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EMPREGO DE TENSOATIVOS NA BIORREMEDIAÇÃO: ESTADO DA ARTE Marcelo Eugenio da Silveira Rio de Janeiro 2009

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Page 1: Emprego de tensoativos na biorremedia o · fontes de energia, visto que as máquinas passaram a ser movidas por eletricidade e derivados do petróleo. Desde a metade do século XIX,

EMPREGO DE TENSOATIVOS NA BIORREMEDIAÇÃO: ESTADO DA ARTE

Marcelo Eugenio da Silveira

Rio de Janeiro

2009

Page 2: Emprego de tensoativos na biorremedia o · fontes de energia, visto que as máquinas passaram a ser movidas por eletricidade e derivados do petróleo. Desde a metade do século XIX,

Silveira, Marcelo Eugenio.

Emprego de tenso ativo na biorremediação: estado da arte/ Marcelo Eugenio da Silveira. – Rio de Janeiro: UEZO, 2009.

31 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Biotecnologia) – Centro Universitário Estadual da Zona Oeste, CCBS, 2009 .

Orientadora: Judith Liliana Lemos

1. Biorremediação. 2. Biossurfactante. 3.Petróleo. 4. Derramamento.

I. Lemos, Judith Liliana Solórzano. II. Centro Universitário Estadual da Zona Oeste. CCBS. III. Título.

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MARCELO EUGENIO DA SILVEIRA Aluno do curso de Biotecnologia

Matrícula: 0613800015

EMPREGO DE TENSOATIVOS NA BIORREMEDIAÇÃO: ESTADO DA ARTE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso

de Graduação em Biotecnologia, do Centro

Universitário Estadual da Zona Oeste, como requisito

parcial para a obtenção do grau de Tecnólogo em

Biotecnologia, realizado sob a orientação da Profª Drª

Judith Liliana Solórzano Lemos.

Rio de Janeiro

2009

Emprego de Tensoativos na Biorremediação:

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Estado da Arte

Elaborado por Marcelo Eugenio da Silveira

Aluno do Curso de Biotecnologia da UEZO

Este trabalho de Graduação foi analisado e aprovado com

Grau: .....................

Rio de Janeiro, _____ de __________________ de 2009.

_____________________________________________

Profª. Drª Maria de Fátima Sarro. Membro

_____________________________________________

Profª. Drª Marise Costa de Mello. Membro

____________________________________________

Prof. M. Sc. Rafael Berrelho Bernini Professor de TCC

_____________________________________________ Profª orientadora, Drª Judith Liliana Solórzano Lemos.

Presidente

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

JULHO DE 2009

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Agradecimentos

Um agradecimento especial a Deus, que nos

permite ter a cada dia, as dificuldades necessárias

para podermos amadurecer e evoluir, guiando-nos

sempre para que alcancemos o próximo degrau;

aos meus queridos pais, minha tia, meus irmãos,

cunhadas e sobrinhos pelo apoio nas mais

variadas situações, onde uma palavra ou a

ausência dela pôde fazer grande diferença;

à minha querida e amada noiva, Cláudia Iara, que

muito me ajudou com paciência canônica, carinho

e atenção, sendo meu porto seguro nos momentos

das mais variadas dificuldade

aos professores que, desde 2006, contribuíram

para obtenção de conhecimentos os quais

proporcionaram realização deste trabalho,

destacando minha orientadora Liliana Lemos,

uma profissional surpreendente, com rápida

solução para os imprevistos mais inusitados que

apareceram durante o presente trabalho, além do

professor Rafael Bernini, que orientou-nos com

muita dedicação nas disciplinas de TCC, visando

nosso sucesso neste trabalho;

Page 6: Emprego de tensoativos na biorremedia o · fontes de energia, visto que as máquinas passaram a ser movidas por eletricidade e derivados do petróleo. Desde a metade do século XIX,

aos meus queridos colegas de estudo, muitos são

os nomes, aos citá-los corre-se o risco de cair na

armadilha de faltar algum, no entanto,

importantes integrantes dessa jornada não

poderiam deixar de serem citados tais como

Amanda Suret, André Campos, Ana Carolina,

Akio, Bruno Gabriel, John C. Neris, minha

querida irmãzinha Dayane, a meiga Vânia

Priscila, a dedicada Paula, além de uma amiga

que palavras faltam para agradecer o quanto fez

por mim, a ansiosa Fernanda Souza;

muito, muito obrigado a todos vocês!

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RESUMO

O presente trabalho trata-se de uma revisão de literatura em que é

apresentado o petróleo, a expansão do seu uso até chegar aos derramamentos

acidentais, que causam malefícios incomensuráveis ao ambiente, contaminando

solos e, conseqüentemente, afetando todo um ecossistema. Tal problema pode

ser reparado por processo de biorremediação, sendo este, potencializado pelo

uso de moléculas anfipáticas denominadas biosurfactantes, também conhecidas

como tensoativo biológicos. Apresentam-se vantagens e desvantagens dos

biossurfactantes sobre os surfactantes sintéticos. Cabe salientar que, pelo fato de

serem empregados substratos caros na sua produção o seu custo poderia ser

minimizado, se empregados substratos alternativos, acarretando no aumento da

utilização dessas moléculas anfipáticas em processos de biorremediação.

Palavras-chave: Petróleo, derramamento, biorremediação, biossurfactante.

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SUMÁRIO

Resumo...............................................................................................v

1-Introdução.............................................................................................................1

1.1-Histórico da força de trabalho até chegar ao petróleo............................1

1.2-Petróleo...................................................................................................2

1.3-Danos causados ao ambiente pelos derrames de petróleo...................4

1.4-Biorremediação com utilização de Biosurfactante................................5

2-Objetivo................................................................................................................7

3.-Revisão de Literatura..........................................................................................8

3.1- Biorremediação do petróleo...................................................................8

3.2- Tensoativos..........................................................................................10

3.2.1-Tensoativos Sintéticos.......................................................................12

3.2.2-Tensoativos Biológicos .....................................................................13

3.2.3-Vantagens do uso dos surfactantes naturais sobre os sintéticos.....18

3.2.4- Solução para superar o alto custo dos substratos............................19

4.-Conclusão.........................................................................................................20

5-Referências Bibliográficas..............................................................

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1- INTRODUÇÃO

1.1 - HISTÓRICO DA FORÇA DE TRABALHO ATÉ CHEGAR AO EMPREGO DO

PETRÓLEO

Até a primeira metade do século XVIII a forma de produção dava-se por

meio do uso das mãos, com auxílio de algumas ferramentas no trabalho, no

entanto, a partir daí, na Inglaterra, surgiu a Primeira Revolução Industrial, que foi

marcada pela passagem da manufatura à indústria mecânica, onde a introdução

de máquinas fabris multiplicou o rendimento do trabalho e ocorreu aumento

considerável na produção. Além disso, a descoberta do vapor como força motriz,

além de impulsionar a produção industrial, chegou também aos transportes, como

os barcos e locomotivas movidas a vapor (VICENTINO,1997).

Ainda segundo Vicentino (1997) a segunda fase da revolução, que ocorreu

entre 1860 e 1900 foi caracterizada pela difusão dos princípios de industrialização

na França, Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda, Estados Unidos e Japão. Nessa

fase as principais mudanças no processo produtivo foram a utilização de novas

formas de energia, ou seja, na Primeira Revolução Industrial as máquinas eram

movidas a vapor, já a Segunda Revolução Industrial permitiu a diversificação do

desenvolvimento tecnológico, graças à maior potência e eficiência de novas

fontes de energia, visto que as máquinas passaram a ser movidas por eletricidade

e derivados do petróleo.

Desde a metade do século XIX, sendo explorado comercialmente como

lubrificante e até como iluminação, o petróleo apresentou sua maior participação

após a invenção do motor de combustão interna, com uma rápida aceitação e

utilização nos mais variados meios de transporte, aumentando consideravelmente

a sua procura e a de seus subprodutos. No entanto, essas formas de utilização

podem ter envolvido riscos de poluição, causando muitos problemas ao ambiente,

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que até podem ter sido minimizados, mas não totalmente eliminados (PALA, 2006

apud OLIVEIRA, 2008).

Com a crescente onda de desenvolvimento e produção exacerbada de

energia, visando fornecer meios para suprir as necessidades de um crescimento

industrial cada vez maior, muitos meios foram usados para produção de energia.

Desta forma, muitos processos industriais não suportariam a falta de um meio de

produção energética como o petróleo.

1.2 - PETRÓLEO

O petróleo é um líquido oleoso, cuja cor varia segundo a origem, oscilando do

negro ao âmbar. É encontrado no subsolo, em profundidades variáveis, podendo

haver acumulações tanto a poucos metros da superfície terrestre, quanto a mais

de 7000 mil a 8000 mil metros de profundidade e é muito rico em hidrocarbonetos

(CÚLEO, 2007).

O petróleo pode ser retirado de variadas partes, sendo assim, o geólogo

Marcio Rocha Mello, em 2004, foi um dos primeiros a falar da possibilidade de se

encontrar, no litoral brasileiro, petróleo sob a grossa camada de sal nas

profundezas do Oceano Atlântico, na região conhecida como pré-sal. Mello, que

deixou a Petrobras em 2000, depois de 30 anos de serviço é dono da HRT

Petroleum, um grupo de oito empresas prestadoras de serviço no ramo petrolífero

e hoje se sabe que ele estava correto em sua hipótese (Revista Época, 2008).

O pré-sal nada mais é que uma porção do subsolo que se encontra a alguns

quilômetros abaixo do leito do mar, abaixo de uma camada de sal que foi formada

há 150 milhões de anos e possui grandes reservatórios de óleo leve que é um

óleo de melhor qualidade e que produz petróleo mais fino.

De acordo com os resultados obtidos através de perfurações de poços, as

rochas do pré-sal (Figura 1) se estendem por 800 quilômetros do litoral brasileiro,

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desde Santa Catarina até o Espírito Santo, chegando a atingir até 200 quilômetros

de largura. Só no campo de Tupi, que é uma parte da Bacia de Santos, de acordo

com análises de testes de formação, estima-se que haja entre 5 bilhões e 8

bilhões de barris de petróleo, ou seja, o suficiente para elevar as reservas de

petróleo e gás da Petrobras em 40% a 60% (Veja, 2008).

Figura 1 – Pré-sal, regiões em exploração. Fonte: Veja, 2008

Mesmo com uma política de proteção ao meio ambiente por parte da

Petrobras, há de ser levado em consideração que a maioria do petróleo é extraída

de locais distantes do seu consumo, além disso, é comum que este seja

transportado em grandes quantidades. Os mais importantes métodos de

transporte de petróleo ocorrem por reservatórios oceânicos e por oleodutos sobre

a terra. Estes métodos de transporte podem poluir o ambiente através de

derramamentos acidentais de petróleo por operações de descarga. Ocorreram

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alguns derramamentos envolvendo grandes quantidades de petróleo bruto de

super reservatórios localizados longe da costa, que apesar de possuírem grande

capacidade de armazenamento de petróleo, este acaba sendo derramado face à

quantidade retirada superar a capacidade de armazenamento. Em adição, as

grandes facilidades que são usadas para o refinamento do petróleo causam

crônicas contaminações e poluição pela descarga de hidrocarbonetos e por

pequenos, porém, freqüentes derramamentos (GRIJÓ, 2004).

Segundo Oliveira (2008), a aceleração dos processos industriais no século

XX levou a produção de poluentes ambientais, como resultado da produção e má

administração desses resíduos, acarretando no fato de hoje termos várias áreas

do meio ambiente afetadas pela contaminação. O petróleo tem sido utilizado há

muitas décadas, além disso, teve uma estrondosa adoção pelas mais variadas

formas de transporte, aumentando seu consumo, e com isso sua demanda e sua

distribuição, além de gerar aumento de seus subprodutos, com isso, gerando

riscos de poluição que causam sérios problemas para o meio ambiente.

1.3 - DANOS CAUSADOS AO AMBIENTE PELOS DERRAMAMENTOS DE

PETRÓLEO

Um pequeno acidente pode causar sérios danos a um ambiente de grande

sensibilidade, além disso, o tipo de produto do petróleo pode afetar a gravidade

do dano ecológico. As mais importantes considerações devem ser feitas ao grau

de toxicidade e a persistência ambiental dos materiais derramados. Embora o

petróleo seja uma substância natural, ao ser introduzido em um ambiente

aquático comporta-se como uma substância estranha, causando um grave

desequilíbrio. No mundo, os desastres ecológicos pelo derramamento de petróleo

acontecem frequentemente, poluindo as águas e a areia, impossibilitando a

utilização da praia pelos banhistas, além de apresentar efeitos terríveis sobre o

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meio ambiente marinho. Esses derramamentos ocorrem por meio dos acidentes

com navios petroleiros ou a lavagem de seus motores e reservatórios diretamente

na água (GRIJÓ, 2004).

Ainda segundo Grijó (2004), o petróleo é menos denso que a água, por isso

flutua sobre ela. Essa camada impede a penetração de oxigênio do ar e da luz do

sol. Sem oxigênio os peixes não podem viver e sem a luz as plantas não podem

fazer a fotossíntese. No mar as algas flutuantes são as maiores fornecedoras de

alimento para os outros organismos, sendo o início da cadeia alimentar. Um

derramamento de petróleo na água reduz a entrada de luz na mesma, o que faz

diminuir a taxa de fotossíntese das algas e, em conseqüência a oxigenação.

Tendo em vista a fácil visualização das florestas, temos a idéia de que elas

são as grandes responsáveis pelo abastecimento de oxigênio. De fato, a

fotossíntese é feita pelos vegetais terrestres. No entanto, a maior fonte de

oxigênio é proveniente dos oceanos, que ocupam cerca de 70% da superfície da

terra e recebem energia solar, aproveitada pelos fitoplânctons e outros vegetais

para a renovação do estoque de oxigênio no processo de fotossíntese. Além

disso, o petróleo adere às brânquias dos peixes impedindo-os de respirar,

matando-os por asfixia. O petróleo também adere nas penas das aves aquáticas

impedindo-as de voar. Os mangues também são afetados pelo petróleo, matando

os filhotes de várias espécies, sendo assim destruído.

Muitos incidentes têm ocorrido, causando problemas ao meio ambiente. Para

ter-se idéia em 18 de janeiro de 2000, um oleoduto que liga um dos terminais da

Petrobras a uma refinaria na Baía de Guanabara, no Estado do Rio de Janeiro

rompeu-se, causando a liberação de aproximadamente 1,3 milhões de litros de

petróleo bruto na Baía. Em 16 de julho de 2000, uma ruptura no oleoduto próximo

à refinaria Presidente Getúlio Vargas, localizada a aproximadamente 20 km de

Curitiba, capital do Estado do Paraná, liberou aproximadamente quatro milhões

de litros de petróleo bruto nos rios da região. Em 16 de fevereiro de 2001, a

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ruptura do oleoduto Araucária-Paranaguá, por força de movimentos incomuns do

solo, causou a liberação de 50 mil litros de petróleo bruto nos rios Sagrado, Meio,

Neves e Nhundiaquara, localizados no Estado do Paraná. Em 15 de março de

2001, ocorreram três explosões a bordo da plataforma P-36, localizada a 285 km

da costa brasileira, causando incêndio na plataforma e resultando na morte de 11

funcionários da companhia. As explosões destruíram um dos pilares de

sustentação da plataforma e, após quatro dias, a plataforma afundou. O acidente

provocou um derramamento de 1,2 milhões de litros de petróleo no oceano. Em

30 de maio de 2001, houve uma ruptura no duto que transportava petróleo de

Barueri para a refinaria de Paulínia, em São Paulo, ocasionando o vazamento de

199.948 litros de petróleo bruto (PETROBRAS, 2008).

Esses incidentes descritos fazem parte de uma leitura pesada, mas servem

para enfatizar a freqüência com que tais derramamentos ocorrem, prejudicando

de variadas formas a biodiversidade.

1.4 - BIORREMEDIAÇÃO COM UTILIZAÇÃO DE BIOSSURFACTANTES

Segundo Santos e Millioli (2003) e Gabiatti Jr. (2009), apesar do petróleo

apresentar benefícios para sociedade e ser uma das principais fontes de energia,

é um produto tóxico para os organismos. Além de ser um poluente potencial do

ambiente, pode contaminar diretamente os ecossistemas através da fuga natural

dos seus lençóis, derrames de navios petroleiros, acidentes em refinarias ou

plataformas de extração. Por esses motivos o petróleo e seus derivados são

considerados uns dos principais problemas ambientais das últimas décadas, o

que resulta em incentivos para o desenvolvimento de técnicas físicas, químicas e

biológicas com a finalidade de minimizar o impacto ambiental.

Dentre os processos biológicos pode-se destacar a biorremediação, que

consiste na utilização de microorganismos ou dos seus componentes na

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recuperação de áreas contaminadas, já seja reduzindo ou eliminando os

contaminantes.

Nitschke e Pastore (2002) concordam que se tornaram numerosos os

acidentes com derramamento de petróleo causando muitos problemas ecológicos

e sociais. Para combater esses problemas são usados os conhecimentos das

propriedades dos biossurfactantes, que aumentam a interação superficial

água/óleo, facilitando o acesso de substratos hidrofóbicos às células. Com isso

aceleram a degradação dos componentes do petróleo por microrganismos e

promovem a biorremediação de águas e solos de uma forma mais eficaz.

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2 - OBJETIVO

O objetivo do presente trabalho é apresentar, por meio de uma revisão

bibliográfica, subsídios teóricos para se remediar um problema ambiental

ocasionado pelos derramamentos de petróleo e de seus derivados.

Neste sentido, os metabólitos produzidos por microrganismos, os tensoativos

biológicos foram avaliados como uma solução dos problemas causados na

contaminação das áreas poluídas.

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3 - REVISÃO DE LITERATURA

3.1 - BIORREMEDIAÇÃO DE PETRÓLEO

Segundo Oliveira (2008) o petróleo é uma commodity que ocupa posição de

destaque na produção industrial. No entanto, padrões de produção e de consumo,

de forma não sustentáveis, são um desafio, tendo em vista a busca por medidas e

estratégias para enfrentar os efeitos desse contaminante e/ou seus derivados no

meio ambiente.

Com o advento da revolução industrial e os conseqüentes avanços na área da

ciência e tecnologia, houve um aumento de esforços, visando exploração de

recursos naturais. Todavia, este fato gerou distúrbios sem precedentes em ciclos

ambientais elementares. O fato de introduzir compostos xenobióticos, ou a

massiva relocação de matérias naturais em diferentes compartimentos

ambientais, podem afetar a capacidade de autolimpeza dos ecossistemas,

resultando na acumulação de poluentes em níveis alarmantes (RAHMAN et al.,

2002 apud GABIATTI JR).

Para Santos (2003) a poluição causada por petróleo e seus derivados tem

sido um dos principais problemas ambientais das últimas décadas. Diversas

técnicas físicas, químicas e biológicas vêm sendo desenvolvidas para a retirada

de petróleo derramado ou para a redução dos seus efeitos sobre o ecossistema.

Dentre as tecnologias desenvolvidas, destaca-se a biorremediação.

De acordo com Hollinger et al. (1997) apud Jacques et al. (2007) e Ghazaali

(2001), apud Passos (2006) a biorremediação tem como finalidade eliminar ou

transformar os poluentes presentes em amostras ambientais, utilizando

organismos que transformam ou acumulam compostos químicos de alto risco.

Isso baseado na capacidade das plantas e microorganismos de assimilar os

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hidrocarbonetos, presentes em poluentes como o petróleo, alimentando-se do

carbono para poder sobreviver e crescer, eliminando-os dos solos contaminados

com um tratamento de baixo custo, maior segurança e menor distúrbio ao

ambiente.

. Segundo Van Hamme et al. (2003) apud Cordeiro (2006) a técnica de

biorremediação tem sua eficiência reconhecida no tratamento de ambientes

poluídos por outros contaminantes diferentes do petróleo, visto que a maioria

desses poluentes também são formados por hidrocarbonetos. De acordo com

Banforth e Singleton (2005) apud Jacques et al. (2007) a biorremediação vem

sendo utilizada há vários anos em outros países e, em certos casos, apresenta

menor custo e maior eficiência na remoção dos contaminantes do que as técnicas

físicas e químicas, como incineração e lavagem do solo. Vale ressaltar que, a

biorremediação é empregada como uma técnica de refino.

De acordo com o pesquisador Sérgio Machado Corrêa, doutor em Química e

professor da Faculdade de Tecnologia da UERJ, a biorremediação é uma

alternativa natural e 40% mais barata que os compostos industrializados.

Para descontaminar áreas poluídas por petróleo, a biorremediação não é

somente a técnica de menor custo, quando comparada às técnicas

convencionais, mas também é uma estratégia ecologicamente adequada para

tratar locais contaminados com moléculas recalcitrantes, que apresentam a

característica de serem persistentes no ambiente, face à difícil degradação

(GAYLARDE, 2005).

Segundo Pandey et al, (1999) apud Barros e Lemos (2006), a biorremediação

é uma técnica que pode ser definida como a utilização de microorganismos para

remover poluentes do solo, água e gases, podendo ser dividida em duas sub-

técnicas, denominadas bioaumento e bioestímulo.

A bioestimuação engloba a estimulação da microbiota nativa por meio de

incorporação de nutrientes, por exemplo; enquanto o bioaumento trata da adição

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de populações microbianas exógenas ou endógenas, conhecidas pela capacidade

de degradar compostos tóxicos (MANFIO et al., 2005, apud PASSOS, 2006).

De acordo com Santos e Millioli (2003), a biorremediação é uma técnica

que pode ser dividida em dois tipos, levando em consideração o local de

tratamento: in situ, quando o tratamento é realizado no próprio local de

contaminação. Neste caso o processo é economicamente mais viável. Ou ex-situ,

sendo este caracterizado pela retirado do solo contaminado, seja por escavação

ou remoção, o qual é transferido para outro local para ser tratado, podendo

causar aumento ou não do custo do processo. No entanto, a biorremediação ex-

situ permite maior controle de condições tais como umidade, pH e temperatura.

3.2 - TENSOATIVOS

Tensoativos são também conhecidos como surfactantes e para Barros et al.

(2007) a palavra surfactante é derivada da contração da expressão “surface active

agent”, e, literalmente, esse termo significa, agente de atividade superficial, sendo

assim, surfactantes são compostos caracterizados pela característica de

transformar as propriedades superficiais e interfaciais de um líquido.

A grande habilidade de certos microorganismos no processo de

biorremediação está ligada ao fato delas degradarem os hidrocarbonetos,

liberarem biossurfactantes para o meio, resultando em uma fácil assimilação de

certos substratos insolúveis (BATISTA et al., 2005 apud CORDEIRO, 2006).

Os surfactantes constituem uma classe importante de compostos químicos

amplamente utilizados em diversos setores industriais. Os surfactantes são

moléculas anfipáticas constituídas de uma porção hidrofóbica e uma porção

hidrofílica. A porção apolar é freqüentemente uma cadeia hidrocarbonada,

enquanto a porção polar pode ser iônica (aniônica ou catiônica), não-iônica ou

anfotérica. Em função da presença de grupos hidrofílicos e hidrofóbicos na

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mesma molécula, os surfactantes tendem a se distribuir nas interfaces entre fases

fluidas com diferentes graus de polaridade (óleo/água e água/óleo). É a formação

de um filme molecular ordenado nas interfaces que exerce a função peculiar de

reduzir a tensão interfacial e superficial. Por esse motivo os surfactantes são

utilizados em variadas aplicações industriais, envolvendo detergência,

emulsificação, lubrificação, capacidade espumante, capacidade molhante,

solubilização e dispersão de fases (NITSCHKE E PATORE, 2002).

Segundo Uysal e Turkman (2005) apud Cordeiro (2006) os surfactantes

podem ser quimicamente sintetizados, conhecidos como surfactantes sintéticos,

ou podem ser produzidos por microorganismos, neste caso são denominados

biossurfactantes. Os surfactantes sintéticos têm origem petroquímica, podem ser

catiônicos, aniônicos, não iônicos ou anfóteros, e são usados como dispersantes

de óleos. Já os biossurfactantes são produzidos por bactérias, leveduras e

fungos, e são classificados de acordo com sua natureza química e de acordo com

a espécie microbianas que os produz.

No quadro 1 são apresentados os principais grupos de surfactantes tanto

sintéticos como naturais.

Quadro 1 – Principais grupos de surfactantes de origem natural e sintética Naturais Sintéticos Alquil poliglícosídeos Alcanolaminas

Biossurfactantes Alquil e aril éter carboxilados

Amidas de ácidos graxos Alquil aril sulfatos

Aminas de ácidos graxos Alquil aril éter sulfatos

Glucamidas Alquil etoxilados

Lecitinas Alquil sulfonatos Derivados de preteínas Alquil fenol etoxilados

Saponinas Aminoóxidos Sortibol e ésteres de sorbitan Betainas Ésteres de sacarose Co-polímeros de óxido de

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etil/propileno Sulfatos de álcoois graxos naturais

Ácidos graxos etoxilados

Fonte: (NITSCKHE E PASTORE, 2002)

Na escolha do melhor surfactante, alguns fatores devem ser levados em

consideração, sendo analisados com muita atenção determinadas características,

para se obter sucesso no processo de biorremediação. Em tal escolha os fatores

mais importantes a serem considerados são: baixo custo, propriedades físico-

químicas da área a ser tratada, rendimento na remoção do contaminante,

toxicidade para os seres vivos, e o fator mais importante que é sua capacidade de

biodegradação (MULLIGAN, YOUNG e GIBBS, 2001 apud CORDEIRO, 2006).

3.2.1 - Tensoativos Sintéticos

Os surfactantes sintéticos são produzidos por meio de processos artificiais,

sendo sua produção, na grande maioria, a partir de derivados do petróleo, e

podem ser utilizados em variados setores industriais. Suas estruturas, igualmente

como a dos tensoativos biológicos necessitam de uma especial atenção para

permitir a melhor escolha diante de cada situação em particular (ROCHA, 1999

apud CORDEIRO, 2006).

A classificação de certos tipos de surfactantes (quadro 2), leva em

consideração seu tipo de agrupamentos polares (MANIASSO, 2001 apud

CORDEIRO, 2006).

Quadro 2 - Classificação de alguns surfactantes pelos tipos de grupamentos

polares

Tipo Surfactante Sintético Fórmula

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CATIÔNICOS Brometo de cetiltrimetil amônico(CTAB)

CH3(CH2)15N+(CH3)3Br-

Brometo de dodeciltrimetil amônico(DTAB)

CH3(CH2)11N+(CH3)3Br-

Cloreto de cetilpiridino (CICP)

ANIÔNICOS Dodecil sulfato sódico (SDS)

CH3(CH2)11SO4-Na+

Bis(2-etilhexil) sulfosuccinato sódico (Aerosol OT)

[CH3(CH2)3CH(C2H5)CH2OCO]2CHSO3-Na+

Dihexadecil fosfato (DHF)

[CH3(CH2)15O]2PO- 2

NÃO IÔNICOS

Polioxietileno (9-10) p-tercotil fenol (Triton X-100)

(CH3)3C(CH2)C(CH3)2 (Ar) (OCH2CH2)23OH

Tipo Surfactante Sintético Fórmula Polioxietileno (23)

dodecanol (brij 35) CH3(CH2)11(OCH2CH2)23OH

ANFÓTEROS 3-(dodecildimetil amônio) propano 1-sulfato (SB-12)

CH3(CH2)11N+(CH3)2(CH2)3OSO3-

4-(dodecildimetil amônio) butirato(DAB)

CH3(CH2)11N+(CH3)2(CH2)3COO-

Fonte: (MANIASSO, 2001 apud CORDEIRO, 2006)

De fato a utilização de surfactantes sintéticos com o objetivo de tratar solos

contaminados auxilia no restabelecimento do ambiente por apresentarem

características que facilitam o ataque da microbiota a compostos altamente

recalcitrantes, No entanto, esses surfactantes sintéticos na sua maioria

apresentam características tóxicas que se acumulam no ecossistema,

acarretando variados problemas para o meio ambiente (CUNHA et al., 2004,

DESAI e BANAT,1997 apud CORDEIRO 2006).

3.2.2- Tensoativos Biológicos

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Os biossurfactantes são compostos que tem sua origem no metabolismo

de microorganismos (KOSARIC e CAIRNS, 1987 apud GABIATTI JR et al.).

Os biossurfactantes têm a característica peculiar de emulsificar misturas de

hidrocarbonetos em água, fato comprovado pelo aumento considerável da

degradação desses hidrocarbonetos na presença dos surfactantes biológicos,

tornando sua utilização no processo de biorremediação cada vez mais freqüente.

Esse processo é baseado na capacidade dos biossurfactantes de reduzirem a

tensão superficial por meio do remanejamento molecular, influenciando as

ligações de hidrogênio e as interações hidrofílicas-hidrofóbicas, acarretando em

um aumento na área superficial, proporcionando melhor disponibilidade e,

consequentemente, aumentando a biodegradação (CATIGLIONI et al., 2009).

Para Batista et al. apud Cordeiro (2006) as bactérias que degradam

hidrocarbonetos liberam biossurfactantes para o meio, tornando mais fácil a

assimilação desses hidrocarbonetos insolúveis.

Segundo Mulliga (2005), Wang (2005) apud Cordeiro (2006) os

biossurfactantes apresentam um amplo potencial nas indústrias petrolífera,

farmacêutica, alimentícia e no saneamento.

Os biossurfactantes são produzidos na sua grande maioria por bactérias e,

as pertencentes ao gênero Pseudomonas apresentam a característica de produzir

ramnolipídeos, que são glicolipídeos contendo ácidos graxos (NITSCHKE et al,

2005 apud COSTA et al, 2008).

Uma grande expectativa cerca as bactérias do gênero Pseudomonas, que

são microorganismos que produzem biotensoativos com características físico-

químicas e biológicas distintas, tornando-as muito promissoras no setor industrial.

Além do mais, esses compostos foram obtidos em concentrações superiores em

relação a outros biossurfactantes. Fato que favorece a sua utilização. As

Pseudomonas, após ensaio, demonstraram aptidão para sintetizar ramnolipídios,

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tendo como substratos alternativos os resíduos de óleos e gorduras, dos quais a

borra e o óleo de soja são destaques como fontes de carbono para processo

alternativo, visando síntese de biosurfactantes (COSTA et al., 2008).

Grande parte dos trabalhos de síntese de biossurfactantes dá ênfase às

bactérias. No entanto, os fungos que são organismos uni ou pluricelulares, também

demonstram certa capacidade para produção desse metabólito. Os fungos são

encontrados em praticamente todas as regiões do planeta e desempenham um

papel importante na manutenção do equilíbrio dos ecossistemas. O fungo

Penicillium corylophilum tem demonstrado capacidade para a produção dessas

moléculas anfipáticas, atingindo valores de aproximadamente 35 mN/m (REICHE e

LEMOS, 2005).

Os biossurfactantes podem ser classificados pela sua composição química,

pelo seu peso molecular e por sua origem microbiana (DESAI e BANAT, 1997

apud CORDEIRO, 2006). Levando em consideração sua origem microbiológica,

os biossurfactantes podem ser classificados conforme quadro 3.

Quadro 3 - Principais classes de biosurfactantes e microorganismos

envolvidos

Tipo de biosurfactante Microorganismo Glicolipídios - ramnolipídios Pseudomonas aeroginosa - soforolipídios Torulopsis bombicola T.apícola - trehalolipídios Rhodococccus erythropolis. Mycobacterium sp. Lipopeptídios e lipoproteínas - Peptídio-lipídio Bacillus licheniformis - Viscosina Pseudomonas fluorescens - Serravetina Serratia marcescens - Subtilisina Bacillus subtilis - Surfactina Bacillus subtilis - Gramicidina Bacillus Brevis - Polimixina Bacillus polymyxa

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Ácidos graxos, lipídios neutros e fosfolipídieos

- Ácidos graxos Corynebacterium lepus - Lipídios neutros Nocardia erythoropolis - Fosfolipídios Thiobacillus thiooxidans Surfactantes poliméricos - Emulsão Acinetobacter calcoaceticus - Biodispersão Acinetobacter calcoaceticus - Liposan Candida lipolytica - Carboidrato-lipídio-proteína Pseudomonas fluorescens - Manana-lipídio-proteína Candida tropicalis Surfactantes particulados - Vesículas Acinetobacter calcoaceticus - Células Várias bactérias

Fonte: NITSCHKT et al, 2002

De acordo com Santos e Millioli (2003):

Os microrganismos são capazes de consumir tanto os

hidrocarbonetos de petróleo quanto os biossurfactantes,

utilizando-os como fonte de carbono e de energia. Sendo

assim, a geração de CO2 nos ensaios de biodegradação

seria tanto originado do biossurfactante quanto dos

hidrocarbonetos presentes no solo contaminado.

Os biossurfactantes também são classificados tendo em vista sua

composição química. Abaixo estão descritas as principais classes constituídas por

glicolipídeos, lipopeptídeos e lipoproteínas, fosfolipídios e ácidos graxos,

surfactantes poliméricos e surfactantes particulados.

1-Glicolipídios - Estes tipos de biossurfactantes são os mais conhecidos e estão

envolvidos no processo de transformação de hidrocarbonetos com baixa

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polaridade. São carboidratos ligados a uma longa cadeia de ácidos alifáticos ou

hidroxi-alifáticos. Dentre os principais glicolípidios e mais estudados destacam-se:

raminolipídios, trealolipídios e soforolipídios (RON e ROSENBERG, 2001; DESAI

e BANAT, 1997 apud Cordeiro, 2006).

2-Lipopeptídios e Lipoproteínas - englobam uma grande classe de

biossurfactantes, os lipopeptídios cíclicos, que se destacam pela sua ampla

atividade biológica como antibióticos: decapeptídeos (gramicidinas) e os

lipopeptídios (polimixinas), que apresentam atividade antiviral, e estimulam a

atividade dos macrófagos. A surfactina é um biossurfactante lipopeptídio eficiente,

que apresenta ótimos resultados na redução de tensão superficial. Esses agentes

tensoativos biológicos são produzidos respectivamente pelos microrganismos

Bacillus brevis, B. polymyxa e B. subtilis (MORIKAWA, HIRATA e INAKA, 2000;

DESAI e BANAT, 1997 apud Cordeiro, 2006).

3 - Ácidos graxos, Fosfolipídios e Lipídeos neutros - classe composta por grande

quantidade de fosfolipídios e ácidos graxos produzidos por bactérias e fungos,

que utilizam hidrocarbonetos do tipo n-alcanos como fonte de carbono durante a

fase de crescimento (GARTI, 1999 apud Cordeiro, 2006). A produção desses

biossurfactantes é de grande interesse do ponto de vista científico, pois,

apresenta uma capacidade expressiva para formar microemulsões tendo sido

detectada em microrganismos como Aspergillus sp. e Thiobacillus thiooxidans

(DESAI e BANAT, 1997 apud Cordeiro, 2006),

4 - Poliméricos - são produtos constituídos por variados grupos químicos, como

por exemplo, o emulsan, no qual ácidos graxos estão ligados a um esqueleto de

heteropolissacarídeos, ou liposan, constituído por carboidratos e proteínas

(DESAI e BANAT, 1997; CIRIGLIANO e CARMAN, 1984; ROSENBERG et al.,

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1979 apud Cordeiro, 2006). Esses biossurfactantes são muito estudados pela sua

grande capacidade emulsificante (ROCHA, 1999 apud Cordeiro, 2006);

5 – Particulados - Estruturas morfológicas de alguns microrganismos como as

vesículas da membrana extracelular de Acinetobacter sp desempenham uma

ótima função na partição dos hidrocarbonetos com a formação de microemulsões,

e assim, facilitam a sua entrada nas células microbianas. A grande vantagem das

vesículas das membranas desses microrganismos é a presença de maiores

porcentagens de fosfolipídios, proteínas e lipossacarídeos quando comparado

com a membrana extracelular (DESAI e BANAT, 1997).

De acordo com (NITSCHKE E PATORE, 2002):

Algumas células microbianas apresentam elevada hidrofobicidade superficial, sendo consideradas por si só como biossurfactantes, como por exemplo, microorganismos degradadores de hidrocarbonetos, dentre eles algumas espécies de Cyanobacteria e alguns patógenos como S. aureus e Serratia sp. Bactérias como Acinetobacter sp. produzem vesículas extracelulares que tem função importante na captação de alcanos para a célula, possuindo elevada atividade surfactante.

Segundo Sanin e Bryers (2003); Morikawa, Hirata e Inaka (2000) apud Cordeiro (2006) a razão que estimula os microrganismos na produção dos biossurfactantes não é conhecida. No entanto, suspeita-se que os biossurfactantes atuam como antibióticos protegendo as células bacterianas do ataque de outros microrganismos, ou funcionando como um mecanismo de adaptação em resposta à deficiência de nutrientes em determinado ambiente.

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3.2.3 - Vantagens do uso dos surfactantes naturais sobre os sintéticos

A principal vantagem dos tensoativos produzidos biologicamente em

relação aos sintéticos é que os primeiros não apresentam efeitos danosos ao

ambiente e não são tóxicos aos microorganismos. (NITSCHKE E PATORE,

2002). No entanto, outros fatores podem ser levados em consideração para

corroborar a vantagem dos biosurfactantes.

Os biossurfactantes apresentam algumas características que conferem

certa vantagem sobre os sintéticos, entre elas temos:

Atividade superficial e interfacial: são mais eficientes que os surfactantes sintéticos

visto que reduzem a tensão superficial, empregando menores concentrações;

Tolerância à temperatura, pH e força iônica: estabilidade térmica e de pH é uma

característica apresentada por alguns biossurfactantes, levando-os a serem

aplicados em ambientes rigorosos;

Biodegradabilidade: exibe fácil degradação em água e no solo, retificando sua

utilidade no processo de biorremediação e tratamento de resíduos;

Baixa toxicidade: sua baixa toxicidade concede sua utilização em alimentos,

cosméticos e produtos farmacêuticos, fato de suma importância tendo em vista os

efeitos alérgicos causados pelos produtos sintéticos;

Substratos renováveis: temos o proveito de serem sintetizados a partir de substratos

renováveis, além de apresentarem vasta diversidade química, o que os leva a

serem aplicados com a especificidade que cada caso em particular exige.

Não são derivados do petróleo: face à desvinculação do petróleo o custo da

produção dos biossurfactantes não corre o risco de sofrer com os constantes

aumentos do petróleo (NITSCHKE E PATORE,2002).

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Embora apresentem as vantagens citadas, os biossurfactantes não são

amplamente utilizados pelas indústrias devido ao alto custo na sua produção,

baixa produtividade e a exigência de substratos caros.

3.2.4 - Solução para superar o alto custo dos subst ratos

De acordo com Martins (2008) para a produção de surfactantes são

empregados substratos de alto custo. Contudo poderiam ser utilizados resíduos

oleosos de indústrias de alimentos, assim como outros resíduos, visando a

economicidade do processo.

Para efetivar a redução de custos, têm sido empregados resíduos

agroindustriais ou de indústrias alimentícias, tendo em vista a sua composição

química referente a altos níveis de carboidratos ou de lipídios, essenciais para a

biossíntese de biossurfactantes (BANAT et al., 2000 apud Costa et al. ,2008).

A utilização de resíduos favorece a diminuição da poluição do ambiente,

além de valorizar economicamente tais produtos como são as borras oleosas,

óleos previamente empregados, melaço de cana, resíduos do processamento de

queijo, batata e mandioca, tornando menos oneroso o processo (ABALOS et al.,

2001; COSTA et al., 2006; HABA et al., 2000; NITSCHKE et al., 2005; COSTA,

2007; VAN HAMME; SINGH; WARD, 2006 apud COSTA et AL , 2008).

Para Castiglioni (2009):

As modificações das condições fisiológicas e da composição

do meio de cultivo são algumas alternativas que vêm sendo

estudadas para o aumento da produtividade dos

biossurfactantes. A produção de biossurfactante dispensa o

uso de substratos de alto custo, podendo ser utilizados

resíduos agroindustriais, o que economicamente viabiliza o

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processo, uma vez que o meio de cultivo representa

aproximadamente 50% do custo final do produto.

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4 - CONCLUSÃO

A biorremediação é um processo adequado para reverter os danos

causados ao ambiente por derramamentos acidentais de petróleo e, o uso de

surfactantes proporciona maior eficácia a tal processo. Além disso, o uso dos

tensoativos biológicos apresenta variadas vantagens quando comparados aos

surfactantes sintéticos. A utilização dos tensoativos biológicos ainda é pequena

quando comparada à dos sintéticos, tendo em vista o alto custo para sua síntese,

mediante a utilização de substratos dispendiosos. No entanto, tem-se observado

o aumento da utilização de substratos alternativos para síntese dessas moléculas

anfipáticas produzidas por microorganismos que possibilitam a diminuição do

custo de produção e, consequentemente, despertam maior interesse; fato esse

que vem gerando o crescimento da utilização desse tipo de molécula. Com o

aumento de trabalhos científicos, que visam conhecer cada vez mais substratos

alternativos de menor custo para a síntese dos biossurfactantes, espera-se um

aumento considerável na utilização dessas moléculas em processos de

biorremediação.

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