elo da histÓria demogrÁfica de minas gerais

102
i Kátia Maria Nunes Campos ELO DA HISTÓRIA DEMOGRÁFICA DE MINAS GERAIS: RECONSTITUIÇÃO E ANÁLISE INICIAL DOS REGISTROS PAROQUIAIS DA FREGUESIA DE N. S.ª DA CONCEIÇÃO DO ANTÔNIO DIAS 1763-1773 Belo Horizonte, MG UFMG/Cedeplar 2007

Upload: others

Post on 30-Nov-2021

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

i

Kátia Maria Nunes Campos

ELO DA HISTÓRIA DEMOGRÁFICA DE MINAS GERAIS: RECONSTITUIÇÃO E

ANÁLISE INICIAL DOS REGISTROS PAROQUIAIS DA FREGUESIA DE N. S.ª DA

CONCEIÇÃO DO ANTÔNIO DIAS

1763-1773

Belo Horizonte, MG UFMG/Cedeplar

2007

ii

Kátia Maria Nunes Campos

ELO DA HISTÓRIA DEMOGRÁFICA DE MINAS GERAIS: RECONSTITUIÇÃO E ANÁLISE INICIAL

DOS REGISTROS PAROQUIAIS DA FREGUESIA DE N. S.ª DA CONCEIÇÃO DO ANTÔNIO DIAS

1763 -1773

Dissertação de Mestrado apresentada ao curso de Mestrado em Demografia do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do Título de Mestre em Demografia.

Orientadora: Profª. Drª. Clotilde Andrade Paiva Co-orientador: Prof. Dr. Roberto do Nascimento Rodrigues

Belo Horizonte, MG Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional

Faculdade de Ciências Econômicas - UFMG 2007

iii

Folha de Aprovação

iv

A meus pais, Geraldo e Zezé, cujo amor e noção de honra foram e têm sido, para mim, o peso e a medida de todas as coisas. E a meu avô, Jesus Correa Campos, caboclo indomável de Guiricema, cujas escolhas e conquistas nortearam a minha vida. Um dos livros dos tantos que me deu vida afora, integra a bibliografia deste trabalho.

v

AGRADECIMENTOS

A meus irmãos, Zuzu, Sandra, Dé, Helder e cunhados Baltazar, Cocato, Helena e David

sempre, e muito, por toda uma vida de afeto e respeito mútuo.

A José Alberto Magno de Carvalho, Paula Miranda e Eduardo Rios Neto, que me ajudaram

muito além do que imaginam.

A todos os professores, pela excelência do ensino e pela generosidade e constância na

correção das muitas falhas.

Aos funcionários do Cedeplar, pela prontidão em ajudar e cortesia na solução das pequenas

questões do cotidiano acadêmico.

A todos os meus amigos e a José Arnaldo e Queca, em especial, pelo apoio quando o chão

faltou.

A Wagner, Luizinho, Nilo, André, Danilo, Túlio, Douglas, Thiago e ao nosso caçula,

Daniel, pelas bem-vindas e divertidas conversas ao telefone e pela pessoa que certamente

vai ser.

Aos meus colegas de coorte Gilvan, Glauco, Marden, Douglas, Vítor, Mauro, Maria

Carolina, Nina, Carol e Cristina por todo o carinho e pelo privilégio em tê-los como colegas

e amigos.

Aos meus orientadores, Clotilde e Roberto, pela generosidade, por uma enorme paciência e

pelas sugestões, críticas e idéias, na concretização deste trabalho.

Aos amigos da Casa dos Contos, em especial, Ângela, Conceição e Maria Lúcia, pela

amizade e por um ano de ajuda inestimável, na coleta dos dados.

A Miguel, meu afilhado, neto pelo coração, que chegou ao mundo e às nossas vidas, neste

momento especial.

Ao CNPq, pelo financiamento.

vi

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AHCM – Arquivo Histórico da Câmara de Mariana (Mariana,MG)

AN – Arquivo Nacional (Rio de Janeiro, RJ)

APAD – Arquivo da Paróquia do Antônio Dias (Ouro Preto, MG)

APM – Arquivo Público Mineiro (Belo Horizonte, MG)

APMOP – Arquivo Público Municipal de Ouro Preto (Ouro Preto, MG)

APP – Arquivo da Paróquia do Pilar (Ouro Preto, MG)

CECO – Centro de Estudos do Ciclo do Ouro (Casa dos Contos, Ouro Preto, MG)

CEDEPLAR – Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional (UFMG - Belo Horizonte, MG)

CSP – Casa Setecentista do Pilar (Museu da Inconfidência, Ouro Preto, MG)

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

LB – Livro de Registro de Batizados

LC – Livro de Registro de Casamentos

LO – Livro de Registro de Óbitos

UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais (Belo Horizonte, MG)

UFOP – Universidade Federal de Ouro Preto (Ouro Preto, MG)

vii

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO................................................................................................................. 1

2. O CONTEXTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO ............................................................. 5

2.1 O passado demográfico de Minas Gerais ........................................................................ 5

2.2 O fisco e as contagens populacionais no Século XVIII................................................... 9

2.3 A Paróquia do Antônio Dias de Vila Rica..................................................................... 12

3. METODOLOGIA E OPERACIONALIZAÇÃO DAS FONTES E DE DADOS .......... 17

3.1 As fontes demográficas brasileiras: o caso de Minas Gerais......................................... 17

3.2 A metodologia de reconstituição de paróquias.............................................................. 21

3.3 Os registros paroquiais do Antônio Dias: coleta e tratamento dos dados ..................... 25

3.4 Coleta de Dados............................................................................................................. 27

3.5 Procedimentos de identificação de indivíduos .............................................................. 28

3.6 Considerações sobre os graus de cobertura dos vários registros ................................... 32

3.6.1 População infantil ....................................................................................................... 32

3.6.2 População dos menores de 15 anos ............................................................................ 33

3.6.3 População adulta......................................................................................................... 33

4. ASPECTOS DA NUPCIALIDADE, DOS NASCIMENTOS E ÓBITOS NA

PARÓQUIA DO ANTÔNIO DIAS .............................................................................. 37

4.1 O casamento e a família colonial................................................................................... 37

4.1.1 Tipologia das formas de união na Paróquia do Antônio Dias .................................... 39

4. 2 Nupcialidade e nascimentos nos registros paroquiais .................................................. 41

4. 2.1 Casamento e Celibato: Mães Livres, Forras e Escravas............................................ 44

4.2.3 O papel da mulher solteira na sociedade colonial ...................................................... 48

4.3 A mortalidade nos registros paroquiais ......................................................................... 50

viii

5. CONCLUSÃO................................................................................................................. 54

6. REFERÊNCIAS DOCUMENTAIS E BIBLIOGRÁFICAS........................................... 58

6.1 Fontes Primárias Manuscritas........................................................................................ 58

6.2 Referências Bibliográficas............................................................................................. 59

7. APÊNDICE ..................................................................................................................... 64

7.1 A Paróquia do Antônio Dias, no século XVIII – Ruas e bairros constantes dos registros

paroquiais, de 1763 a 1773. ................................................................................................. 64

7.2. Capelas Filiais da Matriz de Nossa Senhora da Conceição do Antônio Dias .............. 66

7.3. Conceitos utilizados...................................................................................................... 66

7.4 Exemplos de Registros Paroquiais do Antônio Dias ..................................................... 68

7.5 Exemplos de Dados Fornecidos por Fontes Suplementares.......................................... 71

ix

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 – MAPA DE MINAS GERAIS, SÉCULO XVIII ........................................... 10

TABELA 1 – CAPITANIA DE MINAS GERAIS, 1776: POPULAÇÃO POR

COMARCA, SEXO E RAÇA/COR, E TOTAL DE NASCIMENTOS E ÓBITOS

POR COMARCA .......................................................................................................... 11

FIGURA 2 – MAPA DE VILA RICA, SÉCULO XVIII ................................................... 14

TABELA 2 – COMPOSIÇÃO DA POPULAÇÃO ADULTA REPRESENTADA

NOS REGISTROS PAROQUIAIS DO ANTÔNIO DIAS, SEGUNDO O SEXO

E A CONDIÇÃO, NO PERÍODO DE 1763 A 1773 .................................................... 34

TABELA 3 – COMPOSIÇÃO DOS REGISTROS DE BATISMO, SEGUNDO O

SEXO E CONDIÇÃO DO RECÉM NASCIDO – PARÓQUIA DO ANTÔNIO

DIAS, 1763 A 1773 ....................................................................................................... 36

TABELA 4 – DISTRIBUIÇÃO DOS NASCIMENTOS OCORRIDOS, ENTRE 1763

A 1773, SEGUNDO A CONDIÇÃO DA MÃE E A CONDIÇÃO DO FILHO AO

NASCER, NA PARÓQUIA DO ANTÔNIO DIAS...................................................... 42

GRÁFICO 1 – DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DE NASCIMENTOS

LEGÍTIMOS, ILEGÍTIMOS E EXPOSTOS SOBRE O TOTAL DE

NASCIMENTOS OCORRIDOS ENTRE 1763 A 1773, NA PARÓQUIA DO

ANTÔNIO DIAS .......................................................................................................... 43

TABELA 5 – NÚMERO MÉDIO DE FILHOS SEGUNDO A CONDIÇÃO E O

ESTADO CONJUGAL DA MÃE, NA PARÓQUIA DO ANTÔNIO DIAS,

ENTRE 1763 A 1773 .................................................................................................... 44

GRÁFICO 2 – DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DAS MÃES DAS CRIANÇAS

BATIZADAS NA PARÓQUIA DO ANTÔNIO DIAS, SEGUNDO A

CONDIÇÃO E ESTADO CONJUGAL DA MÃE, ENTRE 1763 E 1773................... 45

x

RESUMO

A sociedade colonial brasileira apresenta características fundamentais como altos índices de

ilegitimidade, formas específicas de casamento e constituição de famílias e elevada

mobilidade populacional. Em acréscimo, não se pode esquecer o papel preponderante

exercido pelo regime escravista na formação e evolução das estruturas sócio-demográficas

coloniais. Em suma, na maioria dos casos, tais características inviabilizam, entre outras, a

aplicação da técnica de reconstituição de famílias de Henry ao contexto brasileiro. Nesse

sentido, este trabalho propõe o método de reconstituição de paróquias de Amorim como

alternativa metodológica, explorando seu potencial analítico no estudo da Paróquia do

Antônio Dias, termo de Vila Rica, no período de 1763 a 1773, baseado em registros

paroquiais e fontes suplementares.

Embora a paróquia seja de pequenas dimensões, o banco de dados produzido reúne

milhares de fichas pertencentes a indivíduos de sucessivas gerações. Os registros se

apresentam bastante regulares, sem lacunas perceptíveis, num encadeamento cronológico

excelente, seja entre registros, seja entre as folhas ou na sucessão dos livros. De um modo

geral, os registros foram redigidos de acordo com as normas, sendo raros aqueles em que o

dia de nascimento, pais, avós, padrinhos e local de moradia não eram informados. O

método de reconstituição paroquial permite que as informações sejam organizadas de tal

forma que o indivíduo possa ser acompanhado, não apenas na sua trajetória pessoal, mas

também inserido na família e no seu grupo social.

A amostra que serviu de base para a análise inicial apresentada neste trabalho revela

algumas dessas potencialidades. Não obstante o reduzido período de análise (1763-1773) e

os problemas referentes aos dados, o método se revelou bastante satisfatório na recuperação

de informações de idade e filiação da população de mães das crianças nascidas no período,

sendo credenciado para aplicação em outras áreas e períodos.

Palavras-chave: Demografia histórica, metodologia de reconstituição de paróquias, história demográfica, Brasil colônia, história demográfica brasileira.

xi

ABSTRACT

The Brazilian colonial society is characterized by high levels of illegitimacy, typical

patterns of marriage and family formation and high mobility. During this period, the

slavery has played an essential role in the formation and evolution of its social and

demographic structures, as well. As a consequence, these factors prevent the general

application of the “family reconstitution technique” created by Henry (1977) to the

Brazilian colonial context. Taking that into account, this paper proposes the application of

the Amorim’s “parishes reconstitution technique” as a methodological alternative,

exploring its analytical potential in the case study of the Vila Rica’s Antônio Dias parish,

from 1763 to 1773, based upon parochial series of baptisms, deaths and marriages as well

as other sources.

The colonial Antônio Dias parish is rather small, but even so, it assembles thousands of

individuals’ entry-forms of successive generations, which resulted in an extremely large

dataset. The parochial series are regular enough, showing no perceptible gaps, but instead

an excellent chronological enchainment of records, pages and serial entry-books. In

general, all records were homogeneously written down so that the birth date, name of

parents, grandparents, godfathers and addresses were seldom omitted. The parishes

reconstitution method allows that the information be organized in such a way that the

individuals can be followed either throughout their personal life path as well as within the

family and social group.

The basic sample upon the preliminary analysis was performed revealed some of the

parishes reconstitution method’s virtualities. Even in such a shorter period (1763-1773),

and notwithstanding the problems associated with data quality, the assessment of the

method has proved its usefulness in the recovery of information. Among them, we

succeeded to obtain data such as age and parenthood of the mothers of children born within

the time period, recommending its further application to the Brazilian colonial context.

1

1. INTRODUÇÃO

Ao final dos anos 50, desenvolveu-se um movimento nos meios acadêmicos americanos,

principalmente entre os economistas, no sentido de aplicar métodos estatísticos e analíticos

no estudo da história, conhecido largamente como cliometria, referindo-se a Clio, musa da

História (Brignoli, 1989). Além da história econômica, dentre os campos da história que se

prestavam muito bem a essa nova abordagem, estavam a demografia histórica e a história

urbana, considerando que os métodos quantitativos pareciam mais eficientes na análise de

grandes grupos do que nos comportamentos individuais, tão ao gosto da escola

historicizante ou factual.

Na Europa Ocidental, o interesse no estudo de populações históricas se intensificou,

principalmente em função do surgimento do agora clássico método de reconstituição de

famílias (Henry, 1977). O foco principal da maioria dos estudos, com base neste método,

era a descrição detalhada e a medição de comportamentos demográficos, através da

reconstituição de famílias, não considerando as mudanças populacionais num contexto mais

amplo (Lee, 1977). Este método consolidou o surgimento da demografia histórica como um

campo de estudos específico, sob a perspectiva de que as mais diversas fontes podem

permitir a investigação da evolução de populações humanas, desde as mais remotas eras e

sob os mais diferentes aspectos. Entretanto, do ponto de vista conceitual, apenas no caso

em que as fontes realmente se prestem à análise demográfica formal, ou seja, com o

instrumental metodológico da demografia propriamente dita, é que se definem os estudos,

assim elaborados, como pertencentes ao domínio da demografia histórica (Amorim, 1998)

Nesse sentido, o método de Henry (1977), vinculando os registros de casamentos aos

batismos de filhos e óbitos de qualquer membro da família, permite construir um arcabouço

da população para períodos e localidades dotadas de registros longos e de boa qualidade.

Entretanto, somente registros institucionais em série e executados de forma criteriosa

oferecem a informação necessária para se calcularem medidas demográficas, pois não se

poderiam obter algumas delas, tais como a idade ao casar, por exemplo, sem registros de

2

nascimentos completos e abrangentes. Em acréscimo, o método exige uma população

razoavelmente estável, dentro dos limites do território estudado, pois, caso contrário, seria

introduzido um viés tanto maior quanto maior fosse a mobilidade da população estudada.

Assim, não obstante o entusiasmo suscitado pelo desenvolvimento do método de

reconstituição de famílias, quando se confrontam as peculiaridades das populações

históricas brasileiras não resta dúvida de que a técnica de Henry se baseia em fontes e

problemáticas muito específicas e que dificilmente se aplicam a outros contextos. No

Brasil, a não ser para certos grupos sociais e situações excepcionais, onde se observam

praticamente as mesmas condições existentes nas populações européias do Antigo Regime,

ou seja, altas taxas de legitimidade, populações relativamente estáveis, transmissão de

nomes de famílias e paróquias de dimensões reduzidas, a técnica de reconstituição de

famílias não produz os resultados esperados.

Em sua obra sobre a cidade de São Paulo, Marcílio (1973) ressalta os enormes desafios

experimentados na tentativa de aplicar o método de Henry ao contexto brasileiro, que vão

desde a enorme extensão territorial das paróquias à intensidade de seus movimentos

migratórios. Foi mais bem sucedida em seu estudo sobre a população de Ubatuba (Marcílio,

1986), uma aldeia de pescadores e agricultores, no período de 1790-1836, utilizando fontes

suplementares aos registros paroquiais, tais como as listas nominativas, tipologia pouco

utilizada pelos demógrafos franceses, e que se confirma como a exceção à regra. Sob este

aspecto, pode-se dizer que a autora antecipa o método de Amorim (1998), que utiliza

amplamente estas fontes.

Estudos subseqüentes sobre a demografia histórica brasileira, como os apresentados no

Congresso sobre a População da América Latina, em 1989, em Ouro Preto (História e ...,

1990) e nos vários Seminários de Economia Mineira, promovidos a cada biênio pelo Centro

de Desenvolvimento e Planejamento Regional (CEDEPLAR) confirmam a tendência de

crescimento na realização de pesquisas regionais, no âmbito desta disciplina. Para Minas

Gerais colonial, entretanto, as iniciativas nesta direção ainda são relativamente raras,

existindo, além dos pioneiros trabalhos de Costa (1979; 1982) e Costa e Luna (1982),

baseados em registros paroquiais, estudos mais recentes de Ramos (1990), Venâncio

3

(1997), Gonçalves (1998) e Botelho (2003), entre outros, fundamentados total ou

parcialmente nas referidas fontes.

Embora o conjunto desses estudos constitua um extenso mosaico da totalidade da

população mineira no período colonial, ainda há lacunas, tanto do ponto de vista do período

quanto da área de abrangência. Parte dessa lacuna pode ser preenchida com base nos dados

disponíveis e ainda não analisados da Paróquia do Antônio Dias, termo de Vila Rica,

relativos ao período de 1763 a 1773. A freguesia do Antônio Dias concentrou, ao longo do

século XVIII, atividades mineradoras. Assim, este recorte temporal se inscreve num

período especialmente notável, dentro da evolução econômica da Capitania de Minas

Gerais, em que a crise da produção aurífera se instaurava definitivamente (Maxwell, 1985).

A proposta do presente trabalho é realizar um estudo exploratório da aplicabilidade do

método de reconstituição de paróquias, desenvolvido por Amorim (1999) no estudo das

populações portuguesas dos séculos XVIII e XIX, ao contexto urbano minerador de Minas

Gerais, no século XVIII. Dadas as limitações impostas pelo método de reconstituição de

famílias proposto por Henri, ao contexto colonial brasileiro, optou-se pela alternativa

utilizada por Amorim, de reconstituição paroquial. Acredita-se que a proposta de Amorim

se adapta melhor aos registros paroquiais coloniais brasileiros, não apenas porque ambas as

sociedades metropolitana e colonial se regiam pelas mesmas instituições administrativas

judiciárias e eclesiásticas, fortemente centralizadas em mãos da Coroa Portuguesa, mas

também pela quase uniformidade observada nos respectivos registros paroquiais. Tais

registros eram baseados nas diretrizes do Concílio de Trento (França, 2002), assim como

nos critérios de estabelecimento, ordenamento e jurisdição de paróquias, expressos nas

universais Ordenações do Reino (Ordenações..., 1870).

Além desta Introdução, o trabalho contém outros quatro capítulos. O segundo examina o

contexto histórico e geográfico em que se inserem os recortes territorial e temporal,

abordando brevemente o passado e a evolução demográfica da Capitania, com base em

estimativas de época. O terceiro capítulo apresenta, em detalhe, a metodologia e

operacionalização das fontes e dados utilizados, abordando as especificidades locais nos

processos de formação de famílias, assim como os problemas e restrições oferecidos pelos

dados. No quarto capítulo, analisam-se, à luz da metodologia escolhida, aspectos da

4

dinâmica populacional, no sentido de avaliar a aplicabilidade da metodologia escolhida, em

contraponto ao método de reconstituição de famílias. Finalmente, o quinto capítulo é

dedicado às considerações finais emanadas do conjunto do trabalho, assim como a

delimitação de potenciais e possibilidades de análise mais aprofundada dos dados

coletados, visando à conformação da dinâmica demográfica da região estudada.

5

2. O CONTEXTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO

O objetivo deste capítulo é situar a freguesia do Antônio Dias, no contexto do território

mineiro, pontuando as principais características que marcaram, sobretudo, o recorte de

1763 a 1773, que constitui o período focalizado na coleta e análise dos dados empíricos. A

idéia é traçar a trajetória histórica da ocupação da freguesia do Antônio Dias, constituindo

um conjunto de informações e conjecturas capazes de estabelecer nexos e subsídios para

compreensão das estratégias adotadas tanto na coleta e tratamento das informações, quanto

na análise preliminar dos indicadores focalizados no trabalho.

2.1 O passado demográfico de Minas Gerais

Ao longo de sua trajetória histórica, o território de Minas Gerais experimentou três grandes

ciclos demográficos: o primeiro deles, do início ao fim do século XVIII, caracterizado pela

ocupação e povoamento da região central do território mineiro (Souza, 1976). Este processo

originou-se de fluxos migratórios de sentido centrípeto decorrentes da atração exercida

pelas descobertas auríferas, ao final do século XVII, e teve como conseqüência direta a

interiorização do processo de ocupação da Colônia. A corrida do ouro, em Minas Gerais,

implicou na ruptura com um padrão de povoamento que, por trezentos anos, privilegiou,

exclusivamente, as áreas costeiras do território brasileiro (Holanda, 1995). Uma das feições

mais notáveis deste primeiro ciclo é o fato de que grande parte das áreas ocupadas

originalmente nas minas caracterizava-se como território vazio. Ao contrário do que se

acreditava até recentemente, não eram habitadas nem mesmo por tribos indígenas1. No caso

da comarca do Ouro Preto, as matrizes auríferas do Tapanhuacanga, que se estendem de

1 Naturalmente, a expressão “terra desabitada”, em referência à região das minas (ou seja, lavras de Vila Rica e Ribeirão do Carmo), não implica, necessariamente, em que fosse de todo desconhecida. De fato, há uma crescente concordância, por parte de historiadores regionais, de que a região era ponto de passagem freqüente de grupos preadores, em busca de escravos índios em regiões mais afastadas. Provavelmente, o mulato que encontrou os primeiros grãos de ouro na serra do Ouro Preto, conforme relatado por Antonil, não se encontrava ali por mero acaso, mas fazia parte de uma destas incursões preadoras de índios.

6

Mariana ao Passadez, no extremo leste de Ouro Preto, e as serranias do Itacolomi, que

delimitam as áreas de ocorrência de ouro, eram cobertas, apenas, pela vegetação rala dos

campos de altitude, configurando um território inóspito e estéril, incapaz de sustentar, de

caça e frutos, um agrupamento humano. A desconsideração deste aspecto essencial e a

imprevidência no provimento de meios de sustento puniram severamente as primeiras levas

de mineradores, tanto em Ouro Preto quanto em Mariana, que experimentaram períodos de

fome e penúria extremas, levando-os ao abandono temporário das lavras nos primórdios de

sua existência (Antonil, 1967).

As primeiras vilas deste ciclo foram instaladas em 1711, com a criação de três grandes

comarcas: Comarca de Ouro Preto, abrangendo Vila Rica e Ribeirão do Carmo, depois

cidade de Mariana, Comarca do Rio das Velhas, sediada em Sabará e Comarca do Rio das

Mortes, sediada em São João Del Rei (Barbosa, 1995). A Comarca do Serro do Frio,

sediada na mesma vila, foi desmembrada da Comarca de Sabará, em 1720 (Coelho, 1903,

p. 430). Estas comarcas definiam o território mineiro de então e delimitavam o território da

Capitania de Minas Gerais, desmembrado, em 1719, da Capitania de Minas e São Paulo.

No início deste período, as estimativas são de cerca de 2.000 a 3.000 pessoas para o número

inicial de habitantes (Oliveira, 1976), ao tempo do governador Artur de Sá, em 1702. Em

1709, em menos de uma década, Antonil (1967) calculava que a população das Minas

atingira cerca de 30.000 almas.

O segundo ciclo, também vinculado à mineração, resultou da dispersão populacional em

direção às fronteiras do território mineiro, em conseqüência do esgotamento das lavras de

ouro, caracterizando-se por fluxos migratórios de sentido centrífugo, a partir do final do

século XVIII (Souza, 1976). Ambos os processos distinguem-se, ainda, por aspectos

igualmente importantes: no primeiro ciclo, desenvolveu-se um processo de ocupação

essencialmente urbano e centrado na atividade mineratória, não obstante a diversificação

econômica gerada pela economia do ouro. No segundo ciclo, a economia se voltou para as

atividades agropecuárias, determinando um processo de ocupação predominantemente

rural. Neste caso, as vilas surgidas, neste período, reassumiram a função histórica de

centros meramente administrativos e comerciais, dependentes economicamente do campo.

Esta diferenciação de especialização econômica determinou o desenvolvimento de culturas

7

regionais bastante distintas, justificando os conceitos de regiões “das minas” e regiões “das

gerais”.

O terceiro ciclo caracteriza-se pela ocupação de territórios já povoados e pela relação com

os primitivos habitantes do território mineiro, no âmbito do processo de dispersão

populacional. Desde as cartas régias de 30 de julho de 1609 e de 10 de setembro de 1611

(Faria, 2005), promulgadas por Felipe III, a legislação colonial já admitia como legítimas a

soberania e a posse dos índios sobre as suas terras2. Assim, no século XVIII, as

escaramuças contra os índios eram toleradas, na medida em que estes pudessem ameaçar os

caminhos das minas e as próprias vilas mineradoras, no sentido da guerra justa. Desta

forma, reconhecia-se tacitamente a soberania indígena, ao admitir o direito de fazer guerra

ao Estado, conforme explicitado pela Carta Régia de 9 de abril de 1655, que diz,

textualmente:

“[entende-se] em guerra defensiva a que fizer qualquer cabeça ou comunidade, por que tem cabeça e soberania para vir fazer e cometer guerra ao Estado por que faltando esta qualidade a quem faz guerra, ainda que seja feita com ajuntamento de pessoas, os que se tomarem não serão cativos” (Faria, 2005, s.n.).

Em 9 de março de 1718, D. João V promulgou uma nova carta, declarando que os índios

“são livres, e isentos de minha jurisdição, que os não pode obrigar a saírem das suas terras,

para tomarem um modo de vida de que eles se não agradam” (Faria, 2005). Na prática, até

cerca de 1758 (Venâncio, 1997), o arraial de Guarapiranga, à entrada da Zona da Mata,

representou o limite da zona de mineração que, independentemente da legislação, foi

estabelecido apenas pela resistência feroz dos temidos “botocudos”3. Segundo Venâncio

(1997), “durante muitos anos impediram o avanço das hostes mineradoras, estabelecendo

uma fronteira militar sobre a fronteira econômica”, que representava o limite aceitável da

2 ... os gentios são senhores de suas fazendas nas povoações, como o são na Serra, sem lhes poderem ser tomadas, nem sobre elas se lhes fazer moléstia ou injustiça alguma; nem poderão ser mudados contra suas vontades das capitanias e lugares que lhes forem ordenados, salvo quando eles livremente o quiserem fazer.” Carta Régia, 10.9.1611 (Faria, 2005).

3 Nome genérico dado pelos coloniais aos índios bravios das tribos camancã, pataxó, maxacalis e puri-coroado.

8

expansão colonial. Uma Carta Régia, datada de 6 de maio de 1747, pede ao governador

Gomes Freire de Andrada informações sobre uma petição dos moradores de Guarapiranga,

em que se queixam dos “danos” recebidos do gentio bravo dos sertões vizinhos,

relacionadas, aparentemente, ao ataque aos índios, em 1746, liderado por João de Azevedo

Leme (Venâncio, 1997). Na mesma petição, os moradores pedem licença para entrar nos

sertões para conquistá-los e descobrir ouro, argumentando que os índios estavam na posse

das melhores terras. Assim, “todo aquele que se puser em guerra e for apanhado seja

captivo, não se podendo nunca vender e todos que forem mortos nas occasioens que vem

roubar, matar e queimar não se tirem devassas”4. O texto da carta não deixa dúvidas da real

motivação dos moradores: as “melhores terras” e “cativos”, acenando ao rei com a

perspectiva de mais descobertas de ouro, sem que daí resultassem punições. Qualquer que

tenha sido o desenrolar desta questão, o certo é que novas fronteiras foram fixadas, por

volta de 1758 (Venâncio, 1997). A partir de então, o aparecimento pontual de indivíduos5

do “gentio dos buticudos” nos registros paroquiais do Antônio Dias, a léguas de distância

de Guarapiranga, constituem uma evidência concreta do avanço inexorável sobre os sertões

mineiros, que culminou num quase completo desaparecimento da população indígena.

Completado praticamente o processo de ocupação do território mineiro, fundamentado,

sobretudo, na Lei de Terras de 18506, e num quadro de vigoroso crescimento demográfico,

Minas Gerais consolida, ao longo do século XIX, a sua posição de estado mais populoso do

Brasil (Relatório...,1854). Fechadas as fronteiras internas, no início do século XX7, a

4 Carta Régia de 6 de maio de 1747. Livro de Registros de Alvarás, Cartas e Ordens Régias – 1713, 1749, Cód. 10, fls. 84. APM – Arquivo Público Mineiro.

5 Por exemplo, o assento de batismo de Clara, inocente, do gentio dos “buticudos”, de 16 de dezembro de 1769, LB (Livro de Batizados) fls. 463v. e Bárbara, inocente, filha de Luísa Maria da Conceição, natural do gentio da terra, batizada na capela do Pelúcio, filial de N.S.ª de Nazaré de Cachoeira do Campo, datado de 11 de maio de 1764, LB fls. 329v.

6 Lei no 601, de 18.9.1850, regulamentada pelo decreto 1.318, datado de 30.1.1854.

7 Segundo Carrara (1999, p. 15), dada a sua grande extensão territorial, todo o vale do Rio Doce permaneceu, até a Primeira República, como uma extensa área de terras devolutas que, até aos primeiros anos do século XX, era coberta pela floresta tropical.

9

população excedente continuou sua busca por novas fronteiras, transpondo, finalmente, os

limites do estado e iniciando a longa tradição emigratória de Minas Gerais.

A FIG. 1 mostra a configuração da Capitania de Minas Gerais, em 1776, ou seja, próximo

do período de estudo.

2.2 O fisco e as contagens populacionais no Século XVIII

Tão logo se instalou o aparato administrativo colonial, as autoridades régias trataram de

efetuar contagens e censos da população, centrados, principalmente, na população escrava,

com a finalidade estrita de cobrança dos quintos e capitação. No sistema de capitação, o

imposto incidia sobre cada escravo da mineração, o que, por si só, já justificava o interesse

na exatidão de dados relativos ao plantel existente na mineração. Para Vila Rica, as

primeiras listas8 referem-se à cobrança de quintos, em 1714, seguidas pelas listas de

cobrança dos direitos de capitação de 1718 a 1720. Com relação aos demais habitantes,

existiam ainda as listas de contribuintes para obras diversas, como a de construção dos

quartéis, livros de registros de proprietários de imóveis urbanos (foreiros) e homens

brancos, com finalidade de alistamento militar. Paralelamente, a Igreja registrava róis de

confessados e relacionava, nas visitas pastorais, os povoamentos e número de habitantes e

“fogos”, também com fins de cobrança dos direitos eclesiásticos. Entretanto, não há notícia

de um censo propriamente dito, para o século XVIII, que abrangesse toda a população, nos

moldes do censo de 1804 (Mathias, 1969).

8 “Cópia da petiçam feita ao Senado da Camara de V.ª Rica e certidam que se passou em cumprimento do despaxo della de vinte e um de julho de mil setecentos e vinte e sete: Certifico que revendo os livros do registro desta Camara, nelle a fl. 9 e 31v se acha registado o lançamento dos 5.°s dos annos de 1717 para 1718 e deste para o de 1719, do qual lançamento consta importar o de 1718 ao todo noventa e seis mil e novecentos e sessenta e cinco oitavas procedidas de trinta e cinco mil e noventa e quatro < negros>, a razão de duas outavas e meia cada hum, e de novecentas e vinte três logeas a des outavas cada uma...” (Avulso da Coleção Casa dos Contos, Mic. 002, APM).

10

FIGURA 1 – Mapa da Capitania de Minas Gerais com a Divisão em Comarcas, 1776

Fonte: Mapa da Capitania de Minas Gerais, Joaquim José da Rocha, c. 1776. Arquivo Histórico do Exército, RJ

Curiosamente, não passou desapercebida aos inconfidentes de 1789, a grande importância

dos dados demográficos, como meio de arregimentar novos simpatizantes. De posse do

11

“Mapa dos habitantes atuais de Minas Gerais, no ano de 1776”9 (TAB. 1), de autoria de

José Joaquim da Rocha (1994), Tiradentes o utiliza como argumento poderoso para

demonstrar as proporções do universo mineiro e a plena viabilidade de um levante em

Minas Gerais. Oliveira (1976) atenta para o fato de que, nas devassas, muitas testemunhas

não se esqueceram nem dos números nem dos pormenores do referido mapa, o que atesta o

interesse despertado pelo assunto. De fato, o mapa de Rocha (Oliveira, 1976) passou a ser

referência obrigatória de autores contemporâneos e posteriores, contando-se, aí, Eschwege

(1979), entre outros clássicos da historiografia mineira.

TABELA 1 - Capitania de Minas Gerais, 1776: População por Comarca, Sexo e Raça/Cor, e Total de Nascimentos e Óbitos por Comarca

Vila Vila de Serro doRica Sabará Frio

49789 50091 60366 39395 1996417847 16277 8648 8905 416777981 7615 17011 8186 4079333961 26199 34707 22304 117171

28829 32690 39210 19399 1201284832 13649 5746 4760 289878810 8179 17225 7103 4131715187 10862 16239 7536 49824

78618 82781 99576 58794 319769

1944 2795 2501 1734 89741839 1839 1660 2270 6844

Fonte dos dados: Oliveira, 1976, p. 98 apud Joaquim José da Rocha

NascimentosÓbitos

Total

Brancas

Homens

PardasPretas

BrancosPardosPretos

Mulheres

Rio das Mortes

Total

ComarcasCaracterísticas

da População

Utilizando as listas de capitação e o censo das indústrias10, Eschwege (1979, p. 268)

estimou que, em 1742, um total de 10.000 famílias livres pagavam o censo das indústrias,

em Minas Gerais. Supondo-se que cada família tinha, em média, oito pessoas, estimou-se

9 Observe-se que as comarcas citadas abrangem, mas não correspondem aos termos citados como Cabeça de Comarca. Por exemplo, a comarca de Vila Rica abrange os termos de Vila Rica e da Cidade de Mariana, em 1776, esclarecendo que a palavra termo, na época, correspondia em significado e abrangência ao conceito moderno de Município.

10 Nome dado aos arrolamentos de lojas (botequins, vendas de gêneros da terra, lojas de tecidos e importados, etc) e tendas de ofícios mecânicos (alfaiates, ferreiros, serralheiros, sapateiros).

12

um total de 80.000 pessoas livres. Para esta mesma população, existiam 186.868 escravos,

de acordo com as listas de capitação. Em suma, a população da capitania, em 1742,

totalizaria 266.868 almas. Comparando seus números com as estimativas de Joaquim José

da Rocha (TAB. 1) e com os dados de 1821, Eschwege (1979) buscava demonstrar que a

importação de um número maior de escravos não era a causa principal do aumento da

população, já que, em 1742, havia 4.976 escravos a mais do que em 1821. Argumentava

que, se fosse reduzida a importação anual de escravos, a escravidão se extinguiria ao cabo

de 20 anos.

Segundo as estimativas de Eschwege, o número de escravos, em 1821, era de 180.000

indivíduos, número equivalente ao plantel de 1742, ou seja, crescimento nulo, num período

de 79 anos. Em contraposição, a população livre teria crescido de cerca de 52.900 pessoas,

no período de 1742 a 177611. O que se encontrava implícito nas assertivas de Eschwege

(1976) é que a população escrava estava sujeita a um regime de mortalidade muito alto e

fecundidade baixíssima, o que a conduziria, inexoravelmente, a uma gradual extinção. Isso

implicava em crescimento vegetativo negativo, excluindo a possibilidade da reprodução

endógena da força de trabalho cativa. Por outro lado, condições mais favoráveis, em relação

à população livre, promoviam um crescimento populacional constante, que, eventualmente,

preencheria o “vazio” populacional deixado pelos escravos desaparecidos. Sem entrar no

mérito do seu raciocínio, é interessante observar que Eschwege argumenta que a dinâmica

demográfica da população, dadas as tendências apresentadas pelas componentes

fecundidade e mortalidade, associada ao controle da migração (importação de escravos),

constituiriam o instrumento ideal de extinção da escravatura.

2.3 A Paróquia do Antônio Dias de Vila Rica

Caso único no processo de formação das vilas coloniais mineiras, Vila Rica formou-se pela

justaposição de vários núcleos de povoamento polarizados em torno de duas matrizes

11 Observe-se que Eschwege está comparando períodos de durações diferentes: 1742-1821, para a população escrava, e 1742-1776, para a população livre.

13

paroquiais: Ouro Preto e Antônio Dias. Ambos os arraiais foram fundados por bandeirantes

paulistas, mas, após a Guerra dos Emboabas e a derrota dos paulistas, os emboabas se

localizaram, preferencialmente, no núcleo de N. Sª do Pilar do Ouro Preto, deixando aos

paulistas o núcleo do Antônio Dias. Assim, cada paróquia assumiu uma feição própria,

tanto sob o ponto de vista de origem étnica, quanto sob o ponto de vista de especialização

econômica (Campos, 2003). Em Antônio Dias predominou a mineração de ouro e, em Ouro

Preto, a atividade comercial. Ao longo dos séculos XVIII e XIX, não obstante a unificação

das paróquias em uma única Vila, em 1711, a situação era de permanente dissenção entre

os dois núcleos, sob a forma de uma rivalidade contida, notável, não apenas em termos

econômicos, mas também em termos culturais e políticos.

Apesar das diferenças locais, o ordenamento da sociedade colonial obedecia a um padrão

cultural bastante homogêneo, resultante, sobretudo, da hegemonia da Igreja nas questões

concernentes à vida religiosa e privada de seus fiéis, sujeitos às rigorosas normas impostas

pelo Concílio de Trento. Assim, os habitantes estavam compulsoriamente vinculados à sua

freguesia, que registrava, com precisão, nascimentos, casamentos e óbitos, além de

heranças, inventários e alforrias12.

12 Praticamente todos os testamentos do século XVIII encerravam uma certa quantidade de legados pios à Igreja e irmandades leigas, além do costumeiro rol de missas a serem rezadas. Muitos testamentos nomeavam a alma como herdeira universal, ou seja, todo o montante da herança era convertido em missas e sufrágios pela alma do falecido, tanto que foram tornados ilegais durante o reinado de D. José I, pelo Marquês de Pombal, que não via com bons olhos o carreamento de grandes somas para o clero. Em suma, tais documentos constituíam provas necessárias para uma fonte de receita inestimável para a Igreja. Assim, os párocos se apressavam em registrar testamentos e inventários em livros próprios, embora a competência de julgar e executar as disposições testamentárias pertencesse às instituições judiciárias. A alforria mais comum era a libertação na pia batismal, de valor probatório suficiente, sob o ponto de vista jurídico.

14

FIGURA 2 – Planta Topográfica de Vila Rica. Divisão em Freguesias, Século XIX

Fonte: Avulso não inventariado do Arquivo Público Municipal de Ouro Preto. Reprodução fotográfica, autor desconhecido. Fins do Séc. XIX.

15

A freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Antônio Dias, uma das duas que

compunham o núcleo urbano do antigo termo de Vila Rica13, data dos primeiros anos do

povoamento, sendo que o registro sobrevivente mais antigo é de 1712. Foi elevada a vigaria

colada por carta régia de 16 de fevereiro de 1724, sujeita à jurisdição do bispado do Rio de

Janeiro (Trindade, 1928, p. 35). O termo de Vila Rica encontrava-se precisamente definido

pelos limites estabelecidos pela carta de sesmaria, datada de 27 de setembro de 1711, e que

configuram, ainda hoje, o distrito sede de Ouro Preto. Embora tenha sofrido um

considerável adensamento, desde então, manteve-se razoavelmente dentro de seus limites

históricos, assim como a morfologia e toponímia do arruamento e dos bairros14. A divisão

das freguesias foi estabelecida por uma linha imaginária, no sentido aproximado norte-sul,

que corta a rua Nova e a praça Tiradentes, em seu eixo longitudinal, seguindo pela Barra

até atingir o Morro do Cruzeiro (FIG. 2). A oeste desta linha fica a freguesia de Nossa

Senhora do Pilar do Ouro Preto (ou Ouro Preto) e, a leste, a freguesia de Nossa Senhora da

Conceição do Antônio Dias. Como esta divisão prevaleceu em todos os aspectos

administrativos, cartorários e eclesiásticos da Vila, constituirá o território adotado, neste

trabalho, como recorte espacial.

O recorte temporal, 1763 a 1773, se inscreve num período onde já se evidenciava a

decadência da economia baseada nas atividades de mineração (Ramos, 1990), marcado pelo

término do governo de Freire Andrada15. Nas décadas seguintes, verificou-se o abandono

gradual de lavras e a intensa emigração de moradores urbanos para as áreas rurais do termo

ou para outras localidades. Nesta época, a exploração das jazidas se tornou excessivamente

onerosa, envolvendo enormes despesas de capital e concentrando a propriedade de lavras

em mãos de uns poucos. Aos mineradores pobres restava o recurso do trabalho como

13 Segundo o cônego Raimundo Trindade, a primeira capela que se fundou no termo de Vila Rica, nesta mesma freguesia, foi a capela do Rosário (Padre Faria) fundada pelo Padre João de Faria Fialho, capelão da bandeira de Francisco Bueno, em 1699 (Trindade, 1928, p. 37).

14 Os bairros e logradouros e capelas filiais que constituem a freguesia, conforme se apresentam nos registros, no período de 1763 a 1773, estão relacionados no Apêndice.

15 O governador da capitania de Minas Gerais, Gomes Freire Andrada, faleceu em 1 de janeiro de 1763 (MAIA, 1972).

16

faiscador16, apenas para a subsistência. Um outro indício desta movimentação é dado pelo

aumento de registros17 de propriedades rurais, no período, que aponta para o dinamismo do

mercado de terras circunvizinhas, principalmente nos distritos de São Bartolomeu, Ouro

Branco (Rodeio) e Casa Branca. Nestas regiões, era comum a propriedade de dupla

destinação, em que, durante o período das chuvas trabalhava-se na mineração de ouro. Na

seca, plantavam-se roças para o sustento da escravaria, diversificando as atividades para

reduzir os custos cada vez mais altos das atividades de mineração.

16 É notável o fato de que esta ocupação não desapareceu de todo. Ainda hoje, em 2007, faiscadores trabalham regularmente no ribeirão do Carmo, no centro urbano de Mariana e em Passagem, utilizando a técnica de “canoas”, exatamente como se fazia no século XVIII.

17 Livros de notas da CSP (Casa Setecentista do Pilar, Museu da Inconfidência, Ouro Preto). Volume 0146, Cartório do 1º Ofício.

17

3. METODOLOGIA E OPERACIONALIZAÇÃO DAS FONTES E DE DADOS

Este capítulo apresenta uma descrição detalhada dos procedimentos metodológicos e

operacionais que nortearam a compilação dos dados disponíveis para a freguesia do

Antônio Dias, no período de 1763 a 1773. Para tanto, inicia-se a discussão apontando as

principais fontes de dados existentes para o estudo da dinâmica populacional de Minas

Gerais no século XVIII. Em seguida, expõe-se sucintamente a metodologia de

reconstituição de paróquias adotada neste trabalho, que precede a sistematização das

estratégias operacionais que pontuaram o caso específico de coleta e tratamento das

informações. Na seqüência, a atenção se volta para considerações acerca do grau de

cobertura dos registros. A análise preliminar dos dados, que permite cotejar sua coerência

interna e seus potenciais para análise visando a compreensão da dinâmica demográfica da

área em estudos, é realizada no capítulo subseqüente.

3.1 As fontes demográficas brasileiras: o caso de Minas Gerais

Nos períodos colonial e imperial, o Brasil se beneficiou de dois importantes legados: de um

lado, um sistema legal baseado no direito romano e, do outro, o regime do Padroado,

exercido dentro das rígidas normas do Concílio Tridentino, que produziram fundos

documentais extremamente ricos, em detalhe e abrangência, particularmente sobre a vida

quotidiana e as relações sociais. A Igreja manteve um sistema criterioso de registro dos

sacramentos e de eventos vitais, que compreendia, indiferentemente, a população livre e a

escrava dos territórios urbano e rural. Os arquivos do antigo Bispado de Mariana, que

cobria praticamente todo o território mineiro e as paróquias das quatro comarcas

primordiais de Minas Gerais reuniram um enorme volume de registros individuais, desde o

início dos Setecentos, sendo cruciais para a investigação da dinâmica demográfica do

território mineiro, praticamente desde o início do processo de ocupação. Os arquivos

cartoriais e judiciários custodiam outros tantos processos cíveis e criminais, testamentos,

18

inventários, escrituras, manumissões, contratos e outros documentos que guardam uma

função central, dentro do direito romano, que prevaleceu no sistema judiciário colonial e

além. A cargo da administração local ficaram os livros de tombos foreiros, que dão conta

da distribuição espacial da população, os registros de crianças abandonadas (expostos),

sustentadas pelas Câmaras, as licenças de vendas e de oficiais de diversas profissões, listas

de guardas nacionais, votantes e eleitores do Império, registros de emancipação de escravos

e muitos outros.

No entanto, os mais de dois milhões de documentos que constituem a famosa coleção Casa

dos Contos, distribuídos pela Biblioteca Nacional, Arquivo Nacional e Arquivo Público

Mineiro, compreendendo o período de 1701 aos últimos anos do Império, são os que

encerram a maior diversidade de fontes de interesse demográfico, produzidas sob o ímpeto

fiscalista e tributário da Coroa – registros de escravos, folhas de pagamento militar dos

quartéis de dragões e milícias, funcionários régios e os raros censos do período colonial. Os

registros de entrada da Capitania, localizados em pontos estratégicos dos caminhos de

Minas, registravam minuciosamente pessoas e cargas, numa base diária. Desta forma,

podemos conhecer tanto as listas de medicamentos dos boticários quanto os livros dos

doutores e dos artistas, músicos e artesãos, ao lado das sacas de feijão, botijas de vinho e

azeite, preciosas para estudos tão diversos como os de medicina colonial, história das

idéias, de educação e alimentação. Ao mesmo tempo, os registros de pessoas são uma fonte

importante para conhecer a mobilidade populacional ao longo do tempo, fornecendo

subsídios para uma investigação de importação de escravos e correntes migratórias

regionais e internacionais.

De fato, a riqueza e a diversidade deste fundo arquivístico se explicam não apenas pela

inércia burocrática, habituada a guardar todo e qualquer escrito, mas pela voracidade

tributária que obrigava a que tudo que gerasse impostos ou despesas fosse minuciosamente

discriminado, de feixes de capim para os animais dos quartéis, itens de consumo da cozinha

e da armoraria dos quartéis, às contas do hospital real e, evidentemente, os registros de

fundição e arrecadação dos quintos de ouro e diamantes. Na mesma linha, também

contribuíram para a criação e manutenção de fontes de informações a preocupação

constante com o contrabando, a falsificação de moeda e a sonegação de arrematantes de

19

contratos de dízimos, como atestam os processos de contratadores como João de Souza

Lisboa e José Rodrigues de Macedo. A Coleção Casa dos Contos tem sido alvo dos maiores

esforços das instituições custodiadoras no sentido de torná-la acessível aos pesquisadores e,

recentemente, foi inteiramente microfilmada. Antes disso, o Arquivo Nacional publicou,

em 1969, a transcrição do censo de 1804, de Vila Rica, executada pelo historiador

Herculano Gomes Mathias (Mathias, 1969), além de uma descrição sumária da

documentação da Casa dos Contos, do mesmo autor. No entanto, os censos das freguesias

rurais como Casa Branca, Congonhas e São Bartolomeu e da cidade de Mariana, também

de 1804, ainda aguardam iniciativa semelhante. Por sua vez, a Biblioteca Nacional

disponibilizou um catálogo analítico da coleção, através da internet, o que tem contribuído

para divulgar o seu conteúdo, favorecendo, em muito, as pesquisas ligadas à história

regional. Um conjunto completo de microfilmes está disponível, para consulta, no Centro

de Estudos do Ciclo do Ouro da Casa dos Contos, em Ouro Preto.

Considera-se que as vilas mineradoras do século XVIII, de modo geral, satisfazem ao

primeiro requisito básico de quaisquer métodos de análise da demografia histórica, que é, a

partir da segunda metade do século XVIII, a existência de registros paroquiais de boa

qualidade, numa dimensão quase trissecular e, na maioria dos casos, dentro de territórios

precisamente delimitados, ao longo deste período. Em outros casos, os registros cobrem,

pelo menos, algumas décadas do século XVIII, em função da dispersão ou desaparecimento

de parte dos documentos, sendo mais satisfatória a situação para os séculos XIX e XX. Sob

outros aspectos, a aplicação direta do método de reconstituição de famílias (Henry, 1977),

neste contexto, é inviabilizado, em primeiro lugar, pelo tamanho das paróquias, que

superam largamente as paróquias européias em área e habitantes, e pela inexistência de

censos, a não ser parcialmente e para umas poucas datas. Em segundo lugar, a sociedade

mineira é extremamente mais complexa que suas congêneres européias, não apenas em

função da elevada mobilidade de sua população, mas por seu caráter multirracial e pelos

aspectos formais do regime escravista, que tornam quase inaplicáveis muitas das

considerações teóricas convencionais sobre os processos de formação de família (Livi-

Bacci, 1977).

20

Assim, mesmo em vista da boa qualidade dos registros paroquiais, a partir de cerca de

1750, o estudo de variáveis tais como nupcialidade, fecundidade, bem como a obtenção da

estrutura etária de grande parte da parcela escrava e liberta da população, se torna bastante

limitada pela exigüidade dos dados de idade, em função do regime escravista e da alta

mobilidade da população. Sabe-se que os escravos adultos, batizados em Minas, eram

muito jovens, a se julgar por fontes alternativas aos registros de batismo e óbitos de

escravos adultos e pelos raros registros paroquiais que têm a idade presumida, como no

caso que se segue:

“Aos vinte dias do mês de janeiro de mil setecentos e quarenta e três, nesta Igreja Matriz de N.S. do Pilar do Ouro Preto, batizei e pus os santos óleos a Francisco adulto, de nação ladano, alto, espigado de corpo com seus sinais pelas fontes e maçãs, bonito de cara e azevichado, de idade de 17 anos, pouco mais ou menos, escravo de José Coelho, preto forro, morador na rua da Casa da Câmara. Foram padrinhos Manoel, escravo do capitão mor Antônio Ramos dos Reis e Tereza Lopes, preta forra, de que fiz este assento. (as) O vigário Pedro Leão de Sá. Livro de Batizados da Paróquia do Pilar, Microfilme 27, fólio 84, APP)”.

Entretanto, para a esmagadora maioria deles, os registros de batismo são inexistentes, tanto

localmente quanto na própria região de origem, podendo-se recorrer a outras fontes18, como

inventários e listas nominativas, para recuperar dados de idade, ao menos parcialmente.

Para os imigrantes portugueses a situação também não é favorável, mas teoricamente, os

dados também podem ser recuperados em pesquisas, nas paróquias de origem, em sua

maioria nas províncias portuguesas do Minho e Douro. Uma terceira limitação se refere ao

grande número de nascimentos ilegítimos e uniões informais. Nem sempre é possível

determinar se um nascimento ilegítimo é fruto de uma união estável ou fortuita, já que o

grau de identificação de paternidade é bastante variável, seja em função da posição social

dos envolvidos ou de uma tendência mais ou menos moralista ao tempo do registro ou do

pároco em questão. Para o caso da nupcialidade escrava, podem-se aplicar técnicas de

estudo de caso e análise micro-demográfica, com o objetivo de identificar e descrever as

18 Entre os registros documentais que declaram a idade de moradores, escravos entre eles, contam-se os inventários post mortem, listas de membros dos regimentos de milícia, escrituras de compra e venda de propriedades e escravos, escrituras de perfilhamento e alforrias.

21

formas de união e formação de famílias, desconsiderando, sobretudo, a definição

reducionista do matrimônio católico europeu como modelo único de casamento.

3.2 A metodologia de reconstituição de paróquias

Elevadas proporções de uniões consensuais (concubinato) e ilegitimidade constituem

alguns dos traços característicos da população brasileira no período colonial, como no caso

da freguesia do Antônio Dias, no período 1763/1773. Tais características acabam por

dificultar ou muitas vezes inviabilizar a adoção da técnica de reconstituição de famílias,

pois se aplicadas ao contexto colonial brasileiro deixariam de computar aqueles indivíduos

nascidos fora do matrimônio convencional. Uma situação similar a esta foi encontrada por

Amorim, nos seus estudos para Portugal, levando-a a desenvolver, na Universidade do

Minho, nos finais dos anos 80,uma metodologia de reconstituição de paróquias, com base

na utilização da proposta de reconstituição de famílias de Henry (1977). Portanto, a análise

dos registros paroquiais constitui a base deste trabalho, por ser aquela que melhor se adapta

aos existentes para o período colonial brasileiro, propiciando o cruzamento com outras

fontes e informações diferentes dos registros de nascimentos e óbitos.

O primeiro procedimento consiste na coleta e sistematização dos dados fornecidos pelos

registros paroquiais, formando fichas de famílias, pelo cruzamento dos dados dos registros

paroquiais de batizados, casamentos e óbitos. Como passo seguinte, procede-se à

desagregação dos filhos de cada família, em uma série de fichas individuais, à qual são

anexados os não-naturais, com o propósito de formar um banco de dados de residentes

(Amorim et al, 2001). Desta forma, procura-se remover um dos grandes obstáculos à

aplicação da metodologia de Henry, representado pela ausência de normas de transmissão

de sobrenomes familiares (Marcílio, 1973), tanto em Portugal quanto no Brasil.

Este procedimento permite o tratamento equânime dos indivíduos batizados como

ilegítimos que, de outra forma, seriam excluídos de análises baseadas em unidades

familiares formadas de maneira convencional, ou seja, por pais formalmente casados e seus

descendentes. Desta forma, as famílias passariam a ser indexadas pelo nome próprio do

indivíduo e não por sobrenomes. Em outras palavras, ao invés de “Família Rodrigues”, as

22

fichas trariam apenas “João Gomes Rodrigues”. Tal metodologia foi algo adaptada,

levando-se em conta o regime escravista e a alta mobilidade populacional, pois a Paróquia

do Antônio Dias integra um contexto urbano-minerador escravista, não encontrável em

populações contemporâneas do Antigo Regime, incluindo Portugal.

Em vista do volume elevado de mulheres solteiras nesta população, as fichas foram

estruturadas tendo a mulher como principal elemento indexador, categorizadas como

naturais e não naturais. Assim, nos exemplos abaixo, as fichas básicas foram elaboradas

como se segue:

Exemplo 1: Juliana dos Anjos da Conceição, crioula forra casada, legítima, moradora

na rua Direita do Antônio Dias. Natural da Paróquia.

1) Mãe: Antônia Martins Filgueira, casada com Simão de Amorim e Sá, ambos pretos

forros;

Registro de Batismo: 15 de janeiro de 1742 (Livro de Batismo fls. 25);

Arrolada no censo de 1804, p. 15, como tendo 50 anos, ou seja, nascida em 1754.

2) Casada em 26 de abril de 1757 com Alberto da Costa Reis, crioulo forro, nascido no

Pilar, Ouro Preto, filho natural de Catarina da Costa Reis.

3) Filhos nascidos entre 1763 e 1773

• Jacinto: nascido em 2 de julho de 1767 (LB fls. 414v);

• Cipriana: nascida em 26 de setembro de 1769 (LB fls. 460);

• Saturnino: nascido em 29 de novembro de 1770 (LB fls. 478);

• Simão: nascido em 6 de fevereiro de 1773 (LB fls. 1).

Exemplo 2: Leandra de Souza Coelha, crioula forra solteira, filha natural, moradora

no Palácio Velho. Natural da Paróquia.

1) Mãe: Luísa, escrava de Feliciana Coelha;

Registro de batismo: 19 de janeiro de 1738, LB fls. 153.

23

2) Solteira.

3) Filhos nascidos entre 1763 e 1773:

Luciana: nascida em 18 de outubro de 1763 (LB fls. 4v);

• Hilário: nascido em 22 de dezembro de 1765 (LB fls. 370);

• Feliciana: nascida em 3 de maio de 1773 (LB fls. 4v).

Exemplo 3: Maria Clara, exposta, casada, moradora na rua dos Paulistas. Natural da

freguesia da Sé, Mariana.

1) Pais incógnitos;

Registro de batismo: Sé de Mariana.

2) Casada antes de 1762 (possivelmente em Mariana) com João Francisco de

Andrade, natural de Santa Maria das Ilhas, bispado de Angra, filho legítimo de

Manoel Soares e Josefa de Andrade, naturais de Santa Maria das Ilhas.

3) Filhos nascidos entre 1763 e 1773:

• Manoel: nascido em 19 de setembro de 1763 (LB fls. 318);

• Francisco: nascido em 16 de junho de 1765 (LB fls. 357v);

• Manoel: nascido em 19 de maio de 1767 (LB fls. 412);

• Carlos José: nascido em 16 de janeiro de 1769 (LB fls. 448v);

• Mariana: nascida em 18 de junho de 1770 (LB fls. 471v);

• José: nascido em 18 de março de 1772 (LB fls. 502).

4) Filhos falecidos entre 1763 e 1773

• Mariana: falecida em 17 de dezembro de 1764 (LO fls. 331) (Nascida antes de 1763);

• Manoel: Faleceu em 28 de setembro de 1765, LO fls. 355 (Nascido em 1763).

24

Os fichários de homens solteiros sem vínculos familiares, naturais ou não, são organizados

de maneira similar àquelas das mulheres. Estes registros vão sendo enriquecidos à medida

que se acrescentam informações acessórias, encontradas nos registros paroquiais e demais

registros, tais como ocupação/ profissão do titular ou cônjuge, relação de escravos

possuídos pelo titular ou cônjuge, propriedades, mudança de endereço, alforria, indícios de

mobilidade, irmandades a que pertencem e assim por diante. Assim, torna-se possível

acompanhar as trajetórias de vida de cada residente na paróquia. Numa perspectiva de

longa duração, com cruzamento de dados e informações provenientes de variadas fontes,

atribuídos a cada indivíduo, pode-se também verificar a permanência na paróquia de

determinadas famílias e grupos sociais, através do encadeamento genealógico construído

pelo acréscimo de netos, bisnetos e sucessivas gerações. Da mesma forma, a metodologia

de reconstrução de paróquia propõe que, dentro destas unidades de análise, é possível,

ainda, examinar o comportamento da mortalidade infantil e adulta, mobilidade por sexo e

idade, celibato feminino e idade ao ter o primeiro filho.

Embora a paróquia seja de pequenas dimensões, o banco de dados produzido reúne

milhares de fichas pertencentes a indivíduos de sucessivas gerações. A grande vantagem do

método é permitir que essa informação seja organizada de tal forma que o indivíduo possa

ser acompanhado, não apenas em sua trajetória pessoal, mas inserido na família e no seu

grupo social. Assim, análises longitudinais micro-demográficas podem identificar

continuidades e rupturas no comportamento das variáveis demográficas, ao longo do

tempo, assim como detectar deficiências provenientes dos dados. Como exemplo, cita-se o

registro de intervalos intergenésicos longos, incomuns sob o pressuposto de vigência de

fecundidade natural, na correção de subregistros de nascimentos ou, pelo contrário, para

identificar evidências de uso de meios de contracepção. Nesse caso pode ter havido aborto,

natural ou provocado, ou ainda o nascimento de um(a) filho(a) que faleceu antes de ter sido

batizado(a)19. No caso da migração, fontes como os controles de entrada e saída nos postos

de registros da Capitania podem fornecer informações importantes sobre a mobilidade da

19 Como não há registro de batismo, essas crianças não são registradas e, portanto, é como se não tivessem nascido.

25

população, assim como os róis de confessados, que atestam a presença ou ausência dos

residentes, numa determinada data.

Ainda assim, a demografia histórica representa um duro desafio, na medida em que se

dispõe a examinar o comportamento das variáveis demográficas em escalas muito

reduzidas. Não obstante, referindo-se à dificuldade de consenso na interpretação de dados

macro para a explicação tanto da transição da fecundidade quanto da mortalidade, na

Europa Ocidental, Barbosa (2001) lembra que

“as variações locais, à escala micro, mostram uma multiplicidade de histórias da mortalidade, com as múltiplas famílias, e cujo significado complexo se perde na informação de um só índice resumo global. A possibilidade de se fazer história da mortalidade numa escala muito pequena pode trazer problemas de flutuações aleatórias, mas também pode trazer informação, elementos de resposta, acerca de como uma população real “vive” as mudanças antes, durante e depois da transição demográfica, permitindo compreender do “interior” das famílias o funcionamento das influências que levam à morte de uma criança” (Barbosa, 2001).

3.3 Os registros paroquiais do Antônio Dias: coleta e tratamento dos dados

A partir da primeira metade do século XVIII, os registros se apresentam bastante regulares,

sem lacunas perceptíveis, ou seja, com registros espaçados por intervalos de dois ou três

dias, no máximo, num encadeamento cronológico excelente, seja entre registros, seja entre

as folhas ou na sucessão dos livros. A única lacuna encontrada, para o período estudado, foi

a falta dos fólios 426 e 427 do livro de registros de batizados, referente ao período de 9 a 31

de janeiro de 1768. Segundo a média de registros por folha, esta lacuna responde pela falta

de 14 a 16 registros de batizados, o que corresponde a menos de 1% do total de registros

para o período de 1763 a 1773. Ainda nos registros de batismo, foram observados dois

casos de erros de numeração nas folhas (falta dos números 328 e 329 e repetição dos

números 330, 357 e 472). Entretanto, a seqüência das datas de registro e o estado geral do

volume não indicam a existência de lacunas20 neste ponto. Um outro engano verificado foi

20 O último registro da folha 327v está datado de 22 de abril de 1764 e o primeiro, da folha 330, de 23 de abril de 1764.

26

a repetição literal de alguns registros, também excluídos. Quanto à legibilidade, não houve

registros totalmente ilegíveis, mas com alguns elementos apagados, como datas de

nascimento (com a data de batismo legível), nomes do pai, padrinhos ou senhores de

escravos, o que não os tornou necessariamente inaproveitáveis21, sendo que a maioria

destas ocorrências encontram-se entre as folhas 359v e 361v do livro de batismo. Como tal,

foram eliminados apenas aqueles em que não foi possível recuperar os nomes das mães ou

datas de batismo e nascimento, para o caso específico da análise do número médio de

filhos. Em geral, os problemas mais recorrentes referem-se ao caráter mais sucinto dos

assentos referentes a escravos e pessoas de baixa condição social, especialmente no que se

refere à filiação. Os filhos de mulheres solteiras, nascidas na paróquia, crioulas ou pardas,

livres ou escravas, raramente tinham os nomes dos avós incluídos, embora a Igreja o

exigisse.

Os registros paroquiais de óbitos sofrem restrições semelhantes às observadas para os

registros de nascimentos, faltando a folha com a numeração 436-436v, não sendo possível

saber se se trata apenas de um erro de numeração 22. Há apenas dois registros ilegíveis de

óbitos de recém-nascidos batizados em casa, em que não foi possível identificar a mãe, no

período estudado. Por outro lado, há registros de óbitos de recém nascidos batizados em

casa, em que, sendo escrava, a mãe não é identificada pelo nome, declarando-se apenas

“filho de uma escrava de Fulano...”. Quanto a subregistros, somente óbitos de cristãos eram

registrados, pois a Igreja não se ocupava do enterramento dos que faleciam pagãos, fossem

adultos ou inocentes, que eram sepultados nos campos ou nos matos, em terra não

consagrada. No caso dos cristãos, entretanto, sobretudo os inocentes, há um intervalo de

tempo muito curto entre o registro de batismo e o registro de óbito, da ordem de até 10

anos. Neste caso, há a vantagem adicional de que, normalmente, foi o mesmo padre

escrivão a redigir ambos os registros, conferindo uniformidade aos elementos dos textos e

reduzindo a possibilidade de erros de identificação.

21 Quando o registro se referia, por exemplo, a pessoas casadas, se o nome da mãe era legível, era possível conhecer o nome do pai, consultando-se outros assentos.

22 O último registro da folha 435v está datado de 4 de fevereiro de 1764. O primeiro registro da folha 437 está datado de 9 de fevereiro de 1764, sendo mais provável um erro de numeração, pois não era comum ocorrer óbitos suficientes para preencher frente e verso de uma folha num intervalo tão curto (4-5 dias).

27

3.4 Coleta de Dados

A ficha de coleta de dados foi modelada nos próprios textos dos registros, que contêm as

seguintes informações:

- Local e data do batismo, óbito ou casamento;

- Prenome do batizando, falecido ou noivo; categoria inocente/ adulto/ exposto;

- Nação e nome do senhor, se escravos;

- Naturalidade do falecido ou noivo (freguesia de nascimento e origem);

- Filiação legítima ou natural, nome e naturalidade dos pais. Se filho de escravos, nome dos

senhores. Em famílias de maior projeção social, nome e naturalidade dos avós, em registros

de batismo e casamento;

- Endereço;

- Nome do padrinho e madrinha, em registro de batizados (eventualmente: estado civil,

condição, endereço e profissão). Nem todos os batizandos têm ambos os padrinhos. Às

vezes, a criança é dedicada a um santo, no caso do padrinho, ou a uma santa, no caso da

madrinha, personificados, na cerimônia, pelas coroas ou esplendores.

Os registros paroquiais se conformavam às normas prescritas pelas Constituições Primeiras

do Arcebispado da Bahia, que incorporam as diretrizes do Concílio de Trento, e

fiscalizadas periodicamente pelo bispado do Rio de Janeiro, seja através do próprio prelado

ou pelos visitadores oficiais da Diocese. A partir de 1750, com a fundação do bispado de

Mariana, as visitações eram feitas, na maioria das vezes, pelo próprio bispo. Numa destas

visitações, ainda sob a jurisdição do Rio de Janeiro, o visitador registrou no livro de

batizados da Paróquia, após o exame, instruções para os assentos de batizados:

“Vistos em visita. Mandamos que, nos assentos deste Livro, se ponha o dia em que nasceram os batizandos e os nomes dos pais e avós e ainda o apelido deles, e rua ou lugar onde moram, e toda a mais clareza que se pode descobrir, para que a todo tempo conste, e que o Reverendo Vigário

28

faça, por sua letra, os assentos daquelas pessoas que forem por eles batizados. Vila Rica, 24 de março de 1743” (LB, fls. 45v).

Contudo, nem todos os registros continham as informações necessárias, razão pela qual o

visitador voltava a admoestar os párocos:

“Visto em visita e o Reverendo Pároco faça os assentos de batizados na forma que se lhes temos determinado declarando neles os avós paternos e maternos, podendo haver conhecimento deles e fazendo os batismos no termo de oito dias depois de nascidos. Antônio Dias, de Outubro 3 de 1753” (LB, fls. 169v).

Entretanto, de um modo geral, os registros do período estudado foram redigidos de acordo

com as normas, sendo raros aqueles em que o dia de nascimento, pais, avós e local de

moradia não eram informados. Apenas os registros de escravos africanos não contêm a

filiação e, no caso dos inocentes filhos de escravos crioulos ou de forros, raramente se

informa o nome dos avós.

No caso dos registros de casamentos e de óbitos não há, no período estudado, reparos feitos

por visitadores, quanto à forma de registro das informações.

3.5 Procedimentos de identificação de indivíduos

Para se identificar com segurança cada indivíduo arrolado nos registros de batismo, os

dados dos assentos foram confrontados, em primeiro lugar, com dados anteriores ou

subseqüentes dos próprios livros de batismo. Em geral, a ocorrência de vários batizados de

filhos de uma mesma mulher favorece a identificação pela combinação de elementos

repetidos nos registros, tais como cor, senhor, endereço, naturalidade, nome da mãe e nome

do cônjuge, sem necessidade de se recorrer a fontes complementares. As maiores

dificuldades encontradas referem-se ao acréscimo ou supressão de um nome ou sobrenome.

Assim, freqüentemente encontram-se casos como “Manoel Francisco casado com Tereza

Rodrigues de Souza” e “Manoel Francisco Campos casado com Tereza Rodrigues” ou

simplesmente “Tereza, mulher de Manoel Francisco”. Entretanto, como o universo é

reduzido, as probabilidades de haver mais de um casal Tereza – Manoel Francisco são

poucas. Caso existam, confrontam-se as datas de casamentos, de nascimentos dos filhos,

29

observando se há coincidência de nascimentos, no mesmo ano, de mães homônimas,

diferença de endereços e critérios na escolha de padrinhos. Isso não exclui a possibilidade

de alguns enganos do escrivão, como no caso de Antônia Martins de Carvalho, casada com

Manoel da Mota Moreira, que tiveram sua filha Maria, falecida ao nascer, atribuída, no

livro de óbitos, a “Ana Martins de Carvalho casada com Manoel da Mota Moreira”. Em

outras palavras, quanto maior o volume de dados, melhor a possibilidade de detecção de

equívocos e melhor a qualidade da informação obtida.

Para identificar as idades de um certo percentual de mulheres, a fim de obter informações

referentes ao padrão etário da fecundidade, foi preciso retroceder algumas décadas nos

registros, até o nascimento das mulheres que tiveram filhos entre 1763 a 1773. Tendo em

vista que o período reprodutivo feminino vai dos 15 aos 50 anos, as mulheres que iriam

completar 50 anos em 1763 teriam nascido em 1713. Dada a enorme mobilidade dos

primórdios do povoamento, que corresponde a uma quase total transplantação da população

de outras regiões, e à inexistência de estruturas administrativas e cartoriais que fornecessem

informações mínimas sobre os indivíduos, não poderia haver a pretensão de completude.

Somente a partir de 1720 os registros eclesiásticos começam a se apresentar mais regulares,

embora ainda sujeitos a erros de identificação. Provavelmente, os vigários ainda não

conseguiam conhecer bem os novos paroquianos, numa época de chegadas cotidianas de

aventureiros e seus escravos. As crioulas forras e pardas forras, sem sobrenome e sem

referência, sugerem que eram recém-chegadas e não se lhes podia atribuir, socialmente,

sobrenomes que as ligassem aos antigos senhores (ou “patronos”).

Para algumas mulheres de gerações mais antigas, nascidas na paróquia, foi possível

identificar as datas de nascimento. Nas gerações das décadas de 1730 a 1750, os resultados

foram melhores, cruzando-se dados do próprio livro de batizados. Como exemplo, Albina

crioula, escrava de José Fonseca Cabeça, batizou sua filha Ana, em 30 de janeiro de 1763,

conforme assento à folha 301v, tendo como endereço a rua Detrás. À folha 363v, encontra-

se outro assento, relativo ao batizado de Joana, filha de Albina crioula, escrava de José

Fonseca Cabeça, moradora na rua Detrás. No livro I, à folha 47v, encontra-se o registro de

batismo de uma crioula chamada Albina, escrava de Francisca Maria de Brito, na data de 5

de maio de 1743. Não se encontrou nenhum outro registro de batismo referente ao nome

30

Albina, tratando-se, provavelmente, da mesma escrava. Finalmente, um registro de batismo

de uma menina chamada Francisca, em 27 de julho de 1766, à folha 390v, esclarece que a

mãe, Feliciana Angélica, é filha de Francisca Maria de Brito, e casada com José da Fonseca

Cabeça. Em suma, Francisca Maria de Brito e José Fonseca Cabeça são sogra e genro.

Sendo assim, Albina poderia ser considerada como pertencente à família, assim como sua

mãe, Ana, podendo ser atribuídas a uma ou a outro, por diferentes párocos.

Quando os dados de batismo são muito sucintos, como por exemplo, “Ana, filha de Maria,

parda forra”, em registros mais antigos, o processo é um pouco mais complexo. É preciso

eliminar todas as Anas crioulas e brancas que também sejam filhas de Maria, identificando-

se as que forem possíveis, pelo primeiro procedimento e pelos critérios usuais de formação

de sobrenomes. Em vista do regime de mortalidade vigente no período de referência, pode-

se considerar, ainda, que muitas faleceram em tenra idade. Assim, o procedimento adotado

foi o de verificar os registros de óbitos das Anas pardas, filhas de Maria, ocorridas desde as

datas de batizado. Suprimindo-se todas as identificadas, a que restar, geralmente uma

apenas, deve ser a Ana desejada. Neste trabalho, como não houve a pretensão de identificar

a data de nascimento de todas as mulheres, tais casos não foram trabalhados extensamente,

examinando-se apenas uma amostra não probabilística. Da mesma forma, no caso de

mudança de senhorio seria necessário estabelecer um vínculo entre o primitivo senhor de

escravos e o seu sucessor, para saber se o escravo em questão se trata desta ou daquela

pessoa. O escravo pode ter sido dado a um filho, como no caso de Albina, ou passar a um

herdeiro, no caso de morte. É o que ocorreu com Genoveva, filha de Francisca, escrava de

Bernardo da Silva Ferrão, nascida em 29 de junho de 1749. Em 1768, Genoveva batizou

sua filha Maria, tendo como senhora D. Joana Rosa Marcelina de Seixas, filha do Dr.

Bernardo, que falecera em 1764.

Quando houve mudança de senhor e não se pôde estabelecer esta relação, de imediato, os

casos foram deixados de lado, para efeito de identificação da idade da escrava crioula. As

escravas africanas não foram cogitadas, neste caso, com maior razão. Nascidas, em sua

maior parte, em sociedades sem estado, não se poderia pretender que tivessem registros de

nascimento. Similarmente, as mulheres livres nascidas e registradas em outras paróquias

31

foram excluídas, em função da dificuldade de acesso aos seus registros, focalizando apenas

as nascidas na Paróquia do Antônio Dias e uma ou outra da Paróquia do Pilar.

Quando houve manumissão, o pároco pode ter mencionado o antigo senhor e a forma de

alforria, como no caso de “Felícia Ribeira de Carvalho23, crioula quartada de Manoel

Ribeiro de Carvalho”. Em outros registros assinalou, hipoteticamente, apenas Joana mina,

preta forra, “que foi escrava de Fulano Ferreira Gomes”, e que poderia ter reaparecido nos

registros como Joana Ferreira Gomes, preta mina forra.

Em suma, as dificuldades encontradas para o estabelecimento de indicadores demográficos

suficientes para uma análise mais acurada referem-se não só ao caráter lacunar dos registros

paroquiais, nos dois primeiros decênios do século XVIII, mas também porque o

crescimento demográfico, nesta época, ocorreu essencialmente pela transposição de grupos

de diferentes origens e etnias, em sucessivas ondas migratórias, e para os quais não havia

registros cartoriais locais. Desta forma, o crescimento populacional inicial não se fez por

fatores decorrentes dos processos naturais e biológicos, ou seja, por crescimento vegetativo,

sobretudo porque havia um formidável desequilíbrio entre o número de homens e mulheres,

notadamente na população escrava, o que explica parcialmente o reduzido número de

casamentos e nascimentos neste segmento populacional.

No rol de pagadores de quintos de 171424, para o arraial de São Bartolomeu, foram

arrolados, para um total de 1332 escravos, 1160 homens adultos para 87 mulheres,

excluindo-se os fugidos, incapazes, índios e crianças. Em termos proporcionais, 87% do

total eram homens adultos, contra 6,5% de mulheres adultas. Entre as poucas crianças

arroladas transparece o mesmo desequilíbrio, sendo 19 meninos, contra apenas duas

meninas. A historiografia do período colonial mineiro tem comprovado que estas condições

permanecem preponderantes no decorrer de praticamente todo o século XVIII (Luna e

Costa, 1982). No Antônio Dias, os livros de batismo de escravos adultos africanos, no

período de 1763 a 1773, registram 260 batizados de homens e apenas 22 mulheres, ou seja

23 Registro datado de 25 de setembro de 1771, Livro de Batizados da Paróquia do Antônio Dias, fls. 492.

24 Rol de proprietários de escravos do arraial de São Bartolomeu, termo de Vila Rica, 1714. Microfilme 004 – Avulso da Coleção Casa dos Contos, APM.

32

92,2% de homens, contra apenas 7,8% de mulheres. Assim, os imigrantes livres e cativos

tiveram grande peso na reposição de falecidos e emigrados, mas também no aumento do

estoque populacional, verificado desde o início do povoamento.

3.6 Considerações sobre os graus de cobertura dos vários registros

Para identificar problemas de cobertura foram utilizadas, além das informações paroquiais,

algumas fontes alternativas na identificação de possíveis omissões. Assim, levou-se em

consideração três casos distintos: (a) crianças recém-nascidas, batizadas como inocentes;

(b) crianças menores de 15 anos, que ainda não participavam ativamente da vida religiosa

ou civil, sendo, por esta razão, pouco citadas nos registros paroquiais; (c) adultos maiores,

ou seja, acima de 15 anos e que poderiam ser representados, nos registros, como noivos,

pais, padrinhos, avós e batizandos adultos. Somando-se todos os indivíduos batizados e os

citados nos registros de óbitos e fontes suplementares, como fregueses do Antônio Dias, e

estimando-se a população de menores de 15 anos25, obteve-se um efetivo, grosso modo, da

ordem de 7 a 8.000 residentes na Paróquia, no período de 1763 a 1773.

3.6.1 População infantil

Neste segmento, o subregistro refere-se aos nascimentos e óbitos de nascidos vivos não

batizados, quando não eram objeto de consideração pela Igreja, que só se ocupava dos

cristãos, justificando a omissão de óbitos de adultos e crianças pagãs. Assim, o nascimento

não seria registrado, pois a ocorrência de tal evento só se oficializaria na cerimônia do

batizado. A existência do indivíduo, evidenciada pela ocorrência do óbito, também não

poderia ser registrada, pois o enterro se daria fora da jurisdição da Igreja, sem cerimônia ou

liturgia, em terreno não consagrado. Neste caso, o grau de subregistro de nascidos vivos

25 Pressupôs-se que a participação relativa dos menores de 15 anos, no período de 1763 a 1773, na população total da Paróquia, era a mesma do Censo de 1804 (Mathias, 1969).

33

está diretamente vinculado à mortalidade neonatal, sendo tanto maior quanto maior o

impacto dos fatores determinantes específicos para esta idade.

3.6.2 População dos menores de 15 anos

Quanto aos chamados menores, ou seja, crianças não nascidas na paróquia e abaixo da

idade de 15 anos, aproximadamente, considera-se que o grau de representação nos registros

paroquiais esteja praticamente restrito ao número dos que nasceram e faleceram na

paróquia, no período de 1763 a 1774, entre as idades de 0 a 11 anos. Os que nasceram nos

anos anteriores e que não tinham idade para participar ativamente da vida religiosa, como

padrinhos ou madrinhas, não se casaram ou não tiveram filhos, estão precariamente

representados nestes registros.

3.6.3 População adulta

No primeiro caso, para os homens livres, o cruzamento dos dados paroquiais e a contagem

de homens na idade do serviço militar de 176926 e respectivas folhas de pagamento, num

total de 127 indivíduos da paróquia do Antônio Dias identificou apenas dois homens não

representados nos registros paroquiais, o que sugere uma grande abrangência desta fonte.

Para as mulheres, foram confrontados os registros de nascimento entre si, assim como os

registros de casamento e óbitos, também com bons resultados, já que a utilização de

algumas fontes se torna menos favorável, porque a participação das mulheres na vida civil é

muito mais restrita, pois não podiam ocupar cargos administrativos, eram majoritariamente

analfabetas e eram raramente citadas em documentação cartorária. Entretanto, podiam ser

proprietárias, pagavam impostos e taxas de licença de vendas e de profissão, eram

multadas, às vezes presas e condenadas, podendo ser identificadas nos registros

competentes da Câmara. Certas dificuldades de acesso a estes registros não permitiram a

26 Rol dos componentes das Milícias da Freguesia do Antônio Dias, 1769 – Avulso da Coleção Casa dos Contos, Seção Arquivo Nacional, Microfilme 621. CECO (Centro de Estudos do Ciclo do Ouro, Casa dos Contos, Ouro Preto

34

sua utilização, neste trabalho, considerando-se satisfatórios os resultados obtidos apenas

com os registros paroquiais, em que cada mulher representada, no período de 1763 a 1773,

foi citada, em média, pelo menos duas vezes.

Foram examinados os registros de casamento de 1740 a 1794, os registros de batismo de

1716 a 1773 e os registros de óbito de 1763 a 1820. Para os escravos adultos de ambos os

sexos procedeu-se de forma semelhante, considerando, porém, que o grau de omissão dos

homens escravos deva ser muito mais alto do que o das mulheres escravas, por uma razão

muito simples: por si só, a maternidade confere maior visibilidade às mulheres, em vista

não apenas das implicações inerentes à geração de filhos, mas também em face do

fenômeno generalizado da ilegitimidade. Ao todo, foram identificados 3361 indivíduos

considerados adultos, citados nos registros pelo menos uma vez e qualificados como

moradores da freguesia (TAB. 2).

TABELA 2 – Composição da População Adulta representada nos Registros Paroquiais do Antônio Dias, segundo o Sexo e a Condição, no Período de 1763 a 1773

N.º Absoluto % N.º Absoluto % N.º Absoluto %Livres 917 58,0 1034 58,1 1951 58,0Escravos 664 42,0 746 41,9 1410 42,0

Total 1581 100,0 1780 100,0 3361 100,0

Fonte dos dados básicos: Registros de Batizados e Óbitos, APAD

Homens Mulheres TotalCondição

De um modo geral, além do caso de recém-nascidos, o subregistro de óbitos pode ser

explicado por uma questão institucional. Acredita-se que todas as crianças que

sobreviveram até o batismo estejam representadas nos livros de batizados, porque todos os

batismos eram necessariamente registrados na Matriz, mesmo quando realizados em outro

local, sob a expressa licença do vigário. No caso dos óbitos, embora os registros também

fossem centralizados na Matriz, além desta, as cerimônias de enterramento eram feitas em

35

qualquer uma das capelas filiais27 e de irmandades. Os vários capelães estavam obrigados,

então, a enviar periodicamente os registros de enterro para serem transcritos pelo vigário

nos livros competentes. É possível que muitos destes registros fossem omitidos ou

extraviados, principalmente no caso de crianças muito novas ou de pessoas de baixa

condição e visibilidade social, como os escravos do sexo masculino, por exemplo. Assim,

considera-se que, além do subregistro de óbitos de recém-nascidos, houve também

omissões de óbitos de crianças maiores, enterradas nas capelas filiais. Desta forma, sugere-

se que uma forma de verificar estas ocorrências e corrigir este subregistro seria a consulta

aos registros28 de enterramentos das capelas filiais, confrontando-os com os assentos de

óbitos das matrizes. Os enterramentos constituíam uma importante fonte de receita para as

irmandades e para a própria Matriz, obrigando-as a um registro regular e preciso das covas

ocupadas, examinado e aprovado tanto pelas autoridades eclesiásticas como pelo ouvidor

da Comarca.

O universo de análise preliminar é constituído por 1539 registros de batismo e óbitos de

recém-nascidos expressos na TAB. 3, segundo o sexo e a condição do recém-nascido,

excluídos os expostos e os registros indicados anteriormente. Ajustando-se o número de

nascidos vivos de cada condição, ou seja, acrescentando as crianças libertas na pia batismal

ao número de recém nascidos escravos, temos, para a população livre, uma razão de sexo

ao nascer de 1,0 ao passo que, para a população escrava, este indicador é da ordem de 1,12.

Uma análise sumária destes indicadores sugere um subregistro maior de meninos, na

população livre, e de meninas, na população escrava. Em termos paroquiais, o valor situa-

se em torno do valor 1,05, que é razoavelmente constante para todas as populações.

27 Cada igreja dispunha de um certo número de covas dentro do edifício e nos cemitérios, que eram distribuídas entre a “Fábrica” (covas gratuitas ou reservadas a não-irmãos) e cada irmandade existente na capela ou Matriz em questão, cada uma mantendo registros de enterramento próprios.

28 Estes livros chamavam-se “Livros de Fábrica” e eram mantidos pelo fabriqueiro e inspecionados pelos tesoureiros das irmandades e pelo Ouvidor, conforme determinações régias expressas nos compromissos de cada irmandade.

36

TABELA 3 – Composição dos Registros de Batismo segundo o Sexo e a Condição do Recém-nascido – Paróquia do Antônio Dias, 1763 a 1773

Condiçãoao nascer

N.º Absoluto % N.º Absoluto % N.º Absoluto % Livres 419* 53 418** 55,8 837 54,4 Escravos 371 47 331 44,2 702 45,6Total 790 100 749 100 1539 100* Inclui 10 filhos de mães escravas, libertos na pia batismal** Inclui 25 filhas de mães escravas libertas na pia batismal.Fonte dos dados básicos: Livros de registro de Batizados e Óbitos, APAD

Homens Mulheres TotalSexo

37

4. ASPECTOS DA NUPCIALIDADE, DOS NASCIMENTOS E ÓBITOS NA PARÓQUIA DO ANTÔNIO DIAS

Este capítulo apresenta uma análise preliminar de alguns indicadores possíveis de serem

estimados com base nas informações coletadas para a paróquia do Antônio Dias, no período

de 1763 a 1773. O objetivo é testar a coerência interna dos dados e sua fidedignidade,

capazes de validar as estratégias e procedimentos adotados na sua coleta e sistematização.

Por isso, desagregações maiores, como estimativas anuais, idade e outros atributos pessoais

não foram cotejados. A idéia é, então, fornecer alguns traços característicos da população

estudada e apontar em que medida as informações coletadas permitirão, de um lado,

análises capazes de delimitar a dinâmica demográfica da área investigada e, de outro,

verificar o seu potencial de aplicabilidade a outras áreas e períodos de Minas Gerais

colonial.

4.1 O casamento e a família colonial

Uma das grandes dificuldades encontradas por pesquisadores da história da família colonial

brasileira refere-se ao conceito e ao papel do casamento, para a Igreja e a sociedade. As

Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, de 1707, definiam o concubinato como

um relacionamento caracterizado pela coabitação, conhecimento público e continuidade, no

tempo (Kusnezof, 1990, p. 165). Contudo, esta prática era tão comum e disseminada, que

os filhos gerados fora do casamento eram definidos, nos registros, não como ilegítimos,

mas como “naturais”29, ou seja, nascidos no estado de natureza (Ramos, 1990). O fato é que

o celibato definitivo de uma parcela avassaladora da sociedade de Vila Rica, em

comparação com populações européias do Antigo Regime, causava grande preocupação

entre as autoridades eclesiásticas e seculares, ocasionando até problemas administrativos,

29 O termo “bastardo”, raramente utilizado, costumava ser empregado, no início do povoamento, para os filhos e demais descendentes de escravos carijós ou “negros da terra” e é neste sentido que é entendido, no presente estudo.

38

pois as leis régias, na tentativa de levar os homens da elite ao casamento, proibiam os

homens solteiros de ocuparem posições importantes na esfera administrativa, como nas

Câmaras das Vilas. A este respeito, o Capitão General Dom Lourenço de Almeida,

governador da Capitania de Minas, escreveu ao rei, em 28 de setembro de 172130:

“Senhor,

Com todas as forças fizera eu a maior diligência por executar esta Real Ordem de Vossa Majestade, assim para obedecer, como sou obrigado, como porque vejo o grande serviço que se fazia a Deus, Nosso Senhor, conseguindo-se que estes moradores destas Minas casassem, porque só assim se livrariam do mau estado em que andam quase todos, porém, é impossível que se possa conseguir dar-se à execução esta real e santa ordem de Vossa Majestade, porque em todas estas Minas, não há mulheres que hajam de casar, e quando há alguma que viesse em companhia de seus pais, que são raras, são tantos os casamentos que lhes saem, que se vê o pai da noiva em grande embaraço sobre a escolha que há de fazer de genro, e como há esta impossibilidade para haver casados, me parece que Vossa Majestade não proíba que entre na governança das Câmaras os solteiros, porque os casados são muito poucos, e estes pela maior parte vivem em fazendas distantes da Vila. Logo que esta frota partir, chamarei os Procuradores das Câmaras e farei com eles que paguem mercês para ensinar os muitos rapazes que há, porém receio muito que estes tomem pouca doutrina por serem todos filhos de negros, que não é possível que lhe aproveite as lições, conforme a experiência que há em todo este Brasil, mas sempre se há de obedecer a Vossa Majestade como é justo e somos obrigados. Deus guarde muitos anos a real pessoa de Vossa majestade, como seus vassalos havemos mister. Vila Rica, 28 de setembro de 1721. (as) Dom Lourenço de Almeida”.

Não obstante os esforços da Igreja e do Estado no sentido de aumentar o número dos

casados, o certo é que esta situação, embora mais grave nas primeiras décadas, perdurou

por todo o século XVIII, predominando as relações ilícitas e o celibato definitivo para a

maioria da população, a se julgar pelo volume de nascimentos ilegítimos, verificado ao

longo do século.

30 Livro de registro de alvarás, ordens, cartas régias e ofícios dos governadores ao Rei, 1708-1722. APM, SC-04. Numeração ilegível.

39

4.1.1 Tipologia das formas de união na Paróquia do Antônio Dias

Os registros de casamentos e batizados desta paróquia permitem observar algumas

características que sugerem a existência de várias formas de união:

a) Casamento solene, sem coabitação pré-marital. Os noivos moram em domicílios

separados e se casam na igreja. Não há filhos concebidos antes da data da

solenidade;

b) Casamento solene de casais que já têm uma vida em comum e filhos. É o caso de

João dos Santos Rios e Custódia Maria dos Anjos, casados em 17 de setembro de

1779. O noivo estava enfermo e faleceu, dias depois. A filha do casal, Joana

Francisca dos Santos, casou-se com Luís Martins Pereira Lamberto, em 26 de

agosto de 1786, sete anos após o casamento dos pais. Custódia já teria um filho de

uma união anterior, Tomás dos Santos Rios, casado em 1783, que não foi

legitimado pelo casamento da mãe, embora usasse o sobrenome do padrasto. Ana,

nascida em 17 de março de 1763, foi legitimada também pelo casamento de seus

pais, Manoel de Barros Barbosa, viúvo, português, e Ana Maria de Jesus, filha de

uma escrava, que se casaram em 25 de novembro de 1784;

c) Uniões estáveis, com filhos, e que não chegam ao casamento formal por diferenças

sociais, consideradas intransponíveis, ou por diferenças econômicas. Estão neste

grupo casais notórios, como Cláudio Manoel da Costa e Francisca Arcângela de

Souza, parda forra, imortalizada em seus poemas com o cognome de Eulina. Inclui,

ainda, casais de escravos ou de pessoas tão pobres que não podiam pagar pelo

processo nupcial. Os filhos de uniões estáveis nem sempre tinham a paternidade

reconhecida, apesar de que, no período de 1760 a 1770, muitos ilegítimos eram

registrados com a filiação completa. Entretanto, mesmo estes poderiam usar o

sobrenome do pai, como no caso de Feliciano Manoel da Costa, filho do poeta, e

Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, filho de Manoel Francisco Lisboa. Os

testamentos constituem a melhor fonte para a obtenção de dados de paternidade

40

pois, freqüentemente, os testadores, mormente os solteiros, não hesitam em apontar

os filhos, dentre as crias de sua casa ou fora dela;

d) Uniões fortuitas ou efêmeras, das quais resultaram filhos. Nestes casos, um dos

indícios é a utilização de sobrenomes entre os filhos. Quando a mãe é escrava ou

liberta, adota formalmente o sobrenome do antigo senhor. Os filhos nascidos livres

herdam este mesmo sobrenome da mãe. Assim, Inês Martins Fragosa pode ter

herdado o sobrenome Martins de sua mãe Feliciana, ex-escrava de Antônio Martins

Viana. Entretanto, é provável que o pai “incógnito”, na realidade, tenha sido José

Martins Fragoso, irmão do proprietário da escrava Feliciana. Fragoso não é

propriamente um sobrenome31, mas refere-se a uma aldeia portuguesa do

arcebispado de Braga, onde José Martins provavelmente nasceu ou viveu.

Entre os escravos, todos os casamentos observados no período foram celebrados entre

noivos pertencentes ao mesmo plantel. Aparentemente, o risco de se casar dependia, em

grande medida, do senhorio. Ventura angola e Ana crioula se casaram em 10 de novembro

de 1765. No mesmo dia se casaram Antônio angola e Rita angola. Todos eram escravos do

coronel Manoel de Souza Pereira. Em 9 de fevereiro de 1768, casaram-se Ambrósio congo

e Josefa angola, também escravos do mesmo senhor. Os livros paroquiais apresentam,

também, registros de filhos do casal José mina, escravo deste plantel, e Juliana da Silva,

preta forra. Casamentos múltiplos também aconteceram em outros plantéis, como no do

tenente Joaquim da Silva Brum e Ataíde, de dois casais de escravos, em 5 de abril de 1788.

Curiosamente, dentro do período, não há registros de filhos naturais legitimados após o

casamento de pais escravos, sendo difícil determinar a ocorrência de coabitação antes da

cerimônia. Contudo, considera-se que, pertencendo ao mesmo plantel, o local de residência

era provavelmente o mesmo para os noivos escravos, o que justifica a presunção de

ocorrência de casos de uniões estáveis entre escravos, mesmo na ausência das bênçãos

nupciais.

31 Para evitar a confusão entre homônimos, propiciada pela preferência portuguesa por uns poucos prenomes tradicionais, como José, Antônio, Manoel e Joaquim, assim como sobrenomes, também semelhantes, costumava-se agregar ao nome a aldeia ou localidade de origem, como: Braga, Arouca, Vilela, Guimarães, Fragoso, Viana, Lisboa, Pombal, Barcelos, e outras.

41

Em resumo, mesmo que fosse possível conhecer a idade dos envolvidos, a realização do

casamento era uma formalidade que podia ter lugar nas mais diversas fases da união. Desta

forma, a idade ao casar, obtida pelos métodos usuais, não terá o mesmo significado se

comparada com aquelas obtidas em populações em que o casamento se processa de forma

convencional, ou seja, coabitação apenas após a cerimônia religiosa. Dadas as

especificidades da sociedade em estudo, o indicador mais significativo é a idade ao ter o

primeiro filho, legítimo ou não.

4. 2 Nupcialidade e nascimentos nos registros paroquiais

Uma das características mais relevantes no estudo da sociedade mineira colonial é, sem

dúvida, a grande proporção de mulheres solteiras em relação às casadas, evidenciada pelos

assentos de batismo de crianças ilegítimas32. No período contemplado (1763-1773), os

nascimentos de ilegítimos representam cerca de 57% de todos os nascimentos. Segundo

Ramos (1990), esta proporção é uma evidência da relevância do papel das mulheres

solteiras, nesta sociedade, uma vez que ocupariam a posição de chefe de domicílio.

Entretanto, um bom número destas solteiras, na verdade, fazia parte de uniões consensuais

estáveis, cujo maior impedimento ao casamento formal consistia, na maioria das vezes, dos

preços exorbitantes cobrados pela Igreja no processo matrimonial. Reconhecendo este

problema, D. Frei João da Cruz, bispo do Rio de Janeiro, busca corrigir esta situação, sem

muito sucesso, em sua pastoral de 17 de fevereiro de 1745, justificando que

“... de muitas pessoas nos têm vindo queixas que muitas pessoas pobres e miseráveis andam concubinadas, muitos anos, por não terem que gastar em porem seus papéis correntes para se casarem, mandamos aos Doutores Vigários de Vara que, informados primeiramente dos Párocos da pobreza e miséria dos contraentes, lhes mandem passar mandados para suas habilitações...” (Trindade, 1928, p. 76).

Para o período de referência, foram coletados e transcritos 2231 registros de batismo.

Excluídos os batizados de adultos escravos, registros repetidos ou ilegíveis, registros de

32 Veja a conceituação de ilegitimidade no Apêndice.

42

anos anteriores, expostos33 e fregueses de outras paróquias, houve um total de 1539

batizados de inocentes, na Paróquia do Antônio Dias, no período de 1763 a 1773, que

constituem o universo de análise preliminar. Destes, 662 nasceram de “legítimo

matrimônio”, sendo que 877 nasceram de mães solteiras. Em termos percentuais e

absolutos, a composição do grupo de nascidos na Paróquia é apresentada na TAB. 4.

TABELA 4 – Distribuição dos Nascimentos Ocorridos na Paróquia do Antônio Dias, entre 1763 e 1773, segundo a Condição da Mãe e a Condição do Filho ao Nascer

N.º Absoluto % N.º Absoluto % N.º Absoluto %

119 16,1 543 67,7 662 43,0

618 83,9 259 32,3 877 57,0

737 100,0 802 100,0 1539 100,0

Mães Livres Total

Legítimos

Ilegítimos

Mães Escravas

ao nascer

Condição do filho

Condição da Mãe

Total

Fonte dos dados básicos: Registros de batismo e óbitos, APAD

Assim, 57,0 %, ou seja, mais da metade dos nascimentos, ocorriam fora do casamento, o

que revela a incidência de um comportamento de absoluta tolerância da sociedade às

relações extraconjugais, não obstante a influência da Igreja na vida individual e da

coletividade. Na verdade, os párocos contribuíam para este estado de coisas, cobrando

quantias exorbitantes pelo processo de casamento. A situação de concubinato era de tal

forma corriqueira que o bispo do Rio de Janeiro, D. Frei Antônio de Guadalupe, cuja

jurisdição se estendia a Minas Gerais, publicou, em 3 de novembro de 1727, uma pastoral

em que repreendia os párocos e confessores de Minas, “que têm sido causa da pouca

emenda que tem havido nos concubinatos”, e acrescentava:

“E porque muitos concubinados, para enganar os Párocos, se fazem compadres uns dos outros, parecendo-lhe que com esta capa podem viver juntos, mandamos que usem o dito acima...”(Trindade, 1928, p.63).

33 Houve 92 registros de expostos, categoria definida no apêndice.

43

Quando se comparam os nascidos, levando-se em conta a condição da mãe, observa-se que

a maioria dos filhos de escravos nascem fora do casamento. Mesmo entre a população livre

havia um elevado percentual (32,3 %) de filhos ilegítimos (GRAF. 1).

GRÁFICO 1 – Distribuição Percentual dos Nascimentos Legítimos e Ilegítimos segundo a Condição da Mãe- Paróquia do Antônio Dias, 1763 a 1773

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Escravas Livres Total

Condição da Mãe

Per

cent

ual d

e na

scim

ento

s

Legítimos Ilegítimos Fonte: Tabela 4

Os registros indicam, ainda, que embora tenham nascido de mães escravas, 35 crianças

foram alforriadas na pia batismal, o que altera a proporção de inocentes escravos34.

Os níveis elevados de natalidade ilegítima, indicativos de índices baixos de nupcialidade,

contrariam a existência de um regime demográfico nos moldes do padrão europeu (Hajnal,

1965), nesta população, mas corroboram dados semelhantes relativos a outras populações

brasileiras do período colonial. O mesmo se verifica em algumas regiões portuguesas, no

mesmo período, notadamente a do Minho, onde os filhos ilegítimos constituíam até 30% do

total de nascimentos (Neves, 2001).

34 Infelizmente, os registros são precários e freqüentemente ambíguos na indicação racial de pais e recém-nascidos, não tendo sido possível estimar, com alguma precisão, as proporções de pardos e crioulos, com base nestes registros.

44

4. 2.1 Casamento e Celibato: Mães Livres, Forras e Escravas

A análise do conjunto de mães que batizaram seus filhos (TAB. 5), no período de

referência, revela que 48% delas eram escravas35 e 52% livres, de um total de 889

mulheres, para 1539 nascimentos, excluídos os expostos e registros parcialmente ilegíveis.

TABELA 5 – Número Médio de Filhos segundo a Condição e o Estado Conjugal da Mãe, na Paróquia do Antônio Dias, entre 1763 e 1773

Nº médio de filhospor mãe

460 802 1,74 Solteiras 223 259 1,16 Casadas 237 543 2,29

429 737 1,72 Solteiras 376 618 1,64 Casadas 53 119 2,25

Livres

Característicasdas Mães

Fonte dos dados básicos: Registros de Batismo e Óbitos, APAD

Escravas

Nº de FilhosN.º de Mães

Entre as 429 escravas arroladas, 87,6% eram solteiras, e apenas 12,4% eram casadas, ao

passo que, entre as mulheres livres, num total de 460, as casadas se contavam em maior

número, havendo 51,5% de casadas e 48,5% de solteiras. Aparentemente, a escravidão era

o principal obstáculo ao casamento, tendo em vista que, para o proprietário, a formação de

famílias escravas não era desejável, pois reduzia a mobilidade do escravo e, entre outros

fatores, era um elemento dificultador da venda. Além do mais, a Igreja não aprovava a

separação de marido e mulher, mesmo quando residiam no mesmo local, o que demandava

alojamentos para casais, mais onerosos do que os coletivos, tanto na construção, quanto na

constante vigilância contra fugas.

35 Para evitar dupla contagem, incluíram-se, neste grupo, as mulheres que eram escravas ou quartadas, no início do período, isto é, em 1 de janeiro de 1763, ainda que viessem a ser alforriadas no decorrer do período, ou seja, até 31de dezembro de 1773.

45

GRÁFICO 2 – Distribuição Percentual das Mães das Crianças Batizadas na Paróquia do Antônio Dias, no Período de 1763 a 1773, segundo a Condição e o Estado Conjugal

da Mãe

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Livres Escravas Total

Condição

Perc

entu

al s

egun

do o

Est

ado

Con

juga

l

Solteiras Casadas

Fonte: Tabela 3

É provável que, da perspectiva da mulher escrava, o casamento, nesta condição, não fosse

conveniente, pois sendo solteira teria maior mobilidade e oportunidade de amealhar o

dinheiro necessário para a sua alforria. Em carta ao rei, datada de fevereiro de 1732,

Manoel de Afonseca de Azevedo, secretário do governador, informa que os senhores de

escravas as mandam faiscar, sem os instrumentos necessários, e lhes cobram os jornais,

sugerindo que seus senhores “querem, consentem ou dissimulam que as ditas negras lhes

dêem os jornais, adquirindo-os e ganhando-os como quer que for”. Acrescenta que muitos

moradores das vilas têm casas de venda e de comer e beber onde põem as suas negras,

vivendo sós, para convidar os negros a comprar, e que

“ ... [as] negras recolhem, nas suas casas, a toda hora do dia e da noite, não somente os negros mineiros, mas os negros fugidos (...) e desses ajuntamentos resulta que, por ocasião de embebedarem, se matam e se ferem, em grande prejuízo dos seus senhores e do sossego público” (Lopes, 1952, p. 160).

46

Entre os escravos, a probabilidade de se casar provavelmente dependia direta ou

indiretamente da vontade ou postura religiosa do senhor de escravos, conforme advogado

por alguns autores. A propósito dos casamentos escravos de Catas Altas, no século XVIII,

Botelho (2003) observou que, entre 59 registros de casamentos, apenas três não foram

celebrados entre cônjuges pertencentes ao mesmo plantel. Acrescenta que este

comportamento poderia estar sendo induzido pelo senhor, o que limitava bastante o

mercado matrimonial escravo, tendo em vista o reduzido plantel escravista de Catas Altas.

O mesmo comportamento é evidenciado pelos registros de casamentos do Antônio Dias,

entre 1740 a 1773, em que houve apenas dois casamentos de escravos de diferentes plantéis

em um total de 84 casamentos escravos. Um dos senhores mais abastados, o coronel

Manoel de Souza Pereira, morador do Bonsucesso, era proprietário de doze desses casais de

escravos. A Vila Rica do século XVIII era uma sociedade fortemente urbanizada e mais

fluida, assim como outras vilas mineradoras do período, e não se pode excluir a

possibilidade de que o casamento fosse um privilégio concedido ou negociado pelos

próprios noivos, conquistado como prêmio por serviços prestados ou por laços pessoais que

transcendem a mera relação de senhorio, favorecidos por uma convivência mais intensa e

cotidiana do que no meio rural.

Na pastoral de 3 de novembro de 1727, D. Frei Antônio de Guadalupe repreende os párocos

por sua tolerância a uniões informais, mandando-os agir contra

“...os senhores que consentem que seus escravos e escravas andem amancebados até que os façam contrair matrimônio ou os apartem totalmente. E porão todo o cuidado em fazer com que os senhores e senhoras que têm escravas em venda, vivendo desonestamente, ou as trazem com tabuleiros, da mesma sorte se emendem desta culpa, até lhe negarem os sacramentos, se necessário, como pecadores públicos e escandalosos” (Trindade. 1928, p. 64).

Do ponto de vista das autoridades laicas, a questão é menos moral do que econômica,

preocupados com os descaminhos do ouro e com o controle social. Em sua carta, Azevedo

culpa igualmente as forras “que estão em vendas suas”, porque essas “são tanto ou mais

prejudiciais do que as outras”. Isso porque, pelas vilas, arraiais e caminhos de Minas, as

forras andariam com tabuleiros, vendendo coisas comestíveis, “as quais fazem luxuriosas

desordens, assim com brancos como negros”, e vão até as lavras de ouro “para tirarem,

47

assim com as vendagens, como com seus corpos, os jornais aos negros, de que se segue

gravíssimo prejuízo”(Lopes, 1952, p. 160).

Com referência à parcela branca da população, a questão preocupa também as autoridades

régias e, em 1722, o Conde de Assumar escreve cartas ao rei, queixando-se das grandes

dificuldades para o casamento, porque nas Minas não havia moças brancas casadouras e

que, por serem solteiros, os rapazes eram menos propensos “à obediência”. Sugere, então,

que

“... um dos meios mais fáceis que há, para que venham mulheres casar a estas Minas, é proibir Vossa Majestade que nenhuma mulher do Brasil possa ir para Portugal, nem Ilhas a serem freiras, porque é grande o número que todos os anos vão. (...) E me parece que não é justo que se despovoe o Brasil por falta de mulheres, tendo Vossa Majestade tanta conveniência de que esta conquista se povoe, e ainda tanto o Brasil que necessita de gente” (Lopes, 1952, p. 159).

As observações dos cronistas contemporâneos revelam, como dito anteriormente, a

percepção de uma enorme distorção na razão de sexo na população como obstáculo ao

casamento, não apenas nos estratos mais baixos da hierarquia social, mas nas camadas

intermediárias e entre as pessoas da elite, o que seria uma das causas de tantos

permanecerem solteiros, nesta sociedade.

Assim, tendo em vista a existência de um celibato generalizado, justifica-se o grande

número de nascimentos ilegítimos na paróquia. Ainda assim, quando se calcula o número

médio36 de filhos por mães, para cada grupo, os valores obtidos apontam para uma média

mais alta entre as casadas, livres ou escravas, do que entre as solteiras. De fato, no período

de 1763 a 1773, as solteiras livres apresentam um número médio de filhos da ordem de 1,2

filho por mulher, contra 1,6 filho, no caso das mães solteiras escravas. Para as casadas, o

número médio de filhos por mães livres foi virtualmente igual ao número médio de 2,3

filhos por mães escravas (TAB. 5). Resultados similares foram encontrados por Ramos

(1990), que estimou os números médios de filhos para toda Vila Rica, no século XVIII.

Para as mães livres, o autor estimou um número médio de filhos de 2,8 para as casadas e

36 Média aritmética simples.

48

1,6 para as solteiras. Quanto às escravas, as casadas tinham, em média, 2,1 filhos e as

solteiras, 1,6 (Ramos, 1990, p. 158)37. Neste caso, os dados se referem ao período

reprodutivo completo da mulher, e representam a média do século.

4.2.3 O papel da mulher solteira na sociedade colonial

Em geral, na sociedade colonial, as condições sócio-econômicas eram desfavoráveis para as

mulheres solteiras, mesmo as livres. Parte das escravas e forras trabalhava como lavadeiras,

fiandeiras ou como “negras de tabuleiro”, vendendo pão e quitutes, numa rotina bastante

pesada, ao passo que outras trabalhavam como faiscadoras, sofrendo o mesmo desgaste e

risco de acidentes que os homens. Outras eram proprietárias, se livres, ou gerentes de

pequenos comércios de “gêneros da terra”, quando escravas, com maiores possibilidades de

comprar a própria liberdade e, posteriormente, reunir um pequeno cabedal, em forma de

propriedade de imóveis e escravos, na medida de sua capacidade de empreendimento.

Entretanto, observa-se que o elenco de atividades econômicas femininas se localizava num

nível bastante baixo na hierarquia social. Segundo Venâncio e Furtado (2000), as

comerciantes trabalhavam para sobreviver e muitas delas não chegavam a se casar, sendo

freqüentemente perseguidas como prostitutas.

Na cidade de Mariana, duas mulheres, ambas solteiras, queixaram-se à Câmara de

perseguição e extorsão por parte de fiscais. A primeira delas, Margarida Fernandes da

Silva, apresentou um requerimento à Câmara, datado de 29 de outubro de 1802, informando

ter venda de molhados, em São Caetano, fiscalizada pelo alferes Manoel José Dias, no que

se refere a gêneros da terra e sal, conforme bilhete de aferição anexado ao documento.

Ainda assim, teve trastes seqüestrados por oficiais de justiça, sob o pretexto de que vendia

sal às ocultas e pede que seja ressarcida38. A segunda, Inocência Pires de Carvalho,

comerciante em São Sebastião, distrito de Mariana, informava que, "estando mansa e

37 É conveniente ressaltar que não estão incluídos os nascimentos de crianças que morreram antes de ser batizadas. A esse respeito, seria interessante estimar o intervalo entre nascimentos para se ter uma idéia mais precisa do impacto dessa lacuna, o que foge ao escopo do presente trabalho.

Documento 131, volume 750 da Série Miscelânea, AHCM (Arquivo Histórico da Câmara de Mariana).

49

pacificamente", dois meirinhos, Antônio Dias e Antônio José, em companhia de Domingos

José, a amarraram e usaram de violência para extorquir dinheiro, sob o pretexto de dívidas

de sua irmã, obrigando-a a assinar um crédito39. Inconformada, pedia à Câmara que lhe

fizesse justiça.

Não obstante a opressão e o desrespeito de que eram vítimas, constituíam uma parcela

privilegiada da população feminina livre, até mesmo em comparação com mulheres da

elite. Na sociedade colonial, aquelas mulheres desempenhavam um papel importante no

comércio miúdo, que praticamente monopolizavam, e que lhes permitia passar da condição

de escravas para libertas e daí para a de proprietárias de escravos, conforme afirmam

Venâncio e Furtado (2000).

Trata-se, desta forma, de um grupo populacional heterogêneo, que constituía o estrato mais

pobre da sociedade, sujeito à desnutrição, maior exposição a riscos de doenças e acidentes,

já consideráveis no período colonial, o que certamente afetava substancialmente a

capacidade reprodutiva. Em acréscimo, é possível que, como responsável por seu próprio

sustento e dos filhos, a solteira livre fizesse maior uso dos meios contraceptivos disponíveis

para assegurar não apenas a autonomia, mas a manutenção da capacidade de exercer uma

atividade produtiva, de outra forma prejudicada por gestações sucessivas e cuidados com

filhos numerosos ou muito pequenos.

Enfim, a sociedade de Vila Rica se caracterizava pelo fato de que, ao contrário de suas

contemporâneas européias, uma proporção elevada das mulheres não se casava

formalmente. Na verdade, um grande número de mulheres podia escolher o celibato,

conquistar a sua liberdade, ser proprietária, ter filhos e trabalhar fora, o que alterava

substancialmente o valor do casamento, principalmente sob a ótica feminina, nesta

sociedade40. Em comparação com o padrão vigente nas sociedades européias da

39 Documento 132, sem data, volume 750 da série Miscelânea, AHCM.

40 Para maiores informações sobre a vida das mulheres pobres, forras ou escravas, no século XVIII, vide Figueiredo (1993). Nesta obra, o autor aborda a luta destas mulheres pela sobrevivência através do comércio, vendas, serviços ou prostituição. Questões centrais como a da família são investigadas, com base em documentação primária, visando desvendar as estratégias desenvolvidas pelas mulheres pobres para garantir a sua sobrevivência e a dos filhos.

50

antiguidade, verifica-se, em Antônio Dias um padrão de nupcialidade a um só tempo rico e

complexo, que merece esforços de análise e interpretação, que vão além do escopo desta

dissertação.

4.3 A mortalidade nos registros paroquiais

Para o período de 1763 a 1773, foram coletados 1642 registros de óbitos, sendo 665 de

óbitos de crianças qualificadas como “inocentes”41. Destes foram identificados 284

registros que correspondem a crianças de 0 a 4 anos, nascidas e falecidas na paróquia. As

idades destas crianças foram estabelecidas com base na data de nascimento, presente na

quase totalidade dos registros. Nos casos em que constam apenas as datas de batismo, estas

foram aceitas como sendo datas de nascimento, pois o batismo ocorria até

aproximadamente 20 dias após o nascimento.

No entanto, não há registro dos natimortos nem se sabe o número de nascidos vivos que

faleceram antes de receber o batismo e que, portanto, não foram registrados. É possível que

não se tratem de números desprezíveis, pois no século XVIII, o risco de morrer para as

parturientes e para o feto deveriam ser de fato muito altos, já que o único recurso médico de

que as mulheres efetivamente dispunham era o atendimento por parteiras. A gravidade

desta questão não escapou à percepção da Igreja, ainda sob a jurisdição do bispado do Rio

de Janeiro, que certamente tomou conhecimento da baixa sobrevivência das crianças

recém-nascidas, já nas primeiras décadas de povoamento do território mineiro. Numa

pastoral datada de 3 de novembro de 1727, escrita em São João Del Rei, durante uma visita

episcopal, D. Frei Antônio Guadalupe se dirige ao clero sobre este assunto:

“E porque as mulheres que têm ofício de parteiras devem ser peritas na forma de batizar, mandamos que os Vigários da Vara as obriguem, com pena de excomunhão, a examinar-se com eles, da sobredita forma, e,

41 Inocente era o nome dado à criança que ainda não havia feito a primeira comunhão, o que deveria ocorrer a partir dos sete anos. Temos, como exemplos, Teodora, inocente, nascida em 13 de novembro de 1763 (LB fls. 320) e falecida em 8 de janeiro de 1772 (LO, fls. 29), aos 8 anos e 2 meses, assim como Arcângela, inocente, batizada em 15 de maio de 1763 (LB, fls. 308v) e que faleceu em 28 de julho de 1773 (LO, fls. 56), aos 10 anos de idade.

51

aprovando-as, lhes darão certidão para exercitarem seu ofício” (Trindade, 1927, p. 68).

Em acréscimo, pode-se imaginar que alguns fatores acrescentariam um peso adicional aos

altos riscos da época à saúde de ambos, mãe e filho. Além da competência e experiência

profissional, os cuidados pessoais de higiene e o próprio estado de saúde da parteira

assumiriam uma importância vital, no sentido estrito do termo. Em outras palavras, sendo

responsável por um grande número de mulheres na paróquia ou no bairro onde vivia, a falta

de competência ou os hábitos pessoais da parteira poderiam comprometer a saúde e a

sobrevivência das mães e filhos sob os seus cuidados. Como exemplos, dificuldades de

posicionamento do feto, na hora do parto, e o risco de tétano no tratamento do umbigo, “o

popular mal de sete dias”. Para evitar que “curiosas” exercessem o ofício, o Senado da

Câmara de Vila Rica só permitia o exercício da profissão às mulheres que fossem

aprovadas num exame conduzido por um médico ou cirurgião. Depois disso, recebiam a

sua carta de habilitação profissional, conhecida como “carta de usança”, conforme a carta

de Maria da Fraga, uma das primeiras de Vila Rica:

“Fazemos saber aos que a presente nossa carta de usança virem, que a nós nos enviou a dizer por sua petição, Maria da Fraga, preta do gentio da Guiné, com licença de seu senhor, Manoel do Rego Tinoco, que ela se acha com capacidade, inteligência e experiência para parteirar nesta Vila, e porquanto nela não havia parteiras, e tinha do dito senhor licença, nos pedia lhe fizéssemos mercê de conceder licença para poder exercitar o dito ofício, sujeitando-se a exame por médico e cirurgião, a qual petição, sendo por nós vista, mandamos, por nosso despacho, se passasse carta de usança para exercer o dito ofício de parteira, nesta Vila, por nos apresentar certidão do médico e cirurgião, e ser capaz para o dito ministério, e nos representar não haver, nesta Vila, pessoas que sirvam à dita ocupação, e ser de muito grande utilidade, pelo perigo que correm as mulheres, valendo-se de pessoas que não tenham experiência, nem uso de tal exercício, e porque todas circunstâncias e requisitos concorrem na pessoa da dita Maria da Fraga, lho concedemos licença, pela presente nossa carta, para que possa exercer o ofício de parteira, e lhe arbitramos, pelo trabalho de cada parto que exercer, quatro oitavas de ouro. E assim a tenham entendido e esta se cumpra como nela se contém e lhe mandamos passar a presente, por nós assinada, no seio deste Senado, aos 14 dias do mês de Janeiro de 1721 anos. Hilário Antônio de Araújo, escrivão da Câmara o escrevi. (as.) Caetano Álvares Rodrigues – Pedro Teixeira de Siqueira – Teodoro Ribeiro de Andrade”. (MAIA, 1972, p.17-18)

Este cuidado, entretanto, não era suficiente para garantir um atendimento de qualidade, nem

mesmo se viesse de médicos licenciados, quase sempre cirurgiões militares, mais afeitos à

52

medicina dita de quartel, especializada em ferimentos de guerra. A Santa Casa, fundada em

1733, em Vila Rica, cuidava preferencialmente dos indigentes e certamente não dispunha

dos recursos humanos e materiais para atendimento às mulheres grávidas. Em qualquer um

dos casos, da parteira ao cirurgião militar, as condições de assepsia deveriam variar de

precárias a letais. Ainda assim, a parteira acabava sendo a opção menos perigosa para a

saúde das mulheres e seus filhos, não sendo suficiente, entretanto, para garantir um alto

índice de sobrevivência de recém-nascidos, na época em questão.

Como fator adicional, a mortalidade ainda pode estar sendo subestimada em razão do

abandono de grande número de recém-nascidos, supostamente de mães solteiras, em sua

maioria, e nem sempre na mesma paróquia onde nasceram. De fato, uma das características

da sociedade colonial de origem portuguesa é o abandono secular de crianças não

desejadas, os “enjeitados” ou expostos, assim chamados pelo costume de “expor” o recém-

nascido à porta de alguém, quase sempre uma parteira, o boticário ou uma família de

posses, esperando-se que a criança fosse cuidada e criada por pessoas capazes. A Câmara,

entretanto, era a verdadeira responsável pelo sustento e criação dos expostos, contratando

os serviços de uma “criadeira” para amamentar a criança, ao invés de prestar assistência às

mães pobres, para evitar o abandono. Os serviços de criação eram pagos mediante certidões

de vida e bem-estar emitidas pelos párocos. Entretanto, quando a mãe era solteira e de

posição elevada, os rebentos eram falsamente expostos a pessoas de confiança, salvando as

aparências e sendo reconhecidos posteriormente42.

Na paróquia do Antônio Dias, o número de expostos, nos anos de 1763 a 1773, atingiu um

máximo de 8% sobre o total de batizados de inocentes, no ano de 1765 (15 de um total de

184 registros de batizados), mantendo-se abaixo de 6,7%, nos anos remanescentes43. No

período, a média situou-se em torno de 5,1%, mas com uma oscilação ascendente nos

42 Exemplo disto é o registro de batismo de Antônia, exposta em 5 de junho de 1765, à porta de Antônia Sene Tavares do Amaral, preta forra (LB, fls. 357) e legitimada pelo casamento de seus pais, Bento Ferreira de Abreu e Maria Josefa do Sacramento.

43 Informação oriunda de banco de dados próprio, coletados nos Livros de Batismo II e III, da Paróquia do Antônio Dias. Microfilmes 038, 071 e 072 do Arquivo da Paróquia do Antônio Dias. CECO- Casa dos Contos.

53

últimos dois anos. Segundo Ramos (1990), os expostos estão entre os grupos com as taxas

de mortalidade mais elevadas, em Vila Rica, durante o período colonial.

Em consonância com as razões expostas nos parágrafos anteriores julgou-se prudente não

avançar na análise dos registros de óbitos para a Paróquia do Antônio Dias, no período

focalizado. De qualquer forma, a exploração preliminar das informações relacionadas aos

óbitos, assim como aquelas relativas aos nascimentos e casamentos, parecem apontar para

possibilidades promissoras de aprofundamento das análises dos dados, reforçando a idéia

de adotar o método de reconstituição de paróquias para outros universos amostrais, bem

como para outros períodos de tempo.

54

5. CONCLUSÃO

O presente estudo insere-se no grupo daqueles que buscam contribuir para a análise de uma

área e período ainda inexplorados, visando um conhecimento mais completo da população

de Minas Gerais no século XVIII. O foco está centrado na compilação e análise inicial de

dados disponíveis para a freguesia do Antônio Dias, termo de Vila Rica, no período de

1763 a 1773. A idéia inicial foi utilizar, para tanto, a técnica proposta por Henry (1977) de

reconstituição de famílias. No entanto, esta técnica, se aplicada ao contexto brasileiro, de

alto índice de ilegitimidade, deixaria de computar um número elevado de indivíduos

nascidos fora do matrimônio convencional. Optou-se, então, pela utilização da técnica

proposta por Amorim (1998) e Amorim, et al. (2001), de reconstituição de paróquias, que

foi desenvolvida para populações com características semelhantes às populações históricas

brasileiras. Vale ressaltar que, na Paróquia do Antônio Dias, no período estudado, os

ilegítimos representam cerca de 57% dos batizados, similaridade compartilhada pelas

populações do Minho, no século XVIII, também com índices tradicionalmente altos de

ilegitimidade (Scott, 2000), caracterização que inspirou o desenvolvimento da técnica de

reconstituição paroquial proposta por Amorim.

Embora a paróquia seja de pequenas dimensões, o banco de dados produzido reúne

milhares de fichas pertencentes a indivíduos de sucessivas gerações. Os registros se

apresentam bastante regulares, sem lacunas perceptíveis, num encadeamento cronológico

excelente, seja entre registros, seja entre as folhas ou na sucessão dos livros. De um modo

geral, os registros foram redigidos de acordo com as normas, sendo raros aqueles em que o

dia de nascimento, pais, avós e local de moradia não eram informados. As exceções foram

os registros de escravos africanos, que não contêm filiação, e os registros dos inocentes

filhos de escravos crioulos ou de forros, que raramente informam o nome dos avós.

A grande vantagem do método de reconstituição paroquial é permitir que as informações

sejam organizadas de tal forma que o indivíduo possa ser acompanhado, não apenas na sua

trajetória pessoal, mas também inserido na família e no seu grupo social. A amostra que

55

serviu de base para a análise inicial apresentada neste trabalho revela algumas dessas

potencialidades.

Assim, foi possível identificar, por exemplo, uma tipologia particular das formas de união

na Paróquia do Antônio Dias, composta por a) casamento solene, sem coabitação pré-

marital; b) casamento solene de casais que já têm uma vida em comum e filhos; c) uniões

estáveis, com filhos, e que não chegam ao casamento formal por diferenças sociais,

consideradas intransponíveis, e por diferenças econômicas; e d) uniões fortuitas ou

efêmeras, das quais resultaram filhos. Os dados indicaram a existência de uma proporção

considerável de mulheres solteiras, evidenciada pelos registros de batismo de crianças

ilegítimas.

No período contemplado (1763-1773), mais da metade (57,0%) dos nascimentos ocorreu

fora do casamento, o que revela a incidência de um comportamento de absoluta tolerância

da sociedade às relações extraconjugais, não obstante a influência da Igreja na vida

individual e da coletividade. A maioria dos filhos de escravas (83,9%) nasceram fora do

casamento, e mesmo entre a população livre havia um percentual elevado (32,3%) de filhos

ilegítimos. A análise do conjunto de mães que batizaram seus filhos, no período de

referência, revelou que 48% delas eram escravas e 52% livres. Entre as escravas arroladas,

87,6% eram solteiras e apenas 12,4% eram casadas, ao passo que, entre as mulheres livres,

as casadas eram em maior número (51,5%).

Enfim, a sociedade de Vila Rica se caracterizava pelo fato de que, ao contrário de suas

contemporâneas européias, uma proporção elevada das mulheres não se casava

formalmente. Na verdade, um grande número de mulheres podia escolher o celibato,

conquistar a sua liberdade, ser proprietária, ter filhos e trabalhar fora, o que alterava

substancialmente o valor do casamento, principalmente sob a ótica feminina, nesta

sociedade44. Em comparação com o padrão vigente nas sociedades européias da

44 Para maiores informações sobre a vida das mulheres pobres, forras ou escravas, no século XVIII, vide Figueiredo (1993). Nesta obra, o autor aborda a luta destas mulheres pela sobrevivência através do comércio, vendas, serviços ou prostituição. Questões centrais como a da família são investigadas, com base em documentação primária, visando desvendar as estratégias desenvolvidas pelas mulheres pobres para garantir a sua sobrevivência e a dos filhos.

56

antiguidade, verifica-se, em Antônio Dias um padrão de nupcialidade a um só tempo rico e

complexo, que merece esforços de análise e interpretação, que vão além do escopo desta

dissertação.

No que diz respeito à mortalidade, os dados coletados revelaram que há potencial para

análises abrangentes e interessantes, cuja concretização requer tratamentos específicos e

especiais que também fogem ao escopo deste trabalho. Pode-se, por exemplo, analisar a

mortalidade infantil, com base nos registros de batizados e óbitos, assim como o intervalo

entre nascimentos, capaz de fornecer subsídios à análise tanto da sua relação com a

mortalidade quanto da sua interface com a natalidade e padrões de comportamento

reprodutivo.

Em síntese, não obstante o reduzido período de análise (1763-1773) e os problemas

referentes aos dados, o método se revelou bastante satisfatório na recuperação de

informações de idade e filiação da população de mães das crianças nascidas no período.

É importante enfatizar, contudo, que em vista das especificidades das populações coloniais

brasileiras, uma vez que o escravismo permeia todos os aspectos da vida material, social e

política da sociedade, a utilização exclusiva das informações constantes dos registros

paroquiais não permite compor um arcabouço abrangente das estruturas demográficas, pelo

menos durante o século XVIII e grande parte do século XIX. Como fonte de informações,

os registros paroquiais não oferecem dados suficientes sobre a evolução da população

cativa e formação do segmento liberto, em relação à intensidade e periodicidade das

importações de escravos e manumissões, exceto por uma certa proporção de registros de

batismo e de óbitos. Para corrigir esta deficiência, sugere-se a incorporação das

informações constantes nos livros de fábrica e demais registros das capelas filiais. Os

registros cartorários, tais como os livros de notas, testamentos, inventários post-mortem e

formais de partilha podem suprir grande parte desta lacuna. Uma das fontes suplementares

mais promissoras, nesta questão, parece ser os registros de entrada de pessoas e

mercadorias na Capitania, dispersos pela Coleção Casa dos Contos, em especial os registros

do Caminho Novo e do Caminho do Sertão, vindo da Bahia, documentação praticamente

inédita e desconhecida da maioria dos pesquisadores, contendo dados significativos sobre o

movimento do tráfico interno e externo à Colônia.

57

Um passo adiante na tentativa de elaborar uma análise sócio-demográfica da região requer

a ampliação do banco de dados aqui utilizado, incorporando informações coletadas em

fontes paroquiais e suplementares, para as freguesias do Antônio Dias e Ouro Preto,

buscando, sobretudo, completar as fichas individuais. Com isso, é possível realizar uma

análise longitudinal das variáveis componentes da dinâmica demográfica, corrigindo-as,

tanto quanto possível, por meio de técnicas de análise demográficas indiretas. Poder-se-á,

por exemplo, acompanhar a coorte de 1764 por um período de 60-70 anos, disponibilizando

dados sobre a experiência de mortalidade e fecundidade desta geração, no termo de Vila

Rica. Assim, além da análise em separado das componentes da dinâmica demográfica, em

vista da conjuntura socioeconômica do final do século XVIII, ou seja, sob o pressuposto de

migração aproximadamente constante, por idade, de portugueses e escravos, é possível

investigar a aplicabilidade da utilização de modelos de populações teóricas estáveis e

quase-estáveis que relacionam a estrutura etária de uma população com seu crescimento

constante.

58

6. REFERÊNCIAS DOCUMENTAIS E BIBLIOGRÁFICAS

6.1 Fontes Primárias

Registros de Batizados da Paróquia do Antônio Dias, códice 3LB (APAD), Ouro Preto

Registros de Batizados da Paróquia do Pilar (APP). Microfilme 027, CECO, Ouro Preto

Registros de Óbitos (livres e escravos) e testamentos (APAD), códice 1LO, CECO, Ouro Preto

Registros de Casamentos (Livres e Escravos), 1740 a 1773 Microfilmes 73 e 74 (APAD). CECO, Ouro Preto

Livro de Notas, Códice 0146, Cartório do 1.° ofício. Casa Setecentista, Museu da Inconfidência, Ouro Preto

Rol de proprietários de escravos do arraial de São Bartolomeu, termo de Vila Rica, 1718. Microfilme 004 – Avulso da Coleção Casa dos Contos, Seção APM. CECO, Ouro Preto

Rol dos componentes das Milícias da Freguesia do Antônio Dias, 1769 – Avulso da Coleção Casa dos Contos, Seção Arquivo Nacional, Microfilme 621. CECO, Ouro Preto

Listas de pagamentos dos impostos de capitação – 1735, Avulso da Coleção Casa dos Contos, Seção APM. Microfilmes 008, 011 e 012. CECO, Ouro Preto

Mapa de Vila Rica. Planta de Ouro Preto de P. D. Almeida (Século XVIII) In: A lição das vilas coloniais brasileiras.(Versão eletrônica da exposição organizada por Nestor Goulart dos Reis).

Planta Topographica de Ouro Preto. Reprodução fotográfica. Avulso não inventariado do Arquivo Público Municipal de Ouro Preto. Autor desconhecido. Fins do século XIX.

Livro de Tombos Foreiros da Câmara de Vila Rica (Livro 12) - 1806-1812, Doc.0151, APMOP

Livro de registro de Alvarás, Ordens, Cartas Régias e Ofícios dos Governadores ao Rei, 1708-1722. Seção Colonial, Códice 04, APM.

Carta Régia de 6 de maio de 1747. Livro de Registros de Alvarás, Cartas e Ordens Régias – 1713, 1749, Códice 10, fls. 84. APM

59

Relatorio que à Assembléa Legislativa Provincial de Minas Geraes apresentou na sessão ordinaria de 1854, o presidente da provincia, Francisco Diogo Pereira de Vasconcellos. Ouro Preto, Typ. do Bom Senso, 1854. Disponível em http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/458/index.html. Acesso em 4 de abril de 2007, 13:37.

Requerimentos à Câmara feito por Margarida Fernandes da Silva. Documento 131, avulso do volume 750 da Série Miscelânea, Arquivo Histórico da Câmara de Mariana (AHCM)

Requerimento à Câmara feito por Inocência Pires de Carvalho. Documento 132, sem data, avulso do volume 750 da série Miscelânea, AHCM

“Cópia da petiçam feita ao Senado da Camara de V.ª Rica e certidam que se passou em cumprimento do despaxo della de vinte e um de julho de mil setecentos e vinte e sete”. Avulso da Coleção Casa dos Contos, Seção APM, Microfilme. 002. CECO, Ouro Preto

6.2 Referências Bibliográficas

AMORIM, Maria Norberta (1998). Falando de Demografia Histórica. In: Boletim Informativo do NEPS – Núcleo de Estudos de População e Sociedade. Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho. Guimarães N.º 1 – Maio de 1998. p.1-2.

AMORIM, Maria Norberta et al. (2001) Reconstituição de paróquias e formação de uma base de dados central CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO DE DEMOGRAFIA HISTÓRICA (ADEH), Castelo Branco, VI, 2001 – In: Actas do Congresso da Associação Portuguesa de Demografia Histórica, Lisboa: ADEH, 2001. p. 57-66. Disponível em <http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/4347/1/reconstitui%C3%A7%C3%A3o.pdf>, acesso em 4 de fevereiro de 2006, 11:28.

ANTONIL, André João (João Antônio Andreoni). (1967) Cultura e opulência do Brasil por suas drogas e minas. Cap. I: Das minas do ouro que se descobriram no Brasil. São Paulo: Cia. Editora Nacional, p. 255-304.

BARBOSA, Hermínia (2001). A evolução da mortalidade, uma história em construção In: Boletim Informativo do NEPS – Núcleo de Estudos de População e Sociedade. Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho. Guimarães N.º 19 – Maio de 2001. p.6-7.

BARBOSA, Waldemar de Almeida. (1995) Dicionário Histórico Geográfico de Minas Gerais. Itatiaia: Belo Horizonte, 382p.

BOTELHO, Tarcísio (2003) Família escrava em Catas Altas do Mato Dentro (MG) no século XVIII. In: Anais eletrônicos da V Jornada Setecentista. Centro de Documentação e Pesquisa da História dos Domínios Portugueses (CEDOPE), Departamento de História da UFPR, 26 a 28 de novembro de 2003. Disponível em <http://www.humanas.ufpr.br/departamentos/dehis/cedope/atas/tar_botelho.pdf>. Acesso em 7 de fevereiro de 2007, 15:35.

60

BRIGNOLI, Héctor Pérez. (1989) El crescimiento demografico de America Latina en los siglos XIX y XX: problemas, metodos y perspectivas. /Paper inédito, apresentado no Congresso sobre a História da População da América Latina, Ouro Preto, julho de 1989. Mimeo.

BUESCU, Mircea. (1983) Métodos quantitativos em História. Rio de Janeiro: LTC – Livros Técnicos e Científicos Editora S.A, 138p.

CAMPOS, Kátia Maria Nunes (2003) Vila Rica: um estudo de morfologia urbana. Monografia de bacharelado em História, Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Ouro Preto. Manuscrito, 98p.

CARVALHO, José Alberto Magno de, et al. (1998) Introdução a alguns conceitos básicos e medidas em demografia. Belo Horizonte: Série textos didáticos N.1, 2ª ed. ABEP, 1999. 63P.

CARRARA, Angelo Alves. (1999) Estruturas Agrárias e Capitalismo; contribuição para o estudo da ocupação do solo e da transformação do trabalho na zona da Mata mineira. UFOP - Universidade Federal de Ouro Preto, Departamento de História, Núcleo de Estudos da História Econômica e Demográfica. Série Estudos 2. Mariana.

COELHO, José João Teixeira. (1903) Instrucção para o governo da Capitania de Minas Gerais. In: Revista do Archivo Público Mineiro. Belo Horizonte, 8(1/2): 399-581, jan-jun 1903, caps. 1-8.

COSTA, Iraci del Nero da & LUNA, Francisco Vidal. (1982) Minas Colonial: economia e sociedade. São Paulo: FIP-USP.

COSTA, Iraci del Nero da. (1979) Vila Rica: população (1719-1826). São Paulo, IPE-USP.(Ensaios Econômicos, 1).

COSTA, Iraci del Nero da. (1982) Minas Gerais. Estruturas populacionais típicas. São Paulo: EDEC, 1982. 143 p.

DESCRIPCIÓN tipológica de los documentos útiles para la demografía histórica existente en los archivos latinoamericanos, (1972) CELADE, Serie D, N° 71.

ESCHWEGE, Wilhelm Ludwig von. (1979) Pluto Brasiliensis. Belo Horizonte: Itatiaia: São Paulo: EDUSP. 2 v.

FARIA, Ivani Ferreira de. (2005) Expropriação da identidade e da terra indígena no Brasil. Disponível em <http://www.ipol.org.br/ler.php?cod=329>. Acesso em 23 de setembro de 2006, às 14:28.

FIGUEIREDO, Luciano. (1993) O Avesso da Memória: Cotidiano e trabalho da mulher em Minas Gerais no século XVIII. Rio de Janeiro: Ed. José Olympio; Brasília, Edumb, 1993.

61

FRANÇA, Ana Laura Teixeira de. (2002) Santas Normas: o comportamento do clero pernambucano sob a vigilância das Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia – 1707. Dissertação de Mestrado em História. Universidade Federal de Pernambuco. Manuscrito.

GONÇALVES, Andréa Lisly (2000) Alforrias na Comarca de Ouro Preto (1808-1870). In: População e Família, São Paulo, n.3: 157-180.

HAJNAL, John, (1965) European Marriage Patterns in Perspective. In: GLASS, David V. & EVERSLEY, David E.C., (Orgs). Population in History: Essays in Historical Demography. London: Edward Arnold, 101-146.

HENRY, Louis (1977) Técnicas de Análise em Demografia Histórica. Trad. Altiva Pilatti Balhana e Jayme Antônio Cardoso. Curitiba: Universidade Federal do Paraná.

História e População: Estudos sobre a América Latina (1990) Congresso sobre a História da População da América Latina, Ouro Preto, 1989. ABEP, 1990.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. (1995) Raízes do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. 220p.

KUSNEZOF, Elizabeth Anne. (1990). Ilegitimidade, Raça e Laços de Família no Brasil do Século XIX: Uma análise da informação dos censos e de batismos para São Paulo e Rio de Janeiro. In: História e População: Estudos sobre a América Latina. Congresso sobre a História da População da América Latina, Ouro Preto, 1989. ABEP, 1990, p. 164-174.

LEE, Ronald. Demos (Org). (1977). Methods and models for analyzing historical series of births, deaths and marriages. In: LEE, R. D.(Org.) Populations patterns in the past San Francisco: Academic Press. p. 337-370.

LIBBY, Douglas Cole. (1988) Transformação e trabalho numa economia escravista, Minas Gerais no século XIX. São Paulo: Brasiliense, 1988.

LIVI BACCI, Massimo. (1977) Can anything be said about demographic trends when only aggregate vital statistics are available? In: LEE, Ronald Demos. (Org.). Populations patterns in the past. San Francisco: Academic Press,. p. 297-336

MAIA, Adhalmir dos Santos. (1972) Ouro Preto: Homens, idéias e fatos. Belo Horizonte: Edição do autor. 209p.

MARCÍLIO, Maria Luísa (Org.). (1977) Demografia Histórica. São Paulo: Livraria Pioneira Editora, SP.

MARCÍLIO, Maria Luiza. (1973) A cidade de São Paulo: povoamento e população, 1750-1850, com base nos registros paroquiais e nos recenseamentos antigos. São Paulo, Edusp/Pioneira.

62

MARCÍLIO, Maria Luiza. (1990) Introdução. In: História e População: Estudos sobre a América Latina. Congresso sobre a História da População da América Latina, Ouro Preto, 1989. ABEP, 1990, p. 1-4.

MATHIAS, Herculano Gomes. (1969) Um recenseamento na Capitania de Minas Gerais: Vila Rica – 1804, Rio de Janeiro: Arquivo Nacional. 208p.

MAXWELL, Kenneth. (1985) A devassa da Devassa: A Inconfidência Mineira, Brasil – Portugal, 1750-1808. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1985.

NEVES, Antônio Amaro das. (2001) Filhos das Ervas: A ilegitimidade no norte de Guimarães (Séculos XVI-XVIII). (2001) Núcleo de Estudos de População e Sociedade, Universidade do Minho: Guimarães, 2001. 253 p.

OLIVEIRA, Tarquínio José Barbosa de. (1976) (Análise e Organização)“Erário Régio e S.M.F ministrado pela Junta da Real Fazenda de Vila Rica - 1768.” Edição facsimilar da obra de Francisco A. Rebelo. ESAF: Brasília, 1976. 144 p.

PAIVA, Clotilde Andrade (1984) Mariana: características da população em 1831. In: Anais do IV Encontro de Estudos Populacionais, 1984. Disponível em <http://www. abep.nepo.unicamp.br/docs/anais >. Acesso em 23 de novembro de 2006, às 15:36.

RAMOS, Donald. (1990) A mulher e a família em Vila Rica do Ouro Preto: 1754-1838. In: História e População: Estudos sobre a América Latina. Congresso sobre a História da População da América Latina, Ouro Preto, 1989. ABEP, 1990, p. 159-163.

ROCHA, José Joaquim da. (1994) Geografia Histórica da Capitania de Minas Gerais. Descrição geográfica, topográfica, histórica e política da capitania de Minas Gerais. Memória histórica da capitania de Minas Gerais. Belo Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1994.

SCOTT, Ana Silva Volpi. (2000) O pecado do lado de lá: a fecundidade ilegítima na Metrópole Portuguesa (Séculos XVII-XIX). In: População e Família – São Paulo, n. 3, p. 41-70.

SOUZA, Washington Pelusio Albino. (1976) As lições das vilas e cidades de Minas. In: IV Seminário de Estudos Mineiros. Belo Horizonte: UFMG. 1976, p. 97-241.

TRINDADE, Cônego Raymundo Trindade (1928) Archidiocese de Mariana: Subsídios para a sua História. São Paulo: Escolas Profissionais do Lyceu Sagrado Coração de Jesus, vol. I.

VENÂNCIO, Renato Pinto & Furtado Júnia Ferreira. (2000) Comerciantes, tratantes e mascates. In: DEL PRIORE, Mary. (Org.). Revisão do Paraíso: os brasileiros e o Estado em 500 anos de história. Rio de Janeiro: Campus, 2000, v. I, p. 93-113

VENÂNCIO, Renato Pinto. (1997) Os Últimos Carijós: Escravidão Indígena em Minas Gerais Colonial. In: Revista Brasileira de História, v.34, p. 165-182.

63

7. APÊNDICE

64

7. APÊNDICE

7.1 A Paróquia do Antônio Dias, no século XVIII – Ruas e bairros constantes dos registros paroquiais, de 1763 a 1773.

a) Bairro do Antônio Dias (Centro, em direção ao vale)

Rua Nova, lado leste.

Praça da Vila, lado leste45. Ladeira da Câmara

Morro das Lajes

Rua das Lajes

Alto das Mercês e Perdões

Rua Direita da Matriz

Rua Detrás da Cadeia Velha

Virasaias

Pinheiro

Palácio Velho

Fraldas do Morro do Antônio Dias

Arraial dos Paulistas (Vale)

Rua dos Paulistas

b) Alto da Cruz (Morro)

Ladeira do Alto da Cruz

Beco da Lapa

Rua do Salé

Água Limpa

Fraldas do Morro do Alto da Cruz

45 A Cadeia, situada na Praça, pertencia, em anos alternados, a cada uma das paróquias. Isto significa que, num determinado ano, os presos oriundos de outras localidades eram fregueses do Antônio Dias. No ano seguinte, da paróquia do Ouro Preto. Os presos locais mantinham o vínculo com sua paróquia de residência.

65

c) Padre Faria (Morro)

Ladeira do Padre Faria

Bonsucesso

Barro Vermelho

Fraldas do Morro do Padre Faria

Taquaral (Morro)

Pilar do Taquaral

Matacavalos (divisa com Passagem de Mariana, no Taquaral)

Ojô

Sumaré

d) Morro de Sant’Ana

Morro

Corgo Seco

Piçarrão

Areião

Morro da Pedra Branca

Morro da Piedade

Piedade da Lavra Nova

Lavra Nova

e) Morro de São João do Ouro Fino

Ouro Fino

São João do Ouro Fino

Queimada

Ouro Bueno

f) Barra (Antiga saída para a estrada do Rio de Janeiro)

Olaria

Casa de Pedra (Morro do Cruzeiro)

Saramenha

66

7.2. Capelas Filiais da Matriz de Nossa Senhora da Conceição do Antônio Dias

a) Capelas das Lavras dos Morros

Nossa Senhora do Pilar do Taquaral

S. João do Ouro Fino

Sant’Ana do Morro

Nossa Senhora da Piedade da Lavra Nova

b) Capelas de Irmandades

Nossa Senhora do Rosário dos Irmãos Brancos do Padre Faria

Nossa Senhora do Rosário dos Irmãos Pretos do Alto da Cruz

Nossa Senhora das Mercês e Bom Jesus dos Perdões dos Irmãos Crioulos

Ordem Terceira de Nossa Senhora das Dores (Cemitério da Matriz)

Ordem Terceira de São Francisco de Assis

Irmandade de Santa Ana de Misericórdia, na Santa Casa de Misericórdia (Praça da Vila).

c) Capelas dos governos da Capitania e da Vila

Capela de Nossa Senhora da Conceição, no Palácio dos Governadores.

Santa Rita dos Presos, na Casa da Câmara e Cadeia, na Praça.

7.3. Conceitos utilizados

Fecundidade Natural

O conceito de fecundidade natural foi introduzido por Louis Henry em diversos estudos de

populações européias do período pré-industrial e posteriormente aplicado a uma grande

variedade de populações de outras regiões geográficas. De acordo com Henry (1977), a

fecundidade natural é definida pela ausência de controle deliberado de nascimentos, em que

controle é precisamente definido como qualquer comportamento que afete voluntariamente

a fecundidade.

67

Ilegitimidade

Definem-se como ilegítimas as crianças nascidas fora de “legítimo matrimônio”, segundo a

Igreja. Nos registros coloniais, a expressão utilizada era “filho natural”, ou seja, nascido em

estado de natureza. Assim, se os pais se casassem, posteriormente, o status de filho natural

podia ser emendado para o de legítimo.

Expostos

O costume ancestral de se expor ou abandonar recém-nascidos indesejados à porta de

outrem foi introduzido, na sociedade colonial brasileira, pelos imigrantes portugueses. Dos

registros paroquiais depreende-se que eram presumidos livres e legítimos, pela Igreja. No

primeiro caso, se a criança viesse a ser imediatamente qualificada como escrava, é porque

tinha um senhor conhecido. Em plantéis razoavelmente reduzidos, como os do Antônio

Dias, a identificação da mãe seria quase imediata e o “exposto” re-escravizado, o que

praticamente inviabilizava a exposição de recém-nascidos escravos. Por outro lado,

ocorriam casos esporádicos de abandono de recém-nascidos legítimos (Ramos, 1990).

Reconhecendo o fato, a Igreja se abstinha de apor a expressão “filho natural” aos registros,

o que desqualificaria, a priori, e impropriamente, filhos de “legítimo matrimônio”, uma

inconsistência grave aos olhos da Igreja, em vista do enorme valor atribuído à natureza

sacramental do matrimônio tridentino.

Quartação

Define-se como quartação o sistema de manumissão condicional em que o escravo

comprava a sua própria liberdade, em prestações periódicas, podendo ainda se obrigar à

prestação de serviços, por um determinado prazo. Normalmente, o preço de venda era

dividido em quatro prestações periódicas, de onde se originou o termo “quartado”.

Aparentemente, o escravo quartado se igualava ao forro, na maioria das vezes. Neste caso,

filhos de mães quartadas eram quase sempre considerados livres46. Contudo, caso o escravo

46 O único caso contrário encontrado, no período de referência, refere-se ao registro de batismo de João, nascido a 25 de junho de 1765, filho de Maria, escrava quartada por José Dias Coutinho. O referido senhor declarou que “o inocente é seu cativo” (LB, fls. 357 II).

68

não cumprisse os termos do acordo de quartação, poderia ser legalmente reconduzido ao

cativeiro.

Taxa de Mortalidade Infantil

Corresponde ao risco que um nascido vivo tem de vir a falecer, num determinado ano, antes

de completar um ano de idade, expresso pelo número de óbitos por mil nascidos vivos, no

ano considerado.

Razão de Sexo

Define-se razão de sexo como a relação entre o número de indivíduos do sexo masculino,

numa determinada faixa etária, e o número de mulheres na faixa correspondente.

Razão de Sexo ao Nascer

É a relação entre o número total de nascidos vivos do sexo masculino e os nascidos vivos

do sexo feminino. Esta relação é aproximadamente constante, para todas as populações e

situa-se em torno de 1,05.

7.4 Exemplos de Registros Paroquiais do Antônio Dias

Casamentos de brancos

“ José de São Boaventura

D. Teresa Maria de Jesus

Em o primeiro dia do mês de novembro de mil setecentos e vinte e sete, nesta igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Vila Rica, pelas quatro horas da tarde, feitas as admoestações na forma do Sagrado Concílio Tridentino, nesta freguesia e na de Nossa Senhora do Pilar, desta mesma Vila, onde os contraentes são moradores, se casaram solenemente na presença do Revdo. Doutor Manoel de Andrada e Góis, de licença minha, o capitão mor José de São Boaventura, viúvo que ficou de Josefa dos Reis, moradora que foi na Cidade do Porto, onde faleceu, como justificou, filho legítimo de Manoel Gonçalves e sua mulher Mariana Vieira, com Dona Teresa Maria de Jesus, filha legítima do capitão Gabriel Fernandes Aleixo e de sua mulher Dona Elena Maria de Moraes, desta mesma freguesia, sendo presentes, por testemunhas, Dom Lourenço de

69

Almeida, Governador e Capitão General destas Minas, e o Doutor Provedor da Fazenda Real, Antônio Berquó del Rio, que todos aqui assinaram comigo, e logo receberam as Bençãos, conforme os ritos e cerimônias da Santa Madre Igreja, de que tudo fiz este assento no mesmo dia, que por verdade assinei com os contraentes e testemunhas dia ut supra.(as.)O vigário Félix Simões de Paiva; Dom Lourenço de Almeida; José de São Boaventura; Manoel de Andrada e Góis; Antônio Berquó del Rio.”

Casamento de livres, pobres

“Francisco Pereira da Fonseca

Ana Maria Madalena

Aos dezesseis dias de abril de mil oitocentos e vinte e seis feitas as denunciações do estilo e com provisão do Rev.do Vigário da Vara José Joaquim Viegas de Menezes assisti nesta Matriz a celebração de matrimônio dos contraentes Francisco Pereira da Fonseca, filho natural de Jerônima Pereira da Fonseca, batizado na freguesia de Antônio Dias e Ana Maria Madalena, filha natural de Antônia Rodrigues de Almeida, batizada na freguesia do Ouro Preto, ambos paroquianos desta freguesia, e lhes dei as bençãos nupciais na forma do Ritual Romano. Foram testemunhas Elias Costa Lopes, e Jacinto Gonçalves Chaves, de que mandei fazer este assento que assino. (ass.) O Vigário José da Cunha Melo”.

Registros de Batizados

Batizado de Escravo Adulto

“Aos dezoito dias do mês de setembro de mil setecentos e sessenta e quatro, nesta Matriz, batizou e pôs os santos óleos o Reverendo Coadjutor Bernardo José da Encarnação a José Mina, adulto, escravo de Joana de Araújo, preta forra do Padre Faria; foram padrinhos Joaquim Mendes, preto forro e a dita senhora Joana de Araújo, de que, para constar, fiz este assento. (ass.) O Coadjutor Tomás Machado de Miranda.” (LB, fls. 338v).

Batizado de Menores Escravos

“Aos dezesseis dias do mês de outubro de mil setecentos e quarenta e seis, batizei e pus os santos óleos a Ana, filha de Maria, escrava de Francisco Xavier, Felipe e Joana, filhos de Rita, escravos de Marta de Jesus, Rosa, filha de Clara, escravos de Manoel Martins e Teresa, filha de Luzia, escrava de José Dias, todos nascidos no quilombo do Ambrósio. Foram padrinhos o sargento mor Manoel de Souza Portugal e Josefa Soares do Santos, de que fiz esse assento. (ass.) O vigário Pedro Leão de Sá (Folha 30v, Mic 038, Arquivo da Paróquia do Pilar).

70

Batizado de Filha de Escravos Casados

“Aos onze de setembro de mil setecentos e sessenta e quatro, nesta Matriz, batizou e pôs os santos óleos o reverendo coadjutor Bernardo José da Encarnação a Domingas, inocente, nascida a dois do corrente, filha legítima de João crioulo e Paula crioula, escravos de Domingos Carvalho de Araújo, morador no Bonsucesso. Foram padrinhos Valentim de Carvalho, pardo forro e Rosa preta forra, mulher de José de Azevedo, pardo forro, de que para constar, fiz este assento. (ass.) O Coadjutor Tomás Machado de Miranda.” (LB, fls. 338).

Batizado de Filho de Brancos

“ Aos vinte de junho de mil setecentos e noventa e quatro nesta Matriz, batizou e pôs os Santos Óleos o Padre Coadjutor Silvério da Costa e Oliveira a Manoel, inocente, nascido em sete do corrente, filho legítimo de Paulo Lourenço da Silva, batizado na freguesia de Nossa Senhora do Pilar do Ouro Preto, e de sua mulher Clara Teixeira, batizada na freguesia da Sé da Cidade de Mariana, e moradores no Caminho Novo. Neto por parte paterna de André Lourenço da Silva, batizado na freguesia de São Salvador das Rosas do Arcebispado de Braga, e de Mariana Eugênia da Silva, batizada na do Ouro Preto; e pela parte materna de Manoel Luís Soares, da freguesia de Santa Maria de Gilmonda, termo da Vila de Barcelos do Arcebispado de Braga e de Inácia Maria Teixeira, da Sé de Mariana. Foram padrinhos José Peixoto de Carvalho, solteiro, morador na freguesia de Antônio Pereira; e Maria Eugênia do Pilar, solteira, filha de André Lourenço da Silva, do Morro de São Sebastião do Ouro Preto. De que fiz esse assento que assinei. (ass.) O Vigário Bernardo José da Encarnação”.

Registros de Óbitos

Óbito de branco

“Aos vinte e dois de Maio de mil setecentos e noventa e nove faleceu de uma hidropisia com todos os sacramentos, testamento solene e codicilo, Martinho Vieira da Rocha, homem branco, casado, morador nesta freguesia, filho legítimo de Manoel Fernandes e Maria Vieira, natural e batizado na freguesia de São Romão de Paredes, Concelho de Bem Viver, Arcebispado do Porto: seu corpo foi envolvido em hábito franciscano acompanhado de todos os sacerdotes desta freguesia, que disseram Missa do corpo presente de esmola de um cruzado e das Irmandades do Santíssimo e Conceição e da Ordem Terceira de São Francisco, que o conduziu em tumba para a sua capela, onde jaz sepultado, depois de ser por mim encomendado, de que fiz este assento. (ass.) O Vigário João Antônio Pinto Moreira.”

71

Registro de Óbito de Inocente

Aos vinte e um dias de agosto de mil setecentos e sessenta e oito, nesta freguesia, faleceu da vida presente Gervásio inocente, em casas de Ana da Silva Teixeira de Menezes, filho natural de pai incógnito músico e de Ana Maria Rodrigues, parda forra. Foi enterrado dentro da Matriz, em cova da Fábrica. Do que, para constar, fiz este assento, que assinei. (ass.) O Coadjutor Bernardo José da Encarnação.” (LO, fls. 423).

Registro de Óbito de Preto Forro

“Aos dezesseis dias do mês de setembro de 1763, nesta freguesia, com todos os sacramentos, faleceu da vida presente Antônio João Branco, preto forro solteiro de nação mina, batizado na freguesia de Nossa Senhora dos Anjos do Patriarcado de Lisboa. Foi sepultado dentro da Capela da Cruz, em cova de sua Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, que o acompanhou na sua tumba, com licença paroquial, encomendado pelo seu capelão, conforme disposição de seu testamento. Do que, para constar, fiz este assento que assinei. (ass.) O Coadjutor Bernardo José da Encarnação.” (LO, fls. 383)

Óbito de Escravo

Aos 3 de janeiro de mil setecentos e sessenta e cinco faleceu da vida presente, debaixo de um penedo que veio lhe sobrepor, Pedro, escravo do capitão José da Silva Lessa, morador no Matacavalos. Foi encomendado e enterrado no cemitério da capela do Pilar do Taquaral. Do que, para constar, fiz este assento que assinei. (ass.) O Coadjutor Bernardo José da Encarnação”. (LO, fls. 335).

7.5 Exemplos de Dados Fornecidos por Fontes Suplementares

Autos de Embargo contra João Fernandes da Costa, Microfilme 027, vol. 0479,

Arquivo Paroquial do Pilar: Excerto do testemunho de João José da Fonseca,

morador no Serro, de 65 anos de idade:

“Disse que sabe por ser público e notório que no ano de mil setecentos e cinqüenta e cinco, sendo ele testemunha vizinho do embargado Antônio Fernandes da Costa que este tinha tratos ilícitos com uma negra por nome Maria benguela e que tratava como sua amásia e mais não disse deste nem do terceiro e quarto.

72

E do quinto disse sabe pelo ver que o embargado, morando na lavra das Duas Barras tinha de portas adentro a dita Maria benguela e os filhos desta: Pedro, o embargante e [João] os traria na escola, zelando-os como seus filhos e que por muitas vezes confessou a ela testemunha assim como também a dita mãe Maria benguela não havia de servir a outra pessoa e mais não disse...”

Rol de Testemunhas da ação reclamatória de escravo de Paulino José de Brito contra

o capitão Antônio Vieira, 1806: Microfilme 027, vol. 0479, Arquivo Paroquial do

Pilar:

“Manoel Francisco de Carvalho, branco, casado, natural de Santo Antônio do Ouro Branco, de idade de 34 anos, pouco mais, pouco menos...

Rev.do Silvério Teixeira de Gouveia, natural de Piranga, morador no largo da Matriz do Ouro Preto, que vive de ser professor de Gramática Latina, de idade que diz ser de 52 anos, pouco mais, pouco menos...

Julião da Silva Tavares, homem branco, natural e morador do Antônio Dias, que vive de escrivão da Ouvidoria, de idade de 37 anos...

Capitão José Vaz de Carvalho, homem pardo forro, solteiro, que vive de minerar, de idade de 72 anos, pouco mais, pouco menos...

Francisco Camelo de Mendonça, homem pardo forro, natural de Mariana, morador na rua do Alto da Cruz, trombeta do 2.º Regimento de Mariana, de idade que diz ser de 32 anos, pouco mais, pouco menos...”

Excerto da “Lista das pessoas que se acham no Distrito de Antônio Dias, de que é

capitão Manoel da Costa e Silva, em 7 de outubro de 1769”. Microfilme 620, sublote 4,

Caixa 294, grupo 17, Coleção Casa dos Contos, Arquivo Nacional.

O Dr. Desembargador João Caetano Barreto

O Dr. ouvidor geral José da Costa Fonseca

O ajudante de ordens Jerônimo de Matos

O sargento mor Francisco Antônio Rebelo

O sargento mor Caetano José Viegas

O Dr. João Tavares do Amaral, soldado da nobreza

O Licenciado Roque José Pereira, soldado da nobreza

Manoel Lopes Gomes, soldado a cavalo

João de Deus Lima, privilegiado da Trindade

73

Manoel José, cabeleireiro

Manoel Pacheco Ferreira, oficial de justiça

O capitão Constantino da Costa Leite

O capitão Feliciano José da Câmara

O capitão Brás Valentim de Oliveira, da nobreza

O capitão Antônio da Mota Magalhães, de (sic) a cavalo

Francisco Dias da Costa, soldado da nobreza

Dr. Matias Francisco de Melo Albuquerque

Manoel Pinto Cardoso, soldado a cavalo (...)

74

75

247 3fev1770

José Pires de Carvalho, preto forro, mina, viúvo de Domingas Pires de Carvalho, batizado na freguesia do Antônio Dias

Maria Borges de Mesquita, mina, escrava de

Antônio Borges de Mesquita

Não consta Não consta

247 22fev1770José Caetano Ferreira, natural da freguesia de N.Sª da Conceição do Antônio Dias, Vila Rica

Quitéria Maria de Barros, natural da

freguesia de Santo Antônio do Itatiaia

Caetano Ferreira Velho e sua mulher

Josefa Ferreira Velho

João Barros Correia e Ana Maria, sua

mulher

247v 25fev1770José Lopes Cordeiro, pardo, natural da freguesia de N.Sª da Conceição do Antônio Dias, Vila Rica

Maria Martins Chaves, crioula, natural da freguesia de N.Sª da Conceição do Antônio Dias, Vila Rica

Lourenço Cordeiro e sua mulher Rita

Lopes da Cruz

Antônio Martins Chaves e Joana

Martins

247v 27fev1770

Custódio Álvares Filgueira, natural da

freguesia de São Bartolomeu, termo de

Vila Rica

Ana Nobre dos Santos, natural da freguesia de N.Sª da Conceição do Antônio Dias, Vila Rica, batizada em 1743, fls. 46v (27 anos)

27

Filha natural de Francisca Cabo Verde e

pai incógnito

Filha natural de Josefa Nobre dos

Santos, preta forra

247v 27fev1770

Manoel Geraldo Pereira, natural da

freguesia de Antônio Pereira

Isabel Maria do Sacramento, natural da freguesia freguesia de N.Sª da Conceição do Antônio Dias, Vila Rica (Batizada em 12abr1745, fls. 69 - 25 anos)

25

Domingos Pereira Baião e sua mulher

Teotônia Rodrigues da Cruz

Felix César de Menezes e Antônia

Correia de Carvalho, crioulos forros

248 27fev1770

Francisco Lopes de Oliveira, natural da

freguesia de N.S.ª da Candelária, RJ

Páscoa Vaz de Carvalho, natural da freguesia de N.Sª da Conceição do Antônio Dias, Vila Rica (Batizada em 14abr1743, fls. 46v - 27 anos. Faleceu em 29abr1814, LO fls. 245v)

27

Filho natural do ajudante José Lopes de

Oliveira e Maria da Silva

Filha natural de Maria Vaz de Carvalho,

preta forra

248 27fev1770

Gaspar Manoel, natural da freguesia de N.S.ª da Apresentação, Lugar das Capelas, Ilha de São Miguel, bispado de Angra

Natália da Costa Trindade, natural da

freguesia de N.Sª da Glória da Passagem,

filial da Sé, Mariana

Manoel de Souza Cordeiro e sua mulher

Maria de Viveiros

Filha natural de Manoel da Costa

Trindade e Antônia Gomes de Araújo

248v 28abr1770

Pascoal Pereira de Barros, natural da

freguesia de Santo Antônio do Itatiaia,

termo de Vila Rica

Ana Ribeira de Abreu, natural da freguesia de N.Sª da Conceição do Antônio Dias, Vila Rica, batizada em 17set1750, LB fls 135

20

Filho natural de Manoel Pereira Barros e

Joana Pereira de Souza

Filha natural de Sebastiana Fernandes Lima <Filha legítima de Felipe Ribeiro de Abreu e Sebastiana Rodrigues, pardos>

248v 28mai1770

Manoel de Faria, natural da freguesia

de N.S.ª de Nazaré de Cachoeira do

Campo

Ana de Souza Coelho, natural da freguesia de N.Sª da Conceição do Antônio Dias, Vila Rica, batizada em 23nov1756, LB fls 202 (14 anos)

14

Manoel de Faria e sua mulher Josefa

Álvares

Filha natural de Leandra de Souza

Coelha e pai incógnito

249 29mai1770

Jacinto Ferreira de Carvalho, natural de São Miguel de Refojos de Basto, comarca de Guimarães, arcebispado de Braga

Luciana Josefa Tavares, natural da

freguesia de N.S.ª da Conceição de

Guarapiranga, termo de Mariana

Gervásio Ferreira de Carvalho e sua

mulher Ana Maria de Fontoura

Manoel Tavares de Gouveia e sua

mulher Catarina de Miranda de Oliveira

249 2jun1770

Felipe Antônio de Trindade, natural da

freguesia de Santo Antônio de Ouro

Branco, termo de Vila Rica

Ana Gomes de Oliveira, natural da freguesia de N.Sª da Conceição do Antônio Dias, em 10ago1747, LB fls.97. Vila Rica

23

Filho natural de José Jacome e de Joana

do Sacramento

Filha natural de Francisco Gomes de

Oliveira e Rosa Gomes de Oliveira

Quadro A1 - Excerto da Planilha de Casamentos 1749-1804 da Paróquia de Antônio Dias - Microfilme 74 (até 12mai1782)

76

77

249v 2jul1770

João da Mota Magalhães, preto forro

angola

Ana Maria de Souza Forte, natural da

freguesia de N.Sª da Conceição do

Antônio Dias, Vila Rica (b. 9set.1750)

20 Não consta

Filha natural de Josefa de Souza Forte,

preta forra

249v 23jul1770João Fernandes Cal, natural da freguesia de N.Sª da Conceição do Antônio Dias, Vila Rica

Efigênia Maria da Conceição, natural da freguesia de N.Sª da Conceição do Antônio Dias, Vila Rica

Filho natural de Joana Fernandes Cal,

preta forraNão consta

250 11out 1770Faustino Martins de Araújo, viúvo de

Maria Correia

Josefa Maria de Jesus, natural do Antônio Dias, batizada em 14jul1755, LB fls. 190v

15 Não constaFilha de Antônio Mendes Coelho e sua

mulher Teresa Maria de Jesus

250 4out1770Manoel Angola, escravo do alferes

Lázaro Fernandes Sampaio

Rita crioula, escrava do alferes Lázaro

Fernandes SampaioNão consta

Filha natural de Maria Fernandes, escrava do alferes Lázaro Fernandes Sampaio e pai incógnito

250 27nov1770

Bonifácio Antônio Machado, pardo

forro, natural da freguesia de Bom

Jesus de Furquim, termo de Mariana

Ana Francisca Fernandes, parda forra

Filho natural de Rosa Antônia e pai

incógnito

Filha natural de Isabel Machada da

Conceição, crioula forra

250v 1dez1770

Domingos Rodrigues Graça, natural da

freguesia de Santo Antônio de Casa

Branca, termo de Vila Rica

Genoveva Pereira da Anunciação, crioula

forra, nascida em 1740. Censo de 1804, p.

199

30

Filho natural de Domingas Rodrigues

Graça e pai incógnito

Filha natural de Maria Pereira Ramalho

e pai incógnito

250v 29dez1770

José Pereira de Araújo <cirurgião>,

viúvo de Bárbara Maria Xarém, falecida

em 28nov1769, LO fls. 438 (II).

Francisca Teodora do Sacramento, viúva de

Antônio da Silva Costa, natural do Antônio

Dias

Não consta

<Licenciado Manoel Nunes dos Reis,

boticário, e sua mulher Josefa Maria de

Jesus>

250v 1jan1771

Francisco José de Carvalho, natural de Santa Maria Madalena, comarca de Torres Vedras do Patriarcado de Lisboa

Antônia Clara Valentina da Fonseca, natural da freguesia de N.Sª da Conceição do Antônio Dias, Vila Rica, batizada em 12mar1745, LB fls. 79v (26 anos)

26

Geraldo Gomes de Carvalho e sua

mulher Inácia Maria

Luís Pedroso Sintra e sua mulher

Maria da Gama Reis

251 23jan1771

José da Costa Oliveira, natural da

freguesia de N.Sª da Conceição do

Antônio Dias, Vila Rica

Rosa Pereira da Silva, batizada em 4mar1750, LB fls.127v, natural da freguesia de N.Sª da Conceição do Antônio Dias, Vila Rica

21

José da Costa Oliveira e sua mulher

Teresa de Jesus Ferreira

Não consta

251 25jan1771 Joaquim Álvares ChavesMaria da Silva, viúva de José Gomes do Carmo e natural da freguesia da Sé, Mariana

Filho natural de Joaquim Álvares Chaves

e de Mariana Álvares, sua mulher

Filha natural de Francisco Martins e

Luísa Rodrigues do Couto

251v 6fev1771Manoel Carvalho, natural de Santa Maria de Canedo, comarca de Guimarães, arcebispado de Braga

Maria dos Santos Gonçalves, natural da

freguesia de Itaverava

Luís Carvalho e Senhorinha de Andrade,

sua mulher

Manoel dos Santos Nobre e Paula dos

Santos Araújo, sua mulher

251v 12fev1771 Manoel da Silva Freitas, natural da freguesia do Antônio Dias, Vila Rica

Vicência de Araújo Silva, natural de N.Sª. da Candelária, bispado do Rio de Janeiro

Filho natural de Manoel da Silva Freitas e Rita da Silva Freitas

Inácio de Araújo Malho e sua mulher Antônia Gomes da Silva

252 12fev1771Vitoriano Caetano Ferreira, natural da

freguesia do Antônio Dias, Vila Rica

Inácia Fernandes da Silva, natural da

freguesia do Antônio Dias, Vila Rica

Caetano Ferreira e sua mulher Josefa

Pereira

252 12fev1771Miguel Dionísio Vale, natural da freguesia de N.S.ª do Rosário do Sumidouro

Teresa Bernardes, natural de Mariana,

nascida em 1758, Censo de 1804, p. 129

Filho natural de Maria da Silva Vale e pai

incógnito

Filha natural de Inácia Rodrigues Serra

e pai incógnito

252 1mai1771 André Dias, preto forro, natural da Costa da Mina

Maria Mendes, preta forra, natural da Costa da Mina

Não consta Não consta

78

79

252v 20mai1771

Manoel Ribeiro, natural da freguesia de

Antônio Dias, Vila Rica

Ana da Silva, natural da freguesia de N.Sª

da Conceição do Antônio Dias, Vila Rica,

batizada em 2mai1748, LB fls. 108

23

Filho natural de Josefa Furtada, preta

forra e pai incógnito

Quitéria da Silva Maia e pai incógnito

252v 11fev1771André da Silva Coura, natural da

freguesia do Pilar de Ouro Preto

Ana da Costa Novais, natural da freguesia de N.Sª da Conceição do Antônio Dias, Vila Rica

João da Silva Coura e sua mulher Luísa

Maria da Assunção e pai incógnito

Filho natural de Luísa Maria do Rosário

e pai incógnito

253 4jun1771

Felipe Pereira da Gama, natural da freguesia de N.Sª da Conceição do Antônio Dias, Vila Rica (n. 30.jan. 1763)

Ana da Costa Braga, natural da freguesia de

N.Sª da Conceição do Antônio Dias, Vila

Rica

Filho natural de Teresa Pereira da Gama

e pai incógnito

Filha natural de Joana da Costa Braga

e pai incógnito

253 3ago1771

Antônio Nunes, crioulo forro, natural da

freguesia de N.Sª da Conceição do

Antônio Dias, Vila Rica

Josefa da Silva Maia, crioula forra, natural da freguesia de N.Sª da Conceição do Antônio Dias, Vila Rica, batizada em 11mai1751, LB fls. 142.

20

Filho natural de Felipa, escrava de

Faustino Nunes

Filha natural de Quitéria da Silva Maia

253 12ago1771José Jacinto Xavier Cordeiro, natural da freguesia de São José da cidade de Lisboa

Rosa de Santo Antônio, natural do Antônio Dias, batizada em 5jul1755, fls. 190v

16Francisco Xavier Cordeiro e sua mulher

D. Francisca Antônia de Matos

Antônio de Fontes Leal (faleceu em 4 jun1768, LO fls. 419v) e sua mulher Maria de São José

253v 17ago1771

José Coelho de Almeida, natural de

São Miguel de Baltar do bispado do

Porto

Joana Rosa de Faria, natural da freguesia de N.Sª da Conceição do Antônio Dias, Vila Rica, batizada em 23mai1754, LB fls. 177v

17

Filho natural de Caetano José de

Almeida e Catarina Coelho

Manoel Pinheiro de Faria e sua mulher

Quitéria Antônia da Fonseca

254 6nov1771Leonardo Carvalho, natural de São Salvador de Rossas, concelho de Guimarães, arcebispado de Braga

Margarida de Faria Pereira, natural da freguesia de Santo Antônio da Manga, bispado de Pernambuco

Manoel Carvalho e sua mulher Custódia

Vieira

Filha natural do capitão José de Faria

Pereira e Teresa de Jesus Pereira

254 12set1771

Félix Dias Monteiro, natural de São

Pedro da Morgada, termo de Monte

Alegre, arcebispado de Braga

Maria Josefa da Conceição, natural da

freguesia de N.Sª da Conceição do

Antônio Dias, Vila Rica (b.01mai1751)

20

João Dias Monteiro e sua mulher

Domingas Fernandes

Domingos Francisco do Vale e sua

mulher Elena da Conceição

254 28set1771

Afonso Vital da Mota, crioulo forro,

natural da freguesia de N.Sª da

Conceição do Antônio Dias, Vila Rica

Paulinha Pinheira, crioula forra, batizada em 9set1752, LB fls. 157, natural da freguesia de N.Sª da Conceição do Antônio Dias, Vila Rica

19

Filho natural de Caetana da Mota e pai

incógnito

Filha natural de Maria Pinheira e pai

incógnito

254v 19out1771José Martins da Silva, natural da freguesia de São Bartolomeu, termo de Vila Rica

Maria Francisca da Conceição, natural da freguesia de São Bartolomeu, termo de Vila Rica

Filho natural de José Martins Grangeiro e

Francisca Gomes da Rocha

Filha natural de Gertrudes Francisca

do Pilar e pai incógnito

254v 28out1771Bento da Costa Soares, natural da freguesia de N.S. da Conceição de Camargos

Josefa de Freitas, parda forraFilho natural de Natália de Jesus e pai

incógnito

Quitéria de Freitas, cabra forra e pai

incógnito

255 6nov1771

João Ferreira, crioulo forro, natural da

freguesia de N.Sª da Conceição do

Antônio Dias, Vila Rica

Joana Gonçalves, crioula forra, natural da freguesia de N.Sª da Conceição do Antônio Dias, Vila Rica, batizada em 10fev1748, LB fls. 105

23 Filho natural de Quitéria Ferreira Maria Gonçalves e pai incógnito

255 13nov1771Manoel José de Freitas, natural da freguesia de N.S.ª do Rosário das Lajes da Ilha das Flores

Joana Clara Xavier, natural de Santo

Antônio da Casa Branca, termo de Vila Rica

Domingos de Freitas e Bárbara Furtada,

sua mulher

Matias Xavier Baleeiro e sua mulher

Narcisa Pires Rubim

80

Folha Nome SexoData

BatismoData Nasc. Endereço Mãe

Idade

da mãePai Padrinho Madrinha

Eventos

(data)

303v Ana Fem 25fev1763 12fev1763 Queimada Josefa mina, escrava de Veríssimo da Conceição 0 Incógnito Antônio da Costa Úrsula Teixeira, crioula

forra

303v Ana Fem 27fev1763 10fev1763 VirasaiaAna Rodrigues, parda forra,

solteiraIncógnito Jacinto de Souza Ferreira

Quitéria Antônia da Fonseca c.c. Manoel Pinheiro de Faria

303v Francisca Fem 28fev1763 18fev1763 Rua dos Paulistas

Maria angola, escrava de Maria Luísa

0 Incógnito Joaquim de Lima e Melo Joana Álvares Vieira

304 Petronilha Fem 1mar1763 22fev1763 Queimada

Maria sabaru, escrava de

Antônio Teixeira da Costa

0 Incógnito

José courano, escravo de

Manoel da Costa Novais

Josefa mina, escrava de

Antônio Fernandes Veiga

10 dias Faleceu

em 3mar1763

LO fls. a419

304 Maria Fem 1mar1763 22fev1763 Padre Faria Isabel Machada, crioula forra, solteira

Incógnito Pe. Manoel de Iza Geraldes

Helena Maria, filha de Maria dos Prados

304 Joaquim Masc 2mar1763 18fev1763 Não consta

Benta Lopes, crioula forra

solteira, batizada em

28fev1735, LB fls. 97v

22 Incógnito Manoel de Moura, soldado

Antônia Maria de Jesus,

moradora na freguesia do

Ouro Preto

Casou-se em

25out1789

304 Ana Fem 5mar1763 20fev1763 Não consta

Arcângela Pereira, crioula forra, batizada em 2nov1738, LB fls. 167v, solteira

25 Incógnito

João Pinto de Souza,

morador na freguesia do

Ouro Preto

Jerônima Rodrigues, parda

forra, moradora no Ouro

Preto

304 Joaquim Masc 8mar1763 1mar1763 Piçarrão

Sebastiana angola, escrava

de Maria Joaquina da

Silveira, parda forra

0 Incógnito

Bento Fernandes de

Araújo

Não consta

304v Manoel Masc 13mar1763 3mar1763Sant'Ana do

Morro

Maria crioula, escrava de

Domingos da Silva RibeiroIncógnito

Miguel, escravo de

Domingos da Silva Ribeiro

Rita Francisca Lisboa,

preta forra

304v Bernarda Fem 14mar1763 Inocente Piçarrão

Teresa de Jesus, parda

forra, casada com José da

Costa Oliveira, pardo forro

José da Costa de Oliveira, pardo forro, casado com Teresa de Jesus, parda forra

Antônio da Rocha

Filgueiras, velho minorista

Não consta

304v Ana Fem 16mar1763 Inocente Virasaia Josefa, escrava de Simão de Amorim, preto forro

Incógnito Antônio ladá, escravo de Domingos de Souza

Quitéria da Guarda Maciel, preta forra

304v Maria Fem 19mar1763 11mar1763 Padre Faria

Tomásia Teixeira, crioula

forra, c.c. João Ribeiro,

crioulo forro

João Ribeiro, crioulo forro,

c.c. Tomásia Teixeira,

crioula forra

Tomás de Freitas, preto

forro, casado com Ana de

Jesus, preta forra

Ana de Jesus, preta forra,

casada com Tomás de

Freitas, preto forro

304v Bernarda Fem 21mar1763 12mar1763 Bonsucesso

Suzana da Silva, preta forra,

casada com Félix de Souza,

preto forro

Félix de Souza, preto forro,

casado com Suzana da

Silva, preta forra

Inácio <cabo verde>,

escravo do capitão

Domingos da Cruz

Teresa de Souza, preta

forra

304v Maria Fem 21mar1763 12mar1763 Sant'Ana do Morro

Isabel Maria do Carmo, parda forra

Incógnito João Neto de Souza Não consta

Quadro A2 - Excerto da Planilha de Batizados da Paróquia do Antônio Dias

81

305 Francisca Fem 25mar1763 12mar1763 Não consta

Efigênia Maria dos Prazeres, crioula forra, casada com Paulino Ferreira dos Santos,

pardo forro

Paulino Ferreira dos Santos, pardo forro, casado com Efigênia Maria

dos Prazeres, crioula forra

João Tavares do Amaral,

Dr.

Maria da Conceição, filha

de Manoel Francisco

Lisboa

305 Ana Fem 25mar1763 17mar1763 Virasaia

Ana Maria de Jesus,

batizada em 6fev1736, Lb

fls.116, parda, solteira,

<que se casou com Manoel

de Barros em 25out1784>

27

Manoel de Barros, solteiro,

<que se casou em

25nov1784> com Ana

Maria de Jesus, parda

José Coelho de Barros

Maria Teresa Caetana,

casada com Ventura da

Costa Rangel

305 Antônio Fem 28mar1763 20mar1763 Padre Faria Maria, escrava de Manoel Borges de Souza

Incógnito Vicente Alves Vieira da Cunha

Maria da Conceição, preta forra

305 Escolástica Fem 29mar1763 21mar1763 Não consta Maria crioula, escrava do SM Tomé Moreira

Incógnito Tomás João de Araújo Inácia Moreira Sampaio

305

Maria (Liberta na

pia batismal)

Fem 4abr1763 25mar1763 Não consta

Maria crioula, escrava de

João Dias Coutinho, preto

forro, que alforriou a criança

Incógnito

Manoel José de Araújo,

solteiro

Catarina Maria da

Conceição, crioula forra,

casada

305v Gabriel Masc 6abr1763 18mar1763 Alto da Cruz

Rosa Vieira dos Santos,

batizada em 8out1742, LB

fls. 35v, parda, casada com

Manoel de Crasto, pardo

21

Manoel de Crasto, pardo,

casado com Rosa Vieira

dos Santos

Cosme Damião Vieira da

Silva, capitão

Não consta

305v Serafim Masc 6abr1763 25mar1763 Piçarrão Maria da Conceição, parda forra, solteira

Incógnito Domingos Alves Bragança Inácia Maria Caetana Gonga

305v Manoel Masc 6abr1763 25mar1763 Alto da Cruz

Ana Garcia, parda forra, solteira (Filha de Mateus Garcia e Quitéria, escrava). Batizada em 9nov1735, LB fls. 112v

28 Incógnito

Bartolomeu, escravo do

SM Inácio Mendes de

Vasconcelos

Ana Gonçalves, crioula

forra

Faleceu em

5jul1764, LO fls.

322

305v José Masc 7abr1763 21mar1763 Piçarrão

Francisca de Andrade, parda forra, filha de Tereza de Andrade, batizada em 27fev1737, LB fls. 133v, casada com Manoel Ferreira de Andrade, pardo forro

26

Manoel Ferreia de

Andrade, pardo forro,

casado com Francisca de

Andrade, parda forra

José Martins Fragoso Maria da Encarnação

2 anos e 3

meses Faleceu

em 15jun1765,

LO fls.344v

305v José Masc 7abr1763 26mar1763 Piçarrão

Ana Helena dos Santos,

parda forra, batizada em 30

mai1742, LB fls.28v,

casada com João Alves de

Miranda, pardo forro

21

João Alves de Miranda,

pardo forro, casado com

Ana Helena dos Santos,

parda forra

José Simões Borges,

alferes, morador no Ouro

Preto

Vitoriana Lins, Dona,

casada com Luís Pinhão,

moradores no Ouro Preto

82

83

306 José (exposto) Masc 7abr1763

Exposto em

5abr1763

Rua Detrás

Exposto à porta de Cristina

Pereira da Gama, crioula

forra

Incógnito

Padre Bernardo José da

Encarnação

Vitoriana Lins, Dona,

casada com Luís Pinhão,

moradores no Ouro Preto

Faleceu em

[30]jun1763, LO

fls.a424v

306 Maria Fem 7abr1763 31mar1763

Rua dos

Paulistas

Ana Gonçalves de Carvalho,

crioula forra, solteira

Incógnito

Manoel Álvares de

Carvalho

Florência do Bonsucesso

Gião, casada com Inácio

Fernandes Salgado.

306 Luís mina Masc 10abr1763 Adulto Água Limpa

Escravo do Padre Francisco

Antunes de Oliveira

Não consta

Manoel mina, escravo de

Joaquim Dias

Vitória Varela de Santiago, crioula, filha de Teresa, escrava de Antônio Varela Santiago. Batizada em 6nov1735, LB fls. 111v

306 Miguel mina Masc 12abr1763 Adulto Água Limpa

Escravo do Padre Francisco

Antunes de Oliveira

Não consta

João mina, escravo de D. Joana Tereza da Silva, viúva do SM Custódio Pinheiro

Josefa, escrava do padre

Francisco Antunes de

Oliveira

306 Manoel Masc 12abr1763 4abr1763 Alto da CruzJosefa mina, escrava de

Manoel José PereiraIncógnito Manoel José da Cunha Rosa Marinha, preta forra

Faleceu em 10ago1765, LO fls. 351

306Maria (Liberta na

pia batismal)Fem 12abr1763 Inocente Alto da Cruz

Felícia, crioula escrava de

Manoel Ribeiro de CarvalhoIncógnito José Coelho de Barros Não consta

306 Manoel Masc 14abr1763 Inocente Antônio Dias

Rita Maria da Conceição

casada com José Mendes

José Mendes, natural de Arrifana do Souza, arcebispado de Braga, casado com Rita Maria da Conceição

Manoel Gonçalves Leite,

morador no Ouro Preto

Mariana Vitória da Silva

Braga, Dona

307 José Masc 17abr1763 Inocente Não consta

Teresa Jacinta de Jesus,

natural do Antônio Dias,

batizada em 10mar1738, LB

fls. 154v, f.ª de Luís

Pedroso Cintra, n. Cintra

do Patriarcado de Lisboa, e

Maria Gama dos Reis, n. do

Irajá, Rio de Janeiro.

Casada com João Ferreira

da Silva

25

João Ferreira da Silva,

natural de S. Miguel da

Rebordosa do bispado do

Porto, f.º Manoel Antônio

Dias e Ana Ferreira.

Casado com Teresa

Jacinta de Jesus

Manoel Pinheiro de Faria,

casado

Joana Joaquina de S. José

c.c. Antônio Félix Pereira

de Araújo, alferes

307 Caetano Masc 17abr1763 Inocente VirasaiaLuciana courana, escrava de

Antônia Fernandes CamposIncógnito

José Francisco Rodrigues,

licenciadoAna Maria do Bonfim

307 Rita sabaru Fem 17abr1763 Adulto Não consta Escrava de Teresa Vieira Lopes, preta forra

Não consta José, escravo de Antônia da Silva Correia

Não consta

84

85

307 Domingos Masc 27abr1763 20abr1763 Corgo Seco

Rosa Maria c.c. Luís da Silva, mina, escravos de Maria do Sacramento, parda

forra

Luís da Silva, mina, casado com Rosa Maria, ambos escravos de Maria do Sacramento, parda forra

Antônio Freire da Costa

Micaela Rodrigues, parda

forra, c.c. Joaquim

Pinheiro

307 Ângela Fem 27abr1763 13abr1763 Não consta

Antônia Machada casada

com Manoel Velasco,

falecida em 10mar1815, LO

fls. 255, aos 74 anos de

idade (nascida em 1741)

22

Manoel Velasco, casado

com Antônia Machada

João de Oliveira

Magalhães

Francisca de Seixas da

Fonseca, dona, c.c.

Tenente general

307v Adão Masc 30abr1763 Inocente Virasaia

Maria angola, escrava de

Ana de Souza César, preta

forra

Incógnito

Manoel de Magalhães de

Faria

Ana Maria, crioula escrava

de João Alves, moradores

no Ouro Preto

307v Antônio Masc 5mai1763 27abr1763 Alto da Cruz

Francisca Gonçalves,

crioula forra, batizada em

30out1742, LB fls.36v

21 Incógnito

José Gonçalves de

Carvalho

Clara dos Santos

307v Antônia Fem 5mai1763 27abr1763 Junto à MatrizMaria Rodrigues Chaves,

preta forra, solteiraIncógnito

João mina, escrtavo do SM

Tomé Moreira de Araújo

Maria Ribeira Guimarães,

preta forra

307v Miguel mina Masc 8mai1763 Adulto Virasaia Escravo de Damião Francisco da Costa

Não consta Manoel José Duarte Rosa Maria dos Santos

307v Manoel Masc 8mai1763 29abr1763Sant'Ana do

Morro

Rosa mina, escrava de Leandra de Souza, crioula forra

IncógnitoJoão, escravo do furriel

João Rodrigues de Souza

Úrsula Teixeira, crioula

forra

308 Manoel mina Masc 8mai1763 Adulto QueimadaEscravo de Veríssimo da

ConceiçãoNão consta

Manoel angola, escravo de

Veríssimo da Conceição

Maria angola, escravo de

Veríssimo da Conceição

308 Valentim Masc 9mai1763 21abr1763 ArealTomásia angola, escrava de

Manoel Dias GuimarãesIncógnito Não consta Não consta

Faleceu em 12 mai 1763, LO fls. a423v

308 Catarina Fem 12mai1763 28abr1763 Queimada

Teresa de Moura, preta forra,

casada com José de Moura,

preto forro

José de Moura, preto forro,

casado com Teresa de

Moura, preta forra

Antônio, escravo do

capitão Custódio Ferreira

Rosa Maria dos Santos,

preta forra

308 Francisco Masc 12mai1763 28abr1763 Não consta

Maria Brás da Conceição,

natural do Antônio Dias, f.ª

de Manoel Brás de Carvalho

e Antônia do Sacramento.

Casada com Francisco

Rodrigues Lages

Francisco Rodrigues Lages, n. S. Pedro de Riba do Douro, termo da Vila de Valadares, comarca de Valença do Minho, arc. Braga, f.º de Pedro Rodrigues e Domingas Alves. Casado com Maria Brás da Conceição

Antônio de Souza

Mesquita, alferes

Teodora Ribeira

86

Folha Data Nome Sexo Endereço Status Jurídico/ Senhor PaisCônjuge / estado

conjugalSepultamento Causa mortis Idade

383 16set1766

Antônio João Branco, preto forro mina, batizado na freguesia dos Anjos do Patriarcado de Lisboa. Testamento.

Masc Não consta Forro Não consta Solteiro Rosário dos Pretos Não consta

383 17set1766 André mina Masc Queimada Escravo de Manoel da Costa Neves

Não consta Não consta Rosário dos Pretos Não consta

383 26set1766 José mina MascSant'Ana do

Morro

Escravo de Domingos da Silva

Ribeiro, preto forro, casadoNão consta Não consta Rosário dos Pretos Não consta

383v 29set1766 Félix mina MascRua dos

Paulistas

Escravo de Francisco da Costa Braga, ex-escravo de Luís Pereira da Silva

Não consta Não consta Rosário dos Pretos Não consta

383v 30set1766Antônia Maria da Conceição,

preta forra pobreFem Não consta

Forra. Faleceu em casas de morada de Felícia da Costa Guimarães

Não consta Não consta Não consta

383v 12set1766 Joaquim, escravo Masc Lavra Nova Escravo de Antônio Luís de Carvalho

Não consta Não consta Rosário dos Brancos

Não consta

383v 6set1766 Matias mina Masc Padre Faria

Quartado da testamentaria de Domingos Fernandes da Costa. Testamenteiro: Custódio Ferreira Coelho

Não consta Não consta S. João Não consta

383v 2set1766 Manoel mina Masc TaquaralEscravo de Vicente Tomé dos

Passos, preto forro casadoNão consta Não consta Pilar do Taquaral Não consta

384 6out1766 Silvéria, inocente Fem Não consta Livre

Francisca Rosa dos Santos, moradora em casa do capitão do mato Manoel dos

Santos Silva, seu pai

Inocente Dentro da Matriz Não consta

384 7out1766

Ana Vieira, preta forra mina, batizada em N.S.ª da Glória, Passagem de Mariana. Faleceu em casa do capitão Manoel Fernandes Carneiro. Fez testamento

Fem Não consta Forra Não consta Não consta Dentro da Matriz Não consta

384 16out1766

Quitéria Álvares de Almeida, crioula forra, natural de N.S.ª da Glória de Passagem

Fem Não consta Forra Leonor de Carvalho Não consta

Irmandade dos

Crioulos das

Mercês e Perdões

Não consta

384 21out1766 Ventura mina Masc Ponte do Antônio Dias

Escravo de João Francisco dos Santos

Não consta Não consta Rosário dos Pretos Não consta

384v 2out1766 Ventura angola Masc Ouro Fino Escravo de Manoel da Silva Brandão

Não consta Não consta S. João Não consta

384v 17out1766 Antônio mina Masc Corgo Seco Escravo do CM Domingos da Rocha Ferreira

Não consta Não consta Sant'Ana Não consta

Quadro A3 - Excerto da Planilha de Óbitos Antônio Dias - Microfilmes 047 (7jan1763 a 27mar1764), 073 (1764-72) e 048

87

88

384v 1out1766 Tomé mina Masc Padre Faria Escravo de Manoel Pinto Ribeiro

Não consta Não consta Rosário dos Pretos Não consta

384v 4out1766 Antônio mina Masc Queimada Escravo de Antônio Teixeira da Costa

Não consta Não consta Rosário dos Pretos Não consta

384v 2out1766 Maria, inocente Fem BonsucessoEscrava de Domingos Carvalho

de Araújo

Isabel crioula, escrava de Domingos Carvalho de Araújo (NC)

InocenteRosário dos

BrancosNão consta

385 5out1766 Miguel, inocente Masc

Junto a Luís

José de Araújo,

no Padre Faria

Livre Ana de Abreu Inocente

Rosário dos

Brancos

Não consta

385 9out1766José mina, faleceu em casas de Alexandre da Silva Torres

Masc Água LimpaEscravo de Maria da Silva,

preta forraNão consta Não consta Não consta

385 6nov1766 Luísa crioula, casada, natural do Antônio Dias

Fem Não consta Quartada da testamentaria de Teresa Dias, preta forra

Não consta Casada com José mina

Dentro da Matriz Não consta

385 8nov1766Manoel inocente, batizado

em casa em perigo de vidaMasc Taquaral Livre

Maria Gonçalves, crioula

forra (Ver LB 421v)Inocente Dentro da Matriz Não consta

385 20nov1766 Manoel angola Masc VirasaiaEscravo do capitão Custódio de Sá Ferreira, casado com D. Inácia

Não consta Não consta Cemitério da Matriz Não consta

385 22nov1766

José Joaquim, pardo

forro, músico, em casas do

ajudante Jerônimo de Matos

Masc

Tinha vindo da

Comarca do

Rio das Mortes

Forro

Recebeu os Santos sacramentos e extrema unção, "...por não dar lugar a mais o frenesi da doença." Não consta a filiação

Solteiro Dentro da Matriz Não consta

385v 1nov1766 José mina Masc Sant'Ana do Morro

Escravo de Antônio Fernandes de Araújo

Não consta Não consta Sant'Ana Não consta

385v 1nov1766 Inácio, escravo Masc Baiacu Escravo de Antônio da Costa Não consta Não consta Sant'Ana Não consta

385v 2nov1766

Francisco Ribeiro, preto forro. Tomou posse dos bens, Antônio de Crasto Lobo, pardo forro, oficial de ferreiro no Alto da Cruz.

Masc Não consta Forro Não consta Não consta Rosário dos Pretos Não consta

385v 24nov1766 Antônio mina Masc Ponte de Antônio Dias

Escravo do SM Tomé Moreira de Araújo

Não consta Não consta Não consta

386 30nov1766 Antônio, inocente Masc Padre Faria Livre

José Gonçalves, preto forro

e sua mulher Jacinta Maria

de Jesus, crioula forra

Inocente Rosário dos Pretos Não consta

386 10nov1766 Caetano, escravo Masc Água Limpa Escravo de Domingos da Cruz Não consta Não consta Rosário dos Brancos

Não consta

386 26nov1766 Félix mina Masc Fraldas do Padre Faria

Escravo de Bento Fernandes do Vale

Não consta Não consta Não consta

89

90

1dez1766

Antônia de Souza, viúva, natural do Rio de Janeiro. Faleceu na casa do carcereiro.

Fem

Rua dos

Paulistas

Livre

Francisco de Souza e

Gertrude Marine [?]

Não consta Dentro da Matriz Não consta

2dez1766 Pedro mina Masc Barra Escravo de Martinho Rodrigues, solteiro

Não consta Não consta Cemitério da Matriz Não consta

3dez1766 Maria, inocente Fem Taquaral Escrava de Antônio Gonçalves Ana mina, escrava de Antônio Gonçalves

Inocente Dentro da Matriz Não consta

6dez1766Uma inocente, batizada em

perigo de vida, sem nomeFem

Ponte de

Antônio Dias

Escrava de D. Maria Tereza do

Rosário, viúva

Inácia cabra, escrava de D. Maria Tereza do Rosário, viúva

Inocente Dentro da Matriz Não consta Menos de 1 mês

11dez1766

Josefa Nobre dos Santos,

preta forra mina, batizada no

Antônio Dias. Testamento

Fem Não consta Forra Não consta Não consta Rosário dos Pretos Não consta

11dez1766

Ana Pereira Vila Nova, parda, casada, natural de N.S.ª da Glória de Passagem, bispado de Mariana

Fem Não consta Forra

Rosa Pereira Vila Nova,

solteira, já falecida

Casada com João

Francisco Teles

Cova da Boa

Morte, Matriz

Não consta

18dez1766

Miguel angola, faleceu com sacramentos sub conditione por causa do "frenesi da moléstia"

Masc

Ladeira da

Praça

Escravo do Dr. Manoel Teixeira

de Carvalho

Não consta Não consta Cemitério da Matriz Não consta

28dez1766

João inocente, falecido em casa do capitão Manoel Fernandes Carneiro. Batizado em casa em perigo de vida.

Masc

Ponte do

Antônio Dias

Livre Rosa catecúmena cabocla Inocente Dentro da Matriz Não consta

29dez1766 José, escravo Masc Água LimpaEscravo de Francisco Pereira

Coelho, oficial de ferradorNão consta Não consta

Rosário dos

BrancosNão consta

1jan1767

Pedro Teixeira Murça, natural de N.S.ª da Assunção de Pagarinhos, termo de Murça da Torre de Moncorvo. Fez testamento

Masc Não consta Livre

João Teixeira e sua mulher

Maria Gonçalves, já

falecidos

Solteiro Dentro da Matriz Não consta

6jan1767 Manoel benguela Masc Virasaia

Escravo de Manoel Moqueimas, viadante, assistente em casa de Bento Pereira da Rocha

Não consta Não consta Cemitério da Matriz Não consta

10jan1767 Mateus angola Masc Ponte de Antônio Dias

Escravo do capitão Manoel Fernandes Carneiro

Não consta Não consta Não consta

18jan1767 Leandro, inocente Masc Virasaia LivreJoaquina Maria Barbosa,

parda forraInocente Dentro da Matriz Não consta

3 meses Nasceu em 3out1766, LB

fls. 395

18jan1767

Pedro de Freitas, SM, natural de São Paio da Vila de Guimarães, arcebispado de Braga.

Masc Não consta Livre Ignora-se a filiação

Viúvo. Ignora-se o

nome da mulher

Dentro da Matriz Não consta

91