elixir de vênus - primeiro capítulo

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    Prlogo

    A tnue claridade substitua, ainda tmida, a pesada escurido de maisuma noite insone, fazendo as primeiras luzes do alvorecer cintilarem nas gotasde lgrima que rolavam do belo rosto.

    Na penumbra do quarto, Carla desistiu de tentar afastar os pensamentosfunestos que insistiam em impedi-la de dormir, e saindo debaixo dos lenisdirigiu-se para a varanda.

    Abriu as portas e permitiu que o ar frio bailasse pelas bem torneadascurvas de seu corpo nu. Olhando para a enorme cidade de So Paulo que, alheias suas angstias, se preparava para mais um amanhecer, repassou asinterminveis horas de mais esta noite insone, com as mesmas imagens voltandoa reverberar em sua mente.

    A expresso de incredulidade estampada no rosto do seu namorado depoisda to esperada primeira noite juntos. A desolao dele aps as inmeras

    tentativas de lev-la ao orgasmo. A fisionomia impassivelmente profissional doginecologista ao explicar-lhe que ela no tinha nenhuma patologia capaz deexplicar sua frigidez. Ela saindo do consultrio ainda no acreditando que aquilofosse verdade.

    As imagens seguintes lembravam um filme acelerado e sem nitidez. Oinevitvel fim do namoro, afinal o problema poderia ser com ele e no com ela,dizia para si mesma. As tentativas com homens mais experientes, mais exticos,mais violentos ou mais carinhosos foram todas igualmente frustrantes.

    A seguir vieram os anos de luta contra a progressiva depresso em quemergulhava a cada nova decepo. Suas recordaes deste perodo eram as mais

    nebulosas, talvez consequncia do abuso de medicamentos.O filme sempre terminava na mesma cena: nua, Carla observava a suabeleza discreta refletida no espelho, sabendo que aquele corpo jovem ocultava,no auge da sua sexualidade, um imenso iceberg em suas entranhas.

    O caleidoscpio de emoes sempre parecia desacelerar quando elarecordava daquele inusitado anncio numa revista feminina. Ela sentiu umarrepio lhe percorrer a espinha ao se recordar da ponta de esperana quandooptou por responder ao anncio.

    Foi a primeira e nica vez que realmente senti prazer em toda a minhavida pensou. E as lembranas daquele maravilhoso final de semana, em umaconchegante spa passaram a dominar de tal forma seus pensamentos, que jno era mais capaz de convencer-se de que conseguiria voltar a ter uma vidanormal depois de haver experimentado aquele prazer que ela jamais ousouimaginar que existisse.

    Nem em seus mais sensuais devaneios ela sonhava que algum dia seucorpo seria capaz de lhe proporcionar tanto prazer. A descoberta de que seuinterior no era um deserto rido, mas que ao contrrio disso, suas entranhaseram capazes, Sim, elas eram capazes! de inund-la com aquela umidade

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    desconcertante, fazendo com que cada fibra de seu corpo ansiasse ardentementeser preenchido.

    E quando seu desejo foi finalmente atendido, a deliciosa sensao deplenitude conduzindo-a a um universo at ento inexpugnvel para ela, era comose tivesse ocorrido uma imploso em seu ventre, levando-a rumo a um clmax

    que beirava o limiar da lucides. Ah! Que maravilhosa sensao aquela, o to alardeado xtaserealmente existe e eu no posso mais alcana-lo amargurou ela.

    A perspectiva de uma vida sem poder desfrutar novamente o deleitedaquelas sensaes extasiantes fazia com que a sua depresso assumissepropores abissais.

    A que ponto cheguei pensou frustrada, olhando para o belo jovemque, alheio s suas angstias, dormia placidamente sob os lenis. Compraros servios deum profissional do sexo! Achando que ele poderia me fazer sentiro prazer que nunca mais encontrei desde aquele final de semana!

    Ela j tentara, de todas as formas, encontrar o carismtico homem que arecrutara para participar daquela que havia sido a mais espetacular experinciade sua vida. Entretanto, sua busca fora infrutfera, ningum parecia saber do seuparadeiro.

    A impossibilidade de conseguir novamente aquelas cpsulasmaravilhosas, parecia fazer com que todo o resto houvesse perdido inteiramenteo sentido.

    beira do pnico, tentara de tudo para aplacar a insanidade da opo quese avolumava em seu ntimo. H alguns dias digitara Libido Feminina naferramenta de pesquisa do Google, e para sua surpresa apareceram mais de

    quinhentos e quarenta e nove mil resultados.Tinha de tudo, desde a venda de produtos prometendo aumentar ourestituir a libido feminina, passando por sites de sexologia, at artigos cientficostratando do assunto.

    Ficou sabendo que seu problema era compartilhado por milhares demulheres ao redor de mundo, e por um nmero inimaginvel de homensinconfessos. Sim, muitos homens sofriam de inapetncia sexual, mesmo noapresentando nenhuma disfuno de ereo, pois para os que tinham a libidonormal, mas no conseguiam a ereo, a cincia j encontrara a soluo, haviamuito tempo, na forma daqueles mgicos comprimidos azuis.

    Entretanto, nem homens nem mulheres dispunham ainda de qualquermedicamento capaz de aumentar, estimular, fazer ressurgir, ou "acordar" alibido.

    Isso tudo s fizera aumentar seu desespero.Apegando-se ao ltimo fio de esperana, havia se entregado de corpo e

    alma nesta derradeira noite.

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    Quem sabe agora que eu j descobri que sou capaz de sentir prazer,eu no consiga sem aquelas cpsulas ponderara ao se decidir por contratar ogaroto de programa.

    E novamente s obtivera frustraes.Concluiu ser impossvel encontrar uma soluo para os seus problemas e

    admitiu que vivera at agora uma existncia sem brilho, sem cores e sememoes. Realmente nunca mais conseguirei sentir prazer resignou-se e

    novas lgrimas lhe afloraram.Desiludida e movida pela incontrolvel depresso que a consumia, decidiu

    que no valia mais a pena viver sem nenhuma expectativa. Seu problema tinhaapenas uma e definitiva soluo. Subiu no parapeito e contemplou por um breveinstante a rua deserta dezenas de metros abaixo.

    O bilhete que deixara sobre a mesa de cabeceira no esclarecia os reaismotivos de seu suicdio, transformando-se assim em apenas mais um nmero

    nas estatsticas.

    Captulo I Wolf

    Banhada pelo sol, j prximo do horizonte, que brilhava por entre asnuvens num pressgio de mais chuva, a pacata cidade de So Pedro foi ficandopara trs enquanto o veculo subia pela ngreme e sinuosa estrada em direo aotopo da serra.

    Nem mesmo a pista malconservada e de curvas perigosas pareciaintimidar o condutor, que seguia levando ao limite toda a estabilidade e potncia

    do veculo. A vegetao ressequida aps a estiagem de inverno apresentava,aps as recentes chuvas, as primeiras cores fazendo prever uma linda primavera,que teimava em se atrasar. O som inebriante do rockdos anos setenta invadia oar com seus acordes progressivos.

    Mal a subida terminou, dando para um plat e deixando a estnciaturstica quase trezentos metros abaixo, ao p da serra, o veculo ganhou aindamais velocidade. Passou por um posto de gasolina e, na bifurcao, tomou aestrada da direita, estreita e pouco movimentada. Neste instante, cruzou com onico veculo em sentido contrrio at aquele momento.

    Quando uma curva acentuada e em aclive esquerda criou a iluso de quea estrada terminava subitamente, dando viso para um vale centenas de metrosabaixo, o carro foi bruscamente freado e, deixando duas grossas marcas negrasno asfalto, derrapou levemente na vegetao ainda mida da chuvosa noiteanterior, marcando com um rastro profundo a lama beira da pista enquantoavanava em direo frgil cerca de arame farpado sua frente, terminandopor derrub-la.

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    Parou a menos de quinze metros do precipcio. A viso do verdejantevale, com o sol se pondo ao fundo, criava uma imagem contrastante com aspesadas nuvens que cobriam parcialmente o cu.

    A porta se abriu e um homem de porte atltico e estatura elevada saltou.Os olhos, de um castanho escuro profundo, se voltaram para as marcas deixadas

    pela freada. Um sorriso travesso demonstrou que estava satisfeito com oresultado. A brisa suave fez esvoaar a longa cabeleira loura chegando at osombros que, associada a uma cerrada barba, conferia-lhe um aspecto deguerreiro nrdico. Ele estava vestindo roupa impermevel de motociclista e,assim que desceu, apurou os ouvidos em busca de algum som de outrosveculos. O silncio se tornou envolvente, apenas a folhagem oscilava levementecom a brisa morna que subia do penhasco.

    Abriu a grande porta traseira, retirou um pesado fardo de nylon azul e oatirou ao cho. Ao ser desenrolado deixou mostra um corpo vestindo uma belacamisa safri de grandes botes metlicos, cala jeans e botas esportivas. Em

    seguida, alou o cadver com incrvel facilidade, como se levantar aquele pesono representasse nenhum esforo e colocou-o no assento do motorista,afivelando rapidamente o cinto de segurana.

    Do interior do porta-malas, retirou trs botijes plsticos contendo, cadaum, vinte litros de lcool automotivo e despejou-os por todo o interior doveculo, principalmente sobre o cadver que ocupava a posio do motorista.Retirou uma corrente dourada de seu pescoo, o relgio e seu anel de formaturae vestiu-os no corpo inerte, tirou sua prpria carteira do bolso e colocou-a dentrode uma maleta executiva repleta de papel-jornal cortado e meticulosamentearrumado em maos. Distribuiu algumas cdulas de dinheiro aleatoriamente pelo

    interior do carro, deixou a maleta sobre o banco traseiro, cobrindo-a com o querestava de combustvel no ltimo botijo, e fechou cuidadosamente o veculo.Dirigiu-se at o fardo azul, vestiu a sellete, a mais moderna cadeirinha

    para voo emparaglider, rapidamente posicionou o velame, as linhas, os tirantese os mosquetes. Voltou ao carro e calou com uma pedra a roda. Uma rpidaolhada para trs confirmou que at aquele momento nenhum outro veculopassara pela estrada deserta.

    Foi at o painel e ligou o motor, quebrando o silncio oprimente. Colocoua alavanca do cmbio automtico em drive.

    Sabia que no haveria a possibilidade de no acontecer o incndio e aexploso, tal a quantidade de combustvel que ele esparramara no interior doveculo. Soltou o freio e retirou a pedra. O veculo ganhou velocidade medidaque descia em direo ao abismo, e pareceu querer voar naquele breve instanteem que ganhou os cus, para ento iniciar uma vertiginosa queda e s pararcentenas de metros abaixo.

    Nem bem as labaredas se iniciavam e o paragliderj sobrevoava acimada fumaa negra, aproveitando a corrente ascendente para ganhar altura

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    rapidamente. Outro punhado de notas foi lanado, e as cdulas bailaram,esvoaantes, esparramando-se ao sabor da brisa.

    O sol poente e as chamas iluminaram um sorriso de vitria, enquanto opequeno objeto azul-escuro se distanciava em direo noite que seaproximava.

    J bem distante do local onde havia o fogo, ele deixou cair, um de cadavez, os botijes vazios que trouxera amarrados ao seu corpo.

    .

    Ao ouvir a exploso, a pouco mais de trezentos metros de onde estava eavistar a bola de fogo, o lavrador imediatamente correu para o telefone ecomunicou polcia que provavelmente um avio batera na serra e estavapegando fogo. Em seguida rumou para o local.

    Menos de vinte minutos depois, o primeiro policial chegava ao lugar dosinistro e, para sua surpresa, como o fora para o lavrador, encontrou os restosretorcidos de um veculo em chamas.

    As primeiras gotas de chuva dificultavam um pouco a propagao daslabaredas, que seguiam queimando a vegetao circundante apesar dos esforosdo lavrador para control-las.

    O policial ligou ento para a Central, cancelando o aviso de queda deaeronave e, aps explicar o que realmente ocorrera, recebeu ordens de isolar area e aguardar a chegada de um investigador.

    . Assim que recebeu o pedido para que subisse at a sala da presidncia,

    Marcelo Camargo de Medeiros, Diretor de Segurana Corporativa daMedGenEng S/A, soube, pelo tom da convocao, que alguma coisa muito sriahavia acontecido. Imediatamente ele comeou a suar dentro de seu ternoitaliano, apesar do ar-condicionado manter a temperatura da sala em agradveisvinte e um graus Celsius.

    Ao entrar na sala do quase inalcanvel e certamente onipotente JohnAdamson Thorfinnson, Presidente da empresa para a Amrica Latina, este ointerpelou:

    Qual o significado de Segurana Corporativa para voc, Marcelo?Sem nem mesmo precisar refletir numa resposta, Marcelo despejou as

    palavras de uma s vez, tal qual um aluno faria diante do professor: Segurana Corporativa o conjunto de prticas e medidas voltadas

    para a salvaguarda de conhecimentos e de dados de uma organizao,protegendo-os contra uso inadequado, adulterao ou destruio. Seus principaisobjetivos so prevenir, obstruir, detectar e neutralizar a inteligncia adversa.

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    No me refiro a essa definio acadmica falou Thorfinnson, comum sorriso indulgente. Eu quero que voc diga o que o meu diretor desegurana corporativa entende como segurana corporativa em nossa empresa.

    Thorfinnson mantinha as pontas dos dedos unidas em frente aos lbios eos cotovelos apoiados na mesa, enquanto aguardava a resposta.

    Eu diria que cuidamos da proteo de nossos recursos humanos emateriais. Muito bem, era isso que eu queria ouvir, proteo. E, em sua opinio,

    ns estamos plenamente protegidos? Sim, nossos sistemas so capazes de bloquear qualquer tentativa de

    acesso via internet, nos mesmos padres dos utilizados pela NASA ou FBI.Sem esconder uma expresso de dvida, Thorfinnson disse: Voc sabe, tanto quanto eu, que mesmo esses sistemas j foram

    violados, mas no a essa segurana que eu me refiro. Eu quero saber sobre asmedidas que voc vem tomando com relao segurana interna. Fale-me sobre

    nossos pesquisadores. Bem... Eu recebo relatrios de todos os Vice-diretores de Segurana decada rea em separado, de modo que um no sabe o que o outro est sabendo respondeu Marcelo, sentindo a garganta seca, pois ainda no tinha a menor ideiade onde Thorfinnson queria chegar.

    Como o presidente da empresa permanecesse em silncio, tomou corageme prosseguiu:

    Nossos pesquisadores so avaliados periodicamente, em busca depontos vulnerveis que possam ser utilizados pelos concorrentes. Houve umcaso, por exemplo, de um pesquisador de nvel dois que foi dispensado, quando

    descobrimos que ele andava abusando do lcool e falando demais quando estavaembriagado. Eu me lembro do caso, voc contratou aquelas mulheres para abord-lo

    numa churrascaria, no foi?Marcelo ganhou um pouco mais de confiana, a lembrana daquele caso o

    fez responder cheio de orgulho: Isso mesmo. Foram necessrias apenas algumas doses para ele soltar a

    lngua e ns gravarmos tudo, foi uma bela arapuca que armamos para ele Marcelo esboou um sorriso em busca de aprovao, mas recebeu apenas umolhar glacial.

    Thorfinnson pegou uma pasta sobre a mesa, entregando-a para Marcelo. Abra ordenou o presidente.Marcelo obedeceu, reconhecendo de imediato a fotografia do homem de

    barba farta e longos cabelos louros. Ele tem algum ponto vulnervel? indagou Thorfinnson.Marcelo sentiu o peso da pergunta cair como um imenso fardo sobre seus

    ombros, fazendo com que sua resposta soasse insegura: No. Ele pesquisador nvel cinco, acima de qualquer suspeita.

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    Acima de qualquer suspeita? Tem certeza? insistiu Thorfinnson.quela altura Marcelo j no tinha certeza de mais nada. Eu diria que sim respondeu, esforando-se para imprimir segurana

    sua voz.Thorfinnson fixou o olhar de seu interlocutor e, em voz pausada,

    separando bem as slabas, disse: E eu diria que no. Acabaram de me informar que ele conseguiu nosenganar de uma forma que eu jamais julguei ser possvel Marcelo noacreditou no que acabara de ouvir, Thorfinnson prosseguiu. Pois ento,Marcelo, se voc no foi capaz de antecipar o que ele estava planejando, vocno tem mais lugar nesta empresa, pode pegar suas coisas e procurar outroemprego.

    .

    As delgadas folhas da cana-de-acar, ainda com menos de meio metro dealtura, curvavam-se sob o peso das gotas de chuva. Um par de botinas iguais atantas outras dos trabalhadores rurais da regio, tocou suavemente o solo numpouso perfeito.

    Ao fundo, os ltimos raios de luz brilhavam num grande lago, enquantotodo o equipamento do paragliderera convertido num amontoado de cordes enylon azul.

    De um conjunto de rvores, perto de uma nascente, uma velha motoYamaha DT 180 foi retirada do meio dos arbustos. Da mochila presa aobagageiro, ele apanhou um espelho e, sob a luz fraca do entardecer, iniciou um

    minucioso ritual que eliminou por completo a vasta barba e substituiu a longacabeleira loura por um curtssimo cabelo negro do mesmo tom em que forampintadas as sobrancelhas.

    Um ltimo olhar aprovou o resultado obtido antes de juntar tudo trouxaazul e acrescentar uma grande pedra em seu interior, para ento atir-la nasguas escuras do lago.

    O ronco do motor quebrou a montona sinfonia dos grilos que saudavamo incio da noite.

    .

    Quando o investigador Nelson chegou, as chamas j tinham dado lugar auma fumaa escura e ao caracterstico odor de borracha queimada.

    O policial militar veio at ele, acompanhado do lavrador. Este o seu Joo... o apresentou Ele encontrou isto.E entregou para o investigador um punhado de notas verde-azuladas,

    algumas chamuscadas, outras bem queimadas.

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    Eu acho que temos um peixe grande aqui murmurou Nelson, comexpresso preocupada, apontando para a imagem da garoupa estampada nasnotas e voltando-se para seu Joo, indagou:

    Passa alguma estrada l em cima? Sim respondeu o lavrador.

    Havia muitas dessas notas quando o senhor chegou aqui?O agricultor pareceu constrangido ao responder: Estavam esparramadas, deve ter mais arguma por a, a exproso, o

    vento, ... o sinh sabe, n?Nelson sorriu com benevolncia, mas disse firmemente: Devolva todas as que o senhor achar, est bem?Olhando para o nome estampado na lapela do cabo da Polcia Militar,

    Nelson ordenou: Moraes, veja se voc consegue o nmero do chassi, mas sem tocar no

    corpo. Eu vou chamar a percia.

    O.k., senhor. O sinal aqui fraco, mas eu consegui falar dali respondeu o cabo, mostrando uma pequena elevao trinta metros ao sul.Nelson pegou o celular e se dirigiu para o local indicado, e assim que duas

    barras apareceram no cone do sinal, ele fez a chamada. Boa-noite, Sueli... Passe-me para o investigador Thomas, por favor.O humor de Thomas no parecia nada bom quando ele atendeu. O que voc quer?! Eu tive um dia daqueles, e j estava de sada!Nelson tentou apaziguar os nimos do colega. Diga boa-noite, pelo menos. Boa-noite!

    Acho que descobrimos um peixe dos grandes... Por isso, mande opessoal da tcnica vir preparado. E localize o Doutor Matheus. Traga-o parac....

    Ele no vai gostar disso.Nelson suspirou, antes de falar. Eu sei que ele no vai gostar, mas temos um corpo totalmente

    carbonizado e eu tenho na mo, at agora, pelo menos 150 notas de cem reaislevemente queimadas e sabem-se l quantas totalmente destrudas.

    O tom de voz de Thomas mudou totalmente, era puro espanto. Como assim...? Eu j vou... Mas eu nem sei onde voc est! Calma, eu explico como fazer para chegar.Ao terminar de orientar o colega, guardou o telefone e pegou uma

    lanterna. O pequeno crculo de luz iluminou o que parecia um crniocarbonizado sobre o volante. Alguma coisa refletiu intensamente o facho dalanterna e brilhou sob o que sobrou do queixo descarnado. Os restossemiderretidos de uma corrente seguravam uma chapa de ouro com dizeresininteligveis, lembrando alguma escrita oriental.

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    Apanhou um graveto e delicadamente girou a joia, do outro lado algumasletras haviam resistido ao calor Wolf... Frie... Eich... Pegou o celular e repetiua ligao.

    Oi! Sou eu de novo, agora eu preciso falar com a Gina, na informtica,por favor.

    A telefonista grunhiu um espere um instante e logo Nelson escutou a vozamistosa de Gina: Boa-noite, Nelson! Boa-noite, Gina! Preciso de uma pesquisa, mas tenho apenas partes de

    um nome... Pesquise todos os nomes que estiverem correlacionados com Wolf,Frie e Eich, acho melhor eu soletrar.

    .

    Enquanto Wolf pilotava a moto trail pela plantao, seu farol sendo a

    nica luz numa noite de poucas estrelas, pensava sobre as dificuldades quesuperara para localizar um corpo com o seu bitipo e dar credibilidade aoacidente. Parte essencial dos planos de Wolfgang, a obteno daquele corpo,fora um trabalho extremamente complexo e arriscado. Exigira, inicialmente,uma prolongada peregrinao pelos necrotrios e institutos mdicos legais dascidades num raio superior a seiscentos quilmetros e uma meticulosa pesquisadiria na Web. Porm, sua persistncia fora finalmente recompensada.

    Um site de Ub, conhecida como a cidade onde nasceu o compositor AriBarroso e detentora do ttulo de maior produtora de mveis do Estado de MinasGerais, ostentava uma notcia promissora:

    Faleceu hoje, no final da tarde, o homem que foi encontrado desmaiadoontem por transeuntes no Crrego dos Pacheco. Nos relatos, as testemunhas

    afirmam que o homem, aparentemente um andarilho, vinha perambulando pelo

    local havia pelo menos dois dias, sempre demonstrando sinais de estar

    embriagado.

    Os policiais que atenderam ao chamado relataram no terem encontrado

    nenhum sinal de violncia. Segundo eles, a vtima foi encaminhada ao Hospital

    Santa Isabel, onde permaneceu internado, com o diagnstico de acidente

    vascular cerebral, at vir a falecer.

    Segundo a polcia, o homem, que aparentava ter entre trinta e quarenta

    anos, no portava documentos e entre seus poucos pertences, havia uma

    pequena quantidade de dinheiro. Por conta disso no esto trabalhando, pelo

    menos inicialmente, com a hiptese de latrocnio. O corpo foi recolhido ao

    necrotrio, enquanto aguarda identificao.

    A viagem exigiu que Wolfgang dirigisse durante aproximadamente oitohoras para vencer os mais de seiscentos quilmetros que separavam Campinasde Ub.

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    O atendente de necrotrio parecia entediado e pouco disposto, quandoWolfgang perguntou:

    Eu posso ver o corpo do homem que foi socorrido no Crrego dosPacheco?

    Sem demonstrar nenhum interesse em disfarar sua insatisfao, o

    funcionrio respondeu. Depende.Wolfgang suspirou e voltou a perguntar: Depende de qu? Depende do motivo que o senhor tenha para querer ver o corpo.

    Depende de uma autorizao superior... Depende de uma poro de coisas.Wolfgang j se deparara com esse tipo de atendente. Usou a mesma ttica

    que tinha dado certo em outras visitas. Eu tenho um irmo que sofria de problemas mentais, ele j saiu de casa

    outras vezes e ns sempre o encontramos vivendo como andarilho, sem nenhum

    documento. Mas desta vez... ns... estamos procurando j faz tempo e no oencontramos, ainda.O funcionrio olhou Wolfgang de alto a baixo, antes de indagar: O seu irmo tinha mais ou menos sua altura?Wolfgang sentiu a adrenalina aumentar, tentando disfarar o entusiasmo,

    respondeu, simplesmente: Sim.O funcionrio no demonstrou nenhuma reao, ao reforar a informao: Ento o senhor pode pedir autorizao.Wolfgang j sabia como agir, retirou cem reais, e segurando o dinheiro

    entre os dedos, props: Me deixe s olhar o corpo. Se for realmente meu irmo eu peo todasas autorizaes que forem necessrias, se no for, ningum precisa saber quevoc me fez este favor.

    O atendente umedeceu os lbios, antes de pegar o dinheiro e se levantar,dizendo:

    Venha comigo Ele o seguiu.Com extrema indiferena, o atendente de necrotrio mostrou o corpo.

    Wolfgang meneava negativamente a cabea na medida em que examinava ocadver e, aps alguns breves segundos, fez o sinal da cruz afirmando:

    No. Graas a Deus, no ele.E, rapidamente, juntou: O que acontece no caso de ningum vir reclamar este corpo?O funcionrio respondeu com desdm: Ele ser enterrado como indigente. E quando tempo isso demora?O funcionrio pareceu no gostar dessa pergunta. E por que est querendo saber isso?

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    Como eu j disse, estou procurando meu irmo e fiquei imaginandose... se ele tambm estivesse numa situao como essa, quanto tempo eu teriapara localiz-lo O atendente demonstrou, pela primeira vez, um sinal desolidariedade, respondendo:

    Entendo. Mas o prazo varivel. Num caso como este, onde no

    existem sinais de violncia e o mdico j fez o atestado de bito, ser rpido.Ainda mais com a lotao do IML.

    .

    Wolfgang dirigiu-se at uma das funerrias da cidade. A jovem atendeu-ocom um sorriso simptico:

    Em que posso ajud-lo? Sente-se, por favor. Eu no sei por onde comear.A mulher certamente estava habituada a lidar com pessoas fragilizadas

    pela morte de um ente querido. Portanto, assumiu uma postura assistencialista: Eu sei que este um momento difcil, mas ns estamos preparadospara cuidar de todos os detalhes.

    Wolfgang sentou-se e falou com voz calma e serena: Eu acho que o que eu vou pedir foge um pouco da sua rotina.Ela no demonstrou surpresa e encorajou-o a continuar. Basta o senhor dizer o que deseja. Faremos o possvel para ajud-lo

    disse ela. sobre o homem que faleceu no Hospital Santa Isabel e est prestes a

    ser enterrado como indigente.

    O sorriso desapareceu dos lbios dela, Wolfgang prosseguiu: Eu tentei ajud-lo antes de ele morrer, mas ele no quis me ouvir. Eugostaria de saber se existe um jeito de eu saber quando ele vai ser enterrado paramandar rezar uma missa para ele. o mnimo que eu posso fazer por no terconseguido... evitar que ele...Voc consegue me entender?

    Um sorriso fraternal curvou levemente os lbios da mulher, que respondeucom ternura:

    Sim. Eu acho que entendo. Para estes casos existe um acordo entre asfunerrias da cidade, e no a nossa vez de providenciar a urna funerria. Masse aguardar um instante, eu j descubro qual ser a funerria responsvel peloenterro dele.

    Dizendo isso se levantou e foi para o interior do estabelecimento.

    .

    No momento em que o caixo, sem nenhum tipo de adorno, era colocadona cova rasa, Wolfgang observava de uma distncia segura, fingindo estarrezando diante de uma grande lpide de mrmore. Na parte do cemitrio onde

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    ele se encontrava, os tmulos eram, em sua maioria, de granito ou mrmore,alguns revestidos de piso cermico, e poucos apenas de argamassa. No localonde o indigente estava sendo enterrado, apenas pequenas e simples cruzes demadeira demarcavam que, sob o solo nu, havia corpos enterrados.

    .

    Ele selecionou o ponto mais vulnervel do cemitrio, onde um grandeflamboyant deitava seus frondosos galhos sobre o muro de menos de doismetros.

    Estacionou ali uma velha perua Chevrolet Omega preta, com os vidrosescurecidos por uma pelcula quase do mesmo tom e os bancos traseirosrebatidos.

    No final da tarde, dirigiu-se para o esconderijo que escolhera, umopulento mausolu adornado com uma grande esttua de bronze. Na mochila,

    trazia tudo o que iria precisar, logo mais, na calada da noite.Esperou pacientemente at a meia-noite e dirigiu-se para o pequenomontculo de terra recm-revolvida. Montou a p de campanha e iniciou aescavao. Menos de uma hora depois, o corpo j estava enrolado num plsticopreto e bem amarrado. E o caixo vazio recoberto com terra novamente.

    Recolheu todas as suas ferramentas, colocou a mochila nas costas e, comum mnimo de esforo, alou o corpo at os ombros musculosos.

    Usando um tmulo muito prximo ao muro como plataforma, passou umacorda resistente por um grosso e forte galho do flamboyant e, utilizando-o comouma polia, iou o cadver sobre o muro, descendo-o do outro lado com extrema

    facilidade.Acomodou o corpo at que ficasse totalmente oculto entre engradados debrcolis e couve-flor, de tal forma que qualquer odor proveniente do cadverfosse inteiramente encoberto pelo cheiro caracterstico dessas hortalias.

    A viagem de volta foi tensa, mas sem incidentes.

    .

    Wolf imaginava que o reconhecimento do corpo seria impossvel dada aquantidade de combustvel ao seu redor, mas a corrente, o relgio e o anel, eleacreditava que resistiriam ao calor.

    Ao deixar o prdio onde residia, fizera questo de interpelar o manobristacom uma srie de perguntas sobre o seu time de futebol, exclusivamente com ointuito de prolongar a conversa para que ele pudesse se lembrar bem de suasada.

    Havia, portanto, pistas suficientes para darem-no como morto. Comomedida extra, ele tomou o devido cuidado para que algum dinheiro tambm nose carbonizasse.

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    No haveria problema de identificao atravs de arcada dentria, umavez que ele, Wolf, no tinha uma ficha odontolgica oficial.

    Assim, ele poderia sentir-se seguro de que a polcia iria identificar aquelecorpo como sendo, de fato, o dele.

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    Aps quase quarenta minutos de viagem na velha Yamaha, a maior partedos quais sob chuva, ele chegou ao limite do permetro urbano.

    Piracicaba era uma cidade de pouco mais de trezentos mil habitantes,cortada pelo rio que lhe empresta seu nome, repleta de indstrias e com umcomrcio muito forte, polarizando uma poro de cidades menores sua volta.

    Ele desligou a moto e observou, durante alguns instantes, a isolada rua deterra. Nada se movia. De uma grande pilha de troncos velhos beira docaminho, retirou uma sacola.

    Tirou o capacete e a jaqueta, despiu a camisa e, do interior da sacola,retirou e vestiu uma camisa amarela com o smbolo dos Correios. Colou doisadesivos com a mesma marca no tanque da moto e no capacete, guardou acamisa no interior da sacola e, pondo-a a tiracolo, vestiu o capacete. Emseguida, partiu em direo cidade.

    .

    Quando a campainha tocou, o Doutor Matheus estava assistindo ao jornal,tomando seu usque de doze anos. Ele se levantou e foi atender.

    Entrega para Matheus Braz de Souza. Assine aqui, por favor...E, ato contnuo, entregou-lhe uma caixa toda lacrada com fita adesiva.Matheus agradeceu e, enquanto retornava sala olhando curioso o pacote

    com a logomarca de uma empresa de vendas pela internet, tocou o telefone. Elecolocou o embrulho sobre a mesa de centro, apanhou o copo e foi atender.

    Al. Boa-noite, Doutor Matheus, o investigador Thomas. Boa-noite, Thomas... O que foi desta vez?Matheus ouviu as explicaes, sem muito entusiasmo, tomou um longo

    gole antes de perguntar, mal-humorado: Quantos mortos? S um, carbonizado. Est bem. D-me uns dez minutos para eu me trocar.Nesses momentos o Doutor Matheus Braz de Souza se lamentava por ser

    o nico mdico-legista forense servio da polcia de Piracicaba e das cidadesvizinhas. Pensou em como prestara concurso, havia muito tempo, pensando emusufruir dos benefcios de uma aposentadoria num emprego pblico, porm, aolongo dos anos fora se desiludindo com a carreira, e essa chamada fora de hora

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    s servia para deix-lo ainda mais contrariado. Mas como ele decidira que noiria jogar fora todos aqueles anos, agora se esforava para aguentar o tempo queo separava da aposentadoria, fazendo o melhor que podia com os parcosrecursos disponveis na polcia local.

    Nem dez minutos haviam se passado e a campainha tocou novamente,

    trazendo-o de volta realidade. Ele colocou o copo ao lado do pacote, e s entose lembrou dele. Ter de ficar para depois pensou, e foi atender novamente.Tentando apaziguar o legista, Thomas abriu um largo sorriso e

    cumprimentou: Boa-noite, Doutor Matheus!O mdico no pareceu se animar, e limitou-se a dizer: Ainda no tive tempo de me arrumar, aguarde enquanto vou trocar de

    roupa.

    .

    A silhueta que caminhava calmamente pela rua mal iluminada, at umtelefone pblico, vestia elegantes roupas esportivas. A moto, aps ter todos osvestgios minuciosamente removidos, jazia agora sob uma pilha de detritos, numvelho cemitrio de carros, na verdade um vasto ptio repleto de esqueletos deveculos semiocultos pela vegetao que crescia desordenadamente apenas aduas quadras de onde ele se encontrava. O mesmo local tambm escondia,enterrada num canto, a sacola com as roupas.

    Al, do disque-denncia? Eu quero fazer uma denncia, mas quero

    confirmar se verdade que posso manter o anonimato. Sim verdade. sobre contrabando de drogas, um tal de Matheus Braz de Souza. O senhor quer denunciar um traficante? Isso mesmo. O senhor pode confirmar o nome?Sem vacilar, Wolf, confirmou: Matheus Braz de Souza. E o endereo?Querendo parecer assustado, Wolf, falou rapidamente. O endereo est na lista telefnica, se vocs forem l agora... tem de ir

    agora... ele acabou de receber mercadoria.E, assim dizendo, desligou o telefone e se encaminhou para o carro, um

    Fiat Punto branco, ainda sem placas, estacionado sob uma grande rvore. Ocertificado de propriedade do veculo, bem como todos os documentos que eleapanhou no porta-luvas e ps no bolso, estavam em nome de Jos Maria deAlmeida.

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    A ttica para obter esses documentos, fora habilmente arquitetada.Enquanto ainda trabalhava na MedGenEng ele entrevistara uma srie decandidatos s vagas disponveis para seu departamento. Escolheu o currculo deJos Maria de Almeida por ter a mesma idade que a sua e, com as fotocpias dosdocumentos que faziam parte do cadastro curricular, ele fez novas cpias,

    usando uma foto sua no lugar da original. Foi, ento, at uma delegacia onde fezum boletim de ocorrncia alegando que um ladro levara todos os seusdocumentos. Em seguida foi at o cartrio e solicitou uma segunda via dacertido de casamento e, de posse desses documentos, dirigiu-se aoPoupatempo, para requerer a segunda via dos demais papis. Os novos j vieramcom a mesma foto providenciada durante o curto perodo em que estivera sembarba, com os cabelos curtos e temporariamente escurecidos. Um sorriso sedesenhou em seus lbios ao se recordar dos comentrios na MedGenEng sobreaquele novo visual, e de como usara essa desculpa para imediatamente deixar abarba e cabelo crescerem novamente. Poucos iriam se lembrar daquele visual to

    efmero. Como fcil manipular as pessoas pensou.Sentado ao volante, acariciou o isopor ao seu lado, sorriu e murmurou: Vamos l minhas valiosas amiguinhas microscpicas!

    .

    Aps vencerem rapidamente os trinta quilmetros que separavam as duascidades e de acordo com as orientaes de Nelson, seguirem no trevo em direoa Charqueada, tinham encontrado a estrada de terra, sinuosa e esburacada que

    conduzia ao p da serra.Quando o Doutor Matheus e Thomas estavam quase chegando ao local doacidente, o som caracterstico de um telefone celular quebrou o silncio quereinara durante toda a viagem .

    Al! Oi, querida!A voz de sua esposa era tensa: Voc tem de voltar imediatamente para casa. Mas eu j estou quase chegando ao local do acidente... balbuciou

    ele.No conseguiu terminar a frase, sendo interrompido pela esposa, que

    disse, com um tom de voz cheio de pavor: Tem um policial aqui, querendo revistar nossa casa!Matheus tentou manter a calma, e pediu para a esposa: Me deixe falar com ele.O semblante do Doutor Matheus foi se alterando de um crescente espanto

    para uma mscara de cera indecifrvel. Aps alguns instantes, que pareceramdurar uma eternidade, ele finalmente respirou e a colorao gradativamentevoltou sua face.

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    Eu j estou voltando para casa, me aguarde, por favor.Thomas assistiu a tudo enquanto parava o carro ao lado do Peugeot 307

    de Nelson. Ele levou a mo maaneta, mas no teve tempo de abrir a porta, oDoutor Matheus j o segurava pelo brao com um olhar de desespero.

    Me leve de volta para casa.

    Mas ns j chegamos, Doutor... Acontece que tem um policial na porta da minha casa querendorevist-la... Algum fez uma denncia annima de trfico de drogas... e eu tenhoque voltar imediatamente.

    Thomas olhou para Nelson, que caminhava em sua direo, e murmurou: Encrenca, chefe...O investigador, que estava falando com o policial rodovirio que viera

    relatar os achados na sinuosa estrada que serpenteava em direo ao interior doEstado, cerca de trezentos metros serra acima, pediu a este que o aguardasse porum instante, pois queria saber qual era a encrenca que Thomas estava

    mencionando e por que razo o motorista mais gesticulava do que falava,enquanto Matheus insistia daquela maneira em apontar para trs, falando alto.