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EM ESPÍRITO E EM VERDADE Curso prático de liturgia

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2| S É R I E C R I S T I A N I S M O P R Á T I C O

EM ESPÍRITO E EM VERDADE

Curso prático de liturgia

Luiz Carlos Ramos

EDITEO São Bernardo do Campo, 2008

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Série Cristianismo Prático © 2008 Luiz Carlos Ramos

EDITORA DA FACULDADE DE TEOLOGIA (EDITEO)

Catalogação preparada pela bibliotecária Aparecida Comelli Tavares (CRB 8-3781) – Biblioteca Jalmar Bowden

264 RAMOS, Luiz Carlos R147e Em espírito e em verdade: curso prático de

liturgia / Luiz Carlos Ramos. São Bernardo do Campo: Editeo, 2008. 144 p. ISBN: 978-85-88410-85-5

1. Liturgia 2. Culto público I. Curso prático de liturgia II. Título

CDD 18ª. ed.

Faculdade de Teologia da Igreja Metodista – Umesp

Reitor da Faculdade de Teologia Rui de Souza Josgrilberg Reitor da Umesp Márcio de Moraes

Editeo Conselho Editorial Blanches de Paula

Helmut Renders José Carlos de Souza Luiz Carlos Ramos Magali do Nascimento Cunha Nelson Luiz Campos Leite Otoniel Luciano Ribeiro Rui de Souza Josgrilberg (presidente) Ronaldo Sathler-Rosa Stanley da Silva Moraes Tércio Machado Siqueira Marcos José Martins

Coordenador editorial Ronaldo Sathler-Rosa Editor responsável por este livro Tércio Machado Siqueira Coordenador de produção Luiz Carlos Ramos Revisão Gedilson Oliveira dos Santos, Glória Pratas e Adilson Miguel da Silva Assistente Editorial Glória Pratas Editoração e capa Marcos Antonio Brescovici Foto da capa Vitor Chaves (patena e cálice utilizados nas celebrações eucarísticas da FaTeo)

EDITORA DA FACULDADE DE TEOLOGIA DA IGREJA METODISTA Rua do Sacramento, 230 – Rudge Ramos 09840-000 – São Bernardo do Campo, SP

Telefone: (11) 4366-5983 — e-mail: [email protected]

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Sumário

Prefácio ................................................................... 7

Prólogo .................................................................. 11

Introdução ............................................................ 13

Liturgia e Culto ............................................................ 13

Liturgia e Teologia........................................................ 13

Modelos bíblicos e históricos de ordem para o culto ....... 16

As bases da liturgia cristã: o Pão e a Palavra ................. 24

I O que é culto? (A liturgia do serviço) ...............29

II Por que fazer culto? (A liturgia da graça) .......37

III Onde se faz culto? (A liturgia do espaço

sagrado)................................................................41

Lugares Sagrados ........................................................ 42

Tabernáculo................................................................. 43

O Templo .................................................................... 45

Sinagogas ................................................................... 47

Casas (cenáculo) ......................................................... 48

Praça pública ............................................................... 50

Prisões ........................................................................ 52

Catacumbas ................................................................ 53

Basílicas e catedrais ..................................................... 54

A linguagem espacial e a teologia dos edifícios, mobílias

e utensílios religiosos................................................... 57

A Igreja: em espírito e em verdade............................... 62

IV Quem participa do culto? (A liturgia

do povo de Deus) ..................................................65

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O lugar da criança no culto cristão................................ 69

Culto para crianças ou culto com as crianças? ............... 72

O que as crianças podem e não podem fazer no culto?.. 74

Preparação da liturgia de um culto inclusivo.................. 78

Portanto...................................................................... 79

V Quando fazer culto? (A liturgia do tempo)....... 81

A celebração da História da Salvação............................ 82

O Calendário Litúrgico.................................................. 85

Ciclo do Natal ........................................................87 O Tempo Comum (após Epifania e após Pentecostes) ...............................................91 Ciclo Pascal ...........................................................94 Esquema do Ano Litúrgico............................................ 99

VI Como fazer culto? (A liturgia da liberdade

e da criatividade)................................................ 103

Objetividade e subjetividade litúrgicas .........................104

A emoção na comunicação litúrgica........................105 A razão na comunicação litúrgica ...........................106 Emoção, sensação e razão e a saúde litúrgica .........109 Outras formas de comunicação-não-verbal na liturgia ......110

A natureza e o culto .............................................111 O corpo e o culto..................................................119 A cultura e o culto ................................................131 A Equipe ou Ministério de Liturgia ................................135

Epílogo ................................................................ 139

Referências ......................................................... 141

Textos sobre culto e liturgia.........................................141

Textos sobre a comunicação por vias não-verbais ........143

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Prefácio

A Série Cristianismo Prático (SCRIPT) foi planejada para oferecer às lide-ranças das igrejas locais, pastores e pastoras, leigos e leigas, um instru-mento de trabalho e aperfeiçoamento da pastoral cristã. Como uma de-monstração de nossa disposição, te-mos a alegria de apresentar o traba-lho do Rev. Luiz Carlos Ramos, Em Espírito e em Verdade, um curso prá-tico de liturgia.

A publicação deste livro torna-se urgente, exatamente, porque cresce, nas igrejas evangélicas, uma atitude de desdém para com a palavra “litur-gia”. Há poucos dias, ouvi a seguinte frase, numa oração de um leigo: “Re-

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preenda, Senhor, o espírito de litur-gia”. Indagado pelo pastor sobre o seu conceito de liturgia, ele respon-deu: “é aquele papelzinho que orga-niza o culto”.

O livro Em Espírito e em Verdade tem a intenção de esclarecer o signi-ficado de liturgia para a Igreja Cristã. Mais do que enfatizar a liturgia como uma ordem para a celebração cúlti-ca, o autor deixa claro que ela vai além. Para ele, liturgia deve ser com-preendida como uma vida de serviço à Causa Divina. Isso faz da liturgia um conjunto harmonioso de pala-vras, gestos e expressões que orien-tam e desafiam a comunidade cele-brante a aperfeiçoar o seu testemu-nho cristão.

Assim, pedagogicamente, a liturgia deixa de ser mera questão formal, para exercer um verdadeiro papel pro-fético, desafiando a cada celebrante a transformar os passos litúrgicos, con-

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tidos numa folha de papel, em práti-

cas do seu dia-a-dia. O autor desenvolve este tema com

profundidade e leveza. Partindo das bases bíblicas, mostra a liturgia como um instrumento necessário ao teste-munho cristão. Além disso, ele deseja mostrar que a liturgia é um dos ele-mentos que sinalizam a dimensão ecumênica da Igreja Cristã, em todas as épocas. Na diversidade das igrejas, a liturgia se faz presente na especifi-cidade de cada tradição cristã.

Portanto, a Faculdade de Teologia da Igreja Metodista pretende, com esta publicação, incentivar as igrejas locais a redescobrirem a importância da liturgia, para o culto, e a dialoga-rem com as tradições cristãs. A preo-cupação do Rev. Luiz Carlos é com a prática do culto nas igrejas.

Como editor da Série Cristianismo Prático, espero que este curso prático de liturgia ajude o povo cristão na bus-ca de uma autêntica celebração de sua

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fé. Que os cultos sejam mais comunitá-rios e participativos, e que o povo cren-te seja mais consciente e comprometido com a Palavra de Deus.

Tércio Machado Siqueira

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Prólogo

O material desta obra é o resulta-do da experiência do autor como pas-tor e como liturgista. É fruto dos cursos ministrados nas comunidades pelo Brasil afora e das aulas de Li-turgia da Faculdade de Teologia da Igreja Metodista; e também da expe-rimentação de uma espiritualidade encarnada, vivenciada nas celebra-ções da Igreja local, regional e nacio-nalmente, bem como em tantos en-contros ecumênicos, e, particular-mente, nos cultos da FaTeo.

Luiz Carlos Ramos

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Introdução

Liturgia e Culto

NTES DE APRESENTARMOS uma definição de liturgia, é importante fazer uma pe-

quena distinção entre Liturgia e Cul-to: segundo Nelson Kirst (ver referên-cias bibliográficas no final da publi-cação) Culto é o encontro celebrativo entre Deus e o seu povo, e a Liturgia é o que acontece nesse encontro.

Liturgia e Teologia

Convencionalmente, a Teologia se estrutura em três grandes áreas, a saber: (1) Bíblia, que se ocupa da in-

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vestigação das fontes da fé cristã; (2) Teologia Sistemática e História, que estuda a maneira como a fé foi inter-pretada e reinterpretada em diferen-tes épocas e lugares; (3) e Pastoral, que se ocupa da práxis da fé, isto é, da reflexão e da prática aplicada à realidade das pessoas e das comuni-dades de fé no contexto da missão da Igreja a toda a humanidade.

Didaticamente, a Liturgia inscre-ve-se no escopo da Teologia Pastoral, que, por sua vez, se subdivide em di-ferentes áreas, sendo as principais estabelecidas a partir da narrativa bíblica do livro dos Atos dos Apóstolos (especialmente, 2.42-47): doutrina (didaskalia) – comunhão (koinonia) – partilha do pão (diakonia) – ora-ção/louvor (liturgia). A Liturgia é, por-tanto, um capítulo da Teologia Pasto-ral, ao lado da Educação Cristã, do Aconselhamento ou Poimênica, da Diaconia ou Ministérios. Entretanto, essas divisões têm caráter meramente

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didático, pois, na prática, todas as áreas da Teologia estão imbricadas, interligadas e se interdependem.

Na academia, o uso científico do termo liturgia aplica-se à disciplina teológica que trata da ritualidade ce-rimonial e rubrical que regulam o e-xercício externo do culto.

Considera-se a liturgia como teolo-gia primeira (theologia prima) e a re-flexão dogmática como Teologia se-gunda (theologia secunda). É igual-mente considerada ápice e fonte (cul-men et fons) da ação da igreja (actio ecclesiae). Neste sentido, como ensina Casiano Floristán, a liturgia é “lugar primário no qual se realiza a autênti-ca fé, ao mesmo tempo em que é fonte e norma primeira da doutrina”. A li-turgia é uma das três grandes ações da Igreja, sendo precedida pela evan-gelização e seguida pela atividade ca-ritativa, testemunhal ou apostólica.

Assim sendo, não se pode fazer Li-turgia sem se recorrer à fonte da nos-

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sa fé, a Bíblia; nem à interpretação e atualização dessa fé, a Teologia Sis-temática e a História; e, muito menos, sem recorrer-se à aplicação dessa fé à vida com vistas à transformação da realidade à luz dos princípios do Rei-no de Deus, que é a tarefa específica da Teologia Pastoral.

Por essa razão, trataremos dos temas da Liturgia, sempre relacio-nando-os à Bíblia, à sistematização histórica e à práxis pastoral.

Comecemos, portanto, pela busca de alguns modelos bíblicos de ordem para o culto.

Modelos bíblicos e históricos

de ordem para o culto

Na Bíblia Hebraica há muitas in-dicações, umas mais, outras menos explícitas, de diferentes práticas li-túrgicas. Um bom exemplo é a narra-tiva de Neemias 8.1-12. Note-se a estrutura sugerida pela narrativa:

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Reunião – leitura bíblica – adoração – edificação (explicação da leitura) – refeição comunitária/serviço aos ne-cessitados.

No mesmo livro podemos encon-trar variações dessa estrutura, veja-se, por exemplo, Neemias 9: Confis-são individual – leitura bíblica – ado-ração e louvor – confissão comunitá-ria – dedicação (renovação da alian-ça).

Um dos modelos mais significati-vos é o encontrado em Isaías 6.1-8. A estrutura oferecida por esta passagem forneceu a base para a liturgia de vá-rias igrejas reformadas e, particular-mente, a Igreja Metodista, aqui no Brasil: adoração – confissão (indivi-dual e comunitária) – edificação – de-dicação.

No Novo Testamento, várias são as referências. Detenhamo-nos em al-gumas das que mais inspiraram a prática litúrgica histórica.

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Lucas 24. O capítulo 24 do Evan-gelho de Lucas repete sistematica-mente uma mesma estrutura: encon-tro – Serviço da Palavra – Serviço da Mesa – Envio. Veja Lucas 24.13-35; 36-43; 44-49.

O mesmo texto de Atos 2.42-47, mencionado acima, também nos ofe-rece uma referência sobre a prática celebrativa dos primeiros cristãos: instrução – comunhão – partilha – oração e louvor.

Apocalipse 8. Uma outra proposta litúrgica, bem diferente, encontramos no relato de um culto escatológico, narrado no capítulo 8 e seguintes do livro do Apocalipse: silêncio contem-plativo – súplicas (incensário) – pro-clamação (trombetas) – edificação (10.8-10) – Envio (10.11; 11.1ss).

Um dos registros mais antigos, a que temos acesso, sobre o culto nos primeiros séculos, encontra-se na Didachè, que era uma espécie de ma-nual dos primeiros cristãos, datado,

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provavelmente, do final do primeiro século. Veja-se, a título de ilustração, a seguinte oração eucarística extraída da Didachè:

No que se refere à eucaristia, dai graças assim: Primeiramente, sobre o cálice: Nós te damos graças, ó Pai nosso, pela santa vinha de Davi, teu servo; tu no-la fizeste conhecer por Jesus, teu filho. Glória a ti pelos séculos! Depois, sobre o pão partido: Nós te damos graças, ó Pai nosso, pela vida e pelo conhecimento que nos concedeste por Jesus, teu filho. Glória a ti pelos séculos! Como esse pão partido, antes disseminado sobre as montanhas, foi reunido para ser apenas um, reúne do mesmo modo tua igreja das extremidades terra em teu Reino. Sim, a ti são a glória e o poder por Jesus Cristo, pelos séculos!

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Depois de terdes comido o pão, agradecei assim: Nós te damos graças, ó Pai santo, por teu santo nome, que abrigaste em nosso coração, pelo conhecimento, pela fé e pela imortalidade que nos concedeste por Jesus, teu filho. Glória a ti pelos séculos! Tu, Senhor todo-poderoso, criaste o universo para louvor de teu nome e deste aos homens a comida e a bebida para [seu] regozijo, a fim de que eles te dêem graças; mas a nós, tu nos deste um alimento e uma bebida espirituais e a vida eterna por teu filho. Antes de tudo nós te damos graças porque és poderoso; Glória a ti pelos séculos! Lembra-te, Senhor, de livrar tua igreja de todo mal e de completá-la em teu amor. Reúne, dos quatro ventos a Igreja, que santificaste, no Reino que preparaste para ela. Porque a ti pertencem o poder e a glória pelos séculos!

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Venha a tua graça e passe este mundo! Hosana ao Deus de Davi! Quem é santo venha; quem não é faça penitência. Marana tha! Amém.

Síntese: Adoração (orações a Deus, o Pai) – Eucaristia (proclamação do evangelho e memorial de Jesus, o Fi-lho) – Diakonia (Espírito Santo motiva o serviço/coleta em favor dos necessi-tados).

Outro importante documento é o relato de Justino Mártir (Primeira Apologia), de meados do segundo sé-culo da era cristã. Assim Justino des-creve a celebração do domingo:

Depois disso, continuamos a recor-dação dessas coisas. Aqueles que têm posses prestam ajuda a todos os que têm necessidade, e nós nos damos assistência mutua. Em todas as nos-sas oferendas bendizemos o Criador do universo por seu filho Jesus Cristo e pelo Espírito Santo. No dia chamado do sol, todos, habitem nas cidades ou nos campos, se reúnem num mesmo

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lugar. São lidas as memórias dos a-póstolos e os escritos dos profetas en-quanto o tempo o permite. Terminada a leitura, aquele que preside toma a palavra para advertir e exortar à imi-tação desses belos ensinamentos. Em seguida, todos nós nos levantamos e oramos em voz alta. Depois, como já dissemos, terminada a oração, são trazidos pão, vinho e água. Aquele que preside, à medida que suas forças o permitem, faz subir ao céu orações e ações de graça, e todo o povo respon-de com a aclamação amém. Segue-se a distribuição dos alimentos consagrados a cada um, e a parte dos ausentes lhes é enviada pelo ministé-rio dos diáconos. Aqueles que têm bens em abundância e querem fazer doações doam livremente o que que-rem. O que é recolhido é entregue ao presidente, que dá assistência aos ór-fãos, ás viúvas, aos doentes, aos indi-gentes, aos presos, aos hóspedes es-trangeiros, numa palavra, a todos os que estão passando necessidade. Nós nos reunimos no dia de Sol por-que é o primeiro dia, aquele em que Deus, tirando a matéria das trevas,

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criou o mundo, porque nesse mesmo dia o nosso salvador Jesus Cristo res-suscitou dos mortos. Na vigília do dia de Saturno ele foi crucificado e, no dia seguinte a este, isto é, no dia do Sol, ele apareceu aos seus apóstolos e aos seus discípulos e lhes ensinou essa doutrina que nós acabamos de sub-meter ao vosso exame.

A liturgia começava com leituras das Escrituras e relatos dos testemu-nhos dos apóstolos (seguidores de Jesus) – exortações para a imitação dos atos de Jesus, conforme teste-munhados – orações pelo mundo e pela igreja, particularmente pelos en-fermos, ou que estavam à morte, e pelos que haviam sido presos por pro-fessarem a Cristo, denunciados por não cristãos – beijo da Paz – ofertório dos elementos eucarísticos – oração eucarística – distribuição dos elemen-tos eucarísticos aos presentes e envio aos ausentes – coleta em favor dos necessitados (alimentos, roupas ou dinheiro) – despedida com oração pa-

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ra que todos permaneçam fiéis e a salvo até reunirem-se novamente no próximo domingo.

As bases da liturgia cristã:

o Pão e a Palavra

Sabe-se que os primeiros cristãos mantinham seu costume, como ju-deus, de freqüentar a sinagoga, aos sábados, para ouvir a leitura da Lei, dos Escritos e dos Profetas; e que, no domingo, se reuniam nas casas para o “partir do pão” e celebrar a memória de Jesus. Celebravam, assim, a Pala-vra, no sábado, e a Ceia, no domingo. Porém, à medida que os cristãos fo-ram sendo expulsos das sinagogas, passaram a concentrar no domingo a celebração da Palavra e da Mesa.

Num primeiro momento, como sa-lienta Nelson Kirst em Nossa Liturgia: das origens até hoje, o sacramento eucarístico era feito no contexto de uma refeição normal e tinha a seguin-te estrutura: O celebrante partia o pão e fazia uma oração de ação de

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graças, depois todos comiam a refei-ção comunal e, ao final, o celebrante voltava a chamar a atenção de todos para a partilha do vinho que era pre-cedida de outra oração de ação de graças. A estrutura era, portanto: pão – refeição – vinho. Mais tarde, por razões várias, passou-se a realizar a refeição em primeiro lugar, juntando a celebração do pão e do vinho no final da cerimônia: refeição – pão e vinho. Mais adiante, ainda, separou-se completamente a refeição do me-morial do pão e do vinho.

O culto cristão integra em uma única celebração a leitura e a explica-ção das Escrituras, próprias da litur-gia da Sinagoga judaica, e o memorial eucarístico, do Cenáculo.

As primeiras pessoas a professar a fé cristã eram, principalmente, judias, e assim continuaram até que foram expulsas da Sinagoga. Até então, re-uniam-se no sábado (Shabah), na Si-nagoga para a liturgia da Palavra, e tornavam a reunir-se no domingo (Dia

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do Senhor) para a Liturgia do Cenácu-lo.

Quando as Sinagogas fecharam suas portas aos cristãos, estes passa-ram a concentrar a liturgia da Pala-vra, e a do Cenáculo, numa única celebração, desta vez no Dia do Se-nhor (Kyriake hemera).

Dos relatos bíblicos e históricos, mencionados até aqui, podemos esta-belecer um padrão que dá o funda-mento da liturgia cristã: a Celebração da Palavra e a Celebração da Mesa. Quase todos os relatos têm em co-mum o fato de terem dois focos dis-tintos e complementares: a leitura e explicação da Palavra, de um lado, e a prática sacramental do memorial ins-tituído por Jesus, a eucaristia, ou Santa Ceia, ou ainda a Ceia do Se-nhor, de outro. Pão e Palavra são, portanto, os pilares da liturgia.

Na organização do espaço celebra-tivo, esses “pilares” ficam evidentes pela disposição, no altar: da mesa da comunhão e do púlpito, lugares res-pectivos da comunhão e da proclama-

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ção; do sacramento e do Evangelho; da partilha e do anúncio; da fé e da prática; dos atos de piedade e das obras de misericórdia; enfim, do Pão e da Palavra.

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I

O que é culto? (A liturgia do serviço)

TERMO LITURGIA TEM origem no grego clássico leitourgia (leitos [adjetivo de laós] = povo + ergon

= trabalho, esforço), que originalmente designava toda obra, ação ou iniciativa assumida livremente por um indivíduo em favor do povo ou do bairro ou da cidade ou do Estado. Aos poucos o ter-mo passou a designar qualquer traba-lho que importasse em “serviço”, mais ou menos obrigatório, prestado ao Es-tado, ou a um indivíduo, ou mesmo à divindade (“serviço religioso”).

O

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Na Bíblia Hebraica, ou Antigo Tes-tamento, um dos termos mais signifi-cativos, relativos ao culto, é hawa, que pode ser traduzido por “prostrar-se” e “adorar”. A palavra é empregada 170 vezes em todo o AT e traz a idéia de submissão e auto-humilhação, cujo sentido sugere um curvar-se até a testa encostar o chão.

Derivam de hawa outros termos que nos ajudam a entender melhor a força e a idéia da raiz desse termo: abad, traduzido por “escravo”, servo (equivalente ao grego doulos); abida, traduzido por “serviço”, “ritual”, “ado-ração”; ‘abodah, traduzido por “traba-lho” e ‘abad, “servir”, “cultivar o cam-po” (vd. Êx 12.21-28; Dt 10.8; 2Cr 8.14).

Em Esdras 6, por exemplo, esses termos são empregados na narrativa que descreve o serviço realizado por ocasião da construção ou reconstru-ção de Jerusalém.

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A tradução grega do Antigo Testa-mento, a Septuaginta (LXX), emprega o termo liturgia sempre, sem exceção, para designar o “serviço religioso” prestado pelos levitas a Yaweh (ocorre mais de 150 vezes).

No Novo Testamento, o verbo lei-tourgeo, o adjetivo leitourgikos e os substantivos leitourgia e leitourgos ocorrem 15 vezes e, em geral, são tra-duzidos como “serviço”, “ministério”, “socorro/auxílio” e seus correspon-dentes. Em Atos 13.2 o termo tem, especificamente, o sentido de “culto” (ver também: Hb 1.7,14, 8.2,6, 10.11; Fp 2.17).

Nos escritos extrabíblicos, como na Didachè e textos de Clemente, o termo aparece claramente relacionado com a celebração eucarística.

Ao longo da história da Igreja, o termo grego foi preservado na igreja oriental, mas substituído por seus equivalentes latinos (officium, ministe-rium, múnus...) na igreja latina.

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Atualmente, a palavra liturgia se aplica a todo o conjunto dos atos ri-tuais e da Igreja pelos quais prosse-gue no mundo no exercício do sacer-dócio de Jesus Cristo, destinado a santificar os seres humanos e glorifi-car a Deus.

No Novo Testamento, outros ter-mos são utilizados com o mesmo sen-tido de leitourgia (At 13.2; Hb 1.7,14, 8.2,6, 10.11; Fp 2.17), entre eles:

Proskyneo (equivalente ao he-braico hawa), geralmente tra-duzido por “adorar/adoração/ adorador”, (Mt 2.2,8, 11; 4.9, 10; Jo 4.20-23; Ap 3.9). Signi-fica, literalmente, “curvar-se”, “prostrar-se”;

Sebomai, traduzido por “te-mor”, “piedade” (Mt 15.9; At 13.43,50, 16.14, 17.4,17, 18. 7,13, 19.27). É a característica dos homens e mulheres cuja piedade se tornava notória pela

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prática da oração, do jejum e das esmolas dadas aos pobres;

E Latreia, traduzido como “cul-to”, “serviço sagrado” (Rm 9.4, 12.1; Hb 9.1,6,9,14; Mt 4.10; At. 7.7; Ap 7.15, 22.3). A la-treia é a tarefa do latris, o mais humilde dos serviçais do perío-do bíblico. Há vários tipos de escravos que são mencionados na Bíblia: o doulos, que cuida-va dos serviços externos (trata-va dos animais, lavrava a ter-ra...); o diakonos, que cuidava dos serviços domésticos (servia as mesas, limpava a casa...); e o latris, que era quem fazia o trabalho mais degradante (lim-pava a latrina). O latris não é mencionado nas páginas do NT, mas o seu serviço sim, nos textos indicados acima. Da mesma raiz, temos as expres-sões em português “latrina” e “idolatria”.

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Todos esses termos têm a conota-ção de humildade e serviço.

Portanto, liturgia é o serviço comuni-tário celebrado pelo povo de Deus por meio da adoração à Trindade e da soli-dariedade aos da família da fé, bem co-mo a toda a comunidade humana.

Talvez por essa origem etimológica dos termos, para muitos, participar do culto assumiu um caráter de de-ver, de obrigação, de trabalho (até hoje, um termo muito comum na lín-gua inglesa para designar o culto é service, “serviço”).

Por essa razão, é preciso, aqui, evocar a grande ação da graça de Deus, que toma a iniciativa de vir até nós, no culto, como veio ao encontro da humanidade na pessoa de Jesus Cristo, e estabelece conosco uma no-va aliança, pela qual já não somos chamados servos, mas amigos:

Já não vos chamo servos, porque o ser-vo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, por-

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que tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer. (Jo 15.15)

Assim sendo, o culto é o encontro maravilhoso do Eterno com o efêmero, do Infinito com o finito, do Santíssimo com o pecador redimido.

A dimensão do serviço prestado com muita humildade permanece, mas não por dever, mas por amor.

Dizendo de outra forma, a liturgia é um diálogo interativo e afetivo en-tre Deus e os seres humanos e des-tes entre si, no contexto celebrativo da fé, na forma de um serviço co-munal — comunitário e comunica-cional — porque é prestado por to-dos e para todos.

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II

Por que fazer culto? (A liturgia da graça)

OR QUE ALGUÉM VAI AO CULTO? A resposta a esta pergunta pode ser reveladora da teologia do

culto. Há, historicamente, três posturas

clássicas a esse respeito: a primeira, típica da Igreja Medieval, que diz que devemos ir ao culto para sermos a-graciados por Deus: ênfase na mística sacramental.

Uma segunda, muito difundida entre os anabatistas, diz que devemos ir ao culto para sermos alimentados

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pela Palavra de Deus: ênfase na ra-cionalidade dogmática.

Finalmente, a posição de reforma-dores, como Calvino e Lutero, que entenderam que a liturgia não deve ser considerada mero meio para se obter graça ou favor divinos, nem co-mo ocasião para que o povo de Deus seja alimentado por sua Palavra, uma vez essas seriam práticas antropocên-tricas — porque têm como último be-neficiário o ser humano.

Em contrapartida, os reformadores entenderam que a liturgia deve ser teocêntrica, de modo que Deus seja o sujeito, o centro, o foco do culto. As-sim, o fiel deve buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça — isso também no culto. Assim, a graça, a instrução bem como as demais coi-sas, serão acrescentados aos fiéis como decorrência natural. Aqui estão sendo levadas em consideração as duas grandes doutrinas da Reforma Protestante: a Teologia da Graça (es-

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pecialmente, Lutero) e a da Soberania de Deus (especialmente, Calvino).

Na prática, constata-se que há um caminho de mão dupla: de um lado, Deus vem ao encontro da comunidade (e é sempre ele quem toma a iniciati-va), e, por outro lado, a comunidade vai ao encontro de Deus, como res-posta em ação de graças à grande ação da graça de Deus. O culto se constitui, assim, em ponto de encon-tro celebrativo entre Deus e a comu-nidade e desta consigo mesma (cf. Tg 4.8).

No entanto, não se deve perder o referencial de que Deus é o centro do culto, é ele que “está sentado no alto e sublime trono” (cf. Is 61).

A pergunta “por que fazer cultos?” será melhor respondida e mais deta-lhadamente explicada ao longo dos próximos capítulos, à medida que a-bordarmos outros aspectos essenciais da liturgia.

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III

Onde se faz culto? (A liturgia do espaço sagrado)

UANTO AO ESPAÇO LITÚRGICO, desde muito cedo na experiên-cia do povo de Deus, conforme

registrada nas Escrituras, houve a preocupação de delimitações e esta-belecimento de áreas nas quais a ma-nifestação do Sagrado é experimenta-da de maneira especialmente enfática.

A relação do povo de Deus com tais lugares acompanhou o amadure-cimento da sua fé e espiritualidade, bem como as contingências sócio-político-geográficas próprias de cada período de sua história.

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Lugares Sagrados

Primeiramente, na fase em que o povo de Deus dava seus primeiros passos na construção de sua identi-dade religiosa (fé e teologia), sua ex-periência com as manifestações de Yaweh (as teofanias) eram eventuais e esporádicas. Assim, as primeiras referências são os chamados Lugares Sagrados, tais como aconteceu com: Noé, após o Dilúvio (Gn 8.20); Abraão, nos Carvalhais de Manre (Gn 13.18); Moisés, no Monte Horebe (Êx 3.5); Josué, no Monte Ebal (Js 8.30); Davi, na Eira de Ornã (1Cr 21.26); Esdras e Neemias, na reconstrução do Templo (Ed 3.2); mesmo Jesus, no Monte da Transfiguração (Mc 9.2ss); e Paulo, no lugar de oração às margens de um rio (At 16.13 ).

Nas primeiras experiências, o lu-gar em si passa a ser considerado sagrado, porque ali algo especial da parte de Deus aconteceu.

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Na medida em que a identidade re-ligiosa do povo de Deus vai se estabe-lecendo com mais clareza, começou-se a construir ou utilizar-se de locais conforme as circunstâncias do seu cotidiano.

Tabernáculo

Quando nômades, habitantes de tendas, e peregrinos do deserto, cons-truíram o Tabernáculo (Êx 30-40, ver também cap. 25 [especialmente v. 8 a 27]).

O Tabernáculo deveria ficar no centro do acampamento israelita, com a entrada do Santo Lugar voltada pa-ra o Oriente e a do compartimento interno, o Santo dos Santos, voltado para o Ocidente.

Tratava-se de uma estrutura sim-ples: uma cerca de lona com um pá-tio, e um espaço reservado menor (o Santo) para os sacrifícios diários, ofe-recidos pelos sacerdotes, e um ainda

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mais reservado (o Santo dos Santos) onde o Sumo-Sacerdote oferecia o sacrifício anual.

O Tabernáculo abrigava a Arca da Aliança (cf. Êx 25.1-22), o Menorah ou castiçal de sete braços (cf. Êx 25.31-39), o Altar de Bronze para os holocaustos (cf. Êx 27.1-8) e o Altar de Ouro para o incenso (Êx 30.1-10).

Quando o povo levantava acam-pamento e partia para outras para-gens, o Tabernáculo era desmontado e carregado pelos levitas que torna-vam a montá-lo no novo lugar de des-tino.

Diferentemente do que se passava nos Lugares Sagrados, com o Taber-náculo, Yaweh passa a habitar em uma tenda muito parecida com a casa do povo que o adorava, acompanhan-do-o em sua peregrinação, sempre que este se mudava.

Durante a conquista de Canaã, o Tabernáculo permaneceu em Gilgal, depois em Silo, e depois em Quiriate-

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Jearim, até Davi. No tempo de Saul, ficou em Nobe (1Sm 21.1). Salomão o trouxe para Jerusalém.

Segundo o Evangelho de João, Je-sus “tabernaculou” com os seres hu-manos (cf. 1.14).

O Templo

Quando sedentários, já estabeleci-dos na Terra Prometida, e passam a habitar em casas de madeira e alve-naria, devidamente decoradas e “a-paineladas” (cf. Ag 1.4), os adoradores de Yaweh decidem construir o Templo (cf. 1Rs 5.5; 6).

O modelo para o Templo é o que há de melhor em termos de edifica-ções humanas da época.

O Templo passa a ser o lugar de referência ao redor do qual gira a vida do povo de Deus. Em Jerusalém, on-de é edificado, está o centro do poder político, econômico e religioso.

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E é o Templo que dá legitimidade a todo o resto. Para isso, peregrinações anuais eram promovidas, de modo que todos tinham o compromisso de comparecer ao Templo periodicamen-te para oferecer sacrifício, pagar taxas e impostos e apresentar seus filhos e iniciá-los na fé de Yaweh.

O Templo de Jerusalém, edificado por Salomão, foi destruído pelos Babi-lônios, cerca de 600 anos antes de Cristo. Em duas ocasiões, foi reedifica-do (por Neemias, em 520-516 a.C., e por Herodes, entre 19 a.C. e 64 d.C.). Depois de quatro anos de rebelião ar-mada, pela qual os hebreus pretendi-am inutilmente expulsar os funcioná-rios de César da terra prometida, no ano 70, o general romano Tito, obede-cendo às ordens do seu pai, Vespasia-no, foi enviado à Palestina para resta-belecer a ordem imperial. Lá chegando, assaltou Jerusalém e incendiou e arra-sou o Templo, não sem antes promo-ver-lhe o saque completo.

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Atualmente, no lugar do Templo, em Jerusalém, está construída uma Mesquita Islâmica (a Mesquita da Cúpula Dourada). Ainda hoje há fac-ções judaicas que sonham com a re-construção o Templo de Salomão.

Sinagogas

Quando, na diáspora, o povo de Deus se viu disperso por “todo o can-to”, e longe do Templo. Como fazer para preservar as tradições religio-sas? Como transmiti-las às novas ge-rações? Como celebrar a fé? Onde ler as Escrituras? Onde reunir-se para as orações?

Tais necessidades motivaram a constituição das sinagogas (do gr. syn+ago = “reunir-se”, “ir para junto”). Estas eram edificações inspiradas no Templo, em proporções reduzidas, nas quais o povo passou a se reunir para exercitar a espiritualidade e alimentar

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a fé. A Sinagoga fazia as vezes do Templo, a exceção dos sacrifícios.

Jesus, como judeu que era, fre-qüentava assiduamente as sinagogas (ver Lc 4.16-37). Também os apósto-los e os primeiros cristãos reuniam-se nas sinagogas para a leitura e expli-cação das Escrituras e para a oração (ver At 17.1-2 e 10).

Casas (cenáculo)

Além das sinagogas, os primeiros cristãos se reuniam nas casas das pes-soas do povo que abriam suas portas para acolher a comunidade cristã.

Esse costume foi certamente inspi-rado e incentivado pelo próprio Jesus, que tinha essa prática de freqüentar as casas de seus amigos e ali constituir um lugar de oração, comunhão, e ins-trução (cf. Lc 4.38; 6.29; 10.38ss).

A instituição do sacramento da Ceia Eucarística se deu na casa de uma pessoa anônima que, hospitaleiramen-

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te, cedeu o Cenáculo (um aposento des-tinado às refeições familiares), para que Jesus, seus seguidores e seguidoras, bem como, naturalmente, os integran-tes da família hospedeira, partilhassem aquela refeição comunal.

Num primeiro momento, na histó-ria da Igreja Cristã, a prática normal era, nos sábados, a comunidade reu-nir-se na Sinagoga, para a Liturgia da Palavra e, nos domingos, no Cenácu-lo, para a Liturgia da Mesa.

Aos poucos, à medida que a identi-dade entre a religiosidade judaica ofici-al e o cristianismo nascente foi se dis-tinguindo e distanciando, houve uma ruptura entre a Sinagoga e o Cenáculo.

Muitos seguidores de Jesus foram, literalmente, expulsos, excomunga-dos, da Sinagoga (ver Jo 9.34-35). Excluída, a comunidade cristã passou a concentrar nas Casas/Cenáculo tanto a Liturgia da Palavra quanto a da Mesa.

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Enquanto gozavam de certa liber-dade, a comunidade cristã se reunia nas Casas sem maiores problemas. Muitas casas abrigavam Igrejas (ver, por exemplo, Rm 16.5; Fm 1-3). Estas passaram a ser conhecidas como Ca-sas-igrejas (em gr. oikos-ekklesia; em latim, domus ecclesie): a comunidade de fé que se reúne em salas de casas particulares.

Estima-se que, no final do terceiro século, havia mais de 40 Casas-igrejas somente em Roma.

Para os cristãos, não mais o templo é o lugar da habitação da divindade, mas a própria comunidade dos fiéis é entendida como o lugar espiritual on-de Deus, em Cristo, se faz presente, onde quer que esta esteja reunida.

Praça pública

Grande parte do ministério de Je-sus — a partir do seu batismo por João Batista e depois do seu primeiro mila-

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gre, em Caná da Galiléia (cf. Jo 1 e 2) — se deu em espaços públicos: nas praias, à beira dos lagos (cf. Mt 5 e pa-ralelos); nas planícies e nas colinas (cf. Lc 6.17ss e Mt 5); pelas estradas, nos caminhos e à margem dos caminhos (cf. Mc 10.17,46; Lc 24.13ss); em jar-dins e hortos (cf. Lc 22.39 e par.); nas ruas das cidades (cf. Lc 19); no pátio e nos espaços comuns do Templo (cf. Lc 19.41-17); etc.

Também os apóstolos, impulsiona-dos pelo Espírito Santo, ganharam as ruas para falar das maravilhas de Deus (cf. At 2); ocuparam os espaços públi-cos de debate, tais como as praças e o Areópago (cf. At 17.16ss, especialmente os vs. 17b e 19); evangelizaram nas estradas (cf. At 8.26ss); em tombadi-lhos de navios (cf. At 27); nas margens de rios (cf. At 16.13-15); etc.

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Prisões

Não tardou para que fossem lan-çados em prisões aqueles e aquelas que anunciavam o Evangelho de Je-sus Cristo com tanta ousadia (ver At 5.18; 12.7). Particularmente em Atos 16.25, encontramos Paulo e Silas cantando louvores a Deus na prisão. Em Romanos 16.17, entre outras passagens bíblicas, Paulo menciona nominalmente os seus “companheiros de prisão”. Mesmo preso, Paulo conti-nuou a sua missão apostólica como pregador do Evangelho, gerando mui-tos “filhos na fé”, mesmo “na prisão”, como podemos constatar por sua Epís-tola a Filemon (esp. o v. 10).

Também João, prisioneiro na Ilha de Pátmos, exerceu seu ministério pastoral, redigindo suas cartas às Igre-jas da Ásia Menor e registrando suas visões e textos litúrgicos de louvor e glorificação ao Senhor Deus Eterno (cf. Ap 1.4 e 2.1ss).

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Catacumbas

Quando a perseguição às pessoas que professavam sua fé em Cristo ga-nhou proporções mais violentas, atin-gindo níveis de crueldade inimaginá-veis, as comunidades cristãs precisa-ram de lugares mais seguros e discre-tos onde pudessem reunir-se “secre-tamente’’ e em relativa segurança.

Assim as Catacumbas passam a ser a nova “sede” dos cultos. Os cemitérios eram lugares temidos, porque, segundo as superstições pagãs, eram lugares habitados por espíritos imundos (ver Mc 5), lugar de demônios e assombrações.

Mas, por causa da experiência, primeiro, da ressurreição de Lázaro e, depois, da ressurreição de Jesus, pa-ra os cristãos, nem a morte nem os cemitérios eram temidos.

Desde o martírio de Estevão (cf. At 7.54-60), e de Tiago, irmão de João (cf. At 12.1-2), a comunidade cristã adotou o costume de honrar a memó-

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ria dos seus mártires. Daí nasceu o costume de reunir-se nos lugares on-de descansam os restos mortais da-queles e daquelas que deram sua vida por sua fé em Cristo. Ali, junto às lá-pides dos mártires, a salvo dos su-persticiosos perseguidores, a Igreja se reuniu inúmeras vezes para a Liturgia da Palavra e a Liturgia da Mesa (ver Ap 7.9-17 [esp. v. 14]).

Basílicas e catedrais

Em meados do século IV, devido a controvertidos episódios políticos e místicos do Imperador Constantino, o cristianismo passou, não só a ser to-lerado, mas a ser, enfaticamente, in-centivado com o respaldo do Estado. Esse período recebeu a designação de Paz Constantiniana.

Os pequenos grupos marginais de cristãos vão, rapidamente, se tornan-do grandes assembléias. Isso exigiu uma reestruturação do espaço cele-

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brativo. As casas já não davam conta de abrigar às grandes massas que afluíam para as cerimônias religiosas.

O próprio Constantino designou, então, seus arquitetos para a edificação de novos espaços destinados aos cultos cristãos. Ora, a experiência desses pro-fissionais quando, à construção de amplos edifícios, estava consolidada pelas chamadas Basílicas. Estas eram, a princípio, espaços forenses onde se reunia o Tribunal do Júri da época, para julgar processos judiciais.

Tais edifícios têm o santuário, ge-ralmente com abside (nicho ou recin-to semicircular ou poligonal, de teto abobadado, geralmente situado nos fundos ou na extremidade da cons-trução ou de parte dela) para a cáte-dra (antes destinada para uso do ma-gistrado, agora reservado para quem preside a liturgia), um ambão ou púl-pito (antiga tribuna), o altar (mesa da comunhão), e um nártex (vestíbulo que ficava à entrada da basílica pale-

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ocristã, destinado aos catecúmenos, para que pudessem assistir aos ritu-ais, sem deles participar diretamente, por ainda não serem batizados [conti-nuou em uso nas igrejas da Idade Média e, mesmo após perder seu sen-tido, nos períodos posteriores, per-maneceu demarcado pelo espaço en-tre a portada e o pára-vento]).

Nos séculos subseqüentes, as ba-sílicas apresentaram formas variadas (quadrada, redonda, em forma de cruz latina, de cruz grega ou sim-plesmente de aula [pátio ou grande vestíbulo], retangular).

Os estilos variaram, com as cultu-ras dos respectivos séculos: estilo românico, gótico, clássico renascen-tista, barroco, neo-clássico, e con-temporâneo.

O termo “Catedral” é relativo a “cá-tedra”, e designa a igreja principal de uma diocese, onde se encontra o tro-no episcopal; sé, matriz.

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A linguagem espacial e a teologia

dos edifícios, mobílias e utensílios

religiosos

No culto, antes mesmo que os ce-lebrantes pronunciem qualquer pala-vra, o Evangelho já começa a ser pre-gado e conceitos teológicos e ideológi-cos já estão sendo transmitidos pela linguagem espacial da arquitetura do edifício, pela disposição e tipos da mobília, pela estética e função dos utensílios.

Pode-se identificar, para fins didá-ticos, três concepções espaciais típi-cas: O conceito medieval, que valoriza o altar, pois sua teologia reforça o aspecto místico e espiritual da parti-cipação no mistério eucarístico. O conceito cartesiano, próprio do perío-do da pós-Reforma do séc. XVI, que coloca em evidência o púlpito, que reforça o aspecto intelectual, concei-tual e didático da fé. E o conceito mi-diático, comum nos dias atuais, que

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valoriza o palco, isto é, o aspecto es-petacular do evento celebrativo, cujo centro passa a ser a performance dos celebrantes como comunicadores-atores e dos instrumentistas e canto-res.

Deve-se, portanto, ter um espírito crítico em relação ao trato que se dá ao espaço celebrativo, pois aquilo que este comunica pode, eloqüentemente, estar em flagrante contradição com aquilo que os/as pregadores/as a-nunciam dos púlpitos.

As edificações religiosas devem ser adequadas à celebração das ações litúrgicas e devem facilitar a partici-pação ativa dos fiéis.

Cada elemento arquitetônico, ou da mobília ou utensílio empregado no culto, tem implicações teológico-litúrgicas que expressam seu (1) as-pecto celebrativo, pois o culto é fé e festa motivada pela Graça (cf. Lc 15.7,10,23 e 32); (2) aspecto educati-vo, pois há uma teologia inerente às

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formas dos espaços retangulares, quadrados, circulares e em leque — uns mais inclusivos outros menos; (3) aspecto encarnacional, pois o espaço explicita o nível de inculturação ou encarnação do Evangelho pregado em determinada cultura, como expressão material da Palavra, à luz da encar-nação de Deus em Cristo (Jo 1.14); (4) aspecto espiritual, pois aponta para a transcendência por meio da transpa-rência perceptível na concepção desse espaço: simplicidade nobre, familiari-dade, beleza, propriedade, qualidade, autenticidade ou integridade dos ele-mentos que compõem o ambiente ce-lebrativo; (5) aspecto estético-poético do espaço que, intencionalmente, in-tegra a comunidade de fiéis (corpo-alma-e-espírito), por meio de cuida-dosa ambientação e decoração que possibilitem a inclusão dos sentidos, sentimentos, emoções e razões.

Isso implica em um cuidado teoló-gico-litúrgico-estético do lugar ou es-

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paço onde esse povo se reúne. Por isso, são considerados imprescindí-veis, nos templos cristãos, como es-trutura mínima fundamental, o san-tuário, a nave e o átrio.

O Santuário é o espaço central (não fisicamente, mas no sentido de mais importante) do edifício. Tudo de-ve estar orientado para o espaço re-servado para o Memorial Pascal, lugar da renovação da aliança: o altar, que representa a mesa do sacrifício (AT), a mesa eucarística (NT) e as lápides dos fiéis que deram sua vida por amor a Cristo, os mártires; para a pia ou fon-te bastismal, que, juntamente com a mesa do altar, representam os dois sacramentos (Ceia e Batismo); para o ambão ou púlpito, que é o lugar de onde o Evangelho é pregado e a Pala-vra de Deus é proclamada; e para a sédia ou cátedra, que é o lugar onde se senta o presidente da celebração.

A Nave (do latim navis, que signi-fica “navio”, pela lembrança do forma-

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to das vigas que suportam o teto de alguns templos se parecerem com o costado de um navio) é o espaço da assembléia, que são os membros do corpo místico de Cristo. É o lugar da atenção, do alerta, da vigilância. É o lugar dos batizados e, por esta razão, o batistério (ou pia batismal) pode es-tar colocado à entrada da nave, indi-cando que participam da celebração cristã aquelas pessoas que receberam o Sacramento do Batismo e se vestiram das “vestes brancas” para apresentar-se diante do Trono do Cordeiro.

E o Átrio (do latim atriu[m]) é o espaço de transição. É o espaço para a festa do encontro, onde as pessoas se reúnem antes e depois da celebra-ção. Ao chegar para o culto, a pessoa se prepara para entrar no santuário, fica em silêncio e passa pela porta que é Cristo (não se pode chegar no lugar santo a não ser por intermédio de Cristo — Jo 10.7,9).

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Os vários objetos que são empre-gados no culto devem ser cuidadosa-mente escolhidos e sabiamente em-pregados, quer sejam objetos simbóli-cos, tais como o pão e o vinho e os recipientes que os contêm, a Bíblia, a cruz; quer sejam objetos festivos, co-mo são os candelabros, as flores e os vasos, os estandartes, os ornamentos e os vitrais; e mesmo os objetos fun-cionais, entre eles, o suporte para a Bíblia, as toalhas, os sistemas acústi-cos, climatizadores, de iluminação, etc.

A Igreja: em espírito e em verdade

Teologicamente, ou espiritualmen-te falando, à luz dos ensinamentos e da prática de Jesus (cf. Jo 4.20-23), deve-se compreender que o “espaço sagrado”, por excelência, não depende da forma arquitetônica, nem da topo-grafia, mas da atitude dos fiéis que devem adorar o Pai “em espírito e em verdade”.

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Essa compreensão — de adorado-res que adoram em espírito e em ver-dade —, juntamente com o dito de Jesus de que “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18.20), fundamen-tou a eclesiologia cristã: a “igreja” não é um edifício, mas o povo reunido em nome de Jesus, o Cristo.

Os modelos para os edifícios cris-tãos, portanto, não devem ser os sun-tuosos “templos” do paganismo mo-derno, tais como os bancos, shopping centers, edifícios públicos e casas de espetáculo. Antes, sua forma deve ser determinada pela teologia do culto, isto é, a liturgia. Suas linhas devem ser sóbrias, austeras e singelas — o que não implica em comprometer a estética. Linhas que privilegiem o sen-timento de comunhão da assembléia com Deus e de solidariedade para com o próximo; onde Deus possa ser adorado em espírito e em verdade (Jo 4.24), com decência e com ordem

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(1Co 14.40), com o espírito e com o entendimento (1Co 14.15), onde pos-samos apresentar os nossos próprios corpos em sacrifício vivo, santo e agra-dável a Deus em um culto racional, alegre, sensível e sincero (cf. Rm 12.1).

O Ministério da Ambientação, ou da decoração, ou da ornamentação, é, em primeira instância, um ministério kerygmático, de anúncio do Evange-lho e da proclamação da Palavra.

Aquelas pessoas que abraçam esse ministério devem estar dispostas a ambientar e decorar com arte (estética e qualidade), o que pressupõe dom e talento; devem também ambientar e decorar com inteligência (praticidade e significado), o que requer esforço e estudo; e devem ainda ambientar e decorar com o coração (afetividade e espiritualidade), para o que é preciso sensibilidade e fé.

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IV

Quem participa do culto? (A liturgia do povo de Deus)

e acordo com a tradição bí-blica, Deus é a personagem central do culto, pois é ele

quem está assentado no alto e subli-me trono (cf. Is 6.1); é glorificado por seres celestiais (cf. Is 6.2); é servido por ministros ou sacerdotes/liturgos/ celebrantes (cf. 103. 21), é cultuado pela comunidade de fiéis, a congrega-ção ou assembléia (cf. Sl 5.8; 22.22-23, 25-26); até mesmo por todos os que morreram por causa do seu tes-temunho, os mártires ou testemu-nhas, se acham constantemente dian-

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te do trono, glorificando o Altíssimo (cf. Ap 7.9-15); mesmo os pagãos ou gentios, de todas as nações, estão convidados para o culto (cf. Sl 117); e, mais ainda, de acordo com os salmis-tas, todo ser que respira deve louvar a Deus (cf. Sl 150.6); e mesmo os seres inanimados, tais como os corpos ce-lestes, de alguma forma, proclamam a glória de Deus, e anunciam as obras das suas mãos (cf. Sl 19.1).

Deus é quem toma a iniciativa e vem ao nosso encontro, no culto, dando início ao diálogo litúrgico e ce-lebrativo da fé. Pouco sabemos sobre a participação dos seres celestiais no culto, bem como a respeito das tes-temunhas que se acham constante-mente diante do trono louvando a Deus. Por outro lado, podemos nos aplicar a compreender a nossa parti-cipação no culto, como comunidade de fiéis.

A congregação de fiéis é formada por pessoas de todas as camadas so-

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ciais, de todas as culturas e de todas as idades. Isso significa que, do culto, tomam parte e têm lugar: pessoas das classes empobrecidas e das classes abastadas; pessoas cultas ou iletra-das; e pessoas de todas as idades — a Igreja talvez seja o único espaço insti-tucional com tamanha abrangência inclusiva.

Teoricamente, todos deveriam ter sua participação no culto garantida, representada ou contemplada: na es-trutura da liturgia que se celebra, no repertório dos cânticos que se ento-am, no tipo de linguagem que se ado-ta, etc.

Ou a Igreja é de todos ou não é I-greja! Igreja só para jovens não é Igre-ja, é point; igreja só para idosos não é Igreja, é clube de saudosistas.

Quando se diz que têm lugar no culto pessoas de todas as idades, es-tamos dizendo que a liturgia deve ser concebida e preparada para incluir e

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contemplar bebês, crianças, adoles-centes, jovens, adultos e idosos.

Embora isso pareça relativamente óbvio, ao observarmos o que acontece na prática de muitas igrejas, essa in-clusão não acontece.

Conquanto se possa constatar um evidente conflito de gerações, entre jovens e idosos, na disputa pela he-gemonia litúrgica, as maiores vítimas dessas disputas são as crianças.

De uma maneira ou de outra, jo-vens, adultos e idosos têm os seus meios para contestar e protestar. As crianças, entretanto, não têm voz nem vez.

Não obstante, dar destaque para a participação da criança no culto não é apenas uma questão de fazer uma concessão e dar-lhes, provisoriamen-te, vez e voz. A criança trazida para o centro do culto, como se pretende demonstrar a seguir, é a própria ra-zão de ser da liturgia.

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O lugar da criança no culto cristão

A participação da criança, no cul-to, merece destaque por uma razão histórica e bíblica. Como sabemos, o centro da liturgia cristã é a Páscoa que é também o centro da liturgia judaica. Ora, nas instruções dadas por ocasião da instituição da Páscoa judaica, a criança desempenha um papel central, e é ela que dá início às solenidades.

Vejamos alguns dos relatos bíblicos da instituição da celebração da Páscoa:

Êxodo 12.24-27: “24 Guardai, pois, is-to por estatuto para vós outros e para vossos filhos [grifo nosso], para sempre. 25 E, uma vez dentro na terra que o SENHOR vos dará, como tem dito, obser-vai este rito. 26 Quando vossos filhos [grifo nosso] vos perguntarem: Que rito é este? 27 Respondereis: É o sacrifício da Páscoa ao SENHOR, que passou por cima das casas dos filhos de Israel no Egito, quando feriu os egípcios e livrou as nossas casas. Então, o povo se incli-nou e adorou.”

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Êxodo 13.14: “Quando teu filho [grifo nosso] amanhã te perguntar: Que é is-so? Responder-lhe-ás: O SENHOR com mão forte nos tirou da casa da servi-dão.” Deuteronômio 6.20-21: Quando teu fi-lho [grifo nosso], no futuro, te pergun-tar, dizendo: Que significam os teste-munhos, e estatutos, e juízos que o SE-NHOR, nosso Deus, vos ordenou? 21 En-tão, dirás a teu filho [grifo nosso]: Éra-mos servos de Faraó, no Egito; porém o SENHOR de lá nos tirou com poderosa mão.

À luz dessas referências, podemos nos perguntar pelo lugar que as cri-anças devem ter nos nossos cultos.

As grandes experiências de fé do povo de Deus eram celebradas ciclica-mente, justamente, pensando na trans-missão dessa espiritualidade para as novas gerações (ver Lc 2.41-42).

As crianças eram, assim, o ele-mento disparador de tais liturgias. Tais cerimoniais eram concebidas especialmente para responder aos insistentes por quês? das crianças:

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“quando vossos filhos vos pergunta-rem: que rito é este? Responder-lhes-ás...” (Êx 12.26 e par.).

As crianças eram, portanto, o ponto de partida e, em grande parte, a razão de ser da liturgia. É como se o culto fosse um veículo em cujo motor preci-sasse ser dada a partida por um siste-ma eficiente de ignição, para então em-preender efetivamente sua viagem.

Ao que parece, não faria muito sentido fazer essas festas sem a pre-sença das crianças. Sim, é verdade que os adultos sempre se beneficiam muito de tais festas, mas para o adul-to os ritos são sempre repetição, e tem função de reforço conceitual e prático, mas para as crianças é des-coberta e novidade deslumbrante de um novo universo espiritual.

Assim sendo, se alguém, depois de Deus, tiver que ser privilegiado no culto cristão, esse alguém são as cri-anças.

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Culto para crianças

ou culto com as crianças?

Qual seria, então, a melhor alter-nativa em relação à questão criança-e-culto? As alternativas mais freqüen-temente empregadas pelas igrejas protestantes são: (1) Modelo do culto infantil que consiste em tirar a crian-ça do culto e fazer um outro (infantili-zado) à parte para elas; (2) o modelo híbrido que tolera as crianças no cul-to parcialmente, mas somente até o momento da prédica, quando, então, elas são retiradas do templo para um lugar onde terão atividades “diferen-ciadas” (a palavra é mais bonita do que o resultado, pois amiúde o que se verifica é que tais atividades se resu-mem a entretenimento sem projeto didático-pedagógico, supervisionadas por pessoas que não têm formação para a educação infantil); (3) e o mo-delo deixa como está pra ver como fi-ca, que simplesmente ignora a pre-

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sença da criança no culto, cuja litur-gia prossegue indiferente à presença das crianças.

O terceiro modelo, do deixa como está, embora talvez seja o mais recor-rente, deveria estar fora de cogitação.

Quanto aos outros dois modelos, por mais bem intencionados que se-jam tanto o projeto do culto infantil quanto o projeto híbrido, ambos tam-bém acabam se tornando antipedagó-gicos, pois excluem a criança do cul-to, total ou parcialmente.

Ora, se a criança é retirada do templo quando pequena, não há como esperarmos que, quando for adoles-cente (ou pré-adolescente), ela queira permanecer no culto. Pois tudo o que lhe foi ensinado, ainda que não inten-cionalmente, todas as vezes que foi retirada do culto, é que ela não é bem-vinda ali.

As experiências inclusivas são ra-ras. Isso é em parte compreensível, mas não justificável. Compreensível,

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porque exige esforço, preocupação e dá trabalho. É injustificável, porque não há nada mais importante no Rei-no de Deus do que as crianças: afinal, foi isso que aprendemos (ou devería-mos ter aprendido) de Jesus em Ma-teus 18.1-2 e em Lucas 9.47.

Como, afinal, a criança pode ser incluída plenamente no culto? Disso trataremos a seguir.

O que as crianças podem

e não podem fazer no culto?

Eis uma boa questão para a Igreja se perguntar: afinal o que as crianças podem e o que não podem no culto? Talvez o leitor ou leitora desta refle-xão se surpreenda com a resposta enfática que aqui se dará, afirmando que não há nada, liturgicamente fa-lando, que as crianças não possam fazer no culto cristão – nada que um adulto não faça.

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O que acontece, amiúde, nos nos-sos cultos? Em geral, oramos, canta-mos, lemos as Escrituras Sagradas, testemunhamos, proclamamos o E-vangelho, comungamos, ofertamos, nos comprometemos assumindo com-promissos, etc.

Ora, quais desses atos litúrgicos estão fora das possibilidades das cri-anças?

As crianças podem aprender a orar antes mesmo de aprender a andar – então, por que nunca convidamos uma criança para fazer uma oração nos cultos de domingo?

E quanto a cantar, por que tam-bém não cantamos com elas, uma vez que elas sempre cantam conosco? pois todos, mesmo os bebês, adoram (inclusive no sentido literal do termo) cantar (afinal, deles nasce o perfeito louvor, dizem as Escrituras Sagradas em Mt 21.16). Se elas cantam nosso repertório, porque nós não cantamos as suas canções?

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Ler a Bíblia: desde que alfabetiza-da, o que acontece cada vez mais ce-do, uma criança com sete, ou seis, talvez cinco anos, pode fazer leituras, da Bíblia ou de outros textos litúrgi-cos, tal como qualquer adulto – não seria fantástico se todo culto tivesse a participação de crianças na direção de certas leituras?

Quanto aos testemunhos e à pro-clamação, também aí as crianças po-dem ser sujeitos.

Elas podem, inclusive, participar da prédica, encenando passagens bí-blicas, interpretando ilustrações (pra-ticamente todo sermão recorre às i-lustrações para aclarar pontos obscu-ros ou conceitos abstratos). O mero fato de o pregador, ou pregadora, ter em mente que seu público também é formado por crianças, já pode servir como estímulo para a busca de uma linguagem mais expressiva, o uso de vocabulário mais substantivo, objetivo e concreto; para o emprego de ima-

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gens visuais e outros recursos sensí-veis (ao tato, ao paladar, ao olfato, por exemplo). Fazendo isso, todos se beneficiariam, pois quando usamos linguagem abstrata, somente os adul-tos (e nem mesmo todos eles) conse-guem acompanhar, mas a linguagem objetiva e os substantivos concretos, todos, crianças e adultos, podem e gostam de acompanhar.

E, no momento da dedicação, in-tercessão e envio, as crianças também podem assumir compromissos como sujeitos na comunidade de fé e na construção do Reino de Deus.

Quanto aos bebês, quando presen-tes ao culto, podem não entender conceitualmente o que está se pas-sando, mas afetivamente eles estão “aprendendo”, desde cedo, que eles são bem-vindos, que são amados e que ali é seu lugar: no meio da comu-nidade de fé.

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Preparação da liturgia

de um culto inclusivo

Preparar a liturgia de um culto in-clusivo, para todos, no qual todos são considerados, representados, e cuja participação está garantida, não é assim algo tão difícil ou diferente do convencional.

Basta que, na hora em que estiver-mos escolhendo o repertório dos hinos, das leituras, dos gestos e atos litúrgi-cos, lembrar de incluir as crianças, assim como fazemos naturalmente com os jovens e os adultos. Por exemplo, prever músicas próprias para as crian-ças (ora, se elas podem cantar nossos hinos, porque não podemos cantar os delas?). E na hora de distribuir as tare-fas na condução do culto, lembrarmo-nos de atribuir funções às crianças, que pode ser desde a direção de ora-ções e leituras, até a cooperação em atos como o recolhimento das ofertas, a distribuição da Ceia, e encenações e

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performances várias — a depender u-nicamente da criatividade, da boa von-tade e do bom senso dos responsáveis pelo preparo e direção da liturgia dos cultos ordinários das nossas igrejas.

Portanto...

Para finalizar estas considerações sobre o culto cristão inclusivo, pode-mos sintetizar algumas das principais conclusões a que chegamos, a partir do exposto acima:

1. Deus é sempre o principal sujeito do culto Cristão que, mediante o convite da sua graça, nos reúne como seu povo num encontro ce-lebrativo dialógico e interativo.

2. O povo é a congregação de fiéis que, em resposta ao convite da graça divina, presta-lhe seu serviço no culto comunitário.

3. A congregação de fiéis é formada por todas as pessoas da comu-nidade: bebês, crianças, adoles-centes, jovens, adultos e idosos.

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4. As pessoas responsáveis pela preparação e pela direção da li-turgia devem levar em conta a totalidade do povo de Deus, o que implica em envolver, con-templar, incluir a todos nos vá-rios atos litúrgicos.

5. Dentre todos os fiéis, são as crianças as que merecem maior cuidado e atenção, pois, à luz da tradição bíblica, são elas que deflagram o culto com suas perguntas fundamentais, às quais a comunidade celebrante oferece sua resposta de fé, no exercício de uma espiritualida-de que é, assim, transmitida de geração em geração.

6. Não há nada que um adulto fa-ça no culto que não possa ser feito pelas crianças. Portanto, elas não devem ser meras es-pectadoras do culto, mas sujei-tos ativos da dinâmica litúrgica.

Colocar isso em prática... Eis aí um belo desafio!

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V

Quando fazer culto? (A liturgia do tempo)

LITURGIA SE DÁ NO TEMPO e no espaço. O tempo da litur-gia é a História da Salvação

contada ciclicamente durante o Ano Cristão, que tem a Páscoa como centro irradiador da mensagem salvífica.

Ao contar a história de Jesus (a expectativa de sua vinda, sua vida e ensinamentos, sua paixão, morte e ressurreição) e sua presença espiritu-al na Igreja, a comunidade de fé re-lembra, atualiza e celebra a sua pró-pria salvação.

A

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A liturgia é, a um só tempo, memó-ria, atualização e esperança salvífica.

A celebração da História da Salvação

Para celebrar a sua salvação em Cristo, a Igreja, observa o Calendário Cristão ou Calendário Litúrgico, que se estrutura em dois ciclos festivos e dois tempos ordinários: o Ciclo do Na-tal, formado pelo Advento, Natal e E-pifania, que é seguido por um primei-ro Tempo Comum (após Epifania); e o Ciclo da Páscoa, que compreende a Quaresma (que dura 40 dias), a Se-mana Santa, o Tempo Pascal (que dura 50 dias), e Pentecostes, seguido de um segundo Tempo Comum (após Pentecostes).

Essa história é constantemente atualizada em ocasiões que se revesti-ram de especial sentido, à luz do E-vangelho: o Domingo (dia da Ressur-reição), a Quarta (acordo de Judas para a traição), Quinta (lava-pés e

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instituição da Ceia) e Sexta-feiras (julgamento, crucificação, morte e sepultamento de Jesus), e o Sábado (Jesus no sepulcro); bem como as Ho-ras de Oração — Matinas-Laudes (nascer do sol/ressurreição), Tércias (julgamento), Média (crucificação), Noas (morte), Vésperas (sepultamen-to), Completas e as Vigílias Noturnas (Getsêmani).

No próprio culto, a igreja revive a História da Salvação: num primeiro momento adora o Pai (primeira pes-soa da Trindade), recordando o Cria-dor que é Santo e perfeito; diante da santidade do Pai, a congregação reco-nhece suas imperfeições e pecados, por isso recorre ao Filho, segunda pessoa da Trindade, que é o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”; agraciada com o perdão, a congrega-ção pode agora ser instruída na sua fé, porque o Filho também, é o “Verbo que se fez carne e habitou entre nós cheio de graça e de verdade”; essa

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instrução, entretanto, para que se efetive na vida da comunidade, deve ser inspirada e iluminada pela ação do Espírito Santo, a terceira pessoa da Trindade, que é também quem mo-tiva e envia a Igreja em sua missão, que é a de reconciliar a humanidade com Deus, o Pai, retomando, assim, o ciclo teológico-litúrgico.

A História da Salvação é, assim, celebrada no tempo cósmico, no ano litúrgico, nas horas do dia e naquela “hora única” que é o culto.

Também a História da Humanida-de é celebrada na liturgia da comuni-dade de fé: datas cívicas, nacionais e internacionais, são motivo de referên-cia e intercessão no culto.

E, finalmente, a História das Pes-soas (nascimento, puberdade, casa-mento, procriação, envelhecimento e morte) também são motivos que ins-piram a prática celebrativa, porque relacionam a nossa própria história de vida, e nos incluem, na grande his-

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tória da salvação, mediante a graça de Deus.

O Calendário Litúrgico

Todo o Calendário Litúrgico se de-senvolve a partir da Páscoa. Esta é comemorada no primeiro domingo depois da primeira lua cheia do outo-no, no nosso hemisfério (na primave-ra, no Norte). Tradicionalmente era a ocasião em que os catecúmenos eram batizados e recebidos como membros da comunidade cristã — geralmente depois de ter passado três anos se preparando para isso.

Desde muito cedo, na História da Igreja, adotou-se o costume de obser-var um tempo de jejum e oração, pri-meiramente no dia anterior ao Do-mingo da Páscoa, depois, durante to-da a Semana Santa. Finalmente, esse período se ampliou para quarenta, inspirados na narrativa da tentação de Jesus durante quarenta dias e

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quarenta noites no deserto, bem como nas demais associações com o núme-ro quatro, quarenta e quatrocentos, na Bíblia: quarenta dias do dilúvio, quatrocentos anos de escravidão no Egito, quarenta anos de peregrinação pelo deserto, anúncio de que em qua-renta dias Nínive seria subvertida, e sua súbita conversão, etc.

A Festa do Natal é mais tardia, e se estabelece depois do século IV (e o Advento, depois do VI). Trata-se da cristianização da festa pagã que cele-brava o “começo do fim” do inverno, isto é, o solstício de inverno, no he-misfério Norte. Para os cristãos, Je-sus é o Sol da Justiça que nasceu em Belém; ele é o Sol que é maior que o astro adorado pelos pagãos, este sol não existiria, não fosse aquEle.

Da mesma forma que a Páscoa, a comemoração do nascimento de Je-sus, no Natal, carecia de preparação. Novamente o número quatro é evoca-do. Desta vez, reserva-se quatro se-

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manas (domingos), para que as comu-nidades cristãs se preparem para o grande evento da encarnação do Ver-bo. Nesse período, a igreja recorda as promessas feitas aos pais na fé a res-peito da vinda do Messias, o Salvador.

Ciclo do Natal

O Ciclo do Natal corresponde a qua-tro tempos litúrgicos do calendário cris-tão, a saber, Advento, Natal, Epifania e Batismo do Senhor. Este ciclo tem início quatro domingos antes do Natal e se estende até o Batismo do Senhor.

O Advento é o tempo que marca o início do calendário litúrgico cristão. Sua origem é documentada a partir do século IV a.C. Semelhante à pre-paração da Páscoa, expiação de Cris-to, o Advento surge como preparação para o nascimento de Jesus, o Natal. Advento, do latim adventus, significa “vinda”, “espera”.

Trata-se de uma celebração onde o foco é a expectativa da vinda do Messias,

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o Cristo prometido. Nesse período cele-bra-se a espera do Messias, e pode ser dividido em duas partes: os dois primei-ros domingos enfatizam o Advento Esca-tológico, o terceiro e o quarto domingos a Preparação do Natal de Cristo.

Destarte, o Advento tem a dimen-são da expectativa da segunda vinda de Cristo, bem como, a expectativa da chegada do Messias que concretiza o Reino, o “já” e o “ainda não” – que significa viver a espera do cumpri-mento das promessas e renovar a es-perança no Reino que virá.

A espiritualidade do Advento é mar-cada pela esperança e o aguardo do Messias prometido; a fé na concretiza-ção da promessa; o amor que se de-monstra com a chegada do Messias e a paz por ele anunciada e plenificada.

O segundo tempo litúrgico desse ciclo é o Natal. Esta celebração teve sua origem nos meados do século IV d.C., entretanto sua aceitação como festa cristã ocorreu no século VI d.C. O Natal surgiu com a finalidade de afastar os fiéis da festa pagã do natale

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solis invictus (“deus sol invencível”), e passou a significar a chegada do Mes-sias, o “sol da justiça” (cf. Ml 4.2) já anunciado e aguardado no Advento.

Natal, na acepção da palavra, sig-nifica “nascimento”, entretanto para as/os cristãs/aos a partir do século IV d.C., este significado é ainda mais profundo, pois com o nascimento de Cristo celebra-se “o Verbo que se fez carne e habitou entre nós”, o Deus infinitamente rico se faz servo e habi-ta entre os despossuídos da terra. É este Verbo que atrai para si toda a criação a fim de reintegrá-la ao proje-to salvífico de Deus.

A espiritualidade desse período enfatiza a humanidade de Cristo e a salvação que nele é absoluta.

O terceiro tempo desse ciclo é a Epifania, que surgiu no Oriente como festa da manifestação do Cristo en-carnado. Somente, a partir do século IV d.C., passou para o Ocidente a fim de rememorar a visita dos reis magos ao Messias que havia chegado.

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Epifania, do grego ephifaneia, sig-nifica “manifestação”, “aparição”. An-tes de tornar-se um termo apropriado pelo cristianismo, significava a che-gada de um rei ou imperador. A partir de Cristo, tem a conotação de “mani-festação do divino ao mundo”, que no Primeiro Testamento era expressa pelo termo “teofania”.

Esse tempo celebra a manifestação de Cristo aos seres humanos, no mo-mento em que os reis do Oriente segui-ram a estrela em busca daquele que viria a ser o Salvador por excelência.

A Epifania é para o Natal o que o Pentecostes é para a Páscoa, isto é, desenvolvimento e permanência do ato de Cristo em favor da humanidade.

A espiritualidade deste período é caracterizada pela manifestação e apa-rição de Cristo ao mundo. É o Cristo prometido que se torna uma realidade na vida de mulheres e homens que procuram a paz, a justiça e o amor.

O Batismo do Senhor é celebrado no primeiro domingo após a Epifania, e representa o início da missão de Jesus

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no mundo. Este tempo é parte da ma-nifestação de Jesus aos seres huma-nos, por isso trata-se de uma continui-dade da Epifania. Diferenciando-se pelo fato de que na Epifania é a huma-nidade (representada pelos magos) que vai a Cristo, ao passo que com o Ba-tismo do Senhor é Deus (por meio de Jesus Cristo) que vem até o ser huma-no, a fim de cumprir sua missão.

Por isso, a espiritualidade desse dia é marcada pela missão iniciada por Jesus em prol dos menos favore-cidos e injustiçados.

Com o Batismo do Senhor termina o Ciclo do Natal, dando início ao Tem-po Comum, ou Tempo após Epifania.

O Tempo Comum (após Epifania e após Pentecostes)

Além dos dois ciclos festivos, o “Ano do Senhor”, também contempla 33 ou 34 semanas, situadas entre o Natal e a Páscoa. Esse período rece-beu a designação Tempo Comum

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por contrapor-se à época festiva do Ano Cristão.

O fato de haver um Tempo Comum ressalta o significado de que Deus não é Senhor somente das coisas ex-traordinárias, mas também o é do cotidiano. Enfatiza a presença cons-tante e amorosa do Pai na caminhada do povo rumo à plenitude do Reino. A cada celebração, antecipamos a eter-na liturgia do céu, para o qual nos preparamos, dia-a-dia, tanto no tem-po festivo como no tempo comum.

Ao longo da história, várias inicia-tivas foram tomadas no sentido de oferecer alternativas à liturgia do tempo não festivo. Para exemplificar com algumas mais recentes e próxi-mas, citamos a formalização, na dé-cada de 30 nos EUA, de uma propos-ta que sugeria a criação de um novo período, o Kingdomtide (Ciclo ou Tempo do Reino). Essa proposta tem de positivo o fato de enfatizar menos o aspecto eclesiástico-institucional e mais o teológico-missionário do perí-odo. Entretanto, a postura mais am-

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plamente adotada pelos protestantes do mundo todo, foi a de designar as duas partes do Tempo Comum como sendo “Tempo após Epifania” e “Tem-po após Pentecostes”, respectivamen-te. Na Igreja Metodista no Brasil, o rev. Messias Valverde propôs uma organização do Ano Cristão dividido em Estações Litúrgicas, das quais destacamos a Estação da Criação, com uma preocupação ecológica e escatológica.

A primeira parte do Tempo Co-mum tem início na segunda-feira a-pós a comemoração do Batismo do Senhor e vai até a véspera da Quarta-Feira de Cinzas, quando começa a Quaresma (Ciclo da Páscoa).

Sua espiritualidade enfatiza o a-núncio do Reino de Deus e visa à es-perança e à pregação da Palavra.

A segunda parte do Tempo Co-mum começa na segunda-feira após Pentecostes e dura até a véspera do Primeiro Domingo do Advento, quan-do tem início o Ciclo do Natal.

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Sua espiritualidade comemora o próprio ministério de Cristo em sua plenitude, principalmente aos domin-gos e enfatiza a vivência do Reino de Deus e a compreensão de que os/as cristãos/ãs, são o sinal desse Reino. Se na primeira parte do Tempo Co-mum a ênfase é no anúncio, na se-gunda é a concretização do Reino de Deus.

Ciclo Pascal

O Ciclo Pascal — que compreen-de a Quaresma, a Semana Santa, o Tempo Pascal, e encerra-se com o Pentecostes — formou-se a partir de um processo de reflexão e sistemati-zação do cristianismo que vai do pri-meiro ao quarto século da era Cristã. A partir deste ciclo se constituiu todo o calendário litúrgico.

Nas comunidades primitivas, era comum a reunião no primeiro dia de cada semana na qual celebrava-se a memória de Jesus. A origem do culto cristão está em torno dessa “Páscoa

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Semanal”, que ocorria no chamado “Dia do Senhor”.

Em boa parte por influência do judaísmo cristão, desenvolveu-se uma celebração anual da Páscoa co-mo um “grande dia do Senhor”, cuja festa se prolongava por cinqüenta dias, sendo o último, o dia de chega-da do Espírito, o Pentecostes Cristão, isso já no século II.

No século IV, desenvolveu-se a tradição de reviver e refletir de um modo mais sistematizado, os momen-tos da paixão, isso deu origem às celebrações da Semana Santa. Desde o século III as vésperas da Páscoa já eram dias de reflexão. Os catecúme-nos que por dois anos vinham sendo preparados, agora eram acompanha-dos por toda a comunidade. Inspi-rando-se nos quarenta dias de pre-paro de Jesus para seu ministério, nasceu o período da quaresma. As-sim, em torno da celebração da mor-te e ressurreição de Jesus, desenvol-veu-se todo o Ciclo Pascal do Calen-dário Litúrgico Cristão, marcado pela

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penitência e confissão, mas também pela alegria e exultação do crucifica-do e ressuscitado.

A Quaresma é o período no qual se enfatiza a importância da contri-ção, do preparo e da conversão. Ini-cia-se no quadragésimo dia antes da Páscoa (não se contam os domingos). O início na Quarta-feira de Cinzas retoma à tradição bíblica do arrepen-dimento com cinzas e vestes de saco (Jn 3.5-6). É um momento oportuno para refletir sobre a confissão e o valor do perdão de Deus.

Sua espiritualidade enfatiza mo-mentos de preparo na história bíblica geral e da vida de Jesus:

Quarenta dias de Jesus no de-serto (Mt 4.2; Lc 4.1ss);

Quarenta dias de Moisés no Sinai (Êx 34.28);

Quarenta anos do povo no de-serto (Êx 16.35);

Elias em direção ao Horeb (1Rs 19.8).

A Semana Santa tem início no Domingo de Ramos, celebração de

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Cristo como o Messias, salvador dos pobres, o rei dos humildes. Reflete-se, nessa semana, passo a passo, os úl-timos momentos da vida de Jesus.

Este é o momento da vigília de preparo para a ressurreição.

Sua espiritualidade chama-nos a atenção para os momentos finais de Jesus até o ápice de sua paixão:

A Santa Ceia (Mt 26.17-30); O Lava-pés (Jo 13.1-17); Jesus no Getsêmani (Mt 26.36-

46; Mc 14.26-31); O julgamento, sepultamento e

a crucificação (Mt 27; Mc 15; Lc 23; Jo 19).

A Páscoa¸ propriamente, é a festa da ressurreição e da libertação. Um novo Êxodo ocorre, e a humanidade passa do cativeiro da morte para a vida.

Sua solenidade pode iniciar-se já na Quinta-Feira Santa (instituição da ceia), que dá início ao chamado Trí-duo Pascal. Contudo a celebração da ressurreição começa com uma vigília na noite de sábado encontrando sua

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plenitude no romper da aurora do Domingo da Páscoa, quando Cristo é lembrado como o sol da justiça que traz a luz da nova vida, na ressurrei-ção.

A espiritualidade norteadora da Páscoa aponta para a ressurreição nos mais variados relatos das comu-nidades do século I d.C.:

A ressurreição (Mt 28.1-20; Mc 16.1-8; Lc 24.1-12; Jo 20.1-18; At 1.14);

Cânticos Pascais (Sl 113 ao 118 e Êx 12).

Entre os hebreus, era comum a celebração da chamada “festa das semanas” ou Pentecostes, isso por-que ela se dava sete semanas, ou cin-qüenta dias, após a Páscoa. Nela, o povo dava graças ao Senhor pela co-lheita. Mais tarde, adquiriu mais uma dimensão celebrativa, a da proclama-ção da lei (instrução) no Sinai, cin-qüenta dias após a libertação do Egi-to.

Na era cristã, o Pentecostes tor-nou-se o último dia do ciclo pascal,

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quando celebra-se a chegada do Espí-rito Santo como aquele que atualiza a presença do ressuscitado entre nós, dando força para que as comunidades sejam testemunhas de Jesus na his-tória.

A espiritualidade que nos orienta nesse período fala da presença conso-ladora do Espírito que semeia nos corações a esperança do Reino de Deus e nos impulsiona para a missão:

Festa das semanas (Êx 34.22; Lv 23.15);

Jesus promete o Consolador (Jo 16.7);

Jesus ressuscitado sopra seu Espírito (Jo 20.22);

A chegada do Espírito Santo no dia de Pentecostes (At 2).

Esquema do Ano Litúrgico

Ciclo do Natal Advento (quatro domingos que

antecedem o Natal) Natal (véspera, dia de Natal e

semana que se segue)

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Epifania (6 de janeiro ou o do-mingo mais próximo)

Tempo Comum após Epifania Domingos seguintes até o que

antecede a Quarta-Feira de Cinzas Ciclo da Páscoa Quaresma (tem início com a

Quarta-Feira de Cinzas) Semana Santa: o Domingo de

Ramos ou Domingo da Paixão (dá início à Semana Santa) que se completa com o Tríduo Pas-cal (as solenidades da Institui-ção da Ceia, a Crucificação e a Ressurreição de Cristo)

Domingo da Páscoa, que encerra a Semana Santa (é a festa mais importante do Ano Litúrgico)

Domingos de Páscoa (até o do-mingo de Pentecostes)

Pentecostes (encerra o período da Páscoa)

Tempo Comum após Pentecostes Domingo da Santíssima Trindade Domingos seguintes até o... ... Domingo do Cristo Rei (últi-

mo domingo do Ano Litúrgico:

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no domingo seguinte recomeça-se o ciclo do Natal com o Pri-meiro Domingo de Avento).

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VI

Como fazer culto? (A liturgia da liberdade

e da criatividade)

PARTIR DO NOSSO ESTUDO, constatamos que um culto cristão tem uma tríplice

estrutura, caracterizada pela ação efetiva das três pessoas da Trindade, o Pai, o Filho, e o Espírito Santo. As-sim, pode-se dizer que o culto cristão possui partes essenciais que se au-sentes o descaracterizariam.

Assim, a estrutura básica da litur-gia cristã é trinitária e pressupõe um primeiro momento teológico, no qual Deus é adorado, um segundo momen-

A

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to Cristológico, no qual a memória de Cristo é celebrada e proclamada; e um terceiro momento, Pneumatológi-co, no qual, pela ação do Espírito, a comunidade se compromete com o serviço a Deus e ao próximo.

Essa liturgia é construída a partir da ação criativa da comunidade de fé e compõe-se de atos, ritos.

Objetividade e subjetividade

litúrgicas

Nesse sentido, a liturgia se constitui de ritos, atos, ofícios e sacramentos comunitários que se expressam pelas vias racionais próprias das palavras (escritas, lidas, proclamadas, cantadas) e pelas vias sensoriais próprias dos gestos (levantar os olhos, fechar os o-lhos, ouvir a palavra, aspirar o incenso, curvar a cabeça, beijar, comer o pão, beber o vinho, impor as mãos, estender as mãos, aplaudir, bater no peito, a-

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braçar, ficar em pé, sentar-se, ajoelhar-se, processionais e recessionais...).

A emoção na comunicação litúrgica

Além das dimensões racionais e sensoriais da comunicação verbal e não-verbal, a liturgia também comu-nica pelas vias subjetivas das emo-ções. A maneira como os ritos, atos, ofícios e sacramentos afetam nossos sentimentos dependem de um sem número de questões que subjazem à nossa consciência. As emoções podem ser evocadas a partir de fora, mas somente podem ser experimentadas a partir de dentro. O riso ou choro, a ira ou a ternura, a indignação ou a compaixão, são estados que, literal-mente, jorram do subconsciente. São manifestações que, antes de desper-tar, jazem adormecidas ou, para usar a linguagem psicanalítica, estão re-primidas e contidas no obscuro mun-do da alma humana.

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Quando somos tocados desde fora por uma palavra ou um gesto, por um som ou uma imagem, pode acontecer de vacilarem as forças repressoras que mantinham trancadas as com-portas do subconsciente. Abrem-se essas comportas e emergem, então, as emoções, juntamente com memó-rias significativas (de experiências da infância, de lembranças dos pais, dos filhos...), que compõem o repertório existencial e que, por uma razão ou outra, foi associado ao instante cele-brativo. Não raro, essas liberações emocionais resultam em êxtases que se revelam tão intensos que chegam a embotar a razão, dando vazão a ações não conscientes e não racionais.

A razão na comunicação litúrgica

Ora, o princípio da primazia da emoção sobre a razão é o grande trunfo dos meios de comunicação de massa. Os estudiosos da comunica-

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ção rapidamente concluíram que as pessoas não são persuadidas por ar-gumentos racionais, mas seduzidas por experiências emocionais. A mídia descobriu a eficiência do entreteni-mento e do espetáculo como mediado-ras da “conversão” que transforma o auditório em massa.

Entretenimento, como sugere a eti-mologia da palavra, se refere a um processo que procura ter o indivíduo “entre” alguma coisa. O entretenimen-to funciona como um parêntesis, no qual o indivíduo se isola, ainda que por alguns instantes, do mundo real. É aqui, no processo de separação do real, que entra o espetáculo, cuja etimologia remonta ao latim specu-lum, espelho. O espetáculo é, portan-to, uma imagem do real. As imagens, por mais parecidas que sejam, não podem ser confundidas com a reali-dade, pois toda imagem refletida no espelho se apresenta como o “inverso” do real ou como sua reprodução in-

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vertida. A vida real, quando espetacu-larizada, se nos dá como não-vida. Quando, como espectadores, nos di-vertimos com o espetáculo, abrimos um parênteses em nossa vida e sus-pendemos por um tempo a nossa e-xistência, para nos dedicarmos à con-templação da simulação do real.

Como ação terapêutica, essa práti-ca pode até ser de grande benefício para a nossa saúde emocional, entre-tanto, quando isso se dá como meca-nismo de fuga sistemática da realida-de, o que se verifica é um desperdício considerável da vida real. Como o medo e a amnésia, a fuga também se constitui em importante dispositivo de sobrevivência. Não obstante, o me-do, a amnésia e a fuga não devem substituir a própria vida, por mais dura que esta seja, sob pena de ter-minar por aniquilar a própria existên-cia. O entretenimento pode causar dependência, mas não responsabili-

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dade; alivia as tensões, mas não re-sulta em compromissos.

Emoção, sensação e razão e a saú-de litúrgica

A liturgia é essencialmente comu-nicação por abranger todo o espectro comunicacional humano. E a comu-nicação litúrgica será tanto mais in-tensa quanto maior for a abrangência da sua ação, subjetiva/objetiva, ver-bal/não-verbal, consciente/incons-ciente... Um grande desafio para a liturgia é, portanto, dosar adequada-mente emoção, sensação e razão. Concluímos que a saúde litúrgica de uma comunidade de fé depende da sensibilização equilibrada e inteligen-te das dimensões sensorial, emocional e racional da comunicação humana no contexto celebrativo. Mas isso não se poderá obter pelo espetáculo nem pelo entretenimento, mas somente no serviço comunitário celebrado pelo

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povo para Deus e para toda a comu-nidade humana.

Outras formas de

comunicação-não-verbal na liturgia

Temos “lugares” comuns com to-das as pessoas, de todas as idades, de qualquer nacionalidade e de qual-quer substrato social.

O primeiro desses “lugares” é a natura (natureza), em cujo ventre todos fomos gerados, em cujos seios saciamos a fome.

O segundo é o corpo — a corporei-dade é um tema que nos diz respeito a todos, religiosos ou não, homens e mulheres, adultos e crianças.

Finalmente, a cultura, o “univer-so”, a oikoumene, na qual habitamos. Conquanto diversa e extremamente complexa — seja nas imensas distân-cias geográficas dos cinco continen-tes, quer seja no microcosmo da nos-

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sa casa — a cultura nos forja, ora nos formando, ora nos deformando.

A natureza e o culto

Os antigos filósofos diziam que a tudo o que existe no mundo é deriva-do de quatro substâncias elementa-res: a terra, a água, o fogo e, o ar.

Na Bíblia, encontramos inúmeras referências a esses elementos relacio-nados à espiritualidade do povo de Deus.

No princípio, criou Deus os céus e a terra. Deus fez o ser humano a par-tir do pó da terra e o designou para cultivar e cuidar da terra (“tu és pó e ao pó tornarás”) ouviu o grito do san-gue de Abel clamando da terra; não suportando a maldade do coração humano, enviou o dilúvio para des-truir e purificar a terra; chamou A-braão e lhe disse: “sai da tua terra e vai pra terra que te mostrarei”; desa-fiou Moisés a libertar o povo e Israel

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da opressão no Egito e conduzi-lo à terra prometida; com Josué conquis-taram e habitaram a terra que mana leite e mel; em Jesus Cristo, Deus desceu do céu à terra e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; pela boca dos apóstolos, o Evangelho foi anunciado por toda a terra; João, no Apocalipse, nos fala assim da nova Jerusalém: “vi novo céu e nova ter-ra...”.

A terra é a nossa casa, é o nosso berço e o nosso destino. A nova terra é a promessa da vida abundante, da redenção plena. Na Bíblia, a palavra terra aparece quase três mil vezes (2729).

No culto, podemos fazer alusão, ou mesmo utilizarmos de maneira con-creta o elemento terra nos momentos de batismo, de lançamento de pedra fundamental de edifício religioso, de renovação do pacto, de ofício fúnebre, etc., etc.

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Não menos importante é a água: no Gênesis, o Espírito de Deus paira-va sobre a face das águas; no dilúvio, as águas cobriram e purificaram a terra de sua maldade; na libertação do Egito, Moisés tocou a água com seu bordão e o mar se abriu para que o povo passasse; na chegada à terra prometida, tiveram que transpor o rio Jordão; o mesmo rio em cujas águas João batizou multidões e o próprio Jesus; Jesus andou sobre as águas e acalmou a tempestade e os vagalhões; com água, o eunuco, foi batizado por Filipe e Pedro batizou mais de três mil almas de uma só vez; Paulo sobrevi-veu a naufrágios e, como Jonas, foi devolvido à praia para pregar o Evan-gelho; na Cidade Santa, descrita no Apocalipse, há o rio da vida, brilhante como cristal, que corre do trono de Deus e do Cordeiro, em cujas mar-gens está a árvore da vida, que pro-duz frutos para a cura dos povos e o último verso do Apocalipse diz: “O

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Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida”.

Na Bíblia, a palavra água ocorre 659 vezes, sem contar rio, torrente, chuva, manancial, fonte, etc.

Na liturgia, a água é simbolica-mente significativa no batismo, na celebração do ágape, na cerimônia do lava-pés, nos cultos de renovação do pacto e de purificação, etc., etc.

O fogo é também a luz. O primeiro ato criador de Deus foi “haja luz!”; Deus fez chover enxofre e fogo sobre Sodoma e Gomorra; Abraão caminha-va rumo ao lugar onde deveria sacrifi-car o próprio filho com o cutelo numa mão e o fogo na outra; Moisés, viu o fogo em uma sarça que ardia, mas não se consumia; uma das pragas lançadas sobre o Egito, no processo de libertação, foi a chuva de pedras e fogo; quando o povo peregrinou du-rante quarenta anos pelo deserto, o

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Senhor ia adiante deles de dia com uma coluna de nuvem e de noite com uma coluna de fogo para os iluminar e indicar o caminho; no templo, um castiçal com sete braços ficara junto à Torah, para iluminar-lhe a leitura (“lâmpada para os meus pés é a tua Palavra, e luz para os meus cami-nhos”, cantam os salmistas); Isaías foi purificado do seu pecado, no culto do Templo, por uma brasa que um serafim tirara do altar com uma te-naz; Daniel foi preservado do fogo, quando atirado numa fornalha para ser castigado por sua fidelidade a Ya-weh; João Batista não era a luz, mas veio para que testificasse da luz; Je-sus disse: “eu sou a luz do mundo” e, ainda, “vós sois a luz do mundo”; no Pentecostes cristão, o Espírito Santo desceu sobre os discípulos e discípu-las na forma de línguas de fogo; o au-tor de Hebreus diz que “o nosso Deus é fogo consumidor”; inúmeras são as alusões ao fogo, no Apocalipse, dentre

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elas, a de que “a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo” e “a cidade não precisa nem do sol, nem da lua, para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a ilu-minou, e o Cordeiro é a sua lâmpada.”

A palavra fogo aparece mais de 360 vezes na Bíblia; luz, mais de 320; isso para não detalhar sobre a pala-vra lâmpada, sol, glória, e os verbos iluminar, resplandecer, glorificar, to-dos esses, termos relacionados com fogo/luz.

No culto, as luzes que se acendem (castiçais) é um importante símbolo da glória de Deus, da presença do Espírito, da orientação da Palavra de Deus, etc., etc.

O ar: no princípio, a terra era sem forma e vazia e o Espírito (ar, sopro, vento) de Deus pairava sobre a face das águas; tendo criado o homem do pó do terra, Deus soprou em suas narinas o fôlego da vida; no Dilúvio, quando Deus lembrou-se de Noé, na

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arca, “fez soprar um vento sobre a terra, e baixaram as águas”; na fuga do Egito, um vento vindo do Oriente soprou e abriu o Mar de Juncos para que o povo alcançasse a liberdade; Elias teve um encontro especial com Deus após presenciar vendavais, ter-remotos e saraiva, quando Deus se apresentou a ele numa brisa tranqüi-lo e suave; na visão dos ossos secos, Ezequiel profetizou: “vem dos quatro ventos, ó espírito, e assopra sobre es-tes mortos, para que vivam”; no Culto do templo, não deveria nunca faltar o incenso, que simboliza as orações dos fiéis, feito com finíssimas especiarias aromáticas; certa vez, Jesus, no bar-co, “repreendeu o vento e disse ao mar: Acalma-te, emudece! O vento se aquietou, e fez-se grande bonança”; ressuscitado, Jesus veio ao encontro dos seus seguidores, soprou sobre eles e disse: “recebei o espírito”; no dia do primeiro Pentecostes Cristão, “veio do céu um som, como de um

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vento impetuoso, e encheu toda a ca-sa onde [os discípulos e discípulas] estavam assentados”; o apóstolo Pau-lo diz que nós, cristãos e cristãs, so-mos o bom perfume de Cristo; o últi-mo verso do Apocalipse diz: “O Espíri-to e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem!”

Em toda a Bíblia, encontramos a palavra vento, mais de 150 vezes; es-pírito, 550 vezes, alma, que significa literalmente “garganta”, por onde passa o fôlego, mais de 400 vezes; aroma e perfume, mais de 100 vezes.

Tudo isso é muito sugestivo no que diz respeito à criatividade litúrgi-ca. Explorar os aromas e perfumes, e a simbologia do vento (por meio dos instrumentos de sopro, por exemplo), pode ser tremendamente sensibiliza-dor no exercício de uma espirituali-dade vívida e no processo de trans-missão da fé às novas gerações e aos que se achegam à cultura cristã.

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O corpo e o culto

Dizem os pesquisadores dos idio-mas sinéticos (ou linguagem do corpo por meio dos gestos e dos movimentos corporais) que “o corpo é a mensa-gem”. Antes de falar, os bebês se co-municam com o corpo. Por isso se pode dizer que a pessoa humana é um ser multisensorial. De vez em quando, ele verbaliza (cf. Birdwhis-tell).

O sistema de realce sinético (por meio de expressões corporais) ajuda a desfazer ambigüidades verbais. Tam-bém pode suceder, às vezes, que o comportamento não-verbal contradiga o que se está dizendo, em vez de enfa-tizar (nosso corpo mente menos que a nossa boca!).

Existe, portanto, uma linguagem dos sentidos: o tato, o paladar e o ol-fato são sentidos que requerem pro-ximidade. A audição e a visão, por outro lado, podem ser considerados

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sentidos que permitem a experiência a distância.

Comunicação pelo tato: O tato é provavelmente o mais primitivo dos sentidos. Um embrião, com menos de oito semanas, antes de ter olhos ou ouvidos, e quando ainda mede menos de 2,5 cm, responde ao tato. O bebê explora o mundo pelo tato. É dessa forma que ele descobre onde termina seu próprio corpo e onde começa o mundo exterior. Em breve ele começa a relacionar a experiência visual com a táctil (vincular símbolo à experiên-cia e a associar as sensações com as palavras).

O conhecimento emocional começa pelo tato, também. A voz materna substitui o toque materno, comuni-cando ao bebê as mesmas coisas que a mãe comunicava quando o pegava no colo — a rigor, a voz (as palavras) só é uma alternativa associa à experi-ência tátil.

A pele é o maior órgão do corpo: o processamento das informações envi-

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adas pelos lábios, o dedo indicador e o polegar ocupam uma área despro-porcional no cérebro.

A pele é “o envelope que contém o organismo humano” (Lawrence K. Frank). Todo o meio ambiente nos chega por intermédio da pele. O corpo humano é sensível ao calor, ao frio à pressão, à dor; possui zonas eróge-nas, sensíveis às cócegas, e zonas calosas (virtualmente insensíveis).

Em nossa sociedade, por volta dos cinco ou seis anos, as crianças come-çam a tocar e a serem tocadas com menor freqüência, mas na puberdade tornam-se novamente ávidas daquele contato físico. Quando o ser humano descobre as relações sexuais, na rea-lidade ele está redescobrindo a comu-nicação táctil.

Contato físico e sexo: o contato fí-sico tem freqüentemente conotação sexual e isso faz com que usemos tão pouco o tato em nossas manifestações de carinho e afeto. Os behavioristas falam em fome de pele. Segundo Paul

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Byers (antropólogo), “são os idosos que mais sofrem de fome da pele em nossa sociedade. Eles talvez sejam menos tocados do que qualquer outra pessoa”.

Cada vez mais cedo as crianças são deixadas nas creches, ou com babás, sendo privadas, assim, do ca-rinho dos pais. Talvez isso explique, em parte, o porquê de os jovens inici-arem-se sexualmente cada vez mais cedo: para compensar a falta de afeto físico que não tiveram na primeira infância.

Comunicação pelo olfato: o ser humano é “primitivamente um animal nasal” (G. Groddeck, colaborador de Freud): O cérebro humano (todo o complexo límbico, o cérebro mamífe-ro) se desenvolve a partir do bulbo olfativo.

O olfato é incontrolável: é impossí-vel evitar ou bloquear o olfato. Daí ser considerado o sentido mais autoritá-rio que possuímos, pois não se pode controlá-lo.

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Nos animais: o olfato acusa a pre-sença de inimigos, excita na presença do sexo oposto, funciona como limite territorial, permite seguir o rebanho e identificar o estado emocional de ou-tras espécies. Cada individuo tem uma assinatura olfativa.

Os pesquisadores falam também em subconsciente olfativo: Dr. Harry Wener, um médico dos Laboratórios Pfizer de Nova Iorque, elaborou a teo-ria de que “os homens percebem odo-res além daqueles que, consciente-mente, a percepção acusa. Odores seriam “mensageiros químicos exter-nos” (MQE), os feronemas que são substâncias odoríferas que os ani-mais segregam para se atrair sexual-mente e que são capazes de afetar o comportamento de outros animais da mesma espécie são, algumas vezes, tão contagiosas numa multidão.

Na Bíblia há muitas referências associadas ao sentido do olfato: o in-censo que representa as orações dos

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fiéis (cf. Is 6, Ap 8); nos somos “o bom perfume de Cristo” (2Co 2.15).

Liturgicamente, diferentes aromas podem ser associados a diferentes conceitos espirituais e teológicos e podem ajudar no processo de assimi-lação e, principalmente, de memori-zação desses conceitos — dificilmente alguém se esquece de um cheiro que tenha sentido, antes o reconhece com certa facilidade (exemplo: manjericão, pão assando, café sendo torrado, va-zamento de gás, etc.).

Comunicação pelo paladar: este é um sentido de base química. Diferente do tato da visão e da audição, assim como o olfato, o paladar não é um sentido de base física (impulsos elé-tricos), mas uma informação resul-tante de uma reação química. Isso implica em que estes são mais pode-rosos nos níveis subliminares (comu-nicação despercebida).

Este é o sentido sacramental por excelência: “o sacramento da Eucaris-tia é o sacramento do gosto” (Maras-

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chin). Comer exige ritual. Assim é na liturgia da igreja, na do amor, na do lar, nas dos negócios. Não há come-moração sem comida.

Até recentemente, o lugar mais importante na arquitetura doméstica era a cozinha — tratava-se do prima-do da cultura da cozinha. Ali se da-vam as relações sociais.

No mundo urbano a cozinha é substituída pelos restaurantes e bar-zinhos, onde as relações humanas se dão de forma intensa, regada a comi-da e a bebida – quando esse ambiente não é encontrado em casa ou na Igre-já, ele será buscado em outro lugar.

O cardápio (a comida e a bebida) de um “povo” denuncia seu caráter, seu humor, sua condição social, etc.

Lembranças de gosto e de cheiro são poderosos vocativos de experiên-cias do passado. Tais experiências estão associadas a “conceitos” que emergem juntamente com a lem-brança.

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A Eucaristia é, essencialmente, um ato memorial. Quando Jesus diz: “fazei isto em memória de mim” (Lc 22.19), estava, em outras palavras, dizendo: “nunca se esqueçam de mim” — e as refeições comunais são “inesquecíveis”.

Ao folhearmos as páginas dos E-vangelhos em busca das alusões aos momentos de refeição comunal entre Jesus, seus discípulos, conhecidos e até com seus inimigos, ficamos surpre-sos com a quantidade de referências.

Comunicação pela audição: no cul-to, tendemos a considerar comunica-ção auditiva aquela relacionada aos processos verbais: pregação, leituras, orações, cânticos, etc. Mas a experi-ência auditiva vai muito além.

Num filme, por exemplo, a trilha sonora (que é muito mais do que mú-sicas) provoca alterações no compor-tamento e no metabolismo do espec-tador. Pressão arterial, batimento cardíaco, funções metabólicas são

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acelerados ou desacelerados, depen-dendo do tipo de sonoplastia adotado.

A “engenharia de emoções” é uma ciência que se estabeleceu definitiva-mente a partir da década de 70, princi-palmente na indústria cinematográfica.

Segundo Peter Krass, “a engenha-ria de emoções é um ramo recente de atividades, que tem por objetivo alte-rar o comportamento involuntaria-mente, sem a consciência dos recep-tores do público, que é manipulado subliminarmente por sons e cores”.

Slogans e provérbios: “frases fei-tas”, ditados, máximas, adágios, afo-rismos, anexins, brocardos jurídicos, palavras de ordem, clichês e formas verbais do imperativo apresentam um elevado grau de subliminaridade e tem um enorme poder persuasivo, não tanto pelo que é dito, mas muito mais pelo como é dito. Exemplo: “ho-mo loquax, homo mendax”, isto é, “homem falando, homem mentindo”, ou, “homem eloqüente, homem menti-roso” — note-se que quando dito em

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português, o dito perde a força da sonoridade loquax/mendax.

Há, inclusive, “sons” no silêncio: os ritmos (alternância sistemática entre pausa-som-pausa) podem acal-mar/relaxar (instalados em consultó-rios de dentistas), podem transmitir a sensação de conforto, tranqüilidade, segurança e prazer (72/80 ciclos por minuto: o ritmo do coração); provocar atitudes (20 ciclos por segundo: em bancos, levando funcionários e clien-tes a fazerem investimentos; em su-permercados, para evitar furtos...).

Comunicação pela visão: nós, hu-manos, tendemos a supervalorizar o sentido da visão. Dizem os neuro-cientistas que 87% da arquitetura cerebral destina-se ao processamento de informação visual.

Culturalmente falando, “estamos indo ao encontro de uma época mais visual”, no qual “o que é visto é mais importante do que aquilo que é escri-to” (Margaret Mead).

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A psicodinâmica das cores de-monstra que as cores produzem efei-tos subliminares (desapercebidos) psicossomáticos.

Parece haver uma “evolução” do vermelho para o azul: crianças são atraídas por cores quentes; há antro-pólogos que dizem que isso se eviden-cia no padrão cultural dos povos, de modo que aqueles que têm um estilo mais primário, tendem a ser mais co-loridos e a ornamentarem-se com co-res mais vivas, ao passo que as socie-dades mais “civilizadas” tendem a preferir cores mais sóbrias.

Cor é luz. Cada cor equivale a um comprimento de onda: cada compri-mento de onda tem um efeito físico, e mesmo biofísico. A primeira sensação de cor ocorre no complexo límbico causando instantâneas reações emo-cionais e estimulando as glândulas pituitária e pineal. Tais reações ati-vam o sistema endócrino, ativando o hipotálamo (cérebro réptil) e causan-

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do ativação do sistema nervoso sim-pático e parassimpático.

Esse é trajeto da cor que causará fome, sede ou excitação sexual direto no cérebro, agindo subliminarmente, sem ser percebida.

Pesquisadores explicam os efeitos psicossomáticos das cores: o azul tem efeito calmante; o vermelho tem efeito oposto; o amarelo-avermelhado ativa as funções do metabolismo do hipotá-lamo, despertando a fome e alterando a atividade gástrica. As cores inten-sas, de longos comprimentos de on-das, aumentam a circulação sangüí-nea e aumentam a força muscular.

Assim, a cor pode induzir sublimi-narmente a escolha de uma embala-gem na prateleira de um supermerca-do, pode ajudar a trabalhar mais tranqüilamente, pode regularizar a pressão arterial, ser relaxante...

Todas essas informações podem nos inspirar e ampliar nosso horizon-te criativo na preparação de liturgias mais comunicativas — uma vez que

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estabelece pontes de interação com o indivíduo todo, e não somente com sua racionalidade.

A cultura e o culto

A criatividade litúrgica possibilita o recurso à expressão artística de modo geral. Classicamente, a arte tem sido agrupada em sete formas de ex-pressão (isso serve apenas para fins didáticos, pois a arte não pode ser confinada).

A Literatura, que é a arte da pala-vra, está associada a toda palavra bem-dita na liturgia: as leituras e li-tanias, as orações e bênçãos, a pala-vra cantada e declamada, e a palavra pregada e explicada. Nem tudo o que se diz, escreve e lê, tem o status de literatura — as palavras organizadas alfabeticamente num dicionário não produzem, amiúde, reações como ter-nura, alegria, consternação, êxtase, alegria, saudade... A palavra se torna literatura quando é bela, quando faz

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diferença em quem a pronuncia e em quem a ouve. No culto, a verdadeira literatura são as palavras bem-ditas que provocam o encontro com a Pala-vra divina.

A Coreografia, que é a arte do mo-vimento, está associada a todo mo-vimento e a toda movimentação in-tencional, no contexto celebrativo. Quando nos levantamos para ouvir a leitura bíblica, ou para cantar; quan-do nos ajoelhamos para orar; quando nos dirigimos ao altar para o ofertório ou para um ato de consagração; quando o celebrante repete o gesto de partir o pão e servir o cálice ou esten-de os braços para dar a bênção, etc. — são todos movimentos coreográfi-cos. Não são gratuitos, são intencio-nais e carregados de sentido.

A Arquitetura, que é a arte do es-paço vazio, do espaço que se abre pa-ra acolher o belo, está associado, no contexto celebrativo, à toda a ambien-tação que transforma os lugares co-muns em espaços sagrados, espaços

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de encontro do efêmero com o eterno, do finito com o infinito, do mortal com o imortal. Nesse espaço não cabe o assessório, tudo deve ser essencial, não cabe o descuidado, o desarruma-do, o improvisado, tudo tem que cor-responder à dignidade do evento que ali se dá.

A Escultura, que é a arte do volu-me, relaciona-se às texturas, formas e sensações que estas provocam. Su-perfícies ásperas e formas pontiagu-das transmitem sensação de descon-forto, de repulsa. Formas curvas e superfícies lisas ou aveludadas dão idéia de acolhimento afetivo. O círculo tem força centrípeta, convida para o centro, para a comunhão; o quadrado sugere a força centrífuga que envia para a missão; o triângulo transmite idéia de estabilidade, daquilo que não sofre abalo, que permanece o mesmo, “ontem, hoje e eternamente” (cf. Hb 13,8).

A Pintura, que é a arte da cor, nos ajuda a celebrar com a luz. Pinturas e

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vitrais são apenas uma parte do po-der comunicativo das cores no con-texto celebrativo. Os paramentos, os ornamentos, as vestes litúrgicas dos celebrantes, os tapetes, cortinas e toalhas, tudo no espaço celebrativo deve ser pensado e ressignificado. Eis a importância da decoração que, eti-mologicamente, sugere o sentido de ambientar com cor e com o coração.

A Música, que é a arte do som, é a rainha das artes. Que seria das nos-sas liturgias não fosse a música? Sua força está na sua capacidade de apro-ximar razão e emoção e de alcançar, por isso mesmo, um nível tão profun-do de comunicação como nenhuma outra arte consegue. Quando canta-mos, a combinação entre letra, melo-dia, harmonia e ritmo fundem-se, de tal maneira, integrando diferentes níveis do nosso ser. Corpo, alma e espírito se fundem plenamente. Músi-ca é arte e ciência, é emoção e sensa-ção, é gramática e matemática. Ouvir música é ouvir Deus!

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E a controvertida “sétima arte”, o Cinema, que combina as várias artes. Um ótimo desafio para a equipe de liturgia é pensar a liturgia como se estivesse preparando para gravar um filme: roteiro e script (literatura), a-ção (coreografia), o cenário e ambien-tação (arquitetura), as cores, luzes e sombras (pintura), e a trilha sonora (música).

A Equipe ou Ministério de Liturgia

A constituição de uma Equipe ou Ministério de Liturgia, em cada igreja local, é uma tarefa que deve ser reali-zada com toda responsabilidade e com a participação representativa das vá-rias expressões da espiritualidade da comunidade. O acompanhamento do pastor ou pastora é fundamental (ca-nonicamente, é ele/a quem responde pela liturgia na igreja local).

Pode se estruturar a equipe em se-tores encarregados de executar tarefas específicas, sempre em articulação

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com a equipe como um todo, tais co-mo. A seguir, oferecemos uma suges-tão de organização desses setores:

Palavra e Texto: Responsável pela criação, edição, editoração e arquivo das liturgias, bem como pela escala das pregações.

Espaço e Movimento: Responsá-vel pela ambientação e decora-ção dos espaços celebrativos, bem como por expressões, atu-ações e performances cênicas específicas.

Luz e Sombra: Responsável pela comunicação sensorial (tato, ol-fato, paladar, audição e visão) por meio de recursos audiovi-suais, projeções multimídia, e-lementos concretos, diferentes texturas, etc.

Silêncio e Som: Responsável pe-la parte musical (vocal e ins-trumental) das celebrações, o que inclui a condução do Coro, e formação de grupos vocais e instrumentais.

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A equipe deve ainda observar os vários processos para que as liturgias sejam consistentes:

Investigação e pesquisa no campo da liturgia e da arte li-túrgica, para que os atos te-nham profundidade teológica;

Criação e produção de ordens, textos e cânticos litúrgicos;

Execução e condução celebrativa dos cultos;

Documentação e avaliação das produções litúrgicas da equipe mantendo registro e arquivo de tudo, de modo a possibilitar o acesso e a revisão criteriosa das liturgias produzidas e cele-bradas;

Capacitação e socialização da experiência litúrgica, disponibi-lizando o acervo (impresso e/ou digital).

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Epílogo

Assim se pode fazer verdadeira ar-te litúrgica: estruturando o culto em torno da partilha do Pão e da Palavra; da qual todos possam participar de corpo e alma, em espírito e em verda-de, com alegria e com arte; de tal forma que envolva integralmente o ser humano e estabeleça um diálogo efe-tivo e afetivo com Deus e seu povo.

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Referências

Para quem quiser aprofundar seus estudos dos temas relacionados com o Culto, sugerimos:

Textos sobre culto e liturgia

ADAM, Adolf. O Ano Litúrgico. São Paulo: Paulinas, 1982. 360 p.

AGOSTINHO, Santo, Bispo de Hipona, 354-430. A doutrina Cristã: manual de exe-gese e formação cristã. São Paulo: Pau-linas, 1991.

ALLMEN, J. J. von. O Culto Cristão: Teo-logia e Prática. São Paulo: ASTE, 1968. 403 p.

BECKHÄUSER OFM, Frei Alberto. Os fundamentos da sagrada liturgia. Pe-trópolis: Vozes, 2004. 327 p.

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CARTA PASTORAL do Colégio Episcopal da Igreja Metodista. O culto da Igreja em missão. São Paulo: Cedro, 2006. 40 p. (Biblioteca Vida e Missão – Pas-torais)

CELAM. Manual de liturgia 1 e 2: a cele-bração do mistério pascal. São Paulo: Paulus, 2005. 304 p. (v. 1), 437 p. (v. 2)

DIDACHE: o catecismo dos primeiros cristãos para as comunidades de hoje. São Paulo: Paulinas, 1989. 31 p.

FLORISTÁN, Casiano. Teologia practica: teoria y praxis de la acción pastoral. Salamanca: Sigueme, 1993. 757 p.

HAHN, Carl Joseph. História do culto pro-testante no Brasil. São Paulo: Aste, 1989. 403 p.

KIRST, Nelson. Nossa Liturgia: das origens até hoje. São Leopoldo: Sinodal, 1993. (Col-méia).

______. A Liturgia toda: Parte por parte. São Leopoldo: Sinodal, 1993. (Colméia).

MARASCHIN, Jaci. A beleza da Santida-de, ensaios de liturgia. São Paulo: As-te, 1996. 168 p.

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NEUNHËUSER OSB, Burkhard. História da liturgia através das épocas cultu-rais. São Paulo: Loyola, 2007. 277 p.

RAMOS, Luiz Carlos (org.). Anuário Litúr-gico. São Bernardo do Campo: Editeo, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2009-.

RITUAL da Igreja Metodista. 2. ed. São Paulo: Cedro, 2005. 156 p.

SARTORE, D. T. & ACHILLE, M. Dicioná-rio de Liturgia. São Paulo: Edições Paulinas,1992. 1293 p.

WHITE, James, F. Introdução ao culto cristão. São Leopoldo: Sinodal, 1997. 267 p.

Textos sobre a comunicação

por vias não-verbais:

BARRETO, Roberto Menna. Análise tran-sacional da propaganda. 4. ed. São Paulo: Summus Editorial, 1981. 305 p.

CALAZANS, Flávio. Propagação sublimi-nar multimídia. 3. ed. São Paulo: Summus Editorial, 1992. 116 p. (No-vas buscas em comunicação; v. 42).

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DAVIS, Flora. A comunicação não-verbal. 6. ed. Trad. de Antonio Dimas. São Paulo: Summus Editorial, 1979. 119 p.

FERRÉS, Joan. Televisão subliminar: soci-alizando através de comunicações despercebidas. Trad. Ernani Rosa e Beatriz A. Neves. Porto Alegre: Artmed, 1998. 288 p.

VIEIRA, Stalimir. Raciocínio criativo na publicidade: uma proposta. São Paulo: Ed. Loyola, 1999. 101 p.

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