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MARLON BRUNO DE ANDRADE EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45, DE 8/12/2004: PRINCIPAIS ASPECTOS POLÊMICOS DA NOVA COMPETÊNCIA MATERIAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO Monografia apresentada à Universidade Federal de Rondônia, campus de Cacoal, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito, sob orientação do professor Ms. Francisco José Garcia Figueiredo. Cacoal/RO Jul./2006

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MARLON BRUNO DE ANDRADE

EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45, DE 8/12/2004: PRINCIPAIS ASPECTOS POLÊMICOS DA NOVA COMPETÊNCIA

MATERIAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO

Monografia apresentada à Universidade Federal de Rondônia, campus de Cacoal, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito, sob orientação do professor Ms. Francisco José Garcia Figueiredo.

Cacoal/RO Jul./2006

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PARECER DE ADMISSIBILIDADE DO PROFESSOR ORIENTADOR

O acadêmico Marlon Bruno de Andrade desenvolveu trabalho de conclusão de curso

sobre o tema “Emenda Constitucional nº 45, de 8/12/2004: principais aspectos polêmicos

da nova competência material da Justiça do Trabalho”, obedecendo aos critérios do

projeto de monografia apresentado ao Departamento de Direito da Universidade Federal de

Rondônia, campus de Cacoal.

O acompanhamento foi efetivo, tendo o desenvolvimento do trabalho observado os

prazos fixados pelo Departamento de Direito.

Dessarte, o acadêmico está apto para a apresentação expositiva de sua monografia

perante a banca examinadora.

Cacoal, RO, 10 de julho de 2006.

Professor Ms. Francisco José Garcia Figueiredo

Orientador

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MARLON BRUNO DE ANDRADE

EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45, DE 8/12/2004: PRINCIPAIS ASPECTOS POLÊMICOS DA NOVA COMPETÊNCIA

MATERIAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO

AVALIADORES

_____________________________________________ __________ 1º avaliador nota _____________________________________________ __________ 2º avaliador nota

_____________________________________________ __________ 3º avaliador nota

_____________ MÉDIA

Cacoal/RO Jul./2006

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Sinceros agradecimentos aos professores Elizabeth Pitwak, Francisco José, Maria Lindomar e Silverio dos Santos, e a Kívia, sempre (um) presente.

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RESUMO

Pesquisa bibliográfica que apresenta os principais aspectos da nova competência material da Justiça Obreira envolvendo relações de trabalho no âmbito da Administração Pública, da relação consumerista, das lesões acidentárias e dos danos morais. Objetivou-se identificar os pontos da competência material da Justiça do Trabalho, alterada pela Emenda Constitucional nº 45, promulgada em 8/12/2004 e em vigor desde 31/12/2004, que vêm gerando controvérsias, e apresentar as soluções propostas pela doutrina – dentre essas, as mais condizentes com os princípios do direito e do processo do trabalho – e jurisprudência. Tendo em vista o ponto fundamental da nova competência ser a definição dos contornos da relação de trabalho, analisa-se esse aspecto contextualizadamente, com o fim de se estudar os reflexos práticos da ampliação da competência. Dessa forma, cada tópico é abordado levando-se em conta os efeitos da substituição, no artigo 114 da Constituição Federal, da expressão “relação de emprego” pela expressão “relação de trabalho”. Baseou-se nas teses dos principais jurisconsultos trabalhistas, colhidas em livros e artigos de revistas especializadas, nas recentes decisões proferidas pelo Supremo Tribunal Federal e pelo Superior Tribunal de Justiça e na evolução histórica da competência material da Justiça do Trabalho, bem como nos projetos que resultaram na Emenda Constitucional nº 45/04. Palavras-chave: Emenda Constitucional nº 45/04. Justiça do Trabalho. Competência.

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ABSTRACT

Bibliography research that presents the principal aspects of the new material competence of the Job’s Justice involving relations of working in the Public Administration field, the consumerist relation, accident injuries and the moral damages. The objective is to identify the points of competence of the Job’s Justice, altered by Constitutional Amendment 45, published in 12/8/2004 and in force since 12/31/2004, and it has brought controversies, and to present solutions proposed by the doctrine – among them, the ones closest in understanding with the principles of the law and the job process – and jurisprudence. Considering that the fundamental point of the new competence is a definition of outlines of working relation, this aspect is analyzed contextually, in order to study the practical consequences of the ampliation of the competence. Therefore each topic is shown taking for granted the effects of the substitution, in the article 114 of the Constitution, of the expression “job relation” by the expression “working relation”. It took basis in the principal working jurisconsultants, taken from specialized books and magazines, in the actual decisions promulgated by the Federal Superior Tribunal and by the Superior Tribunal of Justice and in the historic evolution of material competence of the Job’s Justice, as well as the bills that resulted in the Constitutional Amendment 45/04. Keywords: Constitutional Amendment 45/04. Job’s Justice. Competence.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................9 1. DA JUSTIÇA DO TRABALHO .......................................................................................12

1.1 Aspectos gerais ...............................................................................................................12

1.2 Breve histórico................................................................................................................14 2. DA COMPETÊNCIA MATERIAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO ..........................18

2.1 Competência material anterior à EC nº 45/04 ................................................................18

2.2 Considerações acerca da nova competência material .....................................................20 3. AS RELAÇÕES DE TRABALHO NO ÂMBITO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

E A NOVA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO........................................26

3.1 Relação estatutária ..........................................................................................................26

3.2 Relação celetista .............................................................................................................33

3.3 Contratação temporária...................................................................................................34 4. A RELAÇÃO CONSUMERISTA FRENTE À NOVA COMPETÊNCIA ...................39 5. ACIDENTES NO TRABALHO E A NOVA COMPETÊNCIA ....................................46

5.1 Aspectos históricos da legislação acidentária.................................................................47

5.2 Natureza jurídica dos acidentes no trabalho ...................................................................49

5.3 Responsabilidade decorrente das lesões acidentárias .....................................................50

5.4 Competência da Justiça do Trabalho para solucionar lides envolvendo a

responsabilidade trabalhista por lesões acidentárias.............................................................51

5.5 (In)condicionalidade da competência relacionada a acidentes no trabalho....................56

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6. DANOS MORAIS E SUAS NUANÇAS DENTRO DA NOVA COMPETÊNCIA ......59

6.1 Competência para a ação por dano moral trabalhista .....................................................59

6.2 Prescrição dos danos morais ...........................................................................................62 CONCLUSÕES.......................................................................................................................67 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................70

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INTRODUÇÃO

A Emenda Constitucional nº 45, de 8 de dezembro de 2004, em vigor desde 31 de

dezembro de 2004, materializou a primeira parte da chamada Reforma do Judiciário. Dentre

outras alterações no texto constitucional, modificou substancialmente a competência material

da Justiça do Trabalho, que se transmudou do âmbito da relação de emprego para a relação de

trabalho, gênero do qual aquela é espécie. Dessa forma, passaram a ser da competência da

Justiça Obreira ações envolvendo trabalhadores das mais variadas espécies: autônomos,

estagiários, eventuais etc.

Em virtude dessa ampliação, tornou-se extremamente difícil definir os contornos da

competência laboral. Tal é o caso, por exemplo, das relações de consumo, em que,

dependendo do ângulo analisado, ora será competente a Justiça do Trabalho, ora será

competente a Justiça Comum. É possível perceber claramente a dificuldade em estabelecer os

limites da competência pelas inúmeras teses apresentadas pela doutrina brasileira, publicadas

em revistas especializadas e livros específicos, sem contar que, por vezes, os tribunais

nacionais proferiram (e ainda continuam a fazê-lo) decisões conflitantes.

E a correta definição da competência é de extrema relevância para o estudioso do

direito, especialmente do direito especializado, pois diversos problemas surgem quando uma

ação é proposta em juízo incompetente. Será possível, por exemplo, haver a interposição de

ação rescisória se a lide for julgada em juízo incompetente. Ademais, levando-se em conta

que o juiz trabalhista normalmente só toma contato com o processo na realização da primeira

audiência, longo tempo será perdido se for declarada a sua incompetência.

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Assim, considerando a importância do tema, propõe a presente monografia apresentar

os principais aspectos da nova competência material da Justiça do Trabalho, expondo as

principais teses defendidas pela doutrina pátria, bem como pelas decisões proferidas pelos

Tribunais Superiores, desde as mais recentes até a evolução histórica dos posicionamentos

jurisprudenciais.

Apesar de o ponto mais polêmico ser a própria definição dos contornos da relação de

trabalho, decidiu-se pelo estudo contextualizado desse aspecto, objetivando-se estudar os

reflexos práticos da ampliação da competência. Dessarte, cada tópico será abordado tendo-se

em vista os efeitos da substituição da expressão “relação de emprego” pela expressão “relação

de trabalho”.

No capítulo inicial são apresentados aspectos gerais e breve histórico da Justiça do

Trabalho. Em seguida, no segundo capítulo, é disposta a competência material anterior e a

posterior à Emenda Constitucional nº 45/04, possibilitando uma visão histórico-comparativa.

Nos capítulos seguintes são estudados detalhadamente os principais aspectos polêmicos,

envolvendo as relações de trabalho no âmbito da Administração Pública, a relação

consumerista, os acidentes no trabalho e os danos morais.

Dessa forma, analisou-se a competência material envolvendo as relações de trabalho

no âmbito da Administração Pública em cada uma de suas espécies – estatutária, celetista e

temporária –, descrevendo-se o posicionamento recente do Supremo Tribunal Federal e as

principais controvérsias resultantes.

Causadora de grande celeuma, a relação consumerista, frente à nova competência, foi

tratada levando-se em conta a sua natureza bifronte. Na seqüência desse capítulo, sugeriu-se

método prático para delimitação da competência laboral.

Também observando a natureza, procurou-se diferençar as responsabilidades

decorrentes das lesões acidentárias, dispondo-se acerca da competência da Justiça Obreira

para julgar as ações relacionadas à responsabilidade trabalhista.

Por fim, descreveram-se as nuanças dos danos morais dentro da nova competência,

sendo ainda examinados os prazos prescricionais, que, apesar de estarem vinculados à

natureza do direito material e independerem da competência, suscitaram muitas dúvidas após

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a Emenda Constitucional nº 45/04.

Considerando o principal objetivo da pesquisa – apresentar de forma sistemática os

principais aspectos polêmicos com o fim específico de se entender a delimitação da nova

competência –, foram descritas as recentes decisões do Supremo Tribunal Federal, do

Superior Tribunal de Justiça e do Tribunal Superior do Trabalho. Além disso, examinaram-se

as principais teses doutrinárias sobre o tema, optando-se pelas mais condizentes com a própria

essência da Justiça do Trabalho e com os princípios que a orientam.

Empregou-se o método dedutivo, o procedimento monográfico, estudos bibliográficos

e pesquisa nas principais bases jurisprudenciais brasileiras.

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1. DA JUSTIÇA DO TRABALHO

1.1 Aspectos gerais

A Justiça do Trabalho, que representa o Estado-juiz no plano das relações jurídicas

processuais trabalhistas, está estruturada no Brasil em três graus de jurisdição.

No primeiro grau – correspondente à primeira instância – funcionam as Varas do

Trabalho (CLT, art. 644, c), ou, onde não as houver, os Juízes de Direito, investidos na

jurisdição trabalhista (art. 112 da Constituição Federal c/c o art. 668 da CLT). As Varas do

Trabalho, com o advento da Emenda Constitucional nº 24/99, substituíram as antigas Juntas

de Conciliação e Julgamento e possuem como principal competência conciliar e julgar os

dissídios individuais oriundos das relações de trabalho. Compõe-se de um Juiz do Trabalho

titular e um Juiz do Trabalho substituto.

Os Tribunais Regionais do Trabalho correspondem ao segundo grau da jurisdição

trabalhista, e têm como antecedentes os Conselhos Regionais do Trabalho, instituídos pelo

Decreto-lei nº 1.237/39. São compostos por número variável de juízes, respeitado o mínimo

de sete, e são recrutados, quando possível, na respectiva região, e nomeados pelo Presidente

da República dentre brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos de idade

(CR, art. 115). A Emenda Constitucional nº 45/2004, dando nova redação ao artigo 112 da

Constituição Federal, desobrigou a instalação de pelo menos um TRT em cada Estado e no

Distrito Federal, permanecendo os Estados do Acre, Amapá, Roraima e Tocantins sem sede

de TRT. Aos Tribunais Regionais do Trabalho, dentre outras competências, são atribuídos

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o julgamento de recursos ordinários contra decisões de Varas do Trabalho, agravos de

instrumento, ações originárias (dissídios coletivos de categorias de sua área de jurisdição),

mandados de segurança e ações rescisórias de decisões suas ou das Varas do Trabalho.

No terceiro grau funciona o Tribunal Superior do Trabalho (TST), cúpula do

Judiciário Trabalhista. É composto de vinte e sete Ministros, escolhidos dentre brasileiros

com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, nomeados pelo

Presidente da Republica após aprovação pela maioria absoluta do Senado (CR, art. 111-A). A

competência do TST é fixada pela Lei nº 7.701/88, em consonância com o disposto no § 1º do

artigo 111-A da Constituição. São órgãos do TST o Tribunal Pleno, a Seção Administrativa, a

Seção Especializada em Dissídios Coletivos, a Seção Especializada em Dissídios Individuais

– divida em duas Subseções (SDI-1 e SDI-2) – e Turmas. Dispõe o § 2º do artigo 111-A,

acrescentado pela Emenda Constitucional nº 45/04, que funcionarão junto ao TST a Escola

Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho e o Conselho Superior

da Justiça do Trabalho.

Há quem entenda1 desnecessária a atual estrutura dos graus superiores da Justiça

Trabalhista. Conforme lembra José Augusto Rodrigues Pinto2, dentre as inúmeras sugestões

de reforma da Constituição de 1988 – algumas chegaram a propor a extinção da Justiça do

Trabalho –, constam duas idéias que modificariam sobremodo a estrutura dessa especializada,

apesar de poupá-la da supressão: a redução do número de Tribunais Regionais do Trabalho,

considerada pelo citado autor como sensata, em vista da desproporção entre a produção e o

custo que alguns deles geram, e a absorção do Tribunal Superior do Trabalho pelo Superior

Tribunal de Justiça. José Rodrigues3 acrescenta ainda que

[...] o refluxo ao duplo grau da jurisdição (Juiz do Trabalho/TRT), com a extinção do TST e a criação de uma câmara inter-regional de uniformização da jurisprudência, constituída por magistrados indicados, periodicamente, pelos tribunais regionais do trabalho, talvez melhor preenchesse os objetivos de celeridade, diminuição dos custos e homogeneização de teses jurídicas em matéria trabalhista.

1 PINTO, José Augusto Rodrigues. Processo trabalhista de conhecimento. 7. ed. São Paulo, 2005, p. 98. 2 Ibid., loc. cit. 3 Ibid., loc. cit.

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O certo é que o constituinte derivado optou por manter a estrutura original do

Judiciário Trabalhista. A única supressão, decorrente da Emenda Constitucional nº 45/04,

ocorreu no artigo 112, que elidiu a obrigatoriedade da instalação de pelo menos um TRT em

cada Estado e no Distrito Federal, como referido anteriormente.

1.2 Breve histórico

A Lei nº 1.637, de 5 de novembro de 1907, foi a primeira no Brasil a prever órgãos

para a solução de conflitos trabalhistas: os Conselhos Permanentes de Conciliação e

Arbitragem. Entretanto, esses jamais foram implantados. Segundo a previsão legal, deveriam

ter composição mista e paritária e destinavam-se a solucionar todas as divergências entre o

capital e o trabalho4.

Em 1922 o Estado de São Paulo, por meio da Lei Estadual nº 1.869, de 10 de outubro,

instituiu o Tribunal Rural para dirimir conflitos decorrentes da interpretação e execução dos

contratos de locação de serviços agrícolas. Era presidido pelo juiz da comarca, que só julgava

o conflito caso os representantes classistas não o fizessem.

Com a Revolução de 1930, adveio tendência à reversão dos rumos da economia no

Brasil, até então preponderantemente agrícola, que agora se orientava para a industrialização.

Antecipando-se ao fato social, o legislador procurou instituir uma estrutura para disciplinar a

dinâmica das relações de trabalho que surgiriam dessa nova tendência, com o objetivo de

evitar que os trabalhadores fossem conquistar seus direitos pelos indesejáveis processos de

luta que marcaram a Europa naquela época. A respeito, Trindade de Souza5 expõe que, ao

contrário de países em que surgiu de intensas reivindicações sociais, no Brasil a Justiça do

Trabalho nasceu de uma opção governamental.

Como bem esclarece Carolina Tupinambá6,

[...] sentindo os reflexos do desmoronamento do modelo estatal liberal em todo o mundo, sobretudo, após a superveniência da crise capitalista de 1929, o governo

4 MARTINS, Sergio Pinto. Direito processual do trabalho. São Paulo: Atlas, 2004, p. 44. 5 Competência da Justiça do Trabalho para relações de trabalho. Curitiba: Juruá, 2006, p. 21. 6 Competência da Justiça do Trabalho à luz da reforma constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 48.

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getulista adotou política fortemente intervencionista, dando origem, internamente, ao Estado Social de Direito. [...] Diferentemente do que ocorreu no Velho Mundo, o nascimento da legislação trabalhista se deu de ‘cima para baixo’: surgiu menos como o produto das lutas e pressões do operariado do que pela ação do Estado. Este ‘movimento descendente’ contribui imensamente para sufocar o potencial revolucionário do ‘povo’. Afinal, ‘não parecia ser necessária uma organização sindical, uma vez que Vargas atendia às reivindicações mais imediatas dos trabalhadores’. [...] Enquanto na Europa tais direitos [dos trabalhadores] surgem como verdadeiras conquistas da classe operária, no Brasil são outorgados em forma de benfeitorias. Desta forma, a nascente elite industrial brasileira logrou conter a potência popular, impedindo, pois, que se reproduzisse internamente uma revolução nos moldes da ocorrida na Rússia e no México. As oligarquias da República Velha perceberam que concessões teriam de ser feitas aos trabalhadores se se quisesse evitar o colapso do modo de produção capitalista. Os direitos trabalhistas nada mais foram, portanto, do que o preço pago pelos proprietários dos meios de produção para impedir que o movimento político de 30 se transformasse em uma revolução socialista.

De fato, a Era Vargas foi o marco da instituição da Justiça Trabalhista, o que não quer

dizer ter ficado o trabalhador, anteriormente, sem amparo, já que os conflitos eram resolvidos

pela Justiça Comum.

Em 25 de novembro de 1932 foi editado o Decreto nº 22.132, criando as Juntas de

Conciliação e Julgamento, compostas de um juiz presidente e dois vogais, um representando

os empregados e outro o empregador, além de dois suplentes. As Juntas, órgãos

administrativos, eram vinculadas ao Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio e possuíam

competência para conhecer e dirimir os litígios individuais decorrentes de questões de

trabalho em que fossem partes empregados sindicalizados (Decreto nº 22.132/32, artigo 1º).

Para solucionar os conflitos coletivos foram instituídas as Comissões Mistas de Conciliação,

por meio do Decreto nº 21.364, de 4 de maio de 1932. O sistema instituído por esses decretos,

afirma Sérgio Pinto Martins7, “foi literalmente copiado, em muitos aspectos, da Carta del

Lavoro, de 1927, de Mussolini”. Mas apesar da Itália abandonar o sistema paritário no

período do “pós-guerra”, o Brasil o manteve até 9/12/1999, quando a Emenda Constitucional

nº 24 extinguiu a representação classista.

As Juntas de Conciliação e Julgamento e as Comissões Mistas de Conciliação

pertenciam ao Poder Executivo e não tinham poder de executar suas decisões, competência da

Justiça Comum. Assim, era reduzida a eficácia de tais órgãos, que “nada mais eram do que

7 Direito processual do trabalho. São Paulo: Atlas, 2004, p. 44.

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órgãos intermediários”8. Mesmo com a Constituição de 1934 e a instalação da Justiça do

Trabalho as Juntas continuaram vinculadas ao Executivo, já que do artigo 122 inferia-se ser a

Justiça do Trabalho órgão da Administração Pública Estatal9. Não foi diferente com a

Constituição de 1937, que manteve a Justiça do Trabalho no âmbito administrativo.

Lembra Rodrigo Trindade Souza10 que essas duas Constituições deixaram claro se

tratar a Justiça do Trabalho de uma “justiça do emprego”, já que as questões a serem

analisadas se originavam das relações entre empregadores e empregados, direção a ser

mantida nas Cartas posteriores.

Apesar de o Decreto-lei nº 1.237/1939 livrar a Justiça do Trabalho da subordinação ao

Ministério do Trabalho, dando-lhe mais autonomia, somente em 9/9/1946, por meio do

Decreto nº 9.797, foi inserta no âmbito do Poder Judiciário. E no ano seguinte passou a ser

constitucionalmente integrada ao Judiciário, com a Carta de 1947. O artigo 122 dessa

Constituição estabelecia que os órgãos da Justiça do Trabalho eram o TST, os Tribunais

Regionais do Trabalho e as Juntas de Conciliação. A competência foi disposta no artigo 123,

in verbis:

Art. 123. Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre empregados e empregadores, e as demais controvérsias oriundas de relações do trabalho regidas por legislação especial.

A Constituição de 1967 e a Emenda Constitucional nº 1, de 1969, não trouxeram

mudanças significativas na estrutura judiciária trabalhista.

A Constituição de 1988 modificou os termos utilizados nas Cartas anteriores,

substituindo a expressão “empregadores e empregados” para “empregadores e trabalhadores”,

como constava na redação original do artigo 114. Apesar disso, a competência da Justiça do

Trabalho permaneceu no âmbito da relação de emprego. Segundo Rodrigo Trindade11, “a

atribuição da Justiça do Trabalho de conhecer de demandas que envolvessem relação de 8 TUPINAMBÁ, Carolina. Competência da Justiça do Trabalho à luz da reforma constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 59. 9 O artigo 122 enunciava que “Para dirimir questões entre empregadores e empregados, regidas pela legislação social, fica instituída a Justiça do Trabalho, à qual não se aplica o disposto no Capítulo IV do Título I”. Esse Título referia-se ao Poder Judiciário. 10 Competência da Justiça do Trabalho para relações de trabalho. Curitiba: Juruá, 2006, p. 23. 11 Ibid., p. 28.

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trabalho não subordinado nem mesmo chegou a ser sugerida na Assembléia Nacional

Constituinte de 1988”. No entanto, ressalva o citado autor que a redação do artigo 114 da

Constituição de 1988 foi recebida como a que mais abriu os limites da jurisdição trabalhista,

já que outorgou a competência para litígios originários de relação de trabalho subordinado

entre servidores e órgãos da administração pública direta e indireta da União, Estados e

Municípios, e reclamações apresentadas contra entes de Direito Público Externo, transferindo,

assim, parcela de jurisdição da Justiça Federal para a do Trabalho. Além disso, permitiu-se o

alargamento de competência material da Justiça do Trabalho, por meio de legislação

infraconstitucional.

A atual Constituição, em sua redação original, manteve a representação classista, que

foi suprimida apenas em 1999, com a Emenda Constitucional nº 24, de 9 de dezembro. Por

meio dessa emenda profundas modificações ocorreram na organização e na composição do

Judiciário Trabalhista. A representação classista foi extinta, sendo as Juntas de Conciliação

substituídas pelas Varas do Trabalho.

Por fim, pela Emenda Constitucional nº 45, de 8 de dezembro de 2004, em vigor desde

31 de dezembro de 2004, outra profunda reforma ocorreu na Justiça do Trabalho, cuja

competência material foi por demais ampliada.

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2. DA COMPETÊNCIA MATERIAL DA JUSTIÇA DO TRABALHO

2.1 Competência material anterior à EC nº 45/04

A competência material da Justiça do Trabalho, desde sua previsão constitucional até

o advento da Emenda Constitucional nº 45/04, foi fundada em dois pontos: a) dissídios

individuais e coletivos entre empregados ou trabalhadores e empregadores; b) na forma da

lei ordinária, outras controvérsias oriundas da relação de trabalho12.

As regras de determinação da competência dessa Especializada eram expressas no

artigo 114, in verbis:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta dos Municípios, do Distrito Federal, dos Estados e da União, e, na forma da lei, outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, bem como os litígios que tenham origem no cumprimento de suas próprias sentenças, inclusive coletivas.

Para efeitos didáticos, Rodolfo Pamplona Filho13 desdobrou em três as regras de

competência material dispostas nesse artigo: a) competência material natural, originária ou

específica; b) competência material legal ou decorrente; c) competência material executória.

12 SOUZA, Rodrigo Trindade. Competência da Justiça do Trabalho para relações de trabalho. Curitiba: Juruá, 2006, p. 31. 13 A nova competência da Justiça do Trabalho (uma contribuição para a compreensão dos limites do novo art. 114 da Constituição Federal de 1988). Revista LTr, São Paulo, v. 70, n. 1, p. 38, jan. 2006.

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A competência material originária corresponde à regra geral de determinação da

competência da Justiça do Trabalho, manifestada na parte inicial do artigo supracitado.

Assim, era relevante para a delimitação da competência a qualificação jurídica de

“empregado” e “empregador”, havendo, como recorda o supramencionado autor, “quem

defendesse que a regra de competência da Justiça do Trabalho fosse mais de natureza pessoal

do que material”14.

A competência legal decorria do permissivo legal que conferia ao legislador ordinário

a possibilidade de atribuir à Justiça do Trabalho competência para solucionar outras

controvérsias decorrentes da relação de trabalho. Dessarte, havia a previsão de competência

da Justiça Laboral para controvérsias trabalhistas entre partes que não se enquadravam na

qualificação jurídica de “empregadores e trabalhadores”, desde que expressamente previsto

em lei. São exemplos clássicos o contrato de empreitada (art. 652, III, CLT) e as ações entre

trabalhadores portuários e os operadores portuários ou o Órgão Gestor de Mão-de-Obra

decorrentes da relação de trabalho (art. 652, V, CLT). Em ambos não há relação de emprego,

mas relações de trabalho que eram submetidas à Justiça do Trabalho por norma

infraconstitucional.

Entretanto, apesar de o texto constitucional em comento permitir interpretação que

poderia alargar a competência da Justiça do Trabalho, dessa forma não entendeu a

jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF), com a concordância de significativa parte

da Justiça do Trabalho, inclusive do TST15.

A competência executória – de importância histórica, já que sua previsão a partir do

Decreto-lei nº 1.237, de 2/5/39, representou a autonomia da Justiça do Trabalho – era

prescrita na parte final do artigo 114 da CR/88, que atribuía à Justiça Obreira a resolução de

litígios originados no cumprimento de suas próprias sentenças. Tal competência foi ampliada

com a Emenda Constitucional nº 20/98, que inseriu o § 3º ao artigo supramencionado,

acrescentando como competência trabalhista a execução, de ofício, de contribuições sociais

previstas no artigo 195, I, a, e II, da Constituição Federal.

14 A nova competência da Justiça do Trabalho (uma contribuição para a compreensão dos limites do novo art. 114 da Constituição Federal de 1988). Revista LTr, São Paulo, v. 70, n. 1, p. 38, jan. 2006. 15 PEREIRA, José Luciano de Castilho. A nova competência da Justiça do Trabalho – Emenda Constitucional n. 45, de 31.12.04. Revista LTr, São Paulo, v. 69, n. 8, p. 911, ago. 2005.

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2.2 Considerações acerca da nova competência material

A denominada Reforma do Judiciário, inicialmente materializada na Emenda

Constitucional nº 45, promulgada em 8/12/2004 e em vigor desde 31/12/2004, vem gerando

intermináveis debates em decorrência das substanciais modificações que produziu na estrutura

do Poder Judiciário, especialmente no âmbito da Justiça Trabalhista.

Sem entrar no mérito das discussões doutrinárias, o certo é que a competência da

Justiça do Trabalho foi por demais ampliada. De fato, da simples análise da alteração

produzida no artigo 114 da Constituição Federal – que passou a contar com nove incisos – é

possível perceber nitidamente o acréscimo substancial nas regras básicas de competência da

Especializada Trabalhista.

Como era de se esperar, houve uma grande cizânia relativa à ampliação, que foi

recebida com inúmeros aplausos por alguns e, ao mesmo tempo, com grandes vaias por parte

de outros. Os argumentos pró e contra são dos mais diversos matizes, havendo quem

apresente fundamentos históricos, econômicos, filosóficos e jurídicos em defesa ou contra as

mudanças trazidas pelo texto emendado.

Entre os que comemoraram com a chegada da Emenda Constitucional nº 45/04,

Cláudio Armando Menezes e Leonardo Dias16, juiz-presidente do TRT/17 e juiz titular da 18ª

Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, respectivamente, afirmam que essa Emenda nada mais

fez que “realizar um acerto de contas histórico, devolvendo para a Justiça do Trabalho

matérias que dela jamais deveriam ter saído, além de ter-lhe acrescido outras tantas questões

de competências”. Segundo eles, a competência material da Justiça do Trabalho foi se

perdendo ao longo dos anos, não havendo mais, na sociedade atual, justificativa aceitável para

a continuação de entendimento que restrinja a atuação jurisdicional da Justiça do Trabalho.

Também favorável à ampliação, Rodolfo Pamplona Filho17 defende que “a doutrina

trabalhista há muito reclamava tal modificação, não vendo sentido em limitar a ‘Justiça do

Trabalho’ a uma ‘Justiça do Emprego’”. 16 A Emenda Constitucional nº 45 e algumas questões acerca da competência e do procedimento na Justiça do Trabalho. Revista do Direito do Trabalho, Brasília, v. 11, n. 11, p. 15, maio 2005. 17 A nova competência da Justiça do Trabalho (uma contribuição para a compreensão dos limites do novo art. 114 da Constituição Federal de 1988). Revista LTr, São Paulo, v. 70, n. 1, p. 38, jan. 2006.

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Mais realista, porém, João Oreste Dalazen18, Ministro do TST, afirma que a recente

publicação da Emenda Constitucional nº 45/04 constituiu um “formidável avanço, não

obstante se ressinta ainda de imperfeições”.

Os que condenam a ampliação argúem que as modificações não teriam ocorrido em

benefício da sociedade, já que influenciariam negativamente na celeridade processual, além

de desvirtuar o próprio sentido da Justiça do Trabalho, que objetiva, acima de tudo, a proteção

ao trabalhador subordinado. Pazzianotto Pinto19, nesse sentido, critica severamente que a

dilatação da competência material – segundo ele, uma das prescrições de alcance

controvertido trazidas pela Emenda Constitucional nº 45/04 – tornou difuso e impreciso o

perímetro da Justiça do Trabalho. Afirma o ex-presidente do TST que

[...] no primeiro momento, a magistratura trabalhista exultou por se sentir valorizada. Passados os meses, surgiram interrogações acerca da fatídica relação custo/benefício, e muitos já se deram conta de que prejuízos, com o aumento dos níveis de incerteza e perda de velocidade, superam hipotéticos ganhos em termos de prestígio.

Apesar das divergências acima apresentadas, pode-se afirmar que há certa

concordância ao menos quanto à competência estabelecida nos incisos II a VIII do artigo 114

da Constituição Federal, considerada virtuosa por reafirmar a competência clássica da Justiça

do Trabalho, eliminando de vez antigas controvérsias jurisprudenciais, ao tempo em que

acrescentou assuntos correlacionados à relação de emprego. Leciona Godinho20 que “no

instante em que concentrou na Justiça do Trabalho a competência para conhecer e julgar lides

nucleares e conexas que tenham fulcro na relação de emprego, a nova emenda constitucional

fez despontar sua face progressista democrática e direcionada à busca da justiça social.”

Por outro lado, o inciso I do artigo 114 da CR/88 é motivo de grande contestação,

principalmente no que se refere ao emprego da expressão “relação de trabalho”.

18 A Reforma do Judiciário e os novos marcos da competência material da Justiça do Trabalho no Brasil. Revista do Direito do Trabalho, Brasília, v. 11, n. 3, p. 14, mar. 2005. 19 A Emenda nº 45 e a reforma do Judiciário. Revista do Direito do Trabalho, Brasília, v. 11, n. 12, p. 26, dez. 2005. 20 As duas faces da nova competência da Justiça do Trabalho. Revista do Direito do Trabalho, Brasília, v. 11, n. 3, p. 26, mar. 2005.

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Didaticamente, o Juiz do Trabalho Jorge Luiz Souto Maior21 dividiu em quatro correntes as

manifestações surgidas desse acalorado debate:

Para a primeira corrente, tudo que envolva trabalho, independente da natureza das pessoas envolvidas (natural ou jurídica) ou da forma da prestação do serviço, está, agora, sob a competência da Justiça do Trabalho. A segunda corrente vai na mesma linha, apenas excluindo a tutela para os prestadores de serviços pessoas jurídicas. Admite, portanto, o processamento na Justiça de Trabalho de conflitos envolvendo relação de consumo, mesmo sem o critério da hipossuficiência do prestador ou da continuidade na relação. A terceira, mais restritiva, além de exigir a pessoalidade na prestação de serviço, ainda estabelece como pressuposto da competência da Justiça do Trabalho que o prestador de serviço esteja sob dependência econômica do tomador dos seus serviços ou que haja, pelo menos, uma continuidade nesta prestação. A quarta corrente recusa à expressão “relação de trabalho”, trazida no inciso I, qualquer caráter inovador com relação ao que já constava do mesmo artigo 114 antes da edição da EC n. 45, ou seja, que continuariam na competência da Justiça do Trabalho apenas os conflitos decorrentes da relação de emprego.

Parece mais razoável a solução que tenta resolver o imbróglio a partir da análise do

objeto central da jurisdição trabalhista que, sem dúvida, é a relação capital versus trabalho. De

fato, objetivando equacionar essa relação, o Estado procurou estabelecer um sistema

institucional voltado à proteção e valorização do trabalho – tanto é que estabelece como um

dos fundamentos da República Federativa do Brasil “os valores sociais do trabalho” (CR, art.

1º, IV) e estabelece ser a ordem econômica fundada na “valorização do trabalho humano”

(CR, art. 170, caput). Trabalho, nessa expressão, deve ser entendido como aquele

juridicamente protegido, ou seja, emprego, “porque é o emprego o veículo de inserção do

trabalhador no sistema capitalista globalizado, e só deste modo é possível garantir-lhe um

patamar concreto de afirmação individual, familiar, social, ética e econômica”.22 A esse

propósito, acrescenta Dayse Coelho23 que

A correta leitura constitucional do princípio da valorização do trabalho está ligada intrinsecamente com o emprego, porque é a única forma de coerência com os demais imperativos principiológicos constitucionais, como o princípio da justiça social e da busca do pleno emprego (conforme o artigo 170, VIII, da CR/88).

21 Em defesa da ampliação da competência da Justiça do Trabalho. Revista LTr, São Paulo, v. 70, n. 1, p. 13, jan. 2006. 22 ALMEIDA, Dayse Coelho. A essência da Justiça do Trabalho e o inciso I do artigo 114 da Constituição Federal – uma abordagem principiológica. Revista do Direito do Trabalho, Brasília, v. 11, n. 10, p. 4, out. 2005. 23 Ibid., loc. cit.

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Assim, a Emenda Constitucional nº 45/04, ao ampliar demasiadamente a competência

da Justiça do Trabalho – já que a tendência é prevalecer a interpretação ampliativa do caput

do artigo 114 da Constituição Federal – desconsiderou a essência desse ramo especializado e

coloca em sério risco a estrutura de proteção ao trabalhador. Repetindo as palavras de Dayse

Coelho24, “se a essência de algo lhe é retirada, perde sentido lógico a própria existência da

coisa, porque é a essência que anima, dá vida e sentido”.

Nesse diapasão, Maurício Godinho25 brilhantemente preleciona que

A perda do foco no emprego – e seu ramo jurídico regulador – retira o coração e a mente da Justiça do Trabalho do seu papel social imprescindível, de contribuir para a construção da justiça social no conjunto do sistema institucional a que pertence. A história demonstra que não se constrói justiça social no âmbito da desigual sociedade capitalista sem um amplo, diversificado, genérico, democrático, porém equilibrado, mecanismo de distribuição de poder e renda, como o Direito do Trabalho.

De certo modo, ao empregar a expressão “relação de trabalho”, o legislador prescreveu

como competência da Justiça do Trabalho solucionar lides que envolvem a maior parte dos

conflitos humanos, já que em todas as situações em que houver dispêndio de energia humana

será competente essa Especializada. Ora, sem qualquer sombra de dúvida isso implicaria na

morte lenta e gradual de todo um arcabouço de proteção ao trabalhador. Não é sem razão que

Benedito Calheiros Bonfim26 questiona:

Num passado recente, os partidários do neoliberalismo, entre nós, pretenderam extinguir a Justiça do Trabalho, com a proposta de esvaziá-la e deslocar a suas atribuições e processos para a Justiça Federal. Não lograram tal intento. Quem sabe se agora não estão vislumbrando a possibilidade de sua asfixia e estrangulamento com o abarrotamento de atribuições e encargos, usando como coveiros da instituição os próprios juízes, advogados trabalhistas e sindicatos?

De outro prisma, e considerando inarredável a interpretação extensiva, é preciso que

os operadores do direito – incluindo aí os inúmeros defensores dessa dilatação – não olvidem 24 A essência da Justiça do Trabalho e o inciso I do artigo 114 da Constituição Federal – uma abordagem principiológica. Revista do Direito do Trabalho, Brasília, v. 11, n. 10, p. 5, out. 2005. 25 As duas faces da nova competência da Justiça do Trabalho. Revista do Direito do Trabalho, Brasília, v. 11, n. 3, p. 27, mar. 2005. 26 O risco do colapso na Justiça do Trabalho. Revista do Direito do Trabalho, Brasília, v. 11, n. 6, p. 6, jun. 2005.

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esforços na defesa do escopo basilar da Reforma do Judiciário: a busca pela eficiência da

prestação jurisdicional, manifestada inicialmente na celeridade processual (CR, art. 5º,

LXXVIII). Retomando as idéias de Bonfim27, nenhuma alteração que objetive agilizar a

máquina judiciária será eficaz enquanto parte dos magistrados continuar “imbuída de uma

cultura patrimonialista e corporativista, que emperra o desenvolvimento da instituição que

compõem”. Necessário se faz, conforme leciona o citado advogado, que muitos juízes

“conscientizem-se de que o Judiciário não lhes pertence; convençam-se de que são simples

mandatários, e não mandantes da comunidade, que lhes remunera o trabalho judicante.

Persuadam-se, enfim, de que existem para atender à população, aos jurisdicionados, e não o

inverso”.

Também não se pode deixar de considerar que, conforme adverte Carlos Henrique

Bezerra Leite28, a ampliação da competência da Justiça Laboral não significou a extensão dos

direitos sociais previstos na Constituição Federal e na CLT aos demais trabalhadores não-

empregados, ou seja, a tutela conferida pela Reforma do Judiciário foi apenas de caráter

processual e procedimental. Bezerra Leite defende ainda que a “reforma trabalhista” em

tramitação no Congresso Nacional deve “estender os direitos sociais que constituem o

chamado ‘piso vital mínimo’ ou o ‘mínimo existencial’ aos demais trabalhadores não-

empregados”, já que sem a percepção desses direitos “não se pode falar em trabalho digno e,

muito menos, em dignidade da pessoa humana”. Na mesma toada, o ministro José Luciano de

Castilho Pereira29 obtempera:

[...] antes que resolvêssemos nossos problemas de identidade dentro de um Direito marcadamente tutelar – num mundo dominado pelo mercado, que pretende afastar todo tipo de intervenção do Estado na economia e nos contratos –, foi ampliada a competência da Justiça do Trabalho [...].

Por fim, é impossível esquecer as lapidares palavras do Juiz do Trabalho Jorge Luiz

Souto Maior30, em brilhante artigo que supostamente reconsidera sua posição anterior por

perceber que aqueles que “se recusavam a dar um sentido amplo à expressão passaram a ser 27 O risco do colapso na Justiça do Trabalho. Revista do Direito do Trabalho, Brasília, v. 11, n. 6, p. 6, jun. 2005. 28 Curso de direito processual do trabalho. São Paulo: LTr, 2006, p. 180. 29 A nova competência da Justiça do Trabalho – Emenda Constitucional n. 45, de 31.12.04. Revista LTr, São Paulo, v. 69, n. 8, p. 913, ago. 2005. 30 Em defesa da ampliação da competência da Justiça do Trabalho. Revista LTr, São Paulo, v. 70, n. 1, p. 22, jan. 2006.

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considerados conservadores ou ‘reacionários’ e que estariam negando o princípio da

dignidade humana aos profissionais liberais”. Após enumerar vinte e cinco aspectos que

devem nortear a ampliação da competência, se observados os argumentos dos defensores do

movimento ampliativo – a vocação protecionista do valor social do trabalho e da dignidade

humana –, concluiu que

[...] mesmo tendo que reconsiderar posição anterior, tenho pelo menos 25 razões para externar que minha alegria não poderia ser maior. Afinal, com o advento do espírito de proteção da dignidade humana e do valor social do trabalho que se instaurou na esfera jurídica trabalhista a partir da publicação da Emenda Constitucional n. 45, que ampliou a competência da Justiça do Trabalho, todos os efeitos [...] serão, certamente, produzidos em curto espaço de tempo. Não é mesmo? Ou será que os argumentos da proteção da dignidade humana e da valoração social do trabalho são apenas figuras de retórica para justificar a defesa da ampliação da competência que, no fundo, tem outros propósitos ou propósito nenhum... Mas, não posso ter essa recaída agora, na medida em que é enorme a quantidade de juristas e juízes a garantir que a defesa da ampliação da competência da Justiça do Trabalho parte dos postulados em questão e é claro que como defensores da dignidade e, conseqüentemente, da ética, naturalmente, não trairão as suas idéias e farão com que tais princípios tenham incidência imediata e concreta nas relações de emprego. Portanto, no embalo da presunção de veracidade das concretas mudanças de mentalidade de postura da Justiça do Trabalho frente aos conflitos trabalhistas, com imensa alegria, vou à luta ecoando o coro: A gente não quer só poder A gente quer poder pra aliviar a dor! [grifou-se]

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3. AS RELAÇÕES DE TRABALHO NO ÂMBITO DA

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E A NOVA COMPETÊNCIA DA

JUSTIÇA DO TRABALHO

Consoante a inteligência dos incisos I e II do artigo 37 da Constituição Federal, são

duas as principais espécies de relação de trabalho no âmbito da Administração Pública – a

relação estatutária e a empregatícia. Há ainda a possibilidade de contratação por tempo

determinado, nos termos do inciso IX do artigo supracitado. Analisar-se-á, a seguir, a atual

competência da Justiça do Trabalho em relação a essas espécies.

3.1 Relação estatutária

Imprescindível, para o estudo da competência da Justiça do Trabalho em relação aos

servidores estatutários, que se faça uma incursão histórica, ainda que breve, da evolução do

regramento jurídico e orientações jurisprudenciais a respeito.

No texto promulgado em 5 de outubro de 1988, o artigo 39 da Constituição Federal

prescrevia a obrigatoriedade do chamado “Regime Jurídico Único” para os servidores da

Administração direta, autárquica e fundacional, no âmbito da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios. Segundo o entendimento doutrinário majoritário, esse Regime

Jurídico Único deveria ser o de natureza estatutária e, conseqüentemente, seria incompetente a

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Justiça do Trabalho para dirimir os litígios dele decorrentes31. Acerca dessa matéria, o STJ

editou duas Súmulas: a 97, reconhecendo que compete à “Justiça do Trabalho processar e

julgar reclamação de servidor público relativamente a vantagens trabalhistas anteriores à

instituição do regime jurídico único”, e a 137, determinando que “compete à Justiça Comum

Estadual processar e julgar ação de servidor público municipal, pleiteando direitos relativos

ao vínculo estatutário”.

Em 11 de dezembro de 1990 foi editada a Lei nº 8.112, estabelecendo o regime

estatutário para os Servidores Públicos Civis da União, das autarquias, inclusive as em regime

especial, e das fundações públicas federais. Seu artigo 240, nas alíneas d e e, prescreveu que

os servidores públicos civis teriam direito à negociação coletiva e ao ajuizamento das ações

individuais ou coletivas perante a Justiça do Trabalho. O STF, entretanto, declarou tais alíneas

inconstitucionais (ADIn 492-1), tendo como base a interpretação do termo “trabalhador”,

constante na redação original do artigo 114 da Carta de Outubro, que, segundo o Pretório

Excelso, não incluiria o servidor público estatutário. Corroborando esse entendimento, a Lei

nº 9.527, de 10/12/1997, revogou as alíneas d e e do artigo 240, ficando assentado que a

Justiça do Trabalho seria incompetente para quaisquer dissídios envolvendo os servidores

estatutários.

Todavia, com a Emenda Constitucional nº 45/04, o problema novamente vem à baila.

Pela Proposta de Emenda à Constituição nº 29, de 2000 (nº 96, de 1999, na Câmara dos

Deputados), constante da Emenda nº 240, da Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania, o

inciso I do artigo 114 da Constituição Federal teria a seguinte redação:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I – as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da Administração Pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, exceto os servidores ocupantes de cargos criados por lei, de provimento efetivo ou em comissão, incluídas as autarquias e fundações públicas dos referidos entes da federação. [grifou-se]

31 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 4. ed. São Paulo: LTr, 2006, p. 190.

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Entretanto, antes da promulgação foi suprimida a exceção final do artigo, ficando,

assim, a redação:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I – as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da Administração Pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Sem a ressalva, a Justiça do Trabalho teria competência para decidir sobre servidores

públicos, já que a relação estatutária é uma espécie de relação de trabalho.

Contudo, o STF interveio na questão, por meio da liminar concedida na ADI nº 3.395,

proposta pela Associação dos Juízes Federais do Brasil (AJUFE), afastando a competência da

Justiça do Trabalho para dirimir lides envolvendo estatutários. A seguir transcreve-se o

despacho do Ministro Nelson Jobim, ipsis litteris:

A ASSOCIAÇÃO DOS JUÍZES FEDERAIS DO BRASIL - AJUFE - propõe a presente ação contra o inciso I do art. 114 da CR, na redação dada pela EC Nº 45/2004. Sustenta que no processo legislativo, quando da promulgação da emenda constitucional, houve supressão de parte do texto aprovado pelo Senado. 1. CÂMARA DOS DEPUTADOS. Informa que a Câmara dos Deputados, na PEC nº 96/92, ao apreciar o art. 115, "aprovou em dois turnos, uma redação ... que ... ganhou um inciso I..." (fls. 4 e 86). Teve tal dispositivo a seguinte redação: "Art. 115. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios." 2. SENADO FEDERAL. A PEC, no Senado Federal, tomou número 29/200. Naquela Casa, a Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania manifestou-se pela divisão da "... proposta originária entre (a) texto destinado à promulgação e (b) texto destinado ao retorno para a Câmara dos Deputados" (Parecer 451/04, fls. 4, 177 e 243). O SF aprovou tal inciso com acréscimo. O novo texto ficou assim redigido: "Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, EXCETO OS SERVIDORES OCUPANTES DE CARGOS CRIADOS POR LEI, DE PROVIMENTO EFETIVO OU EM COMISSÃO, INCLUÍDAS AS AUTARQUIAS E FUNDAÇÕES PÚBLICAS DOS REFERIDOS ENTES DA FEDERAÇÃO". (fls 4 e 280). Informa, ainda, que, na redação final do texto para promulgação, nos termos do parecer nº 1.747 (fl. 495), a parte final acima destacada foi suprimida. Por isso, remanesceu, na promulgação, a redação oriunda da CÂMARA DOS DEPUTADOS, sem o acréscimo. No texto que voltou à CÂMARA DE DEPUTADOS (PEC. 358/2005), o SF fez constar a redação por ele aprovada, com o referido acréscimo (Parecer 1748/04, fls. 502). Diz, mais, que a redação da EC nº45/2004, nesse inciso, trouxe dificuldades de interpretação ante a indefinição do que seja "relação de trabalho". Alega que há divergência de entendimento entre os juízes trabalhistas e os federais, "... ausente a precisão ou certeza, sobre a quem coube a competência para processar as ações decorrentes das

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relações de trabalho que envolvam a União, quando versem sobre servidores ocupantes de cargos criados por lei, de provimento efetivo ou em comissão, incluídas as autarquias e fundações públicas." (fl. 7). Em face da alegada violação ao processo legislativo constitucional, requer liminar para sustar os efeitos do inciso I do art. 114 da CR, na redação da EC Nº 45/04, com eficácia 'ex tunc', ou que se proceda a essa sustação, com interpretação conforme. (fl. 48). 3. DECISÃO. A CR, em sua redação dispunha: "Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta dos Municípios, do Distrito Federal, dos Estados e da União, e, na forma da lei, outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, bem como os litígios que tenham origem no cumprimento de suas próprias sentenças, inclusive coletivas." O SUPREMO, quando dessa redação, declarou a inconstitucionalidade de dispositivo da L. 8.112/90, pois entendeu que a expressão "relação de trabalho" não autorizava a inclusão, na competência da Justiça trabalhista, dos litígios relativos aos servidores públicos. Para estes o regime é o "estatutário e não o contratual trabalhista" (CELSO DE MELLO, ADI 492). Naquela ADI, disse mais CARLOS VELLOSO (Relator): "...Não com referência aos servidores de vínculo estatutário regular ou administrativo especial, porque o art. 114, ora comentado, apenas diz respeito aos dissídios pertinentes a trabalhadores, isto é, ao pessoal regido pela Consolidação das Leis do Trabalho, hipótese que, certamente, não é a presente..." O SF, quando apôs o acréscimo referido acima e não objeto de inclusão no texto promulgado, meramente explicitou, na linha do decidido na ADI 492, o que já se continha na expressão "relação de trabalho", constante da parte inicial do texto promulgado. A REQUERENTE, porque o texto promulgado não contém o acréscimo do SF, sustenta a inconstitucionalidade formal. Entendo não ser o caso. A não inclusão do enunciado acrescido pelo SF em nada altera a proposição jurídica contida na regra. Mesmo que se entendesse a ocorrência de inconstitucionalidade formal, remanesceria vigente a redação do caput do art. 114, na parte que atribui à Justiça trabalhista a competência para as "relações de trabalho" não incluídas as relações de direito administrativo. Sem entrar na questão da duplicidade de entendimentos levantada, insisto no fato de que o acréscimo não implica alteração de sentido da regra. A este respeito o SUPREMO tem precedente. Destaco do voto por mim proferido no julgamento da ADC 4, da qual fui relator: "O retorno do projeto emendado à Casa iniciadora não decorre do fato de ter sido simplesmente emendado. Só retornará se, e somente se, a emenda tenha produzido modificação de sentido na proposição jurídica. Ou seja, se a emenda produzir proposição jurídica diversa da proposição emendada. Tal ocorrerá quando a modificação produzir alterações em qualquer dos âmbitos de aplicação do texto emendado: material, pessoal, temporal ou espacial. Não basta a simples modificação do enunciado pela qual se expressa a proposição jurídica. O comando jurídico - a proposição - tem que ter sofrido alteração..." Não há que se entender que justiça trabalhista, a partir do texto promulgado, possa analisar questões relativas aos servidores públicos. Essas demandas vinculadas a questões funcionais a eles pertinentes, regidos que são pela Lei 8.112/90 e pelo direito administrativo, são diversas dos contratos de trabalho regidos pela CLT. Leio GILMAR MENDES, há "Oportunidade para interpretação conforme à Constituição ... sempre que determinada disposição legal oferece diferentes possibilidades de interpretação, sendo algumas delas incompatíveis com a própria Constituição. ... Um importante argumento que confere validade à interpretação conforme à Constituição é o princípio da unidade da ordem jurídica ..." (Jurisdição Constitucional, São Paulo, Saraiva, 1998, págs. 222/223). É o caso. A alegação é fortemente plausível. Há risco. Poderá, como afirma a inicial, estabelecerem-se conflitos entre a Justiça Federal e a Justiça Trabalhista, quanto à competência desta ou daquela. Em face dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade e ausência de prejuízo, concedo a liminar, com efeito 'ex tunc'. Dou interpretação conforme ao inciso I do art. 114 da CR, na redação da EC Nº 45/04. Suspendo, ad referendum, toda e qualquer interpretação dada ao inciso I do art. 114 da CR, na redação dada pela EC 45/2004, que inclua, na competência da Justiça do Trabalho, a "... apreciação ... de causas que ... sejam instauradas entre o Poder Público e seus servidores, a ele vinculados por típica relação de

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ordem estatutária ou de caráter jurídico-administrativo" . Publique-se. Brasília, 27 de janeiro de 2005. Ministro NELSON JOBIM Presidente32. [grifou-se]

Além disso, no mês de abril do corrente ano, o pleno do STF confirmou a liminar

supramencionada, conforme foi noticiado em seu Informativo nº 422:

EC 45/2004 e Inciso I do Art. 114 da CR - 1 O Tribunal, por maioria, referendou liminar concedida em ação direta de inconstitucionalidade proposta pela Associação dos Juízes Federais do Brasil - AJUFE contra o inciso I do art. 114 da CR, na redação dada pela EC 45/2004, em que o Min. Nelson Jobim, então presidente, dera interpretação conforme ao aludido dispositivo, para suspender “toda e qualquer interpretação ... que inclua, na competência da Justiça do Trabalho, a ‘... apreciação ... de causas que ... sejam instauradas entre o Poder Público e seus servidores, a ele vinculados por típica relação de ordem estatutária ou de caráter jurídico-administrativo’” (CR: “Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;”). Inicialmente, por maioria, afastou-se a preliminar de ilegitimidade ativa da requerente. Vencido, no ponto, o Min. Marco Aurélio, suscitante, que, por reputar ausente o requisito de pertinência temática, assentava a ilegitimidade da associação. ADI 3395/DF, rel. Min. Cezar Peluso, 5.4.2006. (ADI-3395) EC 45/2004 e Inciso I do Art. 114 da CR - 2 Em seguida, entendeu-se estarem presentes os requisitos para a manutenção da liminar concedida. Considerou-se pertinente a interpretação conforme à Constituição emprestada pela decisão, em face do caráter polissêmico da norma em análise. Salientou-se, no ponto, a decisão do STF no julgamento da ADI 492/DF (DJU de 12.3.93), na qual se concluíra pela inconstitucionalidade da inclusão, no âmbito da competência da Justiça do Trabalho, das causas que envolvam o Poder Público e seus servidores estatutários, em razão de ser estranho ao conceito de relação de trabalho o vínculo jurídico de natureza estatutária existente entre servidores públicos e a Administração. Afastou-se a alegação de inconstitucionalidade formal, uma vez que a redação dada pelo Senado Federal à norma e suprimida na promulgação em nada alteraria o âmbito semântico do texto definitivo, mas somente tornaria expressa, naquela regra de competência, a exceção, concernente aos servidores públicos estatutários, que o art. 114, I, da CR, já contém de forma implícita. Também reputou-se presente o requisito do periculum in mora, visto que os possíveis transtornos e protelações no curso dos processos causados por eventuais conflitos de competência, com danos às partes e à própria Jurisdição, estariam a demonstrar o grave risco que poderia acarretar o indeferimento da liminar. Vencido o Min. Marco Aurélio que não referendava a decisão. ADI 3395/DF, rel. Min. Cezar Peluso, 5.4.2006. (ADI-3395).33

32 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ação Direta de Inconstitucionalidade nº. 3.395-6. Requerente: Associação dos Juízes Federais do Brasil – AJUFE. Requerido: Congresso Nacional. Relator: Min. Cezar Peluso. Brasília, 4 de fevereiro de 2005. Disponível em: <http://www.stf.gov.br/noticias/imprensa/ultimas/ler.asp?CODIGO=186428&tip=UN&param=estatutário>. Acesso em: 22 abr. 2006, 11:23:45. 33 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. EC 45/2004 e Inciso I do Art. 114 da CR – 1 e 2. Informativo STF, Brasília, n. 422, 3 abr. 2005. Disponível em: <ftp://www.stf.gov.br/informa/info422.zip>. Acesso em: 22 abr. 2006, 22:45:26.

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Dessarte, considerando que a liminar produz eficácia erga omnes, as ações oriundas da

relação estatutária continuam na esfera de competência da Justiça Comum.

Apesar disso, a polêmica persiste no meio doutrinário. Segundo Couto Maciel34,

[...] ainda que se entenda que o Senado poderia suprimir parte do artigo 114 da Emenda Constitucional e que tal fato não exigiria o retorno da norma para nova votação, parece-me que a relação entre servidor público e o Estado jamais poderá ser considerada como relação de trabalho, pois não se trata de um contrato bilateral, mas de ato unilateral de adesão do servidor a regras estatutárias impostas pela Administração Pública, o que difere totalmente da relação de trabalho.

Nessa esteira, Rogério Batista e Fábio Rezende35 asseveram que

[...] em verdade, nada foi alterado após a promulgação da citada emenda [...]. O artigo 114 da Constituição Federal, mesmo com a nova redação dada pela EC Nº 45/04, não ampliou a competência da Justiça do Trabalho a ponto de abranger todas as relações laborais lato sensu, somente englobando em seu enunciado os dissídios entre servidores e os entes de direito público que tenham por fundamento o regime jurídico celetista, não sendo de sua competência o processo e julgamento das demandas oriundas de relações submetidas a regime estatutário ou administrativo especial.

Acompanhando tais entendimentos, Arnaldo Süssekind36, Ministro aposentado do

TST, defende ser correto o posicionamento do STF adotado na ADI nº 3.395, já que o regime

estatutário “é imposto por lei e não admite a negociação das respectivas condições de

trabalho”.

Noutro passo, porém, João Oreste Dalazen37 entende que a redação atual do inciso I

do artigo 114 da Constituição Federal mudou radicalmente a competência trabalhista, que

passou a abarcar todos os dissídios de servidor público, seja esse estatutário, celetista ou

contratado temporariamente nos termos do artigo 37, inciso IX da Carta de Outubro. Aliás,

34 Reforma do Judiciário: erro grosseiro do Congresso Nacional no que concerne à competência trabalhista? Revista do Direito do Trabalho, Brasília, v.11, n. 2, p. 17, fev. 2005. 35 A Reforma do Judiciário e a competência para o julgamento das ações de servidores públicos. Revista do Direito do Trabalho, Brasília, v. 11, n. 8, p. 4, ago. 2005. 36 As relações individuais e coletivas de trabalho na reforma do Poder Judiciário. Revista do Direito do Trabalho, Brasília, v. 11, n. 3, p. 8, mar. 2005. 37 A reforma do Judiciário e os novos marcos da competência material da Justiça do Trabalho no Brasil. Revista do direito do trabalho, Brasília, v. 69, n. 3, p. 17, mar. 2005.

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Dalazen realça que não divisa inconstitucionalidade formal no artigo 114, já que a primeira

parte desse, em que foi empregada a expressão “relação de trabalho”, foi aprovada nas Casas

do Congresso Nacional, e não haveria impedimento à promulgação parcial. Em defesa da

competência da Justiça do Trabalho para julgar dissídios que envolvam todas as espécies de

servidores públicos, o Ministro Dalazen38 apresenta dois argumentos:

Em primeiro lugar, em favor dessa exegese milita a interpretação histórica. Como visto, ao longo da tramitação da PEC no Congresso Nacional foram rejeitadas as emendas apresentadas para substituir a locução “relação de trabalho” por relação de emprego. Logo, já pela exegese histórica da norma constitucional, vê-se que constitui um ledo engano identificar-se “relação de trabalho” com “relação de emprego”. Em segundo lugar, insta ter presente o evidente alcance conceitual mais amplo e abrangente da locução “relação de trabalho”. Quisesse o Congresso Nacional manter a competência material da Justiça do Trabalho vinculada aos dissídios entre “trabalhadores e empregadores” teria repetido o texto constitucional anterior. Ora, inconteste que entre o servidor e a Administração Pública forma-se uma relação de trabalho em sentido amplo, embora de natureza jurídica bem distinta da contratual-trabalhista.

Dalazen39 afirma que a liminar deferida pelo STF inspirou-se na decisão proferida na

ADI nº 492-1, anteriormente referida, quando foi declarada a inconstitucionalidade material

do artigo 240, e, da Lei nº 8.112/90. O autor em pauta afirma, porém, que as razões básicas

que fundamentaram a ADI nº 492-1 não mais subsistem em decorrência dos seguintes pontos:

a) o texto atual do artigo 114, inciso I, não mais alude a dissídio entre “trabalhador” e empregador para que se possa cingir aos dissídios da relação de emprego a competência material da JT; b) tampouco consta a representação classista da estrutura da Justiça do Trabalho, então invocada como óbice ao reconhecimento da acenada competência; c) ademais, declarou-se então a inconstitucionalidade também à luz de uma norma constitucional hoje inexistente (artigo 39), que previra regime jurídico único dos servidores públicos; d) por fim, insista-se em assinalar que se a locução “relação de trabalho” não compreendesse também a relação jurídica estatutária do servidor com a Administração Pública não faria sentido o Senado Federal aprovar uma exceção expressa a tal regra, exatamente com a finalidade de descartar a competência da Justiça do Trabalho para o estatutário.

Considerando a prevalência da interpretação que alarga a competência trabalhista, é

forçoso concluir que a razão assiste a Dalazen. Apesar de o vínculo estatutário decorrer da lei,

38 A reforma do Judiciário e os novos marcos da competência material da Justiça do Trabalho no Brasil. Revista do direito do trabalho, Brasília, v. 69, n. 3, p. 17, mar. 2005. 39 Ibid., p. 18.

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a relação do servidor público contratado sob dito regime configura uma relação de trabalho, e,

como tal, deve ser abrangida pelo manto protetor da Justiça do Trabalho. Admitir qualquer

tese em contrário implicaria em interpretação restritiva da competência dessa Especializada,

ou seja, entender a expressão “relação de trabalho” como sinônima de “relação de emprego”.

É ilógico, com a atual redação do artigo 114 da Constituição, entender ser a Justiça do

Trabalho competente para solucionar dissídio envolvendo autônomo, por exemplo, e, por

outro lado, ser incompetente para decidir sobre lide relacionada a servidor público, pois

ambas são relações de trabalho.

3.2 Relação celetista

Após a chamada “Reforma Administrativa”, exteriorizada na Emenda Constitucional

nº 19, promulgada em 4 de junho de 1998, o Regime Jurídico Único deixou de ser obrigatório

no âmbito da Administração Pública. Alterado o texto do artigo 39 da Constituição Federal,

passou a ser possível a convivência de múltiplos regimes jurídicos de servidores, entre eles o

regime celetista.

Mesmo antes do advento da Emenda Constitucional nº 45/04, era pacífico o

entendimento que considera competente a Justiça do Trabalho para solucionar controvérsias

decorrentes do contrato de servidor celetista. À guisa de exemplificação, cita-se ementa de

decisão do TST, publicada em 14/04/2000, colhida por Bezerra Leite40:

AGRAVO REGIMENTAL – SERVIDOR PÚBLICO CELETISTA – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO – AFRONTA AO ARTIGO 114 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL NÃO CONFIGURADA – Diante dos fundamentos adotados pela Turma, que deixou claro que foi ajustado expressamente um contrato de trabalho, sob a égide da CLT, impossível se concluir ter havido ofensa ao artigo 114 da Constituição Federal. Agravo regimental não provido” (TST – AGERR 264389 – SBDI I – Rel. Min. Milton de Moura França – DJU 14.04.2000 – p. 20).

40 Curso de direito processual do trabalho. São Paulo: LTr, 2006, p. 192.

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3.3 Contratação temporária

Ao contrário do regime celetista, a contratação de servidor temporário nos termos do

artigo 37, inciso IX, da Constituição, gerava grande controvérsia antes da promulgação da

Emenda Constitucional nº 45/04.

Leciona Carlos Henrique Bezerra Leite41 que boa parte da doutrina concebia ser

incompetente a Justiça do Trabalho para as lides decorrentes de trabalho temporário no

âmbito da Administração Pública por considerar que o regime dos servidores temporários

deveria ser estatutário, caso fosse esse o regime adotado para os servidores permanentes. Na

mesma linha trilhava a Jurisprudência, conforme se depreende das decisões a seguir:

116033369 – CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA – JUSTIÇAS FEDERAL E TRABALHISTA – ADMINISTRATIVO – SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL – CONTRATO TEMPORÁRIO DE TRABALHO – EXCEPCIONAL INTERESSE PÚBLICO – REAJUSTE DE 28,86% – REGIME ESTATUTÁRIO – COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA FEDERAL – 1. Compete à Justiça Federal processar e julgar ação ordinária proposta por ex-servidor público federal, contratado por prazo determinado, nos termos da Lei nº 8.745/93, que disciplina a contratação temporária para atender excepcional interesse público, em conformidade com o art. 37, inciso IX, da Constituição Federal, porquanto vinculado ao regime estatutário. Precedentes do STJ. 2. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo da 1ª Vara Federal de Itaboraí, Seção Judiciária do Rio de Janeiro, ora suscitado.42

130017752 – CONTRATAÇÃO DE SERVIDOR TEMPORÁRIO – INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO – Ainda que os termos da Lei Especial não tenham sido observados pela Administração Pública, não há como se reconhecer a competência da Justiça do Trabalho para examinar a lide. A Justiça Comum Estadual, no caso, é que, primeiramente, há de examinar os termos da Lei dita não observada, em face da natureza administrativa da norma, bem assim definir os efeitos de seu descumprimento na relação ocorrida entre as partes. Embargos conhecidos e providos para, declarando a incompetência desta Justiça Especializada para apreciar a ação, determinar a remessa dos autos à Justiça Comum do Estado de São Paulo, a fim de que aprecie o pedido do Autor, como entender de direito.43

41 Curso de direito processual do trabalho. São Paulo: LTr, 2006, p. 192. 42BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Conflito de Competência nº 37154, Relª Min. Laurita Vaz. Brasília, 13 de setembro de 2002. Juris Plenum, Caxias do Sul, v. 1, n. 77, maio/jun. 2004. 2 CD-ROM. 43 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. ERR 492446, SBDI-1, Rel. Min. Rider Nogueira de Brito. Brasília, 27 de setembro de 2002. Juris Plenum, Caxias do Sul, v. 1, n. 77, maio/jun. 2004. 2 CD-ROM.

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Nesse passo, havia também a Orientação Jurisprudencial (OJ) nº 205, da SDI-I do

TST, cancelada pela Resolução nº 121/2003:

205. Professor. Contratação a Título Precário. Incompetência da Justiça do Trabalho. Existindo lei estadual disciplinando o regime dos professores contratados em caráter precário, o regime jurídico entre o Estado e o servidor é de natureza administrativa, não trabalhista. Art. 106 da CR/67 e art. 37, IX, da CR/88. (08.11.2000).

Apesar dessas concepções, o STF, conforme explica Carlos Henrique Bezerra44,

passou a decidir que a competência material da Justiça do Trabalho, “no caso da contratação

temporária de servidor público, seria estabelecida em função da causa de pedir e do pedido”, o

que levou o TST a modificar a redação da OJ nº 205, supracitada, que passou a ter o seguinte

texto:

COMPETÊNCIA MATERIAL. JUSTIÇA DO TRABALHO. ENTE PÚBLICO. CONTRATAÇÃO IRREGULAR. REGIME ESPECIAL. DESVIRTUAMENTO. (nova redação, DJ 20.04.2005) I - Inscreve-se na competência material da Justiça do Trabalho dirimir dissídio individual entre trabalhador e ente público se há controvérsia acerca do vínculo empregatício. II - A simples presença de lei que disciplina a contratação por tempo determinado para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público (art. 37, inciso IX, da CR/1988) não é o bastante para deslocar a competência da Justiça do Trabalho se se alega desvirtuamento em tal contratação, mediante a prestação de serviços à Administração para atendimento de necessidade permanente e não para acudir a situação transitória e emergencial.

Apesar de se esperar que a Emenda Constitucional nº 45/04 elidisse a controvérsia, já

que a competência para solucionar ações oriundas da relação de trabalho envolve

necessariamente os contratos de trabalho firmados entre a Administração Pública e o servidor

temporário, o STF, consoante noticiado em seu sítio oficial, decidiu caber à Justiça Comum

julgar ações envolvendo temporários:

12/01/2006 - 20:14 - Cabe à Justiça Comum julgar ação sobre contratação temporária no Rio de Janeiro. Por decisão do presidente do Supremo, ministro Nelson Jobim, está suspenso o curso da ação civil pública sobre contratação temporária pelo Estado do Rio de Janeiro. A ação tramita na 11ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro para apurar

44 Curso de direito processual do trabalho. São Paulo: LTr, 2006, p. 197.

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supostas irregularidades na contratação temporária de professores pela Secretaria estadual de Educação. Ao decidir sobre o pedido de liminar do governo do Rio de Janeiro na Reclamação (RCL) 4045, o ministro Jobim entendeu que não é da competência da Justiça do Trabalho o julgamento da matéria. Com a decisão do presidente do STF, fica suspensa, portanto, a audiência de instrução e julgamento marcada para o próximo dia 26 de janeiro. Na avaliação do ministro Nelson Jobim, “o processamento da ação civil perante a Justiça do Trabalho, está em confronto com o entendimento fixado na ADI 3395”. Nesta ADI foi deferida liminar para suspender toda e qualquer interpretação dada ao inciso I, do artigo 114 da Constituição Federal, que inclua na competência da Justiça do Trabalho a apreciação de causas que sejam instauradas entre o poder público e seus servidores, a ele vinculados por típica relação de ordem estatutária ou de caráter jurídico-administrativo. Segundo Jobim, os contratos temporários celebrados sob as regras da Lei Estadual 2399/95 são – ‘em exame preliminar’, observou – de natureza estatutária, pois dispõem sobre a Contratação de Pessoal, por Prazo Determinado pela Administração Pública Direta, Autárquica e Fundacional do Estado do Rio.45

No mesmo sentido, vale destacar as seguintes decisões monocráticas:

DECISÃO: 1. Trata-se de reclamação, movida pelo Município de Palmas, em que se impugnam os atos com que o juízo da 2ª Vara Trabalhista de Palmas se vem reputando competente para julgar reclamações trabalhistas fundadas em contratações temporárias firmadas com base em lei municipal (fls. 02/07). Segundo alega o reclamante, teria sido afrontada a autoridade da liminar proferida por esta Corte na ADI nº 3.395, que determinou ser competente a Justiça Comum para o julgamento de causas sobre vínculos de natureza estatutária ou jurídico-administrativa, estabelecidos entre o poder público e seus servidores. Liminarmente, pede "a imediata suspensão do processamento da reclamação trabalhista sob o nº 0480.2005.802.10.00.5", movida por Francisco Lopes de Alexandre contra o reclamante (fls. 06). Em caráter definitivo, postula a confirmação da liminar, "consolidando o entendimento desta Corte quanto à suspensão de qualquer interpretação contrária ao entendimento contemplado na ADIN 3.395/2005, acerca da competência material da Justiça do Trabalho, concernentemente a feitos que envolvam os entes públicos e seus servidores ligados por relação jurídica de natureza estatutária ou jurídico-administrativa, julgando, ao final, procedente a reclamação, com a cassação de todas as decisões exorbitantes proferidas pelo douto juízo reclamado" (fls. 07). 2. É caso de liminar. Conforme decidiu liminarmente o Min. NELSON JOBIM, na ADI nº 3.395: "Em face dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade e ausência de prejuízo, concedo a liminar, com efeito 'ex tunc'. Dou interpretação conforme ao inciso I do art. 114 da CR, na redação da EC Nº 45/04. Suspendo, ad referendum, toda e qualquer interpretação dada ao inciso I do art. 114 da CR, na redação dada pela EC 45/2004, que inclua, na competência da Justiça do Trabalho, a ' ... apreciação ... de causas que ... sejam instauradas entre o Poder Público e seus servidores, a ele vinculados por típica relação de ordem estatutária ou de caráter jurídico-administrativo'" (DJ de 04.02.2005). O órgão reclamado deixou de reconhecer sua incompetência para exame da reclamação trabalhista movida por Francisco Lopes de Alexandre (nº 0480.2005.802.10.00.5). Assim agindo, o juízo trabalhista da 2ª Vara do Trabalho de Palmas violou a autoridade da liminar proferida na ADI nº 3.395, a qual vedou

45 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Cabe à Justiça Comum julgar ação sobre contratação temporária no Rio de Janeiro. Notícias STF, Brasília, 2006. Disponível em: <http://www.stf.gov.br/noticias/imprensa/ultimas> Acesso em: 21 abr. 2006, 22:15:20.

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qualquer interpretação do novo texto do art. 114, inc. I, da Constituição Federal, que incluísse, na esfera de competência da Justiça do Trabalho, a resolução de conflitos que envolvam relações estatutárias ou administrativas entre entes públicos e seus servidores. No caso, segundo consta da inicial, a contratação do servidor temporário fundou-se na Lei Municipal instituidora de Regime Jurídico Único. Pouco se dá que a validade dos contratos temporários celebrados entre a municipalidade e o servidor seja objeto de discussão na reclamação trabalhista. Conforme já se decidiu, "ainda que a natureza do vínculo - se estatutário ou não - esteja em causa na ação trabalhista, não se pode olvidar que as admissões fundamentadas em lei disciplinadora do regime jurídico dos servidores municipais atraem a competência da justiça comum para o seu julgamento" (RCL nº 3.814, Rel. Min. ELLEN GRACIE, DJ de 22.09.2005. No mesmo sentido, RCL nº 3.431, Rel. Min. CARLOS BRITTO, DJ de 08.08.2005). 3. Do exposto, com base no art. 158 do RISTF, concedo a medida liminar, para que seja imediatamente suspenso o andamento da reclamação trabalhista nº 0480.2005.802.10.00.5, em trâmite perante a 2ª Vara do Trabalho de Palmas-TO [sic], até o julgamento definitivo desta reclamação. Comunique-se com urgência. Após, à PGR (art. 160 do RISTF). Publique-se. Int.. Brasília, 20 de março de 2006. Ministro CEZAR PELUSO Relator.46

DECISÃO: Trata-se de reclamação, com pedido de medida liminar, fundada na garantia da autoridade das decisões do Supremo Tribunal Federal, proposta pelo Município de Santarém contra atos de Juiz Titular e de Juízes Substitutos da Vara do Trabalho de Santarém-PA [sic] (TRT 8ª Região), que reconheceram a competência da Justiça do Trabalho para conhecer, processar e julgar ações instauradas entre o Poder Público e seus servidores, as quais discutem a natureza jurídica do vínculo de trabalho decorrente de contratações temporárias. Alega o município reclamante, a título de plausibilidade jurídica do pedido, desrespeito à autoridade da decisão desta Corte na ADIN nº 3.395, na qual o Ministro Nelson Jobim concedeu a liminar, com efeito ex tunc, dando interpretação conforme ao art. 114, I, da Constituição Federal e ainda suspendeu ad referendum, toda e qualquer interpretação dada ao inciso I do art. 114 da CR, na redação dada pela EC 45/2004, que inclua, na competência da Justiça do Trabalho, a "(...) apreciação...de causas que...sejam instauradas entre o Poder Público e seus servidores, a ele vinculados por típica relação de ordem estatutária ou de caráter jurídico-administrativo." No que tange à urgência da pretensão cautelar, afirma que foi marcada audiência de instrução e julgamento para o dia 15.02.2006. Decido. Sem avançar, nesta oportunidade liminar, em considerações sobre a natureza do vínculo dos servidores contratados pelo Município de Santarém-PA [sic] para prestação de serviços temporários, entendo que assiste razão ao reclamante. Com efeito, designação de audiência de julgamento em Reclamação trabalhista na qual se argüiu a incompetência da Justiça do Trabalho para julgamento da causa que envolve discussão sobre relação jurídica do Poder Público com seus servidores, afronta a decisão desta Corte na ADI 3.395, verbis: "Concedo a liminar, com efeito 'ex tunc'. Dou interpretação conforme ao inciso I do art. 114 da CR, na redação dada pela EC 45/2004, que inclua, na competência da Justiça do Trabalho, a "(...) apreciação...de causas que...sejam instauradas entre o Poder Público e seus servidores, a ele vinculados por típica relação de ordem estatutária ou de caráter jurídico-administrativa". Pronunciamentos análogos, em sede liminar, foram exarados, por exemplo, nas Reclamações nºs 3183 (Rel. Joaquim Barbosa, DJ 15.04.05), 3.303 (DJ 29.06.05), 4.020 (Ellen Gracie no exercício da Presidência, 30.12.2005), 4.045 (Nelson Jobim na Presidência, 12.01.06). Forte nestas razões, defiro a medida liminar requerida, para suspender a tramitação das Reclamações Trabalhistas nº 0019-2006-109-08-00-1, 00010-2006-

46 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Rcl 4202 MC/TO. Reclamante: Município de Palmas. Reclamada: Juíza do Trabalho da 2ª Vara do Trabalho de Palmas. Relator: Min. Cezar Peluso. Brasília, 5 de abril de 2006. Disponível em: <http://www.stf.gov.br/jurisprudencia/nova/pesquisa.asp?s1=temporários%20e%20competência&d=DESP>. Acesso em: 22 abr. 2006, 15:20:20.

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109-08-00-0 e 00011-2006-109-08-00-5, perante a Vara do Trabalho de Santarém, até o julgamento final desta reclamação. Comunique-se, com urgência, ao reclamado. Após, solicitem-se informações. Publique-se. Brasília, 10 de fevereiro de 2006. Ministro Gilmar Mendes Relator.47

Não obstante essas decisões terem sido tomadas com base na ADI 3.395, cabe

ressaltar, respeitados os posicionamentos dos Ministros do STF, que mesmo se na redação do

artigo 114 permanecessem excepcionadas da competência trabalhista as relações de trabalho

envolvendo “servidores ocupantes de cargos criados por lei, de provimento efetivo ou em

comissão”, como constante no texto aprovado pelo Senado, em nada seria afetada a

competência trabalhista relativa a lides envolvendo os servidores temporários da

Administração Pública, tendo em vista que essas relações estão compreendidas no âmbito da

relação de trabalho.

47 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Rcl 4088 MC/PA. Reclamante: Município de Santarém. Reclamada: Juíza do Trabalho Substituta em exercício da vara Única do Trabalho de Santarém. Relator: Min. Gilmar Mendes. Brasília, 10 de fevereiro de 2006. Disponível em: <http://www.stf.gov.br/jurisprudencia/nova/pesquisa.asp?s1=temporários%20e%20competência&d=DESP>. Acesso em: 22 abr. 2006, 23:40:10.

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4. A RELAÇÃO CONSUMERISTA FRENTE À NOVA COMPETÊNCIA

Ao transmudar a competência laboral, ampliando-a por demais, o constituinte derivado

fez a Justiça do Trabalho tornar-se competente para os mais diversos tipos de relações de

trabalho, como visto ao longo da presente monografia. De fato, passou-se da relação de

emprego, espécie, para a relação de trabalho, gênero. Dentre os inúmeros problemas surgidos,

encontra-se grande dificuldade na definição dos contornos da relação trabalhista –

fundamental para a determinação da competência – que muitas vezes confunde-se com outros

tipos de relações jurídicas, como é o caso da relação de consumo.

Haverá relação jurídica de consumo “sempre que se puder identificar num dos pólos

da relação o consumidor, no outro, o fornecedor, ambos transacionando produtos e

serviços”48. Ocorre que muitas vezes esses pólos não são facilmente identificados, havendo

situações nebulosas em que, apesar de evidentes características de relação de consumo, na

verdade figura uma relação de trabalho.

É certo que mesmo antes da Emenda Constitucional nº 45/04 a Justiça Trabalhista era

competente para conciliar certos tipos de relações com características consumeristas. Diga-se

a propósito que o próprio Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078/90, admitiu

implicitamente essa possibilidade, ao excepcionar do conceito de serviço as atividades

decorrentes de relação de caráter trabalhista (§ 2º do artigo 3º). Mas tais relações eram

expressamente previstas em lei, como no caso dos contratos de empreitada em que o

empreiteiro é operário ou artífice (CLT, artigo 652, inciso III). Dissertando nesse sentido,

48 NUNES, Rizzatto. Curso de direito do consumidor. São Paulo: Saraiva, 2004, p.71.

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explica Alexandre Ramos49 que nos contratos de empreitada “havia verdadeira discussão de

direito do consumidor, ou seja, o empreitante (consumidor) invocava seu direito em face do

empreiteiro (fornecedor da prestação do serviço)”.

Entretanto, tal situação não persistiu após a promulgação da Emenda Constitucional nº

45/04. Com efeito, naquela época, verificada a presença de relação empregatícia – assim

entendida a expressão “relação de caráter trabalhista” – competente era a Justiça do Trabalho.

Embora exista tese afirmando que a expressão prevista no § 2º do artigo 3º da Lei nº 8.078/90

refere-se às relações de trabalho, o que implica na permanência da exclusão dessas do âmbito

de aplicação do Código de Defesa do Consumidor, conseqüentemente, como solução do

problema50, o certo é que o legislador consumerista a utilizou como sinônimo de relação de

emprego, como era usual no momento de elaboração da Lei nº 8.078/90.51

Assim, após a Reforma do Judiciário grande controvérsia surgiu relacionada ao tema.

De um lado, há quem defenda que a nova redação do inciso I do artigo 114 da Constituição

Federal não abrange as matérias reguladas pelo Código de Defesa do Consumidor52. Por esse

prisma, a relação de consumo, mesmo que envolvesse prestação de serviços, não configuraria

relação de trabalho, dela ficando excluídos os serviços realizados por médicos, advogados etc.

De outro, existem os defensores da ampla competência laboral, que incluiria as relações de

consumo, desde que caracterizadas como relação de trabalho.

Após apresentarem os conceitos de consumidor, fornecedor e de serviços,

estabelecidos, respectivamente, nos artigos 2º, 3º e seu § 2º, da Lei nº 8.078/90, Cláudio

Menezes e Leonardo Borges53 concluem que “não guardaria qualquer compatibilidade com a

letra do atual texto constitucional e com o CDC, a remessa para a Justiça do Trabalho das

relações de consumo”. Ainda nas palavras do referidos juízes, “quisesse o legislador estender

a competência para lide estranha ao escopo do Direito do Trabalho, teria feito expressa

menção a tal intuito, como procedeu na execução de débitos fiscais e na cobrança de

contribuições previdenciárias”. 49 A competência da Justiça do Trabalho e as relações de consumo. Revista do Direito do Trabalho, Brasília, v. 11, n. 9, p. 8, set. 2005. 50 SILVA, José Antônio R. de Oliveira. Relação de trabalho: em busca de um critério científico para a definição das relações de trabalho abrangidas pela nova competência da Justiça Especializada. Revista LTr, São Paulo, v. 69, n. 3, p. 317, mar. 2005. 51 TUPINAMBÁ, Carolina. Competência da Justiça do Trabalho à luz da reforma constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 130. 52 STEPHAN, Cláudia Coutinho. A competência material da Justiça do Trabalho e a relação de consumo. Revista do Direito do Trabalho, Brasília, v. 11, n. 10, p. 15, out. 2005. 53 A Emenda Constitucional nº 45 e algumas questões acerca da competência e do procedimento na Justiça do Trabalho. Revista do Direito do Trabalho, Brasília, v. 11, n. 5, p. 20, maio 2005.

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Nesse mesmo entender, leciona Carlos Henrique Bezerra Leite54:

[...] a nosso ver, não são da competência da Justiça do Trabalho as ações oriundas da relação de consumo. Vale dizer, quando o trabalhador autônomo se apresentar como fornecedor de serviços e, como tal, pretender receber honorários do seu cliente, a competência para a demanda será da Justiça Comum e não da Justiça do Trabalho, pois a matéria diz respeito à relação de consumo e não à de trabalho. Do mesmo modo, se o tomador do serviço se apresentar como consumidor e pretender devolução do valor pago pelo serviço prestado, a competência será da Justiça Comum.

Noutro raciocínio, e objetivando a determinação da competência para o assunto em

exame, Fabrício Lopes55 sugeriu a análise detalhada das partes envolvidas no negócio.

Didaticamente, procede-se ao estudo da seguinte forma: a) fixa-se o primeiro sujeito da

relação: para que a competência possa ser da Justiça do Trabalho, o prestador de serviço deve

ser necessariamente pessoa física, em decorrência do caráter de pessoalidade contido na

relação de trabalho; b) em seguida, determina-se o segundo elemento, com o objetivo de

verificar se nele figura o destinatário final do serviço prestado pelo fornecedor. Caso positivo,

a relação será de consumo e, em conseqüência, incompetente a Justiça do Trabalho.

José Augusto Rodrigues Pinto56 utiliza método semelhante ao explicar seu

entendimento por meio de elucidativo exemplo:

Imagine-se um profissional liberal (hipoteticamente, um professor) que se proponha a elaborar apostilas de determinada matéria para comercialização com o público. Ele pode desenvolver sua atividade sob três distintos contornos jurídicos: 1º - Elaborar apostilas e comercializá-las diretamente com o público. A relação jurídica entre o profissional liberal e cada adquirente será de consumo, pela justa definição da Lei nº 8.078, de 11.09.90. Conseqüentemente, a competência para dirimir os litígios supervenientes é da Justiça Comum. 2º - Contratar com empresa (individual ou coletiva), mediante remuneração, a elaboração de apostilas, por meio de trabalho autônomo remunerado, para comercialização pela empresa tomadora. Haverá, então, duas relações jurídicas distintas: uma, de trabalho, entre o profissional liberal e a empresa tomadora; e outra, de consumo, entre a empresa tomadora do trabalho e cada adquirente das apostilas por ela comercializadas. Entre o profissional liberal e o público não há relação jurídica de nenhuma espécie. Conseqüentemente, a competência para dirimir os litígios supervenientes entre o profissional liberal e a tomadora de seu trabalho é da Justiça do Trabalho, enquanto a competência para dirimir os litígios supervenientes entre a empresa que comercia as apostilas e a clientela é da Justiça

54 Curso de direito processual do trabalho. São Paulo: LTr, 2006, p. 187. 55 Competência jurisdicional relação de trabalho x relação de consumo. Revista do Direito do Trabalho, Brasília, v. 11, n. 8, p. 24, ago. 2005. 56 Processo trabalhista de conhecimento. 7. ed. São Paulo: LTr, 2005, p. 190-191.

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Comum. 3º - Colocar sua energia pessoal à disposição de uma empresa (individual ou coletiva) para, mediante subordinação jurídica, elaborar apostilas destinadas à venda ao público. Também aqui haverá duas relações jurídicas distintas: uma, de emprego, entre o profissional liberal que se tornou empregado, e outra, de consumo, entre a empresa empregadora e a clientela adquirente de apostilas. Logo, a competência para dirimir os litígios supervenientes entre o empregado (a que se reduziu o profissional liberal) e sua empregadora é da Justiça do Trabalho, enquanto a competência para dirimir os litígios supervenientes entre a empresa que comercializar as apostilas e a clientela é da Justiça Comum.

Verifica-se que a questão se complica mais quando o serviço for prestado diretamente

pelo profissional, como no caso do primeiro item do exemplo assim transcrito. Nesse caso,

José Rodrigues Pinto57 reafirma seu posicionamento:

[...] ainda que o profissional liberal ofereça ao público a prestação autônoma de serviço pessoal (p. ex., o advogado no seu escritório ou o médico no seu consultório), a prestação que individualmente contratar com cada cliente que o procure será de trabalho e não de consumo. Conseqüentemente, a competência para dirimir os eventuais litígios entre ambos (p. ex., indenização por dano causado pelo mau desempenho de mandato ou cobrança de honorários profissionais) é da Justiça do Trabalho, correspondendo à relação individual de trabalho ajustada. Logo, sempre que o profissional liberal negociar produto, a relação será de consumo; sempre que contratar trabalho (prestação de trabalho) a relação não será de consumo, podendo ser de trabalho ou de emprego.

João Oreste Dalazen58, ao contrário, propõe que a relação contratual de consumo não

pode ser vista apenas sob o ângulo do consumidor como destinatário final do serviço, mas

também sob o prisma da “virtual pessoa física prestadora (fornecedor) do serviço”:

Cuida-se, a meu juízo, de uma relação jurídica de natureza bifronte: do ângulo do consumidor/destinatário do serviço, relação de consumo, regida e protegida pelo CDC; do ângulo do prestador do serviço (fornecedor), regulada pelas normas gerais de Direito Civil. [...] Entendo que a lide propriamente da relação de consumo, entre o consumidor, nesta condição, e o respectivo prestador do serviço, visando à aplicação do Código de Defesa do Consumidor, escapa à competência da Justiça do Trabalho, pois aí não aflora disputa emanada da relação de trabalho. [...] Entretanto, sob o enfoque do prestador do serviço (fornecedor), é forçoso convir que firma ele uma relação jurídica de trabalho com o consumidor/destinatário do serviço: um se obriga a desenvolver determinada atividade ou serviço em proveito do outro mediante o pagamento de determinada retribuição, ou preço.

57 Processo trabalhista de conhecimento. 7. ed. São Paulo: LTr, 2005, p. 190-191. 58 A Reforma do Judiciário e os novos marcos da competência material da Justiça do Trabalho no Brasil. Revista do Direito do Trabalho, Brasília, v. 11, n. 3, p. 17, mar. 2005.

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Se, pois, a relação contratual de consumo pode ter por objeto a prestação de serviços e, assim, caracterizar também, inequivocamente, uma relação de trabalho em sentido amplo, afigura-se-me inafastável o reconhecimento da competência material da Justiça do Trabalho para a lide que daí emergir, se e enquanto não se tratar de lide envolvendo a aplicação do Código de Defesa do Consumidor. Vale dizer: se não se cuida de litígio que surge propriamente da relação de consumo, mas da relação de trabalho que nela se contém, regulada pelo Direito Civil, não atino para a razão de descartar-se a competência da Justiça do Trabalho. [grifou-se]

Do exposto, percebe-se o grande imbróglio em torno da questão. Mas boa parte da

controvérsia é gerada pelo emprego de critérios equivocados na determinação da

competência. Esses critérios, explica Carolina Tupinambá59, não se relacionam com a

legislação de direito material: não é porque certa relação é regrada pelo Código de Defesa do

Consumidor, sendo caracterizada como relação de consumo, que cairá por terra a competência

da Justiça Trabalhista. Isso porque muitas vezes haverá, simultaneamente, uma relação de

consumo e uma relação de trabalho; daí a elucidativa explicação do Ministro João Dalazen,

transcrita acima. E considerando a disposição Constitucional, havendo relação de trabalho,

competente será a Especializada.

Assim, para se determinar a competência laboral, deve-se identificar o objeto da lide.

Para isso, sugere Carolina Tupinambá60 que seja verificado se a hipotética relação é “advinda

da execução de um determinado serviço” ou se é “resultante de um serviço executado”. No

primeiro caso, a competência será da Justiça Trabalhista; no segundo, da Justiça Comum.

Exemplifica ainda a citada autora que “a cobrança de honorários de profissional liberal, por

exemplo, passará a ser julgada na Justiça do Trabalho, enquanto que o dano advindo de

resultado de serviço contratado, como um erro médico, continuará a ser julgado pela Justiça

Comum”.

Em suma, pode-se estabelecer um método prático para se estabelecer a competência da

Justiça Trabalhista:

1) Identificar se o prestador de serviços é pessoa física. Sendo pessoa jurídica,

elimina-se de imediato a competência laboral.

2) Em seguida, passa-se à analise do objeto da lide: se esse decorrer da execução de

59 Competência da Justiça do Trabalho à luz da reforma constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 130. 60 Processo trabalhista de conhecimento. 7. ed. São Paulo: LTr, 2005, p. 190-191.

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um determinado serviço, competente a Justiça Laboral; se resultar de um serviço executado,

competente a Justiça Comum.

Impende destacar a importância da atenção que os aplicadores do direito devem ter no

momento da determinação da competência, já que qualquer descuido na correta configuração

do caso pode gerar inúmeros problemas, como os relaciona Fabrício Lopes61:

a) é imprescindível a correta definição da relação em exame pois a Justiça Comum

possui competência residual;

b) considerando que o Juiz Trabalhista normalmente só toma contato com o processo

na realização da primeira audiência, já que cabe à secretaria da Vara promover a citação da

parte adversa, longo tempo será perdido se o magistrado trabalhista declarar sua

incompetência, em virtude de má definição da relação submetida à apreciação judicial;

c) em decorrência de incorreta identificação da relação jurídica, e, em conseqüência, o

julgamento de determinada lide em juízo incompetente, será possível a interposição de

rescisória, com fulcro no artigo 485, inciso II, do Código de Processo Civil;

d) por falta de entendimento pacífico, haverá a possibilidade de existirem ações

semelhantes ajuizadas na Justiça Comum e na Justiça do Trabalho, que possuem

procedimentos específicos, principalmente no que se refere à produção de provas, o que fere o

princípio da igualdade, em virtude da diferença processual aplicada em casos idênticos.

Por fim, resta destacar as palavras de Carolina Tupinambá62

[...] o desafio da Justiça do Trabalho, definitivamente, não será dirimir reclamações consistentes em problemas decorrentes de serviços de conserto de assistência técnica, erro médico e outros. O desafio é, sim, o que sempre foi e que, pela ampliação de competência, pode fazer ganhar força a expectativa da Justiça em superá-lo, qual seja, a concretização dos direitos dos trabalhadores. A ampliação da competência como instrumento para liquidar os ofensores dos direitos trabalhistas revela-se um momento ímpar de estudo e aprofundamento exigido dos operadores de direito nesta seara jurisdicional. A idealização do apaziguamento das relações de consumo, justo aquelas em que o ofendido, em geral, foi quem contratou os serviços e não quem os prestou, aos

61 Competência jurisdicional relação de trabalho x relação de consumo. Revista do Direito do Trabalho, Brasília, v. 11, n. 8, p. 24, ago. 2005. 62 Competência da Justiça do Trabalho à luz da reforma constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 131.

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cuidados do Judiciário trabalhista simplesmente desvirtua o enfoque e os objetivos da Justiça Especializada, sugerindo imaturidade institucional, o que ameaça, inclusive, a conquista da competência justamente ampliada.

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5. ACIDENTES NO TRABALHO E A NOVA COMPETÊNCIA

Acidente no trabalho, consoante define o artigo 19 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de

1991, é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do

trabalho dos segurados relacionados no rol legal, provocando lesão corporal ou perturbação

funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade

para o trabalho.

São espécies as doenças ocupacionais, as doenças profissionais e os acidentes no

trabalho stricto sensu. As doenças ocupacionais são deteriorações físico-mentais do indivíduo

decorrentes do ambiente do trabalho ou da forma ou postura durante o cumprimento da

prestação laboral63. As doenças profissionais são as decorrentes da “prática de certo ofício

profissional específico impregnado de agentes agressores ao organismo humano”64. E o

acidente do trabalho, em sentido estrito, por sua vez, “se traduz em fato ou ato unitário, regra

geral, ou pelo menos concentrado no tempo, que produz significativa agressão à higidez

físico-mental do trabalhador”65.

A competência para julgar os acidentes no trabalho, principalmente após a

promulgação da Constituição Federal de 1988, sempre foi tema de constantes debates no meio

jurídico. Não é à toa que existe farta jurisprudência sobre o assunto, e mesmo o STF por vezes

proferiu decisões contraditórias. Apesar de, inicialmente, a Emenda Constitucional nº 45/04

ter sido proclamada como solução para essas intermináveis discussões, já que prescreveu, no

inciso VI do artigo 114, que compete à Justiça do Trabalho processar e

63 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2006, p. 614. 64 Ibid., loc. cit. 65 Ibid., loc. cit.

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julgar “as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de

trabalho”, a quizília permaneceu: além de inúmeros posicionamentos contraditórios da

doutrina, em 2005 o STF proferiu decisões afirmando como competente para decidir sobre

acidentes de trabalho ora a Justiça Comum66, ora a Justiça do Trabalho67.

Para melhor compreensão do tema, analisar-se-á a seguir a evolução histórica da

legislação e dos entendimentos jurisprudenciais acerca das lesões acidentárias.

5.1 Aspectos históricos da legislação acidentária

A Constituição de 1937 foi a primeira a tratar sobre os acidentes de trabalho,

conquanto tenha tratado tão-só do direito material, ao dispor que a legislação do trabalho

deveria observar a instituição de previdência nos casos de acidentes de trabalho (artigo 121,

§ 1º) e prescrever que a indenização decorrente dos acidentes no trabalho em obras públicas

da União seria feita pela folha de pagamento, dentro de quinze dias depois da sentença, da

qual não se admitiria recurso ex officio (artigo 121, § 2º). A Constituição de 1939 também se

referiu ao direito material, nada definindo sobre competência.

No plano infraconstitucional, o Decreto nº. 24.637, de 10 de julho de 1934,

estabeleceu a competência da justiça ordinária para as questões acidentárias. A CLT, na

redação original de 1943, ratificou a determinação do decreto, ao dispor, no § 2º do artigo

643, que “as questões referentes a acidentes do trabalho continuam sujeitas à justiça ordinária,

na forma do Decreto nº 24.637, de 10 de julho de 1934, e legislação subseqüente”. Leciona

José Rodrigues Pinto68 que “na fase pré-constitucional o acidente no trabalho era apenas um

corolário da identificação do ato ilícito imputável à responsabilidade [...] do empregador,

66 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 438.639. Reclamante: Mineração Morro Velho Ltda. Reclamado: Adão Carvalho dos Santos e outro. Relator: Min. Carlos Britto. Brasília, 9 de março de 2005. Disponível em: <http://www.stf.gov.br/processos/processo.asp?PROCESSO=438639&CLASSE=RE&ORIGEM=AP&RECURSO=0&TIP_JULGAMENTO=M> Acesso em: 21 abr. 2006, 23:12:10. 67 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Conflito de Competência 7.204/MG. Suscitante: Tribunal Superior do Trabalho. Suscitado: Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais. Relator: Min. Carlos Britto. Brasília, 29 de junho de 2005. Disponível em: <http://www.stf.gov.br/jurisprudencia/nova/pesquisa.asp?s1=justiça%20adj1%20trabalho&d=DESP> Acesso em: 23 abr. 2006, 13:10:10. 68 O desconfortável enigma da competência em acidente no trabalho. Revista LTr, São Paulo, v. 69, n. 7, p. 781, jul. 2005.

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gerando o direito do empregado de ser indenizado pelo dano [...] conseqüentemente sofrido”.

As regras de competência sobre lides acidentárias passaram a ser previstas

constitucionalmente apenas na Carta de 1946, que estabeleceu, no 1º do artigo 121, que “os

dissídios relativos a acidentes no trabalho são da competência da justiça ordinária”. Ao

mesmo tempo, essa Constituição inovou ao diferenciar, mesmo que implicitamente, a dupla

implicação jurídica do acidente de trabalho: no inciso XVI do artigo 157 prescreveu a

responsabilidade social (previdência contra as conseqüências da invalidez) e no inciso XVII

do mesmo artigo, a responsabilidade civil (obrigatoriedade de instituição do seguro pelo

empregador contra acidentes no trabalho).

Nota-se que tanto a Constituição de 1946 como a CLT dispuseram acerca da

competência da Justiça Ordinária, relativa ao assunto em exame, como exceção à

competência laboral para julgar dissídios envolvendo relação de emprego, como explica José

Rodrigues Augusto Pinto69:

[...] desde a capitulação do acidente no trabalho nas garantias constitucionais do trabalhador e da integração dos órgãos da Justiça do Trabalho no Poder Judiciário, a ação indenizatória de dano acidentário foi reconhecida como oriunda da relação de trabalho (emprego), circunstância precisamente determinante da necessidade de sua exclusão formal da determinação da competência trabalhista.

Em virtude da exceção expressa claramente no texto constitucional, não havia dúvidas

quanto à competência da Justiça Ordinária para julgar as lides acidentárias. Entretanto, com a

promulgação da Carta de Outubro, verdadeiro imbróglio se instalou em decorrência da

supressão do dispositivo presente nas anteriores, que excepcionava a competência laboral

relativa às lesões acidentárias. Ao mesmo tempo em que suprimiu referida ressalva, o

constituinte originário incluiu outra: estabeleceu no artigo 109 como de competência dos

juízes federais processar e julgar “as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa

pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes,

exceto as de falência, as de acidente de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça

do Trabalho” [grifou-se]. Por outro lado, o Constituinte de 1988 prescreveu, no artigo 114,

que competia à Justiça do Trabalho “conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos

entre trabalhadores”, o que gerou grande controvérsia. 69O desconfortável enigma da competência em acidente no trabalho. Revista LTr, São Paulo, v. 69, n. 7, p. 782, jul. 2005.

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Basicamente, surgiram duas correntes: uma defendendo que a competência para

exame das lides acidentárias continuaria com a Justiça Comum Estadual por se tratar de

matéria civil, mesmo que vinculada aos sujeitos da relação de emprego, e outra sustentando

que a competência seria da Justiça do Trabalho, já que estariam envolvidos empregado e

empregador. A segunda corrente excepcionava da competência laboral apenas as lides

acidentárias em que não figuram empregado e empregador, como é o caso das lides

previdenciárias.

A jurisprudência manifestou-se em prol de ambas as correntes70. O STF ora

reconhecia a competência da Justiça do Trabalho, conforme dispunha a Súmula nº 736, ora

reconhecia a competência da Justiça Ordinária. No STJ prevalecia o reconhecimento da

competência da Justiça Comum, e no TST, da Justiça do Trabalho.

Com o advento da Emenda Constitucional nº 45/04, era de se esperar que fosse

colocada pá de cal na cizânia. De fato, como foi acima mencionado, o constituinte derivado

fez constar como de competência laboral as ações de indenização por dano moral ou

patrimonial, decorrentes da relação de trabalho, o que supostamente elidiria todas as dúvidas.

Entretanto, a insistente controvérsia permaneceu, como foi possível notar dos inúmeros

artigos publicados em revistas especializadas e de decisões dos Tribunais Superiores71. O STJ

continuou reconhecendo a competência da Justiça Comum; o STF inicialmente reconheceu a

competência da Justiça Comum, revisando posteriormente seu entendimento; o TST ora

reconheceu a competência da Justiça Comum, ora reconheceu a competência da Justiça do

Trabalho. Parece que o “desconfortável enigma da competência em acidente do trabalho”,

como escreveu José Augusto Rodrigues Pinto72, perdurará enquanto não for expressamente

constada a competência respectiva no texto constitucional.

5.2 Natureza jurídica dos acidentes no trabalho

Da análise histórica da legislação acidentária, resta nítida a natureza trabalhista das

lesões acidentárias no trabalho. Tanto é que, como dito anteriormente, houve a necessidade de

70 PINTO, José Augusto Rodrigues. O desconfortável enigma da competência em acidente no trabalho. Revista LTr, São Paulo, v. 69, n. 7, p. 779, jul. 2005. 71 Ibid., loc. cit. 72 Ibid., p. 780.

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o legislador expressamente ressalvar a competência da Justiça Comum para julgá-los. Com

efeito, já na redação original do artigo 643 consolidado foi assim disposto, como discorre José

Rodrigues Pinto73:

Coube-lhe [a CLT, na versão original de 1943] estabelecer, no artigo 643, a seguinte regra geral de “competência” (seria mais adequado para a época falar em “atribuições”) dos órgãos já abrigados na denominação “Justiça do Trabalho”, mas ainda não integrados à estrutura de poder jurisdicional: “Art. 643. Os dissídios oriundos das relações entre empregados e empregadores... serão dirimidos pela Justiça do Trabalho...” E, ato contínuo, a seguinte exceção: "§2º As questões referentes a acidentes no trabalho continuam sujeitas à justiça ordinária, na forma do Decreto n. 24.637, de 10 de julho de 1934, e legislação subseqüente.” A redação do dispositivo coloca totalmente acima de dúvidas estes aspectos: A matéria de acidente do trabalho teve claramente reconhecida sua natureza trabalhista. Não obstante o reconhecimento foi explicitamente excluído da determinação da competência da Justiça do Trabalho. [grifou-se]

Noutro falar, José Rodrigues74 assevera que

[...] desde a capitulação do acidente no trabalho nas garantias constitucionais do trabalhador e da integração dos órgãos da Justiça do Trabalho no Poder Judiciário, a ação indenizatória de dano acidentário foi reconhecida como oriunda da relação de trabalho (emprego), circunstância precisamente determinante da necessidade de sua exclusão formal da determinação da competência trabalhista.

5.3 Responsabilidade decorrente das lesões acidentárias

É indubitável que dos acidentes no trabalho podem ser geradas duas responsabilidades,

totalmente distintas: uma, fundada na responsabilidade social, e outra fundada na

responsabilidade civil ou trabalhista, como preferem alguns.

A responsabilidade social, fonte de benefício de Previdência Social, decorre do

disposto no inciso I do artigo 201 da Constituição Federal e no artigo 18 da Lei nº 8.213, de

24/07/91, sendo de responsabilidade do INSS. 73 O desconfortável enigma da competência em acidente no trabalho. Revista LTr, São Paulo, v. 69, n. 7, p. 780, jul. 2005. 74 Ibid., p. 781.

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A responsabilidade trabalhista, por sua vez, origina-se de “dano material, moral ou

estético decorrentes de lesões vinculadas à infortunística do trabalho”75, e é prevista no inciso

XXVIII do artigo 7º da Constituição Federal.

A importância dessa distinção é fundamental, porquanto dela advêm os principais

argumentos utilizados na defesa das teses de determinação da competência, analisados a

seguir.

5.4 Competência da Justiça do Trabalho para solucionar lides envolvendo a

responsabilidade trabalhista por lesões acidentárias

Quando da análise dos aspectos históricos da legislação acidentária e da natureza

jurídica dos acidentes no trabalho, envidenciou-se a clara natureza trabalhista das lesões

acidentárias. E é decorrência dessa natureza que residem os principais argumentos da corrente

defensora da competência laboral para julgar as lides envolvendo a responsabilidade

trabalhista resultante dos danos causados em virtude de acidentes no trabalho. Segundo seus

partidários, o “aspecto essencial a determinar a competência, nos parâmetros constitucionais,

é a presença de uma lide tipicamente entre empregado e empregador, em derivação do

contrato de trabalho”76. Estariam fora da competência trabalhista apenas as relações jurídicas

que, não obstante oriundas do ambiente de trabalho, não tenham como sujeitos empregado e

empregador.

Dessarte, presentes os sujeitos da relação empregatícia e ocorrendo uma lesão

acidentária, estaria estabelecida a competência da Justiça Laboral para decidir sobre os

conflitos dela decorrentes, considerando o disposto no artigo 114 da Constituição Federal,

reafirmado pelo inciso VI acrescido pela Emenda Constitucional nº 45/04.

Com amparo nessa tese, há quem defenda que a Justiça do Trabalho era competente

para tais dissídios mesmo antes da Reforma do Judiciário:

75 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de direito do trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2006, p. 617. 76 Ibid., p. 625.

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[...] em decorrência do acatamento da idéia de que a solução de conflitos oriundos de outras relações do trabalho passou à Justiça trabalhista, por conseqüência inevitável estão abrangidos nesta competência os conflitos decorrentes de acidente de trabalho. Na verdade, desde a promulgação da Constituição de 1988 esta competência já seria da Justiça do Trabalho, mas por uma interpretação equivocada chegou-se a conclusão diversa. [grifou-se]77

A partir da Emenda Constitucional nº 45/04, reforçou-se ainda mais esse

posicionamento, ao ser disposto no inciso VI do artigo 114 a competência da Justiça do

Trabalho para processar e julgar “as ações de indenização por dano moral ou patrimonial,

decorrentes da relação de trabalho”. Nesse raciocínio, critica João Oreste Dalazen78 que

[...] constituiria até um contra-senso admitir-se a competência material da Justiça do Trabalho para causas em geral entre empregado e empregador em que se discuta indenização por danos materiais ou por danos morais e, ao mesmo tempo, negar-se semelhante competência caso o ato ilícito em que se funda a ação fosse o acidente de trabalho. Seria admitir competência da Justiça do Trabalho para o gênero, não para a espécie...

E Sebastião Geraldo de Oliveira79:

Se a Constituição, após a Emenda 45/2004 contemplou o gênero (Ações de indenização por dano moral e patrimonial decorrentes da relação de trabalho), todas as espécies de danos estão abrangidas. Logo, não há porque excluir a espécie dano moral ou patrimonial proveniente do acidente do trabalho. Aliás, este tem sido o principal pedido de dano moral e material atualmente na Justiça do Trabalho. Não existe a possibilidade de ocorrer “acidente do trabalho” fora da relação de trabalho. O acidente do trabalho tecnicamente considerado é o que ocorre com o empregado segurado (arts. 19 a 21 da Lei n. 8.213/91).

Todavia, não são poucos os entendimentos doutrinários e jurisprudenciais em sentido

contrário, antes e mesmo após a Emenda Constitucional nº 45/04. Seus argumentos se

resumem, em síntese, em dois pontos: a) a Justiça do Trabalho somente seria competente para

as lides acidentárias se houvesse expressa autorização normativa e b) princípio da “unidade de

convicção”. 77 MAIOR, Jorge Luiz Souto apud TUPINAMBÁ, Carolina. Competência da Justiça do Trabalho à luz da reforma constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 171. 78 A Reforma do Judiciário e os novos marcos da competência material da Justiça do Trabalho no Brasil. Revista do Direito do Trabalho, Brasília, v. 11, n. 3, p. 23, mar. 2005. 79 Competência da Justiça do Trabalho para julgar ações de reparação de danos decorrentes de acidente do trabalho e a Emenda n. 45/2004. Brasília: Anamatra, 2006. Disponível em: <http://www.anamatra.org.br>. Acesso em: 24 abr. 2006, 22:17:23.

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O primeiro argumento fundamenta-se na ausência de previsão constitucional

estabelecendo a competência laboral para julgar as lides acidentárias que tenham o

empregador figurando no pólo passivo.

Pelo segundo argumento, caso fosse estabelecida a competência trabalhista para julgar

lides conflitantes, haveria sério risco de serem proferidas decisões contrárias acerca do mesmo

fato, já que a competência da Justiça Comum para julgar lides acidentárias envolvendo o

INSS é expressamente prevista no § 3º do artigo 109 da Constituição. A respeito, Júlio

Bernardo do Campo80 disserta:

[...] se a Constituição Federal de 1988, de forma explícita, estabeleceu a competência ratione materiae da Justiça Comum para apreciar as lides acidentárias, carecia de respaldo constitucional pregar ao mesmo tempo uma competência implícita da Justiça do Trabalho para apreciar e julgar pedidos de indenização por danos morais e materiais decorrentes de acidentes de trabalho desde que o empregador figurasse como demandado no pólo passivo da ação. A exegese era extremamente míope e incongruente porque para o mesmo fato gerador do dissídio, o acidente do trabalho, podia em exegese forçada atribuir-se competência concorrente, ora em favor da Justiça Comum [...], ora em favor da Justiça do Trabalho [...].

Nesse trilhar, decidiu o STF, no Recurso Extraordinário nº 438.639, como noticiou o

Informativo STF nº 379:

As ações de indenização propostas por empregado ou ex-empregado contra empregador, quando fundadas em acidente do trabalho, continuam a ser da competência da Justiça Comum estadual. Com base nesse entendimento, o Tribunal, por maioria, deu provimento a recurso extraordinário interposto contra acórdão do extinto Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais que, confirmando decisão do juízo de 1ª instância, entendera ser da competência da Justiça do Trabalho o julgamento de ação de indenização por danos morais decorrentes de acidente do trabalho, movida pelo empregado contra seu empregador. Ressaltando ser, em tese, da competência da Justiça Comum estadual o julgamento de ação de indenização baseada na legislação acidentária, entendeu-se que, havendo um fato histórico que gerasse, ao mesmo tempo, duas pretensões — uma de direito comum e outra de direito acidentário —, a atribuição à Justiça do Trabalho da competência para julgar a ação de indenização fundada no direito comum, oriunda do mesmo fato histórico, poderia resultar em decisões contraditórias, já que uma justiça poderia considerar que o fato está provado e a outra negar a própria existência do fato. Salientou-se que deveria intervir no fator de discriminação e de interpretação dessas competências o que se chamou de “unidade de convicção”, segundo a qual o mesmo fato, quando tiver de ser analisado mais de uma vez, deve sê-lo pela mesma justiça. Vencidos os

80 Da competência da Justiça do Trabalho para apreciar e julgar pedidos de indenização por danos materiais e morais decorrentes de acidente de trabalho – competência absoluta ou incondicionada? Revista LTr, São Paulo, v. 69, n. 7, p 786, jul. 2005.

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Ministros Carlos Britto, relator, e Marco Aurélio, que negavam provimento ao recurso, e declaravam a competência da Justiça do Trabalho. RE 438639/MG, rel. orig. Min. Carlos Britto, rel. p/ acórdão Min. Cezar Peluso, 9.3.2005. (RE-438639)81

Entretanto, como bem esclareceu o procurador do trabalho Sebastião Caixeta82, a

“unidade de convicção” não é capaz de retirar da Justiça do Trabalho a competência em

exame:

[...] a prevalecer esse entendimento teríamos que encaminhar à Justiça Criminal os litígios sobre dispensa por justa causa sempre que configurasse em tese delitos penais, bem como teríamos que trazer para a Justiça do Trabalho, independentemente de alteração constitucional, os crimes contra a organização do trabalho que têm como elemento do tipo questões de Direito do Trabalho.

No mesmo diapasão, Afrânio Viana Gonçalves83, juiz da 3ª Vara do Trabalho de Porto

Velho, RO:

O argumento consubstanciado na unidade de convicção, que informa os atos judiciais decisórios, construído no meio jurisprudencial e doutrinário, manuseado, também, para justificar a competência material da Justiça Estadual nas ações acidentárias de dano moral ou patrimonial, mesmo quando forem partes os sujeitos da relação de trabalho [...] com todo respeito aos que o defendem, não pode prevalecer diante da nova redação do art. 114 da CR. Fosse assim, a JT estaria impedida de reconhecer e declarar a existência de ato de improbidade, nas causas de denúncia do contrato de trabalho pelo empregador, fundamentada na letra a do art. 482 da CLT, v. g., com base na imputação de furto ou apropriação indébita do empregado, em face da competência material da Justiça Criminal. Como se nota, a responsabilidade civil trabalhista independe da responsabilidade penal. No crime, se julga o fato sob o aspecto social, impondo ao malfeitor uma pena privativa de liberdade, com o objetivo de reprimir a delinqüência. Na esfera trabalhista, aprecia-se e julga-se a imputação de conduta ilícita sob o aspecto contratual, impondo-se ao empregado a demissão por justa causa, quando configurada a quebra do elo de confiança que une os sujeitos da relação de emprego. Nem por isso se diz que há risco de produzir no mundo jurídico decisões conflitantes e divergentes sobre o mesmo fato histórico. Ainda que se diga que o enfoque no processo penal é um e no trabalhista é outro, no exemplo supra ambos partirão da mesma situação fática e terão que identificar a responsabilidade do empregado/acusado no ato ilícito que lhe fora imputado.

81 BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Indenização por danos decorrentes de acidente do trabalho: competência. Informativo STF, Brasília, nº 379, 7 mar. 2006. Disponível em: <ftp://www.stf.gov.br/informa/info379.zip>. Acesso em: 22 abr. 2006, 20:29:20. 82 Competência para julgar ações decorrentes de acidentes no trabalho. Revista LTr, São Paulo, v. 69, n. 7, p. 785, jul. 2005. 83 À luz da EC/45, não há conflito de eficácia entre os comandos dos arts. 109, I; 114, I, e VI, da Constituição Federal. Revista LTr, São Paulo, v. 69, n. 7, p. 828, jul. 2005.

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[...] Ainda que se admitisse a competência da Justiça Estadual para processar e julgar ações acidentárias trabalhistas, entre os sujeitos da relação de trabalho, isso não evitaria que houvesse decisões conflitantes, sobre o mesmo fato histórico, em relação às ações acidentárias, envolvendo o INSS. Isso porque, não havendo subordinação entre uma e outra ação, nem coisa julgada, por não serem idênticas, muito menos vinculação de um único juiz a ambas as causas, prevaleceria na hipótese o princípio do livre convencimento, consubstanciado no art. 131 do CPC. [...] Note-se que, nas demandas acidentárias sujeitas a JT, o reconhecimento da ocorrência de acidentes no trabalho, além de não vincular pessoas estranhas à lide, produz efeito restrito à tutela trabalhista vindicada (nulidade do ato demissional, reintegração no emprego, estabilidade provisória, responsabilidade civil pelo dano causado e a conseqüente indenização).

Apesar daquela decisão do STF, essa corte reviu seu posicionamento nos autos do

Conflito de Competência nº 7.204, suscitado pelo Tribunal Superior de Trabalho contra o

Tribunal de Alçada de Minas Gerais, declarando, por decisão unânime, a competência da

Justiça do Trabalho para julgar ações por dano moral e material decorrente de acidente de

trabalho. Urge transcrever a ementa da importante decisão:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA JUDICANTE EM RAZÃO DA MATÉRIA. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E PATRIMONIAIS DECORRENTES DE ACIDENTE DO TRABALHO, PROPOSTA PELO EMPREGADO EM FACE DE SEU (EX-)EMPREGADOR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. ART. 114 DA MAGNA CARTA. REDAÇÃO ANTERIOR E POSTERIOR À EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/04. EVOLUÇÃO DA JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. PROCESSOS EM CURSO NA JUSTIÇA COMUM DOS ESTADOS. IMPERATIVO DE POLÍTICA JUDICIÁRIA. Numa primeira interpretação do inciso I do art. 109 da Carta de Outubro, o Supremo Tribunal Federal entendeu que as ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente do trabalho, ainda que movidas pelo empregado contra seu (ex-)empregador, eram da competência da Justiça comum dos Estados-Membros. 2. Revisando a matéria, porém, o Plenário concluiu que a Lei Republicana de 1988 conferiu tal competência à Justiça do Trabalho. Seja porque o art. 114, já em sua redação originária, assim deixava transparecer, seja porque aquela primeira interpretação do mencionado inciso I do art. 109 estava, em boa verdade, influenciada pela jurisprudência que se firmou na Corte sob a égide das Constituições anteriores. 3. Nada obstante, como imperativo de política judiciária – haja vista o significativo número de ações que já tramitaram e ainda tramitam nas instâncias ordinárias, bem como o relevante interesse social em causa –, o Plenário decidiu, por maioria, que o marco temporal da competência da Justiça trabalhista é o advento da EC 45/04. Emenda que explicitou a competência da Justiça Laboral na matéria em apreço. 4. A nova orientação alcança os processos em trâmite pela Justiça comum estadual, desde que pendentes de julgamento de mérito. É dizer: as ações que tramitam perante a Justiça comum dos Estados, com sentença de mérito anterior à promulgação da EC 45/04, lá continuam até o trânsito em julgado e correspondente execução. Quanto àquelas cujo mérito ainda não foi apreciado, hão de ser remetidas à Justiça do Trabalho, no estado em que se encontram, com total aproveitamento dos atos praticados até então. A medida se impõe, em razão das

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características que distinguem a Justiça Comum estadual e a Justiça do Trabalho, cujos sistemas recursais, órgãos e instâncias não guardam exata correlação. 5. O Supremo Tribunal Federal, guardião-mor da Constituição Republicana, pode e deve, em prol da segurança jurídica, atribuir eficácia prospectiva às suas decisões, com a delimitação precisa dos respectivos efeitos, toda vez que proceder a revisões de jurisprudência definidora de competência ex ratione materiae. O escopo é preservar os jurisdicionados de alterações jurisprudenciais que ocorram sem mudança formal do Magno Texto. 6. Aplicação do precedente consubstanciado no julgamento do Inquérito 687, Sessão Plenária de 25.08.99, ocasião em que foi cancelada a Súmula 394 do STF, por incompatível com a Constituição de 1988, ressalvadas as decisões proferidas na vigência do verbete. 7. Conflito de competência que se resolve, no caso, com o retorno dos autos ao Tribunal Superior do Trabalho.84

5.5 (In)condicionalidade da competência relacionada a acidentes no trabalho

Conquanto tenha o STF proferido decisão pacificando a competência laboral relativa

às lides acidentárias trabalhistas, persiste questionamento acerca da eficácia vinculativa das

decisões proferidas na esfera trabalhista. Parece que o “enigma da competência em acidente

no trabalho” é mal com raízes profundas. Com razão afirmou Henri de Page que “as questões

sobre competência são a praga da Justiça”85!

Argumenta Júlio Bernardo do Carmo86 que a competência da Especializada para

apreciar e julgar pedidos de indenização decorrentes do trabalho seria contingente,

condicionada e só pronunciável incidentalmente e não teria qualquer eficácia vinculativa em

face de decisão discrepante do INSS ou da Justiça Federal ou Comum. Segundo o Juiz Vice-

Corregedor do TRT da 3ª Região,

[...] Prova maior da pequenez e da ausência de vinculação da suposta competência da Justiça do Trabalho para apreciar a responsabilidade subjetiva do empregador em casos de acidente de trabalho, quando obrar com dolo ou culpa, reside no fato de que sendo questionada a caracterização do acidente de trabalho na esfera administrativa ou no âmbito da Justiça Comum, o Juiz do Trabalho para evitar decisões conflitantes e para cortejar o princípio da unidade de convicção teria que sobrestar o andamento

84 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Conflito de Competência 7.204/MG. Suscitante: Tribunal Superior do Trabalho. Suscitado: Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais. Relator: Min. Carlos Britto. Brasília, 29 de junho de 2005. Disponível em: <http://www.stf.gov.br/jurisprudencia/nova/pesquisa.asp?s1=justiça%20adj1%20trabalho&d=DESP> Acesso em: 23 abr. 2006, 23:10:12. 85 Apud DALAZEN, João Oreste. A reforma do Judiciário e os novos marcos da competência material da Justiça do Trabalho no Brasil. Revista do Direito do Trabalho, Brasília, v. 11, n. 3, p. 24, mar. 2005. 86 Da competência da Justiça do Trabalho para apreciar e julgar pedidos de indenização por danos materiais e morais decorrentes de acidente de trabalho – competência absoluta ou incondicionada? Revista LTr, São Paulo, v. 69, n. 7, p 787, jul. 2005.

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do feito, uma vez controvertida a caracterização do acidente de trabalho, até pronunciamento definitivo da esfera competente, peculiaridade que não se compatibiliza com a chamada competência originária e absoluta.

A despeito da opinião de Bernardo do Carmo, percebe-se que a tese da

condicionalidade da competência da Justiça do Trabalho com relação à matéria acidentária

trabalhista retoma o argumento já superado pelo STF: a unidade da convicção. Assim, após a

decisão proferida no Conflito de Competência nº 7.204, ficou definitivamente assentada a

competência absoluta da Justiça Trabalhista.

À guisa de corroboração, necessário se faz transcrever as razões com as quais o juiz

Sebastião Geraldo de Oliveira87, do TRT/3ª Região, refuta a aplicação, no caso em pauta, do

princípio da unidade de convicção:

a) Atualmente é mínimo o volume de ações para enquadramento do evento como acidente do trabalho. Desde que a Lei n. 9.032/95 igualou os benefícios previdenciários aos acidentários, os proventos decorrentes do acidente do trabalho ou do acidente comum ou doença comum é o mesmo [sic]. O segurado perdeu o interesse na discussão porque vai receber o mesmo valor, enquadrando ou não o afastamento como acidente do trabalho. Basta a incapacidade para gerar o benefício, seja ou não proveniente do acidente do trabalho. [...] b) O enquadramento do acidente tem sido feito apenas administrativamente pelo INSS após a emissão da CAT pelo empregador, salvo raras exceções. Logo, não há conflito de decisões. c) Mesmo nos raros casos em que se discute a existência do acidente do trabalho na Justiça Comum (talvez 1% por cento dos casos), mesmo aí não há decisão conflitante porque o Juiz de Direito não analisa os pressupostos da responsabilidade civil (dolo, culpa, dano ou nexo causal). d) A rigor a unidade de convicção está direcionada para a Justiça do Trabalho porque o Juiz do Trabalho já julga: 1. Ação para discutir o auto de infração lavrado por Auditor Fiscal referente ao descumprimento de normas de segurança no local de trabalho; 2. Ação para pleitear adicional de insalubridade ou periculosidade; 3. Ação relativa aos descumprimentos de normas sobre segurança, higiene e saúde dos trabalhadores, conforme a Súmula 736 do STF; 4. Ação para exigir a instalação ou regularização da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes – CIPA; 5. Ação para discutir a justa causa do empregado que se recusou a utilizar os equipamentos de proteção, conforme art. 158, parágrafo único, da CLT; 6. Ação para garantir o direito à estabilidade do acidentado, conforme art. 118 da Lei n. 8.213/91; 7. Ação para garantir a estabilidade dos membros da CIPA; 8. Ação para discutir o vínculo de emprego do trabalhador que estava prestando serviço sem anotação de carteira, quando sofreu o acidente. e) Não se pode esquecer que a reparação dos danos decorrentes do acidente do

87 Competência da Justiça do Trabalho para julgar ações de reparação de danos decorrentes de acidente do trabalho e a Emenda n. 45/2004. Anamatra, Brasília, 2006. Disponível em: <http://www.anamatra.org.br>. Acesso em: 24 abr. 2006, 21:12:10.

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trabalho é direito trabalhista previsto no art. 7º da CF (São direitos dos trabalhadores ...XXVIII). f) Vale outro argumento, apenas para ilustrar. Se for levar adiante o princípio da unidade de convicção então o Juiz de Direito que julga o furto do bancário, por exemplo, é que deveria julgar a justa causa para o despedimento porque o fato a ser discutido é o mesmo. h) E como fica a unidade de convicção se o Juiz de Direito muitas vezes julga a relação de emprego como questão prejudicial para depois verificar o benefício acidentário? E se depois o Juiz do Trabalho entender que não houve vínculo? Aqui sim corre-se o risco de decisões conflitantes.

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6. DANOS MORAIS E SUAS NUANÇAS DENTRO DA NOVA

COMPETÊNCIA

Entre os efeitos conexos da relação de trabalho, podem advir as indenizações

decorrentes de danos causados pelo tomador de serviços ou empregador. Conforme leciona

Maurício Godinho88, tais indenizações passaram a ser mais reconhecidas apenas com a

Constituição de 1988, que prescreveu no inciso X do artigo 5º a inviolabilidade da intimidade,

da vida privada, da honra e da imagem das pessoas, “assegurado o direito a indenização pelo

dano material ou moral decorrente de sua violação”.

6.1 Competência para a ação por dano moral trabalhista

Mesmo antes da Emenda Constitucional nº 45/04, sólida jurisprudência firmou a

competência da Justiça Trabalhista para solucionar dissídios em que são pleiteadas

indenizações por danos morais, com fundamento no artigo 114 da Constituição.

O STF, por exemplo, reconheceu a competência laboral em várias ocasiões. A título

exemplificativo, citam-se as ementas de julgados anteriores à Reforma do Judiciário:

JUSTIÇA DO TRABALHO: COMPETÊNCIA: ação de reparação de danos decorrentes da imputação caluniosa irrogada ao trabalhador pelo empregador a pretexto de justa causa para a despedida e, assim, decorrente da relação de trabalho, não importando deva a controvérsia ser dirimida à luz do Direito Civil.89

88 Curso de direito do trabalho. 5. ed. São Paulo: LTr, 2006, p. 613. 89 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário 238737/SP. Reclamante: Fotoptica Ltda. Reclamado: Edson Ferreira da Silva. Relator: Min. Sepúlveda Pertence. Brasília, 17 de novembro de 1998. Disponível em: <http://www.stf.gov.br/jurisprudencia/nova/pesquisa.asp>. Acesso em: 23 abr. 2006, 22:15:20.

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CONSTITUCIONAL. PROCESSUAL CIVIL. TRABALHO. COMPETÊNCIA: JUSTIÇA DO TRABALHO: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO: DANOS MORAIS. C.F., art. 114. I. - Ação de reparação de danos morais decorrentes da relação de emprego: competência da Justiça do Trabalho: C.F., art. 114. Na fixação da competência da Justiça do Trabalho, em casos assim, não importa se a controvérsia tenha base na legislação civil. O que deve ser considerado é se o litígio decorre da relação de trabalho. II. - R.E. conhecido e provido. Agravo não provido.90

CONSTITUCIONAL. COMPETÊNCIA: JUSTIÇA DO TRABALHO: AÇÃO DE INDENIZAÇÃO: DANOS MORAIS. C.F., art. 114. I. - Ação de reparação de danos decorrentes da imputação que se diz caluniosa irrogada ao trabalhador pelo empregador na despedida daquele: competência da Justiça do Trabalho: C.F., art. 114. Na fixação da competência da Justiça do Trabalho, em casos assim, não importa se a controvérsia tenha base na legislação civil. O que deve ser considerado é se o litígio decorre da relação de trabalho. II. - RE conhecido e provido.91

Após a Emenda Constitucional nº 45/04, o Pretório Excelso permaneceu com o mesmo

posicionamento, como exemplifica a decisão proferida em fevereiro de 2005 pela Ministra

Ellen Gracie:

1. Discute-se, no presente recurso extraordinário, se compete à Justiça comum estadual ou à Justiça do Trabalho o julgamento de ação de indenização por danos morais movida por empregado, em razão de demissão por justa causa, contra seu patrão. 2. Esta Suprema Corte tem assentado não importar, para a fixação da competência da Justiça do Trabalho, que o deslinde da controvérsia dependa de questões de direito civil, bastando que o pedido esteja lastreado na relação de emprego. Nesse sentido o CJ 6.959, rel. Min. Sepúlveda Pertence, D.J. 22.02.91 e, entre outros, os precedentes de ambas as Turmas desta Corte (RE 421455, rel. Min. Carlos Velloso e RE 238737, rel. Min. Sepúlveda Pertence). 3. Dou provimento, nos termos do art. 557, § 1º-A, do CPC, ao recurso extraordinário, para declarar Justiça do Trabalho competente para apreciar e julgar a lide. Publique-se. Brasília, 11 de fevereiro de 2005. Ministra Ellen Gracie Relatora.92

90 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ag. Reg. no Recurso Extraordinário n. 408381. Agravante: White Martins S/A. Agravados: Luciano Andrade Pinheiro e outros. Relator: Min. Carlos Velloso. Brasília, 23 de março de 2004. Disponível em: <http://www.stf.gov.br/jurisprudencia/nova/pesquisa.asp> Acesso em: 23 abr. 2006, 23:50:10. 91 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ag. Reg. no Recurso Extraordinário n. 358.702-1. Reclamante: Auto Posto Brasil de Volta Redonda Ltda. Reclamado: Adejair Gomes de Freitas. Relator: Min. Carlos Velloso. Brasília, 13 de maio de 2003. Disponível em: <http://www.stf.gov.br/jurisprudencia/nova/pesquisa.asp> Acesso em: 23 abr. 2006, 23:05:10. 92 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Recurso Extraordinário n. 256.707-8. Reclamante: Chocolate Comércio de Roupas Ltda. Reclamado: Alexandre Gama Baldez. Relatora: Min. Ellen Gracie. Brasília, 11 de fevereiro de 2005. Disponível em: <http://www.stf.gov.br/jurisprudencia/nova/pesquisa.asp> Acesso em: 23 abr. 2006, 23:20:20.

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Conquanto tenha proferido algumas decisões discordantes acerca do tema em pauta,

afirmando que a competência seria da Justiça Estadual, pois afeta a princípios e normas

concernentes à responsabilidade civil, após a pacificação no STF, também a jurisprudência do

STJ passou a reconhecer a competência laboral:

PROCESSUAL CIVIL. CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. IMPUTAÇÃO CALUNIOSA A EMPREGADO. CONTROVÉRSIA RESULTANTE DA RELAÇÃO EMPREGATÍCIA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. 1. O entendimento assentado nesta Corte - na esteira da orientação emanada do C. Supremo Tribunal Federal (RE nº 238.737-4/SP, Rel. Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, DJU 05.02.99) - é no sentido de que, tratando-se de ação indenizatória por danos morais, decorrente da relação empregatícia havida entre as partes, a competência é da Justiça do Trabalho. Precedentes. 2. Na hipótese dos autos, os elementos fático-probatórios do litígio, examinados pelas instâncias ordinárias, indicam, expressamente, que tanto a conduta ilícita atribuída a empresa-ré, consubstanciada na calúnia assacada pelos seus prepostos contra o autor, quanto o pedido de reparação do dano, decorreram da relação empregatícia havida entre as partes. É, portanto, in casu, competente a Justiça do Trabalho para processar e julgar o presente feito. 3. Recurso conhecido e provido.93

CONFLITO DE COMPETÊNCIA. INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS. DEMISSÃO SEM JUSTA CAUSA. RELAÇÃO DE EMPREGO. JUSTIÇA DO TRABALHO. 1. Conforme entendimento pacífico desta Corte, compete à Justiça do Trabalho processar e julgar ação objetivando indenização por dano moral ou material derivado de relação de emprego, como, por exemplo, a despedida sem justa causa, máxime após o advento da EC 45, de 08 de dezembro de 2004 - Art. 114, inc. VI. 2. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo da 34ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro - RJ, o suscitante.94

Apesar de pacificada a competência relativa aos danos advindos de contrato de

emprego, por outro lado ainda não era definida a competência para julgar os danos ocorridos

nas fases pré e pós-contratual. Parte da doutrina, consoante lembra Carolina Tupinambá95,

entendia que neste a condição de empregador e de empregado já estaria dissolvida pelo

transcurso de tempo, e naquele a relação de emprego sequer havia se formada; em ambas,

portanto, não sendo competente a Justiça Laboral. 93 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. RECURSO ESPECIAL 2004/0075644-8. Recorrente : Viação Forte Ltda. Recorrido: Eronilson Wladimir Martins do Rosário. Relator: Ministro Jorge Scartezzini. Brasília, 1 de julho de 2005. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/>. Acesso em: 23 abr. 2006, 23:59:10. 94 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Conflito de Competência Nº 47.344 - RJ (2004/0166687-3). Suscitante: Juízo da 34ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro - RJ. Suscitado: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro. Relator: Ministro Fernando Gonçalves. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/SCON/jurisprudencia/>. Acesso em: 23 abr. 2006, 21:10:10. 95 TUPINAMBÁ, Carolina. Competência da Justiça do Trabalho à Luz da Reforma Constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 162.

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Entretanto, a Emenda Constitucional nº 45/04 suprimiu qualquer dúvida nesse sentido,

pois declarou no inciso VI do artigo 114 a competência trabalhista para tais pretensões antes,

durante e após a relação de trabalho, exigindo apenas que dessa sejam decorrentes. Impende

citar a opinião de José Afonso Dallegrave Neto96:

Também passam a ser julgados pela Justiça do Trabalho os chamados danos pré ou pós-contratuais decorrentes da relação de trabalho, como, por exemplo, aqueles manifestados na entrevista para a vaga de emprego ou mesmo após a relação contratual, quando da busca de referência profissional ao ex-empregador. [...] É que, se antes da EC Nº 45/04 a competência da Justiça do Trabalho se dava apenas para litígios decorrentes da relação de emprego, doravante ela se estende a todas as ações de indenização por dano moral ou patrimonial decorrentes da relação de trabalho.

6.2 Prescrição dos danos morais

Com a ampliação da competência da Justiça Trabalhista, certa problemática surgiu

quanto aos prazos prescricionais. Parte da confusão advém da conseqüente aplicação de regras

de Direito Civil às lides que envolvam relação não empregatícia submetidas à jurisdição

trabalhista.

Questiona-se, por exemplo, se o prazo prescricional a ser aplicado em uma relação de

trabalho envolvendo um autônomo será o previsto para as ações trabalhistas ou o previsto no

Código Civil.

Antes da análise das teses relativas ao tema, é preciso considerar que o prazo

prescricional é vinculado à natureza do direito material. Bem leciona Raimundo Simão de

Melo97 que “[...] o prazo prescricional para o exercício de uma pretensão não se fixa levando

em conta a competência do juízo para conhecer do pedido respectivo. A prescrição decorre da

natureza do direito material discutido, independentemente do órgão do Judiciário que deva

apreciar o litígio”.

96 Apud TUPINAMBÁ, Carolina. Competência da Justiça do Trabalho à luz da reforma constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 163. 97 A prescrição do dano moral no direito do trabalho à luz da CR e do Novo Código Civil. Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região, Porto Velho, 2006. Disponível em: <http://www.trt14.gov.br/intranet/SDA/Sec_Jurisprudencia/Doutrina/Doutrina18.htm>. Acesso em 1/2/2006, 22:10:10.

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Nesse mesmo trilhar, ensina Rodrigues Pinto98:

A natural diversidade de importância, para o titular individual e para a sociedade, dos vários matizes de direito material, explica a diversidade dos prazos prescricionais fixados em cada um de seus ramos e até sua variação dentro de um mesmo ramo. [...] Pela própria razão dos fundamentos que inspiram a diversificação de critérios e de extensão dos prazos prescricionais na legislação que rege cada ramo de direito material, é natural a formação de um vínculo do direito subjetivo e o prazo prescricional.

Basicamente, existem três vertentes relacionadas ao tema: uma defende a prescrição

trabalhista, outra argúi a imprescritibilidade dos danos morais, e a última sustenta a prescrição

do Código Civil.

A primeira corrente baseia-se na natureza trabalhista dos danos morais decorrentes da

relação de trabalho: “dano moral decorrente da relação de trabalho, isto é, causado durante a

vigência de um contrato de emprego ou de uma prestação de trabalho de qualquer natureza, é

de natureza trabalhista e não civil”99. Segundo seus defensores, toda ação ajuizada na Justiça

do Trabalho tem apenas uma prescrição, ou seja, a prevista no artigo 7º, XXIX, da

Constituição, exceto casos específicos de natureza fiscal e previdenciária. A contagem do

prazo, da mesma forma, se regularia pelas regras da prescrição trabalhista, que começa a fluir

da data extinção do contrato de trabalho.

Condenando a afirmação da natureza constitucional dos danos morais, Raimundo

Simão100 afirma que “o argumento é forte e interessante, mas não convincente para a

finalidade a que se presta, data venia. Se fosse assim, passar-se-ia a aplicar a prescrição

qüinqüenal ao FGTS, porque consta o mesmo na Constituição como direito do trabalhador

(art. 7º, inciso III)”.

98 Prescrição, indenização acidentária e doença ocupacional. Revista LTr, São Paulo, v. 70, n. 1, p. 8, jan. 2005. 99 FRANCO FILHO, Georgenor de Sousa. A prescrição do dano moral trabalhista. Revista do Direito do Trabalho, Brasília, v. 11, n. 7, p. 24, jul. 2005. 100 A prescrição do dano moral no direito do trabalho à luz da CR e do Novo Código Civil. Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região, Porto Velho, 2006. Disponível em: <http://www.trt14.gov.br/intranet/SDA/Sec_Jurisprudencia/Doutrina/Doutrina18.htm>. Acesso em 1/2/2006, 19:50:10.

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Em prol da primeira corrente, argumenta-se também que a prescrição em análise seria

a trabalhista em virtude do reconhecimento da competência da Justiça do Trabalho. A

despeito desse posicionamento, deve-se ressaltar que, como considerado preliminarmente, tais

alegações não encontram respaldo na doutrina moderna, já que os prazos prescricionais não se

vinculam à competência.

A tese proposta pela segunda vertente parte da premissa de que se os danos morais

lesam direitos da personalidade, os quais são imprescritíveis, a pretensão para postular sua

indenização também seria imprescritível. Em defesa dessa corrente, leciona o juiz Souto

Maior101 que “o direito à personalidade decorre da relação jurídica básica que cada cidadão

possui com todos os outros, independente da existência de uma relação jurídica específica.

[...] A reparação do dano decorrente de agressão a direito da personalidade, é, portanto,

imprescritível.”

Percebe-se claro equívoco nessa tese, pois ela considera que a demanda versa sobre

direitos da personalidade. Ora, a ação por meio da qual se objetiva a reparação do dano moral

não versa sobre direitos da personalidade, mas sobre o direito da vítima de ser indenizada em

razão da lesão sofrida. O que será discutido na ação é a violação dos direitos da

personalidade, não os próprios direitos da personalidade, como explica Mauro Vasni

Paroski102. Aliás, acrescenta Paroski que, nesses casos, a ação “tem vínculo inexorável com

o tema da responsabilidade civil, com o dever de indenizar, que tem sua gênese em regra legal

genérica (novo CC, art. 186 e 927)”103.

Parecem mais sensatos os argumentos apresentados pela última corrente, que alega

não terem os danos pessoais nem natureza trabalhista, nem civil. E em virtude de não existir

dispositivo legal regulando de outra forma o respectivo prazo prescricional, devem ser

aplicados os prazos previstos da legislação civil. Em abono dessa posição doutrinária, ensina

Raimundo Simão de Melo104:

Com efeito, o prazo prescricional a ser aplicado, no caso, deve ser o do Código Civil, de vinte anos durante a vigência do Código Civil de 1916. Na vigência do

101 Em defesa da ampliação da competência da Justiça do Trabalho. Revista LTr, São Paulo, v. 70, n. 1, p. 20, jan. 2006. 102 Dano moral e sua reparação no direito do trabalho. Curitiba: Juruá, 2006, p. 203. 103 Ibid., loc. cit. 104 A prescrição do dano moral no direito do trabalho à luz da CR e do Novo Código Civil. Tribunal Regional do Trabalho da 14ª Região, Porto Velho, 2006. Disponível em: <http://www.trt14.gov.br/intranet/SDA/Sec_Jurisprudencia/Doutrina>. Acesso em 1/2/2006, 22:10:50.

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atual Código, surge, então, uma indagação: se o prazo é de 10 anos (art. 205) ou de 3 (art. 206, § 3º, inciso V). Este último prazo refere-se expressamente à pretensão de reparação civil e o primeiro à reparação de danos quando a lei não haja fixado prazo menor ou, de outra forma, quando inexiste previsão legal expressa sobre o assunto. É exatamente a hipótese vertente. Como já aludimos, não se está a tratar de um “crédito trabalhista”. Igualmente não se cuida de uma pretensão de reparação civil stricto sensu, envolvendo dano patrimonial material. Estamos a falar de direitos humanos fundamentais decorrentes da violação dos direitos da personalidade [...] a quem a Constituição Federal, pela primeira vez, assegurou o direito à indenização pelo dano material ou moral pertinente. [...] Portanto, se não se trata de direito trabalhista e nem civil e, como não existe qualquer dispositivo legal regulando de outra forma o prazo de prescrição para as pretensões decorrentes dos danos à pessoa (moral, material e estético), por exclusão aplica-se o prazo geral de 10 anos, como previsto no artigo 205 do Código Civil. A norma civil está sendo aplicada, repita-se, não porque se trate de uma pretensão de reparação civil no sentido estrito, mas porque é a lei civil que socorre nos casos de omissão regulatória sobre a prescrição no Direito brasileiro, ou seja, quando não há prazo expresso de prescrição sobre determinado dano, aplica-se o geral, de 10, previsto no artigo 205 do CC. [...] para os danos corridos até o dia 9/01/2003 continuam sendo aplicadas as regras da prescrição do Código anterior, com prazo de vinte anos, de acordo com as normas do artigo 2.028 do novo Código [...].

E no sentido dessa última corrente decidiu, em recente julgado, a Primeira Turma do

TST:

PRESCRIÇÃO. DANO MORAL E MATERIAL TRABALHISTA. 1. O prazo de prescrição do direito de ação de reparação por dano moral e material trabalhista é o previsto no Código Civil. 2. À Justiça do Trabalho não se antepõe qualquer obstáculo para que aplique prazos prescricionais diversos dos previstos nas leis trabalhistas, podendo valer-se das normas do Código Civil e da legislação esparsa. 3. De outro lado, embora o dano moral trabalhista encontre matizes específicos no Direito do Trabalho, a indenização propriamente dita resulta de normas de Direito Civil, ostentando, portanto, natureza de crédito não-trabalhista. 4. Por fim, a prescrição é um instituto de direito material e, portanto, não há como olvidar a inarredável vinculação entre a sede normativa da pretensão de direito material e as normas que regem o respectivo prazo prescricional. 5. Recurso de revista conhecido e provido.105 [grifou-se]

Cabe ressaltar, entretanto, que a matéria não se encontra pacificada no TST, que, além

do posicionamento acima mencionado, vêm decidindo106 também que o prazo prescricional a

ser aplicado em tais casos é o previsto no inciso XXIX do artigo 7º da CF/88.

105 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista nº 816.544/01.4. Recorrente: José Teixeira da Cunha. Recorrida: Transportadora Contatto LTDA. Relator: João Oreste Dalazen. Brasília, 10 de maio de 2006. Disponível em: < http://www.tst.gov.br/> Acesso em: 10 jun. 2006, 8:31:22. 106 Nesse entender, citam-se os seguintes julgados: RR-158/2003-019-03-00, 3ª Turma, Rel. Ministra Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, DJU de 27.05.2005; RR-86054/2003-900-04-00.7, 4ª Turma, Rel. Ministro Barros Levenhagen, DJU de 02.04.2004.

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É importante ressalvar, por fim, que caso seja admitida a natureza trabalhista das

indenizações decorrentes dos danos pessoais, deve ser levado em conta que o prazo previsto

no artigo 7º, inciso XXIX, da Constituição Federal, somente poderia ser aplicado depois de

efetivada a proteção do emprego contra a despedida arbitrária ou sem justa causa. Se assim

não fosse, como oportunamente censura Souto Maior107F

, “estar-se-ia ferindo, na realidade, o

princípio da proteção da dignidade humana, jogando-se no lixo as garantias fundamentais do

direito social.”

107 Em defesa da ampliação da competência da Justiça do Trabalho. Revista LTr, São Paulo, v. 70, n. 1, p. 20, jan. 2006.

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CONCLUSÕES

1. As alterações no artigo 114 da Constituição Federal, decorrentes da Emenda

Constitucional nº 45/04, mudaram radicalmente a competência material da Justiça Obreira,

que passou a abranger todos os dissídios que envolvam relações de trabalho. Dentre essas

relações, encontra-se a originada da prestação de serviços de um servidor público – seja

estatutário, temporário ou celetista – para um ente da Administração Pública. Mas, apesar de

evidente o enquadramento da competência da Justiça do Trabalho para as lides em comento,

pois assim dispõe o texto constitucional, o STF decidiu, recentemente, que a competência

para julgar as lides envolvendo servidores estatutários é da Justiça Comum. Da mesma forma,

o STF vem entendendo que a Justiça Comum é a competente para dirimir os litígios

relacionados aos servidores temporários da Administração Pública. A Justiça Obreira é

competente apenas, como já era antes da Emenda Constitucional nº 45/04, para julgar os

litígios envolvendo os servidores públicos contratados sob o regime celetista. Conquanto seja

ilógico tal entendimento, é o que prevalecerá nas decisões dos tribunais nacionais,

considerando a posição do STF.

2. Grande parte dos problemas surgidos após a Reforma do Judiciário decorreu da

definição dos contornos da relação de trabalho, expressão empregada em substituição à

relação de emprego. De fato, a expressão possibilita abranger quase todos os tipos de relações

humanas. Assim, muitas vezes a relação de trabalho se situará em terreno nebuloso, tornando-

se extremamente dificultosa a diferenciação, como é o caso das relações de consumo. A

melhor solução para o correto discernimento dos contornos da relação de trabalho em tais

casos é a que considera a natureza bifronte: deve-se observar a relação contratual sob o prisma

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do consumidor como destinatário final do serviço e sob o ângulo do prestador de serviços.

Nada impede que simultaneamente haja, no caso concreto, uma relação de consumo e uma

relação de trabalho. Dessa forma, deve o aplicador do direito, por exemplo, ao deparar-se com

essas situações, analisar o objeto da lide e verificar se esse decorre da execução de um

determinado serviço ou se advém de um serviço executado. No primeiro caso, competente

será a Justiça Obreira; no segundo, a Justiça Comum.

3. Analisando-se a competência para julgar lides envolvendo lesões acidentárias,

necessário se faz distinguir as duas espécies principais de responsabilidades que podem ser

geradas: a responsabilidade social, fonte de benefício de Previdência Social, e a

responsabilidade trabalhista, originada de danos materiais, morais e estéticos decorrentes de

lesões vinculadas à relação de trabalho. A Justiça Comum é competente apenas para julgar os

litígios envolvendo a responsabilidade social, ou seja, as ações acidentárias derivadas de

acidente de trabalho propostas pelo trabalhador segurado em face do Instituto Nacional de

Previdência Social. Já em relação às ações que postulam indenização por danos morais,

materiais e estéticos provocados por acidentes no trabalho, é competente a Justiça Obreira,

consoante dispõe o artigo 114, VI, da Constituição da República. Apesar de inicialmente ter

decidido pela competência da Justiça Comum também nesses casos, o STF reviu sua posição

no Conflito de Competência nº 7.204-MG, decisão que certamente prevalecerá. Aliás, o

Supremo, ao apreciar esse Conflito de Competência, rejeitou a aplicabilidade, ao caso, do

princípio da “unidade de convicção”, principal argumento dos que defendiam a competência

da Justiça Comum para julgar lesões acidentárias envolvendo a responsabilidade social.

Superado esse argumento, estabeleceu-se também a incondicionalidade das decisões

trabalhistas proferidas em lides acidentárias envolvendo a responsabilidade trabalhista.

4. Por fim, a Emenda Constitucional nº 45/04 reafirmou a competência da Justiça do

Trabalho para julgar dissídios em que são pleiteadas indenizações por danos morais – já

reconhecida anteriormente pela jurisprudência majoritária –, pois o artigo 114, em seu inciso

VI, dispôs expressamente como competência dessa Especializada processar e julgar as ações

de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho. Assim,

elidiu-se qualquer dúvida relativa à competência da Justiça Obreira nesses casos. Por outro

lado, grande celeuma surgiu quanto aos prazos prescricionais a serem aplicados na hipótese

em pauta. Grande parte da controvérsia baseou-se em critério equivocado para determinação

dos prazos prescricionais, que não se fixam considerando a competência do juízo, mas a

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natureza do direito material pleiteado. Dessarte, por não ter a indenização por danos morais

nem natureza trabalhista, nem cível, mas sim de direito personalíssimo imprescritível e

intangível, e por não existir dispositivo legal regulando especificamente tais prazos, deve ser

aplicado, por exclusão, o prazo geral de 10 anos, previsto no artigo 205 do Código Civil, caso

tal direito venha a ser violado.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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