elaboraÇÃo e implementaÇÃo de um plano de aÇÃo...
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ELABORAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DE
UM PLANO DE AÇÃO VISANDO
AUMENTO NA QUALIDADE DA
COLETA DE DADOS DOS
INDICADORES DE DESEMPENHO:
PESQUISA-AÇÃO EM UMA EMPRESA
DO SETOR SUCROENERGÉTICO
Amanda Zangirolamo (FIEL)
Yara Regine Ferreira de Souza (FIEL)
Ivan Correr (FIEL)
Alexandre Carvalho Dantas (FIEL)
A globalização tem tornado cada vez mais competitivo o mercado
mundial, portanto adaptar-se às mudanças impostas é essencial para a
sobrevivência das organizações. O setor agrícola brasileiro também
tem sido afetado por esses fatores, e para atender às exigências do
mercado é necessário que as empresas ampliem e modernizem sua
gestão. Os indicadores de desempenho trabalham como ferramentas de
suporte na busca pela competitividade auxiliando na definição do
planejamento e determinação de estratégias através da medição e
análise de dados. Entretanto os indicadores devem ser alimentados
com dados confiáveis e legítimos, caso contrário, a medição se torna
falha, gerando indicadores desvirtuados da realidade, e levando a
organização a tomadas de decisões falhas. Portanto este artigo visa
elaborar um plano de ação para melhorar a confiabilidade na coleta
de dados dos indicadores de desempenho em uma empresa do setor
sucroenergético do estado de São Paulo, com especial atenção aos
dados da área agrícola. Os dados utilizados nesse estudo foram
coletados por meio de uma pesquisa-ação. Os resultados obtidos com a
aplicação do plano de ação desenvolvido foi o aumento na qualidade e
conformidade dos dados coletados em relação a meta estabelecida
Palavras-chave: Indicadores, plano de ação, coleta de dados, setor
agrícola
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção
Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.
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1. Introdução
A sobrevivência das organizações atualmente está atrelada à necessidade de se adequar às
transformações ocorridas pela alta competitividade que o mercado internacional ganhou
devido à globalização (FERREIRA NETO; GOMES e ROSADO, 2006).
A agroindústria brasileira também tem enfrentado esse cenário. Peloia e Milan (2010)
destacam que para atender às mudanças impostas pelo mercado atual as organizações do setor
agrícola nacional vem ampliando e modernizando a gestão de seus sistemas mecanizados e
utilizando medidas de desempenho através da análise individual de indicadores de
desempenho para controlar o dia a dia da empresa.
As medidas de desempenho para serem eficientes precisam ser de simples entendimento a
toda organização, coerentes com as atividades que se propõe a medir, úteis e de fácil
implementação, pois além de informar à organização sobre a estratégia da direção, também
têm como objetivo instruir todos os envolvidos sobre seu desempenho; e resultados, controle
e melhoria dos processos (HRONEC, 1994).
Para Camargo (2000) os indicadores de desempenho devem ser originados de fontes seguras
de dados, sendo determinados de maneira criteriosa, garantindo a disponibilidade dos dados e
resultados mais assertivos.
Rêgo (2013) apresenta a importância de se ter dados confiáveis para gerar informações
condizentes, entretanto muitas empresas apresentam dificuldades na coleta, manuseio e
análise dos dados coletados, devido à falta de profissionais dedicados a zelar pela gestão e
qualidade dos dados continuamente.
Portanto este trabalho tem como objetivo central elaborar um plano de ação decorrente do uso
do método PDCA, para melhorar a confiabilidade na coleta de dados dos indicadores de
desempenho em uma empresa do setor sucroenergético do estado de São Paulo, com especial
atenção aos dados da área agrícola. Para isso se realizou uma revisão bibliográfica sobre o
tema para, em seguida, verificar a possibilidade de aplicação dos conceitos examinados a
situação do mundo real por meio de uma Pesquisa-Ação.
2. Referencial teórico
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O ser humano está continuamente se avaliando, é de sua natureza tal ação. Analisar seus
resultados e desempenhos faz parte de seu dia-a-dia em qualquer área de sua vida, ele
necessita ser reconhecido pelo seu sucesso (CALLADO, CALLADO e MACHADO, 2003).
Para as organizações, a criação e padronização de medidas devem proporcionar a avaliação e
dimensionamento da realidade de forma objetiva. A partir dos indicadores de desempenho, a
organização pode divulgar seus resultados aos diferentes setores da sociedade com os quais
interage: fornecedores, clientes, acionistas, funcionários, comunidades, governo; mantendo
assim, um relacionamento transparente (CHIAVENATO e CERQUEIRA NETO, 2003).
2.1. Indicadores de desempenho
Para a FPNQ (1994) um indicador de desempenho pode ser descrito como a “[...] relação
matemática que mede, numericamente, atributos de um processo ou de seus resultados, com o
objetivo de comparar esta medida com metas numéricas pré-estabelecidas”.
Alguns autores definem indicadores de desempenho do seguinte maneira (Quadro 1).
Quadro 1 – Definição indicadores de desempenho
Fonte: Autores
Segundo Callado, Callado e Machado (2007) as medidas de desempenho só podem ser
utilizadas através de indicadores de desempenho que devem obedecer a uma sequência lógica
e demonstrar as metas da organização através de objetivos.
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Entretanto, a escolha do caminho a ser seguido não é suficiente. É necessário saber se não
houve nenhum desvio de rota, para isso, utiliza-se um sistema de medição de desempenho
(MÜLLER, 2003).
2.2. Importância da medição de desempenho
Kaplan e Norton (1997) enfatizam que o que não é medido não pode ser gerenciado,
mostrando a importância de se utilizar um sistema de medição de desempenho resultante das
estratégias da organização, se a empresa quiser se manter competitiva na era da informação.
Um sistema de informação constituído por indicadores de desempenho confiáveis auxilia na
tomada de decisões do nível operacional e estratégico, e estimula a organização a ser mais
competitiva no mercado em que atua (SINK e TUTTLE, 1993; SALAZAR, 2001;
FERNANDES, 2004).
Callado, Callado e Machado (2003) afirmam que mesmo rotineiro às organizações avaliar
desempenhos e resultados pode não ser tão fácil, sendo imprescindível determinar o que se
almeja medir e os padrões a serem utilizados para a avaliação do objeto ou processo medido.
2.3. Confiabilidade na coleta de dados dos indicadores de desempenho
Segundo McGee e Prusak (1994), a estrutura a ser utilizada para se coletar, filtrar, avaliar e
disseminar a informação é um ponto a ser enfatizado no desenvolvimento de um sistema de
medição de desempenho. É através das medidas que os dados são transformados em
informação, para assim, serem capaz de auxiliar e influenciar nas tomadas de decisão.
McGee e Prusak (1994) descrevem a qualidade da informação como sendo de grande
importância para o processo de medição de desempenho, sendo alcançada através da
integridade, exatidão, atualidade, interpretabilidade e valor geral da informação. Os mesmos
autores ainda alertam que existe o fator humano que põe em risco a eficiência da informação.
Para Camargo (2000) os indicadores de desempenho devem ser originados de fontes seguras
de dados, sendo determinados de maneira criteriosa, garantindo a disponibilidade dos dados e
resultados mais assertivos.
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Um indicador de desempenho deve ser empregado de forma criteriosa, atentando-se ao seu
valor no processo e garantindo a rápida disponibilidade da informação, com base em dados
confiáveis (TAKASHINA e FLORES, 2005).
Caldeira (2012) descreve como sendo uma das principais características de um bom indicador
a credibilidade do resultado e alerta que quando os dados utilizados são de origem duvidosa,
quer porque existe a suspeita de distorção dos mesmos ou porque é comum encontrar erros
nos dados, todas as avaliações retiradas da análise desses indicadores ficam
consequentemente afetadas. O autor ainda aconselha procurar fontes de informações
confiáveis ou que tenham um procedimento protegido contra erros de entrada ou importação e
ainda assim realizar verificações regulares nas fontes de dados dos seus indicadores.
2.4. Ciclo PDCA
Inserida no Japão por Deming na década de 50, o ciclo PDCA é uma ferramenta fácil de ser
empregada e de importante utilização, nascida da necessidade da interação contínua entre o
planejado e o executado (CAXITO, 2008).
O ciclo PDCA se divide em quatro etapas fundamentais descritas por Daychouw (2010)
como:
Plan (planejar): estabelecer missão, visão, objetivos, procedimentos e processos
necessários para atingir os resultados;
Do (executar): executar as atividades;
Check (verificar): monitorar e avaliar periodicamente os processos e resultados,
confrontando-os com o planejado, objetivos e especificações;
Act (agir): determinar e confeccionar novos planos de ação, de forma a melhorar a
qualidade, a eficiência e a eficácia, aprimorando a execução e corrigindo eventuais
falhas.
Para Werkema (2014) o ciclo PDCA mostra a direção a ser seguida para o alcance dos
objetivos traçados, sendo indispensável a utilização de ferramentas analíticas para coleta,
processamento e disposição dos dados necessários para conclusão das etapas do PDCA,
possibilitando o alcance das metas necessárias à sobrevivência da organização.
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3. Metodologia do desenvolvimento da pesquisa
A empresa pesquisada é do ramo sucroenergético, produtora de açúcar e etanol, localizada no
interior do Estado de São Paulo, composta por 2200 funcionários, pertencente a um grupo
integrado por outras três usinas.
A usina é dividida em duas áreas: agrícola e industrial. A área agrícola é responsável pelo
tratamento, preparo e conservação do solo, pelo plantio e colheita da cana de açúcar, enquanto
que a área industrial realiza o processamento da cana de açúcar em sacarose e etanol. Essa
divisão facilita a coordenação e controle dos processos, permitindo um gerenciamento mais
eficiente.
Atualmente, as decisões gerenciais do grupo são apoiadas por indicadores de desempenho
presentes tanto na indústria, como na área agrícola. Os indicadores possibilitam a visualização
do desempenho individual (de cada unidade) e também do grupo.
O setor agrícola é classificado em três áreas baseadas nos tipos de atividades executadas,
sendo elas: Plantio, Tratos Culturais e Colheita. Devido a 95% dessas atividades serem
mecanizadas, os indicadores de desempenho existentes em cada área monitoram variáveis
como o rendimento, produtividade, consumo de combustível, horas trabalhadas, tempo em
manutenção, entre outros.
Os indicadores são emitidos e analisados semanalmente, sendo que o período analisado é
sempre referente à semana anterior de trabalho. A partir da análise de históricos dos
indicadores, foram identificadas divergências dos dados coletados, que não condizem com a
realidade em campo.
Verificou-se que a origem das divergências se apresentava no apontamento das atividades
executadas nas máquinas, uma vez que os indicadores de desempenho são elaborados a partir
dos dados coletados pelos equipamentos.
Devido às divergências encontradas, foi formado um grupo de análise para detectar as
inconsistências dos dados coletados em campo e propor um plano de ação para aumentar a
confiabilidade no apontamento de dados.
Para isso, foi realizado um estudo dos indicadores de desempenho nos processos de Preparo
de solo e Conservação de solo que totalizam 16 máquinas analisadas. Pertencentes aos Tratos
Culturais, esses processos foram escolhidos para o estudo em questão, pois não são afetados
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pela sazonalidade, como a Colheita e o Plantio, que possuem como duração períodos entre 8 e
4 meses respectivamente.
3.1. Coleta, transferência e análise de dados
A seguir serão apresentados detalhadamente os processos de coleta, transferência e análise de
dados.
3.1.1. Coleta de dados
Cada máquina agrícola, seja ela caminhão, trator ou colhedora, possui instalado um
computador de bordo do modelo Auteq CBA3200, que executa o armazenamento de dados de
dois modos: automático e por apontamento (Figura 1).
Figura 1 - Computador de bordo
Fonte: Autores
Os dados armazenados de forma automática pelo computador de bordo são coletados por
sensores instalados nos equipamentos que monitoram e registram os parâmetros de máquinas
como rotação, velocidade, pressão e nível do óleo hidráulico, temperatura de água.
Já para os dados coletados via apontamento, o mesmo é realizado pelo operador informando
manualmente a operação que está sendo realizada. Todas as operações são listadas e
identificadas por código, conforme apresentado na Figura 2.
As operações são classificadas como:
Operações produtivas;
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Operações de parada: divididas em paradas por logística, manutenção, fator climático
e motivos auxiliares.
Todas as informações constantes nos indicadores de desempenho são provenientes dos
apontamentos das atividades efetuadas pelos operadores por meio do computador de bordo.
Inicialmente é inserido o código de controle (número de identificação de cada operador),
informações de localização, como código da fazenda e o código da atividade a ser executada.
Figura 2 – Lista de operações
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Fonte: Autores
3.1.2. Transferência de dados
A transferência dos dados coletados pelo computador de bordo em campo, para o sistema
(computador central) que irá gerar os indicadores de desempenho é apresentado na Figura 3.
a) O Posto de abastecimento de combustível é responsável pela logística de
abastecimento das máquinas, enviando caminhões comboios para o campo;
b) Os caminhões comboio também possuem computadores de bordo instalados. Dessa
forma, durante o abastecimento, as informações das máquinas em campo são
transferidas, automaticamente, por sinal Wi-Fi para os comboios;
6 Grade Aradora Pesada I 7 Grade Intermediária
8 Subsolagem I 394 Marcador de Linha PL
11 Terraceamento 446 Grade Niveladora I
437 Destruição de Soqueira 482 Repasse Grade Intermed. I
474 Subsolagem II 488 Repasse Grade Nível I
477 Repasse Distribuição Soq. PS 497 Grade N. Incorp Crotalaria
480 Repasse Subsolagem 584 Subsolagem Localizada
485 Repasse Terraceamento PS 593 Repasse Subsolagem Localizada
486 Repasse Grade Pesasa I 101 Serviços Diversos
916 Aguardando Prancha 957 Aguardando Implemento
912 Aguardando Comboio 917 Aguardando Programação
907 Mudança de Local (Com prancha) 954 Disponível no Pátio
933 Máquina Encalhada 911 Falta de Tratorista
979 Sem Sinal - GPS 908 Refeição
960 Sabado/Domingo/Feriado
906 Mudança de Local (Sem Prancha)
932 Reparo Eletricista 920 Troca de Turno
931 Reparo Mecânico 925 Aguardando Manutenção
953 Recolhido por Oficina 926 Aguardando Borracheiro
965 Reparo Mecânico Implemento 975 Recebendo instruções/Outros
930 Serviço de Borracharia 978 Aguardando Produto
976 Manutenção GPS 980 Teste
901 Abastecimento e Lubrificação 359 Reboque equip encalhado
941 Limpeza de Máquina
910 Regulagem de Implemento
977 Manutenção de Oportunidade 902 Chuva/Terreno Molhado
Fatores Climáticos
Motivos Auxiliares
OPERAÇÕES PREPARO DE SOLO
MOTIVO DE PARADA
Logistica Externa Logística Interna
Manutenção Corretiva
Manutenção Preventiva
CÓDIGOS OPERAÇÕES PREPARO DE SOLO
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c) Ao retornarem ao Posto de abastecimento, os caminhões comboio se dirigem até um
ponto de descarregamento de dados, no qual, também via Wi-Fi, as informações são
transmitidas, de forma automática, para um computador central.
Figura 3 - Coleta e transferência de dados
Fonte: Autores
3.1.3. Análise de dados
Além do hardware (computador de bordo), utiliza-se também o software Auteq CBaseCS, um
programa instalado em computadores, que efetua a leitura dos apontamentos, transformando-
os em uma base de dados que é exportada para o Excel 2010, alimentando os indicadores.
Após a exportação dos dados, são elaborados relatórios operacionais e indicadores de
desempenho. A partir da análise dos dados foi observado que as informações disponíveis
apresentavam inconsistências nos apontamentos.
3.2. Situação encontrada
Dos 45 apontamentos utilizados pela empresa, 27 apresentaram divergências significativas em
comparação às metas estabelecidas. Os apontamentos Refeição, Troca de Turno,
Abastecimento e Lubrificação foram selecionados para exemplificar a situação encontrada.
A Figura 4 apresenta o apontamento “refeição”, na qual as máquinas são operadas em 3
turnos, numa escala de trabalho 6x1. Os funcionários têm direito à 1 hora de refeição, dessa
forma, obteve-se à meta de 18 horas semanais pelo cálculo: 1h refeição x 3 turnos x 6 dias
trabalhados.
Figura 4 - Horas apontadas (refeição)
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Fonte: Autores
A Figura 5 apresenta o apontamento “troca de turno”, considerado o período entre o término
de um turno e início de outro, no qual são realizadas inspeção e limpeza na máquina; e
comunicado as atividades realizadas no dia. Para essa atividade é estimado um tempo máximo
de 15 minutos, estabelecendo-se a meta de 4 horas e 30 minutos semanais pelo cálculo: 15
minutos x 3 turnos x 6 dias trabalhados.
Figura 5 - Horas apontadas (troca de turno)
Fonte: Autores
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A Figura 6 apresenta o apontamento “abastecimento e lubrificação” Para essa atividade são
realizados 2 abastecimentos por semana, cada abastecimento é realizado em 30 minutos,
estabelecendo-se a meta de 1 hora por semana.
Figura 6 - Horas apontadas (abastecimento e lubrificação)
Fonte: Autores
Outro caso também avaliado foram situações em que duas máquinas do mesmo modelo (CAT
D6N) trabalharam no mesmo local, executando as mesmas atividades (Figura 7), entretanto
alguns apontamentos, como por exemplo, “chuva/terreno molhado” apresentaram
divergências consideráveis.
Figura 7 - Comparativo máquinas
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Fonte: Autores
4. Resultados e discussões
Como pode ser verificado nas Figuras 4, 5, 6 e 7, ocorrem divergências significativas dos
dados coletados em relação à meta estabelecida pela empresa.
Por meio de análises preliminares, foram identificadas que as causas geradoras dessas
divergências se apresentavam em diferentes níveis organizacionais:
a) Operacional: falta de conhecimento e instrução adequados sobre o funcionamento do
computador de bordo e realização dos apontamentos.
b) Gerencial: baixo envolvimento da gestão e supervisão, desconhecendo as dificuldades
dos operadores e a falha dos apontamentos.
A fim de solucionar esses problemas, foi elaborado um plano de ação com o uso da
metodologia PDCA, com o intuito de aumentar a qualidade e confiabilidade na coleta de
dados (Quadro 2).
Quadro 2 - Plano de ação
Etapa Ação Objetivo
Análise Formação de grupo Formação de um grupo de análise para integrar os
envolvidos; coordenar e executar o projeto; identificar e
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para análise solucionar problemas que comprometam a integridade
dos dados; analisar e divulgar as informações.
Envolvimento dos
líderes dos processos
de Preparo e
Conservação do solo
Envolvimento dos líderes dos processos de Preparo e
Conservação de solo para análise dos indicadores,
identificação das divergências e realização da interface
com os operadores.
Pesquisa em
campo
Visita ao campo
Realizar visita ao campo e entrevista com os operadores,
para conhecimento das dificuldades na utilização dos
computadores de bordo.
Reestruturação da
lista de operações
Junto aos líderes, analisar lista de operações para
identificar e implementar melhorias, com o objetivo de
simplificar os códigos para os apontamentos.
Envolvimento da
gestão
Engajamento dos
gestores
Envolvimento dos gestores por meio de reuniões
semanais, nas quais serão divulgados os resultados
através de relatórios e indicadores de desempenho, com o
propósito de conseguir apoio e credibilidade para os
projetos desenvolvidos.
Reformulação de
relatórios
Elaboração de relatórios gerenciais, para divulgação
semanal via e-mail aos gestores; relatórios operacionais,
para análise de equipe de computador de bordo;
relatórios mais simples, para divulgação de resultados
aos operadores.
Treinamento e
capacitação
Realização
treinamento com os
operadores
Aplicar treinamento aos operadores, visando esclarecer
as dúvidas quanto ao uso do computador de bordo e
apontamento das operações.
Manual do
computador de bordo
Elaborar um guia explicativo informando a correta
utilização do computador de bordo e em quais situações
se deve usar cada apontamento.
Avaliação dos
dados
Avaliar qualidade
dos apontamentos
Avaliar a qualidade e conformidade dos apontamentos
após a aplicação do treinamento e distribuição do
manual.
Análise dos
resultados
Análise dos
relatórios e
indicadores
Análise da coerência das informações dos relatórios e
indicadores de desempenho; Identificação da necessidade
de realização de outros treinamentos.
Implementação Abrangência do
projeto
A partir dos resultados obtidos com o projeto piloto
aplicado no Preparo e Conservação de solo, verificar a
viabilidade de implementação nos demais processos
agrícolas da usina.
Fonte: Autores
A partir do plano de ação, foi estabelecido um cronograma para execução das atividades
determinadas (Figura 8).
Figura 8 - Cronograma
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Fonte: Autores
4.1. Etapas realizadas
A seguir são apresentadas as etapas executadas do plano de ação. Para isso foram elaborados
fluxogramas e quadros das ações implementadas, visando o esclarecimento das ações.
4.1.1. Análise
A Figura 9 apresenta as ações desenvolvidas da etapa de análise e o Quadro 3 demonstra em
detalhes as ações realizadas.
Figura 9 - Ações desenvolvidas: etapa análise
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Fonte: Autores
Quadro 3 - Detalhamento das ações desenvolvidas: etapa análise
Fonte: Autores
4.1.2. Pesquisa em campo
A Figura 10 apresenta as ações desenvolvidas na etapa de pesquisa em campo e o Quadro 4
demonstra em detalhes as ações realizadas
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Figura 10 - Ações desenvolvidas: etapa de pesquisa em campo
Fonte: Autores
Quadro 4 - Detalhamento das ações desenvolvidas: etapa de pesquisa em campo
Fonte: Autores
4.1.3. Envolvimento da gestão
A Figura 11 apresenta as ações desenvolvidas na etapa de envolvimento da gestão e o Quadro
5 demonstra em detalhes as ações realizadas.
Figura 11 - Ações desenvolvidas: etapa de envolvimento da gestão
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Fonte: Autores
Quadro 5 - Detalhamento das ações desenvolvidas: etapa de envolvimento da gestão
Fonte: Autores
A Figura 12, 13 e 14 evidenciam as reformulações geradas nos relatórios gerenciais,
operacionais e de feedback respectivamente, com o intuito de integrar e divulgar os resultados
a todos os envolvidos.
Figura 12 - Relatório gerencial: detalhes
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Fonte: Autores
Figura 13 - Relatório operacional: detalhes
Fonte: Autores
Figura 14 - Relatório de feedback: detalhes
Fonte: Autores
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4.1.4. Treinamento e capacitação
A Figura 15 apresenta as ações desenvolvidas na etapa de treinamento e capacitação e o
Quadro 6 demonstra em detalhes as ações realizadas.
Figura 15 - Fluxograma treinamento e capacitação
Fonte: Autores
Quadro 6 - Detalhamento das ações desenvolvidas: etapa de treinamento e capacitação
Fonte: Autores
A Figura 16 evidencia o treinamento realizado na empresa, com os três turnos de trabalho,
para capacitação dos operadores e apresentação do manual de operação do computador de
bordo.
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Figura 16 - Treinamento
Fonte: Empresa
4.2. Resultados preliminares
As etapas do plano de ação referente à “avaliação dos dados”, “análise dos resultados” e
“implementação”, com objetivo de se verificar a eficácia do treinamento, através da
conformidade e qualidade dos apontamentos, estava sendo desenvolvida até a conclusão deste
artigo.
Entretanto, resultados preliminares foram obtidos, por meio da análise dos apontamentos
referentes ao período de 20/04/15 a 26/04/15, posterior à capacitação e treinamento.
A Figura 17 apresenta o comparativo das “horas apontadas (refeição)” antes e depois da
aplicação do plano de ação desenvolvido, na qual os novos apontamentos referentes à
"Refeição" apresentam uma aproximação ao objetivo estabelecido. A média dos dados
anteriores apresentava um desvio de 55% em relação à meta definida pela empresa, enquanto
a média dos dados após a aplicação do plano de ação foi de 20%, o que apresenta uma
melhora de 35% na aderência da meta estabelecida.
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Figura 17 - Comparativo das horas apontadas (refeição): antes e depois
Fonte: Autores
A Figura 18 apresenta o comparativo das “horas apontadas (troca de turno)” antes e depois da
aplicação do plano de ação desenvolvido, na qual se pode observar claramente a adequação
dos apontamentos de "troca de turno", cuja média atual representa somente 7% de desvio em
relação à meta, sendo que os dados anteriores apresentavam um desvio de 200% do objetivo
proposto, o que apresenta uma melhora de 193% na aderência da meta estabelecida.
Figura 18 - Comparativo das horas apontadas (troca de turno): antes e depois
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Fonte: Empresa
A Figura 19 apresenta o comparativo das “horas apontadas (abastecimento e lubrificação)”
antes e depois da aplicação do plano de ação desenvolvido, na qual apresentam melhoria na
qualidade dos apontamentos, sendo que o desvio em relação à meta passou 72% para 17%, o
que apresenta uma melhora de 55% na aderência da meta estabelecida.
Figura 19 - Comparativo das horas apontadas (abastecimento e lubrificação): antes e depois
Fonte: Empresa
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Os resultados preliminares evidenciam a importância da integração de todos os envolvidos no
processo de coleta, análise e tratamento de dados, na obtenção de dados confiáveis a serem
utilizados pelos indicadores de desempenho da organização com o propósito de gerar
informações condizentes, seguras e confiáveis para a tomada de ação.
5. Considerações finais
O presente trabalho demonstrou através de uma pesquisa-ação, que a elaboração de um plano
de ação, baseado na metodologia PDCA, contribuiu para melhorar a confiabilidade na coleta
de dados dos indicadores de desempenho de uma empresa do setor sucroenergético.
Como pode ser observado, a integração e envolvimento de todos os setores (gerencial,
operacional e campo) possibilitou a melhoria na qualidade dos dados coletados, evidenciadas
nos indicadores selecionados: “Refeição”, “Troca de Turno” e “Abastecimento e
Lubrificação”, que apresentaram uma melhora na aderência às metas estabelecidas de 35%,
193% e 55%, respectivamente.
Deve ser ressaltado que, o uso de indicadores de desempenho confiáveis pela empresa para
tomada de decisão, depende crucialmente da qualidade e confiabilidade da coleta de dados.
Por isso é importante que as empresas estejam sempre atentas e trabalhando constantemente
para aumentar a confiabilidade na coleta de dados.
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