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MIRANDA; OLIVEIRA & COELHO (2017) A REFORMA DO ENSINO MÉDIO (LEI 13.415/2017) E SUAS IMPLICAÇÕES PARA A EDUCAÇÃO PROFISSIONAL NATAL, RN – 24 A 27 DE JULHO DE 2017 – CAMPUS NATAL CENTRAL IFRN POLÍTICAS EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL: O PAPEL DOS INTELECTUAIS E O DIREITO À EDUCAÇÃO Emmanuella Aparecida Miranda Lilian Aparecida Carneiro Oliveira Edgar Pereira Coelho RESUMO Este trabalho busca refletir sobre os impactos das políticas públicas no campo da educação profissional, em especial o papel da atual política de cotas e seus efeitos no curso técnico integrado em Agroecologia. Nesse processo de análise, consideramos o papel dos intelectuais e o direito à educação como pontos de partida para a compreensão das mudanças que se colocam à realidade da educação profissional no cenário brasileiro. O método de pesquisa baseouse na imersão bibliográfica e documental. Contamos com a Análise de Discurso de Fairclough (ADC) para análise das falas que persistem no cotidiano escolar sobre direito, educação, formação profissional, sucesso e fracasso escolar. PALAVRASCHAVE:Educação Profissional; Política de Cotas; Intelectuais. ABSTRACT This work seeks to reflect on the impacts of public policies in the field of professional education, especially the roly of the current quota policy and its effects on the integrated technica course in Agroecology. In this process of analysis, we consider the role of the intellectuals and the right to education as starting points for understanting the changes that are placed in the reality of professional education in the Brazilian scenario. The research method was based on bibliographical and documentary immersion. We have the Fairclough Speech Analysis (ADC) for the analysi of the speeches that persist in the school everyday about law, education, professional formation, success and school failure. KEYWORDS: Professional education; Quotas policy; Intellectuals.

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MIRANDA;  OLIVEIRA  &  COELHO  (2017)    

   

A   REFORMA   DO   ENSINO   MÉDIO   (LEI   13.415/2017)   E   SUAS   IMPLICAÇÕES   PARA   A   EDUCAÇÃO  PROFISSIONAL  NATAL,  RN  –  24  A  27  DE  JULHO  DE  2017  –  CAMPUS  NATAL  CENTRAL  -­‐  IFRN  

 

 

POLÍTICAS  EM  EDUCAÇÃO  PROFISSIONAL:  O  PAPEL  DOS  INTELECTUAIS  E  O  DIREITO  À  EDUCAÇÃO  

Emmanuella  Aparecida  Miranda    Lilian  Aparecida  Carneiro  Oliveira    

Edgar  Pereira  Coelho  

RESUMO  

Este   trabalho   busca   refletir   sobre   os   impactos   das  políticas  públicas  no  campo  da  educação  profissional,  em  especial  o  papel  da  atual  política  de  cotas  e  seus  efeitos   no   curso   técnico   integrado   em   Agroecologia.  Nesse  processo  de  análise,  consideramos  o  papel  dos  intelectuais   e   o   direito   à   educação   como   pontos   de  partida   para   a   compreensão   das   mudanças   que   se  

colocam   à   realidade   da   educação   profissional   no  cenário   brasileiro.   O  método   de   pesquisa   baseou-­‐se  na   imersão   bibliográfica   e   documental.   Contamos  com   a   Análise   de   Discurso   de   Fairclough   (ADC)   para  análise   das   falas   que   persistem   no   cotidiano   escolar  sobre   direito,   educação,   formação   profissional,  sucesso  e  fracasso  escolar.  

PALAVRAS-­‐CHAVE:Educação  Profissional;  Política  de  Cotas;  Intelectuais.  

 

ABSTRACTThis   work   seeks   to   reflect   on   the   impacts   of   public  policies   in   the   field   of   professional   education,  especially  the  roly  of  the  current  quota  policy  and  its  effects   on   the   integrated   technica   course   in  Agroecology.   In   this  process  of   analysis,  we   consider  the  role  of  the  intellectuals  and  the  right  to  education  as   starting  points   for  understanting   the  changes   that  

are  placed   in   the   reality   of   professional   education   in  the   Brazilian   scenario.   The   research   method   was  based   on   bibliographical   and   documentary  immersion.  We   have   the   Fairclough   Speech   Analysis  (ADC)   for   the   analysi   of   the   speeches   that   persist   in  the   school   everyday   about   law,   education,  professional   formation,   success   and   school   failure.

   

KEYWORDS:  Professional  education;  Quotas  policy;  Intellectuals.  

MIRANDA;  OLIVEIRA  &  COELHO  (2017)    

   

A   REFORMA   DO   ENSINO   MÉDIO   (LEI   13.415/2017)   E   SUAS   IMPLICAÇÕES   PARA   A   EDUCAÇÃO  PROFISSIONAL  NATAL,  RN  –  24  A  27  DE  JULHO  DE  2017  –  CAMPUS  NATAL  CENTRAL  -­‐  IFRN  

 

 

1  INTRODUÇÃO  

Proliferam  as  pesquisas  sobre  desempenho  de  estudantes  cotistas  em  cursos  superiores.   Os   resultados   apresentados,   até   então,   refutaram   as   ideias  conservadoras  de  que  haveria  queda  na  qualidade  da  educação  caso  o  processo  de  ingresso   nos   cursos   de   graduação   não   mantivesse   o   rigor   da   seletividade  meritocrática.  Muitos  desses  argumentos,  contrários  à  política  de  cotas,  defendiam  a  necessidade  de  maior  investimentos  na  educação  básica  como  forma  para  alcançar  a  “justiça”  no  processo  de  entrada  nos  cursos  superiores  das  universidades  mantidas  com   recursos  dos   cofres  públicos   (desconsiderando,  assim,  origem  social,   questões  étnico-­‐raciais   e   pessoas   com   deficiência,   condições   econômicas   ou   proveniência  escolar).  

No   entanto,   por  mais   que   as   pesquisas   realizadas   sobre   sucesso   e   fracasso  escolar   no   contexto   da   política   de   cotas   tenham   sido   apresentadas   de   modo   a  desconstruir  o  pessimismo  acerca  do  desempenho  de  estudantes  cotistas,  ainda  nos  resta   questionar   se   o   mesmo   acontece   com   a   etapa   que   antecede   a   entrada   dos  estudantes  nos  cursos  de  nível  superior.  Ou  seja,  a  ideia  de  que  o  sucesso  acadêmico  só  pode  ser  alcançado  através  de  rigoroso  processo  seletivo  se  sustenta  quando  nos  referimos  ao  ingresso  de  estudantes  no  ensino  médio?  A  relevância  científica  e  social  deste   trabalho   se   pauta   tanto   na   pertinência   de   análise   do   processo   de   acesso   e  permanência   de   estudantes   cotistas   quanto   na   necessidade   de   refletirmos  criticamente   sobre   as   falas   presentes   no   cotidiano   escolar   que   ainda   insistem   no  risco   da   perda  da   qualidade  da   educação  mediante   o   sistema  de   reserva   de   vagas  definido  pela  Leis  12.711/2012  e  13.409/2016.  

Ao   investigarmos   se   essas   impressões   fatalistas   procedem   acabamos   por  estabelecer   algumas   conexões   entre   os   possíveis   efeitos   da   Lei   13.415/2017,   que  institui   a   reforma   do   ensino   médio,   e   os   dilemas   que   nos   apontam   o   “Programa  Escola   sem   Partido”   -­‐     projeto   de   lei   867/2015.   Nesse   âmbito,   verificamos   que  algumas  ideias  que  circulam  nos  corredores  escolares  guardam  interfaces  ideológicas  com  com  outras  questões  políticas  e  sociais  que  não  se  limitam  a  uma  única  política  educacional,   antes,  orbitam  conforme  o  panorama  político  que  define  e  é  definido  por  interesses  de  classes.  

2  REVISÃO  BIBLIOGRÁFICA  

A  escola  é  um  espaço  educacional  eminentemente  político,  uma  vez  que  se  constitui   como   “locus”   privilegiado   para   a   congregação   das   diversas   ideias   que  circulam   na   sociedade,   sejam   elas   reproduções   de   uma   ideologia   dominante  (repercussões   do   senso   comum),   sejam   formas   críticas   de   reflexão   contra  

MIRANDA;  OLIVEIRA  &  COELHO  (2017)    

   

A   REFORMA   DO   ENSINO   MÉDIO   (LEI   13.415/2017)   E   SUAS   IMPLICAÇÕES   PARA   A   EDUCAÇÃO  PROFISSIONAL  NATAL,  RN  –  24  A  27  DE  JULHO  DE  2017  –  CAMPUS  NATAL  CENTRAL  -­‐  IFRN  

 

 

hegemônica.  “É  com  esse  entendimento  que  compreendemos  a  escola  como  campo  permanente   de   aprendizagens   diversificadas,   de   conflitos,   de   disputas   de   ideias,  posições,   crenças,   opiniões   e   orientações”   (TAVARES;   SILVA,   2012,   p.   53).   Dessa  forma,   não   podemos   nos   furtar   aos   debates   que   surgem   no   meio   educacional,  menos   ainda   sob   a   justificativa   de   que   a   escola   não   seria   o   espaço   correto   para   a  reflexão  de  temas  que  vão  surgindo  ou  reverberando  nos  corredores   institucionais.  Daí  o  primeiro   impasse  ao  Programa  Escola  sem  Partido,  haja  vista  que  é  na  escola  que  o  senso  comum  deve  ser  considerado  como  ponto  de  partida  para  a  análise  dos  discursos  e  posteriormente  tratados  de  forma  a  possibilitar  a  reflexão  científica  que,  por  sua  vez,  favorecerá  a  ruptura  com  as  ideologias  que  se  escondem  por  trás  desses  falares  aparentemente  “inconscientes”.  

Portanto,  a  escola  apresenta  não  só  o  papel  educacional,  mas  político  e  social,  uma   vez   que   para   si   convergem   várias   refrações   da   questão   social.   Nesse   sentido,  para   além   de   ser   a   escola   transbordante   apontada   por   Nóvoa,   também   exerce  importante   função   no   campo   das   batalhas   ideológicas,   nas   quais   cotidianamente  empenham-­‐se   os   intelectuais,   orgânicos   e   tradicionais,   a   desvelar   o   sentido   da  educação:   quer   seja   para   além   do   capital   (como   nos   instiga   apensar   István  Mészáros),  quer  seja  como  campo  de  estreita  margem  de  liberdade  (como  nos  indica  Bourdieu).  Entre  messianismo  e  fatalismo,  preocupamo-­‐nos  em  encontrar  o  sentido  necessário   para   a   recomposição   das   forças   às  massas,   às   camadas   populares,   que  buscam  na  escola   os   saberes   necessários   para   a   superação   das   condições   amorfas  em  que  se  encontram.  

Assim   sendo,   parece-­‐nos,   à   primeira   vista,   ser   incontestável   o   direito   à  educação.  “Afinal,  a  educação  escolar  é  uma  dimensão  fundante  da  cidadania,  e  tal  princípio   é   indispensável,   para   políticas   que   visam   à   participação   de   todos   nos  espaços  sociais  e  políticos  e,  mesmo,  para  reinserção  no  mundo  profissional”  (CURY,  2002,   p.   245).   Esse   tema   tem   sido   reiterado   por   vários   documentos   nacionais   e  internacionais  que  aportam  na  educação  as  bases  para  a  cidadania  na  modernidade.  Portanto,   tratar   do   direito   à   educação   para   todos   não   é   uma   novidade,  mas   uma  necessidade   que   precisa   ser   reiterada   cotidianamente,   haja   vista   que   o   acesso  universal  e  em  todas  as  instâncias  de  ensino  ainda  não  se  constitui  como  realidade.  

Uma  das  frentes  de  inclusão  apontadas  pelos  movimentos  sociais  é  a  reserva  de   vagas   por   meio   da   política   de   cotas,   legalmente   instituída   através   das   leis  12.711/2012   e   13.409/2016.   Ao   destinarem,   para   todos   os   cursos   de   graduação   e  ensino   técnico   de   nível   médio   das   instituições   federais   de   ensino,   um  mínimo   de  cinquenta  por  cento  das  vagas  para  estudantes  oriundos  de  escolas  públicas,  essas  leis   alternam   a   questão   da  meritocracia   para   o   direito.   Ou   seja,   os   debates   sobre  direitos  e  educação  passam  a  questionar  as  ideias  dominantes  que  retroalimentam  a  lógica  do  sistema  contraditório  e  antagônico  que  caracteriza  a  sociedade  de  classes.  

MIRANDA;  OLIVEIRA  &  COELHO  (2017)    

   

A   REFORMA   DO   ENSINO   MÉDIO   (LEI   13.415/2017)   E   SUAS   IMPLICAÇÕES   PARA   A   EDUCAÇÃO  PROFISSIONAL  NATAL,  RN  –  24  A  27  DE  JULHO  DE  2017  –  CAMPUS  NATAL  CENTRAL  -­‐  IFRN  

 

 

Nesse   contexto,   não   só   a   reserva   de   vagas   a   egressos   de   escolas   públicas  entra   em   voga,   mas   a   garantia   de   que   o   percentual   mínimo   deve   atender,  prioritariamente,   estudantes   de   acordo   com   os   critérios   de   condição   econômica,  autodeclarados  pretos,  pardos,   indígenas  e  pessoas   com  deficiência.  No  entanto,  o  debate   não   se   restringe   apenas   à   garantia   do   acesso   à   diversidade   ou   aos   grupos  historicamente   marginalizados,   mas   sobretudo,   compreender   que   as   políticas  públicas   não   são  meras   concessões   dos   que   detém   o   poder   político   e   econômico.  São,   antes,   resultados   de   lutas   das   classes   populares  para   apropriação  do  quinhão  que  lhes  é  devido  na  produção  material  da  vida.  

É   preciso   considerar   que   as   leis   e   políticas   públicas   são   frutos   da   pressão  social  das  classes  em  conflito.  Em  outras  palavras,  a  legitimidade  das  reivindicações  dos  grupos  subalternizados  é  o  que  impulsiona  os  movimentos  contra-­‐hegemônicos  à   ordem   estabelecida.   Nesse   ponto,   destacamos   o   caráter   político-­‐pedagógico   dos  intelectuais  tradicionais  e  daqueles  que  estão  ligados  organicamente  às  classes  a  que  se  associam.  

De   acordo   com   Gramsci   (2001),   o   papel   dos   intelectuais   é   preponderante  para  a  manutenção  ou  ruptura  com  o  pensamento  dominante.  Isso  porque  

 

todo   grupo   social,   nascendo   no   terreno   originário   de   uma   função  essencial   no   mundo   da   produção,   cria   para   si,   ao   mesmo   tempo,  organicamente,   uma   ou   mais   camadas   de   intelectuais   que   lhe   dão  homogeneidade   e   consciência   da   própria   função,   não   apenas   no   campo  econômico,  mas  também  no  social  e  político  (GRAMSCI,  2001,  p.  15).  

 

  Nesse   sentido,   a   pedagogia   revolucionária   torna-­‐se   possível  uma   vez   que,   estando  em  contato  com  os  membros  dos  grupos  oprimidos,  os  intelectuais  podem  intervir  em  prol  do  acesso  à  educação  de  qualidade  (qualificada  tanto  pela  capital  cultural  que  congrega  em  si,   quanto   pelo   poder   advindo   da   crítica   a   respeito   da   realidade   e   da   percepção   das  estruturas  que  geram  e  mantém  firmes  as  correntes  da  alienação).  Assim  sendo,  

 

as  batalhas  devem  ser  travadas  inicialmente  no  âmbito  da  sociedade  civil,  visando  as  conquistas  de  posições  e  de  espaços  (“guerra  de  posição”),  da  direção   político-­‐ideológica   e   do   consenso   dos   setores   majoritários   da  população,  mas  como  condição  para  o  acesso  ao  poder  de  Estado  e  para  sua  posterior  conservação  (COUTINHO,  2014,  p.  147).  

 

  Nesse   aspecto,   o   papel   dos   educadores   não   deve   se   restringir   a   programas   e  conteúdos   pré-­‐determinados   por   políticas   de   governo,   que   nada   mais   objetivam   que   a  garantia   da   preservação   da   ordem.   Antes,   profissionais   da   educação   devem   se  instrumentalizar   para   a   leitura   do   real   que   só   é   possível   com   a   contínua   investigação   dos  

MIRANDA;  OLIVEIRA  &  COELHO  (2017)    

   

A   REFORMA   DO   ENSINO   MÉDIO   (LEI   13.415/2017)   E   SUAS   IMPLICAÇÕES   PARA   A   EDUCAÇÃO  PROFISSIONAL  NATAL,  RN  –  24  A  27  DE  JULHO  DE  2017  –  CAMPUS  NATAL  CENTRAL  -­‐  IFRN  

 

 

fatos  e  análise  das  ideias  que  circulam  na  sociedade.  Daí  a  necessidade  de  ser  o  profissional  também  pesquisador.  

 

Não  há  ensino  sem  pesquisa  e  pesquisa  sem  ensino.  Esses  que-­‐fazeres  se  encontram  um  no   corpo  do  outro.   Enquanto  ensino   continuo  buscando,  reprocurando.  Ensino  porque  busco,  porque  indaguei,  porque  me  indago.  Pesquiso   para   constatar,   constatando,   intervenho,   educo   e   me   educo.  Pesquiso   para   conhecer   o   que   ainda   não   conheço   e   comunicar   ou  anunciar  a  novidade  (FREIRE,  1996,  p.  14).  

 

  Com  relação  aos  assuntos  que  perpassam  o  campo  escolar,  é  preciso  estar  atento  à  forma   como   essas   ideias   são   tratadas:   meramente   repetidas   –   e   assim   garantida   a  preservação   da   ordem;   pois   “as   ideias   da   classe   dominante   são,   em   todas   as   épocas,   as  ideias   dominantes”   (MARX;   ENGELS,   2009,   p.   67)  –  ou  problematizadas?  A   intervenção  do  intelectual   através   da   pesquisa   –   que   qualifica   o   ato   de   ensinar   –   o   instrumentaliza   ao  debate,  por  conseguinte,  possibilita  o  despertar  do  educando  para  a  própria  reflexão.  Assim  sendo,  é   inegável  que  o  papel  dos   intelectuais  (tradicionais  ou  orgânicos,  docentes  ou  não)  está   ligado   à   percepção   dos   direitos   historicamente   negados   ao   conjunto   da   classe  trabalhadora   e   aos   diversos   grupos   discriminados   que   a   compõe,   bem   como   à  conscientização  das  classes  subalternizadas  através  da  revolução  cultural.  

  No   campo   dos   embates   ideológicos,   no   que   diz   respeito   à   conquista   de   direitos,  verificamos  que  as  lutas  das  classes  populares  estão  marcadas  por  reviravoltas  políticas,  ora  pendendo   a   favor   dos   vulnerabilizados,   trabalhadores,   e   suas   formas   de   enfrentamento   à  opressão   dominante,   ora   a   favor   dos   detentores   do   poder   econômico   e   político.   Nesse  ínterim,   a   escola,   enquanto   aparelho   privado   de   hegemonia   exerce   importante   papel   na  formação  da  classe  trabalhadora,  quer  seja  para  moldá-­‐la  aos  interesses  do  capital,  quer  seja  para   incutir-­‐lhe  o  espírito  de   subversão  ao  domínio   imposto  pelo   sistema  vigente.   É  nesse  contexto  de   lutas  que  verificamos  o  papel  da  educação  como  meio  de  emponderamento  e  como  recurso  de  controle  social.  

  De   acordo   com  Enguita   (1980),   a   escola,   esteve,   desde   suas   bases,   interligada   aos  interesses   da   classe   dominante:   tanto   para   a   formação   da   mão   de   obra   (a   serviço   da  manutenção   do   mercado   da   força   de   trabalho,   resultante   da   relação   inversamente  proporcional   aos   salários   e   a   reposição  do  número  de   integrantes  do  exército  de   reserva),  quanto   para   a   manutenção   de   uma   pedagogia   que   garantisse   a   docilização   da   classe  trabalhadora.   Por   outro   lado,   o   antagonismo   e   a   contradição   que   permeiam   o   sistema  capitalista  também  lhe  garante  a  antropofagia.  Ou  seja,  

 

somos   também   forçados   a   considerar   que   tudo   isso   cria   para   a   classe  trabalhadora   oportunidades   –   bem   como   perigos   e   dificuldades   -­‐,  precisamente   porque   educação,   flexibilidade   e   mobilidade   geográfica,  uma  vez  adquirias,  ficam  mais  difíceis  de  ser  controladas  pelos  capitalistas  (HARVEY,  2015,  p.  175).  

MIRANDA;  OLIVEIRA  &  COELHO  (2017)    

   

A   REFORMA   DO   ENSINO   MÉDIO   (LEI   13.415/2017)   E   SUAS   IMPLICAÇÕES   PARA   A   EDUCAÇÃO  PROFISSIONAL  NATAL,  RN  –  24  A  27  DE  JULHO  DE  2017  –  CAMPUS  NATAL  CENTRAL  -­‐  IFRN  

 

 

 

  Nestes   termos,   podemos   compreender   que   a   educação   apresenta   sua   face  revolucionária   uma   vez   que   a   entrada   e   a   permanência   podem   ser   meios   de   acessar  conhecimentos  para  além  dos  interesses  imediatos  do  capital.  Daí  o  embate:  uma  escola  que  toma  partido  nas  causas  sociais  e  interesses  gerais  é  particularmente  perigosa  aos  planos  da  pequena  burguesia.  Uma  escola  que  se  abre  a  um  público  historicamente  segregado  de  seus  direitos   educacionais,   é   sem   dúvida   uma   ferramente   revolucionária.   Daí   a   emergência   do  capital   por   reformar,   para   retornar  os   eixos  dominantes   ao  estado  de   controle:   um  ensino  médio   que   segregue   por   conhecimento   e   não   mais   por   acesso.   As   frentes   de   luta   se  proliferam:   muda-­‐se   de   tática   para   manter   o   domínio,   migra-­‐se   o   foco   da   discussão   do  “direito”  para  a  “qualidade”,  apela-­‐se  para  a  argumentação  de  que  as  cotas  podem  interferir  na  qualidade  da  educação  e  busca-­‐se  com  isso  angariar  público  que  ingenuamente  (ou  não)  repassam  através  do  senso  comum  retóricas  que  buscam  desclassificar  a  entrada  de  alunos  de   escola   pública   –   e   desse   conjunto,   frações   destinadas   ao   atendimento   de   pessoas  autodeclaradas  pretas,  pardas,  com  deficiência  ou  indígenas;  com  renda  superior  ou  inferior  a  um  salário  mínimo  e  meio  -­‐.  Na  guerra  de  posições,  a  escola  se  torna  o  alvo  dos  ataques  de  políticas  que  buscam  amenizar  o  potencial  contestador  da  educação,  ao  mesmo  tempo  em  que  camufla  suas  intenções  ao  imprimir  reformas  em  nome  da  “qualidade”.  

3  METODOLOGIA  

  A  metodologia   adotada   situa-­‐se   nos  marcos   da   pesquisa   qualitativa,   uma   vez   que  essa  abordagem  pauta-­‐se  na  análise  e  contextualização  do  objeto  de  estudo  considerando  a  realidade  como  um  campo  dinâmico  e  de  muitas  interações.  Segundo  Bogdan  e  Biklen  (1994,  p.  49),  “[…]  a  abordagem  da  investigação  qualitativa  exige  que  o  mundo  seja  examinado  com  a   ideia   de   que   nada   é   trivial,   que   tudo   tem   potencial   para   constituir   uma   pista   que   nos  permita   estabelecer   uma   compreensão   mais   esclarecedora   do   nosso   objeto   de   estudo”.  Assim  sendo,  a  escolha  por  essa  abordagem,  além  de  permitir  a  maior  aproximação  entre  os  sujeitos,   possibilita   a   interação   do   pesquisador   com   seu   objeto   de   análise,   buscando  compreender  as  múltiplas  faces  que  ele  apresenta  no  contexto  social,  isso  porque  

 

trabalhamos   com   os   fatos   de   forma   a   poder   aprofundar   tanto   quanto  possível  a  análise,  e  não  para  conhecê-­‐los  apenas  de  uma  forma  sumária,  a  partir  de  uma  primeira  apresentação.  Nesse  sentido,  priorizamos  não  os  fatos   épicos,   os   fatos   de   grande   dimensão,  mas   aqueles   que   estão  mais  próximos   dos   sujeitos   e   que   repercutem   diretamente   na   sua   vida  (MARTINELLI,  1999,  p.  22).  

 

  Por  isso  optamos  pela  pesquisa  qualitativa,  uma  vez  que  ela  possibilita  ouvirmos  as  questões   do   cotidiano   expressas   nas   falas   dos   diversos   atores   que   atuam   no   espaço  educacional.  Ao   invés  de   consideramos  os  discursos  que  proliferam  no  meio  escolar   como  meras   falas,  buscamos  compreender  o  porquê  de  suas  emergências,  o  que  os   fundamenta  ou  que  os  fazem  persistir.  

MIRANDA;  OLIVEIRA  &  COELHO  (2017)    

   

A   REFORMA   DO   ENSINO   MÉDIO   (LEI   13.415/2017)   E   SUAS   IMPLICAÇÕES   PARA   A   EDUCAÇÃO  PROFISSIONAL  NATAL,  RN  –  24  A  27  DE  JULHO  DE  2017  –  CAMPUS  NATAL  CENTRAL  -­‐  IFRN  

 

 

  Através   da   imersão   bibliográfica   buscamos   conferir   a   cientificidade   necessária   à  compreensão   do   objeto   em   questão.   Nestes   termos,   o   pesquisador   ao   se   apropriar   do  universo   científico   ao   seu   redor,   “com   um   olhar   comparativo,   alimentado   por   várias  pesquisas  bibliográficas,  ele  consegue  distanciar-­‐se  de  seu  próprio  universo  para  constitui-­‐lo  em   termos   sociológicos   e   culturais”   (FONSECA,   1999,   p.   61).   Além   disso,   valemo-­‐nos   da  análise   documental   (diários,   dados   do   Sistema   Nacional   de   Informações   da   Educação  Profissional   e   Tecnológica  –  SISTEC   -­‐,   Projeto   Pedagógico   do   Curso,   Registros   Acadêmico   e  pasta  de  alunos)  com  vistas  à  complementação  de  dados  levantados  na  revisão  bibliográfica,  buscando   confrontar   as   práticas   discursivas   com  as  diversas   formas   de   registros   acerca   de  desempenho   dos   estudantes   cotistas.   Assim,   aproximarmos   a   realidade   local   ao   que   é  explanado  em  termos  mais  abrangentes.    

  De   acordo   com   André   e   Lüdke   (2015),   a   análise   documental   reúne   uma   série   de  vantagens,   dentre   elas   a   condição   de   fonte   estável   e   segura;   fonte   de   evidências   que  confirmam  as  avaliações  feitas  pelo  pesquisador;  ancoram  contextualização  da  pesquisa;  são  fontes  de  baixo  custo;  e  “finalmente,  como  uma  técnica  exploratória,  a  análise  documental  indica  problemas  que  devem  ser  mais  bem  explorados  através  de  outros  métodos”  (p.  46).  A  partir   da   análise   documental,   procuramos   compreender   o   papel   dos   institutos   federais  (sobretudo  do  Sudeste  de  Minas  Gerais,  Campus  Muriaé),  além  do   levantamento  de  dados  sobre   acesso   e   permanência   dos   estudantes   egressos   dos   cursos   integrados   ao   ensino  médio,  particularmente  quanto  ao  Técnico  Integrado  em  Agroecologia  (CTIA).  

  O   emprego  metodológico   da   ADC,   enriquece   a   análise   dos   dados   uma   vez   que   o  pesquisador,   ao   estabelecer   o   diálogo   investigativo,   passa   a   acompanhar   os   discursos  mediatizados  pela  fala  presente  nas  práticas  sociais,  assim  como  lhe  é  possível  compreender  a  interligação  entre  práticas  sociais  e  discursos:  

 

Nessa  perspectiva,  o  discurso  é  visto  como  um  momento  da  prática  social  ao   lado  de  outros  momentos   igualmente   importantes  –  e  que,  portanto,  devem  ser  privilegiados  na  análise,  pois  o  discurso  é   tanto  um  elemento  da  prática  social  que  constitui  outros  elementos  sociais  como  também  é  influenciado   por   eles,   em   uma   relação   dialética   de   articulação   e  internalização  (RESENDE;  RAMALHO,  2014,  p.  38-­‐39).  

 

  O   emprego   da   ADC   é   um  método   de   análise   que   leva   o   pesquisador   a   captar   as  manifestações  de  poder   contidas  nas   falas  dos   sujeitos,  pois  as  práticas  discursivas  podem  revelar   a   conformação   dos   atores   sociais   às   condições   sociais   vigentes   ou   mesmo   a  subversão   ao   poder   instituído   no   contexto   social.   Dessa   forma,   conceitos   como   direito,  direitos   sociais,   cidadania,   políticas   sociais,   política   de   cotas,   educação   de   qualidade,  igualdade,  justiça  e  democracia  podem  tanto  revelar  a  prevalência  de  uma  consciência  crítica  como   a   persistência   de   uma   in(consciência)   social   conservadora.   Para   Fairclough   (2016),   o  conceito  gramsciano  de  hegemonia  coaduna  com  sua  concepção  de  discurso,  uma  vez  que  as  relações   de   poder   presentes   na   sociedade   são   expressas   na   luta   pela   conquista   de  consensos.  Ou  seja,  

MIRANDA;  OLIVEIRA  &  COELHO  (2017)    

   

A   REFORMA   DO   ENSINO   MÉDIO   (LEI   13.415/2017)   E   SUAS   IMPLICAÇÕES   PARA   A   EDUCAÇÃO  PROFISSIONAL  NATAL,  RN  –  24  A  27  DE  JULHO  DE  2017  –  CAMPUS  NATAL  CENTRAL  -­‐  IFRN  

 

 

 

Tal   concepção   de   luta   hegemônica   em   termos   de   articulação,  desarticulação  e  rearticulação  de  elementos  está  em  harmonia  com  [...]  a  concepção  dialética  da  relação  entre  estruturas  e  eventos  discursivos  […].  Pode-­‐se   considerar   uma  ordem  do  discurso   como   a   faceta   discursiva   do  equilíbrio   contraditório   e   instável   que   constitui   uma   hegemonia,   um  marco  delimitador  na  luta  hegemônica  (FAIRCLOUGH,  2016,  p.  128-­‐129).  

 

  Para   desenvolvimento   dessa   pesquisa,   situamos   nossas   análises   no   CTIA   do   IF  Sudeste  MG  Campus  Muriaé.  Tomamos  como  ponto  de  partida  estudantes   ingressantes  no  primeiro  ano  de  vigência  da  Lei  de  Cotas.  A  escolha  dessa  turma    levou  em  conta  a  condição  de  curso  integrado  -­‐  que  ao  associar  o  conteúdo  propedêutico  à  parte  profissionalizante    de  nível   médio,   amplia,   sobremaneira,   a   finalidade   da   educação   básica:   “art.   22   –   […]  desenvolver  o  educando,  assegurar-­‐lhe  a  formação  comum  indispensável  para  o  exercício  da  cidadania  e   fornecer-­‐lhe  meios  para  progredir  no   trabalho  e  em  estudos  posteriores”   (LDB  9394/96).  A  escolha  do  curso  se  deu  por  sua  anterioridade  à  lei  de  cotas,  o  que  nos  permitiu  avaliar   o   desempenho  estudantil   dos   cotistas   em  comparação   aos   alunos  que   ingressaram  antes  do  advento  legal.  

 

4  RESULTADOS  E  DISCUSSÕES  

  A  partir  das  considerações  acima,  voltamo-­‐nos  para  o  papel  dos   intelectuais  que  atuam  no  IF  Sudeste  MG  Campus  Muriaé  e  a  política  de  cotas.    O  mérito  ainda  é  um  ponto  defendido  para  a  manutenção  do  status  da  instituição,  que  por  sua  vez  é  medido  pelo  resultado  do  IF  no  ranking  do  Enem  e  pelo  número  de  aprovações  dos  estudantes  em  cursos  de  graduação  de  instituições  públicas.  

A  tabela  que  segue  demonstra  a  visibilidade  do  Campus  Muriaé  a  partir  dos  resultados   no   Enem.   O   IF   teve   sua   primeira   participação   no   exame   através   da  primeira   turma   concluinte  do  Curso  Técnico   Integrado  em  Agroecologia   (CTIA).  Até  então,   as   escolas   particulares   de   Muriaé   detinham   as   primeiras   colocações   e   as  melhores   resultados,   fazendo   disso   um   argumento   para   divulgar   a   “qualidade”   do  ensino   da   rede   particular.   Ou   seja,   a   qualidade   estava   (e   ainda   está)   fortemente  atrelada   à   competição,   à   conquista   do   consenso   em   favor   dos   resultados   -­‐   em  detrimento  dos  meios   e   da   realidade   socioeconômica   dos   sujeitos   participantes   (o  que   por   si   só   é   um   risco   porque   ao   desconsiderar   a   realidade   e   toda   a   gama   de  complexidade   que   cerca   os   atores   sociais,   faz-­‐se   referência   apenas   aos   resultados  individuais,   levando  a  crer  que   independente  das  condições  de  vida,  “todos”  têm  a  mesma   condição   de   superar   suas   adversidades,   bastando   para   isso   empenho   e  dedicação  por  parte  do  estudante.  Isto  é,  o  sucesso  ou  o  fracasso  passam  a  ser  vistos  como  produtos  individuais).  

MIRANDA;  OLIVEIRA  &  COELHO  (2017)    

   

A   REFORMA   DO   ENSINO   MÉDIO   (LEI   13.415/2017)   E   SUAS   IMPLICAÇÕES   PARA   A   EDUCAÇÃO  PROFISSIONAL  NATAL,  RN  –  24  A  27  DE  JULHO  DE  2017  –  CAMPUS  NATAL  CENTRAL  -­‐  IFRN  

 

 

Com   a   mudança   de   colocações,   o   IF   despontou   e   despertou   a   atenção   do  público  para  o  ensino  público  federal  de  nível  médio  e,  passou  ao  longo  dos  anos  a  atrair  mais  estudantes  da  cidade  e  região  circunvizinha  (e  até  mesmo  de  lugares  mais  distantes)  para  o  processo  seletivo.  

 

Tabela  1  –  Ranking  geral  do  Enem  (2011-­‐  2015).  

Nº   Escola   2011   2012   2013   2014   2015  

Nacional    Municipal    

Nacional    Municipal    

Nacional    Municipal    

Nacional    

Municipal    

Nacional    

Municipal    

01   Colégio  Cidade  de  Muriaé  

871º   1º   1.046º   2º   533º   2º   915   2º   559º   1º  

02   Colégio  Santa  Marcelina  

1.187º   2º   1.416º   3º   1.725º   3º   2.643º   4º   1.258º   3º  

03   Escola  São  Paulo   3.091º   3º   1.604º   4º   2.107º   4º   1.761º   3º   2.608º   4º  

04   IF  Sudeste  MG  Campus  Muriaé  

-­‐   -­‐   981º   1º   496º   1º   570º   1º   985º   2º  

 

Embora  a  competição  tenha  aumentado,  havia  o  temor  de  que  os  candidatos  cotistas  aprovados  fossem  interferir  negativamente  na  visibilidade  do  IF,  uma  vez  que  a   ausência   de   nota   de   corte   aliada   à   política   de   cotas   “facilitaria”   a   entrada   de  “alunos  menos  qualificados”,  o  que,  por  sua  vez,   impactaria  nas  notas  no  Enem  e  a  perda  do  status  que  traz  a  1ª  colocação.  

Podemos  verificar  na  tabela  acima  que  os  estudantes  ingressantes  em  2013  (e  que  concluíram  o  curso  no  período  regulamentar  de  três  anos)  participaram  do  Enem  em  2015.  Justamente  nesse  ano  o  IF  saiu  da  primeira  colocação  e  ficou  em  2º  lugar  no   ranking.   Isso   seria   sinal   de   que   a   qualidade   da   educação   estaria   sendo   afetada  pela  entrada  de  estudantes  cotistas?  Para  que  se  compreenda  melhor  essa  situação,  há  que  se  levar  em  conta  que  no  ano  de  2015  participaram  do  Enem  três  turmas:  os  terceiros   anos   de   Agroecologia,   Informática   e   Eletrotécnica.   Até   então,   as   notas  resultantes   do   processo   avaliativo   do   Enem   dizia   respeito   somente   ao   curso   de  Agroecologia,  pois  somente  em  2013  foram  abertos  novos  cursos.  

MIRANDA;  OLIVEIRA  &  COELHO  (2017)    

   

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Assim,   tornou-­‐se   necessário   comparar   as   notas   resultantes   da   participação  dos   estudantes   do   curso   de   Agroecologia   dos   anos   anteriores   com   a   nota   em  separado  dos  estudantes  de  Agroecologia  que  participaram  do  Enem/2015.  

 

Tabela  2  –  Ranking  geral  das  notas  das  escolas  no  Enem  (2011-­‐  2015)  

Nº   Escola   2011   2012   2013   2014   2015  

Média  Geral    

Municipal    

Média  Geral  

Municipal    

Média  Geral  

Municipal    

Média  Geral  

Municipal    

Média  Geral   Municipal    

01   Colégio  Cidade  de  Muriaé  

603,6   1º   615,05   2º   657,10   2º   635,40   2º   620,00   1º  

02   Colégio  Santa  Marcelina  

593,6   2º   609,00   3º   633,00   3º   613,40   4º   595,50   3º  

03   Escola  São  Paulo   550,0   3º   585,90   4º   624,20   4º   612,21   3º   566,80   4º  

04   IF  Sudeste  MG  Campus  Muriaé  

-­‐   -­‐  628,05  

(Agro.)  1º  

660,05  

(Agro.)  1º  

662,00  

(Agro.)  1º  

603,72  

(Agro.  +  

Info.  +  

Eletro.)  

2º  

 

Os   dados   obtidos   no   INEP   revelaram   que   participaram   do   Enem/2015:   27  estudantes   de   Agroecologia;   média   das   questões   objetivas   592,94   pontos;   média  geral   da   redação   716,15   pontos;   Media   Geral   da   turma   do   terceiro   ano   do   CTIA,  654,545  pontos.  

Comparando  os  dados  da  Tabela  2  com  a  Media  Geral  da  turma  do  CTIA  em  2015,   verificamos   que   no   que   se   refere   ao   curso   analisado,   o   Campus   Muriaé  manteria  a  primeira  colocação,  tendo  a  terceira  maior  média  em  relação  aos  próprios  resultados  durante  os  anos  de  2012  à  2015.  

A  tabela  a  seguir  apresenta  os  dados  de  todos  os  ingressantes  no  CTIA  a  partir  da  lei  de  cotas  e  a  progressão  dos  estudantes  em  cada  grupo  de  concorrência:  Grupo  A  (subgrupo  Apa  e  subgrupo  Apu),  B,  C,  D  e  E:  

 

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Tabela  3  -­‐    Progressão  anual  dos  grupos  A  (Apa  e  Apu),  B,  C,  D  e  E  do  CTIA.    

Grupo   Processo  seletivo  

(2012)  

Matrícula  (2013)  

Ano  2013   Ano  2014   Ano  2015   Ano  2016   Ano  2017  

Inscrito/Vagas  

Matriculados/Nota   de  ingresso  (Prova   =   60  pontos)  

Aprovados/Coeficiente  

Rendimento  

Aprovados/  Coeficiente  Rendimento  

Aprovados/Coeficiente  Rendimento  

Egressos  (03  anos  de  curso)  

Egressos  (04  anos  de  curso)  

A   31   20   Apa:  11*  

Apa:    26,78  

Apa:  07  

Apa:  75,29  

Apa:  07  

Apa:  74,84  

Apa:  07  

Apa:  75,80  

Apa:  03  UF  +  04  Cursinho  

Apa:  01  UF  

Apu:  10  

Apu:  

21,90  

Apu:  05  

Apu:  76,68  

Apu:  04  

Apu:  75,36  

Apu:  04  

Apu:  76,83  

Apu:  02  UF  +  01  FP  +  01  Estudando  em  casa  

Apu:  01  FP  

B   12   05   05   22,37   04   78,31   04   77,52   04   78,42   02  UF  +  01  FP  +  01  Cursinho  

01  UF  

C   30   05   06   26,50   04   79,95   04   80,09   04   80,23   03  UF  +  01  FP   -­‐  

D   12   05   05   26,75   02   83,12   02   81,07   02   82,25   01  UF  +  01  FP   -­‐  

E   07   05   04   23,75   01   69,42   01   76,43   01   75,68   01  UF   -­‐  

 

Analisando  a  Tabela  3,  associando  os  resultados  às  falas  do  cotidiano  escolar,  compreendemos   que   expressões   do   tipo   “alunos   de   escola   pública”   ou   “cotistas”  trazem  em  si  estigmas  relacionados  ao  baixo  desempenho  estudantil,  risco  da  queda  da   qualidade   da   educação,   culpabilização   das   famílias   pelo   descomprometimento  dos  filhos  com  os  estudos  (“preguiça,  ausência  do  hábito  de  estudo”).  No  entanto,  os  resultados   acima   chamam  a   atenção  para:   1  –  as   notas   de   ingresso,   em  geral,   são  inferiores  a  50%  da  nota  da  prova  para  todos  os  grupos  (o  que  independe  de  origem  escolar),   porém   os   resultados   mais   baixos   são   de   estudantes   egressos   de   escola  pública.   Nesse   ponto,   esse   dado   poderia   corroborar   com   a   ideia   inicial   de   que   os  estudantes   cotistas   contribuiriam  negativamente  para   a  manutenção  do  padrão  de  qualidade  da  educação  do  IF,  isso  em  termos  de  visibilidade  no  ranking  do  Enem.  2  –  

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No  desempenho  escolar,   verificamos  que  os   coeficientes  de   rendimento   referentes  aos   estudantes   cotistas   superam   os   coeficientes   dos   estudantes   de   ampla  concorrência.  3  –  O  coeficiente  de  rendimento  do  subgrupo  Apu  supera  em  todos  os  anos  os  estudantes  do  subgrupo  Apa.  4  –  Quanto  ao  prosseguimento  dos  estudos  em  nível   superior,   os   estudantes   cotistas   são   os   que   mais   acessaram   vagas   em  universidades   federais,   inclusive   em   faculdades   particulares.   5   –   Em   relação   ao  número  de  concluintes,  22  estudantes  terminaram  o  curso  no  prazo  previsto,  sendo  11   de   ampla   concorrência   e   destes   04   são   provenientes   de   escola   pública,  totalizando  15  estudantes  concluintes  de  escola  pública  e  07  de  escola  particular.    

5  CONCLUSÕES  

  Os  resultados  finais  deste  trabalho  apontam  para  o  equívoco  do  proclamado  “risco  da  perda  da  qualidade  educacional”  devido  à  entrada  de  estudantes  cotistas  no  ensino  médio  técnico  integrado.  Verificamos  que  o  que  um  dos  motivos  que  leva  parte   da   comunidade   escolar   a   subestimar   estudantes   cotistas   é   o   fato   de  entenderem   a   educação   “de   qualidade”   apenas   como   resultado   e   não   como  processo.  

Salientamos  que  a   forma  de  conceber  a  educação  como  projeto   imediatista  não  é  somente  reflexo  de  uma  postura  alienada,  mas  de  um  processo  de  formação  que   precisa   ser   questionado,   bem   como  melhor   compreendidos   os   significados   da  educação  para  as  classes  populares  e  o  papel  das  políticas  públicas  na  sociedade  de  classes.   É   preciso   romper   com   o   que   Lahire   (1997)   cunhou   de   “mito   da   omissão  parental”,  que   relega  às   famílias   todo  o  “peso”  da  educação  escolar  de  seus   filhos,  afinal  a  educação  é  “um  direito  de   todos,  dever  do  estado  e  da   família”   como  nos  afirma   a   atual   Constituição   Federal.   Portanto,   os   resultados   apresentados   nos  permitem   ponderar   sobre   as   relações   sociais   que   estabelecemos   no   campo  educacional.   Somente   conscientes   de   nosso   papel   na   sociedade   podemos  compreender  a  extensão  de  nossas  ações  na  vida  do  educando;  bem  como  a  função  dos   intelectuais   frente   à   análise   das   politicas   educacionais   que   são,   por   um   lado,    frutos   dos  movimentos   sociais   e,   por   outro,   imposições   da   autocracia   burguesa.   A  não   participação   nesse   processo   de   desvelamento   é   por   si   só   uma   marca  contundente  da  omissão  política,  ou  pior,  do  partidarismo  à  “Escola  sem  Partido”,  ao  aceite  ao  reformismo  pela  simples  desculpa  de  que  não  nos  cabe  tomar  partido.    

6  REFERÊNCIAS  

BOGDAN,   Roberto;   BIKLEN,   Sari.   Investigação   qualitativa   em   educação.   Portugal:  Porto  Editora,  1994.  

COUTINHO,   Carlos  Nelson.  Gramsci:   um  estudo   sobre   seu   pensamento   político.   5.  

MIRANDA;  OLIVEIRA  &  COELHO  (2017)    

   

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ed.  Rio  de  Janeiro:  Civilização  Brasileira,  2014.  

CURY,   Carlos   Roberto   Jamil.   Direito   à   educação:   direito   à   igualdade.   Direito   à  diferença.  Cadernos  de  Pesquisa,  n.  116,  p.  245-­‐262,  julho,  2002.  

ENGUITA,   Mariano   Fernández.   A   face   oculta   da   escola:   educação   e   trabalho   no  capitalismo.  Porto  Alegre:  Artes  Médicas,  1980.  

FAIRCLOUGH,  Norman.  Discurso  e  mudança  social.  2.  ed.  Brasília:  UnB,  2016.  

FREIRE,  Paulo.  Pedagogia  da  autonomia:  sabres  necessários  à  prática  educativa.  25.  ed.  São  paulo:  Paz  e  Terra,  1996.  

GRAMSCI,   Antonio.   Cadernos   do   Cárcere.   2.   ed.   v.   2:   Os   intelectuais;   O   princípio  educativo;  Jornalismo.  Rio  de  Janeiro:  Civilização  Brasileira,  2001.  

HARVEY,  David.  Condição  pós-­‐moderna.  25.  ed.  São  Paulo:  Edições  Loyola.  2015.  

LAHIRE,   Bernard.   Sucesso   escolar   nos   meios   populares:   as   razões   do   improvável.  São  Paulo:  Ática,  1997.  

MARTINELLI,   Maria   Lúcia   (org.).   Pesquisa   qualitativa:   um   instigante   desafio.   São  Paulo:  Veras  Editora,  1999.  

MARX,   Karl;   ENGELS,   Friedrich.  A   ideologia   alemã.   São   Paulo:   Expressão   popular,  2009.  

MIRANDA,   Emmanuella   Aparecida.   A   política   de   cotas   no   Instituto   Federal   de  Educação,  Ciência  e  Tecnologia  do  Sudeste  de  Minas  Gerais:  análise  do  acesso  e  da  permanência.  246  f.  Dissertação  (Mestrado  em  Educação)  –  Faculdade  de  Educação,  Universidade  Federal  de  Viçosa.  Minas  Gerais.  2017.