elementos do direito - volume 12 - direitos humanos - erival da silva oliveira - 3º edição - ano...

208
ERIVAL DA SILVA OLIVEIRA DIREITO CONSTITUCIONAL 3 . a edi ção revista e atualizada m ELEMENTOS 1 0 [ 1 YlrDO DIREITO Coordenaçao 100 Marco Antonio Araujo Jr. \\anos Darlan Barroso revista dos tribunais

Upload: antoniocsalvador

Post on 19-Jan-2016

47 views

Category:

Documents


10 download

TRANSCRIPT

Page 1: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

ERIVAL DA SILVA OLIVEIRA

DIREITO CONSTITUCIONAL

3.a edição

revista e atualizada

m ELEMENTOS 1 0[ 1 YlrDO DIREITO

Coordenaçao 100Marco Antonio Araujo Jr. \\anosDarlan Barroso revista dos tribunais

Page 2: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

ERIVAL DA SILVA OLIVEIRA

Mestre em Direito pela UniversidadePresbiteriana Mackenzie. Especialistaem Direito Processual pela UniversidadePaulista - UNIP. Professor Universitário

(graduação e pós-graduação). Professore Coordenador da cadeira de Direito

Constitucional do Complexo EducacionalDamásio de Jesus no Curso Preparatóriopara o Exame da OAB (l.a e 2." fases).Professor de Direitos Humanos. Professor

do Programa Prova Final veiculado pela TVJustiça/STF. Assessor jurídico do MinistérioPúblico Federal em São Paulo. Autor de

diversas obras pela Editora Revista dosTribunais. Conferencista e Advogado.

RT7EDITORAI VilREVISTA DOS TRIBUNAIS

ATENDIMENTO AO CONSUMIDOR

Tel.: 0800-702-2433www.rt.com.br

Page 3: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Erival da Silva Oliveira

DIREITO CONSTITUCIONAL

3.a edição

revista eatualizada

ire? ELEMENTOS 1 ODO DIREITO LC.

Coordenação

Marco Antonio Araujo Jr.

Darlan Barroso

IIIEDITORA 1X11

REVISTA DOS TRIBUNAIS

Page 4: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

ím ELEMENTOS 11 ol[Ixlrpo DIREITO llfcj

DIREITOS HUMANOS

Erival da Silva Oliveira

CoordenaçãoMarco Antonio Araujo Jr.

Darlan Barroso 1

3.a edição revista e atualizada

7.i edição, 1.' tiragem: agosto de 2009; 2." tiragem: março de 2010; 2.' edição: 2011.

© desta edição [2012]

Editora Revista dos Tribunais Ltda.

Antonio Belinelo

Diretor responsável

Visite nosso site

www.rt.com.br

Central de Relacionamento RT

(atendimento, em dias úteis, das 8 às 17 horas)

Tel. 0800-702-2433

e-mail de atendimento ao [email protected]

Rua do Bosque, 820 - Barra FundaTel. 11 3613-8400 - Fax 11 3613-8450CEP 01136-000 - São Paulo

, SP - Brasil

todos os direitos resekvados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio ouprocesso, especialmente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográficos, fono-gráficos, videográficos. Vedada a memorização e/ou a recuperação total ou parcial, bem comoa inclusão de qualquer parte desta obra em qualquer sistema de processamento de dados. Essas

proibições aplicam-se também às características gráficas da obra e à sua editoração. A violaçãodos direitos autorais é punível como crime (art. 184 e parágrafos, do Código Penal), com penade prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão e indenizações diversas (arts.

101 a

110 da Lei 9.610, de 19.02.1998, Lei dos Direitos Autorais).

Impresso no Brasil |01 - 2012|Universitário (texto)

Fechamento da edição em [06.01.2012]

ISBN 978-85-203-4312-8

Page 5: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Para minha Professora-Assistente, Dra. Rosa Maria Rodrigues Vaz,

sem a qual a presente obra não seria realizada.Para meus alunos

, pelo carinho e respeito.

Page 6: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf
Page 7: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Agradeço aos Professores Marco Antonio Araujo Júnior eDarlan Barroso, pelo apoio e reconhecimento do trabalho

realizado por nós, docentes. Aos Amigos e Colegas Professores,que enfrentam diariamente a difícil arte de ensinar.

Page 8: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf
Page 9: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

"Exerce o Senhor a Justiça, e a todos

os oprimidos restitui o Direito"

.

Salmo 102:6

Page 10: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf
Page 11: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Nota da Editora

isando ampliar nosso horizonte editorial para oferecer livrosjurídicos específicos para a área de Concursos e Exame de

Ordem, com a mesma excelência das obras publicadas em outras áreas,a Editora Revista dos Tribunais apresenta a nova edição da coleçãoElementos do Direito.

Os livros foram reformulados tanto do ponto de vista de seuconteúdo como na escolha e no desenvolvimento de projeto gráficomais moderno que garantisse ao leitor boa visualização do texto, dosresumos e esquemas.

Além do tradicional e criterioso preparo editorial oferecido pelaRT, para a coleção foram escolhidos coordenadores e autores com altocabedal de experiência docente voltados para a preparação de candidatosa cargos públicos e bacharéis que estejam buscando bons resultadosem qualquer certame jurídico de que participem.

Page 12: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf
Page 13: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Apresentação da Coleção

om orgulho e honra apresentamos a coleção Elementos do Direito,fruto de cuidadoso trabalho, aplicação do conhecimento e didática

de professores experientes e especializados na preparação de candidatospara concursos públicos e Exame de Ordem. Por essa razão, os textosrefletem uma abordagem objetiva e atualizada, importante para auxi-liar o candidato no estudo dos principais temas da ciência jurídica quesejam objeto de arguição nesses certames.

Os livros apresentam projeto gráfico moderno, o que torna a leituravisualmente muito agradável, e, mais importante, incluem quadros,resumos e destaques especialmente preparados para facilitar a fixaçãoe o aprendizado dos temas recorrentes em concursos e exames.

Com a coleção, o candidato estará respaldado para o aprendizado epara uma revisão completa, pois terá a sua disposição material atualizadode acordo com as diretrizes da jurisprudência e da doutrina dominantessobre cada tema

, eficaz para aqueles que se preparam para concursospúblicos e exame de ordem.

Esperamos que a coleção Elementos do Direito continue cada vezmais a fazer parte do sucesso profissional de seus leitores.

Marco Antonio Araujo JúniorDarlan Barroso

Coordenadores

Page 14: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf
Page 15: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Sumário

NOTA DA EDITORA. 11

APRESENTAÇÃO DA COLEÇÃO. 13

1. CONCEITO DE DIREITOS HUMANOS. 19

2. BREVE EVOLUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS. 21

2.1 Ordem histórica cronológica de proteção. 23

3. GERAÇÕES DE DIREITOS. 25

4.

CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS. 29

5. PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS. 33

5.

1 Direito humanitário. 33

5.2 Liga das Nações (LDN), também conhecida por Sociedade das

Nações (SDN). 355

.3 Organização Internacional do Trabalho (OIT) e suas convenções.. 35

6. CARTA INTERNACIONAL DE DIREITOS. 37

7. ATUAÇÃO INTERNACIONAL SOBRE DIREITOS HUMANOS. 41

7.1 Juridicização e justicialização de direitos humanos. 42

8.

DIREITOS HUMANOS E FUNDAMENTAIS NO ORDENAMENTO JURÍ-DICO BRASILEIRO. 43

9. INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS

HUMANOS AO DIREITO BRASILEIRO. 57

9.

1 Bloco de constitucionalidade. 59

9.2 Supralegalidade dos tratados sobre direitos humanos no ordena-

mento jurídico brasileiro. 609

.3 Natureza Jurídica dos tratados internacionais de Direitos Huma-

nos no Brasil. 61

Page 16: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

16 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

10. PRINCIPAIS DOCUMENTOS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO AOSDIREITOS HUMANOS DE QUE O BRASIL FAZ PARTE NO SISTEMAGLOBAL. 63

10.1 Organização das Nações Unidas (ONU). 64

10.2 Declaração Universal dos Direitos Humanos. 6510.2.1 Universalismo e relativismo cultural. 67

10.3 Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP). 68

10.4 Pacto Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais(PIDESC). 70

10.5 Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados. 71

10.6 Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discrimina-ção racial. 76

10.7 Convenção sobre a eliminação de todas as formas de discrimina-ção contra a mulher. 80

10.8 Convenção contra a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis,desumanas ou degradantes. 82

10.9 Convenção sobre os direitos da criança. 87

10.10 Estatuto de Roma-Tribunal Penal Internacional (TPI). 89

10.10.1 Precedentes históricos. 89

10.10.2 Especificidades do Estatuto de Roma. 90

10.10.2.1 Aparente confronto de normas do Estatuto deRoma com a Constituição Federal. 93

10.11 Convenção sobre os direitos das pessoas com deficiência. 95

11. SISTEMAS REGIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS. 101

11.1 Introdução. 101

11.2 Sistema europeu. 10111.3 Sistema americano ou interamericano. 102

11.4 Sistema africano. 103

11.5 Sistema árabe e o sistema asiático. 103

11.6 Principais instrumentos de proteção do sistema regional america-no . 104

11.7 Convenção Americana de Direitos Humanos. 104

11.7.1 Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).. 106

11.7.2 Corte Interamericana de Direitos Humanos (COIDH). 110

11.7.2.1 Casos importantes julgados pela COIDH. 111

Page 17: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Sumário 17

11.8 Protocolo adicional à convenção americana sobre Direitos Huma-nos em matéria de direitos económicos, sociais e culturais - Proto-colo de San Salvador (1988). 115

11.9 Convenção interamericana para prevenir e punir a tortura. 116

11.10 Convenção interamericana para prevenir, punir e erradicar a vio-lência contra a mulher. 117

11.10.1 Caso Maria da Penha. 118

12. COMENTÁRIOS A DECLARAÇÃO UNIVERSAL DE DIREITOS HUMANOS 121

12.1 Direitos em espécie. 122

13. SIMETRIA DO SISTEMA GLOBAL COM O SISTEMA REGIONAL INTE-

RAMERICANO DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS. 133

14. MECANISMOS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NA CF/88.. 137

14.1 Constitucionalização de tratados e convenções internacionais so-bre Direitos Humanos. 137

14.2 Federalização de crimes graves contra os Direitos Humanos. 13814.3 Remédios constitucionais. 141

14.3.1 Habeas corpus. 14214.3.2 Habeas data . 144

14.3.3 Mandado de injunção. 14714.3.4 Mandado de segurança. 15114.3.5 Mandado de segurança coletivo. 152

14.3.6 Ação popular. 153

14.3.7 Direito de petição. 155

14.3.8 Ação civil pública. 15714.4 História das Constituições brasileiras e os Direitos Fundamentais e

Humanos. 159

14.4.1 Constituição de 1824. 159

14.4.2 Constituição de 1891. 159

14.4.3 Constituição de 1934. 160

14.4.4 Constituição de 1937. 160

14.4.5 Constituição de 1946. 16114

.4

.6 Constituição de 1967. 16114.4.7 Constituição de 1969. 161

14.4.8 Constituição de 1988. 16214.5 Eficácia vertical e horizontal dos Direitos Fundamentais. 162

Page 18: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

18 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS. 165

SITES. 168

ANEXO - CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. 169

PROTOCOLO ADICIONAL A CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOSHUMANOS EM MATÉRIA DE DIREITOS ECONÓMICOS

, SOCIAIS ECULTURAIS - "PROTOCOLO DE SAN SALVADOR". 197

Page 19: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Conceito de Direitos

Humanos

Levando em consideração a evolução doutrinária e conceituai, os direi-

tos protetivos dos seres humanos inicialmente eram denominados "direitosdo homem". Posteriormente

, por serem inseridos nas Constituições dosEstados, passaram a ser conhecidos por "direitos fundamentais".

Por fim,

quando foram previstos em tratados internacionais, receberam a designaçãode "direitos humanos".

De modo genérico, os direitos humanos correspondem à somatória devalores

, de atos e de normas que possibilitam a todos uma vida digna.No dizer de André de Carvalho Ramos

, trata-se de um conjunto mínimode direitos necessário para assegurar uma vida ao ser humano baseada naliberdade e na dignidade (Direitos humanos em juízo, p. 27).

Joaquin Herrera Flores afirma: "Os direitos humanos compõem umaracionalidade de resistência

, na medida em que traduzem processos queabrem e consolidam espaços de luta pela dignidade humana" (apud FláviaPiovesan

, Direitos humanos ejustiça internacional, p. 8).De modo abrangente, pode-se entender que os direitos humanos corres-

pondem a todas as normas jurídicas externas e internas que visam proteger a pes-soa humana, tais como tratados

, convenções, acordos ou pactos internacionais,bem como as Constituições dos Estados e suas normas infraconstitucionais

.

Saliente-se que os direitos individuais são o género que os direitos dohomem, fundamentais e humanos são espécies.

As questões dos concursos que envolvem a disciplina direi-tos humanos abordam a evolução, características, proteçõesespecíficas dos direitos dos seres humanos previstos em tra-tados, convenções, pactos dos sistemas de proteção global(Organização das Nações Unidas) e regionais (Organizaçãodos Estados Americanos, entre outros).

noteBEM

Page 20: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

20 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Sobre o tema, vale destacar as seguintes decisões do STF:"A essencialidade da cooperação internacional na repressão penal aos

delitos comuns não exonera o Estado brasileiro e, em particular, o STF de velarpelo respeito aos direitos fundamentais do súdito estrangeiro que venha a sofrer,em nosso País, processo extradicional instaurado por iniciativa de qualquerEstado estrangeiro. O fato de o estrangeiro ostentar a condição jurídica deextraditando não basta para reduzi-lo a um estado de submissão incompatívelcom a essencial dignidade que lhe é inerente como pessoa humana e que lheconfere a titularidade de direitos fundamentais inalienáveis, dentre os quaisavulta, por sua insuperável importância, a garantia do due process of law emtema de direito extradicional, o STF não pode e nem deve revelar indiferençadiante de transgressões ao regime das garantias processuais fundamentais. Éque o Estado brasileiro - que deve obediência irrestrita à própria Constituiçãoque lhe rege a vida institucional - assumiu, nos termos desse mesmo estatutopolítico, o gravíssimo dever de sempre conferir prevalência aos direitos humanos(art. 40, II)" (Ext 633, rei. Min. Celso de Mello, j. 28.08.1996, DJ 06.04.2001).

"Extradição e necessidade de observância dos parâmetros do devidoprocesso legal, do Estado de Direito e do respeito aos direitos humanos. Cons-tituição do Brasil, arts. 50, § I0 e 60, § 40

. Tráfico de entorpecentes. Associaçãodelituosa e confabulação. Tipificações correspondentes no direito brasileiro(...). Obrigação do STF de manter e observar os parâmetros do devido pro-cesso legal, do Estado de Direito e dos direitos humanos

" (Ext 986, rei. Min.

Eros Grau, j. 15.8.2007, Plenário, DJ 05.10.2007).

Direitos do Homem

Inatos aos seres humanos: vida,

liberdade (não precisam estarcodificados para serem respei-tados)

Direitos Fundamentais Estão positivados em uma Cons-tituição

Direitos Humanos

Direitos do homem e/ou funda-

mentais positivados em tratadosde direitos humanos

Page 21: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Breve Evoluçãodos Direitos Humanos

Os direitos humanos ganharam importância e relevância no século XX,

já estando incorporados ao pensamento jurídico do século XXI. Os doutri-nadores sustentam que o fundamento e a justificativa dos direitos humanosestariam ligados ao positivismo ou ao jusnaturalismo.

O positivismo estaria representado na estruturação jurídica (previsãolegal) dos direitos humanos. Nesse sentido é o pensamento de NorbertoBobbio e Hans Kelsen. Uma vez previstos no ordenamento jurídico interno(Constituição e normas infraconstitucionais), podem ser exigidos. Tambémpodem ser previstos em tratados e convenções internacionais sobre direitoshumanos.

Já o jusnaturalismo entende que a pessoa humana é o fundamento ab-soluto dos direitos humanos

, independentemente do lugar em que esteja,devendo ser tratada de modo justo e solidário. Nesse sentido posicionam-seos juristas brasileiros Dalmo de Abreu Dallari e Fábio Konder Comparato.Desse modo, os direitos humanos são preexistentes ao direito, que apenas os

declara. O direito só existe em função do homem, e é nele que se fundamentatodo e qualquer direito.

Destaque-se que sobre o tema direitos humanos, existem três marcoshistóricos fundamentais: o iluminismo

, a Revolução Francesa e o términoda II Guerra Mundial.

No iluminismo foi ressaltada a razão, o espírito crítico e a fé na ciência.

Esse movimento procurou compreender a essência das coisas e das pessoas,

observar o homem natural, e desse modo chegar às origens da humanidade.

São pensadores renomados de tal período: John Locke (Tratado sobre ogoverno - 1689), Jean-Jacques Rousseau (Contrato social - 1762), ThomasHobbes (O Leviatã - 1651) e Charles-Louis de Secondat - Montesquieu (Oespírito das leis - 1748).

Page 22: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

22 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Impulsionadas pelo iluminismo foram elaboradas as primeiras declara-ções de direitos humanos, destacando-se a Declaração de Direitos do Homeme do Cidadão, de 26 de agosto de 1789, redigida após a Revolução Francesa, aqual teve como marco histórico a queda da Bastilha, em 14 de julho de 1789.

Immanuel Kant (Crítica da razão pura - 1781, A doutrina do direito, A

doutrina da virtude e seu Ensaio filosófico sobre a paz perpétua - 1795), pormeio do racionalismo

, delineou o Estado como um instrumento de produçãode leis, por meio de seus cidadãos, sendo a liberdade o principal fundamentopara se estabelecer e valorizar a figura da pessoa humana, devendo-se atentarpara a moralidade, a dignidade e a paz perpétua.

A Revolução Francesa fez nascer os ideais representativos dos direitoshumanos, quais sejam a igualdade, a liberdade e a fraternidade.

Por fim, com o final da II Guerra Mundial, os homens se conscientizaram

da necessidade de não se permitir que seres humanos novamente sofressemaquelas atrocidades cometidas pelos nazistas. A barbárie do totalitarismosignificou a ruptura do paradigma dos direitos humanos, por meio da nega-ção do valor da pessoa humana como valor-fonte do direito (Flávia Piovesan,Direitos humanos e justiça internacional, p. 9).

Posteriormente houve a criação da Organização das Nações Unidas e adeclaração de inúmeros tratados internacionais de direitos humanos, comoa Declaração Universal dos Direitos Humanos, o Pacto Internacional de Di-reitos Civis e Políticos, entre outros.

Verifica-se o desenvolvimento do sistema internacional de proteção dosdireitos humanos, que é o maior legado da chamada "era dos direitos" (FláviaPiovesan, Direitos humanos ejustiça internacional, p. 7).

Em uma visão contemporânea, José Joaquim Gomes Canotilho afirma:"Os direitos humanos articulados com o relevante papel das organizaçõesinternacionais fornecem um enquadramento razoável para o constituciona-lismo global. O constitucionalismo global compreende não apenas o clássicoparadigma das relações horizontais entre Estados, mas o novo paradigmacentrado nas relações Estado/povo, na emergência de um Direito Internacio-nal dos Direitos Humanos e na tendencial elevação da dignidade humana apressuposto ineliminável de todos os constitucionalismos. Por isso, o PoderConstituinte dos Estados e, consequentemente, das respectivas Constituiçõesnacionais está hoje cada vez mais vinculado a princípios e regras de direitointernacional. É como se o Direito Internacional fosse transformado em

parâmetro de validade das próprias Constituições nacionais (cujas normas

Page 23: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 2 . Breve evolução dos Direitos Humanos 23

passam a ser consideradas nulas se violadoras das normas do jus cogens in-ternacional). O Poder Constituinte soberano criador de Constituições estáhoje longe de ser um sistema autónomo que gravita em torno da soberaniado Estado" (Direito constitucional e teoria da constituição, p. 1.217).

Movimento histórico de proteção do homem e dados conexos impor-tantes:

Iluminismo

Revolução Francesa (RevoluçãoLiberal)

Fim da 2.a Guerra Mundial

Valorização da razão, da crítica, da ciência edo Homem (antropocentrismo).

Declaração de Direitos do Homem e do Ci-dadão (1789). Aprovada pelo F rlamento Fran-cês.

Criação da ONU (1945) e intensificação dacriação dos tratados internacionais de direitoshumanos. Início da efetiva internacionaliza-

ção dos Direitos Humanos.

2.1 ORDEM HISTÓRICA CRONOLÓGICA DE PROTEÇÃO

No que diz respeito aos documentos reconhecidos internacionalmentee que restringem a atuação do Estado em relação aos direitos do homem,segundo a doutrina majoritária, a ordem histórica cronológica seria aseguinte:

O antecedente mais remoto seria a Magna Carta de 1215, que submetiao governante a um corpo escrito de normas e previa a inexistência de arbitra-riedades na cobrança de impostos. A execução de uma multa ou de aprisio-namento ficava submetida à necessidade de um julgamento justo.

A Petition of Rights (1628) tentou incorporar novamente os direitosestabelecidos pela Magna Carta, por meio da necessidade de consentimentodo Parlamento para a realização de inúmeros atos.

O Habeas Corpus Act (1679) instituiu um dos mais importantes instru-mentos de garantia de direitos. Bastante utilizado até hoje, protege o direitoà liberdade de locomoção de todos os indivíduos.

O Bill of Rights (1689) veio para assegurar a supremacia do Parlamentosobre a vontade do rei, diminuindo os abusos cometidos pela nobreza emrelação aos seus súditos.

Page 24: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

24 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

A Declaração de Direitos do Estado da Virgínia (1776) afirma: "Todos oshomens são, por natureza, igualmente livres e independentes, e têm certosdireitos inatos, dos quais, quando entram em estado de sociedade, não po-dem por qualquer acordo privar ou despojar seus pósteros e que são: o gozoda vida e da liberdade com os meios de adquirir e de possuir a propriedade ede buscar e obter felicidade e segurança". Assegura, também, todo poder aopovo, o devido processo legal, entre outros direitos.

A Declaração de Independência dos Estados Unidos da América (1776),assim como a Constituição Federal de 1787, consolidam barreiras contra oEstado, como a tripartição do poder, a alegação de que todo poder vem dopovo; bem como estabelece alguns direitos fundamentais, como a igualdadeentre os homens, a vida, a liberdade e a propriedade.

Após a Revolução Francesa (1789), foi elaborada a Declaração dosDireitos do Homem e do Cidadão, que garante os direitos referentes à liber-dade, propriedade, segurança e resistência à opressão. Ressalta o princípioda legalidade e da igualdade de todos perante a lei, bem como o da soberaniapopular. Valoriza-se a dignidade da pessoa humana.

A partir do século XX, tem-se a proteção de direitos, inclusive coletivos,em Constituições de vários países. A primeira nesse sentido foi a Constituiçãomexicana de 1917, que tratava da função social da propriedade e da proteçãodos trabalhadores. No mesmo sentido caminhou a Constituição de Weimar,de 1919 (Alemanha), inclusive com a previsão de direitos previdenciários.

Principais documentos de proteção das pessoas: MagnaCarta de 1215, Petition of Rights (1628), Habeas Corpus Act(1679), Bill of Rights (1689), Declaração de Direitos do Es-tado da Virgínia (1776), Declaração de Independência dosEstados Unidos da América (1776), Declaração dos Direi-tos do Homem e do Cidadão (1789), Constituição Mexicana(191 7) e Constituição Alemã (1919 - Weimar).

Page 25: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Gerações de Direitos

Na atualidade, os doutrinadores mais requeridos em concursos públicosclassificam os direitos vinculados aos seres humanos da primeira à terceirageração. Há, porém, quem entenda existir uma quarta geração de direitos.

Cumpre destacar que se trata de uma divisão meramente académica,pois os direitos dos seres humanos não devem ser divididos em gerações oudimensões estanques. Tais gerações apenas retratam a valorização de deter-minados direitos em momentos históricos distintos.

Os direitos de 1 .® geração são os direitos e garantias individuais e políticosclássicos que tem no indivíduo o centro de proteção (liberdades públicas:direito à vida, à liberdade, à expressão e à locomoção). Representam um limitena atuação do Estado, ou seja, não mate, não prenda, entre outras atividadesconstritivas. Tem origem nas revoluções liberais, tais como a Magna Cartade 1215, Habeas Corpus Act (1679), Declaração de Direitos do Homem e doCidadão, entre outros.

Os direitos de 2.a geração são os direitos sociais, económicos e culturaisque valorizam grupos de indivíduos, tais como os trabalhadores e aposenta-dos (direito ao trabalho, ao seguro social, à subsistência, amparo à doença,à velhice, entre outros). Espera-se uma ação positiva por parte do Estadoviabilizando tais direitos. Surgem em virtude dos excessos da revoluçãoindustrial, que consistiu em um conjunto de mudanças tecnológicas comprofundo impacto no processo produtivo em nível económico e social. Ini-ciada na Inglaterra, em meados do século XVIII, expandiu-se pelo mundo apartir do século XIX. Além disso, houve a omissão do Estado liberal, ou seja,o Estado interfere de modo mínimo na sociedade. Destacam-se a ConstituiçãoMexicana de 1917, a Declaração Russa dos Direitos do Povo Trabalhador eExplorado de 1918, a Constituição Alemã de 1919 (Weimar), a criação daOrganização Internacional do Trabalho (1919), entre outros.

Page 26: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

26 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Os direitos da 3.a geração são conhecidos por direitos de fraternidade ousolidariedade e abrangem a paz universal, um meio ambiente equilibrado,entre outros direitos difusos. Desse modo

, busca-se proteger um númeroindeterminado e indeterminável de pessoas. São enfatizados após a SegundaGuerra Mundial

, principalmente com a criação da Organização das NaçõesUnidas (1945) e a internacionalização dos direitos humanos.

Os direitos de 4.a geração são conhecidos por direitos dos povos e sãofruto da última fase da estruturação do Estado Social

. Abrangem o direitoà informação, ao pluralismo, à democracia entre outros. Há quem sustenteser o direito vinculado ao desenvolvimento científico

, também chamado de

desenvolvimento biotecnológico (DNA, genética, nanotecnologia, clonagem,biotecnologia, entre outros). Na atualidade, tem forte influência no campojurídico, especialmente no que se refere aos estudos de células tronco, aborto,estabelecimento de paternidade, sucessão hereditária, dentre outros. Pode--se citar como exemplo, a ADI 3.510 proposta pelo Procurador-Geral daRepública contra a Lei de Biossegurança que permite, para fins de pesquisae terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriõeshumanos produzidos por fertilização in vitro e não usados no respectivo pro-cedimento, e estabelece condições para essa utilização (Lei 11.105/2005).O Plenário do Supremo Tribunal Federal declarou a constitucionalidade doart. 50 da Lei de Biossegurança, por entender que as pesquisas com células--tronco embrionárias não violam o direito à vida ou o princípio da dignidadeda pessoa humana (ADI 3.510, rei. Min. Ayres Britto,j. 29.5.2008, Plenário,DJ 28.5.2010). Percebe-se que se trata de um desdobramento da 3.a geração.

Tais temas são abordados especialmente na obra A era dos direitos deNorberto Bobbio.

No Supremo Tribunal Federal, há, por exemplo, a seguinte decisão queabordou tal assunto:

"

Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) -que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais - realçam oprincípio da liberdade e os direitos de segunda geração (direitos económicos,sociais e culturais) - que se identificam com as liberdades positivas, reais ou

concretas - acentuam o princípio da igualdade, os direitos de terceira geração,que materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamentea todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e cons-tituem um momento importante no processo de desenvolvimento, expansãoe reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados

, enquanto valores

Page 27: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 3 . Gerações de direitos 27

fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essencial inexauribilidade"(STF, Pleno, MS 22.164/SP, rei. Min. Celso de Mello).

É importante destacar:

Geração Proteção Exemplo

1.

a

Indivíduo (implicam em um não fazer porparte do Estado - fruto das revoluções li-berais).

Vida, Liberdade, Intimi-dade.

2.

a

Grupos de indivíduos (trabalhadores eaposentados) - implicam em uma ação aser realizada pelo Estado - possibilitam oativismo judicial.

Direitos trabalhistas,

previdenciários, econó-micos, sociais, culturais(igualdade).

3.

a

Número indeterminado e indeterminávelde indivíduos - universalidade de indiví-duos.

Fraternidade entre os

povos, meio ambiente,paz universal etc.

4.

a Futuro dos indivíduos.

Evolução da ciência(biotecnologia), demo-cracia (estado social)etc.

Page 28: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf
Page 29: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Característicasdos Direitos Humanos

Os direitos humanos, segundo a doutrina mais abrangente, possuem asseguintes características:

a) universalidade: todo e qualquer ser humano é sujeito ativo dessesdireitos, podendo pleiteá-los em qualquer foro nacional ou interna-cional (parágrafo 5 da Declaração e Programa de Ação de Viena de1993);

b) indivisibilidade: não podem ser divididos, compõem um único con-junto de direitos (parágrafo 5 da Declaração e Programa de Ação deViena de 1993);

c) interdependência (parágrafo 5 da Declaração e Programa de Ação deViena de 1993): os direitos humanos estão vinculados uns aos outros;

d) inter-relacionaridade (parágrafo 5 da Declaração e Programa de Açãode Viena de 1993): os direitos humanos e os sistemas de proteção seinter-relacionam, possibilitando às pessoas escolher entre o mecanis-mo de proteção global ou regional, pois não há hierarquia entre eles;

e) imprescritibilidade: os direitos humanos não sofrem alterações como decurso do tempo, pois têm caráter eterno. Desse modo, não se ga-nham e nem se perdem como o tempo. São anteriores, concomitantee posteriores aos indivíduos;

0 individualidade: podem ser exercidos por apenas um indivíduo;

g) complementaridade: os direitos humanos devem ser interpretadosem conjunto, não havendo hierarquia entre eles;

h) inviolabilidade: esses direitos não podem ser descumpridos ou vio-lados por nenhuma pessoa ou autoridade;

i) indisponibilidade: não se pode dispor desses direitos (abrir mão,renunciar);

Page 30: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

30 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

j) inalienabilidade: os direitos humanos estão fora do comércio;k) historicidade: estão vinculados ao desenvolvimento histórico e cul-

tural do ser humano;

1) irrenunciabilidade: os direitos humanos não podem ser objeto derenúncia;

m) vedação do retrocesso (efeito "cliquet", vedação do regresso ouefeito ampliativo dos direitos humanos): uma vez estabelecidos osdireitos humanos

, não se admite o retrocesso visando a sua limitaçãoou diminuição (art. 4, § 30

, da Convenção Americana sobre DireitosHumanos - não se pode restabelecer a pena de morte nos Estadosque a hajam abolido);

n) inerência: os direitos humanos são inerentes ou inatos (naturalmenteligados) aos seres humanos;

o) efetividade: o Estado deve garantir a efetivação dos direitos humanos(no mínimo, os direitos civis e políticos);

p) essencialidade: são essenciais aos seres humanos, podendo ser divi-dido em materialmente (constituem a dignidade da pessoa humana)e formalmente (prevalecem em face da legislação interna para pro-teger as pessoas - art. 7, § 7.° da Convenção Americana de DireitosHumanos - prisão civil só para devedor de alimentos - RE 466.343 esúmula vinculante 25);

q) limitabilidade: os direitos humanos podem ser limitados em situaçõesexcepcionais previstas nas legislações, como, por exemplo, a prisãode um indivíduo que cometeu um delito (limitação da liberdade deir e vir). No Brasil, é possível limitar o direito de reunião nos casosde estado de defesa e de estado de sítio (arts. 136 e 139 da CF/88

,

respectivamente).

Sobre o tema, importante é a Súmula 683 do STF: "O limite de idadepara a inscrição em concurso público só se legitima em face do art. 7.°, XXX,

da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza das atribuiçõesdo cargo a ser preenchido";

r) inesgotável ou inexaurível: não constituem um rol fechado ou limi-tado, podendo ser ampliados de acordo com a evolução histórica dasociedade;

s) concorrência: é possível o seu exercício concomitante ou simultane-amente (direito de reunião e manifestação, entre outros).

Page 31: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 4 . Características dos Direitos Humanos 31

Destaque-se as seguintes decisões do Supremo Tribunal Federal:"No estado democrático de direito devem ser intransigentemente respei-

tados os princípios que garantem a prevalência dos direitos humanos. (...) Aausência de prescrição nos crimes de racismo justifica-se como alerta gravepara as gerações de hoje e de amanhã, para que se impeça a reinstauração develhos e ultrapassados conceitos que a consciência jurídica e histórica nãomais admitem" (HC 82.424, rei. p/o Ac. Min. Maurício Corrêa, j. 17.09.2003,DJ 19.03.2004).

"Discrepa, a mais não poder, de garantias constitucionais implícitas eexplícitas - preservação da dignidade humana, da intimidade, da intangibili-dade, do corpo humano, do império da lei e da inexecução específica e diretade obrigação de fazer-provimento judicial que, em ação civil de investigaçãode paternidade, implique determinação no sentido de o réu ser conduzidoao laboratório, 'debaixo de vara,, para coleta do material indispensável àfeitura do exame DNA. A recusa resolve-se no plano jurídico-instrumental,consideradas a dogmática, a doutrina e a jurisprudência, no que voltadas aodeslinde das questões ligadas à prova dos fatos" (HC 71.373, rei. p/ o Ac. Min.Marco Aurélio, j.10.11.1994, DJ 22.11.1996).

Principais características requeridas em concursos: univer-salidade, indivisibilidade, interdependência, inter-relacio-naridade, imprescritibilidade, historicidade, vedação doretrocesso (efeito "cliquet", vedação do regresso ou efeitoampliativo dos direitos humanos) e limitabilidade.

Page 32: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf
Page 33: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Proteção Internacionaldos Direitos Humanos

Podem ser entendidos como precedentes históricos do processo de in-ternacionalização dos direitos humanos:

5.

1 DIREITO HUMANITÁRIO

É o conhecido direito da guerra. Mesmo num conflito bélico entre países,existem princípios éticos mínimos que devem ser seguidos. São exemplosas seguintes condutas: não matar nem maltratar os militares postos fora decombate (feridos) nem os prisioneiros; não bombardear a população civil;resgatar os náufragos, entre outros.

Tem origem nas Convenções de Genebra, sendo a primeira assinadaem 22 de agosto de 1864 unicamente por potências europeias, e destinada amelhorar a sorte dos militares feridos nos exércitos em campanha. Afirma--se que a origem vincula-se ao livro de Jean Henri Dunant (Un Souvenir deSolférino), no qual relatou como organizou, durante a batalha de Solferino dejunho de 1859 entre os exércitos austríacos e franco-piemonteses, os serviçosde pronto-socorro para os soldados feridos de ambos os lados.

Na primeira metade do século XX, a Convenção de Genebra de 1864foi revista, com a finalidade de se estenderem seus princípios aos conflitosmarítimos (Convenção de Haia de 1907) e aos prisioneiros de guerra (Con-venção de Genebra de 1929). Em 1925, outra Convenção, também assinadaem Genebra, proibiu a utilização, durante a guerra, de gases asfixiantes outóxicos, bem como de armas bacteriológicas. As convenções sobre solda-dos feridos e prisioneiros de guerra foram revistas e consolidadas em trêsconvenções celebradas em Genebra em 1949, sob os auspícios da ComissãoInternacional da Cruz Vermelha. Na mesma ocasião, foi celebrada umaquarta convenção, tendo por objeto a proteção da população civil em caso

Page 34: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

34 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

de guerra (Fábio Konder Comparato, A Afirmação Histórica dos DireitosHumanos

, p. 168-169).

Cumpre observar que, de acordo com a Carta da ONU, deve-se buscar a

solução pacífica das controvérsias (preâmbulo, arts. 1.° e 2.°, entre outros).

Em 17 de fevereiro de 1863, Jean Henri Dunant, conhecido por HenriDunant ou Henry Dunant, e outros quatro cidadãos genebrinos criaram oComité Internacional de Ajuda aos Feridos, também conhecido como Comitédos Cinco, com o objetivo de promover a criação de sociedades nacionais desocorro e propor a elaboração de um tratado internacional. Este comité logorecebeu um novo nome, Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV)

,

derivado do símbolo utilizado como forma de proteção aos feridos e enfermos- cruz vermelha sobre fundo branco -, sendo, como alguns dizem, uma home-nagem à Suíça, por ser o inverso da bandeira suíça. Em 1863, estabeleceu-sea primeira sociedade nacional na Bélgica, e posteriormente na Prússia (1864)e na Holanda (1866). Estas e outras sociedades adotam o nome de Cruz Ver-

melha e, nos países islâmicos, Crescente Vermelho. Em 2005, foi adotado

um símbolo universal e sem conotações religiosas: um cristal vermelho sobrefundo branco. De acordo com o CICV

, o cristal vermelho "não tem a intenção

de possuir qualquer significado religioso, étnico, racional, religioso ou polí-tico" (Guilherme Assis de Almeida et al, Direitos humanos

, p. 10).

Desse modo, a Cruz Vermelha Internacional é considerada uma organi-

zação não governamental que tem por objetivo conceder aos países necessi-tados ajuda humanitária (no mínimo médica). Não tem natureza jurídica deorganização internacional, sendo regida exclusivamente pelo Código Civilsuíço. Os locais onde a Cruz Vermelha estiver instalada serão consideradosterritórios neutros, não podendo ser atacados.

Na medida em que os países entendem que mesmo na guerra existemdireitos que devem ser protegidos para além de sua proteção interna, e ra-tificam as Convenções de Genebra, autorizam a limitação de sua soberaniaterritorial em prol da proteção dos direitos dos seres humanos.

Entende-se haver uma limitação do domínio reservado do Estado. Dessemodo, os Estados relativizam a teoria da jurisdição doméstica e os direitoshumanos estabelecem um patamar mínimo de proteção dos direitos dos sereshumanos.

Portanto, pode-se afirmar que os direitos humanos interferem no fun-cionamento interno dos Estados.

Page 35: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 5 . Proteção internacional dos Direitos Humanos 35

5.2 LIGA DAS NAÇÕES (LDN),TAMBÉM CONHECIDA POR

SOCIEDADE DAS NAÇÕES (SDN)

Com o fim da I Guerra Mundial (1914/1918), os países vencedores sereuniram em Versalhes, nos subúrbios de Paris, França, em janeiro de 1919,para firmar um tratado de paz, que ficou conhecido pelo nome do local dacapital francesa onde foi assinado. Um dos pontos do Tratado de Versalhesera a criação de um organismo internacional que tivesse como finalidadeassegurar a paz num mundo traumatizado pelas dimensões do conflito quese encerrara.

Em 15 de novembro de 1920 teve lugar em Genebra, na Suíça, a PrimeiraAssembleia Geral da Liga das Nações. Os objetivos da organização eram im-pedir as guerras e assegurar a paz, a partir de ações diplomáticas, de diálogose negociações para a solução dos litígios internacionais (http://educacao.uol.com.br/historia/liga-das-nacoes.jhtm). Tinha o objetivo de impedir uma IIGuerra Mundial, fato que não conseguiu realizar.

O Brasil aderiu desde o início à Liga das Nações, porém por ato isoladodo Presidente da República Artur Bernardes se desligou (denunciou) seisanos depois (1926), sem a anuência do Congresso Nacional. Desde então,a vontade do Presidente da República foi suficiente para denunciar um tra-tado sem a concordância (ratificação) do Congresso Nacional. Atentar parao julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade 1.625 no SupremoTribunal Federal, pois a tendência é exigir-se a participação do CongressoNacional também para a denúncia de um tratado.

Apesar de todos os defeitos, a Liga das Nações procurava proteger osdireitos humanos. É antecessora da Organização das Nações Unidas (ONU).

5.3 ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DOTRABALHO (OIT) E

SUAS CONVENÇÕES

A Organização Internacional do Trabalho foi criada pela Conferênciade Paz após a I Guerra Mundial. A sua Constituição converteu-se na ParteXIII do Tratado de Versalhes (1919). Em 1944, à luz dos efeitos da Grande

Depressão e da II Guerra Mundial, a Organização Internacional do Trabalhoadotou a Declaração da Filadélfia como anexo da sua Constituição. A Decla-ração antecipou e serviu de modelo para a Carta das Nações Unidas e para aDeclaração Universal dos Direitos Humanos.

Em junho de 1998 (86.a Sessão) foi adotada a Declaração da OrganizaçãoInternacional do Trabalho sobre os Princípios e Direitos Fundamentais do

Page 36: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

36 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Trabalho e seu Seguimento. O documento é uma reafirmação universal daobrigação de respeitar, promover e tornar realidade os princípios refletidosnas Convenções fundamentais da OIT

, ainda que não tenham sido ratificadaspelos Estados-membros.

Desde 1999, a Organização Internacional do Trabalho trabalha pela

manutenção de seus valores e objetivos em prol de uma agenda social queviabilize a continuidade do processo de globalização através de um equilíbrioentre objetivos de eficiência económica e de equidade social (http://www.

oitbrasil.org.br/inst/hist/index.php).

A Organização Internacional do Trabalho estabeleceu um patamar mí-nimo de proteção dos trabalhadores e conseguiu identificar os sujeitos deproteção, tais como crianças, gestantes, idosos.

A Organização Internacional do Trabalho tem sede em Genebra (Suíça).

Recomenda-se a leitura dos votos dos Ministros do Supremo TribunalFederal no julgamento da ADI 1.625 proposta pela CONTAG em face da Con-venção 158 da OIT, que protege o trabalhador contra a demissão imotivada eque foi denunciada unilateralmente pelo Presidente da República.

Sobre o tema, cumpre destacar que, para a maioria dos humanistas, é

inconstitucional o Presidente da República desobrigar o País de um tratadointernacional sem a anuência do Congresso Nacional.

Precedentes históricos do Processo de Internacionalização(expansão) ou internaiização (obediência no plano internodo país) dos direitos humanos: Direito Humanitário (Guerra)- Convenções de Genebra, Liga das Nações ou Sociedadedas Nações e Organização Internacional do Trabalho (OIT).

noteBEM

Page 37: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Carta Internacionalde Direitos

Segundo Flávia Piovesan, a Carta Internacional de Direitos- "Interna tio-nal Bill of Rights" - seria a junção dos seguintes instrumentos internacionais

de proteção do sistema global: a Declaração Universal de Direitos Humanos(1948), o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (PIDCP) e oPacto Internacional de Direitos Económicos, Sociais e Culturais (PIDESC),

conhecidos por Pactos de New York de 1966 (Direitos humanos e o direitoconstitucional internacional, p. 160).

Tais instrumentos de proteção flexibilizaram o conceito de soberanianacional absoluta.

Para Nicola Matteucci, o termo soberania tem a seguinte designação:"Em sentido restrito, na sua significação moderna, o termo Soberania aparece,no final do século XVI, juntamente com o de Estado, para indicar, em toda asua plenitude, o poder estatal, sujeito único e exclusivo da política. Trata-sedo conceito político-jurídico que possibilita ao Estado moderno, mediantesua lógica absolutista interna, impor-se à organização medieval do poder,baseada, por um lado, nas categorias e nos Estados, e, por outro, nas duasgrandes coordenadas universalistas representadas pelo papado e pelo impé-rio. Isto ocorre em decorrência de uma notável necessidade de unificação e

concentração do poder, cuja finalidade seria reunir numa única instância omonopólio da força num determinado território e sobre uma determinadapopulação, e, com isso, realizar no Estado a máxima unidade e coesão política

"

(Dicionário de política, p. 1179-1180).

A partir do momento em que "tribunais internacionais" previstos emtratados internacionais sobre direitos humanos podem impor ao Estado opagamento de indenização às vítimas ou responsabilização de seus nacionais,isso indica que tal Estado não é mais soberano em relação ao seu conceitoclássico.

Page 38: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

38 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Desse modo, verifica-se a valorização das pessoas humanas no plano inter-

nacional, sendo consideradas como sujeitos do direito internacional público. Talevolução é notada após as duas grandes guerras mundiais. As pessoas humanaspassam a ser dotadas de capacidade ativa e passiva no plano internacional, ouseja, podem pleitear direitos em órgãos internacionais (Comissões ou Cortes)e podem ser responsabilizadas (réus no Tribunal Penal Internacional).

Nesse sentido, Flávia Piovesan destaca a existência do Direito Interna-

cional dos Direitos Humanos, que objetiva garantir o exercício dos direitosda pessoa humana e é formado pela somatória da Constituição e dos tratadosinternacionais de proteção dos direitos humanos (Direitos humanos e o direitoconstitucional internacional, p. 15).

Sobre a ampliação da proteção das pessoas humanas é importante aobservação de Antônio Augusto Cançado Trindade: "Nas raízes do própriopensamento constitucionalista mais esclarecido se encontra apoio para a pro-teção internacional dos direitos humanos. Há pouco menos de duas décadas,Mauro Cappelletti ressaltava que a proteção dos direitos humanos, no plano dodireito interno, requer instrumentos processuais adequados, e é tamanha sua

importância que transcende o sistema ordinário de proteção judicial; assim,

em caso de ameaça aos direitos constitucionalmente reconhecidos, há queprover meios processuais extraordinários de proteção. E é quando nem mesmoestes são disponíveis que as garantias consagradas nos tratados e instrumentosinternacionais de proteção dos direitos humanos operam em favor dos quenecessitam de proteção. E segundo estes tratados de direitos humanos não ésuficiente que os Estados-Partes contem com um sistema de tutela jurídica decaráter genérico; encontram-se eles na obrigação de prover instrumentos proces-suais adequados e eficazes para a salvaguarda dos direitos constitucionalmenteconsagrados. Há, entre os constitucionalistas, os que revelam sensibilidadepara as afinidades e interação entre o direito internacional e o direito interno notocante à proteção dos direitos humanos" (A proteção internacional dos direitoshumanos: fundamentos jurídicos e instrumentos básicos, p. 624).

Desse modo, o direito existe para proteger a pessoa humana, não devendo

haver restrições formais entre o direito nacional e o direito internacional. Se ajurisdição do sistema global é mais favorável à pessoa humana, não há necessidadede se esgotar a jurisdição do sistema regional. Da mesma forma, se a Constituição

de um país é mais benéfica, deve-se aplicá-la em relação ao tratado internacionalsobre o tema (complementariedade, inter-relacionariedade e interdependência).

Pode ser utilizado, inclusive, o "diálogo das fontes", ajustando-se duas

teses para proteger as pessoas humanas (dialógica jurídica).

Page 39: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 6 . Carta internacional de direitos 39

Em suma, no que diz respeito aos direitos humanos há a relativizaçãodo conceito de soberania, de modo que a soberania dos Estados não é umprincípio absoluto, mas deve estar sujeita a certas limitações em prol dosdireitos humanos (valorização da dignidade humana).

Com o fim da II Guerra Mundial, os direitos humanos passam a ser umassunto de interesse geral, inclusive com a criação da Organização das Na-ções Unidas e com a adoção da Declaração Universal dos Direitos Humanospela Assembleia Geral da ONU, em 1948. É a internacionalização efetiva dosdireitos humanos.

Os países não podem mais tratar as pessoas humanas de qualquer for-ma, pois podem sofrer uma responsabilização na esfera internacional. Provadisso foi a atuação dos Tribunais de Nuremberg, em 1945-1946, e de Tóquio,em 1946 (Tribunais Militares Internacionais para julgar os criminosos da IIGuerra Mundial).

Os direitos humanos vão além das fronteiras dos Estados e va-

lorizam as pessoas humanas, demonstrando um novo interesseinternacional.

Sobre o tema, é importante apresentar a opinião de Flávia Piovesan, quedestaca as seguintes consequências sobre a valorização dos direitos huma-nos: "1) a revisão da noção tradicional de soberania absoluta do Estado, quepassa a sofrer um processo de relativização, na medida em que são admitidasintervenções no plano nacional em prol da proteção dos direitos humanos -isto é, transita-se de uma concepção "hobbesiana" de soberania, centrada noEstado

, para uma concepção "kantiana" de soberania, centrada na cidadania

universal; e 2) a cristalização da ideia de que o indivíduo deve ter direitosprotegidos na esfera internacional, na condição de sujeito de direitos

" (Direitos

humanos ejustiça internacional, p. 12).

Carta Internacional de Direitos Humanos (International Bill of

Rights): somatória da Declaração Universal de Direitos Hu-manos (1948), Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos(1966) e Pacto Internacional de Direitos Económicos, Sociaise Culturais (1966).

importante

Page 40: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf
Page 41: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Atuação Internacionalsobre Direitos Humanos

Observa Norberto Bobbio que as atividades internacionais na área detutela dos direitos do homem (humanos) podem ser consideradas sob trêsaspectos: promoção, controle e garantia (A era dos direitos, p. 39-40).

As atividades de promoção correspondem ao conjunto de ações quesão orientadas para o duplo objetivo: a) induzir os Estados que não têm umadisciplina específica para a tutela dos direitos do homem a introduzi-la; b)induzir os que já a têm a aperfeiçoá-la, seja com relação ao direito substancial(número e qualidade dos direitos a tutelar), seja com relação aos procedimen-tos (número e qualidade dos controles jurisdicionais). Assim, correspondemao conjunto de ações destinadas ao fomento e ao aperfeiçoamento do regimede direitos humanos pelos Estados.

Por atividades de controle entende-se o conjunto de medidas que osvários organismos internacionais põem em movimento para verificar se e emque grau as recomendações foram acolhidas, se e em que grau as convençõesforam respeitadas. Dois modos típicos para exercer esse controle - ambosprevistos, por exemplo, nos dois Pactos de Nova Iorque de 1966 - são osrelatórios dos Estados signatários e os comunicados (arts. 40 e 41, PIDCP).Desse modo, as atividades de controle envolvem as que cobram dos Estadosa observância das obrigações por ele contraídas internacionalmente.

Por fim, por atividade de garantia entende-se a organização de umaautêntica tutela jurisdicional de nível internacional que substitua a nacio-nal. Assim, só será criada quando uma jurisdição internacional se impuserconcretamente sobre as jurisdições nacionais deixando de operar dentro dosEstados, mas contra os Estados e em defesa dos cidadãos.

Conclui-se afirmando que a separação entre as duas primeiras formasde proteção dos direitos do homem e a terceira é bastante nítida: enquantoa promoção e o controle se dirigem exclusivamente a reforçar garantiasexistentes ou as instituir no interior do Estado, ou seja, tendem a reforçar

Page 42: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

42 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

ou a aperfeiçoar o sistema jurisdicional nacional, a terceira tem por objetivoa criação de uma nova jurisdição, a substituição da garantia nacional pelainternacional

, quando aquela for insuficiente ou mesmo inexistente.

Promoção Estímulo ao respeito dos direitos humanos

Controle Relatórios e comunicados

7.1 JURIDICIZAÇÃO E JUSTICIALIZAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS

A juridicização é o mecanismo inerente ao direito por meio do qual fatossão submetidos ao âmbito jurídico de proteção. Segundo Flávia Piovesan, a

Carta Internacional sobre Direitos foi um mecanismo de juridicização dosdireitos humanos e, como dito, seria a junção da Declaração Universal deDireitos Humanos (1948)

, do Pacto Internacional de Direitos Civis e Polí-ticos (PIDCP) e do Pacto Internacional de Direitos Económicos

, Sociais e

Culturais (PIDESC) (Pactos de Nova Iorque - 1966) (Direitos humanos e odireito constitucional internacional

, p. 160).

A justicialização corresponde à efetivação ou materialização da proteção dosdireitos. No sistema global, a justicialização dos direitos humanos operou-se naesfera penal, mediante a criação de tribunais ad hoc e, posteriormente, do TribunalPenal Internacional (TPI). Nessa esfera penal, a responsabilização internacionalatinge indivíduos que realizaram crimes internacionais. Nos sistemas regionais, a

justicialização operou-se na esfera civil, mediante a atuação das Cortes europeia,interamericana e africana. Em tal âmbito (civil)

, a responsabilização internacionalalcança Estados que violaram direitos humanos internacionalmente conhecidos(Flávia Piovesan, Direitos humanos ejustiça internacional, p. 4).

nos (Declaração Universal dos DireitosHumanos, Pacto Internacional de Direi-tos Civis e Políticos, Pacto Internacionalde Direitos Económicos Sociais e Cul-

turais)

GarantiasCorte Interamericana de Direitos Humanos e Tribunal Penal

Internacional

Juridicização

Carta Internacional de Direitos Huma-

Justicialização

Tribunal Penal Internacional

Page 43: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Direitos Humanos

e Fundamentais no

Ordenamento Jurídico

No que diz respeito aos direitos humanos, a Constituição Federal doBrasil de 1988 estabelece diversos artigos protetivos, dos quais devem serdestacados:

a) o inciso III do art. 1.°, que determina expressamente que a dignidade

da pessoa humana é um dos fundamentos do Estado Democrático de Direitobrasileiro;

"A dignidade da pessoa humana é princípio central do sistemajurídico, sendo significativo vetor interpretativo, verdadei-ro valor-fonte que conforma e inspira todo o ordenamentoconstitucional vigente em nosso país e que traduz, de modoexpressivo, um dos fundamentos em que se assenta, entre nós,a ordem republicana e democrática consagrada pelo sistemade direito constitucional positivo" (STF, HC 85.988/PA (MC),rei. Min. Celso de Mello).

note

IBEM

b) o art. 3.°, que prevê, entre os objetivos fundamentais do País, cons-truir uma sociedade livre, justa e solidária (inciso I), erradicar a pobreza ea marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais (inciso III) epromover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idadee quaisquer outras formas de discriminação (inciso IV);

Page 44: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

44 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

"O princípio do desenvolvimento sustentável, além de impreg-nado de caráter eminentemente constitucional, encontra su-porte legitimadorem compromissos internacionais assumidospelo Estado brasileiro e representa fator de obtenção do justoequilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia,subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quandoocorrente situação de conflito entre valores constitucionaisrelevantes, a uma condição inafastável, cuja observâncianão comprometa e nem esvazie o conteúdo essencial de umdos mais significativos direitos fundamentais: o direito à pre-servação do meio ambiente, que traduz bem de uso comumda generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor daspresentes e futuras gerações" (STF, ADI 3.540-MC, rei. Min.Celso de Mello, j. 1 .°.09.2005, DJ 03.02.2006).

importante

c) o art. 4.°, que estabelece os princípios que devem ser adotados nas

relações internacionais: prevalência dos direitos humanos (inciso II), auto-determinação dos povos (inciso III), não intervenção (inciso IV), igualdadeentre os Estados (inciso V), defesa da paz (inciso VI), solução pacífica dosconflitos (inciso VII), repúdio ao terrorismo e ao racismo (inciso VIII), coope-ração entre os povos para o progresso da humanidade (inciso IX), concessãode asilo político (inciso X);

"No estado democrático de direito devem ser intransigente-mente respeitados os princípios que garantem a prevalência dos atente paradireitos humanos (...) A ausência de prescrição nos crimes deracismo justifica-se como alerta grave para as gerações de hojee de amanhã, para que se impeça a reinstauração de velhos eultrapassados conceitos que a consciência jurídica e históricanão mais admitem" (STF, HC 82.424, rei. Min. Maurício Corrêa,j.17.09.2003, DJ 19.03.2004).

d) o art. 5.°, caput, que diz que "todos são iguais perante a lei, sem dis-tinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeirosresidentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade,à segurança e à propriedade", sendo elencadas dezenas de incisos;

Page 45: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 8 . Direitos Humanos e Fundamentais no ordenamento jurídico brasileiro 45

Não se pode esquecer que: "A teor do disposto na cabeça doart. 5.°, da CF, os estrangeiros residentes no País têm jus aosdireitos e garantias fundamentais" (STF, HC 74.051, rei. Min.Marco Aurélio, j. 18.06.1996, D/20.09.1996).

e) o § 1,° do art. 5.°, que determina que as normas definidoras dos direitose garantias fundamentais têm aplicação imediata;

"Constituição do Brasil, arts. 5.°, § 1.°, e 60, § 4.°.Tráfico de en-torpecentes. Associação dei ituosaeconfabulação.Tipificações |ni|)0ft8Acorrespondentes no direito brasileiro. (...) Obrigação do STF demanter e observar os parâmetros do devido processo legal, doEstado de direito e dos direitos humanos. (...) Necessidade de

assegurar direito fundamentais básicos ao extraditando. Direitoe garantias fundamentais devem ter eficácia imediante (cf. art.5

.

°

, § 1.°), a vinculação direta dos órgãos estatais a esses direitosdeve obrigar o Estado a guardar-lhes estrita observância" (Ext.986, rei. Min. Eros Grau, j. 15.08.2007, DJ 05.10.2007).

f) o § 2.° do art. 5.°, que afirma que os direitos e garantias nela expressos"não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados,ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil sejaparte

"

. Incluiu

, pois, entre os direitos protegidos pela Constituição Federal,os direitos determinados nos tratados internacionais dos quais o Brasil sejasignatário.

"O acesso à instância recursal superior consubstancia direitoque se encontra incorporado ao sistema pátrio de direitos egarantias fundamentais. Ainda que não se empreste dignidadeconstitucional ao duplo grau de jurisdição, trata-se de garantiaprevista na Convenção Interamericana de Direitos Humanos,cuja ratificação pelo Brasil deu-se em 1992, data posterior àpromulgação do CPP. A incorporação posterior ao ordena-mento brasileiro de regra prevista em tratado internacionaltem o condão de modificar a legislação ordinária que lhe éanterior" (STF, HC 88.420, rei. Min. Ricardo Lewandowski, j.17.04.2007, D/08.06.2007).

noteBEM

Page 46: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

46 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Antes da Emenda Constitucional 45/2004, alguns doutrinadoresjá enten-

diam que a Constituição atribuía aos direitos internacionais uma hierarquiaespecial e diferenciada, qual seja a de norma constitucional. Esse tratamentojurídico se justificava na medida em que os tratados internacionais de direitoshumanos apresentavam um caráter especial, distinguindo-se dos tratadosinternacionais comuns

, levando em consideração os §§ 1.° e 2.° do art. 5.°.

Após a Emenda Constitucional 45/2004, houve a inclusão do § 3.° ao

art. 5.° da CF/88, onde se lê: "Os tratados e convenções internacionais sobre

direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional,em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão

equivalentes às emendas constitucionais".

Trata-se da "constitucionalização de tratados e convenções internacio-nais sobre direitos humanos"

, ou seja, se se quiser equipará-los às normasconstitucionais deve-se obter essa aprovação do Congresso Nacional (3/5em dois turnos nas duas casas do Congresso Nacional). Cumpre observarque é a mesma votação para a aprovação de uma emenda constitucional (art.60, § 2.°, da CF/88) e não importa se o tratado ou a convenção é anterior ouposterior à EC 45/2004.

_

Cabe destacar o decreto legislativo 186, de 09 dejulhode2008,que aprova o texto da Convenção sobre os Direitos das Pessoascom Deficiência e de seu Protocolo Facultativo, assinados emNova Iorque em 30 de março de 2007, quefoi promulgado peloDecreto 6.949, de 25 de agosto de 2009. É o primeiro tratadointernacional dedireitos humanosconstitucionalizado, poden-do servir de parâmetro para o controle de constitucionalidadede normas elaboradas posteriormente a sua criação.

noteBEM

Sobre o tema direitos humanos e fundamentais também é muito impor-tante a leitura dos demais artigos do Título 11 da Constituição Federal vigente(Dos direitos e garantias fundamentais: Dos direitos e deveres individuais ecoletivos, Dos direitos sociais, Da nacionalidade, Dos direitos políticos e Dospartidos políticos), bem como do Título VIII (Da ordem social: Da seguridadesocial, Da educação, da cultura e do desporto, Da ciência e tecnologia, Da

comunicação social, Do meio ambiente, Da família, da criança, do adolescentee do idoso e Dos índios).

No plano interno brasileiro, ainda existem as normas infraconstitucionaisfederais, estaduais, distritais e municipais que protegem em suas diversas

Page 47: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 8 . Direitos Humanos e Fundamentais no ordenamento jurídico brasileiro 47

áreas os seres humanos, tal como a proteção do meio ambiente, da criança,do idoso, entre outros, bem como as normas supralegais, que são aquelasacima das leis comuns, mas abaixo da Constituição (tratados e convençõesinternacionais sobre direitos humanos em que o Brasil seja parte - STF, Pleno,RE 466.343, dez. 2008, Informativo 531).

Os artigos 12 e 13 da CF/88 abordam o tema nacionalidade sob o enfoqueconstitucional:

" Art. 12. São brasileiros: I - natos: a) os nascidos na República Federativado Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviçode seu país; b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira,desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde quesejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir naRepública Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingidaa maioridade, pela nacionalidade brasileira; II - naturalizados: a) os que, naforma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos origináriosde países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto eidoneidade moral; b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentesna República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e semcondenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.

§ 1.° Aos portugueses com residência permanente no País, se houverreciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentesao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.

§ 2.° A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e na-turalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição.

§ 3.° São privativos de brasileiro nato os cargos: I - de Presidente e Vice--Presidente da República; II - de Presidente da Câmara dos Deputados; 111- de Presidente do Senado Federal; IV - de Ministro do Supremo TribunalFederal; V - da carreira diplomática; VI - de oficial das Forças Armadas. VII- de Ministro de Estado da Defesa.

§ 4.° Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: I - tivercancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividadenociva ao interesse nacional; II - adquirir outra nacionalidade, salvo no casos:a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; b) deimposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residenteem estado estrangeiro, como condição para permanência em seu territórioou para o exercício de direitos civis;

Page 48: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

48 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Em virtude do Tratado de Amizade, Cooperação e Consultaentre Brasil e Portugal, os brasileiros podem gozar de direitospol íticos em Portugal e os portugueses podem gozar de direitospolíticos no Brasil, se tiverem três anos de residência habituale dependendo de requerimento à autoridade competente. Ogozo de direitos políticos no Estado de residência importana suspensão do exercício dos mesmos direitos no Estado danacionalidade (Decreto 3.927/2001 -art. 17).

A nacionalidade é importante para os Estados soberanos, de modo quea maioria deles determina o modo de aquisição e perda da nacionalidade nassuas Constituições. Além disso, documentos internacionais abordam o tema.

São exemplos:- A Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 determina em

seu Art. XV: "1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. 2. Ninguém

será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudarde nacionalidade".

- A Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem de 1948estabelece em seu Art. XIX: "Toda pessoa tem direito à nacionalidade quelegalmente lhe corresponda, podendo mudá-la, se assim o desejar, pela dequalquer outro país que estiver disposto a concedê-la"

;

-A Convenção Americana de Direitos Humanos consigna em seu art. 20o direito à nacionalidade:" 1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade. 2.Toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado em cujo território houvernascido

, se não tiver direito a outra. 3. A ninguém se deve privar arbitraria-mente de sua nacionalidade nem do direito de mudá-la"

.

Como se vê, a nacionalidade é direito humano previsto em diversos do-cumentos internacionais de proteção das pessoas. Corresponde ao vínculojurídico-político que une o indivíduo a um Estado determinado. No que dizrespeito à legislação infraconstitucional referente à nacionalidade, existe o

Estatuto dos Estrangeiros (Lei 6.815, de 19.08.1980, com alteração da Lei6

.964, de 09.12.1981), que define a situação jurídica do estrangeiro no Brasil.

De acordo com a doutrina pode-se classificar a nacionalidade em pri-mária ou originária: vincula-se ao fato natural do nascimento. Adotam-sedois critérios: I) da territorialidade (ius solis): atribui a nacionalidade a quem

noteBEM

Page 49: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 8 . Direitos Humanos e Fundamentais no ordenamento jurídico brasileiro 49

nasce no território do Estado de que se trata; e II) da consanguinidade (iussanguinis): são nacionais os descendentes de nacionais. No caso da naciona-lidade primária haverá o brasileiro nato.

Historicamente, os Estados de emigração (maioria dos europeus - me-trópoles) preferem o critério do ius sanguinis, pois mesmo com a saída de suapopulação para outros países, não há a diminuição de seus nacionais. Por suavez, os Estados de imigração (maioria dos americanos - ex-colônias) acolhemo critério do ius solis, pelo qual os filhos e demais descendentes da massa dosimigrantes passam a ter a sua nacionalidade.

A proteção do brasileiro nato (nacionalidade primária) já foi objeto dedecisão do Supremo Tribunal Federal que assim se manifestou:

"O brasileiro nato, quaisquer que sejam as circunstâncias e a natureza dodelito, não pode ser extraditado, pelo Brasil, a pedido de Governo estrangeiro,pois a Constituição da República, em cláusula que não comporta exceção,impede, em caráter absoluto, a efetivação da entrega extradicional daqueleque é titular, seja pelo critério do jus soli, seja pelo critério do jus sanguinis,de nacionalidade brasileira primária ou originária. (...)." (HC 83.113, QO,rei. Min. Celso de Mello, j. 26.06.2003, DJ 29.08.2003).

A outra espécie de nacionalidade é a secundária ou adquirida. Trata-seda nacionalidade adquirida pela vontade do indivíduo ou do Estado por meiodo procedimento artificial da naturalização. Nesse caso, haverá o brasileironaturalizado.

Em virtude dos dois critérios adotados para a determinação da naciona-lidade primária, pode-se ter um polipátrida ou um apátrida. O polipátrida é apessoa que possui mais de uma nacionalidade. Tem-se como exemplo os filhoscujos pais são oriundos de Estado que adota o critério da consanguinidadee nascem num Estado que adota o critério da territorialidade. O apátrida é apessoa sem pátria, ou seja, não possui nacionalidade. Pode-se citar o caso dosfilhos cujos pais são provenientes de um país que adota o critério da territo-rialidade e que nascem num Estado que adota o critério da consanguinidade.

Sobre o tema da dupla nacionalidade o Supremo Tribunal Federal assimestabeleceu:

"

O processo remete ao complexo problema da extradição no caso da du-pla nacionalidade, questão examinada pela Corte Internacional dejustiça nocélebre caso Nottebohm. Naquele caso a Corte sustentou que na hipótese dedupla nacionalidade haveria uma prevalecente - a nacionalidade real e efetiva

Page 50: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

50 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

- identificada a partir de laços fáticos fortes entre a pessoa e o Estado. A faltade elementos concretos no presente processo inviabiliza qualquer soluçãosob esse enfoque." (HC 83.450, rei. p/ac. Min. NelsonJobim, j. 26.08.2004,DJ 04.03.2005).

E importante destacar que tanto o brasileiro nato quanto o naturalizadopodem perder a nacionalidade e posteriormente podem recuperá-la. O brasi-leiro naturalizado que perdeu a nacionalidade em virtude de cancelamentoda naturalização por atividade nociva ao interesse nacional poderá recuperá--la por meio da ação rescisória. O nacional que perdeu a nacionalidade pornaturalização voluntária poderá readquiri-la, por ato do Ministro da Justiça(Dec. 3.453/2000).

Para a proteção dos nacionais e dos estrangeiros não se pode esquecerda extradição, expulsão, deportação e banimento.

A extradição corresponde à saída compulsória de uma pessoa de umpaís. Normalmente, há a entrega para ajustiça de outro país de um indivíduoacusado de um delito ou já condenado, por considerá-lo competente parajulgá-lo e puni-lo. No Brasil, compete ao Supremo Tribunal Federal processare julgar originariamente a extradição solicitada por Estado estrangeiro (art.

102,1,g, da CF/88).

"Nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em

caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou decomprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentese drogas afins, na forma da lei" (art. 5.°, LI, da CF/88)."Não será concedida extradição de estrangeiro por crime po-lítico ou de opinião", (art. 5.°, LU, da CF/88).

Cumpre observar que, se for crime impuro, cabe extradição - cláusulade atentado (violência contra pessoas) (art. 77, § 3.°, da Lei 6.815/1980).

Se na questão de prova for feita menção ao termo entrega,

entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado aoTribunalPenal Internacional (art. 102

, a, do Estatuto de Roma - Dec.4

.388/2002). Nesse caso, podem ser entregues brasileiros natosou naturalizados e estrangeiros aoTPI.

noteBEM

Page 51: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 8 . Direitos Humanos e Fundamentais no ordenamento jurídico brasileiro 51

. cuidado

1 "Não impede a extradição a circunstância de ser o extraditandocasado com brasileira ou ter filho brasileiro" (Súmula 421 do

1 STF).

A expulsão é o envio compulsório do estrangeiro para o exterior porter cometido delito

, infração ou ato que o torne inconveniente à defesa e àconservação da ordem interna do Estado.

Pode ser expulso o estrangeiro que, de qualquer modo, atentar contraa segurança nacional, a ordem política ou social, a tranquilidade ou mora-lidade pública e a economia popular, ou cujo procedimento o torne nocivoà convivência e aos interesses nacionais

, entre outros casos previstos em lei(Lei 6.815/1980, com alterações da Lei 6.964/1981, arts. 65-75).

Não ocorrerá a expulsão se esta implicar em extradição nãoadmitida pelo direito brasi leiro ou quando o estrangeiro tiver: a) |(!lp0f"*

cônjuge brasileiro do qual não esteja divorciado ou separado,de fato ou de direito, e desde que o casamento tenha sido ce-lebrado há mais de 5 anos; b) filho brasileiro que comprovada-mente esteja sob sua guarda e dele dependa economicamente(art. 75 da Lei 6.815/1980).

A deportação é o envio compulsório do estrangeiro para o exterior queingressou ou permanece irregularmente no território nacional. Quando oestrangeiro não se retirar voluntariamente no prazo determinado, será feitaa deportação para o país de origem ou de procedência dele, ou para outro que

consinta em recebê-lo. Não sendo ela possível ou existindo indícios sériosde periculosidade ou de indesejabilidade do estrangeiro, proceder-se-á a suaexpulsão.

Não há mais o fenómeno do banimento ou exílio, que era oenvio compulsório de brasileiro para o exterior. Há, inclusive,a vedação constitucional de seu restabelecimento no art. 5.°,XLVII, d, da CF/88.

Page 52: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

52 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Por fim, o asilo político é o recebimento de estrangeiro no territórionacional, sem os requisitos de ingresso, a seu pedido, para evitar puniçãoou perseguição no seu país de origem, por delito de natureza política ouideológica. A Constituição Federal prevê a concessão de asilo político (art.4

.

°

, X). O asilado não poderá sair do País sem prévia autorização do governobrasileiro, sob pena de renúncia ao asilo e de impedimento de reingressonessa condição.

O direito ao asilo é previsto na Declaração Universal dos Direitos Hu-manos em seu art. XIV

, onde se lê:"1

. Toda pessoa vítima de perseguição tem o direito de procurar e degozar asilo em outros países.

"2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legiti-

mamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aospropósitos ou princípios das Nações Unidas."

Tal direito também é assegurado na Convenção Americana de DireitosHumanos no art. 22, n. 7, que assim estabelece:

"Toda pessoa tem o direito de buscar e receber asilo em território es-trangeiro, em caso de perseguição por delitos políticos ou comuns conexoscom delitos políticos e de acordo com a legislação de cada Estado e com osconvénios internacionais.

"

Dos artigos 14 a 17 da CF/88 são tratados os direitos políticos no direitofundamental brasileiro. No plano internacional merece destaque:

- A Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948, em seu art.XXI

, estabelece: "1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo

de sue país diretamente ou por intermédio de representantes livrementeescolhidos. 2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço públicodo seu país. 3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo;esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágiouniversal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liber-dade de voto";

- O Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos de 1966, no art.

25: "Todo cidadão terá o direito e a possibilidade, sem qualquer das formasde discriminação mencionadas no art. 2.° e sem restrições infundadas: a)de participar da condução dos assuntos públicos, diretamente ou por meiode representantes livremente escolhidos; b) de votar e ser eleito em eleiçõesperiódicas, autênticas, realizadas por sufrágio universal e igualitário e por

Page 53: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 8 . Direitos Humanos e Fundamentais no ordenamento jurídico brasileiro 53

voto secreto, que garantam a manifestação da vontade dos eleitores; c) de ter

acesso, em condições gerais de igualdade, às funções públicas de seu país."

A Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José daCosta Rica - 1969)

, em seu art. 23, determina:"

Direitos políticos - 1. Todos os cidadãos devem gozar dos seguintesdireitos e oportunidades: a) de participar da condução dos assuntos públicos,

diretamente ou por meio de representantes livremente eleitos; b) de votar eser eleito em eleições periódicas, autênticas, realizadas por sufrágio universale igualitário e por voto secreto, que garantam a livre expressão da vontadedos eleitores; e c) de ter acesso

, em condições gerais de igualdade, às funçõespúblicas de seu país. 2. A lei pode regular o exercício dos direitos e oportuni-dades, a que se refere o inciso anterior, exclusivamente por motivo de idade,nacionalidade

, residência, idioma, instrução, capacidade civil ou mental, oucondenação, por juiz competente, em processo penal".

Os direitos políticos correspondem a um conjunto de regras que pos-sibilita a participação dos cidadãos (eleitores) na distribuição do poder noEstado por meio do voto.

No Brasil, os eleitores participam ativamente da composição dos PoderesLegislativo e Executivo.

A cidadania formal é a participação dos cidadãos (eleitores) na vida doEstado por meio do voto, e a cidadania material ou real vai além desse ato,

com a participação da população na fiscalização e resolução dos problemasdo Estado. Pode ser externada através de campanhas de moralização dasinstituições públicas, de formação de organizações não governamentais paraincentivo e auxílio nas atividades do Estado

, de denúncias de corrupção edesvio de verbas públicas, entre outros.

Em sentido estrito (jurídico), cidadão é o indivíduo dotado de capacidadeeleitoral ativa (votar), podendo, se preencher determinadas exigências legais,possuir também a capacidade eleitoral passiva (ser votado).

Não são al istáveis como eleitores os estrangeiros e os conscritosdurante o serviço militar obrigatório (art. 14, § 2.°, da CF/88). |||lpOfW"Os conscritos são os nacionais convocados para o serviçomilitar obrigatório; porém, se se engajarem no serviço militarpermanente, serão obrigados a se alistar como eleitores.

Page 54: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

54 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Repise-se o contido no art. 23, n. 2 do Pacto de San José da Costa Ricaque assevera:

"A lei pode regular o exercício dos direitos e oportunidades, a que serefere o inciso anterior, exclusivamente por motivo de idade, nacionalidade,residência, idioma, instrução, capacidade civil ou mental, ou condenação,por juiz competente, em processo penal

"

.

Sobre as limitações aos direitos políticos destacam-se as seguintes deci-sões do Supremo Tribunal Federal:

"A norma inscrita no art. 15, III, da Constituição reveste-se de auto-aplicabilidade, independendo, para efeito de sua imediata incidência, dequalquer ato de intermediação legislativa. Essa circunstância legitima asdecisões da Justiça Eleitoral que declaram aplicável, nos casos de condena-ção penal irrecorrível, e enquanto durarem os seus efeitos, como ocorre navigência do período de prova do sursis, a sanção constitucional concernenteà privação de direitos políticos do sentenciado. Precedente: RE 179.502/SP (Pleno)" (RMS 22.470-AgR, rei. Min. Celso de Mello, j. 11.06.1996, DJ27.09.1996).

"As condições de elegibilidade (CF, art. 14, § 3.°) e as hipóteses deinelegibilidade (CF, art. 14, § 4.° a § 80), inclusive aquelas decorrentes delegislação complementar (CF, art. 14, § 9.°), aplicam-se de pleno direito,independentemente de sua expressa previsão na lei local, à eleição indiretapara governador e vice-governador do Estado, realizada pela AssembleiaLegislativa em caso dupla vacância desses cargos executivos no último bi-énio do período de governo." (ADIn 1.057-MC, rei. Min. Celso de Mello, j.20.04.1994, DJ 06.04.2001).

A Constituição Federal vigente, no art. 15, em seus incisos estabelecerestrições aos direitos políticos (incapacidade civil absoluta, condenaçãocriminal transitada em julgado enquanto durarem seus efeitos, improbidadeadministrativa, nos termos do art. 37, § 40

, da CF/88, recusa em cumprirobrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5.°,

VIII, da CF/88 e cancelamento da naturalização por sentença transitada emjulgado).

Pode haver a reaquisição dos direitos políticos suspensos, que sedará automaticamente, com a cessação dos motivos que autorizaram a

suspensão.

Page 55: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 8 . Direitos Humanos e Fundamentais no ordenamento jurídico brasileiro 55

No caso da escusa de consciência (art. 15, IV, da CF/88), pode a pes-soa readquiri-los ao declarar, perante a autoridade competente, que estápronta para suportar o ónus que recusou. A Lei 8.239/1991 possibilita areaquisição, quando afirma que o inadimplente poderá a qualquer temporegularizar sua situação mediante cumprimento das obrigações devidas(art. 4.°, §2.°).

Page 56: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf
Page 57: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Incorporação dos TratadosInternacionais de DireitosHumanos ao Direito Brasileiro

Os tratados são acordos internacionais regulados pelo regime jurídico dodireito internacional. A palavra "tratado" costuma ser usada genericamentepara abarcar as cartas, as convenções, os pactos e demais acordos internacionais,celebrados entre sujeitos de direito internacional.

A Convenção de Viena, concluída em 23.05.1969, teve por fim disciplinare regular o processo de formação dos tratados internacionais.

O Brasil assinou

a Convenção em 23.05.1969 e por meio do Decreto 7.030

, de 14 de dezembrode 2009

, o Presidente da República promulgou a Convenção sobre o Direitodos Tratados

, com reserva aos arts. 25 e 66.

Desse modo, as ressalvas feitas pelo Brasil são as seguintes: quanto ao art.

25: aplicação provisória de um tratado enquanto o instrumento depende devigência internacional e ao art. 66: obrigatoriedade do processo de soluçãojudicial, Corte Internacional de Justiça, de arbitragem ou de conciliaçãojunto ao Secretário-Geral da ONU nos casos de controvérsias formuladas porum Estado quanto ao descumprimento das cláusulas do tratado por outrosignatário do acordo.

Destaque-se que a Convenção de Viena de 1969 limitou-se aos tratadoscelebrados entre os Estados

, não envolvendo os tratados dos quais participamorganizações internacionais. Posteriormente, sobre tal tema foi elaborada a

Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados entre Estados e OrganizaçõesInternacionais ou entre Organizações Internacionais de 1986.

É importante observar que os tratados internacionais só se aplicamaos Estados-partes que expressamente consentiram com sua adoção, não

podendo criar obrigações aos Estados que com eles não consentiram. Alémdisso, o art. 27 da Convenção de Viena esclarece: "Uma parte não podeinvocar disposições de seu direito interno para justificar o inadimplementode um tratado".

Page 58: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

58 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Segundo a doutrina, o processo de formação dos tratados tem iníciocom os atos de negociação, conclusão e assinatura do tratado, que são dacompetência do órgão do Poder Executivo. A simples assinatura do tratadotraduz apenas um aceite precário e provisório, não irradiando efeitos jurídicosvinculantes. Em seguida, o tratado assinado será apreciado e aprovado peloPoder Legislativo (decreto legislativo) e ratificado pelo Poder Executivo(decreto).

A ratificação significa a confirmação formal por um Estado de que estáobrigado a um tratado. É o aceite definitivo pelo qual o Estado se obriga aotratado internacional, e a ratificação é ato jurídico que possibilita efeitos noplano internacional.

Por fim, o instrumento de ratificação deve ser apresentado a um organismo

no qual será depositado (ONU, OEA etc.).

No âmbito constitucional brasileiro, o art. 84, VIII, da CF/88 afirma queé da competência privativa do Presidente da República celebrar tratados,convenções e atos internacionais, devendo ser referendados pelo CongressoNacional. Além disso, o art. 49,1, da CF/88 declara que cabe ao CongressoNacional, exclusivamente, deliberar, de maneira decisiva, sobre tratados,acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissosgravosos ao patrimônio nacional.

Nesse sentido, já manifestou o STF:

"O exame da vigente Constituição Federal permite constatar que aexecução dos tratados internacionais e sua incorporação à ordem jurídicainterna decorrem, no sistema adotado pelo Brasil, de um ato subjetivamentecomplexo, resultante da conjugação de duas vontades homogéneas: ado Congresso Nacional, que resolve, definitivamente, mediante decretolegislativo, sobre tratados, acordos ou atos internacionais (CF, art. 49,1) e ado Presidente da República, que além de poder celebrar esses atos de direitointernacional (CF, art. 84, VIII), também dispõe - enquanto Chefe de Estadoque é - da competência para promulgá-los mediante decreto.

" (STF, ADI1

.480-MC, rei. Min. Celso de Mello, j. 04.09.1997, DJ 18.05.2001).

Segundo a doutrina, os tratados internacionais seriam atos complexos,pois, para seu aperfeiçoamento, dependem da vontade do Presidente daRepública, que os celebra, e do Congresso Nacional, que os aprova, mediantedecreto legislativo. Saliente-se que não há prazo determinado para que ocorratodo este trâmite.

Sobre o tema é importante destacar:

Page 59: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 9 . Incorporação dos tratados internacionais 59

"A recepção dos tratados internacionais em geral e dos acordos celebradospelo Brasil no âmbito do Mercosul depende, para efeito de sua ulteriorexecução no plano interno, de uma sucessão causal e ordenada de atosinvestidos de caráter político-jurídico, assim definidos: a) aprovação peloCongresso Nacional, mediante decreto legislativo, de tais convenções; b)ratificação desses atos internacionais, pelo Chefe de Estado, mediante depósitodo respectivo instrumento; c) promulgação de tais acordos ou tratados, peloPresidente da República, mediante decreto em ordem a viabilizar a produção dosseguintes efeitos básicos, essenciais à sua vigência doméstica: (1) publicaçãooficial do texto do tratado e (2) executoriedade do ato de direito internacional

público, que passa, então - e somente então - a vincular e a obrigar no planodo direito positivo interno. Precedentes. O sistema constitucional brasileironão consagra o princípio do efeito direto e nem o postulado da aplicabilidadeimediata dos tratados ou convenções internacionais" (STF, CR 8.279-AgR,rei. Min. Celso de Mello, j. 17.06.1998, DJ 10.08.2000).

9.1 BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE

O bloco de constitucionalidade, segundo estudiosos, é a somatória dediversos diplomas legais considerados como constitucionais, não obstanteterem sido criados em momentos distintos.

O exemplo mais citado envolve a França, que adota o bloco deconstitucionalidade

, pois convivem com status constitucional a Declaraçãode Direitos do Flomem e do Cidadão (1789), a Constituição de 1946 (parteeconómica e social) e a Constituição de 1958.

No Brasil, tal fenómeno é constatado em relação aos tratados e convençõesinternacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada casa do

Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivosmembros

, serão equivalentes às emendas constitucionais (EC 45/2004- § 3.°do art. 5.° da CF/88).

Saliente-se que os tratados e convenções internacionais sobre direitoshumanos

, que segundo o Supremo Tribunal Federal tinham natureza jurídicade normas infraconstitucionais (supralegais), poderão ser elevados para acondição de normas constitucionais (emendas constitucionais). Cite-se,

como exemplo, o decreto legislativo 186, de 09 de julho de 2008, que aprova

o texto da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de seuProtocolo Facultativo, assinados em Nova York em 30 de março de 2007, que

foi promulgado pelo Decreto 6.949, de 25 de agosto de 2009.

Page 60: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

60 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Há quem sustente que o bloco de constitucionalidade já seria possívelem relação aos tratados e convenções internacionais sobre direitos humanosdesde a vigência da Constituição Federal de 1988, em virtude do conteúdodos §§ 1.° e 2.° do art. 5.°. Nesse sentido, há o posicionamento doutrinário deFlávia Piovesan (Direitos humanos e o direito constitucional internacional, p. 55).

9.2 SUPRALEGALIDADE DOSTRATADOS SOBRE DIREITOS

HUMANOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO

Os ministros do Supremo Tribunal Federal, por maioria de votos,entenderam que os tratados internacionais sobre direitos humanos são normassupralegais (acima das leis, mas abaixo da Constituição), conforme se verificana seguinte decisão: "Em conclusão de julgamento, o Tribunal concedeuhabeas corpus em que se questionava a legitimidade da ordem de prisão, por60 dias, decretada em desfavor do paciente que, intimado a entregar o bemdo qual depositário, não adimplira a obrigação contratual - v. Informativos471, 477 e 498. Entendeu-se que a circunstância de o Brasil haver subscritoo Pacto de São José da Costa Rica, que restringe a prisão civil por dívidaao descumprimento inescusável de prestação alimentícia (art. 7"

, n. 7),conduz à inexistência de balizas visando à eficácia do que previsto no art.5

.

°

, LXVII, da CF ('não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsávelpelo inadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentíciae a do depositário infiel,). Concluiu-se, assim, que, com a introdução doaludido Pacto no ordenamento jurídico nacional, restaram derrogadas asnormas estritamente legais definidoras da custódia do depositário infiel.Prevaleceu, no julgamento, por fim, a tese do status de supralegalidadeda referida Convenção, inicialmente defendida pelo Min. Gilmar Mendesno julgamento do RE 466343/SP, abaixo relatado. Vencidos, no ponto, osMinistros Celso de Mello, Cezar Peluso, Eilen Gracie e Eros Grau, que a eladavam a qualificação constitucional, perfilhando o entendimento expendidopelo primeiro no voto que proferira nesse recurso. O Min. Marco Aurélio,relativamente a essa questão, se absteve de pronunciamento" (HC 87585/TO,rei. Min. Marco Aurélio, 03.12.2008).

Constata-se que o Supremo Tribunal Federal considerou inconstitucionala prisão civil do depositário infiel em virtude do contido na ConvençãoAmericana sobre Direitos Humanos (art. 70, n. 7) e demonstrado no julgamentodo HC 90.172/SP, HC 87.585 e RE 466.343. Posteriormente, foi editada asúmula vinculante 25 (É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquerque seja a modalidade do depósito).

Page 61: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 9 . Incorporação dos tratados internacionais 61

Sobre o tema "status normativo do direito internacional dos direitos

humanos no direito interno brasileiro" são importantes as observações de LuizFlávio Gomes (p. 8), que sintetiza da seguinte forma: uma primeira correntesustentava a supraconstitucionalidade dos tratados e convenções em matériade direitos humanos (Celso Duvivier de Albuquerque Mello, apud GilmarFerreira Mendes et al

, Curso de direito constitucional, São Paulo, Saraiva, 2007,

p. 654); parte da doutrina sustenta a tese de que os tratados de direitos humanoscontariam com status constitucional

, por força do art. 5.°, § 2.°, da ConstituiçãoFederal (Flávia Piovesan e Antonio Augusto Cançado Trindade - tese sustentadapelo Min. Celso de Mello no HC 87.585/TO); o Supremo Tribunal Federaltradicionalmente entendia

, desde a década de 70 do século passado, que qualquertratado internacional, inclusive os de direitos humanos, tinham o mesmo valorde uma lei ordinária

, mesmo após a Constituição Federal de 1988 (HC 72.13 l/RJ,ADI 1,480-3/DF

, entre outros); de acordo com o voto proferido pelo Min. GilmarMendes no RE 466.343/SP

, rei. Min. Cezar Peluso, j. 22.11.2006, tais tratadoscontariam com status de direito supralegal (estão acima das leis ordinárias, mas

abaixo da Constituição). Nesse sentido, Constituição Federal da Alemanha (art.25), Constituição francesa (art. 55) e Constituição da Grécia (art. 28).

No histórico julgamento de 03.12.2008, preponderou no Pleno doSupremo Tribunal Federal o voto do Min. Gilmar Mendes. Venceu a tese dasupralegalidade dos tratados, ou seja, os tratados já vigentes no Brasil possuemvalor supralegal (HC 90.172/SP).

9.3 NATUREZA JURÍDICA DOSTRATADOS INTERNACIONAIS DE

DIREITOS HUMANOS NO BRASIL

No Brasil, os tratados internacionais de direitos humanos são internalizados

por decretos e na atualidade, pode-se afirmar que são dois "status" ou duas

"

naturezas jurídicas"

possíveis:

a) Supralegais: os tratados internacionais de direitos humanos sãoconsiderados normas supralegais, pois estão acima das leis comuns, mas

abaixo da Constituição Federal de 1988. Desse modo, os tratados de direitos

humanos já existentes e os novos, se não forem aprovados nos termos do § 3.°do art. 5.° da CF/88

, terão o status de norma supralegal. Pode-se afirmar, porexemplo, que a Convenção Americana de Direitos Humanos no ordenamentojurídico atual tem a natureza jurídica de norma supralegal;

b) Emenda Constitucional: os tratados internacionais de direitos humanos

que forem aprovados com o quórum qualificado de três quintos dos votos

Page 62: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

62 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

em dois turnos nas duas casas do Congresso Nacional serão equivalentes àemendas constitucionais (§ 3.° do art. 5.° da CF/88). Não se pode esquecerque três quintos é o mesmo que sessenta por cento. Em algumas provas éfeita a substituição para prejudicar os candidatos. No Brasil, na atualidade,apenas o Decreto 6.949, de 25 de agosto de 2009 (Convenção sobre os Direitosdas Pessoas com Deficiência e de seu Protocolo Facultativo) tem natureza

jurídica de emenda constitucional, podendo ser parâmetro para o controlede constitucionalidade.

Page 63: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Principais DocumentosInternacionais de Proteçãoaos Direitos Humanos de

que o Brasil faz parte noSistema Global

O sistema global de proteção aos direitos humanos é aquele vinculadoa Organização das Nações Unidas (ONU) e é composto por inúmerosdocumentos internacionais. O sistema normativo global apresenta um carátermais geral, contendo princípios básicos de proteção.

Em relação ao Brasil são requeridos em concursos públicos os seguintesinstrumentos internacionais:

a) Carta das Nações Unidas-adotada e aberta à assinatura pela Conferênciade São Francisco em 26.06.1945

, assinada pelo Brasil em 21.09.1945 (aprovadano Brasil pelo Decreto-lei 7.935, de 03.09.1945, e promulgada pelo Decreto19.841, de 22.10.1945);

b) Declaração Universal dos Direitos Humanos - adotada e proclamadapela Resolução 217-A (III) da Assembleia Geral das Nações Unidas, em10.12.1948

, e assinada pelo Brasil na mesma data;

c) Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos - adotado pelaResolução 2.200-A (XXI) da Assembleia Geral das Nações Unidas, em

16.12.1966, e ratificado pelo Brasil em 24.01.1992 (aprovado no Brasil pelo

Decreto Legislativo 226, de 12.12.1991, e promulgado pelo Decreto 592, de06.07.1992);

d) Pacto Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais

- adotado pela Resolução 2.200-A (XXI) da Assembleia Geral das NaçõesUnidas, em 16.12.1966

, e ratificado pelo Brasil em 24.01.1992 (aprovadono Brasil pelo Decreto Legislativo 226, de 12.12.1991, e promulgado peloDecreto 591

, de 06.07.1992);

e) Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951-convocadapela Resolução 429 (V) da Assembleia Geral das Nações Unidas, de 14.12.1950,foi promulgada pelo Decreto 50.215, de 28.01.1961;

Page 64: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

64 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

f) Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis,Desumanos ou Degradantes - adotada pela Resolução 39/46 da AssembleiaGeral das Nações Unidas, em 10.12.1984, e ratificada pelo Brasil em 28.09.1989(aprovada no Brasil pelo Decreto Legislativo 4, de 23.05.1989, e promulgadopelo Decreto 40, de 15.02.1991);

g) Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminaçãocontra a Mulher - adotada pela Resolução 34/180 da Assembleia Geraldas Nações Unidas, em 18.12.1979, ratificada pelo Brasil em 01.02.1984e promulgada pelo Decreto 4.377, de 13.09.2002, que revogou o Decreto89.460, de 20.03.1984;

h) Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de DiscriminaçãoRacial-adotada pela Resolução 2.106-A (XX) da Assembleia Geral das NaçõesUnidas, em 21.12.1965, ratificada pelo Brasil em 27.03.1968 e promulgadapelo Decreto 65.810, de 08.12.1969;

i) Convenção sobre os Direitos da Criança - adotada pela Resolução L 44(XLIV) da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 20.11.1989, e ratificadapelo Brasil em 24.09.1990 (aprovada no Brasil pelo Decreto Legislativo 28,de 14.09.1990, e promulgada pelo Decreto 99.710, de 22.11.1990);

j) Estatuto de Roma - cria o Tribunal Penal Internacional, sendoaprovado em 17.07.1998, na Conferência de Roma. O Brasil assinou em07.02.2000.0 Congresso Nacional o aprovou através do Decreto Legislativo112, de 06.06.2002, sendo promulgado pelo Decreto Presidencial 4.388, em25.09.2002.

k) Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seuProtocolo Facultativo, assinados em Nova York em 30 de março de 2007. OCongresso Nacional constitucionalizou tal tratado, pois o aprovou, por meiodo Decreto Legislativo 186, de 9 de julho de 2008, conforme o procedimento do§ 3.° do art. 5.° da Constituição, sendo promulgado pelo Decreto Presidencial6

.949, de 25 de agosto de 2009.

Em seguida serão feitas algumas observações a respeito de tais mecanismosprotetivos dos direitos humanos.

10.1 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU)

A Organização das Nações Unidas surgiu com o intuito de conter asguerras. Historicamente, considera-se como movimento inicial a I GuerraMundial, ocorrida entre 1914 e 1918, que resultou na derrota da Alemanha e de

Page 65: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 10 . Documentos internacionais de proteção aos Direitos Humanos 65

seus aliados. Nesse momento, as nações vencedoras criaram uma organização

internacional denominada "Liga das Nações", que não prosperou e se dissolveucom a criação das Nações Unidas (ONU).

AII Guerra Mundial trouxe à baila a necessidade da criação de um órgãointernacional de controle efetivo da paz mundial. Desse modo, representantes

de 50 países, entre os dias 25.04 e 26.06.1945, na cidade de São Francisco,

Califórnia, redigiram a "Carta das Nações Unidas", e aos 24.10.1945 a

Organização das Nações Unidas (ONU) estava oficialmente criada.

A Organização das Nações Unidas se diferencia da Liga das Nações,

na mesma proporção em que a II Guerra Mundial se distingue da I GuerraMundial

, uma vez que em 1919 a única preocupação era a criação de meiospara a arbitragem e regulação das guerras. Já em 1945 objetivou-se evitar ouacabar com as guerras.

São órgãos da Organização das Nações Unidas: Assembleia Geral,

Conselho de Segurança, Conselho Económico e Social, Conselho de Tutela,Corte Internacional de Justiça e um Secretariado (art. 7.°

, 1, da Carta daONU).

Os objetivos principais da Organização das Nações Unidas são: acooperação internacional para a solução de problemas mundiais de ordemsocial, económica e cultural

, incentivando o respeito pelos direitos e liberdadesindividuais; e a manutenção da paz e segurança internacionais, entre outras

ações em defesa dos direitos humanos e liberdades fundamentais para todos,

sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.

A Carta das Nações Unidas não descreve o que são os "direitos humanos eliberdades fundamentais"

, mas contribui para o início da formação do sistemainternacional de proteção dos direitos humanos.

10.2 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Adotada e proclamada pela Resolução 217 A (III) da Assembleia Geral dasNações Unidas, em 10.12.1948 (Paris), caracteriza-se como uma manifestaçãohistórica contra as atrocidades cometidas na II Guerra Mundial

, apontandoo devido e necessário respeito aos direitos humanos, entendidos comouniversais.

Como se percebe, a Declaração Universal dos Direitos Humanosformalmente é uma resolução, mas materialmente, para grande parte da

Page 66: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

doutrina, é uma norma internacional cogente, ou seja, é uma norma imperativa,obrigatória e vinculante, pela qual os Estados têm o compromisso de assegurartais direitos às pessoas, uma vez que a Declaração é especial e faz parte dodireito internacional.

Quem discorda, sustenta que a Declaração Universal é uma recomendaçãoou, como simples resolução, não apresenta força de lei.

No texto da Declaração relacionam-se os direitos civis e políticos(conhecidos por direitos de primeira geração: liberdade) e os direitos sociais,económicos e culturais (chamados direitos de segunda geração: trabalho),e há, ainda, a fraternidade como valor universal (denominados direitos deterceira geração: espírito de fraternidade, paz, justiça, entre outros - nosconsiderandos e arts. I, VIII, entre outros).

A Declaração Universal de 1948 não estabelece os mecanismos para fazervaler os direitos nela previstos. A Declaração conclama os povos a lutarempara a promoção e respeito aos direitos nela previstos, a promoverem medidasprogressivas de âmbito nacional e internacional que objetivem a amplitudeuniversal de seus direitos. Reitera a importância da dignidade da pessoahumana no plano interno e externo.

É composta de um preâmbulo com sete considerandos e trinta artigos.A doutrina considera René Cassin como a personalidade de maior influênciana criação da Declaração Universal dos Direitos Humanos.

1 .a) do art. I ao art. XXI, representa os direitos civis e políticose tem vinculação ao Estado individualista que reflete asconquistas do século XVIII (revoluções liberais - 1 .a geraçãode direitos fundamentais);

2.a) do art. XXII ao art. XXX, representa os direitos económicos,

sociais e culturais, e tem vinculação ao Estado Socialque reflete as conquistas dos séculos XIX e XX (revoluçãosocialista - 2.a geração de direitos fundamentais).

Tem estrutura bipartite, sendo dividida em duas grandespartes: importante

Page 67: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 10 . Documentos internacionais de proteção aos Direitos Humanos 67

Pode-se sustentar que a Declaração Universal dos DireitosHumanos influenciou no plano internacional a formaçãodos tratados modernos de proteção aos direitos humanose no plano interno serviu de modelo valorativo para ainterpretação e fomento das normas de direitos humanosno ordenamento jurídico pátrio. Por estabelecer normasdeclaratórias (direitos) é um exemplo de "soft law".

10.2.1 Universalismo e relativismo cultural

A teoria universalista sustenta que os direitos humanos são universais;portanto, prevalecem sobre toda e qualquer manifestação cultural, religiosa,económica, regional, política, entre outras.

A teoria relativista afirma que os direitos humanos são relativos, poisdevem ceder a determinadas práticas regionais dos Estados.

A Declaração e Programa de Ação de Viena de 1993, em seu § 5.°, estabelece:"Todos os direitos humanos são universais

, indivisíveis, interdependentese inter-relacionados. A comunidade internacional deve tratar os direitos

humanos de forma global, justa e equitativa, em pé de igualdade e coma mesma ênfase. Embora particularidades nacionais e regionais devamser levadas em consideração, assim como diversos contextos históricos

,

culturais e religiosos, é dever dos Estados promover e proteger todos osdireitos humanos e liberdades fundamentais, sejam quais forem seus sistemaspolíticos, económicos e culturais".

Como se percebe do acima exposto, embora o relativismocultural seja observado, é dever do Estado promovere proteger todos os direitos humanos sem distinção(universalismo). Dessa maneira, de modo sutil prevaleceua tese do universalismo sobre o relativismo. Na atualidade,

surge a tese dos multiculturalistas, que sustentam se existiremelementos comuns, eles devem ser afirmados diuturnamente.Haverá sempre um diálogo, uma afirmação cotidiana dosdireitos humanos.

note

note

Page 68: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

68 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Cumpre destacar que a Declaração e Programa de Ação de Viena de1993 (Conferência Mundial sobre Direitos Humanos) é um mecanismo de

aprimoramento da Declaração Universal de Direitos Humanos, conformese nota de seu preâmbulo, onde se lê:

"

Reconhecendo que as atividades dasNações Unidas na esfera dos direitos humanos devem ser racionalizadas emelhoradas, visando a fortalecer o mecanismo das Nações Unidas nessa es-

fera e promover os objetivos de respeito universal e observância das normasinternacionais dos direitos humanos" (grifo nosso).

10.3 PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS(PIDCP)

Em 1948, a Declaração Universal define e fixa os direitos e liberdadesfundamentais a serem garantidos. A Declaração Universal, em si mesma, nãoapresenta força jurídica obrigatória e vinculante.

Diante desse fato, a Declaração deveria ser "juridicizada" sob a forma detratado internacional, que fosse juridicamente obrigatório e vinculante noâmbito do direito internacional.

A viabilização da "juridicização" da Declaração começou em 1949 e foiconcluída em 1966, com a elaboração de dois tratados internacionais: o PactoInternacional dos Direitos Civis e Políticos (já visto) e o Pacto Internacionaldos Direitos Económicos, Sociais e Culturais, que incorporaram os direitosconstantes da Declaração Universal.

A partir da elaboração desses Pactos forma-se a Carta Internacional dosDireitos Humanos (lnternational Bill of Rights), integrada pela DeclaraçãoUniversal de 1948 e pelos dois Pactos Internacionais de 1966, conformesustentado por Flávia Piovesan (Direitos humanos e o direito constitucionalinternacional, p. 152). Ambos os Pactos criaram um sistema próprio para aimplementação dos direitos humanos neles contidos.

O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, de 16.12.1966, entrou

em vigor em 26.03.1976, quando conseguiu 35 ratificações, e reconheceu,em relação à Declaração Universal, uma quantidade maior de direitos civis epolíticos, cuidando dos direitos humanos relacionados à liberdade individual,à proteção da pessoa contra a ingerência estatal em sua órbita privada, bemcomo à participação popular na gestão da sociedade.

O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos pode ser assimdividido: 1) autodeterminação dos povos e livre disposição de seus recursosnaturais e riquezas (art. l.°); 2) compromisso dos Estados de garantir os

Page 69: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 10 . Documentos internacionais de proteção aos Direitos Humanos 69

direitos previstos e hipóteses de derrogação de certos direitos (arts. 2.° a5

.

°); 3) direitos efetivamente reconhecidos (arts. 6.° a 27); 4) mecanismos desupervisão e controle desses direitos (arts. 28 a 45); 5) integração e interaçãocom a Organização das Nações Unidas (arts. 46 e 47); e 6) ratificação e entradaem vigor (arts. 48 a 53).

No Racto estão previstos direitos e liberdades, tais comodireito à vida; direito de não ser submetido a tortura ou atratamentos cruéis, desumanos ou degradantes; direito denão ser escravizado, nem ser submetido a servidão; direito àliberdade e à segurança pessoal e de não ser sujeito a prisãoou detenção arbitrárias; direito a julgamento justo; direito areunião pacífica; direito à liberdade de associação e direito deaderir a sindicatos; direito à igualdade perante a lei; direito àliberdade de expressão; direito a uma nacionalidade; direito decasar e de formar família; direito às liberdades de pensamento,de consciência e de religião; direito às liberdades de opinião ede expressão; direito de votar e de tomar parte no Governo.

noteBEM

Segundo a doutrina, dois direitos, todavia, previstos na Declaração, nãotiveram previsão no Pacto: o direito de propriedade e o direito de procurarou gozar asilo em outros países em razão de perseguição.

Inicialmente, estavam previstos os relatórios e as comunicações in-

terestatais como mecanismos de monitoramento dos direitos humanos.

Posteriormente, com o Protocolo Adicional Facultativo ao PIDCP (1966)

foi permitido ao cidadão peticionar para a ONU (sede em Nova Iorque),

pleiteando indenização. Desse modo, são mecanismos de monitoramentodo Pacto: relatórios - o Estado

, uma vez por ano, relata voluntariamente asituação dos direitos humanos no seu território; comunicações interestatais- o Estado comunica o descumprimento de direitos humanos realizado poroutro Estado; petições individuais - as próprias vítimas das violações dosdireitos humanos peticionam para as cortes internacionais, reclamando asalvaguarda de seus direitos.

No art. 28, n. 1 do PIDCP está prevista a constituição do Comité de Di-

reitos Humanos sendo composto de dezoito membros.

O Comité será integrado por nacionais dos Estados-partes no Pacto, os

quais deverão ser pessoas de elevada reputação moral e reconhecida com-

Page 70: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

70 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

petência em matéria de direitos humanos, levando-se em consideração autilidade da participação de algumas pessoas com experiência jurídica. Osmembros do Comité serão eleitos e exercerão suas funções a título pessoal.(art. 28, n. 2 e 3).

Os membros do Comité serão eleitos para um mandato de quatro anos(art. 32, n. 1).

O Brasil ratificou o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos em

1992 (Decreto 592, de 06.07.1992), e ratificou o Protocolo facultativo e osegundo Protocolo facultativo, que trata da abolição da pena de morte em25 de setembro de 2009.

10.4 PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS ECONÓMICOS,SOCIAIS E CULTURAIS (PIDESC)

O Pacto Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturaisexpandiu o rol dos direitos económicos, sociais e culturais determinados pelaDeclaração Universal de 1948, criando obrigações legais para os Estados-membros, permitindo a sua responsabilização internacional em caso deviolação dos direitos ali enunciados.

O referido Pacto visa à proteção das condições sociais,económicas e culturais, destacando-se: o direito ao trabalho;o direito a condições justas e favoráveis de trabalho; odireito a formar sindicatos e participar deles; o direito degreve, exercido em conformidade com as leis de cada país;o direito à segurança social, inclusive aos seguros sociais;o direito a proteção e assistência familiar, especialmenteàs mães e às crianças; o direito à educação; e o direito aparticipar da vida cultural e dos benefícios da ciência.

A distinção mais importante entre os direitos económicos, sociais eculturais e os direitos civis e políticos está na sua aplicabilidade. Enquantoos direitos políticos individuais se caracterizam pelo exercício imediato e aefetividade de instrumentos que assegurem a sua plena realização, os direitossociais, económicos e culturais caracterizam-se pela ausência de efetividadematerial, ou seja, são dependentes de regulamentação pelos Estados, tambémconhecida por eficácia programática ou diferida. Nesse sentido, há previsão

importante

Page 71: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 10 . Documentos internacionais de proteção aos Direitos Humanos 71

no art. 2.°, n. 1, do Pacto, onde se lê: "Cada Estado-parte no presente Pacto

compromete-se a adotar medidas, tanto por esforço próprio como pela assis-tência e cooperação internacionais, principalmente nos planos económicoe técnico, até o máximo de seus recursos disponíveis, que visem a assegurar,progressivamente, por todos os meios apropriados, o pleno exercício dosdireitos reconhecidos no presente Pacto, incluindo, em particular, a adoçãode medidas legislativas".

Para monitorar e implementar tais direitos, o tratado prevê que o Estadodeve encaminhar relatórios que serão analisados pelo Conselho Económico eSocial, contendo medidas adotadas e obstáculos enfrentados (arts. 16 e 17).Em que pesem tais medidas, a implementação de tais direitos dependerá davontade dos governantes dos Estados.

É importante destacar que o mecanismo de proteção dos direitos sociais,económicos e culturais continua a se restringir à sistemática dos relatórios,não obstante a Declaração de Viena tenha recomendado a incorporação dodireito de petição ao Pacto Internacional de Direitos Económicos, Sociais eCulturais, mediante a adoção de protocolo adicional. Para fortalecer a efeti-vidade dos direitos económicos, sociais e culturais, a Conferência de Vienade 1993 recomendou ainda o exame de outros critérios, como a aplicação deum sistema de indicadores, para medir o progresso alcançado na realizaçãodos direitos previstos no referido Pacto (Flávia Piovesan, Direitos humanos eo direito constitucional internacional, p. 180).

No Brasil, há mecanismos legais que possibilitam a concretização dos

direitos sociais, tais como o mandado de injunção (art. 5.°, LXXI) e a açãocivil pública (art. 129,111). O Brasil ratificou o Pacto Internacional de Direi-tos Económicos, Sociais e Culturais em 1992 (Decreto 591, de 06.07.1992).

Os chamados "direitos económicos, sociais e culturais", for-mam, juntamente com os "direitos civis e políticos", um con-junto indivisível de direitos humanos fundamentais, entre osquais não há qualquer relação hierárquica.

10.5 CONVENÇÃO RELATIVA AO ESTATUTO DOS REFUGIADOS

Foi no âmbito da Sociedade das Nações (SdN) que teve início a produçãode instrumentos jurídicos e de instituições que formaram a base do DireitoInternacional dos Refugiados. Em novembro de 1921, a SdN estabeleceu

Page 72: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

72 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

o Alto Comissariado para os Refugiados Russos, designando o norueguêsFridtjof Nansen para o cargo de Alto Comissário.

Posteriormente, em sua

homenagem, foi criado o passaporte Nansen, um certificado de identidadee de viagem fornecido aos refugiados (Guilherme Assis de Almeida e SilviaMenicucci de Oliveira Selmi Apolinário, Direitos humanos, p. 12).

A Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 foi promulgadano Brasil pelo Decreto 50.215, de 28.01.1961.

A Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 e seu Protocolode 1966 são os principais textos internacionais sobre o tema refúgio.

Considera-se refugiado qualquer pessoa que, "temendo ser

perseguida por motivos de raça, religião, nacionalidade,grupo social ou opiniões políticas, se encontra fora do paísde sua nacionalidade e que não pode ou, em virtude dessetemor, não quer valer-se da proteção desse país, ou que, se

não tem nacionalidade e se encontra fora do país no qualtinha sua residência habitual, em consequência de taisacontecimentos, não pode ou, devido ao referido temor, nãoquer voltar a ele" (texto fruto da conjugação do art. 1.°, A,n

. 2, da Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados de1951 com o Art. I, n. 2 e 3, do Protocolo sobre o Estatuto dosRefugiados de 1966).

Esclarece Valério de Oliveira Mazzuoli (Curso de direito internacionalpúblico, p. 676-677) que, enquanto o asilo é regulado por tratados multilate-rais bastante específicos, de âmbito regional, que nada mais fizeram do queexpressar o costume até então aplicado no continente americano, o refúgiotem suas normas elaboradas por uma organização (com alcance global) defundamental importância vinculada às Nações Unidas: o Alto Comissariadodas Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).

É importante entender que asilo é um instituto jurídico que pertence aodireito internacional público e se encontra atualmente regulamentado porconvenções internacionais específicas, como, por exemplo, a Convençãosobre Asilo Territorial de 1954

, assinada em Caracas, de que o Brasil é partedesde 1957 (Decreto 42.628, de 13.11.1957).

O asilo político, de modo genérico, comporta duas modalidades:

a) Asilo territorial: é o recebimento de estrangeiro em território nacional,

sem os requisitos de ingresso, para evitar punição ou perseguição baseada

importante

Page 73: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 10 . Documentos internacionais de proteção aos Direitos Humanos 73

em crime de natureza política ou ideológica. Procura-se preservar sua vidaou liberdade.

Tal modalidade de asilo é prevista expressamente no Art. XIV, n. 1 e 2, da

Declaração Universal dos Direitos Humanos, onde se lê: "Artigo XIV-1. Todapessoa vítima de perseguição tem o direito de procurar e de gozar asilo emoutros países. 2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguiçãolegitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contráriosaos propósitos ou princípios das Nações Unidas

"

.

Da mesma forma é previsto no Art. XXVII da Declaração Americana dosDireitos e Deveres do Homem, que assim determina: "Artigo XXVII - Todapessoa tem o direito de procurar e receber asilo em território estrangeiro, emcaso de perseguição que não seja motivada por delitos de direito comum, ede acordo com a legislação de cada país e com as convenções internacionais".

Por fim, cumpre destacar a previsão do art. 22, n. 7, da Convenção

Americana sobre Direitos Humanos de 1969, que possui a seguinte redação:"Toda pessoa tem o direito de buscar e receber asilo em território estrangeiro,em caso de perseguição por delitos políticos ou comuns conexos com delitospolíticos, de acordo com a legislação de cada Estado e com as Convençõesinternacionais".

Na Constituição Federal de 1988 é prevista a concessão de asilo político(art. 4.°, X), e o Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815/1980) é a lei que trata dotema.

b) Asilo diplomático: também conhecido por extraterritorial, é umamodalidade precária e provisória do asilo político, nascido de um costumedo contexto regional latino-americano no século XIX. Tal asilo é concedidopelo Estado fora de seu território, isto é, no território do próprio Estado emque o indivíduo é perseguido. Normalmente, os locais de proteção são asembaixadas, representações diplomáticas, navios de guerra, acampamentos ouaeronaves militares (Valério de Oliveira Mazzuoli, Curso de direito internacionalpúblico, p. 673).

No ordenamento jurídico brasileiro, o refúgio é disciplinadona Lei 9.474, de 22.07.1997, enquanto o tema asilo é tratadona Lei 6.815, de 19.08.1980 (arts. 28-29), e no Decreto86.715, de 10.12.1981 (arts. 56-57).

noteBEM

Page 74: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

74 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Oart. 1.° da Lei 9.474/1997 estabelece: "Será reconhecido como refugiadotodo indivíduo que: I - devido a fundados temores de perseguição por motivosde raça, religião, nacionalidade, grupo social ou opiniões políticas encontre --se fora de seu país de nacionalidade e não possa ou não queira acolher-se àproteção de tal país; II - não tendo nacionalidade e estando fora do país ondeantes teve sua residência habitual, não possa ou não queira regressar a ele, em

função das circunstâncias descritas no inciso anterior; III - devido a grave egeneralizada violação de direitos humanos, é obrigado a deixar seu país denacionalidade para buscar refúgio em outro país".

Não se pode esquecer que os efeitos da condição de refugiado serãoextensivos ao cônjuge, ascendentes e descendentes, assim como aos demais

membros do grupo familiar que do refugiado dependerem economicamente,

desde que se encontrem em território nacional (art. 2.° da Lei 9.474/1997).

O refugiado gozará de direitos e estará sujeito aos deveres dos estrangei-ros no Brasil, ao disposto na Lei 9.474/1997, na Convenção sobre o Estatutodos Refugiados de 1951 e no Protocolo sobre o Estatuto dos Refugiados de1967

, cabendo-lhe a obrigação de acatar as leis, regulamentos e providênciasdestinados à manutenção da ordem pública (art. 5.° da Lei 9.474/1997).

O refugiado terá direito, nos termos da Convenção sobre o Estatutodos Refugiados de 1951, a cédula de identidade comprobatória de suacondição jurídica, carteira de trabalho e documento de viagem (art. 6.° daLei 9.474/1997).

O Comité Nacional para os Refugiados - Conare, órgão de deliberaçãocoletiva, no âmbito do Ministério da Justiça,

foi criado em virtude da Lei9

.474/1997 e tem competência para: "I - analisar o pedido e declarar o reco-nhecimento

, em primeira instância, da condição de refugiado; II - decidira cessação, em primeira instância, ex ojficio ou mediante requerimento dasautoridades competentes, da condição de refugiado; III - determinar a perda,

em primeira instância, da condição de refugiado; IV - orientar e coordenaras ações necessárias à eficácia da proteção, assistência e apoio jurídico aosrefugiados; V - aprovar instruções normativas esclarecedoras à execuçãodesta Lei" (art. 12).

O Conare será constituído por: "I - um representante do Ministério daJustiça, que o presidirá; II - um representante do Ministério das RelaçõesExteriores; III - um representante do Ministério do Trabalho; IV - um re-presentante do Ministério da Saúde; V - um representante do Ministérioda Educação e do Desporto; VI - um representante do Departamento de

Page 75: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 10 . Documentos internacionais de proteção aos Direitos Humanos 75

Polícia Federal; VII - um representante de organização não governamen-tal, que se dedique a atividades de assistência e proteção de refugiados noPaís" (art. 14).

Os membros do Conare serão designados pelo Presidente da República,mediante indicações dos órgãos e da entidade que o compõem art. 14, § 2.°).

O procedimento para a aquisição do status de refugiado está disciplinadonos arts. 17 a 28 da Lei 9.474/1997.

No caso de decisão negativa, esta deverá ser fundamentada na notificaçãoao solicitante, cabendo direito de recurso ao Ministro de Estado da Justiça,no prazo de 15 dias, contados do recebimento da notificação (art. 29).

A decisão do Ministro de Estado da Justiça não será passível de recurso,devendo ser notificada ao Conare, para ciência do solicitante, e ao Departa-mento de Polícia Federal, para as providências devidas (art. 31).

O reconhecimento da condição de refugiado obstará o seguimento dequalquer pedido de extradição baseado nos fatos que fundamentaram a con-cessão de refúgio (art. 33).

Não será expulso do território nacional o refugiado que esteja regu-larmente registrado, salvo por motivos de segurança nacional ou de ordempública (art. 36).

Implicará perda da condição de refugiado: "I - a renúncia; II - a provada falsidade dos fundamentos invocados para o reconhecimento da condiçãode refugiado ou a existência de fatos que, se fossem conhecidos quando doreconhecimento, teriam ensejado uma decisão negativa; III - o exercício deatividades contrárias à segurança nacional ou à ordem pública; IV - a saída doterritório nacional sem prévia autorização do Governo brasileiro

" (art. 39).

Sobre o tema extradição e refúgio atentar para a seguintedecisão do STF: "O Tribunal, por maioria, acolheu questãode ordem, suscitada nos autos de extradição executóriaformulada pelo Governo da Itália contra nacional italianocondenado à pena de prisão perpétua pela prática dequatro homicídios naquele país, a fim de retificar a ata dojulgamento do aludido feito, para que conste que o Tribunal,por maioria, reconheceu que a decisão de deferimentoda extradição não vincula o Presidente da República, nostermos dos votos proferidos pelos Ministros Cármen Lúcia,

noteBEM

Page 76: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

76 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Joaquim Barbosa, Carlos Britto, Marco Aurélio e Eros Grau.Na sessão de 18.11.2009

, o Tribunal, por maioria, deferira opedido extradicional, tendo prevalecido o voto do Min. CezarPeluso, relator, que, após reconhecer a ilegalidade do ato deconcessão de refúgio ao extraditando, entendera que os crimesa ele atribuídos teriam natureza comum

, e não política, osquais não estariam prescritos, considerando atendidos osdemais requisitos previstos na Lei 6.815/1980 e no tratado deextradição firmado entre o Brasil e a Itália. Na ocasião, ficaramvencidos os Ministros Cármen Lúcia

, Joaquim Barbosa, ErosGrau e Marco Aurélio, que indeferiam o pleito. Ocorre que,

naquela oportunidade, constara da ata que o Tribunal, tambémpor maioria, teria ainda assentado o caráter discricionário doato do Presidente da República de execução da extradição,

restando vencidos, nessa parte, os Ministros Cezar Peluso,relator, Ricardo Lewandowski, Eilen Gracie e Gilmar Mendes -v. Informativos 558, 567 e 568. Na presente assentada, tendo emconta, sobretudo, os esclarecimentos prestados pelo Min. ErosGrau quanto aos fundamentos de seu voto, concluiu-se que oque decidido pela maioria do Tribunal teria sido no sentido deque a decisão do Supremo que defere a extradição não vincula oPresidente da República, o qual, entretanto, não pode agir comdiscricionariedade, ante a existência do tratado bilateral firmadoentre o Brasil e a Itália. Os Ministros Marco Aurélio e Carlos

Britto não acolhiam a questão de ordem, por considerar que aspartes deveriam aguardar a publicação do acórdão para, se ocaso, oporem embargos declaratórios" (Ext 1085 QO/Governoda Itália, rei. Min. Cezar Peluso, 16.12.2009. (Ext-1085) -Informativo 572).

noteBEM

10.6 CONVENÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMASDE DISCRIMINAÇÃO RACIAL

A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de DiscriminaçãoRacial tem por fundamento o direito à igualdade.

Nesse sentido, o Art. I

da Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece que "todas aspessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos"; já o seu Art. II, n. 1,reza que

"toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdadesestabelecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja deraça, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origemnacional ou social

, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição"

. Além

Page 77: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 10 . Documentos internacionais de proteção aos Direitos Humanos 77

disso, o Art. III determina que "toda pessoa tem direito à vida, à liberdade eà segurança pessoal".

A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de DiscriminaçãoRacial foi adotada pelas Nações Unidas em 21.12.1965 e ratificada peloBrasil em 27.03.1968, estando em vigor desde 1969 (Decreto 65.810, de08.12.1969).

No art. 1.°, n. 1, a Convenção estabelece que "discriminaçãoracial" significa "toda distinção, exclusão, restrição oupreferência baseada em raça, cor, descendência ou origemnacional ou étnica que tenha por objeto ou resultado anularou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício emum mesmo plano (em igualdade de condição) de direitoshumanos e liberdades fundamentais nos domínios político,económico, social, cultural ou em qualquer outro domínioda vida pública".

No intuito de combater as desigualdades e as discriminações negativas,alguns autores destacam a necessidade de uma política positiva, ou seja, aadoção de uma "discriminação positiva", também conhecida por ação afir-mativa

, mediante a adoção de medidas especiais de proteção ou incentivo agrupos ou indivíduos, com vistas a promover seu desenvolvimento e cres-cimento na sociedade, até um nível de equiparação com os demais. É ummeio de inclusão social dos grupos discriminados (excluídos), almejando aigualdade real e efetiva.

Nesse sentido, para tornar efetivo o direito à igualdade real ou material,a Convenção, no art. 1.°, n. 4, descreveu a discriminação positiva, tambémconhecida por "ação afirmativa"

, ao estabelecer que "não serão consideradas

discriminação racial as medidas especiais tomadas com o único objetivo deassegurar o progresso adequado de certos grupos raciais ou étnicos ou deindivíduos que necessitem da proteção que possa ser necessária para propor-cionar a tais grupos ou indivíduos igual gozo ou exercício de direitos humanose liberdades fundamentais, contanto que tais medidas não conduzam, emconsequência, à manutenção de direitos separados para diferentes gruposraciais e não prossigam após terem sido alcançados os seus objetivos".

O mecanismo de controle e supervisão do combate às discriminações nospaíses é feito pelo Comité para a Eliminação da Discriminação Racial, seme-

Page 78: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

78 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

lhante ao Comité de Direitos Humanos instituído pelo Pacto dos Direitos Civise Políticos. Cabe ao Comité examinar as petições individuais (denunciandoviolação de direito previsto na Convenção contra a Discriminação Racial), os

relatórios encaminhados pelos Estados-membros e as comunicações interes-tatais. Saliente-se que, no tocante às petições individuais, o Comité apenas asanalisará caso os Estados apontados como violadores tenham firmado decla-rações habilitando o Comité a recebê-las e examiná-las (cláusula facultativa).

O Comité sobre a Eliminação da Discriminação Racial será composto dedezoito peritos de grande prestígio moral e reconhecida imparcialidade, que

serão eleitos pelos Estados-partes dentre os seus nacionais e que exercerãosuas funções a título pessoal, levando-se em conta uma distribuição geográficaequitativa e a representação das formas diversas de civilização, assim como

dos principais sistemas jurídicos (art. 8.°, n. 1).

Consta na Convenção qu"t os membros do Comité serão eleitos para ummandato de quatro anos (art. 8.°, n. 5.

"

a").

Segundo Flávia Piovesan, até março de 2008 apenas 52 dos 170 Estados--partes na Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discrimi-nação Racial haviam feito a declaração no sentido de aceitar a competênciado Comité para receber e considerar comunicações individuais, nos termos

do art. 14 da Convenção (Direitos humanos e o direito constitucional interna-

cional, p. 194-195).A decisão do Comité

, ressalte-se, é similar à decisão do Comité de Di-reitos Humanos

, ou seja, não tem força jurídica obrigatória, vinculante. Noentanto, o Comité emite recomendações, após análise do caso, cabendo aoEstado informar as medidas adotadas. Além disso, essa decisão é publicadano relatório anual elaborado pelo Comité, que é encaminhado à AssembleiaGeral das Nações Unidas.

A Constituição Federal de 1988, no art. 3.°, I, prevê, como um dos obje-tivos fundamentais da República Federativa do Brasil, a construção de umasociedade livre, justa e solidária, enfatizando, no inc. III, a necessidade deerradicação da pobreza e da marginalização e de redução das desigualdadessociais e regionais. No inc. IV, em seguida, estabeleceu como objetivo "pro-

mover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade equaisquer outras formas de discriminação"

.

No art. 5.°, caput, há o direito à igualdade relacionado como direito fun-damental. Nesse sentido, a igualdade consiste em tratar igualmente os iguaise desigualmente os desiguais, na medida em que se desigualam.

Page 79: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 10 . Documentos internacionais de proteção aos Direitos Humanos 79

No tocante ao combate à discriminação, a Constituição vigente, no art.5

.

°

, XLI, estabelece que "a lei punirá qualquer discriminação atentatóriados direitos e liberdades fundamentais", portanto, qualquer discriminaçãoque caracterize atentado ou lesão ao princípio da igualdade. No inc. XLII,em seguida, dispõe que "a prática do racismo constitui crime inafiançável eimprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei".

No plano infraconstitucional foi editada a Lei 7.716, de 05.01.1989, naqual foram definidos os crimes resultantes de preconceito de raça ou cor,alterada pela Lei 9.459, de 13.05.1997, que ampliou o campo de tutela, esta-belecendo a punição dos crimes resultantes de discriminação ou preconceitode raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Destaque-se a existênciado delito de "injúria racial" previsto no § 3.° do art. 140 do Código Penal. Porfim, é importante citar a Lei 12.288, de 20.07.2010, que institui o Estatutoda Igualdade Racial, inclusive prevendo em seu art. 1.°, parágrafo único, VI,as ações afirmativas (os programas e medidas especiais adotados pelo Estadoe pela iniciativa privada para a correção das desigualdades raciais e para apromoção da igualdade de oportunidades).

No que diz respeito às ações afirmativas deve ser acompanhado, no Su-premo Tribunal Federal, o andamento da arguição de descumprimento depreceito fundamental 186.

Sobre o tema racismo é importante a seguinte decisão do STF:"Concluído o julgamento de habeas corpus em que se discutia o alcance da

expressão "racismo

"

, contida no inciso XLII do art. 5.° ("a prática do racismoconstitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nostermos da lei;"). Tratava-se, na espécie, de habeas corpus impetrado em favor decondenado como incurso no art. 20 da Lei 7.716/89 (na redação dada pela Lei8

.081/90) pelo delito de discriminação contra os judeus, por ter, na qualidadede escritor e sócio de editora, publicado, distribuído e vendido ao públicoobras antissemitas, delito este ao qual foi atribuída a imprescritibilidade pre-vista no art. 5.°

, XLII, da CF (v. Informativos 294,304,314 e 318). O Tribunal,

por maioria, acompanhou o voto proferido pelo Min. Maurício Corrêa nosentido do indeferimento do wrií, sob o entendimento de que o racismo éantes de tudo uma realidade social e política, sem nenhuma referência à raçaenquanto caracterização física ou biológica, refletindo, na verdade, reprovávelcomportamento que decorre da convicção de que há hierarquia entre os gruposhumanos, suficiente para justificar atos de segregação, inferiorização e até deeliminação de pessoas. Vencidos os Ministros Moreira Alves, relator, e Marco

Page 80: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

80 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Aurélio, que deferiam a ordem para declarar a extinção da punibilidade pelaocorrência da prescrição da pretensão punitiva do Estado, por entenderemnão caracterizada na espécie a prática do delito de racismo. O Min. MarcoAurélio, ao proferir seu voto, salientando a necessidade do exame da causaem face da realidade social brasileira - na qual não há predisposição para aprática de discriminação contra o povo judeu, diferentemente do que ocorrecom o negro, para o qual a CF/88 conferiu a proteção prevista no inciso XLI1do art. 5.° e tendo em conta a colisão entre os direitos fundamentais da

liberdade de expressão e da proteção à dignidade do povo judeu, considerou

não demonstrado que a conduta do paciente pudesse resultar em incitaçãoà prática de discriminação ou colocar em risco a segurança do povo judeu, a

justificar limitação do direito à liberdade de expressão. Vencido, também, oMin. Carlos Britto, que concedia a ordem de ofício para absolver o paciente,

por reconhecer a atipicidade da conduta a ele imputada"

(HC 82.424-RS, rei.orig. Min. Moreira Alves, red. p/o acórdão Min. Maurício Corrêa, 17.09.2003.Informativo 321).

10.7 CONVENÇÃO SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS AS FORMASDE DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER

Em relação à proteção das mulheres, na órbita das Nações Unidas há aConvenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contraa Mulher (ONU

, 1979) e a Declaração de Pequim (1995), e, no âmbito daOrganização dos Estados Americanos, existe a Convenção Interamericana

para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (OEA, 1994).

Todos esses documentos têm a mulher como preocupação central,

como foco principal de proteção, pois constatou-se, ao longo do tempo, a

insuficiência da fórmula "igualdade entre todos" presente nos documentosgerais iniciais, desde a Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU,1948), e repetida na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem(OEA, 1948).

Historicamente, um caso emblemático sobre o tema discriminação contraas mulheres é o de Olympe de Gouges, escritora que morreu guilhotinada em03.11.1793 por desejar igualdade política para mulheres e homens em suacélebre Déclaration des droits de lafemme et de la citoyenne (1791).

Para a Convenção Interamericana, entender-se-á por violência contra amulher qualquer ato ou conduta baseada no género, que cause morte, danoou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera públicacomo na esfera privada (art. 1.°).

Page 81: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 10 . Documentos internacionais de proteção aos Direitos Humanos 81

Desse modo, a discriminação contra a mulher significa toda distinção,exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultadoprejudicar ou anular o reconhecimento, gozo, exercício, pela mulher,independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do homem eda mulher, dos direitos humanos e das liberdades fundamentais nos campospolítico, económico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo.

A Convenção determina, portanto, a erradicação de toda discriminaçãocontra as mulheres, para garantir-lhes o pleno exercício de seus direitos civis,políticos, sociais, económicos e culturais. É a demonstração da indivisibilidadedos direitos humanos.

Ao ratificar a Convenção, os Estados-membros assumiram o compromissode

, progressivamente, eliminar todas as formas de discriminação no que tangeao sexo, assegurando a efetiva igualdade entre eles.

A Convenção tem por escopo, portanto, acabar com toda discriminaçãoe todas as causas de discriminação contra a mulher e promover situações emque exista absoluta igualdade entre ambos os sexos.

Na Convenção, com o fim de examinar os progressos alcançados na suaaplicação, foi estabelecido um Comité sobre a Eliminação da Discriminaçãocontra a Mulher, composto, no momento da entrada em vigor da Convenção,de dezoito e, após sua ratificação ou adesão pelo trigésimo quinto Estado-parte, de vinte e três peritos de grande prestígio moral e competência na áreaabarcada pela Convenção. Os peritos eleitos pelos Estados-partes e exercemsuas funções a título pessoal (art. 17, n. 1). Os membros do Comité serãoeleitos para um mandato de quatro anos (art. 17, n. 5)

Saliente-se que os Estados-partes comprometem-se a submeter aoSecretário Geral das Nações Unidas, para exame do Comité, um relatório sobreas medidas legislativas, judiciárias, administrativas ou outras que adotarempara tornarem efetivas as disposições desta Convenção e dos progressosalcançados a respeito no prazo de um ano, a partir da entrada em vigor daConvenção para o Estado interessado e posteriormente, pelo menos a cadaquatro anos e toda vez que o Comité vier a solicitar (art. 18, "a" e "b").

O Comité, através do Conselho Económico e Social das Nações Unidas,informará anualmente a Assembleia Geral das Nações Unidas sobre suasatividades e poderá apresentar sugestões e recomendações de caráter geral,baseadas no exame dos relatórios e em informações recebidas dos Estados-partes. Essas sugestões e recomendações de caráter geral serão incluídas norelatório do Comité juntamente com as observações que os Estados-partestenham porventura formulado (art. 21).

Page 82: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

82 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Protocolo Facultativo à Convenção sobre a Eliminação de Todas asFormas de Discriminação Contra a Mulher (1999) é previsto o procedimentoda atuação do Comité com relação às comunicações apresentadas (Decreto4

.316, de 30.07.2002).

No plano infraconstitucional brasileiro, deve-se destacar a vigência daLei 11.340/2006 (Combate à Violência Doméstica - Lei Maria da Penha).

Saliente-se que a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas deDiscriminação Contra a Mulher obteve o menor número de adesões entretodos os países na época.

10.8 CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOSOU PENAS CRUÉIS, DESUMANAS OU DEGRADANTES

A tortura, desde o início dos tempos, é utilizada pelo homem, em menorou maior escala, conforme a época histórica. Segundo historiadores, naRoma antiga, durante o Império e a República, a confissão dos escravos eestrangeiros tinha valor se obtida mediante tortura, forma pela qual se conferiacredibilidade ao relato. Tal não acontecia com o cidadão romano, que detinhaidoneidade e credibilidade, bastando seu juramento. Posteriormente, todavia,os romanos também começaram a ser submetidos a tortura por cometimentode crimes políticos ou contra o Estado romano.

Na Idade Média, a tortura foi utilizada em demasia, sem qualquer respeitoà dignidade humana. Nesse período, o sistema inquisitorial foi adotado naEuropa, especialmente nos Tribunais Eclesiásticos da Inquisição, quando aheresia passou a ser perseguida e punida com tortura. Além disso, a confissãodo réu era considerada como a rainha das provas, obtida na maioria das vezespor meio da tortura.

Em período mais recente, na Revolução Socialista de 1917, a antiga UniãoSoviética empregou amplamente a tortura para implantar o novo regime ereprimir os descontentes. Essa prática perdurou até quase o final do séculoXX. Na Alemanha, na época do nazismo, milhares de pessoas, principalmentede origem judaica, foram torturadas.

Na América Latina, também foi utilizada pelos governos ditatoriais epelos guerrilheiros.

A Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos e Punições Cruéis,Desumanos e Degradantes foi adotada pela ONU em 1984, entrando emvigor internacionalmente em 1987, tendo sido ratificada pelo Brasil em 1989

Page 83: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 10 . Documentos internacionais de proteção aos Direitos Humanos 83

(aprovada no Brasil pelo Decreto Legislativo 4, de 23.05.1989, e promulgadapelo Decreto 40, de 15.02.1991).

A tortura é definida no art. 1.° da Convenção, onde se lê:"Para os fins da presente Convenção, o termo 'tortura' designaqualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicosou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoaa fim de obter, dela ou de terceira pessoa, informaçõesou confissões; de castigá-la por ato que ela ou terceirapessoa tenha cometido ou seja suspeita de ter cometido; deintimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou porqualquer motivo baseado em discriminação de qualquernatureza; quando tais dores ou sofrimentos são infligidospor um funcionário público ou outra pessoa no exercíciode funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seuconsentimento ou aquiescência. Não se considerará comotortura as dores ou sofrimentos que sejam consequênciaunicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes atais sanções ou delas decorram".

A Convenção, em suas disposições, assegura, entre outros, os seguintesdireitos que os Estados-partes se comprometem a assegurar: proibição totalda tortura e proteção contra atos de tortura e outras formas de tratamentocruel, desumano ou degradante. Conclama os Estados a adotarem as medidasnecessárias para impedir essas práticas; consagra, ainda, a regra da impossibi-lidade de derrogação da proibição da tortura, ao estabelecer que em nenhumcaso poderão ser invocadas circunstâncias excepcionais, tais como ameaça ou

estado de guerra, instabilidade política interna ou qualquer outra emergênciapública como justificação para a tortura, além de que a obediência hierárquica(ordem de um funcionário público ou de uma autoridade pública) não poderáser adotada como justificativa para tanto; proibição de expulsão, devoluçãoou extradição de pessoas para Estados quando houver risco efetivo de virema ser torturadas; criminalização, na legislação penal de cada Estado-parte, dascondutas que configurem tortura (nas formas consumada e tentada e em co-autoria); cooperação com outros Estados para a prisão, detenção e extradiçãode torturadores; investigar prontamente alegações de tortura, examinando

toda denúncia de maneira imparcial; direito de que a declaração obtida me-diante tortura não seja invocada como prova em qualquer processo; direito

noteBEM

Page 84: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

84 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

das vítimas de tortura à reparação e indenização justa e adequada, inclusiveà completa reabilitação.

Finalizando, para garantir que as pessoas não sejam submetidas a atoscruéis, desumanos ou degradantes, o art. 16 da Convenção estabelece que osEstados-partes deverão coibir atos dessa natureza, ainda que não consideradosatos de tortura nos termos do art. 1.°; enfatizando que os dispositivos deverãomerecer interpretação ampla, de molde a não restringir outros de qualquerinstrumento internacional ou lei nacional que proíba os tratamentos ou aspenas cruéis, desumanas ou degradantes.

Por último, da mesma maneira que ocorre com a Convenção sobre aEliminação da Discriminação Racial, há três mecanismos de controle e demonitoramento, que são: as petições individuais, os relatórios e as comuni-cações interestatais. O órgão de controle é o Comité contra a Tortura (ParteII -arts. 17 a 24).

O Comité contra a Tortura será composto por dez peritos de elevada re-putação moral e reconhecida competência em matéria de direitos humanos,os quais exercerão suas funções a título pessoal. Os peritos serão eleitos pelosEstados-partes, levando em conta uma distribuição geográfica equitativa e autilidade da participação de algumas pessoas com experiência jurídica (art.17

,n

. 1).

Os membros do Comité serão eleitos para um mandato de quatro anos(art. 17, n. 1).

Destaque-se que, da mesma forma estabelecida na Convenção sobre aEliminação da Discriminação Racial, exige-se que o Estado-parte faça umadeclaração autorizando (habilitando) o Comité contra a Tortura a receber ascomunicações individuais e as interestatais.

A comunicação individual deve ter por base a violação a direito previstona Convenção contra a Tortura, e os critérios de admissão da petição, osmétodos de apreciação e a natureza da decisão são semelhantes aos adotadospelos Comités de Direitos Humanos e sobre a Eliminação da DiscriminaçãoRacial.

O Comité contra a Tortura apresenta uma peculiaridade em relação aosdemais Comités estabelecidos pelas diversas Convenções: no caso de denún-cia fidedigna de prática sistemática de tortura em um Estado-parte, detém oComité competência, caso haja concordância do Estado-parte envolvido, derealizar uma visita para investigação no próprio território desse Estado-parte(tal previsão encontra-se no art. 20, n. 3, da Convenção).

Page 85: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 10 . Documentos internacionais de proteção aos Direitos Humanos 85

Caso o Comité chegue à conclusão de que houve violação a direito pre-visto na Convenção, solicitará ao Estado-parte informações sobre as açõesadotadas para dar cumprimento à decisão do Comité.

Como destaca Flávia Piovesan, "embora as decisões dos Comités nãosejam legalmente vinculantes e obrigatórias, têm efetivamente auxiliado o

exercício dos direitos humanos reconhecidos no plano internacional, em facedo chamado power of shame ou power ojembarrassment" (Direitos humanos eo direito constitucional internacional, p. 208).

Protocolo Facultativo à Convenção da Contra Tortura e Outros Tra-tamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adotado pela As-sembleia-Geral pela Resolução A/RES/57/199, de 18 de dezembro de 2002

tem por objetivo estabelecer um sistema de visitas regulares efetuadas porórgãos nacionais e internacionais independentes para lugares onde pessoassão privadas de sua liberdade, com a intenção de prevenir a tortura e outrostratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes (art. 1.°). É previstaa criação de um Sub-Comitê de Prevenção da Tortura e outros tratamentosou penas cruéis, desumanos ou degradantes que deverá ser estabelecido edesempenhar as funções definidas no Protocolo (art. 2.°).

O Subcomitê deverá ser constituído por dez membros. Após a quin-quagésima retificação ao Protocolo, o número de membros do Subcomitê dePrevenção deverá aumentar para vinte e cinco, sendo escolhidos entre pessoasde elevado caráter moral, de comprovada experiência profissional no campoda administração da justiça, em particular o direito penal e a administraçãopenitenciária ou policial, ou nos vários campos relevantes para o tratamentode pessoas privadas de liberdade (art. 5.°, n. 1 e 2). O mandato dos membros

é de quatro anos (art. 9.°). O Brasil aderiu ao Protocolo Facultativo por meiodo Decreto 6.085, de 19.04.2007.

Aqui, a Constituição Federal vigente, no art. 1.°, III, estabelece que aRepública Federativa do Brasil tem como fundamento a dignidade da pessoahumana. Desse modo

, rechaça a hipótese de conivência com a tortura.Além disso

, o art. 5.°, III, estabelece que "ninguém será submetido atortura nem a tratamento desumano ou degradante", bem como o inciso

XLIII reza que "a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis degraça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes edrogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por elesrespondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, seomitirem

"

.

Page 86: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

86 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Para viabilizar a proteção constitucional, o legislador ordinário regu-lamentou o assunto pela Lei 9.455, de 07.04.1997, que define os crimes detortura. Tal providência atendeu ao art. 40 da Convenção contra a Tortura,no qual está estabelecido que

"cada Estado-parte assegurará que todos osatos de tgrtura sejam considerados crimes segundo a sua legislação penal

"

.

A Lei 9.455/1997, que define os crimes de tortura e dá outrasprovidências, constitui o principal instrumento de combate à jUlpOfl®"*tortura. O art. 1.° define o crime de tortura da seguinte forma:"Art. 1.° Constitui crime de tortura: I - constranger alguémcom emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhesofrimento físico ou mental: a) com o fim de obter informação,declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa; b)para provocar ação ou omissão de natureza criminosa; c)em razão de discriminação racial ou religiosa; II - submeteralguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com empregode violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico oumental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medidade caráter preventivo. Pena: reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito)anos. § 1.° Na mesma pena incorre quem submete pessoapresa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físicoou mental, por intermédio da prática de ato não previstoem lei ou não resultante de medida legal. § 2.° Aquele quese omite em face dessas condutas, quando tinha o dever deevitá-las ou apurá-las, incorre na pena de detenção de 1(um) a 4 (quatro) anos. (...)".

De acordo com a doutrina, o art. 1.°, I, é crime comum, podendo serrealizado por qualquer pessoa. Já o delito do art. 1.°, II, é crime próprio,cometido por quem possui autoridade, guarda ou vigilância sobre a vítima;todavia, essa vinculação pode ser de caráter público ou privado, ou mesmoderivar de qualquer poder de fato do agente sobre a vítima.

Sobre o tema tortura deve-se destacar a seguinte decisão do STF:"O Ministério Público dispõe de competência para promover, por au-

toridade própria, investigações de natureza penal, desde que respeitados osdireitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoasob investigação do Estado, observadas, sempre, pelos agentes de tal órgão,as prerrogativas profissionais de que se acham investidos os advogados, semprejuízo da possibilidade - sempre presente no Estado Democrático de Direito

Page 87: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 10 . Documentos internacionais de proteção aos Direitos Humanos 87

- do permanente controle jurisdicional dos atos praticados pelos promotoresde justiça e procuradores da república. Com base nesse entendimento, a Turma

indeferiu habeas corpus em que se alegava a nulidade de ação penal promovidacom fulcro em procedimento investigatório instaurado exclusivamente peloMinistério Público e que culminara na condenação do paciente, delegado depolícia, pela prática do crime de tortura" (HC 89837/DF, rei. Min. Celso deMello

, 20.10.2009. Informativo 564).

10.9 CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DA CRIANÇA

Historicamente, primeiro surgiu a Declaração Universal dos Direitosda Criança, no ano de 1959, que possuía dez princípios fundamentais quedeterminavam proteções especiais para a criança: seguro social, direito ànutrição, moradia, lazer, atendimento médico, educação, proteção contraqualquer tipo de abuso, seja físico, espiritual, moral, mental ou qualqueroutro que impedisse seu desenvolvimento pleno e absoluto.

A Convenção sobre os Direitos da Criança foi admitida, por unanimidade,

pela Assembleia Geral da ONU em 20.11.1989. Adotada pela Assembleia Ge-ral

, a Convenção começou a ser assinada em 26.01.1990. No Brasil, o Decreto

99.710, de 21.11.1990, promulgou a Convenção sobre os Direitos da Criança.

A Convenção estabelece vários direitos importantes tais como: o direitoà vida, à habitação, acesso a serviços médicos preventivos e de saúde, sane-

amento básico e o direito à convivência familiar (sobrevivência), o acesso à

educação, divertimento e lazer, atividades culturais, acesso à informação e odireito à liberdade de pensamento, consciência e religião (desenvolvimento),a defesa de todas as formas de exploração, crueldade, separação arbitráriada família e abusos do sistema da Justiça (proteção), liberdade de expressão,

opinião e também o direito de ter um papel ativo na sociedade (participação).

A Convenção, no seu art. 1.°, declara expressamente quaissão os destinatários da proteção integral: "Todo ser humanomenor de 18 anos de idade, salvo se, em conformidade coma lei aplicável à criança, a maioridade seja alcançada antes".

noteBEM

Regras foram estabelecidas para que a criança seja ouvida quanto aosassuntos a ela pertinentes, estando aí o princípio da igualdade estabelecidopela Carta das Nações Unidas, equiparando os direitos da criança aos do

Page 88: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

88 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

adulto, colocando-a como um membro da sociedade humana. Nesse sentidoé o posicionamento do art. 12 da Convenção, onde se lê: "Artigo 12. 1. OsEstados-partes assegurarão à criança, que for capaz de formar seus própriospontos de vista, o direito de exprimir suas opiniões livremente sobre todas asmatérias atinentes à criança, levando-se devidamente em conta essas opiniõesem função da idade e maturidade da criança. 2. Para esse fim, à criança será,em particular, dada a oportunidade de ser ouvida em qualquer procedimen-to judicial ou administrativo que lhe diga respeito, diretamente ou atravésde um representante ou órgão apropriado, em conformidade com as regrasprocessuais do direito nacional

"

.

A fim de examinar os progressos realizados no cumprimento das obri-gações contraídas pelos Estados-partes na Convenção, haverá um Comitépara os Direitos da Criança. O comité é integrado por dez especialistas dereconhecida integridade moral e competência nas áreas cobertas pela Con-venção. Os membros do comité serão eleitos pelos Estados-partes dentre seusnacionais e exercerão suas funções a título pessoal, tomando-se em devidaconta a distribuição geográfica equitativa bem como os principais sistemasjurídicos (art. 43, n. 1 e 2).

Os membros do Comité serão eleitos para um mandato de quatro anos(art. 43, n. 6).

O Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitos da Criançareferente à venda de crianças, à prostituição infantil e à pornografia infantilestabelece que cada Estado-parte submeterá ao Comité sobre os Direitosda Criança, no prazo de dois anos a contar da data da entrada em vigor doProtocolo para aquele Estado Parte, um relatório contendo informaçõesabrangentes sobre as medidas adotadas para implementar as disposições doProtocolo. Após a apresentação do relatório abrangente, cada Estado-parteincluirá nos relatórios que submeter ao Comité sobre os Direitos da Criançaquaisquer informações adicionais sobre a implementação do Protocolo, emconformidade com o Artigo 44 da Convenção. Os demais Estados-partes doProtocolo submeterão um relatório a cada cinco anos (art. 12, n. 1 e 2).

O Brasil aderiu ao Protocolo Facultativo à Convenção sobre os Direitosda Criança referente à venda de crianças, à prostituição infantil e à pornografiainfantil por meio do Decreto 5.007, de 8 de março de 2004.

Saliente-se que o Brasil também aderiu ao Protocolo Facultativo à Con-venção sobre os Direitos da Criança Relativo ao Envolvimento de Criançasem Conflitos Armados, Decreto 5.006, de 8 de março de 2004, e que em seu

Page 89: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 10 . Documentos internacionais de proteção aos Direitos Humanos 89

art. 1.° estabelece: "Os Estados-partes adotarão todas as medidas possíveispara assegurar que membros de suas forças armadas menores de 18 (dezoito)anos não participem diretamente de hostilidades.

"

No ordenamento jurídico brasileiro pode ser destacado o art. 227 daCF/88, que estabelece: "É dever da família, da sociedade e do Estado assegurarà criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida,à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura,à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, ex-ploração, violência, crueldade e opressão

"

.

No plano infraconstitucional, a proteção da criança e do adolescenteé regida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8.069/1990), queno seu art. 4.° prevê: "É dever da família, da comunidade, da sociedade emgeral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dosdireitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, aolazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e àconvivência familiar e comunitária"

.

10.10 ESTATUTO DE ROMA-TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL

(TPI)

O Estatuto de Roma, que cria o Tribunal Penal Internacional, foi aprovadoem 17.07.1998, na Conferência de Roma. O Brasil o assinou em 07.02.2000e o Congresso Nacional o aprovou através do Decreto Legislativo 112, de06.06.2002, sendo promulgado pelo Decreto 4.388, em 25.09.2002.

A EC 45, de 08.12.2004, acrescentou o § 4.° ao art. 5.° da CF/88, quepossui a seguinte redação:

"O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal PenalInternacional a cuja criação tenha manifestado adesão".

Desse modo, pode-se afirmar que o Brasil também admitiu expressa-mente em sua Constituição a adesão ao Tribunal Penal Internacional, que éum Tribunal permanente e criado por tratado.

10.10.1 Precedentes históricos

São precedentes históricos da criação do Tribunal Penal Internacional osTribunais de Nuremberg, de Tóquio, da Bósnia (ex-Iugoslávia) e de Ruanda.

O Tribunal de Nuremberg, de 1945-1946, foi o primeiro tribunal penalinternacional criado pelo Acordo de Londres (Reino Unido, Estados Unidos

Page 90: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

90 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

da América, França e União das Repúblicas Socialistas Soviéticas) para julgaros crimes cometidos no período do nazismo (crimes contra a paz, crimes de

guerra e crimes contra a humanidade), seja pelos líderes do partido, seja pelosoficiais militares, com condenações à pena de morte.

O Tribunal de Tóquio (1946) foi criado nos moldes do Tribunal deNuremberg, objetivando julgar os criminosos de guerra japoneses, havendotambém condenação à pena de morte.

O Tribunal Ad Hoc da ex-Iugoslávia (Bósnia) foi criado em 1993 peloConselho de Segurança das Nações Unidas, por meio da Resolução 827, para

julgar crimes de guerra, em virtude das sérias violações ao direito humanitá-rio internacional, cometidas no território da antiga Iugoslávia, desde 1991,

incluindo assassinatos em massa, detenções sistemáticas e organizadas,

estupros de mulheres e prática da "limpeza étnica".

O Tribunal Ad Hoc de Ruanda foi criado em 1994 por meio da Resolução955 do Conselho de Segurança das Nações Unidas, objetivando o julgamentodos crimes cometidos ao longo da guerra civil em Ruanda.

10.10.2 Especificidades do Estatuto de Roma

O Estatuto de Roma, dividido em 13 capítulos e com 128 artigos, esta-

belece a estrutura e o funcionamento do Tribunal.

O Tribunal Penal Internacional, nos termos do art. 1.° do Estatuto deRoma

, surge como aparato complementar às cortes nacionais, com o objetivode assegurar o fim da impunidade para os crimes mais graves em casos deomissão ou incapacidade dos Estados. De acordo com o art. 3.°, o TribunalPenal Internacional tem sede em Haia

, na Holanda.

Desse modo, a jurisdição do Tribunal Penal Internacional é adicional ecomplementar à do Estado, ficando condicionada à incapacidade ou omissãodo sistema judicial interno. O Estatuto busca equacionar a garantia do direitoà justiça, o fim da impunidade e a soberania do Estado, à luz do princípio dacomplementaridade e do princípio da cooperação.

Há responsabilidade primária do Estado com relação ao julgamentode violações de direitos humanos, tendo a comunidade internacional aresponsabilidade subsidiária.

O Tribunal Penal Internacional é composto por 18 juízes (art. 36,

n. 1), com mandatos que poderão ser de nove anos (art. 36, n. 9). Possui os

seguintes órgãos (art. 34): a) Presidência (responsável pela administração

Page 91: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 10 . Documentos internacionais de proteção aos Direitos Humanos 91

do tribunal); b) uma Seção de Recursos, uma Seção de Julgamento emPrimeira Instância e uma Seção de Instrução (Câmaras, que se dividem emCâmara de Questões Preliminares, Câmara de Primeira Instância e Câmarade Apelações); c) Gabinete do Procurador (Promotoria: órgão autónomo dotribunal, competente para receber as denúncias sobre crimes, examiná-las,investigá-las e propor ação penal junto ao tribunal); d) Secretaria (encarregadade aspectos não judiciais da administração do Tribunal).

O Tribunal Penal Internacional é competente para o julgamento dosseguintes crimes (art. 5.°): a) crime de genocídio, tal como definido no Art.II da Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio de1948 e no art. 6.° do Estatuto: homicídio de membros do grupo; ofensas gravesà integridade física ou mental de membros do grupo; sujeição intencionaldo grupo a condições de vida com vista a provocar a sua destruição físicatotal ou parcial; imposição de medidas destinadas a impedir nascimentosno seio do grupo; e transferência, à força, de crianças do grupo para outrogrupo; b) crimes contra a humanidade, definidos no art. 7.°, incluindo

ataques generalizados e sistemáticos contra a população civil, sob a formade homicídio, extermínio, escravidão, deportação, encarceramento, tortura,violência sexual, estupro, prostituição, gravidez e esterilização forçadas,desaparecimento forçado de pessoas, o crime de apartheid, entre outros queatentem gravemente contra a integridade física ou mental; c) crimes de guerra,definidos, no art. 8.°, como violações ao direito internacional humanitário,especialmente às Convenções de Genebra de 1949; d) crimes de agressão,que estavam pendentes de definição, nos termos do art. 5.°, n. 2, do Estatuto.

Porém, em 15.06.2010, foi assim definido: "planejamento, preparação,iniciação ou execução, por uma pessoa numa posição de exercício de controleou direção da ação política ou militar de um Estado, de um ato de agressãoque pelo seu caráter, gravidade ou escala constitui uma manifesta violaçãoda Carta das Nações Unidas".

As principais penas estão previstas no art. 77, tais como pena máxima de30 anos, prisão perpétua, excepcionalmente, quando justificada pela extremagravidade do crime e pelas circunstâncias pessoais do condenado, multa eperda de produtos e bens provenientes direta ou indiretamente do crime.

Saliente-se que podem ser impostas sanções de natureza civil,determinando reparação às vítimas e aos seus familiares (art. 75).

Verifica-se que o Tribunal Penal Internacional alia a justiça retributivacom a justiça reparativa.

Page 92: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

92 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

O exercício da jurisdição internacional pode ser acionado mediantedenúncia de um Estado-parte ou do Conselho de Segurança à Promotoria,

a fim de que esta investigue o crime, propondo a ação penal cabível. Pode aprópria Promotoria agir de ofício (arts. 13 e 15).

Em todas as hipóteses, o exercício da jurisdição é condicionado à adesão doEstado ao tratado

, ou seja, é necessário que o Estado reconheça expressamentea jurisdição internacional. Note-se que a ratificação do tratado não comportareservas

, devendo o Estado ratificá-lo na íntegra e sem ressalvas (art. 120).De acordo com o art. 17

, o Tribunal decidirá sobre a não admissibilidade

de um caso se: "a) o caso for objeto de inquérito ou de procedimento criminalpor parte de um Estado que tenha jurisdição sobre o mesmo, salvo se este nãotiver vontade de levar a cabo o inquérito ou o procedimento ou não tenhacapacidade para o fazer; b) o caso tiver sido objeto de inquérito por um Estadocom jurisdição sobre ele e tal Estado tenha decidido não dar seguimento aoprocedimento criminal contra a pessoa em causa, a menos que esta decisãoresulte do fato de esse Estado não ter vontade de proceder criminalmenteou da sua incapacidade real para o fazer; c) a pessoa em causa já tiver sidojulgada pela conduta a que se refere a denúncia, e não puder ser julgada peloTribunal em virtude do disposto no parágrafo 3.

° do art. 20; d) o caso nãofor suficientemente grave para justificar a ulterior intervenção do Tribunal".

Em breve síntese, pode-se concluir que são requisitos de admissibilidade da

jurisdição internacional a indisposição do Estado-parte (quando, por exemplo,houver demora injustificada ou faltar independência ou imparcialidade nojulgamento) ou sua incapacidade em proceder à investigação e ao julgamentodo crime (quando houver o colapso total ou substancial do sistema nacionalde justiça).

Aplica-se o Estatuto igualmente a todas as pessoas, sem

nenhuma distinção baseada em cargo oficial. Isto é, o

cargo oficial de uma pessoa, seja ela Chefe de Estado ouChefe de Governo, não a eximirá de forma nenhuma de suaresponsabilidade penal, tampouco importará em redução depena (art. 27).O Tribunal não terá jurisdição sobre pessoas que, à data daalegada prática do crime, não tenham ainda completado 18anos de idade (art. 26).

Os crimes de competência do Tribunal Penal Internacionalnão prescrevem (art. 29).

Page 93: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 10 . Documentos internacionais de proteção aos Direitos Humanos 93

O Tribunal terá competência relativamente aos crimes cometidos após1

.

° de julho de 2002, que é a data da entrada em vigor do Estatuto na ordeminternacional, em conformidade com o art. 126.

No que diz respeito às línguas oficiais e de trabalho, deve-se destacar oart. 50, onde se lê: "Línguas oficiais e línguas de trabalho: 1. As línguas árabe,chinesa, espanhola, francesa, inglesa e russa serão as línguas oficiais do Tribu-nal. As sentenças proferidas pelo Tribunal, bem como outras decisões sobrequestões fundamentais submetidas ao Tribunal, serão publicadas nas línguasoficiais. A Presidência, de acordo com os critérios definidos no RegulamentoProcessual, determinará quais as decisões que poderão ser consideradas comodecisões sobre questões fundamentais, para os efeitos do presente parágrafo.2

. As línguas francesa e inglesa serão as línguas de trabalho do Tribunal. ORegulamento Processual definirá os casos em que outras línguas oficiais po-derão ser usadas como línguas de trabalho. 3. A pedido de qualquer Parte ouqualquer Estado que tenha sido admitido a intervir num processo, o Tribunalautorizará o uso de uma língua que não seja a francesa ou a inglesa, sempreque considere que tal autorização se justifica

"

.

Para alguns autores, a sentença proferida pelo Tribunal Penal Inter-nacional é uma sentença internacional, e por isso não há a exigência de serhomologada pelo Superior Tribunal de Justiça, que o faz no caso de sentençaestrangeira (art. 105,1, i, da CF/88).

Importante destacar que o Tribunal Penal Internacional, em 04.03.2009,emitiu ordem de prisão contra o presidente do Sudão, Omar Hassan al-Bashir,acusado de crimes contra a humanidade e crimes de guerra durante o conflitona região de Darfur. Foi a primeira vez que o Tribunal indiciou e expediumandado de prisão contra um presidente em exercício.

O conflito em Darfur tem motivação étnica e surgiu com o processo dedesertificação da região, envolvendo tribos nómades arabizadas e agricultoresque já se encontravam estabelecidos na região. Segundo a ONU, o conflitodeixou mais de 300.000 mortos e 2.700.000 refugiados.

Também merece ser citado o caso referente ao Quénia, em que a Câmarade Questões Preliminares em decisão de 31 de março de 2010 autorizou inves-tigação pela Promotoria de supostos crimes contra a humanidade perpetradosde 1.° de junho de 2005 a 26 de novembro de 2009.

10.10.2.1 Aparente confronto de normas do Estatuto de Roma coma Constituição Federal

a) A entrega de nacionais para o Tribunal Penal Internacional (art. 89)e a extradição de nacionais (art. 5.°, LI, da CF/88).

Page 94: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

94 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

O Estatuto de Roma, em seu art. 120, não admite reservas, e o art. 5.°, §

4.

°

, da CF/88 estabelece que o Brasil se submete à jurisdição de Tribunal PenalInternacional a cuja criação tenha manifestado adesão. O próprio Estatuto,

no art. 102, estabelece a diferença entre os institutos da entrega e da extradi-

ção: "a) por 'entrega,

entende-se a entrega de uma pessoa por um Estado aoTribunal nos termos do presente Estatuto; b) por 'extradição' entende-se aentrega de uma pessoa por um Estado a outro Estado conforme previsto emum tratado, em uma convenção ou no direito interno"

.

A CF/88, no art. 5.°, LI, determina: "Nenhumbrasileiro será extraditado,

salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturali-zação, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentese drogas afins, na forma da lei".

Da comparação das citadas normas percebe-se o afastamento do aparenteconflito, sendo possível a entrega de brasileiros natos ou naturalizados parao Tribunal Penal Internacional, pois a Constituição veda a extradição, não a

entrega. Além disso, o Brasil aderiu constitucionalmente ao Estatuto de Roma.

b) A previsão de prisão perpétua prevista no art. 77,1, b, do Estatuto e oart. 5.°

, XLVII, b, da CF/88 vedando penas de caráter perpétuo.

O conflito é aparente, pois a Constituição Federal vigente veda que seestabeleça a prisão perpétua para crimes cometidos no território nacional eque sejam julgados de acordo com a lei penal pátria. A Constituição não vedaa pena de prisão perpétua a ser imposta fora do território nacional em relaçãoaos crimes que devam ser julgados por organismo internacional de caráterpermanente, como é o Tribunal Penal Internacional.

A Lei 6.815/1980, no art. 91, não restringe a extradição em função dapena de prisão perpétua do Estado requerente. Além disso, no art. 7.° do

ADCT o Brasil propugna pela formação de um tribunal internacional dosdireitos humanos.

c) Imunidades e foro por prerrogativa de função.

A Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas (1961), em seu art.

31, estabelece que o agente diplomático goza de imunidade de jurisdiçãopenal do Estado acreditado. O art. 27 do Estatuto de Roma estabelece quetais imunidades não deverão obstar que o Tribunal exerça a sua jurisdição.

d) Reserva legal e a tipificação do Estatuto de Roma.

O art. 5.°, XXXIX, da CF/88 determina: "Não há crime sem lei anterior

que o defina, nem pena sem prévia cominação legal".

Page 95: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 10 . Documentos internacionais de proteção aos Direitos Humanos 95

Verifica-se no plano interno a previsão constitucional da reserva legal.Ocorre que o Estatuto de Roma estabelece os tipos penais que irá julgar. Alémdisso, no Capítulo III há previsão de princípios gerais de direito penal (arts.22 a 33).

e) Respeito à coisa julgada material.

O respeito à coisa julgada material não se aplica ao Estatuto de Roma seo julgamento foi fraudado. A coisa julgada é disciplinada nos arts. 467-475do CPC e protegida no art. 5.°, XXXVI, da CF/88.

O art. 20 do Estatuto estabelece o ne bis in idem: "1. Salvo disposiçãocontrária do presente Estatuto, nenhuma pessoa poderá ser julgada peloTribunal por atos constitutivos de crimes pelos quais este já a tenha conde-nado ou absolvido. 2. Nenhuma pessoa poderá ser julgada por outro tribunalpor um crime mencionado no art. 5.°, relativamente ao qual já tenha sidocondenada ou absolvida pelo Tribunal. 3. O Tribunal não poderá julgar umapessoa que já tenha sido julgada por outro tribunal por atos também punidospelos arts. 6.°, 7.° ou 8.°, a menos que o processo nesse outro tribunal: a)Tenha tido por objetivo subtrair o acusado à sua responsabilidade criminalpor crimes da competência do Tribunal; ou b) Não tenha sido conduzido deforma independente ou imparcial, em conformidade com as garantias de umprocesso equitativo reconhecidas pelo direito internacional, ou tenha sidoconduzido de uma maneira que, no caso concreto, se revele incompatívelcom a intenção de submeter a pessoa à ação da justiça

"

.

lloteNoTribunal Penal Internacional um indivíduo é julgado (atua-ção da Justiça Internacional). Na Corte Internacional de Justiça(Haia) são julgados Estados.

í SEM

10.11 CONVENÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS COMDEFICIÊNCIA

O Decreto 6.949, de 25 de agosto de 2009, promulga a Convenção In-ternacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu ProtocoloFacultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007.

O Congresso Nacional constitucionalizou tal tratado, pois o aprovou,por meio do Decreto Legislativo 186, de 9 de julho de 2008, conforme oprocedimento do § 3.° do art. 5.° da Constituição.

Page 96: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

96 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Para a Convenção pessoas com deficiência são aquelas que têm impedi-mentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial,os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participa-ção plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demaispessoas (art. l.°).

Para os propósitos da Convenção existem as seguintes definições: "Co-municação

"

abrange as línguas, a visualização de textos, o braille, a comuni-cação tátil, os caracteres ampliados, os dispositivos de multimídia acessível,assim como a linguagem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e os

meios de voz digitalizada e os modos, meios e formatos aumentativos e alter-nativos de comunicação, inclusive a tecnologia da informação e comunicaçãoacessíveis;

"Língua" abrange as línguas faladas e de sinais e outras formas decomunicação não falada; "Discriminação por motivo de deficiência" significaqualquer diferenciação, exclusão ou restrição baseada em deficiência, com opropósito ou efeito de impedir ou impossibilitar o reconhecimento, o desfruteou o exercício

, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, detodos os direitos humanos e liberdades fundamentais nos âmbitos político,

económico, social, cultural, civil ou qualquer outro. Abrange todas as for-mas de discriminação, inclusive a recusa de adaptação razoável; "Adaptaçãorazoável" significa as modificações e os ajustes necessários e adequados quenão acarretem ónus desproporcional ou indevido, quando requeridos emcada caso

, a fim de assegurar que as pessoas com deficiência possam gozarou exercer

, em igualdade de oportunidades com as demais pessoas, todosos direitos humanos e liberdades fundamentais; "Desenho universal" sig-nifica a concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a seremusados, na maior medida possível, por todas as pessoas, sem necessidadede adaptação ou projeto específico. O "desenho universal" não excluirá asajudas técnicas para grupos específicos de pessoas com deficiência, quandonecessárias (art. 2.°).

Os princípios da Convenção são: a) O respeito pela dignidade inerente,

a autonomia individual, inclusive a liberdade de fazer as próprias escolhas,

e a independência das pessoas; b) A não discriminação; c) A plena e efetivaparticipação e inclusão na sociedade; d) O respeito pela diferença e pelaaceitação das pessoas com deficiência como parte da diversidade humana eda humanidade; e) A igualdade de oportunidades; 0 A acessibilidade; g) Aigualdade entre o homem e a mulher; h) O respeito pelo desenvolvimentodas capacidades das crianças com deficiência e pelo direito das crianças comdeficiência de preservar sua identidade (art. 3.°).

Page 97: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 10 . Documentos internacionais de proteção aos Direitos Humanos 97

As obrigações gerais estão previstas no art. 4.° da Convenção e pode-sedestacar o seguinte:

- Os Estados Partes se comprometem a assegurar e promover o pleno

exercício de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todasas pessoas com deficiência, sem qualquer tipo de discriminação por causa desua deficiência. Para tanto, os Estados Partes se comprometem a: a) Adotartodas as medidas legislativas, administrativas e de qualquer outra natureza, ne-cessárias para a realização dos direitos reconhecidos na presente Convenção;b) Adotar todas as medidas necessárias, inclusive legislativas, para modificarou revogar leis, regulamentos, costumes e práticas vigentes, que constituíremdiscriminação contra pessoas com deficiência; c) Levar em conta, em todosos programas e políticas, a proteção e a promoção dos direitos humanos daspessoas com deficiência; d) Abster-se de participar em qualquer ato ou práticaincompatível com a presente Convenção e assegurar que as autoridades pú-blicas e instituições atuem em conformidade com a presente Convenção; e)Tomar todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação baseada emdeficiência, por parte de qualquer pessoa, organização ou empresa privada; f)Realizar ou promover a pesquisa e o desenvolvimento de produtos, serviços,equipamentos e instalações com desenho universal, conforme definidos noart. 2 da presente Convenção, que exijam o mínimo possível de adaptaçãoe cujo custo seja o mínimo possível, destinados a atender às necessidadesespecíficas de pessoas com deficiência, a promover sua disponibilidade e seuuso e a promover o desenho universal quando da elaboração de normas e di-retrizes; g) Realizar ou promover a pesquisa e o desenvolvimento, bem comoa disponibilidade e o emprego de novas tecnologias, inclusive as tecnologiasda informação e comunicação, ajudas técnicas para locomoção, dispositivose tecnologias assistivas, adequados a pessoas com deficiência, dando priori-dade a tecnologias de custo acessível; h) Propiciar informação acessível paraas pessoas com deficiência a respeito de ajudas técnicas para locomoção,dispositivos e tecnologias assistivas, incluindo novas tecnologias bem comooutras formas de assistência, serviços de apoio e instalações; i) Promover acapacitação em relação aos direitos reconhecidos pela presente Convenção dosprofissionais e equipes que trabalham com pessoas com deficiência, de formaa melhorar a prestação de assistência e serviços garantidos por esses direitos.

- Em relação aos direitos económicos, sociais e culturais, cada Estado--Parte se compromete a tomar medidas, tanto quanto permitirem os recursosdisponíveis e, quando necessário, no âmbito da cooperação internacional,a fim de assegurar progressivamente o pleno exercício desses direitos, sem

Page 98: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

98 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

prejuízo das obrigações contidas na presente Convenção que forem imedia-tamente aplicáveis de acordo com o direito internacional.

- Na elaboração e implementação de legislação e políticas para aplicara presente Convenção e em outros processos de tomada de decisão relativosàs pessoas com deficiência, os Estados-Partes realizarão consultas estreitase envolverão ativamente pessoas com deficiência, inclusive crianças comdeficiência, por intermédio de suas organizações representativas.

- Nenhum dispositivo da Convenção afetará quaisquer disposições maispropícias à realização dos direitos das pessoas com deficiência, as quais pos-sam estar contidas na legislação do Estado-Parte ou no direito internacionalem vigor para esse Estado. Não haverá nenhuma restrição ou derrogação dequalquer dos direitos humanos e liberdades fundamentais reconhecidos ouvigentes em qualquer Estado-Parte da Convenção,

em conformidade com leis,convenções, regulamentos ou costumes, sob a alegação de que a Convençãonão reconhece tais direitos e liberdades ou que os reconhece em menor grau.

-As disposições da Convenção se aplicam, sem limitação ou exceção, atodas as unidades constitutivas dos Estados federativos.

A Convenção ainda aborda os seguintes temas: Igualdade e não discrimi-nação, Mulheres com deficiência, Crianças com deficiência, Conscientização,Acessibilidade, Direito à vida, Situações de risco e emergências humanitárias,

Reconhecimento igual perante a lei, Acesso à justiça, Liberdade e segurança dapessoa, Prevenção contra tortura ou tratamentos ou penas cruéis, desumanosou degradantes, Prevenção contra a exploração, a violência e o abuso, Proteçãoda integridade da pessoa, Liberdade de movimentação e nacionalidade, Vidaindependente e inclusão na comunidade, Mobilidade pessoal, Liberdade deexpressão e de opinião e acesso à informação, Respeito à privacidade, Respeitopelo lar e pela família, Educação, Saúde, Habilitação e reabilitação, Trabalhoe emprego, Padrão de vida e proteção social adequados, Participação na vidapolítica e pública, Participação na vida cultural e em recreação, lazer e esporte,Estatísticas e coleta de dados

, Cooperação internacional, Implementação emonitoramento nacionais

, Comité sobre os Direitos das Pessoas com Defi-

ciência, Relatórios dos Estados-Partes, Cooperação entre os Estados-Partese o Comité, Conferência dos Estados Partes, entre outros assuntos.

O Comité sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência será consti-

tuído, quando da entrada em vigor da Convenção, de 12 peritos. Quando aConvenção alcançar 60 ratificações ou adesões, o Comité será acrescido emseis membros, perfazendo o total de 18 membros. Os membros do Comité

Page 99: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 10 . Documentos internacionais de proteção aos Direitos Humanos 99

atuarão a título pessoal e apresentarão elevada postura moral, competênciae experiência reconhecidas no campo abrangido pela presente Convenção(art. 34, n. 2e3).

Os membros do Comité serão eleitos pelos Estados-partes, observando-seuma distribuição geográfica equitativa, representação de diferentes formasde civilização e dos principais sistemas jurídicos, representação equilibradade género e participação de peritos com deficiência (art. 34, n. 4).

Os membros do Comité serão eleitos para mandato de quatro anos,podendo ser candidatos à reeleição uma única vez. Contudo, o mandato deseis dos membros eleitos na primeira eleição expirará ao fim de dois anos;imediatamente após a primeira eleição, os nomes desses seis membros serãoselecionados por sorteio pelo presidente da sessão (art. 34, n. 7).

Não serão permitidas reservas incompatíveis com o objeto eo propósito da presente Convenção (art. 46, n. 1).

No Protocolo Facultativo cabe salientar que qualquer Estado-Parte doProtocolo reconhece a competência do Comité sobre os Direitos das Pessoascom Deficiência para receber e considerar comunicações submetidas porpessoas ou grupos de pessoas, ou em nome deles, sujeitos à sua jurisdição,alegando serem vítimas de violação das disposições da Convenção pelo re-ferido Estado-Parte. O Comité não receberá comunicação referente a qual-quer Estado-Parte que não seja signatário do Protocolo (art. I0 do Protocolo

Facultativo).

O Comité considerará inadmissível a comunicação quando: a) A co-municação for anónima; b) A comunicação constituir abuso do direito desubmeter tais comunicações ou for incompatível com as disposições da Con-venção; c) A mesma matéria já tenha sido examinada pelo Comité ou tenhasido ou estiver sendo examinada sob outro procedimento de investigaçãoou resolução internacional; d) Não tenham sido esgotados todos os recursosinternos disponíveis, salvo no caso em que a tramitação desses recursos seprolongue injustificadamente, ou seja improvável que se obtenha com elessolução efetiva; e) A comunicação estiver precariamente fundamentada ounão for suficientemente substanciada; ou f) Os fatos que motivaram a comu-nicação tenham ocorrido antes da entrada em vigor do presente Protocolopara o Estado-Parte em apreço, salvo se os fatos continuaram ocorrendo apósaquela data (Art. 2.° do protocolo facultativo).

Page 100: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

100 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

O Comité levará confidencialmente ao conhecimento do Estado-Parte

concernente qualquer comunicação submetida ao Comité. Dentro do períodode seis meses, o Estado concernente submeterá ao Comité explicações oudeclarações por escrito, esclarecendo a matéria e a eventual solução adotadapelo referido Estado (art. 3.° do protocolo facultativo).

A qualquer momento após receber uma comunicação e antes de decidiro mérito dessa comunicação, o Comité poderá transmitir ao Estado-Parteconcernente

, para sua urgente consideração, um pedido para que o Estado--Parte tome as medidas de natureza cautelar que forem necessárias para evitarpossíveis danos irreparáveis à vítima ou às vítimas da violação alegada, (art.40 do protocolo facultativo).

O Comité realizará sessões fechadas para examinar comunicações a elesubmetidas em conformidade com o presente Protocolo. Depois de examinaruma comunicação, o Comité enviará suas sugestões e recomendações, se

houver, ao Estado Parte concernente e ao requerente (art. 5.° do protocolofacultativo).

Page 101: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Sistemas Regionais deProteção dos DireitosHumanos

11.1 INTRODUÇÃO

A proteção internacional dos direitos humanos se dá, atualmente, pelaproteção prevista no sistema global de proteção (pactos e convenções interna-cionais da Organização das Nações Unidas - ONU) e nos sistemas regionais deproteção integrados, por exemplo, pelo sistema interamericano, pelo sistemaeuropeu e pelo sistema africano.

De acordo com a doutrina, o sistema normativo global apresenta umcaráter mais geral, contendo princípios básicos de proteção; e o sistemaregional é complementar e reflete as peculiaridades dos Estados da regiãocorrespondente, complementando a normatização de caráter geral.

Os sistemas regionais de proteção dos direitos humanos apresentamcomo vantagem envolver um número menor de países (membros) o quefacilita a negociação, o consenso e o estabelecimento dos mecanismos demonitoramento dos direitos convencionados.

11.2 SISTEMA EUROPEU

O sistema europeu de proteção está lastreado na Convenção Europeiade Direitos Humanos de 1950, que entrou em vigor em 1953 e estabeleceu aComissão e a Corte Europeia de Direitos Humanos, porém com o protocolo 11,em vigor desde novembro de 1998, houve a fusão da Comissão com a Corte.

São protegidos inicialmente os direitos civis e políticos, bem como,com a Carta Social Europeia de 1961, que entrou em vigor em 1965, foramprotegidos os direitos económicos, sociais e culturais.

A Corte Europeia de Direitos Humanos é o mecanismo de proteção dosistema europeu, composta de um número de juízes igual ao número paísesmembros (art. 19 da Convenção Europeia) e podem peticionar - nos termos

Page 102: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

102 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

do art. 34 da Convenção Europeia (que foi emendada pelo Protocolo 11 de1998) - qualquer pessoa, grupos de indivíduos e organizações não gover-namentais.

A competência da Corte Europeia é contenciosa e consultiva (arts. 32 e

47 da Convenção Europeia de Direitos Humanos).

A sentença da Corte Europeia é definitiva e terá sua execução supervi-sionada pelo Comité de Ministros (art. 46 da Convenção Europeia).

11.3 SISTEMA AMERICANO OU INTERAMERICANO

Na sequência, surgiu o sistema interamericano de proteção com a Cartada Organização dos Estados Americanos (OEA) e com a Declaração Ameri-cana dos Direitos e Deveres do Homem de 1948

.

A principal norma interamericana é a Convenção Americana de DireitosHumanos de 1969

, que entrou em vigor em 1978 e estabeleceu a Corte Inte-ramericana e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos

.

Inicialmente, são protegidos os direitos civis e políticos, bem como, com

o Protocolo de San Salvador de 1988, que entrou em vigor em 1999, foram

protegidos os direitos económicos, sociais e culturais.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Intera-

mericana de Direitos Humanos são os mecanismos de proteção do sistemainteramericano.

A Corte Interamericana de Direitos Humanos é composta de sete juízesnacionais dos Estados-membros da Organização (art. 52, 1, da Conven-ção Americana) e podem peticionar, nos termos do art. 61 da ConvençãoAmericana, os Estados-Partes e a Comissão Interamericana de DireitosHumanos.

A competência da Corte Interamericana é contenciosa e consultiva (arts.

63 e 64 da Convenção Americana de Direitos Humanos).

A sentença da Corte Interamericana é definitiva e inapelável (art. 67 da

Convenção Americana).

Os Estados-Partes na Convenção Americana comprometem-se a cumprira decisão da Corte em todo caso em que forem partes (art. 68 da ConvençãoAmericana).

A Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos supervisio-nará a execução das sentenças da Corte Interamericana de Direitos Humanos

.

Page 103: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 11 . Sistemas regionais de proteção dos Direitos Humanos 103

11.4 SISTEMA AFRICANO

O sistema africano tem como instrumento originário a Carta Africana deDireitos Humanos e dos Povos de 1981, que foi adotada em Banjul, Gâmbia,pela Organização da Unidade Africana, hoje denominada de União Africana,e entrou em vigor em 1986 e instituiu a Comissão Africana dos Direitos Hu-manos e dos Povos. Posteriormente, foi criada a Corte Africana de DireitosHumanos, mediante um Protocolo à Carta, que entrou em vigor em 2004.

São protegidos os direitos civis, políticos, económicos, sociais, culturais,ambientais e direitos dos povos (art. 2.° ao 26 da Carta Africana).

A Comissão e Corte Africana de Direitos Humanos são os mecanismos de

proteção do sistema africano, composta de onze juízes (art. 11 do Protocoloà Carta Africana) e podem peticionar, nos termos do art. 5.° do Protocolo àCarta Africana, a Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos, osEstados-Partes e as organizações africanas intergovernamentais.

Cumpre destacar que poderá haver o acesso direto das organizações nãogovernamentais e dos indivíduos à Corte Africana, dependo de declaraçãoexpressa do Estado-Parte para esse fim (art. 5.°, 3 e art. 34, 6 do Protocolo àCarta Africana).

A competência da Corte Africana é contenciosa e consultiva (arts. 3.° e4

.

° do Protocolo à Carta Africana).

A sentença da Corte Africana é definitiva e não será objeto de apelação(art. 28,2 do Protocolo à Carta Africana) e terá sua execução supervisionadapelo Conselho de Ministros (art. 29 do Protocolo à Carta Africana).

Não obstante, os Estados africanos terem ratificado os principais tratadosde direitos humanos do sistema global, somados à Carta Africana dos DireitosHumanos e dos Povos, bem como às normas internas, existem violações gravese recorrentes dos direitos humanos no continente africano. São citados casos

em Ruanda, Burundi, Chade, Camarões, República Democrática do Congo eDarfur (Flávia Piovesan, Direitos Humanos eJustiça Internacional, p. 119-120).

11.5 SISTEMA ÁRABE E O SISTEMA ASIÁTICO

Há um incipiente sistema regional árabe. Em 1994, a Liga dos EstadosÁrabes adotaram a Carta Árabe de Direitos Humanos, que reflete a islâmica leida Sharia e outras tradições religiosas. No que tange à proposta de criação deum sistema regional asiático, destaca-se a adoção da Carta Asiática de Direitos

Page 104: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

104 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Humanos, em 1997, sob a forma de uma declaração feita por expressivas ONG,s

(Flávia Piovesan. Direitos Humanos e Justiça Internacional, 2007, p. 51-52).

11.6 PRINCIPAIS INSTRUMENTOS DE PROTEÇÃO DO SISTEMAREGIONAL AMERICANO

a) Carta da Organização dos Estados Americanos - assinada em Bogotá(Carta de Bogotá, Colômbia), em 30.04.1948, reformada por diversos Pro-tocolos

, como o de Buenos Aires e o de Cartagena, em vigor no Brasil desde13.12.1951 (aprovada pelo Decreto Legislativo 64, de 07.12.1949).

b) Convenção Americana sobre Direitos Humanos - adotada e aberta àassinatura na Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Hu-manos

, em San José da Costa Rica, em 22.11.1969, em vigor no Brasil desde25.09.1992 (aprovada no Brasil pelo Decreto Legislativo 27, de 25.09.1992,e promulgada pelo Decreto 678, de 06.11.1992).

c) Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura - ado-tada pela Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos, em

09.12.1985, e ratificada pelo Brasil em 20.07.1989.

d) Protocolo de San Salvador de 1988-entrou em vigor em 1999 (Proto-colo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos Humanos em matéria deDireitos Económicos

, Sociais e Culturais): mecanismos de proteção: petiçõese relatórios dentro da ideia de progressividade; complemento do art.

26 da

Convenção Americana (aprovada no Brasil pelo Decreto Legislativo 56, de19.04.1995

, e promulgada pelo Decreto 3.321, de 30.12.1999).

e) Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência

contra a Mulher- adotada pela Assembleia Geral da Organização dos EstadosAmericanos

, em 06.06.1994, e ratificada pelo Brasil em 27.11.1995 (Con-venção de Belém do Pará - promulgada pelo Decreto 1.973, de 01.08.1996).

11.7 CONVENÇÃO AMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

A Convenção Americana de Direitos Humanos, conhecida como Pacto de

São José, que foi aprovada e assinada em Sanjosé, Costa Rica, em 22.11.1969,

é um marco fundamental no sistema regional interamericano de proteção dosdireitos humanos e somente Estados da Organização dos Estados Americanospodem fazer parte dela. Entrou em vigor em 18.07.1978, quando obteve omínimo de 11 ratificações (art. 74, 2 da Convenção). O Brasil aderiu à Con-venção apenas em 1992 (aprovada no Brasil pelo Decreto Legislativo 27, de25.09.1992

, e promulgada pelo Decreto 678, de 06.11.1992).

Page 105: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 11 . Sistemas regionais de proteção dos Direitos Humanos 105

A Convenção Americana trata essencialmente dos direitos civis e políti-cos, sendo semelhante ao Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos de1966. É composta por duas partes, sendo que a primeira (arts. 1.° a 32) estabe-lece direitos civis e políticos acolhidos no sistema interamericano, tais comoreconhecimento da personalidade jurídica, direito à vida (desde a concepção),direito à integridade pessoal (inclusive dos presos, que deveriam ser separadospor idade), direito à liberdade pessoal (locomoção, residência, consciência,religião, pensamento, expressão, reunião e associação), proibição da aplicaçãoretroativa das leis penais, direito de não ser submetido à escravidão, de igualdadeperante a lei, das garantias judiciais (defesa técnica em juízo e celeridade natramitação), direito de resposta, privacidade, nacionalidade e de participaçãono governo. A segunda parte (arts. 33 a 73) trata dos meios de proteção dessesdireitos pelos seguintes órgãos competentes: Comissão Interamericana de Direi-tos Humanos (CIDH) e Corte Interamericana de Direitos Humanos (COIDH).

pulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas pordecisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito emjulgado (art. 50, incisos XVIII e XIX, da CF/88).

Destaque-se que a Convenção proíbe o restabelecimento da pena demorte nos Estados que a tenham abolido. Proíbe a imposição da pena demorte a delitos políticos ou a delitos comuns conexos com delitos políticos(art. 4.°, n. 3 e 4).

A Convenção proibiu a prisão por dívidas, salvo a prisão administrativadecretada em razão de inadimplemento de obrigação alimentar (art. 7.°, n.7). Tal norma fundamentou várias decisões do Supremo Tribunal Federal,inclusive, posteriormente, por conta dessas decisões foi editada a súmulavinculante 25 (É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja amodalidade do depósito).

Cumpre destacar que com referência aos direitos económicos, sociais eculturais só há o art. 26, que tem a seguinte redação: "Artigo 26 - Desenvol-vimento progressivo - Os Estados-partes comprometem-se a adotar as provi-dências, tanto no âmbito interno, como mediante cooperação internacional,especialmente económica e técnica, a fim de conseguir progressivamente a

-

note

Page 106: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

106 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

plena efetividade dos direitos que decorrem das normas económicas, sociaise sobre educação, ciência e cultura, constantes da Carta da Organização dosEstados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires, na medidados recursos disponíveis, por via legislativa ou por outros meios apropriados".

Trata-se de um dispositivo genérico, que foi implementado pelo Proto-colo de San Salvador em 1988.

71.7.1 Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH)

A origem da Comissão Interamericana de Direitos Humanos está na Re-solução VIII da V Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exterioresque ocorreu em Santiago do Chile em 1959 (Antônio Augusto Cançado Trin-dade, Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos, v. III

, p. 34-35).

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos tem por objetivopromover, fiscalizar e proteger os direitos humanos na América, podendofazer recomendações aos governos dos Estados-Partes, preparar estudos erelatórios, requisitar aos governos informações sobre a aplicação da Conven-ção, submetendo um relatório anual à Assembleia Geral da Organização dosEstados Americanos e examinando denúncias.

Tem natureza jurídica ambivalente, uma vez que é órgão daOrganização dos Estados Americanos (Carta da OEA, art. 53,e, e Capítulo XV, art. 106) e também do Pacto de San Joséda Costa Rica (Capítulo VII, arts. 34 a 51, e Capítulo IX, arts.70 a 73). Por esse motivo, afirma-se que tem caráter dúpliceou desdobramento funcional. Tem sede em Washington, nosEstados Unidos da América.

note

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos compor-se-á de setemembros, que deverão ser pessoas de alta autoridade moral e de reconhecidosaber em matéria de direitos humanos (art. 34).

Os membros da Comissão serão eleitos a título pessoal, pela AssembleiaGeral da Organização, a partir de uma lista de candidatos propostos pelosgovernos dos Estados-membros. Cada um dos referidos governos pode pro-por até três candidatos, nacionais do Estado que os propuser ou de qualqueroutro Estado-membro da Organização dos Estados Americanos. Quandofor proposta uma lista de três candidatos, pelo menos um deles deverá sernacional de Estado diferente do proponente (art. 36).

Page 107: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 11 . Sistemas regionais de proteção dos Direitos Humanos 107

Os membros da Comissão serão eleitos por quatro anos e só poderãoser reeleitos uma vez, porém o mandato de três dos membros designadosna primeira eleição expirará ao cabo de dois anos. Logo depois da referidaeleição, serão determinados por sorteio, na Assembleia Geral, os nomesdesses três membros. Não pode fazer parte da Comissão mais de um nacionalde um mesmo país (art. 37).

As vagas que ocorrerem na Comissão, que não se devam à expiraçãonormal do mandato, serão preenchidas pelo Conselho Permanente da Or-ganização, de acordo com o que dispuser o Estatuto da Comissão (art. 38).

As funções da Comissão Interamericana de Direitos Huma-nos estão previstas no art. 41 do Pacto de San José da CostaRica, onde se lê: "A Comissão tem a função principal depromover a observância e a defesa dos direitos humanos e,no exercício de seu mandato, tem as seguintes funções e atri-buições: a) estimular a consciência dos direitos humanos nospovos da América; ò) formular recomendações aos governosdos Estados-membros, quando considerar conveniente, nosentido de que adotem medidas progressivas em prol dosdireitos humanos no âmbito de suas leis internas e seus pre-ceitos constitucionais, bem como disposições apropriadaspara promover o devido respeito a esses direitos; c) prepa-rar estudos ou relatórios que considerar convenientes para odesempenho de suas funções; d) solicitar aos governos dosEstados-membros que lhe proporcionem informações sobreas medidas que adotarem em matéria de direitos humanos;e) atender às consultas que, por meio da Secretaria Geralda Organização dos Estados Americanos, lhe formularem osEstados-membros sobre questões relacionadas com os direi-tos humanos e, dentro de suas possibilidades, prestar-lheso assessoramento que lhes solicitarem; f) atuar com respei-to às petições e outras comunicações, no exercício de suaautoridade, de conformidade com o disposto nos arts. 44a 51 desta Convenção; e g) apresentar um relatório anual àAssembleia Geral da Organização dos Estados Americanos."

A Comissão faz o juízo de admissibilidade (prelibação) e a Corte In-teramericana de Direitos Humanos faz o juízo de mérito determinando opagamento de uma indenização (delibação).

Page 108: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

108 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Para a Comissão aceitar a petição ou a comunicação, devem ser obser-vados os seguintes requisitos previstos no art. 46: "Artigo 46. 1. Para queuma petição ou comunicação apresentada de acordo com os arts. 44 ou 45seja admitida pela Comissão, será necessário: a) que hajam sido interpostose esgotados os recursos da jurisdição interna, de acordo com os princípios deDireito Internacional geralmente reconhecidos; b) que seja apresentada dentrodo prazo de seis meses, a partir da data em que o presumido prejudicado emseus direitos tenha sido notificado da decisão definitiva; c) que a matéria dapetição ou comunicação não esteja pendente de outro processo de soluçãointernacional; e d) que, no caso do art. 44, a petição contenha o nome, a na-

cionalidade, a profissão, o domicílio e a assinatura da pessoa ou pessoas ou dorepresentante legal da entidade que submeter a petição. 2. As disposições dasalíneas a e b do inciso 1 deste artigo não se aplicarão quando: a) não existir,

na legislação interna do Estado de que se tratar, o devido processo legal paraa proteção do direito ou direitos que se alegue tenham sido violados; b) nãose houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acesso aosrecursos da jurisdição interna, ou houver sido ele impedido de esgotá-los; ec) houver demora injustificada na decisão sobre os mencionados recursos".

O trâmite do procedimento (processo) do feito na Comissão Intera-mericana de Direitos Humanos é previsto nos arts. 48 a 51 da ConvençãoAmericana de Direitos Humanos

, onde se têm:"A Comissão

, ao receber uma petição ou comunicação na qual se alegueviolação de qualquer dos direitos consagrados nesta Convenção, procederáda seguinte maneira:

a) se reconhecer a admissibilidade da petição ou comunicação, solicitará

informações ao Governo do Estado ao qual pertença a autoridade apontadacomo responsável pela violação alegada e transcreverá as partes pertinentesda petição ou comunicação. As referidas informações devem ser enviadasdentro de um prazo razoável, fixado pela Comissão ao considerar as circuns-tâncias de cada caso;

b) recebidas as informações, ou transcorrido o prazo fixado sem quesejam elas recebidas, verificará se existem ou subsistem os motivos da peti-ção ou comunicação. No caso de não existirem ou não subsistirem, mandaráarquivar o expediente;

c) poderá também declarar a inadmissibilidade ou a improcedência dapetição ou comunicação, com base em informação ou prova superveniente;

d) se o expediente não houver sido arquivado, e com o fim de comprovaros fatos, a Comissão procederá, com conhecimento das partes, a um exame do

Page 109: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 11 . Sistemas regionais de proteção dos Direitos Humanos 109

assunto exposto na petição ou comunicação. Se for necessário e conveniente,a Comissão procederá a uma investigação para cuja eficaz realização solicitará,e os Estados interessados lhe proporcionarão, todas as facilidades necessárias;

e) poderá pedir aos Estados interessados qualquer informação pertinentee receberá, se isso lhe for solicitado, as exposições verbais ou escritas queapresentarem os interessados; e

J) pôr-se-á à disposição das partes interessadas, a fim de chegar a umasolução amistosa do assunto, fundada no respeito aos direitos humanos re-conhecidos nesta Convenção

" (art. 48, n. 1)."Entretanto, em casos graves e urgentes, pode ser realizada uma in-

vestigação, mediante prévio consentimento do Estado em cujo territóriose alegue haver sido cometida a violação, tão somente com a apresentaçãode uma petição ou comunicação que reúna todos os requisitos formais deadmissibilidade" (art. 48, n. 2).

"Se se houver chegado a uma solução amistosa de acordo com as dis-posições do inciso 1,/, do art. 48, a Comissão redigirá um relatório queserá encaminhado ao peticionário e aos Estados-Partes nesta Convenção e,posteriormente, transmitido, para sua publicação, ao Secretário-Geral daOrganização dos Estados Americanos. O referido relatório conterá uma breveexposição dos fatos e da solução alcançada. Se qualquer das partes no caso osolicitar, ser-lhe-á proporcionada a mais ampla informação possível" (art. 49).

"Se não se chegar a uma solução, e dentro do prazo que for fixado peloEstatuto da Comissão, esta redigirá um relatório no qual exporá os fatos esuas conclusões. Se o relatório não representar, no todo ou em parte, o acor-do unânime dos membros da Comissão, qualquer deles poderá agregar aoreferido relatório seu voto em separado. Também se agregarão ao relatório asexposições verbais ou escritas que houverem sido feitas pelos interessadosem virtude do inciso 1, e, do art. 48" (art. 50, n. 1).

"O relatório será encaminhado aos Estados interessados, aos quais nãoserá facultado publicá-lo" (art. 50, n. 2).

"Ao encaminhar o relatório, a Comissão pode formular as proposiçõese recomendações que julgar adequadas" (art. 50, n. 3).

"Se no prazo de 3 (três) meses, a partir da remessa aos Estados interes-sados do relatório da Comissão, o assunto não houver sido solucionado ousubmetido à decisão da Corte pela Comissão ou pelo Estado interessado,aceitando sua competência, a Comissão poderá emitir, pelo voto da maioria

Page 110: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

110 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

absoluta dos seus membros, sua opinião e conclusões sobre a questão sub-metida à sua consideração" (art. 51, n. 1).

"A Comissão fará as recomendações pertinentes e fixará um prazo dentrodo qual o Estado deve tomar as medidas que lhe competirem para remediara situação examinada" (art. 51, n. 2).

"Transcorrido o prazo fixado, a Comissão decidirá, pelo voto da maioriaabsoluta dos seus membros

, se o Estado tomou ou não medidas adequadas ese publica ou não seu relatório" (art. 51, n. 3).

11.7.2 Corte Interamericana de Direitos Humanos (COIDH)

A Corte Interamericana de Direitos Humanos está prevista no CapítuloVIII

, arts. 52 a 69, e Capítulo IX, arts. 70 a 73 da Convenção Americana deDireitos Humanos

, sendo composta de sete juízes nacionais de Estados--membros da OEA

, eleitos a título pessoal pelos Estados-partes da Convenção(art. 52). Tem ela, competência consultiva e contenciosa. Está situada em SanJosé da Costa Rica.

No art. 64 há a competência consultiva, e qualquer membroda OEA, seja ou não parte da Convenção, poderá consultara Corte sobre a interpretação da Convenção ou a respeito deoutros tratados concernentes à proteção dos direitos huma-nos nos Estados americanos. Além disso, a Corte, a pedido deum Estado-membro da OEA, poderá emitir pareceres sobre acompatibilidade entre qualquer de suas leis internas e os men-cionados instrumentos internacionais (controle da convencio-

nal idade das leis). Pode-se apresentar, como exemplo, o pare-cer sobre a impossibilidade da adoção de pena de morte noEstado da Quatemala (Opinião Consultiva 3, de 08.09.1983,a pedido da Comissão Interamericana de Direitos Humanos).Na área contenciosa a competência da Corte está limitadaaos Estados-partes da Convenção que a reconheçam ex-pressamente (art. 62). Apenas Estados-partes e a ComissãoInteramericana de Direitos Humanos podem submeter umcaso à Corte (art. 61). Destaque-se que no art. 23 do novoregulamento da Corte Interamericana de Direitos Humanosfoi previsto que, depois de admitida a demanda, as vítimas,seus familiares ou representantes legalmente reconhecidospoderão apresentar suas solicitações, argumentos e provas,de forma autónoma durante todo o processo.

noteBEM

Page 111: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 11 . Sistemas regionais de proteção dos Direitos Humanos 111

Cabe à Corte examinar casos de violação, por parte de Estado-Parte, dedireito protegido pela Convenção. Caso decida que houve violação de umdireito ou liberdade protegida pela Convenção, a Corte poderá determinarque se assegure ao prejudicado o gozo do seu direito ou liberdade violada,ou até que sejam reparadas as consequências da medida ou situação que hajaconfigurado a violação dos direitos, bem como o pagamento de indenizaçãojusta à parte lesada.

A decisão da Corte tem força jurídica vinculante e obrigató-ria, sendo inapelável (art. 67), cabendo ao Estado seu ime-diato cumprimento. A decisão é uma sentença internacio-nal, portanto não depende de homologação pelo SuperiorTribunal de Justiça e vale como título executivo em confor-midade com os procedimentos internos.

O Estado brasileiro deve cumprir a decisão, sob pena de suaexecução perante a Justiça Federal, nos termos do art. 109,I, da CF/88.

O Brasil reconheceu a competência jurisdicional da Cor-te Interamericana por meio do Decreto Legislativo 89, de03.12.1998.

/1.7.2.7 Casos Importantes julgados pela COIDH

O caso "Velasquez Rodriguez" é um importante julgado da COIDH emvirtude de seu pioneirismo. Trata-se do caso de desaparecimento forçadode Angel Manfredo Velasquez Rodriguez no Estado de Honduras. Segundoconsta no processo, Angel foi preso, sem autorização judicial, por membrosdo governo (Divisão Nacional de Investigações e Forças Armadas), torturadocruelmente e desapareceu. A polícia e as forças armadas negaram a detenção.

A Corte Interamericana de Direitos Humanos concluiu que o Estado deHonduras havia violado diversos artigos da Convenção (art. 4.° - vida; art.5

.

° - integridade pessoal (tortura); e art. 7.° - liberdade).

A comunicação foi feita pela Comissão Interamericana de DireitosHumanos em 1981 e pela Corte Interamericana de Direitos Humanos con-denou o Estado de Honduras ao pagamento de indenização aos familiaresdo desaparecido (decisão de 21.07.1989), com fundamento no art. 63, n. 1,da Convenção.

imoortanto

Page 112: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

112 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Honduras também foi condenada no caso Godinez, mas foi absolvida no

caso Fairen Garbi e Solis Corrales por inexistência de provas.

No que diz respeito à proteção dos direitos humanos das mulheres, impor-tante é o caso Gonzalez e outros contra o México (caso "Campo Algodonero"),

em que a Corte Interamericana condenou o México ao dever de investigar soba perspectiva de género as graves violações ocorridas, garantindo direitos eadotando medidas preventivas necessárias de forma a combater a discrimi-nação contra a mulher, em virtude do desaparecimento e morte de mulheresem Ciudadjuarez, sob o argumento de que a omissão estatal contribuía paraa cultura da violência e da discriminação contra a mulher. Estima-se que noperíodo de 1993 a 2003 foram vítimas de assassinato de 260 a 370 mulheresna referida cidade (www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec

_

205_esp.

pdf. 16.11.2009).

Com relação ao Brasil, atendendo à solicitação da Comissão Interame-ricana de Direitos Humanos, a Corte Interamericana de Direitos Humanos

ordenou a adoção de medidas provisórias (art. 63, 2, da Convenção) paraevitar novas mortes de internos do Presídio Urso Branco

, em Porto Velho,Rondônia, onde mais de 35 presos foram brutalmente assassinados entre 1.°de janeiro e 5 de junho de 2002.

No caso Damião Ximenes Lopes versus Brasil, em 01 de outubro de2004, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos submeteu à CorteInteramericana de Direitos Humanos a demanda contra o Brasil

, a qual seoriginou na Denúncia 12.237, recebida na Secretaria da Comissão em 22 denovembro de 1999.

A Comissão apresentou a demanda neste caso com o objetivo de quea Corte decidisse se o Brasil era responsável pela violação dos direitos con-sagrados nos artigos: 4 (direito à vida), 5 (direito à integridade pessoal), 8(garantias judiciais) e 25 (proteção judicial) da Convenção Americana, comrelação à obrigação estabelecida no artigo 1.1 (obrigação de respeitar os di-reitos), do mesmo instrumento, em detrimento do senhor Damião XimenesLopes, portador de deficiência mental, pelas supostas condições desumanase degradantes da sua hospitalização, pelos alegados golpes e ataques contraa integridade pessoal de que se alega ter sido vítima por parte dos funcioná-rios da Casa de Repouso Guararapes, por sua morte enquanto se encontravaali submetido a tratamento psiquiátrico, bem como pela suposta falta deinvestigação e garantias judiciais que caracterizam seu caso e o mantém naimpunidade.

Page 113: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 11 . Sistemas regionais de proteção dos Direitos Humanos 113

O senhor Damião foi internado em 01 de outubro de 1999 para recebertratamento psiquiátrico na Casa de Repouso Guararapes, um centro de aten-dimento psiquiátrico privado, que operava no âmbito do sistema público desaúde do Brasil (SUS), no Município de Sobral, Estado do Ceará. O senhorDamião faleceu em 04 de outubro de 1999 na Casa de Repouso Guararapes,após três dias de internação.

A Comissão sustentou que os fatos eram agravados pela situação devulnerabilidade em que se encontram as pessoas portadoras de deficiênciamental, bem como pela especial obrigação do Estado de oferecer proteção àspessoas que se encontram sob o cuidado de centros de saúde que integram oSistema Único de Saúde, solicitando, então à Corte que ordenasse ao Estadoa adoção de determinadas medidas citadas na demanda e o ressarcimentodas custas e gastos.

No parágrafo 124 da Sentença de Mérito, Reparação e Custas de 04 dejulho de 2006 (maus tratos sofridos em hospital psiquiátrico) ficou assimestabelecido:

"Esta Corte reiteradamente afirmou que o direito à vida é um direitohumano fundamental, cujo gozo constitui um pré-requisito para o desfrutede todos os demais direitos humanos. Em razão do caráter fundamental do

direito à vida, não são admissíveis enfoques restritivos a tal direito. Em vir-tude deste papel fundamental que se atribui ao direito à vida na Convenção,a Corte tem afirmado em sua jurisprudência constante que os Estados têma obrigação de garantir a criação das condições necessárias para que não seproduzam violações a esse direito inalienável e, em particular, o dever de im-pedir que seus agentes atentem contra ele. O artigo 4 da Convenção garanteem essência não somente o direito de todo ser humano de não ser privado davida arbitrariamente

, mas também o dever dos Estados de adotar as medidas

necessárias para criar um marco normativo adequado que dissuada qualquerameaça ao direito à vida; estabelecer um sistema de justiça efetivo, capaz deinvestigar, castigar e reparar toda privação da vida por parte de agentes esta-tais ou particulares; e salvaguardar o direito de que não se impeça o acesso acondições que assegurem uma vida digna, o que inclui a adoção de medidaspositivas para prevenir a violação desse direito."

Após a condenação no citado caso, o Brasil fez o pagamento da inde-nização sem a necessidade de haver processo de execução interno (Decreto6.185/2007).

Há também as recentes condenações do Brasil pela COIDH, quais se-jam, o caso Escher, com sentença de 06 de julho de 2009, na qual houve a

Page 114: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

114 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

condenação em virtude de interceptação e monitoramento ilegal de linhastelefónicas envolvendo integrantes do Movimento de Trabalhadores Rurais,por violação ao direito à vida privada, à honra e ã reputação. Houve conde-nação ao pagamento de indenização, publicação da sentença em jornais e ainvestigação dos fatos que geraram a violação, (www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec

_

200_por.pdf). O decreto 7.158 publicado em 20 de

abril de 2010 autorizou a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da

República a dar o devido cumprimento à sentença.

No caso Garibaldi, que diz respeito à execução sumária, em novembro de1998, no despejo de família de trabalhadores de uma fazenda em Querênciano Norte, no Estado do Paraná, o Brasil foi condenado em sentença de 23de setembro de 2009, por violar os direitos à proteção judicial e às garantiasjudiciais. Na sentença, que deveria ser publicada em jornais, foi determina-do o pagamento de indenização aos familiares da vítima, bem como o deverdo Estado de conduzir de forma eficaz e em prazo razoável o inquérito paraidentificar

, processar e punir os autores da morte, (www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec

_

203_por.pdf.).

Em dezembro de 2010, a Corte Interamericana de Direitos Humanosnotificou o governo brasileiro sobre a sua condenação no caso "Gomes Lund

e outros" (Guerrilha do Araguaia), por graves abusos ocorridos durante a

ditadura militar (1964-1985) e declarou sem "efeitos jurídicos" a lei de anistiaque impede investigar e castigar os responsáveis por tais atos. A Corte sen-tenciou que o Brasil é responsável pelo desaparecimento de 62 pessoas queocorreu entre 1972 e 1974, na denominada região do Araguaia.

A Corte concluiu que as disposições da "Lei de Anistia" (Lei 6.683/79)que impedem investigação e punição das graves violações dos direitos hu-manos são incompatíveis com a Convenção Americana e não tem efeito legalpara continuar obstruindo a investigação de fatos do caso ou a identificaçãoe punição dos responsáveis.

Da mesma forma, a Corte entendeu que o Brasil é responsável porviolação do direito à integridade pessoal de certas famílias de vítimas, entreoutros motivos, por causa do sofrimento causado pela falta de investigaçõeseficazes para esclarecer os fatos. Além disso, a Corte decidiu que o Brasil éresponsável por violação do direito de acesso à informação estabelecido noart. 13 da Convenção, em virtude da recusa de dar acesso a arquivos em poderdo Estado sobre tais eventos.

Os juízes concluíram que o Estado brasileiro não cumpriu com a obri-gação de adequar sua legislação interna às normas da Convenção América-

Page 115: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 11 . Sistemas regionais de proteção dos Direitos Humanos 115

na, pois a lei de anistia adotada pela ditadura segue vigente nos governosdemocráticos.

A Corte Interamericana destaca que os familiares das vítimas da dita-dura não foram atendidos em suas queixas à justiça e, ao contrário, sofreramdiferentes formas de perseguição. A sentença ordena ao Estado brasileiro"conduzir eficazmente

, mediante a jurisdição ordinária, uma investigaçãopenal dos fatos", determinar responsabilidades penais e aplicar efetivamenteas sanções previstas na lei. Segundo a Corte, o Estado brasileiro deve deter-minar o paradeiro dos desaparecidos, dar tratamento médico e psicológicoaos familiares das vítimas e publicar a sentença nos meios de comunicação.

Para familiares diretos e indiretos das vítimas, a Corte fixou indenizações que

somam mais de 2,5 milhões de dólares. Os valores variaram de 3 mil a 45 mil

dólares para os familiares das vítimas.Em maio de 2010

, o Supremo Tribunal Federal rejeitou uma arguiçãode descumprimento de preceito fundamental envolvendo a lei de anistia(ADPF 153).

A criação de normas de proteção internacional no âmbito dosdireitos humanos, possibilita a responsabilização do Estadoquando as normas nacionais forem omissas a esse respeito.

note

Informações sobre a Corte Interamericana de Direitos Humanos podemser obtidas no site [http://www.corteidh.or.cr].

11.8 PROTOCOLO ADICIONAL À CONVENÇÃO AMERICANASOBRE DIREITOS HUMANOS EM MATÉRIA DE DIREITOSECONÓMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS - PROTOCOLODE SAN SALVADOR (1988)

O protocolo prevê a progressividade na implementação dos direitoseconómicos, sociais e culturais, conforme se verifica em seu art. 1: "Os Esta-

dos Partes neste Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre DireitosHumanos comprometem-se a adotar as medidas necessárias, tanto de ordeminterna como por meio da cooperação entre os Estados, especialmente econó-mica e técnica

, até o máximo dos recursos disponíveis e levando em conta seugrau de desenvolvimento, a fim de conseguir, progressivamente e de acordocom a legislação interna, a plena efetividade dos direitos reconhecidos nesteProtocolo".

Page 116: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

116 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Dentre os direitos previstos no Protocolo, pode-se citar: obrigação de nãodiscriminação, não admissão de restrições, direito ao trabalho, condições jus-tas, equitativas e satisfatórias de trabalho, direitos sindicais, direito de greve,direito à previdência social, direito à saúde, direito a um meio ambiente sadio,direito à alimentação, direito à educação, direito aos benefícios da cultura,direito à constituição e proteção da família, direito da criança, proteção depessoas idosas, proteção de deficientes.

Os meios de proteção estão previstos no art. 19, dentre os quais há previ-são de apresentação de relatórios periódicos sobre as medidas progressivas quetiverem adotado a fim de assegurar o devido respeito dos direitos consagradosno mesmo Protocolo. Tais relatórios serão apresentados ao Secretário-Geralda OEA, que os transmitirá ao Conselho Interamericano Económico e Sociale ao Conselho Interamericano de Educação, Ciência e Cultura, a fim de queos examinem de acordo com o disposto no artigo. O Secretário-Geral enviarácópia desses relatórios à Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

11.9 CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR E PUNIRATORTURA

A Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura foi adotada eaberta à assinatura no XV Período Ordinário de Sessões da Assembleia Geral da

Organização dos Estados Americanos, em Cartagena das índias (Colômbia),em 09.12.1985, sendo ratificada pelo Brasil em 20.07.1989, caracterizando-secomo mais um instrumento conferido aos países americanos para prevenir epunir qualquer tratamento cruel, desumano e degradante, incluída a tortura.

A Convenção Interamericana acompanha o estabelecido na Convençãocontra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou De-

gradantes, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10.12.1984.O art. 2.° define a tortura como "todo ato pelo qual são infligidos inten-

cionalmente a uma pessoa penas ou sofrimentos físicos ou mentais, com finsde investigação criminal, como meio de intimidação, como castigo pessoal,como medida preventiva, como pena ou qualquer outro fim. Entender-se-átambém como tortura a aplicação, sobre uma pessoa, de métodos tendentesa anular a personalidade da vítima, ou a diminuir sua capacidade física oumental, embora não causem dor física ou angústia psíquica

"

. Destaque-se quenão estarão compreendidos no conceito de tortura as penas ou sofrimentosfísicos ou mentais que sejam unicamente consequência de medidas legais ouinerentes a elas, contanto que não incluam a realização dos atos ou a aplicaçãodos métodos a que se refere este artigo.

Page 117: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 11 . Sistemas regionais de proteção dos Direitos Humanos 117

Segundo o art. 3.° da Convenção, serão responsáveis pelo delito detortura: a) os empregados ou funcionários públicos que, atuando nesse ca-rá ter, ordenem sua execução ou instiguem ou induzam a ela, cometam-no

diretamente ou, podendo impedi-lo, não o façam; bem como b) as pessoasque, por instigação dos funcionários ou empregados públicos a que se referea alínea a, ordenem sua execução

, instiguem ou induzam a ela, cometam-nodiretamente ou nele sejam cúmplices.

O fato de haver agido por ordens superiores não eximirá o agente daresponsabilidade penal correspondente (art. 4.°).

11.10 CONVENÇÃO INTERAMERICANA PARA PREVENIR, PUNIR EERRADICAR A VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

No sistema regional interamericano, a Assembleia Geral da OEA, reunidaem Belém do Pará em junho de 1994, aprovou a Convenção Interamericanapara Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher - por esse motivotambém é chamada de Convenção de Belém do Pará.

Como avanço, a Convenção prevê a possibilidade de envio de petiçõese denúncias contra os Estados-Partes à Comissão Interamericana de Direitos

Humanos por qualquer pessoa, grupo de pessoas ou entidade não governa-mental legalmente reconhecida (art. 12).

No art. 1.° é definida a violência contra a mulher, considerada "qualquer

ação ou conduta, baseada no género, que cause morte, dano ou sofrimentofísico

, sexual ou psicológico à mulher, tanto no âmbito público como noprivado"

.

No art. 2.° são também previstas as situações entendidas como violên-cia à mulher, apontando-se que nela se incluem violência física, sexual epsicológica: "a) que tenha ocorrido dentro da família ou unidade domésticaou em qualquer outra relação interpessoal, em que o agressor conviva ouhaja convivido no mesmo domicílio que a mulher e que compreende, entre

outros, estupro, violação, maus-tratos e abuso sexual; b) que tenha ocorridona comunidade e seja perpetrada por qualquer pessoa e que compreende,

entre outros, violação, abuso sexual, tortura, maus-tratos de pessoas, tráfico

de mulheres, prostituição forçada, sequestro e assédio sexual no lugar dotrabalho

, bem como em instituições educacionais, estabelecimentos de saúdeou qualquer outro lugar; e c) que seja perpetrada ou tolerada pelo Estado ouseus agentes, onde quer que ocorra"

.

Page 118: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

118 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Após elencar alguns dos direitos das mulheres em igualdade com os ho-mens nos arts. 4.° a 6.°, a Convenção estabelece, nos arts. 7.° a 9.°, os deveresdos Estados, entre os quais adotar medidas de caráter preventivo e repressivopara erradicar a violência contra a mulher.

71.10.1 Caso Maria da Penha

Maria da Penha Maia Fernandes, em duas situações diferentes, sofreuatentados contra a sua vida, realizados por seu marido M. A.H. V. No dia 29 demaio de 1983, Maria da Penha levou um tiro de escopeta e, como consequên-cia, ficou paraplégica. Logo em seguida, seu marido tentou eletrocutá-la,enquanto ela tomava banho. Após investigações, M.A.H.V. foi apontado comoresponsável. Somente em 4 de maio de 1991, quase oito anos após o crime, oréu foi condenado pelo Tribunal do Júri a oito anos de prisão. O julgamentofoi anulado

, pois foi aceita a tese da apelação, segundo a qual os quesitos apre-sentados aos jurados foram mal formulados. No segundo julgamento, em 15de março de 1996, o réu foi novamente condenado, a dez anos e seis mesesde prisão. A defesa apelou novamente, com o réu em liberdade. Apenas apósdezenove anos e seis meses dos fatos, M.A.H.V. foi preso, tendo cumprido doisanos de prisão (Guilherme Assis de Almeida et al, Direitos humanos, p. 35-36).

Em agosto de 1998, o Centro pelajustiça e Direito Internacional (CEJIL)e o Comité Latino-Americano pelos Direitos da Mulher (CLADEM) apre-sentaram o caso "Maria da Penha" à Comissão Interamericana de Direitos

Humanos, com base na Convenção Interamericana para Prevenir, Punir eErradicar a Violência contra a Mulher.

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em 2001, numa

decisão inédita, condenou o Estado brasileiro por negligência e omissão emrelação à violência doméstica, recomendando ao Estado, dentre outras me-didas, "prosseguir e intensificar o processo de reforma, a fim de romper coma tolerância estatal e o tratamento discriminatório com respeito à violênciadoméstica contra as mulheres no Brasil" (Informe 54/01, de 16.04.2001). Adecisão fundamentou-se na violação, pelo Estado, dos deveres assumidosem face da ratificação da Convenção Americana de Direitos Humanos e daConvenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contraa Mulher (Convenção de Belém do Pará) (Flávia Piovesan, Direitos humanose o direito constitucional, 10. ed., p. 327-328).

Sobre o tema relata Maria Berenice Dias: "O Brasil foi condenado inter-

nacionalmente em 2001; o relatório da OEA, além de impor o pagamento

Page 119: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 11 . Sistemas regionais de proteção dos Direitos Humanos 119

de indenização no valor de vinte mil dólares em favor de Maria da Penha,

responsabilizou o Estado brasileiro por negligência e omissão em relação àviolência doméstica

, recomendando a adoção de várias medidas, entre elassimplificar os procedimentos judiciais penais a fim de que possa ser reduzidoo tempo processual" (A Lei Maria da Penha na justiça, p. 14).

Posteriormente, em cumprimento à decisão da Comissão Interameri-

cana de Direitos Humanos, no caso 12.051 (Caso Maria da Penha), no plano

infraconstitucional brasileiro, o Estado Brasileiro editou a Lei 11.340/2006,

para o combate à violência doméstica, também conhecida por "Lei Maria daPenha", bem como determinou o pagamento de indenização à vítima.

Page 120: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf
Page 121: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Comentários à DeclaraçãoUniversal de DireitosHumanos

Considera-se uma extensão da Carta da Organização das Nações Uni-das, possuindo princípios gerais de Direito Internacional visando a proteçãomínima das pessoas.

No preâmbulo, que representa a introdução ao documento internacional,levou-se em consideração o seguinte:

1) que o reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros dafamília humana e de seus direitos iguais e inalienáveis é o fundamentoda liberdade, da justiça e da paz no mundo;

2) que o desprezo e o desrespeito pelos direitos da pessoa resultaramem atos bárbaros que ultrajaram a consciência da Humanidade e queo advento de um mundo em que as pessoas gozem de liberdade depalavra, de crença e de liberdade de viverem a salvo do temor e danecessidade foi proclamado como a mais alta aspiração do homemcomum;

3) que é essencial que os direitos da pessoa sejam protegidos pelo impérioda lei, para que a pessoa não seja compelida, como último recurso, àrebelião contra a tirania e a opressão;

4) que é essencial promover o desenvolvimento das relações amistosasentre as nações;

5) que os povos das Nações Unidas reafirmaram, na Carta, sua fé nosdireitos humanos fundamentais, na dignidade e no valor da pessoahumana e na igualdade de direitos do homem e da mulher, e que de-cidiram promover o progresso social e melhores condições de vidaem uma liberdade mais ampla;

6) que os Estados-Membros se comprometeram a promover, em coo-

peração com as Nações Unidas, o respeito universal aos direitos e

Page 122: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

122 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

liberdades fundamentais da pessoa e a observância desses direitos eliberdades;

7) que uma compreensão comum desses direitos e liberdades é da maisalta importância para o pleno cumprimento desse compromisso.

Desse modo, a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi pro-mulgada como o ideal comum a ser atingido por todos os povos e todas asnações, com o objetivo de que cada indivíduo e cada órgão da sociedade,tendo sempre em mente esta Declaração, se esforcem, através do ensino e daeducação, em promover o respeito a esses direitos e liberdades e, pela adoçãode medidas progressivas de caráter nacional e internacional, em assegurar oseu reconhecimento e a sua observância universais e efetivos, tanto entre os

povos dos próprios Estados-Membros quanto entre os povos dos territóriossob a sua jurisdição.

12.1 DIREITOS EM ESPÉCIE

Pode-se separar doutrinariamente a Declaração Universal dos DireitosHumanos em dois grupos de direitos, sendo a primeira parte relacionada aproteção dos indivíduos, impondo restrições a atuação do Estado. Já a segundaparte enfatiza a atuação do Estado para diminuir injustiças sociais.

Compõem a primeira parte os seguintes direitos:"Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São

dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras comespírito de fraternidade

" (Art. I)

Enaltece-se a igualdade entre as pessoas, bem como a harmonia e estreitaamizade que deve reger a vida humana.

"Toda pessoa tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades estabe-lecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça, cor,sexo, língua, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacionalou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição" (Art. II, n. 1).

Veda-se qualquer tipo de discriminação ou distinção. Desse modo, busca--se não admitir o tratamento preferencial que, geralmente, acarreta prejuízopara as pessoas.

"Não será tampouco feita nenhuma distinção fundada na condiçãopolítica, jurídica ou internacional do país ou território a que pertença umapessoa, quer se trate de um território independente, sob tutela, sem governopróprio, quer sujeito a qualquer outra limitação de soberania

" (Art. II, n. 2).

Page 123: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 12 . Comentários à Declaração Universal de Direitos Humanos 123

Estende-se a vedação da discriminação entre pessoas de outros Estados,evitando-se a xenofobia.

"Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal" (Art.III).

Assim, ninguém deve ter interrompida a sua existência por ato de ter-ceiros, nem cerceado o seu direito de ir e vir, bem como deve estar garantidoe protegido pelo Estado.

"Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e otráfico de escravos serão proibidos em todas as suas formas" (Art. IV).

A escravidão ou servidão representam a falta de liberdade e o modo maisvil e baixo de submissão de um ser humano a outro. É algo bárbaro, insus-

tentável e que deve ser combatido de modo contundente."Ninguém será submetido a tortura, nem a tratamento ou castigo cruel,

desumano ou degradante" (Art. V).

Não se deve admitir a imposição de sofrimento, dor, angústia ou qual-quer tipo de suplício aos seres humanos. Qualquer que seja a sua modalidade(física, psíquica ou moral).

"Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida comopessoa perante a lei, (Art. VI).

Qualquer que seja o ambiente, toda pessoa deve ter o tratamento iso-nômico legal, pois o ordenamento jurídico dos Estados deve possibilitar aigualdade formal e real.

"Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção,

a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquerdiscriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamentoa tal discriminação" (Art. VII).

Há nesse ponto, mais uma vez a igualdade formal (igualdade perante alei) e a vinculação a igualdade efetiva ou real pela garantia de sua proteção.Além disso

, quer-se evitar o racismo.

"Toda pessoa tem o direito de receber dos Tribunais nacionais compe-tentes recurso efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais quelhe sejam reconhecidos pela Constituição ou pela lei" (Art. VII).

Percebe-se que a Declaração Universal estabelece o direito ao acesso atutela jurisdicional em virtude de violação de direitos fundamentais (reco-nhecidos pela Constituição ou pela lei). Nesse ponto, houve uma ampliação

Page 124: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

124 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

do conceito de direito fundamental, que pela doutrina são aqueles direitosprevistos na Constituição de um Estado, pois abrangeu os direitos constitu-cionais e legais.

"Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado" (Art. IX).

Não deve admitir a violação ao direito de ir e vir sem justificativa fáti-ca e legal. Assim, as prisões motivadas por vingança ou espírito emulativonão devem ser realizadas. Da mesma forma, não deve ser realizado o envio

compulsório de nacionais para o exterior, que além de exilado, também é

denominado expatriado."Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audiência justa

e pública por parte de um Tribunal independente e imparcial, para decidirde seus direitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminalcontra ela" (Art. X).

Assegura-se o pleno acesso à tutela jurisdicional justa e imparcial paratoda pessoa que sofra qualquer acusação criminal.

"Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumi-da inocente, até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo coma lei, em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas asgarantias necessárias à sua defesa" (Art. XI, n. 1).

Apura-se nesse dispositivo a presunção de inocência que deve pautaro andamento processual punitivo. Devem ser assegurados todos os meiosprocedimentais, processuais e legais na instrução do feito. Isso representa odevido processo legal.

"Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no

momento, não constituam delito perante o direito nacional ou internacional.Também não será imposta pena mais forte do que aquela que, no momento

da prática, era aplicável ao ato delituoso" (Art. XI, n. 2).

Impõem-se garantir a anterioridade e legalidade penal nacional e inter-nacional. No âmbito interno, encontra-se, inclusive, no art. 1.° do CódigoPenal Brasileiro, que estabelece: "não há crime sem lei anterior que o defina.Não há pena sem prévia cominação legal.". Além disso, não se admite orecrudescimento do preceito secundário penal, ou seja, a aplicação de penamaior que a estabelecida no momento da ação delituosa.

"Ninguém será sujeito a interferências na sua vida privada, na suafamília, no seu lar ou na sua correspondência, nem a ataques à sua honra e

Page 125: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 12 . Comentários à Declaração Universal de Direitos Humanos 125

reputação. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais interferênciasou ataques

" (Art. XII).

A Declaração Universal estabelece a proteção da vida privada, da honrae da intimidade das pessoas e de suas famílias. Deve o Estado legislar paraproteger todas as pessoas.

"Toda pessoa tem direito à liberdade de locomoção e residência dentrodas fronteiras de cada Estado" (Art. XIII, n. 1). "Toda pessoa tem o direito dedeixar qualquer país, inclusive o próprio, e a ele regressar" (Art. XIII, n. 2).

Procurou-se especificar o direito à liberdade de locomoção (ir e vir),permanência, saída e retorno. Desse modo, deseja-se evitar detenções ilegais,banimentos, expulsões injustificadas.

"Toda pessoa vítima de perseguição tem o direito de procurar e de gozarasilo em outros países

" (Art. XIV, n. 1). "Este direito não pode ser invocadoem caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comumou por atos contrários aos propósitos ou princípios das Nações Unidas" (Art.

XIV, n. 2).

A perseguição em questão tem caráter político ou ideológico. O Estadopara evitar dialogar com as pessoas, procura por meio da força silenciá-las.Para evitar a própria morte, a pessoa pede refúgio a outro país. Saliente-se talproteção não pode ser requerida se a pessoa cometeu crimes comuns ou atosatentatórios aos propósitos ou princípios das Nações Unidas.

"Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade" (Art. XV, n. 1).

A nacionalidade é o vinculo jurídico e político que une uma pessoa a umEstado, devendo ser assegurada a todas as pessoas.

"Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem dodireito de mudar de nacionalidade" (Art. XV, n. 2).

Nenhuma pessoa pode ter sua nacionalidade arbitrariamente retiradaou limitada, podendo inclusive optar por outra.

"Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça,nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimónio e fundar umafamília. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e suadissolução" (Art. XVI, n. 1).

A Declaração Universal assegura o direito do casamento aos homens emulheres maiores, sem restrição de raça, nacionalidade ou religião. A questãoda idade é importante para se evitar a corrupção e exploração sexual de me-

Page 126: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

126 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

nores. Os homens e mulheres gozam da igualdade de direitos no casamento,

que pode inclusive ser dissolvido.

A paz universal será conseguida quando as pessoas perceberem que oseparatismo estimula o ódio e que a união entre pessoas de grupos diferentespode eliminá-lo.

"

O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimentodos nubentes" (Art. XVI

, n. 2).

A validade do casamento condiciona-se ao livre e total consentimento dos

contraentes, impedindo violações à liberdade de expressão e consentimento.

"A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito

à proteção da sociedade e do Estado" (Art. XVI, n. 3).

Percebe-se que a génese da sociedade e do Estado é a família que deveser protegida e estimulada.

"Toda pessoa tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros"

(Art. XVII, n. 1). "Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade"(Art. XVII, n. 2).

Entende-se, na atualidade, por direito de propriedade a possibilidade de

usar, gozar, dispor de seus bens e reavê-los de quem quer que injustamenteos possua ou detenha. A Declaração Universal assegura o direito individualou coletivo de uma propriedade.

"

Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento, consciência e

religião; este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e aliberdade de manifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática,pelo culto e pela observância, isolada ou coletivamente, em público ou emparticular" (Art. XVIII).

Entre os direitos universais está a liberdade de escolha e mudança decrença ou religião, bem como seu incentivo e tolerância. As pessoas não de-vem ser obrigadas a adotar uma religião. Desse modo, incentiva-se o Estadolaico ou não confessional.

"Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direitoinclui a liberdade de, sem interferências

, ter opiniões e de procurar, recebere transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentementede fronteiras" (Art. XIX).

A liberdade de opinião e expressão faz parte de Estados democráticos.

A impressa livre possibilita a diversidade de pontos de vista sobre o mesmo

Page 127: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 12 . Comentários à Declaração Universal de Direitos Humanos 127

assunto. A possibilidade de usar variados meios de transmissão entre pessoasem países distintos é uma realidade vivenciada inicialmente pelos periódi-cos escritos, avançando para as transmissões radiofónicas, televisivas e pela"internet".

"Toda pessoa tem direito à liberdade de reunião e associação pacíficas"(Art. XX, n. 1). "Ninguém poderá ser obrigado a fazer parte de uma associa-ção

" (Art. XX, n. 2).

As pessoas têm direito de se reunir e se associar livremente desde queessas ações não conduzam à violência e ao desrespeito dos direitos humanosde outros. Da mesma forma, não se pode obrigar uma pessoa a permanecerem uma associação, pois haveria violação de sua liberdade de escolha.

"Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de seu país dire-tamente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos" (Art.XXI, n. 1).

A democracia implica no direito dos nacionais poderem constituir ogoverno de seu país.

"Toda pessoa tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país"(Art. XXI, n. 2).

A dignidade da pessoa humana implica que qualquer pessoa possa teracesso ao serviço público do Estado. Trata-se da universalidade do serviçopúblico.

"A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontadeserá expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, porvoto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto" (Art.XXI

, n. 3).

O povo deve poder votar e escolher livremente os seus representantes.Os mandatos devem ser por períodos determinados, preenchidos após elei-ções livres com a participação de todos. Sabe-se que posteriormente serãoestabelecidos requisitos mínimos, tal como a idade.

"Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança so-cial e à realização, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e deacordo com a organização e recursos de cada Estado,

dos direitos económicos,

sociais e culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimentode sua personalidade" (Art. XXII).

Verifica-se a importância dos direitos sociais que devem ser viabiliza-dos para todas as pessoas que se encontram na sociedade. A sua realização

Page 128: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

128 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

implica esforços que devem ser desenvolvidos pelo Estado, inclusive comcooperação internacional. O desenvolvimento dos indivíduos depende deseu bem-estar físico e mental. Uma pessoa bem alimentada e instruída possuienormes chances de ascender socialmente, diminuindo a pobreza e a fome,que, como sabemos, estimula a violência e a discriminação.

"Toda pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, acondições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego"

(Art. XXIII, n. 1).

O trabalho é o meio de se inserir socialmente e um direito classificado

pela doutrina de segunda geração. Em Estado bem administrado e com aeconomia equilibrada várias oportunidades serão apresentadas para as pes-soas. Cumpre aos órgãos governamentais fiscalizar para que sejam oferecidascondições justas para todos e que seja diminuto o desemprego.

"Toda pessoa, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneraçãopor igual trabalho" (Art. XXIII, n. 2).

A isonomia das remunerações é um direito vinculado ao reconhecimento

de que não deve haver discriminação pela mesma atividade."Toda pessoa que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfa-

tória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatívelcom a dignidade humana, e a que se acrescentarão, se necessário, outrosmeios de proteção social" (Art. XXIII, n. 3).

Não basta dar em contrapartida uma remuneração qualquer. Ela deveser justa de modo a possibilitar a dignidade humana do trabalhador e de suafamília, ou seja, dar oportunidade às pessoas de poderem se alimentar, vestir,morar, comprar remédios, passear, entre outros direitos humanos. O Estado,inclusive, poderá criar mecanismos de assistência social.

"Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar paraa proteção de seus interesses

" (Art. XXIII, n. 4).

A reivindicação individual de direitos dos trabalhadores pode acarretarrepresálias. Assim, os sindicatos, que são organizações sociais, retiram a pes-soalidade da relação e possibilitam a proteção dos trabalhadores.

"Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoáveldas horas de trabalho e a férias remuneradas periódicas" (Art. XXIV).

Inspirados nos direitos trabalhistas inicialmente previstos na Constitui-ção Mexicana de 1917, na Constituição Alemã de 1919 (Weimar) e na própria

Page 129: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 12 . Comentários à Declaração Universal de Direitos Humanos 129

atuação da Organização Internacional do Trabalho, a Declaração Universalgarante direito ao descanso e lazer, bem como limitação razoável das horasde trabalho e férias remuneradas periódicas.

"Toda pessoa tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar a si e a suafamília saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação, cuidadosmédicos e os serviços sociais indispensáveis, o direito à segurança, em caso dedesemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dosmeios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle" (Art. XXV, n. 1).

Percebe-se a necessidade de proteger todas as pessoas durante sua vidaprofissional, bem como em sua incapacidade temporária ou definitiva, bemcomo em sua ausência. É um direito de toda pessoa ser protegida pelo Estado,especialmente em situações de infortúnio.

"A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais.Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimónio, gozarão da mesmaproteção social" (Art. XXV, n. 2).

O Estado deve assegurar que as todas as pessoas tenham garantidas umamaternidade e infância digna. Todas as crianças devem ser protegidas, poiso futuro de toda a humanidade está ali empenhado.

"Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelomenos nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar seráobrigatória. A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem comoa instrução superior, está baseada no mérito" (Art. XXVI, n. 1).

O direito à educação é inerente a todas as pessoas e é essencial para odesenvolvimento humano. Quanto maior o nível intelectual dos componen-tes da sociedade de um Estado, maior é o seu desenvolvimento económico.Desse modo, além de ser um dever instruir a sua sociedade, o Estado devefornecê-la gratuitamente, pelo menos nos graus elementares e fundamentais.

"A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da perso-nalidade humana e do fortalecimento e do respeito pelos direitos humanos e pelasliberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a tolerânciae a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, e coadjuvará asatividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz

" (Art. XXVI, n. 2).

O Estado ao educar as pessoas deve atentar para a necessidade de de-senvolver o indivíduo, inclusive, ensinando o respeito que se deve ter pelosdireitos humanos e pelas liberdades fundamentais que estão asseguradosnos tratados internacionais de proteção das pessoas, bem como nas normas

Page 130: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

130 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

internas que devem acompanhar as orientações humanistas (conhecimento,

tolerância, respeito, fraternidade, entre outros)."Os pais têm prioridade de direito na escolha do género de instrução que

será ministrada a seus filhos"

(Art. XXVI, n. 3).

O Estado deve dar prioridade a escolha feita pelos pais do género de ins-trução que será ministrada aos filhos, porém não deve ser omisso em relaçãoa sua ausência ou ao método que inviabiliza o desenvolvimento da criança esua vida em sociedade.

"Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural dacomunidade, de fruir as artes e de participar do progresso científico e de seusbenefícios" (Art. XXVII, n. 1).

A participação na vida cultural, inclusive nas artes, bem como do pro-gresso científico e de seus benefícios deve ser estimulada, porém as pessoasdevem ter o livre arbítrio de escolher.

"Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses morais e materiaisdecorrentes de qualquer produção científica, literária ou artística da qual sejaautor

" (Art. XXVII, n. 2).

O Estado deve proteger os interesses morais e materiais decorrentesde qualquer produção científica e intelectual das pessoas. O direito autoraldeve ser assegurado, inclusive como incentivo para a produção académicae científica.

"Toda pessoa tem direito a uma ordem social e internacional em que osdireitos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plena-mente realizados" (Art. XXVIII).

A Declaração Universal de Direitos Humanos não pode ser entendidacomo uma peça de ficção e nem é fruto de devaneios. Ela é essencial para avida humana e tem caráter cogente.

"Toda pessoa tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e plenodesenvolvimento de sua personalidade é possível" (Art. XXIX, n. 1).

Deve-se destacar que não são só direitos, todas as pessoas tem deveres paracom o grupo em que convive. O Estado sozinho não conseguirá ir muito longe.A participação dos membros da sociedade contribuindo com ações concretasde cidadania (voto, campanhas de arrecadação de donativos a serem distribu-ídos aos mais carentes, fiscalização da administração do Estado, entre outros).

"No exercício de seus direitos e liberdades, toda pessoa estará sujeitaapenas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de

Page 131: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 12 . Comentários à Declaração Universal de Direitos Humanos 131

assegurar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades deoutrem, e de satisfazer às justas exigências da moral, da ordem pública e dobem-estar de uma sociedade democrática" (Art. XXIX, n. 2).

Não se deve admitir que ações autoritárias e ditatoriais afetem os di-reitos e liberdades das pessoas. A lei feita formalmente pelo Estado, com a

participação de representantes do povo, deverá limitar as condutas ilícitasatendendo às justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estarda sociedade democrática.

"Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exer-cidos contrariamente aos propósitos e princípios das Nações Unidas" (Art.XXIX

, n. 3).

Os direitos e liberdades constitucionais e legais não podem ser confeccio-nados e realizados em afronta aos propósitos e princípios das Nações Unidas.

Trata-se de normas de caráter obrigatório."

Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretadacomo o reconhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito deexercer qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado à destruiçãode quaisquer dos direitos e liberdades aqui estabelecidos" (Art. XXX).

Trata-se da denominada norma de conteúdo extensível ou de aplicação,

que determina que na interpretação da Declaração Universal não se podeadotar posicionamento destinado à eliminar quaisquer dos direitos e liber-dades nele estabelecidos.

George Sarmento (Direitos Humanos, p. 19) afirma que a DeclaraçãoUniversal dos Direitos Humanos trouxe grandes inovações ao constitucio-nalismo do pós-guerra, podendo ser destacado: a elevação da dignidade dapessoa humana a pressuposto básico para a titularidade de direitos huma-nos; a reaproximação entre ética e direito a partir de um conjunto de valoresuniversais com força normativa

, a exemplo de dignidade humana, liberdade,igualdade, justiça, solidariedade, entre outros; a indivisibilidade dos direitoshumanos

, assim, eles não são estanques e incomunicáveis no sistema jurídicointernacional. Desse modo

, são direitos estreitamente ligados por uma relaçãode complementariedade e interdependência (a efetividade das liberdadesfundamentais depende da concretização dos direitos sociais, económicos,

culturais e vice-versa); e por fim, a ratificação da supraestatalidade dos direitoshumanos e sua projeção sobre todos os ordenamentos jurídicos nacionais.

Page 132: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf
Page 133: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Simetria do Sistema Global

com o Sistema RegionalInteramericano de Proteçãodos Direitos Humanos

O sistema global de proteção foi criado pela Carta da Organização dasNações Unidas em 1945 na Cidade de San Francisco, nos Estados Unidosda América.

Posteriormente, visando estabelecer quais direitos deveriam ser prote-gidos foi elaborada a Declaração Universal de Direitos Humanos em 1948,sendo assinada na cidade de Paris, na França.

Restava ampliar e estabelecer mecanismos de fiscalização dos direitosconstituídos. Elaborou-se então o Pacto Internacional dos Direitos Civis e

Políticos, também conhecido como Pacto de Nova Iorque, pois foi assinadonessa cidade no ano de 1966. Contém direitos relativos à primeira parte daDeclaração Universal de Direitos Humanos. Os mecanismos de proteçãolá contidos são os seguintes: Comité de Direitos Humanos, a apresentaçãode relatórios, denúncia estatal e denúncias individuais (Protocolo Facul-tativo).

O outro Pacto de Nova Iorque é o Pacto Internacional dos Direitos Eco-nómicos, Sociais e Culturais, assinado em 1966. Corresponde à segunda parteda Declaração Universal de Direitos Humanos, contendo direitos económicose sociais que refletem a segunda geração de direitos. Apresenta como meca-nismos de proteção a apresentação de relatórios ao Conselho Económico eSocial da Organização das Nações Unidas.

O Sistema Regional Interamericano ou Americano foi criado pela Cartada Organização dos Estados Americanos, que foi assinada em 1948, na cidadede Bogotá na Colômbia.

A Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem de 1948,também assinada na cidade de Bogotá estabelece os direitos que serãoprotegidos.

Page 134: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

134 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

A Convenção Americana de Direitos Humanos, mais conhecida porPacto de San José da Costa Rica, pois em tal cidade no ano de 1969 foiassinada, descreve os direitos e os mecanismos de proteção. Divide-se emduas partes:

1 .a) Previsão dos Direitos Civis e Políticos em sua grande maioria, tendoapenas o art. 26 como dispositivo referente aos direitos económicos, sociaise culturais;.

2.a) Estabelece a proteção: A) Comissão Interamericana de Direitos Hu-

manos (CIDH) com sede em Washington, nos Estados Unidos da América.Tem função administrativa e realiza a admissibilidade dos casos

, também cha-mado de prelibação; B) Corte Interamericana de Direitos Humanos (COIDH)com sede em San José da Costa Rica, na Costa Rica. É órgão jurisdicional dosistema e possui competência consultiva e contenciosa (delibação).

A Convenção Americana de Direitos Humanos por conter direitos emecanismos constritivos de fiscalização (CIDH e COIDH) é classificada peladoutrina de norma "hard law".

Por fim, há o Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre Direitos

Humanos em matéria de Direitos Económicos, Sociais e Culturais, também

conhecido por Protocolo de San Salvador, assinado no ano de 1988 na capitalde El Salvador Apresenta como mecanismos de proteção a possibilidade de pe-tições e relatórios. Tais direitos devem ser implementados progressivamente.

Atente para o quadro comparativo dos sistemas.

SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃOSISTEMA REGIONAL

INTERAMERICANO

Carta da ONU - 1945 (São Carta da OEA - 1948 (Bogotá -Francisco - EUA) Colômbia)

Declaração Universal de Direitos Declaração Americana dos Direitos eHumanos - 1948 (Paris - França) Deveres do Homem - 1948 (Bogotá

Estrutura bipartida:

1 .a Parte - arts. 1.° a 20 - direitos

civis e políticos (1 .a geração)

2.a Parte - arts. 22 a 30 - igualdade

(2.f geração)

- Colômbia)

Page 135: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 13 . Simetria do sistema global com o sistema regional interamericano 135

cicrciiA rmnAi nc ponTcrÃn SISTEMA REGIONALSISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO INTERAMERICANO

Pâcto Internacional dos Direitos

Civis e Políticos - 1966 (Pacto de

Nova Iorque - EUA) - 1 .a parte daDUDH (1f geração - aplicaçãoimediata)

Mecanismos de proteção:

a) Comité de direitos humanos;

b) relatório;

c) denúncia estatal;

d) denúncias individuais (ProtocoloFacultativo).

Pacto Internacional dos Direitos

Económicos, Sociais e Culturais -1966 (Pacto de Nova Iorque - EUA)- 2.a parte da DUDH (2.a geração -aplicação diferida ou mediata)

Mecanismos de proteção:

a) Conselho Económico e Social(ONU);

b) relatório.

Convenção Americana de DireitosHumanos (Pacto de San José da CostaRica)-1969

Divide-se em duas partes: 1 .a)Direitos Civis e Políticos; (1 .a geração- aplicação imediata)

2.a) Proteção:

A) Comissão Interamericanade Direitos Humanos (CIDH- sede em Washington - EUA) -admissibilidade;

B) Corte Interamericana de DireitosHumanos (COIDH - sede em SanJosé da Costa Rica) - competênciaconsultiva e contenciosa.

Protocolo Adicional à ConvençãoAmericana sobre Direitos Humanos

em matéria de Direitos Económicos,

Sociais e Culturais (Protocolo de

San Salvador) - 1988 (2.a geração -aplicação diferida ou mediata)

Mecanismos de proteção:

Petições e relatórios(progressividade).

Page 136: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf
Page 137: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Mecanismos de Proteçãodos Direitos Humanos

na CF/88

14.1 CONSTITUCIONALIZAÇÃO DE TRATADOS E CONVENÇÕESINTERNACIONAIS SOBRE DIREITOS HUMANOS

A "constitucionalização dos tratados e convenções internacionais so-bre direitos humanos" é a possibilidade de elevar um tratado ou convençãointernacional de direitos humanos para o status de norma constitucional,com a aprovação do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintosdos votos dos respectivos membros. Essa possibilidade é prevista no art. 5.°,§ 3.°, da CF/88, onde se lê: "Os tratados e convenções internacionais sobredireitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional,em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serãoequivalentes às emendas constitucionais."

Exige-se o mesmo sistema de aprovação que é utilizado para a aprovaçãode uma proposta de emenda constitucional (art. 60, § 2.°, da CF/88).

Cite-se o decreto legislativo 186, de 09 de julho de 2008, que aprova otexto da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de seuProtocolo Facultativo, assinados em Nova York em 30 de março de 2007, quefoi promulgado pelo Decreto 6.949, de 25 de agosto de 2009.

É o único tratado internacional de direitos humanos no Brasil equivalentea emenda constitucional, e como tal, pode ser parâmetro para o controle deconstitucionalidade.

Page 138: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

138 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiênciae de seu Protocolo Facultativo constituem cláusula pétrea,não podendo ser diminuído ou retirado qualquer direito láprevisto. Além disso, junto com a Constituição Federal vi-gente formam o bloco de constitucionalidade.

14.2 FEDERALIZAÇÃO DE CRIMES GRAVES CONTRA OS DIREITOSHUMANOS

A federalização dos crimes graves contra os direitos humanos é a mu-dança de competência da justiça estadual para a justiça federal, medianteincidente de deslocamento de competência suscitado pelo Procurador-Geralda República no Superior Tribunal de Justiça.

É conhecido tecnicamente como Incidente de Deslocamento de Com-

petência (IDC), introduzido no ordenamento jurídico brasileiro pela EC45/2004, e está previsto no art. 109, V-A e § 5.°, da CF/88.

Fundamenta-se, essencialmente, em três pressupostos: a existência degrave violação a direitos humanos, o risco de responsabilização internacio-nal decorrente do descumprimento de obrigações jurídicas assumidas emtratados internacionais que o país faz parte, e a incapacidade das instânciase autoridades locais em oferecer respostas efetivas.

A primeira vez que se pediu a federalização (incidente de deslocamentode competência) envolveu a apuração da morte da Irmã Dorothy Stang, quefoi assassinada, com seis tiros

, aos 73 anos de idade, no dia 12 de fevereiro de2005

, em uma estrada de terra de difícil acesso, a 53 quilómetros da sede domunicípio de Anapu, no Estado do Pará, por ordem de um fazendeiro, emvirtude de sua atividade em prol da reforma agrária e de melhores condiçõesde vida para o povo paraense.

No citado caso, o Superior Tribunal de Justiça indeferiu o pedido dedeslocamento de competência por entender que foi correta a atuação dajus-tiça local, conforme se verifica: "Constitucional - Penal e processual penal- Homicídio doloso qualificado (vítima Irmã Dorothy Stang) - Crime prati-cado com grave violação aos direitos humanos - Incidente de deslocamentode competência - IDC - Inépcia da peça inaugural - Norma constitucionalde eficácia contida - Preliminares rejeitadas - Violação ao princípio do juiz

i!í\moortairte

Page 139: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 14 . Mecanismos de proteção dos Direitos Humanos na CF/88 139

natural e à autonomia da unidade da Federação - Aplicação do princípio daproporcionalidade - Risco de descumprimento de tratado internacional firma-do pelo Brasil sobre a matéria não configurado na hipótese - Indeferimento dopedido. 1. Todo homicídio doloso, independentemente da condição pessoalda vítima e/ou da repercussão do fato no cenário nacional ou internacional,representa grave violação ao maior e mais importante de todos os direitos doser humano, que é o direito à vida, previsto no art. 4.°, n. 1, da Convenção

Americana sobre Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário por força doDecreto 678

, de 06.11.1992, razão por que não há falar em inépcia da peçainaugural. 2. Dada a amplitude e a magnitude da expressão 1direitos humanos,,é verossímil que o constituinte derivado tenha optado por não definir o roldos crimes que passariam para a competência da Justiça Federal, sob pena derestringir os casos de incidência do dispositivo (CF, art. 109, § 5.°), afastando-

-o de sua finalidade precípua, que é assegurar o cumprimento de obrigaçõesdecorrentes de tratados internacionais firmados pelo Brasil sobre a matéria,examinando-se cada situação de fato, suas circunstâncias e peculiaridadesdetidamente, motivo pelo qual não há falar em norma de eficácia limitada.Ademais, não é próprio de texto constitucional tais definições. 3. Aparenteincompatibilidade do IDC, criado pela Emenda Constitucional 45/2004, comqualquer outro princípio constitucional ou com a sistemática processual emvigor deve ser resolvida aplicando-se os princípios da proporcionalidadee da razoabilidade. 4. Na espécie, as autoridades estaduais encontram-seempenhadas na apuração dos fatos que resultaram na morte da missionárianorte-americana Dorothy Stang, com o objetivo de punir os responsáveis,refletindo a intenção de o Estado do Pará dar resposta eficiente à violação domaior e mais importante dos direitos humanos, o que afasta a necessidadede deslocamento da competência originária para a Justiça Federal, de formasubsidiária, sob pena, inclusive, de dificultar o andamento do processo crimi-nal e atrasar o seu desfecho

, utilizando-se o instrumento criado pela aludidanorma em desfavor de seu fim, que é combater a impunidade dos crimespraticados com grave violação de direitos humanos. 5. O deslocamento decompetência - em que a existência de crime praticado com grave violação aosdireitos humanos é pressuposto de admissibilidade do pedido - deve atenderao princípio da proporcionalidade (adequação, necessidade e proporcionali-dade em sentido estrito), compreendido na demonstração concreta de riscode descumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionaisfirmados pelo Brasil, resultante da inércia, negligência, falta de vontadepolítica ou de condições reais do Estado-membro, por suas instituições, em

Page 140: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

140 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

proceder à devida persecução penal. No caso, não há a cumulatividade detais requisitos, a justificar que se acolha o incidente. 6. Pedido indeferido,

sem prejuízo do disposto no art. 1.°, III, da Lei 10.446, de 08.05.2002" (STJ,IDC l/PA 2005/0029378-4,3.fSeção, j. 07.06.2005, rei. Min. Arnaldo Esteves

Lima, DJ 10.10.2005, p. 217, RSTJ 198/435).Em 27 de outubro de 2010

, houve a primeira decisão favorável à federa-lização. Trata-se do caso "Manoel Mattos" (IDC 2 -DF - 2009/0121262-6).

Por maioria de votos, a Terceira Seção do Superior Tribunal de Justiça

(STJ) acolheu o pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR) para queo crime contra o ex-vereador Manoel Mattos fosse processado pela Justiçafederal. O caso é de responsabilidade da Justiça federal da Paraíba.

O advogado pernambucano Manoel Bezerra de Mattos Neto foi assassi-nado em 24.01.2009, no Município de Pitimbu/PB, depois de sofrer diversasameaças e vários atentados, em decorrência, ao que tudo leva a crer, de sua

persistente e conhecida atuação contra grupos de extermínio que agem impu-nes há mais de uma década na divisa dos Estados da Paraíba e de Pernambuco

,

entre os Municípios de Pedras de Fogo e Itambé.Ficou consignado na decisão que o risco de responsabilização internacio-

nal pelo descumprimento de obrigações derivadas de tratados internacionaisaos quais o Brasil anuiu (dentre eles, vale destacar, a Convenção Americanade Direitos Humanos) é bastante considerável

, mormente pelo fato de já terhavido pronunciamentos da Comissão Interamericana de Direitos Humanos,

com expressa recomendação ao Brasil para adoção de medidas cautelaresde proteção a pessoas ameaçadas pelo tão propalado grupo de extermínioatuante na divisa dos Estados da Paraíba e Pernambuco, as quais, no entanto,

ou deixaram de ser cumpridas ou não foram efetivas. Além do homicídiode Manoel Mattos, outras três testemunhas da CPI da Câmara dos Deputa-dos foram mortos, dentre eles Luiz Tomé da Silva Filho, ex-pistoleiro, quedecidiu denunciar e testemunhar contra os outros delinquentes. TambémFlávio Manoel da Silva, testemunha da CPI da Pistolagem e do Narcotráficoda Assembleia Legislativa do Estado da Paraíba,

foi assassinado a tiros emPedra de Fogo, Paraíba, quatro dias após ter prestado depoimento à RelatoraEspecial da ONU sobre Execuções Sumárias, Arbitrárias ou Extrajudiciais.E, mais recentemente, uma das testemunhas do caso Manoel Mattos, Maxi-

miano Rodrigues Alves, sofreu um atentado à bala no município de Itambé,

Pernambuco, e escapou por pouco. Há conhecidas ameaças de morte contraPromotores e Juízes do Estado da Paraíba, que exercem suas funções no localdo crime, bem assim contra a família da vítima Manoel Mattos e contra doisDeputados Federais.

Page 141: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 14 . Mecanismos de proteção dos Direitos Humanos na CF/88 141

As circunstâncias apontaram para a necessidade de ações estatais firmes eeficientes, as quais, por muito tempo, as autoridades locais não foram capazesde adotar, até porque a zona limítrofe potencializa as dificuldades de coor-denação entre os órgãos dos dois Estados. Mostrou-se, portanto, oportunoe conveniente a imediata entrega das investigações e do processamento daação penal em tela aos órgãos federais.

A ministra Laurita Vaz, relatora, acolheu algumas propostas de alteraçãodo voto para melhor definição do alcance do deslocamento. Entre as principaispropostas, está a alteração da Seção Judiciária a que seria atribuída a compe-tência. Inicialmente, a relatora propôs que a competência se deslocasse paraa Justiça federal de Pernambuco, mas prevaleceu o entendimento de que ocaso deveria ser processado pela Justiça federal competente para o local dofato principal,

isto é, o homicídio de Manoel Mattos.

Outros casos conexos também ficarão a cargo da Justiça federal, mas aSeção não acolheu o pedido da PGR de que outras investigações, abstraía-mente vinculadas, também fossem deslocadas para as instituições federais.

A relatora também acolheu proposta de modificação para que informa-ções sobre condutas irregulares de autoridades locais sejam comunicadas àscorregedorias de cada órgão, em vez de serem repassadas para os conselhosnacionais do Ministério Público (CNMP) e de Justiça (CNJ).

Com os ajustes, acompanharam a relatora os ministros Napoleão MaiaFilho

, Jorge Mussi e Og Fernandes e o desembargador convocado HaroldoRodrigues. Votaram contra o deslocamento os desembargadores convocadosCelso Limongi e Honildo de Mello Castro. A ministra Maria Thereza de AssisMoura presidiu o julgamento, e só votaria em caso de empate. O ministroGilson Dipp ocupava o cargo de corregedor Nacional dejustiça à época e nãoparticipou do início do julgamento.

Desse modo, o pedido ministerial foi parcialmente acolhido para deferir

o deslocamento de competência para a Justiça Federal no Estado da Paraíbada ação penal 022.2009.000.127-8, a ser distribuída para o Juízo FederalCriminal com jurisdição no local do fato principal; bem como da investigaçãode fatos diretamente relacionados ao crime em tela.

14.3. REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS

Os remédios constitucionais ou garantias constitucionais são meca-nismos postos à disposição dos indivíduos e dos cidadãos para provocar a

Page 142: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

142 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

atuação das autoridades competentes e do Estado, visando corrigir ilegali-dades ou abusos de poder em prejuízo de direitos e interesses individuaisou coletivos.

14.3.1 Habeas corpus

O habeas corpus é um remédio constitucional utilizado para a proteçãodo direito de ir e vir tolhido ilegalmente.

O art. III da Declaração Universal de Direitos Humanos estabelece: "Toda

pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal".

O art. 9.° do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos determi-

na: "1. Toda pessoa tem à liberdade e à segurança pessoais. Ninguém poderá

ser preso ou encarcerado arbitrariamente. Ninguém poderá ser privado desua liberdade, salvo pelos motivos previstos em lei e em conformidade comos procedimentos. 2. Qualquer pessoa, ao ser presa, deverá ser informada dasrazões da prisão e notificada, sem demora, das acusações formuladas contra

ela. 3. Qualquer pessoa presa ou encarcerada em virtude de infração penaldeverá ser conduzida

, sem demora, à presença do juiz ou de outra autoridadehabilitada por lei a exercer funções e terá o direito de ser julgada em prazorazoável ou de ser posta em liberdade. A prisão preventiva de pessoas queaguardam julgamento não deverá constituir a regra geral, mas a soltura poderáestar condicionada a garantias que assegurem o comparecimento da pessoaem questão à audiência e a todos os atos do processo, se necessário for, paraa execução da sentença. 4. Qualquer pessoa que seja privada de sua liberdadepor prisão ou encarceramento, terá o direito de recorrer a um tribunal paraque este decida sobre a legalidade de seu encarceramento e ordene a soltura,caso a prisão tenha sido ilegal. 5. Qualquer pessoa vítima de prisão ou encar-ceramento ilegal terá direito à reparação"

.

O art. 7.° da Convenção Americana de Direitos Humanos estabelece:" 1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais. 2. Ninguémpode ser privado de sua liberdade física, salvo pelas causas e nas condiçõespreviamente fixadas pelas Constituições políticas dos Estados-partes oupelas leis de acordo com elas promulgadas. 3. Ninguém pode ser submetidoa detenção ou encarceramento arbitrários. 4. Toda pessoa detida ou retidadeve ser informada das razões da detenção e notificada, sem demora, da

acusação ou das acusações formuladas contra ela. 5. Toda pessoa presa,

detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença de um juizou outra autoridade autorizada por lei a exercer funções judiciais e tem o

Page 143: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 14 . Mecanismos de proteção dos Direitos Humanos na CF/88 143

direito de ser julgada em prazo razoável ou de ser posta em liberdade, semprejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionadaa garantias que assegurem o seu comparecimento em juízo. 6. Toda pessoaprivada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal com-petente, a fim de que este decida, sem demora, sobre a legalidade de suaprisão ou detenção e ordene sua soltura, se a prisão ou a detenção foremilegais. Nos Estados-partes cujas leis preveem que toda pessoa que se virameaçada de ser privada de sua liberdade tem direito a recorrer a um juizou tribunal competente, a fim de que este decida sobre a legalidade de talameaça, tal recurso não pode ser restringido nem abolido. O recurso podeser interposto pela própria pessoa ou por outra pessoa. 7. Ninguém deveser detido por dívidas. Este princípio não limita os mandados de autori-dade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento deobrigação alimentar".

O direito de ir e vir, também conhecido por direito de locomoção, éprevisto no art. 5.° da CF/88 em diversos dispositivos:

"LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem es-crita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casosde transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

LXII - a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serãocomunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou àpessoa por ele indicada;

LXIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de per-manecer calado

, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;

LXI V - o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisãoou por seu interrogatório policial;

LXV - a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade ju-diciária;

LXV1 - ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a leiadmitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;

LXVII - não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável peloinadimplemento voluntário e inescusável de obrigação alimentícia e a dodepositário infiel."

O art. 5.°, LXVIII, da CF/88 estabelece: "Conceder-se-á habeas corpussempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coaçãoem sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder".

Page 144: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

144 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

O endereçamento do habeas corpus deverá ser para a autoridade ime-diatamente superior à coatora. A regulamentação do instituto é prevista nosarts. 647 a 667 do Código de Processo Penal brasileiro.

Não há necessidade de advogado para se impetrar o habeascorpus. HiiUOrt®f*®

A gravação de conversa entre duas pessoas, feita por umadelas sem o consentimento da outra, registrando o fato paraprevenir uma negação futura, é considerada lícita, sendopossível a utilização do registro como meio de defesa. Essetipo de gravação clandestina é considerado lícito somentepara utilização como meio de defesa. Nesse sentido, podemser citadas, como exemplo, as seguintes decisões: STF, 1 .aT.,HC 74678/SP; STF, 2.aT., AgRgAg 50361 7/PR.

note

Sobre tal tema recomenda-se a leitura da obra Direito Constitucional da

série Elementos do Direito, capítulo: Dos Direitos e Garantias Fundamentais,editora Revista dos Tribunais.

14.3.2 Habeas data

O habeas data é uma garantia constitucional que tem por objetivo prote-ger a esfera íntima das pessoas físicas ou jurídicas, possibilitando a obtençãoe a correção de dados e informações constantes de arquivos de entidadesgovernamentais ou de caráter público. São exemplos, informações sobre aorigem racial, ideológica, religiosa, política, filiação partidária ou sindical,orientação sexual, regularidade fiscal, entre outros.

No plano externo, o direito de obter informações está consignado no art.XIX da Declaração Universal de Direitos Humanos ("Toda pessoa tem direito àliberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem inter-

ferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideiaspor quaisquer meios e independentemente de fronteiras"), art. 19, § 2.° do

Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos ("Toda pessoa terá o direitoà liberdade de expressão; esse direito incluirá a liberdade de procurar, receber

Page 145: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 14 . Mecanismos de proteção dos Direitos Humanos na CF/88 145

e difundir informações e ideias de qualquer natureza, independentemente deconsiderações de fronteiras, verbalmente ou por escrito, de forma impressaou artística, ou por qualquer meio de sua escolha"), art. 13 da ConvençãoAmericana de Direitos Humanos ("1. Toda pessoa tem direito à liberdade depensamento e de expressão. Esse direito compreende a liberdade de buscar,receber e difundir informações e ideias de toda natureza, sem consideraçãode fronteiras, verbalmente ou por escrito, ou em forma impressa ou artísti-ca, ou por qualquer outro processo de sua escolha. 2. O exercício do direitoprevisto no inciso precedente não pode estar sujeito a censura prévia, mas aresponsabilidades ulteriores, que devem ser expressamente fixadas pela leia ser necessárias para assegurar: a) o respeito aos direitos ou à reputação dasdemais pessoas; ou b) a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ouda saúde ou da moral públicas".), entre outros instrumentos internacionais.

O direito de obter informações dos órgãos públicos é previsto no incisoXXXIII do art. 5.° da CF, onde se lê: "Todos têm direito a receber dos órgãospúblicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivoou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade,ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedadee do Estado"

.

O habeas data está previsto no art. 5.°, LXXII, da CF/88, que assimenuncia: "Conceder-se-á habeas data: a) para assegurar o conhecimento deinformações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros oubancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; b) pararetificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso,judicial ou administrativo".

O habeas data necessita da atuação de advogado.

É necessário que seja negada na via administrativa o fornecimento dasinformações do impetrante para ser admitido o "habeas data".

O Superior Tribunal de Justiça sobre o tema editou a Súmula 2 "Não cabehabeas data (Constituição Federal, art. 50, LXXII, a) se não houve recusa deinformações por parte da autoridade administrativa".

Nesse sentido também decidiu o Supremo Tribunal Federal:"Habeas data - Natureza jurídica - Regime do poder visível como pres-

suposto da ordem democrática - Jurisdição constitucional das liberdades -Serviço Nacional de Informações (SNI) - Acesso não recusado aos registrosestatais-Ausência do interesse de agir - Recurso improvido. A Carta Federal,

Page 146: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

146 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

ao proclamar os direitos e deveres individuais e coletivos, enunciou preceitosbásicos, cuja compreensão é essencial à caracterização da ordem democráticacomo um regime do poder visível. O modelo político-jurídico, plasmado nanova ordem constitucional, rejeita o poder que oculta e o poder que se oculta.Com essa vedação, pretendeu o constituinte tornar efetivamente legítima, emface dos destinatários do poder, a prática das instituições do Estado. O habeasdata configura remédio jurídico-processual, de natureza constitucional, quese destina a garantir, em favor da pessoa interessada, o exercício de pretensãojurídica discernível em seu tríplice aspecto: a) direito de acesso aos regis-tros; b) direito de retificação dos registros; e c) direito de complementaçãodos registros. Trata-se de relevante instrumento de ativação da jurisdiçãoconstitucional das liberdades, a qual representa, no plano institucional, amais expressiva reação jurídica do Estado às situações que lesem, efetiva oupotencialmente, os direitos fundamentais da pessoa, quaisquer que sejamas dimensões em que estes se projetam. O acesso ao habeas data pressupõe,dentre outras condições de admissibilidade, a existência do interesse de agir.Ausente o interesse legitimador da ação, torna-se inviável o exercício desseremédio constitucional. A prova do anterior indeferimento do pedido de in-formação de dados pessoais, ou da omissão em atendê-lo, constitui requisitoindispensável para que se concretize o interesse de agir no habeas data. Semque se configure situação prévia de pretensão resistida, há carência da açãoconstitucional do habeas data (STF, HD 22/DF, rei. Min. Marco Aurélio, rei.p/acórdão Min. Celso de Mello, j. 19.09.1991, DJ 01.09.1995).

Regulamentação: Lei 9.507/1997. Obs. Certidões: Lei 9.051/1995.

"O habeas data configura remédio jurídico-processual, denatureza constitucional, que se destina a garantir, em favorda pessoa interessada, o exercício da pretensão jurídicadiscernível em seu tríplice aspecto: a) direito de acesso aosregistros existentes; b) direito de retificação dos registros er-róneos; e c) direito de complementação dos registros insu-ficientes ou incompletos. Trata-se de relevante instrumentode ativação da jurisdição constitucional das liberdades, querepresenta, no plano institucional, a mais expressiva reaçãojurídica do Estado às situações que lesem, efetiva ou poten-cialmente, os direitos fundamentais da pessoa, quaisquerque sejam as dimensões em que estes se projetem" (STF, HD75/DF, rei. Min. Celso de Mello).

importante

Page 147: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 14 . Mecanismos de proteção dos Direitos Humanos na CF/88 147

Sobre tal tema recomenda-se a leitura do capítulo "Dos direitos e garantiasfundamentais" da obra Direito constitucional (Elementos do Direito-vol. 1,Editora Revista dos Tribunais).

14.3.3 Mandado de injunção

O mandado de injunção é um remédio constitucional utilizado parabuscar a regulamentação de uma norma constitucional de eficácia limitadaainda não regulamentada. Há o impedimento do exercício de um direito emum caso concreto (inconstitucionalidade por omissão).

O art. 5.°, LXXI, da CF/88 estabelece: "Conceder-se-á mandado de in-

junção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exer-cício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentesà nacionalidade

, à soberania e à cidadania".

O mandado de injunção pode ser utilizado para buscar a regulamentaçãode direitos sociais, inclusive, os que devem ser implementados progressiva-mente, conforme estabelece o art. 26 da Convenção Americana de DireitosHumanos ("Os Estados-Partes comprometem-se a adotar providências, tanto

no âmbito interno como mediante cooperação internacional, especialmenteeconómica e técnica, a fim de conseguir progressivamente a plena efetividadedos direitos que decorrem das normas económicas, sociais e sobre educação,ciência e cultura, constantes da Carta da Organização dos Estados Ameri-canos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires, na medida dos recursosdisponíveis, por via legislativa ou por outros meios apropriados").

No mesmo sentido, o mandado de injunção servirá para se alcançar o

contido no Artigo XXII da Declaração Universal de Direitos Humanos ("Toda

pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à reali-zação, pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordo coma organização e recursos de cada Estado, dos direitos económicos, sociais e

culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento de suapersonalidade").

Cumpre destacar que o mandado de injunção poderá ser utilizado para aimplementação de direitos previstos no Decreto 6.949/2009 (Convenção sobreos Direitos da Pessoa com Deficiência), e que dependem de regulamentaçãoposterior, conforme estabelece o seu art. 4.°:

" 1. Os Estados-Partes se comprometem a assegurar e promover o plenoexercício de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais por todasas pessoas com deficiência, sem qualquer tipo de discriminação por causa de

Page 148: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

148 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

sua deficiência. Para tanto, os Estados Partes se comprometem a: a) Adotartodas as medidas legislativas, administrativas e de qualquer outra natureza,necessárias para a realização dos direitos reconhecidos na presente Con-venção; b) Adotar todas as medidas necessárias, inclusive legislativas, paramodificar ou revogar leis, regulamentos, costumes e práticas vigentes, queconstituírem discriminação contra pessoas com deficiência; (...)"

Historicamente, o Supremo Tribunal Federal entendia haver apenas umamera recomendação ao Poder Legislativo para que editasse a norma, semqualquer consequência no caso de não atendimento. Porém, recentemente, oSupremo Tribunal Federal atribuiu efeito concreto ao pedido requerido pelaparte em face da omissão do Poder Legislativo (MI 670/ES, 72 l/DF e 712/PA).

O STF tem admitido mandado de injunção coletivo por aplicação ana-lógica do art. 50, LXX, da CF/88 (mandado de segurança coletivo): "A juris-prudência do Supremo Tribunal Federal admite legitimidade ativa ad causamaos sindicatos para a instauração, em favor de seus membros ou associados,do mandado de injunção coletivo" (STF, MI 102, rei. Min. Carlos Velloso).

Previsões constitucionais: art. 102,1, q (STF), art. 105,1, h (STJ), art.121

, § 4.°, V (TSE), e art. 125, § 1.° (TJ).

Direito de greve: "O Tribunal julgou três mandados de injunção impe-trados, respectivamente, pelo Sindicato dos Servidores da Polícia Civil noEstado do Espírito Santo - SINDIPOL, pelo Sindicato dos Trabalhadores emEducação do Município de João Pessoa - SINTEM e pelo Sindicato dos Traba-lhadores do Poder Judiciário do Estado do Pará - SINJEP, em que se pretendiafosse garantido aos seus associados o exercício do direito de greve previstono art. 37, VII, da CF (...). O Tribunal, por maioria, conheceu dos mandadosde injunção e propôs a solução para a omissão legislativa com a aplicação,no que couber, da Lei 7.783/1989, que dispõe sobre o exercício do direito degreve na iniciativa privada

" (MI 670/ES, rei. orig. Min. Maurício Corrêa, rei.p/o acórdão Min. Gilmar Mendes, 25.10.2007; MI 708/DF, rei. Min. GilmarMendes

, 25.10.2007; MI 712/PA, rei. Min. Eros Grau, 25.10.2007).

"Mandado de injunção - Garantia fundamental (CF, art. 5.°, LXXI) -Direito de greve dos servidores públicos civis (CF, art. 37, VII). Evolução dotema na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF). Definição dosparâmetros de competência constitucional para apreciação no âmbito daJustiça Federal e da Justiça Estadual até a edição da legislação específicapertinente, nos termos do art. 37, VII, da CE Em observância aos ditames dasegurança jurídica e à evolução jurisprudencial na interpretação da omissão

Page 149: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 14 . Mecanismos de proteção dos Direitos Humanos na CF/88 149

legislativa sobre o direito de greve dos servidores públicos civis, fixação doprazo de 60 (sessenta) dias para que o Congresso Nacional legisle sobre amatéria. Mandado de injunção deferido para determinar a aplicação das Leis7

.701/1988 e 7.783/1989. Sinais de evolução da garantia fundamental domandado de injunção na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal (STF).(...) O mandado de injunção e o direito de greve dos servidores públicos civisna jurisprudência do STF (...) Direito de greve dos servidores públicos civis.

Hipótese de omissão legislativa inconstitucional. Mora judicial, por diversasvezes

, declarada pelo Plenário do STF Riscos de consolidação de típica omis-são judicial quanto à matéria. A experiência do direito comparado. Legitimi-dade de adoção de alternativas normativas e institucionais de superação dasituação de omissão. (...) Apesar das modificações implementadas pelaEmenda Constitucional 19/1998 quanto à modificação da reserva legal de leicomplementar para a de lei ordinária específica (CF, art. 37, VII), observa-seque o direito de greve dos servidores públicos civis continua sem recebertratamento legislativo minimamente satisfatório para garantir o exercíciodessa prerrogativa em consonância com imperativos constitucionais. Tendoem vista as imperiosas balizas jurídico-políticas que demandam a concreti-zação do direito de greve a todos os trabalhadores, o STF não pode se absterde reconhecer que, assim como o controle judicial deve incidir sobre a ativi-dade do legislador, é possível que a Corte Constitucional atue também noscasos de inatividade ou omissão do Legislativo. A mora legislativa em questãojá foi, por diversas vezes, declarada na ordem constitucional brasileira. Poresse motivo, a permanência dessa situação de ausência de regulamentaçãodo direito de greve dos servidores públicos civis passa a invocar, para si, osriscos de consolidação de uma típica omissão judicial. Na experiência dodireito comparado (em especial, na Alemanha e na Itália), admite-se que oPoder Judiciário adote medidas normativas como alternativa legítima desuperação de omissões inconstitucionais, sem que a proteção judicial efetivaa direitos fundamentais se configure como ofensa ao modelo de separação depoderes (CF, art. 2.°). Direito de greve dos servidores públicos civis. Regula-mentação da lei de greve dos trabalhadores em geral (Lei 7.783/1989). Fixa-

ção de parâmetros de controle judicial do exercício do direito de greve pelolegislador infraconstitucional. (...) Considerada a omissão legislativa alega-da na espécie, seria o caso de se acolher a pretensão, tão somente no sentido

de que se aplique a Lei 7.783/1989 enquanto a omissão não for devidamenteregulamentada por lei específica para os servidores públicos civis (CF, art.

37, VII). Em razão dos imperativos da continuidade dos serviços públicos,

Page 150: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

150 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

contudo, não se pode afastar que, de acordo com as peculiaridades de cadacaso concreto e mediante solicitação de entidade ou órgão legítimo, seja fa-cultado ao tribunal competente impor a observância a regime de greve maissevero em razão de tratar-se de 'serviços ou atividades essenciais

,

, nos termos

do regime fixado pelos arts. 9.° a 11 da Lei 7.783/1989. Isso ocorre porquenão se pode deixar de cogitar dos riscos decorrentes das possibilidades deque a regulação dos serviços públicos que tenham características afins a esses'serviços ou atividades essenciais, seja menos severa que a disciplina dispen-sada aos serviços privados ditos

'essenciais,

. O sistema de judicialização dodireito de greve dos servidores públicos civis está aberto para que outrasatividades sejam submetidas a idêntico regime. Pela complexidade e varie-dade dos serviços públicos e atividades estratégicas típicas do Estado, háoutros serviços públicos, cuja essencialidade não está contemplada pelo roldos arts. 9.° a 11 da Lei 7.783/1989. Para os fins desta decisão, a enunciação

do regime fixado pelos arts. 9.° a 11 da Lei 7.783/1989 é apenas exemplifica-tiva (numerus apertus). O processamento e o julgamento de eventuais dissídiosde greve que envolvam servidores públicos civis devem obedecer ao modelode competências e atribuições aplicável aos trabalhadores em geral (celetis-tas), nos termos da regulamentação da Lei 7.783/1989. A aplicação comple-mentar da Lei 7.701/1988 visa à judicialização dos conflitos que envolvamos servidores públicos civis no contexto do atendimento de atividades rela-cionadas a necessidades inadiáveis da comunidade que, se não atendidas,coloquem 'em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança dapopulação

, (Lei 7.783/1989, parágrafo único, art. 11). Pendência do julga-mento de mérito da ADI 3.395/DF, rei. Min. Cezar Peluso, na qual se discutea competência constitucional para a apreciação das 1ações oriundas da relação

de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administra-ção pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dosMunicípios, (CF, art. 114,1, na redação conferida pela EC 45/2004). Dianteda singularidade do debate constitucional do direito de greve dos servidorespúblicos civis, sob pena de injustificada e inadmissível negativa de prestaçãojurisdicional nos âmbitos federal, estadual e municipal, devem-se fixar tam-bém os parâmetros institucionais e constitucionais de definição de compe-tência, provisória e ampliativa, para a apreciação de dissídios de greve ins-taurados entre o Poder Público e os servidores públicos civis. No planoprocedimental, afigura-se recomendável aplicar ao caso concreto a disciplinada Lei 7.701/1988 (que versa sobre especialização das turmas dos Tribunaisdo Trabalho em processos coletivos), no que tange à competência para apre-

Page 151: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 14 . Mecanismos de proteção dos Direitos Humanos na CF/88 151

ciar e julgar eventuais conflitos judiciais referentes à greve de servidorespúblicos que sejam suscitados até o momento de colmatação legislativa es-pecífica da lacuna ora declarada, nos termos do inciso VII do art. 37 da CE Aadequação e a necessidade da definição dessas questões de organização eprocedimento dizem respeito a elementos de fixação de competência cons-titucional de modo a assegurar, a um só tempo, a possibilidade e, sobretudo,os limites ao exercício do direito constitucional de greve dos servidores pú-blicos

, e a continuidade na prestação dos serviços públicos. Ao adotar essamedida

, este Tribunal passa a assegurar o direito de greve constitucionalmen-te garantido no art. 37, VII, da Constituição Federal, sem desconsiderar agarantia da continuidade de prestação de serviços públicos - um elementofundamental para a preservação do interesse público em áreas que são extre-mamente demandadas pela sociedade. Definição dos parâmetros de compe-tência constitucional para apreciação do tema no âmbito da Justiça Federale da Justiça estadual até a edição da legislação específica pertinente, nostermos do art. 37, VII, da CE (...) Em razão da evolução jurisprudencial sobreo tema da interpretação da omissão legislativa do direito de greve dos servi-dores públicos civis e em respeito aos ditames de segurança jurídica, fixa-se

o prazo de 60 (sessenta) dias para que o Congresso Nacional legisle sobre amatéria. Mandado de injunção conhecido e, no mérito, deferido para, nostermos acima especificados, determinar a aplicação das Leis 7.701/1988 e7

.783/1989 aos conflitos e às ações judiciais que envolvam a interpretaçãodo direito de greve dos servidores públicos civis" (MI 708, rei. Min. GilmarMendes

, j. 25.10.2007, DJE 31.10.2008). No mesmo sentido: MI 670, rei. p/o ac. Min. Gilmar Mendes, e MI 712, rei. Min. Eros Grau, j. 25.10.2007, DJE31.10.2008.

Sobre tal tema recomenda-se a leitura do capítulo "Dos direitos e garantiasfundamentais" da obra Direito constitucional (Elementos do Direito - vol.

1,

Editora Revista dos Tribunais).

14.3.4 Mandado de segurança

O mandado de segurança está previsto no art. 5.°, LXIX, da CF/88, queassim preceitua:

"

Conceder-se-á mandado de segurança para proteger direitolíquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando oresponsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ouagente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público"

.

O Direito líquido e certo é aquele que se apresenta manifesto na suaexistência

, delimitado na sua extensão e apto a ser realizado no momento da

Page 152: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

152 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

impetração. Desse modo, o direito deve vir expresso em norma legal e trazerem si todos os requisitos e condições de sua aplicação ao impetrante. Não háprova testemunhal e nem pericial.

O direito de propriedade é considerado direito líquido e certo, não po-dendo ser violado sem justificativa constitucional e legal.

O direito de propriedade é previsto no Art. XVII da Declaração Univer-sal dos Direitos Humanos ("1

. Toda pessoa tem direito à propriedade, só ouem sociedade com outros. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de suapropriedade"

.), bem como no Art. 21 da Convenção Americana de Direitos

Humanos ("Direito à propriedade privada 1. Toda pessoa tem direito ao uso egozo dos seus bens. A lei pode subordinar esse uso e gozo ao interesse social. 2.Nenhuma pessoa pode ser privada de seus bens, salvo mediante o pagamentode indenização justa, por motivo de utilidade pública ou de interesse sociale nos casos e na forma estabelecidos pela lei".).

O endereçamento do mandado de segurança dependerá da autoridadeque poderá desfazer o ato impugnado.

Regulamentação: Lei 12.016/2009. Obs.: Restrição de liminar contra oPoder Público: Leis 8.437/1992 (art. 2.°) e 9.494/1997 (art. 2.°-B).

As Comissões Parlamentares de Inquérito não podem decretara condução coercitiva de testemunha, busca e apreensão,indisponibilidade de bens e prisão temporária (Informativo416 do STF, HC 88.015/DF e MS 25.832/DF).

-

noteBEM

Sobre tal tema recomenda-se a leitura do capítulo "Dos direitos e garantiasfundamentais" da obra Direito constitucional (Elementos do Direito - vol. 1,

Editora Revista dos Tribunais).

14.3.5 Mandado de segurança coletivo

O art. 5.°, LXX, da CF/88 enuncia: "O mandado de segurança coletivopode ser impetrado por: a) partido político com representação no CongressoNacional; b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmen-te constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos

Page 153: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 14 . Mecanismos de proteção dos Direitos Humanos na CF/88 153

interesses de seus membros ou associados". Trata-se de criação do direitobrasileiro e que foi introduzido pela Constituição Federal de 1988.

A diferença para o mandado de segurança individual está na legitimida-de ativa, ou seja, somente os legitimados no inciso LXX do art. 5.° da CF/88podem impetrá-lo.

Saliente-se que devem estar preenchidos os demais requisitos do man-dado de segurança individual, ou seja, para proteger direito líquido e certo,não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pelailegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoajurídica no exercício de atribuições do Poder Público.

O endereçamento do mandado de segurança coletivo dependerá daautoridade que poderá desfazer o ato impugnado. De acordo com o Supre-mo Tribunal Federal

, nos mandados de segurança coletivos impetrados porsindicato em defesa de direito subjetivo comum aos integrantes da categoria,não se exige, na inicial, a autorização expressa dos sindicalizados (Súmula629 do STF). É conhecido por legitimidade extraordinária ou substituiçãoprocessual (MS 22.132/RJ, entre outros).

Regulamentação: Lei 12.016/2009. Obs.: Restrição de liminar contra oPoder Público: Leis 8.437/1992 (art. 2.°) e 9.494/1997 (art. 2.°-B).

Sobre tal tema recomenda-se a leitura da obra Direito Constitucional da

série Elementos do Direito, capítulo: Dos Direitos e Garantias Fundamentais,editora Revista dos Tribunais.

14.3.6 Ação popular

O art. 5.°, LXXIII, da CF/88 estabelece: "Qualquer cidadão é parte legítimapara propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio públicoou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, aomeio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvocomprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ónus da sucumbência

"

.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos estabelece a proteção dacultura em seu Art. XXVII, onde se lê:

"1. Toda pessoa tem o direito de participar livremente da vida cultural

da comunidade, de fruir as artes e de participar do progresso científico e deseus benefícios. 2. Toda pessoa tem direito à proteção dos interesses moraise materiais decorrentes de qualquer produção científica, literária ou artísticada qual seja autor."

Page 154: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

154 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

O Pacto Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais de

1966 prevê a proteção do meio ambiente em seu Art. 12, que assim estabelece:"1

. Os Estados-partes no presente Pacto reconhecem o direito de todapessoa de desfrutar o mais elevado nível de saúde física e mental. 2. Asmedidas que os Estados-partes no presente Pacto deverão adotar, com ofim de assegurar o pleno exercício desse direito, incluirão as medidas quese façam necessárias para assegurar: a) A diminuição da mortinatalidade eda mortalidade infantil, bem como o desenvolvimento são das crianças, b)A melhoria de todos os aspectos de higiene do trabalho e do meio ambiente(...)" (grifo nosso).

A ação popular tem cabimento em casos como incompetência de quempraticou os atos danosos, forma não prescrita em lei, desvio de finalidade,ilegalidade do objeto, entre outros.

O endereçamento da ação popular dependerá da autoridade que poderádesfazer o ato impugnado. Conforme a origem do ato impugnado, é com-petente para conhecer da ação, processá-la e julgá-la o juiz que, de acordocom a organização judiciária de cada Estado, o for para as causas que inte-ressem à União

, ao Distrito Federal, ao Estado ou ao Município (art. 5.° da

Lei 4.717/1965).

Destaque-se que, de regra, a ação popular deve ser proposta peranteo juízo de primeiro grau, não havendo competência originária de Tribunalpara conhecê-la. São consideradas exceções a previsão da alínea n do incisoI do art. 102 da CF/88 e as lides nas quais se verifique conflito entre a Uniãoe Estado-membro. Nesses casos a competência seria do Supremo TribunalFederal: "Cabe ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar ação popularem que os respectivos autores, com pretensão de resguardar o patrimôniopúblico roraimense, postulam a declaração da invalidade da Portaria 820/98,do Ministério da Justiça. Também incumbe a esta Casa de Justiça apreciartodos os feitos processuais intimamente relacionados com a demarcação dareferida reserva indígena" (Rcl. 2.833, de 2005, e Rcl. 3.331, de 2006 - rei.Min. Carlos Britto).

Cumpre lembrar que nesse caso não há foro privilegiado para os chefesdo Poder Executivo ou qualquer outra autoridade.

É necessária a atuação de advogado.

Regulamentação: Lei 4.717/1965.

A ação popular prescreve em cinco anos (art. 21 da Lei 4.717/1965).

Page 155: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 14 . Mecanismos de proteção dos Direitos Humanos na CF/88 155

A ação popular e a ação civil pública podem ser utilizadas no controle deconstitucionalidade incidental, ou seja, desde que a questão constitucionalseja aventada como fundamento de outra pretensão, que não a mera declaraçãode inconstitucionalidade da norma. Nesse sentido, as seguintes decisões: STF,Pleno

, Rcl 721-0/AL - Medida Liminar, 10.02.1998; STF, Pleno, Rcl 554-2/MG

, 26.11.1997, entre outros.

Sobre a legitimidade ativa, cumpre destacar a seguinte decisão do Supe-rior Tribunal de Justiça:

"O art. 50, LXXIII, da CF/88 e o art. I0, § 30, da lei 4.717/65 estabelecemque somente o cidadão tem legitimidade ativa para propor ação popular. 4.Consideram-se cidadãos os brasileiros natos ou naturalizados e os portuguesesequiparados no pleno exercício dos seus direitos políticos. 5. Tratando-se a le-gitimidade ativa de condição da ação e não representação processual, afasta-sea aplicação dos arts. 13 e 284 do CPC, não sendo possível permitir que a partetraga aos autos cópia do título eleitoral ou documento que a ele corresponda.Corre ta extinção do feito sem julgamento do mérito. 6. Embargos de declaraçãoacolhidos, com efeitos modificativos, para negar provimento ao recurso especial"

(STJ, EDcl no REsp 5382/MG, rei. Min. Eliana Calmon, DJ 30.04.2007, p. 300).Com relação às pessoas jurídicas, o Supremo Tribunal Federal editou a

Súmula 365: "Pessoajurídica não tem legitimidade para propor ação popular".

Sobre tal tema recomenda-se a leitura do capítulo "Dos direitos e garantiasfundamentais" da obra Direito constitucional (Elementos do Direito - vol. 1

,

Editora Revista dos Tribunais).

14.3.7 Direito de petição

O direito de petição é o remédio constitucional que pertence a umapessoa ou grupo de pessoas e que consiste em invocar a atenção dos PoderesPúblicos sobre uma questão ou situação ilegal ou abusiva.

O acesso aos serviços públicos é assegurado no Art. XXI da DeclaraçãoUniversal de Direitos Humanos, onde se lê: "(...) 2. Toda pessoa tem igualdireito de acesso ao serviço público do seu país".

O direito de petição é assegurado no Art. 44 da Convenção Americanade Direitos Humanos, que assim estabelece:

"Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não governamentallegalmente reconhecida em um ou mais Estados-Membros da Organização,

pode apresentar à Comissão petições que contenham denúncias ou queixasde violação desta Convenção por um Estado-Parte".

Page 156: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

156 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

O art. 5.°, XXXIV, a, da CF/88 estabelece o direito de petição aos PoderesPúblicos

, assegurando-o a todos, independentemente do pagamento de taxas,em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder. Desse modo,

o direito de petição tem natureza jurídica de direito constitucional.

A titularidade desse direito pode ser exercida por pessoas físicas, jurídi-cas, nacionais ou estrangeiras, ou até mesmo entes sem personalidade jurí-dica. Não tem formalismo técnico nem necessita de advogado. É um direitopúblico subjetivo.

O direito de petição pode ser materializado por documento escrito oudenúncia oral, que será reduzida a termo, entre outros.

Destaque-se que o direito de petição não se confunde com o direito decertidão previsto no art. 5.°, XXXIV, b, da CF/88, que assegura a obtenção decertidões em repartições públicas para a defesa de direitos e esclarecimentode situações de interesse pessoal.

No plano infraconstitucional, há a Lei 9.051/1995, que dispõe sobre aexpedição de certidões para a defesa de direitos e esclarecimento de situações,cujo conteúdo é o seguinte:

"Art. 1.° As certidões para a defesa de direitos e esclarecimentos de situ-ações, requeridas aos órgãos da Administração centralizada ou autárquica, às

empresas públicas, às sociedades de economia mista e às fundações públicasda União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, deverão serexpedidas no prazo improrrogável de 15 (quinze) dias, contado do registrodo pedido no órgão expedidor.

Art. 2.° Nos requerimentos que objetivam a obtenção das certidões aque se refere esta Lei, deverão os interessados fazer constar esclarecimentosrelativos aos fins e razões do pedido."

Cumpre observar que as informações solicitadas devem existir e nãopode haver sigilo sobre o assunto, como, por exemplo, a segurança nacional.

"A garantia constitucional da ampla defesa afasta a exigênciado depósito ou do arrolamento de bens e direitos comopressuposto de admissibilidade de recurso administrativo(RE 388.359/PE, RE 389.383/SP, Informativo 461 do STF,ADIn 1976)".

Page 157: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 14 . Mecanismos de proteção dos Direitos Humanos na CF/88 157

Sobre tal tema recomenda-se a leitura do capítulo "Dos direitos e garantiasfundamentais" da obra Direito constitucional (Elementos do Direito-vol. 1,Editora Revista dos Tribunais).

14.3.8 Ação civil pública

O art. 129, III, da CF/88 estabelece: "São funções institucionais do Mi-nistério Público: (...) III - promover o inquérito civil e a ação civil pública,para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outrosinteresses difusos e coletivos".

Os interesses difusos são aqueles que não possuem titulares determina-dos ou determináveis, mas encontram-se ligados por uma situação de fato,possuindo interesses indivisíveis. Por exemplo, o meio ambiente sadio, orespeito aos direitos humanos, entre outros.

Os interesses coletivos possuem como titulares pessoas determináveis,que se encontram ligadas por um vínculo jurídico, possuindo interesses indi-visíveis. Por exemplo, o reajuste da mensalidade de uma entidade particularde ensino, entre outros.

Os interesses individuais homogéneos são aqueles cujos titulares sãopessoas determinadas, que se encontram ligadas por uma situação de fato,possuindo interesses divisíveis. Por exemplo, os compradores de veículoscom o mesmo defeito, entre outros.

O Pacto Internacional dos Direitos Económicos, Sociais e Culturais de1966 prevê a proteção do meio ambiente em seu Art. 12, que assim estabelece:

" 1. Os Estados-partes no presente Pacto reconhecem o direito de toda pes-soa de desfrutar o mais elevado nível de saúde física e mental. 2. As medidas queos Estados-partes no presente Pacto deverão adotar, com o fim de assegurar opleno exercício desse direito, incluirão as medidas que se façam necessárias paraassegurar: a) A diminuição da mortinatalidade e da mortalidade infantil, bemcomo o desenvolvimento são das crianças, b) A melhoria de todos os aspectosde higiene do trabalho e do meio ambiente. (...)" (grifo nosso).

As associações de proteção das pessoas com necessidades especiais po-derão se valer da ação civil pública para pleitear o cumprimento dos direitosassegurados no Decreto 6.949/2009 (Convenção para Proteção de Pessoascom Deficiência), cite-se como exemplo possibilitar o acesso à justiça previstono art. 13, onde se lê:

"1. Os Estados-Partes assegurarão o efetivo acesso das pessoas com defi-

ciência à justiça, em igualdade de condições com as demais pessoas, inclusivemediante a provisão de adaptações processuais adequadas à idade, a fim de

Page 158: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

158 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

facilitar o efetivo papel das pessoas com deficiência como participantes diretosou indiretos, inclusive como testemunhas

, em todos os procedimentos jurídicos,tais como investigações e outras etapas preliminares. 2. A fim de assegurar àspessoas com deficiência o efetivo acesso à justiça, os Estados-Partes promoverãoa capacitação apropriada daqueles que trabalham na área de administração dajustiça, inclusive a polícia e os funcionários do sistema penitenciário."

A ação civil pública (ACP) está disciplinada na Lei 7.347/1985 e tem porfinalidade a proteção do consumidor, do meio ambiente, dos bens e direitos devalor artístico

, estético, histórico, turístico e paisagístico, da ordem económicae urbanística. Posteriormente

, outras leis ampliaram ou reforçaram seu âmbitode proteção: Lei 7.853/1989: pessoas portadoras de deficiência (necessidadesespeciais); Lei 7.913/1989: investidores no mercado mobiliário; Lei 8.

069/1990:

Estatuto da Criança e do Adolescente; Lei 8.078/1990: Código de Defesa do Con-sumidor; Lei 8.429/1992: contra a improbidade administrativa, entre outras.

O inquérito civil é um procedimento administrativo preliminar por meiodo qual o membro do Ministério Público apura a existência ou não de atoslesivos aos interesses difusos

, coletivos ou individuais homogéneos para pro-positura de ação civil pública (art. 8.°, § 1.°, da Lei 7.347/1985). O inquéritocivil é dispensável se já houver provas suficientes para a ação.

O Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) corresponde à formalizaçãode uma transação celebrada pelos órgãos públicos, também conhecido porcompromisso de ajustamento de conduta (art. 5.°, § 6.°, da Lei 7.347/1985).As associações civis, empresas públicas, fundações e sociedades de economiamista não podem transacionar. Trata-se de um acordo extrajudicial, não se

exigindo homologação judicial. Porém, se o acordo for celebrado em açãojudicial, será necessária a homologação judicial para extinguir o processo.

A ação civil pública pode ser utilizada como instrumentode controle de constitucionalidade das leis desde que sejaincidentalmente, ou seja, no curso de um processo concreto.

Neste caso, os efeitos estarão vinculados às partes do pro-cesso. Cabe observar que, se a questão constitucional for oobjeto principal da demanda, não se admitirá a ação civilpública, pois os seus efeitos são erga omnes e desse modohaveria equiparação aos efeitos do controle concentrado eusurpação da competência do Supremo Tribunal Federal.Nesse sentido já se manifestou o Pretório Excelso nos se-guintes julgados: Rcl 633-6/SP, Min. Francisco Rezek; Rcl.1733/SP, Min. Celso de Mello, entre outros.

Page 159: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 14 . Mecanismos de proteção dos Direitos Humanos na CF/88 159

Sobre tal tema recomenda-se a leitura da obra Direito Constitucional da

série Elementos do Direito, capítulo: Dos Direitos e Garantias Fundamentais,Editora Revista dos Tribunais.

14.4 HISTÓRIA DAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS E OS DIREITOSFUNDAMENTAIS E HUMANOS

14.4. 1 Constituição de 1824

Constituição política do Império do Brasil outorgada por D. Pedro Iem 25.03.1824. Também conhecida como Carta Imperial, adotou a formamonárquica de governo, dividiu o território em províncias, que eram asantigas capitanias então existentes, definiu o catolicismo como religiãooficial do Império (Estado Teocrático ou confessional), e desse modo só oscatólicos apostólicos romanos podiam ser eleitos para os cargos oficiais,havendo evidente discriminação das demais pessoas. Instituiu-se a formu-lação quadripartite de poder, de Benjamim Constant, ou seja, os PoderesLegislativo, Executivo, Judiciário e Moderador. Além disso, pela primeiravez houve a implantação do regime parlamentarista de governo, que vigoroude 1847 até 1889.

O Poder Moderador era exercido privativamente pelo Imperador, comochefe supremo da Nação, e por seu primeiro representante, para que velassepela manutenção da independência, pelo equilíbrio e harmonia dos demaispoderes políticos. O Poder Executivo, exercido pelos Ministros de Estado,tinha o Imperador como chefe. O Poder Judiciário era composto por juízese jurados, e o Poder Legislativo era composto por Deputados e Senadores,sendo os primeiros eletivos e temporários e os demais, integrados por mem-bros vitalícios nomeados pelo Imperador dentre componentes de uma listatríplice eleita por província. O sufrágio era indireto e censitário (só pessoasdetentoras de patrimônio poderiam votar). Por fim, havia a forma unitária deEstado, com forte centralização político-administrativa. Nessa época, nemse falava em direitos humanos.

14.4.2 Constituição de 1891

Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, foi promul-gada em 24.02.1891. Adotou como forma de governo a República, consti-tuída pela união perpétua e indissolúvel das suas antigas províncias (21)

Page 160: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

160 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

em Estados Unidos do Brasil. Cada uma das antigas províncias formou umEstado-membro

, e o antigo Município neutro se transformou no DistritoFederal

, que continuou a ser a capital da União. Nasceu, portanto, o EstadoFederal brasileiro.

Adotou a formulação clássica de separação de Poderes, ou seja, a dou-trina tripartite de Montesquieu, estabelecendo como órgãos da soberanianacional os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, harmónicos e in-

dependentes entre si. Estabeleceu-se o presidencialismo como regime degoverno, abolindo-se o parlamentarismo, sendo o Presidente da Repúblicaeleito pelo sufrágio direto do povo. Ampliou a declaração de direitos huma-nos

, introduzindo expressamente pela primeira vez o instituto do habeascorpus (§ 22 do art. 72).

14.4.3 Constituição de 1934

Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, promul-gada em 16.07.1934. Manteve a estrutura fundamental anterior, a saber:a República, a Federação, a divisão dos Poderes, o presidencialismo e oregime representativo. Aumentou os poderes do Executivo, definiu os

direitos políticos e o sistema eleitoral, admitindo o voto secreto, esten-

dido às mulheres. Estabeleceu alguns direitos trabalhistas, como saláriomínimo

, descanso semanal, férias, e regulamentou o trabalho das mulhe-res e dos menores. Inovação no plano constitucional foi a integração daJustiça Militar e dajustiça Eleitoral como órgãos do Poderjudiciário, bemcomo previu a Justiça do Trabalho. Introduziu o ensino primário gratuitoe obrigatório e criou, no plano da declaração de direitos, o mandado desegurança e a ação popular. Instituiu, ao lado do Ministério Público e doTribunal de Contas, os conselhos técnicos como órgãos de cooperação nasatividades governamentais.

Inspirada na Constituição alemã de Weimar de 1919, houve a adoçãode capítulos referentes à ordem económica e social, à família, à educação eà cultura. Além disso

, devem-se citar as normas relativas ao funcionalismo

público e às Forças Armadas.

14.4.4 Constituição de 1937

Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, outorgada porGetúlio Vargas em 10.11.1937. Inspirada na Constituição fascista da Poló-nia, recebeu o apelido de "Polaca". O Brasil passou a ser um Estado apenas

Page 161: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 14 . Mecanismos de proteção dos Direitos Humanos na CF/88 161

formalmente federal, despojando das unidades federativas sua autonomia.Há o fortalecimento do Poder Executivo federal, ou seja, concentram-se nasmãos do Presidente da República os Poderes Executivo e Legislativo. GetúlioVargas legisla por via de decretos-leis que ele próprio depois aplicava comoórgão do Executivo. Nesse período, há a suspensão dos institutos do man-dado de segurança e da ação popular, bem como o surgimento do "quintoconstitucional"

.

15.4.5 Constituição de 1946

Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil, promulgada em18.09.1946. Restaurou a autonomia das entidades federadas, criou novamente

o cargo de Vice-Presidente da República, extinto nas Constituições de 1934 e1937, reintroduziu os remédios do mandado de segurança e da ação popular.Fortaleceu o regime democrático, assegurando o pluripartidarismo. Sob ocomando desta Constituição, houve a reintrodução do regime parlamentaristano Brasil

, que durou de 1961 até 1963.

14.4.6 Constituição de 1967

O Ato Institucional 4, de 07.12.1966, convocou o Congresso Nacional parase reunir extraordinariamente de 12.12.1966 a 24.01.1967 e promulgar (Mesada Câmara e do Senado Federal) o projeto de Constituição que o governo apre-sentou. Em 24.01.1967 foi ela promulgada, entrando em vigor em 15.03.1967,quando assumia a Presidência o Marechal Arthur da Costa e Silva. Preocupou-sefundamentalmente com a segurança nacional, promoveu a centralização dosPoderes no Executivo federal, reduziu a autonomia individual, permitindo asuspensão dos direitos e garantias constitucionais, e, por fim, criou as eleiçõesindiretas para Presidente da República (Colégio Eleitoral).

A Constituição de 1967 consolidou arbitrariedades decretadas nos AtosInstitucionais, caracterizando diversos retrocessos em relação aos direitoshumanos. Foi a Constituição elaborada após o golpe militar de 1964.

14.4.7 Constituição de 1969

Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em17.10.1969, como Emenda Constitucional 1 à Constituição do Brasil de

1967, para entrar em vigor em 30.10.1969. Teórica e tecnicamente não se

Page 162: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

162 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

tratou de emenda, pois uma emenda constitucional é um mecanismo paraalterar uma parte de uma Constituição, não fazer uma nova. A emenda sóserviu como mecanismo de outorgação, uma vez que, na verdade, foi pro-mulgado um texto integralmente reformulado. Em que pese o texto do art.34 do ADCT da CF/88, a doutrina prevalente entende que tal emenda é umaverdadeira Constituição.

Outorgada por três Ministros militares (Augusto Hamann RademakerGrunewald, Aurélio de Lyra Tavares e Márcio de Souza Mello), promoveugrande concentração do poder político nas mãos do Executivo federal, àsemelhança da Constituição anterior. Durante sua vigência houve uma forteviolação dos direitos humanos cometida pelos órgãos repressores do Estadoe pelos guerrilheiros, tais como sequestros, mortes, entre outros.

14.4.8 Constituição de 1988

Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada e publicadaem 05.10.1988. É conhecida como a "Constituição Cidadã", instituiu o EstadoDemocrático de Direito

, autolimitando o poder do Estado ao cumprimentodas leis que a todos subordinam, assegurou a livre participação dos cidadãosna vida política, o sufrágio passou a ser universal, direto e secreto nas três

esferas administrativas, os analfabetos conquistaram o direito ao voto e jovensacima de 16 anos de idade receberam o direito facultativo de votar. Estabeleceu

também o pluripartidarismo, fortaleceu o federalismo, conferindo maior au-tonomia aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, criou os remédiosconstitucionais do habeas data, do mandado de injunção e do mandado desegurança coletivo, acabou com a censura aos meios de comunicação, entreoutras inovações vinculadas aos direitos humanos. Na sua vigência houve aadesão a vários tratados de direitos humanos (PIDCP, PIDESC, ConvençãoAmericana de Direitos Humanos, Estatuto de Roma, entre outros).

14.5 EFICÁCIA VERTICAL E HORIZONTAL DOS DIREITOSFUNDAMENTAIS

A eficácia pode ser entendida como a qualidade ou capacidade da normafundamental produzir efeitos. A efetivação é a concretização da norma nomeio social.

A eficácia dos direitos fundamentais pode ser classificada em duas es-pécies: vertical e horizontal. A eficácia vertical indica que as normas funda-mentais são destinadas ao Estado. Geram uma relação jurídico-constitucional

Page 163: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Cap. 14 . Mecanismos de proteção dos Direitos Humanos na CF/88 163

entre a pessoa física ou jurídica (sujeito de direito) e os poderes Legislativo,Executivo e Judiciário, os quais estão vinculados ao respeito às normasconstitucionais, independentemente de regulamentação por norma infra-constitucional (é uma relação imperativa - dever de obedecer). A eficáciahorizontal refere-se à aplicabilidade direta dos direitos fundamentais nasrelações privadas, (nas relações entre particulares as normas fundamentaistambém podem ser utilizadas para a solução das lides). No caso concreto,deve-se realizar a ponderação de princípios fundamentais para a concessãodo direito, por exemplo, intimidade versus dano moral, entre outros.

Page 164: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf
Page 165: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Referênçias Bibliográficas

A Constituição e o Supremo. 2. ed. Brasília: Supremo Tribunal Federal, 2009.

Agra, Walber de Moura. Curso de direito constitucional. Rio de Janeiro: Forense, 2006.

Almeida, Guilherme Assis de; Apolinário, Silvia Menicucci de Oliveira Selmi. Direitos hu-

manos. São Paulo: Atlas, 2009.

_. Direito internacional dos direitos humanos. 2. ed. São Paulo: Atlas

, 2007.

Araújo, Luiz Alberto David; NunesJr., Vidal Serrano. Curso de direito constitucional. 4. ed.São Paulo: Saraiva

, 2001.

Bastos, Celso Ribeiro. Curso de direito constitucional. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 1997.

Bobbio, Norberto. A era dos direitos. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio dejaneiro: Campus,

1992.

_

. Dicionário de política. 11. ed. Brasília: UnB, 1998. v. 1 e 2.

Bonavides, Paulo. Curso de direito constitucional. 6. ed. São Paulo: Malheiros, 1996.

Bulos, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007.

Campanhole, Adriano; Campanhole, Hilton Lobo. Constituições do Brasil. 13. ed. São Paulo:

Atlas, 1999.

Canotilho, José Joaquim Gomes. Direito constitucional. 6. ed. Coimbra: Almedina, 1993.

_

. Direito constitucional e teoria da constituição. Coimbra: Almedina, 1998.

Capez, Fernando; Chimenti, Ricardo Cunha; Rosa, Márcio F Elias; Santos, Marisa F Cursode direito constitucional. 3. ed. São Paulo: Saraiva

, 2006.

Carvalho, Júlio Marino de. Asilo político e direitos humanos. Rio dejaneiro: Forense, 2000.

Comparato, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 2. ed. São Paulo:Saraiva, 2001.

Congresso Nacional. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, de 5 de ou-tubro de 1988.

CretellaJr., José. Comentários à Constituição Brasileira de 1988. 2. ed. Rio dejaneiro:Forense Universitária

, 1992.

Dantas, Ivo. Instituições de direito constitucional brasileiro. 2. ed. Curitiba: Juruá, 2001.

Dias, Maria Berenice. A Lei Maria da Penha na justiça. São Paulo: RT, 2007.

Page 166: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

166 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

DidierJr., Fredie; Cunha, Leonardojosé Carneiro da. Curso de direito processual civil. 7. ed.Salvador: JusPodivm, 2009. v. 3.

Ferreira, Pinto. Curso de direito constitucional. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 1996.

_

. Enciclopédia Saraiva do direito. São Paulo: Saraiva, 1977. v. 62.Ferreira Filho, Manoel Gonçalves. Comentários à Constituição brasileira. 3. ed. São Paulo:

Saraiva, 1990.

_

. Curso de direito constitucional. 26. ed. São Paulo: Saraiva, 1999.

_

. Direitos humanos fundamentais. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 1998.Gomes, Luiz Flávio. Estado constitucional de direito e a nova pirâmide jurídica. São Paulo:

Premier Máxima, 2008.

_

.

Status normativo do direito internacional dos direitos humanos no direito interno

brasileiro. São Paulo, Carta Forense, maio 2009.

Gonçalves, Luiz Carlos dos Santos. Mandados expressos de criminalização e a proteção dedireitos fundamentais na Constituição brasileira de 1988. Belo Horizonte: Fórum, 2007.

Junqueira, Gustavo Octaviano Diniz; Vanzolini, Maria Patrícia. Prática penal. 5. ed. SãoPaulo: Premier Máxima, 2009.

Lenza, Pedro. Direito constitucional esquematizado. 13. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.

Macedo Jr., Ronaldo Porto. Evolução institucional do Ministério Público brasileiro. SãoPaulo: Atlas

, 1997.

Marcato, Antônio Carlos (coord.). Código de Processo Civil interpretado. 3. ed. São Paulo:Atlas

, 2008.

Marcílio, Maria Luiza (coord.) Cultura dos direitos humanos. São Paulo: LTr, 1998.

Matteucci, Nicola. Dicionário de política. 11. ed.. Brasília: UnB, 1998.Mazzuoli, Valério de Oliveira. Curso de direito internacional público. 3. ed. São Paulo: RT,

2008.

Mendes, Gilmar Ferreira et al. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2007.

Menna, Fábio de Vasconcellos; Aguirre, João Ricardo Brandão. Prática civil. São Paulo:Premier Máxima, 2009.

Montenegro Filho, Misael. Código de Processo Civil comentado e interpretado. São Paulo:Atlas, 2008.

_

. Curso de direito processual civil. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007. v. 1, 2 e 3.Moraes

, Alexandre de. Direito constitucional. 18. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

_

. Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional. 7. ed. São Paulo:Atlas, 2007.

Mota, Leda Pereira; Spitzcovisky, Celso. Curso de direito constitucional. 5. ed. São Paulo:Juarez de Oliveira, 2000.

Nery Jr., Nelson; Nery, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil comentado e legis-lação extravagante. 10. ed. São Paulo: RT, 2007.

_;_

. Constituição Federal comentada e legislação constitucional. São Paulo:RT, 2006.

Page 167: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Referências bibliográficas 167

Novelino, Marcelo. Direito constitucional. 2. ed. São Paulo: Método, 2008.Oliveira

, Almir de. Curso de direitos humanos. Rio de Janeiro: Forense, 2000.

Oliveira, Erival da Silva. Comissão parlamentar de inquérito. São Paulo: Lumenjuris, 2000.

_

. Direito constitucional. 11. ed. São Paulo: RT, 2011.

_

. Direito em Áudio. São Paulo: RT, 2010.

_

. Exames de OAB - Testes e comentários. 4. ed. São Paulo: Premier Máxima, 2007.

_. Exames de OAB Nacional-Testes e comentários. São Paulo: Premier Máxima, 2005.

_

. Exames de OAB CESPE Nacional - Testes e comentários. São Paulo: Premier Má-

xima, 2009.

_. Questões Comentadas dos Exames de OAB. 3. ed. São Paulo: RT, 2010.

_

. Introdução ao estudo do direito constitucional. São Paulo: Artchip, 2003.

_. Prática constitucional. 4. ed. São Paulo: RT, 2011.

_

. Reta Final-Direito constitucional. 4. ed. São Paulo: RT, 2010.

_

. Resumo Final - Direitos humanos. 4. ed. São Paulo: RT, 2011.

_. Resumo Final - Remédios constitucionais e súmula vinculante. 2. ed. São Paulo:

RT, 2010.

_

. Reta Final - Direito Eleitoral, ed. São Paulo: RT, 2010.

_

. Vade Mecum. São Paulo: RT, 2011.

Piovesan, Flávia. Direitos humanos e o direito constitucional internacional. 7. ed. São Paulo:

Saraiva, 2006; 10. ed. 2007; 12. ed. 2011.

_

. Direitos humanos e justiça internacional. São Paulo: Saraiva, 2007.

Poletti, Ronaldo. Controle da constitucionalidade das leis. 2. ed. Riodejaneiro: Forense, 1997.

Ramos, André de Carvalho. Direitos humanos em juízo. São Paulo: Max Limonad, 2001.Santos, Fernanda Marinela de Souza; Andrade, Flávia Cristina Moura de; Garcia, Wander.

Prática administrativa. São Paulo: Premier Máxima, 2008.

Sarmento, George. Direitos Humanos. Liberdades públicas, ações constitucionais, recepçãodos tratados internacionais.São Paulo: Saraiva, 2011.

SidouJ. M. Othon. Habeas corpus, mandado de segurança, mandado de injunção, habeas data,ação popular - As garantias ativas dos direitos coletivos. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense,2002.

Silva, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 14. ed. São Paulo: Malheiros,1997.

_

. Aplicabilidade das normas constitucionais. São Paulo: RT, 1982.Tavares, André Ramos. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2002.

Trindade, Antônio Augusto Cançado. A proteção internacional dos direitos humanos: funda-mentos jurídicos e instrumentos básicos. São Paulo: Saraiva, 1991.

_

. Tratado de Direito Internacional dos Direitos Humanos. Porto Alegre: Sérgio An-tônio Fabres, 2003.

Zimmermann, Augusto. Curso de direito constitucional. Rio de Janeiro: Lumenjuris, 2002.

Page 168: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

168 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

SITES

www.google.com.br

www.onu-brasil.org.br

www.mj.gov.br

www.oitbrasil.org.brwww.unhchr.ch

educacao.uol.com.br

www.corteidh.or.cr

www.stf.jus.brwww.stj.jus.br

www.presidencia.gov.br

www.senado.gov.br

www.camara.gov.brhttp://professorerival.com.br

Page 169: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Anexa

Convenção Americana de Direitos HumanosPacto de San José da Costa Rica (1969)

Adotada em San José da Costa Rica em 22 de novembro de 1969.Aprovada no Brasil pelo Decreto Legislativo 27, de 25.09.1992.

Promulgada no Brasil pelo Decreto 678, de 06.11.1992.

Preâmbulo

Os Estados americanos signatários da presente Convenção,

Reafirmando seu propósito de consolidar neste Continente, dentro do quadrodas instituições democráticas, um regime de liberdade pessoal e de justiça social,

fundado no respeito dos direitos essenciais do homem;

Reconhecendo que os direitos essenciais do homem não derivam do fato de serele nacional de determinado Estado

, mas sim do fato de ter como fundamento os

atributos da pessoa humana, razão por que justificam uma proteção internacional,

de natureza convencional, coadjuvante ou complementar da que oferece o direitointerno dos Estados americanos;

Considerando que esses princípios foram consagrados na Carta da Organizaçãodos Estados Americanos, na Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Ho-mem e na Declaração Universal dos Direitos do Homem e que foram reafirmadose desenvolvidos em outros instrumentos internacionais

, tanto de âmbito mundial

como regional;

Reiterando que, de acordo com a Declaração Universal dos Direitos doHomem

, só pode ser realizado o ideal do ser humano livre, isento do temor eda miséria

, se forem criadas condições que permitam a cada pessoa gozar dosseus direitos económicos, sociais e culturais, bem como dos seus direitos civis

e políticos; e

Page 170: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

170 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Considerando que a Terceira Conferência Interamericana Extraordinária (Bue-nos Aires, 1967) aprovou a incorporação à própria Carta da Organização de nor-mas mais amplas sobre direitos económicos, sociais e educacionais e resolveu queuma convenção interamericana sobre direitos humanos determinasse a estrutura,

competência e processo dos órgãos encarregados dessa matéria,

Convieram no seguinte:

Parte I

DEVERES DOS ESTADOS E DIREITOS PROTEGIDOS

Capítulo IENUMERAÇÃO DE DEVERES

Artigo 1

Obrigação de respeitar os direitos

1. Os Estados-Partes nesta Convenção comprometem-se a respeitar os direitos

e liberdades nela reconhecidos e a garantir seu livre e pleno exercício a toda pes-soa que esteja sujeita à sua jurisdição, sem discriminação alguma por motivo deraça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza,origem nacional ou social, posição económica, nascimento ou qualquer outracondição social.

2. Para os efeitos desta Convenção, pessoa é todo ser humano.

Artigo 2

Dever de adotar disposições de direito interno

Se o exercício dos direitos e liberdades mencionados no art. 1.° ainda não esti-

ver garantido por disposições legislativas ou de outra natureza, os Estados-Partescomprometem-se a adotar, de acordo com as suas normas constitucionais e comas disposições desta Convenção, as medidas legislativas ou de outra natureza queforem necessárias para tornar efetivos tais direitos e liberdades.

Capítulo IIDIREITOS CIVIS E POLÍTICOS

Artigo 3

Direito ao reconhecimento da personalidade jurídica

Toda pessoa tem direito ao reconhecimento de sua personalidade jurídica.

Page 171: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Anexo 171

Artigo 4Direito ávida

1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser

protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode serprivado da vida arbitrariamente.

2. Nos países que não houverem abolido a pena de morte, esta só poderá ser

imposta pelos delitos mais graves, em cumprimento de sentença final de tribunalcompetente e em conformidade com lei que estabeleça tal pena, promulgada antesde haver o delito sido cometido. Tampouco se estenderá sua aplicação a delitos aosquais não se aplique atualmente.

3. Não se pode restabelecer a pena de morte nos Estados que a hajam abolido.

4. Em nenhum caso pode a pena de morte ser aplicada por delitos políticos,nem por delitos comuns conexos com delitos políticos.

5. Não se deve impor a pena de morte a pessoa que, no momento da perpetraçãodo delito, for menor de dezoito anos, ou maior de setenta, nem aplicá-la a mulherem estado de gravidez.

6. Toda pessoa condenada à morte tem direito a solicitar anistia, indulto ou co-

mutação da pena, os quais podem ser concedidos em todos os casos. Não se podeexecutar a pena de morte enquanto o pedido estiver pendente de decisão ante aautoridade competente.

Artigo 5

Direito à integridade pessoal

1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua integridade física, psíquica

e moral.

2. Ninguém deve ser submetido a torturas, nem a penas ou tratos cruéis, desu-

manos ou degradantes. Toda pessoa privada da liberdade deve ser tratada com orespeito devido à dignidade inerente ao ser humano.

3. A pena não pode passar da pessoa do delinquente.

4. Os processados devem ficar separados dos condenados, salvo em circuns-

tâncias excepcionais, e ser submetidos a tratamento adequado à sua condição depessoas não condenadas.

5. Os menores, quando puderem ser processados, devem ser separados dos

adultos e conduzidos a tribunal especializado, com a maior rapidez possível, paraseu tratamento.

6. As penas privativas da liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma

e a readaptação social dos condenados.

Page 172: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

172 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Artigo 6Proibição da escravidão e da servidão

1. Ninguém pode ser submetido a escravidão ou a servidão, e tanto estas como

o tráfico de escravos e o tráfico de mulheres são proibidos em todas as formas.2

. Ninguém deve ser constrangido a executar trabalho forçado ou obrigatório.Nos países em que se prescreve, para certos delitos, pena privativa da liberdadeacompanhada de trabalhos forçados, esta disposição não pode ser interpretada nosentido de que proíbe o cumprimento da dita pena, imposta por juiz ou tribunalcompetente. O trabalho forçado não deve afetar a dignidade nem a capacidadefísica e intelectual do recluso.

3. Não constituem trabalhos forçados ou obrigatórios para os efeitos deste artigo:

a) os trabalhos ou serviços normalmente exigidos de pessoa reclusa em cum-primento de sentença ou resolução formal expedida pela autoridade judiciáriacompetente. Tais trabalhos ou serviços devem ser executados sob a vigilânciae controle das autoridades públicas, e os indivíduos que os executarem não de-vem ser postos à disposição de particulares, companhias ou pessoas jurídicas decaráter privado;

b) o serviço militar e, nos países onde se admite a isenção por motivos de cons-ciência, o serviço nacional que a lei estabelecer em lugar daquele;

c) o serviço imposto em casos de perigo ou calamidade que ameace a existênciaou o bem-estar da comunidade; e

d) o trabalho ou serviço que faça parte das obrigações cívicas normais.

Artigo 7

Direito à liberdade pessoal

1. Toda pessoa tem direito à liberdade e à segurança pessoais.

2. Ninguém pode ser privado de sua liberdade física, salvo pelas causas e nas

condições previamente fixadas pelas constituições políticas dos Estados-Partes oupelas leis de acordo com elas promulgadas.

3. Ninguém pode ser submetido a detenção ou encarceramento arbitrários.

4. Toda pessoa detida ou retida deve ser informada das razões da sua detenção

e notificada, sem demora, da acusação ou acusações formuladas contra ela.

5. Toda pessoa detida ou retida deve ser conduzida, sem demora, à presença

de um juiz ou outra autoridade autorizada pela lei a exercer funções judiciais etem direito a ser julgada dentro de um prazo razoável ou a ser posta em liberdade,sem prejuízo de que prossiga o processo. Sua liberdade pode ser condicionada agarantias que assegurem o seu comparecimento em juízo.

Page 173: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Anexo 173

6. Toda pessoa privada da liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribu-

nal competente, a fim de que este decida, sem demora, sobre a legalidade de suaprisão ou detenção e ordene sua soltura se a prisão ou a detenção forem ilegais.Nos Estados-Partes cujas leis preveem que toda pessoa que se vir ameaçada de serprivada de sua liberdade tem direito a recorrer a um juiz ou tribunal competentea fim de que este decida sobre a legalidade de tal ameaça, tal recurso não pode serrestringido nem abolido. O recurso pode ser interposto pela própria pessoa oupor outra pessoa.

7. Ninguém deve ser detido por dívida. Este princípio não limita os mandados

de autoridade judiciária competente expedidos em virtude de inadimplemento deobrigação alimentar.

Artigo 8

Garantias judiciais

1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de

um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e impar-cial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penalformulada contra ela

, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações denatureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza.

2. Toda pessoa acusada de delito tem direito a que se presuma sua inocência

enquanto não se comprove legalmente sua culpa. Durante o processo, toda pessoatem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas:

a) direito do acusado de ser assistido gratuitamente por tradutor ou intérprete,

se não compreender ou não falar o idioma do juízo ou tribunal;

b) comunicação prévia e pormenorizada ao acusado da acusação formulada;

c) concessão ao acusado do tempo e dos meios adequados para a preparaçãode sua defesa;

d) direito do acusado de defender-se pessoalmente ou de ser assistido por umdefensor de sua escolha e de comunicar-se

, livremente e em particular, com seudefensor;

e) direito irrenunciável de ser assistido por um defensor proporcionado peloEstado, remunerado ou não, segundo a legislação interna, se o acusado não sedefender ele próprio nem nomear defensor dentro do prazo estabelecido pela lei;

j) direito da defesa de inquirir as testemunhas presentes no tribunal e de obtero comparecimento, como testemunhas ou peritos, de outras pessoas que possamlançar luz sobre os fatos;

g) direito de não ser obrigado a depor contra si mesma, nem a declarar-se cul-pada; e

Page 174: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

174 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

h) direito de recorrer da sentença para juiz ou tribunal superior.3

. A confissão do acusado só é válida se feita sem coação de nenhuma natureza.

4. O acusado absolvido por sentença passada em julgado não poderá ser sub-

metido a novo processo pelos mesmos fatos.5.0 processo penal deve ser público, salvo no que for necessário para preservar

os interesses da justiça.

Artigo 9Princípio da legalidade e da retroatividade

Ninguém pode ser condenado por ações ou omissões que, no momento em queforem cometidas, não sejam delituosas, de acordo com o direito aplicável. Tampou-co se pode impor pena mais grave que a aplicável no momento da perpetração dodelito. Se depois da perpetração do delito a lei dispuser a imposição de pena maisleve

, o delinquente será por isso beneficiado.

Artigo 10Direito à indenização

Toda pessoa tem direito de ser indenizada conforme a lei, no caso de haver sidocondenada em sentença passada em julgado, por erro judiciário.

Artigo 11

Proteção da honra e da dignidade

1. Toda pessoa tem direito ao respeito de sua honra e ao reconhecimento de

sua dignidade.2

. Ninguém pode ser objeto de ingerências arbitrárias ou abusivas em sua vidaprivada, na de sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência, nem deofensas ilegais à sua honra ou reputação.

3. Toda pessoa tem direito à proteção da lei contra tais ingerências ou tais ofensas.

Artigo 12Liberdade de consciência e de religião

1. Toda pessoa tem direito à liberdade de consciência e de religião. Esse direito

implica a liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar dereligião ou de crenças, bem como a liberdade de professar e divulgar sua religiãoou suas crenças, individual ou coletivamente, tanto em público como em privado.

2. Ninguém pode ser objeto de medidas restritivas que possam limitar sua

liberdade de conservar sua religião ou suas crenças, ou de mudar de religião oude crenças.

Page 175: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Anexo 175

3. A liberdade de manifestar a própria religião e as próprias crenças está sujeita

unicamente às limitações prescritas pela lei e que sejam necessárias para protegera segurança, a ordem, a saúde ou a moral públicas ou os direitos ou liberdades dasdemais pessoas.

4. Os pais, e quando for o caso os tutores, têm direito a que seus filhos ou pu-

pilos recebam a educação religiosa e moral que esteja acorde com suas própriasconvicções.

Artigo 13Liberdade de pensamento e de expressão

1. Toda pessoa tem direito à liberdade de pensamento e de expressão. Esse

direito compreende a liberdade de buscar, receber e difundir informações e ideiasde toda natureza, sem consideração de fronteiras, verbalmente ou por escrito, ouem forma impressa ou artística, ou por qualquer outro processo de sua escolha.

2. O exercício do direito previsto no inciso precedente não pode estar sujeito a

censura prévia, mas a responsabilidades ulteriores, que devem ser expressamentefixadas pela lei a ser necessárias para assegurar:

a) o respeito aos direitos ou à reputação das demais pessoas; oub) a proteção da segurança nacional, da ordem pública, ou da saúde ou da moral

públicas.3

. Não se pode restringir o direito de expressão por vias ou meios indiretos,

tais como o abuso de controles oficiais ou particulares de papel de imprensa, de

frequências radioelétricas ou de equipamentos e aparelhos usados na difusão deinformação, nem por quaisquer outros meios destinados a obstar a comunicaçãoe a circulação de ideias e opiniões.

4. A lei pode submeter os espetáculos públicos a censura prévia, com o objetivo

exclusivo de regular o acesso a eles, para proteção moral da infância e da adoles-cência, sem prejuízo do disposto no inciso 2.

5. A lei deve proibir toda propaganda a favor da guerra, bem como toda apolo-

gia ao ódio nacional, racial ou religioso que constitua incitação à discriminação, àhostilidade

, ao crime ou à violência.

Artigo 14Direito de retificação ou resposta

1. Toda pessoa atingida por informações inexatas ou ofensivas emitidas em

seu prejuízo por meios de difusão legalmente regulamentados e que se dirijam aopúblico em geral, tem direito a fazer, pelo mesmo órgão de difusão, sua retificaçãoou resposta, nas condições que estabeleça a lei.

Page 176: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

176 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

2. Em nenhum caso a retificação ou a resposta eximirão das outras responsabi-

lidades legais em que se houver incorrido.3

. Para a efetiva proteção da honra e da reputação, toda publicação ou empresajornalística, cinematográfica, de rádio ou televisão, deve ter uma pessoa responsávelque não seja protegida por imunidades nem goze de foro especial.

Artigo 15Direito de reunião

É reconhecido o direito de reunião pacífica e sem armas. O exercício de tal di-reito só pode estar sujeito às restrições previstas pela lei e que sejam necessárias,numa sociedade democrática, no interesse da segurança nacional, da segurançaou da ordem públicas, ou para proteger a saúde ou a moral públicas ou os direitose liberdades das demais pessoas.

Artigo 16Liberdade de associação

1. Todas as pessoas têm o direito de associar-se livremente com fins ideológicos,

religiosos, políticos, económicos, trabalhistas, sociais, culturais, desportivos oude qualquer outra natureza.

2. O exercício de tal direito só pode estar sujeito às restrições previstas pela lei

que sejam necessárias, numa sociedade democrática, no interesse da segurançanacional

, da segurança ou da ordem públicas, ou para proteger a saúde ou a moralpúblicas ou os direitos e liberdades das demais pessoas.

3.0 disposto neste artigo não impede a imposição de restrições legais, e mesmo

a privação do exercício do direito de associação, aos membros das forças armadase da polícia.

Artigo 17Proteção da família

1. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e deve ser protegida

pela sociedade e pelo Estado.2

.

É reconhecido o direito do homem e da mulher de contraírem casamento e

de fundarem uma família, se tiverem a idade e as condições para isso exigidas pelasleis internas

, na medida em que não afetem estas o princípio da não discriminaçãoestabelecido nesta Convenção.

3. O casamento não pode ser celebrado sem o livre e pleno consentimento dos

contraentes.

Page 177: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Anexo 177

4. Os Estados-Partes devem tomar medidas apropriadas no sentido de assegurar

a igualdade de direitos e a adequada equivalência de responsabilidade dos cônjugesquanto ao casamento, durante o casamento e em caso de dissolução do mesmo.Em caso de dissolução, serão adotadas disposições que asseguram a proteção ne-cessária aos filhos, com base unicamente no interesse e conveniência dos mesmos.

5. A lei deve reconhecer iguais direitos tanto aos filhos nascidos fora do casa-

mento como aos nascidos dentro do casamento.

Artigo 18Direito ao nome

Toda pessoa tem direito a um prenome e aos nomes de seus pais ou ao de umdestes. A lei deve regular a forma de assegurar a todos esse direito, mediante nomesfictícios

, se for necessário.

Artigo 19Direitos da criança

Toda criança tem direito às medidas de proteção que a sua condição de menorrequer por parte da sua família,

da sociedade e do Estado.

Artigo 20Direito à nacionalidade

1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.

2. Toda pessoa tem direito à nacionalidade do Estado em cujo território houver

nascido, se não tiver direito a outra.

3. A ninguém se deve privar arbitrariamente de sua nacionalidade nem do

direito de mudá-la.

Artigo 21Direito à propriedade privada

1. Toda pessoa tem direito ao uso e gozo dos seus bens. A lei pode subordinar

esse uso e gozo ao interesse social.2

. Nenhuma pessoa pode ser privada de seus bens, salvo mediante o pagamentode indenização justa, por motivo de utilidade pública ou de interesse social e noscasos e na forma estabelecidos pela lei.

3. Tanto a usura como qualquer outra forma de exploração do homem pelo

homem devem ser reprimidas pela lei.

Page 178: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

178 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Artigo 22Direito de circulação e de residência

1. Toda pessoa que se ache legalmente no território de um Estado tem direito de

circular nele e de nele residir em conformidade com as disposições legais.2

. Toda pessoa tem o direito de sair livremente de qualquer país, inclusive dopróprio.

3. O exercício dos direitos acima mencionados não pode ser restringido senão

em virtude de lei, na medida indispensável, numa sociedade democrática, paraprevenir infrações penais ou para proteger a segurança nacional, a segurança ou aordem públicas, a moral ou a saúde públicas, ou os direitos e liberdades das demaispessoas.

4.0 exercício dos direitos reconhecidos no inciso 1 pode também ser restringido

pela lei, em zonas determinadas, por motivos de interesse público.5

. Ninguém pode ser expulso do território do Estado do qual for nacional, nemser privado do direito de nele entrar.

6. O estrangeiro que se ache legalmente no território de um Estado-Parte nesta

Convenção só poderá dele ser expulso em cumprimento de decisão adotada deacordo com a lei.

7. Toda pessoa tem o direito de buscar e receber asilo em território estran-

geiro, em caso de perseguição por delitos políticos ou comuns conexos comdelitos políticos e de acordo com a legislação de cada Estado e com os convéniosinternacionais.

8. Em nenhum caso o estrangeiro pode ser expulso ou entregue a outro país,

seja ou não de origem, onde seu direito à vida ou à liberdade pessoal esteja em riscode violação por causa da sua raça, nacionalidade, religião, condição social ou desuas opiniões políticas.

9. É proibida a expulsão coletiva de estrangeiros.

Artigo 23

Direitos políticos

1. Todos os cidadãos devem gozar dos seguintes direitos e oportunidades:

a) de participar da direção dos assuntos públicos, diretamente ou por meio derepresentantes livremente eleitos;

b) de votar e ser eleitos em eleições periódicas autênticas, realizadas por sufrágiouniversal e igual e por voto secreto que garanta a livre expressão da vontade doseleitores; e

c) de ter acesso, em condições gerais de igualdade, às funções públicas de seu país.

Page 179: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Anexo 179

2. A lei pode regular o exercício dos direitos e oportunidades e a que se refere o

inciso anterior, exclusivamente por motivos de idade, nacionalidade, residência,idioma, instrução, capacidade civil ou mental, ou condenação, por juiz competente,em processo penal.

Artigo 24Igualdade perante a lei

Todas as pessoas são iguais perante a lei. Por conseguinte, têm direito, semdiscriminação, a igual proteção da lei.

Artigo 25Proteção judicial

1. Toda pessoa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro

recurso efetivo, perante os juízes ou tribunais competentes, que a proteja contraatos que violem seus direitos fundamentais reconhecidos pela constituição, pelalei ou pela presente Convenção, mesmo quando tal violação seja cometida porpessoas que estejam atuando no exercício de suas funções oficiais.

2. Os Estados-Partes comprometem-se:

a) a assegurar que a autoridade competente prevista pelo sistema legal do Estadodecida sobre os direitos de toda pessoa que interpuser tal recurso;

b) a desenvolver as possibilidades de recurso judicial; e

c) a assegurar o cumprimento, pelas autoridades competentes, de toda decisãoem que se tenha considerado procedente o recurso.

Capítulo IIIDIREITOS ECONÓMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS

Artigo 26Desenvolvimento progressivo

Os Estados-Partes comprometem-se a adotar providências, tanto no âmbitointerno como mediante cooperação internacional, especialmente económica etécnica, a fim de conseguir progressivamente a plena efetividade dos direitos quedecorrem das normas económicas, sociais e sobre educação, ciência e cultura,constantes da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformada peloProtocolo de Buenos Aires, na medida dos recursos disponíveis, por via legislativaou por outros meios apropriados.

Page 180: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

180 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Capítulo IVSUSPENSÃO DE GARANTIAS, INTERPRETAÇÃO E APLICAÇÃO

Artigo 27

Suspensão de garantias

1. Em caso de guerra, de perigo público, ou de outra emergência que ameace

a independência ou segurança do Estado-Parte, este poderá adotar disposiçõesque, na medida e pelo tempo estritamente limitados às exigências da situação,suspendem as obrigações contraídas em virtude desta Convenção, desde que taisdisposições não sejam incompatíveis com as demais obrigações que lhe impõe oDireito Internacional e não encerrem discriminação alguma fundada em motivosde raça, cor, sexo, idioma, religião ou origem social.

2. A disposição precedente não autoriza a suspensão dos direitos determinados

nos seguintes artigos: 3 (Direito ao Reconhecimento da Personalidade Jurídica),

4 (Direito à Vida), 5 (Direito à Integridade Pessoal), 6 (Proibição da Escravidãoe Servidão), 9 (Princípio da Legalidade e da Retroatividade), 12 (Liberdade de

Consciência e de Religião), 17 (Proteção da Família), 18 (Direito ao Nome), 19(Direitos da Criança), 20 (Direito à Nacionalidade) e 23 (Direitos Políticos), nemdas garantias indispensáveis para a proteção de tais direitos.

3. Todo Estado-Parte que fizer uso do direito de suspensão deverá informar

imediatamente os outros Estados-Partes na presente Convenção, por intermédiodo Secretário-Geral da Organização dos Estados Americanos, das disposições cujaaplicação haja suspendido, dos motivos determinantes da suspensão e da data emque haja dado por terminada tal suspensão.

Artigo 28Cláusula federal

1. Quando se tratar de um Estado-Parte constituído como Estado federal, o

governo nacional do aludido Estado-Parte cumprirá todas as disposições da pre-sente Convenção, relacionadas com as matérias sobre as quais exerce competêncialegislativa e judicial.

2. No tocante às disposições relativas às matérias que correspondem à compe-

tência das entidades componentes da federação, o governo nacional deve tomarimediatamente as medidas pertinentes, em conformidade com sua constituição esuas leis, a fim de que as autoridades competentes das referidas entidades possamadotar as disposições cabíveis para o cumprimento desta Convenção.

3. Quando dois ou mais Estados-Partes decidirem constituir entre eles uma

federação ou outro tipo de associação, diligenciarão no sentido de que o pacto

Page 181: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Anexo 181

comunitário respectivo contenha as disposições necessárias para que continuemsendo efetivas no novo Estado assim organizado as normas da presente Convenção.

Artigo 29

Normas de interpretação

Nenhuma disposição desta Convenção pode ser interpretada no sentido de:a) permitir a qualquer dos Estados-Partes, grupo ou pessoa, suprimir o gozo e

exercício dos direitos e liberdades reconhecidos na Convenção ou limitá-los em

maior medida do que a nela prevista;

b) limitar o gozo e exercício de qualquer direito ou liberdade que possam serreconhecidos de acordo com as leis de qualquer dos Estados-Partes ou de acordocom outra convenção em que seja parte um dos referidos Estados;

c) excluir outros direitos e garantias que são inerentes ao ser humano ou quedecorrem da forma democrática representativa de governo; e

d) excluir ou limitar o efeito que possam produzir a Declaração Americana dosDireitos e Deveres do Homem e outros atos internacionais da mesma natureza.

Artigo 30Alcance das restrições

As restrições permitidas, de acordo com esta Convenção, ao gozo e exercício dosdireitos e liberdades nela reconhecidos, não podem ser aplicadas senão de acordocom leis que forem promulgadas por motivo de interesse geral e com o propósitopara o qual houverem sido estabelecidas.

Artigo 31Reconhecimento de outros direitos

Poderão ser incluídos no regime de proteção desta Convenção outros direitose liberdades que forem reconhecidos de acordo com os processos estabelecidosnos artigos 69 e 70.* Redação do artigo conforme publicação oficial (DOL/09.11.1992). V. arts. 76 e 77.

Capítulo VDEVERES DAS PESSOAS

Artigo 32Correlação entre deveres e direitos

1. Toda pessoa tem deveres para com a família, a comunidade e a humanidade.

Page 182: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

182 Direitos Humanos - Eriva! da Silva Oliveira

2. Os direitos de cada pessoa são limitados pelos direitos dos demais, pela

segurança de todos e pelas justas exigências do bem comum, numa sociedadedemocrática.

Parte II

MEIOS DA PROTEÇÃO

Capítulo VIÓRGÃOS COMPETENTES

Artigo 33

São competentes para conhecer dos assuntos relacionados com o cumprimentodos compromissos assumidos pelos Estados-Partes nesta Convenção:

a) a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, doravante denominada

a Comissão; e

b) a Corte Interamericana de Direitos Humanos, doravante denominada a Corte.

Capítulo VIICOMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

Seção 1

Organização

Artigo 34

A Comissão Interamericana de Direitos Humanos compor-se-á de sete mem-bros

, que deverão ser pessoas de alta autoridade moral e de reconhecido saber emmatéria de direitos humanos.

Artigo 35

A Comissão representa todos os membros da Organização dos Estados Ame-ricanos.

Artigo 36

1. Os membros da Comissão serão eleitos a título pessoal, pela Assembleia-

-Geral da Organização, de uma lista de candidatos propostos pelos governos dosEstados-Membros.

Page 183: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Anexo 183

2. Cada um dos referidos governos pode propor até três candidatos nacionais

do Estado que os propuser ou de qualquer outro Estado-Membro da Organizaçãodos Estados Americanos. Quando for proposta uma lista de três candidatos, pelomenos um deles deverá ser nacional de Estado diferente do proponente.

Artigo 37

1. Os membros da Comissão serão eleitos por 4 (quatro) anos e só poderão ser

reeleitos uma vez, porém o mandato de três dos membros designados na primeiraeleição expirará ao cabo de 2 (dois) anos. Logo depois da referida eleição, serãodeterminados por sorteio, na Assembleia-Geral, os nomes desses três membros.

2. Não pode fazer parte da Comissão mais de um nacional de um mesmo Estado.

Artigo 38

As vagas que ocorrerem na Comissão, que não se devam à expiração normal domandato, serão preenchidas pelo Conselho Permanente da Organização, de acordocom o que dispuser o Estatuto da Comissão.

Artigo 39

A Comissão elaborará seu estatuto e submetê-lo-á à aprovação da Assembleia--Geral e expedirá seu próprio regulamento.

Artigo 40

Os serviços de secretaria da Comissão devem ser desempenhados pela unidadefuncional especializada que faz parte da Secretaria-Geral da Organização e devedispor dos recursos necessários para cumprir as tarefas que lhe forem confiadaspela Comissão.

Seção 2

Funções

Artigo 41

A Comissão tem a função principal de promover a observância e a defesa dosdireitos humanos e, no exercício do seu mandato, tem as seguintes funções eatribuições:

a) estimular a consciência dos direitos humanos nos povos da América;

b) formular recomendações aos governos dos Estados-Membros, quando oconsiderar conveniente, no sentido de que adotem medidas progressivas em prol

Page 184: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

184 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

dos direitos humanos no âmbito de suas leis internas e seus preceitos constitu-cionais

, bem como disposições apropriadas para promover o devido respeito aesses direitos;

c) preparar os estudos ou relatórios que considerar convenientes para o desem-penho de suas funções;

d) solicitar aos governos dos Estados-Membros que lhe proporcionem informa-ções sobre as medidas que adotarem em matéria de direitos humanos;

e) atender às consultas que, por meio da Secretaria-Geral da Organização dosEstados Americanos

, lhe formularem os Estados-Membros sobre questões rela-cionadas com os direitos humanos e

, dentro de suas possibilidades, prestar-lhes oassessoramento que eles lhe solicitarem;

j) atuar com respeito às petições e outras comunicações, no exercício de suaautoridade, de conformidade com o disposto nos arts. 44 a 51 desta Convenção; e

g) apresentar um relatório anual à Assembleia-Geral da Organização dos Esta-dos Americanos.

Artigo 42

Os Estados-Partes devem remeter à Comissão cópia dos relatórios e estudosque, em seus respectivos campos, submetem anualmente às Comissões Executivasdo Conselho Interamericano Económico e Social e do Conselho Interamericano

de Educação, Ciência e Cultura, a fim de que aquela vele por que se promovam osdireitos decorrentes das normas económicas

, sociais e sobre educação, ciência ecultura, constantes da Carta da Organização dos Estados Americanos, reformadapelo Protocolo de Buenos Aires.

Artigo 43

Os Estados-Partes obrigam-se a proporcionar à Comissão as informações queesta lhes solicitar sobre a maneira pela qual o seu direito interno assegura a apli-cação efetiva de quaisquer disposições desta Convenção.

Seção 3

Competência

Artigo 44

Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não governamental le-galmente reconhecida em um ou mais Estados-Membros da Organização, podeapresentar à Comissão petições que contenham denúncias ou queixas de violaçãodesta Convenção por um Estado-Parte.

Page 185: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Anexo 185

Artigo 45

1. Todo Estado-Parte pode, no momento do depósito do seu instrumento de

ratificação desta Convenção ou de adesão a ela, ou em qualquer momento posterior,declarar que reconhece a competência da Comissão para receber e examinar ascomunicações em que um Estado-Parte alegue haver outro Estado-Parte incorridoem violações dos direitos humanos estabelecidos nesta Convenção.

2. As comunicações feitas em virtude deste artigo só podem ser admitidas e

examinadas se forem apresentadas por um Estado-Parte que haja feito uma de-claração pela qual reconheça a referida competência da Comissão. A Comissãonão admitirá nenhuma comunicação contra um Estado-Parte que não haja feitotal declaração.

3. As declarações sobre reconhecimento de competência podem ser feitas para

que esta vigore por tempo indefinido, por período determinado ou para casosespecíficos.

4. As declarações serão depositadas na Secretaria-Geral da Organização dos

Estados Americanos, a qual encaminhará cópia das mesmas aos Estados-Membrosda referida Organização.

Artigo 46

1. Para que uma petição ou comunicação apresentada de acordo com os arts.

44 ou 45 seja admitida pela Comissão, será necessário:

a) que hajam sido interpostos e esgotados os recursos da jurisdição interna,de acordo com os princípios de direito internacional geralmente reconhecidos;

b) que seja apresentada dentro do prazo de 6 (seis) meses, a partir da data emque o presumido prejudicado em seus direitos tenha sido notificado da decisãodefinitiva;

c) que a matéria da petição ou comunicação não esteja pendente de outro pro-cesso de solução internacional; e

d) que, no caso do art. 44, a petição contenha o nome, a nacionalidade, a pro-fissão

, o domicílio e a assinatura da pessoa ou pessoas ou do representante legalda entidade que submeter a petição.

2. As disposições das alíneas a e b do inciso 1 deste artigo não se aplicarão quando:

a) não existir, na legislação interna do Estado de que se tratar, o devido processo

legal para a proteção do direito ou direitos que se alegue tenham sido violados;

b) não se houver permitido ao presumido prejudicado em seus direitos o acessoaos recursos da jurisdição interna, ou houver sido ele impedido de esgotá-los; e

c) houver demora injustificada na decisão sobre os mencionados recursos.

Page 186: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

186 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Artigo 47

A Comissão declarará inadmissível toda petição ou comunicação apresentadade acordo com os arts. 44 ou 45 quando:

a) não preencher algum dos requisitos estabelecidos no art. 46;b) não expuser fatos que caracterizem violação dos direitos garantidos por esta

Convenção;

c) pela exposição do próprio peticionário ou do Estado, for manifestamenteinfundada a petição ou comunicação ou for evidente sua total improcedência; ou

d) for substancialmente reprodução de petição ou comunicação anterior, jáexaminada pela Comissão ou por outro organismo internacional.

Seção 4Processo

Artigo 48

1. A Comissão, ao receber uma petição ou comunicação na qual se alegue

violação de qualquer dos direitos consagrados nesta Convenção, procederá daseguinte maneira:

a) se reconhecer a admissibilidade da petição ou comunicação, solicitará in-

formações ao Governo do Estado ao qual pertença a autoridade apontada comoresponsável pela violação alegada e transcreverá as partes pertinentes da petiçãoou comunicação. As referidas informações devem ser enviadas dentro de um prazorazoável, fixado pela Comissão ao considerar as circunstâncias de cada caso;

b) recebidas as informações, ou transcorrido o prazo fixado sem que sejam elasrecebidas, verificará se existem ou subsistem os motivos da petição ou comunica-ção. No caso de não existirem ou não subsistirem, mandará arquivar o expediente;

c) poderá também declarar a inadmissibilidade ou a improcedência da petiçãoou comunicação, com base em informação ou prova superveniente;

d) se o expediente não houver sido arquivado, e com o fim de comprovar osfatos

, a Comissão procederá, com conhecimento das partes, a um exame do assuntoexposto na petição ou comunicação. Se for necessário e conveniente, a Comissão

procederá a uma investigação para cuja eficaz realização solicitará, e os Estadosinteressados lhe proporcionarão, todas as facilidades necessárias;

e) poderá pedir aos Estados interessados qualquer informação pertinente ereceberá

, se isso lhe for solicitado, as exposições verbais ou escritas que apresen-tarem os interessados; e

J) pôr-se-á à disposição das partes interessadas, a fim de chegar a uma soluçãoamistosa do assunto, fundada no respeito aos direitos humanos reconhecidosnesta Convenção.

Page 187: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Anexo 187

2. Entretanto, em casos graves e urgentes, pode ser realizada uma investigação,

mediante prévio consentimento do Estado em cujo território se alegue haver sidocometida a violação, tão somente com a apresentação de uma petição ou comuni-cação que reúna todos os requisitos formais de admissibilidade.

Artigo 49

Se se houver chegado a uma solução amistosa de acordo com as disposições doinciso 1,/, do art. 48, a Comissão redigirá um relatório que será encaminhado aopeticionário e aos Estados-Partes nesta Convenção e, posteriormente, transmitido,para sua publicação, ao Secretário-Geral da Organização dos Estados Americanos.O referido relatório conterá uma breve exposição dos fatos e da solução alcançada.Se qualquer das partes no caso o solicitar, ser-lhe-á proporcionada a mais amplainformação possível.

Artigo 50

1. Se não se chegar a uma solução, e dentro do prazo que for fixado pelo Estatuto

da Comissão, esta redigirá um relatório no qual exporá os fatos e suas conclusões.Se o relatório não representar, no todo ou em parte, o acordo unânime dos mem-bros da Comissão

, qualquer deles poderá agregar ao referido relatório seu voto emseparado. Também se agregarão ao relatório as exposições verbais ou escritas quehouverem sido feitas pelos interessados em virtude do inciso 1, e, do artigo 48.

2. O relatório será encaminhado aos Estados interessados, aos quais não será

facultado publicá-lo.

3. Ao encaminhar o relatório, a Comissão pode formular as proposições e re-

comendações que julgar adequadas.

Artigo 51

1. Se no prazo de 3 (três) meses, a partir da remessa aos Estados interessados

do relatório da Comissão, o assunto não houver sido solucionado ou submetido à

decisão da Corte pela Comissão ou pelo Estado interessado, aceitando sua compe-tência, a Comissão poderá emitir, pelo voto da maioria absoluta dos seus membros,sua opinião e conclusões sobre a questão submetida à sua consideração.

2. A Comissão fará as recomendações pertinentes e fixará um prazo dentro do

qual o Estado deve tomar as medidas que lhe competirem para remediar a situaçãoexaminada.

3. Transcorrido o prazo fixado, a Comissão decidirá, pelo voto da maioria abso-

luta dos seus membros, se o Estado tomou ou não medidas adequadas e se publica

ou não seu relatório.

Page 188: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

188 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Capítulo VIIICORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS

Seção 1

Organização

Artigo 52

1. A Corte compor-se-á de sete juízes, nacionais dos Estados-Membros da Or-

ganização, eleitos a título pessoal dentre juristas da mais alta autoridade moral, dereconhecida competência em matéria de direitos humanos, que reúnam as condiçõesrequeridas para o exercício das mais elevadas funções judiciais, de acordo com a lei

do Estado do qual sejam nacionais, ou do Estado que os propuser como candidatos.2

. Não deve haver dois juízes da mesma nacionalidade.

Artigo 53

1. Os juízes da Corte serão eleitos, em votação secreta e pelo voto da maioria

absoluta dos Estados-Partes na Convenção, na Assembleia-Geral da Organização,

de uma lista de candidatos propostos pelos mesmos Estados.2

. Cada um dos Estados-Partes pode propor até três candidatos, nacionais do

Estado que os propuser ou de qualquer outro Estado-Membro da Organização dosEstados Americanos. Quando se propuser uma lista de três candidatos, pelo menosum deles deverá ser nacional de Estado diferente do proponente.

Artigo 54

1. Os juízes da Corte serão eleitos por um período de 6 (seis) anos e só poderão

ser reeleitos uma vez. O mandato de três dos juízes designados na primeira elei-ção expirará ao cabo de 3 (três) anos. Imediatamente depois da referida eleição,determinar-se-ão por sorteio, na Assembleia-Geral, os nomes desses três juízes.

2. O juiz eleito para substituir outro cujo mandato não haja expirado, comple-

tará o período deste.3

. Os juízes permanecerão em suas funções até o término dos seus mandatos.Entretanto, continuarão funcionando nos casos de que já houverem tomado co-nhecimento e que se encontrem em fase de sentença e, para tais efeitos, não serãosubstituídos pelos novos juízes eleitos.

Artigo 55

1. O juiz que for nacional de algum dos Estados-Partes no caso submetido à

Corte conservará o seu direito de conhecer o mesmo.

Page 189: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Anexo 189

2. Se um dos juízes chamados a conhecer do caso for de nacionalidade de um

dos Estados-Partes, outro Estado-Parte no caso poderá designar uma pessoa desua escolha para integrar a Corte na qualidade de juiz ad hoc.

3. Se, dentre os juízes chamados a conhecer do caso, nenhum for da nacionali-

dade dos Estados-Partes, cada um destes poderá designar um juiz ad hoc.4

. O juiz ad hoc deve reunir os requisitos indicados no art. 52.5

. Se vários Estados-Partes na Convenção tiverem o mesmo interesse no caso,

serão considerados como uma só parte, para os fins das disposições anteriores. Emcaso de dúvida, a Corte decidirá.

Artigo 56

O quorum para as deliberações da Corte é constituído por cinco juízes.

Artigo 57

A Comissão comparecerá em todos os casos perante a Corte.

Artigo 58

1. A Corte terá sua sede no lugar que for determinado, na Assembleia-Geral da

Organização, pelos Estados-Partes na Convenção, mas poderá realizar reuniões noterritório de qualquer Estado-Membro da Organização dos Estados Americanos emque o considerar conveniente pela maioria dos seus membros e mediante préviaaquiescência do Estado respectivo. Os Estados-Partes na Convenção podem, naAssembleia-Geral, por dois terços dos seus votos, mudar a sede da Corte.

2. A Corte designará seu Secretário.

3. O Secretário residirá na sede da Corte e deverá assistir às reuniões que ela

realizar fora da mesma.

Artigo 59

A Secretaria da Corte será por esta estabelecida e funcionará sob a direção doSecretário da Corte, de acordo com as normas administrativas da Secretaria-Geral

da Organização em tudo o que não for incompatível com a independência da Cor-te. Seus funcionários serão nomeados pelo Secretário-Geral da Organização, emconsulta com o Secretário da Corte.

Artigo 60

A Corte elaborará seu estatuto e submetê-lo-á à aprovação da Assembleia-Gerale expedirá seu regimento.

Page 190: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

190 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Seção 2

Competência e funções

Artigo 61

1. Somente os Estados-Partes e a Comissão têm direito de submeter caso à

decisão da Corte.

2. Para que a Corte possa conhecer de qualquer caso, é necessário que sejam

esgotados os processos previstos nos arts. 48 a 50.

Artigo 621

. Todo Estado-Parte pode, no momento do depósito do seu instrumento deratificação desta Convenção ou de adesão a ela, ou em qualquer momento poste-rior, declarar que reconhece como obrigatória, de pleno direito e sem convençãoespecial, a competência da Corte em todos os casos relativos à interpretação ouaplicação desta Convenção.

2. A declaração pode ser feita incondicionalmente, ou sob condição de recipro-

cidade, por prazo determinado ou para casos específicos. Deverá ser apresentadaao Secretário-Geral da Organização, que encaminhará cópias da mesma aos outrosEstados-Membros da Organização e ao Secretário da Corte.

3. A Corte tem competência para conhecer de qualquer caso relativo à interpre-

tação e aplicação das disposições desta Convenção que lhe seja submetido, desdeque os Estados-Partes no caso tenham reconhecido ou reconheçam a referidacompetência, seja por declaração especial, como preveem os incisos anteriores,

seja por convenção especial.

Artigo 63

1. Quando decidir que houve violação de um direito ou liberdade protegidos

nesta Convenção, a Corte determinará que se assegure ao prejudicado o gozo doseu direito ou liberdade violados. Determinará também, se isso for procedente, que

sejam reparadas as consequências da medida ou situação que haja configurado aviolação desses direitos, bem como o pagamento de indenização justa à parte lesada.

2. Em casos de extrema gravidade e urgência, e quando se fizer necessário evitar

danos irreparáveis às pessoas, a Corte, nos assuntos de que estiver conhecendo,

poderá tomar as medidas provisórias que considerar pertinentes. Se se tratar deassuntos que ainda não estiverem submetidos ao seu conhecimento, poderá atuara pedido da Comissão.

Artigo 64

1. Os Estados-Membros da Organização poderão consultar a Corte sobre a in-

terpretação desta Convenção ou de outros tratados concernentes à proteção dos

Page 191: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Anexo 191

direitos humanos nos Estados americanos. Também poderão consultá-la, no quelhes compete, os órgãos enumerados no Capítulo X da Carta da Organização dosEstados Americanos, reformada pelo Protocolo de Buenos Aires.

2. A Corte, a pedido de um Estado-Membro da Organização, poderá emitir

pareceres sobre a compatibilidade entre qualquer de suas leis internas e os men-cionados instrumentos internacionais.

Artigo 65

A Corte submeterá à consideração da Assembleia-Geral da Organização, em cadaperíodo ordinário de sessões, um relatório sobre suas atividades no ano anterior.De maneira especial, e com as recomendações pertinentes, indicará os casos emque um Estado não tenha dado cumprimento a suas sentenças.

Seção 3

Processo

Artigo 66

1. A sentença da Corte deve ser fundamentada.

2. Se a sentença não expressar no todo ou em parte a opinião unânime dos ju-

ízes, qualquer deles terá direito a que se agregue à sentença o seu voto dissidenteou individual.

Artigo 67

A sentença da Corte será definitiva e inapelável. Em caso de divergência sobreo sentido ou alcance da sentença, a Corte interpretá-la-á, a pedido de qualquer daspartes, desde que o pedido seja apresentado dentro de 90 (noventa) dias a partirda data da notificação da sentença.

Artigo 68

1. Os Estados-Partes na Convenção comprometem-se a cumprir a decisão da

Corte em todo caso em que forem partes.2

. A parte da sentença que determinar indenização compensatória poderá serexecutada no país respectivo pelo processo interno vigente para a execução desentenças contra o Estado.

Artigo 69

A sentença da Corte deve ser notificada às partes no caso e transmitida aosEstados-Partes na Convenção.

Page 192: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

192 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

Capítulo IXDISPOSIÇÕES COMUNS

Artigo 70

1. Os juízes da Corte e os membros da Comissão gozam, desde o momento de

sua eleição e enquanto durar o seu mandato, das imunidades reconhecidas aosagentes diplomáticos pelo Direito Internacional. Durante o exercício dos seuscargos gozam, além disso, dos privilégios diplomáticos necessários para o desem-penho de suas funções.

2. Não se poderá exigir responsabilidade em tempo algum dos juízes da Corte,

nem dos membros da Comissão, por votos e opiniões emitidos no exercício de

suas funções.

Artigo 71

Os cargos de juiz da Corte ou de membro da Comissão são incompatíveis comoutras atividades que possam afetar sua independência ou imparcialidade conformeo que for determinado nos respectivos estatutos.

Artigo 72

Os juízes da Corte e os membros da Comissão perceberão honorários e despesasde viagem na forma e nas condições que determinarem os seus estatutos, levandoem conta a importância e independência de suas funções. Tais honorários e despe-sas de viagem serão fixados no orçamento-programa da Organização dos EstadosAmericanos, no qual devem ser incluídas, além disso, as despesas da Corte e de suaSecretaria. Para tais efeitos, a Corte elaborará o seu próprio projeto de orçamento esubmetê-lo-á à aprovação da Assembleia-Geral, por intermédio da Secretaria-Geral.Esta última não poderá nele introduzir modificações.

Artigo 73

Somente por solicitação da Comissão ou da Corte, conforme o caso, cabe àAssembleia-Geral da Organização resolver sobre as sanções aplicáveis aos mem-bros da Comissão ou aos juízes da Corte que incorrerem nos casos previstos nosrespectivos estatutos. Para expedir uma resolução, será necessária maioria de 2/3

(dois terços) dos votos dos Estados-Membros da Organização, no caso dos mem-bros da Comissão; e, além disso, de dois terços dos votos dos Estados-Partes naConvenção, se se tratar dos juízes da Corte.

Page 193: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Anexo 193

Parte III

DISPOSIÇÕES GERAIS ETRANSITÓRIAS

Capítulo XASSINATURA, RATIFICAÇÃO, RESERVA, EMENDA,

PROTOCOLO E DENÚNCIA

Artigo 74

1. Esta Convenção fica aberta à assinatura e à ratificação ou adesão de todos os

Estados-Membros da Organização dos Estados Americanos.2

. A ratificação desta Convenção ou a adesão a ela efetuar-se-á mediante depósitode um instrumento de ratificação ou de adesão na Secretaria-Geral da Organizaçãodos Estados Americanos. Esta Convenção entrará em vigor logo que onze Estadoshouverem depositado os seus respectivos instrumentos de ratificação ou de adesão.Com referência a qualquer outro Estado que a ratificar ou que a ela aderir ulterior-mente, a Convenção entrará em vigor na data do depósito do seu instrumento deratificação ou de adesão.

3. O Secretário-Geral informará todos os Estados-Membros da Organização

sobre a entrada em vigor da Convenção.

Artigo 75

Esta Convenção só pode ser objeto de reservas em conformidade com as dis-posições da Convenção de Viena sobre Direito dos Tratados, assinada em 23 demaio de 1969.

Artigo 76

1. Qualquer Estado-Parte, diretamente, e a Comissão ou a Corte, por intermédio

do Secretário-Geral, podem submeter à Assembleia-Geral, para o que julgaremconveniente, proposta de emenda a esta Convenção.

2. As emendas entrarão em vigor para os Estados que ratificarem as mesmas

na data em que houver sido depositado o respectivo instrumento de ratificaçãoque corresponda ao número de dois terços dos Estados-Partes nesta Convenção.Quanto aos outros Estados-Partes, entrarão em vigor na data em que depositaremeles os seus respectivos instrumentos de ratificação.

Artigo 77

1. De acordo com a faculdade estabelecida no art. 31, qualquer Estado-Parte

e a Comissão podem submeter à consideração dos Estados-Partes reunidos por

Page 194: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

194 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

ocasião da Assembleia-Geral, projetos de protocolos adicionais a esta Convenção,

com a finalidade de incluir progressivamente no regime de proteção da mesmaoutros direitos e liberdades.

2. Cada protocolo deve estabelecer as modalidades de sua entrada em vigor e

será aplicado somente entre os Estados-Partes no mesmo.

Artigo 78

1. Os Estados-Partes poderão denunciar esta Convenção depois de expirado um

prazo de 5 (cinco) anos, a partir da data de entrada em vigor da mesma e medianteaviso prévio de 1 (um) ano, notificando o Secretário-Geral da Organização, o qualdeve informar as outras Partes.

2. Tal denúncia não terá o efeito de desligar o Estado-Parte interessado das obri-

gações contidas nesta Convenção, no que diz respeito a qualquer ato que, podendoconstituir violação dessas obrigações, houver sido cometido por ele anteriormenteà data na qual a denúncia produzir efeito.

Capítulo XIDISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS

Seção 1Comissão Interamericana de Direitos Humanos

Artigo 79

Ao entrar em vigor esta Convenção, o Secretário-Geral pedirá por escrito a cadaEstado-Membro da Organização que apresente, dentro de um prazo de 90 (noventa)dias, seus candidatos a membro da Comissão Interamericana de Direitos Huma-

nos. O Secretário-Geral preparará uma lista por ordem alfabética dos candidatosapresentados e a encaminhará aos Estados-Membros da Organização pelo menos30 (trinta) dias antes da Assembleia-Geral seguinte.

Artigo 80

A eleição dos membros da Comissão far-se-á dentre os candidatos que figuremna lista a que se refere o art. 79, por votação secreta da Assembleia-Geral, e serãodeclarados eleitos os candidatos que obtiverem maior número de votos e a maioriaabsoluta dos votos dos representantes dos Estados-Membros. Se, para eleger todosos membros da Comissão, for necessário realizar várias votações, serão eliminadossucessivamente, na forma que for determinada pela Assembleia-Geral, os candidatosque receberem menor número de votos.

Page 195: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Anexo 195

Seção 2Corte Interamericana de Direitos Humanos

Artigo 81

Ao entrar em vigor esta Convenção, o Secretário-Geral solicitará por escrito acada Estado-Parte que apresente, dentro de um prazo de 90 (noventa) dias, seuscandidatos a juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos. O Secretário--Geral preparará uma lista por ordem alfabética dos candidatos apresentados e aencaminhará aos Estados-Partes pelo menos 30 (trinta) dias antes da Assembleia--Geral seguinte.

Artigo 82

A eleição dos juízes da Corte far-se-á dentre os candidatos que figurem na listaa que se refere o art. 81, por votação secreta dos Estados-Partes, na Assembleia--Geral, e serão declarados eleitos os candidatos que obtiverem maior número devotos e a maioria absoluta dos votos dos representantes dos Estados-Partes. Se,para eleger todos os juízes da Corte, for necessário realizar várias votações, serãoeliminados sucessivamente, na forma que for determinada pelos Estados- Partes,os candidatos que receberem menor número de votos.

DECLARAÇÕES E RESERVAS

Declaração do Chile

A Delegação do Chile apõe sua assinatura a esta Convenção, sujeita à suaposterior aprovação parlamentar e ratificação, em conformidade com as normasconstitucionais vigentes.

Declaração do Equador

A Delegação do Equador tem a honra de assinar a Convenção Americana sobreDireitos Humanos. Não crê necessário especificar reserva alguma, deixando a sal-vo tão somente a faculdade geral constante da mesma Convenção, que deixa aosgovernos a liberdade de ratificá-la.

Reserva do Uruguai

O artigo 80, parágrafo 2, da Constituição da República Oriental do Uruguai,estabelece que se suspende a cidadania

"pela condição de legalmente processadoem causa criminal de que possa resultar pena de penitenciária

"

. Essa limitação ao

exercício dos direitos reconhecidos no art. 23 da Convenção não está prevista entre

Page 196: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

196 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

as circunstâncias que a tal respeito prevê o parágrafo 2 do referido art. 23, motivo

por que a Delegação do Uruguai formula a reserva pertinente.Em fé do que, os plenipotenciários abaixo assinados, cujos plenos poderes foram

encontrados em boa e devida forma, assinam esta Convenção, que se denominará

"Pacto de São José da Costa Rica", na cidade de São José, Costa Rica, em vinte edois de novembro de mil novecentos e sessenta e nove.

DECLARAÇÃO INTERPRETATIVA DO BRASIL

Ao depositar a Carta de Adesão à Convenção Americana sobre Direitos Humanos(Pacto de Sãojosé da Costa Rica), em 25 de setembro de 1992, o Governo brasileirofez a seguinte declaração interpretativa sobre os arts. 43 e 48, alínea d:

"O Governo do Brasil entende que os arts. 43 e 48, alínea d, não incluem o direito

automático de visitas e inspeções in loco da Comissão Interamericana de DireitosHumanos, as quais dependerão da anuência expressa do Estado".

Page 197: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Protocolo Adicional à Convenção Americana sobre DireitosHumanos em matéria de Direitos Económicos, Sociais e

Culturais - "Protocolo de San Salvador"

Adotada em San Salvador em 17 de novembro de 1988.

Aprovada no Brasil pelo Decreto Legislativo 56, de 19.04.1995.Promulgada no Brasil pelo Decreto 3.321, de 30.12.1999.

Preâmbulo

Os Estados Partes na Convenção Americana sobre Direitos Humanos, "Pactode San José da Costa Rica",

Reafirmando seu propósito de consolidar neste Continente, dentro do quadrodas instituições democráticas, um regime de liberdade pessoal e de justiça social,fundado no respeito dos direitos essenciais do homem;

Reconhecendo que os direitos essenciais do homem não derivam do fato de serele nacional de determinado Estado, mas sim do fato de ter como fundamento os

atributos da pessoa humana, razão por que justificam uma proteção internacional,de natureza convencional, coadjuvante ou complementar da que oferece o direitointerno dos Estados americanos;

Considerando a estreita relação que existe entre a vigência dos direitoseconómicos, sociais e culturais e a dos direitos civis e políticos, porquanto asdiferentes categorias de direito constituem um todo indissolúvel que encontrasua base no reconhecimento da dignidade da pessoa humana, pelo qual exigemuma tutela e promoção permanente, com o objetivo de conseguir sua vigênciaplena, sem que jamais possa justificar-se a violação de uns a pretexto da reali-zação de outros;

Reconhecendo os benefícios decorrentes do fomento e desenvolvimento da

cooperação entre os Estados e das relações internacionais;

Recordando que, de acordo com a Declaração Universal dos Direitos do Homeme a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, só pode ser realizado o idealdo ser humano livre, isento de temor e da miséria, se forem criadas condições quepermitam a cada pessoa gozar de seus direitos económicos, sociais e culturais, bemcomo de seus direitos civis e políticos;

Levando em conta que, embora os direitos económicos, sociais e culturais fun-damentais tenham sido reconhecidos em instrumentos internacionais anteriores,

Page 198: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

198 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

tanto de âmbito universal como regional, é muito importante que esses direitossejam reafirmados, desenvolvidos, aperfeiçoados e protegidos, a fim de consolidarna América, com base no respeito pleno dos direitos da pessoa, o regime democráticorepresentativo de governo, bem como o direito de seus povos ao desenvolvimento,à livre determinação e a dispor livremente de suas riquezas e recursos naturais; e

Considerando que a Convenção Americana sobre Direitos Humanos estabeleceque podem ser submetidos ã consideração dos Estados Partes, reunidos por ocasiãoda Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos, projetos de proto-colos adicionais a essa Convenção, com a finalidade de incluir progressivamenteno regime de proteção da mesma outros direitos e liberdades,

Convieram no seguinte Protocolo Adicional à Convenção Americana sobreDireitos Humanos

, "Protocolo de San Salvador":

Artigo 1 Obrigação de adotar medidas

Os Estados Partes neste Protocolo Adicional à Convenção Americana sobreDireitos Humanos comprometem-se a adotar as medidas necessárias, tanto de

ordem interna como por meio da cooperação entre os Estados, especialmente eco-nómica e técnica

, até o máximo dos recursos disponíveis e levando em conta seugrau de desenvolvimento, a fim de conseguir, progressivamente e de acordo coma legislação interna, a plena efetividade dos direitos reconhecidos neste Protocolo.

Artigo 2 Obrigação de adotar disposições de direito interno

Se o exercício dos direitos estabelecidos neste Protocolo ainda não estiver

garantido por disposições legislativas ou de outra natureza, os Estados Partescomprometem-se a adotar, de acordo com suas normas constitucionais e com asdisposições deste Protocolo, as medidas legislativas ou de outra natureza que foremnecessárias para tornar efetivos esses direitos.

Artigo 3 Obrigação de não discriminação

Os Estados Partes neste Protocolo comprometem-se a garantir o exercício dosdireitos nele enunciados, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo,

idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacio-

nal ou social, posição económica, nascimento ou qualquer outra condição social.

Artigo 4 Não admissão de restrições

Não se poderá restringir ou limitar qualquer dos direitos reconhecidos ouvigentes num Estado em virtude de sua legislação interna ou de convenções inter-nacionais

, sob pretexto de que este Protocolo não os reconhece ou os reconheceem menor grau.

Page 199: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Anexo 199

Artigo 5 Alcance das restrições e limitações

Os Estados Partes só poderão estabelecer restrições e limitações ao gozo e exer-cício dos direitos estabelecidos neste Protocolo mediante leis promulgadas com oobjetivo de preservar o bem-estar geral dentro de uma sociedade democrática, namedida em que não contrariem o propósito e razão dos mesmos.

Artigo 6 Direito ao trabalho

1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, o que inclui a oportunidade de obter

os meios para levar uma vida digna e decorosa por meio do desempenho de umaatividade lícita, livremente escolhida ou aceita.

2. Os Estados Partes comprometem-se a adotar medidas que garantam plena

efetividade do direito ao trabalho, especialmente as referentes ã consecução dopleno emprego, à orientação vocacional e ao desenvolvimento de projetos de trei-namento técnico-profissional, particularmente os destinados aos deficientes. OsEstados Partes comprometem-se também a executar e a fortalecer programas quecoadjuvem um adequado atendimento da família, a fim de que a mulher tenha realpossibilidade de exercer o direito ao trabalho.

Artigo 7 Condições justas, equitativas e satisfatórias de trabalho

Os Estados Partes neste Protocolo reconhecem que o direito ao trabalho, a quese refere o artigo anterior, pressupõe que toda pessoa goze do mesmo em condi-ções justas, equitativas e satisfatórias, para o que esses Estados garantirão em suaslegislações, de maneira particular:

a. Remuneração que assegure, no mínimo, a todos os trabalhadores condições

de subsistência digna e decorosa para eles e para suas famílias e salário equitativoe igual por trabalho igual, sem nenhuma distinção;

b. O direito de todo trabalhador de seguir sua vocação e de dedicar-se à ativi-

dade que melhor atenda a suas expectativas e a trocar de emprego de acordo coma respectiva regulamentação nacional;

c. O direito do trabalhador à promoção ou avanço no trabalho, para o qual serão

levadas em conta suas qualificações, competência, probidade e tempo de serviço;d

. Estabilidade dos trabalhadores em seus empregos, de acordo com as caracte-rísticas das indústrias e profissões e com as causas de justa separação. Nos casos dedemissão injustificada, o trabalhador terá direito a uma indenização ou à readmissãono emprego ou a quaisquer outras prestações previstas pela legislação nacional;

e. Segurança e higiene no trabalho;

f. Proibição de trabalho noturno ou em atividades insalubres ou perigosas para

os menores de 18 anos e, em geral, de todo trabalho que possa pôr em perigo sua

Page 200: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

200 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

saúde, segurança ou moral. Quando se tratar de menores de 16 anos, a jornadade trabalho deverá subordinar-se às disposições sobre ensino obrigatório e, em

nenhum caso, poderá constituir impedimento à assistência escolar ou limitação

para beneficiar-se da instrução recebida;

g. Limitação razoável das horas de trabalho, tanto diárias quanto semanais. Asjornadas serão de menor duração quando se tratar de trabalhos perigosos, insalu-bres ou noturnos;

h. Repouso, gozo do tempo livre, férias remuneradas, bem como remuneração

nos feriados nacionais.

Artigo 8 Direitos sindicais

1. Os Estados Partes garantirão:

a. O direito dos trabalhadores de organizar sindicatos e de filiar-se ao de sua

escolha, para proteger e promover seus interesses. Como projeção desse direito,

os Estados Partes permitirão aos sindicatos formar federações e confederaçõesnacionais e associar-se às já existentes, bem como formar organizações sindicaisinternacionais e associar-se à de sua escolha. Os Estados Partes também permitirãoque os sindicatos, federações e confederações funcionem livremente;

b. O direito de greve.

2. O exercício dos direitos enunciados acima só pode estar sujeito às limitações

e restrições previstas pela lei que sejam próprias a uma sociedade democráticae necessárias para salvaguardar a ordem pública e proteger a saúde ou a moralpública, e os direitos ou liberdades dos demais. Os membros das forças armadase da polícia, bem como de outros serviços públicos essenciais, estarão sujeitos àslimitações e restrições impostas pela lei.

3. Ninguém poderá ser obrigado a pertencer a um sindicato.

Artigo 9 Direito à previdência social

1. Toda pessoa tem direito à previdência social que a proteja das consequências

da velhice e da incapacitação que a impossibilite, física ou mentalmente, de obteros meios de vida digna e decorosa. No caso de morte do beneficiário, as prestaçõesda previdência social beneficiarão seus dependentes.

2. Quando se tratar de pessoas em atividade, o direito à previdência social

abrangerá pelo menos o atendimento médico e o subsídio ou pensão em caso deacidentes de trabalho ou de doença profissional e, quando se tratar da mulher,licença remunerada para a gestante, antes e depois do parto.

Artigo 10 Direito à saúde

1 .Toda pessoa tem direito à saúde, entendida como o gozo do mais alto nível debem-estar físico, mental e social.

Page 201: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Anexo 201

2. A fim de tornar efetivo o direito à saúde, os Estados Partes comprometem-se

a reconhecer a saúde como bem público e, especialmente, a adotar as seguintesmedidas para garantir este direito:

a. Atendimento primário de saúde, entendendo-se como tal a assistência mé-

dica essencial colocada ao alcance de todas as pessoas e famílias da comunidade;b

. Extensão dos benefícios dos serviços de saúde a todas as pessoas sujeitas àjurisdição do Estado;

c. Total imunização contra as principais doenças infecciosas;d

. Prevenção e tratamento das doenças endémicas, profissionais e de outranatureza;

e. Educação da população sobre prevenção e tratamento dos problemas dasaúde; e

f. Satisfação das necessidades de saúde dos grupos de mais alto risco e que, por

sua situação de pobreza, sejam mais vulneráveis.

Artigo 11 Direito a um meio ambiente sadio

1. Toda pessoa tem direito a viver em meio ambiente sadio e a contar com os

serviços públicos básicos.2

. Os Estados Partes promoverão a proteção, preservação e melhoramento domeio ambiente.

Artigo 12 Direito à alimentação

1. Toda pessoa tem direito a uma nutrição adequada que assegure a possibilidade

de gozar do mais alto nível de desenvolvimento físico, emocional e intelectual.2

. A fim de tornar efetivo esse direito e de eliminar a desnutrição, os Estados

Partes comprometem-se a aperfeiçoar os métodos de produção, abastecimento edistribuição de alimentos, para o que se comprometem a promover maior coope-ração internacional com vistas a apoiar as políticas nacionais sobre o tema.

Artigo 13 Direito à educação

1. Toda pessoa tem direito à educação.

2. Os Estados Partes neste Protocolo convêm em que a educação deverá orientar-

-se para o pleno desenvolvimento da personalidade humana e do sentido de suadignidade e deverá fortalecer o respeito pelos direitos humanos, pelo pluralismoideológico, pelas liberdades fundamentais, pela justiça e pela paz. Convêm,também, em que a educação deve capacitar todas as pessoas para participar efeti-vamente de uma sociedade democrática e pluralista, conseguir uma subsistênciadigna, favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e

Page 202: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

202 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

todos os grupos raciais, étnicos ou religiosos e promover as atividades em prol damanutenção da paz.

3. Os Estados Partes neste Protocolo reconhecem que, a fim de conseguir o

pleno exercício do direito à educação:a

. O ensino de primeiro grau deve ser obrigatório e acessível a todos gratuita-mente;

b. O ensino de segundo grau, em suas diferentes formas, inclusive o ensino

técnico e profissional de segundo grau, deve ser generalizado e tornar-se acessívela todos, pelos meios que forem apropriados e, especialmente, pela implantaçãoprogressiva do ensino gratuito;

c. O ensino superior deve tornar-se igualmente acessível a todos, de acordo com

a capacidade de cada um, pelos meios que forem apropriados e, especialmente,pela implantação progressiva do ensino gratuito;

d. Deve-se promover ou intensificar, na medida do possível, o ensino básico para

as pessoas que não tiverem recebido ou terminado o ciclo completo de instruçãodo primeiro grau;

e. Deverão ser estabelecidos programas de ensino diferenciado para os defi-

cientes, a fim de proporcionar instrução especial e formação a pessoas com impe-dimentos físicos ou deficiência mental.

4. De acordo com a legislação interna dos Estados Partes, os pais terão direito a

escolher o tipo de educação a ser dada aos seus filhos, desde que esteja de acordocom os princípios enunciados acima.

5. Nada do disposto neste Protocolo poderá ser interpretado como restrição

da liberdade dos particulares e entidades de estabelecer e dirigir instituições deensino, de acordo com a legislação interna dos Estados Partes.

Artigo 14 Direito aos benefícios da cultura

1. Os Estados Partes neste Protocolo reconhecem o direito de toda pessoa a:

a. Participar na vida cultural e artística da comunidade;b

. Gozar dos benefícios do progresso científico e tecnológico;c

. Beneficiar-se da proteção dos interesses morais e materiais que lhe caibam emvirtude das produções científicas, literárias ou artísticas de que for autora.

2. Entre as medidas que os Estados Partes neste Protocolo deverão adotar para

assegurar o pleno exercício deste direito, figurarão as necessárias para a conserva-ção, desenvolvimento e divulgação da ciência, da cultura e da arte.

3. Os Estados Partes neste Protocolo comprometem-se a respeitar a liberdade

indispensável para a pesquisa científica e a atividade criadora.

Page 203: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Anexo 203

4. Os Estados Partes neste Protocolo reconhecem os benefícios que decorrem

da promoção e desenvolvimento da cooperação e das relações internacionais emassuntos científicos, artísticos e culturais e, nesse sentido, comprometem-se apropiciar maior cooperação internacional nesse campo.

Artigo 15 Direito à constituição e proteção da família

1. A família é o elemento natural e fundamental da sociedade e deve ser protegida

pelo Estado, que deverá velar pelo melhoramento de sua situação moral e material.2

. Toda pessoa tem direito a constituir família, o qual exercerá de acordo comas disposições da legislação interna correspondente.

3. Os Estados Partes comprometem-se, mediante este Protocolo, a proporcionar

adequada proteção ao grupo familiar e, especialmente, a:a

. Dispensar atenção e assistência especiais à mãe, por um período razoável,antes e depois do parto;

b. Garantir às crianças alimentação adequada, tanto no período de lactação

quanto durante a idade escolar;c. Adotar medidas especiais de proteção dos adolescentes, a fim de assegurar o

pleno amadurecimento de suas capacidades físicas, intelectuais e morais.d

. Executar programas especiais de formação familiar, a fim de contribuir para acriação de ambiente estável e positivo no qual as crianças percebam e desenvolvamos valores de compreensão, solidariedade, respeito e responsabilidade.

Artigo 16 Direito da criança

Toda criança, seja qual for sua filiação, tem direito às medidas de proteção quesua condição de menor requer por parte da sua família, da sociedade e do Estado.Toda criança tem direito de crescer ao amparo e sob a responsabilidade de seus pais;salvo em circunstâncias excepcionais, reconhecidas judicialmente, a criança detenra idade não deve ser separada de sua mãe. Toda criança tem direito à educaçãogratuita e obrigatória, pelo menos no nível básico, e a continuar sua formação emníveis mais elevados do sistema educacional.

Artigo 17 Proteção de pessoas idosas

Toda pessoa tem direito à proteção especial na velhice. Nesse sentido, os EstadosPartes comprometem-se a adotar de maneira progressiva as medidas necessárias afim de pôr em prática este direito e, especialmente, a:

a. Proporcionar instalações adequadas, bem como alimentação e assistência

médica especializada, às pessoas de idade avançada que careçam delas e não estejamem condições de provê-las por seus próprios meios;

Page 204: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

204 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

b. Executar programas trabalhistas específicos destinados a dar a pessoas ido-

sas a possibilidade de realizar atividade produtiva adequada às suas capacidades,

respeitando sua vocação ou desejos;c. Promover a formação de organizações sociais destinadas a melhorar a quali-

dade de vida das pessoas idosas.

Artigo 18 Proteção de deficientes

Toda pessoa afetada por diminuição de suas capacidades físicas e mentais temdireito a receber atenção especial, a fim de alcançar o máximo desenvolvimentode sua personalidade. Os Estados Partes comprometem-se a adotar as medidasnecessárias para esse fim e, especialmente, a:

a. Executar programas específicos destinados a proporcionar aos deficientes os

recursos e o ambiente necessário para alcançar esse objetivo, inclusive programastrabalhistas adequados a suas possibilidades e que deverão ser livremente aceitospor eles ou, se for o caso, por seus representantes legais;

b. Proporcionar formação especial às famílias dos deficientes, a fim de ajudá-los

a resolver os problemas de convivência e convertê-los em elementos atuantes nodesenvolvimento físico

, mental e emocional destes;

c. Incluir, de maneira prioritária, em seus planos de desenvolvimento urbanoa consideração de soluções para os requisitos específicos decorrentes das neces-sidades deste grupo;

d. Promover a formação de organizações sociais nas quais os deficientes possam

desenvolver uma vida plena.

Artigo 19 Meios de proteção

1. Os Estados Partes neste Protocolo comprometem-se a apresentar, de acordo

com o disposto por este artigo e pelas normas pertinentes que a propósito deverãoser elaboradas pela Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos,

relatórios periódicos sobre as medidas progressivas que tiverem adotado paraassegurar o devido respeito aos direitos consagrados no mesmo Protocolo.

2. Todos os relatórios serão apresentados ao Secretário-Geral da OEA, que os

transmitirá ao Conselho Interamericano Económico e Social e ao Conselho Inte-

ramericano de Educação, Ciência e Cultura, a fim de que os examinem de acordocom o disposto neste artigo. O Secretário-Geral enviará cópia desses relatórios àComissão Interamericana de Direitos Humanos.

3. O Secretário-Geral da Organização dos Estados Americanos transmitirá

também aos organismos especializados do Sistema Interamericano, dos quaissejam membros os Estados Partes neste Protocolo, cópias dos relatórios enviadosou das partes pertinentes deles, na medida em que tenham relação com matérias

Page 205: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

Anexo 205

que sejam da competência dos referidos organismos, de acordo com seus instru-mentos constitutivos.

4. Os organismos especializados do Sistema Interamericano poderão apresentar

ao Conselho Interamericano Económico e Social e ao Conselho Interamericano

de Educação, Ciência e Cultura relatórios sobre o cumprimento das disposiçõesdeste Protocolo, no campo de suas atividades.

5. Os relatórios anuais que o Conselho Interamericano Económico e Social e

o Conselho Interamericano de Educação, Ciência e Cultura apresentarem à As-sembleia Geral conterão um resumo da informação recebida dos Estados Partesneste Protocolo e dos organismos especializados sobre as medidas progressivasadotadas a fim de assegurar o respeito dos direitos reconhecidos no Protocolo e dasrecomendações de caráter geral que a respeito considerarem pertinentes.

6. Caso os direitos estabelecidos na alínea a do artigo 8, e no artigo 13, forem

violados por ação imputável diretamente a um Estado Parte deste Protocolo, essasituação poderia dar lugar, mediante participação da Comissão Interamericana deDireitos Humanos e, quando cabível, da Corte Interamericana de Direitos Huma-nos, à aplicação do sistema de petições individuais regulado pelos artigos 44 a 51e 61 a 69 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos.

7. Sem prejuízo do disposto no parágrafo anterior, a Comissão Interamericana

de Direitos Humanos poderá formular as observações e recomendações que con-siderar pertinentes sobre a situação dos direitos económicos, sociais e culturaisestabelecidos neste Protocolo em todos ou em alguns dos Estados Partes, as quaispoderá incluir no Relatório Anual à Assembleia Geral ou num relatório especial,conforme considerar mais apropriado.

8. No exercício das funções que lhes confere este artigo, os Conselhos e a Co-

missão Interamericana de Direitos Humanos deverão levar em conta a natureza

progressiva da vigência dos direitos objeto da proteção deste Protocolo.

Artigo 20 Reservas

Os Estados Partes poderão formular reservas sobre uma ou mais disposiçõesespecíficas deste Protocolo no momento de aprová-lo, assiná-lo, ratificá-lo ou aele aderir, desde que não sejam incompatíveis com o objetivo e o fim do Protocolo.

Artigo 21 Assinatura, ratificação ou adesão. Entrada em vigor

1. Este Protocolo fica aberto à assinatura e à ratificação ou adesão de todo Estado

Parte na Convenção Americana sobre Direitos Humanos.

2. A ratificação deste Protocolo ou a adesão ao mesmo será efetuada mediante

depósito de um instrumento de ratificação ou de adesão na Secretaria-Geral daOrganização dos Estados Americanos.

Page 206: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

206 Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira

3. O Protocolo entrará em vigor tão logo onze Estados tiverem depositado seus

respectivos instrumentos de ratificação ou de adesão.

4. O Secretãrio-Geral informará a todos os Estados membros da Organização a

entrada em vigor do Protocolo.

Artigo 22 Incorporação de outros direitos e ampliação dos reconhecidos

1. Qualquer Estado Parte e a Comissão Interamericana de Direitos Humanos

poderão submeter à consideração dos Estados Partes, reunidos por ocasião da As-sembleia Geral

, propostas de emendas com o fim de incluir o reconhecimento deoutros direitos e liberdades

, ou outras destinadas a estender ou ampliar os direitose liberdades reconhecidos neste Protocolo

.

2. As emendas entrarão em vigor para os Estados ratificantes das mesmas na data

em que tiverem depositado o respectivo instrumento de ratificação que correspondaa dois terços do número de Estados Partes neste Protocolo. Quanto aos demaisEstados Partes

, entrarão em vigor na data em que depositarem seus respectivosinstrumentos de ratificação.

Page 207: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

OUTRAS PUBLICAÇÕESColeção Elementos do Direito - vol. 1Direito Constitucional

11." ediçãoErival da Silva Oliveira

Direito Constitucional

Regina Maria Macedo Nery Ferrari

Direito Constitucional Ambiental -

Estudos sobre a Constituição, os direitosfundamentais e a proteção do ambienteIngo Wolfgang Sarlet eTiago Fensterseifer

Coleção Prática Forense - vol. 1Prática Constitucional4

.

" ediçãoErival da Silva Oliveira

EDITORA RT7REVISTA DOS TRIBUNAIS

ATENDIMENTO AO CONSUMIDOR

Te!.: 0800-702-2433www.rt.com.br

Page 208: Elementos do Direito - Volume 12 - Direitos Humanos - Erival da Silva Oliveira - 3º Edição - Ano 2012.pdf

ERIVAL DA SILVA OLIVEIRA

DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITOS HUMANOS

3.

a edição revista e atualizada

Publicações desta série

Direito Constitucional

V.12 - Direitos Humanos

Direito Constitucional

V.13 - Remédios Constitucionais

Difusos e Coletivos

V.14 - Estatuto da Criança e do

Adolescente

Difusos e Coletivos

V.15 - Direito Ambiental

Difusos e Coletivos

V.16 - Direito do Consumidor

V.17 - Processo do Trabalho

V.l- Direito Constitucional

V.2- Direito Administrativo

V.3- Direito Tributário

V.4- Direito Civil

V.5- Direito Empresarial

V.6- Processo Civil

V.7 - Direito Penal

V.8- Processo Penal

V.9- Direito do Trabalho

V.IO - Ética Profissional

V.ll - Direito Internacional

i-85 203-4312-8ISBN

«OOCOl,

Ri?EDITORAI VI IREVISTA DOS TRIBUNAIS