elaboração de um sistema de classificação de

965
Capa Índice 4233 Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extensão- CONPEEX (2010) 4233 - 4247 RELATÓRIO FINAL – PIVIC 2009/2010 A HISTÓRIA URBANA DE JATAÍ DE 1836 A 1936 Orientador: Prof. Dr. Marcos Antonio de Menezes-[email protected] Aluno: Adriano Freitas Silva – [email protected] Universidade Federal de Goiás - CEP: 75.804-020 - Brasil Palavras-chave: Espaço urbano, região, Jataí/GO. INTRODUÇÃO Todos nós, que vivemos em cidades, temos nelas pontos de ancoragem da memória: lugares em que nos reconhecemos, em que vivemos experiências do cotidiano ou situações excepcionais, territórios muitas vezes percorridos e familiares ou, pelo contrário, espaços existentes em um outro tempo e que só têm sentido em nosso espírito porque narrados pelos mais antigos, que os percorreram no passado. (PESAVENTO, 2008, p. 10) O processo de urbanização brasileira teve início no fim do século XVII e início do XVIII, quando a mineração do ouro e da prata se expandiu e quando as ordenanças portuguesas sobre a proibição de fundar cidades no interior do território se afrouxaram. Em Goiás, os primeiros arraiais surgiram com a exploração mineral, principalmente do ouro, no século XVIII, quando o estado ainda fazia parte da Capitania de São Paulo. Quando a mineração dava seus últimos suspiros, não restava outra opção aos mineiros senão a ocupação de áreas próximas aos centros mineradores. Eles se apossaram das terras, requereram as sesmarias e procuraram legalizá-las, com o intuito de desenvolver uma agricultura básica que alimentasse a si e aos seus (CHAUL, 2002). Assim, de acordo com Barbosa, Teixeira Neto e Gomes (2004), a agropecuária, que já era uma atividade econômica paralela e associada à mineração, ganhou maior importância e expressão, impulsionando a formação de cidades. Alfredo d’Escragnolle Taunay, viajante que percorreu as terras goianas durante o século XIX, acrescenta: Os filhos daqueles inquietos exploradores compreenderam que era impossível continuar a ingrata mineração que exaure o solo e só enriquece o forasteiro, e então puseram-se não mais a cavar terra, mas cultivá-la, e de pronto colheitas feracíssimas,

Upload: trinhquynh

Post on 08-Jan-2017

221 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • Capa ndice

    4233

    Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extenso- CONPEEX (2010) 4233 - 4247

    RELATRIO FINAL PIVIC 2009/2010

    A HISTRIA URBANA DE JATA DE 1836 A 1936 Orientador: Prof. Dr. Marcos Antonio de [email protected]

    Aluno: Adriano Freitas Silva [email protected]

    Universidade Federal de Gois - CEP: 75.804-020 - Brasil

    Palavras-chave: Espao urbano, regio, Jata/GO.

    INTRODUO

    Todos ns, que vivemos em cidades, temos nelas pontos de ancoragem da memria: lugares em que nos reconhecemos, em que vivemos experincias do cotidiano ou situaes excepcionais, territrios muitas vezes percorridos e familiares ou, pelo contrrio, espaos existentes em um outro tempo e que s tm sentido em nosso esprito porque narrados pelos mais antigos, que os percorreram no passado. (PESAVENTO, 2008, p. 10)

    O processo de urbanizao brasileira teve incio no fim do sculo XVII e

    incio do XVIII, quando a minerao do ouro e da prata se expandiu e quando

    as ordenanas portuguesas sobre a proibio de fundar cidades no interior do

    territrio se afrouxaram. Em Gois, os primeiros arraiais surgiram com a

    explorao mineral, principalmente do ouro, no sculo XVIII, quando o estado

    ainda fazia parte da Capitania de So Paulo.

    Quando a minerao dava seus ltimos suspiros, no restava outra

    opo aos mineiros seno a ocupao de reas prximas aos centros

    mineradores. Eles se apossaram das terras, requereram as sesmarias e

    procuraram legaliz-las, com o intuito de desenvolver uma agricultura bsica

    que alimentasse a si e aos seus (CHAUL, 2002). Assim, de acordo com

    Barbosa, Teixeira Neto e Gomes (2004), a agropecuria, que j era uma

    atividade econmica paralela e associada minerao, ganhou maior

    importncia e expresso, impulsionando a formao de cidades.

    Alfredo dEscragnolle Taunay, viajante que percorreu as terras goianas

    durante o sculo XIX, acrescenta:

    Os filhos daqueles inquietos exploradores compreenderam que era impossvel continuar a ingrata minerao que exaure o solo e s enriquece o forasteiro, e ento puseram-se no mais a cavar terra, mas cultiv-la, e de pronto colheitas feracssimas,

  • Capa ndice

    4234

    uma aps outras, cada qual mais copiosa, recompensaram o abenoado trabalho. (TAUNAY, 2004, p. 35)

    Com base nessas informaes, este trabalho busca reconstituir uma

    dada memria acerca da cidade de Jata a partir da histria urbana do

    municpio, ou seja, da construo do seu primeiro ncleo urbano e sua

    trajetria at 1936. O que se quer saber quais foram as transformaes

    ocorridas nesse perodo e o que as teria gerado.

    A chegada s margens do Rio Claro: o incio do processo de povoamento da

    cidade de Jata

    Com a decadncia do ouro, muitas famlias que exerciam a atividade

    mineradora foram ao declnio econmico. Os mineiros que permaneceram em

    Gois iniciaram novas atividades: a pecuria extensiva e a agricultura de

    subsistncia, que impulsionaram a expanso e ocupao do territrio goiano,

    uma vez que geraram aumento populacional, atraindo correntes migratrias

    vindas de outros estados.

    Os imigrantes vindos da zona leste do Brasil, atravs do Rio So

    Francisco, tomaram conta de Minas Gerais e chegaram at Gois e Mato

    Grosso. A imigrao para o sudoeste goiano data dos anos 30 do sculo XIX,

    aps o esgotamento das terras no Tringulo Mineiro. A penetrao na regio

    foi rpida, devido principalmente aos incentivos do Governo Imperial. Em 30

    anos a regio foi ocupada.

    Outro fator que ajudou na imigrao para o sudoeste goiano foi a

    abundncia de terras boas para pastagens e a facilidade de acesso

    propriedade. Seguindo o caminho das guas e desbravando o territrio

    goiano, tais ocupaes se constituam em verdadeiras propriedades

    latifundirias que deram origem a cidades como Rio Verde, Jata, Caiapnia,

    Quirinpolis, Mineiros, dentre outras (TEIXEIRA NETO, 2002, p. 30).

    No perodo de ocupao do sudoeste goiano, mais especificamente de

    Jata, algumas reas em torno do Rio Paranaba estavam sendo usadas para a

    criao de gado. No caso de Jata, os pioneiros Francisco Joaquim Vilela e o

    seu filho Jos Manuel Vilela (figura 1) saram da sua cidade (Esprito Santo

  • Capa ndice

    4235

    dos Coqueiros, atual cidade de Coqueiral no Estado de Minas Gerais) e em

    1836 entraram pelo leste, atravs de Rio Verde, nos sertes do sudoeste

    goiano, em busca de terras produtivas e tambm para a criao de gado. Eles

    se instalaram s margens dos rios Claro e Ariranha. A posse das terras,

    segundo Basileu Toledo Frana (2004), dava-se pelas leis imperiais ou ento

    pela fora.

    Figura 1: Jos Manoel Vilela (sentado) ao lado do filho de mesmo nome.

    Fonte: www.jatai.not.br

    Em 1837, o jovem Jos de Carvalho Bastos, proveniente de Franca, So

    Paulo, acompanhado de sua esposa Ana Cndida Gouveia de Moraes, chegou

    regio, atravs de Santana do Paranaba, em busca de boas terras goianas e

    se instalou s margens do Ribeiro Bom Jardim.

    Basileu Toledo Frana, um dos primeiros memorialistas jataienses,

    relata a chegada dos pioneiros cidade e destaca algumas caractersticas

    deles:

    Tudo comeou com os nossos desbravadores no sculo passado, e com as famlias que vieram depois para povoar o serto do Rio Claro. Chegaram com o objetivo de ficar e trouxeram, no mais das vezes, os rudimentos essenciais que aprenderam em seus lugares de origem. Sabiam ler, escrever e contar a fim de atender s necessidades dirias de passar recibos, assinar escrituras, remeter mensagens a parentes que ficaram distantes, ou ainda acompanhar com nmeros e pequenos clculos as transaes simples (...). Portanto, tivemos o privilgio de contar entre os nossos pioneiros com pessoas no s destemidas e laboriosas, mas tambm com algum conhecimento, embora muito primrio, das tcnicas

  • Capa ndice

    4236

    sociais da escrita, da leitura e dos nmeros. (...) Deixaram atrs deles, nas Minas Gerais e em So Paulo, especialmente, famlias organizadas com esses mesmos padres culturais mnimos (...), porm fundamentais mesmo nas longnquas terras do Sudoeste de Gois, que vieram domesticar para a civilizao e daqui nunca mais sairiam. (FRANA, 1998, p. 21)

    Do encontro dos dois pioneiros ficou acertado amigavelmente que as

    terras banhadas por guas da margem esquerda do Ariranha pertenceriam aos

    Vilela e as percorridas por afluentes do Bom Jardim seriam dos Carvalho. A

    citao a seguir, retirada do livro Os Pioneiros, de Basileu Toledo Frana,

    relata esse acerto feito pelos pioneiros na distribuio de terras:

    A palestra de Jos Manuel e Carvalho Bastos, sobre guas vertentes do Ariranha e Bom Jardim, no mereceu a ateno de Ana Cndida, quando foi atender ao marido naquele dia. Se quisesse, no repetiria mais do que farrapos do dilogo, palavras soltas, sem sentido completo. Ali, porm estava sendo resolvido assunto de vital importncia para o futuro das duas famlias: os chefes acertaram de modo definitivo, simples e prtico, que todas as terras banhadas por guas afluentes do Ariranha pertenciam aos Vilelas e as percorridas por tributrios do Bom Jardim seriam dos Carvalhos. Na topografia levemente ondulada do sudoeste, isto representava um espigo mestre de doze lguas. Verdadeiro estado. (FRANA, 1998, p. 74)

    Ao correr 1838, Jos Manuel Vilela e Jos de Carvalho Bastos foram a

    Minas Gerais em busca de gado para procriao. No incio, interessava-lhes a

    quantidade, sendo que teriam mais couros para os laos e arreios, sapates e

    chinelos, catres e cintos, tacas e ajoujos, tiradeiras e toldas. O gado ia se

    tornando o elemento consolidador da penetrao no sudoeste da provncia de

    Gois, a principal fonte de riqueza do homem: absorvente e apaixonante

    atividade. Iniciava-se a civilizao do couro no extremo sudoeste de Gois.

    Desde o incio, os pioneiros se empenharam no desenvolvimento da

    regio, fazendo a doao de terras para que fosse erguida a primeira igreja da

    cidade, em torno da qual foram construdas casas que passaram a formar o

    centro das comemoraes religiosas do povoado que se instalou. Exemplo

    disso foi a doao, feita em 13 de maio de 1848 por Francisco Joaquim Vilela e

    sua esposa Genoveva Maximina Vilela, de uma parte de suas terras para a

    implantao do ncleo inicial do povoado e para a construo, margem do

  • Capa ndice

    4237

    crrego Jata, da capela em louvor ao Divino Esprito Santo (padroeiro da

    cidade).

    A citao abaixo um trecho da escritura assinada por Francisco Vilela,

    descrevendo a localizao das terras:

    O crrego denominado Jatahy encostado a minha fazenda do Bom Sucesso, sendo os limites desta doao: principiando na barra do dito crrego, pela parte de baixo, guas vertentes do dito crrego, at o alto, dividindo do alto por diante com Jos da Rosa e seguindo pelo espigo mestre at o fim e seguindo pelo espigo guas vertentes do Jatahy, divisando com a mesma fazenda do Bom Sucesso e seguindo por este abaixo at a sua origem, cujo acima declarado doamos. (FRANA, 1998, p. 98)

    Depois de doadas as terras para a formao da Capela do Divino

    Esprito Santo de Jatahy, Jos Manuel Vilela passou, por volta de 1856, a

    projetar a criao de um povoado e a edificao do templo religioso. Importa

    lembrar que desde 1836, quando Francisco Joaquim Vilela e seu filho Jos

    Manuel Vilela iniciaram o processo de povoamento em Jata, esse territrio era

    ligado Cidade de Gois (capital do estado), porm isso mudou em 06 de

    novembro de 1856, quando Rio Verde se desmembrou da capital e, com ele,

    os vilarejos de Torres do Rio Bonito e Jata, pertencentes ao municpio de Rio

    Verde.

    Em 17 de agosto de 1864 Jata foi elevado categoria de Distrito,

    conforme a Resoluo n 362 do Governo da Provncia de Gois. Pelo artigo 2

    desse documento, os habitantes da cidade ficaram obrigados a paramentar s

    suas custas e com a necessria decncia a respectiva Matriz. O artigo 4

    determinava: Logo que for canonicamente provida, o presidente expedir

    ordens para eleio dos Juzes de Paz.

    Essa resoluo trouxe muita euforia para a populao da ento

    freguesia de Jata, pois a vinda de um vigrio para a localidade significaria no

    ir mais a outras cidades em busca de padres para a realizao de casamentos

    e batizados, mas tambm imps a necessidade de se construir logo a igreja e

    tambm um cemitrio.

    Esse sonho se concretizou em 09 de junho de 1867, quando houve o

    lanamento da pedra fundamental da primeira Igreja Matriz de Jata (figura 2),

  • Capa ndice

    4238

    com missa celebrada pelo padre Antnio Marques Santarm e acompanhada

    por grande nmero de fiis. A pedra fundamental do cemitrio localizado

    direita da sada para Rio Verde, em uma elevao aps o crrego Jata foi

    lanada sete dias depois, em 16 de junho de 1867, com beno do mesmo

    padre.

    Figura 2: Primeiro templo religioso de Jata

    Fonte: www.jatai.not.br

    As festas religiosas eram ocasies que motivavam intenso movimento

    no povoado. Aconteciam procisses em homenagem ao Divino Esprito Santo,

    cavalhadas e corridas de raia. A pedido do vigrio da poca, Pe. Brito, os

    fazendeiros levavam seus escravos para que eles pedissem esmolas.

    Em 02 de agosto de 1875, o presidente da Provncia de Gois, Antro

    Cicero de Assis, aprovou a Resoluo n 547, delimitando as divisas do

    municpio de Jata, que ficaram assim estabelecidas:

    Das cabeceiras do rio Doce, pela estrada geral que da cidade de Goiaz vai para Coxim; por ella at o rio Verdinho, e por este at sua foz no rio Paranahyba, e por este acima at a barra do rio Claro, e por esta at a barra do rio Doce, e por este at suas cabeceiras, onde comeou a divisa.

    Sete anos mais tarde, em 29 de julho 1882, a Assemblia Legislativa

    aprovou e o presidente da Provncia sancionou a resoluo n 668, que

    elevava categoria de vila a freguesia de Jata, determinando que, logo que os

  • Capa ndice

    4239

    habitantes apresentassem os edifcios para a instalao da Casa de Cmara e

    Cadeia, seria providenciada a instalao da nova vila.

    Em abril de 1883, um grupo de escravos iniciou o transporte de toras de

    aroeira das margens do Rio Claro para o largo da futura cadeia pblica. Vrios

    homens puseram-se a trabalhar, sob a direo do carpinteiro Miranda, que foi o

    responsvel pelos primeiros casares slidos e durveis de Jata. Ele ergueu,

    segundo a tradio oral, a casa de Jos Manuel na cidade, o sobrado de

    Serafim de Barros, a sede da fazenda So Pedro, o pao municipal, a cadeia

    pblica, alm das pontes do Rio Claro e do Paraso.

    No ano seguinte, quando acabaram a construo do pao municipal e

    dos cubculos da cadeia, o Governo da Provncia determinou a realizao de

    eleies, a fim de constituir a primeira Cmara de Vereadores.

    Esse fato empolgou o povoado e serviu para dar a todos a conscincia

    exata da evoluo administrativa, no momento em que os habitantes iam

    escolher representantes polticos para compor a primeira Cmara. Como era

    natural naquela poca, no houve disputa; os vereadores foram indicados

    pelos moradores de maior poder econmico, de mais prestgio social e de

    reconhecida capacidade de comando.

    Em 02 de maro de 1885 foram empossados como vereadores o tenente

    Jos Inocncio da Costa Lima, Joo Jos Carneiro, Jos Manuel Vilela Jnior e

    Joo Manuel de Carvalho. No dia da posse, eles prestaram o seguinte

    juramento: Juro aos Santos Evangelhos desempenhar as obrigaes de

    vereador da Cmara Municipal da Vila de Jata, de promover quanto em mim

    couber, os meios de sustentar a felicidade e integridade do municpio.

    (FRANA, 1998, p. 209-210).

    No dia 31 de maio de 1895, a sede do municpio foi elevada categoria

    de cidade pela Lei Estadual n. 56.

    Referencial Terico

    A disciplina Histria tem, nos ltimos setenta anos, experimentado uma

    intensa renovao. Desde a dcada de trinta do sculo passado, com o

    advento dos Annales, que se contrapunha histria positivista, novas

    temticas vm sendo propostas aos historiadores. O alargamento do campo

  • Capa ndice

    4240

    ganhou impulso notadamente com a Nouvelle Histoire, que questionara o lugar

    de onde o historiador escreve, propondo um deslocamento sentido tambm na

    perspectiva marxista: de Gramsci a Hobsbawn e Thompson, um estado de

    profunda efervescncia intelectual ganhou corpo na arena do conhecimento

    histrico.

    Nos ltimos anos, porm, os estudos histricos passaram por uma

    importante mudana de nfase, a partir do interesse cada vez maior pela

    Histria Cultural. Segundo Moutinho (2004), as crticas disciplina (Histria) e

    ao prprio conceito de mentalidades contriburam de fato para essa redefinio,

    fazendo com que a Histria Cultural se apresentasse como um grande refgio

    epistemolgico.

    Somos, pois, historiadores formados no bojo dessa renovao

    historiogrfica do sculo XX, que viu o esgotamento das explicaes oferecidas

    por modelos tericos globalizantes, com tendncias totalidade, nos quais o

    historiador era refm da busca da verdade. tal fato que nos fez, no mbito

    desta pesquisa, optar pelos mtodos da chamada Nova Histria Cultural.

    Entretanto, no nos limitamos a eles. Adotamos tambm alguns procedimentos

    da Micro-histria, uma vez que esta um desdobramento terico intimamente

    ligado ao surgimento da Nova Histria Cultural.

    O arcabouo intelectual que deu origem Nova Histria Cultural est

    fortemente vinculado ao surgimento, no final da dcada de 1920, na Frana, de

    uma nova forma de se pensar as questes historiogrficas, identificada como

    Histria das Mentalidades. Essa vertente de interpretao dos fatos histricos

    buscava fugir da histria historicizante: uma histria que se furtava ao dilogo

    com as demais cincias humanas: a antropologia, a psicologia, a lingustica, a

    geografia, a economia e, sobretudo, a sociologia.

    No lugar desse tipo de manejo dos fatos histricos, era preciso adotar,

    segundo Vainfas (2002, p. 17),

    uma histria problematizadora do social, preocupada com as massas annimas, seus modos de viver, sentir e pensar. Uma histria com estruturas em movimento, com grande nfase no mundo das condies de vida material, embora sem qualquer reconhecimento da determinncia do econmico na totalidade social, diferena da concepo marxista da histria. Uma histria no preocupada com a apologia de prncipes ou generais em feitos singulares, seno com a sociedade global,

  • Capa ndice

    4241

    e com a reconstruo dos fatos em srie passveis de compreenso e explicao.

    O referencial terico a possibilitar essa abordagem o da Nova

    Histria Cultural, que traz uma nova forma de a histria tratar a cultura,

    segundo Pesavento (2004, p. 15), no mais como uma mera histria do

    pensamento, onde se estudava os grandes nomes de uma dada corrente ou

    escola. Mas, enxergar a cultura como um conjunto de significados partilhados e

    construdos pelos homens para explicar o mundo.

    Cabe salientar que esse novo paradigma no nega a importncia das

    outras cincias humanas. Sobre essa questo, Vainfas (2002, p. 56) assegura

    que os historiadores da cultura no chegam propriamente a negar a relevncia

    dos estudos sobre o mental. No recusam, pelo contrrio, a aproximao com

    a antropologia e demais cincias humanas, admitem a longa durao e no

    rejeitam os temas das mentalidades e do cotidiano.

    Portanto, podemos afirmar, concordando com Lacerda Filho (2005),

    que a Nova Histria Cultural revela uma especial afeio pelo informal, por

    anlises historiogrficas que apresentem caminhos alternativos para a

    investigao histrica, indo onde as abordagens tradicionais no foram. E foi

    nesse mar de possibilidades novas que vrios historiadores passaram a

    navegar.

    No podemos nos desviar da classificao de Histria Local ou

    Regional que uma pesquisa como a que fazemos pode receber. Os trabalhos

    identificados como de Histria Regional so constantemente questionados pelo

    fato de que toda pesquisa aborda determinado espao; da todas as pesquisas

    serem regionais, no necessitando enfatizar a metodologia.

    Com base no entendimento de que a Histria Regional estuda o

    contexto histrico de determinado espao, tomando-o como delimitao para o

    objeto de estudo, Barros (2004, p. 152) disserta que,

    quando um historiador se prope a trabalhar dentro desse mbito, ele se mostra interessado em estudar diretamente uma regio especfica. Importa destacar que o espao regional no estar necessariamente associado a um recorte administrativo ou geogrfico, podendo se referir a um recorte antropolgico, a um recorte cultural ou a qualquer outro recorte proposto pelo historiador de acordo com o problema histrico que ir examinar.

  • Capa ndice

    4242

    A respeito disso, Gonalves, Reznik e Figueiredo (2000, p. 546)

    consideram um engano julgar que a eleio de um local, sob a perspectiva de

    uma histria local, implica uma simplificao do nmero de variantes e

    aspectos da trama social e ressaltam:

    O local alado em categoria central de anlise pode vir a constituir uma nova densidade no quadro das interdependncias entre agentes e fatores constitutivos de determinadas experincias histricas ento eleitas pela lupa do historiador. Nessa nova pintura, cada aparente detalhe, insignificante para um olhar apressado ou na busca exclusiva dos grandes contornos, adquire valor e significado na rede de relaes plurais de seus mltiplos elementos constitutivos.

    importante explicarmos tambm que Histria Regional e Micro-

    histria no so a mesma coisa. A Micro-histria faz uma reduo de escala

    de observao para perceber aspectos que poderiam no ser percebidos na

    anlise macro, enquanto a Histria Regional faz o estudo da realidade

    recortada por ela mesma.

    Enfim, consideramos a abordagem sob o recorte da Histria Local um

    campo privilegiado de investigao para os diversos nveis em que se tranam

    e constituem as relaes de poder entre indivduos, grupos e instituies.

    Trata-se de um territrio instigante que convida e provoca o pesquisador para a

    anlise dos imbricados processos de sedimentao das identidades sociais,

    em particular dos sentimentos de pertencimento e dos vnculos afetivos que

    agregam homens, mulheres e crianas na partilha de valores comuns, no gosto

    de se sentir ligado a um grupo.

    Metodologia

    Para viabilizar a pesquisa, reconstituir e registrar a histria e a memria

    do espao urbano de Jata, pretendemos utilizar fontes de diversas naturezas:

    fotos, plantas arquitetnicas, licenas e alvars de construo emitidos pela

    prefeitura, plano diretor urbano, plano de higiene pblica e outros documentos

    pblicos e privados, escritos e iconogrficos, alm de fontes orais. Esse ser o

    primeiro momento da pesquisa.

  • Capa ndice

    4243

    O trabalho com fontes orais se pautar na perspectiva de Thompson

    (2002, p. 176) de que todas as fontes so falveis e sujeitas a vis, e cada uma

    delas possui fora varivel em situaes diferentes. Em alguns contextos, a

    evidncia oral o que h de melhor; em outras, ela suplementar, ou

    complementar, a de outras fontes.

    Ser considerado o conceito de representao de Roger Chartier: a

    representao como dando a ver uma coisa ausente, o que supe uma

    distino radical entre aquilo que representado; a representao como

    exibio de uma presena, como apresentao de algo ou de algum.

    Seguindo a perspectiva do autor, propomos, nesta pesquisa, dar a ver aquilo

    que est ausente. O conceito de simblico apresentado por Chartier uma

    representao moral atravs de coisas naturais ou imagens nos ajudar no

    trabalho com as fontes.

    Resultados:

    O que se quer preservar a memria do espao urbano de Jata e a

    representao que se faz sobre o passado da cidade. compreendendo que

    cada marca deixada pelo homem no espao urbano constri memria que este

    trabalho pretende contribuir para que o passado de Jata no se perca no

    tempo, no vire p, como o que est ocorrendo com muitas das suas

    construes centenrias.

    Buscaremos tambm catalogar, registrar e documentar toda a pesquisa,

    a partir da qual sero produzidos ensaios e artigos cientficos e um catlogo

    fotogrfico sobre o patrimnio arquitetnico de Jata a organizao deste

    est entre as primeiras providncias a se tomar, pois as edificaes do sculo

    XIX so raras e esto em pssimo estado de conservao. A documentao

    relativa a essas construes, bastante antiga, compe outro rico material que

    ser reproduzido e organizado para exposio.

    Resultados Obtidos:

    Acesso a livros que contm leis e resolues (Instituto Frei Simo da

    Cidade de Gois); neles foram encontradas as resolues n 547, que

  • Capa ndice

    4244

    delimita as divisas do municpio de Jata, e n 668, que eleva categoria

    de vila a freguesia de Jata.

    Acesso s leis estaduais (Arquivo Estadual) leis de elevao

    categoria de vila e cidade, documentos referentes segurana pblica e

    atas eleitorais.

    Participao de encontros na rea de Histria, apresentando os

    resultados das pesquisas.

    Referncias:

    FONTES PRIMRIAS IMPRESSAS:

    1 Documentos do Cartrio Civil da Comarca de Jata.

    2 Documentos de batismo da Igreja Catlica de Jata.

    3 Arquivo Pblico do Estado de Gois.

    4 Arquivo do Museu das Bandeiras.

    5 Arquivo da Diocese da cidade de Gois.

    6 Arquivo Frei Simo na cidade de Gois.

    7 Arquivos do Instituto de Pesquisas e Estudos Histricos do Brasil Central

    IPHBC.

    8 Escritos dos memorialistas sobre Jata:

    AMURRIO, Hugo Ayaviri. Assim Jata. Jata: UFG, 1994.

    CURADO, Antnio Miguel Fleury. Jata e sua histria. Jata: UFG, 1984.

    FRANA, Almrio Barros; LIMA, Binmio da Costa. Primeiros fazendeiros

    do sudoeste goiano e do leste mato-grossense: genealogia e histria. Jata:

    Sudogrfica, 2004.

    FRANA, Basileu Toledo. Cavalo de rodas. Jata, 1979.

    FRANA, Basileu Toledo. Pioneiros. Goinia: EdUFG, 1995.

    FRANA, Basileu Toledo. Velhas escolas. Goinia: EdUFG, 1998.

    LIMA, Filadelfo Borges de. Jata do meu tempo. s/l, 1998.

    LIMA. Filadelfo Borges de. Crnicas da colmia. Jata: Sudogrfica, 2005.

    LIMA. Filadelfo Borges de. Jata, minha paixo. Jata: Sudogrfica, 2001.

    LIMA. Filadelfo Borges de. Prefeitos de Jata: de Carlos Raimundo a

    Humberto Machado. Jata, 2002.

  • Capa ndice

    4245

    MELLO, Dorival Carvalho. Jatahy: pginas esquecidas. Jata: Sudogrfica,

    2001.

    MELLO, Dorival de Carvalho. Nos pores do passado: a descoberta de

    Jata. Jata, 2002.

    MELLO, Evaldo Cabral de. Um imenso Portugal: histria e historiografia. So

    Paulo: Editora 34, 2002.

    9 Escritos dos viajantes do sculo XIX:

    CUNHA MATTOS, Raimundo Jos. Itinerrio do Rio de Janeiro ao Par e

    Maranho pelas Provncias de Minas Gerais e Gois. Rio de Janeiro:

    Typographia de J. Villeneuve, 1836.

    LEAL, Oscar. Viagem s terras goyanas (Brazil Central). Goinia: Ed. Da

    Universidade Federal de Gois, 1980.

    POHL, Johann Emanuel. Viagem ao Interior do Brasil (1819). Belo Horizonte:

    Ed. USP/Itatiaia, 1976.

    SAINT-HILAIRE, Auguste de. Viagem Provncia de Gois. Belo Horizonte,

    Ed. Itatiaia; So Paulo, Ed. Universidade de So Paulo, 1975.

    TAUNAY, Afonso de E. Goyaz. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 2004.

    10 Fontes iconogrficas:

    www.jatai.not.br

    BIBLIOGRAFIA:

    A OBRA DO SCULO: documentrio histrico de Jata. Jata

    ALENCASTRE, Jos Martins Pereira de. 1863. Anais da Provncia de Gois.

    Braslia: Ed. Grfica Ipiranga Ltda., 1979.

    BARBOSA, Altair Sales; TEIXEIRA NETO, Antnio; GOMES, Horieste.

    Geografia: Gois e Tocantins. 2 ed. Goinia: Editora da UFG, 2004.

    BARROS, Jos DAssuno. O campo da Histria: especialidades e abordagens. Petrpolis, RJ: Vozes, 2004.

    BERTRAN, Paulo (Org.). Notcia Geral da Capitania de Gois1783.

    Goinia/Braslia: Solo Editores, 1997.

  • Capa ndice

    4246

    BRANDO, Antnio Jos da Costa. Almanach da Provincia de Goyas para o

    ano de 1886. Goinia: UFG, 1978.

    BURKE, Peter. O que histria cultural? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.

    CHAIM, Marivone Mattos. A sociedade colonial goiana. Goinia: Oriente, 1978.

    CHARTIER, Roger. A Histria Cultural: entre prticas e representaes.

    Lisboa/Rio de Janeiro: B. Brasil/Difel, 1990.

    CHAUL, Nasr Fayad (Org.) Caminhos de Gois: da construo da decadncia

    aos limites da modernidade. Goinia: Ed. da UFG/Ed. da UCG, 1997.

    CHAUL, Nasr Fayad; RIBEIRO, Paulo R. (Orgs.). Gois: identidade, paisagem

    e tradio. Goinia: Ed. UCG, 2001.

    CHAVEIRO, Egmar Felcio. A prxis simblica do Gois profundo. Goinia:

    Mimegrafo, 2007.

    CURADO, Antnio Miguel Fleury. Jata e sua histria. Jata: UFG, 1984.

    GOMES, Horieste. Geografia scio-econmica de Gois. Goinia: Livraria

    Brasil Central Editora, 1969.

    GOMES, Modesto. Estudos de Histria de Gois. Goinia: Grfica do Livro

    Goiano Ltda, 1974.

    Lacerda Filho, Mozart. Nova histria cultural e micro-histria: uma breve reflexo de suas origens. Revista Museu, 2005. Disponvel em http://www.revistamuseu.com.br/artigos/art_.asp?id=5619

    LE GOFF, Jacques. A histria nova. Traduo: Eduardo Brando. 5. ed. So

    Paulo: Martins Fontes, 2005.

    MENEZES, Marcos Antonio de. Olhares sobre a cidade: narrativas poticas

    das metrpoles contemporneas. So Paulo: Cone Sul, 2000.

    MOUTINHO, Augusto. O ndio brasileiro: ainda um vazio na histria. Historianet, 16 maio 2004. Disponvel em: . Acesso em: 04 maio 2009.

    PALACIN, Luiz. Gois 1722-1822: estrutura e conjuntura numa capitania de

    Minas. Goinia: Oriente, 1976.

    PALACIN, Luiz. O sculo do ouro em Gois. Goinia: Oriente, 1979.

    PALACIN, Luiz. Quatro tempos de ideologia. Goinia: Cerne, 1986.

  • Capa ndice

    4247

    PALACIN, Luiz; GARCIA, Ledonias Franco; AMADO, Janana. Histria de

    Gois em Documentos - I Colnia. Coleo Documentos Goianos - n. 29 -

    Goinia: UFG, 1995.

    PALACIN, Luiz; MORAES, Maria Augusta Sant'Anna. Histria de Gois

    1822/1972. Goinia: Cegraf, 1975.

    PALACN, Luiz; MORAES, Maria Augusta Sant'Anna. Histria de Gois. 6. ed.,

    Goinia: Ed. UCG, 1994.

    PESAVENTO, Sandra Jatahy. Histria e histria cultural. Belo Horizonte, MG: Autntica, 2004.

    PESAVENTO, Sandra Jatahy. Histria, memria e centralidade urbana.

    Revista Mosaico, Goinia, v. 1, n. 1, p. 3-12, jan./jun. 2008.

    REZNIK, Lus. Qual o lugar da histria local?. Artigo publicado em www.historialocal.com.br, acessado em 25.08.2004.

    SILVA, Mrcio Rodrigues. Encontros e desencontros: estudos do espao

    urbano de Jata-GO. 2005. 114 f. Dissertao (Mestrado em Geografia)

    Programa de Pesquisa e Ps-Graduao de Geografia do Instituto de Estudos

    Scio-Ambientais da Universidade Federal de Gois.

    THOMPSON, Paul. A voz do passado: histria oral. Rio de Janeiro: Paz e

    Terra, 2002.

    VAINFAS, Ronaldo. Os protagonistas annimos da histria. So Paulo, SP: Campus, 2002.

  • Capa ndice

    4248

    Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extenso- CONPEEX (2010) 4248 - 4261

    A Identidade do Pronto-Sorriso, seus Efeitos e Causa no Processo

    de Humanizao entre os Acadmicos, os Pacientes e os

    Colaboradores do Hospital das Clnicas de Goinia

    Aguinaldo Gabarron Murcia Filho, Ftima Maria Lindoso da Silva Lima

    Universidade Federal de Gois, 74001-970, Brasil

    [email protected] e [email protected]

    PALAVRAS-CHAVE: Pronto-Sorriso; Relao Mdico-Paciente; Medicina.

    1 INTRODUO

    O Pronto-Sorriso foi criado em 1998 por acadmicos da Faculdade de

    Medicina como um projeto de extenso da Universidade Federal de Gois, sem fins

    lucrativos, e coordenado pela gastropediatra Dra. Ftima Maria Lindoso da Silva

    Lima. O grupo est em atividade desde maro de 1999, no Hospital das Clnicas de

    Goinia e eventualmente em eventos em creches, hospitais e postos de sade. O

    projeto desenvolvido por uma equipe multidisciplinar, envolvendo profissionais de

    diversas reas, como medicina, pedagogia, artes cnicas e arte circense.

    Em 2007 o Pronto-Sorriso foi inserido no modelo de Ncleo Livre, fazendo

    com que a durao passasse de um ano e seis meses para dois anos, divididos em

    dois ncleos de atividades, com durao de um ano em cada fase.

    2 JUSTIFICATIVA

  • Capa ndice

    4249

    O Pronto-Sorriso, apesar de similar a outros projetos de palhaos de

    hospital, possui algumas singularidades. um projeto vinculado a uma instituio de

    ensino (UFG), a qual permite a qualquer aluno participar do mesmo, cumprindo

    assim, uma importante funo social de integrao de indivduos de diferentes reas

    do conhecimento. No entanto, como caracterstica principal, a maior parte desses

    alunos so graduandos em Medicina dos primeiros perodos do curso. Tal fator de

    especial relevncia para estes acadmicos, haja vista que o pronto-sorriso

    proporciona um primeiro contato desses indivduos tanto com o ambiente hospitalar

    quanto com os pacientes, sob uma viso diferente da relao aluno-paciente

    tradicional.

    3 OBJETIVOS

    Temos por objetivos:

    1. Traar o perfil de diferentes projetos com objetivos e procedimentos

    semelhantes ao Pronto-Sorriso;

    2. Identificar, descrever e analisar semelhanas e diferenas entre tais

    projetos e o Pronto-Sorriso;

    3. Analisar as influncias exercidas pelo ambiente hospitalar e seus

    freqentadores nos doutores-palhaos e na estrutura do curso.

    4 METODOLOGIA

    Este estudo foi desenvolvido no Hospital das Clnicas da Universidade

    Federal de Gois durante o perodo de agosto de 2009 a julho de 2010. Trata-se de

    um estudo observacional, qualitativo, quantitativo e longitudinal, tornando-se

    transversal na pesquisa com os acompanhantes dos pacientes da pediatria.

  • Capa ndice

    4250

    Os sujeitos da pesquisa foram acadmicos, mdicos e assistentes do

    Hospital das Clnicas que participaram ou que estavam participando do Pronto-

    Sorriso e demais funcionrios do hospital que estavam em contato com este projeto.

    Alm dos acompanhantes da pediatria.

    Foram includos os acadmicos que estavam iniciando suas atividades no

    Grupo Pronto-Sorriso. Neste grupo a coleta dos dados ocorreu em 2 etapas: 1-

    durante o incio do curso de formao do palhao, no momento anterior as entradas

    no hospital e o 2 ao final do curso aps s atividades na unidade hospitalar. Em

    ambos os momentos foram aplicados o mesmo questionrio a esses alunos.

    Tambm foram includos pacientes e colaboradores do Hospital das Clnicas do ano

    de 2009. Houve excluso dos acompanhantes de pacientes que estavam em mal

    estado geral, bem como daqueles que ainda no receberam visita dos doutores-

    palhaos. Foram enviados questionrios, via e-mail, aos projetos similares ao

    Pronto-Sorriso em todas as regies do pas.

    Os questionrios utilizados foram os de Morgana Masetti, a Escala

    Multidimensional de Satisfao de Vida para Crianas, de Claudia Holfheinz

    Giacomoni e o Questionrio de Avaliao de Motivao, de Rafael de Deus Pires.

    Tais questionrios foram escolhidos aps levantamento bibliogrfico, seguido de

    fichamento e anlise.

    A aplicao dos questionrios validados se efetivou aps a coleta das

    assinaturas do termo de livre consentimento para a participao do sujeito na

    pesquisa. Foram aplicados os testes aos alunos do Pronto Sorriso, aos

    colaboradores do Hospital das Clnicas e aos acompanhantes dos pacientes em

    duas fases: primeiro, no incio do curso Prtico-terico; segundo, no fim das suas

    entradas e performances no Hospital das Clinicas de Goinia (ao final do semestre).

    Aps a coleta dos dados, estes foram analisados e seus resultados confrontados

    com os da anlise bibliogrfica. Por fim, a elaborao deste relatrio final.

  • Capa ndice

    4251

    Os dados obtidos com as respostas objetivas foram analisados com

    ferramentas estatsticas Microsoft Excel e EpiInfo - e transformados em grficos

    para melhor compreenso. J os colhidos atravs de respostas subjetivas foram

    avaliados atravs da anlise de contedo de Bardin (1977) e Minayo (1999, p. 22) e

    tambm tratados com a utilizao de ferramentas estatsticas (Microsoft Excel e

    EpiInfo).

    5 RESULTADOS E DISCUSSO

    Tendo sido, a princpio, inspirado no trabalho realizado pelos Doutores da

    Alegria, de So Paulo, e nas idias do Dr. Patch Adams, como a humanizao do

    ambiente hospitalar, ao longo dos anos de atuao o Pronto Sorriso desenvolveu

    uma personalidade prpria. Ao aprofundarmos nossa anlise, podemos perceber

    diferenas cruciais. Em sua misso os Doutores da Alegria propem:

    Nossa misso ser uma organizao proeminentemente dedicada a levar

    alegria a crianas hospitalizadas, seus pais e profissionais de sade, atravs

    da arte do palhao, nutrindo esta forma de expresso como meio de

    enriquecimento da experincia humana. (http://www.doutoresdaalegria.org.br.

    2009)

    No Pronto Sorriso a misso humanizar os mdicos e outros profissio-

    nais por meio de uma viso inter-relacional palhao-paciente. De acordo com nossa

    pesquisa, 57,5% dos alunos procuram o projeto buscando crescimento pessoal e

    apenas 8,5%por altrusmo (Grfico 1).

    Grfico 1: Motivo da participao dos alunos no Pronto-Sorriso

  • Capa ndice

    4252

    Sem desprezar a capacidade dos doutores-palhaos de melhorarem o

    ambiente e at influenciarem na boa recuperao dos internos em hospitais, o

    Pronto-Sorriso acredita que as possibilidades deste tipo de projeto vo muito alm.

    Baseados na afirmao de que todo relacionamento modifica ambas as partes, o

    Pronto-Sorriso cuida desta relao como um todo, preparando no s o atuante para

    incorporar o personagem palhao, como tambm para avaliar e incorporar as

    vivncias proporcionadas pelo projeto em sua futura vida profissional.

    A maior parte dos projetos pesquisados, de um total de 36, representando

    as 5 regies do pas, trabalha com voluntrios de profisses variadas (58,3%), ou

    com atores que se especializam na arte do palhao (11,1%), como podemos ver no

    Grfico 2.

    Grfico 2: Distribuio dos participantes de acordo com sua fase profissional nos

    projetos de interveno hospitalar.

  • Capa ndice

    4253

    Os doutores-palhaos do Pronto-Sorriso so, em sua maioria,

    estudantes de medicina (49,1% -n1=106) e de outras faculdades da sade

    Psicologia, Odontologia, Enfermagem e da rea biolgica Biologia, Agronomia -

    (25,5% -n=106) como verificado no grfico 3. Neste sentido, encontramos dois

    projetos (5,5% n=36) que trabalham com acadmicos, sendo que um abrangendo

    cursos diversos e outro abrangendo acadmicos de medicina e psicologia.

    Grfico 3: distribuio dos acadmicos de acordo com os cursos

  • Capa ndice

    4254

    Outra preocupao do Pronto-Sorriso o incentivo produo cientfica

    por parte dos alunos. De acordo com os dados levantados, 58,3% dos grupos

    pesquisados declararam no realizar nenhum tipo de produo cientifica. (grfico 4)

    Grfico 4: Distribuio dos grupos em relao a produo cientfica

    Outro dado relevante a durao dos projetos. De todos os projetos

    analisados, 14 (38,9%) tem apenas dois anos de durao e outros 38,9% no

    ultrapassam os dez anos de intervenes (Grfico 5). O Pronto-Sorriso por sua vez,

    tem doze anos de existncia, e, portanto, um tempo de existncia maior do que

    77,8% dos grupos analisados. Nesses doze anos o Pronto-Sorriso sofreu diversas

    modificaes. Desde sua transformao em Ncleo livre, o corpo de docentes rev

    semestralmente suas atividades, realizando mudanas baseadas em avaliaes e

    em relatos de experincia dos alunos. O longo tempo de existncia do projeto tem

    sido essencial para o aprimoramento do mesmo, tornando-o mais eficiente em sua

    contribuio acadmica.

  • Capa ndice

    4255

    Grfico 5 distribuio temporal dos grupos de interveno/clown nos hospitais

    Em relao ao numero de participante destes projetos constatamos que

    nos projetos pesquisados mais da metade (58,3%) atingiram abaixo de 50

    participantes ao longo de sua existncia. Os de maior alcance atingiram no mximo

    300 participantes. (Grfico 6). O Pronto-Sorriso prepara uma mdia de 100 alunos

    por ano, com uma carga-horria de 12 horas-ms. Estes dados do a medida do

    alcance do projeto na UFG, tendo atingido em seus 12 anos de atuao a mais de

    mil alunos.

    Grfico 6: Distribuio em relao a quantidade(n) de participantes e tempo de

    durao do projeto

  • Capa ndice

    4256

    Baseados na afirmao de que todo relacionamento modifica ambas as

    partes, o Pronto-Sorriso cuida desta relao como um todo, preparando no s o

    atuante para incorporar o personagem palhao, como tambm para avaliar e

    incorporar as vivncias proporcionadas pelo projeto em sua futura vida profissional.

    Alm da evidncia sinalizada pelo fato dos alunos buscarem o projeto mais por

    crescimento pessoal que por altrusmo, outro sinal est na expectativa ao se

    inscreverem, como a de realizao pessoal (39,6%) que est bem prxima de

    levar bem estar ao prximo (41,5%). Ambas seguidas pela de auto-superao

    (perda da timidez) e pela de melhoramento nas relaes inter-pessoais (com 26,4%

    respectivamente) como observamos no Grfico 7. Estes nmeros mostram que, sem

    esquecer-se do objetivo altrusta de melhorar o ambiente hospitalar, os alunos esto

    cientes da importncia que esta vivncia pode ter na sua formao como

    cuidadores.

  • Capa ndice

    4257

    Grfico 7: distribuio dos motivos de procura ao projeto Pronto-Sorriso

    Analisando outras diferenas entre o Pronto-Sorriso e os demais projetos

    afins encontramos a dinmica de oferecimento do treinamento no curso de

    palhao.

    Para fins de anlise, classificamos os tipos de treinamento em:

    - Estgio Quando o treinamento se resume ao acompanhamento, j no

    local da apresentao, por atuantes mais experientes;

    - Oficina Quando o treinamento de menos de uma semana;

    - Curso Quando o treinamento de mais de uma semana;

    - Palestra Quando o treinamento no envolve exerccios prticos.

    A grande maioria dos projetos (36%) trabalha com oficinas. 25% fazem

    estgios e somente 22% fazem curso (Grfico 8).

    Hoje, no Brasil, pululam os projetos de palhaos de hospital. Alguns,

    espelhando-se nos Doutores da Alegria, esmeram-se em desenvolver

    uma tcnica de relacionamento e abordagem adequada a pblico to

    diferenciado, mas, infelizmente, a imensa maioria de projetos bem

  • Capa ndice

    4258

    intencionados feitos por voluntrios que tentam brincar de palhao

    com as crianas hospitalizadas. (CASTRO, 2005. P. 226)

    Grfico 8 Tipo do treinamento para a formao dos doutores-palhaos

    A maior parte dos treinamentos relatados se refere a tcnicas de atuao.

    Somente 19,4% relatam receber treinamentos ou informaes relativas s

    especificidades do trabalho em hospital, como o cuidado com infeces e medidas

    como lavar as mos sempre que for interagir com outro paciente. Apenas um projeto

    relata fazer trabalhos de integrao com o grupo de atuao.

    O foco do treinamento dos grupos pesquisados sempre o produto, a

    atuao do palhao em si.

    Os grupos que realizam treinamentos voltados somente para as artes

    cnicas trabalham pela qualidade final de um produto artstico. O Pronto-Sorriso

    trabalha pelo processo, valorizando mais o desenvolvimento pessoal que o produto

    artstico, ainda que sem descuidar da qualidade final. Isto porque a funo da

    Medicina vai alm do tratamento de patologias, com uso de drogas ou com

    intervenes cirrgicas. O ponto fundamental deste ncleo livre est voltado as

  • Capa ndice

    4259

    relaes interpessoais e o autoconhecimento dos acadmicos, ampliando os

    horizontes do conhecimento dentro de uma concepo biopsicosocial-cultural e

    espiritual, para que ele se torne um profissional diferenciado, crtico, sensvel,

    comunicativo e com uma nova concepo do cuidar.

    6 CONCLUSO

    1- O Pronto-Sorriso um dos poucos, seno o nico projeto dentre os

    pesquisados cujo foco est na relao, e no no produto final, cuja misso

    humanizar os acadmicos, os mdicos e outros profissionais por meio de uma viso

    inter-relacional palhao -acadmico e palhao-paciente.

    2- A maior parte dos projetos pesquisados, trabalha com voluntrios de

    profisses variadas (58,3%), ou com atores que se especializam na arte do palhao

    (11,1%). Os doutores-palhaos do Pronto-Sorriso so, em sua maioria, estudantes

    de medicina (49,1% /106) e de outras faculdades da sade : Psicologia,

    Odontologia, Enfermagem e da rea biolgica: Biologia, Agronomia (25,5% /106).

    3- O treinamento dos acadmicos no Pronto Sorriso oferece uma viso

    holstica ampliando os horizontes, favorecendo o autoconhecimento, aprimorando as

    relaes interpessoais, que promove melhoria na relao acadmico- acadmico,

    acadmico-paciente, acadmico- cuidador e acadmico- professor, dentro do

    processo ativo de ensino- aprendizagem, promovendo uma nova modalidade do

    cuidar.

    4- O Pronto-Sorriso prepara no s o acadmico para incorporar o

    personagem palhao, como tambm para avaliar e incorporar as vivncias

  • Capa ndice

    4260

    proporcionadas pelo projeto em sua futura vida profissional.

    5- Os alunos buscam o projeto mais por crescimento pessoal que por

    altrusmo, e a expectativa ao se inscreverem de realizao pessoal (39,6%), bem

    prxima de levar bem estar ao prximo (41,5%), seguida pela de auto-superao

    (26,4%) e por melhoramento nas relaes inter-pessoais (26,4%).

    6- Esta pesquisa proporcionou ao grupo uma avaliao dos 12 anos de

    existncia do Pronto-Sorriso nos trazendo momentos de reflexo, e necessidade de

    reorganizao, baseados em avaliaes e em relatos de experincia dos alunos

    durante o perodo deste estudo. Tal prtica essencial ao aprimoramento do projeto

    como um todo.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    *BROTTO, Fbio Otuzi. Jogos Cooperativos: o jogo e o esporte como um exerccio de

    convivncia. Santos, SP: Projeto Cooperao, 2001.

    *CAPRA, Fritjof. O Ponto de Mutao; trad. lvaro Cabral. So Paulo: Cultrix,

    2006.

    *CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: uma nova compreenso cientfica dos seres vivos

    trad.Newton Roberval Eichenberg. So Paulo: Cultrix, 1996.

    CASTRO, Alice Viveiros de.O Elogia da Bobagem: Palhaos no Brasil e no Mundo. Rio de

    Janeiro,RJ: Famlia Bastos,2005

    DOUTORES, Alegria Institucional; disponvel em http://www.doutoresdaalegria.org.br

    acesso em 14 jul.2010.

    *ERIKSON, E. H. Infncia e Sociedade (2 ed.) Rio: Zahar, 1971.

  • Capa ndice

    4261

    *GONDRA, Jose G. Medicina, higiene e educao escolar. In: LOPES, Eliane. FARIA

    Luciano. VEIGA, Cynthia. 500 anos de educao no Brasil. 3Edio. Belo Horizonte:

    Autntica, 2007.

    *GONALVES, Maria Augusta Salin. Sentir, Pensar, Agir. Corporeidade e educao.

    Campinas, SP: (coleo corpo e motricidade) Papirus, 1994.

    LIMA, Ftima Maria Lindoso da Silva. Pronto-Sorriso: a alegria de planto nos hospitais;

    plano de curso. Goinia: UFG, 2008.

    *LIPOVETSKY,Gilles. A Era do Vazio: Ensaio sobre o individualismo contemporneo. Trad.

    Therezinha Monteiro Deutsch. Barueri, SP: Manole, 2005

    *MARTINS, Jos de Souza. As Hesitaes do Moderno e as Contradies da

    modernidade no Brasil. In A sociabilidade do homem simples: cotidiano e histria na

    sociedade anmala.2 edio. So Paulo: Contexto, 2008.

    MASETTO, Marcos Tarciso. Aulas Vivas. So Paulo: MG Editores Associados, 1992.

    *REDE, Palhaos em. O Programa; disponvel: http://www.2u-u.com/doutores/ , Acessado

    em 20 de maro de 2010.

    *ROBBINS, Lois B..O desertar na era da Criatividade; trad. Barbara Theoto Lambert. So

    Paulo: Gente, 1995.

    *SOLER, Reinaldo. Jogos Cooperativos Para a Educao Infantil. (2 ed.) Rio de Janeiro.

    Sprint, 2006.

    SANTOS, Amicy. Persona: o teatro na educao, o teatro na vida. Rio de Janeiro:

    Eldorado Tijuca, 1975.

    *WEIL, P.; LELOUP, J.Y.;CREMA, R. Normose: A Patologia da Normalidade. Campinas-SP:

    Verus, 2003.

  • Capa ndice

    4262

    Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extenso- CONPEEX (2010) 4262 - 4271

    Campylobacter spp. em Carne de Aves de Lotes de Frangos Abatidos

    em Agroindstrias de Gois: Identificao e Avaliao da

    Suscetibilidade a Antimicrobianos

    Alessandra Arnez Pacheco, Cntia Silva Minafra e Rezende

    Escola de Veterinria - Universidade Federal de Gois, CEP: 74.001-970 Brasil

    [email protected], [email protected]

    PALAVRAS-CHAVE: Campylobacter spp., carcaas, moelas

    1 INTRODUO

    A produo de carnes no Brasil um importante segmento do

    agronegcio. Tendo em vista a avicultura de corte, apesar de o Brasil ser

    considerado o terceiro Pas em produo mundial, ficando atrs dos Estados Unidos

    da Amrica e China, o volume de carne exportado, no primeiro semestre de 2008,

    referiu-se ao embarque de 1,8 milhes de toneladas, crescimento de 19% em

    comparao ao mesmo perodo do ano anterior (ABEF, 2008).

    No Brasil, em 2007, o consumo per capita de 37,83 Kg caracterizou a

    relevncia do segmento avcola e correspondeu a 2,30% de aumento sob o ano de

    2006 (UBA, 2008). Estes dados revelam a representatividade da cadeia produtiva da

    carne: fruto de organizao, do uso de tecnologia, da insero direta de pesquisas

    cientficas associadas ao gerenciamento ostensivo dos padres genticos, prticas

    de manejo, nutrio, ambincia, sanidade, processamento, beneficiamento e

    industrializao.

    Aves de corte esto entre os principais carreadores de patgenos em

    abatedouros e apresentam alta correlao com a contaminao cruzada por

    Salmonella sp. e Campylobacter spp.. Estes agentes so patognicos e constituem

    severidade para a sade pblica e segurana alimentar. A legislao nacional

    determina o controle de Salmonella em carcaas de frango (BRASIL, 2003), porm

    para Campylobacter spp., um patgeno de propores e risco similares, no h

    legislao especfica para sua avaliao em alimentos e tampouco para seu controle

    em lotes de frangos de corte. Para KUANA (2006) h o aceno de uma anlise desta

    questo pelas autoridades nacionais num futuro prximo.

  • Capa ndice

    4263

    A campilobacteriose tem sido apontada com um dos relatos zoonticos

    mais freqentes, associados a doenas de veiculao alimentar na Unio Europia

    nos cinco ltimos anos, sendo que Campylobacter jejuni o patgeno de maior

    ocorrncia. Alguns dados obtidos pela Autoridade Europia Satefy Authority

    revelaram que as aves so a principal fonte do agente (HUGAS et al, 2009;

    WESTRELL et al., 2009).

    No Brasil, CARVALHO et al. (2002) analisaram 291 amostras de

    diferentes pontos em abatedouros e isolaram Campylobacter em 42% das amostras

    de fezes e em 38% das amostras de penas. Este patgeno compe a lista dos

    microrganimos relacionados veiculao de doenas por alimentos, sendo que isto

    ocorre sem distino de localidade.

    De modo geral, relatos descrevem que em alguns casos podem ocorrer

    graves seqelas da infeco, como a Sndrome de Guillain-Barr (desmielinizao

    de neurnios), a sndrome de Fisher, uma variante da Sndrome de Guillain-Barr; e

    a Sndrome de Reiter ou artrite reativa (DORREL; WREN, 2007).

    Este patgeno emergente e preocupante para a avicultura mundial e

    para rgos com aes diretas sade pblica (HARIHARAN et al., 2004).

    Em 2007, FREITAS & NORONHA, descreveram o isolamento de

    Campylobacter spp. em 93,7% das amostras de fgado, moela, corao, pele,

    pescoo e carcaas coletadas em aougues clandestinos, feiras-livres e

    supermercados da cidade de Belm, constituindo a primeira notificao de

    ocorrncia deste microrganismo em alimentos expostos ao consumo da Regio

    Amaznica.

    Outro fator importante e preocupante a considerar o aparecimento de

    cepas de Campylobacter spp. resistentes a diversos princpios antimicrobianos, o

    que ressalta a urgncia de vigilncia e monitoramento com ao precpua de

    assegurar a qualidade dos alimentos associada aos preceitos da sade pblica.

    Estudos recentes (KUANA et al., 2008) evidenciam as conseqncias adversas da

    ocorrncia de cepas resistentes, que se dividem em duas categorias: infeces que

    no ocorreriam se no houvesse a cepa resistente e aumento na freqncia de

    tratamentos mal sucedidos, bem como o aumento na severidade das infeces

    (WHO, 2002).

    Por esses motivos, o estudo da presena de Campylobacter spp. em

    carne de aves, carcaas e moelas, e a verificao do perfil de suscetibilidade a

  • Capa ndice

    4264

    antimicrobianos torna-se tema relevante para assegurar a consequente qualidade

    microbiolgica da carne de frango e como forma de resguardar e proteger a sade

    da populao.

    2 OBJETIVOS

    2.1 Objetivo geral

    2.1.1 Verificar a ocorrncia de Campylobacter spp. em frangos destinados

    ao abate.

    2.2 Objetivos especficos

    2.2.1 Verificar a ocorrncia de Campylobacter spp. em carcaas e moelas.

    2.2.2 Avaliar a suscetibilidade das cepas isoladas frente a antimicrobianos.

    2.2.3 Avaliar o isolamento bacteriano convencional para o agente em

    questo em contraste tcnica de reao em cadeia pela polimerase em

    tempo real.

    3 METODOLOGIA

    Foram analisadas 54 amostras de ambiente de trs frigorficos distintos

    (A, B e C) do estado de Gois, compostas por 27 carcaas inteiras e 27 moelas. As

    amostras foram colhidas dentro dos abatedouros e foram friccionadas com suabes

    estreis. Estes suabes foram armazenados em temperatura de 5oC e em sacos

    plsticos apropriados, identificados e transportados imediatamente ao Laboratrio de

    Biologia Molecular do Centro de Pesquisa em Alimentos da Universidade Federal de

    Gois, para que as anlises fossem efetuadas. No laboratrio, as amostras foram

    submetidas a dois tipos de anlise, o isolamento convencional bacteriano e PCR em

    tempo real.

    3.1 Isolamento convencional bacteriano

    Adotou-se a metodologia segundo a ISO 10272-1 (2006), que determina a

    execuo das fases de enriquecimento, plaqueamento diferencial, seleo de

    colnias caractersticas, confirmao e testes bioqumicos. Inicialmente os suabes

    foram introduzidos em tubos contendo 9 mL de caldo Bolton, encaminhado

  • Capa ndice

    4265

    incubao em atmosfera microaerfila a 371 C/ 4-6 horas e depois incubado a

    41,51 C/ 444 horas. Aps este perodo de incubao, estriou-se de cada cultura

    de caldo Bolton uma alquota em placa de Petri contendo gar Charcoal

    Cefoperazona Desoxicolato Modificado (m-CCDA) e em placa de Petri contendo

    gar Campylobacter. As placas estriadas foram incubadas 41,51 C/ 444 horas.

    Terminado o perodo de incubao, selecionaram-se as colnias tpicas

    de Campylobacter spp (colnias acinzentadas, geralmente com brilho metlico,

    planas e midas, com tendncia ao espalhamento, no gar m-CCDA). Do gar

    Columbia (CDA), selecionaram-se colnias em colorao bege, espalhadas e

    levemente metalizadas. Todas as colnias foram repicadas em gar Columbia e as

    placas incubadas a 41,51 C/ 444 horas.

    A partir das placas em gar Columbia, selecionou uma colnia tpica de

    Campylobacter spp e procedeu-se suspenso em 1 mL de caldo Brucella para

    observao da motilidade e morfologia.

    Tambm a partir das placas incubadas em gar Columbia estriou-se uma

    colnia em outra placa de gar Columbia e incubou-se a 25C/ 444 horas, em

    microaerofilia. Ainda, estriou-se novamente uma colnia em gar Columbia e

    incubou-se a 41,5C /444 horas em aerobiose.

    Aps estes procedimentos, colocou-se um disco ou fita de papel de filtro

    no interior de uma placa de Petri, sendo que o centro do papel ficou embebido com o

    reagente de Kovacs para o teste de oxidase (soluo aquosa 1 % de cloridrato de

    N,N,N,N-tetrametil-p-fenilenodiamina). Com uma ala esterilizada, removeu-se

    pequena quantidade da cultura em CBA e espalhou-se sobre o reagente no papel,

    observando a ocorrncia do desenvolvimento de cor azul intensa, em

    aproximadamente dez segundos (teste positivo). O no-desenvolvimento da cor azul

    no intervalo de um minuto indicou teste negativo. Bactrias do gnero

    Campylobacter so oxidase positivas.

    3.2 Reao em cadeia pela polimerase em tempo real

    Na anlise de PCR em tempo real, seguiu as determinaes de STERN et

    al. (2001) e WANG et al. (1997), respectivamente. Alm dos iniciadores utilizados na

    tecnologia PCR convencional, utilizou-se um terceiro oligonucleotdeo (sonda

    TaqMan). Essa sonda tem sua extremidade 5 ligada a um fluorforo e sua

  • Capa ndice

    4266

    extremidade 3 a uma molcula quencher, essa molcula capaz de um fenmeno

    denominado FRET Fluorescence Ressonance Energy transfer, que absorve a

    fluorescncia emitida por esse fluorforo transfere o sinal ao aparelho que o

    converte em curvas especificas.

    medida que a reao ocorria e os ciclos aumentavam a fluorescncia

    tambm aumentou. Quando essa fluorescncia emitida pelo fluorforo atingiu limiar

    acima da fluorescncia basal da reao, o software do sistema utilizado

    correlacionou o ciclo em que isso ocorreu (Ct), apresentando o resultado de

    positividade das amostras.

    Para a anlise de PCR em tempo real do presente estudo, as culturas em

    caldo Bolton foram comprimidas no carto FTA com auxlio de suabes esterilizados,

    os cartes foram dispostos em fluxos laminares para a secagem. Aps a secagem

    seguiu-se para a eluio do DNA das amostras. A eluio do DNA foi realizada

    segundo o protocolo do fabricante. Ao DNA extrado foi adicionado o mix PCR

    contendo os primers e sondas desenhados e sintetizados de acordo com a regio

    conservada do genoma para o gnero Campylobacter. Aps a adio dos reagentes

    a leitura da fluorescncia foi feita pelo equipamento Step One Plus, que durou em

    torno de 1hora e 40 minutos.

    A reao de PCR em tempo real ocorreu em um intervalo de 99,5% de

    confiana e foram adotados tanto os controles positivos quanto os controles

    negativos que em testes anteriores apresentaram resultados satisfatrios.

    3.3 Suscetibilidade a antimicrobianos

    Quanto suscetibilidade aos antimicrobianos, a verificao referiu-se

    somente s cepas isoladas pelo ICB. Deste modo, a cepas isoladas foram testadas

    quanto aos seguintes princpios: cido nalidxico (30g), cefalotina (30g), cefoxitina

    (30g), cefotaxima (30g), eritromicina, enrofloxacina (10g), sulfazotrim (25g) e

    cloranfenicol (30g).

    Para tanto foi utilizada a tcnica de difuso em gar com adoo de

    discos impregnados por antimicrobianos. A metodologia referiu-se preconizada por

    Kirby-Bauer (Bauer et al., 1966), com as modificaes de ambiente de incubao,

    quanto atmosfera de microaerofilia, por 41,51 C/ 444 horas.

  • Capa ndice

    4267

    4 RESULTADOS

    O presente estudo ao avaliar a freqncia do ptogeno em lotes de

    frangos de corte, identificou que 66,70% das carcaas destinadas ao mercado

    interno e externo esto contaminadas com Campylobacter spp. Do total de 27

    carcaas analisadas, verificou-se que em 18 suabes isolou-se o agente, o que pode

    ser visto na Tabela 1. Ainda nesta Tabela, observa-se que para a PCR em tempo

    real, no houve diferena no percentual detectado para suabes de carcaas.

    No entanto, analisando os percentuais isolados e detectados em suabes

    de moelas, por isolamento convencional bacteriano e PCR em tempo real,

    respectivamente, pode-se inferir que pela estatstica descritiva, 18,52% de amostras

    positivas ao PCR em tempo real foi mais representativo quando contrastados aos

    11,27% por isolamento.

    Tabela 1 Ocorrncia de Campylobacter spp. em suabes de carcaas e de moelas de agroindstrias do estado de Gois, perodo de setembro de 2009 a julho de 2010

    Categoria de Amostras

    positivas/ analisadas

    Frequncia relativa

    ICB* (%)

    Frequncia relativa

    PCR tr** (%) ICB* PCR tr** Suabes de carcaas 18/27

    18/27 66,70 66,70

    Suabes de moelas 3/27 5/27 11,27 18,52

    TOTAL 21/54 23/54 38,90 42,59 * ICB isolamento convencional bacteriano

    ** PCR tr reao em cadeia pela polimerase em tempo real

    Considerando as duas categorias de amostras como alimentos

    destinados a populao humana, 38,90% apresentaram-se contaminados com o

    microrganismo vivel, ou seja, ele foi capaz de utilizar os meios de cultura

    empregados e multiplicar-se em condies microaerfilas. Por outro lado, a

    deteco do agente em PCR tr maior ou de 42,59% reporta a presena do agente

    em condies de multiplicao ou em estgio letal.

    Estes resultados reportam a maior contaminao do agente em carcaas

    inteiras e menor contaminao vsceras comestveis.

  • Capa ndice

    4268

    Quanto suscetibilidade aos antimicrobianos, importante mencionar

    que a verificao referiu-se somente s cepas isoladas pelo ICB. Deste modo, das

    21 cepas testadas, o perfil de suscetibilidade pode ser visualizado na Tabela 2.

    Tabela 2 Nmero de cepas e perfil de sensibilidade de Campylobacter spp. isoladas de suabes de carcaas e suabes de moelas, provenientes de agroindstrias A, B e C, do estado de Gois, no perodo de setembro de 2009 a julho de 2010.

    Antimicrobiano Nmero de cepas de Campylobacter spp. e perfil de suscetibilidade

    Resistente Intermediria Sensvel

    cido nalidxico - - 21

    Cefalotina - - 21

    Cefoxitina - - 21

    Cefotaxima - - 21

    Eritromicina 10 11 -

    Enrofloxacina 5 5 11

    Sulfazotrim - 7 14

    Cloranfenicol - 8 13

    5 DISCUSSO

    Considerando que este estudo est entre os primeiros do estado de

    Gois para anlise de carne de aves, quanto presena de Campylobacter spp.

    cabe ressaltar que os resultados demonstrados na Tabela 1 so extremamente

    alarmantes quando considera-se lotes de frangos encaminhados ao abate.

    Principalmente pelo risco microbiolgico que este microrganismo oferece.

    A ocorrncia do patgeno em carcaas (66,70%) e em moelas (11,27%),

    vsceras comestveis muito apreciadas pelo mercado nacional e internacional,

    determina expressiva contaminao dos alimentos de alto consumo.

    Por outro lado, considerando os percentuais identificados pela tcnica de

    PCR em tempo real, observou-se certa similaridade, o que justifica sua adoo

    considerando o tempo de finalizao da anlise (24 horas) em comparao com o

    isolamento bacteriano convencional (oito dias).

  • Capa ndice

    4269

    Ainda, h que salientar a perpetuao do patgeno no ambiente de

    abate, possibilitando a contaminao dos lotes isolados e daqueles que ainda

    entraro para a linha de abate, favorecendo a contaminao do produto acabado,

    das diversas linhas de operaes, contaminao de mos de manipuladores e riscos

    para a sade pblica.

    KUANA et al. (2008) revelaram que 81,8% de lotes de frangos de corte na

    granja apresentaram-se positivos para Campylobacter spp.. No entanto, 97,4% das

    carcaas deste lote, mostraram-se positivas aps a fase de depenagem, o que foi

    superior para as categorias de amostras do presente estudo. Em comparao aos

    resultados obtidos em Gois, pode-se afirmar que a situao identificada demonstra

    similaridade de contaminao, fato agravante para o controle de qualidade da

    matria prima e para a avaliao dos perigos e pontos crticos de controle.

    Estes resultados reportam a maior contaminao do agente em carcaas

    inteiras. Porm, mesmo apresentando menor contaminao, as moelas so

    alimentos ou vsceras comestveis, facilmente associadas ao no cozimento efetivo

    o que aumenta o risco de exposio da populao consumidora.

    Quanto ao perfil de resistncia, pode-se afirmar que 100% das cepas

    foram sensveis a quatro princpios antimicrobianos, o denota tranqilidade quanto

    s questes pertinentes aos tratamentos clnicos previstos para a populao

    humana. Porm, para a eritromicina observou-se que 47,62% (10/21) das cepas

    isoladas foram resistentes. Para a enrofloxacina, uma fluoroquinolona, observou-se

    23,81% de resistncia (5/21) o que compromete a eleio desta droga para as

    principais ocorrncias mdicas devido ao seu espectro de ao abrangente para

    microrganismos Gram positivos e Gram negativos, concordando parcialmente com

    as informaes de WHO (2000).

    Para cloranfenicol, observou-se 38,10% de resistncia intermediria o que

    revolve a discusso sobre microrganismos emergentes quanto alterao de seu

    perfil de suscetibilidade.

    Todos estes resultados denotam a necessidade de aes que envolvam os

    diversos segmentos da explorao avcola, ou seja, ambientes de criao, de abate

    e processamento e alimentos prontos. A fiscalizao efetiva de toda a cadeia

    produtiva ser determinante para a proteo aos plantis e alimentos.

    A avicultura de corte orgulha-se de ser um segmento do agronegcio

    dinmico, competitivo, empreendedor e dotado de programas de controle de

  • Capa ndice

    4270

    qualidade em suas diversas instncias, que vo desde a alimentao das aves at

    seu efetivo processamento. Ainda assim, os dados obtidos neste estudo salientam

    precariedade quanto presena de Campylobacter spp. no alimento de origem

    avcola.

    6 CONCLUSO

    Considerando os resultados do presente estudo, pode-se concluir que

    carcaas de frangos e moelas so importantes veculos de transmisso do agente

    para humanos, alm de favorecerem a contaminao das operaes de abate e ao

    processamento da carne avcola.

    7 BIBLIOGRAFIA ABEF Associao Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos de Corte. Estatsticas 2008. Disponvel em: www.abef.com.br. Acesso em 30/07/2008. BAUER, A.W.; KIRBY, W.M.M.; SCHERRIS, J.C.; TURCK, M. Antibiotic susceptibility testing by a standadized single disk method. American Journal of Clinical Pathology, Washington, v.45, p.493-496, 1966. BRASIL. Instruo Normativa N 70, de 10 outubro de 2003 do Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento. Dirio Oficial [da] Repblica Federativa do Brasil, Poder Executivo, Braslia, DF, 10 out. 2003. Seo 1, p. 9. CARVALHO, A. C. F. B.; LIMA, V. H. C.; PEREIRA, G. T. Determinao dos principais pontos de risco de contaminao de frangos por Campylobacter, durante o abate industrial. Higiene Alimentar, v. 16, n. 99, p. 89-94, 2002. DORREL, N.; WREN, B. W. The second century of Campylobacter research: recent advances, new opportunities and old problems. Current Opinion in Infectious Diseases, v. 20, n.5, p. 514-518, 2007. FRANCHIN, P.R.; AIDOO, K. E.; BATISTA, C.R.V. Sources of poultry meat contamination with thermophilic Campylobacter before slaughter. Brazilian Journal of Microbiology, v. 36, p. 157-162, 2005. FREITAS, J.A; NORONHA, G.N. Ocorrncia de Campylobacter spp. em carne e midos de frango expostos ao consumo em Belm, Par. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinria e Zootecnia, v.59, n.3, p.813-815, 2007.

  • Capa ndice

    4271

    HARIHARAN, H.; MURPHY, G. A.; KEMPF, I. Campylobacter jejuni: Public health hazards and potencial control methods in poultry: a review. Veterinary Medicine, v.49, n. 11, p. 441-446, 2004. HUGAS, M., TSIGARIDA, E., ROBINSON, T., CALISTRI, P. The EFSA Scientific Panel on Biological Hazards first mandate: May 2003May 2006. Insight in to foodborne zoonoses. Trends in Food Science and Technology 20, p.188193, 2009. ISO 10272-1:2006(E). INTERNATIONAL STANDARD. Microbiology of food and animal feeding stuffs Horizontal method for detection and enumeration of Campylobacter spp. Part 1: Detection method. 16pginas. KUANA, S.L. Campylobacter na avicultura. Anais...V Simpsio de Sanidade Avcola da UFSM. UFSM, Santa Maria, p.82-89, 2006. KUANA, S. L; SANTOS, R. L.; RODRIGUES, L. B.; BORSOI, A.; MORAES, H. L. S.; SALLE, C. T. P.; NASCIMENTO, V. P. Antimicrobial resistance in Campylobacter spp isolated from boiler flocks. Brazilian Journal of Microbiology, v. 39, p. 738-740, 2008. STERN, N. J.; LINE, J.E.; CHEN, H.C. Campylobacter. In: Compendium of methods for the microbiological examination of foods. Washington, DC. 2001. 4a ed. APHA: American Public Health Association, p. 301-310, 2001.

    UBA. Relatrio do Comit Tcnico Cientfico da Ala. Unio Brasileira de Avicultura. Disponvel em:

  • Capa ndice

    4272

    Anais do Congresso de Pesquisa, Ensino e Extenso- CONPEEX (2010) 4272 - 4286

    Isolamento e Cultivo de Leishmania sp em Amostras de Pacientes com Leishmaniose Tegumentar Americana Atendidos no

    Ambulatrio de Endemias do Hospital de Doenas Tropicais, Goinia, GO

    Alexandre Jesus Silva, Anna Karoline Aguiar Fleuri, Grazzielle Guimares de Matos,

    Ledice Incia Arajo Pereira, Fernanda Duarte Bugalho, Sebastio Alves Pinto, Milton Adriano Pelli de Oliveira; Ftima Ribeiro-Dias, Miriam Leandro Dorta

    Instituto de Patologia Tropical e Sade Pblica da Universidade Federal de Gois, CEP: 74060-070, Goinia, GO, Brasil

    e-mail: [email protected]; [email protected]

    PALAVRAS-CHAVE: LTA, Bipsia, Isolamento, Leishmania

    1 INTRODUO

    A Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) uma zoonose causada

    por protozorios do gnero Leishmania, que acomete a pele e/ou mucosas de

    diferentes espcies de animais silvestres, sobretudo roedores, animais domsticos e

    eventualmente o homem. Vrias espcies de Leishmania so reconhecidas como

    agentes etiolgicos da LTA, elas so morfologicamente similares, porm produzem

    um amplo espectro de manifestaes clnicas da doena. No Brasil, as principais

    espcies responsveis pela LTA pertencem a dois subgneros: (1) Viannia,

    representado pelas espcies L. (V.) braziliensis e L. (V.) guyanensis, associadas

    com leses cutneas localizadas ou disseminadas e leses mucocutneas e (2)

    Leishmania, representado pela espcie L. (L.) amazonensis, associada com o

    desenvolvimento de leses cutneas localizadas ou com a forma clnica difusa

    (GONTIJO & CARVALHO, 2003).

    L. (V.) braziliensis a espcie que possui maior distribuio geogrfica no

    Brasil, incluindo a regio Centro-Oeste (DORTA et al., 2003; LIMA JUNIOR et al.,

    2009). Freqentemente est associada ao desenvolvimento das leses mais graves

    da doena, com leses cutneas mltiplas ou extensas, e cerca de 2% dos casos

    esto relacionadas invaso de mucosa. A forma mucocutnea apresenta leses

    destrutivas do tecido e da mucosa naso-farngea, podem ser desfigurantes e

    tambm incapacitantes, gerando grande repercusso no campo psicossocial do

  • Capa ndice

    4273

    indivduo. L. (L.) amazonensis est presente numa extensa rea geogrfica, que

    compreende as regies Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste. A doena

    causada por L. (L.) amazonensis relativamente rara, sendo amplamente variado o

    espectro clnico da doena, podendo ocorrer leso ulcerada, geralmente nica, a

    forma visceral da Leishmaniose ou a forma cutnea difusa (REIS et al., 2008;

    SILVEIRA et al., 2009).

    O diagnstico de LTA abrange aspectos epidemiolgicos, clnicos e

    laboratoriais e freqentemente a associao de alguns desses elementos

    necessria para se chegar a uma concluso final. A demonstrao do parasito

    feita por meio de exames direto e indireto. A probabilidade de encontro do parasito

    inversamente proporcional ao tempo de evoluo da leso cutnea, sendo rara aps

    um ano. Nos casos de infeco por L. (V.) braziliensis a probabilidade est em torno

    de 100% nos dois primeiros meses de evoluo, 75% aos seis meses e 20% acima

    dos doze meses (FURTADO, 1980). O exame indireto consiste no isolamento do

    parasito por meio do cultivo in vitro ou inoculao em animais de laboratrio do

    material coletado da leso (OLIVEIRA et al., 2010). Os exames diretos consistem

    em mtodos de identificao dos parasitos por histopatologia e por esfregao da

    leso ulcerada (OLIVEIRA et al., 2010). Nos ltimos anos, tcnicas moleculares vm

    sendo utilizadas para a deteco e identificao de Leishmania e se tornaram

    importantes ferramentas no diagnstico da Leishmaniose, como por exemplo, a

    amplificao de sequncias especficas de DNA extra-nuclear presentes no

    cinetoplasto (kDNA) do parasito (GOMES et al., 2008; LUZ et al., 2009).

    Mtodos imunolgicos so tambm utilizados no diagnstico da doena.

    Dentre os exames imunolgicos, os testes sorolgicos e a Intradermorreao de

    Montenegro (IRM) so os mais utilizados (PDUA VIDIGAL et al., 2008). A IRM

    fundamenta-se na visualizao da resposta de hipersensibilidade celular tardia.

    Geralmente persiste positiva aps o tratamento, ou cicatrizao da leso cutnea

    tratada ou curada espontaneamente, podendo se tornar negativa nos indivduos

    fraco-reatores e nos precocemente tratados (BRASIL, 2007).

    Os testes sorolgicos tm sido empregados, com considervel

    importncia, no diagnstico e em inquritos epidemiolgicos. A anlise de anticorpos

    anti-Leishmania permite avaliar o curso evolutivo da infeco, bem como fornecer

    dados sobre as caractersticas de sua resposta imune. Vrios perfis e nveis de

    imunoglobulinas especficas a Leishmania tm sido detectados em pacientes com

  • Capa ndice

    4274

    LTA, parecendo refletir no s a carga parasitria, mas tambm a espcie envolvida,

    o tempo de infeco e fatores intrnsecos do prprio hospedeiro (GUTIERREZ et al,

    1991). Dentre os mtodos sorolgicos, a reao de Imunofluorescncia Indireta (IFI)

    a mais utilizada. Trata-se de uma tcnica sensvel, porm com possibilidade de

    reaes cruzadas especialmente com a Doena de Chagas e Leishmaniose

    Visceral. Habitualmente negativa na forma cutnea difusa, sua sensibilidade foi

    estimada em 71% nas formas cutneas e 100% na forma mucosa (GONTIJO &

    CARVALHO, 2003).

    Um dos problemas para se avaliar a imunidade contra a L. (V.)

    braziliensis a dificuldade do isolamento desta espcie a partir de leses dos

    pacientes. Isto faz com que no haja muitos estudos sobre o comportamento de

    diferentes isolados da espcie de Leishmania mais importante para a doena no

    Brasil. A infeco de animais experimentais com L. (V.) braziliensis foi pouco

    investigada at o momento. Tais fatos se devem tambm pelo limitado nmero de

    animais susceptveis e pela dificuldade em manter o parasito em cultura axnica, o

    que dificulta a obteno de uma grande quantidade de leishmanias para a realizao

    dos estudos. Portanto, devem ser destinados esforos para que se consiga isolar os

    parasitos desta espcie para uma melhor caracterizao imunobiolgica e

    planejamento de melhores medidas profilticas e teraputicas contra estes

    parasitos.

    Conforme descrito acima, diante das formas apresentveis da doena, da

    variedade de espcies do gnero Leishmania envolvidas e dos diferentes

    prognsticos que a doena pode tomar depender da espcie envolvida com o

    hospedeiro, justifica-se a importncia das propostas deste trabalho pois, o

    isolamento in vivo e in vitro permitir a obteno de espcies de Leishmania

    prevalentes na regio centro-oeste que, por sua vez ,permitir conhecer melhor as

    espcies envolvidas com a doena nesta regio.

    2 OBJETIVOS

    - Isolar parasitos, a partir de bipsia de leso cutnea de pacientes com

    suspeita de LTA, em meio de cultura (ex vivo) ou em animais de experimentao (in

    vivo) - camundongos C57Bl/6 deficientes em interferon gama (C57Bl/6 IFNKO),

    comparando a eficincia das duas tcnicas;

  • Capa ndice

    4275

    - Analisar o comportamento biolgico dos isolados, quanto ao crescimento

    in vitro em culturas axnicas e in vivo em camundongos BALB/c e C57Bl/6;

    - Estocar os novos isolados no Banco Imunobiolgico das Leishmanioses

    da Regio Centro-Oeste (Leishbank).

    3 METODOLOGIA

    3.1 Pacientes

    Os pacientes que apresentavam suspeita de LTA atendidos no

    ambulatrio de endemias do Hospital de Doenas Tropicais Anuar Auad (HDT) de

    Goinia, Gois, entre janeiro de 2009 a junho de 2010. A LTA foi diagnosticada por

    meio dos aspectos clnicos, dados epidemiolgicos e exames laboratoriais, sendo

    estes o isolamento do parasito in vitro, a intradermorreao de Montenegro (IRM),

    histopatolgico e imunofluorescncia indireta. O projeto associado ao projeto

    Banco imunobiolgico (Leishbank) das leishmanioses da regio Centro-Oeste e

    projetos associados, o qual foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa Animal

    e Humana do Hospital das Clnicas (HC/UFG) e todos os pacientes assinaram o

    Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, para participarem da pesquisa

    (Protocolo 126/04).

    3.2 Camundongos

    Camundongos isognicos, machos com idade entre 6 a 8 semanas, das

    linhagens BALB/c, C57Bl/6 e C57BL/6 deficientes em interferon-gama (C57BL/6

    IFN-KO) criados e mantidos no Biotrio do Instituto de Patologia Tropical e Sade

    Pblica da Universidade Federal de Gois (IPTSP/UFG), foram usados neste

    estudo.

    3.3 Isolamento dos parasitos

    Fragmentos de bipsias, obtidos da leso dos pacientes com suspeita de

    LTA, eram macerados em 500 L de soluo salina tamponada com fosfato pH 7,3

    (PBS, phosphate buffer saline), sendo que da suspenso 50 L eram inoculados no

  • Capa ndice

    4276

    coxim plantar de dois camundongos C57Bl/6 IFNKO (inculo nas duas patas

    traseiras) e o restante da suspenso era incubada em uma garrafa de cultura de

    clulas (Costar, Cambridge, MA, EUA), contendo 5 mL de meio Grace completo

    (Graces Insect Medium, Sigma Chemical Co., St Louis, MD, EUA), suplementado

    com 20% Soro Fetal Bovino (SFB, Cripion, Andradina, SP, Brasil) inativado, 2 mM

    de L-glutamina (Sigma), 200 U/mL de penicilina (Sigma) e 200 g/mL de

    estreptomicina (Sigma). A garrafa era incubada 26C, at o crescimento dos

    parasitos (descarte aps 4 semanas se no houvesse crescimento). Aps 4 a 8

    semanas do inculo, os animais eram sacrificados e as patas e os linfonodos

    drenantes da leso (poplteo) eram retirados e macerados em PBS. Como na

    primeira etapa com a bipsia, parte da suspenso celular resultante era cultivada em

    garrafas de cultura de clulas 26C e parte era re-inoculada em novos

    camundongos C57Bl/6 IFNKO, para manuteno do parasito in vivo.

    3.4 Manuteno dos Parasitos in vitro e Criopreservao

    Os parasitos eram mantidos in vitro em garrafas de cultura, em meio

    Grace completo, suplementado com 20% de SFB inativado, 2 mM de L-glutamina

    (Sigma), 200 U/mL de penicilina (Sigma) e 200 g/mL de estreptomicina (Sigma), em

    estufa BOD 26C, sendo repicados pela primeira vez quando havia alta densidade

    de parasitos. Aps a adaptao s culturas in vitro, os parasitos passaram a ser

    repicados iniciando a cultura com 5 x 105 parasitos/mL ou com 1 x 106 parasitos/mL

    (em caso de isolados que apresentavam menor taxa crescimento in vitro). A

    quantificao dos parasitos era realizada, aps diluio de uma alquota da cultura

    em formalina 2%, em hematocitmetro. Os parasitos foram criopreservados em

    nitrognio lquido, em fase logartmica do crescimento, para isto 1 x 107 parasitos/mL

    eram adicionados a uma mistura contento 10% de dimetilsulfxido (DMSO, Sigma) e

    80% de SFB sendo, em seguida, transferidos para -80C por dois dias e depois

    eram estocados em nitrognio lquido e armazenados neste local at o uso

    (Leishbank, Banco Imunobiolgico das Leishmanioses da Regio Centro-Oeste,

    IPTSP/UFG).

    3.5 Caracterizao biolgica dos isolados de Leishmania

  • Capa ndice

    4277

    3.5.1 Curva de crescimento dos parasitos in vitro

    Os parasitos foram cultivados em meio Grace completo 26C em

    garrafas de cultura, iniciando a cultura com 1 x 106 parasitos/mL. As curvas de

    crescimento in vitro foram feitas em triplicata, sendo o crescimento avaliado por

    contagem diria do nmero de parasitos em hematocitmetro, durante 12 dias de

    cultivo. A quantidade de parasitos foi expressa em nmero de parasitos/mL. Para

    cada parasito foram determinadas a fase logartmica e a estacionria do

    crescimento, as quais so caracterizadas, respectivamente, pelas formas procclicas

    e metacclicas (infectantes) dos parasitos. Foram preparadas lminas contendo os

    parasitos, usando citocentrfuga Fanem (1x 106 parasitos/100 uL de meio Grace

    Completo, 400 rpm, 50 segundos), as quais foram coradas usando kit Instant Prov

    (Pinhais, PR, Brasil), sendo visualizadas e fotografadas sob microscopia de luz.

    3.5.2 Curva de crescimento dos parasitos in vivo

    Os parasitos, no sexto dia de cultivo, foram inoculados na pata traseira

    direita de camundongos das linhagens C57Bl/6 e BALB/c (5 x 105 parasitos por pata

    /50 L). Para cada isolado foram usados 10 animais, sendo cinco de cada linhagem.

    Aps o inculo, foi acompanhado semanalmente o tamanho das patas desses

    animais com o auxlio de um paqumetro. Os dados representam o tamanho da

    leso, sendo a mdia das diferenas entre as patas infectadas (pata direita) e as

    patas controles no inoculada (pata esquerda). Quando as patas apresentavam

    leso de 5 mm, leso ulcerada ou os animais atingiam 12 semanas de crescimento,

    os animais eram sacrificados.

    4 RESULTADOS E DISCUSSO

    4.1 Obteno dos isolados de Leishmania sp

    Entre janeiro de 2009 a junho de 2010 foram processadas 40 amostras

    de fragmentos de bipsias obtidas de leso cutnea ou de leso mucosa de

    pacientes com suspeita de LTA atendidos no ambulatrio de endemias do Hospital

    de Doenas Tropicais Anuar Auad, Goinia, GO. Destes, foram confirmados o

  • Capa ndice

    4278

    diagnostico de LTA em 35 pacientes, dois pacientes no retornaram com os

    resultados dos exames (NC) e trs apresentavam outras patologias, erisipela,

    eczema meato nasal e hansenase.

    Os provveis locais de contgio desses pacientes foram os Estados do

    Acre (1), Amazonas (1), Gois (18), Maranho (2), Mato Grosso (8), Par (3),

    Rondnia (2), Tocantins (1) e Roraima (1). A idade dos pacientes variou entre 13 e

    75 anos de idade.

    Do total de casos confirmados, 29 pacientes realizaram o histopatolgico.

    Neste exame foi possvel a visualizao de formas amastigotas em 17 casos. A IRM

    foi realizada em 26 casos confirmados e foi positiva em 18 casos, enquanto que na

    IFI de 23 casos confirmados apenas nove casos foram positivos nessa metodologia

    (Tabela 1).

    Tabela 1. Freqncia absoluta de LTA detectada por diferentes mtodos de diagnstico.

    Culturaa Camundongob Histopatolgicoc IRMd IFIe

    Positivos

    5

    3

    17

    18

    9

    Negativos

    30

    32

    12

    8

    14

    Totalg

    35

    35

    29

    26

    23

    Em 35 pacientes foram confirmados o diagnstico de LTA por pelo menos um dos exames laboratoriais; a Observao de crescimento de parasito em meio Grace a partir do processamento de bipsias; b Observao do desenvolvimento de leso na pata inoculada por macerado de bipsia; c Observao de amastigotas; d Intradermorreao de Montenegro (IRM) mensurada aps 48 horas da injeo na intraderme de antgeno de L. (L.) amazonensis com dimetro da indurao maior que 5 mm; e Imunofluorescncia indireta (IFI) com ttulo acima de 40; f Total de pacientes confirmados o diagnstico para LTA que foram submetidos ao mtodo de diagnstico especificado.

    Dos pacientes com o diagnstico confirmado para LTA, em seis deles

    foram isolados parasitos (DLP9, JM9, ORN9, PPP9, RFJ9, SPC10), dentre estes

    cinco foram isolados ex vivo (DLP9, JM9, ORN9, PPP9, SPC10), um foi isolado

    apenas in vivo (RFJ9) e dois foram isolados tanto ex vivo quanto in vivo (DLP9,

    ORN9). O paciente SPC10 apresentou a cultura in vitro positiva, entretanto houve

    contaminao por leveduras e no foi possvel estocar este isolado no Leishbank.

    Os dados dos pacientes, bem como dos parasitos, foram catalogados no

    Leishbank. Como pode ser observado na Tabela 2 os isolados foram codificados

    como MHOM/BR/2009/DLP, MHOM/BR/2009/JM, MHOM/BR/2009/ORN,

    MHOM/BR/2009/PPP, MHOM/BR/2009/RFJ. Os isolados JM9 e PPP9 so de

    pacientes que relatam o estado de Gois como provvel local de infeco. Para os

  • Capa ndice

    4279

    isolados DLP9, ORN9 e RFJ9, o local provvel de infeco so os Estados do

    Maranho, Roraima e Amazonas, respectivamente. A forma clnica de LTA foi

    leishmaniose cutnea (LC) para todos os isolados. Todos os isolados obtidos so de

    pacientes do sexo masculino, a idade variou entre 19 e 63 anos com mediana de

    45,5 anos (Tabela 2).

    A maioria dos pacientes que apresentaram a cultura in vitro ou in vivo

    positiva (5) mora em zona rural e mantm contato com locais de circulao do

    agente etiolgico desta doena em ambientes silvestres como reas ribeirinhas,

    reas de mata fechada e de desmatamento, fazendas e um paciente (RFJ9) mora

    em zona urbana, porm adquiriu a doena aps manter contato com rea endmica

    na regio Amaznica.

    Tabela 2. Dados dos isolados de Leishmania sp.

    Isolado LTA Local de contgio Sexo Idade

    (anos)

    MHOM/BR/2009/RFJ LC Regio Amaznica Masculino 35

    MHOM/BR/2009/DLP LC Ribamar (MA) Masculino 63

    MHOM/BR/2009/ORN LC Cacoal (RO) Masculino 19

    MHOM/BR/2009/JM LC Aruan (GO) Masculino 45

    MHOM/BR/2009/PPP LC Acrena (GO) Masculino 46

    MHOM/BR/2010/SPC LC Orizona (GO) Masculino 63

    O isolamento ex vivo foi positivo em 14% das amostras dos pacientes

    com casos confirmados, enquanto que o isolamento in vivo foi positivo em apenas

    9% destas amostras. BOTELHO et al. (2007) obtiveram resultados que esto de

    acordo com nossos dados. Em um total de 41 bipsias processadas foram obtidos

    nove novos isolados in vitro e apenas um isolado in vivo, apresentando uma

    eficincia de 22,5% e 2,5%, respectivamente.

    Neste estudo alguns fatores interferiam na obteno isolados de

    Leishmania sp. Freqentemente ocorria contaminao da cultura por fungos e/ou

    bactrias impossibilitando o isolamento in vitro. No isolamento in vivo, ou os animais

    morriam ou ento a leso na pata dos camundongos no se desenvolvia e isso

    tambm dificultou o isolamento de Leishmania sp. JOELMA et al. (2008)

    apresentaram resultados diferentes dos nossos, a tcnica de isolamento in vivo foi

    mais eficiente na obteno de isolados do que