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Rogério Valdez Um cara tentando levar a vida de uma forma que ela seja mais agradável. Um cara que pensa que a vida deveria ser uma festa contínua, pois assim ele foi criado – o pai já pensava dessa forma. Um cara socialmente um pouco tímido, apesar de ser artista. Um artista, diga-se de passa- gem, com uma agenda de horários apertados. A conver- sa com Geraldo Roca aconte- ceu em sua casa, em Campo Grande, em uma noite de sá- bado, pelo horário quase che- gando no domingo, antes que ele saísse para mais um com- promisso: um encontro entre artistas do Estado, onde se apresentaria. Apaixonado pelo folk, Geraldo Roca traz o ritmo para suas composições mis- turando com elementos do rock. Começou sua carreira por volta dos 13 anos no Rio de Janeiro, cidade onde nas- ceu e viveu durante boa par- te da vida. Na época tocava violão e guitarra em uma banda chamada The Yellow Bird, que fazia cover de ban- das como Beatles e Rolling Stones. Mais tarde seu gru- po se tornaria a banda Kaos, com “canções mais pesa- das”. Para exemplificar, Roca cita o nome de uma música do antigo repertório, intitulada Mate a Família e Vá ao Cinema. Nesta fase ti- nha em torno de 17 anos de idade. Repetiu o primeiro ano colegial e veio para Cam- po Grande morar com os tios e estudar. Seu primeiro disco foi um compacto feito através da gravadora Ban- deirantes Discos, já fruto de uma temporada em São Pau- lo na década de 1970. Seu trabalho mais co- nhecido é Trem do Panta- nal, produzida em parceria com o amigo Paulo Simões, a quem Geraldo se refere como Paulinho. “Fizemos a música exatamente durante uma viagem no trem do pan- tanal e ela ficou pronta em menos de 30 minutos”, diz. O título original da música é Todos os Trilhos da Ter- ra, que fala essencialmente sobre um homem que foge da ditadura sendo persegui- do por estar politicamente do lado errado, esta seria a significação dos trilhos. Foi também ao lado do Paulinho que Roca viveu o melhor dia de sua vida. “Es- távamos em Cuzco, no Peru, na Plaça del Armas, quando o Paulinho pegou o violão e começou a tocar Mr. Tam- bourine Man, umas pessoas que estavam passando por ali deixavam umas moedas num chapéu que estava no chão. Só estávamos tocando mas as pessoas davam dinheiro, foi quando uma mulher ameri- cana que também estava ali com um carrinho de bebê vi- rou o carrinho para nós e a criança tinha lindos e gran- des olhos azuis, olhando a gente tocar... naquele instan- te, para mim a vida realmen- te fez sentido”, conta o artis- ta, referindo-se a uma viajem feita em meados de 1977. Sobre amizade Roca diz que “ninguém tem muitos Completo - Além de compositor , Roca interpreta canções com voz marcante Mochileira deite comigo essa noite E conte aquela velha história De como as noites são claras em Machu Pitchu E os dias dourados na Califórnia Moça eu não vou precisar Ler na sua mão pra saber Que você não vai voltar Pra vida maluca das pessoas Do mundo Das formigas tentando Se esconder da chuva Pedro saiu numa barca pro Nepal Vera estava em Amsterdã Porque não tentar algo mais divertido Que casar com executivos E acabar achando excitante A reunião semanal da confraria Dos amantes das delícias da boa Velha tecnocracia Dance mochileira que eu toco a guitarra Moça eu sei que não é legal Ficar sozinha quando o velho medo vem E essa noite em Cuzco é tão fria Me passe a garrafa de vinho Sim eu posso ver Que os tempos tem sido maus com você Mas os Deuses eles sabem Que valeu a pena segurar essa barra Moça o céu é seu amigo Enquanto durar essa farra E você depois é mesmo Do tipo de cigarra Que canta na chuva Dance mochileira que eu toco a guitarra amigos. Eu tenho grandes e bons amigos”. Seu assessor e amigo, Patrick Azevedo decla- ra não existir uma relação so- mente profissional, para ele Roca é um bom amigo e um cara genial. Em família, Geraldo Roca é um pai superprotetor, o que na visão de familiares é uma surpresa, uma vez que sempre foi o “p*loca” da li- nhagem com uma vida de músico, cabelo comprido e calças remendadas. Seu fi- lho tem hoje 18 anos e está morando nos Estados Uni- dos. Ele é fruto do segundo casamento de Geraldo que tem três ex-esposas. “No meu primeiro casamento eu só tinha 18 anos e ficamos 14 anos juntos. Meu filho veio no segundo relaciona- mento e foi planejado, veio em uma época que eu dese- java mesmo constituir uma família”, completa. Ativo - Aos 17 anos Roca chegou a Campo Grande e participa ativamente da cena regional Mr. Tambourine Man Folk-rock de Roca pulsa em MS há quatro décadas O cara Foto: www.overmundo.com.br Foto: www.overmundo.com.br Jornal Em Foco - Campo Grande - MS Fevereiro de 2009 - Ano VIII - Edição 116

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Rogério Valdez

Um cara tentando levar avida de uma forma que elaseja mais agradável. Um caraque pensa que a vida deveriaser uma festa contínua, poisassim ele foi criado – o pai jápensava dessa forma. Umcara socialmente um poucotímido, apesar de ser artista.Um artista, diga-se de passa-gem, com uma agenda dehorários apertados. A conver-sa com Geraldo Roca aconte-ceu em sua casa, em CampoGrande, em uma noite de sá-bado, pelo horário quase che-gando no domingo, antes queele saísse para mais um com-promisso: um encontro entreartistas do Estado, onde seapresentaria.

Apaixonado pelo folk,Geraldo Roca traz o ritmopara suas composições mis-turando com elementos dorock. Começou sua carreirapor volta dos 13 anos no Riode Janeiro, cidade onde nas-ceu e viveu durante boa par-te da vida. Na época tocavaviolão e guitarra em umabanda chamada The YellowBird, que fazia cover de ban-das como Beatles e RollingStones. Mais tarde seu gru-po se tornaria a banda Kaos,com “canções mais pesa-das”. Para exemplificar,Roca cita o nome de umamúsica do antigo repertório,intitulada Mate a Família eVá ao Cinema. Nesta fase ti-nha em torno de 17 anos deidade. Repetiu o primeiroano colegial e veio para Cam-po Grande morar com ostios e estudar. Seu primeirodisco foi um compacto feitoatravés da gravadora Ban-deirantes Discos, já fruto deuma temporada em São Pau-lo na década de 1970.

Seu trabalho mais co-nhecido é Trem do Panta-nal, produzida em parceriacom o amigo Paulo Simões,a quem Geraldo se referecomo Paulinho. “Fizemos amúsica exatamente duranteuma viagem no trem do pan-tanal e ela ficou pronta emmenos de 30 minutos”, diz.O título original da músicaé Todos os Trilhos da Ter-ra, que fala essencialmentesobre um homem que fogeda ditadura sendo persegui-do por estar politicamente

do lado errado, esta seria asignificação dos trilhos.

Foi também ao lado doPaulinho que Roca viveu omelhor dia de sua vida. “Es-távamos em Cuzco, no Peru,na Plaça del Armas, quandoo Paulinho pegou o violão ecomeçou a tocar Mr. Tam-bourine Man, umas pessoasque estavam passando por alideixavam umas moedas numchapéu que estava no chão.Só estávamos tocando mas aspessoas davam dinheiro, foiquando uma mulher ameri-cana que também estava alicom um carrinho de bebê vi-rou o carrinho para nós e acriança tinha lindos e gran-des olhos azuis, olhando agente tocar... naquele instan-te, para mim a vida realmen-te fez sentido”, conta o artis-ta, referindo-se a uma viajemfeita em meados de 1977.

Sobre amizade Roca dizque “ninguém tem muitos

C o m p l e t o - Além de compositor , Roca interpreta canções com voz marcante

Mochileira deite comigo essa noiteE conte aquela velha história

De como as noites são claras em Machu PitchuE os dias dourados na Califórnia

Moça eu não vou precisarLer na sua mão pra saberQue você não vai voltar

Pra vida maluca das pessoasDo mundo

Das formigas tentandoSe esconder da chuva

Pedro saiu numa barca pro NepalVera estava em Amsterdã

Porque não tentar algo mais divertidoQue casar com executivos

E acabar achando excitanteA reunião semanal da confrariaDos amantes das delícias da boa

Velha tecnocracia

Dance mochileira que eu toco a guitarra

Moça eu sei que não é legalFicar sozinha quando o velho medo vem

E essa noite em Cuzco é tão friaMe passe a garrafa de vinho

Sim eu posso verQue os tempos tem sido maus com você

Mas os Deuses eles sabemQue valeu a pena segurar essa barra

Moça o céu é seu amigoEnquanto durar essa farra

E você depois é mesmoDo tipo de cigarra

Que canta na chuva

Dance mochileira que eu toco a guitarra

amigos. Eu tenho grandes ebons amigos”. Seu assessor eamigo, Patrick Azevedo decla-ra não existir uma relação so-mente profissional, para eleRoca é um bom amigo e umcara genial.

Em família, Geraldo Rocaé um pai superprotetor, oque na visão de familiares éuma surpresa, uma vez quesempre foi o “p*loca” da li-nhagem com uma vida demúsico, cabelo comprido ecalças remendadas. Seu fi-lho tem hoje 18 anos e estámorando nos Estados Uni-dos. Ele é fruto do segundocasamento de Geraldo quetem três ex-esposas. “Nomeu primeiro casamento eusó tinha 18 anos e ficamos14 anos juntos. Meu filhoveio no segundo relaciona-mento e foi planejado, veioem uma época que eu dese-java mesmo constituir umafamília”, completa.

A t i v o - Aos 17 anos Roca chegou a Campo Grande e participa ativamente da cena regional

Mr.TambourineMan

Folk-rock de Roca pulsa em MS há quatro décadas

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Foto: www.overmundo.com.br

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Jornal Em Foco - Campo Grande - MSFevereiro de 2009 - Ano VIII - Edição 116

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Juliana Gonçalves

Antônio Portoou Toninho Porto,como também é co-nhecido, nasceu em29 de janeiro de1966, aqui mesmo.Mas é um campo-grandense nômade,viagens é o que nãofaltam no currículodeste instrumentis-ta. Ele tem umaenorme bagagemcultural conquista-da durante suasidas e vindas porpaíses como Itália,Áustria, Alemanha,Estados Unidos,África e Ásia Me-nor.

Descendente deuma família de nor-destinos, músicosnão profissionais,mas que levavam amúsica muito pró-xima ao dia-a-dia,tem um irmão eduas irmãs que tam-bém foram influen-ciados pelos pais,mas só ele seguiuprofissionalmente acarreira musical.

Morou nos in-ternatos católicosdo interior de SãoPaulo até os 16anos. E não demo-rou muito até que apaixão pela músicadominasse o san-gue que corre pelassuas veias. A facili-dade para manuse-ar e tirar um lindosom, do que querque fosse, fez comque ele virasse um

dos mais requisitados instru-mentistas de Mato Grosso doSul.

Nos anos 80, ele saiu deSão Paulo para tocar com ar-tistas como Renato Teixeira.Em 1988 resolveu fazer o queconsidera o ponta pé inicialpara a vida de nômade, e o quefez despertar a curiosidadepara outras culturas e influên-cias, indo morar na Áustria,

L a ç o s -Da família nordestina, Porto recebeu a semente da música que floresceu no sucesso instrumental

onde ficou por 10 anos.Enquanto passou dois

anos aprendendo o alemão,tocou em bandas de jazz, dereggae e teve contato commúsicos da África, que aca-baram o influenciando defi-nitivamente, até nas roupasdescoloridas e de tons ale-gres que veste, o bom humor,cercado de sorrisos e jeitoirreverente ao se apresentar

também são características deuma cara humilde e com mui-to pra contar.

Na década de 90, voltou amorar em São Paulo, quandochegou a acompanhar PenaBranca e Xavantinho, boaslembranças como recorda.Com a morte de Xavantinhoem 1999, retornou em 2000para Campo Grande, nestetempo ainda chegou a tentar

morar no Rio de Janeiro, masacabou não dando certo.

Toninho é um cara demuitas histórias doidas, masaté que engraçadas. Segundoele, uma vez que foi tocar, emSão Paulo, na festa da Sabesp,onde havia convidados ilus-tres como o Fernando Hen-rique Cardoso e outros. Lem-

bra que estava bem bêbado. Eclaro à vontade de fazer xixiapareceu. “O banheiro estavalonge, e não ia dar pra che-gar. Não tive dúvida. Vireipara trás do palco e mijei numvasinho. Foi muito engraça-do contar isso depois nin-guém acreditava”, relembraentre risos.

O amor que move a Terra moveAs esperanças que nos removemPor gerações e temposProcurando por soluçõesE a luz que envolve o sol dissolveA todo gelo que ainda envolveOs corações sedentosRenegando suas paixões

Vamos vivendo deixe os carinhosTrilharem certo o nosso destinoE a luz nascendo em nosso caminhoA cada vez no amanhecer

Eu me regenero só porque queroA paz na terraNos dois hemisfériosA cada estação que chega eu só queroA paz na TerraPorque mistérios

nannanananananananana...

Nosso nômade do instrumento

O campo-grandensse Antônio Porto carrega em seu container uma mistura musical de suas várias viagens

O viajante

N a c i o n a l - Apesar do vínculo com a terra de Mato Grosso do Sul, Porto rodou o mundo e tocou com grandes artistas nacionais, como Pena Branca e Xavantinho e Renato Teixeira

Foto: www.overmundo.com.br

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Cláudia Basso

Paulo Jorge Correa SimõesFilho, um carioca criado nacapital sul mato-grossense,cantor e compositor revoluci-onário da música regional,mais conhecido como PauloSimões, Paulinho, para osamigos. Nascido em fevereirode 1953 o aquariano veio paraCampo Grande com poucosmeses de vida e só retornavaao Rio de Janeiro para visitaros outros familiares que fica-ram por lá, foi quando come-çou a despertar seu fascíniopor trens. “Eu associava o trema duas coisas boas, férias e irpara o Rio, achava tudo mara-vilhoso”.

Paulo não consegue falardele mesmo sem falar da mú-sica, ela esteve presente emtodos os passos de sua vida edevido à oportunidade deacompanhar o movimento ar-tístico em vários cantos doBrasil, teve uma infânciamarcada pela miscigenaçãocultural. “Minha mãe era filhade nordestinos, meu pai decariocas então eu acompanha-va os dois mundos e ouviaainda as músicas regionais nasfestas em fazendas e as inter-nacionais através do rádio”.Ele conta ainda que suas ir-mãs mais velhas faziam aulasde piano, imprescindível naépoca e pouco depois foramaprender violão foi quando oensinaram dedilhar algumasmúsicas de fim de ano, masele como sempre querendomais, resolveu aprender ou-tras músicas e já entre seussete e treze anos tirou a pri-meira letra do violão. “Chama-va Gatinha Manhosa, doErasmo Carlos”, relembra or-gulhoso.

O menino prodígio tambémgostava de jogar bola. “Eu ia àescola pra jogar, estudava sóo essencial para minha mãenão se preocupar”, relembradando gargalhadas. Mas amúsica era mesmo sua paixão,ainda na adolescência montouum grupo recrutando nomescomo Geraldo Espíndola, Ge-raldo Rocca e cujo nome eraOs Bizarros que recebeu mui-ta influência do Rock após suaida para os Estados Unidos ecomeçaram então a causar im-pacto por onde passavam,misturando ritmos e renovan-

do o estilo regional,impulsionando as-sim a banda.

Anos mais tardeo botafoguense en-trou na PUC do Riode Janeiro em Comu-nicação Social. “Euaté gostava um pou-co de Jornalismo,minha mãe sonhavaque eu fosse um bomjornalista, mas eu re-lutei, estudava nopiloto automático epensava em músicao dia todo”, ri Si-mões ao relembrar eressalta: “Eu sabiaque ia ser artista mes-mo”.

Ao longo de to-dos esses anos Pau-lo colecionou mui-tos amigos destes,inúmeros se torna-ram parceiros.“Considero o Pau-linho um irmão, oconheço desde cri-ança. Ele é inteli-gente, dedicado, omais atuante do TriPé”, diz Jerry Espín-dola que confirmaainda a irreverênciade Paulo Simõescontando a garga-lhadas o dia em queele atropelou suaprópria viola.

Paulo sempreteve certeza de suavocação, gosta mui-to de ser reconheci-do na rua, apesarde Campo Grandenão ser seu maiorpalco. “Eu vou paraonde me abrem ca-minhos, Rio, SãoPaulo, Estados Uni-dos. Sei que minhamúsica não vendemuito, mas me dá asensação impagávelde ser livre, de fa-zer o que quero”,concluí ele com bri-lho no olhar.

“Para mim ele éum desbravador,inventor do que euchamaria de Bossado Pantanal”, contaRodrigo Teixeira,amigo há mais dedez anos e admira-dor de seu trabalho.

Enquanto esse velho trem

Atravessa o Pantanal

As estrelas do Cruzeiro

Fazem um sinal

De que esse é o melhor caminho

Pra quem é como eu

Mais um fugitivo da guerra

Enquanto esse velho trem

Atravessa o Pantanal

O povo lá em casa espera

S a b e d o r i a - Paulo Simões cursou Comunicação Social na Puc do Rio de Janeiro, até tinha jeito para o jornalismo, mas a alma de artista foi mais forte que a veia informativa, a poesia venceu o real

Que eu mande um postal

Dizendo que eu estou muito bem

E vivo

Rumo a Santa Cruz de La Sierra

Enquanto esse velho trem

Atravessa o Pantanal

Só meu coração está

Batendo desigual

Ele agora sabe que o medo

Viaja também

Sobre todos os trilhos da Terra

Rumo a Santa Cruz de La Sierra

Sobre todos os trilhos da Terra

M i s t u r a - As influências culturais nordestinas e cariocas ajudaram a compor o repertório poético do artista em Mato Grosso do Sul

C o m p a n h i a - Em sua coleção de amigos, estão muitos parceiros musicais

Foto: www.paulosimoes.com.br

Foto: www.paulosimoes.com.br

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Maquinista

Paulo Simões

Ouviente vira passageiro de viagem poética

doTremdas

coisasboas

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Sarah Isernhagen

Quando criança gostavade fazendas, bois e do somda viola. E para juntar as pai-xões foi preciso sair de Cam-po Grande, onde nasceu, eparar no Largo do Machado,no Rio de Janeiro, quandotopou com dois violeiros mi-neiros tocando no meio dapraça. Tinha vinte e poucosanos e decidiu, nesse mo-mento, largar o curso de Di-reito e voltar para casa, paratocar viola. “Aí vi osmineirinhos na praça e pen-sei: vou pro Mato Grosso.Viola e Rio de Janeiro nãocombinam”. Suas composi-ções falando de fronteiras,águas, canoas, boiadas, pe-ões, varandas, galopes e pás-saros, assim como suas obrasinstrumentais, fizeram dele,desde a década de 80, ummúsico singular.

Apesar de participar denovelas como ator, sua voca-ção é mesmo a de compor,cantar e tocar viola. Isso co-meçou cedo. Os amigos dopai, em Campo Grande, gos-

tavam de bossa nova. Almirestudava violão, mas ouviaviola no rádio, naqueles pro-gramas de madrugada, horade caipira acordar para pegarna enxada, ‘hora de cuspir’,como brinca o povo da roça.

“Esse som sempre me fas-cinou. É um sentimento, umatara e eu nunca soube porque. É a minha sina. No MatoGrosso não tem quasevioleiro, Dona Helena Meire-lles pra mim foi uma surpre-sa. Conheci alguns poucos,influenciados pelos mineiros.Lá não tem tradição de viola,só de violão, sanfona e harpaparaguaia, música de frontei-ra”.

“ Para o Almir a viola e boié combinação tão perfeitaquanto goiabada e queijo”,contou o seu velho amigo Os-car Mello que trabalhou comoapicultor em sua FazendaMurundu, no Pantanal duran-te 5 anos. Seo Mello tambémfalou que “o mato” é onde elese sente a vontade, no meiodo curral, montando cavalos,ouvindo som de berrante.“Campo Grande naquela épo-

ca não era desenvolvida comohoje, e as fazendas de gadoainda rodeavam a cidade”,lembra o violeiro. Almir iasempre à fazenda de seus tiose insistia, em vão, para que opai comprasse uma, naqueletempo de fartura de terras.‘Deus me livre. Quando vocêcrescer você arruma a sua eeu vou lá passear’, contouSeo pai Fuad Sater se lem-brando daquela época, quegostava de cavalos, mas so-mente nas raias do Jóquei.

Conseguir a fazenda seriaa segunda etapa de sua vida.Na primeira estava o seu en-contro com a viola.

O que mais gosta é estarrodeado pela esposa Ana, pe-los filhos Yan Bento e Gabriel.No meio do mato, é o seu lu-gar e ninguém melhor queAlmir para traduzir em poe-sia os encantos pantaneiros.Mês de Maio, composta nasbarrancas do Rio Negro, falada terra onde ele ergueu suaquerida Murundu, um abri-go de violeiro rústico e aco-lhedor. “Para mim, bastariamdois paus e uma rede.”

Nossa viagem não éligeiraNinguém tem pressa dechegarA nossa estrada éboiadeiraNão interessa onde vaidarOnde a ComitivaEsperançaChega já começa afestançaAtravés do Rio Negro,Nhecolândia e PaiaguásVai descendo o PiquiriO São Lourenço e oParaguai

Tá de passagem, abre aporteiraConforme for, prapernoitar

Se é gente boa,hospitaleiraA Comitiva vai tocarModa ligeira que é umadoideiraAssanha o povo e fazdançarOu moda lenta que faz

sonharQuando a ComitivaEsperançaChega já começa a festança

Através do Rio NegroNhecolândia e Paiaguás

Vai descendo o PiquiriO São Lourenço e o ParaguaiÊ tempo bão que tava por láNem vontade de regressarSó voltamos vou confessar

É que as água chegaram emjaneiro

Deslocamos um barco ligeiro

Fomos pra Corumbá...

Foto: Cibelle Olarte

C u r i o s i d a d e -O campo-grandense Sater decidiu pela viola em uma praça no RJ

R a r i d a d e - Sater tem fascínio pelo som da viola e diz que em MS esse som é raro

Fe s t a n ç a - É com o toque dos dedos na viola que Almir Sater expressa toda a poesia de quem vive no Pantanal e aprecia as belezas e singularidades deste lugar especial do Planeta Terra

Pantaneiro

O talento com a viola fez de Almir Sater um dos sul-mato-grossenses mais conhecidos em todo o Brasil

...quando o violeiro toca...Foto: Cibelle Olarte

Foto: Cibelle Olarte

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Foto: Helton Verão

Victor Barone

“Um cara que gosta decantar... O resto acontece...ou não...”. É assim que sedefine um dos ícones da ve-lha guarda da música popu-lar sul-mato-grosesense, ocantor, compositor e instru-mentista João Fígar, 48.

Dono de uma extensa ba-gagem musical, Fígar cantadesde os nove anos de ida-de, quando ganhou o prêmiode melhor intérprete no fes-tival “Roda da Canção Infan- To p - Com carreira iniciada aos 9 anos, Fígar impressiona como compositor e intérprete

til” , realizado no TeatroGlauce Rocha, em 1960. Aos15, integrou o grupo Therra,ao lado de Carlos Colman,Roberto Espíndola eOrlando Brito.

Proveniente de um celei-ro cultural efervescente, par-ticipou do grupo Tetê e oLírio Selvagem, do qual des-pontaram, entre outros,Almir Sater, Tetê e AlziraEspíndola. Seu primeiro re-gistro fonográfico ocorreu em1982, no LP “Prata da Casa”,uma coletânea das principais

expressões musicais do Es-tado, lançado em 1982.

Mais maduro, aos 22anos, içou velas rumo à Eu-ropa, onde participou deuma série de apresentaçõescom o grupo Azamba. NaFrança, os shows levaramFígar a um salão de festas daTorre Eiffel e a teatros pelacidade luz. Em seguida apre-sentou-se em Saint Tropez (aconvite da atriz BrigiteBardot), na Suíça, Inglater-ra e na Itália (a convite dojogador Zico).

A música também foi umveículo para que o artistaexercesse um papel impor-tante nos primórdios do mo-vimento ecológico. Foi em1997, com o projeto “Panta-nal - Alerta Brasil”, um ma-nifesto pela preservação doPantanal que mereceu umespecial na TV Globo (SomBrasil Especial) e deu vida aum disco homônimo produ-zido pela gravadora ReservaNacional. Ao lado de gentecomo Ney Matogrosso, AlmirSater e Tetê Espíndola, Fígarcolaborou com o início deuma construção de consciên-cia coletiva a respeito da im-portância do Pantanal para oBrasil e o mundo.

L o n g a E s t r a d aO primeiro disco solo,

“João Fígar”, foi lançado pelagravadora 3M, em 1988. Osucesso foi imediato e o tra-balho foi indicado para o prê-mio Sharp (cantor revelaçãopop/rock), ao lado de EdMota e Fábio Fonseca.

A partir daí a qualidadedo trabalho ficou evidente,em especial sua capacidadede trabalhar em parcerias.Este dom culminou com odisco “Rondon & Fígar”, lan-çado pela gravadora Eldo-rado, em 1991.

O jornal O Estado de SãoPaulo assim recebeu o lança-mento: “Música brasileira da

boa, daquela que dá prazerde ouvir, lembra como é? Écomo Guilherme Rondon eJoão Fígar se apresentamneste álbum. A música com-posta por Rondon, semprecom parcerias interessantes,encontra na voz límpida deFígar a interpretação ideal”,O disco recebeu três indica-ções para o Prêmio Sharp,tendo a canção “Paiaguás”ganhado o de Melhor Músi-ca Regional.

João Fígar ainda partici-pou da coletânea de músicaregional “Mato Grosso doSom” e de eventos importan-tes como o Encontro Cultu-ral do Mercosul, Projeto

Pixinguinha (ao ladode Miucha e CristinaBuarque), além delevar sua arte a todoo Brasil em shows efestivais.

Em 2002 lançouo CD “Águas do Pan-tanal” e em 2003emprestou seu talen-to ao Festival de In-verno de Bonito ,apresentando-se naabertura do Festival,precedendo o showde Zélia Duncan.Seu mais recente re-gistro musical estáno CD GerAções(2006).

Kleber Gutierrez

Tudo teve início com umviolão. Dessa forma, a cantorae compositora, Karina Mar-ques Nogueira teve seu talen-to despertado para a área mu-sical. A partir das aulas emuma igreja, o gosto pelo novofoi crescendo até se tornaruma profissão que trouxe jun-to consigo transformações.Por de lado o curso de Direitopara se dedicar a apresenta-ções na noite campo-gran-dense foi só o primeiro pas-so. Com o apoio da família etendo a determinação de se-guir adiante Karina tornou osonho realidade e traça seucaminho de sucesso em cadaprojeto.

A irmã Renata Marquesdestaca um ponto interessan-te nesta história toda e contaque quem queria realmenteaprender a tocar violão era ela.

Karina Marques

nasceu com o

dom da músicaPorém, quem se deu melhorfoi a Karina. “Nós começamosa fazer a aula de violão na igre-ja e com um mês eu não con-seguia sair da primeira músi-ca e ela já estava tocando vári-as músicas. Dom Deus dá evocê não consegue fazer umacoisa que não seja da sua von-tade. Na nossa família não ti-nha nenhum músico e come-çou com ela mesma, nasceucom ela.”

No momento em que deci-diu pela carreira artística, Mar-ques cursava o segundo anode Direito. Seus pais estavamseparados e, em especial parao pai advogado, essa troca nãofoi lá muito interessante aprincípio. “Ela me deixoumeio chocado quando largouum curso de Direito para ir to-car nas noites. Mas, isso já erauma paixão antiga que eu des-conhecia. Então, tudo bem”,comenta José Nogueira que

também afirma possuir muitoorgulho da filha.

Como se sabe não é fácilentrar e se manter em um mer-cado tão instável como o damúsica. Ainda mais quando setem uma vida cheia de obriga-ções e afazeres. Para os quepensam que Karina é uma“cigarrinha”, igual aquela dahistória se engana. Formada emJornalismo pela UniversidadeCatólica Dom Bosco (UCDB) ecursando Psicologia na mesmauniversidade, a cantora se di-vide entre estudar pela manhã,participar de projetos no perí-odo da tarde e cantar em barespopulares de Campo Grandeno período da noite. “É bemcorrido mesmo, jornada tri-pla”, afirma Karina sorrindo.

De acordo com colegas daPsicologia, Karina é uma pes-soa bem animada e faz ques-tão de conversar com todomundo. Quando há possibi-lidade, ela também se utilizada música para complementaras apresentações de trabalhos.Marques também é vocalista,desde 2001, do grupo AvesPantaneiras, composto poracadêmicos de diversos cursosda UCDB.

Suas apresentações sãobem ecléticas indo da BossaNova ao Pop Rock. O motivo

é simples. Não restringir aatuação no mercado, mas seadequar ao contexto e públi-co a que se dirige. Paralelo aisso estão seus trabalhos au-torais. A cantora já gravou

D e t e r m i n a d a - A cantora e compositora abandonou o Curso de Direito para tocar em barzinhos de Campo Grande

M u l t i - Formada em jornalismo, agora Karina cursa psicologia

um CD, fruto do trabalho detrês anos na estrada fazendoshows. Agora ela pretendegravar outro trabalho e paraisso já possui um repertóriocom cerca de sessenta músi-

cas. Segundo Karina,a “parte artística estápronta, mas ainda fal-ta financiamento paraser concretizado o pro-jeto.”

Vem, que eu só te chamoPorque quero o seu bemPois, nessa vidaO que importa é ser felizAinda nos resta algum motivo pra sonhar

Ei, como fingir que isso tudo já passouSe, na verdade, tudo apenas começouE nada prende mais que o teu carinho

Vem, me estende a mãoMe transmite a certezaDe que eu não estou só, não estou sozinha

Vem, vamos tentarDescobrir aonde essa loucura vai nos levarEu com você, não importa o lugar

Eu quero te dar tudo que eu possa oferecerNenhum amor tem a menor razão de serNunca se escolhe um sentimento

Vem, me estende a mão...

Ele já cantou para Bardot e foi premiado com um Sharp

Fígar vale ouropra nossa casa

João Fígar

Vida diga minha vida digaporque é tudo assim?Estanca logo essa feridaleve-a pra longe de mimAmanheceu...

Como as piraputangas emtodo rio a baterQuando me lembro de tilogo começa a correrMeu coração...

Alguns dias em Coxim ferroo peixe dói em mimSó me dão solidãoSó me dão só lhe dãosolidão

Foto: www.overmundo.com.br

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Foto: Magna Melo

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Tatiana Gimenes

Conhecido comoum dos mais premia-dos artistas da músi-ca regional, Guilher-me Rondon é cantor,compositor e intér-prete de suas própri-as canções. Nasceuem 1952, em São Pau-lo, onde é chamadoconstantemente para

fazer gravações. Sua formaçãomusical foi toda feita no mes-mo local nos anos 70 no augeda Bossa Nova, do Clube daEsquina e dos Beatles. Hojeele diz que sua música é umamistura disso tudo mais a mú-sica que ouvia no Pantanal nainfância, “muito chamamé,polcas e guarânias”, declara.

“Paiaguás” e “Isso e Aqui-lo” são duas de suas composi-ções que considera mais impor-

tantes para a carreira. A pri-meira, em parceria com Pau-lo Simões, ganhou o Prê-mio Sharp 92, e a segunda,composta junto a IsoFischer, já foi gravada porNana Caymmi e CésarCamargo Mariano. Criou ogrupo Chalana de Prata, em1996, com CelitoEspíndola, Paulo Simões eDino Rocha, onde buscamum resgate da verdadeira

música pantaneira. Atual-mente possui três CD’s solo,o mais recente se chama“Três”.

O artista cultiva verdadei-ras amizades no ramo. JoséEduardo Camargo, músico eparceiro é um de seus mui-tos amigos e conta que já ad-mirava o trabalho de Guilher-me antes mesmo de conhecê-lo. “Foi uma grande honrapoder trabalhar com ele, co-

nhecer seu método de com-posição e criação. O que maisme encanta é a capacidadeque tem de elaborar melodi-as que têm uma forte ligaçãocom o seu meio, a sua terrae, ao mesmo tempo, não fi-cam presas a um formato,soam sempre universais”, dizCamargo. Ele conta que a pri-meira composição deles jun-tos, “Hora Contada”, ficoumarcada por abrir o disco“Três”, e também pelos co-mentários que recebe, sempreelogiosos. “Ela tem um apeloimediato onde quer que sejatocada, de uma simples rodade violão a um show do Gui-lherme para 40 mil pessoas”,concluiu.

“Compor com o Rondontem sido uma alegria”, reve-la seu também parceiro deprofissão, Alexandre Lemos.Juntos possuem uma trajetó-ria relativamente semelhantedentro da música brasileira.“O fato de sermos de regiõestão diferentes e distantes, eucarioca e ele pantaneiro, nosaproxima mais do que se po-dia supor e a mistura de nos-sas influências tem resulta-do canções e mais cançõescom traços tão brasileirosquanto universais”, desta-cou.

Lemos conta que possu-em muitas canções juntos erevela que todas são impor-

tante de alguma forma. Elecita “Todo Dia”, que já fazparte do repertório de intér-pretes do Rio e São Paulo,além de sempre ser destaquenas apresentações do pró-prio Guilherme. E ainda falasobre as perspectivas que tempara os próximos anos decarreira e o que espera daapresentação em palco juntoa Guilherme. “Se tudo cor-rer como a gente espera, essemomento inesquecível estápra acontecer em breve. Porconta da agenda de cada um,e da distância que separanossas cidades, eu e Rondonnunca dividimos o palcomas, se depender de nossavontade, 2009 será o ano emque finalmente cantaremosjuntos. Espero que nossaparceria esteja apenas no co-meço”, afirmou.

Guilherme Rondon pos-sui CD’s lançados e divulga-dos nacionalmente. Várias desuas composições já foramgravadas por artistasrenomados como NanaCaymmi, Ivan Lins, SérgioReis e Almir Sater. Perguntoa ele como é ter esse prestí-gio. No que ele diz, “o su-cesso é passageiro e o prestí-gio é para sempre. O suces-so traz dinheiro e o prestígionão, mas traz satisfação paraa alma do artista”, comple-tou.

Foto: httpviewmorepics.myspace.com

Magna Melo

Marcelo RicardoMiranda Espíndola,conhecido popular-mente como CelitoEspíndola, é um íconeda música popularsul-mato-grossense.Referência de bom gos-to e profissionalismo,simbolizando todauma região, um povo.

Modesto, Celito coloca emdúvida se realmente é umreferencial para outros músicosdo Estado. Mesmo com uma tra-jetória repleta de sucesso, nadécada de 70 junto com os ir-mãos, Tetê, Geraldo e Alzira for-mavam o grupo Lírio Selvagem,que teve até clipe no Fantásti-co. Mas ele não sente saudades.“Quem vive parado olhandopara trás é poste”, dispara.

Astuto e desconfiado não

aceitou ser chamado de “Aelite da música regional”,acreditando que esse títulopossa tachar uma músicacomo superior a outra. “Issonão existe, na era da globali-zação existe uma variedadede estilos”, explica.

Nome expressivo como opróprio. Seu jeito de falar re-vela um sul-mato-grossensenato e bem humorado. Jásuas músicas falam do coti-diano das pessoas, mas eledeixa claro que nada têm aver com seus sentimentos,não refletem suas emoçõespessoais. Com uma certa in-tolerância, e momentos deironia, Celito afirma não teressa visão de que a arte éinspiração das experiências.“É ingenuidade compor paraexpressar emoções, mas temartistas que fazem assim”,diz Celito e reconhece queem algumas composições,no começo da carreira tam-bém são frutos decorrentesdas emoções íntimas.

Para ele arte é levada asério, defende o regionalacreditando que o Estadotem uma identidade sim,contradizendo os críticospessimistas, que dizem quenão existe uma identidadeem MS. Para ele isso é umabalela, uma pessoa que dizuma coisa dessa, não sabenem o que é identidade.

Otimista, Celito Espíndo-la acredita no potencial dos

artistas da terra. Segundo eleMS vai ter seu momento glo-rioso no futuro, um Estado jo-vem, sem público expressivopara consumir e valorizar oregional, há músicos jovensque farão sucesso, vão crescerjuntamente com o Estado.

Atualmente Celito Espíndo-la dedica-se ao trabalho acadê-mico, e dirige rádio educativas.

Valdir Pereira Rosa, radia-lista e músico, é colega de tra-balho de Celito e revela ser umfã não só dele, mas de toda afamília Espíndola. Contradi-zendo o próprio perfilado nasua modéstia, revela o colegacomo um dos maiores compo-sitores e intérprete da músicaregional sul-mato-grossense, sendo seudiferencial sua busca epesquisa, aprofun-dando-se no tema desuas músicas, identifi-cando sempre o regional,valorizando e tentandolevar um o pouco do MSpara o Brasil.

Outro colega de traba-lho, Zé Du também músi-co, revela que seu compa-nheiro teve seu êxito na dé-cada de 70, com um clipeexibido pelo fantástico, masdesistiu, acredita que o co-lega gosta mesmo é de mato.

Relata que ele mesmo pro-curou o colega para produ-ção do seu CD, revelando acapacidade e o bom gosto doCelito para musicalidade.

Bela vida dequem compõeo Pantanal

Prestígio vindo do trabalho satisfaz sua alma de artista

Guilherme Rondon

S u c e s s o -O paulista mais pantaneiro do mundo já teve composições gravadas por grandes intérpretes da música brasileira

A modéstia de ser Celito Espíndola

Q u a l i d a d e -Mesmo sendo ícone, Celito não se deixa envaidecer

Intenções e orações, aflições, vamos repartir.Pensando bem, quantos sonhos deixamos pratrás.Outros, porém, nós tornamos reais.Vida bela linda vidaEPor que não viverMuito tempo ainda, junto com você.Vida bela linda vida, só quero viver.Muito tempo ainda, junto com você.Deve existir, um motivo pra continuar.Aonde ir, ou pra onde voltar,Indecisões, com o tempo só vem aumentar.As desilusões, sempre tão fatais. 2X{ Nossos corações, quando podem serfelizes batemmuito mais.Vida bela linda vida, só quero viver.Muito tempo ainda junto com vocêVida bela linda vidaEPor que não viverMuito tempo ainda junto com vocêJunto com você

Quer meu bem que eu seja o arQue ela possa respirarQuer que eu seja o marPra que ela possa navegardevagarEla quer sentir-se no céuEla quer o gosto do melQuer a noite, quer o vinhoQuer mergulhar no prazerQuer carinho, gata vadiaSacia essa sede de amorQue insiste em continuar aqueimarNossa pele numa ânsia febril

Gata no cio me faz esquecerQue o frio existe lá foraE aquece o nosso ninho de amorQuer meu bem que eu seja a luzQue ela possa ver brilharQuer que eu seja o solPra que ela possa em mim sequeimarDevagarEla quer sentir-se felizEla quer bem mais do que dizQuer a noite, quer o leitoQuer se entregar na paixão dessejeito.

Fotos: Magna Melo

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Priscilla Peres

Quando decidi fazer operfil do músico e jornalis-ta Rodrigo Teixeira, confes-so ter ficado um pouco ner-vosa, pois teria que falar deuma pessoa referência emCampo Grande, quando setrata de música e cultura re-gional. Ainda mais, teria queentrevistar um jornalista,conhecido por seus traba-lhos e competência. Mas mesurpreendi com sua simpa-tia e simplicidade em acei-tar que uma pessoa comple-tamente estranha falasse so-bre sua vida. Em todo mo-mento ele se mostrou muitodisposto a me ajudar e con-tribuir com todas as infor-mações que eu precisava.

Rapidamente pude perce-ber que eu estava falando dealguém muito culto e quefazia jus à sua “fama”.Rodrigo surpreende pela suaorigem, pois dificilmenteencontramos pessoas do in-terior com tanto interessepelas artes. Nascido no RioGrande do Sul, o rapaz quemorou em várias cidades atéchegar em Dourados, aos 10anos mantém boas lembran-ças dos jogos de bola, fazen-da e gurizada.

Sua mãe, Maria Lúcia, dizque desde pequeno, com 11anos Rodrigo já lia muitoslivros não convencionaispara sua idade, deixando àmostra seu lado mais inte-lectual. Influenciado pelasua família de art istas,Rodrigo demonstra seu ape-go à música ainda na ado-lescência, quando ganha umviolão que com muita facili-dade começa a tocar e juntocom o músico Caio Ignáciocomeçam a formatar a idéiada polca-rock, compondosua primeira música do gê-

nero chamada “Mal Melhor”em 1989.

Na tentativa de sair doEstado e levando em contaseu gosto por ler e escrever,em 1988 decide fazer jorna-lismo na faculdade de Mogidas Cruzes (UMC) em SãoPaulo. Ainda indeciso pelocurso, acaba se envolvendomuito com a música, trancaa faculdade por um tempo ecomeça a tocar com a BandaOlho de Gato. Depois retor-na, termina o curso de jor-nalismo e passa a dedicartodo o seu tempo à música.Só em 1994 começa a traba-lhar no jornal Diário deSuzano como repórter deesporte, e segundo ele foiquando descobriu a profis-são e passou a se dedicar àela. Deixando a música um

pouco de lado, Rodrigo mu-dou para o Rio de Janeiro,onde passou a trabalhar naTV Press, “foi quando vireijornalista” diz ele.

Ainda assim, em 98 gravaseu primeiro disco. Em 2004,saturado da correria no Rio,Rodrigo volta a Campo Gran-de à convite de Pedro Ortalepara ser Assessor da Funda-ção de Cultura e então come-ça a se envolver com a pro-dução dos festivais de cultu-ra que acontecem em Corum-bá e Bonito.

Atualmente trabalhandocomo editor do caderno decultura do jornal O Estado deMS, Rodrigo diz que para ojornalismo seu ideal é lançarseu livro chamado “Os Pio-neiros da Música de MS” emmarço de 2009 e futuramente

virar escritor.Já na sua carreira

musical, segundo suamãe, Rodrigo está per-to de chegar ao topo epoder fazer o que real-mente gosta tendo seusucesso reconhecido.Lançando seu terceirodisco, agora com o gru-po “Mandioca Loca”, omúsico se considerauma pessoa de sorte erealizada tanto na vidaprofissional quantopessoal, casado com atambém jornalista Elai-ne Valdez e com suafilha de dois anos AnaLua, Rodrigo acreditaque nunca se pode pa-rar, mas procurar che-gar mais a fundo, con-quistar mais.

Você também conheceE gosta do nosso ritmoPensa que não podemanterQue é melhor nem tentarNão te quero friamemóriaNem te quero mito dehistória

Eu te chamo porque seiQue não é de panoSeu sorriso de prazerÉ mentira seu medo deme dar a mãoÉ besteira negar nossacolisão

Tenho pressaTe quero agoraBem antes da guerraVem comigoNão pense, nem falenadaApenas segure a levada

COLISÃORodrigo Teixeira

R e s g a t e - Jornalista Rodrigo Teixeira escreve livro sobre pioneiros da música em MS

Foto: Priscilla Peres

Foto: Reprodução

Pai da polca-rockinvestiga históriada música em MS

Rodrigo Teixeira é personagem da trama histórica que vai documentar

Pensante

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Bruna Lucianer

O olhar é serenoe fixo; o sotaque,praticamente inde-cifrável; os trejeitossão de um adultoque estacionou nossonhos e prazeresda juventude. GugaBorba é um músicoque vive intensa-mente a matéria-pri-ma do seu trabalho:cada instante, cadaacontecimento é úni-co e pode virar can-ção nas mãos do po-eta.

Curit ibano de

alma pantaneira, GustavoRenato Borba nasceu em 06de junho de 1975. Durantea infância, o primeiro ins-trumento que dominoufoi o skate. Mudou-separa Campo Grandeaos 10 anos de ida-de, e as ruas in-clinadas da Capi-tal Morena torna-ram-se um desa-fio para o garotosobre as quatrorodinhas. Paradar um fim aos in-sistentes hema-

tomas causados pelos tom-bos, propôs aos pais uma

justa troca: o skate pelo vio-lão. Começaria aí uma paixãoardente e eterna.

Aos 13 anos, em algumdia como outro qualquer, de-pois de uma partida de vô-lei, os amigos resolveriamunir-se e formar a “InvernoRusso”, primeira bandaonde Guga e Guilherme Cruztocariam juntos. Todos inex-perientes, levando uma bati-da com pouca sincronia e le-vemente desafinada, conse-guiram completar quatro anosde banda.

Em meados da década de90 Guga e Guilherme forampara São Paulo e formaram abanda de country-rock “BellaDona” com mais dois ami-gos. Fecharam contrato com

a Warner e lá ficaram por cer-ca de quatro anos.

No ano de 2000, nasceua banda “Naip”, que tambémcontou com a participaçãode Guilherme. Durou até2004, quando nasceria o “Fi-lho dos Livres”. A banda foia decisão de entrar no mer-cado de um jeito diferente,só com composições própri-as. Guga e Guilherme: o duoque caminha junto há quase20 anos é um dos maioressinônimos de música regio-nal em Mato Grosso do Sul.Guilherme é a cabeça, Gugaé o coração; e assim pulsauma amizade maior do quea própria música, se é quehá algo maior que a música.

Hoje, aos 33 anos, é im-possível falar do Guga semfalar de música; é graças aela que ele sobrevive, sejanos palcos, nos bastidoresou sentado em frente ao com-putador fazendo design decapas de CDs. Mas por sor-te e ironia do destino, oacontecimento mais marcantena vida dele não tem nada aver com música. O nasci-

mento de sua filha Pietra,quando ele tinha 22 anos deidade, foi o grande salto dasua história, foi quando elepercebeu que “a gente nãovem pra Terra pra ficar ba-gunçando o tempo todo”.

Guga é parceria, é serieda-de, é perseverança. Para Gui-lherme, padrinho da Pietra, oadjetivo perfeito seria “singu-lar”; “ele vê as coisas de ma-neira interessante, diferente;dentro do que ele consideracorreto, trabalha com afincopara realizar seus objetivos”,palavra de quem sabe Quantovale ser Alguém como você é.

Parceria mais longa doque a com o Guilherme, só acom o pai. Seu Nelson falaem alto e bom som: “um bai-ta de um orgulho”! Gemi-niano característico deixoumarcadas no pai as caracte-rísticas de determinação,objetividade e até um poucode teimosia. Um adjetivo?Amigo. Um Cantador quemerece uma trajetória reple-ta de Madrugadas musi-cadas, com inúmeros Novosciclos e cheia de Auroras.

Helton Verão

Em julho de 1975, aSanta Casa de CampoGrande, Mato Grossodo Sul enfrentava pro-blemas com infecçõesem sua área da materni-dade, com isso a deci-são sobre um parto foitomada, ir até Volta Re-donda no Estado do Riode Janeiro para aconte-cer. Então, no dia 12 dejulho de 1975, nasciaGuilherme Cruz. O pri-meiro mês de vida foina casa de sua tia, nacidade carioca, aí simele retornou para a Ca-pital morena ondemora. Guilherme se con-sidera campo-grandensede coração.

Foi aqui que viveutoda sua infância e teveseu primeiro contatocom a música e o violãoaos sete anos de idade.Carlos Colman e Or-lando Brito são os mes-tres que aproximaramGuilherme da música edo violão.

Aos 13, sua primei-ra experiência com a gui-tarra, agora quem lheministra aulas é Edinhoda antiga e conhecidabanda de rock “Alta Ten-são”, e desde cedo nun-ca teve vergonha de li-teralmente como o pró-prio caracterizou “porpra fora suas composi-ções”. No mesmo anoele conhece seu amigo eparceiro Guga Borba,ambos com a mesmaidade se conhecem emum estúdio da banda

“O cabeça” de uma história

composta de sucesso e amizadeInverno Russo. Após terminaro ensino médio, vai para LosAngeles estudar música, lá to-cou em uma banda de rock,mesmo sendo menor de 21.“Lá é proibido entrar nas boa-tes se não for maior de 21, maseu dava um jeitinho brasilei-ro”, lembra Cruz.

Em 1995 volta dos EstadosUnidos, e ingressa em sua pri-meira banda, o Inverno Rus-so, com o estilo Hard Rock,com letras descrevendo o quepensavam na fase da adoles-cência que atravessavam. Emseguida o Bella Dona foi cria-do, foram para São Paulo bus-car seus objetivos, “em SãoPaulo trabalhamos para gravaro álbum, mas os empresários

confundiram as coisas, só porque gostávamos de viola e so-mos do Mato Grosso do Sul,eles queriam que nosso esti-lo puxasse pro Country, algoque estava na moda na épo-ca, e não era essa a idéia” co-menta Guilherme.

Após isso Guga que tam-bém fazia parte da banda vol-tou para Campo Grande e co-meça a trabalhar com a bandaNaip, e Guilherme Cruz vol-ta para os Estados Unidospara estudar, isso tudo em1998. Engenharia de Áudiofoi o curso escolhido por ele.

Um ano e meio depois eleretorna para o Brasil comemprego já assegurado, poisconseguiu via fax com empre-

sários que conheceu em SãoPaulo em sua passagem por lá.Empregado no Estúdio 43, al-guns anos depois ele começa atrabalhar no Midas Estúdio doempresário famoso e conheci-do Rick Bonadio, lá foi assis-tente de mixagem de álbuns deartistas famosos como Ira!,Sandy & Junior, Ultraje a Ri-gor, Tihuana e até Carla Perez.

Depois de trabalhar algunsanos no Midas, ele decideretornar para Campo Grande,a banda Naip necessitava deum guitarrista na mesma épo-ca, cargo assumido por Gui-lherme. O atual trabalho aolado do amigo Guga, o “Filhodos Livres”, já tinha muitasproduções e composições dos

tempos de Naip ainda, entãoele lembra que não tem datacerta para especificar quandocomeçou o Filho dos Livres.

Amigo há 20 anos, GugaBorba é só elogios ao descre-ver Cruz. “O Guilherme é umcara muito amigável, parceiro,sempre acessível a tudo, com-preensivo, inteligente, sabeouvir as pessoas e fora o gran-de profissional que ele é”, elo-gia Borba. A disputa de vídeogame anima às segundas-feiras,a “rivalidade” no futebol vir-

tual desde 1994, são algunsdos hobbies da dupla de ami-gos além da música claro.

Um rapaz humilde, simpá-tico, que além da música temoutras paixões como cachor-ros e a cidade de Los Ange-les. Esse é Guilherme Cruz,uma das figuras mais conhe-cidas da música regional, quejunto a Guga e seu profissio-nalismo vem conquistando apreferência musical de todosadoradores da música bemescrita e de qualidade.

R a z ã o -Na parceria de 20 anos dos integrantes do duo “Filho dos Livres”, Guilherme Cruz utiliza de inteligêngia e muito talento para conquistar o público

Singularidadetraduzida em canção

No “Filho dos Livres”, Guga mostra a sensibilidade de 20 anos de carreira

Coração

E s c a l a d a - Desde a primeira banda, o “Inverno Russo”, Guga aprimora sua técnica e afina seu estilo musical ímpar

Vou deixar a lareiraacesa

e sobre a mesa, o jantar.Vou levar a marmita tão boa

que a própria patroa me faz.Quando digo as coisas tão lindasnão te faz mal,quando digo que sempre fascinaMeu carnaval.

A manhã vai se abrirem todo o céu

carmesim,A “lerdeira” certeiraque sempre certezase faz.Vou levar abagagem maiscedopra não teacordar.

Quando digo ascoisas tão lindasnão te faz mal,Quando digo quesempre fascinaMeu carnaval.

Quando digo ascoisas tão

lindas,

Foto: Arquivo

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