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Encontro“COMPREENDER A PAISAGEM CULTURAL DO TEJO E
SEUS VALORES”
TAGUS UNIVERSALIS
Sociedade de Geografia de Lisboa19 de Fevereiro de 2011
AS UNIDADES DE PAISAGEM NO TEJO PORTUGUÊSContributo para a delimitação da paisagem
cultural
Alexandre Cancela d’AbreuFotografias Rui Cunha e outros
Compreender a paisagem cultural do Tejo e os seus valores
Conceito actual de paisagem não se reduz às suas vertentes sensoriais e emotivas – é entendida como um sistema dinâmico com componentes naturais e culturais em interacção.
As paisagens humanizadas, em constante alteração, são a expressão de complexas interacções Homem – Natureza, são obras colectivas, na medida em que resultam de uma acção continuada de múltiplas gerações e, em cada momento, de muitos e variados actores que actuam em simultâneo sobre os mesmos espaços, ou sobre espaços diferenciados mas interdependentes quanto a processos biofísicos, culturais e socioeconómicos.
Assim, pode afirmar-se que as paisagens intensamente transformadas que cobrem toda a Europa e uma boa parte do planeta, são a expressão cultural dos seus “construtores” (passados e presentes) e, portanto, são uma marca identitária de enorme relevância (amplamente reconhecido por todo o mundo, nomeadamente através de documentos emanados de diversas entidades internacionais, com destaque para a UNESCO e Conselho da Europa).
Compreender a paisagem cultural do Tejo e os seus valores
No que diz respeito à dimensão patrimonial das paisagens, a lei portuguesa só a reconhece indirectamente, embora tenha tomado a iniciativa de proceder à classificação de paisagens culturais ao propor e ver aceite a inclusão de três delas na lista do património mundial.
Considera-se que o património paisagístico referido a um qualquer espaço territorial será muito mais do que o simples somatório dos valores presentes, tanto naturais como culturais.
De facto tais valores não surgem isolados, mas sim num contexto paisagístico que lhes dá sentido e nos permite compreendê-los na sua dinâmica temporal e espacial – origem, evolução, estado actual e tendências futuras.
Compreender a paisagem cultural do Tejo e os seus valores
No trabalho relativo à “Identificação e caracterização da Paisagem em Portugal Continental” (DGOTDU, 2004) pretendeu-se dar a entender a complexidade do sistema paisagem presente e a sua evolução ao longo dos tempos, para que daí possam surgir propostas de ordenamento e gestão que preservem os seus valores, ao mesmo tempo que asseguram a sua sustentabilidade socioeconómica, ecológica e cultural.
Tal estudo passou pela identificação e caracterização de Unidades de Paisagem - no que diz respeito ao Tejo, detecta-se uma notável diversidade e riqueza paisagística, sistematizada em quatro situações diferenciadas e que procuramos ilustrar através de imagens:
UNIDADES DE PAISAGEM NO
TEJO PORTUGUÊS:
UP 54 – Tejo superior e internacional
UP 84 – Médio Tejo
UP 85 – Vale do Tejo, Lezíria
Várias UP – Estuário e Foz do Tejo
“Contributos para a Identificação e Caracterização da Paisagem em Portugal Continental” (DGOTDU, 2004)
Belver
Almourol Belver
Estuário e foz do Tejo
Compreender a paisagem cultural do Tejo e os seus valores
Quase todas as imagens anteriores referem-se a paisagens directamente relacionadas com o rio – isto não significa que se ignorem os processos naturais e culturais de que resultam tais paisagens, processos esses que em termos espaciais transcendem largamente o vale principal:
• é evidente que o conhecimento da bacia hidrográfica é fundamental para entender o que se passa nas paisagens ribeirinhas em termos biológicos e físicos;
• quanto às componentes culturais, há factores significativos para a formação das paisagens que são totalmente exteriores à bacia e que não podem ser ignorados.
Compreender a paisagem cultural do Tejo e os seus valores
As paisagens do Tejo também apresentam-se com algumas degradações que é necessário reduzir ou anular.
É este conjunto de valores e disfuncionalidades que constitui a paisagem cultural, para a qual há então que compatibilizar acções de protecção e de correcção com evoluções equilibradas determinadas pelas dinâmicas da vida contemporânea.
A um processo de classificação da paisagem cultural mais ou menos trabalhoso, tem que seguir-se uma gestão que, para ser eficiente, exige considerar a multiplicidade de componentes em interacção, com destaque para o número elevado de diferentes intervenientes (institucionais e particulares), com diversos interesses e com actuações conflituosas – necessidade de envolver tais intervenientes através de uma intensa participação pública ao longo de todo o processo.
Compreender a paisagem cultural do Tejo e os seus valores
Qual então o contributo que as unidades de paisagem identificadas e caracterizadas podem dar para a
delimitação da “paisagem cultural” ?
No essencial, será através de um melhor entendimento da paisagem como um todo, sendo neste todo complexo, aberto e dinâmico que se devem procurar os valores de
Memória, Antiguidade, Autenticidade, Originalidade, Raridade, Singularidade e Exemplaridade
que reflectem o interesse patrimonial da paisagem.
Não tenho dúvidas que uma parte substancial das “Paisagens do Tejo” têm estes valores, pelo que merecem ser salvaguardadas e valorizadas.