eleição de diretores na década de 1980. · fim de implantar a democracia nestes países e nas...
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Eleição de diretores na década de 1980.
Vilmar Bagetti*
Resumo: Na década de 1980, vários estados brasileiros adotaram o procedimento
institucional da eleição dos diretores de escolas públicas. O processo democrático com a
eleição de diretores fazia parte da estratégia capitalista para os países em desenvolvimento a
fim de implantar a democracia nestes países e nas microinstituições, como a escola pública.
Mas que democracia? Assim a eleição de diretores de escolas públicas ocasionou um conflito
ideológico, pois a escola pública é parte integrante do aparelho de Estado capitalista, integra a
organização do Estado e se submete à orientação burocrática do Estado, submetendo-se assim,
à orientação burocrática deste. O diretor é um personagem político-burocrático e obedece
diretrizes vinculadas à ideologia dominante. O autoritarismo, embora esteja presente em
muitas escolas no século XXI, vigorava com força nas escolas e na Escola Estadual São
Francisco de Sales, de Campo Novo, no último quartel do século XX. As discussões que
iniciavam no núcleo de Três Passos chegavam até a escola. Esboçava-se uma nova prática: a
participação da comunidade nas reivindicações dos direitos. Fazia-se toda a crítica ao
autoritarismo e falava-se na democracia participativa. Investigação de prática docente.
Palavras-Chaves: Autoritarismo. Eleição de Diretores. Democracia Representativa.
Abstract: In the decade of 1980, some Brazilian states had adopted the institutional
procedure of the election of the directors of public schools. The democratic process with the
election of directors was part of the capitalist strategy for the developing countries in order to
implant the democracy in these countries and the microinstitutions, as the public school. But
that democracy? Thus the election of directors of public schools caused an ideological
conflict, therefore the public school is integrant part of the device of capitalist State, integrates
the organization of the State and if it submits thus to the bureaucratic orientation of the State,
submitting itself, to the bureaucratic orientation of this. The director is a politician-
bureaucratic personage and obeys entailed lines of direction the dominant ideology. The
authoritarianism, even so is present in many schools in century XXI, invigorated with force in
the schools and the State School São Francisco de Sales, of Campo Novo, in the last quarter
* Mestre em Educação UFSM, Professor da Rede Pública Estadual. Endereço Eletrônico: [email protected]
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of century XX. The quarrels that they initiated in the nucleus of Three Steps arrived until the
school. A practical one was sketched new: the participation of the community in the claims of
the rights. All became the critical one to the authoritarianism and was said in the participativa
democracy. Inquiry of practical professor
Keywords: Authoritarianism. Election of Directors. Representative Democracy.
Para introduzir este tema coloco as concepções de democracia, o histórico em uma
eleição e as dificuldades tanto para os profissionais da educação quanto para os gestores.
Na década de 1980, vários estados brasileiros adotaram o procedimento institucional
da eleição dos diretores de escolas públicas. Para tanto há necessidade de uma recapitulação
do processo histórico. Pois, naquela época, havia um movimento que orientava por dois
objetivos, diferenciados, porém articulados: a) redemocratizar o Estado brasileiro (ou seja,
derrubar o regime militar); b) democratizar as instituições sociais particulares, como escolas,
hospitais, igrejas, centros culturais etc. Colocaram-se assim em sintonia com o movimento de
“democratização da sociedade civil” já em curso, desde a segunda metade dos anos sessenta,
nos países capitalistas avançados (SAES, 2003).
Dessa forma, o processo democrático com a eleição de diretores fazia parte da
estratégia capitalista para os países em desenvolvimento para implantar a democracia nestes
países e nas micro instituições, como a escola pública. Mas que democracia?
Havia interesse em recuperar o tempo perdido em relação aos países desenvolvidos
sendo a democracia um dos caminhos a ser realizado nas micro instituições como a escola e
comunidades.Por isso a eleição de diretores nas escolas começou a ser veiculada nos países
em desenvolvimento. Contudo, a eleição de diretores de escolas públicas ocasionou um
conflito ideológico, pois a escola pública é parte integrante do aparelho de estado capitalista e
integra a organização burocrática do Estado e se submete à orientação burocrática do Estado.
O diretor é um personagem político burocrático e obedece diretrizes vinculadas à ideologia
dominante (SAES, 2003).
Se o diretor é um personagem político burocrático para manter o status quo, para
servir ao sistema, seria possível um trabalho diferente? Um diretor que quisesse fazer um
trabalho diferente teria que se contrapor ao sistema, ou melhor, teria que optar por um projeto
diferente de escola.
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Para se diferenciar do tradicional a opção segundo lutadores sociais seria a
transformação da sociedade. Neste sentido, os diretores que objetivam uma transformação
social não podem ser meros cumpridores de ordens administrativas emanadas do poder
público, mas cabe ao diretor criar outros espaços no próprio local de trabalho referentes à
gestão, currículo e mobilização da comunidade. Estes três elementos fazem parte do projeto
político pedagógico da escola.
No entanto, “a prática tradicional de nomeação dos gestores escolares pelo Estado era
altamente vantajosa do ponto de vista político-partidário. Ou seja: ela viabilizava a
implementação de uma política clientelística no terreno educacional, e consequentemente
tornava possível pôr a escola pública a reboque de certas estratégias eleitorais” (SAES, 2003).
Na região celeiro, 21a. Delegacia de Educação (21a.DE), os prédios das escolas
estavam precários no final da década de 1970, quando imperava o regime militar. Uma delas,
a Escola Estadual de Primeiro Grau São Francisco de Sales funcionava num prédio de
madeira e antigo. Havia necessidade de reformas ou de edificação de prédios novos.
Em algumas escolas as comunidades não se organizavam para pleitear as
reivindicações, porque não era uma prática das direções daquelas escolas. Apesar disso, a
solução partiu de ações do poder estabelecido: uniram-se conjuntamente: Secretário de
Educação, Delegado de educação da 21a DE, prefeitos e diretores de três escolas para a
construção de novas escolas. As obras foram realizadas nos municípios de Braga, Humaitá e
Campo Novo.
Aproximou-se o período eleitoral e as escolas foram inauguradas pelo então Secretário
de Educação, Aírton Santos Vargas, que também apresentou-se como candidato a Deputado
Estadual pelo partido da Aliança Renovadora Nacional (ARENA), partido do governo e que
respaldava o regime militar autoritário. Em troca, uma parcela significativa da população
retribuiu somando uma expressiva votação no escrutínio eleitoral nos três municípios.
Dessa forma, as relações das novas escolas com as eleições trouxeram algumas
interrogações aos professores observadores dos fatos políticos: a escola pública pode estar a
reboque de estratégias eleitorais?
No entanto, vivia-se um momento na escola pública em que o diretor de escola era
nomeado pelo aparelho do Estado e o diretor sendo um personagem político burocrático.
Justificava-se a forma burocrática pelas ações de competência administrativa ou pelo carisma.
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Mas o que mais acontecia era a competência administrativa com fundamentos no
autoritarismo.
O autoritarismo embora esteja presente em muitos escolas no século XXI, vigorava
com força nas escolas e na Escola Estadual de Ensino Médio São Francisco de Sales de
Campo Novo no último quartel do século XX. Pois o conflito começava em sala de aula com
o questionamento ao autoritarismo, à autoridade. As práticas escolares de diálogo de alguns
professores suscitavam mais conversas, mas provocavam aprendizagens significativas. Isso
conflitava com o que era discutido nos conselhos de classe, onde se priorizava uma avaliação
tradicional, cuja finalidade primeira era diagnosticar problemas e apontar soluções tanto em
relação aos alunos quanto em relação aos professores. Contudo, na prática acabava por avaliar
alguns alunos e/ou turmas e o Conselho acabava se atendo somente às questões dos alunos e
suas notas e comportamentos, sem avaliar a própria prática educativa da escola. Ao invés de
discutir o aluno de modo integral, os professores acabavam acentuando apenas seus pontos
negativos. A prática se resumia à metodologia, mas dentro da teoria tradicional. Um dia após
o conselho de classe, como de praxe, fui chamado pelo diretor, quinze minutos antes do
recreio. Reproduzo aqui a conversa nada simpática que tive com o diretor:
2.2 Professor Vilmar, os alunos conversam muito em sala de aula e disseram que o professor não toma atitude mais drástica, os alunos bagunçam. Falta domínio de turma. Precisa de pulso com os alunos, professor. 2.3 Por que não dialogar com os alunos? Precisa-se ensinar pelo medo? Respondi. 2.4 Professor, precisa mais autoridade, precisa usar outros métodos. 2.5 Mas por que somente mudar de métodos? Com estes métodos ainda se valoriza a autoridade, a disciplina e não a aprendizagem significativa. Respondi. 2.6 Mas os alunos precisam ser “cobrados”, isto é, ter determinados comportamentos. 2.7 Por que falar em “cobrados” para ter determinado comportamento? Os alunos não devem nada, estão aqui para aprender a viver não a ditadura, mas a democracia. O caminho para a ditadura é curto, basta concordar. 2.8 Mas aqui tem uma autoridade que precisa ser respeitada. Exijo de todos o respeito ao diretor – disse levantando mais a voz. 2.9 Diretor, o senhor não é dono dessa escola, não é propriedade de ninguém, essa escola é de todos, é pública, estatal.
A reunião que começou na sala do diretor acabou na sala de professores. Fomos tomar
lanche.
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Então, estes e outros fatos chamaram a atenção dos professores estaduais e municipais.
Por discordar das práticas autoritárias formou-se uma comissão na escola nova e organizou-se
em 1981 a Associação de professores de Campo Novo (APROCAN) que congregava
professores do Estado e do Município e articulava forças com o Centro dos professores do
Estado do Rio Grande do Sul (CPERS). Em seguida organizou-se a entidade, a qual era
procurada por vários professores para associar-se. A direção da APROCAN também visitava
as escolas e debatia com os professores sobre os seus direitos.
Assim organizados, participamos em Três Passos do evento promovido pelo CPERS
estadual com uma delegação de aproximadamente 40 professores. Neste encontro Zilá Mattos
Totta, presidente do CPERS teceu considerações sobre a necessidade das escolas eleger os
seus diretores. O fato repercutiu na região e no Campo Novo. Alguns dias após o diretor da
Escola Estadual de Primeiro Grau São Francisco de Sales solicitou a cedência de seu cargo
para a direção da escola da CNEC de Campo Novo. Ninguém divulgou os motivos da
cedência mas o fato causou estranheza e especulações de que teria sido por motivo político.
Por esta e outras práticas tradicionais aumentavam as críticas no interior desta escola.
Dessa forma, as discussões que iniciavam no núcleo de Três Passos chegavam até a
escola. Esboçava-se uma nova prática: a participação da comunidade nas reivindicações dos
direitos. Fazia-se toda a crítica ao autoritarismo e falava-se na democracia participativa.
Aprendemos com Freire no congresso de Goiânia em 19 janeiro de 1982, quando o
educador condenou a arrogância das autoridades brasileiras no processo educacional e fez
questão de criticar não como intelectual, o autoritarismo nas escolas.
Freire também conclamou a categoria a uma prática: “não é o discurso que ajuíza a
prática, mas a prática que ajuíza o discurso. Não adianta um discurso pomposo, democrático e
revolucionário, quando na prática, se torna burguês e reacionário. O que se precisa é coragem
de ter coerência e a humildade de vivê-la”. Enfim, o debate esteve por conta da filosofia
desenvolvida por Paulo Freire, sobre a educação libertadora e a pedagogia do oprimido (O
popular de Goiânia, 22/01/82).
A estratégia capitalista colocava a democracia representativa que conflitava com a
democracia participativa, defendida pelos professores participantes do CPERS e da
APROCAN.
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Estas e outras questões, tendo a frente a reposição salarial acirraram a luta com o
governo do Estado. Paralisamos as atividades em 1985 durante 96 dias. Uma das conquistas
foi a eleição de diretores de escolas.
Em seguida, após o retorno às aulas, nós, representantes do CPERS, encaminhamos
um processo de discussões democráticas para formar uma chapa de renovação na escola de
Primeiro Grau São Francisco de Sales, nome antigo da escola. Formamos a lista tríplice e
participamos da eleição.
A chapa vencedora nos três escrutínios de pais, alunos e professores foi formada por:
Luiz Paulo Zeifert, Magda Maria Rizardi Corrêa e Vilmar Bagetti.
Em entrevista ao jornal Atualidades de Santo Augusto em 28/11/1985 os três
professores manisfestaram-se sobre a eleição e as propostas da chapa renovação:
Para Luiz Zeifert, a eleição pela nova sistemática, “representou uma ruptura, a
reversão de um quadro pelo qual o diretor era escolhido através de barganha política e,
dessa forma, imposto à comunidade independente de sua vontade. Agora podemos dizer que
teve início a democratização da escola”...“A democratização da escola tomará corpo à
medida em que o diretor deixar de tomar decisões 'soberanamente', como vinha acontecendo
e procurar os diversos segmentos do conjunto educacional”... Zeifert falou também na
mobilização intensa da comunidade objetivando a democratização e no significado desta
conquista.
Magda destacou que a “linha de atuação terá a característica no trabalho em
equipe”. Continuou acentuando que “propomos uma estrutura interna em forma de
colegiado, objetivando descentralizar as decisões. Pensamos que as questões essenciais
devem também ser de responsabilidade dos pais, alunos e professores, o tripé que constitui a
comunidade escolar. Queremos atribuir mais poder decisório à supervisão escolar e aos
professores dentro de suas áreas de estudo e currículo; respeitar e assessorar o trabalho do
professor, valorizar os aspectos positivos. O processo educacional vai, sem dúvida, voltar
suas preocupações para a formação cultural e profissional do aluno”.
Para o professor Vilmar Bagetti “nossa proposta surge com o respaldo popular, nas
urnas nos três momentos distintos. O primeiro apoio recebido foi na eleição dos 9 alunos,
entre aproximadamente mil, quando todos batalharam pelo nosso grupo. O segundo momento
foi na eleição dos três pais entre cerca de 300, que nos apoiaram. Finalmente, no dia 20 de
novembro, a maioria nos apoiou, pois toda a comunidade esperava mudança. E para
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corresponder às expectativas da comunidade “lutamos pela melhora do ensino, representada
na formação do cidadão, não no sentido abstrato, individual ou individualista, mas concreto,
para ações transformadoras. Queremos formar para o espírito crítico. Se muitos criticam a
escola como formal, autoritária, com problemas de evasão e com falta de identidade, nós
adquirimos consciência de que precisamos avançar. Precisamos passar das denúncias para
propostas. Não podemos parar ou perder a conquista. O compromisso é de toda a
comunidade escolar. É necessário fazer acontecer o processo participativo”.
Os três professores independente de quem for nomeado garantiram que a nova direção
está preocupada em encontrar soluções para os problemas da comunidade escolar e o
compromisso com a mudança e concluíram: “Estaremos abertos ao diálogo com todos os
segmentos da sociedade, pois a educação deve ser responsabilidade de todos. Nesta visão
todos precisam ajudar, dando sugestões, para fazer acontecer a nova escola” (Jornal
Atualidades, 28/11/1985).
Com esta proposta assumimos a escola. Os Vices foram Luiz Paulo e Magda e o
trabalho foi integrado e muito discutido para vencer as dificuldades. Para levar adiante a
direção apostamos no tripé: gestão, currículo e mobilização da comunidade. Tivemos
consciência das nossas dificuldades, mas enfrentamos com um trabalho diferenciado.
Hoje, com tanto avanço tecnológico e novas propostas educacionais e pedagógicas, no que
avançaram as propostas para direção de escola? Certamente podemos encontrar algumas
alternativas e bons trabalhos, mas também encontramos muita dominação nas escolas e muita
dificuldade imposta pelo sistema. Se não vejamos o que podemos encontrar. Partimos da base
legal.
Qual a Base Legal? base legal é formada pela constituição federal e por leis e decretos
estaduais. Constituição Federal. Lei 10.576a, de 14 de outubro de 1995, com as alterações da
Lei 11.304, de 14 de janeiro de 1999 e da Lei 11.695, de 10 de dezembro de 2001 e seu
regulamento - Decreto nº 36.281, de 20 de novembro de 1995, com suas alterações. Lei 6.672,
de 22 de abril de 1974; Lei 11.407, de 06 de janeiro de 2000; Lei 11.672, de 26 de setembro
de 2001. Decreto 36.281, de 20 de novembro de 1995, que regulamenta as funções de Diretor
e Vice-Diretor.
O que contribuíram os sucessivos governos estaduais? Que alternativas forma
apresentadas pela Secretaria Estadual de Educação? Encontramos a centraliza da problemática
sobre a eleição de diretores por parte do governo ao dizer: “Por oportuno ressaltamos que
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somente as Coordenadorias Regionais de Educação, bem como, esta Secretaria estão
autorizadas a prestar esclarecimentos relativos à eleição de Diretores de Escolas Públicas
Estaduais, devendo ser desconsideradas orientações por quem não estiver autorizadas a fazê-
las” (Acesso em 10/11/2011
http://www.educacao.rs.gov.br/pse/html/eleicao.jsp?ACAO=acao1). Trata a eleição de
diretores de forma burocrática e como uma questão jurídica. A Secretaria de Educação limita-
se a uma série de perguntas e respostas.
1 - Qual a duração do mandato do Diretor dos estabelecimentos de
Ensino?
3 anos. (Artigo 9º da Lei 10.576/95 com as suas alterações)
2 - Quantas vezes poderá o Diretor ser reconduzido? A Lei não
limita o número de reconduções.
3 - A indicação da Direção das escolas se dará por chapas?
Não. O Indicado pela comunidade escolar é o Diretor (Art. 7º da Lei
10.576/95, com suas alterações). O(s) Vice-Diretor(es) será(ão)
escolhido(s) pelo Diretor (Art. 15, 16, 17 e 18 da mesma Lei);
4 - Quem poderá concorrer à função de Diretor de Estabelecimento
de ensino público estadual?
Os requisitos para concorrer estão elencados no Art. 20 da Lei
10.576/95, com suas alterações.
5 - Professor e Servidor de Escola detentores de Contratos
Temporários e emergenciais podem votar e ser votados?
Professor em Contrato Emergencial e Temporário pode votar, mas não
pode concorrer à função de Diretor, pois não
preenche o requisito do inciso II do Artigo 20, da
Lei 10.576/95, alterada pela Lei 11.695/01.
Servidor com Contrato Emergencial e Temporário não pode votar nem
pode concorrer, por força do Artigo 7º e os Parágrafos da Lei 10.576/95,
com suas alterações. (Podem participar do processo de indicação dos
Diretores somente os integrantes do Quadro de Servidores de Escola,
criado pela Lei 11.407, de 06 de janeiro de 2000).
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6 - Professor com Contrato Emergencial pode participar da
Comissão Eleitoral?
A orientação é no sentido de que Professor detentor de contrato
emergencial ou temporário não integrem as Comissões Eleitorais, pelos
seguintes motivos: 1. o contrato é para uma finalidade específica, que é
regência de classe; 2. que a sua contratação é para ministrar um número
determinado de horas-aula, não cabendo o desvio para atividade diversa
daquela para a qual foi contratado. 3. pela natureza do contrato
(temporariedade e emergencialidade), podendo ser dispensado a
qualquer momento, quando cessar a necessidade, ou for substituído por
concursado.
7 - Professor em estágio probatório poderá afastar-se das funções
do cargo para exercer a função de Vice- Diretor?
A estabilidade somente será adquirida após o cumprimento do estágio
probatório, por um período de três anos, quando será avaliado o seu
desempenho nas funções do cargo para o qual foi nomeado. (Art. 41 da
Constituição Federal)
A Lei 6672/74, de 22 de abril de 1974 - Estatuto e Plano de Carreira do
Magistério Publico Estadual, em seu Artigo 25, prevê a possibilidade de
postergação do cumprimento do estágio probatório e o Decreto 40.503,
de 08 de dezembro de 2000, que regulamenta a Lei estatutária, prevê
apenas 3 (três) hipóteses em que pode ser postergado o estágio
probatório: Licença para Acompanhar Cônjuge, Licença para Concorrer
a Cargo eletivo e Licença para exercer mandato eletivo. Em nenhuma
destas hipóteses se enquadra o Vice-Diretor. Emenda 19, CF/88.
8 - Professor que concluirá curso superior em dezembro de 2009,
poderá concorrer à função de Diretor?
Não. O candidato deverá entregar à Comissão Eleitoral o comprovante
de habilitação, juntamente com o pedido de inscrição, no prazo de até
15 dias (quinze) após a publicação do Edital (Artigo 29 da Lei
10.576/95, alterada pela Lei 11.695/01)
9 - Qual o horário de funcionamento das urnas?
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No período entre sete e vinte e duas horas (Decreto nº36.281/95,
alterado pelo Decreto nº 39.731/99)
10 - Professor extranumerário (M-2, M-3 e M-4), contratado nos
termos da Lei 4937/65 pode concorrer à função de Diretor?
Pode concorrer, uma vez que são estáveis, nos termos dos Atos das
Disposições Constitucionais Transitórias - Artigo 19 - CF/88
11 - Professor ou Servidor em Licença Saúde, Licença Gestante,
Licença Especial, aguardando aposentadoria poderão
concorrer à função de Diretor ou poderão votar?
Poderão votar e concorrer, pois em tais licenças são considerados
efetivos.
Só não poderão votar e concorrer os que estiverem em licença não
remunerada (Decreto 36.281/95 - Artigo 3º, inciso V).
Ao tratar dessa forma a eleição de diretores a Secretaria de Educação
Estadual limita-se ao aspecto jurídico. Não contempla o aspecto
pedagógico, o projeto político pedagógico.
Contudo, a lei estadual de 2001 fala nos princípios e no seu artigo Art. 2º, f ala que os
estabelecimentos de ensino serão instituídos como órgãos relativamente autônomos, dotados
de autonomia na gestão, financeira e pedagógica, em consonância com a legislação específica
de cada setor.
Mas esta lei avança em relação às anteriores quando considera que a Administração
dos estabelecimentos de ensino deve ter vários órgãos: I – Diretor; II - Vice-Diretor ou Vice-
Diretores; III - Conselho Escolar.
Outra exigência legar está na exigência do curso para qualificação do exercício de
função, onde desconsidera a formação profissional e a decisão da comunidade, mas valoriza
as exigências legais para que a gestão caminhe de acordo com o sistema. Diz a redação da lei:
- comprometa-se a frequentar curso para qualificação do exercício da função que vier
a ser convocado após indicado; (Redação dada pela Lei nº 11.695, de 10 de dezembro de
2001).
VI - apresente plano de ação para implementação das ações junto à comunidade.
(Redação dada pela Lei nº 11.695, de 10 de dezembro de 2001).
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Parágrafo 1º - O candidato a Diretor deverá entregar à Comissão Eleitoral, no ato da
sua inscrição, o plano de ação visando à melhoria da qualidade do desempenho escolar.
A Autonomia da Gestão Pedagógica dos estabelecimentos de ensino será assegurada: I - pela definição, no Plano Integrado de Escola, de proposta pedagógica específica, sem prejuízo da avaliação externa; II - pelo aperfeiçoamento do profissional da educação. Art. 90 - A Secretaria da Educação, visando ao pleno atendimento dos objetivos desta lei, promoverá cursos de qualificação para o exercício da função de Diretor de escola pública estadual, nos termos do art. 20. (Redação dada pela Lei nº 11.695, de 10 de dezembro de 2001) Art. 91 - As controvérsias existentes entre o Diretor e o Conselho Escolar, que inviabilizem a administração da escola , serão dirimidas, em única e última instância, pela assembleia-geral da comunidade escolar, a qual deverá ser convocada por qualquer das partes para reunir-se e decidir, no prazo máximo de quinze dias, contados do ato que gerou impasse.
Os princípios de autonomia de administração pedagógica ficam prejudicados com uma
série de imposições aos candidatos a diretor e aos estabelecimentos de ensino. Por que um
curso para diretores? Por que o curso para diretores ser organizado pela Secretaria de
Educação e não pelos professores das escolas?
Outra modificação em curso é o projeto de Ensino Médio da Secretaria de Educação.
Para o CPERS/SINDICATO:
O objetivo central do projeto é a perspectiva de adequar as escolas públicas às
necessidades das empresas. Toda a alteração do currículo, sua divisão em parte geral e parte
específica e a destinação de parte da carga horária voltada a projetos e estágios estão
condicionados à formação de mão de obra semi qualificada e barata para os diversos
setores existentes no Estado.
A proposta expressa pelo governo por áreas de conhecimento significa o desrespeito à
especialização do educador...Há redução efetiva de objetivos programáticos de
conhecimentos e uma aproximação com um nível mais básico, visto que 50% da carga horária
será destinada ao ensino técnico e 50% para a parte diversificada, que também estará voltada
ao mundo do trabalho.
O ensino médio proposto acentua a desigualdade social, pois os filhos da classe
dominante continuarão tendo direito a uma formação que contemple todas as áreas, o que
facilita sobremaneira o ingresso em uma universidade pública, enquanto os filhos da classe
trabalhadora serão preparados para servir ao capital.
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Toda a alteração do currículo pretende ser feita de cima para baixo, a uma pequena
consulta a alguns representantes constará como disfarce para a decretação da mudança.
Significa, portanto, que a autonomia político pedagógica das escolas será suprimida com
essa mudança. Estaremos novamente diante de um "regimento padrão" elaborado pela SEC à
revelia da comunidade escolar e que irá, inclusive, ferir a lei de gestão democrática.
O Governo do estado prevê a implantação do PRONATEC – Programa Nacional de
Acesso ao Ensino Técnico e Emprego. Este programa presume a parceria com instituições de
ensino ligadas à iniciativa privada, com ênfase no Sistema S (SENAI, SENAC, SESI e SESC)
que já recebem dinheiro público e, mesmo assim, cobram taxas dos estudantes. Com o
PRONATEC passarão a receber mais dinheiro ainda.
O Governo do Estado estabelece que a responsabilidade na organização, realização e
avaliação dos seminários integrados será da equipe diretiva da escola como um todo e,
especificamente, da supervisão e orientação educacional. Atualmente não existem esses
profissionais nem sequer para o atendimento das necessidades urgentes do dia a dia das
escolas e, nem mesmo a previsão de concurso público para estas áreas. Mais um motivo para
duvidarmos da intenção do governo de investir na educação.
Sem contar que transforma o professor em um profissional polivalente. Ele deverá dar
conta (evidentemente, sem nenhuma formação adicional) de diversas disciplinas e ramos do
conhecimento, inclusive conhecendo os processos produtivos que são objetos da formação.
O aumento de dias letivos e carga horária aprofundam a sobrecarga de trabalho, já
sentida pelos educadores, que se veem obrigados a cumprir 40 ou 60 horas semanais, em
turnos e estabelecimentos diversificados, tornando a jornada extenuante e agravando,
inclusive, os problemas de saúde física e mental.
Repudiamos o fato de que o governo utiliza citações de Marx e de teóricos marxistas
da atualidade para apresentar sua proposta como emancipadora do ser humano através do
domínio das novas tecnologias e dos meios de produção. Cabe salientar que o conceito de
politecnia defendido por Marx trata-se de uma concepção de que “o ser humano deve ser
integralmente desenvolvido em suas potencialidades, através de um processo educacional de
totalidade que proporcione formação científica, política e estética, com vista à libertação do
ser humano”.
Desta forma não nos restam dúvidas sobre quem ditará as regras, assim como temos
convicção de que a Escola Pública do Estado do Rio Grande do Sul estará a serviço do
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mercado e do capital. Frigotto diz o seguinte: "Escola sem espaços e tempos para as artes, a
cultura, o lazer e o esporte é uma pobre escola e esgarça o processo formativo. Especialmente
para crianças e jovens das classes populares". CPERS/SINDICATO disponível in:
<http://www.cpers.org.br/index.php?&cd_artigo=394&menu=36 > acessado em 10/11/11
Como então participar de uma eleição de diretores se a escola está sendo atacada com
propostas de governos e governos? Pode-se afirmar sempre mais que os interesses capitalistas
são predominantes.
No entanto, para mudar a escola não há fórmulas mágicas, mas a democracia
participativa, com certeza, poderá gerar um bom projeto de escola. Há necessidade de ouvir
todos os segmentos sociais e assim fazer valer todos os seus anseios para construir uma escola
democrática e de qualidade.
A gestão, o currículo e a participação da comunidade são os três elementos que
poderão alavancar um bom projeto de direção de escola. Estes fazem parte do projeto político
pedagógico da escola.
No entanto, que princípios são norteadores do Projeto Político Pedagógico (P. P. P.)?
Como o P.P.P. pode ser um instrumento da prática pedagógica coletiva?
Com estas duas questões concluo o trabalho sobre a eleição para diretores enfatizando
não apenas a eleição, e o processo eleitoral, mas a necessidade de a escola, professores e
funcionários estarem voltados para os princípios necessários e a construção de um P.P.P.
Como instrumento da prática pedagógica coletiva.
Referências
BAGETTI, Vilmar. Você já pensou em morar numa pequena comunidade? Investigações
sobre as lutas e a vida em Bom Progresso e Campo Novo. Santa Maria/Sd., 2011.
ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL. SECRETARIA DE EDUCAÇÃO (Acesso em
10/11/2011: ) http://www.educacao.rs.gov.br/pse/html/eleicao.jsp?ACAO=acao1> .
CPERS/SINDICATO acesso em 10/11/11 no endereço<
http://www.cpers.org.br/index.php?&cd_artigo=394&menu=36 >
FREIRE, Paulo. O Popular. Goiânia, 22 de janeiro de 1982.
SAES, Décio Azevedo Marques de. Democracia representativa e democracia
participativa. São Bernardo do Campo: UMESP, 2003.
Revista Latino-Americana de História Vol. 1, nº. 3 – Março de 2012 Edição Especial – Lugares da História do Trabalho © by RLAH
Pági
na 5
07
SAES, Décio Azevedo Marques de; ALVES, Maria Leila. Conflitos ideológicos em torno da
eleição de diretores de Escolas Públicas. GT: Estado e Política Educacional/ no 05. 2003.
Recebido em Setembro de 2011 Aprovado em Outubro de 2011