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ISSN 1984-7203 C O L E Ç Ã O E S T U D O S C A R I O C A S Emprego e construção civil na cidade do Rio de Janeiro Nº 20020502 Maio - 2002 Adriano Alem, Paulo Bastos Cezar - IPP/Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro PREFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Secretaria Municipal de Urbanismo Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos

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ISSN 1984-7203

C O L E Ç Ã O E S T U D O S C A R I O C A S

PRSeIns

Emprego e construção civil na cidade

do Rio de Janeiro

Nº 20020502 Maio - 2002 Adriano Alem, Paulo Bastos Cezar - IPP/Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro

EFEITURA DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO cretaria Municipal de Urbanismo tituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos

EXPEDIENTE

A Coleção Estudos Cariocas é uma publicação virtual de estudos e pesquisas sobre o Município do Rio deJaneiro, abrigada no portal de informações do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos da SecretariaMunicipal de urbanismo da Prefeitura do Rio de Janeiro (IPP) : www.armazemdedados.rio.rj.gov.br.

Seu objetivo é divulgar a produção de técnicos da Prefeitura sobre temas relacionados à cidade do Rio deJaneiro e à sua população. Está também aberta a colaboradores externos, desde que seus textos sejamaprovados pelo Conselho Editorial.

Periodicidade: A publicação não tem uma periodicidade determinada, pois depende da produção de textos por parte dostécnicos do IPP, de outros órgãos e de colaboradores. Submissão dos artigos: Os artigos são submetidos ao Conselho Editorial, formado por profissionais do Município do Rio de Janeiro, queanalisará a pertinência de sua publicação. Conselho Editorial: Ana Paula Mendes de Miranda, Fabrício Leal de Oliveira, Fernando Cavallieri e Paula Serrano. Coordenação Técnica: Cristina Siqueira e Renato Fialho Jr. Apoio: Iamar Coutinho CARIOCA – Da, ou pertencente ou relativo à cidade do Rio de Janeiro; do tupi, “casa do branco”. (NovoDicionário Eletrônico Aurélio, versão 5.0)

EMPREGO E CONSTRUÇÃO CIVIL NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO*

Adriano Alem, Paulo Bastos Cezar - IPP/Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro

Na cidade do Rio de Janeiro, segundo o IBGE, o setor da construção civil

emprega diretamente 105 mil pessoas, ou 4,6% do total de pessoas ocupadas. Esses são os números para o ano 2001, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, agora conhecidos no recorte preciso da cidade.1

Contrariando muitas previsões, o resultado é praticamente o mesmo do ano anterior. Temia-se que fatores negativos, ocorridos em 2001, gerassem maior desemprego na construção civil, um importante empregador de mão de obra pouco especializada.

O ano foi marcado por um ambiente retraído de negócios, com reflexos no mercado imobiliário. A Caixa Econômica Federal desativou linhas de crédito para a classe média, e a taxa básica de juros permaneceu elevada em todo o período, onerando os financiamentos privados.

Por outro lado, houve reversão na política de licenciamentos, em torno da polêmica dos apart-hotéis, para preservar áreas de ocupação muito densa. Havia dúvidas sobre a confiança dos investidores, e temia-se uma fuga de capitais. Tudo parecia anunciar uma forte retração do mercado imobiliário, com conseqüências diretas sobre o nível de emprego na construção civil. Mas não foi o que aconteceu. Volume de emprego estável

A construção civil manteve ocupadas, na média de 2001, cerca de 105 mil pessoas. Esse número é praticamente igual ao observado em 2000, e superior às médias de 1998 e 1999. O comportamento sazonal é o esperado, com retração do mercado no início do ano e expansão no segundo semestre. Gráfico 1 - Pessoal ocupado na construção civil na Cidade do Rio de Janeiro, 2000 e 2001

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Fonte: IBGE, Pesquisa Mensal de Emprego

* Colaboraram nesta edição: André Luiz F. Cretton, José Augusto dos Santos Porto e Luiz Roberto Arueira da Silva.

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1 Graças ao Convênio de cooperação entre o IPP e o IBGE, firmado em setembro de 2001, são feitas tabulações especiais de diversas pesquisas amostrais originalmente concebidas para a Região Metropolitana, como a PME, PMC, PIM etc. Esses resultados formam a base de informações para o cálculo do PIB Municipal.

O volume de pessoal ocupado na construção civil não reflete apenas o movimento do setor privado formal de incorporação imobiliária. O emprego depende também das obras públicas, da pequena empresa de construção e ainda do trabalho por conta própria. Todos esses fatores combinados praticamente mantiveram o volume de emprego no setor. Licenças de obras

Vendo o mesmo fenômeno por outro ângulo, temos as licenças de obras emitidas pela Prefeitura como um indicador do nível de atividade na construção civil.

O número de licenças de obras concedidas pela Prefeitura em 2001 é inferior ao do ano anterior, tanto em número de licenças quanto na área licenciada para novas obras. No segundo semestre de 2001 o número de licenças se estabilizou em um nível mais baixo em comparação com a média histórica. Gráfico 2 – Evolução do Número Total de Licenças e do número total de Licenças para Construções Novas Concedidas na Cidade do Rio de Janeiro – 1992-2001

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2 1.820 2.160 2.315 2.692 2.195 3.168 2.550 2.117 1.819 1.112

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001

Fonte: Secretaria Municipal de Urbanismo - Coordenadoria de Informática – ( Total de Licenças) & STE – ( Licenças de Construções Novas) Nota 1 - Dados de 2001 para o total de Licenças foram obtidos por estimativa a partir das informações de licenças de prédios novos, de outubro de 2000 a dezembro de 2001, mantida a mesma relação entre licenças novas e total de licenças no período entre janeiro e março de 2001 2 - O item 1 da Legenda refere-se ao Total de Licenças para Construções, incluindo Parcela-mentos. 3 - O item 2 da Legenda refere-se às Licenças para Construções Novas, excetuando-se Licenças de Legalizações de edificações existentes

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Gráfico 3 - Evolução Mensal do Número Total de Licenças para Construções Novas Concedidas na Cidade do Rio de Janeiro – 2001

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Fonte: Secretaria Municipal de Urbanismo, STE – Licenças novas ( com legalizações) Relatórios

consolidados por GLF e DLF e Licenças novas - STE

Notas: 1 - Nos meses de janeiro e fevereiro não estão incluídos os dados do DLF de Madureira 2 - O item 1 da Legenda refere-se ao Total de Licenças para Construções Novas 3 - O item 2 da Legenda refere-se às Licenças para Construções Novas, excetuando-se Licenças de Legalizações de edificações existentes.

As estatísticas de licenciamento da Prefeitura são apuradas manualmente, com

metodologia alterada ao longo dos anos. Com a implantação definitiva de um novo sistema informatizado, esperada para breve, será possível contar com indicadores mais consistentes.

A se confirmar a tendência de diminuição do número (e também da área) das licenças concedidas, mas sem que tenha diminuído o volume de emprego na construção civil, a hipótese a se testar é que a cidade cresce pelo lado informal.

Vale lembrar que entre 1991 e 2000 foram edificados na cidade mais de 163 mil domicílios que sequer foram cadastrados junto à Prefeitura2 depois de prontos, que dirão licenciados. Tendência de longo prazo

Ao longo da última década, a indústria de construção civil perdeu importância como empregadora de mão-de-obra na cidade do Rio de Janeiro. O pessoal ocupado no início da década girava em torno de 126 mil pessoas, chegando a 131 mil em 1993, o melhor ano da década. Desde então observa-se uma suave mas constante tendência para baixa, com uma breve melhoria em 1996. No último terço da década, o pessoal ocupado raramente atingiu a marca de 105 mil empregados, estabilizando-se 15% abaixo do início do período.

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2 Ver “O Uso dos Cadastros Técnicos Municipais para Acompanhamento do Mercado Imobiliário”, in Cadernos de Urbanismo Nº 4/2001

Gráfico 4 - Pessoal ocupado total e na Construção Civil na Cidade do Rio de Janeiro, 1990 a 2001, médias anuais

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Pessoas Ocupadas na Construção Civil Pessoal Ocupado Total

Fonte: IBGE - Pesquisa Mensal de Emprego

Em comparação com o total do pessoal ocupado, a construção civil perdeu importância. No início da década de 90, o setor respondia por quase 6% do pessoal ocupado na economia carioca, mas essa participação vem caindo desde então. Chegou a empregar apenas 4,3% do pessoal ocupado em 1999, nivelando em 4,6% nos dois últimos anos. Isto significa que vem perdendo importância relativa um sub-setor que, no conjunto da indústria, tem grande capacidade de absorver mão-de-obra pouco qualificada. O “ciclo eleitoral”

Será verdade que os anos eleitorais geram mais obras, refletindo-se em mais empregos na construção civil? Os números não indicam uma tendência clara. É bem verdade que os anos eleitorais municipais (1992, 1996 e 2000) garantem um volume de emprego ligeiramente superior as anos anteriores; mas os anos de eleições gerais (1994 e 1998) não mostraram a mesma tendência. No contexto geral, o comportamento da construção civil nesses anos acompanha a tendência do emprego na soma de todos os setores (com exceção dos anos de 1991 e 1992, quando o emprego em geral se retraiu mas a construção civil manteve o nível de ocupação). Portanto não temos elementos para falar de um “ciclo eleitoral” influenciando o emprego na construção civil. Taxa de desemprego no setor

Essa taxa resulta da comparação entre “pessoas procurando emprego” e a PEA (pessoas procurando emprego e pessoas ocupadas) em cada setor. Ela aumenta nos períodos em que há muitas demissões, e pode se estabilizar quando são oferecidos

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novos empregos ou quando os desempregados desistem de buscar emprego, ou ainda quando encontram emprego em outros setores. Os números para a construção civil no Rio sugerem que houve “surtos” de demissões nos anos de 1994 e 1998, e que a taxa está estabilizada nos três últimos anos. Gráfico 5 - Taxa de desemprego no setor de construção civil na Cidade do Rio de Janeiro, 1990- 2001 (médias anuais)

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Fonte: IBGE, Pesquisa Mensal de Emprego Licença de obras em relação ao estoque imobiliário

Comparando-se a área licenciada pela Prefeitura, a cada ano, com o total de área construída existente naquele mesmo ano, segundo o cadastro do IPTU, temos um bom indicador da “intenção de construir”. O gráfico abaixo indica a razão percentual, ano a ano, entre as duas magnitudes. O resultado nos sugere que a intenção de construir mantém uma relação estável com o estoque construído, variando em torno de 2%. Esse é o ritmo histórico de expansão da cidade formal (uma vez que não estão computadas as construções não licenciadas). Gráfico 6 – Comparação Anual da Área de Construção Licenciada com o Total de Área Construída no Cadastro do IPTU na Cidade do Rio de Janeiro – 1992-2000

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Fonte: Secretaria Municipal de Urbanismo – Coordenadoria de Informática Secretaria Municipal de Fazenda – cadastro - IPTU

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Pode-se constatar que o aumento da “intenção de construir” em 1994 e 1995, (Gráfico 6) resulta em aumento do pessoal ocupado na construção civil em 1995 e 1996 (Gráfico 4). Contudo, o mesmo não aconteceu em 1997/98, quando aumentou a intenção de construir mas não o volume de pessoal ocupado. Há que se pesquisar mais profundamente para afirmar se há ou não relação de causalidade entre as duas variáveis. Conclusão

Os indicadores apontam para uma estabilidade a curto prazo (2000/2001) do volume de emprego oferecido pela construção civil, mas em um patamar bem inferior ao que se observava no início da década de 90. O volume de licenças concedidas cresce a uma taxa bem inferior, sugerindo que a cidade formal expande-se mais lentamente que a cidade informal.

As estimativas apoiadas em dados da PME são significativas apenas para o conjunto do Município, mas os dados cadastrais (licenças, estoque de imóveis) podem ser desagregados para áreas menores. Esperamos que, progressivamente, a Prefeitura possa construir uma base de dados capaz de sustentar análises e apoiar efetivamente as atividades de planejamento.

Nota metodológica sobre a PME: A Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE tem 21 anos, e atualmente aplica 38.500

questionários na amostra probabilística nas seis Regiões Metropolitanas (Rio deJaneiro; São Paulo; Belo Horizonte; Salvador; Recife e Porto Alegre).

Graças a um convênio entre o IBGE e o IPP, ela agora permite conhecer resultadosprecisos para a cidade do Rio de Janeiro, pois até agora conhecia-se apenas oresultado para a Região Metropolitana.

O questionário é bem amplo, e além do emprego por sexo, setor etc. a pesquisatambém traz importantes dados sobre renda, educação, trabalho infantil etc.

No conceito da PME, “pessoa ocupada” inclui empregados, empregadores,autônomos e trabalhadores por conta própria.

Mais informações sobre a PME em www.ibge.gov.br/ibge/estatistica/indicadores . Asbases de dados sobre as quais se apoiou este trabalho estão disponíveis emwww.armazemdedados.rio.rj.gov.br.

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