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São Paulo 2012 EMÍLIA CRISTINA PERES Estudo da reatividade vascular em ratos submetidos à isquemia e reperfusão intestinal: mecanismos evolvidos e papel protetor da sinvastatina Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Fisiologia Humana do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo para obtenção do título de Mestre em Ciências.

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So Paulo 2012

EMLIA CRISTINA PERES

Estudo da reatividade vascular em ratos submetidos isquemia e reperfuso intestinal: mecanismos evolvidos e

papel protetor da sinvastatina

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Fisiologia Humana do Instituto de Cincias Biomdicas da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Mestre em Cincias.

So Paulo 2012

EMLIA CRISTINA PERES

Estudo da reatividade vascular em ratos submetidos isquemia e reperfuso intestinal: mecanismos evolvidos e

papel protetor da sinvastatina

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Fisiologia Humana do Instituto de Cincias Biomdicas da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Mestre em Cincias.

rea de concentrao: Fisiologia

Orientadora: Prof. Dra. Luciana Venturini Rossoni

Verso original

Aos meus pais, pelos maiores presentes: amor e base slida, que

permitiram e permitiro trilhar meus caminhos.

AGRADECIMENTOS

A Deus, por estar ao meu lado em todos os pequenos passos por mim dados e em todas

as grandes conquistas por mim alcanadas.

Aos meus pais pelo amor, carinho, dedicao, educao, alm de serem exemplo de

fora e coragem, que terei para vida.

A Professora Doutora Luciana Venturini Rossoni, pela orientao, confiana, amizade e

acolhimento em seu laboratrio.

A minha irm pela cumplicidade e estar presente nos momentos difceis para concluso do

meu mestrado.

As minhas amigas, Gisele e Camilla, por serem iluminadas, e sempre iluminarem minha vida.

No sei o que seria de mim sem vocs!

Ao Claudiomar pelo companheirismo, fora, e principalmente por me amar

incondicionalmente.

Aos meus tios Valdemar (in memorian) e Yara pelo apoio e orientao a mim concedidos em

todos os momentos de minha vida.

Aos meus primos, Marcos, Lo e Raquel, pela amizade e apoio.

Aos meus colegas de laboratrio por sempre me fazerem rir, por compartilharem comigo dos

momentos duros de trabalho, pelas boas conversas regadas a caf e por terem tornado meus

momentos no laboratrio muito agradveis.

A Universidade de So Paulo pelas oportunidades ao longo da minha vida.

Ao Departamento de Fisiologia e Biofsica pela oportunidade de realizao do curso de

Mestrado.

Ao Departamento de Enfermagem do Hospital Universitrio da USP pelo apoio para

realizao do curso de Mestrado.

Aos Professores da banca de qualificao pela contribuio com sua experincia e boas ideias.

Aos Professores da banca de defesa por lerem este trabalho.

A FAPESP e ao CNPq pelo apoio financeiro concedido para execuo deste trabalho.

Muito obrigada!

Que tristes os caminhos, se no fora a

presena distante das estrelas!

Mrio Quintana

RESUMO

Peres EC. Estudo da reatividade vascular em ratos submetidos isquemia e reperfuso

intestinal: mecanismos envolvidos e papel protetor da sinvastatina. [dissertao (Mestrado em

Fisiologia Humana)] - Instituto de Cincias Biomdicas, Universidade de So Paulo, So

Paulo; 2012.

A isquemia a deficincia no fluxo de sangue para uma determinada rea durante um perodo

de tempo, incompatvel com as necessidades metablicas. Vrias so as complicaes

presentes na isquemia e reperfuso intestinal (iIR), dentre elas destaca-se a leso pulmonar.

Sabe-se, que as estatinas so frmacos que apresentam resultados favorveis nas leses

intestinais ocasionadas pela iIR. Entretanto, desconhecido se os prejuzos ocasionados pela

iIR esto relacionados a modificaes na reatividade vascular e se os efeitos benficos das

estatinas na iIR esto correlacionados esses ajustes vasculares. Objetivou-se neste estudo

caracterizar a reatividade vascular no leito mesentrico e pulmonar e verificar se a

sinvastatina capaz de prevenir essas possveis alteraes. Ratos Wistar, ~2,5 meses, foram

anestesiados e submetidos ocluso da artria mesentrica superior (AMS) por 45 min e

reperfuso por 2 h (IR). No grupo controle foi realizado o mesmo protocolo; porm, sem a

ocluso da AMS (SHAM). Anis de AMS e artria pulmonar (AP) foram dissecados e

montados em um sistema de rgos isolados para medida da tenso isomtrica. Curvas

concentrao-resposta (CCR) acetilcolina (10-10

3x10-5

M), ao nitroprussiato de sdio (NPS,

10-10

-3x10-5

M) e a fenilefrina (10-10

-3x10-5

M) foram realizadas em anis com (E+) e sem (E-)

endotlio. Alguns anis E+ de AP foram pr-incubados com o inibidor da sintase de xido

ntrico (NOS), L-NAME (100 M) ou com inibidor da NOS induzvel (iNOS), 1400W

(1M), antes das CCR acetilcolina e a fenilefrina. Em um sub-grupo: IR e SHAM foi

realizado o pr-tratamento com sinvastatina (20mg/kg, p.o.) ou com veculo 1 h antes da iIR.

Em seguida foram avaliadas as respostas: dependente e independente do endotlio e a

contrtil em anis de AP. A iIR no alterou a vasodilatao ao NPS em ambas as artrias. Nos

anis de AMS a iIR no alterou nem a vasodilatao acetilcolina e nem a contrao

fenilefrina. Entretanto, tanto as respostas acetilcolina como fenilefrina foram reduzidas em

AP dos IR quando comparado ao SHAM. A pr-incubao com L-NAME como a E-, em

ambos os grupos, reduziu a vasodilatao acetilcolina e aumentou a contrio fenilefrina.

Por sua vez, o 1400W melhorou a vasodilatao acetilcolina e a hiporreatividade

fenilefrina observada nos anis de AP dos IR, sem alterar a reatividade dos SHAM. Tanto a

retirada do endotlio como a pr-incubao dos anis de AP com L-NAME ou com 1400W

aboliram as diferenas observadas entre os grupos estudados. O pr-tratamento com

sinvastatina preveniu o prejuzo no relaxamento acetilcolina assim como a hiporreatividade

fenilefrina nos anis de AP dos IR, sem modificar a reatividade vascular dos SHAM.

Concluindo-se que a iIR modificou a reatividade vascular na AP, porm sem alterar a mesma

na AMS. Na AP a iIR causou disfuno endotelial, por meio de uma ativao da iNOS, a

qual, levou a diminuio da resposta vasodilatadora dependente do endotlio e

hiporreatividade contrtil. Uma nica dose de sinvastatina pr-iIR previne essas alteraes,

demonstrando o efeito benfico desse frmaco provavelmente via uma ao anti-inflamatria

e/ ou anti-oxidante.

Palavras-chave: Reatividade vascular. Isquemia e reperfuso intestinal. Endotlio.

Sinvastatina. Artria Pulmonar.

ABSTRACT

Peres EC. Study of vascular reactivity in rats subjected to intestinal ischemia and reperfusion:

mechanisms involved and the protective role of simvastatin. [dissertation (Masters thesis in

Human Physiology)] - Instituto de Cincias Biomdicas, Universidade de So Paulo, So

Paulo; 2012.

Ischemia is a deficiency in blood flow for a given area during a period of time, incompatible

with the metabolic requirements. Several complications are present in intestinal ischemia and

reperfusion (iIR), lung damage being one of the most important. It is known that statins are

drugs that have favorable results in the intestinal lesions caused by iIR. However, it is

unknown whether the damages caused by iIR are related to changes in vascular reactivity and

the beneficial effects of statins on iIR are correlated to these vascular adjustments. The

objective of this study was to characterize the vascular reactivity in mesenteric and pulmonary

bed and verify whether simvastatin is able to prevent these possible changes. Wistar rats, ~2.5

months old, were anesthetized and subjected to occlusion of the superior mesenteric artery

(SMA) for 45 min and reperfusion (IR) for 2 hours. The same protocol was performed in the

control group, but without SMA occlusion (SHAM). SMA and pulmonary artery (PA) rings

were dissected and mounted in an isolated organ system to measure the isometric tension.

Concentration-response curves (CRC) to acetylcholine (10-10

3x10-5

M), to sodium

nitroprusside (SNP, 10-10

-3x10-5

M) and to phenylephrine (10-10

-3x10-5

M) were performed in

rings with (E+) and without (E-) endothelium. Some E+ rings of PA were preincubated with

the inhibitor of nitric oxide synthase (NOS), L-NAME (100 M) or with inhibitor of inducible

NOS (iNOS), 1400W (1M) prior to the CRC to acetylcholine and phenylephrine. In a

subgroup: IR and SHAM pre-treatment with simvastatin (20mg/kg, p.o.) or with vehicle 1

hour before the iIR was performed. After that in PA rings the endothelium-dependent and -

independent, and contractile responses were evaluated. The iIR did not alter vasodilatation to

SNP in either artery. In SMA rings, iIR did not change the vasodilatation to acetylcholine or

the contraction to phenylephrine. However, both responses to acetylcholine and to

phenylephrine were reduced in PA of IR when compared with SHAM. The pre-incubation

with L-NAME and the E-, in both groups, decreased the vasodilatation to acetylcholine and

increased constriction to phenylephrine. In turn, the 1400W improved vasodilatation to

acetylcholine and hyporeactivity to phenylephrine observed in rings of PA of IR, without

changing the reactivity of SHAM. Both the removal of endothelium and the preincubation of

PA rings with L-NAME or with 1400W abolished the differences observed between the

groups. Pre-treatment with simvastatin prevented loss in the relaxation to acetylcholine and

the hyporeactivity to phenylephrine in the rings of PA of IR, without modifying the vascular

reactivity of SHAM. In conclusion, the iIR modified vascular reactivity in the PA; however, it

did not change it in the SMA. In the PA, iIR caused endothelial dysfunction through an

activation of iNOS, which resulted in a decrease of endothelium-dependent vasodilator

response and contractile hyporeactivity. A single dose of simvastatin pre-iIR prevents these

changes, demonstrating the beneficial effect of this drug probably via an anti-inflammatory

and/ or anti-oxidant action.

Keywords: Vascular reactivity. Intestinal ischemia and reperfusion. Endothelium.

Simvastatin. Pulmonary Artery.

LISTA DE ILUSTRAES

Figura 1 - Curva concentrao-resposta acetilcolina 36

Figura 2 - Curva concentrao-resposta acetilcolina em anis com endotlio

preservado (E+) e sem endotlio (E-) 37

Figura 3 - Curva concentrao-resposta ao nitroprussiato de sdio 39

Figura 4 - Curva concentrao-resposta fenilefrina 41

Figura 5 - Curva concentrao-resposta fenilefrina em anis com endotlio

preservado (E+) e sem endotlio (E-) 42

Figura 6 - Curva concentrao-resposta acetilcolina em anis de artria pulmonar

pr-incubados com L-NAME ou com 1400W 45

Figura 7 - Curva concentrao-resposta fenilefrina (FE) em anis de artria

pulmonar de ratos SHAM e IR pr-incubados com L-NAME ou com 1400W 48

Figura 8 - Efeito da sinvastatina sobre a curva concentrao-resposta acetilcolina 53

Figura 9 - Efeito da sinvastatina sobre a curva concentrao-resposta ao

nitroprussiato de sdio 54

Figura 10 - Efeito da sinvastatina sobre a curva concentrao-resposta fenilefrina 55

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Valores da contrao mxima ao cloreto de potssio (KCl) nos anis de

artria mesentrica superior (Mesentrica) e nos anis de artria pulmonar (Pulmonar)

na presena de endotlio preservado dos animais SHAM e IR

34

Tabela 2- Valores da porcentagem de pr contrao fenilefrina em relao

contrao ao cloreto de potssio antes das curvas concentrao-resposta acetilcolina

(ACh) ou ao nitroprussiato de sdio (NPS) nos anis de artria mesentrica superior

(Mesentrica) e de artria pulmonar (Pulmonar) com endotlio preservado dos animais

SHAM e IR

35

Tabela 3- Valores de sensibilidade (pD2) e resposta mxima (Rmax) obtidos por meio

de curvas concentrao-reposta acetilcolina nos anis de artria mesentrica superior

(Mesentrica) e de artria pulmonar (Pulmonar) com endotlio preservado (E+) e sem

(E-) endotlio dos animais SHAM e IR

38

Tabela 4- Valores de sensibilidade (pD2) e resposta mxima (Rmax) obtidos por meio

de curvas concentrao-resposta fenilefrina (FE) nos anis de artrias mesentrica

superior e de artria pulmonar com (E+) e sem (E-) endotlio dos animais SHAM e IR

43

Tabela 5- Valores de sensibilidade (pD2) e resposta mxima (Rmax) obtidos por meio

de curvas concentrao-resposta acetilcolina (ACh) nos anis de artria pulmonar

com endotlio (E+), incubados com L-NAME (LN, 100 M) ou com 1400W

(1400W,1 M) dos animais SHAM e IR

46

Tabela 6- Valores de sensibilidade (pD2) e resposta mxima (Rmax) obtidos por meio

de curvas concentrao-resposta fenilefrina (FE) nos anis de artria pulmonar com

(E+), incubados com L-NAME (LN, 100 M) ou incubados com 1400W (1400W,1

M) dos animais SHAM e IR

49

Tabela 7- Valores da contrao mxima ao cloreto de potssio (KCl, 75mM) nos anis

de artria pulmonar dos animais SHAM e IR, controle (CT) e nos grupos SHAM e IR,

tratados com sinvastatina (SINV)

52

Tabela 8- Valores da porcentagem de contrao fenilefrina em relao contrao

ao cloreto de potssio antes das curvas concentrao-resposta acetilcolina (ACh) ou

ao nitroprussiato de sdio (NPS) nos anis de artria pulmonar com endotlio dos

animais SHAM e IR, controle (CT) e nos grupos SHAM e IR, tratados com

sinvastatina (SINV)

52

Tabela 9- Valores de sensibilidade (pD2) e resposta mxima (Rmax) obtidos por meio

de curvas concentrao-reposta acetilcolina (ACh), ao nitroprussiato de sdio (NPS)

e fenilefrina (FE) em anis de artria pulmonar dos animais SHAM, SHAM tratado

com 20mg/kg de sinvastatina (SHAM SINV), IR e IR tratado com 20mg/kg de

sinvastatina (IR SINV)

56

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

XO- Xantina Oxidase

XD- Xantina Desidrogenase

SOD- Superxido Dismutase

MODS- Sndrome de disfuno mltipla de rgos

iIR- Isquemia e reperfuso intestinal

TN- Fator de Necrose Tumoral

IL- Interleucina

NO- xido ntrico

cNOS- xido ntrico sintase constitutiva

iNOS- xido ntrico sintase induzvel

eNOS- xido ntrico sintase endotelial

LPS- Lipopolissacardeo

nNOS- xido ntrico sintase neuronal

Gcs- Guanilato ciclase solvel

GMPc- Guanosina monofosfato ciclco

Ca+2

- Clcio

K+- Potssio

L-NAME- Ng-Nitroarginina Metil ster

HMG-CoA- 3-hidroxi-3 metilglutaril-coenzima A

PaO2- Presso parcial de oxignio no sangue

ALT- Alanina aminotrnasferase

AST- Asparagina aminotrnasferase

EDRFs- Fatores relaxantes derivado do endotlio

EDCFs- Fatores contrteis do endotlio

COX- Coclooxigenase

PKA- Protena quinase A

KCl- Cloreto de potssio

1400W- N-(3-Aminomethyl)benzylacetamidine

ANOVA- Anlise de varincia

NPS- Nitroprussiato de sdio

ACh- Acetilcolina

FE- Fenilefrina

SDRA- Sndrome do desconforto respiratrio agudo

ONOO-- Perxido nitrito

O2-- nion superxido

OH-- radical de hidroxila

LOOH- hidroperxido

TBARS- Substncias que reagem com o cido tiobarbitrico

SUMRIO

1 INTRODUO 15

2 OBJETIVOS 26

3 MATERIAIS E MTODOS 27

3.1 Animais experimentais 27

3.2 Obteno dos modelos experimentais 27

3.2.1 Tratamento com sinvastatina 27

3.3 Estudo de reatividade vascular da artria mesentrica e pulmonar 28

3.4 Protocolos experimentais 29

3.4.1 Avaliao da resposta vasoconstritora ao cloreto de potssio (KCl) 29

3.4.2 Avaliao do relaxamento 29

3.4.2.1 Avaliao do relaxamento dependente do endotlio 29

3.4.2.2 Avaliao do relaxamento independente do endotlio 29

3.4.3 Avaliao da resposta contrtil 30

3.4.4 Efeito da retirada do endotlio sobre a resposta vasodilatadora acetilcolina e

sobre a resposta vasoconstritora fenilefrina

30

3.4.5 Efeito do bloqueio da sntese de xido ntrico sobre a resposta vasodilatadora

acetilcolina e sobre a resposta vasoconstritora fenilefrina

30

3.5 Protocolos experimentais aps o tratamento com sinvastatina 31

3.6 Expresso dos dados e anlises estatsticas 32

3.7 Drogas e diluies 32

4 RESULTADOS 34

4.1 Avaliao da resposta vasoconstritora ao cloreto de potssio (KCl) 34

4.2 Respostas vasodilatadora dependente e independente do endotlio 35

4.3 Avaliao da resposta contrtil 40

4.4 Efeito da inibio da sntese de xido ntrico sobre a resposta vasodilatadora

acetilcolina

44

4.5 Efeito da inibio da sntese de xido ntrico sobre a resposta vasoconstritora

fenilefrina

47

4.6 Efeito do tratamento com sinvastatina sobre a reatividade vascular 50

5 DISCUSSO 57

6 CONCLUSO 70

REFERENCIAS 71

15

1 INTRODUO

A isquemia a deficincia no fluxo de sangue para uma determinada rea durante um

perodo, que ocasiona a interrupo do suprimento de oxignio e de nutrientes, acarretando

em disfuno celular, morte celular e, finalmente, disfuno de tecido e rgo (Scannel et al.,

1995). A isquemia considerada uma emergncia vascular, com taxas de mortalidade que

podem chegar a 70% dos casos (Virgini-Magalhes; Mayall, 2009; Vollmar; Menger, 2011).

Nos Estados Unidos, a isquemia intestinal, ou a ausncia ou diminuio do fluxo

sanguneo arterial ou venoso nos tecidos intestinais (Debus et al., 2011; Renner et al., 2011;

Ribeiro; Yoshida, 2005), incide em uma de 1.000 admisses hospitalares (Brandt; Boley,

2000). No Brasil, o sistema DATASUS no discrimina a isquemia intestinal de distrbios

circulatrios em outras partes do organismo. Entretanto, possvel que a incidncia da

isquemia intestinal no Brasil seja mais elevada do que aquela documentada nos Estados

Unidos.

Sua etiologia pode ser oclusiva, como embolia e trombose; ou no-oclusiva, como

baixo fluxo sanguneo e vasoespasmo induzido por drogas vasoativas (Debus et al., 2011;

Renner et al., 2010; Ribeiro; Yoshida, 2005). Na embolia arterial, as principais causas da

isquemia oclusiva so trombos murais da cavidade cardaca associados a infarto do miocrdio

e fibrilao atrial (Debus et al., 2011; Renner et al., 2010; Ribeiro; Yoshida, 2005) . A

trombose arterial instala-se em placa aterosclertica, que pode ser de origem degenerativa ou

inflamatria (Ribeiro; Yoshida, 2005). Na isquemia no-oclusiva, a diminuio do fluxo

sanguneo intestinal ocorre em diferentes situaes clnicas, como trauma, choque de qualquer

etiologia, queimaduras, ps-operatrio de cirurgias cardaca e torcica, assim como no

transplante de intestino delgado (Debus et al., 2011; Kannan et al., 2011; Renner et al., 2010;

Ribeiro; Yoshida, 2005;).

O procedimento para correo da isquemia ou de suas consequncias depende da

extenso da isquemia e da causa da obstruo. De maneira geral, procura-se restabelecer fluxo

ao intestino ainda vivel, geralmente com revascularizao da artria mesentrica e resseco

das pores necrticas (Baptista-Silva; Souza-Moraes, 2006). Entretanto, sabe-se que o tempo

entre a confirmao diagnstica e a introduo de mtodos teraputicos para restabelecer o

fluxo sanguneo importante para reduzir as taxas de mortalidade (Debus et al., 2011). Nas

isquemias no oclusivas, a causa deve ser identificada e removida o mais brevemente possvel

(Renner et al., 2010). Porm sabe-se que a restaurao do suprimento sanguneo, ou

16

reperfuso, pode ter efeitos deletrios que se somam aos da isquemia, com consequncias

danosas para o tecido (Ribeiro; Yoshida, 2005; Scannel et al., 1995).

Na isquemia, ocorre acmulo de hipoxantina e xantina oxidase (XO) (Grace, 1994).

Isso porque durante a fase isqumica, a diminuio do aporte de oxignio leva ao acmulo de

clcio no citosol, que, por sua vez, promove a quebra de uma ponte peptdica da xantina

desidrogenase (XD), levando formao da enzima XO (Ribeiro; Yoshida, 2005). A XO,

diferentemente da XD, necessita de oxignio para realizar a converso da hipoxantina em

xantina (Grace, 1994). Com a reintroduo de oxignio por meio da reperfuso, a hipoxantina

oxidada a xantina e esta, metabolizada a cido rico, gerando como subproduto o nion

superxido. Este transforma-se em perxido de hidrognio espontaneamente ou pela ao da

enzima superxido dismutase (SOD), e o perxido de hidrognio, por sua vez, transformado

em gua pela ao da catalase e da glutationa peroxidase (Ribeiro; Yoshida, 2005). Como a

hipoxantina ficou acumulada durante a isquemia, a produo de radicais livres na reperfuso

acaba sobrepujando a capacidade de neutralizao pelos antioxidantes endgenos, de modo

que os radicais livres passam a exercer livremente as suas aes deletrias (Grace, 1994;

Horton; Walker, 1993). Desse modo, a reperfuso agrava as alteraes celulares ocasionadas

pela isquemia, j que os radicais livres acumulados lesam as membranas celulares, atraindo

neutrfilos e estimulando a liberao de mediadores inflamatrios (Ribeiro; Yoshida, 2005;

Scannel et al., 1995).

Alm das alteraes e leses locais, acredita-se que, na vigncia da reperfuso,

produtos txicos possam ter acesso circulao e promovam importantes alteraes no estado

funcional do organismo (Deitch et al., 2001; Paterno; Longo, 2008; Ribeiro; Yoshida, 2005)

mesmo em stios distantes de onde foi desencadeada a isquemia. H relatos de que a

Sndrome de Disfuno Mltipla de rgos (MODS) ocorra em decorrncia de alteraes no

sistema gastrintestinal ocasionadas por processos de isquemia e reperfuso (Carrico et al.,

1986; Clark e Coopersmith, 2007; Deicth et al., 2001; Hassoun et al, 2001; Magnotti; Deicth,

2005).

A MODS caracterizada pela deteriorao aguda da funo de dois ou mais rgos

(Mongardon et al., 2009). a maior causa de morbidade e mortalidade em pacientes

criticamente doentes, com taxas de mortalidade superiores a 40% (Deitch, 2010). No contexto

do trauma, a principal causa de morte em pessoas com idade inferior a 40 anos e uma das

principais causas de morte em pacientes vtimas de trauma (Deitch, 2010).

17

Considerando-se a gravidade das consequncias da isquemia intestinal e de seu

tratamento, a compreenso dos mecanismos pelos quais o choque hemorrgico no trauma e

condies pr-inflamatrias, como queimaduras e pancreatite, levam sndrome da angstia

respiratria aguda (no-infecciosa) e MODS de grande relevncia para o tratamento clnico

(Deitch, 2010). Vrios estudos buscam elucidar qual o papel do intestino na origem e na

propagao de doenas crticas, como a sndrome do desconforto respiratrio agudo (SDRA)

e a MODS (Carrico et al., 1986; Clark; Coopersmith, 2007; Deitch, 2010; Deicth et al., 2001;

Hassoun et al., 2001; Magnotti; Deicth, 2005). Em 1986, Carrico e colaboradores

consideraram a hiptese de que a deficincia da funo de barreira do intestino permitia a

translocao de bactrias intestinais para a circulao portal e sistmica, o que acarretaria a

propagao da MODS em situaes em que as defesas do hospedeiro se apresentavam

comprometidas (Carrico et al., 1986).

Outros trabalhos demonstram que a hipoperfuso intestinal induzida pelo choque,

seguida da reperfuso intestinal, origina mediadores inflamatrios que podem causar a

Sndrome da Resposta Inflamatria Sistmica e, assim, contribuir para a instalao da MODS

(Hassoun et al, 2001; Moore et al., 1994). Experimentalmente, evidenciou-se que um perodo

de isquemia seguido por um perodo de reperfuso intestinal causa inflamao pulmonar,

ativao intestinal da fosfolipase A2 e recrutamento intestinal de neutrfilos, o que confirma

que o intestino gerador de mediadores inflamatrios que modulam a injria pulmonar aguda

(Moore et al., 1994).

Em acordo com esses achados, diversos estudos sugerem que a disfuno pulmonar, a

inflamao sistmica e a MODS causadas pelo trauma gastrointestinal decorrem dos efeitos

dos mediadores inflamatrios provindos do intestino e drenados a partir do sistema linftico

mesentrico (Deitch, 2001; Deitch, 2010; Magnotti et al., 1998; Magnotti et al., 2005). Um

importante fundamento para essa hiptese o conceito de que o leito vascular pulmonar seja o

primeiro leito exposto linfa mesentrica, uma vez que esta atinge a circulao sistmica por

meio do ducto torcico e desemboca na veia subclvia, atingindo o pulmo (Magnotti et al.,

2005). Assim, sugere-se que a ligao do ducto linftico mesentrico previna a apoptose

pulmonar, o sequestro de neutrfilos e o aumento da permeabilidade pulmonar provocados

pela isquemia e pela reperfuso intestinal (iIR) em situaes de queimaduras e choque

hemorrgico (Deitch, 2001; Deitch, 2010; Magnotti et al., 1998; Magnotti et al., 2005).

Adicionalmente, Cavriani e colaboradores (2005) tambm demonstraram que o

sistema linftico mesentrico exerce funo primordial nas disfunes intestinal e pulmonar

18

ocasionadas pela iIR (Cavriani et al., 2005). Esse estudo revela que as leses causadas pela

iIR, tanto no pulmo quanto no intestino, so parcialmente dependentes do fator de necrose

tumoral (TNF-), uma citocina pr-inflamatria gerada no tecido intestinal lesado pela iIR e

transportada pelo sistema linftico (Cavriani et al., 2005). Alm do TNF-, sabe-se que o

ducto linftico uma importante via de transporte para outras citocinas inflamatrias, como

IL-1 e IL-10, ambas geradas pelo tecido intestinal durante a iIR (Cavriani et al., 2005;

Deitch, 2001), que poderiam contribuir para a inflamao sistmica e a MODS. Sugere-se que

a IL-1 gerada durante a reperfuso pode estar envolvida na hiporreatividade do msculo liso

bronquial ocasionada pela iIR (Coelho et al., 2007). Alm disso, esse estudo demonstra que a

IL-1 gerada na reperfuso alcana o pulmo atravs da linfa, estimulando a gerao de xido

ntrico (NO) que desencadeia a hiporreatividade bronquial em animais submetidos a iIR

quando comparados aos animais falso-operados (Coelho et al., 2007).

O NO desempenha um papel crucial na regulao homeosttica dos sistemas

cardiovascular, neuronal e imune (Moncada et al., 1991a e b). Nos vasos, o NO protege contra

trombose e aterosclerose, induz relaxamento dos vasos sanguneos, previne agregao

plaquetria, inibe a proliferao de clulas do msculo liso vascular e diminui a expresso de

genes pr-inflamatrios (Forstermann et al., 1993; Forstermann; Munzel, 2006). Nas clulas

endoteliais, sensores e receptores de membrana respondem a estmulos fisiolgicos com

aumento da concentrao intracelular de clcio e/ ou fosforilao dos stios alvo para a

ativao da enzima sintase de xido ntrico (NOS). A posterior formao do complexo clcio-

calmodulina ativa a NOS, responsvel pela clivagem do aminocido L-arginina em L-citrulina

e NO (Fleming, 2010), aumentando portanto a sntese de NO. A NOS dividida em dois

grandes grupos de isoformas: a constitutiva (cNOS), dependente da elevao dos nveis

intracelulares de clcio, e a induzvel (iNOS), independente das elevaes de clcio, mas

dependente da ativao de citocinas ou estmulos patolgicos como LPS (Lipopolissacardeo)

(Forstermann; Sessa, 2012). A cNOS apresenta a isoforma endotelial (eNOS) e a isoforma

neuronal (nNOS) (Davel et al., 2011; Forstermann, 2010; Forstermann; Sessa, 2012).

Uma vez liberado, o NO difunde-se rapidamente da clula geradora para a clula alvo,

onde interage com o grupamento heme da guanilato ciclase solvel (GCs) estimulando sua

atividade cataltica, o que leva formao de guanosina monofosfato cclico (GMPc). O

GMPc, por sua vez, diminui os nveis intracelulares de clcio pela recaptao para o retculo

sarcoplasmtico e pela extruso de clcio para o meio extracelular por meio das Ca+2

-

ATPases (Bian et al., 2008; Napoli; Ignarro, 2009). H diminuio dos nveis de clcio

19

tambm por meio da abertura de canais para K+ e da ativao da Na

+, K

+-ATPase, com

consequente hiperpolarizao de membrana e posterior fechamento dos canais para clcio

dependentes de voltagem (Bian et al., 2008; Napoli; Ignarro, 2009). Alm do mais, h

reduo da sensibilidade das protenas contrteis ao clcio, devido a ativao da protena

quinase G (PKG) (Bian et al., 2008; Napoli; Ignarro, 2009).

Vrios estudos identificam o NO como um potencial mediador na iIR que liga as

alteraes locais s alteraes sistmicas (Cavriani et al., 2004; Coelho et al., 2007; Ward et

al., 2000; Yasmin et al., 1997). O tratamento de ratos com inibidores da NOS minutos antes

da iIR aponta evidncias da modulao nitrrgica. Demonstrou-se que a administrao do L-

NAME, inibidor no seletivo da NOS, causa aumento da magnitude das alteraes induzidas

por iIR, como aumento do TNF- plasmtico, sequestro de neutrfilos no pulmo e aumento

da permeabilidade microvascular pulmonar, podendo causar a morte dos animais. Por outro

lado, o inibidor seletivo da iNOS inibiu o aumento da permeabilidade microvascular

pulmonar, o que sugere que tanto a isoforma constitutva quanto a induzvel da NOS

modulam as alteraes inflamatrias encontradas na iIR (Cavriani et al., 2004). Assim, a

modulao exercida pelas isoformas da NOS ocorre diferentemente, de acordo com a

isoforma.

Ward e colaboradores (2000) propuseram que durante o perodo de reperfuso

intestinal h declnio da atividade da cNOS, como resultado, observa-se o surgimento das

manifestaes clnicas da iIR, como leso da mucosa e aumento da permeabilidade capilar.

Prope-se que no incio da isquemia ocorra a combinao de NO derivado do endotlio com o

nion superxido (proveniente de neutrfilos ativados), formando peroxinitrito, poderoso

oxidante (Ward et al., 2000; Yasmin et al., 1997) e que, durante a reperfuso, ocorra queda da

produo de NO proveniente da cNOS, o que acarreta na resposta inflamatria sistmica

(Ward et al., 2000). Portanto, a perda do balano entre as atividades das sintases de NO

(cNOS e iNOS) pode ser sugerida como uma das causas dos prejuzos ocasionados pela iIR

(Yasmin et al., 1997; Ward et al., 2000; Cavriani et. al, 2004).

Senthil e colaboradores (2007) demonstraram que a linfa retirada de animais

submetidos a trauma e choque hemorrgico e administrada intravenosamente em ratos

controles capaz de gerar leso pulmonar. Essa leso est associada ao aumento plasmtico

das concentraes de nitrato/nitrito, bem como ao aumento da expresso proteica da iNOS em

pulmo, fgado e intestino. Concluiu-se que a linfa de animais submetidos a trauma e choque

20

hemorrgico suficiente para induzir leso pulmonar aguda, por intermdio de uma via

dependente de iNOS.

Adicionalmente, foi demonstrado que a iIR induz alteraes no funcionamento de

diferentes leitos vasculares e que tais alteraes vasculares podem estar relacionadas a

mudanas na modulao nitrrgica (Chen et al., 2006; Koksoy et al., 2000; Savoye et al.,

2005).

Koksoy e colaboradores (2000) demonstraram que existe uma menor participao do

xido ntrico sobre a presso de perfuso mdia no leito vascular pulmonar de ratos

submetidos iIR, quando comparados aos falso-operados, o que indica menor modulao

nitrrgica basal nas artrias pulmonares aps a iIR (Koksoy et al., 2000).

Em artria mesentrica superior, Chen e colaboradores (2006) sugeriram que a iIR

reduz a resposta mxima fenilefrina (agonista seletivo 1-adrenrgico) em ratos, e que a

queda na reatividade vascular estava associada ao aumento da expresso gnica e proteica da

eNOS e da iNOS no intestino delgado. Adicionalmente, Savoye e colaboradores (2005), em

estudos com artria mesentrica de ratos, demonstraram que a ativao da iNOS parece estar

envolvida na hiporreatividade ocasionada pelo choque hemorrgico seguido de reposio

volmica. Os autores afirmam que a hiporreatividade prevenida pelo uso de

mercatopropionil, um sequestrador no-seletivo de radicais livres, defendendo a hiptese de

que NO produzido por meio da ativao da iNOS pode interagir com nion superxido para

formar peroxinitrito, com alto poder oxidativo (Savoye et al., 2005).

Como ressaltado anteriormente, a iIR conhecida por ser uma doena que causa

prejuzo no funcionamento normal do intestino e tambm por causar leses em rgos

distantes, especialmente o pulmo, um dos primeiros rgos atingidos. Reconhece-se o efeito

do sistema linftico mesentrico na propagao de mediadores inflamatrios gerados na iIR,

bem como no surgimento de resposta inflamatria sistmica. Pelos dados encontrados na

literatura, conclui-se que o NO parece estar envolvido na propagao da resposta sistmica e

nas leses causadas no intestino e no pulmo. As alteraes vasculares na iIR parecem ser

dependentes do leito vascular estudado e da metodologia empregada para o estudo; entretanto,

devido ao nmero reduzido de trabalhos e a falta de padronizao quanto ao tempo de

isquemia e reperfuso, no possvel afirmar o quanto os ajustes vasculares podem contribuir

para a gravidade da iIR.

21

Por outro lado, tm-se buscado possveis tratamentos que diminuam as implicaes

locais e sistmicas associadas s altas taxas de mortalidade na iIR e alguns estudos buscam

definir os efeitos das estatinas na isquemia e na reperfuso de rgos.

As estatinas so inibidores seletivos e competitivos da 3-hidroxi-3 metilglutaril-

coenzima A (HMG-CoA) redutase, e so largamente usadas no tratamento e no controle da

hipercolesterolemia, das dislipidemias e da doena arterial coronariana (Maron et al., 2000).

Alm disso, propriedades pleiotrpicas das estatinas, como a anti-inflamatria e a

antioxidante, esto sendo reveladas. H relatos de que as estatinas so capazes de melhorar a

funo endotelial, aumentar a biodisponibilidade de xido ntrico, apresentar aes

imunomodulatrias, estabilizar placas aterosclerticas, participar no remodelamento vascular,

reduzir a apoptose e modular a funo plaquetria, entre outros efeitos (Alvarez De

Sotomayor et al., 2000; Briones et al., 2009; Gelosa et al., 2007).

As aes pleiotrpicas das estatinas tm sido exploradas tambm em pacientes

expostos reperfuso cardaca por procedimentos percutneos ou cirrgicos (Biccard et al.,

2005; Paraskevas et al., 2007; Paraskevas et al., 2008). A terapia com estatina no pr-

operatrio de cirurgia de revascularizao do miocrdio melhora a perfuso miocrdica da

rea enxertada no ps-operatrio, bem como reduz a liberao de citocinas (IL-6 e IL-8) e a

adeso de neutrfilos no endotlio venoso, sendo o NO o possvel mediador para esses

mecanismos (Paraskevas et al., 2007). Alm disso, o tratamento pr-operatrio com estatina

tambm parece estar associado com menores taxas de mortalidade ps-cirurgia cardaca

(Paraskevas et al., 2007). Com esses dados, pode-se inferir que as estatinas podem ser

benficas para amenizar os prejuzos causados pela isquemia e pela reperfuso de diferentes

rgos.

Alm dos estudos com humanos, em modelos animais de isquemia e reperfuso de

rgos, as estatinas tambm apresentam resultados favorveis. Em corao de ratos Wistar, o

tratamento com 15 mg/kg/dia de lovastatina, por 12 dias, diminuiu a rea de infarto por

ocluso da artria coronria esquerda (Kocsis et al., 2008). Assim como o tratamento crnico,

o tratamento agudo com estatinas tambm capaz de reduzir a rea de infarto, como

verificado pela reduo do tecido necrtico em ratos submetidos administrao de uma dose

intravenosa de sinvastatina (1 mg/kg) uma hora antes da ocluso da artria coronria

descendente anterior (25 minutos de isquemia seguida de 2 horas de reperfuso) (Wayman et

al., 2003). Adicionalmente, o pr-tratamento com 5 mg/kg de sinvastatina, intravenoso, em

coelhos submetidos a 30 minutos de ocluso da artria coronria esquerda seguidos de 48

22

horas de reperfuso diminuiu a rea infartada, efeito correlacionado produo aumentada de

NO (Bao et al., 2009), que foi apontado como o provvel mediador dos efeitos da

sinvastatina. Alm do mais, Lefer e colaboradores (1999) demonstraram que a melhora do

fluxo coronariano associado a administrao de 25 g de sinvastatina intraperitoneal, 18 horas

antes do processo de isquemia e reperfuso miocrdica em ratos, parece estar relacionada a

um aumento da produo de NO.

Corroborando os dados acima citados, outros estudos apontam que a reperfuso com

sinvastatina melhora a funo cardaca em corao isolado submetido ao processo de

isquemia e reperfuso (Szrszoi et al., 2008; Zheng et al., 2006). A funo ventricular

esquerda em animais submetidos a ocluso da artria coronria descendente anterior foi

melhorada pelo tratamento por quatro semanas com sinvastatina (40 mg/kg/por dia/por

gavagem), efeito este relacionado a uma queda dos nveis de citocinas inflamatrias e a um

aumento dos nveis citocinas anti-inflamatrias nos micitos cardacos (Zhang et al., 2005).

Tambm foi observada reduo na deposio de colgeno na rea remanescente ao infarto e,

portanto, sugeriu-se que a reduo da deposio de colgeno e a melhora a funo ventricular

se devem modulao da funo inflamatria ocasionada pelo tratamento com sinvastatina

(Zhang et al., 2005). Adicionalmente, foi sugerido que os efeitos benficos das estatinas no

infarto agudo do miocrdio so independentes da reduo dos nveis plasmticos de colesterol

(Lefer et al.,1999; Wayman et al., 2003; Zhang et al., 2005).

Em outros rgos submetidos ao processo de isquemia e reperfuso, as estatinas

tambm tm se mostrado eficazes na reduo das injrias. Em pulmo de ratos, o tratamento

com 0,5 mg/kg de sinvastatina, administrado por via oral por 5 dias antes do experimento,

preveniu o aumento da permeabilidade vascular pulmonar e o sequestro de neutrfilos

causados pelo processo de isquemia e reperfuso, tanto no tecido pulmonar quanto no lavado

broncoalveolar (Naidu et al., 2003). Alm disso, verificou-se que os efeitos benficos da

sinvastatina sobre a permeabilidade vascular foram inibidos com o uso de L-NAME e que a

reduo da expresso proteica da eNOS nos pulmes foi prevenida pelo tratamento com

sinvastatina (Naidu et al., 2003). Exemplificando, ainda, os efeitos benficos da sinvastatina

na iIR, demonstrou-se que o pr-tratamento com sinvastatina (10 mg/kg/dia) durante 3 dias,

com administrao da ltima dose uma hora antes da iIR, reduziu a gravidade da leso aguda

pulmonar induzida pela iIR em ratos; tendo sido registradas melhoras na presso parcial de

oxignio no sangue arterial (PaO2) e na saturao de oxignio e diminuio da infiltrao de

neutrfilos no pulmo (Pirat et al., 2006).

23

No fgado de ratos, o processo de isquemia e reperfuso aumentou os nveis da alanina

e da asparagina aminotransferase (ALT, AST, respectivamente), indicadores de dano heptico

(Dibazar et al., 2008; Lai et al., 2008). Entretanto, tanto o tratamento por via oral com

10mg/kg/dia de sinvastatina, administrada durante 3 dias antes da isquemia e da reperfuso

heptica, como o pr-tratamento com administrao intraperitoneal de 5 mg/kg de

sinvastatina, 24 horas antes da isquemia e reperfuso heptica, preveniram o dano heptico

(Dibazar et al., 2008; Lai et al., 2008).

Em rins de ratos, o pr-tratamento com uma nica dose de sinvastatina (1 mg/kg/i.v.)

melhorou a disfuno renal causada por 45 minutos de isquemia e 4 horas de reperfuso,

reduzindo a frao de excreo de sdio e os nveis plasmticos de ureia e creatinina,

aumentados em decorrncia da isquemia e reperfuso (Todorovic et al., 2008).

Similarmente ao que ocorre em pulmo, fgado e rim, no intestino de ratos foi

demonstrado que o pr-tratamento com sinvastatina (10 mg/kg/dia), administrada oralmente

durante quatro dias antes da iIR, foi eficaz em reduzir os danos. Esse efeito foi associado

diminuio do nvel srico do TNF- e do nvel tecidual de malondialdedo, produto final da

peroxidao de lipdios utilizado na avaliao do estresse oxidativo, e elevao dos nveis de

glutationa peroxidase e superxido dismutase intestinal, enzimas que fazem parte do sistema

de defesa antioxidante (Hajipour et al., 2009). Agudamente, as estatinas tambm demonstram

ser benficas na iIR intestinal: o tratamento com sinvastatina imediatamente antes da

isquemia e aps 24 horas previne a destruio da mucosa intestinal e diminui o ndice de

apoptose no jejuno e leo (Slijper et al., 2010). Adicionalmente, em ratos submetidos a

isquemia e reperfuso da artria mesentrica, o tratamento agudo com rouvastatina (10

mg/kg), uma hora antes da isquemia, bloqueia a gerao de mediadores inflamatrios, como

TNF- e citocina induzida por neutrfilo quimioatraente-1 (CINC-1), e preserva a expresso

proteica da eNOS, suprimindo, assim, a inflamao intestinal (Naito et al., 2006).

Recentemente, numerosos estudos tm demonstrado que as estatinas parecem estar

envolvidas tambm no restabelecimento ou na melhoria da funo endotelial nas doenas

cardiovasculares (Briones et al., 2009; Gelosa et al., 2007; Omori et al., 2002; Tawfik et al.,

2006). Um estudo demonstrou que uma nica dose de pravastatina (40 mg/dia) foi capaz de

melhorar a funo coronariana em pacientes portadores de disfuno arterial coronariana, sem

que houvesse reduo significativa nos nveis de colesterol (Wassmann et al., 2003).

A disfuno endotelial, presente em diversas doenas cardiovasculares, uma

condio patolgica caracterizada pelo desbalano entre a liberao de fatores relaxantes

24

derivados do endotlio (EDRFs) o xido ntrico, a prostaciclina e o fator hiperpolarizante

derivado do endotlio e de fatores contrteis derivados do endotlio (EDCFs) endotelina,

as prostaglandinas, a angiotensina II e as espcies reativas do oxignio (Davel et al., 2011).

Em humanos, Omori e colaboradores (2002) demonstraram que a administrao de

cerivastatina, em uma nica dose, capaz de aumentar a responsividade endotelial em

humanos saudveis, sugerindo um efeito direto nos vasos independentemente de diminuir os

lipdios. Adicionalmente, em culturas de clulas endoteliais, a incubao com cerivastatina

por 24 horas aumenta a biodisponibilidade de xido ntrico (Berkels et al., 2003).

Em ratos portadores de diabetes induzida por estreptozotocina, a disfuno endotelial

presente no leito mesentrico foi atenuada aps a exposio aguda com lovastatina (10 M,

por 20 minutos). Esse efeito foi mediado pelo xido ntrico, uma vez que foi bloqueado pela

administrao de inibidor no-seletivo da sintase de xido ntrico (Fatehi-Hassanabad et al.,

2006). Alm disso, a administrao aguda de estatinas ao banho de rgos produziu

relaxamento vascular em artrias de condutncia e de resistncia provenientes de ratos Wistar

e SHR, tanto por sua ao no msculo liso vascular como no endotlio (Alvarez De

Sotomayor et al., 2000; Bravo et al., 1998; Perez-Guerrero et al., 2000). Os estudos

demonstraram que o relaxamento dependente do endotlio induzido pela sinvastatina envolve

um aumento da biodisponibilidade de xido ntrico por mecanismo sensvel a superxido

dismutase e relacionado sntese de produtos vasodilatadores derivados da ciclooxigenase

(COX) (Alvarez De Sotomayor et al., 2000).

Ainda no que se refere aos efeitos da sinvastatina, Rossoni e colaboradores (2011)

demonstraram que sua administrao aguda (1 M, durante 2 horas) em artrias mesentricas

de resistncia de ratos diminui a vasoconstrio induzida por U46619, anlogo do

tromboxano A2. A sinvastatina, nessa condio, aumentou a sntese de NO, via aumento da

fosforilao da eNOS por meio da ativao da protena quinase ativada por AMP (AMPK).

Alm da ativao da AMPK, outros estudos demonstram que o tratamento agudo com estatina

em clulas endoteliais tambm capaz de ativar a fosforilao da eNOS por meio de protena

quinase A (PKA) e Akt (Harris et al., 2004; Sun et al., 2006).

Portanto, considerando a literatura, pode-se dizer que as estatinas agem no sistema

vascular, melhorando a disfuno endotelial nas doenas cardiovasculares, alm de terem

aes benficas em modelos de isquemia e reperfuso de rgos. Entretanto, pouco se sabe

sobre as alteraes vasculares na iIR, e no se conhece em que extenso os benefcios das

estatinas na iIR so devidos a ajustes vasculares.

25

Assim, visto que as alteraes vasculares podem contribuir para a gravidade da iIR,

condio com altas taxas de mortalidade, o presente estudo buscou elucidar as alteraes

vasculares presentes nessa patologia e avaliar os efeitos da administrao aguda de

sinvastatina nas alteraes vasculares presentes na iIR e, dessa forma esclarecer se os

benefcios da sinvastatina, descritos na iIR, so devidos a melhoras nos ajustes vasculares.

Portanto, a hiptese deste estudo de que existam alteraes vasculares na iIR e que estas

possam ser revertidas pela administrao aguda de sinvastatina, de forma a melhorar o

prognstico da doena.

26

2 OBJETIVOS

Tendo em vista a escassez de informaes sobre o papel da reatividade vascular nas

alteraes locais desencadeadas pela isquemia e reperfuso intestinal (iIR), bem como dos

mecanismos pelos quais a iIR induz modificaes patolgicas srias em rgos distantes do

stio da isquemia, especialmente o pulmo, este estudo teve por objetivo caracterizar a

reatividade vascular nos leitos mesentrico e pulmonar aps a iIR. Adicionalmente, tendo sido

considerados os efeitos benficos da sinvastatina em doenas cardiovasculares, este estudo

buscou avaliar o efeito da sinvastatina sobre os ajustes da reatividade vascular aps a iIR.

27

3 MATERIAIS E MTODOS

3.1 Animais experimentais

Foram utilizados ratos da linhagem Wistar (280-340 g), com aproximadamente dois

meses e meio de idade, provenientes do biotrio de criao Dra Lor Cury do Departamento de

Fisiologia e Biofsica do Instituto de Cincias Biomdicas da Universidade de So Paulo. Os

animais foram mantidos em gaiolas ventiladas sob condies controle de temperatura e ciclo

claro-escuro de 12 horas, tendo livre acesso gua e alimentao no biotrio de

experimentao animal do Departamento de Fisiologia e Biofsica, ICB/USP, at que

atingissem a idade necessria para realizao dos experimentos.

Os presentes protocolos foram aprovados pela Comisso de tica do Instituto de

Cincias Biomdicas da USP (Protocolo registrado sob n 018 fls. 83 do livro 02).

3.2 Obteno dos modelos experimentais

Em um primeiro momento, para caracterizao da reatividade vascular na isquemia, os

animais foram aleatoriamente divididos em dois grupos experimentais: animais submetidos ao

procedimento isquemia e reperfuso intestinal (IR) e animais falso operado (SHAM).

Para obteno dos modelos experimentais os animais foram anestesiados com uma

mistura contendo ketamina, xilazina e acetopromazina (64,9; 3,20 e 0,78 mg/kg,

respectivamente, i.p.). Aps a confirmao do plano anestsico, o abdmen foi submetido a

uma laparotomia na linha Alba e a artria mesentrica superior foi exposta e ocluda com o

auxlio de um clampe para microcirurgia. Depois de 45 minutos de ocluso (perodo de

isquemia), o clampe foi removido, a parede abdominal foi suturada e a perfuso intestinal foi

restabelecida por um perodo de 2 horas (perodo de reperfuso), conforme utilizado por

Cavriani e colaboradores (2004).

Cabe ressaltar que os animais SHAM foram submetidos aos mesmos procedimentos

experimentais, exceto pela ocluso da artria mesentrica superior.

3.2.1 Tratamento com sinvastatina

Em um sub-grupo de animais foi realizado gavagem, 1 hora antes da induo anestsica

para realizao do procedimento cirrgico de isquemia e reperfuso intestinal.

28

A sinvastatina foi administrada na dose de 20 mg/kg, via oral. A escolha dessa dose, foi

realizada baseada no trabalho de Zhang e colaboradores (2010), que analisam a

farmacocintica da sinvastatina (20 mg/kg, v.o.), em ratos, e observaram que a concentrao

plasmtica mxima da sinvastatina atingida com aproximadamente 48 minutos ps-

administrao.

O tratamento com sinvastatina foi realizado em um grupo de ratos aleatoriamente

escolhidos. Os animais foram separados em quatro grupos: os que eram submetidos ao

procedimento de isquemia e reperfuso (conforme descrito acima) e recebiam

carboxemetilcelulose (IR/ CT); os que eram submetidos IR e recebiam sinvastatina (IR/

SINV); os que foram submetidos aos mesmos procedimentos experimentais, exceto pela

ocluso da artria mesentrica superior e recebiam carboxemetilcelulose (SHAM/ CT); e um

SHAM que recebia a sinvastatina (SHAM/ SINV).

3.3 Estudo de reatividade vascular da artria mesentrica e pulmonar

Aps as duas horas de reperfuso, os ratos foram novamente anestesiados, como

descrito acima, mortos e exsanguinados. A artria mesentrica superior e o pulmo foram

cuidadosamente removidos e imersos em uma placa de Petri contendo soluo de Krebs-

Henseleit (composio (em mM): NaCl 118,4; KCl 4,7; NaHCO3 25; CaCl 2,5; glicose 11;

MgSO4 H2O 1,2; KH2PO4 2H2O 1,2 e EDTA 0,01); gaseificado com mistura carbognica

(95% de O2 e 5% de CO2), mantendo pH estvel de 7,4. Em seguida, as artrias mesentrica

superior e pulmonar foram dissecadas e limpas de tecido conectivo.

Para os experimentos de reatividade vascular, as artrias foram divididas em segmentos

de 2-3 mm de comprimento denominados anis vasculares. Em alguns anis, a camada

endotelial foi removida mecanicamente atravs do uso de fios metlicos.

Para obteno do registro de tenso isomtrica, cada anel vascular foi montado em um

sistema para rgos isolados. As cubas continham 5 mL de soluo de Krebs-Henseleit

aquecida a 37 C, continuamente gaseificada com mistura carbognica, mantendo o pH

estvel em 7,4. Dois fios metlicos foram passados atravs do lmen das artrias. Um fio

metlico foi fixado parede do banho e o outro conectado verticalmente a um transdutor de

tenso isomtrica (Letica TRI 210, Barcelona, Espanha). A tenso isomtrica foi registrada

por meio de um transdutor de fora, o qual estava conectado a um pr-amplificador e a um

sistema de aquisio de dados (Biopac Systems, Santa Barbara, California) e esse, a um

29

computador. Os anis foram submetidos a uma tenso de repouso de 0,5 g e essa tenso

reajustada a cada 15 minutos, durante os 45 minutos de estabilizao.

3.4 Protocolos experimentais

3.4.1 Avaliao da resposta vasoconstritora ao cloreto de potssio (KCl)

Aps 45 minutos de estabilizao, foi administrado KCl (75 mM) para comprovar a

viabilidade funcional de todas as artrias estudadas. Assim, os anis que contraram menos

que 0,5 g, foram descartados. Aps 30 minutos de estabilizao, novamente foi administrado

KCl (75 mM) e foram aguardados aproximadamente 30 minutos at que fosse atingido a

estabilizao da resposta contrtil. A resposta mxima induzida pelo KCl foi considerada

100% da resposta contrtil do anel vascular.

3.4.2 Avaliao do relaxamento

3.4.2.1 Avaliao do relaxamento dependente do endotlio

Depois da avaliao da resposta contrtil ao KCl 75 mM, os anis foram lavados com

soluo de Krebs-Heinseleit e, em seguida, uma estabilizao de 30 minutos foi aguardada.

Aps essa, os anis de artria pulmonar e mesentrica foram pr-contrados com uma

concentrao submxima de fenilefrina (aproximadamente 40-60 % da resposta mxima de

contrao ao KCl 75 mM). Aps a obteno de um plat de contrao fenilefrina, foram

realizadas curvas concentrao-resposta, cumulativas ao agonista muscarnico acetilcolina

(10-10

3x10-5

M), para avaliar o relaxamento dependente do endotlio.

3.4.2.2 Avaliao do relaxamento independente do endotlio

Em alguns anis, escolhidos aleatoriamente foi realizado teste da viabilidade endotelial.

Para realizao desse teste, os anis de artria pulmonar e mesentrica foram pr-contrados

com uma concentrao submxima de fenilefrina (aproximadamente 40-60 % da resposta

mxima de contrao ao KCl 75mM). Aps a obteno de um plat de contrao fenilefrina,

a resposta vasodilatadora acetilcolina (10-5

M) foi avaliada para confirmao da presena de

30

endotlio. Se confirmada a presena do endotlio a partir de uma resposta vasodilatadora

acetilcolina superior a 60%, os anis eram novamente lavados com soluo de Krebs-

Heinseleit e, em seguida, uma estabilizao de 30 minutos era aguardada. Em seguida, os

anis de artria pulmonar e mesentrica foram, novamente, pr-contrados com uma

concentrao submxima de fenilefrina (aproximadamente 40-60 % da resposta mxima de

contrao ao KCl 75 mM). Aps a obteno de um plat de contrao curva concentrao-

resposta ao nitroprussiato de sdio (10-10

-3x10-5

M), doador de xido ntrico, foi realizada

para avaliar o relaxamento independente do endotlio.

3.4.3 Avaliao da resposta contrtil

Aps 30 minutos da confirmao da viabilidade funcional do endotlio (conforme

descrito acima, item 3.4.2.2), alguns anis de artria pulmonar e mesentrica com endotlio

integro, foram separados para a realizao de curvas concentrao-resposta ao agonista

seletivo 1-adrenrgico fenilefrina (10-10

-3x10-5

M), de maneira cumulativa.

3.4.4 Efeito da retirada do endotlio sobre a resposta vasodilatadora acetilcolina e sobre a

resposta vasoconstritora fenilefrina

Com a finalidade de avaliar a habilidade do endotlio em modular a resposta

vasodilatadora acetilcolina e constritora fenilefrina, em alguns experimentos o endotlio

foi removido mecanicamente por meio do uso de fios metlicos. A ausncia do endotlio foi

confirmada a partir de uma resposta vasodilatadora acetilcolina (10-5

M) inferior a 20 % da

resposta fenilefrina, a partir dessa confirmao, foi construda as curvas concentrao

resposta cumulativas acetilcolina (10-10

3x10-5

M) ou fenilefrina (10-10

-3x10-5

M), tanto

em anis de artria pulmonar, quanto em anis de artria mesentrica.

3.4.5 Efeito do bloqueio da sntese de xido ntrico sobre a resposta vasodilatadora

acetilcolina e sobre a resposta vasoconstritora fenilefrina

Diante dos resultados obtidos com as curvas concentrao-resposta acetilcolina e

fenilefrina, com e sem endotlio, optou-se por realizar os protocolos seguintes somente nos

anis de artria pulmonar.

31

Assim, para avaliar a funo do xido ntrico na modulao da resposta vasodilatadora

acetilcolina (10-10

3x10-5

M) e constritora fenilefrina (10-10

-3x10-5

M), curva concentrao-

resposta a estes agonistas foram realizadas em anis pr-incubados durante 30 minutos com

Ng-Nitroarginina Metil ster (L-NAME 100 M), inibidor no seletivo da NOS.

Para avaliar a funo do xido ntrico sintetizado pela sintase de xido ntrico induzvel

(iNOS) na modulao da resposta vasodilatadora acetilcolina (10-10

3x10-5

M) e constritora

fenilefrina (10-10

-3x10-5

M), curva concentrao-resposta a estes agonistas foram realizadas

em anis pr-incubados durante 40 minutos com N-(3-Aminomethyl)benzylacetamidine

(1400W, 1 M) (Chiao et al., 2008).

3.5 Protocolos experimentais aps o tratamento com sinvastatina

Assim, a avaliao dos efeitos da sinvastatina foi realizada atravs da avaliao da

resposta vasoconstritora ao cloreto de potssio, KCl (75 mM), o qual foi administrado 45

minutos aps estabilizao para comprovar a viabilidade funcional de todos os anis de artria

pulmonar. Dessa forma, os anis que contraram menos que 0,5 g, foram descartados. Aps 30

minutos de estabilizao, novamente foi administrado KCl (75 mM) e foram aguardados

aproximadamente 30 minutos at que fosse atingido a estabilizao da resposta contrtil. A

resposta mxima induzida pelo KCl foi considerada 100% da resposta contrtil do anel

vascular.

Depois da avaliao da resposta contrtil ao KCl 75 mM, os anis foram lavados com

soluo de Krebs-Heinseleit e, em seguida, uma estabilizao de 30 minutos foi aguardada.

Aps essa, os anis de artria pulmonar foram pr-contrados com uma concentrao

submxima de fenilefrina (aproximadamente 40-60 % da resposta mxima de contrao ao

KCl 75 mM). Aps a obteno de um plat de contrao fenilefrina, foram realizadas curvas

concentrao-resposta, cumulativas ao agonista muscarnico acetilcolina (10-10

3x10-5

M),

para avaliar o relaxamento dependente do endotlio.

Em alguns anis, escolhidos aleatoriamente foi realizado teste da viabilidade endotelial.

Para realizao desse teste, os anis de artria pulmonar foram pr-contrados com uma

concentrao submxima de fenilefrina (aproximadamente 40-60 % da resposta mxima de

contrao ao KCl 75 mM). Aps a obteno de um plat de contrao fenilefrina, a resposta

vasodilatadora acetilcolina (10-5

M) foi avaliada para confirmao da presena de endotlio.

Se confirmada a presena do endotlio a partir de uma resposta vasodilatadora acetilcolina

32

superior a 60%, os anis eram novamente lavados com soluo de Krebs-Heinseleit e, em

seguida, uma estabilizao de 30 minutos era aguardada. Em seguida, os anis de artria

pulmonar foram, novamente, pr-contrados com uma concentrao submxima de fenilefrina

(aproximadamente 40-60 % da resposta mxima de contrao ao KCl 75 mM). Aps a

obteno de um plat de contrao curva concentrao-resposta ao nitroprussiato de sdio

(10-10

-3x10-5

M), doador de xido ntrico, foi realizada para avaliar o relaxamento

independente do endotlio.

A reposta contrtil foi avaliada em alguns anis, escolhidos aleatoriamente, aps 30

minutos da confirmao da viabilidade funcional do endotlio (conforme descrito acima),

anis de artria pulmonar com endotlio integro, foram separados para a realizao de curvas

concentrao-resposta ao agonista seletivo 1-adrenrgico fenilefrina (10-10

-3x10-5

M), de

maneira cumulativa.

3.6 Expresso dos dados e anlises estatsticas

Para cada curva concentrao-resposta foram calculados os valores de pD2 (-log. EC50)

e resposta mxima (Rmax) utilizando o GraphPad Prism Software (San Diego, CA, U.S.A).

A anlise estatstica dos resultados foi realizada por Teste-t ou anlise de varincia

(ANOVA), uma via ou duas vias, medidas repetidas ou completamente randomizadas, de

acordo com o desenho experimental de cada protocolo. Quando a ANOVA apresentou

significncia estatstica, o teste post-hoc de Bonferroni foi aplicado (GraphPad Prism

Software, San Diego, CA, E.U.A). Os resultados foram considerados estatisticamente

significantes para valores de p

33

Para o tratamento com sinvastatina, a medicao foi comprada na forma comercial, do

laboratrio Sandoz. A medicao foi macerada e suspensa em carboximetilcelulose.

34

4 RESULTADOS

Na primeira parte da sesso resultados (itens de 4.1 a 4.3) sero descritas as

caractersticas encontradas na reatividade vascular dos anis de artria mesentrica superior e

pulmonar, aps a isquemia e reperfuso intestinal.

4.1 Avaliao da resposta vasoconstritora ao cloreto de potssio (KCl)

A resposta contrtil induzida pelo cloreto de potssio (75mM) no diferiu entre os

grupos SHAM e IR nem nos anis de artria mesentrica superior nem de artria pulmonar

(Tabela 1).

Tabela 1 - Valores da contrao mxima ao cloreto de potssio (KCl) nos anis de artria

mesentrica superior (Mesentrica) e nos anis de artria pulmonar (Pulmonar) na

presena de endotlio preservado dos animais SHAM e IR.

O nmero de animais analisados em cada grupo experimental est entre parnteses. Os valores

esto expressos como mdia EPM. Anlise estatstica utilizada Teste-t.

Mesentrica

Pulmonar

SHAM IR SHAM IR

KCl 1,47 0,15 g (12) 1,42 0,12 g (14) 0,70 0,02 g (31) 0,70 0,03 g (36)

35

4.2 Respostas vasodilatadora dependente e independente do endotlio

Os valores do plat de pr-contrao fenilefrina antes das curvas concentrao-

resposta acetilcolina e ao nitroprussiato de sdio nos anis de artria mesentrica superior e

artria pulmonar com endotlio preservado, provenientes de animais dos grupos SHAM e IR,

esto representados na Tabela 2.

Tanto nos anis de artria mesentrica superior quanto nos de artria pulmonar dos

animais SHAM e IR no foram observadas diferenas significativas entre os grupos, na pr-

contrao fenilefrina antes da curva-concentrao resposta acetilcolina ou ao

nitroprussiato de sdio, (Tabela 2).

Tabela 2 - Valores da porcentagem de pr-contrao fenilefrina em relao contrao ao

cloreto de potssio antes das curvas concentrao-resposta acetilcolina (ACh) ou ao

nitroprussiato de sdio (NPS) nos anis de artria mesentrica superior (Mesentrica)

e de artria pulmonar (Pulmonar) com endotlio preservado dos animais SHAM e IR.

O nmero de animais analisados em cada grupo experimental est entre parnteses. Os valores

esto expressos como mdia EPM. Anlise estatstica utilizada ANOVA 1-via.

Mesentrica

Pulmonar

Pr-contrao Pr-contrao

NPS ACh NPS ACh

SHAM 55,1 3,32% (07) 40,4 4,70 % (05) 50,9 7,69% (05) 52,8 3,10 % (13)

IR 47,7 4,44% (08) 55,0 7,77 % (06)

54,3 9,12% (07) 52,0 3,32 % (18)

36

Na figura 1 est representada as curvas-concentrao resposta acetilcolina nos anis

de artria mesentrica superior e artria pulmonar dos animais dos grupos SHAM e IR. Em

ambas as artrias estudadas, de ambos os grupos a acetilcolina induziu relaxamento na

dependncia da concentrao utilizada (Figura 1A e B).

No foram observadas diferenas significativas entre as curvas concentrao-resposta

acetilcolina realizadas nas artrias mesentrica superior dos grupos SHAM e IR (Figura

1A). J as artrias pulmonares do grupo IR apresentaram uma reduo na resposta

vasodilatadora induzida pela acetilcolina quando comparada ao grupo SHAM (Figura 1B e

Tabela 3).

Figura 1 - Curva concentrao-resposta acetilcolina

A) Mesentrica B) Pulmonar

Curva concentrao-resposta acetilcolina (ACh) em anis com endotlio preservado de artria

mesentrica superior (A) e de artria pulmonar (B) de ratos submetidos a iIR e falso operados

(SHAM). O n representa o nmero de animais utilizados. Resultados foram expressos como

mdiaEPM. Anlise estatstica utilizada ANOVA 2 vias:* P

37

A remoo mecnica do endotlio nos anis de artrias mesentrica superior e pulmonar,

de ambos os grupos estudados, reduziu a resposta de relaxamento induzida pela acetilcolina

(Figura 2A e B). Alm disso, a remoo do endotlio nos anis de artria pulmonar aboliu a

diferena na resposta mxima acetilcolina observada entre os grupos SHAM e IR (Figura

2B e Tabela 3).

Figura 2 - Curva concentrao-resposta acetilcolina em anis com endotlio preservado (E+) e sem

endotlio (E-)

A) Mesentrica B) Pulmonar

Curva concentrao-resposta acetilcolina (ACh) em anis com endotlio preservado (E+) e sem

endotlio (E-) de artria mesentrica superior (A) e de artria pulmonar (B) de ratos submetidos a iIR e

falso operados (SHAM). O n representa o nmero de animais utilizados. Resultados foram expressos

como mdiaEPM. Anlise estatstica utilizada ANOVA 2 vias:* P

38

Tabela 3 - Valores de sensibilidade (pD2) e resposta mxima (Rmax) obtidos por meio de curvas

concentrao-reposta acetilcolina nos anis de artria mesentrica superior

(Mesentrica) e de artria pulmonar (Pulmonar) com endotlio preservado (E+) e sem

(E-) endotlio dos animais SHAM e IR.

SHAM IR

pD2 Rmax pD2 Rmax

Mesentrica

E+

7,41 0,10

98,0 2,2 % (05)

7,26 0,15

91,1 3,6 % (06)

E- - 15,9 3,0 % (05) # - 13,8 3,1 % (05)

#

Pulmonar

E+

7,11 0,12

88,1 1,4 % (13)

6,94 0,11

77,7 2,4 % (18)*

E- - 9,1 4,9 % (04) # - 2,2 6,7 % (04)

#

O nmero de animais analisados em cada grupo experimental est entre parnteses. Os valores

esto expressos como mdia EPM. Anlise estatstica utilizada ANOVA 1- via: * P

39

Similar ao observado no relaxamento acetilcolina, o nitroprussiato de sdio (NPS)

promoveu um relaxamento de modo dependente da concentrao utilizada, tanto nos anis de

artria mesentrica superior, quanto nos anis de artria pulmonar de ambos os grupos

estudados (Figura 3A e 3B). Em ambas as artrias estudadas, no foram observadas diferenas

significativas no relaxamento induzido pelo nitroprussiato de sdio entre os grupos SHAM e

IR (Artria pulmonar: SHAM: Rmax.: 95,7 2,26, pD2: 7,92 0,16 ; IR: Rmax.: 95,8 4,7,

pD2: 8,00 0,21 / Artria mesentrica: SHAM: Rmax.: 100,4 0,8, pD2: 7,93 0,09 ; IR:

Rmax.: 103,8 2,4, pD2: 8,21 0,07 ) (Figura 3).

Figura 3 - Curva concentrao-resposta ao nitroprussiato de sdio

Curva concentrao-resposta ao nitroprussiato de sdio (NPS) em anis de artria mesentrica

superior (A) e de artria pulmonar (B) de ratos submetidos a iIR e falso operados (SHAM). O

n representa o nmero de animais utilizados. Resultados foram expressos como mdiaEPM.

Anlise estatstica utilizada ANOVA 2 vias.

A) Mesentrica B) Pulmonar

-10 -9 -8 -7 -6 -5 -4

-100

-80

-60

-40

-20

0

IR (N=08)

SHAM (N=07)

NPS (Log M)

% R

ela

xam

en

to

-10 -9 -8 -7 -6 -5 -4

-100

-80

-60

-40

-20

0

SHAM (n=05)

IR (n=07)

NPS (Log M)

% R

ela

xam

en

to

40

4.3 Avaliao da resposta contrtil

Na figura 4 est representado a curva-concentrao resposta fenilefrina nos anis de

artria mesentrica superior e nos anis de artria pulmonar dos animais dos grupos SHAM e

IR. A fenilefrina aumentou o tnus na dependncia da concentrao utilizada tanto na artria

mesentrica superior quanto na artria pulmonar de ratos SHAM e com IR da artria

mesentrica (Figura 4A e B).

Nos anis de artria mesentrica superior no foram observadas diferenas significativas

na resposta de contrao mediada pela fenilefrina entre os grupos SHAM e IR (Figura 4A e

Tabela 4). Porm, nos anis de artria pulmonar provenientes de animais IR a resposta

contrtil fenilefrina foi de menor magnitude quando comparada aos anis de artria

pulmonar dos animais SHAM (Figura 4B e Tabela 4).

Em ambos os grupos, remoo do endotlio tanto dos anis de artria mesentrica superior

como os de artria pulmonar deslocou a curva concentrao resposta fenilefrina para a

esquerda (Figura 5). Esse deslocamento da curva concentrao resposta fenilefrina nos anis

de artria mesentrica superior proveniente dos animais SHAM e IR foi de magnitude similar,

no induzindo alteraes significativas entre os grupos (Figura 5A e Tabela 4). Por sua vez, a

remoo do endotlio aboliu a reduo da resposta contrtil fenilefrina observada nos anis

de artria pulmonar dos animais submetidos a iIR quando comparado aos SHAM (Figura 5B e

Tabela 5). Assim, a remoo do endotlio nos anis de artria pulmonar bloqueou a diferena

que existia entre os grupos.

41

Figura 4 - Curva concentrao-resposta fenilefrina

Curva concentrao-resposta fenilefrina (FE) em anis com endotlio de artria mesentrica

superior (A) e de anis de artria pulmonar (B) de ratos submetidos a iIR e falso operados

(SHAM). Os resultados representam a % de contrao em resposta ao KCl. O n representa o

nmero de animais utilizados. Resultados foram expressos como mdia EPM. Anlise

estatstica utilizada ANOVA 2 vias: * P

42

Figura 5 - Curva concentrao-resposta fenilefrina em anis com endotlio preservado (E+) e sem

endotlio (E-)

A) Mesentrica

B) Pulmonar

Curva concentrao-resposta fenilefrina (FE) em anis com endotlio preservado (E+) e sem

endotlio (E-) de artria mesentrica (A) e de artria pulmonar (B) de ratos submetidos a iIR e falso

operados (SHAM). Os resultados representam a % de contrao em resposta ao KCl. O n

representa o nmero de animais utilizados. Resultados foram expressos como mdia EPM.

Anlise estatstica utilizada ANOVA 2 vias: * P

43

Tabela 4 - Valores de sensibilidade (pD2) e resposta mxima (Rmax) obtidos por meio de curvas

concentrao-resposta fenilefrina (FE) nos anis de artrias mesentrica superior

e de artria pulmonar com (E+) e sem (E-) endotlio dos animais SHAM e IR.

SHAM

IR

pD2 Rmax pD2 Rmax

Mesentrica

E+

5,92 0,25

105,6 5,7 % (05)

5,65 0,39

104,2 4,4 % (05)

E- 6,52 0,18 146,9 7,4 % (05)# 6,40 0,14 150,8 10,8 % (04)

#

Pulmonar

E+

7,44 0,07

73,9 3,4 % (21)

7,22 0,05

55,8 3,3 % (22)*

E- 7,72 0,13 103,0 3,0 % (07)# 7,74 0,06

# 105,7 9,7 % (06)

#

O nmero de animais analisados em cada grupo experimental est entre parnteses. Os valores

esto expressos como mdia EPM. Anlise estatstica utilizada ANOVA 1-via: * P

44

4.4 Efeito da inibio da sntese de xido ntrico sobre a resposta vasodilatadora

acetilcolina

Como j referido anteriormente, a partir deste momento focou-se o estudo somente na

artria pulmonar, pois os resultados observados nas artrias pulmonares foram mais

expressivos que os observados nos anis de artria mesentrica superior. Alm disso,

conhecido que o pulmo o principal orgo de choque na iIR (Cavriani 2004; Koksoy et al.,

2001; Kuzu et al., 2002; Mitsuoka et al., 1999).

Para avaliar o papel do xido ntrico sobre a resposta de relaxamento em artrias

pulmonares dos ratos SHAM e IR, os anis de artrias com endotlio preservado foram

previamente incubados com L-NAME (100 M). Nas figuras 6A e B esto representadas as

curvas concentrao-resposta acetilcolina, na presena de L-NAME, nos anis de artria

pulmonar dos animais dos grupos SHAM e IR; respectivamente. Nos anis de artria

pulmonar de ambos os grupos experimentais, a incubao com L-NAME inibiu o relaxamento

mediado pela acetilcolina, alm de abolir a diferena observada entre os grupos estudados

(Figura 6A e B e Tabela 5).

Para avaliar a modulao da iNOS sobre a resposta acetilcolina, os anis de artria

pulmonar com endotlio preservado foram incubados com 1400W (1 M) durante 40

minutos. Nas figuras 6C e D esto representadas a curvas concentrao-resposta

acetilcolina, na presena de 1400W, nos anis de artria pulmonar dos animais dos grupos

SHAM e IR, respectivamente. A incubao com 1400W no alterou a resposta vasodilatadora

acetilcolina nos anis de artria pulmonar do grupo SHAM (Figura 6 C e Tabela 5). Porm,

nos anis de artria pulmonar do grupo IR a incubao com 1400W aumentou a resposta

mxima acetilcolina sem modificar a pD2 a esse agonista (Figura 6D e Tabela 5).

importante ressaltar que na presena de 1400W, no se observou diferena na resposta

vasodilatadora dependente do endotlio entre os anis de artria pulmonar provenientes dos

animais SHAM e IR (Tabela 5).

45

Figura 6 - Curva concentrao-resposta acetilcolina em anis de artria pulmonar pr-

incubados com L-NAME ou com 1400W

Curva concentrao-resposta acetilcolina (ACh) em anis de artria pulmonar de ratos

submetidos a iIR (IR, direita) e falsos operados (SHAM, esquerda). Curva realizada em anis

de artria pulmonar com endotlio preservado (E+), pr-incubados com inibidor da sintase de

xido ntrico L-NAME (LN, 100 M) (A e B) ou com inibidor da sintase de xido ntrico

induzvel (1400W, 1 M) (C e D). O n representa o nmero de animais utilizados. Resultados

foram expressos como mdiaEPM. Anlise estatstica utilizada ANOVA 2 vias: # P

46

Tabela 5 - Valores de sensibilidade (pD2) e resposta mxima (Rmax) obtidos por

meio de curvas concentrao-resposta acetilcolina (ACh) nos

anis de artria pulmonar com endotlio (E+), incubados com L-

NAME (LN, 100 M) ou com 1400W (1400W,1 M) dos animais

SHAM e IR.

SHAM IR

pD2 Rmax pD2 Rmax

E+

7,11 0,12 88,1 1,4 % (13) 6,94 0,11 77,7 2,4 % (18)*

LN - 1,9 2,2 % (09)# - 3,7 3,2 % (09)

#

1400W 7,26 0,08 82,0 2,30 % (05) 7,13 0,11 89,8 2,07 % (06)#

O nmero de animais analisados em cada grupo experimental est entre

parnteses. Os valores esto expressos como mdia EPM. Anlise estatstica

utilizada ANOVA 1-via: * P

47

4.5 Efeito da inibio da sntese de xido ntrico sobre a resposta vasoconstritora

fenilefrina

Para avaliar o papel do xido ntrico sobre a resposta de contrtil induzida pela fenilefrina

em artrias pulmonares dos ratos SHAM e IR, os anis de artrias com endotlio preservado

foram previamente incubados com L-NAME (100 M). Nas figuras 7A e B esto

representadas as curvas concentrao-resposta fenilefrina, na presena de L-NAME, nos

anis de artria pulmonar dos animais dos grupos SHAM e IR, respectivamente. A incubao

dos anis de artria pulmonar com L-NAME desviou a curva concentrao-resposta

fenilefrina para a esquerda (Figura 7A e B). No grupo SHAM, a pr-incubao com L-

NAME, aumentou somente a resposta mxima a fenilefrina, sem apresentar diferena

significativa na pD2 (Figura 7A e Tabela 6). Porm, no grupo IR a incubao com L-NAME

aumentou tanto a pD2 quanto a resposta mxima fenilefrina (Figura 7B e Tabela 6). Alm

disso, como observado na resposta de relaxamento acetilcolina, a incubao dos anis de

artria pulmonar com L-NAME aboliu a diferena na resposta contrtil fenilefrina entre os

grupos SHAM e IR (Figura 7A e B e Tabela 6).

Para avaliar a modulao da iNOS sobre a resposta contrtil fenilefrina, os anis de

artria pulmonar com endotlio intacto foram incubados com 1400W (1400W,1 M) durante

40 minutos. Nas figuras 7C e D esto representadas as curvas concentrao-resposta

fenilefrina, na presena de 1400W, nos anis de artria pulmonar dos animais dos grupos

SHAM e IR, respectivamente. A incubao com 1400W no alterou a resposta contrtil

fenilefrina nos anis de artria pulmonar do grupo SHAM (Figura 7C e Tabela 6). J nos anis

de artria pulmonar do grupo IR, a incubao com 1400W desviou a curva concentrao-

resposta fenilefrina para esquerda, aumentando somente a resposta mxima a esse agonista

contrtil (Figura 7D e Tabela 6). importante ressaltar que assim como na resposta

acetilcolina, na presena de 1400W no se observou diferena entre as artrias proveniente

dos animais SHAM e IR (Figura 7C e D e Tabela 6).

48

Figura 7 - Curva concentrao-resposta fenilefrina (FE) em anis de artria pulmonar de ratos SHAM e

IR pr-incubados com L-NAME ou com 1400W

SHAM

IR

A) B)

C) D)

Curva concentrao-resposta fenilefrina (FE) em anis de artria pulmonar de ratos submetidos

a iIR (IR, direita) e falsos operados (SHAM, esquerda). Curva realizada em anis de artria

pulmonar com endotlio (E+), pr-incubados com inibidor da sintase de xido ntrico L-NAME

(LN, 100 M) (A e B) ou com inibidor da sintase de xido ntrico induzvel (1400W, 1 M) (C e

D). O n representa o nmero de animais utilizados. Resultados foram expressos como

mdiaEPM. Anlise estatstica utilizada ANOVA 2 vias: # P

49

Tabela 6 - Valores de sensibilidade (pD2) e resposta mxima (Rmax) obtidos por

meio de curvas concentrao-resposta fenilefrina (FE) nos anis de

artria pulmonar com (E+), incubados com L-NAME (LN, 100 M)

ou incubados com 1400W (1400W,1 M) dos animais SHAM e IR.

SHAM IR

pD2 Rmax pD2 Rmax

E+ 7,44 0,07 73,9 3,41 % (21) 7,22 0,05 55,8 3,29 % (22)*

LN 7,73 0,09 103,5 2,8 % (11)# 7,67 0,12

# 109,5 3,89 % (09)

#

1400W 7,46 0,07 76,0 3,35 % (09) 7,47 0,05 71,5 4,96 % (09)#

O nmero de animais analisados em cada grupo experimental est entre parnteses.

Os valores esto expressos como mdia EPM. Anlise estatstica utilizada ANOVA

1-via: * P

50

4.6 Efeito do tratamento com sinvastatina sobre a reatividade vascular

Os valores da contrao mxima ao cloreto de potssio (75mM) dos anis de artria

pulmonar, provenientes de animais dos grupos SHAM/ CT, SHAM/ SINV, IR/ CT e IR/

SINV esto representados na tabela 7. Nos quatro grupos estudados no houve diferenas

significativas na resposta contrtil mxima induzida pelo cloreto de potssio, ou seja o

tratamento com sinvastatina no alterou a resposta contrtil induzida pelo cloreto de potssio

(Tabela 7).

Os valores de plat da pr-contrao fenilefrina antes das curvas concentrao-

resposta acetilcolina ou ao nitroprussiato de sdio, nos anis de artria pulmonar,

provenientes de animais dos grupos SHAM/ CT, SHAM/ SINV, IR/ CT e IR/ SINV esto

representados na tabela 8. Assim como a resposta ao KCl 75mM, no foram observadas

diferenas significativas nos quatro grupos estudados entre a pr-contrao fenilefrina antes

das curvas concentrao-resposta acetilcolina e nem ao nitroprussiato de sdio (Tabela).

Na figura 8 esto representados as curvas concentrao-resposta acetilcolina nos

anis de artria pulmonar dos animais dos grupos SHAM/ CT, SHAM/ SINV, IR/ CT e IR/

SINV. Em todos os grupos avaliados, a acetilcolina induziu relaxamento na dependncia da

concentrao utilizada. Como demonstrado anteriormente, a iIR reduziu o relaxamento

acetilcolina quando comparado ao grupo SHAM (Tabela 9). O tratamento com sinvastatina

no alterou resposta acetilcolina no grupo SHAM, sendo que no foram observadas

diferenas significativas entre as curvas concentrao-resposta acetilcolina realizadas na

artria pulmonar do grupo SHAM/ CT e SHAM/ SINV (Figura 8A e Tabela 9). J nas artrias

pulmonares do grupo IR a sinvastatina preveniu a reduo na resposta vasodilatadora induzida

pela acetilcolina (Figura 8B e Tabela 9). Sendo que a artria pulmonar do grupo IR/ SINV

teve uma maior resposta mxima induzida pela acetilcolina quando comparadas ao grupo

IR/ CT e igual aos grupos SHAM/ CT e SHAM/ SINV (Tabela 9).

Na figura 9 esto representadas as curvas concentrao-resposta ao nitroprussiato de

sdio nos anis de artria pulmonar dos animais dos grupos SHAM/ CT, SHAM/ SINV, IR/

CT e IR/ SINV. Similar ao observado no relaxamento acetilcolina, o nitroprussiato de sdio

(NPS) promoveu um relaxamento de modo dependente da concentrao utilizada em todos os

51

grupos estudados (Figura 9A e B). Porm, no foram observadas diferenas significativas no

relaxamento induzido pelo NPS entre os grupos avaliados (Figura 9A e B e Tabela 9).

Na figura 10 esto representadas as curvas concentrao-resposta fenilefrina nos anis

de artria pulmonar dos animais dos grupos SHAM/ CT, SHAM/ SINV, IR/ CT e IR/ SINV.

A fenilefrina aumentou o tnus arterial na dependncia da concentrao utilizada em todos os

grupos estudados (Figura 10A e B). Como demonstrado anteriormente, a iIR reduziu

resposta de contrao induzida pela fenilefrina nos anis de artria pulmonar quando

comparada cirurgia fictcia (SHAM) (Tabela 9). O tratamento com sinvastatina no alterou a

resposta contrtil induzida pela fenilefrina nos anis de artria pulmonar do grupo SHAM

(Figura 10). Porm, o mesmo aumentou a resposta contrtil induzida pela fenilefrina nos anis

de artria pulmonar do grupo IR (Figura 10B e Tabela 9). Aps o tratamento com sinvastatina

no observa-se mais a reduo da contrao induzida pela fenilefrina entre os grupos SHAM/

SINV e IR/ SINV (Tabela 9).

52

Tabela 7 - Valores da contrao mxima ao cloreto de potssio (KCl, 75mM) nos anis de

artria pulmonar dos animais SHAM e IR, controle (CT) e nos grupos SHAM e

IR, tratados com sinvastatina (SINV).

O nmero de animais analisados em cada grupo experimental est entre parnteses. Os valores

esto expressos como mdia EPM. Anlise estatstica utilizada ANOVA 1-via.

Tabela 8 - Valores da porcentagem de contrao fenilefrina em relao contrao ao cloreto de

potssio antes das curvas concentrao-resposta acetilcolina (ACh) ou ao nitroprussiato

de sdio (NPS) nos anis de artria pulmonar com endotlio dos animais SHAM e IR,

controle (CT) e nos grupos SHAM e IR, tratados com sinvastatina (SINV).

O nmero de animais analisados em cada grupo experimental est entre parnteses. Os valores esto

expressos como mdia EPM. Anlise estatstica utilizada ANOVA 1-via.

SHAM

IR

CT SINV CT SINV

KCl 0,76 0,05 g (09) 0,65 0,04 g (11) 0,63 0,02 g (07) 0,70 0,05 g (08)

Pr-contrao ACh NPS

CT SINV CT SINV

SHAM 47,3 3,09 % (07) 47,6 4,02 % (07) 56,7 3,17 % (05) 42,7 4,51 % (05)

IR 46,3 3,46 % (08) 44,5 2,74 % (09) 41,6 6,54 % (05) 44,3 4,20 % (07)

53

Figura 8 - Efeito da sinvastatina sobre a curva concentrao-resposta acetilcolina

Curva concentrao-resposta acetilcolina (ACh) em anis de artria pulmonar provenientes

de animais SHAM tratados com veculo (SHAM/ CT) ou com sinvastatina (SHAM/ SINV)

(A) e animais IR tratados com veculo (IR/ CT) ou com sinvastatina (IR/ SINV) (B). O

nmero de animais analisados em cada grupo experimental est entre parnteses. Os

resultados so expressos como mdia EPM. Anlise estatstica utilizada ANOVA 2-vias.

A) SHAM B) IR

-10 -9 -8 -7 -6 -5 -4

-100

-75

-50

-25

0

SHAM/ SINV (N=07)

SHAM/ CT (N=07)

ACh (Log M)

% R

ela

xam

en

to

-10 -9 -8 -7 -6 -5 -4

-100

-75

-50

-25

0

IR/ CT (N=08)

IR/ SINV (N=09)

ACh (Log M)

% R

ela

xam

en

to

54

Figura 9 - Efeito da sinvastatina sobre a curva concentrao-resposta ao nitroprussiato de sdio

A) SHAM B) IR

Curva concentrao-resposta ao nitroprussiato de sdio (NPS) em anis de artria pulmonar

provenientes de animais SHAM tratados com veculo (SHAM/ CT) ou com sinvastatina

(SHAM/ SINV) (A) e animais IR tratados com veculo (IR/ CT) ou com sinvastatina (IR/

SINV) (B). O nmero de animais analisados em cada grupo experimental est entre

parnteses. Os resultados so expressos como mdia EPM. Anlise estatstica utilizada

ANOVA 2-vias.

-10 -9 -8 -7 -6 -5 -4

-100

-75

-50

-25

0

SHAM/ CT (N=05)

SHAM/ SINV (N=05)

NPS (Log M)

% R

ela

xam

en

to

-10 -9 -8 -7 -6 -5 -4

-100

-75

-50

-25

0

IR/ SINV (N= 07)

IR/ CT (N=05)

NPS (Log M)

% R

ela

xam

en

to

55

Figura 10 - Efeito da sinvastatina sobre a curva concentrao-resposta fenilefrina

SHAM IR

Curva concentrao-resposta fenilefrina (FE) em anis de artria pulmonar provenientes de

animais SHAM tratados com veculo (SHAM/ CT) ou com sinvastatina (SHAM/ SINV) (A) e

animais IR tratados com veculo (IR/ CT) ou com sinvastatina (IR/ SINV) (B). O nmero de

animais analisados em cada grupo experimental est entre parnteses. Os resultados so

expressos como mdia EPM. Anlise estatstica utilizada ANOVA 2-vias: # P

56

Tabela 9- Valores de sensibilidade (pD2) e resposta mxima (Rmax) obtidos por meio de curvas concentrao-reposta acetilcolina (ACh), ao

nitroprussiato de sdio (NPS) e fenilefrina (FE) em anis de artria pulmonar dos animais SHAM, SHAM tratado com 20mg/kg de

sinvastatina (SHAM SINV), IR e IR tratado com 20mg/kg de sinvastatina (IR SINV)

O nmero de animais analisados em cada grupo experimental est entre parnteses. Os resultados so expressos como mdia EPM. ANOVA

1-via: *P

57

5 DISCUSSO

Apesar de continuamente e progressivamente a medicina apresentar melhora de

recursos diagnsticos e tratamentos inovadores, a isquemia intestinal ainda uma

doena com alta taxa de mortalidade. Alm disso, pode ter como consequncia a SDRA

e a MODS, sendo que a MODS a principal causa de morte em pacientes crticos.

Esses fatos justificam a importncia da busca pela compreenso dos mecanismos que

atuam na isquemia intestinal, bem como de sua teraputica eficaz. Como detalhado na

introduo, o sistema linftico uma das vias por meio das quais a iIR promove

alteraes em rgos-alvo, como o pulmo (Cavriani et al., 2005; Deitch, 2010; Deitch,

2001; Magnotti et al., 1998; Magnotti et al., 2005). Porm, o conhecimento das

alteraes do sistema vascular e de sua contribuio para o comprometimento de rgos

e desfechos indesejveis da iIR permanece insuficiente.

No presente estudo, a primeira resposta obtida foi a constatao de que os

ajustes de reatividade vascular observados na iIR ocorrem na dependncia do leito

vascular estudado. Surpreendentemente, na artria mesentrica superior a iIR no

alterou a reatividade vascular dependente e independente do endotlio nem a agentes

vasodilatadores, nem ao agonista seletivo 1-adrenrgico, fenilefrina. J na artria

pulmonar, a iIR causou disfuno endotelial e hiporreatividade fenilefrina. O xido

ntrico produzido por meio da ativao da iNOS parece ter papel crucial nos ajustes na

artria pulmonar, os quais esto portanto associados com alteraes na modulao

nitrrgica. Adicionalmente, confirmando a hiptese da presente dissertao, o pr-

tratamento agudo com sinvastatina foi capaz de prevenir as alteraes de reatividade

vascular provocadas pela iIR.

Sabe-se que o endotlio vascular constitui a monocamada celular interna dos

vasos sangun