empresários e educação reflexões sobre o projeto educacional

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EMPRESÁRIOS E EDUCAÇÃO: REFLEXÕES SOBRE O PROJETO EDUCACIONAL DA FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DE MINAS GERAIS 1 André Silva Martins 2 Adriane Silva Tomaz 3 Leonardo Docena Pina 4 Resumo O presente trabalho é resultado de uma investigação que visa apreender os fundamentos do projeto educacional da Federação das Indústrias de Minas Gerais – Fiemg. Trata-se da maior entidade de representação de interesses empresariais de Minas Gerais e uma das mais importantes do Brasil com atuação significativa na educação. Considerando a sua importância no cenário mineiro e brasileiro, o presente trabalho investigou os fundamentos das proposições da Fiemg para a educação escolar e não escolar, procurando apreender as possíveis implicações para a formação humana. A partir da perspectiva analítica gramsciana, a 1 O presente trabalho teve contribuições dos seguintes licenciados e graduandos: Carlos Eduardo de Souza, alita Lopes da Silva, Camila de Azevedo Souza, Poliana Stopa Moreira e Lúcia Aparecida Ávila. 2 Doutor em Educação pela Universidade Federal Fluminense; Professor da Faculdade de Educação na Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF; Pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Trabalho da FACED-UFJF; É integrante do corpo docente do PPGE/UFJF. [email protected] 3 Mestre em Educação pela Universidade Federal Fluminense; Pesquisadora associada ao Núcleo de Estudos sobre Trabalho e Educação da UFJF, pesquisadora do Colégio de Aplicação João XXIII da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF. [email protected] 4 Mestre em Educação pela UFJF; Pesquisador associado ao Núcleo de Estudos sobre Trabalho e Educação da UFJF, doutorando em Educação na UFJF, professor da rede municipal de Juiz de Fora. [email protected]

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EmprEsários E Educação: rEFlExõEs sobrE o projEto Educacional da FEdEração das indústrias dE minas gErais1

André Silva Martins2

Adriane Silva Tomaz3

Leonardo Docena Pina4

ResumoO presente trabalho é resultado de uma investigação que visa apreender os fundamentos do projeto educacional da Federação das Indústrias de Minas Gerais – Fiemg. Trata-se da maior entidade de representação de interesses empresariais de Minas Gerais e uma das mais importantes do Brasil com atuação significativa na educação. Considerando a sua importância no cenário mineiro e brasileiro, o presente trabalho investigou os fundamentos das proposições da Fiemg para a educação escolar e não escolar, procurando apreender as possíveis implicações para a formação humana. A partir da perspectiva analítica gramsciana, a

1 O presente trabalho teve contribuições dos seguintes licenciados e graduandos: Carlos Eduardo de Souza, Thalita Lopes da Silva, Camila de Azevedo Souza, Poliana Stopa Moreira e Lúcia Aparecida Ávila.

2 Doutor em Educação pela Universidade Federal Fluminense; Professor da Faculdade de Educação na Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF; Pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Trabalho da FACED-UFJF; É integrante do corpo docente do PPGE/UFJF. [email protected]

3 Mestre em Educação pela Universidade Federal Fluminense; Pesquisadora associada ao Núcleo de Estudos sobre Trabalho e Educação da UFJF, pesquisadora do Colégio de Aplicação João XXIII da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF. [email protected]

4 Mestre em Educação pela UFJF; Pesquisador associado ao Núcleo de Estudos sobre Trabalho e Educação da UFJF, doutorando em Educação na UFJF, professor da rede municipal de Juiz de Fora. [email protected]

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análise baseou-se em fontes documentais produzidas pela entidade. O estudo revela que o projeto educativo da Fiemg não se restringe ao treinamento profissional; ao contrário, tem uma perspectiva ampla, pois procura abordar questões relativas à formação moral e intelectual dos trabalhadores dentro e fora do espaço escolar. A fundamentação do projeto educativo da Fiemg está vinculada à teoria do capital humano e à pedagogia das competências. O estudo concluiu que a Fiemg apresenta um projeto educativo fundamentado numa lógica instrumental, algo que restringe as possibilidades da condição humana.Palavras-chave: Formação humana. Empresariado. Hegemonia.

aprEsEntação

O entendimento de que a educação é uma prática social complexa e abrangente que se desenvolve a partir de concepções e práticas de diferentes sujeitos sociais, não se restringindo exclusivamente à dinâmica da instituição escolar, abre uma série de possibilidades de investigação sobre a problemática da formação humana. Diante desse vasto universo de possibilidades, interessa-nos tratar do fenômeno educativo no âmbito das formulações e práticas de empresários do setor industrial por considerarmos que as experiências produzidas por esse importante grupo social podem repercutir de algum modo sobre a formação escolar e profissional de uma parcela significativa da sociedade brasileira.

Nossa perspectiva de análise, portanto, concentra-se nas formulações e práticas empresariais para a educação com a finalidade de apreender o conteúdo das demandas desse grupo social para a formação humana no Brasil no início do século XXI.

O presente trabalho apresenta um recorte específico ao tema geral anteriormente delineado, pois se concentra na análise das formulações da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) para educação. A escolha da Fiemg

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não é arbitrária. Essa entidade fundada em 1942 tem um papel político de destaque no estado de Minas Gerais, sendo uma das mais importantes organizações empresarias do país, com inserção ativa no interior da Confederação Nacional das Indústrias (CNI)5. A capacidade de propor e de realizar projetos educativos faz da Fiemg um importante sujeito coletivo no delineamento da educação. Nesse sentido, o objetivo do presente trabalho é apresentar elementos que explicitem a perspectiva de educação da Fiemg nos anos 2000 e sua importância na elaboração de projetos educativos.

A metodologia da investigação foi baseada nas referências sobre pesquisa documental (MARCONI; LAKATOS, 1990) articulada a partir da perspectiva gramsciana de análise. A constituição do corpus documental envolveu os seguintes procedimentos: identificação dos documentos produzidos pela FIEMG relacionados à questão educacional; organização dos documentos identificados pelas temáticas “educação escolar” e “educação não escolar”; seleção de documentos mais significativos em termos de dados dentro de cada temática. Fizeram parte do corpus documental as seguintes produções da FIEMG sobre educação: relatórios, folders, projetos, revistas, textos eletrônicos e impressos em geral. Depois de delimitado o corpus documental, as produções da FIEMG foram examinadas a partir de categorias analíticas estruturadas com base nos fundamentos da Pedagogia Histórico-Crítica (SAVIANI, 1987; 2005). Entre elas, destacamos: finalidade da educação; perspectiva pedagógica; concepção de ser humano.

As reflexões sistematizadas no presente artigo sobre o papel político e pedagógico da FIEMG visam contribuir com o debate mais amplo sobre as perspectivas dos projetos de educação e formação humana na atualidade.

5 Criada em 1938, a CNI é uma organização da sociedade civil que representa os interesses do empresariado da indústria em âmbito federal. É constituída por 27 federações estaduais da indústria, entre elas, a Fiemg. Sua função central consiste em formular diretrizes e defender posições que fortaleçam o setor industrial no país. Para saber mais, acessar: <http://www.cni.org.br>

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Diferentes estudos demonstram que o empresariado brasileiro vem atuando historicamente de maneira sistemática na definição de projetos e estratégias para assegurar seus interesses na sociedade brasileira (DINIZ, 1978; DINIZ e BOSCHI, 1978; DREIFUSS, 1981; FERNANDES, 1981; LEOPOLDI, 2000; BIANCHI, 2001; GROS, 2003).

Em relação à posição do empresariado frente à temática educacional, os estudos de Neves (1994 e 1997) comprovam que, entre os anos de 1980 e o período inicial da década de 1990, os empresários industriais no Brasil se reestruturaram politicamente para alcançar maior capacidade de intervenção na agenda pública brasileira, tanto para influenciar a definição de um projeto de desenvolvimento para o país quanto para intervir na definição da política educacional, tendo como parâmetros as exigências internacionais da concorrência, eficiência e competitividade industrial e as pressões populares por um projeto alternativo de desenvolvimento e de educação.

Na mesma linha, a pesquisa de Rodrigues (1998) analisou o esforço do empresariado do setor industrial para fortalecer a CNI como sujeito político coletivo capaz de interferir nos processos de hegemonia, sobretudo naqueles ligados às disputas no campo educacional. Segundo esse autor, ao longo do século XX, o empresariado industrial aprimorou sua concepção pedagógica. Nos anos finais do século, essa elaboração ganhou novos contornos frente à intensificação da concorrência intercapitalista em nível mundial. Segundo o autor, o empresariado concebia que a educação dos trabalhadores no final do século XX precisaria tornar a força de trabalho mais eficiente, permitindo ao país se inserir na nova economia globalizada. Isso significou defesa ampla e irrestrita da pedagogia das competências, uma das mais importantes construções pedagógicas que penetrou os currículos da Educação Básica e da Educação Superior no

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país para ordenar os processos formativos nos anos de 1990 (FERRETI, 1997; RAMOS, 2001).

Já nos anos iniciais do século XXI, as preocupações dos empresários com a educação tornaram-se ainda mais intensas. Martins (2009a) argumenta que o projeto educativo empresarial renovado, além de atualizar aspectos da pedagogia das competências no âmbito da educação escolar, procurou difundir a necessidade de renovação da concepção de democracia e de práticas de cidadania e participação para toda a sociedade no âmbito da educação política, principalmente nos centros industrializados do país. Esse estudo afirma que a educação se manteve como um tema importante da agenda política empresarial no país neste início de século.

Os estudos de Tomaz (2003) e de Graciolli (2006) confirmam de modo particular esse movimento na realidade de Minas Gerais. Seus estudos oferecem elementos que comprovam que empresariado vem se dedicando ao tema educação no estado.

Partindo de Neves (2005), é possível verificar que as ações empresariais na educação na atualidade se materializam como expressão política de um amplo movimento com a finalidade de afirmar no país algumas referências que atualizem o padrão cultural de sociabilidade frente às exigências da chamada “sociedade do conhecimento”. Assim sendo, é necessário analisar as ações empresariais na educação no âmbito das relações de hegemonia, tal como concebeu Gramsci (2000).

Cabe ressaltar que compreendemos que as mudanças que ocorrem no padrão de sociabilidade em uma formação social em um dado tempo histórico são de natureza complexa. Elas implicam em alterações significativas na forma de sentir, pensar e agir do ser social, efetuadas por meio de complexos processos educativos escolares e não escolares, justamente porque “a ‘natureza’ do homem é o conjunto das relações sociais” e são essas relações que decisivamente determinam a consciência humana (GRAMSCI, 1999, p.51). Considerando

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que o ser social é “[...] constituído por elementos puramente subjetivos e individuais e de elementos de massa e objetivos ou materiais, com os quais o indivíduo está em relação ativa” (GRAMSCI, 1999, p. 406), fica evidenciado que a mudança no padrão de sociabilidade como requerido pelo empresariado não se desenvolve por meio da espontaneidade, mas sim através de projetos que buscam orientar a formação humana.

Compreendemos que os projetos educacionais (também os artísticos, ambientais, etc.) são resultantes de uma intencionalidade inscrita nas práticas sociais concretas, sendo que sua forma e conteúdo sempre expressam uma interpretação da realidade e uma intencionalidade formativa. Portanto, os projetos educativos podem ser interpretados como respostas a uma dada realidade.

Com esta perspectiva analítica gramsciana e considerando os aspectos gerais da intervenção empresarial na educação no Brasil é que buscamos apreender o conteúdo dos projetos educativos da Fiemg para a formação escolar e profissional em Minas Gerais.

uma brEvE caractEriZação da FiEmg

A Fiemg é um sistema de representação de interesses bastante complexo composto por instâncias deliberativas internas, organismos de representação regional dentro de Minas Gerais e por seções de órgãos de caráter nacional presentes dentro do estado. Nele incluem-se: a seção estadual do Instituto Euvaldo Lodi- IEL-MG; sessenta unidades do Sistema Social da Indústria- Sesi-MG; cento e trinta unidades do Sistema Nacional de Aprendizagem Industrial- Senai-MG. Além de defender os interesses específicos do setor perante a aparelhagem estatal, o sistema Fiemg se posiciona também frente às frações dos trabalhadores da indústria em temas como saúde, artes, lazer e educação a partir de sua visão de mundo.

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O estudo de Santos e Lucena (2008) demonstra que a Fiemg vem se dedicando à elaboração e à proposição de ações educativas para adequação da força de trabalho de acordo com as demandas da indústria mineira desde os anos de 1940. Nos anos de 1990, o organismo alargou o seu espectro de intervenção, interferindo de maneira direta na definição da política educacional no estado movida pelo binômio “educação e competitividade”.

Identificando a força de trabalho humana como recurso necessário ao aumento da produtividade industrial, em 1996, a Federação propôs ao governo Eduardo Azeredo (1995-1998) uma parceria intitulada Programa Adote uma Escola. Em 16 de abril de 1997, o referido governo sancionou a Lei 12.490, que estabeleceu bases legais para a ação das empresas na adoção de escolas públicas no estado de Minas de acordo com os interesses da Federação. A referida lei instituiu a possibilidade concreta de disseminação de preceitos empresariais no espaço escolar, envolvendo medidas de caráter administrativo, infraestrutural e pedagógico nas escolas públicas de Minas Gerais (FIEMG, 1996). Segundo Baquim (2003), essa iniciativa serviu para que a Fiemg difundisse a ferramenta empresarial intitulada de “qualidade total” nas escolas mineiras.

Nos anos 2000, inspirada sob os preceitos da “responsabilidade social”6, a Federação ampliou suas formulações, passando a defender que qualquer empresa, além de cumprir sua função econômica, deveria assumir também um papel social mais efetivo, principalmente no âmbito educativo, promovendo ações de fortalecimento de laços necessários à coesão cívica, criando um ambiente de colaboração entre capital e trabalho (FIEMG, 2010a). A posição da Fiemg é de que na “sociedade do conhecimento” as empresas devem buscar diferenciais e, nesse processo, devem contribuir para a afirmação da nova cidadania.

6 Para uma compreensão crítica sobre a noção de responsabilidade social, ver Martins (2009).

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Interpretamos que essa nova orientação procura trazer respostas inovadoras às implicações sociais e políticas do atual processo de mundialização da economia, tal como analisado por Chesnais (2005).

o diálogo EntrE FiEmg E cni sobrE Educação

O projeto educativo da Fiemg, executado pelas unidades do Senai-MG e do Sesi-MG, está alicerçado na compreensão de que “investir em educação e qualidade de vida do trabalhador são requisitos indispensáveis (sic!) para assegurar o aumento da produtividade de uma empresa” (FIEMG, 2007, s/p.). Nessa linha, a Fiemg afirma que seu projeto:

[...] visa à formação de cidadãos qualificados para atuar de maneira autônoma, crítica, consciente e participativa, tanto no trabalho quanto na vida cotidiana. Seus cursos possibilitam ao aluno a construção personalizada de seu projeto educativo. Para isso, estrutura currículos com base em perfis profissionais que retratam as competências requeridas pelo mundo do trabalho e necessárias à eficácia dos processos produtivos na indústria (FIEMG, 2008, p.1).

Essa definição vai ao encontro da formulação da CNI sobre educação:

A educação é uma das vertentes fundamentais para o crescimento da economia, seja pelo efeito direto sobre a melhoria da produtividade do trabalho – formação de trabalhadores mais eficientes, capital humano – seja pelo aumento da capacidade do país de absorção e geração de novas tecnologias (CNI, 2007, p.9).

A partir desses enunciados evidencia-se que a educação em ambas as organizações se constitui em fator direto de aumento da competitividade industrial e de desenvolvimento de cidadania. A Confederação acredita que a educação torna

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o cidadão-trabalhador melhor preparado para produzir mais e melhor, contribuindo para que o ambiente organizacional e social seja marcado pela estabilidade, colaboração e produtividade, fortalecendo os laços sociais entre empresários e trabalhadores.

A formação de capital humano é indubitavelmente uma das principais referências do projeto educativo da Fiemg. A capacidade política e operacional e a experiência acumulada durante décadas pela Federação se tornaram importantes diferenciais para traduzir o enunciado geral em prática concreta.

Se a década de 1990 foi um período da reestruturação produtiva com efeitos importantes sobre a condição de vida do trabalhador (FRIGOTTO, 1995; ANTUNES, 1999; ALVES, 2005), a década de 2000 pode ser identificada como consolidação desse processo e aprofundamento de referências políticas, ampliando o télos empresarial da “competitividade” (RODRIGUES, 1998) para um novo télos: a “competitividade com responsabilidade social” (MARTINS, 2009). Isso significa relacionar num mesmo projeto de desenvolvimento o econômico com o social.

No âmbito da CNI, isso pode ser traduzido em alguns números que envolvem a aplicação das ações educativas para alavancar o crescimento econômico. A Confederação definiu como meta obter 16,2 milhões de matrículas no período 2007-2010 em todo o país, das quais: 7,1 milhões de matrículas em educação básica e continuada nas unidades do Sesi e 9,1 milhões de matrículas em educação profissional nas unidades do Senai (CNI, 2007).

Na edição nº 1 da revista Nossa Escola editada pela Fiemg7 existem vários matérias que explicitam o comprometimento da Federação com os postulados e metas traçadas pela CNI. Como exemplo, podemos citar as formulações do superintendente

7 Trata-se de uma revista bimestral, sob a coordenação da Fiemg, que explicita as ações educativas do Sesi e Senai no estado de Minas Gerais.

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do Sesi-MG e do superintende do Senai-MG veiculadas em entrevistas concedidas na referida publicação. Para o primeiro, a educação escolar deve ir além dos aspectos tradicionais da formação para abranger elementos contemporâneos, tais como: responsabilidade social, empreendedorismo e criatividade. Nessa linha, defende que:

O nosso maior desafio é melhorar, a cada dia, a qualidade da educação, conforme estabelece o Programa Educação para a Nova Indústria [da CNI]. Isso envolve ações de expansão e de diversificação da oferta de educação básica continuada; a modernização da infraestrutura das escolas; o aperfeiçoamento constante da equipe técnica; a atualização contínua do material didático e a inclusão digital de alunos e educadores (SPERLING, 2008, p. 8).

Para o superintende do Senai-MG, o sistema educacional brasileiro precisa se diversificar para atender às novas demandas geradas pela inovação tecnológica. Ele defende que o Senai-MG vem cumprindo sua missão. Nessa linha, defende que a diretriz da CNI para a educação

[...] é uma resposta [...] à demanda da sociedade industrial. A meta do Senai/MG até 2010 é investir R$ 700 milhões em modernização de equipamentos, em novas unidades operacionais, em tecnologias de educação, em treinamento e capacitação dos instrutores e em um programa de inclusão digital (LEÃO, 2008, p. 10).

Considerando esses elementos, cabe ressaltar que:

Em um trabalho conjunto, Sesi e Senai/MG já formaram milhões de pessoas, da educação básica à profissional. Para ambas, a educação é um dos meios mais seguros para garantir o crescimento da economia, a melhoria da qualidade de vida do trabalhador e o desenvolvimento sustentável do país (FIEMG, 2008b, p.14).

O esforço da Fiemg ao longo dos anos 2000 foi primordialmente atualizar o projeto educativo empresarial no

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contexto de crescimento da economia nacional para oferecer à sociedade em geral e aos trabalhadores da indústria e seus familiares, de forma específica, referências morais, intelectuais e comportamentais compatíveis com a dinâmica social e econômica da chamada “sociedade do conhecimento”.

Verificamos que as relações entre Fiemg e CNI ultrapassam o campo da obediência legal e da formalidade. O télos da competitividade com responsabilidade social unificou e deu organicidade às ações, fortalecendo o projeto educativo da Fiemg.

Considerando que a Fiemg consolidou o complexo SESI/SENAI como a maior rede de educação privada em Minas Gerais, é possível inferir que o projeto educativo da Federação tem um alcance considerável na formação humana no estado.

propostas dE Educação não Escolar da FiEmg

As ações educativas não escolares da Fiemg visam promover a qualidade de vida do trabalhador da indústria e de seus familiares por meio de programas variados para consolidar a competitividade da indústria mineira no cenário nacional e internacional.

O primeiro programa a ser destacado abrange o tema “saúde”. As iniciativas vinculadas ao programa visam promover a melhoria da condição de vida do trabalhador por meio da difusão de hábitos saudáveis de vida. Para a Fiemg (2009c), saúde não é apenas ausência de doença, mas sim um estado de bem-estar físico, mental e social que interfere na produtividade do trabalho. Assim, educar para a saúde é, antes, de tudo, educar comportamentos e hábitos que podem colaborar no plano imediato para a redução de afastamentos por problemas médicos e de acidentes de trabalho, repercutindo positivamente no padrão de sociabilidade ao qual o trabalhador deve se submeter. A saúde do trabalhador é pensada nos seguintes termos: “educar para prevenir é o caminho mais econômico

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para garantir uma equipe saudável, motivada e produtiva” (FIEMG, 2010b).

O interesse da Fiemg pela vida privada dos trabalhadores é um fato social de significativa importância para revelar aspectos do projeto educativo da entidade. Considerando o conceito de hegemonia de Antonio Gramsci, é possível verificar que o acompanhamento e o aconselhamento contidos nos programas citados se constituem como táticas para assegurar a formação de um perfil humano compatível com a perspectiva de sociabilidade do empresariado.

Na perspectiva empresarial, todo o processo de complexificação da produção e busca pelo aumento da produtividade na dinâmica capitalista exige a racionalização da vida como um todo, pois a disciplina do trabalho é de modo mais amplo também uma disciplina social (GRAMSCI, 2001). Os hábitos, os costumes e as referências morais precisam ser ordenados a partir de referências compatíveis com a idealização do que seja o novo trabalhador e cidadão.

Esse aspecto do projeto educativo da Fiemg procura reduzir as experiências da classe trabalhadora ao universo do “mundo empresarial” de tal modo que a consciência gerada por essa realidade produza um conformismo social desvinculado da condição de classe. Trata-se de um processo de assimilação moral e comportamental para tornar o trabalhador-cidadão eficiente e produtivo.

Em que pesem as particularidades históricas da análise de Gramsci sobre o fenômeno do industrialismo, o conteúdo da formulação nos parece significativo para a compreensão crítica do projeto educativo da Fiemg. Para o autor,

[...] a racionalização do trabalho e o proibicionismo estão indubitavelmente ligados: as investigações dos industriais sobre a vida intima dos operários, os serviços de inspeção criados por algumas empresas para controlar a “moralidade” dos operários são necessidades do novo método de trabalho. Quem ironizasse estas iniciativas (mesmo fracassadas) e visse nelas apenas

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uma manifestação hipócrita de “puritanismo” estaria se negando qualquer possibilidade de compreender a importância, o significado e o alcance objetivo do fenômeno americano, que é também o maior esforço coletivo até agora realizado para criar, com rapidez inaudita e com uma consciência do objetivo jamais vista na história, um tipo novo de trabalhador e de homem (GRAMSCI, 2001, p.266).

O segundo programa se relaciona ao tema “cultura”. As iniciativas vinculadas ao tema visam a coordenar, apoiar, estimular e produzir atividades artísticas (música, teatro, artes plásticas, folclore), contribuindo para socializar o acesso da população a essas manifestações. Cabe destacar que nesse programa, a Fiemg busca atender não somente os trabalhadores da indústria e seus familiares, mas também outros segmentos populacionais, principalmente, aqueles que vivem em condições de risco social.

O terceiro programa aborda o tema “lazer e esportes”. Afirma-se que:

Construir uma vida saudável implica em adotar certos hábitos também no convívio social e familiar, os programas de Lazer e Esportes do SESI são oportunidades oferecidas para ampliar esta concepção de vida saudável e consolidar para o trabalhador e seus dependentes uma gestão responsável do estilo de vida (FIEMG, 2009c, s/p).

A Fiemg oferece no âmbito desse programa uma série de atividades abertas ao público de todas as faixas etárias. O esporte/lazer não é concebido como direito social, mas sim como um meio de promoção da vida saudável para melhoria da produtividade. Esse entendimento limita as potencialidades educativas a uma dimensão educativa muito restrita. Trata-se de uma visão funcionalista de esporte/lazer (MARCELLINO, 1987).

A noção de vida saudável relacionada aos dois últimos eixos temáticos vincula-se a uma estratégia de agregação de

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valor ao capital humano. Na visão da Fiemg, o que está em jogo não é a defesa da vida por princípio humanista, mas sim uma questão estratégica relacionada à valorização do capital.

Mais uma vez recorremos às reflexões de Gramsci para analisar os programas reunidos nos temas “saúde” e “lazer e esporte”. Referindo-se também ao fenômeno do industrialismo e considerando a realidade da indústria Ford, o pensador italiano verificou que

As iniciativas “puritanas” [dos empresários] têm apenas o objetivo de conservar, fora do trabalho, um certo equilíbrio psicofísico, capaz de impedir o colapso fisiológico, do trabalhador, coagido pelo novo método de produção. Este equilíbrio só pode ser puramente externo e mecânico, mas poderá se tornar interno se for proposto pelo próprio trabalhador e não imposto de fora, por uma nova forma de sociedade, com meios apropriados e originais (GRAMSCI, 2001, p.267).

De fato, é importante que o trabalhador tenha hábitos saudáveis de vida. No entanto, para a Fiemg, não está em questão o quanto a exploração do capital sobre o trabalho deteriora a saúde do trabalhador, mas sim o que o trabalhador pode fazer para minimizar os impactos dos processos de trabalho sobre sua saúde. Na lógica da Fiemg, ao incorporar os preceitos do “padrão de vida saudável”, o trabalhador mantém sua capacidade produtiva e ainda internaliza as referências da sociabilidade contemporânea.

concEpção dE Educação Escolar da FiEmg

Sobre as preocupações da Fiemg acerca da educação escolar também são significativas. A entidade reconhece que diante do aprofundamento da ciência e da tecnologia aplicada diretamente na produção e das mudanças efetivas no modo de convivência social, a formação da futura geração de

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trabalhadores precisa ser atualizada para entrar em sintonia com as novas demandas empresariais de produção. Considerando que na indústria do século XXI o esforço muscular tende a ser secundarizado frente ao esforço intelectual, a Fiemg considera que é necessário formar um novo perfil humano para o trabalho e cidadania.

Assim, a Fiemg define claramente as bases dos processos formativos no âmbito das unidades do Sesi-MG e do Senai-MG para os níveis e modalidades da educação escolar como referência de organização geral do sistema escolar.

O Ensino Fundamental estimula o potencial de aprendizado do aluno, por meio do pleno domínio da leitura, da escrita e do cálculo; a interação social e tecnológica, a aquisição de competências e habilidades e a formação de valores e atitudes adequadas à nossa realidade e cultura. Objetiva formar cidadãos com consciência crítica para que possam atuar de forma representativa na sociedade e no futuro mercado de trabalho (FIEMG, 2005a, p.1).

Mesmo sem estabelecer um vínculo direto entre educação escolar e produção, esse enunciado termina por aproximar a escolarização às demandas do mercado. A mesma perspectiva também se reproduz nas formulações para o Ensino Médio. Para a Fiemg (2005b), esse nível de ensino deve desenvolver competências básicas necessárias ao mundo do trabalho. Isso significa que a escolarização deve assegurar uma vinculação mais próxima com o mundo da produção.

Sobre a Educação Profissional, a Fiemg entende que esta

[...] ultrapassa os limites da escola. [...] É a maneira de emancipar o indivíduo pelo trabalho. Seu projeto educacional visa a formação de cidadãos capazes de atuar de maneira autônoma, crítica, consciente e participativa, tanto no trabalho quanto na vida cotidiana. Os cursos oferecidos pelo SENAI possibilitam ao aluno a construção personalizada de seu projeto educativo. Para isso, estrutura seus currículos com base em perfis

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profissionais que retratam as competências requeridas pelo mundo do trabalho (FIEMG, 2005b, s/p).

Para a Fiemg, a Educação Profissional tem como centralidade a dimensão específica da formação de competências do cidadão-trabalhador. Isso significa que essa modalidade não deve se limitar a treinar habilidades técnicas, deve também desenvolver competências que fortaleçam a identidade do futuro trabalhador em consonância com as transformações dos processos produtivos. A partir dessas referências, a expansão dos cursos de Educação Profissional no interior de Minas Gerais estaria “contribuindo para a construção de uma sociedade justa e solidária” (FIEMG, 2007b, p.16).

As orientações para a Educação Básica e Educação Profissional apresentadas pela Federação procuram ordenar a formação humana com as demandas reais da classe empresarial em seu conjunto. Nesse processo, identificamos que a referência fundamental é a pedagogia das competências, cujo foco é defender a valorização da dimensão experimental do saber em favor do enfraquecimento das dimensões sócio-históricas do conhecimento (RAMOS, 2001). Nessa perspectiva pedagógica, os fundamentos científicos se limitam à aplicabilidade imediata daquilo que é concebido como necessário ou útil.

A ênfase na pedagogia das competências é reforçada em várias edições da revista Nossa Escola (FIEMG, 2008b; 2008c; 2008d; 2009a; 2009b; 2010b). Cabe destacar que a publicação reiteradamente fortalece a compreensão de que a preparação contemporânea para o mundo do trabalho deve ser balizada por algumas capacidades, entre elas: responsabilidade social, autonomia, criatividade, iniciativa e comunicação. A linha editorial propõe que a indústria competitiva do século XXI precisa de trabalhadores mais inteligentes, pessoas capazes de inovar sempre.

Tais formulações estão fundamentas no relatório produzido pela Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI da Unesco, sob coordenação de Jacques Delors

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(DELORS, 1998) 8. Isso significa que Fiemg conseguiu traduzir à visão pragmática da educação dominante no mundo em seu projeto de formação das futuras gerações de trabalhadores, o que pode significar sérios obstáculos à formação omnilateral.

Outro aspecto que merece destaque são os conteúdos das expressões “crítica” e “autonomia” recorrente nas formulações da Fiemg em relação à promoção do pensamento dos alunos formados em suas unidades educativas. Para tratar dessa problemática, resgatamos o programa denominado de “Escola Ecossustentável”. Para a Federação, o programa visa a desenvolver comportamentos ambientalmente corretos de modo que os alunos passem a assumir posturas novas na escola e em suas residências, influenciando colegas, familiares e a comunidade na qual estão inseridos (FIEMG, 2007). No âmbito do programa, são considerados comportamentos socialmente corretos: uso racional da água e da energia elétrica; coleta seletiva de lixo; reciclagem e plantio de mudas.

Várias ações específicas envolvendo a noção de sustentabilidade são desenvolvidas ao longo de um ano escolar de forma interdisciplinar. O objetivo é que os alunos assimilem que a “sustentabilidade é a condição do que é sustentável. E, para se manter nessa condição, uma empresa, uma cidade, instituição ou mesmo um país precisam cultivar valores como ética, respeito ao meio ambiente, consumo responsável” (FIEMG, 2008c, p. 17).

Constatamos que as palavras-chave do programa são: conscientização e atitude. Isso fica evidenciado na seguinte afirmação:

[...] É necessário reeducar a forma de ver o mundo e agir. É preciso pensar o conceito como algo próximo ao cotidiano das pessoas, que não tem a ver apenas com o meio ambiente e desenvolvimento sustentável, mas também com o cuidado consigo mesmo e com o outro (FIEMG, 2008c, p. 18).

8 Um estudo crítico sobre o Relatório Jacques Delors pode ser encontrado em Duarte (2001).

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Afirma-se que as mudanças na forma de conceber o mundo e agir nele

são atitudes que demonstram que educar para sustentabilidade é lutar por um mundo diferente. Onde haja cidadania, paz, liberdade, alegria, educação, emprego, comida. Para uma vida melhor no presente e no futuro (FIEMG, 2008c, p. 19).

O programa Escola Ecossuntentável abriga um concurso coordenado pelo Sesi-MG para certificar as melhores experiências ambientais como forma de incentivar por meio da concorrência a aquisição de novas atitudes.

Para captarmos o sentido da formação crítica e autônoma dos alunos nas escolas do SESI-MG no âmbito do programa acima citado cabe uma indagação: se simples atitudes podem contribuir para melhorar o planeta, por que somente algumas atitudes devem ser premiadas?

A lógica da competição que orienta o programa está fundamentada na doutrina liberal. A afirmação de um importante pensador liberal ilustra nossa afirmação:

a doutrina liberal é a favor do emprego mais efetivo das forças da concorrência como um meio e coordenar os esforços humanos, e não de deixar as coisas como estão. Baseia-se na convicção de que, onde exista a concorrência efetiva, ela sempre se revelará a melhor maneira de orientar os esforços individuais. [...]. Considera a concorrência um método superior, não somente por constituir, na maioria das circunstâncias, o melhor método que se reconhece, mas, sobretudo por ser o único pelo qual nossas atividades podem ajustar-se umas às outras sem a intervenção coercitiva ou arbitrária da autoridade (HAYEK, 1987, p. 58).

De fato, é pedagogicamente significativo estimular mudanças nos padrões de comportamento para preservação do planeta. No entanto, é necessário questionar o processo histórico de degradação ambiental e o papel que o desenvolvimento industrial vem causando nesse processo. É importante que

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ao longo da escolarização as crianças e adolescentes reflitam criticamente sobre os limites do capitalismo para a preservação ambiental. Queremos afirmar com essas considerações que os reais problemas da sustentabilidade não serão resolvidos com pequenas mudanças de atitudes de cada pessoa, ainda que isso seja necessário, pois as pequenas atitudes não compensam a degradação ambiental em larga escala provocada por empresas do setor industrial.

O pensamento crítico e autônomo que se pretende desenvolver nos alunos das escolas do Sesi-MG certamente não alcançará esses elementos caso eles se mantenham mediados pelas noções acima descritas veiculadas pela pedagogia das competências.

Destacamos também para a análise o programa denominado de Responsabilidade Social e Voluntariado. Seu objetivo consiste em “criar oportunidade e espaço de atuação voluntária para alunos do SESI, trazendo para o ambiente escolar uma proposta de formação ética e cidadã”.9

O programa visa difundir ao longo do processo de escolarização a noção de que as ações socialmente responsáveis das empresas e as práticas de voluntariado dos cidadãos são mecanismos contemporâneos de estímulo ao “bem-comum” e de fortalecimento social. Para a Federação, o voluntário é aquele que dedica seu tempo, sem remuneração, às causas sociais, motivado pelo interesse pessoal e espírito cívico (FIEMG, 2006a).

O programa em questão se relaciona às formulações da Organização das Nações Unidas sobre o tema, especialmente ao programa intitulado Objetivos do Milênio. A intencionalidade da Fiemg com ações educativas em torno do voluntariado é consolidar a cultura da paz por meio do preceito da colaboração social em nome de um mundo melhor (FIEMG, 2008d).

O ponto crítico desse programa é que faltam elementos que problematizem o fenômeno do voluntariado numa

9 Disponível em: < http://www.fiemg.org.br/Default.aspx?tabid=5402> . Acesso em mai/2010.

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perspectiva histórica. Partindo das formulações de Thompson (2001) sobre experiência e consciência de classe, verificamos que o fenômeno do voluntariado representa um amplo movimento que visa diluir as construções simbólicas produzidas pelos diferentes grupos sociais a partir das condições objetivas de vida nas noções de colaboração e parceria entre indivíduos. Nessa concepção, as mudanças sociais seriam resultantes de ações individuais, independentemente das relações sociais concretas.

Julgamos que tal proposição se alinha à noção do individualismo como valor moral radical defendido por Giddens (2001a) – algo que constitui como base da sociabilidade neoliberal (MARTINS, 2009b). Esse preceito visa orientar as pessoas a não se isolarem, buscando vínculos, independentemente da condição de classe, para tornar viável a “sociedade de bem-estar” (GIDDENS, 2001b)10. A proposta é substituir a solidariedade de classe pela noção de colaboração social entre indivíduos.

De forma reiterada, a Fiemg defende o voluntariado como um fenômeno mundial da atualidade que não comporta questionamentos críticos. Isso fica evidente em Fiemg (2006a; 2006b; 2006c).

O sentido de construção do bem comum por meio da educação é uma premissa cujas bases não consideram as características, os fundamentos e a dinâmica das relações sociais na sociedade em que vivemos. A perspectiva societária da Fiemg se relaciona à noção de “sociedade do bem-estar” difundida pelo neoliberalismo da terceira via (GIDDENS, 2001a). O que predominar é uma visão naturalizada da dinâmica social:

As sociedades modernas passam por transformações, renovações. Por todo o planeta a consciência parece demonstrar um novo tempo para a humanidade. Um movimento global em prol da vida e da cidadania emerge de inúmeros lugares, despertando os indivíduos para a necessidade de agir, mudar o que está errado, semear

10 Em Martins et al (2010) são apresentados outros autores que defendem a ideia de “sociedade do bem-estar”.

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uma nova cultura, baseada na ética, na solidariedade, na eqüidade e no respeito, garantindo, assim, a colheita de equilíbrio e paz (FIEMG, 2006d, p. 07).

Os elementos até aqui analisados demonstram que a Fiemg tem por objetivo formar o cidadão-trabalhador identificado com a visão de mundo do empresariado. Nessa linha, predomina o entendimento de que “os empresários sociais podem ser inovadores muito eficazes no domínio da sociedade civil, ao mesmo tempo em que contribuem para o desenvolvimento econômico (GIDDENS, 2001b:86-87).

As “renovações”, o “movimento global em prol da vida”, a “nova cultura” o “equilíbrio e paz” presentes nas formulações da Fiemg são apresentados como fenômenos naturais gerados por uma tomada espontânea de consciência do novo “homem planetário”. O problema dessa formulação é que as sociedades e os homens são abstraídos da história, deslocados das relações sociais concretas e das especificidades de cada formação social, dos antagonismos e dramas reais que permeiam a vida. O grau de generalização dessas formulações em nome de uma “ética planetária” (MORIN, 2000) reduz a vida a um plano que não existe no mundo real em que vivemos.

considEraçõEs Finais

Diante do exposto, é possível apresentar alguns elementos de síntese. O primeiro deles se refere à posição da Fiemg em relação à CNI. Verificamos que a Federação optou por assimilar e reproduzir em suas instâncias à concepção de educação da CNI. Nesse processo, a Fiemg apresenta uma construção mais refinada na relação entre competitividade e responsabilidade social. O segundo diz respeito à relação entre o projeto de educação da Fiemg frente às formulações internacionais sobre formação humana. As definições contidas no Relatório Jacques Delors e no programa Metas do Milênio, ambas vinculadas à Organização das Nações Unidas, foram

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incorporadas como referências no projeto da Fiemg. Com isso, a Federação traduz as diretrizes internacionais para a educação das massas no território do estado de Minas Gerais. O terceiro elemento importante é que Fiemg demonstra querer superar a visão chapliniana do trabalhador realizador de tarefas mecânicas retratada de forma célebre, em 1936, no filme “Tempos Modernos”. No entanto, essa tentativa fica comprometida pela opção pedagógica que fundamenta seu projeto: a pedagogia das competências. Esta corrente pedagógica, como revela Duarte (2003), entre outros aspectos, baseia-se na afirmação da racionalidade instrumental distanciada da educação omnilateral. O último elemento vincula-se ao alcance do projeto educativo. Embora a preocupação da Fiemg esteja ainda concentrada na educação dos trabalhadores industriais (e seus familiares), a Federação demonstra ter iniciado um movimento de assimilação de outros segmentos da sociedade mineira. Provavelmente, juventude pobre do estado não vinculada às experiências laborativas da indústria poderá ser também educada a partir das novas referências de vida/trabalho. Certamente, essa iniciativa ganha projeção na medida em que a Fiemg relacionar o desenvolvimento do capital humano11 em articulação com a capital social12, em nome da valorização da cidadania.

Nesse sentido, concluímos que a Fiemg apresenta um projeto educativo coerente com a visão de mundo que defende. No entanto, verificamos que os fundamentos desse projeto impõem restrições à formação do ser social por estar inspirada numa lógica instrumental da vida, algo que pode comprometer o alcance da formação e da cidadania de gerações.

11 Para uma compreensão crítica do conceito de capital humano, ver: Frigotto (2009).

12 Para uma compreensão crítica do conceito de capital social: ver: NEVES, PRONKO e MENDONÇA (2009).

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businEssmEn and Education: rEFlEctions on thE Educational projEct oF thE FEdEration industriEs oF minas gErais

AbstractThis work results of the one investigation that aims to grasp the fundaments of the educacional project of the Federação das Indústrias de Minas Gerais – Fiemg. It is one of the biggest entity of representation of business interest of Minas Gerais and one of the most important of Brazil, with significant performance in education. Considering its importance in the brazilian and miner scenery, this work investigated the fundaments of propositions of Fiemg to scholar education and non scholar, intending to grasp the possible implications to the human formation. From the referential gramscian, the analysis is based on date sources made by the entity. The study reveals that the educative project of Fiemg isn’t restricted for professional training; unlike, has one wide perspective, tries to board questions about worker’s moral and intellectual formation inside or outside of the scholar space. The fundament of the educative project of Fiemg is linked to human capital theory and the pedagogy of the competences. The study concludes that

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Fiemg shows one educative project based in instrumental logic, that restricts the possibilities of human condition.Keywords: Human formation. Hegemony.

Data de recebimento: março 2012Data de aceite: junho 2012