
6.2.4. Informantes
Na subseção 5.3.2.4, apresentamos os pesos relativos e as frequências para a
variável Informantes da rodada geral. Uma vez que as frequências são asmesmas para
cada indivíduo, passamos a tratar nesta subseção dos pesos relativos para os 24
capivarianos,apresentadosnográficoquesegue:
Gráfico22 –PesosrelativosdavariávelInformante(Capivari)
169
No Gráfico 22, os fatores em letras minúsculas representam os informantes com
idadeacimade50anos,enquantoqueasmaiúsculasindicamosinformantesquetêmentre
20e35anos.
Houve 13 informantes que favoreceram a queda de sílaba –D, i e k tiveram os
pesos relativos mais altos (p=0,878, p=0,747 e 0,819, respectivamente). Os informantes
quedesfavorecemaquedadesílabasão7,eapenasumdelestemidadenafaixade20a
35anos–ainformanteH,comp=0,251.Osfatoresquenãotêmnenhumatendênciasão4
e,dentreelas,apenasCtemensinofundamental,comp=0,413;osoutrosinformantesG,g
e l fizeram faculdade (os pesos relativos para estas pessoas são, respectivamente:
p=0,443,p=0,389e0,43).
170
CAPÍTULOVII
7. EmCampinasPara Campinas, também foram 24 informantes, e a distribuição dos dados
analisadosestáapresentadaaseguir:
Tabela39 –ResultadosdeaplicaçãodequedadesílabaemCampinasCampinas N %aplicação 737 24,3nãoaplicação 2292 75,7
total 3029
DamesmaformaquenarodadageralenadeCapivari,rodamostodosasvariáveis
unidas, inclusive aquelas do contexto segmental. Em seguida, rodamos cada um dos
grupos de contexto segmental, opondo-os às outras variáveis linguísticas e sociais, do
modo apresentado em (234), no resumo das rodadas na subseção 5.2. Novamente, os
resultadosparaas5rodadasforammuitosemelhantes,eoptamospordescreverarodada
emquetodasasvariáveisentraram,porserestaamaisgeral.
A única variável do contexto segmental não selecionada para Campinas foi a
CavidadeOral dasConsoantes (sem distinguir as consoantes nasais); e a única variável
linguística não selecionada paraCampinas foi oNúmero de Sílabas da palavra sujeita à
queda;alémdisso,nenhumavariávelexternafoiselecionada,comexceçãodeinformantes.
ApresentoaseguirasvariáveisrelevantesparaaregradequedadesílabaemCampinas,
emduassubseçõesprincipais:aslinguísticos(cf.7.1)eassociais(ver7.2).
7.1. Asvariáveislinguísticas
Nesta subseção, apresento os resultados de queda de sílaba relacionados efeitos
internosàlíngua:contextosegmental(ver7.1.1),EstruturaSilábica(cf.7.1.2),Métrica(ver
7.1.3),Prosódia(cf.7.1.4),NúmerodeSílabas(em7.1.5)eFrequênciadeUsodePalavras
(cf.7.1.6).
171
7.1.1. Contextosegmental
Novamente, separamos os resultados para o contexto segmental nas subseções
queseguem(IgualdadedeSegmentosnasubseção7.1.1.1,asconsoantesem7.1.1.2eas
vogaisem7.1.1.3),afimdefacilitaraleituradosdados.
7.1.1.1. IgualdadedeSegmentosnasSílabas
AssimcomoparaIgualdadedeSegmentosnarodadageralenadeCapivari,nesta
variáveldeCampinastambémrodamosIgualdadedeSegmentossomentecomsílabasCV,
enãoentraram1257tokens.100Apresentoaseguirosresultadosdestavariável:
Tabela40 –VariávelIgualdadedeSegmentos(Campinas)IgualdadedeSegmentos N Ntotal %apl P.R.
σscompletamenteiguais(C=V=) 60 130 46,2 0,644
Csiguais,Vsdiferentes(C=V#) 153 443 34,5 0,572
Csdiferentesem[vozeamento],Vsiguais(C#vozV=) 59 166 35,5 0,495
Csdiferentesem[vozeamento],Vsdiferentes(C#vozV#) 141 410 34,4 0,499
Csdiferentesem[nasal],Vsiguais(C#nasalV=) 11 88 12,5 0,372
Csdiferentesem[nasal],Vsdiferentes(C#nasalV#) 52 506 10,3 0,455Csdiferentesem[ant.distr.],Vsnãoimportam(C#distr.) 1 29 3,4 0,1
total 477 1772 26,9 input=0.164;significância:0.048
Podemos notar que sílabas completamente iguais favorecem a queda; se as
consoantes forem idênticaseas vogais foremdiferentes, háumaquedano peso relativo
(de0,644parasílabasidênticaspassaa0,572),masoprocessocontinuaaserfavorecido.
Seasconsoantes foremdiferentesemvozeamento,ospesos relativosdiminuem, ficando
perto do ponto neutro e a vogal ser ou não diferente parece não importar (vogais iguais
p=0,495evogaisdiferentes0,499).Seadiferençaentreasconsoantesfornotraço[nasal]
(p=0,372 para vogais iguais e 0,455 se forem diferentes), há um desfavorecimento da
100Estavariáveltotalizou1772dadosporquesílabasdiferentesdeCVnãoentraramnacomputação(omesmofoi feitonasrodadasgeraledeCapivari–cf.subseções5.3.1.1.1e6.1.1.1,respectivamente).Os1257tokensdesprezadosforamasseguintesestruturasnaprimeiraposição:735comsílabasCV,179desílabasCCV,269estruturasCVC,34dadoscomCCVCnaprimeirasílaba,1estruturaCVCC,33tokenscomsílabasCgV,2deestruturasCCgV,3CgVCe1CVg.
172
queda de sílaba. Para os contextos em que as consoantes diferem nos traços [anterior,
distribuído], não podemos tirar conclusões, já que este fator teve baixa frequência (1/29
tokens).ApresentoaseguirospesosrelativosparaavariávelIgualdadedeSegmentosna
formadegráfico:
Gráfico23 –VariávelIgualdadedeSegmentos(Campinas)
Resumidamente, notamos nesta variável que sílabas com consoantes e vogais
idênticas tendem à aplicação da queda de sílaba e, se a vogal for diferente, há uma
diminuição,maso favorecimentocontinua.Sehouverumadiferençade[vozeamento]nas
consoantes,nãohánenhumefeitonoprocesso, jáqueospesosrelativosestãopróximos
aopontoneutro.Secontextosegmentaltiverumaconsoantenasal(semimportaraordem
da posição da nasal), o processo é desfavorecido. Não pudemos interpretar consoantes
diferentesentresiem[anterior,distribuído],jáquefoibaixoonúmerodetokensnestefator.
7.1.1.2. CavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode[nasal]
Paraas consoantes, também foram rodadasduas configurações, assimcomonas
rodadasgeraledeCapivari:naprimeira, levamosemcontaopontodeCe[contínuo];na
segunda, alémda cavidadeoral, separamos tambémasnasais.A configuraçãoque teve
relevância foi a segunda, aquela em que foram separadas as nasais, cujos resultados
173
apresentoabaixo:
Tabela41 –VariávelCavidadeOraldasConsoantescomDistinçãodoTraço[nasal](Campinas)CavidadeOraldasConsoantescom[nasal] N Ntotal %apl P.R.
2consoantescoronal[-contínuo](t+t) 521 1399 37,2 0,644
2consoantescoronal[+contínuo](s+s) 44 203 21,7 0,652
2consoanteslabial[-contínuo](p+p) 4 37 10,8 0,225
2consoanteslabial[+contínuo](f+f) 10 59 16,9 0,605
2consoantesdorsal(k+k) 24 129 18,6 0,343
nasais(n+n) 134 1202 11,1 0,33
total 737 3029 24,3 input=0.164;significância:0.048
Ascoronais têmumatendênciaaoprocesso,sem importaro traço [contínuo],com
pesos relativos muito semelhantes (coronais [-contínuo] p=0,644 e [+contínuo] p=0,652).
DorsaisenasaisdesfavorecemaquedadesílabaemCampinas,comp=0,343ep=0,33,
respectivamente.Nãopodemosconcluircomoéocomportamentodaslabiaisemrelaçãoà
queda de sílaba em Campinas, uma vez que os números de tokens foram baixos: para
labiais[-contínuo],N=4/37e,paralabiais[+contínuo]N=10/59.
Gráfico24 –VariávelCavidadeOraldasConsoantescomDistinçãodoTraço[nasal](Campinas)
174
Em resumo, vimos que a nasalidade consonantal é um traçomuito importante na
quedade sílaba: comovimosna rodadageral, emCapivari e emCampinas, somenteas
variáveis que distinguem estes segmentos foram selecionadas nas três rodadas e, em
todaselas, o traço [nasal] da consoante inibeoprocesso.Ascoronaisorais favorecem a
quedadesílabaemCampinas,enquantoquedorsais[-contínuo]desfavorecemoprocesso;
comrelaçãoa labiais[±contínuo],nãotiramosconclusões,poisosnúmerosdedadosnos
doisfatores[-contínuo]e[+contínuo]forambaixos.
7.1.1.3. CavidadeOraldasVogais
Apresento a seguir as frequências e pesos relativos obtidos para a variável
CavidadeOraldasVogais:
Tabela42 –VariávelCavidadeOraldasVogais(Campinas)CavidadeOraldasVogais N Ntotal %apl P.R.
coronal+coronal(ee) 126 440 28,6 0,571
dorso-labial+dorso-labial(oo) 75 249 30,1 0,571
dorsal+dorsal(aa) 35 261 13,4 0,308
coronal+dorsal(ea) 59 220 26,8 0,569
dorso-labial+dorsal(oa) 120 394 30,5 0,63
dorso-labial+coronal(oe) 234 763 30,7 0,593
coronal+dorso-labial(eo) 24 110 21,8 0,46
dorsal+coronal(ae) 49 391 12,5 0,328
dorsal+dorso-labial(ao) 15 201 7,5 0,226total 737 3029 24,3
input=0.164;significância:0.048
Em Campinas, observamos que duas coronais ou duas dorso-labiais no contexto
vocálicotendemàqueda(vercontextoseeeoo),fatoresquetiverampesosrelativosiguais
(p=0,571).Contextosemqueaprimeiravogaléumadorsaldesfavorecemoprocesso,sem
importaracavidadeoraldasvogaisseguintes:mesmoseseguidadeoutradorsal(p=0,308,
cf.aa),deumacoronal, comp=0,328 (verae)oudeumavogaldorso-labial (p=0,226,cf.
contextoao).Háumfavorecimentodaquedadesílabaseaprimeiravogalforumacoronal
175
seguidadedorsal,comp=0,569(cf.ea),ehátambémumatendênciaseaprimeiravogal
forumadorso-labial–nestescasos,nãoimportamostraçosdasegundavogal,comp=0,63
quando seguida de dorsal (cf. contexto oa) e p=0,593, se seguida de uma coronal (ver
contexto oe). A partir destes resultados, notamos que o que parece importar para a
implementaçãodoprocessoéaprimeiravogaldocontexto:sehouverumacoronalouuma
dorso-labial,háumatendênciaàquedadesílaba;seaprimeiraposiçãoforpreenchidapor
umadorsal,háuma inibição.Assim,paraocontextoemqueháumacoronal seguidade
uma dorso-labial (cf. eo no gráfico), a expectativa é que haja um favorecimento do
processo,oquenãoocorre:háumaneutralidade,comp=0,46.Esteresultado inesperado
podeserexplicadoseobservarmosonúmerodedadosnestefator,quefoiN=24/110,isto
é,éofatorquetemomenornúmerodeocorrências.
Paraumamelhorvisualizaçãodospesosrelativos,apresento-osaseguiremforma
degráfico:
Gráfico25 –VariávelCavidadeOraldasVogais(Campinas)
Para Campinas, pudemos observar que vogais iguais têm uma tendência ao
apagamento,comexceçãodedorsais,queoinibem.Eestecomportamentodeasdorsais
desfavorecerem o processo pode ser verificado também se este tipo de vogal estiver na
primeirasílaba,semimportaroqueasucede.Seavogalcoronaloudorso-labialestiverna
176
primeira posição do contexto, o processo é favorecido, sem importar a segunda vogal.
Nestecaso,háumaexceçãodecoronal+dorso-labial,deondenadaconcluímos,poreste
fatorteromenornúmerodeocorrênciasnavariável.
7.1.2. Estruturadassílabas
Os resultadosdassequênciasdeestruturasdaprimeiraedasegundasílabassão
dadosaseguir:
Tabela43 –VariávelEstruturaSilábica(Campinas)EstruturaSilábica N Ntotal %apl P.R.
duassílabassimples(CV+CV) 477 1772 26,9 0,506
duassílabascomcodaramificada(CVC+CVC) 5 41 12,2 0,482duassílabascomataqueramificado(CCV+CCV) 2 4 50 0,935
sílabasimplesseguidadeoutrotipodeestrutura(CV+o) 160 735 21,8 0,586
sílabacomcodaseguidadeoutrotipodeestrutura(CVC+o) 20 228 8,8 0,287
sílabacomataqueramificado+outrotipodeestrutura(CCV+o) 58 175 33,1 0,5
duassílabascomoutrostiposdeestruturas(excetoasacima)(o+o) 15 74 20,3 0,213
total 737 3029 24,3 input=0.164;significância:0.048
Um contexto com duas sílabas sujeitas a apagamento que tenham estruturas CV
parecemserneutrasàquedadesílaba(p=0,506),enquantoquecontextosdesílabasCV
seguidasdeoutrostiposdeestruturasfavorecemoprocesso,comp=0,586.Contextosem
queaprimeirasílabatemataqueramificadoeasegundativeroutrostiposdeestruturasnão
interferemnoprocesso,jáqueopesorelativoé0,5.Seasílabasujeitaaoapagamentotiver
codaeestiverseguidadeoutrostiposdeestruturas,háumdesfavorecimentodoprocesso,
comp=0,287.ParaoscontextosdeduassílabascomataqueramificadoCCV+CCV,duas
sílabascomcodaramificadaCVC+CVCecontextosemqueasduassílabastêmestruturas
diferentesentresi(vero+onatabela),notamosqueasocorrênciassãomuitobaixas:N=2/4
para CCV+CCV; N=5/41 para estruturas silábicas CVC+CVC; e N=15/74 para contextos
o+o.Assim,nãopodemostirarquaisquerconclusõesdestestrêsfatores.
Para uma melhor visualização dos dados, apresento no Gráfico 26 os pesos
relativosparaestavariável:
177
Gráfico26 –VariávelEstruturaSilábica(Campinas)
Não pudemos interpretar três fatores desta variável devido à baixa frequência de
tokens–contextosCCV+CCV,CVC+CVCeo+o.Contextosemqueháumasílabasimples
seguidadeumasílabacomoutrostiposdeestruturasfavorecemoprocesso,enquantoque
sequências com duas sílabas simples CV+CV e com uma sílaba de ataque ramificado
seguida de outros tipos de estruturas são inertes ao processo. Sílabas com coda na
primeira posição desfavorecem o apagamento quando seguidas de outros tipos de
estruturas.
7.1.3. Métrica
Paraavariáveldeestruturamétrica,obtivemososseguintesresultados:
178
Tabela44 –VariávelMétrica(Campinas)Métrica N Ntotal %apl P.R.
lapsode3sílabas(x••#•) 4 15 26,7 0,78
lapsode3sílabas(aúltimaéumclítico)(x••#c) 18 55 32,7 0,815
duasfracasentreumacento1árioeumacento2ário(x••#y) 1 3 33,3 0,956duasfracasentreduasfortes(x••#x) 6 41 14,6 0,552
lapsode2sílabas(x•#•) 99 441 22,4 0,472
lapsode2sílabas(aúltimaéumclítico)(x•#c) 406 1142 35,6 0,655
umafracaentreumacento1árioeumacento2ário(x•#y) 30 111 27 0,613
umafracaentreduasfortes(x•#x) 173 1221 14,2 0,332
total 737 3029 24,3 input=0.164;significância:0.048
Estruturas métricas em que as duas primeiras sílabas são uma forte e uma fraca
favorecem a queda de sílaba, quando seguidas de um clítico fonológico (p=0,655) ou de
uma sílaba com acento secundário (p=0,613). Contextos em que há uma sílaba forte
seguida de duas sílabas fracas não interferem, com um peso relativo próximo ao ponto
neutro (p=0,472). Choques acentuais são evitados também em Campinas, com p=0,332
para o fator [ x • # x ]. Com relação a contextos com dátilos na primeira posição, não
podemos tirar quaisquer conclusões, uma vez que foram poucas ocorrências: estruturas
métricas[x••]seguidasdeumasílabaforte,N=6/41;seguidasdeumasílabacomacento
secundário,N=1/3;seasegundasílabadocontextosegmentalforumclítico,N=18/55;ese
aprimeirasílabadasegundapalavra for fraca,4/15ocorrências.Nográficoabaixo,estão
ospesosrelativosparaavariávelMétrica:
179
Gráfico27 –VariávelMétrica(Campinas)
Destavariável,pudemosverificarqueosdoiscontextosde[sílabaforte+umafraca
+ um clítico] e sequências constituídas de [sílaba forte + fraca + acento secundário]
favorecemaquedadesílaba;sequências[forte+fraca+fraca]sãoneutras;econtextos[x
•#x]queresultamemchoquesacentuaissãoevitados.Hápoucos tokenscomdátilos,e
nada podemos concluir dos quatro fatores que têm este tipo de estrutura acentual na
primeirapalavra.
7.1.4. Prosódia
Osresultadosdequedadesílabarelacionadosàhierarquiaprosódicasãoparecidos
comaquelesdarodadageraledeCapivari,comoseverificaaseguir:
Tabela45 –VariávelProsódia(Campinas)Prosódia N Ntotal %apl P.R.
entrefrasesentonacionais(entreIs) 126 880 14,3 0,45
entrefrasesfonológicas(entreΦs) 208 689 30,2 0,552
entregruposclíticos(dentrodeΦreestr.)(entreCs) 403 1460 27,6 0,505
total 737 3029 24,3 input=0.164;significância:0.048
Aquedadesílabaélevementefavorecidaentrefrasesfonológicas,comp=0,552;há
180
neutralidadeseaspalavrasdocontextodequedadesílabaestiverementre fronteirasde
grupos clíticos (ou dentro de frase fonológica reestruturada), com p=0,505; e entre
sentenças,oprocessoéumpoucodesfavorecido(p=0,45).
OspesosrelativosparaavariávelProsódiaestãoapresentadosnográfico:
Gráfico28 –VariávelProsódia(Campinas)
PodemosconcluirqueaProsódiainterferelevementenaquedadesílaba,jáquehá
um pouco de desfavorecimento entre frases entonacionais, uma pequena tendência em
fronteiraentrefrasesfonológicaseumaneutralidadeseafronteirafordegruposclíticos(e,
nestecaso,tambémdentrodefrasefonológica).
7.1.5. NúmerodeSílabas
Avariávelde tamanhodepalavranão foiselecionadana rodadadeCampinasem
que entraram todos as variáveis. No entanto, o Número de Sílabas foi selecionado nas
rodadas2,4e5,istoé,comosseguintescontextossegmentais:IgualdadedeSegmentos,
Consoantes (comdistinção de nasais) eVogais (cf. o resumo das rodadas em (234), na
subseção5.2).Apresentoabaixoasfrequênciaseospesosrelativosdarodada2:101
101NaTabela13“SemelhançasnospesosrelativosdavariávelFrequênciadeUsodasPalavrassubseção”(cf.subseção 5.2), pudemos verificar que não houve diferenças significativas entre as 5 rodadas, em que 5
181
Tabela46 –VariávelNúmerodeSílabasnarodada2(Campinas)Númerodesílabas N Ntotal %apl rodada2
2σs 421 1742 24,2 0,474
3σs 200 835 24 0,5
4σsoumais 116 452 25,7 0,6total 737 3029
input=0.183;significância:0.007
Comopodemosobservar,onúmerodesílabasdapalavrasujeitaaoapagamentoé
diretamente proporcional à aplicação do processo: dissílabos desfavorecem (levemente),
comp=0,474;trissílabosnãointerferem(p=0,5);epalavrascom4sílabasoumaistendem
aoapagamento,comp=0,6.
Para umamelhor visualização dos resultados, apresento abaixo o gráfico com os
pesosrelativosobtidosnarodada2:
Gráfico29 –VariávelNúmerodeSílabasnarodada2(Campinas)
Para esta variávelNúmero deSílabas, observamosque quantomaior é a palavra
sujeitaàqueda,atendênciaaoprocessovailevementeaumentando.
configuraçõesdecontextosegmentalforamcomputadas.Assim,escolhemosaleatoriamentearodada2paraaexibiçãodosdadosdogruposdefatoresNúmerodeSílabas.
182
7.1.6. FrequênciadeUsodePalavras
Os campineiros são sensíveis à frequência de palavra (já que a variável foi
selecionada),comoobservamosnosresultadosapresentadosnatabelaaseguir:
Tabela47 –VariávelFrequênciadeUsodePalavras(Campinas)FrequênciadeUsodasPalavras N Ntotal %apl P.R.
maisde20.900ocorrênciasnoASPA(alta) 385 1570 24,5 0,502
de10.451a20.899ocorrênciasnoASPA(média) 164 519 31,6 0,559
menosde10.450ocorrênciasnoASPA(baixa) 182 909 20 0,463
total 731 2998 24,4 input=0.183;significância:0.007
Os números da tabela acima mostram que palavras de baixa frequência de uso
desfavorecemumpoucoaquedadesílaba,comp=0,46;seaprimeirapalavradocontexto
tiverumafrequênciamédia,háumlevefavorecimentodoprocesso,comp=0,559;porfim,
palavrassujeitasaoprocessodealtafrequênciasãoneutras(p=0,502).
Nográfico que segue, estão os pesos relativos da variável Frequência deUsode
Palavras:
Gráfico30 –VariávelFrequênciadeUsodePalavras(Campinas)
183
Emresumo,vimosquepalavrasdealta frequênciaparecemserneutrasnaqueda
desílaba;palavrasdefrequênciamédiafavorecem(levemente)oprocesso,enquantoque
palavrasdebaixafrequênciadeusooinibemumpouco.
7.2. AsvariáveissociaisemCampinas
Da mesma forma que na rodada geral e em Capivari, apenas Informantes foi a
variávelexternaselecionadaemCampineiras(cf.resultadosdestavariávelem5.3.2.4).Nas
subseções que seguem, apresentamos as frequências encontradas para estas variáveis:
Escolaridade(ver7.2.1),Gênero(cf.7.2.2)eFaixaEtária(em7.2.3).
7.2.1. Escolaridade
As frequências obtidas com a variável Escolaridade em Campinas foram os
seguintes:
Tabela48 –FrequênciasdavariávelEscolaridade(Campinas)Escolaridade N Ntotal %apl
atéfundamental 501 1592 31,5
ensinosuperior 236 1437 16,4
total 737 3029
Como vemos na Tabela 48, os anos de estudo dos informantes são muito
importantesparaaregradequedadesílabaemCampinas:aspessoasqueestudaramaté
oensinofundamentaltiveramumataxadeaplicaçãode31,5%,enquantoque,paraosque
fizeramfaculdade,ataxacaipara16,4%.
7.2.2. Gênero
Apresentoabaixoastaxasdequedadesílabaparaoscampineirosecampineiras:
184
Tabela49 –FrequênciasdavariávelGênero(Campinas)Gênero N Ntotal %apl
masculino 463 1528 30,3
feminino 274 1501 18,3
total 737 3029
Comovemosna tabela,háumadiferençanaporcentagemdeaplicaçãodaqueda
desílabaentrehomensemulheresdeCampinas(30,3%e18,3%,respectivamente),eeste
resultadopodeser consideradoconfiável, jáqueháumaboadistribuiçãodeocorrências:
1528paraogêneromasculinoe1501paraofeminino.
7.2.3. FaixaEtária
ApresentoabaixoostokensrelacionadosàFaixaEtáriadosinformantes:
Tabela50 –FrequênciasdavariávelFaixaEtária(Campinas)FaixaEtária N Ntotal %apl
de20a35 376 1491 25,2
maisde50 361 1538 23,5
total 737 3029
Como observamos na Tabela 50, pessoas na faixa de 20 a 35 anos de idade e
aqueles que têmmais de 50 anos têmuma taxa de aplicação de queda de sílabamuito
semelhante.
7.2.4. Informantes
Ospesosrelativosobtidosparaoscampineirosforam:
185
Gráfico31 –PesosrelativosdavariávelInformante(Campinas)
ParaCampinas,resultadosdefavorecimentodequedadesílabaforamencontrados
em11fatoreseapenas3delessão informantesquetêmensinosuperior.Os informantes
neutrosàquedadesílabasão3:O,comp=0,485;Scomp=0,485;ex,comumresultado
p=0,451. Os 10 informantes restantes desfavorecem a queda de sílaba e apenas duas
mulherestêmensinofundamental(M,comp=0,404;en,comp=0,225).
186
CAPÍTULOVIII
8. ComparaçãodasduascidadesComo vimos na subseção 1.2, a principal questão a ser respondida nesta tese é
identificar se a queda de sílaba tem restrições diferentes em Capivari e em Campinas.
Assim,nestecapítulo,comparamososresultadosdasduascidades,demodoaverificarse
aquedadesílabatemasmesmascaracterísticasnasduascidades,ouseascidadestêm
regrasdiferentesparaaaplicaçãodoprocesso.
Para que a comparação fosse feita de forma objetiva, seguimos os seguintes
critériosparadefinirsehouveumresultadodiferente,semelhanteou igualparaos fatores
dasduascidades:
• Iguais: são fatores que têm amesma tendência nas duas cidades, e a diferença
entre os pesos relativos são pequenas – isto é, há uma mesma tendência e
produtividadedaregra;
• Semelhantes:dentrodeumamesmavariável,háumfator(s)comcomportamento(s)
idêntico(s)nasduascidades,masaprodutividadeédiferente,ouseja,podeserque
umfatorsejaaplicadomaisvezesnumacidadedoquenaoutra;e
• Diferentes: são os fatores com tendências diferentes nas duas cidades (por
exemplo, favorecimento versus desfavorecimento, desfavorecimento versus
neutralidade, favorecimento versus neutralidade, etc.) e, consequentemente, a
produtividade também é diferente; adicionalmente, consideramos diferentes as
variáveisque foramselecionadasnumacidadeenãoemoutra,dadoque,seuma
variável é selecionada, podemos interpretar que aquela variável condiciona o
processo e, de modo contrário, uma variável não selecionada indica que um
conjuntodefatoresnãoexercequalquerefeitonoprocesso.
Este capítulo está organizado da seguinte maneira: em 8.1, apresento as
características iguais entre as duas cidades; em 8.2, estão as similaridades; em 8.3,
187
apresentoasdiferenças;nasubseção8.4,estáoresumodascomparações;eem8.5,há
uma conclusão do capítulo – de que há duas regras de quedade sílaba paraCapivari e
Campinas.
8.1. Asigualdades
Nesta subseção, apresentamos os resultados que foram iguais nas duas cidades,
quaissejam:aCavidadeOraldasConsoantes(cf.subseção8.1.1);aProsódia(ver8.1.2);e
osgrupodefatoresexternos(cf.8.1.3).
8.1.1. CavidadeOraldasConsoantes
A primeira característica de queda de sílaba que é a mesma em Capivari e
Campinasestárelacionadaàsconsoantes,segmentosanalisadosemduasvariáveis:numa
primeiravariável,separamostodasasconsoantescomrelaçãoaostraçosdacavidadeoral
(pontodeCe[contínuo]);e,numaoutravariável,alémdeinvestigarascavidadesoraisdas
consoantes,examinamostambémotraço[nasal],separandonumfatortodososcontextos
que tivessem uma ou duas nasais. As hipóteses para estas duas variáveis foram que
haveria umamaior tendência ao processo com coronais, com base na subespecificação
destessegmentos;eaoutrahipótesefoiquenãohaveriabloqueiocomoutrasconsoantes.
Nãolevantamosnenhumahipóteseespecíficaparaasnasais,masopropósitofoivercomo
estes segmentos podem atuar no processo, bem como examinar qual das duas
configurações é mais adequada para descrever as consoantes relacionadas à queda de
sílaba:separarounãoasnasais.
Com a primeira configuração (sem distinção de [nasal]), a variável CavidadeOral
dasConsoantesnãofoiselecionadaemnenhumadasrodadas–ouseja,foiumresultado
igualnasduascidades.
8.1.2. Prosódia
Outra variável que revelou resultados iguais nas duas cidades foi Prosódia. As
hipóteses formuladas foramque não há umnível que bloqueie o processo e que o nível
com umamaior tendência ao apagamento é o de frase fonológica (Battisti 2004, Pavezi
188
2006aeLeal2006).
Observe no Gráfico 32 abaixo que os pesos relativos para as duas cidades são
muitopróximos:102
Gráfico32 –ComparaçãodavariávelProsódianarodadaGeral,emCapivarieemCampinas
OsresultadosdeProsódiaforampraticamenteiguaisnasrodadasGeral,deCapivari
e deCampinas e, em todas elas, o resultado foi robusto, com uma boa distribuição dos
dados.Emambasascidades,entresentenças,háumlevedesfavorecimentodaquedade
sílaba (fronteira entre frase entonacional); há um leve favorecimento do processo entre
frasesfonológicas,oquecorroboraahipóteseinicial;eseaprimeiraeasegundasílabas
docontextosegmentalestiverementredoisgruposclíticos,háumaneutralidade.
Assim, concluímos que o efeito da hierarquia prosódica na queda de sílaba em
CapivarieemCampinaséidêntica.
102Osnúmerosentreparêntesesnosgráficosdestecapítulorepresentamosnúmerosdetokensdasvariantes,naseguinteordem:darodadaGeral,darodadadeCapivarienarodadadeCampinas.Porexemplo,noGráfico32, os números entre parênteses na variante entre Is indicam que houve 1694 dados na rodadaGeral, 814dadosemCapivarie880tokensemCampinas.
189
8.1.3. Osgruposdefatoresexternos
Outra igualdadeentre as duas cidades que pôde ser verificada está nas variáveis
externas: em nenhuma das rodadas (incluindo a rodada Geral) as variáveis externas
Escolaridade, Gênero e Faixa Etária foram selecionadas e, de modo oposto, a variável
Informantesfoiselecionadaemtodaselas.
8.2. Assimilaridades
Nesta subseção, apresento os resultados que podem ser considerados similares
entreasduascidades:houvequatrovariáveis linguísticascom tendências iguais,mashá
algumas diferenças entre os pesos relativos que podem indicar particularidades em cada
cidade. A comparação da variável de Cavidade Oral das Consoantes com Distinção de
[nasal]estáapresentadanasubseção8.2.1;aCavidadeOraldasVogaisestáem8.2.2;a
Estrutura Silábica está apresentada em 8.2.3; na subseção 8.2.4, está a Métrica;
finalmente,nasubseção8.2.5estáavariávelGênero.
8.2.1. CavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode[nasal]
Como vimos em 8.1, as hipóteses levantadas para as consoantes foram que
coronaistêmumatendênciaaoprocesso,enãohábloqueionosoutroscontextos.
ObserveográficoabaixodospesosrelativosnastrêsrodadasGeral,deCapivarie
deCampinas:
190
Gráfico33 –ComparaçãodavariávelCavidadeOraldasConsoantescomDistinçãodoTraço[nasal]narodadaGeral,emCapivarieemCampinas
As variáveis de consoantes coronais (orais) têm comportamento igual nas duas
cidades (com pesos relativos muito próximos), favorecendo a queda de sílaba, o que
corrobora a hipótese inicial de subespecificação das coronais; quanto às nasais, há um
desfavorecimento do processo, também de forma igual nas duas cidades. Assim, estes
resultados apontamque, para nasais e coronais orais, as duas cidades têmpreferências
(quaseque)idênticas:coronaisfavorecemenasaisinibem.
Interessantemente,aCavidadeOraldasConsoantesseparandootraço[nasal]num
fator, foi selecionada nos dois dialetos (cf. também resultados das consoantes com
distinção de nasalidade na rodada geral 5.3.1.1.2; subseção 6.1.1.2 para a rodada de
Capivari; e 7.1.1.2 paraCampinas), um resultado que pode ser considerado idêntico nas
duas cidades, pois significaqueCavidadeOral dasConsoantes comDistinçãode [nasal]
interfere na aplicação de queda de sílaba nos dois dialetos, diferentemente deCavidade
OraldasConsoantes(semseparar[nasal]).Noentanto,nãopodemosconsiderarqueesta
variável atua na queda de sílaba de modo idêntico nos dois dialetos porque as dorsais
interferem no processo de modo oposto: Capivari favorece o processo neste contexto,
191
enquantoqueCampinasdesfavorece.
Das labiais, não podemos tirar conclusões, na medida em que não houve uma
quantidadeconfiáveldedadosnastrêsrodadas(rodadaGeral,rodadadeCapivarierodada
deCampinas).
Assim,consideramosqueCavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode [nasal]
temumaatuaçãosemelhantenasduascidades:porum lado,os resultadosdascoronais
orais (independentemente de [contínuo]) e das nasais foram muito parecidos nas duas
cidades; por outro lado, o traço [dorsal] tem um comportamento oposto – há um
favorecimentodaregraemCapivarieumdesfavorecimentoemCampinas.
8.2.2. CavidadeOraldasVogais
Paraestavariável,ahipótesefoiquepodehaverumapossibilidadedeaplicaçãode
queda de sílaba com dorsais (com base em Pavezi 2006a e Leal 2006, para quem é
possívelapagamentoscomvogaisdiferentesde[+alto],naterminologiadasautoras),enão
somente com coronais e dorso-labiais (como apontam Alkmim & Gomes 1982). Esta
variável foi selecionada nas duas cidades e apresento os pesos relativos no gráfico a
seguir:
192
Gráfico34 –ComparaçãodavariávelCavidadeOraldasVogaisnarodadaGeral,emCapivarieemCampinas
Observamos primeiramente as diferenças entre as duas cidades: nas sequências
comduascoronais (vereenoGráfico34)ecomumadorso-labialseguidadeumcoronal
(cf. oe), as tendências são diferentes: estes contextos favorecem a queda de sílaba em
Campinas,esãoneutrosemCapivari.
Podemos considerar semelhantes quatro contextos: uma coronal seguida de uma
dorsal(sequênciaea),emqueháumatendênciaàquedadesílabanosdoisdialetos,eo
favorecimentoémaioremCapivari;osoutros trêscontextosdizem respeitoasequências
comumadorsalnaprimeiraposição,emqueoprocessoédesfavorecidonasduascidades,
maspodemosnotarqueosapagamentosdedorsaisnaprimeirasílabasãomaisaceitosem
Capivari do que emCampinas. Interessantemente, como vimos na subseção anterior (cf.
8.2.1), contextos com o ponto de C [dorsal] também diferem nos dois dialetos no que
concerneaconsoantes:háumfavorecimentodoprocessoemCapivarieoapagamentoé
desfavorecidoemCapivari.Emoutraspalavras,opontodeC[dorsal]dasconsoantesedas
vogais interfere na queda de sílaba de formas semelhantes nas duas cidades (há uma
aceitabilidade maior de apagamento com estes segmentos em Capivari do que em
193
Campinas).
Umaoutrasemelhançaentreascidadesestánoscontextoscomduasvogaisiguais
(cf.contextoseecomduascoronais,oocomduasdorso-labiaiseaacomduasdorsais),de
onde podemos concluir que a igualdade das vogais não é uma característica importante
paraaquedadesílaba:ospontosdeC [coronal]ou [dorso-labial] favorecemoprocesso,
enquantoqueaigualdadenoscontextoscomduas[dorsal]resultaemdesfavorecimentoda
quedadesílabaemambososdialetos.
Do contexto de uma coronal seguida de uma dorso-labial (cf.eo), nada podemos
concluir,emconsequênciadobaixonúmerodetokensnestesfatoresparaasduascidades.
Osresultadosdestavariávelcorroboramahipóteseinicial,poishouveaplicaçãode
queda de sílaba, além de coronais e de dorso-labiais, também com dorsais (cf. Pavezi
2006a e Leal 2006); e, ao contrário de Alkmim & Gomes (1982), contextos com vogais
dorsaisnãobloqueiamoprocesso–estescontextosdesfavorecemoprocesso.
Concluímosquea variávelCavidadeOral dasVogais atuanaquedade sílabade
modosimilarnasduascidades:sãodiferentesnosfatoreseeeoe (sãocontextosneutros
em Capivari e favorecedores em Campinas); semelhantes em contextos ea (há
favorecimentonasduascidades,sendoumpoucomaioremCapivari)eemcontextoscom
dorsais (desfavorecem, com uma aceitaçãomaior entre os capivarianos do que entre os
campineiros); e sequências oo e oa são iguais nas duas cidades (há favorecimento do
processo,compesosrelativospróximos).
8.2.3. EstruturaSilábica
A hipótese levantada para esta variávelfoiqueaaplicaçãodoprocessodependede
asílabaserleveoupesada:sílabassimplestenderiamàaplicaçãodoprocesso,enquanto
quesílabaspesadasoinibiriam.Nográficoabaixoestãoospesosrelativosobtidosnastrês
rodadas:
194
Gráfico35 –ComparaçãodavariávelEstruturaSilábicanarodadaGeral,emCapivarieemCampinas
Comrelaçãoàsdiferençasentreascidades,contextoscomduassílabassimples(cf.
CV+CV)favorecem(levemente)oprocessoemCapivariesãoneutrosemCampinas;para
sequências em que há uma sílaba simples seguida de outros tipos de estruturas, isto é,
estruturas diferentes de CV (ver CV+o no gráfico), ocorre o contrário: há um (leve)
favorecimentoemCampinaseneutralidadeemCapivari.
Emumcontextocomumasílabadeataque ramificadoseguidadeoutros tiposde
estruturas (que não sejamCCV – cf. CCV+o no gráfico), há uma neutralidade nas duas
cidades; em sequências de sílabas sujeitas à queda que tenham coda ramificada e
seguidas de outros tipos de estruturas, que sejam diferentes de CVC (ver CVC+o no
gráfico) os pesos relativos são muito parecidos, indicando um desfavorecimento do
processo. Assim, podemos interpretar que, estes dois contextos (CCV+o e CVC+o) são
iguaisnasduascidades.
Comrelaçãoàssequênciasemqueháataqueramificadoemambasassílabas(cf.
contextoCCV+CCV)etambémestruturascomcodanasduassílabas(verCVC+CVC),os
resultados são inconclusivos, já que o número de tokens foi baixo (a maior quantidade
195
nestescasosfoi73dados).
Ahipóteseinicialfoiparcialmenteconfirmadaparasílabascomcoda:defato,estas
estruturas desfavorecem o processo em ambos os dialetos; mas somente se estiver na
primeiraposição,semnecessidadedeocontextoterasduassílabascomestruturaCVC–
paracontextosCVC+CVC,onúmerode tokensfoimuitobaixo.Outrahipóteseparaesta
variável era que quanto mais leve fosse a sílaba sujeita ao apagamento, maior seria a
tendênciaàqueda;entretanto,esílabasleves(tambémnaprimeiraposição)oufavorecem
somenteemCapivari,eemCampinassãoneutrasaoprocesso.Finalmente,sílabascom
ataque ramificado (em primeira posição) são neutras – não tínhamos uma hipótese,mas
levantamosaseguintepergunta (cf.subseção4.1.4.1.2):asegundaconsoantedoataque
“atrapalha” a queda de sílaba ou é inerte? Pudemos verificar que o comportamento de
estruturasCCV é semelhante aCV, isto é, estruturasCCV são neutras ao processo – a
segundaconsoantedoataquenão“atrapalha”aquedadesílaba.
8.2.4. Métrica
AhipóteseparaavariávelMétricafoiqueaplicar(ounão)aquedadesílabadecorre
de uma otimização rítmica, com base noPAR: se houver um resultado (da aplicação do
processo) em que os acentos se alternem em fortes e fracos, o apagamento será
implementado; por outro lado, se uma sequência rítmica resultar em choque acentual, a
quedadesílabaseráinibida.
Nográficoaseguir,apresentoospesosrelativosdessavariável:
196
Gráfico36 –ComparaçãodavariávelMétricanarodadaGeral,emCapivarieemCampinas
PodemosobservarnoGráfico36(cf.númerosentreparênteses)quehouvebaixas
ocorrênciasparaasquatrosequênciasemqueaprimeirapalavraéumdátilo[x••].Note
quenãoháumpeso relativoparao fatorcomumasílaba forteseguidadeduas fracase
outrasílabadeacentosecundário[x••#y]emCapivari,jáqueestasequênciaresultouem
knockout(N=0/3).
Para os quatro contextos com número de tokens consistente (aqueles em que
primeira palavra tem uma estrutura [ x • ]), os resultados foram semelhantes nas duas
cidades:contextos[x•#c]e[x•#y]favorecemaquedadesílaba,esequênciasoriginais
[ x •# x ] desfavorecemoprocesso.Nestecaso,umavezaplicadaaquedadesílaba,o
resultadoéumasequênciarítmica[x#x],emqueháduassílabasfortesadjacentes,oque
confirmaahipóteseinicial:umasequênciarítmicaruim(deacordocomoPAR)desfavorece
oprocesso.Masconsideramosqueavariávelatuadeformasemelhanteporquecontextos
[x•#•]sãofavorecedoresemCapivarieneutrosemCampinas.
197
8.2.5. Gênero
Dos resultadosdaanálisedas frequênciasdasvariáveisexternas,aúnicavariável
comresultadossemelhantesnasduascidadesfoiGênero:oshomensaplicammaisdoque
asmulheres.Nográficoaseguir,apresentoasfrequênciasdestavariávelnastrêsrodadas:
Tabela51 –ComparaçãodavariávelGêneronarodadaGeral,emCapivarieemCampinasGênero %Geral %Capivari %Campinas
masculino 26,3 21,6 30,3
feminino 15,8 13 18,3
Apesardeastaxasdeaplicaçãoseremdiferentesnasduascidades(e,valelembrar,
osnúmerosdetokenstambémsãodiferentes–Capivaricom2599dadoseCampinascom
3029),éinteressantenotarqueadiferençanasporcentagensentreosfatoresmasculinoe
feminino foi muito semelhante: os capivarianos aplicam 1,662 vezes mais do que as
capivarianas;eoscampineirosaplicam1,656maisvezesdoqueascampineiras.
CombasenoresultadodequeavariávelGêneronãofoiselecionada,interpretamos
quenão importa,paraaaplicaçãodaregradequedadesílaba,seofalanteéhomemou
mulher, seja em Capivari ou em Campinas. Interessantemente, a diferença entre as
aplicações, por um lado, de capivarianos e capivarianas, e por outro, de campineiros e
campineirasfoimuitosemelhante(porvoltade1,66%).
8.3. Asdiferenças
Consideramostrêsvariáveislinguísticascomresultadosinteiramentediferentesnos
dois dialetos, já que foram selecionadas em apenas uma das cidades: Igualdade de
Segmentos,selecionadaapenasemCampinas(cf.8.3.1);NúmerodeSílabas,somenteem
Capivari (ver 8.3.2); e Frequência de uso, unicamente emCampinas (cf. 8.3.3). Para as
variáveisexternas,os resultadosdiferentesnasduascidades foramEscolaridadeeFaixa
Etária(cf.subseção8.3.4).
198
8.3.1. IgualdadedeSegmentos
Na variável Igualdade de Segmentos, a hipótese foi que haveria uma maior
aplicaçãodequedadesílabaseseuconteúdofosseidênticoousemelhante(nestecaso,a
diferençavaialémdotraço[vozeamento],incluindo[nasal]e[anterior,distribuído]).Assim,a
expectativaseriadequecontextoscomduassílabassegmentalmenteiguaisfavoreceriamo
processo; e, de modo inverso, sílabas com segmentos diferentes desfavoreceriam o
processo.EstavariávelsófoiselecionadaemCampinas,oquesignificaqueaigualdadede
segmentos nas sílabas não é importante para Capivari. Na subseção 6.1.1.1, foram
apresentados os pesos relativos da rodada 2 em Capivari, já que a rodada 1 não foi
selecionada nesta cidade (cf. resumo da descrição das rodadas em (234), na subseção
5.2.).
Apresentoaseguirospesosrelativosobtidosnasduascidades:103
Gráfico37 –ComparaçãodavariávelIgualdadedeSegmentosnarodadaGeral,emCapivarieemCampinas
103 No Gráfico 37, os resultados de Capivari aparecem com preenchimentos diferentes para indicar que avariávelnãofoiselecionadanarodada1,massimnarodada2(cf.resumodasrodadasem(234),em5.2).
199
Dos resultadospara IgualdadedeSegmentos, tratamosprimeiramentedos fatores
iguaisnasduascidades.Vimosqueoprocessoéfavorecidonofatordesílabasidênticas,
confirmandoa hipótese inicial, e tambémno contextos emque as consoantes são iguais
comvogaisdiferentes,emambasascidades.Seocontextoconsonantal fordiferenteem
[nasalidade](comvogais iguaisoudiferentesentresi),oprocessoé inibidoemCapivarie
em Campinas. Quanto às vogais, estes segmentos parecem ser inertes ao processo, já
que, sendo as vogais iguais ou diferentes, não há mudança na tendência em que as
consoantes são iguais (cf. C=V= versus C=V#); a tendência é a mesma (em Capivari,
favorecendo o processo e, em Campinas, há uma neutralidade) nos fatores em que as
consoantes têm valores diferentes para [vozeamento] e as vogais forem iguais versus
diferentes(vercontextosC#vozV=versusC#vozV#),ouseja,oprocessoéinertenosdois
contextos em Campinas e favorecido em Capivari; por fim, podemos nos certificar da
neutralidadedasvogais tambémnosambientesemqueasconsoantessãodiferentesno
traço [nasal] (cf. C#nasal V= versus C#nasal V#): em ambos os casos, há inibição do
processo.
Notamosqueháumadiferençaentreascidades:seasconsoantesforemdiferentes
em[vozeamento](comvogaisiguaisoudiferentes),oprocessoéfavorecidoemCapivarie
neutroemCampinas.
Finalmente, no que concerne às diferenças consonantais nos traços [anterior,
distribuído],nadapodemosconcluir,umavezqueonúmerodetokensdestefatornasduas
rodadasfoimuitobaixo.
Mesmo com poucas diferenças entre as cidades, chamamos a atenção que esta
variáveldeIgualdadedeSegmentossófoiselecionadaemCampinas,econcluímosqueter
sílabassegmentalmenteiguaisoudiferentesnãoérelevanteparaaaplicaçãodoprocesso
emCapivari. Assim, a variável Igualdade de Segmentos tem efeitos diferentes nas duas
cidades.
8.3.2. NúmerodeSílabas
ComrelaçãoaoNúmerodeSílabas,estavariávelnãofoiselecionadaemCampinas,
ou seja, a variável não é importante na implementação da regra nesta cidade; ainda,
200
podemos interpretar que o efeito do tamanho da palavra é diferente nas duas cidades
(importa para Capivari e não importa para Campinas). A hipótese era que quantomaior
fosseapalavra,maiorseriaa tendênciaàqueda.DosresultadosparaCapivari,pudemos
observar que dissílabos desfavorecem o processo, trissílabos parecem ser inertes e
palavrasque tenham4sílabasoumais favorecemaquedadesílaba.Assim,concluímos
queo favorecimentodequedade sílabaaumentaàmedidaqueapalavra se tornamais
extensa(oquecorroboraosresultadosdeTenani(2002):ahaplologiaémaisaplicadaem
enunciadosdetamanhosmaiores).
8.3.3. FrequênciadeUsodePalavras
AúltimavariávellinguísticaqueapresentoudiferençasentreCapivarieCampinasé
Frequência de Uso de Palavras, já que esta variável não foi selecionada na rodada de
Capivari – isto é, os capivarianos não levamem conta se a palavra é frequente ou rara.
Então,maisumavez,hádiferençanestavariávelentreoscampineiroseoscapivarianos.
Ahipótesefoiquequantomaisfrequentefosseapalavra,maiorseriaatendênciaao
apagamento.OsresultadosdeCampinasapontamqueseapalavrasujeitaaoapagamento
tiverumafrequênciaaltadeusooprocessoéinerteequepalavrasdefrequênciamédiade
uso favorecem a aplicação. Para palavras de baixa frequência de uso, há um
desfavorecimentodoprocesso,eesteéoúnicofatorquecorroboraahipóteseinicial.
8.3.4. EscolaridadeeFaixaEtária
Comrelaçãoàsvariáveisexternas,vimosqueasfrequênciasdeaplicaçãodequeda
de sílaba na rodada Geral foram diferentes nas duas cidades (cf. a variável Cidade da
rodadaGeralem5.3.2.5)e,maisainda,osresultadosforamcontráriosàhipóteseproposta
no envelope de variação (em que propusemos que Capivari aplicaria mais do que
Campinas, cf. subseção 4.1.4.2.5): Campinas aplicou mais, com 24,3%, e Capivari teve
umataxade17,3%.Dessaforma,apresentamosasanálisesfeitasdasvariáveisexternas
combasenas frequências, já quenão foi possível obter os pesos relativos (cf. 6.2 e 7.2
variáveis externas para Capivari e Campinas, respectivamente). Apresento abaixo as
frequências das variáveis externas com resultados diferentes nas duas cidades,
201
EscolaridadeeFaixaEtária:
Tabela52 –FrequênciasdasvariáveisexternasdeEscolaridadeeFaixaEtáriadarodadaGeral,emCapivarieemCampinas
variável fator geral Capivari Campinas
atéfundamental 25,3 17,2 31,5escolaridade
ensinosuperior 16,9 17,3 16,4
de20a35 22,6 19,7 25,2faixaetária
maisde50 19,5 14,6 23,5
Ao analisar apenas a rodada geral, notamos que, para Escolaridade, o fator que
indicapessoasqueestudaram,nomáximo,atéoensinofundamentaléaquelaqueresultou
numamaiorfrequência;comrelaçãoàFaixaEtária,oprocessoocorremaisentreosmais
jovens do que entre os mais velhos. Como foi visto em 8.1, a variável Gênero foi
semelhante nas duas cidades: os homens (capivarianos e campineiros) aplicammais do
queasmulheres(capivarianasecampineiras).Emresumo,asvariáveisexternasdarodada
Geral apontam que homens mais jovens com pouca escolaridade são os que mais
favorecemaquedadesílaba. Interessantemente,mudanças linguísticas seoriginamcom
ascaracterísticassociaisdegêneromasculino,maisjovensecompoucosanosdeestudo
(cf.Labov2001:294-322).104CombaseapenasnaanálisedarodadaGeral,podemosser
tentados a levantar uma hipótese de que há umamudança em curso, no entanto, essa
aparente direção de mudança não se sustenta ao olharmos para as cidades
separadamente: há diferenças na escolaridade, visto que pessoas que estudaram até o
ensinoaté fundamentalaplicarammaisdoqueaquelesquecursaramensinosuperiorem
Campinas, enquanto que, em Capivari, praticamente não há diferenças entre os dois
fatores,jáqueasfrequênciasestãomuitopróximas.ComrelaçãoàFaixaEtária,vemosna
Tabela52quenãohouvediferençanaaplicaçãodequedadesílabaparaoscampineiros,
enquantoquehádiferençasentreosmais jovenseosmaisvelhosemCapivari:naFaixa
Etáriaentre20e35anos,háumamaioraplicaçãodoquenafaixademaisde50anos.
104Dadoqueoobjetivodestatesefoiverificar,principalmente,asinterferênciasfonológicasqueatuamnaquedadesílaba(cf.seção1.2.2),ocorpusnão foiconstituídodemodoapermitirumaanálisedemudança:háumalacunaentreasduasvariantesdeFaixaEtária,sendoqueoprimeirointervalovaide20a35anos,eosegundoédefalantescommaisde50anos.
202
Concluímos que, para Escolaridade, parece haver uma diferença ente as duas
cidades:emCapivari,adiferençanasporcentagensparaosdois fatoresémuitopróxima,
de 0,1% (17,2% para os que estudaram até o ensino fundamental e 17,3% para os que
cursaram ensino superior); em Campinas, as pessoas que estudaram até o ensino
fundamentalimplementamaquedadesílaba(quaseque)odobrodevezesdoqueaqueles
que têm ensino superior (pessoas que estudaram até fundamental aplicam a queda de
sílaba 31,5%, enquanto que os que cursaram o ensino superior aplicam 16,4%). Com
relaçãoàFaixaEtária,astaxasdeaplicaçãosãomuitoparecidasemCampinas(pessoas
nafaixade20a35anosaplicam25,2%,enquantoqueinformantescommaisde50anos
aplicam23,5%),comumadiferençade1,7%entreosfatores;emCapivari,osmaisjovens
aplicam5,1%maisdoqueosmaisvelhos(de20a35anos,aporcentagemdeaplicaçãofoi
de19,7%,enquantoquepessoascommaisde50aplicaram14,6%).
8.4. Resumo
Aquestãogeralquenorteouestetrabalhofoiqueoprocessoseriamaisaplicadona
cidadedeCapivaridoqueemCampinas,vistoquehámaiscontextosdeaplicaçãonaquela
cidade (combasenos resultadosdeLeal 2006) doqueemoutrosdialetos (cf.Alkmim&
Gomes 1982, Battisti 2004 e Pavezi 2006a para haplologia). No entanto, esta hipótese
inicial(cf.subseção4.1.4.2.5)nãofoiconfirmada,poisaquedadesílabafoiaplicadamais
vezesemCampinas.Umahipóteseaserinvestigadaéverificarseesteresultadopodeser
atribuído à variável Informantes, selecionada nas duas cidades (e também na rodada
Geral). Ao analisar cada um dos informantes, vimos que este resultado (oposto ao
esperado)poderiaserexplicadopelasidiossincrasiasde9pessoasqueouaplicarammuito
ou desfavorecerammuito a queda de sílaba – estão nos dois extremos da tendência ao
processo.Houve5informantesquefavoreceramexcessivamenteoprocessoe,dentreeles,
3 são campineiros – isto é, um grande favorecimento em Campinas. Os outros 4
informantes desfavoreceram a queda de sílaba, e 3 são capivarianos – ou seja, grande
desfavorecimento em Capivari. Em outras palavras, dos 5 informantes primeiramente
citados,4 “empurramparacima”o favorecimentoemCampinas;dasoutras4pessoas,3
“puxamparabaixo”odesfavorecimentoemCapivari.
203
Natabelaabaixo,apresentoas tendênciasdos fatoresemcadaumadasvariáveis
linguísticas, de modo a resumir quais favorecem, desfavorecem ou são neutros ao
processo,deacordounicamentecompesorelativo;paraasvariáveissociais,comparoas
frequências:105
Tabela53 –ResumodastendênciasdasfatoresemCapivarieCampinas variáveis fatores Capivari Campinas
C=V= favorece
C=V# favorece
C#vozV= neutro
C#vozV# neutro
C#nasalV= desfavorece
C#nasalV# desfavorece
IgualdadedeSegmentos
C#distr.
nãoselecionada
inconclusivo
t+t
s+s
p+p
f+f
CavidadeOraldasConsoantes
k+k
nãoselecionada nãoselecionada
t+t favorece favorece
s+s favorece favorece
p+p inconclusivo inconclusivo
f+f inconclusivo inconclusivo
k+k favorece desfavorece
CavidadeOraldasConsoantescom[nasal]
n+n desfavorece desfavorece
ee neutro favorece
oo favorece favorece
aa desfavorece desfavorece
ea favorece favorece
oa favorece favorece
linguísticas
CavidadeOraldasVogais
oe neutro favorece
105 As tendências marcadas em cinza claro na Tabela 53 indicam igualdades em Capivari e Campinas; asmarcações em cinza escuro são tendências semelhantes nas duas cidades.Células embranco representamtendênciasdiferentesnasduascidadesouresultadosinconclusivos.
204
eo inconclusivo inconclusivo
ae desfavorece desfavorece
ao desfavorece desfavorece
CV+CV favorece neutro
CV+o neutro favorece
CCV+CCV inconclusivo inconclusivo
CCV+o neutro neutro
CVC+CVC inconclusivo inconclusivo
CVC+o desfavorece desfavorece
EstruturaSilábica
o+o inconclusivo inconclusivo
x••#• inconclusivo inconclusivo
x••#c inconclusivo inconclusivo
x••#y inconclusivo inconclusivo
x••#x inconclusivo inconclusivo
x•#• neutro neutro
x•#c favorece favorece
x•#y favorece favorece
Métrica
x•#x desfavorece desfavorece
entreIs desfavorece desfavorece
entreΦs favorece favoreceProsódia
entreCs(Φr) neutro neutro
2σs desfavorece
3σs neutroNúmerodeSílabas
4σsoumais favorece
nãoselecionada
alta neutro
média favorece
FrequênciadeUsodePalavras
baixa
nãoselecionada
desfavorece
fundamental aplicaigual aplicamaisEscolaridade
superior aplicaigual aplicamenos
masculino aplicamais aplicamaisGênero
feminino aplicamenos aplicamenos
20-35 aplicamais aplicaigual
sociais
FaixaEtáriamaisde50 aplicamenos aplicaigual
205
8.5. Duascidades,duasregras?
Naseção8,consideramostrêstiposdecomparaçõesentreosfatoresdasvariáveis
deCapivariedeCampinas,quaissejam: iguais(fatorescomtendênciasepesosrelativos
iguais nas duas cidades); semelhantes (fatores com tendências iguais, mas com uma
frequência de aplicação maior numa cidade do que na outra); e diferentes (fatores com
tendênciasdistintasnasduascidades;ainda,seumavariávelfoiselecionadanumacidade
enão foiemoutra, tambémconsideramosqueaatuaçãodavariávelédiferente – jáque
interferenacidadeemquefoiselecionadaenãotemnenhumaatuaçãonacidadequenão
foiselecionada).Nasdescriçõesapresentadasnassubseções8.1,8.2e8.3anteriores (e
resumidas em 8.4), pudemos verificar que há distinções nos dialetos de Capivari e
Campinasnoqueconcerneàaplicaçãodaquedadesílaba.Parafacilitaravisualizaçãodas
diferenças,semelhançaseigualdadesnasduascidades,apresentoumresumonatabelaa
seguir,quelevaemcontaacomparaçãodospesosrelativos(paraasvariáveislinguísticas)
efrequências(paraasvariáveissociais):
206
Tabela54 –Resumodasdiferenças,semelhançaseigualdadesemCapivarieCampinas variáveis fatores CapivarieCampinas
C=V=
C=V#
C#vozV=C#vozV#
C#nasalV=
C#nasalV#
IgualdadedeSegmentos
C#distr.
diferente,selecionadasóemCampinas
t+t
s+s
p+p
f+f
CavidadeOraldasConsoantes
k+k
igual(nãoselecionada)
t+t igual
s+s igual
p+p inconclusivo
f+f inconclusivo
k+k diferente
CavidadeOraldasConsoantescom[nasal]
n+n igual
ee diferente
oo igual
aa semelhanteea semelhante
oa igual
oe diferente
eo inconclusivo
ae semelhante
CavidadeOraldasVogais
ao semelhante
CV+CV diferente
CV+o diferente
CCV+CCV inconclusivo
CCV+o igual
CVC+CVC inconclusivo
CVC+o igual
EstruturaSilábica
o+o inconclusivo
linguísticas
207
x••#• inconclusivo
x••#c inconclusivo
x••#y inconclusivo
x••#x inconclusivo
x•#• igual
x•#c semelhante
x•#y semelhante
Métrica
x•#x semelhante
entreIs igual
entreΦs igualProsódia
entreCs(Φr) igual
2σs
3σsNúmerodeSílabas
4σsoumais
diferente,selecionadasóemCapivari
alta
média
FrequênciadeUsodePalavras
baixa
diferente,selecionadasóemCapivari
fundamental diferenteEscolaridade
superior diferente
masculino igualGênero
feminino igual
20-35 diferente
sociais
FaixaEtáriamaisde50 diferente
Como foi visto em 2.1, integramos teoria fonológica e variação de acordo com a
tendênciaeaprodutividadedequedadesílaba:
• Variável com uma mesma tendência (favorecimento, neutralidade ou
desfavorecimento) emesma produtividade: as características de queda de sílaba
sãoconsideradasiguaisemCapivarieemCampinas;
• Variável com tendências iguais mas os pesos relativos são diferentes: há uma
mesmaregraquetemumaprodutividadediferentenasduascidades;e
208
• Finalmente, tendências diferentes (e, consequentemente, pesos relativos
diferentes):háumaregraparaCapivarieoutraregraparaCampinas.
A produtividade do processo (tendências iguais com pesos relativos diferentes)
indicamqueaaplicaçãoémaiornumacidadeemenoremoutra,masastendênciassãoas
mesmas–háumamesmaregra.Tendênciasdiferentes indicamqueháumadiferençano
contextodeaplicaçãodaregrae,consequentemente,háduasregrasdiferentesnasduas
cidades–umfatorpodefavoreceroprocessoemumacidade,edesfavoreceremoutra.
Voltando à Tabela 54, temos que Igualdade de Segmentos, Número de Sílabas,
FrequênciadeUsodePalavras,EscolaridadeeFaixaEtáriasãoclaramentedistintosnas
duas cidades. Por outro lado, Cavidade Oral das Consoantes sem Distinção de [nasal],
Prosódia e Gênero são claramente iguais. Nas demais as variáveis, encontramos uma
distribuiçãomenosclara.Poroutro lado,CavidadeOraldasConsoantescomdistinçãodo
traço [nasal] tem tendências e produtividades praticamente idênticas para coronais orais
(favorecedoras), nasais (desfavorecedoras) e labiais (em ambas as cidades, a
produtividadedestecontextoémuitobaixa);apesardestasigualdadesnavariávelCavidade
OraldasConsoantescomDistinçãode[nasal],noentanto,astendênciassãoopostaspara
dorsais,oqueindicaduasregrasdistintas.NoqueconcerneàCavidadeOraldasVogais,
verificamos que há: (i) igualdades (como no favorecimento nos contextos [dorso-labial +
dorso-labial] e [dorso-labial + dorsal]), ou seja, os fatores têm uma mesma tendência e
produtividade;(ii)semelhanças(comonoscontextoscomuma[dorsal]naprimeirasílabae
contextos[coronal+dorsal],casosquedesfavorecemoprocesso), istoé,atendênciaéa
mesma,masaprodutividadeédiferente;e(iii)finalmente,oscontextos[coronal+coronal]e
[dorso-labial+coronal]sãodiferentesnasduascidades,umavezqueháumaneutralidade
emCapivari e um favorecimento emCampinas.Observando-se (i), (ii) e (iii), concluímos
queCavidadeOral das Vogais tem efeito diferente nas duas cidades.Quanto àMétrica,
vimosqueháumadiferençanaprodutividade,masnãonaregra:contextos[x•#y]e[x•#
c]favorecemoprocesso,[x•#•]sãoneutrose[x•#x]desfavorecem–todasastrêscom
umamesmatendêncianasduascidades.
Finalmente,comovimosnoCapítuloIII,emqueabordamosadefiniçãodoprocesso
209
fonológico, o nível mais importante para definir a queda de sílaba é o segmental, mais
especificamente,asconsoantes,oquefoicorroboradopeloestudopilotodestetrabalho(cf.
5.1).Vimostambém(cf.subseção8.2.1)queasconsoantescoronaisoraiseasnasaistêm
comportamentos muito parecidos nas duas cidades; no entanto, as dorsais têm
comportamento oposto: há um favorecimento do processo com estes segmentos em
Capivari,enquantoqueoprocessoé inibidoemCampinas.Eseoquedefineaquedade
sílaba é o contexto consonantal, há uma diferença nas regras das duas cidades: as
tendênciaseasprodutividadesdascoronaisedasnasaissão(quaseque)idênticas(para
as coronais [-contínuo], os pesos relativos foram 0,653 e 0,644 em Capivari e em
Campinas,respectivamente;paraascoronais[+contínuo],p=0,626emCapivariep=0,652
em Campinas; para as nasais, p=0,3 em Capivari e p=0,33 em Campinas).
Interessantemente, as labiais ([-contínuo] e [+contínuo]) tiveram ocorrências baixas, em
ambas as cidades, o que indica que estes contextos não são tão produtivos, tanto em
CapivariquantoemCampinas.Assim,somenteobservandocoronaisorais,nasaiselabiais,
poderíamos concluir que há uma mesma regra nas duas cidades. No entanto, há uma
expansão no contexto de queda de sílaba em Capivari se comparado à Campinas com
contextos com duas dorsais: na primeira cidade, há um favorecimento do processo, com
p=0,584, enquanto que na segunda há um desfavorecimento, com p=0,343, e
consequentemente, uma produtividade diferente nas duas cidades. A regra se aplica de
mododistinto:háumfavorecimentocomdorsaisparacapivarianosedesfavorecimentopara
campineiros.
210
CAPÍTULOIX
9. AlgumasquestõeslinguísticasNestecapítulo,discutoasseguintesquestões linguísticasrelacionadasàquedade
sílaba: o papel damétrica (ver 9.1); o papel da frase fonológica (cf. 9.2); o tamanho da
palavra (sujeita à queda) e recuperação de informação (cf. subseção 9.3); e a estrutura
silábicaversusestruturainternadossegmentos(ver9.4).
9.1. Métrica
Nesta variável, propusemos oito fatores: em quatro deles, a primeira palavra tem
umasílabaforteseguidadeduasfracas[x••#•],[x••#c],[x••#y]e[x••#x]e,
nosoutrosquatro,aprimeirapalavratemumasílabaforteseguidadeumafraca[x•#•],
[x•#c], [x•#y]e[x•#x].Nãopudemosinterpretarasquatroprimeirassequências
com dátilos, pois as frequências forammuito baixas nestes fatores.106Os resultados dos
contextos em que a primeira palavra tem uma sílaba forte seguida de uma fraca, no
entanto,levantamalgumasquestõesparaaspropostasmétricasatuais.
A literaturasobreoassuntoéconcordequeosacentossãoatribuídosnãodeum
modoabsoluto,masquecadasílabarecebeumgraudeacentoemrelaçãoaoutrasbatidas
numamesmaestruturarítmica:oacentotemumanaturezarelacional(cf.Hayes1995:377-
8 e subseção 2.2.3). Na hierarquia apresentada em (206) (cf. subseção 4.1.4.1.3 e
referênciasalicitadas),háquatrograusdeacento,comoreescrevoabaixo:
(278) Hierarquiadeacento:
acentoprimário>acentosecundário>clítico>sílabafraca
acentuadas desacentuadas
106AsocorrênciasdarodadaGeral(versubseção5.3.1.3),deCapivari(cf.6.1.3)eCampinas(ver7.1.3)foram,respectivamente:[x••#•]com26,11e15;[x••#c]com93,38e55;[x••#y]com6,3e3;e[x••#x]com73,32e41.
211
Em(278),observamosqueosgrausmaisaltossãooacentoprimárioeosecundário
(oprimárioémais fortedoqueosecundário);eosgrausmais fracossãoclíticoesílaba
fraca(destesdoisgraus,clíticospodemserconsideradosmaisfortesdoquesílabasfracas
porquecarregamacentodepalavra).
Esquematicamente, ao relacionar a queda de sílaba (dos contextos em que a
primeirapalavratemumaestruturaacentual[x•])àhierarquiadeacentoem(278),temos:
Tabela55 –Relaçãoentreaquedadesílabaeahierarquiadeacentoemqueprimeirapalavraé[x•])contexto resultado expectativadequedadesílaba
(1)x•#x choquedeacentos1ário x#x evitesempre
(2)x•#y choquede1árioe2ário x#y evite(menosdoque(1))
(3)x•#c forte+clítico x#c implemente(menosdoque(4))
(4)x•#• forte+fraca x#• implementesempre
ComovemosnaTabela55, aexpectativaé que contextosemqueháumasílaba
forteseguidadeuma fracanaprimeirapalavraeumacentoprimárionasegundapalavra
[ x • # x ] ou secundário [ x • # y ] tenham, ao menos, resultados semelhantes,
desfavorecendoaquedadesílaba:aaplicaçãodoprocessoresultaemsequênciasrítmicas
ruinscomrelaçãoaoPAR[x#x]e[x#y],jáquegeraduassílabasfortesadjacentes–
umchoqueacentual.Comrelaçãoàssequências[x•#c]e[x•#•],umavezqueclíticos
esílabasfracasnãocarregamacento,ambasdeveriamfavoreceroprocesso:nestesdois
contextos,háduassílabasfracasadjacentes,umasequênciaritmicamenteruim,deacordo
comoPAR,eaimplementaçãodaquedadesílabaresultariaemsequênciasritmicamente
melhores[x#c]e[x#•]doqueasoriginais[x•#c]e[x•#•].
Oresultadoobtidoparaofator[x•#c]nasduascidadescorroboraasprevisõesda
Tabela 55 e está de acordo com o PAR: há um favorecimento do processo neste fator
(estrutura[x•]seguidadeclíticofonológico)emCapivarieemCampinas.Naestrutura[x•
#x]queresultaem[x#x],vimosquechoqueacentualnãobloqueiaaquedadesílaba,
mas desfavorece o processo nas duas cidades, também de acordo com o PAR (Selkirk
1984:52),ecorroboraosresultadosdehaplologiadeTenani(2002)edequedadesílaba
212
deLeal(2006).
Asurpresaocorrecomassequências [x•#•]e[x•#y].Aexpectativaeraque
contextos [ x • # • ] tivessem um resultado semelhante às sequências [ x • # c ], como
apresentadonaTabela55,pordoismotivos:
(a) Ou deveriam ser iguais, com favorecimento da queda de sílaba nos dois
contextos(jáqueasduassílabasnãotêmacento);
(b) Ouocontexto[x•#c]favoreceriaaquedadesílabaumpoucomenosdoquea
sequência [ x •# • ], levando-seemcontaqueumclíticopodeserconsiderado
mais acentuado do que uma sílaba fraca (um clítico carrega acento de palavra
enquanto que uma sílaba fraca nunca tem acento em nenhum nível) – cf.
referênciasnasubseção2.2.3.
Nas subseções de resultado paraMétrica,107 vimos que a sequência [ x • # • ] é
neutra,nãofavoreceoprocesso,levandoamaioresviolaçõesdoPAR.Alémdisso,noque
concerneaopadrãodeaplicaçãode[x•#•]emcomparaçãoa[x•#c],temosque,em
cada um dos contextos, há uma sílaba com acento seguida de duas sem acento. A
diferença entre os resultados das duas variáveis é que, embora ambas sejam sílabas
fracas,ocomportamentofoidiferente([x•#c]favoreceoprocesso,mas[x•#•]éneutro,
oquenãoestádeacordocomaexpectativaapresentadanaTabela55).
Outroresultadointeressantefoiodasequência[x•#y].Aexpectativaapresentada
naTabela55eraqueaquedadesílaba fossedesfavorecida,damesma formaquenum
contexto [x•#x ],poisaaplicaçãodoprocessocriariaumchoqueacentual.Noentanto,
estecontexto[x•#y]favoreceaquedadesílaba.Emoutraspalavras,vistoqueassílabas
finaisdoscontextos[x•#x]e[x•#y]carregamacento,aimplementaçãodoprocesso
causachoqueacentual,oquevaicontraoPAR.
ConformemefoiapontadoporSantos(comunicaçãopessoal),estemesmopadrãoé
encontrado em outros processos entre palavras, a saber a degeminação e a retração
acentual.Arestriçãométricaparaadegeminaçãoentrepalavraséqueoprocessoocorre
107 Cf. em 5.3.1.3 os resultados da rodada geral, em 6.1.3 da rodada deCapivari e em 7.1.3 da rodada deCampinas.
213
entreduassílabasfracas(meninohorrível>meni[no]rrível),masnãoseasegundasílaba
portar acento primário (ovo oco > *o[vo]co) – cf. Santos (2007). No caso de menino
operário, em que a primeira sílaba da segunda palavra recebe acento secundário no
portuguêsbrasileiro,oprocessopodeocorrer (meni[no]perário), oquemostraqueparaa
regra, interessaapenasoacentoprimário.Omesmoocorrecomretraçãoacentual:sóhá
aplicaçãoentresílabasportadorasdeacentoprimário.Umasequênciadeacentoprimário
maisacentosecundárionão levaà retraçãoacentual,comopodesevernoexemplocafé
operário *[ˈka.fɛ.ˌo.pe.ˈra.riw]. Tal fato leva-a a sugerir que pode ser o caso de que, no
portuguêsbrasileiro,ahierarquiaem(278)devaser:
(279) Hierarquiadeacento:
acentoprimário>acentosecundário>clítico>sílabafraca
acentuada desacentuadas
Em (279), o que se sugere é que o acento secundário também seja considerado
comoumasílabafracanoportuguêsbrasileiro.Dessaforma,teríamosqueumasílabafraca
entreduas sílabas fortes [ x • # x ] desfavoreceaquedade sílaba, poishádoisacentos
adjacentes; para os outros contextos – uma sílaba fraca entre um acento primário e um
secundário[x•#y],umlapsode2sílabas(emqueaúltimaéumclítico)[x•#c]elapso
de2sílabasfracas[x•#•]–aúnicarestriçãoserianãodesfavorecer,pois,seoresultado
daaplicaçãodequedadesílabanestescontextosnãocausachoqueacentual,atendência
podetantoseraofavorecimentoquantoàneutralidadedaaplicaçãodoprocesso.
9.2. Prosódia
Nesta variável, pudemos verificar que a fronteira entre duas frases fonológicas é
(levemente) mais propícia à queda de sílaba, o que corrobora os resultados de Battisti
(2004),Pavezi (2006a)eLeal (2006).Na fronteiraentredoisgruposclíticos (que também
podeserdentrodefrasefonológicareestruturada),nãoháqualquerefeito;finalmente,entre
sentenças (frases entonacionais), o processo é (levemente) desfavorecido. E estes
resultadosparaostrêsníveisestudadossãoosmesmosnasduascidades.
214
Assim,umaprimeirainterpretaçãodosresultadoséqueahierarquiaprosódicanão
interfere no processo, pois ele pode ocorrer em qualquer nível (cf. Tenani 2002, Pavezi
2006a e Leal 2006) e, além disso, vimos que os resultados dos fatores não sãomuito
polarizados–afrasefonológicainfluencialevementenaquedadesílaba.
Comoreportamosem3.2.4,osdadosdeTenani(2002)apontamqueaaplicaçãode
haplologia se dá inversamente aos níveis prosódicos; assim, quanto mais baixo for o
constituinte, maior é a taxa de implementação do processo. Estes resultados não foram
corroborados em nossos dados, pois a queda de sílaba foi levemente favorecida entre
frases fonológicas (oquecorroboraBattisti2004,Pavezi2006a,paraahaplologia,eLeal
2006,paraaquedadesílaba).
Chamamosaatençãoparaofatodeque,comovimosem8.5,CapivarieCampinas
têmregrasdiferentesdequedadesílaba;mesmoassim,nasduascidades,háumpequeno
favorecimentoentrefrasesfonológicas.ParaosdialetosdePortoAlegre(cf.Battisti2004),
deSãoJosédoRioPretoedeSãoPaulo(ambososdialetos,cf.Pavezi2006a),étambém
entrefrasesfonológicasqueahaplologiamaisocorre.Estesresultadospodemserpistasde
que a tendência ao apagamento entre duas frases fonológicas é uma característica do
portuguêsbrasileiro:oprimeirodialetoédosuldopaís,avariedadedePortoAlegre(Battisti
2004); o outro é do norte do estado de São Paulo, o dialeto de São José do Rio Preto
(Pavezi2006a);háaindaavariedadedacapitaldoestadodeSãoPaulo(Pavezi2006a);e
finalmente,o favorecimentode frase fonológica foiencontradoemduascidadespróximas
do interiorpaulista,CapivarieCampinas–masvale lembrarqueestasduascidades têm
regrassegmentaisdiferentesdeaplicaçãodoprocesso.
Dado que há neutralidade em grupo clítico, um (leve) desfavorecimento em frase
entonacionale(leve)favorecimentoapenasemfrasefonológica,levantamosahipótesede
ser este um processo característico de frase fonológica no português brasileiro. Se
estivermos na direção certa, a queda de sílaba pode ser utilizada na investigação de
processos de interface fonologia-sintaxe (cf. Abousalh 1997, Santos 2002, 2003, 2009,
Nunes&Santos2009).
215
9.3. Tamanhodapalavra
Nos resultados da variável de Número de Segmentos (selecionada apenas em
Capivari), vimosquea tendênciadeaplicaçãoédiretamenteproporcionalao tamanhoda
palavra: dissílabos desfavorecem (levemente) o processo, trissílabos são neutros e
palavrascom4sílabasoumaisfavorecem(levemente)aquedadesílaba.
Podemosassociarestesresultadoscomarecuperaçãodainformação,peloouvinte,
do que “não está lá”.Observe os exemplos a seguir, em que há aplicação de queda de
sílabae,originalmente,aprimeirapalavradoexemplo(280)tem4sílabaseadoexemplo
(281)temduassílabas:
(280) [ˌdẽ.si.ˈda]doalho 1apalavra:4sílabas
(281) [ˈdẽ]doalho 1apalavra:2sílabas
Em(280),oprocessoéumpoucofavorecido(apalavratem4sílabas)e,em(281),a
queda de sílaba é levemente desfavorecida (a palavra sujeita à queda é um dissílabo).
Comparando-seasduasaplicações,ainformaçãoapagadanoexemplo(280)émuitomais
facilmente recuperada, e o ouvinte pode deduzir que a primeira palavra só pode ser
densidade;aproduçãoem(281)podeserambígua, jáque [ˈdẽ]doalhopodese referira
dentro do alho ou a dente do alho; assim, o ouvinte está muito mais dependente do
contextoem(281)doqueem(280).
Observeosexemplosaseguir:
(282) [aɽ.ki.ˈtɛ]deCampinas 1apalavra:4sílabas
(283) [ˈga]deCapivari 1apalavra:2sílabas
Assim como no par apresentado em (280) e (281), a informação perdida com a
aplicaçãodaquedadesílabaem (282)podesermaissermais facilmente recuperadado
que em (283), também por causa do tamanho da palavra. Note que émais difícil de se
encontrar umapalavraquecomececom [aɽ.ki.ˈtɛ].Poroutro lado, [ˈga] em (283)podese
referir agarra,galo,gafe, etc. (considerando-se apenas palavras que começam por [ˈga]
216
comosílabaforte).
Adiferençaentre(280)[ˌdẽ.si.ˈda]doalhoe(281)[ˈdẽ]doalho,deumlado,e(282)
[aɽ.ki.ˈtɛ]deCampinase(283)[ˈga]deCapivari,deoutro,éque,nosegundopar,éapagado
também um morfema. Assim, em (282), a informação apagada pode ser arquitetO de
CampinasouarquitetAdeCampinas;damesmaforma,em(283),ossintagmaspodemser
gatOdeCapivariougatAdeCapivari.Mesmocomoapagamentodeummorfema,aqueda
épermitida,eémuitomaissimplesparaoouvinterecuperararquitetdoquegat.
Podemos concluir que a condição de recuperação informacional depende do
tamanhodapalavrasujeitaàqueda–quantomaissílabas,maisfácilsetornarecuperara
palavra original, e talvez seja essa a razão de encontrarmos um padrão na queda
proporcionalaotamanhodapalavra.
9.4. Estruturasilábicaegeometriadetraços:Sílabasousegmentos?
Nestasubseçãodiscutoalgumasquestõessobreumfatocuriososobreaquedade
sílaba:éumprocessoquetemcomoalvoasílaba(poisoresultadoéoapagamentodesta
unidade); entretanto, o gatilho da regra não é silábico, mas sim segmental – mais
especificamente,consonantal.Emoutraspalavras,éa identidadededeterminados traços
consonantais da primeira posição do ataque de duas sílabas que importa para que o
processo ocorra; nem os traços vocálicos interessam, nem a consoante num ataque
ramificado.Dequalquerforma,oprocessoparecedependerdedoiselementos(silábicosou
intrassilábicos)idênticosediscutimostambémoOCP(cf.2.2.2).
Assumimos a teoria da estrutura da sílaba de Selkirk (1982) (cf. subseção 2.2.2),
repetidaem(284):
217
(284) Representaçãodaestruturadasílaba,adaptadodeSelkirk(1982:331)
sílaba
ataque rima
(C)(C)núcleo coda
V(V) (C)(C)
Comovemosem(284),asílabaestádivididaemataqueerima,sendoquearimase
divideaindaemoutrosdoisconstituintes:onúcleoeacoda.Oataque,onúcleoeacoda
podem ser ramificados, e estes constituintes são todos binários para Selkirk (1982). Em
(284), os parênteses indicam que as duas posições de ataque, as duas de coda e a
segunda posição da rima não precisam ser necessariamente preenchidas; assim, temos
exemplosdoportuguêsbrasileirodeestruturasdesílabasV(comonoverboserflexionado
É), CV (como em PÉ), CCV (por exemplo, PREto), CVC (PERto), CVV (PEIto), VVCC
(EINStein),CCVV(BREU),etc.
Seoataque,acodaeasegundaposiçãodarimanãotêmnecessidadedeaparecer
em todasassílabas,como representadonanotaçãoem (284),aúnicaposiçãodasílaba
que deve ser obrigatoriamente preenchida é o núcleo (peak), ocupada, nas diversas
línguas,porumavogal,oudeummodomaisabrangente,porumsegmentovocálico.108Em
outraspalavras,avogalquepreencheonúcleoéapartefundamentaldasílaba.
Umprimeiroproblemaquesecolocaéofatodequeaquedadesílaba“olha”para
umsegmentoquenãoestánaposiçãofundamentaldasílaba;maisdoqueisso,oprocesso
devedesprezarestessegmentos–asvogais–afimdepoder“enxergar”algumaidentidade
entreasconsoantes.ParailustraraquestãocomduassílabasCV,temos:
108 Os segmentos /r/ e /l/ são [+vocálicos] e podem também ser o núcleo de uma sílaba, como no inglêsamericano Jenifer > Jeni[fr] (cf. Clements&Keyser 1983: 189, para quem /ɛ, ɪ, r/ constituempicos silábicosnesta palavra). De acordo com Goldsmith (2011), no Imdlawn Tashlhiyt Berber (dialeto berber falado noMarrocos),ofemininodaterceirapessoadosingulardoverbo‘puxar’ét/l/di,ouseja,o/l/éonúcleodaprimeirasílaba.
218
(285) sílaba1 sílaba2
ataque rima ataque rima
C núcleo C núcleo
V V
Este fato de o processo ter de ignorar as vogais para poder “enxergar” as
consoantes vai de encontro à generalização de Clements & Hume (1995: 288) dada a
seguir:
It is a striking crosslinguistic generalization that consonantal place features do notappeartobeabletospreadasaunitfromoneconsonanttoanotheracrossvowels.(...)Forexample,althoughwecommonfindrulesinwhichanasalassimilatestoanadjacent consonant in all its place features, we never find rules in which a nasalassimilatestoallplacefeaturesofaconsonantacrossavowel.(grifosmeus)
Os itálicos na citação acima indicam que os casos tratados pelos autores são
espalhamentodetraços(featurespreading),quevaideumaconsoanteaoutra,oquenão
ocorrecomaquedadesílaba.Noentanto,mesmonãosendoumprocessodeassimilação
(não há espalhamento de traços),mas sim um tipo de dissimilação (cf. Mercado 2001 e
Plag1998),ogatilhodoprocesso(duasconsoantescomdeterminadostraçosiguais)deve,
dealgumaforma,ignoraravogalintermediária.Alguémpoderiaargumentarqueoprocesso
olhaparaostraçosdasconsoantesedasvogais,comoem:
(286) dependen(DO)DOdia (q)
Neste caso, deveríamos tomar as sílabas do + do como duas unidades, e não
quatro;assim,oprimeiroelementodoéigualeestáadjacenteaosegundoelementodo,o
quepoderesultarnoapagamentodeumadasunidades(silábicas)do.Assim,poderíamos
219
concluir que o processo pode ocorrer com sílabas iguais, o que corroboraria o OCP:
elementos(sílabas)adjacentesidênticossãoproibidos.
Porém,ofatoéqueaquedadesílabapodesedarcomconteúdosdiferentes(desde
quecomasconsoantesdoataquetendoomesmopontodeCe[contínuo]),oquenãopode
serexplicadopeloOCP.Maisainda:nocasodeCCV(cf.exemplo(287)),oprocesso“pula”
tambémasegundaconsoantedoataque,oquemostraumadiferençadasduasposições
doataquequenãoestácapturadapeloesquemaem(284),exemplificadoaseguir:
(287) /tro+de/ encon(TRO)DEmoto (s)
No contexto segmental /tro + de/ acima, há não um, mas dois cruzamentos de
linhas,poishádoiselementosintervenientes.Assim,oprocessodeve“enxergar”oataque
da primeira sílaba /t/ e o ataque da segunda sílaba /d/, “pulando” dois segmentos: a
segundaconsoante/r/doataqueramificadoeavogaldaprimeirasílaba/o/.
Umoutrofatoaserlevandoemcontaéque,seaquedadesílabaignoraarima,e
trata-sedeumaregradeataque,comoexplicarqueCVCinibearegra?
(288) /deN+dos/ orDEMDOSadvogados (j)
Nocontextoacima,a sílabassujeitaaoapagamento temcoda final, oque inibea
regra.
Podemos resumiraspropriedades interessantesdaquedadesílabaque levantam
questõessobreaestruturadasílabacomoseguinteexemplo:
220
(289) /tros+de/ meufilhocaiudedoisme(TROS)DEaltura (Q)
sílaba1 sílaba2
2odesfavorecimento
ataque rima ataque rima
ignorado
trnúcleo coda d núcleo
o s e
1oidentidadedetraçosinternos
Assim,aquestãoaserrespondidaé:senãoéoOCPodesencadeadordaquedade
sílaba,qualéarestrição?Emoutraspalavras,seaidentidadequeoprocessoolhanãoéa
dassílabas,qual(is)é(são)esta(s)unidade(s)?
A discussão a seguir tem o objetivo de relacionar a geometria de traços aos
resultadosdequedadesílabaparaonódecavidadeoral(oqueenglobaopontodeCeo
traço[contínuo]),paraotraço[nasal]eparaotraço[vozeamento](queédominadopelonó
[laringal]).
Observeageometriaapresentadaaseguir,emqueestãoosnósetraçosrelevantes
paraadiscussãoquesesegue:109
109Ostraçosquenãoserãodiscutidos foramretiradosdoGráfico38para facilitaravisualização.Cf.aárvorecompletaemClements&Hume(1995:292)etambémnasubseção2.2.1destatese.
221
Raiz nóA
Laringal [nasal]
Cavidadeoral nóB
[±vozeado] [±contínuo]
PontodeC nóC
[labial] [coronal] [dorsal]
Gráfico38 –Geometriadosnós:raiz,laringalecavidadeoral(adaptadodeClements&Hume1995:292)
Nasubseção2.2.1, vimosqueos traçosestãoorganizadosdemodoque, seuma
regrafonológicaseaplicanumnó,todososnósdominadostambémserãoafetados,poisas
linhas de associação agrupam constituintes (classes naturais de sons) – cf. Clements &
Hume(1995:251).Adicionalmente,osautores(p.50)propõemoprincípiodequeasregras
fonológicas devem executar uma única operação (cf. 2.2.1). Unindo este princípio e a
organização de traços apresentada no Gráfico 38 aos resultados obtidos no presente
trabalho,quaissejam:
• traço[±vozeado](submetidoaonó laringal):seforemdiferentes,não interferemna
quedadesílaba(háneutralidade);seforemiguais,favorecem.
• otraço[nasal]:interferenaquedadesílaba,desfavorecendo-a;
• [±contínuo](submetidoàcavidadeoral):interferenaquedadesílaba,bloqueandose
nãohouverigualdadenestestraços;
• pontodeC(submetidoàcavidadeoral):interferenaquedadesílaba,bloqueandose
nãohouverigualdadenestenó,
aperguntaquebuscamosresponderé:emqual(is)nó(s)outraço(s)aquedadesílabase
aplica?
Observe-seinicialmenteonóCqueincluiopontodeCeoqueestáabaixodele.Os
resultados (cf. Leal 2006)mostraram que não só o ponto deC é importante,mas que o
traço[contínuo]tambémtemumpapelnaaplicaçãodequedadesílaba.Umavezqueeste
222
traço está acima de ponto de C, podemos concluir que a regra não atua no nó C. Leal
(2006) propõe que é no nó B que o processo se baseia, pois ele inclui ponto de C e
[contínuo].Noentanto,nãopodesernestenó,poisnossosresultadosapontamque[nasal]
interferenoprocesso,desfavorecendo-o,eestetraçoestáacimadonóB(cavidadeoral)–
o que indica que a regra de queda de sílaba depende mais do que de ponto de C e
[contínuo],aocontráriodoqueafirmaLeal(2006).
Assim,paraqueaquedadesílaba“enxergue”otraço[nasal],aúnicaopçãoéqueo
processoseapliquenonóA,naraizdosegmento:
Raiz nóA
Laringal [nasal]
Cavidadeoral
[±vozeado]
Gráfico39 –Aplicaçãodequedadesílaba:nóderaiz
SeaquedadesílabaseaplicaaonóA(araiz),estahipótesedácontadofatoquea
regra“enxerga”otraço[nasal]eacavidadeoral(pontodeCe[contínuo]),comoexemplifico
aseguir:
(290) tembugri(NO)NAfamília (T)
(291) fazen(DO)NAdadeerrado (m)
Em (290), há duas consoantes com ummesmo ponto deC [coronal], ummesmo
valor [-contínuo]esãoduasnasais;em (291), /d+n/diferemem [nasal],poisaprimeiraé
oral.Emambososcasos,oprocessoédesfavorecido.
Noentanto,onóderaiz tambémenglobaotraço[vozeamento],queédependente
donó[laringal].SeoprocessoprocuraaigualdadenonóA,entãocasoscomvariaçãode
[vozeamento]deveriamdesfavoreceroprocesso:
223
(292) /z+s/ qua(SE)CERteza (G)
(293) /d+d/ apareci(DA)DOnorte (k)
Em(292),háumaconsoante[+vozeado]seguidadeoutra [-vozeado],contextoem
que encontramos umaneutralidade da quedade sílaba; em (293), ambas as consoantes
têmummesmovalor[+contínuo],casosemqueháumfavorecimentodoprocesso.
Arespostaparaaquestãopodeestarnoresumodosfatos:enquantoquepontosde
C diferentes e [contínuo] diferentes bloqueiam o processo, uma diferença em [nasal] ou
[vozeamento]nãobloqueiaoprocesso,apenasdesfavoreceoumantém-seneutro.
Assim, a questão que se coloca é que parece que cada nó/traço tem um peso
diferentenoprocesso.Adiscussãoquedesenvolveremosaseguirdizrespeitoquestões:
1.Qual(is)é(são)o(s)nó(s)outraço(s)queimpõe(m)obloqueiodoprocesso?2.Qual(is)é(são)o(s)nó(s)ou traço(s) responsável(is)pelavariaçãodaquedadesílaba? Em outras palavras, qual(is) é(são) o(s) nó(s) ou traço(s) responsável(is)pelofavorecimento,neutralidadeedesfavorecimentodoprocesso?
VoltandoaoGráfico38,temosqueacavidadeoral(nóB)éoqueregeaquedade
sílaba,poisénopontodeCenotraço[contínuo]queestáocontextodequedadesílaba:
se as cavidades orais das consoantes forem diferentes num desses dois traços, não há
implementaçãodoprocesso,comoexemplificoaseguir:
(294) /d+v/ masgostavatambémquanDOVInhanacidade (a)
Aproduçãodainformanteaem(294)éumdosdadosdoestudopiloto(cf.5.1.1)e
ilustraumcontexto/d+v/,comduasconsoantescomcavidadesoraisdiferentes:/d/éuma
[coronal,-contínuo]e/v/éuma[labial,+contínuo],enestecontextonuncahouveaplicação
dequedadesílabanosdadosdopiloto.Quaisquerquesejamosprocessosfonológicosque
possamserimplementadosnocontextoquanDOVInha,nãoéaquedadesílaba.
Poroutrolado,ostraços[nasal]e[vozeamento]nãoregemoprocesso(bloqueioou
possibilidade de aplicação),mas definem sua tendência: se há uma ou duas consoantes
224
nasaisnocontexto,haveráumdesfavorecimento;se [vozeamento] for igual,oprocessoé
neutro. Isto significa que, apesar de ambos serem dominados pelo nó de raiz, há uma
diferençadecomportamento.
Ainda,alémdeopontodeCdefiniraregra(juntamentecom[contínuo]),os traços
queestãoabaixodestenótambémditamtendências:coronais(orais)favorecemedorsais
podemfavorecer(emCapivari)oudesfavorecer(emCampinas)–nadaafirmamossobreas
labiais porque houve poucos tokens nestes contextos (cf. subseções 5.3.1.1.2, 6.1.1.2 e
7.1.1.2). Dessa forma, mesmo sendo traços irmãos (ou seja, todos dominados pelo nó
ponto de C), [labial], [coronal] e [dorsal] têm comportamentos diferentes na queda de
sílaba.110
Umaformadedarcontaentredadoseteoriaseriainterpretarquehá,pelosmenos,
duas“fases”naquedadesílaba:
• 1a fase: verificar se a cavidade oral das consoantes, isto é, o ponto de C e
[±contínuo],éamesma(nóB);
• 2afase:subirnovamenteaonóderaiz,paraque[nasal],[±vozeado]e[coronal,
dorsal e labial] possam atuar com favorecimento, neutralidade ou
desfavorecimento.
Esquematicamente,temosqueolocaldeaplicaçãodaregraénacavidadeoral(em
vermelho)eostraçosqueditamastendênciasestãocirculados(emazul):
110Nãodiscutimosostraços[anterior,distribuído]dascoronaisporqueestescontextostiverampoucaocorrêncianestetrabalho.Noentanto,umavezqueestestraçossãodominadospor[coronal]e,maisacima,porpontodeC e cavidade oral, uma hipótese a ser checada é que deve haver igualdade em [anterior, distribuído] nasconsoantesparaqueoprocessoaconteça;seestes traços foremdiferentesnascoronais,ahipóteseéqueoprocessoébloqueado–damesmaformaquepudemosconcluirdonódecavidadeoral.
225
Raiz 2oTendênciadaregra
Laringal [nasal]
Cavidadeoral 1oLocaldaregra
[±vozeado] [±contínuo]
PontodeC
[labial] [coronal] [dorsal]
Gráfico40 –Geometriadosnós:raiz,laringalecavidadeoral(adaptadodeClements&Hume1995:292)
No entanto, esta interpretação de duas “fases” contraria o princípio de que regras
fonológicasexecutamumaúnicaoperação(Clements&Hume1995:250),poisaquedade
sílaba identifica primeiro a cavidadeoral (local da regra, emvermelhonográfico) e sobe
novamenteaonóderaiz,paraqueostraçoscirculadosnoGráfico40ditemfavorecimento,
neutralidadeoudesfavorecimento.Estainterpretaçãovaideencontrotambémaoprincípio
de que, se um processo fonológico é aplicado num determinado nó, aplica-se tambéma
todososseusnósdominados(cf.Clements&Hume1995:251):nasegundafase,emque
o processo “retorna” ao nó de raiz para determinar a tendência do processo, deve-se
ignorar[±contínuo],poisestetraçodeterminaapossibilidadedeaplicaçãoouobloqueio–
nuncaatendência.
Emvistadoqueapresentamosnesta subseção, vemosqueháaindaumagrande
dificuldade em capturar a queda de sílaba. Por outro lado, estudos sobre este processo
fonológicopodemcontribuirparaateoriafonológica.
226
CAPÍTULOX
10. ConclusãoEstapesquisatevecomoinícioaplicaçõesdequedadesílabaquesãopeculiaresa
capivarianos,equesãorejeitadasporcampineiros.Porexemplo,dosoutputs:
(295) [na.ˌka.de.ˈmi.a]~[na.ˈka.de.ˈmi.a]
vimosquepodehaverdois inputs/na.a.ˌka.de.ˈmi.a/>n[a]cademiaou/na.ˈka.za.de.ˈmi.a/>
na ca(sa) de Mia em Capivari, mas /na.ˈka.za.de.ˈmi.a/ > *na ca(sa) de Mia é uma
interpretaçãoimpossívelemCampinas.
Com base nesta diferença, o principal objetivo desta tese foi verificar se a
implementação da queda de sílaba é igual ou diferente nos dialetos de Capivari e de
Campinas. Interessantemente, o contexto segmental /z+d/ foi descartado como contexto
paraaplicaçãodoprocessologonoestudopiloto,poisveioaserumcontextodeexceção
dequedadesílaba(cf.resultadosdoestudopilotoem5.1).
Na rodada Geral, vimos que a variável Cidade não foi selecionada, de onde
concluiríamosquenãoháinterferênciaseofalanteécapivarianooucampineiro–ouseja,
Capivari eCampinas teriam umamesma regra de aplicação de queda de sílaba.Porém,
partindodasfrequênciasdeaplicaçãodoprocessonasduascidades,umsegundoexame
apontouqueCapivarieCampinasaplicamoprocessodemododiferente;assim,combase
nestes resultados, computamos as duas cidades separadamente, a fim de analisar mais
profundamentequaissãoasdiferençasentreasduascidades.
Pudemos concluir que propriedades segmentais, suprassegmentais e lexicais são
diferentes em Capivari e Campinas. Na primeira subseção deste capítulo, apresento as
constataçõesgeraisdestatesee,nasubseçãoseguinte,apresentopistasparatrabalhosa
seremdesenvolvidos–sugestõesmotivadaspelosresultadosqueencontramos.
227
10.1. Doquefoiconstatado
Nesta subseção, apresento os resultados que corroboram a literatura sobre o
assuntoetambémaquelesqueforamencontradospelaprimeiraveznestatese.
Comrelaçãoaocontextoconsonantal,concluímosquehápossibilidadedequedade
sílaba com segmentos diferentes de /t/ e /d/, o que corrobora Pavezi (2006a) (para
haplologia)eLeal (2006) (paraaquedadesílaba) –chamamosaatençãoparao fatode
queutilizamos ferramentasestatísticas,diferentementedasmetodologiasempregadaspor
Pavezi(2006a)eLeal(2006).
Ainda para os traços consonantais, constatamos que capivarianos e campineiros
têm tendências idênticascomrelaçãoaopontodeC [coronal] (deconsoantesorais)eao
traço [nasal]: as coronais orais favorecem o processo (sem importar os valores para
[contínuo]), enquanto que nasais desfavorecem. No caso das nasais, vimos que Pavezi
(2006a) verificou que estas consoantes permitem a haplologia; os dados de Leal (2006)
resultaramqueaquedadesílaba(elisãosilábicaehaplologia) tambémpodeseraplicada
comnasais,masháumaexceçãonostestes,sequências[nasal+oral]–cf.descriçãodos
trabalhos sobre as nasais nas subseções 3.2.1, 3.3 e 4.1.4.1.1.3. Dos resultados desta
tese, vimos que ambas as cidades preferemuma configuração emque estes segmentos
são levados em conta, já que, nas rodadasGeral, emCapivari e emCapivari, só foram
selecionadas as variáveis em que este traço foi examinado em separado. Na variável
CavidadeOraldasConsoantescomDistinçãode[nasal],pudemosconcluirqueesteéum
traço que interfere na regra, no sentido de desfavorecer o processo, nos dois dialetos
estudados. Entretanto, as cavidades orais das consoantes não são iguais emCapivari e
Campinasporqueascidadesdivergemnotraço[dorsal]:háumfavorecimentodoprocesso
entreoscapivarianos,eumdesfavorecimentoentreoscampineiros.
Quanto ao traço [vozeamento], corroboramos a literatura em dois pontos.
Primeiramente, este traço não bloqueia o processo, o que corrobora Alkmim & Gomes
(1982), de Lacy (1999), Tenani (2002), Pavezi (2006a) e Leal (2006), dentre outros. Em
segundo lugar, encontramos um resultado que revela que, se as consoantes forem
diferentes em [vozeamento], há uma neutralidade ao processo. No entanto, se as
consoantes forem idênticas, isto é, os contextos consonantais forem iguais em
228
[vozeamento], o processo é favorecido. Em outras palavras, pudemos nos certificar com
ferramentasestatísticasdequeotraço[vozeamento]interferenaquedadesílabaseambas
asconsoantestiveremomesmovalorparaestetraço,demodoafavoreceroprocesso.
Noqueconcerneaocontextovocálico,pudemosobservarquenãohábloqueiocom
vogais dorsais, o que corrobora Pavezi (2006a) e Leal (2006). Este resultado vai de
encontroàpropostadeAlkmim&Gomes(1982),paraquemsóháhaplologiacomvogais
[+alto]; interessantemente, contextos com vogais dorsais desfavorecem o processo em
ambas as cidades. Da Cavidade Oral das Vogais, pudemos constatar que houve: (i)
diferenças: nos contextos com duas coronais e com uma dorso-labial seguida de uma
coronal, há um favorecimento em Campinas e uma neutralidade em Capivari; (ii)
semelhanças: contextos em que há uma coronal seguida de uma dorsal favorecem o
processo nos dois dialetos, e a tendência é maior em Capivari; outra semelhança diz
respeitoaoscontextoscomdorsais,jáqueháumdesfavorecimentonasduascidades,eos
capivarianos aceitammais o apagamento com estes contextos do os campineiros; e (iii)
igualdades:há favorecimentodoprocesso,compesosrelativospróximos,nassequências
com duas dorso-labiais e nos contextos de uma dorso-labial seguida de uma dorsal em
ambas as cidades. Um resultado interessante está relacionado a vogais iguais versus
diferentes: pudemos verificar que a igualdade destes segmentos não é relevante para
aplicaçãodaquedadesílaba,massimqualéotraçodavogalsujeitaaoapagamento:duas
coronaisnocontextodequedaeduasdorso-labiaisfavorecem,enquantoqueduasdorsais
desfavorecem–portanto,aigualdadedasvogaisnãoérelevante,massimopontodeCda
vogalsujeitaaoapagamento.
Para as Estruturas das Sílabas do contexto de queda, houve variação com
estruturasCCVnaprimeiraposição,ouseja,nãohábloqueiodoprocessocomsílabasde
ataque ramificado, resultado que vai de encontro aos de Alkmim & Gomes (1982), e
corrobora Battisti (2004), Pavezi (2006a) e Leal (2006). Foi verificado também que
estruturas CCV parecem não interferir no processo, pois os resultados indicam uma
neutralidadedaquedadesílaba.Concluímos tambémquesílabasque tenhamestruturas
comcodaCVCnaprimeirasílabadesfavorecemoprocessoemambasascidades.Assim
comoparavogais,verificamosnestavariávelqueéaestruturadasílabasujeitaàqueda(e
229
nãoaigualdadeentreelas)queditaseháummaioroumenorfavorecimentoemambasas
cidades.
Da variável Métrica, os resultados são semelhantes nas duas cidades: há um
favorecimentonoscontextosoriginaisdeumasílabaforteseguidadeumafracaeumclítico
[x•#c]edeumasílabaforteseguidadeumafracaeumacentosecundário[x•#y];há
umaneutralidadeemcontextosdeumasílabaforteseguidadeduasfracas[x•#•];ehá
um desfavorecimento se o contexto original resultar em choque acentual depois da
aplicaçãodoprocesso[x•#x].
Com relação às variáveis Igualdade de Segmentos, Número de Sílabas e
FrequênciadeUsodaPalavraSujeitaaoApagamento,osresultadosparaasduascidades
foram diferentes, já que estas variáveis foram selecionados apenas em uma delas. Ao
examinar o contexto segmental como uma gradação de sílabas com segmentos iguais
versus sílabascomsegmentosdiferentes, foi verificadoquesóháefeitode Igualdadede
Segmentos para os campineiros (a variável não foi selecionada em Capivari). Em
Campinas, seas consoantes forem idênticas, háumamaior aplicação; seas consoantes
variarememvozeamento, háumaneutralidade;por fim, seadiferençaconsonantal for a
nasalidade, há um desfavorecimento, o que corrobora os achados da variável Cavidade
Oral das Consoantes com Distinção de [nasal] – vimos que este traço desfavorece o
processo.Otamanhofonológico(variávelNúmerodeSílabas)éimportantenaaplicaçãodo
processo,tambémadependerdodialeto:avariávelfoiselecionadaemCapivari,masnão
emCampinas. EmCapivari, vimos que dissílabos desfavorecem (levemente) o processo,
trissílabossãoneutrosepalavrasdemaisdequatrosílabasfavorecemumpoucoaqueda
de sílaba. Com base nestes resultados, interpretamos que a informação pode ser mais
facilmenterecuperadapeloouvinteseapalavrasujeitaàquedaformaior.
AvariávelFrequênciadeUsodaPalavraSujeitaaoApagamentonãoé importante
nodialetocapivariano,enquantoqueoscampineiroslevamemcontaseéumapalavrade
média frequência (que favorece o processo) e de baixa frequência (desfavorecendo a
quedadesílaba),enquantoqueháumaneutralidadeseapalavrafordealtafrequência.
VimosqueoefeitodaProsódiaé idênticonasduascidades:háumaneutralidade
em fronteiraentregruposclíticos,oprocessoé inibidoentresentençaseé favorecidona
230
fronteiraentreduasfrasesfonológicas–esteresultadodarelaçãoentrequedadesílabae
frase fonológica corrobora Battisti (2004), Pavezi (2006a) e Leal (2006): as autoras
sustentamqueesteéonívelmaisfavorávelàhaplologia(especificamente,tambémparaa
elisãosilábicaemLeal2006).
Dentre as variáveis externas, vimos que a variável Gênero tem um mesmo
comportamentonosdoisdialetos:emCapivari,oshomensaplicaram1,662vezesmaisdo
que as mulheres; em Campinas, os homens aplicaram 1,656 vezes mais do que as
mulheres. Quanto à Escolaridade e Faixa Etária dos falantes, houve um comportamento
diferente nas duas cidades. Para Escolaridade, campineiros commenos anos de estudo
aplicam mais a queda de sílaba do que campineiros que cursaram faculdade; e em
Capivari, não há diferença se o informante estudou até o ensino fundamental ou até o
ensino superior. Para a Faixa Etária, capivarianos mais jovens aplicam mais do que
capivarianos mais velhos; e, em Campinas, as porcentagens foram praticamente as
mesmasnosfatoresde20a35anosedemaisde50anosdeidade.
Assim,concluímosqueascidadestêmregrasdiferentesdeaplicaçãodequedade
sílaba.
10.2. Daspistasencontradas:continuaçãodeestudos
Nesta tese, pudemosnoscertificardequeosdialetosdeCapivari edeCampinas
têmregrasdiferentesnoqueconcerneàquedadesílaba.Opresente trabalhopodeabrir
portas a novos estudos: a identificação e a descrição da queda de sílaba em trabalhos
futuros pode ampliar a investigação do processo, com base nos resultados encontrados
nestatese.
Nestasubseção,apresentopistasencontradasnestapesquisaquepodemservirde
baseaoutrostrabalhos.
Para o contexto segmental, partimos da proposição de que a sílaba é o alvo do
processo fonológico,mas o que determina se o apagamento ocorre ou é bloqueado é o
nívelsegmental,asconsoantes.Foiimportantesepararconsoantesevogaisnesteestudo,
deondepudemoscomprovarqueestasduasclassesfonológicastêmpapéisdiferentesna
implementaçãodaregra:asconsoantesdefinemoprocesso,jáquesedevelevaremconta
231
traços internos a estes segmentos; quanto às vogais, a importância é que ditam a
produtividadedoprocesso,enãoobloqueiam.Umoutromododeseanalisarocontexto
segmental seria unir sílaba 1 + sílaba 2, ou seja, colocar os segmentos das sílabas
C1V1+C2V2numaúnicavariável,comoobjetivoderesponderàseguintequestão:háum
favorecimentoàquedasetodosossegmentosdocontextotiveremummesmopontodeC?
Por exemplo, umahipótese seria que, emsequências de segmentos [C1 coronal V1 coronal +
C2coronalV2coronal],háumamaiorpropensãoaoprocesso.
Um resultado interessante foi que são as características da sílaba que ocupa a
primeira posição no contexto que parece ser importante na queda de sílaba, e não a
igualdade/diferença entre as unidades. Estes resultados foram obtidos nas variáveis de
Cavidade Oral das Vogais e de Estrutura Silábica: não importam as semelhanças/
diferenças entre as duas vogais/estruturas das sílabas, mas sim quais são as
características da vogal/estrutura sujeita à queda. Com relação a [vozeamento], os
resultados apontam que, se as consoantes forem diferentes neste traço, o processo é
neutro; e se as consoantes forem idênticas (ou seja, tiverem o mesmo valor para
[vozeamento]),háumlevefavorecimentodaquedadesílaba.Noentanto,nãoverificamos
comoasucessãodestestraçosnassílabaspodeminterferirnoprocesso,comoocorrecom
asvogaiseestruturadassílabas.Assim,umtemaaserconsideradoemtrabalhosfuturosé
examinarcomoascombinaçõesentreconsoantes[±vozeado]podeminterferirnoprocesso,
respondendo a questões como: (i) Há alguma diferença na aplicação do processo se as
consoantesforem[+vozeado]+[-vozeado]ou[-vozeado]+[+vozeado]?(ii)Seaigualdade
em [vozeamento] favorece, há alguma diferença se as consoantes forem [+vozeado] +
[+vozeado] ou [-vozeado] + [-vozeado]? (iii) Assim como os resultados encontrados para
vogaiseparaestruturasdassílabas,oquedeveser levadoemcontaéovozeamentoda
primeiraconsoanteouaigualdadedestetraçoentreasconsoantes?
NoqueconcerneàMétrica,vimosquecontextosoriginais[x•#x]queresultamem
choque de acento com a aplicação de queda de sílaba são desfavorecedores, enquanto
que uma sílaba forte seguida de uma fraca e um clítico [x • # c] são favorecedores. No
entanto, contextos com uma sílaba forte seguida de duas fracas [x • # •] deveriam se
comportarlinguisticamentedemodosemelhanteàsequência[x•#c](favorecendoaqueda
232
de sílaba, e não resultando em neutralidade, como pudemos verificar), enquanto que
contextos [x •#y]deveriamter resultadosparecidoscom[x •#x], inibindooprocesso(e
nãofavorecendo-o,comoresultaramestesdados).Interpretamosestesdadosdaseguinte
maneira (cf. subseção9.1): (i) ouahierarquia deacentosdeve ser revista, considerando
queháapenasumaacento forte (oprimário)e todososoutrosgraussão fracos; (ii)oua
aplicação de queda de sílaba leva em conta apenas o acento primário, desprezando o
acentosecundárioeoacentodeumclíticofonológico.Umtemainteressanteparatrabalhos
futuros(querelacionemaquedadesílabaàmétrica)éenglobarumcontextomaisamplodo
que o acento forte na primeira palavra seguido de uma (ou duas) sílaba(s) fraca(s) e a
primeira sílaba da segunda palavra, a fim de examinar como a métrica interfere no
processo,considerando-seosquatrograusdeacento.
Houve algumas análises inconclusivas no presente estudo, devido à baixa
frequência de tokens, quais sejam: os contextos consonantais com labiais [+contínuo] e
[-contínuo] e comconsoantesdiferentesem [anterior, distribuído]; osdadosdeestruturas
comsílabasCCV+CCVeCVC+CVC;econtextosemqueaaplicaçãodequedadesílaba
é possível com duas consoantes que diferem na cavidade oral. Assim, investigar estes
contextospodesertemasinteressantesparatrabalhosfuturos.
Um fatorquenão foianalisadonopresenteestudoequepoderiaser associadoà
queda de sílaba é a taxa de elocução da fala. Logo no início de seu artigo, Alkmim &
Gomes (1982) afirmam que a taxa de elocução pode ser um fator importante no
condicionamentodahaplologia–e,demodomaisamplo,daquedadesílaba.
Com relação às variáveis externas, um trabalho a ser feito poderia discutir se a
queda de sílaba é umprocesso socialmentemarcado, já que, de acordo Labov (1972) e
Guy(1981),processosfonológicosdeapagamentosãosocialmentemarcados.Observando
os resultados de Escolaridade e Gênero do presente estudo (as variáveis que podem
indicar se a variável dependente é socialmentemarcada), uma pista de que a queda de
sílaba pode ser um processo fonológico marcado está na variável Gênero, tanto em
Capivari quanto em Campinas (o processo é mais aplicado por homens); quanto à
Escolaridade,parecequeestainterpretaçãodeaquedadesílabasermarcadasocialmente
sósesustentaemCampinas, jáqueas taxasparaCapivari forammuitopróximas.Desta
233
forma,trabalhosfuturosquefoquemarelaçãoentreaquedadesílabaserounãomarcada
sãonecessários.
*
Neste trabalho, pudemos responder a questões interessantes sobre a queda de
sílaba,emdiversosníveisfonológicos–segmental,suprassegmentalelexical.
Noentanto,estaseçãomostraqueo trabalhoestáapenascomeçandoeaindahá
muitasquestõesa seremdiscutidas (algumassugeridasaqui, outrasque só se revelarão
quandomaisestudosforemconduzidos).
234
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240
AnexosAnexoI:CaracterísticasdosInformantes
número Capivari Campinas Escolaridade Gênero FaixaEtária1 a m ensinofundamental feminino maisde50anos2 b n ensinofundamental feminino maisde50anos3 c o ensinofundamental feminino maisde50anos4 d s ensinofundamental masculino maisde50anos5 e t ensinofundamental masculino maisde50anos6 f u ensinofundamental masculino maisde50anos7 g p ensinosuperior feminino maisde50anos8 h q ensinosuperior feminino maisde50anos9 i r ensinosuperior feminino maisde50anos10 j v ensinosuperior masculino maisde50anos11 k x ensinosuperior masculino maisde50anos12 1 z ensinosuperior masculino maisde50anos13 A M ensinofundamental feminino de20a35anos14 B N ensinofundamental feminino de20a35anos15 C O ensinofundamental feminino de20a35anos16 D S ensinofundamental masculino de20a35anos17 E T ensinofundamental masculino de20a35anos18 F U ensinofundamental masculino de20a35anos19 G P ensinosuperior feminino de20a35anos20 H Q ensinosuperior feminino de20a35anos21 I R ensinosuperior feminino de20a35anos22 J V ensinosuperior masculino de20a35anos23 K X ensinosuperior masculino de20a35anos24 L Z ensinosuperior masculino de20a35anos
241
ANEXOII:FrequênciasdoEstudoPilotoparaaCavidadeOraldasConsoantes
sílaba1 sílaba2 N %apl
dorsal,labial coronal[+contínuo] 0/1 0
labial[+contínuo] dorsal 1/33 3
labial[+contínuo] coronal[-contínuo] 0/79 0
laringal labial[-contínuo] 0/3 0
laringal coronal[+contínuo] 0/3 0
laringal coronal[-contínuo] 0/5 0
dorsal labial[+contínuo] 0/58 0
dorsal laringal 0/4 0
dorsal coronal[+contínuo] 4/54 7,4
labial[-contínuo] laringal 0/5 0
labial[-contínuo] coronal[+contínuo] 0/49 0coronal[+contínuo] dorsal,labial 0/7 0
coronal[+contínuo] dorsal 0/303 0
coronal[+contínuo] labial[-contínuo] 0/289 0
coronal[-contínuo] labial[+contínuo] 0/116 0
coronal[-contínuo] laringal 0/16 0
pontodeCdiferente,[contínuo]diferente 5/1025 0,5
labial[+contínuo] laringal 0/3 0
labial[+contínuo] coronal[+contínuo] 1/34 2,9
dorsal labial[-contínuo] 2/102 2
dorsal coronal[-contínuo] 13/181 7,2
labial[-contínuo] dorsal,labial 1/7 14,3
labial[-contínuo] dorsal 1/84 1,2labial[-contínuo] coronal[-contínuo] 0/127 0
coronal[+contínuo] labial[+contínuo] 0/215 0
coronal[+contínuo] laringal 0/13 0
coronal[-contínuo] dorsal,labial 0/7 0
coronal[-contínuo] dorsal 2/185 1,1
coronal[-contínuo] labial[-contínuo] 1/249 0,4
dorsal,labial labial[-contínuo] 0/2 0
pontodeCdiferente,[contínuo]igual 21/1209 1,7
labial[+contínuo] labial[-contínuo] 4/49 8,2
labial[-contínuo] labial[+contínuo] 0/53 0
coronal[+contínuo] coronal[-contínuo] 21/617 3,4
coronal[-contínuo] coronal[+contínuo] 2/162 1,2
242
pontodeCigual,[contínuo]diferente 27/881 3,1
dorsal,labial dorsal 0/1 0
labial[+contínuo] labial[+contínuo] 7/24 29,2
dorsal dorsal,labial 0/2 0
dorsal dorsal 13/91 14,3
labial[-contínuo] labial[-contínuo] 10/105 9,5
coronal[+contínuo] coronal[+contínuo] 2/154 1,3
coronal[-contínuo] coronal[-contínuo] 89/532 16,7
pontodeCigual,contínuoigual 121/909 13,3
total 174/4024 4,3